VOCÊ NÃO É PERFEITO A beleza padrão, o que o mundo moderno nos obriga a ser, com essa visão, psicólogos e psiquiatras estão tendo grandes lutas para sanar um novo tipo de paciente, a pessoa consumista. O mundo através das lentes de consumo É ASSIM ... A realidade do consumir tem influenciado nossas vidas, mais do que podemos imaginar. Ver o mundo através das lentes do consumo nos faz exigir sempre o melhor, não importa se de um produto, de um relacionamento, de um emprego ou das pessoas que amamos. Buscar o melhor, procurar crescer, anelar excelência na vida, é certamente salutar. Progresso, evolução, deve ser objetivo de todos na Terra. Porém, os excessos, os desequilíbrios de tais posturas é que nos trazem grandes problemas. Exigir em demasia, tanto da vida, dos outros, e muitas vezes - por conseqüência - de si mesmo, traz-nos distúrbios de comportamento seríssimos. A questão é tão grave que já existe catalogação para este tipo de fobia: a atelofobia, que se constitui no medo da imperfeição. Sem falar na ansiedade crônica, que hoje já faz adoecer o mundo com seus venenos potentes. Tudo parece dar a entender que se faz difícil viver numa sociedade onde o sofrimento, a tristeza, os defeitos e as fraquezas não são mais tolerados. A indústria oferece soluções para qualquer tipo de problema, e para todos os tipos de bolso. São receitas de sucesso nas prateleiras das livrarias; pílulas da felicidade na farmácia da esquina; o corpo dos sonhos em troca de cheques a perder de vista... Criamos uma era da perfeição de massa, onde os defeitos são vistos como erros da natureza que podem ser corrigidos, deletados, deixados para trás. O corpo parece deixar de ser determinado e passa a ser inventado. Um corpo fabricado pelas nossas escolhas, baseadas nos padrões vigentes da época. Padrões, muitas vezes, altamente questionáveis. Corremos o risco de deixar de ser aquilo que somos para nos transformarmos em um corpo sem marcas, sem história, sem humores. Em mera imagem. Mas se não é bem essa sua intenção, experimente olhar o mundo através de lentes não viciadas em cânones ou padrões. Este olhar o mundo passa por olhar-se, em primeiro lugar. Carl Gustav Jung, psiquiatra suíço, foi muito lúcido ao dizer: Quem olha para fora sonha, quem olha para dentro desperta. Este é o momento de despertar. Despertar para os valores mais nobres da vida, e finalmente colocar nossa embarcação alma no rumo da felicidade verdadeira. Nestes valores fundamentais estão a paciência, a compreensão das dificuldades e limitações do outro e nossas. Está a compaixão – virtude de vivência dinâmica – que estende a mão ao próximo, para que cresça junto. Está a resignação – virtude que aprende com a dor, retirando dela as lições preciosas que sempre traz, evitando a revolta e a negação. A lei maior do progresso nos coloca na direção da perfeição, naturalmente, mas dessa perfeição que vem sendo construída de forma gradual no imo do Espírito. Desejá-la de forma fácil, conveniente, e da maneira com que nós anelamos e achamos que deva ser, sempre será perigoso e próximo do desastre. * * * Evite o excesso de exigência para com os outros. Somos seres diferentes, pensamos diferente em muitas ocasiões, e por isso, exigir que as pessoas tenham o mesmo ângulo de visão que o nosso, para tudo, é absurdo. O diferente está ao nosso lado por razões especiais. É com ele que aprendemos inúmeras virtudes, é com ele que crescemos e alcançamos a nossa gradual e certa perfeição. Artigo > Você não é perfeito, de Elisa Correa, publicado na > Revista Vida Simples, julho 2008.