0# CAPA março 2015 SUPER INTERESSANTE www.superinteressante.com.br Edição 344 – MARÇO / 2015 [descrição da imagem: na parte superior da capa, aparece o céu, à noite, com pontos brilhantes, representando estrelas ou outros astros.. Do meio da capa para baixo aparecem nuvens, em dia claro e no meio da capa, acima destas nuvens, a estátua do Cristo Redentor do Corcovado] RIO NO TOPO DO MUNDO (OU À BEIRA DO ABISMO?) POR AMARÍLIS LAGE Nunca antes uma cidade brasileira teve uma oportunidade tão grande de se reinventar e se tornar de fato uma capital global. Saiba o que pode dar certo e errado - e como isso afeta o futuro do Brasil inteiro. [outros títulos] MARTE SOLTOU UM PUM O mistério do metano em Marte: será eu finalmente encontramos vida? DOR 24H POR DIA, 7 DIAS POR SEMANA SÃO PAULO ESTÁ CHEIA DE ÁGUA EM BUSCA DA PARTÍCULA DO DIABO A TRAGÉDIA DAS PRISÕES BRASILEIRAS COMO SALVAR A VIDA DE SE CÃOZINHO ______________________________ 1# SEÇÕES I 2# REPORTAGENS 3# SEÇÕES II _________________________________ 1# SEÇÕES I março 2015 1#1 AO LEITOR – SÓ VOCÊ CONHECE SUA DOR 1#2 MUNDO SUPER 1#3 SUPER NOVAS – O SARAMPO VOLTOU – NA DISNEY 1#4 SUPER NOVAS 1#5 SUPER NOVAS – BACON POLUI O AMBIENTE 1#6 CIÊNCIA MALUCA 1#7 SUPER NOVAS – A UTI QUE VOA 1#8 PAPO – “O HUMOR É UMA ARMA DA CIÊNCIA” 1#9 BANCO DE DADOS – ORGASMO 1#10 MATRIZ – GRANDES CONTRATAÇÕES 1#11 COORDENADAS – O TANGO LIVRE PORTUGUÊS 1#12 ORÁCULO 1#13 CONEXÕES – CHARLIE BROWN A CHARLIE HEBDO 1#14 ESSENCIAL – A ÁGUA NÃO VAI ACABAR. MAS VAI 1#1 AO LEITOR – SÓ VOCÊ CONHECE SUA DOR FERNANDA SENTE DOR O TEMPO INTEIRO. Sessenta minutos por hora, 24 horas por dia, 365 dias por ano. Há quatro anos, Fernanda Ferrairo convive com uma dor imensa nas costas, que não lhe dá um momento de alívio. É essa a história corajosa que ela conta a partir da página 38, e que eu recomendo que você leia. A história torna-se ainda mais poderosa porque Fernanda é médica, e sua dor eterna foi causada por erro médico. "Fiquei muito decepcionada com a medicina", ela me contou. "Quando eu ia me consultar, todos ficavam olhando para os exames e ninguém olhava para mim." Como os médicos que a atendiam eram renomados e trabalhavam num dos melhores hospitais do Brasil, dotado de equipamentos moderníssimos, todo mundo concluía que a dor não devia existir — será que algo não estava errado com a cabeça dela? "O médico chegou a me sugerir um psiquiatra. A uma certa altura, meu pai, que também é médico, começou a desconfiar dos meus relatos. Eu mesmo me perguntava: 'será que estou ficando louca?'" Não estava, a dor existia e acabou sendo comprovada por um exame. Fernanda tem uma doença chamada aracnoidite adesiva, que afeta milhões de pessoas pelo mundo, mas sobre a qual nunca se fala, porque ela quase sempre é causada por erro médico. Quando ela nos procurou se oferecendo para escrever sobre o terna, ficamos na dúvida. Afinal, ela não é jornalista, e nós não somos médicos. Será que saberíamos avaliar corretamente a relevância do tema? Será que ela saberia escrever com clareza e distanciamento? Fiquei muito feliz com nossa decisão de publicar a matéria. Hoje está claro: é um assunto de enorme relevância. E não poderia haver ninguém mais adequado para escrever sobre ele. Fernanda é duplamente qualificada para a tarefa: como médica que é, e como paciente vítima de erro médico. Assim como ela, tem muita gente que escreve bem e que conhece profundamente sobre certos assuntos assistindo em primeira mão a histórias sobre as quais nossos leitores precisam saber. Gente que também enfrenta as agruras de viver neste mundo complexo. Mas também gente participando de inovações, de descobertas. Vendo coisas fantásticas. Se você é um desses, tem disposição para fazer pesquisa e acha que pode ajudar nosso leitor a compreender o mundo, nos escreva, sugira sua pauta. Nós na SUPER fazemos força para nos manter informados sobre as coisas incríveis e terríveis que estão acontecendo no planeta. Mas não tem como sabermos de tudo. E só você enxerga o mundo da sua perspectiva. Só você conhece sua dor. Outra chance de fazer parte da SUPER, caso você seja estudante universitário, é concorrendo a uma das três vagas de estágio que vamos abrir. Se você é bom em pesquisar e escrever, ou em editar vídeos, veja o link na página 13, e se inscreva entre os dias 2 e 9 de março. Boa sorte. Denis Russo Burgierman, DIRETOR DE REDAÇÃO DENIS.BURGIERMAN@ABRIL.COM.BR 1#2 MUNDO SUPER SUPER ESCAPA DE ATENTADO TERRORISTA Apesar da preocupação dos leitores com nossa capa sobre A Face Oculta do Criador do Islã (fev/14), a redação segue tranquila e livre de ameaças. PREPARA para os atentados. - LARISSA ARAÚJO JÁ ERA A REVISTA. Je suis Superinteressante. - FELIPE WILLIAN FOI LEGAL te conhecer, SUPER. - BRUNO MICHEL FEDEU. Alguém me diz onde fica o escritório de vocês para eu me preparar para fugir? - LUCAS DIAS DE CARVALHO O ESTADO ISLÂMICO irá considerar a ausência de Maomé nessa capa como blasfêmia. - LUCIANO MENDES Parece que alguém finalmente saiu do sofá pra estudar sobre o assunto e fechou o Facebook. - FAHD ALI ACABEI DE LER O TEXTO sobre Maomé! Que texto, que história bonita. Não só a dele, mas do Islã e dos mulçumanos! Estou agradecida por aprender o que, para mim, era distorcido. - RE CORREA A SUPER deste mês fala de Maomé. Pelo jeito, não é o mesmo Maomé usado politicamente pelos extremistas. - STEPHAN BAUM CAPA CRIATIVA e respeitosa às religiões alheias. - ANA DA SILVA TROFÉU PIADISTA DO MÊS — Uma estrela pode ter espirrado. PEDRO LUCAS ROCHA, no post "Astrônomos avistam explosão de ondas de rádio misteriosas em tempo real". VOLTA ÀS AULAS Estou pensando seriamente em ser jornalista. Mesmo com uma baita dor no coração por ter de cortar minhas SUPERs, resolvi fazer a capa do meu fichário deste ano em homenagem a vocês! Leio a revista todo mês desde que tinha uns 12 anos e pouquíssimas vezes me decepcionei. - CAMILA FONTES PESSÔA, 16 anos, de Aracaju (SE) OPUS DEI Não somos uma sociedade secreta, mas uma prelazia da Igreja Católica, aberta a todas as pessoas de boa vontade. São públicos os nomes dos diretores e as práticas de piedade estão em conformidade com a doutrina católica. Algumas delas, como a penitência (distorcida na matéria), foram praticadas por santos e estão presentes em outras religiões. - ESCRITÓRIO DE COMUNICAÇÃO DO OPUS DEI NO BRASIL, sobre a presença do Opus Dei no dossiê Sociedades Secretas (nov/14). CORREIO ELEGANTE Os comentários mais carinhosos que recebemos nas últimas semanas. Numa edição, tentam denegrir a imagem do Cristianismo. Na outra, enaltecem o nome de Maomé. Sutil feito um mamute. - CÉSAR JÚNIOR COSTA ARAÚJO 3 LEITORES OPINAM NO POST "VOCÊ PRECISA DE TRÊS MESES PARA ESQUECER UM AMOR" 1- Espero que seja verdade. rs - LUANA COSTA 2- Me desculpem, mas é bem mais que isso. - MARCOS VIEIRA 3- Sou como um ruminante, levo tempo pra digerir as coisas. Levou tempo para passar a dor, mas ainda não engoli. - PEDRO SILVA SUPER BANCA – Um livro para você ler, 30 para você conhecer. O LIVRO SECRETO DA MAÇONARIA LIVRO R$ 29,90 Os maiores segredos da sociedade secreta desde sua origem, seu auge até os dias de hoje. OS 30 LIVROS MAIS IMPORTANTES DA HISTORIA DOSSIÊ R$ 14 Saiba quais são as obras mais revolucionárias já publicadas. Do Alcorão a Kafka. COMIDA DE VERDADE O dossiê fez sucesso entre chefs e nutricionistas do Instagram. @bemestarnutricional @THIAGOCASTANHO P*** resumo de comida. Pensamentos de antropólogos, cozinheiros, cervejeiros e comedores. @annekarinneo @chefrenanbrambilla @nabgo @COZINHACONSCIENTE Boas fontes. Sugiro ler os livros e artigos citados para aprofundamento @CHEFLUCASCOAZZA Comprei para passar o tédio da sala de embarque e descobri vários textos bons. @corre_leslinhaa AGENTE SABIA O QUE VOCÊ FARIA NESTE VERÃO Em 2001, para comemorar os 14 anos da SUPER, escrevemos uma reportagem com previsões para o futuro. 14 especialistas, de 14 áreas diferentes, avaliaram como estaríamos dali a 14 anos, em 2015. Chegamos. E acertamos muita coisa: a crise da água foi uma delas. Também previmos nossa incapacidade de controlar o câncer, a universalização da internet (ou quase) e o modo online de fazer negócios. Não viu nossas previsões? Fizemos um post para avaliar quão corretas elas estavam. Confere lá: abr.ai/1v5GHT8 FOI MAL Na reportagem de capa, deixamos passar erros de português, como viajem (viagem) e sague (em vez de sangue). Também grafamos o nome do pai de Maomé de duas maneiras. A correta é Abdallah. (A Face Oculta do Criador do Islã, fev/15). FALE COM A GENTE REDAÇÃO - superleitor@abril.com.br, av. das Nações Unidas, 7221, 14º andar, CEP 05425-902, São Paulo, SP, fax 11 3037-5891. PUBLICIDADE - publiabrif.com.br SP 11 3037-5189, RJ 21 2546-8100. Outras praças: 11 3037-5759. Vendas Diretas: 11 3037-5000. SAC - abrilsac.com abrilsac.lojaabril@abril.com.br SP 11 5087-2112 Outras Praças 0800-7752112 Segunda a sexta, das 8 às 22h. ASSINATURAS - assineabril.com SP 11 3347-2121 Outras Praças 0800-7752828 Segunda a sexta, das 8 às 22h. Sábado, das 9 às 16h. EDIÇÕES ANTERIORES – loja.abril.com.br Superinteressante SP 11 5087-2290 Outras Praças 0800-7718990. Ou solicite para seu jornaleiro – o preço será o da última edição em banca mais a despesa de remessa. TRABALHE CONOSCO - abril.com.br/trabalheconosco 1#3 SUPER NOVAS – O SARAMPO VOLTOU – NA DISNEY Os EUA enfrentam pelo segundo ano seguido uma crise de sarampo. Dessa vez, tudo começou em um parque de diversões. E se espalhou graças a uma moda perigosa. TEXTO Carol Castro UM VISITANTE, supostamente europeu, chegou à Disneylândia, na Califórnia, em dezembro passado com vestígios do morbillivirus - o do sarampo - no corpo. Tossiu, respirou, falou. Foi o que bastou para contaminar algumas pessoas de diversos Estados. Entre janeiro e a segunda semana de fevereiro, 121 americanos, em 17 Estados, apresentaram sintomas de sarampo. De acordo com o Centro de Controle e Prevenção de Doenças dos EUA, 85% delas tinham ligação com o surto na Disney e a maioria não havia tomado a vacina. Apesar de o país ter celebrado em 2000 a eliminação do sarampo, as médias de vacinação não param de cair. Em 2012, 95% das crianças de 1 a 3 anos estavam com a MMR (contra sarampo, caxumba e rubéola) em dia. Essa taxa baixou para 92% no ano passado, o valor mínimo para garantir a imunização em massa. No Colorado, a média é de 86%. Nas escolas mais ricas de Los Angeles, a taxa é pior do que no Sudão do Sul, já que a moda antivacina pegou especialmente entre celebridades e alternativos cheios de dinheiro. Mas por que tanta rejeição? Parte da culpa é do médico britânico Andrew Wakefield. Em 1998, ele publicou um estudo no Lancet, uma das maiores publicações científicas do mundo, relacionando a MMR com o autismo. Dez anos depois, o Conselho Médico inglês o condenou por conduta inadequada - ele havia feito um acordo com advogados que queriam processar fabricantes de vacina. Só que a ideia nunca morreu. O sarampo é altamente contagioso. Pode causar pneumonia, diarreia e, em casos graves, cegueira, surdez e retardo mental. Mata 16 crianças por hora - é a principal causa de morte na infância no mundo. "Só existe vacina por ser uma doença grave - e o efeito colateral nunca vai ter um dano maior que a doença", diz Ricardo Sobhie Diaz, infectologista da Unifesp. 1#4 SUPER NOVAS TATUAGEM AJUDA DIABÉTICOS Todos os dias (ou algumas vezes por semana), diabéticos precisam espetar o dedo, recolher uma amostra de sangue e medir os níveis de glicose. Mas cientistas da Universidade da Califórnia em San Diego se cansaram das espetadas. Eles imprimiram eletrodos em um papel de tatuagem temporária e o parearam a um sensor. O dispositivo mede a força da carga positiva que corre logo embaixo da pele após cada refeição. É ali, mais precisamente nos íons de sódio, que é transportada a glicose. A tatuagem já foi testada em sete pessoas - com resultados tão exatos quanto os de sangue -, dura um dia e não deve custar mais do que alguns centavos. E o melhor: é indolor. ESCRAVIDÃO NÃO PARA DE CRESCER Relatório aponta que, apesar dos esforços, cada vez mais pessoas vivem em condições similares à escravidão no planeta. A maior parte está no sul da Ásia. % DA POPULAÇÃO QUE É ESCRAVA 1- Mauritânia 9% - A Mauritânia foi a última nação a abolir a escravidão, em 1981, e só em 2007 donos de escravos passaram a ser punidos por lei. 2- Uzbequistão 3,9% 3- Haiti 2,3% 4- Qatar 1,3% 5- Índia 1,14% 6- Paquistão 1,13% 7- Congo 1,13% 8- Sudão 1,13% 9- Síria 1,13% 10 – Rep. Centro-Africana 0,07% 143- BRASIL 0,07% ORGULHO - As medidas brasileiras são apontadas como exemplares na pesquisa. Em números relativos, estamos apenas duas posições atrás de EUA, Itália e Alemanha. MILHÕES DE ESCRAVOS 1- Índia 14,2 MI 2- China 3,2 MI 3- Paquistão 2 MI 4- Uzbequistão 1,2 MI 5- Rússia 1 MI 6- Nigéria 800 MIL 7- Congo 760 MIL 8- Indonésia 710 MIL 9- Bangladesh 680 MIL 10- Tailândia 470 MIL 32- BRASIL 155 MIL. ORGULHO - As medidas brasileiras são apontadas como exemplares na pesquisa. Em números relativos, estamos apenas duas posições atrás de EUA, Itália e Alemanha. 5 PAÍSES - São responsáveis por 61% da escravidão mundial. [Índia, China, Paquistão, Uzbequistão, Rússia] HOJE E ONTEM 12 MI de escravos negros foram traficados da África entre os séculos 16 e 19. 36 MI é o número de escravos atualmente. Cresceu 20% desde 2013 (*Os critérios de pesquisa também foram trocados.) Fonte: The Global Slavery Index 2014 IMPRESSORA 3D FAZ PIZZA E BISCOITO Primeira máquina de imprimir comida no mercado vai custar US$ 2 mil 1- Escolha até três cápsulas de ingredientes: massa de bolo, bolacha, pizza, morango, queijo, geleia, molho de tomate. 2- Escolha a receita no banco de dados (ou baixe pelo Wi-Fi) e o formato da comida (dá para escrever uma frase também). 3- Uma camada é impressa por vez: massa, cobertura e frase. Fica pronta em 15 minutos, mas crua. Leve ao forno. US$ 32MI Foi o valor arrecadado em um ano por um banco falso na China. O prédio e os serviços oferecidos eram iguais aos de uma agência bancária, e até aceitava depósitos. Mas se tratava de uma cooperativa rural. A farsa só caiu quando o banco não pagou os juros a um cliente e se recusou a devolver os US$ 2 milhões depositados por ele. ATUALIDADES Terroristas condenam pombos à morte O grupo terrorista Isis matou pombos criados em Diyala, no Iraque. Também levou os criadores a julgamento: suspeita-se que estejam alimentando os bichos bem no horário da primeira oração do dia. E isso é crime. SAÚDE Insônia aumenta risco de alcoolismo Pesquisadores avaliaram dados de 6,5 mil adolescentes. Compararam os padrões de sono com o uso de álcool e drogas. E concluíram: insônia aumenta risco de alcoolismo em até 33%. É que dormir mal atrapalha o autocontrole. SEGURANÇA Posse de armas não protege cidadãos Um estudo analisou dados de homicídio e suicídio nos Estados dos EUA e concluiu que armas causam mais mortes. Onde há leis rígidas quanto ao uso de arma, há menos mortes causadas por elas. Quando o porte é legalizado, as taxas sobem. NÃO GOSTOU DOS TEXTOS AQUI? FAZ MELHOR? Então faça. Estamos com três vagas abertas para estágio. Você, estudante universitário a partir do segundo ano, que quer trabalhar como jornalista na SUPER ou que sabe fazer e editar vídeos, inscreva-se no link abaixo entre os dias 2 e 9 de marco: abr.ai/estagio-super 1#5 SUPER NOVAS – BACON POLUI O AMBIENTE Na China, é claro. Após piora nos índices de poluição, governo destruiu defumadores de porco. Mas a dieta pode ter sido em vão. TEXTO Carol Castro NEM CHESTER, NEM PERU. Na província de Sichuan, no sudoeste da China, durante as festas do Ano-Novo Chinês (que este ano cai em 19 de fevereiro), as mesas ficam cheias de bacon. A carne de porco é defumada artesanalmente em casa ou em defumadores municipais para qualquer um usar. Nos primeiros meses do ano, a produção costuma aumentar por causa do feriado, mas em 2015 a coisa passou dos limites. Depois que o índice de Qualidade do Ar ultrapassou o tolerável e oscilou entre "poluição pesada" e "poluição severa", o governo apontou o bacon como culpado. Em janeiro, locais de defumação foram destruídos no município de Dazhou. A vizinha Chongquing seguiu o exemplo. Mas uma organização não governamental de proteção ambiental rechaçou a hipótese: por três dias, eles mediram o impacto no ambiente de 12 locais de defumação. E, segundo um jornal chinês, a fumaça só foi capaz de contaminar um raio de 50 metros. Quase nada perto da poluição gerada por carros e pela indústria. De fato, depois de proibir o bacon, o índice de Qualidade do Ar se manteve no alto. O vilão, na verdade, era outro: uma fábrica de aço de Dazhou, que processa mais de 3,5 milhões de toneladas de ferro por ano. Não é a primeira vez que o governo chinês culpou inocentes: em outubro, já havia acusado fazendeiros de queimarem feno demais e poluírem o ar. 1#6 CIÊNCIA MALUCA TEXTO Carol Castro OLFATO RUIM É SINAL DE MORTE Pesquisadores pediram a 3 mil pessoas para identificar cinco odores diferentes. Cinco anos depois, checaram quem estava vivo. Entre os voluntários com péssimo olfato, 39% morreram. Só 10% dos donos de olfatos saudáveis faleceram. Perder esse sentido não leva à morte, mas indica que algo vai mal. EJACULAÇÃO FEMININA PODE SER XIXI Sete mulheres que ejaculavam muito durante o orgasmo (enchiam até uma xícara) cederam amostras de urina e se masturbaram. Fizeram exames de ultrassom antes e durante para ver se a bexiga estava cheia. Então pesquisadores compararam as substâncias químicas da urina e do orgasmo: eram quase as mesmas (ácido úrico, ureia etc.). SER HOSTIL COM CHEFES CHATOS FAZ BEM Mais de 500 pessoas avaliaram seus chefes como grossos ou não. Quem era maltratado e não fazia nada odiava o trabalho e se estressava. Com os vingativos acontecia o contrário. Como devolviam a hostilidade, não se viam como vítimas. E ainda eram mais promovidos por serem respeitados pelos chefes. 1#7 SUPER NOVAS – A UTI QUE VOA Em menos de uma hora, o cargueiro C-17, usado para transportar caminhões e helicópteros, vira pronto-socorro. Uma equipe médica coloca mais de 300 kg de equipamentos e remédios a bordo e vai resgatar os soldados mais machucados das tropas americanas. TEXTO Carol Castro AMBULÂNCIA A JATO Leva um paciente EM ATÉ 3 DIAS para qualquer lugar do mundo Na Guerra do Vietnã (1955-1975), podia demorar ATÉ UM MÊS para um ferido chegar ao hospital. VOO RASANTE A pressão do ar, em altitudes normais de voo (10 km), pode reabrir ferimentos graves e expandir bolsas de ar aprisionadas no corpo dos pacientes. Por isso, o avião voa no máximo a 8 km de altitude, o que aumenta o consumo de combustível e o tempo de viagem. A PREPARAÇÃO A- IMOBILIZAR - Equipe médica coloca as macas ocupadas nos suportes, estabiliza e imobiliza os pacientes. B- SEDAR - O barulho do cargueiro é constante. Para diminuir o desconforto dos pacientes, os mais machucados são sedados e monitorados o tempo todo. CORTE E COSTURA Os médicos contam com aparelhos para drenagem torácica e incisões das vias aéreas, cirurgia abdominal e ressuscitação cardíaca (dá para fazer até massagem em peito aberto). SINTONIA MÉDICOS E PILOTOS, com microfones e fones de ouvido que isolam os ruídos conversam pelo sistema sobre a rota para decidir se encaram leves turbulências ou se elas podem ser fatais para algum ferido. NO AR Para os feridos, cada segundo é precioso. Por isso, um avião especializado acopla uma bomba voadora acima da cabine do piloto e reabastece o tanque em voo. EQUIPAMENTOS TANQUES DE OXIGÊNIO | DESFIBRILADOR | MONITOR CARDÍACO | CAIXAS COM REMÉDIO | APARELHO PARA OXIGENAÇÃO ARTIFICIAL (morfina, soro, bolsas de sangue etc.) 60 MACAS são instaladas dentro do avião EQUIPE ANESTESISTAS | ENFERMEIROS | CIRURGIÕES l TÉCNICOS ESPECIALIZADOS (serviços elétricos de equipamentos médicos) A taxa de sobrevivência entre os soldados feridos ERA DE 75%. Com o hospital aéreo, esse número foi PARA 98%. 