POSSÍVEIS REFLEXÕES SOBRE INCLUSÃO A PARTIR DO MULTICULTURALISMO POSSÍVEIS REFLEXÕES A PARTIR DO MULTICULTURALISMO: O CASO DA INCLUSÃO MULTICULTURALISMO, CURRÍCULO E FORMAÇÃO DE PROFESSORES Antonio Flavio Barbosa Moreira Nos últimos 20 anos, tem-se intensificado no panorama pedagógico brasileiro o foco na formação docente. Consolidam-se e divulgam-se, em inúmeros encontros e publicações, os conhecimentos produzidos com base em pesquisas e reflexões dos especialistas da área, ao mesmo tempo em que se reformulam os currículos de inúmeros cursos destinados a esse preparo. Todavia, apesar do avanço teórico e das propostas inovadoras implementadas, as configurações básicas do sistema de formação de professores não se tem alterado significativamente. Tal situação inevitavelmente frusta os que esperam de uma formação de docentes renovada as indispensáveis contribuições para a construção de uma escola de qualidade em nosso país, ainda que difiram os sentidos e as intenções atribuídos a essa qualidade. ( 81) Ciente de que a opressão econômica e social compõe o pano de fundo, da dinâmica social vigente, ressalto a crescente importância do componente cultural no mundo contemporâneo, no qual a cultura se constitui em estruturante profundo do cotidiano de todo grupo social, em “núcleo radical da identidade dos diferentes grupos sociais e povos”(Candau 1997,p.239), não podendo ser reduzida a mero subproduto ou reflexo da estrutura social vigente. Entendida como campo no qual se travam lutas em torno do processo de significação do mundo social, a cultura é uma prática produtiva, um espaço constituidor, que dispõe de relativo grau de autonomia em relação à esfera econômica. Daí a necessidade de se valoriza-la devidamente, sem , no entanto, ignorar ou desprezar a força de determinações materiais.(83) A cultura é, portanto, esfera de lutas, de diferenças, de relações de poder desiguais. Essas diferenças são sempre diferenças em relação a algo, não diferenças absolutas. São diferenças políticas, não apenas diferenças testuais, lingüísticas, formais. São diferenças construídas com base em relações de poder estruturais e globais que não devem ser secundarizadas. (84) Essas diferenças – de raça, classe social, gênero, linguagem, cultura, preferência sexual e/ou deficiência física ou mental – têm, com muita freqüência, justificado as discriminações e as perseguições sofridas por indivíduos ou grupos. Exemplifique-se com as violências cometidas, em diferentes partes do mundo, contra comunidades negras, latinas e asiáticas, cujos sistemas de valores são rotulados como inferiores, primitivos e carentes do refinamento e da moralidade que caracterizariam a cultura ocidental, a cultura branca, cujo poder lhe tem dado o direito de definir o que se deve entender por normal e desejável em áreas cruciais da vida e da experiência humanas.( 84 ) ...quer rejeitemos ou aceitemos a diferença, quer pretendamos incorporá-la à cultura hegemônica, quer defendamos a preservação de seus aspectos originais, quer procuremos desafiar as relações de poder que a organizam, não podemos, em hipótese alguma, negá-la. (84).Ela estará presente, em todos os cenários sociais, empobrecendo-os e contaminando-os, segundo alguns, enriquecendo- os e renovando-os, segundo outros. Em síntese, queiramos ou não, vivemos em um mundo inescapavelmente multicultural. É essa a perspectiva de Kincheloe e Steinberg (1997), para quem a multiculturalidade não se reduz a algo em que se acredite ou com o qual se concorde. Ela de fato existe, está entre nós e representa, neste fim de século, uma condição de vida nas sociedades ocidentais contemporâneas. Podemos ignorar ou abordar essa realidade de diferentes modos, mas não podemos apagá-la: ela permanece, independentemente de nossas respostas e de nossas reações. Desse modo, mesmo que as reflexões sobre currículo e sobre formação de professores desconsiderem a multiculturalidade, ela estará presente nos sistemas escolares, nas escolas, nas salas de aula, nas experiências da comunidade escolar, afetando inevitalmente as ações e as interações de seus diferentes sujeitos.(85) O multiculturalismo crítico_ enfatiza o papel da linguagem e das representações na construção do significado e da identidade. Representações de raça, classe e gênero são entendidas como resultado de lutas sociais mais amplas em torno de signos e significados, o que associa à preocupação com o discurso a tarefa de transformar as relações sociais, culturais e institucionais nas quais o significado é gerado. (86) ...Daí a adesão , por parte dos autores que têm participado da construção do pensamento curricular crítico, ao multiculturalismo concebido em uma perspectiva também crítica, adesão essa que afeta as reflexões sobre formação docente... (87) ...O que se está defendendo, em resumo, é a tese de que toda cultura precisa, no encontro com outras culturas, aceitar ser desestabilizada e relativizada e contestada em alguns de seus traços básicos(candau 1995) (87) ...contribui para: facilitar a compreensão de que a diversidade é uma construção social, desenvolver o respeito pelo “outro”, bem como ajudar a vencer resistências. (88) ...Na formação de professores, o desafio torna-se ensinar aos futuros mestres como analisar o conhecimento cultural dos alunos e como articulá-lo com o conhecimento escolar. Os autores acrescentam que conectar o conhecimento público encontrado em livros com o conhecimento e os significados que os alunos trazem consigo é sempre um desafio, quaisquer que sejam os estudantes... (89) ...Uma posição semelhante se encontra em Burbules e rice (1993), para quem o diálogo entre as diferenças é possível e desejável, tanto para criar e estabelecer alguns significados comuns como para desenvolver certo grau de compreensão, tolerância e respeito entre as diferenças.... (92) ...Não há, acentua, maior contradição do que a usca por certeza em um mundo incerto, o que me leva a concluir que os problemas teóricos e práticos que nos afligem, ainda que devam ser enfrentados, não podem nos imobilizar e nos eximir do engajamento com os outros em uma luta, em uma história comum...`(93) REINVENTAR A ESCOLA Vera Maria Candau A luta pela Universalização de uma escolarização de qualidade tem sido árdua e, entre nós, ainda está longe de alcançar a meta proposta. (9) A educação nas sociedades em que vivemos, complexas, contraditórias e desiguais, se realiza em diferentes âmbitos, instituições e práticas sociais.(13) A escola, tal como a conhecemos hoje, é uma construção histórica recente. Na América Latina os sistemas escolares se constituíram praticamente neste século. A concepção de escola que se foi consolidando apresenta como uma instituição orientada fundamentalmente a promover a apropriação do conhecimento considerado socialmente relevante e a formação para a cidadania. No entanto, estas duas funções básicas da escolarização hoje, pode se afirmar, estão em crise, seja pela dificuldade da escola de fato as realizar, seja, o que consideramos mais relevante para a nossa discussão, pelo seu próprio anacronismo em relação aos tempos presentes.(14) Outro grande desafio que se coloca para a reinvenção da escola se relaciona com a articulação entre igualdade e diferença. Durante muito tempo a cultura escolar se configurou a partir da ênfase na questão da igualdade, o que significou, na prática, a afirmação da hegemonia da cultura ocidental européia e a ausência no currículo e em outras práticas simbólicas presentes na escola de outras vozes, particularmente referidas às culturas originárias do continente, à cultura negra e de outros grupos marginalizados de nossas sociedades. (15) Não basta mais lutar apenas contra as desigualdades sociais, mas é preciso também buscar estratégias onde as diferenças culturais possam coexistir de forma democrática.( 19 ) Cumpre observar que, em termos mais gerais, a emergência da tensão universal/particular no campo educativo extrapola tanto o campo do currículo como o da didática, e é conseqüência de um movimento de cunho universalista que se traduz pelo processo de democratização e massificação do ensino público que impõem, mesmo que muitas vezes, à revelia das classes políticas dirigentes, a necessidade de se pensar a formação escolar para um público cada vez mais diferenciado. Se esta modalidade de universalismo, ao estar associada à idéia de igualdade de oportunidades, é plenamente aceita no bojo da teoria crítica, a forma de abordar as suas conseqüências no seio das práticas educativas resulta em posições e propostas bem menos consensuais tanto no que se refere à seleção cultural dos conteúdos escolares como à da adoção de práticas escolares de dimensão intercultural. (28) Entre estas aquisições se pode destacar, de um lado, a exigência colocada pelo contexto histórico atual de procurar caminhos onde a diversidade cultural, que está na base da formação de identidades plurais reivindicadas de formas cada vez mais explícitas, seja reconhecida como elemento estruturador da prática pedagógica escolar. as discussões bastante atuais em torno das diferentes maneiras de conceber o multiculturalismo e a educação intercultural ilustram bem esta afirmação. Mais importante do que adjetivar as diferentes propostas pedagógicas que procuram incorporar a diferença e a construção do outro no interior das práticas educativas, é de percebê-la como escolhas pedagógicas “que são, ao mesmo tempo, éticas ou políticas”(Fourquin : 1997). Interessante observar ainda que a tendência da perspectiva multicultural é a de ampliar, cada vez mais, a sua área de intervenção. Com o questionamento do próprio conceito de cultura que está na base desta perspectiva, a questão da construção da diferença e da identidade extrapola, pouco a pouco, o domínio das situações de escolarização onde a pluralidade cultural é mais evidente e passa a ser vista como uma questão inerente a toda prática pedagógica. ( 37) Vivemos uma época em que a consciência de que o mundo passa por transformações profundas é cada dia mais forte. Esta constatação suscita reações contraditórias, ao mesmo tempo de insegurança e medo, potenciadores de apatia e conformismo, como também de novidade e esperança, mobilizadores das melhores energias e criatividade para a construção de um mundo diferente, mais humano e solidário. (47) Neste processo crescente de exclusão, que assume novas caras e dimensões no continente, os mais afetados são os “outros”, os diferentes, os que não dominam os códigos da modernidade, não têm acesso ao processo de globalização em suas diferentes dimensões, estão configurados por culturas que se resistem a colocar no centro a competitividade e o consumo como valores fundamentais da vida, pertencem a etnias historicamente subjulgadas e silenciadas, questionam os estereótipos de gênero presentes nas nossas sociedades, lutam diariamente pela sobrevivência e pelos direitos humanos básicos que lhe são negados. (48). As nossas salas de aula, onde pretensamente se ensina e se aprende, deveriam ser espaços de lidar com o conhecimento sistematizado, construir significados, reforçar questionar e construir interesses sociais, formas de poder, de vivências que têm necessariamente uma dimensão antropológica, política e cultural.