VEJA www.veja.com Editora ABRIL Edição 2355 – ano 47 – nº 2 [descrição da imagem: rosto de um homem, colorido. Por cima, com a mão direita ele segura parte de uma foto, não colorida, na frente do rosto, aparecendo os lábios, do meio para a direita, em que a boca aparece aberta, como num sorriso ou grito. Com a mão esquerda, segura em frente ao olho esquerdo, como uma foto deste olho olhando mais para cima, diferente da direção que aparece do outro lado (direito), que está olhando para frente.] AS MARCAS DA MENTIRA A ciência decifra os sinais da linguagem verbal, facial e corporal que ajudam a descobrir quem não está falando a verdade. TESTE: IDENTIFIQUE UM MENTIROSO NA POLÍTICA E NA VIDA PESSOAL [descrição da imagem: canto superior esquerdo, foto do rosto de uma mulher, cabelos longos, alguns no rosto, olhos fechados, boca aberta, como em êxtase] A ESTÉTICA DO CHOQUE A ousadia dos artistas em um tempo em que tudo ofende e nada espanta. [descrição da imagem: canto superior direito. Caricatura da presidente Dilma pilotando um avião, com o símbolo do PT na traseira. Ao lado, em outra caricatura, Freud pilotando um avião, aparecendo uma estrela dourada na asa. Os aviões parecem estilo militar] “GUERRA PSICOLÓGICA” Dilma usa um conceito da ditadura militar para explicar a fragilidade econômica do país. ______________________________ 1# SEÇÕES 2# PANORAMA 3# BRASIL 4# INTERNACIONAL 5# GERAL 6# GUIA 7# ARTES E ESPETÁCULOS _________________________________ 1# SEÇÕES 8.1.14 1#1 CARTA AO LEITOR – SIGILOSO OU CLANDESTINO? 1#2 ENTREVISTA – PETER EIGEN – MEDIDAS DURAS NÃO BASTAM 1#3 CLAUDIO DE MOURA CASTRO – BAGUNÇA TÓXICA 1#4 MAÍLSON DA NÓBREGA – AIRBAGS, FREIOS ABS E DESTRUIÇÃO CRIATIVA 1#5 LEITOR 1#6 BLOGOSFERA 1#7 EISNTEIN SAÚDE – CISTOS RENAIS REQUEREM ATENÇÃO 1#1 CARTA AO LEITOR – SIGILOSO OU CLANDESTINO? O governo brasileiro está levando longe demais sua política externa de opção preferencial por ditaduras caloteiras. No ano passado, Brasília perdoou a dívida de Congo-Brazzaville, Sudão, Gabão e Guiné Equatorial, países dirigidos por governantes acusados em tribunais internacionais de crimes de desvio de dinheiro público, enriquecimento ilícito, corrupção, lavagem de dinheiro e genocídio. Esses países importaram do Brasil cerca de 1,9 bilhão de reais e não pagaram. Por decisão de Dilma Rousseff, cada brasileiro teve de fazer uma doação compulsória de 9,50 reais a esses líderes africanos de péssima reputação. Uma reportagem desta edição de VEJA mostra que a generosidade de Brasília com o dinheiro alheio — dinheiro do povo brasileiro que trabalha e paga impostos — vai ter em breve mais um momento apoteótico, com a inauguração, no fim do mês, do novo Porto de Mariel, em Cuba, cuja reforma, de 682 milhões de dólares, foi financiada pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). A exemplo dos países africanos agraciados por Brasília, Cuba também não tem tradição de honrar seus compromissos internacionais. A reportagem revela que, apesar disso, o Brasil aceitou como garantia do empréstimo a abertura por Havana de uma conta-corrente em uma agência do Banco do Brasil nos Estados Unidos. A garantia é frágil e insuficiente. Por mecanismo menos frouxo, Havana deu o calote no México. Investir em obras de infraestrutura em Cuba quando o Brasil mais precisa delas já seria, no mínimo, estranho. Mas, mostra a reportagem de VEJA, o mais preocupante é o fato de que os investimentos brasileiros no porto cubano são sigilosos. Os documentos relativos ao negócio só poderão se tornar públicos em 2027 — ou seja, daqui a treze anos. Qual a justificativa do governo para gastar essa fortuna de dinheiro público brasileiro sob segredo? O Senado Federal quis saber e recebeu apenas respostas vagas sobre o negócio. Por iniciativa de Fernando Pimentel, ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, investimentos brasileiros em Cuba e em Angola foram classificados como sigilosos. Por que só esses? Os demais investimentos brasileiros no exterior mereceram apenas as cláusulas de confidencialidade de praxe em negócios que envolvem governos estrangeiros. Pelo compromisso com a transparência, o governo brasileiro precisa dar detalhes de seus investimentos em Cuba e Angola. O Poder Executivo tem o direito de proteger com sigilo determinadas decisões e arbitrar um período de tempo para que os documentos relativos a elas se tornem públicos. Mas isso não inclui manter os demais poderes da República alheios às decisões. Deixar de informar ao Parlamento transforma decisões sigilosas em clandestinas. Esse é o perigo. 1#2 ENTREVISTA – PETER EIGEN – MEDIDAS DURAS NÃO BASTAM O criador da Transparência internacional diz que só o comprometimento da sociedade é eficaz no combate à corrupção e que o Brasil precisa se esforçar mais para controlá-la. FERNANDA ALLEGRETTI Há duas décadas, o advogado alemão Peter Eigen, de 75 anos, fundou a Transparência Internacional, a principal organização não governamental de combate à corrupção. A instituição elabora um ranking sobre o assunto tão respeitado que influencia decisões de governos e multinacionais. No último deles, recém-divulgado, o Brasil ficou com a 72ª posição em uma lista de 177 nações. "Espero que o país continue insistindo em combater a corrupção. Em 2013, os brasileiros viram pessoas poderosas ir para a cadeia, mas a confiança do cidadão no sistema judiciário ainda é baixa", observa ele, que, por seu trabalho, recebeu a Grã-Cruz do Mérito, dada pelo governo da Alemanha. Eigen concedeu a VEJA a entrevista a seguir. Em 2012, o Brasil ocupava o 69º lugar no Ranking de Percepção da Corrupção feito pela Transparência internacional; agora, está na 72ª posição. A que se deve essa piora? A variação está dentro da margem de erro da pesquisa. Consideramos significativa uma variação de mais de quatro posições de um ano para o outro. Em 2001, o senhor declarou que a corrupção era endêmica no Brasil. Sua opinião mudou? Não gosto de dar esse tipo de declaração, pois não estou no país o tempo todo para julgar, mas, em novembro de 2012, durante a 15ª Conferência Internacional Anticorrupção, que aconteceu em Brasília, a própria presidente Dilma Rousseff disse que a corrupção é endêmica no país e que era sua prioridade combatê-la. Em 2013 os brasileiros viram pela primeira vez políticos importantes ir para a cadeia por terem sido condenados no processo do mensalão, o maior esquema de corrupção da história do país. Essa é uma prova de que o Brasil avançou nessa questão? Acima de tudo, o mensalão é um exemplo de que as instituições brasileiras estão funcionando bem. A Suprema Corte transmitiu todas as sessões ao vivo pela televisão, uma demonstração de total transparência. O Brasil é um país democrático, com eleições livres e multipartidárias, portanto um caso que envolve tantas figuras do alto escalão do governo naturalmente se torna um fenômeno político. Mas a tentativa de desacreditar os procedimentos do julgamento com a afirmação de que as decisões dos juízes foram motivadas politicamente não é correta. Os promotores do caso e a maioria dos juízes que decidiram sobre o veredicto foram nomeados pelos presidentes Lula e Dilma. É uma prova clara da independência do julgamento e uma forte mensagem aos outros políticos que agem assumindo a impunidade de que as coisas podem estar mudando no Brasil. A Lei de Acesso à Informação brasileira está completando dois anos. Até agora, apenas 933 dos 5570 municípios aderiram ao Brasil Transparente, programa lançado para ajudar na implementação da nova lei. Dos 27 estados, só dezesseis sancionaram a lei. Por que tanta dificuldade? O decreto da lei é o primeiro passo. Esse tipo de legislação requer transformações em todos os níveis do aparato do Estado. As agências do governo precisam oferecer um serviço ao público ao qual não estavam acostumadas, que é divulgar a informação em termos compreensíveis a qualquer cidadão. Precisam melhorar o mecanismo de organização da informação ou criar novos mecanismos, já que a maioria das agências nunca teve arquivos organizados ou diretrizes para lidar com dados. O agente de mudança mais importante é a própria sociedade. Quando ela passa a exigir mais informações públicas, o governo tem de reagir. Mas isso também leva tempo, porque representa uma mudança profunda de como os cidadãos se relacionam com o governo e com seu direito de saber. Qual o real poder de mudança das manifestações de rua, como as que aconteceram no Brasil em junho de 2013? Quando existe um sentimento de insatisfação generalizada, qualquer pequeno incidente detona protestos. A insatisfação é o motor para que as pessoas saiam às ruas e se façam ouvir, mas a sociedade civil precisa ser mais previsível, competente e profissional no entendimento do que está acontecendo ao seu redor. Só demonstrar insatisfação e quebrar janelas do McDonald’s não adianta. É muito mais eficiente planejar encontros com governantes e grandes companhias para unir esforços e proteger a sociedade da corrupção. Combater esse mal é do interesse de todos. Inclusive das grandes empresas? Sim. A Transparência Internacional desenvolveu um índice para mensurar a corrupção na indústria extrativista. Nessa área, a corrupção é particularmente bem difundida. As mineradoras e as petroleiras trabalham com somas altas, informações confidenciais e decisões complexas. Logo, a vulnerabilidade é maior. O conceito do que chamamos de Iniciativa da Transparência para a Indústria Extrativista é bastante simples. As companhias precisam revelar quanto pagam ao governo em royalties, impostos e dividendos. Os governos precisam revelar quanto recebem. Esse valor tem de bater. A Petrobras e a Vale estão participando, mas o governo brasileiro não. Não entendo o porquê, já que a iniciativa vai ao encontro do que prega a presidente Dilma Rousseff. Países como a Indonésia, o Azerbaijão e a Nigéria apoiam a iniciativa. Em um relatório divulgado sobre a transparência das empresas, o Brasil foi o país dos Brics que tirou a segunda menor nota: 3,4, de um máximo de 10. Ficou à frente apenas da China. Por que o mau desempenho? Para desenvolver esse relatório, a Transparência Internacional avalia três pontos: se a empresa conta com mecanismos que inibam a corrupção e se eles são eficientes, a transparência nas transações e, por último, a qualidade das informações referentes aos países em que a companhia opera, tais como valores de receita, despesas e pagamento de impostos. Treze multinacionais brasileiras foram analisadas, e todas pontuaram mal. O pior desempenho se deu no âmbito das informações referentes aos países estrangeiros em que as companhias operam. Essas empresas poderiam melhorar seu desempenho se tivessem dados individualizados de cada país em que atuam. Está em curso no Brasil uma reforma política. Que mecanismos podem ser incorporados a esse tipo de reforma para inibir a corrupção? Não há sistema perfeito nem um único modelo ideal para todos. Uma boa legislação também não é suficiente. Sua implementação é que conta. Como a reforma política é um assunto complexo e de extrema importância, um amplo debate público é essencial. Independentemente das reformas escolhidas pelos brasileiros, é importante garantir a existência de mecanismos que identifiquem e inibam a corrupção. Raramente a corrupção é um fenômeno isolado, encontrado em uma única instituição, setor ou grupo específico. Em geral, sua natureza é sistêmica, e combatê-la exige uma estratégia holística e abrangente. Quando não existe comprometimento real de toda a sociedade, mesmo as medidas mais duras têm pouco impacto. O número elevado de partidos políticos incita a corrupção? O Brasil ainda é uma democracia jovem e um país com grande diversidade cultural. Essas características contribuem para um sistema partidário plural. Mas é claro que a vasta maioria desses partidos existe apenas como veículo de interesses privados e do clientelismo. Se novos partidos são criados para perpetuar o modelo político antigo, alguma coisa está errada. Se forem criados para propor e apoiar novas ideias e práticas, então eles poderão servir para desenvolver a democracia do país. Os partidos escolhem seus candidatos antes de os eleitores irem às urnas, por isso é importante que as leis e os mecanismos que garantem a transparência operem com eficiência. Países com baixos índices de corrupção crescem mais rápido? Certamente. Basta olhar os rankings de qualidade de vida. Os países do topo são sempre os mesmos: Finlândia, Suécia, Suíça, Noruega. Todos com baixa incidência de corrupção. É possível fazer negócios honestos em países corruptos? Tenho amigos ricos que fazem negócios em vários países e que nunca subornaram ninguém. Um deles é Mo Ibrahim, um sudanês bilionário, uma das pessoas mais ricas do mundo. Ele tem companhias de telecomunicações em diversas regiões da África e costuma dizer que deixa um país no momento em que alguém lhe pede dinheiro. O gasto com a Copa do Mundo no Brasil já ultrapassou o valor planejado em 3 bilhões. Segundo o governo, o valor total pode chegar a 33 bilhões. É possível prever com exatidão os gastos em eventos dessa magnitude? Se houver agências do governo competentes e politicamente blindadas para planejar e acompanhar os trabalhos de preparação, certamente o orçamento será mais preciso e o uso do dinheiro público, mais eficiente. Os protestos em todo o Brasil foram um sinal para os políticos. Até agora, eles fizeram muito pouco para reconquistar a confiança do povo. Não me surpreende o fato de os brasileiros estarem tão preocupados com os enormes gastos da Copa. O Instituto Ethos está dando um bom exemplo de vigilância com o projeto Jogos Limpos, que trabalha para melhorar a transparência na preparação da Copa do Mundo. Tenho certeza de que os brasileiros ficariam muito mais felizes com os gols da seleção brasileira se a Copa fosse organizada com a devida atenção e o cuidado com quem paga os impostos. Em outro relatório da Transparência Internacional, o Brasil figura entre os vinte países que pouco ou nada fizeram para impedir as companhias e seus empresários de subornar governos estrangeiros. Por que a prática de suborno em outros países não é considerada corrupção por muitas empresas? O Brasil assinou a Convenção da Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico, que criminaliza o suborno de empresários estrangeiros, e deveria se esforçar mais para cumpri-la, aperfeiçoando a proteção ao denunciante e oferecendo melhores dados estatísticos sobre as investigações. Até muito recentemente, os países europeus não apenas permitiam que suas companhias subornassem governos de outros países como garantiam incentivos fiscais àquelas que o fizessem. Uma empresa poderia discriminar a propina como "pagamentos úteis" e, assim, reduzir o imposto de renda. A legislação alemã permitiu essa conduta até 1999. A Transparência Internacional desempenhou um papel importante no encerramento dessa prática, cobrando novas regulações europeias contra o pagamento de propina. Cooperamos com a Siemens e outras empresas para orientá-las sobre os benefícios de um mercado sem corrupção. A Siemens gastou 2 bilhões de dólares com fianças e honorários de advogados em questões ligadas a suborno. Demitiu seus maiores administradores. São perdas consideráveis. Espero que a prática não comece novamente com esse escândalo que estourou no Brasil. O senhor defende a ideia de que a luta contra a corrupção deve ser globalizada e propõe a criação de um Ato Anticorrupção. Como funcionaria? Cada país tem sua jurisdição para conter a corrupção, mas os governos federais não têm alcance global. Precisamos de um processo capaz de cruzar fronteiras. O Ato Anticorrupção pode criar uma rede de apoio mútuo entre os países e, com isso, propiciar um ambiente generalizado para a honestidade. É possível acabar completamente com a corrupção? Não. Você pode controlá-la, mas não eliminá-la. É a mesma coisa com casos de assassinato ou estupro, por exemplo. Não existe um único país onde esses crimes não ocorram. Mas é possível reduzir sua incidência. Há países em que você pode andar pelas ruas sem medo de ser assassinado. Em outros, nem tanto. 1#3 CLAUDIO DE MOURA CASTRO – BAGUNÇA TÓXICA Ao serem divulgados os resultados das primeiras provas do Enem, um grande grupo educacional encomendou uma pesquisa com os alunos das dez melhores escolas do Brasil. Pois não é que eram todas bem parecidas? Chamava atenção o fato de serem muito rígidas na disciplina. Ou seja, nada de bagunça. E entre as instituições públicas, com sua disciplina severa, os colégios militares têm ótimo desempenho. Viajando por outras terras, consideremos a França, a Alemanha e a Inglaterra. De lá vieram as mais abundantes colheitas de artistas, filósofos, cientistas, empresários e estadistas. Historicamente, suas escolas sempre foram extraordinariamente rígidas, chegando até a umas varadinhas aqui e umas reguadas acolá. Em maio de 1968, os universitários parisienses se rebelaram contra o atraso da universidade, promovendo um evento de espantosa visibilidade mundial. Barricadas na rua, paralelepípedos voando pelos ares, choques retumbantes com a polícia! Ecoava o slogan mais poderoso: "É proibido proibir". As consequências do Maio de 68 varreram o mundo e remoldaram a alma da escola. Muitos manifestantes viraram professores, sentindo-se pouco confortáveis com sua autoridade. A epidemia do "proibido proibir" contaminou a América Latina. Em um dos seus primeiros discursos, depois de presidente, Sarkozy chama atenção para a lastimável erosão da autoridade do professor, com suas raízes em 68. O filósofo Luc Ferry, em entrevistas, também rememora a queda na disciplina escolar, resultante de professores inapetentes por manter a ordem na sala de aula. Antes de tudo, porque erodiram as regras de disciplina, claras e compartilhadas. Mas, segundo ele, o pêndulo volta, com as escolas francesas recobrando sua capacidade de controlar a baderna. Não é preciso muito esforço para verificar a onipresença de problemas de indisciplina nas nossas escolas. Nem falamos de alunos agredindo professores. Há uma incapacidade generalizada dos professores em impedir a bagunça nas aulas, sobretudo nas escolas públicas. No caso brasileiro, a alma penada de Maio de 68 parece muito presente, embora possa haver outros fatores contribuindo para as dificuldades de manter a disciplina. Aula chata? Quem sabe, a disseminação de uma caricatura da psicanálise, com seus pavores de que uma disciplina rígida vá frustrar ou traumatizar os alunos? Ou uma esquerda que confunde autoridade com autoritarismo? Ou um DNA tropical e insubmisso? Mas que consequências teria essa incapacidade da escola para manter a ordem? O professor James Ito-Adler fez para o Positivo uma pesquisa etnográfica — entrevistando uma amostra de alunos. Nela surge uma descoberta surpreendente. Quando perguntou aos alunos o que mais atrapalhava o seu aprendizado, a resposta foi enfática: a bagunça dos outros! São os próprios estudantes que clamam por uma disciplina careta. Não é lamento de professor saudosista. Ou seja, os próprios alunos admitem que conversas e turbulência na sala de aula atrapalham os estudos. Resultados espúrios? Não parece, pois pesquisas nos Estados Unidos e na França sugerem o mesmo. A bagunça é tóxica. A ideia de que a escola não pode tolher a liberdade dos alunos é falsa. Embora possamos conduzir a discussão de forma mais sofisticada, vale a pena repetir o princípio de que a minha liberdade acaba onde começa a lesar a liberdade de outrem. No caso, a liberdade dos colegas para estudar e aprender. Obrigar o aluno a ficar quieto, quando está com vontade de falar ou saracotear? Ficará traumatizado pela imposição de uma regra autoritária que não tolhe suas manifestações espontâneas? Isso não acontece com os alunos das melhores escolas nem nos países mais pródigos em gente criativa e produtiva. A solução começa na cabeça dos professores e diretores. No caso, professores, no plural. Não basta convencer um. Se todos entenderem que bagunça na aula é inaceitável, mudará o clima da escola. As escolas católicas de Boston recebem alunos de regiões turbulentas e problemáticas. Mas, com olímpica tranquilidade, mantêm um clima de disciplina rígida. Afirma-se que isso explica o desempenho superior de seus alunos. Temos de nos livrar da bagunça tóxica. CLAUDIO DE MOURA CASTRO é economista claudiodemouracastro@positivo.com.br 1#4 MAÍLSON DA NÓBREGA – AIRBAGS, FREIOS ABS E DESTRUIÇÃO CRIATIVA O ministro da Fazenda anunciou, em dezembro passado, a intenção de suspender a aplicação de norma que tornava obrigatória, a partir de 2014, a fabricação de automóveis novos com airbags e freios ABS. As razões seriam o impacto inflacionário do aumento de preços (da ordem de menos de 0,1% no IPCA) e a supressão de postos de trabalho por causa da descontinuidade de modelos, particularmente da Kombi. O ministro cometeu três equívocos: (1) interferiu em área que não lhe diz respeito. A norma foi instituída há quase cinco anos por resoluções de 3 de abril de 2009 do Contran, órgão do Ministério das Cidades; (2) submeteu a segurança dos usuários de automóveis ao objetivo de controle dos índices de preços, que reprime a inflação, é verdade, mas não ataca suas causas; (3) cedeu à pressão de sindicatos de trabalhadores da indústria automobilística para adiar um avanço tecnológico, barrando a "destruição criativa", que é a essência do crescimento. De tão absurda, a medida foi descartada. "Destruição criativa" é um conceito difundido pelo economista Joseph Schumpeter (1883-1950). Sua origem é o Manifesto Comunista de 1848, de Karl Marx (1818-1883) e Friedrich Engels (1820-1895). O manifesto referiu-se às crises de superprodução que supostamente ameaçavam a burguesia: "Periodicamente, tais crises destroem não apenas grande parte da produção, mas também forças produtivas preexistentes'". Essa destruição e a conquista de novos mercados seriam a forma de a burguesia vencer as crises. Schumpeter interpretou a ''destruição criativa" de forma positiva, isto é, como um processo de inovação que impulsiona o crescimento econômico. Para ele, "o impulso fundamental que aciona o motor capitalista e o mantém em movimento vem dos novos produtos de consumo, dos novos métodos de produção e transporte, dos novos mercados e das novas formas de organização criadas pelas empresas capitalistas". Isso "revoluciona incessantemente a estrutura da economia, incessantemente destruindo a velha ordem, incessantemente criando uma nova ordem". A "destruição criativa", como lembra Daron Acemoglu (Why Nations Fail, 2012), "substitui o velho pelo novo. Setores novos atraem novos recursos. Firmas novas substituem as velhas. Habilidades e equipamentos se tornam obsoletos com as novas tecnologias." Surgem ganhadores e perdedores, e estes se opõem às mudanças. De fato, os luditas ingleses destruíam máquinas no século XIX na vã ilusão de restaurar empregos. Não percebiam que o progresso proporcionado pelo avanço tecnológico criava empregos em outros lugares. O desafio era adaptar-se à nova realidade. A lâmpada elétrica de Thomas Edison (1847-1931) tornou obsoletos a iluminação a querosene dominada por John D. Rockefeller (1839-1937) e o emprego dos acendedores de lanternas. A reação correta de Rockefeller foi migrar para um novo mercado, o da gasolina. Os acendedores encontraram outras ocupações. Na era da tecnologia digital, o processo se acelerou. O disco de vinil reinou por algumas décadas até que fosse