ASSÍRIA ASSÍRIA, reino da Ásia ant., no curso médio do Tigre. Correspondia aproximadamente à região norte do atual Iraque. Sua civilização foi em muitos aspectos semelhante à da antiga Babilônia, sua vizinha ao sul. Os assírios têm sido chamados de romanos da Ásia, pois também foram grandes conquistadores. Eles obtiveram as suas vitórias à maneira dos romanos, isto é, através de organização, armas e equipamentos excelentes. Terra. A Assíria era uma terra de colinas onduladas. O rio Tigre e os pequenos rios que o alimentavam mantinham a fertilidade dos vales. Ao norte erguiam-se as íngremes montanhas armênias. A leste havia as montanhas Zagros e os altos montes do Irã. Essas terras montanhosas não atraíam muito os assírios. Mas as terras do sul e do oeste eram melhores que as suas. A rica região da Babilônia e as férteis planícies do oeste da Mesopotâmia e da Síria estavam abertas aos conquistadores assírios. A Assíria tinha um clima mais favorável à agricultura do que a Babilônia. A temperatura era mais fria e as chuvas, mais intensas. Mas a irrigação era fácil na planície babilônica e muito difícil nas montanhas assírias. Uma vez iniciadas as conquistas, os assírios se apossaram de muito mais do que as férteis terras cultivadas da vizinhança. O Império Assírio passou a abranger regiões de mineração, florestas e várias outras, mas a própria Assíria permaneceu um país agrícola. A antiga Assíria possuía também grandes quantidades de pedra para construção, alguma madeira e uns poucos minerais. Povo. Tanto quanto se sabe, a Assíria foi habitada antes que a Babilônia. Colonos de uma raça desconhecida construíram pequenas aldeias e viviam em comunidades com algum tipo de vida tribal. Fragmentos de cerâmica, utensílios de pedra e fundações de casas rústicas revelam que a Assíria era habitada durante o período neolítico, entre 6 mil e 7 mil anos atrás. Os arqueólogos puderam identificar as mudanças de estilo da cerâmica e constatar a chegada de um novo povo à Assíria; puderam, assim, descrever o lento progresso da civilização. Mas estes antigos povos não deixaram registros escritos, e ninguém sabe muita coisa a respeito de sua história. Grupos semitas penetraram na Assíria antes de 3000 a.C., e o mesmo fez o povo da planície vizinha, a sumeriana. Mas os assírios dos tempos históricos eram uma mistura de várias raças. Quando os escritores os chamam de povo semita, levam em consideração mais a língua do que a raça dos assírios. A população assíria trajava uma espécie de manto chamado túnica e calçava sandálias. Os homens usavam o cabelo comprido e muitos deixavam crescer a barba. A maioria deles tinha barba curta, mas os altos funcionários usavam uma longa barba de ponta quadrada. Modo de Vida. A maioria dos assírios eram habitantes de cidades, agricultores ou membros de grupos seminômades, que se deslocavam de um local para outro nas proximidades das áreas ocupadas. A maior parte da Assíria era dividida em grandes estados, controlados por proprietários de terras. Os agricultores viviam em pequenas aldeias nos estados e trabalhavam a terra. Eles abriam canais de irrigação que conduziam a água até as terras cultivadas e ajudavam a controlar as enchentes. Habitavam cabanas com teto de palha e paredes feitas de barro e galhos entrecruzados. A mais importante plantação era a de cevada. Os agricultores criavam animais domésticos e produziam leite e alguns laticínios. A Assíria tinha poucas cidades grandes. As mais importantes eram Assur, Calah e Nínive. A maioria dos habitantes da cidade eram artífices ou negociantes. Os artífices fabricavam cerâmica e objetos feitos de materiais como o ouro, a prata, o bronze, o marfim e a madeira. Altas muralhas guarnecidas de arqueiros cercavam as cidades para protegê-las dos ataques. Os cidadãos mantinham hortas de frutas e verduras nas terras irrigadas que ficavam nas imediações da cidade. Os grupos seminômades eram formados principalmente por escravos fugitivos, agricultores malsucedidos e pessoas que tinham sido expulsas das cidades. De tempos em tempos, bandos dessa gente invadiam e saqueavam as cidades. As relações entre os habitantes das cidades e os grupos seminômades eram sempre tensas. Os reis assírios, assim que subiam ao