Você está no site: Civilizações HpOtomanos Os turcos otomanos criaram um império que, depois de estabelecer sua capital em Istambul, a antiga Constantinopla, alcançou no século XVI o auge de seu poderio, estendendo-se pela Ásia, África e Europa. Entretanto, a modernização industrial e tecnológica mais rápida da Europa fez com que o império estagnasse e por fim se esfacelasse, no começo do século XX. Originado de um pequeno contingente de tribos turcas da Anatólia, o império otomano expandiu-se ao longo de seis séculos, desde sua fundação, por volta de 1300, até 1922, quando foi proclamada a república na Turquia. A corte de Istambul tornou-se também conhecida como Império da Sublime Porta, em alusão ao fato de ter a porta principal do palácio do sultão um pedaço da pedra negra adorada pelos fiéis na Caaba de Meca. O império concentrou-se na Anatólia e variou muito de tamanho ao longo da história. Em seu apogeu, chegou a abranger os atuais territórios da Albânia, Grécia, Bulgária, Iugoslávia, Romênia e ilhas do Mediterrâneo oriental; parte da Hungria e da Rússia; Iraque, Síria, Palestina, Cáucaso e Egito; o norte da África até a Argélia; e parte da Arábia. Origens do império. Os mongóis haviam derrotado em 1243 o exército seldjúcida, que dominava a Anatólia. Esse fato favoreceu a expansão otomana, pois depois que os mongóis se retiraram deixou de existir um estado turco constituído, mas apenas uma série de principados independentes, fracos e rivais, que haviam começado a emergir nas várias partes não conquistadas. Em seus estágios iniciais de expansão, o povo turco, então pouco populoso, começou a ganhar autonomia sob o comando do chefe guerreiro Osman I, (Otman, em árabe, donde o nome otomano), príncipe (emir) da Bitínia, na fronteira noroeste da Anatólia, e fundador da dinastia imperial. Os generais de Osman iniciaram a conquista das regiões vizinhas à frente dos gazis (combatentes pela fé do Islã) turcos contra o império cristão de Bizâncio. Por volta de 1300, Osman governava uma área que ia de Eskisehir às planícies de Iznik, e obtivera sucessivas vitórias sobre as forças bizantinas que tentaram frear seu movimento expansionista. Seu filho, Orkhan tomou as importantes cidades de Bursa, Nicéia e Nicomédia. Em 1354, com a conquista de Galípoli, os turcos otomanos puseram o pé pela primeira vez na Europa. Grande administrador, Orkhan criou um novo exército, consolidou a estrutura do estado e estendeu seus domínios para leste, abrindo aos sucessores o caminho para a conquista de territórios europeus. Nessa época os turcos criaram o corpo dos janízaros. Aos poucos esse corpo converteu-se num exército permanente e bem treinado, que acabou por constituir uma das colunas mestras do império. Murad I prosseguiu a conquista da Anatólia. Embora não lograsse tomar Constantinopla, apoderou-se da maior parte da Trácia, na parte européia do império bizantino. Estabeleceu a capital em Adrianópolis e adotou o título de sultão. Os exércitos otomanos prosseguiram em seu avanço, apoderaram-se de boa parte da península balcânica e infringiram sucessivas derrotas aos reinos cristãos. Com a morte de Murad na batalha de Kosovo, em 1389, seu filho e sucessor Bayezid I submeteu a Bósnia e a Bulgária. Em 1396, Sigismundo de Hungria tentou fazer frente à ofensiva com um poderoso exército cruzado, mas foi derrotado em Nicópolis. Seguiu-se a tomada de Atenas pelos otomanos. Quando Bayezid I preparava a ofensiva definitiva contra Constantinopla, as hordas mongólicas de Tamerlão, que haviam arrasado a Pérsia e a Mesopotâmia, irromperam na Anatólia. A batalha de Ankara (1402) desbaratou o exército otomano, e só a morte impediu que Tamerlão invadisse a Europa. Com a morte de Bayezid I no cativeiro, seus filhos se enfrentaram em disputa do poder. Mehmet I venceu a disputa e, reconhecido como sultão, reconstruiu o império. Seu filho Murad II enfrentou a rebelião da Albânia e os ataques húngaros, que mantiveram ocupados os exércitos otomanos por longos anos. Mesmo assim, conseguiu assediar Constantinopla, que foi obrigada a pagar tributo e ceder algumas cidades do mar Negro. Em 1430, arrebatou Salonica aos venezianos mas foi derrotado pelos magiares de Janos Hunyadi, em 1443. No entanto, no ano seguinte Murad II desbaratou em Varna o exército cruzado formado por húngaros e poloneses, e comandado pelo próprio Hunyadi, por Ladislau I da Hungria e pelo cardeal Cesarini, o que contribuiu para consolidar o domínio