0# CAPA 20.8.14 ISTOÉ edição 2334 | 20.Ago.2014 [descrição da imagem: foto do rosto do candidato à presidência do Brasil, Eduardo Campos] O LEGADO DE EDUARDO CAMPOS Eduardo Campos construiu uma nova forma de fazer política no Brasil e se preparava para seu maior projeto VOO FATAL Saiba como foram os últimos momentos de Eduardo campos em vida. SUCESSÃO Marina Silva torna-se a candidata natural para substituir Campos na corrida ao Planalto _______________________ 1# EDITORIAL 2# ENTREVISTA 3# COLUNISTAS 4# ESPECIAL EDUARDO CAMPOS 5# BRASIL 6# COMPORTAMENTO 7# MEDICINA E BEM-ESTAR 8# ECONOMIA E NEGÓCIOS 9# MUNDO 10# TECNOLOGIA E MEIO AMBIENTE 11# CULTURA 12# A SEMANA _____________________________ 1# EDITORIAL 20.8.14 "UM LÍDER INOVADOR" Carlos José Marques, diretor editorial Quando ousou lançar-se como uma terceira via à polarização PT-PSDB, que prevalece na corrida presidencial há quase duas décadas, o candidato Eduardo Campos trouxe consigo um conjunto de credenciais que fazia jus ao tamanho da empreitada. Herdeiro do mitológico avô Miguel Arraes, Campos trilhou uma trajetória fulgurante desde a política estudantil na Universidade Federal de Pernambuco até o governo de seu Estado, de onde saiu após dois mandatos com o maior índice de aprovação do País. E não era para menos. Campos como mandatário estadual adotou uma forma diferente de fazer política e de exercer o poder, em sintonia com o que há de mais inovador. Baseou sua administração na meritocracia e na intolerância ao mau uso da coisa pública. Adotou práticas típicas do setor privado como o estabelecimento de metas e prêmios por desempenho, alcançando resultados fabulosos. Multiplicou os investimentos privados no Estado. Derrubou os números de homicídios, até então recorde. Impregnou a região com uma atmosfera de modernidade administrativa e justiça social que o converteu naturalmente numa liderança nacional. Em um feito surpreendente, capaz de medir o tamanho da popularidade que construiu, há cerca de dois anos ele se colocou contra o conterrâneo e maior ícone político de sua terra, Lula, na disputa pela Prefeitura do Recife. Indicou um candidato próprio que levou o cargo no primeiro turno frente ao apadrinhado do ex-presidente. Ao vencer Lula numa queda de braço local, Campos mostrou força e rompeu ali os laços da aliança que até então os unia – e que o havia transformado em ministro de Lula – para dar início ao grande projeto de concorrer à Presidência. Trouxe para as suas fileiras, em mais uma jogada sagaz e inesperada no ambiente dos caciques, a senadora e ambientalista Marina Silva, que se colocou como vice em sua chapa com um dote de mais de 20 milhões de votos arrebanhados na última eleição (quando havia concorrido ela mesma à Presidência). Campos tinha a habilidade rara de trafegar entre a esquerda xiita e a direita mais conservadora de maneira envolvente, sem macular seus princípios ou se desviar um milímetro do rumo traçado, e foi por isso mesmo capaz de costurar alianças impensáveis e de superar impasses tidos como insolúveis. Era admirado por todos os adversários. O próprio ex-presidente Lula, apesar dos pesares, não havia abandonado o sonho que acalentou por anos de dividir com ele uma futura chapa presidencial mais adiante. Aécio Neves, em plena sintonia com suas propostas, o via como um parceiro de projeto para o Brasil. E mesmo Dilma enxergava nele um companheiro de luta. Com tamanha unanimidade, Eduardo Campos empreendeu uma marca singular na vida política brasileira. Como um dos mais promissores gestores de sua geração, egresso de uma dinastia familiar e de uma estirpe de homens públicos que lutou até o fim por ideias republicanas e princípios democráticos, sai de cena prematuramente aos 49 anos de maneira trágica e lamentável – por ironia do destino, no mesmo dia em que faleceu seu avô Arraes. Foi profético na última entrevista que concedeu na noite anterior ao acidente: “Não vamos desistir do Brasil”. Com sua morte, deixa uma lacuna imensa, mas também um grande legado. Fazia parte de seus planos, por exemplo, ampliar nacionalmente experiências revolucionárias, como a da erradicação do analfabetismo a partir de um modelo, já testado com sucesso, de aulas em horário integral. Campos pensava adiante, como um novo político para um novo tempo. Que o sopro de suas ideias contamine e sirva de modelo à leva de mandatários que irá tocar o País daqui para à frente. ______________________________________ 2# ENTREVISTA 20.8.14 TONY RAMOS - "PREFIRO UM CASAL HOMOSSEXUAL A UM CAROLA PRECONCEITUOSO" O ator desdenha da fama de certinho, conta que considera os programas eleitorais uma chatice e diz que a sociedade tem de aprender a respeitar e a aceitar os gays por Rodrigo Cardoso (rcardoso@istoe.com.br) VAIDADE - Quando a barriguinha aparece, ele faz dieta e corre na esteira. Os pelos do peito são aparados pela mulher O paranaense Antônio de Carvalho Barbosa tinha medo de beijar durante a juventude. A crendice de que o contato entre bocas seria suficiente para gerar uma gravidez o afastava de potenciais namoricos. O jovem logo enveredou para a carreira artística e, sob o nome de Tony Ramos, encenou beijos calorosos com as maiores atrizes do País. "Faço uma novela que fala de sexo, mas entra às 23h. Espero que meu filho diga para os meus netos que, apesar de o vovô estar no ar, é melhor que eles não assistam" Aos 65 anos, 50 de carreira, está longe da timidez de outrora, mas segue reservado. Não gosta da exposição que as redes sociais proporcionam hoje em dia e sente saudade do tempo em que comia sanduíche de pernil com cebola e tomate em São Paulo. Casado há 45 anos com Lidiane, pai do médico Henrique, 43, e da advogada Andréia, um ano mais nova, está no ar na novela “O Rebu”, da Rede Globo. "Não tenho Facebook e nem sei o que é Twitter. Não tenho o menor interesse de me fotografar saindo do banho e colocar na internet" Istoé - Se fossem crianças, seus filhos teriam restrições para assistir à tevê aberta? Tony Ramos - Faço uma novela cuja temática é forte, fala de sexo, mas entra à 23h. Espero que meu próprio filho diga para os meus netos que, apesar de o vovô estar no ar, é melhor que eles não assistam. Mas acho que a gente não pode ser autocensor e muito menos aceitar censura. Não sou corporativista e acho que a televisão e a imprensa devem ser livres, investigativas, apontar caminhos e ser responsáveis. Revistas de mulheres nuas, para mim, deveriam vir fechadas em uma capa especial, porque a nudez fica exposta nas bancas. A educação para quem assiste tevê começa dentro de casa. Istoé - Como assim? Tony Ramos - Não é porque você vê uma novela com temática homossexual em uma novela das 21h que você vai se escandalizar. Eu me escandalizo também com casal heterossexual que resolve se beijar no meio da rua de forma ostensiva. É desnecessário. Isso não tem a ver com caretice, mas com bom senso, estética, ética. Mas, sim, não se escandalizar com beijo entre homossexuais é um exercício. A sociedade tem de aprender que eram pessoas infelizes quando estavam cerceadas, no armário. Prefiro um casal homossexual a um carola preconceituoso, que reza na igreja um Pai-Nosso e sai de lá apontando o dedo a terceiros. Os homossexuais são um segmento da sociedade que, hoje, está aí tentando o chamado “lugar ao sol” para a tolerância. Eles têm todo o direito, perante a Constituição, perante a vida e, digo mais, perante Deus. O papa Franscisco disse: “Quem sou eu para julgar um homossexual?” Istoé - Considera-se melhor avô do que pai? Tony Ramos - Nunca fiz diferenciação entre filhos e netos. Fui um excelente pai. Aliás, continuo sendo um excelente pai. Como a minha mulher é uma mãe excepcional. Mas insisto, como fiz com os filhos, que a evolução do homem se dá pelo intelecto, e não apenas pelas máquinas. A leitura de um bom livro, jornais, revistas, é fundamental. Meus netos ficam impressionados porque faço muitas palavras-cruzadas. Me preocupo em falar com eles sobre música erudita. Todas as tendências, ritmos, samba, hip-hop, têm de ser respeitadas, mas os netos devem saber que melodia e harmonia são fundamentais. Compro coleções de música erudita, filmes e dou aos meus filhos. Sem educação um país não se torna uma nação. Istoé - É uma questão que o preocupa? Tony Ramos - Sempre fui um pai preocupado com a educação, a informação, e sou um avô igual. Os que me consideram chato, reflitam. Não adianta raciocínio de jogos de computador, fingir que tenho acesso ao mundo, sendo que não se reflete. E aqui não é uma reclamação, é quase um socorro. Esse país precisa fazer um mutirão em favor do professor e do aluno. Entregar à nação um povo mais preparado é fundamental. Muitas vezes os alunos são quase analfabetos funcionais. A criança deveria ser ocupada das 7h30 até as 16h como ocorre em nações menos ricas que a nossa. Istoé - Acredita nos políticos? Tony Ramos - Não quero ser um frustrado eterno, um homem decepcionado, entristecido com a vida. Quero ainda acreditar que é possível, que há homens e mulheres interessados em mudar o rumo da história, criar prioridades e transformar o País a partir da educação. Este país precisa de um mutirão na educação e na saúde. É um sonho que não acho utópico, mas difícil, complicado. Não quero dizer que me decepciono. Não assisto a programas eleitorais. Acho-os um erro, um saco, com colocações didáticas, chatas, que não levam a nada. Falta conflito. Gosto de debates. Istoé - É verdade que o sr. recebeu um cachê de R$ 3 milhões para ser garoto propaganda da Friboi? Tony Ramos - Nem de longe. Adoraria ter esse dinheiro na minha conta. Mas não vou polemizar sobre esse assunto. O Fisco sabe que não recebi esse montante. Não sou de fazer muita propaganda. Nunca fiz de remédio, cigarro, plano de saúde, álcool. Istoé - É antenado às novas tecnologias, usa as redes sociais? Tony Ramos - Não uso. Não quero me expor mais do que já estou exposto. O Antonio Fagundes, por exemplo, nem computador tem. Eu tenho um, que é bom, e gosto de acessar a internet para ver sites de turismo. Mas não tenho o menor interesse de me fotografar saindo do banho, comendo isso ou aquilo, e colocar na internet. Há um exercício de narcisismo, hoje. Mas atenção patrulha organizada da internet: não estou negando o direito a isso, apenas não é minha praia. Istoé - Não tem Facebook? Tony Ramos - Não tenho Facebook e nem sei o que é Twitter, entendeu? Não adianta mandar WhatsApp para mim porque eu não tenho. Tenho e-mail, evidentemente, por onde recebo os capítulos. E uso o celular para telefonar (risos)! Já vi quatro pessoas em uma mesma mesa de restaurante com seus celulares em mãos, digitando, sei lá, para Marte. Olha-se para o outro, ao próximo, hoje, através de uma tela de celular, de um tablet, quando, na verdade, a convivência requer muito exercício, dedicação e afeto. Istoé - Qual o momento da vida em casal que o sr. e Lidiane vivem após 45 anos juntos? Tony Ramos - A constatação de que o lúdico permanece, que um olha para o outro e basta um sinal para se entender, o prazer de estar junto, a vontade de colocar a cabeça no colo e trocar confidências. A minha lente de aproximação com a minha mulher é definitivamente na alma, é uma respiração de afeto, uma transpiração de amor. Isso é muito maior do que desejo, paixão efêmera. Você sabe que quem está lendo pode achar que estou mantendo a imagem. Cada um pensa o que quiser, não vou pensar por terceiros. E, aliás, não estou nem aí para o que pensam. Istoé - É possível casamento ir adiante sem amor ou sexo? Tony Ramos - O sexo depois de uma idade se modifica, não que deixe de existir. Nós aqui ainda estamos em uma fase muito produtiva (risos). Pode ser que outras pessoas encontrem outro tipo de amor em uma convivência de amizade. Eu e Lidiane não conseguiríamos viver assim. Ela é um ser muito libertário, uma mulher de um humor demolidor. Minha companheira, Lidiane, é um bicho alado, boa em todas as direções, presente sempre. Eu e Lidiane não nos levamos a sério nesta vida. A gente, sim, vive com seriedade frente à vida. Istoé - Como reage à fama de bonzinho, certinho demais? Tony Ramos - Já me incomodei. Hoje, não mais. Se um homem que gosta de respeitar os outros, admira seus companheiros de trabalho, telefona para eles após uma cena, acredita no bom senso da ética, diz todos os palavrões do mundo, mas nunca publicamente, porque respeita a pluralidade de comportamentos diferentes, acredita na lealdade aos amigos, defende a sinceridade, não suporta a soberba, a intolerância, o preconceito, a inveja, é ser bonzinho, certinho, então, eu sou e vou morrer assim. Istoé - E ao rótulo de celebridade? Tony Ramos - Celebridade para mim é um célebre com idade certa para acabar. Celebridade que se acredita ser como tal tem de tomar algum remédio, fazer tratamento, fazer um exame acústico e olhar para dentro de si mesmo. Celebridade para mim é Einstein, Tom Jobim, Beethoven, Bach, Pixinguinha. A gente, quando muito, é famoso, renomado. Vaidade para mim é aquela que o faz se sentir bem ao se olhar para o espelho. Aquela vaidade burra, nociva, não tem a menor possibilidade de passar perto de mim. Sou um homem muito bem resolvido. Mas, se estou com uma barriguinha, faço uma dieta, corro na esteira. Alguns de meus pelos estão ficando bem brancos no peito. Istoé - Já pediram para o sr. raspá-los para viver algum personagem? Tony Ramos - Nunca foi necessário. Se fosse uma necessidade profissional, eu rasparia. Eu aparo os pelos. A minha mulher, a cada 40 dias, dá uma aparadinha neles com uma máquina com pente no nível três. Eu, realmente, tenho bastante pelos. Se visto uma camiseta, eles começam a saltar pela gola. Mas deixo os buracos no peito quando raspam para fazer eletrocardiograma. Já fui para a praia – e tenho foto – com os três buracos no peito que fizeram quando me submeti ao exame de esforço físico. É uma característica física minha que vem do lado materno da família. Na adolescência, os amigos queriam ser como eu, com o peito cheio de pelos. Istoé - O sr. chora? Tony Ramos - Por metro! Com o “Hino Nacional”, com o “Brasileirinho” tocado pelo Valdir Azevedo, com a “Ave-Maria” de Gounod. Nunca me esqueço que, às seis da tarde, é o momento ritualístico da Ave-Maria. Se possível, quando vai dar seis da tarde, entro em uma igreja. E choro com a dor da miséria. Outro dia, chorei lendo quatro cenas dos capítulos que recebi. Imagina como elas ficarão prontas. Agora, quer me deixar emocionado? Põe a sinfônica de Nova York, a filarmônica de Berlim, um grande regente para tocar. _________________________________ 3# COLUNISTAS 20.8.14 3#1 RICARDO BOECHAT 3#2 LEONARDO ATTUCH - MAIS DO QUE EDUARDO, MENOS QUE EM 2010 3#3 GISELE VITÓRIA 3#4 ANA PAULA PADRÃO - AULA DE AUTOESTIMA 3#5 BRASIL CONFIDENCIAL 3#1 RICARDO BOECHAT Com Ronaldo Herdy Menos um Não foi apenas a ex-senadora Marina Silva, candidata a vice-presidente na chapa de Eduardo Campos, que deixou de entrar no avião Cessna 560 XL que caiu ao tentar pousar no Guarujá, matando todos os seus ocupantes. O coordenador do programa de governo da campanha, Maurício Rands, por pouco não embarcou. Depois da entrevista na Rede Globo com o ex-governador, Rands decidiu viajar para São Paulo na noite da quarta-feira 14, para adiantar compromissos da coligação na capital paulista. Justiça Contra a mudança Entidades que atuam no Brasil em prol dos direitos humanos e direitos civis de estrangeiros se articulam para protestar, dentro e fora do País, se o governo federal transferir a análise dos processos de imigração da Secretaria Nacional de Justiça para a Polícia Federal – que aceita a incumbência. Consideram que, sendo demandas de civis, os pedidos devem continuar sob crivo da pasta e não em órgão de natureza policialesca. Aviação civil Por pouco Na quarta-feira 13, o Cessna 560 que caiu e matou Eduardo Campos quase foi penhorado, na 3ª Vara da Justiça do Trabalho, em Ribeirão Preto. A audiência com o pedido era para pagamento de R$ 6.257,88, restantes da ação de Leandro Infante contra o Grupo Andrade. Foi adiada para 26 de agosto porque ninguém da empresa foi ao tribunal. O advogado Fernando Tremura defende outros dois funcionários do hangar – ambos pedem cerca de R$ 70 mil em indenizações. Ações trabalhistas contra o grupo são inúmeras e correm em SP, MG, PI, BA e GO. STF Há vaga Recém-eleito presidente do STF, Ricardo Lewandowski não deve dar nenhuma declaração pública pedindo ao Planalto a nomeação imediata de um jurista para o lugar de Joaquim Barbosa. Nem antes nem durante a sua cerimônia de posse, ainda sem data definida. Agora, dez entre dez ministros da corte sonham com a rápida batida do martelo. O volume de novos processos não para de aumentar e STF precisa de um número ímpar de julgadores para questões em que o desempate se faz necessário. Filantropia Efeito crise Partidos políticos e candidatos chiam da magreza de doações nessa campanha política. Mas há quem sofra mais. Em que pese o espírito solidário dos brasileiros, entidades sem fins lucrativos de norte a sul do País se ressentem há meses de forte redução de contribuições financeiras, de pessoas e empresas. Como não é possível gastar sem receber, alguns programas assistenciais serão revistos ou até paralisados, caso o quadro não mude até dezembro. PSB Livre pensar Próximo a Eduardo Campos, um presidente de partido da base aliada disse à coluna que a meta secreta do ex-governador era levar o PSB a formar grande bancada em Brasília e nos Estados. Tal crescimento fortaleceria Campos na eleição de 2018. Segundo o mesmo político, na intimidade, o ex-governador considerava que a obrigação de vencer em 5 de outubro é de Dilma Rousseff. Já Aécio Neves, no mínimo, tem que ir para o segundo turno, por representar o maior partido da oposição. Brasil Saber a bordo O “Barco da Paz” do Japão atracou nesse último fim de semana no Porto de Belém. Como em outras missões humanitárias pelo mundo, aqui a embarcação de uma ONG japonesa percorrerá a Região Norte orientando a população ribeirinha sobre como se proteger de acidentes naturais. Como se sabe, a cheia na Amazônia em 2014 foi uma das maiores da história. Governo Olhar de fora Integrantes do Comitê de Investimento do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FI-FGTS) estão incomodados com comentários de que o deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ) controla o voto deles. O colegiado tem 12 membros, sendo que quatro vetos bastam para derrubar bilionários projetos. O parlamentar fluminense poderia influenciar uns dois conselheiros ligados ao