0# CAPA abril 2015 SUPER INTERESSANTE www.superinteressante.com.br Edição 345 – ABRIL / 2005 [descrição da imagem: a capa tem a imagem de uma grande janela, que está abaixo da metade fechada por uma persiana. No canto inferior direito, aparece a mão de uma pessoa segurando os cordões que fecham a persiana.] FALTA DE SOL E A POLÊMICA DA VITAMINA D Por anos, o sol foi um vilão da saúde, e aprendemos a nos esconder dele. Hoje, mais da metade da população tem níveis baixos de vitamina D. E isso pode estar ligado ao aumento nos casos de depressão, câncer e outras doenças. Por Daniel Cunha [outros títulos] CARREIRA DE PABLO ESCOBAR COMO VIRAR CIDADÃO DE OUTRO PAÍS INTERNET PARA 7 BILHÕES BRASIL, CAMPEÃO DA BEBEDEIRA OS 32 ANOS (!) DO IPAD COMO ENTRAR NA MAÇONARIA A SOLUÇÃO PARA A CRISE DA ÁGUA Uma dica: não é nada daquilo que os governantes estão fazendo. ______________________________ 1# SEÇÕES I 2# REPORTAGENS 3# SEÇÕES II _________________________________ 1# SEÇÕES I abril 2015 1#1 AO LEITOR – VAMOS APANHAR 1#2 MUNDO SUPER 1#3 SUPER NOVAS 1#4 SUPER NOVAS – COLMEIA FORA DA CAIXINHA 1#5 CIÊNCIA MALUCA 1#6 SUPER NOVAS – CABEÇAS VÃO ROLAR 1#7 PAPO – “NÃO CAIA NAS DIETAS DEOX” 1#8 MATRIZ – THE END OF THE WORLD AS WE KNOW IT 1#9 COORDENADAS – PADARIAS SECRETAS 1#10 ORÁCULO 1#11 CONEXÕES – DE ÍSIS A ISIS 1#12 ESSENCIAL – BEBER ATÉ MORRER 1#1 AO LEITOR – VAMOS APANHAR EU SEI O QUE VAI ACONTECER: vamos apanhar. Vamos ser chamados de irresponsáveis por associações médicas por dar esperança a doentes sem salvação, vamos ser desqualificados como teóricos da conspiração por empresas farmacêuticas, vamos levar cutucadas de colegas jornalistas por darmos espaço demais a tratamentos sem comprovação. Tudo por causa da reportagem de capa desta edição, escrita por Daniel Cunha, que sofre de uma doença séria e, em sua própria luta para sobreviver, esbarrou numa pauta incrível. Sim, eu sei que ainda faltam muitas pesquisas antes de poder afirmar que a vitamina D evita câncer e cura depressão. Sei que incentivar as pessoas a tomar sol é muito arriscado, porque pode levar a um aumento nos casos de câncer de pele. Sei que talvez levem dez anos para que a comunidade médica tenha certeza de que o sol é mesmo fundamental para ficarmos vivos. Acontece que, para alguns, dez anos é tempo demais. Daniel, nosso repórter, que tem esclerose múltipla, concluiu que não teria uma década para esperar respostas perfeitas - e saiu em busca das melhores respostas possíveis. Como ele, há milhões de pessoas no Brasil precisando urgentemente de informação - gente que pode se beneficiar do que Daniel descobriu. Claro que levamos a sério nossa responsabilidade de dar informação confiável. Por isso, passamos muito tempo discutindo antes de levar o tema à capa. Mas o que nos ajudou a decidir é que temos clareza da nossa missão: trabalhamos para o público. Não para o establishment médico, não para os hospitais, não para os laboratórios. E, quando pensamos no que nosso leitor precisa saber, fica óbvio para a gente que fazer uma reportagem como essa, ainda que rodeada de incertezas, é obrigação - assim como colocar na capa os debates sobre o glúten e a maconha medicinal, duas outras histórias impressionantes ainda não inteiramente absorvidas pelas instituições médicas. Nossa obrigação é empurrar a medicina para frente, não correr atrás dela. Da mesma forma, é nossa obrigação buscar respostas profundas para a crise hídrica que se espalha pelo nosso molhado país, como tentamos fazer na reportagem que começa na página 44. Sabemos que essas nossas respostas desagradam quase todo mundo. Afinal, elas revelam a profunda incompetência do governo paulista para lidar com o problema - e ao mesmo tempo deixam aparente a incapacidade do governo federal de compreender a natureza cíclica da água. Elas expõem o fato de que praticamente nenhum governo de nenhuma região do país está preparado para cuidar sistemicamente da água que precisamos para sobreviver. Vamos apanhar de todo mundo - do PSDB, do PT, do PMDB, do DEM, do PP, do PSD... Tudo bem, não tem problema algum. Não trabalhamos para nenhum deles. Trabalhamos para você. Denis Russo Burgierman, DIRETOR DE REDAÇÃO DENIS.BURGIERMAN@ABRIL.COM.BR 1#2 MUNDO SUPER REFLEXOS DA DOR Leitores se emocionaram com o relato da médica Fernanda Ferrairo, vítima de dor crônica, na reportagem A Dor que Não Passa Nunca (mar/14). Encontrei uma luz no fim de um túnel de dez anos de muita dor. Assim como a Fernanda, fraturei o cóccix e conheci a dor 24 horas por dia. Virei um idoso de 30 e poucos anos! A matéria não vai diminuir minha dor, mas sei que não estou sozinho, apesar de ter aprendido que uma dor crônica é uma batalha solitária contra si mesmo. - MARCOS EDUARDO NUNES. Agradeço pelo espaço cedido à Fernanda. Ela escreve com excelência e emoção. Que todos possam conhecer a história dela e tirar pelo menos um naco da inspiração que eu tirei. - BRUNO MOSCONI RUY Apesar de triste, a reportagem é linda. Terminei com os olhos marejados. Minha mãe sofria de dor crônica e creio que o que li foi exatamente a angústia dela. - PAULO Quero enviar à Fernanda toda minha solidariedade. Ela não está sozinha. Creio que muita gente tem o mesmo sentimento e, ao ler a revista, se identificará com ela. - MARIA REGINA PONTES FERRARI Fiquei pensando em como somos centrados em nossos próprios pequenos problemas, quando para algumas pessoas apenas passar o dia sem dor já é uma baita conquista. - BIANCA NAZARI TROFÉU PIADISTA DO MÊS — Melhor usar azul e dourado então. - WELLINGTON GARCIA PEREIRA comentando o post "Tubarões preferem banhistas que usam preto e branco", do blog Ciência Maluca. SALVANDO SETE VIDAS Antes de ler sobre Primeiros Socorros em Animais (Manual, mar/15), nem imaginava que bichos precisassem disso. No mesmo dia em que li, salvei minha gatinha de um engasgamento. Muito grata pela vida da minha gulosinha. - ANA BEATRIZ PENHA Muita gente perde seus bichinhos por não saber lidar com eles em emergências. Hoje mesmo resgatei, com ajuda do meu pai, minha gata de 10 anos do alto de uma árvore de 9 m. - SINTIA SOARES JÁ PASSOU! Sou vestibulanda e consultar edições antigas online tem me ajudado muito nas redações escolares. Sou grata à SUPER pela melhora nas minhas notas e por me fazer repensar sobre vários assuntos. - LUIZA MATALOBOS MATOU A SEDE Parabéns ao Alexandre Versignassi pelo artigo "A água não vai acabar. Mas vai" (Essencial, mar/15). Me tornei assinante faz um ano e neste período sempre li textos inteligentes e ácidos na medida certa. - EDSON CARDOSO JÚNIOR CORREIO ELEGANTE - Os comentários mais carinhosos que recebemos nas últimas semanas. Sem dúvidas, a edição passada foi a mais chata e desinteressante de todos os tempos. - LUCIANO FONSECA DAMBROS DE OLIVEIRA 3 LEITORES OPINAM NO POST "INFERNO ATRÁS DAS GRADES" NO FACEBOOK 1- Se o cara entrou para o crime por quaisquer motivos, não vem ao caso. De todo jeito, seria melhor recuperar o cidadão do que ele voltar e causar mais danos para a sociedade. - RENAN CARDOSO 2- "Prendemos excessivamente? " O que é excessivo não são as condenações, são os crimes! - CAMILA QUINTANA 3- As pessoas não entendem a criminalidade e a violência como um problema sistêmico: querem vingança e só enxergam os casos individualmente, como se o caráter dos bandidos fosse o único fator que motivasse seus atos criminosos... - ARTUR MELO FOI MAL Desenhamos um homem com asas nos braços para responder sobre como seria um homem com asas nas costas (Oráculo, mar/15). Escrevemos que "sempre tem dois Os (átomos de oxigênio) na parada" ao mencionar a molécula da água, o H2O. Na verdade, são dois átomos de hidrogênio (Essencial, mar/15). SUPER BANCA Guias para encarar a Guerra dos Tronos e a guerra pela vida. GAME OF THRONES: O GUIA SECRETO ESPECIAL 3D RS 27,90 Todos os spoilers e a história por trás da saga que volta às TVs este mês. CÂNCER DOSSIÊ R$ 14 Uma nova forma de encarar o diagnóstico e os últimos tratamentos contra a doença, que já curamos em quase 70% dos casos. FUNCIONÁRIA DO MÊS Catalogando a coleção de SUPER no acervo da IFSul, em Pelotas, RS, a bibliotecária Rosana Azambuja descobriu que perdemos a mão na contagem dos anos da revista a partir de 2011. A edição 287 abriria o ano 25 de SUPER (fundada em 1987), mas alguém esqueceu de atualizar a data e seguimos contando errado até hoje. Graças à Rosana já corrigimos a cronologia - estamos no ano 29, pode conferir na página 4. 8 MOTIVOS PARA TEMER AS BARATAS Mais de 408 mil internautas acessaram o blog Superlistas (abr.ai/listabaratas) com um misto de nojo, repulsa e pavor. Eis os melhores comentários: Execução para elas! – MARIA KSRLA SOUZA Elas comem sujeira do nariz de quem está dormindo. – ANA PAULA EPISCOPO O post só pode ser patrocinado por uma firma de dedetização! Como assim as baratas não têm função no equilíbrio da natureza? – GILBERTO PINHEIRO FALE COM A GENTE REDAÇÃO - superleitor@abril.com.br, av. das Nações Unidas, 7221, 14º andar, CEP 05425-902, São Paulo, SP, fax 11 3037-5891. 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TEXTO Marcos Ricardo dos Santos APESAR DA SENSAÇÃO de que comentário de portal e xingamentos no Twitter tornam a internet o lugar mais negativo do mundo, não é bem assim. Um estudo conduzido pela Universidade da Califórnia mostrou o contrário: a maior parte dos idiomas - inclusive online - usa principalmente palavras positivas para se comunicar. Para chegar a esta conclusão, os pesquisadores usaram computadores para identificar as 10 mil palavras mais usadas entre dez idiomas, em portais, jornais, filmes e letras de música. Depois pediram para pessoas apontarem como se sentem em relação a elas, em uma escala de 1 a 9, da negativa à positiva. O resultado é que, em todas as situações, há mais palavras felizes do que tristes. Entre os idiomas pesquisados, o espanhol do México e o português do Brasil eram os mais felizes. O inglês americano ficou em terceiro - o chinês é último. "Usamos a linguagem para muitas coisas, mas a principal é a conexão social. E o negativismo é limitante: as pessoas acabam se distanciando do que é negativo", diz Peter Dodds, matemático e chefe da pesquisa. Surpreendentemente, nos ambientes online (Twitter, Google Books) há mais palavras felizes do que nas artes, como legendas de filmes ou músicas. E a felicidade depende do momento. Os picos de alegria aconteceram no Dia dos Namorados e no Natal, enquanto que os de tristeza foram registrados nos EUA nos dias de protestos raciais em Ferguson e na prisão de Justin Bieber (!). Isso mostra que a mera contagem de palavras pode ser enganosa. "Se o que analisa a felicidade dos textos é um bot de busca, será que a frase 'eu não estou feliz' é considerada mais alegre do que a frase 'eu não estou triste' ?", questiona Caetano Galindo, doutor em linguística. MOBYDICK, O RETORNO Baleias são animais sociais que se comunicam o tempo todo. Mas há uma que, há pelo menos 25 anos, vive totalmente sozinha no Oceano Pacífico: a baleia 52, a mais solitária do mundo. Ela foi descoberta em 1989 por pesquisadores americanos que captaram seu som em radar, na frequência de 52 hertz - muito mais agudo do que outras baleias, que ficam entre 15 e 20 hertz. Desde então, muitos cientistas já ouviram a baleia 52, mas nunca ninguém a viu. Pelo som, acreditam se tratar de um macho, de baleia-azul, baleia-fin ou um híbrido das duas com alguma anormalidade vocal. Para encontrar a eremita, os documentaristas Josh Zeman e Adrian Grenier (O Diabo Veste Prada) resolveram fazer um filme e criaram um financiamento coletivo para bancá-lo. Ganharam US$ 400 mil. BRASILEIRO É O POVO MAIS LIMPO DO MUNDO Pesquisa sobre hábitos higiênicos comprova: somos os mais cheirosos. INGLATERRA - 80% das mulheres inglesas tomam banho todos os dias, 30% delas passam três dias sem. MÉDIA – A maior parte dos países gira em torno de um número razoável: um banho por dia. MÉXICO – Os mexicanos têm os cabelos mais sedosos: lavam-nos toda vez que vão para o chuveiro. ÍNDIA – A pesquisa foi feita online, o que distorceu os dados na Índia: metade da população por lá não tem banheiro em casa. BRASIL – Tomamos 12 banhos por semana. Fica fácil entender por que gastamos tanta água. Fonte: EUROMONITOR SERES SINTÉTICOS PODEM SALVAR O PLANETA Para compensar a extinção causada por humanos, a ideia é que criaturas artificiais sejam introduzidas à natureza para ajudar na preservação de espécies e na saúde de plantas e animais. Conheça o polinizador artificial desenvolvido por uma empresa inglesa. 1- O Autonomous Seed Disperser é feito de proteínas sintéticas e se alimenta de poluentes do solo. 2- Ele é coberto por dois tipos de pelos: um mais fino e aderente, para coletar o pólen, e outro de borracha mais rígido para lançá-lo longe. GENE AUMENTOU NOSSO CÉREBRO Pesquisadores descobriram um trecho do nosso DNA que pode explicar por que nosso cérebro é tão grande. A conclusão veio a partir de testes com ratos: injetaram DNA de chimpanzés e de humanos nos roedores e observaram que a massa cinzenta cresceu 12% apenas quando recebiam nossos genes. MESA CARREGA SEU CELULAR A IKEA, maior fabricante de móveis do mundo, vai lançar itens que carregam celulares por wi-fi: basta deixar o aparelho em cima de suas mesas ou lâmpadas. A invenção vai deixar os móveis R$ 100 mais caros. ENCONTRADA MENOR FORMA DE VIDA Cientistas acharam a menor bactéria de que se tem notícia. Ela é 150 vezes menor do que as E. coli (as da infecção alimentar) e 150 mil delas cabem em um fio de cabelo. Ainda assim, têm material genético, ribossomos e apêndices para locomoção. Estima-se que seja a menor vida possível. 65 MIL VEZES mais rápida do que 4G: é a velocidade de internet que um time de cientistas da Universidade de Surrey, na Inglaterra, conseguiu alcançar em seu wi-fi. Dá 1 terabyte por segundo, o que permitiria baixar 100 filmes completos em três segundos. “O MAIOR DEFEITO HUMANO É A AGRESSÃO. Ela pode ter sido boa quando éramos homens da caverna para achar comida e território, mas, hoje em dia, VAI NOS LEVAR À DESTRUIÇÃO”, Stephen Hawking, sobre o nosso fim. 1#4 SUPER NOVAS – COLMEIA FORA DA CAIXINHA Um redesign promete deixar a produção de mel mais fácil, mais produtiva e menos invasiva para as abelhas. TEXTO Karin Hueck O APICULTOR É UM SOFREDOR. Ele precisa vestir uma roupa especial para chegar perto da colmeia, fumigar os insetos para afastá-los, abrir a tampa, fugir das abelhas, retirar manualmente as melgueiras, raspar a cera com o mel, filtrar a mistura e deixar o líquido decantar antes de ter o produto final. Mas dois australianos inventaram uma colmeia que jorra mel sem incomodar as abelhas e que precisa de muito menos mão de obra. KIT ABELHA Como funciona a Flow Hive, a colmeia high tech. SEMIPRONTO - Cada melgueira vem com favos pré-fabricados que as próprias abelhas tratam de cobrir de cera e rechear com mel. TORNEIRA - Não é preciso tirar as melgueiras da colmeia. Com o giro de uma alavanca, os favos se desencaixam e o mel escorre graças à gravidade. FONTE DE MEL - O mel já sai puro, e sem a necessidade de filtragem. INSETOS ALEGRES As abelhas, que vivem entre as melgueiras, nem percebem que o mel está escorrendo, e seguem com a vida por cima da cera. Logo, enchem os favos de novo. US$ 600 + FRETE. É quanto custa a colmeia em bit.ly/1FMVyLk. US$ 5,6 MILHÕES é quanto o projeto já arrecadou. 20 Kg DE MEL É quanto produz cada colmeia. 1#5 CIÊNCIA MALUCA Rappers rimam melhor que Shakespeare Um estudo avaliou as estruturas rítmicas (padrões, batidas, posições das rimas) e o vocabulário de raps e de poemas ingleses clássicos. Eminem e outros rappers têm vocabulário maior e usam mais rimas imperfeitas (sons idênticos, mas com palavras não semelhantes). Isso, diz a pesquisa, indica habilidade maior na rima. Ficar longe do celular emburrece Pesquisadores desafiaram 40 pessoas para dois caça-palavras. No segundo, eles tinham de ficar longe dos celulares, inclusive de alguns que não paravam de tocar. Ansiosos, a pressão sanguínea e o coração dispararam. E o desempenho foi bem pior. Machos que fazem muito sexo são covardes Pelo menos entre besouros. Cientistas analisaram a média de encontros entre os machos de Nicrophorus vespilloides. Na luta por recursos, o maior sempre levava a melhor e atraía mais fêmeas. Curiosamente, esses machos reconheciam melhor o próprio tamanho - e o dos inimigos. E saíam correndo mais rápido se aparecesse concorrência. 