(52). Multiculturalismo neste trabalho está empregado para significar uma realidade social: a presença de diferentes grupos culturais numa mesma sociedade. A tomada de consciência desta realidade, em geral, é motivada por fatos concretos que explicitam diferentes interesses , discriminações e preconceitos presentes no tecido social. Uma situação até então considerada “normal” e “natural” se revela como permeada por relações de poder, historicamente construídas e marcadas por desigualdades e estereótipos raciais e culturais. Os “outros”, os diferentes, se revelam em toda a sua concretude. Para muitas pessoas e grupos sociais esta descoberta é altamente ameaçadora. Surgem então comportamentos e dinâmicas sociais que constróem muros. Física, afetiva e ideologicamente evita-se o contato e criam-se mundos próprios, sem relação com os “diferentes”. (54,55). _ a educação intercultural não pode ser reduzida a algumas situações e/ou atividades realizadas em momentos específicos ou por determinadas áreas curriculares, nem focalizar sua atenção exclusivamente em determinados grupos sociais. Trata-se de um enfoque global que deve afetar a cultura escolar e a cultura da escola como um todo, a todos os atores e a todas as dimensões do processo educativo, assim como a cada uma das escolas e ao sistema de ensino como um todo; ( 59) . No mundo atual, a consciência de que estamos vivendo mudanças profundas, que ainda não somos capazes de compreender adequadamente, é cada vez mais aguda. Esta realidade provoca em muitas pessoas insegurança, incerteza e suscita as mais variadas reações, de perplexidade, inquietude, medo, assim como, de busca e criatividade. (61) Os diferentes atores do processo educacional vivenciam diferentes universos culturais. No entanto, em geral, a cultura escolar ignora esta realidade plural e apresenta um caráter monocultural. (64). Ensinar supõe querer fazer alguém aceder a um grau ou a uma forma de desenvolvimento intelectual e pessoal que se considera desejável. Isto não pode ser feito sem se apoiar sobre os conteúdos, sem extrair da totalidade da cultura – no sentido objetivo do termo, a cultura enquanto mundo humanamente construído, mundo das instituições dos signos no qual, desde a origem, se banha todo indivíduo humano, tão somente por ser humano, e que constitui como que sua Segunda matriz – certos elementos que se consideram como mais essenciais, ou mais intimamente apropriados a este projeto. Educar, ensinar, é colocar alguém em presença de certos elementos da cultura a fim de que ele deles se nutra, que ele os incorpore à sua substância, que ele construa sua identidade intelectual e pessoal em função deles. Ora, tal projeto repousa, necessariamente, num momento ou noutro, sobre uma concepção seletiva e normativa da cultura (p.167-168). (66) Parece que o sistema de ensino, nascido no contexto da modernidade, assentado no ideal de uma escola básica a que todos têm direito e que garanta o acesso aos conhecimentos sistematizados de caráter considerado “universal”, além de estar longe de garantir a democratização efetiva do direito à educação e ao conhecimento sistematizado, terminou por criar uma cultura escolar padronizada, ritualística, formal, pouco dinâmica, que enfatiza processos de mera transferência de conhecimentos, quando esta de fato acontece. Por outro lado, chama atenção quando se convive com o cotidiano de diferentes escolas, como são homogêneos os rituais, os símbolos, a organização do espaço e do tempo, as comemorações de datas cívicas, as festas, as expressões corporais, etc. Mudam as culturas sociais de referência, mas a cultura da escola parece gozar de uma capacidade de se autoconstruir independentemente e sem interagir com estes universos. É possível detectar um “congelamento” da cultura da escola que, na maioria dos casos, a torna “estranha” aos seus habitantes.( 68) HIPÓTESE: A escola lida sempre com dificuldade com a diferença e o pluralismo sociocultural. Existe sempre uma ruptura entre a cultura escolar/cultural da escola e o universo cultural da sua clientela. No entanto, esta tensão e/ou conflito se manifesta de diferentes maneiras, tem “rostos” distintos, na escola pública e na escola particular. (70) MAGISTÉRIO – Construção Cotidiana Vera Maria Candau A seletividade de ensino que atinge um vasto segmento da população no Brasil tem suscitado esforços de reflexão acerca de suas causas e possíveis soluções. Evidentemente, conforme salientado por autores com Costa (1990), Gomes (1993) e Balzan (1994), faz-se mister reconhecer a enorme gama de fatores macroestruturais envolvidos na problemática em foco. Entretanto, uma conscientização cada vez maior tem-se desenvolvido acerca da necessidade de minimizar aqueles fatores dentro do espaço educacional que contribuem para a perpetuação do fracasso escolar, dentre os quais as ações e expectativas dos professores desempenham, papel relevante. (205) Conforme salientado em estudos desenvolvido por Canen (1995a), a diversidade cultural dos alunos que chegam às escolas é freqüentemente ignorada nas práticas pedagógico-curriculares desenvolvidas pelos professores. Uma análise das expectativas destes professores com relação à pluralidade cultural dos alunos revela freqüentes vieses e estereótipos que estão à base de práticas pedagógicas que, sob o véu da “neutralidade técnica”, excluem aqueles cujos padrões culturais não coincidem com os preconizados pelo sistema escolar. A formação de um professor criticamente equipado para compreender e valorizar a diversidade cultural dos alunos e tecnicamente apto a pautar a sua ação pedagógica a partir deste(s) universo(s) cultural(is) tem sido apontada como uma importante via para a tentativa de superação do problema. (205) ...perspectiva intercultural crítica, concebida como a mais potencialmente fértil para a análise e tentativa de superação da exclusão cultural no âmbito educacional.(206) Dentro desta perspectiva crítica, embora reconhecendo a influência dos fatores macroestruturais na manutenção da desigualdade, concebe-se que existe um espaço de resistência, de transformação, dentro do sistema educacional. Em outras palavras, embora não possa resolver o problema em pauta, a educação pode fazer, pelo menos, algo.(207) Em tal quadro, o reconhecimento do caráter multicultural de grande parte das sociedades e da necessidade de formação de professores preparados para atuar com alunos de padrões culturais diversos passa a ser discutida em literatura na área. Argumenta-se que uma educação multicultural deve ser um imperativo não só com relação aos grupos discriminados, como também com relação aos grupos dominantes, uma vez que tal tipo de educação visará não só a igualdade educacional, como também a formação de novas gerações destituídas de preconceitos, reconhecendo a pluralidade étnico – cultural como um enriquecimento e não como uma deficiência para a sociedade. Neste sentido, autores como .....e ......, falam de uma educação multicultural entendida como aquela voltada para a diversidade cultural e não para os alunos “culturalmente diferenciados”.210 O TRABALHO DA ESCOLA – Luiz Antonio C, Franco Pelo trabalho, todavia, o homem se faz homem, modifica a natureza, transforma suas condições de vida. Pelo trabalho também, o homem é alienado, subjugado, dominado. Ante essas duas faces, qual é o papel da escola na tão discutida “preparação para o trabalho” em nossa sociedade?(53) O que é escola? Qual o significado dessa instituição nas sociedades capitalistas? Qual a especificidade da educação escolar? A escola, como de resto qualquer instituição social, não pode ser pensada como se existisse autônoma e independentemente da realidade histórico-social da qual é parte. Não pode ser pensada como se estivesse isolada por uma “muralha” do conjunto das demais práticas sociais, mesmo quando os saberes transmitidos são vagos, abstratos, assumindo a aparência de independência ante os condicionantes sociais. Ao contrário, a escola é parte integrante e inseparável do conjunto dos demais fenômenos que compõem a totalidade social. A escola, bem como a sociedade que a inclui, “não é algo já dado e acabado e sim o produto de relações sociais, o produto da prática social de grupos e de classes. Por isso mesmo ela pode ser transformada. Resta saber o grau, a natureza e a direção dessa transformação possível da escola”(Mello, 1983: 7). (54) ...agir dentro da escola, modificar as atuais práticas pedagógicas é contribuir simultaneamente tanto para a transformação da escola quanto da sociedade. O papel precípuo da escola é a transmissão de conhecimentos. Não conhecimentos enciclopédicos, abstratos, mas conhecimentos vivos e concretos, indissoluvelmente ligados às experiências de vida dos alunos e às exigências históricas da sociedade presente. O papel da escola, pois, é fundamentalmente transmitir, de maneira lógica, coerente e sistemática, os conhecimentos acumulados historicamente pelo homem, ou seja, os conhecimentos científicos, tecnológicos, filosóficos, culturais, etc., indissoluvelmente ligados à experiência dos alunos e às realidades sociais mais amplas. (56) Essas escolas não têm conseguido ensinar e instruir, de maneira sólida e competente, os alunos que por elas passam....