SUPERINTERESSANTE www.superinteressante.com.br edição 328 janeiro 2014 [descrição da imagem: ocupando todo o centro da capa, uma grande lâmpada, que está explodindo. Por cima o título da matéria] SEJA MAIS CRIATIVO Spielberg, Beethoven, Steve Jobs, Keith Richards, Salvador Dali. Aprenda a pensar diferente com quem mudou o mundo. Por Carol Castro [outros títulos] QUE TAL SEQUESTRAR UM AVIÃO? BIG BROTHER COM O MOSQUITO DA DENGUE MANUAL: COMO CURAR A RESSACA O INCRÍVEL MERCADO MUNDIAL DO CABELO E SE MANDELA NÃO TIVESSE NASCIDO? O ÚLTIMO PROJETO DE STEVE JOBS Nova sede da Apple custará mais que todos os estádios da Copa ____________________________ 1# PARTE INICIAL 2# SEÇÕES 3# REPORTAGENS 4# GUIA _____________________________ 1# PARTE INICIAL janeiro 2014 1#1 AO LEITOR – QUE VENHA O FUTURO 1#2 MUNDO SUPER 1#1 AO LEITOR – QUE VENHA O FUTURO 2013 foi um ano intenso para nós aqui - e tenho quase certeza de que foi intenso para você também. Ao longo desses últimos 12 meses, vimos indústrias inteiras virarem farelo e verdades eternas sendo questionadas. Em 2013, sem que ninguém convocasse ou liderasse, sem que houvesse um motivo óbvio ou uma explicação clara, o país inteiro saiu às ruas exigindo algo de diferente - embora ninguém saiba explicar bem o quê. Para mim, foi um entre tantos outros sinais de esgotamento de uma era. Vejo esses sinais por todos os lados, para onde quer que eu olhe. Na indústria em que trabalho, a editorial, forçada de repente a se reinventar, diante de uma brusca mudança de hábitos dos leitores. Na política, subitamente esvaziada de sentido, sequestrada por picaretas que a usam em proveito próprio. No trânsito, que em 2013 parou de vez, com engarrafamentos colossais. Nas pessoas próximas de mim, atingidas por doenças misteriosas - males degenerativos sem explicação, doenças cardíacas na juventude -, provavelmente causadas por um estilo de vida baseado em comida industrializada. Na ansiedade de meus amigos, meus colegas, meus vizinhos, subitamente se deparando com dúvidas e dilemas, como se tudo estivesse perdendo o sentido ao mesmo tempo. Enfim, vivemos tempos catastróficos e difíceis, de mudança, de colapso, de confusão. É claro que é estressante passar por tempos assim. Mas é também espetacular. São tempos de reinvenção, de inovação, de germinação. Tempos de encontrar caminhos novos, de adotar hábitos novos, de absorver ideias novas. Num momento como esse, só posso agradecer pelo privilégio de estar sentado aqui nesta cadeira, trabalhando na SUPER. Que sorte a minha. Não poderia estar acompanhando esse momento de mudanças profundas num lugar melhor. Afinal, a SUPER é o lugar da inovação, há muito tempo dedicado a garimpar, processar e distribuir novas ideias. Daqui podemos assistir de camarote às turbulências que travam o mundo velho e à gestação do mundo novo. Não que seja fácil, claro. As vezes a sensação é a de estar no centro de um furacão, vendo nossas certezas serem varridas pela ventania, desesperadamente em busca de algo firme para segurar. Mas é tão lindo. É impossível não se maravilhar com as luzes do crepúsculo de uma era, e com as dores do parto de outra. Que venha 2014. Que venha o futuro. Nós da SUPER vamos aguardá-lo de peito aberto, cheios de ideias. Prometo a você um ano repleto de novidades. Nos próximos meses, pretendemos reinventar tudo: a revista, a marca, os produtos, as linguagens, nosso jeito de trabalhar, nossa rede de colaboradores, nosso lugar no mundo. A SUPER, fiel às suas origens e às suas tradições, tem a obrigação de mergulhar de cabeça no novo. Mergulhar no novo dá um medinho, eu sei - eu sinto também. Vamos juntos. Tenho certeza de que vai ser incrível. Bom ano novo para você. DENIS RUSSO BURGIERMAN, Diretor de Redação super.abril.com.br/blogs/mundo-novo 1#2 MUNDO SUPER O CONTÁGIO DO BOCEJO Será verdade que, quando vemos uma pessoa bocejando, bocejamos também? Abri a revista no trabalho e, quando olhei para a capa, dei uma bocejada e agora, escrevendo para vocês, duas... Meu chefe está me olhando de cara feia! - VÂNIA RIBEIRO Vânia, o Oráculo, aquele que tudo sabe e tudo vê, respondeu essa pergunta há dois anos, em janeiro de 2012. É o seguinte: bocejamos quando vemos alguém bocejar porque o cérebro tem uma área chamada córtex pré-motor, onde há um mecanismo maria-vai-com-as-outras: os neurônios-espelhos. Só não imitamos tudo porque há áreas específicas que bloqueiam isso. Portanto, se você bocejou e o seu chefe viu e não bocejou também, o problema é com ele, não com você. CONHECIMENTO DE CAUSA Lendo a matéria Sono: nunca dormimos tão mal (dezembro), encontrei o seguinte erro: "Temperatura de 5500 graus Kelvin". Na verdade, a unidade Kelvin não possui graduação e deve ser escrita simplesmente como 5500 Kelvin, isso porque ela é uma unidade de medição, e não escala. - KELVIN VICENTE COSTA Kelvin, fosse uma prova de física, teríamos tirado um zero absoluto. PRA MIM TANTO FAZ Tem também as músicas escondidas do Naldo. Dizem que tem umas dez músicas no álbum, mas nunca consegui encontrar nenhuma. - ROMEO PRADO, sobre o post 10 músicas escondidas em álbuns de artistas famosos. SUPER BANCA Descubra quem foi Hércules e depois fique tão em forma quanto ele comprando os nossos especiais deste mês: MITOLOGIA - A história dos deuses, das lendas e dos heróis que ajudaram a definir a cultura ocidental. R$ 17,88. A FARSA DAS DIETAS - Quer perder peso sem perder a inteligência? Pergunte-nos como. R$ 2,25 Nas livrarias online. TAL MÃE, TAL FILHO Sou uma mãe muito orgulhosa do filho que tenho. Em 2002, alguns meses antes de ele completar 15 anos, eu disse que não poderia fazer uma festa de aniversário, mas pedi que escolhesse um bom presente. Na mesma hora, ele disse: "Quero uma assinatura da SUPER". Não acreditei no que estava ouvindo: um garoto de 15 anos pedir esse presente! Fiquei muito feliz, fiz a assinatura e sempre conto essa história para todo mundo. Hoje ele está com 26 anos, é bem-sucedido profissionalmente e como pessoa é um ser maravilhoso. O nome dele é Atilla Eugênio Rosa e ele nem sonha que eu quero prestar essa homenagem. Quero retribuir todo carinho e amor que ele tem dado a mim, à família e aos amigos. - MARIA ALVES DA ROCHA E nós queremos retribuir o carinho que você e ele têm tido com a gente durante todos esses anos. 3 LEITORES ESPECULAM SOBRE O QUE ACONTECERIA NUM ENCONTRO ENTRE TERRÁQUEOS E ALIENÍGENAS Uma festa open bar. - JOÃO DANTAS Provavelmente chamariam a Ivete Sangalo para fazer a abertura do evento. - DANIEL PASSOS O terráqueo pegaria o seu celular para tirar foto e postar em alguma rede social. - ISIS BEZERRA Para saber a resposta, acesse abr.ai/idNqMW2. 3 LEITORES RESPONDEM PORQUE NO BRASIL A GENTE COME PÃO FRANCÊS Porque somos metidos a besta e adoramos uma coisinha importada. - MARI MENDES Porque os chineses ainda não estão fabricando isso... Senão seria pão chinês. - ERIÇO LEMOS Simples: porque não podemos bebê-lo! PAULO ROBERTO (troféu piadista do mês) Descubra o motivo em abr.ai/It53E7. TIPO EXPORTAÇÃO Na matéria O Gosto Brasil (dezembro), nós dissemos que a rede de cafés Starbucks só vendia pão de queijo por aqui. Nossos leitores, muito viajados, escreveram para corrigir. O Danilo Kunikoshita contou que já comeu pão de queijo em uma Starbucks do México, e a Julia Faria já encontrou também no aeroporto de Buenos Aires (mas diz ela que não estava muito bom). CORREIO ELEGANTE Os comentários mais carinhosos que recebemos nas últimas semanas. Putz, que falta do que fazer. – JOSUE MACIEL, sobre o editor que passou 40 dias sem jogar nada fora para a reportagem Acumulador (dezembro). Ou estou ficando muito retrógrado, ou o texto está muito chulo. Vulgaridade tem limite. Saudade de quando a SUPER era uma revista decente. -FABIANO GOMES, sobre o post A sensibilidade do Lulu. do blog Crash. 501terrenosparacapinar.tumblr.com - LUCAS SANTOS, sobre o mesmo post. FOI MAL A fórmula correta do cálculo do índice de Massa Corporal é o peso dividido pela altura ao quadrado, e não o peso dividido pela altura vezes dois (Onde os gordos não têm vez, novembro) FALE COM A GENTE REDAÇÃO - Envie sugestões, comentários, críticas e dúvidas para Adriana Meneghello pelo e-mail superleitor@abril.com.br, para o endereço av. das Nações Unidas, 7221, 14º andar, CEP 05425-902, São Paulo, SP; ou ainda pelo fax 11 3037-5891. PARA ANUNCIAR - Escreva para fernando.sabadin@abril.com.br ou entre no site publiabrif.com.br. Telefones: SP 11 3037-5189, RJ 21 2546-8100. Outras praças: 11 3037-5759. Vendas Diretas: 11 3037-5000. SERVIÇO DE ATENDIMENTO AO CLIENTE (SAC) - Para consultar dados da sua assinatura, comunicar alteração de endereço, tirar dúvidas sobre pagamento ou entrega, renovação e outros serviços: Internet: abrilsac.com Ligue grátis: 0800- 7752112 Grande São Paulo: 11 5087-2112 De segunda a sexta, das 8 às 22h. VENDAS DE ASSINATURAS - Internet: assineabril.com Ligue grátis: 0800-7752828 Grande São Paulo: 11 3347-2121. De segunda a sexta, das 8 às 22h. Sábado, das 9 às 16h. RECURSOS HUMANOS - Você pensa em trabalhar, estagiar ou participar de algum dos programas de treinamento da Editora Abril? O lugar certo para obter informações e enviar seu currículo é o link abril.com.br/trabalheconosco. Boa sorte! EDIÇÕES ANTERIORES - Solicite exemplares antigos a seu jornaleiro. O preço será o da última edição em banca mais a despesa de remessa. 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Um grupo de cientistas da Universidade Wake Forest, nos EUA, instalou um chip nos cérebros de cinco macacos resos, e conseguiu manipular artificialmente o comportamento deles. Primeiro, os macacos foram colocados para jogar um joguinho simples, que consistia em mover um joystick para escolher uma figura na tela. Eles treinaram até ficarem craques, alcançando 75% de acerto. Enquanto os macacos jogavam, o chip gravava os sinais elétricos de oito pontos do córtex pré-frontal, área do cérebro responsável pela tomada de decisões. Em seguida, os animais foram dopados. Ficaram grogues e começaram a ir muito mal no jogo, claro. Mas aí os cientistas acionaram o chip. Ele passou a enviar sinais elétricos, aqueles que tinham sido gravados, para o córtex pré-frontal dos macacos. Imediatamente, os bichos voltaram a jogar tão bem quanto antes (alguns foram até melhor). Eles estavam sendo estimulados - e controlados - pelo chip. Segundo seus criadores, a tecnologia está sendo desenvolvida com objetivos benignos, curar alguns tipos de doença mental. "Nossas descobertas são uma base para criar próteses capazes de reverter doenças como esquizofrenia, demência e autismo", diz Samuel Deadwyler, líder do estudo. NOVA ESPÉCIE DE BACTÉRIA É ENCONTRADA EM FOGUETE A bactéria foi encontrada num foguete Ariane 5, da Agência Espacial Europeia, e no robô Phoenix, que a Nasa construiu para enviar a Marte. Os equipamentos espaciais não podem conter nenhum tipo de micro-organismo - porque ele poderia contaminar outros planetas. Por isso, são construídos em salas extremamente limpas, onde até o ar é desinfectado. Mesmo assim a bactéria, que foi batizada de Tersicoccus phoenicis ("bactéria limpa do Phoenix"), conseguiu sobreviver. Os cientistas suspeitam que a bactéria tenha sido lançada acidentalmente ao espaço em missões anteriores. MUNDO BATE RECORDE DE RIQUEZA E DESIGUALDADE Riqueza global cresce 4,9% e alcança US$ 241 trilhões em 2013; 10% mais ricos detêm 86% de todos os bens e dinheiro do planeta. % da população: 0,7% Quanto cada pessoa tem: mais de US$ 1 milhão % da riqueza mundial: 41% % da população: 7,7% Quanto cada pessoa tem: de US$ 100 mil a 1 milhão % da riqueza mundial: 42,3% % da população: 22,9% Quanto cada pessoa tem: de US$ 10 mil a 100 mil % da riqueza mundial: 14% % da população: 68,7% Quanto cada pessoa tem: menos que US$ 10 mil % da riqueza mundial: 3% RIQUEZA (EM TRILHÕES DE DÓLARES) Estados Unidos 72,1 [+10,1%] Japão 22,6 [-5,5%] China 22,2 [+2,0%] França 14,2 [+1,5%] Reino Unido 11,7 [-0,3%] Canadá 6,8 [+0,7%] Austrália 6,7 [+0,9%] índia 3,6 [+0,4%] Brasil 3,2 [-0,1%] Suíça 3,1 [+0,3%] Indonésia 1,9 [+0,2%] Rússia 1,2 [-0,1%] Singapura 1,1 [+0,1%] África do Sul 0,6 [-0,1%] Chile 0,6 [+0,1%] RIQUEZA PER CAPITA (EM DÓLARES) Suíça US$ 512.562 Austrália US$ 402.578 EUA US$ 301.140 França US$ 295.933 Singapura US$ 281.764 Canadá US$251.034 Reino Unido US$ 243.570 Japão US$ 216.694 Chile US$ 49.032 Brasil US$ 23.278 China US$ 22.230 África do Sul US$ 19.613 Indonésia US$ 11.839 Rússia US$ 10.976 Índia US$4.706 POLTRONAS DE AVIÃO FICARÃO PIORES Novo modelo é mais leve e econômico - e mais desconfortável também. Criado pela empresa alemã Recaro, o assento já começou a ser adotado por companhias europeias (em aviões que fazem voos de até 4 horas). Ele pesa apenas 9 kg - 40% a menos do que as atuais poltronas de classe econômica, o que poupa combustível do avião. Mas também tem seu lado ruim para os passageiros. ENCOSTO - A poltrona não reclina. Ela é fixa a 15 graus. APOIO DE BRAÇO – Tem a metade do tamanho (só vai até o cotovelo). ESTOFAMENTO – Não utiliza espuma. O corpo é apoiado por uma malha de fios. ÁRVORES EXTRAEM OURO DO SOLO Os eucaliptos são capazes de alcançar jazidas de ouro e sugar parte desse metal, que vai parar nas suas folhas. A quantidade de ouro é bem pequena (seria preciso juntar as folhas de 500 árvores para fazer um anel). Mas os cientistas dizem que a técnica é muito útil pois permite descobrir se há ouro num lugar sem furar o chão, simplesmente analisando as árvores. SONHOS REVELAM DOENÇA MENTAL Ouvindo uma pessoa contar os próprios sonhos, é possível saber se ela tem esquizofrenia ou distúrbio bipolar. Isso acontece porque as descrições têm características típicas, como menor conexão entre as informações. A descoberta é de um estudo da Universidade Federal do Rio Grande do Norte. TELEVISÃO FAZ MAL ÀS CRIANÇAS Essa é a conclusão de uma pesquisa americana, que avaliou 107 crianças de até 5 anos de idade. As crianças que viam mais TV, ou que tinham um televisor no próprio quarto, tiveram a menor pontuação em um teste de inteligência. "PARECE FICÇÃO CIENTÍFICA" disse o advogado do americano David Eckert, parado pela polícia após avançar um sinal em Deming (Novo México). Os policiais acharam que Eckert escondia drogas - e o levaram para um hospital, onde foi submetido a dois raios-x e seis exames anais ao longo de 14 horas. Nada foi achado, e ele foi solto. 17 MILHÕES DE REAIS é quanto vale o disco rígido que o inglês James Howells jogou no lixo em Newport (País de Gales). O disco tem esse valor todo porque contém 7.500 bitcoins - moeda virtual que pode ser usada na internet. Howells afirma que jogou o disco fora porque esqueceu dos bitcoins. Ele foi ao lixão procurar o HD, mas não encontrou. Fontes: O Facilitation and restoration of cognitive funccion in primate prefrontal cortex by a neuroprosthesis. Robert E. Hampson e outros, Wake Forest University School of Medicine. Description of Tersicoccus phoenicis gen. nov., sp. nov. isolated from spacecraft assembly clean room environments. Parag Vaishampayan e outros, NASA. Natural gold particles in Eucalyptus leaves and theis relevance to exploration for buried gold deposits. Melvyn Lintern e outros, Universidade de Melbourne. Graph analysis of dream reports is especially informative about psychosis. Natalia Mota, Sidarta Ribeiro e outros, UFRN. The Relation Between Television Exposure and Theory of Mind Among Preschoolers, Amy I. Nathanson e outros. Universidade de Ohio. A COMIDA QUE É UM CASTIGO Balanceada, saudável, fácil de preparar. Mas com uma Característica terrível. — TEXTO / Marcos Ricardo dos Santos Fácil de preparar, barato e com todos os nutrientes de que você precisa. Parece tentador? Conheça o nufraloaf ("pão nutritivo", em inglês), alimento que é servido em prisões dos EUA e está causando polêmica por lá - porque não tem absolutamente gosto nenhum. A receita exata varia conforme o fornecedor, mas geralmente leva carne e/ou frango moídos, pão de trigo integral, queijo cheddar, cenoura, espinafre, feijão, batata, tomate, leite em pó e uva passa. Parece uma combinação aleatória, mas não é. Cada ingrediente foi cuidadosamente escolhido para anular o sabor dos demais. Segundo a empresa Aramark Correctional Services, uma das produtoras do pão, a meta é que o resultado final seja completamente "neutro". Ou seja, sem gosto. Isso porque ele é usado como castigo para detentos que tiveram mau comportamento - e aí passam um tempo comendo apenas o nutraloaf (dois por dia, cada um com 1.100 calorias). Mas os presos de sete Estados americanos decidiram processar o governo, alegando que isso é tortura. No Estado de Oregon, chegaram a vencer em primeira instância, mas o governo recorreu e ganhou. Em Illinois, onde um preso fez greve de fome, os detentos recorreram e conseguiram que o julgamento fosse reaberto. Críticos culinários provaram a gororoba e constataram que realmente não tem gosto. "Eu queria sentir qualquer sabor, até se fosse ruim", opinou o americano Jeff Ruby, da revista Chicago. Ele não conseguiu terminar - e ficou indisposto o resto do dia. 2#2 CIÊNCIA MALUCA TEXTO / Carol Castro super.abril.com.br/blogs/cienciamaluca CD AJUDA A LIMPAR ESGOTO Pesquisadores grudaram tiras microscópicas de óxido de zinco em cima de um CD comum. Botaram o disco para rodar e jogaram esgoto em cima. Uma hora depois, a água estava quase limpa: 95% das toxinas haviam sido removidas. É que o zinco quebra as moléculas orgânicas, como os poluentes, purificando a água. MÚSICA POP TURBINA ENERGIA SOLAR Cientistas construíram painéis de energia solar e ligaram um rádio ao lado. Quando ele tocava música pop, a eficiência das placas solares aumentava até 45%. Isso supostamente acontece porque as ondas sonoras fazem as placas vibrar, o que melhora a captação de energia. Mas só deu certo com pop; com música clássica, não. ANIMAIS URINAM EM 21 SEGUNDOS Todos os mamíferos, do rato ao elefante, levam em torno de 21 segundos para urinar. Essa é a conclusão de pesquisadores americanos, que filmaram vários tipos de animais. O tempo é sempre mais ou menos o mesmo porque nos animais grandes, que produzem mais xixi, a uretra é maior, e isso faz o líquido sair mais rápido. Uma coisa compensa a outra. Fontes: Spinning CDs to Clean Sewage Water. Din Ping Tsai e outros. Universidade Nacional de Taiwan. Acoustic Enhancement of Polymer/ZnO Nanorod Photovoltaic Device Performance. Safa Shoaee e outros. Universidade Queen Mary e Imperial College London. Law of Urination: all mammals empty their bladders over the same duration. Patricia Yang e outros. Georgia Institute of Technology. 