A História dos EUA Capítulo 8 Uma Cultura Nacional A PROCURA DE UMA CARACTERISTICA NACIONAL É um fato de grande significação que, enquanto na criação da maioria dos novos países - por exemplo, Portugal, Noruega, Alemanha, ou Itália - a nação se formou séculos antes do Estado, na consolidação dos Estados Unidos o Estado se formou antes da nação. Isto é, os Estados Unidos se cristalizaram, política e administrativamente, antes que tivessem adquirido a maioria dos ingredientes tradicionais do nacionalismo. E muito do empreendimento cultural americano foi votado, consciente ou inconscientemente, à tarefa de prover a estes ingredientes - uma história comum, música comum, lendas, legendas, heróis, e uma literatura e arte comuns. Desde o início, os americanos reconheceram a necessidade de uma língua, literatura e cultura americanas. "A América deve ser tão independente em literatura quanto o é em política" - escreveu o ardente nacionalista Noah Webster ("o fazedor de dicionários") e o Governador Sullivan, de Massachusetts, observou que "estamos na época de assumir um caráter nacional e opiniões próprias". Eles falavam por um grande segmento da população culta. A primeira geração da Revolução americana presenciou um esforço enérgico, quase convulsivo, para "criar" uma cultura americana. Era preciso haver uma língua americana, e Noah Webster se tornou o "campeão" dela e se dispôs a provar sua superioridade sobre a língua inglesa. Era necessário haver uma literatura americana, e Philip Freneau e Hugh Brackenridge e um grupo de poetas do Connecticut, conhecidos enganadoramente como os Connecticut Wits, tentaram escapar às fórmulas do Velho Mundo e fazer melhor no Novo. Era preciso haver uma educação americana, e a geração de Jefferson, Noah Webster e Benjamin Rush trabalharam incansavelmente para tornar a educação secular e universal. Era preciso haver uma ciência americana - os americanos eram quase inevitavelmente concentrados em sua ambiência e se dedicavam à Botânica, Geografia e Etnologia - e mesmo uma Aritmética americana, pois, como escreveu Nicholas Pike, "Como agora somos uma nação independente, foi julgado necessário que tivéssemos uma Aritmética independente". A nova nação não se separou de Euclides, mas pelo menos deu um grande passo à frente, adotando o sistema decimal de moeda. Na verdade surgiu pouca coisa dessa autoconfiança cultural da primeira geração de depois da Revolução. A nova nação independente ainda não estava preparada para estabelecer uma cultura independente, e a literatura, artes e arquitetura permaneceram fortemente caudatárias de outras. A língua "americana" resultou muito parecida com a inglesa e com o tempo a língua inglesa ficou cada vez mais parecida com a americana. Os novos e promissores jornais, que se dedicavam a promover uma literatura americana, seguiam o tipo dos jornais trimestrais ingleses, até mesmo o Norih American Review, que durante anos foi o melhor nesse campo. Pintores americanos, como Benjamin West e John Singleton Copley, não só estudaram no exterior como também viviam no exterior. Foi, provavelmente, nas áreas em que os americanos estavam menos autoconscientes -Política e Direito - que eles deram uma grande contribuição. O produto literário mais impressionante da nova nação não eram seus poemas e romances - a maioria deles bastante fraca - mas livros como Conimon Sense e The Federalist Papers, e os Public Papers de estadistas como Washington, Jefferson, Madison e John Marshall. Nessa primeira geração, a preeminência americana em política era tão indisputável quanto a dos italianos no campo artístico ou a dos alemães no campo musical; a habilidade política era uma especialidade americana. O NASCIMENTO DA LITERATURA AMERICANA Só depois da guerra de 1812, os americanos começaram a construir unia cultura nacional. A guerra ao mesmo tempo que completou a desilusão dos americanos com "a pátria-mãe", encorajou a autoconfiança americana, e despertou o interesse do povo pelas terras do Oeste, que se foram tornando cada vez mais autenticamente americanas. Washington Irving, apesar de haver escrito num estilo muito semelhante aos ensaístas ingleses de sua época, ao menos se dedicava aos temas nacionais. Sua Knickerbocker's History of New York é considerada por alguns como o começo do humor literário americano; seu Sketch Book guardou as lendas e tradições do Vale do Hudson que ele conhecia muito bem - a legenda de Rip Van Winkle e a legenda de Sleepy Hollow, por