0# CAPA 6.8.14 VEJA www.veja.com Editora ABRIL Edição 2385 – ano 47 – nº 32 6 de agosto de 2014 [descrição da imagem: foto tamanho 3x4 de Graça Foster e de Nestor Cerveró] EXCLUSIVO FRAUDE CPI DA PETROBRAS PETROBRAS Uma gravação mostra que os investigados receberam perguntas dos senadores com antecedência e foram treinados para responder a elas. A farsa é tão escandalosa que pode exigir uma inédita CPI da CPI para ser desvendada. [descrição da imagem: lado esquerdo inferior da capa, a foto do rosto de José Eduardo Barrocas] José Eduardo Barrocas Em gravação, o chefe do escritório da Petrobras em Brasília revela a armação. “Eu perguntei quem é o autor dessas perguntas. Oitenta por cento é do Marcos Rogério (assessor da liderança do governo no Senado). O Carlos Hetzel (assessor da liderança do PT) fez alguma coisa; o Paulo Argenta (da Secretaria de Relações Institucionais da Presidência da República) fez outras. As do Gabrielli eu digitalizei e passei para a Graça (Foster, presidente da Petrobras)." "Chamaram ele (Nestor Cerveró), deram um curso a ele, media training.” [descrição da imagem: parte superior da capa, lado esquerdo, foto do rosto da presidente da Argentina. No lado oposto, foto do rosto do ex-presidente do Brasil Médici] CALOTE Até que ponto a Argentina está com a razão na guerra com o mercado. INÉDITO Os arquivos de Médici e os segredos surpreendentes que eles guardam sobre a ditadura e seus personagens. ______________________________ 1# SEÇÕES 2# PANORAMA 3# BRASIL 4# ECONOMIA 5# INTERNACIONAL 6# GERAL 7# GUIA 8# ARTES E ESPETÁCULOS _________________________________ 1# SEÇÕES 6.8.14 1#1 VEJA.COM 1#2 CARTA AO LEITOR – PASSADO E PRESENTE 1#3 ENTREVISTA – GESNER OLIVEIRA – O FIM DA ERA DO DESPERDÍCIO 1#4 MAÍLSON DA NÓBREGA – RAZÕES DO BAIXO CRESCIMENTO 1#5 LEITOR 1#6 BLOGOSFERA 1#1 VEJA.COM O PAÍS DO SOCCER A Copa do Mundo mostrou que o futebol se populariza rapidamente nos Estados Unidos. Em 2015, o processo pode se acelerar ainda mais: o brasileiro Kaká, o inglês Frank Lampard e o espanhol David Villa são alguns dos craques que vão reforçar a principal liga americana de soccer. Reportagem de VEJA explica por que a modalidade agora atrai a atenção do americano que antes só se interessava por basquete, beisebol ou football — o futebol americano — e por que o investimento pode ser mais bem-sucedido do que o da década de 70, quando Pelé, Franz Beckenbauer e Johan Cruyff jogaram nos EUA. "Não é irreal pensar num time americano que tenha em breve 40 milhões de torcedores, mais que Corinthians e Flamengo", diz o carioca Flávio Augusto da Silva, dono do Orlando City, o novo clube de Kaká. O GUIA ECONÔMICO DE DILMA Ao tratar de assuntos econômicos, Dilma Rousseff tem se socorrido frequentemente da obra de Hyman Minsky (1919-1996), como revelou a coluna Radar, de Lauro Jardim. “Isso é Minsky", repete a presidente. Reportagem de VEJA.com mostra que Dilma travou contato com o pensamento do economista americano na Unicamp e aponta quem mais, além dela, se interessa no Brasil pelas ideias desse guru do big government e da regulação financeira. Revela ainda o conceito insensato a que ele dedicou seus últimos anos de estudo: aquele segundo o qual o governo deveria ser um "empregador de última instância", ofertando vagas a toda a população. TALENTO EMERGENTE O site de VEJA lança na segunda-feira (4), em parceria com Cia. de Talentos, Abril Plug and Play e Chivas, a terceira edição do Prêmio Jovens Inspiradores. O concurso foi criado em 2012 para revelar e incentivar estudantes universitários ou recém-formados com espírito de liderança e comprometidos com a busca permanente da excelência, premiando-os com bolsas de estudo no exterior, orientação profissional e iPads. Neste ano, para encorajar jovens empreendedores, o prêmio terá uma categoria adicional, reservada a planos de negócios. Acesse o site de VEJA para fazer sua inscrição. 2# CARTA AO LEITOR – PASSADO E PRESENTE Uma reportagem especial desta edição de VEJA revela com exclusividade o conteúdo dos arquivos do general Emílio Garrastazu Médici, o terceiro presidente do regime militar implantado no Brasil em 1964. Mediei morreu há 29 anos, e os documentos, doados em 2004 pela família ao Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro (IHGB), estão sendo catalogados desde o ano passado. Lauro Jardim, redator-chefe de VEJA, teve acesso a eles há pouco mais de três meses. As cartas recebidas por Médici e as escritas por ele, recortes de jornal comentados e relatórios de seus ministros permitem formar um juízo bastante exato do homem e de seu governo. Se não difere muito da imagem que ficou daquele período paradoxal de euforia econômica com crescimento anual de até 14% e leniência com a tortura a inimigos do regime presos, entre eles a atual presidente Dilma Rousseff, o retrato que emerge agora é muito mais completo, complexo e nuançado. "Usei na reportagem os documentos inéditos. Já antevejo a corrida dos historiadores ao IHGB depois de lerem a revista", diz Lauro Jardim. Médici fez questão de preservar a carta em que um jornalista de televisão daquele tempo informa sobre a apresentação de um programa a respeito de VEJA: "Comunico respeitosamente a Vossa Excelência que levaremos ao ar na próxima segunda-feira pela Rede Globo de Televisão um grave programa, focalizando a ação da revista VEJA junto à opinião pública, numa sistemática campanha de tentativa de desmoralização da Revolução, de seus líderes e de sua obra". É inescapável o paralelo com as acusações que VEJA recebe hoje dos esquerdistas radicais, sempre prontos a enxergar nos fatos revelados pela revista as mesmas intenções divisadas pelos acólitos do regime militar. VEJA não faz campanha. VEJA faz jornalismo rigoroso e independente. Isso incomodava a ditadura e incomoda hoje o poder. Que o vezo autoritário é comum aos generais da ditadura e ao petismo radical, está cada dia mais evidente. Na semana passada, um banco foi forte e publicamente constrangido pela análise correta de uma realidade facilmente verificável: quando Dilma sobe nas pesquisas a bolsa cai e quando Dilma cai a bolsa sobe. Médici ficaria satisfeito em saber que fez sucessores onde menos se poderia esperar. 1#3 ENTREVISTA – GESNER OLIVEIRA – O FIM DA ERA DO DESPERDÍCIO Em duas décadas, diz o economista, em boa parte do planeta faltará água. Para evitar que isso ocorra, há apenas dois caminhos: diminuir o desperdício e aumentar a reutilização. MARIANA BARROS Grandes regiões metropolitanas do mundo podem enfrentar problemas graves de falta de água. O Brasil não está livre desse risco. Para o economista Gesner Oliveira, Ph.D. pela Universidade da Califórnia em Berkeley e presidente da Sabesp entre 2007 e 2010, há duas medidas urgentes a ser tomadas para evitar que a situação atinja o nível de calamidade. A primeira é combater o desperdício. No Brasil, 37% da água tratada é desperdiçada e nem sequer chega às torneiras. A segunda é ampliar a reutilização da água, prática comum nos países que são modelo em abastecimento. Oliveira será um dos palestrantes do evento Arq.Futuro, em Piracicaba, em 4 e 5 de agosto, que discutirá algumas dessas questões. É inevitável que o mundo sofra com a escassez de água no futuro? Se medidas urgentes não forem tomadas, é quase certo que tenhamos um problema de saneamento e de abastecimento muito grande já daqui a duas décadas. Não que a água do planeta vá acabar, claro, mas haverá problemas sérios de falta de mananciais utilizáveis nas regiões urbanas. O planeta vive um ritmo de urbanização intenso, em especial na Ásia e na África. Para lidar com isso, é preciso reduzir a perda de água tratada e reutilizá-la cada vez mais. Temos de romper com aquele paradigma da Antiguidade, quando os povos poluíam rios e açudes e iam buscar água cada vez mais longe. Essa prática, que deu origem a lindos aquedutos que ficaram para a história, não é mais viável em um planeta habitado por mais de 7 bilhões de pessoas. O crescimento da população é a principal ameaça ao abastecimento? Não. O que ocorre é que, de um lado, vemos uma urbanização crescente, com o surgimento de macrometrópoles formadas sem o devido planejamento. De outro, observamos o aumento da população da classe média nas economias emergentes. Isso significa que quem não consumia passou a consumir, o que aumenta a pressão sobre o sistema energético e de abastecimento. Existe ainda a questão ambiental. Desmatamentos às margens dos rios contribuem para que estes sequem. E há áreas onde os lençóis freáticos foram tão sobrecarregados que elas agora correm o risco de se tornar desérticas. Na Cidade do México, onde a água subterrânea é muito usada, isso já é uma realidade. Em São Paulo também se vive um temor de racionamento. O governo falhou em seu planejamento? Subestimou a estiagem? O fenômeno da estiagem tem sido tão intenso que dificilmente estaria no radar de qualquer governo ou empresa de saneamento. Mas, olhando as dificuldades climáticas que vêm ocorrendo na Califórnia e na África, por exemplo, é fundamental que comecemos a pensar numa mudança para valer — e não me refiro aqui a um plano de dois ou três anos. Falo de mudanças profundas, para os próximos vinte ou trinta anos. Que tipo de mudanças? O Brasil desperdiça muita água tratada. Nossa perda média é de 37%. Se o país fosse uma padaria, significaria que, de cada dez pãezinhos assados, estaria jogando 3,7 fora. É muita coisa, sobretudo para uma mercadoria tão vital. Há estados com taxas piores. No Amazonas, as perdas chegam a 70%. No Recife, em Manaus e nos municípios paulistas de Cajamar, Caieiras e Francisco Morato, o desperdício é superior a 40%. A perda média da Sabesp é de 26%, bem menor que a média nacional. Para 2019, a meta é reduzir a taxa para 17%. Ainda assim, ficaríamos acima do padrão internacional considerado bom, entre 10% e 15%. O que causa tanto desperdício? Há dois motivos principais. Um é físico. Quando ocorre vazamento em uma adutora, ou mesmo na rua, a água até é reabsorvida pelo solo, mas a um custo muito alto, uma vez que já havia sido tratada, transportada e foi perdida. Jogam-se fora os produtos químicos, a mão de obra e a energia que ela consumiu. Vai tudo literalmente pelo ralo. O outro motivo é comercial. O chamado "gato" não é uma prática destinada a furtar só energia elétrica. Existe o "gato" hidráulico também. Vemos com muita frequência uma tubulação balizada de "macarrão". Em geral, é um sistema muito malfeito e permeável, portanto contaminável, e que às vezes cruza o esgoto. Essa estrutura permite roubar água das companhias fornecedoras. Em alguns casos, esse tipo de furto chega a representar metade das perdas das empresas. É possível chegar ao desperdício zero? Não é vantajoso, é antieconômico. Zerar o desperdício tem um custo que não justifica a economia feita. No Japão, dado o custo e a escassez da água, vale a pena investir em perda zero — em Tóquio, menos de 5% da água tratada vai embora sem ser usada. Quando eu estava na presidência da Sabesp, ficava constrangido ao conversar com técnicos japoneses sobre os números brasileiros. Mas o Brasil tem uma enorme margem para melhorias, devido ao tamanho da sua ineficiência. É natural que estejamos discutindo o uso da reserva técnica do Sistema Cantareira, em São Paulo, e se vai chover ou não. Tudo isso é importante, são questões urgentes. O grande mérito desse debate, porém, é que ele vai contribuir para discutir estratégias de longo prazo. E quais são as medidas fundamentais para garantir que não faltará água no futuro? São duas. A primeira é a redução das perdas, por meio do aumento da eficiência. Ao abrirem a torneira, as pessoas precisam saber que estão usando um bem valioso. Há muito descaso com a água, talvez porque, das utilidades públicas, ela seja a mais barata. A segunda medida fundamental é ampliar a reciclagem da água que é consumida. Como é feita essa reciclagem? Hoje, existe no mundo um nível de tratamento tal que, ao fim dele, é possível beber a água que saiu da estação de tratamento de esgoto, ou seja, que passou pelo vaso sanitário. Pode parecer repugnante para muita gente, mas é como funciona em diversos países. E o método não tem relação com crises hídricas, trata-se de uma medida usual em Israel, por exemplo. Fui lá conhecer essa experiência e posso dizer que não é uma tecnologia de outro planeta. No caso dos israelenses, compensa. Eles não têm muitas opções de captação e estão no meio do deserto. Mas pense no Brasil. Muito da água que bebemos vem de mananciais relativamente poluídos e que passam por tratamento. Algumas captações, como as dos rios Jundiaí ou Juqueri, e mesmo as das represas Billings e Guarapiranga, trazem uma água bruta, que faria passar mal quem a tomasse. Mas, depois de tratada, fica perfeita. Qual a qualidade da água que chega pela torneira no Brasil? Posso dizer que, em São Paulo, se a sua caixa-d'água for bem cuidada, não há nenhum risco ao tomar água da torneira. Pode não ser muito agradável porque ela talvez não tenha a mesma limpidez da água engarrafada, que cria no consumidor a ideia de que ele está tomando algo mais puro. Pode haver diferença de coloração e até de cheiro, mas, tecnicamente, trata-se de uma água boa. Embora seja levada muito em conta, a aparência não é importante. Em muitas localidades dos Estados Unidos, por exemplo, a água atende a todas as exigências de saúde, mas não tem coloração agradável. Se a água da torneira pode ser bebida, o fato de a usarmos nos banheiros, por exemplo, não é também um desperdício? Sim. A água adequada ao consumo humano é a mesma que usamos no banheiro ou para lavar a rua depois de uma feira. Mas para essas finalidades, digamos, menos nobres, a Sabesp mantém caminhões de água de reúso, que é água reciclada. Para lavar a rua, por exemplo, ela não precisa ter as características químicas exigidas para o consumo humano. O Metrô tem um contrato para a lavagem dos vagões que também estabelece o emprego do mesmo tipo de água. No tratamento-padrão, a água passa por desinfecção, para que microrganismos sejam retirados; coagulação, para que impurezas sejam removidas e deixadas em suspensão; e depois pelas fases de floculação, decantação, filtração e correção do pH. No Brasil, ainda se adiciona flúor, muito eficaz para controlar cáries. Claro que não é necessário acrescentar flúor à água de lavar ruas. Essas medidas de reúso são fundamentais, mas ainda estão em fase inicial. Temos muito que avançar. Seria possível fazer uma divisão do sistema de abastecimento, com uma rede de água nobre e outra menos nobre? Sim. Isso reduziria os gastos com produtos químicos, energia e mão de obra. Por outro lado, seria preciso investir na construção dessa outra rede. O Brasil não chegou a esse ponto porque a produção de água de reúso ainda é de menos de 1%. Seria razoável que na próxima década ao menos um quarto da água consumida no país fosse de reúso. O senhor falou que a água é a mais barata das utilidades públicas. Aumentar a tarifa é a solução? A solução passa menos por aumentar tarifas e mais por estabelecer regras de uso que obedeçam critérios técnicos, e não a conveniências políticas. É preciso que o assunto seja regulamentado por um órgão independente e com excelência técnica para estimular o investimento e inibir o populismo. Vale o tripé: boa regulação, bom planejamento e boa gestão. Sem esses pilares, é difícil imaginar cidades saudáveis e recursos hídricos bem aproveitados. Para atrapalhar um pouco, há um raciocínio político muito perverso que diz que esse tipo de investimento não tem visibilidade e, portanto, os dividendos políticos que ele gera não são tão grandes quanto os que rende a construção de um viaduto, por exemplo. O grande segredo é mudar esse raciocínio e criar dividendos políticos investindo no saneamento. Ao mesmo tempo, é preciso estabelecer penalidades para políticos que deixarem a questão de lado. A escassez de água traz também o medo do racionamento de energia, já que nossa matriz é hidrelétríca. Como evitar que isso aconteça? Algumas medidas sinalizam possíveis caminhos a seguir. Um deles é reduzir o gasto energético do próprio sistema de abastecimento, já que o bombeamento é uma das coisas que mais consomem energia. Outra possibilidade é aproveitar a engenharia de captação de água para gerar energia. Os diferentes níveis entre as represas permitem a criação de pequenas centrais hidrelétricas. Há uma no Sistema Cantareira. Ela gera 7 megawatts, o que é pouco, mas indica um caminho. No tratamento de esgoto há geração de gases úteis na produção energética, como o metano. Além disso, o lodo originado nesse processo pode ser usado nas termelétricas e também como matéria-prima na construção civil, por exemplo, na fabricação de tijolos. É possível produzir água em laboratório? Até onde conheço, não é um grande investimento. Os cientistas têm se voltado mais para as pesquisas de dessalinização, cujo custo vem diminuindo. Em alguns países, como a Espanha, esse tipo de abastecimento já é um importante plano B. Nas épocas do ano em que chove menos, utiliza-se mais essa água dessalinizada. Existe algum país que sirva de modelo para o Brasil? As peculiaridades são tantas que é difícil dizer, mas acho que esse país seria o Canadá, por ter a mesma dimensão continental e uma hidroeletricidade importante. Israel, Japão, Espanha, Austrália e Singapura também poderiam servir de inspiração — têm experiências muito positivas de saneamento e reúso. Há um limite de vezes em que a mesma água pode ser reaproveitada? Não, veja que maravilha. A não ser que os mananciais estejam muito poluídos. Nesse ponto, começam os problemas. Eles se tornam inúteis e há um processo de desertificação. Ou então o solo perde a capacidade de absorção e ocorrem enchentes. Na China, já é um problema sério. O consumo explodiu e a preocupação ambiental não acompanhou a economia. Já a Coreia do Sul venceu a poluição e teve experiências bem interessantes ao desenterrar rios e córregos antes canalizados. Foi uma espécie de reurbanização, cujo símbolo é o Rio Han, que renasceu. 1#4 MAÍLSON DA NÓBREGA – RAZÕES DO BAIXO CRESCIMENTO Neste ano, o crescimento do PIB será pífio, menos de 1%. E fica cada vez mais claro que a origem desse mau desempenho é essencialmente doméstica. Tem pouco a ver com a crise que atingiu os países desenvolvidos ainda em 2008. Há três fontes de crescimento: a taxa de investimento, a incorporação de mão de obra ao processo produtivo e a produtividade. Essa última depende de muitos fatores, tais como as habilidades do trabalhador, as inversões em máquinas e equipamentos, as inovações, a qualidade da infraestrutura e a operação da logística. Os governos do PT reduziram, em especial a partir de 2011, a efetividade de duas dessas fontes, a taxa de investimento e a produtividade. A primeira caiu com a excessiva intervenção na economia, que afetou o ambiente de negócios e a disposição dos empresários para investir. Os ganhos de produtividade diminuíram pela ausência de reformas, e pela piora do sistema tributário e da infraestrutura, sem contar a das leis trabalhistas O fator trabalho, muito relevante na era Lula, esgotou sua contribuição. A ociosidade desapareceu e os salários subiram acima da produtividade por causa dos estímulos exagerados ao consumo. A maior influência desses estímulos ocorreu no preço dos serviços, que não sofrem concorrência internacional e assim podem repassar custos. Sem poder fazer o mesmo, a indústria perdeu competitividade, estagnou e depois decresceu. Daí a desaceleração do crescimento. O atual governo tem culpa em cartório, mas a economia perde ritmo desde meados dos anos 1970, quando passa a murchar o brilho do pós-guerra. No período 1968-1973, o PIB havia crescido em média 11,1% ao ano. O esgotamento do modelo de substituição de importações e seu legado — a ausência de incentivos à inovação e a persistência da inflação — explicam a queda do PIB e a hiperinflação dos anos 1980, quando o país ingressou em trajetória de baixo crescimento. De 1985 a 2013, anualmente, o PIB avançou em média apenas 3% e a renda per capita somente 1,4%. As principais causas da queda estão expostas de maneira brilhante no livro Por que o Brasil Cresce Pouco? (2014), de Marcos Mendes. Para o autor, a conjugação entre democracia (que defende) e desigualdade criou uma insustentável expansão de gastos sociais que resultou no aumento da carga tributária e na redução do potencial de crescimento. Esse processo acarretou uma "redistribuição dissipativa", em que há distribuição de renda aos pobres, mas os recursos econômicos se dissipam "na apropriação de parte deles pelos grupos de renda alta e média". A redistribuição do Bolsa Família foi revertida mais recentemente pelo efeito concentrador do aumento da remuneração dos servidores públicos. A Previdência concentra renda; os subsídios e outros benefícios em favor do setor privado também. O livro se baseia em amplo acervo de dados e na pesquisa acadêmica dos últimos anos, que vem esquadrinhando as questões associadas à desigualdade, à redistribuição de renda e à força de grupos de interesse, como o funcionalismo público, os sindicatos de trabalhadores e as associações empresariais. O Estado virou campeão de redistribuição. Cobra de uns e transfere os recursos para outros. Nem sempre os pobres são os ganhadores. Além do efeito concentrador da Previdência e da remuneração dos servidores públicos, o ensino universitário público faz o mesmo ao beneficiar majoritariamente estudantes de classe média e alta. A regulação nos fez o país da meia-entrada e dos caçadores de renda. Restrita antes a estudantes, a meia-entrada transbordou. Pelo Estatuto da Juventude, é jovem quem tem de 18 a 29 anos, o que garante preços reduzidos em eventos culturais. Se for idoso, um poderoso magnata poderá andar de graça em ônibus e pagar meia-entrada nos cinemas e teatros. Com o protecionismo, o crédito barato do BNDES e outros favores, é mais proveitoso caçar benefícios em Brasília do que investir na eficiência e competitividade das empresas. Esses e outros problemas estão fartamente documentados na obra. Marcos Mendes lista dez fatos estilizados, aos quais atribui a responsabilidade pelo baixo crescimento. É preciso despertar para essa realidade. MAÍLSON DA NOBREÇA é economista 1#5 LEITOR APAGÃO MORAL NA DIPLOMACIA Antigamente, a diplomacia brasileira era respeitada por adotar posicionamentos legais, morais e éticos indiscutíveis. Nos últimos doze anos, ela se transformou num arremedo de ópera-bufa, em que os diplomatas são obrigados a demonstrar simpatia e distribuir abraços somente àqueles países considerados autocracias e ditaduras de esquerda, num procedimento que não consegue ser rabo de baleia, muito menos cabeça de sardinha ("Crime de Putin? Azar das vítimas. Sangue em Gaza? Culpa só de Israel'', 30 de julho). Enfim, os megalonanicos do Itamaraty gostam mesmo é de distribuir afagos aos Castros, ao Maduro, ao Putin, ao Morales et caterva... ESTÁCIO TRAJANO BORGES Porto Velho, RO A política externa brasileira, capitaneada pela presidente Dilma e por seu conselheiro-mor e especialista em coisa nenhuma, Marco Aurélio Garcia, tem feito o Brasil passar por uma república de bananas. Ao assumir o lado da ideologia antiamericanista, reacende as ideologias ultrapassadas de parte do PT, que ainda não descobriu que o Muro de Berlim não existe mais e faz do Brasil uma vergonha internacional. VICTOR LUÍS DE ALMEÍPA VOHRYZEK Rio de Janeiro, RJ O aparelhamento estatal criado pelo lulopetismo chegou a ponto de nos envergonhar como nação perante a comunidade mundial. ROBSON SANT'ANNA São Pauto, SP Permitir que a ideologia prepondere sobre o bom-senso é vexatório, tratando-se de um governo. Muito surpreende alguém que afirma saber separar ideologia de política ao se aproximar e tratar como rei Raúl Castro e, paralelamente, tentar eximir seu aliado Putin da culpa pelo abate de um avião civil. A arbitrariedade expõe contradições. RODOLFO ROCHA Curitiba, PR Aquele que foi feito 'gigante pela própria natureza' se tornou anão pela própria diplomacia. LUTERO DE PAIVA PEREIRA Maringá, PR Quanto mais eu vejo, ouço e leio sobre os mandos e desmandos deste governo petista, mais me assusta e mais me preocupa a continuidade da incompetência, da ganância e do nanismo diplomático. PAULO MENDES JÚNIOR Campinas, SP A reportagem de VEJA nos dá a noção clara da decadência em que se transformou a política externa do Brasil nos últimos dez anos. MARIA DA GLÓRIA C. FILGUEIRAS Brasília, DF Se não fosse pelo sistema de defesa Domo de Ferro, haveria centenas de vítimas também do lado israelense. O Hamas usa civis palestinos como escudo em suas bases em Gaza. Só as lentes preconceituosas de Marco Aurélio Garcia e outros fingem não ver essa realidade. JOSÉ MARCOS TREIGER Rio de Janeiro, RJ Embora a contragosto, tenho de concordar com o termo "anão diplomático" em relação ao Brasil, utilizado pelo israelense Yigal Palmor. Sinto-me envergonhada pelos rumos distorcidos da nossa política externa e lamento profundamente pelos diplomatas que não compactuam com as equivocadas diretrizes adotadas pelos governos Lula e Dilma, responsáveis pelo declínio moral da carreira diplomática. SILVIA PALMA SAMPAIO CICCU Campinas, SP Fosse mais leal à história da criação de Israel, o senhor Palmor — embora tenha alguma razão ao se referir à atitude precipitada do nosso Itamaraty (ou de seus patrões de plantão) — teria se expressado