1#8 PAPO – “O HUMOR É UMA ARMA DA CIÊNCIA” Ele usa Simpsons para explicar multiverso e dá risada ao ser trolado na série The Big Bang Theory. Conheça o físico best-seller que virou ícone pop - sem perder a piada. ENTREVISTA Rodrigo Rezende BRIAN GREENE - Professor da Universidade Columbia, o físico de 52 anos é autor do livro O Universo Elegante, que já vendeu mais de um milhão de exemplares, e fundador do World Science Festival, evento de ciência que reúne 500 mil pessoas por ano em Nova York. Você dedicou a vida inteira a ensinar ciência a leigos. Já pensou em fazer algo útil de verdade? (Rindo) Já me perguntaram isso em tom de piada! (Greene saca que a pergunta é uma brincadeira - é a mesma que foi feita a ele num episódio da série de humor The Big Bang Theory). Mas existe uma questão real aí: faz sentido tentar passar ideias científicas complexas a pessoas comuns? Eu acredito que sim. Você não tem que se esforçar para despertar o interesse pela ciência. Ele já existe. "Parece um show de comédia", diz o personagem Sheldon Cooper, em tom de crítica, sobre as suas palestras. Você acha negativo misturar ciência e humor? Não acho. Desde que o humor esteja a serviço da ciência, acho muito positivo usá-lo para comunicar ideias complexas. Quando o público ainda não está familiarizado com certos conceitos, existe um limite para o quão profundo você pode ser. Mas basta fazer o público rir no meio de uma palestra que esse limite é "resetado". Depois da piada, é possível aumentar o nível de dificuldade sem que o público se canse. O humor, na realidade, pode ser usado como arma estratégica para fazer o cérebro humano absorver mais conhecimento e compreensão. A teoria do multiverso (que fala sobre Universos paralelos e é uma das principais áreas de pesquisa de Greene) virou até tema de piada em série de TV. Isso significa que o conceito já faz parte da vida das pessoas? A ideia de que há uma infinidade de Universos é tão perturbadora quanto empolgante. Hoje em dia, há referências a ela em uma série de contextos pop. Mas, frequentemente, essas referências não têm nada a ver com o real significado do termo na ciência. É como uma dessas palavras científicas, como "quântico", que são usadas pelo público com o sentido de "esquisito" ou "de outro mundo". Acho maravilhoso que as pessoas fiquem intrigadas com isso. Mas, se a ideia de multiverso é para ser levada em conta no modo como pensamos a realidade ou a nós mesmos, ela tem de ser comprovada cientificamente. E isso ainda não aconteceu. Seria preciso surgir um novo Einstein? Acho que já existem pessoas com capacidade intelectual comparável à de Einstein. A quantidade de intelecto em atividade na ciência é gigantesca. Acho mais difícil uma única pessoa ter o impacto que Einstein teve porque a ciência evoluiu muito, e se tornou bastante complexa. Mas gosto de pensar que, a qualquer momento, pode surgir alguém de um canto do planeta e mudar tudo. Como o seu trabalho contribui para isso? Parte do meu trabalho e de outros é fazer com que a matemática perca a imagem de coisa difícil, e passe a ser vista como uma ferramenta capaz de gerar grandes insights sobre a realidade. Eu acho que, quando as pessoas começarem a sentir que os símbolos que rabiscamos em pedaços de papel podem revelar segredos sobre a curvatura do espaço-tempo, a natureza dos buracos negros, a origem do Universo, o comportamento das partículas fundamentais que formam nosso corpo, agem no nosso cérebro e nos fazem sentir emoções e formar pensamentos... Quando as pessoas perceberem o que esses rabiscos podem explicar, elas terão consciência de que a matemática é uma coisa a ser celebrada. E não a ser temida. 1#9 BANCO DE DADOS – ORGASMO As mulheres conquistaram mais liberdade sexual. Os homens são menos cobrados pelo orgasmo alheio. Mas nem todo mundo chega lá. Saiba melhor o que rola (e o que atrapalha) na hora do prazer. POR Inara Negrão e Daniela Fescina 30% das mulheres usam o orgasmo como SEDATIVO NATURAL, para ajudar a dormir. MULHERES SE ENTENDEM – Dependendo da orientação sexual, mulheres atingem mais ou menos o orgasmo. Lésbicas 74,7% Heterossexuais 61,6% Bissexuais 58% NOS HOMENS, não há diferença significativa de acordo com a orientação sexual. 244 mV É A DESCARGA ELÉTRICA que um orgasmo pode liberar. Com seis orgasmos, daria para carregar uma pilha. NEM TODA A MULHER É IGUAL 16% das mulheres só têm orgasmos com penetração. 60% precisam de estimulação clitoriana para atingir o orgasmo. 42% acreditam que os orgasmos são melhores na masturbação do que no sexo. 30% DAS MULHERES conseguem ter orgasmos múltiplos 222 É O RECORDE FEMININO de orgasmos consecutivos HOMENS SE DÃO MELHOR NA CAMA As brasileiras gozam menos que seus parceiros. COM FREQUÊNCIA: Mulheres 69%; Homens 89% EM TODAS AS RELAÇÕES: Mulheres 22%; Homens 52% ELES ESTÃO POR FORA Os homens conhecem o orgasmo feminino? TRÊS EM CADA QUATRO MULHERES que já fingiram orgasmos disseram que seus parceiros nem desconfiaram da mentira. TRÊS EM CADA DEZ MULHERES nunca falaram de orgasmos com o parceiro. 1 MINUTO TUDO QUE É BOM DURA POUCO: um orgasmo pode durar de poucos segundos até um minuto. Não mais que isso. ELAS GOZAM MENOS, MAS MELHOR Mulheres têm segundos de vantagem 20s é a média do orgasmo feminino. 13s é a média do orgasmo masculino. 28% dos homens disseram já ter FINGIDO ORGASMOS. Um terço deles estava bêbado. 53 LITROS é a quantidade de esperma que um homem ejacula ao longo da vida. 75% dos homens atingem o orgasmo APÓS DOIS MINUTOS ou menos de estimulação. PONTO "G" MASCULINO - Eles têm mais prazer no frênulo, pele na parte inferior da glande; no períneo, entre os testículos e o ânus; e na próstata. 1#10 MATRIZ – GRANDES CONTRATAÇÕES O salvador da pátria ou um flop colossal? Veja no que deram (e não deram) as contratações mais bombásticas. POR Bruno Garattoni. Alexandre de Santi e Paula Bustamante STEVE JOBS (executivo) Salário mensal - não inclui bônus e contratos publicitários: US$ 1 (um dólar) Quem contratou: Apple, 1997 Jobs quis um salário simbólico ao voltar para a Apple. Reergueu a empresa e a transformou numa das maiores do mundo. LEBRON JAMES (jogador de basquete) Salário mensal - não inclui bônus e contratos publicitários: US$ 1,6 milhão Quem contratou: Miami Heat, 2010 (*LeBron foi contratado pelo Cleveland Cavaliers para a temporada 2015) Foi eleito quatro vezes o melhor jogador da NBA – e o time, duas vezes campeão. MICHAEL SCHUMACHER I (piloto de F1) Salário mensal - não inclui bônus e contratos publicitários: US$3,1 milhões Quem contratou: Ferrari, 1996 Pegou um time que estava na seca havia 16 anos - e ganhou cinco títulos seguidos. CRISTIANO RONALDO (jogador de futebol) Salário mensal - não inclui bônus e contratos publicitários: US$ 4 milhões Quem contratou: Real Madrid, 2009 Ganhou a Champions League (principal campeonato europeu) e o Mundial de Clubes. FERNANDO ALONSO (piloto de F1) Salário mensal - não inclui bônus e contratos publicitários: US$ 2,4 milhões Quem contratou: Ferrari, 2010 Achou que ia ser o novo Schumacher. Ficou cinco anos na Ferrari, sem título. MARCELO ADNET (humorista) Salário mensal - não inclui bônus e contratos publicitários: US$18 mil Quem contratou: TV Globo, 2013 Por um artista do nível de Adnet, foi de graça. Mas o programa dele decepcionou no Ibope. NEYMAR (jogador de futebol) Salário mensal - não inclui bônus e contratos publicitários: US$1 milhão Quem contratou: Barcelona, 2013 Tem momentos brilhantes, mas média de gols discreta PAULO HENRIQUE GANSO (jogador de futebol) Salário mensal - não inclui bônus e contratos publicitários: US$130 mil Quem contratou: São Paulo, 2012 Ganhou a Copa Sul-Americana, um título menor. Nada de Brasileiro, Libertadores ou Mundial. ALEXANDRE PATO (jogador de futebol) Salário mensal - não inclui bônus e contratos publicitários: US$290 mil Quem contratou: Corinthians, 2013 Veio a peso de ouro do Milan. Não deu muito certo - e foi repassado ao São Paulo. ZLATAN IBRAHIMOVIC (jogador de futebol) Salário mensal - não inclui bônus e contratos publicitários: US$2,5 milhões Quem contratou: Paris Saint-Germain, 2012 Craque. Mas desde que ele chegou, o PSG não ganhou nenhum grande título (só campeonatos franceses). JOHN SCULLEY (executivo) Salário mensal - não inclui bônus e contratos publicitários: US$ 183 mil Quem contratou: Apple, 1983 Veio da Pepsi. Cometeu a proeza de expulsar Steve Jobs da Apple - e afundou a empresa. RODOLFO LANDIM (executivo) Salário mensal - não inclui bônus e contratos publicitários: US$ 878 mil Quem contratou: OGX, 2006 Eike Batista trouxe Landim da Petrobras. A OGX implodiu e o caso foi parar na Justiça. GUGU (apresentador) Salário mensal - não inclui bônus e contratos publicitários: US$ 1 milhão Quem contratou: TV Record, 2009 O salário era tão alto que o programa dava prejuízo. O contrato foi desfeito, e a Record pagou multa. MICHAEL SCHUMACHER II (piloto de F1) Salário mensal - não inclui bônus e contratos publicitários: US$ 2,6 milhões Quem contratou: Mercedes, 2010 Schumi voltou da aposentadoria - e não foi além do sétimo lugar no campeonato. MATT RYAN (jogador de futebol americano) Salário mensal - não inclui bônus e contratos publicitários: US$ 3,65 milhões Quem contratou: Atlanta Falcons, 2008 É o atleta mais bem pago da NFL. Com ele, o time nunca foi campeão. 1#11 COORDENADAS – O TANGO LIVRE PORTUGUÊS Cais do Sodré, Lisboa, Portugal. Bairro é divulgador de um tipo de dança que deixa a mulher em pé de igualdade com o homem. REPORTAGEM Kamila Hage MAIS UMA NOITE DE TANGO começa no Castro Beer. Os casais se formam na pista. Homem com mulher, homem com homem, mulher com mulher. É o tango queer, ou tango livre. Ele surgiu na Alemanha há 14 anos e, diferentemente do tradicional, não é uma dança de condução 100% masculina. Nele, mulheres também conduzem e homens também são conduzidos (os movimentos são os mesmos do original). O engenheiro químico Ricardo Lopes é professor de tango no bar. "É uma ferramenta de intervenção social. Aqui não tem discriminação", diz. A recepcionista Sophia Braz frequenta as aulas há um ano, e adora: "Nós estamos tão presos a preconceitos e regras, do que temos que fazer ou não, que aqui é um dos poucos momentos da minha semana em que posso ser eu mesma", diz. As luzes amarelas do térreo dão um clima intimista aos casais e aos espectadores, que tomam uma imperial ("chope", no português de Portugal) enquanto assistem à dança. No lado de fora do bar, o som do tango se mescla ao de tantos outros ritmos tocados nos bares e casas noturnas do Cais do Sodré, boêmia região lisboeta. De dia, o bairro também é cheio de atrativos, como uma das mais belas vistas da capital portuguesa. É comum passear à beira do Tejo ou simplesmente se jogar em uma cadeira estrategicamente posicionada de frente para a ponte 25 de Abril, que liga a cidade à margem sul do rio, para ver o pôr do sol - e aguardar mais uma noite de "tango queer", modalidade que já se espalha por outras metrópoles, de Istambul a São Francisco. Chegou até mesmo a Buenos Aires. VÁ Estação Cais do Sodré do metrô de Lisboa. QUANDO Toda terça, às 21h. Na primavera europeia, há mais gente fazendo aula, então é mais divertido. ESTE MÊS NESTE PLANETA 28°36’ N 77°12' L COLORIDO O Holi marca o fim do inverno e comemora a vitória do bem contra o mal em Nova Deli, Índia. As pessoas jogam pó colorido e água umas nas outras e consomem bhang, pasta tradicional de maconha. Dia 6. 39°28' N 0°22' O BARULHENTO Estátuas de até 30 metros, forradas de fogos de artifício, explodem na Las Fallas, em Valência. A festança espanhola vai do dia 15 ao 19. UM MOMENTO 21/3, 4H45 Início da celebração do equinócio de primavera em Chichén Itzá, México. Os efeitos naturais de luz e sombra dão a impressão que uma estátua de serpente, na base da pirâmide, se locomove. 280Kg Pesa o pênis de madeira carregado em Komaki, Japão, numa ode à fertilidade. Na festa, quitutes fálicos são servidos. Dia 15. QUE LUGAR É ESSE? 1- Estado menos populoso de seu país. 2- Ganhou o status de Estado há 27 anos. 3- Seu ponto culminante está na moda. RESPOSTA: Roraima, que virou Estado em 1988, tem só 490 mil habitantes. O Monte Roraima inspirou o filme Up! E está na abertura da novela Império. 1#12 ORÁCULO Comida broxante, água louca e Aerosmith Quando quem come não come, o óleo ferve e as ondas gritam. Mas Jaime Gil detém o segredo. AFRODISÍACO AO CONTRÁRIO Potentíssimo Oráculo: em meus tempos de Exército, tinha o hábito de tomar chá-mate. Mas às vezes diziam, à boca miúda, que a dita bebida tinha propriedades broxantes. Existem alimentos capazes de derrubar o moral? - GILBERT ZANGEROLAME. SÃO JOSÉ DOS PINHAIS, PR Existem sim: todos. Mas é uma questão de quantidade. Comer muito, seja o que for, provoca sonolência e adormece o corpo - inclusive lá embaixo. Também não é bom beber, pois álcool causa desidratação, o que reduz o volume do sangue (responsável pela ereção) e aumenta o nível de angiotensina, hormônio associado a disfunções sexuais. Quanto ao chá-mate, pode ficar tranquilo. Não tem efeito antifurunfístico. Como o salitre (nitrato de sódio), supostamente adicionado à comida das tropas para amansar o tesa, também não. Mera lenda urbana. Não sei qual problema você anda tendo aí, Gilbert. Mas não é culpa do Exército não... COLESTEROL É VIDA, REI É verdade que o azeite, quando frito, perde suas propriedades e faz tão mal quanto o óleo de soja? - VINÍCIUS BARBOSA SANTANA. IBICARAÍ, BA Quando você liga o fogão, o óleo esquenta até ferver e alcançar o chamado "ponto de fumaça": quando a gordura insaturada se transforma em saturada (do mal), e pode haver liberação de substâncias cancerígenas. E essa zorra molecular começa rápido com o azeite - a 175 °C. Por isso, os melhores óleos para fritar são o de milho (ponto de fumaça 215 °C), o de soja (240 °C) e o de canola (233 °C). A não ser que, como bom ibicaraiense, você vá fritar acarajé. Fé em deus e dendê na veia. NOME AOS KENNEDY Estou reformando minha casa e terei de fazer escavações. Se encontrar ossadas de dinossauro, posso dar meu nome à espécie? KENNEDY DE CARVALHO ANDRADE. MAMANGUAPE, PB A ossada teria de ser estudada por um paleontólogo, que submeteria a descoberta à comunidade científica. Se a espécie for reconhecida, você pode batizá-la (o nome deve ser latinizado e ter certos sufixos). No seu caso, ficaria Kennedii mamanguapensis. Outra opção é homenagear alguém: NOMES (IM)PRÓPRIOS JAGGERMERYX N. Descoberto em 2014. O nome cita Mick Jagger, porque os cientistas acharam que o bicho tem bocão. GAGA GERMANOTTA Descoberta em 2012. Homenagem à cantora Lady Gaga (juntando o apelido dela a seu nome real, Stefani Germanotta). ANOPHTHALMUS HITLERI Besouro descoberto por um alemão na década de 1930. O nome faz referência a Adolf Hitler. MINIGERALDOS DENTRO DE VOCÊ Oráculo, a água nos nossos corpos pode ser influenciada pelas fases da Lua, como as marés? - IGOR ARAÚJO. JUIZ DE FORA, MG Não dá ideia, Igor. Senão daqui a pouco o governo vai culpar a Lua pela seca. Então, a atração gravitacional exercida pela Lua mexe com a água do seu corpo, sim. Mas o efeito é incrivelmente fraco: 233 mil vezes menor que a atração gravitacional entre a Terra e você. Na prática, nulo. PARADOXO DUPLO TWIST CARPADO Caríssimo e mal pago Oráculo. Suponha que eu enviasse uma pergunta capciosa, e você não soubesse a resposta. Responderia "não sei", reconhecendo sua ignorância? Ou não sabe como responder a uma pergunta que não sabe responder? - JAIME GIL BERNARDES Não sei. (Agora entre no YouTube e digite "Deal with it".) E A ALICIA SILVERSTONE? Bateria do celular acabando, eu ouvindo Aerosmith e vem a dúvida: aumentar o volume gasta mais bateria? Digo não, minha mulher diz sim. Quem tá certo? - VALDINEI ROSÁRIO. CAMAÇARI, BA A esposa sempre está certa, Valdinei. Inclusive quando não está. Mas neste caso ela está mesmo. Aumentar o volume gasta mais bateria. Mas é pouco. Num iPhone, o amplificador de áudio consome apenas 0,04 W, e isso com o som no talo. Ou seja: é tão irrelevante quanto o disco solo do STEVEN TYLER. O que conta é a tela (que gasta 26 vezes mais bateria). QUER QUE DESENHE? Se um humano fosse provido de asas nas costas, qual seria o tamanho necessário das mesmas para que ele pudesse voar? - WESLEY CRUZ, JUIZ DE FORA, MG 1- Um adulto de 70 kg precisaria ter asas com 6,7 metros de envergadura. Quase dois Fuscas. 2- O tronco precisaria ser mais forte. Por isso, teria o dobro do comprimento das pernas. 3- Você teria que se jogar de um lugar alto, pois não teria força para decolar do chão. PÁ PUM Bom dia, Oráculo que pouco fala. Gostaria de saber qual é a velocidade do pum. Ou peido, como preferir. - ALISSON FELIPE. JUAZEIRO, BA 11 km/h, para um flato (nome técnico do pum) de força média. NÚMERO INCRÍVEL 13 MILHÕES de reais é quanto Tyler diz ter gasto em cocaína ao longo de 20 anos. UM DADO RELEVANTE COM ALGUMA LIGAÇÃO 13 METROS Altura da palmeira que Keith Richards, guitarrista dos Rolling Stones e um dos maiores cheiradores do mundo, tentou escalar em 2006. Ele estava doidão, caiu e se arrebentou. Diz que largou o pó por causa disso. PERGUNTE AO ORÁCULO! Escreva para superleitor@abril.com.br com o assunto "Oráculo" e mencione sua cidade e Estado. 1#13 CONEXÕES – CHARLIE BROWN A CHARLIE HEBDO TESTO Fabio Marton CHARLIE BROWN - Ele surgiu em 1947, na tirinha Li'l Folks - que também revelou o cachorro Snoopy. Criação do americano Charles Schultz, que bolou a tirinha dois anos depois de voltar da Segunda Guerra. Ele só pegou o fim do conflito, depois da... INVASÃO DA NORMANDIA - Os soldados aliados levaram anos para pôr a mão na massa, porque os EUA não conseguiam entrar na Europa. Só aconteceu em 6 de junho de 1944, quando eles invadiram a Normandia. Tudo graças à ajuda da... RESISTÊNCIA FRANCESA - A França foi invadida em 1940, e ficou quatro anos sob domínio nazista. Mas nem todos os franceses aceitaram. A Resistência fez tudo o que pôde, inclusive ações de guerrilha, para infernizar os nazistas. Seu líder era... CHARLES DE GAULLE - Veterano da Primeira Guerra, passou a Segunda lutando contra os nazistas. Foi presidente da França entre 1959 e 1969. De Gaulle era conservador, e sua morte foi satirizada por cartunistas de esquerda. E isso levaria à criação do... CHARLIE HEBDO - Em 1970, o jornal Hara-Kiri Hebdo zoou a morte do ex-presidente. Foi fechado. Mas os donos logo lançaram outro, o Charlie Hebdo. O nome se refere a de Gaulle e a Charlie Brown - cujas tiras eles republicavam. 