A LITERATURA NA SALA DE AULA CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO PARA PROFESSORES NA ÁREA DA DEFICIÊNCIA DA VISÃO MARIA DA GLÓRIA DE SOUZA ALMEIDA 1) Introdução: O homem é o produto de um conjunto de fatores. Como um ser único, e ao mesmo tempo múltiplo, torna-se complexo e multifacetado. Sua postura, modifica-se e suas posições flexibilizam-se, ou recrudescem, conforme o momento histórico exija. A mente e o espírito humano forjam-se no "mundo das idéias", em cuja essência repousa o princípio da verdadeira HUMANIDADE. O homem, é um agente formador e transformador. Espelha os anseios de uma época, expressa inquietações, constrói e destrói conceitos, internaliza valores, quebra ordens pré-estabelecidas, sustenta e derruba sistemas políticos, burila comportamentos, preserva estruturas, luta sempre para que lhe seja assegurado o direito à mudança. O homem, é responsável pela construção da sociedade. Os vários compartimentos que formam os grupos sociais, hão de refletir, indubitavelmente, em grande painel de diferenças, onde o nível cultural e econômico influencia essas camadas, fortalecendo ou fragilizando a trama do tecido social. O pensamento humano, cria razões e alça vôos; estabelece normas e libera sentimentos, finca bases e parte grilhões. Desde os mais remotos anos, o homem busca a "verdade das coisas". A palavra como instrumento de investigação, passa a comunicar essa procura. Entender o universo que o cerca e, entender-se a si próprio, é tarefa espinhosa que pede reflexão e senso crítico. Filósofos e cientistas levantam hipóteses, conceituam fenônimos, categorizam elementos, classificam atitudes, desenvolvem correntes de pensamentos e métodos de análise. Filosofia e ciência, mesclam-se na multiplicidade das idéias. A literatura, nasce incorporando todo esse idário, entretanto, reveste-se do caráter fundamental de sua formação, o aspecto artístico. Através dos séculos, trágicos, comediógrafos, historiadores, religiosos, humanistas, poetas, enfim, os escritores mobilizam a "ordem vigente" em todos os tempos. O teatro e o livro constituem-se num veículo de cultura, no armazenamento de preconceitos e conteúdos, concomitantemente, momentâneos e atemporais. A literatura esteve sempre a serviço dos "artistas da palavra". Aprofundando o pensamento, elevando o espírito, denunciando desigualdades, buscando justiça ou proclamando a liberdade, transforma-se no meio para a consecução de diferentes metas que favorecem o crescimento do homem, abrindo-lhe horizontes, fazendo-o respeitar a tradição, impelindo-o a buscar o novo, propiciando-lhe a posicionar-se ante à vida, vivenciando sua hora e procurando as respostas para os infindáveis questionamentos que o afligem. 2) O que é literatura? Modernamente, em sentido lato, define-se literatura como conjunto da produção escrita. Em sentido restrito, literatura é verdadeiramente a ficção, a criação duma supra-realidade com os dados profundos, singulares da instituição do artista. Portanto, a literatura tem de ser encarada como atividade especialmente artística, aceitando, no entanto, quando se fizerem necessárias, informações da crítica social, política, biográfica, etc. É importante que os professores compreendam-na, como um poderoso recurso didático, fazendo dela um instrumento instigador, buscando nela uma fonte de prazer. 3) A literatura na sala de aula Muito antes de serem inseridas na vida escolar, as crianças entram em contato com o texto literário. O hábito de "contar e ouvir histórias" é tão antigo que se perde na memória do tempo. Cremos que a imperiosa necessidade de suprir lacunas internas, fez com que o homem criasse mecanismos para trabalhar sua fantasia, suavizar a realidade, explicar o incompreensível, primiar os bons, punir os maus, enfim, o homem criava uma prática eticomoral que servia-lhe como suporte psicológico e cultural. O sonho e o real fundem-se e confundem-se na magia da narrativa. Bruxas, fadas, gnomos, príncipes, animais poderosos, elementos naturais misteriosos, entidades fantásticas compõem o elenco mágico que alarga o imaginário infantil. A realidade e a lógica das crianças, são bem diferentes da visão verista do adulto. A criança interpreta o meio que a rodeia de uma forma altamente particular, diríamos mesmo, um tanto atrofiada. Chamá-la à realidade comum, é uma missão difícil que exige sensibilidade e bom senso. O livro pode e deve ser o caminho, para os