O Estudo de Charles de Gaulle INTRODUÇÃO A escolha de Charles de Gaulle para o estudo surge da necessidade de se apresentar de forma aprofundada esta personalidade de grande importância e representatividade no cenário mundial e da política internacional no século XX. Dentre os grandes líderes que se projetaram nos anos mais críticos do século XX – Churchill, Lenin, Franklin Roosevelt, Stalin, Hitler, Mao Tse-Tung – Charles de Gaulle, ao contrário dos demais, constitui um caso à parte, faltando-lhe sempre uma base nacional importante em que fundamentar sua ação, o que teria sido fatal a um homem menor. Churchill ao assumir o poder, encontrava a Inglaterra numa posição militar extremamente delicada, sozinha frente à Alemanha nazista, mas seu território não havia sido ocupado, o Império Britânico ainda era uma realidade decisiva no panorama internacional, e a simpatia dos Estados Unidos pela causa inglesa representava um conforto, um estímulo e uma esperança. Hitler também surgiu num momento desastroso da história do seu país, mas o potencial alemão – humano e econômico – uma vez mobilizado, deu-lhe uma posição naturalmente dominante na Europa e no mundo. E o simples fato de terem atrás de si países gigantescos como os Estados Unidos, a União Soviética e a China conferiram a Roosevelt, Lenin, Stalin e Mao Tse-Tung imensa autoridade nacional e internacional. Charles de Gaulle contava apenas com uma França, física e moralmente exausta pela guerra de 1914-1918; esmagada em poucas semanas, em 1940, pela Alemanha de Hitler; e que nunca mais voltara a ocupar um lugar central na condução dos negócios mundiais, embora tivesse conseguido, depois de longos e penosos anos reerguer-se economicamente. Diante tal quadro De Gaulle poderia ter se acomodado a uma posição secundaria, como seu sucessor, Pompidou. Mas a sua originalidade – uma das muitas marcas da sua grandeza excepcional – é que o rebaixamento da França a potência de segunda classe não o impediu – graças à força da sua personalidade e de seus critérios – de faze-la ouvida das demais nações, indiferente às pressões dos supergrandes e criando a sua política própria, reprovada por alguns, mas respeitada por todos. De Gaulle, que por certo possuía um elemento de arrogância e tenacidade, se pronunciava a própria França, se recusou a reconhecer a vitória alemã e se dispunha a continuar a luta, fosse como fosse. E esta arrogância, essa firmeza absoluta, essa confiança inabalável em si deveriam salvar a França pelo menos três vezes: depois do desmoronamento militar e moral de 1940, diante da Alemanha; por ocasião da crise da Argélia, em 1958; durante as agitações estudantis e operárias de maio de 1968. Basicamente conservador, sua visão política e seu conhecimento da História faziam dele um pensador original e criativo, cujas idéias representavam, o mais das vezes, soluções corajosas e inteligentes para os problemas franceses e internacionais. O trabalho buscará dar bem a medida desse homem obstinado que soube impor-se praticamente só, à frente de um país fraco, num mundo estruturado em função de relações de poder, de hegemonias e de dependências decorrentes da pujança militar e do peso econômico. Traços característicos – durante seus mais de vinte anos no cenário francês – de sua política nacional e internacional, e suas idéias sobre diplomacia serão delineados, visando demonstrar a importância deste personagem no século XX para a História. ELEMENTOS BIOGRÁFICOS Charles André Joseph Marie de Gaulle nascia a 22 de novembro de 1890, em Lille, filho de Henry de Gaulle e Jeanne Maillot Delannoy. Sua família era de origem burguesa, conservadora e católica, do norte da França. A família De Gaulle possuiu membros que se destacaram não só na vida militar como também política da França. Seu pai fora militar e patriota, proporcionando ao filho um ambiente de nacionalismo, sentimento de luta, revolta