0# CAPA agosto 2014 SUPER INTERESSANTE www.superinteressante.com.br edição 336 – AGOSTO/2014 [descrição da imagem: parte central da revista, em azul, como o céu, e vários pontos com interligações, representando os astros celestes] ASTROLOGIA FUNCIONA (MAS NÃO COMO VOCÊ IMAGINA) E mais: seu signo talvez não seja aquele que você pensa. Por Karin Hueck [outros títulos] INDÚSTRIA DA GUERRA Quem está se armando até os dentes e quem está ficando bilionário com isso. A CBF PRECISA ACABAR A VOLTA DO WORLD TRADE CENTER AIDS, DO INÍCIO AO FIM DA EPIDEMIA RESTOS DA 1ª GUERRA #ESTELITA: RECIFE SE REVOLTA ALI BABA, O MAIOR SITE DA INTERNET ______________________________ 1# SEÇÕES I 2# REPORTAGENS 3# SEÇÕES II _________________________________ 1# SEÇÕES I agosto 2014 1#1 AO LEITOR – QUAL É SEU SIGNO? 1#2 MUNDO SUPER 1#3 SUPER NOVAS 1#4 SUPER NOVAS – O JOGO MAIS CRUEL DA INTERNET 1#5 CIÊNCIA MALUCA 1#6 SUPER NOVAS – RÚSSIA CONSTRÓI USINA NUCLEAR NO MAR 1#7 COMO O FUSO HORÁRIO MUDOU O MUNDO 1#8 SUPER NOVAS – O GOOGLE GLASS NA VIDA REAL 1#9 PAPO – “NÃO ATACAR É O MELHOR ATAQUE” 1#10 MATRIZ – INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL 1#11 IDEIA VISUIAL – A NOVA EXTINÇÃO 1#12 BANCO DE DADOS – MICROCERVEJARIAS 1#13 COORDENADAS – O BRASIL INDIANO 1#14 ORÁCULO 1#15 CONEXÕES – DE BLACK SABBATH A BLACK BLOC 1#16 ESSENCIAL – A CBF TEM QUE ACABAR 1#1 AO LEITOR – QUAL É SEU SIGNO? Eu leio a SUPER desde que era adolescente. Por isso, faz muito tempo que deixei de acreditar em astrologia. Nos anos 90, eu já tinha lido aqui que a teoria astrológica não faz nenhum sentido à luz do conhecimento científico atual. Para começo de conversa, a personalidade da criança não surge magicamente no momento do parto: ela já está em formação desde muito antes, durante a gravidez. Portanto não tem lógica atribuir a formação da pessoa à posição dos astros na hora do nascimento. Sem falar que a ideia de que corpos celestes muito distantes nos definem não para de pé: pelas leis da física, objetos mais próximos, como a cama do hospital onde o parto ocorre, teriam um efeito muito mais forte do que um astro a centenas de milhares de quilômetros de distância. Junte a isso o fato de que várias pesquisas mostram que não há nenhuma correlação estatística entre os signos do zodíaco e traços de personalidade ou vocações profissionais. Tudo isso dito, sempre me intrigou o fato de que o interesse em astrologia se mantém altíssimo no mundo todo. Algumas das pessoas mais inteligentes e racionais que eu conheço idolatram Susan Miller, gastam boa parte de sua renda com mapa astral e se aproximam de desconhecidos perguntando "qual é o seu signo?". Por quê? Foi essa a principal pergunta que tentamos responder na reportagem de capa desta edição. E as respostas nos surpreenderam. Descobrimos que astrologia pode até ser uma crença arcaica, mas isso não significa que ela seja inútil. Acreditar que um sistema maior do que nós rege nossas vidas pode, sim, aumentar os níveis de felicidade, mesmo que não seja verdade. E pode também reduzir o sofrimento com as decisões que temos que tomar. Fazer mapa astral, se por um lado não serve para prever o futuro, pode ser um exercício útil de autoconhecimento. E, se tem uma crença à qual nós da SUPER nos aferramos, é a crença no valor do conhecimento. É importante saber das coisas, mesmo quando escolhemos acreditar em algo. Não fazemos matéria para reforçar aquilo em que já acreditamos - buscamos é questionar a nós mesmos, sempre. Com frequência, no processo de pesquisa, descobrimos coisas que nem imaginávamos. Nossas reportagens frequentemente entram em contradição com nossas opiniões. Não nos pautamos por nossas certezas, mas pelas nossas curiosidades. Claro que seria bem mais fácil ter certezas sobre tudo e simplesmente repeti-las, como fazem muitas publicações brasileiras. Fazer uma revista que se questiona complica enormemente nossas vidas e aumenta demais o nosso trabalho. Mas é assim a SUPER: aplicada, caprichosa. E cética. Como boa virginiana, aliás. Denis Russo Burgierman, DIRETOR DE REDAÇÃO DENIS.BURGIERMAN@ABRIL.COM.BR 1#2 MUNDO SUPER O DEBATE ESTÁ SÓ COMEÇANDO A reportagem A Verdade sobre o Glúten (jul/14) motivou leitores a nos escreverem sobre suas experiências e a compartilharem informações e dúvidas. OS PÃES MACIOS QUE CONSUMIMOS são feitos com farinha especial, produzida apenas com o endosperma do trigo, rico em amido e glúten. O gérmen (proteínas) e o farelo (fibras) são desperdiçados. Inúmeros aditivos também são usados para melhorar a aparência e a textura. Farinhas integrais são opções mais saudáveis, mas não produzem massas tão fofinhas. Ou seja, embora haja gente sensível ao glúten, alguns efeitos podem ser culpa de um produto longe de ser natural. - OSMAN SILVA, FARMACÊUTICO BIOQUÍMICO MINHA FILHA TEM "AUSÊNCIAS", irritação constante e se comunica com repetições e pouco contato visual. Estamos às voltas com um diagnóstico de autismo, que não se confirma, pois as características não são suficientes. Eis que uma professora comentou sobre intoxicação por glúten e o tiramos da dieta dela. Já na primeira semana, uma revolução: seus olhos agora nos procuram e ela já tem uma amiga "preferida" na escola, antes algo impensado. - GESLLINE GIOVANA BRAGA PODEMOS CONFIAR NAS EMBALAGENS DE PRODUTOS QUE SE DIZEM SEM GLÚTEN ? Existem alimentos "sem glúten" que contêm traços da proteína, devido à contaminação cruzada, que ocorre durante a fabricação. Algumas empresas usam o "contém glúten" preventivamente, outras usam o "não contém glúten" mesmo sabendo da contaminação. Uma pesquisa da DSP identificou que 13% dos alimentos rotulados como livres da proteína apresentaram contaminação. E no grupo de alimentos naturalmente livres de glúten, como arroz, 9,3% estavam contaminados. Pergunta enviada pela leitora LUANA FERREIRA MARTINS, respondida pelo repórter ROBSON PANDOLFI MÁQUINA DE FAZER JOGADORES Um ano atrás, apostamos no tetracampeonato germânico em solo brasileiro. A previsão do texto Alemanha, o País do Futebol (jun/13) não era chute (ou casaca virada), mas uma análise dos investimentos do país no esporte. Se colocarmos em prática, chegamos fortes em 2026. Já desperdiçamos uma ou duas gerações de jogadores. - NICOLE GAZONATO A CBF tem o apoio do governo e isso impede uma revolução, como a do basquete brasileiro, após o surgimento do NBB [Novo Basquete Brasil]. - DARLESON SOARES Dizem que investir em esporte é política de "Pão e Circo" e que o Brasil está desse jeito porque "enquanto te exploram, você grita gol". A Alemanha prova que não. Esporte é problema do governo, é política social. - GABRIEL AUGUSTO Quando um time perde, pede-se a troca da comissão técnica. No caso, cabe a entrega dos cargos de diretores da CBF. - JORIVALDO MEDEIROS Joachim Löw não tinha ganhado títulos, nem mesmo na Copa da Alemanha, e permaneceu. Há que se ter paciência para chegar ao êxito. - MÁRCIA VOLZ CORREIO ELEGANTE Os comentários mais carinhosos que recebemos nas últimas semanas. Sejam uma revista à frente de seu tempo, com matérias vanguardistas, não um tabloide mensal semelhante a folhetos distribuídos em consultórios médicos. ALEXEI R. DE A. FILHO, sobre a reportagem A Verdade sobre o Glúten (jul/14) 3 LEITORES OPINAM SOBRE O POST "BARATAS ESCOLHEM O BAIRRO ONDE VÃO MORAR" 1- Inteligência superior insuspeita. - FÁBIO SOUZA MUFARREJ 2- Outro dia trombei com uma que tinha o sotaque carioca. - RENAN MATSUMOTO 3- Depois que aprendi esse truque do sabão com o Beakman, não tenho mais tanto medo: on.fb.me/1qEEJJW [aprenda a matar baratas com detergente] - MARCELO NACONESKI TROFEU PIADISTA DO MÊS - Cadê o César quando se precisa dele? FELIPE GIL, no texto Os Macacos Vão à Justiça (fev/14), sobre a ONG que entrou com processo para exigir a liberdade de chimpanzés. 5- Não entendeu a piada? Vai lá no Cult, p. 79. SUPER BANCA A ciência está cada vez mais perto de desvendar mistérios intergalácticos e sobrenaturais. EXTRATERRESTRES - NAS BANCAS RS 34,90 - Astrônomos estimam que existam 4 bilhões de mundos como o nosso, propícios à vida. Tudo indica: não estamos sós. SOBRENATURAL - NAS BANCAS - R$ 27,90 - Curandeiros, detetives paranormais, videntes e charlatões (claro) compõem, no Brasil, a maior nação espírita do mundo. SUPERBANGA DE VERDADE: É aqui onde o leitor Leonardo Jackson Júlio, de 24 anos, compra a SUPER todo mês. A foto é de 1963, mas o "Palácio das Notícias" continua com os balcões dispostos do mesmo jeito. A banca de revistas do Wiegando fica na cidade de Paranaí, no Paraná. SEJA RACIONAL - As "5 dicas da ciência para você tomar boas decisões" bombaram no último mês, com mais de 79 mil acessos. O post ensina truques que turbinam o lado racional na hora de tomar uma decisão. Para controlar a emoção, vale até pensar em outra língua e apagar a luz. Quer ajudar seu cérebro a escolher melhor? Confere lá no site: abr.ai/TnU7gl (sem querer te induzir, claro). Se a pessoa não souber outra língua está ferrada. JOÃO BATISTA CAETANO VIEIRA UM POR UM E NENHUM POR TODOS Se eu fosse escolher um ponto que traduz a cultura tupiniquim, seria falta de senso coletivo. Isso explica o lixo que se varre para a calçada do outro, o furão de fila e até o político que rouba dinheiro público. Não sabemos viver em sociedade. Vivemos em grupos isolados, é cada um por si. RAFAELA DAFINI, SOBRE O TEXTO IDIOTA A BRASILEIRA (JUL/14) FOI MAL Na carta ao leitor, anunciamos um infográfico sobre o comércio de armas que não publicamos (Tem algo grande aí, jul/14). Saiu nesta edição, pode conferir: Nações Armadas, p. 64. • A lactose é um açúcar, não uma proteína (A Verdade sobre o Glúten, jul/14). • Produzimos 23 milhões de toneladas de mandioca por ano, não 23 toneladas. (Brasil, a Terra da Mandioca, jul/14). • A autonomia do avião Ipanema é maior com gasolina do que com etanol, não o contrário (Cana Flex, jul/14). • Em vez da foto do Khalifa bin Zayed Al-Nahyan, colocamos a foto do pai dele (Todas as Monarquias, jul/14). • Repetimos a legenda de Sexta-feira 13 em Anjos da Lei e Nile Rogers não é baixista, mas guitarrista. (Anos 80: ainda de volta, jul/14) • Em vez da imagem de um útero, repetimos a ilustração do baiacu (Cabeças Cortadas não Usam Calça Legging, jul/14). FALE COM A GENTE REDAÇÃO - superleitor@abril.com.br, av. das Nações Unidas, 7221, 14º andar, CEP 05425-902, São Paulo, SP, fax 11 3037-5891. PUBLICIDADE - publiabrif.com.br SP 11 3037-5189, RJ 21 2546-8100. Outras praças: 11 3037-5759. Vendas Diretas: 11 3037-5000. SAC - abrilsac.com abrilsac.lojaabril@abril.com.br SP 11 5087-2112 Outras Praças 0800-7752112 Segunda a sexta, das 8 às 22h. 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Isso permitiria ir a lugares muito remotos e alcançar os planetas habitáveis mais próximos da Terra. Para fazer isso, a nave teria de deformar o espaço, comprimindo o que está à sua frente e esticando o que está atrás dela, criando a chamada dobra espacial. Pela Teoria da Relatividade, é possível. Só que não é fácil. Seria preciso pegar uma quantidade enorme de massa, equivalente à do planeta Júpiter, e transformá-la em energia (colidindo essa matéria com antimatéria, que pode ser produzida num acelerador de partículas). Inviável. Mas o físico Harold White, da Nasa, diz que é possível aperfeiçoar o processo - e gerar a energia usando apenas 500 kg de matéria. A energia alimentaria anéis na frente e na traseira da nave, que produziriam um campo gravitacional artificial - deformando o espaço. "Seria o suficiente para alcançar dez vezes a velocidade da luz", diz. Daria para ir até a estrela mais próxima, Alfa Centauri, em meros cinco meses. Para chamar atenção para seu projeto, White produziu um desenho da nave. Ficou linda. Mas ainda é cedo para saber se vai virar realidade. Esses 500 kg de massa ainda são muita energia: cerca de 25 mil tWh (terawatts-hora), tudo o que os EUA consomem em um ano. White, por ora, tem planos mais modestos. Está bolando um teste para demonstrar que é realmente possível gerar uma dobra espacial. A conferir. SANGUE JOVEM FAZ BEM AO CÉREBRO Em duas experiências, ratos de laboratório receberam transfusões de sangue - que havia sido colhido de camundongos mais jovens. O efeito foi surpreendente: os animais velhos passaram a se sair melhor em testes de memória e aprendizado (nos quais o rato tem de descobrir como atravessar um labirinto e se lembrar do caminho). Isso acontece porque o sangue dos animais jovens é rico numa proteína chamada GDF11, que aumenta a circulação e o suprimento de oxigênio ao cérebro. Essa proteína também está presente em humanos, mas declina com a idade. Os cientistas acreditam que repô-la possa ajudar no tratamento de doenças degenerativas, como Alzheimer. DESMATAMENTO DA AMAZÔNIA CAI 70% Fiscalização e criação de reservas ambientais reduzem queimadas. GRAÇAS A ISSO, O PAÍS REDUZIU EM 39% SUA EMISSÃO DE CO2 POLÍTICA CIA fez boneco de Bin Laden - A agência contratou o criador dos bonecos G.I. Joe para desenvolver o brinquedo. Ele era pintado com uma tinta que se dissolvia após algumas semanas – transformando Osama num diabinho. A ideia era distribuir o brinquedo no Paquistão, mas o projeto foi cancelado. INTERNET Airbnb transforma casa em restaurante - Quem mora em São Francisco agora pode alugar a própria sala de jantar (incluindo uma refeição) por meio do site. A prefeitura disse que a prática é ilegal, e vai multar quem fizer isso. SAÚDE Brócolis realmente eliminam toxinas - Essa é a conclusão de um estudo feito na China. Os voluntários que tomaram suco de brócolis conseguiram expelir 61% mais benzeno e 23% mais acroleína (substâncias cancerígenas contidas no cigarro) na urina. BAFÔMETRO REMOTO FUNCIONA VIA LASER Sistema instalado na calçada é capaz de detectar motoristas embriagados, com o carro em movimento. 1- Um laser de baixa potência é projetado contra o carro. 2- Enquanto respira, o motorista libera vapor de álcool. 3- As moléculas de álcool interferem com o laser, que fica mais fraco. 4- Um sensor detecta isso, e indica que o motorista (ou algum passageiro) bebeu. 875 MIL dólares é o salário mensal médio dos presidentes de empresas americanas, num aumento de 8,8% em relação a 2012. Mas um estudo feito em 1.500 empresas apontou que, quanto mais uma companhia paga a seus executivos, pior tende a ser seu desempenho no mercado financeiro. O cristianismo não é real. DEUS NÃO EXISTE" disse o americano Tim Lambesis, ex-cantor do grupo de heavy metal cristão As I Lay Dying. Lambesis, que foi condenado a 6 anos de prisão por tentar matar a esposa, disse que "a maioria" das bandas cristãs é formada por ateus, como ele. 1#4 SUPER NOVAS – O JOGO MAIS CRUEL DA INTERNET Se você pensa que os games de tiro e guerra são violentos, ainda não viu nada. TEXTO Sarah Kern CHERNARUS É UM ESTADO PÓS-SOVIÉTICO DE 225 KM2 (mais ou menos o tamanho da área urbana de Campinas) infestado por zumbis. Lentos e bobos, eles não chegam a ser um problema. A verdadeira ameaça são os outros humanos sobreviventes: que podem capturar e maltratar você. Esse é o enredo de DayZ, jogo online que foi lançado em dezembro e já vendeu 2 milhões de cópias, mas tem chocado pelas cenas de crueldade. Tudo porque, ao criar o game, os desenvolvedores de DayZ (que não quiseram falar com a SUPER) incluíram nele um cardápio de ações cruéis, com vários tipos de tortura. O pior é que, depois de morrer, você continua ouvindo o que está acontecendo com o seu avatar. A americana Kim Corrêa recentemente escreveu um texto na internet contando como foi violentada virtualmente por outros dois jogadores, que depois de matá-la praticaram necrofilia digital com seu cadáver. Apesar das críticas que Day Z tem recebido, existem coisas ainda piores. "Há games japoneses em que a missão é estuprar o máximo de pessoas", diz o psicólogo Sérgio Patto, especializado em crianças e adolescentes. Nas 12 horas que passei jogando DayZ, não fui vítima de tortura. Os jogadores com quem cruzei não fizeram nada bizarro comigo. Só me mataram - várias vezes. 1#5 CIÊNCIA MALUCA Texto Carol Castro FURACÕES FEMININOS MATAM MAIS GENTE Um estudo que analisou furacões dos últimos 60 anos constatou que, quando um furacão é batizado com nome de mulher, faz mais vítimas. A suposta explicação é que, inconscientemente, as pessoas creem que furacões femininos são mais fracos - e tomam menos precauções. ROBÔ MELHORA VÍDEOS DO YOUTUBE (PÊRO NO MUCHO) Cientistas chineses desenvolveram um software que analisa vídeos do site e os deixa mais interessantes, cortando cenas paradas ou repetitivas. O robô determina isso analisando o movimento das coisas na tela. O problema é que ele leva 2 minutos para analisar 1 minuto de gravação. Ou seja: seria mais rápido ver logo o vídeo chato de uma vez. ALEMÃES COPIAM A ORELHA DE VAN GOGH O pintor supostamente cortou a própria orelha após um surto em 1888. Um grupo de alemães células de Lieuwe van Gogh, tataraneto do irmão do pintor (e com parte do DNA dele), e as usou para fazer uma nova orelha numa impressora 3D. Tem cada uma... 1#6 SUPER NOVAS – RÚSSIA CONSTRÓI USINA NUCLEAR NO MAR Reatores já estão prontos e flutuando no mar da Sibéria; Segurança é ponto polÊmico. TEXTO Marina Darmaros, de Moscou A ENERGIA NUCLEAR FICOU COM A IMAGEM ARRANHADA pelo desastre de Fukushima, em 2011. Mas os russos dizem ter a resposta: uma usina flutuante. Ela se chama Acadêmico Lomonosov - homenagem a Mikhail Lomonosov, físico russo do século 18 - e está em plena construção. Seus dois reatores já foram instalados e devem ser ligados entre 2016 e 2019. Eles produzirão eletricidade suficiente para 200 mil pessoas. Mas a usina está sendo montada na costa de Pevek, cidadezinha de apenas 4 mil habitantes no nordeste da Rússia. Isso porque a proposta não é abastecer a população, e sim testar a nova tecnologia num local remoto. Os russos pretendem usar a energia para alimentar bombas de dessalinizacão de água, gerando até 240 mil metros cúbicos por dia. Se tudo der certo, a ideia é vender usinas do tipo para países que sofrem com seca. Como está dentro do mar, a usina flutuante tem como vantagem ser imune a terremotos como o de Fukushima. Em tese, também é mais resistente a tsunamis, pois pode subir e descer junto com as ondas. E tem acesso a um suprimento inextinguível de água (do oceano) para refrigerar os reatores. Mas o projeto tem recebido críticas. "A usina pode ser inundada por elevações no nível do mar", diz a americana Alicia Dressman, especialista em energia nuclear. Os russos dizem que não há risco, pois a usina tem compartimentos para receber a água. "Em caso de inundação, a estação continua à tona", rebate Víktor Ivaniuk, engenheiro responsável pela obra. Os críticos da ideia dizem que, em caso de vazamento, a usina contaminaria o mar - pois não haveria como conter o fluxo de materiais radioativos. Mesmo questionada, a tecnologia já é cogitada por outros países, como China e EUA. 1#7 COMO O FUSO HORÁRIO MUDOU O MUNDO TEXTO Fábio Marton Conforme a Terra dá voltas em torno do Sol e gira sobre o próprio eixo, partes dela são iluminadas - e outras ficam no escuro. Por isso é dia em alguns pontos enquanto é noite em outros, e há diferenças de horário entre os lugares. Mas, até o século 19, isso era uma bagunça: cada cidade definia sua própria hora, sem coordenação central. Nos EUA, as ferrovias eram obrigadas a manter tabelas com mais de 300 horários diferentes. Em 1884, a Conferência Internacional do Meridiano botou ordem no planeta estabelecendo as regras que usamos hoje: 24 fusos horários, com o horário central baseado em Greenwich (um distrito de Londres). Houve resistência, pois cada país queria que o centro fosse sua própria capital, mas todos acabaram aceitando (o Brasil, em 1913). Os fusos horários foram essenciais para a globalização. Mas alguns países os adotam de um jeito peculiar. Na China, o país todo segue um fuso, de Pequim, o que gera distorções: nas cidades mais a Oeste, às vezes a manhã só começa às 10h, e há dias em que já é meia-noite quando o sol se põe. 1#8 SUPER NOVAS – O GOOGLE GLASS NA VIDA REAL Depois de um ano de suspense, o Google lançou seus óculos digitais - agora, qualquer pessoa pode comprá-los (nos EUA). E estão surgindo maneiras inesperadas de usar esse gadget. TEXTO Marilia Marasciulo NO TRÂNSITO QUEM INVENTOU - Jake Steinerman, programador COMO FUNCIONA - O Google Glass tem sensores que monitoram os seus olhos e os movimentos das pálpebras. Portanto, ele sabe quando você está pegando no sono - e, por meio de um novo aplicativo chamado DriveSafe, exibe um alerta visual para acordar você. e evitar que durma no volante. NO AEROPORTO QUEM INVENTOU - SITA (Sociedade Internacional de Telecomunicações Aeronáuticas) COMO FUNCIONA - Os funcionários da companhia Virgin Atlantic estão usando o Google Glass para dar atendimento personalizado aos passageiros. Os óculos mostram os detalhes do voo da pessoa enquanto o funcionário fala com ela. NA POLÍCIA QUEM INVENTOU - Polícia dos EUA COMO FUNCIONA - Na cidade de Byron (EUA), os policiais gravam suas ações usando o Glass. E a polícia de Nova York está desenvolvendo um software de reconhecimento. Ao olhar para uma pessoa, o oficial saberá se é procurada. NO CAIXA ELETRÔNICO QUEM INVENTOU – Universidade de Saarland (Alemanha) COMO FUNCIONA - Você vai até o caixa. Quando olha para a tela, aparece um QR code - o sucessor mais moderno do código de barras. Nele há uma senha, que você deve digitar para sacar dinheiro. Mas só os óculos (e portanto só você) conseguem decodificá-la e vê-la. NO HOSPITAL QUEM INVENTOU - Duke MedicaL Center (EUA) COMO FUNCIONA - Os cirurgiões estão usando os óculos para gravar operações e consultar informações sem precisar tirar as mãos do paciente. Usando comandos de voz, o médico pode abrir e ver imagens de exames, como um raio X ou uma tomografia. 