0# CAPA novembro 2014 SUPERINTERESSANTE www.superinteressante.com.br edição 339 – novembro/2014 [descrição da imagem: foto do tronco e cabeça de um chimpanzé. Ele está de frente, sorrindo, tendo a mão direita sobre parte da boca.] HUMANOS CAEM AS FRONTEIRAS ENTRE NÓS E OS ANIMAIS Novas descobertas deixam claro: chimpanzés têm idiomas, cultura, fazem política, tecem redes sociais e praticam caridade. Chegou a hora de conferir direitos humanos a eles? POR REINALDO JOSÉ LOPES [outros títulos] O BRASIL SECOU A teoria que finalmente explica o que está errado com o clima no Paà­s. QUE TAL MORRER EM MARTE? BRASIL AMARRA CACHORRO COM LINGUI$$$A MINECRAFT: O CUBO CHEIO DE GRANA E O RIO VIROU A CAPITAL GLOBAL DAS IDEIAS PRATO FEITO AGORA É GOURMET ______________________________ 1# SEÇÕES I 2# REPORTAGENS 3# SEÇÕES II _________________________________ 1# SEÇÕES I novembro 2014 1#1 AO LEITOR – AS COISAS QUE IMPORTAM 1#2 MUNDO SUPER 1#3 SUPER NOVAS 1#4 SUPER NOVAS – TELEMORKETING 1#5 CIÊNCIA MALUCA 1#6 SUPER NOVAS – OS NOVOS JOGOS DE CARTAS 1#7 SUPER NOVAS – A FÁBRICA DE ATUM 1#8 PAPO – “QUERO HACKEAR A POLÍTICA†1#9 MATRIZ – CIENTÍSTAS NO CINEMA 1#10 IDEIA VISUAL – COMO FALAR PARA SER OUVIDO 1#11 BANCO DE DADOS – DESPERDÍCIO DE COMIDA 1#12 COORDENADAS – O PASSADO ILUMINADO DE VARSÓVIA 1#13 ORÁCULO – ÁGUA QUE LOBO NÃO BEBE 1#14 CONEXÕES – DE LADY DI A LEI DE MURPHY 1#15 ESSENCIAL – ESTAMOS AMARRANDO CACHORRO COM LINGUIÇA 1#1 AO LEITOR – AS COISAS QUE IMPORTAM No dia 5 de outubro, mais de 100 milhões de brasileiros foram à s urnas votar. Até onde pude observar, não foi um dia muito alegre. Vi pelas calçadas mais de um bufar, irritado, diante de algum sorriso alheio que escapasse. Pelas redes sociais, milhares cancelavam amizades de décadas, por conta de mágoas eleitorais. No dia seguinte, segunda-feira, começou no Rio de Janeiro o TED Global (veja na página 44). Lá, o clima era de alegria. Gente de 70 países trocava ideias e contava histórias incríveis sobre formas de mudar o mundo. Os brasileiros brilharam. Do engenheiro florestal Tasso Araújo, cujas políticas levaram a uma redução de 80% no desmatamento da Amazônia, ao empresário Ricardo Semler, que desafia todas as certezas do mundo dos negócios e agora investe em educação. Da ativista digital social Alessandra Orofino, que encantou a plateia toda com uma defesa racional e apaixonada do poder da mobilização social, a Miguel Nicolelis, Bruno Torturra, José Padilha, Vik Muniz e vários outros. Foi inspirador. Dois dias depois, na quarta-feira, dia 8, tive que escapar do TED para ir ao cinema em Botafogo, Era a noite de pré-estreia do filme ILEGAL, um documentário de autoria de Tarso Araújo, Raphael Erichsen e grande equipe, produzido pela SUPER. Estavam presentes cinco mães que aparecem no filme – cinco das mulheres mais corajosas que já conheci. O que as une é a tragédia de enfrentar em casa alguma doença terrível, tendo o Estado como inimigo – já que o remédio do qual elas e seus filhos precisam é maconha e, portanto, ilegal. O filme é lindo e nós da SUPER temos muito orgulho de estarmos envolvidos. Terminamos a noite celebrando com cerveja, risos e là¡grimas a decisão do conselho de medicina de São Paulo, tomada naquele mesmo dia, permitindo que médicos prescrevam remédios derivados da maconha para quem tem necessidade deles. Supomos que a decisà£o seja um pouco consequência da mobilização da qual ILEGAL faz parte. Foi uma semana intensa, difícil, cansativa. Ainda mais porque levei minha filhota de 1 ano e 4 meses ao Rio e a luminosidade intensa de lá a acordava bem cedo de manhã. Precisava pegá-la no colo às 5h30 e depois o TED comia solto das 8 da manhã até depois da meia-noite. Agora, de volta a São Paulo, sentado cansado à minha mesa, escrevendo esta carta, sou acometido pela certeza de que a eleição presidencial importa, claro. Mas importam muito mais as ideias e as aà§ões de gente como Tasso, Ricardo, Alessandra, Miguel, Bruno, Josà©, Vik, Tarso, Rapha, Camila, Katiele e todas as mães e pais de ILEGAL. Para a geração de Aurora importam mais as ações de gente mudando o mundo de baixo para cima. Sinto muito que tanta gente tenha encerrado amizades por causa de coisas que importam tão menos. Afinal, amizades estão entre as coisas que importam. Denis Russo Burgierman. DIRETOR DE REDAÇÃO DENIS.BUBGIERMAN@ABRIL.COM.BR 1#2 MUNDO SUPER REMÉDIO OU TABU? Na página da SUPER no Facebook, leitores se posicionaram em relação ao uso da Maconha Medicinal, tema da nossa última reportagem de capa (out/14). E eles escolheram um lado: o da ciência. A MACONHA medicinal não deve ser necessariamente prescrita na forma de pílulas. Na Califórnia, por exemplo, médicos prescrevem a erva para ser fumada, às pessoas que sofrem de depressão, ansiedade e outros distúrbios. - JULIANO GARCIA ISTO É O QUE SE SABE SOBRE UMA PLANTA PROIBIDA. Imagine o que poderà¡ ser descoberto quando for possível estudá-la. - OG ESTEVES SOU LEITORA DESDE 2008 E A SUPER NUNCA ME DECEPCIONA. Uma matéria esclarecedora sobre um assunto tabu que precisa ser desmistificado e debatido, sem o excesso de burocracia dos órgãos responsáveis e a ignorância e o preconceito da sociedade. - JULIANA SENA EU ERA TERMINANTEMENTE CONTRA drogas. Ainda sou, mas me informei sobre os benefícios do princípio ativo da maconha que não é alucinógeno. Ele trata inúmeras doenças para as quais os recursos já estão esgotados. Sou a favor dele, mas com controle. - LILIANE TOLEDO VENENO OU REMÉDIO? Ao fim, a dose é o que importa. O Brasil precisa avançar muito no estudo científico das drogas. Sem apologia: o tabaco do peão, o café da senhora... Tudo que gere alteração psicoativa é droga, a questão é estudar criticamente. - FELIPE SOUZA BEZERRA VALE MAIS QUE MIL IMAGENS Lucas Vinícius, 17 anos, de Araguari (MG), nos escreveu para contar sua relação com a SUPER. Ele é deficiente visual. Há dois anos, escaneia a revista inteira e escuta a partir de um sintetizador de voz. Rolou uma rapidinha com ele por e-mail. Confere aí: S- O que você gosta mais na revista? LUCAS VINÍCIUS - As reportagens sempre me chamam a atenção, por serem inovadoras e não criarem polêmica em cima do que nà£o existe. S- Imaginamos que seja difícil entender os infográficos. Como você faz? A questão gráfica é sempre problemática, mas nunca deixo de analisar. Vou e volto várias vezes, até compreender a disposição dos números e ao que cada um se refere. S- Dá muito trabalho escamar a revista inteira? Com os leitores de tela, fica bem fácil. Acabo salvando os anúncios, o que aumenta um pouquinho o trabalho. S- Você começa do começo ou vai na sua ordem? Inicio sempre da primeira linha. Acho a distribuição do conteàºdo bem organizada e eficiente. Desculpa por escrever demais, sinta-se à vontade para cortar. Coisa de cego doido! Rs CORREIO ELEGANTE Os comentários mais carinhosos que recebemos nas últimas semanas. É super interessante como a SUPER cada dia mais parece com aqueles tabloides sensacionalistas. - JANDERSON SILVA, sobre o artigo Pequenos Partidos, Grandes Negócios (out/14). 3 LEITORES OPINAM SOBRE O ARTIGO PEQUENOS PARTIDOS, GRANDES NEGÓCIOS (OUT/14) 1- E pensar que nós pagamos para o Tiririca fazer palhaçada e o Levy Fidélix encher o órgão excretor de dinheiro! - ROBSON LEITE DE OLIVEIRA 2- Partido-empresa, bom saber... Até com a democracia dá pra lucrar hoje em dia! - BRUNO RIBEIRO 3- Acho engraçado a desculpa de "a democracia brasileira é jovem" pra justificar essa sujeirada toda. O problema não está na idade da nossa democracia e sim em como ela foi construída. A base já era podre e requer reforma desde sempre. - VITOR AMORIM TROFÉU PIADISTA DO MÊS Tem gente que ia adorar ficar doente. - HÉLIO PIMENTEL GOULART, sobre Maconha Medicinal, tema da reportagem de capa (out/14) SUPER BANCA Ainda não conhecemos bem muita coisa. No espaço sideral ou aqui, do nosso lado. EXTRATERRESTRES E-BOOK R$ 24,90 Astrônomos estimam que existam 4 bilhões de mundos como o nosso, propícios à vida. Agora, em versão digital. bit.ly/1Cini4s SOCIEDADES SECRETAS NAS BANCAS R$ 14 Conheça as organizações mais influentes e misteriosas da história. E mais dez irmandades ocultas. DESMATAR CAUSA FALTA D'ÁGUA Na reportagem Porque Está Faltando Água? (set/14), me decepcionei um pouco. Vocês explicaram lindamente as reservas e o mau uso, mas falta um pedaço importante da história: a relação entre desmatamento e falta de água. Por que faltou chuva? Por causa do desmatamento da Amazônia (vide Rios Voadores). As pessoas precisam entender que não basta rezar para chover e colocar a culpa no governo. - FERNANDA ZANINI, analista do Instituto de Meio Ambiente do Distrito Federal. MOBILIDADE SUSTENTÁVEL A reportagem Novos Caminhos para a Cidade, publicada na edição de aniversário da SUPER em 2013, foi a única matéria brasileira premiada pelo Instituto de Políticas de Transporte e Desenvolvimento (ITDB). Natália Garcia, jornalista vencedora, ganhou uma visita a Nova York para conhecer projetos de mobilidade que estão mudando a là³gica da metrópole. E SE NÃO DESEMBOCAR? O Oráculo (out/14) explicou que não haveria muita diferença na disponibilidade de água se os rios não chegassem ao mar. No entanto, muitas praias deixariam de existir. São os rios que fornecem grande parte da areia e, se eles fossem barrados, os sedimentos ficariam retidos e as ondas causariam erosão nas praias. Há vários estudos sobre o encolhimento da faixa de areia devido às barragens ao longo do rio. - CLEBERSON FERREIRA, TÉCNICO EM MINERAÇÃO/GEOLOGIA FOI MAL Escrevemos sedido em vez de cedido (Pequenos Partidos, Grandes Negócios, out/14). As coordenadas geográficas do vulcão Cotopaxi são 0°67'S 78°43'O, e não 9°96'N76°24'L (Coordenadas, out/14). O presídio de Rio Grande ficava na cidade homônima, não em Porto Alegre (Oráculo, out/14). Itamar Franco não foi eleito presidente, assumiu interinamente (Matriz, out/14). A sinapse nervosa se dá de dendrito para axônio, não entre dois axônios, como desenhamos. (Infográfico sobre o funcionamento dos endocanabinoides, Maconha: Remédio Proibido, out/14). Ina Ramos foi a responsável pela produção das fotos da matéria das trufas (O Tempero Mais Caro do Mundo, out/14). FALE COM A GENTE REDAÇÃO - superleitor@abril.com.br, av. das Nações Unidas, 7221, 14º andar, CEP 05425-902, São Paulo, SP, fax 11 3037-5891. PUBLICIDADE - publiabrif.com.br SP 11 3037-5189, RJ 21 2546-8100. Outras praças: 11 3037-5759. Vendas Diretas: 11 3037-5000. SAC - abrilsac.com abrilsac.lojaabril@abril.com.br SP 11 5087-2112 Outras Praças 0800-7752112 Segunda a sexta, das 8 às 22h. ASSINATURAS - assineabril.com SP 11 3347-2121 Outras Praças 0800-7752828 Segunda a sexta, das 8 às 22h. Sábado, das 9 às 16h. EDIÇÕES ANTERIORES – loja.abril.com.br Superinteressante SP 11 5087-2290 Outras Praças 0800-7718990. Ou solicite para seu jornaleiro – o preço será o da última edição em banca mais a despesa de remessa. TRABALHE CONOSCO - abril.com.br/trabalheconosco 1#3 SUPER NOVAS EDIÇÃO Bruno Garattoni BACTÉRIA TRANSGÊNICA IMPEDE A OBESIDADE Microorganismo criado por cientistas dos EUA envia sinais para o cérebro, freando o apetite - e evitando o ganho de peso. TEXTO Salvador Nogueira TRINTA POR CENTO da população mundial – 2,1 bilhàµes de pessoas – está acima do peso. A humanidade está perdendo a guerra contra a gordura. Mas e se existisse uma solução quase milagrosa para conter a onda de obesidade? Talvez exista. É o que indica o resultado de uma experiência feita por cientistas americanos, que criaram uma bactéria capaz de impedir o ganho de peso. É uma versão mutante da Escherichia coli, bactéria que faz parte da nossa flora intestinal e costuma ser inofensiva. Os pesquisadores colocaram um gene a mais na E.coli. Graças a isso, ela ganhou um poder: fabricar N-acilfosfatidiletanolamina. Esse hormônio de nome comprido normalmente é produzido pelo corpo humano, e tem uma função simples: indicar ao cérebro que a pessoa comeu o suficiente. Ele freia o apetite. Um grupo de ratos de laboratório recebeu a superbactéria, misturada com água. Os bichinhos tinham alimentação à vontade, podiam comer o quanto quisessem. Mas, depois de oito semanas, algo impressionante aconteceu. "Os níveis de obesidade caíram", diz o biólogo Sean Davies, líder do estudo. Os ratos não só não engordaram; eles haviam perdido peso. Tudo porque a bactéria mutante se instalou no organismo deles e começou a produzir o tal hormônio, tirando a vontade de comer em excesso. Depois que os bichos pararam de receber a E.coli modificada, o efeito durou mais quatro semanas. Não houve efeitos colaterais. Agora, os pesquisadores querem testar a descoberta em humanos. Se ela funcionar, será possível criar uma bebida pro-biótica (tipo Activia ou Yakult) contendo a tal bactéria – que as pessoas beberiam para emagrecer. ANESTESIA APAGA MEMÓRIAS RUINS O gás xenônio, que é usado em faróis de carro (pois gera luz quando recebe eletricidade) e também como anestésico, tem uma terceira utilidade: eliminar memórias traumáticas. Pelo menos em cobaias de laboratório. A descoberta é de cientistas americanos, que submeteram um grupo de ratos a uma situação desagradável – quando tocava um determinado som, eles levavam um choque. As cobaias que inalaram xenônio se esqueceram desse fato, e passaram a ignorar o alerta sonoro. O efeito acontece porque o gás bloqueia a aà§ão de um aminoácido chamado NMDA, que é necessário para a preservação das memórias. BRASIL É QUARTO PAÍS COM MAIS PRESOS Pesquisa revela que há 10,2 milhões de pessoas presas no mundo; população carcerária cresceu 6% a mais do que a de fora das grades desde 1990. CANADÁ Número de presos a cada 100 mil habitantes: 118 Número total de presos: 40 mil EUA Número de presos a cada 100 mil habitantes: 716 Número total de presos: 2,2 mil COLÔMBIA Número de presos a cada 100 mil habitantes: 245 Número total de presos: 118 mil BRASIL Número de presos a cada 100 mil habitantes: 274 Número total de presos: 548 mil CHILE Número de presos a cada 100 mil habitantes: 266 Número total de presos: 46 mil URUGUAI Número de presos a cada 100 mil habitantes: 281 Número total de presos: 9,5 mil ARGENTINA Número de presos a cada 100 mil habitantes: 147 Número total de presos: 60 mil ALEMANHA Número de presos a cada 100 mil habitantes: 79 Número total de presos: 64 mil DINAMARCA Número de presos a cada 100 mil habitantes: 73 Número total de presos: 4 mil SUÉCIA Número de presos a cada 100 mil habitantes: 67 Número total de presos: 6 mil INGLATERRA Número de presos a cada 100 mil habitantes: 148 Número total de presos: 84 mil FRANÇA Número de presos a cada 100 mil habitantes: 98 Número total de presos: 62 mil ITÁLIA Número de presos a cada 100 mil habitantes: 106 Número total de presos: 64 mil RÚSSIA Número de presos a cada 100 mil habitantes: 475 Número total de presos: 681 mil PAQUISTÃO Número de presos a cada 100 mil habitantes: 39 Número total de presos: 74 mil ISRAEL Número de presos a cada 100 mil habitantes: 223 Número total de presos: 17 MIL IRAQUE Número de presos a cada 100 mil habitantes: 110 Número total de presos: 37 mil SÍRIA Número de presos a cada 100 mil habitantes: 58 Número total de presos: 10 mil ÍNDIA Número de presos a cada 100 mil habitantes: 30 Número total de presos: 385 mil CHINA Número de presos a cada 100 mil habitantes: 21 Número total de presos: 16 mil JAPÃO Número de presos a cada 100 mil habitantes: 51 Número total de presos: 64 mil TIMOR LESTE Número de presos a cada 100 mil habitantes: 25 Número total de presos: 0.2 mil MÉDIA GLOBAL: 144 Fonte: World Prison Population List, International Centre for Prison Studies. LÂMPADA É ALIMENTADA PELA FORÇA DA GRAVIDADE GravityLight já está em teste em 25 países e vai custar US$ 5. 1- VOCÊ PEGA UMA SACOLA que tenha 9 kg de alguma coisa (pedras, livros, etc) e prende na máquina. 2- A GRAVIDADE PUXA A SACOLA para baixo. Sua força movimenta um conjunto de engrenagens. 3- ISSO GERA ELETRICIDADE, que alimenta uma lâmpada de LED. A lâmpada gera 5 lúmens (luz equivalente a uma lamparina). 4- APÓS MEIA HORA, a sacola terá caído 1m e chegará ao ponto mais baixo. Pendure-a de novo, do outro lado, para ter mais luz. 8h30 é o horário em que as aulas do Ensino Médio deveriam comeà§ar, segundo a Associação Americana de Pediatria. Ela se baseou num estudo que acompanhou 9 mil estudantes cujas escolas já adotam esse horário - e constatou que eles aprendem mais e tiram notas melhores do que os alunos forçados a acordar mais cedo. “PAPEL HIGIÊNICO é uma das primeiras coisas a acabar", disse Satoshi Kurosaki, presidente da associação japonesa de fabricantes desse produto. O governo lançou uma campanha para que a população estoque papel higiênico em casa – e tenha o que usar caso o país volte a sofrer catástrofes naturais, como o tsunami de 2011. ECOLOGIA Supermercado será abastecido por comida estragada Toda a energia necessária para abastecer um supermercado da rede Sainsbury, na Inglaterra, será gerada pela queima de gás metano. O gás será produzido pela decomposição, num tanque, de alimentos vencidos - que atualmente vão parar no lixo. TECNOLOGIA Google Glass tem aplicativo para surdos Criado pela Universidade da Geórgia, o app usa o microfone embutido nos óculos do Google para captar o que as pessoas estão dizendo. As palavras são transcritas e exibidas como texto, em tempo real, na tela do Glass. BIOLOGIA Gene humano deixa ratos espertos Ratos que receberam o gene FOXP2 ficaram mais inteligentes – aprenderam a atravessar um labirinto mais rápido, e memorizaram o caminho mais facilmente. Em humanos, o gene é ligado ao desenvolvimento cerebral. 1#4 SUPER NOVAS – TELEMORKETING Empresa americana ganha dinheiro telefonando para doentes à beira da morte. Ela diz que seu objetivo é ajudar essas pessoas. Mas também há outra razão. TEXTO CarLo Cauti IMAGINE QUE VOCÊ ESTÁ EM CASA, deitado, pensando no futuro. Tem câncer avançado, e poucos meses de vida. O telefone toca. à‰ um atendente de telemarketing. Você não o conhece, mas ele sabe muito sobre você: seu nome, seu plano de saúde, sua doença. Não está vendendo nada, só quer conversar e ajudá-lo a tomar as melhores decisões sobre o seu futuro. Ele não diz, mas também tem outro objetivo: convencer você a recusar determinados tratamentos, para que o seu plano de saúde gaste menos dinheiro. Esse é o negócio da empresa americana Vital Signs, com 50 funcionários especializados em fazer telemarketing para doentes terminais. Ela é contratada pelos planos de saúde, que ganham com isso – em 2014, a Vital Signs diz ter convencido 10 mil pacientes a alterar seus tratamentos, economizando US$100 milhões para os planos. A prática tem sido criticada por médicos dos EUA, que consideram reprovável induzir os doentes a tomar decisões. A Vital Signs se defende alegando que, quando não há chance de cura, faz sentido interromper tratamentos que só provocarão sofrimento. "As pessoas com doenças graves costumam ser passivas. Não tentam retomar o controle de suas vidas", diz o CEO da empresa, Michell Daitz. Para ele, encarar a morte de forma honesta pode melhorar a vida do doente. E gerar lucro. 