sentimentos serem despertados, condutas serem fortalecidas ou eliminadas, atitudes serem medidas, opiniões serem expressas e repetidas. Povoar o universo da criança de arte e emoção, é dar-lhe a oportunidade de tornar-se um ser mais criativo e crítico. O pensamento imaginativo constrói um homem melhor. Traz em si, a chama, da criação, o ímpeto da realização, o desejo da liberdade. A convivência com o livro, deve ser uma preocupação constante dos educadores. Não importa, se as crianças saibam ler ou não, o que conta, na verdade é a presença viva e enriquecedora da literatura na sala de aula. 4) Texto e contexto O texto literário, é um feixe de inúmeras possibilidades. Põe-se diante de nós como oráculo a ser decifrado. Interpretá-lo e tomá-lo por inteiro, reclama um hábito que precisa instalar-se desde muito cedo. A palavra convertida em instrumento de arte, é reveladora de intrincadas redes de relações. A curiosidade, a informação e o senso estético passam a pertencer àquele que lê. Assim, leitor e texto integram-se na descoberta de ações recíprocas. A vivência do texto tem de ser dinâmica para torna-se verdadeiramente plena. Escritor e leitor participam efetivamente do momento da criação literária. O texto nasce e se configura a partir de um determinado contexto. Ambiente lingüístico ou físico, situações vivenciadas, experiências e eventuais circunstâncias, levantam temas e corporificam idéias. Linguagem e pensamento servem como pano de fundo da realização artística. 5) Como ensinar literatura infantil 1ª) Mostrar aos professores como ensinar literatura infantil na sala de aula. 2ª) Motivação: Você sabe a importância da literatura no mundo infantil? 3ª) Desenvolvimento: a) Utilização da literatura infantil pelos professores. b) Visão geral da literatura infantil no Brasil. c) Funções da literatura infantil. d) Cuidados na escolha dos livros. e) Como selecionar os livros para crianças. f) Principais autores da literatura infanto-juvenil. g) Sugestões para trabalhos. h) Qualidades necessárias ao contador de histórias. i) Cuidados especiais do narrador antes e durante o desenrolar da narrativa. 4ª) Estratégias: a) Docente: 1) Interrogatório; 2) Organização de projetos; 3) Apresentação de gravuras (alunos de visão subnormal) e material concreto (alunos cegos). b) Discentes 1) Respostas ao interrogatório; 2) Participação individual e coletiva. 5ª) Material Didático: a) Livros b) Discos, cds c) Fitas d) Filmes e) Gravuras ou objetos concretos variados 6ª) Bibliografia: 1) de Ávila, Antônio. Literatura Infanto-Juvenil. 2ª ed. Editora do Brasil, 1967. 2) Coelho, Neli Novaes. O Ensino da Literatura. São Paulo, FDT S.A., 1966. 3) Cunha, Maria Antonieta Antunes. Como Ensinar Literatura Infantil. 2ª ed. Belo Horizonte, Bernardo Álvares Antunes S.A., 1980. 4) Tahan, Malba. A Arte de Ler e Contar Histórias. 2ª ed. Rio de Janeiro, Conquista, 1961. O ENSINO DA LITERATURA INFANTIL OBJETIVOS: 1) Contribuir para criar nos mestres, o gosto pela literatura infantil. 2) Levar aos professores a tomar contato com os livros, peças, filmes específicos sobre literatura infantil. 3) Dar noções sobre os aspectos históricos que envolvem a literatura infantil brasileira. 4) Preparar os professores didaticamente para o uso que deverão fazer da literatura infantil junto aos alunos. 5) Capacitar os professores na análise e na crítica dos livros escolhidos. VISÃO GERAL DA LITERATURA INFANTIL NO BRASIL 1) Fontes e Influências a) Estrangeiras: Na França, quer na poesia, quer na prosa, seus principais inspiradores são: Condessa de Sugur, Ratioboune, L, Fontaine, Florian e Perrault. Dos Estados Unidos, vieram aventuras em quadrinhos, histórias de detetives, crimes e assaltos. b) Brasileira: Podemos localizá-las no folclore, que está embebido de ligações de moral e conceitos vários. São seus temas -- contos, lendas, mitos (saci, mula-sem-cabeça, voitatá), poesias, provérbios, crendices, superstições, usos e costumes, festas tradicionais, jogos e músicas. A nossa fauna também é outra fonte: o animal mais lembrado é o jabuti (símbolo da prudência e da teimosia). 