governo. Mas ainda assim não é tarefa fácil. Este mês, em virtude de denúncias de interferência política no fundo, as reuniões estão sendo acompanhadas por auditores do TCU. Consumo Nada aqui Os brasileiros que vão aos EUA com frequência adoram comprar nas lojas H&M, famosa por roupas boas e baratas. O grupo suíço segue crescendo dois dígitos por ano, mas não tem planos de abrir filial no Brasil, este ano ou no próximo. Para quem está imune à crise, o jeito então é continuar viajando para aquele país. Saúde Raio X O monitoramento dos planos de saúde feito pela Agência Nacional de Saúde mostra um quadro positivo. No balanço divulgado na quinta-feira 14, há queda de 26% nas reclamações feitas à ANS. Ou seja, 0,0052% de insatisfação nos 250 milhões de procedimentos realizados desde 2013, segundo Antônio Carlos Abbatepaolo, diretor da Associação Brasileira de Medicina de Grupo. Ministério Público Feito & desfeito Foi das mais movimentadas a última reunião do Conselho Superior do Ministério Público Federal. Por 7 votos a 2, foram anuladas portarias do procurador-geral da República, Rodrigo Janot. Os atos foram considerados ilegais porque teriam de ser submetidos ao crivo do colegiado. Entre eles, o que designou procuradores da República para atuarem em Brasília, e não nos Estados onde estão lotados. Serviço Público Morreu pela boca Secretário-executivo do Ministério da Pesca e Aquicultura, Atila Maia da Rocha deixou o governo na terça-feira 12. No “Diário Oficial” consta que pediu exoneração. Mas na verdade o burocrata se afogou no cargo. Mandou ao Planalto dados inflacionados sobre o aumento da pesca no Brasil, números que Dilma Rousseff fez constar em mensagem ao Congresso. O ato lhe rendeu uma “advertência” da Comissão de Ética Pública da Presidência da República, no mês passado. Comércio Realidade virtual De olho num aumento de vendas, o varejo se reinventa. Na semana que vem, nos shoppings Morumbi e Ibirapuera, em São Paulo, aos sábados e domingos, o Pontofrio oferecerá algo inusitado para os clientes percorrerem seções de suas lojas. Ao se aproximarem de produtos como tevês ou celulares, óculos interativos farão a identificação do item, apresentando vídeo sobre as funcionalidades, diferenciais e informações extras, como preço e formas de pagamento. Essa espécie de tour guiado utiliza a tecnologia QR Code, uma evolução do conhecido código de barras. Construção Civil Som na lata Por conta do trabalho social desenvolvido com os operários do empreendimento “Horizonte JK”, em São Paulo, que interpretaram músicas de Roberto Carlos aproveitando instrumentos confeccionados com restos de obra, a “Emoções Incorporadora” acaba de ganhar o Prêmio Master Imobiliário na categoria Responsabilidade Social. Entre os sócios da empresa estão o cantor Bira Guimarães e Dody Sirena, empresário de Roberto Carlos. 3#2 LEONARDO ATTUCH - MAIS DO QUE EDUARDO, MENOS QUE EM 2010 Candidata, Marina dificilmente será vitoriosa, mas deve confirmar Aécio no segundo turno. A morte trágica e precoce de Eduardo Campos reabriu a temporada de especulações e apostas sobre a sucessão presidencial. Uma delas, a de que Aécio Neves será atropelado pela provável candidata Marina Silva, deixando o PSDB de fora do segundo turno. Outra, a de que até a presidenta Dilma correria o risco de não participar da etapa decisiva da disputa. A essa altura, enquanto ainda se chora a morte do líder do PSB, e não se sabe nem se Marina será mesmo candidata, toda e qualquer previsão pertence ao mundo da “chutometria”. Mas, aos analistas políticos, não cabe escolha e é inevitável tentar antecipar cenários. Primeira questão: Marina será ou não candidata pelo PSB? Tudo indica que sim, a menos que ela própria não queira. Mesmo com todas as dificuldades de convivência entre membros da Rede e do PSB, que alternativa resta ao partido que foi comandado por Campos? Se desistir da disputa, transmitirá ao público a imagem de que se deixou cooptar pelo PT – o que seria o caminho para a ruína. Lançando candidato, não há nome de peso disponível na legenda, a não ser Marina. O que havia, Ciro Gomes, se bandeou para o Pros, em protesto contra a candidatura de Eduardo. A segunda questão é: que força terá a candidatura da ex-senadora? Menor do que se imagina. Apesar de candidata, ela provavelmente será sabotada por alas do PSB mais próximas ao PT ou ao PSDB. Governadores, como Renato Casagrande, do Espírito Santo, e Camilo Capiberibe, do Amapá, preferem Dilma Rousseff. O principal prefeito socialista, Marcio Lacerda, de Belo Horizonte, é aecista. Isso significa que Marina terá força eleitoral, mas pouca capacidade de articulação política. O mais provável é que tenha mais votos do que Eduardo Campos, que havia estacionado nos 10% nas pesquisas, e menos do que os 19,6 milhões (19,33% dos válidos) obtidos por ela em 2010. Ou seja, algo no meio do caminho, que talvez seja o bastante para garantir a presença de Aécio no segundo turno. A aposta numa avalanche de votos em Marina, que terá pouquíssimo tempo de televisão, parece precipitada. Apesar da comoção, Campos ainda era desconhecido de 40% dos brasileiros. E tanto PT quanto PSDB têm eleitores cativos. Não será dessa vez que a polarização será quebrada. 3#3 GISELE VITÓRIA Gisele Vitória é jornalista, diretora de núcleo das revistas ISTOÉ Gente, ISTOÉ Platinum e Menu e colunista de ISTOÉ Nos planos de Tom Ford Capa da edição de agosto da revista IstoÉ Gente, Aline Weber está em fase de realizar desejos. Voltar a andar de skate é um deles. “Estou reaprendendo. Há quatro anos estava em Paris e caí do skate. Me machuquei, perdi desfiles e fiquei com medo de tentar de novo.” Outro desejo de sua lista é desfilar para a marca Victoria’s Secret. “Já fiz dois castings, mas não rolou. Gostaria e talvez aconteça”, diz. Enquanto espera, mal sabe a top que está na lista de desejos de Tom Ford. Depois de estrelar como Louis, personagem no filme “Direito de Amar”, dirigido pelo estilista, ela deve estrelar outro grande projeto de Ford, ainda este ano. A top não confirma nem nega, mas boas surpresas vêm por aí. Temporada em LA Los Angeles virou destino cobiçado por artistas brasileiros que almejam Hollywood. Além de Bruna Marquezine, que está lá para filmar o longa “Breaking Through”, do produtor Uri Singer, Cleo Pires está de malas prontas. A atriz deve embarcar rumo a LA nos próximos dias. O motivo? Ela fará um curso de interpretação. Bruna Lombardi e Carlos Alberto Riccelli, que moram lá e cá, também embarcam para a cidade americana e passam dois meses com o filho, Kim Riccelli, trabalhando na pós-produção do filme “Amor em Sampa”, que estreia em novembro. Tal mãe, tal filha Alessandra Ambrosio aproveitou uma folga para passar uma semana no Havaí, em família. Ao lado do marido, Jamie Mazur, e dos filhos, Anja, 5 anos e Noah, 2, a top curtiu os dias quentes na praia. Anja, aliás, aparece em diversos momentos da viagem com biquíni igual ao da mãe. “Com minha mini me”, escreveu a top em seu Instagram. Balas Rei das Américas Roberto Carlos levou 20 mil pessoas ao Auditório Nacional, no México, em seus primeiros dois shows da turnê pela América do Norte. O Rei fará mais 17 shows entre México, Canadá e Estados Unidos, incluindo um show do Projeto Emoções, em Las Vegas, no próximo dia 6. A turnê acaba no dia 4 de outubro, em Boston, nos Estados Unidos. Tá na Cara que é Bond Girl Cara Delevingne pode ser a próxima bond girl dos filmes de “007”. A top já foi procurada pelos produtores. As filmagens do próximo longa começam ainda este ano. #forçaRenata A foto acima é lembrança de um momento de alegria. A economista Renata Campos amamentava Miguel e contava à coluna quanto era natural viajar com o bebê no jatinho da campanha do marido, Eduardo Campos. “Ele está sempre junto. Faço o que a vida toda fiz com meus filhos”, contou Renata em maio, no Fórum de Comandatuba. “É uma forma de Eduardo acompanhar as gracinhas e o desenvolvimento de Miguel, enquanto está em campanha.” Aos 46 anos, ela comentou sem tabus a síndrome de Down do filho. “A vida normal é o melhor caminho”, disse. *** Na véspera da tragédia, o bebê de seis meses, apenas de fralda em razão do calor do Rio, era o centro das atenções no hotel Sofitel, em Copacabana, antes da entrevista do pai ao “Jornal Nacional”. De manhã, Renata despediu-se do marido às 8h20. Ela só não acompanhou Campos no avião porque era dia de dar o suporte semanal aos filhos mais velhos no Recife. Não é mera coincidência “Melhor que fale por mim a minha vida do que as minhas palavras.” Eduardo Campos citou esta frase de Gandhi, horas antes do acidente, para explicar por que escolheu Marina Silva como vice. Era um bate-papo com internautas no site de sua campanha, às 22h30 da terça-feira 12. Agora, correligionários de Marina refletem que não há de ser mera coincidência as semelhanças entre ela e o líder pacifista. Neste momento, o que mais fala de Marina é o silêncio em respeito ao amigo e parceiro de chapa. Em outra frase célebre, Gandhi dizia: “As longas horas de silêncio são as mais importantes da minha vida”. 3#4 ANA PAULA PADRÃO - AULA DE AUTOESTIMA A Escola de Você é também uma alternativa ao paternalismo de programas sociais - e quer entregar ao indivíduo o controle de sua própria vida. Brasileiro é um ser tão otimista e de bem com a vida que, em pesquisas, é apontado com um dos povos mais felizes do mundo. Falácia. De perto ninguém é normal, já disse nosso tradutor da simbiose cultural nacional. Em outras palavras, pega mal declarar-se infeliz. É cafona não enxergar uma maravilha no espelho tendo nascido nessa terra de sol, samba e… bem, deixa o futebol pra lá. A verdade, também comprovada em pesquisas, é que boa parte da população mundial (mais notadamente os mais pobres) sofre de ausência crônica de autoestima. Conceito bastante difícil de defender num país que mistura a referência psicológica de autoestima com a baboseira de autoajuda amontoada nas prateleiras das livrarias. Autoestima é a avaliação que cada um faz sobre si mesmo, ainda que não tenha consciência disso. É esse valor que gera em nós a capacidade de resistência e regeneração. Quando a autoestima é baixa, a força para enfrentar os problemas do cotidiano também diminui. Quem não gosta de si não cresce emocionalmente e fica por aí perambulando como um ser dependente e muito mais vulnerável a influências negativas do que positivas, um ser que não consegue gerar amor por não se sentir digno de ser amado. Na prática, esse indivíduo é aquele que: – vota sem pensar, arrastado por qualquer promessa vã; – não se qualifica por medo de enfrentar o fracasso de não conseguir aprender, ou aprende mas não chega a competir por uma vaga de emprego ou por uma promoção por sentir-se inadequado diante dos demais; – maltrata os filhos para sentir-se de alguma maneira poderoso, ou provê aquilo de que a família necessita, mas jamais demonstra qualquer tipo de emoção amorosa por medo da rejeição; – aceita a violência doméstica, seja ela física ou psicológica, por sentir-se diminuído diante do agressor. Para essas pessoas, o mundo é um lugar assustador e seu comportamento tem impacto direto na geração de riqueza de um país. Importantes centros de pesquisa e fomento a projetos de qualificação de mão de obra na América Latina, como o Banco Interamericano de Desenvolvimento, o BID, já identificaram a necessidade de associar o ensino de qualquer habilidade a cursos de elevação da autoestima. Há anos estudo o tema de maneira séria e só utilizo critérios científicos nas pesquisas sobre autoestima. Na esfera feminina, principalmente, a autoestima elevada define o papel social da mulher. Mulheres que gostam de si alcançam autonomia intelectual e emocional, transformam-se em líderes ainda que em ambientes majoritariamente masculinos ou abrem seus próprios negócios e criam filhos equilibrados e prontos para as dificuldades de um mundo em transição. Em resumo, uma mulher com autoestima elevada é capaz de mudar um país. Acreditando nisso, reuni um grupo de gente apaixonada pelo tema e lançamos a Escola de Você (www.escoladevoce.com.br), uma série de aulas gratuitas via internet para que qualquer pessoa, mas principalmente a mulher, se reconheça em situações cotidianas e descubra um potencial escondido pela distorção na autoimagem. A Escola de Você tem apoio da Universidade Aberta do Brasil e do BID e terá sua eficácia medida em pesquisa. Nosso objetivo de longo prazo é ambicioso: provocar impacto direto nos índices de segurança familiar e de agressão contra a mulher e na capacidade individual de geração de renda. Mas, mais do que isso, mostrar uma alternativa ao paternalismo de programas sociais e entregar ao indivíduo o controle de sua própria vida. Ana Paula Padrão é jornalista e empresária 3#5 BRASIL CONFIDENCIAL por Eumano Silva Eduardo onipresente O publicitário argentino Diego Brandy acompanhou Eduardo Campos por dez anos, acumulando vitórias eleitorais para o socialista em Pernambuco. Estava confiante no crescimento do candidato com o início da propaganda eleitoral na tevê nesta semana. O acervo de Brandy tem mais de mil horas de gravação, material suficiente para manter viva a imagem de Campos durante toda a campanha, que agora será liderada por Marina Silva. O PSB avalia transformá-lo numa figura onipresente, com reprodução de vídeos e até projeção de hologramas em comícios. A família precisa aprovar a ideia. Superávit eleitoral Além de ajudar no resultado fiscal, o governo retém recursos extras do Fundo de Participação dos Municípios como moeda de troca eleitoral. Prefeitos que apoiam adversários do PT estão se sentindo inibidos em pedir votos para seus aliados, com medo de represálias. Esperam receber o dinheiro até o fim do mês para colocar a campanha na rua. Pobres candidatos Candidatos a deputados estaduais do PT num Estado do Nordeste reclamam que até agora não tiveram ajuda financeira da legenda. Dias atrás, apelaram a um deputado federal com acesso ao Planalto para conseguir-lhes uma contribuição mínima de R$ 30 mil. Coração plagiado Pegou mal a escolha do slogan “coração valente” para ilustrar o material de campanha da petista Dilma Rousseff. Principalmente no Nordeste, o eleitorado ainda associa o bordão à campanha da ex-senadora Heloisa Helena (PSOL) para a Presidência em 2006. Amizade virtual Dilma aproveitou o lançamento do site “O Brasil da Mudança” do Instituto Lula para fazer elogios públicos a Franklin Martins, que comanda a campanha na internet. Foi aconselhada pelo ex-presidente a fazer um gesto de reaproximação para evitar que os adversários explorem as rixas internas. Militância liberada Liminar do ministro Tarcísio Vieira de Carvalho, do Tribunal Superior Eleitoral, criou jurisprudência para crimes eleitorais em redes sociais como o Facebook. Só será considerada ilegal a publicação ofensiva patrocinada. Ou seja, os voluntários estão liberados para “atacar”. Transparência unitaleral A direção paraguaia da hidrelétrica Itaipu Binacional divulgou os vencimentos e gratificações de todos os seus funcionários, discriminando os valores. Do lado brasileiro, porém, a direção da empresa ainda resiste a fazer o mesmo, apesar dos frequentes pedidos de parlamentares e jornalistas. Bônus polêmico Apesar de terem mais espaço no comando da Previ, os diretores eleitos pelos associados não conseguiram vetar a recente aprovação de bônus de R$ 500 mil para cada membro do conselho do fundo. A medida é tomada num período de vacas magras e da suspensão de benefícios especiais. Miss Simpatia O marqueteiro João Santana está confiante de que conseguirá reduzir os índices de rejeição de Dilma Rousseff com o início da propaganda eleitoral na tevê. A estratégia é desfazer a imagem de gerentona intolerante, que marcou seu primeiro mandato, e investir na simpatia, característica que a presidenta tem dificuldades de externar em entrevistas e sabatinas ao vivo. No ambiente controlado do estúdio, Santana criará a “Dilma simpatia”, numa releitura do “Lulinha paz e amor” de 2002. Sandálias da humildade Santana também parece dedicado a reconstruir sua própria imagem, desgastada desde a entrevista em que chamou de “anões” os adversários de Dilma. Ao jantar em tradicionais restaurantes de Brasília, pede pratos simples e vinhos baratos. Não quer ostentar nem parecer arrogante. O jeito “murrinha” valeu-lhe no passado o apelido de “Patinhas”. Toma lá dá cá Senador Cristovam Buarque (PDT-DF), relator da proposta que legaliza o uso da maconha ISTOÉ – A corrida eleitoral pode adiar a discussão da legalização da maconha? Buarque – Há muito preconceito contra o debate. Mas já temos convocadas outras três audiências para discutir o assunto e até o fim do ano terei meu parecer. É um desafio para minha carreira. ISTOÉ – O sr. tem opinião formada sobre o assunto? Buarque – Não. Há muita divergência na comunidade científica e médica. Uns dizem que o consumo da droga é devastador, associam a quadros de esquizofrenia. Outros afirmam que ajuda a reduzir sintomas de muitas doenças. ISTOÉ – É preciso educar mais a população contra preconceitos? Buarque – A educação é fundamental. As escolas estão rodeadas de traficantes e o uso de drogas afeta o desempenho escolar. Há a questão da educação familiar. Para muitos pais, se a maconha for legalizada não terão mais argumentos para impedir os filhos de consumir. É um tema complexo. Rápidas *O MP Eleitoral está de olho em deputados federais que saíram para a campanha e levaram junto seus secretários parlamentares, sem contudo efetivar o desligamento do funcionário. O uso eleitoral de verbas de gabinete, cota de passagem e outros recursos é ilegal. *Dilma decidiu: no Ceará, subirá também no palanque de Eunício Oliveira (PMDB), líder nas pesquisas. A decisão foi comunicada aos irmãos Gomes. Lá Camilo Santana (PT) tem mais rejeição que intenções de voto. *Diante da falta de mulheres candidatas, muitos políticos estão lançando suas esposas. No Piauí, Wellington Dias (PT) aposta na eleição de Rejane Dias para a Câmara dos Deputados. O rival Ciro Nogueira (PP)aposta em Iracema Portela. * O petista Marcelo Almeida, candidato ao Senado, (PR), polemizou ao desacreditar o trabalho da CPI da Petrobras. Afirmou que não há santos no PT ou no PSDB e que os partidos carecem de dignidade. “Todo mundo roubou”, disse. Retrato falado O procurador-geral da República, Rodrigo Janot, não conseguiu esconder a alegria com a eleição de Ricardo Lewandowski para a presidência do Supremo Tribunal Federal (STF). Ao elogiar o novo presidente e a vice, ministra Carmem Lúcia, Janot