otomano sobre os Balcãs. Em 1446, o soberano otomano anexou também Corinto, Patras e o norte da Moréia e obteve outra vitória sobre Hunyadi na batalha de Kosovo, em 1448. Queda de Constantinopla. Livre de pressões nas fronteiras asiáticas e européias, Mehmet II, filho de Murad II e cognominado o Conquistador, concentrou suas forças para invadir Constantinopla. Após cinqüenta dias de assédio, as tropas otomanas entraram na cidade em 29 de maio de 1453. Abandonado pelos aliados europeus e por parte dos defensores da capital, Constantino XI Paleólogo, último monarca do império bizantino, morreu durante a invasão. Extinguiu-se assim o Império Romano do Oriente. Constantinopla passou a chamar-se Istambul e transformou-se em capital do Islã. A tomada da capital do império bizantino teve grande importância histórica para o mundo. A corte otomana pôde instalar-se numa grande cidade. Mehmet II e seus seguidores consideravam que jamais poderiam anexar os territórios otomanos na Europa, para formar um grande império, sem o controle de seu centro cultural e administrativo. A oeste, as conquistas otomanas chegaram às costas do mar Adriático, e Gênova viu-se forçada a renunciar à Criméia. Bayezid II consolidou as conquistas anteriores e procurou manter a paz, a fim de ganhar tempo e angariar recursos para o desenvolvimento interno. Mesmo assim, teve de travar algumas batalhas na Europa. Ampliou os limites do império ao longo das praias do mar Negro e em 1484 ocupou os portos de Kilia e Akkerman, o que lhe deu o controle das embocaduras do Danúbio e do Dniester, e portanto dos principais entrepostos do comércio do norte da Europa com o mar Negro e o Mediterrâneo. Seu filho Selim I adotou uma política de defesa estrita da ordem islâmica, como forma de retomar o controle político. Em 1514, lançou uma grande campanha contra os sefévidas do Irã e, graças à superioridade militar em armas e táticas, venceu facilmente. Mas teve de retirar-se do Irã por temer a propaganda heterodoxa dos sefévidas disseminada entre seus guerreiros. Em apenas um ano, dominou a dinastia mameluca que exercia o poder em vários estados muçulmanos, entre eles a Síria e o Egito. Assim, de uma só tacada Selim I duplicou o tamanho do império, e absorveu todas as terras do antigo califado islâmico, com exceção do Irã, que continuou em poder dos sefévidas, e a Mesopotâmia, conquistada posteriormente por seu sucessor. Apogeu. Filho de Selim I, Suleiman I, cognominado o Magnífico, na Europa, e o Legislador, entre os otomanos, levou o império ao apogeu. Começou seu reinado, de 1520 a 1566, em uma situação financeira sem paralelo na história do império otomano: além da maior soma de poder e prestígio jamais obtida por qualquer monarca anterior, teve à disposição as abundantes rendas do Tesouro, duplicadas com a conquista do mundo árabe. Por isso, seu longo período no poder, embora marque o início da decadência do império, é tido como a era de ouro da história otomana. As principais batalhas de seu reinado na Europa travaram-se na Hungria e no Mediterrâneo. Os antigos e frágeis inimigos europeus foram substituídos pelo poderoso império dos Habsburgos, incitado pelos apelos do papa contra a expansão muçulmana. Por temer uma possível aliança entre os Habsburgos, os húngaros e os sefévidas, bem como o controle dos Habsburgos sobre a Hungria, Suleiman tratou de ampliar seu domínio sobre a Europa central. Para neutralizar a interveniência da França, concluiu acordos com Francisco I que conferiram vantagens especiais de comércio para os franceses. As repetidas escaramuças entre otomanos e Habsburgos travaram-se ora em terra ora no mar, quando o império otomano surgiu pela primeira vez como potência naval. No entanto, o tirocínio naval do comandante genovês Andrea Doria, contratado por Carlos V para assegurar o domínio dos Habsburgos no Mediterrâneo, infligiu várias derrotas sucessivas aos otomanos, que perderam vários portos no Peloponeso. Suleiman contratou em 1533 o grande almirante Barba-Roxa, capitão turco que armara uma frota pirata praticamente imbatível no Mediterrâneo ocidental. Os otomanos anexaram a Argélia, mas esta ficou como província especial, sob as ordens de Barba-Roxa, que armou uma esquadra capaz de enfrentar de igual para igual a frota dos Habsburgos. Em 1537, lançou um ataque cerrado à Itália, enquanto Doria organizava uma força naval européia. Na batalha de Preveza, os europeus foram derrotados e Veneza teve