exemplo. Depois de um longo período de imersão na Inglaterra, Alemanha e Espanha, Irving voltou aos temas americanos, deu aos seus compatriotas a primeira biografia substancial de Colombo, a primeira boa biografia de Washington e três livros de importância capital sobre o Faroeste, inclusive o célebre Astoria. Irving se considerava um cosmopolita, igualmente contente na Europa e nos Estados Unidos. O mesmo não acontecia com James Fenimore Cooper, que cultivou deliberadamente os temas e cenários americanos como um antídoto contra as novelas românticas européias, e entrou com firmeza na guerra literária com a Inglaterra. Foi Cooper quem realmente descobriu as possibilidades literárias do índio e do homem da fronteira, e que com a sua grande série Leatherstocking (Das Meias de Couro) forneceu o registro do choque entre as civilizações do homem branco e do vermelho que dominaram a imaginação de todos os leitores do mundo ocidental. Escritor de muitos talentos, Cooper escreveu uma série de contos marítimos que iriam inspirar autores como Marryat e Conrad, e outra série de romances sobre a sociedade americana urbana e rural do Estado de Nova York, considerada por alguns como os primeiros exemplos do romance sociológico na América. Enquanto isso, William Cullen Bryant, cujo Thanatopsis, escrito quando ele tinha dezessete anos, anunciou o aparecimento de um genuíno talento poético, estava celebrando em poesia a natureza e a democracia na América em editoriais para o New York Evening Post. Contudo, a primeira grande floração da literatura americana aconteceu na Nova Inglaterra entre os meados de 1830 e a Guerra Civil. Podemos datar esta floração, com alguma certeza, a partir do surgimento de Nature de Ralph Waldo Emerson, em 1836, e com seu declínio provável, a partir da morte de Hawthorne, em 1804. Poucos anos depois do aparecimento de seus primeiros ensaios, Emerson surgiu como o porta-voz do pensamento da Nova Inglaterra e talvez dos Estados Unidos. Idealista, otimista e original, Emerson falava com uma clareza e uma beleza que atingiam e inflamavam o cérebro dos jovens de todas as gerações. Apesar de seu débito para com o idealismo germânico, ele era autenticamente americano e autenticamente ianque, em sua filosofia; era também o filósofo de todos aqueles que não têm outro filósofo. Seu Nature and Divinity School Address constituiu a plataforma para o transcendentalismo americano; seus American Scholar and English Traits (1856) eram uma declaração de independência política e filosófica; sua poesia mostrava mais originalidade e talvez mais profundidade filosófica do que qualquer outra escrita antes das Leaves of Grass. Emerson era, como foi dito por um contemporâneo, "a vaca onde todos iam buscar leite". Um dos que dependeram de Emerson e, por algum tempo, pareceu viver à sua sombra, foi Henry David Thoreau, também de Concord. Mas Thoreau tinha uma mente tão independente quanto a de Emerson e muito mais original em muitos aspectos; o seu Waldenor Life in the Woods é lido sofregamente por cada geração de jovens e sua permanência é muito maior do que a de qualquer escrito de Emerson, e seu ensaio Civil Disobedíence inspirou personalidades como Leão Tolstói, Mabatina Gandhi e Pandit Nehru. Um terceiro habitante da pequena cidade de Concord - considerada por muitos como a Atenas americana - foi Nathaniel, Hawthorne, um novelista de refinada sensibilidade. Hawthorne encontrou na história da Nova Inglaterra material literário que tomou caráter universal graças à sua grande imaginação; The Scarlet Leter, The House of the Seven Gables, The Blithedale Romance, e um grande número de contos, tais como The Great Stone Face e Elhan Brande que, como seus romances, passaram a pertencer à literatura universal. E em The Marble Faun Hawthorne nos apresenta um dos quadros mais penetrantes do choque entre a moral do Velho e a do Novo Mundo - um tema que fascinou os escritores americanos de Cooper a Henry James. Contudo eram os poetas mais do que os romancistas ou ensaístas quem encantavam os contemporâneos e que são mais bem relembrados. Pois essa foi a época de Henry Wadsworth Longefellow, o mais amado dos poetas americanos; de James Russell Lowell, cujos Biglow Papers mostravam as possibilidades literárias do vernáculo da Nova Inglaterra; de John Greenleaf Whittier, poeta do interior da Nova Inglaterra e do movimento abolicionista; do incomparável "Doctor" Holmes, poeta, ensaísta e novelista, e também excelente