0# CAPA 17.9.14 ISTOÉ edição 2338 | 17.Set.2014 [descrição da imagem: a capa está em vermelho, e de uma lado uma grande gota, ou pingo, em preto, representando o petróleo.] COMO O ESQUEMA NA PETROBRAS ABASTECEU AS CAMPANHAS DE ALIADOS DO GOVERNO [parte superior da revista: uma criança, menino, sorrindo, de mãos dadas com duas pessoas, uma de cada lado da criança] GUARDA COMPARTILHADA Porque o regime deverá se tornar regra no país em breve. _______________________ 1# EDITORIAL 2# ENTREVISTA 3# COLUNISTAS 4# BRASIL 5# COMPORTAMENTO 6# MEDICINA E BEM-ESTAR 7# ECONOMIA E NEGÓCIOS 8# MUNDO 9# TECNOLOGIA E MEIO AMBIENTE 10# CULTURA 11# A SEMANA _____________________________ 1# EDITORIAL 17.9.14 "NINGUÉM SABE DE NADA!" Carlos José Marques, diretor editorial Guardam semelhanças evidentes os dois grandes escândalos que marcam a gestão petista no País. E não apenas no “modus operandi”, com desvios de recursos de estatais para alimentar partidos, políticos e campanhas. A identidade está inclusive na tática de negação usada por autoridades quando confrontadas com os fatos. O ex-presidente Lula, lá atrás, que primeiro se disse indignado e traído com o mensalão, afirmou não saber de nada, muito embora tudo tenha ocorrido às portas de sua sala, nos gabinetes mais estrelados do Planalto. Seu então braço direito, José Dirceu, e outros próximos auxiliares como Genoino, Delúbio & Cia. acabaram, como todos sabem, atrás das grades. Lula passou o resto do mandato, e segue até hoje, falando em complô e não admitindo a existência daquele propinoduto, montado pelo aparelhamento sindical do PT em uma diretoria do Banco do Brasil. Na maracutaia da vez, o assalto aos cofres da Petrobras, a presidenta Dilma reagiu “estarrecida”, nas palavras dela, e disse nunca ter desconfiado de nada, muito embora na qualidade de ex-ministra de Minas e Energia e presidenta do conselho de administração da estatal durante os malfeitos tivesse acesso a todos os papéis da empresa. Condição que mantém até hoje no posto de mandatária da Nação. O “nada sei” virou argumento conveniente de defesa, bem como o esforço para desqualificar as denúncias. A tropa oficial fala agora em interesses ocultos por trás das acusações e em “desespero” dos adversários por conta da corrida eleitoral. Tenta desviar o foco e abafar o caso. Sobra desfaçatez, mesmo quando a presidenta vem a público dizer que “a sangria estancou”. Se ela desconhecia os meandros do esquema, como pode garantir que estancou a drenagem de recursos, ainda sob investigação? Demonstrado está que o aparelhamento do Estado, em curso há mais de uma década, converteu-se em uma praga de prejuízo imensurável e maculou empresas que sempre deram orgulho aos brasileiros. A qualificação técnica e o trabalho extraordinário de desenvolvimento dessas companhias – bem como o nome e a reputação que elas construíram ao longo de décadas – não podem ser confundidos com as transações escusas de pequenos grupelhos ali infiltrados, verdadeiras quadrilhas do crime, que tomaram de assalto seus negócios à sombra da complacência e, em muitos casos, conivência de padrinhos políticos. Em respeito ao cidadão, ao eleitor e ao patrimônio que é de todo brasileiro, não se deve tolerar de autoridades vista grossa com desmandos e fraudes dessa natureza. ____________________________________ 2# ENTREVISTA 17.9.14 ALEXANDRE ALLARD - "HÁ PESSOAS QUE MUDAM O MUNDO. OUTRAS SÓ COMEM E DORMEM" Com um empreendimento turístico e cultural de R$ 1,4 bilhão em São Paulo, empresário francês quer mostrar ao planeta que o Brasil é o país mais criativo de todos por Paula Alzugaray NOVO FOCO - Ele parou de colecionar arte há um ano e meio, agora financia exposições, como as de Basquiat e Miró, na França Alexandre Allard pertence a uma geração de engenheiros financeiros nascidos com as novas tecnologias da informação. Antes de chegar ao Brasil e comprar o antigo