A ELABORAÇÃO DE UM TRABALHO DE PESQUISA HISTÓRICA 1. O PROJETO DE PESQUISA 1.1 A Escolha do Tema e as Primeiras Providências A elaboração de um trabalho de pesquisa segue as regras gerais da elaboração de qualquer trabalho científico e tem, também, suas regras próprias. Como qualquer trabalho ou ação que se pretende, deve partir de um anteprojeto inicial, que irá, aos poucos se transformando em projeto, com os devidos requisitos técnicos, que variam a depender do público a que se destina. a) É necessário ESCOLHER UM TEMA para a elaboração do projeto inicial de acordo com o interesse e as necessidades profissionais do investigador. Desse tema é que sairá o OBJETO mais específico da pesquisa; b) EXPLORAÇÃO - A seguir o pesquisador deve realizar uma 'pesquisa exploratória' para conhecer um pouco mais sobre o tema e o objeto escolhido. Para isso, ele vai usar métodos e técnicas usuais, como entrevistas 'piloto', análise de documentos, pesquisa bibliográfica, levantamento de fontes em arquivos, análises in loco, etc. c) REVISÃO BIBLIOGRÁFICA - Além disso, é necessário proceder à revisão bibliográfica sobre tudo (ou quase tudo) que existe sobre o assunto. Este procedimento é necessário, tanto porque o pesquisador vai conhecer melhor o seu objeto como porque, assim, ele não corre o risco de repetir um a pesquisa científica que já foi feita por outrem, por desconhecimento do fato; d) A ESCOLHA DO TEMA pressupõe afinidade entre o pesquisador e o assunto (objeto). O pesquisador não deve escolher um tema com o qual antagonize, pois corre o risco de não ver concluído o seu trabalho. 2 AS PARTES DO PROJETO DE PESQUISA A Elaboração do projeto de pesquisa, bem como os relatórios, monografias, teses e artigos, devem obedecer às normas técnicas da Associação Brasileira de Normas Técnicas - ABNT. Entretanto, dentro das regras básicas da ABNT, a depender dos destinatários do projeto, este poderá ser mais completo ou mais simplificado, de linguagem técnica ou mais usual. O órgão que vai apreciar o projeto poderá, ou não, determinar o número de páginas, mas, caso isto não aconteça, é bom lembrar que um projeto deve ser claro, objetivo e sucinto. Um projeto muito grande e prolixo, corre o risco de aborrecer o analista. Da mesma forma um texto sem espaço e com letras muito pequenas, corre o risco de não ser lido. Geralmente, 20 páginas, em espaço 1,5 com letra 12 é um bom tamanho. Um projeto simples, porém completo, pode ser assim dividido: 2.1 CAPA - contendo o nome da instituição, o título do projeto, o nome do autor, local e data; 2.2 TÍTULO - fica na capa, se repete na folha de rosto, e deve, antes de tudo ser fiel ao objeto de pesquisa. Um título muito genérico não ' explica' ao leitor o conteúdo do projeto. 2.3 DADOS IDENTIFICATIVOS - com informações sobre o autor (endereço pessoal e profissional, número dos documentos, endereço eletrônico, telefone para contato, vínculo empregatício, cargo e função que exerce, etc.); 2.4 INTRODUÇÃO - um texto de 2 a 6 laudas, onde o pesquisador vai apresentar o assunto, o tema e o objeto (caso este já esteja definido), e a sua abordagem pessoal. Na Introdução poderá falar da evolução histórica daquele objeto e qual é o atual estado de conhecimento sobre o assunto. O pesquisador poderá falar, também, do contexto no qual o objeto se insere. 2.5 REVISÃO DA LITERATURA E MARCO TEÓRICO - Em alguns casos, além de se falar do assunto na Introdução, deve-se fazer uma revisão bibliográfica sintetizando tudo o que outros autores já trataram sobre o tema. Algumas instituições exigem que essa revisão conste dos projetos. A revisão da Literatura difere do marco teórico. A revisão, como o próprio nome está dizendo vai revisar brevemente a literatura que já existe (pelo menos a mais significativa) em torno do assunto. O marco teórico vai evidenciar as principais teorias explicativas que existem sobre aquele assunto. È claro que o suporte teórico escolhido pelo pesquisador deve ser aquele com que ele mais concorda. 