"HORA DO ADEUS" Dizer adeus é um ato de coragem. HORA DO ADEUS "A medida de uma alma é a dimensão do seu desejo" Existem momentos na vida em que o mais acertado a fazer é dizer adeus. Sair de cena, jogar fora àquilo que não nos serve mais, enterrar investimentos pessoais que nos deram mais prejuízos do que lucros. Descobri vivendo o tanto que eu já vivi que tem coisas que não valem a pena que nos apeguemos, se assim fizermos permaneceremos eternamente cultuando o passado. E o passado como o próprio nome diz, já passou. O final do ano, sempre me dá esta sensação de balanço. Durante a correria do ano, muitas vezes eu tropeço e me engano, mas no final quando a calmaria se instala, não tem jeito, o foco fica sendo eu mesma, e sempre começo a pensar, a refletir nos passos que dei, nas pessoas que eu conheci, nos amigos que se fizeram verdadeiros pela sua fluência, e naqueles que se fizeram amigos, mas que foram apenas temporários, não foram fortes o bastante para lidarem com frustrações, acertos do caminho, e não passaram de perda de meu tempo. Penso também nos trabalhos que fiz, naqueles que eu gostaria de repetir, em outros novos que poderão surgir. Vislumbro eu mesma antes de partir para qualquer planejamento para o próximo ano. Aliás, eu nem gosto de planejamentos, não consigo imaginar a vida de modo linear, do tipo: No próximo ano vou fazer ginástica, ou parar de fumar, ou arrumar um namorado novo! Toda a vez em que me meti nas arapucas dos planejamentos com metas e cronogramas eu entrei literalmente pelo cano. Descobri que a vida é mais fluída, dinâmica e aberta do que aquilo que cabe apenas num simples pedaço de papel. Tenho claro o significado das coisas para mim, por exemplo, sei o que quero de um amigo, de um amor, de um trabalho. Procuro não investir e nem perder o meu tempo naquilo que me faça sair de meu rumo. O tempo tem um significado muito valoroso em minha vida. Minha ligação com minhas entranhas, e minha intuição fizeram com que eu sentisse o cheiro de algumas situações antes mesmo que elas acontecessem. Por exemplo, ao ir a uma reunião de trabalho, já percebo de antemão se aquele trabalho irá sair ou não. Mesmo que ele aconteça sempre peso se é conveniente para mim. Se um homem me interessa, e percebo que a recíproca é verdadeira, eu apenas leio os sinais até que o verdadeiro encontro aconteça. Se não acontecer ou ele não era para mim, ou não passava de um homem medroso. Hoje em dia não quero mais perder o meu tempo com aqueles que não me preferem ou não me priorizam. Aprendi a viver muito bem sozinha, e isto fez com que eu não me encantasse por qualquer homem que aparecesse na minha frente. Levo "cantadas aos montes", e isto não me seduz ou faz com que eu saia do meu rumo, isto não me encanta. Não tenho o sentido de desespero que muitas mulheres têm. Conhecer alguém é um processo que leva tempo. Menos tempo para os mais abertos e verdadeiros e mais tempo para os desconfiados e aqueles que se escondem de si mesmos. Gosto mais de cérebros, do que de corpos. Valorizo nas minhas relações aqueles que dão valor e significado às mesmas coisas que eu. Seres humanos são seletivos, buscamos no outro aquilo que já encontraram em nós mesmos. Buscar o diferente pode até ser emocionante, mas é justamente aquilo que faz com que as pessoas se separem ou tentem de todos os jeitos enquadrar o outro no seu próprio esquema. Não quero isto para mim! Não quero alguém que não agüente o meu sucesso, a minha alegria, e a minha exuberância. Sejam amigos ou amores. Quanto aos amigos espero reciprocidade e fluência. Relações de amizade verdadeiras são feitas de duas mãos, e de verdades apenas. As mentiras, as enganações não cabem em uma grande amizade. No trabalho tenho buscado fazer o que me faz sentido, não quero um trabalho apenas por fazer, ou somente para ganhar dinheiro. Claro, que gosto de dinheiro, ele me possibilita escolhas. Com ele posso ir aos lugares onde quero, viajar, andar por aí, assim como me aperfeiçoar, estudar e ler. Percebo a cada ano que eu gosto mais de mim mesma. Já fui uma pessoa de agüentar tudo e todos, jogava pouca gente fora, achava que tinha que ser sempre legal com o outro e pouco comigo mesma. Minha vida nestas épocas era pesada, eu vivia me apegando àquilo que não valia a pena, e claro era cercada de gente interesseira, que se aproximava de mim porcausa da minha alegria. Uns tentaram apagar meu brilho, dizendo que eu deveria ser deste ou daquele jeito. Outros se lembravam de mim apenas nos momentos de suas necessidades. Depois deste tempo onde eu me magoei muito, passei a viver em outro extremo perigoso: A perfeição. Hoje sei que não