Universidade Estadual do Centro-Oeste-UNICENTRO Setor de Ciências Humanas, Letras e Arte Departamento de Pedagogia NOME DO ACADÊMICO: Maria do Belém Vargas (BIC - UNICENTRO) ORIENTADOR: Prof. Drª. Maria da Gloria Martins Messias ( UNICENTRO – DEPED) REFERENTE AO PERÍODO: 1º Ago 2006 à 31 jul 2007 ASS. DO ORIENTADOR:____________________________ ASS. DO ORIENTADO:________________________DATA:________________ TÍTULO: A ADAPTAÇÃO DO CEGO E SUA FAMÍLIA NA SOCIEDADE RESUMO O objetivo deste artigo foi investigar como acontece a adaptação do cego e sua família na sociedade. Para abordar o tema proposto utilizamos da abordagem qualitativa, além de consultas bibliográficas e pesquisa empírica. Entrevistamos quatro cegos que são acadêmicos da Universidade Estadual do Centro Oeste – UNICENTRO que não nasceram cegos e com o surgimento da cegueira necessitaram buscar meios de adaptações. Esses sujeitos relataram suas experiências de vida, seus desafios, seus sonhos e suas lutas para conquistar espaços na sociedade. Para complementar nossa análise também ouvimos suas famílias que comentaram sobre as dificuldades e preconceitos que o cego e as famílias enfrentam para conviver socialmente e construir espaços sociais que respeitem as peculiaridades do cego. Esperamos que essa pesquisa possa contribuir para os estudos na área. PALAVRAS CHAVE: CEGO. FAMÍLIA. SOCIEDADE. 01 - INTRODUÇÃO Visando analisar como se dá o processo de adaptação do cego e de sua família como cidadão, buscamos alguns aspectos históricos para procurar entender como o cego tem enfrentado o desafio para sua adaptação e de sua família. A partir de seus relatos observamos que o cego é capaz de contribuir para sua integração na sociedade, e tanto ele como sua família são merecedores de uma atenção diferenciada, pois como ser humano tem suas potencialidades e habilidades podendo desenvolver aptidões tanto quanto o cidadão vidente. A falta de informações aos direitos constitucionais e recursos disponíveis permite que os cegos e suas famílias muitas vezes, inconscientemente, sejam marginalizados e apontados como empecilhos à construção da plena cidadania. Seria necessário que a sociedade tivesse consciência e competência para inserí-los. No que se refere à incapacidade dá-se devido aos obstáculos que o cego encontra em sua interação com a sociedade, levando-se em conta a idade, sexo, fatores sociais e culturais. A humanidade é construída por homens e todos indiferente da sua cor, raça, religião, limitações físicas, têm os mesmos direitos, é através deste entendimento que encontramos profissionais interessados em oportunizar integração valorizando o ser humano independente de sua deficiência. 02 - OBJETIVOS 2.1 Analisar como se dá o processo de adaptação do cego e sua família na sociedade. 2.2 Estudar algumas características gerais do deficiente visual. 2.3 Discorrer como acontece o desenvolvimento da criança cega. 2.4 Relatar como se processa o atendimento educacional. 2.5 Entender com é a integração cultural do cego. 2.6 Explicar que entre o cego e a escola pode acontecer a satisfação de necessidades básicas. 2.7 Comentar sobre algumas informações a respeito da capacidade de reabilitação do cego. 2.8 Apresentar depoimentos dos cegos e suas famílias sobre suas dificuldades. 03 - METODOLOGIA A metodologia utilizada foi em pesquisa qualitativa etnográfica – estudo de caso, no qual foram participantes os sujeitos: 04 cegos acadêmicos matriculados em cursos diferentes de 1º a 4º do ensino superior da Universidade do Centro Oeste – UNICENTRO; e uma pessoa da família de cada um deles (mãe, esposa). Para efetivação da coleta de dados realizamos visita à residência dos mesmos, solicitamos que colaborassem respondendo a um questionário com algumas questões como idade e época da vida em que adquiriu a cegueira; como foi a adaptação familiar e social; escolarização, ensino superior; superação de conflito; dificuldades e conquistas. Realizamos entrevistas semi-estrutura que foi registrada por meio de gravador, sendo depois transcritas e analisadas tendo como objetivo perceber a concepção da adaptação do sujeito e sua família na sociedade. 04 - RESULTADOS E DISCUSSÃO 4.1 - ADAPTAÇÃO DO CEGO E SUA FAMÍLIA Adaptação é o processo pelo qual o cego se ajusta as condições do meio ambiente, ou seja, como ele se acomoda ao meio, em suas atividades, com as coisas ao seu redor, na sua família, no convívio social. Integração consiste na aceitação de que o cego ocupe um espaço na família, na escola, na sociedade sendo que para isso ele precisa adaptar-se a cada situação envolvendo-se em espaço e tempo de convivência no mesmo ambiente utilizando-se de recursos no processo de interação com o meio. A real interação da pessoa com necessidades especiais exige além de modificações sociais, também de legislação e normas que assumam, no âmbito institucional, as mudanças organizacionais necessárias à execução das ações integracionistas. E, que estas mudanças mesmo desenvolvidas de maneira diversificada como exige cada situação, possam disponibilizar a prioridade de conhecimento que cada ser humano precisa alcançar para o desenvolvimento sócio cultural a que tem direito, dando significado e valorização global, na diversidade humana. Este propósito se executado conscientemente compreende a integração de todos os indivíduos, sejam eles portadores ou não de deficiência em um contexto social que lhes possa oferecer as melhores condições possíveis para o desenvolvimento pleno de suas capacidades e potencialidades. Em nosso país os deficientes vi­suais provêm, em sua maioria, de camadas menos favoreci­das da população, apresentando, por vezes, problemas adicionais quan­to ao desenvolvimento, crescimento, doenças carenciais e vivências li­mitadas. A maneira pela qual o grupo familiar encara a deficiência visual pode determinar atitudes de aceitação genuína, negação simulada de qualquer dos pais, superproteção e excesso de piedade, rejeição dis­farçada, rejeição aberta. Essas atitudes são responsáveis, não raro, por problemas de personalidade e de ajustamento pessoal do deficiente visual ao meio. Glat (1996 ) nos ajuda a entender que o ambiente familiar e a atitude dos pais propiciam ou não o desenvolvimento da criança Os pais sofrem conflitos emocionais devido à cegueira congênita do filho, o que pode interferir na provisão de um ambiente facilitador. Segundo Miller (1995) as dificuldades dos pais, talvez, surjam de suas expectativas de ter um filho “perfeito” e a chegada de uma criança cega não vai corresponder ao seu ideal de “filho”. Isto faz com que na maioria dos