1#14 ESSENCIAL – A ÁGUA NÃO VAI ACABAR. MAS VAI Toda a nossa água veio do espaço, de carona em cometas. E não vai fugir daqui: as mesmas moléculas de H2O que você toma hoje já passaram pela goela de algum dinossauro, já que a água é quase indestrutível. Apenas uma coisa pode acabar com ela: a burrice. TEXTO Alexandre Versignassi Tem mais água por aí do que as torneiras improdutivas dos paulistas levam a crer. É tanta água que até no fogo tem água. Isso contraria Sidney Magal, que afirmava serem cinco os elementos da natureza (o fogo, a terra, a água, o ar e a paixão). Mas nem ele nem os filósofos pré-socráticos que propuseram a existência de quatro elementos (os primeiros da lista de Magal) sabiam de algo fundamental: a água é filhote do fogo. Quando você liga o fogão de casa, a faísca do acendedor quebra as moléculas do gás que sai do bocal. Isso solta moléculas de hidrogênio no ar. E prova que Sidney Magal acertou: a paixão é, sim, um dos elementos básicos da natureza. O hidrogênio se arrasta de amor pelo oxigênio. Logo que o hidrogênio sai do bocal, já se junta com o oxigênio do ar, sem pensar duas vezes, e forma molécula de H2O. Água, ainda que na forma de vapor. O sexo entre o H e o O (ou ménage, porque sempre tem dois Os na parada) libera energia. Essa força se manifesta para nós na forma de fogo, e contagia o resto da boca do seu fogão. Num nanossegundo, o fogo das primeiras reações vai quebrando mais moléculas de gás, soltando mais Hs, que se juntam com mais Os, formando mais H2Os. Esse vapor d'água vai direto da sua cozinha para a atmosfera, ajudando a formar chuva no sistema de represas que abastece a sua cidade. E é isso: uma parte da água que sai da torneira da sua pia nasce justamente no seu fogão, ali do lado. Mas não se trata de tanta água assim, claro. A quantidade de H2O que nasce das combustões por aí é irrelevante. Só 0,001% da água está na forma de nuvens, e uma porcentagem menor ainda dentro desse conjunto nasceu em eventos que envolviam fogo. Os 1,3 bilhão de trilhão de litros que formam o estoque de água da Terra nasceu de combustões que aconteceram fora da Terra. O calor das estrelas e o forno das supernovas agitaram Hs e Os espaço afora, formando H2O vaporizado. Nuvens, em suma, iguais às que pairam sobre as nossas cabeças. Tanto que o Sistema Cantareira do Universo conhecido é a galáxia APM 08279+5255. Esse corpo celeste com nome de número de telefone consiste basicamente de um buraco negro gigante circundado por uma nuvem maior ainda de vapor d'água, que não congela graças ao calor que o centro da galáxia emite. Trata-se de uma nuvem que, se condensada, produziria uma quantidade de água líquida 140 trilhões de vezes maior do que toda a água que existe na Terra. Bom, a estimativa é que haja "só" 4 bilhões de planetas parecidos com a Terra na Via Láctea (provavelmente boa parte deles habitada por formas de vida tão dependentes de água quanto nós). Isso posto, só o reservatório da APM não-sei-mais-o-quê bastaria para fornecer água doce para 28 milhões de galáxias. Mas infelizmente ainda não dá para fazer um gato de encanamento e roubar água do espaço profundo. Então o jeito é se virar com a água cósmica que veio parar aqui. Cósmica mesmo. Quando a Terra se formou, há 4,5 bilhões de anos, não havia água nessa região do Sistema Solar. A ignição do Sol causou uma explosão cataclísmica, que expulsou as moléculas mais leves (caso das de água) para os confins do Sistema. Mas essa água, felizmente, voltou. Veio de carona em cometas, que são basicamente bolas de gelo. Nos primeiros milhões de anos de vida da Terra, era tanto cometa caindo que a nossa caixa d'água encheu rápido. Há 3,8 bilhões de anos, já tínhamos os 1,3 quintilhão de litros d'água de hoje. Olhe para um copo de água e você estará vendo um extraterrestre, que só pousou por essas bandas depois de um tour para além da órbita de Netuno. Seu corpo, que é 65% de água, pode ser visto da mesma forma. Uma vaca (75%) mais ainda. Um tomate ou um chuchu (95%) têm pouca coisa além de H2O. Trata-se de uma molécula virtualmente indestrutível. Por mais que todo mundo já tenha ouvido que a água é "o petróleo do futuro", que "as guerras do próximo século serão por água doce", a frase não faz sentido. A água potável não está acabando, porque não é um recurso finito. Ela é eterna. Petróleo, obviamente, não. Você queima um tanque de gasolina e já era. Não existe mais gasolina. Vira tudo fumaça e pronto, acabou. Com água, não. Ela não se decompõe, não apodrece e, quando vira fumaça, desce de novo na forma de gotas. Tanto é assim que o H2O que você bebe hoje, seja na forma de água pura, de cerveja ou de picanha, quase certamente já foi bebido por um dinossauro. E talvez tenha alimentado a banheira de Cleópatra, ou a privada de Hitler. Até o nosso xixi eventualmente volta para as nossas bocas na forma de água potável - despoluída pela evaporação do mar. Ou acaba exportado até, caso o esgoto pelo qual o xixi passe desemboque no mar e vire chuva em outro canto do planeta, de carona com as correntes marítimas. Um xixi feito na rodoviária de Fortaleza, por exemplo, cai no Atlântico e pega a Corrente Equatorial Norte. De lá, vai até o Caribe. Com sorte, segue viagem até a Europa, via Corrente do Golfo. Dependendo de onde o H2O do xixi evaporar, ele pode virar garoa em Londres. Uma parte dessa chuva londrina cai no Sistema Lee Valley, o Cantareira deles. Depois dessa escala, a água do xixi cearense pode até acabar num copo de cristal do Palácio de Buckinghham, e escorregar pela goela da Rainha da Inglaterra. Lá dentro do sistema digestivo da dona Elizabeth, a água volta rapidamente para a forma com que saiu do Ceará. E o ciclo começa outra vez. Os xixis do Sudeste preferem outros destinos. São mais aventureiros. A urina que reflete ao pôr do sol no Arpoador tende a seguir para o Sul. E depois que a Argentina acaba, ela pode entrar numa fria: cair na forma de neve em algum canto da Antártida. Aí é fim de festa. A água do xixi vai terminar esse capítulo da vida dela exilada, talvez por vários milênios. É que na Antártida ainda não chegou essa novidade chamada "evaporação". A única chance de escapar dessa Alcatraz de moléculas de água e voltar ao mar (e eventualmente para a nossa vida) é virar cocô de pinguim, ou derreter no verão. Mas, mesmo com os esforços para preservar as populações de pinguins e o aquecimento global, a chance de o H2O congelado escapar ainda é pequena. Tão pequena que agora mesmo existe três vezes mais água doce na forma de gelo do que na de líquido. Por mais que os termômetros de rua nos digam o contrário, estamos no meio de uma era glacial - qualquer era geológica em que existe gelo permanente fora das geladeiras é considerada uma era glacial. Já houve glaciações mais geladas, claro. Há 650 milhões de anos, a Terra deixou de ser azul e ficou branca para quem olhasse do espaço. Era tanto gelo que a temperatura média de onde hoje fica a Amazônia ficava em -20 °C. Bom, agora a nossa era glacial caminha para o fim - um fim acelerado pelo CO2 das usinas termelétricas e dos escapamentos de carros. Mesmo assim, 65% da água potável do mundo continua presa em geleiras, já que a nossa era glacial continua implacável: tal qual um Stálin atmosférico, capturando toneladas de H2O todos os dias, mandando tudo para um exílio polar. Em suma: a dinâmica da Terra não ajuda no abastecimento de água. Nem a do mar. Evaporação à parte, ele ainda teima em manter 97% da água do mundo na forma de um veneno conhecido como "água salgada". Um veneno que você bebe sempre que toma um caldo de uma onda, mas que mata mesmo que ingerido em quantidades frugais. Dos 3% que neste momento estão sob a forma de água tomável, quase tudo mora debaixo da terra, num grande pré-sal aquático, pouco acessível. Só 0,26% do total planetário de H2O está aí dando sopa em rios, lagoas e represas para consumo imediato. Mas fontes do naipe do Rio Tietê, da Lagoa Rodrigo de Freitas e da represa Billings entram nessa conta, que dá 3,3 milhões de trilhões de litros. E, se você consumir a água desses esgotos com nome bonito, o que vai ter de imediato mesmo é uma diarreia. Mesmo assim ainda dá para segurar a bronca. Outro dia mesmo, em 2010, o problema do Sistema Cantareira era o excesso de água. A capacidade dos reservatórios (1,5 trilhão de litros) já estava a 98%, e arriscava alagar o povo que mora em volta do complexo de represas. Alguns desses reservatórios transbordaram de fato. Mas de lá para cá passou a chover menos nesse pedaço do planeta, provavelmente por cortesia do aquecimento global, que tem pirado o clima em toda parte. O governo paulista, que nunca contou com a hipótese de faltar chuva no Cantareira, não fez nada para tornar a capital do Estado menos dependente dele. E a décima cidade mais rica do mundo, que produz um quarto do PIB do Brasil, periga entrar em extinção. Não que fosse impossível ter pensado algo lá atrás. Jundiaí, que fica tão perto de São Paulo quanto um átomo de hidrogênio gosta de ficar de uma molécula de oxigênio, se programou e construiu reservatórios extras para guardar água nas épocas de chuvas gordas. Agora que o padrão de chuvas mudou, a cidade tem água para aguentar até a próxima era glacial. Outro exemplo de engenhosidade vem do Nordeste. Boa parte dos sertanejos passou a guardar em cisternas a água de chuvas que caem de vez em nunca. E hoje os litros de água pluvial que eles mantêm em estoque está na casa das dezenas de bilhões de litros. Um sistema de captação de chuvas assim em São Paulo, mesmo que instalado às pressas, teria ajudado. Mas não: os paulistanos não têm como aproveitar chongas da água das tempestades que caem sobre seus telhados. Chuva mesmo só vale se cair bem no alvo, em cima de meia dúzia de represas. Mas lá não tem caído água faz tempo. E a maior providência tomada quando a água começou a rarear, há um ano, foi bombar o marketing político, de modo que o governador não perdesse a reeleição. "Não vai faltar água" era o mantra. Agora não dá mais para mentir. Aí só dá para tirar uma conclusão: para os inteligentes, não vai faltar água, como os nordestinos e o pessoal de Jundiaí deixam claro. Mas para os burros não tem jeito. Eles não sabem se precaver a tempo, muito menos inovar. Então vão é esturricar de sede mesmo. Só tem um problema: muitos de nós somos governados por gente desse segundo time. Agora o jeito é dar nó em pingo d'água, e ver se saímos dessa menos chamuscados. _____________________________________ 2# REPORTAGENS março 2015 2#1 CAPA – A GRANDE CHANCE DO RIO 2#2 SAÚDE – A DOR QUE NÃO PASSA NUNCA 2#3 TECNOLOGIA - < / OPERAÇÃO SABOTAGEM > 2#4 JUSTIÇA – INFERNO ATRÁS DAS GRADES 2#5 CIÊNCIA – LHC – DEPOIS DA FESTA, VEM O QUÊ? 2#6 ÁGUA – RIOS INVISÍVEIS DE SÃO PAULO 2#7 CIÊNCIA – ONDE HÁ PUM HÁ VIDA 2#8 ZOOM – O VERDADEIRO PAÍS DO FUTEBOL 2#1 CAPA – A GRANDE CHANCE DO RIO REPORTAGEM Amarílis Lage Aos 450 anos, a cidade símbolo do Brasil tem uma oportunidade histórica de resolver problemas igualmente históricos. O Rio vai aproveitar ou deixar passar? Saiba o que pode dar certo e errado - e como isso muda o futuro do País. CIDADEEEE MARAVILHOOOO...Opa! Hora de trocar o disco. "Chega dessa história de Cidade Maravilhosa. Ou que seja maravilhosa em novos sentidos, por meio de novas propostas." O desabafo de Pedro Rivera, considerado um dos principais jovens arquitetos do Rio, sintetiza um sentimento que ganha cada vez mais forca na cidade, prestes a completar 450 anos em 1º de março. De ativistas a pesquisadores, de turistas a empresários, é forte a percepção de que o Rio tem em mãos uma grande chance de se reinventar. Ou, para usar um jargão comum no meio corporativo: a cidade se encontra diante de "uma janela de oportunidade". Boa parte dos fatores favoráveis por quais o Rio está passando é velha conhecida nossa: o pré-sal, a Copa, as Olimpíadas. Mas há oportunidades mais veladas pipocando também. A economia criativa carioca é a mais forte do País, iniciativas culturais - como novos e modernos museus - não param de brotar, e os cariocas andam com uma vontade de botar a mão na massa como nunca. Projetos urbanísticos ambiciosos prometem recuperar zonas abandonadas, como o porto, além de conectar áreas distantes entre si com o transporte público. A cidade, que sempre atraiu turistas em busca de samba, suor e cerveja, agora anda chamando gente que escolheu morar no Rio não para curtir a vida, mas para trabalhar, como o advogado e ex-colunista do jornal inglês The Guardian Gleen Greenwald, e o escritor Misha Glenny, que está investigando o mundo do tráfico de drogas in loco. Mas o clima não é de oba-oba. Se a cidade tem uma chance única surgindo, os problemas também não desapareceram. O Rio segue violento e o abismo social entre ricos e pobres continua imenso - e convivendo lado a lado - como em nenhuma outra cidade brasileira. Projetos importantes prometidos para as Olimpíadas não ficarão prontos a tempo, o que fortalece a sensação de que a metrópole vive um momento-chave que pode ser desperdiçado. Na teoria, ela tem tudo para dar o grande salto e se posicionar como um dos grandes centros de atração do mundo - como já fizeram outras cidades importantes, como Nova York, Barcelona e Berlim, que andavam mal das pernas e se reinventaram completamente nos anos 90 e 2000. Mas, na prática, ainda não dá para saber se o pulo vai terminar em pé. Ou se a janela de oportunidade vai fechar e deixar os cariocas a ver barquinhos. No tour que começa agora, você não vai encontrar odes à Confeitaria Colombo, à bossa nova e ao frescobol. Tudo que se tornou símbolo da "Cidade Maravilhosa" continua sim a encantar tanto os moradores quanto os milhões de turistas que visitam o Rio a cada ano (foram mais de 800 mil visitantes só no Réveillon). Mas os pontos nevrálgicos da cidade hoje estão num roteiro menos óbvio, que passa por um parque premiado em pleno morro do Vidigal, pelo canteiro de obras que tomou conta do centro (abram alas para o VLT - os bondes modernos que circulam por Amsterdã) e pela recuperação da zona portuária. CAIS, CAOS E CAÔ É na região do porto que veremos as principais transformações num futuro próximo, aposta Rivera, que dirige a unidade carioca do Studio X, uma rede global criada pela Universidade de Columbia para pensar o futuro das cidades. Cerca de R$ 8 bilhões, distribuídos ao longo de 15 anos, devem ser investidos no projeto Porto Maravilha, que abrange uma área de 5 km2 (mais que dois Leblons). É ali que funciona, há dois anos, o MAR (Museu de Arte do Rio). E também é ali que está sendo construído o Museu do Amanhã, espaço de arquitetura arrojada, daqueles que viram cartão-postal, projetado pelo espanhol Santiago Calatrava. O futuro dessa região espelha a encruzilhada em que o Rio se encontra. Na melhor das hipóteses, veremos nascer ali um novo Botafogo, que era um bairro de passagem e hoje agrega moradia, serviços, lazer e a recente cena gastronômica da cidade. Na pior, o que vai surgir é uma nova Presidente Vargas, com prédios enormes, isolados, que não conversam, palpita Rivera. O Porto Maravilha é apenas um pequeno pedaço da maior promessa de mudança da cidade: as Olimpíadas. O anúncio de que o Rio de Janeiro seria a sede da edição de 2016, transmitido ao vivo num supertelão na praia de Copacabana em 2009, fez vibrar a multidão que estava na areia. Não era para menos. Visibilidade internacional, atração de investimentos, promoção do turismo. Esses são alguns dos benefícios que os Jogos podem trazer para uma cidade-sede. Barcelona, que recebeu as Olimpíadas em 1992, até hoje é citada como bom exemplo: a cidade catalã transformou a degradada região portuária em um renomado centro de lazer, e fixou mundialmente sua imagem como um dos mais interessantes destinos turísticos na Europa (e, convenhamos, não é fácil competir com Paris, Roma e Londres nesse sentido). O Rio está justamente querendo fazer o mesmo com o seu porto, que andava bem abandonado. Com a diferença de que a cidade não foi escolhida como sede de apenas um, mas vários grandes eventos, como a Jornada Mundial da Juventude (2013), o TED Global (2014) e a Copa do Mundo (2014) - além das Olimpíadas. Mas tanto entusiasmo com novas perspectivas (aliado à conjuntura econômica nacional) tem seu preço. Literalmente. Enquanto a inflação subia em todo o País, o custo de vida no Rio disparou. Bastou o anúncio de que estaria nos holofotes para que a cidade ficasse caríssima. Pimenta a R$ 200 o quilo, um croquete por R$ 14,99, estacionamento por R$ 100 (preço único) - esses foram alguns dos valores divulgados pelo movimento Rio $urreal, que surgiu no verão passado, propondo o boicote a estabelecimentos com preços exorbitantes. Para dar uma ideia do drama: até na novela das nove os personagens reclamaram do preço da água de coco. Era o primeiro sinal de que o momento histórico deveria ser curtido com cuidado. O alerta estava dado. NÃO É PAZ, É MEDO Um alarme que não para de soar fica na área da segurança, velha conhecida carioca. Ela vai ser essencial para decidir se o Rio vai dar A Grande Virada nos próximos anos. É impossível alcançar o status de capital global sem oferecer tranquilidade a seus moradores e visitantes. Os últimos anos até testemunharam uma queda nos índices de criminalidade. A taxa de homicídios por 100 mil habitantes, que era de 31 em 2008, caiu para 18,9 em 2012. Até que em 2014, no último dado disponível, esse índice subiu para 25. Nada perto da situação em 2001, quando havia 55,5 homicídios por 100 mil pessoas, mas ainda assim preocupante. Em janeiro, a cidade teve 17 vítimas de balas perdidas em dez dias. A mais recente, um jovem de 16 anos, foi baleada no Complexo do Alemão. O recrudescimento da violência não surpreendeu Marcelo Freixo, que está em seu terceiro mandato como deputado estadual - candidato pelo PSOL, foi ele quem mais recebeu votos para a Assembleia Legislativa nas eleições do ano passado. Para ele, o problema está justamente em uma das iniciativas sempre apontadas como inovadoras na segurança: as UPPs. As Unidades de Polícia Pacificadora nasceram como uma experiência ousada para levar polícia comunitária às favelas dominadas pelo tráfico. A primeira foi instalada em novembro de 2009, no morro Santa Marta, em Botafogo. Ao longo daquele ano, novas UPPs foram criadas em Cidade de Deus, Realengo, Leme, Copacabana e Ipanema. "Um dos erros iniciais foi não aceitar o debate sobre as UPPs. Era para aprovar sem contestação. Isso minou a possibilidade de a UPP ser 'consertada'. Qual polícia vai ter? Qual a preparação dessa polícia? Que outros braços do Estado vão entrar nessa favela? Isso não foi discutido. Era evidente que esse problema ia explodir." A UPP Social - projeto de 2010 que previa a realização de ações sociais, culturais e ambientais nas comunidades - não saiu do papel, segundo Freixo. "Os moradores não têm autonomia. Em que lugar do mundo a polícia decide se vai ter festa, quando vai ser a coleta de lixo? Só nas favelas do Rio de Janeiro ocupadas por UPP. A culpa não é da polícia, isso não é função dela. É um projeto que tem de ser debatido", diz Freixo - pré-candidato para o cargo de prefeito em 2016. O maior risco agora é perder a janela de