0# CAPA dezembro 2014 SUPERINTERESSANTE www.superinteressante.com.br Edição 341 – dezembro / 2014 [descrição da imagem: desenho da mão, de um homem. Aparece no pulso a pulseira dourada de um relógio, parte do punho da camisa, com abotoadura dourada. A mão está em posição com a palma para frente, tendo uma bola, que representa o globo terrestre, sendo esmagado pelos dedos.] ULTRA RICOS OS VERDADEIROS DONOS DO MUNDO 67 pessoas possuem um patrimônio igual ao de metade do planeta e a diferença entre elas e o resto de nós não para de crescer. Saiba quem são e entenda por que isso está acontecendo. NAS MÃOS DE POUCOS - No começo de 2014, 85 pessoas tinham tanto dinheiro quanto a metade mais pobre da humanidade. Agora, só um ano depois, são apenas 67. [outros títulos] O SANTO PREPÚCIO O pedacinho íntimo de Jesus e outras relíquias bizarras da Igreja. O TEMPLO DE SALOMÃO (NÃO O DO EDIR) E SE O BRASIL SE DIVIDISSE EM DOIS? TIRANDO ÁGUA DO AR EXCLUSIVO: OS PRESIDENTES MAIS ACESSÍVEIS "EU TIVE UM DERRAME E FOI LINDO" ______________________________ 1# SEÇÕES I 2# REPORTAGENS 3# SEÇÕES II _________________________________ 1# SEÇÕES I dezembro 2014 1#1 AO LEITOR – A FAVOR DO CONHECIMENTO 1#2 MUNDO SUPER 1#3 SUPER NOVAS 1#4 SUPER NOVAS – O ÔNIBUS ESPACIAL SECRETO 1#5 SUPER NOVAS – ROBOSHAKESPEARE 1#6 CIÊNCIA MALUCA 1#7 PAPO – “OS LIVROS ESTÃO CONDENADOS†1#8 MATRIZ – DESENCALHE.COM 1#9 IDEIA VISUAL – LIBERTEM AS REMESSAS 1#10 BANCO DE DADOS – BRASIL DE TÁXI 1#11 COORDENADAS – O REFÚGIO OCULTISTA DA SICÍLIA 1#12 ORÁCULO 1#13 CONEXÕES – M&M’S A EMINEM 1#14 ESSENCIAL – O FANTASMA NA MÁQUINA 1#1 AO LEITOR – A FAVOR DO CONHECIMENTO A SUPER NÃO TEM PARTIDO POLÍTICO nem posição ideológica — não somos contra ou a favor do governo. Não temos agenda oculta, não estamos tentando convencer você de nada. Nosso trabalho é todos os meses reunir informação diversa que ajude você a entender o mundo e a viver bem nele. Mas temos alguns valores nos quais acreditamos, que pautam nosso trabalho. Por exemplo, acreditamos no poder de difundir conhecimento. Acreditamos que, ao fazer isso, contribuímos para tornar o mundo um lugar mais racional e justo, inspirado por dados e não por preconceitos. Acreditamos na capacidade do nosso público de compreender as questões e de decidir o que é melhor para cada um. Levamos essas crenças a sério. Ao longo dos anos, elas praticamente nos forçaram a abordar temas tabu. Sempre que nos deparamos com questões que são tratadas de maneira irracional pela sociedade, supomos que é nossa obrigação revelar o universo de conhecimento que se esconde por trás do preconceito. É nosso dever com você tratar de temas tradicionalmente varridos para baixo do tapete, mesmo que isso nos cause problemas. Não podemos deixar de cumprir nossa missão por moralismo. Neste momento da história, um tema tem estado presente nas nossas páginas com frequência: drogas. Obviamente trata-se de um problema social sério, hoje cercado de certezas morais. Em meio a elas, o verdadeiro conhecimento não circula. Dados são distorcidos, histà³rias são inventadas, pesquisas são omitidas. Para nós, isso gera uma imensa oportunidade editorial. Onde há tabu e manipulaà§ão, há matérias para fazermos revelando a verdade por trás dos mitos, as dúvidas por trás das certezas. Este mês, recebemos uma boa dose de reconhecimento desse trabalho. O Centro de Estudos de Segurança e Cidadania, do Rio, resolveu premiar nossa cobertura. Deu o primeiro lugar do Prêmio Gilberto Velho de Mídia e Drogas ao Tarso Araújo pela reportagem "Tarja Verde", sobre maconha medicinal, que inspirou o filme ILEGAL, além de uma menà§ão honrosa para nossa reportagem sobre o crack (a SUPER dominou a premiação: o único vencedor de outro veículo foi o nosso ex-editor Emiliano Urbim, hoje n'O Globo). Para completar, o Prêmio Esso de Jornalismo escolheu o design da nossa reportagem sobre crack, inspirado na clássica revista MAD, como finalista na categoria "criação gráfica". Outra notícia boa veio de Miami: a fundação do American Business Council deu o prêmio de "Arquitetas da Mudança" às cinco mães que estrelam o longa-metragem ILEGAL, produzido pela SUPER. Não é fácil falar de drogas — leva a mal-entendidos, pode ofender. Nós temos orgulho de fazê-lo com consistàªncia. Não somos contra ou a favor da legalização ou da proibição. Somos é a favor do conhecimento. Denis Russo Burgierman, DIRETOR DE REDAÇÃO DENIS.BURGIERMAN@ABRIL.COM.BR 1#2 MUNDO SUPER LIBERDADE, AINDA QUE TARDIA A reportagem Humanos (nov/14) gerou polémica no Facebook. Leitores debateram os direitos dos animais, sua racionalidade e nossas semelhanças. Já passou da hora de concedermos direitos humanos aos outros animais: o direito a permanecerem vivos e em liberdade, sem serem tratados como nossos escravos. - FRENTE DE AÇÕES PELA LIBERTAÇÃO ANIMAL As fronteiras, nós que criamos. Se duvidar, lá na frente, vão constatar o óbvio: eles são mais evoluídos que a gente. - TATIANA LOPES Eles devem ter direitos especiais, diferenciados? Sim, com certeza. Mas humanos, não. - JORGE FIGUEIREDO Toda espécie tem suas características. Definir racionalidade e inteligência com base em características peculiares da nossa espà©cie é falácia pura. - MARCOS FÊO SPALLINI Qualquer animal merece ser respeitado. Sejamos "primos" deles ou não. Por que negar que temos parentesco com macacos? Por que nos julgamos superiores? - NATHÁLIA CAMPOS Alguns se incomodam em ser comparados com os outros animais. Como disse Darwin: "Não gostamos que os animais, aqueles a quem tornamos nossos escravos, sejam considerados nossos iguais". - CAROL MAIA TROFÉU PIADISTA DO MÊS — Taca-lhe sal, taca-lhe sal, taca-lhe sal! - JOHANNES RICHTER, ao se deparar com o caramujo que ilustrava o post "10 pragas animais que saà­ram do controle". Alguém falou de direitos animais aí? BIOLOGIA INCONVENIENTE Como bióloga, estou orgulhosa das reportagens Humanos e O Brasil Secou (nov/14). Juntamente com Maconha: Remédio Proibido (out/14), são verdades inconvenientes que precisam ser ditas, doa a quem doer! - ANA CAROLINA BEZERRA O FIM DO MUNDO A que ponto o mundo chegou?! Nos deparamos com uma empresa que convence seus pacientes a desistirem de melhorar, apenas pelo dinheiro que pouparão aos seus planos de saúde. - KAUAN ANDRÉ CALIO FRUCTUOZO, sobre a nota Telemorketing (nov/14), que conta o caso de uma empresa contratada por planos de saúde para fazer pacientes terminais desistirem de alguns tratamentos. IDEIAS SÃO PRIVILÉGIOS? Li que a entrada no TED custava US$ 6 mil. Como tratar de temas ligados à  comunidade, se a comunidade não pode pagar para ver? Uma plateia de ricos? É assim que querem melhorar o mundo? Temos que pensar em sustentabilidade, informação em rede, revolução na educaà§ão e em disponibilizar as ideias para todos. - LUCIAKO HUGUENIN, sobre a reportagem E o TED Veio ao Rio (nov/14). * Luciano, vale lembrar que o TED cobra caro pela entrada, mas disponibiliza as palestras de graça na internet depois. CORREIO "ELEGANTE Os comentários mais carinhosos que recebemos nas últimas semanas. De todo o lixo publicado pela Superinteressante desde sua fundação, esta matéria é uma das poucas que escapam. - HENRIQUE CAVALCANTE, sobre O texto Estamos Amarrando Cachorro com Linguiça (nov/14). * Agradecemos o elogio! SOMOS O UNIVERSO Este mês, nossos assinantes receberam um livro. Só com a tag #superinteressante, foram mais de 70 postagens. Que bom que vocês gostaram! @HUGODERP - Estou começando a ler, mas já acho brilhante. @VICTORTOGNETTI - Amei ter recebido o livro. Super ansioso para ler. @ETAINAGARCIA - Mês do meu aniversário e a SUPER foi a primeira a me dar presente! @FELIPEMAKINEN – A SUPER atingiu meu ponto fraco... Livro + Universo. @ARYANNETHIAGO – Uma ótima leitura para as férias, parece maravilhoso o livro. @THEANDRESSAGARLET - Que leitura boa recebi da minha revista favorita! OS 11 MAIORES MISTÉRIOS DO UNIVERSO NAS BANCAS, RS 39,90. As questões mais profundas da humanidade, com as respostas mais surpreendentes. SUPER BANCA Sabe quem também entende os mistérios do Universo? O guru que tudo responde. ORÁCULO NAS BANCAS R$ 39,90 As 618 melhores perguntas já publicadas pela SUPER. Um salve às dúvidas perspicazes dos nossos leitores. 5 LEITORES SUGEREM 1- E se o Brasil se separasse? Não se trata de incitar o ódio, só estou curioso para saber como seria a política, a economia, as novas capitais... - HÉLIO JOSÉ 2- E se os estados brasileiros se tornassem independentes? Não sei se ficaria de bom tom, mas fica a dica. - CLODOALDO SILVESTRE 3- E se a região Sul e São Paulo se separassem do Brasil? Não quero polemizar, só saber. - MÁRCIA FURLAN 4- E se São Paulo se tornasse um país? Em meio a essa guerra política, veio a ideia de propor. - LEONARDO SHIMANOE 5- E se a região Sul se separasse do Brasil? Queria saber quem ganha e quem perde nessa situação. - RAFAELA BELTRAMIN * Vocês venceram. Tem E se... separatista lá na página 80. A GENTE NÃO QUER SÓ ÁGUA O especial A Crise da Água, publicado no site da SUPER, bombou no àºltimo mês. Foram mais de 777 mil cliques. O projeto aborda as crises paulista e mundial, o mercado da água, os conflitos por ela, as consequências da escassez e possíveis soluções. Tem atà© um teste para saber quanto você gasta por dia. Ainda não viu? Olha aí: abr.ai/1sGfKCQ FOI MAL 20 trilhões de litros de água equivalem a 8 milhões de piscinas olímpicas, não a 8 mil (O Brasil Secou, nov/14). Estamos a 28 mil anos-luz do centro da Via Láctea, não a 28 milhões (Ao Leitor, edição Universo, nov/14). O nome correto do programa é Saturday Night Live, não Life (Orà¡culo, nov/14). RELATIVIDADE Na reportagem Mais Rápido que a Luz, da edição Universo (nov/14), estes símbolos aparecem legendados de forma literal, como "pessoa parada" e "pessoa correndo". Isso compromete o entendimento. Segue o correto! OBSERVADOR ESTÁTICO E OBSERVADOR EM MOVIMENTO FALE COM A GENTE REDAÇÃO - superleitor@abril.com.br, av. das Nações Unidas, 7221, 14º andar, CEP 05425-902, São Paulo, SP, fax 11 3037-5891. PUBLICIDADE - publiabrif.com.br SP 11 3037-5189, RJ 21 2546-8100. Outras praças: 11 3037-5759. Vendas Diretas: 11 3037-5000. SAC - abrilsac.com abrilsac.lojaabril@abril.com.br SP 11 5087-2112 Outras Praças 0800-7752112 Segunda a sexta, das 8 às 22h. ASSINATURAS - assineabril.com SP 11 3347-2121 Outras Praças 0800-7752828 Segunda a sexta, das 8 às 22h. Sábado, das 9 às 16h. EDIÇÕES ANTERIORES – loja.abril.com.br Superinteressante SP 11 5087-2290 Outras Praças 0800-7718990. Ou solicite para seu jornaleiro – o preço será o da última edição em banca mais a despesa de remessa. TRABALHE CONOSCO - abril.com.br/trabalheconosco 1#3 SUPER NOVAS CÉREBRO PODE SER CONTROLADO DURANTE O SONO Cientistas franceses conseguem enviar instruções para o cérebro de pessoas adormecidas — que respondem a elas sem acordar. TEXTO Salvador Nogueira e Bruno Garattoni QUANDO DORMIMOS, entramos no reino dos sonhos e nos desligamos do mundo real, certo? Uma experiência revelou que não é bem assim. Durante o sono, o cérebro continua respondendo a estímulos externos — e pode até obedecer ordens. Num teste realizado na França, 18 voluntários ouviram uma sequência de nomes. Alguns eram nomes de objetos; outros, de animais. Se o nome fosse de um objeto, a pessoa deveria apertar um botão com a mão esquerda. Se fosse de um animal, com a mão direita. Depois de repetir o processo várias vezes, cada voluntário foi levado para um quarto escuro para passar a noite. Assim que o voluntà¡rio caía no sono, os pesquisadores voltavam a falar os nomes dos objetos e dos animais. Incrivelmente, o cérebro respondeu. E respondeu certo, ou seja, acionando as mesmas regiões que tinha utilizado, quando a pessoa estava acordada, para apertar o botão com a mão esquerda ou com a mão direita. Ou seja: o voluntário estava inconsciente, mas seu cérebro estava ouvindo as palavras — e classificando-as em objetos ou animais. "Isso mostra que quem está dormindo pode extrair informações [do ambiente] e responder a elas", diz o neurologista Sid Kouider, líder do estudo. Uma experiência anterior, realizada em 2010 pela Universidade Northwestern (goo.gl/vBqHi), já havia mostrado que é possível induzir a memorização de certas informações, como sons e imagens, durante o sono. Mas o estudo francês é o primeiro a conseguir controlar em tempo real o cérebro adormecido. Para os cientistas, isso poderá ajudar na criação de métodos de aprendizado durante o sono. E dormir terá deixado de ser apenas hora de descansar a cabeça. FETO PASSA DOENÇA GENÉTICA PARA A MÃE O feto pode fazer a mãe desenvolver artrite reumatoide, doença crônica que causa dores nas articulações. A descoberta é de cientistas americanos, que analisaram mais de 5 mil pessoas. O feto à© uma combinação do DNA da mãe e do pai. Durante a gravidez, ele pode transmitir seu código genético para a gestante, num fenômeno raro conhecido como microquimerismo. Quando isso acontece, algumas células do feto permanecem no organismo da mãe, mesmo apà³s o parto. Acontece que essas células contêm DNA do pai. Ou seja: na prática, o bebê insere os genes do pai no organismo da mãe — onde eles podem provocar a artrite reumatoide, que nà£o tem cura. CHEGAR PERTO DA MORTE NÃO DÁ MEDO Estudo entrevistou pessoas que quase morreram - e mapeou as experiências que dizem ter vivido em coma. Enxergar luzes é comum; ver a vida passando, não. Total de casos: 140 Idade média: 32 anos O que você sentiu? 91% PAZ 70% PRAZER 54% QUASE TUDO FAZIA SENTIDO O que aconteceu? 79% sentiram ter saído do próprio corpo 75% O tempo ficou mais rápido ou mais lento 60% Os sentidos ficaram mais aguçados O que você viu? 76% uma luz brilhante 61% algum portal ou fronteira 51% ouviram alguma voz 39% espíritos (incluindo de parentes mortos) 34% coisas que estavam acontecendo em outro lugar 26% acontecimentos da própria vida SISTEMA RECARREGA GADGETS PELO AR Tecnologia tem alcance de 30 cm; recarga total leva cinco horas. Bobinas embaixo da mesa geram um campo magnético, que é captado por um receptor no celular - e vira eletricidade para carregar a bateria. (Quando não há um celular perto, as bobinas desligam, evitando desperdício de energia.) A ideia é que, um dia, todas as mesas tenham essa tecnologia — e recarreguem automaticamente os gadgets, sem que precisemos nos lembrar disso. 95 centavos de real, ou 30 centavos de euro, é quanto custa cada risada no clube Teatreneu, em Barcelona, que tem apresentações de stand-up comedy. Câmeras instaladas nas mesas rastreiam o rosto do cliente, e um computador detecta e conta as risadas dele. Só as primeiras 80 risadas (totalizando 24 euros) são cobradas. "Apple vai ser o CELULAR DOS PEDÓFILOS" disse o detetive John Escalante, chefe de investigação da polà­cia de Chicago. Ele estava criticando o sistema iOS 8, que criptografa os dados do iPhone. Isso protege o usuário, mas também torna mais difícil para a polícia abrir o celular de um suspeito. POLÍTICA Bélgica autoriza suicídio de preso - Condenado à prisão perpétua por assassinato, Frank Van Den Bleeken, de 50 anos, alegou que é irrecuperável e sofre "angústia psicológica insuportável". Ele será transferido para um hospital, onde passará por um procedimento de suicídio assistido. ECOLOGIA Sea World pinta orcas de preto - A imprensa dos EUA revelou que o parque costuma cobrir a pele de suas orcas com uma pasta preta à base de óxido de zinco. Isso previne queimaduras solares e também melhora o aspecto dos animais, escondendo eventuais ferimentos. SAÚDE Aeromoças têm mais câncer de pele - Um estudo que analisou 266 mil pilotos e comissários de bordo concluiu que eles têm o dobro de chance de desenvolver melanoma — pois passam muito tempo em grande altitude, onde a radiação solar é mais forte. 1#4 SUPER NOVAS – O ÔNIBUS ESPACIAL SECRETO Ele voa sozinho, alcança 30 mil km/h e consegue ficar dois anos no espaço. E acaba de voltar de sua última missão — que ninguém sabe direito qual é. TEXTO Carlo Cauti NO DIA 17 DE OUTUBRO, o programa espacial americano conquistou um de seus maiores feitos: após quase dois anos em órbita, o ônibus X-37B voltou à Terra. Mas você não deve ter ouvido falar disso, e por um bom motivo. O projeto é altamente confidencial. Os EUA confirmam que existe, mas não vão muito além disso. "O X-37B é secreto. Não podemos fornecer informações sobre ele", diz Diana Bali, porta-voz da Boeing — cuja divisão Phantom Works, especializada em projetos confidenciais, construiu o veículo para o governo americano. O X-37B tem o mesmo formato dos antigos ônibus espaciais, aposentados em 2011. É levado ao espaço por um foguete e volta planando, exatamente como eles. Mas é menor, e não carrega astronautas — é pilotado a distância, como um drone. Por isso, consegue ficar muito mais tempo no espaço: sua última missão durou 675 dias (a viagem mais longa dos antigos shuttles durou 17 dias). As missões do ônibus secreto são gerenciadas pelo Pentágono, não pela Nasa, o que tem levado analistas a discutir và¡rias hipóteses. Para alguns, ele é um veículo espião, que monitora a estação espacial chinesa Tiangong-1. Para outros, é um veículo militar, que poderia interceptar mísseis ou disparar contra alvos terrestres. Em 2011, astrônomos amadores supostamente detectaram o X-37B passando por cima de Coreia do Norte, Iraque, Irà£, Paquistão e Afeganistão, países inimigos dos EUA. A próxima missão do X-37B está confirmada para o ano que vem. O que ele vai fazer? Top secret. O QUE SE SABE 8,9 METROS - é o comprimento do veículo. Ele é bem menor do que os antigos ônibus espaciais (56 metros). 805 KM - é a altitude máxima que ele alcança. É comparável à dos modelos tradicionais. 25 VEZES - a velocidade do som (30 mil km/h) é a velocidade atingida ao reentrar na atmosfera. 1#5 SUPER NOVAS – ROBOSHAKESPEARE Ele já escreveu e publicou mais de 800 mil livros. É o autor mais produtivo do mundo. E não é humano. TEXTO Maurício Moraes SEGUNDO o LIVRO GUINNESS DOS RECORDES, o americano L. Ron Hubbard à© a pessoa que mais livros escreveu na vida: 1.084. Outras fontes dizem que é a espanhola Corín Tellado, que teria escrito 4 mil romances. Mas nenhum chega perto do Icon Group International: um software que jà¡ escreveu centenas de milhares de livros. Na Amazon, é possível encontrar 896 mil obras de autoria do robô. São relatórios sobre temas de economia bem específicos (mercado de diamantes na China, por exemplo), dicionários pouco comuns (como um de islandês-inglês, elogiado pelos usuários da Amazon) e manuais sobre doenà§as raras, como um guia da sarcoidose - considerado fraco pelos leitores, pois só traz informações copiadas do Google. Porque é assim mesmo que o robô trabalha; catando e organizando dados da internet. "Eu descobri uma brecha no mercado. Havia demanda por um tipo de conteúdo que não existia", diz o economista Philip Parker, que é professor da Universidade Insead, em Cingapura, e criador do software. Ele define o tema, põe o robô para trabalhar e, 15 minutos depois, tem uma obra prontinha - que o software joga automaticamente na Amazon. O livro só é impresso se alguém o comprar. Alguns títulos, como os de economia, são bem caros: mais de US$ 200. Parker diz que doa o dinheiro, e seu objetivo não é lucrar - é aprimorar o software para que consiga escrever ficção. Criar um Roboshakespeare. 