CIVILIZAÇÃO CIVILIZAÇÃO s.f. Ação de civilizar. / Conjunto de caracteres comuns às sociedade evoluídas: os benefícios da civilização. / Conjunto de caracteres próprios à vida intelectual, artística, moral e material de um país ou de uma sociedade: civilização grega.A palavra vem do latim civis, que significa cidadão de uma cidade. Os povos primitivos considerados não civilizados vivem em acampamentos e aldeias. Geralmente, os povos civilizados conhecem a escola. Seu modo de vida costuma apresentar, também, uma divisão de trabalho. Isto significa que os agricultores, criadores e pescadores produzem alimentos, enquanto os comerciantes, artesãos, funcionários públicos, soldados e outros fornecem bens manufaturados e serviços. O governo, a educação e a religião estão nas mãos de reis, padres, juízes, professores e autoridades governamentais. A maioria dos estudiosos acha que a história começa com a escrita e, portanto, com a civilização. O longo período transcorrido antes que a história começasse a ser registrada é chamado de pré-história. É costume referirmo-nos a civilizações determinadas, como a civilização chinesa, ou a civilização ocidental. Neste sentido, uma civilização significa a cultura de um certo povo. Qualquer modo de vida, seja simples ou complexo, pode ser chamado de cultura. Mas só uma cultura complexa pode ser chamada de civilização. O SURGIMENTO DAS CIVILIZAÇÕES Os povos tiveram muito o que aprender antes de se tornarem civilizados. Durante cerca de dois milhões e meio de anos, a alimentação foi obtida através da caça de animais e da colheita de raízes, frutas silvestres e outros produtos da natureza. Havia épocas em que este alimento se tornava escasso. As pessoas tinham que se deslocar constantemente para conseguir o alimento necessário. O primeiro progresso no sentido da civilização ocorreu no séc. IX a.C., quando o homem descobriu que podia obter grande parte de seu alimento criando rebanhos e plantando. Esta descoberta permitiu que alguns grupos de pessoas se fixassem em aldeias, criando animais e plantando. Começaram a tecer panos e a fazer cerâmica no tempo que sobrava. Os sacerdotes ajudaram a reduzir os temores e as desavenças entre a população, unindo-a através do culto aos deuses. Os chefes aprenderam a manter a paz entre aldeias vizinhas e a proteger os viajantes e comerciantes. A paz e a ordem contribuíram para o desenvolvimento do comércio e estimularam a difusão de novas idéias. O segundo progresso foi a descoberta dos metais. Com os metais, os artesãos passaram a ter melhores instrumentos, os guerreiros melhores armas, e os comerciantes um meio de troca mais eficaz. Com o crescimento do comércio e da produção, os chefes tornaram-se reis. Os sacerdotes, os artesãos, os comerciantes, os coletores de impostos e os soldados reuniram-se em torno do rei formando a corte real. A riqueza e o comércio geraram a necessidade da contabilidade. Foram inventados sistemas matemáticos e de escrita. Os escribas e professores tornaram-se necessários. As cortes transformaram-se em cidades. Alguns homens estimulando-se mutuamente, passaram a produzir obras de arte. A ciência começou a surgir, à medida que os sacerdotes estudavam os movimentos dos planetas e as posições das estrelas, a fim de elaborar calendários para orientar a produção agrícola. A maior parte das grandes civilizações do mundo surgiu em climas temperados. Mas algumas culturas, como a dos khmers, no Cambodja, e a dos maias, em Yucatán, desenvolveram-se em regiões secas e tropicais. Várias raças humanas diferentes criaram civilizações. AS ORIGENS As mais antigas civilizações do mundo surgiram de forma independente. A principal causa do surgimento das civilizações posteriores foi a difusão das primeiras civilizações por novas áreas. Os historiadores costumam apontar quatro áreas do hemisfério oriental como sendo as terras de origem, onde surgiram as mais antigas civilizações. Estas regiões apresentam vantagens excepcionais sobre outras áreas quanto à possibilidade de conseguir alimentos e à facilidade de locomoção. As quatro áreas foram (1) o Egito, (2) o Oriente Médio, (3) o vale do Indo, onde hoje é o Paquistão, e (4) o vale do Huang-Ho, na China. O Egito. Os antigos egípcios viviam às margens do rio Nilo, que era rico em peixes e aves aquáticas. Navegavam e transportavam mercadorias pelo rio, em barcos. Cultivavam trigo e outras plantas nos ricos depósitos de aluvião que a maré do Nilo formava regularmente a cada ano, não precisando, assim, temer as