médico. Esses homens, juntos a teólogos como William Ellery Charming e o "Grande Pregador Americano", Theodorc Parker, e historiadores, como George Bancroft e Williara Prescott, criaram o que ainda é lembrado como a idade de ouro das letras americanas. Mas, por volta de 1850, o centro de gravidade da literatura estava mudando para Nova York. Irving, Cooper e Bryant viveram lá nessa década, mas seu talento literário foi desperdiçado; os escritores de 1850 pertenciam a um novo mundo. Herman Melville já havia publicado cinco novelas em 1850, mas foi com Moby Dick (1851) que ele inaugurou o que pode ser considerada uma literatura americana distinta, pois Moby Dick devia menos ao romance tradicional inglês do que qualquer outro dos que haviam sido escritos na América até aquela época. Esta grande história alegórica da perseguição à baleia branca contém em suas páginas tumultuosas tipos indubitavelmente americanos, mas falava de questões morais universais. Poucos anos depois, chegou outra voz verdadeiramente americana. Em 1855, Walt Whitman, de Brooklin, publicou a primeira de muitas edições das Leaves of Grass. Heterodoxos, tanto em estilo quanto em assunto, esses poemas foram vistos, em sua época, como indisciplinados e chocantes. Na verdade, eram magistralmente realizados, e - no que têm melhor - revelavam um talento poético maior do que o de qualquer poeta americano do século vinte, e eles eram, também, muito ortodoxos em seu romantismo. A poesia americana - na realidade, a poesia moderna - nunca se recobrou do impacto causado pelas Leaves of Grass. HISTÓRIA Geralmente se diz que a história e tradição, um sentido comum do passado, são os elementos essenciais de um nacionalismo bem sucedido. Se isto fosse verdade, os Estados Unidos teriam estado em má posição, pois tiniram muito pouco de uma história própria. Seus fundadores intelectuais resolveram remediar essa situação recriando um passado americano, descobrindo as tradições americanas e celebrando os heróis americanos. A história da luta pela independência e de corno a Constituição foi escrita se prestavam maravilhosamente a essa empresa, e mesmo antes do término da guerra da independência os americanos comparavam os fundadores de sua nação a Rômulo e Remo, a Horsa e Hengista, enquanto em nenhuma época Washington tinha sido colocado ao lado de heróis legendários como Alfredo, o Grande, e Frederico Barba-Roxa. Na verdade, nas mãos do egrégio Padre Weenis, Washington excedeu a todos em virtude, valor, dignidade e sabedoria. E logo historiadores mais sóbrios estavam escrevendo a história da Revolução ou reunindo os escritos dos fundadores da nação. Em 1834, foi publicado o primeiro volume da maciça History of the United States de George Bancroft, cada página comemorando a liberdade e a democracia, cada volume proclamando a superioridade da América sobre todas as outras nações. Bancroft inaugurou - e por meio século presidiu - a idade de ouro dos historiadores americanos. Não tardou que William H. Prescott estivesse recriando os impérios Inca e Asteca; John Motley estivesse contando a história da gloriosa luta dos holandeses contra a tirania da Espanha; o jovem Francisco Parkman, fazendo a sua "estréia histórica" com a Conspiracy of Pontiac, o primeiro de uma longa série de volumes registrando a luta entre Espanha, França e Inglaterra pela posse da América do Norte. Bancroft, Prescott e Motley eram muito lidos mas não foi em suas páginas que o americano médio captou o sentido do passado. Foi mais rios poemas do amado LonglelIow, que lançou uma aura romântica sôbre os índios em seu Hiawatha e sobre a expulsão dos acadianos (habitantes da Nova Escócia) em seu Evangeline, e que dramatizou o passado americano cru poemas como Paul Revere's Ride, The Courrship of Miles Standish e muitos C) outros que ficaram na memória americana. Foi Whittier, com poemas como, Skiper Ireson's Ride, Snowbound,e outras recriações poéticas do passado da Nova Inglaterra; foi nos contos e novelas de Nathaniel Hawthorne; foi nos trechos de leitura da gramática de Noah Webster, usada durante cinqüenta anos em todas as escolas do país ou nas muitas cartilhas editadas pelos incansáveis Irmãos McGuguffey; foi nos discursos grandiloqüentes de Daniel Webster que - afirmava a legenda - podia convencer o próprio diabo e cuja peroração pela União, em resposta ao Senador Hayne, foi um dos trechos de recitação favoritos durante mais de cinqüenta anos: Quando meus olhos se voltarem para