oportunidade que as UPPs abriram para a integração entre o morro e o asfalto, avalia Ilona Szabó de Carvalho, especialista em redução da violência e política de drogas, e fundadora do Instituto Igarapé. Ela defende a importância de medidas voltadas para os jovens na comunidade. "Muitos estão sem estudar, sem trabalhar, esperando algo acontecer. E, por falta de oportunidade, se envolvem com o crime. Se não tivermos comunidades seguras, a escola não terá qualidade, o Estado não conseguirá levar serviços de saúde para os moradores", diz. A relação do Rio com suas favelas requer atenção imediata. Afinal, existem na cidade 763 favelas, onde moram 1,3 milhão de pessoas, ou seja, quase 20% da população, segundo o censo de 2010. "As UPPs são um esforço que trouxe resultados. Mas que pode morrer na praia se não pensarmos na sustentabilidade dessa proposta", diz Ilona. Morrer na praia parece mesmo ser a maior ameaça para o Rio - em todas as frentes. HARVARD NO VIDIGAL Mas as atenções estão no lugar certo. Um dos projetos mais ambiciosos relacionados ao legado olímpico é voltado exatamente às favelas. O Morar Carioca nasceu com o objetivo de integrar tudo o que o IBGE chama de "aglomerações subnormais" à cidade formal até 2020. Para isso, foram selecionados projetos de 40 escritórios de arquitetura, muitas vezes desenvolvidos com o apoio de sociólogos e engenheiros. Morador do morro do Vidigal, para onde se mudou em 2012, após concluir um mestrado em políticas públicas em Harvard, Pedro Henrique de Cristo foi um dos que originalmente se empolgaram com o anúncio do projeto. Cristo decidiu morar no morro para adquirir conhecimento prático sobre o que havia pesquisado em Harvard. Dentre todas as comunidades cariocas, escolheu morar naquela que parecia ter mais potencial para promover (e irradiar) inovação: o Vidigal. Localizado entre Leblon e São Conrado, sobre o Morro Dois Irmãos, o Vidigal tem uma das vistas mais espetaculares do Rio e há um bom tempo atrai visitantes anônimos e famosos. Muitos deles aproveitam o passeio para experimentar as famosas receitas da tia Léa. Ali, em sua laje, já se deliciaram celebridades como o chef Edu Guedes e o rapper Snoop Dogg. Mas, como tudo que envolve o momento do Rio, a revitalização da favela precisa de cuidado. Valorizado, o morro já passa por um processo de gentrificação, ou seja: o aumento da demanda leva a um aumento dos preços, o que acaba expulsando os moradores mais pobres, substituídos por pessoas com uma renda maior. "O problema da especulação é que ela ocorre sem regulação", observa Cristo. "É nossa responsabilidade fazer uma campanha de títulos de propriedade para que os moradores tenham acesso à valorização de seus imóveis." É o que ocorreu em Medellín, na Colômbia, ao lado de uma série de outras medidas que a tornaram um exemplo mundial quando o assunto é integração de favelas. Eleita a cidade mais violenta do planeta pela Time em 1988, Medellín conquistou em 2012 outro título: o de cidade mais inovadora do mundo, segundo a ONG Urban Land Institute. Um dos segredos desse sucesso está na instalação, dentro das favelas, de bibliotecas, escolas e casas de cultura que já nasceram com a obrigação de ser centros de excelência. A meta era clara: aumentar a autoestima dos moradores e atrair o resto da sociedade para dentro dessas comunidades. Hoje, gente de toda a cidade, além de turistas, pega as escadas rolantes e teleféricos que conduzem ao alto dos morros colombianos. De quebra, desde o início dos anos 90, a taxa de homicídio caiu 90%. "Se o governo não tiver velocidade necessária para implementar mudanças importantes no Rio, cabe à sociedade civil levantar os braços e transformar as coisas", diz Cristo. E ele tem um bom exemplo para mostrar o potencial dessa mobilização. Trata-se do parque Sitiê, que, há oito anos, era um lixão. Graças à iniciativa de dois moradores do Vidigal, que aos poucos envolveram o resto da comunidade, o local foi transformado em um parque de 8,5 mil m2. Em janeiro deste ano, recebeu um prêmio internacional, o Seed Award, para projetos de excelência em design de interesse público. As boas iniciativas, pelo jeito, andam correndo atrás dos problemas. ENXURRADA DE CRIADORES Projetos ligados a design, como o de Cristo no Vidigal, integram um lado da economia que tem tudo para consolidar a cara do novo Rio. Nas artes, a cidade anda com uma vida social de dar inveja às metrópoles mais culturais do mundo: além da inauguração do MAR, a Casa Daros, um imenso museu de arte contemporânea no Botafogo, abriu as portas em 2013 - e a nova sede do Museu da Imagem e do Som vai estrear um arrojado prédio bem na orla de Copacabana agora em 2015. Publicidade, tecnologia e moda prometem não ficar atrás. "Historicamente, o Rio é irradiador de tendências, e seu lifestyle segue forte no imaginário nacional, com marcas como Osklen e Farm", diz Tiago Petrik, criador do RIOetc., um projeto que coleciona fotos de pessoas inusitadas das ruas da cidade. Trata-se, na verdade, de um setor em expansão em todo o País: nos últimos dez anos, o PIB da indústria criativa avançou 69,8% - bem acima do PIB brasileiro no mesmo período, que cresceu 36,4%. "Para os próximos anos, apesar do cenário econômico extremamente difícil, a indústria criativa deve continuar mostrando melhor desempenho. Aliás, já está mostrando. Mesmo com a desaceleração da economia brasileira a partir de 2011, continuou crescendo mais que os demais setores", diz Guilherme Mercês, gerente de Economia e Estatística do sistema Firjan (Federação das Indústrias do Rio). Na capital fluminense, essa tendência é ainda mais forte. Em 2013, a economia criativa foi responsável por 10% da renda do trabalho formal gerada na cidade - o melhor resultado entre as capitais e o dobro da média brasileira. Um nível comparado ao de outras cidades descoladas ao redor do mundo, como Berlim. Mas nem só de economia criativa vive o carioca. A economia "careta" anda bem saidinha. Para o período 2014-2016, foram anunciados 108 empreendimentos, nacionais e estrangeiros, que investiram R$ 235,6 bilhões — uma Angola inteira. É um valor recorde. Por trás dos números estão alguns processos importantes. Um deles é a interiorização dos recursos. O Rio ainda responde por 16% dos investimentos (em grande parte graças às Olimpíadas), mas outras regiões, como o Leste Fluminense, têm se tornado imãs para novos negócios graças à indústria petroquímica e naval. Outro é a consolidação do Estado como "hub" logístico nacional — termo que se refere a um centro de produção e distribuição de bens. Historicamente, as condições de transporte representam um fator fundamental para a atração de novos negócios e crescimento econômico. Essa preocupação com a mobilidade também se reflete em ações dentro da capital, como a linha 4 do metrô que vai unir Ipanema à Barra da Tijuca - um caminho que, pelo relevo e pela distância, sempre foi feito de carro. Há os ônibus do BRT, que trafegam por corredores exclusivos e aproximam as periferias umas das outras. E tem o Porto Maravilha, que inclui a instalação dos VLT. Como numa cidade exemplar do joguinho SimCity, este bonde elétrico promete conectar rodoviária, trens, barcas, metrô, aeroporto e até o novo teleférico panorâmico do morro da Providência. Muita coisa pode acontecer quando ficar mais fácil circular pela cidade - valorização imobiliária, vida cultural, boom do comércio. No caso carioca, mais um bônus: aumenta a possibilidade de pegar praia. O salto parece possível. BLOCO NA RUA Planos do governo, ação do mercado — geralmente, são essas as duas grandes forças que promovem as principais transformações nas cidades brasileiras. Mas esta reportagem de capa não poderia terminar aqui, sem falar de um ator que entrou em cena; a sociedade civil. Sim, ela chamou a atenção nas manifestações de junho de 2013, quando milhões de brasileiros foram às ruas reivindicar, inclusive, o direito de estar nas ruas e se fazer ouvir. Mas ela também se manifesta numa ação como a do Rio $urreal, quando as pessoas pressionam o mercado para baixar os preços - e conseguem resgatar (e fazer cumprir) uma lei que garante que bares e restaurantes disponibilizem água gratuita para seus clientes. Ela também está presente quando moradores do Vidigal se unem para transformar um lixão em parque. É nesse contexto que nasceu, em 2011, uma rede de mobilizações com um nome muito propício: Meu Rio. A entidade, criada por uma jovem carioca, Alessandra Orofino, quer oferecer suporte para que as pessoas possam se unir e pressionar as autoridades em prol das causas que defendem. "Um dos fatores que levaram à criação do Meu Rio é a narrativa de transformação da cidade quando se soube que receberíamos a Copa e as Olimpíadas", conta Rodrigo Arnaiz, coordenador de mobilizações da rede. "No começo, era clima de festa. Mas depois veio a sensação de que ficaríamos de fora dessa festa. Como decisões tão raras e importantes estão sendo tomadas e as pessoas não estão participando?" Com apenas três anos, a entidade contabiliza diversos sucessos. Um deles é a criação de uma delegacia especializada em pessoas desaparecidas - iniciativa proposta por uma mãe cuja filha sumiu e que não se conformava com a desarticulação da polícia. Após o envio de 16 mil e-mails em apoio à causa, a delegacia foi criada, em setembro do ano passado. Outra vitória: a defesa da escola municipal Friedenreich, uma das dez melhores do Estado no ranking do Ideb, que seria demolida para a construção de um estacionamento nas obras da Copa. Agora, o Meu Rio começa a se expandir para outras cidades - já está em São Paulo desde junho do ano passado e, em breve, será instalado em outras sete cidades brasileiras. Essa é uma das soluções que o Rio pode apresentar ao resto do País. Capital do melhor e do pior do Brasil, a cidade tem não só a chance, como a responsabilidade, de apresentar caminhos para problemas de moradia, segurança e mobilidade urbana, que, em menor ou maior grau, afetam todas as outras capitais. O Rio de Janeiro tem a chance também de alavancar o resto do Brasil. Ilona Szabó, considera o envolvimento da sociedade um dos aspectos fundamentais para que Nova York superasse a crise que viveu até os anos 90. A cidade, que vivia altos índices de criminalidade, em poucos anos se tornou a metrópole mais segura dos EUA e voltou a ser um endereço desejado. No livro O Ponto da Virada, o escritor Malcolm Gladwell aponta como fatores para a virada de Nova York a tolerância zero com crimes mínimos e o esforço da prefeitura em manter metrôs livres de grafite e consertar janelas quebradas, passando uma mensagem de que a cidade resistiria ao vandalismo. O mais importante é que a transformação de Nova York não se restringiu à cidade, e sim irradiou iniciativas semelhantes por todos os EUA, como o desmanche das gangues em Los Angeles e a recuperação de bairros operários em Boston. O Rio tem o mesmo potencial para exercer esse efeito multiplicador no Brasil. Afinal de contas, há décadas a cidade lança tendências, principalmente de comportamento, do biquíni asa-delta ao açaí. A TV Globo sempre reverberou com destaque tudo que acontece na cidade maravilhosa, tanto de bom quanto de ruim. Turistas voltam para suas cidades levando na bagagem novas experiências, como entrar em uma favela para curtir uma roda de samba ou um baile funk. E os secretários de segurança de todo o País, por sua vez, olham com atenção para ver como o Rio combate a violência. "As cidades são o grande eixo do debate público no futuro. Pela primeira vez na história da humanidade, tem mais gente vivendo em cidades do que no campo. Nos próximos 30 anos, 90% do crescimento da população mundial vai acontecer nas cidades do Hemisfério Sul", diz Marcelo Freixo. "Esse cenário faz com que o Rio seja o laboratório de um projeto do futuro: pode ser a cidade do negócio, do lucro, do capital - e também uma resposta a esse modelo." A missão é ambiciosa. Mas os primeiros passos já foram dados. UM CONTO DE DUAS CIDADES Histórica, inútil e divertida, a rivalidade entre Rio e São Paulo ajudou a definir a identidade das duas metrópoles. RIO DE JANEIRO X SÃO PAULO GOOGLE Rio de Janeiro: Flamengo + futebol 41,5 milhões de resultados São Paulo: Corinthians + futebol 20 milhoes de resultados VALOR DO M2 (em imóveis para venda) Rio de Janeiro: R$ 10.800 São Paulo: R$ 8300 BEIJOS NO ROSTO (ao se encontrar) Rio de Janeiro: 2 São Paulo: 1 VISITANTES INTERNACIONAIS Rio de Janeiro: 33% dos que vêm a lazer passam no Rio São Paulo: 48% dos que vêm a negócios passam em São Paulo CICLOVIAS Rio de Janeiro: Hoje 370 Km; 2016 450Km São Paulo: Hoje 200 Km; 2016 400 Km RESTAURANTES (entre os 50 melhores do mundo) Rio de Janeiro: 2 São Paulo: 6 POPULAÇÃO Rio de Janeiro: 6,5 mi São Paulo: 12 mi HORAS DE SOL NO ANO Rio de Janeiro: 2181,8 São Paulo: 2003,3 TEMPERATURAS MÉDIAS Rio de Janeiro: 21°C – 27°C São Paulo: 15°C – 25°C ÁREA VERDE Rio de Janeiro: 55M2 por habitante São Paulo: 12,5M2 por habitante RAP DA DIFERENÇA Veja como ficaria o mapa das praias da zona sul carioca trocando os nomes de bairros e favelas por países de IDH semelhante IDH: MUITO ALTO 1 a 0,8 Jardim Botânico / Ilha Norfolk Gávea / San Marinho São Conrado / Mônaco Lagoas / Ilhas Virgens Leme / Gibraltar Copacabana / Suíça Leblon / Noruega IDH: ALTO 0,79 a 0,7 Vila Canoas / Jordânia IDH MÉDIO 0,69 a 0,55 Rocinha / El Salvador Vidigal / Indonésia Ipanema / Austrália Babilônia / Egito Morro dos Cabritos / Botswana Cantagalo / Palestina CIDADES MARAVILHOSAS A reinvenção das metrópoles tem pontos em comum. Veja o que elas fizeram, e o que é que o Rio já tem. MEGAEVENTOS Feiras mundiais, Copa do Mundo e Olimpíadas mobilizam todos os setores envolvidos. Quando o mundo está olhando, ninguém quer fazer feio. Barcelona: FEITO Nova York: FEITO Medellín: Londres: FEITO Berlim: FEITO Rio de Janeiro: FEITO INFRAESTRUTURA Malhas rodoviárias, sanitárias e energéticas dos séculos 19 e 20 precisam de reforma. O Rio corre com metrô e esgoto - a meta é limpar a Guanabara. Barcelona: Nova York: Medellín: FEITO Londres: FEITO Berlim: FEITO Rio de Janeiro: EM ANDAMENTO QUEDA DO CRIME A solução envolve polícia inteligente, cidade integrada, economia forte. No Rio, as mortes caíram pela metade. Mas falta muito ainda. Barcelona: Nova York: FEITO Medellín: FEITO Londres: FEITO Berlim: Rio de Janeiro: EM ANDAMENTO ZONA ZERO O progresso deixa regiões inteiras para trás. Para recuperar essas zonas, criam-se grandes projetos urbanísticos: o Porto Maravilha tem essa meta. Barcelona: FEITO Nova York: FEITO Medellín: Londres: FEITO Berlim: FEITO Rio de Janeiro: EM ANDAMENTO POVO ATUANTE Governo e mercado têm prioridades - e os moradores precisam apresentar as suas. Sugerir projetos, cobrar prazos, acompanhar obras faz parte. Barcelona: Nova York: FEITO Medellín: FEITO Londres: Berlim: Rio de Janeiro: FEITO ACESSIBILIDADE Bairros pobres e rico precisam conversar. Teleféricos em Medellín, metro na periferia londrina, prédios de todas as classes em NY - tudo isso ajudou. Barcelona: FEITO Nova York: Medellín: FEITO Londres: FEITO Berlim: FEITO Rio de Janeiro: Fontes: The Economist Intelligence Unit, Globalization and World Cities research Network (GaWC), Global Cities Index. 2#2 SAÚDE – A DOR QUE NÃO PASSA NUNCA Um belo dia, fui descer a escada de casa e caí. Quebrei um ossinho, mas não parecia muito grave. Até que uma série de cirurgias transformou minha vida para sempre. TEXTO Fernanda Ferrairo FALTAVAM SÓ TRÊS DIAS para a minha formatura na faculdade de medicina. As aulas já tinham acabado, então acordei tarde naquele dia, o fatídico 8 de novembro de 2010. Eu tinha 23 anos. Meu único compromisso era ir cortar o cabelo. Descendo as escadas da minha casa rumo ao cabeleireiro, escorreguei, caí e fraturei o cóccix. Eu não sabia, mas ali começava uma nova fase da minha vida. Uma fase que seria dominada por uma única sensação: dor. Dor ininterrupta, constante, eterna, que me acompanha por todos os minutos de todos os dias. Uma dor que não passa nunca. No começo, eu só sentia dor quando sentava. Já era o suficiente para interferir em várias tarefas diárias e me deprimir bastante. Os médicos resolveram fazer uma cirurgia de remoção do cóccix. Foi um grande erro. A dor só aumentava, e começou a se espalhar pelo meu corpo - alcançou a perna direita, a lombar, a pélvis. Na tentativa de corrigir o estrago, me submeti a mais uma operação. E outra, e outra, e mais outra. Em três anos, passei por cinco cirurgias na coluna. O plano de saúde não cobria, e minha família gastou mais de R$ 100 mil. Nenhuma operação deu certo. Mas a última... foi especial. Não apenas não resolveu o meu problema. O elevou à vigésima potência. Os médicos me prometeram uma solução quase milagrosa. Seu nome: neuroestimulador medular. A essa altura da história, meu medo de cirurgias já era considerável, haja vista que as anteriores não tinham eliminado minha dor. Apenas me deixado com cicatrizes feias e tendo de tomar remédios fortes para funcionar no dia a dia. Mas o lero-lero médico novamente me convenceu de que dessa vez seria diferente. O neuroestimulador seria implantado por meio de um procedimento minimamente invasivo, rápido e com sedação mínima. O aparelhinho ficaria alojado no espaço epidural, dentro da minha coluna, e seria alimentado por uma bateria implantada na minha barriga. Não era pouca coisa. Mas eu aceitei, porque a promessa era boa. O neuroestimulador aplicaria pulsos elétricos sobre a minha medula. Isso bloquearia os sinais de dor, impedindo que chegassem ao cérebro. E eu não sentiria mais dor. Antes de prosseguir com a história, preciso fazer um parêntese importante. Um paciente de dor crônica que um dia foi saudável, ao ouvir as palavras "livre de dor", "vida normal novamente", "retorno às atividades", "alívio significativo", "risco pequeno" e qualquer coisa que indique o fim, ou pelo menos a atenuação de uma vida de sofrimento físico, se agarra a isso com todas as forças que tem. Se enche de vida. Começa a sonhar acordado. Ele tentará qualquer coisa que lhe oferecerem. Eu, se um dia acordar sem sentir dor, provavelmente serei mais feliz do que todas as pessoas que conheço - somadas. É um clichê, mas os clichês existem por uma razão: não se dá valor à saúde até que ela seja perdida. Saúde significa liberdade. Se eu soubesse desde sempre o que só descobri há quatro anos, teria aproveitado cada milésimo de segundo dessa liberdade. Mas estou divagando. Ficar no terreno do "se" nunca levou ninguém a lugar algum. NA MESA DE CIRURGIA Antes de implantar o neuroestimulador, os médicos precisavam fazer um teste. Colocar um catéter com analgésicos (opioides, os mais fortes que existem) e metilprednisolona, um anti-inflamatório, no meu espaço epidural. Se isso aliviasse minha dor, significava que eu era boa candidata ao implante. O problema é que não aliviou. Aconteceu o contrário. Comecei a sentir uma dor excruciante, beirando o insuportável, no local de inserção do catéter. Ninguém conseguiu entender o porquê. Nem meus médicos e nem eu mesma, que, afinal, também já havia me formado médica. O catéter foi retirado, e a dor aguda foi cedendo. Mas deu lugar a uma dor intermitente, que