(60) ... os alunos, enfim, passam por essas escolas sem conseguirem superar os saberes dados pela experiência imediata, rumo aos conhecimentos mais sistemáticos e científicos. Problemas dessas escolas: (61) - professores sem domínio sólido dos conteúdos. Péssimos cursos de habilitação ao magistério, pedagogia e demais licenciaturas, que não têm formado satisfatoriamente os professores para atuarem. - Remuneração baixa - Os professores, em geral, têm lidado com o aluno “ideal”, com o aluno-padrão , como se todos fossem homogêneos, tivessem o mesmo ritmo de aprendizagem, e não com o aluno concreto.... etc. ... lutar pela transformação das escolas existentes, lutar pela superação dos problemas que fazem parte do seu cotidiano. Não é possível situar o aluno na realidade histórica presente, se os educadores não redirecionarem as atuais práticas escolares.... (62) É indispensável , que os educadores trabalhem de maneira mais integrada; que os educadores tenham um domínio sólido e competente dos conteúdos que transmitem; que os conteúdos transmitidos sejam, de fato, apropriados pelos alunos; que os educadores aprendam a lidar com o aluno concreto e não com o aluno que gostariam de Ter, e assim por diante. Enfrentar os desafios significa enfrentar barreiras, práticas escolares, muitas vezes, cristalizadas e fossilizadas, repetitivas e monótonas... significa assumir um compromisso com a transformação social, com a melhoria do ensino e com a própria formação do aluno, razão de ser última da escola. É urgente, pois, para uma prática pedagógica coerente e eficaz, que os educadores repensem o seu trabalho... O trabalho escolar deve ser repensado, em função do compromisso do educador com a formação do aluno e com a transformação social. RELATOS DE FATOS Marcenaria O relato abaixo refere-se a um adolescente portador de necessidades educativas especiais que freqüenta uma Escola Especial situada em Quintino Bocayuva e está dentro do Complexo CETEP – Centro de Escolas Técnicas Públicas - no Rio de Janeiro. Num dado momento de sua vida, o referido aluno resolveu solicitar uma vaga no curso de marcenaria. O professor admirado com o pedido responde ao aluno que ali só estudavam dois tipos de pessoas: “bichas” ou “malucos”. O aluno prontamente respondeu: Eu sou “maluco”, estudo na Escola Especial favo de Mel. Não dando credibilidade a fala do aluno, o professor lhe responde que só poderia aceitá-lo se viesse acompanhado pelo responsável. Na semana seguinte, para espanto dos professores e dirigentes daquele setor, lá está o adolescente com o seu respectivo responsável, como haviam lhe solicitado! Mediante a situação e sem saber como agir mediante as circunstâncias, os dirigentes do setor do Curso de Marcenaria entraram em contato com a direção da Escola onde o mesmo freqüentava. Após algumas trocas de informações e certos de que receberiam um respaldo da Escola, resolveram matricular o referido aluno. A princípio os profissionais do curso de Marcenaria, só tinham bem definidos o preconceito deles e dos demais alunos que ali estudavam, receios, e angustias mediante o novo, pois alegavam não terem preparação para lidar com esse tipo de aluno. O referido aluno, assim sendo, iniciou o curso, cheio de expectativas como qualquer outro adolescente, e repleto de orgulho por estar fazendo um curso profissionalizante, o qual ele desejou e buscou. Esse adolescente foi o primeiro aluno portador de necessidades educativas especiais do curso de Marcenaria, hoje porém esse curso profissionalizante, atende a uma clientela maior com necessidades educativas especiais. Importante frisar neste relato , é que tempos depois do ingresso desse adolescente no curso, lá estava ele, repassando alguns de seus conhecimentos para os que estavam iniciando o curso... ( isso é um martelo, isso é um..., esse instrumento aqui serve para... ). A atitude desse referido aluno abriu portas para dos demais colegas dele que estudavam na mesma escola...redimensionou a visão dos profissionais que ali atuavam... Hoje sabe-se que o repensar o curso, suas possibilidades, faz parte da equipe que ali trabalha. Hoje, respeitando o potencial desse aluno, e sem subestima-lo. Uma outra mudança se deu em relação ao término do curso. Os profissionais indagavam: E agora? O curso terminou e esse aluno não é marceneiro? A resposta a própria equipe encontrou. _ Ele não é marceneiro, mas o que ele efetivamente aprendeu? _ Aprendeu a lixar? Então vamos dar-lhe o certificado de lixador! Alguns alunos da Escola Especial continuam fazendo parte desse curso, e recentemente o Curso de Gráfica abriu as portas para o aluno portador de necessidades educativas especiais, no momento esperamos conseguir inseri- los também nos cursos de eletrônica, por quê não? ARTE VIDA Arte – vida é o nome dado ao setor que oferece cursos com: pinturas em tela, tecido, cerâmica, vime, enfim cursos artesanais. Uma das salas desse setor recebe alunos da escola regular – educação infantil e ensino fundamental juntamente com alunos da Escola Especial, cuja proposta é promover a integração dos mesmo através dessa atividade. As turmas são divididas por faixa etária no inicio do ano e depois é feito um estudo para enquadrar as turmas do ensino regular com as turmas da escola especial, garantindo assim que os objetivos traçados possam ser vivenciados por todos os alunos. As atividades são realizadas uma vez por semana, onde o trabalho de integração começa no trajeto das escolas citadas até o Arte-Vida., haja visto que o complexo possui um milhão de metros quadrados aproximadamente, tendo assim necessidade de deslocarem-se de ônibus. Esses encontros têm uma rotina: colocar o avental e sentarem-se em rodinhas, nessa rodinha são explanados temas de acordo com o planejamento da escola, que são expostos, debatidos. Ao término os alunos escolhem a mesa que querem sentar para explorar o tema, tendo como opções a mesa de recorte, colagem, sucatas; a mesa de pintura e a mesa da argila, onde irão trabalhar de acordo com a criatividade de cada um. O que me chama a atenção nessa “integração” é o fato de não conseguir perceber até que ponto realmente a mesma ocorre... _ Será que os alunos do ensino regular, após dois anos de atividades realizadas com crianças portadoras de necessidades educativas especiais, realmente estão percebendo esse conceito? Será que esse conceito está sendo trabalhado em sala de aula? _ E o professor do ensino regular? O que ele pensa sobre isso? _ Estaria ele mais propenso a receber em sua sala de aula um aluno portador de necessidades educativas especiais, como voga a Lei de Diretrizes e Bases? _ Esse contato através do projeto de integração o faz repensar sua prática? _ Como os profissionais do setor Arte-Vida vêem essa questão da integração? _ As escolas regulares do citado complexos, estariam propensas a receber esse tipo de alunado? ESTAGIÁRIAS Eu tive a oportunidade de contar com estagiárias em minha sala de aula por dois anos consecutivos. A primeira impressão é que elas procuravam incansavelmente por todas as salas alguma professora que lhes dessem a famosa “ receitinha de bolo”. Geralmente chegavam à sala com olhares de piedade, com receios, cheias de dúvidas, ora atônicas , ora interagindo com os mesmos. Independente da atuação de cada uma delas, percebe-se que aos poucos esse olhar muda, e começam a perceber que as crianças ditas “ especiais” assim como as demais, são repreendidas, elogiadas, estimuladas, necessitando muitas vezes de limites. Lamentavelmente eu vi essas estagiárias na ânsia por ter contato com uma grande gama de alunos nas suas diversas faixas etárias e níveis de desenvolvimento, passarem por várias salas durante o seu período de estágio, e as vezes fico a me questionar: Será proveitoso esse tipo de estágio? Esse meu questionamento se fez depois do contato com duas estagiárias que passaram pela minha sala. A primeira estagiária em 1999, veio cheia de expectativas..., iria estagiar na escola uma vez por semana e elegeu minha sala por constatar que a mesma era uma das mais heterogêneas da escola. Após algumas semanas de contato com a mesma , e percebendo o seu entusiasmo com a turma, perguntei-lhe se ela visitaria mais alguma sala. Prontamente ela me respondeu que não, pois gostaria de acompanhar o desempenho da turma, poder perceber de que maneira ocorrem os avanços, as assimilações, o desenvolvimento em si. Fiquei feliz naquele momento, pois sempre acreditei que o “rodízio” de sala em sala, nem sempre nos possibilita ver o desempenho do aluno. Para minha surpresa essa estagiária já envolvida com o trabalho que estava sendo desenvolvido com a sala me solicitou para continuar na turma até o final do semestre, mesmo tendo cumprido sua carga horária. O fato de Ter acompanhado apenas uma turma, despertou nessa estagiária a necessidade de melhor compreender essa clientela e talvez reconstruir seu conhecimento em relação a tal área? Seria só o emocional? Porque as demais estagiárias não permaneceram?... A Segunda estagiária a qual quero me referir nesse momento, também optou por permanecer fixa em minha sala. Assim como fiz com a primeira, comecei a trocar informações com essa Segunda, respondendo suas eventuais dúvidas, questionando-a em relação a sua formação. Além dos mesmos olhares outrora visto por mim, percebi nesta Segunda estagiária fixa, o desejo de colaborar com algo. Timidamente ela foi presenciando alguns avanços ocorridos na turma, e resolveu: Eu posso vir dois dias da semana? Claro! Respondi eu. Ela começou a participar ativamente das aulas junto aos alunos... Após o “Encontro de Didática e Prática de ensino” o qual eu participei, prontamente na Segunda –feira - o dia que ela estava conosco –participei a ela alguns fatos ocorridos nesse encontro e alguns temas que me chamaram à atenção, pensando num possível uso desses recursos em sala de aula... Nossa, parecia que ela estava esperando por isso! Com um sorriso nos lábios, ela me declarou que já havia estudado sobre o tema e que já vinha pensando na mesma possibilidade... O referido estudo tratava da questão do uso de meios de