1#5 CIÊNCIA MALUCA TEXTO Carol Castro POSIÇÃO POLÍTICA INFLUI NO CHEIRO DO CORPO Voluntários taparam suas axilas com gaze por um dia. Em seguida, 125 pessoas cheiraram as gazes - e tentaram adivinhar a posição polà­tica (esquerda, direita ou centro) de quem as usou. Erraram. Mas, inconscientemente, acertaram: os odores que cada pessoa considerava mais agradà¡veis eram de voluntários que tinham a mesma ideologia que ela. CACHORROS PODEM SER PESSIMISTAS Quarenta cães foram treinados para responder a dois sons. Quando um era tocado, eles ganhavam água. Quando o outro soava, ganhavam uma guloseima. Os bichos logo entenderam. Mas aí os cientistas começaram a tocar outros sons. Alguns cães, otimistas, atendiam ao sinal na esperança de ganhar comida. Outros eram pessimistas – e nem se mexiam. HOMENS PREFEREM LEVAR CHOQUE A SENTIR TÉDIO Em um teste, voluntários ficaram 15 minutos sozinhos, sem fazer nada. Eles podiam desistir – mas aí levariam um choque. 66% dos homens (e 25% das mulheres) preferiram o choque. 1#6 SUPER NOVAS – OS NOVOS JOGOS DE CARTAS Pôquer? Buraco? Truco? Os baralhos modernos vão muito além disso: misturam Google, redes sociais, guerra nuclear e confissões inconfessáveis. Conheça os melhores. TEXTO Sarah Kern JOGO DO AUTOCOMPLETAR NOME: Query (US$ 28; QUERYTHEGAME.COM) COMO SE JOGA: Sabe quando você vai fazer uma pesquisa no Google, e ele completa automaticamente a frase? Às vezes acerta; e às vezes erra, de forma hilária. Neste jogo, que tem 600 cartas, o objetivo à© adivinhar de que forma o Google irá completar determinada busca, como "É perigoso" (as respostas incluem "É perigoso engolir chiclete" e "É perigoso tomar banho com chuva"). CARTADA NAS REDES SOCIAIS NOME: Game of Phones (US$ 25; PLAYGAMEOFPHONES.COM) COMO SE JOGA: Um dos jogadores pega uma das cem cartas e lê as instruções. São ordens para que os demais façam ou vejam algo em seus smartphones, como: "Postem uma imagem agora no Instagram; o vencedor é o primeiro a receber um like" ou "Quem tiver o app mais inútil instalado ganha". O jogador que vence dez rodadas leva a partida. HUMOR NEGRO NOME: Cards Against Humanity (US$ 25; CARDSAGAINSTHUMANITY.COM) COMO SE JOGA: O dealer pega uma das cartas pretas e lê. Elas têm frases incompletas e embaraçosas, como "Durante o sexo, costumo pensar em..." ou "Quando fica bêbado, meu tio fala sobre...". Os jogadores completam usando as cartas brancas, que trazem termos como "canibalismo", "ajudar velhinhas" ou "Papai Noel". Ganha quem formar a resposta mais engraçada. PÔQUER NUCLEAR NOME: Nuclear Poker (GRÁTIS; GOO.GL/RR8Y87) COMO SE JOGA: O objetivo e lançar um ataque nuclear contra os outros jogadores. Toda rodada, cada pessoa recebe uma carta. Ganha o primeiro que conseguir formar um conjunto com as oito cartas corretas – quatro delas representam elementos tecnológicos, como urânio e mísseis, e quatro representam estratégias militares (como "ataque de longo alcance" e "revide"). 1#7 SUPER NOVAS – A FÁBRICA DE ATUM O atum do mundo esta acabando. Mas começa a ser testada uma possível solução: criar toneladas do peixe em esferas submersas de alta tecnologia. TEXTO Aurélio Amaral OS PEIXES QUE VOCÊ COME geralmente vêm da piscicultura, ou seja, são criados em cativeiro. O atum não. A única maneira de consegui-lo é caçando, e por isso a espécie está ameaà§ada de extinção. De 1950 para cá, sua população caiu pela metade. Mas a empresa americana Hawaii Oceanic Technology diz ter a solução: criar o peixe em bolas submersas. São bem espaçosas e ficam a 20 metros de profundidade, condições fundamentais para o atum (e que a piscicultura tradicional não atende). O projeto é criticado por ambientalistas, que temem impacto no ecossistema local. Mas a empresa obteve autorização para instalar as esferas no Havaí, e espera a primeira ninhada de atuns para 2017. Segundo ela, 4 mil bolas seriam suficientes para abastecer o planeta e evitar a extinção da espécie. O CATIVEIRO É uma bola com 82,5 mil m3 de água – o equivalente a 33 piscinas olímpicas. espaço suficiente para abrigar 200 mil atuns (cerca de mil toneladas de peixe). A ESTRUTURA A carcaça da bola é feita de fibra de carbono e a rede é de Polietileno. A rede é coberta por furos de apenas 2,5 cm2 cada um – permitem a passagem da água, mas não dos atuns. O TUBO ALIMENTADOR Libera a ração 9sardinha com algas) por meio de um conjunto de furos. Para evitar que os peixes disputem alimento, a comida é liberada 24 horas por dia. A BÓIA Tem um GPS (para que o criadouro seja localizado). Também guarda o estoque de ração: 100 toneladas, suficiente para duas semanas. O BARCO-ROBÔ Navega sozinho e trabalha 24 horas por dia monitorando o local, limpando a rede e consertando possíveis danos causados por predadores. 1#8 PAPO – “QUERO HACKEAR A POLÍTICA†Não faz sentido escolher um desconhecido a cada dois anos e delegar a ele o poder de decidir sobre a sua vida. Chegou a hora de participar da política o tempo todo. ENTREVISTA Karin Hueck PIA MANCINI Argentina de 32 anos, criou um aplicativo que traduz para a linguagem comum as propostas de lei votadas no Congresso e permite que todo mundo vote junto. Agora, ela fundou um partido para eleger candidatos que votem como a população quer. Por que você resolveu fundar um partido? Sinto que o sistema político está completamente dessintonizado com os nossos tempos. Nós estamos acostumados a nos organizar de forma colaborativa, peer-to-peer, sem intermediários, e com a possibilidade de nos expressar sobre qualquer assunto a qualquer hora. A política à© o contrário disso. O sistema político se modifica em um ritmo glacial – não mudou nem um pouco nos últimos 200 anos. Isso obviamente traz problemas: faz com que as pessoas se sintam apáticas e sem vontade de participar. Queria mudar isso. Qual é a ideia do seu partido? O Partido de la Red nasceu há dois anos em Buenos Aires. Somos um partido local, algo que é permitido na Argentina e é bem mais fácil de ser fundado do que aqui no Brasil. Entendemos que, se quiséssemos conversar sobre a política que queremos ter, teríamos que fazer parte do sistema para entender como ele funciona. É um pouco parecido com a maneira como hackers trabalham. Temos um software chamado DemocracyOS [no qual as pessoas podem votar pelos seus telefones nos projetos de leis que estão sendo discutidos no Congresso], e decidimos que os candidatos do nosso partido vão sempre votar de acordo com o que os cidadà£os decidirem. É uma maneira de aumentar a participação política, e não restringi-la a uma vez a cada dois anos. Não é complicado deixar todo mundo palpitar em todas as questàµes? Minorias não podem ser atropeladas? Nossa proposta não é a democracia direta. Nossa proposta é um complemento ao que já existe, e funciona apenas no Poder Legislativo, onde é necessária uma maioria para que as propostas sejam aprovadas. É no Congresso que as discussões são feitas, e é aí que queremos abrir um espaço novo. Não estamos dizendo que queremos uma democracia direta – definitivamente não – e não dizemos que decisões executivas deveriam sempre ser referendadas com os eleitores, assim como não queremos passar por cima do Judiciário. Queremos apenas abrir um espaço no Congresso. Isso quer dizer que vocês não têm uma agenda própria? Não, temos uma agenda positiva que quer envolver os cidadãos na política. Defendemos um acesso maior às informações, queremos diminuir o gap digital e discutir a transparência do governo. Temos também uma proposta para fazer um reboot no sistema educacional. Acreditamos que, do jeito que as coisas estão, ensinamos as nossas crianças a serem agentes passivos do Estado e temos de ensiná-los a ser agentes, designers de decisão, membros ativos da sociedade. Como foi a sua campanha? Tivemos um bom desempenho: ganhamos 1,2% e cerca de 22 mil votos. Nossa campanha não se limitou apenas ao mundo digital. Construímos um enorme cavalo de Tróia de madeira, de 4 metros de altura, e o levamos para a frente do Congresso. Dissemos que dentro de sua barriga estavam as ideias de milhares de pessoas que queriam palpitar no processo político. Dirigimos o cavalo pela cidade toda, o que teve uma grande cobertura da mà­dia. Também tivemos grande participação nas redes sociais, mas acreditamos em misturar estratégias online e offline. Política é feita olhando nos olhos das pessoas e garantindo a elas de que estamos ouvindo. Isso é insubstituível. 1#9 MATRIZ – CIENTÍSTAS NO CINEMA Eles viraram personagem da Disney, foram interpretados por David Bowie e contracenaram com Meg Ryan. POR Alexandre de Santi, Marcel Hartmann, Priscila Daniel e Paula Bustamante QUANDO NIETZSCHE CHOROU (2007) - Breuer, professor de Freud, examina um Nietzsche com tendências suicidas. Só que o alemão nunca nem conheceu a psicanálise. GÊNERO – Drama KINSEY - VAMOS FALAR SOBRE SEXO (2004) - Alfred Kinsey estuda o comportamento sexual americano e choca geral ao entrevistar gays e pedófilos. GÊNERO - Drama EINSTEIN E EDDINGTON (2008) - Alemão e inglês criam a Teoria da Relatividade enquanto seus países se enfrentam na 1ª Guerra. GÊNERO - Drama INFINITY - UM AMOR SEM LIMITES (1996) - Feynman desenvolve a eletrodinà¢mica quântica, mas se casa com uma tuberculosa a contragosto da família. GÊNERO - Drama A HISTÓRIA DE LOUIS PASTEUR (1936) - Microbiologista descobre a importância da limpeza. Nenhum francês dá bola. GÊNERO - Drama TRIUNFO SOBRE A DOR (1944) - O dentista W. T. Morgan descobre o éter como anestésico. Mas entrou em decadência. Seu fim doloroso vem no começo, e o resto do filme fica supimpa. GÊNERO – Comédia dramática UM MÉTODO PERIGOSO (2011) - Sabina Spielrein vira amante de Jung e apimenta a disputa dele com Freud. Nasce a psicanálise. GÊNERO - Suspense UMA MENTE BRILHANTE - (2001) John Nash é tido como matemático genial e excêntrico. Era esquizofrenia. GÊNERO - Biografia O JOGO DA IMITAÇÃO (2014) [*previsto para este mês, nos EUA]– Alan Turingé um matemático que luta contra o nazismo, mas sofre dentro do armário. GÊNERO - Suspense TEMPLE GRANDIN (2010) - Ela é autista, mas virou PhD em veterinária e lutou pelo fim da violência contra animais em fazendas e abatedouros. GÊNERO - Biografia O GRANDE TRUQUE (2006) - David Bowie interpreta o inventor Nikola Tesla e surge com um teletransporte numa disputa de mágicos. GÊNERO - Suspense CRIAÇÃO (2009) - Darwin pira ao tentar conciliar trabalho e vida pessoal. Casou com uma cristã fervorosa. GÊNERO - Biografia QUASE DEUSES (2004) - Vivien Thomas era negro, pobre e carpinteiro, mas queria ser médico. Se juntou ao Dr. Alfred Bollock e revolucionou a cirurgia cardíaca. GÊNERO - Biografia MADAME CURIE (1943) - Polonesa sem dinheiro se muda para Paris, casa, descobre o rádio e o polônio e leva dois prêmios Nobel. GÊNERO - Biografia A TEORIA DO AMOR (1994) - Einstein tenta convencer Meg Ryan a trocar o noivo enjoado por um mecânico. GÊNERO – Comédia romântica FLUBBER (1997) - Filme da Disney inspirado no químico Hubert Alyea, apelidado de Dr. Boom pelas demonstrações com explosivos. GÊNERO - Comédia ALEXANDRIA (2009) - A astrônoma e filósofa Hipátia de Alexandria arrasava corações, inclusive dos escravos. Filme censurado no Egito. GÊNERO - História EDISON - O MAGO DA LUZ (1940) - Desafio ao inventor da lâmpada: iluminar Nova York em seis meses. Valendo! GÊNERO - Biografia O GAROTO SELVAGEM (1970) - O psiquiatra Jean Itard encontra uma criança que vive na floresta. Cuida dela para ver no que dá. GÊNERO - Drama A TEORIA DE TUDO (2015) [previsto para janeiro de 2015, nos EUA] - Stephen Hawking se apaixona na faculdade. Junto com o amor, descobre a esclerose. GÊNERO - Biografia 1#10 IDEIA VISUAL – COMO FALAR PARA SER OUVIDO De acordo com o especialista em sons Julian Treasure, é possível alterar a fala para fazer com que todos ao seu redor prestem atençà£o. Entenda aqui. EDIÇÃO Karin Hueck e Inara Negrão Em colaboração com TED CONTEÚDO 1- PASSE LONGE – Evite a qualquer custo os seguintes hábitos: fofoca, julgamentos, negatividade, reclamações, desculpinhas, exagero, dogmas. 2- USE E ABUSE – No lugar de tanta chateação, seja sincero, gentil e amoroso. FORMA 3- AMPLIFICADOR – Use a sua caixa torácica para ressonar o tom. Pessoas com vozes graves são mais respeitadas. DEVELUDO – Vozes suaves e quentes são mais agradáveis: regule seu timbre. CANTE COMIGO – abuse da melodia como se estivesse cantando para não ficar, literalmente, monótono. RITMO – Oscile entre frases faladas rapidamente e outras... mais lentas. Pausas. Aumentam. O. Drama. ACERTE O TOM – A mesma frase pode ficar mais urgente e enfática apenas mudando o tom. ALTOS E BAIXOS – Se quer empolgar, aumente o volume. E fale bem baixo para obrigar todos a prestar atenção. 1#11 BANCO DE DADOS – DESPERDÍCIO DE COMIDA A cada cem calorias de alimentos produzidos no mundo, 24 não chegam ao prato. Um prejuízo equivalente a um terço do PIB do Brasil. POR Inara Negrão e Sara Magalona 1,3 BILHÃO DE TONELADAS DE ALIMENTO são desperdiçados por ano no planeta PREJUÍZO DE US$ 759 BILHÕES ESSA COMIDA DESPERDIÇADA poderia alimentar 28,5% da humanidade (2 bilhões de pessoas) 80 BILHÕES de toneladas ou 15% da produção, são desperdiçadas na América Latina todo ano. 24% da produção mundial de alimentos é perdida (1,5 quatrilhão de kcal). AS PERDAS SE DISTRIBUEM AO LONGO DO PROCESSO: 24% Produção 24% Manuseio e armazenamento 5% Processamento e embalagem 12% Distribuição e mercado 35% Consumo PERDAS E DESPERDÍCIOS DE COMIDA (per capita por região do mundo) [*A perda de alimentos é a redução não intencional de alimentos, já o desperdício é intencional] América do Norte e Oceania 300 kg/ano Europa 280 kg/ano Ásia industrializada 240 kg/ano América Latina 230 kg/ano Norte da África e oeste da Ásia 220 kg/ano África subsaariana 170 kg/ano Sul e sudeste da Ásia 130 kg/ano RICOS DESPERDIÇAM MAIS 56% países desenvolvidos 44% países em desenvolvimento 1,4 BILHÃO DE HECTARES foram usados para produzir comida que não chegou a ser consumida. Isso equivale a: BRASIL + ARGENTINA + MÉXICO + VENEZUELA = 14 MILHÕES DE Km2 1#12 COORDENADAS – O PASSADO ILUMINADO DE VARSÓVIA Néon Muzeum, Varsóvia, Polônia: no bairro mais descolado da capital, um galpão preserva sinais de néon usados durante os anos de Guerra Fria. TEXTO E FOTO Renata Miranda EDIÇÃO: Felipe van Deursen e Luiz Romero ATRÁS DE PORTAS ENFERRUJADAS, brilham cerca de 50 sinais em nà©on que iluminaram a Polônia por décadas. Eles fazem parte do acervo do Néon Muzeum, um dos mais preciosos tesouros deixados pelos anos de Guerra Fria, uma parte da história que muitos poloneses não gostam de lembrar. Os sinais exibidos no museu começaram a ser produzidos no final dos anos 50, quando a União Soviética encontrou no néon um material de propaganda que conciliava socialismo a uma forma de consumo ordenada e padronizada. Nas décadas seguintes, arquitetos e designers criaram placas e luminosos que se espalharam por todo o país. No museu, os textos exibidos pelos luminosos são simples, indicando o tipo de estabelecimento ou o produto comercializado no local. Sempre que possível, eles refletem a ideologia do Partido Comunista. Como o néon rosa do Restauracja Szanghaj, restaurante cuja principal finalidade era introduzir na Polônia a culinária dos camaradas chineses. Instalado na Soho Factory, um complexo industrial construído no começo do século passado e considerado o novo centro criativo de Varsóvia, o Neon Muzeum conta de um jeito inusitado esse período difícil da história do país, quando publicações eram censuradas e protestos eram respondidos com prisões em massa. O museu divide calçadas com restaurantes, galerias de arte e escritórios de empresas de tecnologia, iniciativas de gente que quer trazer um espírito de inovação à capital polonesa. É um retrato dessa nova Polônia, que anda para frente, mas não deixa de olhar para trás. Mesmo se o passado for uma lembrança triste em néon. VÁ - Pegue a linha 8 do bonde, desça na parada Goctawska e caminhe dois quarteirões até a Soho Factory. Minska 25, galpão 55. QUANDO - As temperaturas na capital polonesa ficam mais amenas durante a primavera europeia. ESTE MÊS NESTE PLANETA 14°47'N 100°39'L BANQUETE SÍMIO Três mil macacos de Lopburi, Tailândia, ganham um banquete no Monkey Buffet Festival. O festim ocorre em templos milenares erguidos pelo Império Khmer. Dia 25. 26°29'N 74°33'L VENDE-SE UM CAMELO Em uma das celebrações da Lua Cheia dos hindus, ocorre o maior festival de compra e venda de camelos do mundo: em Pushkar, Índia, cerca de 50 mil animais são comercializados. Dia 2. UM MOMENTO 23/11, 4H20 Início dos debates da Cannabis Cup, onde participantes discorrem sobre temas ligados à maconha. O festival, em Amsterdã, Holanda, premia as melhores variedades da planta. 5 MIN Tempo para contar a melhor mentira no World’s Biggest Liar, em Cumbria, Inglaterra. Políticos e advogados não podem participar. Dia 20. QUE LUGAR E ESSE? 1- Ex-colônia portuguesa. 2- Viveu uma devastadora guerra civil. 3- Tem 2,5 mil quilômetros de litoral. RESPOSTA Moçambique, na costa do Índico, foi colônia de Portugal por quase 500 anos. Nos anos 70 e 80, a guerra civil deixou 1 milhão de mortos. 1#13 ORÁCULO – ÁGUA QUE LOBO NÃO BEBE Sopa, xixi, sangue, piratas e navios. A curiosidade é líquida, diria o filósofo. EDIÇÃO Felipe van Deursen HORA DO MIX Fonte de sabedoria infinita, quanto tempo uma pessoa consegue ficar sem fazer xixi? - CAROLINA RAMBO, PASSO FUNDO, RS Talvez você, uma Rambo, aguente mais. Mas os mortais seguram por cerca de 30 horas. O mínimo de urina que uma pessoa produz por dia é 400 ml. E a capacidade média da bexiga é quase a mesma coisa, 400 ml a 600 ml. Ou seja, não dá para passar muito mais do que um dia inteiro sem calibrar a giromba. HAJA UREIA ELA NÃO ESTÁ SÓ NA URINA! EXPLOSIVOS - Nitrato de ureia, grande companheiro de terroristas. HIDRATANTES - Presente em cosméticos para pele seca. MDF - A cola usada em chapas de MDF tem uma resina de ureia. BEBIDA - Pelo menos para adeptos da urinoterapia. Por que, quando tomamos sopa quente, o nariz, às vezes, escorre? - ALAN HASSAN, SÃO PAULO, SP Geralmente, isso escorre, quer dizer, ocorre com quem tem rinite gustativa.