com mais consideração ao Brasil, que em 1947, na Organização das Nações Unidas, por intermédio do diplomata Osvaldo Euclydes Aranha, presidiu a assembleia que aprovou a criação do Estado de Israel, em território desmembrado da Palestina. EUDES CABRAL Porto Velho, RO Irrelevante? Um país que mantinha braços abertos para quem o procurasse como abrigo — árabes, judeus, europeus, cansados de guerra, exilados políticos, que aqui se radicaram, sem sofrer preconceito algum, prosperando e, por vezes, destacando-se em altos cargos? Anão? Quando se agigantou com um pequeno e bravo contingente na II Guerra, ajudando a defender a Europa do nazismo, ignorando tendências iniciais de governantes da época? E que tenta resgatar erros do passado longínquo, com oportunidades concedidas a etnias injustiçadas? Que o senhor Yigal Palmor reclame da parcialidade que apequena o governo brasileiro é direito dele. Mas que o faça sem ultrajar um povo que a ninguém discrimina, como ficou demonstrado na Copa de 2014. ESMERALDA ANTONIA BACOS FERNANDES Rio de Janeiro, RJ PALESTINOS VERSAS ISRAELENSES Parabéns a VEJA tanto pelo editorial "A indignação seletiva" quanto pela reportagem "Até que o terror acabe" (30 de julho). Foram impecáveis. VEJA demonstra que se diferencia do "jornalismo bombástico", que utiliza escusos artifícios para gerar simpatia perante a opinião pública e privilegiar os próprios anseios, sejam eles ideológicos, comerciais ou ambos. MAURO WAINSTOCK Rio de Janeiro, RJ A Faixa de Gaza é habitada por um povo palestino refém de um grupo terrorista, facínora, bárbaro: o Hamas. Pretender justificar a ação violenta de Israel sobre a Faixa de Gaza equivale a justificar a morte de reféns para prender o bandido. Quanto aos túneis, se eu quero acabar com os ratos que vêm da casa suja de meu vizinho, busco o local por onde eles estão chegando e os combato. Não posso invadir sua casa, destruí-la e violentar sua família. ALDO FERRARO Florianópolis, SC Meu avô paterno era judeu e teve de fugir da Alemanha nazista para o Brasil em 1938. Um irmão dele, Oskar, que era juiz na Áustria, foi deportado para o campo de concentração Kowno/Kaunas, na Lituânia, onde foi morto, em 1941. Nem por isso consigo entender o estranho endosso de tantos descendentes de judeus às barbaridades que têm caracterizado a forma como o Estado de Israel trata os palestinos. CLÁUDIO JANOWITZER Rio de Janeiro, RJ Israel tem, sim, o direito de se defender; mas deve também acatar as resoluções das Nações Unidas que determinam a descolonização dos territórios palestinos. GERALDO DOS SANTOS RIBEIRO Mogi das Cruzes, SP AEROPORTO EM CLÁUDIO Mas que forma mesquinha o PT vem usando para atacar Aécio Neves ("Caça ao tucano", 30 de julho)! Seria bom rever os doze anos em que o PT esteve no poder e todas as suas irregularidades, em especial o escândalo do mensalão e tantos outros que estão escondidos. ROSÂNGELA ARAÚJO Campo Grande, MS Parabéns pela bela reportagem. O tucano está incomodando os colibris que se equilibram no poder há mais de uma década através do estelionato eleitoral? JOSÉ BATISTA DOS SANTOS FURTADO Unaí (MG), via tablet Esse tipo de aproveitamento só surge em tempo de eleição. ANTONIO MÁRIO SCALAMANDRÉ Natal, RN VEJA abordou o assunto referente ao aeroporto em Cláudio, Minas Gerais, de forma clara e isenta. Esse padrão jornalístico é que a mantém como a mais confiável e respeitada revista do Brasil. WONER MARTINS PROTÁSIO São Luís de Montes Belos, GO J.R. GUZZO No artigo "Uma verdade só" (30 de julho), o colunista J.R. Guzzo retrata muito bem o perfil de moralidade democrática do PT. Segundo a doutrina do partido, só será mantida a democracia no Brasil se a presidente ou gerente for reeleita. O PT, além de tentar denegrir a imagem do candidato Aécio Neves, da oposição, procura atingir a honra intocável de seu avô Tancredo Neves e família, aplaudindo mentiras e difamações virulentas. WALDIR LEÔNCIO CORDEIRO LOPES Brasília, DF A cada dia tem sido mais difícil ler a revista VEJA, com sua campanha velada contra a reeleição da atual presidente e a favor do segundo candidato que aparece nas pesquisas. Gostaria que apenas noticiasse os fatos, com isenção. Nesta semana J.R. Guzzo se superou. O que todos os partidos e políticos fazem só é errado quando é feito por um desafeto. Por que não defende a alternância de poder no governo de São Paulo? GERSIONEY MARQUES DA SILVA Brasília, DF LYA LUFT No seu artigo "O futebol e eu" (30 de julho), a escritora Lya Luft traduziu, de forma brilhante, o sentimento da imensa maioria dos torcedores brasileiros. Esperávamos um comportamento mais profissional e digno dos nossos atletas na Copa de 2014. ANTÔNIO RODRIGUES DE AGUIAR NETO Recife, PE Os atletas de alto rendimento são condicionados a superar as derrotas e focar metas factíveis. O choro dos jogadores brasileiros na seleção mostrou muito amadorismo. ARQUIMEDES DE CASTRO Campina Grande (PB), via tablet DUNGA Já comecei a mudar a minha opinião em relação à aceitação ao novo técnico da seleção brasileira de futebol. Na entrevista "Dunga quer Dungas" (30 de julho), concordo plenamente quando o técnico se refere com clareza ao excessivo chororô, ao boné com a inscrição “Força, Neymar", ao clima de já ganhou, a jogador investindo em imagem, brinquinho, boné torto e querendo ficar na mira dos holofotes. Faltou completar que houve excesso de estrelismo e desprezo aos torcedores e fãs. Sucesso sem estrelismo, Dunga! FRANCISCO JOSÉ VALE VIEIRA Belém, PA Sensacional a entrevista com o técnico Dunga e suas respectivas convicções e teorias sobre o futebol. Aprecio-o muito como profissional e cidadão. Desejo que sua estada na seleção brasileira seja mais bem-sucedida que a anterior e que ele consiga, com bastante tempo, impor um novo trabalho ao time do Brasil. OTÁVIO JOSÉ CARVALHO DUARTE Porto Alegre, RS Dunga tem razão quando critica o chororô na seleção brasileira de futebol; pior foi toda aquela rezaria de jogadores persignando-se e olhando para o céu. Ganha quem joga melhor, não quem fica esperando por ajuda divina. ADHEMAR RAMIRES Brasília, DF Ao ler a entrevista com Dunga, fiquei deprimido. Ele acha que futebol é guerra, tem ódio de craques, rancor do bom futebol. Dunga não está entendendo nada do que queremos nós, brasileiros. Queremos de volta o futebol moleque, alegre, vistoso, como já foi um dia. E ele acha que queremos guerreiros para vencer batalhas. Sabe de nada, inocente! MARCÍLIO MARINHO Rio de Janeiro (RJ), via smartphone Dunga, Gilmar Rinaldi, Taffarel... De volta ao passado! Mais dos mesmos. São todos ervas da mesma cuia. FERNANDO ANTONIO OPICE CREDIDIO Jaraguá do Sul, SC ALEMANHA O futebol, que desenvolvemos como se fosse invenção nossa, de fato mudou de pátria ("O novo país do futebol", 30 de julho). Nas últimas décadas, nunca estivemos tão distantes da técnica, do planejamento, da eficiência e do jogo vistoso de um campeão mundial. Afundamos na visão antiquada, estreita e sem transparência da CBF de Teixeira e Marin, que se "renova" com Del Nero, Gilmar Rinaldi e Dunga. Já a Alemanha, uma nação desenvolvida, ética, justa e austera, abraça de vez o esporte bretão, com o recente e salutar tempero da mistura de etnias. Os alemães conquistaram a Copa com mérito e carisma, mas têm muito mais a nos ensinar fora dos gramados. PEDRO JORGE FONSECA Belo Horizonte, MG Sou alemão e vivo no Brasil há dezesseis anos. Antes da semifinal na Copa, entre Brasil e Alemanha, tive um sonho: o time alemão daria uma goleada no time brasileiro e o impacto da derrota serviria como um catalisador que levaria o Brasil a acelerar a evolução social e a adotar qualidades que caracterizam a sociedade alemã. Depois do jogo pensei que aquele placar incomum de 7 a 1 poderia ser visto assim: o 7 simbolizaria "espírito coletivo e de solidariedade", "senso de responsabilidade e de respeito", "eficiência", "disciplina", "racionalidade", "cordialidade" e "humildade"; o 1 simbolizaria a "alegria de viver" dos brasileiros. Que as lágrimas dos torcedores brasileiros pela derrota sejam recompensadas com um futuro melhor para todos. VEJA conseguiu desenhar uma imagem das qualidades da sociedade alemã (do seu soft power) em poucas frases e com muita clareza. Parabéns pelo excelente jornalismo. DANIEL ISOP Salvador, BA TECNOLOGIA A reportagem "11X1 sem 'apagão'" (30 de julho) é clara sobre quanto o Brasil está atrasado em tecnologia, em comparação com a Alemanha. MÔNICA DELFRARO DAVID Campinas, SP PROPINA NO SETOR DE TRANSPORTES A reportagem "A propina dobrou" (30 de julho) mostra que os partidos, com raras exceções, abrigam pessoas sem escrúpulo nenhum e descompromissadas com o interesse público. Num país sério, o deputado federal João Carlos Bacelar Filho (PR-BA) estaria excluído do Parlamento e receberia punição. ADEMAR MONTEIRO DE MORAES São Paulo, SP BLACK BLOCS Como mostrou a reportagem "De volta às ruas?" (30 de julho), espalhar o caos e destruir bens públicos e particulares não é liberdade de expressão, mas de cometer crimes. CORONEL CAMILO Vereador São Paulo, SP MST O modo de agir dos cidadãos comuns é fortemente influenciado pelos modelos que nos vêm "de cima". A moralização só voltará a ser a regra quando criminosos forem tratados como criminosos: chega de apoio oficial a latifundiários baderneiros que se passam por sem-terra e a ladrões do Erário que posam como figuras históricas da esquerda brasileira ("Cidade sitiada", 30 de julho). LUIZ LIMA DOS SANTOS Coelho Neto, MA BRASIL Está difícil manter alguma dose de otimismo em relação ao Brasil. Por onde olharmos, por onde pesquisarmos, por onde nos inteirarmos de certos atos e ações, quaisquer sinais de otimismo serão banidos para bem longe. A leitura da edição 2384 de VEJA (30 de julho) aprofunda esse sentimento. Ver a presidente Dilma Rousseff ceder às chantagens do PR, com o único intuito de ganhar minutos em sua propaganda eleitoral; a queda de qualidade que se observa na área de atuação do Itamaraty, órgão que sempre teve elevada competência no trato de questões que lhe são afetas; a forma com que a Justiça encara a ação de ativistas, nomenclatura que se utiliza para definir os arruaceiros e baderneiros de plantão; e, por último, a certeza de impunidade que leva o MST a tomar atitudes absolutamente contrárias ao estado de direito me impulsionam, de maneira contínua, a um acelerado estado de pessimismo. ANTÔNIO CARLOS DA FONSECA NETO Salvador, BA FELICIDADE A reportagem "A arte de ser feliz" (23 de julho) me fez refletir sobre um pensamento negativo que perdura na história da humanidade: o excessivo "ter" em detrimento do "ser", em que muitos parecem crer que o prazer efêmero é a única forma de felicidade. Entendo que a verdadeira felicidade não se encontra neste mundo exterior ao indivíduo, mas dentro de cada um de nós, único lugar onde podemos buscar os motivos para que a vida se torne agradável e feliz. MÁRCIO RONALD MALHEIROS Belo Horizonte, MG Muito boa a reportagem. Nascemos para ser felizes; não tente ser infeliz que você vai conseguir. JOEL CHRISTOVAM MACHADO JUNIOR Joinville, SC CORREÇÕES: na página 115 desta edição, a declaração correta do professor Ricardo Mariano sobre a Igreja Universal do Reino de Deus é que ela "abriu igrejas em quase 200 países". • Á carta sobre o artigo de Roberto Pompeu de Toledo publicada na seção Leitor (30 de julho) é de José Elias Alex Neto, de Foz do Iguaçu (PR), e não do leitor Jorge Zagoto, de Vila Velha (ES), que enviou à Redação de VEJA o seguinte comentário sobre o texto de Pompeu: "É ótimo que o futebol tenha voltado a seu nascedouro. Já era passada a hora de o Brasil deixar de ser cognominado 'o país do futebol'; aliás, além dessa, a outra referência que se ouve no exterior, a respeito da nossa pátria, é: 'o país do Carnaval'. Muitos países têm como lembranças os seus valores éticos, morais, artísticos e culturais; enquanto o nosso..." (Jorge Zagoto, de Vila Velha, ES). Aos leitores José Elias Alex Neto e Jorge Zagoto pedimos que aceitem nossas desculpas pela confusão e que continuem nos mandando seus comentários sobre as reportagens e colunas publicadas em VEJA. PARA SE CORRESPONDER COM A REDAÇÃO DE VEJA: as cartas para VEJA devem trazer a assinatura, o endereço, o número da cédula de identidade e o telefone do autor. Enviar para: Diretor de Redação, VEJA - Caixa Postal 11079 - CEP 05422-970 - São Paulo - SP: Fax: (11) 3037-5638; e-mail: veja@abril.com.br. Por motivos de espaço ou clareza, as cartas poderão ser publicadas resumidamente. Só poderão ser publicadas na edição imediatamente seguinte as cartas que chegarem à redação até 3 quarta-feira de cada semana. 1#6 BLOGOSFERA EDITADO POR DANIEL JELIN daniel.jelin@abril.com.br RADAR LAURO JARDIM MAPAS DAS MINAS Quatro bancos entregaram à CPI mista da Petrobras dados referentes às movimentações financeiras de Shanni e Arianna Costa, filhas do notório Paulo Roberto Costa, ex-diretor da estatal e amigo do doleiro Alberto Youssef. www.veja.com/radar COLUNA REINALDO AZEVEDO TERROR PETISTA Cabe perguntar: a partir de agora, as análises que o Santander e os demais bancos oferecerem a seus clientes terão alguma validade ou serão redigidas pelo medo e pela patrulha do PT? www.veja.com/reinaldo COLUNA AUGUSTO NUNES DILMÊS Dilma Rousseff, doutora em preço de gás, diz em sabatina que 13 menos 4 é igual a 7, viaja da Ucrânia para o Japão em menos de um minuto, confunde usina nuclear com furacão e submerge num tsunami. www.veja.com/augusto COLUNA RODRIGO CONSTANTINO A CRISE DA INDÚSTRIA Na gestão petista, o real se valorizou e a inflação disparou. Para empresas que têm custo em real e precisam competir em um mundo globalizado, tal combinação é fatal www.veja.com/rodrigoconstantino SOBRE PALAVRAS SHAMPOO, XAMPU, CHAMPÔ A origem do anglicismo xampu é curiosa por duas razões. A primeira é o fato de que a palavra inglesa shampoo ganhou adaptações gráficas diferentes nos dois lados do Atlântico: o que no Brasil chamamos de xampu é conhecido em Portugal como champô. A segunda curiosidade está na origem do termo inglês. Ele nasceu em meados do século XVIII como um verbo que significava "massagear”. Subproduto do colonialismo britânico, foi importado do híndi champo, imperativo de champna, "pressionar os músculos com os dedos". Demorou cerca de um século para que o verbo to shampoo ganhasse por extensão a acepção de "lavar os cabelos" — massageando-os, naturalmente. www.veja.com/sobrepalavras QUANTO DRAMA! SOFREDORAS Algumas personagens de novela dão a impressão de ter vindo ao mundo apenas para sofrer. Que o diga a Eliane (Vanessa Giácomo/Malu Galli) de Império (Globo, 21h15), que só teve direito a pouco mais de um bloco de felicidade — um caso com o cunhado José Alfredo (Chay Suede) — e depois só fez chorar, numa trajetória à la mexicana, até morrer, no capítulo de segunda-feira. Uma semana foi suficiente para que Eliane entrasse para a galeria das personagens mais sofredoras da ficção, ao lado de Paloma (Paolla Oliveira), de Amor à Vida (2013), Sol (Deborah Secco), de América (2005), Giuliana (Ana Paula Arosio), de Terra Nostra (1999), e Isaura (Lucélia Santos), de Escrava Isaura (1976). www.veja.com/quantodrama NOVA TEMPORADA "PATRÓN” DO MAL O canal +Globosat programou para o dia 15 de setembro a estreia de Pablo Escobar. El Patrón del Mal. Com 113 episódios, a série foi criada por Camilo Cano, filho do jornalista Guillermo Cano, assassinado a mando do chefão do Cartel de Medellín. Foi filmada em Miami, Bogotá, Medellín e Caribe e teve uma das maiores audiências da TV colombiana nos últimos anos. No Brasil, será exibida a versão compacta do seriado, com 72 episódios, em português, sem opção de áudio nem legendas. A vida do traficante morto em 1993 conhecido como "El Patrón", também será retratada em uma série do Netflix, dirigida por José Padilha e estrelada por Wagner Moura, com estreia prevista para 2015. www.veja.com/novatemporada • Esta página é editada a partir dos textos publicados por blogueiros e colunistas de VEIA.com ______________________________________ 2# PANORAMA 6.8.14 2#1 IMAGEM DA SEMANA – O CZAR E SEUS CANHÕES 2#2 HOLOFOTE 2#3 CONVERSA COM CAROLINA FIGUEIREDO – ATENÇÃO, SENHORES PASSAGEIROS 2#4 NÚMEROS 2#5 SOBEDESCE 2#6 DATAS 2#7 RADAR 2#8 VEJA ESSA 2#1 IMAGEM DA SEMANA – O CZAR E SEUS CANHÕES Putin ridiculariza sanções, e seu prestígio aumenta entre a maioria dos russos. • O pior dos regimes autoritários não é o que escraviza seus súditos, mas o que os convence de que está do lado certo. Sob esse prisma, a Rússia de Vladimir Putin é uma obra-prima de manipulação. O controle da informação, a narrativa incessante de que o "Ocidente" quer debilitar a Rússia e as raízes profundas do nacionalismo russo, com tudo o que tem de heroico e de autodestrutivo, produzem uma espécie de realidade invertida. Um exemplo trágico é o caso do avião da Malaysia Airlines, derrubado por um míssil russo — a única dúvida é se era operado por separatistas ucranianos ou diretamente por militares sob as ordens de Moscou. A imagem de quase 300 corpos esmigalhados e espalhados em campos de trigo e girassóis produziu o seguinte resultado na Rússia: 82% das pessoas acreditam que a culpa é das forças regulares da Ucrânia, demonizadas constantemente pela propaganda como inimigas mortais da pátria-mãe. Outra "teoria" quase alucinatória, e possivelmente por isso absorvida pelo público, gerada pela máquina de propaganda é que o serviço de espionagem dos Estados Unidos encheu o avião de cadáveres e o explodiu sobre a Ucrânia. A derrubada do avião de passageiros foi muito provavelmente um erro grotesco, o que não elimina a sua natureza criminosa, mas todo o resto da política de confronto de Putin é minuciosamente planejado. Palavras fortes e sanções fracas como as dos Estados Unidos e dos países europeus, em reação às barbaridades na Ucrânia, aumentam o prestígio e a aura de Putin. Na foto acima, que não foi tirada ao acaso, ele se exibiu à frente do "canhão do czar", uma gigantesca peça de artilharia forjada em 1586 não para disparar, mas para intimidar o inimigo. É uma arte que Putin domina, sabendo que tem o controle de 30% do gás que aquece a Europa e de mais de 80% da alma russa. VILMA CRYZINSKI 2#2 HOLOFOTE • BOLADA NAS COSTAS Não é de hoje que se espalham lendas sobre as motivações do blogueiro Jeferson Monteiro, criador do Dilma Bolada, um perfil do Facebook que tem 1,4 milhão de seguidores e faz sátiras (sempre positivas) sobre a presidente Dilma Rousseff. Há duas semanas, o perfil foi tirado do ar. Jeferson queixou-se de que "estava quase sozinho no meio da tormenta que é a internet". Seis dias depois, o blogueiro reativou o espaço virtual. O problema não era apenas a solidão. Segundo um dirigente do PT, Monteiro tinha a promessa de receber 8000 reais mensais para trabalhar como "consultor" de um site de apoio à campanha de Dilma. Fazer graça na eleição custa caro. • CULPA DA MARINA Antes receoso com o potencial da candidatura de Eduardo Campos (PSB), Lula agora prevê uma derrota fragorosa de seu antigo aliado. Para o petista, Eduardo terá um desempenho pior do que o registrado em 2010 por Marina Silva, que é a vice do socialista. Lula diz que a própria Marina será responsável pelo fracasso de Eduardo, já que impediu a formação de alianças eleitorais e afastou da chapa expoentes do PIB nacional. "O empresariado tem medo da Marina", disse Lula a um aliado. Essa análise não é feita publicamente porque o ex-presidente tem a esperança de que Campos apoie Dilma em um eventual segundo turno da corrida presidencial. • O SANTINHO DE KASSAB A despeito das vaias que já se acostumou a levar de petistas, Gilberto Kassab incluiu no seu material de campanha o nome de Dilma Rousseff. Ele é candidato ao Senado pelo PSD em São Paulo, onde a presidente se aproxima dos 50% de rejeição. Kassab conta com a reciprocidade de Dilma e da ala do PT que não quer nem saber da campanha à reeleição do senador Eduardo Suplicy (PT) — que disputa seu quarto mandato. Um integrante da cúpula petista garantiu que, apesar das vaias, a presidente vai pedir votos para Kassab, que é também presidente nacional do PSD, partido que faz parte da sua chapa em busca da reeleição. • EU SOU O AÉCIO! O último Datafolha mostrou que 19% dos entrevistados não conhecem Aécio Neves. Outros 37% afirmam que dele só ouviram falar. Para popularizar mais o nome do tucano, sua equipe aposta em uma estratégia ousada para os primeiros dez dias de propaganda na TV. Além do horário a que já tem direito, o presidenciável do PSDB pretende aparecer no espaço reservado aos candidatos a deputado estadual e federal. Essa mesma estratégia já foi usada na campanha de Antonio Anastasia, em 2010, quando ele se elegeu governador de Minas. • O HOMEM DO PIRES Depois do escândalo do mensalão, João Vaccari Neto consolidou-se como tesoureiro do PT, substituindo o notório Delúbio Soares. É ele quem passa o pires junto aos empresários, paga fornecedores e, sobretudo, cobra dos militantes o famoso dízimo mensal ao partido. Semanas atrás, Vaccari estava enfurecido com o governador do Distrito Federal, o petista Agnelo Queiroz. "Vou lá cobrar os 6 milhões de reais que ele deve", reclamou a um companheiro de longa data. Seis milhões?! Se o tesoureiro não confundiu os valores, Agnelo, com o salário que ganha, teria de trabalhar 21 anos sem gastar um tostão só para saldar a dívida com o partido – ou não. 2#3 CONVERSA COM CAROLINA FIGUEIREDO – ATENÇÃO, SENHORES PASSAGEIROS Não adianta dar escândalo quando a mala não chega e é melhor não puxar os comissários pelo uniforme, aconselha a aeromoça que tem blog e, em breve, apresentará um programa de rádio para dar dicas de voo. Que coisas estranhas já viu passageiros levarem a bordo? Um deles trouxe uma planta que, no meio da viagem, virou e derrubou terra nas pessoas. Acho esquisito a quantidade de mulheres adultas que levam bicho de pelúcia. Tem um passageiro, já conhecido, que só viaja se lhe dermos um saco de guardanapos e outro de copos plásticos. é um tipo de TOC. É verdade que comissários de bordo comentam muito sobre passageiros? Falamos dos que achamos bonitos ou quando há um famoso. Nos desembarques, brincamos de adivinhar de onde vem determinado avião, com base na roupa da pessoas. Belo Horizonte, São José do Rio Preto e Curitiba são os lugares onde as pessoas mais se arrumam para viajar. É possível evitar o extravio de bagagem? Isso costuma acontecer nas conexões, especialmente quando há troca de companhia aérea. Eu, quando tenho conexão, despacho só até a primeira escala. Daí, pego a mala e despacho novamente. O que não adianta fazer quando se constata que a mala não está na esteira? Gritar e achar que ela vai aparecer assim. Falta de educação faz o funcionário não querer ajudar muito. Para onde vão as malas nunca recuperadas? Para locais chamados lost luggage, nos aeroportos. Há companhias que as leiloam após alguns anos e revertem o dinheiro para crianças carentes. É só o brasileiro que viaja com tantos volumes de mão? É, com certeza, quem carrega mais bagagem. Num voo nacional, é costumeiro embarcar com mala de rodinhas, uma pasta, bolsa ou sacola e mochila; quatro volumes! O que aeromoça detesta? Passageiro que deixa mala no corredor dizendo que não pode carregar peso e que nos puxem pelo uniforme, cutuquem ou chamem com "psiu". 2#4 NÚMEROS 14 dias, no mínimo, é o tempo que terá de esperar quem planeja viajar para os Estados Unidos mas ainda não tirou o visto. Desde sexta-feira, os quatro consulados americanos no Brasil estão fechados. Segundo a embaixada, um problema no programa de computador que analisa os pedidos em todo o mundo é a causa do transtorno. 2 dias apenas era o prazo necessário para agendar um visto americano no Brasil antes da pane, que atinge mais de 170 países e não tem prazo para ser solucionada. 30.000 brasileiros foram afetados pelo problema. No mundo todo, os prejudicados passam de 200.000, segundo estimativa do Departamento de Estado americano. 2#5 SOBEDESCE SOBE • Imigração ilegal - Um centro nos Estados Unidos oferecerá suítes com TV de tela plana, telefone e campo de futebol para até 532 mulheres e crianças que cruzarem a fronteira com o México ilegalmente. • Homicídios no Rio - O número de assassinatos no estado aumentou 13,1% no primeiro semestre deste ano. Foram 2721 mortos, o pior resultado desde 2009. • Lego - Os bloquinhos de montar, tidos como o brinquedo mais popular do século XX, chegaram ilesos ao XXI e inspiraram uma versão digital, o Minecraft, que já é um dos games mais vendidos da história. DESCE • Zhou Yongkang - O governo chinês anunciou que o seu poderoso ex-chefe da segurança é investigado por corrupção. É a primeira vez que um ex-membro do Comitê Permanente do Politburo, órgão supremo do Partido Comunista, cai publicamente em desgraça. • Petrobras - A estatal perdeu para o Google o título de empresa dos sonhos dos jovens brasileiros, posto que ocupava desde 2012. Agnelo Queiroz - Nas pesquisas, o governador (PT-DF) está atrás de seu antecessor, José Roberto Arruda (DEM), preso após ser flagrado em vídeo recebendo propina. 