deu uma alfinetada no ex-ministro Joaquim Barbosa, que teve a gestão marcada pelo hábito de tomar decisões sem consultar os colegas. Amnésia Três ex-governadores condenados lideram as pesquisas para voltar ao cargo em seus Estados. É o caso de Neudo Campos (PP) em Roraima, Waldez Góes (PDT) no Amapá e José Roberto Arruda (PR) no Distrito Federal. Se o povo tem memória curta ou é adepto do velho bordão “rouba mas faz”, cabe à Justiça Eleitoral impedir a volta dos fichas-sujas. No DF, Arruda já perdeu na segunda instância e recorre ao TSE. Com a vitória na mão Em 12 Estados do País, a eleição para governador deve ser definida no primeiro turno. O PMDB deve fazer quatro governadores. PT e PSDB devem eleger de cara dois cada um, embora os tucanos levem vantagem quanto ao colégio eleitoral, justamente pela provável vitória de Geraldo Alckmin em São Paulo. PCdoB, PTB, DEM e PSD emplacam já em outubro um governador cada. Em muitos dos cenários, o candidato deve seu favoritismo à ausência de concorrentes de peso de grandes legendas. ________________________________________ 4# ESPECIAL EDUARDO CAMPOS 20.8.14 4#1 EDUARDO CAMPOS, UM HOMEM E O SEU TEMPO 4#2 OS ÚLTIMOS MOMENTOS E O VOO FATAL 4#3 MARINA SILVA E A SUCESSÃO 4#4 A COMOÇÃO 4#1 EDUARDO CAMPOS, UM HOMEM E O SEU TEMPO Ele construiu uma nova forma de fazer política, virou o governador mais popular do Brasil e preparava-se para consolidar seu maior projeto Eumano Silva, do Recife O desembarque em 1976 de Ana Lúcia Arraes, acompanhada pelos filhos Eduardo e Antônio, no aeroporto de Dar El Beid, em Argel, teve grande significado para uma das famílias mais simbólicas na luta contra a ditadura brasileira. Filha mais velha do ex-governador de Pernambuco Miguel Arraes, Ana Lúcia chegou à capital da Argélia para rever o pai – a quem não encontrava havia mais de uma década – e, principalmente, para que os meninos conhecessem o avô. Exilado no norte da África desde 1965, o homem deposto do Palácio das Princesas vivia longe dos netos, nascidos em Recife depois de sua partida forçada para o país mediterrâneo. Os 14 anos passados no Exterior deixaram marcas profundas nos integrantes do clã nordestino, mas as amarguras do degredo foram insuficientes para quebrar a liderança exercida por eles na política pernambucana. A viagem a Argel ficou marcada por ter sido o primeiro encontro de Miguel Arraes com o neto, que se tornou seu herdeiro. Começava a ser forjada ali uma das principais lideranças políticas do País. Eduardo Henrique Accioly Campos nasceu menos de dois meses depois da partida do avô para África, no dia 10 de agosto de 1965. Recém-casada, Ana Lúcia ficara no Brasil. Os filhos não receberam os sobrenomes do avô porque o pai deles, o escritor Maximiano Campos, temia perseguições dos militares. Quando deixou o Brasil, Arraes estava no segundo casamento. A primeira mulher, Célia Souza Leão, com quem teve oito filhos, morreu em 1961. Com a segunda, Magdalena, teve Mariana e o caçula, Pedro, nascido na França durante o exílio. Preparado pelo avô para assumir seu espólio político, Eduardo Campos, o mais velho dos netos, fez jus às expectativas da família. Pavimentou uma brilhante carreira política, com uma eleição para deputado estadual, três para federal e dois mandatos de governador de Pernambuco. Ao sair do executivo estadual, tinha mais de 80% de aprovação da população. Ele foi também secretário da Fazenda de Pernambuco em uma das gestões do avô e ministro da Ciência e Tecnologia no primeiro governo de Luiz Inácio Lula da Silva. Eduardo Campos conheceu o avô Miguel Arraes em 1976 Na quarta-feira 13, aos 49 anos, o herdeiro moldado por Arraes, mas que irradiava luz própria e marcava importantes diferenças com o avô, principalmente na maneira moderna de fazer política, teve sua meteórica trajetória interrompida abruptamente, quando o avião em que fazia campanha como candidato a presidente da República caiu em Santos (SP) e provocou a morte dos sete ocupantes. Na aeronave, além de Campos, estavam um de seus articuladores políticos, o ex-deputado Pedro Valadares, o assessor de imprensa, Carlos Augusto Leal Filho (conhecido como Percol), o fotógrafo Alexandre Severo Gomes, o cinegrafista Marcelo de Oliveira Lyra e os pilotos Geraldo Magela Barbosa da Cunha e Marcos Martins. Presidente do Partido Socialista Brasileiro (PSB), estava em terceiro lugar nas pesquisas de opinião, com cerca de 9% das preferências dos eleitores, atrás da presidenta Dilma Rousseff (PT) e do ex-governador de Minas Gerais Aécio Neves (PSDB). Os casamentos de Arraes, dos filhos e netos concentram alguns dos sobrenomes mais poderosos da região, como Alencar, Accioly e Souza Leão, este último muito conhecido por denominar um famoso bolo apreciado pelos pernambucanos. Com a morte de Campos, uma das mais tradicionais famílias nordestinas teve adiado o sonho de ver um de seus representantes chegar ao Palácio do Planalto. Embora nunca se tenha candidatado a presidente, Miguel Arraes de Alencar também traçou planos para presidir o Brasil. Nascido em Araripe (CE), tinha origens na oligarquia local e deixou a região para continuar os estudos. Formou-se na Faculdade de Direito do Recife em 1937. Mesmo sem nunca ter sido candidato, Arraes sonhava presidir o Brasil Entrou para o Instituto do Açúcar e do Álcool (IAA) e, nesse emprego, aproximou-se dos trabalhadores rurais e do então governador Barbosa Lima Sobrinho, que mais tarde se notabilizaria como presidente da Associação Brasileira de Imprensa (ABI). Convidado por Barbosa, assumiu o cargo de secretário estadual da Fazenda em 1947. Na sequência, elegeu-se deputado estadual e, em 1959, venceu a disputa para a prefeitura da capital de Pernambuco. Três anos depois, conquistou o governo do estado pelo PST depois de derrotar dois caciques da política local, Armando Monteiro Filho e João Cleofas. Monteiro era pai do atual candidato a governador pelo PDT, que leva o mesmo nome do pai. Nessa campanha, em uma jogada de marketing surpreendente para a época, assumiu o rótulo de “Zé Ninguém”, expressão usada pelo governador Cid Sampaio, seu concunhado e ex-aliado, em referência ao fato de Arraes ter saído do interior do Ceará. No Palácio das Princesas, o mesmo ocupado pelo neto durante oito anos, quando Campos se tornou o governador mais bem avaliado do País, Arraes chamou a atenção dos brasileiros pela ousadia com que enfrentou as classes dominantes do Estado. O apoio dado às Ligas Camponesas, movimento em defesa da reforma agrária liderado pelo advogado Francisco Julião, aumentou a resistência dos coroneis acostumados a mandar no Estado. Com o lema “a terra é de quem trabalha”, Julião desafiou os coroneis que mandavam na política local. Embora defendessem propostas semelhantes para o campo, também tinham divergências. “No fundo, Arraes sempre sonhou em ser o Getúlio Vargas do Nordeste”, dizia Julião depois da redemocratização do Brasil. Nas questões agrárias, um dos principais conselheiros de Arraes era Gregório Bezerra, histórico militante do antigo Partido Comunista. O mesmo ambiente de radicalização política predominou no Brasil durante o governo João Goulart, que tentava implantar reformas de base contra as quais se insurgiram as classes dominantes. Esse confronto fomentou as posições extremadas que provocaram reação das classes dominantes e serviram de justificativa para o golpe militar de 1964. Preso na sede do governo no dia 1º de abril de 1964, Arraes perdeu o cargo, mas se transformou em um mito para os trabalhadores contemplados com suas políticas sociais. A imagem de “pai dos pobres” ficou no imaginário da população. O governador deposto permaneceu mais de um ano encarcerado em Recife, na ilha de Fernando de Noronha e no Rio de Janeiro. Partiu para o exílio na capital argelina em 16 de junho de 1965. Em Argel, antes mesmo de conhecer o neto Eduardo Campos, Arraes se tornou referência para centenas de brasileiros banidos pela ditadura. Muitos moraram na residência do ex-governador. Em 1970, de uma só leva, chegaram 40 banidos, muitos com suas famílias. Quem foi acolhido pela família tem boas recordações. “Vivemos nove meses em um quarto no segundo piso e fazíamos todas as refeições com os Arraes”, afirma o ex-deputado pernambucano Maurílio Ferreira Lima, que trabalhara como oficial de gabinete de Arraes no governo estadual e foi para o país africano em 1969. “Saímos de lá e fomos para um apartamento quando alguns filhos deles chegaram do Brasil para viver lá”, diz a arquiteta Ana Angélica, a mulher de Ferreira Lima. Enquanto morou em Argel, ela trabalhou para o governo local em um projeto do arquiteto Oscar Niemeyer. Bem humorado, o ex-deputado ainda se lembra da primeira vez que viu Arraes na capital argelina. Ele e Ana Angélica subiram ao terceiro piso da casa para serem recebidos pelo ex-governador e o encontraram vestido em um robe de chambre de seda chinesa, um costume local. Ferreira Lima também se diverte quando fala dos esforços que o ex-governador fazia para não ser cumprimentado pelos argelinos, que têm a tradição de beijar cinco vezes no rosto, gesto equivalente ao abraço dos brasileiros. O constrangimento ficava ainda maior quando, durante as recepções, os homens tentavam tirar Arraes para dançar. Ele nunca aceitava, o que era mal visto pelos anfitriões. Eduardo estreou como deputado em 1990 já pelo PSB Um arranjo familiar feito ao partirem para o exílio demonstra como a ditadura afetou Arraes, Magdalena e seus filhos. Quando deixaram o país, a então caçula Mariana tinha menos de dois anos de idade. O ex-governador não quis privá-la da convivência com os irmãos e contou com a ajuda da ex-sogra, dona Carmem Souza Leão. A mãe de Célia, a primeira mulher, prontificou-se a ficar com a filha de Magdalena, além de outros netos, que iam para a Argélia à medida que concluíam o ginásio. Mariana só reencontrou os pais quando tinha cinco anos e foi morar em Argel. As preocupações com o núcleo familiar e a predileção por sobrenomes tradicionais perduraram nas gerações seguintes. Eduardo Campos se casou ainda jovem com Renata, filha do renomado médico Ciro de Andrade Lima e sobrinha de Zélia, viúva do escritor Ariano Suassuna, que morreu no último mês de julho. As famílias de Renata e Campos eram vizinhas de Suassuna na infância e na adolescência do casal. A vocação política do primogênito de Ana Lúcia e Maximiano se tornou evidente logo que ele entrou para o curso de Economia da Universidade Federal de Pernambuco, em 1981. Eduardo Campos fez parte do diretório acadêmico da faculdade e, nessa época começou a andar com o avô. Só se separaram quando Arraes morreu, em 2005, no dia 13 de agosto, exatamente nove anos antes do trágico acidente da semana passada. Em 1982, Arraes se elegeu deputado federal pelo PMDB. Quatro anos depois, filiado ao PSB, retornou ao Palácio das Princesas ao derrotar o candidato do PFL, José Múcio Monteiro, e levou Campos para trabalhar em seu gabinete. A estreia de Campos nas urnas se deu em 1990, quando conquistou uma cadeira na Assembleia Legislativa de Pernambuco também pelo Partido Socialista. Anos depois, elegeu-se deputado federal e foi nomeado secretário estadual da Fazenda pelo avô, mais uma vez escolhido pelos pernambucanos para governar Pernambuco. Campos ainda conquistou dois mandatos federais antes de chegar ao Palácio das Princesas. Em 2010 foi reeleito governador. À frente do governo do Estado, Eduardo Campos marcou diferenças com o avô, seu principal padrinho político. Acostumado às velhas práticas políticas, Arraes teve destacada importância local e nacionalmente num outro contexto e momento do País. Eduardo Campos fez história em seu tempo. A gestão à frente do estado foi marcada pelos esforços em modernizar industrialmente a região. Não só conseguiu, como foi além. Criou o importante programa Pacto pela Vida, implantado em Pernambuco, que diminuiu em 60% o número de homicídios no Recife. Rapidamente, ganhou popularidade e virou referência nacional, sendo elogiado por empresários do naipe de Jorge Gerdau. Dois anos depois, em uma espécie de aquecimento para a campanha presidencial de 2014, Campos evidenciou sua força política ao garantir, com larga vantagem, a vitória de seu candidato, Geraldo Julio (PSB), no primeiro turno nas eleições pela prefeitura do Recife. Não se tratou de um feito qualquer. Com esse resultado, Campos derrotaria nada menos do que o candidato do ex-presidente Lula numa cidade do Nordeste, reduto onde o petista desfruta seus maiores índices de popularidade. O socialista conquistou 51,14% dos votos dos pouco mais de 1,1 milhão de eleitores recifenses. Aliado histórico do PT (desde 1989 o PSB apoiava as candidaturas petistas), Campos utilizou um desconhecido secretário de governo para desbancar o ex-ministro Humberto Costa, postulante indicado por Lula, que ficou apenas na terceira colocação. Em 2013, recebeu o apoio inesperado de Marina Em 2013, na esteira do triunfo sobre Lula no Recife, os políticos do PSB entregaram todos os cargos no governo federal. Campos passou a criticar a presidenta Dilma Rousseff e o PT, principalmente por suas alianças com figuras nada respeitáveis da política brasileira, como o senador Renan Calheiros (PMDB). Na entrevista que deu ao Jornal Nacional, na véspera da sua morte, Campos ainda afirmou que “esse governo é o único governo que vai entregar o Brasil pior do que recebeu”. Em setembro do ano passado, depois de romper com o governo Dilma Rousseff para se lançar na corrida ao Planalto, Campos recebeu um apoio inesperado. A ex-senadora Marina Silva não conseguiu o número de assinaturas necessárias para criar o partido Rede Sustentabilicade e decidiu agregar-se ao PSB. Os planos do ainda governador deram uma guinada. De um momento para outro ele passou a ter como aliada a mulher que teve 20% dos votos nas eleições presidenciais de 2010, pelo Partido Verde (PV). As bandeiras ecológicas de Marina o levaram a adaptar seu programa de governo. Apesar das divergências entre os dois grupos, principalmente nas coligações estaduais, os dois demonstravam sintonia na campanha. Com a morte de Campos, as duas legendas têm o prazo legal de dez dias para definir o novo candidato a presidente. Pelas primeiras reações, a ex-senadora tem grandes chances de ser a escolhida. O currículo consistente de Campos teve poucos arranhões em duas décadas e meia de vida pública. Assim como o avô, não construiu seu perfil associado à corrupção. Nessa linha, o pior momento aconteceu em 1997, quando o neto de Arraes foi convocado para depor na Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) que investigou a emissão irregular de precatórios (dívidas públicas decididas pela justiça). Na condição de secretário da Fazenda no governo do avô, autorizou operações que, na prática, funcionavam como uma espécie de fábrica de dinheiro para o estado. Vários estados e municípios adotaram a mesma prática, considerada um crime financeiro pela legislação nacional. Aos 31 anos, foi na condição de depoente na CPI que Campos se tornou conhecido de grande parte dos brasileiros. Mesmo pego na irregularidade, ele esnobou simpatia e conquistou os parlamentares que o interrogavam. Argmentou que, em meio às dificuldades financeiras enfrentadas por Pernambuco, era a única maneira de fazer caixa para realizar investimentos. Posteriormente, decisões tomadas pelo Supremo Tribunal Federal (STF) e pela área econômica do governo livraram Campos das acusações. Também pesaram contra o pai e o avô acusações de nepotismo. O próprio Campos construiu sua carreira administrativa nos governos do avô. No último lance dessa prática, em 2011, ele trabalhou duramente para nomear a mãe ministra do Tribunal de Contas da União (TCU) e conseguiu que o nome de Ana Arraes fosse aprovado no Congresso. Antes da indicação para o cargo vitalício, ela se elegeu duas vezes deputada federal. Depois de muito tempo, a família ficou sem representantes na política nacional. Apesar da força que tiveram Arraes e Campos, a grande maioria dos parentes optou por outros caminhos, muitos são intelectuais ou ligados ao mundo acadêmico. Violeta Arraes, irmã do patriarca, foi reitora da Universidade Regional do Cariri, no Ceará. Com a morte de Eduardo Campos na semana passada, a família de Miguel Arraes também perdeu o mais habilidoso de seus integrantes nas artes da política local e nacional. Sem a fama de radical do avô, ele circulava bem por todos os partidos, conhecia a fundo o Congresso Nacional e desfrutava de grande popularidade em Pernambuco, o berço do clã. Ainda sob o impacto da tragédia, seus familiares se recolheram em luto, mas emitiram sinais consistentes de que pretendem continuar em cena. De imediato, o irmão Antônio, também do PSB, declarou apoio ao nome de Marina Silva como substituta de Eduardo. Na quinta-feira 14, Antonio Campos passou a ser cotado para ocupar a vice de Marina, o que seria uma maneira de perpetuar o clã. Também foi ventilado o nome da viúva, Renata Campos. Outro a despontar como herdeiro político foi o mais velho dos cinco filhos de Eduardo Campos, João Henrique, 20 anos. Durante a semana, o primogênito divulgou um comunicado à imprensa com a promessa de que lutará pelos ideais do pai. Filiado ao PSB e militante partidário, o rapaz há alguns meses pensava em se candidatar a deputado estadual, mas desistiu, aconselhado pelo pai a terminar os estudos. Os gestos da semana passada demonstram que a tradicional família nordestina já tem engatilhado sucessores na política. 