e revanche diante os inimigos, que comum tanto ao pai quanto ao filho fora a Alemanha. Este sentimento fica claro em passagens de seu livro “Memórias de Guerra”, em que ele diz: “Mas nada me entristecia mais do que nossa fraqueza e nossos erros, que me eram revelados, na infância, pelos rostos que me cercavam e pelas palavras que eu ouvia: nossa retirada em Fashoda, o caso Dreyfus, conflitos trabalhistas e discórdias religiosas. E nada me comovia tanto como as histórias acerca de nossos infortúnios passados como por exemplo, a história do próprio desespero de minha mãe quando, ainda menina pequena, viu os seus pais em lágrimas: `Bazaine capitulou’.” E ainda dirá sobre seu pai: “Meu pai, homem de pensamento, cultura e tradição, era saturado por seus quanto à dignidade da França. Foi ele quem revelou a História.” Charles de Gaulle foi educado em colégios jesuítas, ingressando em 1909 na escola de Saint-Cyr. Ingressa o exército, compondo o 33º regimento da infantaria, sendo promovido a tenente, em 1913. Participa da I Guerra, sendo ferido por quatro vezes e tido como prisioneiro dos alemães. Leciona para o curso de oficiais superiores da Escola de Aplicação de Infantaria e História em Saint-Cyr. Em 1921 casa-se com Yvonne Vendroux. Tendo passado pela Escola superior de Guerra, compõe o Estado-Maior do Exército do Reno. Nos anos vinte, começa a impor-se nos altos comandos militares e foi colaborador do marechal Pétain, a quem redigia os discursos e conferências da Escola de Guerra. De Gaulle é promovido a coronel em 1937 e a General de brigada em 1940. De Gaulle ainda publica diversos livros durante sua vida, sendo eles: “La Discorde chez l’Ennemi”; “Le Fil de l’Épée” (O fio da espada); “Vers l’Armée de Métier”; “La France et Son Armée”; “Mémoires I, II e III (Memórias de Guerra)”. De Gaulle assume o poder na França por quatro vezes, em 1944, 1958 e sendo eleito em 1959 e 1965, representando momentos decisivos na História francesa. De Gaulle morre em 9 de novembro de 1970, sendo enterrado em Colombey les Deux Eglises no dia 11 desse mesmo mês. DE GAULLE E A SEGUNDA GUERRA Após o termino da I Guerra, De Gaulle trabalhava no exército francês com a visão de que grandes ações poderiam se suceder no cenário europeu. Tinha a consciência de que o desfecho da guerra não assegurara a paz e que a Alemanha poderia apresentar uma séria ameaça em um certo tempo, vendo que esta regressava às suas ambições, na medida em que reconstituía as forças. Tal cenário completado por uma Rússia que se isolava na sua revolução, a América que se mantinha apartada da Europa, a Inglaterra que tratava Berlim com deferência e os Estados novos que continuavam fracos e em desacordo, se mostrava alarmante para De Gaulle. Embora a França tivesse feito esforço para “deter o Reich”, este tinha sido um esforço de maneira descontínua. Tentara primeiro, através da coação, com Poincaré, depois a reconciliação por instigação de Briand e por fim um refúgio na Sociedade das Nações. Mas a Alemanha cada vez mais apresentava ameaça e Hitler se aproximava do poder. O então coronel De Gaulle inicia um esforço de conscientização do governo e do exército francês, para que fossem modernizadas as estratégias e a máquina de Guerra. No entanto não lhe foi dado a suficiente atenção. Seu livro O fio da espada (1932) salientava a importância de um comando poderoso durante a guerra. Em O exército do futuro (1934), esboçou a teoria de uma guerra de movimento onde seriam empregados tanques e outras forças mecanizadas. A maioria dos chefes militares franceses ignorou esta teoria, mas os alemães a estudaram cuidadosamente e empregaram-na durante a Segunda Guerra Mundial. Esta luta incessante fica claro em Memórias de Guerra: “Sobretudo, a obstinação que o Poder mostrava em cultivar um sistema militar estático, enquanto o dinamismo alemão se desdobrava sobre a Europa, a cegueira de um regime que