PROSA DE PAIXÃO O que não faria, amada minha, para volver aos teus olhos a luz da paz e da alegria... Quase estou a capengar com as minhas lembranças, à cata de uma das minhas melhores alegrias e a ti entregá-la em meio a um buquê de sempre-viva. É quase visível o que sinto quando lembro tuas mãos em minhas costas, o som do teu sono, tua boca de aroma de manga-rosa... Amar é preciso e é tudo o que necessito, hoje e sempre. Pudesse e eu convidaria um sabiá para uma seresta comigo debaixo de tua janela, acordá-la em cheiros de alecrins e eucaliptos, florir teus cabelos com uma rosa branca, enfeitá-la com pérolas e adorná-la de linho, ou com uma cambraia barulhenta... Quero agradá-la, amada minha. Não há nada mais sublime do que agradar a quem se ama. E nada me deixa mais feliz. Já fiz dos teus olhos, das tuas sardas e penugens, as minhas melhores palavras. E sempre serão tuas... Mas não me ensine a andar sozinho com os meus sonhos. Venha comigo, amada minha. Mesmo que tenhamos sonhos diferentes, venha comigo! A vida é um caminho comum e sem graça, quando se caminha por ele sem alguém para prosear sobre flores, pássaros e nuvens, e sempre de mãos dadas. E as minhas são tuas, assim como cada parte de mim, cada poro, pêlo e mesmo o mais visceral dos meus sonhos. Você desaparece e eu desapareço também, de mim. É como estar vivendo no vácuo, no limbo da existência; não há nada em mim que valha a pena, nem mesmo as minhas boas lembranças... Não há mais lembranças por tanta ausência. É apenas um estar em suspense sobre todas as galáxias, à margem do cosmo... Mas daí você reaparece e sinto a terra novamente sobre os meus pés. E assim retorno à vida, aos meus sonhos que, caso os deseje, saiba que são teus. Peça a minha prisão preventiva e qualquer juízo apaixonado consentirá. Dê a mim tuas palavras de adeus e assim irei... Mas não exija o exílio da minha alma. Isso não. Seria morrer em vida, não ouvir música nem compreender palavras se auto flagelar nos olhos, buscar a cegueira da alma... Venha comigo, amada minha! Mas venha natural como o vento, chuva e temporais, que é sempre o teu jeito. E não me peça silêncio, pois, quando amo costumo desarrumar todos os meus armários...