casos, os pais experimentam sentimentos de culpa, pela cegueira do filho, devido a preconceitos morais e religiosos como pecado e erro. Compreender e entender o diferente é dar-lhe a oportunidade de integrar-se socialmente e de alguma forma viver de maneira mais humana. Entendemos que a visão é um meio importante de integração entre o indivíduo e o meio ambiente, já que os conhecimentos, em grande parte são adquiridos por seu intermédio. A redução ou a privação da capacidade de ver traz conseqüências para a vida do indivíduo tanto no nível pessoal como no funcional, colocando-o, na maioria das vezes, à margem do processo social. É importante destacar que a presença da deficiência se estende à família, mudando a sua dinâmica, uma vez que os papéis entram em desequilíbrio; por outro lado gera um bloqueio afetivo que inibe o processo de socialização, ou seja, a participação nos diferentes grupos sociais com autonomia e independência, interferindo e até prejudicando o estabelecimento de projetos de vida. A deficiência visual envolve todos os aspectos de vida do indivíduo e seu impacto o atinge nas esferas física, psicológica e social tornando-o uma pessoa limitada, porém com condições de reorganizar e redimensionar sua existência. O jovem ou adulto que perde a visão é grandemente influenciado pelas atitudes e reações emocionais dos membros da família. A família sem alicerce não contribui para amenizar a situação e o cego terá de superar não apenas o sentimento de grande perda que sofreu, os seus temores e ansiedade, mas terá de conviver também com sentimentos e preocupações dos outros membros da família que estão totalmente ignorantes quanto aos efeitos da deficiência. É uma experiência nova e assustadora para a pessoa envolvida e para seus familiares que não se sentem capazes de resolver os problemas especiais que virão em decorrência da cegueira. Com base em Miller (1995), no processo de adaptação à deficiência, é necessário que a pessoa tenha conhecimento sobre as implicações e as limitações que a perda impõe à pessoa, e nesse processo são envolvidas: a família nuclear enquanto grupo responsável pelo estabelecimento de valores e aprendizado do desempenho de papéis sociais; o grupo de amigos; e a própria comunidade. De acordo com Glat (1996) há diversos fatores que determinam a facilidade com a qual a pessoa adaptar-se-á. O grau de impacto da deficiência não está tão somente ligado ao grau da deficiência, mas ao indivíduo de “per si”. O atendimento a esse grupo de pessoas dá-se através dos programas de reabilitação que se constituem em canal para a auto-suficiência e produtividade. Esses programas são dotados de filosofia própria, de métodos e técnicas especiais e realizam um trabalho que envolve a individualidade do cego em seus aspectos médicos, sociais, educacionais e de trabalho, com o fim de conhecer suas necessidades, proporcionando o tratamento necessário à sua adaptação às novas condições de vida. 4.2 - CARACTERÍSTICAS GERAIS DO DEFICIENTE VISUAL Constitui-se uma “deficiência” qualquer perda ou anormalidade da estrutura ou função psicológica, fisiológica ou anatômica, resultando numa limitação ou incapacidade no desempenho normal de uma determinada atividade. A deficiência visual seja por doença ou trauma na estrutura e funcionamento do sistema visual leva o indivíduo a incapacidade de "ver" ou de "ver bem", ocasionando limitações ou impedimentos quanto à elaboração de conceitos. Também no acesso direto à palavra escrita, à orientação e mobilidade independente, ajustamento pessoal e adaptação social do cego quanto ao controle do ambiente, podendo interferir negativamente no desenvolvimento normal do indivíduo. Todavia do ponto de vista físico, o deficiente visual pode apresentar algum retardo no desenvolvimento (altura, peso, coordenação motora), motivado, especialmente, pela falta de atendimento adequado (esti­mulaçäo precoce) durante o processo de desenvolvimento da criança limitada pela não utilização do sentido visual. Quanto á intelectualidade, nenhuma diferença existe en­tre os deficientes visuais e as pessoas dotadas de visão. Assim, não há nenhuma limitação quanto à capacidade de raciocínio, tais como: compreensão de conceitos abstratos, percepção de fatos essenciais e estabeleci­mentos de relações importantes. No lado psicológico, não há diferenças entre os defi­cientes visuais e pessoas de visão normal, apenas sendo particular a maneira pela qual cada pessoa vivencia suas experiências. Os portadores de cegueira apesar da incapacidade visual, têm condições assim, os porta­dores de cegueira de estruturar conhecimentos, dos mais simples aos mais complexos, pela utilização plena dos sentidos remanescentes, sem que isso implique nenhuma compensação sensorial, desde que orientados o mais cedo possível. Privado da visão, o sentido mais importante para o conhecimento da realidade do ambiente espacial (mundo exterior), o deficiente visual fica prejudicado na aquisição de informações necessárias à for­mação de conceitos baseados no conhecimento dessa realidade, O deficiente visual quando não orientado corretamente poderá apresentar problemas de pos­tura, assim como desenvolve modos decorrentes da falta de es­tímulos visuais, em virtude de não poder valer-se do processo de apren­dizagem através de modelos a serem imitados. Assim, pode apresen­tar rigidez corporal, falta de coordenação do andar; movimentos cor­porais excessivos, inadequados ou mal dirigidos; ausência ou inade­quação das expressões faciais. 4.3 - O DESENVOLVIMENTO DA CRIANÇA CEGA Respaldados na fala do professor Eudes de Lima afirmamos que a criança com necessidades especiais no caso de deficiência visual, desde seu nascimento até os três anos de vida, como qualquer outra criança no seio de sua família, convivendo com seus pais e irmãos em seus próprios papéis e também no de facilitadores, educadores especialistas, de acordo com os programas de apoio, ou assistência precoce destinado as mesmas, a segunda etapa de desenvolvimento dessas crianças, suas necessidades tem de ser vistas por uma dualidade de esforços do meio familiar e do jardim de infância, em um ambiente de compreensão e de calor humano, sem superproteção ou discriminação. Nesta compreensão é necessário que os educandos se interrelacionem com adultos que os acolham efetivamente, e, também que possam conviver com outras crianças de sua faixa etária. No período escolar ter a oportunidade de interagir com os demais colegas de sua idade, de fazer amizades com eles, enfim de participar de semelhantes oportunidades, que as instituições de ensino e a comunidade oferecem a todos os escolares, de modo que possam aprender a serem elas mesmas no espaço coletivo sem fugir da convivência social que lhes é devida. 