1#6 SUPER NOVAS – CABEÇAS VÃO ROLAR Italiano promete realizar transplantes de cabeça dentro de dois anos. TEXTO Marcos Ricardo dos Santos PARECE FRANKENSTEIN, mas é vida real. Em junho, o médico italiano Sérgio Canavero. diretor do Gruppo Avanzato di Neuromodulazione, em Turim, vai anunciar um ambicioso projeto: realizar até 2017 o primeiro transplante de cabeça em humanos. A proposta é encontrar um paciente que esteja com o corpo comprometido (por câncer ou alguma doença incurável), mas com a cabeça e o cérebro intactos, e substituir o corpo inteiro pelo corpo saudável de um doador que teve morte cerebral como são os casos de doadores de órgãos. A parte mais difícil é a junção da medula espinhal, para estabelecer as conexões nervosas. Canavero explica que as extremidades da medula espinhal são como feixes de espaguete, que, segundo ele, podem ser "colados" com polietileno glicol, um éter. Assim como a água quente faz o macarrão ficar grudento, o polietileno glicol estimularia as membranas celulares a se unirem. Para ele, a rejeição do novo corpo pode ser evitada com drogas imunodepressoras. O neurocirurgião Harry Goldsmith, professor da Universidade da Califórnia e especialista em recuperação de medula espinhal, não acredita que seria possível. "São tantas as implicações e os problemas, que isso nem sequer é imaginável", diz. Goldsmith, um dos únicos que já conseguiram recuperar uma medula rompida — a de uma jovem de 24 anos que h via ficado paraplégica. ONDE ESTAMOS COM A CABEÇA? Entenda a empreitada, que já foi bem-sucedida em ratos. CORPO SÃO - O doador precisa ter tido morte cerebral. Em seguida, induz-se o paciente com a cabeça saudável ao coma. GUILHOTINA – As duas cabeças são cortadas com lâmina fina. SONECA – Paciente fica um mês em coma CUCA FRIA - A cabeça transplantada fica congelada, enquanto se costuram músculos, pela, vasos sanguíneos e a medula espinhal. CHOQUES - Choques elétricos são dados para estimular a conexão neural entre cabeça e corpo novo. MOVIMENTO - E precisará de fisioterapia para reaprender a se movimentar. MEMÓRIAS - Ao acordar, o paciente manterá seus pensamentos e memórias. PERGUNTAS SEM PÉ NEM CABEÇA Dúvidas existenciais surgidas depois do anúncio do transplante. O quanto da identidade (ou a alma) de uma pessoa está localizada no cérebro ou no corpo? Trata-se, afinal, de um transplante de cabeça ou de corpo? Se a pessoa transplantada tiver filhos, ela não vai se parecer com eles? Trocando de corpo eternamente, é possível atingir a imortalidade? Qual país vai topar sediar a cirurgia? O transplante vai ser praticado por questões estéticas? 1#7 PAPO – “NÃO CAIA NAS DIETAS DEOX” Você fica um tempo bebendo sucos, tomando suplementos "naturais" ou comendo apenas certos tipos de verdura — e isso elimina toxinas do seu organismo. Será? ENTREVISTA Eduardo Szklarz Professor emérito da Universidade de Exeter (Reino Unido), o médico EDZARD ERNST é autor de 48 livros e mais de 1.000 artigos científicos. É um dos maiores especialistas mundiais em medicina alternativa. Os defensores das dietas detox dizem que elas ajudam a eliminar toxinas que vão se acumulando no organismo quando nós comemos alimentos processados, açúcar refinado e gorduras saturadas, por exemplo. O que há de errado nisso? As pessoas que fazem afirmações desse tipo não conseguem nem nomear as toxinas a que se referem. As toxinas têm nomes, e os promotores do detox precisariam mencioná-los. Se fizessem isso, seria muito fácil testar suas afirmações: bastaria escolher uma toxina, medir o seu nível no sangue e ver se a tal dieta, ou qualquer outra forma de detox, tem algum efeito em comparação com a ausência de tratamento. Mas essas pessoas não mencionam as toxinas [que a dieta supostamente elimina] por um motivo óbvio: elas sabem muito bem que o teste não confirmaria suas afirmações fraudulentas. Mas há estudos mostrando que o chá verde contém catequinas, que ajudam a reduzir a gordura no sangue. E que o ômega 3 presente no salmão tem ação anti-inflamatória. Comidas como essas não ajudam a limpar as toxinas do corpo? Claro que componentes naturais têm efeitos, mas eles não se devem à eliminação de toxinas. São ações anti-inflamatórias e antioxidantes, não têm nada a ver com desintoxicação. Fígado, pulmões, rins, intestinos e pele já fazem um trabalho perfeito na eliminação das toxinas. Uma dieta detox não vai fazer um trabalho que já é perfeito ficar melhor. E quanto a ioga, massagens, máscaras e coisas do tipo? Elas também são inúteis para desintoxicar o organismo? A ioga e as massagens podem funcionar de outras maneiras. No tratamento de dor nas costas, por exemplo. Mas elas não eliminam toxinas. Existe algum método sério, cientificamente comprovado, de desintoxicar o organismo? Se a pessoa é viciada em drogas, sim. Nesse caso, ela precisa de uma desintoxicação adequada - um tratamento que gradualmente a torne menos dependente daquelas substâncias [geralmente, esse tratamento envolve o uso de remédios que aliviam a síndrome de abstinência da droga]. É assim que o termo "detox" é usado na medicina convencional. Algo completamente diferente das dietas. Na prática, o que acontece conosco quando fazemos dieta detox de 7 dias? Isso pode prejudicar a saúde? O principal é que perdemos dinheiro, caindo num charlatanismo vendido por pessoas que só estão dispostas a faturar. Sobre a saúde, qualquer dieta pobre em alimentos essenciais resultará em síndromes de deficiência nutricional se for consumida por longos períodos. Mas o mais importante é que essas dietas provocam uma ilusão. A ilusão de que todos os nossos excessos podem ser equilibrados com alguns dias de "detox". Elas promovem estilos de vida que não são saudáveis. Se não existe dieta detox, qual o caminho para se manter saudável? Se alimentar de forma saudável, ingerindo uma dieta variada e equilibrada. Evitar comer e beber demais. Dormir e descansar o suficiente. E fugir desse charlatanismo detox - que não tem comprovação científica, mas tem sido altamente promovido em revistas, programas de TV e na internet. 1#8 MATRIZ – THE END OF THE WORLD AS WE KNOW IT Um dia, a humanidade vai acabar. Ou, no mínimo, a civilização como a conhecemos vai. É inevitável. Mas pode acontecer de vários jeitos - e em vários momentos. IN FOGRÁFICO Alexandre di Santi, Bruno GarattonI e Bruna Lora CURTO PRAZO (PERÍODO: NESTE SÉCULO) EPIDEMIA - Surge um vírus ou bactéria letal e incurável. Uma nova Peste Negra, que toma rapidamente o mundo. EXTINÇÃO DAS ABELHAS - Em alguns países, 30% delas já morreram. Se todas sumirem, não haverá polinização. A agricultura colapsará. Fome global. AQUECIMENTO GLOBAL - Já está fazendo estragos, e vai piorar. A dúvida é quanto, e quando. E se conseguiremos fazer alguma coisa. GEOENGENHARIA FRACASSADA - Experiências que alteram a atmosfera para conter o aquecimento global dão errado. Esfriaremos demais o planeta - e morreremos congelados. SUPERPOPULAÇÃO - Em 2050, a Terra terá 9 bilhões de humanos, que levarão o planeta ao limite. (Exceto se, por algum dos outros motivos, morrer gente.) GUERRA NUCLEAR - No pior dos casos, seriam detonadas algumas poucas bombas. Não o suficiente para extinguir a humanidade. GUERRA BIOLÓGICA - Algum exército cria e espalha um micróbio letal. Haverá um antídoto (criado junto com a praga). FIM DO SOLO FÉRTIL - A cada ano, 10 milhões de hectares se tornam inferíeis. De tanto plantar e colher, podemos exaurir todo o solo. E ficar sem comida. NANOAPOCALIPSE - Criamos micro-organismos para fazer algo útil (como produzir combustível). Eles saem do controle, se multiplicam aos trilhões, e geram uma catástrofe ambiental. INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL ASSASSINA - Por mais inteligentes (e homicidas) que possam se tornar, os computadores sempre vão precisar de energia - e nós teremos o controle dela. LONGO PRAZO (PERÍODOS: NESTE MILÊNIO OU EM MILHÕES DE ANOS) ASTEROIDE - Cedo ou tarde, algo grande vai bater na Terra. Acredita-se que tenha sido esse o fim dos dinossauros. E pode ser o nosso. (neste milênio) MEGAERUPÇÃO - Alguns cientistas acreditam que o mundo tem três supervulcões. Se acordarem, vão encher a atmosfera de fuligem. Morreremos asfixiados, ou de frio. (neste milênio ou em milhões de anos) O SOL - Ele vai ficar muito mais forte. Daqui a 1 bilhão de anos, vai evaporar toda a água da Terra. Depois, engolirá vários planetas, inclusive o nosso. (em milhões de anos) INVERSÃO DOS PÓLOS - Os polos magnéticos da Terra podem se inverter. Ela ficaria exposta a raios cósmicos - que queimariam todos os aparelhos eletrônicos, levando ao caos. (em milhões de anos) SUBPOPULAÇÃO - No futuro, ela pode cair demais. Até que não tenhamos gente suficiente para sustentar a sociedade. (neste milênio) EXPLOSÃO ESTELAR - Se isso acontecer com uma estrela perto de nós, como Eta Carinae (7,5 mil anos-luz da Terra), vamos receber uma chuva de raios gama - que poderão aniquilar a vida no planeta. (neste milênio) RESFRIAMENTO GLOBAL - A Terra já passou por vários ciclos de aquecimento e resfriamento. É possível que ocorra uma nova era do gelo - e ela acabe com muitas formas de vida. (em milhões de anos) INVASÃO ALIENÍGENA - As distâncias do Universo são enormes. Se alguém conseguir transpô-las, dificilmente precisará de nós, ou do nosso planeta, para algo. (em milhões de anos) 1#9 COORDENADAS – PADARIAS SECRETAS Pasticeria Vinci & Bongini, Florença, Itália: no berço do Renascimento, artistas anônimos trabalham até altas horas para deliciar os turistas. TEXTO Daniela Fescina UM AROMA DOCE SE ESPALHA pelas ruas ao redor da badalada e baladeira Via de' Benci revelando que há arte - gastronômica - florescendo na noite de Florença. Se o faro for aguçado, dá para rastrear o cheiro até uma das padarias que produzem pães, biscoitos, bombolinis de creme e croissants de chocolate para abastecer os charmosos cafés da cidade. O apelido de "secretas" pegou porque elas ficam em ruas estreitas, escuras e sem sinalização. Mas também poderia ser pela forma em que operam na calada da noite: as padocas industriais passam a madrugada fervendo, com portas fechadas, para dar conta da demanda por guloseimas nos bairros turísticos. O cheiro de chocolate é a melhor pista para encontrá-las, já que não há barulho para confirmar o endereço. A lei do silêncio é levada muito a sério na Itália e por isso uma das regras quando se espera para ser atendido é não fazer tumulto. Na porta da mais famosa padaria secreta, a Vinci & Bongini, um cartaz amarelo improvisado, escrito à mão e em inglês, impõe: "Por favor, fique quieto". Se você der sorte e chegar antes da fila, basta uma leve batida na porta para ser recebido por um dos padeiros. Não tem mesa, cadeiras, cardápio, nem lista de preços - as guloseimas têm preço máximo de 1,5 euro -, mas uma pedida certeira (capriche na pronúncia do italiano) é a cornetta con nutella, que chega crocante e com recheio derretendo, ao apetitoso custo de 1 euro. Na primeira mordida, o silêncio deixa de ser lei e se transforma em solenidade. VÁ - Via Canto Rivolto 2, Santa Croce. Desça a Via de' Benoi em direção ao Rio Arno. Vire à direita na Piazza dei Peruzzi e à esquerda na Via delle Brache. A padaria está na primeira esquina à direita. QUANDO - Diariamente, entre 1h30 e 5h da matina. ESTE MÊS NESTE PLANETA 19°56' S 43°56' 0 GUERRA DOS SONOS Belo Horizonte é a representante brasileira nas comemorações do sétimo "Dia Internacional da Guerra de Travesseiros". Via Facebook (abR.ai/lutabelo), os adeptos combinam local e hora para se enfrentar. Dia 7. 15°45' S 168°11' L VOO (AO) SOLO Na ilha de Pentecostes, em Vanuatu, nativos saltam de 30 m de altura presos por cipós nos pés. A ousadia a 65 km/h é parte de um ritual de fertilidade. Dia 2. Um momento 13/04, 10H O Ano-Novo budista é celebrado em Songkran, Tailândia, com uma guerra de água que envolve até monges e policiais munidos de baldes e armas de brinquedo. O ritual rola até dia 15 e simboliza purificação e rejuvenescimento. 60 MIL foguetes são disparados entre duas igrejas de Vrontados, na ilha grega de Chios. A "guerra" marca o início da Páscoa. Dia 4. QUE LUGAR É ESSE? 1- Arquipélago com mais de 7 mil ilhas. 2- Seu nome homenageia um rei espanhol. 3- Catchup de banana é muito popular por lá. RESPOSTA Filipinas, colônia da Espanha entre 1521 e 1898 – o nome do país é uma homenagem ao rei Felipe II. Cerca de 5 mil ilhas do arquipélago não são povoadas. 1#10 ORÁCULO CRISE DE IDENTIDADE Entre altos e baixos, o Oráculo imagina ser apenas um Silva, sorrir e se misturar à multidão de monges, vampiros e gente de sangue azul - ah, e ao único Hiarrhuancles. BEM MAL PASSADO Quanto sangue um vampiro precisa beber por dia? - MARINA SCHNOOR, SÃO PAULO, SP Depende do tipo (de vampiro, não do sangue). Se for daqueles da literatura e do cinema, de 8 a 10 litros é o ideal. Isso demanda pelo menos duas vítimas, já que cada pessoa tem entre 5 e 6 litros de sangue no corpo. Já para aquele cara que se autodenomina vampiro e bebe sangue (sim, isso existe), a dose diária varia entre 50 e 100 ml. O consumo é baseado em doações de amigos e cônjuges. DIGA XIS! Tabelião do Universo: se documentos são a prova de minha feliz existência, por que não posso sorrir nas fotos? - LUCA MARSON, SÃO PAULO, SP Sorria, meu bem! Você está sendo fotografado injustamente se não lhe permitem expor os dentes e sua alegre identidade no passaporte, na habilitação ou na carteirinha de estudante (ainda que falsificada). Não há impedimento legal nenhum para que as pessoas sorriam em fotos oficiais. Só são barradas expressões de menosprezo, ironia ou que dificultem o reconhecimento. DELEITE TARDIO Aceite esta apetitosa oferenda em forma de dúvida: é verdade que o homem é o único mamífero que bebe leite depois de adulto? - JOÃO BRUNO CASEMIRO LIMA, RIBEIRÃO PRETO, SP Da próxima vez, misture sua oferta com achocolatado e canela em pó, que me agrada mais. A resposta é sim: sua espécie é a única que toma leite após o desmame. As principais fontes, inclusive, são outros animais, como vacas, cabras, ovelhas, búfalas, renas, éguas e até camelos! A última novidade na dieta láctea humana rolou em 2011: a sorveteria inglesa Icecreamists incluiu no menu o sabor Baby Gaga, feito de leite materno. PERDIDO NA SELVA Por que tem tanto brasileiro chamado Silva? - ADILSON DA SILVA, PELOTAS, RS Teu sobrenome bombou por ser genérico, bá. Silva é selva em latim, o que não dá pistas sobre local de origem nem linhagem familiar. Quando o Brasil foi colonizado, muita gente queria recomeçar a vida e adotou o Silva para garantir anonimato. Além disso, escravos herdavam o sobrenome de seus senhores, e Silva era a família mais numerosa de Portugal. Deu no que deu. Já que ninguém sabe de onde venho mesmo, vou virar Oráculo da Silva e passar despercebido entre os mortais. Que tal, primo Adilson? SILVA DE ONDE? Sobrenomes mais comuns em alguns países EUA – Smith ALEMANHA – Müller FRANÇA – Martin ESPANHA – Garcia Japão – SATO ITÁLIA – Rossi ARGENTINA – González CHINA – Wang AZUL É A COR MAIS NOBRE Onde e quando surgiu a expressão sangue azul, relacionada à realeza? - REBECCA ELISE M. DE MENEZES, BRASÍLIA, DF Na Espanha do século 6, assim como em sua terra, Rebecca, os poderosos não trabalhavam no campo. Por isso, eram tão claros que veias azuladas lhes saltavam da pele. E assim foi apelidada a nobreza. Mais remotamente, no Egito Antigo, os faraós diziam que seu sangue era azulado, como as águas do Nilo. Na natureza, o sangue azul existe nas lagostas - nobre iguaria entre os frutos do mar - e pode aparecer em humanos com cianose - doença relacionada à falta de oxigenação do sangue. HAJA LUZ Sei que não é da tua conta - já que não dependes de eletricidade -, mas tirar aparelhos ociosos da tomada baratearia minha fatura? - HIARRHUANCLES MIRANDA, IPIAÚ, BA Hiarrhuancles, Hiarrhuancles... revelar teu nome tão particular a milhões vale mais do que a resposta que vou dar: sim, desligar aparelhos da tomada economiza. Uma TV desplugada livra até R$ 2 por mês na conta. Parece pouco, mas não é. A energia poupada por mês se cada brasileiro tirasse da tomada seus aparelhos em "stand by" - aqueles que acendem uma luzinha quando não estão funcionando - abasteceria a grande Ipiaú, onde vives, por um ano e quase um mês. QUER QUE DESENHE? Iluminado Oráculo, como faço para ir ao Tibete e virar monge budista! ISADORA MATTOS, FRANCA, SP 1- Conheça um monge que a recomende a um monastério. 2- Custo mínimo: R$ 6.600. São R$ 4.700 de passagem (só de ida), R$ 1.800 por cinco anos de aulas de tibetano no Brasil e R$ 100 pelo visto (o Tibete é território chinês). 3- Prepare-se para ficar entre nove e 24 anos (tempo que pode durar a formação) sem banho, a 3 mil metros de altitude, e vivendo à base de iogurte, chá preto com leite e farinha de cevada. Dica leve uma SUPER e, se a rotina doer, medite em mim. PÁ PUM Em que país vivem as pessoas mais altas do mundo? - PAULO GUIMARÃES DE FREITAS, RIO VERDE, GOIÁS Nos Países Baixos, codinome da Holanda. A estatura média por lá é de quase 1,83 m. NÚMERO INCRÍVEL 205 MILHÕES é o número estimado de televisores no Brasil. Um por habitante. UM DADO RELEVANTE COM ALGUMA LIGAÇÃO 205 MILHÕES de pessoas assistem a competições de videogame. OUTRO DADO RELEVANTE SEM NENHUMA LIGAÇÃO 205 países fazem parte do Comiê Olímpico Internacional. PERGUNTE AO ORÁCULO! Escreva para superleitor@abril.com.br com o assunto "Oráculo" e mencione sua cidade e Estado. 