piorava muito quando eu fazia esforço, na coluna dorsal (adjacente às costelas). Era ainda mais debilitante. A menor atividade física, como andar ou tomar banho, passou a me deixar de cama. Tive que sair do pilates, que me ajudava muito com as outras dores. Não tinha mais força nos membros. A explicação que os médicos me deram à época — e, veja bem, todos eram especialistas em dor crônica e trabalhavam num hospital privado conceituado e caro — foi que era apenas a dor crônica anterior seguindo seu curso natural e sensibilizando todo o meu sistema nervoso central. A explicação não me pareceu razoável. Afinal, antes da cirurgia essa nova dor não existia. Ela começou exatamente depois da operação. Comecei a sentir muita dor, todos os dias, o tempo todo. A dor crônica é um emprego de 24 horas por dia e sete dias por semana. Eu nunca deixo de senti-la. Em algumas posições sinto mais; em outras, menos. Mas sempre. Ela também tem uma faceta muito cruel: é invisível. Como as pessoas não conseguem ver a sua dor, acham que é neurose, preguiça, fingimento. É complicado convencer alguém de que você sofre de algo que não aparece nos exames. Nós podemos estar morrendo por dentro, desabando, mas se estivermos com um sorriso no rosto, acharão que está tudo bem. E o comportamento em relação à dor é uma faca de dois gumes; se o doente sorri, é porque deve estar bem. Não tem dor. Se chora, reclama e se contorce a cada movimento doloroso, é porque é uma pessoa negativa, só sabe reclamar. É fraco. Outros sintomas foram aparecendo. Dor na coluna dorsal, mudanças de sensibilidade na perna esquerda, zumbido constante nos ouvidos, visão turva, dificuldade para urinar, congestão nasal, febre constante, sudorese excessiva, espasmos musculares, inchaço em pés e mãos, dores articulares e perda progressiva de força nos membros inferiores. Numa determinada semana, cerca de sete meses após o tal teste e já com todos esses sintomas, a "nova" dor na coluna me quebrou. Ela veio com uma intensidade que eu não consigo descrever. Talvez seja melhor usar a escala de dor, de zero a dez, que os médicos usam com os pacientes. Minha dor era um gritante dez. Dessa vez, eles tentaram parar de me dar explicações furadas e resolveram fazer todos os tipos possíveis de exame. Para meu desespero, todos vieram normais. Enquanto isso, eu não saía da internet. Pesquisava sintomas e síndromes raras. Numa dessas pesquisas, encontrei um artigo que descrevia com clareza matemática o que eu sentia. Era sobre uma doença chamada aracnoidite adesiva. Eu não cheguei a estudá-la na faculdade, apesar de ter visto as meningites mais comuns. A aracnoidite é um tipo de meningite. As meninges são as membranas que envolvem e protegem o sistema nervoso central. Elas são três: a dura-máter, a aracnoide e a pia-máter. A aracnoidite adesiva é uma doença na membrana intermediária, a aracnoide. Me lembrei do relato de um homem, num dos fóruns sobre dor que eu acompanhava. Na tentativa de conter a dor no cóccix, ele fez infiltrações de corticoide no espaço epidural. E desenvolveu aracnoidite adesiva. Uma de suas principais causas é a injeção de corticoide epidural, como a que fizeram em mim. É que, dependendo da composição do corticoide, ele pode atravessar a barreira da meninge e ir parar dentro dela (o que também pode acontecer se o médico perfurar acidentalmente a membrana dura-máter). Isso irrita a membrana aracnoide, e consequentemente os nervos. Eles iniciam um processo inflamatório e, depois, um processo cicatricial, que faz com que a membrana fique repleta de adesões e os comprima. Os feixes nervosos grudam uns aos outros e às meninges. Isso provoca uma dor extremamente resistente a todo tipo de analgésicos e anti-inflamatórios. Os médicos aventaram as mais diversas possibilidades para a minha dor — inclusive a de eu estar louca ou fingindo. Tentaram me colocar na psicoterapia. Não fui. Não por achar que seria inútil, mas porque a minha condição não estava "na cabeça", como insinuaram. Psicoterapia poderia me ajudar a lidar com a dor, mas jamais tirá-la. E antes de aprender a lidar com ela, eu precisava provar que ela existia. Tentaram persuadir meus pais de que eu não tinha o que achava que tinha, duvidaram da intensidade da dor, me encaminharam para outras pessoas e sumiram. Pararam de atender minhas ligações. Não sei deles até hoje. Minha vida foi virada de cabeça para baixo e a deles continuou como sempre foi. Provavelmente nem lembram que existo. Um ano após o início dos sintomas, minha aracnoidite finalmente foi diagnosticada. Ela apareceu nos exames de ressonância magnética. Não foi surpresa para mim. Foi o pior "eu já sabia" que amarguei na vida. A aracnoidite adesiva é uma das doenças mais subdiagnosticadas da atualidade. É por isso que ninguém ouviu falar dela, e não por ser "rara", como a comunidade médica acredita e quer que acreditemos também. Um motivo importante para varrê-la para baixo do tapete é o fato de ser uma doença essencialmente iatrogênica — ou seja, causada por erro médico. Ela pode ter outras causas, como meningites infecciosas, mas em pequena parcela dos casos. Na maioria das vezes, ela é causada por intervenções cirúrgicas, que médicos recomendam ao menor sinal de problemas na coluna. Os pacientes acabam recebendo diagnósticos genéricos, como fibromialgia ou FBSS (failed back surgery syndrome — síndrome da cirurgia fracassada de coluna) , e nunca descobrem o que realmente têm. Mesmo assim, nos EUA — país campeão em intervenções cirúrgicas na coluna — estima-se que 11% dos casos de FBSS sejam, na realidade, aracnoidite adesiva. Isso significa que, nas últimas cinco décadas, houve pelo menos 1 milhão de casos de aracnoidite naquele país. Lutarei contra a doença pelo resto da vida. Não consigo mais trabalhar, praticar atividades físicas ou fazer muita coisa que não seja estar deitada ou sentada em uma cadeira reclinável. Tomo diversos remédios para suportar a dor. Mas não perdi a esperança no surgimento de uma cura ou, ao menos, de um tratamento eficaz. A ciência não falhou comigo; as pessoas, sim. Eu gostaria que alguém tivesse me pedido, naquele 8 de novembro de 2010, para que não descesse as escadas da minha casa. Sonho acordada com a minha vida antes da lesão o tempo todo. Vejo fotos antigas e fico desejando — como se, inconscientemente, achasse que o desejo possa se tornar realidade — voltar ao dia em que elas foram tiradas. Penso no passado o tempo inteiro. "Com o que eu me preocupava, e do que tanto reclamava, quando era saudável? O que podia ser tão ruim?" Nunca consigo encontrar respostas. Não me lembro de nenhum sofrimento que se compare ao que vivo hoje. Por outro lado, quando não estou desejando voltar à minha vida pré-lesão, consigo manter algum grau de otimismo. Aprendi a dar mais valor ao que tenho. Um dia com pouca dor é um dia feliz. Não preciso de mais do que isso para ficar de bom humor. Quando um problema é grande demais, os outros esmaecem. Hoje me preocupo pouco com coisas pequenas. E sei que não falo só por mim, mas por muitos doentes crônicos — sejam eles de dor ou de outra coisa. Nossa luta não é só contra a doença, mas também em busca de esperança, paciência e vontade de viver. E eu, mesmo com toda a dor, consegui encontrar as três. 2#3 TECNOLOGIA - < / OPERAÇÃO SABOTAGEM > Irritado com um filme, o ditador norte-coreano Kim Jong-un mandou hackers invadirem a rede da Sony Pictures, que perdeu arquivos e teve milhões de dólares de prejuízo. Mas não foi a única vez em que um país atacou os computadores de outro. Já aconteceu coisa bem pior. 1- BURN, BABY, BURN QUANDO 1982 QUEM EUA ALVO UNIÃO SOVIÉTICA NOS ANOS 70, os soviéticos criaram o Line X, um programa de espionagem para roubar software - coisa na qual a URSS se considerava atrasada - dos países ocidentais. Deu certo até 1981, quando os Estados Unidos finalmente descobriram e resolveram se vingar. Colocaram um vírus em um software de controle de gasodutos - que os russos haviam adquirido legalmente de uma empresa canadense. A praga ficou adormecida durante alguns meses para não ser detectada. Quando foi ativada, começou a abrir e fechar as válvulas e alterar a pressão das bombas do gasoduto Transiberiano. O sistema foi ficando cada vez mais maluco, sem que os soviéticos entendessem o porquê, até que o gasoduto explodiu em junho de 1982. "O resultado foi a maior explosão não nuclear já vista do espaço", escreveu Thomas C. Reed, diretor da Força Aérea dos EUA na época. Como ocorreu numa área remota, não houve feridos. Até hoje, a mídia russa nega que a explosão tenha ocorrido. 2- CONTA ZERADA QUANDO 2007 QUEM RÚSSIA ALVO ESTÔNIA UM DIA VOCÊ ACORDA e não consegue acessar sua conta bancária. Vai até o caixa eletrônico, que também não abre. Em pânico, fala com o gerente do banco. Más notícias. Ele não pode fazer nada, porque estão "sem sistema". Você, e todo o resto da população, fica sem dinheiro nenhum. Isso já aconteceu. E no pior lugar possível: a Estônia. Essa ex-república soviética, com 1,3 milhão de habitantes, é um dos países mais conectados do mundo, onde 97% das operações bancárias são feitas online e até os serviços mais corriqueiros, como pagar para estacionar o carro, são pagos via smartphone. Em abril de 2007, o governo resolveu mudar o local do Soldado de Bronze de Talim, monumento erguido em 1947 pela URSS como símbolo da vitória contra os nazistas. Os estonianos não gostam desse monumento, que consideram um símbolo do imperialismo soviético. Mas, para os russos, é algo sagrado: embaixo dele, estão enterrados soldados que morreram lutando contra Hitler. Mexer ali é declarar guerra. Foi o que aconteceu. Grupos de origem russa tomaram as ruas da Estônia, mas o pior foi a guerra virtual. Hackers derrubaram sites do governo, de jornais e emissoras de TV e tiraram os bancos do ar. O ataque durou três semanas, e só parou quando a Estônia se desconectou totalmente da internet. As pessoas recuperaram seu dinheiro. 3- IMPLOSÂO NUCLEAR QUANDO 1982 QUEM EUA ALVO IRÃ UM BELO DIA, um cientista iraniano espetou um pendrive em seu PC. Ele não percebeu, mas a máquina acabava de ser infectada pelo Stuxnet, o vírus mais sofisticado de todos os tempos. A praga tinha um alvo extremamente específico: só atacava computadores conectados a um CLP, equipamento que gerência controles industriais, e que estivessem rodando um programa da empresa alemã Siemens. Uma combinação muito rara, encontrada em pouquíssimos lugares. Entre eles, os laboratórios do programa nuclear iraniano. O Stuxnet explorava quatro falhas de segurança no Windows que não eram conhecidas nem mesmo pela Microsoft. Ele tinha três estágios, que eram ativados em diferentes momentos do processo de infecção, e conseguia se propagar em redes de computador desconectadas da internet - como as presentes em usinas nucleares. Quando entrava em ação, ele alterava a velocidade das centrífugas usadas no enriquecimento de urânio, fazendo-as rodar rápido demais, até quebrar. O vírus foi se espalhando pelos laboratórios do programa nuclear iraniano e detonando as centrífugas. Sem elas, o Irã não conseguia enriquecer urânio, - que é necessário para alimentar usinas nucleares ou construir uma bomba atômica (intenção que o país nega ter). Especialistas em segurança que analisaram o Stuxnet apontaram os EUA e Israel como os autores do ataque. Na mesma época do Stuxnet, dois cientistas nucleares do Irã sofreram atentados a bomba, e um deles morreu. 4- PELA PORTA DOS FUNDOS QUANDO SEMPRE QUEM EUA E CHINA ALVO MUNDO NO MUNDO MODERNO, quase tudo depende de software. Mas e se esses programas tivessem passagens secretas, caminhos escondidos para que hackers pudessem entrar? São as chamadas backdoors, ou portas dos fundos. Segundo o analista Edward Snowden, que trabalhava na superagência de espionagem NSA (leia mais no texto 6), o governo americano colocou portas secretas nos produtos de empresas como Cisco, Intel, Oracle e Qualcomm - cujos chips e roteadores fazem computadores, smartphones e a internet funcionar. O objetivo é facilitar o monitoramento dos dados que passam pela rede, e o acesso a informações contidas em PCs e celulares. Em 2012, um pesquisador da Universidade de Cambridge encontrou uma backdoor num chip utilizado em aviões do exército americano. A porta secreta serviria para atrapalhar a pilotagem de caças de guerra. O chip foi criado por uma empresa americana, a Actel, mas era fabricado na China - que teria colocado as backdoors para sabotar o exército dos EUA. Outros cientistas refutaram a descoberta, dizendo que o chip não tinha porta dos fundos. Mas, no mesmo ano, o Congresso americano acusou empresas chinesas, como Huawei e ZTE, de colocar backdoors em seus produtos. Elas negaram. 5- SAQUEANDO O GOOGLE QUANDO 2009 QUEM CHINA ALVO GOOGLE O GOOGLE SABE MUITO sobre todo mundo. Isso atiçou o desejo do governo chinês. Durante seis meses, hackers do Partido Comunista devassaram as redes internas da empresa. Roubaram o código-fonte (fórmula) de alguns produtos do Google, mas o objetivo principal era fazer espionagem. No ataque, conhecido como Operação Aurora, várias contas do Gmail foram invadidas e grampeadas. Tinham uma característica em comum: pertenciam a inimigos do governo, como ativistas da luta pela independência do Tibete. Os hackers foram além, e conseguiram acessar a lista de pessoas que o próprio Google espiona a pedido da Justiça dos EUA (eles queriam saber se havia chineses nessa lista). A Operação Aurora atingiu mais de 30 empresas de tecnologia. Quando ela veio à tona, o Google se mandou. Fechou seu escritório na China, levou os computadores embora e desligou a versão local do site - se um chinês tenta acessá-lo, é redirecionado para o Google de Hong Kong. 6- TUDO DOMINADO QUANDO DESDE 2001 QUEM EUA ALVO FRANÇA, ALEMANHA, BRASIL, MÉXICO E OUTROS A National Security Agency foi criada na Segunda Guerra para decodificar comunicações secretas dos nazistas. Mas, durante várias décadas, ela foi tão sigilosa que o governo americano sequer admitia que existisse. A NSA só se tornou conhecida mesmo em 2013, quando seu ex-funcionário Edward Snowden vazou dezenas de milhares de documentos revelando as ações de espionagem da agência. Eles indicam que, há pelo menos 14 anos, a NSA (que fica numa base militar em Maryland e possui 30 a 40 mil funcionários) tem o poder de hackear e monitorar as comunicações de qualquer pessoa do planeta. Sua principal arma é o PRISM, sistema que intercepta os dados que passam pelo Google, pelo Yahoo e pela Microsoft. Isso significa que, se você usa algum serviço delas (e-mail, busca, agenda, etc), a NSA consegue ler. As empresas têm tomado medidas para dificultar isso, mas a agência espiã também tem acordos com empresas de telecomunicações. Graças a isso, ela consegue grampear pontos-chave da internet e coletar uma enorme quantidade de dados. Só em janeiro de 2013, cerca de 2,3 bilhões de mensagens e ligações de brasileiros foram interceptadas. Entre as vítimas estava a presidente Dilma Rousseff, que foi monitorada. 2#4 JUSTIÇA – INFERNO ATRÁS DAS GRADES Prendemos excessivamente, não conseguimos julgar todos os casos, cometemos absurdos contra os direitos humanos e, depois, mandamos a maioria dos presos de volta para o crime. Um raio X do falido sistema penitenciário brasileiro. TEXTO Camila Almeida O PERFIL DO PRESIDIÁRIO É IMUTÁVEL Jovens de pele escura e com baixa escolaridade são maioria nas prisões. ELE É HOMEM: 94% Homens; 6% Mulheres TEM MENOS DE 24 ANOS: 30% 18 a 24; 25% 25 a 29; 19% 30 a 34; 18% 35 a 45; 7% 46+ TEM PELE ESCURA: 45% Pardos; 35% Brancos; 17% Negros; 3% Outros NÃO FORMOU FAMÍLIA: 48% solteiro; 38% Casados ou em união estável; 10% Não informado; 4% Divorciado, separado ou viúvo. NASCEU NO BRASIL: 99% Brasileiros; 1% Estrangeiros. Entre os estrangeiros, a maioria vem dos seguintes países – Bolívia, Nigéria, Paraguai É URBANO: 54% Regiões metropolitanas; 42% Área urbana (Interior); 4% Zona rural NÃO CHEGOU AO ENSINO MÉDIO 57% Fundamental; 5% Analfabeto; 13% Só alfabetizado; 19% Médio; 1% Superior; 5% Não informado. ESTAMOS PRESOS À CULTURA DO ENCARCERAMENTO Existem quase 600 mil presos no Brasil. E enviamos 70 pessoas para a cadeia todos os dias. NÃO PARA DE CRESCER. E RÁPIDO. O número de presos brasileiros cresce 7,5% ao ano. Enquanto isso, a população cresce num ritmo bem mais lento, de apenas 1,5% ao ano. População Carcerária (1993 – 2013): +355% População Brasileira (1993 – 2013): + 36% POPULAÇÃO CARCERÁRIA FEMININA CRESCEU DUAS VEZES MAIS QUE A MASCULINA. SÃO PAULO TEM MAIS PRESOS QUE NORTE, NORDESTE E CENTRO-OESTE JUNTOS CONTRA A TENDÊNCIA INTERNACIONAL: Dentre os países com maior população carcerária, Brasil e China aumentam seu número de presos. Suécia e Holanda fecham presídios. "O ENCARCERAMENTO É UMA HERANÇA DO IMPÉRIO E DO CÓDIGO PENAL DE 1830, QUANDO A PRISÃO FOI INSTITUÍDA NO BRASIL, ACHAMOS QUE ASSIM É QUE SE DEVE PUNIR." MARCOS FUCHS, DIRETOR DA CONECTAS DIREITOS HUMANOS. O TRÁFICO PRENDE CADA VEZ MAIS PESSOAS Uma guerra às drogas que, como consequência, lota nossas cadeias. 