2.6 JUSTIFICATIVA - a seguir o autor do projeto deverá justificar as razões pelas quais ele considera que aquela pesquisa é importante. Em no máximo uma lauda deve discorrer sobre a contribuição que a sua pesquisa trará para a ciência, para a sua comunidade, ou para sua instituição. Além disso deve deixar clara a viabilidade do projeto, tanto por razões técnicas quanto financeiras. A depender da natureza do projeto, do número de páginas exigidas, ou da fase em que ele se encontra, a justificativa, revisão da literatura e marco teórico podem fazer parte do corpo da Introdução. 2.7 TEMA é a discussão teórica na qual o objeto se insere. Por exemplo As Políticas Publicas para o Ensino Fundamental, seria um tema. 2.8 OBJETO - dentro deste tema um objeto seria, por exemplo, A Política Municipal para a Educação Fundamental da Região Sudoeste, ou, mais especificamente, A Aplicação dor Recursos do FUNDEF no Município de V. da Conquista. 2.9 PROBLEMA é a dificuldade ou as dificuldades que você quer resolver, sobre o seu tema. É evidente que a pesquisa existe para contribuir para a caminhada da humanidade, portanto, não tem sentido pesquisar um assunto que não trará benefícios a ninguém. Numa pesquisa pode ter um ou mais problemas. Geralmente se coloca o problema em forma de pergunta (ou questão). Do mesmo objeto referido, um problema poderia ser: Como está sendo executada a política da Prefeitura de V.C. em relação ao ensino fundamental? Ou Como estão sendo utilizados os recursos do FUNDEF no ensino fundamental de Vitória da Conquista? 2.10 HIPÓTESE - é uma afirmação que o investigador faz, a priori, com base em certos indícios de veracidade, mas que não é comprovada. No fim da pesquisa o investigador vai comprovar ou negar a hipótese. Um exemplo de hipótese, segundo os temas sugeridos seria: Os recursos do FUNDEF utilizados na educação fundamental em V. da Conquista trouxeram mudanças significativas no que diz respeito à educação como um todo, mas no que diz respeito à capacitação (ou valorização salarial) do corpo docente ......... Um trabalho científico pode, ou não, partir de uma hipótese, pois, às vezes o tipo de trabalho não comporta hipóteses. Por outro lado, o projeto de pesquisa pode ter mais de uma hipótese, ou a hipótese pode ser formulada no decorrer da pesquisa. 2.11 OBJETIVOS são as metas que o pesquisador quer alcançar no final da pesquisa. É a partir do tema, do objeto, escolhido, e do (s) problema (s) a ser resolvido, que o pesquisador vai construir seus objetivos. Para efeito de clareza do projeto, esses objetivos se classificam em: 2.11.1 OBJETIVO GERAL - É aquele que pretende responder ao problema central da pesquisa, ou confirmar a hipótese. No Objetivo Geral, devem estar claras todas as variáveis que envolvem o problema. O Objetivo deve estar de acordo com o título, com o problema e com a hipótese, como por exemplo: * Título: A Aplicação dos Recursos do FUNDEF no Município de V. da Conquista * Problema: A aplicação dos recursos do FUNDEF em V. da Conquista, tem acarretado mudanças significativas no ensino Fundamental? * Hipótese: A aplicação dos recursos do FUNDEF em V. da Conquista, tem acarretado mudanças significativas no ensino Fundamental, com exceção de tais e tais aspectos............ * Objetivo Geral: Analisar como estão sendo aplicados os recursos do FUNDEF em V. da Conquista. 2.11.