comunicação alternativa aplicados a pessoas “paralisadas cerebrais” com distúrbios motores e da fala, porém alguns dos meus alunos que não verbalizam são deficientes mentais. A estagiária já demonstrou o desejo de continuar estagiando independente da carga horária e também o desejo de juntas pesquisarmos os referidos materiais, confeccioná-los e aplicá-los. O que mobilizou essa estagiária em questão avançar nos seus “estudos”? Rio de Janeiro 20/06/00 Hoje ao invés da costumeira rotina de identificar o cartão com o nome, colocá-lo na chamadinha...etc, optei por trabalhar a escrita do nome (com alguns) e traços básicos para a futura aquisição da escrita do nome ( com outros),em alguns casos foi trabalhado traços com a intenção da aquisição da percepção visual. Tivemos atendimento na sala de leitura, e o professor me relatou sobre o comportamento dos alunos (ótimo). A estagiária me surpreendeu com a maneira que definia a nossa sala de aula: _ Essa sala é rica! Tem todos os tipos de aluno! Confesso que essa colocação me mobilizou , pela primeira vez a turma é vista e apontada como algo “positivo”, e isso é maravilhoso... Penso que talvez esse seja o caminho! Há uma “luz no fim do túnel” e futuramente os profissionais que agora se formam, não mais almejem salas de aulas homogêneas como nos “contos de fada”... Além de uma possível “nova visão” percebo, pelo menos nessa futura profissional que hoje está em contato conosco, muito mais que um compromisso com o estágio, um compromisso com a educação e com os educandos. ( hora do lanche = amiga quer falar = pode ficar aí = não eu vou com você, ela espera ). Relatos sobre o não da Érica Relato sobre a Giselli e Washington Relato sobre reabilitação Fisioterapia e Rebeca. Livro Educação Especial Vitor Fonseca RESENHA – ANTE - PROJETO Nos últimos 20 anos, tem-se intensificado no panorama pedagógico brasileiro o foco na formação docente. Consolidam-se e divulgam-se, em inúmeros encontros e publicações, os conhecimentos produzidos com base em pesquisas e reflexões dos especialistas da área, ao mesmo tempo em que se reformulam os currículos de inúmeros cursos destinados a esse preparo. Todavia, apesar do avanço teórico e das propostas inovadoras implementadas, as configurações básicas do sistema de formação de professores não se tem alterado significativamente. Tal situação inevitavelmente frusta os que esperam de uma formação de docentes renovada as indispensáveis contribuições para a construção de uma escola de qualidade em nosso país, ainda que difiram os sentidos e as intenções atribuídos a essa qualidade. ( 81). Ciente de que a opressão econômica e social compõe o pano de fundo, da dinâmica social vigente, ressalto a crescente importância do componente cultural no mundo contemporâneo, no qual a cultura se constitui em estruturante profundo do cotidiano de todo grupo social, em “núcleo radical da identidade dos diferentes grupos sociais e povos”(Candau 1997,p.239), não podendo ser reduzida a mero subproduto ou reflexo da estrutura social vigente. Entendida como campo no qual se travam lutas em torno do processo de significação do mundo social, a cultura é uma prática produtiva, um espaço constituidor, que dispõe de relativo grau de autonomia em relação à esfera econômica. Daí a necessidade de se valoriza-la devidamente, sem , no entanto, ignorar ou desprezar a força de determinações materiais.(83) A cultura é, portanto, esfera de lutas, de diferenças, de relações de poder desiguais. Essas diferenças são sempre diferenças em relação a algo, não diferenças absolutas. São diferenças políticas, não apenas diferenças textuais, lingüísticas, formais. São diferenças construídas com base em relações de poder estruturais e globais que não devem ser secundarizadas. (84) Essas diferenças – de raça, classe social, gênero, linguagem, cultura, preferência sexual e/ou deficiência física ou mental – têm, com muita freqüência, justificado as discriminações e as perseguições sofridas por indivíduos ou grupos. Exemplifique-se com as violências cometidas, em diferentes partes do mundo, contra comunidades negras, latinas e asiáticas, cujos sistemas de valores são rotulados como inferiores, primitivos e carentes do refinamento e da moralidade que caracterizariam a cultura ocidental, a cultura branca, cujo poder lhe tem dado o direito de definir o que se deve entender por normal e desejável em áreas cruciais da vida e da experiência humanas.( 84 ) ...quer rejeitemos ou aceitemos a diferença, quer pretendamos incorporá-la à cultura hegemônica, quer defendamos a preservação de seus aspectos originais, quer procuremos desafiar as relações de poder que a organizam, não podemos, em hipótese alguma, negá-la. (84).Ela estará presente, em todos os cenários sociais, empobrecendo-os e contaminando-os, segundo alguns, enriquecendo- os e renovando-os, segundo outros. Em síntese, queiramos ou não, vivemos em um mundo inescapavelmente multicultural. ...Na formação de professores, o desafio torna-se ensinar aos futuros mestres como analisar o conhecimento cultural dos alunos e como articulá-lo com o conhecimento escolar. Os autores acrescentam que conectar o conhecimento público encontrado em livros com o conhecimento e os significados que os alunos trazem consigo é sempre um desafio, quaisquer que sejam os estudantes... (89) ...Uma posição semelhante se encontra em Burbules e rice (1993), para quem o diálogo entre as diferenças é possível e desejável, tanto para criar e estabelecer alguns significados comuns como para desenvolver certo grau de compreensão, tolerância e respeito entre as diferenças.... (92) ...Não há, acentua, maior contradição do que a usca por certeza em um mundo incerto, o que me leva a concluir que os problemas teóricos e práticos que nos afligem, ainda que devam ser enfrentados, não podem nos imobilizar e nos eximir do engajamento com os outros em uma luta, em uma história comum...`(93) A escola, tal como a conhecemos hoje, é uma construção histórica recente. Na América Latina os sistemas escolares se constituíram praticamente neste século. A concepção de escola que se foi consolidando apresenta como uma instituição orientada fundamentalmente a promover a apropriação do conhecimento considerado socialmente relevante e a formação para a cidadania. No entanto, estas duas funções básicas da escolarização hoje, pode se afirmar, estão em crise, seja pela dificuldade da escola de fato as realizar, seja, o que consideramos mais relevante para a nossa discussão, pelo seu próprio anacronismo em relação aos tempos presentes.(14) Outro grande desafio que se coloca para a reinvenção da escola se relaciona com a articulação entre igualdade e diferença. Durante muito tempo a cultura escolar se configurou a partir da ênfase na questão da igualdade, o que significou, na prática, a afirmação da hegemonia da cultura ocidental européia e a ausência no currículo e em outras práticas simbólicas presentes na escola de outras vozes, particularmente referidas às culturas originárias do continente, à cultura negra e de outros grupos marginalizados de nossas sociedades. (15) Não basta mais lutar apenas contra as desigualdades sociais, mas é preciso também buscar estratégias onde as diferenças culturais possam coexistir de forma democrática.( 19 ) Entre estas aquisições se pode destacar, de um lado, a exigência colocada pelo contexto histórico atual de procurar caminhos onde a diversidade cultural, que está na base da formação de identidades plurais reivindicadas de formas cada vez mais explícitas, seja reconhecida como elemento estruturador da prática pedagógica escolar. as discussões bastante atuais em torno das diferentes maneiras de conceber o multiculturalismo e a educação intercultural ilustram bem esta afirmação. Mais importante do que adjetivar as diferentes propostas pedagógicas que procuram incorporar a diferença e a construção do outro no interior das práticas educativas, é de percebê-la como escolhas pedagógicas “que são, ao mesmo tempo, éticas ou políticas”(Fourquin : 1997). Interessante observar ainda que a tendência da perspectiva multicultural é a de ampliar, cada vez mais, a sua área de intervenção. Com o questionamento do próprio conceito de cultura que está na base desta perspectiva, a questão da construção da diferença e da identidade extrapola, pouco a pouco, o domínio das situações de escolarização onde a pluralidade cultural é mais evidente e passa a ser vista como uma questão inerente a toda prática pedagógica. ( 37) Neste processo crescente de exclusão, que assume novas caras e dimensões no continente, os mais afetados são os “outros”, os diferentes, os que não dominam os códigos da modernidade, não têm acesso ao processo de globalização em suas diferentes dimensões, estão configurados por culturas que se resistem a colocar no centro a competitividade e o consumo como valores fundamentais da vida, pertencem a etnias historicamente subalugadas e silenciadas, questionam os estereótipos de gênero presentes nas nossas sociedades, lutam diariamente pela sobrevivência e pelos direitos humanos básicos que lhe são negados. (48). As nossas salas de aula, onde pretensamente se ensina e se aprende, deveriam ser espaços de lidar com o conhecimento sistematizado, construir significados, reforçar questionar e construir interesses sociais, formas de poder, de vivências que têm necessariamente uma dimensão antropológica, política e cultural.