1#9 PAPO – “NÃO ATACAR É O MELHOR ATAQUE” Sem disciplina, ondas de protestos morrem na praia, diz a expert em manifestações Erica Chenoweth. A chave da derrota: violência. "Você perde apoio; sem apoio, nada muda. ENTREVISTA Pedro Burgos Seu livro em defesa de protestos não-violentos é anterior à Primavera Árabe. Ele resistiu ao conflito? Na Tunísia, onde há mais chance de democracia e estabilidade, a campanha foi não-violenta. Isso permitiu mobilização em massa. No Egito também havia apoio maciço, mas uma pequena corrente violenta, não determinante nos protestos, ajudou a criar a instabilidade política de hoje. E o livro já mostrava esse padrão: analisando tudo que pode ser chamado de protestos entre 1900 e 2006, descobri que movimentos não-violentos tiveram o dobro de sucesso dos violentos. Movimentos como o Ocuppy nos EUA e as jornadas de junho no Brasil eram pacíficos. Não queriam revoluções, mas reformas. Por que não triunfaram? Um problema dos movimentos em países democráticos é articular sua proposta de maneira clara: como fica o país se a campanha "vence". Outro é diversificar a participação. Em vez de "temos um problema, nossa solução é a seguinte" a conversa ruma para "nós contra eles", e essa polarização afasta grupos importantes, especialmente na elite. No Brasil, quando os Black Blocs usam violência - mesmo se provocados -, todos os envolvidos perdem apoio. E, sem apoio, nada muda. Esperava-se mais protestos no Brasil durante a Copa no Mundo. Ir para a rua é muito 2013? Ir para a rua é só uma das centenas, senão milhares de maneiras de demonstrar revolta. E uma das mais perigosas. Mas há um número enorme de táticas: greve, deixar de cumprir ordens do governo, construir instituições paralelas de mídia, política ou educação. Isso é criar, ao invés de só focar em destruir. Na Ucrânia aconteceu o "vá devagar": taxistas andavam em velocidade baixa, trancando as ruas. O governo não sabia o que fazer, já que atacar os motoristas pioraria o trânsito. E não fez nada. Mesmo em ambientes muito hostis, onde símbolos antigoverno são banidos, dá para fazer algo. Você pode cobrir uma praça com uma cor proibida. Ver a polícia correndo atrás de um vira-lata com uma bandana vermelha, por exemplo, expõe o ridículo da situação. Em cada local há uma tática. E o tal ativismo de sofá, ficar xingando muito na internet, funciona? Em alguns países, é até transgressor: protestar online pode ser contra a lei. O perigo é você achar que está participando da mudança quando na verdade está apenas conversando. Muitos dizem que as manifestações estão muito efêmeras, não duram o suficiente. Concordo. Criticar é mais fácil do que construir alternativas. Para construir alternativas, você precisa de liderança e organização, capacidades que você só desenvolve com o tempo. Quanto menos tempo, menos chance de mudar as coisas. As pessoas parecem ter ficado muito boas em marcar manifestações. Mas como engajá-las para discutir problemas e sugerir soluções? Universidades e outras instituições são muito importantes nesse processo. É preciso haver lugares para discutir em que tipo de país querem viver, estabelecer princípios e valores, debater opiniões divergentes. É preciso pensar bastante antes de ir para a rua. Treinar os participantes para ter disciplina. Foi assim na independência da Índia e no movimento pelos direitos civis nos EUA: quando a polícia começava a bater, eles não reagiam. E funcionou! 1#10 MATRIZ – INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL Se você pensa que cachaça é água, um dia um robô vai pensar. Entre as que imitam nosso raciocínio e as que o dispensam, veja a quantas anda o QI das máquinas. POR Inara Negrão, Camila Maccart e Melissa Schröder HRP-4C JAPÃO A superexpressiva modelo-robô estreou na semana de moda de Tóquio. OTANAROID E KODOMOROID JAPÃO Num museu em Tóquio, recebem visitantes – e muitos nem suspeitam que elas são robôs. AARON EUA Software cria pinturas a partir de banco de dados com estilos de vários pintores. EUGENE GOOSTMAN RÚSSIA Com o QI de um garoto de 13 anos, foi o primeiro a passar no teste de Turing, no qual computadores se passam por humanos. COG EUA De 1994, foi o primeiro humanoide com desenvolvimento cognitivo: aprendeu a piscar, gesticular e andar. ASIMO JAPÃO O garoto-propaganda da Honda sobe escadas, corre, reconhece rostos e já bateu bola com Obama. ROBOTHESPIAN REINO UNIDO É um ator: encena Hamlet, fala 20 idiomas e sai beijando quem vê pela frente. DA VINCI EUA Cirurgião com nome de artista, opera próstata no Instituto do Câncer de São Paulo. DEEP BLUE EUA Mestre no xadrez, precisou pensar como humano para derrotar o campeão mundial Garry Gasparov em 1997. R-LEARNING JAPÃO Enquanto o professor toma água, ele cuida das crianças e conta histórias. ELIZA EUA Software psicoterapeuta: até analisa o que escreve o cliente, mas dá respostas prontas. ROVER AUSTRÁLIA Peão eletrônico, conduz o gado sem estressá-lo como os cachorros. AUTOM EUA Aliado da dieta, controla calorias e mantém o dono motivado. WATSON EUA Com memória de 15 mil gigabytes, faz diagnósticos certeiros só ouvindo os sintomas. CURIOSITY EUA Nosso "homem" em Marte. Já enviou à Terra mais de 190 gigabytes sobre o planeta vermelho. BIG DOO EUA Apesar do nome, o robô militar é mais um burro de carga: transporta até 180 quilos. AUTOMOWER EUA De uma vez só, corta grama e os empregos dos jardineiros. PARO JAPÃO Faz tudo o que um bicho de estimação faz, menos coco e xixi. SAMSUNG SGR-A1 COREIA DO SUL Vigia a fronteira com a Coreia do Norte. Tem autonomia para matar quem ousa cruzar os limites sem avisar. ROOMBA EUA Com o slogan "menos tarefas, mais vida", o robô-aspirador garante limpar 98% da casa. Fez ponta em Breaking Bad. PET DRONE EUA Treinado para seguir o dono, como um animal de estimação. TARANIS REINO UNIDO Drone de guerra para missões intercontinentais, acha e ataca alvos no ar e em terra. 1#11 IDEIA VISUIAL – A NOVA EXTINÇÃO EDIÇÃO Karin Hueck e Rafael Quick Em colaboração com TED Assista ao vídeo da palestra abr.ai/*nova-extincao* Para o paleontólogo Jack Horner, existem muito menos espécies de dinossauros do que imaginamos. Isso porque, até pouco tempo atrás, não identificávamos as fases de crescimento dos dinos. Entenda a sua polêmica teoria aqui, num desenho para você colorir em casa seguindo os números. CADÊ OS BEBÊS? Certo dia, Horner ficou intrigado com a ausência de fósseis de dinossauros bebês ao redor do mundo. Foi quando ele teve um insight: será que estaríamos chamando dinossauros bebês, adolescentes e adultos de nomes diferentes? Cientistas estavam se baseando no formato dos esqueletos para fazer suas classificações, mas ossos podem muito bem mudar de forma ao longo da vida. BEBÊS – O ponto-chave da teoria está nos ossos fossalizados. Ossos de filhotes (de qualquer animal) são mais porosos do que ossos de adultos, indicando que não terminaram de crescer. ADOLESCENTES – Ossos de dinos teenagers são intermediários: menos esponjosos do que os de bebês, mas ainda não totalmente massificados. ADULTOS – Já dinossauros adultos têm ossos bem massudos, sem porosidade. Horner descobriu isso fazendo cortes transversais nos fósseis. Para Horner, dracorex, stygimolocn e paquicefalossauro são a mesma espécie. O bebê teria chifres atrás do crânio e um calombo pequeno no alto. No adolescente, os chifres diminuíram e a protuberância cresceu. Já no adulto, a cúpula está formada, e os chifres viraram pequenas saliências. No triceratops jovem, os chifres apontam para trás. Para Horner, à medida que o animal crescia, os chifres se voltavam para a frente e os triângulos na borda traseira se achatavam e ficavam lisos, como os do torossauro. Nanotirano e tiranossauro rex eram tidos como duas espécies porque o primeiro era maior e tinha 12 dentes e o segundo, menor, tinha 17. Mas e se os adultos perdem dentes ao envelhecer? Horner investigou e encontrou fósseis intermediários com 15,14 e 13 dentes. O nanotirano pode ser extinto dos livros também — não passa de um baby rex. 1#12 BANCO DE DADOS – MICROCERVEJARIAS EDIÇÃO Felipe van Deursen Foi-se o tempo em que cerveja era dividida em clara e escura. Enquanto o consumo de grandes marcas cai (ou não cresce), nos últimos anos diferentes cervejarias surgem em todos os cantos e mudam o jeito de beber. E o Brasil faz parte dessa onda. POR Paula Bustamante, Sara Magalona e Felipe van Deursen MERCADO A expansão brasileira 5MI de LITROS Produção máxima anual para uma cervejaria ser considerada micro. ONDE ELAS ESTÃO Já são mais de 250 micro e pequenas empresas. MG 10% RJ 8% SP 24% SC 13% RS 17% IMPOSTOS R$ 3,6 MI POR ANO Faturamento máximo para uma empresa entrar no Simples, em que se paga menos impostos. Apesar da luta por mudança, pequenos fabricantes de bebida alcoólica não têm essa vantagem EMPREGOS GERADOS MICROS — 30 a cada 1 milhão de litros fabricados GRANDES —2 a cada 1 milhão de litros COPA DO BRASIL O Concurso Brasileiro de Cervejas nasceu em 2013 em Blumenau, SC INSCRIÇÕES 2013 – 215 rótulos 2014 – 414 rótulo CRESCIMENTO DE 92% PÚBLICO 2013 – 22.539 2014 – 32.427 CERVEJA DO ANO – Açaí Stout, Amazon Beer, Belém, PA CERVEJARIA DO ANO – Bodebrown, Curitiba, PR REVOLUÇÃO AMERICANA Em nenhum outro país as micros ganharam tanto espaço na indústria da cerveja. Volume produzido pelas micros 2009 4,4% 2010 5% 2011 5,7% 2012 6,5% 2013 7,7% - 1,8 bilhão de litros vendidos. 1412 Microcervejarias sendo que 304 abriram em 2013 1237 BREWPUBS Bares que produzem a própria cerveja 14,3% do faturamento do mercado americano em 2013 -1,9% Queda do faturamento do mercado como um todo. COPA DO MUNDO Cheia de categorias, a WORLD BEER CUP representa a diversidade das Micros. Em 2014, foram 94 categorias PREMIAÇÃO 1º EUA: 205 medalhas 2º ALEMANHA: 27 3º CANADÁ: 7 4º BÉLGICA: 5 5º REINO UNIDO: 5 11º BRASIL: 2 – Ambas para a Wäls, de Belo Horizonte ESTILO ALEMÃO Dark Wheat Ale Pale Wheat Ale Shwarzbier Hefeweizen Sour Ale Kölsch Welzenbock Leichtbier Pilsener Oktoberfest Märzen ESTILO AMERICANO – Organizadores do evento, os Americanos dominam a premiação. Stout Trigo Sour Ale Brett Pilsener – Chamada de American larger, é a mais consumida do mundo e a típica cerveja de boteco. Cream Ale Amber Lager Imperial Stout Pale Ale Strong Pale Ale Trigo com Fermento India Pale Ale Amber Brown Ale Black Ale Dark Lager ESTILO BELGA Witbier Ale Blonde Ale Sour Ale Flander Oud Bruin Dubbel Tripel Dark Strong Ale Outras Ales Pale Strong Ale Saison ESTILO BOÊMIO Pilsener ESTILO BÁLTICO Porter ESTILO ESCOCÊS Ale ESTILO INGLÊS Pale Ale Mild Ale Imperial Stout India Pale Ale Brown Ale Summer Ale ESTILO INTERNACIONAL Lager – Uma das grandes famílias de cervejas, caracteriza-se pela baixa fermentação (o fermento afunda). Exemplos: vienna, block, helles ESTILO IRLÂNDES Dry Stout Red Ale ESTILO MÜNCHNER Dunkel Helles SPECIAL BITTER Extra Comum FRUTADA Trigo Comum IMPERIAL Red Ale India Pale Ale Ervas e Especiarias Kellerbier Indígena Outras Fortes PORTER Robusta Brown Azonal Sem Glúten Special Bitter SPECIALTY Mel Comum STOUT Oatmeal Cream Foreing-Style Strong Ale VIENNA Lager Abóbora AUSTRALÁSIA Pale Ale Lager BARLEY WINE Ale BELGO-AMERICANO Ale – Uma das grandes famílias de cervejas, caracteriza-se pela alta fermentação (o fermento boia). Exemplos: kölsh, stout, Weiss. Café Centeio Chocolate Defumada Envelhecida em Barril de Madeira – Forte, Stout Forte, Sour, Comum 1#13 COORDENADAS – O BRASIL INDIANO Fort Cochin, Kerala, índia: 514 anos de uma ligação criada pelos navegadores portugueses e alimentada até hoje pela cultura brasileira. TEXTO E FOTO Anita Martins e Edu Cavalcanti PÉS DE JACA SOMBREIAM AS RUAS. O cheiro de caju se espalha no ar. As plantações de borracha se esticam rumo ao interior, com um ou outro elefante andando entre as seringueiras. Não fosse o paquiderme, poderíamos estar no Brasil. Mas isso é Kerala, Estado do sul da Índia que tem uma conexão com o País criada faz tempo, graças aos navegadores portugueses. A ligação é ainda mais evidente na localidade litorânea de Fort Cochin, onde Pedro Álvares Cabral foi recebido com honras pelos líderes locais em dezembro de 1500. Durante a estada, membros de sua esquadra plantaram sementes colhidas na Bahia. Por conta disso, hoje Kerala produz 90% da borracha indiana. A influência fincou raízes na cultura. Estabelecimentos comerciais têm nomes portugueses, como as pousadas Linda e Casa Maria. O idioma local, malayalam, tem palavras como janela, cadeira e capela. Aliás, existem capelas e igrejas por todo lado. Na de São Francisco de Assis, onde Vasco da Gama foi enterrado, há um brasão do clube carioca homônimo. O futebol goza de um carinho especial nesse canto do país do críquete. Campinhos de várzea são ocupados nos fins de semana. Quem joga muito bem é chamado de Pelé. Motoristas de autorriquixá, aquele característico meio de transporte de três rodas asiático, acompanham a carreira de Neymar. A torcida por ele é tanta que a população local se solidarizou com sua contusão na Copa. Em julho, o ministro da Saúde da Índia chegou a ser contatado por médicos de Kerala, que estudaram o caso para oferecer um tratamento de medicina ayurvédica ao jogador. Uma vértebra fraturada que deixa esses indianos ainda mais brasileiros. VÁ - Há voos de São Paulo e Rio para Cochin. Se estiver em outro lugar da Índia, o trem é boa opção. QUANDO - De dezembro a fevereiro, com menos chuvas e menos calor. Ou de junho a agosto, quando as monções deixam a região mais verde. ESTE MÊS NESTE PLANETA 42°51’ N 83°18' O CULTO À MÁQUINA Trinta mil veículos clássicos atraem fãs ao Woodward Dream Cruise, em Detroit. Criado em 1995, o evento resiste à decadência da capital do carro dos EUA. Dias 15 a 17. 52°37' N 4°88' L ORGULHO GAY Amsterdã tem uma das festas mais exuberantes do tipo no mundo, atraindo públicos homo e heterossexuais. A parada, dia 2, passa por vários pontos turísticos da cidade. De 26/7 a 3/8. UM MOMENTO 3/8,19H Início da Fiestade la Vendimia, que celebra a colheita de uvas no Vale de Guadalupe, a "Toscana mexicana", segundo o chef-celebridade Anthony Bourdain. Sim, a terra da tequila também tem vinho. 100 TON de tomates são atirados e esmagados na Tomatina, em Buñol, Espanha. Desde 1945 as pessoas se reúnem nessa monumental guerra de comida. Dia 27. QUE LUGAR É ESSE? 1- Monarquia formada por sultanatos. 2- Famosa pela produção de eletrônicos. 3- Foi ocupada por vários europeus no passado. RESPOSTA: Malásia, cuja economia se modernizou nos anos 90, teve ocupação de portugueses, ingleses e holandeses entre os séculos 16 e 18. 1#14 ORÁCULO EDIÇÃO Felipe van Deursen VACAS MOLHADAS OLHAM O VENTO PASSAR Mas se elas estivessem na Antártida e voltassem de metro, ficariam fedidas até essa frase fazer sentido. BABA CÓSMICA Por que tem pessoas que quando estão dormindo babam como um bovino? SOTERO V. M. FILHO, RECIFE, PE Normalmente, tais humanos respiram pela boca e têm problemas que dificultam o engolimento da saliva. Por exemplo, fulano pode ter arcada dentária muito fechada, sem espaço para a língua. Assim, ele dorme de boca aberta e com o órgão despencando para fora - ajudando na hidratação dos ácaros do travesseiro. BRAÇOS, POR QUE Tê-LOS? Quem nasce sem braço terá pelos nas axilas? LAURA NOGUEIRA, INDAIATUBA, SP Sim, porque a pessoa ainda terá parte da axila, já que ela é a junção do tórax com o braço. Então a região da axila que fica no tronco terá pelos. Só não tem axila quem não tem, além do braço, o ombro e uma parte do tórax. Entre aqueles que têm braço, de maneira geral, só não tem pelos nas axilas quem não quer. Caso dos spornsexuals, os novos metrossexuais, sujeitos hipervaidosos cujo ícone supremo atende pelo nome Cristiano Ronaldo. BOI BIRUTA Oráculo gateeeenho, é verdade que as vacas dizem a direção do vento? Passei uma viagem toda olhando as bundas delas (que animador) e vi que 80% estavam com o traseiro contra o vento. TATIANE PIRES, SÃO PAULO, SP Você está certeenha: elas tendem a ficar com o rabo contra o vento, que eriça os pelos para facilitar a troca de calor com o ambiente. Em geral, vacas se sentem confortáveis com o termômetro a 20 °C. NOMENCLATURA DESVAIRADA Guru, no metrô de São Paulo, por que a estação Consolação fica na Paulista e a estação Paulista fica na Consolação? DAVI SCHMITZ, DIADEMA, SP Porque a estação Consolação é mais velha e o Metro não quis trocar os nomes para não atrapalhar quem estava acostumado. Inaugurada em 1991, a Consolação fica na Avenida Paulista, perto da rua homônima. Em 2010, a Rua da Consolação ganhou a estação Paulista, próxima à esquina com a via famosa. E assim ficou, apesar de estações já terem mudado de nome antes. Tipo a Armênia, que era PONTE PEQUENA. Os turistas piram. OUTRAS COISAS QUE MUDARAM DE NOME 1- RDC - Colonial Congo Belga, ditatorial Zaire, atual República Democrática do Congo. 2- LOLLO - Hit da molecada dos anos 80. Foi Milkybar. Voltou Lollo e deixou os trintões alegres. 3- PRINCE – Artista antigamente conhecido como Prince, virou ¥, hoje é Prince. Dizem. 3- CUPCAKE - Termo culinário usado desde o século 19 para algo que no Brasil até 2010 se chamava bolinho. BIZZ DAS ANTIGAS Oráculo, cuja eficiência em relatar o saber intriga até quem se considera um gênio, tirai essa dúvida que há tempos mexe com minha mente fanática por música: quem é o primeiro músico da história? - BRUNO LIMA, RIO DE JANEIRO, RJ O homem faz música desde pelo menos a invenção da flauta de osso, há 35 mil anos. Mas a primeira pessoa a registrar em papel uma música foi Qiugong, no século 6. Esse chinês tocava uma espécie de cítara e teria transcrito a peça Jieshi Diao Youlan. Cerca de 1.200 anos antes, Pitágoras, o grego do teorema, já estudava música: ele chegou a inventar uma afinação de instrumentos. Agora, o primeiro astro cultuado da música surgiu só no século 19, quando o húngaro Franz Liszt inspirou a histeria coletiva chamada Lizstomania - 170 anos antes de Justin Bieber. Por que, quando a chuva molha as roupas limpas no varal, elas ficam com um odor horrível? - TELMI FARIAS JÚNIOR, BACABAL, MA A culpa é da umidade. O biomédico Roberto Figueiredo, meu grande discípulo conhecido como Dr. Bactéria, lembra que umidade é o ambiente perfeito para o crescimento de fungos que deixam aquele fedor. Para evitar cheirinho de cachorro molhado, use VINAGRE BRANCO. Ao secar, coloque um ventilador na direção do varal. E depois passe com o ferro no nível máximo. Se depois disso as roupas continuarem fedendo, certifique-se de que sua casa não foi erguida sobre um cemitério de gambás. QUER QUE DESENHE? Estava lendo sobre expedições antárticas e fiquei com uma dúvida: por que os Vales de McMurdo são secos? GUILHERME MAIA, RIO DE JANEIRO, RJ 1- O vale é a maior área relativamente livre de gelo da Antártida - e nevar não muda o cenário. 