contemplar, pela última vez o Sol no céu, espero não vê-lo brilhando sobre os fragmentos desonrados do que foi unia gloriosa União; sobre estados desunidos, discordantes, beligerantes; numa terra rasgada por feudos ou que poderá ser empapada pelo sangue de irmãos! Deixe que este último olhar veja um magnífico estandarte da República, agora conhecido e honrado em todas as partes, alto e avançado, seu brasão e seus troféus com seu brilho original, com nenhuma listra apagada ou poluída, tendo por lema não uma frase miserável como "De que adianta tudo isto?" nem aquelas outras palavras de desilusão ou desatino, primeiro a Liberdade e depois a União; mas em qualquer parte, disseminados por sobre todos os mares e todas as terras e em qualquer vento sob os céus, aquele outro sentimento, caro a todos os verdadeiros corações americanos - Liberdade e União, agora e para sempre, unas e inseparáveis! AS ARTES Nas artes e na arquitetura, a nova nação também tentou, de certa forma autoconscientemente, realizar alguma coisa distintamente nacional, mas não obteve grande sucesso. A pintura e a escultura eram derivadas de outras até bem depois da Guerra Civil. A primeira geração de pintores americanos pintava "a luz dos céus distantes" - especialmente inglês e italiano. O vigoroso Benjamin West tinha estudado na Itália e se radicado em Londres antes da Revolução; seu estúdio era um ímã para a maioria dos pintores mais jovens da nova República - Trumbuil, Peale, Copley e Stuart, entre outros. Daí por diante, pintores em formação se voltavam para a Itália em busca de inspiração e prática - Washington Aliston, por exemplo, ou Thomas Cole, que pode ser considerado o introdutor do romantismo na pintura americana e que abriu o caminho para o grupo de pintores paisagistas conhecidos como a Escola do Rio Hudson. Nesse ínterim, aconteceu outro interlúdio estrangeiro; por algum tempo um grupo de pintores estudou em Dusseldorf, na Alemanha, entregando-se a orgias de romantismo em pintura histórica e paisagística às custas da nova nação: o Washington cruzando o Delaware, pintado por Leutze, pertence a esta safra, assim como muitas das paisagens de Albert Bierstadt, que ajudou a fixar na imaginação americana a imagem do Oeste como um lugar romântico e selvagem. Mais nativas do que estas eram pássaros americanos pintados por John James Audubon; os maravilhosamente autênticos retratos de índios feitos por George Catlin e Alfred Jacob Miller; e os estilos de George Gingham e William Sidney Mount. As circunstâncias não eram propícias ao desenvolvimento da escultura. O Novo Mundo não possuía riem escolas nem professores, nem escultores, nem modelos. No princípio, os escultores americanos iam para a Itália estudar com alunos de Canovar ou com o próprio Therwaldsen, e aprender a imitar esses mestres. Quase todos os primeiros escultores americanos estudaram na Itália, e quase todos continuaram na tradição da escola clássica, mesmo muito tempo depois de ela ter saído da moda na Europa. Havia Horacio Greenough, cujo trabalho mais conhecido é uma escultura de Washington meio envolto numa bandeira. Havia Thomas Crawford, que fez uma enorme escultura eqüestre de Washington e que imortalizou em mármore muitos outros fundadores, e coroou o Capitólio com uma colossal "Liberdade Armada". Havia Hiran Powers, cujo nu "Escrava Grega" fez escândalo na América, mas causou sensação quando de sua exibição no Crystal Palace de Londres, mas cuja maior contribuição foram os bustos de estadistas e homens de letras. E havia William Wetmore Story, filho do famoso juiz, que abandonou uma brilhante carreira de advogado em Boston para viver a vida de escultor, poeta e personalidade social em Roma e forneceu o material para uma novela de Hawthorne e teve sua biografia escrita por Henry James - fama bastante para qualquer homem. A arquitetura também era derivativa, apesar de um novo ambiente exigir e de que nova matérias pudessem torná-la possível, com interessantes variações dos estilos europeus. As cidades da Nova Inglaterra - de uma forma geral - formavam uma unidade quase tão perfeita quanto as cidades muradas medievais, como Avignon ou Murat, ao mesmo tempo graciosas e funcionais; os arquitetos e planejadores de cidades não foram capazes de produzir alguma coisa tão satisfatória quanto elas no último século e meio. O estilo georgiano, mais propriamente chamado de federal, era uma modificação do estilo inglês predominante, inevitavelmente menor e mais modesto, e