Hospital Umberto Primo, para transformar o quarteirão de 27 mil m2 na região da avenida Paulista no “landmark turístico que falta à cidade de São Paulo”, Allard já havia inventado uma startup e promovido a revitalização do palácio Royal Monceau, em Paris. Mas o Cidade Matarazzo é seu mais ambicioso projeto, prevendo um hotel, uma torre comercial e um grande “centro dedicado à criatividade”. Antes de a reforma começar – o processo corre no Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico Arqueológico, Artístico e Turístico (Condephaat) há três anos, adaptando-se às exigências de quatro gestões sucessivas – , ele lança seu empreendimento de R$ 1,4 bilhão com uma megaexposição com mais de 100 artistas nacionais e internacionais, a fim de passar sua mensagem: o futuro do Brasil é a criatividade. "Não faço diferença entre Leonardo da Vinci, Mozart, Hendrix, Einstein, Basquiat, Yves Saint Laurent ou o cara que inventou o iPhone, Steve Jobs. Todos pertencem à tribo criativa" Nascido em Washington, criado na França e residente no Rio de Janeiro desde o início do ano, Allard diz ter tido a mesma educação de brasileiros que nunca visitaram uma exposição. “Quando eu tinha 20 anos e as pessoas falavam de arte, eu imaginava um mundo muito chato!” Nesta entrevista, às vésperas de inaugurar a “invasão artística” “Made by...feito por Brasileiros”, ele critica veementemente os colecionadores de arte e diz que seu centro de criatividade vai mudar a visão sobre a maneira de lidar com arte. “Será como um chip colocado em seu cérebro que diz: a criatividade é a única coisa importante no mundo. Seu filho vai levá-lo pela mão e dizer ‘mamy, eu quero ir para o Museu!’ .” "No Brasil, além de dois ou três caras, que inclui Bernardo Paz (criador do centro de arte de Inhotim), todos os outros colecionadores estão na arte por dinheiro". Istoé - Quando vislumbrou a possibilidade de fazer negócios no Brasil? Alexandre Allard - Existe um contexto super-rico. Há grandes coisas acontecendo ao mesmo tempo: a Bienal, a ArtRio, novas aquisições em Inhotim... É uma fase de grande expansão da informação cultural e não sei se as pessoas que convivem com arte vislumbram como fazer negócio a partir de tudo isso. O projeto que estamos criando irá mudar a visão das pessoas sobre a maneira de lidar com arte e o que um desenvolvimento imobiliário significa. Istoé - Qual seu envolvimento com arte contemporânea? Você é colecionador? Alexandre Allard - Parei completamente. Não comprei uma só peça de arte no último ano e meio. O que tenho feito é financiar exposições. Financiei as de Basquiat e Miró em Versalhes, na França. Vamos supor que você tenha US$ 10 milhões para gastos anuais em arte. Há pessoas que vão comprar de 20 a 30 peças. Em dez anos, você terá 300 peças e um museu. Ou você pode decidir alocar seu dinheiro em exposições. Com US$ 1 milhão ou US$ 2 milhões, você faz uma boa exposição. Istoé - Seu empreendimento está sendo divulgado como um centro de compras, turismo e cultura. Mas como evitar o modelo dos shopping centers de luxo, em que a arte é um apêndice decorativo? Alexandre Allard - Um projeto dessa magnitude pode ter duas origens possíveis. A primeira é você ser uma pessoa do setor imobiliário, ou que trabalha com luxo, e que tem a necessidade de criar magia. Então, você usa a arte para fazer diferença. Há outro caminho se você tem um projeto de cultura e precisa encontrar sustentabilidade. Eu pertenço a esta categoria. Vi um potencial incrível aqui. São boas ideias, mas como fazê-las sustentáveis? Se eu tivesse parceria com o governo, adquiriria os fundos de isenção fiscal. Nesse caso, teria 200 milhões de brasileiros, cada um dando a cada ano R$ 1 para o meu projeto, porque ele custa exatamente isso: R$ 1 por ano, por brasileiro Istoé - Você tentou e não conseguiu patrocínio do Banco do Brasil para o para o centro cultural. Sem