É uma reação das glândulas e nervos do nariz a determinado estímulo, como comida quente ou apimentada. Essa irritaçà£o da mucosa provoca inflamação do nariz e produção de secreção. Cuidado para o pinga-pinga não dar um gostinho de nariz à sua sopa. Por que comer dá sono e dormir dá fome? - RAÍSSA JORGENFELTH, SÃO PAULO, SP Logo depois de forrar o bucho, o sistema nervoso inibe a produção de orexina, um hormônio que deixa alerta e com apetite. Caso vocઠesteja em um ambiente de pouca luz, há também aumento de produção de melatonina, o hormônio do sono. Já quando você está dormindo – e, consequentemente, em jejum – a grelina, principal hormônio da fome, se eleva. Conclusão: a sesta é moral e hormonalmente justificável. EXPLICAÇÕES DIFERENTES Outro dia minha mãe usou a expressão "matando cachorro a grito". Depois de ler tanto o seu blog e ver que muitas explicações sà£o diferentes do que eu achava que era certo, desisti de adivinhar e vim perguntar: qual a origem dessa expressão? Beijos. - DÉBORA BATISTA, ARACRUZ, ES O que se faz para enfrentar um cão bravo na rua sem nada na mão? O mais comum é gritar, para ver se espanta o bicho. Ou seja, é uma situação de desespero. Por isso a expressão é usada quando se está em dificuldade. Nesse perrengue, o negócio é apelar para qualquer coisa que amenize a situação. Nem que seja gritar. COLETIVO DE LIKES Postaram no Face: "Me jogue entre lobos e voltarei comandando a matilha". Comentei: "Lobo comandar matilha é mole. Quero ver comandar alcateia". Minha filha disse que ambas as formas estão certas. Quem tem razão, o coroa de 50 ou a menina de 19? - VLADIMIR REIS, BOM JESUS DA LAPA, BA Ela. O Houaiss diz que "matilha" e "alcateia" são sinônimos e representam o coletivo de lobos e cachorros. Facebook, um território selvagem. JOHNNY DEPP? John Wayne do saber, caubói justiceiro que com sua mira certeira matais a ignorância que atravanca o progresso: há alguma verdade na história do capitão Edward Teach, de Piratas do Caribe? - MAYCON ALVES, LIMA CAMPOS, MA Sim, sagaz pistoleiro da curiosidade. Edward Teach, o lendário Barba Negra, foi um pirata inglês que atazanou marinheiros do Mar do Caribe no começo do século 18. Ele iniciou sua gloriosa carreira ao roubar um navio e equipá-lo com armas. Com fama de tirano, atacou embarcações inglesas, espanholas e francesas e chegou a proibir a entrada e saída de navios de um porto americano. Morreu em uma batalha, mas a partir de então entrou no imaginário das pessoas em muitas lendas. NÚMERO INCRÍVEL: 40 GANHÕES Tinha o navio de Barba Negra. UM DADO RELEVANTE COM ALGUMA LIGAÇÃO: 40 ANOS Barba Negra teria ao morrer. Ou algo entre 35 e 39 anos. OUTRO DADO RELEVANTE SEM NENHUMA LIGAÇÃO: 40 TEMPORADAS Tem o programa americano Saturday Night Life. QUER QUE DESENHE? Um documentário disse que o encouraçado Bismarck era o mais poderoso da Segunda Guerra. Outro dizia que era o Yamato. Ambos os filmes eram sérios, sem tapetão. Em qual confio? - NIVALDO JÚNIOR, RECIFE, PE No segundo. O Yamato ganhava no poder de fogo. E levava a melhor na defesa, com uma carcaça mais grossa. Por ter menos aço e canhões, o Bismarck compensava na velocidade. BISMARK: 8 canhões de 380 mm; 320 mm de aço; 29,7 nós (55 km/h) YAMATO: 9 canhões de 460 mm; 410 mm de aço; 27 nós (50 km/h) PÁ PUM Uma mulher pode doar sangue no período em que está menstruando? - MARIA REgIS, MOSSORÓ, RN Sim. É só estar com o fluxo normal e atender aos outros requisitos normalmente exigidos. PERGUNTE AO ORÁCULO! Escreva para superleitor@abril.com.br com o assunto "Oráculo" e mencione sua cidade e Estado. 1#14 CONEXÕES – DE LADY DI A LEI DE MURPHY TEXTO Rodolfo Viana e Felipe van Deursen LADY DI - Diana Spencer, Princesa de Gales. A união de 11 anos com o príncipe Charles foi marcada por escândalos e traições. Filantropa, combateu a aids e ficou em 3º numa lista de maiores britânicos da história, rol encabeçado por... WINSTON CHURCHILL - Político, escritor, jornalista, historiador e notório fumante de charutos e bebedor de uísques. Após a invasão da Polônia pela Alemanha, no cargo de primeiro-ministro inglês, ele declarou guerra aos nazistas. Era o início da... SEGUNDA GUERRA - Maior conflito da história. Os dois lados, Eixo e Aliados, mobilizaram mais de 100 milhões de militares em 75 grandes batalhas e ataques a civis em vários países do mundo. Um dos palcos mais sangrentos e acirrados do conflito foi o... SUDESTE ASIÁTICO - Região que vai da Tailândia ao Timor Leste. Na Segunda Guerra, o americano Edward A. Murphy Jr. serviu pela Forà§a Aérea em Mianmar e outros países. Em 1949, trabalhando como engenheiro aeroespacial, ele formulou a... LEI DE MURPHY - Durante testes de tolerância à gravidade que falharam, Murphy disse: "se algo pode dar errado, dará". A frase passou a ser usada quando algo dava errado ou era fadado ao fracasso. Como casar com o príncipe Charles. 1#15 ESSENCIAL – ESTAMOS AMARRANDO CACHORRO COM LINGUIÇA Deixar que o Poder Executivo tenha total controle sobre a emissão de moeda é arriscado: os governos sempre tendem a imprimir mais dinheiro do que deveriam, criando inflação. Veja como acabar com esse problema. TEXTO Alexandre Versignassi DINHEIRO É UMA FORMA de estocar trabalho: permite que o cara do pet shop compre croissant sem ter de tosar o cachorro do padeiro. Engenhoso. Mas, para o dinheiro valer dinheiro, não basta ser dinheiro. Ele precisa cumprir dois requisitos básicos: ser uma coisa que todo mundo quer e, ao mesmo tempo, algo relativamente escasso, que não dê em à¡rvore. Justamente por isso, a coisa que mais fez o papel de dinheiro ao longo da história, e da pré-história, foram os metais preciosos. Cobre, prata e, principalmente, o ouro, um campeão de escassez: tudo o que mineraram até hoje só daria para encher um prédio de sete andares. São 142 mil toneladas em seis mil anos é o que a Vale escava de minério de ferro em seis horas. Ouro e prata eram tão dinheiro que as primeiras notas de papel da história nem eram exatamente dinheiro, mas recibos que davam direito a uma certa quantia de ouro ou de prata, guardada nos cofres do governo. O Estado pagava pelas obras públicas com esses recibos, essas "notas". E elas acabavam circulando na economia no meio das moedas de ouro e de prata, já que era mais fácil carregar recibos do que bolsas cheias de metal. Um dos primeiros países a usar esse esquema em larga escala foi a Inglaterra do século 18 – tanto que "libra esterlina" significa "meio quilo de prata da boa". Mas quase ninguém voltava ao Banco Central inglês para resgatar seu meio quilo de prata da boa - era melhor ficar com a nota de uma libra de uma vez. Dava na mesma, já que todo mundo aceitava o papel como dinheiro. O governo britânico percebeu isso rápido, e não demorou para fazer uma malandragem institucional: emitir muito mais notas do que a quantidade de prata que tinha nos cofres, basicamente para pagar as próprias contas – e garantir que nunca faltasse champanhe nas festas do palácio. Se alguém viesse resgatar sua prata, tranquilo: era só dizer que uma libra agora valia 250 gramas de prata, ou 100, ou 10. Parece tosco. É tosco. Mas faziam exatamente isso. Pior é que isso pode ser bom para a economia. Mais dinheiro começa a circular. As pessoas saem para gastar. Os padeiros fazem mais croissant. Os fabricantes de fornos de padaria fazem mais fornos. Os cachorros ganham mais banhos e tosas. Juntando tudo, dá para dizer que a produção de bens e de serviços cresce. E é verdade: o PIB sobe mesmo. Mas não para sempre. Se o governo continua nessa toada por muito tempo, uma hora vai ter mais dinheiro circulando do que produtos que podem ser comprados com esse dinheiro. O cara que faz fornos vai acabar com mais pedidos do que pode entregar. Se ele tem quatro pedidos no mês e só consegue produzir três fornos, o que é que ele faz? Manda o quarto cliente embora? Nem a pau. Ele vai e aumenta o preço. Nisso, o padeiro repassa o custo para a freguesia. E, quando o cara do pet shop vai até a padaria, descobre que o preço do quitute subiu. Inflaà§ão. Bom, foi exatamente isso que aconteceu na Inglaterra do fim do século 18, começo do 19. Até que em 1810 veio uma virada. O Parlamento entendeu que isso de fabricar notas à vontade era amarrar cachorro com linguiça: os governantes sempre tenderiam a fazer mais dinheiro de papel do que a economia pudesse suportar. Sempre criariam inflaçà£o, mesmo que o intuito inicial nem fosse comprar champanhe, mas só reaquecer o PIB mesmo. Então o Parlamento estabeleceu que, dali em diante, uma libra valia 7,3 gramas de ouro. E ponto final. Se o Estado quisesse imprimir um milhão de libras em notas de papel, que arranjasse 7,3 toneladas de ouro para guardar em seus cofres na forma de lastro. Era um freio garantido contra a inflação. Como a libra era o dólar da época, essa regra acabou valendo para boa parte do planeta. Todo país grande tinha uma reserva em libra como lastro da própria moeda local. Logo, o ouro acabava sendo o lastro, e o freio, de vários governos. Os EUA até foram mais longe e, em 1900, passaram a lastrear seu dólar com o ouro dos seus próprios cofres, com US$ 1 valendo 1,67 grama. Era a época do "padrão-ouro", entre o final do século 19 e o início do 20. Um tempo de paz econômica, sem inflação. Não no caso do Brasil, que continuou imprimindo suas notas sem lastro nenhum, mas essa é outra história. Bom, aí veio a Primeira Guerra Mundial e estragou tudo. Inglaterra e EUA deram uma brazilzada e voltaram a imprimir notas sem lastro para pagar pelos esforços militares. O padrão-ouro até voltaria depois, mas seria minado pela Grande Depressão, a dos anos 30, que bagunçou mais ainda a economia mundial. Dali para a frente, os Bancos Centrais deixaram de usar o ouro como referência. O negócio agora era lastrear o dinheiro no braço mesmo. Como? Maneirando na impressão das notas, de modo a não criar inflação de bobeira. Para se autopoliciar, alguns governos tornaram seus Bancos Centrais independentes do próprio governo. Assim: o presidente do país indica um responsável pelo Banco Central no meio do mandato. E esse chefe do BC, com sua diretoria, continua pelo menos até o meio do governo seguinte, sem poder ser demitido sem justa causa. Aí, se o Poder Executivo ficar tentado a imprimir dinheiro demais para bombar o PIB, o Banco Central pode negar e pronto, pelo simples fato de ter mais competência técnica para saber se a medida vai ou não vai gerar a inflação. A expressão tecnicamente correta para "imprimir dinheiro", diga-se, é "baixar os juros", coisa que irriga a economia com moeda nova. Mas dá na mesma. O BC está lá para manter os juros, a criaà§ão de dinheiro novo, num patamar seguro o bastante para que o governo governe sem criar inflação. Esse caminho do autopoliciamento foi o adotado pela Inglaterra, pelo Japão e pelos EUA, onde presidentes do BC chegaram a passar quase 20 anos no cargo - caso de Alan Greenspan, que controlou os juros americanos nos governos Reagan, Bush Pai, Clinton e Bush Filho, tendo o mandato renovado a cada presidente novo. No Brasil, não: muda o governo, muda o BC. E a inflação continua assombrando, década atrás de década. A história indica que, sim, uma coisa tem a ver com a outra. Então talvez seja a hora de vermos com menos preconceito a ideia de um Banco Central independente. A hora de repensar se linguiça é mesmo o melhor material para a coleira da nossa economia. ______________________________________ 2# REPORTAGENS novembro 2014 2#1 CAPA – HUMANOS 2#2 AMBIENTE – O BRASIL SECOU 2#3 IDEIAS – E O TED VEIO AO RIO 2#4 CIÊNCIA – ELES VÃO MORRER EM MARTE 2#5 CULTURA – ENCHENDO O CUBO DE GRANA 2#6 CULTURA – DO QUE MORREM OS ARTISTAS 2#7 CONSUMO – TUDO GOURMET 2#8 ZOOM – RELÍQUIA AMERICANA 2#1 CAPA – HUMANOS Eles pagam por sexo, fazem conchavos políticos, cometem carnificinas – e praticam a caridade também. Novas pesquisas deixam claro: os chimpanzés são ainda mais próximos da gente do que parecem. REPORTAGEM Reinaldo José Lopes O TRIBUNAL DE APELAÇÕES do Estado de Nova York está estudando um caso peculiar: o apelo pela libertação de um chimpanzé. Tommy, o símio em questão, não sofre maus-tratos. Mas é obrigado a viver sozinho, numa jaula. "E o que isso tem de ilegal?", perguntou a juíza responsável pelo caso, numa primeira audiência, em outubro. Steven Wise, o responsável pelo pedido de libertação, rebateu: "Manter uma pessoa em confinamento solitário é contra a lei, sim", ele disse à juíza. O tribunal não tinha chegado a um veredito até o fechamento desta edição. Caso a decisão seja favorável ao chimpanzé, será uma revolução: pela primeira vez um animal será solto por ser considerado "uma pessoa". Teremos estendido o conceito de "humanidade" a outra espécie além do Homo sapiens. Faz mais sentido do que parece. Se você voltar 7 milhões de anos no tempo e procurar bem, vai encontrar indivíduos amacacados que são ancestrais tanto do Homo sapiens como dos chimpanzés modernos. Ou seja: você e eles compartilham um mesmo tatata(...)taravô, que viveu há 70 mil séculos. Até por isso, um humano é geneticamente mais próximo de um chimpanzé que um chimpanzé é de um gorila. Jared Diamond, um cientista multidisciplinar, resumiu tudo isso com uma frase certeira: "Não é que eles sejam humanos. Nós é que somos mais uma espécie de chimpanzé". Até o final do século 20, era consenso que só os humanos possuíam "cultura", ou seja, conhecimentos transmitidos dentro do grupo, de pai para filho. As pesquisas mais recentes destruíram esse conceito. O Pan troglodytes tem cultura, sim. Também desenvolve tecnologias e tece redes sociais quase tão complexas quanto as nossas –é capaz de construir alianças políticas, por exemplo; algumas, de dar inveja ao mais fisiologista dos nossos parlamentares. É o que vamos ver nas próximas páginas. CADA SAPIENS NO SEU GALHO Antes de a gente prosseguir, no entanto, vale a pena apresentar nossos astros. Há, na verdade, duas espécies de chimpanzés no mundo – ou três segundo a visão de Diamond. Além do Pan troglodytes, o chimpanzé-comum, presente em várias regiões da África tropical, temos o Pan paniscus, o bonobo, que vive apenas na República Democrática do Congo (África Central). Os chimpanzés comuns são de Marte e os bonobos, de Vênus. É que as comunidades dos primeiros são dominadas por machos que não hesitam em descer o sarrafo uns nos outros. A pancadaria é constante. No caso dos bonobos, o clima é outro. Quem manda são as fêmeas, bem menos violentas. As duas espécies são sexualmente promíscuas. Mas os bonobos, com seu corpo mais esbelto e elegante e seus lábios rosados, usam o sexo como forma de resolver conflitos. Em especial entre fêmeas, que adoram roçar clitóris contra clitóris para acabar com uma discussão. O terceiro chimpanzé... Bom, somos nós mesmos. A semelhanà§a comportamental e genética entre nós e eles é tamanha que, se um dia fizerem uma reforma na taxonomia dos primatas, faria sentido chamá-los de Homo troglodytes e Homo paniscus, em vez de separar o prefixo Homo para uso exclusivo da nossa espécie. Uma pesquisa do primatólogo holandês Frans de Waal, da Universidade Emory (EUA), ilustra bem esse conceito. Recentemente, sua equipe mostrou que os macacos se comportam de modo muito parecido conosco ao participar de um jogo clássico das pesquisas sobre... economia. Exato: é o chamado Jogo do Ultimato. Quando humanos participam, ele costuma envolver dinheiro e é jogado em duplas. O pesquisador dá uma certa quantia – R$ 100, digamos, em notas de R$ 10 – para um dos jogadores, e ele deve decidir quanto daquela quantia vai dividir com o parceiro. Se o companheiro aceitar, todo mundo leva a grana para casa; caso se recuse, ninguém fica com nada. O jogo ajudou economistas e psicólogos a mostrar que dinheiro raramente é encarado com racionalidade. A escolha mais sóbria, do ponto de vista de quem recebeu os R$ 100, seria dar só R$ 10 para o parceiro. O sujeito simplesmente não pode negar. Se ele recusar, perde os R$ 10 e fica sem nada. Não faz sentido... Mas as pessoas recusam. Basicamente ninguém aceita ficar com R$ 10. E nós já sabemos disso por instinto. Então a maior parte das pessoas simplesmente oferece R$ 50 sem pensar, como um seguro para que o outro não recuse. E entre os chimpanzés? Bom, troque o dinheiro por bananas e você descobrirá que o resultado é o mesmo. Num estudo feito pela equipe de De Waal, alguns pares de chimpanzés foram treinados num equivalente do Jogo do Ultimato. Em vez de dinheiro, os cientistas usavam duas fichinhas de plástico, uma branca e uma preta, e bananas fatiadas em seis partes. A fichinha preta, quando dada na mão do cientista, tinha como consequência uma divisão igualitária das frutas: três pedaços para cada símio. A branca levava a uma divisà£o mais sacana: cinco pedaços para um macaco e só um para o companheiro. Quando o chimpanzé dava a ficha direto na mão do especialista, sempre escolhia a ficha branca, para sair no lucro. Em outra modalidade, o macaco precisava dar primeiro a ficha ao companheiro, para que o outro entregasse ao cientista. Aí a coisa mudava de figura. O chimpanzé já dava a ficha preta de cara. Sabia inconscientemente que o companheiro preferiria ficar sem banana a aceitar a divisão injusta. Pensava como um humano, basicamente. Outra semelhança entre nós e eles, mais bacana até, à© o potencial para fazer caridade. O primatólogo suíço Christophe Boesch, que estuda há 30 anos os chimpanzés da Floresta Nacional Taï, na Costa do Marfim, mapeou 18 casos de adoção de filhotes por lá. Em geral, as mães e pais adotivos não tinham parentesco com os órfãos, e metade das adoções era iniciativa de machos, o que surpreende quem está acostumado à imagem puramente casca-grossa dos chimpanzés do sexo masculino, que quase nunca se dignam a cuidar de filhotes. Um desses macacos, apelidado de Porthos pelos pesquisadores, começou a tomar conta da pequena Gia, de 2 aninhos, e a carregou em suas costas em longas caminhadas até o dia da morte dele. Boesch diz que o grupo de Taí sofre ameaças sérias à sua sobrevivência o tempo todo – a presença de leopardos devoradores de símios é muito comum ali –, e isso teria levado a um nível alto de solidariedade entre os