aposentado pelo CD, que ficou ultrapassado em menos de vinte anos. A compra de música pela internet fecha lojas de discos. Exemplo notável de como navegar nas ondas da inovação é o da revista The Economist. O aumento da circulação em tablets e smartphones mais do que compensa a perda de assinantes da versão impressa. A "destruição criativa" eleva a produtividade e faz a economia crescer. Mais trabalhadores ingressam no mercado de consumo. O bem-estar se expande para novos estratos da sociedade. Airbags e freios ABS são partes desse processo. A Kombi, obsoleta, deixou de ser produzida há trinta anos na Alemanha e há vinte anos no México. Aqui, sumirá por não poder receber esses equipamentos de segurança. Felizmente, a ideia impensada do ministro não teve futuro. O argumento de preservar empregos era utilizado pelos que perdiam com a marcha implacável da "destruição criativa". Como no passado, os trabalhadores dificilmente ficarão ociosos. A alegação de evitar o efeito nos índices de preços não faz o menor sentido. Como me disse um amigo, o controle artificial do custo de vida não poderia suplantar o objetivo de preservar a vida. 1#5 LEITOR O BRASIL ÀS VÉSPERAS DA COPA E chega 2014, ano em que o mundo estará de olho no Brasil, um país de diferentes faces ("A Copa e a Copa no país do futebol", 1º de janeiro). Qual será a que prevalecerá? Será a face tão propagada pelo governo de país do futuro, rico, organizado e equiparado aos de Primeiro Mundo ou a face do país dominado pela corrupção, com regiões sob o domínio do tráfico, com sistemas de segurança, saúde e transporte público deficitários e sem educação? Ou o Brasil passa por um choque pela pressão internacional para endireitar de vez ou será vítima do jeitinho para sempre. WAGNER FERNANDES GUARDIA São Vicente, SP Feliz, muito feliz a capa que retrata com perfeição o Brasil, e não digo o nosso país, porque me envergonho de ser brasileiro neste momento. A capa lembra perfeitamente as discrepâncias na África, que sempre foram mostradas e que considero iguais às do Brasil. Talvez aqui sejam ainda piores, pois não se tomam medidas para corrigi-las. Há apenas truculência fiscal, como o aumento do IOF para despesas no exterior, a fim de continuar alimentando os mandatários do país. WANDERLEY M. GIL Santo André, SP Nosso país será bem melhor quando o 'padrão Fifa' se aplicar à escolha dos nossos dirigentes políticos e à intolerância com a corrupção. ROMAR RUI CERUTTI Realeza, PR Olhando o que foi feito até agora e o que está por fazer, chega-se à inevitável e lamentável conclusão de que o Brasil poderá vencer a Copa do futebol, mas dificilmente vencerá a Copa da realidade. ALBERTO DE SOUSA BEZERRIL Natal, RN Na minha humilde opinião, aproveitar-se desses eventos apenas para protestar é inócuo, pois penso que, se tantos paladinos da justiça pelo Brasil afora estivessem no lugar do governo, fariam a mesma coisa. E olha que o atual governo era para ser diferente dos outros... LUÍS MARISON RIBEIRO Pato Branco, PR Bela reportagem, que mostra a ostentação na construção de estádios e a precariedade na infraestrutura que o Brasil atravessa. O que a reportagem não retratou foi a falta de leitos hospitalares para atender a própria população local, sem dizer os turistas e os profissionais de imprensa. Aqui no Rio de Janeiro, tento internar um querido funcionário chamado Jovelino Aparecido Fernandes, de 41 anos, com câncer no fígado. Não há vaga em nenhum hospital, da rede municipal, estadual ou federal, que alardeie a chegada de mais médicos estrangeiros para atender a população. Dilma e Padilha, parem de fazer campanha e internem o Jovelino, para que ele possa ter um tratamento digno e educar seus dois lindos filhos, de 7 e 2 anos. MARCELLO OAKIM DE CARVALHO Rio de Janeiro, RJ JOSÉ ALEXANDRE SCHEINKMAN Fiquei maravilhado com a entrevista concedida pelo brilhante economista José Alexandre Scheinkman ("É preciso mudar a mentalidade", 1º de janeiro). Estou convencido de que, se a economia do Brasil nos últimos dez anos tivesse sido conduzida por profissionais desse quilate, não estaríamos passando pelas dificuldades atuais. Nosso enorme potencial não está sendo explorado, e estamos ficando cada dia mais longe dos países desenvolvidos. ALBERTO SINGER São Paulo, SP Achei muito interessante a entrevista feita pela jornalista Malu Gaspar com José Alexandre Scheinkman, que é um economista, brasileiro nato e sabedor das dificuldades que aqui existem e impedem o país de se desenvolver. É lamentável um cidadão como esse trabalhando fora do seu país e não sendo aproveitado para atuar aqui com seu vasto conhecimento, ajudando o Brasil a trilhar o caminho certo do desenvolvimento. Por que será que isso não ocorre? MÁRCIO DO NASCIMENTO PINTO Baependi, MG Muito interessante a entrevista com José Alexandre Scheinkman! Fica uma pergunta no ar: quando vamos progredir a ponto de termos políticos com visão empresarial e empresários sem interesse político? CLEOMAR SBARPELOTTO Cascavel, PR Já tenho meu candidato a presidente: o brasileiro José Alexandre Scheinkman. Sua entrevista foi uma aula de gestão política e a confirmação daquilo que todo brasileiro está cansado de saber: o PT está levando o Brasil à bancarrota. JOSÉ CORRÊA DA SILVA São Paulo, SP Ainda dá tempo de corrigir os erros, porque, apesar de tudo, o Brasil é uma nação com boas perspectivas de crescimento, podendo atrair o capital externo tão vital para o nosso desenvolvimento. JOSÉ CARLOS SAMPAIO PINHO Salvador, BA O posicionamento claro do economista José Alexandre Scheinkman deveria ser diretriz de agenda presidencial. Acorda, Brasil. EDER JUN TANONAKA São Paulo, SP O governo precisa melhorar a política fiscal, pois não há como melhorar produtividade com uma carga tributária igual à nossa. Ninguém aguenta! NIWTON HENRIQUE DE SÁ FILHO Recife, PE Causou-me profunda consternação a afirmação de José Alexandre Scheinkman de que nas duas últimas décadas a produtividade da China cresceu mais que 50%, a da Coreia do Sul ficou em 65% e a do Brasil não saiu do lugar. Como se orgulhar de um país onde só há produtividade nas contas bancárias dos mensaleiros, políticos desonestos, propineiros, corruptos e outros ladrões da nação? FRANCISCO DE ASSIS DINIZ Campo Grande, MS Se Dilma contasse com a assessoria de economistas tão brilhantes quanto Scheinkman, o Brasil teria uma clara estratégia nacional focada no crescimento da produtividade. ROGÉRIO MOREIRA Jundiaí, SP PALÁCIO DO JABURU VEJA exagerou nas cores da reportagem "Não é o que parece ser" (1º de janeiro). Em 2011, o palácio passou por reforma durante três meses segundo as regras do Iphan. É verdade que foi grandiosa a recepção proporcionada ao vice pelo sultão de Omã. Se ele vier ao Brasil, o Palácio do Jaburu, elogiado por sua beleza arquitetônica e pela natureza que o cerca, poderá recebê-lo com muita distinção. BERNARDO DE CASTRO Assessor de Comunicação Social da Vice-Presidência da República Brasília, DF J.R. GUZZO Com a maestria de sempre, J.R. Guzzo, em seu artigo "Contando com a sorte" (1º de janeiro), cobre-se de razão quando diz que 2014 não será melhor do que 2013 e os anos anteriores. Se 2014 for pelo menos igual a 2013, já estará de bom tamanho. SEBASTIÃO FERREIRA DA SILVA Belo Horizonte, MG O fantástico artigo "Contando com a sorte" deveria ser lido e debatido nas escolas, centros comunitários, e onde mais fosse possível. JOAQUIM A. AMARAL Araruama, RJ Segundo relatório da própria Força Aérea Brasileira, mais de 70% de suas atividades atualmente são de "transporte de autoridades". Por isso, não faz sentido a nossa recente compra de caças da Saab, porque esses aviões são impróprios para essa atividade primordial da FAB. ALBERTO FERREIRA Rio de Janeiro, RJ LYA LUFT Eu me identifiquei muito com o artigo "Um Band-Aid na alma" (1º de janeiro), de Lya Luft. Neste fim de ano decidi não fazer mais balanço do que vivi nem traçar metas para o novo ano. MARIA SOLANCE LUCINDO MAGNO Barbacena, MG ÁLBUM DE FAMÍLIA São quase duas horas de continuada tensão, sob a qual os dramas de todos da família aparecem interligados por uma carga de sofrimento e neuroses, transmitida por gerações ("A última ceia", 1º de janeiro). A grande questão é: há saídas? Aparentemente não. Cada qual se adaptará ao seu jeito e circunstâncias, sob uma herança maldita, na qual a baixa autoestima e a carência emocional são os aspectos fundamentais. LUÍZA CAVALCANTE CARDOSO Brasília, DF Meryl Streep ficar aquém em sua interpretação demonstra como o ser humano é falível. JUCIER ALYSON Bom Jesus, PI FUNCIONÁRIOS TERCEIRIZADOS Agora entendi um fato acontecido no Aeroporto de Guarulhos. Certa manhã de maio do ano passado, quando retornava da Europa e uma jovem mãe pedia — implorava — à agente de plantão que lhe permitisse levar seu bebe ao banheiro para trocar fraldas, e essa agente lhe dizia que "primeiro iam liberar um grupo de deportados que tinham prioridade de atendimento, e depois então a atenderiam, para que, liberada, pudesse ir ao banheiro". Ninguém entendeu a crueldade desse procedimento. PAULO VIANNA DA SILVA Florianópolis, SC HANDEBOL O handebol está realmente de parabéns ("Sucesso que vem de fora", 1º de janeiro). Contudo, é interessante notar que em um país que tem 100.000 profissionais da área da educação física registrados no Conselho Federal, dos quais boa parte é habilitada a trabalhar como técnico esportivo, não se encontrem técnicos capazes de levar nossos atletas ao mais alto rendimento. Será que depois de tantas competições esportivas haverá algum legado para a melhoria do ensino superior brasileiro na formação de profissionais do esporte, ou continuaremos dependentes do talento internacional? ANA SANTOS Barueri, SP CARTA AO LEITOR O foco da Carta ao Leitor "Uma Copa, dois países" (1º de janeiro) nos remete à realidade de um Brasil mal gerido e carente. Acreditar que o Brasil prospera com a Copa é acreditar em Papai Noel. LAUDI VEDANA Pato Branco, PR PT VERSUS PMDB No seu melancólico e desastrado governo no Estado do Rio de Janeiro, Cabral desagradou a muitas categorias importantes para o estado e vai se despedir da política em marco de 2014 ("E o amor acabou", 1º de janeiro). NEWTON FARO Rio de Janeiro, RJ Posso estar errado. Melhor, devo estar errado. O PSDB está fechado com a candidatura de Aécio, e Serra, embora o apoie, ainda parece reticente. A meu ver, os tucanos estão fazendo um jogo estrategicamente perfeito: Serra se mantém em discreta evidência, deixando que os holofotes foquem Aécio. Se este não decolar, o que é possível, deve renunciar em favor de Serra, obrigando-se a apoiar com empenho o seu companheiro de legenda. Assim, e com Marina ponteando e tornando-se cabeça numa inversão eventual de sua chapa, teremos segundo turno e a chance de reformar o país, pondo no lixo o entulho autoritário atual. Autoritário e antiético. PAULO ROBERTO SANTOS Niterói, RJ MENSALEIROS PRESOS O julgamento dos mensaleiros foi uma amostra da evolução política para os brasileiros. A decisão acerca da possibilidade ou não de que os condenados trabalhem fora está próxima e, infelizmente, acredito que não agradará a boa parte da população ("Um lugar mais decente", 1º de janeiro). Mesmo assim, já me sinto feliz pelo tempo que cumpriram dentro da Papuda. As condições que os mensaleiros têm ali não são piores nem melhores, mas as mesmas de qualquer outro cidadão brasileiro que cumpre pena em regime privado (banho frio, colchões sujos e ruins, comida de péssima qualidade). Penso que é pouco pelo que fizeram ao nosso país ou pelo que ainda podem vir a fazer. Vê-los ali, cumprindo pena, me faz acreditar que estou do lado das pessoas certas e no caminho certo: trabalhando por um país mais decente para todos os cidadãos, mesmo que isso não represente um lugar mais decente para outros poucos. DEISE BORDINI HEPP Maringá, PR A reportagem "Um lugar mais decente" trouxe uma proposta indecente ao ventilar a possibilidade de remover os mensaleiros para um lugar mais confortável. Fiquei indignada com a colocação do deputado Natan ao afirmar que é desumano o que o preso passa lá. Não há chuveiro elétrico, falta água e a comida é ruim. Ora, ora, sem nunca cometerem nenhum crime muitos brasileiros nem sequer têm comida de má qualidade para alimentar-se e são abastecidos de água por carro-pipa — isso quando ele passa pela localidade. Chuveiro elétrico é coisa de minoria. Todo esse dinheiro que foi desviado por esses homens daria para suprir as necessidades básicas de grande parte da nossa população carente. Desumana foi a atitude deles para com o povo. MARIA DILMA PONTE DE BRITO Parnaíba, PI ROBERTO CARLOS Jamais havia deixado de assistir ao especial de Natal com Roberto Carlos (SobeDesce, 1º de janeiro). Sempre fui fã incondicional do cantor. Entretanto, em virtude do viés autoritário de alguns artistas, entre os quais o próprio Roberto, optei por não assistir ao especial de 2013 — e, para minha surpresa, descobri que muitos outros brasileiros também fizeram o mesmo. DIJAYME NABOR SAMPAIO Salvador, BA COREIA DO NORTE Parece ficção ou filme de terror acompanhar a trajetória do ditador da Coreia do Norte, Kim Jong-un, que impiedosamente mata ou manda executar os que não lhe agradam. É completamente insana a sua conduta. Será que nada pode ser feito, que não existe na ONU algum instrumento que coíba tal situação? É o horror disseminado naquele miserável país ("Nem os parentes escapam", 1º de janeiro). PEDRO EDUARDO FORTES São Paulo, SP ARENA PALESTRA Diferentemente do noticiado, o clube não teve seu CT reprovado pela Fifa ("O prejuízo do Palmeiras", Holofote, 1º de janeiro). O local foi aprovado e transformado em Campo Oficial de Treinamento por solicitação do Comité Organizador Local (COL), tendo posição destacada na Copa do Mundo, pois receberá não uma, mas algumas seleções para treinamento, na antevéspera e na véspera das partidas que acontecerão em São Paulo. NELSON AYRES Gerente de Comunicação do Comitê Organizador da Copa do Mundo da Fifa Brasil 2014 Rio de Janeiro, RJ PARA SE CORRESPONDER COM A REDAÇÃO DE VEJA: as cartas para VEJA devem trazer a assinatura, o endereço, o número da cédula de identidade e o telefone do autor. Enviar para: Diretor de Redação, VEJA - Caixa Postal 11079 - CEP 05422-970 - São Paulo - SP; Fax: (11) 3037-5638; e-mail: veja@abril.com.br. Por motivos de espaço ou clareza, as cartas poderão ser publicadas resumidamente. Só poderão ser publicadas na edição imediatamente seguinte as cartas que chegarem à redação até a quarta-feira de cada semana. 1#6 BLOGOSFERA EDITADO POR KÁTIA PERIN kperin@abril.com.br VIVER BEM ENEIDA RAMOS DIETAS A goji berry e uma fruta com baixo valor calórico e forte efeito antioxidante, que pode ajudar muito nas dietas de emagrecimento. Ela pode ser consumida crua, desidratada (passas), em sucos, chás ou ainda em pó. www.veja.com/viverbem RADAR LAURO JARDIM SENADO Gleisi Hoffmann já deu todos os sinais de que deixará a Casa Civil neste mês, mas nem seu suplente no Senado, Sérgio Souza, do PMDB, arrisca a data exata em que a titular retomará seu mandato no Congresso. www.veja.com/radar COLUNA LEONEL KAZ IMAGENS No clichê jornalístico, dizem que "uma imagem vale mais do que mil palavras". Não concordo. Cada imagem poreja palavras, como se elas brotassem, ao serem vistas, dos canais lacrimais. www.veja.com/leonelkaz ESPELHO MEU LÚCIA MANDEL SOL O sol melhora a psoríase. A exposição deve ser curta e regular, de dez a quinze minutos ao dia. Sem exagero, pois uma queimadura de sol pode ter o efeito inverso e piorar a psoríase. www.veja.com/espelhomeu FERNANDA FURQUIM OUTLANDER A série Outlander ainda está em fase de filmagem, sem data de estreia definida, mas já conseguiu criar grande expectativa nos fãs da obra escrita pela americana Diana Gabaldon. Inspirada no livro, a história da TV começa em 1945, quando a enfermeira Claire Randall (Caitriona Balfe) passa sua segunda lua de mel com o marido, Frank (Tobias Menzies), um professor de história que, durante a II Guerra Mundial, atuou junto ao serviço secreto britânico. Durante um passeio na Escócia, ela acidentalmente é transportada no tempo para o ano de 1743. Produzida pela Sony TV, a série terá dezesseis episódios. www.veja.com/temporada SÉRGIO RODRIGUES GATO-PINGADO A origem de expressões populares como "gato-pingado" costuma ser nebulosa. Justamente por nascerem na língua do povo, é comum que esses ditos permaneçam um longo tempo sem registro por escrito, até estarem consolidados como uma nova unidade de sentido — e a essa altura o elo entre os elementos que engendrou o novo sentido já empalideceu ou foi inteiramente esquecido. No caso, uma das acepções do verbo pingar, caída em desuso, era exatamente "supliciar deixando cair sobre o corpo pingos de um líquido fervente" (Houaiss). Pingavam-se escravos. Pingavam-se gatos. Pingavam-se outros animais, a depender do gosto doentio do freguês. Quanto ao sentido de gato-pingado como "membro de um conjunto de poucas pessoas", basta levar em conta o fato de que gatos torturados se tornam arredios, avessos ao contato humano. www.veja.com/sobrepalavras RODRIGO CONSTANTINO ANTÁRTICA Nada como a ironia do destino, ou como os duros fatos da realidade, para derrubar, na prática, as teorias. Um time de cientistas tentava documentar as "mudanças climáticas" na Antártica, na expectativa de mostrar o derretimento das geleiras. Resultado: o navio da expedição acabou preso no gelo, que estava com espessura bem maior do que a esperada para esta época do ano. Tiveram de pedir ajuda de resgate na madrugada no Natal. www.veja.com/rodrigoconstantino • Esta pagina é editada a parti dos textos publicados por blogueiros e colunistas de VEJA.com 1#7 EISNTEIN SAÚDE – CISTOS RENAIS REQUEREM ATENÇÃO Condição tem tratamento simples, mas deve ser investigada para excluir outros possíveis diagnósticos. A presença de cistos nos rins pode ser mais comum do que se imagina. Estima-se que entre 30% e 50% das pessoas acima de 50 anos apresentem o problema sem saber (a variação da incidência se deve ao fato de não haver estudos recentes e pontuais sobre essa condição). Essas formações são como bolhas cheias de líquido claro, que surgem por causa da obstrução de um dos milhares de duetos presentes no órgão. A maior parte dos cistos é periférica e, por isso, quase não causa sintomas. Em casos de incidência de cistos no meio do rim, contudo, pode haver compressão das estruturas ao redor, principalmente se houver proximidade das artérias, podendo provocar dores, sangramento na urina ou pressão alta. Apesar de raros, há casos em que o cisto renal pode provocar a compressão da via urinária, impedindo o fluxo da urina. Na maioria das situações, porém, por não terem repercussão na saúde como um todo e raramente provocarem desconforto, os cistos são normalmente descobertos durante um check-up. Em uma ultrassonografia de rotina é possível identificar as lesões localizadas no rim, que podem apresentar diversos tamanhos, tendo em média 5 cm, mas podendo variar de 1 cm a 20 cm. De acordo com especialistas, é preciso atentar para a relação entre a presença de cistos nos rins e a doença renal policística, condição mais rara, de caráter progressivo e com forte componente hereditário (o risco que pessoas de uma mesma família tenham o problema é de 50%). Diferentemente dos cistos renais simples, neste caso, diversos cistos surgem no órgão e podem, inclusive, aumentar de tamanho e de quantidade. Dependendo desse crescimento, pode haver redução da função renal e, eventualmente, episódios de dor, sangramento e infecção urinária. Outra condição que merece destaque é a diferenciação entre a presença de cistos renais e uma porcentagem pequena de tumores malignos renais císticos, ou seja, semelhantes a um cisto porque contêm uma parte líquida. A distinção entre o cisto simples e o tumor maligno cístico não está no tamanho nem na localização, mas sim na presença de uma parte sólida, que é facilmente identificada por meio de exames de imagem (ultrassonografia ou tomografia computadorizada). Passar por uma avaliação médica é imprescindível para que seja feito o diagnóstico correto da condição. Vale ressaltar que o cisto renal nem sempre precisa de tratamento e é possível conviver com ele sem eventuais problemas de saúde. A indicação mais comum é que seja realizado um acompanhamento clínico semestral quando identificado o quadro de maneira preventiva e anual se o quadro se mantiver estável. Saiba mais sobre este e outros assuntos no sito www.einstein.br Sugira o tema para as próximas edições: einstein.saude@einstein.br Sua saúde é o centro de tudo Responsável Técnico: Dr. Miguel Cendoroglo Neto - CRM: 48949 2# PANORAMA 8.1.14 2#1 IMAGEM DA SEMANA – PODE ACENDER AGORA 2#2 DATAS 2#3 HOLOFOTE 2#4 SOBEDESCE 2#5 NÚMEROS 2#6 CONVERSA COM LOURDES CATÃO – ELA É UM LIVRO FECHADO 2#7 RADAR 2#8 VEJA ESSA 2#1 IMAGEM DA SEMANA – PODE ACENDER AGORA O Colorado entra na era da maconha para todos com algumas filas e muito fumacê. Comparadas à falta de lei e ordem da corrida do ouro, a súbita concentração de garimpeiros acidentais que no século XIX praticamente deu origem ao Colorado, no coração montanhoso dos Estados Unidos, as filas da maconha liberada pareciam um modelo de organização. Não foi só o frio de vários graus abaixo de zero que moderou os temperamentos mais ansiosos. Cultivar, portar e consumir maconha em pequenas quantidades são atividades liberadas há um ano no estado. A novidade estava no acesso irrestrito de maiores de 21 anos aos antigos dispensários, maconharias dirigidas ao uso medicinal da droga que deram um salto qualitativo e quantitativo com a aprovação, por voto direto, da legalização da droga. Festas temáticas com figurinos da época da Lei Seca, o período dos anos 20 em que bebidas alcoólicas foram proibidas, celebraram a chegada da maconha para todos. A mudança no Colorado (e no Estado de Washington, onde a venda livre ainda está por entrar em vigor) reflete uma tendência nacional: 58% dos americanos hoje são favoráveis à legalização da maconha, contra 12% em 1969. É difícil encontrar opiniões divergentes nos principais meios de comunicação, e o único nome relativamente conhecido que faz campanha contra a legalização é o ex-deputado Patrick Kennedy, obrigado a renunciar por abuso de substâncias comprometedoras. Mesmo pertencendo ao clã famosamente associado a causas liberais, Kennedy tem sido massacrado por defender a ideia de que a maconha pode causar danos psíquicos e comportamentais. A reclamação de maior repercussão depois da abertura das maconharias no Colorado se originou na imagem do interior de uma das lojas, onde funcionários enrolavam cigarros artesanais e, conforme a prática consagrada, passavam a língua para fechá-los. Maconha pode, falta de higiene, não. VILMA GRYZINSKI 2#2 DATAS MORRERAM Malak Zahwe, estudante paranaense, vítima da explosão de um carro-bomba, em Beirute, no Líbano, na qual morreram outras quatro pessoas e 66 ficaram feridas. Malak nasceu em Foz do Iguaçu e vivia no Líbano desde os 13 anos. Sua madrasta, a libanesa Imam Hiiazi, também morreu na explosão. A autoria do atentado, no reduto dos xiitas do Hezbollah, é atribuída a grupos sunitas contrários ao regime sírio e ligados à rede terrorista Al Qaeda. Dia 2, aos 17 anos. O embaixador palestino na República Checa, Jamal al-Jamal, em decorrência da explosão do cofre de sua residência. Um dispositivo de segurança instalado no equipamento, projetado para destruir documentos sigilosos em caso de arrombamento, pode ter sido acionado acidentalmente pelo próprio diplomata, que tentava abri-lo. Dia 1º, aos 56 anos, em Praga. L úcia Rocha, mãe do cineasta baiano Glauber Rocha (1939-1981). Grande incentivadora do filho, foi ela quem deu o dinheiro para que ele comprasse sua primeira filmadora. Lúcia vendeu algumas das propriedades que herdou de seu pai para financiar as produções de Glauber. Dia 3, aos 94 anos, de ataque cardíaco, no Rio de Janeiro. • SEG|30|12l2013 CONDENADO por quebra de sigilo o advogado inglês Chris Gossage. Ele foi responsável pela revelação de que a escritora inglesa J.K. Rowling, autora da série Harry Potter, usou o pseudônimo Robert Galbraith para publicar o romance policial O Chamado do Cuco. A entidade que regula a atuação dos advogados ingleses emitiu advertência e estabeleceu uma multa de 1000 libras, o equivalente a cerca de 4000 reais. • QUA|1º|1|2014 EMPOSSADO o prefeito de Nova York Bill de Blasio, o primeiro democrata a comandar a cidade em vinte anos. A cerimônia de posse foi realizada em sua casa, no Brooklyn, nos primeiros minutos da virada de ano. Horas depois, em um evento público comandado pelo ex-presidente Bill Clinton, De Blasio repetiu o ato na escadaria da prefeitura. ENCERRADA a produção de lâmpadas incandescentes nos Estados Unidos. Inventadas em 1879, por Thomas Edison, que buscava uma solução para substituir os lampiões a gás, as lâmpadas estimularam a expansão das redes elétricas para as residências americanas. Só poderão ser comercializados no país modelos eficientes e ecologicamente responsáveis como os de LED e fluorescentes. Na União Europeia, a regra já vale desde 2012. No Brasil, elas deixarão de ser vendidas em junho de 2017. • QUA|2|1|2014 ANUNCIADO o fim do casamento do cantor Ricky Martin com o economista Carlos González Abella. Eles estavam juntos desde 2011 — um ano depois de Martin ter assumido sua homossexualidade. A assessoria do cantor informou que o rompimento foi amigável. • SEX|3|1|2014 RESGATADOS pela Marinha italiana 1056 imigrantes originários da África e do Oriente Médio que tentavam chegar à Europa a bordo de cinco embarcações lotadas. As autoridades locais intensificaram a fiscalização com o uso de drones e helicópteros desde outubro, quando 366 africanos morreram em um naufrágio perto da Ilha de Lampedusa, no Mar Mediterrâneo. 