O PROCESSO FORMATIVO DO CEGO E SUA INCLUSÃO NA UNICENTRO Maria do Belém Vargas (Pedagogia - UNICENTRO) Prof. Dra. Maria da Glória Martins Messias ( Orientadora – DEPED/UNICENTRO) Palavras-chave: Inclusão. Cego. Ensino superior. Resumo A inclusão cumpre o papel educativo no desenvolvimento da personalidade humana e na valorização do ser, é uma conquista de um mundo democrático, é também um movimento social, resultante de uma nova visão de mundo, cujo objetivo é respeitar os direitos e deveres de todos. Neste estudo abordaremos o processo ensino/aprendizagem na formação do cego, na Universidade Estadual do Centro Oeste – UNICENTRO. Serão apontadas possibilidades e dificuldades encontradas no percurso da graduação, visto que o processo de inclusão ainda não acontece de modo abrangente, e mesmo assim o indivíduo cego busca a graduação em diferentes cursos. Justificamos a presente investigação devido a necessidade de se consolidar a permanência dos alunos especiais; da urgência de reestruturação institucional; de políticas e práticas escolares apropriadas à diversidade e produção na área. Introdução A inclusão consiste em oferecer oportunidades educacionais a todos os alunos com ou sem deficiência num sentido abrangente quanto à qualidade de ensino e adoção de princípios educacionais democráticos adequando às propostas pedagógicas à diversidade dos alunos. Sassaki salienta, que a inclusão educacional tem o objetivo de fazer a diferença na vida da pessoa com necessidades especiais e também na sociedade: "uma sociedade inclusiva garante seus espaços a todas as pessoas, sem prejudicar aquelas que conseguem ocupá-los só por méritos próprios" (1997, p.164), enfim a construção de uma cultura social inclusiva. Constata-se que no século XX as profundas mudanças ocorridas sob a efervescência da crise mundial do capitalismo e da negação da ciência como forma hegemônica de conhecimento fazem com que a sociedade comece a considerar a possibilidade de todas as pessoas poderem se inserir, inclusive, no mercado de trabalho. A educação passa a ser o principal elemento capaz de propiciar esta inclusão, porém na medida em que as diferenças são consideradas como partes da tessitura social, de certa forma aumentam as dificuldades no que diz respeito à capacitação de recursos humanos, pois este processo está a mercê da vontade política e à consciência da sociedade quanto a garantir os direitos às pessoas com necessidades educativas especiais. Percebemos que a inclusão é a abertura para o aperfeiçoamento educacional em benefício de todos os alunos com ou sem deficiência de uma forma radical, completa e sistemática. De acordo com Figueiredo (2006, p. 28), "essa idéia de inclusão ou essa visão inclusivista surgiu da necessidade de incluir aquelas pessoas que até então eram excluídas pela sociedade (...)". Materiais e Métodos A metodologia que utilizamos para realização deste estudo foi pesquisa qualitativa etnográfica, estudo de caso, no qual foram participantes: três cegos, acadêmicos que concluíram sua graduação no período de 2002 a 2008 e um que concluirá em 2009, em cursos diferentes e dez docentes também de diferentes áreas, no ensino superior da UNICENTRO. Sendo que, para efetivação da coleta de dados realizamos encontros com os mesmos, solicitamos que colaborassem respondendo a um questionário com algumas questões como: dificuldades enfrentadas na trajetória e no processo de permanência no curso; a articulação com os professores, aprendizagem e avaliações; dificuldades e conquistas. Resultados e Discussões O paradigma da inclusão globaliza-se no final do século XX, num contexto em que uma sociedade inclusiva passa a ser considerada um processo de fundamental importância para o desenvolvimento e a manutenção do estado democrático, sendo que configura-se como parte integrante e essencial desse processo. Sassaki (1997), aborda que: “A grande revolução, ao menos em termos paradigmáticos, veio com a perspectiva da inclusão, onde o foco não recai mais sobre a pessoa com deficiência, mas sobre o contexto no qual ela vive”. Conforme os depoimentos dos acadêmicos cegos que entrevistamos em nossa pesquisa, constatamos que em sua formação superior se depararam com: - falta de acessibilidade no ambiente; - falta de professores preparados para o processo de Inclusão; - falta de uma metodologia adequada aos acadêmicos cegos, para melhor acompanharem as aulas; - falta de materiais adequados, principalmente computador, contudo o Programa de Apoio Pedagógico ao Aluno com