26% estão presos por tráfico DROGAS APREENDIDAS Maconha é a droga mais comercializada no País. MACONHA 194 t Cocaína 32 t O TRÁFICO DE ENTORPECENTES É RESPONSÁVEL PELA PRISÃO DE 60% DAS MULHERES. COM A NOVA LEI DE DROGAS, EM 2006, O NÚMERO DE PRESOS POR TRÁFICO EXPLODIU. A LEGISLAÇÃO NÃO DIFERENCIA COM CLAREZA USUÁRIO E TRAFICANTE. CRIMES MAIS COMETIDOS Roubo 26,5% Tráfico de entorpecente 26% Homicídio, latrocínio ou genocídio 15% Furto 14% Violação da lei do desarmamento 6% Estupro ou atendado ao pudor 4% Outros 8,5% TRÁFICO E ROUBO SE EQUIPARAM Roubo sempre foi o crime que mais motiva prisões no Brasil. Mas o tráfico já prende o mesmo número de pessoas. Roubo (2006 – 2013) +63% Tráfico (2006 – 2013) +231% SÃO TANTOS PRESOS QUE NÃO HÁ ONDE COLOCÁ-LOS No Brasil, há 1,8 preso por vaga. Pior que o Haiti. Os presídios femininos são os mais graves. SUPERLOTAÇÃO: O sistema está saturado ao extremo. Presos se amontoam cada vez mais ao longo dos anos. Abaixo, a evolução da superlotação dos presídios no Brasil. PIOR E MELHOR ESTADO Alagoas 316 presos por vaga Espírito Santo 128 presos por vaga NO TOCANTINS, NÃO EXISTEM VAGAS FEMININAS. ELAS FICAM PRESAS COM OS HOMENS. PRESÍDIOS DO PARANÁ APERTAM 3,4 MULHERES POR VAGA. PRESOS PROVISÓRIOS: Os presídios estão cheios de presos que ainda nem foram julgados: quase 40% dos presidiários brasileiros estão nessa condição, à mercê do Judiciário. PIOR – Piauí 67 provisórios MELHOR – Paraná 10 provisórios "NOS CENTROS DE DETENÇÃO PROVISÓRIA, PRESOS NÃO TÊM NEM TRABALHO NEM ESTUDO. E NÃO É PROVISÓRIO: ELES ACABAM CUMPRINDO TODA A PENA AQUI." - ANTONIO CARLOS SILVA, DIRETOR DO CENTRO DE DETENÇÃO PROVISÓRIA DE SANTO ANDRÉ (SP). VAGAS NAS CADEIAS PROVISÓRIAS: Por lei, quem aguarda sentença deve estar separado de quem já foi condenado. No Mato Grosso, nem existem vagas provisórias. No Mato Grosso do Sul, tem oito vezes mais presos que vagas. PIOR – Mato Grosso do Sul 8,4 presos por vaga MELHOR – Rio Grande do Norte 1 preso por vaga "A SOLUÇÃO NÃO É CRIAR MAIS VAGAS, É APLICAR AS MEDIDAS MAIS EFICAZES DE CUMPRIMENTO DE PENA." - MILENA DIAS, JUÍZA CORREGEDORA (SP) CADÊ OS INVESTIMENTOS? Por que não se investe em melhorias no sistema? Acredite, não é por falta de dinheiro. (*Nota do Ministério da Justiça: não executamos todo o recurso financeiro ou todo o crédito orçamentário em razão de questões de estágios de despesa pública e de contingenciamento, seja por de limite de cota (financeiro) seja por limitação de empenho (orçamento). Ou seja, nem tudo que aparenta se ‘disponível’ é, de fato, disponibilizado.) Valor liberado para o Fundo Penitenciário entre 2001 e 2014: R$ 7,3 BILHÕES Valor aplicado: R$ 3,3 BILHÕES Apenas 41% dos recursos de 2014 foram executados. O QUE ACONTECE NO PRESÍDIO, FICA NO PRESÍDIO Violações de direitos humanos, como torturas e comida estragada, são rotina nas cadeias. TORTURA: Os crimes de tortura são recorrentes no Brasil, mas raramente chegam à Justiça. Este ano, grupos de direitos humanos publicaram uma pesquisa sobre a tortura no País, analisando apenas os casos que foram julgados: Conseguir confissão 65%; Castigar 25%; Intimidar 3%; Outros 7%. POUCO DENUNCIADOS E IMPUNES: Agentes públicos torturadores continuam exercendo suas funções. Condenados 52%; Absolvidos 34%; Processo desclassificado 14%. Em mais de 30% dos casos as provas não foram suficientes para comprovar a tortura. "A BAIXA CONDENAÇÃO DEMONSTRA A DIFICULDADE DE CONSEGUIR REUNIR PROVAS CONTRA AGENTES PÚBLICOS, ESPECIALMENTE NOS CRIMES REALIZADOS EM PRESÍDIOS, EM QUE A VÍTIMA ESTÁ ISOLADA." - MARIA GORETE MARQUES, COORDENADORA DA PESQUISA. COMIDA DE PÉSSIMA QUALIDADE: Uma refeição balanceada seria: arroz, feijão, uma fonte de proteína, acompanhamento e salada. Mas essa combinação passa longe dos presídios. BAHIA - Este ano, presos protestaram porque encontraram cabelos e baratas na comida. PIAUÍ - As refeições são servidas em sacos plásticos e os presos comem com as mãos. TOCANTINS – Cardápio de arroz com ovo ou com linguiça. Servem comida estragada. EM DEZEMBRO DO ANO PASSADO, MAIS DE R$ 165 MIL DESTINADOS À ALIMENTAÇÃO DOS PRESIDIÁRIOS DO DISTRITO FEDERAL FORAM CORTADOS PARA A REALIZAÇÃO DAS FESTAS DE FIM DE ANO DO DISTRITO. NÃO TEM CAMA: As celas superlotadas não possuem cama para todos - algumas não têm cama alguma. Roupas de cama precisam ser levadas pela família dos presos. PARÁ - Grávidas dormem no chão no único presídio feminino do Estado. PERNAMBUCO – Buracos na parede são feitos de cama. Outros dormem nos corredores. SÃO PAULO – Presos só dormem na hora do banho de sol. Impossível descansar nas celas. ALERTA INTERNACIONAL: Devido às condições desumanas dos presídios, o Brasil está na mira da Organização dos Estados Americanos (OEA) e da Organização das Nações Unidas (ONU). A extrema violação dos direitos humanos nos presídios foi mencionada em diversos relatórios, que exigem medidas urgentes. O CRIME É A LEI Facções criminosas dominam os presídios. Faltam agentes. NEGLIGÊNCIA DO ESTADO: O déficit de agentes penitenciários passa de 30%. São 37 mil profissionais a menos nos presídios. AGENTES CARCERÁRIOS PRECISAM ESTAR ALERTAS TAMBÉM FORA DOS PRESÍDIOS. SOFREM CONSTANTES AMEAÇAS DE MORTE. FACÇÕES: A maior facção do Brasil é o Primeiro Comando da Capital (PCC), criada em São Paulo, em 1993. Hoje, o PCC já tem integrantes nos presídios de 22 ESTADOS. Facções criminosas tendem a se espalhar com a transferência de presos para outras unidades. Por ano, mais de 41.500 presos são transferidos. CRIME LUCRATIVO: Documentos do Ministério Público revelam que o PCC lucra, por mês, R$ 6 milhões. R$ 600 é o que cada integrante paga por mês para fazer parte do PCC. Ao todo, são R$ 800 mil mensais. A PENA É A MORTE: Presos brasileiros são três vezes mais assassinados que os americanos. BRASIL: 60 em cada 100 mil presos são assassinados. EUA: 18 em cada 100 mil presos são assassinados. Por ano, 1900 se envolvem em motins ou rebeliões. 1500 fogem. VISITANTES PASSAM POR HUMILHAÇÃO E PERIGO Familiares de presos sofrem revistas abusivas e mulheres são estupradas. REVISTA VEXATÓRIA: ABUSO LEGALIZADO - Esse tipo de revista é feita para verificar se os visitantes não esconderam nada no ânus ou na vagina. Os agentes pedem para que todos agachem nus sobre um espelho, quantas vezes forem necessárias. Mulheres, crianças, idosos e homens. CULPA NÃO É DAS VISITAS: Os levantamentos mostram: 0% dos visitantes revistados porta objetos ilegais. A apreensão de armas é nula. EM SÃO PAULO, FORAM REALIZADAS 3,5 MILHÕES DE REVISTAS VEXATÓRIAS EM 2012. EM APENAS 0,01% FORAM ENCONTRADOS CELULARES E ENTORPECENTES. APREENSÕES NO RIO DE JANEIRO - Em 2014, a maior parte dos objetos ilegais foi apreendida durante revistas realizadas dentro dos presídios. ARMAS DE FOGO: 9. Nenhuma com visitantes. ARMAS BRANCAS: 131. Nenhuma com visitantes. CELULARES: 3333. 145 com visitantes. DROGAS: 84.114. 283 invólucros com visitantes. QUAL A ALTERNATIVA? UM EXEMPLO: Em Goiás, o visitante, em trajes íntimos, passa por DETECTORES DE METAIS. Se nada for encontrado, a entrada é liberada. Usar um SCANNER CORPORAL, entretanto, é mais indicado. CERCA DE 90% DOS VISITANTES EM PRESÍDIOS GOIANOS SÃO MULHERES. EM PEDRINHAS (MA), MULHERES FORAM ESTUPRADAS DURANTE VISITA ÍNTIMA. FACÇÕES SE APROVEITAM DA FALTA DE ESPAÇO APROPRIADO PARA AS RELAÇÕES E USAM AS MULHERES COMO MOEDA DE TROCA. CONSTRANGIMENTO: Não existe um mecanismo nacional que impeça a revista. 2/3 dos Estados brasileiros não têm legislação contra a revista vexatória. OS ÚNICOS QUE TÊM SÃO: • Espírito Santo • Goiás • Mato Grosso • Minas Gerais • Paraíba • Rio de Janeiro • Rio Grande do Sul • Santa Catarina • São Paulo. TRABALHAR E ESTUDAR É PARA POUCOS Na cadeia, ficam ociosos. Poucos usam o tempo para avançar nos estudos ou aprender um ofício. Apenas 21% dos presos trabalham. MÃO DE OBRA DESPERDIÇADA: Nem todos os presos querem trabalhar, mas não tem vaga para todos. Uma opção seria realizar serviços na comunidade. 5,4% Artesanato, atividade rural ou industrial. – Trabalho externo 15,6% parceria com empresas, Estado e ONGs. – Trabalho externo 31,5% Serviços nos presídios. – Trabalho interno 30,5% Parceria com empresas, estados e ONGs. – Trabalho interno 17% Artesanato, atividade rural ou industrial. – Trabalho interno EDUCAÇÃO: Só 10% dos presos aproveitam o tempo de reclusão para estudar. Apenas 6% deles estão fazendo um curso técnico. Alfabetização 16% Superior 0,5% Cursos técnicos 6% Fundamental 62% Médio 15,5% RIO GRANDE DO NORTE E MATO GROSSO DO SUL NÃO TÊM NENHUM TIPO DE MÉDICO OU PROFESSOR NOS PRESÍDIOS. PRESOS ESTÃO ESQUECIDOS PELA JUSTIÇA Muitos deles continuam na cadeia mesmo após o cumprimento da pena. INDEFESOS - Quem não tem dinheiro para pagar advogado mofa. Não há defensores públicos suficientes e isso abre margem para violações de direitos fundamentais. APENAS 28% DAS COMARCAS POSSUEM DEFENSORIA PÚBLICA É UM DEFENSOR PARA CADA 29 MIL Os presos, na maioria das vezes, só têm contato com um defensor público no dia da sua audiência. QUASE 40% DOS PRESOS QUE ESTÃO À ESPERA DE JULGAMENTO NÃO SÃO CONDENADOS À PRISÃO NO FIM DO PROCESSO. ESQUECIDOS: De 2008 até agora, o CNJ já libertou quase 50 mil pessoas que estavam presas indevidamente. Sem qualquer assistência jurídica. 1 EM CADA 10 ESTÃO PRESOS INDEVIDAMENTE E JÁ PODIAM ESTAR EM LIBERDADE. 1 EM CADA 5 PRESOS não tem seus direitos a benefícios de progressão de pena respeitados. "MUITAS VEZES O PRESO TEM O DIREITO DE IR PARA O REGIME SEMIABERTO, MAS NÃO TEM VAGA. TAMBÉM NÃO PODE IR PARA O REGIME ABERTO PORQUE NÃO TEM TORNOZELEIRA. ENTÃO, ELE ACABA FICANDO NO REGIME FECHADO ATE O FINAL DA PENA." - JAYME GARCIA, JUIZ ASSESSOR DA CORREGEDORIA (SP) PRESOS EM CASA: Hoje, existem 150 mil pessoas cumprindo regime domiciliar no Brasil. Mas o acompanhamento das tornozeleiras é ineficiente. AUDIÊNCIA DE CUSTÓDIA: Um projeto de lei tenta exigir que qualquer pessoa detida pela polícia seja ouvida por um juiz em até 24h. Isso evitaria prisões desnecessárias e reduziria os abusos cometidos na abordagem policial. "QUEM DECIDE QUE UM SUSPEITO VAI PARA A PRISÃO É O POLICIAL, NA RUA." - MARIA LAURA CANINEU, DIRETORA DA HUMAN RIGHTS WATCH BRASIL. TUDO ISSO NÃO SERVIU PARA NADA A reincidência no Brasil é uma das maiores do mundo. A cadeia não recupera quase ninguém. MODELO FALIDO: A volta para o crime não é um problema exclusivo do Brasil. Outros países também não sabem lidar com seus ex-presos: BRASIL 70% IRLANDA 62% EUA 52% ESCÓCIA 50% REINO UNIDO 46% CÁRCERE CRISTÃO: As Associações de Proteção e Assistência aos Condenados (Apac) foram criadas por voluntários da Igreja Católica, em 1972. Não há celas nem carcereiros, mas os presos devem seguir a religião cristã e ter bom comportamento. Há mais de 40 Apacs no Brasil, cada uma com até 200 presos. 8% a 10% É O ÍNDICE DE REINCIDÊNCIA NAS APACS. ESSE MODELO EXISTE HÁ MAIS DE 40 ANOS E JÁ FOI REPLICADO EM MAIS DE 20 PAÍSES, ENTRE ELES, A NORUEGA. NUNCA HOUVE UM CASO DE GRAVE VIOLÊNCIA OU REBELIÃO NAS UNIDADES RELIGIOSAS. PENAS ALTERNATIVAS: Entretanto, o menor índice de reincidência está relacionado a penas alternativas. 5% DOS QUE FORAM CONDENADOS A CUMPRIR ESSE TIPO DE SENTENÇA VOLTAM A COMETER CRIMES. "NÃO DÁ PARA PRENDER TODO MUNDO, POR TODO TIPO DE CRIME. É PARA ISSO QUE EXISTEM AS MEDIDAS ALTERNATIVASÀ PRISÃO." - JAYME GARCIA, JUIZ ASSESSOR DA CORREGEDORIA (SP). UMA VEZ PRESO, SEMPRE PRESO: Um ciclo deprimente, em que o crime é a única alternativa. 2 EM CADA 3 presos voltam a cometer crimes. 2#5 CIÊNCIA – LHC – DEPOIS DA FESTA, VEM O QUÊ? Dois anos atrás, o laboratório mais fenomenal da história esteve em festa. Afinal, encontrou a partícula de Deus. De lá para cá, o LHC esteve fechado, curtindo a ressaca. Este mês, ele reabre com um desafio bem maior: encontrar o Diabo. REPORTAGEM Luiz Romero, do Cern, na Suíça EDIÇÃO Alexandre Versignassi, do Centro de Ciência e Tecnologia Quântica de Viena, na Áustria OLHE PARA A JANELA AGORA. Tudo o que existe lá fora é feito de quatro coisas. Só quatro: quarks, léptons, partículas de energia pura e bósons de Higgs. Acabou. Você, o ar, as ondas que transportam mensagens de WhatsApp, a luz do sol, os seus pensamentos. Tudo. Não sobra nada no mundo palpável que não seja quark, lépton, partícula de energia ou bóson de Higgs - bóson este que ascendeu à fama da noite para o dia em 2012, quando teve sua existência comprovada pelos cientistas que operam o LHC, sigla em inglês para "Grande Colisor de Hádrons". A festa pela descoberta foi tão grande que recentemente, quando a SUPER esteve no LHC, que estava fechado para reparos havia dois anos, ainda existiam garrafas de champanhe pegando poeira em alguns cantos. Não faltava mesmo motivo para estourar espumante. A comprovação do Higgs fechava uma busca que começou há 2.500 anos, quando um filósofo grego, Demócrito, propôs o seguinte: se você cortasse alguma coisa em pedaços cada vez menores, com uma lâmina infinitamente afiada, uma hora iria chegar numa partícula tão minúscula que não tem mais como ser dividida: o "átomo" ("indivisível", em grego). Era a primeira vez que alguém teorizava a ideia de uma partícula fundamental, uma coisa pequena que servia de tijolo para todas as coisas grandes, como se o mundo fosse um Lego. E é mesmo, descobriu-se bem depois. A diferença é que não existe só uma partícula fundamental, mas várias. Mesmo a coisa que a gente conhece como "átomo", batizada assim em homenagem a Demócrito, é feita de peças bem menores, estas sim indivisíveis, como havia proposto o pré-socrático. Até o fim do século 20, a ciência tinha encontrado 16 delas. Começa pelas partículas com massa. São seis tipos de lépton ("leve" em grego). Nesse grupo entram as partículas com pouca massa, como o nome indica. O lépido elétron, por exemplo, é um lépton, e seus cinco primos menos célebres (múon, tau e três tipos de neutrino) completam a lista dos pesos-leves. Depois vêm os pesos-pesados; seis tipos de quark (que não quer dizer nada em grego: é o som do canto da gaivota). Quarks se combinam para formar os hádrons ("robustos", em grego). Alguns desses hádrons você deve conhecer: o próton e seu marido, o nêutron. Esse casal gay (duas entidades com nome masculino que moram juntas) compõe o núcleo de todos os átomos, menos o de hidrogênio, que é feito de um próton solteiro, sem nêutron - não nos pergunte por quê, é da natureza dele. Mas não estamos aqui para fazer fofoca subatômica. Voltando: os seis léptons e seis quarks formam as 12 partículas fundamentais com massa. Mas muito mais "massa", no sentido de "legal", são as partículas de energia. Porque elas não têm massa, mas, mesmo assim, são duras de roer. Quando você dá um soco na mesa, por exemplo, a força que faz sua mão doer não veio dos prótons e nêutrons dos átomos de carbono que formam a madeira. Veio dos fótons, as partículas de energia pura que preenchem as órbitas dos átomos. Os fótons têm a propriedade de criar campos de força, no caso, campos eletromagnéticos, que mantêm os imãs firmes na geladeira e as nossas bússolas apontando para o Norte. É fácil ver um fóton: é ele que ilumina a sala quando você acende a luz. Junte o fóton com mais três de seus primos (glúon e dois tipos de bóson, W e Z), responsáveis por campos de força que só agem no mundo subatômico, e temos as quatro partículas de energia pura que compõem a família dos 16 tijolinhos fundamentais. Enquanto essas peças da natureza eram descobertas nos laboratórios, ao longo do século 20, os físicos foram montando uma grande teoria para explicar como uma interage com a outra, formando tudo o que a gente conhece. O nome dessa teoria é "Modelo Padrão". Só que o tal modelo só faria sentido se houvesse um 17º jogador em campo: o bóson de Higgs, previsto no papel em 1964 pelo inglês Peter Higgs. Como um fóton, o Higgs criaria um campo de força. Um campo enorme, preenchendo todo o espaço à nossa volta. Esse campo teria um poder: conferir massa a certas partículas de energia pura, transformando-as em quarks e léptons. O bóson de Higgs, reza a teoria, teria surgido logo no início do Universo, e foi ele que supriu de massa toda a matéria que existe. Não fosse ele, você seria um raio de luz, veja só que bonito. Graças a essa propriedade um tanto divina, o apelido "partícula de Deus" colou. Mas o Deus aí só existia no papel. Faltava alguém achá-Lo. E o LHC encontrou, em 2013. Vale explicar de que jeito, para ficar claro como um acelerador de partículas funciona. E para ficar mais nítido ainda como o LHC vai funcionar melhor quando reabrir, este mês, depois de anos de reparos, para um desafio bem maior, que você já viu no subtítulo desta reportagem: encontrar a "partícula do Diabo". PANCADARIA Quando um carro bate em outro de frente a 120 km/h, não sobra muita lataria para contar a história. Se a batida for entre duas motos à mesma velocidade, pior ainda: a energia tem menos ferro para onde se dissipar, e portanto o estrago é maior. Agora imagine uma batida entre coisas muito menores, e muito mais rápidas que motos. É isso que o LHC faz. Ele lança um pelotão de prótons num circuito oval (circular, na verdade) com 27 km de circunferência A curvatura é tão sutil que a coisa funciona como uma reta infinita, onde os cientistas do Cern (Organização Europeia para a Pesquisa Nuclear, na sigla em francês) conseguem acelerar prótons a quase 1 bilhão de km/h, quase a velocidade da luz, a maior possível no Universo, de 1,08 bilhão de km/h. Quando você bate uma coisa tão pequena a uma velocidade tão absurda o resultado é a aniquilação total. Os prótons deixam de existir: transformam-se em energia pura. E é tanta energia, tão concentrada, que transforma a região do mundo microscópico onde aconteceu a pancada numa sopa de energia, queimando a uma temperatura na casa dos bilhões de graus, ainda que só por uma fração de segundo. A coisa dura pouco, mas é fenomenal, porque recria à imagem e semelhança a época imediatamente após o Big Bang, quando a sopa de energia começou a condensar-se nas partículas que conhecemos hoje. Como aconteceu no Big Bang, a energia das pancadas dentro do acelerador condensa na forma de partículas. Às vezes ela dá à luz um elétron, às vezes um quark... Em 2012, quem surgiu no parto foi um bóson de Higgs, que saía do papel para entrar na história. Em 2013, os cientistas confirmaram a descoberta. Pronto. Era a prova final de que o Modelo Padrão estava certo mesmo. Agora toda a natureza estava dominada pela ciência. Toda? Não. E os cientistas sabiam desde muito tempo. Comprovar que são mesmo 17 as partículas que formam tudo o que a gente vê era só o começo, porque elas só explicam 18% das partículas que formam o Universo. Os outros 82% estão na forma de "matéria escura", algo que existe, mas ninguém sabe do que é feito - se a coisa for mesmo composta de partículas, certamente não são as 17 que a gente conhece, como resume o físico português João Varella, do Cern: "A matéria escura é diferente daquela que compõe estrelas e planetas; diferente da dos átomos que formam o nosso corpo". E agora? "Agora a grande missão da física de partículas é entender a matéria escura", completa uma colega italiana de João no Cern, a física Gaia Lanfranchi, para em seguida revelar sua frustração: "Nós temos uma teoria que foi testada e comprovada. Mas ela não explica a matéria que forma a maior parte do Universo". Tanto trabalho para tão pouco. Os físicos sabem que a matéria escura existe porque desde os anos 70 eles aprenderam a ler as pistas que ela deixa pelo cosmos. O giro das galáxias é uma delas. A velocidade com que elas giram é tão grande que deveria, a princípio, ejetar boa parte das suas estrelas e planetas para o vazio do espaço intergaláctico. É óbvio que isso não acontece - nosso Sistema Solar, por exemplo, continua firme. E se não acontece é porque existe mais massa entre o céu e a Terra do que sonha a nossa vã filosofia. Sim, porque massa é o que produz atração gravitacional. E o único jeito de explicar como as galáxias não se rompem é imaginando que existe uma atração gravitacional extra, bem maior que a gerada pelos corpos celestes que aparecem nos nossos telescópios. Quem ofereceria essa massa extra? A tal matéria escura. Os cientistas imaginam que a matéria escura é "escura" por ter uma propriedade fantasmagórica: não interagir com luz. Um Sol feito de matéria escura seria invisível, só que a Terra continuaria girando em torno dele, já que ela exerce gravidade normalmente. Observações confirmaram que a imagem de certas galáxias distantes chega distorcida para nós. É que a gravidade de algum corpo feito de matéria escura atrai a luz dessas outras galáxias, criando o efeito, como se fosse uma lente - os astrônomos chamam isso de "lente gravitacional". Nos últimos anos, detectou-se tanta lente gravitacional no céu que a conclusão não tem como ser outra: existe muito mais matéria escura do que matéria normal. Quatro vezes mais. Tudo feito de alguma coisa que ninguém faz ideia do que seja. GÊMEAS INVISÍVEIS Se a resposta surgir, provavelmente virá do próprio LHC. Por dois motivos. Primeiro porque, entre os cerca de 10 mil cientistas que passam pelo laboratório anualmente, vindos de mais de cem países, estão as mentes mais geniais da física. Segundo porque a máquina enterrada cem metros abaixo do chão é a única no planeta