0 deficiente visual, praticamente, em igualdade de condições com a criança vidente, no que se refere à inteligência e aptidões para a aprendizagem, mas limitado em seu contato com o mundo pela defi­ciência de visão, pode apresentar um atraso em seu desenvolvimento, ao entrar para a escola, embora passível de recuperação. Conforme Ochaita (1995), durante os primeiros três meses, o desenvolvimento do bebê cego é muito semelhante ao de um vidente; exercita os reflexos, de forma automática constrói seus primeiros hábitos ou esquemas de ação do corpo, exceto os relativos à visão, lentamente aperfeiçoa os esquemas de segurar, coordenar, sucção, apreensão e de sorrir. A partir dessa idade poderão ocorrer importantes diferenças no desenvolvimento entre as crianças portadoras de cegueira e as videntes. A criança cega, se não estimulada, poderá tornar-se limitada para a seqüência natural de seu desenvolvimento. Elas somente terão consciência da existência dos objetos (quando fora de suas mãos), se estes emitirem algum som e tiverem algum significado para elas. Os objetos, em sua maioria, são silenciosos e só têm significado para elas, se já foram trazidos ao seu alcance e por elas manuseados. O “mundo” da criança cega é aquele que ela alcança com seus braços abertos e assim sendo é necessário que outras pessoas ajudem a ampliar esse mundo. A cegueira pode limitar, como decorrência das dificuldades na coordenação mão-ouvido, a apreensão do mundo externo interferindo no desenvolvimento e aquisição de esquemas cognitivos e na adaptação ao meio podendo ter efeitos graves sobre o desenvolvimento da criança. Esses efeitos podem ser diretos, intrínsecos, produzidos pelo impedimento visual que surge de forma imediata numa relação causa/efeito, havendo uma característica de impedimento ou incapacidade, impondo algumas limitações e restrições ao desenvolvimento da pessoa, razão pela qual deve “receber” estímulos compensatórios. Os efeitos indiretos da cegueira são determinados pela cultura e pelo ambiente, são extrínsecos e podem ser minimizados por programas de prevenção, orientação aos pais e esclarecimentos a comunidade. Os processos de desenvolvimento da criança cega são semelhantes aos da criança vidente. Porém, os profissionais que atuam na área da cegueira podem encontrar algumas dificuldades para proporcionar experiências compensatórias à perda da visão. Um dado importante no trabalho com as crianças cegas é que muitas das habilidades aprendidas, naturalmente pelas videntes, precisam ser deliberadamente ensinadas para as crianças com cegueira. Apesar disso as semelhanças entre todas as crianças são maiores do que as diferenças. Pela visão a criança estabelece suas primeiras relações com o meio, e percebe a forma, tamanho, distância, posição e localização de objetos. A visão, chamada também de sentido da distância, é a única percepção capaz de propiciar contato com o ambiente de forma global, é o único sentido capaz de unificar, estruturar e organizar todas as outras percepções em um todo significativo. Conseqüentemente, a criança cega precisa ser ajudada em seu contato e interação com o mundo. Segundo Ochaita (1995), as crianças com cegueira congênita ou que perderam a visão prematuramente, por volta dos 3 anos, não conservam imagens visuais úteis para a aprendizagem, o que exige um atendimento educacional precoce e reorganização perceptiva, isto é, adquirir pelo tato, audição, olfato, sentido sinestésico e outros, o que não consegue pela visão. A criança cega se relaciona com o ambiente por outros canais sensoriais, tendo uma imagem diferente das pessoas videntes ou daquelas que perderam a visão após a formação de conceitos visuais. É impossível a pessoa vidente imaginar o que seja uma imagem apenas auditiva, tátil, olfativa de um objeto ou situação. 4.4 - ATENDIMENTO EDUCACIONAL Inclusão significa mudança de atitude face ao outro. A educação dos cegos, pode se processar por meio de programas diferentes desenvolvidos em classes especiais, ou no ensino integrado, nas salas de recursos, no ensino itinerante ou na classe comum, recebendo apoio do professor especializado. Em qualquer destes programas os objetivos, conteúdos e procedimentos não são essencialmente diferentes da educação comum; tais crianças necessitam de uma boa educação geral, somada a um tipo de educação compatível com seus requisitos especiais, fazendo ou não, uso de materiais ou equipamentos de apoio. A educação do deficiente visual, como toda educação especial, necessita de professores especializados nesta área, métodos e técnicas específicas de trabalho, instalações e equipamentos especiais, bem como algumas adaptações ou adições curriculares. A tendência atual da educação especial, em todo o mundo é manter na escola comum o maior número possível de crianças com necessidades educativas especiais. Aquelas que podem ser educadas num programa regular de ensino, com ou sem serviços suplementares, devem ser ter acessibilidade para tal, não havendo necessidade de sala de educação especial. O interesse da criança, da família e da comunidade em geral, é melhor atendido quando os programas de educação especial são instalados em escolas locais, proporcionando ao educando o máximo de convivência com outras crianças e pessoas de seu próprio círculo de relações sociais. A responsabilidade da educação da criança deficiente visual deve iniciar- se desde o nascimento para que possam se estabelecer as bases do seu desenvolvimento e atingir a maturidade necessária para uma boa interação sócio- afetiva no seu meio. Cabe aos especialistas da Educação Especial, assumirem seu papel enquanto responsáveis pela orientação e estimulação durante o desenvolvimento da criança procurando evitar, prevenir e minimizar, na medida do possível, os atrasos que poderão ocorrer tanto no desenvolvimento, quanto na aprendizagem. 