macacos. Experimentos em laboratório têm mostrado que, de fato, os macacos conseguem imaginar quais as necessidades de outra criatura. E ela nem precisa pertencer à espécie deles. Um estudo alemão, por exemplo, revelou que chimpanzés crianças, em torno dos 3 anos de idade, ajudavam espontaneamente um pesquisador que fingia não conseguir alcançar um objeto – o cientista, no caso, não pedia diretamente a ajuda do jovem símio, mas simplesmente ficava se esforà§ando para pegar o treco na frente dele, até que o macaco se tocava e levava o objeto para o humano – sem jamais terem sido ensinados, então não vale dizer que o seu cachorro também faz isso. Outro episódio revelador envolve um bonobo de zoológico e um passarinho. A ave entrou no recinto dos bonobos e, sem ver o vidro que delimitava a jaula, estatelou-se contra ele. O macaco não só pegou o passarinho atordoado e cuidou dele como abriu delicadamente as asas do "hóspede", na posição que elas assumiam durante o voo. Depois, tentou fazer o pássaro decolar, lançando-o como se fosse um aviãozinho de papel – ideia que provavelmente ocorreria a crianças humanas. UNIVERSIDADE SIMIA Christophe Boesch também é um dos principais responsáveis por mostrar que os bichos são capazes de usar ferramentas de modo sofisticado e versátil. Na Costa do Marfim, por exemplo, uma das mais interessantes invenções dos chimpanzés é o uso de uma combinação de "martelo" (pedras grandes) e "bigorna" (plataformas de pedra no chão, ou então raízes grossas de árvore) para quebrar castanhas altamente nutritivas, que os símios jamais conseguiriam comer de outro jeito. A técnica exige uma combinação precisa de força e jeito na pancada, que os membros da nossa espécie em geral não conseguem dominar. O hábito gerou até um registro arqueológico: escavações na região revelaram que os chimpanzés de Taï quebram castanhas desse jeito há alguns milhares de anos. Para acessar outros alimentos duros de roer, certos grupos de chimpanzés criaram técnicas ainda mais complexas, envolvendo até cinco tipos de instrumentos, usados sequencialmente na mesma tarefa. Para chegar ao mel produzido por abelhas da floresta, por exemplo, os símios do Congo usam, em primeiro lugar, um galho grosso e forte como pilão, quebrando a parede da colmeia. Depois, é a vez de um galho um pouco menor, que alarga a abertura feita pela primeira pancada. Finalmente, entra em cena um ramo fino, ideal como "colher" para o mel. Se a ideia é capturar cupins, os ramos são desbastados e depois mordidos delicadamente, até ficarem com cerdas, como uma escova, o que permite que vários cupins fiquem presos neles. Tudo isso é cultura, no sentido mais direto da palavra. Algum macaco descobriu a técnica, provavelmente num passado distante. Seus companheiros aprenderam e começaram a repassar o conhecimento, geração após geração. É exatamente o que a humanidade faz. Ninguém nasce sabendo, como acontece com um João de Barro e outros animais-engenheiros. Tudo o que conhecemos sobre o mundo está no nosso arcabouço cultural. No caso dos chimpanzés, não resta dúvida, é a mesma coisa. As tradições culturais dos chimpanzés também englobam coisas que não têm a ver com a obtenção de alimento, como gestos típicos e "gírias". Em Taï, por exemplo, um macho chamado Brutus, que havia conquistado a liderança do grupo, passou a usar um padrão de "batucadas" em troncos de árvore para orientar os movimentos do bando pela mata. Em Mahale, também na Costa do Marfim, machos costumam convidar fêmeas para fazer sexo picotando folhas com os dentes, enquanto em Taï o mesmo comportamento significa "Vou fazer uma demonstração de força". Em suma: são modas mesmo, cada grupo de chimpanzà©s com a sua. A semelhança disso com a linguagem humana é o fato de elas serem convenções arbitrárias. Ou seja: não há nada que "exija" que picotar folhas tenha o significado "Vamos transar?â€, assim como a palavra "transar" não tem relação nenhuma com o ato sexual. Um americano diz make out, um inglês, shag, um alemà£o, Geschlechtsverkehr (pois é...). E um chimpanzé marfinense picota folhas. Pronto. Mensagem transmitida. Trata-se de uma operaçà£o mental tão sofisticada quanto entender o que um alemão ou alemã quer dizer quando diz que quer Geschlechtsverkehr com você. Falando em sexo, os chimpanzés de Taï também são conhecidos por outra tradição – também cultivada pelo Homo sapiens. Certos machos conseguem trocar "presentinhos" – nacos de carne de caça – por sexo com as fêmeas que recebem esses presentes. Dá para chamar isso de prostituição? Bem, a analogia não é descabida, mas a diferença é que não se trata de uma troca pontual, do tipo "me dá essa picanha que eu te dou outra coisa". O que ocorre, na verdade, é que os machos que dividem a carne de caça com as fêmeas acabam fazendo mais sexo com elas ao longo do tempo. O HORROR, O HORROR É fácil se concentrar nos aspectos bonitinhos dos parentes mais próximos da humanidade. Mas outro conhecimento valioso que as pesquisas trazem revela os contornos mais sombrios da linhagem primata. E mostra que a guerra, o combate até a morte entre membros de dois grupos rivais, é quase onipresente entre esses macacos – tanto quanto entre aquela outra espécie de macaco que a gente vê no espelho todas as manhãs. Um mapeamento monumental dos conflitos letais entre chimpanzés e bonobos, publicado em setembro na revista científica Nature, deixa isso mais claro do que nunca. Os autores da nova pesquisa, liderados por Michael Wilson, da Universidade de Minnesota, compilaram dados sobre mortes violentas em 18 comunidades de chimpanzés e quatro comunidades de bonobos, algumas delas estudadas há mais de 50 anos. E chegaram a uma soma de 152 mortes, distribuídas por 15 dos grupos de chimpanzés e um dos grupos de bonobos. Isso dá mais de mil "assassinatos a cada 100 mil habitantes", o dado que usamos para quantificar a violência entre humanos. No bando de 202 milhões de Homo sapiens conhecido como Brasil, que não sai do top ten de países mais violentos do mundo, são 21 homicídios a cada 100 mil habitantes. Ou seja: os chimpanzés vivem num holocausto permanente. Mas não são menos humanos por conta disso. Nossas estatà­sticas históricas, e principalmente as pré-históricas, não ficam longe: "Comparamos esses dados de assassinatos entre chimpanzés com as taxas de morte em conflito entre grupos humanos de caçadores-coletores (que têm um modo de vida parecido com o dos nossos ancestrais pré-históricos). A proporção no número de mortos é parecida", diz Wilson. Há ainda outro paralelo assustador entre os conflitos símios e os que envolvem populações humanas tribais: as mortes, em geral, acontecem quando há uma assimetria grande entre atacantes e vítimas – em média, uma desproporção numérica de oito para um. De fato, os estudos sobre guerras entre populações de caçadores-coletores indicam que raramente esses povos se arriscam a confrontos de peito aberto, entre exércitos em igualdade de condià§ões, como acontecia na Grécia Antiga ou nas duas Guerras Mundiais. Em vez disso, eles tentam minimizar o risco – e maximizar o número de inimigos mortos – atacando homens isolados no meio do mato ou invadindo aldeias quando todo mundo está dormindo. A pergunta óbvia é: por que eles se dão ao trabalho de guerrear? Bem, na grande maioria dos casos, estamos falando de conflitos de fronteira. Chimpanzés são bastante territoriais e organizam patrulhas de machos, não tolerando que membros de grupos vizinhos cheguem perto de suas terras. Um estudo anterior, coordenado por John Mitani, da Universidade de Michigan (EUA), indica que as motivações dos grandes símios não diferem muito da que levou os portugueses a atacarem os tupinambás: obter novas terras. Ele e seus colegas estudam os chimpanzés do Parque Nacional Kibale, em Uganda, e presenciaram 21 mortes dos bichos em batalha entre 1999 e 2008. Nesse meio tempo, o território do grupo atacante aumentou 25%. Talvez não por acaso, o bando dos conquistadores, com cerca de 150 membros, é anormalmente grande para os padrões da espécie (em geral, uma comunidade de chimpanzés tem uns 30 indivíduos). "A agressão letal entre grupos é rara entre mamíferos, embora aconteça no caso de carnívoros sociais, como lobos, leàµes e hienas. Mas essa conquista de território que vimos no caso dos chimpanzés não foi descrita entre esses outros animais", diz Mitani. O fato de a matança afetar principalmente machos de grupos inimigos abre espaço para que as fêmeas desses bandos sejam incorporadas ao grupo vencedor – outro paralelo claro com o comportamento humano ao longo da história. Vale notar que nem todos os grupos de chimpanzés são afligidos por guerras do mesmo jeito, ou com a mesma frequência. O estudo de Wilson na Nature também mostrou que a pancadaria é bem mais comum entre os chimpanzés do leste da África do que entre os que vivem na parte oeste do continente – além de ser muito mais rara entre os bonobos, famosos por seu perfil supostamente paz e amor. Para Wilson, as condições ambientais parecem explicar, ao menos em parte, a diferença. "A principal razão parece ser o padrão de disponibilidade de comida, em especial frutas maduras", conta ele. "No caso dos chimpanzés do Leste, os indivíduos muitas vezes são forçados a andar pela mata sozinhos ou em pequenos subgrupos, porque não há comida suficiente para que grandes grupos se desloquem em bloco. No caso dos chimpanzés do Oeste, e ainda mais entre os bonobos, parece que os alimentos são mais abundantes, ou estão distribuídos de tal maneira que é possível se deslocar em grupos maiores e mais estáveis", diz. A união, nesse caso, faz a paz: os grupos vizinhos resistem à  tentação de atacar os rivais porque sabem que o custo do combate seria alto demais. A Guerra Fria não virou uma "guerra quente" mais ou menos pelo mesmo motivo; quando os dois lados são igualmente poderosos, ninguém quer ser o primeiro a apertar o botão vermelho. Mas complexas mesmo são as lutas pelo poder político. Frans de Waal conta como o grupo que vivia num zoológico da Holanda passou por uma mudança de comando cuidadosamente planejada. O líder, um macho que os pesquisadores chamavam de Yeroen, passou a ser desafiado pelo antigo número dois na hierarquia do bando, Luit. Em seus primeiros passos, no entanto, Luit não desafiou frontalmente o chefe. Passou a usar as fêmeas como ferramenta para questionar a autoridade de Yeroen, geralmente batendo nelas quando se aproximavam do macho alfa. Ao mesmo tempo, Luit passou a ser um cavalheiro da mais fina flor quando as mesmas fêmeas não estavam perto de Yeroen, catando piolhos delas e brincando com seus filhotes (talvez para dizer "Olha só como seria boa a vida se eu fosse o macho alfa aqui do bando..."). Como aparente cereja do bolo, o candidato a chefe se aliou a Nikkie, macho que tinha acabado de sair da adolescência, e virado uma massa de músculos. Nikkie também passou a atormentar as fêmeas que mantinham seu apoio a Yeroen. Resumo da ópera: depois de alguns meses de confronto, Luit subiu ao trono. E com o apoio do próprio Yeroen. O antigo chefe não viu saída a não ser apoiar o rival para manter um naco de poder no bando. Qualquer semelhança disso com o que o PMDB faz em Brasília não é mera coincidência: somos todos chimpanzés, para o bem e para o mal. CRIME CONTRA A HUMANIDADE Mas não são só os chimpanzés. Steve Wise, o advogado que move o pedido pela libertação daquele chimpanzé nova-iorquino, diz que, se ganhar o caso, vai lutar para que a noção de direitos humanos seja aplicada a qualquer ser vivo com cérebro relativamente complexo — gorilas, orangotangos, elefantes, golfinhos. É a mesma lógica. São todos animais capazes de se comunicar, traçar planos para o futuro, se emocionar. O difícil mesmo é saber quais animais não seriam dignos de serem tratados como humanos. Dá para estender os direitos animais a todas as espécies? Juridicamente, até dá. Mas essa não é uma pergunta simples de responder. E não só pelos carnívoros convictos. Se você é diabético, gosta de cinema ou usa cosméticos, por exemplo, vai ter problemas se algo assim acontecer: a insulina, as películas de filme, os batons e os cremes hidratantes são tão derivados do boi quanto a picanha, a maminha, o cupim e o patinho. Mesmo assim, é cada vez mais lógico imaginar que, daqui a algum tempo, usar macacos como cobaias e encarcerar mamíferos inteligentes em cubículos de zoológico e tanques de parque aquático seja visto como coisas tão absurdas quanto a segregação racial e o holocausto são vistos hoje. E esse dia só vai chegar depois que entendermos que a violência e os maus-tratos aos animais não são só crimes comuns. Mas crimes contra a humanidade. 2#3 AMBIENTE – O BRASIL SECOU A falta d'água se alastrou pelo País, sintoma das mudanças climáticas e do desmatamento na Amazônia, cada vez mais debilitada. Nos aproximamos de um futuro desértico — e a culpa é toda nossa. TEXTO Camila Almeida EM 2014, NÃO CHOVEU. Pelo menos não quanto deveria. Os à­ndices de chuvas apresentam déficit, os reservatórios minguaram a percentuais críticos, a nascente do Rio São Francisco secou pela primeira vez na história. Esses eventos extremos estavam previstos pelos estudiosos das mudanças climáticas, causadas quase exclusivamente pela atividade humana, especialmente pela queima de combustíveis fósseis. Mas outro fator está agravando esse quadro: o desmatamento. A Amazônia é a responsável por manter úmido todo o continente, e sua depredação influencia diretamente no clima. A floresta funciona como uma fábrica de chuvas. Por cima das nossas cabeças, há imensos rios seguindo seu curso, levando nuvens carregadas por onde passam. São os rios voadores, que começaram a ser estudados em 2006, numa parceria entre o aviador francês Gérard Moss e o cientista da Terra Antonio Donato Nobre, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) e do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa). Sobrevoando a floresta, eles descobriram todo o seu potencial de bombeamento de água e traçaram o curso que os rios voadores seguem pelo País. Esta capacidade de exportar umidade é um dos cinco segredos da floresta, poeticamente explicados no relatório O Futuro Climático da Amazônia, publicado recentemente por Nobre. O fluxo dos rios voadores é mais intenso no verão, estaà§ão em que chove na maior parte do País. Isso acontece graà§as à inclinação da Terra nesta época do ano, que favorece a entrada dos ventos marítimos na América do Sul. Mas hà¡ mais uma vantagem geográfica que garante esse circuito: a Cordilheira dos Andes, localizada a oeste da floresta. O imenso paredão faz com que os ventos não passem direto e deixem o resto do Brasil sem umidade. De acordo com o climatologista Philip Fearnside, do Inpa, é no começo do ano que os rios voadores reabastecem as fontes e os reservatà³rios brasileiros. Ao se chocarem contra a Serra da Mantiqueira e da Canastra, no Sudeste, enchem a nascente de vários rios importantes, como o São Francisco. "Esta região é a caixa d'água do Brasil", avalia Fearnside. "Se não chover na época em que tem que chover, os reservatórios não serão recarregados ao longo do ano", completa. Esse tem sido o drama em 2014. DESMATAMENTO QUE VAI, VOLTA Poder contar com a maior floresta tropical do mundo, inclusive em relação aos recursos hídricos, é um privilégio. Pouquíssimo valorizado. Nos últimos 40 anos, derrubamos 42 bilhões de árvores. Além disso, devido às queimadas, existe mais de 1 milhão de km2 de floresta degradada. O que não se imaginava é que uma revanche em forma de seca chegaria tão rápido. "Hoje, estamos vivendo a reciprocidade da inconsequência", atesta Nobre. Há mais de 20 anos, estudos alertavam para esse perigo. Em 1991, o climatologista Carlos Nobre, irmão de Antonio e também do Inpe na época, comandou uma simulação para avaliar os impactos no clima da mudança do uso da terra. Constataram que, se a floresta fosse substituída por plantações ou pastagens, a temperatura mà©dia da superfície aumentaria cerca de 2,5°C, a evapotranspiração das plantas diminuiria 30% e as chuvas cairiam 20%. Tambà©m se previa uma ampliação da estação seca na área amazônica. Hoje, com metade da floresta original danificada, tais efeitos parecem ter vindo à tona. "O desmatamento zero é para ontem. Chegamos a níveis climà¡ticos críticos. Precisamos começar a replantar o que já perdemos", aponta Antonio Nobre. Apesar da urgência, as perspectivas não são animadoras. Só na região amazônica, há mais de 40 projetos do Programa de Aceleração do Crescimento do Governo Federal só no quesito geração de energia. São usinas, barragens e outras medidas que causam inundações, corte deárvores e afetam diretamente populações indígenas. Os projetos de estradas também são preocupantes. A recuperaçà£o da Rodovia Manaus-Porto Velho (BR-319), abandonada desde a década de 1980 por falta de manutenção, também consta no PAC. De acordo com Philip Fearnside, o projeto é um risco para a Amazônia. "Uma estrada valoriza demais a terra, e especulação gera desmatamento e favorece a grilagem", explica. O mesmo acontece com a Rodovia Santarém-Cuiabá (BR-163), com mais de 1.700 km de extensão. "A estrada vai ser recuperada para facilitar o transporte da soja produzida no Mato Grosso", aponta Fearnside, sobre uma das áreas amazà´nicas que mais sofre com o agronegócio. "A terra valoriza tanto que pecuaristas estão vendendo suas terras para produtores de soja do Sul. Por sua vez, isso tem aumentado muito o desmatamento no Pará, com a liberação de terrenos para a criação do gado desses pecuaristas", critica o especialista. Ele também destaca o fortalecimento da bancada ruralista no Congresso, após as eleições deste ano. CLIMA EM CRISE Neste verão, os rios voadores não avançaram sobre o Sudeste; tampouco as frentes frias. O aparecimento recorrente de padrões de bloqueio tende a manter as chuvas afastadas. Por isso, a água que iria para a região acabou esborrando na borda dessa bolha quente, gerando chuvas acima da média no Sul e países vizinhos. Hoje, há registros de seca em todos os Estados brasileiros. Em alguns deles, a seca é "excepcional", ainda mais grave do que a "extrema". O quadro já era grave no ano passado, quando o Nordeste viveu a pior seca dos últimos 50 anos, inserindo o Brasil no mapa de eventos climáticos extremos, da Organização Mundial de Meteorologia. De acordo com o físico especialista em ciências atmosféricas Alexandre Araújo Costa, da Universidade Estadual do Ceará, o agravamento das secas e das cheias está relacionado ao aumento da temperatura na atmosfera. Aquecida, ela se expande, fazendo com que seja necessário reunir mais vapor d'água para formar nuvens. "Esse processo demanda mais tempo, portanto tende a prolongar os períodos de estiagem. Por outro lado, as nuvens se formam a partir de uma quantidade maior de vapor d'água, fazendo com que os eventos de precipitações se tornem mais intensos. Um planeta mais quente é um planeta de extremos", explica. Para a filósofa e ecologista Déborah Danowski, que lançou recentemente o livro Há Mundo por Vir? Ensaio sobre os medos e os fins, com seu marido e antropólogo Eduardo Viveiros de Castro, entramos num caminho sem volta. "A crise climática não pode mais ser evitada. Se cortássemos agora as emissões de CO2, a Terra ainda iria se aquecer aproximadamente 1°C. Isso porque já jogamos no ar uma quantidade tão grande, que muito dele ainda nem foi absorvido", aponta. O que não quer dizer que não haja muito o que fazer. Para ela, o primeiro passo é repensar os modelos econômicos de crescimento e consumo. "O que nos cabe é tentar mitigar as causas que levam ao aprofundamento das mudanças climáticas e, ao mesmo tempo, nos adaptar à vida em um mundo mais difícil ecologicamente. NOSSA ÁGUA VEM DA AMAZÔNIA Entenda o processo de transpiração da floresta e a formaçà£o das nuvens sobre ela. Ao lado, conheça o percurso dos rios voadores e como eles levam chuvas por todo o continente. 