1#6 CIÊNCIA MALUCA TEXTO Carol Castro ABR.AI/CIENCIAMALUCA JOVENS COOL VIRAM ADULTOS TRISTES Durante dez anos, pesquisadores acompanharam a vida de 184 adolescentes. Eles descobriram que as pessoas muito populares no colégio correm mais risco de enfrentar problemas ao chegar à fase adulta. Elas costumam ter menos amigos do que a média, e maior risco de envolvimento com drogas e crime. EXERCÍCIO FAZ MAL AOS DENTES Cientistas realizaram exames bucais e coletaram saliva de 70 pessoas. Metade era atleta de triatlo - e apresentava mais cáries e problemas dentários. É que fazer muito exercício deixa a boca mais seca e a saliva mais alcalina, o que favorece a proliferação de bactà©rias. CAVEIRA ESTIMULA CONSUMISMO Psicólogos realizaram um estudo com 95 pessoas. Metade delas viu um anúncio que trazia a imagem de uma caveira. A outra metade viu esse mesmo anúncio, mas sem a caveira. Quem viu a caveira ficou com mais vontade de comprar o produto. É que pensar na morte reduz nossa capacidade de resistir a tentativas de persuasão - como a publicidade. 1#7 PAPO – “OS LIVROS ESTÃO CONDENADOS†A aposta vem de um amante da leitura, que publica obras em pergaminho e com uma impressora do século 19. Para ele, ou o livro vira arte ou morre. ENTREVISTA Jr Belle VANDERLEY MENDONÇA - Poeta, designer, campeão de esgrima, jornalista, tradutor do catalão e do provençal, fundador do clube literário Hussardos e do selo Demônio Negro, de poesia. Entre outras coisas. Como você se tornou poeta? Tudo que eu sei devo à poesia. Todo meu conhecimento de artes gráficas e todo o estudo de línguas decorrem da poesia. Eu queria aprender um idioma que os concretos não soubessem, o Haroldo de Campos, o Augusto de Campos e o Décio Pignatari. Me sobrou o catalão. E foi ele que me levou a estudar o provençal. E quando o design entrou nessa história? Foi uma decorrência do ensino técnico, estudei desenho artístico e tive uma professora que era uma grande pesquisadora da tipologia. Dali foi um salto para as artes gráficas. Nos seus livros você junta a literatura e o design? Aplico ambos os conhecimentos para criar objetos de arte na literatura. Em 2006, montei um selo chamado Demônio Negro justamente para experimentar: mesclando materiais e suportes modernos, como a borracha, com técnicas de reprodução antigas. Eu imprimo, costuro, encaderno, monto. E agora, com a Hussardos, também distribuo e vendo. Acha que virar objeto de arte é a saída para o livro? O livro não é essencialmente um produto descartável, mas o livro como o conhecemos hoje irá acabar. Sinto que está condenado. O futuro é digital e eu acho isso ótimo. Fui um dos primeiros a ter um Kindle. Acredito que o futuro será dividido: de um lado o livro como objeto de arte; de outro, os livros digitais que vão surgindo e desaparecendo. Objetos de série - livros como os de hoje - são assim mesmo, acabam perdendo valor. Por que há uma academia de esgrima no andar debaixo da Hussardos? Treinei esgrima por dois anos até me tornar campeão brasileiro em 2012. Venci novamente em 2013, e levei também o título sul-americano. Aí fui para o mundial na Bulgária, onde derrotei um campeão olímpico de 84. O cara ficou p*** da vida. Fui praticar o esporte também pela poesia. A poesia concreta me levou a estudar línguas, que me levou ao provençal e a um mergulho na Idade Média, que para mim é quando a poesia teve seu momento mais sublime: o século 12. Como foi para você promover tantas trocas de carreira ao longo da vida? Acha que todo mundo devia fazer o mesmo? Essa é uma visão antiga e contrária aos tempos em que vivemos. Digo isso por experiência e por ter sido um executivo de uma multinacional por anos. Na realidade, nada do que eu faço está fora do universo do livro. Um dos grandes editores da história, Aldo Manuzio (que deu o nome ao primeiro software de paginação e desenho de livros: Aldus PageMaker), era tradutor, impressor, tipógrafo e ainda fazia acabamentos nas edições que publicava, no século 15. à“bvio que ele é minha influência. Não há troca, nem redefinições de caminhos em minha vida. O fato de eu ter hoje um clube literário é justamente a possibilidade de reunir no mesmo espaço todas as minhas habilidades. E isso tudo dá alguma grana? A Demônio Negro, assim como a minha poesia, é um projeto que nà£o se paga, nem dá lucro. Para a esgrima há um apoio, mas ele não é suficiente nem para comprar o colete. Faço por paixà£o. O mesmo com a Hussardos, que mal se mantém. Mas estou esperanà§oso. É claro que, quando trabalhava na multinacional, eu podia ser o mecenas de mim mesmo - e agora faço contas. 1#8 MATRIZ – DESENCALHE.COM Você procura um vegetariano? Alguém acima do peso? Um zumbi? Hà¡ um site de relacionamentos para cada. Agora todo mundo pode encontrar sua cara-metade online. POR Alexandre de Santi, Marcel Hartmann, Priscila Daniel e Paula Bustamante SOLTEIROS, SIM. SOZINHOS, NUNCA. GLÚTEN FREE SINGLES Por um amor que coma macarrão de arroz. (GLUTENFREESINGLES.COM ) FLIRCHI Mais de 80 milhões de usuários no mundo. (BR.FLIRCHI.COM ) ZOMBIE HARMONY Para quem não quer passar o apocalipse zumbi sozinho. (ZOMBIEHARMONY.COM) POF.BR 1 milhão de namoros por ano Maior site gratuito: são 55 milhões de pessoas. (POF.COM.BR ) VAMPIRE PASSIONS Para quem é vampiro ou apaixonado por um (VAMPIREPASSIONS.COM ) SEA CAPTAIN DATE Seu fetiche com um capitão do mar pode ser realizado aqui. (SEACAPTAINDATE.COM) AMOR VITAL Tem uma DST? Ache um amado com a mesma doença (AMORVITAL.COM.BR) TREK PASSIONS Só fãs de Star Trek, com 25 homens para cada mulher. (TREKPASSIONS.COM ) EHARMONY 438 casamentos por dia Inaugurou o matchmaking, que combina pessoas pelas preferências. (EHARMONY.COM) OK CUPID Agrupa pessoas por testes de QI e perguntas como "uma árvore tem alma?†(OKCUPID.COM) G ENCONTROS Maior site de encontros LGBT do Brasil: 30 milhões inscritos. (GENCONTROS.COM.BR') MATCH.COM Mais de 6 mil relacionamentos Um dos maiores do Brasil e da América Latina. (BR. MATCH.COM) NAMORO VEGGIE Vegetarianos também amam. (NAMOROVEG.COM.BR) MY 420 MATE Para quem gosta de dar um tapa na pantera em boa companhia. (MY420MATE.COM) BEAUTIFUL PEOPLE Só para os lindos. Tem votação para entrar e só um em dez consegue. (BEAUTIFULPEOPLE.COM ) AMOR DE PESO Gosta de ter onde pegar? (AMORDEPESO.COM.BR) DIVINO AMOR Maior site de namoro evangélico do Brasil. Que Deus abençoe. (DIVINOAMOR.COM.BR) ASHLEY MADISON Para os comprometidos que querem pular a cerca sem ninguém saber (ASHLEYMADISON.COM) LIFE IN TWO Para quem procura uma relação estável e longa (LIFEINTWO.COM) THE UGLY BUG BALL Para quem é bonito por dentro. (THEUGLYBUGBALL.COM) COROA METADE Só para maiores de 40. Porque panela velha faz comida boa. (COROAMETADE.COM.BR ) SOLTEIROS COM FILHOS O berreiro da madrugada não vai afugentar nenhum dos dois. (SOLTEIROSCOMFILHOS.COM) MANHUNT Apenas para encontros casuais entre gays. (MANHUNT.NET) 1#9 IDEIA VISUAL – LIBERTEM AS REMESSAS Há 180 milhões de imigrantes no mundo que movimentam US$ 413 bilhões na forma de remessas internacionais — pequenas quantidades de dinheiro enviadas por parentes para ajudar no dia a dia de seu país de origem. Mas, segundo o economista Dilip Ratha, elas correm perigo. EDIÇÃO KRIN Hueck e Flávio Pessoa Mandar remessas é como mirar num alvo em movimento: a eficiência poderia ser bem maior. 1- DINHEIRO COM AMOR - A média de envio é de US$ 200 POR REMESSA, e quase tudo vai para países em desenvolvimento. Elas miram o alvo das necessidades urgentes — construir casas, pagar por médicos, comprar alimentos — porque são transações feitas diretamente entre as pessoas interessadas, como amigos ou familiares. NA MOSCA: Remessas diminuíram a pobreza no Nepal de 42% para 31%. Em El Salvador, crianças abandonam menos a escola em famílias que recebem remessas e, no México, os filhos pesam mais. 2- AJUDA INTERNACIONAL - Toda a ajuda internacional oficial que vai para países pobres soma apenas UM TERÇO DO VALOR DAS REMESSAS. Além disso, enfrenta entraves burocráticos: são grandes pacotes de dinheiro enviados de um governo ou instituição para outro. Assim, o dinheiro demora para chegar às mãos do cidadão comum, quando chega. FOCO ERRADO: Só falamos de ajuda internacional e descartamos as remessas como trocado", diz Ratha. Mas essa noção está errada. 3- FIM DAS TAXAS - Nem todas as remessas chegam ao alvo. Segunda Ratha, empresas de transferência de dinheiro cobram taxas excessivas das transferências entre países pobres para lucrar com elas: 12% PARA MANDAR DINHEIRO para a África e 20% PARA DENTRO DO CONTINENTE, por exemplo. Ratha defende que a tarifa seja de 1%. DIFICULDADE: A falta de concorrência entre empresas de transferência de dinheiro encarece o processo e mantém as taxas cobradas altas. EM COLABORAÇÃO COM TED Assista ao vídeo da palestra abr.ai/remessas 1#10 BANCO DE DADOS – BRASIL DE TÁXI Oito de cada dez cidades brasileiras têm pelo menos um taxista. Em 13 Estados, mototáxi é mais difundido que táxi. Conheça esse universo monoglota, masculino e quarentão. POR Inara Negrão e Sara Magalona CAPITAIS COM MAIS TÁXIS São Paulo, SP: 33.922 (1 para cada 350 habitantes) Rio de Janeiro, RJ: 33.000 (1 para 195) Salvador, BA: 6996 (1 para 414) Belo Horizonte, MG 6576 (1 para 378) Recife, PE: 6125 (1 para 262) MOTOTÁXI Estados que mais usam (em nº de cidades) BA: 347 (83%) MG: 338 (39%) PB: 196 (87%) GO: 193 (78%) MA: 190 (87%) 16,5% dos municípios brasileiros não têm táxi. Em 2009, eram 19,2%. APLICATIVOS Os dois maiores foram lançados em 2012. EASY TAXI: 100 cidades (outras 70 no exterior); 17 milhões de usuà¡rios; 300 mil taxistas registrados. 99TAXIS: 150 cidades; 2 milhões de usuários; 75 mil taxistas registrados. 100% dos táxis regulamentados no Rio de Janeiro têm ar-condicionado. OS TAXISTAS DE SÃO PAULO Escolaridade 53,5% Ensino Médio 17,7% Fundamental 10,8% Superior Completo 9,5% Básico 8,3% Superior Incompleto 97,7% são homens 28,8% falam outra língua Inglês 14,7 Espanhol 9,2 Japonês 1,3 Francês 1,1 TIPOS DE CARRO 160 híbridos 73 para quem tem mobilidade reduzida 10 elétricos FATURAMENTO MÉDIO MENSAL (em Rs) Menos de R$ 3 mil 25,6% R$ 3 mil a R$ 4 mil 29,1% R$ 4 mil a R$ 5 mil 24,1% R$ 5 mil a R$ 6 mil 6,6% R$ 6 mil a R$ 7 mil 7,8 R$ 7 mil a R$ 9 mil 4,8% R$ 9 mil ou mais 2% JORNADA DE TRABALHO 12 HORAS de trabalho por dia 13,6 PASSAGEIROS por dia Segunda a Sexta 56,8% Trabalham Sábado 28,6% Trabalham Domingo 14,6% IDADE DOS TAXISTAS Mais da metade tem amis de 40 anos 18,4% 60 anos ou mais 27,% 50 a 59 anos 23,1% 40 a 49 anos 22,3% 30 a 39 anos 7,4% 25 a 29 anos 1,5% 18 a 24 anos Fontes: Pesquisa de Informações Básicas Municipais - Perfil dos municípios brasileiros 2012 / IBGE). Observatório do Turismo da Cidade de São Paulo /São Paulo Turismo - Pesquisa de Perfil de Taxistas. 1#11 COORDENADAS – O REFÚGIO OCULTISTA DA SICÍLIA Cefalù, Sicília, Itália. O balneário milenar que foi ocupado por gregos, romanos, bizantinos e um sujeito polêmico: o mago Aleister Crowley. TEXTO E FOTO Daniela Fescina Os GREGOS FUNDARAM há 2,4 mil anos, os romanos ocuparam cem anos depois, mas foi um personagem do século 20 que virou essa pequena cidade de ponta-cabeça. O ocultista e pesquisador da "magia sexual" Aleister Crowley desembarcou em Cefalù em 1920. Inglês, ele buscava um novo local para levar a mensagem da Thelema, uma doutrina que prega o livre-arbítrio. Consultou, então, um oráculo chinês, que indicou esse vilarejo siciliano. Ao chegar em Cefalù, Crowley se estabeleceu em uma casa de fazenda com duas amantes e dois filhos. A abadia Thelema, como passou a ser chamada, foi palco de rituais que incluíam orgias, sacrifícios de animais e consumo de ópio. Crowley começou a ganhar fama, e o culto atraiu estrangeiros. Quando um deles morreu e os detalhes do que ocorria dentro da abadia viraram notícia na imprensa internacional, os tempos do mago em seu cantinho mediterrâneo chegaram ao fim. Ele acabou deportado pelo primeiro-ministro italiano Benito Mussolini. Crowley deixou a Itália, escreveu livros, ficou muito mais famoso, se tornou ídolo de vários roqueiros e virou música de Ozzy Osbourne e Raul Seixas. Já a fazenda foi abandonada. Hoje, o que sobra daqueles dias são afrescos de temas demoníacos e pornográficos deixados pela seita, num cenário desolado. Bem diferente do que seria a abadia caso ela fosse instalada no lugar originalmente planejado por Crowley, mas proibido pela prefeitura: um rochedo no alto de Cefalù. Ali, seus seguidores fariam ritos de adoração ao Sol olhando os muros de um antigo castelo romano e a cidade inteira banhada pelo mar azul. Uma vista inspiradora. Mr. Crowley tinha bom gosto. VÁ Há trens diários da estação central de Palermo, capital da Sicília. QUANDO O ano todo, mas para aproveitar a praia é melhor ir na primavera e verão. ESTE MÊS NESTE PLANETA 36°59' N 139° 5' L FOLIA NIPÔNICA Carnaval. No Japão. Em dezembro. Tem carro alegórico e a Sapucaí deles é um templo de mais de 2 mil anos em Saitama. Dias 2 e 3. 06°-01' N, 37°-32' L COMEÇO DE TUDO O berço da humanidade, na Etiópia, reúne mais de 50 grupos étnicos do país para danças e apresentações folclóricas no Festival das Mil Estrelas, em Arba Minch. Dia 13. UM MOMENTO 21/12, 6H30 Solstício de inverno no Hemisfério Norte. Em Brighton, Inglaterra, o festival Burningthe Clocks tem queima de lanternas em forma de leão, unicórnio, dragão e fênix, em alusão a festividades pagãs. 3 KG Peso dos rabanetes usados para fazer esculturas da Noche de Rábanos, em Oaxaca, México. Dia 23. QUE LUGAR É ESSE? 1- Departamento ultramarino da França. 2- O crioulo é um dos idiomas oficiais. 3- Sua bandeira tem quatro cobras. RESPOSTA Martinica. Ilha do Mar do Caribe descoberta por Cristóvão Colombo em 1943. Se fosse um país, seria o 12º com animais na bandeira. Veja mais na p. 62 1#12 ORÁCULO EDIÇÃO Felipe van Deursen GOLFINHOS PIRATAS Viaje de ônibus de Nova York a Serra Negra com os fones de ouvido no talo e brincando de cubo mágico. Só cuidado com o cecê. Depois da música Camaro Amarelo, de Munhoz & Mariano, houve aumento das vendas do carro? - PAULA ANDRADE, FRANCA, SP Não. Em 2011, 546 Camaros amarelos foram vendidos; em 2012, ano do hit, 310 carros; em 2013, 294. Não dá para cravar uma relaçà£o. Mas o Camaro ainda é notícia na sua Franca. Em junho, um empresário foi parado bêbado, se recusou a usar o bafômetro e foi preso por xingar a suposta inveja do policial por seu possante. LADEIRA ABAIXO Músicas que falam de carro 1- CADILLAC – (1964) o Calhambeque, R. Carlos 2- FUSCA – (1983) Fuscão Preto, Almir Rogério 3- BRASÍLIA – (1995) Pelados em Santos, M. Assassinas 4- CROSS FOX – (2009) Eu sou Stefhany, Stefhany 5- DODGE RAM – (2011) Ve Ni Mim Dodge Ram, Israel Novaes SUDORESE Gato portador das respostas que a-do--ra-mos. De onde vem o termo "cecàª"? - REBECCA SERINO. JAÚ, SP É uma abreviação de "cheiro de corpo", expressão popularizada no Brasil nos anos como a do sabonete Lifebuoy, que homenageamos à  esquerda. O termo é de um tempo em que ainda traduzíamos expressões do inglês - no caso, "body odor" (B.O.). TROFÉU NOJEIRA 2014 Sou assinante há mais de dez anos, algo me aguçou a cuca e vim perguntar. Um amigo disse que faz lavagem intestinal todo ano, pois restos de fezes ficam impregnados nas curvas do intestino, apodrecem e podem causar câncer. Achei ele um tremendo maluco, mas depois vi a mesma coisa num filme. A informação fecal procede? (Publiquem para eu mostrar para todo mundo!) - CHRISTIANE CAMILO, SÃO PAULO, SP Fique feliz, sua pergunta foi publicada. Fique tranquila, nada disso é comprovado cientificamente. O intestino grosso absorve água da digestão naturalmente. Como na lavagem você joga mais água no à³rgão, ele trabalhará mais para absorver, o que pode causar complicações. Por isso esse procedimento só é indicado em casos específicos - por exemplo, no preparo de exames como colonoscopia. PROBLEMA SÉRIO Por que fone de ouvido enrola no bolso? - LUCAS GOMES DE ALMEIDA, NOVA YORK, EUA Pelo visto, é crise mundial. O que acontece é que o fio do fone tem elasticidade, o que o faz se comportar como uma mola. É fácil dobrá-lo para colocar no bolso, mas basta um pouquinho de espaço para ele tentar voltar à posição original. O fio tem tràªs pontas (o plugue e os dois fones), então é fácil uma delas entrar num laço e formar um nó. Não é à toa que fones sem fio estão bombando. TRADIÇÃO FALSI Por que produtos falsos são chamados de piratas? - GUILHERME CAVET, CASCAVEL, PR O termo começou a ser usado para se referir a quem violasse um monopólio editorial em vigor na Inglaterra do século 16. Depois, ele foi oficializado na Convenção de Berna de 1886, quando a cópia ilegal de livros passou a ser chamada de pirata. O termo se expandiu para produtos com violação de patentes ou uso indevido de marcas registradas. Tipo os bonés que você ganha de Natal. À PROCURA DA FELICIDADE Há alguma técnica para montar o cubo mágico? Não tenho acesso à internet para buscar ajuda. - MÁRIO DEL BUONO NETO, SERRA NEGRA, SP Há várias técnicas. A ideia básica é aprender algoritmos — sequências de movimentos que trocam algumas peças de lugar sem bagunçar o resto. Os métodos mais usados são o de camadas e o Fridrich. O de camadas é feito em sete etapas, a partir de uma cruz de uma cor só. Com treino, dá parar resolver rapidinho. O método Fridrich é mais avançado. Você completa o cubo em quatro etapas, mas tem que saber 119 algoritmos. Especialistas montam em até 10 segundos seguindo esse método. QUER QUE DESENHE? Por que existem bancos altos nos ônibus comuns? Adoro sentar neles (e adoro a revista). - LUIZA ALMEIDA, FLORIANÓPOLIS, SC Porque o ônibus é construído sobre o chassi, a estrutura que dá suporte. Em alguns modelos, o motor fica na parte traseira. Assim, os assentos sobre ele (e sobre a caixa de rodas) ficam mais altos. PÁ PUM Existe aumentativo e diminutivo da palavra "golfinho"? - LAURA GOMES, BELÉM, PA Sim. "Golfinhozão" e "golfinhozinho" ou ainda "golfinhozito", que à© menos usado. NÚMERO INCRÍVEL 40 SEGUNDOS - Tempo que experts levam para completar o cubo mágico pelo método de camadas. UM DADO RELEVANTE COM ALGUMA LIGAÇÃO 40 ANOS - Tem o cubo mágico. Ele foi criado pelo húngaro Ernàµö Rubik. OUTRO DADO RELEVANTE SEM NENHUMA LIGAÇÃO 40 SEGUNDOS - Tempo médio entre um suicídio e outro no mundo. PERGUNTE AO ORÁCULO! Escreva para superleitor@abril.com.br com o assunto "Oráculo" e mencione sua cidade e Estado. 