4#2 OS ÚLTIMOS MOMENTOS E O VOO FATAL Nas horas anteriores ao acidente que lhe custou a vida, Eduardo Campos comemorava o desempenho em sua última entrevista e aproveitava o tempo ao lado do filho Miguel, de apenas 6 meses Lucas Bessel (lucasbessel@istoe.com.br) Na tarde da terça-feira 12, Eduardo Campos estava surpreendentemente calmo para alguém que, dali a poucas horas, passaria pela sabatina de William Bonner e Patrícia Poeta no “Jornal Nacional”. Nada de media training, reuniões com assessores ou memorização de números. Depois de uma visita ao cardeal Orani Tempesta, arcebispo do Rio de Janeiro, junto com sua companheira de chapa, Marina Silva, Campos seguiu para o hotel Sofitel de Copacabana. Lá, brincava com o filho caçula, Miguel, de apenas 6 meses, enquanto conversava descontraidamente com a mulher, Renata. “O menino era o centro das atenções”, diz o deputado federal licenciado Walter Feldman (PSB), que acompanhava o candidato à Presidência em compromissos de campanha na capital carioca. “O Miguel estava sem camisetinha, só de fralda, no clima do Rio.” Na bancada do “JN”, Campos enfrentou uma entrevista difícil – foi questionado seguidamente sobre o lobby político para emplacar a mãe, Ana Arraes, no Tribunal de Contas da União, em 2011 –, mas considerava que tinha “vencido”. Ou, para usar a brincadeira que havia feito horas antes com jornalistas, escapado do pior. “Espero que o Bonner não queira ser a bala que matou Odete Roitman (personagen assassinada na novela “Vale Tudo”, de 1988) comigo”, disse antes da sabatina. Depois dela, fez outra piada ironizando a entrevista: “Uma parte dos 15 minutos é utilizada para as perguntas incômodas e aí você fica com sete minutos. Falar de tudo em sete minutos nem locutor de corrida de cavalos consegue”. Eufórico, decidiu participar de um chat com internautas ao lado de Marina Silva, contrariando a programação inicial. No bate-papo, citou Gandhi (“Melhor que fale por mim a minha vida do que as minhas palavras”) e defendeu a escolha da líder da Rede Sustentabilidade para o posto de vice. Só então foi comemorar, no restaurante do hotel, num jantar com Renata, Miguel e assessores. Nesse ponto, por volta das 23h, Marina e Feldman já tinham decidido não embarcar no jatinho que Campos utilizaria para ir ao Guarujá (SP) no dia seguinte. “Achamos melhor ir direto para São Paulo, onde faríamos uma reunião na casa dela”, diz Feldman. Decisão que lhes salvaria a vida. Antes de ir dormir, Campos se despediu dos aliados: “Bom, pessoal, a gente se fala amanhã”. De madrugada, o candidato à Presidência ligou para o aliado Márcio França (PSB-SP). Pediu ao deputado que o representasse nos eventos marcados para logo cedo na cidade do litoral paulista. O motivo: queria descansar um pouco e passar mais tempo com a família antes de retomar a jornada eleitoral. Até ali, Campos já tinha viajado 36 mil quilômetros em busca de votos pelo Brasil. Para isso, utilizava um jato executivo Cessna Citation 560XLS+, prefixo PR-AFA, fabricado em 2010, que tinha pouco mais de 350 horas de voo quando foi alugado pelo comitê de campanha. Não era uma aeronave luxuosa – até onde é possível dizer isso de jatinhos privados –, mas era conveniente. Levava nove passageiros, além dos dois pilotos, operava bem em pistas curtas, tinha autonomia de 3.440 km/h e atingia velocidade máxima de cruzeiro de pouco mais de 800 km/h. Na manhã da quarta-feira 13, Campos tomou café com a mulher e o filho em Copacabana e seguiu para o aeroporto Santos Dumont. O plano de voo até a Base Aérea de Santos – que fica no Guarujá – havia sido apresentado à torre de controle às 22h36 do dia anterior. Previa decolagem às 9h29. Campos era famoso por sua pontualidade, e o Cessna deixou o solo às 9h21. A bordo estavam, além do candidato, o ex-deputado e assessor pessoal do pernambucano, Pedro Valadares, 48 anos, o assessor de imprensa Carlos Percol, o cinegrafista Marcelo de Oliveira Lyra e o fotógrafo Alexandre Severo Gomes da Silva, todos de 36 anos. Os responsáveis por conduzir a aeronave eram o piloto Marcos Martins, 42 anos, que acompanhava o presidenciável desde maio, e o copiloto Geraldo da Cunha, 44 anos, que substituía um colega aniversariante. O voo até o litoral sul paulista demorou meia hora. Às 9h50, na aproximação final à Base Aérea de Santos, as condições meteorológicas estavam longe daquelas que os pilotos consideram ideais. Havia um leve vento de través – aquele que atinge o avião lateralmente –, chovia e a visibilidade era limitada (leia quadro). O cenário estava muito próximo do mínimo aceitável para pouso naquela pista de 1.390 metros. Os procedimentos finais eram feitos por instrumentos: os pilotos usavam informações de altitude e velocidade fornecidas pelos medidores do avião, baixando gradativamente, de acordo com as orientações da carta de aproximação elaborada pela Aeronáutica. Para encontrar o local de pouso sem enxergá-lo, seguiam um radiotransmissor colocado em solo. Essa tecnologia, chamada de NDB (non-directional beacon), é considerada ultrapassada para grandes aeroportos, mas ainda é muito utilizada em pistas menos importantes. Pouco depois das 9h50, ainda sem conseguir enxergar a pista, o piloto Marcos Martins tomou a decisão de abortar o pouso para realizar uma nova aproximação. À torre de controle, disse as seguintes palavras: “Controle São Paulo, Papa Romeo Alfa Fox Alfa vai fazer a Echo Uno da pista 35… Vai fazer o bloqueio de Santos e o rebloqueio, ok?”. Em linguagem leiga: ele iria arremeter e tentar pousar novamente. Como manda a carta de aproximação para aquele aeroporto, o piloto fez uma curva à esquerda, passando sobre o centro da cidade de Santos (SP). Deveria subir a 1.200 metros e aguardar instruções. Quase no fim da trajetória de parábola, no entanto, o avião perdeu altitude, passou entre dois prédios, caiu sobre uma área de residências e comércios e explodiu. Nenhum dos sete ocupantes sobreviveu. Em solo, houve apenas feridos sem gravidade. A equipe de Eduardo Campos não demorou para perceber que algo estava errado. Márcio França, que tinha visto o jatinho arremeter, logo depois soube da informação equivocada de que um “helicóptero havia caído em Santos”. Quando os assessores do candidato à Presidência não conseguiram fazer contato com nenhum dos membros da comitiva, os temores cresceram. Feldman, que estava em São Paulo, relata os momentos de tensão. “Primeiro veio a notícia da queda de um helicóptero, depois do avião”, diz. “Era desesperador, mas ainda havia dúvida. Marina foi ficando profundamente triste”, conta. A confirmação de que a aeronave acidentada era mesmo de Eduardo Campos saiu perto do meio-dia. Antes das 13h, todos já sabiam que não havia sobreviventes. “Foi quase indescritível para todos”, diz Feldman. “Homens e mulheres choravam copiosamente.” Na busca pelas causas do acidente, há poucas certezas. Os pilotos eram experientes e o avião estava com todas as inspeções em dia. O gravador de voz (CVR) da cabine, recuperado na tarde de quarta-feira, chegou ao Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (Cenipa), em Brasília, perto da meia-noite, mas não será de grande utilidade. Segundo a Aeronáutica, o equipamento não gravou os diálogos do voo de Campos. As duas horas de áudio disponíveis são de uma viagem anterior. Ainda não se sabe o que causou o problema. O jatinho também não estava equipado com o gravador de dados (FDR), que não é obrigatório em aeronaves desse porte. Esse fato, embora não inviabilize a investigação, deixa o trabalho mais difícil e demorado. “Os dados são um reforço para o que foi colhido, mas não são necessariamente a base e o início das investigações”, diz Mateus Ghisleni, comandante e diretor da Secretaria de Segurança de Voo do Sindicato Nacional dos Aeronautas. Para os especialistas ouvidos por ISTOÉ, por enquanto, é possível apenas afirmar que as condições climáticas foram um dos fatores que podem ter contribuído para a queda. O procedimento de arremetida, segundo eles, é previsto e deve ser executado sempre que o piloto não considerar seguras as condições para aquele pouso. “É uma medida de segurança totalmente normal”, diz Humberto Branco, vice-presidente da Associação de Pilotos e Proprietários de Aeronaves. “A partir daí é que vem o mistério da causa do acidente, de entender o que aconteceu.” Testemunhas em solo disseram que o avião estava em chamas no ar. Um piloto ouvido pelo Cenipa afirmou, no entanto, que viu a aeronave sem nenhum sinal de fogo, em alta velocidade e com inclinação acentuada, mergulhar em direção ao solo. A cratera profunda e o alto grau de destruição indicam um choque desse tipo. “Nessas horas, os peritos do Cenipa precisam dar especial atenção às evidências físicas”, diz um engenheiro aeronáutico ligado à indústria da aviação que prefere não se identificar. “Os relatos iniciais podem ser muito discrepantes, fantasiosos até, e precisam ser corroborados por fatos.” A resposta a esse mistério estará nos destroços fumegantes coletados no local da queda. De acordo com a Aeronáutica, não há prazo para a conclusão das investigações. “Pela janela, vi uma labareda de seis metros” Dono da casa onde caiu o avião Cessna 560 XL relata os momentos de caos e desolação desde a fatídica manhã da quarta-feira 13 Rodrigo Cardoso Foi no quintal da casa do advogado Paulo Ivo Homem de Bittencourt, 86 anos, que morreu o candidato do Partido Socialista Brasileiro (PSB) à Presidência, Eduardo Campos, aos 49 anos. O proprietário, que se recuperava de uma luxação na clavícula, havia retornado de uma sessão de fisioterapia minutos antes da queda do Cessna 560 XL, prefixo PR-AFA, nos fundos de seu sobrado, que fica em um terreno de 580 metros no número 113 da rua Alexandre Herculano, no bairro do Boqueirão. Bittencourt estava na copa do imóvel, lendo jornal e sorvendo um mingau de aveia, quando, antes de dar a segunda colherada, viu o prato virar depois de um barulho estrondoso. O jato havia se chocado com o muro e os bambuzais do fundo de seu sobrado, a 12 metros de onde o idoso se encontrava. “Pela janela da cozinha, vi uma labareda de seis metros mais ou menos. Aí, me dei conta do que era e liguei para os bombeiros”, afirma. Nem os Bittencourt, que moram na rua há 41 anos, nem ninguém da vizinhança perdeu a vida. Seis pessoas foram encaminhadas para a Santa Casa de Santos com ferimentos ou por terem inalado gás em decorrência do acidente. Ao ver que nada havia acontecido com o pai, a psicóloga Maria Ester Pettinati Homem de Bittencourt, 49 anos, uma das filhas que moram com o advogado, dirigiu-se até a sala para agradecer a Deus. “Coloquei um joelho no chão e fazia o sinal da cruz, quando houve uma segunda explosão. Com ela, a porta dos fundos voou na minha direção e só não acertou a minha cabeça porque eu estava ajoelhada”, diz. No total, 36 apartamentos e dez casas foram interditados para que peritos, bombeiros e funcionários da Defesa Civil trabalhassem na busca por corpos e destroços do jato. Foi só por volta das 19h30 daquela fatídica quarta-feira 13 de agosto que o advogado Bittencourt voltou a se alimentar. Comeu um pedaço de pizza em uma padaria, amparado por outros seis familiares. Protegendo a cabeça da chuva contínua daquele dia com uma espécie de capa prateada cedida por um bombeiro, ele perambulou pela rua anestesiado, preocupado com o sobrado da família. Ao seu lado, a filha, que acreditava não ter se acidentado porque ajoelhou para rezar, segurava um terço e mostrava um escapulário de Nossa Senhora das Graças. “Moro naquela casa desde 1971. Nesses 43 anos, criei meus quatro filhos e tenho muitas boas lembranças. Quero entrar para ver como está, o que precisa ser feito, porque quero continuar a minha história lá”, diz ele. 4#3 MARINA SILVA E A SUCESSÃO Com a precoce morte de Eduardo Campos, Marina Silva torna-se a candidata natural ao Palácio do Planalto pelo PSB e a eleição caminha para o segundo turno Sérgio Pardellas (sergiopardellas@istoe.com.br) Em agosto de 2009, ISTOÉ estampava na capa a então candidata à Presidência pelo PV, Marina Silva, sob o título: Brasil não é só PT e PSDB. Desabrochava ali a esperança por uma terceira via política capaz de quebrar a polarização entre os dois partidos hegemônicos da política nacional. Cinco anos e uma eleição depois, está nas mãos de Marina e de seu novo partido, o PSB, o destino da alternativa política a petistas e tucanos. Confirmada, a ascensão de Marina à cabeça da chapa consolida a terceira via e altera os rumos da eleição presidencial. A disputa até então tinha tudo para ganhar um caráter plebiscitário cujo desfecho poderia até se dar no primeiro turno das eleições, no dia 5 de outubro. Com a candidatura de Marina pelo PSB, com possibilidades de largar com pelo menos 16% das intenções de voto (o dobro dos índices de Eduardo), as chances de segundo turno se multiplicam, já que no cenário anterior a diferença entre a primeira colocada Dilma Rousseff (PT) e a soma de todos os outros candidatos era apertadíssima. Ao longo da semana, de maneira compreensível, políticos do PSB evitavam publicamente entabular projeções sobre o futuro. Destinatária de 20 milhões de votos, a vice Marina, como era de se esperar, adotava a mesma postura. Visivelmente abalada, desautorizou qualquer articulação sobre uma provável candidatura. Em reservado, porém, membros do partido e da coligação “Unidos para o Brasil” não conseguiam escapar do tema sucessão. Embora a solução seja menos simples do que aparenta, já que ainda será preciso pacificar as notórias diferenças entre o PSB e os apoiadores de Marina oriundos da Rede , além de azeitar os palanques regionais, até a sexta-feira 15 os socialistas convergiam para a consolidação da ex-senadora como candidata ao Planalto. Pelo raciocínio dos integrantes do PSB, mesmo que haja algumas defecções, e elas são consideradas naturais, essa seria a única saída para evitar a implosão da aliança e consequentemente da candidatura. A despeito do constrangimento geral, coube ao único irmão de Eduardo Campos, o advogado Antonio Campos, escancarar o desejo pela candidatura da ex-ministra do Meio Ambiente. “Marina vai agregar valor à chapa presidencial e ao debate no Brasil”, afirmou ele. “Se meu irmão chamou Marina para ser sua vice, com essa atitude ele externou sua vontade”, acrescentou Antonio Campos, confiante de estar defendendo a posição que o ex-candidato aprovaria. “Acho que o mundo está nas mãos daqueles que têm coragem de sonhar e de correr riscos para viver seus sonhos”, encerrou ele. Na quinta-feira 14, uma das alas do PSB passou a defender o nome de Antonio Campos para ocupar o posto de vice de Marina. No fim de semana, a opção seria submetida aos demais integrantes do partido. A preferência de Marina, porém, recai sobre outro nome: o da viúva Renata Campos. Para Marina, além de Renata ser familiarizada com administração pública, por ser auditora do Tribunal de Contas de Pernambuco, a inclusão dela na chapa seria uma bela jogada de marketing político. A HERDEIRA - Abalada emocionalmente, Marina Silva evitava, na semana passada, projeções sobre o futuro político, mas sua candidatura se impõe Na sexta-feira 15, estrategistas do PSB, o marqueteiro Diego Brandy incluído, faziam os ajustes necessários para adaptar os programas do horário eleitoral gratuito do partido à nova realidade. A propaganda na tevê começará na terça-feira 19. Para o meio político, o horário eleitoral marca o início da campanha de fato. É quando os candidatos atingem o maior contingente de eleitores. Nesta eleição, os últimos meses que antecedem o escrutínio das urnas ganharam um novo ingrediente: na atual fase da campanha o número de indecisos supera em quase duas vezes a média das três últimas eleições (2002,2006 e 2010). De acordo com a pesquisa ISTOÉ/Sensus, hoje os que ainda não sabem em quem votar somam 46 milhões de eleitores, cerca de 33% do eleitorado – contra 18% dos últimos pleitos. No PSB, a expectativa é de que Marina atraia parte expressiva desse eleitor claudicante. Acreditam que, por dialogar com os setores sociais que ocuparam as ruas do País em junho e julho de 2013, ela será capaz de encarnar o “novo” e a “mudança”, trazendo de volta à ribalta a turma dos desiludidos com a política. Além, é claro, de ser depositária da esperança de fatia dos eleitores por “representar um herói morto”. Seria a junção, segundo palavras de um socialista, do “voto de protesto” com o “voto do luto”. Não por acaso, Eduardo Campos, morto tragicamente num acidente aéreo na quarta-feira 13, será a estrela do primeiro programa de tevê da coligação. A peça de propaganda política trará Campos ao lado de Marina Silva, com pequenas inserções em homenagem à memória do líder socialista. A partir do dia seguinte, a lógica muda e Marina passa a ocupar o primeiro plano. Quem aparentemente mais perde com a substituição de Eduardo por Marina, o PT já refaz as contas para tentar liquidar a eleição no primeiro turno – o principal objetivo do partido desde o início da campanha. Se antes reinava o otimismo, agora os petistas são quase unânimes em afirmar que o cenário aponta para a realização da eleição em duas etapas. Para evitar a sangria de votos nesse momento de luto, os petistas decidiram entrar no clima de comoção nacional. Por isso, o marqueteiro João Santana se moveu às pressas no fim da semana para inserir nos primeiros programas de Dilma na tevê um depoimento dela e do ex-presidente Lula lamentando a morte de Eduardo Campos. Na quarta-feira 13, logo que soube da notícia, Dilma seguiu o script. Decretou luto oficial, suspendeu os eventos de campanha, se revelou “tristíssima” com o trágico acidente que tirou a vida do ex-adversário e se referiu a ele como “grande companheiro e grande brasileiro” por quem nutria muito “respeito”. Tal como o PT, o PSDB também avalia destacar na propaganda eleitoral a relação de amizade e comunhão de ideais entre Aécio Neves e Campos. No início da noite da quarta-feira 13, o tucano fez um pronunciamento no qual elogiou o ex-governador de Pernambuco, qualificando-o como “valoroso, um homem público especial e um grande amigo”. Para Aécio, Campos era um dos maiores representantes da boa política. De fato, apesar de estarem em trincheiras distintas, Aécio e Campos mantinham uma ótima convivência. Desde o início da campanha, não ficaram uma semana sequer sem se falar ou trocar mensagens pelo celular. No próprio PSB, já havia quem considerasse o caminho de Campos rumo à oposição sem volta. Atravessado o rubicão, seria natural o apoio a Aécio num segundo turno. Agora, entre os tucanos, o raciocínio é que, se a presença de Marina na corrida eleitoral praticamente sela o segundo turno, ao mesmo tempo corre-se o risco de a ex-senadora se consolidar em segundo lugar, deslocando Aécio para terceiro e eliminando-o da disputa. Por isso, o partido se reunirá no início desta semana para rediscutir as estratégias de campanha. Diante da perplexidade com a morte trágica de Eduardo Campos, os políticos ainda parecem tatear no escuro. No PSDB e no PT, sobram dúvidas em relação a um cenário ainda nebuloso. Em comum, entre tucanos e petistas está a convicção de que as eleições de 2014 não serão mais as mesmas. O ÚLTIMO RETRATO ELEITORAL Nas campanhas eleitorais, as pesquisas são retratos da imagem dos candidatos junto aos eleitores em um determinado momento. Para Eduardo Campos, um último retrato foi revelado nos quatro dias que antecederam sua morte, na quarta-feira 13, em um acidente aéreo na cidade de Santos (SP). No período de 9 a 12 de agosto, brasileiros de 136 cidades em 14 Estados demonstraram, nas