financiamento público, de onde virão os recursos? Alexandre Allard - É claro que teremos patrocinadores, mas será um negócio sustentável. Tampouco terá um modelo de negócio como o de Bernard Arnaud (presidente e diretor-executivo da LVMH) e de François Pinault (diretor-executivo da Kering, conglomerado que reúne grifes como Gucci e Yves St. Laurent): “Sou tão rico que vou criar isso e, quando eu morrer, a fundação vai dar dinheiro para isso. Mas esse será um problema dos meus filhos”. Fantástico legado, mas ninguém sabe o que eles vão fazer com o Palazzo Grassi (que hospeda a Fundação François Pinault, em Veneza) daqui a dez anos. E a Fundação Vuitton é um grande buraco, porque, se o grupo LVMH for fragmentado, não se sabe quem vai pagar aquilo. Como não posso assinar um cheque de US$ 1 milhão por ano, tenho que encontrar uma maneira de levantar o dinheiro para pagar o sonho. Esta é uma novíssima categoria de financiamento. A cultura tem sido, em muitos países, um investimento estratégico do governo. Mas as pessoas estão se dando conta de que este não é um modelo sustentável e deriva em uma abordagem caricatural da arte. Porque a arte governamental não é arte. Na França, eles mataram completamente toda uma geração de artistas. Istoé - Seu projeto também fala em “exportação” da criatividade brasileira. Como pensa em fazer isso? Alexandre Allard - Você sabe quem é o colaborador número 1 do balanço de pagamentos na França? O turismo. Nada pode alcançar o turismo. A melhor maneira de exportar é fazer com que os estrangeiros comprem de você onde você estiver. O povo brasileiro é o exemplo perfeito. As despesas dos brasileiros em luxo são divididas em 1% no Brasil e 99% fora. O Brasil tem potencial de exportar seus produtos, mas antes tem de vender seus produtos aqui, para as pessoas que vêm. Havia 12 milhões de turistas, há dois anos, em São Paulo, agora há 14 milhões. E não há nenhum lugar onde você pode comprar coisas incríveis brasileiras. Conheço pessoas talentosas no Brasil que não vendem, porque não têm uma chance. A ideia é: vamos criar um lugar sobre a cultura brasileira. Istoé - Que não venderá Gucci nem Chanel? Alexandre Allard - Não vou criar um mercado livre. Não vou vender só feijoada. Nós temos que ter equilíbrio, mas tudo que você vai encontrar aqui envolve a cultura brasileira. A primeira coisa é o edifício histórico, que é uma obra-prima da história desta cidade e, então, você terá o conteúdo que cobre todo um espectro cultural, da gastronomia à dança, passando por arquitetura, design e arte. Teremos um estúdio de música para promover a música brasileira, além de artesãos da Bahia, do Recife, de Mato Grosso, do Sul, selecionados por diferentes comitês. O centro de criatividade terá um conselho consultivo com pessoas que vêm da arte, da ciência, da moda, do design, etc. Não faço nenhuma diferença entre Leonardo da Vinci, Mozart, Jimi Hendrix, Einstein, Basquiat, Yves Saint Laurent ou o cara que inventou o iPhone, Steve Jobs. Todos eles pertencem à tribo criativa. Pertencem a um só grupo de pessoas que acreditam em suas ideias e as defendem até o último milímetro. Essas pessoas mudam o mundo. As outras só comem e dormem. Istoé - Como define a criatividade? Alexandre Allard - A criatividade vem com a liberdade e com a ausência de complexo sobre o seu passado. Você é criativo quando está bem colocado sobre seus pés, usando suas raízes e sua história e seu contexto. Uma criação sem essa noção está fadada ao fracasso – que é o caso de muitos designers no Brasil. O artista brasileiro que tenta ser Jackson Pollock não tem nenhuma chance. Mas um artista brasileiro que começa a falar sobre a história do Brasil e o designer que diz “eu sou totalmente brasileiro” estão fazendo economia criativa. O futuro da economia criativa reside nas raízes de seu próprio país. Primeiro você acredita no seu passado – e não