Mesopotâmia Berço de algumas das mais ricas civilizações humanas, a Mesopotâmia viu surgir os primeiros impérios, as primeiras cidades da antiguidade e algumas importantes invenções do homem, como a escrita e a legislação. A Mesopotâmia (em grego, região entre rios) está situada na região delimitada pelos rios Tigre e Eufrates, no sudoeste da Ásia. Embora seus limites variassem em diferentes períodos de sua história, de modo geral a Mesopotâmia abrangia, na antiguidade, o território do atual Iraque, ficando ao norte a cordilheira dos Taurus, que a separa da Armênia, ao sul o golfo Pérsico, a oeste a Assíria e a leste a Síria. O limite entre as regiões norte, montanhosa, e a sul, plana, era a zona de Bagdá, onde mais se aproximam os rios Tigre e Eufrates. Os romanos as denominaram, respectivamente, Mesopotâmia e Babilônia. Muitos grupos étnicos tentaram fixar-se na região, e esses movimentos migratórios acabaram por fazer surgir importantes civilizações, como a dos assírios, que ocuparam a área montanhosa, e a dos sumérios e babilônios, instalados nas planícies do sul. A essência da cultura suméria se manteve mesmo após a desintegração do estado sumério e por isso pode-se, apesar da grande diversidade dos grupos étnicos, falar de uma civilização mesopotâmica. Os primeiros imigrantes chegaram à Mesopotâmia no quarto milênio a.C. Fixaram-se no sul e ali criaram o que teria sido, segundo a tradição suméria, seu primeiro núcleo urbano, Eridu. O povoamento tornou-se mais intenso no milênio seguinte, com um novo movimento migratório, procedente do leste. Ao mesmo tempo, no norte, grupos de origem semítica formavam uma nova cultura, que assumiria gradativamente papel preponderante na região. A Mesopotâmia era, de todo modo, povoada por dois povos de origens distintas, o que explica as denominações de terra de Sumer (sul) e Acad (norte). Do ponto de vista cultural, os grupos que habitavam a área no chamado período Obeid I eram atrasados em relação aos povos do sul, mas alguns centros, como Nínive, já se assemelhavam mais a cidades do que a aldeias. Os habitantes do norte expandiram-se para o sul, no século XXIV a.C., e fundaram um reino unificado sob o governo de Sargão, criador de uma dinastia semítica, cuja capital era a cidade de Acad. Os invasores não possuíam cultura própria, motivo pelo qual absorveram a cultura e as técnicas de guerra do sul. Assim, a transferência do centro do poder político, de início instalado na cidade de Acad, para Nínive ou Babilônia, não teve influência na evolução cultural da região. Com a terceira dinastia de Ur, cujos domínios incluíam a Assíria, praticamente completou-se a unificação da Mesopotâmia. O norte preservava apenas seu idioma semita, escrito, porém, em caracteres cuneiformes sumérios. Por volta de 2000 a.C., invasores elamitas e amorritas derrubaram essa terceira dinastia de Ur. Após um período de destruições, o sul voltou a prosperar, enquanto, no norte, Assur tornou-se independente e na Babilônia surgiu uma dinastia local, amorrita, apoiada pelos semitas acadianos. O mais poderoso soberano da Babilônia foi Hamurabi, responsável por uma nova unificação da Mesopotâmia. Seu império se estendeu do golfo Pérsico até o norte de Nínive, e das montanhas elamitas até a Síria. A região logo voltaria a ser dividida, entretanto, entre o sul e o norte, depois que os reis cassitas derrubaram a dinastia de Hamurabi. Os cassitas mantiveram a cultura e as tradições babilônicas, mas transformaram o reino com uma ampla reestruturação administrativa e a adoção do sistema feudal. A dinastia cassita governou até cerca de 1430 a.C., e seu domínio foi marcado por uma significativa produção literária. Algumas das obras do período configuraram um padrão para épocas posteriores, até mesmo para a redação da epopéia de Gilgamesh. Após o período da dinastia cassita, a Babilônia perdeu sua influência política, ao mesmo tempo em que o poderio dos assírios cresceu consideravelmente. Nesse período, invasores indo-europeus criaram diversos estados na região, entre os quais o reino de Mitani. No século XII a.C., o poderio assírio chegou ao apogeu sob o reinado de Tukulti-Ninurta I. A Assíria dominava então toda a região localizada a leste do Eufrates. Os sucessores do soberano não conseguiram manter o território, cuja desintegração política foi motivada também pela chegada à região de diversas tribos de arameus, que aí fundaram vários reinos independentes. Nos séculos seguintes, os reinos arameus começaram a ser incorporados ao império da Assíria, a que a Mesopotâmia voltou a ficar subordinada. Nesse período, a ascensão de uma das tribos dos arameus, os caldeus, contribuiu de maneira significativa para a queda do poderio da Assíria e para o estabelecimento, no sul da região, do reino neobabilônico de Nabopolassar. Esse soberano firmou com Ciaxares, da Média, uma aliança que dividiu a Mesopotâmia entre medos e babilônicos, situação que se manteve até 539 a.C., quando a região foi transformada numa satrapia do império persa durante o reinado de Ciro. No período, registrou-se um florescimento cultural, em que a literatura, a religião e as tradições sumérias e babilônicas eram preservadas nas escolas dos templos. Em 331 a.C., a vitória de Alexandre o Grande sobre Dario III marcou o início da colonização macedônica. A Babilônia tornou-se então importante centro cultural, verdadeiro ponto de encontro entre as culturas grega e oriental. Com a morte de Alexandre, instalou-se uma Dinastia Selêucida que governou por pouco mais de um século. Por volta de 140 a.C., a Mesopotâmia foi incorporada ao império parta. No ano 115 da era cristã, o imperador romano Trajanus submeteu a região até Singara. Sob o domínio de Roma, foi gradativa a difusão do cristianismo, por intermédio dos cristãos da Síria, que fundaram o bispado de Edessa. Esse bispado converteu-se depois à heresia nestorianista, cujos integrantes se congregaram em Nísibis, em meio a uma complicada situação religiosa, na qual as decisões do Concílio de Calcedônia contra o monofisismo acabaram por provocar a divisão dos cristãos em três grupos: nestorianos, jacobitas e melquitas. A partir do século III, a luta de Roma dirigiu-se contra as pretensões sassânidas na Mesopotâmia. Em meio à desordem política generalizada, a Mesopotâmia converteu-se, por dez anos, em porção do reino de Palmira, até a expedição do imperador Aurelianus. A luta contra os persas, porém, prosseguiu até o ano 298, quando Diocletianus submeteu a Mesopotâmia, até o Tigre, ao poder de Roma. Todavia, a luta continuou e, em 363, os romanos conseguiram uma trégua, mas tiveram que ceder Singara e Nísibis. Depois de recuperar suas antigas fronteiras, perdidas durante o avanço de Khosro I, por volta de 530, a Mesopotâmia bizantina foi obrigada a enfrentar o agravamento do conflito com os persas, com a perda de diversas cidades e o exílio de grande número de cristãos. Página Anterior (c) 1999/2001 - Emerson Luiz de Faria