1#11 CONEXÕES – DE ÍSIS A ISIS TEXTO Fabio Marton ÍSIS - Principal divindade do panteão egípcio. O culto a ela era tão forte que acabou passando adiante: estátuas de Ísis se tornaram comuns pelo Império Romano. Uma cena que os cristãos acabariam tomando para si, trocando a deusa pela... VIRGEM MARIA - Para os cristãos, a mãe de Jesus representa a proteção e o amor (o mesmo que as deusas-mães significavam para os politeístas). A devoção à Virgem é muito forte, comparável à veneração que se faz a uma deusa. Era o que pensava... MAOMÉ - Maomé acreditava que Cristo nasceu de mãe virgem. Mas rejeitava a ideia da Santíssima Trindade e achava uma heresia tratar a Virgem Maria como deusa. Fundou outra religião, o Islamismo, virou seu líder político. E disso veio o... CALIFADO - "Califa" é "sucessor" em árabe. Quando o Profeta morreu, seu sogro assumiu o lugar e iniciou o califado Rashidun, que teve outros três líderes ao longo de 29 anos. Desde então, várias outras dinastias clamaram para si o título de califa. A mais recente é o... ISIS - O Estado Islâmico do Iraque e al-Sham ("Isis", em inglês) é uma dissidência da Al-Qaeda. O grupo declarou que seu líder, Abu Bakr, é o novo califa. O Isis controla territórios no Iraque e na Síria e declarou que pretende anexar o Egito - berço da poderosa Ísis. 1#12 ESSENCIAL – BEBER ATÉ MORRER O caso do estudante que morreu de vodca acende um alerta: a indústria da bebida, como qualquer outra, busca crescer amealhando consumidores cada vez mais jovens, e o problema só piora. Mesmo assim, há uma saída. E não é a que você imagina. TEXTO Marcos Nogueira [* Marcos, ex-editor da SUPER, foi colunista de bebida na revista VIP e hoje escreve o blog Bar do Nogueira.] Numa festa universitária, alunos são desafiados a beber uma dose de vodca a cada 60 segundos. É claro que isso terminaria mal, mas o desfecho da competição em Bauru, interior de São Paulo, foi particularmente desastroso: Humberto Moura Fonseca, 23 anos, estudante de engenharia da Unesp, morreu após tomar 30 doses — 1 litro e meio, ou 600 ml de álcool puro. Outros três jovens foram hospitalizados em estado grave. O caso, dado seu absurdo, transformou-se numa oportunidade de emplacar um discurso antigo, que prega todo tipo de restrição ao álcool. Ame ou odeie os arautos da sobriedade, porém, o fato é que uma postura policialesca simplesmente não funciona — mesmo nas teocracias islâmicas, onde beber é crime, o alcoolismo é um problema. Por outro lado, o caso de Bauru serve de alerta para outra realidade: o brasileiro bebe muito. Formulando melhor: o brasileiro que bebe exagera na dose. Temos uma percepção distorcida desse fato porque as estatísticas mais divulgadas diluem o volume de álcool consumido por toda a população. Elas incluem os abstêmios: 42% dos brasileiros. Segundo esse critério, ocupamos a 53ª posição do ranking mundial da Organização Mundial de Saúde, com 8,7 litros de álcool puro anuais por habitante. Mas, se levarmos em conta somente os bebedores, temos um consumo per capita de 15,1 litros. Dá 18 latas de cerveja por semana, ou duas doses diárias de birita forte, como cachaça ou vodca, por dia. Isso é o dobro do que o corpo consegue assimilar sem que você tenha problemas de saúde. E coloca os cachaceiros do Brasil à frente até dos da etílica Irlanda no ranking da beberagem. Pois é. No país onde até café se toma com uísque, e que tem um índice de abstinência de apenas 19%, os bebedores entornam "só" 14,7 litros de álcool puro por ano. Eu mesmo sou um cara que bebe muito. Na época de faculdade, embora não houvesse competições cretinas como a de Bauru, fui protagonista de episódios nada edificantes — que envolveram vómito no sapato alheio e completo blecaute. Como Humberto, era um ingênuo com um copo na mão. Ao contrário de Humberto, sobrevivi. O tempo me amaciou, a exemplo do uísque que envelhece em barris. Ainda hoje meu consumo de álcool é maior do que o recomendado para uma vida saudável. Mas muito raramente fico bêbado. Parei de ter amnésia alcoólica, de apagar em público. Parei de fazer merda, enfim. Aprendi a distinguir e apreciar os sabores e aromas. Tornei-me jornalista especializado em bebidas e até tirei diploma de sommelier de cerveja. Mas a tragédia de Bauru escancara verdades que nós, que escrevemos sobre bebida, não gostamos de admitir. Nossa classe depende de uma relação amistosa com a indústria para se sustentar. Compra o discurso dessa indústria, torna-se um instrumento dela e vive no autoengano. Passa a crer que as pessoas bebem cerveja por causa dos lúpulos aromáticos da Nova Inglaterra e tomam uísque para sentir o aroma defumado dos maltês de Islay, na Escócia. Cascata. As pessoas gostam dos efeitos do álcool. Começam a beber para se drogar. Mesmo quando aprendem a apreciar o sabor da bebida, nunca abandonam o prazer de ficar meio altas depois de alguns copos. Não fosse assim, os cursos de degustação de café e chá concorreriam em popularidade com os de vinho e cerveja. A indústria, espremida por limitações e obrigações legais, cria uma imagem pública de combate ao consumo precoce e irresponsável. Mas sua atuação vai na contramão desse discurso. Como todo negócio, o ramo da bebida busca crescer, ampliar o lucro e conquistar mais clientes. Interessa-lhe ganhar a simpatia dos adolescentes que acabaram de fazer 18 anos ou estão próximos disso. Assim, toda a estratégia de comunicação das marcas populares de cerveja e de vodca é dirigida ao público jovem. Entre as ações de marketing dessas companhias, está o patrocínio de eventos cheios de adolescentes, como os carnavais de rua. E, claro, de festas universitárias como a de Bauru. Os produtos parecem ser feitos sob medida para os pós-pubescentes. Nas cervejarias, busca-se um líquido refrescante, de baixo amargor, leve, fácil de beber e, principalmente, barato. Ideal para quem tem pouco dinheiro, paladar infantil e muita sede. A exceção nessa indústria vai para os setores de cerveja artesanal, de vinhos finos e para as companhias dedicadas exclusivamente ao segmento do alto luxo. Essas miram o consumidor adulto, que só vai morrer de beber caso tenha muito mais dinheiro do que cérebro. Retomando o episódio de Bauru: ele ultrapassa qualquer noção de bebedeira irresponsável. Irresponsável é tomar quatro cervejas e voltar para casa de carro. O que aconteceu com o rapaz foi brutal — consequência de um comportamento que precisa ser combatido. Mas como? Criar mais proibições não adianta. Jovens sempre dão um jeito de burlar barreiras. Mais impostos? O efeito de uma alta nos preços é um tanto previsível no padrão de consumo: a molecada vai simplesmente migrar para uma bebida mais barata, e provavelmente mais tóxica. Ações de redução de danos parecem uma alternativa melhor. O hábito de beber é um traço inerente à maior parte das culturas. Colocá-lo no mesmo balaio das drogas pesadas é uma abordagem míope. A indústria, se fosse banida, seria substituída por outra indústria, clandestina e sem controle algum. Mas que tal então impedir que conglomerados cervejeiros banquem festas de faculdade e eventos culturais que atraem adolescentes? Que tal vetar campanhas publicitárias que estimulam o consumo de álcool como lubrificante social (e sexual) ? Outro caminho, mais difícil, é a educação. Em algum momento da vida, o sujeito descobre que ficar doidão não é o único prazer envolvido no ato de beber. Ele passa, sim, a sentir gostos e aromas na bebida. Torna-se mais seletivo. Toma mais tempo entre um gole e outro. Escolhe bebidas mais caras. Como consequência, bebe menos. E é melhor que esse processo aconteça cedo. Que fique entre nós: se a sua filha ou o seu filho toma muita bebida vagabunda, você não vai conseguir forçá-lo a virar abstêmio. Então apresente-lhe um bom vinho ou cerveja (caso ele tenha mais de 18, claro). E, se você é o jovem bêbado em questão, experimente coisas mais elaboradas. Uma hora ou outra a transformação da quantidade para a qualidade acontece. É um caminho sem volta — e muito, mas muito mais seguro. _______________________________________ 2# REPORTAGENS abril 2015 2#1 DROGAS – IGUAL A UMA BALA 2#2 CAPA – A POLÊMICA DO SOL 2#3 CRISE HÍDRICA – CADÊ MINHA ÁGUA? 2#4 FUTURO – VIDAS SECAS 2#5 TECNOLOGIA – IPAD 5 ANOS DEPOIS 2#6 VIDA SELVAGEM – OS OLHOS DA MATA 2#7 DIREITOS – PASSE LIVRE 2#8 ZOOM – UNIVERSOS OPOSTOS 2#9 INTERNET – CONECTANDO BILHÕES 2#1 DROGAS – IGUAL A UMA BALA A vida e a obra de Pablo Escobar, o colombiano que reinventou o mercado mundial de cocaína, combateu a desigualdade e se tornou um dos criminosos mais temidos e, até certo ponto, amados de seu país. REPORTAGEM Carol Castro Todo mundo diz que na hora da morte, a vida passa como um filme... ...vemos as escolhas certas... as escolhas erradas. Não foi assim com Pablo Escobar, o traficante mais poderoso da história. 1975. Pobre, 26 anos, sem futuro num país em recessão profunda... Preso por roubo de carro, ele descobre outro ramo, muito mais promissor: narcotráfico e contrabando. Na cadeia, cria conexões com contrabandistas de cigarros e bebidas... Vira guarda-costas de Alfredo Gómez, “El Padrino”, um poderoso líder do contrabando... Logo e torna motorista, responsável por levar e trazer uísque cigarro etc. Pablo é admirado por ser sério. Não fuma, não bebe, cão cheira Seus únicos vícios: maconha e mulher. Uma de suas funções é receber drogas do Panamá. Este é Pablo, um homem que lhe pode ser útil. Faz fama no mundo do contrabando. Mas ele quer mais. Encantado com a grana fácil, chama um primo para iniciar o próprio negócio. Eles fazem contato com traficantes da Bolívia e do Peru, que levam a cocaína a Medelín, onde é processada. Suborna policiais e mata cada traidor que não repassa o dinheiro a eles. “Para que saibam com quem estão tratando.” O negócio rende muito dinheiro... Pablo não estava satisfeito em ser um rico narcotraficante. Queria virar herói. Devora livros sobre socialismo e dá atenção a bairros pobres de Medelín... Constrói um bairro novo para família que viviam sobre um lixão. Faz mais de 100 campos de futebol com iluminação. Ao mesmo tempo, controla tudo com mão de ferro. O suborno se alastra. Policiais e juízes honestos são assassinados. Ninguém se mete com ele. Com a implosão da justiça do país, um tratado foi feito para permitir que colombianos fossem julgados nos EUA. Seria mais difícil comprar um juiz americano... Também fica mais difícil importar a pasta de coca. Pablo inicia o plantio na Colômbia. Num país quebrado as zonas de cultivo viram um atrativo. O problema é que os guerrilheiros das FARV dominam as áreas de plantio. Então os narcos passam a pagar altas taxas a eles. Os narcos dão suporte às pessoas. Oferecem sistemas de crédito e benefícios que o governo não dá. O pó é um grande negócio! Em 1978, inaugura sus fazenda/quartel-general. Uma década depois, ele já é um dos homens mais ricos do mundo, com uma fortuna avaliada entre US$ 20 e US$ 25 bilhões. Em 1989, Pablo é o 7º no ranking dos bilionários da revista “Forbes”. 1982.Pablo se alia ao político Jairo Ortega e vira suplente de deputado. Ele passa a ser investigado com mais afinco. Afinal, é rico e poderoso demais para ser deixado de lado... Guilherme Cano, diretor do jornal “El Espectador”, revira o passado e enfim encontra algo... Ah, o mundo sem internet... Uma notícia sobre a prisão de Escobar, em 1976, quando foi preso em Ipiales com 10 Kg de cocaína. Agora, algo de concreto ele sabia dele. Ao mesmo tempo, Rodrigo Lara, novo ministro da Justiça recebe das mãos de Jaime Ramírez, diretor da Polícia Antinarcóticos, evidências que permitem desarquivar investigações sobre Escobar. Lara e Ramírez acabam com a Traquilandia, maior centro de processamento de cocaína da América Latina, em 1984. É o fim da vida política de Pablo... ...E o fim da vida dos inimigos! Guillermo Cano, Jaime Ramírez e Rodrigo Lara, assassinados. Com a pressão, os narcos fogem para o Panamá. A exportação de cocaína fica cada dia mais criativa: submarinos comprados da União Soviética levam o pó a alto-mar e repassam a barcos, que escondem em frutas, geladeiras... ...até em casco de transatlântico. Nos anos 80, 80% da cocaína mundial é do Cartel de Medellín! — Se deixarmos Galán ser presidente, estamos “jodidos”! Luis Carlos Galán é candidato nas eleições de 1989. Sua bandeira é a luta contra o narcotráfico. Após tentativas frustradas, eles finalmente conseguem mata-lo. Escobar não recua. Decide eliminar César Gavira, sucessor de Galán. Dá uma mala a um jovem que pegaria o mesmo voo que Gaviria, que muda a passagem de última hora... O jovem sem saber o conteúdo, abre a maleta. A explosão mata 120 pessoas. Gaviria é eleito em 1990 e promete aos narcos que, se confessassem um crime, não seriam jugados nos EUA. Uma nova constituição é feita. No mesmo dia, Pablo se entrega. A prisão de Pablo é cinco estrelas. Ele recebe a família e prostitutas (não ao mesmo tempo). Para não acabar com o luxo de dinheiro, ordena sequestros e organiza as vendas de drogas. Pablo recebe a notícia que o vice-ministro da Justiça quer acabar com esse luxo e tirá-li de lá. Ele foge com seus homens à meia-noite. Pablo passa a vagar por bairros de Medellín e chácaras no interior. Ele traiu e matou vários aliados. Agora está sozinho. A polícia rastreia seu telefone e descobre o esconderijo. Pablo foge pelo telhado... Ele atira, a polícia revida com três tiros. (Pablo morto) A Embaixada Americana em Bogotá está em êxtase. VIVA A COLÔMBIA. A polícia comemora. Mas Pablo era meio vilão, meio herói. No funeral uma multidão surge para se despetir. “Te amamos, Amén. El Pueblo está contigo.” Uma vida que passou igual a uma bala... uma vida que atingiu o mundo como uma bala. 2#2 CAPA – A POLÊMICA DO SOL Um dia acordei e não senti o lado direito do rosto. Tinha desenvolvido uma doença incurável, que poderia me levar para a cadeira de rodas. Tudo indica que eu era vítima de uma epidemia global: falta de vitamina D, causada pela falta de sol. REPORTAGEM Daniel Cunha UM DIA ACORDEI e não senti o lado direito do rosto. Achei esquisito, mas não dei muita importância. Nos dias seguintes, outras coisas foram acontecendo. Primeiro, perdi toda a sensibilidade no lado direito do corpo. Fiquei com falta de equilíbrio, visão turva, confusão mental. Não conseguia levantar da cama. Depois de dois meses de internações e exames, veio o diagnóstico: eu tinha esclerose múltipla, ou seja, meu sistema imunológico estava atacando meu próprio cérebro e a medula espinhal. Desenvolvi uma doença degenerativa, sem cura, que poderia me jogar em uma cadeira de rodas em menos de uma década. Um cenário desolador. Uma vez por semana eu tomava injeções de interferons (proteínas de defesa produzidas pelo próprio corpo), que acabavam por suprimir meu sistema imunológico. A cada aplicação eu tinha uma febre forte e ficava prostrado pelos dois dias seguintes. Todas as semanas, eram dois dias perdidos. Parei de trabalhar e caí em uma amarga depressão. Eu tinha 24 anos. Meses depois, minha mãe viu a entrevista de um médico na internet. Ele se chama Cícero Coimbra, é neurologista da Unifesp, e tinha uma teoria diferente sobre a minha doença - para ele, um simples tratamento com vitamina D poderia ser a solução. Comecei o tratamento com uma megadose dessa vitamina: 50 mil UI (unidades internacionais) por dia, cerca de oitenta vezes mais do que a dose diária recomendada. Segundo Coimbra, pacientes com doenças autoimunes, como a esclerose múltipla, têm características genéticas que dificultam a absorção de vitamina D, daí a necessidade de doses tão grandes. "Nossa expectativa é que em seis meses, quando você tiver atingido o efeito completo do tratamento, a doença entre em remissão permanente, sem novas crises", afirmou Coimbra. Era quase um milagre diante das outras perspectivas para essa "doença sem cura". Optei por abandonar as injeções e, com elas, meu sofrimento semanal. Mas havia um risco. Com uma dose tão alta, o corpo passa a absorver mais cálcio dos alimentos e os rins podem ficar comprometidos. Para lidar com isso, tenho que beber pelo menos 3 litros de água ou suco e abandonar o leite e seus derivados ricos em cálcio. Sacrifício bem pequeno para o benefício que colhi. O tratamento está dando muito certo. A doença estacionou e, há cinco anos só com a vitamina D, nunca mais tive sintoma algum. Meus resultados já impressionam os neurologistas que não acreditavam que isso seria possível. Imagine então o que pensam ao se depararem com casos de pacientes que tinham ficado cegos e recuperaram a visão, ou que tinham deixado de andar e levantaram da cadeira de rodas, só seguindo o tratamento da vitamina D. Perto disso, ter a "minha doença controlada" é muito pouco. Essa é a minha história. E você talvez tenha algo em comum com ela. Um estudo feito em 2010 pela USP constatou que nada menos do que 77,4% dos paulistanos apresentam deficiência de vitamina D durante o inverno (no verão o número cai, mas continua altíssimo: 37,3%). Ou seja: é bem possível que você tenha falta de vitamina D - e nem saiba disso. "Provavelmente, esse é o problema médico mais comum no mundo hoje", diz o endocrinologista Michael Holick, da Universidade de Boston. Em Pequim, o problema afeta 89% das adolescentes - e 48% dos idosos. Na Índia, 84% das grávidas - e assustadores 96% dos bebês. Nos Estados Unidos, 29% dos adultos. Em Recife e Salvador, metade das mulheres. Os dados, que vêm de diversos estudos locais, já que não há uma pesquisa global que envolva grandes populações, variam bastante, mas todos apontam na mesma direção. O mundo está vivendo uma 'epidemia' de baixa vitamina D. E isso parece estar ligado a uma quantidade impressionante de doenças: de depressão a diabetes, de esclerose múltipla (como a minha) a câncer, da dor crônica a Alzheimer. Já vamos falar sobre isso. Mas antes: por que está faltando vitamina D? PORTAS FECHADAS Tem algumas grandes diferenças entre a D e todas as outras vitaminas. Para começar, embora até seja possível