AS MÃOS DA MÃE Rosa-dos-Ventos nº 349 p. 6. A Joana achava a mãe muito bonita, gostava muito dela, mas havia uma coisa que não entendia. Porque é que a mãe tinha as mãos tão feias, todas cheias de cicatrizes? Acontecia mesmo, por vezes, ela fugir das carícias da mãe para não sentir as suas mãos rugosas. Certa noite, ao deitar, a Joana perguntou: -- Mãe, as tuas mãos são horríveis! Porquê? A mãe achou que a filha já tinha idade suficiente para saber o que se passara há cerca de oito anos. Por isso contou: -- Olha, Joana, uma vez, quando eras bebê, numa tarde de Inverno rigoroso, dormias no teu bercinho com um aquecedor ao lado. A certa altura eu percebi que saía fumo do teu quarto. Subi a escada o mais rápido que pude, mas já estava tudo praticamente em chamas. Não havia tempo para pedir socorro. Eras tu, a minha querida filhinha, que estava em perigo... E eu não consegui pensar em mais nada a não ser salvar-te. Assim, rapidamente, arranquei-te do berço, protegendo-te com os braços, e corri para fora. Só mais tarde comecei a sentir dores e percebi que as minhas mãos estavam horrivelmente queimadas e defeituosas para sempre. Nunca me arrependi ou lamentei... A Joana pegou, carinhosamente, nas mãos da mãe e disse, com lágrimas nos olhos: -- Agora percebo, mãe. Isto são as marcas do teu amor por mim. Afinal eu ainda não tinha visto bem. Elas são lindas!