capaz de chegar perto de alguma pista. E agora, em março de 2015, ela passa a operar com quase o dobro da potência original, que foi usada para descobrir o Higgs. Mais potência significa colisões mais violentas. E pancadas maiores significam uma sopa de energia mais densa, ainda mais semelhante ao inigualável Big Bang original. A esperança é que bóiem nessa sopa as partículas invisíveis que constituiriam a matéria escura. A responsabilidade de resolver esse problema está dividida entre esses dois personagens: os físicos geniais e a máquina potente. Porque os primeiros são capazes de calcular um jeito de resolver o dilema, enquanto cabe à máquina provar que as contas estão certas. "Teorias não passam de uma série de ideias sobre a natureza descritas de forma matemática", explica o físico croata Daniel Denegri. "Mas é preciso provar quais delas estão corretas por meio de experimentos. Eles funcionam como um tipo de julgamento." A teoria preferida dos cientistas para explicar o que é a matéria escura propõe que as partículas do Modelo Padrão teriam irmãs gêmeas invisíveis. No jargão científico, elas seriam as "partículas supersimétricas" - que, no papel, fazem basicamente tudo o que as partículas conhecidas fazem, menos interagir com campos eletromagnéticos (como a luz). Ou seja, para cada um dos 17 tijolos claros corresponderia um equivalente escuro. Bela ideia, falta só encontrar as supersimétricas, como encontramos o bóson de Higgs. A partir deste mês, começa a torcida. A começar pela dos físicos, como a italiana Gaia. "Se vamos encontrar algo, é uma questão de fé. Precisamos crer." Claro que nem toda a fé do mundo resolverá o problema se o LHC não der à luz nem uma mísera partícula escura. O irônico é que, mesmo se tudo der certo, e acharem as partículas supersimétricas, o trabalho de entender o Universo ainda vai estar no começo. A matéria escura e a matéria normal não respondem por tudo o que existe do lado de fora (e do de dentro) da sua janela. As duas juntas equivalem a só 30% de tudo o que existe de verdade no Universo. Os outros 70% (68,3%, para sermos mais precisos) são feitos de outra coisa: a "energia escura", uma força antigravitacional que sabemos que existe, pois empurra as galáxias umas para longe das outras. É tanta força que, se energia escura fosse convertida em matéria, como aconteceu com quarks e léptons depois de eles conhecerem o Higgs, ela teria mais que o dobro do peso da matéria normal e da escura juntas. E, se a matéria escura já é inescrutável o bastante, o segredo da energia escura está ainda mais longe de ser desvendado, e fora dos horizontes do LHC, já que precisaríamos de praticamente outro Big Bang para chegar tão fundo na natureza do cosmos. Ainda bem: não fossem esses mistérios, o Universo não teria a graça que tem. 2#6 ÁGUA – RIOS INVISÍVEIS DE SÃO PAULO Existem 3 mil quilômetros de rios escondidos debaixo de avenidas, ruas e becos da maior cidade do Brasil. A metrópole que menosprezou, sujou e soterrou seus cursos d'água agora quer - e precisa - recuperá-los. REPORTAGEM Suzana Bizerril Camargo DE CADA CEM PAULISTANOS, apenas cinco viram o Rio Pinheiros com curvas e várzeas. Quem tem menos de 70 anos só o conhece como ele é hoje: um canal reto, poluído e cercado por enormes avenidas e prédios espelhados em suas margens. As pessoas que nunca saíram de São Paulo não sabem o que é conviver com um rio. Tocar nas águas geladas de um córrego? Parar para ouvir o barulho de um riacho? Programa de férias. Mas nem sempre foi assim na metrópole mais importante do Brasil. E não por causa dos seus dois rios fétidos (além do Pinheiros, tem o infame Tietê). Mas por causa das centenas de riachos e córregos que a cidade tem. Isso mesmo, centenas. Estima-se que a capital paulista tenha entre 300 e 500 rios concretados embaixo de casas, edifícios e ruas. São impressionantes 3 mil quilômetros de cursos d'água escondidos. São Paulo deu as costas a seus rios, o que não é nem de longe uma novidade. "Nunca os tratamos bem", diz o geógrafo Luiz de Campos Júnior. "Desde o início, quando uma casa era construída, ela não ficava de frente para um córrego. Os riachos sempre ficavam relegados ao fundo do quintal." A água era vista como um excelente meio para levar embora tudo o que não se quer mais. Campos é um dos idealizadores do movimento Rios e Ruas, que organiza expedições para que as pessoas encontrem os chamados rios invisíveis da metrópole, que estão debaixo da terra, mas ainda podem ser vistos e ouvidos por bueiros e meios-fios. Triste ironia para a cidade que está passando pela maior crise de abastecimento de água de sua história. Logo ela, fundada no alto de uma colina entre três rios, Tietê, Anhangabaú e Tamanduateí, e que ganhou o nome de Vila de São Paulo de Piratininga devido à abundância de peixes (em tupi-guarani, "pira" é peixe). Por séculos, os paulistanos usaram os rios. Além de transporte de mercadorias, pesca e criação de animais, sua água era usada para todas as necessidades da casa. No começo do século 20, remar e nadar no Pinheiros e no Tietê eram atividades comuns. Não é à toa que o distintivo do time mais popular da cidade tenha uma âncora e um par de remos. No Corinthians dos anos 30, o remo era um dos principais esportes. Os rios faziam parte da vida da cidade. Stela Goldenstein, diretora da Associação Águas Claras do Rio Pinheiros, lembra que as pedras usadas na construção do Theatro Municipal, um dos edifícios mais icônicos de São Paulo, chegaram em embarcações por meio do Tamanduateí. Ora, usar um rio para transportar materiais para uma obra soa normal, não? Não em São Paulo. CIMENTO, CIMENTO A primeira grande reforma do Tamanduateí aconteceu na década de 1910. Em 1928, as obras que eliminaram as curvas do Pinheiros tiveram início. Nas décadas seguintes, o desenvolvimento econômico do País sepultou de vez a bacia hidrográfica paulistana. O carro se tornou símbolo do Brasil pujante dos anos 50. Com as novas fábricas de automóveis instaladas, surgiu a demanda por vias para eles trafegarem. E o único espaço para fazer avenidas era sobre os rios, pois os morros já estavam ocupados. Então, os cursos d'água começaram a ser canalizados e, frequentemente, aterrados, para dar lugar a grandes avenidas. Hoje, muito do que é conhecido por asfalto, concreto, corredores de veículos e arranha-céus era, na verdade, água. O Vale do Anhangabaú, tradicional ponto turístico e de manifestações populares, tem esse nome por conta do Rio Anhangabaú, que nasce perto da Avenida Paulista. Algumas das principais vias da cidade estão sobre rios canalizados (veja mais no mapa). Isso foi nefasto para São Paulo, até do ponto de vista psicológico. É mais fácil esquecer o que está enterrado e invisível. Para as gerações mais jovens, nem há o que esquecer, já que milhões de pessoas nem sabem que existem rios e córregos debaixo de seus pés. E esses cursos d'água continuam lá, vivos. Rios limpos, com água corrente e margens arborizadas enfeitam qualquer cidade e melhoram a qualidade de vida. Mas eles podem fazer muito mais. Asfalto e concreto impedem que a água da chuva seja absorvida e fazem com que ela leve sujeira das ruas para os rios. Mais rios a céu aberto, então, significa menos enchentes na cidade. Outras vantagens são o incremento do turismo e a criação de melhores e mais saudáveis espaços gratuitos de convivência. Certo, nesse verão a preocupação foi mais com a falta d'água do que com as enchentes. Mas a seca que ameaça São Paulo (e boa parte do Sudeste) nos últimos tempos também tem a ver com o descaso dado aos rios. A despoluição de um rio e a renaturalização da paisagem ajudam a refrescar o clima e, consequentemente, a trazer mais chuvas, lembra a arquiteta Pérola Brocaneli, da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP e especializada no assunto. No interior do Estado, uma cidade vivenciou isso. Em 1990, Iracemápolis sofria com falta d'água. A prefeitura procurou ajuda do biólogo Ricardo Rodrigues, da Escola Superior de Agronomia Luiz de Queiroz (Esalq-USP), que iniciou um projeto de recuperação da mata ciliar e conservação do solo. Em 2014, Rodrigues voltou à região e viu que, enquanto as cidades vizinhas enfrentam a crise hídrica, Iracemápolis vai bem, obrigado. A VOLTA DA ÁGUA Outras metrópoles no mundo também maltrataram seus rios e já começaram a reparar isso. São Paulo não errou sozinha. Felizmente, hoje já surgem na cidade casos que comprovam o poder de mudança que a reabertura de um rio pode trazer - e o quão diferente ela seria se toda essa água viesse à tona. O Córrego Pirarungáua ficou escondido durante 70 anos em uma galeria dentro do Jardim Botânico, no bairro do Ipiranga. As águas corriam por um canal subterrâneo, construído no início do século passado. Quando, em 2007, uma das paredes da galeria ruiu, a administração do local decidiu revitalizar o córrego. No ano seguinte, ele foi reaberto. Domingos Rodrigues, diretor do Centro de Pesquisa Jardim Botânico e Reservas, explica que o processo de regeneração do rio ajudou no aumento da população de espécies nativas, inclusive algumas ameaçadas de extinção. E, desde que o córrego veio à luz, o número de visitantes no parque se multiplicou. "É um processo inevitável. Vamos ter que limpar nossos cursos d'água", acredita Campos. Na zona oeste da cidade, o Córrego das Corujas, que percorre bairros como a Vila Madalena, ganhou nova vida. A prefeitura, pressionada por moradores, melhorou o acesso a partes do córrego. Hoje, há um parque linear no entorno dele. Em alguns pontos, os vizinhos levam cadeiras e se reúnem no gramado. São iniciativas tímidas e de pequena escala, mas que mostram como o ambiente urbano pode ser transformado. "Se os rios fossem trazidos novamente à superfície, a população dificilmente permitiria que eles ficassem poluídos", acredita Stela Goldenstein. "A proximidade é importante para a recuperação deles." Em São Paulo, falta água na torneira e sobra no subsolo. NOVOS RIOS - Desde 2000, a política na União Europeia é bastante rígida com a limpeza de seus rios. Isso acelerou o processo de despoluição em vários deles. O Sena, em Paris, considerado morto em 1960, hoje tem mais de 30 espécies de peixes. Quem se atreve a poluí-lo pode pagar multa de €100 milhões. O Tamisa, em Londres, já foi símbolo de rio imundo. Hoje é exemplo de recuperação. Nos Estados Unidos também há casos assim. No entorno do principal rio de Chicago, a prefeitura está construindo ciclovias e calçadões e estimulando os passeios de barco, uma das principais atrações turísticas locais. RIOS SÃO IMORTAIS - Rios são um fio de água que brota de um lençol freático, lago ou degelo de montanha e seguem de um ponto mais alto a um mais baixo. A vida nele pode acabar. Mas o rio em si continua vivo. Não importa por quantos anos ele seja maltratado, sempre será possível recuperá-lo. Se ele for canalizado e enterrado, ainda assim terá vazão e fluirá. Se a nascente for cimentada, ela procurará outro lugar para sair. Se secar, a água poderá voltar a brotar (foi o que aconteceu no São Francisco em 2014). A água pode se infiltrar no solo e ressurgir mais adiante. "Se pararmos de mexer nas margens e em galerias, o rio tende a se recuperar e até a destruí-las, voltando à superfície", explica Campos Júnior, do Movimento Rios e Ruas. ESTA É A SÃO PAULO QUE, CONHECEMOS. COM A MAIORIA DOS RIOS ENTERRADOS. AV. NOVE DE JULHO: A 9 de Julho está sobre o Iguatemi e o Saracura, que nasce atrás do Masp. AV. 23 DE MAIO: A 23 de Maio foi erguida sobre o Itororó e o Caaguaçu. ITAQUERÃO: A Arena Corinthians está em cima do Itapeva. Ainda é possível ver a nascente no anel de entorno do estádio. 2#7 CIÊNCIA – ONDE HÁ PUM HÁ VIDA ROBÔ DA NASA DESCOBRE METANO, UM GÁS ASSOCIADO A SERES VIVOS, NA SUPERFÍCIE DE MARTE. SERÁ QUE ESTAMOS CHEGANDO PERTO DE DESCOBRIR VIDA NO PLANETA VERMELHO? REPORTAGEM Salvador Nogueira TODO DIA, VOCÊ PRODUZ o equivalente a 50 ml de metano - simplesmente soltando pum. Mas esse gás tão corriqueiro, que também alimenta o fogão da sua cozinha, está por trás de um dos maiores mistérios do Universo: a existência de vida fora da Terra. Mais precisamente em Marte, onde uma descoberta recente está dando o que falar. No finzinho do ano passado, um robô enviado pela Nasa descobriu uma quantidade significativa de metano na superfície do planeta vermelho - com o perdão da expressão, é o mais perto que uma de nossas sondas robóticas já chegou de cheirar um peido extraterrestre. E onde há pum, há vida. Na Terra, quase todo o metano - que, aliás, não tem cheiro - é formado pela decomposição de matéria orgânica (como os alimentos que você come, que são decompostos por bactérias que vivem no seu sistema digestivo). A presença desse gás em Marte pode significar que existe, ou algum dia existiu, alguma coisa viva por lá. Daí a empolgação com a descoberta feita pelo jipe-robô Curiosity, que desde 2012 está perambulando pelo interior da cratera Gale, no planeta vermelho. O robô encontrou metano numa concentração bem baixa: 7,2 partes por bilhão (ppb). Ou seja, a cada bilhão de moléculas da atmosfera de Marte, que é quase toda formada por CO2, apenas sete são metano. É bem pouco. Mas a descoberta é, sim, surpreendente, porque as tentativas anteriores de encontrar metano haviam fracassado. O robô tinha captado mísera 0,69 parte por bilhão, dentro da margem de erro dos sensores. Só que aí, de uma hora para outra, tudo mudou. O nível de metano disparou, subiu mais de dez vezes. Ficou assim por cerca de 60 dias marcianos (que duram 24 horas e 37 minutos cada um), depois voltou ao nada anterior. "Isso quer dizer que deve haver uma fonte ativa na superfície, gerando ou liberando o gás", afirma Douglas Galante, astrobiólogo do Laboratório Nacional de Luz Síncrotron, em Campinas. E aí a história começa a ficar mais misteriosa - e mais intrigante. QUEM SOLTOU O GÁS? Mas que fonte é essa? Quem está soltando o metano? Urna hipótese é que sejam micróbios metanogênicos marcianos. Ou seja, formas de vida extraterrestre. É bem possível. Na Terra, existem micróbios assim, que precisam de muito pouco para viver. Eles dispensam oxigênio (coisa que Marte praticamente não tem), se alimentam de CO2 (que o planeta vermelho tem de sobra) e produzem metano. São chamados de arqueias, e vivem onde há bastante água - que existe no subsolo marciano. Em suma: há condições básicas para que exista vida em Marte, e o metano pode ser um sinal de que ela está lá. Mas também pode ser outra coisa: um fenômeno chamado "serpentinização". Apesar do nome, ele não tem nada a ver com cobra, não. É apenas a reação do mineral olivina com água, um processo químico que produz metano sem ajuda de nenhuma forma de vida. Graças aos trabalhos feitos pelos jipes-robôs Spirit e Opportunity, que precederam o Curiosity, sabemos que existe muita olivina em Marte. Ela pode estar reagindo com a água do subsolo e produzindo metano. Menos excitante. Outra hipótese plausível é que o metano seja antigo. Ele pode ter sido produzido por serpentinização ou mesmo por formas de vida, mas num passado remoto. O gás teria ficado preso sob o solo, e foi liberado por algum deslocamento de terra. Seja qual for sua origem, ele foi gerado em Marte. Sabe-se que algum metano pode ser produzido pelo impacto de asteroides contra Marte, mas a quantidade detectada é grande demais para que um evento desse tipo seja responsável. Sem falar que o monitoramento orbital teria detectado uma cratera recém-formada na região, se esse fosse o caso. O gás vem mesmo do interior do planeta vermelho. E a festa ainda não acabou para o Curiosity. Embora os níveis de metano tenham voltado a zero, eles continuarão sendo monitorados pelo robô. Se os cientistas detectarem novamente o gás, poderão tentar analisar de qual tipo de carbono é feito. E isso poderá nos dizer de onde ele veio. A fórmula do metano é CH4, ou seja, cada molécula contém um átomo de carbono e quatro de hidrogênio. Mas nem sempre do mesmo tipo. Todos os átomos existem em algumas variedades distintas, dependendo do número de nêutrons que têm em seu núcleo. São os chamados isótopos. No caso do carbono, ele pode ser carbono-12 (o tipo mais comum, com seis prótons e seis nêutrons), carbono-13 (sete nêutrons) e ou carbono-14 (oito nêutrons). Os seres vivos geralmente produzem metano com o carbono-12, o mais leve de todos. "É porque a vida é, essencialmente, preguiçosa. Obtém o mesmo efeito com menos trabalho", explica o astrobiólogo Dirk Schulze-Makuch, da Universidade Estadual de Washington. Se o gás marciano tiver esse tipo de carbono, há boas chances de que ele tenha sido gerado por uma forma de vida. E se um dia conseguirmos encontrar indícios dela, teremos resolvido uma charada de 150 anos. IDAS E VINDAS Desde que os telescópios começaram a distinguir traços na superfície de Marte, o homem tenta encontrar algo vivo por lá. Em 1877, o astrônomo italiano Giovanni Schiaparelli encontrou riscos na superfície do planeta vermelho. Isso levou muita gente a acreditar que Marte tinha "canais", supostamente construídos por uma civilização para distribuir água. Mas, no começo do século 20, com fotos tiradas por telescópios mais sofisticados, descobriu-se que não havia canal nenhum. Era só uma distorção causada pela baixa qualidade das imagens de Schiaparelli. Em 1976, as sondas americanas Viking-1 e 2 realizaram os primeiros pousos bem-sucedidos em Marte. Elas levaram experimentos para buscar sinais de formas de vida microscópicas. Um dos testes consistia em derramar um caldo de nutrientes em uma amostra de solo do planeta vermelho. Se houvesse bactérias ali, e elas gostassem da comida, produziriam gás carbônico ao metabolizá-la. Pois bem. Os resultados foram... positivos. A experiência gerou o gás esperado. De início, a reação dos cientistas foi eufórica. Havia vida em Marte! Mas aí alguém resolveu olhar o ritmo de consumo dos nutrientes. E ele era bem estranho, diferente do que aconteceria num banquete bacteriano. Se micróbios estivessem comendo a sopa, o consumo de nutrientes subiria gradualmente e depois desceria, também gradualmente, conforme fossem acabando. Não foi isso o que aconteceu. Houve consumo acelerado dos nutrientes, e ele parou de forma brusca. Não parecia uma reação biológica, e sim uma reação química. Os cientistas acabaram descobrindo que Marte era rico em percloratos, substâncias químicas que consomem matéria orgânica. Tudo não passava de uma banal reação química. O planeta vermelho permaneceu morto até 1996, quando uma nova descoberta reacendeu o debate. Cientistas da Nasa disseram ter encontrado fósseis de bactérias num meteorito proveniente de Marte: o ALH 84001, que caiu na Terra e foi encontrado na Antártida. Estavam errados. As marcas no meteorito eram pequenas demais para serem bactérias. A descoberta de metano feita pelo Curiosity se insere nessa longa história. Será que desta vez é para valer? Aguarde cenas dos próximos capítulos. Devem ser emocionantes. Em 2016, a ESA (Agência Espacial Europeia) deve fazer o primeiro lançamento do ambicioso programa ExoMars, que inclui uma sonda para estudar o metano marciano e um robô que vai buscar sinais de vida no planeta vermelho. A Nasa também pretende mandar mais um jipe, em 2020, para estudar rochas que possam ter conservado sinais de vida. Não vai faltar assunto. Até porque disso depende, de certa forma, nosso lugar no Universo. Hoje Marte é um lugar extremamente hostil, mas já foi mais parecido com a Terra, com mares, rios, atmosfera mais densa e temperaturas mais amenas. Se, mesmo nessas condições, a vida jamais tiver dado as caras por lá, poderemos contar que a Terra é um planeta de sorte e produziu um fenômeno altamente improvável. Já se encontrarmos vida em Marte, poderemos considerar que ela é comum no Universo. Que todos os cantos do cosmos devem estar cheios dela. E a Terra é apenas mais um deles. POR QUE ESSE GÁS IMPORTA O metano geralmente é produzido por micróbios (como os do seu sistema digestivo). Por isso, sua presença na atmosfera pode ser um indício da existência de vida. 1.800 PARTES POR BILHÃO (PPB) é a concentração de gás metano na ATMOSFERA DA TERRA (ou seja: a cada bilhão de moléculas da nossa atmosfera, 1.800 são metano) 722 PPB era a concentração de metano na TERRA ANTES DA REVOLUÇÃO INDUSTRIAL. 