de abrir mão de suas possessões no mar Egeu, no Peloponeso e na Dalmácia, o que assegurou a supremacia otomana no Mediterrâneo oriental. Suleiman foi obrigado a interromper suas conquistas na Europa após 1541 devido às crescentes preocupações com o Oriente. Promoveu uma campanha radical contra os propagandistas sefévidas e seus simpatizantes na Anatólia oriental e estimulou os turcomenos a atacar o Irã. Suleiman liderou pessoalmente três campanhas contra o exército iraniano, e embora tenha capturado o Azerbaijão e o Iraque, nunca conseguiu derrotar as forças do Irã. Em 1555 foi obrigado a assinar a paz de Amasya, pela qual manteve o Irã e a Anatólia oriental mas teve de abrir mão do Azerbaijão e do Cáucaso e concordar com a visita de peregrinos persas a Meca e Medina. Os sinais mais claros de decadência do império, já no reinado de Suleiman, foram dados pelo crescente desprestígio dos próprios sultões. Selim II e Murad III tentaram retomar o poder absoluto enfraquecendo o cargo de grão-vizir. Esse fato transferiu o poder para as mãos das mulheres do harém, durante o período denominado "sultanato das mulheres", e depois para os chefes dos janízaros. As dificuldades econômicas já se registravam no final do século XVI. Os holandeses e britânicos haviam fechado as velhas rotas de comércio internacional através do Oriente Médio; a economia começou a sofrer os efeitos da inflação, do desequilíbrio na balança comercial e da explosão demográfica. Os sucessores de Murad III prosseguiram na luta contra Áustria, Pérsia, e Hungria. Com a Áustria foi assinada a paz em 1606; com a Pérsia, em 1611. Mehmet IV (reinou de 1642 a 1693) designou Mohamed Köprülü seu grão-vizir e introduziu no governo o primeiro membro de uma família de estadistas notáveis, cuja ação retardou o declínio do império. Um grande impulso expansionista levou o grão-vizir Kara Mustafá a sitiar Viena em 1683, mas foi rechaçado pelos exércitos imperiais e polacos. Logo depois, os otomanos tiveram que enfrentar a aliança formada pela Áustria, Polônia, Veneza e Rússia. Derrotados, assinaram a paz de Carlowitz, em 1699, pela qual a Áustria ganhou importantes territórios balcânicos, e a Rússia um acesso ao mar Negro. Decadência. Durante o século XVIII, o império otomano se manteve na defensiva. Impotente diante dos modernos países europeus, só conseguiu manter-se nos Balcãs devido à rivalidade austro-russa. Novas hostilidades levaram ao Tratado de Passarowitz, em 1718, pelo qual a Áustria consolidou seu domínio na região e avançou pelo Danúbio até Belgrado. Selim III, consciente da situação de inferioridade em que a estagnação econômica e cultural colocava o império, adotou medidas para modernizar a esclerosada e corrupta administração, mas seus propósitos de reforma frustraram-se com a invasão do Egito pelas tropas napoleônicas (1798-1801), que provocaram uma reação tradicionalista no estado turco. Mahmud II herdou uma situação de constante deterioração. Em 1812, a Rússia incorporou os territórios situados ao norte do Cáucaso. A rebelião da Grécia, em 1822, contou com a simpatia do Reino Unido e Rússia, cuja intervenção final consolidou a independência dos gregos em 1830. Pouco depois, o governador do Egito, Mohamed Ali, que havia proclamado independência em relação a Istambul, invadiu a Síria, de onde só a intervenção européia foi capaz de tirá-lo. Abdul-Mejid I e seu sucessor Abdul-Aziz introduziram algumas reformas jurídicas, como a adoção de códigos de comércio marítimo e penal. Mas a essa altura o império otomano já era um estado à mercê da vontade das grandes potências. Na guerra da Criméia (1853-1856), a defesa do império otomano foi o pretexto utilizado pela França e o Reino Unido para conter o expansionismo russo. Abdul-Hamid II abandonou a constituição de 1876 e governou ditatorialmente. Mas a decadência já se mostrava irremediável. Depois do Tratado de San Stefano, modificado pouco mais tarde pelo congresso de Berlim, o império otomano passou a contar apenas com seus territórios balcânicos. Veio depois a rebelião dos "jovens turcos" (1908), seguida de revoltas e sublevações em várias províncias, até a deposição do sultão e a subida ao poder de Mehmet V. As guerras balcânicas (1912-1913) deixaram a Turquia européia reduzida a um pequeno território em volta da capital. A derrota na primeira guerra mundial e a revolução que se seguiu à capitulação turca, em 1922, levaram à queda do último imperador, Mehmet VI. Topo