1- A chuva penetra no permeável solo florestal e fica armazenada em sua parte porosa, ou escorre até os aquíferos subterrâneos gigantescos. 2- A água é absorvida pelas raízes, que podem ter até 20 m de profundidade, e levada pelos xilemas, espécie de artérias que transportam a seiva bruta para cima. 3- Por fim, passa pelas estruturas evaporadoras das folhas, que funcionam como painéis solares químicos, capazes de absorver a energia do Sol para transpirar. 4- Além de água, as folhas liberam compostos orgânicos, que oxidam e precipitam, formando uma poeira finíssima. Essa poeira funciona como núcleo para condensação das nuvens. 5- O vapor d’água se deposita nessas partículas sólidas fornecidas pelas plantas e se transforma em nuvem. Esse mecanismo da floresta é o que garante chuvas torrenciais a partir de nuvens baixas. OS RIOS VOADORES OS RIOS VOADORES, guiados pelo vento se chocam contra a Cordilheira dos Andes, fazem a curva no Acre e rumam para ocentro-sul do País, indo atà© a Argentina. OS VENTOS ÚMIDOS DO OCEANO entram na Amazônia, atraídos pela baixa pressão atmosférica, especialmente no verão. Formam um imenso reservatório de água no céu, que dá origem aos rios voadores. ESSAS CHUVAS DE VERÃO impedem que tenhamos um deserto no Brasil. Nessa mesma área tropical do mapa, há desertos em todos os continentes, como o Saara, o da Namíbia e o da Austrália. 20 TRILHÕES DE LITROS de água é o quanto a Amazônia transpira por dia. Equivale a 8 mil piscinas olímpicas. Cada árvore pode transpirar até 1 MIL litros diários. A umidade da floresta faz uma trajetória de mais de 3mil km. HAJA ÁGUA - Comparativo de quantidade de água transportada: Rios voadores x outros rios brasileiros. Rios voadores 3.200 M3/S Rio São Francisco 2.800 M3/S Rio Paraíba do Sul 1120 M3/S DESMATAMENTO E DEGRADAÇÃO No Brasil, praticamente metade da floresta amazônica original já foi afetada. E o pior: boa parte da área desmatada foi abandonada. Floresta desmatada 19% Floresta degradada 28% Mata virgem 53% MÃE NATUREZA Em 2005 e 2010, a Amazônia sofreu graves secas. Paradoxalmente, as à¡rvores enviaram mais água à atmosfera. Elas foram buscar à¡gua nos lençóis freáticos, e trabalharam ainda mais para compensar o clima. EFEITO QUEIMADA Quando o solo da floresta seca além do limite, se torna inflamável. Até o fogo mais baixo consegue adentrar a mata, queimando as raà­zes superficiais e matando as árvores. Esse trecho da floresta se torna degradado. O desmatado sofreu uma ação direta de derrubada. PASTO E PLANTIO O cultivo de soja e a criação de gado são os maiores causadores do desmatamento. 70% da área desmatada deu origem a pasto. Mais de 60% da Amazônia é brasileira. O restante da floresta está no Peru, Colômbia, Guiana e Suriname. 50 MILHÕES DE ANOS é a idade da floresta original. Na Amazônia existem mais de 16 MIL ESPÉCIES de árvores. 11 mil são consideradas raras 360 BILHÕES DE ÁRVORES que cobrem uma área de 6 milhões de km2, mais que duas Argentinas. Em 40 anos, desmatamos 763 mil km2. É como se, com uma motosserra, tivéssemos exterminado todo o território do Chile - e mais um pouco. 42 BILHÕES foi o número de árvores exterminadas nos últimos 40 anos. Mais de 200 POR CADA BRASILEIRO. Se olharmos em escala mundial, já desmatamos 6 ÁRVORES PARA CADA HABITANTE do planeta. Dos 763 mil km2 de terras desmaiadas, 16% estão abandonados ou subutilizadas, por terem se tornado improdutivas. CAIU, MAS AINDA DESMATAMOS MUITO 1988: 21 mil km2 desmatados 1995: 29 mil km2 desmatados 2004: 27 mil km2 desmatados 2008: 13 mil km2 desmatados 2012: 5 mil km2 desmatados Em 2013, o desmatamento cresceu quase 30% em relação a 2012. ESTAMOS TODOS ILHADOS Seja pelo excesso de calor ou pelas enchentes. Mais filosoficamente: nà£o temos saída para o clima. Os eventos extremos parecem estar se tornando uma realidade no Brasil. CALOR EXCESSIVO - Uma bolha quente se instalou, no começo do ano, sobre o Sudeste, região mais urbanizada do País. Esse fenômeno gera padrões de bloqueio que afastam as chuvas, ao impedir a entrada dos rios voadores e das frentes frias do Sul. CENTROS URBANOS E O AR POLUÍDO - As cidades também sofrem com a poluição. No Parque do Ibirapuera (SP), a concentração de ozônio* é maior do que em uma área de queimadas. Faz mal à saúde. Na Amazônia virgem, a concentração é dez vezes menor. [*Valor máximo de ozônio concentrado em uma hora. Ibirapuera: 227 ug/m3, área de queimada: 200 ug/m3 e mata virgem: 20 um/m3. De acordo com o Ministério do Meio Ambiente, 140 ug/m3 é o limite para não fazer mal à saúde.] O CÉU DESABOU - Os pontos que estavam em volta dessa bolha quente sofreram com excesso de chuvas no começo do ano. A Bolívia decretou situação de emergência após as enchentes deixarem 58 mil famílias desabrigadas e mais de 50 mortos. No Paraguai, foram mais de 10 mil desabrigados. O FUTURO É QUENTE - O relatório do Painel Brasileiro de Mudanà§as Climáticas aponta que, em 2100, a temperatura média do Brasil será mais alta do que no fim do século 20. As chuvas vão aumentar e diminuir, dependendo da região. A temperatura média do Brasil pode AUMENTAR ATÉ 6°C A Amazônia e a caatinga devem receber cerca de 40% MENOS CHUVA Já nos pampas, a chuva PODE AUMENTAR 30% 2#3 IDEIAS – E O TED VEIO AO RIO Em outubro, o TED Global aconteceu pela primeira vez abaixo da linha do Equador. E, três meses depois da Copa, o Rio de Janeiro virou a capital mundial das ideias. TEXTO Denis Russo Burgierman EM VEZ DE CAMERON DIAZ e Goldie Hawn, figurinhas comuns no TED americano, quem circulava em outubro pela sede carioca do TED Global, em Copacabana, eram Maitê Proença e Regina Casé. É que, pela primeira vez em 30 anos de história, um evento oficial do TED aconteceu no Brasil, nas areias da praia, num grande auditório construído em frente ao Copacabana Palace especialmente para a ocasião. No palco, quase cem palestrantes se revezaram na tarefa de derrubar o queixo da audiàªncia, com descobertas científicas, ideias transformadoras, experiências acachapantes e performances artísticas. Tirando alguns sortudos (como a equipe da SUPER, que está entre os poucos brasileiros que conseguiram credenciais de imprensa), praticamente toda a audiência pagou ingresso de US$ 6 mil para poder acompanhar os cinco dias da conferência, cujo tema foi South! ("Sul!", uma referàªncia ao fato de que foi o primeiro TED do lado de baixo do Equador). Mesmo com o preço salgado, o evento lotou: quase mil pessoas (sendo 195 brasileiros) apareceram e todo mundo com quem falei estava satisfeitíssimo. O ingresso caro se justifica pelo poder de influência da plateia. Gente importante circulou pelo anfiteatro à beira-mar, como a indiana Asha Motwani, que em 1999 assinou um cheque milionário para que dois estudantes recém-formados, um russo e um americano, começassem uma empresa. O nome dessa empresa? Google. Veja ao lado algumas das ideias que mais fizeram sucesso no TED de Copacabana. UPGRADE NO SISTEMA DEMOCRÁTICO UM DOS TEMAS CENTRAIS foi a obsolescência do sistema democrático. A ativista argentina Pia Mancini (mais sobre ela na página 18) resumiu bem a situação: "somos cidadãos do século 21, interagindo com instituições do século 19, baseadas em tecnologias da informação do século 15". Alguns brasileiros contribuà­ram para o debate. Alessandra Orofino falou do Meu Rio, plataforma cà­vica digital que já mobiliza um a cada 15 jovens cariocas. Bruno Torturra, criador da Mídia Ninja, falou do poder democratizante dos celulares que transmitem ao vivo. Mas nem tudo são flores em termos de tecnologias democratizantes. A acadêmica turca Zeynep Tufecki fez todo mundo pensar ao mostrar que, quase sempre, manifestações que começam digitais geram muita energia no início, mas acabam em frustração. CÉREBRO 2.0, LIGADO EM REDE QUEM LEVANTOU O PÚBLICO e emocionou todo mundo foi o neurocientista brasileiro Miguel Nicolelis, ao contar a história dos paraplégicos que andaram ao conectar seus cérebros a pernas mecânicas. Nicolelis pintou um futuro no qual cérebros ligados a máquinas são capazes de mover coisas no mundo real e fazer telepatia. Quais as implicações disso? "Não sei", respondeu ele. "Sou apenas um cientista. Sou pago para ser criança." A plateia foi ao delírio. CELULARES AGORA VÃO SALVAR VIDAS COMO SEMPRE, o TED foi palco do lançamento de tecnologias que podem mudar o mundo (o público da primeira edição, em 1984, foi apresentado ao CD e ao touchscreen). No Rio, duas inovações deixaram todo mundo de boca aberta — e ambas envolviam celulares. O mexicano Jorge Soto, da Universidade da Singularidade, na Califórnia, apresentou o protótipo de uma tecnologia simples e barata que permite a qualquer pessoa detectar dezenas de tipos de câncer de uma só vez. Basta pingar gotas de sangue minta bandejinha com reagente e colocá-la numa máquina menor do que um micro-ondas. Os resultados são enviados ao celular do sujeito em 60 minutos. A detecção precoce do cà¢ncer aumenta enormemente as chances de cura. Já a empreendedora canadense Isabel Hoffman apresentou um sensor capaz de identificar todos os componentes de um alimento — o resultado chega imediatamente ao celular. Ambos tiveram motivações pessoais: a filha de Isabel tem sà©rias alergias alimentares e a tia de Soto teve um câncer de pulmà£o que foi complicado pela demora do diagnóstico. Ambos os protà³tipos estão em fase de testes, mas já funcionam. O MUNDO, DE BAIXO PARA CIMA VÁRIOS PALESTRANTES de temas diversos propuseram uma inversão: em vez de soluções centralizadas pensadas de cima para baixo, colocar o protagonismo nas pontas. A especialista em conflitos Severine Autosserre disse que a ONU devia parar de tentar pacificar guerras a partir de articulações entre chefes de Estado e, em vez disso, estimular organizações locais que mediam conflitos tribais. A paz será consequência. Já o arquiteto chileno Alejandro Aravena criticou programas governamentais de habitação popular, que fazem casas minàºsculas e idênticas para todos. Ele propôs que o Estado construa apenas metade de uma casa, deixando para a criatividade local a finalização da obra. "Assim os moradores recebem meia-casa boa, em vez de uma casa ruim. E, depois, o imóvel valoriza, em vez de desvalorizar." REGULAMENTAÇÃO DAS DROGAS: AGORA VAI O TED NUNCA TINHA FALADO sobre drogas, porque é um tema muito polàªmico. Neste ano, várias palestras trataram disso. O americano Ethan Nadelmann levantou o público ao dizer que as pessoas acham que proibir as drogas é uma fórmula de restringi-las, mas na verdade é o contrário: é abrir mão de qualquer regulamentaçà£o. Se o TED é mesmo um barômetro que ajuda a entender para que lado sopram os ventos do futuro, tem mudança no horizonte nesse tema. 2#4 CIÊNCIA – ELES VÃO MORRER EM MARTE Um reality show pretende levar voluntários para o planeta vermelho em dez anos — mas não promete trazê-los de volta. Conheà§a as pessoas que querem passar o fim de seus dias longe da Terra — e entenda a polêmica missão espacial. REPORTAGEM Eliana Loureiro A TAXISTA INGLESA MELISSA EDE nasceu em 1961 como Leslie Lawrence Ede, biologicamente um homem. Apesar da aparência masculina, ela sempre soube que era uma mulher. Melissa só conseguiu se realizar completamente depois de uma cirurgia de mudança de sexo em janeiro de 2011, já com quatro filhos e um divórcio no currículo. Hoje, ela se dedica a ajudar outras pessoas na mesma situação, divulgando suas experiências em um site e dando entrevistas: "Espero que as pessoas, ao verem o que eu enfrentei e superei, sejam encorajadas a acreditar que qualquer sonho é realizável." Mas a história de sua mudança de sexo é apenas a segunda maior curiosidade da vida de Melissa: a inglesa está tentando passar o resto de seus dias em Marte. E ela tem chances reais de conseguir. Melissa Ede é um dos 705 candidatos escolhidos em todo o mundo para a segunda fase de seleção da Mars One, uma missão espacial privada, baseada em patrocínio publicitário, que pretende colonizar Marte. Se tudo der certo, os primeiros quatro astronautas podem chegar por lá já em 2025. A ideia é que vivam definitivamente no planeta vizinho, porque a Mars One não planeja uma viagem de volta. O motivo é técnico: uma viagem apenas de ida não exige a construção de uma estrutura que lance o veículo espacial de volta para a Terra. "O não-retorno reduz a infraestrutura radicalmente. Veículos que sejam capazes de decolar de Marte estão atualmente indisponíveis, e usar tecnologias que ainda não foram testadas gera custos muito grandes", diz Norbert Kraft, médico-chefe do programa. Para fazer a escolha dos astronautas entre as mais de 200 mil pessoas que se inscreveram na primeira etapa, a Mars One vai transformar o processo seletivo em um reality show produzido pela Endemol, a criadora do Big Brother, e transmiti-lo pela TV. É o público que vai decidir quem vai conhecer o planeta vermelho — e morrer lá. Parece maluco, mas o plano já está começando a sair do papel. FICÇÃO OU REALIDADE? O projeto, que tem um quê de ficção científica distópica, é criação do engenheiro holandês Bas Lansdorp. O CEO do Mars One decidiu fundar a empresa em 2011 depois de se espantar com a publicidade gerada com os Jogos Olímpicos de Londres, de 2012. "O Comitê Olímpico Internacional arrecadou mais de US$ 4 bilhões em direitos de transmissão e patrocínios. Pensei que uma missão a Marte poderia arrecadar muito mais, o que facilmente cobriria o custo de cerca de US$ 6 bilhões do projeto." Este é o valor estimado da viagem e de toda a tecnologia necessária para os quatro pioneiros viverem no planeta vizinho sem data de volta. Lansdorp, que antes era proprietário de uma empresa de energia eólica, criou a Mars One como uma fundação privada, e quer se manter distante de envolvimentos políticos ou apoios governamentais, ao contrário das agàªncias espaciais tradicionais. Ele pretende pagar os custos da missão com patrocínios, publicidade, venda de direitos de transmissão para a TV, financiamento coletivo e, em menor escala, venda de artigos como camisetas, blusões e canecas no site do projeto. Muitas canecas. Mas Lansdorp anda fazendo a lição de casa. A Mars One jà¡ assinou contratos com os mesmos fornecedores de tecnologias espaciais da NASA, como a Lockheed Martin, fabricante de artigos aeroespaciais, e a Space X, que constrói as naves que transportam astronautas para a Estação Espacial Internacional (ISS). Marte foi o planeta escolhido para ser o palco do reality show porque é o mais habitável do sistema solar: possui água para ser extraída do solo, tem luz do Sol o bastante para permitir a construção de painéis solares, a gravidade é 38% da existente na Terra, o que se acredita ser suficiente para o corpo humano se adaptar, e tem uma atmosfera que oferece alguma proteção contra radiações solares e cósmicas. Os dias têm quase a mesma duração que na Terra, 24 horas e 39 minutos, e a temperatura é, pelo menos no papel, tolerável para humanos bem equipados: -60 °C, em média. Na teoria, parece tudo certo. Na teoria. Na prática, ir para Marte não é nenhum passeio no parque. As dificuldades começam já na viagem, que pode durar até oito meses. Durante esse período, a exposição à radiação e a tempestades solares — causadores de câncer — será constante. Para evitar o contato, os passageiros terà£o de se esconder em cápsulas especiais da aeronave. Mesmo sem radiação, o aperto vai ser rotina no caminho de ida: cada astronauta terá menos de 20 m3 para viver, e os quatro passageiros vão ter de racionar 800 kg de comida, 3 mil litros de água e 700 kg de oxigàªnio. Tanto tempo expostos à gravidade zero no espaço e depois à baixa gravidade em Marte também pode trazer efeitos colaterais desconhecidos para a massa muscular, a densidade óssea e a visão. Mas os desafios serão ainda maiores quando eles chegarem lá. Uma vez em Marte, os intrépidos colonizadores serão responsà¡veis por produzir o oxigênio que irão consumir (a partir da água que existe no planeta em forma de gelo) e todos os alimentos que vão ingerir até o fim de seus dias (a partir de plantaçàµes hidropônicas, uma vez que o solo marciano não serve para plantações). A ideia é que eles não precisem construir todas as instalações quando chegarem lá. O cronograma determina que, a partir do ano 2018, diversas missões não tripuladas a Marte levem — e montem — os componentes que vão formar os novos lares dos astronautas. Isso mesmo. De dois em dois anos, quando as órbitas dos planetas estiverem mais próximas, naves levarão robôs e sondas motorizadas que vão escolher a localização mais propícia para montar os módulos de habitação (perto de à¡gua e luz, e com um relevo plano), instalar painéis solares para produzir energia, conectar por meio de tubos as unidades nas quais os astronautas vão morar e deixar tudo pronto para a chegada dos humanos. O gelo vai ser extraído do solo marciano e aquecido para virar água; e parte da substância vai ser usada para a produção de oxigàªnio. O nitrogênio e o argônio, gases que junto com o oxigàªnio formam o ar respirável, serão retirados da atmosfera e lançados no interior dos habitats. A ideia é que, antes mesmo de o grupo inicial começar sua jornada, o sistema de suporte à vida já tenha produzido e armazenado uma atmosfera respirável, 3 mil litros de água e 120 kg de oxigênio. O plano parece difícil de ser executado, mas a própria NASA deve lançar em 2020 uma sonda ao planeta vermelho com a missão justamente de produzir oxigênio por lá a partir de dióxido de carbono. "Queremos usar os recursos de Marte para produzir oxigênio para a respiração humana e, potencialmente, para a produçà£o de combustível de foguetes", diz Rachel Kraft, porta-voz da agàªncia espacial. Ainda assim, o plano da Mars One é mais ambicioso — e mais urgente. "Eu não acredito no êxito dessa missà£o sem volta, pelo curto prazo estipulado. Se dissessem que iriam comeà§ar o projeto em 2030, teria tudo para dar certo, mas está muito em cima. Lá não haverá apoio, não tem hospital em Marte. Provavelmente, eles vão morrer em menos de dez anos", diz o astronauta brasileiro Marcos Pontes. A NASA também preferiu não comentar os planos ambiciosos da Mars One. BBB MARTE Apesar de todos os riscos, não faltam pessoas dispostas a arriscar a vida para conhecer nosso vizinho no sistema solar. 