2- Isso porque o ambiente é muito salino. O Lago Vida, o maior da região, é seis vezes mais salgado que o mar. Essa alta salinidade suga a umidade da região. 3- E o vale é insólito: esse sal ainda causa sublimação (passagem da água do estado sólido direto ao gasoso). PÁPUM Quanta comida cabe no estômago? - ENRIQUE LEANDRO, FOZ DO IGUAÇU, PR De 2 a 4 kg, dependendo da pessoa. Quanto maior a pança, maior o estômago, por supuesto. NÚMERO INCRÍVEL 200 ML De vinagre branco a cada 5 litros de água ao lavar roupa ajudam a evitar cheiro de umidade. OUTRO DADO (IR)RELEVANTE SEM NENHUMA LIGAÇÃO 200 ML De pus no útero tinha uma gata na Índia. Ela foi operada e passa bem. O caso ganhou destaque na mídia local. PERGUNTE AO ORÁCULO! Escreva para superleitor@abril.com.br com o assunto "Oráculo" e mencione sua cidade e Estado. 1#15 CONEXÕES – DE BLACK SABBATH A BLACK BLOC TEXTO Rodolfo Viana BLACK SABBATH Nome original do filme As Três Máscaras do Terror, de 1963. Inspirou quatro jovens de Aston, Inglaterra, a mudar o nome de sua então desconhecida banda. Em 1971, já famoso, o Black Sabbath lançou um de seus clássicos... WAR PIGS Canção que originalmente se chamava Walpurgis, em referência a uma antiga celebração às bruxas. Mudou de nome a pedido da gravadora Vertigo. Segundo o baixista Geezer Butler, autor da letra, a música é, na verdade, um manifesto contra a... GUERRA DO VIETNÃ Conflito entre o Vietnã do Norte e o Vietnã do Sul. Os EUA eram aliados do Sul, e entraram na guerra em 1965. Saíram derrotados, e o fiasco gerou uma perda de credibilidade americana em guerras, conhecida como Síndrome do Vietnã, termo criado por... RONALDREAGAN Ex-presidente dos EUA. Em 1987, viajou à dividida Alemanha para se encontrar com o líder soviético Mikhail Gorbachev. Na reunião, propôs a derrubada do Muro de Berlim. A viagem foi marcada por manifestantes adeptos da tática... BLACK BLOC Tipo de protesto em que pessoas mascaradas se agrupam para atacar a propriedade privada. Presente nas manifestações de 2013, os mascarados assustaram alguns e chamaram a atenção de muitos. Como o Black Sabbath. 1#16 ESSENCIAL – A CBF TEM QUE ACABAR A inépcia brasileira para tornar-se mais do que um mero fornecedor de matéria-prima vai da economia ao futebol. Saiba por que uma reforma na CBF é fundamental para resolver esse problema. TEXTO Alexandre Versignassi e Guilherme Pavarin O PORTO DE SANTOS É A CAFETEIRA DO MUNDO: Um terço do café tomado na Terra passa por ali, numa jornada que começa nas fazendas do Brasil e termina nas xícaras de Madri, Milão, Moscou, Kiev... Não só nas xícaras. O maior comprador do nosso estimulante preto, ao lado dos EUA, é a Alemanha. Mas eles não tomam tudo. Revendem uma parte razoável, porque é um negocião; os alemães pagam mais ou menos R$ 400 em cada saca de 60 quilos e reexportam para o resto da Europa por R$ 800. Sem industrializar nada, só revendendo café "cru" mesmo, do jeito que ele sai das roças daqui. Não é malandragem, é logística: eles podem fazer isso graças à sua malha ferroviária cheia de tentáculos, veias e artérias. Reexportar dali para o resto da Europa é fácil. Num ano típico, os caras importam 18 milhões de sacas e revendem 12 milhões. Isso faz da Alemanha o terceiro maior exportador de café do mundo, atrás apenas do Brasil e do Vietnã. Tudo sem nunca ter plantado um pé de café. Tem mais. Das 6 milhões de sacas que ficam dentro da Alemanha, uma parte vai para Schwerin, uma cidadezinha de conto de fadas perto da fronteira com a Dinamarca. Por lá, os grãos brasileiros reencarnam na forma de cápsulas de Nespresso. E ganham preços que até outro dia só eram praticados no mercado de outro estimulante - branco. Um quilo dessas cápsulas acaba saindo por R$ 400 no varejo, quase 70 vezes o quilo do café cru. 70 X 1 para a Alemanha. No futebol é parecido. Exportamos o material cru, os atletas jovens, e importamos o produto acabado - não exatamente os jogadores, porque quando eles voltam geralmente estão é acabados mesmo. O que a gente compra é o espetáculo. Por mais que ninguém torça de verdade por um Real Madrid ou por um Bayern, todo mundo entende que o futebol para valer está lá fora, e que o Campeonato Brasileiro, na prática, é só uma série B do futebol mundial. Uma segunda divisão que alimenta a primeira com uma voracidade extrativista. O Brasil é o maior exportador mundial de jogadores, ao lado da Argentina. Vende por volta de 1.500 atletas/ano. Não faz sentido. Guido Mantega à parte, ainda estamos entre as dez maiores economias do planeta, à frente de destinos futebolísticos consagrados, como a Espanha e a Itália. Mesmo assim, nosso futebol não tem força econômica para reter pé-de-obra, e não para de ceder atletas para Madri, Milão, Moscou... E Kiev. Até para a Ucrânia, que tem um PIB menor que o da cidade de São Paulo, a gente perde jogadores. Entre os atletas menos estrelados é pior ainda. Se o cara não consegue vaga nos times grandes daqui, qualquer tralha leva: Chipre, Malta, Bulgária... Em 2013, 20 foram para o Vietnã, e dois ajudaram a engrossar a população das Ilhas Faroe, que tem 50 mil habitantes e PIB menor que o de Matão, uma cidade no interior de São Paulo (R$ 5 bilhões). Até os 7 X 1, o único patrimônio realmente sólido do futebol nacional era a seleção. Sólido e lucrativo: a CBF faturou R$ 478 milhões com o time nacional em 2013. Só o patrocínio da camisa de treinos do time trouxe R$ 120 milhões. A Alemanha, segunda colocada nesse ranking, só levantou R$ 40 milhões com a dela. A Argentina, com Messi e tudo, R$ 10 milhões. A CBF ganha dinheiro. Muito. E isso deveria ser bom. Mas não adianta nada, porque gastam quase tudo na própria manutenção da CBF. A primeira medida de José Maria Marin à frente da entidade foi aumentar o próprio salário. Ele passou a ganhar R$ 160 mil por mês, mais um chorinho de R$ 110 mil pelos seus serviços como chefe do COL (o Comitê Organizador Local da Copa). Salário de jogador, só que sem o incômodo de jogar. Ou de trabalhar. De concreto mesmo, o que a CBF fez nos últimos anos foi reformar os três campos da Granja Comari para a seleção treinar. Enquanto isso, a Deutscher Fussball Bund (DFB, a CBF da Alemanha) construiu mil campinhos para crianças e 307 centros de treinamento, para reforçar a formação de jogadores. É o dinheiro da seleção alemã custeando o futuro do futebol alemão. E custou só R$ 105 milhões - menos de um quarto do faturamento da CBF em um ano. Faturamento que promete secar. Depois dos 7X1, o gaúcho de bigode sumiu dos comerciais da Ambev. O Itaú deixou de pedir para o Brasil amarrar o amor na chuteira. Claro: o maior banco da América Latina e a maior cervejaria do mundo, patrocinadores tradicionais da CBF, não podem se dar ao luxo de ligar sua imagem à de um bando de zumbis de olhos vermelhos e expressão de terror na cara. A CBF pode até não ter matado essa galinha dos ovos de ouro. Mas que colocou ela na UTI, colocou. Junto com o resto do nosso futebol. Os 13 maiores clubes do País somam R$ 4,7 bilhões em dívidas. Tudo fruto de um péssimo gerenciamento, cuja inspiração vem lá de cima, da Confederação Brasileira de Futebol. Por essas, qualquer solução para o esporte passa pelo fim da CBF. Pelo fim do modelo atual, pelo menos. A entidade, hoje, é tão democrática quanto um feudo do século 13. Só existem 47 votantes para a presidência - 20 clubes da série A mais 27 federações estaduais. Ou seja: um colégio eleitoral altamente manipulável, que garante reeleições eternas para quem estiver lá em cima. Num artigo recente para a Folha de S. Paulo, o jogador Paulo André definiu bem a situação: acusou a CBF de explorar de forma ditatorial um bem que pertence a todos os brasileiros, o futebol. Paulo, que é o líder do Bom Senso F.C., o grupo de atletas que tenta melhorar a administração da bola, aposta na democratização. Isso significa ampliar o número de eleitores para a presidência da entidade, dando direito de voto a todos os jogadores e clubes do Brasil. Não seria a salvação imediata da lavoura, mas representaria um passo fundamental para sairmos da Idade Média no futebol - e, quem sabe, deixarmos de ser mera colônia extrativista de atletas. Se isso acontecer um dia, que sirva de inspiração para a própria economia do País. Porque é dela que as nossas vidas realmente dependem. Chega de goleada. ____________________________________ 2# REPORTAGENS agosto 2014 2#1 CAPA – VERDADES INCONVENIENTES SOBRE ASTROLOGIA 2#2 SAÚDE – AIDS – DO PACIENTE ZERO AOS 70 MILHÕES 2#3 INTERNET – ALI BABÁ 2#4 HISTÓRIA – MEMÓRIAS DO SUBSOLO 2#5 MUNDO – A VOLTA DO WORLD TRADE CENTER 2#6 GUERRA – NAÇÕES ARMADAS 2#7 CIDADES – A BATALHA DO ESTELITA 2#8 ZOOM – PAZ DE ALÁ 2#1 CAPA – VERDADES INCONVENIENTES SOBRE ASTROLOGIA A ciência prova: não há relação entre o passeio dos astros e a sua vida. Então por que a crença no zodíaco só cresce? Por que tanta gente ainda consulta o horóscopo? A verdade é que a astrologia funciona, sim. Mas não como você imagina. TEXTO Karin Hueck DESIGN Jorge Oliveira ILUSTRAÇÃO Lott EDIÇÃO Emiliano Urbim OS FÃS ESTAVAM INCONSOLÁVEIS. Quando Susan Miller, a astróloga mais popular do mundo, contraiu uma infecção intestinal no final de abril, milhões de seguidores ao redor do planeta ficaram sem futuro. Susan atrasou as previsões para maio e gerou comoção internacional. "Melhoras, Susan Miller!", desejavam os leitores americanos nas redes sociais. Veículos brasileiros cobriram a doença da astróloga como se fosse uma celebridade local, enquanto ela tuitava boletins de hora em hora sobre seu estado de saúde: "Preciso dormir. Estou trabalhando na previsão para Aquário, amanhã terminarei Peixes. Estou muito cansada para continuar, me sinto muito fraca. Eu não vou desistir". Mesmo se você não acredita em horóscopo já deve ter ouvido falar em Susan Miller. Ela não é qualquer uma: seus horóscopos gratuitos atraem 6,5 milhões de visitas ao mês, aparecem em dezenas de publicações e permitiram que ela escrevesse nove livros sobre o assunto. Se você curte astrologia, provavelmente é fã - suas leituras são famosas por serem precisas, a ponto de indicarem datas propícias para comprar eletrônicos ou cortar o cabelo. Ela é tão eficiente que, já em janeiro deste ano, havia alertado para o mês catastrófico que abril seria, com um eclipse lunar monstruoso em 15/4. Não deu outra; numa profecia autorrealizável, Susan Miller quase morreu com o que ela mesma previu. A astrologia é imensamente popular. No Ocidente, estima-se que uma em cada quatro pessoas acreditem no poder dos astros. De acordo com uma pesquisa da Fundação Nacional de Ciência dos EUA, em 2012 metade dos americanos afirmou que astrologia tinha base científica, o número mais alto desde 1983. Isso pode explicar o sucesso de figuras como Susan Miller nos últimos anos, e o aumento na procura por mapas astrais e consultas a astrólogos. A crença de que o movimento dos corpos celestes não apenas influencia as nossas vidas, como pode prever nosso futuro, vai bem, obrigada. O sucesso da astrologia não é de ontem. Nem de anteontem. Ele tem raízes profundas nas origens do conhecimento humano. A CULPA É DAS ESTRELAS Roma, meia-noite de 17 para 18 de setembro do ano 96 d.C. O imperador Domiciano se virava na cama coberto de suor, ansioso demais para dormir. De acordo com uma previsão astrológica feita quando ele ainda era garoto, a hora do seu fim estava próxima: às cinco da manhã ele estaria morto, vítima de uma facada fatal. Domiciano levantou e tentou manter a calma. Lembrou-se da vez em que tentou provar que astrologia era bobagem, quando chamou à sua corte o astrólogo Ascletário e ordenou: "Adivinhe a causa de sua própria morte". Ascletário consultou os planetas e concluiu que acabaria comido por cachorros. Para contradizer a previsão e mostrar que estava no controle, Domiciano o matou ali mesmo e mandou seu corpo para a pira funerária. O que o imperador não esperava é que cachorros acabariam atraídos pelo cheiro de carne queimada e devorariam os restos mortais de Ascletário - como ele previra. Daí a insônia de Domiciano. Quando o sol raiou, perguntou o horário. Seis horas. Respirou aliviado: tinha sobrevivido à profecia! Animado, recebeu um amigo que trazia uma mensagem. Enquando lia o recado, Domiciano foi esfaqueado pelo amigo e morreu. Eram cinco da manhã. Um conspirador havia mentido sobre as horas. Claro que nem todas as previsões astrológicas da história são tão precisas quanto essa. O causo da morte de Domiciano pode ter sido embelezado ao longo dos séculos para ficar mais redondinho. Mas o que dá para apreender daí é a importância que os astros tinham na vida das pessoas nos milênios passados. A astrologia que usamos hoje em dia teve origem na Mesopotâmia, atual Iraque, e depois foi adaptada pela Grécia Antiga e utilizada por toda a Europa. Setecentos anos antes de Cristo, os babilônios já haviam analisado os movimentos dos corpos celestes para determinar quais constelações faziam parte do zodíaco (o arco que o Sol faz no céu ao longo de um ano), quais pontos brilhantes eram as estrelas fixas e os planetas móveis, quais planetas surgiam a cada mudança de estação do ano, e por aí vai. Dessa forma, já haviam também preparado o terreno para o que usaríamos até hoje. Astrologia vem do grego: "astro" = estrelas e "logos" = palavra. Ou seja, é a mensagem que as estrelas passam para nós. Durante muito tempo, astrologia e astronomia (a "lei das estrelas") eram conceitos intercambiáveis - quem estudava um também manjava do outro. Johannes Kepler, descobridor das leis que regem a mecânica dos planetas, um feito astronómico, ganhava a vida fazendo mapa astral no século 16. Desde o final do século 17, no entanto, os dois ramos do conhecimento caminham separados. Hoje, a astronomia é a ciência que estuda o Universo com base em regras matemáticas - e não aceita a ideia de que os planetas possam ter qualquer relação com nossa vida. Sim, porque a lógica da astrologia todo mundo conhece: de acordo com ela, a posição dos corpos celestes na hora do nascimento influencia as pessoas aqui na Terra e, de quebra, ainda pode servir para prever o futuro. "O mapa astral de uma pessoa é a roupa de mergulho que ela recebe para mergulhar na vida", define o psicólogo e historiador Jeffrey Armstrong, guru astrológico de empresas do Vale do Silício. "Ele descreve com que embalagem - quais são as fraquezas e quais são os pontos fortes - alguém vai atravessar sua trajetória." É bom entender que os babilônios não tiraram essa noção do nada: segundo o que podiam observar, os planetas - que, para eles, incluía o Sol e a Lua - realmente tinham ligação com a nossa vida. A posição do Sol, por exemplo, de fato influencia o dia a dia dos seres humanos. Se ele está distante, é inverno, o clima esfria e coisas básicas como um banho de piscina ou uma boa colheita ficam impossibilitadas. Se o Sol estiver perto, o clima esquenta. O mesmo vale para a Lua, que controla o movimento das marés. Para um babilônio, nada indicava que outros corpos celestes não pudessem ter a mesma influência física sobre nós. Ou seja, a ideia original da astrologia fazia sentido para o conhecimento disponível na época. Também fazia sentido tentar desvendar o futuro. Em um mundo incerto e amedrontador como o dos primórdios da civilização, qualquer forma de descobrir o que estava por vir podia significar a diferença entre a vida e a morte. A astrologia ajudava as pessoas a tomarem decisões, como quando partir para uma viagem, semear a colheita ou entrar em guerra. Isso era feito a partir do reconhecimento de padrões. Marte surgiu no horizonte no dia em que uma grande enchente aconteceu? Um sinal. A Lua estava minguante quando a batalha foi vencida? Um padrão. Ao longo de centenas de anos de observação, as coisas do céu foram ganhando sentido terreno. Para os babilônios e outros povos que procuraram respostas no alto, era como se os planetas estivessem enviando sinais. Daí o nome: signos. Curiosamente, analisar as estrelas não era a única ciência usada para prever o futuro. O historiador Peter Maxwell Stuart, da Universidade de St. Andrews, na Escócia, descreve em seu livro Astrology (sem edição brasileira) que os babilônios também acreditavam que recém-nascidos trouxessem recados sobre o futuro. Se uma mulher desse à luz um anão, a casa da família seria destruída; se parisse uma criança cega, aumentavam as chances de alterações climáticas. Especialistas analisavam as entranhas de animais sacrificados para tentar relacioná-las ao futuro: se o fígado do animal tivesse protuberâncias, era um presságio de anarquia no reinado. Ou seja, escapamos por pouco de ficar revirando miúdos de galinha para fazer previsões. O interessante é entender como os babilônios traçaram as regras gerais para a sua - e a nossa - astrologia. Primeiro, pegaram um conhecimento histórico antiquíssimo, provavelmente ainda da Idade do Bronze (cerca de 3000 a.C.), que era a divisão do céu em grupos de estrelas - as constelações. Vale lembrar que as constelações não fazem sentido físico - as estrelas podem estar próximas vistas aqui da Terra, mas situam-se a milhares de anos-luz umas das outras. O que os antigos fizeram foi ligar os pontos desses conjuntos imaginários em formatos que se parecem levemente com alguma coisa aqui da Terra - um leão, uma cobra, uma balança etc. É como enxergar figuras em nuvens. Em seguida, os babilônios analisaram o caminho do Sol no céu, e observaram que ao longo de um ano ele passava por aproximadamente 12 constelações (eram 13, na verdade, mas arredondaram para a conta ficar mais fácil). Assim, dividiram o céu em 12 faixas de 30 graus, para fechar os 360 graus de um círculo. Cada uma dessas faixas é o que chamamos de signo. Como era de se esperar, o Sol não passa exatamente um mês em cada constelação: fica 45 dias em Virgem, por exemplo, e só sete dias em Escorpião - deram uma arredondada aqui também. Ou seja, a astrologia analisa a passagem do Sol, da Lua e dos planetas em frente a constelações aleatórias, formadas por estrelas aleatórias, divididas aleatoriamente em 12 faixas de aleatórios 30 dias de duração cada, a partir de um ponto de vista aleatório no espaço: o nosso minúsculo planetinha Terra. (Entenda mais no quadro da página 34). Na prática, é como se formigas tentassem prever se vão ser esmagadas a partir do padrão das ranhuras na sola dos nossos sapatos, a única coisa que elas conseguem enxergar. Levando em conta essa aleatoriedade toda, dá para entender por que a ciência moderna tem tantas críticas em relação à astrologia - o que não quer dizer que ela não sirva para nada. Mas vamos por partes. INFERNO ASTRAL Desde os anos 50, cientistas tentam provar a eficiência das leituras astrológicas - e os resultados não foram muito animadores. O mais famoso dos estudos, publicado na revista Nature ainda nos anos 80, pedia que pessoas tentassem reconhecer seu mapa astral a partir de três opções disponíveis. A performance foi abaixo da esperada: só um terço das pessoas acertou qual era o seu - exatamente o mesmo resultado que um sorteio daria. Fatores como propensão a suicídio, inteligência, taxa de divórcio, extroversão e sucesso também foram analisados em dezenas de estudos, mas a conclusão é sempre a mesma: não há correlação nenhuma entre a propensão a uma coisa e os dados astrológicos. Pensando nisso, o holandês Rob Nanninga resolveu dar uma chance aos próprios astrólogos de desenvolver um teste à prova de falhas. O desafio era acertar a profissão de sete voluntários, baseado em seus dados astrais (data, local e hora de nascimento) e um questionário - que os próprios astrólogos puderam desenvolver. Para ficar mais fácil, as sete profissões também foram disponibilizadas de maneira que o trabalho era apenas