2#3 SUPER NOVAS A FAVELA MAIS ALTA DO PLANETA Era para ser um prédio de escritórios supermoderno, com 45 andares. Mas acabou virando um enorme cortiço. TEXTO / João Vito Cinquepalmi Pegue um projeto megalomaníaco e, no meio das obras, decrete a falência do principal investidor. Foi assim que nasceu a Torre de David: um prédio em Caracas, capital da Venezuela, que se transformou na maior favela vertical do mundo. O edifício, com 45 andares, abriga hoje cerca de 1.500 pessoas, que invadiram o local depois que a obra foi interrompida. O prédio foi idealizado por David Brillembourg, um empresário que fez fortuna explorando petróleo, para ser o centro financeiro de Caracas. Mas, em 1993, David morreu, sua empresa quebrou, e a obra parou - com apenas 60% do prédio concluído. As famílias começaram a chegar em 2007 e não saíram mais. A invasão foi liderada por um grupo de ex-presidiários evangélicos. Seu diretor é Alexander "El Nino" Daza, que comanda uma equipe de seguranças e virou a autoridade máxima do prédio. Água e luz faltam com frequência. Mas o maior problema é que não há elevadores, algo crítico num prédio desse tamanho. Os primeiros dez andares, que foram projetados para servirem de estacionamento, podem ser subidos de mototáxi. Mas dali para cima, só mesmo usando as pernas. "Alguns moradores têm de vencer até 28 andares de escada para chegar em casa", conta o fotógrafo Alejandro Cegarra, que passou quatro meses registrando imagens na Torre. Os últimos andares não têm nem as paredes externas, e por isso não foram ocupados. O edifício tem padaria, cabeleireiro, açougue, bar e uma igreja, e cobra um condomínio mensal de 150 bolívares (R$ 55). O resto da cidade tem medo do prédio - onde a polícia costuma entrar para procurar fugitivos. Mas a fama de local perigoso é questionada por moradores e visitantes. "Ninguém nunca tentou fazer nada comigo lá", diz Cegarra. O BEBÊ DE TRÊS PAIS Inglaterra quer liberar técnica que combina DNA de um homem e duas mulheres; objetivo é evitar doenças genéticas. — TEXTO / Salvador Nogueira O sistema de saúde inglês pretende começar a oferecer este ano um procedimento que resulta na formação de bebês com DNA de três pessoas. Normalmente, uma criança recebe metade de seu material genético da mãe e metade do pai. Mas também há espaço para um terceiro participante. É que dentro das mitocôndrias, as estruturas que geram energia para alimentar nossas células, há outro tipo de DNA: o mitocondrial. Os cientistas acreditam que seja resíduo de uma antiga bactéria, incorporada por nossos ancestrais ao longo da evolução. Normalmente, você herda o DNA mitocondrial da sua mãe (pois herda as mitocôndrias que vêm dentro do óvulo). Mas esse código genético pode vir com defeito. Quando isso acontece, a pessoa desenvolve doenças sérias, como distrofia muscular e problemas cardíacos. Os ingleses tiveram uma ideia; implantar o embrião (que contém os genes da mamãe e do papai) no óvulo de outra mulher, que forneceria o DNA mitocondrial. O procedimento recebeu críticas de entidades religiosas e de políticos, que o consideram uma forma de eugenia. Também houve quem dissesse que o procedimento pode gerar crianças defeituosas. "É verdade", diz o microbiologista Alex Berezow, da Universidade de Washington. "Mas uma mãe que tem problema nas mitocôndrias pode muito bem querer aceitar o risco." Juridicamente, a mulher que forneceu o DNA mitocondrial não teria direitos sobre a criança. "É como os homens que doam espermatozoides", explica o advogado Luiz Felipe do Vale Tavares. COMO O MUDOU O MUNDO – TEXTO / Sílvia Lisboa No começo dos anos 90, cientistas ingleses que desenvolviam um remédio para hipertensão notaram algo curioso: os homens que tomavam a droga tinham mais ereções. Nascia o Viagra. Ele ampliou a vida sexual e afastou o fantasma da impotência (no Brasil, 45% dos homens têm disfunção erétil, segundo a USP). E também mexeu com outras coisas. Os chineses costumavam importar 20 mil focas e renas do Canadá por ano - porque acreditam que comer seus órgãos aumenta a potência sexual. Com o surgimento do remédio, o número caiu para zero. O Viagra salvou animais. E também salvou gente. Muitos dos 37 milhões de homens que foram ao médico pedir Viagra descobriu que era hipertensa, cardíaca ou tinha outra doença crônica que pode passar a prevenir. Além disso, o Viagra reduz os efeitos colaterais da quimioterapia, ajuda fetos prematuros a respirar e combate o câncer de próstata. Mas, como nada é perfeito, ele também destruiu casamentos (os divórcios entre idosos cresceram 37% nos EUA) e pode ter ajudado a espalhar aids - triplicou o número de casos entre mulheres acima de 50 anos, possivelmente porque seus maridos passaram a fazer mais sexo fora do casamento. 2#4 BANCO DE DADOS – ONGs A ONU criou o termo nos anos 50. Desde então, elas se diversificaram, enfrentaram problemas no mundo e defenderam animais fofos - e horrendos. INFOGRÁFICO / Giselle Hirata, Paula Bustamante e Felipe van Deursen NO BRASIL Crescimento das organizações desacelerou nos últimos anos. 290,7 mil entidades 2005: 22,6% 2010: 8,8% OS TIPOS 1- O RELIGIÃO 28,5% (82.853 instituições) 2- ASSOCIAÇÕES PATRONAIS E PROFISSIONAIS 15,5% (44.939 instituições) 3- DESENVOLVIMENTO E DEFESA DE DIREITOS 14,6% (42.463 instituições) 4- CULTURA E RECREAÇÃO 12,7% (36.921 instituições) 5- ASSISTÊNCIA SOCIAL 10,5% (30.414 instituições) 6- EDUCAÇÃO E PESQUISA 6,1% (17.664 instituições) 7- SAÚDE 2,1% (6.029 instituições) 8- MEIO AMBIENTE E PROTEÇÃO ANIMAL 0,8% (2.242instituições) 9- HABITAÇÃO 0,1% (292 instituições) 10- OUTRAS INSTITUIÇÕES SEM FINS LUCRATIVOS 9,1% (26.875 instituições) REGIÕES 4,9% estão no Norte: Dificuldade de financiamento explica a baixa presença nas regiões mais pobres. 44,2% estão no Sudeste: São Paulo concentra a maior parte, com 59.586 instituições cadastradas (20,5% do total) GRANA R$ 3,7 bilhões é o que o governo brasileiro destinou a entidades sem fins lucrativos em 2013. ASSALARIADOS 2,1 milhões de pessoas. 1 em cada 3 possui nível superior completo. TOP Três ONGs brasileiras figuraram entre as 100 melhores do mundo em 2012 em um ranking que considera inovação, impacto, eficiência, estratégia, gerenciamento de finanças, transparência, sustentabilidade e reconhecimento. 38ª SAÚDE CRIANÇA 48ª VIVA RIO 55ª CENTER FOR DIGITAL INCLUSION 1º WIKIMEDIA FOUNDATION – Luta pela liberdade de informação. CELEBRIDADES CARIDOSAS US$ 1,9 BILHÃO - BILL GATES US$ 1,8 BILHÃO - WARREN BUFFETT US$ 519 MILHÕES - MARK ZUCKERBERG US$ 6,8 MILHÕES - MEL GIBSON US$ 4,2 MILHÕES - GEORGE LUCAS AÇÕES INUSITADAS FUCK FOR THE FOREST - Produz filmes e fotos pornôs em troca de doações a projetos ambientais. UGLY ANIMALS PRESERVATION SOCIETY - Luta pelos animais mais feios do mundo. Afinal, os pandas já têm muita atenção. TERRA DOS HOMENS - Criou uma menina de 10 anos virtual e conseguiu identificar mais de mil pedófilos. LITTLE BABY FACE FOUNDATION - Pagou a cirurgia de uma menina de 14 anos apelidada de Dumbo (por ter orelhas de abano). A ONG afirmou que só bancou a operação porque a menina tinha graves deformações - e não porque sofria bullying. WOMAN ON WAVES - Indicou um remédio para úlcera como abortivo no Facebook. VOLUNTÁRIOS 19,7 milhões A maior parte do trabalho dedicada a instituições religiosas: 58% Homens 37,1% Mulheres 62,9% 25% da população brasileira diz que faz ou já fez serviço voluntário. IDADE 39,1 anos é a idade média do voluntário. 18 a 24 anos 16% 25 a 29 anos 12% 30 a 39 anos 22% 40 a 49 anos 19% 50 a 59 anos 14% 60 a 69 anos 8% + 70 anos 5% 67% dos que fazem serviço voluntário têm trabalho fixo. 4h36 horas/mês é o tempo dedicado ao voluntariado. 72,2% das ONGs (210 mil) não possuem empregados formalizados. São mantidas por trabalho voluntário ou serviços autônomos. ESCOLARIDADE 20% Superior Completo 38% Médio Completo/Superior Incompleto 16% Fundamental Completo/Médio Incompleto 18% 4ª a 7ª série do Fundamental 8% Analfabeto/Até 3ª série do Fundamental Fontes: instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE); IBOPE – Projeto Voluntariado Brasil 2011; Contas Abertas; Forbes; fuckfortheforest.com; The Global Journal. 2#5 PAPO – O BRASILEIRO MAIS FAMOSO DA DISNEY Esqueça Zé Carioca, conheça Adriano Bastos. Octacampeão da Maratona da Disney world, ele é celebridade nos parques da Flórida. Em janeiro, busca a nona vitória - e a 13ª tatuagem do Mickey. — TEXTO / Taísa Szabatura Como essa história começou? Em 2003, a rede de supermercados que me patrocina me levou. Nunca tinha ido lá antes disso. Depois de estrear vencendo, comecei a ir todo ano convidado da própria Disney. Venci mais oito vezes: de 2005 a 2010 e em 2013. Qual o segredo para vencer tantas vezes? Um segredo é chegar perto da data e não se habituar ao fuso local. Como os parques abrem às 9h, a prova inicia às 5h30 - mas minha sensação é de que começou às 8h30. É uma vantagem diante dos americanos, que correm com sono. Os parques ficam fechados durante a prova? Ficam abertos, mas sem brinquedo funcionando. Tem corredor mais lento que estoura o prazo e interrompe a corrida para andar de montanha-russa, é engraçado de se ver. É um público diferente? A prova acontece nas rodovias que interligam os parques e também dentro deles. Então você encontra de tudo: cheerleaders, bandas e personagens espalhados no trajeto. É uma motivação absurda. Você interage com os personagens enquanto corre? Claro. Mesmo liderando a prova, com o batedor do lado, quando aparece um dos personagens estendendo a mão para eu bater, eu bato. Acho que não atrapalha e ajuda a tirar a tensão. Você tem um trecho favorito? No Magic Kingdom. É onde há a maior concentração de gente esperando, com torcida pesada e histeria. Qual a importância da Maratona da Disney no circuito internacional? Tem maratonistas profissionais, mas não no nível de Nova York ou Paris. Essas maratonas possuem prêmios altíssimos. Na Disney, o vencedor ganha outra viagem à Disney - para ele e um acompanhante. Mas é nessa prova em que encontro competidores do meu nível. Na Olimpíada, eu seria apenas mais um, terminando em vigésimo lugar. E, na Disney, você é especial. Ganhei oito de 20 edições. Depois de mim, tem só dois ou três bicampeões. [São dois: os brasileiros Santiago de Araújo (98-99) e Fredison Costa (11-12)] Quando venci pela terceira vez, quis fazer algo que fosse uma marca registrada. Atualmente, tenho 12 tatuagens do Mickey pelo corpo - oito só para as vitórias. A pessoa bate o olho e sabe que é o Adriano Bastos que está vindo. Além do Mickey, você tem um personagem favorito? Acho que o Pateta. Me identifico com ele. Um pouco atrapalhado e brincalhão. 2#6 IDEIA VISUAL – POSE PARA O PODER A psicóloga americana Amy Cuddy descobriu que a postura corporal define a maneira como os outros enxergam você e até a forma como você pensa sobre si mesmo. Fazer pose de poderoso deixa a pessoa mais poderosa. É o que ela afirma em sua palestra do TED. – Karin Hueck e Rafael Quick. Em colaboração com TED ASSISTA AO VÍDEO DA PALESTRA http://abr.ai/pose-poder COMO AS PESSOAS O VEEM X COMO VOCÊ SE ENXERGA "Mude a sua postura por apenas dois minutos. Se você fizer isso só um pouquinho, poderá também mudar a maneira como a sua vida vai se desenrolar. NÃO SE ENCOLHA - Cabeça baixa, mãos nos bolsos ou na nuca: essas posturas retraídas são entendidas pelos outros como se você não estivesse à vontade ou seguro de si. FORTALECIDO - As poses de poder são as que fazem você parecer grande e ocupar muito espaço. Quando alguém as faz, parece mais fortalecido, e quem está ao redor se encolhe, como a pessoa à esquerda. VICE-VERSA - Se você fizer as poses de poder por tempo suficiente, seu cérebro vai começar a acreditar que você é mesmo mais poderoso. FINJA E FAÇA - Ou seja, mesmo que você não se sinta mais poderoso imediatamente, faça as poses. Aos poucos, sua percepção de si vai mudar - para melhor. 2#7 MATRIZ – NOVOS PAÍSES Algumas das bandeiras abaixo perigam estrear nas próximas Olimpíadas. Veja a quantas andam os movimentos separatistas pelo mundo. INFOGRÁFICO / Emiliano Urbim e Ricardo Davino RIO GRANDE DO SUL - Um país no Pampa não é factível. Desculpem. (América) AREQUIPA - Progresso do Peru sufocou o movimento. (América) QUEBEC - Separação do "Canadá Francês" já foi derrotada nas urnas. (América) TIBETE - O mundo que esperneie: a China exporta tudo, menos território. (Ásia) SANTA CRUZ - Região boliviana rica em gás tem autonomia. Quer mais. (América) AZAWAD - O norte do Mali se separou, mas negociou sua volta. (África) GROENLÂNDIA - Só não é independente da Dinamarca por detalhes. (América) CATALUNHA - Separação movida a manifestações nas ruas de Barcelona. (Europa) PAÍS BASCO - Crise espanhola turbina o sonho dessa região rica. (Europa) ESCÓCIA - Referendo em setembro: se não der independência, dá mais autonomia. (Europa) CHIAPAS - Zapatistas dividem o poder com governo mexicano. (América) ZANZIBAR - Ilhas já semiautônomas da Tanzânia rumo à secessão. (África) CRIMEIA - Península pró-Rússia na Ucrânia pró-Europa. Um impasse. (Europa) SAHARA OCIDENTAL - Na prática, não é Marrocos. Mas ninguém reconhece o país. (África) MOLUCAS DO SUL - Arquipélago fortemente reprimido pelo governo da Indonésia. (Oceania) CABINDA - Lá está o petróleo de Angola - e também as tropas do governo. (África) NAGORNO-KARABAKH - Enclave armênio dentro do Azerbaijão ainda inspira cuidados. (Europa) CHECHÊNIA - Movimento forte, brutalmente sufocado por Moscou.(Europa) TRANSNÍSTRIA - Tripa rebelde quer pular fora da já pequenina Moldova. (Europa) ABKHAZIA - Praticamente fora da Geórgia, tem apoio da Rússia. (Europa) CURDISTÃO - Espalhado por Turquia, Iraque, Irã e Síria, tem apoio dos EUA. (Ásia) DARFUR - Inspirado no Sudão do Sul, briga para deixar o Sudão. (África) OGADEN - Dominado por milícias pró-independência da Etiópia. (África) SOMALILAND - Luta para se separar da Somália, que considera "país de piratas”. (África) 2#8 COORDENADAS – A PRAGA QUE FICOU NA IDADE MÉDIA Kutná Hora, Boêmia Central, República Tcheca. Rica em prata no passado, foi devastada por tragédias. Hoje é um resquício do apogeu tcheco. — TEXTO / Felipe van Deursen Kutná Hora cresceu graças a suas grandes minas de prata em uma época anterior às colônias da América. Com isso, estima-se que 1/3 da prata da Europa saía da cidade. O metal enriqueceu o antigo reino da Boêmia até o século 15, período em que a maioria dos prédios históricos da capital, Praga, foi construída. Assim, as minas ajudaram a forjar uma das mais lindas cidades do mundo - mas ela não reinava sozinha. Por três séculos, Kutná Hora foi uma rival à altura em importância cultural e econômica. Isso até os tempos de bonança acabarem, no século 16. A Boêmia foi anexada à poderosa Áustria, que reprimiu revoltas. A maior mina de prata foi destruída em uma inundação. Por fim, a peste, a Guerra dos Trinta Anos e um incêndio em 1770 acabaram com a cidade. Pobre e largada, ela nunca voltou a ser o que era. Hoje na lista dos patrimônios da Unesco, Kutná Hora tem uma atmosfera sinistra: no outono, é possível andar pelas ruas sem cruzar com ninguém. E o que mais atrai visitantes à cidade, dominada pelo cheiro de tabaco de uma fábrica da Philip Morris, não é a catedral de Santa Bárbara e suas três torres em formato de lona de circo, mas o Ossuário de Sedlec. Nos tempos barra-pesada, morreu tanta gente que o cemitério não deu conta e o ossuário acumulou milhares de ossadas, largadas. Até que em 1870 um artesão decidiu fazer esculturas com os ossos. A atração reforça o clima lúgubre daqui. Dá frio na espinha. Sem multidões, sem vida cultural intensa, 500 anos de decadência pairam no ar numa beleza melancólica. É a cidade que poderia ser Praga. Mas não foi. VÁ – Trens e ônibus cobrem diariamente a distância de 70 km de Praga. É comum fazer bate-e-volta, mas, se você tiver tempo, passe a noite na cidade. QUANDO - Na melhor época para ir a Praga: longe da muvuca do verão e do frio do inverno. goo.gl/maps/8ykot ESTE MÊS, NESTE PLANETA ILHA FLINDERS 39,97° S 148,05° L Praias belas e desertas no infernal verão australiano. Ano passado, o país bateu recordes históricos de calor, com vários dias na casa dos 40 °C. CACIMBA DO PADRE 03,85° S 32,43° Ao lado da Ilha Dois Irmãos, essa praia em Fernando de Noronha fica ideal para o surfe, com algumas das melhores ondas do Brasil. UM MOMENTO 04/01 15H30 Cerimônia de início do Rally Dakar, que em 2014 passará por Argentina, Bolívia e Chile. 8.000 CAMPUSEIROS acamparão na Campus Party, em São Paulo, para ver Bruce Dickinson falar de inovação e aviação - sem show do Iron Maiden. QUE LUGAR É ESSE 1. Estará na Copa do Mundo. 2. PaÍs majoritariamente muçulmano. 3. Conquistou a independência em 1962 Resposta: Argélia. Ex-colônia francesa, sua população é 97,9% muçulmana. Disputará a Copa pela quarta vez e estará no grupo H, com Bélgica, Rússia e Coreia do Sul. 2#9 ORÁCULO BEIJO COM SABOR DE MOLHO TÁRTARO Gêngis Khan e Napoleão Bonaparte vão estar destruindo seu carro e roubando seu cavalo de cor branca se o senhor for estar insistindo em falar no gerúndio em pleno 2014. SENSUALIZANDO Gatíssimo coroa Oráculo, quando os casais começaram a se beijar de língua? - Abda Suzannu, Paulista. PE Já que beijo não deixa fóssil, é difícil de definir com exatidão. No livro História Íntima do Beijo, a pesquisadora Julie Enfield diz que as primeiras referências ao gesto são esculturas no templo Khajuraho, na Índia, de 2.500 a.C. . Mas o beijo na boca seria muito mais antigo - só que sem a pegada romântica. Nossos ancestrais mastigavam alimentos para os filhos pequenos, e as mães costumavam colocar a comida mastigada diretamente na boca da criança. A prática evoluiu e mudou - na Roma antiga, já havia o beijo de língua como conhecemos. Agora explique-se, #gatíssimo e #coroa são avaliações do Oráculo no Lulu? TRADUZINDO Por que a tradução de Guilherme é William? – Guilherme Alencar, Agudos, SP Porque assim como pessoas, produtos e comidas, palavras gringas também se adaptam em um país estrangeiro. Segundo Lincoln Fernandes, professor de Língua e Literatura Estrangeiras da UFSC, Guilherme e outros nomes de reis chegaram ao Brasil com tradução indireta do francês (o francês era o inglês do mundo até pouco antes da Segunda Guerra. Todo mundo esperto tinha de saber). "Guilherme foi criado a partir do nome em francês (Guillaume) e não do inglês (William)", diz. E ambos vieram do germânico Willahelm. Um abraço, William. TEMPERANDO Por que o molho tártaro tem esse nome? Há alguma relação com a mitologia grega? - Thati Castro, Presidente Epitácio, SP Indiretamente, sim, explica Elisa Battisti, professora de Linguística da UFRGS. Tártaro, o temido abismo obscuro da mitologia grega, também virou termo para designar os mongóis, que, liderados por Gêngis Khan, tocaram o terror na Ásia até chegar à Europa no século 13, criando um dos maiores impérios da história. Os soldados tártaros comiam carne crua temperada com um molho à base de legumes e ervas, que acabou fazendo sucesso no Ocidente. Esse molho evoluiu na culinária francesa do século 19, expandindo-se de lá para outros lugares, como o seu peixinho frito aí na praia. ESTOURANDO Por que estourar plástico bolha é tão bom? – Airton Renan, Belém, PA Os estímulos táteis repetitivos - em que podemos incluir o plástico bolha - de fato ajudam a controlar a irritação. Segundo o psiquiatra do Hospital de Clínicas de Porto Alegre Lucas Lovato, isso aciona as áreas do cérebro ligadas a gratificação, alívio e conforto. "Estourar plástico bolha pode até reduzir sentimentos negativos", diz Lovato. A fabricante Sealed Air Corporation realizou uma pesquisa com 1.191 pessoas. O levantamento revelou que um minuto estourando plástico bolha é o equivalente a 33 minutos de massagem. Pode ser exagero. Mas plástico bolha é tão bom que merecia até uma festa. DESCABELANDO É verdade que homens circuncidados sentem bem menos prazer nas relações sexuais? Realmente as chances de DST são bem menores? - Eliezer Campos, Iporá, GO A circuncisão - remoção do prepúcio, a prega de tecido que cobre a glande - não interfere no prazer do homem. Isso é mito, segundo estudos a respeito. Sobre as doenças, Walter Koff, professor de urologia do Hospital de Clínicas de Porto Alegre, diz que as chances realmente são menores. Um estudo realizado na universidade americana Johns Hopkins acompanhou 3,5 mil homens sexualmente ativos em Uganda e constatou que a circuncisão diminuiu o risco de contrair HIV e outras DSTs. Isso ocorre porque o prepúcio dificulta a higiene do pênis, atraindo infecções. Se você tem prepúcio, limpe direito esse treco. QUER QUE DESENHE? De onde sai o som da buzina dos veículos? - Daniel Diniz. Astolfo Dutra, MG 1- O local mais comum é atrás da grade dianteira do carro, entre o para-choque e o radiador. 