4.5 - A CULTURA DO CEGO A integração cultural pode ser analisada por diversos segmentos que variam desde a inserção plena dos deficientes na sociedade até a preparação dos mesmos para uma possível inserção na mesma; considerando a participação dos deficientes em grupos de iguais, matriculados em escolas especiais ou estudando em classes especiais, desenvolvendo atividades profissionais ou treinamento para o trabalho em oficinas pedagógicas ou protegidas. Cada individuo que se propõe a refletir sobre a integração contribui para a construção de uma prática social menos segregacionista e menos preconceituosa. A escola, depois da família ou a Igreja, tem um papel fundamental, pois é ela que direciona e modifica conceitos de participação, colaboração e adaptação, é o primeiro passo para a integração social. Realizando estratégias pedagógicas para que uma pessoa com deficiência tenha acesso a um sistema de educação, a escola se constitui numa realidade de conceber a integração tanto social como pedagógica. Conforme abordagens de Morin (1996) a grande missão da escola é tratar com certa relevância tudo o que diz respeito à construção das identidades sociais de seus membros procurando refletir na identificação de seu processo de conhecimento. Do ponto de vista econômico os critérios da normalidade estão de certo modo ligados à produtividade e a idéia de corpo improdutivo, o que sujeita seus portadores a uma condição de inferioridade às pessoas economicamente produtivas. Neste sentido, a instituição assistencialista aparece como um depósito de incapazes, inválidos, e onde a atividade profissional é vista como terapia ocupacional e não como possibilidade de inserção dos deficientes no mercado de trabalho; o que gera uma estratificação. A criança deficiente visual é aquela que difere da média a tal ponto que irá necessitar de professores especializados, adaptações curriculares e ou materiais adicionais de ensino, para ajudá-la a atingir um nível de desenvolvimento proporcional às suas capacidades. Os alunos com deficiência visual não constituem um grupo homogêneo, com características comuns de aprendizagem, mas também, não seria correto considerá-los como um grupo à parte, uma vez que suas necessidades educacionais básicas são, geralmente as mesmas que as das crianças de visão normal. É necessário reconhecer que a diferença por mais acentuada que seja, representa apenas um dado a mais no universo da pluralidade em que vivemos. As relações interpessoais são parte integrante do coletivo social e político que muitas vezes assume um duplo papel de um lado embasa a idéia de que o trabalho visa proteger e preparar o desviante para uma futura reintegração na sociedade e por outro reforça a pratica social da identificação e da segregação social mantendo os diferentes à margem do contexto social. Uma das dificuldades que o cego enfrenta em sua adaptação na sociedade é a questão da mobilidade. Tanto para a independência como para qualquer atividade o deficiente visual carece estar consciente que precisa adquirir algumas habilidades. Sendo que as principais são: orientação mental e locomoção física. Sendo que a orientação mental é a habilidade que o indivíduo adquire para construir mentalmente e reconhecer seu meio am­biente e suas próprias relações temporais e espaciais já a locomoção física é o movimento físico de deslocamento do organismo de um ponto a outro no espaço por meio do seu mecanismo orgânico. Ambos os componentes mesmo diferenciados têm funções muito especiais que capacita o deficiente visual para a mobilidade. A habilidade de orientar-se, para o cego, é de essencial importância sob todas as condi­ções, pois pode relacionar-se com ambiente de modo mais significativo e real. 4.6 - O CEGO E A ESCOLA A criança cega, a maioria das vezes, chega à escola sem um “passado” de vivencias em comparação com seus companheiros videntes, não apresentando experiências de acordo com a sua idade, em seus conceitos básicos como esquema corporal, lateralidade, orientação espacial e temporal. Esses fatores são quase inexistentes e sua mobilidade difícil, o que poderá levar à baixa estima que dificultará o seu ajustamento à situação escolar. Conforme Centro Nacional de Educação Especial toda criança, embora diferente, tem seus direitos “O desenvolvimento integral do indivíduo depende da satisfação de necessidades básicas, propiciadas pela provisão adequada e con­tínua de suportes físicos, psicossociais e sócio-culturais “. (1979, p.10) É possível que crianças cegas que tiveram poucos suportes demonstrem maior fragilidade, sejam mais lentas quanto à adaptação ao novo contexto, entretanto, esta resposta depende da personalidade de cada criança e de seu vínculo com a família. Assim sendo, a entrada na escola constitui um período crítico, desencadeia tensões ou stress emocional que vão mobilizar recursos internos da criança para encon­trar novos meios de comportamento. Podem surgir vários sintomas co­mo: sentimentos de ambigüidade, insegurança, reações de medo, distúrbios neurovegetativos, perturbações de alimentação ou sono, depressão e angústia. É tarefa essencial da escola: fornecer orientação emocional aos pais (reunião de pais), ajuda do orientador educacional, do psicólogo, do assistente so­cial dentre outros que lhes permita aceitar a deficiência da criança, além de receber sugestões específicas para encorajar seus filhos no sentido de um desenvolvimento normal, respeitando-se o ritmo e o tempo de cada criança no processo do seu desenvolvimento. Cumpre evidenciar que a escrita em Braille, devido as suas carac­terísticas, é mais lenta e pode ocorrer que a criança cega se sinta di­minuída em relação aos colegas ao observar sua própria lentidão inicial. Com habilidade o educador pode mediar usando firmeza, explicar as caracterís­ticas e mostrar a importância do Sistema Braille, para evitar sentimentos de inferioridade. 0 desenvolvimento da capacidade visual não é inato e au­tomático. Com base em Barraga (1970) a capacidade visual não está determinada a ser avaliada apenas pela medida da acuidade visual, mas cada indivíduo na sua diversidade e individualidade desenvolve capacidades e habilidades que estimulam a eficiência visual podendo ser aprendidas através de um programa seqüencial de experiências vi­suais. Pelo exposto, podemos concluir que o deficiente visual é capaz de acompanhar os conteúdos programáticos da esco­la, ressalvadas as necessárias adaptações quanto a certos procedi­mentos e a recursos didáticos específicos. Conforme normas pedagógicas curriculares tanto o cego como aquele de visão subnormal precisa aprender a ser parte do mundo de pessoas que não apresentam deficiência, Mesmo que este processo lhe seja, muitas vezes, difícil e penoso. Cabe à sociedade a responsabilidade de prover os auxílios necessários para que o deficiente visual se capacite e possa integrar-se no grupo social a que pertence. De acordo com os critérios estabelecidos pelo órgão central de educação, as salas de recursos são criadas e instaladas em estabelecimentos de ensino regular, contando com um professor especializado para dar atendimento, ao aluno cego ou portador de visão subnormal, que