atribuir a carreira certa a cada voluntário. Cinquenta astrólogos ajudaram a desenvolver o questionário, que acabou ficando com 25 perguntas pessoais e 24 perguntas de personalidade. A pedido dos astrólogos, datas importantes dos voluntários (casamento, divórcio, nascimento dos filhos etc.) também ficaram à disposição. Com todas essas informações em mãos, os 50 especialistas - alguns dos mais experientes da Holanda - tiveram dez semanas para chegar às suas correlações. Os resultados foram frustrantes. Nenhum astrólogo conseguiu relacionar mais de três pessoas a suas profissões, e metade não acertou nem umazinha. Mais do que isso: apenas dois astrólogos concordaram entre si - o resto escolheu combinações completamente diferentes umas das outras, indicando que nem os próprios especialistas concordavam na interpretação dos astros. De novo, o resultado final não foi diferente do que se as relações tivessem sido sorteadas no bingo. Hoje, se você perguntar a qualquer cientista, ele vai ser enfático em descreditar a astrologia sem nem se preocupar em ser delicado. "É claro que ela não funciona. Ela é um retrocesso à Idade Média. Você gostaria de se tratar com a medicina ou a odontologia de 500 anos atrás? É óbvio que não", diz Michael Shermer, fundador da Skeptics Society (Sociedade dos Céticos) e "inimigo" do obscurantismo. Para a ciência, o problema está na própria premissa da atividade: a de que haveria influência dos planetas sobre os seres humanos. De fato, todos os corpos no Universo exercem algum tipo de gravidade sobre outros. O problema é que os planetas estão imensamente distantes de nós, longe demais para que possa haver alguma influência. Do ponto de vista das forças gravitacionais, a passagem do Sol pela constelação de Aquário na hora do nascimento, por exemplo, é absolutamente irrelevante. Ou, como disse o biólogo e escritor Richard Dawkins em um artigo: "Um planeta está tão distante de nós que sua atração gravitacional sobre um recém-nascido seria anulada perto da atração gravitacional causada pelo tapa do médico". Outro problema básico para testar os mapas astrais está nos fundos falsos que a astrologia oferece. Ela é flexível demais para ser testada em laboratório. Se alguém nascido em Escorpião não se identificar com a descrição do seu signo, por exemplo, astrólogos dirão que é por causa do ascendente. E, se não for o ascendente, será a Lua. Se não, o planeta na sétima casa, ou o retorno de Saturno, ou a fase da vida, ou qualquer coisa que o valha. Com tantas possibilidades de interpretação, é quase impossível provar que a astrologia está errada - pelo menos uma das opções vai estar certa. O mesmo problema surge nas formulações que ela oferece. Peguemos Susan Miller para Gêmeos no mês de junho: "luas novas abrem portas, e oportunidades surgirão para você" ou "a lua nova na primeira casa é um sinal de que você deveria estar pensando nas suas próprias necessidades" ou "você vai ter de trabalhar duro para entender uma nova tarefa que vai ser atribuída a você". Com previsões tão abertas, fica difícil não se identificar com elas. O astrônomo Stephen Hawking, no livro O Universo na Casca de Noz, descreveu o problema: "Astrólogos sabiamente fazem previsões tão vagas que podem ser aplicadas para qualquer acontecimento". Ou seja, não servem nem para serem provadas falsas. Há problemas também na forma como as pessoas se relacionam com a astrologia. O primeiro perigo é levá-la a sério demais, deixando que leituras astrológicas determinem suas escolhas ou os futuros pretendentes amorosos - "Eu jamais namoraria um aquariano", por exemplo. O segundo está na maneira como a astrologia encaixa as pessoas em algumas formas muito específicas. "Você só pode ser escorpião/aquário/leão, sendo desse jeito" ou "isso é tão touro/peixes/virgem" são frases que todo mundo já ouviu em relação a seu signo. O perigo aqui está em classificar as pessoas em fórmulas prontas antes mesmo de conhecê-las, numa espécie de preconceito astrológico. Se a humanidade está há décadas lutando contra o racismo e o machismo, por que deveríamos incentivar uma atividade que tenta categorizar as pessoas de acordo com seu horário e local de nascimento? POR QUE VOCÊ ACREDITA Então por que tanta gente continua acreditando na astrologia se ela não tem nenhuma base científica? Primeiro, é importante traçar o perfil das pessoas que buscam a astrologia. Ao contrário do que cientistas podem fazer parecer, não se trata de pessoas desinformadas que vivem na Era das Trevas. Segundo o psicólogo australiano Harvey Irwin, seguidores de astrologia são tão inteligentes, críticos e ajustados quanto o resto da população. Se há alguma diferença entre os dois grupos, ela fica na criatividade - maior entre quem acredita na influência dos astros do que nos outros. "A literatura indica que a crença na paranormalidade tem relação com personalidades criativas", escreve Irwin. A pergunta a ser feita então é outra: como é possível que tanta gente saia satisfeita das leituras de seus mapas astrais, se a ciência já provou que eles não têm nenhuma relação com a verdade? Não é muita coincidência que capricornianos se considerem centrados e racionais justamente como o signo deles diz que eles devem ser? Boa parte disso tem a ver com o próprio cérebro humano. Quem explica é o cético Michael Shermer. Para ele, a astrologia acerta nas previsões por causa de dois mecanismos psicológicos que todos nós temos: o viés de confirmação e o viés de retrospectiva. O primeiro descreve a nossa tendência a preferir informações que combinem com aquilo que já sabemos ou acreditamos. Isso explica, por exemplo, a grande identificação que sentimos quando lemos as características dos nossos signos. Como canceriana, lembro sempre da minha descrição como pessoa "sensível e artística", mas ignoro que também deveria ser "possessiva e chorona". Ou seja, reforço apenas as qualidades que quero que sejam verdadeiras. Já o viés de retrospectiva explica por que nos lembramos com mais facilidade dos acertos do que dos erros. Se Susan Miller disser que você fará uma viagem nas próximas semanas e isso de fato acontecer, você vai se lembrar de que ela acertou. E provavelmente vai esquecer que ela também havia previsto um aumento de salário, uma mudança de casa e uma briga com familiares. "Pessoas encaixam suas vidas nas previsões astrológicas, e não o contrário Elas fazem as leituras vagas confirmarem os acontecimentos depois que eles ocorreram", diz Shermer. O mesmo acontece em qualquer outro aspecto da vida. Você provavelmente se lembra muito mais dos palpites certeiros que deu no bolão da Copa do que da maioria dos erros que passaram batidos. Graças a esses dois mecanismos cerebrais, pessoas têm a impressão que a astrologia acerta na mosca. De acordo com o que elas conseguem se lembrar, as descrições astrológicas estavam realmente certas. Isso leva a situações curiosas, como mostrou nos anos 60 o francês Michel Gauquelin. Para provar que o ser humano adora ler descrições de sua personalidade, enviou a 500 pessoas a interpretação de um mapa astral que supostamente as descrevia. O texto tinha frases como "você é caloroso", "organizado" e "totalmente dedicado aos outros". Resultado: 94% dos participantes disseram se identificar com elas. O que eles não sabiam é que todas haviam recebido o mesmo texto, baseado no mapa astral de um serial killer com 27 mortes no currículo. Mas o principal motivo pelo qual a astrologia satisfaz seus seguidores é outro. Quem consulta um astrólogo geralmente está com alguma inquietação e gostaria de saber o que os planetas têm a dizer sobre isso. As incertezas costumam ser de cunho existencial: grandes decisões, tristezas, desilusões amorosas. Nessa hora, alguns céticos concluem que é melhor consultar os astros e tomar uma decisão do que não acreditar e continuar incapaz de decidir. O astrólogo então reserva uma hora do seu tempo para entender o que está acontecendo, faz perguntas pessoais, entende o perfil psicológico do cliente. Só depois ele passa a ajudar a pessoa a lidar com os seus problemas. Todos os astrólogos consultados para esta reportagem conversaram longamente comigo e se preocuparam em saber quem eu era para tentar me ajudar. Posso confirmar que apresentaram habilidades interpessoais acima da média. Para eles, os muitos fundos falsos da astrologia - a leitura do signo, do ascendente, da Lua, os planeta espalhados pelas casas - são úteis. Servem como ferramentas para traçar o perfil psicológico das pessoas porque abarcam as mil facetas do ser humano. Todo mundo é um pouco sensível, um pouco racional, um pouco impulsivo, um pouco teimoso - e, para a astrologia, isso pode se manifestar no signo, no ascendente, na Lua. As milhares de possibilidades de interpretação ajudam o astrólogo a ajudar quem o procura. Assim, as leituras de mapas astrais são muito mais parecidas com sessões de terapia do que com consultas médicas. De fato, há diversos psicólogos que se utilizam dos preceitos astrológicos para desenvolver as suas sessões, como um ticket de entrada para a mente do paciente. Eis aí outro mérito da astrologia: ela pode servir como uma ferramenta para o autoconhecimento - mesmo que os astros não signifiquem nada. MAS QUE FUNCIONA, FUNCIONA Quando foi a última vez que você parou para pensar na vida e ver se as escolhas que tomou ainda faziam sentido? A não ser que você faça terapia, esses momentos de investigação interna são raros. Nesse sentido, a astrologia vira um tipo de conforto emocional que ainda fornece pitacos para inspirar uma autoavaliação da vida. "A astrologia é uma ferramenta para a gente se compreender melhor. O objetivo é ampliar a consciência da pessoa para que ela avalie o que quer fazer", diz o astrólogo Pedro Carvalho dos Santos, que há 12 anos orienta questões profissionais e de relacionamentos. Isso, é claro, não deve ser entendido como uma fórmula mágica. "A astrologia não prescinde do livre-arbítrio. Não pode ficar parado esperando acontecer o que os astros indicaram", diz Santos. Assim, a prática pode servir como um chacoalhão para botar a vida nos eixos. E ainda se vale da lógica da fé - funciona porque seus defensores acreditam nela. Com uma grande vantagem sobre as religiões: sem templos ou dogmas, a astrologia é maleável para qualquer pessoa se utilizar dela e moldá-la conforme seu gosto pessoal. Na verdade, muitos astrólogos modernos não estão preocupados em perder tempo tentando adaptar seu conhecimento ao método científico. Para eles, a relação entre sua atividade e as provas da ciência é muito menos importante do que os resultados pessoais que uma consulta astrológica pode trazer. De acordo com uma pesquisa feita pelo cientista social alemão Edgar Wunder com 135 astrólogos célebres, apenas 18% deles disseram acreditar na influência dos astros para seu trabalho. A maioria apontou outros fatores, como analogias ou mecanismos psicológicos, para o sucesso de suas leituras. São raros os astrólogos que defendem as fórmulas fáceis dos horóscopos diários. Para os estudiosos sérios, só o contato pessoal e uma conversa detalhada sobre o mapa astral podem ajudar a pessoa. O sujeito se sentiu acolhido e satisfeito com o que ouviu? Sentiu que a sessão ajudou? O objetivo foi cumprido - e pouco importa o que a ciência tem a dizer sobre isso. Fica claro também que a astrologia serve para alguma coisa - ajudar as pessoas a viverem suas vidas. O que não é pouca coisa. CONHEÇA SEU SIGNO REAL No zodíaco clássico, o Sol passa por 12 constelações e fica um mês em cada uma. Os babilônios arredondaram a conta: o Sol na verdade passa por 13 constelações a de Serpentário ficou de fora. ZODÍACO CLÁSSICO Capricórnio 22/12 a 20/1 Aquário 21/1 a 19/2 Peixes 20/2 a 20/3 Áries 21/3 a 20/4 Touro 21/4 a 20/5 Gêmeos 21/5 a 20/6 Câncer 21/6 a 21/7 Leão 22/7 a 22/8 Virgem 23/8 a 22/9 Libra 23/9 a 22/10 Escorpião 23/10 a 21/11 Sagitário 22/11 a 21/12 O ZODÍACO DA NASA A imagem acima compara o trajeto solar idealizado com o real. Repare que, claro, o sol não passa 30 dias em cada signo: a passagem varia de uma semana (Escorpião) a 45 dias (Virgem). Com essa mudança, veja se seu signo ainda é o mesmo. ZODÍACO CORRIGIDO Capricórnio 20/1 a 16/2 Aquário 16/2 a 11/3 Peixes 11/3 a 18/4 Áries 18/4 a 13/5 Touro 13/5 a 21/6 Gêmeos 21/6 a 20/7 Câncer 20/7 a 10/8 Leão 10/8 a 16/9 Virgem 16/9 a 30/10 Libra 30/10 a 23/11 Escorpião 23 a 29/11 Serpentário 29/11 a 17/12 Sagitário 17/12 a 20/01 TODO SIGNO JÁ FOI DEUS As características de cada signo foram tomadas emprestadas a partir do panteão de deuses babilônios. Cada planeta era relacionado a um deus, que por sua vez passou suas qualidades para os signos. Ao longo dos séculos, e quando a astrologia chegou à Grécia Antiga, os signos também foram ganhando as características dos deuses clássicos. ARIES 21/3 a 20/4 O signo de Aries herdou as características do deus babilônio Nergal, que regia as guerras e a morte. Era também o deus da destruição, o que pareceu adequado para relacioná-lo com Marte, o planeta vermelho, que em Roma era o deus da guerra. Por isso, até hoje arianos são considerados impulsivos, teimosos e cheios de atitude. Marte também regia Escorpião, mas foi trocado por Plutão com a descoberta dos novos planetas. TOURO 21/4 a 20/5 Foi a deusa babilônia Ishtar que deu todo o charme aos taurinos. Associada ao sexo, Ishtar regia as coisas do amor, da fertilidade e da prostituição. O planeta atribuído a ela era Vênus, que também era o nome da deusa do amor em Roma. Os atributos continuaram os mesmos: o amor e a beleza. De acordo com a astrologia moderna, taurinos até hoje são guiados pelo prazer. GÊMEOS 21/5 a 20/6 Para os assírios e mesopotâmios, Nabu era o deus da sabedoria, do conhecimento e da escrita. Ele também cuidava do futuro da humanidade. Nabu era associado ao planeta Mercúrio, que foi nomeado a partir do deus romano de mesmo nome, patrono da comunicação. Por isso, geminianos, regidos por Mercúrio, também são comunicativos e gostam de aprender CÂNCER 21/6 a 21/7 Nanna era o deus babilônio da Lua e o chefe do panteão. Na Europa, passou por uma troca de sexo mitológica: sendo atribuída a uma deusa feminina Artemis (Grécia) ou Diana (Roma). Foi aí que ganhou as características que até hoje são conhecidas do signo de Câncer, regido pela Lua: pessoas sensíveis, emotivas e maternais. LEÃO 22/7 a 22/8 O deus-sol babilônio, Shamash, era o patrono das leis. Sua luz trazia à tona – e acabava com – as injustiças. Essa característica persistiu no signo de Leão. Além disso, leoninos, assim como o Sol, são notáveis por quererem ser o centro das atenções. VIRGEM 23/8 a 22/9 Virgem mistura atributos de Nabu, deus babilônio da sabedoria, e do grego Hermes, o patrono dos viajantes, artesãos e oradores (chamado pelos romanos de Mercúrio – que, aliás, era o planeta de Virgem). Virginianos seriam detalhistas, curiosos e cuidadosos. LIBRA 23/9 a 22/10 Libra divide seu regente com Touro: o planeta Vênus. Vênus, como já vimos, vem de Ishtar, a deusa babilônia do amor. Não é surpresa que um dos traços mais fortes dos librianos seja a gentileza, a diplomacia, e a busca pela beleza (além do equilíbrio, mas isso tem a ver com a figura da balança). ESCORPIÃO 23/10 a 21/11 Antes da inclusão dos últimos três planetas (Urano, Netuno e Plutão), Escorpião era regido por Marte. Hoje, é regido por Plutão, planeta da escutridão e dos sentimentos intensos, e agraciado com características do deus de mesmo nome: escorpianos são supostamente passionais, corrosivos e fechados em si mesmos. SAGITÁRIO 22/11 a 21/12 O deus mesopotâmico Marduk regia a magia e a natureza. Por seu poder, foi atribuído a Júpiter, o maior dos planetas e o rei dos deuses romanos. O signo de Sagitário é regido por Júpiter, e sagitarianos são famosos por serem livres, apaixonados e impetuosos. CAPRICÓRNIO 22/12 a 20/1 Ninurta era deus babilônio da agricultura. Seu planeta era Saturno – o mesmo do deus Cronos. Até hoje os capricornianos (regidos por Saturno) mantêm algumas características dos dois deuses. É um signo da terra, meticuloso, pragmático, racional e ambicioso. AQUÁRIO 21/1 a 18/2 Aquário era regido por Saturno e, assim como Capricórnio, possuía as características da deusa babilônia Ninurta. Hoje tem planeta próprio, Urano – que era o deus grego dos céus. Por isso, Aquário é um signo de ar. Aquarianos supostamente também são criativos, independentes e comunicativos. PEIXES 20/2 a 20/3 Antes regido por Júpiter, hoje é por Netuno, o deus romano dos mares e dos rios – o que tem tudo a ver com um signo de água. De acordo com a astrologia, piscianos têm características relacionadas à água e às marés: são sensíveis, adaptáveis, artísticos e oscilam de humor. JOGO DE PALAVRAS O segredo do horóscopo é ser vago o suficiente para se ajustar a qualquer leitor. Se "cortes incontornáveis" bater, mas "amizade em primeiro plano" não (previsão de Barbara Abramo para Virgem em 18/7), você só lembra do que fez sentido. Além disso, os termos sempre reforçam os traços da figura que deu origem ao signo. As características da figura são as do signo: veja como Virgem tem atributos virginais. CUIDADOSA EMOTIVA CURIOSA DETALHISTA CULTA CURIOSA ARTÍSTICA SOCIÁVEL EXPANSICA CRÍTICA SENSÍVEL ATENTA ORGANIZADA CORRELAÇÃO NENHUMA Muitos anos, muitos testes - e todos comprovaram que a astrologia não passa pelo crivo da ciência. QUESTÃO DE MINUTOS Geoffrey Dean é um cientista inglês que já foi astrólogo também. Ele resolveu analisar os dados de nascimento de 2.101 pessoas nascidas entre 3 e 9 de maio de 1958 em Londres. Se a premissa da astrologia fosse confirmada, pessoas nascidas em datas próximas no mesmo local tinham de ter muito em comum. Comparou a vida delas em fatores como profissão, estado civil, agressividade, níveis de ansiedade etc. Infelizmente, não foram encontradas correlações em nenhuma das categorias. MARTE ATLÉTICO Nos anos 50, o francês Michel Gauquelin deixou os astrólogos em êxtase ao anunciar que havia encontrado uma correlação estatística entre os dados astrológicos de atletas e o seu sucesso. De acordo com ele, muitos campeões haviam nascido bem quando Marte estava no pico de seu ciclo. Entretanto, análises feitas depois com os mesmos dados indicaram que as datas de nascimento haviam sido alteradas nos casos analisados para confirmar a expectativa. O teste também não conseguiu ser repetido com dados depois de 1950, porque a partir dessa data eram os próprios médicos - e não os atletas - que forneciam os dados de nascimento. LEITURA SOCIOLÓGICA O sociólogo alemão Theodor Adorno escreveu em 1953 um artigo analisando os horóscopos diários do jornal Los Angeles Times. Segundo ele, os conselhos impressos eram sempre amenos e ponderados, estimulando a precaução e a conformidade social. As frases eram: "não fale para os outros o que você pensa" ou "não ponha lenha na fogueira" ou "descanse" ou "não tente fazer o impossível, mantenha a sua rotina". Ao mesmo tempo, tinham um tom autoritário, como se viessem de um "pai", já que o astrólogo usufruía de uma autoridade baseada em algo a que os leitores não tinham acesso: a leitura dos astros. Adorno conclui: "A astrologia, assim como outras crenças irracionais como o racismo, fornece um atalho, transformando o complexo em uma fórmula acessível, e oferecendo uma agradável gratificação para aqueles que a dominam". MAPA ASTRAL DA SUPER O mapa astral representa o céu do instante em que alguém nasce. Pela posição dos elementos (signos, planetas, casas), se decifra uma vida. O truque: de cada combinação se extrai uma informação diferente - e muitas, claro, batem com a autoimagem do mapeado. Foi assim no mapa abaixo: achamos que muita coisa tinha mesmo a ver com a cliente, uma virginiana chamada SUPER. Cliente Revista Superinteressante Nascimento 9 de setembro de 1987, 11h, São Paulo, SP SUPERVIRGINIANA O signo é seu atributo principal. O da SUPER bate muito com ela: Virgem tem uma essência muito científica, técnica, com uma preocupação em explicar o mundo. O cliente tem um espírito que estimula e propaga uma visão crítica e analítica para as pessoas. NASCIMENTO CONFUSO O astrólogo interpretou que Saturno próximo ao ascendente Sagitário indica um nascimento peculiar. Um pouco: antes do número 1, a SUPER teve um número 0, que circulou encartado como suplemento de algumas revistas da Editora Abril. COMUNICATIVA Sol e Mercúrio na casa 10 indicam que é uma publicação que tem tudo para sempre ter destaque - e para arrumar umas polêmicas também pela presença de Marte. Mas de modo geral desfruta de muita simpatia, pela presença de Vênus nessa casa. DESBRAVADORA O ascendente revela seu lado oculto. Sagitário reforça um face filosófica da revista: a busca pelo novo, a expansão das perspectivas. DESTEMIDA Lua e Júpiter na casa 5, perto de Aries, indicam uma coragem de se lançar em frentes de forma pioneira, sem medo, de forma muito corajosa. A conjunção também indica uma facilidade para conquistar admiração. OS PLANETAS Os planetas representam nossas necessidades e motivações, e se expressam de acordo com as casas e os signos dos quais estão próximos. Curiosidade: os planetas não giram todos em torno do mesmo eixo que a Terra, nem na mesma velocidade e, do ponto de vista terráqueo, parecem que estão caminhando para trás. É isso o que os astrônomos querem dizer quando falam que "o planeta está retrógrado". SOL – Determina o cerne de cada pessoa, como ela realmente é. LUA – A maneira como a pessoa sente as coisas, o que é emocionalmente importante para ela. MERCÚRIO – Expõe a forma como pensamos e nos comunicamos. VÊNUS – Como você se relaciona amorosamente, quais são as paixões. MARTE – Onde está a sua energia física, o vigor e a assertividade. JÚPITER – Onde está o sucesso, a abundância e a boa sorte. SATURNO – Indica os nossos limites, o senso de disciplina e a relação com autoridade. URANO – Comanda as revoluções pessoais, o auto-conhecimento e as mudanças. NETUNO – Determina nossas ilusões, confusões e o desejo de se perder. PLUTÃO – Regula as transformações e as regenerações. AS CASAS Onde os atributos de signos e planetas se expressam. Seu círculo leva em conta a rotação da Terra e "gira" conforme o cliente. 