prosseguia os seus caprichos absurdos face a um Reich prestes a saltar sobre nós, a estupidez dos papalvos que aclamavam o abandono de Munique, não eram em verdade mais do que os efeitos de uma profunda renúncia nacional. Contra isto, eu nada podia.” A França era ignorada, diante o perigo iminente, não só internacionalmente pelos vizinhos, mas também tinha dificuldades internas de conscientização e mobilização. Acreditava- se na intransponibilidade da linha Maginot, que embora guarnecida ao longo de toda a fronteira, não estava composta pelos elementos bélicos ao qual De Gaulle atentava. No entanto Hitler avança, e a maio de 1940 a Alemanha iniciava sua ofensiva à França. Todas premissas de De Gaulle se confirmaram e a ação dos alemães, a chamada de “Blitzkrieg”, que consiste na guerra baseada nas investidas rápidas e de efeito, são esmagadoras. Em poucas semanas a força defensiva francesa se desmantelava, a ocupação da França se tornava fato e parte dos franceses se deslocam, a exemplo de De Gaulle já (entitulado General), para Londres. A França, então sob ocupação nazista, formava um governo com Vichy, com a colaboração do Marechal Pétain, velho comandante de regimento de De Gaulle. De Gaulle não reconhece este governo, e chama os franceses livres a continuar a luta e formar a resistência. Por este motivo, um tribunal militar francês condenou Gaulle à morte. Gaulle declarou que a França perdera uma batalha mas não a guerra. Fez discursos pelo rádio chamando à luta os soldados da França. Gaulle organizou as forças da França Livre na Inglaterra e em algumas colônias francesas. Em setembro de 1941, tornou-se presidente do Comitê Nacional Francês, em Londres. Ao pronunciar pela BBC de Londres sua intenção de presidir este movimento, De Gaulle de certa forma encerrava sua carreira militar e iniciava a de homem de Estado. No entanto, os aliados relutavam em reconhecer De Gaulle como líder do que seria a nação francesa, com resistência de Roosevelt, principalmente. Os aliados realizam a conferência de Casablanca (Anfa), em janeiro de 1943, na qual discutem a importância da abertura de uma frente através da África do Norte, e em que Roosevelt reconhece a importância do chefe dos franceses livres. Por volta deste ano, os Aliados já o tinham aceito como líder incontestável dos combatentes franceses. Roosevelt, De Gaulle e Churchill na conferência de Casablanca. Através de operações decisivas como a Overlord e da Normandia, os aliados pisam novamente em solo francês, em 1944, que com a colaboração da resistência atuante dentro da França, dá rumo a libertação francesa do domínio nazista. Em 14 de junho De Gaulle pisa novamente em solo francês, e em agosto deste ano entra triunfante em Paris, juntamente com os aliados. Já em setembro de 1944, De Gaulle se torna chefe do governo provisório. Gaulle pôs em ação a máquina governamental durante os 14 meses seguintes. Mas como os partidos franceses de esquerda não o apoiaram, renunciou em janeiro de 1946. A 14 de junho de 1944, o General de Gaulle desembarca em solo francês na Normandia. Agosto de 1944: De Gaulle, em Paris, depois da Libertação. O PODER O General de Gaulle deixou o poder, mas não deixou sua atividade política. Faz discursos e reprova a constituição de 5 de maio de 1956, apresentando seu próprio plano para uma reforma constitucional. Seu prestígio ainda era grande, e o povo ansiava por te-lo novamente no poder. De Gaulle forma um partido em 1947, o RPF. Seus discursos eram cada vez mais violentos e demonstravam cada vez mais um regime totalitário de direita. O RPF mobiliza grande parte da opinião pública francesa, mas começa a se declinar, e em julho de 1955 se afasta da vida pública. Finalmente, em maio de 1958, veio o chamado. A França estava à beira de uma guerra civil. Oficiais franceses descontentes, temerosos de perder o apoio do governo contra os rebeldes argelinos, tomaram