variações do regime de chuvas. As aldeias se agrupavam formando distritos independentes, chamados nomos, que pontilhavam as margens do rio. Nos tempos pré-históricos, os nomos se uniram em dois reinos, o Alto Egito e o Baixo Egito. No alvorecer da história egípcia, por volta do ano 3100 a.C., unificaram-se em um único reino. Em pouco tempo, a civilização egípcia adquiriu características particulares e permaneceu essencialmente a mesma durante 2.500 anos. Os grandes templos de pedra e as pirâmides ainda resistem para nos lembrar a preocupação dos egípcios com a imortalidade da alma através da conservação dos corpos, após a morte. A parte alfabética de sua escrita hieroglífica contribuiu para formar o nosso alfabeto. O Oriente Médio apresenta uma área em forma de foice que se encurva da costa mediterrânea ao golfo Pérsico e que era extremamente fértil. Na parte leste deste crescente fica a Mesopotâmia, a região entre os rios Tigre e Eufrates. Aí os primeiros sumérios construíram uma civilização, quase ao mesmo tempo em que surgiu a civilização egípcia. Também plantavam trigo, criavam bois e carneiros, e trabalhavam metais trazidos de minas distantes. Estavam organizados em cidades-estados independentes. Os sumérios construíram palácios e templos imensos, com tijolos secados ao sol, porque não havia pedra em sua região. Desenvolveram a escrita cuneiforme, desenhada na argila com varas pontiagudas. Vários povos posteriores, como os acadianos e os babilônios, adotaram a civilização suméria e difundiram-na pela Mesopotâmia. Sua difusão foi mais ampla que a da civilização egípcia e influenciou muitas outras, inclusive a civilização ocidental. Daí veio a nossa semana de sete dias e o círculo de 360 graus. Outros povos do Oriente Médio aprenderam muito com os sumérios, acrescentando suas próprias contribuições. Na parte ocidental do crescente fértil, viviam os fenícios, os arameus e os hebreus. Tempos mais tarde, os assírios, e depois os persas, unificaram uma grande área do Oriente Médio para formar grandes impérios. O Vale do Indo. Por volta do ano 2500 a.C., um povo de nome desconhecido estabeleceu uma civilização no vale do rio Indo, onde hoje é o Paquistão. Construíram cidades feitas com tijolos cozidos, com ruas estreitas e excelentes escoadouros e esgotos. Também trabalhavam o bronze e escreviam num alfabeto ainda não decifrado. Os selos sumérios encontrados nas ruínas das cidades de Harappa e Mohenjodaro indicam que o povo do vale do Indo comerciava com a Mesopotâmia. Sua civilização extinguiu-se por volta de 1700 a.C. Os estudiosos não sabem ao certo as causas da derrocada desta civilização. O Vale do Huang-Ho. Por volta do ano 1500 a.C., surgiu uma civilização às margens do Huang-Ho, um rio do centro-norte da China. As escavações arqueológicas revelaram uma grande cidade da chamada dinastia Chang, perto de Ngan-Yang. Este povo construiu palácios de madeira e fez os mais finos vasos de bronze que já existiram. Deixaram, também, a mais antiga escrita chinesa que se conhece. Esta escrita foi gravada em pedaços de ossos, usados para adivinhar o futuro. A antiga cultura huang-ho foi a única, de todas as civilizações originais, que sobreviveu até nossos dias. CIVILIZAÇÕES MEDITERRÂNEAS O mar Mediterrâneo é o maior volume de água interiorano do mundo. Os povos que vivem em suas margens e ilhas gozam de um clima ameno e de boas condições de navegação. Suas civilizações desenvolveram-se a partir das contribuições culturais do Egito, da Mesopotâmia e do norte. Egéia. A primeira civilização do Mediterrâneo, a egéia, surgiu por volta de 3000 a.C. Os minoanos de Creta construíram belas cidades, como Cnosso, com bons encanamentos e excelentes pinturas de parede. Os estudiosos decifraram alguns de seus escritos. Os minoanos eram bons navegadores e comerciantes, tendo levado suas mercadorias e sua civilização a todo o leste do Mediterrâneo. A civilização egéia em continente grego é, geralmente, chamada de micênica, por causa de sua capital, Micenas. Tróia, na Ásia Menor, teve uma cultura semelhante. A Civilização Grega nasceu de uma combinação da civilização egéia com a cultura dos invasores do norte. Seu apogeu foi atingido por volta do séc. V a.C. Os gregos possuíam um verdadeiro alfabeto, derivado do alfabeto egípcio trazido pelos fenícios, e produziram as primeiras obras históricas e científicas do mundo. Sua arquitetura e sua escultura continuam sendo insuperáveis. Os conceitos gregos de democracia e justiça estão na origem dos da civilização