1- DO ASCENDENTE Rege nossa aparência e como nos expressamos. 2- DA AUTOAVALIAÇÂO É o valor que nos atribuímos e nossa moral. Também cuida do dinheiro. 3- DA COMUNICAÇÃO Como lidamos com nossos amigos e familiares. 4- DA INTIMIDADE Cuida do lar, da nossa relação com a mãe e de quem somos no íntimo. 5- DA DIVERSÃO Trata da criatividade e das coisas que nos dão prazer. 6- DOS DESAFIOS Sobre o trabalho, a rotina e a manutenção da saúde 7- DOS RELACIONAMENTOS Lida com o casamento e as relações sérias - podem ser afetuosas ou de trabalho. 8- DAS PAIXÕES Lida com sexo, grandes mudanças e rupturas - podem inclusive ser mortes. 9- DAS IDEIAS Grandes ideias e viagens, visões espirituais e filosóficas. 10- DO EXTERIOR Lida com reputação, realizações e poder. 11- DA COMUNIDADE Trata da gente ao seu redor, os amigos e a comunidade. 12- DO INCONSCIENTE Inquietações espirituais, o subconsciente e coisas que limitam sua liberdade PARA SABER MAIS Astrology: From the Ancisnt to the Present P.G. Maxwell-Stuart, Amberley, 2013 The Fated Sky: Astrology in History Benson Bobrick, Simon&Sohuster, 2006 The Stars Down to Earth Theodor W. Adorno, Routledge Classics, 2002 As Doze Casas Howard Sasportas, Pensamento, 1985 2#2 SAÚDE – AIDS – DO PACIENTE ZERO AOS 70 MILHÕES A aids já matou 35 milhões de pessoas - e há mais 35 milhões vivendo com o HIV. Viaje pela história, contada em números, da epidemia global que dominou as últimas décadas. Desde seu início até, quem sabe, o fim. INFOGRÁFICO Sarah Kern, Bruno Garattoni, Fabricio Miranda e Paula Bustamante Em 1959 um homem morre no Congo de causas desconhecidas. Como não sabem explicar o fato, os médicos guardam uma amostra de sangue dele para análise posterior – que foi feita em 1998 e trouxe uma relação bombástica (mais sobre isso daqui a pouco). 1981 5 HOMENS GAYS, jovens e saudáveis, morrem de um tipo raro de pneumonia em Los Angeles. Eles também apresentaram outras infecções raras, o que leva os médicos a crer que seu sistema imunológico tenha parado de funcionar. ATÉ O FIM DO ANO, SURGEM 270 CASOS SIMILARES – COM 121 MORTES. 45% DOS CASOS 1982 O termo AIDS (Acquired Immune Deficiency Syndrome ou, em português, Síndrome da Imunodeficiência Adquirida) é usado pela primeira vez. Nos EUA, o governo americano registra o primeiro caso em um BEBÊ (que foi infectado por transfusões de sangue). É diagnosticado o primeiro CASO NO BRASIL, em São Paulo. 1983 São relatados os primeiros casos em MULHERES. Em Nova York, é fundada a AIDS MEDICAL FOUNDATION, primeira clínica especializada na doença. Mas o dono do imóvel tenta expulsá-la - entra na Justiça e consegue o direito de continuar. 1984 Pesquisadores americanos e franceses descobrem o que provoca a aids: um vírus, que é batizado de HTLV-III (vírus T-linfotrópico humano III). O nome depois seria mudado para HIV (vírus da imunodeficiência humana). US$ 70 MILHÕES é o valor que o Congresso dos EUA libera para pesquisas contra a doença. 1985 Surge o PRIMEIRO TESTE de HIV, que começa a ser aplicado em bancos de sangue. O Pentágono anuncia que irá TESTAR OS NOVOS SOLDADOS - e rejeitar todos os que estiverem infectados. 1986 A Academia Nacional de Ciências dos EUA diz que a aids é "uma crise nacional", e que o governo precisa INVESTIR 30 VEZES mais dinheiro em pesquisas. Quanto gastavam – US$ 70 milhões Quanto deveriam gastar – US$ 2,1 bilhões 1987 3 irmãos HEMOFÍLICOS, que contraíram o HIV em transfusões de sangue, são impedidos de frequentar a escola na Flórida. Alguém coloca fogo na casa da família. Criado o AZT (zidovudina), primeiro remédio capaz de combater o vírus. 1988 O BRASIL tem 4.535 casos registrados da doença. 1988 – 4535 casos 1989 – 6295 1991 – 11.805 1992 – 14.924 1993 – 16.760 1994 – 18.224 1995 – 19.980 1996 – 22.343 1997 – 22.593 2001 – 220 mil 2002 – 248 mil 2003 – 310 mil 2004 – 362 mil 2005 – 372 mil 2006 – 433 mil 2007 – 474 mil 2009 – 545 mil 2012 – 657 mil 2013 – 686 mil 1989 O ator LAURO CORONA, galã de novelas da TV Globo, morre de infecções ligadas à aids. 1990 Morre o cantor CAZUZA. Ele tinha 32 anos. 1991 FREDDIE MERCURY, vocalista da banda Queen, morre aos 45 anos de pneumonia ligada à aids. O jogador de basquete MAGIC JOHNSON anuncia, aos 32 anos, que é portador do HIV. Graças a tratamentos, está vivo até hoje. 1992 Nos EUA, a aids já é a doença que mais MATA HOMENS entre 25 e 44 anos. 1º HIV 2º ACIDENTES DE TRÂNSITO 3º DOENÇAS DO CORAÇÃO 4º NEOPLASMAS MALIGNOS 5º SUICÍDIO 6º HOMICÍDIO 7º DOENÇAS DO FÍGADO 8º DOENÇAS DO CÉREBRO 9º DIABETES 10º PNEUMONIA 1993 Lançado FILADÉLFIA, filme em que o protagonista (vivido por Tom Hanks) é demitido por ser soropositivo - e entra na Justiça contra a empresa. A CAMISINHA FEMININA é aprovada pelo governo americano. O Brasil começa a FABRICAR O AZT, até então importado. 1994 Nos EUA, a aids é a doença que mais MATA HOMENS E MULHERES entre 25 e 44 anos. Surge o primeiro teste que permite detectar o HIV por meio da SALIVA. 1995 Surge uma nova classe de medicamentos contra o HIV: os INIBIDORES DE PROTEASE. Eles bloqueiam a enzima que o HIV usa para se multiplicar. 1996 No Brasil, o AZT começa a ser dado GRATUITAMENTE em hospitais públicos. O cientista americano STEPHEN O'BRIEN descobre que certas pessoas nascem com mutação no gene CCR5, e por isso são imunes ao HIV. Quem tem a mutação Escandinavos 15% Franceses, alemães e ingleses 10% 1997 O tratamento com uma combinação de vários medicamentos anti-HIV, o chamado coquetel, se torna o padrão nos Estados Unidos. Por isso, as mortes por aids CAEM 46,8% em relação ao ano anterior. 1996 36,5 mil mortos 1997 20,7 mil mortos 1998 Cientistas americanos publicam um estudo analisando o sangue do homem morto no Congo em 1959 – e concluem que ele era PORTADOR DO HIV. Esse indivíduo é o chamado PACIENTE ZERO, ou seja, o primeiro caso registrado da epidemia global de aids. 1999 Por conta das campanhas educativas, quase metade dos brasileiros passam a usar CAMISINHA. 1986 4% usavam 1999 48% usavam A aids torna-se a causa número um de MORTES NA ÁFRICA - e a quarta do mundo. 2000 Um acordo promovido pela ONU leva cinco companhias farmacêuticas a diminuírem os preços dos MEDICAMENTOS ANTI-HIV nos países em desenvolvimento. 2001 Pela primeira vez, o Brasil QUEBRA A PATENTE de um medicamento usado no combate ao HIV: o Viracept. O genérico passa a ser produzido pela Fundação Oswaldo Cruz, com preço 40% menor. É criada no Brasil a Rede Nacional de Genotipagem, com laboratórios que monitoram as MUTAÇÕES DO HIV (que podem colocar em risco a eficácia do tratamento). 2002 Governos e empresas criam o FUNDO GLOBAL DE COMBATE À AIDS, que recebe US$ 600 milhões para lutar contra a doença. Um estudo revela que, por conta da epidemia de aids, a EXPECTATIVA DE VIDA na África Subsaariana despencou para 47 anos (contra 62 caso ela não existisse). 2003 Fracassa o teste da AIDSVAX, uma vacina desenvolvida contra a doença. TOTAL DE 6147 PARTICIPANTES DE 4 PAÍSES 34% receberam placebo 66% a vacina Só 2,7% apresentaram queda na taxa de infecção (valor dentro da margem de erro). 2004 O Brasil é o país que mais dá assistência aos USUÁRIOS DE DROGAS injetáveis portadores do HIV. DOS 34 MIL USUÁRIOS OUE RECEBEM TRATAMENTO ANTI-HIV NO MUNDO, 30 MIL ESTÃO NO BRASIL. 2005 Morre aos 54 anos MAKGATHO MANDELA, filho de Nelson Mandela, vítima da aids. 2006 A frase "EU ME ESCONDIA PARA MORRER, HOJE ME MOSTRO PARA VIVER" é projetada em raios laser no Congresso Nacional brasileiro, em homenagem aos mortos pela aids. 2007 O governo brasileiro ASSINA DECRETO quebrando a patente de um medicamento anti-HIV, o efavirenz. CUSTO DO TRATAMENTO DA AIDS POR PESSOA, POR ANO: 1996 US$ 10 mil 2014 US$ 159 2008 FRANÇOISE BARRE-SINOUSSI E LUC MONTAGNIER, descobridores do HIV, recebem o Prêmio Nobel de Medicina. 2009 Os EUA deixam de BANIR visitantes e imigrantes soropositivos. A medida era adotada desde 1987. 41 países, áreas ou territórios ainda impõem alguma restrição à entrada ou à permanência de pessoas com HIV. 2010 Um estudo feito com homens gays revela que o uso preventivo de medicamentos anti-HIV reduz em 44% a chance de CONTRAIR O VÍRUS. 2011 Novos casos de contaminação pelo HIV, após vários anos em queda, voltam a crescer no Brasil – PUXADOS PELA REGIÃO SUL. Contudo, a região Sudeste ainda concentra a maioria dos soropositivos. CASOS DE AIDS POR REGIÃO NO BRASIL CENTRO-OESTE 5,8% NORTE 5,1% NORDESTE 13,9% SUDESTE 55,2% SUL 20% 2012 EUA aprovam o primeiro medicamento especialmente desenvolvido para uso na prevenção ao HIV, O TRUVADA. 2013 O Brasil começa a oferecer tratamento com antirretrovirais para quem é PORTADOR do HIV mas ainda não desenvolveu a aids. ESTA MEDIDA PODE REDUZIR EM ATÉ 96% O RISCO DE TRANSMISSÃO DO VÍRUS. 2014 Uma MULHER É INFECTADA nos EUA em relação homossexual. A HIVBR18, vacina desenvolvida pela USP, é testada em macacos. Cem cientistas que iam para a conferência Aids 2014 morrem quando o avião em que estão cai. Um deles é o holandês JOEP LANQE, autor de 350 estudos sobre aids. 2030 É a previsão da ONU para o FIM DA EPIDEMIA da aids, se o mundo continuar tomando medidas de prevenção e combate. Para a entidade, ainda haverá casos, mas não de forma descontrolada como hoje. O VÍRUS COMO ELE É Geneticamente, o HIV é muito simples HIV 9 genes BACTÉRIA 500 genes, em média HUMANO 20 mil genes Mas se modifica muito rápido, o que dificulta a criação de uma vacina. Sua capacidade de mutação é mil vezes maior que as células humanas. O QUE ACONTECE 2 A 4 SEMANAS APÓ A CONTAMINAÇÃO – Metade dos infectados apresenta sintomas parecidos com os de uma gripe forte. 6 A 12 SEMANAS - O corpo começa a produzir anticorpos, permitindo que o HIV seja detectado em testes. DE 2 A 10 ANOS - O vírus fica latente, ou seja: ele está presente no corpo, mas não gera sintomas. APÓS 10 ANOS - O HIV desperta e começa a aniquilar as células do sistema imunológico, desencadeando a aids. COMO ELE AGE As células CD4, vitais para o sistema imunológico, são atacadas pelo HIV. Essas células vão morrendo - e isso desencadeia a aids, com as infecções associadas a ela. ACIMA DE 500/mm3 - Indivíduo saudável. POR VOLTA DE 500/mm3 – A pessoa fica sujeita a pequenas infecções (a mais comum é a candidíase vaginal, causada por fungos) 200 A 500/mm3 - Sarcoma de Kaposi, um câncer que causa bolhas de sangue na pele. 100 A 200/mm3 – Pneumonia causada pelo fungo Pneumocystis jirovecii - a causa de morte mais comum. MENOS DE 100/mm3 - Cegueira causada pelo Citomegalovirus da família da herpes. AS VÍTIMAS OS PAÍSES COM MAIS CONTAMINADOS, HOJE 1- África do Sul 6 milhões 2- Nigéria 3,4 milhões 3- Índia 2 milhões 4- Quênia 1,6 milhão 5- Moçambique 1,55 milhão 6- Uganda 1,54 milhão 7- Tanzânia 1,47 milhão 8- Zimbábue 1,36 milhão 9- EUA 1,2 milhão 10- Malaui 1,12 milhão 11- Zâmbia 1,1 milhão 12- Rússia 980 mil 13- China 780 mil 14- Etiópia 758 mil 15- Brasil 686 mil MORTOS ANO A ANO NO MUNDO TODO 1990 290 mil 1991 380 mil 1992 480 mil 1993 600 mil 1994 740 mil 1995 900 mil 1996 1,1 milhão 1997 1,2 milhão 1998 1,4 milhão 1999 1,5 milhão 2000 1,7 milhão 2001 1,9 milhão 2002 2,1 milhão 2003 2,2 milhões 2004 2,3 milhões Período com auge no número de mortes. 2005 2,3 milhões Período com auge no número de mortes. 2006 2,3 milhões Período com auge no número de mortes. 2007 2,2 milhões Avanço nos tratamentos começa a reduzir número de vítimas fatais. 2008 2,1 milhões 2009 2 milhões 2010 1,9 milhão 2011 1,8 milhão 2012 1,6 milhão A CADA 20 SEGUNDOS, UMA PESSOA MORRE DE AIDS NO MUNDO. AS CRIANÇAS De 2001 a 2012, o número de crianças infectadas no mundo caiu 52% Se a mãe receber tratamento, o bebê tem 96% de chance de nascer sem HIV. 17 milhões de crianças já ficaram órfãs por causa da aids. 90% delas na África. NOVOS CASOS DE INFECÇÃO (0 A 14 ANOS) 1990 160 mil 1995 360 mil 2000 530 mil 2005 540 mil 2010 360 mil 2012 260 mil O INVESTIMENTO Gastos em pesquisa é baixo US$ 16,6 bilhões é quanto o mundo investe no combate à AIDS 0,8% pesquisa 53% tratamento 23% prevenção 23,2% outros O AVANÇO DOS TRATAMENTOS Cada vez mais pessoas recebem remédios ANTI-HIV 2003 500 mil 2004 700 mil 2005 1,2 milhão 2006 2 milhões 2007 2,8 milhões 2008 4 milhões 2009 5,2 milhões 2010 6,5 milhões 2011 8 milhões 2012 9,4 milhões 2013 mais de 10 milhões NO BRASIL, 313 MIL SOROPOSITIVOS RECEBEM OS MEDICAMENTOS. QUASE METADE DO TOTAL DE INFECTADOS. 2#3 INTERNET – ALI BABÁ E OS 250 BILHÕES DE DÓLARES Ele fatura mais que a Amazon e o eBay somados. Tem centenas de milhões de produtos à venda – inclusive coisas bem estranhas, que não se encontram em nenhum outro lugar da web. Conheça a curiosa história do Alibaba: o gigante chinês que quer engolir a internet. TEXTO: Marcos Ricardo dos Santos EDIÇÃO Bruno Garattoni ALI BABÁ, NO CONTO ÁRABE, é um lenhador pobre que fica rico ao encontrar um tesouro. No portal chinês Alibaba, esse tesouro às vezes tem caras estranhas. Nele e em suas subdivisões é possível encontrar pepino do mar congelado (US$ 12 o quilo), peras em formato de buda (US$ 10 por três), cabelos de "jovens virgens" (US$ 16 a mecha) - ou uma centrífuga para produzir urânio enriquecido (US$ 9 mil). E mais uma montanha de produtos falsificados: são cerca de 800 milhões de artigos piratas, oferecidos por 8 milhões de vendedores chineses. No ano passado, o Alibaba movimentou US$ 250 bilhões. É mais que Amazon e eBay somados (e quatro vezes o faturamento anual do Google). Em termos de dinheiro, o portal chinês é o maior site da internet. Neste mês, deverá colocar suas ações à venda na Bolsa de Nova York. Acredita-se que o valor de mercado do portal possa superar o do Facebook e da IBM. O dia exato do negócio é mantido em segredo, mas especula-se que ele possa acontecer no próximo dia 8 de agosto. Porque oito, em chinês, pronuncia-se "bá". Oito de agosto é 8-8, ou "ba-bá". Como Alibaba. A escolha do dia é um gesto irreverente, bem ao estilo da empresa. Na festa de dez anos do Alibaba, em 2009, 15 mil funcionários se reuniram num estádio para comemorar e ver shows de música pop chinesa. Até que o palco se abriu e, vestindo roupa de couro, óculos escuros e uma peruca com cabelos brancos até a cintura e um grande moicano roxo, o ex-professor universitário Jack Ma virou o centro das atenções. Ninguém diria que ali estava o terceiro homem mais rico da China, com uma fortuna pessoal de US$ 10 bilhões. Mas o que o dono do Alibaba fez depois foi mais bizarro ainda: cantou a música do filme Rei Leão, Can You Feel the Love Tonight, de mãos dadas com uma sósia de Marilyn Monroe. Em seguida, o ex-presidente Bill Clinton participou do evento via teleconferência. Essa mistura improvável de coisas lembra a trajetória do próprio Jack. Nascido na área rural da China, ele conheceu um turista americano quando era criança, ficou fascinado, e resolveu ir atrás de outros estrangeiros. Passou a ir de bicicleta até o hotel da cidade, pedalando uma hora e meia, só para encontrar gringos e tentar aprender inglês. Fez isso todos os dias por nove anos, até que aprendeu. Virou professor do idioma, ganhando o equivalente a US$ 12 por mês. Em 1995, arranjou um trabalho como tradutor em um projeto e viajou para os EUA, onde viu um computador pela primeira vez e acessou a internet. Ficou maravilhado. Ao voltar para a China, montou a primeira empresa de internet do país: um site chamado China Pages, que listava os contatos de empresas locais. Mas o governo comunista estranhou. Muitos dos oficiais nunca tinham nem visto um computador, e por isso colocaram vários obstáculos contra a empresa de Jack, que acabou desistindo. Quatro anos depois, em 1999, resolveu tentar de novo. Reuniu 17 amigos e os convenceu a trabalhar de graça na criação do Alibaba. No começo, o site era voltado para comércio entre empresas, com negociações de minério de ferro, máquinas e equipamentos. Deu certo, mas havia um problema. O site não conseguia ganhar dinheiro, pois anunciar nele era (e ainda é) gratuito. Foi então que Jack teve a ideia que o tornaria bilionário: cobrar para dar destaque aos anúncios. Foi o que transformou o Alibaba num gigante, que hoje tem 24 mil funcionários. "Ele não tem nenhum conhecimento de tecnologia, mas sua grande qualidade é montar times com pessoas sem experiência, e motivar essas pessoas", diz o executivo Porter Erisman, que trabalhou dez anos no site, onde chegou a vice-presidente, e é o diretor de um novo documentário sobre a empresa, Crocodile in the Yangtze ("Crocodilo no Yangtze", ainda sem versão em português). O filme é apenas um dos que abordam o Alibaba - há pelo menos mais sete a respeito. Jack Ma é mesmo um ídolo na China, onde é conhecido pela capacidade de convencer qualquer pessoa de qualquer coisa. Isso foi fundamental para superar um desafio típico de lá: a relação com as autoridades, que controlam a internet com mãos de ferro. "Na China, nenhum negócio sobrevive se não tiver um relacionamento amigável com o governo", afirma Fabro Steibel, professor de novas tecnologias da ESPM. Ma conseguiu convencer os líderes comunistas de que o Alibaba seria um bom negócio, que iria gerar divisas para a China. Conforme foi crescendo, o site também se tornou mais polêmico - e de modo tipicamente chinês. Como qualquer pessoa ou empresa pode anunciar no Alibaba, e são centenas de milhões de produtos, fica difícil saber o que é original e o que não é. Na China, a falsificação também não carrega o estigma que tem no Ocidente. "Uma empresa pode fabricar uma cópia de um produto, ou fazê-lo de maneira levemente diferente, sem que isso seja considerado pirataria. É um jeito diferente de abordar a propriedade intelectual", diz Steibel. O Alibaba não quis falar com a SUPER, alegando que está no chamado quiet period (período silencioso), uma regra imposta pelas autoridades americanas. Quando uma empresa está prestes a abrir seu capital em Bolsa, é proibida de dar entrevistas e falar com a imprensa - para que não dê declarações que possam inflar o valor das ações. Oficialmente, o Alibaba proíbe a venda de artigos falsificados, e