o poder na Argélia, exigindo que Gaulle chefiasse um novo governo. Em junho, Gaulle aceitou o pedido do presidente René Coty para formar um governo, com a condição de que dispusesse de plenos poderes durante seis meses. Gaulle redigiu uma nova constituição estabelecendo a Quinta República. Esta constituição concedia amplos poderes ao presidente que deveria ser eleito, por sete anos, por um colégio eleitoral formado por 80 mil figuras públicas. Os eleitores franceses aprovaram o plano e o colégio eleitoral escolheu Gaulle como presidente em dezembro de 1958. O general também foi acusado de ser um ditador, o que sempre desmentiu. Era efetivamente um conservador e talvez mesmo monárquico. A Constituição da V República e o cerimonial que imprimia ao protocolo do estado assim o mostram. O certo é que o general- político foi vencendo todas as eleições, rodeando-se de colaboradores de alto nível que aplicaram uma política muito hábil, restaurando a máquina econômica do país e até mesmo com alguns aplausos dos comunistas. A Argélia De fato, De Gaulle teve que enfrentar profundas crises, a começar pelo conflito na Argélia. O general conseguiu evitar que o país se afundasse numa guerra civil, contrariando os generais revoltosos e a OAS que queriam a todo o custo que a Argélia continuasse a ser um departamento francês. De Gaulle chegou a dar a entender que era partidário da continuação da soberania francesa na África do Norte. Mas, em segredo, foi preparando o processo que conduziria às negociações de Évian e à independência do território em 1962. Mas, antes disso, procurou reforçar os efetivos e dinamizar as operações militares para que a França negociasse em posição de vantagem. Depois de uma outra revolta na Argélia, prendeu, nesta colônia, oficiais franceses que antes o haviam apoiado. Gaulle negociou com os líderes nacionalistas argelinos um acordo de cessar-fogo. O acordo a que chegaram, em março de 1962, acabou com mais de sete anos de sangrentos combates. De Gaulle diria a nação: “O povo francês é instado a dizer se está de acordo, como lhe proponho, que as populações argelinas escolham elas mesmas seu destino... A França vai, portanto tomar solenemente a decisão de dar o seu consentimento. Ela o fará em conformidade com seu gênio peculiar, que consiste em liberar os outros quando chegar o momento... Ela o fará com a esperança, de conformidade com o seu interesse, de tratar, no futuro, não com uma Argélia inorgânica e revoltada, mas com uma Argélia serenada e responsável... Peço, portanto, um “sim” franco e maciço às francesas e aos franceses...” Persuadido por Gaulle, o povo francês votou pela liberdade argelina numa proporção de quase dez votos contra um. A habilidade política, a tática e a estratégia de De Gaulle encontram terreno favorável, e em 1º de julho de 1962 o povo argelino, por referendo, aprova com mais de 90% dos votos a independência do seu país. A 3 de julho a independência da Argélia é proclamada. A primeira Assembléia Nacional Constituinte é eleita a 20 de setembro e, nesse mesmo dia, é proclamada a República Democrática e Popular da Argélia, sendo Ahmed Ben Bella, libertado no dia do acordo de Évian, o primeiro chefe do governo.Muitos franceses nunca lhe perdoaram o "abandono" da Argélia e até foi vitima de um atentado. A Política Internacional de DeGaulle (A OTAN e a força de dissuasão) Ao voltar ao poder em 1958, De Gaulle pensa que ainda é cedo para ter em vista uma política externa da França à altura de seu país. Ao mesmo tempo, os que não esqueceram os problemas de De Gaulle com Roosevelt e Churchill, as suas tomadas de posição contra a integração da defesa ocidental e contra a integração européia, todos sabem antecipadamente que ele seria um aliado difícil. Todos sabem que a política externa de De Gaulle sria de grandeza e de independência nacional. Essa idéia de independência nacional será uma constante