Necessidades Educacionais Especiais – PAPE disponibilizar vários. - falta de compreensão de alguns professores quanto à exigência de qualidade nos trabalhos, uma vez que o cego estava limitado ao tempo, a pesquisa e material de estudo; - falta de diálogo de parte a parte entre educador e educando; - falta de esclarecimento à comunidade acadêmica quanto à limitação do cego, de que o cego não necessita de restrições e sim de apoio. Em relação aos professores entrevistados, há uma consciência geral de que lhes falta preparação para atender à demanda da Inclusão, seja no suporte prático ou teórico por ser uma situação nova em suas vidas, mas mesmo assim é visível que eles possuem competência suficiente para suas áreas de atuações como educadores. Percebemos a preocupação dos professores no desejo de promover o envolvimento, de um processo ensino/aprendizagem satisfatório aos alunos com necessidades educacionais Especiais, pois comentam que existem disciplinas extremamente práticas e peculiares, que a Instituição, através do PAPE não dispõe de suporte adequado para o auxílio ao aluno cego. Também mencionam que há falta de planejamento para proporcionar melhor aproveitamento das disciplinas por parte do acadêmico cego, isto é, não é informado com antecedência ao professor que ele atuará com um aluno cego, e ele é pego de surpresa, se ele fosse informado com antecedência ele poderia se preparar melhor e não atuar numa situação de improviso. Em nossa pesquisa não questionamos sobre o 50% de acréscimo no Plano Individual de Atividade Docente - PIAD, que é de direito do professor que atua em turma que conta com alunos com necessidades especiais, segundo o Regulamento do PAPE, anexo a resolução Nº.120/2006-CEPE/UNICENTRO, Parágrafo Único, mas pelas informações dos professores parece que pelo menos a maioria desconhece esse direito. Notamos que a UNICENTRO tem se preocupado em oferecer as melhores condições possíveis aos acadêmicos com Necessidades Educacionais Especiais, mas para que o processo ensino/aprendizagem se torne propicio, principalmente ao acadêmico cego, os professores sugerem que a instituição poderia investir em: - Contratação de profissionais especializados para trabalhar com portadores de qualquer tipo de deficiência; - Oferecer computador com programa especial para atender o aluno em questão, assim como mais pessoas para preparar os materiais necessários para uso em classe; - Oferecer cursos ou outras atividades que dêem suporte aos professores que vão ou estão atuando com alunos que tem necessidades especiais; - Capacitar pedagogos para auxiliarem os professores que trabalham com acadêmicos com Necessidades Educacionais Especiais, no sentido de criar alternativas de aprendizado e trabalhos acadêmicos que levem em conta as particularidades de cada disciplina, principalmente as práticas; - Oportunizar planejamento de um ano para o outro, pois isso dá fôlego para providenciar o equipamento necessário e específico, de acordo com a disciplina, e ainda de outros recursos que possibilitarão o aprendizado do aluno. Também acessibilizando ao professor de aluno com Necessidades Educacionais Especiais o cumprimento do Parágrafo Único da resolução já mencionada, referente àquelas horas destinadas ao preparo de aulas. - Oferecer alternativas didáticas para todos os alunos, com isso os procedimentos favoráveis aos alunos cegos pareceriam mais naturais ou espontâneas ou óbvias podendo contribuir para formação tanto dos discentes quanto dos docentes. Os professores que buscaram o apoio do PAPE, destacaram a importância do programa para o processo da formação acadêmica do aluno cego, mas compreendem que este apoio deveria ser ainda mais abrangente para que toda limitação na apropriação do conhecimento seja de algum modo superada. Alguns professores não buscaram apoio do PAPE, um professor por achar que não seria necessário, visto que a metodologia usada em sala de aula somada com a condição do acadêmico cego em se apropriar do conhecimento era satisfatória para ambos. Uma professora declarou não ter procurado o PAPE, mas que o acadêmico cego ao procurar foi atendido. Conclusões O sujeito com deficiência visual requer uma atenção maior no que diz respeito ao acesso à informação bibliográfica e conteúdos pertinentes ao seu curso. Embora seja minoria, esse aluno necessita de material didático, tanto quanto o aluno vidente, esse procedimento tem que ser encarado como um direito à cidadania. Salientamos que a UNICENTRO dispõe de políticas institucionais