há casos de anúncios que foram deletados do site por causa disso. O portal também criou o site Tmall.com, que é voltado para o mercado interno chinês e só vende produtos oficiais de marcas conhecidas, como Nike, Adidas, GAP, Apple e Ray-Ban. Outro site criado pelo grupo é o AliExpress, que oferece artigos baratos, como roupas, cosméticos e bugigangas eletrônicas, para o mercado internacional. Ele tem versão em português, e faz sucesso entre os brasileiros - que são seus terceiros maiores clientes (só atrás dos americanos e dos russos). O frete é grátis, mas a entrega é um problema: chega a demorar meses. Foi o que aconteceu com a advogada Andrea Araújo, que comprou uma blusa por US$ 8 e só a recebeu depois de mandar uma reclamação para o site. O vendedor enviou uma resposta pouco amigável, em um inglês macarrônico, dizendo que ela estava sendo injusta. Depois de alguns meses, o produto chegou. Andrea diz que vai comprar de novo. "É tão barato que vale a pena", afirma. JUROS IRRESISTÍVEIS A nova investida do grupo Alibaba é o AliPay, um serviço que atua como intermediário nas compras e vendas. Ele retém o dinheiro pago pela mercadoria, e só o entrega ao vendedor depois que o comprador recebe o produto e confirma que está tudo OK. Mais ou menos como o MercadoPago e o PagSeguro, no Brasil, e o PayPal, nos EUA. Só que os chineses resolveram dar um passo além. Aproveitaram a popularidade do AliPay para criar um fundo de investimentos, o Yu'e Bao (algo como "tesouro sobrando", em chinês), no qual qualquer pessoa pode aplicar seu dinheiro com poucos cliques. Deu muito certo: em apenas dez meses, 81 milhões de chineses investiram no fundo, que já soma US$ 92 bilhões e paga juros de 5,5% ao ano - muito mais que os 0,35% anuais oferecidos pelos bancos. Um negócio irresistível. O sucesso foi tão grande que levou outras empresas chinesas de internet a criar seus próprios fundos de investimento. E está irritando os bancos chineses, que recentemente publicaram um artigo defendendo que o governo imponha regras para conter o Yu'e Bao. O Alibaba pode acabar sendo atrapalhado pelo próprio sucesso. Ou, se sua oferta de ações der certo, se consolidar como quarta maior empresa de tecnologia do mundo - só atrás de Apple, Google e Microsoft. OFERTA DE AÇÕES O site poderá levantar mais dinheiro, na Bolsa de Nova York, do que o Facebook (em bilhões de dólares). Alibaba (PREVISTO 2014) - 20 Facebook 2012 - 16 Twitter 2013 - 2,1 Ebay 1998 - 0,1 VOLUME DE VENDAS Dinheiro movimentado no ano de 2013 (em bilhões de dólares). Alibaba – 250 Ebay - 76,6 Amazon - 100 VALOR DE MERCADO O Alibaba é a quarta maior empresa de tecnologia do mundo (valor de mercado, em bilhões de dólares). Apple – 512 Google – 358 Microsoft – 322 Alibaba – 250 IBM – 192 Facebook – 150 FORTUNAS PESSOAIS As figuras mais ricas da tecnologia (em bilhões de dólares) 1. BILL GATES Microsoft 79,9 2. LARRY ELLISON Oracle 49,3 3. JEFF BEZOS Amazon 32,7 4. LARRY PAGE Google 32,1 5. SERGEY BRIN Google 31,7 6. MARK ZUCKERBERG Facebook 9,9 11. HERDEIROS DE SYEVE JOBS Apple 15,7 17. JACK MA Alibaba 10 PARA SABER MAIS Crocodile in the Yangtze, Porter Erisman, 2012 vimeo.com/ondemand/crocodileintheyangtze 2#4 HISTÓRIA – MEMÓRIAS DO SUBSOLO No centenário da Primeira Guerra Mundial, armas e corpos ainda são retirados dos antigos campos de batalha. São achados que recuperam a história e podem até salvar vidas. TEXTO Guilherme Pavarin EDIÇÃO Emiliano Urbim ACORDAR CEDINHO, arar a terra e, entre um golpe e outro no solo, desenterrar projéteis enferrujados da Primeira Guerra Mundial (1914-1919). Acredite, essa é a rotina atual de muitos fazendeiros belgas. Em 2014, cem anos após o início dos combates, o subsolo da Europa ainda guarda memórias do conflito. Desencavá-las não é só passatempo de historiadores. Como muitas armas ainda estão ativas, encontrá-las pode salvar vidas. De 2001 para cá, milhões de balas, granadas, minas e bombas foram encontradas. Apenas em 2012, último ano em que foi realizada uma contagem oficial, foram coletadas 185 toneladas de munição não-detonada - o maior volume desde que esse trabalho começou a ser feito. A maior parte foi recolhida na região de Ypres, município da província de Flandres Ocidental, na Bélgica, onde quatro sangrentos combates entre 1914 e 1918 mataram mais de meio milhão de soldados. A Primeira Guerra é, disparado, o grande conflito com mais achados de combate. Nesse caso, a arqueologia militar pode agradecer ao agronegócio: fazendas, plantações, silos, frigoríficos e até empreendimentos imobiliários estão se instalando nas antigas zonas de combate e trazendo o passado à tona. "Recentemente houve um grande aumento de construções nessas áreas bombardeadas", confirma Peter Francis, membro da Commonwealth War Grave Comission, instituição que cuida dos registros das guerras travadas pelo Império Britânico. A chamada colheita bélica segue uma lógica simples de escavação: quanto mais fundo, mais balas. "Não à toa operários de obras estão entre os que mais encontram projéteis." E há muito mais a cavar. Estima-se que um terço do 1,5 bilhão de projéteis disparados em Ypres tenha caído na terra sem explodir. (Você leu certo: 1,5 bilhão.) Para se chegar a essa estimativa astronômica, considere disparos constantes de ambos os lados da linha de combate durante quatro anos. Todo esse acervo aguarda embaixo da terra. Embora cause fascínio em caçadores de relíquias, o campo minado preocupa. Vinte homens do esquadrão antibombas da Bélgica já morreram durante operações de desarmamento. E há ainda outro perigo enterrado: artefatos tão mortais que seu uso foi inclusive banido por tratados internacionais. Nos campos da Bélgica e da França, o fantasma das armas químicas ainda está vivo. COM GÁS Cerca de 5% das armas usadas na Primeira Guerra eram químicas - suficiente para preocupar até hoje. O risco de contaminação não é baixo, como descobriram os vizinhos de Ypres do outro lado da fronteira. Em 2001, os 12 mil habitantes do vilarejo francês de Vimy tiveram de evacuar o local depois que o exército descobriu recipientes de gás em vazamento. O lugar, um antigo depósito temporário de armas, continha 173 toneladas de munição da Primeira Guerra. Havia 16 mil peças disparadas por britânicos, alemães e franceses. O detalhe sórdido; quase tudo continha gás de mostarda e fosfogênio. Um contato superficial com essas substâncias provoca erupções na pele, e a exposição prolongada é fatal. As munições foram transportadas em veículos refrigerados para campos militares de Suippes, 200 quilômetros ao Leste, a fim de serem reestocadas em condições mais seguras. Os moradores tiveram de esperar dez dias para poderem voltar para casa. O mais alarmante, afirmam pesquisadores, é que os armamentos anacrônicos também podem prejudicar o ambiente. Aubin Heyndrickx, chefe de toxicologia aposentado da Universidade de Gent, na Bélgica, defende que as armas com gás mostarda apresentam grandes riscos à saúde humana mesmo se forem jogadas ao mar, como os exércitos fizeram por décadas. "Quando uma das cápsulas se rompe, o gás mostarda é liberado e pode ser lançado à terra firme da praia", afirma em estudo. "Querem nos iludir de que esse gás mostarda se dilui rapidamente na água do mar e se torna inofensivo, mas é uma grande mentira. Permanece ativo, perigoso e mortal." Em novembro de 1918, soldados abandonaram o front ocidental de Flandres e muitos deles — primeiro ingleses, depois alemães — jogaram as munições inutilizadas no oceano. Os armamentos eram colocados em cargueiros, que derrubavam tudo no mar. É possível ver nos jornais da época que o governo belga tomou a decisão de jogar as munições no mar por causa do medo da população de que as bombas estourassem em terra firme e causassem uma série de mortes. Um relatório da marinha belga estima que as munições e cápsulas com gases derrubadas no mar chegaram a 340 toneladas por dia. A operação durou seis meses. De acordo com outro relatório, do pesquisador J. P. Zandres, da Universidade Livre da Bélgica, há 1,1 milhão de litros de gases tóxicos nas águas das praias dos povoados de Knokke, Duinbergen e Heist, na Bélgica. Para não repetir os erros do passado, hoje o esquadrão responsável por encontrar, receber e desarmar as bombas do país conta com aparatos especiais, como scanners de raio-x para verificar o conteúdo dos projéteis. Se não for arma química, explodem em regiões desabitadas. Do contrário, o armamento passa por um processo de congelamento e depois é destruído em câmaras a vácuo ou é queimado com fornos equipados para neutralizar as toxinas. Mas os esquadrões não encontram só bombas. Muitas das suas vítimas da guerra ainda estão nos campos de batalha onde tombaram. SOLDADOS RECONHECIDOS Corpos de ex-combatentes continuam sendo retirados dos antigos fronts da Primeira Guerra Mundial. Em média, cerca de 20 soldados são encontrados a cada ano. As áreas mais comuns são, além da região de Ypres, o campo de batalha de Somme e a cidade de Lille, ambos no norte da França. A novidade é que agora, com ajuda das tecnologias de identificação de DNA, fica mais fácil saber de quem é o corpo. Na última década, 124 soldados australianos (na época, súditos do império britânico) foram localizados nos campos franceses de Fromelles. Os traços genéticos são identificados a partir de dentes e ossos. Retalhos de uniformes, distintivos e fivelas de cinto ajudam a tornar o processo mais ágil. Ao encontrar alguma pista, o primeiro traço estudado é a qual batalhão o corpo pertencia. Se for de um pequeno grupo de indivíduos, a comparação fica mais fácil. O projeto coleta DNA e outras informações de potenciais parentes daqueles que lutaram na região. "Muitos são encontrados sem nenhum artefato militar. Acabam sendo enterrados como soldados desconhecidos", diz Sue Raftree, oficial do Ministério de Defesa Britânico. "Mas conseguimos muitas vezes encontrar pistas e resolver um caso que parecia sem solução." Os especialistas nas investigações possuem conhecimentos em arqueologia forense, genealogia e antropologia. Devido ao povoamento dos antigos campos de batalha, a expectativa é que a média de números de corpos encontrados aumente em 2014. De acordo com os registros, há mais de 155 mil militares que nunca tiveram seus corpos identificados. Se as previsões se confirmarem, o centenário da Primeira Guerra será marcado por descobertas. E, tomara, nenhuma explosão inesperada. MILHÕES DE PROJÉTEIS Disparados na 1ª Guerra ainda estão no subsolo 185 milhões de toneladas de armamentos foram desenterrados em 2012 20 soldados são retirados do solo por ano 1 milhão de litros de gases tóxicos ainda estão nas praias da Bélgica GUERRA INFINITA Europa ainda sofre com batalhas de 100 anos atrás 1- VIMY, França. Em 2001, seus habitantes passaram dez dias longe da cidade para que fossem retirados do solo 16 mil peças e armamentos, quase todos com gás de mostarda e fosfogênio. 2- KNOKKE, DUINBERGEN E HEIST, Bélgica. Praias ainda contaminadas por armas químicas da Primeira Guerra. Segundo cálculos, há 1.1 milhão de litros de gás tóxico 3- YPRES, Bélgica. Em 2012, 160 toneladas de munição foram desovadas. O gás mostarda também é chamado de "Yperit“" porque foi usado pela primeira vez nessa cidade. 4- VERDUN, França. Cidadezinha que contou com um tiroteio de dez meses seguidos em 1916. O saldo: 300 mil mortos e 350 mil feridos. Segundo o Ministério do Interior da França, há cerca de 12 milhões de explosivos ativos na região. 2#5 MUNDO – A VOLTA DO WORLD TRADE CENTER Treze anos depois maior ataque terrorista da história, o edifício-símbolo Nova York finalmente foi reerguido. No lugar das Torres Gêmeas, há apenas um prédio — construído com novas tecnologias e supostamente preparado para resistir a atentados. Veja o que o novo WTC tem. E saiba por que ele demorou tanto para ficar pronto. REPORTAGEM Maurício Moraes EDIÇÃO Bruno Garattoni A QUEDA DAS TORRES GÊMEAS, em setembro de 2001, teve um impacto gigantesco. E não só como você pensa. Além das 2.977 vítimas mortas, dos US$ 10 bilhões em prejuízos, do abalo psicológico global e da invasão do Afeganistão, o maior atentado terrorista de todos os tempos trouxe consigo um problema mais direto. Depois que os bombeiros conseguiram apagar o incêndio, o que levou intermináveis três meses, as autoridades começaram a refletir sobre o futuro daquele espaço. Reerguer as duas torres? Deixar o local vazio? Transformá-lo em parque? Fazer um memorial? Depois de muita discussão, os americanos decidiram construir um prédio no local: o One World Trade Center. Ele está pronto, e deve ser inaugurado nas próximas semanas (a data exata não foi divulgada, possivelmente por questões de segurança). Foi uma das obras mais caras e tumultuadas de todos os tempos, cheia de inovações tecnológicas e reviravoltas políticas. Sua história começa em dezembro de 2001. Com o incêndio finalmente extinto, veio o primeiro problema. Como se livrar dos destroços das Torres Gêmeas? Era uma montanha gigantesca, com 1,5 milhão de toneladas de aço e detritos. Um problemaço. Para piorar, policiais, bombeiros e operários envolvidos na demolição brigavam sem parar. Um dos principais motivos eram os furtos. Isso porque as torres e seu entorno ficaram interditados, trancados, com todos os objetos dentro. E foram implacavelmente saqueados pelos envolvidos na limpeza da área. Laptops foram levados de prédios vizinhos, que ficaram abalados, mas não caíram. Bolsas e maletas foram furtadas. Havia muitas lojas na região atingida, que se tornaram alvos. Segundo o jornalista William Langewiesche, autor de American Ground ("Solo Americano", sem versão em português), os bombeiros preferiam relógios de luxo, os policiais gostavam de eletrodomésticos e os operários levavam o que vissem - sobretudo vinhos, encontrados nas ruínas do hotel Marriott, e cigarros achados num depósito da Alfândega. Também havia um tesouro sob os escombros: um cofre com mil quilos de barras de ouro e prata do Banco da Nova Escócia, no valor de US$ 250 milhões. Quando ele foi encontrado, e uma equipe chamada para retirar o conteúdo, descobriu-se que alguém já havia tentado arrombar a porta, sem sucesso. Foram necessárias 120 viagens de caminhão para levar as barras embora. Durante a operação de limpeza, os operários encontraram um carro de bombeiros soterrado. Não havia ninguém dentro. Mas a cabine estava cheia de calças jeans - algumas dúzias delas, que os bombeiros haviam furtado em lojas do WTC antes do desabamento das torres, quando deveriam estar socorrendo pessoas. Isso causou escândalo nos EUA e arranhou a imagem dos bombeiros, que até então eram vistos como os heróis do 11 de Setembro. O corpo de bombeiros se desentendeu com a polícia, que também atrapalhou o trabalho dos operários. "O local foi tratado como a cena de um crime. Todos os escombros foram vasculhados manualmente em busca de provas", diz John Knapton, professor de engenharia de estruturas na Universidade Newcastle, na Inglaterra. Os detritos foram colocados em balsas e levados para um aterro em Staten Island, onde eram analisados e depois agrupados em montanhas. O aço não ficou ali. Quase 200 mil toneladas dele, que ainda estavam em bom estado, foram cortadas e vendidas para outros países. A Turquia comprou um pouco, mas a maior parte foi para Índia e China. Ele foi derretido, moldado em barras, revendido e usado na produção de diversos produtos - inclusive utensílios de cozinha, como facas, colheres e garfos. Os Estados Unidos também reaproveitaram uma parte do metal das Torres Gêmeas, usado para construir um navio da Marinha, o USS New York. O processo foi polêmico. Alguns disseram que era um desrespeito à memória das vítimas, outros que a reciclagem poderia estar destruindo provas. O Greenpeace alegou que o aço poderia estar contaminado por substâncias tóxicas, como mercúrio, chumbo e cádmio, que teriam se misturado a ele durante o incêndio. Não deu em nada. A reciclagem continuou. E se você comprou talheres naquela época, é possível que tenha pedaços do WTC na sua casa. A ALTURA DA INDEPENDÊNCIA Depois que a remoção dos escombros terminou, em 2002, começaram as discussões sobre o que construir no Marco Zero. Um concurso foi aberto em agosto para eleger um plano de ocupação da área. O vencedor, anunciado em fevereiro de 2003, foi o arquiteto Daniel Libeskind, responsável pelos projetos do Museu Judaico de Berlim e da Universidade Metropolitana de Londres. Filho de sobreviventes do Holocausto, ele nasceu logo após o fim da Segunda Guerra Mundial, em 1946, e emigrou para os Estados Unidos na adolescência. Na chegada a Nova York, de navio, se encantou com a visão da Estátua da Liberdade e do horizonte de prédios da cidade. O plano que Libeskind desenvolveu para o Marco Zero foi inspirado por essa visão. O desenho original do One World Trade Center trazia uma silhueta estilizada que acompanhava o perfil da Estátua da Liberdade, quando vista de lado. Mas a ideia foi abandonada, e o prédio final é bem diferente. Na época, especulou-se que o projeto original fosse complexo demais, impossível de construir - uma versão questionada por especialistas. "Ele podia ser mais desafiador e mais caro, mas não era impossível de ser feito", afirma Mir Ali, professor de arquitetura da Universidade de Illinois. Na prática, o desenho foi alterado por um motivo simples. O investidor Larry Silverstein, que manda no WTC (um mês e meio antes dos atentados, ele comprou os direitos de uso das torres por 99 anos), simplesmente não gostou dos primeiros esboços. E chamou outro arquiteto: o americano David Childs. Ele não se deu bem com Libeskind, que acabou deixando o projeto. As disputas atrasaram a construção, e pouca coisa restou da ideia original. Uma das características mantidas foi a altura: 1.776 pés (541 metros), uma referência ao ano da independência dos Estados Unidos. Isso tornou o One World Trade Center o edifício mais alto do Ocidente (e o quarto mais alto do mundo). Mas não há um consenso a respeito. Isso porque, na verdade, o prédio em si é bem mais baixo: tem 417 metros. A altura recorde só é atingida graças a uma "ponta" de 124 metros, o que é considerado um truque por alguns arquitetos. Também não houve consenso na escolha do nome. Após os atentados, a ideia era que se chamasse Freedom Tower (Torre da Liberdade). Mas a Autoridade do Porto de Nova York, dona do local, decidiu em 2009, de uma hora para outra, que o prédio seria batizado de One World Trade Center. O argumento foi de que se tratava de um nome mais conhecido. Suspeita-se que o primeiro nome, que tem conotação patriótica e ideológica, pudesse afastar interessados em alugar os andares. Por enquanto, o novo WTC tem pouquíssimos inquilinos. O principal é a editora de revistas Condé Nast, que alugou 24 andares por um prazo de 25 anos - e vai pagar uma mensalidade de US$ 6,6 milhões. Além dela, também vão se mudar para o prédio o China Center, mistura de centro cultural e espaço de negócios ligado ao governo chinês, e a Administração Geral de Serviços (GSA), um órgão do governo americano. A construção do prédio custou US$ 3,9 bilhões - é a segunda obra mais cara, em preço por metro quadrado, de todos os tempos (só perde para o Antilla, um prédio residencial construído por um bilionário em Mumbai, na Índia). Metade do WTC está vazia, ainda sem interessados. Em termos comerciais, não existia necessidade de se fazer o prédio. A torre vai acrescentar apenas 278 mil metros quadrados de escritórios à cidade (não muito mais do que o oferecido pelo Empire State Building, inaugurado em 1930). E, na área de Manhattan onde o One World Trade Center está localizado, já havia 674 mil metros quadrados de escritórios disponíveis para aluguel no final do ano passado, segundo a empresa Lee & Associates. Ou seja: levando em conta apenas os números, Nova York não precisaria do novo prédio. Isso não significa que as empresas não possam acabar se mudando para ele, atraídas pelo prestígio do local. Mas, para que isso aconteça, elas precisam se sentir seguras. NÚCLEO DURO A construção das Torres Gêmeas, nos anos 70, reinventou as técnicas de engenharia. Os edifícios tradicionais, como o Empire State, são grandes blocões de tijolos e concreto. O WTC era diferente. Sua estrutura era feita de aço, e usava um sistema inteligente: parte do peso de cada prédio era sustentado por uma rede de vigas que revestia todo o seu exterior. Graças a essas características, as Torres Gêmeas eram mais leves - e puderam ser construídas com mais andares. Mas, quando os aviões bateram nas torres, em 2001, o ponto fraco dessa estratégia ficou evidente. Primeiro, o impacto rasgou a malha externa. Depois, as aeronaves explodiram e geraram bolas de fogo com 800 graus Celsius de temperatura. O problema é que a 600 graus o aço fica mole - perde cerca de metade da rigidez. Isso foi demais para os prédios. "A estrutura remanescente, sobrecarregada e com o aço debilitado, não suportou as cargas dos andares superiores", explica Ricardo Fakury, professor de engenharia da UFMG. Por isso as torres caíram retas, como numa implosão. Sua estrutura ficou mole, cedeu, e os andares de cima foram esmagando os de baixo. O novo WTC adota uma filosofia diferente. Ele também é feito de aço, mas tem uma grande base central de concreto, que ocupa 50% da área interna e funciona como uma espinha dorsal. "Isso adiciona resistência à estrutura. E as paredes de concreto ao redor de escadas e elevadores protegem muito mais as saídas de emergência", explica Venkatesh Kodur, professor de engenharia da Universidade de Michigan. Os elevadores e as escadas ficam dentro desse núcleo, que na base é ainda mais reforçado: os primeiros 20 andares do prédio são uma espécie de bunker, sem janelas nem escritórios, construído com um novo tipo de concreto, três vezes mais forte que o tradicional. Segundo os construtores, isso permite que ele resista a um carro-bomba com até 680 kg de explosivos. Os vidros do prédio também são mais fortes, 50% mais grossos que o normal. Tudo para ajudar o One World Trade Center a suportar eventuais ataques. E torná-lo capaz de vencer o que talvez seja seu maior desafio: convencer as pessoas a quererem trabalhar lá. AS CARAS DO WTC Até chegar à forma atual, o novo prédio teve vários desenhos. 