acha que ele é cafona ou estúpido – e então você irá construir o futuro. Istoé - A exposição inaugural tem 30% de artistas estrangeiros. Por que é intitulada “Made by... Feito por Brasileiros”? Alexandre Allard - Dom Pedro é português, Matarazzo é italiano. Esses caras fizeram este País. Sinto muito, mas até sua bandeira foi feita por um francês. O Brasil tem valor graças às pessoas que vieram aqui para fazer o Brasil. O que faz os maiores centros de cultura do mundo? Sua capacidade de atrair talentos estrangeiros. O Vale do Silício, nos EUA, é o vale do Silício porque tem 25% de indianos, 9% de chineses, 6% de franceses. O futuro do Brasil é trazer os melhores caras de todo o mundo. Isso vai criar empregos para os brasileiros. Este projeto quer, em primeiro lugar, fazer os brasileiros entenderem que a história é um bem de valor inestimável, a partir da qual podem construir. Há oito bilhões de pessoas neste mundo que acreditam que o Brasil é uma cultura de valor inestimável. Istoé - Esse é o motivo pelo qual seu projeto imobiliário tem arquitetura de Jean Nouvel e direção artística de Philippe Starck e não de criadores brasileiros? Alexandre Allard - Não há criatividade se você não tem respeito por suas raízes. Uma vez que as pessoas tenham orgulho de suas raízes, vão entender que a melhor maneira de ser criativo é convidar as pessoas mais criativas do mundo. Ninguém aqui entende isso. O mais importante criativo que trabalhou no meu país, Leonardo da Vinci, há 500 anos, é italiano. Convidado por Francisco I. Depois, Picasso, Miró, Kandinsky, mas antes Modigliani. Nenhum desses caras tem a ver com a França. E eles fizeram a França. O Brasil será feito pelas pessoas que convidar. Istoé - Por que prefere criatividade à arte? Alexandre Allard - A arte perdeu completamente seu valor e fico pensando se não é um novo “golden ville”. Istoé - Então você não concorda que a arte seja atrelada às leis de mercado? Alexandre Allard - No Brasil, além de dois ou três caras, que inclui Bernardo Paz (empresário siderúrgico, um dos maiores colecionadores do País e idealizador do Instituto Inhotim, em MG), todos os outros estão na arte por dinheiro. Fora as pessoas do governo, trabalhando com o dinheiro do contribuinte, todas as pessoas envolvidas com arte aqui só pensam em dinheiro. Tentei envolver todos os grandes colecionadores nesta exposição e a única coisa em que eles estão interessados é o dinheiro. No Brasil, a arte é um ativo anti-inflação. Aqui as pessoas não sabem o que fazer para manter o seu dinheiro, estão sempre com medo de alguém vir e levá-lo. Então, uma maneira de mantê-lo é o setor imobiliário – as pessoas são loucas por especulação imobiliária aqui e agora descobriram a arte. Elas compram arte. Mas só pensam por quanto a obra foi comprada e quanto ela vale hoje. A melhor maneira de progredir é aceitar a verdade. A verdade é que o Brasil é provavelmente o país mais criativo do mundo hoje, tem uma criatividade altamente contagiante e está lidando com assuntos interessantes. Mas se você quer saber o que a arte no Brasil é hoje, é um banco. Arte e criatividade são coisas muito diferentes. Criatividade é útil e muda a vida das pessoas e arte é algo que você coloca na parede e vende daqui a dez anos pra comprar uma pintura melhor. ______________________________________ 3# COLUNISTAS 17.9.14 3#1 RICARDO BOECHAT 3#2 LEONARDO ATTUCH - BAIXARIA OU DEBATE POLÍTICO? 