2- Na área ocupada pelo motor há um vão, que serve de lugar alternativo para a buzina. 3- Outro lugar é perto do para-lama dianteiro. O que importa é a buzina ficar na frente para assustar o pedestre. PÁ PUM Por onde anda o cometa Hafley? E como ele está? Mande lembranças a ele, por favor. - Danniel Olímpio, Montes Claros, MG Em novembro de 2013, ele estava a cerca de 4.996.000.000 km da Terra, próximo à cabeça da Constelação de Hidra. Ele voltará a ficar próximo de Montes Claros em 2061. Vamos aguardar. NÚMERO INCRÍVEL 60% - Queda de risco de aids em circuncidados. OUTRO DADO RELEVANTE SEM NENHUMA LIGAÇÃO 60% das vagas em empresas de tecnologia nos EUA foram para mulheres em 2013. Fonte: Escritório de Estatísticas do Trabalho dos EUA. GUERREANDO Por que a Suécia não participou da Santa Aliança? – Guilherme Guimarães, Coité, BA Porque ela não tinha essa bola toda. A Santa Aliança foi criada em 1815 para juntar a turma que derrubou Napoleão e seus arroubos napoleônicos de conquistar toda a Europa. Áustria, Prússia e Rússia se reuniram no famosérrimo Congresso de Viena para resolver questões como a volta ao poder de reis e a recuperação de territórios perdidos nas guerras com Bonaparte. A Suécia era favorável a esse sistema, mas não era uma grande potência e não tinha muita influência. Já o Reino Unido, o outro vencedor que estava em Viena, quis ficar de fora da aliança. PERGUNTE AO ORÁCULO! Escreva para superleitor@abril.com.br com o assunto "Oráculo" e mencione sua cidade e Estado. 2#10 CONEXÕES – DE ARRUDA A GEISY ARRUDA TEXTO / Giselle Hirata ARRUDA - Planta com aplicação na medicina e gastronomia, famosa por ser usada contra mau olhado. Por volta de 1600, virou a "erva sagrada dos domingos": misturada ao vinho, era servida em sessões de exorcismo. Isso está em uma cena de uma famosa tragédia de Shakespeare... HAMLET - Peça mais longa do poeta e dramaturgo inglês, conta a história do príncipe dinamarquês Hamlet, que tenta vingar o pai, morto por seu tio, Cláudio. A obra retrata dilemas éticos e morais e já ganhou várias versões. No Brasil, o controverso personagem do "ser ou não ser" já foi interpretado por... WAGNER MOURA - Eterno Capitão Nascimento, é dos poucos atores brasileiros reconhecidos em Hollywood. Em 2013, atuou em Elysium ao lado de Matt Damon e Jodie Foster. Além de estrelar filmes e peças, o ator faz novelas e participa de curtas-metragens, como o sucesso do Youtube... ÓPERA DO MALLANDRO - Lançada em, 2008, é uma paródia da Ópera do Malandro, de Chico Buarque. Na versão clássica, a trama se passa nos anos 40, no Rio. Já a paródia é uma homenagem ao humorista Sérgio Mallandro. Famoso nos anos 80, ele andou sumido até 2010, quando participou de A Fazenda 3, assim como... GEISY ARRUDA - Estudante alçada à polêmica internacional ao virar motivo de chacota na faculdade por causa de um vestido curto. Usou a fama e virou celebridade profissional. Participou de programas da TV e clipes, estampou revistas e lançou uma grife. Arruda afastou o olho gordo - sem precisar de arruda. 2#11 ESSENCIAL – UMA NOVA REVOLUÇÃO SEXUAL A onda de aplicativos para encontrar parceiros é mais do que uma brincadeira: está mudando a forma como as pessoas se relacionam. TEXTO Alexandre Versignassi e Pedro Burgos [Pedro Burgos, jornalista, é autor de Conecte-se ao que Importa - Um Manual da Vida Digital Saudável (editora Leya).] Se um economista fosse analisar o mercado das conquistas amorosas, concluiria que ele é mais ineficiente que as empresas do Eike Batista. O que não falta são dificuldades operacionais, custos insanos e riscos desmedidos. Ir para uma balada, por exemplo: sai caro, demanda tempo e, pelo menos para os homens, ainda tem o fator Rocky Balboa. "Não importa quantos socos você consegue dar, mas quantos você consegue tomar", diz Rocky. Na noite funciona igual; suportar uma sequência de foras e manter a fleuma é fogo. Coisa para campeões. Mas esse jogo está mudando, graças a aplicativos que deixam a operação de conquista mais enxuta. O primeiro desses apps amplificadores de eficiência é exclusivo dos gays: o Grindr. Ele chegou em 2009 à App Store com uma premissa simples: mostrar para os gays onde estavam os outros gays, por GPS. Um cadastrado do Grindr saca o smartphone e consegue ver quantos outros usuários do app estão nas proximidades - a 200, 100, 10 metros de distância. Aí é só dar uma olhada na foto e, se for o caso, começar uma conversa com o sujeito. Então veio o Tinder, uma espécie de Grindr para héteros. Ele surgiu em 2012 e agora está no auge. A simplicidade é o trunfo ali também. Se a sua avó visse a interface da coisa, iria achar que se trata de um jogo de cartas com polaroids no lugar do baralho. Você entra no app e seleciona o perfil das pessoas com quem quer "jogar". Imagine que você é um homem de 30 anos, e que escolhe jogar com mulheres de 25 a 35. Nisso, o app mostra a foto de alguma mulher dessa faixa etária cadastrada ali. Se você gostou, dá um like. E vem outra foto. Se não gostou, dispensa. E vem outra foto... Bom, lá do outro lado, alguma mulher selecionou ver homens de 25 a 35 anos. E ela pode ter dado um like em você. Se você também deu um nela, parabéns: o Tinder avisa que houve um match ali, que vocês se gostaram. E abre uma espécie de WhatsApp para a conversa começar. Não fica nisso. O app dá preferência para mostrar gente que esteja geograficamente perto de você, o que facilita a transformação do encontro virtual num de verdade. Na prática, cinco minutos de Tinder acabam valendo por cinco horas de balada - um ganho de eficiência comparável ao da Revolução Industrial. E com um extra: você não sente quando toma um fora. Se der like em alguém e não receber um de volta, pode se confortar com a ilusão de que o outro não viu sua foto lá no meio. Não que tudo isso seja 100% novo. A internet sempre esteve associada à conquista. Desde as priscas eras do chat do UOL. Mas a coisa estava longe do ideal: era tudo caótico, com todo mundo falando com todo mundo. E se você conseguisse conversar "em privado" com alguém, era preciso um bocado de fé para acreditar que o ser humano que se identificava como "gatinhamanhosa" era de fato gatinha, ou manhosa, ou mulher. As paqueras de salas de chat, enfim, eram bem menos eficientes que as caçadas a esmo na balada. Para resolver isso, em pouco tempo apareceram os sites dedicados especificamente à conquista, com softwares que ajudavam a selecionar pares. Vieram o OkCupid, o Match.com, o Parperfeito... Hoje há pelo menos 8 mil serviços desse tipo pelo mundo – apesar de apenas 1%... sobreviver depois de um ano. Como a concorrência é grande, alguns sites foram se especializando, e há hoje serviços dedicados a serem o cupido de pessoas que não querem alguém fora de seus grupos religiosos, de gente com a mesma deficiência física ou fãs da Apple - ou até pessoas que têm herpes. Seja como for, para a grande maioria dos sites-cupido funcionar direito, você precisa fornecer um bocado de informações: só o OKCupid tem mais de duas centenas de perguntas em formulários. Muita burocracia. A graça do Tinder é justamente driblar tudo isso. E usando tecnologias que não foram criadas para facilitar conquistas amorosas. O GPS começou como um sistema militar na década de 1970. Depois migrou para o mundo civil, até se tornar onipresente. E agora permite que solteiros encontrem outros solteiros no mesmo bairro. Com os smartphones é parecido. Eles nasceram para levar o poder de computação de um PC para o bolso. E agora esse poder ajuda a selecionar parceiros - à velocidade da luz. Mais: quem verifica a identidade das "gatinhasmanhosas" de hoje, com alguma segurança, é o Facebook, que surgiu para... Não. Mark Zuckerberg criou sua rede justamente como uma brincadeira sexual. Foi em 2003, quando estudava em Harvard e desenvolveu o avô do Face de hoje, o Facemash. O programa colocava na tela duas fotos de meninas da universidade, uma ao lado da outra, e os estudantes votavam em qual era a mais bonita. Aí vinha outro par de fotos. E mais outro... Tosco. Mas ainda assim parecido com o que o Tinder faz hoje. Certas coisas nunca mudam... Só ficam mais eficientes. O perigo é que a coisa esteja ficando eficiente demais. O jogo tradicional da conquista também serve para que os parceiros em potencial mostrem suas habilidades numa situação adversa - como o ambiente competitivo de uma balada, ou do campus da faculdade, ou do trabalho. Sem esse elemento, encontrar a pessoa certa para algo maior do que um relacionamento casual talvez fique é mais difícil. E isso não tem nada de eficiente. 3# REPORTAGENS janeiro 2014 3#1 CAPA – GUIA PRÁTICO DA CRIATIVIDADE 3#2 MÚSICA – SOM BRASIL 3#3 HISTÓRIA – ERA DE OURO DOS SEQUESTROS DE AVIÃO 3#4 ECONOMIA – PERUCA S/A 3#5 CIÊNCIA – O BIG BROTHER DA DENGUE 3#6 CULTURA – A RÚSSIA CONTRA A ARTE 3#7 TECNOLOGIA – O ÚLTIMO PROJETO DE JOBS 3#8 SAÚDE – VÁ PASTAR 3#9 ZOOM – COLEÇÃO PRIMAVERA VERÃO RETRÔ 3#1 CAPA – GUIA PRÁTICO DA CRIATIVIDADE Dica 1: você não vai ficar mais criativo da noite para o dia. Dica 2: grandes mentes pensantes têm hábitos em comum. Copie! Dica 3: a ciência explica como a criatividade funciona. Entenda, adapte e aplique na sua vida. REPORTAGEM / Carol Castro EDIÇÃO / Felipe van Deursen Comece o dia com uma corrida curta, de três a cinco quilômetros. Tome banho, leia e vá para o trabalho. Se possível, caminhando, com música clássica preenchendo os fones de ouvido. Tome um café com meia colher de chá de açúcar, no máximo. Sente-se corretamente em sua cadeira. Pense no problema proposto pelo chefe, mas não daquele jeito de sempre: pense diferente. Dê liberdade ao seu cérebro. Não faça da sua refeição um lanchinho rápido em frente ao computador. Vá ao restaurante mais próximo e desfrute sua hora de almoço. Quando voltar ao escritório, bagunce a mesa: a ciência já provou que ambientes zoneados estimulam a criatividade. Tome mais uma xícara de café. Ao sair do trabalho, faça ioga. Durma oito horas diariamente. E nunca trabalhe aos finais de semana. Siga isso à risca e garantimos dias mais criativos ou seu dinheiro de volta. Só que não. Não é bem assim. As dicas acima, alardeadas em palestras e livros de gurus da criatividade, podem funcionar incrivelmente bem para mim, mas não para você. Criatividade vai muito além de café, ioga, bagunça, música erudita e conceitos abstratos e batidos como "pense fora da caixa". Ela não é a mesma coisa para um advogado, músico, engenheiro ou grafiteiro: ser criativo funciona de maneira diferente para cada um. Não há receita pronta nem passo a passo perfeito. Ninguém vira gênio de uma hora para outra e nenhum gênio tem ideias brilhantes todo santo dia. Mas há muitos pontos em comum no comportamento de grandes mentes criativas, não importa a área, não importa quando viveram. E há explicações científicas para o funcionamento desses cérebros que parecem fontes inesgotáveis de ideias. É isso que vamos ver nas próximas páginas. 1. CULTURA INÚTIL É ÚTIL Memorizar os nomes dos personagens de Game of Thrones ou saber de cor todas as letras de axé não ajudará ninguém a passar no exame da OAB ou a conseguir emprego em uma multinacional. Mas pode ser o princípio do caminho até uma boa ideia. Seu cérebro vasculha dados na memória e cria associações entre eles. Quanto mais dados, mais chances de surgirem conexões inusitadas e ideias criativas. Cada novo conhecimento é como um ingrediente extra. Com mais opções, dá para criar mais receitas novas. Devorar cultura agrega valor ao banco de dados do cérebro e aumenta as chances de recombinações criativas. Fã de documentários sobre a Segunda Guerra e produtor de aclamadas séries a respeito, o cineasta Steven Spielberg inspirou-se na debandada francesa após a invasão nazista para criar a cena da fuga dos americanos com a chegada dos alienígenas em Guerra dos Mundos. "Imagine a mente de Spielberg. O conceito 'invasão alienígena' cruza com 'invasão nazista' e pronto", escreveu Fábio Zugman no livro O Mito da Criatividade. Referência ajuda. Quando vira inspiração, então, faz muito mais. O caminhoneiro James Francis Cameron ficou encantado com histórias de espaço ao ver Guerra nas Estrelas. Decidiu que não queria mais esperar filmes assim sentado na poltrona. Ele queria fazer os seus próprios. Assim, deu ao mundo O Exterminador do Futuro, em 1984. Já o Black Sabbath seria apenas mais uma banda desprezível de blues em uma cidadezinha inglesa se seus integrantes não tivessem se inspirado em filmes de terror para mudar de estilo e, assim, criar o heavy metal. 2. X + Y = EUREKA! Quando você pensa em vídeos online, pensa em sites específicos ou redes sociais, certo? Mas, há cerca de dez anos, a internet era bem diferente. Associávamos compartilhamento de vídeos ao único recurso disponível na época: e-mail. Por isso, quando você pensava em mostrar aos amigos um viral daqueles tempos, a melhor ideia era anexar o arquivo em um e-mail e enviar. Pensou em vídeo, pensou e-mail, eis a conexão. É assim que o cérebro funciona. Ou usa as associações já existentes ou cria novas - e é daqui que surgem produtos criativos. Chad Hurley e Steve Chen se cansaram de contar com a lentidão do e-mail. Na cabeça deles surgiu outra conexão: por que não criar um site de vídeos, sem a necessidade de baixar para assistir? Assim nasceu o YouTube, em 2005. O site revolucionou a vida digital e logo virou um negócio bilionário: em 2006, o Google o comprou por US$ 1,65 bilhão. Ter ideias é juntar pontos. Copérnico mudou o mundo ao associar o Sol ao centro do Universo, e não a Terra. Mas ninguém é criativo sozinho. Grandes cabeças são obras do contexto em que vivem. Segundo o psicólogo húngaro Mihaly Csikszentmihalyi, uma ideia só nasce se três partes colaborarem: indivíduo (se domina o assunto), sociedade (com repressão, as ideias podem demorar a ser incentivadas) e campo social (quais conhecimentos sobre isso já estão disponíveis). Ou seja, o mundo precisa colaborar. Hurley e Chen trabalhavam em um site de pagamentos online, logo conheciam o mundo digital. A internet nos anos 00 era mais rápida que nos anos 90 e já tinha condições de suportar vídeos online. Se vivessem em outro contexto, como na Palmas de hoje, eles teriam outras ideias. Na capital do Tocantins, o estudante Wesley de Souza, 24 anos, construiu um protótipo de escavadeira com madeira e plástico. Ele já trabalhava com empilhadeira e se interessava por máquinas pesadas, o que direcionou sua ideia, exibida num vídeo de sucesso no YouTube de Hurley e Chen. Wesley já foi até sondado para vender o protótipo nos EUA, como ele disse à SUPER. Outros interesses, outras necessidades. 3. ESTUDE DE TUDO Buscar referências também se aplica ao que você pode estudar. Não se prender a cursos que tenham a ver com o trabalho ajuda a aumentar a variedade de associações que geram ideias criativas. Aos 17 anos, quando não sabia o que queria da vida, Steve Jobs largou a faculdade que os pais pagavam a duras penas. Matriculou-se apenas em cursos que lhe interessavam, como caligrafia. O aprendizado só foi aplicado bem depois, ao fundar a Apple. "Sem o curso, o Mac não teria múltiplas fontes. E, como o Windows é uma cópia do Mac, talvez nenhum computador viesse a oferecê-las, não fosse por aquele curso. Claro que conectar os pontos era impossível na época da faculdade. Mas em retrospecto, dez anos depois, tudo ficou claro", contou Jobs em seu famoso discurso aos formandos da Universidade Stanford, nos EUA, em 2005. Se não existe cultura inútil, qualquer hobby pode ser de grande valia. "O Gabriele Veneziano, um dos pioneiros da teoria das cordas, tocava violino. O cara pega uma coisa e aplica na outra: isso é criatividade", diz Zugman. 