2#6 DATAS MORRERAM Ronaldo Rogério de Freitas Mourão, um dos mais expressivos astrônomos do país. Nascido no Rio de Janeiro, não havia ainda concluído o curso de física na Universidade do Estado da Guanabara — atual Uerj — quando foi convidado para se tornar auxiliar de astrônomo do Observatório Nacional. Graduou-se em 1960 e em 1967 obteve o título de doutor pela Universidade Sorbonne. Como pesquisador, suas maiores contribuições foram no campo das estrelas duplas — aquelas que parecem estar próximas umas das outras quando vistas da Terra pelo telescópio — e dos asteroides. Dedicou-se intensamente à divulgação da astronomia — escreveu na grande imprensa, elaborou os verbetes sobre o assunto no Dicionário Aurélio e fundou o Museu de Astronomia e Ciências Afins. Portador de Parkinson, havia sofrido, semanas atrás, um AVC hemorrágico. Dia 25, aos 79 anos, no Rio. Theodore Van Kirk, último tripulante do Enola Gay, avião que lançou a bomba atômica sobre Hiroshima, no fim da II Guerra Mundial, em 1945. Americano da Pensilvânia, aposentou-se do serviço militar como major em 1946. Jamais se declarou arrependido por ter participado do ataque nuclear à cidade japonesa, que matou cerca de 140.000 pessoas, a maior parte delas instantaneamente. "Estávamos lutando contra um inimigo que tinha a reputação de nunca se render. É muito difícil falar sobre moralidade e guerra na mesma frase", disse ele certa vez. Dia 28, aos 93 anos, na Geórgia. Júlio Grondona, presidente da Federação Argentina de Futebol (AFA), cargo que assumiu em 1979 por seu alinhamento com a ditadura militar que então governava o país, e vice-presidente da Fifa. Sua permanência por tanto tempo no posto era alvo frequente de críticas. Ele exercia um controle incomum sobre os clubes e seu nome foi associado a alguns dos maiores casos de corrupção da entidade máxima do futebol. Sob sua gestão, a Argentina ganhou uma Copa (1986), dois ouros olímpicos (2004 e 2008) e seis Mundiais sub-20. Dia 30, aos 82 anos, em Buenos Aires. Ibsen de Gusmão Câmara, almirante carioca, um dos pioneiros da proteção ambiental no Brasil. Participou da criação de reservas (como a do Atol das Rocas), de unidades de conservação marinha e de parques nacionais (Fernando de Noronha e Abrolhos, por exemplo). Foi vice-chefe do Estado-Maior das Forças Armadas no governo Geisel. Empenhou-se na proibição da caça às baleias e colaborou na redação do capítulo sobre meio ambiente da Constituição. Dia 31, aos 90 anos, de hematoma cerebral, no Rio de Janeiro. Robert Drew, documentarista americano, que consagrou nos EUA o "cinema-verdade". Entre seus mais de 100 filmes destaca-se Primárias (1960), sobre a campanha dos democratas J. Kennedy e H. Humphrey pela indicação à disputa presidencial. Dia 30, aos 90 anos, de septicemia, em Connecticut. James Shigeta, ator havaiano que atuou em Duro de Matar, ao lado de Bruce Willis. Estreou em 1959 em O Quimono Escarlate. No ano seguinte ganhou um Globo de Ouro de revelação. Dia 28, aos 85 anos, em Los Angeles. Fausto Fanti, humorista e um dos criadores do grupo Hermes e Renato, sucesso na MTV no fim dos anos 90. O grupo havia assinado contrato com a Fox para um programa que deveria estrear em 2015. Um amigo o encontrou sem vida em sua casa, com um cinto enrolado no pescoço. Dia 30, aos 35 anos, em São Paulo. 2#7 RADAR LAURO JARDIM ljardim@abril.com.br notas diárias em www.veja.com • DIPLOMACIA. DE VOLTA Dilma Rousseff decidiu mandar o embaixador Henrique Sardinha Pinto de volta a Tel-Aviv já nos próximos dias. Internamente, diz que o recado que desejava foi dado e não quer que a corda com Israel estique mais ainda. EM QUEM VOCÊ VAI VOTAR, SKAF? Paulo Skaf está preparado para responder a qualquer pergunta. Menos uma: "Em quem o senhor vota para presidente?". Skaf e a cúpula de sua campanha temem a pergunta, que, inevitavelmente, será feita, por não terem ainda a resposta que julgam adequada, O dilema é: se ele cravar Dilma Rousseff, perderá um caminhão de votos, dado que seu eleitor é majoritariamente antipetista. Se a descartar, estará rejeitando também Michel Temer, que desde o início é o fiador de sua candidatura no PMDB. Se tentar dizer algo na linha de "o voto é secreto", será tachado de pusilânime. • ECONOMIA É TEMPO DE CAMPANHA 1 Reverbera até hoje no Palácio do Planalto, quase três semanas após ter ocorrido, uma reunião que juntou o presidente da Caixa, Jorge Hereda, o vice Marcos Vasconcelos e os peemedebistas Henrique Eduardo Alves e Eduardo Cunha. Nela, segundo relato detalhado que chegou ao coração do poder, Cunha exigiu que o Fundo de Investimento do FGTS aprovasse generosos aportes na Queiroz Galvão Óleo e Gás e no Estaleiro Atlântico Sul. Se a demanda não fosse aceita, haveria troco: seus representantes no FI-FGTS vetariam o aporte de 2,5 bilhões de reais que o governo queria que o fundo desse à Petrobras para as obras do Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro (Comperj). É TEMPO DE CAMPANHA 2 Resultado da encrenca: na véspera da reunião que definiria o dinheiro para o Comperj, o governo avisou aos conselheiros do fundo, hoje um dos potes de ouro mais desejados pelas empresas e manejados pelos políticos, que estava retirando o pedido da pauta. É TEMPO DE CAMPANHA 3 A Sete Brasil, que constrói sondas de exploração de petróleo, esbarrou numa muralha política. Seu pedido de financiamento de cerca de 1 bilhão de reais à Caixa foi brecado pelo PP, que manda na diretoria responsável por esses empréstimos. Se o financiamento não sair até o fim do ano, os sócios — BTG, Bradesco, Santander, Valia, Funcef, Petros e Previ — terão de tirar dinheiro do bolso e fazer o bilionário aporte. EM BAIXA A propósito, há dois anos, para alugar no Brasil uma sonda de exploração de petróleo, as petroleiras tinham de esperar no mínimo seis meses e pagar uma diária de 450.000 dólares. Hoje, os interessados conseguem a sonda em um mês, por 250.000 dólares por dia. Não é a única evidência de quanto o mercado emagreceu. Agora, paga-se pelos dias de uso efetivo; os ociosos não são contabilizados. Até um tempo atrás, o aluguel era entre seis meses e um ano, não importando a ociosidade. NO ALVO Delfim Netto, mais uma vez, acerta no alvo ao comentar o arroubo autoritário do governo sobre o Santander por causa de um relatório do banco destinado a seus clientes vips. No próximo Canal Livre a ser exibido pela Band, Delfim crava: "O que o banco escreveu é bobagem, mas suas consequências, não. A partir da politização do caso pelo governo e da demissão pelo banco da analista que produziu o relatório, ninguém mais vai acreditar em nenhum informe de banco sobre a economia brasileira". INÍCIO DE NAMORO A Renner e as Lojas Marisa estão conversando. • ELEIÇÕES NO RINGUE Dilma Rousseff decidiu ir a todos os debates das TVs. Pela ordem, Band, SBT, Record e Globo. NAS MÃOS DE DEUS ''Pastor" ou "Bispo" precedem o nome de 260 candidatos a deputado estadual ou federal nestas eleições, o que corresponde a 1,1% do total de candidaturas. Os que pretendem bater ponto na Câmara a partir do ano que vem são 87; já os candidatos às assembleias estaduais somam 173. São Paulo é o estado com mais candidaturas do tipo: 37 • BRASIL DEZ VEZES MAIS CARO As mudanças feitas em julho no Dnit para atender ao PR tiveram efeito imediato nas polêmicas que envolvem o órgão responsável pelas estradas federais. Um edital de 690 milhões de reais foi publicado para contratar uma espécie de consultoria para "assessoramento em gestão pública e engenharia". Cerca de 250 reclamações de associações do setor questionam os valores dez vezes acima dos usuais para uma licitação desse tipo. Por ora, o Ministério dos Transportes adiou a concorrência. SERVIÇOS DE LIMPEZA O Ministério do Meio Ambiente tem sob contrato há dois anos uma empresa de saneamento e limpeza para cuidar dos serviços de... comunicação social da pasta. Trata-se da Liderança Limpeza e Conservação, cuja principal atividade econômica é a "limpeza em prédios e domicílios". Deve, sabe-se lá como, estar fazendo um bom trabalho. Na semana passada, a eclética empresa ganhou nova licitação para cuidar da imagem do ministério. • CONGRESSO PELA DEGOLA André Vargas não convenceu a quem deveria. Relator do seu processo no Conselho de Ética, Júlio Delgado, do PSB de Minas Gerais, apresentará um parecer nos próximos dias descendo a borduna e pedindo a cassação de Vargas. Delgado usará os episódios da atuação no Ministério da Saúde em favor do laboratório-lavanderia Labogen e do uso do jatinho para reafirmar que a relação de Vargas com Alberto Yousseff era para lá de lucrativa. • JUDICIÁRIO A JUSTIÇA TARDA A lentidão salvou a família Schincariol de uma condenação na Justiça do Rio de Janeiro. Em 2005, a Operação Cevada, da Polícia Federal, prendeu os irmãos Adriano e Alexandre Schincariol por sonegação de impostos e fraude no mercado de distribuição de bebidas. A dupla e mais quinze pessoas acabam de escapar de qualquer punição. Simplesmente, o processo prescreveu. • AVIAÇÃO NINGUÉM É DE FERRO Eike Batista vendeu todos os jatinhos e helicópteros que possuía — e não eram poucos. Neste ano, já foi visto algumas vezes pegando avião de carreira para voos internacionais. Mas tudo tem um limite. Quando faz rotas domésticas, nem discute — aluga um jatinho. Um voo Rio-São Paulo-Rio, seu trajeto mais frequente, sai entre 12.000 reais e 55.000 reais, dependendo do modelo do avião. 2#8 VEJA ESSA EDITADO POR RINALDO GAMA “Não estou legalizando (a maconha); estou regulando um mercado que já existe, para que não cresça mais. No fundo, estou lutando contra isso por um caminho mais inteligente.” - JOSÉ MUJICA presidente do Uruguai, falando ao canal alemão Deutsche Welle. O” governo federal (dos EUA) deve revogar a proibição à maconha.” - THE NEW YORK TIMES, diário americano, em editorial. “Meu filho, se tem uma coisa que eu tenho, é experiência em selfie! Dilmarousselfie!” – DILMA ROUSSEFF, presidente da República, diante de jornalistas e assessores, no Palácio da Alvorada, ao aceitar posar para uma série de fotos ao lado de alguns dos presentes, após sabatina organizada pela Folha de S.Paulo, UOL, SBT e Jovem Pan. “Sabe de nada, inocente.” - PAULO SKAF, em vídeo publicado em sua página numa rede social, desmentindo apoio a Dilma Rousseff em São Paulo: a frase é uma referência ao título de uma música do grupo baiano É o Tchan. “O PMDB paulista estará com Dilma e comigo na campanha nacional.” - MICHEL TEMER vice-presidente da República e presidente do PMDB, em telefonema para Paulo Skaf, candidato do partido ao governo de São Paulo com o seu aval. “Esperava receber unzinho.” - EDIVALDO MANOEL SEVINO, ao explicar por que aceitou fazer de sua residência, em Osasco, na Grande São Paulo, uma ''Casa de Eduardo (Campos) e Marina (Silva)", comitê "voluntário" da campanha presidencial do PSB: a declaração foi gravada pela equipe dos candidatos. “Essas câmeras modernas (usadas na TV), que aumentam e mostram tudo, são de enlouquecer.” - JULIANA PAES, atriz, capa da edição de agosto da revista BOA FORMA, que chega às bancas nesta semana. “É estranho ver as pessoas darem mais valor à estética do que a qualquer outra coisa.” - DEBORAH SECCO, atriz, em O Estado de S, Paulo. “O ruim não é ter um inimigo. O ruim é não saber o que o inimigo quer da gente.” - ANTONIO NÓBREGA, músico, dançarino e coreógrafo, no Valor Econômico. “Viva e deixe viver.” - PAPA FRANCISCO, apresentando, à revista dominical do jornal argentino Clarín, o primeiro dos seus dez mandamentos para a conquista da felicidade. "Cuidar da natureza", "Esquecer rapidamente as coisas negativas" e "Buscar a paz" são alguns dos outros conselhos dados pelo sumo pontífice. “A impunidade em casos de abuso por parte da polícia e dos carcereiros é norma.” - HUMAN RIGHTS WATCH, ONG de direitos humanos, em informe sobre tortura e maus-tratos no Brasil. EPÍGRAFE DA SEMANA A pretexto da divulgação dos arquivos de Emílio Garrastazu Médici “Escrever a história é um modo de se livrar do passado.” - J.W. GOETHE, escritor alemão (1749-1832). ________________________________________ 3# BRASIL 6.8.14 3#1 A GRANDE FARSA 3#2 UMA TAREFA ÁRDUA 3#3 PAROU POR AQUI? 3#4 O ATAQUE DA GUERRILHA DIGITAL 3#1 A GRANDE FARSA A CPI da Petrobras foi criada com o objetivo de não pegar os corruptos. Ainda assim, o governo e a liderança do PT no Senado decidiram não correr riscos e montaram uma fraude que consistia em passar antes aos investigados as perguntas que lhes seriam feitas pelos senadores. A trama foi gravada em vídeo. HUGO MARQUES Era tudo farsa. Mas começou parecendo que, dessa vez, seria mesmo para valer. Em março deste ano, os parlamentares tiveram um surto de grandeza institucional. Acostumados a uma posição de subserviência em relação ao Palácio do Planalto, eles aprovaram convites e convocações para que dez ministros prestassem esclarecimentos sobre programas oficiais e denúncias de irregularidades. Além disso, começaram a colher as assinaturas necessárias para a instalação de uma CPI destinada a investigar os contratos da Petrobras. Ventos tardios, mas benfazejos, finalmente sopravam na Praça dos Três Poderes, com deputados e senadores dispostos a exercer uma de suas prerrogativas mais nobres: fiscalizar o governo. O ponto alto dessa agenda renovadora era a promessa de escrutinar contratos firmados pela Petrobras, que desempenha o papel de carro-chefe dos investimentos públicos no país. Na pauta, estavam a suspeita de pagamento de propina a servidores da empresa e o prejuízo bilionário decorrente da compra da refinaria de Pasadena, nos Estados Unidos, operação que jogou a presidente Dilma Rousseff numa crise política sem precedentes em seu mandato. O embate estava desenhado. O Legislativo, quem diria, esquadrinharia o Executivo. Pena que tudo não passou de encenação. O caso de Pasadena parecia ter potencial para desconstruir a imagem de gestora da presidente e atrapalhar sua candidatura à reeleição. Ele ganhou fôlego depois de uma troca de acusações entre os próprios governistas. Primeiro, Dilma disse que votou a favor da aquisição da refinaria, em 2006, quando comandava o Conselho de Administração da Petrobras, com base num parecer "falho" elaborado por Nestor Cerveró, então diretor da área internacional da Petrobras. O parecer teria omitido a existência de duas cláusulas contratuais capitais, o que teria induzido os conselheiros a erro. Integrantes da antiga cúpula da Petrobras reagiram. Ex-presidente da companhia, José Sérgio Gabrielli afirmou que Dilma queria se eximir de uma "responsabilidade" que também era dela. Já Cerveró ameaçou desmentir a presidente se fosse convocado a depor no Congresso, declarando que ela dispunha, sim, de todas as informações necessárias para a tomada de decisão. A mera perspectiva de investigação provocava uma disputa fratricida e desgastava a presidente-candidata a seis meses da eleição. Foi justamente por isso que parlamentares governistas selaram um armistício e, longe dos holofotes, fecharam um acordo espúrio para neutralizar a CPI, proteger-se uns aos outros e, principalmente, salvaguardar a campanha de reeleição de Dilma Rousseff. VEJA teve acesso a um vídeo que revela a extensão da fraude. O que se vê e ouve na gravação é uma conjuração do tipo que, nunca se sabe, pode ter existido em outros momentos de nossa castigada história republicana. Mas é a primeira vez que uma delas vem a público com tudo o que representa de desprezo pela opinião pública, menosprezo dos representantes do povo no Parlamento e frontal atentado à verdade. Com vinte minutos de duração, o vídeo mostra uma reunião entre o chefe do escritório da Petrobras em Brasília, José Eduardo Sobral Barrocas, o advogado da empresa Bruno Ferreira e um terceiro personagem ainda desconhecido. A decupagem do vídeo mostra que, espantosamente, o encontro foi registrado por alguém que participava da reunião ou estava na sala enquanto ela ocorria. VEJA descobriu que a gravação foi feita com uma caneta dotada de uma microcâmera. A existência da reunião e seus participantes foram confirmados pelos repórteres da revista por outros meios — mas a intenção da pessoa que fez a gravação e a razão pela qual tornou público seu conteúdo permanecem um mistério. Quem assiste ao vídeo do começo ao fim — ele acaba abruptamente, como se a bateria do aparelho tivesse se esgotado — percebe claramente o que está sendo tramado naquela sala. E o que está sendo tramado é, simplesmente, uma fraude caracterizada pela ousadia de obter dos parlamentares da CPI da Petrobras as perguntas que eles fariam aos investigados e, de posse delas, treiná-los para responder a elas. Isso equivale a entregar por debaixo do pano a candidatos de um concurso o gabarito das respostas das provas — e ainda ajudá-los a resolver os problemas propostos. Muita gente desonesta conseguiu entrar na universidade por esse caminho torto. Aqui não se trata de obter fraudulentamente uma vaga no ensino superior. O que o vídeo mostra é a armação de uma fraude para tentar impedir que o povo brasileiro viesse a saber os caminhos e descaminhos de um negócio de centenas de milhões de dólares que, de tão contestado, demandou a criação de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI), um dos poucos instrumentos com que o povo ainda conta para investigar e punir os que malversam seu dinheiro. A montagem do alçapão destinado a tragar a CPI no Senado teve a participação de servidores graduados do Palácio do Planalto, da Petrobras, do PT e até do presidente de uma das mais combativas comissões parlamentares da história recente, o senador Delcídio Amaral (PT-MS), que comandou a CPI dos Correios, a investigação que resultou na cassação e prisão de mensaleiros ilustres, como o petista José Dirceu. Barrocas revela no vídeo que até um "gabarito" foi distribuído para impedir que houvesse contradições nos depoimentos. Um escárnio. Um teatro. O Brasil inteiro foi enganado nas transmissões de televisão que mostravam os convocados sendo bombardeados por questionamentos durante horas, no que parecia uma legítima apuração da verdade dos fatos. No dia seguinte, os jornais registravam fielmente em manchetes o desenrolar da CPI. Colunistas e analistas políticos e econômicos faziam suas avaliações, reproduziam entre aspas solenes declarações dos integrantes da comissão. Um trabalho sério, bem-intencionado, mas feito sobre um fundo falso, sobre um jogo combinado entre investigados e investigadores. O momento mais cínico da farsa, descobre-se agora, se deu no depoimento de Cerveró. Depois que o ex-presidente Lula mandou Gabrielli parar de confrontar Dilma, Cerveró se tornou o principal motivo de apreensão do governo porque ameaçara desmentir a presidente diante dos parlamentares. Essa ameaça jamais se consumou. No vídeo, uma das falas de Barrocas desfaz o mistério: ele insistia em saber se estava tudo certo para que chegassem às mãos de Cerveró as perguntas que lhe seriam feitas na CPI. Paulo Argenta, assessor especial da Secretaria de Relações Institucionais da Presidência da República, Marcos Rogério de Souza, assessor da liderança do governo no Senado, e Carlos Hetzel, assessor da liderança do PT na Casa, são citados como peças-chave da tenebrosa transação. A eles coube fazer muitas das perguntas que alimentariam a cadeia de ilegalidades entre investigados e investigadores. Diz Barrocas: "Eu perguntei quem é o autor dessas perguntas. Oitenta por cento é do Marcos Rogério. O Carlos Hetzel fez alguma coisa. O Argenta fez outras". Barrocas conta também que o senador Delcídio Amaral era peça-chave da operação para manter Cerveró sob o cabresto governista. Nada mais natural. Delcídio foi padrinho político do ex-diretor na Petrobras. Quando a crise estourou, o senador fez a ponte entre Cerveró e os bombeiros do governo. Tamanha era a sua ascendência sobre o afilhado que até combinava com ele o que e quando falar com os jornalistas. "Falei: 'Ó Delcídio, compacta aí'. Chamaram ele (Cerveró), deram um curso a ele, media training", declarou Barrocas. Em resposta, o participante da reunião não identificado pela reportagem lembrou que funcionários do departamento jurídico da Petrobras acompanharam o treinamento de Cerveró na véspera do depoimento. Nessa altura do vídeo, em uma alma mais crédula pode surgir a dúvida de que talvez se tratasse de um tumor institucional, mas do tipo benigno. Ou seja, quem sabe os prestimosos funcionários da Petrobras em Brasília não estariam apenas e tão somente fornecendo informações básicas e públicas aos investigados de modo a poupá-los do constrangimento de fornecer dados inexatos sobre a empresa. Essa impressão benigna se dissipa logo. O tumor é maligno. O objetivo era mesmo montar uma farsa com diálogos combinados entre os suspeitos e seus investigadores na CPI. Barrocas diz em alto e bom som no vídeo que a estratégia de combinar as perguntas e as respostas já havia sido usada em 20 de maio, quando Gabrielli depôs na CPI da Petrobras no Senado. O relator da comissão, o petista José Pimentel (CE), a quem respondem Marcos Rogério e Carlos Hetzel, deu o gabarito a Gabrielli — isso mesmo, gabarito, o termo clássico que define um conjunto de respostas corretas a um conjunto de perguntas. Para um candidato ao vestibular, obter o gabarito antes da prova é garantia de aprovação. Pimentel recorre ao ex-presidente da Petrobras José Eduardo Dutra, que hoje ocupa um cargo de direção na empresa, e à atual comandante da companhia, Maria das Graças Foster, para fazer o gabarito da CPI chegar a Gabrielli. "Eu digitalizei e passei para a Graça. Por quê? Porque eu não sabia que era o 'gabarito'. Achei que o Dutra tinha trazido para ele e: 'estuda aí'. Depois que fui lá vi que era o 'gabarito". De posse das perguntas e respostas, Gabrielli, Foster e Cerveró passaram com louvor no teatro da CPI. Todos eles "estudaram aí"! Cerveró ouviu 157 perguntas, das quais 138 do relator Pimentel, dezoito da senadora Vanessa Grazziotin (PCdoB-AM) e uma do presidente da CPI, Vital do Rêgo (PMDB-PB). Os três são da base de apoio a Dilma. Vanessa estava se sentindo dona da situação e tripudiou sobre a oposição: "Lutaram muito para que a CPI fosse instalada, mas agora, em vez de participar, preferem ficar nominando a CPI de 'CPI amiga', de 'CPI chapa-branca'. Com todo esse conjunto de questionamentos? Imagina!". Pois é, senadora Vanessa, com todo esse conjunto de questionamentos conhecidos previamente pelos dois lados da mesa, não foi mesmo uma CPI amiga ou chapa-branca, foi uma CPI que vai demandar uma outra CPI para desvendar até onde foi a ousadia dos fraudadores, para descobrir que outros crimes foram cometidos além daqueles flagrantemente capitulados nos vinte minutos do vídeo. "O poder de fiscalização é a própria essência do Legislativo. Não é normal o depoente ou a testemunha terem acesso às perguntas previamente. Isso facilita a vida deles e atrapalha o processo de investigação", disse o senador Vital do Rego, presidente da Comissão de Constituição e Justiça da Casa. Como é bom advogado, pego de surpresa, Vital deu uma resposta política. Procurados por VEJA, Gabrielli, Dutra, Barrocas e Bruno não quiseram comentar o caso. Paulo Argenta disse que não tem nada a ver com isso. A Petrobras declarou, protocolarmente, que colabora com as investigações em andamento. Delcídio Amaral disse que deu apenas sugestões a Cerveró quando o ex-diretor participou de uma audiência pública na Câmara, em abril, antes da instalação da CPI da Petrobras. "Eu sugeri que ele fosse técnico, tivesse um viés empresarial e não titubeasse em relação ao assunto." O senador reconheceu que manteve contato com Barrocas, mas negou que tenha participado da orquestração para vazar as perguntas e combinar as respostas. Carlos Hetzel admitiu que fez perguntas direcionadas aos ex-diretores e disse que entregou o material ao relator Pimentel. "Se eu souber que as perguntas chegaram às mãos dos investigados, denuncio à Polícia Federal." Marcos Rogério também se mostrou assustado com a possibilidade de as perguntas que formulou terem sido passadas aos investigados. Como diria o Ricardo III de Shakespeare: "Agora que as feridas fecharam / e a paz voltou / que ela tenha longa vida entre nós / Amém!". Pena que não é teatro. A ARMAÇÃO O chefe do escritório da Petrobras em Brasília, José Eduardo Barrocas, recebeu antecipadamente as perguntas que seriam feitas pelos parlamentares a Sérgio Gabrielli, ex-presidente da estatal e um dos investigados pela CPI. Entre os autores das perguntas, havia até um funcionário da Presidência da República. “As do Gabrielli eu digitalizei e passei para a Graça (Foster, atual presidente da Petrobras). Não sabia que era o gabarito (...) Mandaram ele vir para cá." José Eduardo Barrocas, chefe do escritório da Petrobras em Brasília. FRAUDE E ESPIONAGEM A trama para enganar a CPI foi gravada pelos próprios funcionários da Petrobras em uma caneta filmadora. No vídeo, que dura vinte minutos, o chefe do escritório da estatal em Brasília, José Eduardo Barrocas, está reunido com o advogado Bruno Ferreira e um terceiro homem não identificado pela reportagem. No material, gravado em 21 de maio, véspera do depoimento do ex-diretor Nestor Cerveró, os funcionários da Petrobras revelam que recebem antecipadamente as perguntas que serão feitas no Congresso e as repassam aos investigados. "Eu perguntei da onde, quem é o autor dessas perguntas. Oitenta por cento é o Marcos Rogério (assessor da liderança do governo no Senado). Ele é o responsável por isso aí. Ele disse hoje que o Carlos Hetzel (assessor da liderança do PT) fez alguma coisa, o Paulo Argenta (assessor especial da Secretaria de Relações Institucionais da Presidência da República) fez outras." - José Eduardo Barrocas, chefe do escritório da Petrobras em Brasília. "Qual a estratégia em termos de orientação ao Cerveró?" - Bruno