2#3 HOLOFOTE PEDRO DIAS LEITE • DE ALIADO A ADVERSÁRIO Ministros e assessores de Dilma Rousseff estão preocupados com a atuação recente de Dias Toffoli no Supremo Tribunal Federal. Historicamente ligado ao PT, tem votado contra os interesses do governo e do partido em temas como a prisão dos mensaleiros e o financiamento de campanha. E tem dito a quem o procura que se sente desprestigiado por Dilma, que jamais o recebeu nem atendeu seus telefonemas. Em maio, Toffoli assume a vice-presidência do Tribunal Superior Eleitoral. Nessa condição, ele vai ter voz sobre todas as disputas jurídicas levantadas durante a eleição presidencial. Acreditar que seus sentimentos amarguem suas decisões seria desrespeitoso com Toffoli. Mas é o que alguns petistas andam dizendo. • RETIRADA ESTRATÉGICA Ele não admitirá em público. Mas Gilberto Kassab pensa seriamente em desistir de sua candidatura a governador de São Paulo para apoiar Alexandre Padilha, do PT, já no primeiro turno da eleição. Kassab deixou a prefeitura de São Paulo com a popularidade em baixa. Depois disso, desgastou-se ainda mais com as investigações da máfia dos fiscais, que chegaram a seu entorno. Em sua avaliação, se for candidato, pode ter uma votação muito baixa, o que torna o seu apoio dispensável em um eventual segundo turno. Por isso, pode ser mais vantajoso para o ex-prefeito negociar uma aliança agora e conseguir emplacar alguém do partido que comanda, o PSD, como vice — além de um espaço maior no ministério de Dilma. • SEGURANÇA REFORÇADA O presidente do Supremo Tribunal Federal, Joaquim Barbosa, já disse que há uma "forte probabilidade" de José Genoino voltar ao presídio depois de esgotados os noventa dias de prisão domiciliar que o petista cumpre em Brasília. Mesmo assim, a casa do ex-deputado em São Paulo, onde ele espera cumprir a pena do mensalão, passou por reformas nos últimos tempos — para evitar a curiosidade dos fotógrafos e garantir a discrição das visitas, as grades do portão foram cobertas por uma chapa de ferro. • O DEFENSOR DOS TUCANOS O PSDB contratou o advogado José Roberto Santoro para representar o partido nas investigações do Cade e do Ministério Público Federal sobre o cartel dos trens. Ex-procurador da República, responsável por denúncias de casos como o da Lunus (apreensão de dinheiro na empresa de Roseana Sarney, em 2002) e o da Sudam (desvios de recursos feitos por Jader Barbalho), Santoro também deve ser o responsável pela estratégia jurídica da campanha presidencial de Aécio Neves. • ATÉ 2019 A promessa de se aposentar depois da Copa do Mundo no Brasil, feita por Galvão Bueno há quatro anos, foi adiada para 2018. Apesar de ainda não ter assinado a renovação do contrato, o narrador esportivo já garantiu à alta cúpula da Rede Globo que fará a cobertura do Mundial da Rússia. A ideia é que Galvão permaneça na emissora por pelo menos mais cinco anos. Neste mês ele volta a morar no Brasil, após uma temporada de seis anos em Mônaco, mas manterá um apartamento no principado para se hospedar com a família em suas incursões à Europa. 2#4 SOBEDESCE SOBE • Chris Christie - Reeleito governador de Nova Jersey, o republicano apareceu 2 pontos à frente da democrata Hillary Clinton na disputa presidencial de 2016. • Estilo papal - Em razão da coerência entre aparência e personalidade, o papa Francisco foi eleito o homem mais bem-vestido de 2013 pela revista Esquire • Metrô chinês - Xangai tornou-se a primeira cidade do mundo com mais de 500 quilômetros de metrô; São Paulo tem 74 DESCE • Beyoncé - A cantora usou em música trecho de comunicação da Nasa do dia da explosão do ônibus espacial Challenger, de 1986, causando protestos de astronautas. • Turismo no Rio - Visitantes tiveram de procurar documentos roubados no chão; o delegado de Copacabana foi exonerado. • Saldo comercial - A diferença entre o que o Brasil exporta e importa fechou 2013 com o pior resultado em treze anos, um superavit de 2,56 bilhões de dólares 2#5 NÚMEROS 330 reais mais caro ficará um carro popular de 30.000 reais com o aumento do imposto sobre produtos industrializados (IPI), em vigor desde o dia 1º de janeiro deste ano. 3% é a nova tarifa do IPI para automóveis zero-quilômetro com motor 1.0, um aumento de 1 ponto percentual – novas elevações estão previstas. Os impostos são responsáveis por 35% do preço de um carro vendido no Brasil. 1,3 milhão de veículos a mais foram vendidos nos quase dois anos em que durou a redução do IPI. 2#6 CONVERSA COM LOURDES CATÃO – ELA É UM LIVRO FECHADO A cada dois anos, a socialite reedita o livro Sociedade Brasileira, uma espécie de catálogo com os nomes e os endereços de gente vip. Para que serve um guia da sociedade numa época em que basta entrar no Google para saber quem é quem? Para ser um catálogo. As pessoas que se conhecem e que querem se comunicar entre si usam o livro. Temos no grupo algumas pessoas idosas que ainda não usam a internet. E também existem informações que não estão na rede. Tem gente que pede para entrar no seu livro? No começo do ano já surgem as ligações com pedidos tendo em vista a nova edição. A próxima só sairá em setembro. Por que existem boatos de que algumas pessoas pagam até 25.000 reais para estar no livro? Essa é a maior mentira que pode haver. Aconteceu, há um tempo, uma coisa muito desagradável. Uma pessoa que estava no livro usou essa vantagem e ofereceu para outra a possibilidade de estar nele também. Ela cobrou 10.000 reais da suposta amiga e mais 15.000 para que ela fosse convidada para um coquetel, que sempre ofereço no lançamento. Eu não sabia, fui apresentada à pessoa e coloquei no livro. Um ex-marido traído mandou mesmo uma carta aos endereços citados no livro, contando detalhes da traição? Foi uma tragédia. E mais deprimente ainda porque envolve duas crianças. O marido mandou essa carta porque a ex-mulher não permitia que ele visse os filhos. Eu não tenho intimidade com o casal. A senhora também se viu envolvida num caso rumoroso sobre a paternidade de seu filho, atribuída a um cunhado. Foi feito o DNA? Peço para não falarmos sobre isso. É um assunto morto e enterrado. O que é preciso para estar na sua lista? Não importam a quantidade de dinheiro nem a posição, mas precisa fazer parte desse grupo que se conhece e receber uma indicação. Poderia existir um livro de sociedade na favela, por exemplo. No nosso caso, são pessoas dentro de uma elite e que se conhecem. Mesmo que não tenham poder aquisitivo, se elas frequentam os mesmos lugares, conhecem as mesmas pessoas e se interessam pelo livro por razões sociais, então podem fazer parte. 2#7 RADAR LAURO JARDIM ljardim@abril.com.br • GOVERNO BOLSA BILIONÁRIA Desde o início do Bolsa Família, ou seja, desde 2003, o governo repassou ao programa 157 bilhões de reais, em valores corrigidos. Para este ano, a previsão é de mais 25 bilhões de reais. O JOGO DO SUPERAVIT Para ajudar a atingir a meta do superavit fiscal de 2013, o governo empurrou com a barriga e jogou para o dia 2 de janeiro os pagamentos mais pesados a fornecedores — a maioria deles empreiteiras. • BRASIL ONIPRESENÇA NA TV Tempo deTV é ouro para os políticos - e não se está falando aqui dos minutos do horário eleitoral gratuito, disputados em tenebrosas negociações entre partidos, mas de suas aparições em telejornais. No fim de novembro, Aécio Neves levou à cúpula da Globo uma medição que sua equipe realizou nos telejornais exibidos em outubro pela líder de audiência. A pesquisa revelou que Dilma Rousseff aparecera um total de 42 minutos, enquanto Eduardo Campos virara assunto por sete minutos e Aécio, por 22 segundos apenas. É dura a vida de um candidato de oposição. Mas Dilma é presidente e não há como deixar de ser notícia de um telejornal, mesmo com parte de sua agenda já voltada para a reeleição. EM TODAS O onipresente Lula participou, na segunda semana de dezembro, em Brasília, de um encontro anual interno da Caixa Econômica Federal que contou com a presença dos diretores, superintendentes vice-presidentes e demais executivos do banco. Não como ouvinte, claro. Na reunião, ele falou, segundo a CEF, "sobre a importância da Caixa para o desenvolvimento econômico e social do país". FICÇÃO E REALIDADE A propósito, quando deixou a Presidência, Lula anunciou que queria correr o mundo pregando contra a fome na África e defendendo outras causas globais. Não o fez. Apesar de ele viajar muito ao exterior, sua cachaça é andar pelo Brasil recitando o sermão petista. Também trombeteou que o Instituto Lula atuaria na vanguarda da luta contra a fome no mundo. Embora promova alguns eventos, o instituto é, na verdade, o quartel-general onde Lula recebe (em quantidade invejável) políticos e empresários em busca de influência no governo. • ECONOMIA NOS EUA Depois de abrir um braço em Nova York, a XP Investimentos abrirá outro em Miami. PREVISÃO FANFARRONA O maior vilão do esquálido saldo comercial do Brasil em 2013 foi o déficit da chamada conta-petróleo, ou seja, a diferença entre a importação e a exportação de petróleo e derivados. Um recorde histórico que superou os 20 bilhões de dólares. Beleza. Isso significa um vermelho 8,5 vezes maior do que o verificado em 2006, quando, em plena campanha de reeleição, Lula bradou aos quatro ventos que o Brasil alcançara a autossuficiência em petróleo. EM DISPUTA 1 Comandada por José Carlos Magalhães, a Tarpon Investimentos, um dos fundos mais agressivos da praça e que ganhou notoriedade recentemente, depois que passou a dar as cartas na BRF, está sendo acionada judicialmente por tentar "estrangular financeiramente" uma empresa. Controladora da Cremer, uma das maiores distribuidoras de material hospitalar do Brasil, a Tarpon é acusada de ser a inspiradora de ações que teriam prejudicado a Targa, fabricante de luvas cirúrgicas. Na ação, a Targa afirma que a Cremer deliberadamente diminuiu o volume de compras de luvas e passou a depositar judicialmente o pagamento para dificultar a formação de capital de giro. EM DISPUTA 2 O grupo de minoritários da OGX que move ação na Justiça contra Eike Batista, seu pai, Eliezer Batista, e a CVM vai entrar, agora, com outro processo, desta vez contra Eike e os credores da petroleira. Na véspera do Natal, foi anunciado um acordo pelo qual o ex-bilionário entregou a companhia aos credores em troca de novos aportes financeiros e do perdão de uma dívida de 1 bilhão de dólares que tinha com a OGX. Do outro lado da negociação estavam os fundos americanos Blackrock e Pimco, que também serão alvo da ação dos minoritários. Segundo eles, a dívida de Eike é com a empresa, e não com os credores. • TELEVISÃO Novos tempos 1 Um estudo inédito da americana Bersntein Research, ao qual alguns executivos brasileiros da Globo tiveram acesso, revela que os maiores grupos produtores de conteúdo audiovisual dos EUA já têm entre 15% e 20% de sua receita internacional vinda do Brasil. A expansão dos canais a cabo explica esse portentoso porcentual. NOVOS TEMPOS 2 A propósito, a penetração da TV por assinatura em São Paulo chegou a 62% e no Rio de Janeiro, a 53%. 2#8 VEJA ESSA “Enquanto a gente não tiver um santuário no Ártico, a gente não vai parar.” - ANA PAULA MACIEL, brasileira ativista do Greenpeace, ao desembarcar em Porto Alegre. Ela estava entre as trinta pessoas presas na Rússia acusadas de vandalismo pelo governo de Vladimir Putin “Nós, políticos, ficamos interpretando as coisas como se fossem o fim do mundo. Protesto não é o fim do mundo, é coisa de democracia consolidada.” - EDUARDO PAES, prefeito do Rio, em entrevista à Folha de S.Paulo “No ano passado, tomamos a ação resoluta de eliminar a escória dissidente. Esse expurgo fortaleceu a unidade do país 100 vezes.” - KIM JONG-UN, ditador da Coreia do Norte, sobre a execução por traição de seu tio Jang Song-thaek, até então o número 2 do regime “Ter não só a sua vida privada mas as distorções de sua vida privada colocadas em exposição é humilhante.” - NIGELLA LAWSON, cozinheira e apresentadora inglesa, sobre a sucessão de escândalos envolvendo o seu nome desde que foi fotografada sendo esganada pelo ex-marido Charles Saatchi “Nessas horas, penso que iniciativas para estimular a equipe são fundamentais.” - CID GOMES, governador do Ceará, que mergulhou em uma adutora na cidade de Itapipoca para tentar consertar um vazamento, depois que moradores se queixaram de que as equipes de manutenção estavam em recesso “O que está acontecendo no coração da humanidade?” - PAPA FRANCISCO, na homilia da missa de Ano-Novo, celebrada na Praça de São Pedro, ao tratar das guerras “Considerando o enorme valor das informações que revelou, e os abusos por ele expostos, o senhor Snowden merece mais do que uma vida de exílio permanente, medo e fuga. Ele pode ter cometido um crime para fazer isso, mas prestou um grande serviço a seu país.” - EDITORIAL DO JORNAL AMERICANO THE NEW YORK TIMES, defendendo a ideia de que o governo dos Estados Unidos conceda perdão ou atenue as acusações ao ex-técnico da Agência Nacional de Segurança (NSA) Edward Snowden, que revelou a máquina de espionagem do órgão de inteligência “Pessoalmente, acho que a remoção permanente de pelos a laser soa como uma ideia maluca. Para sempre? Eu sei que você pode pensar que vai usar o mesmo estilo de calçado para sempre e o mesmo estilo de jeans, mas você não vai.” - CAMERON DIAZ, atriz, que lançou um livro sobre cuidados com o corpo, no qual dedica um capítulo inteiro ao tema “Ele não tem o traquejo, o treinamento para isso. Uma coisa é fazer carreira de juiz. Outra coisa é ter capacidade de liderar um país. Eu não creio que ele tenha as características necessárias para conduzir o Brasil de maneira a não provocar grandes crises no país.” - FERNANDO HENRIQUE CARDOSO, ex-presidente da República, no programa Manhattan Connection, sobre a possibilidade de o presidente do Supremo Tribunal Federal, Joaquim Barbosa, disputar a Presidência da República EPÍGRAFE DA SEMANA A propósito da humana (e imperdoável) arte de mentir “As mentiras cruéis geralmente são ditas em silêncio.” - ROBERT LOUIS STEVENSON, escritor escocês (1850-1894) LOREDANO 3# BRASIL 8.1.14 É UM PAPO MUITO CABEÇA Dilma fala em "guerra psicológica", conceito da ditadura, que a prendeu e torturou. Também emula o estatismo dos generais. Será a síndrome de Estocolmo, doutor Freud? DANIEL PEREIRA Os psicólogos chamam de síndrome de Estocolmo a reação que leva pessoas mantidas presas a emular seus malfeitores. Os cientistas políticos, mais cínicos e distantes, dizem que esse processo nada mais é do que a simples necessidade do "oprimido de se tornar opressor". Seja como for, em algum grau, a presidente Dilma Rousseff demonstra admiração pelo regime militar, que a prendeu e torturou por seu envolvimento com grupos armados. Ela já elogiou publicamente a capacidade de planejamento do governo do general Ernesto Geisel, com cuja honestidade pessoal a toda prova e personalidade incontrastável ela claramente se identifica. Sua crença na economia centralizada e no protagonismo do Estado é irmã siamesa das concepções de governo dos militares brasileiros durante o ciclo dos generais. Na semana passada, Dilma saiu-se com outra tirada cara aos generais: a ideia de que seu governo está sofrendo uma "guerra psicológica". Melhor parar por aí, presidente, senão daqui a pouco a senhora ressuscita o "Brasil, ame-o ou deixe-o". Em 2013, a economia brasileira registrou um crescimento modesto. As contas públicas se deterioraram e a inflação chegou a superar, momentaneamente, o teto da meta fixada pelo próprio governo. Milhões de brasileiros foram às ruas protestar contra os governantes e a péssima qualidade dos serviços públicos, derrubando por meses as altas taxas de popularidade da presidente da República. Dilma Rousseff também perdeu o apoio de um de seus principais aliados, o governador de Pernambuco, Eduardo Campos (PSB), que anunciou a pretensão de disputar a próxima sucessão presidencial. O ano que se anunciava auspicioso foi, na verdade, repleto de dificuldades para a presidente. Mas 2013 não foi ruinoso para o Brasil nem para Dilma. Ela cedeu aqui e ali em suas convicções econômicas e, graças a isso, o Banco Central retomou sua capacidade de controlar a inflação, enquanto o sucesso de algumas privatizações — a do Aeroporto do Galeão, principalmente — mostrou aos investidores privados internos e externos que o governo prioriza a participação deles no desenvolvimento do Brasil. Mas, apesar disso, a presidente viu-se alvo de uma "guerra psicológica", um despropósito para um país pacífico e um período de relativo crescimento econômico e inegável paz social. Disse ela em pronunciamento à nação: "Se alguns setores instilarem desconfiança, especialmente injustificada, isso é muito ruim. A guerra psicológica pode inibir investimentos". Uma guerra precisa necessariamente da existência de dois lados antagônicos, hostis e violentos. No caso da guerra psicológica capaz de inibir investimentos descrita pela presidente fica-se sem saber quem seriam as partes beligerantes. Os investidores não podem estar contra os investimentos. Seria ilógico. Ela não pode ter se colocado de um lado da trincheira e os setores instiladores de desconfiança do outro — pois no seu governo quem mais solapou o ímpeto dos investidores foram seus discursos e os dos seus subordinados. Em 1969, auge da ditadura brasileira, o país era governado por uma Junta Militar formada pelos comandantes da Marinha, Exército e Aeronáutica, apelidados pelo povo de Os Três Patetas. A junta governava por atos institucionais. No de número 14, Os Três Patetas entenderam que sofriam uma "guerra psicológica adversa" (grave seria se fosse uma guerra favorável) e decidiram que a situação era tão séria que para se defenderem poderiam até aplicar a pena de morte. Estavam lutando contra moinhos de vento, e tudo o que desejavam mesmo era o poder absoluto. No caso de Dilma, falar em "guerra psicológica" foi apenas um caso de realocação de responsabilidades com vista ao ano eleitoral de 2014. A presidente Dilma entra na campanha como favorita. Na área social, os programas governamentais de combate à pobreza têm mostrado resultados. Mesmo na economia, há alguns trunfos. O ritmo de contratações perdeu força, mas as empresas continuam abrindo vagas. A taxa de desemprego, de apenas 4,6% da população ativa, nunca foi tão baixa. Números ruins, como os da balança comercial — que registrou em 2013 o pior saldo em treze anos — e os das contas públicas, diminuíram a confiança dos investidores nas perspectivas do país, mas ainda não se refletiram no bolso dos eleitores. Além disso, em 2014 espera-se que se consolide a retomada da economia mundial, com aceleração no ritmo de crescimento dos Estados Unidos e da Europa, algo de que o Brasil poderá se beneficiar. Mesmo assim, o cenário não é tão róseo quanto Dilma propala, de olho nas urnas. Até o ex-ministro Delfim Netto, conselheiro informal da presidente, já disse que o governo tem errado e colaborado, por exemplo, para inibir investimentos privados. A luta de Dilma Rousseff pela reeleição não se anuncia tão simples quanto a conquista do primeiro mandato, em 2010, quando, entronizada por Lula e embalada por um crescimento econômico de 7,5%, venceu o tucano José Serra. Mais talvez do que admiração inconsciente pelos militares, os recursos retóricos de viés autoritário usados por Dilma explicam-se pela necessidade de fazer crer que tudo vai bem, e que o problema está nos outros. É o velho papel de vítima encarnado pelo PT quando seus integrantes são pilhados cometendo crimes ou quando o governo fracassa em alguma área. Se o crescimento não chega a 3% ao ano e os investimentos privados não saem do papel, a culpa é da "guerra psicológica". Afora isso, para a presidente o país vai às mil maravilhas. Quem pensa diferente ou quem critica o governo é contra o Brasil. O ataque aos pessimistas, mesmo sem nominá-los, é flagrantemente infundado. Desde a posse de Dilma, os analistas do mercado fizeram estimativas bem mais otimistas do que os números reais divulgados nas duas últimas semanas. Não se faz "guerra psicológica" errando para cima — ou seja, apostando em indicadores melhores do que os constatados. O crescimento econômico ficou abaixo do esperado, e a inflação surpreendeu para mais (veja o quadro na pág. 44). O mercado pode ser acusado de excesso de otimismo, e não do contrário. Os rivais de Dilma na corrida rumo ao Palácio do Planalto acusam a presidente de vender ao distinto público eleitor um país de faz de conta. "Temos problemas macroeconômicos que precisam ser enfrentados. Há três anos seguidos a América Latina tem crescido 40%, 50% de média a mais que o Brasil. Temos a inflação de volta batendo na porta dos brasileiros", disse Eduardo Campos. Para o pré-candidato do PSDB, o senador mineiro Aécio Neves, Dilma descreve o país como uma "ilha da fantasia". "Nenhuma palavra sobre as famílias vítimas das chuvas e as obras prometidas e não realizadas. Nenhuma menção à situação das contas públicas, à inflação acima do centro da meta, ao pífio crescimento da economia", afirmou o tucano ao criticar o discurso de Ano-Novo da presidente. A retórica do otimismo é parte do arsenal