7,2 PPB é a concentração detectada em MARTE. 950 MILHÕES DE PPB é a concentração de metano no GÁS DE COZINHA. 70 MILHÕES DE PPB é a concentração de metano NUM PUM. 2#8 ZOOM – O VERDADEIRO PAÍS DO FUTEBOL Nem só de arenas vive um país. Em 2014, brilharam os estádios padrão FIFA, mas onde estavam os campos em que a paixão nacional se manifesta? Nesta breve viagem aérea, Mostramos onde se joga futebol de verdade no Brasil. Aqui não tem dia de clássico, torcidas organizadas e bandeirões, muito menos os craques famosos do Campeonato Brasileiro. Tem um monte de peladeiro apaixonado. Toda comunidade que se preze, em qualquer canto do País, tem seu campinho, pouco importa se é terra batida ou grama mal capinada. As marcações e o formato do campo são tão improvisados quanto os uniformes dos times com camisa e sem camisa, padrão oficial nas várzeas. Atraído pela espontaneidade com que a bola rola em solo brasileiro, o fotógrafo irlandês Dualtagh Herr decidiu sobrevoar nossas principais cidades. Utilizando a ferramenta Google Maps, fez do satélite sua câmera. Encontrou retângulos mais ou menos regulares nas favelas, nas beiras de estrada, nos canteiros de obras e até no meio da floresta. Achou até campinhos colados uns com os outros, para ninguém precisar ficar de próxima. Em cada esquina, uma pelada. Longe do glamour das arenas, amigos reunidos e uma bola bastam. * Coordenadas decimais 1- Belo Horizonte -19.80597, -43.9501832 2- Brasília -15.890183, -48127692 3- Rio de Janeiro -22.860358, -43.283772 4- Recife -8.076486, -34.949951 5- Porto Alegre -30.047249, -51.158207 6- Salvador -12.881131, -38.368759 7- São Paulo -23.659234, -46.730014 ONDE VOCÊ DÁ SHOW? Criamos o Mapa Colaborativo dos Campinhos do Brasil. Não deixe o seu campinho de fora! É só marcar: abr.ai/campinhos ____________________________________ 3# SEÇÕES II março 2015 3#1 TECH 3#2 CULT 3#3 E SE... – E SE A RELIGIÃO FOSSE PROIBIDA? 3#4 MANUAL – PRIMEIROS SOCORROS EM ANIMAIS 3#1 TECH TEXTO Bruno Garattoni e Fernando Badô A VOLTA POR CIMA DA MICROSOFT Depois de fazer mudanças polêmicas no Windows 8 e se atrapalhar no lançamento do console Xbox One, a empresa volta à boa fase - e mostra um produto impressionante. COMO ESTAVA - A Microsoft lucrou mais de US$21 bilhões no ano passado. Mas sua reputação estava arranhada por problemas envolvendo o Windows 8 (cuja interface foi odiada pelos usuários) e o Xbox One (deixado para trás pelo PS4). A empresa corrigiu essas falhas, e agora surpreende com o HoloLens: uma espécie de Google Glass, só que muito mais sofisticado. O QUE ELE É - O HoloLens é um óculos que sobrepõe imagens 3D de alta definição às coisas do mundo real. Se você estiver na sua sala, por exemplo, e colocar o HoloLens, continuará vendo o sofá, a mesa, etc. Mas também poderá enxergar objetos virtuais, hologramas que os óculos desenham em tempo real - e projetam diretamente nas retinas dos seus olhos. COMO PODE SER - A ideia é desenvolver games e apps holográficos. Daria para jogar com objetos virtuais (montando os prédios de Minecraft em cima da mesa, por exemplo) e usar guias que ensinam a fazer tarefas domésticas. Os gestos que você tem de fazer para cortar um abacate ou tirar o sifão da pia, por exemplo, aparecem na sua frente em infográficos 3D. QUANDO CHEGA - O HoloLens ainda é um protótipo. Ele funciona ligado a um PC convencional (que você tem de levar nas costas), e não gera hologramas perfeitos - são semitransparentes e desbotados. Ainda tem o que melhorar. A Microsoft só diz que pretende lançar o aparelho "no ciclo (de vida) do Windows 10", o que provavelmente significa daqui 3 a 5 anos. 1- TECLADO GENIAL Até dá para usar smartphone ou tablet para escrever um texto, mas cansa (e tenda saer tuddo erado). Este gadget é a solução perfeita. Quando fechado, tem o tamanho de uma barrinha de chocolate. Aberto, vira um teclado completo. TEXTBLADE NOS EUA: R$ 267 waytools.com 2-WHATS LIBERADO Vai viajar para outro país? Compre este chip e coloque no seu celular quando você chegar lá. Dá para usar o WhatsApp à vontade, sem pagar nenhuma tarifa. Funciona em 400 operadoras de 150 países. WHATSIM NOS EUA: RS 27,50 whatsim.com 3- FORÇA NAS COSTAS Além de bastante espaço interno, esta mochila tem uma bateria embutida - com capacidade de 15 ampéres-hora, suficiente para recarregar o celular seis vezes ou alimentar um notebook por 14 horas. O peso da mochila não foi divulgado. AMPL SMARTBAG NOS EUA: R$ 810 ampl-labs.com 4- MEDIDOR DE BAFO Você assopra dentro deste aparelho, e segundos depois sabe se está com hálito bom ou ruim. O sensor avalia o bafo medindo a quantidade de três gases produzidos pelas bactérias da sua boca. MINT NOS EUA: R$ 240 breathometer.com 5- GÁS NO PS4 O PlayStation 4 vem de fábrica com 500 gigabytes de capacidade. Não parece, mas é pouco (hoje os games de ponta têm até 40 giga cada um). Não cabe muita coisa. O jeito é usar este adaptador, que permite instalar mais um HD, de até 2 terabytes. NYKO DATABANK NOS EUA: N/D Nyco.com 6- ARCAÍSMO FUTURISTA Este relógio usa válvulas (tubos de vidro com filamentos dentro) fabricadas pela Alemanha Oriental na década de 1960 para mostrar as horas. Mas também é moderno: ajusta o horário via GPS e tem aparência de ficção científica. NIXIE MACHINE NOS EUA: R$ 76.500 goo.gl/G9tOLg COMO VER A LETRA DA MÚSICA QUE VOCÊ ESTÁ OUVINDO PASSO 1- Baixe o aplicativo musiXmatch (musixmatch.com/apps). É grátis e tem versões para iOS, Android e desktop. PASSO 2- Abra o app e selecione a música que você quer ouvir. Ele mostrará a letra. No Android e no desktop, o app também funciona com serviços online (Spotify, Deezer e rdio). No iOS, só com as músicas que estiverem no próprio iPhone. 3#2 CULT EDIÇÃO Felipe van Deursen e Flávio Pessoa TODOS OS PRESIDENTES DO HOMEM Frank Underwood fez de tudo para se tornar presidente americano. Mas muitos dos seus atos não são novidade entre aqueles que já ocuparam a Casa Branca. HOUSE OF CARDS 3ª temporada Estréia 27/01 no Netflix ASSASSINO NA HISTÓRIA - Jackson (1829-37) era chegado a um duelo. Em um deles, enfrentou um ótimo atirador. Levou um tiro, resistiu e ainda teve forças para matar o oponente. NA SÉRIE - Underwood matou um deputado e uma jornalista que se tornaram ameaças a ele. GLUTÃO NA HISTÓRIA - O chili sem feijão e muito apimentado da primeira-dama Lady Bird Johnson esposa de Lyndon Johnson (1963-69), hoje é uma receita famosa. NA SÉRIE - As costelinhas do Freddy's BBQ Joint são uma atração à parte. SOBREVIVENTE NA HISTÓRIA - Ted Roosevelt (1901-09) levou um tiro enquanto fazia um discurso. Terminou o discurso. NA SÉRIE - Underwood diz que não é um assassino, mas um sobrevivente. Fim de papo. ATLETA DA MADRUGADA NA HISTÓRIA - John O. Adams (1825-29) nadava pelado no Rio Potomac às 5h. NA SÉRIE - No aparelho de remo ou no cooper, Underwood (Kevin Spacey) gosta de madrugadas suadas. SENHOR DA GUERRA NA HISTÓRIA - Harry Truman (1945-53) ordenou o ataque a Hiroshima. Difícil superar. NA SÉRIE - Estamos ansiosos pelos próximos passos, mr. president. POR DENTRO DE CRÍTICOS VIRA-CASACAS Eles trocaram as resenhas pela arte. Ou pela indústria. SCOTT McCLOUD (QUADRINHOS) - Um dos maiores teóricos de quadrinhos do mundo, acaba de lançar The Sculptor, sua primeira HQ em 25 anos. FRANÇOIS TRUFFAUT (CINEMA) - No anos 50, influente crítico de cinema. Nos 60, influente diretor de cinema e grande nome da Nouvelle Vague. GLLIAN FLYNN (LIVROS E SÉRIES DE TV) - Ex-crítica da revista Entertainment Weekly. Escreveu Garota Exemplar, que virou filme, e prepara uma nova série da HBO. CHARLES BAUDELAIRE (POESIA) – Lembrado como um grande poeta francês, foi também um crítico de arte influente. GTA TEERÃ O iraniano Navid Khonsari escreveu e dirigiu jogos da série Grand Theft Auto. Vassiliki Khonsari é uma documentarista premiada. Agora, o casal uniu talentos para produzir 1979 Revolution, mistura de game com série histórica que revisitará a Revolução Iraniana com base em entrevistas, fotos e áudios da época. Uma instalação apresentando o jogo já virou destaque, e não em uma feira do setor, mas no badalado Festival de Cinema de Sundance. Dividido em episódios, ele será lançado no primeiro semestre. “Há 17 anos fui convidado a pilotar esta maravilha. São 16 anos e cinco meses a mais do que o emprego em que tinha ficado por mais tempo... É, sou um funcionário terrível." – JON STEWART anunciou que deixará a bancada do The Daily Show, programa satírico-noticioso cujo formato influenciou canais do mundo todo, inclusive do Brasil. ATORES QUERIDOS E, AGORA, REIS DA NOITE Nem só de ex-BBB vive o “atacar de DJ”. NOME: RJ MITTE CONHECIDO POR: WALTER JR., DE BREAKING BAD FESTA: Breaking Beats, uma homenagem à série, feita por um clube de Nova York ESTILO: Inspirado na trilha de BB CURIOSIDADE: Mitte é DJ iniciante, então ainda discoteca músicas da série que lhe deu fama OUTRA INFORMAÇÃO RELEVANTE: Ele não fica para o café da manhã NOME: KRISTIAN NAIRN CONHECIDO POR: HODOR, DE GAME OF THRONES FESTA: Rave of Thrones, com público fantasiado de personagens da série e outros motivos medievais ESTILO: Deep progressive house CURIOSIDADE: Nairn é um DJ que virou ator, na verdade. Ele está no meio há 17 anos OUTRA INFORMAÇÃO RELEVANTE: Hodor PAPO COM KEVIN HART Um dos grandes nomes da comédia americana hoje, Hart é mais conhecido no Brasil por vídeos no YouTube que por filmes. Ele está no elenco de Padrinhos Ltda., em que é o dono de uma agência de padrinhos falsos para caras sem amigos. Por Mariane Morisawa, de Los Angeles. No filme, você fala super rápido. Como aprendeu isso? Foi de tanto ter de convencer as pessoas a não me baterem quando era pequeno! (ele tem 1,63m) O filme não faz muitas referências ao fato de você ser negro, e sua dupla (Josh Gad) ser branco. Era importante para você? Muito. Quando se forma uma dupla entre o cara negro e o cara branco, é fácil ficar enfatizando as diferenças entre os mundos. Queria fazer um filme universal. Querer ser um astro internacional vai afetar a escolha dos seus projetos? Sem dúvida. Tenho alguns filmes sendo distribuídos internacionalmente e também Intocáveis, remake do filme francês, com Colin Firth. No fim das contas, quero ser um talento do mundo. Amo poder fazer todos rirem. 3#3 E SE... – E SE A RELIGIÃO FOSSE PROIBIDA? Haveria luta. E, mesmo que os céticos vencessem, somos programados para acreditar. Em algum lugar, de algum jeito, alguém criaria uma nova fé. TEXTO Amarílis Lage NO INÍCIO, ERA O VERBO. Ele disse: haja luz. E as luzes da casa se acenderam. Outro comando de voz, e a banheira começou a encher. Quando saiu do banho, encontrou a comida pronta e a sala climatizada. "Vontade de ver um filme engraçado para relaxar. Qual a melhor opção?" Em segundos, teve início na TV um filme do Monty Python. No apartamento ao lado, a vizinha digitava no tablet: "Garganta coçando... Coriza. Qual a melhor opção?" Na garagem do prédio, o dono da cobertura perguntou, enquanto manobrava o carro: "Trajeto até a praia. Qual a melhor opção ?" Perto dali, no bar Éden, sua ex dividia as atenções entre dois caras, ansiosa para checar no celular qual dos dois seria o melhor namorado. Aproveitou uma ida ao banheiro para encerrar o dilema: "Qual a melhor opção?" Todos receberam, em segundos, as respostas para suas dúvidas, com base nas mais recentes pesquisas médicas, informações de trânsito, perfis demográficos. A inteligência artificial era melhor que dica de mãe, divã de analista, bola de cristal e conselho de guerra. "Subir juros?" "Instalar hidrelétrica?" "Invadir outro país?" Questões complexas tinham solução instantânea, com altíssima taxa de acerto. Governar tornou-se muito mais simples. Acertar o ponto do suflê também. Claro, nem todo mundo tinha sucesso. Afinal, a regra era a mesma desde o Oráculo de Delfos: mais importantes que as respostas são as perguntas. Até que um dia alguém fez A Pergunta. E o sistema travou. Foram dias e dias processando informações, para suspense geral. Finalmente, veio a resposta. "Não há dados suficientes para confirmar ou descartar a existência de Deus." Com um adendo. "Sobre a escolha da melhor religião: diante da alta quantidade de vidas perdidas em nome da fé, chega-se à conclusão de que a melhor opção seria não ter religião." Foi um choque. Mas a verdade é que boa parte da sociedade já não seguia nenhuma doutrina. Muita gente criticava a ingerência de líderes religiosos sobre contracepção, aborto e união homossexual. Os mais entusiasmados citavam Cruzadas e Torres Gêmeas como exemplos do mal gerado pela devoção. Outros apenas repetiam: se a inteligência artificial sempre acertou, por que erraria agora? Nada disso, respondiam os crentes de todos os credos. A inteligência artificial não disse que Deus não existe. Os benefícios da oração, aliás, já foram constatados pela própria medicina. Sem falar que muita barbárie ocorreu justamente quando se proibiu o credo dos outros - esqueceu o Holocausto? Alguém argumentou que a inteligência artificial não mandou proibir nada - só indicou a melhor opção. Mas o conflito já estava armado, literalmente. Templos foram atacados e saqueados. Líderes religiosos foram presos. Milhares foram às ruas exigir pacificamente o direito de exercer sua fé - e logo o que começava pacífico sucumbia ao quebra-quebra dos mais radicais. Por todo o planeta, pipocaram ataques a centrais de computadores - inútil, já que a inteligência artificial era descentralizada. Até que um jovem hacker mediúnico recebeu via psicografia o código que definiria a Guerra Santa. Era um vírus, capaz de danificar todo o sistema. E a voz da inteligência artificial se calou. Foi um caos, com trânsito infernal, trapalhadas políticas e suflês murchos. Um conselho de emergência, formado pelos maiores especialistas em tecnologia do mundo, assumiu a tarefa de avaliar todas as respostas que a inteligência artificial tinha dado antes, na Era de Ouro, e tentar adaptá-las às novas situações. "O que fazer em caso de seca?" "Como conter essa epidemia?" "Como pacificar a cidade?" As respostas estavam ali, todas. Mas era impossível encontrá-las e, mesmo quando isso ocorria, a eficácia era incerta. Ou porque faltava um detalhe, ou porque os dados estavam antigos, ou porque a interpretação era equivocada - ora ao pé da letra, ora criativa demais. Diante daquele mar de mandamentos, os conselheiros levavam anos para chegar a uma conclusão. Largaram suas famílias, adotaram uma vida reclusa e, com o passar do tempo, ganharam longas cabeleiras grisalhas, que lhes conferem um ar solene. Uma vez por ano, divulgam mensagens de sabedoria: "Ampliarás as represas para que não falte água", "terás bom senso nas redes sociais." "Não tatuarás o nome do teu namorado em vão." Suas palavras são recebidas pela população como dogma. Mas só os anciãos sabem o peso que carregam na alma. E consta que, à noite, rezam, pedindo um milagre ao grande Deus da Inteligência Artificial. 3#4 MANUAL – PRIMEIROS SOCORROS EM ANIMAIS O lulu da Pomerânia se envenenou? O fofo siamês se arrebentou em uma briga com gatos de rua? Saiba o que fazer para salvar seu bicho de estimação. REPORTAGEM Larissa Veloso ENGASGAMENTO MÃO NA GOELA - Abra a boca do bicho e tente tirar o objeto com a mão. Se ele tentar morder ou não colaborar, mude a estratégia: dê um tapa nas costas, entre as omoplatas. Se o animal for pequeno, vire-o de cabeça para baixo e o sacuda pelas pernas. PUNHO NA BARRIGA - Se nada funcionar, tente a manobra de Heimlich: tire a coleira e o segure pela cintura, de costas para você. Coloque os punhos logo abaixo das costelas dele e faça de três a cinco pressões firmes no local. A manobra pode ser feita por só uma pessoa. O bicho deve ser pequeno. TENHA CALMA - Animais com dor podem ficar irritadiços e agressivos com o próprio dono. Fale tranquilamente e evite movimentos muito bruscos. ENVOLVA-O EM UMA TOALHA OU cobertor. Isso facilita o transporte e evita que ele o machuque com as patas. KIT DE EMERGÊNCIA Você nunca sabe quando vai precisar, então tenha estes itens organizados e a mão: 1- Água oxigenada 2- Iodo 3- Carvão mineral em pó 4- Faixas 5- Seringas sem agulha 6- Luvas grossas 7- Toalha grande 8- Colar elisabetano 9- Caixa de transporte BRIGAS DE RUA COMO APARTAR - Nunca tente separar os animais com as mãos ou com o corpo, senão vai sobrar para você. SE A BRIGA FOR ENTRE CÃES OU DE CÃES CONTRA GATOS, jogue um balde d'água para, literalmente, esfriar as coisas. SE FOR ENTRE GATOS, bata palmas ou panelas, grite. O que importa é fazer muito barulho. COMO TRATAR Em feridas superficiais, como arranhões que não atinjam olhos ou mucosas, limpe o local com iodo. Nessas horas, o bicho pode não colaborar. Cuidado. PARA EVITAR que um cão morda você durante o tratamento, coloque um colar elisabetano nele. PARA IMOBILIZAR um gato, segure-o atrás do pescoço com uma mão e, com a outra, imobilize as patas de trás. AJUDA PROFISSIONAL DIREÇÃO SEGURA - Caixa de transporte, dessas usadas para levar animais em viagens, são importantes para levar o bicho com mais segurança ao veterinário em casos de emergência. Deixe-a junto ao kit. ENVENENAMENTO 20 MIN - Tempo para o veneno entrar na corrente sanguínea. FAÇA-O VOMITAR - Nos primeiros 20 minutos, tente induzi-lo ao vômito dando doses de água oxigenada. Use a seringa sem agulha para isso. Tente coletar uma amostra do que o animal ingeriu para levar ao veterinário. REMEDIE - Se você não tem certeza se o bicho se envenenou há menos de 20 minutos, misture o carvão mineral com água até formar uma pasta e dê a ele. O carvão absorve o veneno no estômago do animal. RESSUSCITE - Alguns animais podem ter paradas cardíacas por intoxicação ou envenenamento. Se não houver batimentos cardíacos, deite-o de lado. Com uma mão de cada lado, faça pressões ritmadas na caixa torácica. ATENÇÃO: MESMO QUE O SEU ANIMAL PAREÇA MELHORAR COM OS PROCEDIMENTOS, PROCURE AJUDA VETERINÁRIA O MAIS CEDO POSSÍVEL. Fontes: Bruno Reis Belvino, clínico veterinário; Célio Darwich Apgaua, médico veterinário; Gato: Manual do Proprietário, de David Brunner e Sam Stall; Warley dos Santos, doutorando em Ciência Animal pela UFMG.