Ferreira, advogado da Petrobras. "Assim como o Dutra (José Eduardo Dutra, ex-senador e diretor da Petrobras) trouxe para a BR, talvez o Delcídio esteja levando para o Cerveró. (...) Será que o Delcídio já levou as perguntas para ele?" - Homem não identificado pela reportagem. A FREPÁRAÇÍO Apontado pela presidente Dilma como o responsável pelo relatório "falho" que acabou resultando na compra da refinaria a um preço muito acima do previsto, o ex-diretor Nestor Cerveró recebeu tratamento vip às vésperas do seu depoimento ao Congresso. Outra vez, os advogados da Petrobras tiveram acesso prévio às perguntas que seriam feitas pelos parlamentares. "Chamaram ele, deram um curso para ele, media training.” José Eduardo Barrocas OS ENVOLVIDOS A encenação para enganar o Congresso contou com o apoio de dirigentes da Petrobras, de funcionários da liderança do PT no Senado, de um assessor da Secretaria de Relações Institucionais da Presidência da República e de parlamentares do partido. O chefe da Petrobras em Brasília disse que o encarregado da aproximação com Nestor Cerveró foi o senador Delcídio Amaral (PT-MS). “Nós pedimos ao Delcídio para conversar com ele.” José Eduardo Barrocas ENSAIO - Nestor Cerveró prestou um "contundente" depoimento à CPI. O que ninguém sabia — ou quase ninguém — é que tudo tinha sido combinado antes. POR FAX - A presidente Graça Foster recebeu as perguntas da CPI por meio do chefe do escritório da empresa em Brasília. "GABARITO" - O ex-senador José Eduardo Dutra, atual diretor da Petrobras, é citado como o responsável pelo apoio logístico a Sérgio Gabrielli e também ter conseguido o material que deveria ser restrito à CPI. MEIO DE CAMPO - O senador Delcídio Amaral nunca escondeu suas relações com o ex-diretor Nestor Cerveró, com quem trabalhou na Petrobras por muitos anos. Ele, porém, nega que tenha feito algum tipo de movimento para ajudá-lo, ao contrário do que relatou o do escritório da estatal em Brasília. COM REPORTAGEM DE ADRIANO CEOLIN 3#2 UMA TAREFA ÁRDUA A terceira edição do Ranking de Gestão dos Estados mostra que o Brasil ainda não teve êxito em levar as condições ideais de investimento para além das regiões Sul e Sudeste. ANA CLARA COSTA O Brasil é um país onde uma fatia desmesurada de poder e recursos se concentra nas mãos do governo federal. Isso obscurece a importância dos estados na criação de instituições fortes — tão cruciais para o desenvolvimento quanto as políticas que emanam do Planalto. Desde 2011, o Centro de Liderança Pública (CLP) e a Unidade de Inteligência da Economist (EIU, na sigla em inglês) vêm lançando luz sobre esse problema, ao produzir o Ranking de Gestão dos Estados. O estudo leva em conta 26 indicadores, que vão desde a infraestrutura até os níveis de criminalidade, passando por fatores como burocracia, corrupção e disponibilidade de mão de obra qualificada. Em sua terceira edição, divulgada na semana passada, ele mostra que a tarefa de tornar mais estados brasileiros atrativos para o investidor — especialmente o estrangeiro — se mantém árdua. Como nos levantamentos anteriores, apenas seis unidades da federação ostentam as condições ideais para quem quer empreender. São Paulo e Rio de Janeiro permanecem na dianteira. Paraná e Santa Catarina se destacaram galgando posições. O Rio Grande do Sul preservou o quarto lugar, ao passo que Minas Gerais oscilou do terceiro para o sexto. "O ranking quer fortalecer o federalismo", diz o presidente do CLP, Luiz Felipe d’Avila. "Ele ajuda os estados a constatar onde estão as oportunidades e o que precisa ser melhorado. Ou seja, abre um horizonte para que exerçam sua autonomia." Embora o ranking não tenha sofrido grande modificação em sua essência, há nuances que devem ser destacadas. A aprovação do Novo Código Florestal, no fim de 2012, foi o fator isolado que mais influiu na medição. A melhora na legislação ambiental que se observou desde então fez com que a pontuação média geral dos estados passasse de 41,5 para 43, na comparação com o ano anterior. Paraná e Santa Catarina mostraram avanço em quase todos os indicadores, daí o seu salto na classificação geral. A melhoria no ambiente econômico — que leva em conta sobretudo a renda per capita, o tamanho do mercado local e os níveis de investimento — foi comum a esses dois estados e apenas a dois outros, Mato Grosso do Sul e Rio Grande do Sul. Outra boa notícia veio de Alagoas, Amapá, Mato Grosso, Pará, Rondônia e Roraima, que tiveram desempenho positivo nos indicadores que medem o ambiente político: reduziram-se os casos de corrupção em órgãos públicos. Uma tendência detectada pelo estudo foi a queda no crescimento do mercado local em estados nordestinos. Para o britânico Robert Wood, analista da EIU responsável pela pesquisa, há uma constatação clara a ser feita: a política de distribuição de renda que se consolidou com o governo petista tem limites e o Nordeste evidencia isso. “A região é populosa e seu potencial é inegável. Contudo, os avanços dos últimos anos estão muito relacionados ao aumento do salário mínimo e às políticas de transferência de renda que já não podem crescer como antes", diz ele. Burocracia e segurança foram outros aspectos que puxaram para baixo a média geral brasileira. O levantamento, que é atualizado anualmente, mostra um Brasil que tenta avançar — mas que ainda precisa enfrentar o desafio das reformas estruturais. Mesmo o Estado de São Paulo, o maior centro de negócios da América Latina, avançado o bastante para atrair investimentos em setores como tecnologia e finanças, poderia dar um salto caso simplificasse o seu sistema tributário. "Há uma lição de casa a ser feita na questão dos impostos. E São Paulo ainda não fez", diz D’Avila. Às vésperas das eleições, o ranking é leitura obrigatória para os gestores públicos interessados em solucionar os problemas brasileiros — e não apenas em ganhar nas urnas. "Em todos os níveis de governo, melhorar a eficiência da máquina pública e aumentar investimentos deve ser a agenda de quem assumir um cargo em 2015", diz Wood. ENTENDA A METODOLOGIA Pelo terceiro ano consecutivo, o Ranking de Gestão dos Estados Brasileiros avaliou as condições das 27 unidades da federação para atrair investimentos estrangeiros. Foram analisados 26 indicadores em oito categorias. Para definir as notas, a Unidade de Inteligência da Economist, consultoria vinculada à revista britânica The Economist, compilou relatórios jurídicos, publicações acadêmicas e de governos e sites de autoridades, bem como organizações que acompanham o trabalho dos gestores públicos. O resultado em cada quesito foi ponderado em uma fórmula matemática e convertido para uma escala de zero a 100 para cada estado. RANKING Média Nacional 43 SP – MUITO BOM Média: 77,2 Posição em 2013: 1º Posição em 2012: 1º Posição em 2011: 1º VARIAÇÃO ENTRE 2012 e 2013: - RJ – BOM Média: 72,3 Posição em 2013: 2º Posição em 2012: 2º Posição em 2011: 2º VARIAÇÃO ENTRE 2012 e 2013: - PR – BOM Média: 63,9 Posição em 2013: 3º Posição em 2012: 5º Posição em 2011: 5º VARIAÇÃO ENTRE 2012 e 2013: + 2 RS – BOM Média: 63,5 Posição em 2013: 4º Posição em 2012: 4º Posição em 2011: 4º VARIAÇÃO ENTRE 2012 e 2013: - SC – BOM Média: 61,9 Posição em 2013: 5º Posição em 2012: 6º Posição em 2011: 6º VARIAÇÃO ENTRE 2012 e 2013: +1 MG – BOM Média: 60,2 Posição em 2013: 6º Posição em 2012: 3º Posição em 2011: 3º VARIAÇÃO ENTRE 2012 e 2013: -3 DF – MODERADO Média: 48,8 Posição em 2013: 7º Posição em 2012: 8º Posição em 2011: 7º VARIAÇÃO ENTRE 2012 e 2013: +1 MS – MODERADO Média: 48,5 Posição em 2013: 8º Posição em 2012: 12º Posição em 2011: 11º VARIAÇÃO ENTRE 2012 e 2013: +4 ES – MODERADO Média: 47,5 Posição em 2013: 9º Posição em 2012: 7º Posição em 2011: 8º VARIAÇÃO ENTRE 2012 e 2013: -2 GO – MODERADO Média: 47,5 Posição em 2013: 9º Posição em 2012: 10º Posição em 2011: 10º VARIAÇÃO ENTRE 2012 e 2013: +1 MT – MODERADO Média: 45,7 Posição em 2013: 11º Posição em 2012: 13º Posição em 2011: 16º VARIAÇÃO ENTRE 2012 e 2013: +2 AM – MODERADO Média: 45 Posição em 2013: 12º Posição em 2012: 9º Posição em 2011: 13º VARIAÇÃO ENTRE 2012 e 2013: -3 BA – MODERADO Média: 43 Posição em 2013: 13º Posição em 2012: 11º Posição em 2011: 9º VARIAÇÃO ENTRE 2012 e 2013: -2 PE – MODERADO Média: 42,1 Posição em 2013: 14º Posição em 2012: 14º Posição em 2011: 12º VARIAÇÃO ENTRE 2012 e 2013: - CE – MODERADO Média: 41,1 Posição em 2013: 15º Posição em 2012: 15º Posição em 2011: 15º VARIAÇÃO ENTRE 2012 e 2013: - SE – MODERADO Média: 37,9 Posição em 2013: 16º Posição em 2012: 16º Posição em 2011: 14º VARIAÇÃO ENTRE 2012 e 2013: - AL – MODERADO Média: 34,1 Posição em 2013: 17º Posição em 2012: 22º Posição em 2011: 17º VARIAÇÃO ENTRE 2012 e 2013: +5 PB – MODERADO Média: 33,3 Posição em 2013: 18º Posição em 2012: 18º Posição em 2011: 18º VARIAÇÃO ENTRE 2012 e 2013: - PA – MODERADO Média: 33,2 Posição em 2013: 19º Posição em 2012: 17º Posição em 2011: 19º VARIAÇÃO ENTRE 2012 e 2013: -2 AC – MODERADO Média: 31,2 Posição em 2013: 20º Posição em 2012: 21º Posição em 2011: 25º VARIAÇÃO ENTRE 2012 e 2013: +1 RN – MODERADO Média: 30,2 Posição em 2013: 21º Posição em 2012: 20º Posição em 2011: 23º VARIAÇÃO ENTRE 2012 e 2013: -1 RR – MODERADO Média: 29,5 Posição em 2013: 22º Posição em 2012: 23º Posição em 2011: 23º VARIAÇÃO ENTRE 2012 e 2013: +1 RO – MODERADO Média: 28,9 Posição em 2013: 23º Posição em 2012: 19º Posição em 2011: 20º VARIAÇÃO ENTRE 2012 e 2013: -4 TO – MODERADO Média: 28 Posição em 2013: 24º Posição em 2012: 23º Posição em 2011: 21º VARIAÇÃO ENTRE 2012 e 2013: -1 PI – RUIM Média: 24,9 Posição em 2013: 25º Posição em 2012: 25º Posição em 2011: 26º VARIAÇÃO ENTRE 2012 e 2013: - MA – RUIM Média: 23,2 Posição em 2013: 26º Posição em 2012: 26º Posição em 2011: 22º VARIAÇÃO ENTRE 2012 e 2013: - AP – RUIM Média: 18,6 Posição em 2013: 27º Posição em 2012: 27º Posição em 2011: 27º VARIAÇÃO ENTRE 2012 e 2013: - 3#3 PAROU POR AQUI? O PT expulsa deputado acusado de lavar dinheiro para o PCC. A decisão preserva o candidato Alexandre Padilha, mas deixa intacta a raiz do problema. Ex-assaltante, ex-presidiário, ex-foragido da Justiça, o deputado estadual Luiz Moura é agora um ex-petista também. Ele foi expulso do partido na semana passada para "conter o dano à imagem" do PT, como admitiu o presidente do diretório paulista, Emídio de Souza. Em março, Moura foi flagrado em uma reunião com integrantes do PCC, a facção criminosa Primeiro Comando da Capital. Investigado, viu sua situação piorar progressivamente. Na terça-feira, o jornal O Estado de S. Paulo revelou que o deputado foi sócio de uma empresa suspeita de lavar dinheiro para o PCC. Dias depois, uma investigação do Departamento Estadual de Investigações Criminais (Deic) a que VEJA teve acesso trouxe a suspeita de que ao menos oito postos de gasolina dos quais o deputado foi ou continua sendo sócio serviram para o mesmo fim: dar aparência legal a dinheiro do crime. A acusação que pesava contra Moura, portanto, de ser íntimo de uma facção criminosa em poucos meses evoluiu para a de prestar serviços a ela. Por essa suspeita, ele será investigado pelo Ministério Público, que aguarda autorização do Tribunal de Justiça. O PT decidiu se livrar rapidamente do deputado Moura para evitar que as notícias sobre suas relações com bandidos respingassem na já combalida campanha ao governo paulista do ex-ministro da Saúde Alexandre Padilha (4% das intenções de voto) e contribuíssem para derrubar a já bastante derrubada popularidade do prefeito Fernando Haddad (47% de rejeição), ambos do PT. Mas a expulsão de Moura serviu também para poupar de desgastes e dissabores alguns dos companheiros mais umbilicalmente ligados ao deputado. Um deles é seu irmão, o vereador pelo PT Senival Moura, "dono" de um importante reduto eleitoral que, conhecido como "Mouralândia", concentra bairros pobres do extremo leste da capital paulista, como Guaianases e Cidade Tiradentes. Os outros companheiros íntimos que, ao menos por ora, podem respirar aliviados com a saída de cena do deputado Moura são os irmãos Jilmar e Jair Tatto. Jilmar, padrinho político do agora ex-petista e atualmente secretário de Transportes, já foi acusado de ligações com o PCC, a exemplo do afilhado. Jair Tatto, vereador, é tão amigo de Moura que, no ano passado, fez questão de agradá-lo concedendo a sua mãe, Ivete, o título de cidadã paulistana em cerimônia realizada na Câmara Municipal de São Paulo. Moura não está mais no PT, mas os bons amigos que deixou no partido prometem honrar sua obra. FELIPE FRAZÃO E LUCIANO PÁDUA 3#4 O ATAQUE DA GUERRILHA DIGITAL Petistas se escondem sob o anonimato da internet para espalhar calúnias sobre adversários. O mais grave: usam recursos públicos. A internet se estabeleceu como o campo das batalhas políticas mais sujas das campanhas eleitorais deste ano. Espalham-se mentiras, em formato de memes — vídeos, fotos e frases virais —, por redes sociais, blogs e sites criados exclusivamente para tal. Nessa guerra virtual os guerrilheiros digitais utilizam técnicas on-line condenáveis, como a elaboração de perfis falsos no Facebook, a manipulação de verbetes do site Wikipedia e fazendas de links (a proliferação automática de sites para aumentar a relevância do conteúdo on-line). Na semana passada, veio à tona um caso que mostra que petistas chegam a usar recursos públicos, pagos com dinheiro de contribuintes, em suas artimanhas digitais. Ao menos onze computadores do Planalto foram utilizados, entre 2008 e 2014, para editar artigos na enciclopédia virtual Wikipedia em prol da presidente Dilma Rousseff e de seu ex-ministro da Saúde Alexandre Padilha, candidato do PT ao governo de São Paulo. Não se trata de prática isolada. Documentos a que VEJA teve acesso, que contêm uma série de processos judiciais que correm em segredo de Justiça, revelam que as quadrilhas têm como praxe usufruir a máquina pública para disseminar mentiras pela internet. No caso da enciclopédia Wikipedia, cruzaram-se endereços de IP (o número de registro virtual de cada computador) utilizados para alterar páginas do site — onde qualquer um pode editar os verbetes — com informações do Serviço Federal de Processamento de Dados e da Presidência da República. Detectaram-se inclusão de elogios e exclusão de críticas a petistas, além de ataques ao ex-governador de São Paulo José Serra, feitas por IPs de computadores do Palácio do Planalto. Em 2013, por exemplo, uma conexão de internet da Presidência foi usada para remover trecho do verbete sobre Padilha, no qual o ex-ministro é colocado como alvo de investigações por suspeitas de irregularidades na Funasa em 2004, quando era diretor do órgão, e para incluir elogios ao programa federal Mais Médicos. Os processos judiciais analisados por VEJA mostram quão comum é a utilização de recursos públicos para a criação de perfis falsos e notícias caluniosas. A ex-funcionária pública Nataly Galdino Diniz, depois exonerada do cargo, acessava computadores da Secretaria de Comunicação da Prefeitura de Guarulhos para administrar perfis falsos do senador Aécio Neves, candidato à Presidência pelo PSDB, no Facebook. Por eles, falava como se fosse Aécio. Nataly é nora do vereador petista Samuel Vasconcelos. Em outro caso, Alessandro Biazzi Couto, funcionário da Eletrobras, é suspeito de utilizar máquinas da estatal federal para gerenciar softwares que postavam automaticamente comentários caluniosos contra Aécio. Ele faria parte de um grupo de guerrilheiros digitais que incluiria ainda uma professora da Universidade Federal do Rio de Janeiro, que atuava por meio de computadores da instituição. Há ainda casos similares ao menos na Universidade de São Paulo e na Universidade Federal de Juiz de Fora. Disse a advogada Juliana Abrusio, do escritório Opice Blum, especializado em direito digital e que atende Aécio: "Há um padrão de atuação que mostra que essas ações são orquestradas de forma profissional. Merece atenção por frequentemente se identificar desvio de recursos públicos, humanos e técnicos, para promover campanhas on-line ilegais". No feriado de Páscoa deste ano, o PT organizou o evento Camping Digital, em São José dos Campos (SP), no qual ensinou militantes a espalhar elogios a Dilma Rousseff e mentiras sobre adversários. Uma das táticas é a instalação do sistema operacional Linux Tails e do navegador de internet Tor, que mascaram IPs de computadores que acessam a internet. Partidos chegam a remunerar militantes dedicados à propagação de memes pela internet. Há processos em andamento, sob sigilo de Justiça, que investigam os sites preferidos pelos militantes virtuais (veja o quadro na pág. 68). Um é o Muda Mais, da campanha de Dilma. O endereço foi hospedado em provedor estrangeiro para manter o anonimato do dono do site e servir de subterfúgio para a propaganda eleitoral antecipada do PT. Após a liberação oficial da campanha, a página passou a exibir como titular a Polis Propaganda, do marqueteiro João Santana. É natural que o meio de comunicação mais usado no planeta sirva de palco para o debate político. Só se deve cuidar para que elementos intrínsecos da rede, como a facilidade de opinar sobre tudo sem se identificar, não virem arma para que militantes, sob o manto do anonimato, disseminem mentiras que podem confundir eleitores. Ainda mais danoso é detectar que a guerrilha digital tem utilizado recursos públicos para alimentar suas estratégias. Nos Estados Unidos ocorreu algo similar. Revelou-se neste ano que membros do Congresso usavam o acesso à internet da Casa para editar verbetes no Wikipedia de forma jocosa. Entre as alterações, o ex-secretário de Defesa americano Donald Rumsfeld passou a ser descrito como um "lagarto alien que se alimenta de bebês mexicanos'". No caso americano, achou-se solução: foi desenvolvido um software que detecta quando um IP do Congresso edita textos na Wikipedia, e as alterações são exibidas no Twitter. No Brasil, um usuário do Twitter tenta fazer o mesmo em um perfil criado na semana passada. OS INVESTIGADOS Processos judiciais correm contra os seguintes sites que espalharam notícias falsas sobre o senador Aécio Neves, candidato à Presidência pelo PSDB. OS PERFIS FALSOS Facebook - Militantes criaram uma série de páginas e as atribuíam a Aécio, como a Aécio Boladasso. A investigação chegou a uma das autoras, Nataly Galdino Diniz, funcionária pública e nora do vereador petista Samuel Vasconcelos. Ela usava computadores da prefeitura de Guarulhos para administrar os perfis. YAHOO! - Fizeram um perfil com o nome de Aécio Neves no site Yahoo! Respostas para responder grosseiramente a perguntas feitas por eleitores. Ainda não se sabe quem foram os autores. FONTES DE NOTÍCIAS MENTIROSAS Poços10 - O site é suspeito de criar e espalhar por páginas mais acessadas, a exemplo do Facebook, a história de que a ex-mulher de Aécio o acusaria de "levar malas de dinheiro e diamantes para Aspen". Muda Mais - O endereço foi hospedado em provedor estrangeiro para manter o anonimato do dono do site e servir de subterfúgio para a propaganda eleitoral antecipada do PT, antes de a campanha ser liberada pela Justiça (a manobra é ilegal). Espalha memes de Aécio. ___________________________________________ 4# ECONOMIA 6.8.14 4#1 RISCOS E AMEAÇAS DE 2015 4#2 O QUE DIZEM OS CANDIDATOS 4#1 RISCOS E AMEAÇAS DE 2015 Os fantasmas sobre a economia e seu impacto eleitoral entram no cenário das consultorias, mas o PT tenta barrar o mensageiro das notícias ruins. GIULIANO GUANDALINI INFLAÇÃO - O índice estourou o limite da meta de 6,5%, mesmo com o represamento de reajustes, como os das tarifas de energia e dos combustíveis. ENERGIA - O custo do uso intensivo das usinas termelétricas, desde o ano passado, passou de 50 bilhões de reais. Pagar essa conta exigirá um aumento de até 20% nas tarifas. CONTAS PÚBLICAS - O governo deveria poupar o equivalente a 2% do PIB para evitar o aumento de sua dívida. Sem levarem conta as receitas extraordinárias, esse superavit caiu praticamente a zero. COMBUSTÍVEIS - O Preço da gasolina e do diesel está defasado em 15%, o que faz a Petrobras perder 1,5 bilhão de reais por mês e reduz a competitividade do etanol. TAXA DE CÂMBIO - No último ano, o Banco Central fez uma intervenção de 90 bilhões de dólares no mercado cambial para estabilizar o dólar, impedindo uma alta acentuada. BANCOS PÚBLICOS - O Tesouro já emprestou 500 bilhões de reais ao BNDES e à Caixa para sustentar o aumento do crédito com taxas subsidiadas. O governo eleito em outubro enfrentará questões difíceis logo depois da posse, em 1º de janeiro de 2015. Uma quantidade crescente de contas e desajustes na economia foi convenientemente postergada por Dilma Rousseff para depois das eleições, mas essas faturas pendentes terão de ser encaradas assim que os votos forem contados. A despesa com as usinas termelétricas, por exemplo, usadas para produzir energia diante da queda nos reservatórios, já passou de 50 bilhões de reais. As distribuidoras de energia acumulam grandes prejuízos, penalizando os investimentos, mas o governo adia os reajustes necessários na conta de luz e não explica como o rombo será coberto. "É uma herança da pior espécie que ficará para o próximo presidente", afirma o economista Raul Velloso, especialista em finanças públicas. "Esse é apenas o caso mais urgente. Existem diversas outras dificuldades vindas daquilo que chamo de populismo tarifário." Uma delas é a defasagem no preço da gasolina e do diesel. A Petrobras, obrigada a cumprir o determinado pelo Planalto e não o esperado de uma empresa com acionistas privados cujo objetivo deveria ser a rentabilidade, perde mais de 1 bilhão de reais por mês ao vender os combustíveis por um preço abaixo do pago na importação. A despeito desses represamentos de reajustes, a inflação permanece elevada, rodando no limite superior da meta. Ao mesmo tempo, o Banco Central faz intervenções pesadas no mercado cambial, que já somam 90 bilhões de dólares, com o objetivo de evitar uma alta mais acentuada do dólar. Sem isso, as pressões inflacionárias seriam ainda maiores. Existe ainda um volume enorme de crédito com recursos subsidiados liberado nos últimos anos, com um custo a ser coberto pelo Tesouro, seja pela elevação de impostos, seja pelo crescimento da dívida pública. Por fim, lembra Velloso, houve um grande aumento no endividamento de estados e municípios nos últimos meses, o que, juntamente com as despesas avançando acima das receitas no governo federal, tornará dificílimo cumprir as metas de superavit fiscais necessárias para conter o aumento da dívida pública. Com o acúmulo de tantos fantasmas assombrando o próximo governo, os empresários e investidores colocaram-se em posição de cautela. Preferem adiar projetos e investimentos até que haja mais clareza sobre o que acontecerá a partir do próximo ano. A incerteza em relação a quem sairá vitorioso e, principalmente, à maneira como esses desacertos serão resolvidos colocou a economia em um estado de paralisia. Um exemplo: no primeiro semestre, nenhuma empresa abriu o capital e iniciou a venda de ações na Bolsa de São Paulo, algo que não ocorria fazia dez anos. Cada candidato promete enfrentar de modo diferente essas e outras questões em aberto na economia. Com a reeleição de Dilma, espera-se a manutenção de uma política econômica não muito distinta da atual. Já os principais candidatos de oposição, Aécio Neves e Eduardo Campos, prometem uma correção de rumo logo no início do mandato. É impossível, portanto, dissociar o futuro da economia do resultado das urnas. Da mesma forma, é natural que as consultorias econômicas incorporem as análises eleitorais nos cenários de seus relatórios. Foi exatamente isso que fez o banco Santander ao enviar a seus clientes de alta renda, junto com o extrato do último mês, um texto em que dava orientações sobre o comportamento das aplicações em face das pesquisas eleitorais. Segundo a análise, a queda na popularidade de Dilma favoreceu a valorização das ações, mas o quadro pode mudar. Afirma o texto: "Se a presidente se estabilizar ou voltar a subir nas pesquisas, um cenário de reversão pode surgir. O câmbio voltaria a se desvalorizar, juros longos retomariam alta e o índice Bovespa cairia, revertendo parte das altas recentes". A análise do Santander nada traz de particularmente novo. Desde março, com a queda de Dilma nas pesquisas, as ações das empresas mais afetadas pelas atuais políticas do governo recuperaram valor. Os papéis da Petrobras tiveram valorização superior a 40% em seis meses. Quanto mais Dilma cai, mais a estatal sobe na bolsa. O assunto, inclusive, foi tema de uma reportagem de capa de VEJA em abril. O teor do texto do Santander é similar ao de diversas análises publicadas por outras consultorias, brasileiras e internacionais, nas últimas semanas (veja o quadro ao lado). A campanha de Dilma, entretanto, resolveu tratar o caso como um escândalo. "É inadmissível para qualquer país, principalmente um país que é a sétima economia do mundo, aceitar qualquer nível de interferência de qualquer integrante do sistema financeiro, de forma institucional, na atividade eleitoral e política", afirmou Dilma. O presidente do PT, Rui Falcão, condenou: ''É uma coisa que nos prejudica. Espero que daqui para a frente nem o Santander nem nenhuma outra instituição incorra nesse tipo de atividade". O ex-presidente Lula, falando em uma reunião da Central Única dos Trabalhadores, a CUT, pediu que o presidente mundial do banco, o espanhol