eleitoral que já está sendo usado por Dilma Rousseff para conquistar a reeleição — com a ajuda da potente estrutura que ela controla a partir do Palácio do Planalto. A presidente já aumentou o ritmo das viagens pelo país, com destaque para cidades que concentram grande número de eleitores, a fim de anunciar pacotes de bondades que incluem de distribuição de tratores a prefeitos a promessas de obras pelo país afora. Ela tem usado como nunca as vantagens de estar no comando da máquina pública. Tem explorado as cadeias de rádio e televisão. Desde que assumiu, Dilma convocou redes nacionais de rádio e televisão nada menos que dezessete vezes. No mesmo período de tempo, o primeiro mandato, seu antecessor fez onze pronunciamentos. Neste início de ano, a presidente lançará mão de mais uma ofensiva. Fará uma reforma ministerial. O objetivo não é melhorar a eficiência do governo, mas, ao dividir os cargos de primeiro escalão entre os partidos, fechar a maior coligação eleitoral da história política brasileira. Isso lhe dará palanques, mas, principalmente, um tempo ainda maior na propaganda eleitoral pela televisão. Para chegar a esse objetivo vale tudo. Protagonistas do mensalão, como o PTB de Roberto Jefferson, receberão cadeiras no ministério. O governo também usará a publicidade institucional para reforçar programas de apelo popular, como o Mais Médicos e o Minha Casa, Minha Vida, e pretende abrir os cofres para ampliar os investimentos públicos. Tudo indica que Dilma vai recorrer ao velho hábito dos governantes brasileiros de, em anos de eleição, despejar dinheiro na economia para garantir o emprego e a renda do eleitor em alta. A conta vem sempre mais tarde. Se ela perder, o novo presidente que se vire. Se ela ganhar, tem mais quatro anos para pôr a casa em ordem. Não precisa ser o doutor Sigmund Freud para saber o impacto psicológico positivo desse truque. EXPECTATIVAS FRUSTRADAS O governo diz que o mercado exagera no pessimismo. Nos três últimos anos, porém, os resultados finais da economia ficaram abaixo das estimativas iniciais feitas pelos bancos e consultorias. Ou seja, o mercado esteve mais otimista do que a realidade PIB 2011 – A previsão 4,5%; A realidade 2,7% 2012 – A previsão 3,3%; A realidade 1% 2013 [estimativas mais recentes] – A previsão 3,3%; A realidade 2,3% PRODUÇÃO INDUSTRIAL 2011 – A previsão 5%; A realidade 0,3% 2012 – A previsão 3,4%; A realidade -2,7% 2013 [estimativas mais recentes] – A previsão 3%; A realidade 1,6% INFLAÇÃO 2011 – A previsão 5,3%; A realidade 6,5% 2012 – A previsão 5,3%; A realidade 5,84% 2013 [estimativas mais recentes] – A previsão 5,5%; A realidade 5,7% A CONTA SOBROU PARA O TURISTA A alta de 15% na cotação do dólar em 2013 não inibiu os turistas brasileiros. Os gastos externos dos viajantes ultrapassaram 25 bilhões de dólares no ano passado. Mais um recorde. A melhora no poder de consumo e a ampliação de ofertas de voos incentivaram os brasileiros a conhecer o mundo. Mas o principal fator de estímulo às viagens ao exterior é aproveitar os preços baixos dos países com economia de alta competitividade e produtividade. Como sempre, na impossibilidade de baixar o custo Brasil, o governo optou por tentar aumentar o "custo mundo" para os brasileiros. Resultado: mais impostos. Exatamente: 500 milhões de reais a mais de receita em 2014. A alíquota do imposto sobre operações financeiras (IOF) para o cartão pré-pago e os cheques de viagem subiu de 0,38% para 6,38%, igualando-se à taxa já cobrada nas compras feitas no exterior com cartão de crédito. Para transações em dinheiro vivo, o imposto continua a ser de 0,38%. Na sexta-feira, Guido Mantega, ministro da Fazenda, antecipou os resultados fiscais de 2013. Afirmou ter cumprido o seu papel, ao registrar um superavit primário (excluindo os juros) de 75 bilhões de reais, 2 bilhões acima da meta ajustada de 73 bilhões. O resultado, porém, só foi atingido graças a um artifício: contabilizar como receita os resultados ainda incertos do programa federal de renegociação de dívidas em atraso. Os brasileiros, viajantes ou não, que se cuidem. Mais receita garantida para o governo vem mesmo é de imposto. COM REPORTAGEM DE BIANCA ALVARENGA 4# INTERNACIONAL 8.1.14 4#1 ISSO É QUE É CAMARADAGEM 4#2 A AMEAÇA OLÍMPICA 4#3 UM FIM DE ANO INFERNAL 4#1 ISSO É QUE É CAMARADAGEM Enquanto os portos brasileiros não atendem à demanda, Cuba vai inaugurar um, novinho, feito com investimento do BNDES que é mantido sob sigilo pelo governo petista. LEONARDO COUTINHO Uma potência agrícola com portos tão inadequados é uma Ferrari com um reles motor 1.0. A exuberância fica empacada. É o caso do Brasil. O principal porto brasileiro, o de Santos, está assoreado e isso impede que os cargueiros de última geração, que exigem profundidades superiores a 14 metros, atraquem no terminal. As obras de dragagem ali avançam, mas em ritmo cubano. Opa! Quem nos dera! Em Cuba, com dinheiro do povo brasileiro, as obras de infraestrutura progridem velozmente. Em 2014, o Brasil vai perder 22% da riqueza gerada pela maior safra de soja da história, de 55 milhões de toneladas. A causa disso são os gargalos da infraestrutura portuária brasileira e da perda de carga em acidentes de caminhões nas péssimas estradas. Isso significa que o governo brasileiro dedicou a essa questão a prioridade máxima, investindo o máximo possível na melhoria das estradas e dos portos brasileiros? Não. Apenas 7% dos 218 milhões de dólares previstos para ser investidos nos terminais brasileiros em 2013, ou 15,5 milhões de dólares, foram aplicados. O maior investimento brasileiro em portos nos últimos anos foi feito onde? Em Cuba. No fim de janeiro, a presidente Dilma Rousseff vai à ilha dos irmãos Castro inaugurar o Porto de Mariel. O governo brasileiro investiu 682 milhões de dólares nos últimos três anos na construção de um terminal em Cuba, onde a ditadura de Fidel e Raul Castro, perdoem a repetição, vive sua fase terminal. O Porto de Mariel terá capacidade 30% superior à do Porto de Suape, o principal do Nordeste brasileiro. O descalabro é obra de Lula. Foi no governo dele, em 2008, que o BNDES decidiu financiar 71% do orçamento da construção do porto. Para entendermos o senso de prioridade do governo do PT, o BNDES emprestou aos cubanos três vezes mais do que destinou a melhorias e ampliações no Porto de Suape desde a sua inauguração, em 1983. Cuba não pode esperar. O Brasil pode. Acrescente-se aos dados acima o fato de que o negócio com a ditadura cubana transcorreu sob segredo de Estado. Em junho de 2012, o ministro Fernando Pimentel, do Desenvolvimento e Comércio Exterior, classificou o conteúdo do contrato como "secreto", com validade até 2027. A justificativa foi proteger "informações estratégicas". Acabava de entrar em vigor a Lei de Acesso à Informação quando Pimentel decidiu classificar o negócio com os cubanos como secreto. O BNDES financia obras de infraestrutura em quinze países, mas apenas três contratos — dois com Cuba e um com Angola — são considerados secretos. Um documento arquivado na biblioteca do Senado antes da blindagem feita por Pimentel e o relato de um funcionário público familiarizado com as negociações em torno do empréstimo para o Porto de Mariel dão uma pista do tipo de informação que o governo tenta esconder. A única garantia exigida pelo empréstimo foi a abertura de uma conta em uma agência do Banco do Brasil nos Estados Unidos na qual Cuba se compromete a manter um saldo equivalente a três parcelas do pagamento da dívida com o Brasil, cujo desembolso começará apenas em 2017. Em caso de atraso no pagamento, o Brasil, teoricamente, poderia sacar os valores da conta de Havana no BB. Teoricamente, pois os termos do contrato secreto são desconhecidos e podem conter cláusulas ainda mais favoráveis aos ditadores de Cuba. Por exemplo, o valor das três parcelas pode ser irrisório. A promessa dos cubanos é depositar na agência do BB nos Estados Unidos parte da receita de suas exportações de açúcar. Como Cuba produz hoje menos açúcar do que há 55 anos, quando os Castro substituíram a ditadura de Fulgencio Batista pela deles, não há nenhuma garantia. Havana pode simplesmente deixar de depositar o dinheiro. O porto estará prontinho. E estará dado o calote — aliás, recorrente nos negócios com Cuba. Nem ao falecido Hugo Chávez o Brasil ofereceu tanta facilidade. Uma das razões para não ter vingado a participação da petroleira PDVSA na construção da refinaria Abreu e Lima, em Pernambuco, foi o fato de o BNDES ter exigido que o venezuelano buscasse junto a bancos privados as garantias necessárias para a liberação do crédito. Chávez queria a mesma mamata dada pelo PT aos cubanos. Ofereceu dar como garantia uma conta a ser abastecida com as divisas geradas pelas exportações de petróleo. Não funcionou. "Cuba é conhecida pelos calotes. Os contribuintes brasileiros podem considerar esse dinheiro como uma doação de seu governo para a manutenção de uma ditadura", diz José Azel, professor do Instituto de Estudos Cubano-Americanos da Universidade de Miami. Em 2004, o governo do México recorreu à Justiça italiana para embargar 40 milhões de dólares de uma conta da empresa de telefonia de Cuba, na tentativa de reaver parte de um empréstimo de 500 milhões de dólares. Em novembro passado, o México acabou perdoando 70% da dívida e parcelou o saldo de 150 milhões de dólares em dez anos. O mesmo foi feito pelo Japão, que abriu mão de 80% de uma dívida de 1,4 bilhão de dólares. Cuba já pleiteia um novo empréstimo do Brasil. Desta vez para construir uma zona industrial ao redor do Porto de Mariel. Em novembro passado, Rodrigo Malmierca, ministro do Comércio Exterior cubano, esteve no Brasil para convencer empresas brasileiras a se instalarem na ilha. Malmierca prometeu isenção fiscal e o fim do confisco de metade do salário pago aos trabalhadores — um dos itens da legislação escravocrata implantada pelos comunistas. Nenhuma empresa brasileira topou. Vai ver, Malmierca já acertou tudo em segredo com o governo brasileiro. PRIMEIRO CUBA, DEPOIS O BRASIL O governo do PT colocou mais dinheiro na estrutura portuária de Cuba... 227,4 milhões de dólares é a participação anual média na construção do Porto de Mariel (nos últimos três anos, por meio de empréstimos do BNDES) .. do que na brasileira,... 15,5 milhões de dólares é o total de investimento em portos em 2013 ..que está longe de ser um modelo de eficiência – 18,7 bilhões de dólares é quanto precisa ser investido no Brasil (para recuperação, modernização e dragagem dos portos, além de melhorias nas rodovias e ferrovias de acesso.) O MONOPÓLIO DOS MILITARES Em 2006, o total de empresas registradas em Cuba era de 3519. Em setembro passado, quando o Escritório Nacional de Estatísticas e Informação de Cuba divulgou o mais atual levantamento empresarial da ilha, apenas 2491 empreendimentos estavam com as portas abertas. Uma redução de 29%. O fracasso da indústria, do comércio e do setor de serviços nada tem a ver com o embargo americano, até porque nada impede Cuba de fazer negócios com o restante do mundo. Trata-se, isso sim, do resultado da crescente concentração das atividades econômicas nas mãos de oficiais das Forças Armadas, um processo que começou em 1994, quando o país comunista "se abriu" a investimentos externos. Como as empresas estrangeiras não podiam ser 100% donas do negócio, associaram-se aos militares. Em 2012, as empresas das quais eles eram sócios ou únicos donos - desde lojas de roupas e sapatarias até a Almacenes Universales S.A., que controla toda a importação e exportação de produtos - movimentaram 80% do PIB do país. A administração do Porto de Mariel será feita pela Almacenes, que também será a sócia compulsória de quem se aventurar a investir no parque industrial previsto para as proximidades. No Brasil, a filial da empresa foi aberta em 2010 por Fidel Castro Puebla, que vive no bairro dos Jardins, em São Paulo, e cujo nome é uma homenagem da mãe, a general Esther Puebla, ao ditador cubano e ex-companheiro de guerrilha. Sob o nome de Comercial Brasraf Importação e Exportação Ltda., a filial da Almacenes faz a intermediação do comércio entre Brasil e Cuba. 4#2 A AMEAÇA OLÍMPICA Atraídos pela publicidade dos Jogos de Inverno, os terroristas islâmicos voltaram a atacar. O evento na Rússia terá o mais rígido esquema de segurança da história. NATHALIA WATKINS A aglomeração de cidadãos de dezenas de nacionalidades é o paraíso dos terroristas. A circunstância é ideal para atingir um grande número de inocentes e garantir ampla divulgação de suas atrocidades. Isso faz dos Jogos Olímpicos um prato cheio. Poucos conseguem driblar os esquemas de segurança, mas o risco sempre existe. Foi assim nos Jogos de Munique, em 1972, e de Atlanta, em 1996. Com a proximidade dos Jogos de Inverno de Sochi, na Rússia, os extremistas islâmicos voltaram a justificar a preocupação. Na semana passada, terroristas suicidas cometeram dois atentados em menos de 24 horas e mataram 34 pessoas na cidade de Volgogrado, antiga Stalingrado, 700 quilômetros a noroeste de Sochi. A primeira explosão ocorreu no domingo, 29 de dezembro, na entrada de uma estação de trem lotada. No dia seguinte, um homem-bomba, possivelmente um russo convertido ao islamismo, detonou-se dentro de um ônibus. O Cáucaso, área montanhosa entre os mares Negro e Cáspio, é refúgio de separatistas transmutados em radicais islâmicos há cerca de quinze anos. "O Islã funciona como um cimento que une os grupos do norte do Cáucaso contra a Rússia", diz o cientista político francês Laurent Vinatier, do Instituto Thomas More. O presidente Vladimir Putin, sem temer ser desmentido pela realidade, prometeu "aniquilar'' os terroristas. De olho na visibilidade internacional que receberá com os Jogos, ele chegou a conceder anistia a presos políticos na semana anterior para amenizar sua imagem autoritária. Mas sua reputação segue em xeque. "Se houver novos atentados, acabará o sonho de Putin de projetar uma imagem de normalidade durante o evento", diz o cientista político Marvin Kalb, da Universidade Harvard. Apesar da sensação de perigo, uma região com histórico de ataques terroristas não é necessariamente mais insegura que outras. "Mesmo um país tradicionalmente sem inimigos, como o Brasil, está sujeito a atividades de grupos que buscam publicidade para suas causas", diz o cientista político israelense Reuven Paz, especialista em movimentos islâmicos. "O terrorismo é um fenômeno global. Se se decidisse não fazer mais eventos de grande porte em países vulneráveis, a lista dos anfitriões diminuiria muito", reforça o cientista político americano Charles Freilich, da Universidade Harvard. O esquema de segurança de Sochi, considerado um dos mais rigorosos da história, não foi reforçado após os atentados. Haverá drones, helicópteros, navios, sistemas de defesa antiaérea e 37.000 homens a postos para evitar novas tragédias. A polícia já bateu à porta dos moradores de Sochi para fazer verificações de segurança. Além disso, pela primeira vez os visitantes precisarão providenciar, além de entrada para os jogos, um "passe espectador", concedido após a verificação de antecedentes. A cidade ficará completamente selada, deixando os riscos nos arredores. A Rússia investiu quase 120 bilhões de reais na preparação do evento. A expectativa é que Sochi receba cerca de 120.000 turistas e 2500 atletas a partir de 7 de fevereiro. O governo russo é muito criticado pela mão de ferro com que gerência o conflito no Cáucaso. Há duas décadas as repúblicas da Chechênia e do Daguestão protagonizam movimentos separatistas. "O governo está disposto a pagar o preço de algumas ações de terror para manter o controle da unidade territorial da Rússia", diz Paz. Há alguns anos, porém, os atentados deixaram de ser apenas atos de vingança contra a repressão do Estado. Cada vez mais, seguem o roteiro inspirado na Al Qaeda, inclusive no objetivo final: Doku Umarov, líder de um grupo fundamentalista, quer criar um emirado no Cáucaso, com a aplicação estrita das leis religiosas. Em um vídeo divulgado em julho, ele ameaçou fazer de tudo para impedir a realização dos Jogos de Inverno. "Os 2200 ataques terroristas realizados pela gangue de Umarov entre 2007 e 2012 são um indício de que as forças de segurança de Putin estão perdendo a capacidade de lutar contra o terror", diz a cientista política ucraniana Lilia Shevtsova. Sochi pode estar protegida, por ora. Mas os russos continuarão sob ameaça. 4#3 UM FIM DE ANO INFERNAL A onda de calor na Argentina foi acompanhada de cortes de eletricidade, culpa da política de subsídios do governo. O silêncio foi a resposta da presidente Cristina Kirchner para a última crise de 2013 na Argentina. Depois de se defrontarem com uma greve policial no início de dezembro, seguida de saques e caos, os argentinos voltaram às ruas para protestar na semana passada. O motivo foi a falta de energia elétrica, que obrigou moradores de Buenos Aires e arredores a enfrentar a alta temperatura das últimas duas semanas sem o luxo de um ar-condicionado ou nem mesmo de um ventilador. Foi a pior e a mais persistente onda de calor desde que o Serviço de Meteorologia Nacional começou a registrar a temperatura, em 1906. Na capital, os termômetros assinalaram mais de 30 graus por cinco dias consecutivos. Na província de Santiago del Estero, a temperatura alcançou a marca de 50 graus. Os blecautes eram previsíveis. Os últimos oito secretários de Energia alertaram sobre o colapso do sistema. O atual, Daniel Cameron, se mostrou menos preocupado. Apareceu jogando golfe em plena crise energética, a exemplo de sua chefe, que descansava em El Calafate, no sul do país. "A situação é grave. As redes de distribuição não suportam picos de demanda, há complicações na geração de energia elétrica e o setor requer cada vez mais importações", diz o economista Matías Carugati, da consultoria Management & Fit. O chefe do gabinete da Presidência, Jorge Capitanich, minimizou a crise e culpou as distribuidoras privadas de energia, o que só irritou ainda mais os argentinos. "As pessoas estão cansadas dessa atitude de sempre culpar o outro", diz o cientista político argentino Orlando D’Adamo, do Centro de Opinião Pública da Universidade de Belgrano. O verdadeiro culpado pela crise é o populismo tarifário do governo. O Estado mantém o preço da energia congelado desde 2001 e oferece subsídios ao consumidor final, mas não deixa margem de faturamento para as distribuidoras investirem em infraestrutura. Na área coberta pela maior empresa de energia do país, a Edenor, as interrupções do fornecimento aumentaram 110% e a duração média dos cortes cresceu 280% em dez anos. Na Argentina, 2013 começou com panelaços e terminou com queima de pneus. Nem a chuva seria capaz de esfriar os ânimos. N.W. 5# GERAL 8.1.14 5#1 ESPECIAL – ALGUÉM VAI MENTIR PARA VOCÊ HOJE 5#2 GENTE 5#3 ESPORTE – UMA VIDA NO LIMITE 5#4 ESPORTE – FRATURA DO UFC 5#5 LOBÃO – EU, COXINHA 5#6 HISTÓRIA – UM NERVO EXPOSTO 5#1 ESPECIAL – ALGUÉM VAI MENTIR PARA VOCÊ HOJE Em ano de eleições, as lorotas crescem exponencialmente. Os estudiosos do assunto dizem que é possível apontar mentirosos. Será? Em muitos casos, sim. RAQUEL BEER E VICTOR CAPUTO De um jeito ou de outro, muito ou pouco, você vai mentir neste ano. Você também vai ouvir muitas mentiras em 2014. Assim é a vida desde que o primeiro hominídeo indicou erradamente o lado onde estava a caça, roubando assim do rival a chance de dividir com ele mais tarde um naco de carne defumada. A mentira é um recurso puramente humano, tão privativo da nossa espécie quanto a fala e a negociação. Nenhum outro ser vivo tem o dom da fala. Nenhum outro conhece os mecanismos da troca. Nem o chimpanzé, nosso primo mais próximo, é capaz de oferecer a outro, digamos, um cacho de bananas com a condição de ganhar um lugar mais aconchegante na árvore. A capacidade de falar, negociar e mentir foi sendo refinada durante a trajetória evolutiva humana até chegar a seu ápice na figura de um político treinado por um marqueteiro em ano eleitoral. Em 2014, portanto, se prepare. Alguém vai tentar pela fala azeitada negociar seu voto em troca de alguma promessa mentirosa. Obviamente, nem todos os políticos são desonestos. Muitos têm senso moral, ou simplesmente consciência, que, segundo Charles Darwin, pai da teoria da evolução, é a característica que mais claramente nos distingue dos animais. O jogo ardiloso da política é necessário, e sem ele não temos democracia. Mas, em tempo de eleição, é preciso redobrar os cuidados. Dizia o chanceler alemão Otto von Bismarck (1815-1898): "As pessoas nunca mentem tanto quanto depois de uma caçada, durante uma guerra e antes de uma eleição". Os mais de 22.500 candidatos aos mais diversos cargos eletivos vão se esmerar em ganhar seu voto usando, para isso, aquelas conquistas evolutivas da espécie que eles tão bem dominam. Infelizmente, não existe um método infalível para saber se um político está mentindo. Uma pista é saber se ele já mentiu antes. A probabilidade de um enganador compulsivo tentar ludibriar de novo é altíssima. A boa notícia é que pesquisadores de diversos ramos científicos, da psicobiologia à neurociência, da linguística à psiquiatria, chegaram, finalmente, a métodos altamente precisos para definir quando uma pessoa, político ou não, está mentindo. É possível detectar qualquer mentira? Teoricamente, sim. A evolução dotou a espécie humana da capacidade de fingir, mas não, com exceção talvez dos poetas e dos grandes atores, de fazê-lo completamente. A mentira tem pernas curtas justamente por ser detectável. Pouca gente se incomoda com a mentira social, aquela facilitadora da convivência, usada para fugir de um jantar indesejável, para recusar um convite ou para justificar um atraso. Quando a praticamos ou quando nos aplicam uma delas não chega a ser nenhuma tragédia, embora esse tipo de mentira seja moralmente tão condenável quanto as enganações mais sérias. Uma pesquisa conduzida pelo psicólogo Jerald Jellison, da Universidade da Califórnia do Sul, nos Estados Unidos, mostra que cada pessoa ouve 100 mentiras por dia. "Sua mensagem foi direto para a pasta de lixo. Não sei o que aconteceu. Manda de novo, por favor" é uma bastante provável. Outra: "O trânsito estava muito pior do que eu esperava, por isso me atrasei". Quem abusa desse tipo de saída costuma também prevaricar em questões mais significativas. Dizem os pesquisadores: um terço de todos os currículos profissionais contém pelo menos uma informação inventada. E pior: 83% dos recém-formados tentam enganar o entrevistador quando se candidatam ao primeiro emprego, e não se sentem culpados por isso. Outro estudo colocou em números uma constatação já feita pelo senso comum. A de que é mais fácil mentir a alguém conhecido ao telefone do que cara a cara. Quase 40% das mentiras são ditas durante as ligações telefônicas e 27% em conversas presenciais. A mesma pesquisa encontrou apenas 21% de mentiras em mensagens instantâneas enviadas por celular ou pelas redes sociais. Somente 14% das mentiras contadas por amigos, parentes e conhecidos chegam pelo e-mail. São coisas da vida. Essas mentiras aborrecem, mas não destroem. O grande mérito dos especialistas é o aprimoramento dos métodos de detecção da mentira intolerável, que corrói a coesão social e abala os alicerces da vida em comunidade. É a do criminoso que mente para escapar de punições. É a do demagogo que esquece o eleitor no dia seguinte ao da eleição. É a da autoridade