202.586 pessoas se inscreveram. E os 705 candidatos que passaram para a segunda fase precisam agora apresentar um atestado médico que confirme suas boas condições de saúde: devem estar livres de qualquer doença ou dependência química, ter visão 100% nos dois olhos, não apresentar transtornos psiquiátricos, ter pressão baixa e medir entre 1,57 e 1,90 m. Se passarem pelo teste, serão entrevistados por um comitê de seleção, o que servirá de material para o reality show, transmitido pela TV no começo de 2015. A partir da terceira fase de seleção, o público vai decidir quem poderá, enfim, ir a Marte. A escolha do grupo é estratégica. Ao menos dois deles precisam ter conhecimentos médicos, e uma pessoa vai ter de analisar a geologia e a eventual biologia do planeta vermelho. Todos terão conhecimentos de fisioterapia, psicologia e eletrônica. Para isso, os 24 candidatos escolhidos na última seletiva receberão treinamento por oito anos seguidos. "Eles ficarão isolados do mundo por alguns meses a cada dois anos, divididos em grupos de quatro, para aprender a viver juntos enquanto estiverem isolados", diz Norbert Kraft. A primeira equipe a ir para Marte será selecionada por seus conhecimentos e habilidades individuais, assim como capacidade de trabalhar em conjunto. Manoel Belem, empresário paulista e físico de formaçà£o, é um dos 15 brasileiros selecionados para a segunda fase. Se aprovado, terá cerca de 70 anos quando desembarcar em Marte, o que faz com que a ideia de passar o resto da vida por lá não pareça tão assustadora. Belem diz não sentir medo da aventura - acredita que corre mais riscos por aqui, "em meio a tanta violência e má alimentação". Para ele, a expectativa de se afastar da vida terrena só o anima: "Terei chance de ver a Terra do espaço e refletir: 'agora esses caras devem estar no maior engarrafamento' e 'puxa, eles precisam pagar IPTU'", diz. São os problemas de cá que também estimulam a professora de Porto Velho Sandra Maria Feliciano a querer ir para lá. Ela acredita que, com a escassez de recursos naturais, seja necessário colonizar outros planetas para que a humanidade possa continuar a existir. Por isso, não tem medo de deixar a família para trà¡s: "vou ser muito sortuda de poder realizar o maior sonho da humanidade, e levar o homem para o lugar onde ele deve estar: entre as estrelas." Outra brasileira convocada para a segunda fase da Mars One é a catarinense Priscila Hamad. Ela se inscreveu juntamente com o namorado, Felipe Fruit, engenheiro eletricista, mas foi selecionada sozinha para a prà³xima etapa. Para se consolar, a bancária prefere acreditar que, até o lançamento da primeira nave, a ciência esteja tão avançada que torne viáveis viagens de ida e volta do planeta. "Não que eu pense em voltar, mas quem sabe poderei receber visitas?", diz. Felipe, por sua vez, não sabe o que pode acontecer com o relacionamento depois da partida de Priscila, mas não hesita diante do desafio. "O que sentimos um pelo outro é muito maior do que a distância." Distância, no caso, nada desprezível: são 50 milhões de quilômetros que separam a Terra de Marte. Vai ser um amor além da vida. PASSOS PARA MARTE ENTENDA O PROJETO. 2011 - Bas Lansdorp e Arno Wielders fundam a Mars One e negociam com potenciais fornecedores de componentes aeroespaciais. Também calculam o cronograma de acordo com as tecnologias existentes: os primeiros humanos desembarcam por lá em 2025. 22 DE ABRIL DE 2013 - É lançado o programa de seleção de astronautas. Foram 202.586 inscritos em todo o mundo. 2014 E 2015 - Segunda, terceira e quarta rodadas de seleção, transmitidas pela internet. O público vai ajudar a decidir quem vai para o espaço. 2016 - Início do treinamento dos selecionados, que vai até 2024. A habilidade do grupo em lidar com períodos prolongados de isolamento será a parte mais importante. Os selecionados vão aprender a consertar componentes de suas moradias e das sondas, a realizar procedimentos médicos e a cultivar sua própria comida. 2018 - Uma missão de demonstração e um satélite de comunicação aterrissam no planeta. O satélite ficará na à³rbita marciana, facilitando a comunicação entre os planetas. Isso possibilitará a transmissão de imagens e vídeos. 2020 - Lançamento de uma sonda que vai escolher o lugar do assentamento. Envio de um segundo satélite em torno do Sol, que permitirá a comunicação com Marte mesmo quando o Sol estiver entre os dois planetas. 2022 - Lançamento das unidades de moradia e de apoio, além de mais suprimentos. 2024 - Partida da tripulação. O assentamento já deverá estar em pleno funcionamento e habitável. Eles voarão para Marte em um habitat móvel, com uma nave de pouso acoplada. 2025 - Chegada do grupo pioneiro. 2#5 CULTURA – ENCHENDO O CUBO DE GRANA O MINEGRAFT, UM JOGO APARENTEMENTE TOSCO, FEITO DE BLOQUINHOS VIRTUAIS, SE TORNOU O GAME MAIS VALIOSO DO MUNDO. ENTENDA COMO. REPORTAGEM Bruno Romani VOCÊ JÁ DEVE TER OUVIDO FALAR de Grand Theft Auto V. É o game mais sofisticado, e mais caro, de todos os tempos: custou US$ 265 milhões e exigiu o trabalho de centenas de artistas e programadores ao longo de quatro anos. Tanto esforço deu resultado: o jogo já vendeu 33 milhões de cópias e faturou mais de US$ 1,5 bilhão. Minecraft é o oposto disso. Foi criado por apenas uma pessoa, o programador sueco Markus Persson, de 35 anos, que tocava o projeto nas horas de folga e em 2009 lançou a primeira versão do jogo. Sua mecânica é muito simples, e o visual, assumidamente pobre. Mesmo assim, o game se tornou um fenômeno avassalador, alcançando 54 milhões de cópias vendidas. E, em setembro, foi comprado pela Microsoft por US$ 2,5 bilhões (o valor inclui os direitos sobre o jogo e uma empresa, de 43 funcionários, que o sueco havia montado para administrar o sucesso de Minecraft). Markus embolsou o dinheiro e foi embora, o que tem preocupado os ardorosos fãs do jogo — entre eles uma menina americana de 10 anos, que escreveu uma carta-aberta à Microsoft pedindo que nà£o "estrague" o game. Minecraft tem várias versões, para computador, smartphone e consoles de videogame, mas sua essência é sempre a mesma. Vocઠassume o papel de Steve, um bonequinho que cai do céu, sem motivo aparente, numa terra inabitada e cheia de árvores e montanhas. O objetivo é sobreviver à primeira noite, que chegará em dez minutos. Quando cai a escuridão, que também dura dez minutos, surgem monstros que tentam matar Steve. O jogo não dá nenhuma instrução, mas você logo percebe o que deve fazer: construir um abrigo usando as matérias-primas, como madeira e pedra, que estão disponíveis no ambiente e você deve minerar (daí o nome do jogo). É isso. Não há fases, missões nem bônus. "Hoje em dia, os games têm uma longa lista de elementos que precisam estar presentes. Mas o Minecraft quebrou essa regra", diz o designer Peter Molyneux, que é conhecido pelos jogos inteligentes e ousados (e respeitado no meio desde 1989, quando criou Populous, o primeiro game em que o protagonista assume o papel de Deus). Só que construir o abrigo em Minecraft não é fácil. Exige dedicação, determinação, habilidade (a internet está cheia de guias que ensinam técnicas de construção) e acima de tudo imaginação. Essa é a chave para entender o sucesso do jogo. O bacana é construir o abrigo mais sofisticado possível — há pessoas que fizeram réplicas da Casa Branca e do Congresso Nacional, por exemplo — e mostrá-lo aos outros jogadores. É como montar algo com pecinhas de Lego; só que em rede e num ambiente infinito, que vai crescendo conforme mais jogadores entram. Além de montar abrigos, o game também permite construir coisas reais — como um computador. Foi o que fez o paulista Bruno Schenberg, de 13 anos. Usando as ferramentas do jogo e três de seus elementos (pedra, madeira e redstone, um material fictício capaz de conduzir eletricidade), ele montou um computador virtual, que tem transístores e díodos e é capaz de fazer operações matemáticas simples. A capacidade é de apenas 4 bits (metade do antiquíssimo videogame Atari), e só faz contas de soma. Mas seu tamanho encanta: o computador é uma estrutura gigante de peças e alavancas virtuais com 150 metros de altura. A construção foi parte de um projeto escolar. "Eu queria aprender sobre computação. Vi alguns vídeos sobre isso, e levei as ideias para dentro do jogo", conta Bruno. Além de montar a máquina, o garoto a apresentou aos professores em và­deo — num cinema virtual que também construiu dentro de Minecraft. Ele não é o único a fazer construções intrigantes. O americano Hans Lemurson foi mais longe: montou um computador virtual que roda uma versão primitiva de Minecraft, dentro do próprio Minecraft. Reproduziu o jogo dentro do próprio jogo. Mas essas coisas todas só se tornaram possíveis depois que o inventor do game resolveu tomar uma medida ousada: acabar com os monstros. MODO CRIATIVO A primeira versão de testes de Minecraft foi liberada em maio de 2009. Desde o começo, Markus Persson procurava interagir com os jogadores em fóruns e redes sociais. Os jogadores deram uma sugestão interessante: e se o game também tivesse um "Modo Criativo", sem monstros, para que as pessoas pudessem fazer suas construções com tranquilidade? Markus não gostou muito da ideia, pois achava que o game ia ficar chato se não tivesse nenhum desafio. Mas acabou aceitando. E esse foi seu grande acerto. Você pode jogar com os monstros ou sem eles. Hoje, o Modo Criativo é um dos mais populares de Minecraft. Sem ele, as grandes construções dificilmente existiriam — e o jogo nunca teria se tornado tão popular. Outra explicação para o sucesso de Minecraft é sua abertura. O game pode receber modificações não oficiais, criadas por entusiastas. Elas acrescentam funções, ferramentas, animais e até desastres naturais — coisas que Markus sequer imaginava. "O verdadeiro valor não está no jogo, seu inventor, ou em coisas que Markus ou seus funcionários tenham feito. O valor está na comunidade de jogadores, que diariamente criam coisas novas para o jogo", diz o investidor americano David Pakman, especializado em desenvolver empresas de tecnologia- De fato, algumas das construções mais impressionantes de Minecraft são resultado do esforço conjunto de grupos de jogadores. Uma delas, a WesterosCraft, recria todo o continente da série medieval Game of Thrones. Ela tem área equivalente a 1.260 quilà´metros quadrados, mesmo tamanho da cidade do Rio de Janeiro, e comeà§ou a ser construída em 2011. O líder do projeto, Jacob Granberry, passa de 20 a 30 horas por semana administrando a empreitada. Depois de construir uma coisa, é provável que você queira mostrá-la. E como: hoje, uma busca no YouTube por "Minecraft" leva a mais de 95 milhões de vídeos, em que os jogadores apresentam seus projetos e modificações. Isso funciona como propaganda do jogo, gerando um boca a boca perfeito para atrair novos usuários ou manter motivados aqueles que já jogam. "O fã de Minecraft é engajado, busca informações para melhorar a sua experiência com o jogo", diz Leon Oliveira, dono do canal Coisa de Nerd, que tem 2,3 milhões de assinantes no YouTube e se especializou em publicar vídeos do jogo. Foi dessa maneira, sem investimentos em marketing, que Minecraft conquistou seus milhões de fà£s (em comparação, os criadores de Grand Theft Auto V gastaram US$ 150 milhões com publicidade). Depois de vender sua criação para a Microsoft e ficar bilionário, Markus Persson foi se dedicar a seus outros interesses — ele gosta de compor música eletrônica e é membro do Partido Pirata, que luta pela legalização dos downloads piratas na Suà©cia. E, mesmo sem seu pai, Minecraft continua bem, obrigado. No comeà§o de setembro, pouco antes do negócio com a Microsoft, o jogo ganhou versões para os consoles da nova geração, PlayStation 4 e o Xbox One. Em menos de um mês, a versão para PS4 já tinha vendido 1 milhão de cópias (os números do Xbox ainda não foram anunciados). Ao que tudo indica, os bloquinhos ainda vão continuar em alta por um bom tempo. A ONDA DOS INDIE GAMES Minecraft não é o único jogo independente e de baixo orà§amento a fazer sucesso. Veja outros hits: BRAID LANÇADO EM 2008, é o precursor da nova era de jogos indie. Foi criado por apenas duas pessoas, que trabalharam por três anos. A histà³ria é banal (você controla um boneco que deve salvar uma princesa), mas a forma de jogar traz uma novidade: é possível voltar no tempo para superar obstáculos. Já vendeu mais de 450 mil cà³pias. FEZ CRIADO PELO canadense Phil Fish, que trabalhou no projeto durante cinco anos, Fez é uma versão pós-moderna dos games de plataforma (como Mário e Sonic). É possível girar o cenário, revelando passagens secretas e soluções para desafios. Após vários adiamentos, foi lançado em 2012 — e já superou a marca de 1 milhão de cópias. LIMBO VOCÊ DEVE AJUDAR o protagonista a encontrar e resgatar a irmã, percorrendo cenários monocromáticos, sombrios — e absolutamente lindos. É o primeiro jogo do estúdio dinamarquês Playdead, e já superou 3 milhões de cópias vendidas. Influenciou vários games (inclusive o blockbuster Donkey Kong Country Returns, da gigante Nintendo). SUPER MEAT BOY O PROTAGONISTA, um pedacinho de carne, é um dos mais simpáticos do mundo dos games. Seu objetivo é atravessar cenários cheios de armadilhas cortantes, como facas, lanças e serrotes. Com visual retrà´, faz nítidas referências a clássicos dos anos 90, como Castlevania e Ninja Gaiden. Foi lançado em 2013 e ultrapassou a marca de 2 milhões de cópias vendidas. 2#6 CULTURA – DO QUE MORREM OS ARTISTAS Analisamos as mortes dos 194 músicos mais importantes e populares do Brasil e do mundo [Músicos selecionados com base nos ranking de melhores de todos os tempos das revistas Rolling Stone, Uncut e Bravo!, na lista dos mais vendidos da história da Billboard e da Associação Brasileira de Produtoras de Disco.]. Câncer e doenças cardíacas são mais comuns que overdose e suicídio. E 27 anos é realmente uma idade sinistra. POR Felipe van Deursen, Flávio Pessoa e Tiago Lopes CAUSAS COMUNS MESTRES DO JAZZ MORREM PELO CORAÇÃO. DA MPB, DE CÂNCER. ROCK, DE QUALQUER JEITO. MÚSICA BRASILEIRA - Bossa nova, brega, choro, forró, frevo, MPB, samba e sertanejo MÚSICA POPULAR AMERICANA - Country, folk, blues e jazz MÚSICA NEGRA - Funk, R&B, soul e rap MÚSICA CLÁSSICA - Barroco, clássico, moderno e romântico ROCK E OUTROS - Rock'n'roll, pop e reggae 1- CARDIOVASCULARES Mortos: 43 Rock e outros - 15 Música brasileira - 12 Música negra - 3 Música clássica - 4 Música popular americana – 9 Artista: Bo Diddley Idade de Morte: 79 Artista: Dave Brubcek Idade de Morte: 91 Artista: Frank Sinatra Idade de Morte: 82 Artista: Louis Armstrong Idade de Morte: 69 Artista: Muddy Waters Idade de Morte: 70 Um terço do panteão da música americana morreu de complicações cardíacas. Brasileiros, clássicos e roqueiros também foram vítimas comuns. Mas essas doenças atacaram só 8,3% dos artistas de música negra. 2- CÂNCER Mortos: 36 MAIS RECORRENTES 7 Pulmão 5 Próstata 4 Leucemia Música brasileira – 9 Música clássica – 3 Música popular americana – 5 Música negra – 3 Rock e outros – 16 Artista: Cartola Idade de Morte: 72 Artista: Dorival Caymmi Idade de Morte: 94 Artista: Elizeth Cardoso Idade de Morte: 69 Artista: Reginaldo Rossi Idade de Morte: 69 A doença matou um de cada cinco grandes artistas brasileiros. Eles foram vítimas de tipos comuns, como próstata (Waldick Soriano, 75), e raros, como tumor de Askin (Leandro, 36). 3- ACIDENTES Mortos 26 MAIS RECORRENTES 12 avião 7 carro/ônibus 4 afogamento 1 moto 1 eletrocussão 1 ski Música popular americana - 1 Rock e outros – 19 Música negra – 4 Música brasileira – 2 Artista: Buddy Holly Idade de Morte: 22 Artista: Chico Science Idade de Morte: 30 Artista: Duane Allman (Allman Brothers) Idade de Morte: 42 Artista: Marc Bolan (T-Rex) Idade de Morte: 29 No rock, avião mata mais que carro. Três membros do Lynyrd Skynyrd (1977) e os cinco do Mamonas Assassinas (1996) se foram assim. 4- ÁLCOOL E DROGAS Mortos: 20 Música negra – 3 Música popular americana – 2 Música clássica – 1 Rock e outros – 12 Música brasileira – 2 Artista: Amy Winehouse Idade de Morte: 27 Artista: Ary Barroso Idade de Morte: 60 Artista: Beethoven Idade de Morte: 56 (suspeita-se que Beethoven possa ter morrido também de cirrose, sífilis, hepatite ou envenenamento gradativo). Artista: Dee Dee Ramone (Ramones) Idade de Morte: 50 Overdoses são mais comuns no rock, porém ocorrem no resto, claro. A idade média de morte é 25, mas velhos também batem as botas assim. A cocaína derrubou Ike Turner aos 76. 5- DSTs Mortos: 8 MAIS RECORRENTES 5 Aids 3 Sífilis Rock e outros – 4 Música clássica – 2 Música popular americana – 1 Música negra – 1 Artista: Freddie Mercury (Queen) Idade de Morte: 48 Artista: Renato Russo (Legião Urbana) Idade de Morte: 36 Artista: Schubert (a causa mortis de Schuber é febre tifoide, mas novos estudos indicam sífilis). Idade de Morte: 31 A sífilis não matou nenhum artista dessa lista desde 1938 (Robert Johnson, 27) (*outra causa considerada para a morte de Robert Johnson à© envenenamento). Mas doenças venéreas voltaram a ameaçà¡-los a partir de 1990, quando perdemos Cazuza (32) e Tom Fogerty (Creedence Clearwater Revival, 48). 