trono, tentavam fortalecer o domínio sobre a região. A Assíria tinha poucos escravos. A maioria deles eram prisioneiros de guerra, ou pessoas que não tinham condições de pagar suas dívidas. Alguns assírios eram forçados a vender suas esposas e filhos como escravos para saldar suas dívidas. Língua e literatura. Os primitivos assírios falavam uma língua semita parecida com o hebraico e o árabe falados atualmente. Eles usavam um sistema de escrita chamado cuneiforme, que foi desenvolvido pelos babilônios, e que consistia em sinais em forma de cunha gravados em placas de barro. Os reis assírios colecionavam essas placas de barro em imensas bibliotecas. A biblioteca de Assurbanipal, descoberta em Nínive no séc. XIX d.C., continha placas que tratavam de religião, literatura, medicina, história e outros assuntos. Os bibliotecários assírios catalogavam cuidadosamente as placas e guardavam-nas em estantes. A maioria das placas da biblioteca de Assurbanipal encontra-se hoje no Museu Britânico, em Londres, onde várias delas estão em exposição. Os assírios também escreveram textos jurídicos. O Código Assírio data aproximadamente de 1400 a.C. e, assim como o código babilônico de Hamurabi, consistia em exemplos de casos, cada qual com o julgamento correspondente. Mas os assírios impuseram maiores penas aos infratores da lei do que os babilônios. A maioria dos assírios que viveram posteriormente falava o aramaico. Grande parte da escrita era feita em aramaico, provavelmente em tinta sobre pergaminho. O aramaico, porém, não chegou a substituir inteiramente a escrita cuneiforme. Ambas sobreviveram como língua escrita até o fim do Império Assírio, mas eram usadas com diferentes finalidades. Os textos históricos e religiosos eram escritos em cuneiforme, mas o aramaico era usado para os negócios do dia-a-dia. A maioria dos pergaminhos aramaicos estragou-se há muito tempo, de modo que os historiadores sabem pouca coisa a respeito das atividades comerciais da Assíria durante os seus últimos séculos. Religião. A religião assíria estava estreitamente relacionada com as antigas religiões sumeriana e babilônica. Os assírios acreditavam que vários deuses governavam o destino humano e controlavam o céu, a terra, a água, as tempestades e o fogo. Eles também acreditavam em bons e maus espíritos, e na magia. Sua religião diferia de várias maneiras das religiões primitivas. O principal deus da Assíria era Assur, cujo nome era o mesmo que os assírios davam à sua terra e à sua cidade mais importante. O principal deus babilônico era Marduc. Os reis babilônicos não eram líderes religiosos; eles podiam entrar no templo apenas uma vez por ano, em circunstâncias especiais. Já o rei assírio, além de soberano, era também o sacerdote principal, e o povo o considerava um representante de Assur na Terra. Os assírios cultuavam outros deuses como Nabu, o deus da sabedoria e patrono dos escribas, Ninurta, deus da guerra, e Ishtar, a deusa do amor. A deusa Ishtar era tão famosa em Nínive que sua estátua foi certa vez enviada de lá até o Egito para ajudar na cura do rei deste país. Os assírios ofereciam alimentos e objetos preciosos aos deuses. Os sacerdotes tentavam predizer o futuro através do exame das entranhas dos animais sacrificados e da observação e interpretação de coisas da natureza como, por exemplo, o tempo e o vôo dos pássaros. Arte e arquitetura. A mais antiga arte assíria era semelhante à arte da Babilônia e das outras culturas vizinhas. Um estilo independente de arte assíria desenvolveu-se entre 1400 e 1000 a.C. Os artífices assírios fabricaram alguns dos mais belos selos cilíndricos produzidos na Mesopotâmia. Estes selos eram passados sobre barro mole para selar documentos e outros objetos. Os assírios decoravam suas construções com pinturas murais e tijolos de cores vivas. Mais tarde, entre 900 e 600 a.C., eles passaram a decorar os muros dos palácios com baixos-relevos em pedra, mostrando cerimônias religiosas ou vitórias militares. Os baixos-relevos se tornaram os mais conhecidos dentre os trabalhos artísticos dos assírios. Alguns deles, encontrados no palácio de Assurbampal em Nínive, mostram cenas de caça. A figura humana na arte assíria não revelava qualquer emoção, mas as esculturas