respostas dadas aos entrevistadores da pesquisa ISTOÉ/Sensus (registrada no Tribunal Superior Eleitoral sob o número BR – 00336/2014) que o apoio à candidatura de Campos havia aumentado em um ritmo um pouco mais rápido que os dos adversários Dilma Rousseff (PT) e Aécio Neves (PSDB), desde o levantamento feito há um mês. Na votação estimulada, Campos foi o escolhido por 9,2% dos entrevistados, dois pontos percentuais a mais que na enquete anterior. Oscilou dentro da margem de erro (de 2,2%), assim como os demais candidatos, mas de forma mais significativa. Dilma subiu de 31,6% para 32,7%. Aécio saiu de 21,1% para 21,4%. O resultado – que em virtude da fatalidade deixa de ter interesse eleitoral para se tornar apenas um registro histórico – revelou o efeito de um maior conhecimento do candidato e suas propostas às vésperas também do início da propaganda gratuita na tevê. 4#4 A COMOÇÃO Como Renata Campos, a família e os amigos reagiram à morte de Eduardo e a consternação que a tragédia provocou em toda Pernambuco Izabelle Torres (izabelle@istoe.com.br), do Recife Passava das 11 horas da manhã da quarta-feira 13 quando o telefone de Renata Campos, mulher de Eduardo Campos, tocou. Ela acabara de desembarcar do voo comercial que a levou do Rio de Janeiro para Recife com o bebê Miguel, de sete meses e filho mais novo do casal. Do outro lado da linha, o tio de Eduardo, Pedro Arraes, queria desmentir os boatos que rondavam o mundo político naquele momento sobre a queda do avião com o presidenciável e sua comitiva. Renata disse que sabia que o jato havia caído, mas que os passageiros estavam apenas feridos e recebendo atendimento médico. A conversa com Pedro ainda não havia terminado quando alguém próximo entregou outro telefone para Renata. Do outro lado da linha, uma pessoa que esperava por Eduardo em São Paulo disse que ele havia morrido. Renata entrou em choque, desligou o telefone e chorou. Quase na mesma hora, na Igreja de Casa Forte, no Recife, 60 pessoas assistiam à missa celebrada pelos nove anos da morte de Miguel Arraes, avô de Eduardo. A viúva de Arraes, Magdalena, estava presente e cercada por amigas fiéis da família. Às 11h30, depois do fim da liturgia, o padre deu a terrível notícia: Eduardo Campos tinha sofrido um acidente de avião. Provavelmente estava morto. Portadora da doença de Alzheimer, Magdalena, 84 anos, não se deu conta da dimensão da tragédia e parecia desconhecer o motivo que levou as amigas a se desesperarem. DOR - A aposentada Amália Maria em frente ao Palácio das Princesas: É difícil se conformar com essa tragédia" Aturdidos pela morte, os familiares tentavam, naqueles primeiros momentos, se apegar às últimas lembranças do ente querido. Renata rememorava a conversa derradeira que teve com o marido. Antes de embarcar para Santos, ele telefonou para ela e comentou uma reportagem publicada por um jornal, que falava mais dela do que dele. Como sempre, os dois riram juntos, se divertiram com as coisas do dia a dia. “Disseram que você manda em mim”, disse Eduardo. Ela pediu que o marido enviasse uma cópia do texto. Foi a última mensagem que recebeu dele. A recordação dos diálogos finais vêm para todos. O irmão de Eduardo, Antonio Campos lembrou como ele estava feliz e satisfeito pelo desempenho na entrevista para o “Jornal Nacional”, na noite anterior à tragédia. “Falei com o Eduardo às 6h59 de quarta-feira e ele estava entusiasmado, leve”, afirma Antonio. O avião cairia menos de três horas depois. CHORO - Escritório do PSB no Recife: nos lugares que Eduardo frequentava, o sofrimento foi maior Na semana passada, a casa da família Campos se tornou ponto de peregrinação de amigos e parentes. Mais de 300 pessoas foram prestar solidariedade a Renata. Um por um ela abraçava os que chegavam. Quando estava entre os mais próximos, chorava discretamente. Em voz baixa, quase inaudível, repetia “vamos ficar fortes”. Em alguns momentos, parecia que era ela quem tinha a missão de ajudar os visitantes a superar a dor. Firme, não abandonou um minuto sequer o papel de mãe. Conversava com os filhos mais velhos, tentava animá-los e amamentava regularmente o bebê, nascido em janeiro e que tem síndrome de Down. Miguel, ativo e esperto, era o único que despertava sorrisos. Uma cena triste foi a chegada do ministro do Tribunal de Contas da União (TCU), José Mucio Monteiro, à casa dos Campos. Ele estava acompanhado de Ana Arraes, mãe de Eduardo, e ambos pareciam profundamente consternados. “Se havia uma coisa nova na política, era o Eduardo”, disse Monteiro, que fazia um esforço enorme para manter o controle emocional. “Todos perdemos demais. Para a família, a realidade e os efeitos dessa tragédia virão com o tempo.” Na quinta-feira 14, Renata quis celebrar uma missa na área externa da casa onde morava com Eduardo desde o casamento. Cerca de 150 pessoas compareceram. João Henrique, 20 anos, leu um trecho do Livro de Jó que discorre sobre a vida eterna. Os irmãos Pedro, 18 anos, e Maria Eduarda, 22, ajudavam nos trabalhos, enquanto José Henrique, 9, não saía de perto da mãe. Usando um vestido preto que revelava a dor do luto, Cecília Ramos, mulher do assessor de Eduardo, Carlos Percol, que também morreu na queda do avião, consolou-se com as palavras do padre Luciano Brito. A consternação pela morte de Eduardo uniu desconhecidos e fez Pernambuco mergulhar em uma tristeza profunda. Por toda Recife, pessoas se reuniram em locais públicos para falar sobre o ex-governador. Até o comércio parecia caminhar em marcha lenta. “Está todo mundo triste como se tivesse morrido um familiar”, resume a vendedora Ana Silva, que trabalha no Mercado Público. “A grande questão nessa história é como se conformar com tamanha tragédia”, diz a aposentada Amalia Maria da Silva, que rezava em frente ao Palácio das Princesas, no que era acompanhada por dezenas de pessoas. Em lugares que Eduardo costumava frequentar, a comoção vai demorar para passar. Em Caruaru, o restaurante que recebeu o cliente ilustre por 25 anos declarou luto e espalhou fotos do ex-governador pelas paredes. No comitê central da campanha, no Recife, uma enorme faixa preta foi pendurada pelos funcionários. LUTO Cecília Ramos, viúva do jornalista Carlos Percol, chega à casa de Campos Um assunto que preocupava a família era o funeral e o desejo de que o corpo do presidenciável chegasse logo à terra natal. Renata não queria que Eduardo tivesse prioridade no reconhecimento dos restos mortais. Ela disse que os trâmites deveriam ser os mesmos para o marido e as outras seis vítimas da tragédia. No cemitério de Santo Amaro, na região central do Recife, admiradores do ex-governador visitavam o local onde corpo será enterrado. A equipe de cerimonial do governo e integrantes do corpo de bombeiros discutiam a colocação de toldos e grades de segurança sob o olhar curioso de uma dezena de pessoas. “Eu vim aqui para enterrar o avô dele, o Miguel Arraes, e nunca imaginei que, velha como sou, estaria aqui para enterrar o Eduardo.” Para vários amigos, Renata Campos disse uma frase que traduziu o sentimento de todos: “Parece que a morte se confundiu e levou a pessoa errada.” HOMENAGEM Flores no Palácio das Princesas, sede do governo de Pernambuco ______________________________________ 5# BRASIL 20.8.14 GENOINO E O NOVO STF Saída do petista José Genoino da prisão marca o início de uma nova era no Supremo Tribunal Federal sob o comando do ministro Ricardo Lewandowski Josie Jeronimo (josie@istoe.com.br) Duas semanas separaram a aposentadoria do ex-presidente do Supremo Tribunal Federal (STF) Joaquim Barbosa e a saída de José Genoino e Jacinto Lamas da prisão. À frente do STF, Barbosa havia endurecido a aplicação das regras de execução penal. Assim, manteve os dois condenados do mensalão no regime semiaberto por oito meses. O novo presidente da corte, ministro Ricardo Lewandowski, formalmente eleito na tarde da quarta-feira 13, preferiu marcar uma nova era no Supremo. O cálculo mais rigoroso adotado por Barbosa para aplicar a pena aos mensaleiros deu lugar a uma variável que atenuou a duração do cárcere: os dias remidos. Pela regra, adotada por Lewandowski, os condenados abatem da punição os dias que passam estudando e trabalhando na cadeia. Com isso, Genoino obteve a remissão de 34 dias e conseguiu a progressão do regime semiaberto para a prisão domiciliar. Caso contrário, o petista ficaria na Papuda até setembro. A progressão foi autorizada pelo ministro Luís Roberto Barroso, em resposta a parecer do Ministério Público Federal. PARA CASA - O petista José Genoino deixa a Papuda, em Brasília, terça-feira 12 Graças ao novo estilo de Lewandowski, outros condenados no mensalão poderão ser beneficiados. O ex-ministro José Dirceu cumpre regime semiaberto e, segundo a contagem formal, ganharia a liberdade em maio de 2015, completando um sexto da pena. Mas a nova leitura que o Supremo fará sobre os dias remidos pode garantir ao ex-ministro antecipação da progressão para o regime aberto em novembro de 2014, aposta magistrado da Vara de Execuções Penais do Distrito Federal ouvido por ISTOÉ. O abatimento dos dias trabalhados e estudados é uma variável que depende do presidente do STF. Advogados dos condenados do mensalão reclamavam que, na gestão de Barbosa, a Vara de Execuções Penais do Distrito Federal sofria grande pressão do Supremo e não tinha autonomia para definir situações que, na visão deles, seriam corriqueiras, como é o caso dos dias remidos. SOB NOVA DIREÇÃO - O novo presidente, Ricardo Lewandowski, quer melhorar a relação com a imprensa Não será apenas a política de execução penal que mudará sob Lewandowski. Na área administrativa, servidores da confiança do novo presidente do STF trabalham para eliminar da estrutura do tribunal qualquer resquício capaz de lembrar a gestão do antecessor. “A missão é desconstruir a tese de que na gestão anterior o Supremo funcionava melhor”, afirma um servidor do gabinete do novo presidente. Uma das tentativas de demarcar diferença foi a convocação de uma força-tarefa para distribuir 2.600 processos “acumulados”. A missão de oxigenar a agenda de trabalho ficará a cargo de um fiel escudeiro de Lewandowski. O professor de direito Manoel Carlos de Almeida foi escolhido para ocupar a secretaria-geral. Com isso, dados do Portal de Transparência do Supremo que haviam sido desativados a pedido de Barbosa voltarão ao ar. A Secretaria de Comunicação Social também está em fase de reestruturação. O novo presidente quer recuperar a relação da corte com a imprensa. Lewandowski avalia que a instituição perdeu com os repetidos embates de seu antecessor e jornalistas especializados na cobertura do Judiciário. ____________________________________________ 6# COMPORTAMENTO 20 8.14 6#1 A GUERRA DA ÁGUA 6#2 O BRASIL NO TOPO DA MATEMÁTICA 6#3 O COLAPSO DA UNIVERSIDADE PÚBLICA 6#4 ESCÂNDALO NO AUTOMOBILISMO 6#1 A GUERRA DA ÁGUA Contrariando agências federais, o governo paulista mantém decisão de diminuir a vazão de rio que abastece municípios do Rio de Janeiro e de São Paulo, e a questão pode parar na Justiça Paula Rocha (paularocha@istoe.com.br) e Wilson Aquino (waquino@istoe.com.br) Resultado da pior seca dos últimos 80 anos, a crise da falta de água no Estado de São Paulo está gerando uma disputa que pode acabar nos tribunais. Na última semana, o governo paulista decidiu manter a redução da vazão de água, de 30 m³ por segundo para apenas 10 m³ por segundo, da represa de Jaguari (SP) para o rio Paraíba do Sul. A decisão da Companhia Elétrica de São Paulo (Cesp) contraria a determinação do Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) e a recomendação da Agência Nacional de Águas (ANA), que alertam para a possibilidade de um colapso no abastecimento de 41 municípios dos Estados do Rio de Janeiro e de São Paulo, que dependem da água do Paraíba do Sul. Caso o governo paulista não acate a resolução do ONS em 15 dias, a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), responsável pela fiscalização do setor, poderá advertir e aplicar uma multa na Cesp de até 2% do faturamento da companhia. Para manter a vazão reduzida, o secretário de Saneamento e Recursos Hídricos de São Paulo, Mauro Arce, admite ir à Justiça pela água do rio Jaguari. É a primeira vez que uma hidrelétrica descumpre uma determinação do ONS, órgão responsável pela coordenação e pelo controle da geração e transmissão de energia elétrica no Sistema Interligado Nacional (SIN). SECA - Leito da represa de Jaguari, em São Paulo, que alimenta o rio Paraíba do Sul Afetado diretamente pela decisão paulista, o governo do Rio de Janeiro se manifestou contrário à redução da vazão da represa de Jaguari. Em nota, o governador fluminense Luiz Fernando Pezão (PMDB) salientou que o descumprimento da orientação do ONS prejudicava o Estado do Rio, mas defendeu o diálogo para contornar a crise. “São Paulo não pode tomar uma decisão unilateral. Mas tenho certeza de que o governo federal, através da ANA, irá determinar o que tem de ser feito no rio Paraíba do Sul”, disse Pezão. Já o secretário da Casa Civil do Rio, Leonardo Espíndola, afirmou que a decisão de São Paulo coloca em risco o equilíbrio da União. “Estado nenhum pode decidir de forma unilateral como utilizar os recursos hídricos que extrapolam os seus limites territoriais. Isso não é um debate político. É um debate técnico”, reclamou. Em sua defesa, o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB), justifica o descumprimento da determinação do ONS como forma de priorizar o consumo humano em detrimento da geração de energia, com base na Lei 9.433 de 1997, que institui a Política Nacional de Recursos Hídricos. Essa aplicação da lei, contudo, só valeria se o governo paulista decretasse estado de emergência, o que até agora não foi feito por Alckmin, que tenta a reeleição neste ano. A Agência Nacional de Águas, por sua vez, afirmou que, até agora, não recebeu nenhuma justificativa dos órgãos gestores estaduais de São Paulo para alterar a operação do reservatório de Jaguari e deu um prazo de cinco dias úteis, contados a partir de 12 de agosto, para que a Cesp apresente estudos técnicos e jurídicos que justifiquem a decisão. TRINCHEIRA - Os governadores Geraldo Alckmin (acima), de São Paulo, e Luiz Fernando Pezão, do Rio, estão em campos opostos. União aguarda relatório técnico que justifique medida da administração paulista Para o superintendente de Conservação do WWF-Brasil, Michael Becker, que é engenheiro com especialização em gestão de recursos hídricos e economia ambiental, essa é uma crise anunciada e megaobras de engenharia não vão solucionar o problema. “Projetos de reúso de água, conservação dos mananciais e incentivo para quem economiza água são medidas simples, eficazes e permanentes.” Já na opinião do professor de recursos hídricos da Coppe-UFRJ (Instituto Alberto Luiz Coimbra de Pós-Graduação em Engenharia), Jerson Kelman, que é ex-presidente da ANA, ex-diretor-geral da Aneel e ex-presidente da Light, a autoridade federal é quem decide sobre reservatórios de água compartilhados por cidadãos de diferentes Estados. “Não pode ser paulista ou fluminense a decidir isoladamente o que fazer com a água. Tem de ter uma visão de conjunto, levando em consideração o interesse de todos, e só a União pode fazer isso”, afirmou. A ANA está organizando ainda para esta semana, em data a definir, uma reunião com representantes dos governos de São Paulo e do Rio para tratar do assunto. 6#2 O BRASIL NO TOPO DA MATEMÁTICA Como a conquista da Medalha Fields, o Nobel da área, pelo carioca Artur Avila pode melhorar o ensino da disciplina nas escolas do País Camila Brandalise (camila@istoe.com.br) Um novo nome figura no panteão dos grandes matemáticos do mundo. O carioca Artur Avila, 35 anos, é o primeiro latino-americano a ganhar a Medalha Fields, conhecida como Nobel da área. O prêmio, entregue na terça-feira 12, na Coreia do Sul, é um reconhecimento não só à dedicação de Avila, mas também ao progresso da pesquisa feita no Brasil, encabeçada pelo trabalho de 62 anos do renomado Instituto Nacional de Matemática Pura e Aplicada (Impa). Se por um lado a reverência coloca o Brasil no patamar dos grandes centros de inovação, por outro intensifica o contraste com a outra ponta, a educação básica, que ainda patina em problemas como a má formação de professores, revelada principalmente no crítico desempenho dos alunos em exames nacionais e internacionais. Em um sistema de ensino que do primeiro contato com os números até o vestibular prioriza a reprodução de cálculos e fórmulas, o prêmio é um estímulo para que as escolas sigam novos rumos, mais atrativos, criativos e desafiadores aos alunos. RECONHECIMENTO - Artur Avila (acima), 35 anos, primeiro brasileiro a ganhar a Medalha Fields, considerada o Nobel da matemática Avila começou a trilhar o laureado caminho ainda criança, em 1992, quando conquistou o bronze ao participar da Olimpíada Brasileira de Matemática. Nos três anos seguintes, colecionou medalhas de ouro. Terminou o ensino médio junto com o mestrado e logo partiu para o doutorado, concluído aos 22 anos. Era cotado para a Medalha Fields desde 2010. Ao longo da carreira, aprimorou-se na área dos sistemas dinâmicos, linha de estudos que investiga a maneira com que os processos irregulares evoluem. “O exemplo mais famoso é a teoria do caos: o bater de asas de uma borboleta em um lugar do mundo poderia afetar o clima em outra parte alguns dias depois”, diz Claudio Landim, diretor-adjunto do Impa e coordenador-geral da Olimpíada Brasileira de Matemática das Escolas Públicas (Obmep). É basicamente prever o futuro a partir de condições do presente. Baseados em teorias muito distantes da matemática formal, a ensinada na escola, os sistemas dinâmicos têm usos práticos no aprimoramento de conjeturas em áreas como economia e meteorologia. Por exigirem do pesquisador mais raciocínio e capacidade de elucubração, sugerem uma inspiração para o ensino da disciplina na educação básica, considerado desestimulante, desconectado da realidade e baseado mais na memorização do que na reflexão. “O Brasil tem reforçado muito a ideia de ensinar a escrita e a leitura em um contexto relacionado ao uso prático. Ainda não conseguimos fazer isso com a matemática”, afirma Alejandra Meraz Velasco, gerente da área técnica do movimento Todos Pela Educação. “As crianças aprendem a tabuada antes de saber o que é multiplicação. Fica sem sentido e aí a disciplina parece chata.” CERIMÔNIA - O matemático carioca recebe a premiação na Coreia do Sul na terça-feira 12 Para o professor Nicolau Saldanha, do Departamento de Matemática da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio), o problema começa na formação dos professores. “Mesmo os docentes mais motivados da rede pública têm deficiências. Estão claramente pouco preparados”, afirma. Segundo especialistas, é necessário um aprimoramento da didática para o ensino da ciência em sala de aula. “O profissional pode ter bom conhecimento do assunto, mas se ele não souber como ensinar, como estimular o aluno a aprender, não adianta”, afirma Alejandra. Uma das alternativas à educação tradicional são as competições de matemática. “Na Olimpíada das Escolas Públicas não é exigido conhecimento formal, mas a capacidade de abstração”, diz Landim. “Há alunos que na escola tiram notas ruins, mas se destacam na Olimpíada e descobrem que a matemática pode ser divertida.” O concurso recebe 20 milhões de inscrições por ano e premia seis mil alunos. A organização da Olimpíada fica a cargo do Impa, que também oferece material didático para alunos e professores e tem atuado para fomentar melhorias no ensino da matemática no País. Com planos de expansão, o instituto deve sediar a Olimpíada Internacional de Matemática em 2017 e a próxima cerimônia de entrega da Medalha Fields, em 2018. Para daqui a quatro anos, apesar de o País mal ter estreado na lista dos premiados, já se cogita outro brasileiro para o “pódio”: Fernando Codá Marques, 34 anos, pesquisador do Impa na área de geometria diferencial e um dos nomes cotados para levar a medalha neste ano. Além das questões práticas que um prêmio desses pode trazer, como fomentar a discussão sobre novas maneiras de aprender matemática, há um alto valor simbólico envolvido. “Mostramos que o Brasil pode ter destaque mundial em diferentes áreas. Afinal, não é só com jogadores de futebol que ganhamos as manchetes”, diz Alejandra. Neste ano, esse não foi um bom exemplo. 