após avaliação educacional e desenvolvimento de atividades introdutórias, pode ser encaminhado a uma classe comum correspondente ao seu nível de desenvolvimento. No que se refere aos alunos portadores de visão subnormal há necessidade de conhecimento sobre o nível de potencialidade visual, oportunidades para usar a visão existente e adequação aos equipamentos e recursos que irá necessitar. As séries iniciais do ensino fundamental favorecem a integração do aluno, tendo em vista os tipos de atividades desenvolvidas; entretanto, quando o mesmo inicia a escolaridade em idade mais avançada que não permite o agrupamento com crianças menores, ou porque suas necessidades exigem um período mais longo na sala de recursos, o professor poderá sugerir sua participação na classe comum através do plano cooperativo entre as duas classes. O ensino itinerante atende aos alunos deficientes visuais que estejam matriculados em estabelecimentos de ensino comum de sua comunidade em qualquer idade, série ou período. Neste tipo de atendimento o professor: atende o aluno na escola em que este se encontra matriculado obedecendo a um planejamento elaborado de forma a satisfazer às necessidades individuais de cada aluno; o professor procura solucionar as dificuldades acarretadas pela deficiência, de modo a possibilitar a inclusão do aluno na vida escolar, familiar e social; estimula a participação dos pais no processo educacional. Sua tarefa é orientar os pais sobre os procedimento mais adequados com relação à criança; como auxiliarem nas tarefas escolares como leituras, gravações, aprendizado do braille, consultas a bibliotecas especializadas, ampliação de materiais e outros esforços necessários para possibilitar a continuidade do usufruto da convivência familiar dessas crianças, ao mesmo tempo em que estudam em um ambiente competitivo, junto à pessoas de visão normal e próximo de sua residência). Uma das alternativas para dinamizar e favorecer a integração dos deficientes visuais consiste, principalmente, na produção de material impresso em braille, na ampliação de textos, na adaptação de materiais, na qualificação de recursos humanos e outros recursos necessários ao processo de ensino e aprendizagem do aluno. 4.7 - REABILITAÇÃO DO CEGO Historicamente os serviços de Reabilitação tiveram início logo após a 1a Guerra Mundial, quando surgiram os primeiros centros de Reabilitação. Segundo Mendes (1995), os serviços existentes eram de um só tipo e se fundamentavam nas possibilidades educacionais e no treinamento profissional. Esses serviços eram oferecidos a poucos, sendo os operários os primeiros que dele se beneficiaram através de leis específicas e, mais tarde, os incapacitados da 1a Guerra e os civis. Nos anos seguintes, observa-se uma grande preocupação para o estabelecimento de leis que garantissem às pessoas com deficiência o acesso ao trabalho e para tanto deveriam estar capacitadas em nível pessoal e funcional. A partir da 2ª Guerra Mundial a Reabilitação recebeu um grande impulso da medicina física e da fisioterapia. Os programas de Reabilitação específicos para pessoas com deficiência visual no Brasil tiveram início em 1957, por iniciativa da Fundação para o Livro do Cego no Brasil, hoje Fundação Dorina Nowill para Cegos, em parceria com a Organização Internacional do Trabalho (O.I.T.). No ano de 1960 é criado o 1º Centro de Reabilitação para pessoas com deficiência visual na própria Fundação Dorina, sendo desenvolvidos programas que contavam com uma equipe multidisciplinar. Em seu enfoque atual, o processo de Reabilitação traduz-se por uma série de mecanismos de influência individual e social. O processo de Reabilitação destina-se às pessoas atingidas pela deficiência na idade jovem ou adulta e que conscientes decidem aprender um novo método de vida que possa lhe propiciar capacidade na superação da deficiência quanto a mobilizar seus próprios recursos para decidir o que deseja, o que é capaz de ser, escolher seu próprio caminho e alcançar seus próprios objetivos. A reabilitação do cego ultrapassa os limites da medicina, uma vez que têm por finalidade a própria valorização consciente de se ajudar, conhecer seu próprio potencial para usá-lo da melhor maneira e em seu próprio benefício. Sendo assim, para uns o objetivo pode começar com a independência pessoal e depois se ampliar para a empregabilidade, para outros pode ocorrer o contrário. Portanto, a reabilitação não é tão somente um processo que visa a adaptação pessoal do sujeito com deficiência através de seus componentes médicos, sociais, psicológicos, educacionais e profissionais, é também uma ideologia e um meio que permite o desenvolvimento máximo de toda a pessoa atingida por uma limitação. A fim de que sejam assegurados os direitos que os cegos têm de serem pessoas e de serem tratadas como tal, com as suas diferenças individuais, carecem de que os profissionais envolvidos no processo disponibilizem informações necessárias para tomadas de decisões quanto a estabelecer objetivos e ter condições para alcançá- los. 4.8 A VOZ DO CEGO E SUA FAMÍLIA Com o objetivo de analisar a trajetória de vida de quatro cegos perguntamos quando e como ficaram cegos. Conforme nos relataram, todos tiveram perda de visão total sendo que o primeiro por conta de um acidente de trabalho aos 36 anos; o segundo desde muito pequeno tinha visão subnormal, que gradativamente foi se reduzindo e aos 19 anos atingido por glaucoma ficou cego; o terceiro nasceu com problemas e aos 13 anos adquiriu a cegueira causada por glaucoma; o quarto entrevistado teve descolamento de retina aos 9 anos causado por problemas genéticos, especificamente Síndrome de Sticler. Para analisar os desafios que o cego enfrenta na sociedade os questionamos sobre várias questões. Quanto ao pior momento como cego, o primeiro acadêmico ouvido relatou que foi quando do seu acidente “[...] o médico disse: você nunca mais vai enxergar (a gente sempre tem uma esperança.)”