Emilio Botín, demitisse o responsável pelos comentários. "Botín, é o seguinte, querido. Eu tenho consciência de que não foi você que falou, mas essa moça tua que falou não entende p. nenhuma de Brasil e não entende nada de governo Dilma", disse Lula. "Manter uma mulher dessa em um cargo de chefia? Pode mandar embora e dar o bônus dela para mim". O banco confirmou a demissão de uma pessoa e também divulgou uma nota na qual diz que "adota critérios exclusivamente técnicos em todas as análises econômicas, sem nenhum viés político" e afirma que o texto em questão "pode permitir interpretações que não são aderentes a essa diretriz". A consultoria econômica Empiricus também ficou no foco. O PT pediu ao Tribunal Superior Eleitoral, o TSE, que suspendesse a veiculação de dois vídeos promocionais na internet com orientações de investimento, com os títulos "Como se proteger da Dilma: saiba como proteger seu patrimônio em caso de reeleição da Dilma" e "E se o Aécio Neves ganhar? Que ações devem subir se o Aécio ganhar a eleição? Descubra aqui, já". O PT viu nisso tentativa de interferência eleitoral, e o pedido foi acatado pelo ministro Admar Gonzaga, do TSE. "Sou pago para dar a minha opinião", afirma Miranda, sócio da Empiricus. "Estão tentando cercear nossa liberdade e nosso dever fiduciário de prover boas dicas. Nós estamos pessimistas em relação à economia, e não posso ignorar isso em minhas análises." Consultores internacionais ficaram surpresos com a reação do PT. "É surreal. O que houve foi claramente uma atitude de desespero", diz Marcos Casarin, da inglesa Oxford Economics. "Não podemos desconsiderar os acontecimentos da política ao estimar como se comportará a economia." Casarin cita, como exemplo, o fato de os dois principais candidatos da oposição já terem deixado claro que darão mais autonomia ao BC. "Uma medida dessas mudaria a questão do combate à inflação e influenciaria as taxas de juros." É possível fazer um paralelo com a recente eleição na Índia. Narendra Modi, líder da oposição, mostrou-se um candidato reformista, prometendo impulsionar o crescimento e promover mudanças nas estatais. Com a vitória de Modi confirmada, o índice de ações das estatais subiu 25% em um mês. Para Reginaldo Ferreira Alexandre, presidente da Associação dos Analistas e Profissionais de Investimento do Mercado de Capitais (Apimec), é natural que em setores regulados pelo governo, como o de petróleo e energia, as análises levem em consideração os resultados políticos. "Qualquer mudança na condução dessas empresas impacta diretamente as ações", diz ele. Obviamente, os cenários podem não se confirmar. Segundo João Augusto de Castro Neves, da Eurasia, em 2002 havia uma situação de aumento de percepção de risco porque os investidores temiam a vitória do PT, mas o quadro se dissipou quando Lula ganhou e manteve a condução da política econômica. "Tanto é assim que o mercado não se movimentou nas eleições de 2006 e 2010", afirma. "O inédito em 2014 é que o mercado se movimenta pedindo mudança. Esse comportamento é incomum. Os investidores gostam de continuidade. O retrato, nesse caso, é muito claro: não aprovaram o governo Dilma." Na avaliação do economista Alexandre Schwartsman, a nota do Santander não tem absolutamente nada a ver com especulação. Conclui Schwartsman: "Não se trata sequer de uma opinião: é um fato". A reação exagerada da semana passada pode ser vista como derivada da ideologia antimercado, e é. Mas é também tática eleitoral. Sempre cola o velho discurso de demonizar os bancos e os investidores. Enquanto criam essa nuvem de fumaça, fogem da dura realidade de encarar os fantasmas criados pelos seus erros na condução da economia. NÃO ADIANTA AMEAÇAR Os analistas têm o direito e o dever de informar seus clientes sobre cenários econômicos com e sem Dilma. eurasia group - The end result may be growing concern amongst market participants and the private sector that a second Rousseff term will represent a doubling down or "more of the same” rather than more coherent initiatives to keep inflation in check. "O resultado deverá trazer a preocupação crescente entre os participantes do mercado e do setor privado de que um segundo mandato (de Dilma) representará mais do mesmo em vez de iniciativas mais coerentes para controlar a inflação". Goldman Sachs Global Macro Research - Overall, under a potential President Rousseff second-term, we would expect the overall policy mix to remain heteradox with only small and gradual adjustments to policies to deal with the current macro imbalances. This implies that the domestic (inflation) and external (current account) macro adjustment that the economy needs to undergo will likely be a protracted multi-year process. The market has been responding positively to polls showing an increasingly competitive second-round runoff with Aécio Neves on the expectation that this would lead to the appointment of market-friendly orthodox technocrats to key ministerial posts and the central bank. The expectation of more conventional and disciplined policies would likely generate a positive confidence shock that would likely fuel a market rally across the major asset classes. "Em um segundo mandato esperamos a manutenção de uma política heterodoxa, com ajustes apenas graduais. O mercado tem respondido positivamente a pesquisas que mostram um segundo turno competitivo com Aécio Neves, sob a expectativa de que poderia levar à indicação de tecnocratas defensores de políticas ortodoxas e favoráveis ao mercado. Políticas mais disciplinadas podem criar um choque de confiança e valorizar diferentes ativos" NOMURA Economics insights - In our opinion, the economy will continue to hurt Dilma's chances for reelection, especially as she continues to refuse to send signals to the business sector about changes to economic policy and personnel in a possible second term. "A economia continuará reduzindo as chances de reeleição, especialmente enquanto a presidente insistir em não dar sinais ao setor empresarial de mudanças na política econômica e em sua equipe em um segundo mandato". OXFOD ECONOMICS - We believe market expectations regarding the October elections will continue to play a more active role as a principal market driver and continued evidence of a possible change in government would clearly lead to further BRL strength and share price gains. "As expectativas com relação à eleição continuarão a exercer um papel ativo na orientação dos mercados, e uma possível mudança no governo claramente levará ao fortalecimento do real e à valorização das ações". DILMA CAI, PETROBRAS SOBE As ações da estatal se valorizaram depois da queda na avaliação do governo. FEV/14 APROVAÇÃO DE DILMA (Porcentual de eleitores que avaliam o governo como ótimo ou bom): 41% PETROBRAS (Preço da ação PN, em reais, no fim de cada mês): 13,59% ABR APROVAÇÃO DE DILMA (Porcentual de eleitores que avaliam o governo como ótimo ou bom): 36% PETROBRAS (Preço da ação PN, em reais, no fim de cada mês): 16,56% MAI APROVAÇÃO DE DILMA (Porcentual de eleitores que avaliam o governo como ótimo ou bom): 35% PETROBRAS (Preço da ação PN, em reais, no fim de cada mês): 16,65% JUN APROVAÇÃO DE DILMA (Porcentual de eleitores que avaliam o governo como ótimo ou bom): 33% PETROBRAS (Preço da ação PN, em reais, no fim de cada mês): 17,29% JUL/14 APROVAÇÃO DE DILMA (Porcentual de eleitores que avaliam o governo como ótimo ou bom): 32% PETROBRAS (Preço da ação PN, em reais, no fim de cada mês): 19,10% PROIBIDO “Estão cerceando nossa liberdade de fazer análise econômica”, diz Felipe Miranda, da consultoria Empiricus, cujos vídeos foram retirados da internet pelo TSE a pedido do PT. Abaixo, o texto do Santander que irritou os petistas. Você e Seu Dinheiro A economia brasileira continua apresentando baixo crescimento, inflação alta e déficit em conta-corrente. A quebra de confiança e o pessimismo crescente em relação ao Brasil em derrubar ainda mais a popularidade da presidente, que vem caindo nas últimas pesquisas, e que tem contribuído para a subida do ibovespa. Difícil saber até quando vai durar esse cenário e qual será o desdobramento final de uma queda ainda maior de Dilma Rousseff nas pesquisas. Se a presidente se estabilizar ou voltar a subir nas pesquisas, um cenário de reversão pode surgir. O câmbio voltaria a se desvalorizar, juros longos retomariam alta e o índice da Bovespa cairia, revertendo parte das altas recentes. Esse último cenário estaria mais de acordo com a deterioração de nossos fundamentos macroeconômicos. Diante desse cenário, converse com o seu Gerente de Relacionamento Select para alocar os seus investimentos da maneira mais adequada ao seu perfil de investimento. COM REPORTAGEM DE ANA CLARA COSTA, ANA LUIZA DALTRO E BIANCA ALVARENGA 4#2 O QUE DIZEM OS CANDIDATOS Dilma defende as políticas atuais. Para Aécio e Campos, é necessário mudar de rota para resgatar a confiança. A indústria brasileira produz hoje menos do que na posse da presidente Dilma Rousseff. O encolhimento de 5% do setor desde 2010 ajuda a explicar por que, nesse período, o crescimento da economia ficou aquém do esperado. Assim, partiu da indústria a iniciativa do primeiro evento reunindo os principais candidatos à Presidência, na semana passada. Em evento promovido pela Confederação Nacional da Indústria (CNI), em Brasília, Dilma, Aécio Neves e Eduardo Campos foram questionados, separadamente, sobre como pretendem estancar a queda na produção, nas exportações e no nível de emprego. Para os presidenciáveis, é imperioso simplificar a cobrança de impostos, ampliar o poder das negociações trabalhistas e os investimentos na educação e na infraestrutura, mas faltou detalhamento. Há, entretanto, diferenças fundamentais entre o receituário da candidata à reeleição e o de seus adversários. Dilma defendeu as medidas que tomou em seu mandato, ainda que não tenham surtido efeito até agora: redução de impostos para alguns setores, crédito subsidiado por bancos públicos e compras governamentais. Aécio e Campos entendem que é fundamental resgatar a confiança dos investidores fortalecendo as bases da economia, com o combate à inflação sem tolerância, a retomada do equilíbrio fiscal e a redução das intervenções no câmbio. Será preciso também oferecer previsibilidade a quem investe: evitar o vaivém de regras e ampliar o diálogo com o setor privado. INVESTIMENTOS DILMA ROUSSEFF (PT) – “Acreditamos em uma política industrial com eixos como a redução de tributos para alguns setores, o crédito público subsidiado para quem investe e as compras governamentais". AÉCIO NEVES (PSDB) – "É preciso resgatar a estabilidade macroeconômica e dar previsibilidade ao investidor, sem mudar as regras a toda hora e com isonomia de tratamento aos setores". EDUARDO CAMPOS (PSB) – "Precisamos de uma governança macroeconômica que valorize o longo prazo e o planejamento, o respeito ao contrato e que dê segurança a quem quer investir". REFORMA TRIBUTÁRIA DILMA ROUSSEFF (PT) – “Temos de reduzir o custo tributário para as empresas, mas aprovar uma reforma completa exige um processo de negociação muito complexo. Não vamos insistir só nessa estratégia". AÉCIO NEVES (PSDB) – "Nos primeiros dias de governo, enviaremos ao Congresso uma proposta de simplificação do sistema tributário. Isso vai permitir uma redução da carga tributária". EDUARDO CAMPOS (PSB) – "Assumo o compromisso de enviar ao Congresso a proposta de reforma na primeira semana de governo e trabalhar pela votação no primeiro semestre". REAJUSTES DILMA ROUSSEFF (PT) – "Falar em tarifaço (aumento previsto no preço da energia e dos combustíveis) serve para aterrorizar empresas e consumidores, com a função de criar expectativas ruins". AÉCIO NEVES (PSDB) – "Estamos na contramão do mundo ao subsidiar combustível fóssil. A Petrobras é a única empresa petroleira do mundo que, quanto mais vende combustível, mais prejuízo tem". EDUARDO CAMPOS (PSB) – "É necessário dar previsibilidade à política de reajustes de combustíveis e evitar que a Petrobras tenha de pagar pelo desequilíbrio macroeconômico (inflação alta)". TAMANHO DO ESTADO DILMA ROUSSEFF (PT) – “Quais ministérios acham necessário cortar? A Secretaria de Micro e Pequena Empresa? Dos Portos? De direitos da Mulher? Se esses ministérios não existissem, não teria sido possível realizar as políticas que adotamos". AÉCIO NEVES (PSDB) – "Vamos cortar o número de ministérios pela metade no primeiro dia de governo. E reduzir em um terço o total de 22.000 cargos comissionados (sujeitos a indicação política)". EDUARDO CAMPOS (PSB) – "O Estado deve ser colocado a serviço da sociedade. Não pode ser um entrave. Farei o provimento das vagas das agências reguladoras com headhunters para buscar os melhores profissionais". MARCELO SAKATE ________________________________ 5# INTERNACIONAL 6.8.14 5#1 A TÁTICA ARGENTINA DO CONFRONTO 5#2 A GUERRA FORA DA TRINCHEIRA 5#1 A TÁTICA ARGENTINA DO CONFRONTO O país entra em "default seletivo", e o governo usa a disputa com credores como arma populista. TATIANA GIANINI O calote argentino da semana passada tem contornos que o tornam bem mais complexo do que os outros da longa história de "devo e não nego, pago quando, como e se puder". Desta vez a Argentina tem razão. Bem, pelo menos em parte e apenas quando se analisam os eventos da semana passada. O governo de Buenos Aires se viu encalacrado por um impasse que o impediu de pagar alguns credores internacionais quando tinha a vontade e a possibilidade de fazê-lo. O dinheiro está em um banco em Nova York e não pode ser repassado aos credores por uma injunção jurídica cheia de detalhes complexos. A confusão é ainda rescaldo do calote dado pela Argentina em 2001, o maior da história até então, quando o país declarou a moratória de uma dívida externa que superava os 100 bilhões de dólares. Embora a Argentina tivesse dinheiro em caixa para honrar suas obrigações financeiras, a Justiça americana bloqueou o pagamento de uma parcela de sua dívida porque entendeu que o país não estava tratando da mesma forma todos os seus credores. Um grupo minoritário deles, que não aceitou a renegociação da dívida argentina em 2005 e 2010, entrou na Justiça para exercer seus direitos. Na quarta-feira 30, representantes do governo argentino, de bancos e de credores se reuniram mas não chegaram a um acordo. A agência de classificação de risco Standard & Poor's rebaixou a nota da Argentina para "default seletivo", argumentando que o país tinha sido inadimplente em algumas de suas obrigações. A situação pela qual passou a Argentina pode ser mais bem compreendida com um exemplo simples. Imagine uma pessoa que deve dinheiro a todos os seus vizinhos do prédio. A maior parte deles conhece o amigo e vê o risco de ficar sem reaver um único tostão. Então, eles fazem um acordo com o inadimplente para que ele pague o seu débito com um bom desconto. Contudo, um morador ranzinza se nega a receber menos e decide recorrer à Justiça. O complicador, no caso, é que um acordo anterior entre os moradores exige que todos recebam o mesmo tratamento. Se um deles vai receber 100% da sua dívida, os demais devem levar o mesmo, o que conduz a história novamente ao seu impasse inicial. A complicação não é rara no mercado financeiro, que dispõe de uma maneira de evitar o pior. O costume é que o devedor, após fazer um acordo com a maioria dos moradores, corra ao apartamento daquele senhor irredutível e tente algum negócio com ele. Entender por que a Argentina não fez isso é compreender a essência da relação de Buenos Aires com os mercados financeiros. O calote da semana passada foi concebido em 2010, durante a renegociação da dívida, quando a Casa Rosada, sede do Poder Executivo, se negou a negociar com os que não entraram na reestruturação. Ao mesmo tempo teve início uma forte campanha para demonizá-los. Os que compraram títulos dos credores minoritários (o senhor ranzinza do exemplo anterior) passaram a ser chamados de fundos buitres (abutres, em espanhol). Como os títulos eram negociáveis desde o princípio, contudo, eles não fizeram nada de irregular. Em seu pronunciamento após o calote, a presidente argentina Cristina Kirchner disse: "O mundo precisa colocar freios nos fundos abutres e nos bancos insaciáveis que querem seguir lucrando com uma Argentina quebrada e doente". Quando a Justiça dos Estados Unidos já sinalizava que eles poderiam ser beneficiados, então o canhão verbal se voltou contra os juízes americanos, que, segundo os argentinos, não seriam independentes — algo que, como é notório, não existe na Argentina. A história terminou como se sabe. Os detentores dos títulos conseguiram o que queriam na Justiça. Nosso vizinho inadimplente até teria dinheiro para pagar os próximos compromissos, mas não pode se orgulhar do que tem na poupança. Todo mundo sabe que ele pode ganhar dinheiro com facilidade, mas gasta muito mais do que permitiria o seu salário. É nesse comportamento viciado que está a excepcionalidade argentina. Nas primeiras décadas do século XX, o país atraiu um grande volume de investimento estrangeiro e de imigrantes e tornou-se uma nação rica e desenvolvida. Em 1913, a renda per capita da Argentina só ficava atrás da de Austrália, Estados Unidos, Inglaterra e Canadá. A prosperidade começou a ser destruída pelo populismo desenfreado de Juan Domingo Perón, cujo legado é encarnado agora pelo governo de Cristina. Perón desintegrou as reservas de ouro do país com a corrupção e a compra de apoio político. Aumentou o intervencionismo estatal em um nível inédito e reprimiu a iniciativa privada com intervenções e taxas. Começou com Perón o uso político dos calotes externos e dos fracassos internos, sempre jogados nos ombros dos estrangeiros. Os governos populares da Argentina encontram sustentação política na depauperação das massas, que passam a depender de favores oficiais para sobreviver: subsídio de passagens de ônibus, carne a preços tabelados e distribuição de cargos em troca de votos. "Na Argentina, a regra tem sido comprar os favores da população com subsídios e programas sociais", diz o economista portenho Roberto Cachanosky. A situação atingiu níveis insólitos nos mandatos do casal Néstor e Cristina Kirchner. Quando ele assumiu o poder, em 2003, o gasto público girava em torno de 30% do PIB. Hoje, beira os 50%. Para pagar essa conta, uma grande jogada foi estatizar o sistema de previdência privada do país e apropriar-se de seus ativos, em 2008. Depois, o governo começou a usar as reservas do Banco Central para cobrir os custos da máquina pública. De 52 bilhões de dólares em 2011, hoje elas estão em apenas 29 bilhões. Para arcar com as despesas, outra opção tem sido imprimir papel-moeda, o que inevitavelmente gera inflação. "Não existem planos para reduzir os gastos", diz Juan Luis Bour, economista-chefe da consultoria Fiel, em Buenos Aires. O calote vai morder uma porção considerável do PIB de até 3,5% em 2014 e elevar a inflação a inacreditáveis 41%. É tudo culpa de credores que querem receber o que emprestaram ao governo argentino. SEGURA NO GOGÓ - No consulado argentino em Nova York, o ministro da Economia, Axel Kicillof, disse que "o mundo dos abutres sempre ganha e o povo perde". COMO SE CHEGOU AO IMPASSE Ao não renegociar com todos os credores de sua dívida externa, a Argentina adiou um problema. 2001 - Mergulhada em uma crise cambial com forte repercussão política, a Argentina teve cinco presidentes em duas semanas e declarou a moratória unilateral de sua dívida externa, que superava os 100 bilhões de dólares. 2001 em diante - Sem esperança de receberem, muitos portadores de títulos da dívida argentina venderam seus papéis a investidores dispostos a esperar e lutar na Justiça pelo pagamento. 2005 - O presidente Néstor Kirchner propôs pagar cerca de 30% do valor de face dos títulos em parcelas semestrais, e 76% dos credores aceitaram a negociação. 2010 - A adesão ao acordo proposto por Kirchner cresceu para 93% dos credores. 2012 - Parte dos 7% dos credores que não aceitaram a renegociação da dívida foi à Justiça americana exigir o pagamento integral. Um navio-escola da Armada argentina, o Libertad, foi arrestado em Gana a pedido do fundo NML Capital como garantia de uma dívida de 370 milhões de dólares. 2014 - Com base em uma cláusula que previa que o acordo cairia por terra se a Argentina aceitasse pagar o valor integral dos títulos aos 7% que não aceitaram a proposta de Kirchner, a Justiça de Nova York, sob cuja jurisdição a maioria dos negócios em dólar é feita, congelou a mais recente parcela semestral destinada aos credores majoritários. Deu-se o impasse que levou ao calote. A solução jurídica perfeita é pagar a todo mundo o valor de face, mas isso estouraria o caixa da Argentina, cujas reservas em moeda forte mal chegam a 30 bilhões de dólares. 5#2 A GUERRA FORA DA TRINCHEIRA As 1500 mortes na Faixa de Gaza elevam as condenações a Israel e acirram o antissemitismo na Europa. A capa da revista inglesa The Economist da semana passada abandonou sua elogiada criatividade e recorreu a uma gasta mas eficiente e, nesse caso, exata expressão: "Israel ganhou a batalha, mas perdeu a guerra". Por mais moralmente sustentável que seja tentar desmilitarizar um vizinho que em seu estatuto expressa a vontade de varrê-lo do mapa e, lançando mais de uma centena de foguetes sobre seu território com precisão crescente, ganha dia a dia a possibilidade de fazê-lo, Israel está perdendo a guerra da propaganda. Isso se deve em grande parte ao fato de que o combate aos terroristas do Hamas tem de ser feito nas ruas, de quarteirão em quarteirão, de casa em casa, na Faixa de Gaza, onde 4500 pessoas se amontoam em cada quilômetro quadrado do território com uma das maiores densidades populacionais do planeta. Em uma situação assim, a população civil sofre muito mais baixas do que os combatentes. A tragédia se acentua com a estratégia odiosa do Hamas, grupo terrorista que exerce o poder totalitário em Gaza, de usar mulheres e crianças como escudo humano. Na semana passada, depois de quatro tentativas fracassadas, foi mantido por apenas poucas horas o que deveria ser um cessar-fogo de três dias, negociado sob forte pressão internacional. As imagens de civis mortos em Gaza, que o Hamas faz questão de tornar ainda mais chocantes pela exposição indecorosa de corpos dilacerados, calçadas e ruas sujas de sangue, sensibilizam pessoas sem envolvimento político e ideológico com nenhum dos lados em conflito, mas que, perplexas, exigem a paz imediata. Na Europa, principalmente, esse sentimento vem sendo o pretexto para que grupos radicais islamitas e forças esquerdistas sem outras bandeiras manifestem violentamente nas ruas seu antissemitismo, antiamericanismo e ódio ao sistema democrático. Israel é uma democracia plena no Oriente Médio. O país é cercado, por todos os lados, de regimes autoritários que dão abrigo e apoio a grupos terroristas cujo objetivo prioritário é a destruição de Israel e a consequente inviabilização da única experiência democrática na região. "Estão ocorrendo em maior número incidentes de antissemitismo, que vão de pichações em sinagogas a comentários contra a comunidade judaica na internet", diz Cláudio Epelman, representante para a América Latina do Conselho Judaico Mundial. Na Bélgica, o dono de um café colocou uma placa na porta que dizia "cachorros são permitidos, judeus não". Nas últimas semanas, Paris foi palco de manifestações a favor dos palestinos em Gaza, que logo degeneraram em ataques contra Israel e em desabrido racismo e antissemitismo. Jovens judeus foram atacados e sinagogas, depredadas. "Os gritos que ouvimos hoje pedindo a morte de judeus não eram ouvidos desde o século XIX. Nem mesmo quando Paris estava ocupada pelos nazistas houve esse tipo de manifestação", diz o historiador francês Jean-Marc Dreyfus, especialista em Holocausto da Universidade de Manchester, na Inglaterra. É assustador que, mesmo depois de tantas e doloridas lições da história no sangrento século XX, em momentos de crise econômica e altos índices de desemprego, ainda aflore o antissemitismo como válvula de escape para as frustrações coletivas. Famílias judias estão abandonando sua casa em países da Europa e se transferindo para Israel. Desde o início da operação na Faixa de Gaza, mais de 2000 judeus se mudaram para Israel. Entre eles ficou patente a atitude sobranceira de um grupo de franceses que escolheu morar em Ashdod, cidade onde, por sua proximidade geográfica com a Faixa de Gaza, cai o maior número dos foguetes lançados pelo Hamas. NATHALIA WATKINS ______________________________________ 6# GERAL 6.8.14 6#1 GENTE 6#2 SAÚDE – RÁPIDE E LETAL 6#3 SOCIEDADE – GEYER CONTRA GEYER 6#4 HISTÓRIA – O DITADOR FALA 6#5 HISTÓRIA – FICOU TUDO BEM GUARDADO 6#6 RELIGIÃO – RABINO EDIR? QUASE 6#1 GENTE JULIANA LINHARES. Com Cintia Thomaz, Marília Leoni e Taísa Szabatura NAKA NA TERRA DOS GIGANTES Nos dez anos em que trabalha no programa do Faustão, CAROL NAKAMURA, ou Naka, como ele a chama, foi bailarina, participou da Dança dos Famosos e hoje, além de ser assistente de palco, faz algumas reportagens. "Cheguei a tomar oito energéticos num dia. O Fausto é muito inteligente e tenho de ficar ligada", descreve Carol, que em casa lida com outro gigante, o filho JUAN, de 15 anos e 1,80 metro. Juan, que pega a mãe facilmente no colo, prepara-se para dividir forças com o ator Sidney Sampaio, com quem Carol se casa em setembro. Sobre a inevitável comparação com Sabrina Sato, que também dançou no Faustão, avalia: "Eu a admiro, mas temos personalidades diferentes. Sou um pouco mais séria". HOMENS AO MAR Alguém deve ter colocado alguma coisa nessa água de Ibiza. Uma vez na ilha do agito, e todos os famosos parecem estar lá, intrigas, iates, namoros e brigas viram parte de um diazinho comum. JUSTIN BIEBER, por exemplo, conseguiu a proeza de se estranhar com um cara quase do tamanho dele, o ator inglês Orlando Bloom. Parece que fez uma referência a uma história mal resolvida do passado, envolvendo a modelo Miranda Kerr quando ainda era casada com Bloom. O ator pulou um sofá e encenou um soco daqueles que não deixam nem um arranhãozinho, mas salvam a honra. Leonardo DiCaprio, que estava na mesma mesa, aplaudiu. Já NEYMAR, ainda com a cinta de imobilização para a fratura vertebral - o que não o impediu de manter as pernas perfeitamente depiladas, passou três dias al maré com amigos e a namorada, Bruna Marquezine. O plano era que todos seguissem para o Japão, mas de repente a atriz voltou sozinha para o Brasil. "Até nós fomos pegas de surpresa", diz a assessoria dela. No Instagram, nenhuma foto que ateste a estada em Ibiza, mas a palavra de ordem oficial é que tudo continua bem. Sobre uma cearense loira, bonita e rica que ficou bem pertinho do craque numa balada por lá, a explicação: ela estava só pedindo autógrafo. A LADY E O LORDE, COMO VOCÊ NUNCA VIU O que acontece quando a Stefani Joanne Angelina Germanotta e o Anthony Dominick Benedetto gravam um disco juntos? Jazz puro e belo. Cheek to Cheek, que demorou dois anos para ser produzido, traz surpreendentes duetos jazzísticos da dupla, mais conhecida como LADY GAGA e TONY BENNETT: ele, aos 88 anos, com a voz ainda potente e embalada, e ela fazendo bonito em alguns dos sapatos mais difíceis de calçar da música. "Vocês não têm ideia de como ela canta bem", elogia Bennett. "E vocês, de como ele se veste de um jeito loucão", retribui Gaga. Estreitando os sessenta anos de diferença de idade entre os dois, Gaga usou figurinos relativamente comportados, mas ninguém espera que Ella Fitzgerald estenda sua santa proteção por muito tempo. A PRIMA GATINHA "Mais do que a coruja, o gato é símbolo e guardião da vida intelectual", escreveu Carlos Drummond de Andrade, que teve três bichanos, um a mais que ISABELLE DRUMMOND, cuja avó era prima do escritor. A atriz de 20 anos, que diz ter lido bastante o parente distante, já é quase uma veterana da novela das 7: nos dois últimos anos, fez papéis de destaque em três delas. "Esse horário é delicado, porque não dá para ousar muito. Minha personagem é da balada, usa droga, e tenho de contar isso sem mostrar nada. E com uma dose de humor ainda", descreve Isabelle, a americana Megan de Geração Brasil, fotografada para ESTILO. O megahair de mais de meio metro é hidratado com água de coco. Tem gato que resista? 