6#3 O COLAPSO DA UNIVERSIDADE PÚBLICA Com a maior crise financeira da história e submetidas a administrações ineptas, instituições estaduais e federais comprometem o futuro e a qualidade do ensino Fabíola Perez (fabiola.perez@istoe.com.br) Algumas das mais importantes instituições de ensino do País atravessam a maior crise financeira de sua história. Para pagar os salários dos funcionários, contratos, contas de luz e telefone, a Universidade de São Paulo (USP) gasta cerca de R$ 90 milhões a mais do que recebe do Estado por mês. Nesse ritmo, estima-se que até o final do ano será gasto mais de R$ 1 bilhão acima da receita. O aumento das despesas pode ser explicado, em parte, pela incorporação de novos campi e novas contratações. De 2010 a 2013, por exemplo, foram admitidos mais de 2.400 servidores técnicos e 395 docentes. Hoje a conta não fecha e a universidade destina 105,33% de seu orçamento para o salário dos funcionários. O cenário de altas despesas não é diferente em outras instituições. A Universidade Estadual Paulista (Unesp) emprega 95% de sua receita com a equipe e a Universidade de Campinas (Unicamp) compromete 97% da folha de pagamento com servidores e docentes. “Se continuarmos sem investimentos e a administração se mantiver intransigente, em dois ou três anos vamos assistir a avaliações negativas do Ministério da Educação em instituições que eram centros de referência internacionais”, afirma Tamara Naiz, presidente da Associação Nacional de Pós-Graduandos. PARALISAÇÃO - Em greve desde maio, docentes e funcionários das universidades estaduais paulistas reivindicam o reajuste salarial Desde maio, parte dos professores das três instituições está em greve por tempo indeterminado contra o congelamento dos salários determinado pelo Conselho de Reitores das Universidades Paulistas. A comunidade acadêmica é contrária à medida por considerar que, com a atual inflação, não conceder o reajuste significaria uma queda salarial. O reitor da USP, Marco Antonio Zago, afirmou que as universidades paulistas estão retirando recursos da poupança para arcar com os gastos. “É uma situação insustentável que pode nos levar rapidamente à inadimplência”, afirma. “Tivemos que reduzir gastos de consumo, suspender obras em andamento e todas as contratações.” Em uma tentativa de atenuar a crise, a USP estuda, desde a semana passada, implementar um programa de demissão voluntária de funcionários e oferecer um incentivo para professores reduzirem as jornadas. De acordo com a proposta, as demissões poderiam diminuir em 10% o gasto da instituição com a folha de pagamento. Já uma redução de 25% da jornada possibilitaria um corte de 20% nos salários. “É uma proposta descabida porque a reitoria não dialogou com a comunidade acadêmica nem com o governo estadual”, diz Francisco Miraglia, secretário-geral da Associação de Docentes da USP. Os professores reivindicam um aporte imediato de R$ 600 milhões para dividir entre as três universidades paulistas até o final do ano. MANOBRA - Reitor da USP, Marco Antonio Zago: tirando da poupança para pagar despesas Embora a crise tenha sido deflagrada pelas greves nas universidades de São Paulo, outras instituições amargam a mesma realidade. A insuficiência de financiamento do governo, a ausência de regras específicas para licitações de equipamentos e a falta de autonomia são os principais entraves ao desenvolvimento do ensino superior público no País. A legislação prevê que as instituições estaduais de São Paulo recebam 9,57% do Imposto sobre Circulação de Mercadoria e sobre Prestação de Serviços (ICMS). Na Bahia, diferentemente, os recursos estão vinculados à receita do Estado. A presidenta da Associação Brasileira dos Reitores das Universidades Estaduais e Municipais, Adélia Pinheiro, explica que esses repasses deveriam ser revistos periodicamente. “Os recursos estão submetidos a indicadores que variam, mas as despesas das universidades só aumentam”, diz. Outro problema é a falta de regras específicas para licitação de equipamentos nas instituições. Além da demora na chegada das máquinas, Adélia explica que o menor custo pode comprometer a qualidade da produção acadêmica. SEM RECURSOS - A Unesp (acima) tem 17 campi em greve parcial de professores e funcionários e a Ufam (abaixo) sofre com o sucateamento de laboratórios Ao contrário das estaduais, que podem gerir seus recursos livremente, as instituições ligadas ao governo federal recebem o aporte do Ministério da Educação e sofrem com a falta de autonomia. Os recursos são fiscalizados pela União e não é possível dividir o valor entre os setores da universidade. “Se a instituição economizou dinheiro, esse montante não é passado para o ano seguinte, é devolvido à União”, explica Targino de Araújo Filho, presidente da Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições de Ensino Superior. Com isso, a eficiência da gestão dos recursos fica comprometida. Além disso, as instituições federais enfrentam a falta de infraestrutura nos espaços de aula. Na Universidade Federal do Amazonas (Ufam), os docentes denunciaram a precariedade do Instituto de Ciências Biológicas, que expõe alunos, professores e funcionários a condições insalubres. Sem equipamentos e materiais para o início das aulas, a Universidade Federal de Sergipe está em greve desde 3 de junho. O presidente do Sindicato Nacional dos Docentes das Instituições de Ensino Superior (Andes), Luiz Henrique Schuch, afirma que é preciso reagir. “A educação e o diploma de ensino superior não podem ser tratados como insumo de um sistema motivado pelo lucro imediato.” 6#4 ESCÂNDALO NO AUTOMOBILISMO Ministério Público investiga cúpula do esporte no Brasil. Dirigentes são acusados de fraude, tráfico de influência e recebimentos irregulares. Tudo para garantir uma renda mensal da Confederação Brasileira de Automobilismo, o que é proibido Helena Borges (helenaborges@istoe.com.br) Muita velocidade e muito dinheiro são os combustíveis da Stock Car, principal categoria do automobilismo nacional, que tem os pilotos Cacá Bueno e Rubens Barrichello como estrelas. Mas foram os gestores da Confederação Brasileira de Automobilismo (CBA) que derraparam na pista e agora estão sendo investigados pelo Ministério Público e pela Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), nacional e a regional do Rio de Janeiro. Os dirigentes são acusados de fraude, tráfico de influência, compadrio, uso indevido do cartão corporativo e recebimento por consultorias numa manobra para obter renda mensal de uma institutição que proíbe pagamento de salário. No processo, em análise pela Procuradoria Geral da República, o presidente da CBA, Cleyton Tadeu Pinteiro, por exemplo, é acusado de receber, entre gastos com o cartão corporativo e pagamentos por consultorias dadas pela empresa dele, R$ 770 mil ao ano. Segundo o processo a que ISTOÉ teve acesso, o presidente teria tido reembolsos mensais de aluguel de carros, passagens aéreas de primeira classe, despesas com supermercados e até serviços de cabeleireiro. Outra acusação refere-se a contratos pontuais com companhias pertencentes a presidentes de federações regionais, como Sesimar Correia, que preside a Federação Potiguar de Automobilismo, por sua vez, filiada à CBA. Ele é apontado como o corretor responsável pelos seguros de vida de todos os pilotos da confederação, o que rende à sua empresa particular uma conta de R$ 500 mil. A “dupla jornada”, por assim dizer, é considerada antiética, já que os presidentes de federações estaduais elegem a chapa diretora da CBA. A denúncia enviada ao Ministério Público que deu origem à investigação é assinada por Dione Rodrigues e Antônio dos Santos Neto, ex-vice-presidentes da Confederação, e conta com o respaldo de um dos atuais membros do conselho fiscal, Edison Rodrigues dos Campos. Anexa às acusações, consta uma carta assinada por Campos, na qual ele denuncia ter sido ameaçado, em reunião realizada em outubro do ano passado, por Eduardo José Leal, também membro do conselho, e pelo diretor jurídico da CBA, Fellipe Zeraik. Segundo seu relato, ambos falaram com ele “de forma afrontosa” e o “forçaram a pedir renúncia” da função. Campos diz que a ação foi uma resposta às denúncias feitas pelos ex-diretores e também às suas próprias indagações em assembleias do conselho sobre pagamentos à empresa Zeraik Advogados Associados, pertencente ao diretor jurídico. O processo, que estava nas gavetas do Ministério Público, foi entregue, na segunda-feira 4, à Quinta Câmara de Revisão e Coordenação da Procuradoria Geral da República para revisão. Há ainda, no processo, informações sobre compadrio entre Zeraik e o Superior Tribunal de Justiça Desportiva do Automobilismo (STJDA). São elas: o presidente do STJDA, Fernando Cabral, é pai do sócio de Zeraik, Fernando Cabral Filho. Este, por sua vez, faz parte da Comissão Disciplinar da corte. E o advogado Carlos Alberto Diegas Dutra, que trabalha na empresa de Zeraik, é um dos auditores do STJDA. “Há indícios de que diversos auditores do Tribunal são funcionários ou parentes de sócios do escritório de Zeraik, o que obviamente desvirtua o caráter de independência que deve pautar a atuação da Justiça Desportiva, na forma prevista pela Lei Pelé”, recrimina Marcelo Jucá, presidente da Comissão de Direito Desportivo da OAB/RJ. Procurado por ISTOÉ, Zeraik afirmou que advoga para a confederação há 20 anos e que não recebe pelo exercício do cargo de diretor, mas sim pelo de advogado. “Não me tornei diretor da CBA e depois escolhi meu escritório para advogar. É o contrário. E, como diretor, eu não recebo. Agora, meu escritório recebe”, defende-se. Em um relatório de auditoria realizado em 2009, há registros de contratos com o escritório de Zeraik para defender a Confederação em casos que somam custos potenciais à CBA de R$1.455.045,13. Questionado sobre os outros diretores, Zeraik afirma que nenhum deles recebe salário e defende o presidente da CBA, Cleyton Pinteiro. Afirma que a empresa Nailda Rodrigues Lima NRL, apontada na denúncia investigada pelo MP como ferramenta de “camuflagem” do salário do presidente em contratos de “assessoria esportiva”, não pertence a Pinteiro. “Eu sei que o Cleyton não é sócio dessa empresa”, afirma. A CBA negou à ISTOÉ o acesso às contas e aos documentos da entidade. Em resposta à carta-denúncia, a confederação enviou um texto ao MP desqualificando o denunciante, o ex-vice-diretor Dione Rodrigues. Segundo a CBA, Rodrigues sofreu processo administrativo no STJDA e a federação de Brasília, que ele presidia, foi desfiliada “em função de diversas fraudes e irregularidades cometidas pela diretoria”. Já o outro denunciante, Antônio dos Santos Neto, é descrito da seguinte forma: “Já esteve preso e, atualmente, responde a diversos processos criminais”. ____________________________________________ 7# MEDICINA E BEM-ESTAR 20.8.14 O JEITO MAIS SIMPLES DE RASTREAR O CÂNCER Começam a surgir no mundo exames que revelam a presença de tumores e apontam a evolução da doença a partir de uma única amostra de sangue Mônica Tarantino (monica@istoe.com.br) A análise de uns poucos mililitros de sangue começa a fornecer respostas fundamentais para a detecção do câncer e o acompanhamento da evolução da doença. Batizados de biópsia líquida, os exames identificam a presença, na corrente sanguínea, de células tumorais e de fragmentos do DNA do tumor que são capazes de confirmar a instalação da enfermidade, de apontar se o tratamento está dando certo ou, ao contrário, se o tumor permanece forte o suficiente para se espalhar para outros órgãos. BUSCA - No A. C. Camargo (SP), a pesquisadora Ludmilla analisa amostra sanguínea para procurar células doentes e confirmar diagnóstico Os testes estão sendo pesquisados em alguns dos principais centros de excelência no tratamento da doença do mundo. No Brasil, são investigados no Centro de Oncologia Molecular do Hospital Sírio-Libanês, no A.C. Camargo Cancer Center e na Universidade de São Paulo. Sua aplicação já se mostrou eficaz para detectar a presença de células de câncer de mama, pâncreas e de próstata. “O método é mais sensível do que os exames de imagem e do que o atual marcador tumoral PSA, usado para tumor de próstata”, diz a cientista Ludmilla Chinen, do Centro Internacional de Pesquisa e Ensino do A.C.Camargo Cancer Center, de São Paulo. Na Universidade de São Paulo, pesquisadoras estudam opções para desenvolver biópsias líquidas para tumores cerebrais. Nesta etapa de estudo, porém, os testes estão sendo utilizados para detectar tumores em fase mais adiantada, confirmando diagnósticos anteriores. Na Universidade de Bradford, no Reino Unido, está em desenvolvimento uma opção de diagnóstico diferente. O exame é capaz de detectar diversos tipos de câncer a partir da análise de alterações nos linfócitos (células de defesa do corpo) extraídos do sangue. Em laboratório, essas células são expostas à radiação ultravioleta para verificar sua sensibilidade às mudanças causadas pelos raios. Quanto mais sensíveis, maior a probabilidade de o indivíduo ter a doença. O exame já foi testado em 208 pacientes. REAÇÃO - A cientista Anamaria, do Sírio-Libanês (SP), usa os testes para acompanhar como os pacientes respondem ao tratamento A outra grande aplicação das biópsias líquidas é para o monitoramento da evolução da doença. Isso é feito pela análise da concentração de células tumorais no sangue e de partes do DNA tumoral. No Hospital Sírio-Libanês, seis pacientes com câncer de mama estão em acompanhamento há pelo menos três anos. “Agora vamos ampliar o estudo para 20 pacientes com câncer de mama e outros 20 com tumores colo-retal”, diz a pesquisadora Anamaria Camargo, coordenadora do Centro de Oncologia Molecular da instituição. Segundo Ludmilla Chinen, do A. C. Camargo, os testes revelam se o tratamento escolhido está dando certo muito antes dos exames de imagem. A cientista analisa os resultados das biópsias líquidas feitas para monitoramento de quase 500 pacientes com tumores de colorretal, pâncreas, ovários e mama. No Estados Unidos, instituições do porte do Memorial Sloan Kattering Center, MD Anderson Cancer Center e John Hopkins Hospital – três das principais referências mundiais no tratamento da doença – também apostam nas biópsias líquidas como a alternativa mais fácil de rastrear a doença. O patologista brasileiro Jorge Reis-Filho, do Memorial Sloan Kettering Hospital, por exemplo, atualmente avalia a existência de fragmentos de DNA tumoral em pacientes com câncer de mama, colorretal, intestino e pâncreas e estuda a presença de células doentes nas amostras de homens com câncer de próstata. Recentemente, ele comprovou que os testes são eficazes inclusive para predizer, oito meses antes, quais pacientes de câncer de mama sofrerão metástases. “São mulheres nas quais a quantidade de fragmentos de DNA tumoral no plasma não diminui como deveria após o tratamento. Ao contrário, continua aumentando”, diz. Os especialistas acreditam que o uso dos testes para acompanhamento da doença deverá estar totalmente disponível dentro de no máximo três anos. Para diagnóstico da doença, principalmente em fase mais inicial, deve demorar um pouco mais. “Mas eles certamente serão bastante usados para identificar tumores de uma forma mais simples”, diz a cientista Ludmilla. ____________________________________ 8# ECONOMIA E NEGÓCIOS 20.8.14 8#1 MAQUIAGEM COM BENEFÍCIOS SOCIAIS 8#2 COMO REFORMAR O IMÓVEL ALUGADO 8#1 MAQUIAGEM COM BENEFÍCIOS SOCIAIS Para melhorar suas contas, governo retém recursos e obriga bancos públicos e privados a arcar com as despesas do INSS, Seguro-Desemprego e até do Bolsa Família. Sem a manobra, o resultado fiscal do primeiro semestre seria 57% menor Claudio Dantas Sequeira (claudiodantas@istoe.com.br) A “contabilidade criativa” do governo Dilma Rousseff chegou aos programas sociais. Documentos obtidos com exclusividade por ISTOÉ revelam que, para simular uma economia de gastos públicos, o Tesouro decidiu reter recursos destinados à Previdência Social (INSS), ao Seguro-Desemprego, ao Abono Salarial (PIS) e até ao programa Bolsa Família. A prática começou em meados do ano passado e se acentuou este ano. Entre janeiro e junho, foram represados ao menos R$ 9,8 bilhões, valor equivalente a 57% do superávit de R$ 17,2 bilhões registrado no primeiro semestre. Economistas consultados pela reportagem alertam que, sem a manobra, o resultado primário seria de R$ 5,2 bilhões. “É muito preocupante, considerando que outros R$ 10,5 bilhões foram obtidos também manobrando dividendos de estatais”, diz Felipe Salto, da Consultoria Tendências. “Sem isso, teríamos déficit.” ALERTA - Em documento encaminhado à Câmara