absorvê-la pela comida, sua maior fonte, disparado, é o sol. Sim, a luz solar - aquela mesma que agride e envelhece a pele e pode causar câncer de pele, o mais comum entre mulheres e o segundo mais comum entre homens no Brasil. O raio ultravioleta B (UVB) do Sol, o mesmo que nos torra, desencadeia uma série de reações químicas que produzem vitamina D (veja no infográfico). Na verdade, a vitamina D não é uma vitamina. Em 1931, o químico alemão Adolf Windaus, da Universidade de Göttingen, constatou que essa substância tinha a mesma estrutura de hormônios esteroides, como os hormônios sexuais. "Trata-se, na realidade, de um pré-hormônio", explica a farmacêutica e bioquímica Rita Sinigaglia, da Unifesp. Nos anos 90, com a descoberta de que todo o organismo possui receptores para a vitamina D, difundiu-se que ela seria uma classe em si mesma devido a ausência de um órgão alvo específico, como acontece com os hormônios. Não é vitamina, mas o nome pegou, e assim ficou. Um pré-hormônio para lá de importante. "Imagine um edifício comercial, um arranha-céu com milhares de portas, que são abertas por uma única chave: a vitamina D. Como ficarão essas salas que não podem ser abertas nem fechadas sem ela?", compara o médico Cícero Coimbra. Vitamina D é uma chave bioquímica que abre as portas de milhares de diferentes processos fundamentais para a vida. Se seus níveis forem altos, não faltarão chaves e as células funcionarão em plena atividade. Mas, com níveis baixos, várias dessas funções ficarão trancadas - salas fechadas. Já se sabe de pelo menos 2.500 funções celulares que não funcionam sem a D. Por isso, sem vitamina D, a vida é impossível. Há muito tempo se sabe, por exemplo, que níveis baixos demais acabam com nossa capacidade de formar ossos. É que ossos são feitos de cálcio - e, para absorver o cálcio, nosso sistema digestivo precisa de vitamina D. "Sem ela, os dinossauros não teriam aguentado o peso do próprio corpo" , explica Ian Wishart no livro Vitamin D: Is This the Miracle Vitamin? ("Vitamina D: vitamina milagrosa? ", ainda sem versão em português). Os humanos, desde sempre, mantiveram uma relação íntima com o Sol. Mas, quando a Revolução Industrial entrou em cena, no século 18, essa história tomou outro rumo. Abarrotadas de trabalhadores, as cidades começaram a se estreitar, com prédios cada vez mais próximos, ficando cheias de sombras. A fuligem da queima de carvão, além de poluir, dificultava a passagem dos raios solares. Crianças da Inglaterra e do norte da Europa começaram a apresentar deformações nos ossos, bolinhas na pele e má-formação dos dentes. Estavam sofrendo de uma doença pouco conhecida até então: o raquitismo. Em 1916, Harry Steenbock, da Universidade de Wisconsin, descobriu que a luz solar era a resposta para o raquitismo. Surgiu então a moda da helioterapia (terapia da exposição solar), que havia sido idealizada pela primeira vez pelo historiador grego Heródoto, no século I. Na Europa e nos EUA, hospitais construíram solários e varandas para banhos de sol. Nessa mesma época, outros pesquisadores queriam entender por que a Noruega, ao contrário dos países vizinhos, registrava baixos índices de raquitismo. O segredo estava na dieta; os noruegueses se alimentavam, principalmente, de peixes selvagens - e consumiam muito óleo de fígado de bacalhau. O bioquímico americano Elmer McCollum, também da Universidade de Wisconsin, analisou esses alimentos e neles encontrou uma nova substância, que batizou de vitamina D. Os médicos passaram a receitar óleo de fígado de bacalhau, alimento que contém uma quantidade considerável da substância (veja tabela). A indústria do leite começou a fortificar o produto com vitamina D, que pode ser sintetizada quimicamente ou retirada do sebo de ovelhas. Mas, de lá para cá, aconteceram duas coisas. Primeiro, nosso estilo de vida passou a incluir cada vez menos sol. Usamos protetor solar, nos cobrimos mais, ficamos mais tempo em locais fechados. No Brasil, o consumo de protetor sextuplicou em menos de 15 anos. Por uma boa causa, claro: proteger a pele do câncer. Só que isso derruba a produção de vitamina D. Aplicar um filtro solar fator (FPS) 15 reduz em 98% a produção dessa vitamina. A outra mudança foi na própria atmosfera terrestre. Um estudo feito na Índia comparou dois grupos de bebês, com idades entre 9 e 24 meses. Todos seguiam a mesma dieta (as mães eram vegetarianas, e os bebês se alimentavam de leite materno), eram da mesma etnia e tinham o mesmo nível socioeconômico. A única diferença estava no ar. Um grupo morava num bairro com alto nível de poluição atmosférica; o outro respirava ar mais puro. Os resultados foram claríssimos - e chocantes. Os bebês do bairro poluído tinham 12 nanogramas de vitamina D por mililitro de sangue. Os outros tinham 27, mais que o dobro. A poluição literalmente bloqueia a luz solar, dificultando seu trabalho. "Os compostos químicos que estão no ar absorvem parte dos raios UVB", explica Lilian Cuppari, pesquisadora da Unifesp e uma das autoras do estudo sobre a falta de vitamina D no Brasil. Talvez nada ilustre melhor a importância do sol do que a história recente do Irã. Até a Revolução Iraniana, o país era governado pelo xá Reza Pahlavi, amigo dos Estados Unidos. Tudo era bem ocidentalizado, inclusive as roupas das pessoas. Em 1979, o aiatolá Khomeini tomou o poder, instaurou um governo islâmico, e as mulheres passaram a usar trajes tradicionais e recatados, que cobrem quase todo o corpo. O efeito sobre a saúde foi imediato - e fortíssimo. Entre 1989 e 2006, o número de casos de esclerose múltipla cresceu 800% no país (como mostrou um estudo realizado em 2013 pela Universidade de Oxford). Até a década de 1990, acreditava-se que a única função da vitamina D era contribuir para a saúde dos ossos. Nos últimos anos, pipocaram novos estudos (foram mais de 2 mil só em 2014) e hoje sabe-se que ela age em diversas partes do corpo: incluindo cérebro, coração, estômago e pulmões. Ela retarda ou ajuda a evitar o aparecimento de Alzheimer e outras doenças degenerativas, alivia a asma, evita demência, esquizofrenia e bipolaridade e reduz os riscos de impotência sexual. Doenças cardiovasculares e infecciosas (como a tuberculose), diabetes, autismo e doenças autoimunes (psoríase, artrite reumatoide, lúpus, entre outras) estão relacionadas à falta de vitamina D. Um estudo da pediatra e neonatologista americana Carol Wagner, da Universidade da Carolina do Sul, mostrou ainda que a vitamina D reduz em 50% a possibilidade de complicações na gravidez. Ela interfere até no humor. Um artigo publicado no British Journal of Psychiatry analisou os resultados de testes com 30 mil pessoas e concluiu que há uma relação entre falta de vitamina D e depressão. Sem falar no câncer. Há pesquisas mostrando que a vitamina D desacelera a progressão do câncer de mama e de próstata e pode até prevenir alguns tipos da doença. Também há indícios de que o mesmo acontece com câncer de cólon, pâncreas, cérebro, bexiga, rins e leucemia. "A vitamina D previne o câncer da mesma forma que a vitamina C previne o escorbuto (doença que causa hemorragias bucais e perda dos dentes)", empolga-se o médico americano Cedric Garland, da Universidade da Califórnia. Para Garland, que participou de dezenas de estudos sobre o tema, níveis corretos de vitamina D poderiam evitar até 80% dos casos de câncer. Apesar de tantas evidências, a vitamina D ainda é alvo de muita polêmica. A maior parte das sociedades médicas do mundo e dos órgãos responsáveis por definir as diretrizes para os profissionais de saúde continua recomendando cuidado com o sol e poucos reconhecem tratamento que sigo fazendo. Por quê? A VITAMINA DA DISCÓRDIA Segundo a Sociedade Brasileira de Dermatologia "o único benefício reconhecidamente ligado à vitamina D é sua relação com a saúde óssea". Assim como a maioria dos dermatologistas do mundo, ela não recomenda a exposição aos raios solares. "Caso a pessoa tenha carência de vitamina D, sugerimos que tome isso de forma exógena, por meio de suplementos, em função dos riscos envolvidos", diz a dermatologista Flávia Ravelli, da SBD. Alguns estudos parecem dar razão aos céticos. Uma revisão de mais de 400 estudos realizada na França concluiu que a suplementação da vitamina não trouxe benefícios significativos na diminuição do risco de doença cardiovascular, câncer nem fraturas. Segundo os autores, a deficiência de vitamina D é consequência de doenças, não sua causa. Quem defende a vitamina diz que a maioria dos estudos usou doses muito baixas, de 2 mil UI por dia, e que seria preciso tomar pelo menos 4.500 UI para ter algum efeito na prevenção de doenças. Como afirma Michael Holick em um de seus livros sobre a vitamina D, "se o corpo pudesse declarar o método preferido para a obtenção da sua dose diária de vitamina D, ele com certeza aplaudiria de pé a opção do sol em vez de um frasco de pílulas". Afinal, esse inteligente processo de autorregulação não deve ter sido aperfeiçoado pelo nosso organismo à toa. Outro ponto importante é que o corpo não se intoxica com a vitamina D gerada pela luz do Sol, mas pode se intoxicar com a vitamina D proveniente da suplementação (é o risco do excesso de cálcio que eu preciso controlar no meu tratamento). A maioria dos oncologistas, neurologistas, psiquiatras e outros médicos que poderiam se beneficiar da vitamina D nem sabe de seu potencial. Por ser uma substância encontrada na natureza, ela não pode ser patenteada, e, portanto, pode-se imaginar que não atraia a atenção dos grandes laboratórios farmacêuticos, maiores patrocinadores das pesquisas e dos congressos médicos. Mesmo não sendo aceito pela Academia Brasileira de Neurologia, que pede por mais estudos, o protocolo da vitamina D para doenças autoimunes desenvolvido por Cícero Coimbra se mantém principalmente pela popularidade entre os pacientes. Ele já tratou mais de 2,5 mil pessoas com esclerose múltipla desde 2002, bem como pacientes com lúpus, artrite reumatoide, psoríase, vitiligo e várias outras doenças. O sucesso fez com que outros médicos o procurassem para aprender o protocolo, e hoje mais de 20 profissionais espalhados pelo Brasil e outros no exterior (Argentina, Peru, Itália, Portugal) já aplicam o tratamento. Há relatos de outras experiências usando doses altas de vitamina D pelo mundo, geralmente para pesquisas pontuais. Mas nada se compara à consistência do que vem sendo feito por aqui. Vários pacientes vem tendo bons resultados. Como Wagner, que foi diagnosticado com esclerose múltipla em 2007. Começou a fazer o tratamento convencional, teve muitos efeitos colaterais e nenhuma evolução, e em 2013 foi parar numa cadeira de rodas. Começou um tratamento com vitamina D e voltou a andar. Rafhael estava havia sete anos sem fazer caminhadas. Com quatro meses de tratamento, já conseguia jogar bola com os filhos. Juliana, que tinha dores terríveis por causa da artrite reumatoide e mal conseguia cuidar do filho, hoje coloca diariamente no Instagram fotos em posturas de ioga quase impossíveis. Fernanda, que sofre de dor crônica, começou a tomar a vitamina há sete meses, e melhorou. Átila, que tinha pneumonia e bronquite asmática desde a infância, também. Mesmo caso de Damaris e Maria Cecília - que tinham casos graves de lúpus (uma doença autoimune que afeta pele, articulações e rins) e melhoraram depois de começar tratamento com a vitamina. Há dezenas de relatos como esses. De minha parte não há nenhuma dúvida. Tive alta e nunca mais apresentei qualquer sintoma da doença. E raramente tenho gripes ou resfriados, antes tão comuns. Não sei quando (ou se) deixarei de tomar as altas doses de vitamina D. Mas elas certamente são melhores que as injeções. Hoje até existem tratamentos à base de remédios orais, com chances de melhores resultados. Mas ainda possuem muitos efeitos colaterais, além de custarem muito caro. No fim da história, se eu pudesse dar uma só dica sobre o futuro seria esta: tome um pouco de sol. Não muito: 15 minutos, sem protetor solar, bastam para a maioria das pessoas (sempre tendo o cuidado de não passar do ponto e ficar vermelho, o que é perigoso). Quanto maior a região do corpo exposta, maior será a produção. Não precisa expor o rosto - que é muito sensível e tem uma área relativamente pequena, portanto produz pouca vitamina D. Tomar sol nos braços e nas pernas já está bom. "Esperar o ônibus no ponto sem protetor já é capaz de elevar significativamente as taxas", explica a médica Lilian Cuppari. Cada vez mais gente concorda com isso. O médico Walter Feldman, por exemplo. Ex-deputado federal, ele apresentou um projeto de lei para garantir aos trabalhadores, presos, estudantes e pacientes de hospitais, que passam mais de seis horas ininterruptas em ambientes fechados, o direito de tirar 15 minutos de descanso, antes das 16h, para tomar sol. Em 2010, o Ministério da Saúde americano aumentou a dose diária recomendada para pessoas saudáveis, que passou de 400 para 600 UI (no caso de idosos, 800 UI). Em 2013, a Europa fez uma mudança similar. Ainda é muito pouco - basta lembrar que, em apenas 15 minutos de exposição ao sol, podemos produzir mais de 10 mil UI. Diferenças à parte, o importante mesmo é pegar o caminho de volta. Por mais que tenhamos nos esquecido disso nas últimas décadas, entocados em prédios, lambuzados de protetor solar, o Sol é o guia da nossa vida. Talvez seja hora de retomar essa antiga amizade. O SOL NA COMIDA Além do Sol (nosso corpo produz 10 mil UI da vitamina a cada 15 minutos de exposição a ele), a vitamina D também pode ser obtida por meio de certos alimentos. Veja os principais; Óleo de fígado de bacalhau: 1 colher de sopa – 900 UI Salmão: 1 porção (85 gramas) – 447 UI Sardinha: 1 porção (suas sardinhas) – 46 UI Atum em lata: 1 porção (85 gramas) –154 UI Fígado: 1 porção (85 gramas) – 42 UI Ovo: 1 ovo – 40 UI Cereal fortificado com vitamina D: 1 tigela – 40 UI Leite fortificado com vitamina D: 1 copo (300 ml) – 115 a 124 UI QUANTIDADE RECOMENDADA POR DIA: 600 UI (unidades internacionais). [*Quantidade recomendada pelo Ministério da Saúde dos EUA e pela maioria dos médicos. Para a Grassroots Health, defensora da vitamina D, seriam necessárias doses diárias de 4 mil a 5 mil UIs.] EFEITOS NO ORGANISMO A vitamina D está envolvida em vários processos essenciais para o funcionamento do corpo. 1- NOS OSSOS: RESISTÊNCIA. A vitamina D é usada como matéria-prima pelos osteoblastos e osteoclastos, que fabricam o tecido ósseo e eliminam partes danificadas. Sem ela, os ossos ficam quebradiços ou malformados. 2- NO CORAÇÃO: LIMPEZA. A vitamina D aparentemente aumenta a produção de renina plasmática, substância química ligada ao controle da hipertensão arterial (e, consequentemente, as doenças cardíacas). 3- NO CÉREBRO: ATIVIDADE. Neurônios de certas regiões, como o hipocampo e o córtex cingulado, supostamente usam a vitamina D para produzir proteínas. Há estudos que relacionam a falta dela com Alzheimer, autismo e depressão. 4- NO SISTEMA IMUNOLÓGICO: CONTROLE. A vitamina D parece fazer efeito sobre algumas doenças autoimunes, como esclerose e asma. Nesse tipo de doença, o sistema imunológico fica hiperativo - e ataca as células do próprio organismo. 5- NO CÂNCER: PROTEÇÃO. Há pesquisas que relacionam altos níveis de vitamina D com menor incidência de câncer, e um estudo mostrando o efeito dela sobre células tumorais. COMO O SOL VIRA VITAMINA Nosso corpo faz algo que parece mágica: sintetiza um elemento químico usando apenas luz. 1- O SOL - Os raios ultravioleta B penetram na pele, e reagem com uma substância presente nela: o 7-Dehidrocolesterol, que se transforma em vitamina D3. 2- O FÍGADO - A vitamina cai na corrente sanguínea e vai até o fígado, onde é transformada em outra coisa: calcifediol. 3- OS RINS - O calcifediol vai para os rins, onde é convertido em calcitriol, a forma ativa da vitamina D. Ela está pronta - e é distribuída pelo corpo por meio do sangue. 