2) Histórico Através da tradição oral, as escravas, as avós, as babás passaram a transmitir às novas gerações as histórias do povo -- suas lendas, tradições, contos e aventuras. No Brasil, no início, foi transmitido sob a forma "didática", pois não cogitava obras especiais para atender crianças e adolescentes, as histórias não eram criadas nem revividas para eles. O caráter dominante era de ministrar instrução e douttrina sem qualquer preocupação com o aspecto recreativo. Os livros eram de autores sisudos e graves, mais apropriados aos adultos do que às próprias crianças Nos dias de hoje, procura-se atender à psicologia infantil, ligando-se às experiências comuns da criança, no plano das relações humanas com as experiências realizadas no plano do "maravilhoso" das histórias e no âmbito da própria fabulação infantil. Através de histórias, narrações de lendas, contos e tradições proporcionar-se-á à criança a oportunidade de desenvolver sua imaginação, o gosto artístico, a capacidade expressiva, o enriquecimento do vocabulário, a curiosidade da vida nas suas incursões pelo mundo que a cerca, o encantamento, a educação de sua sensibilidade. FUNÇÕES DA LITERATURA INFANTIL 1) Educar 2) Instruir 3) Distrair 4) Atender ao psiquismo infantil. A mais importante das funções, certamente, é a quarta, pois através dela, teremos o despertar da criança para o interesse sobre a literatura e para incentivar a curiosidade intelectual. CUIDADOS COM A ESCOLHA DOS LIVROS INFANTIS Devemos observar: 1) Quanto à gravura: a) Se são coloridas, não devem haver número excessivo de cores. b) Não devem apresentar contrastes chocantes, anacronismos, detalhes de difícil interpretação. c) Não devem ser estilizadas. 2) Quanto à linguagem: A linguagem, devem ser adequada aos leitores infantis. 3) Quanto ao tema: O tema precisa ser apropriado à idade da criança. Deve-se evitar a leitura excessiva de revistas em quadrinhos, pois pode prejudicar a capacidade de imaginação da criança, levando-a a uma preguiça mental. Ao lado dessa leitura, deve-se apresentar bons livros para que haja um verdadeiro equilíbrio. COMO SELECIONAR E ADEQUAR OS LIVROS ÀS CRIANÇAS 1) Ao escolher as histórias que servirão de leitura à classe, o professor de alfabetização e de primeira e segunda série, deverá levar em conta que precisa oferecer condições de atrair o aluno e desenvolver seu estágio psíquico. 2) O professor deverá observar que há fatores comuns em diferentes histórias, são eles: a( O girar sempre em torno de uma ação central. b) Há um herói ou heroína, sejam humanos, animais, ou entidades fantásticas. c) O ambiente de beleza da imaginação, onde a criança mergulha seus sonhos. d) É preciso que haja identificação entre as necessidades e as aspirações da criança e que ela se projete em algum elemento da narrativa para que a história ofereça condições educativas. e) Os recursos técnicos-expressivos, devem ser adequados como compreensão fácil, enredo simples e atraente, criação do clima de espectativa e havendo um desfeicho imprevisível. COMO CLASSIFICAR AS HISTÓRIASINFANTIS 1) aA classificação pode ser feita segundo três critérios: a) De acordo com a idade e o adiantamento do aluno: -- dos cinco aos sete anos -- fase do pensamento lúcido. Narrativas curtas (contos de fada, fábulas, histórias de animais, de bruxos, de castelos assombrados, etc.) Exemplos: Branca de Neve, A Bela Adormecida, Cinderela, Chapeuzinho Bermelho, etc. -- dos oito aos onze anos -- fase do pensamento mágico. Nesta fase, cabem as narrações de aventuras, contos de feitos heróicos, contos populares regionais, contos humorísticos, histórias de piratas e náufragos, tezouros e ilhas perdidas. Exemplos: Robson Crusoé, Paruam, A Ilha do Tezouro. -- dos doze aos quatorze anos -- fase do pensamento lógico. Impõe-se o interesse pelas experiências da vida de um herói, pelos grandes feitos humanos, pela sagacidade das personagens ao vencer obstáculos ou adversidades, pela dedicação do homem a um grupo social. Nesta fase, as meninas procuram os romances sentimentais e os meninos, livros de ação, perigo, aventura, ficção científica e suspense. Verifica-se que os meninos procuram muito mais os livros de ciências que contêm material informativo. b) De acordo com a relação entre o narrador e o enredo da história. -- História construída na primeira pessoa do discurso -- o herói é o próprio narrador. Exemplos: A Viagem de Gulhiver. -- História construída na terceira pessoa do discurso -- o narrador não participa das ações da história como personagem. Ele é um mero observador dos fatos narrados. Exemplo: Era uma vez... OBSERVAÇÃO: Em literatura chamamos, a essa forma de estruturar a narração, FOCO NARRATIVO. -- Histórias intercruzadas -- o narrador faz parte da história, mas não é