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS são aqueles que precisam ser cumpridos com a finalidade de se alcançar o objetivo Geral. Ou seja, são os passos da pesquisa que irão deslindar, pouco a pouco, para o investigador, a teia das relações entre as partes do problema (as variáveis). Os objetivos específicos devem ser encadeados progressivamente de acordo com cada etapa de investigação a ser vencida. Quando bem formulados, estes objetivos ajudarão a cumprir o cronograma de execução do projeto. Exemplo de objetivos específicos: 1 - Investigar as políticas municipais em Vitória da Conquista, a partir da implantação da Lei X (ou da data Y, ou da Gestão Municipal Z); 2 - Analisar as propostas de campanha política e os projetos/programas de administração municipal do referido período; 3 - Analisar os Planos de Gestão da Secretaria de Educação Municipal; 4 - Registrar, estatisticamente, o número de escolas beneficiadas, etc, etc; 5 - Realizar levantamento desses números no período pretendido;. 6 - Entrevistar dirigentes administrativos, acadêmicos, professores, alunos e pais; 7 - Analisar os dados obtidos relacionando-os com as leis e os programas de governo; 8 - Explicar as causas que levaram o governo municipal a cumprir (ou a não cumprir) as metas de campanha e dos planos (atenção: Claro que este último objetivo só é válido se for confirmada a hipótese. Caso não haja relação entre as medidas do governo e a crise, nada feito) 2.11.3 METODOS E TÉCNICAS - Nesse tópico o pesquisador vai descrever a metodologia e as técnicas de pesquisa que pretende utilizar. Nos projetos mais aprofundados como teses de mestrado, doutorado e pós-doutorado, ou projetos que demandem liberação de dinheiro, esses métodos e técnicas devem ser bem explicitados para serem bem compreendidos pelos avalistas do projeto. No caso de pesquisadores iniciantes, ou de pesquisas mais simples e de duração menor, deve-se apenas ilustrar os procedimentos teóricos-metodológicos que serão aplicados. Mas, num caso ou no outro, deve ficar dito que o projeto deve ser flexível e que o pesquisador pode e deve fazer modificações na sua estrutura, caso um procedimento não esteja dando certo. Mas quando o pesquisador acaba por mudar todo o projeto inicial, porque nada deu certo, é porque este projeto não foi bem elaborado. 2.11.4 CRONOGRAMA - É indispensável tanto para esclarecer os analistas do projeto quanto para orientar e administrar o tempo do pesquisador. Entretanto, o cronograma não deve ser rígido e pode ser reformulado caso seja necessário. 2.11.5 ORÇAMENTO - É um dos elementos indispensáveis do projeto, tanto quando os financiadores são externos à equipe do projeto, quando se trata de verba pública, ou mesmo quando o projeto é simples, demanda pouca verba e é financiado do próprio bolso do pesquisador. 2.11.6 CRONOGRAMA DE DESEMBOLSO - Deve ser utilizado quando a verba é parcelada, tanto para que o pesquisador faça as pesquisas de preço, quanto para que os financiadores tenham uma previsão das datas de liberação de recursos. 2.11.7 BIBLIOGRAFIA Na fase do anteprojeto basta referenciar a bibliografia básica utilizada. Quando se trata de um projeto mais completo, no qual o pesquisador já investigou documentos e bibliografia, deve-se referenciar toda a literatura que foi mencionada ou que foi utilizada. Quando se trata de pesquisa histórica, é importante separar as fontes primárias (manuscritas e impressas), fontes secundárias, revistas e periódicos e obras de referência (dicionários, enciclopédias, catálogos etc.). A Bibliografia deve estar de acordo com as normas técnicas da ABNT. 2.11.8 QUADROS E TABELAS - Se forem necessários à compreensão do projeto. Noa devem ser colocados somente para dar consistência. 