77% das pessoas em São Paulo, segundo um estudo da USP, têm algum grau de deficiência de vitamina D durante o inverno. QUANTO SOL TOMAR? Não é preciso, nem aconselhável, ficar torrando. Alguns minutos bastam: ALTAS LATITUDES INVERNO: PELE ESCURA – Não disponível ; PELE CLARA – Não disponível VERÃO: PELE ESCURA – 30-40 MIN. ; PELE CLARA – 5-10 MIN. MÉDIAS LATITUDES INVERNO: PELE ESCURA – 40-60 MIN. ; PELE CLARA – 10-15 MIN. VERÃO: PELE ESCURA – 25-30 MIN. ; PELE CLARA – 1-8 MIN. LATITUDE TROPICAL INVERNO: PELE ESCURA – 30-45 MIN. ; PELE CLARA – 5-10 MIN. VERÃO: PELE ESCURA – 15-20 MIN. ; PELE CLARA – 1-5 MIN. MÉDIAS LATITUDES (abaixo do equador) INVERNO: PELE ESCURA – 40-60 MIN. ; PELE CLARA – 10-15 MIN. VERÃO: PELE ESCURA – 25-30 MIN. ; PELE CLARA – 1-8 MIN. ALTAS LATITUDES (abaixo do equador) INVERNO: PELE ESCURA – Não disponível ; PELE CLARA – Não disponível VERÃO: PELE ESCURA – 30-40 MIN. ; PELE CLARA – 5-10 MIN. Fontes: Livro The UV Advantage (Michael Holick) e revista New Scientist. VOCÊ ESTÁ NO GRUPO DE RISCO? Responda a estas perguntas e saiba se você tem propensão à falta de vitamina D Sua pele é morena? (sim = 3 pontos) Você é obeso? (sim = 3 pontos) Sente fadiga muscular, dor nos ossos ou nas juntas? (sim = 2 pontos) Tem mais de 60 anos? (sim = 2 pontos) Mora ao sul de Montevidéu ou ao norte de Los Angeles? (em latitudes maiores do que 35 graus) (sim = 2 pontos) Usa protetor solar antes de tomar sol? (sim = 2 pontos) Raramente fica ao ar livre entre 10h e 15h? (sim = 2 pontos) Não come peixe nem toma vitamina D em cápsulas? (sim = 1 ponto) Está grávida? (sim = 2 pontos) Tem aids, doenças no fígado, rins ou tireoide? (sim = 3 pontos) Usa algum medicamento que atrapalha a absorção ou o metabolismo da vitamina D? (como o emagrecedor Xenical, o anti-epilético Dilantin, e medicamentos contra tuberculose) (sim = 1 ponto) Fuma? (sim = 1 ponto) Protege-se sempre do sol com sombrinha ou roupas? (sim = 2 pontos) Tirou férias no último verão? (sim = -1ponto) RESULTADO 0 A 2 PONTOS RISCO BAIXO 3 A 5 ALTO 6 A 8 MUITO ALTO 9 OU MAIS EXTREMO 2#3 CRISE HÍDRICA – CADÊ MINHA ÁGUA? Diante de uma crise hídrica sem precedentes, a maior cidade do Brasil procura água cada vez mais longe. Mas a SUPER calculou que há zilhões de litros disponíveis por perto, num volume muito maior do que o governo paulista planeja injetar na capital. Os números mostram que não é preciso trazer mais. REPORTAGEM Camila Almeida e Clara Novais (colaboração) EDIÇÃO Tiago Jokura "SÃO PAULO É UMA SUGADORA de água. Busca recursos longe enquanto seus rios estão podres." A sentença da urbanista Marussia Whately, da Aliança Pela Água, define a maior metrópole brasileira: um ralo. Por ele escorrem bilhões de litros diários. Os reservatórios secam. Não por culpa da chuva, que rareou em 2014, mas porque sai mais água das represas do que a natureza repõe. É aí que se evidencia a crise: ela é cultural. E nacional. No Brasil, quando a fonte seca, a primeira solução é buscar água em outro lugar. Não importa se será preciso bombeá-la por vários quilômetros ou se ela terá que escalar montanhas. Seguimos o curso de extinção dos recursos, esgotando mananciais e explorando outros mais distantes. Para Marussia, que também é especialista em gestão de recursos hídricos, encarar o problema assim é um erro. Torramos dinheiro em planos de emergência e deixamos de investir no básico: eliminar gastos desnecessários. A seguir, comparamos o volume de água que o estado de São Paulo estima levar para a capital e o quanto poderia ser recuperado com soluções alternativas. O segredo é racionalizar o consumo de água. CADA VEZ MAIS LONGE (solução do governo) O plano de emergência do governo paulista para contornar a crise é buscar novas fontes de água. As medidas incluem: ligar o rio Paraíba do Sul ao sistema Cantareira, que abastece mais de 8 milhões de pessoas; uma adutora regional para levar água para a bacia dos rios Piracicaba, Capivari e Jundiaí; um novo sistema de água, o São Lourenço, a mais de 80 km da capital; conexão do rio Pequeno à represa Billings; e barragem dos rios Jaguari e Camanducaia. Há também dois projetos de estações de água de reuso, mas são da Sabesp, empresa fornecedora de água. Não há sequer menção a projetos de aceleração da limpeza dos rios, de expansão do saneamento básico, de combate massivo a vazamentos e roubos de água ou de subsídio a aparelhos mais econômicos nas casas. Não que essas soluções sejam fáceis de colocar em prática. Não são. Mas são mais elementares e sensatas. Sem elas, a cidade continua a ser um ralo - cada vez maior. TRAZER ÁGUA DE OUTROS LUGARES Obras para aumentar a disponibilidade hídrica GANHO 28 mil litros/s TEMPO 30 meses CUSTO R$ 5,6 bilhões SOLUÇÃO 1 NA MERDA O Brasil tem água de sobra — 12% da água doce do mundo. Com exceção de quem vive no semiárido, o brasileiro nunca se preocupou com falta d'água. Até que ela faltou. Só aí reparamos em nossos absurdos diários. Usamos água de beber - a mais pura que existe - para tudo. Inclusive dar descarga no cocô. Nunca cogitamos fazer isso com água de reúso. Na construção de imóveis, instalar um sistema de reaproveitamento de água já usada nem entra em discussão. E não é complicado: bastaria que as casas tivessem duas tubulações. Uma por onde flui a água tratada e outra por onde corre água reciclada. Esta última viria de um tanque em que são despejadas a água da máquina de lavar roupa, da pia do banheiro e do chuveiro, por exemplo. Após ser filtrada, ela pode regar plantas e mandar o cocô embora. Depois, tudo segue para a rede de esgoto e o ciclo recomeça no próximo banho. Cerca de 60% da água gasta em uma casa pode ser reutilizada. Países como EUA e Austrália regulamentaram a instalação de sistemas de reúso. Na Europa, pesquisadores identificaram que reaproveitar gera emprego. Mas, antes de modernizar a casa inteira, poderíamos começar com algo simples: trocar nossas descargas por modelos mais econóômicos, que gastam até 65% menos. Na década de 1990, após uma sucessão de crises hídricas, Nova York trocou 1 milhão de descargas. E pagava para as famílias que quisessem trocar por conta própria. Outra medida foi criar metas de consumo. Quem extrapola paga multa. TROCAR DESCARGAS Instalação de 1 milhão de dispositivos mais econômicos GANHO 200 litros/s TEMPO 3 anos CUSTO R$375 milhões SOLUÇÃO 2 VAZANDO PELO CANO Nova York tinha a opção de seguir construindo mais represas. Mas concluiu que não fazia sentido captar mais água antes de investir na preservação dos mananciais e na rede de abastecimento. E sabe como chegaram a essa conclusão? Quando mexeu no bolso. Para buscar novas fontes, a cidade gastaria US$ 5 bilhões em valores da época. Com o programa de economia e preservação gastaram US$ 500 milhões: dez vezes menos. A diferença está em saber onde o calo aperta de verdade. Em São Paulo, se perde quase 40% de água tratada, limpinha, em vazamentos e roubos, como ligações clandestinas. Isso ocorre antes mesmo de ela chegar às torneiras. Um dos motivos desse desperdício é o excesso de gente que os canos têm que atender. A população cresce e é preciso aumentar a pressão nos tubos para a água chegar a todos. Mas a rede paulistana, que ainda tem tubulações da década de 1930, não suporta a vazão e cede. O plano de Nova York durou cerca de 30 anos - só termina em 2023 -, mas todo ano a cidade renova 90 mil km de tubulações. Outra medida nova-iorquina foi comprar terrenos nas margens e nascentes dos mananciais. Manter a vegetação nativa nessas áreas é fundamental para preservar a água dos rios. Para recuperar o sistema Cantareira, seria necessário replantar 30 milhões de árvores nas margens destruídas dos rios que o abastecem. De acordo com a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), o custo estimado do plantio é de R$ 195 milhões. No Brasil, essas matas são ameaçadas por ocupações irregulares de pessoas, de empreiteiras e da agropecuária, que derruba florestas para usar o terreno como pasto ou plantação. CONSERTAR TUBULAÇÕES Diminuir perda de água de 40% para 10% (o Japão reduziu suas perdas a um custo anual de US$ 60 milhões, num projeto que durou 40 anos.) GANHO 15 mil litros/s TEMPO 30 anos CUSTO R$ 5,4 bilhões SOLUÇÃO 3 CAINDO DO CÉU No semiárido nordestino, onde a população depende da água da chuva para sobreviver, a estimativa do governo federal é de que 750 mil famílias tenham cisternas instaladas. Para elas, a água que cai do céu é aproveitada em vez de ir direto para a terra. Em São Paulo, nestes tempos de crise, a população depende da boa mira de São Pedro para ser abastecida. Ou ele acerta a pontaria e faz chover dentro dos mananciais ou nada de água nas torneiras. Enquanto isso, toda a chuva que cai na cidade - e poderia complementar o abastecimento - desagua nos poluídos rios Pinheiros e Tietê. Países com clima e hidrografia menos favorecidos que os nossos já se abastecem de água da chuva há muito tempo. Em Israel e em Uganda, por exemplo, cisternas são instaladas nas escolas e mantêm os alunos estudando nos períodos de seca. Na Austrália, mais de 30% das famílias (cerca de 2,3 milhões) possuem cisternas em casa e usam a água da chuva para atividades domésticas que não exigem água potável. No sul australiano, 86% das famílias usam cisternas. Em São Paulo, algumas pessoas desenvolveram sistemas de captação da água da chuva por conta própria, sem incentivo nenhum para isso. Simplesmente instalaram calhas sob os telhados, direcionando a água para tonéis. Um movimento chamado Cisterna Já, que ensina como montar uma em casa, nasceu por iniciativa da população. Só no ano passado, o acumulado de chuvas na cidade de São Paulo foi superior a 1.200 mm. Considerando que cada residência da capital tem uma média de 70 m2 de área, um domicílio equipado com sistema de cisterna garantiria mais de 88 mil litros para a família em 2014 - água suficiente para consumo de um casal por um ano. CONSTRUIR CISTERNAS Captação de água da chuva nas residências (considerando o acumulo de chuvas em 2014) GANHO 19 mil litros/s TEMPO 3 anos CUSTO R$ 900 milhões SOLUÇÃO 4 ENTERRADA VIVA São Paulo virou as costas para seus rios. Em vez de fazerem parte da paisagem e serem fonte de abastecimento, são canalizados, têm suas margens concretadas e acabam servindo como depósito de esgoto de toda a cidade. Uma alternativa para tentar recuperar os rios é investir em políticas de moradia que contemplem a construção de parques lineares. Apesar de criticados por gerar desapropriações, os parques normalmente são preservados pela população, e a vizinhança corre risco muito menor de sofrer com inundações. Além de não cuidar dos rios que cortam as cidades, o Brasil trata apenas 39% dos esgotos. De acordo com a Sabesp, em São Paulo, mais de 13 mil litros/s não são coletados e caem direto nos mananciais. Do esgoto coletado, mais de 30% não é tratado. O projeto de despoluição do rio Tietê, iniciado nos anos 1990, ainda está longe de ser concluído. O melhor exemplo de despoluição está em Seul, Coreia do Sul, onde o rio Cheonggyecheon foi despoluído em apenas quatro anos - de 2003 a 2007 - a um custo de US$ 370 milhões. No Plano Nacional de Saneamento Básico consta que seria preciso investir R$ 303 bilhões em 20 anos para o Brasil conseguir universalizar os serviços de água e esgoto. Apesar de isso parecer uma realidade distante, cidades como Piracicaba (SP) servem como exemplo. A prefeitura fez uma Parceria Público-Privada e, com investimento de R$ 180 milhões, alcançou os 100% em dois anos. Dentre as capitais, Curitiba é a que chega mais perto da meta: coleta e trata mais de 90% do esgoto. UNIVERSALIZAR A REDE DE ESGOTO O Plano Nacional de Saneamento prevê acesso de todos os brasileiros a água e esgoto (O custo nacional do programa é estimado em RS 308 bilhões. Para chegar ao valor do custo em São Paulo, ponderamos que a região metropolitana concentra 10% da população brasileira. Também consideramos que São Paulo coleta 63% do esgoto gerado.) GANHO 22 mil litros/s TEMPO 15 anos CUSTO R$15 bilhões SOLUÇÃO 5 PINGANDO NA ROÇA O usuário comum não é quem gasta mais água. O uso doméstico equivale a 10% da água potável consumida no Brasil, enquanto a indústria usa 20% e a agricultura, 70%. Na verdade, indiretamente esse consumo nem é 100% brasileiro. Exportamos alimentos para mais de 180 países, principalmente para China, União Europeia e EUA. Estima-se que, só de soja e milho, vamos vender 65 milhões de toneladas para o exterior este ano. Com os grãos, vai embora também nossa água, praticamente de graça. Para cada quilo de milho, são 900 litros de água empregados. Na produção de soja, gastamos o dobro. E lá se vão mais de 100 quatrilhões de litros para fora do país em um ano. O consumo dos nossos rebanhos também não fica atrás. O Brasil é líder mundial em exportação de carne bovina desde 2008: são mais de 1,5 milhão de toneladas por ano. E lá se vão mais 23 trilhões de litros da água amada, idolatrada, salve, salve. Países como a China já concluíram que vale mais a pena importar água virtual do que plantar. De 1985 a 2010, a importação de água subiu de menos de 10 km3 por ano para 150 km3. Israel importa mais de 80% dos alimentos que consome. (Artigo Recent Evolution of China's Virtual Water Trade, do Hydrology and Earth System Sciences (2014).) Isso não quer dizer que a solução seja frear a produção ou parar de exportar água, mas fazer esse negócio ser mais lucrativo. Usamos um sistema de irrigação pouco eficiente, o de aspersão. Boa parte da água evapora antes de chegar à terra, outra parte fica nas folhas e metade chega às raízes. A mesma produção é garantida com gotejamento, que tem aproveitamento de 95%. MODERNIZAR SISTEMAS DE IRRIGAÇÃO Gotejamento na agricultura economiza até 50% de água GANHO 24 mil litros/s TEMPO 30 anos CUSTO R$ 21 bilhões SOLUÇÃO 6 NUM INDO E VINDO FINITO Num cenário de crise, a prioridade deve ser o abastecimento das pessoas. Isso inclui dar condições para que elas participem da gestão da água e sejam parte da solução. O historiador natural José Tundisi, presidente do Instituto Ecológico Internacional, visitou mais de 40 países que viveram crises hídricas. Para ele, a palavra-chave para sair dessa situação é transparência. "No Brasil, existe a mania de achar que transparência nesses casos causa pânico no povo. Pelo contrário. Transparência gera conscientização e engajamento", aponta. Em São Paulo, por outro lado, há um obscurantismo em relação à falta de água e até uma negação oficial sobre a gravidade do problema. Ao mesmo tempo, a população é pressionada a reduzir o consumo, sofrendo elevação nas tarifas e multas, além de um racionamento não-declarado em algumas regiões. Enquanto isso, grandes consumidores como shoppings e hotéis têm contrato de Demanda Firme com a Sabesp, um programa que garante o abastecimento de água em qualquer circunstância. Em 2014, ano em que estourou a crise, as 526 empresas cadastradas receberam água normalmente. Além disso, as que consumiram mais foram premiadas com tarifas menores. No estado de São Paulo, o consumo industrial equivale a quase 20% de toda a demanda, de acordo com o Departamento de Águas e Energia Elétrica. A maioria nem é servida pela Sabesp: tem outorga para retirar água direto de mananciais e nascentes. Em contrapartida, não é exigido que reaproveitem esse privilégio. O consumo de uma fábrica poderia ser reduzido, no mínimo, à metade, caso houvesse reúso. REÚSO DE ÁGUA PELA INDÚSTRIA Sistemas de reaproveitamento para empresas e outros grandes consumidores (O Aquapolo, empreendimento para produção de água de reúso industrial produz 1.000 l/s. Custou RS 364 milhões e foi construído em 2,5 anos. ) GANHO 40 mil litros/s TEMPO 10 anos CUSTO R$ 14,5 bilhões HAJA ÁGUA O plano paulista é mais rápido e barato do que a soma das soluções sugeridas na reportagem. A questão é que ele não resolve o problema – e, em breve, será preciso gastar mais dinheiro. Com as soluções propostas, o volume captado seria cinco vezes maior, e nada disso seria paliativo. Não estamos falando de trazer mais água, mas de tornar nosso consumo mais racional. PLANO EMERGENCIAL (SP) 28.000 l/s em 2,5 anos. Custo: R$ 200 mil por L/s SOLUÇÕES SOMADAS 48.200 l/s em 40 anos. Custo: R$ 285 mil por l/s ELA ESTÁ ENTRE NÓS Quanta água está por perto para ser aproveitada? Medimos o volume produzido com soluções pontuais e comparamos com o que o governo planeja trazer com ações emergenciais. SOLUÇÃO 1: Trocar descargas Volume produzido: 200 l/s (este volume abastece mais de 150 mil pessoas) Tempo: 3 anos Custo em reais: 375 milhões SOLUÇÃO 2: Consertar tubulações Volume produzido: 15.000 l/s Tempo: 30 anos Custo em reais: 5,4 bilhões SOLUÇÃO 3: Construir cisternas Volume produzido: 19.000 l/s Tempo: 3 anos Custo em reais: 900 milhões SOLUÇÃO 4: Universalizar a rede de esgoto Volume produzido: 22.000 l/s Tempo: 15 anos Custo em reais: 15 bilhões SOLUÇÃO 5: Modernizar sistemas de irrigação Volume produzido: 24.000 l/s Tempo: 30 anos Custo em reais: 21 bilhões SOLUÇÃO DO GOVERNO DE SÃO PAULO: Trazer água de longe Volume produzido: 28.000 l/s Tempo: 2,5 anos Custo em reais: 5,6 bilhões SOLUÇÃO 6: Reuso de água pela indústria Volume produzido: 40.000 l/s Tempo: 10 anos Custo em reais: 14,5 bilhões 2#4 FUTURO – VIDAS SECAS Se a água acabar, tudo vai mudar no dia a dia de São Paulo. Inclusive coisas que não têm nada a ver com banho. TEXTO Ricardo Lacerda, Andreas Muller e Robson Pandolfi EDIÇÃO Bruno Garattoni ENTRE FEVEREIRO e dezembro de 2014, a simpática Itu, a 100 km de São Paulo, ficou um pouco menos simpática. Durante esse tempo, a cidade viveu um racionamento forte; a água era liberada à população dia sim, dia não. Itu virou de pernas pro ar. Houve brigas, assaltos, protestos violentos e até sequestro de caminhões-pipa. A seca assombra boa parte do país. Já rondou o Rio e Minas Gerais, mas é São Paulo que está na pior situação. Um estudo do banco Itaú estima a probabilidade de um racionamento de água, que deverá durar pelo menos seis meses, em 75%. "Se houver, vai ter que ser grande", diz Marussia Whately, diretora do projeto Água São Paulo, do Instituto Socioambiental (ISA). A possibilidade mais dura, admitida pela diretoria da própria Sabesp, é o temível rodízio 5x2: a cada semana, cinco dias sem água e apenas dois com. Não é difícil imaginar como isso transformaria (e transtornaria) o dia a dia das pessoas. Mas as consequências iriam bem além. CHOQUE NA ROTINA Se as torneiras secarem, os primeiros afetados serão os trabalhadores. Não só porque ficarão sem água; também podem perder o emprego. Segundo o estudo do Itaú, o racionamento de água e de energia (pois as represas que abastecem nossas hidrelétricas estão com níveis baixos) previsto para o ano deve fazer o PIB brasileiro cair 0,6% — além do 0,5% negativo previsto devido a outros problemas na economia. Ou seja: recessão de 1,1%. Menos atividade econômica significa menos empregos. Um levantamento feito pela Associação Comercial de São Paulo (ACSP) em 438 empresas mostra que 42% delas pretendem demitir caso a situação não melhore. Segundo a Fiesp, mais da metade da indústria paulista não tem nenhuma fonte alternativa de água. Havendo um racionamento 5x2 durante seis meses, a produção da indústria paulista — que foi de R$ 288,6 bilhões no ano passado — cairia quase 20%. Logo no início do racionamento, também haverá uma corrida aos caminhões-pipa. Itu que o diga: na fase mais aguda da crise, a cidade tinha 56 veículos circulando diariamente, e cada um carregava em média 20 mil litros de água por viagem. Se cada caminhão conseguir fazer três entregas diárias, dá 3,3 milhões de litros. Só que Itu tem 160 mil habitantes, enquanto São Paulo soma quase 12 milhões. Ou seja: para gerar o mínimo de alívio, precisaríamos de pelo menos 4.200 caminhões-pipa. É muito mais do que a frota atual da cidade, que conta com cerca de 650 desses veículos. Com tantos caminhões na rua, o trânsito ficaria ainda mais caótico. "Seria necessário um plano enorme de logística, com o fechamento de avenidas para o comboio passar", observa Marussia. A Prefeitura de São Paulo já está tentando facilitar a distribuição de água: recentemente, os caminhões-pipa foram autorizados a entrar no centro da cidade a qualquer hora do dia - antes, só podiam circular depois das 10 da noite. Mesmo se houver caminhões suficientes, e eles conseguirem chegar aonde forem chamados, a solução vai custar caro. Em São Paulo, o preço de um caminhão-pipa já subiu de R$ 500 para R$ 1.200. Mas pode ir bem mais alto. No Rio de Janeiro, onde alguns bairros da zona oeste ficaram sem abastecimento, devido a obras na tubulação de água, o preço de um caminhão chegou a R$ 3.500 — e com fila de espera de 24 horas. Suponha que você more num prédio com 60 apartamentos, onde moram 150 pessoas ao todo. Nesse cenário, a carga de um caminhão-pipa duraria apenas um dia. Se o condomínio chamar dez caminhões por mês, só para dar uma aliviada, estamos falando de R$ 35 mil — quase R$ 600 a mais no condomínio de cada apartamento. Desde fevereiro, a Sabesp já está cobrando mais caro pela água, com multas que podem até dobrar a conta mensal. Mas, no efeito dominó da crise hídrica, os preços de outras coisas também devem subir de modo generalizado. A começar pelos alimentos. De acordo com a Associação Paulista de Supermercados (Apas), em janeiro o preço da batata subiu 60%. Frutas, legumes e verduras estão, em média, 16% mais caros. Na Ceagesp, o quilo do chuchu saltou de R$ 1, em novembro, para R$ 4, em janeiro. A explicação é simples: como está chovendo bem menos, a produtividade da hortaliça despencou, caindo de 20 para 5 toneladas por hectare por mês. Na Califórnia, em 2013, choveu muito pouco. E o efeito foi o mesmo; alta generalizada nos alimentos, que subiram 15% — dez vezes mais que a inflação registrada no país naquele ano. Com menos água, fica mais difícil plantar tudo, inclusive milho e soja. E, como esses cereais são matéria-prima de ração animal, compromete-se também a produção de frangos, suínos e gado. De acordo com a ONG holandesa Water Footprint Network (WFN), produzir 1 quilo de carne bovina requer 15,4 mil litros de água (1 quilo de arroz consome 3,2 mil litros, e 1 quilo de pão requer 1,6 mil). "Os preços de alimentos e bebidas tendem a subir, e isso impacta nos índices de inflação", afirma Alessandra Ribeiro, sócia da Tendências Consultoria. No Brasil, alimentos e bebidas respondem por 24,9% da composição do IPCA, um dos principais indicadores de inflação. A projeção da Tendências é que o país chegue ao final do ano com 7,3% de inflação acumulada — acima da meta do Banco Central, 6,5%. Com a falta d'água, muitas empresas poderão dar um dia a mais de folga por semana a seus funcionários. Até que é legal, não? Mais ou menos. Muitas das opções de lazer, como shoppings, restaurantes e bares, poderão estar fechadas por falta de condições. Porque eles precisam de muita água para funcionar. Segundo a Associação Brasileira de Shopping Centers (Abrasce), um shopping de médio porte gasta 6,5 milhões de litros de água por mês. Uma pesquisa feita entre proprietários de bares e lanchonetes indica que 65% deles pretendem reduzir seus horários de funcionamento. Na contramão da crise, o comércio de água mineral, galões e caixas-d'água só tem a ganhar. Empresas que até poucos meses atrás vendiam 50 galões por dia hoje recebem centenas de pedidos. Quem usava apenas uma caixa-d'água agora busca duas, três. O problema é que, com menos água, as pessoas têm adiado a higienização desses reservatórios - que normalmente ocorre a cada seis meses. E isso eleva o risco de contaminações que causam desde diarreias e gastroenterites até doenças como leptospirose e hepatite A. Também há quem armazene água em recipientes destampados, o que ajuda a multiplicar doenças como a dengue. De acordo com a Secretaria Municipal de Saúde, São Paulo registrou 563 casos de dengue até a sexta semana de 2015, um número 163% maior do que o registrado no mesmo período do ano passado. A expectativa é de que as ocorrências de dengue tripliquem em São Paulo até o final deste ano, podendo chegar a 90 mil. Os poços artesianos também podem secar. "Muitos deles deixarão de produzir", prevê Antônio Carlos Zuffo, chefe do Departamento de Recursos Hídricos da Unicamp. Como a Grande São Paulo está localizada em um relevo de serra, a maior parte do subsolo é composta por rocha. Por isso, só é possível extrair água de onde há "fraturas" na camada rochosa. Pelos cálculos de Zuffo, a vazão diária de um poço perfurado na cidade de São Paulo varia de 2 mil a 30 mil litros por dia. É o suficiente para abastecer não mais do que 170 pessoas. Além disso, diz ele, muitos poços da capital já apresentam água com cloro e flúor - consequência dos vazamentos, que segundo Zuffo chegam a 40% do total de água distribuída pela Sabesp. A crise da água tende a gerar um clima de tensão social. Em Itu, a população ficou dez meses em polvorosa. Na fase mais aguda da crise, a prefeitura instalou 17 caixas-d'água de 20 mil litros em locais públicos. A água era distribuída gratuitamente. Mesmo assim, os caminhões-pipa tiveram de ser escoltados pela Guarda Civil. "Em alguns bairros, houve interceptação de caminhões que deveriam abastecer doentes, escolas e unidades de saúde", diz Almir Pacelli Jr., diretor da concessionária Águas de Itu. Nas catástrofes em que sobra água, como furacões e enchentes, o ser humano costuma criar uma rede de solidariedade. Quando falta água, no entanto, a reação é oposta. "A escassez desperta o pior das pessoas, como o egoísmo, pois envolve algo essencial à vida", diz Zuffo, da Unicamp. O fim da água pode dar origem a uma espécie de apartheid. Quem tem dinheiro constrói cisternas, compra caixas-d'água, pede caminhões- pipa. Quem não tem fica sem. Quem vive em comunidades de áreas elevadas, como morros e favelas, fica definitivamente na seca. Várias das consequências, porém, são mais "democráticas": não há quem possa escapar delas. 2#5 TECNOLOGIA – IPAD 5 ANOS DEPOIS Este mês, o tablet da Apple faz 5 anos. Mas sua história começou bem antes, e teve reviravoltas pouco conhecidas – inclusive desobediência a decisões de Steve Jobs. INFOGRÁFICO Bruno Romani, Bruno Garattoni, Otávio Silveira e Flavio Pessoa COMO TUDO COMEÇOU JUNHO DE 1983 - “Nós queremos colocar um computador dentro de um livro", disse Steve Jobs, então com 27 anos. BASHFUL (1983) - Tinha caneta e teclado (herdado do Mac). Não chegou a ser fabricado. KNOWLEDGE NAVIGATOR (1987) - Lembra muito o ÍPad. Mas ora só um mock-up (conceito). NEWTON (1993) - Primeiro PDA, ancestral dos tablets. Era caro, não vendeu, e morreu em 1998. 2001 - Microsoft cria o Tablet PC, um notebook que se transforma em tablet. Era pesado, funcionava mal, não pegou. 2005 - Apple para o desenvolvimento do iPad e direciona recursos para outro projeto: o iPhone, que seria lançado em 2007. 2007 - Os netbooks (note books baratos, de US$ 300) viram mania mundial. A Apple busca uma resposta a eles. E ressuscita o iPad. 2010 27 DE JANEIRO "O IPAD É A NOSSA TECNOLOGIA MAIS AVANÇADA, NUM DISPOSITIVO MÁGICO E REVOLUCIONÁRIO", afirma Steve Jobs ao apresentar o produto. As vendas começam em abril - e atingem 1 milhão de unidades em apenas 28 dias, recorde para a época. ABRIL - Logo após o lançamento, o iPad recebe muitas críticas por não abrir sites feitos em Flash (ferramenta de programação muito importante na época). Steve Jobs responde escrevendo um texto demolidos: 6 MOTIVOS PELOS QUAIS O FLASH É RUIM 1- não é de código aberto 2- é obsoleto 3- é vulnerável a hackers 4- detona a bateria 5- não funciona bem em touchscreen 6- a ADOBE (criadora do flash) não manda em nós. NOVEMBRO - Apple cria tela híbrida, que tem duas camadas e junta as tecnologias de papel eletrônico (e-ink) e LCD. Quando você quisesse ler uma livro, PODERIA ATIVAR O MODO E-INK, preto e branco, que gasta menos bateria e cansa menos os olhos. 2011 DO PRIMEIRO AO ÚLTIMO Não parece, mas o iPad evoluiu bastante. Em alguns aspectos, a diferença é brutal. POCESSADOR iPad 1 - 2010: 1 núcleo/1 GHz iPad Air 2 - 2014: 3 núcleos/1,5 GHz MEMÓRIA RAM iPad 1 - 2010: 256 MB iPad Air 2 - 2014: 2 GB TELA iPad 1 - 2010: 1.024x768 pontos iPad Air 2 - 2014: 2.048x1.536 pontos FOTO (TRASEIRA) iPad 1 - 2010: Não tira iPad Air 2 - 2014: 8 MP VÍDEO (TRASEIRA) iPad 1 - 2010: Não grava iPad Air 2 - 2014: 1080p FOTO (FRONTAL) iPad 1 - 2010: Não tira iPad Air 2 - 2014: 1,2 MP VÍDEO (FRONTAL) iPad 1 - 2010: Não grava iPad Air 2 - 2014: 1080p LEVEZA iPad 1 - 2010: 680 g iPad Air 2 - 2014: 437 g ESPESSURA iPad 1 - 2010: 1,34 cm iPad Air 2 - 2014: 0,61 cm MORTE DE STEVE JOBS MARÇO - Em seu penúltimo evento da Apple antes de morrer, Steve Jobs lança o iPad 2. Suas novidades são as câmeras — uma frontal e outra traseira —, e o formato mais arredondado. Foi o iPad com maior vida útil: recebeu quatro atualizações do iOS (foi da versão 4 à versão 8). NOVEMBRO - Surge o primeiro concorrente do iPad: o Galaxy Tab, da Samsung. Seu grande problema era o sistema operacional: o Android, que à época não rodava nada bem em tablets. Ele foi melhorando, a Samsung foi lançando outros modelos, e também surgiram mais concorrentes: Xoom (Motorola): FEV. 2011 Kindle Fire (Amazon): NOV. 2011 Nexus 7 (Google): JUL. 2012 Hoje, a Apple ainda é líder entre as marcas grandes, MAS A MAIOR PARTE DO MERCADO é dominada por tablets chineses de baixíssimo custo, produzidos por marcas desconhecidas: PARTICIPAÇÃO NO MERCADO (Fonte: IDC. Resultados do quarto trimestre de 2014) APPLE 28,1% SAMSUNG 14,5% OUTROS 46,3% AMAZON 2,3% LENOVO 4,8% ASUS 4% 2012 TELA HÍBRIDA SENSOR DE TOQUE CAMADA DE E-INK CAMADA DE LCD No resto do tempo, a tela híbrida funciona normalmente, como um LCD comum. Até hoje, a tecnologia não foi incluída em nenhum iPad. MARÇO Nova geração do iPad ganha tela do tipo RETINA de altíssima resolução RESOLUÇÃO EM PPP (PONTOS POR POELGADA) Tela Convencional (iPad 2): 132 PPP Tela Retina: 264 PPP JUNHO JUNHO O iPad começa a ser fabricado no Brasil - pela Foxconn, parceira da Apple que montou uma linha de produção em Jundiaí. Esperava-se que, por isso, o preço caísse até 30%. Mas não. O valor do iPad é mais ou menos constante no Brasil. JÁ O DO IPHONE... PREÇOS COBRADOS NO LANÇAMENTO IPAD 1 (Estados Unidos) US$ 499 IPAD 1 (Brasil) R$ 1.649 IPAD AIR (Estados Unidos) US$ 499 IPAD AIR (Brasil) R$ 1,749 IPHONE (aparelhos desbloqueados) IPHONE 4 (Estados Unidos) US$ 630 IPHONE 4 (Brasil) R$ 1.799 5 (Estados Unidos) US$ 649 5 (Brasil) R$ 2.400 IPHONE 6 (Estados Unidos) US$ 649 IPHONE 6 (Brasil) R$ 3.150 75% É O AUMENTO NO PREÇO DO IPHONE NO BRASIL OUTUBRO Atenta ao sucesso do Nexus 7 e de outros tablets compactos, a Apple lança o iPad mini: com tela de 7,9". Um sacrilégio para Steve Jobs, que odiava tablets pequenos e em 2010 disse que a Apple jamais fabricaria um. DEZEMBRO O Daily, primeiro jornal criado especialmente para o iPad, fecha as portas um ano e meio depois de lançado. Ele pertencia ao magnata das comunicações Rupert Murdoch, e deu US$ 60 milhões de prejuízo. As revistas para tablet também não decolam. Elas ainda representam parcela pequena das vendas: VENDAS DE REVISTAS NO MERCADO DOS EUA: 2,4% Revistas digitais 2013 OUTUBRO Ao chegar à quinta geração, o tablet da Apple sofre sua maior mudança de design. O iPad Air é MAIS FINO QUE UM LÁPIS, e 31% mais leve que o original. 2014 OUTUBRO Apple lança iPad Air 2, com poucas novidades. A principal é o processador A8X, mais potente. DEZEMBRO As vendas globais de tablets caem pela primeira vez. E O IPAD TAMBÉM CAI BASTANTE. O motivo é a popularidade dos smartphones de tela gigante, como o Galaxy Note 4 e o iPhone 6 Plus. CRESCIMENTO ANUAL DOS TABLETS Outros: +36,2% LENOVO: +9,4% APPLE: -17,8% SAMSUNG: -18,4% ASUS: -24,9% AMAZON: -69,9% Queda mundial de -3,2% 2015 JANEIRO Surgem rumores sobre o lançamento de um iPad gigante, de 12", que viria com uma caneta. Principal característica do Tablet PC, da Microsoft — e algo que Steve Jobs abominava. 2#6 VIDA SELVAGEM – OS OLHOS DA MATA Câmeras fotográficas espalhadas pela Mata Atlântica registram animais ameaçados de extinção vivendo em seu hábitat natural. REPORTAGEM Camila Almeida FOTO Luciano Candisani ARTE NATURAL - LUCIANO CANDISANI estudava para ser biólogo quando se apaixonou pela fotografia. Combinou as duas profissões. É especialista em fotos da natureza e já registrou da Amazônia à Antártida. DISCRETO E SILENCIOSO, em meio a uma robusta faixa de Mata Atlântica, o fotógrafo Luciano Candisani prepara sua emboscada. Quer capturar uma onça. Deitado entre folhas caídas, monta sua armadilha fotográfica. Para ter a chance de registrar um animal como esse, que figura lista de ameaçados de extinção, ele precisa percorrer uma longa estrada de terra, de curvas tortuosas que vão cortando a floresta. O caminho desce pela Serra do Mar, no estado de São Paulo, e nem está tão distante da cosmopolita capital. São cerca de 200 km de viagem até as trilhas por onde Candisani se espreita nessa caçada a animais selvagens, numa região conhecida como Vale do Ribeira. A região, apesar de gerar pouco dinheiro para os cofres públicos (contribui com apenas 0,3% do Produto Interno Bruto de São Paulo), guarda a maior área contínua de Mata Atlântica preservada do país. São mais de 2 milhões de hectares de floresta, que equivalem a 21% de todos os remanescentes desse bioma. A alta probabilidade de encontrar fauna nativa foi o que motivou o Grupo Votorantim, dono de uma reserva privada no vale, a contratar um fotógrafo para registrar a diversidade presente na mata. Capturar esses bichos em imagens não é para qualquer profissional. Além de um olhar artístico, é preciso estudar os hábitos deles. Por isso, Candisani conta com a ajuda de um biólogo da reserva, que passeia de quatro pela trilha, tal qual um felino, enquanto ele ajusta o equipamento. Para montar a armadilha fotográfica perfeita, eles imitam o comportamento do animal, para tentar acertar o caminho que ele percorre na floresta. É tudo uma questão de faro. Sabe como eles escolhem o lugar ideal para instalar as câmeras? Vestígios. A caçada inclui um processo prévio de mapeamento de marcas como arranhões nos troncos das árvores, pegadas no solo, fezes e até cheiro de urina. "Por isso, é fundamental contar com uma equipe de pesquisadores, que estudam a mata e sabem onde estão os indícios e que animais estão vivendo aqui", esclarece Candisani. Este acompanhamento é feito por uma equipe da ONG Pró-Carnívoros, que tem várias câmeras espalhadas pela reserva para levantar, avaliar e monitorar as populações de onças que vivem ali. Com esse mapeamento, será possível desenvolver um plano estratégico de preservação das espécies, o que garantirá a manutenção de todo o ecossistema. NATUREZA BRUTA O trabalho do fotógrafo Luciano Candisani não tem pretensão tão científica. Tem vocação mais artística. "Quero mostrar nestas imagens a naturalidade do animal em seu próprio habitat, sem a interferência da presença humana", conta o fotógrafo. A armadilha dele conta com duas câmeras profissionais, com até quatro flashes cada. Um verdadeiro estúdio na floresta. "É preciso ter um cuidado com a luz, entender como ela entra na mata nos diversos horários do dia para conseguir regular as câmeras", explica. Elas conseguem registrar imagens com altíssima definição de manhã ou à noite. Depois de montadas, as câmeras precisam ser camufladas, para que os animais não as percebam e fujam. Elas são protegidas por uma caixa coberta com folhas e galhos. Os cabos do equipamento são enterrados, evitando o ataque de roedores. Sensores infravermelhos são os responsáveis pelos disparos. Quando o feixe de luz que corta a trilha é interrompido, por animais ou folhagens, as câmeras fotografam. Se o flash também dispara, os bichos percebem, por isso há algumas fotos deles encarando a câmera. Até o momento, o fotógrafo conseguiu imagens de vários mamíferos diferentes, a maioria ameaçada de extinção. Já garantiu até jaguatirica e onça-parda, mas nada da pintada que estava buscando. Se depender do potencial da região, em breve ela deve aparecer. De acordo com o Instituto Socioambiental, ainda existe uma boa diversidade no Vale do Ribeira, inclusive mais de 40 espécies endêmicas, aquelas que são encontradas apenas em sua região de origem. A estratégia de montar armadilhas fotográficas para encontrar esses animais é relativamente nova. O primeiro trabalho global para o registro de mamíferos foi desenvolvido em 2011 pela Conservação Internacional e resultou em 52 mil fotos nas Américas, na África e na Ásia. O estudo conseguiu demonstrar como a destruição da floresta e a consequente perda de habitat para a expansão urbana e agropecuária impacta negativamente na sobrevivência das espécies e na diversidade da fauna mundial. MATA VIVA, BICHO VIVO A reserva privada, com 31 mil hectares de área preservada, existe há mais de 50 anos. E a presença de alguns desses animais na mata atesta seu bom estado de conservação. Um deles é o cachorro-vinagre, que precisa de condições muito específicas para se adaptar a um ambiente e é muito sensível a doenças. Se até ele, que é tão exigente, encontrou condições para sobreviver na mata, é sinal de que outros animais raros talvez estejam vivendo por lá também. Na expectativa de encontrar onças-pintadas dentro da reserva, a Pró-Carnívoros intensificou suas buscas. Entretanto, o panorama não é tão animador: funcionários comentam que não vêem uma onça-pintada há muito tempo. Mas a bióloga Sandra Cavalcanti, coordenadora do projeto, insiste na presença do animal — e não à toa. Já encontraram um bicho chamado queixada, tipo de porco-do-mato muito apreciado pelo felino. E, se tem comida, deve ter onça. O esforço para conseguir preservá-la é uma estratégia fundamental para a saúde da floresta inteira. "Para manter a pintada, animal de topo de cadeia, a gente precisa preservar a cadeia alimentar inteira." Seguem buscando esses reis da fauna que, uma vez vivos, garantem a vida da nossa mata. 1- JAGUATIRICA Predador de topo de cadeia cada vez mais raro. Sua pele é valorizada no comércio ilegal e suas presas naturais, como roedores, também são alvo de caçadores. 