1#13 CONEXÕES – M&M’S A EMINEM TEXTO Ana Prado M&M - Chocolatinho colorido criado pelos amigos Forrest Mars e Bruce Murrie. Virou parte da ração diária dos americanos na Segunda Guerra. A dupla teria se inspirado em chocolates parecidos, consumidos por soldados na... GUERRA CIVIL ESPANHOLA - Conflito que resultou na implantação de uma ditadura. Foi a pior guerra do país, que tem currículo sangrento. Na Idade Moderna, para impor seu poder, os espanhóis travaram batalhas com várias colônias, como a... JAMAICA - Ilha colonizada pelos espanhóis entre 1494 e 1655, quando passou ao domínio britânico. Na década de 1960, ruas do paà­s foram palco de bailes realizados com uma novidade: sistemas de som com alto-falantes e toca-discos. Era um precursor do... RAP - Ritmo que surgiu quando o canto falado dos jamaicanos, que abordava sexo, drogas, violência e política, chegou aos Estados Unidos nos anos 70 por meio de jovens imigrantes. A partir daí, o estilo se diversificou e lançou astros como... EMINEM - Marshall Mathers, rapper cujo nome artístico é derivado das iniciais "M & M". Mal-encarado, ele não queria se associar aos chocolates. Não adiantou. Em 2008, o artista Enrique Ramos fez um retrato dele. O material: mil M&Ms. 1#14 ESSENCIAL – O FANTASMA NA MÁQUINA A indústria é o setor da nossa economia que mais definha. Com ela na UTI, o PIB vai continuar anêmico. E só existe um jeito de destravar essas engrenagens. TEXTO Alexandre Versignassi e Pedro Burgos O PIB TRAVOU, mas a indústria nacional está pior. Vai de marcha à ré mesmo, e faz tempo. Há dez anos, o País lucrava forte no mercado de bens industrializados (coisa que vai de avião da Embraer a lasanha congelada da Brasil Foods). A diferença entre o que a gente vendia para fora e o que a gente importava, nessa área, era de US$ 17 bilhões a nosso favor em 2004. Depois melhorou. Sabe a história de que o País só crescia mesmo quando o petróleo e o minério de ferro estavam em alta? Então. É verdade. Mas não totalmente verdade. Em 2005, com as exportações de matà©ria-prima bombando, o saldo no comércio exterior de bens industrializados cresceu num ritmo cruzeirense: 30% em um ano. Saltou daqueles US$ 17 bi para US$ 22 bi. E continuou bem até 2007, o último ano do resto da vida da economia mundial. Em 2008 e 2009, com a crise devidamente instaurada da Islândia à Terra do Fogo, nosso saldo entrou no vermelho pela primeira vez em muito tempo: uma conta negativa de US$ 4 bi. Depois piorou. Conforme a crise no resto do mundo foi arrefecendo, nosso saldo no mercado de bens industrializados só perdeu gás. Em 2010, conseguimos a proeza de negativar o recorde positivo de 2005, e dando um chorinho, de quebra: US$ 25 bilhões no vermelho. Agora? Bom, já dobramos essa marca. Faz dois anos que o Brasil importa US$ 49 bilhões a mais do que exporta nessa à¡rea. Feio. E ainda tem terreno para afundar mais. Não faz tanto tempo, a participação da indústria no nosso PIB estava pau a pau com a dos países desenvolvidos: na faixa de 20%. Pois é: nem eles nem nós precisamos de 80%, 90% de indústria. O setor é importante, claro, mas a Revolução Industrial acabou faz tempo. O que move mesmo as economias grandes hoje (e a nossa também) é o setor de serviços, aquele que vai de manicure a banco. Mesmo assim, é na indústria que está boa parte dos melhores empregos e do desenvolvimento tecnológico (as duas coisas que mais importam no fim das contas). Então manter uma indústria na faixa dos 20% do PIB é fundamental, por mais que o seu país seja bom de serviço. Mas não é o que aconteceu por aqui. A participação da indústria no PIB saiu da zona de conforto dos 20% e agora està¡ em 13% — é o menor nível em 60 anos. Mais dois pontinhos de queda e voltaremos ao mesmo patamar da década de 1940, quando o Brasil era um país quase que completamente agrário, com 70% da população vivendo nas áreas rurais (hoje são 15 %). Desde 2011, as nossas fábricas estão produzindo cada vez menos, o que tem provocado demissões. Mil pessoas por mês perdem o emprego só na área têxtil, por exemplo. De acordo com a Fiesp, a Federação das Indústrias do Estado de São Paulo, as fábricas do País devem fechar 2014 com 100 mil demissões. Mesmo assim, os nossos índices de desemprego continuam baixos. E o motor aí é o nosso setor de serviços, que subiu de 63% para 69% do PIB em dez anos. Ele continua produzindo vagas. O problema é que essas vagas não estão produzindo crescimento. O PIB segue estagnado, freando a renda. Isso de o setor de serviços não ter força para segurar o rojão econômico não é exclusividade do Brasil. A história deixa claro que nenhum país conseguiu aumentar decentemente o nível de renda de sua população sem passar por uma fase de industrialização maciça. Um "aumento decente", pelos padrões usados hoje, é fazer com que a renda per capita salte de US$ 10 mil para US$ 20 mil ao ano. No Brasil, estamos em US$ 11 mil/ano. Na prática, viramos uma economia de serviços, como aconteceu com os EUA. Só que lá a indústria continua relativamente forte. Aqui, viramos uma nação de manicures e gerentes de banco lastreados pela exportação de matéria-prima — minério, óleo, soja. Com a demanda por matéria-prima em baixa (chineses malditos!), nossa economia periga ficar pelada. Uma hora pode faltar unha para a manicure fazer e cliente para o gerente do banco vender título de capitalização. Então o mais perverso dos círculo viciosos tende a dar as caras: o do desemprego que gera desemprego. Daà­ para o zimbabwamento geral da economia é um pulo. Bom, alguém pode dizer que hoje a história é bem diferente. Que o setor de serviços agora é bem mais amplo, então tem como segurar qualquer economia sozinho. De fato. Se antes existiam cinco canais de TV, agora são 5 trilhões, se você colocar os "canais" da internet na conta. Isso para ficar num único ramo do fantà¡stico mundo dos serviços — mundo do qual estes que vos escrevem fazem parte, inclusive. Mas os números do mundo real teimam em desmentir a teoria de que os serviços seguram qualquer bronca. O grau de industrializaçà£o dos países emergentes é tão grande hoje quanto o dos EUA ou da Europa Ocidental já foram um dia. No México, que tomou o lugar do Brasil como país mais promissor da América Latina, a indústria representa 35% do PIB. No Peru, que cresce 6% ao ano, são 37%. Na Tailândia, 45%. A China está na casa dos 40% também. Há dez anos, na dos 70%. É isso: o setor de serviços éótimo para vitaminar a quantidade de empregos disponíveis, como o exemplo brasileiro deixa claro. Mas o que engorda e faz crescer é uma indústria forte, principalmente quando uma nação dá os seus primeiros passos rumo ao desenvolvimento. E isso o exemplo brasileiro — de país com muito emprego e zero crescimento — também deixa claro. Propostas de caminhos para melhorar isso não faltam. Vão de redução de impostos a deixar o dólar subir (moeda local fraca é bom para quem exporta). Mas tudo isso é paliativo. Só dá para construir uma indústria firme com uma educação forte. Formar gente capacitada para manter uma indústria de ponta leva 20, 30 anos. O governo que realmente melhorar a educação não vai ver os frutos dessa melhora. Não vai ver o dinheiro gasto com professores virar PIB. Mas é o único caminho. Que chegue logo a hora de os nossos governantes, em todas as esferas, enxergarem além dos horizontes da próxima eleição e investirem para valer em educação. Enquanto isso não acontecer, o Brasil nunca vai acontecer. ____________________________________ 2# REPORTAGENS dezembro 2014 2#1 CAPA – VERDADEIROS DONOS DO MUNDO 2#2 INTERNET – QUANTOS LIKES ESSE PRESIDENTE MERECE? 2#3 HISTÓRIA – O VERDADEIRO TEMPLO DE SALOMÃO 2#4 SAÚDE – O DIA EM QUE MEU CÉREBRO APAGOU 2#5 HISTÓRIA – EM BUSCA DO SANTO PREPÚCIO 2#6 CULTURA – AS BANDEIRAS DO MUNDO 2#7 ATUALIDADES – A ÁGUA QUE VEM DO AR 2#8 UMA VOZ PARA O AFEGANISTÃO 2#9 ZOOM – PARAÍSOS SUBMERSOS 2#1 CAPA – VERDADEIROS DONOS DO MUNDO A economia mundial vive a maior crise em 80 anos. Ela destruiu milhões de empregos e impede o crescimento da maioria dos países. Ao mesmo tempo, o número de bilionários dobrou, e as fortunas deles tambà©m. Entenda por que a desigualdade social explodiu — e os efeitos disso sobre a sua vida. TEXTO Andreas Muller. Com reportagem de Ricardo Lacerda e Robson Pandolfi As 67 pessoas mais ricas do mundo têm US$ 1,72 TRILHÃO. Tanto dinheiro quanto os 3,5 BILHÕES MAIS POBRES. METADE DE TODA A HUMANIDADE. ESTE ANO, UM GRUPO DE 130 PESSOAS se reuniu em Copenhague, capital da Dinamarca. Discutiram assuntos como economia global, mudanças climà¡ticas, guerras. Fizeram previsões, debateram, traçaram estratégias. Parecia uma assembleia da ONU. Mas era um encontro do Grupo de Bilderberg: organização criada em 1954 para reunir as pessoas mais poderosas do planeta. Seu encontro anual, que não é aberto a ninguém da imprensa, reúne multibilionários e chefes de Estado e de Exércitos (este ano, os destaques foram o líder supremo da OTAN, aliança militar presente em 28 países, e o diretor-geral da NSA, a superagência de espionagem americana). "Estamos falando de uma rede global, mais poderosa do que qualquer país, e determinada a controlar a humanidade", diz o russo Daniel Estulin, autor de um livro sobre o grupo. Ele pode estar exagerando um pouco. Mas é fato que os ultrarricos nunca tiveram tanta força. A economia mundial patina e não consegue se recuperar da megacrise de 2008, a maior dos últimos 80 anos. Ela começou com quebras de grandes bancos nos EUA, que deixaram um rombo estimado em USS 2,7 trilhões, e se espalhou pelo planeta, gerando grandes ondas de desemprego e recessão — da qual as principais economias do mundo ainda não se recuperaram. Mas mesmo assim, em plena tempestade, o número de bilionários dobrou. Agora um pequeno grupo, com as 67 pessoas mais ricas do mundo, tem tanto dinheiro quanto os 3,5 bilhões de humanos mais pobres. É como se, financeiramente, metade do planeta coubesse dentro de um ônibus. A desigualdade de renda explodiu, e está se aproximando dos níveis que antecederam a Primeira Guerra Mundial. E isso tende a ser um problema para quase todo mundo. Mas antes: como chegamos a esse ponto? Afinal, se o mundo está em crise, todos perdem, certo? Mais ou menos. Na verdade, as crises têm o poder de concentrar renda, deixar os ricos mais ricos. E é fácil entender o porquê. Quando as coisas apertam, pessoas e empresas sà£o obrigadas a se desfazer do seu patrimônio. Vendem imóveis pela metade do preço, liquidam ações por menos do que valem e, claro, saem perdendo. Quem ganha são uns poucos — que têm dinheiro para comprar tudo isso. "Para cada novo milionário, há muito mais gente que perde dinheiro. Em geral, quem mais sofre são os pobres e a classe média", diz Rodolfo Olivo, professor de finanças da USP. Os mais ricos compraram ações e empresas pagando pouco, logo no estouro da crise, e ganharam com isso. De 2009 para cá o à­ndice Dow Jones, que mede as principais ações das bolsas americanas, subiu 149%. Ao mesmo tempo em que aumentava a concentração de renda, a crise emperrou as economias e instigou movimentos como o Occupy Wall Street — que começou como um protesto de 100 mil pessoas no centro financeiro de Nova York e chegou a 1.500 cidades pelo mundo. Tudo isso teve uma consequência inédita: fez um livro de economia virar best-seller. O Capital no Século XXI, escrito pelo economista francês Thomas Piketty, é um catatau de quase 700 páginas, que analisa as economias de 20 países ao longo de mais de um sà©culo. É denso, complexo, difícil de ler. Mas se tornou nàºmero 1 na Europa e nos EUA, com centenas de milhares de cópias vendidas. No Brasil, foi lançado em novembro e imediatamente alcançou o segundo lugar (só perdendo para a biografia do líder religioso Edir Macedo). Piketty tem chamado a atenção — e causado furor — porque demonstrou, com estatísticas, que a desigualdade social está aumentando. E apresentou uma explicação para esse fenômeno. O contraste entre ricos e pobres não surge do nada. Ele vem de uma força elementar: a diferença entre o capital e o trabalho. O capital (dinheiro, imóveis, fábricas, ações, bens) pode ser investido e gerar mais capital. Já o trabalho não tem esse poder multiplicador. E aí, diz Piketty, r > g. Essa fórmula, que foi inventada por ele, é bem simples. O "r" é o ganho médio que o capital consegue obter em um ano, por meio de investimentos. Já o "g" representa a taxa de crescimento da economia. Ou seja: se r é maior que g, quem tem capital para investir sempre ganha mais do que a economia como um todo. E fica com uma fatia cada vez maior do bolo. Já quem trabalha e recebe salário, ou seja a maioria das pessoas, fica com menos. E como dizia o refrão daquela música, "o de cima sobe e o de baixo desce". Nem sempre foi assim. Entre as décadas de 1950 e 1970, o processo foi inverso. O crescimento da economia era maior que o ganho dos investimentos (ou seja, g > r). O mercado financeiro lucrava menos do que a 'economia real', embalada pela reconstrução da Europa e a explosão de prosperidade nos EUA. A desigualdade diminuiu. Mas a onda virou, e a distância entre ricos e pobres voltou a crescer. No final dos anos 70, os presidentes das 350 maiores companhias do mundo ganhavam, em média, 30 a 40 vezes mais que os funcionários de base. Hoje, a diferença de salário entre o presidente e o peà£o passa de 300 vezes. Nos Estados Unidos, o salário médio dos trabalhadores encolheu de US$ 4 mil para US$ 2.750 (em valores reais, descontando a inflação do período) entre 1978 e 2010. Já a remuneração do 1% mais rico disparou: foi de US$ 25 mil para US$ 83 mil. No Brasil, a concentração de renda caiu nos últimos 20 anos. Mas ainda é brutal. Somos o 13º país mais desigual do mundo (veja quadro na página 40), só perdendo para naçàµes muito pobres, como Botsuana, Namíbia e Haiti. "Quanto maior à© a desigualdade, mais altas são as taxas de homicídio, de uso de drogas, mortalidade infantil, doenças psiquiátricas e até de obesidade", diz Richard Wilkinson, diretor da ONG britânica The Equality Trust. Reduzir a diferença entre ricos e pobres não é apenas uma questão humanitária ou ideológica. É importante para a saúde da própria economia. E quem diz isso não são pregadores esquerdistas: é o Fundo Monetário Internacional, que publicou um estudo mostrando como a desigualdade extrema tende a gerar crises, e o World Economic Fórum — que reúne 700 là­deres econômicos globais e este ano elegeu a desigualdade como o grande problema do mundo atual. Até o papa Francisco andou palpitando a respeito: para ele, a desigualdade "provocará uma explosão da violência" no mundo se não for contida. O DINHEIRO NO PODER Os donos do mundo aproveitaram a crise e exploraram a diferença entre capital e trabalho para aumentar suas fortunas. Mas também podem recorrer a outros meios, como a política. A história está recheada de casos de multibilionários que usaram suas fortunas para moldar o destino da humanidade — e ficaram ainda mais ricos fazendo isso. No século 19, o banqueiro Nathan Rothschild foi o grande instigador da derrota de Napoleão na batalha de Waterloo. Ele comprou a maior parte dos títulos emitidos pelo Exército inglês para financiar a guerra. Cheio de dinheiro, e portanto de armas, o Exército foi ao front e venceu. Rothschild foi a primeira pessoa na Inglaterra a ficar sabendo. Sem avisar ninguém, saiu vendendo seus títulos. Os outros investidores acharam que a Inglaterra tinha perdido a guerra, e também venderam os títulos que possuíam. Isso derrubou os preços deles. Rothschild aproveitou para recomprar tudo, pagando baratíssimo. No dia seguinte, quando o resto do país foi informado da vitória, o valor dos papéis disparou. E Rothschild multiplicou sua fortuna em 20 vezes. Ela chegou a US$ 350 bilhões, em valores atuais. Dá mais de quatro Bill Gates Hoje, a influência dos überricos na política é mais sutil, mas igualmente forte. Um bom exemplo é o Tea Party, que surgiu nos Estados Unidos em 2009 — à primeira vista, como movimento popular. De repente, milhares de americanos estavam nas ruas para protestar contra coisas que os incomodavam. Só que ninguém estava reclamando da falta de saúde ou educação, ou de 20 centavos a mais na passagem do ônibus. As reivindicações eram mais ao gosto de empresários e banqueiros: redução de impostos, liberaà§ão nas emissões de CO, (que, segundo o Tea Party, não à© o responsável pelo aquecimento global) e fim do sistema de saàºde gratuito que Barack Obama tentava implantar nos EUA. Com inclinações tão ostensivas, era difícil que a máscara não caísse. A imprensa americana logo descobriu que, na verdade, o Tea Party tinha sido criado e era financiado pelos irmãos David e Charles Koch — que estão entre as dez pessoas mais ricas do mundo. Só neste ano, eles já compraram 43.900 espaços publicitários em TVs e rádios dos Estados Unidos para difundir mensagens políticas e apoiar determinados candidatos. Quando foram flagrados como criadores do movimento, os irmãos Koch não se abalaram. Admitiram tudo, e disseram que seu objetivo é melhorar a "qualidade de vida" da sociedade. No Brasil, são notórios os casos de empresas ou de milionà¡rios que dão dinheiro para financiar partidos políticos: sà£o as controversas doações de campanha. Nas últimas eleições, elas ultrapassaram a marca de R$ 1 bilhão, segundo o TSE. As dez empresas que mais doaram (JBS, Bradesco, Itaú, OAS, Andrade Gutierrez, Odebrecht, UTC Engenharia, Queiroz Galvão, Vale e Ambev) financiaram 70% de todos os deputados federais eleitos — 360 de 513, segundo levantamento do jornal O Estado de S. Paulo. As doações são permitidas por lei. Mas podem causar distorções. Imagine que você foi eleito deputado. Certo dia, sua secretária avisa que há duas pessoas esperando você. Uma é um cidadão qualquer. A outra é um empresário que doou alguns milhões para a sua campanha (e de cuja ajuda você vai precisar na próxima eleição). "Quem você se sentiria mais pressionado a receber?", pergunta Cláudio Abramo, diretor da ONG Transparência Brasil. "Os grandes doadores exercem uma pressão muito maior sobre os políticos." Uma possível saída seria limitar ou proibir as doações privadas e financiar as campanhas com dinheiro público, como já acontece em países como Suécia e França. Isso ajudaria a conter a influência dos empresários. Mas a medida também tem seu lado polêmico, pois consumiria recursos públicos. O valor do financiamento poderia ser fixado por lei, obrigando as campanhas a gastar menos do que hoje. Isso enfrentaria grande resistência da classe política, e o financiamento público não é uma panaceia — pois candidatos mal-intencionados sempre poderiam receber dinheiro por fora, por meio de caixa 2. De toda forma, quem tem forca econômica nem sempre precisa manipular os políticos. Às vezes, pode obrigá-los a fazer as coisas. Como o megainvestidor George Soros, 24º homem mais rico do mundo. Ele fez fortuna comprando e vendendo ações e títulos do mercado financeiro — doa a quem doer. Sua maior demonstração de poder foi a quebra do Banco da Inglaterra. O banco, que foi fundado no século 17, é o equivalente inglês ao nosso Banco Central. Controla a economia e a moeda. Em 1992, a Inglaterra tinha feito um pacto com outros países da Europa. Ela se comprometeu a manter sua moeda, a libra esterlina, numa cotação igual ou superior a 2,77 marcos alemà£es (o euro ainda não existia). Se o valor caísse abaixo disso, o Banco da Inglaterra era obrigado a intervir. O objetivo era reduzir as oscilações econômicas na Europa. Mas Soros viu nisso uma grande oportunidade para lucrar. Sem chamar a atenção, ele foi pegando empréstimos e comprando libras esterlinas. Acumulou o equivalente a US$ 10 bilhões. Aí, no dia 16 de setembro de 1992, vendeu todas. Jogou tudo de uma vez no mercado. Como havia excesso de libras, a cotação delas despencou. Em pânico, o Banco da Inglaterra tentou aumentar os juros e comprar libras para defender a moeda. Mas Soros era mais forte. O governo inglàªs foi obrigado a abaixar a cabeça e aceitar a desvalorizaçà£o da libra. No dia seguinte Soros recomprou, pagando menos, tudo o que tinha vendido — e ganhou US$ 1 bilhão com isso. O episódio ficou conhecido como "Quarta-feira Negra". "Os grandes acertos de Soros foram saber quem iria perder", escreve o historiador Niall Ferguson em A Ascensão do Dinheiro — A História Financeira do Mundo (Editora Planeta). Naquela ocasião, o perdedor foi a Inglaterra. Mas não foi o único caso do tipo. Esse jogo, em que grandes investidores forçam os países a desvalorizar suas moedas, começou na Tailà¢ndia, se espalhou por vários países da Ásia, chegou à  Rússia e veio parar no Brasil. Em 1999, depois de sofrer um ataque similar, o Banco Central foi obrigado a abandonar o sistema de bandas cambiais, que estipulava uma variação máxima para a cotação do real. E aí está outro problema da superconcentracão de renda: ela permite que megainvestidores, como Soros, tenham força para mexer com a moeda de um país inteiro. Hoje, estima-se que haja mais de US$ 600 trilhões aplicados no mercado financeiro, dez vezes mais do que na chamada "economia real". O dinheiro que fica dentro do mercado, e nãoé investido em empresas e projetos, só serve para fabricar mais dinheiro. Não movimenta a economia. "Não contribui para a inovação, a capacidade empresarial, a criação de empregos", diz o economista Evilásio Salvador, professor da Universidade de Brasília. A UNIÃO FAZ A FORÇA Os ultrarricos nem sempre exercem seu poder na política, ou no mercado financeiro. Eles também influem sobre as coisas que você compra. Os produtos e serviços são