6- CEREBRAIS Mortos: 7 Música popular brasileira – 2 Música popular americana – 1 Música clássica – 4 Artista: Dvorák Idade de Morte: 62 Artista: Mendelssohn Idade de Morte: 38 Artista: Prokofiev Idade de Morte: 61 Artista: Verdi Idade de Morte: 87 A maioria dos grandes compositores clássicos morreu de AVC, câncer ou complicações cardíacas. Mas outros foram vítimas da precariedade da medicina de seu tempo. No século 18, Bach (65) e Mandel (74) morreram após operar o olho. 7- ASSASSINATOS Mortos 7 MAIS RECORRENTES Armas de Fogo 3 Quatro tiros 3 Um tiro 1 Dois tiros Rock e outros – 2 Música negra – 5 Artista: Jam Master Jay (Run DMC) Idade de Morte: 37 Artista: John Lennon Idade de Morte: 40 Artista: The Notorious B.I.G. Idade de Morte: 24 Artista: Tupac Shakur Idade de Morte: 25 Artista: Sabotage Idade de Morte: 29 Marvin Gaye (44) foi assassinado pelo pai. Uma suposta tentativa de estupro fez Sam Gooke (33) ser morto seminu. Até entre deuses da música, a violência da rua mata mais negros que brancos. 8- SUICÍDIO Mortos: 5 MAIS RECORRENTES 2 Remédios ou venenos 2 Armas de fogo 1 enforcamento Artista: Champignon (Charlie Brown Jr. Idade de Morte: 35 Artista: Nick Drake Idade de Morte: 26 Artista: Kurt Cobain (Nirvana) Idade de Morte: 27 Assis Valente (46) ingeriu veneno de formiga na rua. Ian Curtis (Joy Division, 23) se enforcou na casa dos pais. Kurt Cobain foi achado só tràªs dias após se matar em casa. Casos assim alimentam os mitos da música. GERAÇÕES SAÚDE CAUSAS E NÚMERO DE MORTES DE ACORDO COM A ÉPOCA EM QUE VIVERAM. Época: Séc. 18/19 Causas e número de mortes: Coração 2; Sífilis 1; Tuberculose 1. Época: 1900 a 1950 Causas e número de mortes: Coração 4; Avião 1; Sífilis 1; Tuberculose 1. Época: 1960 Causas e número de mortes: Coração 1; Avião 2. Época: 1970 Causas e número de mortes: Coração 9; Pulmão 1; Avià£o 1. Época: 1980 Causas e número de mortes: Coração 6; Pulmão 4. Época: 1990 Causas e número de mortes: Coração 9; Pulmão 6; Avià£o 1; AIDS 5. Época: 2000 Causas e número de mortes: Coração 10; Pulmão 1; Avià£o 1. Época: 2010 Causas e número de mortes: Coração 5; Pulmão 4. A- CORAÇÃO - Doenças cardiovasculares são 30% das mortes no mundo hoje. B- PULMÃO - Os casos de câncer de pulmão saltaram de 1% (séc. 19) para 14% em 1927. Nos anos 40, o tabagismo começou a ser associado a doenças pulmonares. C- AVIÃO - Os anos com mais acidentes estão entre as décadas de 1940 e 1970. D- SÍFILIS - Surgiu no final do século 15. A cura veio nos anos 40, com a descoberta da penicilina. E- TUBERCULOSE - Antiga doença de artistas. A cura também surgiu na década de 1940, com a penicilina. F- AIDS - A epidemia foi declarada em 1981. Em 2007, o número de mortes por ano começou a cair. NA MÉDIA OS RECORDISTAS DE IDADE, DE SID VICIOUS A MOREIRA DA SILVA MÚSICA BRASILEIRA Média do Gênero – 65,5 anos Mais Antigo: Moreira da Silva – 98 anos Mais Novo: Noel Rosa – 26 anos MÚSICA POPULAR AMERICANA Média do Gênero – 61,4 anos Mais Antigo: Dave Brubeck – 91 anos Mais Novo: Nick Drake – 26 anos MÚSICA CLÁSSICA Média do Gênero – 60,4 anos Mais Antigo: Igor Stravinsky – 88 anos Mais Novo: Franz Schubert – 31 anos MÚSICA NEGRA Média do Gênero – 43,6 anos Mais Antigo: Ike Turner – 76 anos Mais Novo: Aaliyah – 31 anos MÚSICA ROCK E OUTROS Média do Gênero – 41,4 anos Mais Antigo: Levon Helm (The Band) – 71 anos Mais Novo: Sid Vicious (Sex Pistols) – 21 anos 52 ANOS - A idade média de morte equivale à expectativa de vida em Angola, uma das dez mais baixas do mundo. IDADES MAIS MORTAIS 26 anos Claudinho - Música Negra. Gram Parsons; Hillel Slovak (Red Hot Chili Peppers); Jimmy; Mcculloch (Wings) – Rock e outros Noel Rosa – Música brasileira Nick Drake – Música popular americana Otis Redding – Música Negra Sérgio reoli (Mamonas Assassinas) – Rock e outros 27 anos Amy Winehouse – Música Negra Brian Jones (Rolling Stones); D. Boon (Minutemen); Janis Joplin; Jim Morrison (The Doors); Jimi Hendrix; Kurt Cobain (Nirvana) – Rock e outros Robert Johnson – Música Americana. 2#7 CONSUMO – TUDO GOURMET De uns anos para cá, surgiu uma nova gastronomia brasileira, alçando chefs à condição de celebridades televisivas. Ao mesmo tempo, um fenômeno se alastrou dos restaurantes chiques para os balcàµes de bar: a gourmetização. Por que isso está acontecendo? REPORTAGEM Luiz Felipe Silva e Felipe van Deursen ATÉ O COMEÇO DA DÉCADA PASSADA, quando se falava nos melhores restaurantes do Brasil, logo se pensava em alguma casa nos Jardins ou no Leblon que servisse o suprassumo da cozinha clássica francesa ou italiana. Hoje, o cenário é mais diversificado, por três motivos. Primeiro a estatística: nesse período, o País ficou mais rico e passou a comer mais fora de casa - um aumento de 12,5% só em 2012, segundo a Associação Brasileira de Bares e Restaurantes (Abrasel). Segundo, a mudança de comportamento. Na televisão, reality shows culinários fazem sucesso e já ganham versões brasileiras, como o Masterchef. Na internet, as redes sociais proliferaram o hà¡bito de descobrir pratos, fotografar e compartilhar. Os praticantes sà£o chamados de foodies, termo até então pouco conhecido. Por fim, a anedota: brasileiro adora uma premiação em que tenha uma à­nfima chance de ganhar, seja Oscar, Mundial de Ginástica Artística ou ranking dos melhores restaurantes do mundo. Essa chama foi acesa em 2006, quando o chef Alex Atala e seu D.O.M. estrearam na lista da revista inglesa Restaurant dos 50 melhores restaurantes do planeta. O 50º lugar bastou para uma parcela cada vez maior da população começar a acompanhar esse mundo e a presenciar o que vem sendo chamado de nova gastronomia brasileira. Com o tempo, o D.O.M. subiu posições, chegou ao quarto lugar em 2012 e abriu espaço para uma nova cultura gastronômica nacional. Seus pratos são diferentes do que alguém comeria nas nossas melhores casas uma década antes, e a mais tradicional publicaçà£o brasileira do ramo deixa claro. Em 2003, o Guia Quatro Rodas deu tràªs estrelas (a condecoração máxima) a quatro restaurantes italianos, dois franceses e um português. Em 2013, dos seis melhores do País, quatro aliam tradições e ingredientes brasileiros a técnicas da culinária contemporânea. Se os melhores estão fazendo de um jeito, o resto corre atrás. Pela primeira vez, nossos chefs não estavam apenas replicando receitas consagradas, mas criando uma identidade. Pratos como robalo no vapor com tucupi chamaram a atenção do mundo para a gastronomia brasileira. Mas isso não nasceu aqui. Veio de lá mesmo, da França. PARA VER E PARA COMER Na década de 1960, um grupo de chefs franceses, insatisfeitos com o exagero de técnicas requintadas e molhos pesados que dominavam os restaurantes mais chiques do mundo, deu uma guinada em direção a uma cozinha mais focada no sabor dos ingredientes. A ideia era manter a essência gastronômica francesa, mas de uma forma mais simples e acessível. O movimento, chamado nouvelle cuisine, era marcado pela troca de experiências. Leste Europeu, Extremo Oriente e América do Sul entraram na rota desses chefs à procura de sabores. A onda chegou ao Brasil nos anos 80 com Laurent Suaudeau e Claude Troisgros. "Essa é a gênese do que viria pela frente na cozinha brasileira", diz Rodolfo Krause, coordenador do curso de Gastronomia da Universidade do Vale do Itajaí (Univali), em Santa Catarina. A dupla difundiu métodos e influenciou uma geração, especialmente na valorização de produtos nacionais. Gastronomia é uma pirâmide. Se temos uma vasta e sólida base, com feijoada, churrasco e dezenas de pratos e quitutes regionais, faltava um topo. Isso começou a criar forma nos anos seguintes. Em 1999, Alex Atala abriu o D.O.M. A maior influência do chef-celebridade é o catalão Ferran Adrià e seu El Bulli, eleito o melhor restaurante do planeta em cinco ocasiões. Adrià, grande incentivador de Atala a buscar novos sabores na Amazônia, disse que o Brasil era um dos países do futuro na alta gastronomia. Chegou lá? Ainda não, acredita a chef Roberta Sudbrack, do restaurante carioca homônimo, um dos melhores do País. "O mundo já reconhece o Brasil como uma cozinha moderna. Mas essa geração tem o desafio de ir além da moqueca." Enquanto essa cena tomava forma nas grandes capitais, surgia um outro fenômeno, ancorado no mesmo contexto de povo mais rico e interessado por uma comida, digamos, diferenciada: a gourmetização. Das gà´ndolas de supermercado às mesas dos botequins, muita coisa ganhou versão gourmet. Em São Paulo, trailers de comida de rua receberam enfeites e agora são chamados de food trucks. "Na alta gastronomia ou no gourmet popular, são elementos simples que transformam a experiàªncia", diz João Máximo, professor de história da gastronomia do Senac. Esses detalhes dizem muito. A nova gastronomia brasileira e a gourmetização são duas faces da moeda que ajudam a explicar como se come no Brasil. É DIA DE FEIRA A revolução gastronômica de um país se baseia em três pilares, basicamente. É preciso ter uma cultura que valorize o ato de comer bem, uma estrutura logística e tecnológica que colabore com isso, da produção ao prato, e uma população com dinheiro suficiente para comer fora de vez em quando. No Brasil, como já vimos, o que houve foi um aumento significativo da renda e uma geração de chefs disposta a valorizar cores e sabores regionais. Ainda faltam cultura e investimento. Juntar a fome com a vontade de comer, mas deixar de lado o saber o que comer e o quanto gastar, é a receita para a gourmetização de tudo. Abrimos a porteira para o gourmet banal. Pegue uma coxinha, meta ossobuco e você terá um quitute não necessariamente melhor, mas certamente mais caro. Tudo turbinado pelo consumismo puro. "Há uma política agressiva de consumo, que traz o imaginário de glamour da gastronomia", diz Máximo. "Até foto de comida do Instagram divulga isso." Em vez de investir no desenvolvimento de uma cozinha diversificada e para todos os públicos, em criar pratos que conquistem o mundo, damos espaço para tentativas de reinvenà§ão da roda. A coxinha gourmet ainda é só uma coxinha. Isso ocorre porque o Brasil não tem uma cultura gastronômica forte. Apesar da base alimentar rica, criada por todos os povos que aqui chegaram — dos índios, há 15 mil anos, aos japoneses, hà¡ 106 —, nós não damos muita atenção à comida. A primeira escola para formação de chefs do País, no Senac Águas de São Pedro, em São Paulo, surgiu em 1994, 99 anos depois da primeira do mundo, a Le Cordon Bleu, em Paris. A cultuada instituição francesa tem filiais em 13 países, em todos os continentes, mas só em 2011 surgiu o plano de vir para o Brasil. É uma realidade muito diferente da de outro país cuja gastronomia teve influência da nouvelle cuisine: o Peru, onde comida é orgulho nacional. Na capital, Lima, conversa-se sobre receitas na rua, taxistas apontam restaurantes como se fossem atração turística (o que de fato são) e há programas sociais que tiram crianças da rua para formar cozinheiros. A gastronomia é o futebol deles. Hà¡ um planejamento para isso. Há sete anos, Gastón Acurio, um dos grandes chefs do mundo e líder da cultura alimentar peruana, criou a Mistura, maior feira gastronômica fora da Europa. Ela reúne gente de todas as etapas da cadeia, da horta à mesa, incluindo o público. Isso criou uma relação mais coesa de chefs e produtores empenhados pelo mesmo fim: comida boa. No Brasil, sem incentivos governamentais e uma união maior da classe, é mais no cada um por si. A relação entre chefs e produtores não é facilitada. É o caso de Manoella Buffara, do Manu, de Curitiba, que viajou meses pelo Paraná em busca de fornecedores. Todos que encontrou produziam apenas para subsistência ou estavam comprometidos com grandes redes. Quando achou um disposto a negociar, ele nà£o tinha geladeira e trabalhava na base do escambo. A história se repete Brasil afora. Com acesso difícil, falta de logística e de incentivo, conseguir produtos específicos fica caro, o que se reflete no preço final do prato. Do outro lado da cadeia, alguns produtores estão se mobilizando para chegar a seus clientes. Em Santa Catarina, 700 famílias produzem 95% das ostras nacionais. Como quase tudo é vendido a restaurantes finos, esses produtores se organizaram como uma cooperativa e buscaram apoio financeiro e técnico. De 2007 para cá, a produção mais que dobrou. Mas ainda são casos isolados. A relação chef-produtor é algo que se começou a trabalhar há pouco tempo no Brasil, e em movimentos esporádicos, sem uma força central como na Mistura. Por essas e outras, o Peru é uma potência emergente gastronà´mica mais relevante que o Brasil. Assim como outro país influenciado pela nouvelle cuisine, a Dinamarca, onde fica o Noma, tetracampeão da Restaurant. Lá, os chefs Claus Meyer e René Redzepi passaram a servir apenas alimentos frescos e produzidos na Escandinávia. Para revolucionar a cozinha local, precisaram repensar toda a cadeia de produção. Afinal, para se ter matéria-prima fresca, saudável e diversa, era preciso deixar isso rentável para os produtores. TERRAÇO GOURMET O Grupo Pão de Açúcar diz que sua linha de produtos finos deve crescer 20% entre 2012 e 2014. Em 2006, ela nem existia. Hoje sà£o 220 itens. A empresária Adriana Lotaif criou a Pipó, pipoca fina que vendia 10 mil unidades em janeiro e deve chegar a 50 mil em dezembro. Gourmet virou cotidiano no jornal. O diário O Estado de S. Paulo levantou quantas vezes ela apareceu em suas páginas desde a primeira vez, em 1901 (a propósito, um banquete oferecido ao poeta Olavo Bilac). Até os anos 70, eram menos de dez recorrências por ano. Nas dà©cadas seguintes, a taxa subiu para cerca de 80 ao ano. Na virada do sà©culo, disparou. Em 2005, 1.144 vezes. Em 2010, 5.077, uma média de 13,9 "gourmet" por dia. Em parte, por causa da explosão de produtos com qualidade teoricamente superior à versão tradicional. Mas o termo ficou tão banalizado que escorreu para fora do caderno de culinà¡ria. Hoje você pode tomar um sorvete gourmet enquanto espera na fila do supermercado para pagar a ração gourmet do seu pet, uma marmita gourmet para o trabalho e um saco de carvão gourmet, ideal para um churrasco na varanda gourmet. "Há uma necessidade natural de nos diferenciarmos dos outros. Esses produtos cumprem o papel", diz Gabriela Otto, consultora de mercado de luxo. Na falta de uma cultura gastronômica sólida, o Brasil atira para todo lado e abre muito mais espaço para o gourmet banal do que Peru e Dinamarca, por exemplo. É um fenômeno parecido com a nossa receptividade a grandes redes de fast food, em contrapartida à resistência das superpotências do garfo. A Itália foi ter seu primeiro McDonald’s em 1986, sete anos depois do Brasil. Chefs e produtores engajados não vão conseguir, da noite para o dia, que a comida brasileira tenha um tratamento melhor. Mas é um começo. Enquanto isso, seguimos na torcida para ter o melhor restaurante do mundo. Com um balde de pipoca gourmet no colo. COXINHA DE CAMARÃO ROSA. R$ 12 a unidade BOTECO GOURMET CACHORRO-QUENTE – Tem com salsicha Frankfurt, pão ciabatta, maionese de trufas, queijo gruyère etc. BOLOVO – O ícone da comida ogra existe em versões com massa de cogumelo e pesto de hortelã. PASTEL – Montado na hora e frito em óleo canadense rico em à´mega 3. De alho poró, brie ou funghi. Brigadeiro artesanal de chocolate belga ou suíço e temperos indianos. R$ 13 cada. GAFETERIA GOURMET SORVETE sabores extravagantes, como cerveja com chocolate. Até sorvete quente já inventaram. CHURROS Capricha nos ingredientes (doce de leite Havanna e chocolate belga Callebaut, por exemplo). CAFÉ Feito com tipos finos, como Piatã e Jacu, cujos grãos são tirados das fezes do pássaro Jacu. Pipoca com caramelo e noz pecan. R$ 30 a lata. DESPENSA GOURMET CHCOLATE Com recheios de paçoca a caipirinha e processamento mais cuidadoso do cacau e do leite. GELEIA Produção artesanal e sabores exóticos. A marca mais conhecida é a Queensberry, que é brasileira. FARINHA Grãos de trigo com seleção mais rigorosa e assados de forma a reduzir as cinzas na mistura. 2#8 ZOOM – RELÍQUIA AMERICANA O colecionador Ted Hake é dono de mais de 100 mil bótons, que revelam os pontos altos da história dos Estados Unidos. BÓTONS VENDIAM IDEIAS. De políticos, de empresas, de movimentos sociais, de fãs. Estamparam momentos emblemáticos vividos pelos americanos: desde as grandes guerras até a primeira turnê dos Beatles pelo país. A época de ouro dos bótons foi entre 1896 e 1916, mas eles permaneceram agarrados as camisetas e mochilas até os anos 80. REPORTAGEM Carla Ruas Edição Camila Almeida e Sílvia Lisboa Antes de terem esse formato que conhecemos, com alfinete atrás, os bótons eram produzidos em metal e usados como pingentes. Eles começaram a se disseminar pelos Estados Unidos no final do século 18 — estavam presentes entre os militantes na posse do presidente George Washington, em 1789. Os bótons eram como a rede social do século passado: com eles no corpo, as pessoas se reuniam em torno de uma causa e tentavam despertar a atenção do governo e da imprensa. O americano Ted Hake, de 71 anos, se deu conta da importância histórica dos bótons quando ainda era um estudante universitário em Pittsburgh, no Estado da Pensilvânia. Em 1961, e com vontade de reuni-los, foi atrás de um colecionador de antiguidades. Sugeriu que ele fosse seu caçador de bótons antigos, esquecidos nos baús de bugigangas de família. Desde então, não parou mais. Hoje, possui mais de 100 mil bótons, muitos deles à venda no site tedhake.com, com preços de R$ 50 a R$ 500. Guarda 1.500 em sua coleção pessoal, dos quais não se desfaz. E segue comprando todo os bótons que encontra. Bótons ainda são produzidos, mas em menor escala. "Eles duram mais tempo que os adesivos, por exemplo, e podem entrar para a história. O presidente Obama, em 2008, fez um bóton para a sua campanha que brilha no escuro." 1898 A "carroça elétrica", veículo que antecedeu o carro, foi criada pela Montgomery Ward. ANOS 10 Homenagem aos lenhadores que fizeram equipamentos militares na Primeira Guerra. Em bronze. 1927 Homenagem a Charles Lindbergh, primeiro piloto a atravessar o Atlà¢ntico num avião. ANOS 30 Pedia a volta dos cinemas abertos aos domingos, fechados por influência religiosa. ANOS 30 Uma das primeiras propagandas da Chevrolet - apesar de não mostrar o carro. "VOCÊ ESTÁ SÓBRIO?": O Partido da Proibição, na década de 1950, tentou trazer de volta a lei que havia banido bebidas alcoólicas dos Estados Unidos entre 1920 e 1933. Apesar da ótima sátira, o partido não foi bem-sucedido na campanha. 