2- ONÇA-PARDA Estima-se que existam menos de mil onças-pardas na Mata Atlântica. As principais ameaças são expansão urbana e agropecuária, atropelamentos, caça e queimadas. 3- IRARA Da mesma família da hiena, a irara é um mamífero com facilidade para escalar árvores. Adora comer mel, mas é também carnívoro e costuma caçar roedores. 4- CACHORRO-VINAGRE Na lista de animais ameaçados há mais de dez anos. Na imagem, aparecem dois, o que sinaliza o comportamento de bando. No Cerrado, ele pode desaparecer em 100 anos. 5- ANTA ALBINA A anta é o maior mamífero terrestre brasileiro. A gestação é longa (dura até 14 meses) e só gera um filhote. Por isso, este espécime albino raríssimo. PARA SABER MAIS Projeto com mais de 200 mil fotos de armadilhas fotográficas siwild.si.edu 2#7 DIREITOS – PASSE LIVRE Para ser considerado cidadão de um país, há duas maneiras: ou você nasce no território ou tem antepassados diretos de lá. Ainda assim, a regra não é clara. INFOGRÁFICO Amanda Lourenço, Flávio Pessoa, Karin Hueck SANGUE DO NOSSO SANGUE Países asiáticos - muitos deles, os mais populosos do mundo - conferem sua nacionalidade só a quem tiver origens étnicas por lá. Ou seja, não vale chegar chegando. JUS SANGUINIS O direito de sangue - o jus sanguinis - foi desenvolvido no século 19, e o maior exemplo dessa categoria na época era a Alemanha, preocupada em proteger o "autêntico espírito alemão". EXEMPLOS China, Índia, Indonésia, Japão, Bangladesh, Coreia do Sul, Síria, Rússia, Itália, Áustria, Dinamarca, Noruega, Suíça, Turquia, Angola, Egito, Quênia. MULHER NÃO É GENTE? Em muitos países árabes, mulheres não podem transmitir sua nacionalidade para filhos ou maridos. Essa lei vingou em países ocidentais até recentemente. Caiu na França em 1973, na Alemanha em 1979, na Itália e Espanha em 1983. O último país a derrubar a lei foi o Suriname, em 2014. EM NÚMERO DE PAÍSES JUS SANGUINIS SEM DISCRIMINAÇÃO: 66 NEM FILHO NEM ESPOSO PODEM RECEBER: 46 TERRA NOVA Os países que adotam o jus soli - o direito de solo - estão concentrados principalmente na América. Mas a maioria das nações Ocidentais mistura um pouco de terra e um pouco de sangue em suas leis. 86 PAÍSES FAVORECEM O DIREITO DE SOLO. DIREITO DE SOLO AUTOMÁTICO Alguns países, como o Brasil, são generosos com seus passaportes. Basta nascer aqui para obter. EXEMPLOS: EUA, Canadá, Argentina, México, Bolívia, Venezuela, Equador, Peru, Nova Zelândia. DIREITO DE SOLO COM RESTRIÇÕES Geralmente quem nasce de pais estrangeiros pede a nacionalidade com 18 anos, provando que morou o tempo necessário no país. EXEMPLOS: França, Holanda, Alemanha, Espanha, Portugal, Austrália, África do Sul, Chile. VIRA-CASACA As principais exigências para a naturalização em outro país são tempo de residência, domínio do idioma, não ter histórico criminal e ter renda significante. Ainda assim, não é automática. O pedido pode ser negado. PRIVILÉGIOS DE NATURALIZAÇÃO Cidadãos da Islândia, Suécia, Noruega, Finlândia ou Dinamarca só precisam morar dois anos entre si para se naturalizar. Neozelandeses podem morar na Austrália. Em Israel, a "Lei do Retorno" permite judeus adquirir a nacionalidade quase automaticamente. A Espanha e a Franca facilitam a naturalização de cidadãos de suas ex-colônias. Atletas de alto nível tendem a ser naturalizados rapidamente em qualquer país. 2 anos: Argentina, Bolívia, Peru. 3 anos: Uruguai, Paraguai, Canadá 4 anos: Brasil, Austrália 5 anos: Irlanda, Estados Unidos, Chile, México, Bélgica, França, Reino Unido, Polônia, Indonésia, Japão, Nova Zelândia 6 anos: Portugal 7 anos: Luxemburgo, Islândia, Noruega 8 anos: Alemanha, Estônia, Hungria 9 anos: Dinamarca 10 anos: Grécia, Itália, Angola, Áustria 12 anos: Suíça 20 anos: Butão, Brunei 25 anos: Andorra, Bahrein, Catar (80% dos habitantes são estrangeiros.) 30 anos: Liechtenstein, Emirados Árabes Unidos. BYE-BYE, BRASIL Quer um passaporte gringo? Pergunte-nos como. ITÁLIA - Não há limite de gerações, no entanto, há limitações de gênero. Caso os ascendentes forem todos homens, não há problemas; mas, se for mulher, é preciso que seus filhos tenham nascido após 1948. ALEMANHA - Não existe limite de gerações, apenas impossibilidade de encontrar os documentos mais antigos que provem descendência alemã. FRANÇA - Apenas se a mãe ou o pai tiverem a nacionalidade francesa. Caso os franceses sejam os avós, é preciso que o pai ou mãe obtenham antes. ESPANHA - Se mãe ou pai tiverem a nacionalidade. Caso sejam os avós, a pessoa precisa morar um ano lá. A Espanha está facilitando a naturalização de descendentes de judeus safarditas expulsos em 1492. Mas apenas com provas. Sobrenomes não bastam, ao contrário do que uma corrente de spam afirmou. PORTUGAL - Dá para pedir a nacionalidade a partir de pais ou avôs. Neste caso também é necessário conhecimento da língua e que não tenham sido condenados a penas de mais de três anos. REINO UNIDO - Apenas se a mãe ou o pai forem britânicos. JAPÃO - Apenas se a mãe ou o pai tiverem a nacionalidade e o filho fizer o pedido antes dos 20 anos (maioridade japonesa). PAGOU PASSOU Em certos países, basta abrir a carteira e investir no mercado local para ganhar a cidadania automática. Melhores barganhas: RESIDÊNCIA AUTOMÁTICA E DEPOIS PEDIDO DE NATURALIZAÇÃO (em milhões de reais) Hungria 0,8 Irlanda 1,8 Portugal 3,2Holanda 4 Austrália 11 Áustria 12,9 (Talvez você tenha que abrir mão do Brasil. Eles não permitem dupla nacionalidade) NATURALIZAÇÃO AUTOMÁTICA (em milhões de reais) Dominica 0,2 St. Kitts e Nevis 1,1 Antígua e Barbuda 1,1 Malta 3,7 Chipre 16,2 CHIPRE E MALTA são ótimas pechinchas, pois são membros da União Europeia. Você adquire o passaporte e mora em qualquer país da Europa 2#8 ZOOM – UNIVERSOS OPOSTOS Imagina: cavar um buraco tão profundo que sai do outro lado do planeta. Na maioria das vezes, a expedição é um fracasso, e o tripulante se depara com o alto-mar. Só em 15% do território encontramos terra firme. Conheça cidades separadas por uma linha reta, mas diametralmente diferentes. TEXTO Luana Salles EDIÇÃO Camila Almeida 1- A CORUNHA, Espanha — LAGO COLERIDGE, Nova Zelândia HISTÓRIAS QUE VÊM DA ÁGUA – A CORUNHA foi construída pelo mar, que depositava areia na península com a correnteza. Abriga o único farol romano em funcionamento no mundo. No LAGO COLERIDGE, correnteza é energia: ele está 150 metros acima do rio, e a força da água é aproveitada pelas hidrelétricas. 2- TANGARÁ DA SERRA, Brasil — MANILA, Filipinas ENTRE CACHOEIRAS E CARROS - Uma cidadezinha do Mato Grosso chamada TANGARÁ DA SERRA desemboca na capital das Filipinas, MANILA. Destruída pelos japoneses na Segunda Guerra, ganhou arranha-céus e trânsito caótico ao ser reconstruída pelos Estados Unidos. Já em Tangará, a ordem é o som da natureza. 3- FORMOSA, Argentina — TAIPEI, República do China FORMOSURA PURA – FORMOSA fica às margens do Rio Paraguai e tem cultura mais paraguaia que argentina. Ela se conecta a TAIPEI, capital da República da China - antiga Taiwan, que, em português, significa Formosa, nome dado por navegadores portugueses ao avistar a ilha, em 1542. 4- TOMBUCTU, Mali — RUKUA, Fiji CAPITÃES DE AREIA - Fundada às margens do Rio Níger, TOMBUCTU era o foco do lucrativo comércio de sal, que era trocado até por ouro e escravos. Hoje, a cidade antiga está tomada pela areia do Saara. Na vila de RUKUA a areia é praia para surfistas e pescadores numa das paradisíacas ilhas de Fiji. 5- LIMA, Peru — PURSAT, Camboja FENÔMENOS INCRÍVEIS – LIMA está no meio do deserto. Reza a lenda que nunca chove lá. Mas, em tempos de El Niño, a cidade é inundada por chuvas torrenciais. Já em PURSAT, as inundações acontecem duas vezes por ano, quando o curso do rio Tonle Sap se inverte, fenômeno único no mundo. COMO CALCULAR UM ANTÍPODA Escolha uma coordenada. A latitude do seu antípoda é igual, mas com o sinal invertido. Para calcular a longitude, subtraia 180° do valor e, então, inverta o sinal do resultado. No antipodesmap.com, basta digitar o nome da cidade que ele faz a matemática por você. 2#9 INTERNET – CONECTANDO BILHÕES Esqueça a fibra ótica. Satélites, drones e balões são as apostas mais altas de empresas como Google e Facebook para levar internet de banda larga a lugares remotos do planeta. TEXTO Maurício Moraes EDIÇÃO Tiago Jokura ESTAMOS DESCONECTADOS. No fim de 2014, a União Internacional de Telecomunicações, ligada à ONU, estimava que 4,32 bilhões de pessoas (quase 60% da população mundial) não tinham acesso à internet. Esse dado demonstra, em parte, que a rede ainda não chega a todos os cantos do mundo. Ou melhor, até chega, mas bem devagar. É possível conectar-se à web via satélites geoestacionários, mas eles ficam ao redor da Terra a uma distância tão grande — cerca de 35 mil km — que o sinal não dá conta de tarefas simples, como acessar Netflix, Skype ou Facetime. Para agilizar um encontro virtual entre bilhões de desconectados, algumas das empresas mais inovadoras do mundo estão apostando outros tantos bilhões (de dólares). Em disputa está a ocupação de órbitas médias e baixas para fazer a banda larga cair — veloz — do céu. O pioneiro dessa nova corrida espacial é o americano Greg Wyler. Sua experiência fornecendo internet e telefonia móvel em Ruanda, na África, lhe ensinou que a web muda a vida das pessoas e que cabear o mundo custa muito — estima-se que o Google gastará US$ 500 bilhões instalando fibra ótica apenas nos EUA. Esse aprendizado levou Wyler a fundar a OneWeb, iniciativa que pretende lançar 660 satélites, ao custo de US$ 2 bilhões, para fornecer internet de alta velocidade a qualquer lugar da Terra. O sinal será captado por receptores de US$ 250, dispensando antenas, fibra ótica e qualquer infraestrutura terrestre. De quebra, os satélites são simples, baratos e prometem conexão até 25 vezes mais rápida que a internet via satélite convencional. Esse ganho de performance se deve ao fato de os equipamentos da OneWeb operarem a rasantes 1.200 km de altitude: como o sinal de internet precisa partir do solo (veja infográfico na próxima página), bater no satélite e voltar para a superfície, a localização dos aparelhos em órbitas baixas diminui a viagem em quase 70 mil km. A meta é operar em 2019. Enquanto isso não acontece, outra empresa fundada por Wyler, a O3b, está mostrando serviço. O empreendedor deu start em 2007, deixou a direção em 2009 e ela começou a operar em 2014. Com US$ 1,4 bilhão de investimento até agora, a companhia mantém 12 satélites em órbita média (8 mil km de altitude), transmitindo dados para operadoras de telecom e provedores em solo, que retransmitem o sinal a seus clientes. O foco da empresa é distribuir grandes pacotes de dados a governos, empresas e navios como os da Royal Caribbean, uma das maiores companhias de cruzeiros do mundo. O plano é aumentar a rede nos próximos anos. Tarefa demorada, já que em oito anos foram lançados três foguetes, com quatro satélites cada. E o próximo lançamento é só em 2017. VOANDO BAIXO O principal rival de Wyler tem calibre e sonha alto. É o bilionário Elon Musk, cofundador do sistema de pagamentos PayPal, da fabricante de carros elétricos Tesla Motors, e da SpaceX, empresa aeroespacial que envia suprimentos para a Estação Espacial Internacional em seus próprios foguetes. Musk quer criar um serviço semelhante ao da One Web, mas com nada menos que 4 mil satélites. O sistema não deve operar antes de 2020 e tem investimento estimado em US$ 10 bilhões. Ambicioso, ele já declarou que as receitas do negócio ajudarão a SpaceX a fundar uma cidade em Marte. Mas para um dos investidores da One Web, Richard Branson, fundador da Virgin e amigo de Wyler e Musk, a corrida já tem um favorito: "Não acho que Musk consiga fazer algo competitivo. Se ele quer entrar no ramo, o mais lógico seria associar-se a nós", declarou em entrevista à Bloomberg Businessweek. Só que ainda paira uma dúvida em relação aos quase 5 mil objetos que O3b, OneWeb e SpaceX planejam enviar ao espaço. O número de satélites, incluindo os desativados, na órbita terrestre vai mais que dobrar, totalizando cerca de 8.400. O que acontecerá ao fim da vida útil deles? Segundo Wyler, os equipamentos da OneWeb serão teleguiados em direção à Terra. "Eles foram projetados para funcionar de cinco a sete anos. Os componentes se desintegrarão ao entrar na atmosfera", esclarece. O fim dos satélites da SpaceX deve ser o mesmo. No caso da O3b, os aparelhos subirão quase 200 km para virar lixo espacial e pairar por um século sem atrapalhar outros objetos. O que vem depois disso, nem o Google — que tem capital investido na O3b e na SpaceX — sabe responder. MUDANÇA DE ARES A alternativa da companhia para essa questão é o Loon, projeto do laboratório Google X, berço do Google Glass. Ainda não há custo estimado, mas a ideia é levar conexão 4G a áreas remotas com balões meteorológicos. Guiados por computador, eles reconheceriam as correntes de vento e se deslocariam em conjunto, formando uma malha de cobertura contínua. O desafio atual é ganhar autonomia de voo. Em 2014, um balão lançado em Teresina (PI) foi o primeiro da empresa a viajar mais de 100 dias. Para evitar vazamentos de ar — grande causa de quedas —, pesquisadores analisaram até embalagens que não deixam nada escapar, como sacos de Doritos. "Melhoramos o design a cada vez que um balão cai e é recuperado. Identificamos os pontos de costura que sofrem mais estresse e como o material reage a -80 °C", explica Mauro Gonçalves, engenheiro brasileiro do Loon. Recentemente, balões lançados na Nova Zelândia voaram 9 mil km até a América Latina e voltaram para a Austrália transmitindo em 4G. Voando por fora estão os aviões não tripulados. Google e Facebook adquiriram, em 2014, duas fabricantes de drones. Um dos modelos criados pela Titan Aerospace, comprada pelo Google, é o Solara 50, que tem 3 mil células fotovoltaicas. Ele pode pairar por até cinco anos sem pousar e envia sinal para uma área de até 17 mil km2. Só que até agora ninguém crava uma data para drones e balões entrarem na corrida. POR UM FIO Mas quem vencerá a disputa pela internet aérea? Para Roch Guerin, especialista em redes e conectividade da Universidade Washington, em St. Louis, EUA, as redes de satélites de órbita baixa (OneWeb e SpaceX) têm mais chance de oferecer uma conexão estável e veloz. Em contrapartida, são muito mais caras do que drones e balões, em curto e longo prazo. "Como esses satélites têm vida curta, é preciso lançar outros constantemente, o que tem um custo alto. Operar e coordenar uma vasta constelação deles também é uma despesa nada trivial", ressalta o pesquisador. Outro concorrente inesperado é o improviso. Há quatro anos na espera pelos serviços da O3b, o Instituto de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá, em Tefé (AM), conecta estações de pesquisa no meio da floresta, em áreas alagadas e de difícil acesso. O sinal via satélite, fornecido pela Rede Nacional de Ensino e Pesquisa (RNP), é retransmitido via rádio, percorrendo 150 km e atendendo mais de 100 colaboradores. Agora, o Mamirauá quer usar um dirigível suspenso por cabos, a 150 m do solo, para transmitir internet. Em um ano, a RNP deve instalar fibra ótica sob os rios até Tefé. Melhor Google, Facebook e companhias voarem atrás do prejuízo. INTERNET ESPACIAL Sinal vai percorrer o espaço para atingir regiões remotas. NO ESPAÇO 35.786 KM Satélites geoestacionários. 