municipal que, para não perder o emprego, minimiza os danos de uma enchente ou a gravidade de uma epidemia de meningite. Tecnicamente, as mentiras podem ser divididas em dois grupos, as ofensivas e as defensivas. As do primeiro grupo são aquelas ditas para afastar uma pessoa ou grupo de pessoas de algo valioso, de modo que o mentiroso usufrua sozinho. São da mesma natureza da mentira do hominídeo que direcionava os outros caçadores para o lado errado. Nesse grupo se enquadram, benignamente, os grandes dribladores do futebol ou do basquete, que fingem uma intenção e executam outra para se livrar de um defensor. Malignamente, aqui estão os falsificadores, os inventores de esquemas de investimentos fajutos e os malandros de todos os calibres. As mentiras defensivas são ainda mais clássicas, como aquela contada pela criança que quebrou um vaso caro e põe a culpa no vento. Mas é também a do assassino que nega ter estado com a vítima no momento em que ela foi morta. Uma pessoa sem nenhum treino específico é capaz de identificar que está sendo alvo de uma mentira pouco mais da metade das vezes. Os especialistas, usando de todas as suas armas, conseguem apontar um mentiroso em 90% dos casos. Em condições ideais, as taxas de sucesso podem chegar a 95%. O que são essas condições ideais? São aquelas em que a pessoa investigada já é suspeita de ter praticado determinado ato e em que existem outros tipos de prova contra ela, faltando apenas a confissão definitiva. É ideal também que o pesquisador tenha conhecimento da maneira de falar e de outros hábitos do suspeito. Alguém que gagueja durante o interrogatório está mentindo? Em geral, esse é um indício, mas, obviamente, ele não tem validade se a pessoa é gaga de nascença. Também faz parte das condições ideais que o pesquisador ou interrogador nos casos criminais seja da mesma nacionalidade e comungue da mesma cultura do indivíduo suspeito de estar mentindo. Nada, porém, muito distante do senso comum. O fascinante mesmo e o que elevou as taxas de acerto à fronteira do infalível foram as pesquisas sobre as reações faciais, corporais e verbais que fazem parte da natureza do ser humano. Um dos grandes nomes dessa linha de pesquisa é o psicólogo americano Paul Ekman. Em meados dos anos 60, ele começou a catalogar o que classificou como "microexpressões faciais". Pelo estudo da contração ou relaxamento dos 43 músculos do rosto, Ekman codificou a gramática facial básica e universal da espécie humana. As sete emoções básicas (medo, tristeza, nojo, alegria, desprezo, surpresa e raiva) podem ser lidas nas expressões faciais dos seres humanos. Darwin já havia percebido essa universalidade nas expressões faciais de tristeza e alegria. Os estudiosos modernos dos antepassados humanos mostraram que, muito antes da fala e da escrita, a linguagem facial e corporal era uma maneira eficiente de se comunicar. A evolução biológica nos primatas chancelou apenas entre os seres humanos a mutação da esclera para a cor branca — deixando-a escura e sem definição nos demais. Por essa razão, nossos olhares são tão expressivos. Só os seres humanos vertem lágrimas. Mas os olhos são ainda mais sutis. Todos nós, e não apenas os grandes romancistas, podemos ler no olhar de homens e mulheres sinais inequívocos de amor, ódio, raiva, alegria, tristeza, triunfo ou desdita, confiança ou desespero. Ekman ampliou os estudos de Darwin para outras emoções e descobriu como os músculos da face trabalham para produzir cada detalhe das microexpressões. Ele testou sua teoria no Brasil, no Chile, na Argentina, no Japão, nos Estados Unidos e com indivíduos das tribos de Papua-Nova Guiné. Em todas as culturas as microexpressões básicas podiam ser facilmente associadas às mesmas emoções. Um nativo de Nova Guiné quando quer demonstrar desprezo por alguém ou algo faz um movimento involuntário com os lábios, esticando um lado mais do que o outro, produzindo um desenho assimétrico com a boca. Um brasileiro, argentino ou americano reage da mesma maneira na mesma situação. Entre 2009 e 2011, Ekman acompanhou as filmagens de um popular seriado americano baseado em sua trajetória, o Lie to Me (em português, Minta para Mim), no qual o protagonista é um interrogador profissional. Tim Roth, excelente ator hollywoodiano que se encarregou do papel principal, foi treinado por Ekman para imitar as expressões faciais que remetem às sete emoções clássicas. O gabarito construído a partir da interpretação de Roth é um manual de como flagrar um criminoso. Um criminoso tende a fingir surpresa e depois tristeza ao ser interrogado sobre o destino da vítima. A surpresa é mais fácil de ser encenada. Mas são evidentes para um especialista as microexpressões faciais de uma pessoa que tenta fingir-se de triste quando não está. Só um ator de enorme talento e ainda assim depois de muita prática pode produzir todas as contrações musculares faciais associadas indelevelmente à tristeza. Disse a VEJA a escritora e pesquisadora americana Pamela Meyer, discípula de Ekman, executiva-chefe da consultoria Calibrate e autora de Liespotting (em tradução livre, Detector de Mentiras): "Um desonesto sempre deixa marcas de sua mentira no próprio rosto, em sua fala, em seu corpo. Quer saber se um político corrupto está mentindo? Faça a ele uma pergunta totalmente inesperada, que o tire da zona de conforto, como um 'por que o senhor teve de desviar dinheiro público?', e note se sua face indica desprezo ou raiva, enquanto ele tenta se defender". Em seu livro, Pamela dá dicas de como perceber quando alguém não é sincero. A mais essencial é procurar discrepâncias entre o que a pessoa diz e como se comporta. Se alguém garante que ama a esposa, mas seu rosto denuncia um sentimento de desprezo, pode se tratar de uma tentativa de enganar o interlocutor. Diz Pamela: "Com muita prática, flagrar a mentira se torna algo automático, como dirigir um carro". As técnicas que nasceram com Ekman, aplicadas a episódios históricos como a célebre frase de Richard Nixon em um pronunciamento de TV em 1973 — "eu não sou bandido" —, tentando negar o inegável no escândalo de Watergate (veja os quadros ao longo desta reportagem), são úteis para desmascarar mentiras públicas de personalidades conhecidas. Mas são úteis também no cotidiano — porém por razões bem mais nobres do que se transformar em um implacável caçador de mentiras. Ekman e Pamela Meyer desencorajam as pessoas a se tornarem compulsivos detectores humanos de mentiras. Eles acham que ser capaz de perceber os sinais exteriores da mentira ajuda cada um a ser mais honesto consigo mesmo e com os demais. "Saber quando alguém mente é uma maneira também de aprender e se educar para não mentir. Nós crescemos emocionalmente se somos capazes de identificar a falta de sinceridade de um interlocutor", diz Pamela Meyer. Combinadas com o polígrafo, invenção americana da década de 20 do século passado, o mais popular detector de mentiras e ainda em uso pelas polícias dos Estados Unidos, as técnicas mais modernas podem chegar quase à perfeição. Entre elas estão os algoritmos, programas de computador capazes de analisar centenas de milhões de dados e tentar encontrar neles algum padrão significativo. É por meio de um desses algoritmos que o Facebook varre toda a sua rede de mais de 1 bilhão de usuários em busca de perfis falsos. As pessoas que fingem ser quem não são no Facebook podem ser desmascaradas, como os mentirosos do mundo analógico, por emitirem sinais da própria falsidade. Ao contrário dos perfis reais, os falsos tendem a dar explicações copiosas sobre por que eles são quem dizem que são. Eles precisam convencer e, ao se esforçarem muito, se entregam. Isso equivale ao que alguns estudiosos consideram quase uma confissão de mentira, que são frases do tipo: "Para ser totalmente honesto com você..." ou ''Nunca revelei isso antes, mas para você eu vou dizer..." ou ainda "Por que razão eu mentiria?... (Que tal para evitar ser condenado ou para salvar seu casamento?) Estudos sobre mentiras nos chats da internet ainda são incipientes, mas um padrão pelo menos já pode ser considerado uma indicação razoável de que a pessoa do outro lado está mentindo. Esse padrão se revela quando a pessoa diminui a velocidade normal com que tecla. Isso pode ser interpretado como alguém que precisa ganhar tempo, pois está fabricando uma história. A verdade não precisa ser fabricada. A mentira, sim. "Todo mentiroso pego com a guarda baixa precisa ganhar tempo para se recompor e continuar com sua história falsa", diz Mark Bouton, ex-agente do FBI, autor de um livro sobre sua experiência policial na detecção de mentiras pela análise da linguagem, das expressões faciais e das posturas corporais. Bouton diz que mentir cansa e o mentiroso tem dificuldade de manter a mesma história por longo tempo. "Mentir é estressante, já que é preciso ficar atento, tenso, o tempo inteiro", concorda a psicóloga Leila Tardivo, da Universidade de São Paulo. Mark Bouton lista dez sinais que, segundo sua experiência, apareceram associados a alguém decidido a mentir. São eles: 1. Tocar nervosamente a ponta do nariz, a região logo abaixo dos olhos ou cobrir a boca ao falar. 2. Fugir da pergunta e evitar o essencial, dando excesso de detalhes sobre fatos desconectados do ponto central. 3 Alguém que fala com correção, e começa a cometer erros gramaticais grosseiros quando o assunto central da questão é levantado. 4. Afastar a cabeça ou jogar os ombros para trás como reação a uma pergunta direta são movimentos defensivos de quem não quer responder (não necessariamente mentir). 5. Fazer gestos incompatíveis com a emoção descrita revela um esforço mental enorme em não fugir do enredo inventado. 6. Repetir a pergunta que acabou de ser feita integral ou parcialmente é sinal de que a pessoa quer ganhar tempo para construir uma história falsa. 7. Manter todo o tempo os punhos fortemente fechados ou as mãos no bolso é indicador de que a pessoa não quer dizer algo que considera valioso para quem pergunta. 8. Cruzar e descruzar as pernas ou balançá-las descontroladamente são reações defensivas ao mesmo tempo físicas e psicológicas de quem se sentiu incomodado com a pergunta. 9. Quem percebe que está dizendo coisas desconexas ou falsas tende a terminar as frases (mesmo as sérias) com um sorriso e encolher ligeiramente os ombros. 10. Quando uma pessoa está mentindo, ela tende a fechar os olhos por mais tempo, como se procurasse internamente uma resposta. São provas de que alguém está mentindo? Não. São reações que um interrogador profissional percebeu em pessoas que, mais tarde, por associação com evidências físicas, se mostraram culpadas. Aconselha Bouton: "Não saia por aí gabando-se de ser capaz de flagrar mentirosos". Bom conselho, pois a experiência humana é rica e diversa demais para ser enquadrada em alguns sinais exteriores. Além disso, a mentira é companheira da espécie humana há tempo demais para se revelar facilmente. LOROTAS DESMASCARADAS NA POSTURA E NAS PALAVRAS A pedido de VEJA, três reputados especialistas em interrogatório - o brasileiro Wanderson Castilho, dono da consultoria E-NetSecurity e autor do livro Mentira - Um Rosto de Muitas Faces; e as americanas Pamela Meyer, da consultoria Calibrate e autora de Liespotting (em tradução livre, Detector de Mentiras), e Blanca Cobb, psicóloga do Instituto de Linguagem Corporal, em Washington — analisaram vídeos históricos com depoimentos de personagens famosos flagrados em evidente dissimulação corporal ou enganação verbal. RICHARD NIXON A DATA DA MENTIRA: 17/11/1973 O então presidente americano foi para a TV negar o envolvimento no escândalo de Watergate, no qual seu partido, o Republicano, espionou, ilegalmente, a sede do Partido Democrata com escutas e cópias de documentos sigilosos ONDE ESTAVA A MENTIRA... ..nas expressões faciais e corporais • Ao longo do discurso, Nixon alternou frequentemente sua postura, inclinando-se ora para a frente, ora para trás, o que indica total falta de verossimilhança na história que narrava • Ao terminar sua peroração, ele assumiu posição defensiva, dando um passo para trás, cruzando os braços e realizando um único e desafiador aceno com a cabeça ..na retórica • Quando disse sua hoje tristemente famosa frase I’m not a crook" ("Eu não sou bandido"), usou uma expressão de negação (I’m not"), o que indica mentira. Os honestos tendem a falar sobre si de forma positiva. No exemplo, diria algo como "Eu sou um presidente honesto". BILL CLINTON A DATA DA MENTIRA: 26/1/1998 Em coletiva de imprensa, Clinton negou ter tido relações sexuais com Monica Lewinsky, sua estagiária na Casa Branca ONDE ESTAVA A MENTIRA... ..nas expressões faciais e corporais • Ao negar seu relacionamento com Monica, Clinton, que é canhoto, apontou com a mão direita, em vez de usar a esquerda. Usar a "outra mão" num gestual que expressa um argumento forte é sinal de ansiedade e stress • No discurso, apontou para um lado, enquanto olhava para o outro. A discrepância sugeria que ele se esforçava para criar a história falsa ..na retórica • Referiu-se a Monica como "aquela mulher", termo de distanciamento que costuma denunciar embusteiros LANCE ARMSTRONG A DATA DA MENTIRA: 17/1/2013 Em entrevista à apresentadora americana Oprah Winfrey, o ciclista tentou minimizar as evidências de que se dopara ao longo da vitoriosa carreira de sete títulos da Volta da França ONDE ESTAVA A MENTIRA... ..nas expressões faciais e corporais • Ao ser questionado sobre o esquema de doping, Lance coçou a cabeça, em sinal de hesitação, e, na sequência, expressou desprezo em seu rosto, emoção denunciada pela elevação de apenas um dos cantos superiores da boca ..na retórica • Deu início à narrativa com a frase "é muito simples", numa tentativa de minimizar a importância do evento • Quando descreveu o que havia em seu coquetel de doping, assumiu o uso de EPO (eritropoietina), só que logo se corrigiu dizendo "mas não muito", para dar a entender que o uso não teria sido em quantidade significativa FERNANDO COLLOR DE MELLO A DATA DA MENTIRA: 6/12/1992 Em entrevista ao Fantástico, da Rede Globo, o então presidente Collor negou as denúncias de corrupção deflagradas por VEJA e que levariam à abertura do processo de impeachment ONDE ESTAVA A MENTIRA... ..nas expressões faciais e corporais • Collor acelerou, involuntariamente, o ritmo de suas piscadas • Sua face por vezes assumiu a expressão de raiva, com lábios e sobrancelhas contraídos e narinas dilatadas, o que contradiz o discurso calmo pelo qual, supostamente, pregava honestidade ..na retórica • Questionado sobre esquemas de corrupção, Collor falou pausadamente, em tentativa de ganhar tempo para formular a farsa • Perguntado sobre o nome de pessoas envolvidas nos crimes, ele afirmou "vir se negando" a delatar as pessoas que o prejudicaram, mas, sem querer, contrariou o que disse fazendo um movimento positivo com a cabeça JOSÉ DIRCEU A DATA DA MENTIRA: 1º/11/2010 O ex-ministro da Casa Civil do governo Lula negou, em entrevista ao Roda Viva, da TV Cultura, a existência do mensalão, pelo qual foi condenado, em novembro de 2012 ONDE ESTAVA A MENTIRA... ..nas expressões faciais e corporais • Acusado pelo entrevistador de ter chefiado a quadrilha do mensalão, fez uma expressão de leveza irônica que não condiz com a seriedade do assunto ..na retórica • No momento em que começou a explicar a origem de sua fortuna, sua voz, que se mantivera firme até então, falhou duas vezes SUZANE VON RICHTHOFEN A DATA DA MENTIRA: 9/4/2006 Então com 19 anos, Suzane, seu namorado, Daniel Cravinhos, e seu cunhado Cristian Cravinhos assassinaram os pais da menina com golpes de barras de ferro. Em entrevista concedida quase quatro anos depois, ela negou ser culpada pelo crime, por ter sido influenciada por Daniel ONDE ESTAVA A MENTIRA... ..nas expressões faciais e corporais • Na primeira vez em que Suzane mostrou seu rosto, ao dizer que as drogas "foram acabando com ela", não havia traço de tristeza na face • Suzane manteve a cabeça abaixada, ocultando a face, em comportamento típico de quem quer esconder a verdade ..na retórica • Quando disse se arrepender do crime, ela fez um gesto negativo com a cabeça, contrariando o que afirmava • "Dói muito lembrar daquele maldito", disse, referindo-se ao ex-namorado. Naquele instante, contudo, ela não só fez um sinal negativo com a cabeça como ergueu os ombros. São indicativos de que ela mesma não parecia convencida do que falava GOLEIRO BRUNO A DATA DA MENTIRA: 28/6/2011 O ex-goleiro do Flamengo Bruno negou ter matado a modelo (e amante) Eliza Samudio, em 2010, crime pelo qual foi condenado, em março de 2013, a 22 anos de prisão ONDE ESTAVA A MENTIRA... ..nas expressões faciais e corporais • Ao falar sobre Eliza, sua face assumiu nítida expressão de frieza • Ao dizer que a amante saiu de sua casa viva, o goleiro contraiu os músculos do maxilar, como se seu cérebro tentasse deter o que falava ..na retórica • Bruno se referiu à ex-amante com ironia, chamando-a de "Senhorita Eliza". Ironia, nesses casos, é indício de embromação. SINCERIDADE ESCRITA NO ROSTO Nos anos 60, o psicólogo americano Paul Ekman desenvolveu uma técnica de detecção de mentiras baseada nas chamadas microexpressões do rosto. Elas são acionadas por 43 músculos faciais, que compõem 10.000 expressões, das quais 3000 estão relacionadas a sentimentos, divididos em sete categorias: medo, tristeza, nojo, alegria, desprezo, surpresa e raiva. Muitos profissionais de polícia de todo o mundo utilizam esse gabarito de Ekman para tentar perceber a falta de sinceridade em depoimentos - um criminoso que diz ter raiva a partir de uma condenação injusta só estará sendo sincero se, no estudo detalhado de suas reações faciais, mover olhos e boca dentro dos padrões verificados em situações genuínas. Evidentemente, por se tratar de uma técnica de cunho psicológico, ela nunca é 100% confiável - mas ajuda a identificar um mentiroso. Entre 2009 e 2011, Ekman trabalhou como consultor do seriado americano Lie to Me, baseado em sua trajetória. O ator Tim Roth, protagonista da série, foi treinado por Ekman para imitar as expressões faciais que remetem às sete emoções clássicas. É de Roth o rosto que aparece nestas páginas. MEDO • As sobrancelhas se elevam e se aproximam • As pálpebras superiores se direcionam para cima • As pálpebras inferiores ficam tensas • Os olhos se arregalam • Os lábios se esticam horizontalmente, em direção às orelhas TRISTEZA • As pálpebras superiores caem • Os cantos dos lábios ficam voltados para baixo NOJO • O nariz se franze • As bochechas ficam puxadas para cima • O centro do lábio superior se eleva ALEGRIA • Os músculos próximos aos olhos se contraem, formando pés de galinha • As pálpebras se fecham um pouco • Os cantos da boca se voltam para cima • O sorriso é verdadeiro DESPREZO • Apenas um dos cantos dos lábios se volta para cima • É a única das expressões em que os movimentos de um lado do rosto perdem simetria com os do outro SURPRESA • As sobrancelhas se elevam • As pálpebras ficam bem abertas • A mandíbula cai • É a expressão mais rápida da lista; dura apenas um segundo antes de ser substituída pela de tristeza ou de alegria RAIVA • As sobrancelhas baixam e se aproximam • As pálpebras se abrem • Pode-se criar uma ruga entre os olhos • Os lábios se estreitam e são pressionados para dentro VOCÊ SABE IDENTIFICAR UM MENTIROSO? O teste a seguir, elaborado pela americana Pamela Meyer, da consultoria Calibrate, especializada na detecção de mentiras, avalia a capacidade de uma pessoa perceber a dissimulação alheia - e saber quando os outros mentem é o melhor atalho para um comportamento honesto. Por favor: não engane a si mesmo. Evite ler antes o gabarito na página ao lado. 1- Qual dos indicadores de mentira listados abaixo é o menos confiável? a) Presença ou ausência de gestos ilustrativos b) Qualidade vocal c) Microexpressões faciais d) Sorrisos falsos 2- Quando se pergunta a um mentiroso "Em que horário você saiu do escritório na tarde da última sexta-feira?", é mais provável que ele: a) Reproduza a pergunta inteira antes de responder b) Repita algumas palavras da pergunta antes de responder 3- Um mentiroso vai evitar contato visual quando você lhe fizer uma pergunta. Essa afirmação é: a) Verdadeira b) Falsa 4- Qual destes dois sorrisos é falso? A [foto] B [foto] 5- Quando alguém responde a uma pergunta com "Para dizer a verdade,...": a) Provavelmente fala a verdade b) Está mentindo ou omitindo algo 6- Como você deve elaborar um questionamento para evitar que o dissimulado lhe dê uma resposta defensiva? a) Cite todos os fatos que você já sabe sobre a situação e todas as pessoas com quem você já falou para que ele entenda que você não cairá na ladainha b) Pergunte diretamente por que ele se comportou de determinada forma c) Pergunte o que fez com que agisse da maneira como agiu d) Fique em silêncio e deixe que ele fale 7- Quando uma pessoa mente, os indicadores de mentira provavelmente estarão: a) Nas palavras com que ela narra sua história b) No seu comportamento ao contar a história 8- Quais destas sete emoções são expressas da mesma forma em todo o mundo: raiva, tristeza, nojo, alegria, desprezo, surpresa e medo? a) Todas b) Raiva e desprezo c) Tristeza e medo d) Nenhuma 9- Geralmente, pessoas que contam uma mentira piscam involuntariamente mais do que quando estão falando a verdade. A afirmação é: a) Verdadeira b) Falsa 10- Qual das emoções abaixo se expressa de maneira assimétrica no rosto quando verdadeira? a) Medo b) Tristeza c) Nojo d) Alegria e) Desprezo f) Surpresa g) Raiva 11- Se uma pessoa se estende muito na introdução da história que conta, isso é indício de que: a) É verdade b) É mentira 12- Se a pessoa só consegue contar sua história em ordem cronológica, isso é indício de que: a) É verdade b) É mentira 13- Se alguém conta a história descrevendo expressões que revelam emoções, isso é indício de que: a) É verdade b) É mentira 14- Se a pessoa faz gestos ilustrativos ao contar uma história, isso é indício de que: a) É verdade b) É mentira 15- Se a pessoa acaba de contar a história fazendo um balanço de como aquilo a afetou emocionalmente, isso é indício de que: a) É verdade b) É mentira 16- Se a pessoa conta o clímax da história com muitos detalhes, isso é indício de que: a) É verdade b) É mentira Veja o gabarito 1b) A qualidade vocal é o indicador de mentira menos confiável por variar muito de pessoa para pessoa. Por exemplo, alguém pode gaguejar por ser gago, mesmo, ou por estar nervoso. Não por estar mentindo 2a) O típico dissimulado repete o questionamento feito para ganhar tempo para preparar a sua história falsa e se recompor antes de contá-la 3b) Quem não é honesto costuma intensificar ainda mais o contato visual por achar que isso o ajuda a convencer os outros 4b) A principal dica é checar os olhos. No sorriso falso, os músculos que rodeiam essa região, chamados de orbitais, não são tensionados. O sinal mais importante é a falta dos pés de galinha, marca registrada de um sorriso verdadeiro 5b) A frase "para dizer a verdade..." geralmente é associada a um embuste. Mentirosos usam afirmações como essa para tentar reforçar a aparente honestidade do discurso. Honestos não precisam enfatizar que dizem a verdade - os fatos falam por si 6c) O segredo para conseguir respostas honestas, especialmente em entrevistas e interrogatórios, é evitar conflitos. Pedir à pessoa que explique a história, sem parecer julgá-la, e usando frases como "O que fez você fazer isso?" em vez de "Por que você fez isso?", faz com que ela se sinta menos pressionada e a deixa propensa a dizer a verdade 7b) Quem mente foca mais como descrever a história de maneira convincente, pela fala, e acaba se esquecendo da linguagem corporal. Para interrogadores profissionais, as palavras representam só 7% da forma como as pessoas se comunicam, enquanto a linguagem corporal e outras informações não verbais contam 93% 8a) São todas emoções universais, expressas com traços faciais similares por qualquer indivíduo, independentemente de seus hábitos e do ambiente em que cresceu 9a) Apesar de a intensidade do contato visual não ser um indicador de mentira, vale ficar atento se o interlocutor começa a piscar em ritmo acelerado 10e) A expressão de desprezo envolve apenas um canto da boca, que é puxado para cima, e não os dois, e outras características do rosto ficam assimétricas quando se compara um lado da face com o outro 11b) O mentiroso incrementa a narrativa com detalhes insignificantes que antecedem o evento principal. Esses detalhes geralmente são verdadeiros, incluídos para aumentar a credibilidade e distrair o ouvinte 12b) Geralmente as farsas são contadas estritamente de forma cronológica. Assim o desonesto consegue harmonizar todos os detalhes de sua versão, sem se contradizer 13a) Os honestos se lembram do que sentiram enquanto contam a história, ao passo que os mentirosos evitam incluir esses detalhes na sua versão - por não terem sentido, de fato, as emoções que relatariam 14a) Quem conta algo verdadeiro faz muitos gestos para ilustrar o que diz, ao contrário de um mentiroso, que estará tão focado na história inventada que se esquecerá de falsear suas expressões corporais 15a) Se for verdade, a pessoa provavelmente terminará seu relato com um epílogo que resume o evento e mostra como aquilo a afetou. O mentiroso não gosta de prolongar a história, por isso prefere terminar logo depois da parte principal 16a) O evento principal da história é a pior parte para o dissimulado, por ser o momento decisivo, no qual ele convence ou não o outro interlocutor. Por isso, narrará a situação de forma geral e rápida TOTAL DE ACERTOS ...... RESULTADO Até 8 acertos Você foi enganado Não se preocupe, a maioria se encaixa, nesta categoria. Estudos científicos feitos com diversos primatas (incluindo humanos) indicam que a habilidade média de um homem em detectar mentiras é equivalente à de um chimpanzé. De 9 a 11 acertos Melhor que a média Se a maioria das pessoas detecta 54% das mentiras que lhes são contadas ao longo do dia, quem está nesta categoria intermediária atinge um índice de até 67%. De 12 a 15 acertos Quase um profissional Se exercitar sua técnica durante uma hora por dia, sua habilidade melhorará de 25% a 50%. 