2002 O edifício teria apenas 70 andares de escritórios. O resto seria ocupado por jardins suspensos. Daí o nome do projeto: Vertical World Gardens. 2003 A espira (ponta mais alta do prédio) foi unida ao bloco principal. O prédio manteve os 70 andares e foi batizado de Freedom Tower (torre da liberdade). AGO/2003 Surge um novo desenho, bem diferente e com 64 andares de escritórios. A parte superior abrigaria turbinas de energia eólica. 2005 Último desenho antes do atual. O prédio cresceu, passando a 77 andares de escritórios, e ganhou estrutura interna de concreto (mantida no projeto final). O NOVO WTC Diferentemente das Torres Gêmeas, o miolo do novo edifício é de concreto, para torná-lo mais resistente em caso de ataques terroristas. AS LUZES - Um farol com 264 lâmpadas de LED poderá ser programado para emitir sequências de luzes coloridas. A espira tem mais 1.500 lâmpadas LED. 10.000 PESSOAS TRABALHARAM NA CONSTRUÇÃO DO PRÉDIO 3,9 bilhões DE DÓLARES FORAM GASTOS NA CONSTRUÇÃO O PRÉDIO TEM 153 mil METROS CÚBICOS DE CONCRETO A ESTRUTURA CONTA COM 48 mil TONELADAS DE AÇO O ENTORNO O novo WTC faz parte de um complexo urbanístico. MEMORIAL - Os pontos onde ficavam as Torres foram transformados em espelhos d'água. Também há um museu dedicado ao 11 de Setembro. MAGATERMINAL - Terá ônibus e trens e receberá 200 mil pessoas por dia (só de metrô, serão 11 linhas). VIZINHOS - Haverá outros três prédios, com 78 a 80 andares cada. Só um (Torre 4) está pronto. OS ANDARES Boa parte do prédio é ocupada por casas de máquinas e áreas protegidas. 102º ao 104º Deck de observação 91º ao 101º Casa de máquinas 70º ao 90º Vago 64º ao 69º Chine Center 56º ao 63º Vago 50º ao 55º Governo dos EUA 45º ao 49º Vago 20º ao 44º Condé Nast (Editora) 1º ao 19º Base de proteção A HOMENAGEM A altura, 1.776 pés (541 metros), é o ano da independência dos EUA - e faz do prédio o mais alto do Ocidente, com 104 andares. O PONTO TURÍSTICO O edifício tem um deck para visitantes, do 102º ao 104º andar, com restaurante. A expectativa é atrair 3,8 milhões de pessoas por ano. AS ROTAS DE FUGA As escadas são 50% mais largas, ficam em extremidades opostas e são pressurizadas (para evitar a entrada de fumaça em caso de incêndio. OS ELEVADORES Serão 70, todos dentro do núcleo de concreto. Alguns deles serão de alta velocidade e alcançarão o deck de observação, no 102º andar, em cerca de 1 minuto. O NÚCLEO DURO A estrutura das Torres Gêmeas era de aço. Mas o novo WTC tem um miolo de concreto de altíssima resistência - que foi criado especialmente para a obra e é três vezes mais forte do que o tradicional. Tudo para que o prédio resista a explosões ou ataques aéreos. OS VIDROS REFORÇADOS Cada placa pesa 500 kg e tem aproximadamente o dobro de espessura dos vidros normais. Vidro do WTC 5 cm Vidro normal 2,5 cm A BASE SEM JANELAS Os primeiros 20 andares são uma espécie de bunker, resistente a explosões. 85% do entulho da obra foi reciclado. 90% do interior do prédio recebe luz natural. PARA SABER MAIS American Ground William Langewiesche, Northpoint Press, 2003 2#6 GUERRA – NAÇÕES ARMADAS A indústria de armamentos pesados movimenta bilhões de dólares no mundo todo - e não se limita ao comércio entre países aliados. Veja quem vende mais para quem nesse imenso shopping da guerra. POR Felipe van Deursen, Flávio Pessoa, Inara Negrão e Sara Magalona AS MAIORES Nesse comércio, as relações econômicas são mais importantes que as políticas. Por isso há inimigos negociando entre si. DESTINO INCERTO Os dados são baseados em negócios legais, mas a falta de transparência leva a especulações. Países importadores podem ser porta de entrada de armas que acabam nas mãos de grupos terroristas ou paramilitares. PRINCIPAIS FABRICANTES DE ARMAMENTO (*O ranking não inclui empresas chinesas, pois não há dados sobre elas) Das 100 maiores, 42 são americanas. 1- Lockheed Martin EUA Vendas (US$ bilhões/ano) 36 % no faturamento total da empresa 76% 2- Boeing EUA Vendas (US$ bilhões/ano) 27,6 % no faturamento total da empresa34% 3- BAE Systems ING Vendas (US$ bilhões/ano) 26,8 % no faturamento total da empresa 95% 4- Raytheon EUA Vendas (US$ bilhões/ano) 22,5 % no faturamento total da empresa 92% 5- General Dynamics EUA Vendas (US$ bilhões/ano) 20,9 % no faturamento total da empresa 66% 6- Northrop Grumman EUA Vendas (US$ bilhões/ano) 19,4 % no faturamento total da empresa 77% 7- EADS ALE/FRA/ESP Vendas (US$ bilhões/ano) 15,4 % no faturamento total da empresa 21% 8- UTC EUA Vendas (US$ bilhões/ano) 13,4 % no faturamento total da empresa 22% 9- Finmeccanica ITÁLIA Vendas (US$ bilhões/ano) 12,5 % no faturamento total da empresa 57% 10- L-3 EUA Vendas (US$ bilhões/ano) 10,8 % no faturamento total da empresa 82% 66- Embraer BRASIL ® Vendas (US$ bilhões/ano) 1 % no faturamento total da empresa 17% QUEM MAIS GASTA POR ANO Equipamento e treinamento militar (US$ bilhões) 1- EUA 682 2- CHINA 166 3- RÚSSIA 90,7 4- REINO UNIDO 60,8 5- JAPÃO 59 CAMPO DE BATALHA O arsenal que EUA e Rússia enviaram a países do Oriente Médio e norte da África entre 2008 e 2011. RÚSSIA 50 tanques e armas autopropulsoras 130 carros blindados 40 caças supersônicos 30 helicópteros 3480 mísseis terra-ar 50 mísseis terra-terra 110 mísseis antinavios 2 submarinos EUA 348 tanques e armas autopropulsoras 170 carros blindados 35 caças supersônicos 36 helicópteros 647 mísseis terra-ar VALOR TOTAL GERADO PELAS TRANSFERENCIAS O aumento de 91% reflete uma transparência maior nos negócios. 2010 US$ 44,5 BI 2011 US$ 85,3 BI TABELA DE PREÇOS Veja quanto podem custar os produtos comercializados aqui (em US$). Submarino Virgínia NSSN EUA 2 BI Sistema de defesa aérea Patriot PAC-3 EUA 81 MI Satélite Ofeq ISR 189 MI Caça Sukhoi RUS 35 MI Radar de busca ISR 11 MI Motor de tanque 8V92TA EUA 210 MIL Canhão M777 ING 3,6 MI Míssil AGM EUA 500 MIL Tanque Leopard ALE 4 MI O QUE ELES VEDEM MAIS... (% do valor total) EUA Aeronaves 61% RÚSSIA Navios 27% ALEMANHA Navios 33,9% ...E O QUE ELES COMPRAM MAIS (% do valor total) ÍNDIA Aeronaves 51,5% COREIA DO SUL aeronaves 64,6% EXPORTADORES PAÍS: ALEMANHA POSIÇÃO: 3 QUANTO EXPORTOU (em US$ bilhões): 8,7 A Alemanha tem um mercado doméstico limitado, então precisa exportar tecnologia. PAÍS: CHINA POSIÇÃO: 4 QUANTO EXPORTOU (em US$ bilhões): 7,3 PAÍS: EUA POSIÇÃO: 1 QUANTO EXPORTOU (em US$ bilhões): 39 Fabricar armamento tem custos fixos de pesquisa e desenvolvimento. Quanto mais se exporta, mais esses gastos são abatidos. Isso é importante no país com os maiores gastos militares do mundo. PAÍS: ESPANHA POSIÇÃO: 7 QUANTO EXPORTOU (em US$ bilhões): 3,9 PAÍS: FRANÇA POSIÇÃO: 5 QUANTO EXPORTOU (em US$ bilhões): 7,2 PAÍS: ISRAEL POSIÇÃO: 10 QUANTO EXPORTOU (em US$ bilhões): 3,1 PAÍS: ITÁLIA POSIÇÃO: 9 QUANTO EXPORTOU (em US$ bilhões): 3,5 PAÍS: REINO UNIDO POSIÇÃO: 6 QUANTO EXPORTOU (em US$ bilhões): 5,5 PAÍS: RÚSSIA POSIÇÃO: 2 QUANTO EXPORTOU (em US$ bilhões): 36,2 Depois da crise financeira na década de 1990, o país encontrou nas exportações de armas um modo de alavancar a economia. PAÍS: UCRÂNIA POSIÇÃO: 8 QUANTO EXPORTOU (em US$ bilhões): 3,5 IMPORTADORES PAÍS: Argélia POSIÇÃO: 10 QUANTO IMPORTOU (em US$ bilhões): 4,2 PAÍS: Arábia Saudita POSIÇÃO: 5 QUANTO IMPORTOU (em US$ bilhões): 5,2 PAÍS: Austrália POSIÇÃO: 7 QUANTO IMPORTOU (em US$ bilhões): 5 PAÍS: BANGLADESH POSIÇÃO: -- QUANTO IMPORTOU (em US$ bilhões): 1,1 PAÍS: Brasil POSIÇÃO: -- QUANTO IMPORTOU (em US$ bilhões): 1,4 Encomendou 36 modernos caças suecos em 2014. Hoje, boa parte do arsenal do País é ultrapassada ou ineficiente para fortalecer as fronteiras. PAÍS: China POSIÇÃO: 2 QUANTO IMPORTOU (em US$ bilhões): 6,5 PAÍS: Cingapura POSIÇÃO: 9 QUANTO IMPORTOU (em US$ bilhões): 4,4 PAÍS: Colômbia POSIÇÃO: -- QUANTO IMPORTOU (em US$ bilhões): 1 PAÍS: Coreia do Sul POSIÇÃO: 8 QUANTO IMPORTOU (em US$ bilhões): 4,7 PAÍS: EUA POSIÇÃO: 6 QUANTO IMPORTOU (em US$ bilhões): 5 PAÍS: Emirados Árabes POSIÇÃO: 4 QUANTO IMPORTOU (em US$ bilhões): 5,7 PAÍS: Grécia POSIÇÃO: -- QUANTO IMPORTOU (em US$ bilhões): 2 PAÍS: Índia POSIÇÃO: 1 QUANTO IMPORTOU (em US$ bilhões): 18,5 Índia, China e Paquistão – Potências nucleares com conflitos regionais. E Índia e China querem ter mais influência na Ásia. PAÍS: Israel POSIÇÃO: -- QUANTO IMPORTOU (em US$ bilhões): 1 PAÍS: Marrocos POSIÇÃO: -- QUANTO IMPORTOU (em US$ bilhões): 2,5 PAÍS: Mianmar POSIÇÃO: -- QUANTO IMPORTOU (em US$ bilhões): 1,6 PAÍS: Noruega POSIÇÃO: -- QUANTO IMPORTOU (em US$ bilhões): 1,5 PAÍS: Paquistão POSIÇÃO: 3 QUANTO IMPORTOU (em US$ bilhões): 6,4 PAÍS: Rússia POSIÇÃO: -- QUANTO IMPORTOU (em US$ bilhões): 0,2 Rússia e Ucrânia – Hoje em tensão militar, os dois países comercializaram armas pesadas até 2013 – incluindo mísseis. A relação é herança da União Soviética, da qual ambos faziam parte. PAÍS: Turquia POSIÇÃO: -- QUANTO IMPORTOU (em US$ bilhões): 3,9 PAÍS: Venezuela POSIÇÃO: -- QUANTO IMPORTOU (em US$ bilhões): 2,3 1#7 CIDADES – A BATALHA DO ESTELITA Como um cais abandonado criou uma briga entre ativistas e construtoras, ganhou na internet a atenção do Brasil e colocou o Recife no centro do debate sobre o futuro das cidades. REPORTAGEM André Duarte, do Recife EDIÇÃO Felipe van Deursen Ele está fincado no centro da capital pernambucana, ao lado do forte das cinco pontas, erguido pelos holandeses em 1630 e desde então cenário das maiores revoltas da cidade. Hoje, o cais José Estelita e seu entorno estão de novo em evidência. Às margens da bacia do pina, o futuro dele virou caso de polícia e mereceu um alerta da anistia internacional. Isso graças ao grupo Direitos Urbanos, que desde 2002 milita em causas urbanísticas. Descontentes com a situação, estudantes, arquitetos, professores e advogados, entre outros membros do grupo, se uniram no movimento Ocupe Estelita. Há dois anos eles lutam contra as empresas de construção civil que pretendem injetar até R$ 1,1 bilhão para erguer ali um complexo residencial e comercial. Chamado Novo Recife, o projeto é uma cortina de espigões bem diferente da área - histórica, mas decadente. NOVO RECIFE O declínio do cais teve início nos anos 70, quando a estação ferroviária que dava vida ao local foi demolida para dar lugar a um viaduto. Anos depois, os armazéns, antes cheios de açúcar, acabaram obsoletos. Dessa época, restam carcaças de vagões, ao sabor da maresia, desafiando a ferrugem. Por mais de 30 anos, o cais ficou entregue às moscas. Em 2008, o consórcio formado pelas construtoras arrematou a área em um leilão por R$ 55 milhões. Em 2012, pressionado pelo Direitos Urbanos, ele apresentou o Novo Recife. Inspirados pelo movimento Occupy Wall Street e desgostosos com o projeto, manifestantes se organizaram para peitar as empresas. Surgiu assim o Ocupe Estelita, que ganhou corpo ao buscar detalhes e irregularidades. Em 2014, as redes sociais deram força extra ao movimento. "A briga é por democracia. O projeto impacta a vida de toda a cidade, mas nem todo mundo opinou", diz o ativista Leonardo Cisneiros, professor de Filosofia na Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE). Os ativistas usaram o Facebook para chamar atenção para a causa. Mas também porque acreditam que não se trata de um problema local, mas nacional. Outras cidades já passaram por algo assim - prédio histórico abandonado implodido para virar shopping, condomínio etc. A diferença é que, dessa vez, as pessoas conseguiram se organizar e lutar contra a construção de algo que não queriam em sua cidade. O Ocupe Estelita ganhou apoio de artistas como Ney Matogrosso, Lenine e Matheus Nachtergaele. Shows gratuitos pela causa reuniram até 10 mil pessoas na área externa do terreno, que virou um polo cultural alternativo. O movimento tem mais de 30 mil seguidores no Facebook e foi um dos assuntos mais discutidos no Twitter até o início da Copa. O caso lembra também a intricada relação entre políticos e construtoras. Grandes financiadoras de partidos, elas têm influência no poder público. No Recife, a Queiroz Galvão, integrante do consórcio, doou RS 300 mil à campanha do prefeito Geraldo Júlio (PSB). Em 2012, ela doou R$ 4 milhões ao diretório nacional do PSB, que também recebeu R$ 500 mil de outro membro do consórcio, a Moura Dubeux. Com tanto dinheiro em jogo, governantes podem dar mais atenção a empresas que a pessoas. Além disso, o que se passa no cais é reflexo do futuro das cidades. Teoricamente, ambos os lados querem desenvolver áreas degradadas. Mas como? A que custo? O Novo Recife é anunciado como uma modificação urbana em uma área pobre, que trará benefícios como um parque, 24 mil empregos temporários e 2 mil permanentes, preservação dos armazéns para fins culturais e a demolição do viaduto, que marcou o início da decadência do local. Há alguns poréns. A arquiteta Joana Pack pesquisou o aspecto técnico do projeto em sua dissertação de mestrado em Desenvolvimento Urbano pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). Ela estudou o impacto das torres na ventilação na área atrás delas e simulou a influência de outros modelos, com prédios menores e mais afastados uns dos outros. "A proposta do Novo Recife é a que gera mais desconforto ao pedestre", concluiu. Entre os motivos, haveria grandes áreas sem ventilação e outras com túneis de vento. E ainda há o choque visual: uma região histórica sem nenhum prédio de médio porte que de repente pode ganhar torres de 40 andares. As construtoras dizem que o debate sobre a altura dos prédios é mitificado. O engenheiro Eduardo Moura, porta-voz do empreendimento, defende que o projeto é o que a região precisa para se desenvolver. "A cidade tem que crescer onde há infraestrutura, e o terreno está próximo a áreas com esse potencial", explica. Ele diz não entender as acusações dos críticos. "Tem muito desconhecimento. Quanto mais verticalizado o projeto for, menos solo você usa. Numa lógica simplista, você consegue com um prédio de 40 andares dar mais espaço livre do que com quatro prédios de dez na mesma área. A lei diz que devemos destinar 35% do terreno para área de circulação pública. Vamos dar 45% ". Mas há outros problemas. O Ministério Público de Pernambuco diz que o consórcio não apresentou dados concretos sobre o impacto no trânsito, por exemplo - segundo cálculos dos manifestantes, seriam 5 mil veículos a mais por dia na área. O projeto original foi aprovado no apagar das luzes da gestão do ex-prefeito João da Costa (PT). No governo atual de Geraldo Júlio, ele foi parcialmente modificado, após as críticas. Mas a nova versão não convenceu o movimento, que continuou acreditando que a proposta é excludente. Na Justiça, a disputa também fez barulho. Denúncias de irregularidades envolvendo o leilão, além de ausência de relatórios de impacto obrigatórios por parte de órgãos de fiscalização, municiaram o grupo de advogados voluntários do movimento. O consórcio nega qualquer irregularidade. A promotora de Justiça Belize Câmara obteve liminares contra as empresas e protagonizou embates acirrados com o empreendimento. Mas, poucos dias depois, ela acabou transferida da Promotoria de Meio Ambiente e Patrimônio. O Ministério Público alegou necessidades formais e a mandou de volta a sua promotoria de origem. Isso motivou um protesto na sede do MP. "A ocupação é legítima defesa da sociedade, é uma área estratégica. Esse projeto tem cheiro de irregularidade desde o início", diz Belize. OCUPE ESTELITA Quando flagraram máquinas derrubando os galpões, os ativistas constataram que só salvariam o cais se o ocupassem. Entraram, peitaram os seguranças e barraram a demolição. "Chegamos com uma barraca, pouca água e dez pessoas. Tinha certeza que seria um fracasso", lembra o estudante Milton Petruczok sobre a noite de 21 de maio. Ele foi um dos primeiros a chegar e presenciar a vitória parcial. Foi assim que, no descampado entre os galpões e a linha férrea, cerca de 60 pessoas montaram a Vila Estelita. Em menos de um mês, o acampamento ganhou cozinha, almoxarifado, uma lona que faz as vezes de salão central e banheiro com caixa d'água e tratamento de resíduos. A coleta de lixo fornecia o material orgânico da horta. Com a ocupação, surgiu a necessidade de um convívio em sociedade. Eles criaram funções para todos, da segurança à cozinha. Isso até 17 de junho, quando a PM chegou para desocupar o terreno e virou notícia internacional. Com um mandado de reintegração de posse, deteve pelo menos quatro pessoas, entre elas Milton, e feriu cinco. A Anistia Internacional, o MP e a UFPE condenaram a ação da polícia, que usou balas de borracha, gás lacrimogêneo e bombas de efeito moral para dispersar os ativistas. Depois disso, eles ficaram acampados de maneira ainda mais precária sob um viaduto. A partir de então, o consórcio investiu mais em publicidade na mídia local. Em resposta, o movimento aumentou a presença nas redes sociais. Sob uma lona, dois computadores com acesso à internet eram os equipamentos usados pela unidade de comunicação. "As pessoas estão sendo bombardeadas de propaganda na TV. Então nossa mensagem precisa atingir mais gente", diz o estudante Artur Maia. No discurso, a pressão vem surtindo efeito. O consórcio cogitou revisar o Novo Recife e o prefeito, que se mantinha afastado do embate, cancelou o alvará de demolição dos galpões, reposicionando-se como mediador das negociações. Alegando motivos de segurança, os ativistas deixaram de dormir sob o viaduto, mas não abandonaram a ocupação diária. Enquanto as conversas engatinham, coube ao engenheiro José Estelita antecipar, em vida, o debate sobre o cais que levaria seu nome. Obcecado por urbanismo, ele gostava de discutir os rumos da cidade em seus artigos. Um deles, de 1929, foi compartilhado pelos ativistas como indício de que Estelita os apoiaria: "Defender o interesse geral contra o interesse particular tem sido a norma de ação surgida por todos os povos de grande cultura." A LUTA PELO CAIS CONHEÇA O PROJETO POLÊMICO - E O QUE OS MANIFESTANTES PROPÕEM. PROJETO NOVO RECIFE consorcionovorecife.com.br RESPONSÁVEIS Consórcio Novo Recife (Moura Dubeux Engenharia, Queiroz Galvão, Ara Empreendimentos, GL Empreendimentos). O QUE É 12 torres de até 40 andares no bairro de São José, no Centro, sendo duas empresariais, dois hotéis e oito residenciais. As torres mais altas do complexo têm 40 andares, o equivalente a 120m de altura. CUSTO R$1,1 bilhão PRÓS Pretende revitalizar a área ao criar parque, ciclovia, píer e ruas de acesso a outros bairros, além da restauração de uma igreja e galpões e da criação de 24 mil empregos. CONTRAS Impacto visual em área histórica, aumento do tráfego, redução da ventilação e aumento de calor. Criação de ilha de riqueza sem integração com arredores pobres. #PENSERECIFEpenserecife.tumblr.com RESPONSÁVEIS Coletivo de arquitetos voluntários O OUE É Estudo preliminar de urbanistas descontentes com o Novo Recife. Oito prédios de até seis andares e o desvio de avenida para criação de áreas verdes. O projeto inclui uma rua com lojas para públicos de diferentes classes e um veículo leve sobre trilhos. CUSTO Não informado PRÓS Os prédios, com espaço maior entre eles, dariam mais ventilação à região. A área comercial e a retomada da linha férrea deixariam o projeto mais integrado ao entorno. CONTRAS Ainda é um esboço então tem pouco peso para ser uma alternativa de fato. Mas um projeto do tipo valoriza áreas de convívio e é mais coerente com a região. NA RUA Outros movimentos que uniram pessoas pelas suas cidades. ISTAMBUL - Além de histórico, o parque da PRAÇA TAKSIM é das poucas áreas verdes do distrito de Beyoglu. Em 2013, ambientalistas protestaram contra sua demolição. A polícia agiu com violência, e o pequeno protesto se alastrou pelo país até gerar uma manifestação antigoverno. O parque, espécie de R$ 0,20 da Turquia, não foi demolido. FORTALEZA - Para proteger uma das poucas áreas verdes da cidade, manifestantes ocuparam o PARQUE DO cocó e tentam impedir a construção de um viaduto no local. Acampado há um ano, o grupo chegou a entrar em greve de fome. Em junho, a Justiça determinou a suspensão da obra até que a prefeitura obtenha licenças ambientais. MADRI - Espaço público que fechou em 2008 para reformas que nunca ocorreram, o CAMPO DE CEBADA foi ocupado em 2010 para atividades culturais e esportivas. Deu tão certo que a prefeitura liberou o local. Além disso, o caso inspirou a luta pelo Parque Augusta, num terreno privado de área verde em São Paulo. 