4. A ROTINA É ADORÁVEL (E O SILÊNCIO TAMBÉM) Seu cérebro trabalha como um louco. E se cansa. Exaurido, as chances de pensar num caminho alternativo, em vez de seguir pelo conhecido, diminuem. Qualquer economia de energia pode favorecer a criatividade. É por isso que muitos artistas criam hábitos quase religiosos. Twyla Harp, coreógrafa e bailarina americana, acorda todo dia às 5h30, veste roupa de ginástica e pega um táxi até a academia. Quando entra no carro, sente que o dia começou. Por ser um ritual, não há espaço para questionar se vai mesmo se levantar a tal hora para fazer exercícios. O corpo levanta e vai. "É assim que você elimina pequenas decisões que fazem gastar energia sem necessidade. Isso ajuda a ter uma vida mais criativa", diz Todd Henry, autor do livro recém-lançado Criativo por Acaso. Nesse piloto automático, as escolhas já estão feitas, então o cérebro ganha energia para brilhar em ideias incríveis. Muitos escritores seguem rotinas rígidas. O britânico Charles Dickens acordava às 7h, tomava café às 8h e, das 9h às 14h, dedicava-se ao trabalho. Parava para almoçar e depois caminhava por três horas nas ruas de Londres. Jantava às 18h e ficava com a família ou amigos até dormir, à meia-noite. Seguindo esse sistema metódico, escrevia normalmente 2 mil palavras por dia (cerca de 1/3 desta reportagem). Muito dessa rotina pode ser criada tendo outro objetivo em mente: ficar sozinho. Uma grande ideia começa a ser fabricada na solidão. E, em geral, ela só aparece frente a um problema. Esse é o primeiro desafio: descobrir o que você quer fazer. Os criadores do YouTube sabiam. "Para aumentar as chances de ter uma ideia criativa, você precisa definir o problema: o que estou fazendo aqui? Num site, o projeto não é fazê-lo, mas analisar o público, ser bem específico. Exemplo: fazer um site sobre cultura para jovens adultos de 20 a 30 anos", explica Henry. Assim fica mais fácil se concentrar. E, nessa fase, concentração é essencial. O escritor alemão Thomas Mann não encontrava sossego para trabalhar se não proibisse sua mulher e filhos de entrar no escritório. Dickens só conseguia trabalhar em silêncio. Já o americano Jonathan Franzen escreveu As Correções, um de seus mais famosos livros, em um quarto escuro, com fones de ouvido para isolar o barulho, usando um computador sem acesso à internet. É claro que há escritores e artistas que gostam de trabalhar com música ou que não ligam para barulho de criança. Mas, em algum momento do processo criativo, eles precisam desse isolamento. Não é à toa que introvertidos conseguem ter ideias mais criativas do que extrovertidos: eles sentem menos necessidade de interagir - e, por isso, passam mais tempo concentrados. 5. TRABALHO BOM É TRABALHO APAIXONANTE O psicólogo Anders Ericsson, da Universidade Estadual da Flórida, teve uma ideia: analisar vidas inteiras dedicadas a um trabalho. Ele acompanhou violinistas de uma escola de música, comparou os tempos de estudo de cada um e a expectativa que os professores tinham sobre eles (se virariam grandes estrelas, bons músicos ou professores). O estudo mostrou que não é preciso ser nenhum gênio para dominar o violino. Precisa-se de paciência e dedicação. Os maiores destaques da escola de música, com chances de serem astros, tinham, em média, 10 mil horas de prática antes de completar 20 anos. Ericsson seguiu estudando e chegou a uma conclusão: em média, 10 mil horas é o tempo necessário para se dominar algo, em qualquer área. Mas 10 mil horas não transformam ninguém em gênio. Tecnicamente excelente, mas não um gênio. Precisa de mais. Csikszentmihalyi, um dos maiores especialistas em criatividade no mundo, criou o termo "experiência máxima". Isso acontece quando o foco é tão grande que a pessoa se funde ao projeto. É o que ele chama de flow ("fluxo"). O grande truque é óbvio e não tão simples: gostar do que faz. Ou ao menos ver sentido nele, acreditar que isso se enquadra nos seus ideais ou personalidade. Salvador Dali era assim. O pintor espanhol era tão apaixonado pela arte que disse, certa vez, que "em alguns dias achava que ia morrer de uma overdose de satisfação". Não à toa, ele virou um dos líderes do surrealismo na década de 1930 - um movimento vanguardista que inseria os conceitos da psicanálise de Freud à arte. A paixão pelo que fazia foi o combustível que o impulsionou a ser um dos maiores inovadores do século passado. Mas, antes de chegar lá, ele precisou dominar sua arte. Sua primeira exposição profissional foi aos 15 anos. A partir de então, foram 12 anos até que encabeçasse o surrealismo. Esforço e dedicação podem levar ao domínio técnico de alguma coisa, que pode, por sua vez, conduzir à excelência criativa. Foi trabalho que fez Pablo Picasso assinar 18 mil obras de arte. Foi trabalho (e malandragem e tino comercial) que fez Thomas Edison registrar 1.098 patentes. Com 28 anos, Mozart já tinha mais de 600 peças musicais e as mãos deformadas de tanto treinar piano. "Aqui é trabalho" virou bordão de Muricy Ramalho, um dos mais vitoriosos técnicos do futebol brasileiro. É por isso que há poucas cenas mais emocionantes do que campeões olímpicos radiantes no topo do pódio. É a essência do que uma vida de dedicação significa. Gostar do que faz e se dedicar até ficar bom nisso é essencial para ter grandes ideias. 6. SAIBA QUANDO ABRIR A BOCA Brainstorm não funciona tão bem quanto se faz crer em reuniões chatas. O publicitário Alex Osborn, criador da ideia, dizia que reunir as pessoas, proibir críticas e incentivar que todos falassem o que viesse à cabeça renderia melhores sugestões. Mas pesquisas recentes descobriram que as pessoas têm ideias melhores sozinhas. No falatório das reuniões, ideias perdem o foco. Por isso, escolha o momento certo de compartilhá-la. Quando ela é um embrião, sua insegurança e o descrédito alheio podem arruiná-la. Quando a ideia ganha corpo, um colega pode ajudar. "Ideias compartilhadas funcionam melhor. Minhas descobertas são criadas sobre as suas", diz Henry. 7. VIAJE PARA OUTROS MUNDOS Se conhecer outros lugares com a arte ou a história ajuda, imagine viver para valer em outra cultura. Christine Lee, da Universidade Estadual da Califórnia, levantou esse ponto e testou 135 pessoas: 45 moraram no exterior, 45 planejavam passar um tempo fora e o resto não tinha interesse nisso. No primeiro teste, eles discutiram problemas que teriam se pudessem levitar. No outro, criaram ideias sobre acontecimentos improváveis, do tipo "o que mudaria na sua vida se um dia você acordasse com a cor de pele diferente?". Os pesquisadores mediram a criatividade pelo número de respostas, originalidade e detalhamento. Quem morou fora se saiu bem melhor. É a comprovação científica do que um bom agente de viagens sabe: viver outra cultura abre a cabeça. O mundo mudou depois que Charles Darwin deu a volta nele a bordo do Beagle. Viagens mudam vidas. Como a dos irmãos Breno e Mariana Moraes à Índia. "Não há rodoviária lá, então fizeram um portal para que donos de ônibus vendessem passagem. Fiquei com aquilo na cabeça", lembra Breno. Em 2012, eles e o sócio Gustavo Nascimento lançaram o BrasilbyBus, site de passagens voltado a estrangeiros no País. Breno prevê que em breve a empresa chegará a um faturamento superior a R$ 1 milhão. Viajar amplia o leque de referências. A estradinha vicinal de ideias na sua cabeça vira uma autobahn. 8. RELAXA E BRILHA Tanto foco também cega a mente. Chega uma hora em que você precisa mandar tudo às favas e se divertir. Steve Jobs caminhava todas as manhãs. Beethoven fazia passeios rigorosamente todas as tardes, acompanhado de bloquinho e caneta para anotar o que viesse à mente. São atividades que, geralmente, colocam o corpo em estado de relaxamento. Nesses momentos, o cérebro voa mais e revira a caixa de memória com mais liberdade. Imagine a mente como uma janela aberta. A atenção consciente quer entender o que se pode ver através dessa janela. Mantém o foco nisso, e deixa de lado tudo ao redor. Quando o corpo relaxa e a consciência sai de cena, o inconsciente toma as rédeas da atenção e passa a analisar elementos até então ignorados. O consciente foca só o palco iluminado, o inconsciente capta o teatro como um todo. Segundo Bernard Baars, neurobiólogo e presidente da Society for Mind-Brain Sciences, assim funciona sua mente. Por isso as chances de conexões inusitadas acontecem no estado inconsciente. Quem desliga e liga essas variações da mente é o lobo frontal, no córtex cerebral. Os pesquisadores John Kounios e Mark Jung-Beeman, das universidades americanas Drexel e Northwestern, respectivamente, fizeram testes de associações de palavras e constataram que quando o lobo temporal direito tem mais atividade e o lobo frontal menos, o inconsciente toma conta e a ideia nasce. Essa é a explicação neurocientífica para aquilo que na Grécia antiga se chamava inspiração divina. Acreditava-se que todas as ideias eram passadas dos deuses para os homens por meio das musas inspiradoras, que escolhiam a dedo quais seriam os sortudos que receberiam a mensagem. "A inspiração ainda parece ser um momento mágico. Mas agora começamos a entender como isso funciona", diz Kounios. Para o espetáculo do surgimento de ideias acontecer, o lobo frontal precisa sossegar, o que se resume em uma simples ordem; relaxe. É por isso que tantas ideias aparecem enquanto cantarolamos no banho. Ou no bar. Uma pesquisa da Universidade de Illinois, nos EUA, mostrou que pessoas que beberam até três latas de cerveja, portanto mais relaxadas, ficam mais criativas. Cinema, música ou meditação funcionam da mesma forma. Mas isso é um tanto pessoal. "Você precisa encontrar algo que faça seu cérebro tirar o foco do problema e ir para outros lugares", explica Rex Jung, neurocientista da Universidade do Novo México, nos EUA. Dessa subjetividade surgem comportamentos excêntricos: Richard Feynman, ganhador do Prêmio Nobel de Física de 1965, ia a clubes de striptease na hora do almoço e ficava rabiscando desenhos no guardanapo. Então deixe seu cérebro voar sozinho de vez em quando. Lembre-se: foi do inconsciente de um Keith Richards dormindo que brotou a introdução de (I Can’t Get No) Satisfaction. Mas tem limite. Para a ideia criar corpo, o consciente precisa retomar o lugar. É hora de agir, não de pensar. "O truque é brincar com a dinâmica do cérebro. Quando você estiver nervoso, saia para tomar um banho. Depois volte. Quanto mais relaxado, maior a capacidade de associação. Quanto mais acelerado, menos coisas você vê pelo caminho", diz Zugman. Por isso o café é um aliado de escritores. O jornalista americano Truman Capote escrevia seus livros na horizontal, esticado na cama ou no sofá, com um cigarro na mão e um café (ou martíni) do lado. 9. PERSISTA E INSISTA Então isso é criatividade. E assim funciona o cérebro. Agora você sabe melhor como lidar com ele - e conhece as ferramentas para estimular momentos criativos. Ainda assim, precisa superar outro desafio: o medo (o seu - de ser ridicularizado - e o alheio). Mudar o mundo ou aparecer com uma ideia nova pode gerar pavor. Não diziam por aí que o fim da escravidão acabaria com a economia mundial? Na década de 70, os estúdios de Hollywood se uniram contra a Sony para acabar com uma invenção "amedrontadora": o vídeo-cassete. Eles temiam que o aparelho acabasse com os lucros do cinema. Elizabeth Gilbert, autora de Comer, Rezar, Amar, contou em uma palestra do TED que, antes do livro explodir, as pessoas sempre perguntavam se ela não sentia medo de nunca escrever um romance de grande sucesso. Depois de publicar o best-seller, a pergunta mudou: "você não tem medo de nunca mais escrever um livro de sucesso como esse?". E ela tem, claro. Mas segue tentando. O desafio é tirar dos erros uma lição, encontrar pontos que possam ser melhorados. Com paixão e trabalho, o caminho parece mais possível. E menos assustador. OMBRO DE GIGANTES – Grandes ideias brotam em contextos históricos e culturais próprios. E muitas vezes se apoiam em ideias anteriores - MELLITA BENTZ – Inventora do filtro de papel. Alemanha 1908. Contexto: Filtros de pano deixavam borras que não agradavam Mellita. Ideia – Ela arrancou uma folha de caderno do filho, dessas que absorvem excesso de tinta e a usou para coar. Seu nome é associado ao filtro de papel até hoje. - JULIUS FROMM - Inventor da camisinha de látex. Alemanha, 1916. Contexto: Combinação de mudança de costumes, conscientização da saúde sexual e falta de preservativos confiáveis. Ideia: Fromm reinventou um artefato milenar, que até então era desconfortável, feito de materiais diversos. - NORMAN WOODLAND – Inventor do código de barras. Estados Unidos, 1949. Contexto: Comerciantes procuravam métodos de codificar suas mercadorias. Ideia: Woodland criou um tinta fluorescente para ser lida na luz ultravioleta. Depois, se inspirou no código morse e fez quatro riscos na areia. A ideia só vingou nos anos 70, quando a IBM, com sua ajuda, inventou scanners que liam as barras. - FELIX HOFFMANN – Inventor da aspirina. Alemanha, 1897. Contexto: Cientistas descobriram que o ácido salicílico aliviava a dor, mas irritava o estômago. Ideia: Hoffmann juntou o ácido ao acetil e acabou com os efeitos colaterais. 3#2 MÚSICA – SOM BRASIL Renda e idade dividem ouvidos. Uma pesquisa exclusiva destaca qual brasileiro escuta qual tipo de música. INFOGRÁFICO/ Yaled Navtra e Jorge Oliveira MAPA DA MINA Onde cada ritmo lidera — e qual a sua popularidade Fortaleza – GOSPEL 54% Salvador – MPB 70% Interior Sul/Sudeste – SERTANEJO 72% Grande Rio – SAMBA E FUNK 29% e 56% Sul – ROCK 48% POR CLASSE E POR ANOS Neste gráfico, os principais gêneros estão posicionados de acordo com a renda e idade de seus fãs mais representativos. ROCK Trilha dos jovens da classe AB Roqueiros são os que mais vão a shows: 31% 52% Classe AB 37% 12 a 24 anos 20% Superior e Pós-graduação SAMBA Tradicional e popular Sambistas são os que mais vão a churrascos: 39% 21% Fundamental 53% Classe C 25% 25 a 35 anos SERTANEJO Hoje o mais pop 61% dos que ouvem sertanejo também escutam samba. 23% 25 a 34 anos 33% Fundamental incompleto 52% Classe C SAMBA vs. SERTANEJO 2007: 50% dizem ouvir sertanejo 2012: 58% dizem ouvir sertanejo 2007: 48% dizem ouvir samba 2012: 44% dizem ouvir samba MPB Som da elite adulta Fãs de MPB são os que mais gostam de marcas tradicionais: 65% 20% Superior e Pós-graduação 46% Classe AB 43% 35 a 54 anos FUNK Hit da juventude CDE Funkeiros são os mais otimistas: 91% acham que 2014 será melhor que 2013 71% Classe CDE 37% Fundamental incompleto 57% 12 a 24 anos RELIGIOSO Trilha da classe média baixa 61% dos fãs de gospel são mulheres 38% Fundamental incompleto 72% classe CDE 45% 25 a 44 anos RÁDIO BLÁ Os ritmos mais tocados em nossas ondas radiofônicas Sertanejo 65% Pagode 19% Funk 5% MPB 3% Rock 3% Outros 5% 73% escutam rádio 96% ouvem música no rádio 70% dizem que música é importante SÓ LOVE Principais temas dos hits – a mesma canção pode ter mais de um tema 28% festa 45% sexo 63% amor Fonte: Ibope Media – Learning & Insights 3# HISTÓRIA – ERA DE OURO DOS SEQUESTROS DE AVIÃO Quando os aeroportos não tinham detectores de metal e era possível comprar a passagem depois da decolagem, até sujeitos vestidos de caubói e armados com facas de cozinha eram capazes de sequestrar um avião. TEXTO / Cristine Kist Durante o serviço de bordo do voo 701 da Western Airlines, uma aeromoça deixou espirrar algumas gotas de vinho no uniforme militar do passageiro da poltrona 18D. Ele não pareceu dar muita importância, mas mesmo assim ela prometeu trazer um vale de lavanderia assim que acabasse de servir o resto do avião. Só que não trouxe. Esqueceu. E só lembrou quando viu o tal passageiro vindo na direção da área reservada aos comissários com cara de poucos amigos. Ela já estava com um pedido de desculpa na ponta da língua quando ele mostrou um bilhete em que se lia qualquer coisa como: "Esse avião está sendo sequestrado. Avise a tripulação e continue sorrindo." Quando ela chegou "sorrindo" à cabine, o copiloto não acreditou: era a segunda vez que ele era sequestrado em menos de um mês. BIG BROTHER DOS ANOS 60 Entre 1961 e 1972, 159 aviões foram sequestrados nos Estados Unidos. Só em 1972, ano do sequestro do voo 701, foram mais de três por mês. Tudo bem que o copiloto em questão era muito azarado, mas era relativamente comum até que dois aviões fossem capturados no mesmo dia por pura coincidência. Entre os sequestradores tinha de tudo: ativistas políticos, adolescentes rebeldes e até pais com bebês de colo. À medida que a Guerra do Vietnã se arrastava e o movimento pelos direitos civis sofria uma baixa atrás da outra, os americanos iam ficando menos otimistas. Alguns buscaram consolo nas drogas, outros no sexo, e os mais radicais resolveram sequestrar aviões - um jeito de sair do país e, ao mesmo tempo, deixar de ser "ninguém" para virar "alguém", já que a cobertura intensa da mídia transformava os sequestradores em pessoas “famosas”. Mais ou menos como um Big Brother dos anos 60. Foi a história dessas pessoas que o jornalista Brendan Koerner reuniu no livro The Skies Belong to Us ("Os céus pertencem a nós ", ainda sem edição no Brasil). Até 1961, nenhum avião tinha sido sequestrado nos EUA. Já haviam ocorrido alguns incidentes nos países soviéticos e alguns cubanos tinham sequestrado aviões para fugir para a Flórida quando Fidel assumiu o poder. Por sinal, sempre que um deles aterrissava em Miami, um publicitário chamado Erwin Harris ia até o aeroporto reivindicar a posse do avião porque, segundo ele, o então presidente Fulgêncio Batista tinha encomendado uma campanha para o turismo de Cuba e nunca pagou. Para provocar Fidel, os americanos deixaram Harris ficar com 11 aviões. Quando o primeiro sequestro aconteceu, ainda nem era um crime previsto em lei. Armado com uma faca de cozinha, o eletricista Antulio Ortiz ameaçou matar todos a bordo caso não fosse levado a Havana. Dizia Ortiz que alguém tinha oferecido US$ 100 mil para que ele matasse Fidel. Mas não era para isso que ele queria ir a Cuba. Na verdade, o eletricista só queria fazer sua boa ação do dia e avisar o líder cubano sobre a conspiração contra ele. Não sabendo como reagir a uma faca (de cozinha, mas faca) apontada para a sua garganta, o piloto achou que o mais sensato era mesmo ir para Havana. E foi. Quando o avião pousou em Cuba, os passageiros receberam frango para o almoço e logo foram autorizados a voltar para os Estados Unidos. No fim das contas, o primeiro sequestro da história da aviação americana provocou um atraso de apenas três horas. ALOHA, CUBA O FBI chegou à conclusão de que Ortiz era um lunático e assumiu que ninguém mais tentaria fazer algo parecido. Mas, dois meses depois, em julho de 1961, um policial cubano que tinha emigrado para Miami para trabalhar como garçom desviou outro voo para Havana, e dessa vez Fidel resolveu ficar com o avião. Disse que só devolvia se Erwin Harris mandasse de volta um navio que ele tinha retido tempos antes. Um senador americano não gostou da chantagem e chegou a defender o bombardeio de Havana. Foi só depois do quarto sequestro do ano que finalmente foi aprovada uma lei que transformava a tomada de aviões em crime sujeito à pena de morte. Durante os três anos seguintes, não houve mais nenhum incidente. A entressafra foi interrompida em 1964 por dois oficiais que estavam de saco cheio da marinha e resolveram desviar para Havana um avião da simpática companhia Aloha Airlines. Nas palavras de um deles, "Cuba estava criando uma verdadeira democracia, um lugar onde todo mundo era igual". Mas a verdade é que, quando checavam a Havana, os americano eram encaminhados para um lugar conhecido como "Casa de Transitos”, onde ficavam em dormitórios de cerca de 5m2. Nos períodos mais movimentados, o local chegou a abrigar 60 sequestradores. Os jornais fizeram questão de noticiar essa recepção nada carinhosa em Cuba, mas mesmo assim a epidemia continuou a crescer. Tinha sequestrador vestido de caubói, estudante de sociologia que queria