16 acertos Infalível Algumas enganações – principalmente as protagonizadas por atores e políticos treinados - podem passar despercebidas. Mas, neste nível, já se consegue perceber nuances que denunciam um dissimulado. Exemplo: os homens, afeitos a mentir oito vezes mais que as mulheres sobre seus próprios feitos, de modo a demonstrar suposto (e muitas vezes risível) sucesso. 5#2 GENTE JULIANA LINHARES. Com Marilia Leoni e Raquel Carneiro A FORÇA DA MUSA DO GULAG Cabelo bem penteado, maquiagem precisa e impecáveis unhas vermelhas, NADIA TOLOKONNIKOVA parecia a encarnação da resistência da alma russa depois de dois anos em regime duríssimo numa colônia penal. Como integrante da banda Pussy Riot, ela estava entre os presos conhecidos beneficiados por uma campanha de relações públicas no fim do ano e o máximo a que chegou de uma autocrítica foi dizer que não repetiria o protesto iconoclástico, na maior igreja do país, que a levou à condenação. E a imagem sensual? "Os homens também deveriam se cuidar e eventualmente usar maquiagem", provoca Nadia, que pretende agora se dedicar à causa da reforma no sistema prisional russo. "Ganhei paz interior, uma serenidade própria dos prisioneiros.” CORPO DE MORTAL As patrulhas corporais hoje são tão intransigentes quanto as ideológicas, e sua mais recente vítima foi a atriz americana KATIE HOLMES. Aos 35 anos, com uma filha de 7 do casamento desfeito com Tom Cruise, Katie foi fotografada de biquíni como raramente as mulheres famosas são: dobrinhas na barriga indicam que nem todas saem da gravidez sem nenhum resquício. Inventaram até um termo detestável — "barriga de peru" — para fustigá-la. A patrulha das formas é tão feroz que mesmo a beldade do momento, a atriz Jennifer Lawrence, chegou a propor que se proíba o uso da palavra "gorda" — um pedido tão exasperado quanto inútil. VEM COM A TIA Vai ter muito choro na vida de SABRINA SATO, e não vai ser de seus antigos colegas, ainda administrando a mudança de canal. A apresentadora está prestes a ter o primeiro sobrinho, filho de sua irmã, Karina, e deve ser uma tia bem envolvida. "Ganhei um curso com uma enfermeira que ensina tudo sobre como cuidar de um bebê", conta Sabrina, sem saber o que a aguarda. O novo programa, com lançamento previsto para março, também exige preparações: "Vou fazer fonoaudiologia para aprender a falar mais devagar, mas o sotaque não mudo". Ela sabe que não vai dominar tudo logo na estreia — "Até Fátima Bernardes precisou de um tempo para se adaptar" — e gostaria de ter uma ajudazinha no palco, "tipo um Louro José". ESTRELAS DA BÍBLIA Enfrentar as comparações com os épicos clássicos e passar pelo crivo do público que espera fidelidade ao livro santo são alguns dos desafios da safra deste ano de filmes com personagens bíblicos. Noé, Êxodo e Maria, Mãe de Cristo têm ambições variadas. Os dois primeiros serão dirigidos por grandes nomes do cinema atual: Darren Aronofsky e Ridley Scott. O filme sobre a infância e a juventude da Virgem Maria é mais modesto e tem uma atriz quase desconhecida, de beleza deslumbrante, que saiu de Israel para seguir carreira nos Estados Unidos. NOÉ Quem: Russell Crowe, neozelandês, 49 anos, Oscar de melhor ator por Gladiador. Personagem: Noé Detalhe: Espectadores evangélicos viram uma prévia e acharam a mistura de mitos babilônicos pouco bíblica. MARIA, MÃE DE CRISTO Quem: Odeya Rush, israelense, 16 anos, algumas pontas em séries de televisão Personagem: Maria, na juventude Detalhe: Ela não viu “nada de antissemita”, no roteiro, do mesmo autor do controvertido A Paixão de Cristo. ÊXODO Quem: Christian Bale, inglês, 39 anos, Oscar de coadjuvante em O Vencedor Personagem: Moisés Detalhe: Ao abrir o Mar Vermelho e salvar os judeus da escravidão, o ator será comparado a Charlton Heston. 5#3 ESPORTE – UMA VIDA NO LIMITE Para um homem que sempre se alimentou da perigosa adrenalina da F1, soa deslocado que Michael Schumacher tenha sofrido seu maior acidente esquiando nos Alpes. ALEXANDRE ARAGÃO E KALLEO COURA Para alguém acostumado a acelerar um carro de corrida a mais de 300 quilômetros por hora, a vida pode ficar muito aborrecida depois de parar. Informado do acidente de Michael Schumacher numa estação de esqui francesa, o ex-piloto francês Alain Prost, tetracampeão mundial de F1, deu alguma coerência ao drama do alemão: "Não há nada na vida que possa lhe dar o mesmo prazer, felicidade e adrenalina que a Fórmula 1, em especial quando você é bem-sucedido. Todos os dias você tenta preencher esse vazio de alguma forma". Às 11 da manhã de 29 de dezembro, tentando preencher esse vazio existencial, o maior nome da história da categoria e um dos grandes esportistas do nosso tempo sofreu na neve um acidente que nunca lhe ocorrera no asfalto. No mesmo dia da semana em que subiu 91 vezes ao lugar mais alto do pódio, ele bateu a cabeça em uma pedra quando esquiava em uma área entre duas pistas na estação de Méribel, nos Alpes franceses. O socorro chegou em apenas quatro minutos, e 23 minutos depois o alemão já estava no helicóptero, a caminho de um hospital. Mas logo após decolar o aparelho teve de fazer um pouso de emergência, porque Schumacher sofreu um colapso e precisou ser entubado. Só então seguiu viagem. Em menos de dois dias, ele seria submetido a duas cirurgias para drenar coágulos do cérebro e reduzir a pressão intracraniana. Na sexta-feira, quando completou 45 anos, permanecia em coma. As circunstâncias que levaram um homem acostumado a viver no limite — mas nunca à imprudência — a se aventurar em um trecho cheio de pedras ainda são nebulosas. Esquiador experiente, Schumacher passou os últimos oito invernos em Méribel, onde tem uma casa. O alemão esquiava com o filho Mick, de 14 anos, e um grupo de amigos quando seguiu reto em uma bifurcação em Y que separa as pistas de Biche e Chamois, respectivamente de graus azul e vermelho, em uma escala de dificuldade que vai de 1 a 4 (verde, azul, vermelho e preto). A empresária do ex-piloto, Sabine Kehm, afirmou que ele não estava em alta velocidade e que havia saído das pistas para ajudar a filha de um amigo, que tinha errado o caminho e caído perto de uma encosta. Mas ele também pode ter ido apenas em busca de uma trilha mais desafiadora. Há uma diferença decisiva entre as áreas demarcadas e as outras. Nas pistas, o caminho é limpo, sem obstáculos, e a neve mais compactada. Fora delas, há pedras e árvores e a neve costuma ser mais fofa, o que aumenta o risco, mas não afasta esquiadores mais experimentados. "Ele não fez nada de extraordinário ou particularmente perigoso", disse a VEJA o alemão Thomas Weller, instrutor no resort. "Foi azar", resumiu Alain Prost. Tanto é assim que acidentes fatais em estações de esqui são relativamente raros — houve 41 mortes em 2012, o que significa 0,78 morte para cada milhão de esquiadores, de acordo com a Sociedade Internacional de Segurança no Esqui. No entanto, ao contrário da Fórmula 1, esporte no qual as mortes eram comuns e foram rareando — a última foi a mais sofrida para os brasileiros, a de Ayrton Senna, em 1994, lá se vão quase vinte anos —, no esqui o avanço da tecnologia não propiciou mais segurança. Aumentou o uso de capacete, tanto quanto a resistência e a leveza dos materiais, mas a evolução do desenho dos equipamentos, como esquis mais aerodinâmicos, também deixou os praticantes muito mais rápidos. Uma pesquisa da Universidade de Washington focada em jovens esquiadores e praticantes de snowboard mostra que o crescimento de lesões cervicais e na cabeça em acidentes nos Estados Unidos foi de 250% entre 1996 e 2010. Tragédias ainda ocorrem mesmo em campeonatos com os melhores esquiadores do mundo. Em 2012, a campeã mundial da modalidade freestyle Sarah Burke caiu durante um treino e teve uma lesão cervical que cortou o fornecimento de oxigênio para o cérebro. Nove dias depois, morreu em um hospital de Utah — ela era a favorita para a medalha olímpica da categoria, que estreará na Olimpíada de Inverno em Sochi (Rússia), no mês que vem. É impossível deixar de notar a ironia no fato de que alguém que ficou duas décadas desafiando a morte venha a passar tão perto dela justamente depois que parou de correr. Schumacher tem a carreira mais vitoriosa da história da Fórmula 1. Acumulou o maior número de títulos (sete), a maior quantidade de vitórias (91), mais pole positions (68). Na relação entre vitórias e corridas, bate Senna e, na F1 contemporânea, só perde para o fenômeno Sebastian Vettel, atual tetracampeão — 29,6% contra 32,5%, mas com um número muito maior de GPs, 307 contra 120. Acostumado a tanta adrenalina, não conseguiria ficar parado depois da aposentadoria, em 2012. Além de praticar esqui, o alemão pulava de paraquedas e corria de moto. Longe de ser um ponto fora da curva, esse é um comportamento natural de ex-pilotos. "Sem a exposição usual à adrenalina das pistas, eles tendem a buscar atividades que formem circuitos cerebrais semelhantes àqueles provocados pela excitação das corridas", explica o psiquiatra Dartiu Xavier da Silveira, da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp). Senna costumava fazer manobras radicais com seu jet ski em Angra dos Reis, no Rio. Emerson Fittipaldi, ao se aposentar da F1, foi para a Indy, onde fraturou todas as costelas em um acidente. Em vez de sossegar, continuou a andar de jet ski, esquiar na neve e voar de ultraleve. Só parou quando caiu de uma altura de 100 metros em um desses voos e fraturou a coluna. Na sexta-feira, Schumacher continuava internado no hospital em Grenoble. Segundo o boletim médico, estava em "estado crítico" e "grave", mas "estável". A esperança agora é que o maior campeão da Fórmula 1 se recupere para, quem sabe, finalmente decidir que aquele vazio está preenchido. MONTE SAULIRE – 2738 metros MÉRIBEL – 1450 metros 1- As pistas das estações de esqui são definidas por cores, de acordo com o grau de dificuldade. As trilhas Biche e Chamois, em Méribel, nos Alpes Franceses, são de níveis intermediários. Schumacher esquiava em uma área entre as duas, onde as pedras não estão totalmente cobertas pela neve. 2- O ex-piloto bateu com o esqui sobre uma rocha. Perdeu o equilíbrio e se chocou contra outras três pedras. Na última delas, caiu de cabeça, com o rosto virado para a neve. 3- O impacto foi tão forte que partiu seu capacete. Schumacher foi socorrido quatro minutos depois da queda e levado de helicóptero a um hospital de Grenoble. 5#4 ESPORTE – FRATURA DO UFC A derrota de Anderson Silva com a perna esquerda chocantemente quebrada põe o torneio de artes marciais mistas (MMA) diante de um dilema: como sobreviver no Brasil sem o ídolo que ajudou a dar alguma humanidade e muita audiência na TV ao mais violento dos esportes? DAVI CORREIA, DE LAS VEGAS, E SILVIO NASCIMENTO Na primeira derrota de Anderson Silva para o americano Chris Weidman, em julho do ano passado, o brasileiro voltou a chamar atenção para uma das imagens mais recorrentes ligadas ao UFC, o torneio de artes marciais mistas (MMA) que o fez famoso: a de não ser uma modalidade séria, e sim de acordos e encenações. Anderson foi tão irreverente ao subir no octógono que, ao beijar a lona, até o juiz demorou para reagir, imaginando se tratar de uma farsa cuja bolsa era de 600.000 dólarés. Na segunda derrota para Weidman, em 28 de dezembro passado, Anderson reforçou uma segunda impressão indelével do esporte que mais cresce no mundo: a da violência. No início do segundo round, quando o brasileiro chutou o adversário com a perna esquerda e o atingiu no joelho a 55 quilômetros por hora, ele foi ao chão com dupla fratura, na tíbia e na fíbula. Um segundo depois do contato, ouviu-se o urro de dor no ruidoso ginásio MGM Grand Garden Arena, em Las Vegas, tomado por mais de 15.000 pessoas. Weidman só notou a gravidade da contusão oito segundos mais tarde. Foi um acidente, Anderson já deu um sem-número de chutes como aquele, movimento básico de muay thai. Mas o desfecho, assustador, põe o UFC diante de um dilema. E agora? Sem seu maior ídolo, sem o lutador que parecia não sangrar, que não perdia, e que mesmo diante de socos e cotoveladas continuava a rir, qual será o futuro do UFC no Brasil? Anderson foi o imã ao redor do qual uma modalidade agressiva conseguiu conquistar alguma humanidade e muita audiência para a Rede Globo e os canais por assinatura. A muito custo, colados sobretudo na simpática imagem do paizão de cinco filhos, avesso a bebidas e baladas, a simpática voz fina que se digladiava com a figura do guerreiro indestrutível, os organizadores do UFC conseguiram tirar da competição o ar de contrafação que contaminou nos últimos anos, por exemplo, o boxe. Foi difícil mostrar aos leigos que a extrema violência do MMA, irrefutável, tem como moldura uma série de regras rígidas, e que um rigoroso esquema de acompanhamento médico evita tragédias nas noites de luta. Mas, hoje, é mais difícil ainda explicar que a haste de titânio de 40 centímetros de comprimento por 11,5 milímetros de diâmetro enxertada na perna de Anderson — complemento que fará companhia ao ex-campeão por toda a vida — é apenas uma infelicidade. Foi um ponto de inflexão numa febre de interesse popular. O UFC explodiu no Brasil depois de Anderson nocautear Vitor Belfort, no início de 2011. Em menos de um ano o então campeão dos médios passou de um lutador conhecido apenas nos EUA para a condição de ídolo brasileiro. As cotas de patrocínio para as transmissões de televisão foram negociadas com base na audiência das suas lutas, e ele começou a ser tratado como superestrela. Só dividia as atenções com Neymar. É um personagem querido, como se viu pela reação de espanto com a dor em Las Vegas. Não se sabe ainda se ele vai se aposentar, provavelmente não, mas a recuperação pode demorar seis meses, tempo demais para quem está com quase 39 anos. Com Anderson a caminho do hospital, Dana White e os irmãos Frank e Lorenzo Fertitta, donos do UFC, optaram por construir saídas e procurar nomes novos, para evitar o estrago provocado pela incômoda perna quebrada ao vivo. Eles sempre tiveram no campeão de cara limpa um excelente garoto-propaganda. O desafio, agora, é encontrar um novo Anderson Silva. Há sete noites de lutas do UFC planejadas para o Brasil em 2014. O tempo dirá se elas serão suficientes para reconstruir uma história agora apoiada em muletas. 5#5 LOBÃO – EU, COXINHA Durante esses últimos anos, venho recebendo de parte da militância petista uma série de adjetivações pretensamente desqualificadoras, que poderiam ter algum efeito não fosse eu um cara desgrilado, um ser alegre a cantar. Mas, depois do lançamento do Manifesto do Nada na Terra do Nunca, a petizada militante se enfureceu. Na verdade, antes mesmo de o livro chegar às livrarias, houve quem clamasse pela sua proibição ou queima imediata. A minha estreia como colunista de VEJA aumentou essa fúria, que culminou em um ataque apoplético coletivo por ocasião da minha participação no Roda Viva. Um ilustre deputado petista chegou a pedir a cabeça do Augusto Nunes por ter convidado para o programa um "doente mental" (eu). E, com aquela falta de imaginação, de humor e de argúcia, característica de certas mentes esquerdistas, puseram-se a vociferar palavras de ordem e impropérios contra mim: "Reacionário!", "filhinho de papai!", "coxinha!". Isso para não citar os mais cabeludos (bicha, maconheiro, cheirador, matricida, esquizofrênico...). Mas vou concentrar a atenção no "coxinha", que é o mais recente qualificativo do curto vocabulário dessa rapaziada. Após esses mais de dez anos do PT no governo, a sociedade está percebendo como se forma o aparato de repressão política, censura e difamação montado pelo partido. Se você tem alguma objeção a ele, vira um pária político, moído e asfaltado pela máquina de propaganda estatal, cujos operadores — blogueiros e militantes de plantão na internet — se encarregam do trabalho sujo, na forma de ataques pessoais e truculentos disparados contra qualquer alma que se insurja contra a ideologia oficial. A tática desses operadores é achincalhar o oponente baseados em sua própria e nanica estatura moral. O simulacro de impropério é construído em torno da miserabilidade do ofensor, que, ofendido com a própria natureza, desanda a chamar os não alinhados daquilo que mais enxerga em si mesmo, na vã tentativa de escapar de sua jocosa e aflitiva condição. Sendo o grande alvo dessa patocracia delirante a classe média — e sendo o militante de esquerda uma espécie de burguês pós-moderno —, o xingamento "coxinha" aparece como um desses casos de projeção psicológica flagrante. O militante de esquerda é o mauriçola gauche, é aquele tipo que se traveste de ativista de passeata e gasta o seu tempo útil em manifestações inúteis, no afã de exorcizar sua flacidez comportamental, sua virgindade existencial, sua pequena farsa pessoal. É invariavelmente um "multiculturalista", que acredita que um rap é superior a Bach. É o sujeito moldado na previsibilidade comportamental dos doutrinados, que expele seu déficit de percepção da realidade através da soberba convicção dos imbecis. Refém da uniformidade acachapante dos clichês entrincheirados em sua mente vacante, profere as frases mais gastas e cafonas que se pode imaginar. Para esse tipo de pessoa, tenho aqui um par de versos de Adam Mickiewicz (1798-1855) que cairá como uma luva: "Tua alma merece o lugar a que veio Se, tendo entrado no inferno, não sentes as chamas". Assim, convido todos aqueles que, como eu, são agraciados pela esquerda com essas e outras adjetivações a acolhê-las com benevolência e humor, com a percepção de estarmos sob a égide de frouxocratas histéricos que teimam, em sua monomania vã e molenga, em nos assolar com seus fantasmas internos e suas abissais impossibilidades. E, usando o rebote como mantra, proferirei, contrito: coxinhas de todo o Brasil, uni-vos! 5#6 HISTÓRIA – UM NERVO EXPOSTO Documentos da Petrobras revelam as tensões ideológicas da Guerra Fria na empresa antes e depois de 64. Ser de esquerda, antes, era bom. Depois passou a ser pecado. CECÍLIA RITTO Por iniciativa de integrantes da Comissão da Verdade e valendo-se da entrada em vigor da Lei de Acesso à Informação, a Petrobras abriu um acervo de documentos que mostram como a empresa sofreu com as tensões ideológicas da Guerra Fria. VEJA teve acesso a eles. Os papéis revelam que a Petrobras foi um microcosmo das profundamente antagônicas visões políticas que dividiam o Brasil em esquerda e direita, entre comunistas e capitalistas, em aliados de Cuba ou dos Estados Unidos. Era a Guerra Fria manifestando-se fortemente, mesmo em um teatro geopolítico distante das armas nucleares que, de lado a lado, tinham poder de destruir o planeta algumas centenas de vezes. Antes de os militares tomarem o poder em 1964, fazia bonito perante os chefes na Petrobras quem se apresentasse como esquerdista. Depois do golpe, ser de esquerda ou líder sindical se tornou motivo de perseguição e demissão. Os documentos demonstram que os militares agiram com rapidez contra os funcionários ligados à antiga ordem. Eles eram vistos como pessoas perigosas, que podiam prejudicar o funcionamento da empresa, desde aqueles tempos considerada estratégica para o Brasil. Alguns papéis revelam o atropelo da lei na erradicação dos esquerdistas da companhia. Uma comissão de inquérito, a CI-Petrobras, foi posta para funcionar de forma clandestina em um prédio vizinho à sede administrativa, no Rio de Janeiro. Essa comissão se encarregou de investigar empregados e aconselhar demissões. O conjunto de documentos digitalizados e liberados pela Petrobras é composto de 131.277 microfichas, 426 rolos de microfilme, dezessete livros e catorze pastas, com dossiês, prontuários, relatórios e troca de ofícios entre a cúpula da Petrobras, superintendentes regionais e os chefes dos órgãos de informação. Depois de examinar os documentos, VEJA ouviu depoimentos de funcionários atuais e antigos da empresa e de historiadores. "O Brasil estava ativamente inserido no contexto da Guerra Fria e a Petrobras era um instrumento de poder relevante num mundo dependente do petróleo e sob a ameaça constante de guerra", diz o historiador Marco Antonio Villa. Sob a antiga ordem, no governo esquerdista do presidente João Goulart, a Petrobras, como quase todas as estatais e instituições do país — entre elas até mesmo as Forças Armadas —, foi dominada pelo ativismo sindical de motivação política. A empresa era peça vital nas ações orquestradas pelos esquerdistas radicais e, em consequência disso, sofria com greves e paralisações constantes. Como anotou no fim de 1964, em um relatório de 376 páginas, o general Antônio Luiz de Barros Nunes, chefe da comissão interna de investigação do governo militar: "Parecia ser