6#2 SAÚDE – RÁPIDE E LETAL Depois de dois anos sem dar sinais, o ebola ressurgiu com força total. Na pior epidemia já registrada, o vírus infectou milhares de pessoas e fez quase 750 mortos na Guiné, Serra Leoa, Libéria e Nigéria. Por enquanto, a probabilidade de ele alastrar-se é remota. NATÁLIA CACIOLI E NATALIA CUMINALE Não há definição mais precisa acerca do embate entre homens e vírus do que a feita pelo biólogo molecular Joshua Lederberg (1925-2008), prêmio Nobel de Medicina em 1958. Dizia ele: "Nós vivemos em uma constante competição evolucionária com os micróbios. E não há garantia de que seremos nós os sobreviventes". Nas últimas semanas, esse confronto ressurgiu com a entrada em cena de um dos vírus mais letais de que se tem notícia, o ebola. Depois de dois anos sem dar sinais, ele apareceu no oeste africano. Até sexta-feira, havia matado 729 pessoas em quatro países — Guiné, Serra Leoa, Libéria e Nigéria. É a pior epidemia de ebola desde a descoberta do vírus, em 1976, no Zaire (atual República Democrática do Congo) e no Sudão. A paciente zero do atual surto foi uma menina de 2 anos de idade, moradora de um vilarejo no sul da Guiné. Em 2 de dezembro de 2013, ela apresentou febre, vômito e diarreia. Quatro dias depois, estava morta. Dali, como um rastilho de pólvora, o ebola se alastrou. Na semana passada, o Centro de Controle e Prevenção de Doenças dos Estados Unidos emitiu o alerta: as viagens para Guiné, Serra Leoa e Libéria são de altíssimo risco. Nas áreas afetadas, fronteiras foram fechadas e as aulas, suspensas. Funcionários públicos entraram em férias compulsórias. Militares foram convocados para ajudar na identificação de doentes. O que mais preocupa as autoridades agora é que a doença está rompendo os limites da zona rural e fazendo vítimas nas capitais. A probabilidade de a epidemia sair da África, no entanto, é considerada remota. Acredita-se que o hospedeiro natural do ebola seja o morcego, do tipo que se alimenta de frutas. Ele transmite o vírus, sobretudo a macacos, e a contaminação humana se dá pelo contato com esses animais. Entre os homens, a transmissão ocorre por meio do sangue, saliva, suor, urina, vômito e fezes. O fato de o ebola emergir em áreas miseráveis e sem infraestrutura sanitária dificulta enormemente o seu controle. Nos países que registraram a doença, profissionais encarregados dos cuidados dos doentes sofrem hostilidades frequentes. Como a letalidade pode chegar a 90% (neste surto, está em 60%), os familiares das vítimas, desesperados, culpam médicos e enfermeiros pela epidemia e pela impossibilidade de contê-la. Na semana passada, em Freetown, capital de Serra Leoa, uma cabeleireira de 32 anos infectada pelo ebola foi tirada à força do isolamento no hospital por parentes. Até agora, 100 profissionais de saúde foram atingidos pelo vírus. Na última quinta-feira, estava prevista a remoção para os Estados Unidos do médico americano Kent Brantly, contaminado em um centro de saúde em Monróvia, capital da Libéria. "Na África, crenças e hábitos religiosos aceleram o processo de transmissão", diz Sylvia Lemos Hinrichsen, coordenadora do Comitê de Medicina dos Viajantes, da Sociedade Brasileira de Infectologia. Em muitas vilas, são os parentes que cuidam da preparação do corpo antes do enterro, por exemplo. A médica brasileira Rachel Soeiro fez parte de uma missão dos Médicos sem Fronteiras em Télimélé, na Guiné, um dos focos da epidemia. Quando o grupo consegue salvar um paciente, conta ela, põe em prática um ritual destinado a mostrar que ele não oferece mais perigo aos parentes e vizinhos: ao deixar o isolamento, o paciente curado recebe um abraço dos médicos diante de toda a vila. Apesar da agressividade do ebola, é improvável que é ele saia vitorioso no embate com o homem. Do ponto de vista evolutivo, trata-se de um "vírus burro". Seu período de incubação é curto. Dura, em média, quatro dias. O HIV, agente causador da aids, por exemplo, em geral pode ficar sete anos sem dar sinal de sua existência. Essa característica faz com que o ebola tenha uma capacidade restrita de contaminação — e, portanto, de sobrevivência. "Alguém com o vírus da gripe consegue transmiti-lo a cerca de 500 pessoas antes de cair de cama. Já um paciente infectado pelo ebola, dado o curto período de incubação do vírus, passa a doença para dez, em média", diz o infectologista Artur Timerman. Além disso, o ebola mata rapidamente — em geral, em uma semana. Nos casos mais graves, ele destrói os vasos sanguíneos, levando o doente a um quadro severo de hemorragia. Alguns chegam a sangrar pelos poros. Quando isso ocorre, a morte é certa. 6#3 SOCIEDADE – GEYER CONTRA GEYER Em meio à briga dos herdeiros, cofres aparecem arrombados e a doação ao museu fica mais pobre. Dono de uma fabulosa coleção de obras de arte, móveis e livros inestimáveis disposta pelos salões da mansão da família no bairro do Cosme Velho, no Rio de Janeiro, o industrial Paulo Geyer e sua mulher, Maria Cecília, doaram em 1999 o acervo e a própria casa ao Museu Imperial de Petrópolis, que deles tomaria posse após a morte dos dois. Geyer morreu em 2004; Maria Cecília, em 6 de junho passado. Nas semanas seguintes, o processo de transmissão da guarda do tesouro enredou-se em dois mistérios. Um deles já circulava como rumor fazia algum tempo: parte das peças doadas sumiu — inclusive alguns dos quadros que forravam toda a extensão do teto da biblioteca, hoje com nítidos espaços vazios. O outro tem por objeto dois cofres arrombados, encontrados vazios. Os suspeitos das duas ações têm, todos, o sobrenome Geyer e pertencem às duas facções em pé de guerra em que se dividem os cinco filhos do casal. Nos últimos cinco anos, praticamente a única filha que tinha acesso a Maria Cecília era a caçula, Maria, de 54 anos — aliada, na guerra dos Geyer (que vem de longe, de disputas pelo controle das empresas da família), às irmãs Vera, que mora fora, e Cecília, que morreu em 2010. Do outro lado da trincheira, os irmãos Joanita e Alberto afirmam que eram impedidos pela segurança de entrar na mansão. Nesse período de isolamento, a matriarca entrou com uma ação em que contestava parte da doação e pedia de volta 220 itens avaliados em 20 milhões de reais. Foi apoiada por Maria e por Frank Geyer, filho de Cecília. Joanita e Alberto se opuseram. O processo ainda corre na Justiça. No dia 25 de julho, em uma visita dos herdeiros à casa do Cosme Velho — a primeira aberta a não aliados da caçula —, com ata registrada em cartório à qual VEJA teve acesso, Joanita confirmou o sumiço de várias obras de arte. O Museu Imperial, que tem em seu poder uma relação de peças feita logo após a doação, despachou funcionários para comparar sua lista com o que ainda está na casa. Os cofres vazios foram descobertos pelo diretor do museu, Maurício Ferreira, no dia em que recebeu as chaves e percorreu pela primeira vez os aposentos privados dos Geyer. Ferreira comunicou o arrombamento às polícias civil e federal. Esse fato não tem nenhuma relação com a doação ao museu. Os Geyer ligados a Maria fazem pouco do arrombamento. "Foi uma divisão de jóias entre as três irmãs. Cada uma pegou um pouco", disse um deles. E por que arrombar? "Ninguém sabia onde estava a chave." Joanita nega sua participação no arrombamento e destaca o altíssimo valor do lote — só um anel teria custado 1 milhão de dólares. Pelo sim, pelo não, seus advogados entraram com um pedido de arrecadação dos bens pessoais da matriarca e de busca e apreensão nas casas de Maria e de Frank. A guerra ainda vai longe. LESLIE LEITÃO E THIAGO PRADO 6#4 HISTÓRIA – O DITADOR FALA O arquivo de Médici, um segredo bem guardado que vem agora à tona, traz documentos surpreendentes e inéditos do regime militar e dos seus personagens. LAURO JARDIM Uma década após deixar o poder, um amargurado Emílio Garrastazu Médici disse ao repórter A.C. Scartezini, que insistentemente tentava entrevistá-lo: "Eu sou o arbítrio, sou a ditadura. A ditadura não fala". Médici morreu sem dar um depoimento sobre os cinco anos em que governou o Brasil, entre 1969 e 1974 — um tempo em que o país testemunhou, de um lado, crescimento econômico acelerado, entre 9% e 14% ao ano, e, de outro, o período mais sombrio da ditadura militar. O ex-presidente, contudo, reservou uma surpresa aos que o imaginavam um governante sem apreço pela preservação de pedaços significativos da história do Brasil. Médici guardou um arquivo que soma 32 caixas de manuscritos, num total de 700 documentos. Há também oitenta álbuns com recortes de jornais e mais 300 fotos avulsas. É maior, por exemplo, do que os acervos deixados por Eurico Dutra, Costa e Silva e João Goulart. Esse material está guardado desde 2004 em várias gavetas de metal no 11º andar da sede do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro (IHGB), no Rio de Janeiro. Foi doado naquele mesmo ano por Roberto, o filho mais novo de Médici, um ano após a morte de Scylla, sua mãe e mulher do ex-presidente. Cerca de 80% dos documentos dizem respeito aos cinco anos de Médici na Presidência, uns 15% ao período anterior à sua posse e o restante aos tempos longe do poder. A partir da semana que vem, o acervo poderá ser conhecido duplamente. Seja por pesquisadores a quem o IHGB vai abri-lo, seja nas 31 páginas dedicadas a um extrato dele no livro Brasiliana IHGB (veja a reportagem na pág. 102). Como todo acervo presidencial, há desde documentos importantes, "confidenciais" e "secretos" (veja alguns deles nos quadros ao longo desta reportagem) até ligeirezas que dizem muito sobre o cargo e sobre o país. Exemplo dessas miudezas são as dezenas de pedidos de emprego, do mais ordinário a diretorias do então BNDE. Ou cartas protocolares de Saddam Hussein, Anastasio Somoza, Richard Nixon e Pelé. Há ainda cartas bajuladoras escritas por personalidades (de Rachel de Queiroz e Gilberto Freyre a Paulo Maluf e Reis Velloso). Quem compulsar o material encontrará ainda documentos pessoais. Papéis que contam a negociação de uma fazenda no Rio Grande do Sul nos anos 50 (era uma herança de família). Esbarrará em contas de luz, IPTU, recibo de alfaiate, agenda telefônica. E poderá conferir a declaração do imposto de renda de Médici em 1969, justamente o ano em que virou presidente. É de supor que não está ali por coincidência. O arquivo Médici, de cuja existência apenas sua mulher, seus dois filhos e seus colaboradores mais fiéis sabiam, estava todo ele no apartamento carioca do ex-presidente quando três funcionários do IHGB, auxiliados por sete ajudantes, foram recolhê-lo. Encontraram tudo metodicamente organizado por ordem alfabética, como manda a cartilha militar, e se surpreenderam com a limpeza do material, guardado em caixas num cômodo do apartamento já vazio, sem um móvel sequer. Nunca se saberá ao certo, no entanto, se Médici queria deixar para a posteridade todos os documentos que estão ali. Provavelmente, não. Em 1984, Médici disse numa conversa com o repórter A.C. Scartezini que estava "rasgando todos os documentos que deixam mal o Figueiredo". De fato, o que se destaca de João Figueiredo no arquivo é uma carta de 16 de janeiro de 1979, dois meses antes de assumir a Presidência. Nela, Figueiredo informa o "amigo e chefe, em primeira mão", o ministério que seria anunciado ao país três dias depois. Saber o que foi conservado e o que Médici conseguiu queimar é tarefa impossível. Não há como garantir se os documentos que compõem o arquivo são fruto da escolha do ex-presidente ou dos filhos que cuidaram do material por quase duas décadas até doá-lo. Sérgio, o primogênito, já morreu; Roberto, o caçula, está muito doente e não dá entrevistas. Médici arquivou documentos internos sobre a "guerra ao terrorismo" junto de recortes de jornais em que o seu governo é criticado por organizações de defesa dos direitos humanos. Conservou cartas de estudantes alemães que pediam a libertação de estudantes brasileiros. Guardou também livros como Eu, Gregório Bezerra, Acuso!, em que o ex-deputado comunista relata as torturas que sofreu nas prisões da ditadura. Censura, prisões, tortura, intrigas palacianas, embates com a Igreja Católica, o AI-5 aparecem em diversos documentos do acervo. Mas o mais notável, do ponto de vista da pesquisa histórica, talvez sejam as omissões. Entre as lacunas que gritam, está a guerrilha do Araguaia, o mais emblemático embate entre o governo e grupos armados durante o regime militar. Não há um único informe sobre a frente guerrilheira ou sobre a bem-sucedida operação das Forças Armadas para dizimá-la. Como parece evidente que devem ter chegado às mãos do presidente inúmeros relatos secretos ou reservados sobre a campanha contra os guerrilheiros, a ausência deles no arquivo de Médici é proposital. Certa vez, para justificar a censura à imprensa, Médici disse: "Aquela guerrilha acabou antes que a população tomasse conhecimento de sua existência. Era preciso esconder as operações para que elas tivessem sucesso". Médici estendeu para sempre a censura ao sonegar à história documentos relativos à repressão da guerrilha no Araguaia. Mas, como sustenta o famoso aforismo, "a ausência de evidência não é evidência de ausência". Dois documentos classificados como "secretos" que tratavam dos aspectos práticos da aplicação do AI-5 (veja mais na pág. 97) merecem atenção especial. Médici guardou a folha de papel que tinha à sua frente na reunião de 13 de dezembro de 1968 em que Costa e Silva, seu ministério e o Conselho de Segurança Nacional aprovaram as medidas excepcionais. Nela, Médici anotou a caneta o nome dos participantes da reunião, o "sim" ao AI-5. Como se cronometrasse o encontro, registrou o horário em que a reunião se iniciou e o minuto em que cada um proferiu seu voto. Nas bordas da folha, Médici desenhou setas e estrelas. Conservou também uma carta de 1972 do brigadeiro Márcio de Souza Mello, ministro da Aeronáutica demitido por ele meses antes. Na correspondência, o ex-ministro deixa no ar alguns alertas ao presidente. As respostas ao brigadeiro foram anotadas nas margens da carta no tom irônico que os oficiais do Exército costumavam naquele tempo dispensar aos colegas da Aeronáutica. O general Castello Branco referia-se à Força Aérea Brasileira como "FAB futebol clube". Guardados com maior carinho, como não podia deixar de ser, estão os testemunhos da imensa popularidade que Médici desfrutava. Feita em agosto de 1972 a pedido da Folha de S.Paulo e apenas em São Paulo, uma pesquisa do Ibope revela que 84% dos paulistas avaliavam o governo como "muito bom". Vivia-se, então, o auge da repressão, mas a censura e a euforia com o "milagre econômico”, com taxas anuais de crescimento que bateram em inacreditáveis 14% em 1973, o último ano do governo de Médici, davam a impressão de que o Brasil era, como dizia a propaganda oficial, "uma ilha de tranquilidade" em um mundo imerso na recessão. Embora o arquivo não se compare ao extenso e indispensável testemunho deixado por Ernesto Geisel, seu sucessor, no Centro de Pesquisa da FGV-RJ, não é exagero dizer que Médici fez mais inconfidências agora, 29 anos depois de sua morte, do que em toda a sua vida. A "PRIMOROSA ASSISTÊNCIA" NAS CADEIAS No arquivo que Médici guardou, destaca-se um documento interno de quase 200 páginas, de 1971, em que o ministro da Justiça, Alfredo Buzaid, alinha argumentos com o objetivo de contrapor o noticiário internacional que tratava da tortura no país, atribuída por ele a uma "campanha difamatória contra o Brasil" produzida por" "comunistas" e "prelados". Pelo relato de Buzaid, não havia "preso político nem tortura no Brasil". Ele considerava os guerrilheiros e militantes encarcerados como bandidos comuns. Escreveu que os presos eram muito bem tratados na cadeia. Jean Marc Von Der Weid, presidente da UNE, recebia "primorosa assistência médica e social" na Ilha Grande, onde estava preso. Encontrava-se em ótimas condições, "salvo uma gripe". Jean Marc foi torturado. Liszt Vieira, militante do movimento estudantil preso, igualmente torturado e um dos que foram trocados pelo embaixador alemão sequestrado, é dado também como exemplo do tratamento humanitário dispensado aos presos nas cadeias do Brasil. Buzaid anexa um laudo atestando que Liszt "não apresenta sinais de ofensa à sua integridade corporal". DILMA NÃO ERA PRIORIDADE Um documento interno produzido em 1970 pelas cúpulas das organizações guerrilheiras ALN, VAR-Palmares e Ala Vermelha, que chegou às mãos dos militares e foi parar no arquivo Médici, mostra que a hoje presidente Dilma Rousseff não era tão valiosa para os seus companheiros de luta armada. A certa altura das quatro páginas mimeografadas intituladas "Considerações dos objetivos de uma operação de sequestro", fala-se que o "valor de troca" do prisioneiro deveria ser definido "pela sua importância dentro do país e do sistema imperialista internacional". O texto define quais guerrilheiros presos teriam prioridade na troca de sua liberdade por um sequestrado. O nome de Dilma, militante da VAR-Palmares e presa em São Paulo naquele ano, consta de uma lista de 29 presos, mas não aparece entre os dezenove "companheiros (a quem) deve-se dar preferência", de acordo "com critérios de importância política (...)". PROVIDÊNCIAS PARA IMPLANTAR O AI-5 Dois documentos "secretos" de 18 de dezembro de 1968, cinco dias após a decretação do AI-5, dão "diretrizes" para a aplicação do ato que fechou de vez o regime militar. Um, rubricado por Costa e Silva, detalha desde a decretação de prisão ("pessoas de projeção no meio político e social somente com a instauração do necessário IPM") até a censura ("O objetivo é, simplesmente, o de proibir a divulgação de matéria subversiva, de incitamento à desordem ou que vise desmoralizar o governo ou as Forças Armadas"), passando pela "manutenção da ordem pública". O outro ("Encargos imediatos do SNI") foi escrito pelo próprio Médici, que chefiava o serviço. Anota Médici: "Acompanhar tentativas de reorganização política e reabertura do Congresso". Ao SNI, caberia também produzir uma "lista inquestionável de cassação dos mandatos" e um "dossiê para o processo de cassação". DESABRIDO, MAS NEM TANTO No arquivo Médici, duas cartas dão uma eloquente mostra de quanto Antonio Carlos Magalhães podia afinar a voz quando era necessário. Em correspondência "pessoal e confidencial", o então chefe do SNI de Médici, Carlos Alberto da Fontoura, pede ao então governador da Bahia que confirme se teria jantado com JK no Country Club do Rio de Janeiro em abril de 1973. Em resposta, ACM jura que não. Admite apenas tê-lo cumprimentado quando almoçava no Country. JK estava em outra mesa, segundo ACM. Em seguida, complementa: "É inacreditável que alguém possa colocar dúvida a respeito do meu comportamento político e revolucionário". É um ACM bem diferente daquele que, em 1984, nos estertores da ditadura, respondeu agressivamente ao ministro da Aeronáutica, Délio Jardim de Mattos, que acusara de traidores os "revolucionários" que migravam para a candidatura de Tancredo Neves. "Traidor é quem apoia corrupto", bradou ACM num dos momentos mais vibrantes de sua biografia. CARDEAL VERSUS PRESIDENTE Um áspero encontro entre Médici e o cardeal de São Paulo, dom Paulo Evaristo Arns, foi reproduzido em forma de diálogo pelo ex-presidente, num manuscrito intitulado "Na audiência ao Cardeal Arns". Realizada em maio de 1971, no período mais duro do regime militar, essa reunião já fora relatada por dom Paulo em algumas entrevistas. O cardeal contou que a conversa durou "menos de cinco minutos" e o ex-presidente "começou a gritar" quando os assuntos tortura e mortes nas prisões foram levantados. E que foi chamado de "despreparado". A versão de Médici do encontro, escrita em uma única folha, confirma que a audiência foi tensa. "Eu: (...) a melhor fórmula é a Igreja cuidar de suas coisas, e o governo das suas". E anota: "Citei a recente visita do chefe dos dominicanos ao Brasil, que visitou os três dominicanos, companheiros de Marighella, que estão presos. Disse-lhe que não eram, no meu entender, mais dominicanos e, sim, terroristas". VEJA ERA "SUBVERSIVA" Esquecido pela história, Amaral Netto já teve seus dias de protagonismo. Deputado federal pela Arena, entre o fim dos anos 60 e o início dos 80 estrelou um programa semanal na Globo - o Amaral Netto, o Repórter - em que exibia as obras do regime, sempre em tom grandiloquente. Era o porta-voz do "Brasil Grande". Nesse diapasão, Amaral encontrou espaço para apontar o dedo para o que ele qualificava como ação subversiva de VEJA. Escreve Amaral a Médici em outubro de 1974, sete meses depois de o general deixar o cargo: "Meu caro presidente, comunico respeitosamente a Vossa Excelência que levaremos ao ar na próxima segunda-feira pela Rede Globo de Televisão um grave programa, focalizando a ação da revista VEJA junto à opinião pública, numa sistemática campanha de tentativa de desmoralização da Revolução, de seus líderes e de sua obra". O Brasil não está mais sob um regime de exceção, mas o discurso de "tentativa de desmoralização" é o mesmo que radicais do PT usam hoje para justificar a volta da censura e o cerceamento da liberdade de expressão. COM REPORTAGEM DE CECÍLIA RITTO 6#5 HISTÓRIA – FICOU TUDO BEM GUARDADO Mas agora, com a publicação da Brasiliana IHGB, de 728 páginas, dobras escuras do passado do Brasil são iluminadas por cartas e documentos históricos inéditos. CECÍLIA RITTO Três décadas depois da chegada da corte portuguesa ao Rio de Janeiro, a regência que governava em nome do ainda criança Pedro de Alcântara João Carlos Leopoldo Salvador Bibiano Francisco Xavier de Paula Leocádio Miguel Gabriel Rafael Gonzaga, o futuro dom Pedro II, o Magnânimo, julgou que o Brasil, afinal, merecia entrar para a história e ter um lugar no mapa. Em janeiro de 1838, com a criação do Arquivo Nacional, os documentos produzidos pela administração do Império passaram a ser guardados. Em outubro do mesmo ano, com o objetivo de "coligir, metodizar, publicar ou arquivar os documentos necessários para a História e a Geografia do Brasil", instalou-se o Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro (IHGB). Agora, 176 anos mais tarde, uma porção substancial do acervo de 160.000 documentos e objetos coligidos, metodizados e arquivados pelo IHGB será publicada em um estupendo volume de 728 páginas, a Brasiliana IHGB. O livro recebeu sua forma final pelo editor Pedro Corrêa do Lago e o lançamento será feito no próximo dia 9 agosto. A obra proporciona um inédito passeio desde os tempos coloniais até a República, ilustrando e completando registros