2.11.9 ANEXOS serão necessários, caso o pesquisador precise comprovar a existência de algum documento. Pode-se também anexar um mapa explicativo, modelos de entrevistas e de questionários previstos na pesquisa etc. 3. O PROJETO ESTÁ PRONTO, MÃOS À OBRA Com o projeto pronto, o investigador já pode dar início ao cumprimento do cronograma. Nesta fase, ele terá a liberdade de trabalhar como quiser, mas algumas 'dicas' são úteis: * O pesquisador deve organizar o seu lugar de trabalho e preparar suas fichas, listas de conceitos, mapas e arquivos de assuntos; * Deve dividir os assuntos da pesquisa (pode ser pelos objetivos específicos) e criar 'códigos' de cores ou sinais, para agrupar cada assunto pertinente; * Um dos primeiros passos, é visitar as bibliotecas disponíveis e realizar levantamento bibliográfico do que existe sobre o assunto; * A seguir, deve-se começar a ler e a fichar ou resumir os livros pertinentes. Existem vários modelos de fichas. O fichamento, ao mesmo tempo em que obriga ao estudo, organiza e torna mais acessível as idéias de outros autores que poderão ser citados no trabalho. As fichas mais usadas são organizadas por assunto ou por palavras chaves; * Cada livro citado deve ser referido na bibliografia do relatório final. * É bom deixar os livros ou as cópias de xerox separados por assunto, para ficar mais fácil de serem encontrados. * Além das fichas, o investigador poderá confeccionar seus próprios modelos de questionários ou de formulários que porventura venham a ser preenchidos; * Durante a coleta, bibliográfica e documental, cada material adquirido deve ser colocado em uma pasta etiquetada e de cor diferente; * Não guarde as informações na cabeça. Anote em um bloquinho, ou no computador. * Deixe papel e lápis junto da mesinha de cabeceira. As melhores idéias aparecem ao alvorecer; * Procure cumprir o cronograma e faça o seu horário de trabalho. * Nos primeiros contatos com os documentos manuscritos, principalmente de outras épocas, vai parecer muito difícil. mas o pesquisador iniciante não deve desanimar. Se puder, compre dicionários específicos. Existem dicionários da religião, de símbolos, do franciscanismo, de arte etc.; * O pesquisador deve reler, de vez em quando o projeto, e deve alternar as leituras teóricas com a análise dos documentos; * Ele deve observar e conhecer profundamente seu objeto de pesquisa. Saber descrevê-lo, conhecer sua forma, sua origem, sua história. * Quando estiver estudando alguma abordagem teórica, deve tentar articular aquela teoria com o seu objeto. Ver se aquela teoria ajuda a explicar o seu problema. Se não ajuda, descarte-a. Não se deve enquadrar o objeto à teoria à força. Nem se deve tentar adaptar uma teoria a um objeto. Não combina. * A análise do conteúdo dos documentos deve ser exaustiva e levar em conta todas as características internas e externas ao texto; Nas análises textuais, o pesquisador deve fazer uma leitura do texto, por inteiro, depois fazer uma leitura analítica por partes. * O texto deve ser lido sem se perder de vista o tempo e o contexto em que foi escrito. Deve ser medido, contado, comparado com outros da mesma época e de outras épocas, para se conhecer as influências que sofreu e que exerceu. No caso de referências a fatos políticos, esses fatos devem ser verificados em documentos oficiais e legislação daquela época. A recíproca é verdadeira; * Em se tratando de crônicas e relatos pessoais (não oficiais), deve-se levar em conta o olhar estrangeiro, os exageros do autor, e o significado das palavras usadas naquela época. IMPORTANTÍSSIMO: Depois de tentar seguir o cronograma e essas 'dicas' ? como ninguém é de ferro ? procure descansar bastante, algumas formas de lazer, dormir, no mínimo 8 horas por dia, praticar exercícios (de preferência, longas caminhadas), e alimentar-se adequadamente. Escolha pessoalmente alimentos saudáveis, naturais, sem agrotóxicos e, de preferência, prepare você mesmo os seus alimentos. 1 1