. O segundo afirmou que “[...] foi quando a professora disse que era para ficar em casa (9 anos – alfabetizado), pois ela não sabia como me ensinar, depois foi quando eu tinha que fazer algumas provas sem nem saber qual era o conteúdo, não tinha tempo para esperar por material em braile, não é nada fácil, isso ocorreu comigo, ocorre com outros também, o material braile é difícil de ser produzido e quando chega a hora da prova, eles não querem saber se a gente recebeu material para estudar, ou não”. Para o terceiro e quarto entrevistados o pior momento foi enfrentar a realidade apresentada. Sobre o melhor momento, o primeiro disse “[...] é quando a gente aceita que é cego e reage. O segundo respondeu “[...] chegar no nível educacional que estou me faz feliz e por outro lado tenho minha família, esposa e filhos”. Terceiro e quarto entrevistados, “[...]melhor momento é quando se vai vencendo as etapas a que a gente se propôs a enfrentar”. Além da própria deficiência, o cego se depara com o descrédito como ser, tanto nas amizades como nos estudos. O primeiro entrevistado relata: “É muito difícil encontrar alguém que se proponha a ler, ou ir com a gente fazer uma pesquisa, os colegas, cada um vai fazer para si e os atendentes por motivos mais diversos nunca estão disponíveis. Encontramos limites dentro de instituições que por obrigação deveriam nos dar apoio e quando dão é de modo restrito e não da maneira que temos direito”. O segundo entrevistado: “Somos limitados quando dependemos dos videntes, na própria sala de aula formam-se os grupos que se fecham e não há oportunidade, muitas vezes me deixaram de fora, isso foi um problema para mim no decorrer do curso.” Terceiro entrevistado: “[...] na vida acadêmica, só estou começando, estou me adaptando, tudo é surpresa...Quarto entrevistado “[...] limitações surgem todos os dias “. A inclusão social, enquanto perspectiva dos entrevistados é de que a sociedade não está preparada para incluir o cego com suas limitações nas reuniões, festas, esportes, eventos culturais, dentre outros eventos. Primeiro entrevistado “[...]a gente encontra muitos problemas, na rua, na universidade, onde quer que a gente vá. Um dos problemas[...] é as pessoas pensarem que além de cego, a gente é surdo e mudo. Acontece de a pessoa vidente, chegar, dar um tapinha nas costas, não falar nada e perguntar se a gente o conhece[...] anteontem o sujeito chegou, bateu em minhas costas e perguntou se eu o conhecia? Respondi – Deus não me deu esse dom de conhecer a pessoa só pelo fato de me bater nas costas, você tem que me dizer seu nome”. Assim como os videntes não se recordam de todas as fisionomias e, ou nome, das pessoas com as quais conversam, também o cego não memoriza todos os timbres de vozes das pessoas com quem se comunica eventualmente. Os conflitos que os entrevistados vivenciaram são explanados a seguir; o primeiro entrevistado relatou que seu maior conflito foi: “[...] em se tratando de leitura, tinha o hábito e gostava de ler diariamente, fiquei um bom tempo sem ler (tinha 400 exemplares de gibis e muitos livros de bolso, até que um dia aprendi o código braile, pude voltar a ler e a música que tinha ido para o arquivo também aos poucos estou resgatando. Ainda preciso a aprender a aceitar certas coisas que as pessoas dizem: como ai que dó... aprender a desviar placas que são colocadas de um dia para outro no caminho”. O segundo entrevistado o maior conflito “[...] não foi tão acentuado porque já sabia que gradativamente iria perder a visão. A maior dificuldade foi andar sozinho, trabalhava com vendas e precisei parar tudo, fiquei dois anos só em casa, até que retornei à escola, aprendi braile e mobilidade e iniciei uma nova forma de vida, identificando tudo em novos modelos de memorização”. Os outros dois entrevistados confirmaram que já é um conflito deparar com a realidade e só tem um jeito ir-se adaptando com o meio e com as situações, porém que o aprendizado do código braile a volta aos estudos e as novas tecnologias são incentivos para lutar por um objetivo. Sobre as dificuldades na vida acadêmica o segundo entrevistado aponta “Falta material de apoio, ainda hoje o que tem é pouco, quando entrei não tinha nada, com o tempo veio máquina braile, folhas para escrita braile, fitas, às vezes os professores não sabiam nem como se comunicar com a gente. Hoje já houve algum avanço, não foi e não está sendo fácil porque em matéria de apoio falta muito, tanto material quanto pessoal”. O terceiro entrevistado, que desistiu de seus estudos durante o andamento deste trabalho, ainda desapontado por ter que optar por esta atitude e questionado por deixar o curso nos relata: “desisti quando eu achei [...] talvez por causa da minha própria mobilidade [...] as pessoas não sabem os métodos de auxiliar o deficiente visual, percebi que eu estava me atrasando muito, tava acumulando tudo, ia ficar difícil para mim, ia sobrecarregar a todos. Uma coisa muito devagar, assim não vale a pena, só porque o deficiente daí, ta lá, não está acompanhando, não está sendo satisfatório, foi isso. Uma disciplina tinha uns cinco trabalhos para entregar, nas outras uma base de três, achei não vou conseguir acompanhar dessa maneira”. Perguntado, se tinha quem ajudava nas pesquisas. “Tudo isso a gente ainda tava discutindo, né, se ia ser as estagiárias do PAPE ou algum colega, professor ou a família ficou uma coisa meio [...] pra min, preocupante demais, quem vai ter esse tempo, não vai sobrecarregar, fica difícil para todos. As aulas não tinha dificuldades com nenhum dos professores, eu tava muito interessada e otimista não tinha dificuldades, conversar, expor, no entendimento, ouvindo na sala, tudo bem”. Quanto as pesquisas e trabalhos: “as coisas pra mim estudar demorava um pouquinho pra chegar na minha mão, ficava vago, difícil. Se recebeu apoio pedagógico do PAPE: “De ledores, incentivo verbal a prosseguir, mas daí se consegue ou não [...] parece que vai tudo naquele sofrimento. Não tava dando muito certo para estudar. Se, alguém dispôs-se a ler e escrever no computador: ah, elas iam dar uma forcinha lá, quando eu fosse lá na quarta feira a tarde, ia ter alguém lá para ajudar(dia determinado para ir). A tutora ia ajudar a entender o computador, mas eu já vi que tava tudo muito saturado, não adianta começar a aprender depois que o curso já ta na metade do ano, né. Não tava na hora de eu ter entrado, tinha dito lá na APADEVI (Associação de Pais e Amigos dos Deficientes Visuais) que quando eu tivesse bem segura da mobilidade, do computador eu vou, mas me disseram, não você consegue, consegue. Eu gosto de estudar, mas e ai, quando é pra desenvolver as coisas, é isso que faltou”. Quanto a pretensão, de um dia voltar: “ vou aperfeiçoar informática, musica, voltar quando tiver segurança da minha mobilidade e tudo, outras coisas para o deficiente não ficar muito atrasado, talvez descobrir alguma sugestão para as pessoas que estão lá, para dar apoio pra gente. Indagado se eles ainda não estão preparados para trabalhar com o deficiente: ”por exemplo as fitas nem eu tive a idéia de passar nem eles de ilustrar as fitas por numero e fazer uma agenda com os títulos dos textos para eu identificar era escrito em tinta, tinha que