históricos, como os antecedentes da vinda da corte de dom João VI, as rivalidades entre aliados na Guerra do Paraguai ou as observações do escritor Euclides da Cunha sobre a Guerra de Canudos. Diz Corrêa do Lago: "Com quase 200 anos de doações e aquisições, o IHGB formou o mais rico e variado acervo em torno do Brasil". Nascido com pompa e prestigio, e financiamento abundante, o IHGB, à moda das grandes instituições similares da Europa, foi, no começo, um círculo exigente e exclusivo que abria suas portas apenas para os mais brilhantes e melhores cérebros. "Criado para registrar a história brasileira, o IHGB soube nesses quase dois séculos preservar a sua própria", diz Regina Wanderley, coordenadora de pesquisa. A Brasiliana... abre pela primeira vez à curiosidade geral um tesouro histórico antes circunscrito a pesquisadores acadêmicos. Pouca gente já viu o trono da família real ou a máscara mortuária do escritor Machado de Assis. Entre os quadros, destaca-se uma pintura de 86 por 114 centímetros, inusitadamente grande para os padrões de Frans Post, pintor que retratou o Brasil nordestino sob o breve mas iluminado domínio do príncipe holandês Maurício de Nassau, entre 1637 e 1644. A obra foi doada ao IHGB pela viscondessa de Cavalcanti, casada com um ministro do Império e, ela própria, integrante do instituto. A papelada centenária arquivada no IHGB e revelada pela primeira vez na Brasiliana... contém cartas de alto valor histórico por revelarem eventos extraordinários das relações entre França e Portugal cinco anos antes da partida da corte, em 1808. Napoleão tentou, inutilmente, como se sabe, atrair dom João para o seu lado, na guerra contra a Inglaterra. Em uma das cartas, Napoleão escreve ao então príncipe regente português: "Não quero deixar partir o embaixador sem reiterar a Vossa Alteza Real o desejo que tenho de ver se estreitar cada vez mais a união dos dois Estados. Portugal ganhará mais independência, e o comércio entre os dois Estados, ao crescer, trará uma vantagem comum". Em outra carta, o rascunho de uma mensagem dirigida ao general Jean Lanes, representante diplomático de Napoleão em Lisboa, percebe-se que dom João era mais habilmente envolvido em política do que os textos de história costumam lhe creditar. Ele faz anotações no texto que estava sendo produzido pelo conde de Galveias. Dom João interfere no rascunho do documento sugerindo a Galveias que "use uma linguagem mais direta". Avalia a historiadora Lúcia Neves, da Universidade Estadual do Rio de Janeiro: "Há alguma correspondência desse tipo na França e em Portugal, mas é raridade no Brasil. Dela se deduz que dom João se posicionava, sim, em um momento em que se dizia em Portugal que estava deprimido e só queria saber de caçar". A correspondência foi preservada pelo próprio conde de Galveias, que veio com a corte para o Brasil e cujos documentos, ao morrer, foram encaminhados ao IHGB. Uma terceira carta inédita revelada pela Brasiliana... foi escrita por dom Pedro II de seu exílio na França, seis meses antes de sua morte. Em oposição a registros históricos conhecidos, que pintam um monarca complacente e resignado na queda, a carta revela que Pedro II, no íntimo, estava revoltado e indignado com o fim do Império e descrente da República recém-instalada. Lê-se na carta dirigida a Joaquim Nabuco: "Com efeito, os conjurados de 15 de novembro merecem o nome de inconscientes, se não mesmo de inconfidentes, porque já parecem desconfiar de si mesmos". Aquela altura empobrecido, adoentado e dependente de favores, Pedro II, finalmente, se permitiu expressar-se como um homem derrotado e não um rei deposto, mas composto. Diz a historiadora Mary del Priore: "Essa carta é uma explosão de mágoas e de ressentimentos, porque o Brasil era a sua grande paixão". Boa parte do acervo do IHGB trata dos conflitos armados frequentes nos tempos do Império e do início da República, entre eles a Guerra do Paraguai, que completa 150 anos em dezembro próximo. Um desses documentos é assinado pelo duque de Caxias, comandante do Exército brasileiro, e escancara a rixa entre militares brasileiros e seus aliados na guerra, os argentinos. Indagado pelo marquês de Paranaguá sobre a conveniência de condecorar generais argentinos com a Ordem do Cruzeiro do Sul, Caxias responde por escrito, enfaticamente: "A que servirá esse ato do governo imperial, senão de pretexto para os argentinos nos achincalharem como de costume?" "Brasil e Argentina eram aliados de circunstância, não de convicção", esclarece o historiador Francisco Doratioto, da Universidade de Brasília (UnB). Na época da carta, Caxias se ressentia de estar no Rio e não merecer atenção das autoridades, sendo tratado com indiferença inclusive pelo imperador (posteriormente, tornou-se patrono do Exército, com direito às maiores honrarias). "A correspondência reflete um sentimento de angústia e injustiça", diz Doratioto. De outra guerra, a de Canudos, o mais conhecido conflito da Primeira República, o maior tesouro guardado no IHGB é a caderneta contendo as anotações de Euclides da Cunha durante o período em que viveu na frente de batalha, como correspondente do jornal O Estado de S. Paulo. Com palavras e desenhos, Euclides registrou em seu livrinho desde detalhes como a temperatura e a geologia até a fome, a sede e as mortes na comunidade liderada por Antônio Conselheiro no interior da Bahia, tida como um foco de resistência à República recém-instalada e duramente combatida pelo Exército. "Euclides anotava tudo. É uma fonte primária, feita no exato momento da luta", diz Alberto Venâncio Filho, da Academia Brasileira de Letras. Os escritos em letras miúdas, com quase nenhum espaço entre as linhas, serviram de alicerce para Os Sertões, obra-prima da literatura nacional. A caderneta e todo o conjunto de documentos do escritor, muitos deles nunca estudados, fazem parte do livro que o IHGB agora publica. 6#6 RELIGIÃO – RABINO EDIR? QUASE A construção de sua versão do Templo de Salomão é apenas a parte mais vistosa da incorporação de símbolos do judaísmo pelo líder da Igreja Universal. JULIANA LINHARES E THAÍS BOTELHO De quipá, xale de orações, barba de profeta e chamado por alguns de seus pastores de "sumo sacerdote", o nome dado ao religioso supremo do antigo povo de Israel. Edir Macedo fez uma mudança surpreendente na narrativa da Igreja Universal do Reino de Deus, a maior confissão neopentecostal do país, criada por ele. Os elementos da religião judaica que o líder evangélico passou a incorporar imprimem um novo significado à sua obra magna, o gigantesco Templo de Salomão do Brás, inaugurado na semana passada. Uma vez que Macedo não ficou louco, não rasga dinheiro nem pretende deixar de arrecadá-lo, a virada judaicizante é analisada fora da IURD à luz da carreira excepcionalmente bem-sucedida do homem que partiu de zero para 1,9 milhão de fiéis em menos de quatro décadas — com um pequeno encolhimento nos últimos anos, produto da concorrência. "É uma estratégia de marketing. Ele quer recuperar o que já teve e, fantasiado assim, dar uma nova guinada em sua teologia. Edir é conhecido por não ter nenhuma coerência bíblica", diz um dos maiores líderes evangélicos do país, e concorrente de Macedo. O Templo de Salomão, aberto com a presença da presidente Dilma Rousseff e do governador paulista Geraldo Alckmin, é um sinal de que Macedo pensa mais do que grande. O templo original, descrito na Bíblia, foi erguido em Jerusalém no reino de Salomão, quase 1000 anos antes de Cristo, como a primeira construção permanente de louvor a Jeová, deus de Israel. Foi destruído por Nabucodonosor, rei da Babilônia, e reconstruído em 516 a.C., sob a designação conhecida como Segundo Templo. Na catástrofe seguinte, foram as tropas do Império Romano que puniram uma rebelião não só arrasando o templo como levando o povo judeu à diáspora. Um Terceiro Templo, místico ou real, é esperado por judeus e cristãos que acreditam nas profecias sobre o fim dos tempos. Enquanto isso não acontece, mórmons, maçons e agora a Universal fazem suas versões. Não é coisa pouca. No ano passado, Macedo falou da grandiosidade de sua construção e aproveitou para passar o solidéu: "Pensem em doar 10% — não é o dízimo — ao templo. Só a iluminação dele custou 22 milhões de reais. Vai somando. As 10.000 cadeiras, mais 22 milhões. As pedras, que vieram de Israel, 30 milhões. O som saiu por 10 milhões. Estamos fazendo tudo do melhor. Amém, pessoal?". "O que Macedo quer é superar a Igreja Católica. Esse templo tem quatro vezes o tamanho do Santuário de Aparecida e é agora a maior construção religiosa do país", acredita Ricardo Mariano, professor de sociologia da USP e especialista em igrejas neopentecostais. Ele dá exemplos do impulso expansionista da Universal: "Em 37 anos de existência, ela abriu quase 200 igrejas, dentro e fora do país, tem a segunda maior rede de TV, um partido político e parte dos 50 milhões de evangélicos, um quarto da população brasileira". Mariano também aponta a conexão teológica das igrejas evangélicas com o judaísmo, através da ênfase no Antigo Testamento. Robson Rodovalho, bispo fundador da igreja Sara Nossa Terra, diz que os judeus são "queridos e protegidos pelos evangélicos; em orações e em posicionamentos pró-Israel". Templos da Universal há anos exibem menorás, candelabros de sete velas, um dos principais símbolos do judaísmo, mas os paramentos litúrgicos portados por Macedo e outros pastores em cultos recentes — quipá, o pequeno chapéu, e talit, o xale branco com listas azuis, que rabinos e judeus religiosos usam para fazer preces e em cerimônias nas sinagogas — trazem praticamente uma revolução teológica. Os obreiros passaram a ser chamados de levitas, como os sacerdotes bíblicos originais — que deixaram de existir com a destruição do Segundo Templo —, usando trajes brancos com faixas douradas na cintura. Macedo e sua família já estão morando no maior dos cinquenta apartamentos construídos dentro do gigantesco templo. Ao todo, a obra, inaugurada ainda sem alvará dos bombeiros, custou 685 milhões de reais e inclui detalhes realistas, como oliveiras no paisagismo e um altar no formato da Arca da Aliança, onde na Antiguidade se acreditava que estavam guardadas as tábuas com os Dez Mandamentos. A religião judaica não busca converter novos fiéis e costuma receber mal a apropriação de seus símbolos. De um ponto de vista neutro, porém, será muito interessante acompanhar para onde Edir Macedo pretende conduzir seu povo. __________________________________ 7# GUIA 6.8.14 7#1 POR DENTRO DO SEGURO RESIDENCIAL 7#2 PROTEGIDO ATÉ FORA DE CASA 7#3 COMO ACIONAR A SEGURADORA 7#4 OS SEGUROS DO ALUGUEL 7#1 POR DENTRO DO SEGURO RESIDENCIAL TEMPESTADES, ACIDENTES DOMÉSTICOS E VIOLÊNCIA URBANA IMPULSIONARAM O MERCADO DE SEGURO RESIDENCIAL — NOS ÚLTIMOS QUATRO ANOS, A PROCURA POR ESSE TIPO DE SEGURO AUMENTOU 56%, SEGUNDO A SUPERINTENDÊNCIA DE SEGUROS PRIVADOS (SUSEP). E, se acidentes são inevitáveis, o mesmo não se pode dizer da surpresa ao descobrir que o contrato não previa a cobertura para aquele infortúnio que acaba de acontecer. Embora a Susep determine coberturas mínimas para essa categoria de seguro, elas podem não atender às necessidades do morador. "Consumidores tendem a acreditar que o seguro residencial é garantia para todo tipo de ocorrência, mas a indenização só ocorre se o sinistro estiver descrito no contrato", afirma Mariana Alves Tornero, advogada do Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (Idec). Simples assim: se algo não está no contrato, não adianta reclamar. Veja o que dizem os especialistas sobre as coberturas e os cuidados para quem vai contratar o seguro residencial. EM QUE CONSISTE A COBERTURA BÁSICA? O contrato-padrão oferece cobertura para incêndios, raios e explosões - o que garante proteção contra curtos-circuitos e acidentes com velas e panelas de pressão. Portanto, quem contrata o seguro residencial básico em busca de indenização em caso de roubo e furto pode ter pela frente uma surpresa desagradável. Em geral, o consumidor que compra a apólice por impulso ou por meio da (proibida) venda casada, em que uma empresa condiciona a aquisição de um produto à contratação de um serviço, acaba tendo de arcar com o prejuízo COMO OBTER COBERTURAS EXTRAS? O complemento do contrato-padrão garante coberturas adicionais, que devem ser acrescidas de acordo com os riscos aos quais a residência está exposta. Pessoas que moram em casa podem relacionar prejuízos decorrentes de eventos naturais, como vendaval e chuva de granizo - e, talvez mais importante, roubo. Já quem mora em apartamento previne aborrecimentos ao incluir danos involuntários a terceiros, como um vazamento que danifique o apartamento do vizinho. Nos dois casos, a inclusão de assistências emergenciais pode ser uma mão na roda. A relação de serviços é imensa: de chaveiro e reparos hidráulicos a pagamento de condomínio em caso de desemprego. Além disso, há seguros residenciais específicos para imóveis de alto padrão, que cobrem equipamentos sofisticados, itens declarados em cofres e obras de arte O QUE NUNCA ENTRA NO SEGURO RESIDENCIAL? Danos ao patrimônio resultantes de vandalismo, desgaste natural e guerra não são cobertos pelas seguradoras. Ou seja, a pintura do muro pichado sai do bolso do morador. Prejuízos causados pelo segurado por descuido, negligência ou de forma proposital também não são responsabilidade das seguradoras - o que as isenta, por exemplo, do pequeno alagamento provocado pela torneira esquecida aberta. Também não há cobertura para o desaparecimento inexplicável de objetos e dinheiro em espécie, ou seja, os furtos simples, em que não existem sinais de invasão e arrombamento. Assim como em um seguro de automóvel, a operadora pode se recusar a aceitar o cliente ou aumentar o valor do prêmio, em casos como o de residências localizadas em área de risco. Detalhe: os seguros residenciais só podem ser contratados por pessoas físicas; pessoas jurídicas devem procurar contratos específicos para imóveis de uso comercial QUANTO CUSTA? Seguros básicos, contra incêndios, explosões e raios, custam cerca de 100 reais por ano. O valor sobe conforme aumentam a quantidade e o risco dos eventos incluídos na apólice e pode cair com a presença de dispositivos de segurança, como alarmes e câmeras. "Com os seguros básicos, o consumidor desembolsa uma média de 8,30 reais ao mês. Nos seguros mais completos, as parcelas mensais custam a partir de 30 reais, ou seja, 360 reais anuais", comenta Luiz Vicente Lapenta, superintendente de produtos da Itaú Auto e Residência. Algumas seguradoras, com o intuito de conquistar clientes fiéis, oferecem descontos progressivos a quem assina contratos longos ou renova um seguro já existente. A inclusão de objetos de valor sentimental encarece o prêmio - em contrapartida, como a função do seguro é proporcionar a reposição financeira do bem, a indenização pode ficar abaixo do esperado QUAIS SÃO AS PRECAUÇÕES NA HORA DE ASSINAR O CONTRATO? Impulsividade não combina com contratação de seguro residencial. Verifique a regularidade da situação do corretor e da seguradora no site da Susep (susep.gov.br) e exija o documento para leitura prévia - não se contente se a empresa disser que o contrato poderá ser visualizado mais tarde pela internet. Atenção redobrada para a relação de coberturas e, principalmente, para as cláusulas de exclusão, que aparecem no contrato como "riscos excluídos" e "bens não compreendidos no seguro". Se necessário, verifique a possibilidade de inclusão de coberturas específicas, como uma obra de arte, por exemplo. E, claro, não omita informações sobre o imóvel ao preencher a proposta do seguro 7#2 PROTEGIDO ATÉ FORA DE CASA Quem não pretende contratar um seguro residencial — ou deseja proteção extra para determinado bem — pode optar pelo seguro específico para objetos. Quando se trata de gadgets e equipamentos eletrônicos, os seguros residenciais cobrem apenas os danos causados dentro de casa, em caso de incêndio ou roubo. Quem carrega o notebook para todo lado pode proteger-se contra assaltos e acidentes de carro contratando o seguro individual. Veja a seguir como funcionam os seguros com cobertura para um bem específico. O que pode ser segurado: os seguros para objetos oferecem proteção para artigos de luxo, como joias e obras de arte; coleções cujo valor não pode ser atestado com nota fiscal, mas têm importância sentimental para o proprietário; eletrônicos que passam parte do dia fora de casa, como notebook, smartphone, tablete, câmera fotográfica e filmadora; instrumentos musicais Proteções que podem ser incluídas no contrato: além de incêndio, raio, explosão e roubo, a cobertura pode se estender para perdas e problemas decorrentes de causas externas - como o brinco quebrado durante uma festa e o notebook danificado por um acidente de carro - ou até danos causados por descuido de um empregado doméstico. Como é calculada a indenização: em caso de sinistro de um aparelho eletrônico, a maioria das empresas repõe o objeto danificado ou roubado por um novo de mesmo modelo ou similar. Para os artigos de luxo, antiguidades e coleções, a seguradora solicita uma avaliação de valores por especialistas da área. Como as condições podem variar de uma empresa para outra, antes de assinar, confira atentamente as cláusulas referentes à indenização do bem. Quanto custa: para joias, obras de arte e coleções, a anuidade custa, em média, 2% do valor do objeto segurado. Para os eletrônicos, ela pode chegar a 20%. 7#3 COMO ACIONAR A SEGURADORA Guarde todas as notas fiscais e manuais de instrução, pois algumas seguradoras exigem a apresentação desses documentos para a comprovação de propriedade dos bens - caso tudo se perca em um incêndio, por exemplo, fotos em redes sociais ou em álbuns de amigos podem servir de prova para o ressarcimento de objetos previstos em contrato. Na hipótese de sinistro, as primeiras providências são comunicar imediatamente a seguradora ou o corretor de seguros e registrar boletim de ocorrência, indispensável em praticamente todos os casos. Atenção: não efetue pagamentos a terceiros sem autorização prévia da seguradora e mantenha os vestígios do sinistro para comprovar o incidente na perícia. Ou seja, guarde cadeados arrombados pelos bandidos e solicite autorização da seguradora antes de reparar uma fechadura danificada (mas só depois de fotografá-la). 7#4 OS SEGUROS DO ALUGUEL Quando um imóvel é alugado, o proprietário pode exigir do locatário a contratação de um seguro-fiança. Essa modalidade, que dispensa a figura do fiador, pode ser contratada para qualquer tipo de imóvel e garante ao proprietário o recebimento do aluguel em caso de inadimplência por determinado período. Ao locatário, esse seguro pode custar três vezes o valor do aluguel. Ao contrário do cheque caução, o seguro-fiança não é devolvido no fim do período contratado. Em paralelo, inquilinos e proprietários podem contratar um seguro residencial para o imóvel. Caso o proprietário faça um contrato, o seguro pode proteger somente a estrutura do imóvel contra incêndios, danos elétricos e vendavais, por exemplo. Já o locatário pode incluir no contrato, além da estrutura do imóvel, o seu conteúdo, como móveis e objetos eletrônicos. Nesse caso, ambos podem chegar a um acordo para dividir o pagamento do prêmio. Outras fontes consultadas: Renata Reis, supervisora de assuntos financeiros do Procon SP. Almir Ximenes Filho, superintendente executivo de produção da Bradesco Seguros, Jarbas Medeiros, gerente de ramos elementares da Porto Seguro, e Bruno Ciolli, superintendente de multirriscos e equipamentos da Zurich Seguros. FABIANA FARIA e DANIELA MACEDO daniela.macedo@abril.com.br ____________________________________ 8# ARTES E ESPETÁCULOS 6.8.14 8#1 TELEVISÃO – FESTA FECHADA 8#2 LIVROS – A DONA DO MUNDO 8#3 MÚSICA – O OCASO DE UMA LENDA 8#4 VEJA RECOMENDA 8#5 OS LIVROS MAIS VENDIDOS 8#6 ROBERTO POMPEU DE TOLEDO – DOIS AGOSTOS 8#1 TELEVISÃO – FESTA FECHADA As cotas de programação nacional na TV por assinatura aumentaram o número de séries brasileiras — mas os produtores ainda têm mais motivos que os espectadores para celebrar. BRUNO MEIER Produtores e diretores andam eufóricos. Falam até em uma "década de ouro" da TV nacional. De fato, nunca se produziram tantos programas — de humor, de culinária, de variedades, de ficção — no Brasil. Esse é o resultado dos quase três anos de vigência da lei gestada pela Agência Nacional do Cinema (Ancine) que estabelece uma cota de conteúdo nacional na programação dos canais pagos. O mínimo exigido são três horas e meia de programas brasileiros por semana — e não vale enterrá-los na alta madrugada: têm de ser exibidos durante o chamado horário nobre, das 7 à meia-noite. "Antes, nós batíamos na porta dos canais pagos. Hoje, é o caminho inverso: são eles que pedem programas", comemora Gil Ribeiro, diretor-presidente da Conspiração Filmes, produtora que, para atender à demanda, montou um núcleo de TV com trinta profissionais, treze deles roteiristas com a missão de criar programas. Produtoras que antes faziam o grosso do seu caixa filmando comerciais agora estão lucrando com a venda de séries. Até 2011, quando a lei entrou em vigor, 95% da receita da O2 Filmes vinha de publicidade, mas hoje a área de cinema e séries para TV e internet já responde por metade do bolo. Para aumentar a alegria, há cerca de um mês o governo federal anunciou mais uma dessas bondades com o dinheiro do cidadão brasileiro que têm longa tradição no setor: um pacote de 480 milhões de reais para estimular a produção de TV e cinema, oriundos do Fundo Setorial do Audiovisual, gerido pela Ancine. Mas vamos com calma: a expressão "era de ouro" diz respeito só à quantidade, pois até o momento, ao menos, não houve ganho notável de qualidade. Velhos problemas da indústria de TV e cinema do país continuam onde sempre estiveram (veja o quadro na pág. 120). E, como seria de esperar de uma política de imposição de "reservas" nacionais, até aqui a lei, em vez de aprimorar a indústria, inflacionou o mercado, aumentando custos e evidenciando a falta de profissionais qualificados para trabalhar nas novas produções. O espectador ainda não tem razão para se juntar ao espocar de fogos e rolhas de champanhe dos produtores. Há, sim, interesse do público pela ficção nacional. Das dez séries mais vistas na TV por assinatura em 2013, cinco são brasileiras. Todas, porém, são de canais da Globosat, braço da Rede Globo na televisão fechada, que já antes da lei investia pesado na produção nativa. A série campeã foi feita não para cumprir a cota, mas para atender o novo público da TV paga, cujo número de assinantes cresceu em média 17% ao ano entre 2006 e 2013 e hoje bate em 18,8 milhões. A comédia Vai que Cola foi projetada, a partir de pesquisas de público conduzidas pela própria Globosat, para o novo contingente de espectadores das classes C e D. "Constatamos que muitos querem apenas sentar na frente da TV e ser entretidos com humor leve", diz Alberto Pecegueiro, diretor-geral da Globosat. Na substância, não é nada diferente do que já se via em programas do gênero na TV aberta, como Zorra Total ou A Praça É Nossa. Repete-se, na explosão das séries da TV paga, o fenômeno do recente boom do cinema nacional: a comédia mais tosca domina. Um drama nacional de boa cepa só aparece bem abaixo: Sessão de Terapia, adaptação de um programa israelense dirigida por Selton Mello, figura em 26º lugar na lista liderada por Vai que Cola. Será ilusório, porém, resumir as deficiências da produção corrente em torno de dicotomias duvidosas como "popular/sofisticado". Em todos os níveis, há um problema renitente, que já assolava o cinema e a ficção da televisão aberta: a baixa qualidade dos roteiros. A extrema profissionalização do processo de redação e revisão do texto está na base do salto de qualidade das séries americanas (e estas, sim, vivem uma era dourada) desde Família Soprano, exibida pela HBO entre 1999 e 2007. Quem deseja um vislumbre do trabalho intensivo de tratamento de roteiro no competitivo mercado brasileiro está convidado a ver os extras do Blu-ray de Breaking Bad: Vince Gilligan, criador da série, aparece comandando uma equipe de seis escritores, em longas reuniões nas quais cada virada da história, cada desenvolvimento é discutido e escrutinado em detalhes. No Brasil, não vigora a mesma cultura do trabalho duro e da crítica mútua. Roteirizar um filme, uma série ou até uma novela ainda é, em grande parte, uma empreitada voluntarista, na qual o ego do autor ocupa o centro. Na Globo e na Globosat há, é verdade, um esforço para aperfeiçoar o trabalho dos mais de 300 roteiristas que estão na folha de pagamento. No início dos anos 2000, eles eram preparados para escrever séries no estilo novelinha, como A Diarista e Sob Nova Direção, "Esperava-se que eles criassem no padrão habitual da casa. O mercado, então, quase não tinha outra exigência", diz um executivo da emissora. A entrada nos canais pagos de produções como Família Soprano e Mad Men mudou tudo — até para a TV aberta: séries como O Canto da Sereia e Amores Roubados perseguem (e em boa parte atingem) um novo padrão. Estabeleceu-se também uma parceria mais íntima entre a TV aberta e a Globosat, em uma rede de colaborações e coproduções: projetos concebidos na Globo são terceirizados para produtoras independentes e depois exibidos nos canais fechados. Escrita e dirigida por Paulo Nascimento, roteirista da Globo, e com Edson Celulari no papel principal, Animal — um drama de suspense bastante ousado, com tintas psicológicas meio sombrias —, que estreia nesta quarta-feira no GNT, é o primeiro fruto desse novo processo. A segunda série, já aprovada, com o título provisório de A Idade Perigosa, será dirigida pela atriz Leandra Leal. O efeito mais imediato da cota nacional foi o inchaço do orçamento dos programas, cujo custo subiu, na média, 50%. Os produtores, naturalmente, estão felizes com isso, mas, no lado dos exibidores, muitos chiam. "O preço está uma aberração" reclama Rogério Gálio, dos canais Turner. O aumento da demanda por programas brasileiros agravou também a falta de mão de obra qualificada. "Em alguns projetos faltam diretores, e somos obrigados a recrutar assistentes de direção, que não têm a mesma experiência mas cobram o mesmo cachê", diz a produtora Tatiana Quintella, da PopCorn. Escolas e cursos de formação não são numerosos e nem sempre estão atualizados com os avanços tecnológicos e criativos da área. Mas o interesse por eles vem crescendo: neste ano, o curso de audiovisual foi um dos mais disputados no vestibular da Universidade de São Paulo — sua nota de corte foi de 59 pontos, atrás apenas de medicina e engenharia. A reserva de mercado cria, como se vê, distorções. E o generoso financiamento público engendra vícios: há programas que dependem do dindim federal para chegar às telas. No ano passado, a canhestra série Vida de Estagiário, exibida pela Warner, teve a segunda temporada cancelada porque esbarrou nos trâmites burocráticos da Ancine e não conseguiu a liberação de sua fatia do Fundo de Audiovisual — os produtores esperavam que o incentivo cobrisse 80% do orçamento. Já está previsto um endurecimento da reserva: a partir de 2015, a cota de conteúdo nacional deverá ser preenchida apenas com programas realizados nos últimos sete anos. A intenção, afinal, é incentivar novas produções — e muitos canais, para se adequar à lei, passaram a exibir sempre os mesmos filmes. Já foi comum ver Carlota Joaquina ou Tropa de Elite na programação de até três canais, no mesmo horário. E houve quem lançasse mão de uma malandragem ainda mais absurda para preencher as três horas e meia de programas verde-amarelos: fizeram os créditos finais dos filmes correr mais lentamente, aumentando o seu tempo total em até cinco minutos. A festa da TV nacional tem dessas esquisitices. DOMÍNIO NACIONAL Cinco criações brasileiras estiveram entre as dez séries mais vistas na TV paga em 2013 1- Vai que Cola; (Muttishow) Ambientada em uma pensão e estrelada por Paulo Gustavo, segue a linha de Saí de Baixo, só que ainda mais baixo. Maior audiência entre as séries brasileiras produzidas para a TV paga nos últimos dez anos, foi vista por 11 milhões de pessoas. 