(52). A tomada de consciência desta realidade, em geral, é motivada por fatos concretos que explicitam diferentes interesses , discriminações e preconceitos presentes no tecido social. Uma situação até então considerada “normal” e “natural” se revela como permeada por relações de poder, historicamente construídas e marcadas por desigualdades e estereótipos raciais e culturais. Os “outros”, os diferentes, se revelam em toda a sua concretude. Para muitas pessoas e grupos sociais esta descoberta é altamente ameaçadora. Surgem então comportamentos e dinâmicas sociais que constróem muros. Física, afetiva e ideologicamente evita-se o contato e criam-se mundos próprios, sem relação com os “diferentes”. (54,55). Os diferentes atores do processo educacional vivenciam diferentes universos culturais. No entanto, em geral, a cultura escolar ignora esta realidade plural e apresenta um caráter monocultural. (64). Ensinar supõe querer fazer alguém aceder a um grau ou a uma forma de desenvolvimento intelectual e pessoal que se considera desejável. Isto não pode ser feito sem se apoiar sobre os conteúdos, sem extrair da totalidade da cultura – no sentido objetivo do termo, a cultura enquanto mundo humanamente construído, mundo das instituições dos signos no qual, desde a origem, se banha todo indivíduo humano, tão somente por ser humano, e que constitui como que sua Segunda matriz – certos elementos que se consideram como mais essenciais, ou mais intimamente apropriados a este projeto. Educar, ensinar, é colocar alguém em presença de certos elementos da cultura a fim de que ele deles se nutra, que ele os incorpore à sua substância, que ele construa sua identidade intelectual e pessoal em função deles. Ora, tal projeto repousa, necessariamente, num momento ou noutro, sobre uma concepção seletiva e normativa da cultura (p.167-168). (66) Conforme salientado em estudos desenvolvido por Canen (1995a), a diversidade cultural dos alunos que chegam às escolas é freqüentemente ignorada nas práticas pedagógico-curriculares desenvolvidas pelos professores. Uma análise das expectativas destes professores com relação à pluralidade cultural dos alunos revela freqüentes vieses e estereótipos que estão à base de práticas pedagógicas que, sob o véu da “neutralidade técnica”, excluem aqueles cujos padrões culturais não coincidem com os preconizados pelo sistema escolar. A formação de um professor criticamente equipado para compreender e valorizar a diversidade cultural dos alunos e tecnicamente apto a pautar a sua ação pedagógica a partir deste(s) universo(s) cultural(is) tem sido apontada como uma importante via para a tentativa de superação do problema. (205) ...perspectiva intercultural crítica, concebida como a mais potencialmente fértil para a análise e tentativa de superação da exclusão cultural no âmbito educacional.(206) Dentro desta perspectiva crítica, embora reconhecendo a influência dos fatores macroestruturais na manutenção da desigualdade, concebe-se que existe um espaço de resistência, de transformação, dentro do sistema educacional. Em outras palavras, embora não possa resolver o problema em pauta, a educação pode fazer, pelo menos, algo.(207) Em tal quadro, o reconhecimento do caráter multicultural de grande parte das sociedades e da necessidade de formação de professores preparados para atuar com alunos de padrões culturais diversos passa a ser discutida em literatura na área. Argumenta-se que uma educação multicultural deve ser um imperativo não só com relação aos grupos discriminados, como também com relação aos grupos dominantes, uma vez que tal tipo de educação visará não só a igualdade educacional, como também a formação de novas gerações destituídas de preconceitos, reconhecendo a pluralidade étnico – cultural como um enriquecimento e não como uma deficiência para a sociedade. Neste sentido, autores como .....e ......, falam de uma educação multicultural entendida como aquela voltada para a diversidade cultural e não para os alunos “culturalmente diferenciados”. 210 ANTE - PROJETO POSSÍVEIS REFLEXÕES DA EDUCAÇÃO INCLUSIVA A PARTIR DAS DIFERENÇAS CULTURAIS OCASIONADAS POR MEIO DA EDUCAÇÃO PROFISSIONALIZANTE : O CASO CETEP – QUINTINO – RJ I - APRESENTAÇÃO A inclusão de crianças com necessidades educativas especiais, além de fazer parte das atuais discussões sobre educação, se faz necessárias. A formação docente também é foco dentro dessa discussão, e “apesar do avanço teórico e das propostas inovadoras implementadas, as configurações básicas do sistema de formação de professores não se tem alterado significativamente. Tal situação inevitavelmente frusta os que esperam de uma formação de docentes renovada as indispensáveis contribuições para a construção de uma escola de qualidade em nosso país, ainda que difiram os sentidos e as intenções atribuídos a essa qualidade.”(81) Segundo Antonio Flávio, a cultura é uma prática produtiva, campo no qual se travam lutas em torno do processo de significação do mundo social. A cultura, portanto, é esfera de lutas, de diferenças, de relações de poder desiguais, por isso, penso eu, se faz necessário o componente cultural na formação docente. “Essas diferenças – de raça, classe social, gênero, linguagem, cultura, preferência sexual e/ou deficiência física ou mental – têm, com muita freqüência, justificado as discriminações e as perseguições sofridas por indivíduos ou grupos.”(84) A. F. Pelo trabalho, todavia, o homem se faz homem, modifica a natureza, transforma suas condições de vida. Pelo trabalho também, o homem é alienado, subjugado, dominado. Ante essas duas faces, qual é o papel da escola na tão discutida “preparação para o trabalho” em uma sociedade na qual se prisma pela inclusão? Assim sendo, “... quer rejeitemos ou aceitemos a diferença, quer pretendamos incorporá-la à cultura hegemônica, quer defendamos a preservação de seus aspectos originais, não podemos, em hipótese alguma, negá-la...em síntese, queiramos ou não, vivemos em um mundo inescapavelmente multicultural”.84 A. F. Pesquisar como a inclusão pode estar sendo efetivada e de que maneira ocorre as articulações entre igualdades e diferenças, parece- nos importante, pois “não basta mais lutar apenas contra as desigualdades sociais, mas é preciso buscar estratégias onde as diferenças culturais possam coexistir de forma democrática”. (19) II – FORMULAÇÃO DA SITUAÇÃO PROBLEMA Segundo .......(trabalho)Sabe-se que a escola, é uma instituição social, que não pode ser pensada como se existisse autônoma e independentemente da realidade histórico-social da qual é parte, ela é parte integrante e inseparável do conjunto dos demais fenômenos que compõem a totalidade social, Não é algo acabado e sim o produto de relações sociais, o produto da prática social de grupos e de classes. Por isso mesmo ela pode ser transformada. O CETEP de Quintino é um Centro Técnico de Escolas públicas e recentemente “possibilitou o acesso ”a seus cursos para uma clientela “especial”. Um dos setores dessas instituição foi procurado por um aluno com necessidades educativas especiais, o qual desejava ingressar no curso. Um adolescente com necessidades educativas especiais, que freqüenta uma Escola Especial situada no mesmo complexo, num dado momento, resolveu solicitar uma vaga no curso profissionalizante de Marcenaria. O professor admirado com o pedido respondeu ao aluno que ali só estudavam dois tipos de pessoas: “bichas” ou “malucos”. O aluno prontamente respondeu que era “maluco”, pois estudava na Escola Favo de Mel, tão conhecida por eles daquele setor. Sem dar credibilidade a fala do adolescente o professor solicitou que ele viesse acompanhado pelo responsável para conversarem sobre uma possível vaga no curso. Na semana seguinte, para espanto dos professores e dirigentes daquele setor, lá estava o adolescente com seu responsável. Mediante a situação, os dirigentes do setor do curso de Marcenaria, entraram em contato com a direção da respectiva escola onde o adolescente estudava. Após o intercâmbio entre os setores e os respectivos acertos de como se processaria o ingresso desse adolescente no curso, resolveram matriculá-lo. Preconceitos, receios, angustias “pairavam no ar”, pois os profissionais que ali atuavam, alegavam não terem preparação para lidar com tal situação. O referido adolescente, assim sendo, iniciou o curso, cheio de expectativas, e repleto de orgulho por estar fazendo um curso profissionalizante, o qual “ele” desejou e buscou. Esse adolescente foi o primeiro aluno portador de necessidades educativas especiais do curso de Marcenaria, hoje porém, esse curso atende a uma clientela maior de deficientes mentais. Importante “frisar” neste fato, é que, tempos depois do ingresso desse adolescente no curso, o mesmo já estava repassando para alunos novos o conhecimento adquirido . Atitudes como essa, redimensionou a visão dos profissionais que ali atuavam... Hoje sabe-se que o repensar o curso, sua possibilidades, faz parte da equipe que ali trabalha, como também a terminalidade do mesmo, onde percebem que mesmo que aquele adolescente não tenha condições de receber um certificado de marceneiro, algo com certeza ele aprendeu, então basta questionarmos o que ele realmente aprendeu e certificá-lo de acordo com o seu ganho real. Aprendeu a lixar? Então vamos dar-lhe o certificado de lixador! Mediante ao exposto a situação problema dentro desse contexto é: Quais (são) as possíveis rupturas promovidas por meio da educação inclusiva a partir da educação profissionalizante? Quais as possíveis rupturas promovidas por meio da educação profissionalizante para educação inclusiva? III - OBJETIVO, DELIMITAÇÃO E IMPORTÂNCIA DO ESTUDO Sendo a educação profissionalizante um dos fatores à contribuir para possíveis rompimentos de ordens multiculturais, promovendo a inclusão, os objetivos desta pesquisa são: 1o ) Descrever como se procede a inclusão de indivíduos com necessidades educativas especiais no contexto da educação profissionalizante. 2o) Identificar em que momento ocorrem essas possíveis rupturas. 3o) Descrever de que maneira (em que medida) a educação profissionalizante possibilita a inclusão social, entendendo esta no seu contexto mais amplo. Essa pesquisa se efetivará no CETEP – Quintino , Centro Técnico de Escolas Públicas, o qual atende alunos até 21 anos e fornece diversos cursos profissionalizantes , como também Educação Especial. Educação Infantil, Ensino Fundamental e Ensino Médio. Dentre os diversos cursos fornecidos, esta pesquisa focará em específico o curso de Marcenaria, e buscará focalizar em que circunstâncias certos obstáculos são rompidos possibilitando a concretização da inclusão. A pesquisa estará restrita ao curso profissionalizante, podendo recorrer a Escola de Educação Especial, na qual o adolescente estuda, para melhor clarificar dados (fatos). Este estudo se faz importante, pois aponta para um aspecto da realidade, o qual se efetiva, buscando assim colaborar para avanços acadêmicos, uma vez que a realidade se apresenta de forma muito abrangente (ampla). Com efeito, tais resultados poderá contribuir e/ou clarificar algumas das formas de se perceber a diferença, tanto em termos educacionais como sociais. Para avanços acadêmicos, pois sempre que se faz uma pesquisa, percebe-se a realidade muito ampla, necessitando assim ater-se a alguns focos. COMUNICAÇÃO ALTERNATIVA = 05/08/00 Comunicação Alternativa envolve = gestos manuais, expressões faciais, código Morse e signos gráficos ( escrita, desenhos, gravuras e fotografias). Comunicação Ampliada = duplo propósito: promover e suplementar a fala e garantir uma forma alternativa se o indivíduo não se mostrar capaz de desenvolver a fala. Comunicação alternativa/ampliada (CAA ) = assistida e não assistida. Não assistida = não exigem ajuda ou equipamento para sua produção.