construído mais em madeira do que em pedra. Em Samuel McIntire de Salem e em Charles Bulfinch de Boston, a Nova Inglaterra teve dois arquitetos que conseguiram adaptar os estilos contemporâneos de construção e decoração inglesa às necessidades americanas. McIntire deixou sua marca em Salem da mesma forma que Palladio deixou a dele em Vicenza, enquanto a obra-prima de Bulfinch foi a Boston State House, cuja cúpula dourada foi considerada por Oliver Wender Holmes como o Eixo do Universo. Três arquitetos nascidos no estrangeiro - William Thornton, Stephen Hallet e Benjamin Latrobe - foram os responsáveis pelo Capitólio Nacional, naturalmente baseado em modelos romanos, e a Casa Branca; juntamente com Thomas Jefferson, Latrobe foi um dos maiores responsáveis pelo "Renascimento Grego" que floresceu no país até a segunda metade do século e deu um caráter distinto à arquitetura doméstica do Sul. Thomas Jefferson foi, em sua geração, o mais imaginativo e cheio de recursos dos arquitetos americanos, o único que combinou o paisagismo com a arquitetura segundo a grande tradição inglesa. Ele se apaixonara pela Maison Caprée em Nimes e com as realizações maravilhosas de Palladio em Vicenza, e se incumbiu de adaptar a arquitetura greco-romana e a palladiana às necessidades da nova República. Monticello, que ele construiu no topo de uma colina sobre o Vale da Virgínia, foi baseada na Vila Malcontenta, construída por Palladio - e depois completada com artifícios caracteristicamente americanos. A Universidade da Virgínia, planejada, construída e "paisagizada" por Jefferson, quando ele já passava dos setenta anos de idade, era - e provavelmente ainda o é - arquitetonicamente, o mais belo e harmonioso grupo de edifícios do país. EDUCAÇÃO Os fundadores sabiam que sua experiência de autogoverno eram sem precedentes e tinham certeza de que ela não seria bem sucedida, sem a existência de um eleitorado esclarecido. "Sobretudo - escreveu Jefferson - espero que seja prestada atenção à educação pública da população, estou convencido que de seu bom senso dependemos para a preservação de uni necessário grau de liberdade." E John Adams insistiu na necessidade de "educação para todas as classes da população das mais altas às mais pobres" como condição para que a nação fosse bem governada e permanecesse unida. Benjamin Rush, na Pensilvânia; Noah Webster, em Connecticut; Governador Clinton em Nova York, partilhavam esse ponto-de-vista e devotaram suas energias à causa do progresso da educação em suas comunidades. Dessa forma, o Dr. Rush, que lutava por escolas para meninas, contribuiu muito para a educação médica; bateu-se pela criação de uma universidade nacional e foi um dos instrumentos para a fundação do Dickinson College. Assim, o governador Clinton estabeleceu a Universidade do Estado de Nova York, e seu filho, De Witt, lançou as bases do sistema de educação pública do estado. Deste modo, Noah Webster trabalhou sem tréguas pela causa da educação pública, forneceu dicionários às escolas, auxiliares de pronúncia, manuais de leitura e livros de História, e ajudou a fundar o Amherst College. De todos os fundadores, foi Jefferson quem dedicou mais tempo à educação, e quem deu as contribuições mais importantes. Ele planejou e tentou realizar um sistema de educação pública que atingisse todas as crianças da Virgínia; foi grandemente responsável por dois brilhantes decretos de terras que doou terras do Oeste em benefício dos sistemas de educação pública; empreendeu uma drástica reformada antiga universidade de William and Mary; fundou e contribuiu com muito para a Biblioteca do Congresso; planejou e construiu a Universidade da Virgínia, que, em sua época, era a instituição de ensino mais progressista do país. Apesar de a educação pública estabelecida ser algo melhor do que a encontrada naquela época, em qualquer parte da Europa, ela era - em padrões modernos - lamentavelmente inadequada. Na Nova Inglaterra, as exigências legais de educação elementar eram freqüentemente burladas, e muitos outros estados riem chegavam a se incomodar com essas exigências. Porém, o analfabetismo nos Estados Unidos era bem menor do que ria Inglaterra ou na Europa, e a maioria dos homens podia ler o jornal local, o almanaque e a Bíblia. A educação mais elevada não era tão elevada quanto a disponível na Escócia, Alemanha ou Itália daquela época, mas era mais facilmente acessível, e proporcionalmente a um maior número de estudantes; e se universidades, como