para que a inclusão de fato se realize e vem conquistando espaços, também no meio social. O PAPE, integra uma equipe multidisciplinar de pesquisa e serviços, oferece espaço próprio para atender as necessidades resultantes da interação dos conteúdos ministrados em sala de aula e sua recepção por parte do aluno com Necessidades Educacionais Especiais. E, para isso, o Programa testa metodologias que se aperfeiçoam com o uso de tecnologias disponíveis, portanto, pode contribuir para que a qualidade do processo inclusivo alcance resultados positivos. O Pape disponibiliza recursos como: laboratório de práticas inclusivas, máquina e impressora braille dentre outros e presta assistência a alunos com necessidades educacionais especiais, à instituições como Apadevi, escolas municipais e estaduais e outros. Atualmente, presta atendimento para acadêmicos: deficiente físico (1), cegos (4), surdo (2), visão subnormal (7), sendo um, acadêmico do Campus de Laranjeiras do Sul. Ainda atende 11 acadêmicos com outras necessidades educacionais especiais. Observamos também, pelos depoimentos colhidos de educadores e estudantes cegos que na história do Pape a máquina Braille e o grupo de ledores foram recursos que muito contribuíram para apoio nas atividades, porém hoje são alternativas que já não atendem à demanda, pois em nossos dias o processo de inclusão e permanência do discente cego na UNICENTRO exige rapidez e funcionalidade. O Pape dispõe de computador com Dos Vox, porém ainda falta um técnico que organize os recursos e ademais programas acessíveis para que o acadêmico possa realizar pesquisa e desenvolver trabalhos acadêmicos Quanto aos textos devem ser em áudio para que o estudante cego possa fazer a leitura, interpretar, organizar os seus próprios arquivos, realizar atividades e impressões para serem entregues ao professor. Assim como todo o acadêmico, o discente cego necessita, ainda de leituras a mais para que o seu processo de ensino/aprendizagem conclua-se, é nesse sentido que mencionamos as queixas de professores e alunos cegos. Por exemplo, o acadêmico cego deve ser instruído quanto à funcionalidade dos recursos computacionais podendo ele mesmo manusear conforme o seu cotidiano, contudo ocorrem conflitos com o tempo que ele precisará e o disponível. Entretanto, o atendimento do Pape é dar conta da demanda das digitalizações para os acadêmicos cegos e de visão subnormal, mas devido à falta de material humano fica limitado ao tempo. Os acadêmicos cegos em geral, enaltecem a UNICENTRO pela abertura inclusiva, entretanto não deixam de relatar o descontentamento pela não ampliação. Para que o processo de inclusão se concretize é necessário políticas públicas que contemplem o professor universitário com cursos na área de Inclusão, permitindo a apropriação de recursos pedagógicos e metodológicos que atendam a demanda de uma formação adequada a cada acadêmico. Observamos que um dos fatores determinantes para que o aluno com deficiência visual permaneça no curso é a adaptação do material à sua limitação, exclusivamente, e não ser tratado como alguém com limitações em sua capacidade intelectual. É preciso, pois, unir os esforços que devem estar em conformidade com o objetivo final: o de incluir e formar no Ensino Superior, alunos desiguais de maneira igual, considerando cada ser, um ser diferente, mas com chances iguais. Principalmente, se faz necessário uma Educação no sentido de sensibilizar e investir na construção de uma cultura inclusiva, visto que as gerações anteriores foram educadas em ambientes onde não existia o diferente, portanto acostumados à exclusão de negros, de mulheres, de índios, de pobres, dentre outros. Referências: FIGUEIREDO, C. S. Um olhar de perto: Como ensinar a quem não vê?. 83 p., Monografia (Conclusão de Curso), Curso de Pedagogia, Habilitação em Educação Inclusiva – UNICENTRO, Guarapuava, PR, 2006. MANTOAN, M.T.E. Caminhos pedagógicos da educação inclusiva. In: GAIO, Roberta; MENEGHETTI, Rosa G. Krab (orgs.) Caminhos Pedagógicos da Educação Especial. 2. ed Petrópolis: Vozes, 2004. p. 79-94. SASSAKI, Romeu K. Inclusão: construindo uma sociedade para todos. Rio de Janeiro: Ed. WVA, 1997. 10.1 Eletrônicas BATISTA, M. G. V.; MESSIAS, M. G. M. Visualizando Novos Horizontes de Ensino Aprendizagem: o Docente e o Discente Cego no Ensino Superior. Revista Eletrônica Lato Sensu. Ano3, nº1, mar., 2008. Acesso: 10 jul. de 2009. FERNANDES, João E. S. A evolução tecnológica e a formação. Disponível em: 16 dez. 2005. Acesso em 25 set. 2006.