(fala, linguagem de sinais, sinais manuais, gestos e expressões faciais são exemplos ). Assistida = a produção e a emissão de símbolos requerem instrumentos e equipamentos além do corpo do comunicador (palavras escritas em papel, pranchas de comunicação contendo fotografias, desenhos, sistemas de sinais pictográficos, ideográficos ou alfabeto, mecanismos de apontar com a cabeça , sistemas computadorizados acompanhados ou não de voz sintetizada ou digitalizada são exemplos). Sistemas Simbólicos: Sistema de símbolos Bliss introduzido no Canadá para crianças com déficits de linguagem , especialmente as portadores de paralisia cerebral – sem comprometimento intelectual. Pictogram Ideogram Communication System – PIC desenvolvido paa portadores de deficiência mental incapazes de falar e que não aprenderam a utilizar funcionalmente os Símbolos Bliss – contém 400 pictogramas – figuras brancas estilizadas. Picture Communication Symbols – PCS contém 1400 figuras icônicas desenhadas de forma estilizada. Picture Exchange Communication System – PECS = Promover a comunicação simbólica com autistas Procedimentos Naturalísticos de ensino = estratégias de ensino que são aplicadas no ambiente natural da criança, utilizam como reforçadores elementos de interesse da criança; e utilizam as contingências do meio natural para aumentar as respostas desejadas. Ensino incidental = este procedimento se refere àsinterações entre um adulto e uma criança que ocorrem naturalmente em situações rotineiras como em jogos e momentos de alimentação, e que são usados para ensinar novas informações e promover formas comunicativas mais amplas. Procedimento manto-modelo = variação da incidental. Princípis prelinguístico entre mãe e bebê. Segue os seguintes passos: 1) o educador direciona a atenção da criança através de uma variedade de materiais atrativos e desejados, 2) quando a criança se aproxima do material, o educador emite um mando, “O que é isso? Ou Diga o que você quer” 3) se a criança não emite respostas mínimas, o educador fornece um modelo para ser imitado, 4) a imitação da criança é reforçada com elogio e com o objeto almejado. A comunicação aumentativa ou suplementar e a comunicação alternativa, são sistemas baseados em sinais pictográficos, ideográficos e arbitrários, usados para promover a comunicação dos portadores de distúrbios da fala e da comunicação. Plano de Estudo A razão pela qual anseio cursar o Programa de Pós-Graduação – mestrado, a priori é o desejo de desenvolver pesquisas para obter subsídios que dêem continuidade a minha atuação profissional, proporcionando-me uma fundamentação teórica adequada, ampliando meu conhecimento científico e visando atuar e contribuir futuramente na formação profissional. O interesse específico pela UERJ, deve-se a contatos com professores, graduandos e pós-graduandos dessa instituição em Congressos e Seminários sobre Educação Especial no Paraná (UEL – Londrina e Paranavaí ), no Rio de Janeiro (UFF-Niterói) e no Encontro de Didática e Prática de Ensino (UERJ – RJ), os quais me mobilizaram para buscar esse Mestrado. A linha de pesquisa de meu interesse é “Educação Especial”, onde anseio participar do grupo de Pesquisa “Recursos Metodológicos de intervenção educacional em condições controladas”, especificamente em “Avaliação da Comunicação e desempenho lingüístico de Portadores de Deficiência Múltipla, através de sistema de comunicação alternativa”, o qual vem de encontro a dúvidas e problemas observados na realidade onde atuo. Hoje atuando na Secretaria de Ciência e Tecnologia do Estado do Rio de Janeiro, antigo CEI, atual CETEP, em Quintino Bocaiuva - na Escola Especial Favo de Mel, percebo nessa minha trajetória profissional, desde a minha formação, o quanto tenho para aprender, estudar e pesquisar, pois observamos situações adversas e dificuldades múltiplas, dentre elas os distúrbios da fala e da comunicação. O estudo, pesquisa e aplicação da Comunicação alternativa far- se-á importante, pois poderá dar “voz” para determinados indivíduos, oportunizando-os de expressarem seus sentimentos, desejos e necessidades. Gizeli Aparecida Ribeiro de Alencar Universidade do Estado do Rio de Janeiro Centro de Educação e Humanidades Faculdade de Educação Linha de Pesquisa : Educação Especial Universidade do Estado do Rio de Janeiro Centro de Educação e Humanidades Faculdade de Educação Linha de Pesquisa : Educação Especial Proposta de Plano de Estudo Programa de Pós – Graduação Elaborado por Gizeli Aparecida Ribeiro de Alencar Agosto /2000 Título POSSÍVEIS REFLEXÕES DA EDUCAÇÃO INCLUSIVA A PARTIR DAS DIFERENÇAS CULTURAIS OCASIONADAS POR MEIO DA EDUCAÇÃO PROFISSIONALIZANTE : O CASO CETEP – QUINTINO – RJ A inclusão de crianças com necessidades educativas especiais, além de fazer parte das atuais discussões sobre educação, faz-se necessárias, pois sabe- se que grande parcela da população fica excluída do ensino regular, e o destino dos que nela permanecem, não é dos melhores pois ocorrem evasões, repetências, o que por vezes acarretam estigmas; não esquecendo os casos de alunos que são diagnosticados como portadores de distúrbios de aprendizagem ou deficientes mentais. A formação docente também é foco das atuais discussões, assim como a inclusão, e percebe-se que “apesar do avanço teóricos, talvez pouco tenha-se alterado no sistema de formação dos mesmos. Assim sendo, “... quer rejeitemos ou aceitemos a diferença, quer pretendamos incorporá-la à cultura hegemônica, quer defendamos a preservação de seus aspectos originais, não podemos, em hipótese alguma, negá-la...em síntese, queiramos ou não, vivemos em um mundo inescapavelmente multicultural”. ( Moreira,1999 . p.84) Pesquisar como a inclusão pode estar sendo efetivada e de que maneira ocorre as articulações entre igualdades e diferenças, parece-nos importante, pois “não basta mais lutar apenas contra as desigualdades sociais, mas é preciso buscar estratégias onde as diferenças culturais possam coexistir de forma democrática”. (Candaü ,2000,p.19). Segundo Franco, sabe-se que a escola é uma instituição social, que não pode ser pensada como se existisse autônoma e independentemente da realidade histórico-social da qual é parte, ela é parte integrante e inseparável do conjunto dos demais fenômenos que compõem a totalidade social,(1991p. 54). Não é algo acabado e sim o produto de relações sociais, o produto da prática social de grupos e de classes. Por isso mesmo ela pode ser transformada.(Melo in Franco,1991, p. 54). O Centro de Educação Tecnológica Profissionalizante -CETEP de Quintino, antigo CEI, possui dentro de seu complexo uma Escola Especial que atende crianças e adolescentes com deficiência mental e recentemente um dos setores profissionalizantes estendeu os seus atendimentos para essa “clientela especial” que estudam no referido complexo. Esse trabalho de inclusão dentro do curso profissionalizante só tornou-se possível porque um aluno da escola especial do complexo desejou fazer o curso profissionalizante de Marcenaria e entrou em contato com o professor, o qual ficou surpreso com a sutileza da resposta do aluno para conquistar a vaga. A princípio, não dando credibilidade ao desejo desse aluno , o referido professor comunicou ao aluno que ali naquele setor só matriculavam dois tipos de aluno: “bichas” ou “malucos”. O aluno prontamente respondeu que era “maluco”, pois estudava na Escola Favo de Mel. Percebe-se diante do fato que diferenças “de raça, classe social, gênero, linguagem, cultura, preferência sexual e/ou deficiência física ou mental – têm, com muita freqüência, justificado as discriminações e as perseguições sofridas por indivíduos ou grupos.”(Moreira,1999, p.84). Atitudes discriminatória são possíveis de serem revertidas, mesmo que lentamente, como ocorreu no Setor de Marcenaria, onde mediante as circunstâncias o professor solicitou ao aluno que viesse acompanhado pelo responsável para conversarem sobre uma possível vaga no curso. Na semana seguinte, para espanto dos professores e dirigentes daquele setor, lá estava o adolescente com seu responsável. Os dirigentes do setor do curso de Marcenaria, entraram em contato com a direção da respectiva escola onde o adolescente estudava. Após o intercâmbio entre os setores e os respectivos acertos de como se processaria o ingresso desse adolescente no curso resolveram matriculá-lo. Esse adolescente foi o primeiro aluno portador de necessidades educativas especiais do curso de Marcenaria, o qual atende atualmente uma clientela maior. Sentimentos como preconceitos, receios e angustias fizeram e ainda fazem parte deste contexto no qual esses adolescentes “especiais “estão inseridos (curso de Marcenaria), pois os profissionais que ali atuavam, alegavam não terem preparação para lidar com tal situação, no entanto a autonomia desse adolescente guiado pelo desejo de “entrar” num curso profissionalizante, nos faz acreditar que é possível pensar sobre a inclusão. O referido adolescente, assim sendo, iniciou o curso, cheio de expectativas, e repleto de orgulho por estar fazendo um curso profissionalizante, o qual “ele” desejou e buscou. Importante “frisar” neste fato, é que, tempos depois do ingresso desse adolescente no curso, o mesmo já estava repassando para alunos novos o conhecimento adquirido .Percebe-se que essa atitude, que gerou um certo “conflito”, uma “desestabilização”, certamente redimensionou a visão dos profissionais e demais educandos que atuavam e atuam naquele contexto, as quais possibilitaram novas discussões sobre o “repensar”o curso, suas possibilidades e sua terminalidade, por estar atendendo uma clientela diversificada, procurando assim respeitar os ritmos de desenvolvimentos, podendo o aluno receber certificação de Marceneiro ou não, porém viabilizando certificar os demais de acordo com suas reais aprendizagens, como no caso do aluno especial, que não se formou marceneiro porém tornou-se um excelente lixador. Como nos aponta Santos, o conceito de inclusão precisa ser esclarecido para possibilitar que não ocorra “perplexidade, confusão e insegurança com que professores e outros profissionais se deparam com o tema quando abordado em teoria ou na prática”. (Santos p.1) Assim sendo torna-se importante pesquisar como se procedeu essa inclusão nos cursos profissionalizantes e estudar a seguinte situação – problema: Quais (são) as possíveis rupturas promovidas por meio da educação profissionalizante para a educação inclusiva ? Sendo a educação profissionalizante um dos fatores à contribuir para possíveis rompimentos de ordens multiculturais, promovendo a inclusão, os objetivos desta pesquisa serão: 1o ) Descrever como se procede a inclusão de indivíduos com necessidades educativas especiais no contexto da educação profissionalizante. 