do palácio de Assurbanipal mostram de forma viva a ferocidade e o sofrimento dos leões caçados. Os baixos-relevos assírios eram feitos com habilidade, mas os escultores jamais chegaram a descobrir realmente como representar a distância e a profundidade em seus trabalhos. A não ser pelas impressionantes estátuas de touros e leões com cabeças humanas que guardavam os palácios, os assírios fizeram poucas esculturas boas além dos baixos-relevos. Os assírios geralmente faziam suas construções com tijolos de barro não cozido. Alguns dos alicerces e decorações murais eram feitos em pedra. Todas as construções tinham telhados planos, e mesmo as maiores possuíam apenas um pavimento. Algumas, porém, tinham aposentos que mediam nove metros do piso ao teto. Os magníficos pátios, câmaras e corredores dos palácios ocupavam vários acres ou hectares. Grandes templos e palácios, assim como construções menores enchiam as cidades de Assur, Nínive e Calah. Os artífices assírios foram excelentes decoradores de pequenos objetos feitos de pedra, metal, madeira e marfim. Algumas pessoas na Assíria importavam objetos de arte da Fenícia e do Egito Governo. O rei assírio era conhecido como o grande rei, o rei legítimo, o rei do mundo, rei da Assíria, rei dos quatro cantos da Terra, rei dos reis, príncipe-sem rival, que reina do Mar Superior ao Mar Inferior. O rei era o chefe supremo do Império Assírio e o sacerdote principal do deus Assur. Conduzia pessoalmente o seu exército às várias partes do império nas campanhas militares. Estas campanhas rendiam-lhe tributos e outros pagamentos. O filho mais velho do rei, seu herdeiro, geralmente se encarregava dos negócios administrativos do país e vivia no Palácio da Administração. Os habitantes de algumas das cidades mais antigas, como Assur e Nínive, desfrutavam de privilégios especiais como, por exemplo, baixos impostos e isenção do serviço militar. Os proprietários de terras tinham que pagar impostos e fornecer jovens para servir ao exército de seus estados. Além da própria Assíria, o império estava dividido em províncias. Cada província era administrada por um governador da confiança do governo central. Registros escritos e baixos-relevos revelam que os assírios tratavam cruelmente os povos conquistados. Mas os historiadores não têm certeza se realmente eles praticavam atos cruéis. Eles podem ter fingido que eram cruéis para atemorizar os outros povos e obrigá-los a se render. Os assírios às vezes permitiam aos povos conquistados manter seus próprios governantes, mas se esses povos se revoltavam ou se recusavam a pagar os tributos, os assírios freqüentemente arrasavam-lhes as cidades e enviavam sua população para as regiões distantes do império. HISTÓRIA Os estudiosos conhecem pouca coisa a respeito do início da história assíria. Os mais antigos documentos descobertos, imediatamente anteriores a 2000 a.C., revelam que um governador da cidade de Ur, situada no sudeste do atual Iraque, governava em Assur. Documentos de época posterior provenientes da Ásia Menor indicam que os assírios negociavam intensamente em Anatólia (atual Turquia). Em 1813 a.C., Shamshi-Adad, chefe dos amoritas, se fez senhor da Assíria, estendendo as fronteiras do país e aumentando o seu poderio. Depois do reinado de Shamshi-Adad, a Assíria ficou sob o domínio da Babilônia. Não foi encontrado nenhum registro referente aos poucos séculos seguintes da história assíria. Os historiadores acreditam que o país foi governado durante parte desse período pelo Mitani, um reino situado no norte da Síria. Os registros revelam que a Assíria se tornou novamente um país independente em meados do séc. XIV a.C. A Assíria desfrutou de breves períodos de expansão nos séc. XIII e XII a.C., antes de começar a formar o seu império no séc. IX a.C. Salmanasar III, que reinou de 858 a 824 a.C., adquiriu o controle das rotas comerciais do Mediterrâneo. Teglatefalasar III, que reinou de 744 a 727 a.C., conquistou a Síria e Israel, e se tornou rei da Babilônia. Asarhaddon, cujo reinado durou de 680 a 669 a.C., anexou o Egito ao império. A Assíria declinou rapidamente depois de meados do séc. VII a.C., e os ataques dos medos e dos babilônios em 614 e 612 acabaram pondo fim a seu império.