pesquisar o comunismo in loco e até imigrante cubano com saudade da comida da mamãe. Enquanto o Congresso buscava uma solução, um senador lembrou que muitos presídios já estavam usando detectores de metal, e sugeriu que os aeroportos adotassem a mesma tecnologia. Mas as companhias aéreas não quiseram nem saber. É que cada sequestro acabava custando mais ou menos US$ 20 mil, entre trazer o avião de volta e dar uns dias de folga para a tripulaçao - uma gorjeta perto do que eles projetavam gastar com a instalação de detectores de metal. Além disso, as empresas tinham medo de que muita gente desistisse de voar se tivesse que encarar uma fila, esvaziar os bolsos e tirar os sapatos antes de embarcar. Elas decidiram então simplesmente lidar com o problema da melhor maneira que conseguiram imaginar, e a melhor maneira era mandar imprimir cartões em espanhol para que os pilotos conseguissem se comunicar com possíveis sequestradores latinos (os cartões continham frases como: "Avião tem problemas mecânicos, não pode chegar a Cuba"). Para ajudar os passageiros, a revista Time publicou em dezembro de 1968 um guia chamado Viagem: O que fazer quando o sequestrador chegar. E a FAA, uma espécie de Anac americana, cogitou construir uma réplica do aeroporto de Havana dentro dos EUA. FLERTE COM SARTRE Em maio de 1969, um jovem imigrante italiano com pinta de galã voltou para os EUA depois de servir no Vietnã. Quando chegou, Raffaelle Minichiello se desentendeu com o exército e resolveu voltar para a Itália. À força. Foi a primeira vez que um sequestro nos Estados Unidos teve outro destino que não Havana, e o caso recebeu uma cobertura frenética da imprensa. Quando Minichiello desembarcou em Roma, já era conhecido em toda a Itália. E tinha fãs. O produtor de cinema Carlo Ponti, responsável por filmes como Doutor Jivago e Depois Daquele Beijo, tentou fazer um filme sobre a vida dele. Diante da pressão da opinião pública, Minichiello ficou apenas um ano e meio na prisão. Quando saiu, assinou contrato para protagonizar um filme. Depois disso, o governo americano resolveu apelar: pediu que um psiquiatra fizesse uma lista com as características mais frequentes dos criminosos e entregou uma cópia a todos os funcionários responsáveis pelo check-in. Sempre que um passageiro se encaixasse nos critérios da lista, ele deveria ser encaminhado para o detector de metais. Mas quando, em junho de 1972, um jovem de uniforme militar chamado Roger Holder se apresentou para embarcar no voo 701 da Western Airlines, o responsável pelo check-in deixou que ele e a namorada, Cathy Kerkow, seguissem tranquilamente. A ideia de Holder era partir com Cathy para o Vietnã do Norte. Mas o piloto convenceu o casal que a Argélia, então sede dos Panteras Negras, era um destino mais bacana. Foi o sequestro mais longo da história dos EUA. Os dois realmente chegaram a ficar algum tempo na Argélia - e Holder inclusive virou um dos cabeças dos Panteras Negras -, mas acabaram indo para a França, onde eram vistos muito mais como revolucionários do que como terroristas. Em Paris, eles se separaram, e Cathy aproveitou sua fama de sequestradora para se entrosar com os intelectuais de Paris. Até com Sartre ela flertou. Quando os EUA pressionaram pela extradição, o ex-casal contratou bons advogados e arrastou o julgamento por anos. E, quando a sentença ia sair, Cathy fugiu com documentos falsos e nunca mais foi encontrada. É possível que ainda esteja viva e circule entre a alta sociedade europeia. Holder recebeu uma pena curta e voltou aos Estados Unidos. Ele morreu em 2012. O preço para acabar com os sequestros foi ainda maior do que as empresas aéreas previam. Em 1977, um economista calculou que impedir um único sequestro custava US$ 9,25 milhões. Mas, ao contrário do que supunham American Airlines e companhia, os americanos pareceram gostar da ideia de viajar sem medo: depois que o raio-X passou a ser obrigatório, a quantidade de passageiros aumentou 25%. Desde os anos 70, as empresas e os aeroportos mantiveram as mesmas políticas para negociação em sequestros. Ninguém cogitou a hipótese de um sequestrador não estar interessado em usar os passageiros como moeda de troca. Até 2001. Mas essa é outra história. 3#4 ECONOMIA – PERUCA S/A Entre templos na Índia e salões de beleza mundo afora, existe um mercado global de cabelo humano. Conheça essa milionária indústria que brota na cabeça das pessoas. REPORTAGEM / Renata Miranda FOTO / Julia Rodrigues DESIGN / Babi Brasileiro EDIÇÃO / Felipe van Deursen Antes de tocar o chão, golpeados por uma navalha, os fios já viraram produto. Todo dia, um ritual religioso atrai milhares de pessoas aos templos de Tirupati, no sul da Índia. A região é um dos mais rentáveis campos de exploração do mundo em um mercado de milhões de dólares: cabelo humano. Desses templos, exportadores comercializam os fios indianos, que acabam como apliques e perucas em salões de países da Europa, do Extremo Oriente e das Américas. Da fé à vaidade, tem cada vez mais gente usando o cabelo que um dia foi de outra pessoa - geralmente, uma indiana devota. É um mercado em expansão. Um estudo americano mostrou que a indústria de perucas e apliques de cabelo humano cresceu 2,3% ao ano de 2003 a 2013. A Índia domina a produção, segundo a Comissão Internacional de Comércio dos Estados Unidos, embora China e outros países asiáticos e nações europeias também estejam na jogada. Em 2011, o negócio do cabelo rendeu à Índia US$ 393 milhões. Em 2012, houve um salto de mais de 80%, segundo o UN Comtrade, banco de dados das Nações Unidas que contabiliza estatísticas do comércio de commodities: US$ 721 milhões, número próximo à exportação de calçados brasileiros no primeiro semestre de 2013. A razão do aumento é simples: está na moda. Celebridades como a atriz Deborah Secco e a socialite americana Kim Kardashian popularizaram os apliques nos últimos anos. Mas por que cabelo indiano? Porque ele é conhecido por sua excelência. É uma questão mais cultural que genética. Primeiro, o uso de produtos químicos na cabeleira, como tinturas, que danificam os fios, é algo raro no país (diferente do Brasil, onde pintar e alisar é muito comum). Segundo - e principalmente - porque há uma grande oferta de cabelo, graças a templos como os de Tirupati. Por isso, o cabelo indiano é sinônimo de qualidade, especialmente quando se trata do tipo remy. Colhido diretamente na raiz do couro cabeludo, esse tipo é virgem, ou seja, nunca passou por nenhum tratamento químico. Outra característica fundamental é que os fios têm todas as cutículas posicionadas na mesma direção. Assim, eles não embaraçam. O resultado é um aplique com aparência mais natural. Por conta disso, o remy é o mais caro do mercado, com preços que variam de US$ 500 a US$ 600 por quilo (fios de qualidade inferior saem por até US$ 200 o quilo). A procura fez os preços explodirem. Há uma década, o cabelo remy custava menos da metade do que hoje. "As pessoas querem ficar bonitas e por isso gastam muito dinheiro com o cabelo", diz o empresário indiano Benjamin Cherian, da Raj Hair International, pioneira no negócio. Em 1980, Cherian, um exportador de minérios, recebeu uma encomenda de uma empresa japonesa que queria cabelo para extrair um aminoácido usado em produtos químicos. Ele sentiu a oportunidade no ar e criou a Raj, que hoje atua em pelo menos 35 países. A origem do ritual é incerta. Ele é imensamente popular porque é uma maneira de fazer uma oferta valiosa e não monetária, algo importante em um país religioso e pobre como a Índia. Para os fiéis, doar cabelo é mais ou menos como acender velas e fazer sacrifícios para católicos. Eles fazem filas, sentam em bancos ou no chão e aguardam sua vez. Cortam tudo para pedir saúde ou agradecer alguma graça atendida, por exemplo. Alguns ficam em silêncio, outros choram. Doadores não ganham nada, mas os templos, sim. Todo dia, só em Tirupati, cerca de 50 mil pessoas raspam a cabeça. Um exemplo: em 2011, o Tirumala Tirupati Devasthanams, grupo que controla as finanças dos templos, organizou um leilão que vendeu mais de 500 toneladas de fios a empresas como a Raj. É uma montanha de cabelo, com receita anual de US$ 368 milhões. Mas há regras para usar o dinheiro, já que se trata de "cabelo público". Os templos podem gastar apenas um terço da renda neles próprios. O resto deve ir para obras de caridade, escolas, orfanatos e hospitais. Uma agência do governo monitora a atividade econômica para que isso seja cumprido. Em 2008, o documentarista italiano Raffaele Brunetti investigou esse comércio no filme Hair India, que mostra a trajetória que o cabelo colhido nos templos indianos percorre até chegar a salões de beleza na Europa. Segundo ele, muitos dos peregrinos não têm conhecimento do destino de suas madeixas. "Mas isso é o que menos importa para eles", diz Brunetti. Ele explica que os indianos participam do ritual - o "sacrifício do cabelo" - com um único objetivo: presentear os deuses com o bem mais precioso que possuem. Brunetti lembra o que uma mulher que estava raspando a cabeça falou ao ser perguntada sobre o destino que seu cabelo teria: "Se uma europeia quer colocar na cabeça a negatividade da qual estou me libertando agora com esse ritual, o problema é dela". DESAFIO DO CABELO DERRETIDO Cabelo virou um mercado internacional, mas tudo depende das pessoas quererem doar ou vender. Além disso, o crescimento natural é lento e limita o aumento da oferta. Os fios de alguém saudável crescem 0,35 mm por dia. Para o cabelo ser aproveitado em perucas e apliques, o comprimento deve estar entre 20 e 25 cm para homens e 50 e 55 cm para mulheres. Ou seja, é preciso esperar até quatro anos e quatro meses para uma doadora poder fornecer um novo aplique. "É muito tempo e as pessoas não querem esperar o cabelo crescer", diz Kristina Paraskeva, executiva da Wonderful Hair, empresa britânica de apliques de cabelo humano. "Com alta demanda, o maior desafio é estar capacitado para fornecer cabelo de qualidade para todo mundo disposto a pagar", explica Ron Landzaat, especialista em cabelo do Hair Extension Guide, site que monitora o comércio internacional de fios. "Acho que já estamos próximos do momento em que a demanda será maior que o estoque disponível." E não há indícios de esfriamento, segundo um estudo da empresa de pesquisa de mercado IBISWorld. "As peças feitas com remy indiano devem continuar ganhando popularidade", prevê Caitlin Moldvay, analista da IBISWorld. O mercado cresceu tanto que já conta com grandes empresas que não são da Índia, como a italiana Great Lenghts. Ela compra cabelo nos templos indianos, trata, embala e exporta para vários países, inclusive a própria Índia. Em Nova Délhi, onde a sociedade é mais ocidentalizada, o consumo de cabelo indiano vendido pela empresa da Itália é cada vez mais comum. É como o Brasil, maior produtor e exportador de café do mundo, que importa café processado da Itália e de outros europeus que não plantam o grão. Uma alternativa para suprir essa demanda seria o cabelo sintético, produzido em larga escala, mais barato e de qualidade inferior. Mas cabeleireiros e clientes resistem. Além de o resultado ser artificial, fios sintéticos não permitem penteados, já que podem derreter com o calor de secadores e chapinhas. Uma reclamação de quem usa apliques - mesmo os de cabelo natural - são alterações no couro cabeludo. Médicos ainda alertam que o uso prolongado de apliques e perucas pode provocar caspa ou algo pior. "Esses apliques pesam e a tração criada por eles no couro cabeludo pode causar perda permanente de fios", explica a cientista britânica Gill Westgate, que há mais de 20 anos pesquisa cabelo. Mesmo assim, muitas pessoas seguem dispostas a encarar o risco. Pelo menos enquanto a moda durar. DO TEMPLO AO SALÃO O caminho do cabelo 1- ARRECADAÇÃO - A maior parte do material vem da Índia, graças a templos no sul do país onde se doa cabelo. MAIORES EXPORTADORES Mianmar 9,6% Tunísia 20% Índia 43% China 9,5% Itália 6,4% Outros 11,5% MIORES IMPORTADORES Hina 33% Itália 31% Índia 16% EUA 6,6% Reino Unido 3,8% Outros 9,6% O cabelo humano negociado no Mercado Internacional pode ser de dois tipo: REMY – Raspado já com a intenção da venda. Não embaraça e jamais foi pintado. 1 Kg custa até US$ 600 REGULAR – Composto por fios que caem naturalmente ou que ficam presos em escovas. 1 Kg custa até US$ 200 Um couro cabeludo saudável tem 100 Mil a 150 mil fios 2- NEGOCIAÇÃO – Os templos vendem cabelo a empresas. O formato mais comum é o leilão e o cabelo é vendido por peso. US$ 368 milhões – receita anual dos templos de Tirupati, Índia. 3- REGRAS – Apenas um terço do dinheiro obtido pode ser aplicado nos templos. O restante precisa ser destinado a obras sociais 4- PREPARAÇÃO – O cabelo é lavado, hidratado, escovado e, às vezes, despigmentado e colorido antes de ser empacotado. 5- DISTRIBUIÇÃO – Os lotes são enviados a salões e viram apliques e perucas, alimentando um mercado que cresce no mundo todo. GASTO DOS BRASILEIROS COM CABELO Mercado de apliques e perucas naturais é pequeno no País. Mas em compensação... Xampu US$ 2,9 BI Produtos de tratamento US$ 2,2 BI Produtos de coloração US$ 1,9 BI Outros US$ 2,2 BI TOTAL US$ 9,2 BI (2º maior mercado do mundo) UNS DOAM, OUTROS VENDEM Na Rússia e em outros países do Leste Europeu, mulheres vendem o cabelo a fim de complementar a renda. Grande parte do material comercializado vem de cachos guardados, obtidos em cortes anteriores - é tradição para mulheres desses países cortar o cabelo depois do nascimento do primeiro filho. A decisão de vender os fios, no entanto, pode vir apenas anos depois e é motivada, quase sempre, por dificuldades financeiras. UNS COMPRAM, OUTROS ROUBAM O valor pago por fios naturais chamou a atenção de ladrões, e cabeleiras viraram alvo no Brasil e em outros países. Em abril, em um ponto de ônibus de São José do Rio Preto (SP), um homem cortou à força o cabelo de uma jovem de 15 anos. Nos EUA, há casos de roubo de lojas de apliques. Em um desses em Chicago, em 2012, levaram só cabelo e nem tocaram no dinheiro do caixa. UNS QUEREM, OUTROS PRECISAM Há entidades que usam fios doados para fazer perucas para vítimas que perderam o couro cabeludo em acidentes. É o caso da ONG dos Ribeirinhos Vítimas de Acidentes de Motor, do Pará. Como o uso de pequenos barcos é comum na Amazônia, o risco de prender o cabelo no motor é maior. Em acidentes do tipo, o couro cabeludo pode ser arrancado - sem ele, adeus, cabelo. Fontes Associação Brasileira da Indústria de Higiene Pessoal, Perfumaria e Cosméticos (Abihpec); Caroline Cox, escritora que estuda a história do cabelo; Hair Extension Guide; IBiSWorld Inc.; Instituto Data Popular; Raj Hair International; Sundaram Murugusundram, diretor da Sociedade Indiana de Pesquisa do Cabelo; UN Comtrade; Wonderful Hair. Agradecimentos Nilta Perucas, Hannamoon Artigos Indianos. 3#5 CIÊNCIA – O BIG BROTHER DA DENGUE Sistema que usa celulares e armadilhas com GPS para ajudar a mapear focos da doença já foi testado em mais de 50 cidades no Brasil. REPORTAGEM / Melissa Schröder EDIÇÃO / Bruno Garattoni NO ano 2000, o Brasil teve uma grande epidemia de dengue, com mais de 170 mil casos. Entre eles, o de um garoto de 12 anos que morava em Belo Horizonte. O menino pegou dengue hemorrágica, forma mais grave da doença, e foi parar no hospital - onde passou cinco dias sangrando, vomitando e correndo risco de morte. Ele se curou e teve alta. Mas, para seu pai, o biólogo Álvaro Eiras, da UFMG, a história não acabou ali. "Eu senti na pele. Imaginei como é o sentimento de algum pai que tenha perdido seu único filho por causa da doença". E Eiras jurou inventar um sistema para enfrentar o Aedes aegypti, transmissor da dengue. Primeiro veio a armadilha. Ela parece um balde e é colocada no jardim ou em partes da casa onde o mosquito costuma ficar. Dentro, tem uma pastilha que emite um odor sintético - é uma imitação do cheiro de gramíneas, plantas que atraem o Aedes. As fêmeas do mosquito vão até a armadilha para colocar seus ovos - e, quando fazem isso, ficam com as patas grudadas e não conseguem mais sair. A armadilha também tem uma camada de inseticida, que mata os ovos do mosquito. Álvaro percebeu que sua invenção era eficaz, e a batizou de Mosqui- TRAP - armadilha para mosquitos, em inglês. Era a única no mundo desenvolvida especialmente para pegar o Aedes aegypti. A segunda ideia surgiu entre 2002 e 2003, quando Álvaro estava num show de blues em um bar em Santos, São Paulo. Ele reparou que a garçonete anotava os pedidos dos clientes usando um palmtop, que enviava as informações em tempo real para a cozinha. Por que não usar isso contra o mosquito? Nascia o sistema de Monitoramento Inteligente da Dengue (MI-Dengue). A tecnologia foi aperfeiçoada durante dois anos até ficar pronta. Sua estreia foi na cidade de Congonhas, a 70 km de Belo Horizonte. Mais de cem armadilhas equipadas com GPS foram espalhadas por casas, parques e prédios. O GPS serve para que os agentes de saúde pública encontrem as armadilhas - e também para criar um mapa da dengue. Uma vez por semana, agentes munidos de smartphones visitaram as armadilhas de Congonhas para contar quantos mosquitos elas tinham capturado. Os números foram enviados via celular a um sistema central, onde um software computou tudo e produziu um mapa mostrando as áreas com maior e menor incidência de Aedes. Em seguida, os mosquitos foram recolhidos e submetidos a testes em laboratório para saber se estavam ou não infectados com o vírus causador da dengue. Todas essas informações foram colocadas num grande banco de dados - que funciona como uma espécie de Big Brother da dengue, permitindo acompanhar toda a movimentação da doença. "O sistema mostra onde estão os mosquitos infectados, então os agentes de saúde vão até lá e aplicam inseticidas naquela região", explica Eiras. Além de permitir uma resposta mais rápida e precisa, isso evita o uso excessivo de veneno. "Os agentes vão exatamente onde o problema está, não precisam ficar aplicando inseticida onde não tem mosquito infectado". Segundo seu criador, o sistema é relativamente barato. "Custa menos de R# 1 por ano por habitante. Menos do que um litro de leite", diz. O MI-Dengue, cujo desenvolvimento consumiu R$ 4 milhões de recursos públicos, já foi instalado em mais de 50 cidades do País. No início de 2013, um estudo publicado no jornal científico Infection Emerging Diseases estimou seus resultados. Segundo a pesquisa, a tecnologia teria evitado 27 mil casos de dengue de 2009 a 2011 em 21 cidades de Minas Gerais. Ela também já foi usada em Portugal, Singapura, Austrália e Colômbia e chamou a atenção de Bill Gates, criador da Microsoft, que em 2006 entregou um prêmio de Inovação Tecnológica em Benefício da Humanidade para Eiras, numa cerimônia realizada no Vale do Silício. Nesse mesmo ano, Gates se afastou da Microsoft para financiar pesquisas na área de saúde - entre elas, o desenvolvimento de um sistema que usa raios laser para matar mosquitos. A dengue é uma doença global, que infecta de 50 a 100 milhões de pessoas por ano, segundo dados da Organização Mundial da Saúde. Existem cientistas tentando criar vacinas - mas, mesmo se derem certo, elas devem demorar pelo menos cinco anos para chegar à população. Além disso, é pouco provável que o Aedes aegypti seja erradicado (pois ele existe em enorme quantidade na natureza). O mosquito vai continuar existindo - e poderá criar novos problemas. "Mesmo que se encontre uma vacina para a dengue, outras doenças podem aparecer tendo o mesmo inseto como transmissor", diz Eiras. O único jeito de lidar com a ameaça é mantê-la sob vigilância. CAÇANDO MOSQUITO Sistema mistura química e eletrônica para mapear a doença. 