fornecidos por um número cada vez menor de empresas — porque elas estão se juntando umas às outras. Entre 2002 e 2005, o Brasil teve uma média de 384 fusões e aquisições por ano, segundo estudo da consultoria Price Waterhouse Coopers (PwC). De 2006 a 2009, essa média subiu para 646. De 2010 a 2013, chegou a 783. A concentração empresarial està¡ acontecendo no mundo inteiro, em todos os setores da economia. Por exemplo: no final dos anos 50, a França tinha 20 montadoras de automóveis. Hoje, apenas duas (Renault e Peugeot-Citroên), que foram absorvendo as demais. Na Itália, eram 19. Hoje, só uma (Fiat). Pesquisadores do Instituto Federal de Tecnologia da Suíça, em Zurique, estudaram as 43 mil maiores empresas do mundo — e mapearam todas as relações entre, elas. Descobriram que um grupo muito pequeno manda numa parte enorme da economia global. "1% das empresas controla 40% de toda a rede", diz James Glattfelder, um dos autores do estudo. A concentração empresarial não é necessariamente ruim, mas pode ser. Imagine se só existisse uma marca de creme dental, por exemplo. Ela poderia cobrar bem caro e você seria obrigado a pagar, porque precisa escovar os dentes. Na prática, isso não tem acontecido. O mercado brasileiro de cerveja, por exemplo, é dominado pela AmBev (que tem 67,5%). Ela surgiu da fusão entre Brahma e Antárctica, as duas maiores cervejarias do País. Mas desde que foi criada, em 1999, os reajustes no preço da cerveja estiveram próximos da inflação, sem aumentos abusivos. "Hoje a concorrência é muito maior do que no passado", diz o economista Rogério Gollo, especialista em fusões e aquisições da PwC. Com os carros, aconteceu a mesma coisa. Mesmo havendo menos fabricantes, os preços não subiram. A concentração empresarial não está doendo no seu bolso, pelo menos não ainda. Mas uma coisa está. EFEITO MATEUS Os impostos. Quando pensamos neles, costumamos pensar no governo: o dinheiro que ele arrecada e os serviços públicos, como saúde e educação, que fornece em troca. O que pouca gente sabe é que, no Brasil, os ricos pagam proporcionalmente menos impostos do que o resto da sociedade. Soa incrível, mas é verdade. Um estudo do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) mostra o que acontece. Uma pessoa que ganha dois salários mínimos por mês gasta 53,9% da sua renda com impostos, que estão embutidos nos produtos que ela compra. Tem de trabalhar 197 dias por ano só para pagar impostos. Já alguém que recebe 30 salários mínimos paga apenas 29% — e trabalha 106 dias, quase a metade do tempo, para sustentar o governo (veja quadro). Isso acontece porque, ao contrário do que acontece em países desenvolvidos, os impostos brasileiros estão mais concentrados nos produtos que as pessoas compram, e não no dinheiro que elas ganham. E essa característica é uma máquina de produzir desigualdade: porque os impostos tomam mais dinheiro daqueles que menos têm. "Isso onera os mais pobres, tornando-os mais pobre ainda", diz Evilásio Salvador, da Universidade de Brasília. É o que os economistas chamam de Efeito Mateus (uma referência à passagem bíblica Mateus 25,14-30: "Porque àquele que tem lhe será dado, e terá em abundância; mas ao que não tem, até aquilo que tem lhe será tirado "). Inverter essa lógica é difícil — afinal, os mais ricos têm poder para pressionar os políticos. Mas até alguns deles se dizem dispostos a mudar. O megainvestidor Warren Buffet, terceiro homem mais rico do mundo, sugeriu um plano ao presidente dos EUA. A proposta, que ficou conhecida como "The Buffett Rule" (Regra Buffett), criava um imposto de renda de pelo menos 30% sobre quem ganha mais de US$ 1 milhà£o por ano. Isso só afetaria 0,3% das pessoas. Mas arrecadaria US$ 36 bilhões. É um oceano de dinheiro (mais que todo o orçamento do Ministério da Educação brasileiro) . A proposta foi à  votação no Congresso, e perdeu. Segundo uma pesquisa da CNN, 72% dos americanos eram a favor dela. Se nada mudar, a desigualdade no mundo tende a continuar crescendo (pois r > g, lembra?). É difícil prever as consequências disso. Mas uma delas pode ser a radicalização política. Um estudo feito por três universidades americanas (Columbia, Houston e Princeton) constatou que, quanto maior a desigualdade econômica num país, mais forte tende a ser a divisão entre os seus grupos de esquerda e de direita. E a história sugere que a superconcentração de recursos pode acabar em algum tipo de tumulto. Já aconteceu. Houve um país que passou por um processo muito forte, e muito acelerado, de concentração de renda. Em apenas cinco anos, a fatia do bolo pertencente ao 1% mais rico cresceu 50%. A renda das demais pessoas caiu a ponto de prejudicar sua alimentação — e aumentar a mortalidade infantil em 16% em determinadas regiões do país. Seu líder fazia discursos cada vez mais inflamados, nos quais se dizia "inimigo do capitalismo". Essa nação era a Alemanha. Seu líder, Adolf Hitler. A consequência, a Segunda Guerra Mundial. OS RICOS FICAM CADA VEZ MAIS RICOS... A concentração de renda no mundo vem crescendo há quase três décadas - mas disparou nos últimos cinco anos. 1 ULTRARICO Bill Gates tem US$ 80,9 BILHÕES. O equivalente a... 17,2 MILHÕES de indianos (cada um tem US$ 4700 de patrimônio em média). DESEIGUALDADE SOCIAL - Pelo índice de Gini, que mede a distribuição de renda DESIGUALDADE TOTAL - Uma pessoas tem todo o dinheiro da economia 100 BRASIL 1981 57,93 1988 61,43 2008 54,37 2012 52,67 MUNDO 1978 35,09 1988 31,26 2008 38,38 2013 44,55 IGUALDADE TOTAL – todas as pessoas dividem o dinheiro igualmente 0 Nos últimos 5 anos o número de bilionários cresceu 107,4% de 793 para 1645 Juntos, os bilionários do mundo têm US$ 5,4 TRILHÕES Sua fortuna cresceu 124% desde 2010 O DINHEIRO ESTÁ MAIS CONCENTRADO NAS MÃOS DE POUCOS PORCENTAGEM DA RIQUEZA MUNDIAL 0,7% MILIONÁRIOS – Têm mais de US$ 1 milhão. Em 2010 eram 35,6%. Em 2014, 44%. Esta fatia é a única que cresce, enquanto todas as outras diminuem 29,4% CLASSE MÉDIA – De US$ 10 mil a US$ 1 milhão. Em 2010 eram 60,2%. Em 2014, 53,1%. 69,8% POBRES – Menos de US$ 10 mil. Em 2010 eram 4,2%. Em 2014, 2,9%. Fontes: Banco Mundial, OXFAM e Credit Suisse ...MANDAM NA POLÍTICA... As campanhas eleitorais são financiadas por doadores privados — que têm forte influência sobre os políticos eleitos. Os irmãos CHARLES E DAVID KOOH criaram o Tea Party, que defende polà­ticas como redução de impostos e liberação das emissões de CO2. Só neste ano, eles pagaram por 43.900 inserções publicità¡rias em TV, rádio e outras mídias. Com isso conseguiram eleger 51 MEMBROS NO CONGRESSO Investiram pelo menos US$ 196 milhões no grupo, que apoia alguns políticos. Hoje, O Tea Party tem 18 milhões de apoiadores 12% do eleitorado dos EUS NO PASSADO Em 1815, o banqueiro Nathan Rothschild comprou títulos do Exército inglês. Turbinado pelo dinheiro, o Exército derrotou Napoleà£o na Batalha de Waterloo. Além de mudar a história do mundo, isso multiplicou a fortuna de Rothschild. Que chegou a... US$ 350 BILHÕES EM VALORES ATUAIS. O equivalente a 4,3 VEZES a fortuna de Bill Gates ...MANIPULAM A ECONOMIA... O mercado financeiro tem US$ 600 trilhões - dez vezes mais do que o resto da economia. E isso permite manipular moedas e países. Em 1992, o megainvestidor GEORGE SOROS vendeu o equivalente a US$ 10 BILHÕES em libras esterlinas em apenas um dia. Isso fez a cotação da moeda inglesa despencar. US$5,2 BILHÕES foi quanto a Inglaterra perdeu tentando defender sua moeda, sem sucesso. A cotação dela caiu. Soros recomprou tudo, pagando menos. E ganhou US$1 BILHÃO EM APENAS 1 DIA ULTRACONCENTRAÇÃO O setor financeiro nunca teve tanto poder sobre o resto da economia. Um estudo analisou as relações entre 43 mil empresas e instituições financeiras e constatou que: APENAS 1% DELAS CONTROLA 40% DE TODAS AS EMPRESAS DO MUNDO. E, das 50 instituições mais poderosas, 49 são bancos e empresas de investimento. Fontes: The network of global corporate control, Stefano Battiston, James Glattfelder e Síefania Vitali, Instituto Federal de Tecnologia de Zurique; Governo da Inglaterra. E TUDO ISSO MEXE COM A SUA VIDA A desigualdade piora a qualidade de vida, aumenta a violência — e faz com que as pessoas tenham menos dinheiro no bolso. OS PAÍSES MAIS DESIGUAIS DO PLANETA – E A QUALIDADE DE VIDA DELES Pelo Índice de Gini 1º Ilhas Seycheller 65,8. Posição no ranking de qualidade de vida (IDH) da ONU - 71º 2º Ilhas Comoros 64,3. Posição no ranking de qualidade de vida (IDH) da ONU – 108º 3º Namíbia 63,9. Posição no ranking de qualidade de vida (IDH) da ONU – 127º 4º África do Sul 63,1. Posição no ranking de qualidade de vida (IDH) da ONU – 118º 5º Botsuana 61. Posição no ranking de qualidade de vida (IDH) da ONU – 109º 6º Brasil 54,7. Posição no ranking de qualidade de vida (IDH) da ONU – 79º NO BRASIL, POBRE PAGA MUITO IMPOSTO. OS MAIS RICOS, NEM TANTO. Porcentagem da renda consumida pelos impostos QUEM GANHA ATÉ 2 SALÁRIOS MÍNIMOS PAGA 53,9% DE IMPOSTO. Trabalha 197 dias ao ano para pagar. QUEM GANHA MAIS DE 30 SALÁRIOS MÍNIMOS PAGA 29% DE IMPOSTO. Trabalha 106 dias ao ano para pagar. QUANTO VOCÊ PAGA DE IMPOSTO e quantos dias trabalha por isso 2 a 3 salários mínimos: 41,9%. 153 dias de trabalho 3 a 5: 37,4%. 137 dias 5 a 6: 32%. 129 dias 6 a 8: 35%. 128 dias 8 a 10: 35%. 128 dias 10 a 15: 33,7%. 123 dias 15 a 20: 31,1%. 115 dias 20 1 30: 31,7% 116 dias Fontes :Banco Mundial, ONU; Receita pública: Quem paga e como se gasta no Brasil. Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) OS 67 ULTRARRICOS 1- BILL GATES US$ 80,9 bi MICROSOFT EUA 2- CARLOS SLIM HELU & FAMÍLIA US$78,7 BI AMÉRICA MÓVIL México 3- WARREN BUFFETT US$68,4 BI BERKSHIRE HATHAWAY (INVESTIMENTOS) EUA 4- AMANCIO ORTEGA US$58,1 BI ZARA Espanha 5- LARRY ELLISON US$48,8 BI ORACLE (SOFTWARE) EUA 6- CHARLES KOCH US$41,9 BI KOCH INDUSTRIES (ENERGIA) EUA 7- DAVID KOCH US$41,9 BI KOCH INDUSTRIES EUA 8- CHRISTY WALTON & FAMÍLIA US$37,9 BI WALMART EUA 9- JIM WALTON US$36,6 BI WALMART EUA 10- MARK ZUCKERBERO US$35,5 BI FACEBOOK EUA 11- ALICE WALTON US$35,1 BI WALMART EUA 12- S. ROBSON WALTON US$35,1 BI WALMART EUA 13- MICHAEL BLOOMBERG US$34,5 BI BLOOMBERG (MÍDIA) EUA 14- LILIANE BETTENCOURT & FAMÍLIA US$34.2 BI L'OREAL França 15- SHELDON ADELSON US$32,1 BI DONO DE CASSINOS EUA 16- LI KA-SHING US$31,3 BI PORTOS E EMPRESAS DE PLÁSTICO Hong Kong 17- STEFAN PERSSON US$30,4 BI H&M (ROUPAS) Suécia 18- BERNARO ARNAULT & FAMÍLIA US$30,2 BI LVMH (LOUIS VUITTON) França 19- LARRY PAGE US$29,9 BI GOOGLE EUA 20- SERGEY BRIN US$29,5 BI GOOGLE EUA 21- JEFF BEZOS US$26,9 BI AMAZON EUA 22- CARL ICAHN US$25,5 BI INVESTIDOR EUA 23- MICHELE FERRERO & FAMÍLIA US$25 BI GRUPO FERRERO (CHOCOLATES) Itália 24- GEORGE SOROS US$24 BI INVESTIDOR EUA 25- DAVID THOMSON & FAMÍLIA US$24 BI THOMSON REUTERS (MÍDIA) Canadá 26-FORREST MARS JR. US$23,1 BI MARS INC. (CHOCOLATES) EUA 27- JACOUELINE MARS US$23,1 BI MARS INC. EUA 28- JOHN MARS US$23,1 BI MARS INC. EUA 29- ALIKO DANGOTE US$23 BI DANGOTE GROUP (AÇÚCAR) Nigéria 30- LEE SHAU KEE US$22,4 BI DONO DE HOTÉIS E IMÓVEIS Hong Kong 31- STEVE BALLMER US$22,3 BI MICROSOFT EUA 32- MUKESH AMBANI US$21,8 BI RELLANCE INDUSTRIES (ENERGIA E TELECOM) Índia 33- TALAL ALSAUD US$21,5 BI FAMÍLIA REAL Arábia Saudita 34- JORGE PAULO LEMANN US$21,561 3G CAPITAL (CONTROLADORA DA AMBEV) Brasil 35- PHIL KNIGHT US$21,4 BI NIKE EUA 36- MICHAEL DELL US$21,1 BI DELL EUA 37- JACK MA US$21 BI ALIBABA GROUP (COMÉRCIO ELETRÔNICO) China 38- LEN BLAVATNIK US$19,761 INVESTIDOR EUA 39- DILIP SHANGHVI US$17,9 BI SUN PHARMACEUTICAL INDUSTRIES Índia 40- LEONARDO DEL VECCHIO US$17,8 BI LUXOTTICA (ÓCULOS) Itália 41- ALISHER USMANOV US$17,5 BI USM HOLDINGS (MINERAÇÃO) Rússia 42- TADASHI YANAI & FAMÍLIA US$17,1 BI FAST RETAILING (VAREJO) Japão 43- PAUL ALLEN US$17 BI MICROSOFT EUA 44- MASAYOSHI SON US$16,8 BI SOFTBANK Japão 45- MICHAEL OTTO & FAMÍLIA US$16,6 BI OTTO GMBH & CO (VAREJO) Alemanha 46- LAURENE POWELL JOBS & FAMÍLIA US$16,6 BI APPLE, DISNEY EUA 47- THEO ALBRECHT JR & FAMÍLIA US$16,5 BI TRADER JOE’S (VAREJO) Alemanha 48- CHARLES ERGEN US$16,2 BI DISH NETWORK (TV POR ASSINATURA) EUA 49- ROBIN LI US$16,1 BI BAIDU (INTERNET) China 50- GINA RINEHART US$15,9 BI HANCOCK PROSPECTING (MINÉRIOS) Austrália 51- ANNE COX CHAMBERS US$15,8 BI COX ENTERPRISES (MÍDIA) EUA 52- MIKHAIL FRIDMAN US$15,7 BI ALFA-BANK Rússia 53- JOSEPH SAFRA US$15,5 BI BANCO SAFRA Brasil 54- VIKTOR VEKSELBERG US$15,4 BI RENOVA GROUP (ENERGIA E TELECOM) Rússia 55- SUSANNE KLATTEN US$15,3 BI BMW Alemanha 56- DONALD BREN US$15,3 BI IRVINE COMPANY (IMÓVEIS) EUA 57- RAY DALIO US$15,2 BI BRIDGEWATER ASSOCIATES (INVESTIMENTOS) EUA 58- LUÍS CARLOS SARMIENTO US$15,1 BI GRUPO AVAL (BANCO) Colômbia 59- PALLONJI MISTRY US$15,1 BI SHAPOORJI PALLONJI GROUP (CONSTRUÇÃO) Índia/Irlanda 60- AZIM PREM JI US$15,1 BI WIPRO (TECNOLOGIA) Índia 61- GERMAN LARREA MOTA VELASCO & FAMÍLIA US$14,8 BI GRUPO MÉXICO (MINERAÇÃO) México 62- DIETER SCHWARZ US$14,7 BI SCHWARZ GROUP (VAREJO) Alemanha 63- MA HUATENG US$14,7 BI TENCENT (INTERNET) China 64- HAROLO HAMM US$14,6 BI CONTINENTAL RESOURCES (ENERGIA) EUA 65- LUI CHE WOO US$14,5 BI GALAXY ENTERTAINMENT (HOTÉIS E CASINOS) Hong Kong 66- THOMAS & RAYMOND KWOK & FAMÍLIA US$14,5 BI SUN HUNG KAI (IMÓVEIS) PROPERTIES Hong Kong 67- LAKSHMI MITTAL US$14,5 BI ARCELORMITTAL (MINERAÇÃO E AÇO) Índia PARA SABER MAIS O Capital no século XXI Thomas Piketty, Editora Intrínseca, 2014 The Spirit Level Richard Wilkinson, Bloomsbury Press, 2011 Inequality, Leverage and Crises Michael Kumhof e Roamin Rancière, FMI, 2010. 2#2 INTERNET – QUANTOS LIKES ESSE PRESIDENTE MERECE? Ao longo de seis meses, a SUPER seguiu nas redes sociais os governantes dos cem países mais ricos do mundo. Acompanhamos presidentes, primeiros-ministros, reis, xeques e afins para fazer um levantamento inédito sobre como é a relação de cada governo com as mídias sociais. Entre prestações de contas, campanhas eleitorais, muita propaganda, micos e algumas selfies, veja o que esses líderes andam postando. EDIÇÃO Felipe van Deursen REPORTAGEM Renata Miranda, Carol Castro, Nathan Fernandes, Roberto Maxwell, Sasha Yakovleva, Kamila El Hage e Felipe van Deursen. QUEM USA MAIS? GOVERNOS QUE LEVAM REDES SOCIAIS A SÉRIO POTÊNCIAS DIGITAIS Eles têm muitos perfis oficiais com milhões de seguidores e apostam em vídeos, conteúdo multimídia e infográficos. BRASIL – 14 redes As manifestações de 2013 fizeram Dilma Rousseff levar redes sociais a sério. A criação do Gabinete Digital tornou a comunicação da presidenta com a população mais maciça: com 14 contas, o governo é recordista mundial. Tem perfil no Tumblr e até no SlideShare. DESTAQUE: TUMBRL Planalto. Tem reportagens e perfis sobre brasileiros notáveis ESTADOS UNIDOS – 11 redes O Twitter de Barack Obama, essencial na eleição de 2008, é um dos maiores do mundo. A foto da reeleição (o abraço em Michelle Obama), é uma das mais curtidas da história do Facebook. As outras contas não têm o mesmo peso global. DESTAQUE: INSTAGRAM. The White House. Muita descontração de Obama e equipe na Casa Branca. FRANÇA – 13 redes O governo aposta em vídeo, especialmente no Dailymotion, rede francesa concorrente do YouTube. DESTAQUE: VINE. Além do Brasil, é o único país a usar a rede de microvídeos para mostrar a agenda do presidente. REINO UNIDO – 8 redes É dos poucos governos que têm uma posição oficial de não responder mensagens via redes sociais, apesar de ter vários perfis, incluindo um no Audioboom, com playlists e discursos. DESTAQUE: LINKE. David Cameron. Que tal incluir o primeiro-ministro em sua rede de contatos ARGENTINA – 10 redes No Twitter presidencial, infográficos para falar de planos de governo. No Google Plus, posts com um caráter mais pessoal, como fotos da juventude e do cachorro. DESTAQUE: INSTAGRAM. Cristina Kirchner. A presidenta ostenta fotos com a área VIP do mundo, do papa Francisco a Fidel Castro. ELEITOREIROS A proximidade de eleições (e o resultado) muda a postura de governos na internet. 19 dos 100 países avaliados tiveram eleições em 2014. ARGÉLIA Reeleito em abril, Abdelaziz Bouteflika largou o Twitter. Perfis falsos ironizam seu extenso mandato de 15 anos. CHILE Eleita em 2013, Michelle Bachelet fez bastante campanha nas redes sociais. Em 2014, elas foram postas de lado. CAMARÕES O presidente Paul Biya está ativo no Facebook desde a eleição de 2011. Caso raro para alguém no poder há 32 anos. ÍNDIA Empossado em maio, Narendra Modi reativou os perfis do governo, abandonados pelo antecessor. “HOJE, EU INTEGREI A CAMPANHA POR UMA ÍNDIA LIMPA.†Foto sua varrendo a rua para divulgar uma campanha que convida “1 bilhão de indianos para criar uma Índia limpa". Foi o post de político mais popular do ano: 2,4 milhões de curtidas e 141 mil compartilhamentos. QUEM USA MENOS? GOVERNOS QUE TÊM PRESENÇA ONLINE, MS QUE NÃO SABEM MUITO O QUE FAZER. NA PIOR Países agravados por crise ou guerra. PORTUGAL - Com a crise econômica, redes sociais foram abandonadas. O governo eliminou sites de ministérios "para poupar o seu dinheiroâ€. SÍRIA - Assolado pela guerra civil desde 2011, o país não só não tem nenhuma rede social do governo Bashar al-Assad como o site oficial está fora do ar. GRÉCIA - O governo não usa o Facebook, apesar de 72% da populaà§ão estar lá. Especialistas dizem que é para evitar prováveis ofensas virtuais. EGITO - Em crise política há quatro anos, o país teve eleições em 2014, vencidas por Abdel Fattah el-Sisi. O governo nà£o tem redes sociais. “DAMOS AS BOAS-VINDAS A PESSOAS DE VERDADE AO NOSSO PERFIL. #NOBOTS" Mariano Rajoy, primeiro-ministro espanhol (twitter, 5/9). O governo ganhou milhares de seguidores fantasmas, criados por programas chamados bots. Acredita-se que tenha sido um ataque de desafetos de Rajoy, impopular devido à Crise econômica no país. ABANDONADOS Eles largaram o Twitter. E se esqueceram de deletar a conta. UZBEQUISTÃO: 39 MESES - é o tempo que o presidente Islam Karimov está sem postar. NIGÉRIA: 17 MESES - sem novidades na conta do governo. SUÉCIA: 3 MESES - sem nada do premiê Fredrik Reinfeldt. Posts são documentos levados a sério na política de transparência sueca. Isso trava a atualização nas redes. MENÇÃO HONROSA GUATEMALA: No Twitter, o governo pede a opinião sobre a política de drogas. Mas, com só 0,4% da população seguindo, ele tem poucas resposta. RESTRITIVOS A relação entre a censura na internet e a presença dos governos nas redes sociais. Censura ou vigilância O mapa mostra o nível de censura ou vigilância na internet. Se na CHINA, ARÁBIA SAUDITA e IRà há censura governamental, nos EUA, ÍNDIA e REINO UNIDO existe um rígido controle do tráfego na internet, medidas tomadas para o combate ao terror, por exemplo. Ou à  pedofilia. POSTS EM TODAS AS REDES SOCIAIS EUA, CHINA, ÍNDIA e REINO UNIDO estão na lista de inimigos da internet, da ONG Repórteres Sem Fronteiras. Mas seus governos estão todo dia postando nas redes sociais. CUBA e IRà também estão na lista de inimigos, mas raramente usam o Facebook, apesar de terem contas oficiais. #fail Erros simplórios de site de governos DESIGN: Layouts toscos e templates confusos. NAVEGAÇÃO: Menus e canais desorganizados. PROGRAMAÇÃO: Links quebrados ou errados. 1- ANGOLA Tem ícones para redes sociais. Mas os links dão apenas a mensagem de "em construção", típica de sites velhos. 2- FINLÂNDIA Esqueceram texto falso no site do governo. Os e-mails dos ministros aparecem como sobrenome.nome@vnk.fi. Sério. 3- IRLANDA No site do primeiro-ministro, ao clicar no ícone do Facebook, você descobre que a conta do premiê nem existe. 4- LUXEMBURGO ícones das redes servem para divulgar o site, não para segui-las. 5- PAQUISTÃO O site do governo tem visual vintage dos anos 90. A navegação é pouco intuitiva. 6- SUDÃO Há links para redes sociais, mas eles não funcionam e ainda fecham abas do navegador repentinamente. 