alguém em casa, ler. Eu pegava as fitas eram todas iguais na hora que eu precisava de alguém ler para min não tinha ninguém, ficava demorando muito tempo para achar o texto para estudar, passava a noite procurando uma fita. Fiquei chateada pois acho que o problema é, mais meu, assim da minha mobilidade, não saber informática, era difícil andar lá dentro até a sala, ir ao banheiro, quando a gente precisa não tem ninguém por perto”. Aponta: “ir ao banheiro, para ir[...] nunca está em ordem, tem que ir com alguém pra dar uma olhada, uma pessoa me disse. No intervalo às vezes alguém convidava para ir ao banheiro. Da sala até o PAPE tudo tranqüilo. Também o carro de transporte que pagava para ir, deu problemas, desprovido financeiramente, as coisas tem que progredir, eu freqüentei a associação, e nem sabia, nem que existia DOSVOX. Porque para o surdo a UNICENTRO tem o intérprete, muita coisa é esquisito, a gente tá por fora, e fica meio chateada. A gente pensa o que estou fazendo aqui, é bem complicado. De acordo com as entrevistas realizadas com as famílias dos cegos registramos depoimentos relatando dificuldades que a família passa quando acontece a cegueira. A esposa do primeiro entrevistado falou das dificuldades que surgem quando acontece um problema na família: “Precisei arrumar um carrinho de pipoca para trabalhar e meu filho mais velho com 17 anos teve que assumir o lugar do pai no trabalho, pois tinha as crianças pequenas, foi difícil passar aquela fase, para todos nós”. A mãe do segundo entrevistado quando questionada quanto as dificuldades e preconceitos respondeu:”sei que tem famílias que sofrem preconceitos, a minha acho que não, mas não recebemos nenhum apoio, até porque, onde morávamos era raro pessoas com problemas de visão e naquele tempo não existia tanta informação, então a família sofria junto com o filho o problema e com o tempo também se adaptava aprendendo com o filho no dia a dia perguntando o que ele precisava”. Ouvimos a mãe do terceiro entrevistado que relatou:” foi um choque muito grande, sabíamos que poderia acontecer aos poucos, a gente não esperava assim, até começar a se orientar de novo, é um mundo diferente, até que fomos informados que tinha associação iniciando os trabalhos com deficientes visuais, foram cinco anos sem nada fazer. Depois, que foi para a escola dos deficientes, começa a entrosar e achar jeito para adaptar, para tudo tem um jeito”. Perguntada sobre o que diria para aquelas famílias que estão no inicio de problemas dessa natureza e não sabem como reagir, a mãe sugere: “que despertem quanto antes, procurar a associação, tem que achar um sentido para a vida, se comunicar fazer amizade, senão entra a tristeza, depressão e preocupa muito a família, ficar fechado não ajuda, tem que se adaptar, tudo surge normalmente, é um mundo diferente”. Em relação a família do quarto entrevistado nos informaram, a mãe, ”Foi muito difícil a aceitação, ficamos imobilizados, tudo que se pensasse em fazer não ia resolver a situação. No começo queriamos suprir todas as necessidades, mas não era possível, aí é que começamos a raciocinar que o cego tem uma vida e de algum jeito precisa se organizar para viver melhor, então pensamos no tempo perdido que precisava ser recuperado, já que de certa forma é necessário aprender tudo de novo de maneira diferente, é comum encontramos barreiras, preconceitos e limites, às vezes precisamos fazer de conta que não notamos isso, para de passo em passo ir vencendo os obstáculos que se levantam diante do cego, e também de pessoas da família”. Referente às atividades acadêmicas: “Fiz um acompanhamento de perto, visto que todo cego necessita em algum momento do olhar do vidente. Quando do vestibular, até discordamos no modo desta instituição realizar o processo, na mesma sala mais de um deficiente visual, a leitura que era feita para um atrapalhava o raciocínio do outro, assim, não há equivalência entre o cego e o vidente. Durante todo o 1º ano do curso eu fui escriba dele, lendo os conteúdos e escrevendo o que ele ia selecionando, para elaboração do trabalho. Assim, muitas vezes refazendo o mesmo texto até ficar conforme ele achava melhor e que condizia com a proposta exigida pelo professor. Dificilmente atrasava os trabalhos ou pesquisas, já no segundo ano passou a ter um melhor domínio do computador e a fazer muitos trabalhos sem minha ajuda. Hoje no 3º ano do curso, eu nem fico sabendo o que ele lê ou escreve, faz tudo com a ajuda dos programas de computador e acompanha os colegas nas datas de entregas de trabalhos. Alguns professores mandam os conteúdos digitalmente para ele, outros emprestam os livros para fazer a digitalização e apesar das limitações podemos dizer que fazer um curso superior é possível, para o cego. Porém é necessário que a inclusão aconteça de fato”. Com o advento de acadêmicos com deficiência a UNICENTRO criou em 2005 um Programa de Apoio Pedagógico aos Alunos com Necessidades Educacionais Especiais – PAPE, com a finalidade de apóia-los. Atualmente o PAPE desenvolve atividades como: coordenar cursos de Libras, de Ledores, de Aprendizagem do Código Braile e tem projeto para curso de Sorobã e outros. E presta atendimento para acadêmicos: deficiente físico (1) cegos (4), surdo (1), visão subnormal (2) sendo um, acadêmico do campo de Laranjeiras do Sul. 05 – CONCLUSÕES Partindo da filosofia de ação e do reconhecimento de que o ser humano deve ter o atendimento e o tratamento de suas necessidades por meio de padrões técnicos decorrentes do conhecimento científico do mais alto nível, o que nem sempre é possível devido a problemas de ordem econômica de recursos humanos, de ampliação de atendimento em termos quantitativos. Consideramos que através de competências sócio-cultural têm-se buscado formas adequadas sempre com o objetivo de orientar o deficiente visual e sua família no sentido de obterem o conhecimento dos seus próprios recursos pessoais de adaptação, cuidados de saúde, educação e oportunidades de colocação profissional. Notamos, através dos relatos dos entrevistados que a família de um cego precisa despertar quanto antes, procurar associações, informações e ajuda, procurar alternativas para adaptação, contribuir no sentido de o cego se relacionar com a família e com a sociedade. O relacionamento pessoal do cego se dá diretamente por meio da comunicação, principalmente oral, já que a comunicação é o principal fator para que o cego tenha um bom relacionamento. Quando a cegueira é total o cego pode estar próximo de alguém mas sem convivência e sem contato é como se estivesse só, no momento que há