nas palavras de De Gaulle: “... Há muitos domínios nos quais esta independência nos é necessária. Ela o é no domínio político, quer dizer, na maneira de tratar os países do mundo; o é no domínio econômico, quer dizer, na necessidade que temos de não sermos submergidos pela economia dos outros; ela o é no domínio da segurança...” A assembléia francesa derrubou o governo liderado por Gaulle em outubro de 1962. Porém Gaulle dissolveu a assembléia. A eleição que se seguiu foi histórica. Pela primeira vez na França um partido, o de Gaulle, a União por uma Nova República, obteve maioria absoluta. Num plebiscito separado, os eleitores aprovaram, também, a proposta de Gaulle para eleger os futuros presidentes franceses através do voto popular direto. Tão logo foi eleito presidente, promulgou uma constituição que reforçava os poderes presidenciais; ele percebeu a necessidade de um governo forte, nacionalista ("A França é a luz do mundo", dizia) e conservador que recuperasse o prestígio e o poder francês no cenário internacional. Em janeiro de 1963, Gaulle e o chanceler da Alemanha Ocidental, Konrad Adenauer, assinaram um tratado estabelecendo cooperação política, científica, cultural e militar entre os dois países. Ao mesmo tempo, Gaulle tratava de impedir a entrada da Inglaterra no Mercado Comum Europeu. Em 1964, a França tornou-se a primeira potência ocidental a reconhecer a China comunista. Gaulle se elegeu por estreita margem de votos para um novo mandato presidencial de sete anos, em 1965. De Gaulle procurou conter a Ocidente os apetites dos anglo-saxônicos e, a Leste, tentou contrariar as ambições da "Grande Rússia", nunca reconhecendo que existisse uma União Soviética. Para isso, mandou desenvolver um arsenal nuclear sofisticado que libertava a França da tutela americana e que obrigaria Moscou a pensar duas vezes, antes de se envolver numa aventura européia. Charles de Gaulle, em outubro de 1964 faz uma visita ao Brasil, última escala de uma viagem por dez países da América Latina. Enfatiza o interesse em convencer o presidente brasileiro sobre as vantagens de se estabelecer uma Terceira Força, sob sua influência política, o que poderia refrear os dois blocos dominantes (Estados Unidos e União Soviética) e ajudar a evitar um desastre universal. O presidente Castelo Branco, depois de escutá-lo atentamente, teria reafirmado a posição brasileira de apoio à comunidade pan-americana. O principal objetivo da viagem do general De Gaulle pela América Latina — buscar apoio à França diante das diferenças com os Estados Unidos, como foi apontado pela maioria dos jornais brasileiros — não teria sido atingido no Brasil. De Gaulle se elegeu por estreita margem de votos para um novo mandato presidencial de sete anos, em 1965. Em 1966, Gaulle anunciou sua decisão de retirar as forças francesas da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) e de remover do país os quartéis-generais da OTAN. Da mesma forma De Gaulle recusara a integração política da França numa Europa construída sob um modelo supranacional. Para ele esse modelo significaria o desaparecimento do nacionalismo de cada Estado e, conseqüentemente, o da França. Isso beneficiaria a hegemonia americana, a qual De Gaulle combatia, por querer levar a França a um nível de potência mundial. Em se tratando da OTAN e da força de dissuasão, o que De Gaulle fez foi tentar neutralizar os efeitos nefastos de Yalta. A construção da Europa seria também um meio de estabelecer a grandeza da França, seu poder e seu papel de liderança. E quanto ao Mercado Comum Europeu, De Gaulle resistia a entrada da Inglaterra, por ver nela uma espécie de Cavalo de Tróia da América. As decisões de De Gaulle referentes à política internacional, à OTAN e à sua oposição à Inglaterra, tinham como principal objetivo o restabelecimento da França a uma situação preponderante na Europa, defendendo ao mesmo tempo sua