7- TUNÍSIA O site do primeiro presidente eleito democraticamente divulga perfis que não existem. 8- TAILÂNDIA Não há links para os sites dos ministérios nem uma identidade visual comum entre eles. COMO ELES USAM? É MUITA PROPAGANDA, MAS TAMBÉM TEM FORMAS ORIGINAIS DE INTERAà‡ÃO. CRIATIVOS QUÊNIA: Soundcloud. Tem discursos e coletivas de imprensa, medida para promover a cultura de transparência nesse que é um dos países mais corruptos do mundo. REPÚBLICA DOMINICANA: YouTube. Em vez de discursos, o governo aposta em uma grade com diversos programetes semanais. FILIPINAS: Tumblr, Storify e Scribd. Os dois primeiros focam na prestaà§ão de serviços, principalmente em momentos de crise, como na passagem do tufão Haiyan, em 2013. No Scribd, o cidadão pode acessar gratuitamente documentos oficiais e atas de reuniões do governo. “USAR ENERGIA NUCLEAR PARA FINS PACÍFICOS É UM DESAFIO APLICADO A TODA A HUMANIDADE." SHINZO ABE, primeiro-ministro japonês (youtube, 10/4). Com o desastre na usina de fukushima, em 2011. O governo criou perfis em inglês para acelerar a divulgação de informações. O serviço deu tão certo que hoje o twitter em inglês é mais atualizado que o em japonês. REDES NACIONAIS Eles adotam serviços locais, seja por adaptação cultural ou restrição à liberdade. CHINA: Xinhua, Renmin, Tensen e Sina. São redes chinesas. O Sina surgiu em 2009, após o banimento das redes sociais ocidentais. Com 500 milhões de usuários, é uma das maiores do mundo. JAPÃO: Mixi e Line. O Mixi, um Facebook japonês, é uma das redes mais usadas no país. O Line é uma espécie de WhatsApp. O governo o usa para lançar campanhas voltadas aos jovens. COREIA DO SUL: me2day e Pandora.tv. Quando Facebook e Twitter adotaram o sistema de escrita coreano para tentar conquistar o país, a lideranà§a das redes locais foi ameaçada. A me2day, na qual o governo tinha conta, fechou em junho. CAZAOUISTÃO: Mobil. A rede de fotos Mobli é mais popular no paà­s que o Instagram. E seu maior investidor é o empresário casaque Kenges Rakishev. INTERATIVOS Outras formas de contato, além das redes sociais. TURQUIA: O site do governo é focado em prestação de servià§os e atendimento à população. RÚSSIA: Organiza videoconferências anuais com o presidente Vladimir Putin. AZERBAIDJÃO: Lançou uma versão do site oficial para crianà§as e um aplicativo com notícias do país. ÁUSTRIA: Tem aplicativos para serviços ao cidadão e para dicas culturais MAIORES PERFIS (em milhões de seguidores) SEGUIDORES) 1- Twitter EUA (OBAMA) 50 2- Facebook EUA 43 3- Facebook ÍNDIA 24 4- Tensen CHINA 12 5- Renmin CHINA H) 6- Sina CHINA 9 7- Facebook TURQUIA 7 8- Twitter INDONÉSIA 8 9- Twitter EUA (CASA BRANCA) 5,5 10- Xinhua CHINA 6 18- Twitter BRASIL 3 WEBCELEBRIDADES Campeões de selfies e situações inusitadas no Instagram e Flickr 1- DINAMARCA: A primeira-ministra Helle Thorning-Schmidt ficou famosa por uma selfie com Barack Obama. Seu perfil tem uma porção de outras fotos do tipo. 2- TRINIDAD E TOBAGO: A primeira-ministra Kamla Persad-Bissessar costuma postar amenidades, como fotos do aniversário. 3- ITÁLIA: De camiseta no Twitter, de bicicleta no Facebook. O primeiro-ministro Matteo Renzi é informal em todas as redes sociais. 4- BÉLGICA: Elio di Rupo, premiê até outubro, desfilava com sua gravata borboleta, posava com Shakira, bebia cerveja e divulgava o que ouvia no Spotify, como Muse. 5- NORUEGA: Erna Solberg, a primeira-ministra, faz selfies com as amigas e gosta de coração com as mãos. 6- COSTA RICA: O presidente Luís Solís posta fotos das árvores e dos quadros de casa. Já seu antecessor publicou o discurso de saída inteiro — em dezenas de posts seguidos no Twitter. 7- EQUADOR: O presidente Rafael Corrêa participou da campanha #somostodosmacacos. 1º RANKING SUPER DE ACESSIBILIDADE PRESIDENCIAL Para testar a acessibilidade de cada um dos cem governantes, a SUPER criou um ranking inédito. Mandamos a mesma mensagem, ao mesmo tempo, para todos eles. Veja quem respondeu. 1. Mensagem REDIGIMOS O MESMO TEXTO para os cem governos avaliados, na língua oficial de cada um. Ele explicava o ranking e fazia uma única pergunta: "qual a importância de um governante ser acessível?", que podia ser respondida da forma como o governo quisesse (tuíte, via Skype ou um e-mail padrão, por exemplo). 32 IDIOMAS USADOS INGLÊS É O MAIS COMUM: 19 PAÍSES 2. Disparo A MENSAGEM FOI ENVIADA AS 9H (horário local) em um dia que não foi feriado em nenhum dos cem países: 11 de agosto. Por conta dos fusos horários, o período de envio durou 18 horas ininterruptas. ENVIO (HORÁRIO DE BRASÍLIA) PRIMEIRO : Nova Zelândia (18h, 10/11) ÚLTIMOS: México e El Salvador (12h, 11/11) MODO DE ENVIO NOS SITES DO PODER EXECUTIVO 50 VIA FORMULÁRIO FALE CONOSCO 40 VIA E-MAIL 10 FALHA NO ENVIO 3. Pontuação FORAM AVALIADOS: a) notificação de recebimento da mensagem; b) respostas; c) tempo entre o envio e o recebimento das respostas. APENAS OK 15 PAÍSES Governantes que notificaram que a mensagem foi ao menos recebida. Poucos responderam de fato. 1- HOLANDA – 24 PT. O único governo que respondeu por e-mail e retornou ligações, interessado no ranking. Mas, por questões de agenda, o primeiro-ministro Mark Rutte não pôde nos atender. 2- REINO UNIDO, SUÉCIA: 15PT. Redigiram mensagens personalizadas agradecendo, mas não quiseram responder. 4- AUSTRÁLIA, BÉLGICA, COSTA DO MARFIM: 12PT. Mensagem padrão de agradecimento, dizendo que retornariam. Mas sumiram 7- Arábia Saudita, Brasil, Camarões, Colômbia, França, Kuwait, Nova Zelândia, Omã: 11PT. Confirmação de recebimento padrão, agradecendo a mensagem. 15 ESPANHA: 7,5 PT. Não confirmou recebimento. Mas agradeceu o convite 34 dias depois. NEM O MÍNIMO 73 PAÍSES Eles não informaram que a mensagem foi recebida 16- ÁFRICA DO SUL, ALEMANHA, ANGILA, ARGÉLIA, ÁUSTRIA, AZERBAIDJÃO, BANGLADESH, BAREIN, BELARUS, BOLÍVIA, BULÁRIA, CANADÁ, CATAR, CHILE, CHINA, CHIPRE, CINGAPURA, COREIA DO SUL, CROÁCIA, CUBA, DINAMARCA, EGITO, EL SALVADOR, EMIRADOS ÁRABES UNIDOS, EQUADOR, ESLOVÁQUIA, ESLOVÊNIA, ESTADOS UNIDOS, ETIÓPIA, FILIPINAS, FINLÂNDIA, GANA, GRÉCIA, HUGRIA, IÊMEN, ÍNDIA, INDONÉSIA, IRÃ, IRAQUE IRLANDA, ISRAEL, ITÁLIA, JAPÃO, JORDÂNIA, LETÔNIA, LÍBANO, LITUÂNIA, LUXEMBURGO, MALÁSIA, MARROCOS, MÉXICO, NIGÉRIA, NORUEGA, PANAMÁ, POLÔNIA, PORTUGAL, QUÊNIA, REPÚBLICA DOMINICANA, ROMÊNIA, RÚSSIA, SÉRVIA, SRI LANKA, SUDÃO, SUÍÇA, TAILÂNDIA, TANZÂNIA, TRINIDAD E TOBAGO, TUNÍSIA, TURCOMENISTÃO, TURQUIA, URUGUAI, UZBEQUISTÃO, VENEZUELA. 0 PT Se você fosse cidadão desses países, ficaria no vácuo ao escrever para o governante. TRAGÉDIA 11 PAÍSES É impossível falar com eles na internet 89- CAZAQUISTÃO, COSTA RICA, ESTÔNIA, GUATEMALA, PERU, REPÚBLICA TCHECA, UCRÂNIA. -2 PT. Sem formulário Fale Conosco, e-mail ou telefone no site e nas redes. 96- ARGENTINA, PAQUISTÃO, PARAGUAI, VIETNÃ. -5PT. Erro no envio da mensagem e impossibilidade de outra forma de contato. 100- SÍRIA. Único sem site nem rede social, não pontuou, MUITOS POSTS, POUCAS RESPOSTAS HOLANDA E SUÉCIA - são discretos nas redes sociais, mas demonstraram mais atenção quando foram contatados. GOVERNOS LATINO-AMERICANOS - sabem que o povo adora uma rede social, entà£o investem pesado. Mas são pouco acessíveis. O governo do BRASIL é o maioral no uso de redes sociais. Mas não conseguimos uma resposta da presidenta no site do Planalto. Potências como EUA, FRANÇA E REINO UNIDO estão em muitas redes, mas os sites do governo têm pouca abertura para comunicaçà£o. FONTES: Andrew Ledford, pesquisador do Departamento de Sociologia da Universidade Princeton (EUA); Jan Nolin, especialista em redes sociais e professor da Universidade de Boras (Suécia); Joseph Kahne, professor da Mills College (EUA) e pesquisador de política participatória da Fundação MacArthur; Nuno Coimbra Mesquita, pesquisador da USP e membro do Research Committee de Comunicação Política (RC22) da Associação Internacional de Ciência Política (IPSA); Sà©rgio Praça, professor de Políticas Públicas da UFABC. 2#3 HISTÓRIA – O VERDADEIRO TEMPLO DE SALOMÃO O Templo original não era exatamente uma igreja (ou uma sinagoga). Era o lar da Arca da Aliança, e uma churrascaria de proporções bíblicas. POR Alexandre Versignassi, Gisele Hirata, Jorge Oliveira e Éber Evangelista ELE FOI DESTRUÍDO duas vezes. A última, há 2 mil anos. E ainda é motivo de briga. O Templo de Salomão foi construído em 950 a.C. e ficava num morro em Jerusalém. Um morro que hoje tem dois nomes; Monte do Templo, para os judeus, e Esplanada das Mesquitas, para os palestinos, já que hoje ele abriga dois santuários islâmicos. Israel tomou o morro dos árabes em 1967, mas o manteve como exclusivo dos muçulmanos — os judeus se resignaram a usar o Muro das Lamentações, um revestimento do morro, como santuário. Mas em 2014 radicais judeus bateram o pé pelo direito de rezar no monte, e o quebra-pau voltou. Tudo por causa da memória deste templo, reconstruído aqui com sua arquitetura original, de 900 a.C., à imagem e semelhança das descrições bíblicas. * A planta do Templo era similar à do tabernáculo, a tenda que o antecedeu. * As paredes interiores eram de cedro entalhado com gravuras de querubins, palmeiras e flores. Tanto as paredes quanto o piso teriam sido revestidos de ouro, segundo a Bíblia. * As câmaras laterais tinham três andares cada uma e serviam para depósito dos tesouros da coroa e dos objetos ritualísticos. * Músicos tocavam o dia inteiro, dando trilha sonora aos sacrifícios. Quatro mil deles se revezavam nessa tarefa, diz a Bíblia. * Sacerdotes armados faziam a segurança do lugar, já que o Templo também servia como depósito de tesouros dos reis da Casa de Davi. * Uma caixa d’água de dar inveja aos paulistas ficava no pà¡tio, e enchia as bacias menores, sobre rodas. Era para limpar a sujeira monumental que os sacrifícios deixavam. * O sumo-sacerdote, que também era uma autoridade política. * Sacerdotes auxiliares serviam o Templo ajudando no transporte da água e da madeira para manter o fogo aceso. 1- O SANTO DOS SANTOS Era o local mais sagrado do Templo, onde ficava a Arca da Aliança. Na prática, era a Casa de Deus. Apenas o sumo-sacerdote podia entrar ali. E só uma vez por ano, no Yom Kippur (o Dia do Perdão judaico) - quando um sacrifício era oferecido pela salvação de Israel. 2- O SANTUÁRIO A antessala do Santo dos Santos abrigava o altar do incenso, que queimava dia e noite. Só os sacerdotes tinham acesso - era uma "sala dos professores", digamos. Era neste altar aqui que queimavam os animais. Só os sacerdotes podiam subir. Guia do Fiel Veja alguns casos em que um israelita era obrigado a oferecer sacrifícios. FALTA DE PUREZA - Tocar numa mulher menstruada ou numa cobra deixava o israelita "impuro". E o único jeitode se repurificar era oferecendo um animal para Deus. DAR UMA DE JOÃO SEM BRAÇO - Pediu emprestado e não devolveu? Tinha que ir até o templo sacrificar. JURAR - Não podia jurar nada. Nem mal nem bom. 3- O ALTAR DOS SACRIFÍCIOS Estava aí o grande propósito do Templo: servir como arena de sacrifícios religiosos. Imposto informal - As ofertas para expiar pecados exigiam a queima completa dos animais. Mas o sacerdote responsável e a família dele podiam comer as partes nobres. a) CURTUME – O couro dos animais, ficava de caixinha para os sacerdotes. b) CHEIRO AGRADÁVEL A DEUS - O Levítico, aliás, tece elogios ao odor da gordura queimada nos sacrifícios: "É uma oferta que tem cheiro agradável a Deus." Um pouco para cada Outro tipo de sacrifício era o das "ofertas de paz" — uma oferenda de puro agradecimento. Nesse caso, o ofertante levava sua fatia. a) PARA O SANTO - O peito e a coxa direita ficam para o sacerdote. Os miàºdos e o rabo, com Deus - ou seja: são queimados no altar. b) PARA A MESA - O ofertante fica com o resto da carne - e é orientado a consumir tudo no mesmo dia. CRONOLOGIA O Templo teve três encarnações ao longo da história. E agora talvez haja uma mesquita no lugar dele. 980 A.C. - Nos últimos anos de seu reinado, Davi idealiza o Templo e escolhe um vistoso morro para a sua construção, o então chamado Monte Moriá. 960 A.C. - Salomão começa a construir o Templo seguindo projeto deixado por seu pai, Davi. A obra teria levado sete anos para terminar. 686 A.C - A essa altura, Jerusalém era capital do último reino israelita: Judá. Nabucodonosor, da Babilônia (atual Iraque), anexa o reino, destrói o Templo e exila a elite sacerdotal judaica. 515. A.C. - Ciro, da Pérsia (atual Irã), conquista a Babilónia e permite o retorno dos exilados a Jerusalém. Eles então reconstroem o Templo, mas sem a Arca. 4 A.C. - Herodes, o Grande, manda ampliar o Templo. E nesta nova versão do santuário que Jesus expulsaria os comerciantes – episà³dio que o levaria à cruz. 70 D.C. - Em retaliação contra rebeldes locais, Roma destrói Jerusalém e seu Templo. Dali em diante, os judeus deixam de sacrificar animais. HOJE - Alguns judeus crêem que, no terreno onde ficava o Templo, está hoje a Mesquita de Al-Aqsa, local sagrado do Islamismo. E isso gera conflitos, claro. O DO BISPO É MAIOR O líder da Igreja Universal criou uma réplica do Templo em Sà£o Paulo, você sabe. Mas tem uma diferença: a versão Edir Macedo é bem maior. 2#4 SAÚDE – O DIA EM QUE MEU CÉREBRO APAGOU Na véspera de ano novo, um coágulo bloqueou o fluxo sanguíneo entre as duas metades do meu cérebro. Eu tive um derrame. Dali em diante, minha vida jamais seria a mesma. TEXTO Christine Hyung-Oak Lee RECEBI UMA SEQUÊNCIA DE ESTÍMULOS — triângulos, céu, sons de cascalho, vento, a sensação de pano no meu corpo. Eu não conseguia entender nada. Eu não sabia que aqueles triângulos eram árvores, o som vinha dos pneus de um carro, o tal pano era a minha jaqueta, e os meus braços eram aquelas coisas conectadas a outras coisas, chamadas mãos. Havia cores e formas e som e tato, mas minha mente não conseguia compreender nada daquilo. Foi assim que me senti durante o meu derrame cerebral: como se eu estivesse me separando de mim mesma. Aconteceu em 31 de dezembro de 2006. Eu tinha 33 anos. Eu ainda não sabia, mas um coágulo sanguíneo vindo da artéria aorta tinha entrado no meu cérebro. Uma parte do hemisfério esquerdo, que é responsável pela linguagem, lógica, e raciocà­nio, sufocou e morreu. E o hemisfério direito, responsável por criatividade, intuição e emoções, não conseguia se comunicar com o outro lado. Números viraram rabiscos, as cores perderam seus nomes, a comida perdeu o sabor, a música não tinha melodia. "Isso é lindo. Mas eu estou tonta, e minha cabeça dói", pensei. "Eu preciso sentar", consegui dizer. Eu ainda não tinha perdido a fala. Eu estava no meio de um estacionamento. "Eu vou entrar, você me espera aqui", meu marido disse, e entrou na loja. Mas ele saiu sem comprar nada. "Vamos voltar." Meus pensamentos cessaram. Meu cérebro ficou escuro. Escuro. Até hoje, por mais que eu tente, não consigo me lembrar daquela volta para casa. Eu estava cansada, e tirei um cochilo [nota: não é recomendado dormir durante ou logo após um derrame cerebral]. Eu sonhei que me perdia nas montanhas. Eu sonhei que andava sobre um lago congelado. Eu sonhei que perdia os sapatos. Eu sonhei que perdia a voz. Quando acordei, horas depois, eu achava que tudo aquilo realmente tinha acontecido — que não era sonho. E eu não conseguia mais falar. Nossos amigos tinham chegado para a festa de réveillon. Tudo o que eu conseguia fazer era sorrir e dizer "oi". Só "oi". Eu fiquei quieta, e eu nunca fico quieta. E eu nunca cochilo durante o dia. Eu tentei acompanhar a conversa dos meus amigos, mas as palavras eram rápidas demais, e o assunto mudava toda hora. Eu abria a boca, mas não conseguia formar as palavras. Saímos para jantar fondue. Não lembro se comi. Já me perguntaram: como ninguém percebeu que eu estava tendo um derrame? Afinal, eu não estava diferente? Quando essa pergunta surge, meu marido e meus amigos olham para baixo. Eu estava esquisita, sim. Mas era réveillon. Meus amigos e meu marido estavam bêbados e alegres. Eu estava calada. Eles acharam estranho, mas não se preocuparam muito. Acharam que talvez eu também estivesse bêbada. E eu não tinha os sintomas clássicos de um derrame. Meu rosto não estava retorcido, minha fala não estava arrastada. Dois dias após o derrame, nós voltamos para Berkeley (Califórnia). "Eu não estou me sentindo bem", disse ao meu marido. "Vou ficar em casa, não vou trabalhar." Nossa geladeira estava vazia, então fui ao mercado. Olhei as prateleiras, um borrão de cores e letras e formas. "Do que nós estamos precisando mesmo?" Eu não conseguia entender como as coisas se encaixavam, que eu ia precisar de pão para fazer um sanduíche, e carne. Eram só formas e cores e texturas. Aquele retângulo rosado era [só] um retângulo rosado. As latas de sopa e de legumes eram só cilindros metálicos. Eu saà­ com uma coisa: um vidro de molho de tomate. Eu peguei o molho porque já tinha comprado aquilo antes, conseguia ler o rótulo. Mas a gente não estava precisando de molho. Eu não lembro como paguei, se foi com dinheiro ou cartão. Eu só me lembro de estar sentada dentro do meu carro, segurando um vidro de molho, pensando em como voltar para casa. Eu não sabia como voltar. Comecei a dirigir. Se eu dirigir, eu vou chegar de alguma forma. Cada vez que eu pensava se virava à esquerda ou à direita, me sentia perdida. Não fazia ideia. Mas insisti. Toda vez que parava, eu reconhecia algo - uma árvore, uma casa, uma loja. Sabia que estava chegando. Onde a lógica e a memória falharam, a intuição me guiou. Cheguei em casa. E aí pensei, "preciso ir para um hospital". Peguei o telefone e me perguntei: "Qual é mesmo o número do 911?" [número de emergência usado nos EUA]. Eu olhava para o telefone, e não conseguia saber qual tecla correspondia a qual número. Pensei em ligar para o meu marido. Mas eu também não me lembrava do número dele. Não me ocorreu olhar na agenda do celular. Resolvi discar um número qualquer, e falar com quem atendesse. "Alô", um homem disse. "Oi!", eu disse. "Oi." "Quem está falando?", perguntei. "Aqui é o A-", o homem começou a responder. "Oh! Eu estava tentando falar com você! Eu esqueci seu número. Eu liguei este número, porque ele estava nos meus dedos." "Estou indo agora para casa", ele respondeu. Agente foi ao pronto-socorro, onde eu fiz uma tomografia cerebral. Apareceu um ponto escuro na imagem. "Nós vamos internar você, para fazer mais testes." Meu marido brincou, "precisamos chamar o Dr. House". Adorei a ressonância magnética na manhã seguinte. Era tranquilo dentro do tubo, com os estalos da máquina [nota do tradutor: em máquinas do tipo, o ruído pode alcançar 120 decibéis, nível de um show de rock]. E aí um neurologista veio falar comigo. "Oi, Christine, a gente descobriu que você teve um derrame." "OK." "Um derrame no tálamo esquerdo." "OK." O tálamo é o miolo do cérebro. Cada metade dele é do tamanho de uma noz - e do tamanho do cérebro inteiro de uma iguana. Ele regula o sono e transmite sinais. Danos ao tálamo podem provocar coma permanente. Eu dormi. E dormi. E dormi. Eu não sonhava, passei meses sem sonhar. Ou talvez sonhasse, mas não me lembrava. Quando estava acordada, eu tinha memória de 15 minutos - como a peixinha Dory, do desenho Procurando Nemo. Meus médicos disseram para eu anotar as coisas, com os horários, num caderno. Ele seria a minha memória. Eu era a paciente mais jovem na ala de derrames - por décadas de diferença. Me apelidaram de 47, o número do meu quarto. Eu andava pelos corredores do hospital, carregando a minha sonda com Heparin (remà©dio anticoagulante). Eu perdi a noção do tempo. Um dia, meus amigos foram me visitar. Eles me cumprimentaram e disseram: "Você parece totalmente normal!". O neuropsiquiatra entrou no quarto. "Olá." "Oi." "Você sabe quem eu sou?" "Não." "Abra