interação de um com o outro se processa uma comunicação que o valoriza sendo cego ou não e o torna participante incluído no convívio social. A visão é um dos sentidos que mais recebe estímulos para observação informal de situações novas e conseqüente aprendizagem incidental. O cego pouco estimulado terá uma vida relativamente restrita e, para ampliar seus horizontes, desenvolver suas imagens mentais e orientá-las para ambientes mais amplos, é necessário proporcionar-lhe experiências, através de estimulação adequada e sistemática, em um nível proporcional ao seu desenvolvimento e motivação, fazendo-o conhecer o mundo através de sua própria observação e experiência. Todo o cego precisa movimentar-se para adquirir desenvolvimento físico e motor harmonioso e para isto se efetivar e ser motivado. A mobilidade, a fala, o ato de preensão, de alimentar-se, a sociabilização e outros aspectos poderão ser retardados se não for orientado para executar tais atividades, isto é, só irá dominar estas habilidades fazendo. Por outro lado, a maturação também precisa ser auxiliada em todos os seus estágios, sendo necessário oferecer-lhe oportunidades para que possa fazer sozinho, atividades compatíveis com suas condições, num ritmo crescente de interesses e complexidade. A propósito, baseados nos depoimentos dos acadêmicos e de suas famílias deixamos para discussão e estudos, o problema mencionado, de que como a Universidade disponibiliza para o acadêmico surdo: o interprete, também poderia talvez disponibilizar o escriba para o cego, de modo que: o cego possa permanecer e desenvolver as atividades propostas pelo curso de uma maneira adequada, esse escriba poderia ser o próprio tutor com mais número de horas, pelo menos duas horas diárias, ou então ter como escriba uma estagiária do PAPE, conforme a demanda dos trabalhos e pesquisas. Seria um mecanismo pedagógico de real importância para o cego ser incluído como igual e com isso ele teria tempo e chance para se adaptar no uso de programas de computador e novas tecnologias, com possibilidades de tornar-se um acadêmico independente e envolvido na construção de novos saberes. 06 – REFERÊNCIAS 6.1 BIBLIOGRAFICAS ÁRIES, P. História Social da criança e da família. 2. ed. Rio de Janeiro: Guanabara, 1981. BARRAGA, Natalie C. & MORRES, June E. Programa para Desenvolver A Eficiência no Funcionamento Visual. Plano de Instrução. São Paulo, Fundação para O Livro do Cego no Brasil.V. 2 1995. BUSCAGLIA, L. Os deficientes e os seus pais: um desafio ao aconselhamento. Rio de Janeiro: Record, 1993. Centro Educacional de Educação Especial. Proposta curricular para deficientes visuais: elaborada pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro - convênio CENESP/PREMEN. Brasília. MEC. Departamento de Documentação e Divulgação, 1979. v.4 Manual do professor. FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. São Paulo: Paz e Terra, 1996. FREIRE, Paulo. Pedagogia do Oprimido. 17 ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1987. FREITAS, Maria Lucinda Corrêa de. O Atendimento Psicopedagógico aos deficientes visuais no Município de Agudos do SUL, PR. s.n. t. 1.994. GIL, Marta (org.). CADERNOS da TV Escola. deficiência visual, Brasília: MGC. Secretaria de Educação a Distância, 2000. GLAT, Rosana. O Papel da Família na Integração do Portador da Deficiência. Revista Brasileira de Educação Especial, V. 2, 1996, n. 4. GOFFMAN, E. Estigma: notas sobre a manipulação da identidade deteriorada. 4ªed. LTC ED. Rio de Janeiro, 1998. (Trad. Márcia Bandeira de Mello e Leda Nunes). KELLER, Hellen. s.n.t. apud BONAN, Nair Pit. As escolas de deficientes visuais. Guarapuava: UNICENTRO 1998. (Monografia de Pós – Graduação em Fundamentos da Educação). LIMA, Eudes de. Divisão especial de ensino - de Registro. Vale do Ribeira,1986. MANTOAN, Maria Teresa Eglér at.al. A Integração de Pessoas com Deficiência. São Paulo: Memnon, 1997. MAZZOTTA, Marcos José Silveira. Educação Especial no Brasil: história e políticas públicas. 3,ed. São Paulo: Cortez, 2001. MENDES, E. G. Integração,v.14, n.24.2002 Desafios atuais na formação do professor de Educação Especial. MILLER, Nancy B. Ninguém é perfeito. (Trad. Lucia Helena Relly), Campinas, SP: Papirus, 1995. MORIN, Edgar. O Método. O Conhecimento do Conhecimento. 2º Ed. Portugal- América, 1996. OCHAITA, E.; ROSA, A. recepção, ação e conhecimento nas crianças cegas. In: COLL, C.: PALÁCIOS, J.; MARCHESI. Álvaro,(orgs.) Desenvolvimento psicológico e educação: necessidades educativas especiais e aprendizagem escolar. Porto Alegre: Artes Médicas, 1995. v.3, p. 183 - 197 SARAMAGO, José. Ensaio sobre a Cegueira, São Paulo, Companhia das Letras, 1991. SASSAKI, Romeu K. Inclusão: construindo uma sociedade para todos. Rio de Janeiro. WVA – Ed., 1997. WERNECK, Claudia. Sociedade inclusiva. Quem cabe no seu todos? Rio de Janeiro: WVA – Ed., 1999. 6.2 ELETRONICAS A Evolução tecnológica e a formação. acesso dia 25/09/06 às 10 h. Inovação Tecnológica. acesso em 04 /04/2007 às 02:43. 07 – ANEXOS 7.1 ENTREVISTAS COM OS ACADÊMICOS CEGOS 1 Como ocorreu a perda de visão? 2 Qual o pior momento enfrentado como cego? E o melhor? 3 Depois que ficou cego qual foi o conflito que viveu? O que teve que reaprender? 4 Quais as dificuldades que tem encontrado na vida acadêmica? 5 É comum as pessoas se oferecerem para dividir conhecimentos, informações, compartilhar amizades, afazeres ou estudos? 6 A sociedade está preparada para incluir o cego? 7.2 ENTREVISTAS COM AS FAMÍLIAS DOS CEGOS 1 Que estímulos a família recebeu da sociedade, das instituições e que informações? 2 Como é o relacionamento do cego com a família? 3 Há discriminação quanto ao cego e sua família? 4 Como o cego está sendo atendido na sua vida acadêmica? 5 O que fazer para que a pessoa cega se comunique mais? 7.3 CERTIFICADOS DE APRESENTAÇÃO E DIVULGAÇÃO DO PROJETO DO BOLSISTA RELATÓRIO FINAL DE INICIAÇÃO CIENTIFICA O relatório de pesquisa apresentado pela acadêmica está bem redigido, apresenta informações importantes, atingiu os objetivos do seu projeto de pesquisa de iniciação científica. Quanto à divulgação dos resultados foi satisfatório, pois seus achados foram apresentados em três eventos da UNICENTRO: - XV Semana de Pedagogia, II Seminário de Educação do Centro-Oeste: - XVIII Seminário de pesquisa, XIII Semana de Iniciação Científica e I Jornada Paranaense de Grupos. PET; - I Simpósio de História da Educação . Considerando a situação apresentada acima aprovo o seu relatório. ---- --------------------------------------------- Maria da Glória Martins Messias Guarapuava, 28 de agosto de 2007.