de Arbitragem da Advocacia- Geral da União (AGU), a Caixa menciona os repasses de recursos insuficientes para o programa Bolsa Família Conhecida como “pedalada fiscal”, a manobra inclui rearranjos dos calendários de liberação dos recursos com adiamento por dias ou meses. Em vez de executar o orçamento de cada programa de forma integral, o Tesouro transfere só uma parte, deixa fechar o mês e paga o resto no mês seguinte, transferindo menos do que o devido e empurrando a conta para a frente, como a pedalada de uma bicicleta. “Trata-se de maquiagem das contas públicas para cumprir a meta de superávit fiscal”, avalia Gil Castello Branco, secretário-geral da ONG Contas Abertas. Ele se diz surpreso com o avanço do governo sobre programas sociais. “Sabíamos do atraso no pagamento de serviços e obras. É lamentável”, afirma. Sem dinheiro do Tesouro, quem paga a conta são os bancos públicos e privados. Preocupados, eles recorreram à Federação Brasileira dos Bancos (Febraban), que já notificou o Ministério da Fazenda duas vezes este ano, primeiro em 5 de março e depois em 26 de maio. No caso do INSS, existe um calendário de data-base para o pagamento do benefício. O recurso precisa entrar na véspera da liberação de cada lote, mas isso não está acontecendo. O Banco do Brasil, por exemplo, teve de pagar com recursos próprios mais de R$ 700 milhões do INSS entre fevereiro e maio. O Bradesco foi obrigado a desembolsar mais de R$ 600 milhões. Itaú e Santander vivem situação semelhante. A Caixa Econômica Federal tem bancado a conta mais pesada. Embora as transferências, segundo informou a Caixa à ISTOÉ, hoje estejam normalizadas, durante os seis primeiros meses do ano o governo reteve repasses de cerca de R$ 8,4 bilhões em recursos do Bolsa Família, Seguro-Desemprego, Abono Salarial e INSS. Somado ao que segurou no segundo semestre de 2013, o valor retido chegou a R$ 19,5 bilhões. Entre outubro e junho, foram represados pelo Tesouro cerca de R$ 2,6 bilhões. De agosto a maio, a CEF cobriu R$ 12,1 bilhões do Seguro-Desemprego. MANIPULAÇÃO - Nos primeiros seis meses do ano, o governo represou cerca de R$ 8,4 bilhões em recursos do Bolsa Família, Seguro-Desemprego, Abono Salarial e INSS Para conseguir regularizar os repasses, a CEF recorreu a uma Câmara de Arbitragem da Advocacia-Geral da União (AGU). No ofício 18/2014 de 14 de julho, a CEF menciona os repasses realizados de “forma intempestiva e em volume insuficiente”. No mesmo documento, reiterou seu compromisso com as políticas públicas do governo. Uma sub-cláusula oitava do contrato assinado com o Ministério do Desenvolvimento Social garante à instituição financeira o direito de suspender o serviço até que o fluxo financeiro seja normalizado. Mas, para garantir a execução da principal bandeira social do PT, a CEF descartou completamente essa hipótese. Lembrou ainda, no ofício, caso recente em que “boatos midiáticos sobre o não pagamento do Bolsa Família foram propagados, gerando temores em grande parte da população e causando imensos afluxos de pessoas nas agências da Caixa”. O caso ocorreu em maio. Até então, o saldo do programa, hoje positivo segundo informou a Caixa, havia ficado negativo por quatro meses em 2012. Não há qualquer risco de interrupção de pagamentos aos beneficiários do Bolsa Família. Mas, com exceção de uma ocorrência pontual em dezembro de 2010, a CEF nunca havia deixado de receber integralmente os recursos nos dois mandatos do presidente Lula. Para economistas ouvidos por ISTOÉ, a prática sugere que a situação fiscal do governo é pior do que se pensava. Em recente audiência na AGU, um representante da CEF relatou a preocupação dos conselheiros do banco em resolver a situação. Outro representante do Ministério do Trabalho culpou o Tesouro pelo “retardo dos repasses”, segundo ata de audiência obtida por ISTOÉ. Procurada pela reportagem, a CEF negou qualquer problema. Por meio de nota, disse que os repasses “estão dentro da normalidade” e que o envio do caso à AGU seria apenas para “dirimir dúvidas”. Por meio de nota, o Ministério da Fazenda também negou “qualquer anormalidade”, ressaltando que o saldo nas contas dos programas este mês está positivo. O Ministério de Desenvolvimento Social repetiu a versão oficial. 8#2 COMO REFORMAR O IMÓVEL ALUGADO Realizar obras em um apartamento exige negociação transparente entre o dono e o inquilino. Confira o que fazer para evitar problemas Por Luisa Purchio (luisapurchio@istoe.com.br) É pouco provável que um imóvel alugado atenda a todas as exigências de seu novo ocupante. O problema é que reforma dá trabalho e costuma trazer dor de cabeça. Mas nem tudo são chateações. Alugar um imóvel que necessita de melhorias pode, afinal, ser um bom negócio. “Se o aluguel estiver R$ 500 mais barato, uma reforma de R$ 1,5 mil já terá valido a pena em três meses”, afirma Roseli Hernandes, diretora da Lello Imóveis. Obviamente, o inquilino não pode fazer mudanças sem a anuência do proprietário. A recomendação dos especialistas é que o dono do imóvel e o locatório combinem antes da assinatura do contrato as mudanças necessárias, para que ninguém reclame depois. ________________________________________ 9# MUNDO 20.8.14 BARBÁRIE SEM FIM Apedrejamentos e crucificações cometidos por extremistas do Estado Islâmico, na Síria e no Iraque, trazem de volta o horror pré-civilizatório Mariana Queiroz Barboza (mariana.barboza@istoe.com.br) Em 2013, o agravamento da guerra civil na Síria e a suspeita de que o presidente Bashar al-Assad usava armas químicas contra seu próprio povo levaram milhares de pessoas, incluindo mulheres e crianças, a vagar pelo deserto na esperança de fugir do horror. Um ano depois, as cenas se repetiram quando extremistas do Estado Islâmico (EI) começaram uma ofensiva em cidades ao norte de Bagdá. Com o avanço do grupo rebelde, que instalou um califado entre a Síria e o Iraque, refugiados da minoria yazidi tentam agora escapar de um novo tipo de “massacre”, conforme definiu a Organização das Nações Unidas. Ao impor uma interpretação radical da lei islâmica, o EI espalhou o terror com métodos que remontam a um período pré-civilizatório. Além de exigir que pessoas de diferentes religiões renunciassem à sua fé e se convertessem ao Islã, entre as atrocidades cometidas pelo EI estão o apedrejamento, a crucificação, a decapitação, a mutilação e a escravização de opositores e mulheres. Nem crianças escapam da degola. Na quarta-feira 13, yazidis encurralados no monte Sinjar, sem água nem comida, foram libertados depois de bombardeios americanos e da ação de militantes curdos. Refugiados da minoria yazidi deixaram o Iraque com medo dos extremistas. Pelo menos 500 foram assassinados pelo estado islâmico A perseguição religiosa atinge também outras minorias. Desde junho, quando os rebeldes sunitas tomaram Mossul, a segunda maior cidade do Iraque e então uma das principais comunidades cristãs do país, pelo menos 100 mil cristãos deixaram suas casas rumo à região autônoma do Curdistão. O Vaticano pediu que os líderes muçulmanos denunciassem as “barbaridades” do Estado Islâmico contra os cristãos e outros povos, como os xiitas. “Os ataques da Al Qaeda eram pensados para aterrorizar as pessoas para que governos mudassem suas políticas”, disse à ISTOÉ Nelly Lahoud, especialista em terrorismo e professora do Departamento de Ciências Sociais da Academia Militar de West Point, em Nova York. “O Estado Islâmico, em contrapartida, usa a selvageria simplesmente como forma de aterrorizar as pessoas.” Para o secretário de Defesa dos EUA, Chuck Hagel, o Estado Islâmico é “uma ameaça ao mundo civilizado.” A situação é ainda mais alarmante porque o poder conquistado pelos insurgentes não tem precedentes na história. O EI, que dispensa financiamento externo e controla cerca de 70 poços de petróleo na Síria e no Iraque, é tido hoje como o grupo terrorista mais rico do mundo, com ativos avaliados em mais de US$ 2 bilhões. “Um cálculo conservador sugere que, neste ano, o grupo produza um superávit entre US$ 100 milhões e US$ 200 milhões, que poderá ser reinvestido na construção de seu Estado”, afirmaram os cientistas políticos Patrick Johnston e Benjamin Bahney em artigo publicado pelo jornal americano “The New York Times”. Na ausência de entidades independentes e jornalistas em campo, os crimes denunciados por testemunhas carecem de verificação. Ainda assim, muitos deles são assumidos pelos próprios militantes do EI em vídeos e fotos divulgados na internet. A publicidade de suas ações na rede tem sido um chamariz para simpatizantes estrangeiros. No Reino Unido, acredita-se que 500 britânicos aderiram ao grupo, que reúne entre 30 mil e 50 mil combatentes. Panfletos conclamando os muçulmanos a obedecer ao novo califa chegaram a ser distribuídos em Londres. Na Holanda, apoiadores do EI já organizaram duas manifestações. Um australiano de Sydney, identificado como Khaled Sharrouf, ganhou repercussão na semana passada ao publicar uma imagem nas redes sociais. Na foto tirada na cidade de Raqa, região dominada pelo EI no norte da Síria, um menino de 7 anos segura a cabeça decepada de um homem. Na legenda, Sharrouf diz, orgulhoso: “Esse é o meu garoto!” __________________________________ 10# TECNOLOGIA E MEIO AMBIENTE 20.8.14 10#1 CONTAMINADO 10#2 O CARRO DE 1.600 KM/H 10#1 CONTAMINADO Nível de mercúrio em águas oceânicas cresce quase 400% em um século e meio, contamina peixes, crustáceos e algas e amplia o risco de danos à saúde humana Ana Carolina Nunes (acarol@istoe.com.br) O rápido processo de industrialização pelo qual o mundo vem passando nos últimos dois séculos tem cobrado um pesado preço ao planeta. Os problemas ambientais se acumulam e já é possível sentir os efeitos concretos do novo ciclo de aquecimento global causado por reflexo das ações humanas. Apesar de as maiores preocupações estarem ligadas aos gases que provocam o efeito estufa, um número crescente de pesquisadores ambientais começa a se debruçar sobre os efeitos dessa industrialização nos oceanos. Além da redução da população marinha e de áreas cada vez mais degradadas pela poluição, os cientistas dizem que os mares do planeta estão sendo contaminados por uma substância letal, altamente tóxica e de difícil dispersão na natureza: o mercúrio. Um estudo publicado neste mês na influente revista inglesa “Nature”, a bíblia das publicações científicas no mundo, mostra que o volume de concentração de mercúrio em águas “rasas” – até 100 metros de profundidade – dos oceanos cresceu quase 400% no último século e meio. Hoje, afirma a pesquisa desenvolvida pelo Woods Hole Oceanographic Institution, um centro de pesquisas marinhas com sede nos Estados Unidos, cerca de 80 mil toneladas de mercúrio estão depositadas nos mares do planeta. Esse foi o primeiro cálculo direto sobre o montante de poluição por mercúrio nos oceanos e teve como base dados colhidos por 12 embarcações ao longo de oito anos. “O estudo fornece uma medição baseada em dados, e não em estimativas”, afirma o químico marinho que liderou a pesquisa, Carl Lamborg. FONTE - A poluição industrial e a queima de combustíveis fósseis são os principais responsáveis pela contaminação dos oceanos por mercúrio As principais fontes de poluição de águas por mercúrio são em resíduos industriais, esgoto urbano e atividades mineradoras. Mas a queima de combustíveis fósseis, especialmente o carvão, também libera o elemento na atmosfera, que em contato com as águas das chuvas, acaba nos oceanos. Em águas salgadas, o mercúrio é incorporado, por meio de uma reação química, ao organismo de algas, que alimentam pequenos crustáceos, que são a base alimentar de pequenos peixes, que por sua vez são comidos por peixes maiores, que são ingeridos pelos humanos, como o atum. O consumo constante de alimentos contaminados pode levar a uma contaminação crônica no corpo humano, sendo o Sistema Nervoso Central o mais atingido (ver quadro). “Com o aumento do acúmulo de mercúrio, a capacidade do oceano de absorver e diluir esse metal tende a diminuir”, diz a pesquisadora em oceanografia química da Universidade de São Paulo (USP) Elisabete de Santis Braga. 10#2 O CARRO DE 1.600 KM/H Como funciona a máquina que tentará bater - por larga margem - o recorde mundial de velocidade em terra Lucas Bessel (lucasbessel@istoe.com.br) Levar um carro de 0 a 1.600 km/h em cerca de 40 segundos não é tarefa simples. Requer, entre outras coisas, um motor a jato, um foguete e um propulsor V8 de Fórmula 1 – que serve apenas como bomba de combustível (confira infográfico). Esses e outros recursos serão empregados pela equipe britânica que constrói o Blood­hound SSC, um bólido em forma de flecha que tentará atingir a inédita marca de 1.600 km/h em Hakskeen Pan, uma pista de terra desértica na África do Sul. As primeiras simulações aerodinâmicas em computador, bem como a avaliação inicial de motores e rodas, mostraram a viabilidade do projeto. O carro deve acelerar – embora sem potência total – já no primeiro semestre de 2015. O objetivo, até o fim de 2016, é superar em mais de 30% o atual recorde de velocidade em terra, de 1.227 km/h, estabelecido em 1997 por Andy Green, o mesmo piloto que guiará o Bloodhound SSC. PILOTO - O britânico Andy Green comandará a tentativa de quebra de recorde de velocidade em terra ________________________________________ 11# CULTURA 20.8.14 11#1 CIRCO - A ARTE MAIS POPULAR DO BRASIL 11#2 LIVROS - A OUTRA MENINA QUE ROUBAVA LIVROS 11#3 PERSONALIDADE - ADEUS AO PESCADOR DE ILUSÕES 11#4 EM CARTAZ – CINEMA - SANGUE, ROCK'N ROLL E ROUPA BONITA 11#5 EM CARTAZ – LIVROS - VIDA DE IMIGRANTE 11#6 EM CARTAZ – DVD - O MELHOR FÃ-CLUBE DE BOB DYLAN 11#7 EM CARTAZ – EXPOSIÇÃO - CARTAZES COM CAUSA 11#8 EM CARTAZ – CD - A VOLTA DOS DUENDES 11#9 EM CARTAZ – AGENDA - BOJACK/FESTIVAL/9ª 11#1 CIRCO - A ARTE MAIS POPULAR DO BRASIL A cada semana, dois milhões de brasileiros vão ao circo. São dez mil espetáculos espalhados pelo País Ana Weiss (ana.weiss@istoe.com.br) Eles não têm endereço fixo, registro em carteira e dificilmente se aposentarão. Mas esses artistas errantes, que até o ano passado não podiam ser atendidos pelo Sistema Único de Saúde, o SUS, por não ter como comprovar residência, colocam de pé uma máquina cultural que, no Brasil, só perde em preferência para a televisão e o cinema. Uma pesquisa realizada pela Fundação Perseu Abramo mostra que um terço dos brasileiros teve o seu primeiro contato com a cultura embaixo de uma lona de circo, erguida e desmontada pelas mesmas mãos que amparam os saltos voadores dos trapézios e as claves de malabar, em terrenos onde muitas vezes não existe nem ligação de água ou de energia. E com a casa lotada. ANOS DE LONA - Val de Carvalho era atriz no prestigiado Teatro Oficina quando descobriu o circo e se tornou a palhaça Xaveco Fritza Por semana, dois milhões de pessoas passam pelas arquibancadas dos circos tradicionais brasileiros, de acordo com a Aliança Pró-Circo, instituição que representa cerca de duas mil dessas empresas mambembes e familiares em todo o País. São dez mil espetáculos por semana, sem nenhum apoio estatal que permitiria espetáculos para pouco público. “Não se trata de um fenômeno novo ou de um modismo; o circo é antigo. Mas a precariedade em que vivem e trabalham os profissionais ainda hoje acaba fazendo com que o circo tradicional apareça pouco, mesmo tendo uma frequência cada vez maior, principalmente nas periferias e no interior do País”, explica Bel Toledo, presidente da Cooperativa Paulista de Circo, ligada à Aliança Pró-Circo. “Esses números ficam escondidos porque, diferentemente do que ocorre na Europa e nos Estados Unidos, os grandes centros brasileiros não reservam áreas para receber a estrutura circense. Aqui, o circo precisa alugar o terreno. O que, em cidades como Rio de Janeiro e São Paulo, muitas vezes torna a itinerância inviável”, diz ela. DINASTIA - César Guimarães entre os filhos Arthur, 9 anos, e Bruna, 15: sexta e sétima geração no circo Não por outra razão, César Guimarães, mantém seu circo, o Fiesta, em Águas de Lindoia, no interior paulista. Sexto na descendência de uma família circense, aprendeu o que sabe com o avô, fundador do antigo Circo Guaianazes. Hoje ensina os filhos, Bruna, 15 anos, acrobata aérea, e Arthur, 9, palhaço. O Guaianazes foi batizado assim por ter sido erguido no bairro de mesmo nome na capital paulista somente com doações da vizinhança. Já formado na arte de palhaço, Guimarães começou a tocar o seu Fiesta – que já teve patrocínio da Nestlé, mas hoje vive só e exclusivamente de bilheteria. “Como quase todos os empreendimentos do tipo”, comenta Bel Toledo. RETORNO - Mariana Maekawa deixou carreira estável no Cirque du Soleil para se dedicar ao velho circo brasileiro E, mesmo nesse cenário, talentos como a campineira Mariana Maekawa deixam a maior e mais rentável empresa do gênero, o canadense Cirque du Soleil, para voltar ao Brasil e se dedicar a números tradicionais do velho circo, abrindo mão não só da pirotecnia e da projeção internacional, mas de uma carreira estável e remunerada em moeda forte. “Só quem trabalhou no Soleil é capaz de descrever como é incrível”, diz a artista. Mariana acaba de voltar de Las Vegas, onde integrava o elenco do espetáculo “Beatles Love”, da companhia canadense que fatura US$ 1 bilhão por ano, e está feliz por apresentar um número de tecido (espécie de trapézio) no Festival Paulista de Circo, a ser realizado em Piracicaba, interior paulista, de 28 a 31 de agosto. “Deixei o conforto e a estabilidade do Soleil. Mas estou me desenvolvendo como artista.” SALA DE AULA - O Galpão do Circo é uma das escolas disputadas por jovens que querem aprender a arte do picadeiro Val de Carvalho era atriz do já prestigiado Teatro Oficina nos anos 1980 quando conheceu uma trupe de saltimbancos. “Foi amor à primeira vista e para sempre”, diz a atriz, que se autointitula a palhaça mais velha do Brasil, mas não conta a idade. “Nem matando.” Val, também um pioneira do gênero nos Palhaços da Alegria, ONG que apresenta números dentro de hospitais, engrossa o orçamento mensal ministrando aulas no Galpão de Circo, em São Paulo, uma das escolas especializadas no gênero que têm atraído nos últimos anos jovens de classe média interessados nas técnicas de picadeiro. Quando não está se apresentando sob a maquiagem e o figurino de sua personagem, Xaveco Fritza, Val se orgulha de poder passar para a frente a tradição de uma arte que atravessa séculos. Discípula direta do palhaço Picolino, hoje com 90 anos, a ex-integrante do Oficina não era de família de circo até a filha Noara decidir pela profissão. “Ela foi amamentada no camarim, não tinha muito jeito mesmo”, fala com saudades da filha, que há dez anos atua como trapezista do Cirque de Soleil, em Las Vegas. “Muito provavelmente, logo terei netos também de picadeiro.” 