seu caderninho." Eu abri. "Que hora é agora? E a que horas você fez sua última anotação?" "São 10h35. Ah! Eu conheci você 20 minutos atrás! Você é meu neuropsiquiatra." "Puuuutz... nossa", meus amigos disseram. Eu gostei dos meus dez dias no hospital. Foram tranquilos. Eu apreciei o silêncio. Eu dormi. Eu tinha enfermeiras favoritas. Eu não lembro os nomes delas, porque me esqueci de anotar. Quando eu voltei, o mundo veio com tudo para cima de mim. Eu tinha que pedir para meu marido desligar o rádio, não suportava andar de carro com o som ligado. Eu ficava de olhos fechados o caminho inteiro. Não aguentava os estímulos. E, depois, eu dormia por horas. Foi assim durante semanas. Para cada 15 minutos de interação acordada, eu tinha de dormir várias horas para me recuperar. Eu esquecia de comer. Não sabia nem fazer um sanduíche. Numa tarde, resolvi fazer um bolo (antes do derrame, eu fazia muitos bolos). Enquanto misturava a manteiga e o açúcar, o telefone tocou. Atendi. Esqueci do bolo. Sentei. Esqueci do telefonema. Liguei a TV. Levantei, me sentindo tonta. Por que estou tonta? Talvez não tivesse comido. Qual foi a última vez que comi? Não lembrava. Fui até a cozinha, tinha uma batedeira ligada. Quem deixou ligada? Tinha um livro de receitas aberto. Quem estava fazendo a receita? Devo ter sido eu, pensei. Os médicos me receitaram Lovenox e Coumadin. São remédios para afinar o sangue. O Lovenox era uma injeção na barriga — doía e deixava hematomas grandes. Como meu tálamo estava danificado, eu não conseguia controlar o choro. Toda noite, eu pegava a caixa com as seringas de Lovenox e levava até meu marido, chorando. "Está na hora da minha injeção", eu dizia, as lágrimas escorrendo pelo rosto. Toda noite, ele me dava a injeção enquanto eu gritava como uma criança. E depois chorava meia hora. Eu não era eu mesma. No dia 30 de janeiro [um mês após o derrame], abandonei o mestrado [em Letras]. Encontrei uma colega no campus, contei o que tinha acontecido. Eu não conseguia ler mais do que um parágrafo. "Vou tirar uma licença", disse. "Queria eu ter um derrame como desculpa para os meus problemas de memória", ela respondeu. A antiga Christine teria dito que isso foi rude. Ou que me magoou. A nova Christine ficou paralisada, sem conseguir responder. E aí eu fui para o meu carro e chorei. Durante um mês, todas as horas do dia eram como aquele momento quando você acorda e ainda não sabe onde está ou que horas são. Mas eu era incapaz de me preocupar com o passado, ou com a incerteza do futuro. O Sol brilha, o vento bate no meu rosto, eu estou viva. à‰ isso aí. As pessoas pagam muito dinheiro para viver assim. Viver no presente. O coágulo passou por um buraco no meu coração. O buraco, mais precisamente uma fenda, é chamado de forame oval patente, ou FOP. Todo feto tem um furo no meio do coração, entre o lado esquerdo e o direito, porque ele obtém seu oxigênio do sangue materno, e não usa os pulmões para respirar. Quando nasce, o buraco se fecha. Mas, em 25% das pessoas, ele não fecha totalmente. Em alguns casos, o furo é grande e tem de ser tapado imediatamente [com cirurgia]. Em outros, passa despercebido. E aí você tem enxaquecas, ou falta de ar, como eu tinha. Os médicos descobriram o furo, que causou meu derrame, fazendo um ecocardiograma e o teste da bolha. Eles me injetaram uma solução salina e observaram, por meio de um monitor, as bolhinhas viajando pelo corpo. Se meu coração fosse normal, as bolhas seriam filtradas pelos pulmões. Mas quando elas apareceram no lado esquerdo do coração, soubemos que eu tinha um FOP. Um mês depois, aconteceu de novo: outro coágulo sanguíneo passou pelo furo. Ele foi até minha cabeça, e parou no olho esquerdo. Fiquei com a visão afetada, e fui para o hospital. As enfermeiras se lembravam de mim. "Quarenta e sete!" Uma semana depois, os médicos fecharam o furo. Usaram um amplatzer. É como um guarda-chuva bem pequenininho, que eles enfiaram pela minha artéria femural [na perna] até chegar ao coração. No meio do procedimento, meu coração parou, e o cardiologista teve que usar o desfibrilador. Meu coração surtou. Ele não queria ter seu buraco fechado. Não queria ser tocado. Eu sei disso porque o médico me contou. "Você se lembra de alguma coisa?", ele : perguntou. "Não." "Você estava acordada, conversando comigo", ele disse. "Ai meu Deus. O que eu falei?" "Não se preocupe." Fiquei pensando se poderia ter revelado algum segredo. Mas aí constatei que eu não me lembrava dos meus próprios segredos. Passei a noite no hospital, deitada de costas. Eu não podia me mexer até que a artéria femural cicatrizasse. De hora em hora, as enfermeiras iam me ver - e me encontravam encharcada de sangue. "Você se mexeu?", perguntavam. "Não." "Fique parada", elas diziam, e durante a próxima hora eu sentia uma pressão horrível na perna, enquanto as enfermeiras se revezavam tentando estancar o sangramento. Fui melhorando, mas, se me forçasse muito, eu regredia. Ficava exausta, e tinha que passar dias de cama para me recuperar. Meu cérebro queria desligar, e me fazia dormir. Quando uma das minhas melhores amigas veio me visitar, ficamos acordadas até tarde, rindo. Depois, dormi quatro dias direto. Alguns amigos diziam que eu estava bem, estava exagerando. As pessoas de 30 e poucos anos se preocupam com carros, empregos. Eles não entendiam o que eu estava passando. Então procurei fazer amizade com idosos. Um deles me disse: "Encontre o significado da sua recuperação". No começo, eu só conseguia ler revistas de fofoca. Um màªs depois, consegui ler o jornal. Seis meses depois, um conto do Haruki Murakami [escritor japonês]. Eu não me lembrava de nada depois, mas lia o máximo possível. Às vezes aguentava 15 minutos, à s vezes uma hora. Eu escrevia o quanto conseguia. Muitas vezes, trocava as palavras. Relia o texto e não enxergava os erros. Percebi que nà£o conseguia mais mentir. Logo, não conseguia escrever ficçà£o. Então comecei a escrever a verdade. Criei um blog anônimo, onde falava sobre minha recuperação. Me tornei introvertida. Aprendi a proteger minha energia. Aprendi a me cuidar melhor. Aprendi a dedicar meu tempo a coisas importantes, que me fazem bem. A parte morta do meu cérebro nunca se recuperou, mas ele construiu novas conexões em volta. Voltei ao mestrado alguns meses depois. Queria terminar. Faltava uma última disciplina, e a tese. Meu orientador falou, "vamos pegar os contos que você já escreveu, juntar e apresentar como tese de conclusão do curso". Eu terminei. Não me lembro de nada. Até hoje, colegas vêm falar comigo. "Lembra daquela conversa incrível que tivemos?" Sorrio e digo: "não lembro". Como o furo no meu coração foi tampado, consegui começar a fazer exercício. Comecei a correr e a fazer ioga. E as outras partes do meu corpo, incluindo minha infertilidade, sararam e se resolveram. Fiquei na melhor forma da minha vida, e aí engravidei. Tive o bebê, e desenvolvi uma severa depressão pós-parto. Meu marido e eu decidimos nos separar. "Acho que foi o seu derrame que mudou as coisas", ele disse. Para mim, foi o caso extraconjugal que ele teve. Eu percebi o momento em que eu voltei, 22 meses após o derrame. Estava dirigindo e decorei as placas dos carros Fiquei em êxtase. Muita coisa ainda está inacessível. Eu sei que tudo o que aconteceu ainda está no meu cérebro, guardado em algum lugar. Sei que o tálamo recupera e junta memórias, e que algumas dessas memórias aparecem mais tarde, como a sensação de déjá vu. Ou como quando, no meio da tarde, você se lembra de um sonho que teve na noite anterior, porque alguém está usando um lenço vermelho e isso lembra você do sonho em que perdia um lenço no mar bravo do Mediterrâneo. Boa parte da memória, eu aprendi, està¡ conectada às emoções. Eu sei porque me lembro de dias marcantes da minha infância. Aquele dia, jogando bolas de neve, e nà£o qualquer outro. Aquele Halloween, ouvindo meus pais gritarem, e nà£o qualquer outro. Aquela viagem de avião para a Califórnia. Esqueci os nomes de todos os meus médicos exceto o do neurologista. Dr. Volpi. O que tem um olhar bondoso. Que foi o primeiro especialista a me atender no pronto-socorro. E que me disse que eu sofrera um derrame. Christine Hyung-Oak Lee, 41 anos, é escritora. Este texto foi originalmente publicado, em inglês, no site BuzzFeed. 2#5 HISTÓRIA – EM BUSCA DO SANTO PREPÚCIO Uma das relíquias mais curiosas da igreja é também a mais polêmica: o prepúcio do menino Jesus. Ele é alvo de uma caà§ada que já envolveu o imperador Carlos Magno, dez papas, grandes roubos, uma caverna e até hippies. REPORTAGEM Sara Magalona VINTE E NOVE IGREJAS possuíam os pregos usados na crucificação de Jesus. Cerca de 70 diziam ter amostras do leite de amamentaà§ão de Maria. Pedaços da cruz, então, qualquer cidade tinha. A Idade Média viveu o milagre da multiplicação de relà­quias cristãs. Uma banalização que foi criticada por protestantes na época da Reforma e, depois, pela própria Igreja Católica, que parou de fomentar esse culto. Mas uma dessas relíquias não foi esquecida pelo tempo e talvez não tenha sido destruà­da: o prepúcio do menino Jesus. A "Santa Carne" já motivou disputas papais e atraiu peregrinos por séculos a Calcata, cidade a 45 quilômetros de Roma onde ela era preservada. Até que desapareceu na década de 1980. No oitavo dia após o nascimento, Jesus foi circuncidado. Como todo bebê judeu, seu prepúcio, a pele que cobre a cabeça do pênis, deveria ser enterrado. A Bíblia não faz nenhuma menà§ão a isso, mas o Evangelho da Infância, um texto apócrifo (excluído da Bíblia) publicado em 1677, faz. Segundo o livro, que retrata Jesus como uma criança mimada e inconsequente, a pele foi entregue a uma velha senhora, que o guardou em uma caixa com óleo perfumado — esse óleo ainda seria usado por Maria Madalena para limpar Jesus morto na cruz. A caixa foi escondida na loja do filho dela, sob a condição de não ser vendida. O curioso é que, segundo o texto, Maria não seguiu o costume religioso de enterrar o prepúcio do filho. Por oito séculos, não houve nenhum relato da relà­quia. Até que a história ganhou novos contornos. Em 799, o papa de então, Leão 3º, estava em maus lençóis. Ele não era tido como nobre o suficiente para comandar a Igreja, o que, naquela época, já era motivo para sofrer atentados. Precisando de apoio para não ser assassinado, ele buscou ajuda logo no homem mais poderoso da Europa, o rei dos francos Carlos Magno. O monarca atendeu ao pedido e achou por bem invadir Roma. Como resultado, acabou coroado imperador do Ocidente pelo próprio Leão 3°. Foi aí que, diz a lenda, ele teria dado ao pontífice uma caixa que continha o prepúcio, que ele recebera de presente após enfrentar muçulmanos em Jerusalém. Mas Carlos Magno nunca foi ao Oriente Médio, apenas enviou missões à Terra Santa para firmar acordos. Nessas viagens, presentes foram trocados — e o prepúcio seria um deles. Outra versão, mais religiosa, diz que certo dia Carlos Magno estava rezando diante do Santo Sepulcro, um local em Jerusalém onde, de acordo com a tradição cristã, Jesus morreu, foi enterrado e ressuscitou. Durante a oração, uma criança surgiu do nada e pediu a ele que guardasse uma caixa que continha um presente, dizendo que era "feito de minha própria carne". Segundo estudiosos do assunto, é provável que o rei dos francos não tenha nenhuma ligação, de fato, com a história. "Após sua morte, em 814, surgiu a Carlos Magno S.A. Todo mundo queria uma parte da lenda carolíngia", escreveu o jornalista David Farley no livro An Irreverent Curiosity ("uma curiosidade irreverente", sem edià§ão no Brasil). Ou seja, a saga do Santo Prepúcio teria sido grudada à de Carlos Magno, o "pai da Europa", em busca de legitimidade. Era comum associar relíquias a personagens históricos para aumentar sua importância e prestígio. FÁBRICA DE RELÍQUIAS O achado era um incremento a uma política de Roma vigente no sà©culo 9: todas as igrejas deveriam ter pelo menos um artefato ou pedaà§o de corpo de algum grande personagem cristão. Foi a farra das relíquias. Pequenas e grandes cidades começaram a procurar (e inventar) objetos, a fim de atrair mais fiéis, status e dinheiro. As igrejas desenterraram e desmembraram santos. Expunham para adoração pedaços de corpos apodrecidos. Mas o que fazia a roda da fortuna girar de verdade eram objetos ligados a Jesus. Aí sobrou para seu pênis circuncidado — e o cordão umbilical, que também estaria em Roma. Ao longo da Idade Média, 18 localidades catalogaram o Santo Prepúcio entre as próprias relíquias. Uma cidade francesa foi balizada em homenagem a ele: Charroux, que significa "carne vermelha". No século 14, o prepúcio de Charroux ficou famoso, rivalizando com o romano em peregrinações. Isso simbolizou o racha que a Igreja vivia. Naquela época, havia um papa na Itália e outro na cidade francesa de Avignon. Quando Roma recuperou o pleno domínio, no século seguinte, o prepúcio francês perdeu a vez. Mas a relíquia romana não teve muito sossego. Em 1527, ela foi roubada durante o Saque de Roma, comandado pelas tropas do imperador do Sacro Impà©rio Romano-Germânico Carlos 5º. O soldado alemão que furtou a peça foi capturado ao se aproximar de Calcata, quando tentava sair da Itália. Ele não foi preso por estar com o Santo Prepúcio, mas pelo simples fato de ser estrangeiro. Acabou liberado, deixando para trás a relíquia - talvez por medo de, aí sim, ser pego em um crime muito mais grave. Ou por fé, ao se dar conta do que levava. Roma sabia que o prepúcio estava na região de Calcata, mas ninguém tinha noção de exatamente onde. A prisão, que funcionava em uma caverna, foi desativada sem que as pessoas da cidade soubessem que a relíquia estava ali. Diz a lenda que, três décadas depois, um padre observou que as mulas sempre se curvavam à entrada da caverna. Curioso, resolveu entrar para ver o que havia lá. Descobriu o relicário e, apesar de ninguém conseguir abri-lo, tinha certeza de que se tratava do Santo Prepúcio, devido a uma fita com uma inscrição parcialmente apagada. Roma cogitou reavê-lo, mas, como a caverna já havia se tornado ponto de peregrinação, Calcata foi oficializada como terra do verdadeiro e único Santo Prepúcio. "Os outros pretendentes foram ignorados ao longo dos séculos", explica Farley, que também à© autor do documentário A Relíquia Perdida de Jesus Cristo. Na virada do século 19 para o 20, a França voltou a defender sua legitimidade peniana. As cidades de Conques e Charroux (de novo) disseram ter redescoberto seus prepúcios medievais. Foram motivo de piada. A Igreja perdeu a paciência e decidiu excomungar quem falasse do assunto e dar um basta ao culto a relíquias consideradas excêntricas. Quanto ao tesouro de Calcata, ele deveria ser escondido. Com isso, a cidade perdeu a vocação turístico-religiosa. Para piorar, ainda precisou ser evacuada, pois estava em uma zona ameaçada por terremotos. Os habitantes construíram outra cidade, chamada Calcata Nuova, e a velha rapidamente ganhou uma nova e inusitada população. Nos anos 60, empolgados pela beleza do local e pelo teto grátis, boêmios, hippies e artistas se estabeleceram em Calcata — e estão lá até hoje. Ao tomarem conhecimento da relíquia curiosa, uns se encantaram pelo seu misticismo enquanto outros a viam como uma excentricidade divertida. Em 1983, o prepúcio foi roubado. Não era preciso muita astúcia: ele estava guardado em uma caixa de sapato na casa do padre local. O roubo virou notícia internacional, e surgiram muitas especulaà§ões sobre os ladrões. Bandidos comuns, satanistas, neonazistas... Ou o próprio padre, que teria vendido ou entregado ao Vaticano, já que moradores dizem tê-lo visto viajar um dia antes. Desde então, caçadores de relíquias buscam evidências de onde ela estaria. O mistério segue vivo. No passado, dez papas concederam indulgências, uma espécie de perdão oficial da Igreja, a quem celebrasse a relíquia. Hoje, ninguém no Vaticano fala do assunto ou sequer reconhece a existência do Santo Prepúcio. PEQUENA GALERIA DE RELÍQUIAS EXÓTICAS LEITE MATERNO Na Idade Média, 69 santuários diziam ter o leite da Virgem Maria. AUTENTICIDADE - O Museu Britânico tem um relicário com o leite que nunca foi aberto. Se o líquido estiver lá dentro, hoje ele seria só uma massa solidificada de proteínas, gordura e carboidratos. DEDO Segundo a tradição, São Tomé tocou os ferimentos de Jesus. Esse mesmo dedo estaria na Basílica da Santa Cruz, em Roma. AUTENTICIDADE - De fato, há um dedo descarnado disponível para visualização na basílica. Mas nunca foi feito um estudo de datação para saber de que época são os ossos. É ver para crer. Como São Tomé. LÍNGUA Em 1263, o caixão de Santo Antônio de Pádua (1195-1231) foi aberto, 32 anos após sua morte. A língua dele não havia se decomposto. AUTENTICIDADE - Ela está em um relicário na cidade italiana de Pádua. Como não se sabe se houve processo de mumificação e a caixa nunca é aberta, não dá para cravar que ela nà£o esteja ali. CABEÇA Três anos após a morte de Catarina de Siena (1347-1380), a cabeça foi mumificada e enviada à cidade natal da santa, na Itália. AUTENTICIDADE - Em 1855, o túmulo da santa foi reaberto e a cabeà§a não estava lá. Em 1947, um exame mostrou que o crânio tinha tamanho condizente com o de uma mulher italiana. Mas é só o que se sabe. Fonte: Gustavo Batista de Menezes, professor de biologia celular da Universidade Federal de Minas Gerais 2#6 CULTURA – AS BANDEIRAS DO MUNDO Do manjado vermelho ao ousado roxo, veja os (muitos) padrões e as (poucas) exclusividades das bandeiras dos 192 países do planeta. POR Luiz Romero, Anna Carolina Rodrigue, Jorge Oliveira, Inara Negrão, Gabriel Gianordoli, Felipe van Deursen. 31,5% VERMELHO Representa o sangue derramado em batalhas (Turquia) e ideais que nações gostam de exibir, como coragem (Benin), progresso (Suriname) e vitória (Tadjiquistão). 20,9% AZUL Pode ser a água (do mar em El Salvador e da chuva em Botsuana) ou o céu. As estrelas na bandeira do Brasil são o céu do Rio de Janeiro em 15/11/1889, dia da Proclamação da República ROXO Aparece apenas em uma bandeira da Dominica, onde imboliza o papagaio-imperial. 15,7% VERDE Esperança (Hungria) e prosperidade (Burkina Faso). Também é usado como referência ao Islã (Paquistão). 9,5% AMARELO Muito associado a recursos minerais ou à luz do Sol (Jamaica). LARANJA Na Irlanda, representa o Príncipe de Orange, no Níger, o deserto do Saara, no Bufão, o budismo, na Costa do Marfim, a savana. 4,8% PRETO Na bandeira do Sudão do Sul, uma das poucas com seis cores, representa a pele negra da população. 17,6% BRANCO Pureza, justiça e liberdade. Ou ainda paz, como na listra na bandeira da Irlanda e nas estrelas na da Bósnia. FORMA BÁSICA As divisões, as cores, o formato e os símbolos mais comuns no mundo. 1- FORMATO RETANGULAR - Todas são assim, com exceção de Nepal, que tem cinco lados, e Suíça, que é quadrada. Duas proporçàµes são as mais usadas: 2:3 (imposta pelos impérios francês e holandês) e 1:2 (espelhada pelos britânicos) 2- DIVISÃO TRÊS LISTRAS HORIZONTAIS - A onda das listras começou com a bandeira da França, criada em 1794, após a Revolução Francesa. Apesar de o país usar listras verticais, as horizontais acabaram fazendo mais sucesso com o tempo. 3- SÍMBOLO ESTRELA DE CINCO PONTAS - Pode representar Estados (Brasil e EUA) ou uma ideologia. No Vietnã, cada ponta é uma classe e a estrela é a união de todas para a construção do socialismo. 4- CORES VERMELHO, AZUL E BRANCO – Os impérios francês, russo e o britânico impuseram suas cores às colônias. Se houvesse uma bandeira que seguisse os padrões mais repetidos, ela seria assim. SÍMBOLOS Aqueles relacionados à astronomia são os mais comuns, seguidos de vegetais e animais. 56 Elementos astronômicos – A Lua Crescente e a estrela sà£o o símbolo do islamismo (Malásia, Argélia). 