1- As fêmeas do Aedes aegypti são atraídas por um odor sintético para a MosquiTRAP. Lá dentro, acabam presas em um cartão adesivo e morrem. 2- Um agente de saúde conta os mosquitos presos e envia o número via celular. Depois, coleta os insetos e envia para um laboratório. 3- O laboratório detecta a presença ou não do vírus da dengue nos mosquitos coletados. Essa informação também é inserida no sistema. 4- Um software analisa os números e produz mapas da dengue que mostram onde a doença precisa ser combatida. 3#6 CULTURA – A RÚSSIA CONTRA A ARTE A PRISÃO DA BANDA Pussy Riot não é um fato isolado, mas o auge da ofensiva contra os artistas russos. Conheça as batalhas dessa guerra. REPORTAGEM Marina Darmaros, de Moscou DESIGN Ricardo Davino EDIÇÃO Emiliano Urbim “Virgem Maria, livrai-nos de Putin!" O refrão ecoou pela igreja, surpreendendo crentes, turistas e seguranças. No principal templo ortodoxo de Moscou, roqueiras com meias-calças, vestidos e balaclavas de cores vivas bradavam contra o então premiê russo. Durou menos de um minuto. Foi o suficiente para que o Pussy Riot, misto de banda punk, grupo de protesto e coletivo de arte, ganhasse outra face; inimigo de Estado. Criado em 2011, o Pussy Riot é composto por um conjunto indeterminado e variável de roqueiras que atuavam sempre mascaradas. Cada nova criação coletiva era apresentada em "turnês ilegais" - performances com guitarras em locais polêmicos que depois viravam clipes no YouTube. Gravado em 21 de fevereiro de 2012, o minishow da Catedral de Cristo Salvador fez sucesso. Talvez sucesso demais. Em março de 2012, a polícia foi atrás do grupo. Duas fugiram da Rússia e três foram presas. Do trio, uma foi libertada após sete meses e outras duas foram condenadas a dois anos de prisão por "desordem motivada por ódio religioso". O grupo voltou às manchetes em novembro de 2013, quando uma das presas, Nadezhda Tolokonnikova, 24, fez greve de fome e desapareceu. Quase um mês depois, o governo esclareceu que, à moda soviética, a moça tinha sido mandada para a Sibéria. "Durante 26 dias, a gente não sabia se ela estava viva ou não", disse à SUPER o pai dela, Andrêi Tolokônnikov. Por sorte, a família é da região. "A Nádia (apelido de Nadezhda) está a um quilômetro da casa da minha mãe. Um milagre!", diz o pai. Os protestos internacionais não comoveram o agora presidente. "Elas tiveram o que pediram", disse Vladimir Putin. Palavras que explicam por que os artistas russos, dos quais o Pussy Riot é só um expoente, enfrentam um longo e tenebroso inverno. CRIME E CASTIGO O pai de Nadezhda, cujo nome significa "esperança", mostra de onde veio o batismo da filha. "Apesar de não ser modesto da minha parte, eu acredito que as meninas do Pussy Riot vão ser canonizadas pela Igreja. Não agora, mas daqui a uns 200 ou 300 anos, quando a Igreja não for mais um mero instrumento de poder do Putin e da KGB", diz o médico aposentado. Se no comunismo a Igreja Ortodoxa era perseguida, desde a queda do regime ela está com e no poder. Substituiu-se a ideologia do partido pela religião. O crítico de arte Andrêi Erofeev compartilha da ideia: "O fato de botarem na prisão as meninas do Pussy Riot é um retorno ao pico da sociedade soviética. O que não é nada inesperado, porque na liderança do nosso país está um homem totalmente soviético, com uma mentalidade soviética e costumes soviéticos, que não conseguiu mudar". Diretor de novas tendências de uma aclamada galeria de Moscou, ele foi demitido em 2008. Seu pecado foi reunir peças banidas de outras mostras que criticavam sobretudo o governo e a Igreja - e as estranhas relações entre os dois. Entre elas, colagens da dupla de artistas Narizes Azuis, que misturavam fotos da dupla com cabeças de Jesus e Putin. Assim como as Pussy Riot, Erofeev pagou: em 2010, ele e o diretor do museu que recebeu a exposição foram declarados culpados de incitar o ódio religioso e receberam multas de R$ 12 mil e R$ 15 mil cada um. Mas seu julgamento não passou em branco. Durante uma sessão em 2009, o coletivo Voiná ("Guerra" em russo ), de onde saíram as fundadoras do Pussy Riot, realizou dentro do tribunal uma de suas ações bombásticas. "Assim que o juiz anunciou o início da sessão, o coletivo ligou o equipamento no volume máximo e tocou um show punk completo, chamado 'F*da-se a polícia, esses patrões filhos da put*'. Foi um protesto de verdade contra a repressão", conta Aleksei Plutser Sarno, um dos líderes do Voiná. "Todos os shows do Pussy Riot são um remake do nosso concerto no tribunal. De alguma maneira, toda a poderosa onda de protesto da década de 2010 é, em algum ponto, mérito nosso", acredita Sarno. Já em 2010, Piotr Verzilov, marido de Nádia e então integrante do Voiná, soltou 1.500 baratas gigantes dentro do tribunal, visando atrapalhar o pronunciamento da sentença. Em vídeos divulgados na internet, ele aparece saindo do prédio do tribunal escorraçado por policiais, enquanto é amaldiçoado por fanáticos ortodoxos com longas barbas e roupas de couro - parecendo mais motoqueiros do que religiosos. Acusado de delatar outros integrantes do Voiná, Piotr tornou-se persona non grata no grupo, mas, antes disso, ele, a mulher e outras Pussy Riot realizaram outras ações de impacto. A mais famosa foi a pintura de um pênis de 65 metros em uma ponte elevadiça de São Petersburgo que dava de cara para o FSB, órgão que substituiu a antiga KGB. De maneira inesperada, a obra apareceu e sumiu diversas vezes na lista de indicados ao prêmio estatal Inovacão-2010, até ser anunciada vencedora, em abril de 2011. O Voiná doou à Ágora, organização de defesa dos direitos humanos, os 400 mil rublos do prêmio (cerca de U$ 13,5 mil.) Depois da performance-tumulto "Revolta Palaciana", em 2010, em que tombaram carros da polícia contra a corrupção do órgão, dois membros do Voiná, Leonid Nikolaiev e Oleg Vorotnikov, foram detidos. Sarno, que não estava no apartamento no momento da busca, cruzou a fronteira e fugiu. "Um investigador confessou ao meu advogado que o convite para uma conversa na polícia era na verdade para me prender por organização de grupo criminoso. Pode-se pegar de 12 a 20 anos por isso. Para esse governo mafioso atual, artistas de protesto são grupos criminosos. Uma idiotice completa", diz Sarno, que continua exilado. OS DEMÔNIOS Enquanto as traquinagens do Voiná ainda são passíveis de má interpretação e até de repúdio devido à depredação de patrimônio, a dupla Narizes Azuis dificilmente poderia ser acusada de violações penais do gênero. Mas nem por isso as obras de Viatcheslav Mizin e Aleksandr Shaburov ficam isentas de censura e repressão. Em 2007, a dupla teve obras impedidas de deixar o país para participação em uma exposição na Maison Rouge, em Paris. Uma delas, Era da Compaixão, mostrava dois policiais trocando um beijo apaixonado em meio à taiga russa coberta de neve, enquanto a outra tinha Putin, George Bush e Bin Laden brincando de cueca em um sofá. Para o então ministro da cultura, as obras eram muito provocativas e seriam "uma vergonha para a Rússia". A mordaça imposta aos Narizes Azuis não parou por aí. Em setembro de 2013, quatro pinturas dos rapazes foram apreendidas no Museu do Poder, em São Petersburgo. Elas retratavam de maneira caricata o presidente Putin e o premiê Dmítri Medvedev em lingeries, zombavam com os sonhos eróticos de Elena Mizulina, deputada que defende os "valores tradicionais" no país e que propôs um polêmico projeto de lei contra a "propaganda gay", além de reproduzir o Patriarca Kirill (o papa ortodoxo) coberto de tatuagens de prisioneiro. "Nos últimos tempos, o nível de liberdade na Rússia piorou significativamente. Pode-se ver um endurecimento da censura sobre a arte contemporânea por toda a parte", diz o artista petersburguense Piotr Pavlênski. A primeira performance de Piotr a chamar a atenção da mídia aconteceu durante os julgamentos do Pussy Riot, quando ele se postou diante da catedral de Kazan, em São Petersburgo, com a boca costurada com linha preta e uma placa onde se lia: "A ação do Pussy Riot foi um remake da célebre ação de Jesus Cristo (Mateus 21:12-13)" - trata-se do episódio em que Jesus expulsa os comerciantes do Templo de Jerusalém. Piotr foi levado para um hospital psiquiátrico. Já em Moscou, em novembro passado, seu destino foi o mesmo depois de Fixação, em que martelou um prego de 20 cm nos próprios testículos, prendendo-os ao chão da Praça Vermelha. "Um artista nu, olhando para seus próprios ovos pregados aos paralelepípedos, é uma metáfora à apatia, à indiferença política e ao fatalismo da sociedade russa atual", explicou depois. Acusado de vandalismo e libertado um dia depois, ele agora enfrenta um processo que pode lhe render até três anos de prisão. Ninguém pode dizer que o rapaz não tinha culhões. GUERRA... E PAZ? "Os russos sempre tiveram a cultura sob suspeita. Os artistas sempre foram pessoas perigosas, destruidoras da tranquilidade. Desde os tempos soviéticos, caçou-se tais baderneiros", diz Erofeev. Mesmo assim, um futuro próximo deve ver a anistia de presos políticos no país - o que inclui gente como o magnata do petróleo Mikhail Khodorkóvski. E as duas Pussy Riot ainda encarceradas, Nadezhda Tolokonnikova e Maria Aliôkhina. Os rumores circulavam desde setembro de 2013 até que, no começo de dezembro, após uma reunião de Putin com o delegado de direitos humanos da Rússia, a mídia passou a prenunciar a liberdade das duas. Em 18 de dezembro, dia em que esta edição foi para a gráfica, saiu a confirmação oficial de que Nadezhda e Maria deveriam ser libertadas até o Ano Novo. A libertação das Pussy Riot pode ser usada como símbolo de democracia e benevolência russa às vésperas das Olimpíadas de Inverno de 2014, que ocorrerão no início do ano em Sôtchi, no sul do país. Mas as duras leis de repressão das liberdades individuais aprovadas no atual mandato de Putin não deixam dúvidas de que a anistia poderá ser tão de fachada quanto os tribunais do ditador Josef Stálin. Para Andrêi Tolokônnikov, pai da Pussy Riot Nádia, esse conflito entre o governo e os artistas ainda é reflexo de um país que não deixou totalmente de lado seu passado totalitário. "O que acontece agora já aconteceu no século 20, na URSS, até na Alemanha Nazista. Os russos devem aprender a se sentir indivíduos, entender o que é ter suas próprias coisas." Realmente, a Rússia ainda tem muito passado pela frente. Em 2010 foi o centenário da morte de Lev Tolstói, um dos maiores escritores da Rússia e do mundo. Pois em um país em que os gigantes das letras ganham homenagens a cada década de morte ou de vida, o centenário de Tolstói foi ignorado pelas autoridades. Por quê? O autor de Guerra e Paz foi excomungado em 1901 e até hoje é tido como herege pela novamente poderosa Igreja Ortodoxa Russa. Resta torcer para que Tolstói um dia receba a anistia concedida às Pussy Riot. QUEM É QUEM NO FRONT PIOTR PAVLÊNSKI – Artista de São Petersburgo. Ações – Em 2012, costurou a boca em apoio ao Pussy Rior. Em 2013, pregou seus testículos no chão da Praça Vermelha. Destino – Encaminhado a hospitais psiquiátricos após cada performance. A da praça lhe rendeu um processo por vandalismo, pelo qual poderá ser condenado a até três anos de prisão. PUSSY RIOT – Misto de banda punk com coletivo de arte e ativismo político formado por feministas ex-Voiná em 2011. Ações – Fazem shows em lugares proibidos, sendo que a maior polêmica veio com uma oração punk dentro da Catedral do Cristo Salvador em 2012. Destino - Três integrantes foram condenadas e duas ainda estão presas por incitar ódio religioso. VOINÁ – Coletivo de arte-protesto criado em 2008. Em português, o nome do grupo significa "guerra", Ações – Show de punk dentro de um tribunal em sessão (2009), pintura de um pênis em ponte elevadiça de São Petersburgo (2010), tombamento de carro da polícia com policial dentro (2010). Destino – Alguns de seus integrantes se exilaram. Outros foram presos, pagaram multas e, soltos, fugiram da Rússia com passaportes falsificados. A perseguição policial gerou desentendimentos internos no grupo, que está desmantelado, com diferentes integrantes se proclamando responsáveis por sua continuidade. IÚRI SAMODUROV - Defensor dos direitos humanos, ex-diretor do Museu Sakharov, em Moscou (1996-2008). Ações – Organizou uma exposição com obras banidas de outros museus. Destino - Condenado por "incitar o ódio religioso”, pagou multa de R$ 15 mil e acabou pedindo demissão ao ver uma nova exposição nos mesmos moldes ser negada pelo museu. ANDRÊI EROFEEV - Crítico de arte, ex-diretor de novas tendências da Galeria Tretiakov (2002-2008). Ações - Curadoria da exposição com obras banidas. Destino – Foi processado e condenado a pagar uma multa de 150 mil rublos (R$ 12 mil) por “incitar ódio religioso". Além disso, foi demitido da galeria Tretiakov, uma das principais do país. NARIZES AZUIS - Dupla formada por Viatcheslav Mizin e Aleksandr Shaburov iniciada em 1990. Ações - Sua obra que retrata dois policiais se beijando na neve foi considerada "uma vergonha para a Rússia" pelo ministro da cultura. Destino - Continuam a expor e causar polêmica. Em setembro, tiveram quatro obras em que zombavam de figuras públicas apreendidas. 3#7 TECNOLOGIA – O ÚLTIMO PROJETO DE JOBS Parece um disco voador, usa um novo tipo de vidro e vai custar mais caro que todos os estádios da Copa somados. Conheça os bastidores da obra mais ousada do planeta: a nova casa da Apple. REPORTAGEM / Bruno Romani EDIÇÃO / Bruno Garattoni DESIGN / Fabrício Miranda “É um pouco parecido com uma nave espacial", explicou Steve Jobs diante do conselho municipal da cidade de Cupertino, na Califórnia, em 7 de junho de 2011. Já bastante enfraquecido pelo câncer, Jobs reuniu forcas para ir pedir à cidade autorização para realizar seu grande sonho: construir uma nova sede para a Apple. Uma sede que fosse elegante, funcional e diferente - o mesmo que os produtos da Apple buscam ser. Depois de reinventar os computadores e os celulares, Jobs queria reinventar os escritórios. "Nós temos a chance de construir o melhor prédio comercial do mundo'', argumentou. Foi sua última aparição pública. Quatro meses depois, Jobs morreu. No final do ano passado, a cidade finalmente deu permissão para a obra - que é uma das mais ambiciosas de todos os tempos. E caras também. O complexo, que se chama Apple Campus 2, irá custar astronômicos R$ 11,6 bilhões. É três vezes mais do que o Burj Kalifa, em Dubai, prédio mais alto do mundo. E mais do que todos os estádios da Copa 2014 somados (que irão custar R$ 8 bilhões, segundo o último dado oficial). Para tocar o projeto, a Apple contratou em 2010 o escritório do arquiteto britânico Norman Foster, o Foster + Partners, que tem no currículo obras como o aeroporto de Hong Kong, o novo estádio de Wembley, em Londres, a Hearst Tower, em Nova York, além do projeto de restauração do parlamento alemão, em Berlim. A empresa montou uma equipe de 50 arquitetos, que se reunia a cada três semanas com Jobs para tentar dar forma àquilo que ele tinha em mente. O que ele queria? Uma característica típica dos produtos da Apple: o mínimo possível de emendas. Jobs sonhava com um imenso disco de vidro que parecesse formado por uma só peca. Para atender a esse pedido, os arquitetos procuraram a Seele, uma fábrica alemã de vidros. Ela criou as famosas escadas "invisíveis" presentes em muitas lojas da Apple e também construiu o cubo de vidro que envolve a principal loja da marca, em Nova York. Não foi uma tarefa fácil. As paredes da nova sede da Apple serão formadas por enormes placas de vidro côncavo com 12 metros de altura cada uma, que serão dispostas lado a lado. No total, serão precisos 6 quilômetros de vidro para formar o anel. A Seela teve que dobrar sua capacidade de produção, e criar uma técnica especial que permita dobrar o vidro sem precisar aquecê-lo, como normalmente é feito. A fachada de vidro será toda construída na fábrica da empresa na cidade de Gersthofen, na Alemanha, e despachada para a Califórnia. "Não há uma peça de vidro plano em todo o prédio", se gabou Jobs. O chefão da Apple se envolveu muito com o projeto, e foi difícil bater o martelo sobre o design final. Ele mudava muito de opinião, repetindo um padrão clássico de comportamento. Jobs sempre foi conhecido por grandes mudanças de ideia - aquilo que um dia era ótimo, no próximo podia virar "merda" (termo que Steve adorava usar). E vice-versa. Inicialmente, o prédio não era circular. Sua forma era alongada, mais parecida com a de um circuito oval de corrida, e ele tinha um grande corredor no meio. Mas um comentário de Reed Jobs, filho de Steve, mudou tudo. Ao ser apresentado ao projeto, o garoto, então com 19 anos, olhou o corredor central e foi franco: "parece um pinto!". Na hora, Jobs pai ignorou a observação, mas, no dia seguinte, mandou os arquitetos mudarem completamente o desenho. "Infelizmente, uma vez dito isso, vocês nunca conseguirão tirar a imagem (de um pênis) da cabeça. Foi aí que o prédio evoluiu para sua forma definitiva. Além do edifício principal, apenas quatro outros elementos serão visíveis; uma entrada para auditório subterrâneo com capacidade para mil pessoas, um edifício garagem de quatro andares, uma academia e dois laboratórios para a realização de testes (como experiências com as antenas do iPhone). Visto de cima, o complexo é minimalista. "A forma de anel permite o contato simultâneo do interior com o exterior, estabelecendo um nível de permeabilidade visual, sem um efeito de clausura", diz Mário dos Santos Ferreira, professor da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da PUC-RS. Para ele, a nova sede da Apple não se encaixa em nenhum estilo arquitetônico existente. "Assim como as grande obras hoje, a arquitetura proposta para a Apple segue a linha de atuação da própria empresa: