ATITUDES DO HOMEM PARA COM DEUS Desde o princípio da Humanidade, o homem, mesmo tocado pelo pecado, reconhecia Deus como supremo Senhor, e sentia necessidade de agradecer os primeiros frutos da terra, num gesto em que reconhecia a soberania do Senhor e a vassalagem da criatura. Adão e Eva, com seus filhos, agradeciam a Deus as primícias da terra e o fruto do seu trabalho. Mas também desde o princípio da Humanidade, perante a desigualdade das ofertas dos homens, Deus aceitava-os como eles eram, ainda que diferentemente, em virtude das suas atitudes. Assim aconteceu entre Abel e Caim, como nos diz o Livro do Gênesis: -- Ao fim de algum tempo, Caim apresentou ao Senhor uma oferta dos frutos da terra. Por seu lado, Abel ofereceu primogênitos do seu rebanho e as gorduras deles. O Senhor olhou favoravelmente para Abel e para a sua oferta, mas não olhou para Caim nem para a sua oferta. (Gn 4.3-5). Assim começou o desentendimento e a inveja entre os homens, pelo que Caim pensou matar seu irmão Abel. Abel era pastor e Caim lavrador. A arte do pastor supõe a domesticação dos animais; a agricultura exige ainda um conjunto de técnicas muito maior. Cientificamente sabemos que a domesticação dos animais e o aparecimento da agricultura só se verificaram bastantes séculos após o aparecimento do homem sobre a terra. O presente texto bíblico, portanto, projecta nos alvores da humanidade as duas artes essenciais existentes no momento em que ele foi escrito. Como conseqüência, a narração sobre Abel e Caim não deve ser tomada como uma reportagem sobre os alvores da humanidade, mas sim como uma mensagem religiosa, escrita com a mentalidade e os condicionamentos de certa época. Para nós, enquanto os homens continuarem a matar uns aos outros e não conseguirmos acabar com a guerra, a figura fatídica de Caim continua a projectar-se sombriamente sobre a humanidade, sem apagar todavia as atitudes de agradecimento e louvor do homem para com o seu Criador. Depois da revolta contra Deus, no Paraíso, vem a revolta contra o homem que fica sujeito a toda espécie de solicitações e tentações. Como Cristo foi tentado no deserto também o homem é tentado por toda a espécie de seduções que o põem perante o dilema do que lhe sabe bem contra o que lhe pode fazer mal. Depois do Mistério da nossa Redenção, Cristo deixou à Sua Igreja, os meios necessários para o homem poder resistir às suas tentações com mais facilidade e proveito, e, no caso de uma possível derrota, os meios de recuperação. O Tempo da Quaresma é o tempo propício para a nossa recuperação, pela penitência e pela recepção dos Sacramentos, da Reconciliação e da Eucaristia.