ocidental. Romana. Os cidadãos de Roma alcançaram o poder na Itália central, durante o séc. V a.C., e, aos poucos estenderam seu império até controlar a região que vai da Grã-Bretanha à Síria. Os romanos absorveram elementos de civilização dos etruscos, dos gregos, dos egípcios e de outros povos civilizados da Antiguidade. Unindo estes elementos, formaram sua própria cultura. Entre os progressos atingidos pelos romanos estão a construção de estradas pavimentadas e aquedutos e a codificação de um sistema de leis que ainda é usado por muitas nações. O latim permaneceu, durante centenas de anos, como a língua das pessoas realmente cultas e formou a base das atuais línguas românicas. A queda do Império Romano do Ocidente, em 476 d.C., marcou o fim do período de civilizações antigas. O Império Bizantino, uma ramificação das civilizações grega e romana, preservou durante um século o conhecimento clássico e difundiu-o por novas áreas da Europa central e oriental. PRIMEIRAS CIVILIZAÇÕES INDÍGENAS DAS AMÉRICAS Vários grupos indígenas da América do Norte e do Sul atingiram um grau relativamente alto de civilização. Quase não usavam animais de carga, nem usavam a roda. Suas cidades e seus sistemas de escrita não se desenvolveram muito. Mas fizeram bastante progresso, antes que a chegada do homem branco, no séc. XVI, pusesse fim a suas civilizações. Andina. Os índios da região das montanhas dos Andes, na América do Sul, começaram a desenvolver formas avançadas de vida por volta do ano 400. Cultivavam batata, feijão, milho e uma quenopodiácea local, chamada quinoa. Domesticavam o lhama e o porquinho-da-índia. Estes povos descobriram o bronze sem terem tido qualquer contato com o hemisfério oriental. Faziam belos objetos de ouro e prata e intrincados trabalhos de tecelagem, com o algodão e a lã do lhama e da alpaca. No séc. XV, os incas unificaram uma vasta região num só império. Os seus muros de pedra figuram entre as maravilhas do mundo, porque usavam pedras enormes que se ajustavam perfeitamente, sem que fosse usada argamassa. Os incas pavimentavam as estradas e construíam pontes suspensas por sobre os desfiladeiros das montanhas. Maia. Simultaneamente, os índios da Guatemala e das planícies de Yucatán e Honduras desenvolviam uma outra civilização americana. A cultura maia teve seu apogeu no séc. VIII. Os maias construíram belos templos de pedra e produziram pinturas, esculturas e cerâmica de excelente qualidade. Inventaram um sistema de calendário baseado nos movimentos do Sol, da Lua e do planeta Vênus. Desenvolveram uma escrita hieroglífica e inventaram o conceito matemático de zero e o sistema decimal. Já haviam desaparecido quando os espanhóis chegaram. Foram apelidados de os gregos do novo mundo devido à exuberância de sua arquitetura. Mexicana. O vale do México, onde está hoje a Cidade do México, foi cenário de um outro grande movimento cultural. Os primeiros povos, entre eles os índios toltecas, cultivavam a terra e construíam pirâmides de pedra. Posteriormente, os índios astecas controlaram a maior parte do México central, na época em que chegaram Hernando Cortés e seus homens, em inícios do séc. XVI. Os astecas trabalhavam o metal mas usavam, também, instrumentos de pedra. Tinham um clero influente e sacrificavam milhares de vítimas a seus deuses. CIVILIZAÇÕES MAIS RECENTES DA ÁSIA E DA ÁFRICA As invasões européias provocaram o súbito desaparecimento das civilizações indígenas americanas. Mas um contato semelhante não estancou o desenvolvimento das civilizações da Ásia e da África. Estas culturas já eram tão grandes e tecnicamente desenvolvidas que não podiam ser destruídas. A Civilização Chinesa teve um crescimento ininterrupto durante mais de quatro mil anos. Os chineses vivem da agricultura intensiva, tendo o arroz como seu alimento básico. Possuem seu próprio sistema de escrita ideográfica. Este sistema é difícil de aprender, pois compõe-se de milhares de caracteres. Mas é fácil de escrever, porque cada um dos caracteres representa uma palavra. Os chineses inventaram o tipo móvel e a pólvora, muito antes dos europeus. A arte chinesa produziu belos trabalhos de porcelana, seda, jade e arquitetura. As civilizações do Japão e da Coréia sofreram forte influência dos chineses. A Civilização Hindu, na Índia, surgiu da união da cultura ariana com a antiga civilização do vale do Indo. A Índia era formada por várias tribos e nações diferentes. A civilização hindu organizou-as numa estrutura complexa conhecida como sistema de castas. O