11#2 LIVROS - A OUTRA MENINA QUE ROUBAVA LIVROS A história de garota de 14 anos que foi responsável pela circulação de obras clandestinas no bloco 31 de Auschwitz-Birkenau, um dos piores campos de concentração nazistas Mariana Brugger (marianabrugger@istoe.com.br) Era uma biblioteca diminuta: apenas oito livros, amassados e sem lombada, arrumados sob as tábuas soltas no chão ou escondidos embaixo das saias de uma menina judia de 14 anos, Dita Kraus. Ela se encontrava no bloco 31 do campo de concentração de Auschwitz-Birkenau, durante a Segunda Guerra Mundial (1939-1945). No pavilhão onde se concentravam as crianças prisioneiras circulavam, escondidos dos soldados da SS e sob a responsabilidade da garota tcheca, títulos como “Uma Breve História do Mundo”, de H.G. Wells e “As Aventuras do Bravo Soldado Svejk”, de Jaroslav Hasek. Fascinado por essa história de resistência e coragem durante a guerra, o jornalista espanhol Antonio G. Iturbe escreveu “A Bibliotecária de Auschwitz”, que chega agora ao País pela Editora Agir, uma ficção inspirada em fatos reais, já publicada em 11 países. FIM DA INFÂNCIA - Dita Kraus (acima) e outras crianças em Auschwitz (abaixo): livros eram o único contato entre os confinados e o mundo Iturbe tomou conhecimento da história de Dita em uma página do livro “A Biblioteca à Noite”, de Alberto Manguel. “O fio que persegui foi a existência dos volumes clandestinos no campo familiar de Auschwitz, na Polônia. Um livro levou a outro”, conta o espanhol, em entrevista exclusiva à ISTOÉ. Os elementos ficcionais são poucos, como a inclusão do Professor Morgenstern, que o autor diz ser sua própria voz nas páginas. A opção por não fazer uma biografia tradicional de Dita, que teve o sobrenome modificado na obra, lhe deu a liberdade de valorizar o sentimento de beleza simbólica, dentro de uma realidade que nada tinha de poética. Ao começar a pesquisar sobre a pequena biblioteca, o espanhol se deparou com outro livro, de Ota Kraus (1921-2000), marido de Dita. Acabou, assim, conseguindo fazer contato com a ex-prisioneira, hoje com 84 anos. Eles passaram a se corresponder por e-mail, apesar do inglês “péssimo” de Iturbe, mas contando com a “paciência” da senhora Dita, que mora em Israel. Marcaram um encontro em Praga, lugar de onde ela saiu expulsa pelos nazistas, primeiro para o gueto de Terezín, na República Tcheca, e depois para Auschwitz, na Polônia. Forte e lúcida, a bibliotecária contou ao autor, também, histórias engraçadas, como a de seu primeiro beijo. “Foi em um cemitério de Praga. CONTATO - O autor Iturbe encontrou Dita Kraus, hoje com 84 anos, em Praga, de onde ela foi expulsa Os nazistas impediam as crianças e os adolescentes de brincar ou frequentar os parques públicos. Dessa forma, converteram o cemitério em um lugar para jogos e espaço de liberdade”, conta. Dita parou no bloco 31 do campo de Auschwitz por equívoco, pois os internos desse local deveriam ter no máximo 13 anos. Ela, já com 14, passou a cuidar de todos. Ao chegar, o líder do grupo, Alfred (Fredy) Hirsch (1916-1944), ofereceu a ela o cargo de bibliotecária. Cabia à garota controlar o empréstimo de livros aos professores do pavilhão, além de reunir e esconder todas as obras nas inspeções diárias para que não chegassem às mãos dos oficiais nazistas. “Fredy Hirsch é um personagem que ainda não ganhou a importância histórica devida”, afirma Iturbe. Hirsch suicidou-se em Auschwitz em condições suspeitas. Mesmo quase 70 anos depois da guerra, histórias como as de Dita são lições de resistência. “A vida dela é como uma janela de esperança porque, nessas situações-limite, vemos como surge o pior e o melhor da condição humana”, diz o autor. 11#3 PERSONALIDADE - ADEUS AO PESCADOR DE ILUSÕES Ganhador de um Oscar, Robin Williams foi encontrado morto em sua casa, encerrando uma carreira marcada por uma bem-humorada indiferença à crítica Raul Montenegro (raul.montenegro@istoe.com.br) Muita gente não acreditou quando recebeu pelas redes sociais a notícia de que o ator americano Robin Williams, 63 anos, havia se enforcado em sua casa na Califórnia, na segunda-feira 11. O provável suicídio não era mais uma mentira espalhada pela rede, nestes tempos de repercussão via internet, mas surpreendeu quem estava acostumado a ver o comediante nas telas com seu humor sincero e sacadas rápidas. "Se existe mesmo um céu, eu gostaria de saber que as pessoas dão risadas por lá" Apesar de muitas vezes espinafrado pela crítica por papéis considerados sentimentaloides, como o médico de “Patch Adams: O Amor é Contagioso” e o robô de “O Homem Bicentenário”, o ator fez bons filmes como “O Pescador de Ilusões”, em que interpreta um mendigo que salva da morte o homem responsável por sua desgraça. Também conquistou uma geração de crianças atuando em filmes como “Jumanji” e “Uma Babá Quase Perfeita”. Williams começou fazendo stand-ups com performances independentes de roteiro, como a maioria de seus colegas. Com o sucesso, foi para a tevê, mas o estrelato veio mesmo em 1987 com o drama “Bom Dia, Vietnã”, pelo qual foi indicado pela primeira vez ao Oscar. Ganharia a estatueta dez anos depois, com “Gênio Indomável”. Era alcoólatra e viciado em cocaína no começo da carreira, e só largou as drogas depois da morte de um amigo por overdose e do nascimento do primeiro filho, no começo dos anos 1980. Em 2003, porém, voltou a beber e passou por clínicas de reabilitação. Lutava contra uma depressão severa. “A fama não causa depressão. É uma coisa com um lado genético muito forte. Quando alguém está deprimido, ficamos procurando explicações em torno, quando deveríamos procurar dentro da pessoa”, diz o psicanalista Luiz Alberto Py. Williams provavelmente concordaria. Certa vez, perguntado sobre a causa de seu vício, respondeu: “Não foi causado por nada. Só está lá”. 11#4 EM CARTAZ – CINEMA - SANGUE, ROCK'N ROLL E ROUPA BONITA Ana Weiss (ana.weiss@istoe.com.br) Histórias de amor com vampiros não costumam falhar. Não fosse aqui o diretor Jim Jarmusch, irônico e provocador a ponto de batizar os protagonistas de “Amantes Eternos” de Adam e Eva (os expulsos do Éden), a mistura toda seria suficiente para agradar: a depressão da vida eterna e o vício em guitarras raras do bebedor de sangue que parece ter sido vestido por Jean-Paul Gaultier (não foi) e sua amante apaixonada e andrógina como uma replicante de “Blade Runner”. Mas é Jarmusch agudo e ferino expondo vícios contemporâneos da ­sociedade e do cinema, como o design e seus excessos – nas roupas, na mobília, nos instrumentos musicais, que andou agradando aos aficionados. Foi aplaudido nos festivais de Cannes e de Nova York. Um dos mais fartos papeis dados a Tilda Swinton, uma das maiores atrizes do cinema atual. +5 filmes de Jim Jarmusch Flores Partidas Solteirão recebe a carta de um filho bastardo e sai atrás de ex-amantes em sua busca pelo rebento desconhecido Ghost Dog Forrest Whitaker faz um assassino de aluguel solitário que segue o código de honra dos samurais Dead Man Johnny Depp interpreta um contador chamado William Blake, no longa que o diretor chamava de faroeste “psicodélico” Down By Law Três prisioneiros escapam do cativeiro através dos pântanos da Louisiana Estranhos no Paraíso Estreia do diretor mostra trio em viagem pelos Estados Unidos 11#5 EM CARTAZ – LIVROS - VIDA DE IMIGRANTE Ana Weiss (ana.weiss@istoe.com.br) Nigeriana abandona um amor e o país tomado pela ditadura para viver a liberdade nos EUA. Em “Americanah”, a premiada autora Chimamanda Ngozi Adichie deixa entrever a história recente dos direitos civis de seu país e toda a cadeia de embaraços raciais, econômicos e morais de compatriotas que conseguiram imigrar durante a ditadura militar do gigante africano. Um retrato poético da vida de imigrante. 11#6 EM CARTAZ – DVD - O MELHOR FÃ-CLUBE DE BOB DYLAN Daniel Solyszko (daniel@istoe.com.br) Em outubro de 1992, astros da música pop se reuniram no Madison Square Garden, em Nova York, para celebrar os 30 anos do lançamento do primeiro disco de Bob Dylan. A Sony Music lança agora um DVD com o show completo, com quase quatro horas de duração, mais um documentário sobre os bastidores. 11#7 EM CARTAZ – EXPOSIÇÃO - CARTAZES COM CAUSA Eliane Lobato (elianelobato@istoe.com.br) A exposição “Poster for Tomorrow” reúne mais de 100 cartazes premiados em concursos da “4Tomorrow”, associação com sede em Paris, voltada para os direitos humanos, que apresenta a coleção agora na Caixa Cultural do Rio de Janeiro. Entre os destaques, o israelense Yossi Lemel criou uma ilustração que usa um lápis como lança, na crença de que a educação é que pode melhorar o mundo. “O foco da mostra é a mobilização de pessoas levantando a discussão de temas relacionados a direitos humanos, que dizem respeito a todos nós”, explica Ruth Klotzel, designer e curadora da mostra. 11#8 EM CARTAZ – CD - A VOLTA DOS DUENDES Rodrigo Cardoso (rcardoso@istoe.com.br) Vinte e três anos se passaram até que o indie rock do Pixies fosse compilado novamente em um álbum. Em “Indie City”, o vocalista Black Francis não está gritando tanto. Faz falta a baixista Kim Deal, marca de nascença da banda que deixou o grupo em 2013. Sorte que o guitarrista Joey Santiago permaneceu. Na faixa “Indy City”, a toada surf music confere ação ao som. Mas é em “Bagboy”que o Pixies apresenta a sua carteira de identidade. É um trabalho alguns degraus abaixo dos anteriores. Um Pixies médio, porém, já é suficiente para deixar mais da metade do rock alternativo de hoje no chinelo. 11#9 EM CARTAZ – AGENDA - BOJACK/FESTIVAL/9ª Confira os destaques da semana Ana Weiss (ana.weiss@istoe.com.br) BoJack Horseman (no Netflix a partir de 22 de agosto) A série exclusiva de animação mostra o cavalo BoJack, um astro de seriados de tevê decadente e alcoólatra Festival Palco Giratório 2014 (15 unidades do Sesc, em São Paulo, até 31/8) A 17ª edição do evento mistura apresentações de teatro, circo e dança realizadas por companhias de 14 Estados 9ª Mostra Mundo Árabe de Cinema (Cinesesc e outros, em São Paulo, até 16 de setembro) O festival apresenta os destaques da produção contemporânea do cinema árabe, como o premiado “Omar” __________________________________________ 12# A SEMANA 20.8.14 Antonio Carlos Prado e Elaine Ortiz "O MUNDO CONTRA O ATAQUE DO EBOLA" O pavor de uma pandemia ficou patente na semana passada: países criando cordões sanitários e fechando fronteiras na África; aval inédito da OMS para uso do medicamento não testado Zmapp; estimativa de que não menos de US$ 100 milhões têm de ser investidos, e já, em pesquisas. É a emergência diante do ebola: na quinta-eira 14 passava de dois mil o número de casos registrados e as vítimas fatais chegavam a 1,6 mil pessoas, entre elas o médico Modupeh Cole, o segundo a falecer em Serra Leoa – quando profissionais da saúde começam a morrer pelo vírus que combatem, ensina a medicina que o sinal vermelho da pandemia tem de ser aceso.Diante desse cenário, na semana passada a França criou “centros de acolhimento”, a Grã-Bretanha isolou pacientes e a Alemanha deu início a um programa de treinamento de socorro e recomendou que seus cidadãos saiam do continente africano – os EUA retiraram os familiares de seus diplomatas de Serra Leoa. "ROBSON MARINHO CAI DO TRIBUNAL DE CONTAS DE SÃO PAULO" Robson Marinho não é mais conselheiro do Tribunal de Contas do Estado de São Paulo. Baseada na lei de improbidade administrativa, a Justiça determinou liminarmente na semana passada o seu afastamento imediato do cargo. Ex-chefe da Casa Civil no governo de Mário Covas, Marinho é suspeito de ter aceitado propina da empresa multinacional Alstom, no final da década de 1990 e início dos anos 2000, em troca de favorecimento em contrato com estatais do setor de energia elétrica, conforme foi denunciado por ISTOÉ. O MP estima que ele tenha recebido cerca de US$ 3 milhões depositados em bancos da Suíça e o denunciou por corrupção. As investigações serão concentradas agora em ex-diretores da Empresa Paulista de Transmissão de Energia e da Eletropaulo. Marinho nega as acusações. "ÁLCOOL E LEITOS NO BRASIL" Pesquisas recentes apontam que no Brasil cerca de 83% dos leitos psiquiátricos públicos são ocupados por alcoolistas ou portadores de outras enfermidades decorrentes do consumo de bebida alcoólica. "GRÃ-BRETANHA ENTRA NA LUTA CONTRA O ÁLCOOL" Como já acontece com os maços de cigarros em diversos países, políticos britânicos querem que os rótulos das garrafas de bebidas alcoólicas passem a conter mensagens alertando que o produto pode ser nocivo à saúde – e que sejam citadas as principais enfermidades às quais o consumidor se expõe. Na Inglaterra, cerca de 1,2 milhão de pessoas são hospitalizadas anualmente devido a problemas causados pelo álcool – sobretudo doenças renais na faixa etária inferior aos 30 anos. “Toda bebida deveria vir com alerta baseado em pesquisas, além de informação nutricional, calórica e sobre o conteúdo alcoólico”, é uma das propostas dos parlamentares. "24,1 MIL" 24,1 mil ações requerendo o fornecimento de remédios foram recebidas pela Justiça Federal em todo o país ao longo do ano passado e no primeiro semestre de 2014. Os pedidos tratam de medicamentos de alto custo que o sistema de saúde tem legalmente o dever de oferecer – mas não oferece. Os dados são da AGU. "O PRIMEIRO CANAL DE TEVÊ DEDICADO AOS ATEUS" Emissoras de tevê religiosas existem em todo o mundo. Já canais dedicados a “pregar” o ateísmo são novidade. Nos EUA a American Atheists, instituição fundada em 1963, lançou na semana passada um canal de tevê online: o AtheistTV (www.atheists.org/atheistTV/live). Seu principal objetivo é fazer um contraponto com a programação religiosa já amplamente difundida em canais abertos. Palestras, entrevistas, notícias e documentários integram a grade da emissora disponível dia e noite na internet e também pelo serviço de tevê Roku. “Nosso conteúdo é livre de superstições”, diz David Silverman, um dos diretores da American Atheists. "A CASA BRANCA NOS SURPREENDE, O JOVEM MORTO NO MISSOURI, NÃO" Não surpreendem os brasileiros que policiais americanos do Missouri tenham executado no interior de uma viatura o jovem negro de 18 anos Michael Brow (foto) – ele estava desarmado e foi detido porque, nos subúrbios de Saint Louis, ser negro é motivo de suspeição. Os brasileiros não se surpreendem porque é sabido que em alguns Estados americanos o racismo ainda faz a lei. Mas também não nos surpreendemos porque, aqui no Brasil, casos similares acontecem. A surpresa vem mesmo lá de cima. Aqui, diante de evidências, o discurso oficial é sempre igual: “É preciso antes investigar para sabermos por que o policial reagiu dessa maneira”. Nos EUA, diante dos fatos, o policial foi imediatamente afastado. E ninguém menos que o presidente Barack Obama se pronunciou sobre o crime. "845" 845 responsáveis pela correção das provas de redação do Enem foram excluídos da banca de examinadores. O número corresponde a 12% dos profissionais que corrigiram os textos em 2013. Eles não obtiveram nem sequer nota cinco nos testes a que foram submetidos somente agora. "A MUSA DO PIANO DE HARRY TRUMAN" A americana Lauren Bacall seguia a carreira de modelo quando teve sua imagem estampada na capa da revista “Harper’s Bazaar”. Aí a sorte lhe caiu do céu. O produtor Howard Hawks queria entrar para a história do cinema como responsável pelo lançamento de uma grande atriz, sua esposa mostrou-lhe a revista e o aconselhou a tentar a realização de seu sonho com aquela mulher exuberante na classe e na beleza. Hawks decidiu-se pelo conselho doméstico e nasceu assim um dos maiores ícones da era de ouro de Hollywood. Lauren estreou nas telas contracenando com o ator Humphrey Bogart no filme “Uma Aventura na Martinica” (1944). Ambos se apaixonaram e casaram. Há uma imagem de Lauren que entrou para a história sem nada ter a ver com o cinema: ela sentada sobre um piano enquanto o instrumento é tocado pelo então presidente dos EUA, Harry Truman. Lauren morreu na terça-feira 12, nos EUA, vítima de um derrame. Tinha 89 anos. "A Nova Conselheira De Obama" Quando o presidente dos EUA, Barack Obama, convidou para um almoço a professora da Universidade de Stanford Anat Admati, avisando que a pauta da conversa era a economia do país, diversas instituições financeiras pressentiram que ela chegaria à mesa já com lugar assegurado no primeiro time da Casa Branca. Aposta correta. A doutora Anat se tornou a nova conselheira econômica de Obama. Eis o foco de seu pensamento desde a quebra dos EUA em 2008: os bancos precisam depender menos de dinheiro emprestado, e se isso apavora porque reduz lucros de banqueiros e investidores, também anima porque expõe o mercado a menos riscos. Quem testemunhou o almoço viu que ela deu um livro de presente a Obama. Título da obra da qual é coautora: “As Novas Roupas dos Banqueiros”. "O FIM DA REVISTA ÍNTIMA" Cabe ao Estado de São Paulo o mérito do pioneirismo de ter acabado na semana passada com a revista íntima e vexatória de familiares de presos e presas que vão visitar seus parentes nas penitenciárias. Esse tipo de revista exigia que a pessoa (homem e mulher) se despisse na frente de agentes carcerários e agachasse. Fica valendo o visitante passar por detector de metais. "COM OLHOS NA CHINA, O PAPA VAI À COREIA DO SUL" Cinco séculos separam a viagem que o papa Francisco iniciou à Ásia na quinta-feira 14 daquela empreendida ao mesmo continente por Francisco Xavier em 1555. Um ponto, no entanto, as aproximam. Fundador ao lado de Inácio de Loyola da Ordem dos Jesuítas, São Francisco Xavier partiu de Portugal para o Extremo Oriente com a missão de conquistar novos fiéis ao catolicismo. Não é outro o objetivo do também jesuíta Francisco, e no Vaticano a sua jornada é tida como vital para o crescimento da Igreja. Ele desembarcou na Coreia do Sul para uma temporada de cinco dias, foi acolhido com alegria e honras pela presidenta Park Geun-Hyee, mas o que está em jogo é despertar a atenção da juventude de uma país no qual, pelo menos dessa vez, ainda não pisará: a China. É lá que os cerca de 12 milhões de católicos são perseguidos pelo governo comunista que rompeu com o Vaticano em 1951. “A China é a nova fronteira da evangelização”, declarou Paolo Affatato, diretor das agências de notícias do Vaticano.