19 Vegetais - Em geral, são folhas, flores e frutos típicos do país, como noz-moscada (Granada). 15 Brasões – Complicam o desenho de qualquer bandeira. No da Espanha, há nove cores escondidas, como rosa. 11 Animais – Costumam ser bichos icônicos do país. É o caso do guru-coroado, um pássaro de Uganda. 11 Objetos - Na bandeira da Angola, facão e roda dentada simbolizam camponeses e operários unidos no socialismo. 5 Cruzes - A da Geórgia tem quatro pequenas cruzes páteas (essas com as pontas mais gordinhas). 11 Outras - O maior símbolo do país é um templo? Coloque-o na bandeira. Como Angkor Wat, no Camboja. FRASES A escrita mais comum é o nome do país, como nas bandeiras do Paraguai e da Nicarágua. Conheça três exceções. BRASIL - Ordem e Progresso. Lema político do positivismo. ARÁBIA SAUDITA - "Não há deus senão Alá e Maomà© é seu mensageiro." Credo da fé islâmica. ESPANHA - Plus Ultra. "Mais além." Nasceu no antigo império espanhol. PADRÕES Certos padrões de cores indicam regiões específicas do globo. IMPÉRIO ETÍOPE – ÁFRICA. As cores representam o Pan-Africanismo, ideologia que defende a união dos povos africanos. Nasceu da bandeira da Etiópia, país admirado por ter escapado do domà­nio europeu na época colonial. Essa combinação também inspirou as cores do rastafári e do reggae. TROCAS LATINAS - AMÉRICA DO SUL E CENTRAL. O amarelo, azul e vermelho de Colômbia, Venezuela e Equador nasceram da Grande Colômbia, nação fundada por Simon Bolívar em 1819. Já o azul e o branco da Argentina inspiraram três países da América Central: Guatemala, Honduras e Nicarágua. DINASTIAS ÁRABES - NORTE DA ÁFRICA E ORIENTE MÉDIO. A revolta que levantou as nações árabes sob o domínio do Impà©rio Otomano tinha uma bandeira verde, vermelha, preta e branca. Cada cor representa uma dinastia árabe. O padrão inspirou as bandeiras dos novos países independentes. DIVISÕES Um em cada três países tem bandeira formada por listras. 47 – Três listras horizontais 23 – Três listras verticais 20 – Triângulo 18 – Símbolo central 13 – Retângulo 11 – Listra diagonal 11 – Duas listras horizontais 9 – Cruz horizontal 6 – Duas listas verticais 3 – Cruz diagonal 3 – Círculo 19 – Outros 2#7 ATUALIDADES – A ÁGUA QUE VEM DO AR Na falta de chuvas, ninguém precisa passar sede. E nem depender da dessalinização do mar, um processo caro e de logística complexa. Conheça a região no meio do deserto chileno que tira água do ar, sem gastar um pingo de energia. REPORTAGEM E FOTO Felipe Abreu e Luiz Felipe Silva, de Coquimbo, no Chile. ENTRE A LONGA CORDILHEIRA DOS ANDES E O OCEANO PACÍFICO, no paà­s mais esticado do mundo, está o maior deserto latino-americano, o chileno Atacama. A aridez domina a região e os municípios prà³ximos - são quase 1.500 km de extensão onde a média de chuvas é de 0,1 mm ao ano, com áreas onde a água fica sem cair por séculos. Nesse mar de sequidão, fica a região de Coquimbo, no município de Chungungo, que é banhado pelo mar, e onde choveu apenas cinco vezes em todo ano de 2013. Na área, a média histórica de chuvas é de apenas 100 mm ao ano - contra 1.500 mm em São Paulo, por exemplo. Mas, ao contrário da capital paulista, aqui não falta água - é possível tirá-la do ar. O que acontece em Coquimbo é que faltam chuvas, mas sobram nuvens hiperúmidas. São as "nieblas costeras", que se formam sobre a orla, se movem em direção ao continente e acabam aprisionadas por uma serra, num fenômeno chamado de camanchaca, as "chuvas horizontais". A camanchaca acontece em condições muito específicas de geografia, clima e correntes marítimas, e é bem comum ao longo do litoral peruano e chileno. Essa neblina é composta por minúsculas gotas de água, que, de tão leves, se mantêm suspensas no ar. Se a nuvem encontrar algum tipo de obstáculo, as partículas de água se chocam umas com as outras e começam a se concentrar. Alcançam, então, peso suficiente para cair, virar gotas de água, e deixar um rastro de umidade por onde passam. Nas regiões em que o fenômeno acontece, é comum encontrar árvores eternamente encharcadas e animais com os pelos molhados o tempo todo. A umidade é visível por aqui. Nas altitudes entre 600 e 1.200 metros, onde o fato à© mais intenso, a vegetação é abundante e frondosa - ao contrário das zonas em que as neblinas costeiras não acontecem, e que têm solo seco e pouca flora. Foi observando esse contraste que, há 50 anos, pesquisadores da Universidad de Chile tiveram uma ideia: se a água não cai das nuvens, será que daria para pegá-la de dentro delas? Assim nasceu a ideia dos atrapanieblas (em português, algo como "capta-nuvem") - artefatos criados para tirar, literalmente, água do ar. As engenhocas são simples: basta esticar malhas de polietileno de alta densidade (parecidas com as que são usadas para proteger plantações do sol), de até 150 metros de largura, entre dois postes de madeira ou aço. A neblina passa pela malha, mas os fios de plà¡stico retêm parte da umidade, que condensa, vira água e escorre até uma canaleta que leva a um reservatório (veja mais no info). O negócio é barato e eficiente: cada metro quadrado da malha capta, em média, 4 litros de água por dia, e um atrapaniebla de 40 m2 custa entre US$ 1.000 e 1.500. Para melhorar, o modelo é 100% sustentável. Não atrapalha a flora e a fauna, e funciona durante quase o ano todo, o que torna possível planejar a produção de à¡gua. Mas não para por aí: a verdadeira vantagem é que os atrapanieblas não utilizam luz elétrica. Diferentemente de outros métodos caros de obtenção de água em regiões secas, como a dessalinização do mar, eles não precisam de energia para funcionar. O vento trata de espremer as nuvens pelas malhas, e a gravidade cuida de carregar a água até os baldes. Perfeito. Infelizmente, o projeto não é replicável no mundo todo por causa das condições necessárias de clima e temperatura. Mas países como México e Peru também utilizam a técnica. No árido Estado de Querétaro, na região central do México, e nas secas áreas costeiras do Peru - que inclui a capital Lima, onde a média anual de pluviosidade é de menos de 10 mm, mas cuja umidade relativa do ar chega a 98% -, o projeto já funciona em larga escala. O maior complexo de malha do mundo, contudo, localiza-se em Tojquia, Guatemala: são 60 captadores que, ao todo, compõem uma rede de 1.440 m2 e captam quase 4 mil litros de água diariamente, abastecendo cerca de 30 famílias. Sem gastar energia. CERVEJA DO CÉU Em Chungungo, que não parou de crescer desde a década de 1980, as malhas não são mais suficientes para abastecer toda a população, e a prefeitura teve de recorrer a uma estação de dessalinação do mar para não faltar água. Por isso, há diversos estudos que tentam aumentar a produtividade dos atrapanieblas por aqui. Um deles é o Fog Finder System, uma superfície de 1 metro quadrado com diversos tipos de malhas e sensores que identificam o fluxo do vento e das gotas de água. Com ele, é possível descobrir a melhor maneira de dispor os fios da malha e quais tecidos são mais eficientes. Ele já descobriu, por exemplo, que o polipropileno, atualmente o material mais usado no Chile, é um dos que menos captam à¡gua. Outras soluções para a produtividade são mais simples, como o atrapaniebla Cecelic, desenvolvido no México. Em vez de usar uma malha retangular, o Cecelic é uma superfície triangular com a ponta para cima. Nela, a água não vai para uma canaleta, mas direto para dois reservatórios, um em cada vértice do triângulo. O formato evita o rompimento da malha e, segundo os desenvolvedores, capta mais água: de 6 a 22 litros por dia para cada 1,5 m2 de malha. "Sonho com o dia em que o método de captar água das nuvens possa competir com o sistema de dessalinização, que requer muita energia e não é compatível com o meio ambiente", diz Pilar Cereceda, professora do Instituto de Geografia da Universidad de Chile e uma das maiores especialistas chilenas no assunto. Aqui em Coquimbo, a água que vem das nuvens - que é 100% potável - é usada para outros fins. Em Majada Blanca, a 25 km de La Serena, principal cidade da região, mora Pedro Hernández Pérez, que pesquisa o aumento de eficiência dos atrapanieblas - e usa a água para cultivar uvas e azeitonas. Todas as semanas, ele percorre a pé um trajeto de 2 km de subida íngreme para medir a capacidade de captação dos tecidos. Além das duas grandes malhas que coletam a água para seu cultivo, uma tradicional de polietileno e outra de polipropileno em formato tridimensional, há pequenas telas com outros tipos de material, como o alumínio, em fase de teste. O formato tridimensional é especialmente interessante porque diminui a área de "sombra" do tecido, os pedaços de fio que não entram em contato com as gotículas de água. O sonho de Pedro Hernández é produzir vinho e azeite com a água da neblina. "No momento estou fazendo testes com diferentes tipos de uvas, para saber qual se adapta melhor ao clima e ao terreno, mas espero começar a fabricar meu próprio vinho em breve", diz. Mas a utilização mais original da água que vem do cà©u acontece em Peña Blanca, 100 km mais ao Sul. Alimentada pela à¡gua de apenas duas pequenas malhas montadas no topo de uma de suas montanhas, funciona uma cervejaria artesanal. A Cervejaria Atrapaniebla tem três tonéis e uma câmara fria e produz 24 mil litros da bebida por ano. A boa Atrapaniebla, nome do rótulo, é uma Scottish Ale produzida com 100% de água captada do ar. "Sem fontes de água na quantidade que precisávamos, tivemos que apelar para as nuvens. Alà©m disso, a água da camanchaca é de excelente qualidade, e dà¡ particularidades especiais à nossa cerveja", diz Miguel Carcuro, dono e desenvolvedor da cervejaria. É a desculpa que você precisava para tomar cerveja - dessa vez, uma que caiu, literalmente, do céu. DANÇA DA CHUVA O clima no norte do Chile é dominado pelo Anticilone do Pacífico. Formado sob alta pressão atmosférica, ele não permite que o ar suba e gere chuvas. Assim, o clima árido predomina. Por outro lado, a alta pressão produz nuvens formadas por gotas tão minúsculas de água que não têm peso suficiente para cair. 1- As nuvens percorrem longas distâncias no oceano, formando uma massa de ar quente e úmido que condensa em contato com o frio do continente. As montanhas na costa então aprisionam as nuvens. 2- Os atrapanieblas devem ficar perpendiculares ao vento, para receber a nuvem de frente e entrar em contato com mais umidade. Além disso, devem estar próximos da costa, para minimizar a perda de água que evapora sobre o continente. 3- Quando a névoa passa pelo atrapaniebla, a malha captura as gotà­culas de água, que se aglomeram na tela até formarem uma gota maior, com peso suficiente para escorrer até uma canaleta. 4- Desse pequeno recipiente, a água desce para uma tubulação vedada até os reservatórios localizados na base da montanha (ou próximos às casas), onde fica pronta para ser usada. 2#8 UMA VOZ PARA O AFEGANISTÃO CONHEÇA KIMBERLEY MOTLEY, A EX-MISS E ADVOGADA QUE RESOLVEU LARGAR O CONFORTO DOS EUA PARA MORAR SOZINHA EM CABUL E DEFENDER QUEM NUNCA TEVE DEFESA: MENINAS AFEGÃS. TEXTO Karin Hueck QUEM VÊ KIMBERLEY MOTLEY circulando de vestido florido e bolsa de pano no Rio de Janeiro, confortável entre caipirinhas e canapés de camarão, tem dificuldade de imaginá-la em seu ambiente de trabalho. A americana é advogada em Cabul, a capital do Afeganistão, onde passa nove meses do ano sozinha, morando em uma casa trancada por um portão de ferro e que apenas em dias bons conta com água corrente e luz elétrica. O dia a dia ela passa nas cortes, como a única advogada ocidental do país. Defende todos os estrangeiros que se vêem metidos em problemas legais por lá - e não são poucos. Começou trabalhando com americanos, e hoje é a advogada oficial das embaixadas italiana, francesa e inglesa. Mas não foi isso que a tornou conhecida nos últimos dez anos. Kimberley ficou famosa por salvar afegãos - afegãs, principalmente - de encrencas. Kimberley foi parar no Afeganistão em 2003, na primeira vez em que saiu dos EUA, como parte de um programa de educação do governo americano. A ideia era passar apenas alguns meses servindo de apoio legal para as bases militares, mas ela decidiu ficar por lá. Abriu um escritório de advocacia, avisou o ex-marido e os dois filhos pequenos (que hoje em dia são três, dois deles adolescentes) que não voltaria tão cedo para casa e se tornou residente de Cabul. Seu escritório era voltado para o lucro: a ideia era cobrar (bem) caro pelos servià§os que prestava. Ela não esperava entrar no mundo das causas humanitárias, mas acabou tropeçando em tantas injustiças nos tribunais afegãos que foi isso que aconteceu. Sem querer, entrou em contato com alguns dos processos jurídicos que mais indignam o mundo ocidental: condenações de mulheres estupradas por parentes ou julgamentos de meninas vendidas para se casarem com homens com o triplo de suas idades. Kim não conseguiu ficar insensível aos problemas, e resolveu usar seus conhecimentos para ajudá-las. "Era uma questão de humanidade. Eu estava lá e podia fazer isso. Não tinha como não ajudar", diz. Encurralada, ela assumiu o papel de heroína. A justiça afegã é falha e repleta dos problemas que se espera encontrar em uma nação que acabou de sair de uma guerra. Acusados de crimes vão para a cadeia sem julgamento, são julgados sem estar presentes, seus advogados de defesa não têm acesso ao processo a não ser que paguem propina, e mesmo quem trabalha no setor jurídico desconhece as leis. Em um país no qual a maioria das mulheres sequer pode sair de casa sem a autorização expressa de um membro do sexo masculino da família, os tribunais de justiça acabam dominados exclusivamente por homens. Nesse ambiente, Kimberley parece um alienígena. Além de usar apenas roupas ocidentais e não cobrir a cabeça com um lenço ("Para ser respeitada, tento imitar o comportamento de um homem"), a americana compra briga, aponta o dedo e atà© encosta nos homens que enfrenta nas cortes. É um gesto simples, porém cheio de significado: no Afeganistão, uma mulher pode ser condenada por adultério apenas por ficar no mesmo ambiente de um homem que não for seu parente. Kim não está nem aí. "É uma besteira", diz sobre essas leis. Prova disso é que dirige seu prà³prio carro e, na maioria dos dias, dispensa seguranças para andar por Cabul. A advogada acredita que não é tão corajosa assim - mesmo depois de sobreviver a um ataque talibã contra um hotel em Cabul em março de 2014, no qual teve de ficar escondida por cinco horas e onde 13 pessoas morreram. Diz que aprendeu a lidar com situações adversas ainda na infância, que passou na periferia de Milwaukee, em Wisconsin, na única família inter-racial do bairro. (O pai é negro americano e a mãe é refugiada norte-coreana. Ambos se conheceram quando o pai serviu na aeronáutica na Guerra da Coreia.) Trabalhou desde cedo também: sua mãe a mandava para o campo cultivar verduras e grãos que deveriam durar até o inverno - assim como ela fazia na Coreia -, o que deixava Kim profundamente constrangida diante dos amigos de escola. Como cresceu em um bairro perigoso, aprendeu desde cedo os trejeitos da rua e o jeito escrachado, pose que manteve ao longo dos anos e que, ela jura, a ajuda a sobreviver no país machista em que trabalha. Até hoje, usa muitas gírias e palavrões para se comunicar. Assim, é difícil conciliar a imagem da Kim durona com a da Kim que venceu o posto de Mrs Wisconsin (a versão dos concursos de Miss para casadas) em 2004. Desafiada por um amigo numa aposta, ela se inscreveu na disputa sem sequer saber passar maquiagem: "eu nem estava me esforà§ando!" - e acabou vencendo. Em 2004, disputou o Mrs America também e, desde então, se sente à vontade entre vestidos de gala, acessórios cintilantes e biquínis - tanto que pediu para ser fotografada para a SUPER usando apenas o duas-peças. Optamos pelas fotos que ilustram esta reportagem. MURRO EM PONTA DE FACA Sahar Gul era uma menina de 12 anos quando foi vendida por um irmà£o para se casar com um homem de 30. Assim que se mudou, foi obrigada pelo marido e a sogra a se prostituir para ajudar nas contas do lar, o que recusou. Como castigo, acabou trancada num quarto e torturada: bateram nela com barras de ferro, queimaram-na com cigarros, arrancaram suas unhas. Quando tentou fugir e pedir ajuda para os vizinhos, eles a devolveram para o marido. Foram meses de tortura antes que sua própria família estranhasse o sumiço e conseguisse resgatar a menina. Kimberley pegou o caso e resolveu levá-lo até a Suprema Corte. Pediu indenizações e prisões para o marido, a sogra e o irmão que havia vendido a menina. "Foi a primeira vez que uma vítima de violência domà©stica no Afeganistão foi representada na Justiça", diz Kim. Sahar ganhou a causa. Em um país onde maridos detêm direitos absolutos sobre suas mulheres, e onde não é raro que homens espanquem as esposas até a morte ou cortem seus narizes e orelhas em defesa da honra da família, o caso de Sahar não é pouca coisa. Hoje a menina vive num abrigo e frequenta a escola, embora viva aterrorizada que o ex-marido, recém-libertado da prisão, volte para matá-la. Esse é apenas um de muitos casos igualmente tenebrosos (leia mais um no boxe ao lado) que renderam fama a Kimberley. Apesar de não falar uma palavra em pachto e não topar pagar qualquer forma de corrupà§ão, ganhou 90% dos casos que assume. Em troca, conquistou visibilidade internacional (foi graças a eles que Kim recebeu o convite para falar no TED Global em outubro, no Rio de Janeiro, onde conversamos com ela). O alcance fora do Afeganistão é importante, porque a advogada ainda não sabe como vai ser a vida na hora em que as tropas americanas saírem do país no final de 2014. Ela pensa em trabalhar em outras jurisdições, e já pega casos na África e outros paà­ses da Ásia. Sonha também em ficar uma temporada no Brasil: "quem sabe consigo fazer algo de bom por aqui?" A julgar pelo estilo praiano, adaptada à vida carioca ela já está. A SOLUÇÃO QUE NÃO FOI Gulnaz estava limpando a casa da família em 2009 quando o marido de sua prima a agarrou. Asadulla amarrou a adolescente, a ameaçou de morte e a estuprou lá mesmo. Foi assim que a menina engravidou. Quando procurou a polícia para denunciar o crime, acabou presa por adultà©rio ainda que não fosse casada - seu estuprador que era. Ficou 18 meses na cadeia, onde deu à luz uma filha e só conseguiu sair de lá quando Kimberley Motley resolveu assumir o caso. A advogada lutou por meses nos tribunais e organizou um abaixo-assinado internacional, atà© que Gulnaz recebesse o perdão do presidente Hamid Karzai, em 2011. A menina foi inocentada e encaminhada para um abrigo de mulheres. Tudo parecia bem, e a história de final feliz circulou o mundo. Gulnaz e Kimberley viraram heroínas nacionais. Mas não acabou por aí. Logo ficou claro que Gulnaz não podia deixar o abrigo sem autorização de sua família, que, por sua vez, não queria nem saber da menina por causa da "desonra" do estupro. Na prática, ela estava presa de novo e - solteira e com uma filha pequena - sem lugar na sociedade afegã. Assim tomou uma decisão incompreensível para o resto do mundo: casou-se com seu estuprador e aceitou virar sua segunda esposa. Inacreditavelmente, o marido, que havia passado dois anos na cadeia, se viu como a parte lesada nesse arranjo. "Ela estava abandonada, se eu não tivesse uma consciência e me casado com ela, ainda estaria na rua. Foi muito duro para mim", disse Asadulla a um documentário inglês. Jà¡ ela é pragmática: "ele me desonrou, mas pelo menos assim a minha filha vai ter um pai". Sem ter como se salvar, Gulnaz mantém as esperanças para a filha. 