2#8 ZOOM – PAZ DE ALÁ No Senegal, entre a Gâmbia e a Guiné-Bissau, o povoado místico de Kabadio passa ileso pelos conflitos separatistas do país. TEXTO Carol Castro A GUERRA NUNCA CHEGOU A KABADIO. A pequena comunidade muçulmana fica no sul do Senegal, numa província chamada Casamança. E é ali que se desenrolam os conflitos do país: há mais de 30 anos, grupos separatistas brigam pela independência da região. Mas a guerra desvia de Kabadio. Seus marabus (professores do Corão) garantem que uma barreira espiritual protege o lugar. Não falta mesmo misticismo. Nos anos 80, eles colocaram gris-gris, amuletos de proteção que carregam trechos do Corão, dentro de garrafas e enterraram pela comunidade. Há séculos mesclaram o islamismo ao animismo, religião tipicamente africana, numa dança entre Alá e as entidades da natureza. [imagens] 1- Rebelde do Movimento de Forças Democráticas da Casamança. 2- Mulheres dançam com o pé no chão para receber as energias da terra. 3- Kankuran é uma entidade que cuida das colheitas e aparece para acertar contas quando alguém faz algo errado em Kabadio. 4- Marabu produz gris-gris: um trecho do Corão escrito em madeira que será lavada e cuja água suja será usada para o banho. O talismã também pode ser uma pulseira ou cordão. 5- Crianças estudam o Corão, em meio às danças e músicas em homenagem a Alá. _____________________________________ 3# SEÇÕES II agosto 2014 3#1 TECH 3#2 CULT 3#3 E SE A CRIOGENIA FUNCIONASSE? 3#4 MANUAL – COMO TROLAR OS COLEGAS DE TRABALHO (COM CLASSE) 3#1 TECH O FIM DAS SENHAS Uma para o computador, outra para o celular, várias para a internet... é difícil se lembrar delas. Mas esta pulseira promete uma solução: os seus batimentos cardíacos. TEXTO Bruno Garattoni e Fernando Badô O CONCEITO - Quando o seu coração bate, produz sinais elétricos. Esses sinais oscilam ao longo do tempo, formando um padrão que é diferente para cada pessoa. É o chamado eletrocardiograma. Ele é como se fosse uma assinatura cardíaca, que só você tem. E pode ser utilizada como senha de acesso. COMO FUNCIONA - A pulseira tem um sensor na parte de cima. Quando você encosta seu dedo nele, o gadget mede as oscilações elétricas do seu coração. Ao usar a pulseira pela primeira vez, é preciso "treiná-la", deixando o dedo nesse sensor durante aproximadamente dois minutos - tempo no qual ela irá captar e armazenar a sua assinatura cardíaca. Pronto. QUAL A VANTAGEM - Quando você quiser abrir o seu smartphone, computador ou sites da internet, basta tocar o dedo no sensor por alguns segundos. A pulseira irá confirmar que você é você, e destravará o acesso ao seu computador ou smartphone (enviando um comando sem fios, via Bluetooth). No futuro, ela também poderá ser usada em caixas eletrônicos. O QUE MAIS FAZ - A pulseira tem sensores de movimento embutidos. Ou seja: é capaz de reconhecer gestos, que podem ser programados para executar determinadas ações - girar o pulso para colocar o celular no modo silencioso, por exemplo. Segundo o fabricante, há cerca de 6 mil desenvolvedores criando aplicativos para a pulseira (que será lançada este mês). NYMI Nos EUA: R$ 175 Getnymi.com 1- NA CABEÇA A tela deste tablet tem 13,3", quase o mesmo tamanho de um papel A4. Por isso, exibe documentos em tamanho real (você não precisa ficar dando zoom). E também vem com uma caneta digital, que permite fazer anotações à mão. Ótimo para estudar. NOS EUA: R$ 2.430 sony.com 2- NO BOLSO Chega de ficar sem bateria no celular. Esta tem o formato de um cartão, pesa apenas 45 gramas e pode ser levada na carteira. Ela se conecta a qualquer gadget portátil (via cabo USB) e tem energia suficiente para até cinco horas de uso. NOS EUA: R$ 75 monsterproducts.com/mobile/powercard 3- NO CHÃO Você encaixa este sensor no capacete e sai de bike ou skate. Se cair e bater a cabeça com força (suficiente para desmaiar), ele envia um sinal, via 3G, pedindo socorro e informando sua localização a um amigo ou parente. ICEDOT NOS EUA: R$ 330 icedot.org 4- NAS COSTAS Desenvolvida por brasileiros, esta mochila vira um skate elétrico - que alcança 24 km/h e tem autonomia de 14 km. Para acelerar, usa-se um controle remoto sem fios (para virar, é só inclinar o corpo para os lados). É relativamente leve: 7,7 kg MOVPAK NOS EUA: R$2620 movpak.com 5- NO PONTO Fazer churrasco no olhômetro é coisa de luditas. Este termômetro permite grelhar carnes com precisão, monitorando sua temperatura interna. Basta espetar os sensores wireless nos filés e vigiar o cozimento pelo iPhone. IGRILL 2 NOS EUA: R$ 220 Store.idevicesinc.com/igrill2 6- NO MICRO-ONDAS Este gadget promete fazer café expresso no micro-ondas. Basta adicionar água, inserir um sache de café e colocar no forno por 30 segundos. Ao ser aquecida, a água passa pelo filtro - e o café cai na xícara. PIAMO NA EUROPA: R$ 120 piamo-espresso.de COMO DEIXAR O GMAIL MAIS LEGAL PASSO 1- Usando o navegador Chrome, baixe o plug-in "MX Hero for Chrome" (toolbox.mxhero.com). PASSO 2 - Entre no Gmail e escreva um e-mail. Antes de enviá-lo, clique no botão do MX Hero (é um botão amarelo, ao lado do Enviar). PASSO 3 - Escolha um dos recursos. Você pode determinar que o e-mail se autodestrua após ser lido, pedir uma confirmação de leitura, ou agendar o envio para mais tarde. 3#2 CULT NOVO FILME DA MARVEL É GUARDIÕES DA GALÁXIA. GUARDIÕES DO QUÊ? SÉRIO: OUEM SÃO ESSES CARAS? Um grupo de anti-heróis estelares, saltimbancos do cosmos, improváveis defensores do Universo. ELES SÃO ETS? Um deles, o aventureiro vivido por Chris Pratt, é um humano. Mas tem também uma assassina de pele verde, outro de pele roxa, uma árvore viva com a voz do Vin Diesel e um guaxinim fortemente armado com a voz do Bradley Cooper. GUAXINIM ARMADO? CARA, O ODE ACONTECEU COM O CAPITÃO AMÉRICA, O HOMEM DE FERRO, O THOR? Estão todos ocupados com seus próprios filmes e ainda vão aparecer todos juntos em Vingadores 2, que só chega aos cinemas em 2015. MAS NÃO TINHA MAIS NENHUM HERÓI DA MARVEL DISPONÍVEL? X-MEN, HOMEM-ARANHA, QUARTETO FANTÁSTICO... São da Marvel, mas licenciados para outros estúdios. Como a empresa quer continuar expandindo seu universo, tem de bancar superproduções com figuras obscuras, MAS E AÍ? VALE A PENA? Sim! O filme tira sarro de si mesmo, os trailers impressionam e a trilha é de pérolas cafonas. AINDA ASSIM, UM GUAXINIM... Pois se prepare: vai ter filme do Homem-Formiga. GUARDIÕES DA GALÁXIA, estreia 31 de julho PLAYLIST: PRINCE Em julho de 2014, Purple Rain fez 30 anos. Conheça outros hits com o toque púrpura de Prince: 1- Nothing Compares 2 U SINEAD O'CONNOR (original escrita para The Family) 2- I Feel for Vou CHAKA KHAN (cover) 3- Stand Backs STEVIE NICKS (sintetizador, não creditado) 4- Manic Monday THE BANGLES (autor, com pseudônimo "Christopher") 5- Like a Prayer MADONNA (guitarrista, não creditado) POR DENTRO DE: (NÃO)OBRAS Três histórias certeiras de projetos que deram errado. Os bastidores da biografia proibida que Paulo César Araújo fez de Roberto Carlos - com direito a cenas de tribunal - revelam muito sobre O Rei. O RÉU E O REI, 2014. O sonho de Stanley Kubrick era filmar a vida de Napoleão, frustração registrada num livro de mil páginas. STANLEY KUBRICK'S NAPOLEON, 2011. Em 2000, Terry Gillian tentou filmar sua versão de Dom Quixote. A empreitada quixotesca rendeu um documentário incrível. LOST IN LA MANCHA, 2002 PAPO COM STEVE SODERBERGH "Televisão é mais empolgante", diz o diretor (farto) de cinema e da série de TV The Knick (Cinemax), sobre um cirurgião em NY no início do século 20. Por Mariane Morisawa, em Los Angeles. Por que o interesse nesse projeto? É algo que já vimos um milhão de vezes - um drama médico - mostrado por uma lente diferente. Estava me preparando para entrar em férias, mas li o primeiro roteiro e não tive como recusar. Há vantagem na TV? É uma oportunidade única em termos de narrativa. Gosto do formato longo como espectador. Ninguém comenta sobre os filmes na manhã de segunda. A conversa é sobre as séries. O cinema o decepciona? A televisão é mais empolgante no momento, a variedade de projetos é maior. A medida do sucesso é muito diferente - ninguém te liga após a estreia dizendo que a bilheteria não está boa. Qual o futuro da TV? Os canais abertos perdem público ano a ano. Ainda vai demorar, mas a trajetória me parece bem clara. Em compensação, as experiências que tive até agora com cabo e sites me satisfizeram completamente em termos de liberdade criativa. A ÚLTIMA DA PRIMEIRAS GUERRA Para quem gosta de game com história, Valiant Hearts traz ainda uma aula de história. O jogo mostra a Primeira Guerra Mundial do ponto de vista das pessoas comuns, e o visual de tons sóbrios contribui para o clima sensível da narrativa. VALIANT HEARTS US$ 14,99 na Steam OS PLANETAS DOS MACACOS Veja do que é feita a franquia símia, já na sua terceira encarnação. SÉRIE ORIGINAL • O Planeta dos Macacos (1868) • De Volta ao Planeta dos Macacos (1970) • Fuga do Planeta dos Macacos (1871) • A Conquista do Planeta dos Macacos (1972) • Batalha pelo Planeta dos Macacos (1973) SÉRIE ATUAL • Planeta dos Macacos: A Origem (2011) • Planeta dos Macacos: O Confronto (2014) TALEBISMOS Em seu novo livro, Nassim Taleb segue com seu estilo tão polêmico quanto genial. Antifrágil: coisas que se beneficiam com o caos NASSIM TALEB, R$ 60 O autor de A Lógica do Cisne Negro (2008) defende que a incerteza é inevitável, desejável e necessária para o mundo. Sobram críticas ao sistema financeiro, às corporações, ao Estado e ao que mais estiver no caminho. Às vezes ele exagera, mas, como afirma o infografista Alberto Cairo, que teve o privilégio de ser xingado por Taleb no Twitter, isso não tira seu brilhantismo. PROMETE Claun, projeto do roteirista Felipe Bragança, vai misturar graphic novel e animação em um história que conjuga carnaval, folclore, super-heróis e muito mais. CLAUN HQ e animação, entre outubro e dezembro QUANTO CUSTARAM OS CASAMENTOS DE GAME OF THRONES Orçamento dos casórios, de uma simples união no bosque a uma festança para todo o povo Dothraki. EM DÓLARES; T = TEMPORADA; E = EPISODIO 503 ROBB STARK E TALISA MAEGYR “Valar Morghulis” T2 E10 128 MIL TYRION LANNISTER E SANSA STARK “Second Sons” T3 E10 7 MILHÕES EDMURE TYLLY E ROSLIN FREY “The Rains of Castamere” T3 E9 8,6 MILHÕES DAENERYS TARGARYEN E KHAL DROGO “Winter Is Coming” T1 E1 10,3 MILHÕES JOFFREY BARATHEON E MARGAERY TYRELL “The Lion and the Rose” T4 E2 CHECKLIST AGOSTO THE LEFTOVERS -Série da HBO em que 2% da humanidade foi para o céu e os 98% restantes piram o cabeção. Já estreou, vai atrás. DOCTOR WHO - Nova temporada da série quinquagenária volta com 12ª versão do Doutor. Estreia 23/8 O MERCADO DE NOTÍCIAS - Documentário de Jorge Furtado mostra o jornalismo por dentro. Estreia 7/8 MERCENÁRIOS 3 - Stallone e sua turma apresentam uma alegoria perfeita da modernidade líquida, transnacional e pós-tudo. É sério. Estreia 21/8 UM POR UM - 101 ENCONTROS EXTRAORDINÁRIOS - Ótimo, e vale só pelo encontro de Madonna e Michael Jackson. BREAKING BAD E A FILOSOFIA - Se tem uma série em que um livro com o título com "e a filosofia" não é forçado, é essa. SUPER TRUNFO BATTLE CARDS - Jogo clássico da Grow para tablets com Windows 8.1 3#3 E SE A CRIOGENIA FUNCIONASSE? Congelar um doente e descongelar quando surgisse sua cura. Já que ainda é ficção científica, fizemos a nossa: como seria um mundo em que a criogenia fosse comum há décadas? TEXTO Emiliano Urbim 14 DE AGOSTO DE 1902 Mulher bonita: Brigitte Bardot. Comida gostosa: bife à parmegiana. Time do coração: Botafogo. Música boa: Garota de Ipanema. Melhor lugar: praia de Ipanema. Viagem inesquecível... acho que nenhuma vai superar essa que eu vou fazer agora. Foi o doutor quem me pediu para listar minhas coisas favoritas. É um exercício: eles não sabem como vai estar minha memória quando eu for descongelado. O que não deve demorar muito. A quimioterapia não funcionou, mas estamos na Era Espacial, a ciência avança na velocidade de foguetes. Logo o homem vai estar na Lua. Perto disso, a cura do câncer é fichinha. Hora de entrar na máquina. Volto logo! 2 DE DEZEMBRO DE 1969 Que semana... Acordei depois de sete anos e parecia que tinha tirado só uma soneca. Enquanto me recuperava do descongelamento, o doutor me garantiu que tudo ia dar certo. Novas drogas expandiriam minha mente, minha mente expandida atacaria o tumor, o tumor regridiria e pronto. O médico já havia provado da coisa. Garantia, no mínimo, a expansão da mente. Não deu certo. Em algumas horas volto para a câmara de criogenia. Tenho fé que a próxima vez é a boa: este ano os americanos foram e voltaram da Lua. Até breve! P.S.: Mulher bonita, assistente do doutor. 4 DE ABRIL DE 1985 Vi meus pais. Pareciam meus avós. Meus avós nem vieram. Minha namorada de 62 também não veio. Mandou um abraço e uma foto com sua família. O doutor tenta disfarçar a idade com o que, suponho, sejam as roupas da moda. Sigo com 18 anos. Dessa vez me descongelaram para tentar um tratamento com um recurso revolucionário: raios laser. Mas o tumor está como sempre esteve. O doutor ainda tem esperança. Eu não. Mamãe já esperava - dá para sentir o desprezo na voz dela quando resmunga "raios laser". Papai chorava. Pedi que ele me ensinasse a dar nó em gravata. Nos atrapalhamos, ele seguiu chorando, mas riu também. Perguntei do mundo. A TV é colorida. Pedem pizza por telefone. Os astronautas andam de ônibus espacial. Garota de Ipanema no walkman é radical. 2 DE FEVEREIRO DE 1992 Acordei e vi um rosto estranho. O advogado. Desesperados, meus pais haviam aderido à criogenia. Queriam sair quando eu fosse descongelado e curado. Aderiram a um plano mais barato, vulnerável a falhas de energia, veio um apagão e, enfim, o advogado sentia muito, mas, como único herdeiro, eu precisava assinar alguns papéis antes de voltar para a câmara. Aproveitando a oportunidade, o doutor mencionou uma linha de pesquisa muito promissora. Pensei em minha mãe resmungando: "células-tronco". 1º DE JANEIRO DE 2000 Talvez as falhas de memória previstas tenham começado. Não tenho certeza de que os acontecimentos das últimas horas foram reais. O doutor e sua assistente - agora a senhora sua esposa - me acordaram na noite de 31 de dezembro. Não, ainda não havia cura. Muito bêbados e muito nervosos, me explicaram que haviam corrido para o laboratório me despertar antes do "bug do milênio". Pelo que entendi, os computadores iam pifar achando que depois de 1999 vinha 1900, iam ficar perdidos no tempo. Me solidarizei com as máquinas. O plano: passar a virada fora e, se o sistema não caísse, retornar. Não questionei. Pedi champagne. Não achei que fosse fazer mal. E, a essa altura, o que é fazer mal? E se eu tivesse de morrer em 2000? E se eu quisesse morrer em 2000? E se fosse um sonho e eu acordasse em 1962? Os fogos estouraram, os computadores seguiram. Bug nenhum. Escrevi esse registro. Brindamos à cura. Feliz ano-novo. De volta à geladeira. 5 DE JULHO DE 2037 Suco de quiabo. Pode parecer engraçado, mas foi o que me curou. Estou bilionário: esse tempo todo minha caderneta de poupança ficou rendendo. Tenho a vida pela frente - e essa neta do doutor é um pedaço de mau caminho. Mas, antes de tudo, eu quero comer um bife à parmegiana. Em Marte. 3#4 MANUAL – COMO TROLAR OS COLEGAS DE TRABALHO (COM CLASSE) Passamos um terço da vida no escritório, e manter o bom humor é essencial para sobreviver a ele. Não há nada de mau em fazer uma brincadeirinha inocente com os colegas de vez em quando. TEXTO Thais Harari Edição Bruno Garattoni ATENÇÃO Tenha bom senso. Pegue leve, não faça coisas que destoem do clima da empresa. Nunca brinque com pessoas com as quais você não tem intimidade. E nem pense em mexer com seu chefe. O Manual não se responsabiliza por eventuais demissões. NO COMPUTADOR MOUSE PARALISADO - Cole um pedacinho de papel sob a saída do laser (a luz vermelha) na parte de baixo do mouse. Ele não irá funcionar - e a pessoa não saberá o porquê. DE PERNAS PRO AR - Vá até o computador do seu colega e aperte a combinação Ctrl+Alt+seta para baixo. Isso fará a tela ficar de ponta-cabeça (para desfazer, aperte Ctrl+Alt+seta para cima). CAETANEANDO O WORD - Clique em Arquivo, Opções, Revisão e AutoCorreção. Vai aparecer um campo chamado "Substituir Texto". Nesse campo, digite . (ponto) e ou não. Toda vez que seu amigo der ponto numa frase, o programa substituirá pela expressão "ou não". NA IMPRESSORA FALANDO SOZINHO - Coloque uma plaquinha, por cima do painel da impressora, escrito: "Impressão via comandos de voz." Se esconda num canto e morra de rir enquanto ouve seus colegas falando com a máquina. CLIPE FANTASMA - Imprima algumas páginas com a imagem de um clipe, e coloque-as na bandeja de folhas limpas. A próxima pessoa que usar a copiadora ficará doida tentando descobrir onde está o clipe. NA MESA 1- LANCHE DA TARDE - Seu colega vive filando sua comida? Troque o recheio de algumas bolachas por pasta de dente e deixe-as na sua mesa. Ele terá uma surpresa e tanto. 2- É GOL - Compre uma lata de buzina a gás (R$ 10 em papelarias) e prenda com fita adesiva na parte de baixo da cadeira. Quando seu amigo sentar, o peso dele acionará a buzina - que fará o maior barulhão. 3- CHAMADA PERDIDA - Usando fita adesiva dupla face, grude o gancho do telefone na base do aparelho. Ligue para o ramal do seu colega. 4- SEM ESCRITA - Passe esmalte incolor na ponta das canetas do seu colega. Nenhuma das canetas irá funcionar (depois da brincadeira, é só limpar as pontas com removedor de esmalte). OUTROS CHUVA DE ALEGRIA - Coloque um punhado de confete dentro do guarda-chuva da vítima. O carnaval vai começar quando ela sair do escritório.