2o) Identificar e analisar em que momento ocorrem essas possíveis rupturas. 3o) Descrever de que maneira (em que medida) a educação profissionalizante possibilita a inclusão social. Essa pesquisa se efetivará no CETEP – Quintino , Centro de Educação Tecnológica Profissionalizante de alunos fornece diversos cursos profissionalizantes , como também Educação Especial. Educação Infantil, Ensino Fundamental e Ensino Médio. Dentre os diversos cursos fornecidos, esta pesquisa se restringirá ao curso de Marcenaria, e buscará identificar em que circunstâncias certos obstáculos são rompidos possibilitando a concretização da inclusão. A pesquisa estará restrita ao curso profissionalizante, podendo recorrer a Escola de Educação Especial, na qual o adolescente estuda, para melhor clarificar dados (fatos). Este estudo se faz importante, pois aponta para um aspecto da realidade, o qual se efetiva, buscando assim colaborar para avanços acadêmicos, pois sempre que se faz uma pesquisa percebe-se a realidade muito ampla, necessitando assim ater-se a alguns focos. Com efeito, tais resultados poderão contribuir e/ou clarificar algumas das formas de se perceber a diferença, tanto em termos educacionais como sociais. Para responder a estas indagações e aprofundar pesquisas no contextos ao qual estou inserida, visando contribuir cientificamente com o tema em questão, acredito que o eixo temático “Teorias e Práticas Pedagógicas” poderá fornecer-me subsídios para pesquisar sobre a Inclusão, onde a área de meu interesse é “Dificuldades de Aprendizagem e Deficiências” com a Professora Doutora em Psicologia e Educação Especial Mônica Pereira dos Santos, a qual esta realizando uma pesquisa sobre a Inclusão da Criança com Necessidades Educacionais Especiais BIBLIOGRAFIA Baptista, Claudio Roberto. (2000). A integração dos Alunos Portadores de Deficiência e o atual Contexto Educacional Italiano: Pressupostos e Implicações. Biblioteca Virtual de Educação do CNPQ. Educação On-line – Educação Inclusiva... Candaü, Vera Maria (Org.) (2000). Reinventar a Escola.Vozes – 1 ª Edição Candaü, Vera Maria (Org.) (1999). Magistério Construção Cotidiana- Vozes – 3 ª Edição Franco, Luiz Antonio de Carvalho (1991). A Escola do Trabalho e o Trabalho da Escola. – Cortez - 3 ª Edição Moreira, Antonio Flávio Barbosa (Org.) (1999) . Currículo: Políticas e Práticas . – Papirus – 1 ª Edição Santos, Mônica Pereira dos (2000) A Inclusão da Criança com Necessidades Educacionais Especiais .Biblioteca Virtual de Educação do CNPQ. Educação On-line – Educação Inclusiva Souza, Herbert José de ( 1985).Como se Faz Análise de Conjuntura. Vozes – 2 ª Edição Universidade do Federal do Rio de Janeiro Faculdade de Educação Eixo Temático :Teorias e Práticas Pedagógicas Área de interesse: Dificuldades de Aprendizagem e Deficiências Elaborado por : Gizeli Aparecida Ribeiro de Alencar Plano de Estudo Programa de Pós – Graduação Agosto /2000 MEMORIAL O meu anseio de ingressar no curso de Pós –Graduação – Mestrado, em Educação na UFRJ deve-se em virtude do mesmo ser conceituadíssimo perante aos órgãos avaliadores, como a CAPES, e também por sua história. Acredito que viabilizará a ampliação de meus conhecimentos ,enquanto educadora, ale’m de potencializar o meu aprendizado para pesquisar e estudar aquilo que não sei. Atualmente atuo na área de Educação Especial, porém sabe-se que as atuais discussões educacionais visam a inclusão do aluno portador de necessidades educativas especiais no ensino regular, assim sendo sinto necessidade de desenvolver pesquisas que contribuam com novos conhecimentos, o que pode viabilizar instrumentos que possam contribuir para que esses indivíduos excluídos exerçam seu direito à cidadania. Desde a minha formação tive a oportunidade de conhecer e trabalhar com diferentes clientelas, dentre eles alunos da classe média, alunos do movimento “dos sem terra”, no interior do estado de São Paulo, alunos marginalizados e estigmatizados culturalmente e ouitros. Minha experiência profissional começou antes mesmo de concluir o curso de Pedagogia, na cidade de Teodoro Sampaio- SP , quando fui professora substituta de Sociologia, no Colégio Salvador Moreno Munhoz, no ano de 1995. Assim que me formei comecei a atuar no Colégio Estadual Lourdes Alves Melo na cidade de Itaguajé – PR, no curso do Magistério, onde lecionei as disciplinas de Filosofia da Educação, Estrutura e Funcionamento do Ensino de 1o Grau, Inglês, Língua Portuguesa, durante dois anos, onde era professora Celetista, isto nos anos de 1995 e 1996. Concomitante com a atuação nesta cidade comecei a atuar novamente em Teodoro Sampaio, SP, cidade vizinha, no Colégio Arthur Ribeiro , assumindo uma Sala Especial.Durante esse período iniciei minhas pesquisas científicas na área de Educação Especial, no curso de Pós-Graduação Latu Sensu , em Deficiência Mental na Universidade Estadual de Maringá. Assim que conclui minha especialização ingressei no corpo docente do CEFAM – Centro de Formação e Aperfeiçoamento do Magistério ,em Teodoro Sampaio – SP, o qual faz parte de um projeto do Estado de São Paulo.O Projeto CEFAM atende adolescentes com idade para ingresso até 21 anos, onde todos os alunos recebem uma bolsa de incentivo no valor de um salário mínimo, para dedicarem-se ao curso, o currículo é dividido em aulas práticas e teóricas, pois os alunos estudam de 7: 00 às l7:00 horas. Durante o período em que atuei no CEFAM ministrei aulas de Didática e Estágio Supervisionado, as quais me possibilitaram experiências riquíssimas , como a ocorrida na Semana do Magistério em novembro de 1997. Ouvi-los e delegar autonomia a eles foi um ato “inovador” e “assustador” para os mesmos, pois em determinadas situações muitas vezes as atividades ou tarefas a serem desenvolvidas eram sugeridas sempre com intuito de prevalecência Decidimos então, todos nós, que não realizaríamos somente materiais pedagógicos para exposição, iríamos construir uma sala diferente, que chamasse atenção, que deixasse as pessoas eufóricas, que desestabilizasse as concepções clássicas, que demonstrassem criatividade e responsabilidade. Por ser uma cidade do interior optamos por construir uma “Sala do Terror”, pois causaria impacto, uma vez que a cidade não oferecia opções de lazer diversificados, além do riquíssimo contato com a natureza, e no ano seguinte realizaríamos a Sala do Encanto. Para tal projeto da construção da sala, os alunos se mobilizaram para conseguirem objetos como: crânios de vaca ou boi com chifre, latões de 20 litros, correntes, máscaras das mais diversas de monstros, lonas pretas, cobertores, gravador, fitas k-7 com ruídos fúnebres, caixão, cimento , latas de tintas vazias, bambus, etc. Houve uma mobilização e pré disposição geral dos alunos daquela turma. A sala de aula que foi transformada na “Sala do Terror” ficou impecável depois de pronta, com labirintos estonteantes, os quais deixaram muitas crianças e adolescentes de “cabelo em pé”. O sucesso foi tão grande, que outras escolas de cidades vizinhas também fizeram-se presentes. Durante a Semana do Magistério muitos desejaram fazer parte daquela equipe, a qual recebeu exclusivamente a visita da Delegada de Ensino de Mirante do Paranapanema, a qual aqui no Rio de Janeiro denomina-se por C.R.E. Para registrar tal momento, os alunos no teceiro dia de funcionamento da sala, contrataram uma filmagem, diziam eles: - Esse é um momento inesquecível, mas vale a pena filmar para garantir que esse dia não se apague da memória! Durante esse período no qual estive em contato com o Magistério de maneira geral, pude redimensionar minha visão para com a área de Educação e por conseguinte minha prática. Tive momentos em que a educação naquele contexto no qual estava inserida estava sendo vista com descaso, tanto em relação ao professor que por falta do profissional da área assumia outras disciplinas como para com o educando, que na maioria das vezes era o maior prejudicado Situações como essa começaram a me angustiar, comecei então a participar na medida do possível de Congressos e Seminários, não só da área de Educação Especial como em Educação em Geral. Foi expondo um trabalho em novembro de 1997 no I Congresso Brasileiro Multidisciplinar de Educação Especial, na UEL,EM Londrina, que conheci profissionais do Rio de Janeiro , os quais me incentivaram a prestar o Concurso para FAETEC no Rio na área de Educação Especial , cidade na qual eu teria melhor acesso à informações e por conseguinte poderia ampliar meus conhecimentos, uma vez que eu residia numa cidade de 3.000 habitantes. Motivada com a idéia de ingressar no Mestrado, em janeiro de 1998 prestei o concurso da FAETEC e em fevereiro eu já estava aqui no Rio de Janeiro trabalhando na Escola Especial Favo de Mel, uma das escolas do Complexo CETEP (Centro de Educação Tecnológica