2#9 ZOOM – PARAÍSOS SUBMERSOS NÃQ BASTA IMAGINAR O ÉDEN. TEM QUE MATERIALIZAR. DEBAIXO D'AGUA. CONHEÇA A CURIOSA ARTE DE PLANTAR PAISAGENS EM AQUÁRIOS. REPORTAGEM Débora Nogueira A DIVERSIDADE DA NATUREZA reproduzida entre quatro paredes - de vidro. A moda do paisagismo natural em aquários se espalhou pelo mundo e já tem até competição no Brasil. O curioso é que a técnica, 100% plantada, não foi ideia nem de um paisagista nem de um aquarista, mas do ciclista japonês Takashi Amano, que tinha o hobby de mergulhar e tirar fotos debaixo d'água. Decidiu recriá-las em casa, num aquário em que o peixe é só um detalhe. Ao longo de três décadas, se aperfeiçoou na técnica e adaptou os conceitos de jardim japonês e arte wabi-sabi, que busca a beleza na imperfeição e no caos controlado. Em 2013, o paulista Marcelo Tonon chegou aonde nenhum brasileiro havia chegado: levou medalha de bronze na Competição Internacional de Paisagismo de Plantas Aquáticas (IAPLC, em inglês). Profissional de tecnologia de informação, Marcelo precisou estudar muito para entender as plantas aquáticas. Algas, por exemplo, insistiam em crescer e atrapalhar os layouts. "Até eu descobrir que isso acontecia porque a água do meu prédio tem alto índice de fosfatos", conta. Ou seja, quem quiser se aventurar como aquapaisagista vai precisar de noções básicas de ecologia, biologia, botânica e quà­mica. E, apesar de as plantas serem protagonistas, também é preciso se preocupar com os animais. Gases e fertilizantes usados nas plantas podem prejudicar a saúde dos peixes. A obra do tailandês Sung Pin Chen foi inspirada no parque Alishan, famoso em Taiwan, que liberou boa parte das plantas de graça para o aquarista. R# 3 MIL é o investimento em material necessário para começar no aquapaisagismo. Um projeto bom, digno de competição, custa cerca de R$ 15 mil. Até 6 meses é o tempo para montar um aquário. Muitos competidores desmontam após o concurso – e começam de novo, claro. No aquário do japonês Takayuki Fukada, a estação é“Outonoâ€. Nele, vivem cinco espécies de animais, entre peixes e invertebrados. O BRASILEIRO Marcelo Tonon foi premiado em 2013 com o aquário acima. As cachoeiras impressionam, mas a técnica é simples: são feitas de lã acrílica. Uma das inspirações foi uma viagem à Foz do Iguaçu. No Brasil, cerca de 200 aquapaisagistas participam de competições. O PIONEIRO Takashi Amano podia ter se aposentado como um ciclista bem-sucedido — disputou mais de mil corridas. Mas se apaixonou pelo mar, fundou uma empresa de design de aquários e organiza o IAPLC. Ao lado, obra de 2009, inspirada num mergulho na Amazônia. _____________________________________ 3# SEÇÕES II dezembro 2014 3#1 TECH 3#2 CULT 3#3 E SE... E SE DIVIDISSEM O BRASIL EM NORTE E SUL? 3#4 MANUAL – COMO DIVERTIR AS PESSOAS NAS FESTAS DE FIM DE ANO 3#1 TECH EDIÇÃO Bruno Garattoni A GoPro PARA TODOS Você já deve ter visto uma GoPro, ou um vídeo gravado com ela. Agora, a camerinha está ganhando uma nova versão - com um recurso para atrair as pessoas comuns. TEXTO Bruno Garattoni e Fernando Badô DE ONDE ELA VEIO - A GoPro foi criada pelo americano Nick Woodman, que surfava e queria uma câmera para montar na cabeça ou na prancha. A primeira foi lançada em 2004, e nem digital era (usava filme). De là¡ para cá, a camerinha leve e resistente teve várias versões e virou fenômeno - vendeu 8,5 milhões de unidades. O QUE ELA TEM - O segredo da GoPro está na lente grande-angular, que tem ângulo de visão maior e grava com qualidade muito boa, e nos acessórios. São mais de 60, que permitem usar a câmera em diversas situações. Há desde uma caixa estanque (à prova d'água) até um drone inteligente, que leva a câmera e voa sozinho, acompanhando o dono. QUAL É A NOVIDADE - A GoPro tem vários modelos, a partir de US$130. O melhor é o Hero4 Silver, primeiro com tela touchscreen. Isso permite que você veja na hora o que filmou, algo vital para a maioria das pessoas (com as outras GoPro, é preciso comprar e plugar uma telinha separada, ou jogar o vídeo no computador). QUAL É A GRAÇA - Agora que tem tela, a GoPro passa a ser uma boa mesmo para quem não pratica esportes radicais e só quer registrar eventos do dia a dia, como churrascos e aniversários, com alta qualidade. E, nos intervalos, se inspirar olhando o canal da câmera no YouTube (youtube.com/gopro), cheio de vídeos com proezas incríveis. 1- AR-CONDIOIONADO DE PULSO Este bracelete esquenta ou esfria a temperatura do pulso em 0,4 grau. Mesmo pequena, essa variação faz com que a pessoa tenha a sensação de estar vários graus mais quente ou mais fria (você controla o efeito pelo smartphone). WRISTIFY Nos EUA: N/D Embrlabs.com 2- MÁQUINA DE ESCREVER MODERNA Ela não usa papel. Tem uma telinhade 6" e memória para 1 milhà£o de páginas. Também salva o texto no Google Docs (via Wi-Fi). E sua bateria dura seis semanas. Boa pedida para fugir das distraçàµes do computador e focar no texto. HEMINGWRITE Nos EUA: N/D Hemingwrite.com 3- QUASE DOIS DIAS A bateria é o calcanhar de Aquiles dos celulares. Mas, neste, nem tanto. Ele tem bateria de 3.900 miliampéres (mAh), mais que o dobro de um iPhone 6. Segundo o fabricante, dura 40 horas. MOTOROLA MAXX NO BRASIL: RS 2.199 motorola.com.br 4- FAZ TUDO MESMO Máquinas que lavam e secam, há várias. Esta vai além: também passa. Basta colocar a roupa no suporte e apertar um botão. A máquina lava a seco, passa e engoma. O único porém é que é meio lenta: 10 minutos por peça de roupa. SWAH NOS EUA: RS 1.288 swash.com 5- ESPERANÇA CAPILAR Este capacete dispara 80 feixes de laser no couro cabeludo para estimular a circulação e despertar folículos capilares inativos. O cabelo supostamente volta a crescer após um ano (usando duas vezes por semana). O aparelho foi aprovado pela FDA. THERADOME Nos EUA: R$ 2000 theradome.com 6- BYE BYE TECLADO Este computador não tem teclado. Tem um projetor, que mostra comandos diferentes para cada situação (como escrever, desenhar ou jogar). E capta os movimentos das suas mãos por meio de um scanner 3D. Nos EUA: RS 4.650 sprout.hp.com COMO ESCOLHER UMA NOVA COR PARA A PAREDE Essa decisão costuma ser um dilema - ou você vai no chute, ou compra várias tintas para testar. Mas há uma solução melhor. PASSO 1 - Baixe o app Dulux Visualizer, que é grátis e tem versões para iOS e Android. PASSO 2 - Tire uma foto da sua parede. Aí é só escolher a cor no aplicativo, que tem 1.200 opções, e conferir o resultado. 3#2 CULT EDIÇÃO Karin Hueck e Flávio Pessoa ESTRELAS CADENTES Hollywood (talvez com medo do próprio futuro?) adora contar a histà³ria de celebridades caídas no anonimato. Veja aqui alguns clássicos e lançamentos cheios de ilustres esquecidos. F.A. FAMOSOS ANÔNIMOS – Os dramas, os vícios e o desespero de quem quer voltar a brilhar. 1- BIRDMAN (2014) No novo filme de Alejandro Iñárritu (21 gramas), Michael Keaton faz um ator que estrelou um famoso super-herói, Birdman, nas telonas - e que caiu em esquecimento. Quando ele resolve voltar aos palcos 20 anos depois, adaptando, dirigindo e atuando numa complicada peça de teatro, o mundo reage - bem mal. Estreia em 22 de janeiro. 2- CALIFORNICATION (2007) Hank Moody é um autor de best-seller em crise criativa. Alcoólatra e recém-divorciado, Hank quer provar que pode ser responsável e cuidar da filha - mas acaba fazendo o exato contrário. 3- CREPÚSCULO DOS DEUSES (1950) A estrela esquecida aqui é Norma Desmond, uma lunática atriz de filmes mudos abandonada no cinema com som. Ela se junta com outro falido, o roteirista Joe Gillis, para tentar resgatar a fama. 4- MAGNÓLIA (1999) O anônimo é Donnie Smith, ex-garoto prodígio que ganhou rios de dinheiro em um quiz de TV. Já adulto e depois de perder tudo, ele fica obcecado em operar seus dentes tortos, na melhor subtrama do filme. 5- BOJACK HORSEMAN (2014) O cavalo Bojack era o protagonista de uma série hype dos anos 90. Nessa animação, ele luta para ficar perto dos holofotes e longe de drogas e escândalos sexuais. No Netflix. POR DENTRO DE: VAMPIROS ALTERNATIVOS Nem só de Crepúsculo vivem as histórias de vampiro. Ainda bem. A GIRL WALKS HOME ALONE AT NIGHT (2014) - Uma misteriosa vampira de véu aterroriza a vida de uma cidade-fantasma no Irã. O improvável enredo estreia em breve no circuito alternativo. AMANTES ETERNOS (2013) - Um casal de vampiros, adormecidos e separados pela distância há séculos, acorda e se decepciona com a decadàªncia do mundo à sua volta. Filme cabeça de Jim Jarmusch. DEIXE ELA ENTRAR (2008) - Aqui a vampira é uma aparente menininha que se amiga de um vizinho inocente e se alimenta de sangue humano. Este ótimo filme sueco tem tudo para dar errado. FOME DE VIVER (1983) - Estrelado por David Bowie e dirigido por Tony Scott, narra um triângulo amoroso entre um casal de vampiros e um médico do sono em Nova York. "Interestelar mostra a Teoria da Relatividade como nenhum outro filme. Mas eles exploram um planeta bem perto de um buraco negro. Pessoalmente, eu me manteria o mais longe possível de um buraco negro." – NEIL DEGRASSE TYSON, físico e cosmólogo sobre o filme de Christopher Nolan. GENTE GRANDE Ron Mueck fazia bonecos para televisão e cinema quando resolveu se dedicar à arte. Suas esculturas hiperrealistas de seres humanos estão sempre em escala errada - ou são grandes ou pequenos demais - e tàªm o propósito de desconcertar mesmo. Agora, nove delas (quase um quarto de tudo que ele já produziu) chegam a São Paulo. RON MUECK NA PINACOTECA, até 22 de fevereiro de 2015. HOWWWAAARRD Carol Ann Susi, a atriz que fazia a voz da mãe de Howard, em Big Bang Theory, morreu aos 62 anos. Ela só foi vista uma vez de relance. "Veja" outros personagens invisíveis da TV. O PRESIDENTE DOS EUA Veep. No seriado em que Julia Louis-Dreyfus faz a vice-presidente dos EUA, seu chefe, O Homem Mais Poderoso do Mundo, jamais apareceu. A BABÁ Muppets Babies. Enquanto os estranhos seres aprontavam altas aventuras no berçário, a babá dos Muppets - a única humana - apenas era vista do joelho para baixo. CHARLIE As Panteras - O chefe das Panteras tinha o hábito de falar com elas por meio de um interfone. O ator do seriado original, John Forsythe, sequer ia para o estúdio gravar. PAPO COM DON HALL Disney lança sua primeira animação depois da compra da Marvel, Operação Big Hero, dirigido por Don Hall e Chris Williams, e baseado em uma HQ sobre heróis nerds. Por Mariane Morisawa Operação Big Hero surgiu de uma pesquisa. Por que vocês escolheram essa história? Fiz uma busca no site da Marvel, para trazer algo de lá. Aí topei com Big Hero 6, que não conhecia. Vi que era sobre um time de super-heróis japoneses, achei legal. E tinha um tom divertido, não era tão sombrio quanto outros quadrinhos. A animação é bem diferente dos quadrinhos. Sim, muito. Basicamente, usamos o título, os nomes dos personagens e um pouco do tom. Desde o início, com a bênção da Marvel, decidimos que o filme não faria parte do universo da empresa. Em geral, na Marvel, a ciência e a tecnologia podem causar sérios problemas - você pode virar o Homem Aranha, mas também um vilà£o. Mas Operação Big Hero não é bem assim. Queríamos celebrar a tecnologia. Porque o problema não é a tecnologia, mas como os seres humanos a utilizam. CHECKLIST DEZEMBRO * OS INOVADORES - Depois da biografia de Steve Jobs, Walter Isaacson dedica um livro aos pais da internet e da computação, de Alan Turing a Ada Lovelace, a exótica condessa programadora, filha do escritor Lord Byron. Companhia das Letras, R$ 57. * O HOBBIT - A BATALHA DOS CINCO EXÉRCITOS - Finalmente, a trilogia, preâmbulo de Senhor dos Anéis inspirado num livrinhozinho de 320 páginas, chega ao fim. 11 de dezembro nos cinemas. * NIGHTCRAWLER - Jake Gyllenhaal larga o papel de bom moço e vive aqui um jornalista policial movido a furos - e sangue de inocentes. 11 de dezembro nos cinemas. * BOCA LIVRE - No livro da jornalista Patrícia Julianelli, você vai descobrir como manter a boa forma sem acabar com a alegria à mesa. O segredo? Malhar o cérebro. Arquipélago, R$ 35. * LARA CROFT AND THE TEMPLE OF OSIRIS - A heroína dos games agora vai ao Egito e enfrenta, além de arqueólogos do mal, deuses milenares. Nas lojas. 3#3 E SE... E SE DIVIDISSEM O BRASIL EM NORTE E SUL? Foram tantos os pedidos, tão sinceros, tão sentidos, que imaginamos como seria se o Brasil virasse dois países. Mas do nosso jeito. Neste "E Se...", a separação é cruel para um famoso casal de Brasília: Eduardo e Mônica. TEXTO Amarílis Lage DIZEM QUE OS OPOSTOS SE ATRAEM. E aqueles dois não poderiam ser mais opostos. Ela gostava do Bandeira e do Bauhaus, de Van Gogh e dos Mutantes, de Caetano e de Rimbaud. Já ele gostava de novela e jogava futebol de botão com seu avô. Em comum, um desejo: sair de Brasília, ao menos por um tempo. Respirar novos ares. "Não aguento mais isso aqui. Sempre as mesmas pessoas, os mesmos papos. E tem tanta coisa diferente para ver por aí. A Amazônia, cara! Não entendo esse pessoal que viaja para Miami e nunca foi a Manaus, a Belém...", desabafou Mônica entre um gole e outro de conhaque, quando eles se conheceram. "Não conheço o Brasil muito bem", admitiu Eduardo, com um sorriso tímido. "Mas pensei nisso quando visitei o Minimundo lá em Gramado, na Serra Gaúcha. Conhece? É um parque com miniaturas, maquetes de atrações de vários países!" "Mundo, mundo, vasto mundo...", declamou a moça. "Mais vasto é o meu coração", completou o rapaz. Agarraram-se ali mesmo. Eduardo e Mônica fizeram natação, fotografia, teatro, artesanato... Mas nada de viajar. Primeiro porque ela precisava terminar o curso de medicina. Depois o avô dele ficou doente. Aí a Mônica engravidou — de gêmeos. A grana ficou apertada, passaram por uma crise. Mas aos poucos tudo voltou aos eixos e nenhum deles sequer se lembrava daquela ideia de mudar de cidade. Até que mais uma eleição presidencial rachou a nação. Foi quando vieram as manifestações, o plebiscito e a bomba: o Brasil ia se dividir em dois. E cada um dos quase-ex-brasileiros deveria informar de qual país seria agora cidadão; Brasil do Sul ou Brasil do Norte. Com a divisão territorial, uma capital no Planalto Central deixava de ter sentido, o Distrito Federal seria extinto. Brasília seria uma cidade-fantasma. E goiana. Eduardo tinha a impressão de ter sido atropelado por um ônibus. Nunca gostou de política e tinha acompanhado o desenrolar do plebiscito com ceticismo. Separatismo no Brasil? Nunca. Jamais. "Como isso aconteceu? Que tristeza", murmurou, folheando o jornal. "Tristeza? Eduardo, você não vê? É a nossa chance. O empurrão que faltava para termos a vida dos sonhos!" Mônica estava radiante, como quando falava de magia e meditaà§ão, lá no começo do namoro. O conhaque, a festa estranha, o beijo... O Minimundo. Eduardo sentiu o coração bater mais forte. Mônica estava certa! Sim, ele gostaria de morar na Serra Gaúcha. Ou de experimentar a vida frenética de São Paulo. Melhor ainda: ci-da-de ma-ra-vi-lho-sa. Se bem que ele não sabia com quem tinha ficado o Rio de Janeiro. "Eduardo, preste atenção. Vai ser incrível! Pense sà³! Bahia! Pernambuco! Amazônia!" "Como assim?" Ele tinha seus argumentos: no Sul estava a maior parte do PIB, a melhor infraestrutura, o agronegócio, a bacia do pré-sal e — enquanto Mônica não o corrigisse — o Rio de Janeiro estava no Sul. "Temos que pensar nos meninos: onde estão as melhores escolas e universidades?", ele concluiu. Mônica rebateu: no Norte era onde o PIB mais crescia, onde os produtos para exportação eram mais competitivos e o turismo poderia sustentar uma grande parcela da população. "Vamos fazer um exercício de futurologia, Eduardo. Todas as indústrias do Sul vindo para cá, exploração de minério rendendo por gerações, biotecnologia bombando na Amazônia, tudo isso pagando por estradas e aeroportos novinhos em folha. Sem falar nas praias paradisíacas." Eduardo, que tinha um pé na hipocondria, desenhou outro cenário: se alguém adoecesse, teriam que ir a outro país para conseguir atendimento de ponta. "Preciso te lembrar que eu sou médica, Eduardo? Tenho que ir aonde a população mais precisa!" Em pouco tempo, a conversa virou bate-boca, com direito a acusações de coxinha, petralha, reaça e comuna, fotos rasgadas e bloqueio no Facebook. De manhã, Eduardo abriu os olhos, mas não quis se levantar, ficou deitado e viu que horas eram. Enquanto Mônica tomava um conhaque no outro canto da cidade. Alguns amigos acham que, assim como o Brasil, eles também vão se separar. Mas todo mundo diz que ele completa ela e vice-versa, que nem feijão com arroz. 3#4 MANUAL – COMO DIVERTIR AS PESSOAS NAS FESTAS DE FIM DE ANO A temporada de festas chegou. Bom momento para aprender alguns truques divertidos, surpreendentes e fáceis de fazer - e que com certeza vão alegrar seus amigos, parentes e colegas. REPORTAGEM Thais Harari 1- VINHO ANTIGRAVIDADE Coloque uma vela sobre um prato de sopa. Encha o prato com vinho. Acenda a vela e coloque uma taça em cima. O vinho entrará sozinho dentro da taça. A VELA queima o oxigênio dentro do copo – e isso puxa o vinho 2- GELO QUE BRILHA Faça gelo com água tônica, e ilumine com uma lâmpada de luz negra (R$ 10 em lojas de material elétrico). A TÔNICA brilha porque contém quinino - que emite luz na presença de raios ultravioleta. 3- SOBE E DESCE Encha um copo pequeno com água e outro com uísque. Ponha um sobre o outro (o de uísque em cima e o de água embaixo), separados por um papelão. Puxe o papelão, abrindo um espacinho de 0,5 cm. UÍSQUE É mais pesado, e irá descer. ÁGUA É mais leve, e irá subir. 4- ABRIDOR DE PAPEL Dobre uma folha de papel A4 até virar uma tira. Dobre a tira ao meio. Ela vai ficar com uma ponta bem dura - que você pode usar para abrir garrafas. 5- FUMAÇA COM OS DEDOS CORTE a lateral de uma caixa de fósforos (a parte onde você risca o fósforo). DOBRE ao meio, formando um "V". PONHA num cinzeiro com o lado áspero para baixo. Bote fogo e espere queimar. PASSE o dedo na cinza. Esfregue o dedo em outro – e veja a fumaà§a sair. 6- DESAFIO DAS MOEDAS Desafie seus amigos a inverter a seta movendo apenas três moedas. Parece fácil, mas não é. Eles provavelmente vão errar. Veja qual é o truque: INÍCIO - Use dez moedas para formar uma seta. MOVIMENTO - Afaste as moedas que estão nas extremidades da seta. INVERSÃO - Passe as moedas das laterais e a moeda da ponta para baixo. 7- A TAMPINHA IMPOSSÍVEL Dobre uma tampa de garrafa ao meio. Desafie seus amigos a tentar assoprà¡-la para dentro. Eles não vão conseguir: a garrafa está cheia de ar, que bloqueia a tampinha. -- Você está participando do grupo "DV-Escola", dos grupos do Google. Sua inscrição é de sua inteira responsabilidade. Atenção! Para descadastrar-se deste grupo, envie um e-mail totalmente em branco, sem nada no corpo e/ou no assunto para o seguinte endereço: dv-escola+unsubscribe@googlegroups.com Favor observar um sinal de hífen (-) entre a palavra DV e a palavra escola. Se for o caso, copie e cole em seu cliente de e-mail o endereço acima para que não haja dúvidas de seu conteúdo. Ezequiel Silva - Angela Lima - Luís Campos --- Você está recebendo esta mensagem porque se inscreveu no grupo "DV-Escola" dos Grupos do Google. Para cancelar inscrição nesse grupo e parar de receber e-mails dele, envie um e-mail para dv-escola+unsubscribe@googlegroups.com. Para obter mais opções, acesse https://groups.google.com/d/optout. -- O espaço da leitura foi criado com o objetivo de proporcionar uma boa leitura a todos para um bom entretenimento e um ótimo conhecimento, No entanto, não é permitido neste espaço a postagem de qualquer e-mail com palavras de baixo calão. contamos com a colaboração de todos boa leitura! Conheça nosso grupo no facebook: http://www.facebook.com/groups/163124077178980/ --- Você está recebendo esta mensagem porque se inscreveu no grupo "espaço da leitura" dos Grupos do Google. Visite este grupo em http://groups.google.com/group/espaco-da-leitura.