inovação, tecnologia e design", diz. Como a sede é muito grande, terá apenas quatro andares, mas mesmo assim terá capacidade para 12 mil pessoas. Isso vai na contramão da tendência atual, que é empilhar pessoas (dos dez prédios mais altos do mundo, sete foram construídos na última década). Além disso, cerca de 80% da área do local será coberta por vegetação. Serão nada menos do que 7 mil árvores (o Parque do Ibirapuera, em São Paulo, tem aproximadamente 16 mil). Trezentas e nove espécies foram selecionadas. Na parte externa do círculo, serão vários tipos de carvalho e oliveiras. No miolo, espécies frutíferas que formarão um espécie de pomar. Será possível encontrar cerejas, ameixas, caquis e maçãs. Próximo ao café, serão plantados vários tipos de ervas, que servirão para fazer chás. Os funcionários poderão se alimentar num gigantesco refeitório, com nada menos do que 2.750 lugares, ou em 1.750 bancos dispostos pela área externa, para refeições ao ar livre. Os jardins estão a cargo do arborista Dave Muffly, da Universidade Stanford. Ele tem viajado pelos Estados Unidos buscando produtores que ofereçam todas as espécies necessárias de árvore e, para não chamar muito a atenção, às vezes se identifica usando pseudônimos. Atualmente, o terreno onde a sede será erguida tem 4.506 árvores. Cerca de mil delas serão extraídas, plantadas em outros lugares e transplantadas de volta para o local original quando a obra estiver pronta, em 2016. O destaque são os pés de damasco, um pedido especial do fundador da Apple. "Você podia vê-los em todos os lugares, até nas esquinas. Eles são parte da tradição do vale (do Silício)", disse em sua biografia, Jobs. Não serão apenas as plantas que deixarão o Campus 2 mais verde. O prédio foi concebido para ser o menos agressivo possível ao meio ambiente. Quase 80% do lixo será reciclado, e o complexo tentará ser autossuficiente na produção de eletricidade. O telhado do disco principal será coberto por 65 mil metros quadrados de células fotovoltaicas, capazes de transformar a energia solar em até 8 megawatts de eletricidade (o suficiente para alimentar 4 mil casas). Talvez não seja o bastante, e por isso a Apple está buscando fornecedores de mais energia - mas só de fonte solar ou eólica. A região, sul da Baía de San Francisco, ajuda: não faltam sol e vento. O prédio também será capaz de responder ao clima para economizar energia. Durante a maior parte do ano, usará ventilação natural, e suas janelas se abrirão e fecharão automaticamente para controlar temperatura e iluminação nas áreas internas. NÓ NO TRÂNSITO Mesmo com todas as precauções, o Campus 2 terá um impacto gigantesco sobre a cidade. A atual sede da Apple, que foi construída em 1993 (quando Steve Jobs estava fora da empresa) e também fica em Cupertino, tem 79 mil metros quadrados e abriga 4.800 funcionários. Mas a nova sede será muito maior: terá 260 mil metros quadrados e reunirá 14 mil pessoas. Por isso, segundo um estudo feito pela prefeitura, o Apple Campus 2 poderá dar um verdadeiro nó no trânsito local. O complexo terá 10.500 vagas de estacionamento, e deverá gerar 35 mil novas viagens de carro por dia, o que é muito para uma região já sufocada por congestionamentos (gerados, em boa parte, pelas empresas do Vale do Silício). Isso provocará fortes consequências ambientais. Os carros e a operação da sede irão emitir 38 mil toneladas de CO2, a cada ano, equivalente à poluição gerada por 2 mil casas. Para tentar amenizar isso, a Apple investirá US$ 66 milhões para melhorar estradas, ruas, calçadas, ciclovias e parques e US$ 35 milhões em programas que incentivam os empregados a deixar o carro em casa. A empresa espera que 4 mil funcionários se locomovam a pé, de bicicleta ou transporte público. Para não atrair ainda mais gente, como curiosos e turistas, o Campus 2 será fechado ao público (se você queria visitar, esqueça). Quando o complexo ficar pronto, em 2016, vai fechar um ciclo. Isso porque o terreno onde será construído pertenceu à HP, uma das fundadoras do Vale do Silício - e empresa que inspirou Jobs durante toda a sua vida. "Steve botou muito amor e atenção (no projeto) antes de morrer", disse Tim Cook, CEO da Apple. Construir um prédio ali tinha um sabor especial para Jobs porque ele admirava a história da HP, como William Hewlett e Dave Packard haviam conseguido criar uma empresa na garagem de casa, em 1939, e transformá-la em gigante. Exatamente o mesmo que Jobs fez com a Apple, 37 anos depois. DISCO DE VIDRO Construção tem estilo minimalista e futurista ÁRVORES - Cerca de 80% do terreno, que tem 260 mil metros quadrados, será coberto por plantas e 7 mil árvores de várias espécies, como carvalhos e oliveiras. Mil árvores são nativas do local - elas serão extraídas, guardadas e replantadas quando a construção estiver pronta. ENERGIA SOLAR - O teto do prédio será coberto por 65 mil metros quadrados de células fotovoltaicas, que irão gerar 8 megawatts de eletricidade (suficiente para iluminar 4 mil casas). JANELAS INTELIGENTES - Durante nove meses do ano, o prédio usará ventilação natural. Suas janelas abrirão e fecharão automaticamente para ajustar temperatura e iluminação. No inverno, ficarão fechadas. POMAR - Na parte interna do disco, haverá um pomar com cerejas, ameixas, caquis, damascos e, óbvio, maçãs. Também serão plantados vários tipos de ervas, que poderão ser usadas em chás. PELE DE VIDRO - Seis quilômetros de placas de vidro côncavo, cada uma com 12 metros de altura, formarão a parte externa do prédio. O vidro será produzido na Alemanha, usando uma técnica desenvolvida especialmente para a Apple, e chegará de navio. MINIMALISMO - Tirando o prédio principal, apenas quatro elementos serão visíveis: a entrada de um auditório subterrâneo (onde os produtos da Apple serão apresentados ao mundo), o edifício garagem, uma academia de ginástica e os laboratórios. CASAS RIVAIS Outras gigantes da tecnologia também preparam novas sedes. GOOGLE ONDE: Mountain View, Califórnia COMOÉ: O Google recuperou 168 mil metros quadrados de terreno pantanoso, que não era adequado para construção, e irá erguer um conjunto de nove prédios, dispostos em formato de bumerangue. O complexo terá vários sistemas de controle ambiental (como a própria estação de tratamento de esgoto). FACEBOOK ONDE: Menlo Park, Califórnia COMO É: Vai abrigar 2.800 engenheiros em um enorme galpão, sem paredes nem divisórias, onde as mesas poderão ser movidas e reconfiguradas de acordo com a necessidade dos projetos. Terá um grande jardim suspenso na área externa e uma trilha para caminhadas no telhado. A inauguração está prevista para o primeiro semestre de 2015. SAMSUNG ONDE: San José, Califórnia COMO É: Um complexo de prédios com capacidade para 2.500 funcionários, 335 mil metros quadrados e muitos espaços abertos, com jardins em quase todos os andares. A construção será feita de aço branco, que reflete o calor e reduz o uso de ar-condicionado. A obra vai custar US$ 300 milhões e deve ficar pronta em 2015. 3#8 SAÚDE – VÁ PASTAR REPORTAGEM / Alexandre de Santi FOTO / Arthuzzi DESIGN / Rafael Quick EDIÇÃO / Felipe van Deursen O HOMEM PODE COMER MILHARES DE PLANTAS, MAS SÓ ALGUMAS DEZENAS ESTÃO DISPONÍVEIS NO MERCADO. CONHEÇA O VASTO MUNDO DE ALIMENTOS NUTRITIVOS QUE ESTÃO AÍ, BROTANDO EM TERRENOS BALDIOS PERTO DA SUA CASA. É HORA DE COMER MATO. Quando pega a estrada, Valdely Kynupp olha para o canteiro ao lado da pista e enxerga um supermercado. O mato que, para o motorista comum, parece apenas fruto da má conservação das rodovias brasileiras, tem valor nutricional para esse botânico, pesquisador do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Amazonas (Ifam). Ele vê taboas, uma planta aquática típica de banhados, e imagina uma salada. O pólen da taboa, que tem seis vezes mais vitamina C que a laranja, pode ser comido puro, de colher. Ou junto com iogurte. Kynupp tem uma paixão por alimentos alternativos. Em sua tese de doutorado, estudou 1,5 mil inços, pragas e ervas daninhas na região metropolitana de Porto Alegre. Concluiu que 311 (cerca de 20%) tinham potencial alimentício. Isso é muito mais do que costumamos comprar na feira ou no supermercado. A FAO, o órgão das Nações Unidas para alimentação e agricultura, estima que a demanda mundial por alimentos dependa de 150 espécies, sendo que apenas 12 delas são responsáveis por 75% de tudo o que nós comemos. Nossa variedade alimentícia não é tão variada assim: arroz, milho e trigo fornecem metade de toda a energia alimentar do planeta (incluído aí o que é destinado para ração animal). Mas nem sempre foi assim. A FAO calcula que, ao longo da história, 7 mil espécies foram cultivadas para fins alimentares. Os critérios sobre o que é comestível variam conforme as culturas e a passagem do tempo, mas uma das mais completas listagens está no livro Plants for Human Consumption ("plantas para consumo humano", sem edição no Brasil), de Günther Kunkel. Na obra, o botânico alemão contabilizou 12,5 mil espécies potencialmente alimentícias. O número pode ser ainda maior. Um dos mais respeitados estudiosos da área, o ecologista argentino Eduardo Rapoport, estima em 27 mil as plantas que podem ser servidas na mesa. Então, quando Kynupp olha para a beira da estrada, não enxerga apenas um palmito alternativo com valor nutricional. Ele vê um enorme potencial desperdiçado. As plantas alimentícias não convencionais, conhecidas por uma sonora sigla (pancs), poderiam enriquecer em nutrientes e baratear em custo a dieta do brasileiro. Dentro das caravelas que chegaram às Américas, os europeus trouxeram sementes das suas espécies favoritas, como arroz e trigo. E o gosto do colonizador venceu a cultura dos índios, que se alimentavam do que a natureza oferecia ao seu redor. Cinco séculos depois, cerca de 52% das espécies mais consumidas no mundo vêm da Europa e da Ásia. Para cultivá-las em ecossistemas estrangeiros, agricultores do mundo todo fazem uma ginástica enorme, gastando bilhões de dólares em preparação do solo, sementes modificadas e pesticidas. O Brasil, por exemplo, importa mais de 60% do trigo que consome. E 90% da produção nacional está concentrada no Sul. Ou seja, para comer o pãozinho de cada dia, você depende de uma planta originária do Oriente Médio, que, se não foi importada da Argentina, do Uruguai ou do Paraguai, veio de um lugar do sul do País para virar farinha e cruzar milhares de quilômetros até chegar à padaria. E isso acontece no mundo inteiro. O trigo é produzido em poucas regiões do planeta - as zonas de produção são pequenas manchas no globo, principalmente na Europa, Ásia e América do Norte. Enquanto isso, possivelmente há plantas nutritivas brotando no quintal da sua casa ou em algum terreno baldio da vizinhança. "Mas a maioria das pessoas não enxerga isso. Vê tudo como mato", diz Kynupp, que consumiu, para fins acadêmicos, 253 das 1,5 mil espécies analisadas. São folhas, raízes, frutos e flores, entre outras partes de plantas. Em geral, as pancs, também chamadas de hortaliças negligenciadas ou subutilizadas, são mais amargas que as verduras compradas no supermercado. Algumas são levemente tóxicas. Mas o risco depende da sensibilidade de cada pessoa, do modo de preparo e, também, de quem colhe as plantas. "Quem mora na zona rural sabe diferenciar uma planta da outra, assim como quem mora na cidade tende a diferenciar marcas de carros", exemplifica Kynupp. Grande parte das plantas alimentícias não-convencionais também são consideradas "ruderais", ou seja, vegetais adaptados às cercanias das construções humanas, que se aproveitam dos restos de outros vegetais ou animais para crescer. São pragas que prosperam em solos ricos em nitrogênio, mas que possuem grande concentração de proteína. E é aí que reside o grande argumento dos defensores dessas plantas. Certo, elas são muito amargas e algumas são pragas tóxicas. Mas elas são muito nutritivas. "O Brasil é um dos países mais biodiversos do planeta, mas a nossa alimentação ainda é muito pobre. A gente come de dez a 20 plantas por dia, cerca de cem ao longo de um ano inteiro. Isso é pouco", diz Kynupp. "E quase tudo que a gente come não é brasileiro. A gente fala muito da biodiversidade brasileira e come a biodiversidade dos outros". O discurso é saboroso, mas, na prática, a valorização das espécies silvestres ainda está restrita aos círculos acadêmicos e ao setor mais hardcore das feiras de alimentos orgânicos. Em 2010, o Ministério da Agricultura lançou o Manual de Hortaliças Não-Convencionais, com orientações para cultivo e preparo de 23 espécies, entre elas o jacatupé, chuchu-de-vento, beldroega e ora-pro-nóbis. Este último é um dos poucos alimentos não tradicionais que têm relativa popularidade, especialmente em Minas Gerais, onde há até um festival gastronômico, em Sabará, dedicado à planta. Em maio do ano passado, a FAO manifestou preocupação com a diversidade alimentar e recomendou o consumo de insetos como fonte de proteína. Mas por que insetos e não pancs? Besouros e grilos ganharam atenção porque são saudáveis e a criação é barata. Para produzir a mesma proteína, o grilo precisa de um volume de alimentação 12 vezes menor que o gado, por exemplo. Além disso, ao contrário de plantas verdinhas, insetos são nojentos, então eles precisam de um incentivo, de uma campanha mais convincente para serem popularizados. Estudos apoiam a tese do potencial nutricional das variedades rústicas. Jo Robinson, jornalista e autora do recém-lançado livro Eating on the Wild Side ("comendo no lado selvagem", sem edição no Brasil), dá um exemplo: um dente-de-leão selvagem tem sete vezes mais fitonutrientes do que o espinafre, que, como sabe quem via Popeye, é um superalimento. Os fitonutrientes ajudam a combater o câncer, doenças cardiovasculares, diabetes e demência. Ainda há o caso de alimentos tradicionais que perderam potencial nutritivo, como o milho. Nas últimas décadas, ele vem sendo selecionado para ser mais doce, o que permite a produção de etanol. Hoje, quase 40% do milho é açúcar. A padronização cresce e nosso acesso a culturas alimentares diferentes diminui. Mas ainda há muito a explorar, especialmente entre essas espécies excluídas. Um passeio pelo Jardim Botânico de Porto Alegre ajuda a entender o que o aventureiro pode esperar de uma colheita silvestre em terreno urbano. O picão-preto, que tem folhas similares às de hortelã, nasce no meio da grama e tem sabor suave. Serralha lembra uma rúcula, mas não muito amarga. O sabor picante e doce é a marca das folhas da capuchinha, cuja flor já é usada como decoração de saladas. O picão-branco tem leve amargor e lembra o manjericão na aparência. Nenhuma dessas espécies é repugnante. A degustação não convencional foi acompanhada de uma conhecedora do tema, a diretora executiva do Jardim Botânico, Andréia Carneiro, especialista em pancs. Não por acaso, Andreia conviveu com Kynupp. "O Valdely fazia suco de cacto, que é a coisa mais nojenta do mundo", lembra. "Ele come qualquer porcaria". Andreia, diferentemente de Kynupp, não recomenda uma expedição gastronômica silvestre sem o acompanhamento de um especialista. "É difícil reconhecer as plantas se tu não és botânico", avisa. Além do mais, a tolerância aos sabores rústicos e ao nível de toxinas varia para cada pessoa. O amargor marcante em grande parte das folhas indica um dos maiores benefícios de incluir plantas negligenciadas na dieta. Segundo Andreia, o gosto forte revela a presença de compostos secundários na planta, que deixam os alimentos mais nutritivos. Em alguns casos, porém, isso indica o nível de toxidade da planta. "É um aviso da natureza", ensina. Portanto, cuidado na colheita. EXPERIMENTE PLANTAS NÃO CONVENCIONAIS QUE PODEM IR PARA SUA SALADA. CHUCHU-DE-VENTO - Famoso no Peru. Pode ser consumido cru, frito, ou cozido. O fruto é amargo adocicado. Acompanha carnes e molhos. ENCONTRE: É uma trepadeira, então precisa de espaço. É raro vê-lo em uma calçada. BELDROEGA - Boa para a salada. Os talos e folhas podem ser consumidos crus ou como sopas, sucos ou caldos, que ficam cremosos. ENCONTRE: Os ramos e folhas são pequenos e podem ser encontrados em qualquer solo rico em matéria orgânica – até mesmo em terrenos baldios. ORA-PRO-NÓBIS - Cacto com jeito de trepadeira, é popular em Minas, onde é consumido em angus, sopas, mexidos e omeletes. ENCONTRE: Em tudo que é lugar. Precisa de pouca água e sobrevive em condições extremas. SERRALHA - Conhecida também como chicória-brava, as folhas, quando tenras, combinam com salada verde. ENCONTRE: Comum em terrenos abandonados, próximo a muros e cercas. É uma erva resistente que não chega a 1 metro de altura. JACATUPÉ - Consumido na Amazônia Ocidental. As raízes podem ser comidas cruas, cozidas ou defumadas. É possível fazer polvilho das raízes para bolos e tortas. ENCONTRE: Mais difícil. É uma trepadeira comum em cabeceiras de rios da Amazônia. COMO NÃO MORRER COMENDO MATO EM 5 PASSOS 1- POR PARTES Algumas plantas são, sim, tóxicas. Mas as toxinas ficam mais perigosas à medida que são ingeridas em maior quantidade. O melhor a fazer é provar um pequeno pedaço. Se agradar, continue. Se parecer repugnante ou extremamente amargo, cuspa. 2- GOSTINHO AMARGO É um tema polêmico entre os apreciadores, mas o alto amargor pode indicar risco. Seria um aviso da natureza, aprimorado em milênios de coleta pelos nossos ancestrais. 3- FIBRAS Evite folhas ou caules muito fibrosos. Você terá dificuldade de mastigar e digerir. Se for pouco flexível, passe adiante. 4- CONFIE NOS ENTENDIDOS Quem já viu o filme Na Natureza Selvagem sabe do risco de confiar em livros e ilustrações para escolher o mato certo. Prefira ouvir botânicos, especialistas na flora local ou manuais de plantas comestíveis se estiver em dúvida. 5- PONHA NA PANELA Algumas plantas são difíceis de comer e até tóxicas quando cruas, mas se tornam palatáveis depois de cozidas. Cada caso é um caso, é claro, mas os riscos costumam diminuir quando as plantas vão ao fogo. PARA SABER MAIS Manual de Hortaliças Não-Convencionais. Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, 2010 3#9 ZOOM – COLEÇÃO PRIMAVERA VERÃO RETRÔ FOTO Leo Caillard DESIGN Ricardo Davino TEXTO Cristine Kist AS ESCULTURAS RENASCENTISTAS RETRATAM COM PERFEIÇÃO AS PROPORÇÕES DO CORPO HUMANO – E É POR ISSO QUE OS MODELOS QUASE SEMPRE ESTÃO SEM ROUPA, MAS E SE ELES ESTIVESSEM VESTIDOS? Foi durante um passeio pelo Museu do Louvre que o artista francês Leo Caillard parou para pensar pela primeira vez sobre que roupas os modelos usavam quando não estavam posando para escultores. E aí ele resolveu vestir as estátuas - a representação máxima do clássico - com as peças mais modernas que conseguiu encontrar. O resultado foram figuras ainda mais humanas (e muito mais divertidas) do que na versão tradicional. Obviamente, Leo não recebeu autorização para encostar nas obras. O jeito então foi fotografar uma a uma. Ele registrou mais de cem, e depois foi atrás de modelos reais que tivessem o mesmo tipo físico delas. Os escolhidos foram retratados na mesma posição e com a mesma luz das esculturas, e aí as fotos foram sobrepostas. A ideia de misturar passado e presente veio da física. Leo é fã da teoria da relatividade desde criança: "A realidade não existe por si mesma, é só uma representação do mundo que depende do seu ponto de vista. E a fotografia é toda sobre tempo, espaço e realidade." Aristeu (1817), de François Joseph Bosio, veste ANEL DE BICHEIRO. Diane (1778), de Christophe-Gabriel Allegrain, veste PROJETO VERÃO. Cristo (1572), de Germain Pilo, veste CAMISA JEANS ABERTA ATÉ O UMBIGO. Meléagro (1771) de Louis Simon Boizot, veste BERMUDA PÊSSEGO. Titã atingido (1711), de François Dumont, veste ÓCULOS DE GOSTO DUVIDOSO. Bacante (1774), de Augustin Pajou, veste GÓTICA NO SAMBA. 4# GUIA janeiro 2014 4#1 TECH 4#2 CULT 4#3 E SE... – E SE MANDELA NÃO TIVESSE NASCIDO? 4#4 MANUAL – COMO ENFRENTAR A RESSACA 4#1 TECH super.abril.com.br/blogs/rebit O REI DOS CARTÕES Cartão de débito. Cartão de crédito. Cartão de fidelidade da companhia aérea, do supermercado, do posto de gasolina. Cartão do plano de saúde. As carteiras nunca estiveram tão estufadas. Mas agora existe um cartão que pode substituir (quase) todos os outros. TEXTO / Fernando Badô c Bruno Garattoni O QUE É - Ele se chama Coin, e tem o mesmo tamanho de um cartão comum. Só que é eletrônico. Dentro, há um chip que armazena as informações (número e prazo de validade) de até oito cartões. Ou seja: você pode transferir todos os seus cartões para a memória do Coin, e andar por aí só com ele. COMO FUNCIONA - Primeiro, você escaneia os seus cartões atuais usando um aparelhinho próprio. Os números e as informações deles (data de vencimento, etc) são transferidos para a memória do Coin. Quando você for pagar uma conta, é só pegar o Coin e apertar um botão para selecionar qual dos cartões quer usar. QUAL A VANTAGEM- Além de deixar a carteira mais leve, o cartão inteligente tem outra vantagem: é mais seguro, pois se comunica via Bluetooth com o seu celular. Se você o esquecer em algum lugar, ele perceberá e avisará na hora mandando um SMS. Se mesmo assim você não for buscá-lo, ele se bloqueará automaticamente. E O PORÉM - Para usar o Coin, é preciso ter iPhone (não funciona em Android). Ele não tem a tecnologia Near Field Communication, então não substitui os cartões que usam esse sistema (crachás de empresa e cartões de ônibus e metrô). E ainda não funciona no Brasil. COIN NOS EUA: R$ 230 onlycoin.com 1- TRAILER DA NASA Criado por um ex-projetista da Nasa, ele tem design inspirado nas cápsulas espaciais e pesa apenas 270 kg. Por isso, pode ser rebocado por qualquer carro. Em compensação, não tem banheiro nem cozinha, só uma cama de casal. TAXA FIREFLY NOS EUA: R$ 20.500 taxafirefly.com 2- MAC DO MILHÃO Este cilindro vermelho é um Mac. Foi criado por Jony Ive, vice-presidente de design da Apple, e leiloado por incríveis US$ 977 mil. Apenas um foi produzido. A versão que está no mercado é a preta, igualmente possante (6 chips de 3,5 GHz, 16 GB de memória, duas placas de vídeo). E bem cara também. MAC PRO R$ 17.499 apple.com.br 3- FAIXA QUE CURA Suas pernas sempre doem depois que você corre? Esta faixa emite uma pequena corrente elétrica, que aumenta a circulação de sangue no local e acelera a recuperação dos músculos. A eficácia foi comprovada por estudos de universidades inglesas. ONPULSE NA EUROPA: R$ 110 goo.gl/WEhjvm 4- VARINHA MÁGICA Ela emite raios ultravioleta C - que matam até 99,9% das bactérias, dos fungos e dos vírus presentes em superfícies. Basta passar a luz por alguns segundos sobre o que você quer desinfectar. É a mesma tecnologia usada em hospitais. CLEANWAVE PORTABLE NOS EUA: R$ 95 verilux.com 5- BARATO E BOM Android barato sempre foi sinônimo de dor de cabeça (ficava lento, sem memória e travando após alguns meses). Não mais. Este tem processador quad-core, 8 GB, tela de alta resolução com 4,5 polegadas e design caprichado. Nem parece um celular básico. MOTO G R$ 650 motorola.com.br 6- PLAYSTATION FELINO Falta tempo (ou disposição) para brincar com o seu gato? Este brinquedo é uma torre giratória que projeta um feixe de laser no chão para o bichano correr atrás. Alguns cachorros podem se animar também. BOLT NOS EUA: R$ 47 frolicat.com COMO TER MAIS LIKES NO INSTAGRAM A empresa de consultoria Curlate analisou 8 milhões de fotos do Instagram, e identificou as características das imagens mais populares. PASSO 1 Use a cor azul. As imagens mais curtidas são predominantemente dessa cor. PASSO 2 Deixe o fundo visível (não foque apenas no primeiro plano). PASSO 3 Use os filtros "Walden" ou "Rise". 4#2 CULT WORKAHOLIC ALLEN Enquanto você dorme, Woody Allen trabalha. O diretor completou 78 anos em dezembro e, desde que começou a fazer cinema, mantém a incrível média de mais de um filme por ano. Blue Jasmine, o mais recente, ainda nem saiu de cartaz, e mesmo assim o próximo filme já está em fase de pós-produção. A SUPER fez um levantamento de todos os longas metragens que Allen já fez no cinema. 58 filmes Média de 1,18 por ano 1965 – O que é que Há, Gatinha? [roteiro/ator] 1966 – O que Há, Tigressa [roteiro/direção] 1967 Cassino Royale [roteiro/ator] 1969 Um Assaltante Bem Trapalhão [roteiro/direção/ator] 1970 – Uma Gatinha por Dia [roteiro] 1971 – Bananas [roteiro/direção/ator] 1972 – Sonhos de um Sedutor [roteiro/ator]; Tudo o Que Você Sempre Quis Saber Sobre Sexo E Tinha Medo de Perguntar [roteiro/direção/ator] 1973 – O Dorminhoco [roteiro/direção/ator] 1975 – A Última Noite de Bóris Grushenko [roteiro/direção/ator] 1976 – Testa-de-ferro Por Acaso [ator] 1977 – Noivo Neurótico, Noiva Nervosa [roteiro/direção/ator] 1978 – Interiores [roteiro/direção] 1979 – Manhattan [roteiro/direção/ator]. 1980 – Memórias [roteiro/direção/ator] 1982 – Sonhos Eróticos de uma Noite de Verão [roteiro/direção/ator] 1983 – Zelig [roteiro/direção/ator] 1984 – Broadway Danny Rose [roteiro/direção/ator] 1985 – A Rosa Púrpura do Cairo [roteiro/direção] 1986 – Hannah e Suas Irmãs [roteiro/direção/ator] 1987 – A Era do Rádio [roteiro/direção/ator]; Rei Lear [ator]; Setembro [roteiro/direção] 1988 – A Outra [roteiro/direção] 1989 – Contos de Nova York [roteiro/direção/ator]; Crimes e Pecados [roteiro/direção/ator] 1990 – Simplesmente Alice [roteiro/direção] 1991 – Neblina e Sombras; Cenas em um Shopping [ator] 1992 – Maridos e Esposas [roteiro/direção/ator] 1993 – Um Misterioso Assassinato em Manhattan [roteiro/direção/ator] 1994 – Tiros na Broadway [roteiro/direção] 1995 – Poderosa Afrodite [roteiro/direção/ator] 1996 – Todos Dizem Eu Te Amo [roteiro/direção/ator] 1997 – Desconstruindo Harry [roteiro/direção/ator] 1998 – Celebridades [roteiro/direção]; Formiguinhaz [ator]; Os Impostores [ator] 1999 – Poucas e Boas [roteiro/direção] 2000 – Trapaceiros [roteiro/direção/ator]; Company Man [ator]; Juntando os Pedaços [ator] 2001 – O Escorpião de Jade [roteiro/direção/ator] 2002 – Dirigindo no Escuro [roteiro/direção/ator] 2003 – Igual a Tudo na Vida [roteiro/direção/ator] 2004 – Melinda e Melinda [roteiro/direção] 2005 – Ponto Final – Match Point [roteiro/direção] 2006 – Scoop: O Grande Furo [roteiro/direção/ator] 2007 – O Sonho de Cassandra [roteiro/direção] 2008 – Vicky Cristina Barcelona [roteiro/direção] 2009 – Tudo Pode Dar Certo [roteiro/direção] 2010 – Você Vai Conhecer o Homem dos Seus Sonhos [roteiro/direção] 2011 – Meia-Noite em Paris [roteiro/direção] 2012 – Para Roma, com Amor [roteiro/direção/ator]; Paris-Manhattan [ator] 2013 – Blue Jasmine [roteiro/direção]; Fading Gigolo [ator] 2014 – Magic in the Moonlight [roteiro/direção] 53% dos filmes tiveram Nova York como pano de fundo MUSAS: Mia Farrow 13 filmes; Diane Keaton 8 filmes; Scarlet Johansson 3 filmes OSCARS Diretor: Noivo Neurótico, Noiva Nervosa Roteiro: Noivo Neurótico, Noiva Nervos; Hannah e Suas Irmãs; Meia-Noite em Paris 1 LIVROS EM 13 NÚMEROS "Você diz que quer uma revolução / Bem, você sabe / Todos nós queremos mudar o mundo". Se os Beatles estiverem mesmo certos - e eles geralmente estão -, este livro tem tudo para funcionar. Nele, estão reunidas pequenas biografias de revolucionários que tentaram mudar o mundo à sua maneira (e que, felizmente, nem sempre conseguiram). A VIDA LOUCA DOS REVOLUCIONÁRIOS, Demétrio Màgnoli, Leva, RS 39,90. Entre os 12 revolucionários escolhidos para o livro, está SÓ UMA mulher. Ela é Ulrike Meinhof, alemã que criou uma organização guerrilheira de ultraesquerda. O poeta Filippo Marinetti, criador do futurismo, foi um dos responsáveis por escrever o Manifesto Fascista de 1919. O africanista Marcus Garvey sonhava tornar a África uma potência mundial, mas nasceu na Jamaica, onde NOVE DE SEUS 10 irmãos morreram ainda crianças. Durante o período em que Pol Pot esteve no poder no Camboja, morreram mais de 1.500.000 PESSOAS. PALAVRAS-CHAVE: quantas vezes elas aparecem no livro Morte 28 Exílio 18 História 49 Política 102 Mundo 58 Regime 56 George Orwell escreveu A Revolução dos Bichos em apenas 4 meses. Depois que ele morreu, a CIA comprou os direitos da adaptação para o cinema e mudou a moral da história. NO QUE MAIS VOCÊ DEVE PRESTAR ATENÇÃO A selfie do Darth Vader Dezembro foi o mês das selfies: teve a moça que tirou uma foto de si mesma em frente a uma ponte onde um sujeito ameaçava se suicidar (e acabou na capa do New York Post do dia seguinte), o presidente Obama posando com os BFFs durante o funeral de Nelson Mandela e, último mas não menos importante, o Darth Vader em pessoa fazendo carinha-de-quem tá-gostando-demais na sua primeira foto oficial no Instagram. O sétimo filme de Star Wars só deve ser lançado em 2015, mas a equipe mostrou que está antenada e já criou uma conta na rede social. A expectativa é de que os bastidores do próximo longa sejam postados por lá. Se você quiser acompanhar a movimentação no lado negro da força, siga @starwars HOLMES NÃO MORREU Estreia em janeiro no Reino Unido a terceira temporada de Sherlock, a ótima série da BBC que adapta as histórias do detetive criado por Conan Doyle no século 19 para a Londres dos anos 2000. No final da segunda temporada, Sherlock finge a própria morte ao se jogar de um prédio. O episódio foi baseado na novela O Problema Final, que Conan Doyle escreveu quando de fato tinha a intenção de matar o personagem. Já na série, todo mundo sabia que ele estava se matando só de mentirinha - o que ninguém sabe é como ele fez isso. Nós separamos as melhores teorias no blog: abr.ai/19vlbjj. CINE SUPER WALL STREET UMA ESTRÉIA O Lobo de Wall Street Na sua quinta parceria com o diretor Martin Scorsese, Leonardo DiCaprio vive no cinema a história real do corretor Jordan Belfort, que enriqueceu e passou a abusar do álcool e das drogas. Belfort acabou condenado a 22 meses de prisão por fraude e lavagem de dinheiro, e seus clientes perderam mais de US$ 200 milhões. 24 DE JANEIRO nos cinemas NÃO DA PARA PERDER WALL STREET OLIVER STONE, 1987 Corretor ladrão introduz ator encrenqueiro no lado negro dos negócios. WALL STREET: O DINHEIRO NUNCA DORME OLIVER STONE, 2010 Corretor ladrão sai da cadeia e descobre que sua filha está namorando com outro ator encrenqueiro. TRABALHO INTERNO CHARLES FERGUSON, 2010 Matt Damon explica por que os responsáveis pela crise de 2008 foram promovidos, e você não. NÃO DÁ PARA DEIXAR DE PERDER ASSALTO EM WALL STREET UWE BOLL, 2013 Segurança inexpressivo é enganado por corretor pilantra e resolve matar todo mundo sem mais nem menos. 4#3 E SE... - E SE MANDELA NÃO TIVESSE NASCIDO? Sem Nelson Mandela, o fim do apartheid seria mais lento e mais sangrento - talvez descambando para guerra civil. Acompanhe um enviado especial (e ficcional) a uma África do Sul onde Madiba nunca existiu. REPORTAGEM IMAGINÁRIA Leandro Beguoci ILUSTRAÇÃO Eduardo Arruda Logo nas primeiras horas em Joanesburgo, entendi que a África do Sul é unida por conveniência, não por convicção. Nunca tinha visto uma cidade em que bairros inteiros são murados. É uma imagem simples e poderosa. Ela resume os impasses de uma nação que derrubou as barreiras da segregação racial, mas não conseguiu encontrar um caminho. Hoje, é uma confederação de condomínios. Fui convidado pelo recém-criado Ministério do Turismo da África do Sul, junto com uma comitiva de jornalistas estrangeiros, para passar duas semanas no país. Havia objetivos claros: mostrar que a guerra civil já estava superada e atrair turistas - são raros. Há uma campanha, discreta, para que o país receba a Copa do Mundo de 2026. Seria a primeira da história da África. O turismo faz parte de uma ampla estratégia de relações públicas. Na Cidade do Cabo, um casal formado por uma mulher branca e um homem negro serviu ao nosso grupo como guia. Eles faziam questão de andar de mãos dadas e se beijar em cada parada da comitiva. Essa cena só poderia vir de um país em que o apartheid reinou por mais de 40 anos e foi substituído pela guerra civil ocorrida entre 1994 e 2003. Sem encontrar um caminho de conciliação que permitisse uma transição pacífica, a África do Sul foi palco de uma guerra de todos contra todos que deixou um legado enorme de desconfiança - interno e externo. Assim que o presidente Frederik Willem de Klerk conseguiu apoio internacional para por fim às leis do apartheid, ele mostrou à sua base interna (e branca) que o mundo tinha mudado e que, numa economia mundial integrada, o boicote econômico traria consequências gravíssimas. Não era mais possível viver sozinho nos anos 90. O problema é que os brancos abriram mão da segregação, mas não do controle político. Os negros já poderiam se sentar nos mesmos bancos que eles, mas não teriam o mesmo poder. O governo propôs então uma solução que foi uma tragédia política: um regime parlamentarista no qual um presidente é sempre branco e o primeiro-ministro, negro. Além de manter a cor de pele como critério, a proposta não se atentava a um detalhe crucial: o movimento negro de oposição estava dividido e não tinha nenhum nome de consenso para ocupar esse cargo. As tensões explodiram em 1994, quando um extremista branco tentou matar De Klerk, dizendo que ele estava transformando a África do Sul num Zimbábue - onde os europeus foram expulsos das suas terras. A guerrilha organizada em torno do CNA (Congresso Nacional Africano) reagiu. Veio a guerra e, bem, seus capítulos são bem conhecidos. Brancos contra negros, negros contra negros, brancos contra brancos. Foi uma sucessão de tragédias, espalhadas por todo o país. Por alguns anos, na última década do século 20, a África do Sul foi um Estado falido. E que só saiu do impasse por exaustão. A violência foi tão grande que cerca de 40% da população do país morreu em pouco menos de dez anos. Os adultos que restaram eram refugiados assustados ou intelectuais no exílio. Foi desse último grupo que saiu o principal artífice do acordo de paz, o professor Wilmot Godfrey, um mulato que passou boa parte da sua vida acadêmica nos EUA. Presidente desde o final da guerra, ele criou a obrigatoriedade de que os partidos políticos fossem multirraciais, tornou as eleições livres e democráticas, lançou um ousado programa de obras de reconstrução e criou um maciço sistema de educação pública. Em declarações recentes, ele vem dizendo que vai encerrar seu mandato, em 2014, como o primeiro presidente da era da reconstrução. Mas admite que falta algo, tão difícil de se ver quanto as casas atrás dos muros do condomínio: confiança. Ninguém acredita que as eleições são justas, por exemplo. Nem que ele seja o mais preparado para governar o país. A paz foi feita por cansaço. E com grande ajuda dos EUA, que se comprometeram a financiar a reconstrução do país após o conflito. Um acordo, aliás, que anda mais lento do que os africanos gostariam - ainda mais num governo Hillary. Até hoje, ninguém foi capaz de mostrar que a África do Sul é capaz de construir um futuro. E, infelizmente, não é uma temporada em um resort no Cabo da Boa Esperança que vai mudar essa imagem. Às vezes, o que um país destruído mais precisa para reencontrar o rumo é de um símbolo. Lincoln fez esse papel nos EUA. Mas para isso, infelizmente, a África do Sul ainda não teve alguém dessa estatura. 4#4 MANUAL – COMO ENFRENTAR A RESSACA Depois de uma noite de excessos, é certo que você irá acordar se sentindo mal - fraco, enjoado, com dor de cabeça. A ressaca não falha. Mas isso não significa que você deva se render a ela. Veja o que é possível fazer. TEXTO / Aurelio Amaral ANTES 1- Coma peixe ou frango com arroz. Barriga cheia atrapalha a absorção do álcool e ajuda a ficar menos bêbado. Coma peixe ou frango com arroz integral. Esse prato inclui proteínas e carboidratos complexos, que demoram para ser digeridos. 2- Não tome remédio. Sabe aqueles remédios do tipo "um antes, outro depois"? Evite. "Contêm cafeína, que é estimulante e pode acabar fazendo a pessoa beber mais", diz Alfredo Salim Helito, clínico-geral do Hospital Sírio-Libanês. DURANTE 1- Prefira bebidas claras. Um estudo alemão provou que as bebidas escuras contêm mais metanol - que provoca uma ressaca mais dolorosa que o álcool comum (etanol). 2- Mas fuja do espumante. Ele tem bastante álcool (10%) e gás - que faz o corpo absorver álcool 35% mais rápido. Você ficará mais bêbado, e terá mais ressaca. 3- Carboidrato rápido. O álcool atrapalha a produção de glicose, deixando você mal nutrido. Para compensar, coma batata cozida, ou algo feito de farinha branca, como um salgado. Ela tem carboidratos de rápida absorção, que elevam a glicose. 4- Fez xixi? Beba água. Uma das causas da ressaca é a desidratação (ela faz o cérebro literalmente encolher, provocando dor de cabeça). Uma caipirinha de 250 ml, por exemplo, pode fazer você urinar até 1 litro. Beba um copo d'água sempre que voltar do banheiro. DEPOIS 1- Se estiver com muita dor de cabeça, pode tomar um ibuprofeno ou dipirona. Evite aspirina, que irrita o estômago, e analgésicos com paracetamol - combinados ao álcool, sobrecarregam o fígado. 2- Ande um pouco. A atividade física acelera o metabolismo - e a eliminação do álcool. Se você conseguir, dê até uma corridinha: isso fará o corpo liberar endorfina, um analgésico natural que promove o bem-estar. 3- Beba um suco. De preferência melancia (porque contém 90% de água) com gengibre. "O gengibre é a melhor pedida contra o enjoo", diz a nutricionista Manuela Dolinsky, da Universidade Federal Fluminense. 4- Coma um ovo cozido. Ele contém cisteína, um aminoácido que ajuda o corpo a se recuperar - porque anula o acetaldeído, um subproduto tóxico do álcool que é o principal responsável pela sensação de ressaca.