há amigo, amor, cliente, chefe, funcionário ou filho perfeito. Ir atrás deste ideal mágico é a mais pura mentira, e a melhor forma de permanecer envolto na própria solidão. Entender a imperfeição do outro fez com que eu também não me sentisse na obrigação de acertar sempre, amo minha imperfeição. Descobri que cometo erros, e assim nem sequer preciso ter sempre razão. Só este fato me trouxe um grande alívio. A diferença é que hoje busco fazer somente bem a minha parte, não tento e nem quero fazer a parte alheia. Na minha eu me esmero, sou uma pessoa dedicada, deixo claro para o outro a minha posição, mas tenho certeza absoluta que não faço por ninguém aquilo que cabe a ele fazer ou perceber. Mostro a minha percepção ao outro seja na vida pessoal ou profissional, se ele vai aceitar ou não isto é um problema dele e não meu. Porém, não me omito. Cada pessoa tem sua limitação, os seus pontos cegos, os seus defeitos. A diferença é que antes eu aceitava todos os defeitos alheios, hoje não. Criei uma espécie de estatística para mim mesma, a permanência com alguém hoje está calcada desta forma: Se os bons momentos ultrapassam os maus, vale a pena estar com esta pessoa. Se os maus ultrapassam os bons, está na hora de dizer adeus, seguir em frente e não olhar para trás. Busco hoje somente aquilo que faz sentido para mim, descobri que a vida é curta demais para perdermos tempo com besteiras, com jogos de quem está certo ou errado. Hoje prefiro o abraço, as conversas, e os beijos que calam. Apesar de amar as palavras, os livros, e as letras, existem formas mais verdadeiras de expressão cujas palavras se tornam absolutamente desnecessárias. Ver o mundo somente através das palavras é desprezar linguagem mais verdadeiras e significativas . Descobri também que por mais religiosa que eu seja, não quero nem pretendo ser santa. Se tiver uma missão nesta Terra, ela se chama vida, e isto é ação. E viver hoje para mim é o exercício da profundidade. Não me encanto com cantadas baratas com aplausos falsos, com sorrisos de brincadeiras. Aprendi a ler nas entrelinhas, nas máscaras que escondem, e porque escondem são justamente reveladoras. Percebo claramente quando estou sendo enganada só que hoje eu me calo, antes eu delatava. Neste movimento percebi que algumas pessoas demoravam meses e até anos para descobrir do que eu falava, descobri também que este é o preço de algo chamado sensibilidade. O sensível sente na pele, aquilo que o racional demora muito tempo para perceber pela lógica ou pelas evidências. Antes isto me incomodava, hoje não, embora muitas vezes algumas pessoas tentem me confundir com seus comentários eloqüentes, refutando minha percepção e até grosseiramente desqualificando-me. Infelizmente mulheres conectadas com seu feminino, nem sempre são aceitas. Este é o preço de ler nas entrelinhas, e de acreditar no oculto e no invisível. Apenas vivo a minha vida como se ela fosse um grande espelho, encontro na minha frente exatamente aquilo que eu sou. Com os disformes eu busco aprender, afinal este deve ser o sentido de viver: Um enorme aprendizado! Digo adeus a tudo e todos que não me servem, que não partilham a mesma vida que eu. Gosto da paz, da harmonia e da alegria escancarada. Busco encontros verdadeiros com gente de carne e alma. Gente capaz de apenas sentar em qualquer lugar para apreciar o mar, que goste de conversar sobre a vida, que fale mais de si do que do outro. Que de mais telefonemas do que desculpas de falta de tempo. Todos sabem que aqueles que fazem mais coisas na vida são os que têm mais tempo. Que tenha mais ouvidos do que boca, que saiba respeitar um choro, ser cordial num momento difícil, que saiba zelar pelo sono de alguém, que respeite compromissos e horários. Que ame um cachorro, um gato, uma planta. Que seja capaz de se entregar a um amor, sem medo e sem vergonha, e que não se distraia com nenhuma mentira do caminho, capaz de estragar a delicadeza deste amor e a confiança que todo o amor deve ter como alicerce. Que saiba que todo o amor humano se faz de expectativas, e frustrá-las é no mínimo ser desumano, um verdadeiro carrasco que não tem capacidade de entender o que é a fragilidade humana. Se ainda existem humanos na essência e na existência é estes que eu quero ao meu lado no próximo ano. Gente que saiba mais partilhar, do que se esconder. Digo adeus a tudo e a todos que não aceitam o viver, o expressar-se, o comprometer-se. Viver é coisa séria, que pode ser feita de forma leve e com muita alegria. E dizendo este adeus eu sigo livre e em paz! "Aprendi com a primavera a me deixar cortar. E a voltar sempre inteira" Fonte: www.manancialvox.com