mérito o empregado alardear-se esquerdista ou comunista. Afirmamos, sem hesitação, que, se mais um pouco demorasse o clima dos 'direitos excessivos' do homem, das injunções políticas e da influência de falsos líderes sindicais, a ruína apossar-se-ia da Petrobras". Nunes era homem de confiança de Ernesto Geisel, que sempre esteve ligado à indústria petrolífera e, ativo integrante do grupo de militares que derrubou João Goulart, tinha forte influência sobre a Petrobras — que ele presidiria mais tarde, em 1969, e de onde só sairia em 1973, para ocupar a Presidência da República. Em 1964, a Petrobras tinha cerca de 36.000 funcionários. Quantos e quais deles eram vistos como indesejáveis pelos generais? Para mapear os "focos de subversão", foram destacados dezesseis alunos da Escola de Comando e do Estado-Maior do Exército. Infiltrados clandestinamente nas refinarias e fábricas, eles enviavam para a sede, no Rio, relatos sobre como viam a situação do ponto de vista da segurança e transcrições de conversas que tinham com os suspeitos. Os dados alimentavam um sistema de informação compartilhado pelas maiores patentes das Forças Armadas. Um documento revela com clareza a decisão de infiltrar agentes e agir fora do amparo da lei: "Assim, impediríamos que houvesse divulgação e publicidade em torno de nossas observações, sindicâncias, conclusões e etc." Com a lista em mãos, a comissão interna de investigações começou a "limpeza", como diziam os próprios militares nos documentos. Em seis meses, foram demitidos 516 funcionários, sob justificativas que iam de subversão a tráfico de armas, corrupção, falta de controle emocional ou desonestidade. Um funcionário demitido foi acusado de ameaçar dinamitar a casa de um diretor da empresa. Eles eram descritos como ''elementos relapsos", "aproveitadores" e "débeis mentais". Contratado em 1958 como assistente técnico em manutenção, Xerxes Campos, sindicalista e militante do então ilegal Partido Comunista, foi um dos primeiros demitidos da Petrobras depois de 1964. Campos respondeu a inquérito policial-militar (o então temido IPM) enquanto ainda dava expediente na Fábrica de Borracha Sintética (Fabor), operada pela Petrobras. Ali, passou 25 dias preso em uma sala igual à que servia de cela para diversos colegas dele também alvo de suspeitas. "Não sabíamos quanto tempo ficaríamos presos e a qualquer momento podíamos ser interrogados. Os militares faziam pressão psicológica e inventavam que algum colega havia nos delatado, mas era tudo um jogo para conseguir informações", lembra Campos, hoje com 75 anos. Ele foi sumariamente demitido. Nos casos de suspeitos menos notórios, havia uma liturgia típica de regimes ditatoriais a ser seguida antes da dispensa. Em uma completa inversão do processo penal civilizado, exigia-se do acusado que apresentasse provas de sua inocência. "Não eram os militares que comprovavam a acusação. Nós é que tínhamos de provar que não éramos culpados", diz Abelardo Rosa Santos, de 77 anos, que em 1964 era assistente de superintendente administrativo na Refinaria de Duque de Caxias. Santos foi afastado da empresa dois dias depois do golpe. Durante cinco meses, foi interrogado em diversos órgãos da repressão dentro e fora da Petrobras e chegou a ficar quarenta dias preso. "Diziam que eu fazia parte de um movimento de esquerda que eu nem conhecia." Demitido em 1968, depois de aceitar integrar a chapa de oposição na eleição da diretoria do sindicato dos petroleiros do Rio de Janeiro, o então auxiliar de escritório Francisco Soriano saiu da Petrobras direto para a luta armada. "Eu me senti um homem marcado e, com o idealismo próprio dos 25 anos, não vi alternativa", conta ele, agora com 70 anos. No material encaminhado pela Petrobras à Comissão da Verdade e nos depoimentos dos funcionários demitidos não existem evidências de que os investigadores tenham recorrido à violência física para obter informações. Em 31 de março deste ano faz cinquenta anos, meio século, que os militares quebraram a ordem jurídica e constitucional para depor um governo democraticamente eleito. A tendência é que esse evento, parte integrante da história do Brasil, seja tratado como vingança — e não, como deve ser, estudado à luz das circunstâncias políticas mundiais e brasileiras naquele tempo. A iniciativa da Petrobras é, nesse contexto, um alento. Os documentos liberados pela empresa revelam fatos. E fatos não são de esquerda nem de direita. São elementos inegáveis da realidade. 6# GUIA 8.1.14 6#1 APRENDA A DOMAR O LEÃO 6#2 AS VANTAGENS DO LIVRO-CAIXA 6#2 SAINDO DA INFORMALIDADE 6#1 APRENDA A DOMAR O LEÃO PARA OS QUASE 30 MILHÕES DE BRASILEIROS QUE SE PREPARAM PARA O ACERTO DE CONTAS ANUAL COM A RECEITA FEDERAL, A PRESSA É INIMIGA DA PERFEIÇÃO — E DO BOLSO. QUEM PLANEJA A DECLARAÇÃO DO IMPOSTO DE RENDA COM TEMPO DE SOBRA E ATENÇÃO REDOBRADA TEM GRANDE CHANCE DE EVITAR NÃO SÓ A MALHA FINA, MAS TAMBÉM UMA MORDIDA AINDA MAIOR DO LEÃO. O primeiro risco da correria é a inclusão de um valor incorreto ou a omissão de dados na declaração — e a consequente parada na malha fina, já que o cruzamento de dados está cada vez mais intenso. No ano passado, dos 711.000 contribuintes que ficaram retidos no pente-fino da Receita, 53% tiveram problemas por ter deixado de informar uma fonte pagadora. O outro prejuízo pode passar despercebido ao contribuinte desatento: a falta de planejamento e de informação sobre o processo pode acarretar o recebimento de uma restituição menor do que a lei permite ou o pagamento de imposto além da conta. VEJA elaborou este Guia com dicas dos especialistas para ajudar o leitor a acertar as contas com o Leão sem prejuízos nem dores de cabeça desnecessários GANHOS DE CAPITAL COM VENDA DE IMÓVEL É possível reduzir o imposto sobre o ganho de capital na hora da venda de um imóvel por meio do abatimento da comissão destinada a um corretor (desde que o vendedor guarde o comprovante de pagamento da comissão, claro). Altino Dias, sócio da Dias e Santos Contabilidade de Mauá, na Grande São Paulo, dá um exemplo: alguém que tenha comprado um imóvel por 800.000 reais e vendido por 1,2 milhão de reais teria de pagar 15% de imposto sobre o ganho de capital, ou seja, 60.000 reais. Se ele pagou uma corretagem de 70.000 reais, por exemplo, esse valor pode ser descontado do ganho de capital. O imposto, então, incidiria sobre 330.000 reais (400.000 reais menos 70.000 reais) e seria de 49.500 reais, o que significa uma economia de 10.500 reais. RENDIMENTOS COM IMÓVEL ALUGADO O casal pode dividir os rendimentos de um imóvel alugado, desde que o bem esteja no nome dos dois e, claro, que as declarações sejam feitas separadamente. Uma conta simples para exemplificar: um contribuinte com rendimento anual de 60.000 reais e que receba aluguel mensal de 1500 reais teria de pagar mais de 2000 reais na declaração de ajuste anual. Se ele dividisse o rendimento dos aluguéis com a esposa, o valor do imposto cairia para cerca de 200 reais. "O ideal, para evitar a malha fina, é fazer o contrato com a imobiliária no nome do casal", explica Valter Koppe, supervisor regional do imposto de renda para o Estado de São Paulo ESCOLA DE PORTADOR DE DEFICIÊNCIA FÍSICA OU MENTAL Pessoas que têm filhos deficientes matriculados em escolas voltadas para crianças com necessidades especiais podem declarar os gastos com instrução como despesas médicas, desde que possuam um laudo que comprove a deficiência do filho. A troca pode ser vantajosa, pois a Receita desconta um valor limitado para gastos com educação - pouco mais de 3000 reais -, mas não impõe limite para despesas médicas BENFEITORIAS NO IMÓVEL Reformas que resultam em valorização do imóvel, como por exemplo a construção de uma garagem, devem ser declaradas. "Esses gastos não são abatidos, mas aumentam o valor do imóvel. Esse benefício será sentido no momento da venda, pois os gastos são descontados dos ganhos de capital e fazem com que o imposto sobre esse item seja menor", diz Ricardo Oliveira de Jesus, sócio da consultoria contábil Assessor-Bordin, de São Paulo. Mais uma vez, é preciso ter em mãos todas as notas, inclusive as dos serviços, para comprovar os pagamentos PRÓTESES E APARELHOS DENTÁRIOS Gastos com próteses ortopédicas podem ser deduzidos. Entram na lista: pernas e braços mecânicos, cadeiras de rodas, andadores ortopédicos e até palmilhas e calçados ortopédicos. Já as placas e parafusos utilizados em cirurgias ortopédicas ou odontológicas, aparelhos ortodônticos, lentes intraoculares e marca-passos só podem ser abatidos se o valor pago estiver incluído na conta hospitalar ou na nota fiscal do médico ou dentista. Para todos os casos, os contadores lembram que é preciso guardar os laudos e notas PENSÃO ALIMENTÍCIA DOS FILHOS A pensão do filho pode engordar os rendimentos de quem tem a guarda dele e, como resultado, acarretar mais imposto. Uma alternativa é abrir uma conta bancária em nome da criança para o depósito das mensalidades. Se a pensão for inferior a 1710,78 reais mensais, a criança fica isenta de imposto. Se for superior, ela precisa declarar a renda - a vantagem é que, nesse caso, o imposto pode ser menor que a opção da soma dos rendimentos na declaração da pessoa que detém a guarda. Por outro lado, a medida só compensará se não houver muitas deduções, como gastos com educação e saúde. "Quando existem despesas elevadas com saúde e educação, é melhor optar pela declaração completa e incluir os filhos como dependentes. Assim, as deduções reduzem o imposto a pagar", explica Altino Dias FILHOS: UM CÔNJUGE PAGA E O OUTRO DECLARA Tanto o pai como a mãe podem incluir o filho como dependente na declaração e, assim, abater do imposto de renda os gastos da criança ao longo do ano - mesmo que o outro assine o cheque que paga despesas como mensalidade escolar e consulta médica. "O mesmo vale para o parto. Não importa quem paga as contas, pois, para a Receita, essas despesas têm um objetivo comum, que é o filho explica Renata Veronesi Boerger, diretora da VB Contabilidade, de Belo Horizonte 6#2 AS VANTAGENS DO LIVRO-CAIXA Para profissionais autônomos como médicos, dentistas ou cabeleireiros, o livro-caixa pode ser um importante e legítimo aliado na redução do pagamento de impostos. Segundo os contadores, porém, esses profissionais têm receio de usá-lo e cair na malha fina da Receita Federal. Ledo engano. "Já tive cliente que pagava 10.000 reais de imposto de renda e passou a ter restituição depois que começou a utilizar o livro-caixa. Basta ter todas as despesas documentadas e ele funciona a favor do contribuinte", diz Renata Veronesi Boerger, diretora da VB Contabilidade de Belo Horizonte. * No livro-caixa, o autônomo pode lançar todas as despesas indispensáveis para sua atividade, como aluguel, água, luz, telefone, serviços de gráfica ou papelaria, pagamento de associações ou sindicatos e até a compra de livros técnicos. Também entram nessa lista os gastos com viagens a congressos, inclusive passagens aéreas e hotel, com exceção de alimentação, pois a Receita entende que o profissional tem de se alimentar esteja onde estiver. Não são consideradas as viagens em que o autônomo é chamado para dar uma palestra. "Explico da seguinte forma aos meus clientes médicos o que entra no livro-caixa: para a manutenção do consultório, eles vão precisar de luvas e outros equipamentos, além de uma secretária. Mas as revistas disponíveis para os pacientes na sala de espera, por exemplo, não podem constar, pois não são necessárias para o atendimento", exemplifica Renata. * A soma dos gastos inseridos no livro-caixa não deve ultrapassar o valor da receita mensal - despesas excedentes podem ser transferidas para o mês seguinte, mas nunca para o próximo ano. Outro detalhe que confunde os profissionais: prestar serviços como pessoa jurídica a um hospital não impede que o médico, por exemplo, faça uso do livro-caixa no consultório em que atende como pessoa física. Para o autônomo que trabalha em casa e não tem como comprovar quais despesas estão diretamente relacionadas ao trabalho exercido, só é possível deduzir até um quinto dos gastos com luz, água e telefone, por exemplo. Gastos com o carro, como IPVA e gasolina, são considerados apenas para representantes comerciais 6#3 SAINDO DA INFORMALIDADE A Lei Complementar nº 128, de 2008, criou o microempreendedor individual (MEI). De lá para cá, 3,5 milhões de trabalhadores que eram autônomos se cadastraram. Os requisitos para se tornar um MEI são ter um faturamento de até 60.000 reais no ano (ou seja, até 5000 reais por mês) e não participar de outra empresa como sócio ou titular. O MEI traz vantagens como permitir o cadastro como pessoa jurídica, o que facilita a abertura de conta bancária e a emissão de notas fiscais. Além disso, o MEI reduz os impostos pagos, inclusive o IR. Sem ele, o profissional autônomo paga imposto de renda a partir de um rendimento mensal de 1710,79 reais. Para esse valor, a alíquota é de 7,5% - ela pode chegar a 27,5% se os ganhos ultrapassarem 4271,59 reais por mês. Com o MEI, não há incidência de imposto de renda. O profissional paga apenas uma taxa fixa mensal, que não chega a 40 reais, destinada à Previdência Social, ICMS e ISS, e nada mais. "Ele pode transferir o que recebeu como distribuição de lucro, o que é isento de tributação, e como pró-labore mensal, o que diminui o imposto para a pessoa física", explica Altino Dias, sócio da Dias e Santos Contabilidade de Mauá, na Grande São Paulo. O MEI também é simples de abrir e de fechar. Tudo pode ser feito pelo site portaldoempreendedor.gov.br. SIMONE COSTA E DANIELA MACEDO daniela.macedo@abril.com.br 7# ARTES E ESPETÁCULOS 8.1.14 7#1 CULTURA – NÃO, NÃO É PARA EXCITAR 7#2 CULTURA – A RESPEITÁVEL ARTE DO CHOQUE 7#3 TELEVISÃO – A RECONQUISTA DO REBOLADO 7#4 VEJA RECOMENDA 7#5 OS LIVROS MAIS VENDIDOS 7#6 ROBERTO POMPEU DE TOLEDO – VAI QUE É SUA, FELIPÃO 7#1 CULTURA – NÃO, NÃO É PARA EXCITAR Em Ninfomaníaca, o diretor Lars von Trier inventa uma nova maneira de chocar com o sexo explícito: torná-lo entediante, vazio e inútil. ISABELA BOSCOV É dessas coisas que só acontecem com Lars von Trier: mal o primeiro trailer de Ninfomaníaca (Nymphomaniac, Dinamarca/França/Inglaterra, 2013) foi enviado aos cinemas, um projecionista distraído o exibiu a uma plateia de criancinhas da Flórida. "Corri para cobrir os olhos do meu filho, mas quem disse que deu tempo de tapar os ouvidos dele?", relatou uma mãe presente à sessão. Há muito, muito mesmo, que ver e ouvir no novo filme do cineasta dinamarquês — e nada que seja apropriado para menores. Quando se pensa que a sensibilidade contemporânea está amortecida pelo erotismo desajeitado de pop stars emergentes ou pelas manifestações de feministas seminuas, Von Trier renova uma linhagem que tem antepassados como Sade, Goya e Pasolini: a tradição do choque (veja a reportagem na pág. 90). Isso apesar de Volume 1, que estreia no país nesta sexta-feira, e Ninfomaníaca — Volume 2, com chegada prevista para março, comporem a versão "censurada" do filme cujo corte original corre por mais de cinco horas e contém, segundo se diz, cenas de sexo de arrepiar. E, no entanto, este não é um filme pornográfico. O objetivo do pornô é excitar; em Ninfomaníaca, ao contrário, quanto mais pesado e explícito fica o sexo, mais se reduzem suas já escassas propriedades eróticas. Este é um sexo que entedia, entorpece e "provoca tanta sensação quanto ver alguém comendo uma tigela de cereal", definiu o ator Stellan Skarsgard. (Von Trier ainda não deu nenhuma entrevista sobre o filme, presumivelmente para evitar enroscos como o que protagonizou em Cannes, dois anos atrás, quando disse numa coletiva que "entendia Hitler".) A personagem-título de Ninfomaníaca é Joe, que o solteirão Seligman, vivido por Skarsgard, encontra certo dia largada na rua, ferida e desacordada. Seligman a leva para sua casa e trata dela; e, enquanto se recupera, Joe (a atriz preferida do diretor, Charlotte Gainsbourg) vai narrando a seu benfeitor sua história sexual, da infância (sim, da tenra infância) ao presente. Joe diz ser uma mulher má, que sempre deu ao sexo sentidos utilitários, como manipular o pai (interpretado com bravura por Christian Slater) ou ganhar ascendência sobre os homens. Diz que nunca teve compaixão das pessoas que destruiu por meio dele — fossem estas seus amantes, ou as mulheres e filhos destes. Numa cena antológica, Uma Thurman, uma dessas esposas traídas, leva seus três meninos para visitar a casa que o ex-marido dividirá "com sua ****", incluindo no tour a cama do casal adúltero; Joe e o ex-marido nem piscam, tal sua indiferença à aflição que estão causando. Seligman, entretanto, ouve as histórias de Joe sem nenhum ímpeto de sentenciar. O que prevalece, nele, é uma certa curiosidade empírica: pescador apaixonado, ele encontra de início paralelos entre a arte de atrair trutas e as iscas que a Joe iniciante (vivida nessa fase pela inglesa Stacy Martin) desenvolveu para atrair suas presas; depois, à medida que as táticas e motivos de Joe ganham em complexidade, Seligman estabelece comparações com as regras da composição musical. E, enquanto esses diálogos arcanos transcorrem, dá-lhe sexo ultragráfico nos flashbacks de Joe. A rigor, aliás, nem é preciso ver o filme para experimentar algo do espanto de que ele é capaz: numa das peças publicitárias mais sensacionais — e de longe a mais provocativa — já concebidas para o cinema, Ninfomaníaca é alardeado numa série de cartazes que mostram cada um dos atores do elenco (inclusive os que não têm cenas de sexo no filme) com uma nua e íntima expressão de êxtase sexual. Lars von Trier tem sido, desde a primeira hora, um adepto da estética do choque em todas as suas múltiplas facetas. Em Elemento de um Crime, com que se lançou, em 1984, o estranhamento era sobretudo sensorial, na sua revisita ao expressionismo alemão. Daí para a frente ele evoluiu para o choque, digamos, moral. Sem nunca abandonar a experimentação visual, falou de uma mulher que manifesta sua profunda devoção religiosa e conjugal transando com todos os homens da cidade (em Ondas do Destino, de 1996, um dos primeiros filmes feitos com a proximidade documental da câmera na mão). Em Os Idiotas, de 1998, um dos títulos fundadores do movimento Dogma, tratou de um grupo de pessoas que afrontam o bom gosto burguês fazendo passar-se por deficientes mentais. Em Dançando no Escuro, de 2000, não só criou sequências musicais captadas por até uma centena de câmeras como levou a cantora Björk a paroxismos de sofrimento no papel de uma operária cega condenada à morte. Em Dogville, de 2003, num cenário riscado a giz sobre um palco preto, Nicole Kidman era submetida a torturas e abusos inimagináveis — um ataque virulento do diretor aos valores americanos. Parecia ser o ápice da dedicação de Von Trier ao ultraje, mas Anticristo provou-se ainda mais desnorteador: nele, Charlotte Gainsbourg perdia o filho pequeno por não ter interrompido o sexo para vigiá-lo; depois, enlouquecida de dor, golpeava o sexo ereto do marido com uma pedra. Esse é, claro, um resumo grosseiro dos filmes de Von Trier e do significado que ele confere ao choque, à afronta e ao estranhamento. Nenhum trabalho seu põe em tão clara perspectiva a inquietação que o move como o magistral Melancolia, de 2011, uma alegoria em carne viva da depressão como o fim do mundo. Havia alguns anos já Von Trier vinha discorrendo sobre sua própria depressão e os traumas de sua vida adulta — a descoberta, no leito de morte da mãe, de que o homem que acreditava ser seu pai fora na verdade seu padrasto; de que ele então não era meio judeu, como acreditava; e de que seu pai biológico se recusara a conhecê-lo. Esse sentido agudo de que qualquer ordem é falsa, de que nada está no lugar que se supõe estar, de que tudo que se dê como verdade é uma fraude travestida — tudo isso ganha relevo imediato nos filmes do diretor sob o prisma dessas informações. O mesmo acontece com sua dubiedade em relação às mulheres, que muitos classificam como misoginia pura e simples. Por um lado, a desconfiança do diretor em relação às mulheres é verdadeira (e, diante do que sua mãe lhe fez, compreensível); por outro lado, Von Trier afirma que é ele próprio que suas protagonistas femininas representam: ele escreve o filme como homem e, na hora de filmar, entrega o papel a uma mulher. A inversão, diz, não tem nenhuma explicação insofismável: serve apenas para ele escrever roteiros melhores, já que, sendo homem, não saberia por onde começar a criar uma mulher. (Esse senso de humor perverso é uma das qualidades mais extraordinárias de Von Trier, e talvez a que mais facilmente passe despercebida da plateia ou seja mal compreendida por ela; mas, quando se aprende como detectar seu humor, filmes como Dogville e Ninfomaníaca podem ser encarados quase como comédias. Ou, vá lá, tragicomédias.) Vista assim, como uma representação de Von Trier, a Joe de Ninfomaníaca é uma personagem ainda mais desconcertante: é um autoindiciamento feroz, uma crítica violenta do uso instrumental do sexo, uma denúncia intransigente do tirano que vive dentro de cada um, uma visão demolidora das falácias com que se pode investir os objetos românticos — Joe é apaixonada pelo Jerôme de Shia LaBeouf por nenhuma razão discernível além de ele tê-la tratado muito mal ao tirar dela a virgindade, e é só com ele que seu prazer ultrapassa a mera dimensão fisiológica. E, visto assim, pelos olhos de Joe, o sexo explícito mostrado no filme é de um vazio e uma superficialidade, ou mesmo uma inutilidade, abissais. Eis o valor do choque, quando usado por artistas como Lars von Trier: arrancar o espectador de sua complacência, tirar dele suas certezas, obrigá-lo a examinar suas convicções para questionar se elas não são só simples ilusões. Para tanto, Von Trier filme após filme ofende, insulta, agrava, repugna, indigna, perverte (diverte quem se deixa divertir, também) — e implora: onde está o certo, onde fica o sentido? 