8062 KM Satélites da O3b. PRÓS: Cada satélite cobre dez área com 700 km de diâmetro. CONTRAS: Satélites desativados viram lixo espacial. 1200 KM Satélites da OneWeb e SpaceX. PRÓS: Altitude baixa aumenta a velocidade do sinal. CONTRAS: É preciso centenas de satélites para criar uma rede global. 330 435 KM. Estação Espacial Internacional NO CÉU 25 KM Balões do Google. PRÓS: Baratos e fáceis de atualizar. CONTRAS: Voos sujeitos a alterações atmosféricas. 18 KM Drones de Facebook e Google. PRÓS Fáceis de manobrar, usam energia solar e voam por anos. CONTRAS: Alguns países podem barra-los em seus espaços aéreos. 10 KM Jatos comerciais NO SOLO SUPERANTENAS - Estações abastecidas por fibra ótica enviam o sinal até satélites, drones e balões. RETRANSMISSORES – Sinais de baixa órbita chegam direto na casa das pessoas. Os de média vão para operadoras que os repassam aos clientes. _________________________________________ 3# SEÇÕES II abril 2015 3#1 TECH 3#2 CULT 3#3 E SE... – SE AS EMPRESAS CONTROLASSEM NOSSA VIDA? 3#4 MANUAL – COMO ENTRAR PARA A MAÇONARIA 3#1 TECH EDIÇÃO BRUNO GARATTONI O NOVO FUTURO DAS TVS Depois do fracasso das TVs de OLED, a indústria tenta emplacar uma nova tecnologia revolucionária: a televisão quântica, com pixels que exploram leis bizarras da física. Será que agora vai? TEXTO Bruno Garattoni e Fernando Badô RIP, OLED - Após dez anos em desenvolvimento, as TVs de OLED chegaram ao mercado em 2013. Sua imagem é muito melhor que das TVs atuais. Mas a fabricação, cara e difícil, fez com que essa tecnologia acabasse sendo deixada de lado pelos fabricantes - restou apenas a LG, que ainda produz um modelo do tipo (vendido a R$ 8.000). A NOVA ONDA - Agora, o mercado aposta em outra tecnologia: quantum dots, ou pontos quânticos. A televisão quântica é uma TV de LED normal, exceto por um detalhe. Dentro dela, há uma camada de cristais metálicos de 2 nanômetros (dez vezes menores que um vírus). Eles são bombardeados pela luz gerada pelos LEDs da TV. E é aí que a "mágica" acontece. EFEITO QUÂNTICO - Os cristais estão sujeitos às regras da física quântica (que se aplica a coisas extremamente pequenas). Dentro deles, acontece um fenômeno chamado confinamento quântico. Os elétrons não conseguem se movimentar direito, e o cristal brilha - emitindo uma luz muito brilhante, que forma a imagem da TV. AS TELEVISÕES - Todos os grandes fabricantes (inclusive LG) estão se preparando para lançar TVs com a nova tecnologia. A mais interessante é a Samsung S9W, que é ultrawidescreen (21:9). Ela é um monstro de 105 polegadas, e custa um absurdo. Mas outras telas quânticas devem chegar este ano, em versões menores e mais acessíveis. SAMSUNG S9W NA EUROPA: R$ 388 MIL samsung.com 1- GELO HIPSTER Esta fôrma tem um sistema térmico que faz a água congelar mais devagar (leva 36 horas). Vale esperar. O resultado são cubos de gelo perfeitamente cristalinos, sem nenhuma parte branca no meio. Perfeitos para drinques. NEAT ICE KIT NOS EUA: US$ 230 studioneat.com 2- SÓ POR QUERER Quem nunca colou os dedos, sem querer, ao mexer com Super Bonder? Esta supercola é melhor - só endurece quando você liga a luz ultravioleta, que fica na parte de trás do aplicador. Leva quatro segundos. Cola plástico, madeira e metal. BONDIC NOS EUA: R$ 73 gotaglue.com 3- VAI LÁ BUSCAR Nenhum dono, por mais amoroso que seja, aguenta brincar o tempo inteiro. Distraia seu cão com este gadget, que joga bolinhas automaticamente. Ele pega a bola, joga de volta no aparelho e recomeça a brincadeira. IFETCH NOS EUA: R$ 67 goifetch.com 4- SÓ BAIXAR DEPOIS Chega de anotar o que o professor está escrevendo. Basta pedir que ele use esta caneta digital - e tudo o que o mestre anotar no quadro branco será automaticamente escaneado e salvo no iCloud e no Dropbox. SMARTMARKER NOS EUA: N/D myequil.com/smartmarker 5- MENOS É MAIS Ele é tão pequeno quanto os notebooks com tela de 11 polegadas; mas tem tela de 13". O segredo está na moldura da tela, bem mais fina. É um ótimo computador, com chassi de fibra de carbono e apenas 1,3 kg. DELL XPS 13 NO BRASIL: RS 6.999 dell.com/br 6- PAPA-ASTROS Fotografar estrelas não é fácil. Mas esta câmera tem um sensor de imagem diferente, quatro vezes mais sensível à luz hidrogênio-alfa (uma cor avermelhada emitida por nebulosas), o que supostamente gera imagens celestiais mais nítidas e vivas. D810A NOS EUA: R$ 11 MIL nikonusa.com COMO SABER QUANTO TEMPO VOCÊ PASSA AO CELULAR Que estamos viciados em smartphone, você já deve ter percebido. O que você não imagina é o quanto. 1- Baixe o aplicativo Break Free (no Android) ou Moment (no iOS). Use o celular normalmente por um ou dois dias. 2- Abra o app, e leve um baita susto. Você não vai acreditar no número de vezes que destrava o celular e quanto tempo passa olhando para ele, a cada dia. 3#2 CULT EDIÇÃO Bruno Garattoni GAME OF THRONES ESTÁ DE VOLTA Ano novo, nova temporada da série. Quem lia os livros do americano George R.R. Martin costumava sair na frente, mas agora isso mudou. O conteúdo dos livros já publicados está acabando, e o pessoal da televisão cria coisas novas para os personagens. Na SO5, que estreia neste mês, livro e TV tendem a seguir -caminhos bem diferentes. GAME OF THRONES, quinta temporada. HBO. Estreia 12/abril, 22h. Também disponível on-demand no site hbogo.com.br (para assinantes de TV a cabo). JOGO DOS SPOILERS - A nova temporada pode ter histórias que ainda não aconteceram (e talvez nem aconteçam) nos livro. 1- BRIENNE PERTO DO FIM - Todo mundo adora a guerreira gigante. Mas a verdade é que uma boa parte de sua aventura será cortada na série de TV, e não vai sobrar muita coisa para ela fazer. Por isso, talvez a morte de Brienne esteja próxima. 2- MYRCELLA BARATHEON PODE MORRER - Tyrion enviou sua sobrinha para Dorne para melhorar a relação entre os Lannister e os Martell. Mas os sulistas podem fazer tudo para vingar a morte de Oberyn. Até matar a filha de Cersei. 3- SANSA SOFRE (MAIS UM) , TRAUMA – Sansa Stark não é mais aquela mocinha ingênua. Virou uma jovem ardilosa, que usa a sensualidade para conseguir o que quer. Mas ainda deve apanhar um pouco - e talvez seja estuprada. 4- VERME E MISSANDEI IN LOVE - Na temporada anterior, "pintou um clima entre a serva de Daenerys e o guerreiro Verme Cinzento. Nos próximos episódios, eles devem consumar a paixão. Mas ninguém sabe direito como. Afinal, ele é castrado. 5- JAIME LANNISTER EM DORNE - Uma parte desta temporada se passa em Dorne, região ensolarada ao sul de Westeros. Jaime Lannister, que já não tem muita função em Porto Real, deve viajar para lá e se encontrar com o príncipe Doran. LIMPA-NEVE X TRAFICANTE VEGANO Nils é um cara simples, que trabalha limpando a neve de uma estrada na Noruega. Até que seu filho aparece morto, supostamente de overdose. Nils descobre que não foi bem assim: o filho foi morto pelo maior traficante de Oslo. Uma figuraça, que adora suco de cenoura orgânico e ensina o filho a não fazer bullying. Agora Nils, com seu jeitão simples, vai tentar se vingar. Uma mistura de Tarantino, Stieg Larsson e Breaking Bad, tão divertido quanto estiloso (o filme foi selecionado para o Festival de Berlim). O CIDADÃO DO ANO (KRAFTIDIOTEN). Estreia 30/abril nos cinemas. 12 ANOS é há quanto tempo a banda inglesa Blur não lança um disco. Damon Albarn estava ocupado criando o Gorillaz e fazendo um disco solo matador, Everyday Robots (nível Radiohead). Quem não o conhece - ou não lembra direito dele - vai ter uma ótima surpresa. THE MAGIC WHIP. Lançamento 24/abril, nas lojas Google Play e iTunes. US$ 10. UM PIKETTY PARA TODOS O Capital no Século 21, do francês Thomas Piketty, continua bombando: já vendeu mais de 1,5 milhão de cópias no mundo. Mas haja tempo para ler suas densas 700 páginas. Que tal um Piketty mais light? Este livro de 1997, só agora lançado no Brasil, reúne as ideias centrais do economista superstar - em apenas 135 páginas. A ECONOMIA DA DESIGUALDADE. Thomas Piketty. R$ 40 “É importante ficar de olho na quantidade de trapaceiros”, escreve ERIC SCHMIDT, presidente do Google, neste livro em que explica o modus operandi da empresa - e dá boas dicas para combater a picaretagem no trabalho. COMO O GOOGLE FUNCIONA. Eric Schmidt e Jonathan Rosemberg. R$ 40 OS 10 MAIS DAS 11 MAIS Você gosta de viajar? Gosta de listas de "dez mais" alguma coisa? (Gosta sim, vai... admita.) Então vai gostar deste programa: que passeia pelas cidades mais interessantes do planeta em busca dos dez mais legais de tudo. E acha coisas surpreendentes, que não aparecem em outros programas de viagem (do "sorvetão gay" de Nova York ao cocô de rouxinol em Tóquio). ANOTA AÍ: AS 10 MAIS. Multishow. Nova temporada estreia 13/abril, 22h. Também disponível no site play.com.br (para assinantes de TV a cabo). MEGA-ATRASADO. E MEGA-ADIANTADO 2012, 2013, 2014, 2015. Depois das obras do metrô, Project Cars deve ser a coisa mais atrasada do mundo. Mas finalmente chegou. Tem dezenas de carros e pistas, gráficos incríveis, e funciona com o capacete de realidade virtual Oculus Rift, para PC (US$ 350). Também aceita o capacete do PlayStation 4, que será lançado em 2016. PROJECT CARS. Xbox One, PS4 e PC. Lançamento 2/abril. US$ 60. projectcarsgame.com NAZISMO CANARINHO Hitler planejava invadir o Brasil, fazendo um ataque submarino para tomar o controle do nosso litoral. Escrito por Durval Pereira, tenente-coronel do Exército, este livro conta todos os detalhes da operação - e as movimentações secretas da marinha nazista pelo Brasil. OPERAÇÃO BRASIL - O ATAQUE ALEMÃO OUE MUDOU O CURSO DA SEGUNDA GUERRA. R$ 50. 3#3 E SE... — SE AS EMPRESAS CONTROLASSEM NOSSA VIDA? Companhias estimulam suas funcionárias a congelar óvulos para adiar a maternidade. Ficção? Não. A medida, adotada pelo Facebook e pela Apple, nos fez questionar: a que ponto poderia chegar a influência do mundo corporativo em nossa vida privada? TEXTO Amarílis Lage QUARENTA ANOS. Tenho um bom emprego, comprei um bom apartamento, dirijo um bom carro. Casei com uma mulher maravilhosa. Qualquer pessoa que me olhar neste restaurante pode assegurar que sou bem-sucedido. Olha o terno sob medida, o relógio de grife, o jeito como pronuncio boeuf bourguignon. Porque, então, me sinto tão triste? — Ouviu, querido? Tenho uma novidade incrível para contar! Mas você está no mundo da lua. O que houve? — Ah, tive algumas reuniões e passei no médico... — Já entendi. Não conseguiu emagrecer, né? Você precisa se empenhar, ou vamos perder o bônus de Natal. Dez quilos. Mas nem dieta, nem exercícios, nem medicamentos parecem funcionar. Sei que, por causa disso, tem gente na empresa que me considera preguiçoso, descontrolado. Acham que os gordinhos são menos produtivos, e pouco importam meus resultados. E quer saber? Eu estou feliz com meu corpo. Nem pensaria em emagrecer se não fosse esse bendito Programa Corporativo de Reeducação Alimentar. — Temos tudo aqui dentro da empresa: academia, nutricionista, endócrino... O que acontece, querido? — Você acha que não me esforço? Poxa... Eu não demonstro comprometimento com a empresa? Mandaram parar de fumar, de beber, e eu obedeci. Parei até o futebol! — E foi ótimo, não foi? Lembra que você vivia machucado? Querido, é tudo para o seu bem. Cinco anos juntos. E às vezes sinto que somos desconhecidos. Parecíamos tão compatíveis segundo o Programa Corporativo de Saúde Afetiva. Não por acaso, nos colocaram no mesmo projeto. Passamos horas e horas extras discutindo dezenas de planilhas - juntos, era até divertido. Aí veio aquela viagem a trabalho, um drinque a mais no lobby do hotel. E a confirmação do que dizem os headhunters: funcionários casados saem menos à noite, se expõem a menos riscos, dificilmente pedem demissão. — Não quero parecer ingrato, mas... Parece que a empresa controla tudo na vida da gente. — Você acha? Bem, às vezes tenho vontade de tomar um chá diferente sem ser demitida... Mas sei que não podemos comprar nada da concorrência. Cem mil. Com esse dinheiro, poderia abrir meu próprio negócio. Um food truck, talvez? Vou a Nova York, visito umas lanchonetes, volto com a receita do hambúrguer perfeito. Com fritas, milkshake e cheesecake. Já escolhi o nome: Liberty! Seria incrível... — Estive pensando... Pode parecer loucura, mas: e se a gente começasse a empreender? — De jeito nenhum! Querido, sei que você está chateado porque tem de emagrecer. Mas sejamos pragmáticos. Se não fosse pelo Programa Corporativo de Financiamento Imobiliário, não teríamos um apartamento. — Sim, mas tivemos de comprar do lado da empresa! — O que é ótimo, pois assim a gente chega todo dia na hora, descansado, e trabalha mais feliz. Você preferiria perder horas no trânsito? E digo mais: se não fosse pelo Programa Corporativo de Lazer, não teríamos passado a lua de mel em Paris. A empresa pagou tudo! — Claro que pagou. Passamos metade do tempo visitando fornecedores para uma filial na França. — Querido, o problema está na forma como você interpreta as coisas. Você se sente controlado. Já eu me sinto privilegiada. Por exemplo: a companhia exige que eu esteja sempre com uma boa aparência. Por isso, oferece manicure, cabeleireiro e maquiador de graça. Eu adorei ficar loira! Posso escolher, sim. — Isso não é totalmente verdade. Você queria muito ser mãe, lembra? E a empresa a obrigou a congelar seus óvulos para não perder uma promoção. — É sobre isso que eu queria falar com você, querido! Por isso fiz questão de vir aqui, para um jantar especial. Recebi hoje um telefonema do Programa Corporativo de Planejamento Familiar: sou uma das funcionárias autorizadas a engravidar neste ano! Não é lindo? Dez horas. Pelo celular, chega o aviso do Programa Corporativo de Qualidade do Sono - hora de ir pra cama, onde serei atacado pela insônia. Um filho!? Ela já escolheu o nome, a decoração do quarto, a escola... E me fala sobre o Programa Corporativo de Orientação Vocacional, que prepara os filhos dos funcionários para um futuro cargo na empresa. Que pai não ficaria tranquilo com isso? — Ouviu, querido? Não é lindo? — Lindo, querida... Garçom, me vê um cheesecake? — Desculpe, senhor, não posso. Precisa perder peso. É a orientação da empresa. Aceitaria um abacaxi? Um aperto dolorido no peito... Acho que vou marcar uma consulta com o cardiologista da firma amanhã. 3#4 MANUAL – COMO ENTRAR PARA A MAÇONARIA Ingressar na sociedade fraterna mais poderosa do mundo requer tempo, dinheiro e práticas bem menos chocantes do que se imagina - tudo isso, claro, mantendo total discrição. TEXTO Marcelo Testoni 1- SEJA HOMEM A razão é histórica: a Maçonaria é uma irmandade de homens construtores (mason, em inglês, é pedreiro). Eles não erguem mais casas, mas têm como missão edificar a sociedade. Esposas não podem ser membros, mas participam de ações sociais e beneficentes. 2- SEJA AMIGO DE MAÇONS A via de acesso oficial é a indicação de um amigo, mas em casos raros pode vir um convite de uma loja maçônica. A ordem está interessada em profissionais influentes na sociedade, como professores, comunicadores, atores, políticos, médicos etc. 3- ENQUADRE-SE Um grupo de membros investiga a vida do candidato, que é informado sobre suas responsabilidades e tem a conduta de vida avaliada. PARA SE DAR BEM NESSA FASE DO PROCESSO É SÓ SEGUIR ESTES PASSOS: * Ser um cidadão exemplar * Ter espírito empreendedor * Ter emprego e residência fixos * Não ter atividades profissionais ilícitas * Não ter passagem pela polícia nem nome sujo * Evitar vícios e envolvimento com drogas 4- DESDOBRE-SE A ordem exige dedicação a causas sociais, seja doando tempo ou dinheiro, mas nada que sacrifique a família. Se o maçom for casado, é importante que o cônjuge seja compreensivo, aceite estas doações e até participe de alguns projetos. Aliás, nenhum homem casado pode ser membro se a esposa não concordar. 5- CREIA EM DEUS Uma das exigências é acreditar na imortalidade da alma e em um ser criador, não importa a forma ou o nome pelos quais ele seja conhecido. Os maçons chamam esse deus de G.A.D.U. - Grande Arquiteto do Universo. Adeptos de todas as religiões e seitas são aceitos, mas ateus não têm vez. 6- IMPRESSIONE Na última etapa é preciso expor as motivações para ingressar na ordem e passar por uma avaliação com um maçom indicado pelo venerável grão-mestre (presidente da loja). Nesse encontro, espera-se que o candidato mantenha boa postura e contato visual, além de mostrar noções básicas de liderança, filosofia e princípios da Maçonaria. CADA MAÇOM USA UMA SAUDAÇÃO de acordo com seu nível hierárquico na ordem. Este é o cumprimento do aprendiz. Descubra mais sobre a ordem em O LIVRO SECRETO DA MAÇONARIA em bancas e livrarias de todo país. Fontes Celso Roberto Domingues, ex-presidente da Loja Maçônica Estrela, de Ibitinga; Antonio Anastácio dos Santos, venerável mestre da Loja Maçônica Extrema Razão, de Guarulhos; livro Maçonaria: Uma Jornada por Meio do Ritual e do Simbolismo, de W. Kirk MacNulty; e site Grande Oriente do Brasil (gob.org.br)