Apostila A ética e a cidade em Aristoteles e Platão A República fala de metafísica, política, ética etc. A ética discussão sobre a conduta coletiva e individual dos homens, contexto, ela tangencia a religião. Há possibilidade de se que a noção de Deus se aproxima da noção de Bem. em Platão, Aristóteles, por sua vez, também lida com tal noção, definindo-a a partir da teoria da- causas: Deus seria o "motor primeiro", o motor que causa tudo mas que é incausado. Mas que nào se confunda tal noção de Deus com a noção moderna de Deus, a noção judaico-cristà. Deus nào é aquele cria tudo a partir de si; é, sim, em Aristóteles. um tipo de causa final que visa a um resultado. Trata-se do único elemento que não pode ser posto no quadro dos elementos que estão potência e ato real. Não tem potencialidade porque é ato continuo, tudo Nele se realiza, de modo que isso é Sua perfeição e, portanto. Sua imutabilidade. É atividade pura. A atividade do pensamento puro, que é o pensamento da perfeição. Deus não pode precisar de mediações entre Si mesmo e as coisas para conhece-las. Ele é movimento contínuo e conhecimento contínuo e imediato de tudo. No entanto, há uma característica de Deus, em Aristóteles, que se perpetua em certa interpretação moderna do mundo e de Deus, que é a ideia de teleoíogia, que, aliás, está em toda a metafísica de Aristóteles. Para Aristóteles, cada coisa tem em si mesma um telos, uni objetivo, e o motor primeiro também possui um objetivo: a perfeição. No mundo humano o mesmo ocorreria, haveria uni certo acordo verbal de modo que o comportamento humano tivesse como finalidade a felicidade, o bem-estar (eudaimonia). Coerente com seu esquema de buscar causas e efeitos nos objetos, nas coisas, Aristóteles faz o mesmo com o ser humano, e conclui que é a felicidade o objetivo do comportamento humano que deve estar conduzindo a pergunta sobre qual a função do próprio ser humano. Aristóteles define que a função do ser humano é a de colocar sua alma em concordância com a virtude (areté) e com a razão. Todavia, a definição de Aristóteles de virtude nào escapa de seu raciocínio que preza a funcionalidade, pois a palavra grega are t c carrega esta significação, ou seja. a de otimizaçào da função, da funcionalidade. Areté é a qualidade de qualquer objeto ou comportamento ou esforço capaz de ser tomado como funcionalmente ótinio. As virtudes humanas sào duas: a intelectual e a moral. A virtude intelectual está associada à aquisição da sabedoria dentro do esquema de desinteresse contemplativo e científico do mundo em geral - o sábio é virtuoso na medida de sua vida contemplativa, monástica, e é feliz assim. A felicidade, para Aristóteles, está ligada, primeiramente, à virtude intelectual. Mas também dever-se-ia, já entào no que diz respeito à virtude moral, agir com moderação, com prudência. Assim fazendo, o sábio está conduzindo sua vida filosoficamente. Aristóteles, ao dizer isto, está afirmando que os homens, para se tornarem virtuosos, ficam obrigados a ser filósofos; mas ele sabe. é claro, que a atividade contemplativa, guiada pela razão, não é a única atividade dos homens. Estes são animais sociais, obrigados pela vida social da cidade, ou seja, pela vida na pólis a vida política - a concordar ou discordar de atitudes c ivgras, tomando decisões dr caráter prático ou. se quiser, prático-moral. Nesse esse caso, da mesma forma que Platão se preocupa com a vida política do homem, como alguém que está propenso a desenvolver-se como animai social, e com isso se preocupa em definir o Estado ideal, Aristóteles caminha neste sentido, uma vez que a felicidade completa (eudaimonia) dependeria não só da realização da virtude intelectual, mas também da virtude moral, ou seja, de se conseguir ser feliz. O Estado ideal de Platão, nào é visto por Aristóteles como o melhor lugar para ser feliz. O Estado ideal de Platão é o Estado em forma de república, segundo uma divisão que estaria mais pari a divisão em castas do que para a divisão em classes, enquanto o Estado, na formulação de Aristóteles, é o Estado democrático, abrigando uma divisão específica entre os homens. Platão delineia uma república que espelha as diferenças enrre os homens como diferenças de características da alma humana. Os homens, para Platão, possuem três tipos de alma (ou três parte da alma): 1) a racional. 2) a espiritual e 3) a guiada pêlos apetite. Conforme cada uma delas exerce preponderância no processo educacional no homem, este é encaminhado, pelo governo republicano, para sua respectiva classe. Se prevalece a alma racional durante o processo educacional, então esse indivíduo compartilha, entre seus pares, da virtude da sabedoria e deve ser encaminhado, no campo da formação estatal (no campo da vida política), para o grupo dos governantes. Se prepondera o espírito, de modo que a educação revela a virtude da coragem, esse indivíduo deve se encaminhado para compartilhar tal virtude com seus pares, ficando, no âmbito da vida política, na categoria de soldado. Se predominam os apetites,de modo que a educação revela a virtude da moderação, esse indivíduo deve ser encaminhado para compartilhar tal virtude com seus pares, no âmbito da vida política, na categoria de trabalhador. Um complicado sistema de casamentos e de regulamentos estatais, montado por Platão, garante ao seu Estado ideal o prosseguimento da divisão em segmentos estanques. Muitos historiadores insistem na ideia de que a Republica de Platão é uma condenação à democracia que, uma vez vigente em Atenas, não foi capaz de preservar a vida de seu melhor cidadão, Sócrates. Sempre pensando em classificar e expor o saber, Aristóteles, diferentemente de Platão, não constrói uma utopia., Na.sua teoria do Estado, analisa as formas de governo. E claro que tais formas cie governo estão mais sujeitas à ideia geral platónica dos homens como tendo pendo?es naturais. Se os sofistas, por exemplo, falam que há coisas que são cie ordem natural e outras que são de ordem convencional, sendo que as leis humanas cairiam no segundo grupo, Aristóteles, por sua vez, entende os seres humanos como naturalmente sociais, e vê como inata a disposição para se organizarem politicamente. Todavia, a organização política varia. Aristóteles, sempre no seu estilo sistematizador e classificador, fala em três formas de governo: a monarquia, a aristocracia e a democracia constitu-cional. A elas acrescentou três formas de perversão: a monarquia pervertida é a tirania, a aristocracia pervertida é a oligarquia, a democracia constitucional pervertida é a democracia. A democracia aristotélica, como ele a explicita, é uma forma de governo dos cidadãos, mas de não muitos cidadãos, uma vez que Aristóteles admite a escravidão. Aliás, a distribuição de funções na democracia aristotélica não lhe traz vantagens em relação à rígida divisão da república platónica, quando ambos os modelos são vistos através de lentes modernas, em geral buscando a democracia pluralista com igualdade de direitos, ascensão social etc. Platão expulsa os poetas (e, de modo geral, "os artistas") de sua república. Não encontra lugar para eles, uma vez que o artista, segundo a episteinologia platónica, apenas faz a cópia do mundo. Ora, o mundo existente, para Platão, não é o mundo real. O mundo real, para Platão, é o mundo ideal, de maneira que os artistas, no copiarem o mundo sensível, fazem a cópia da cópia, uma forma deteriorada de representação e. enfim, uma apologia da não-verdade. Aristoteles, por sua vez, ainda que diga, como Platão, que a arte tem a ver com a cópia, com a mera imitação (miinc