William and Mary, Princeton e Harvard, pareciam mais academias do que verdadeiras universidades, precisamos não esquecer que elas produziram homens do quilate de Jefferson, Madison e John Adams. Apesar do grande interesse pela educação pública, os estados e comunidades locais negligenciaram muito durante a primeira geração da república. Só a partir de 1830 é que as coisas começaram a melhorar, e a educação pública começou a receber impulso do exterior - de educadores suíços e alemães que estavam revolucionando a educação em seus países e de reformadores que viam na ignorância um empecilho ao seu programa de melhoramento social e moral. Não o primeiro em seu campo, mais facilmente o mais expressivo, foi Horace Mann, de Massachusetts. Nomeado comissário de educação em 1837, ele aplicou as leis existentes, melhorou as instalações e os padrões intelectuais das escolas, desenvolveu o primeiro programa de treinamento para professores, e em doze famosos relatórios anuais elaborou uma filosofia do lugar em função da educação pública no mundo cuja influência foi sentida em muitas partes do Globo. Pouco menos importante foi o trabalho de Henry Bernard, de Connecticut, que fez por seu estado e por Rhode Island o que Mann fez por Massachusetts; que familiarizou os professores americanos com os desenvolvimentos no campo educacional realizados no exterior através das páginas do seu American Journal of Education; e que, em 1867, se tornou o primeiro Comissário de Educação dos Estados Unidos. Enquanto isso, na Pensilvânia, o jovem Thaddeus Stevens - recém-chegado do Vermont - conseguiu a aprovação de urna lei requerendo o apoio do público às escolas; o Estado de Nova York estabeleceu os primeiros ginásios públicos e apoiou as inteligentes provisões contidas no Northwest Ordinance, e a educação pública começou a florescer em todo o velho Noroeste. Foi em 1830 que a educação americana sentiu o primeiro impacto das novas idéias vindas do exterior. Que a educação era um processo ativo e não passivo; que os jovens aprenderiam melhor fazendo e observando do que apenas repetindo as lições de um livro de texto; que o professor era mais um guia e amigo do que um chefe de serviço; que a criança tinha brincadeiras e o aprendizado uma vida própria e que a desenvolveria em seu ritmo; que exercícios eram tão importantes para as crianças quanto pelos livros - todas estas idéias foram anunciadas pela primeira vez por Jean Jacques Rousseau, mas postas em prática por Pestalozzi na Suíça e por Froebel na Alemanha. Eram idéias naturalmente atraentes a um povo democrático, e um povo que já havia adquirido o hábito de idealizar a juventude. Não tardou que logo Bronston Alcott estivesse pondo em prática algumas destas idéias na sua Temple School de Boston; logo a Senhora Carl Schurz e Elizabeth Peabody estavam estabelecendo jardins-de-infância na América, e Froebel declarou que somente na América os seus jardins de infância preenchiam seus verdadeiros propósitos. O progresso na educação mais elevada foi principalmente quantitativo. As nove universidades que haviam sido fundadas, durante o período colonial, foram aumentadas para mais de vinte nos fins do século 18, e daí por diante aumentaram quase em proporção geométrica. A maioria das universidades eram pequenas e pobres, com recursos inadequados, pequenas bibliotecas e professores mais admiráveis por sua devoção do que por sua competência. Mas essas universidades fizeram o que suas equivalentes européias não estavam preparadas para fazer: admitiam quase todos os que batiam às suas portas, ensinavam Moral e Civismo - e ensinavam tanto as matérias úteis quanto as intelectualmente respeitáveis. Três coisas distinguiram a educação americana de grau mais elevado, durante a primeira metade do século. Uma foi o crescimento das universidades estaduais, o melhor exemplo disto pode ser visto no Ohio e em Michigan. Outra foi o aparecimento da educação universitária para moças, ardentemente defendida por Mary Lyon, Emma Willard e Catherine Beecher, que conseguiram estabelecer a primeira universidade feminina no mundo ocidental. A terceira foi a emancipação da educação superior das tradicionais exigências de Quatro Faculdades, e o desenvolvimento de instituições para suprir as desesperadoras exigências da nova democracia - uma emancipação que atingiu o seu clímax com o Morril Act de 1862, que doou terras públicas para a subvenção de escolas de Engenharia e Agronomia, em todos os estados.