2- Sai de Baixo (Viva) Quatro novos episódios do programa humorístico que fez sucesso na Globo entre 1996 e 2002 foram produzidos para comemorar os três anos do Viva, canal destinado a reprises nostálgicas. Foram vistos por mais de 1,3 milhão de espectadores 3- The Walking Dead (Fox) quarta temporada 4- American Horror Story (Fox) terceira temporada 5- CSI: NY (AXN) 6- Cilada (Muttishow) Trata-se da reprise da série produzida entre 2005 e 2009 na qual Bruno Mazzeo interpreta um sujeito meio ranzinza que se vê diante de chateações cotidianas como organizar um churrascão para os amigos. No ano passado, os episódios antigos foram exibidos antes de Vai que Cola 7- Uma Rua sem Vergonha (Muttishow) Série sobre cinco garotas de programa que vivem em Copacabana, no Rio de Janeiro, com todos os clichês da teleficção protagonizada por prostitutas - incluindo a universitária de classe média que resolve rodar a bolsinha 8- The Walking Dead (Fox) terceira temporada 9- Adorável Psicose (Multishow) Estrelada e escrita por Natália Klein, roteirista de 29 anos, é uma espécie de Girls brasileira: a protagonista é uma jovem obsessiva chamada, claro, Natália. A trama originou-se de um blog mantido pela autora 10- Crossing Lines (AXN) Revenge (Sony) OS GARGALOS DA PRODUÇÃO Três pontos que embolam a indústria de programas e séries para TV no Brasil. ROTEIRO Esta é uma deficiência arraigada na ficção cinematográfica e televisiva do Brasil, ainda presa à noção meio romântica (e muito valorizada depois do cinema novo, nos anos 60 e 70) de que a visão iluminada de um autor importa mais que a carpintaria do bom texto. Enquanto no ambiente competitivo da TV americana o roteiro passa por exaustivas fases de elaboração, escrutínio e controle de qualidade, no Brasil predomina certo improviso. Daí os enredos mal-ajambrados e os diálogos meio canhestros que ainda se vêem até nas melhores produções nacionais da TV paga. Um exemplo expressivo é Psi, da HBO. Produção, direção de arte e atuações atendem aos padrões costumeiros da emissora. Mas, no desenvolvimento das histórias, parece que se confiou apenas na grife do autor, o psicanalista Contardo Calligaris. Os diálogos muitas vezes patinavam em um didatismo artificial. E houve cacoetes piores, como a repetição, quase em todo episódio, da cena em que o psicanalista vivido por Emilio de Mello recusa novos pacientes alegando não ter horário (nunca se entendia com que ele estava tão ocupado, já que passava grande parte da série batendo perna por São Paulo) e os encaminha invariavelmente para a mesma colega. MÃO DE OBRA A lei que estabelece cotas para a produção nacional na TV paga aumentou a demanda por produções nacionais. Mas não se criam profissionais da noite para o dia: falta gente qualificada em várias funções, da cenografia à operação de câmeras. Com estreia marcada para agosto no Multishow, a pré-produção de A Segunda Vez viveu momentos de caos em razão desse problema. O prazo de produção era apertado, para se adequar à agenda do ator Marcos Palmeira - e, com a limitação de tempo, foi duro encontrar diretor de fotografia e até maquinista. Os contratos foram fechados dias antes da gravação CUSTO INFLACIONADO Pesquisas de audiência mostram que há, sim, público interessado na ficção nacional. Mas, como o mercado publicitário ainda investe pouco em programas da TV fechada, em sua maioria os projetos são pagos pelos próprios canais. Como a lei aumentou a demanda, o orçamento das séries vem sendo drasticamente inflacionado: se antes as produtoras pediam cerca de 100.000 reais por episódio, hoje essa média está em 250.000 reais. Na HBO, o custo eleva-se a 750.000 reais por episódio. Primeira produção da parceria entre Globo e Globosat, Animal custou 390.000 reais por episódio, o mesmo orçamento de um capítulo de novela das 7. 8#2 LIVROS – A DONA DO MUNDO Uma biografia narra como a feiosa Josefina seduziu Paris e Napoleão, o homem mais poderoso de seu tempo. A exemplo de outras grandes sedutoras da história — como a imperatriz Catarina da Rússia e Cleópatra —, Marie-Josèphe-Rose de Tascher de La Pagerie não foi nenhuma beldade. Era baixa, gordota, tinha maneiras rudes e sorria cobrindo os lábios com um lenço, para esconder os dentes enegrecidos pelo consumo excessivo de açúcar durante a infância, no engenho do pai na Martinica. Mas, se as mulheres zombavam dela, os homens se viam imediatamente atraídos por sua pele morena e pela atenção que ela lhes devotava mesmo em uma rápida conversa. "Ela os fazia pensar no boudoir", diz a escritora inglesa Kate Williams, na biografia Josefina: Desejo, Ambição, Napoleão (tradução de Luís Santos; Leya; 512 páginas; 49,90 reais, ou 33,99 na versão eletrônica). Historiadora e consultora da rede BBC, Kate conta a trajetória da primeira mulher de Napoleão Bonaparte com o ritmo de uma boa série de TV. Se falta profundidade de análise histórica à narrativa, ela é compensada pela rica descrição da época e, sobretudo, pelo carisma do casal de protagonistas. O amor entre Josefina e Napoleão — foi ele quem lhe deu o nome pelo qual é conhecida até hoje — era carnal, passional e tão intenso que sobreviveu à separação (motivada pela incapacidade de Josefina, já com certa idade, de gerar filhos) para chegar à beira da morte: consta que ele teria chamado pela amada pouco antes de expirar, na Ilha de Santa Helena, em 1821, seis anos depois de ela ter sucumbido a uma pneumonia, em Paris. Ambos compartilhavam o mesmo apego ao poder e uma notável habilidade para engendrar intrigas palacianas e diplomáticas e delas se desvencilhar. Uma ligação inflamada e inevitável desde a noite, em 1795, quando em um banquete a viúva do fidalgo Alexandre de Beauharnais se sentou ao lado do ainda jovem e tímido soldado Bonaparte. A relação é bem documentada através da extensa correspondência trocada por eles — o general francês, como se sabe, era excelente missivista. Nascida em 1763, em uma família de latifundiários crioulos — como eram chamados os brancos originários do Caribe —, Josefina foi enviada a Paris aos 15 anos, para um casamento de conveniência. Escapou da ruína financeira do pai, mas enfrentou um marido mulherengo e ciumento que, depois de dois filhos, a acusou de adultério e a enviou para um convento que acolhia damas da sociedade caídas em desgraça. A partir de então teve de se reinventar, primeiro como cortesã em Versalhes — por pouco não foi parar na guilhotina, como o marido — e, depois, como femme du monde na França pós-revolucionária. No terceiro ato de sua vida, já imperatriz — foi coroada graças a uma manobra de última hora junto ao papa Pio VII —, comprava cerca de 900 vestidos por ano e possuía mais diamantes do que Maria Antonieta. Mas dizia nunca ter sido tão feliz quanto no tempo em que corria livre e despreocupada pelo engenho do pai. Isso, nem o homem mais poderoso do mundo conseguiu lhe devolver. MÁRIO MENDES 8#3 MÚSICA – O OCASO DE UMA LENDA Em um espetáculo da Broadway, a cantora Audra McDonald revive, com assustadora fidelidade, o último e melancólico show de Billie Holiday. SÉRGIO MARTINS, DE NOVA YORK É madrugada no Emerson’s Bar & Grill, um inferninho na Filadélfia, e Billie Holiday está apenas esquentando. Em uma hora e meia de show, ela desfila as canções mais simbólicas de sua carreira — entre elas, God Bless the Child e Strange Fruit —, apresenta Pepi, seu cãozinho de estimação, e faz comentários ácidos sobre ex-maridos, empresários, familiares — e sobre sua cidade natal: "Quando eu morrer, não quero saber se irei para o céu ou para o inferno. Só não quero ir para a Filadélfia" (a mágoa da cantora tinha fundamento: na Filadélfia, ela foi presa por posse de entorpecentes, e depois disso perdeu a credencial que a autorizava a cantar nas melhores casas de espetáculos, ficando relegada a cabarés decadentes como o Emerson’s). A plateia, a princípio, ri da galhofa da cantora, de sua insistência em trocar o nome do pianista que a acompanha e de seus exageros etílicos. Mas, com o desenrolar do show, as anedotas ganham um sabor amargo. O público passa da gargalhada para o sorriso amarelo e, em seguida, para a expressão séria, compungida. O que se desenrola no palco é a queda de uma lenda do jazz — que morreria de problemas cardíacos e hepáticos em 17 de julho de 1959, quatro meses depois da errática aparição na Filadélfia. Em cartaz na Broadway até 21 de setembro, Lady Day at Emerson's Bar & Grill é uma reconstituição dramática do que teria sido aquela noite. É também uma investigação das razões de Billie para sabotar seu talento, a ponto de transformar seu canto doce num grasnado triste (e ainda assim imensamente belo). Escrito por Lanie Roberston, o espetáculo estreou em 1986 e percorreu o circuito off-Broadway até encontrar sua intérprete ideal: a americana Audra McDonald, que neste ano ganhou o Tony de melhor atriz em musical por essa performance. Da voz doída ao lamentável estado de confusão mental, Audra é a própria Billie Holiday. O crítico alemão Joachim-Ernst Berendt (1922-2000), grande historiador musical (seu O Livro do Jazz acaba de ser publicado pela editora Sesc), diz que o canto de Billie Holiday inicia a era moderna do jazz. O desejo de Eleanora Fagan, nascida em 1915 na Filadélfia que ela aprendeu a odiar, era seguir os passos da cantora Bessie Smith (1894-1937). Mas Billie Holiday, como seria conhecida, foi além. Mudou a batida e a melodia das canções que interpretava. Por vezes, seu fraseado vocal era calcado no trompete de Louis Armstrong (1901-1971) ou no saxofone de Lester Young (1909-1959). E ela adicionou um elemento trágico ao jazz. Vítima de estupro na infância, passou a vida sendo explorada por maridos infiéis, empresários desonestos, e amantes infiéis e desonestos. A heroína, droga da preferência dos músicos de jazz, foi especialmente devastadora para Billie Holiday, destruindo sua voz e precipitando sua derrocada artística. Audra McDonald tem 44 anos, a mesma idade de Billie quando morreu. Está no auge da forma técnica. Soprano de formação clássica e uma das atrizes mais versáteis de sua geração (vai de concertos da Filarmônica de Berlim ao tolo seriado Private Practice), ela traz na voz todas as imperfeições de Billie no final de carreira. E, se vez ou outra lhe falta o suingue do jazz (como em What a Little Moonlight Can Do), seu talento dramático permite que uma canção como Strange Fruit surja com toda a dor exigida pela letra desse libelo contra o racismo — Audra declama cada verso com a força de uma chibatada. A fidelidade ao personagem foi transgredida em alguns pontos, para o bem do espetáculo. Tímida, Billie Holiday cantava a meia-luz, para não encarar a plateia, enquanto Audra brinca com o público e fila o cigarro de um espectador. Mas quando, na pele de Billie, diz "tudo o que eu queria era ter um pequeno clube de jazz, um lugar para cozinhar, e ter filhos. Eu adoro crianças", não há um espectador do Emerson's Bar & Grill (ou melhor, do Circle in the Square Theatre, onde o musical é encenado) que não deseje salvar Billie Holiday de seu melancólico ocaso. 8#4 VEJA RECOMENDA DISCOS NATALIE MERCHANT (WARNER) • Ex-vocalista dos 10,000 Maniacs, um dos estandartes do rock alternativo americano dos anos 1980, Natalie Merchant passou treze anos sem lançar material inédito (seu último disco, Leave Your Sleep, de 2010, trazia poemas infantis musicados pela cantora e compositora). Em seu novo álbum, ela passa a limpo esse período de silêncio. Em sua porção política, Natalie Merchant, o disco, exorciza um tanto tardiamente os anos de presidência de George W. Bush em canções como Go Down, Moses, que fala de Nova Orleans e do furacão Katrina (com direito a um espetacular coro gospel), ou Texas, sobre um "menino mimado" nascido em berço de ouro (sim, é o ex-presidente). Seven Deadly Sins é uma canção amarga sobre separação (Natalie se divorciou recentemente) e Lulu homenageia Louise Brooks, uma das primeiras vamps do cinema americano. Embora os temas possam sugerir um disco árido, Natalie Merchant é fiel ao estilo da artista: canções que transitam entre a música folk e a balada, com presença maciça do piano e de um naipe de cordas e metais. E a voz sempre quente e emocionante de Natalie. THE BREEZE: NA APPRECIATION OF J.J. CALE, ERIC CLAPTON & FRIENDS (UNIVERSAL) • Eric Clapton nunca escondeu sua admiração pelo trabalho de J.J. Cale. Dois dos seus maiores hits dos anos 1970 (After Midnight e Cocaine) são composições do guitarrista americano. Em 2006, Clapton e Cale gravaram, juntos, o ótimo The Road to Escondido. The Breeze é uma nova homenagem de Clapton ao ídolo e amigo, morto de complicações cardíacas no ano passado. O deus da guitarra inglês reuniu cantores e guitarristas que, assim como ele, foram influenciados por Cale e seu "Tulsa sound" (estilo que mistura blues, jazz, rockabilly e música country). Reverentes, as releituras, sempre em dueto com Clapton, mostram como Cale influenciou uma legião de guitarristas das últimas décadas. John Mayer recria Lies e Magnolia, enquanto Mark Knopfler, ex-Dire Straits, dá um show com sua guitarra Stratocaster na faixa Train to Nowhere. Willie Nelson nunca foi um ás das seis cordas, mas sua lamentosa voz country caiu muito bem em Starbound (faixa em que os solos estão a cargo do soberbo guitarrista Derek Trucks). E Tom Petty se apropria de Rock and Roll Records, que parece mesmo nascida para seu repertório. LIVROS OS LUMINARES, DE ELEANOR CATTON (TRADUÇÃO DE FÁBIO BONILLO; BIBLIOTECA AZUL; 888 PÁGINAS; 69,90 REAIS) • Em um texto no jornal The Guardian sobre a gênese deste romanção, a canadense Eleanor Catton citou matrizes literárias díspares: romances juvenis de aventura como A Ilha do Tesouro, de Robert Louis Stevenson, e a ficção cerebral e minuciosamente estruturada do italiano Italo Calvino. Os Luminares é uma conjunção engenhosa dessas duas vertentes. Como nos livros de Calvino, a narrativa desenvolve-se a partir de um plano quase matemático, inspirado pelos signos do zodíaco e sua evolução no céu visível na Nova Zelândia do século XIX, cenário da ação. Mas este é também um romance de aventura e mistério, com uma vasta e colorida galeria de personagens — o garimpeiro, a mulher de passado duvidoso, o sábio maori. Por esse feito, Eleanor, de 28 anos — que na semana passada esteve no Brasil, participando da Flip, em Paraty —, tornou-se, em 2013, a mais jovem autora a ganhar o prestigioso Prêmio Man Booker. A ERA DO RESSENTIMENTO, DE LUIZ FELIPE PONDÉ (LEYA; 174 PÁGINAS; 39,90 REAIS) • "O homem contemporâneo é, talvez, o mais covarde que já caminhou sobre a Terra, sobre a qual deixará sua marca de incompetência em lidar com a morte, a dor e o fracasso." O diagnóstico amargo é do filósofo Luiz Felipe Pondé. Figura consagrada e contestada do debate público brasileiro, Pondé frequentemente se choca contra o monopólio dos bons sentimentos reivindicado por boa parte da esquerda. Tal foi, aliás, o tema de um livro anterior, Guia Politicamente Incorreto da Filosofia, e é também uma linha forte deste A Era do Ressentimento. Amparando-se na filosofia do alemão Friedrich Nietzsche, Pondé identifica o ressentido, com sua permanente mágoa narcisista contra um mundo que não lhe dá tudo o que ele julga seu por direito, como um tipo fundamental da paisagem intelectual contemporânea. Essa incapacidade de enfrentar como adulto a falta de sentido do mundo aparece com muita clareza entre vários militantes de causas políticas da moda — mas Pondé, com olhar amplo, também a identifica no comportamento e até em certa espiritualidade dos dias de hoje. "O ressentimento é uma forma de cegueira espiritual", diz. DVD OBRAS-PRIMAS DO TERROR (ITÁLIA, INGLATERRA, ESTADOS UNIDOS, 1945-1963. VERSÁTIL) • Assombrações, zumbis, alienígenas, um boneco assassino. Há horrores diversos nos seis filmes desta coletânea de produções emblemáticas realizadas entre as décadas de 40 e 60 por mestres do gênero — como o italiano Mário Bava — ou nem tanto — como o americano Robert Wise, conhecido pelo açucarado A Noviça Rebelde. Bava é o responsável por O Chicote e o Corpo (1963), estrelado por Christopher Lee, enquanto Wise assina O Túmulo Vazio (1945), com Boris Karloff. Há também A Orgia da Morte (1964), dirigido por Roger Corman, com Vincent Price e baseado em Edgar Allan Poe. No filme em episódios Na Solidão da Noite (1945), aparece a história do ventríloquo (Michael Redgrave) aterrorizado por seu boneco, dirigida pelo brasileiro Alberto Cavalcanti. Fechando o programa, o antológico A Noite do Demônio (1957), do francês Jacques Tourneur, e o sombrio A Aldeia dos Amaldiçoados (1960), de Wolf Rilla, sobre um sinistro grupo de crianças louras com poderes telepáticos. 8#5 OS LIVROS MAIS VENDIDOS FICÇÃO 1- A Culpa É das Estrelas. John Green. INTRÍNSECA 2- Quem É Você, Alasca? John Green. MARTINS FONTES 3- Felicidade Roubada. Augusto Cury. SARAIVA 4- Cidades de Papel. John Green. INTRÍNSECA 5- Cinquenta Tons de Cinza. E.L. James. INTRÍNSECA 6- O Teorema de Katherine. John Green. INTRÍNSECA 7- Cidade do Fogo Celestial. Cassandra Clare. GALERA RECORD 8- A Escolha. Kiera Cass. SEGUINTE 9- O Pequeno Príncipe. Antoine de Saint-Exupéry. AGIR 10- A Menina que Roubava Livros. Markus Zusak. INTRÍNSECA NÃO FICÇÃO 1- Sonho Grande. Cristiane Corrêa. PRIMEIRA PESSOA 2- O Livro da Psicologia. Nigel Benson. GLOBO 3- O Diário de Anne Frank. Anne Frank. RECORD 4- A Estrela que Nunca Vai Se Apagar. Esther Earl. INTRÍNSECA 5- Demi Lovato – 365 Dias do Ano. Demi Locato. BEST SELLER 6- Cinquenta Anos Esta Noite. José Serra. RECORD 7- O Livro da Filosofia. Vários. GLOBO 8- 1889. Laurentino Gomes. GLOBO 9- O Livro da Economia. Vários. GLOBO 10- A Vida Secreta de Fidel. Juan Reinaldo Sánchez. PARALELA AUTOAJUDA E ESOTERISMO 1- Ansiedade. Augusto Cury. SARAIVA 2- Não Se Apega, Não. Isabela Freitas. INTRÍNSECA 3- Pais Inteligentes Formam Sucessores, Não Herdeiros. Augusto Cury. SARAIVA 4- Casamento Blindado. Renato e Cristiane Cardoso. THOMAS NELSON BRASIL 5- O Monge e o Executivo. James Hunter. SEXTANTE 6- Eu Não Consigo Emagrecer. Pierre Dukan. BEST SELLER 7- O Poder do Hábito. Charles Duhigg. OBJETIVA 8- Foco. Daniel Goleman. OBJETIVA 9- Kairós. Padre Marcelo Rossi. PRINCIPIUM 10- O que Realmente Importa? Anderson Cavalcante. SEXTANTE 8#6 ROBERTO POMPEU DE TOLEDO – DOIS AGOSTOS O verão de 1914 no Hemisfério Norte foi exuberante de sol e de esplendor. No dia 28 de junho daquele ano o escritor Stefan Zweig, aos 32 anos um nome já conhecido em toda a Europa, lia um livro no parque da estação de banhos de Baden, perto de sua Viena natal, deliciando-se com o clima impecável, o suave vento nas árvores e o gorjeio dos pássaros, quando teve a atenção despertada para o súbito silêncio da orquestra que até então animava os veranistas. Havia uma comunicação importante a ser feita. O príncipe Francisco Ferdinando, herdeiro da coroa dos Habsburgos, e sua mulher haviam sido assassinados na Bósnia. Não se tratava, conta Zweig em suas memórias, O Mundo que Eu Vi, de personagem popular; era antipático, mantinha os olhos imóveis e nunca sorria. Ainda assim a notícia era chocante e foi recebida com comoção. Duas horas mais tarde, porém, o povo conversava e ria; à noite as orquestras tocavam; e lotavam os locais de diversão. Em seu último dia em Baden, Zweig visitou um vinhedo da região, e o proprietário lhe disse: "Há muito não temos um verão como este. Se continuar assim, teremos um vinho como nunca. O povo não esquecerá este verão". Em julho o escritor decidiu passar uns dias em Le Coq, praia perto de Ostende, na Bélgica, antes de encontrar-se com o poeta belga Verhaeren, de quem era grande amigo e tradutor para o alemão. O tempo continuava esplendoroso, e as pessoas em férias, falando várias línguas, ocupavam barracas coloridas na praia e tomavam banho de mar, enquanto as crianças empinavam pipa e os jovens dançavam no cais. Os jornais estampavam manchetes ominosas — "A Áustria provoca a Rússia"; "A Alemanha prepara a mobilização" —, mas quem as lia só por alguns minutos se alarmava. "Esses conflitos diplomáticos", escreve Zweig, "há anos que os conhecíamos; sempre, à última hora, antes que as coisas se agravassem, se resolviam." Melhor aproveitar os banhos, o céu alegremente entrecortado de pipas e de gaivotas e o sol, que "ria radiante sobre aquela terra pacífica". Uma tarde, ainda em Le Coq, Zweig reunia-se num café com amigos belgas quando viram passar um grupo de soldados. "Por que essa bobagem de marchas?", perguntou um dos amigos. "Temos de tomar nossas precauções", respondeu outro. "Dizem que em caso de guerra os alemães atravessarão a Bélgica." Zweig contestou, convicto: "Nunca farão isso". Seria contra os tratados e o direito internacional. "Vocês podem me enforcar aqui neste lampião se os alemães invadirem a Bélgica." Nos últimos dias de julho as notícias se agravaram. O Kaiser da Alemanha e o czar da Rússia trocavam telegramas ameaçadores. A Áustria declarou guerra à Sérvia. "De repente uma rajada fria, de medo, soprou sobre a praia e a esvaziou", registra Zweig. Hora de voltar para casa. O escritor tomou o último trem para a Alemanha. Viajou de pé, entre passageiros que, nervosos, trocavam palpites. Mal cruzaram a fronteira, o trem parou bruscamente. Que teria acontecido? "Vi então no escuro alguns trens de carga que se dirigiam em sentido contrário, vagões abertos e cobertos com encerados sob os quais julguei distinguir as formas de canhões", escreve Zweig. Era agosto. A Alemanha iniciava a invasão da Bélgica para, dali, atingir a França. No dia seguinte o escritor chegou à Áustria e encontrou Viena em polvorosa. O temor pela guerra se transformara em entusiasmo. "Formavam-se préstitos nas ruas, por toda parte se viam bandeiras e fitas e se ouvia música, os jovens recrutas marchavam triunfalmente e exibiam fisionomia alegre porque o povo os aclamava, a eles, pequenas criaturas a que de ordinário ninguém dava atenção." Zweig acrescenta, envergonhado, que, apesar de seu ódio à guerra — ele se distinguiria como pacifista —, sentiu nesse momento "algo de grandioso, arrebatador e até sedutor". A I Guerra Mundial duraria quatro anos e faria 15 milhões de mortos no inferno das trincheiras, nas nuvens de armas químicas ou entre as populações civis. Muitos dos mortos terão sido os jovens garbosos que Zweig viu desfilar em Viena, ou os veranistas despreocupados com quem conviveu em Baden e em Le Coq. Ainda bem que, findo o morticínio, chegou-se à conclusão de que aquela guerra, a mais monstruosa e avassaladora, tinha vindo para acabar com todas as guerras. Neste agosto faz 100 anos que aquilo começou. Neste agosto de 2014 em que... O leitor já sabe.