UNIVERSIDADE METODISTA DE PIRACICABA Programa de Pós Graduação em Educação Disciplina: Processos Educativos, Cognição e Linguagem Professora: Ana Maria Padilha Aluna: Rosana Davanzo Batista A relação entre o biológico e o cultural na gênese das funções psicológicas superiores, na perspectiva histórico-cultural Lev Vygotsky nasceu em 1896 na Rússia, e devido a sua riqueza intelectual, desde muito cedo questionava sobre homem e a criação de sua cultura. Quando jovem, mostrava-se interessado por literatura, poesia e filosofia, estudou francês, hebraico, latim e grego. Em 1914, matriculou-se em Medicina e Direito. Cursou, ainda, Filosofia, Psicologia, Literatura e História, trabalhou como professor, apresentou-se em congressos e conferências e realizou pesquisas direcionadas principalmente ás crianças portadoras de deficiências visuais e auditivas. Vygotsky morreu em 1934 com 37 anos, mas mesmo tendo vivido por tão pouco tempo, colocou-se diante da vida, questionando-a constantemente, deixando-nos assim uma grande herança teórica. O intelecto, as funções mentais, a inteligência humana foram os principais objetos dos estudos de Vygotsky, não que ele desconsidere a importância das funções biológicas no que se diz respeito ao desenvolvimento funcional do homem. Vygotsky defende a idéia de que para o desenvolvimento "completo" do homem como ser humano, ser pensante e ser inteligente, a cultura e a convivência social são fundamentais para a transformação e evolução do mesmo. A vida humana pode ter sua história narrada á partir da sua concepção (formação e vida intra-uterina), que de modo sintético pode-se dizer que ocorre devido a vários tipos de combinações/reações biológicas e químicas, mas que diferentemente dos animais, apresentam várias e aparentes desvantagens biológicas (funções não totalmente desenvolvidas) no que se refere à fragilidade e dependência após o seu nascimento, permitindo assim sua exposição perante as muitas transformações e a ações do meio ambiente, como por exemplo: aspectos sociais, culturais e naturais. Cada vez mais se reconhece que o meio ambiente em geral, exerce importante papel sobre o funcionamento genético dos seres vivos, delimitados pelas condições naturais de existência, com isso, pode se esperar que o meio humano criado pelo homem para produzir suas próprias condições de existência exerça uma influência importante na sua estrutura genética ao longo do tempo. Acredita-se que a natureza biológica herdada dos progenitores já está repleta de marcas da cultura, e este fenômeno pode ser entendido como a natureza sendo transformada ao longo da história filogenética da espécie. Marcas que são necessárias para que o processo de constituição cultural de cada novo indivíduo, cujo início verificável se situa após o nascimento. A esse fenômeno podemos denominar de Lei genética e geral do desenvolvimento cultural, o qual Vygotsky cita como sendo uma espécie de transposição da experiência coletiva ou conversão das funções sociais em funções pessoais, ou seja, a história pessoal de cada indivíduo é um caso particular da história geral da espécie, e nesse sentido ele procura entender o desenvolvimento intelectual a partir das relações histórico-sociais. Para tanto, a teoria de Vygotsky está intimamente ligada ao fato de o homem ser social e histórico ao mesmo tempo, de ser produto e produtor de sua história e de sua cultura pela e na interação social, ou seja, para ele, o homem é o conjunto de relações sociais encarnado no indivíduo. A importância da cultura e das relações sociais na teoria de Vygotsky faz com que o homem seja visto na sua totalidade (propagação de suas relações, sua especificidade cultural, sua dimensão histórica) num processo de construção e reconstrução permanente. De acordo com Vygotsky (1991), o homem possui natureza social, visto que nasce em um ambiente de valores culturais, e na ausência do "outro", o homem não se faz homem, ou seja, a relação "eu-outro" é o fundamento da constituição cultural do ser humano. De acordo com seus estudos, Vygotsky afirma que o homem constitui-se enquanto tal a partir da relação que estabelece com o outro enquanto ser social. Dessa maneira, a cultura torna-se elemento da natureza humana num processo histórico que, durante o desenvolvimento da espécie e do indivíduo, molda a função psicológica do homem, ou seja, o aperfeiçoamento do intelecto humano está estreitamente atrelado ás relações sociais, que têm como produto o conhecimento, a cultura. Segundo Pino (2000), a cultura é considerada por Vygotsky como sendo a totalidade das produções humanas, isto é, ela é produto da vida social (prática dinâmica das relações sociais que caracterizam uma determinada sociedade) e da atividade social (produto do trabalho social) do homem. As produções culturais (humanas) são assim denominadas devido à maneira com que o homem cria suas próprias condições de existência social e material. Produzir cultura é atribuir significação ás coisas - as que o homem já encontra prontas na natureza e as que ele produz agindo sobre ela. Pode-se dizer então que, a ação das funções culturais sob as funções biológicas torna possível a construção de conhecimentos que darão suporte ao desenvolvimento mental que será construído ao longo da história social do homem sem que cada uma delas perca sua própria especificidade. Ao desenvolvimento mental atribui-se o termo/significado de funções mentais superiores, que para Pino (2000) são a essência ou a base da estrutura social do indivíduo e são construídas através dos meios sociais ao qual está inserido, ou em outras palavras, são todas as ações e pensamentos inteligentes que só estão presentes no homem, e estas, embora exerçam suas funções em conjunto, não se desenvolvem ao mesmo tempo, ou seja, aprimoram-se ao longo da existência dando ao ser humano seu caráter de sujeito histórico, que ao criar cultura, cria a si mesmo. Conclusão Vygotsky preocupa-se em entender o homem como sujeito histórico, que através do seu trabalho, intervém no meio ambiente, cria cultura, desenvolve-se, estabelece relações sociais e concebe instrumentos para facilitar a transformação do meio em subsídios para sua sobrevivência, ou seja, a interação do homem com o meio (histórico e cultural) ocorre através de instrumentos, que podem ser "físicos" ou psicológicos, sendo que estes podem ser chamados de mediadores, pois intermediam a relação do homem/homem e homem/mundo. A relação ou convivência social é fundamental para transformar o homem de ser biológico a ser humano social, pois, através destas serão construídas as funções psicológicas superiores, ou seja, o seu desenvolvimento ocorre através das experiências sociais do homem com o meio, sendo que, diferentemente das funções biológicas que se sobrepõem ás sociais apenas no início da vida, elas se manterão ao longo de toda existência.