Profissionalizante) de Quintino, antigo CEI, onde atuo até o presente momento. Preocupada com a maneira como ocorrem as articulações entre diferenças e igualdades sinto-me motivada a pesquisar de que maneira a “inclusão” pode acontecer, já que me encontro atuando num complexo que dispõem de diversos recursos para auxiliar na efetivação do mesmo, pois vivemos num momento de globalização, de discussões intensas sobre Direitos Humanos, de respeito às diversidades, porém sabe-se que independentemente de se ter uma deficiência ou não, a exclusão está ocorrendo em todos os sentidos e principalmente na escola, local onde ocorrem evasões, repetências, estigmas, rótulos. A inclusão faz-se necessária não só ao portador de necessidades educativas especiais, como também a todo indivíduo discriminado e/ou excluído. Gizeli Aparecida Ribeiro de Alencar Agosto / 2000 Universidade do Federal do Rio de Janeiro Faculdade de Educação Eixo Temático :Teorias e Práticas Pedagógicas Área de interesse: Dificuldades de Aprendizagem e Deficiência Elaborado por Gizeli Aparecida Ribeiro de Alencar MEMORIAL Agosto /2000 Questão do mestrado UFRJ setembro/2000 A educação tem, cada vez mais, destaque nas sociedades contemporâneas. O reconhecimento desta importância envolve a democratização dos recursos humanos e sua inclusão no sistema de produção, a melhoria da qualidade de vida e participação no processo político, a capacidade de adaptação em uma sociedade na qual o conhecimento exerce um papel central e a própria estabilidade do sistema social. Por outro lado o sistema educacional, em si, tem sido afetado pela incorporação de novas tecnologias, por novos domínios do conhecimento, pela elevação de seus custos, pela preparação em quantidade e qualidade dos recursos humanos docentes, pelo desejo de participação dos atores envolvidos e pela expansão de matrículas. O Brasil, ao longo dos anos, tem procurado corrigir seus problemas através de políticas que envolvem, entre outros, dispositivos legais, mecanismos de incentivos e financiamentos, avaliação de instituições e de sistemas e integração de esforços entre as diferentes instâncias de governo. QUESTÕES ? Escolha entre a Educação Básica e o Ensino Superior para abordar em sua resposta ? Faça uma discussão da política educacional MEC na década de 90, avaliando a relevância de sua atuação e o impacto das medidas adotadas em relação ao nível educacional escolhido. Rio de Janeiro, 09 de Outubro de 2000. Ilmo Sr. Alberto de Mello e Souza Coordenador do PPGE/UFRJ Venho através dessa comunicar-lhe o quão lisongeada fiquei por ter sido aprovado na primeira etapa do Concurso de Seleção para o Mestrado em Educação dessa conceituadíssima instituição, porém não participarei da segunda fase da seleção (entrevista), pois já me encontro matriculada e cursando o Mestrado em Educação da UERJ, em outra linha de pesquisa (Educação Especial), o qual teve seu início dia 02 de Outubro de 00 . Gostaria de ressaltar que a linha de Pesquisa (Teorias e Práticas Pedagógicas – em específico Distúrbios de Aprendizagens e Deficiências)na qual inscrevi meu Plano de Estudos, ainda é de meu interesse, o qual pretendo retomar assim que concluir o Mestrado. Sem mais para o momento, e certa de sua atenção e compreensão, Gizeli Aparecida Ribeiro de Alencar TÍTULO: Expansão do Atendimento Educacional da Escola Especial Favo de Mel à Deficientes Visuais. I - APRESENTAÇÃO A Escola Especial Favo de Mel , atende pessoas portadoras de deficiência mental, e desenvolve um trabalho de conscientização do termo “inclusão” paralelo ao âmbito escolar ( alfabetização) e do Projeto Educação pelo Trabalho, face a estrutura física da escola e atualmente ao avanço tecnológico, (programas destinados a pessoas portadoras de necessidades especiais , em específico o deficiente visual), percebe-se a necessidade e as condições de implantar projetos que atendam além do deficiente mental, também o deficiente visual, com um trabalho que combine os aspectos formais e simbólicos da escrita, para que o aluno gradativamente atinja seu domínio. Estando localizada no complexo de Quintino Bocaiuva, a Escola Favo de Mel, que recebeu o selo de qualidade total no ano de 1998, também desenvolve Programas de Integração e inclusão de seus alunos portadores de necessidades especiais (deficiência mental) , juntamente com os alunos (ditos normais) dos cursos técnicos onde vem obtendo respaudo de outros profissionais e resultados bastantes positivos em relação a sua clientela.. Estando vinculada a Secretaria de Ciências e Tecnologia, a Escola conta com apoio de técnicos especializados em diversas áreas, o que viabilizaria a implantação e manutenção de materiais e equipamentos afins para uma futura extensão que atendesse os portadores de deficiência visual. O Projeto Educação pelo Trabalho, hoje desenvolvido pela escola, consta de atendimentos na área de alfabetização, conceitos matemáticos, expressão artística, meio ambiente, educação para cidadania, oficina de cartonagem, culinária e informática com o intuito de possibilitar ao educando uma visão de mundo, de sociedade, de vida, independente do seu grau de comprometimento, encaminhando de acordo com o seu desenvolvimento para o programa de inclusão nos cursos técnicos e horário inverso às aulas. II – JUSTIFICATIVA A aprendizagem da leitura e da escrita, além da independência social, mesmo que mínima, é uma das metas mais desejadas pelas famílias e pelos educandos, sejam eles portadores de deficiência ou não, pois através destas os mesmos terão acesso aos conhecimentos, habilidades e valores científicos considerados relevantes no contexto social em que vivem.. Através do Programa DOSVOX desenvolvido pela UFRJ, percebemos que temos condições de oferecer atendimento para pessoas com deficiência visual, visando possibilitar a ela condições de se alfabetizarem por meio do computador , uma vez que já contamos com o mínimo necessário para implementação dos mesmos, ou seja, os computadores. INTRODUÇÃO ANTIGA A compreensão da pessoa portadora de excepcionalidade sofreu transformações no decorrer do processo histórico que repercutiram na sua caracterização e encaminhamento educacional. Duas correntes teóricas surgiram de acordo com a filosofia que permeou os diferentes períodos da história da humanidade, denominadas de pré – científicas e científicas (SEE – PR APUD AMARILIAN, 1986). Pré – científicas ( até Idade Moderna) foram responsáveis pela difusão de idéias no âmbito da excepcionalidade, marcadas pelo princípio da eugenia (deficiência entendida como degeneração da raça humana), as quais eram condenadas ao abandono ou à morte, e sujeitas a crenças ligadas ao sobrenatural e à expiação de pecados. Assim sendo determinados comportamentos se arraigaram nas diversas sociedades, destacando-se : a terminologia preconceituosa empregada na identificação desse conjunto de pessoas, a partir de termos como débil, louco, cego, surdo, aleijado; a marginalização social; a segregação e o assistencialismo, com caráter filantrópico ou curativo. Essa abordagem organicista (século XVI e o final do século XIX), defendia a segregação, a punição, o asilamento e o prognóstico de incurabilidade. Sob a influência do Renascimento, da Revolução Francesa e do desenvolvimento técnico – científico ocorrido na sociedade contemporânea, tem origem a concepção científica, que provocou mudanças no encaminhamento dos diferentes ramos da ciência, dentre as quais a Medicina, a Filosofia, a Educação e a Psicologia, cujos estudos repercutiram diretamente no processo de uma compreensão mais profunda do ser humano. O homem passa a ser entendido, então , em sua complexidade biológica, psicológica , espiritual e social, visão esta que repercute na compreensão da pessoa portadora de deficiência, cuja limitação mental, sensorial ou física não implica sua aniquilação como pessoa. Esta concepção contribuiu para redimensionar a terminologia para excepcionais, portadores de deficiência, pessoas com problemas no seu desenvolvimento, pessoas com necessidades específicas, e , atualmente, pessoas com necessidades educativas especiais. Desses, dois termos são empregados na Educação Especial, no Brasil, apresentando conotações distintas: “Pessoa portadora de deficiência” e “pessoas portadora de necessidades especiais”. Por “Pessoa Portadora de Deficiência” entende – se aquela “que apresenta, em comparação com a maioria das pessoas, significativas diferenças físicas, sensoriais ou intelectuais, decorrentes de fatores inatos ou adquiridos, de caráter permanente, que acarretam dificuldades em sua interação com o meio físico social” (MEC/SESP,1994). “Portador de Necessidades Especiais”nem sempre é um portador de deficiência, mas é aquele que, “por apresentar, em caráter permanente ou temporário, alguma deficiência física, sensorial, cognitiva, múltipla, condutas típicas, ou ainda altas habilidades, necessita de recursos especializados para desenvolver mais plenamente o seu potencial e/ou superar ou minimizar suas dificuldades”(MEC/SESP, 1984). Com a mudança conceptual, essas pessoas passaram a ser vistas como seres integrantes de uma sociedade, capazes de agir e interagir socialmente com os demais membros, de desenvolver sua criatividade, de sensibilizarem – se diante dos fatos, de executarem tarefas diversas, de terem direito aos benefícios da ciência, da tecnologia, e do acesso ao trabalho, cultura e lazer. À luz desses princípios, emergiram diferentes correntes educacionais: a psicopedagogia (intervenção da psicologia e pedagogia), a abordagem social (busca adaptar o meio social ao deficiente – princípios de normalização, integração e individualização) e o comportamentalismo (mudança de comportamento a partir de princípios condicionantes). A concepção científica, por sua vez, favoreceu a desinstitucionalização da deficiência e propagou a política de integração social, que vem conquistando espaços nos diferentes setores de atividades, destacando-se , entre eles, a educação escolar. Partindo desses pressupostos teóricos e com o atual discursso da inclusão de pessoas portadoras de necessidades especiais num âmbito geral, faz-se necessário ampliar as possibilidades para que isso ocorra.