7#2 CULTURA – A RESPEITÁVEL ARTE DO CHOQUE Em um tempo que se ofende com tudo mas não se espanta com nada, Lars von Trier reaviva a tradição de perturbar o espectador JERÔNIMO TEIXEIRA Vivemos a mais chocada das épocas, e a mais imune ao choque. O melindre elevou-se a princípio político, graças sobretudo aos esforços de autoproclamados representantes de minorias que se ofendem com qualquer bobagem — por exemplo, o comercial de roupa íntima estrelado por Gisele Bündchen em 2011, considerado degradante para as mulheres. De outro lado, porém, as pessoas parecem amortecidas pela oferta livre e pródiga de imagens que há menos de um século seriam matéria clandestina. A violência, a obscenidade, a blasfêmia: nada mais parece capaz de espantar. No ano que passou, a linguaruda Miley Cyrus até causou certo escândalo em uma apresentação lasciva na MTV americana, mas nada comparável ao que Madonna fazia nos anos 80 e 90. Miley emergiu do episódio não como a nova enfant terrible do pop feminino, mas antes como uma figura ridícula em seu exagero. Exceção nesse paradoxal quadro de barulho marqueteiro e placidez criativa, o diretor dinamarquês Lars von Trier ainda parece capaz de suscitar o mais genuíno ultraje. À sensibilidade histérica da correção política, ele responde com o ataque direto: a referência a velhos mitos da perversão feminina em Anticristo espinhou muitas feministas, e Manderlay trata da escravidão nos Estados Unidos com um olho cruelmente fixo sobre a submissão dos escravos. Ao embotamento do espectador médio em meio à torrente da vulgaridade, ele responde pela exacerbação tanto da violência quanto do sexo, como se via também em Anticristo e agora em Ninfomaníaca. Goste-se ou não de seus filmes, é preciso sempre reconhecer que Von Trier é um digno representante da arte de desconcertar o espectador. Pode-se argumentar que toda obra de arte digna de assim se chamar busca uma experiência de choque. Ela desloca expectativas, rouba certezas, provoca inquietação. Aristóteles, no século IV a.C., já observava que a arte objetiva causar "terror e piedade", para desse modo oferecer uma experiência de catarse (purificação) desses sentimentos (a rigor, a teoria aristotélica diz respeito somente à tragédia grega, mas, desde que se esteja a distância segura de especialistas em filosofia antiga, pode-se estendê-la para gêneros que Aristóteles jamais conheceu, como o cinema). Existem, porém, artistas que batem mais radicalmente nas convenções — morais, estéticas, políticas — de seu tempo. Entre os poetas trágicos da Gré- cia antiga, a distinção pertence a Eurípides. Sua Medeia perturbava espectadores mais conservadores não por trazer ao palco uma mulher que, por ciúme ensandecido, mata os próprios filhos — isso, afinal, fazia parte do mito conhecido de todos —, mas por representar o herói Jasão, seu ex-marido. como um homem mesquinho e pusilânime. Eurípides promoveu, na expressão do estudioso alemão Werner Jaeger, a "dessacralização do mito" — séculos antes de o ataque a valores tidos como sagrados entrar no figurino de todo artista que se pretende vanguardista. Como tudo o que diz respeito ao tema, há aqui pantanosas zonas de ambivalência: a apresentação do horror, afinal, pode reforçar o sentimento de respeito pelo que é sagrado. Tal é a experiência de muitas representações medievais e até renascentistas do inferno — como a que se vê no exuberante tríptico Jardim das Delícias, do flamengo Hieronymus Bosch. No limite entre o sagrado e o profano, encontram-se artistas como Michelangelo Caravaggio, nome fundamental do barroco italiano, com sua representação naturalista (e às vezes sangrenta) de episódios bíblicos. Caravaggio foi também um encrenqueiro, brigão e devasso. Aos olhos de certa sensibilidade moderna que romantiza a transgressão em todas as suas modalidades, isso quase conta como uma virtude. É um equívoco, porém, tomar o choque como régua única da qualidade criativa. Entre os dramaturgos ingleses da virada do século XVI para o XVII, Ben Jonson e Christopher Marlowe eram os mais escandalosos. O primeiro teve peças censuradas, o segundo foi processado por ateísmo e morreu em uma briga de taverna. Mas seus nomes talvez não fossem sequer lembrados, não houvessem sido contemporâneos de um gênio maior — o relativamente pacato William Shakespeare. A blasfêmia, o escândalo e até a violência tomariam a frente do pensamento europeu a partir do século XVIII, com a investida iluminista contra a autoridade ancestral do trono e do altar. E, na zona escura do Século das Luzes, surge um dos mais controversos artistas do choque, o Marquês de Sade. Por suas práticas sexuais — que incluíam sodomia, então um crime, e tortura —, ele foi encarcerado na Bastilha, mas já não estava lá quando a multidão tomou de assalto a prisão no episódio emblemático da Revolução Francesa, em 14 de julho de 1789. Suas obras, longos, cansativos catálogos da perversão e da crueldade sexuais, ainda hoje dividem críticos. Seriam um chamado à virtude pela via da exposição brutal da maldade? Um ataque transgressor contra toda forma de moral? Ou apenas a expressão de um indivíduo com perturbações psicológicas? Ao adaptar uma das obras de Sade em seu último e mais contestador filme, Salò ou os 120 Dias de Sodoma, o italiano Pier Paolo Pasolini deslocou a ação do século XVIII para a Itália nos últimos dias do fascismo. Em pelo menos um sentido, Lars von Trier segue nos passos de Sade: no tédio com que representa a compulsão sexual. É o escritor francês Georges Bataille, sádico entusiasta, quem o diz: "O tédio se desprende da monstruosidade da obra de Sade, mas este próprio tédio é seu sentido". No século XIX, entre decadentistas, simbolistas e outros artistas de vanguarda, a palavra de ordem era épater le bourgeois — chocar o burguês. E o burguês chocava-se com mais facilidade então. O erotismo elegante de Madame Bovary rendeu a seu autor, o francês Gustave Flaubert, um processo por obscenidade — mas essa história de adultério parece pudica diante de qualquer episódio de telenovela. A história da cultura tem essa dinâmica particular: o que hoje é ruptura amanhã pode ser a convenção. O choque estético promovido pelas várias vanguardas do século XX hoje está consagrado nos museus. A coreografia do russo Vaslav Nijimsky para A Sagração da Primavera, composição do seu compatriota Igor Stravinski, foi vaiada quando estreou em Paris, em 1913. A mesma música inovadora, porém, figuraria em Fantasia, singela animação de Walt Disney, em 1940 (Stravinski, a propósito, detestou o uso que deram à sua música no filme). E qualquer vetor que se tente traçar para a história dos choques culturais pode em algum momento ser invertido. Kandinsky, Miró, Mondrian e Pollock pareciam condenar a figuração ao museu das convenções mortas? Bem, na segunda metade do século XX, as formas distorcidas de Francis Bacon e os retratos visceralmente naturalistas de Lucian Freud ainda se mostraram capazes de perturbar quem os observasse. O choque político, estético e moral do realismo, aliás, tem uma particular relevância na era conflituosa que emerge da sangueira da Revolução Francesa. Os horrores da invasão da Espanha pelas tropas de Napoleão, no início do século XIX, foram retratados por Francisco Goya em uma tétrica série de gravuras intitulada Os Desastres da Guerra. Nesse lance, Goya inventou, segundo o crítico Robert Hughes, o "jornalismo pictórico" — e antes que existisse a câmera fotográfica. Esse viés documental tem herdeiros entre cineastas contemporâneos — seja no pesadelo americano na Guerra do Vietnã apresentado em Apocalypse Now, de Francis Ford Coppola, seja na surda guerra urbana das favelas cariocas retratada em Tropa de Elite, de José Padilha. O choque, afinal, sempre esteve presente na arte e na cultura. Seu alcance, porém, parece ter se limitado nestes dias em que o escândalo se tornou uma necessidade (mercadológica, inclusive) e um fetiche. As encenações públicas do grupo feminista Femen são um bom exemplo: as moças ucranianas de seios desnudos foram uma novidade quando surgiram na fauna militante, em 2008. Depois, tornaram-se algo pitorescas, e hoje parecem só mais um elemento da paisagem. Para reavivar a polêmica, precisam recorrer ao ultraje mais direto: não basta a rua, é preciso levar a nudez ao interior de igrejas, como fizeram no ano passado na Catedral de Notre-Dame, em Paris. A causa das moças, afinal, parece ser o que menos interessa: importa apenas o gesto pueril de escrever um slogan incendiário no corpo despido. Felizmente, no mundo adulto, ainda existe um Lars von Trier para desvendar esta chocante verdade: nudez nem sempre é libertação. 7#3 TELEVISÃO – A RECONQUISTA DO REBOLADO Como Elizabeth Savala superou o medo de viver a ex-chacrete da novela das 9 e viu a carreira florescer de novo. MARCELO MARTHE Ao ser escalada para interpretar Márcia, a ex-chacrete convertida em vendedora de cachorros-quentes da novela Amor à Vida, Elizabeth Savala tremeu nas bases. O primeiro impulso da atriz de 59 anos foi declinar do convite do noveleiro Walcyr Carrasco, alegando que não fazia o tipo boazuda exigido por uma figura com nome de guerra tão despido de sutileza: Tetê Para-Choque e Para-Lama. "Fiquei bravo, pois tinha criado a Márcia pensando nela. Mas seu grau de insegurança era tão grande que ela só aceitou porque temos um relacionamento que não quis prejudicar", diz Carrasco. Vencida pela insistência, Beth passou a enfrentar sessões diárias para encrespar os cabelos. E valeu-se das aulas de uma ex-chacrete, Rita Cadillac. "Ela me ensinou como se leva a vida sem perder o rebolado", conta. A menos de um mês do final da trama das 9 da Globo, Beth nem se lembra da crise: sempre que Carrasco menciona o caso, afirma que ele é que ficou doido. Pudera: o papel recolocou Beth, com brilho, na faixa mais nobre da televisão, após 29 anos relegada ao ocaso ou às novelas das 6 e das 7. "Eu tinha medo de cair na caricatura. Queria fazer jus às tantas Márcias que há pelo Brasil, essas mulheres batalhadoras mas que acreditam que o casamento com um homem rico é o melhor atalho para vencer", diz. Márcia passou boa parte da trama empurrando sua filha, a periguete abilolada Valdirene (Tatá Werneck), para cima de partidões famosos ou duvidosos. Ela mesma, no entanto, descobriu o amor ao lado de Atílio (Luís Melo) — que, a princípio sem memória, apareceu-lhe como um mendigo. Mas o sinal inequívoco do moral alcançado pela personagem foi sua interação cômica com Félix (Mateus Solano). Quando a "bicha baranga" (um dos airosos epítetos que o rapaz ganhou na novela) caiu do salto e foi viver de favor com a ex-chacrete, Amor à Vida atingiu aquele estágio em que uma novela abraça a chanchada sem medo de ser feliz (já que a coerência interna da história é uma causa perdida). A relação tornou ambos um equivalente nas novelas da dupla americana Abbott e Costello, que fazia sucesso nos anos 1940. "Márcia foi luminosa desde a primeira cena", diz o diretor Mauro Mendonça Filho. Enquanto Félix se negava a aceitar a nova condição, ela o puxava para a realidade. VEJA acompanhou a gravação do momento em que Félix se despedia da benfeitora para voltar a morar com a mãe, a perua Pilar, vivida por Susana Vieira. Esta chegou logo avisando que, ao contrário do rumor recorrente, ela e Beth não são brigadas. "Amor, imagina uma atriz brigar com outra no ambiente de trabalho? Eu e a Beth temos um temperamento muito parecido", disse a sempre falante Susana, diante da amiga calada, com ar meio désolé. Mas confessou Susana: "Morri de ciúme quando o Félix passou a gravar na casa dela. Ainda mais com todo o mistério sobre quem seria a mãe dele". Coube a Márcia ser fiadora da credibilidade na conversão forçadíssima do personagem. Félix se transmutou de vilão capaz de jogar a sobrinha numa caçamba em coitadinho que purgou os pecados como vendedor de hot-dogs. "Um dia, eu estava passando meu texto no carro e o motorista falou, com lágrimas nos olhos: 'Dona Beth, a senhora fez o Félix virar gente'", diz. Realmente, é só chorando, meu Brasil. Beth teve de se reinventar para que a TV sorrisse de novo para ela. Numa primeira encarnação, a atriz tinha o perfil de mocinha. "Ainda assim, ela fez heroínas fora do comum", diz o especialista Mauro Alencar. Estreou como a contestadora Malvina, de Gabriela, exibida em 1975. Nos anos 80, porém, a carreira esfriou. "Insistiam em me escalar para mocinha, mas eu achava o pior papel do mundo: uma mulher tapada, burra, que só chora", diz. No vendaval, Beth foi dispensada pela Globo e se separou do ator Marcelo Picchi, com quem se casara aos 19 anos e tinha quatro filhos (seu segundo e atual marido é o produtor teatral Camilo Átila). O resgate de Beth foi operado por Carrasco em A Padroeira, atração das 6 de 2001. A parceria seguiu firme, apesar dos safanões amigos: "Faço comentários malvados, e ela retruca à altura", diz o autor. Em Chocolate com Pimenta, Beth mudou falas de sua personagem. Notório por odiar cacos, Carrasco fez a atriz perder a voz. "Ela reagiu tossindo, e fez do castigo algo divertido", diz ele. Escaldada, Beth não cutuca mais noveleiro bravo com vara curta. "Não telefono para autores dando palpites. Autores já têm ideias demais", declara. Amigos, amigos, negócios à parte. 7#4 VEJA RECOMENDA DVD MARGARET MEE E A FLOR DA LUA (BRASIL, 2013, EH! FILMES) • Em um dos vários depoimentos do documentário da diretora Malu De Martino, a inglesa Margaret Mee (1909-1988) surge em uma festa no quintal de um vizinho, no bairro carioca de Santa Teresa, como uma assombração. De aparência frágil, pele pálida, longa e esvoaçante cabeleira branca, ela a princípio assusta os presentes para depois, com o passar dos dias, conquistar a vizinhança inteira como a amigável "miss Mee". O momento é a síntese do que a artista plástica e ativista ecológica costumava provocar: espanto e fascínio. Espantosa foi a escolha pela feroz e delicada flora brasileira como objeto de sua arte. E simplesmente fascinantes a tenacidade e o rigor com que perseguiu o tema em várias expedições à selva amazônica — entre as décadas de 1950 e 1980 —, sempre em busca do encontro com a flor-da-lua, rara espécie que desabrocha apenas uma vez por ano durante o breve espaço de uma noite. Respeitada tanto pela comunidade científica como por populações ribeirinhas e comunidades indígenas da floresta, Margaret Mee deixou um legado artístico muito mais forte e sedutor do que qualquer discurso ecochato de politica ambiental. DISCOS SWINGS BOTH WAYS, ROBBIE WILLIAMS (UNIVERSAL) • Anos atrás, o crítico americano Bill Flanagan comentou que Robbie Williams jamais faria sucesso nos Estados Unidos. Williams é rechonchudo e seu humor escrachado contrasta com o bom-mocismo dos astros do país. Azar dos americanos. O cantor inglês compensa qualquer dos tais "defeitos" com uma interpretação pessoal e impecável, além de um conhecimento musical fora do comum. Em Swings Both Ways, ele retoma o flerte com a música das big bands, que lhe rendeu o maior sucesso de sua carreira (Swing When You’re Winning, de 2001). O repertório traz clássicos do cancioneiro americano, como Puttin’on the Ritz, de Irvin Berlin, e Dream a Little Dream, do quarteto The Mamas and the Papas (e que aqui é cantada em dueto com Lily Allen). Williams apresenta ainda seis canções inéditas com arranjo jazzístico. As melhores são Swings Both Ways. dueto com o assumidamente gay Rufus Wainwright, no qual ambos fazem piadas sobre a homossexualidade, e No One Likes a Fat Pop Star, em que Williams faz troça da obsessão do showbiz por astros de silhueta esbelta. DE GRAÇA, MARCELO JENECI (SOM LIVRE/NATURA MUSICAL) • Instrumentista, compositor e cantor com passagens pelas bandas de Vanessa da Mata e Arnaldo Antunes, o paulistano Marcelo Jeneci é uma espécie de artesão da música pop. Ele sabe criar canções populares. De Graça, seu segundo disco, vai da balada mais cortante ao batuque baiano (a faixa-título, um axé de fazer chacoalhar os ombros na hora do expediente). E, claro, muita canção de apelo radiofônico, como Alento e Sorriso Madeira. Além disso, Jeneci destoa de boa parte de seus contemporâneos de cena independente, cujos discos são marcados pelo desleixo com os arranjos e a interpretação. De Graça é um trabalho chique, com arranjos de cordas de Eumir Deodato (em cinco faixas, mas particularmente brilhante em Tudo Bem, Tanto Faz e 9 Luas), uso de cravo (A Vida É Bélica e O Melhor da Vida) e participação de músicos consagrados, como Marçal (responsável pela batucada da faixa-título). E, já que os vocais não são exatamente o seu forte, Jeneci tem a ajuda de Laura Lavieri, uma intérprete afinada e que passa emoção a cada sílaba que canta, como se pode perceber em Pra Gente Se Desprender, uma das melhores canções do disco. LIVRO ALFABETO DOS OSSOS, DE LOUISE WELSH (TRADUÇÃO DE BRUNA HARTSTEIN; BERTRAND BRASIL; 462 PÁGINAS; 50 REAIS) • Nascida na Inglaterra e radicada em Glasgow, na Escócia, Louise Welsh trabalhou num sebo antes de estrear do outro lado do balcão, no início da década passada. Desde então, vem se impondo como um nome emergente da nova literatura policial em língua inglesa. Sua marca consiste em produzir thrillers com tempero pop, mas que não abdicam de certo toque classudo, com referências literárias e densidade superior à média. Lançado em 2010, Alfabeto dos Ossos é seu quarto trabalho. Murray Watson, o protagonista, é um estudioso de literatura com uma ideia fixa: escrever uma biografia de um poeta obscuro. Archie Lunan, a figura fictícia em questão, lançou uma só obra, isolou-se em uma ilha e morreu em um naufrágio. No começo do livro. Watson se decepciona ao abrir uma caixa com memorabilia do ídolo, sem encontrar nada que pareça digno de nota. Ao se aprofundar na investigação, porém, ele descobrirá coisas pouco agradáveis que se deram na ilha onde Lunan morreu — e esbarrará no desfile de egos inflados do meio literário local. TELEVISÃO HOMELAND — A TERCEIRA TEMPORADA (ESTREIA NO DOMINGO 12, ÀS 23H, NO FX) • Num interrogatório conduzido por congressistas americanos, a agente Carrie Mathison (Claire Danes) é chamada a explicar sua conduta no evento devastador que fechou a temporada anterior de Homeland. Ela adota um tom hesitante, enquanto faz rabiscos num caderno — mas, como nota sua advogada, põe no papel apenas um fluxo amalucado de ideias. Mais tarde, em sua casa, o pai de Carrie flagra uma parede coberta de mapas e recortes de jornal, também rabiscada de forma obsessiva, e detecta o problema: a filha parou de tomar o remédio que controla seu problema mental, o distúrbio bipolar. "É que o remédio me faz perder o foco", diz Carrie. Nas séries americanas, não há personagem feminina mais fascinante que a agente forçada a lidar com seus fantasmas psicológicos em meio à luta contra o terrorismo — um quadro conturbado pelo misto de atração e repulsa que ela sente pelo ex-militar e infiltrado do radicalismo islâmico Nicholas Brody (Damian Lewis). A nova temporada parece se dispersar, a certa altura, em tramas paralelas. Mas a paciência compensa: todas as pontas se ligarão em mais um desfecho perturbador. 7#5 OS LIVROS MAIS VENDIDOS FICÇÃO 1- A Culpa É das Estrelas. John Green. INTRÍNSECA 2- Cidades de Papel. John Green. INTRÍNSECA 3- Inferno. Dan Brown. ARQUEIRO 4- O Teorema de Katherine. John Green INTRÍNSECA 5- Fim. Fernanda Torres. COMPANHIA DAS LETRAS 6- O Silencio das Montanhas. Khaled Hosseini. GLOBO 7- A Esperança. Suzanne Collins. ROCCO 8- O Lado Bom da Vida. Matthew Quick. INTRÍNSECA 9- Quem É Você, Alasca? John Green. MARTINS FONTES 10- A Casa de Hades. Rick Riordan. INTRÍNSECA NÃO FICÇÃO 1- Nada a Perder 2. Edir Macedo. PLANETA 2- 1889. Laurentino Gomes. GLOBO 3- Demi Lovato – 365 Dias do Ano. Demi Lovato. BEST SELLER 4- Eu Sou Malala. Malala Yousafzai. COMPANHIA DAS LETRAS 5- Assassinato de Reputações. Romeu Tuma Jr. TOPBOOKS 6- Sonho Grande. Cristiane Corrêa. PRIMEIRA PESSOA 7- Kardec – A Biografia. Marcel Souto Maior. RECORD 8- Guia Politicamente Incorreto da História do Mundo. Leandro Narloch. LEYA BRASIL 9- 1822. Laurentino Gomes. NOVA FRONTEIRA 10- 1808. Laurentino Gomes. PLANETA AUTOAJUDA E ESOTERISMO 1- Kairós. Padre Marcelo Rossi. PRINCIPIUM 2- O Encontro Inesperado. Zibia Gasparetto. VIDA & CONSCIÊNCIA 3- Ansiedade. Augusto Cury. SARAIVA 4- Casamento Blindado. Renato e Cristiane Cardoso. THOMAS NELSON BRASIL 5- Eu Me Chamo ANtonio. Pedro Gabriel. INTRÍNSECA 6- Eu Não Consigo Emagrecer. Pierre Dukan. BEST SELLER 7- O Monge e o Executivo. James Hunter. SEXTANTE 8- O Método Dukan - Eu Não Consigo Emagrecer. Pierre Dukan. BEST SELLER 9- Só o Amor Consegue. Zibia Gasparetto. VIDA & CONSCIÊNCIA 10- O Poder do Agora. Eckhart Tolle. SEXTANTE 7#6 ROBERTO POMPEU DE TOLEDO – VAI QUE É SUA, FELIPÃO Ágil como nem os mais ágeis órgãos da imprensa, esta coluna já se encontra em condições de apontar como homem do ano, versão 2014, o cidadão Luiz Felipe Scolari. Grave responsabilidade pesa sobre os ombros desse simpático senhor. Scolari consegue a proeza, rara para um técnico de futebol, de ser mais popular do que a maioria dos jogadores. Lá está ele, desde já, nos anúncios da TV, no agradável afã de extrair o máximo de rendimento de mais um de seus grandes anos. O apelido "Felipão" aproxima-o da intimidade de cada família brasileira. Seu jeito é o do tiozão preferido, do colegão da firma, do amigão do bar (tudo nele termina em "ão"). Sua expressão corporal, traduzindo os mais diversos estágios de emoção, durante um jogo, compõe um espetáculo que compete com o que ocorre no interior das quatro linhas, e reforça a conclusão de que hoje em dia vê mais e vê melhor quem vê futebol pela TV. Ao se pôr patrioticamente à frente, mais uma vez, do ajuntamento de expatriados conhecido como seleção brasileira, Felipão repete um papel que conhece de sobra. Com uma diferença: desta vez, pesa-lhe a responsabilidade de também ter sob sua batuta a ordem política e social do país Muito já se disse e redisse sobre a influência ou falta de influência de uma Copa do Mundo sobre as eleições no Brasil. A questão tornou-se ainda mais pertinente depois que Copa e eleições passaram, desde 1994, a ocorrer no mesmo ano. Cotejando os resultados de uma e outra, de lá para cá, chega-se à conclusão de que não — não há influência entre derrota na Copa e vitória da oposição ou, inversamente, vitória na Copa e vitória do governo. Ocorre que 2014 apresenta duas características a singularizá-lo: (1) a Copa se realiza no Brasil; e (2) o ano se abre ainda sob o impacto das manifestações de junho de 2013 e no temor (ou esperança) de que a qualquer momento elas venham a se repetir. É nesse quadro que avultam, em dimensão maior do que em qualquer outra ocasião em sua carreira, as responsabilidades do cidadão Scolari. O Instituto Pompeu de Imprevisíveis Previsões (Ipip) trabalha com dois cenários, para o período entre o momento em que a bola começar a rolar e aquele em que os brasileiros irão às urnas. Cenário 1. O Brasil do Felipão começa bem, passa pela primeira fase e, melhor ainda, envereda pelas fases seguintes. As tímidas manifestações ocorridas nos dias iniciais da Copa esvaziam-se na mesma medida em que colhemos vitórias nos gramados. A atenção do país pelo que ocorre nas quatro linhas redobra à medida que avançamos rumo à final. Não sobra para mais nada. Pode ser até que venhamos a perder a final. É ruim, mas, em todo caso, chegamos vivos até o fim do campeonato, e com as ruas desimpedidas de manifestantes. O eleitorado vai às urnas de bom ou mau humor, mas sem influência da bola. Cenário 2. O Brasil do Felipão começa hesitante. Supera a primeira fase — afinal, não dá para ser desclassificado num grupo em que os adversários são Croácia, México e Camarões —, mas já nas oitavas de final encontra um adversário difícil e cai. Ou, então, supera-o a duras penas e cai nas quartas de final. Em ambos os casos, somos prematuramente postos fora de combate, e as manifestações, que começaram tímidas, avolumam-se. Com mais forca do que antes, os brasileiros despertam para o pesadelo dos estádios suntuosos, das obras superfaturadas, dos desmandos da CBF, da arrogância da Fifa — tudo isso a troco de preparar uma festa da qual já não participam. Não bastassem os antigos males, são agora os trouxas condenados a assistir em casa a uma folia privativa de alemães e espanhóis, ingleses ou italianos, e ainda por cima pagar as contas que restam. As manifestações, cada vez mais maciças, prosseguem mesmo depois da Copa, e seus reflexos prolongam-se até as vésperas das eleições. O eleitorado vai às urnas com o humor alterado pelo ocorrido nos gramados. Meio bonachão e meio malandro, meio valentão e meio candura, Felipão é um brasileiro de manual. Outro brasileiro de manual, o ex-presidente Lula, boa-praça e emotivo, falastrão e macunaímico, sonhou em aplicar o mais sensacional dos golpes na mais prezada de suas artes, que é a arte da marquetagem, ao trazer a Copa do Mundo para o Brasil. O ano de 2014 vai encontrar dois brasileiros de manual atados ao mesmo destino.