independência nacional, exageradamente subordinada, em sua maneira de pensar, à hegemonia americana. De Gaulle procura se aproximar da União Soviética, mas esta relação se mantém fria. Entre os anos de 1965 e 1969 De Gaulle demonstra uma política mais inclinada para a União Soviética, sendo que durante esses anos se opôs ao conflito no Vietnã. O ano de 1968 Tudo parecia correr às mil maravilhas até que, em 1968, surge a revolta estudantil e a agitação nos meios laborais. O general, com 78 anos de idade, foi ultrapassado pelos acontecimentos. Há quem afirme que até quis que a tropa disparasse sobre os jovens, no que foi contrariado pelos seus colaboradores, principalmente pelo primeiro-ministro Pompidou, que viria a ser o seu sucessor na Presidência. As revoltas de maio de 68 (lideradas por Daniel Cohn-Bendit), no entanto, prejudicaram profundamente seu governo. Embora o movimento estudantil tenha sido vencido pela polícia de de Gaulle e um milhão de pessoas tenham cantado a "Marselhesa" em apoio ao presidente, ele teve que ceder muito às reivindicações do proletariado e do sistema de ensino, advindas do movimento. Seu conservadorismo não se adaptava mais ao novo panorama francês de sindicatos e greves. A economia enfrentava problemas de inflação e circulação, mas Gaulle conservava o apoio popular. Porém, em abril de 1969, suas propostas de mudanças constitucionais foram derrotadas num plebiscito e ele renunciou, deixando uma França em transição, mas que voltara à supremacia européia graças a ele. A MORTE DE CHARLES DE GAULLE Charles De Gaulle tornou-se um símbolo da França para os franceses e para os povos de outras partes do mundo. Charles de Gaulle continua a ser o herói preferido dos franceses, cerca de 30 anos depois do seu desaparecimento. Há, efectivamente, um consenso muito favorável em relação ao militar que se revoltou porque não quis ser vencido em 1940. Também se lhe gabam os méritos de ter fundado a V República em 1958 e que ainda vigora. Foi um homem muito lúcido e algo contraditório que conseguiu imprimir uma política bastante hábil, contra ventos e marés. Mas, como é evidente, não morreram as ideias gaullistas que continuam a inspirar os políticos mais à direita e até mesmo certos sectores da esquerda. O actual ministro do Interior, Jean Pierre Chevnement, não esconde uma certa veneração pelo general, em termos de independência nacional e de "sentido do estado". Também o antigo esquerdista Régis Debray, hoje filósofo, se tem fartado de louvar De Gaulle. Diziam que este era um monarca, mas o certo é que mandou instalar, nos seus aposentos do Eliseu, contadores de água e de electricidade, porque entendia que essas despesas não deviam ser pagas pelo erário público. Trinta anos depois de ter morrido, Charles de Gaulle é "o personagem mais célebre da História da França", seguido por Napoleão e por Luís XIV. BIBLIOGRAFIA - BARRÈS, Philippe: “Charles de Gaulle”. Rio de Janeiro, Atlântica Editora, 1943. - GAULLE, Charles de: “Memórias de Guerra”. Rio de Janeiro, Biblioteca do Exército, 1977, Tomo I, II, III. Tradução de Mário Matos e Lemos. - ______: “Memórias de Esperança”. Rio de Janeiro, Editora Mundo Musical S.A. , 1971. Tradução de Renato Bittencourt. - KISSINGER, Henry: “Diplomacia”. Editora Univercidade. - MANNONI, Eugène: “Eu, General De Gaulle”. Rio de Janeiro, José Álvaro-Editor, 1964. Tradução de Tati de Moraes. - MARINHO, Teresinha: “De Gaulle”. São Paulo, Editora Três, 1974. Internet: - www.jn.pt/seccoes/seccao.asp?s=68 - Figuras do Século. UNIVERSIDADE CATÓLICA DE GOIÁS Faculdade de Relações Internacionais Departamento HGSR CHARLES DE GAULLE Disciplina: Política Internacional I Prof.: Andréia Aluno: Luiz Felipe Cezar Mundim Turma: B-02 Terceiro Período Memórias de Guerra – Vol. 1 – pg. 10. _____ - pg. 9. ____ - pg.. 31 Discurso realizado em 20 de dezembro de 1961 Discurso, em Valence, a 26 de setembro de 1963