hinduísmo possui um vasto saber religioso e templos dedicados a muitos deuses e deusas. Os nossos numerais e o sistema decimal vieram da Índia, através dos árabes. O império khmer, do Cambodja, teve uma civilização semelhante no séc. IX d.C. e deixou templos magníficos em Angkor-vat e outros lugares. Islâmica. Por volta do ano 570 d.C., o profeta chamado Maomé nasceu em Meca, uma cidade no sudoeste da Arábia. Ele combinou certas crenças e ensinamentos das religiões judaica e cristã com as crenças e ritos locais, formando uma nova fé, chamada islã, que adorava um único deus, Alá. Esta fé rigorosa espalhou-se rapidamente. Os seguidores de Maomé deslocaram-se para o norte, penetrando na Síria, no Egito e no Iraque, e depois deslocaram-se para o ocidente, atingindo o Marrocos, a Espanha, a parte leste da Índia, e chegando a alcançar a Indonésia e as Filipinas. Desenvolveram uma arte própria, combinando elementos de várias destas culturas. Os muçulmanos absorveram o saber da Grécia clássica e traduziram para o árabe várias obras que, de outra forma, se teriam perdido. Os muçulmanos davam importância ao conhecimento e criaram as primeiras universidades. CIVILIZAÇÃO OCIDENTAL Nossa civilização ocidental surgiu na Europa, a partir de diversas fontes. As raízes dessa civilização estão nas culturas grega e romana, com contribuições dos povos celtas e germânicos. A religião, o cristianismo, veio da Palestina. A civilização ocidental tem vários períodos. O período medieval, ou Idade Média, seguiu-se à queda do Império Romano. Durante este período, a civilização greco-romana fundiu-se com elementos celtas e germânicos. As Cruzadas, nos séc. XII e XIII, introduziram as habilidades e conhecimentos islâmicos. À medida que o modo de vida foi-se tornando mais complexo, começou um novo período, o Renascimento, a partir do séc. XIII. Os europeus inventaram as armas de fogo, os navios de longo curso e a tipografia. Navegaram para todas as partes do mundo, durante a chamada era dos descobrimentos. No séc. XVII, os europeus e americanos fizeram um grande progresso na indústria e na ciência e começaram a Revolução Industrial. Desde então, a civilização ocidental difundiu-se, de uma forma ou de outra, por todo o mundo, tendo uma grande influência em quase todas as outras culturas. TEORIAS SOBRE CIVILIZAÇÃO Os filósofos e historiadores especularam durante centenas de anos sobre os princípios que determinam o surgimento e a queda das civilizações. O filósofo G. W. F. Hegel disse que os Estados são como indivíduos que passam a tocha da civilização uns para os outros. Neste processo, a civilização passa por três estágios: o governo de um único déspota, que é o único ser livre; o governo de uma única classe, que é a única livre; e o governo de todo o povo, onde todos são livres. Karl Marx sustentava que a transição do segundo estágio para o terceiro se dá quando os trabalhadores se disciplinam e se conscientizam organizando-se para a ação política. Oswald Spengler, autor de O declínio do Ocidente, acreditava que as civilizações nascem, amadurecem e morrem como as coisas vivas. Para Spengler, a moderna civilização ocidental estava morrendo, e seria substituída por uma nova civilização, vinda da Ásia. Arnold Toynbee expôs sua teoria do desafio e da reposta em Um estudo da história. Segundo Toynbee, as civilizações só aparecem quando o meio ambiente impõe um desafio a um povo e quando este povo está preparado para responder a ele. Toynbee afirma que as civilizações sucumbem quando se esgota o gênio da minoria criativa. Poucos historiadores preocuparam-se em medir as civilizações segundo uma escala definida, para determinar o seu grau de evolução. Mas podemos medir certos aspectos, como a quantidade de energia utilizada para vários fins. Se comparamos a energia humana necessária para transportar as pedras das pirâmides com a força do vento captada pelas velas de um barco e, ainda, com a energia gerada pela fissão nuclear, veremos que os povos tiveram um progresso constante, desde os primeiros tempos até o presente. Apesar de alguns retrocessos periódicos, a civilização, como um todo, cresceu de modo contínuo. Para o sociólogo Norbert Elias (1897-1990), civilização e decadência são processos simultâneos, como se pode observar durante guerras de extermínio. Civilização não é herança para sempre recebida e sim um contínuo esforço de preservação do nível alcançado e de seu constante aperfeiçoamento procurando-se compreender o modo pelo qual tal processo ocorre.