o herói principal. Exemplos: O Mais Generoso dos Cheiques (Malba Tahan), O Fio Da Navalha (Somerset Maughan). c) De acordo com a forma pela qual a história é apresentada: -- Histórias em simples narrativa oral; -- Histórias lidas; -- Histórias com interferência; -- Histórias com gravuras, flanelógrafo, álbum seriado; -- Histórias em vídeo; -- Histórias com cartazes; -- Histórias com mágicas; -- Histórias com contos; -- Histórias dramatizadas; -- Histórias desenhadas; -- Teatrinho de bonecos; -- Histórias com ruídos e vozes; -- Histórias com objetos; -- Histórias com marionetes e fantoches. PRINCIPAIS AUTORES DA LITERATURA: INFANTO-JUVENIL 1ª) Conto infantil -- primeira fase: a) Charles Perrault -- exemplos: Contos da Mamãe Pata. b) Os Irmãos Grimm -- exemplo: Joãozinho e Maria e o Grão de Feijão. c) Hans Cristian Anderson -- exemplo: O Patinho Feio e A Filha do Rei Brejo. 2ª) Autores mais específicos para a segunda e terceira fase: a) Monteiro Lobato -- exemplo: Caçada do Pedrinho e No Reino das Águas Claras. b) Daniel Defo -- exemplo: Robson Crusoé. c) Graciliano Ramos -- exemplo: Alexandre e Outros Heróis. d) Mark Twan -- exemplo: As Desenventuras de Tom (Surjor). e) La Fontaine -- exemplo: A Raposa e As Uvas. f) Charles Dickens -- exemplo: Davi. Copperfild. g) Maria Clara Machado -- exemplo: Pluft, o Fantasminha. h) Orígenes Lessa -- exemplo: O Feijão e o Sonho. i) Cecília Meireles -- exemplo: Ou Isto Ou Aquilo. SUGESTÕES PARA TRABALHOS a) Questionário abordando a interpretação do texto para trabalhar a sensibilidade dos alunos e avaliar sua capacidade de apreensão; b) Criação de textos coletivos: O professor procurará um tema através de uma frase-chave e cada criança formulará uma setença seguindo o pensamento anteriormente colocado. O professor deverá escrever todo o texto para que a turma tenha o livro feito por todos os alunos; c) Trabalho com poesia: O professor deverá introduzir histórias sob a forma de versos, trabalhará, jogos e rimas, provas e pequenos textos poéticos; d) Dramatização: O professor deverá encenar com as crianças, esquetes e peças infantis; e) Formação de jograis: O professor poderá ensaiar um coro falado, valorizando os textos de poesia infantil; f) Uso do folclore: O professor, trabalhará, em cima de brincadeiras, cantigas, mitos e lendas brasileiras; g) Montagem de projetos: O professor, através do livro infantil, poderá dar conteúdos variados de acordo com o seu planejamento, abordando as diferentes áreas de estudo. Assim, desde a pré-escola, aproveitando o centro de interesses da criança e, o programa a ser desenvolvido, o professor terá no aspecto lúdico, a história, um prodigioso recurso didático; h) Criação de fitotecas: O livro falado é mais um recurso de grande valia. O professor poderá valer-se de livros gravados para que o nível de leitura de seus alunos, em qualquer fase escolar, se amplie e aprofunde. QUALIDADES NECESSÁRIAS AO CONTADOR DE HISTÓRIAS 1) Sentir ou viver a história, ter a expressão viva, ardente, sugestiva. 2) Narrar com naturalidade, sem qualquer afeitação. 3) Conhecer, com absoluta segurança, o enredo da história narrada. 4) Dominar o auditório. 5) Contar dramaticamente (sem o caráter teatral exagerado). 6) Falar com voz adequada, clara e agradável. 7) Evitar ou corrigir defeitos de dicção (vícios de linguagem). 8) Ser comedido nos gestos. 9) Inflamar-se com a própria narrativa. Em se tratando de crianças cegas, ter consciência de que as crianças precisam ser motivadas através de estímulos auditivos (ruídos de objetos, vozes de animais, barulhos da natureza, etc.). CUIDADOS ESPECIAIS DO NARRADOR ANTES E DURANTE O DESENVOLVER DA NARRATIVA 1) Impor silêncio ao auditório ao começar a narrativa. 2) Não romper o fio da narrativa com advertências ou conselhos. 3) Evitar os tiques chocantes ou vícios de linguagem. Exemplos: Não é? É, tá... Aí... aí... 4) Ter na mão sempre o controle da narrativa. 5) Tirar partido de qualquer imprevisto que haja durante a narrativa. 6) Dispensar a todos o mesmo grau de atenção. 7) Não se irritar e nem se pertubar com a interferência de alguns hiper-ativos ou inconvenientes. 8) Resolver de pronto as questões ou dúvidas surgidas durante a narrativa, por um ouvinte curioso ou desajustado ao ambiente. SUGESTÕES DE AUTORES COMTEPORÂNEOS 1) Ana Maria Machado; 2) Ruth Rocha; 3) Estela Carr; 4) Sylvia Orthof; 5) Mary França; 6) Maria Mara Machado; 7) Ligia Bojunga Nunes. FIM