NINGUÉM É MELHOR QUE NINGUÉM José Mello Salgado PONTINHOS Ano XLVIII 327 abril-junho 2008 p. 32. Conta-nos um antigo apólogo que, certo dia, um alfinete e uma agulha encontraram-se numa cesta de costuras. Estando os dois desocupados, começaram a discutir, porque cada um se considerava melhor e mais importante do que o outro: -- Afinal, qual é mesmo a sua utilidade? -- disse o alfinete para a agulha. -- E como pensa você vencer na vida se não tem cabeça? -- A sua crítica não tem a menor procedência -- respondeu a agulha rispidamente. -- Responda-me agora: de que lhe serve a cabeça se não tem olho? Não é mais importante poder ver? -- Ora, e de que lhe vale seu olho, se há sempre um fio impedindo a sua visão? Retrucou o alfinete. -- Pois fique sabendo que, mesmo tendo um fio atravessando o meu olho, eu ainda posso fazer muito mais do que você. Enquanto se ocupavam nessa discussão, uma senhora pegou a cesta de costura, desejando coser um pequeno rasgo no tapete. Enfiou a agulha com linha bem resistente e se pôs a costurar O mais rápido que pôde. De repente, a linha emaranhou-se, formando uma laçada que dificultou o acabamento da costura. Apressada, A mulher deu um puxão violento que rompeu o olho da agulha. Tendo que ultimar aquele trabalho, ela amarrou a linha na cabeça do alfinete e conseguiu dar os pontos finais; mas na hora de arrematar, a cabeça do alfinete se desprendeu. Impaciente com tudo, jogou a agulha e o alfinete na cesta e saiu resmungando. Ambos estavam enganados: o alfinete e a agulha. Nenhum dos dois era insubstituível. Nenhum dos dois era perfeito. Nenhum dos dois era tão versátil que pudesse julgar-se Com o direito de se considerar melhor do que o outro!