1936 Boton criado para promover o filme Tempos Modernos, de Charlie Chaplin. 1940 Visitantes vestiram o slogan "Eu vi o futuro" após exposição da General Motors. ANOS 40 Comparação de líderes nazistas com ratos - pedindo o seu extermínio. Mssi, Adolf, Togo). ANOS 50 O campeão mundial de boxe era sensação. Não perdeu nenhuma luta entre 1943 e 1951. (Sugar Ray Robinson) ANOS 60 Símbolo da paz contra a Guerra do Vietnã. É o mais icônico dos bótons modernos. Apareceu pela primeira vez na Inglaterra, em 1958, mas só ganhou popularidade nos Estados Unidos na metade da década de 1960. 1962 Homenagem ao primeiro astronauta a orbitar a Terra, a bordo da nave Friendship 7. 1964 "Ajude a acabar com os Beatles", criado durante a primeira visita da banda aos Estados Unidos. Mas, como os integrantes do grupo passaram a usar o slogan durante a turnê, há suspeitas de que tenha sido um golpe de marketing. 1965 Homenagem ao líder dos direitos civis Malcom X, pouco depois de ser assassinado. 1969 Bóton de divulgação do filme sobre Woodstock, lançado logo após o festival. 1970 Pedido de liberdade à presa política Angela Davis, integrante dos Panteras Negras. ANOS 70 Movimento pela igualdade de gênero apontava a diferença de salário de homens e mulheres nos EUA. 1972 Pedia a prisão do presidente Nixon após o escândalo de Watergate. Ele renunciou dois anos depois. 1972 Ativistas pediam cessar-fogo americano no Vietnã. 1976 Partido jovem lança "Ninguém para presidente", porque nenhum dos candidatos era pró-legalização da maconha. 1980 Pedia a liberdade do beatle McCartney, preso no aeroporto de Tóquio por posse da erva. 1983 Pedia que se cumprisse o sonho de igualdade de Martin Luther King, 20 anos após seu discurso. 1984 Luta pelos direitos LGBT numa época em que a causa não recebia atenção da mídia. ____________________________________ 3# SEÇÕES II novembro 2014 3#1 TECH 3#2 CULT 3#3 E SE... – E SE ALGUÉM QUISER SER SUPER-HERÓI NO BRASIL? 3#4 MANUAL – COMO CAIR SEM SE MACHUCAR (MUITO) 3#1 TECH EDIÇÃO Bruno Garattoni SEU ÚLTIMO SMARTPHONE A maioria das pessoas troca de celular a cada dois ou três anos. Mas e se fosse possível mantê-lo para sempre — e trocar apenas as peças? Conheça a nova ideia do Google. TEXTO Bruno Garattoni e Fernando Badô O PROBLEMA - O tempo é cruel com os celulares. Por melhor que seja, qualquer um deles fica obsoleto depois de alguns anos. O aparelho vai ficando cada vez mais lento, e em determinado momento para de aceitar as novas versões do Android, do iOS e dos apps. Isso acaba fazendo você comprar um novo. A SOLUÇÃO - O Google tem uma resposta interessante: o Ara, primeiro celular desmontável. As principais partes dele (processador, cà¢mera, bateria, memória e até a tela) são blocos destacà¡veis, que você pode tirar. Ou seja, dá para fazer infinitos upgrades no aparelho. E sem complicação: basta comprar novos bloquinhos e encaixá-los no chassi. A PROPOSTA - A empresa pretende lançar o Ara no começo de 2015, por um preço bem acessível. Ele vai rodar o sistema Android e estará disponível em três tamanhos: pequeno (4,5x11cm), médio (6,8x14 cm) e grande (9x16 cm). Com o tempo, o Google lançará novos bloquinhos para atualizar e incrementar o celular, como câmera melhor e processador mais rápido. O RESULTADO - Se a ideia pegar, poderá revolucionar o mercado de smartphones. Diminuir bastante o dinheiro que as pessoas gastam com eles. E, de quebra, economizar matérias-primas e amenizar o problema do lixo eletrônico (só na Europa, 100 milhões de celulares são jogados fora a cada ano, e 80% deles vão parar em lixões). 1- HORA DO UNIVERSO Este relógio de pulso usa um sistema mecânico de 396 peças para marcar a hora e mostrar a posição de seis planetas em relaà§ão ao Sol. Cada um é representado por uma pedra preciosa. NA EUROPA: R$ 595 MIL vancleef arpels.com 2- SOB MEDIDA É difícil encontrar fones de ouvido que se encaixem perfeitamenteàs orelhas. Mas se você baixar o aplicativo NRML e usá-lo para tirar uma foto das suas, receberá fones sob medida, produzidos com uma impressora 3D. NORMAL NOS EUA: R$ 483 nrml.com 3- LIMPEZA 360 Este aspirador de pó robótico é o primeiro capaz de enxergar o ambiente em 360 graus. Por isso, limpa melhor e mais rápido, sem ficar batendo nas paredes e nos móveis. NA EUROPA: R$ 3100 dyson360eye. com 4- COFRE DE PRAIA Quando você vai entrar no mar, o que faz com o dinheiro, o celular e as chaves de casa? Deixa na barraca? Existe uma solução melhor: guardar nesta caixinha, que é protegida por uma senha de três dà­gitos e fica presa à cadeira de praia. AQUAVAULT NOS EUA: R$ 97 theaquavault.com 5- MESA AMIGA Ela tem sensores que monitoram a sua postura enquanto trabalha. Quando vઠque você está parado há muito tempo, automaticamente sobe ou desce 2 cm, para forçá-lo a mudar de posição. Também vira standing desk (para usar em pé). STIR NOS EUA: R$ 9.445 stirworks.com 6- CANECA MÁGICA Coloque qualquer bebida nela e um visor mostrará o valor calórico, a quantidade de cafeína e de açúcar do que você está tomando. Como? O fabricante diz que o segredo é uma tecnologia de análise molecular — mas não explica como funciona. VESSYL NOS EUA: R$ 220 myvessyl.com COMO CRIAR UM GRUPO NO FAGEBOOK Você deve ter muitos amigos por lá — inclusive gente que mal conhece. Mas dá para criar uma lista só com as pessoas mais próximas. PASSO 1: Entre no Facebook e clique em "Amigos" (no lado esquerdo da tela). Clique em "Criar lista" e adicione as pessoas. PASSO 2: Quando você for postar no Facebook, clique no menu "Quem deve ver?" (ao lado do botão Publicar), e selecione o grupo. Seu post sà³ aparecerá para quem estiver nele. 3#2 CULT ROTEIRO DE VIAGEM INTERGALÁCTICA Novembro traz a nova ficção científica de Christopher Nolan (Batman, Inception), Interstellar. No filme, um grupo de cientistas usa um recém-descoberto buraco de minhoca para viajar aos lugares mais remotos do Universo, e tentar salvar a Terra da catástrofe climática que assolou (e devastou) o nosso querido planetinha. 6 de novembro nos cinemas. EDIÇÃO Camila Almeida e Karin Hueck NORMAIS SOMOS NÓS. CONHEÇA OS PLANETAS MAIS FORA DA CAIXINHA — E DO SISTEMA SOLAR — DA FICÇÃO Itinerário Básico: Quanto mais distante, mais ficcional o planeta. PANDORA (bem parecido) AVATAR (2009) Avatar, com suas florestas fluorescentes e habitantes meio hippies, era uma espécie de Éden extraterrestre. Até que, claro, chegam os humanos em busca de reservas minerais e estragam tudo. TATOOINE (dois sóis???) STAR WARS "Se o Universo tem um centro luminoso, você está no planeta mais distante dele", diz Luke Skywalker sobre o astro em que cresceu. 70% dos habitantes, de Tatooine são humanos — e de péssima reputação, pelo grande número de criminosos. LV-223 (cemitério de ETS) PROMETEUS (2012) Um planeta gigante e gasoso, cheio de cadáveres alienígenas, à© o destino final de um grupo de cientistas terráqueos. Um deles acaba infectado por um líquido preto, faz sexo com outra cientista e a engravida de um bebê ET. O filme, da saga Alien, promete uma continuaà§ão em 2015. SOLARIS (ok) SOLARIS (2002) Uma estação espacial que está circulando ao redor de um misterioso planeta azul começa a registrar acontecimentos esquisitos. Quando uma equipe de resgate é acionada para investigar, até os mortos começam a reaparecer. FRYINE IV (passe longe) INIMIGO MEU (1985) Dois inimigos de uma guerra futurista, um humano e um ET, são forà§ados a aterrissar em Fryine IV. No ambiente inóspito e vulcânico, os dois inicialmente se odeiam – mas então percebem que só vão sobreviver se aprenderem a conviver. LYTHION (tipo LSD) BARBARELLA (1968) Jane Fonda interpreta a diva dos quadrinhos e aporta em Lythion, um planeta com céu amarelo e coelhos azuis, Com seu sexy traje espacial, enfrenta robôs e monstros — além de destruir uma máquina do sexo que mata suas vítimas de prazer. POR DENTRO DE: BRASILEIROS EM HOLLYWOOD Os nossos Antonio Banderas e Arnold Schwarzeneggers. MORENA BACCARIN Apesar de ter migrado aos 7 anos para os EUA, a mulher do terrorista mais famoso desde Osama bin Laden, Nicholas Brody (de Homeland), é carioca. RAUL ROULIEN Quem levou a fama no filme Voando para o Rio (1933) foram Fred Astaire e Ginger Rogers, mas um dos protagonistas era brasileiro também: Raul Roulien. BRUNA MARQUEZINE E ANITTA A namorada de Neymar e a cantora funk estão juntas em Breaking Through, que estreia em 2015. Ambas fazem o papel de aspirantes a celebridade. MOACIR SANTOS O maestro brasileiro morou em Los Angeles por 40 anos. Atuava como compositor-fantasma para trilhas hollywoodianas, mas assinou apenas um filme. O CUSTO-CALVIN O Proceedings of the Natural Institute of Science (de sugestiva sigla PNIS)é uma publicação científica satírica, que calculou o prejuízo que Calvin causou ao longo das tirinhas, entre janelas quebradas e salas inundadas. TOTAL EM 10 ANOS: US$ 15.955 "Sempre pensei que Guerra nas Estrelas fosse a história de dois escravos [C-3PO E R2-D2] que testemunhavam a loucura de seus mestres. Achei que era a ideia central, e que se perdeu em O Retorno do Jedi. Se eu tivesse dito "quero fazer algo assim", sinto que os produtores diriam: 'Não! Queremos animaizinhos!" Do diretor DAVID FINCHER sobre ter sido sondado para dirigir os novos filmes da saga. CABEÇUDO 4 motivos para comprar O Capital no Século XXI O livro do economista Thomas Piketty virou bestseller nos EUA. Agora em português, leia-o para: 1- Entender por que a desigualdade social só cresceu desde 1970 e... 2- ...citar o trecho que diz que 60% do crescimento econômico americano desde 1977 foi parar nas mãos dos 1% mais ricos. 3- Ler que o motivo para a disparidade é que o retorno para quem tem capital é mais rápido do que o crescimento das economias. 4- Terminar apenas um capítulo e já impressionar os amigos, jà¡ que a obra tem 700 páginas. O CAPITAL NO SÉCULO XXI Thomas Piketty (Intrínseca, R$ 60) PLAYLIST: EU OUÇO VOZES O novo álbum do Pink Floyd, o primeiro em 20 anos, traz a voz de Stephen Hawking em uma faixa. O ator de filmes de terror VINCENT PRICE faz a risada final em Thriller de MICHAEL JACKSON. A atriz CHRISTINA RICCI fala umas coisinhas em japonês em Hell Yes, do BECK. A atriz ALINN E MORAES participou no coral de Parabéns, do CAETANO. RITA MARLEY, a viúva de Bob, soltou a voz em Three Little Birds de GIL. CHECKLIST NOVEMBRO * SONIC HIGHWAYS - O novo CD do Foo Fighters tem apenas oito faixas, mas elas são mais longas e experimentais. "Estamos fazendo coisas que nunca fizemos antes", disse o vocalista Dave Grohl. "Muito f***", avaliou o ex-Guns N'Roses Slash, num tuite. * NOVEMBER MAN - Neste filme, Pierce Brosnan volta a ser espião. Jà¡ aposentado, ele é convocado para uma última missão: salvar uma agente da CIA infiltrada na Rússia (não por acaso, interpretada por uma ex-Bond Girl).Dia 13 nos cinemas. * NENHUMA HQ - Apesar da estreia de Big Hero, animação sobre os heróis da Marvel, a editora disse que não vai lançar nenhuma edição nova dos quadrinhos. O motivo? A maior parte do lucro ficaria com a Disney, produtora do filme. Aí não interessou. * CALL OF DUTY: ADVANCED WARFARE - Ambientado em 2054, o game da franquia traz novas armas, equipamentos e exoesqueletos. Tudo para você experimentar as guerras do futuro. Dia 4 nas lojas. 3#3 E SE... – E SE ALGUÉM QUISER SER SUPER-HERÓI NO BRASIL? NO BRASIL? Na vida real, esse paladino da Justiça teria um grande adversário: nosso código penal. Ignorar as leis prejudicaria o mais bem-intencionado dos heróis — como mostra a carta ao lado, destinada ao desmotivado Homem-Mico. TEXTO Amarílis Lage PREZADO HOMEM-MICO, Escrevo esta carta para lhe fazer um apelo. Não desista de seus sonhos, de seus valores, de seus ideais. Não abandone sua corajosa luta para fazer desta metrópole cinza um lugar melhor para se viver. Sim, eu sei. As coisas não andam lá muito fáceis para o seu lado. Mas ninguém disse que seria fácil se tornar um super-herói, certo? Ainda mais assim, sem os poderes do Super-Homem ou a herança do Batman... Não bastassem essas desvantagens, você vai e escolhe um codinome desses: Homem-Mico? Não, meu caro, nem venha falar do Homem-Aranha. OK? Ele foi picado por um aracnídeo radioativo e lança teias por aí. Vocàª, pelo que sei, apenas quis homenagear um bichinho simpático, sà­mbolo nacional, certo? Bom, foi uma decisão infeliz. Além disso, tem esse seu uniforme. Não bastasse a monotonia do marrom com bege, as orelhas de macaco, essa cauda bizarra, ele não valoriza muito seu tipo físico. Mas talvez seja uma questão de gosto, sei lá... Em todo caso, acho que seu principal problema é outro. E peço desculpas pela falta de jeito, mas preciso ser franco: você, Homem-Mico, não está fazendo o seu dever de casa. Lembra daquela primeira vez na delegacia? Você apareceu todo pimpão, avisando que tinha capturado um criminoso da mais alta periculosidade. Diante da cara de surpresa dos policiais, até citou o artigo 301 do Código de Processo Penal, que diz que qualquer cidadão pode dar voz de prisão, né? Estava se achando. Até que eles lhe perguntaram o que o tal bandido tinha feito. E o que você respondeu? "Ah! Eu ouvi este monstro planejando botar fogo no teatro municipal, alagar uma escola estadual, explodir uma universidade federal etc. etc. etc." Era só trazer as algemas e tirar a foto. Nunca me esquecerei, Homem-Mico, da tristeza em seu olhar quando o delegado explicou que nada daquilo era crime. Ou melhor, que só haveria crime se algum daqueles planos fosse colocado em prática. Enquanto a coisa ficasse só na base da ameaça, não dava para prender ninguém. Que fiasco. Ou melhor: que mico! Deu para ouvir daí minha risada malévola? A segunda vez também foi um bocado constrangedora. Você voltou à delegacia com um suposto meliante e disse ao delegado que, agora sim, possuía provas de que vários crimes tinham sido cometidos. Apresentou uma gravação em que se ouvia o acusado contar para um colega sobre as aventuras de seu fim de semana. Entusiasmado, o marginal relatava que tinha roubado um carro, dirigido bêbado e assaltado um banco. Era uma confissão atrás da outra. Dessa vez, você estava confiante de que a justiça seria feita, não é, Homem-Mico? Mas o delegado explicou que nenhuma daquelas gravações era válida, pois é proibido grampear o telefone dos outros sem prévia autorização judicial. A prova não poderia ser aceita. E você, meu caro aspirante a herói, sentou e chorou. Calma. Não quero cutucar suas feridas, juro. Mas, convenhamos, tenha dó... Não posso deixar de comentar aquela vez em que você quis comprovar que um vilão terrível armazenava uma substância tà³xica para poluir o reservatório de água da cidade. E quem acabou preso foi você, por invasão de propriedade privada! E o que dizer daquele outro episódio lamentável, tão comentado nas redes, em que você deu voz de prisão a uma moça porque ela estava se prostituindo? Ora, Homem-Hamster, prostituiçà£o não é crime! Foi muito embaraçoso também quando você chegou à delegacia com um homem que teria furtado um celular. Ninguém sabia onde estava o dono do telefone, ninguém achou o aparelho, foi aquele diz-que-diz, sua palavra contra a dele. E o suposto ladrão acabou processando você por calúnia, lembra? Depois de tantos fracassos, é natural que perca a motivaçà£o. Mas eu espero que você não desista, Homem-Mico. Mais do que isso: eu exijo que você estude, pesquise, e se torne um exemplo de coragem e bondade. Afinal, eu também preciso de alguém que me desafie a ser cada vez melhor, um oponente que esteja à minha altura. O que seria de nós, super-vilões, sem vocês, super-heróis? Pense nisso. Um abraço fraterno de seu arqui-inimigo, Senhor Sagui. 3#4 MANUAL – COMO CAIR SEM SE MACHUCAR (MUITO) A cada ano, 540 mil pessoas morrem no mundo por causa de tombos. E milhàµes vão parar no hospital por causa deles. Cair é inevitável, faz parte da vida. Mas não precisa ser um perigo - nem doer tanto. Basta conhecer alguns truques. TEXTO Thais Harari DO CHÃO NÃO PASSA Quando você perceber que está caindo, TENTE FICAR CALMO — e deixe braços, pernas e pescoço relaxados. Se você cair 'duro', a chance de se machucar é maior. NÃO TENTE SE PROTEGER PONDO AS MÃOS PARA A FRENTE. Se fizer isso, você irá bater e raspar cotovelos e punhos no chão. O melhor é tentar cair de lado (veja dicas a seguir). CAINDO DE FRENTE 1- VIRE o ROSTO de lado. 2- Faça uma LEVE ROTAÇÃO COM O CORPO, no mesmo sentido da cabeça. Assim, você cairá de lado — e o impacto serà¡ absorvido pela lateral da coxa e pela parte de trás do ombro, que são regiões menos sensíveis. 3- Mantenha os BRAÇOS FLEXIONADOS E ALINHADOS COM AS PALMAS DAS MàƒOS. Assim que tocar o solo, dê um tapa forte no chão. Isso ajudará a distribuir o impacto da queda. CAINDO DE COSTAS 1- Encoste o QUEIXO NO PEITO e vire a cabeça para o lado. 2- Mantenha os BRAÇOS FLEXIONADOS E ALINHADOS COM AS PALMAS DAS MàƒOS. Assim que tocar o solo, dê um tapa forte no chão para amortecer o impacto. 3- A força da queda poderá fazer com que SUAS PERNAS SEJAM JOGADAS PARA TRÁS. Não lute contra isso. Deixe as pernas subirem, pois isso distribui a energia da queda. O seu corpo poderá dar uma cambalhota para trás. Se isso acontecer, apoie o peso do corpo sobre os ombros. CAINDO DO BANQUINHO Ele bambeou e você foi abaixo? Flexione os joelhos: além de amortecer a queda, isso diminuirá a altura entre o seu corpo e o chão. Depois é só seguir as dicas anteriores (para queda frontal ou de costas). CAINDO DE BÊBADO A queda não parece tão dolorosa, pois a pessoa está entorpecida pelo álcool. Mas cuidado com a cabeça. Um estudo que analisou as quedas de 113 bêbados constatou que, em 48% dos casos, houve lesões nessa região. CAINDO DA ESCADA Rolar pela escada pode levar a ferimentos gravíssimos. Nessa situaà§ão, o melhor a fazer é adotar uma política de redução de danos — e proteger o rosto. Use os braços como apoio para que ele não bata no chão. -- O espaço da leitura foi criado com o objetivo de proporcionar uma boa leitura a todos para um bom entretenimento e um ótimo conhecimento, No entanto, não é permitido neste espaço a postagem de qualquer e-mail com palavras de baixo calão. contamos com a colaboração de todos boa leitura! Conheça nosso grupo no facebook: http://www.facebook.com/groups/163124077178980/ --- Você está recebendo esta mensagem porque se inscreveu no grupo "espaço da leitura" dos Grupos do Google. Visite este grupo em http://groups.google.com/group/espaco-da-leitura.