3#3 PAULO LIMA - TABU 3#4 GISELE VITÓRIA 3#5 ANA PAULA PADRÃO - URNA ELETRÔNICA: ESTE ANO VAI SER DIFERENTE 3#6 BRASIL CONFIDENCIAL 3#1 RICARDO BOECHAT Com Ronaldo Herdy Curtindo Dilma Não é só no Brasil que Dilma Rousseff é uma estrela nas interações no Facebook. Ela apareceu em terceiro lugar no mundo em volume de comentários, curtidas e compartilhamentos. Segundo levantamento do Facebook, a medalha de ouro está com o indiano Narendra Modi e a de prata com Barack Obama – os dois se encontrarão dias 29 e 30 de setembro na Casa Branca, o que irá elevar os números. O fato de o Brasil ter sediado a Copa do Mundo e ela estar em campanha é um dos fatores por trás desse impressionante resultado, além dos esforços recentes de interação digital na rede da equipe de Dilma. Sua página atualmente tem 1,07 milhão de fãs. Direitos Humanos Tema atual Em Brasília, na quinta-feira 25, a Secretaria Nacional de Justiça, órgão do Ministério da Justiça, lançará um guia para uso do sistema interamericano de proteção aos direitos humanos. Da primeira à última página esclarecimentos e garantias sobre mecanismos internacionais para defesa de jornalistas, testemunhas e de mais quem quer denunciar atos de corrupção em qualquer Poder da República. Imóveis Refúgio no mato Distrito de Petrópolis, na Região Serrana, Pedro do Rio parece ter se transformado numa opção de lazer para consagrados cineastas. Numa só tacada, Guel Arraes, que também é diretor de Núcleo da TV Globo, e Carolina Jabor adquiriram terras na localidade (cerca de 55 mil metros quadrados). Uma de suas vizinhas será a atriz Betty Gofman, que há anos tem propriedade ali. Fundos de pensão Olho vivo Citado como um dos fundos contactados pelo esquema montado pelo ex-diretor Paulo Roberto Costa, para comprar R$ 50 milhões em papéis da Marsans Viagens & Turismo, o Postalis também é alvo de outra investigação da Polícia Federal. A previdência privada dos carteiros consta em inquérito do delegado Lorenzo Pompílio, que apura a compra de 75% de debêntures da Galileo Recursos Educacionais pelo Postalis, por R$ 81,4 milhões. O investimento desandou e o fundo teve que provisionar R$ 65,6 milhões no seu balanço, “reconhecendo a possível perda”. Cinema Ajuda importante Uma campanha de crowdfunding (financiamento coletivo) busca recursos para o lançamento de “À queima roupa”. O documentário investigativo dirigido por Theresa Jessouroun é sobre a violência e corrupção da polícia carioca nos últimos 20 anos. Estreia dia 16 de outubro no Rio de Janeiro e 13 de novembro em São Paulo. A meta é arrecadar R$ 60 mil até 27 de setembro. “Queremos que mais pessoas conheçam uma realidade dura que afeta, sobretudo, a parcela mais carente da população, instigar o debate e a estimular as denúncias”, explica Theresa. Congresso Casa cheia Com a CPMI da Petrobras ressurgindo das cinzas, muitos políticos tentam uma vaga na comissão, certos de que a investigação de supostas irregularidades na estatal lhes dará espaço na mídia. Mas não será fácil. Nem suplentes querem deixar o posto. Exceto, se por ordem da direção superior de algum partido. Eleições 2014 Esperança versus medo O mercado – leia-se as grandes empresas – está ansioso pelo segundo turno. Com a quase certa presença de Marina Silva espera-se que a candidata apresente a equipe e detalhe propostas de governo. A esperança é de que ela esteja mais flexível e madura para vencer o medo do desconhecido. É a mesma situação de quando Dilma Rousseff era apresentada como “ex-guerrilheira”, na campanha de 2009. Cinema Em cartaz Três vezes indicado ao Oscar e ganhador do Prêmio Tony, Stephen Daldry é o diretor de “Trash – A Esperança Vem do Lixo”, que estreia dia 9 de outubro nos cinemas. O filme rodado no Rio de Janeiro tem elenco de peso, a começar pelos brasileiros Selton Mello e Wagner Moura, além dos astros internacionais Rooney Mara e Martin Sheen. Na tela a história de Raphael, Gardo e Rato, meninos que vivem uma teia de aventuras para descobrir o segredo guardado em uma carteira deixada num lixão. Coprodução da O2 Filmes com as britânicas Working Title e PeaPie Films, a história baseia-se no livro best-seller de Andy Mulligan. Brasil Hora da partida Ocupantes de função de confiança (níveis 5 e 6) do Ministério da Fazenda vêm sendo informalmente aconselhados a pedir demissão tão logo Guido Mantega deixe o cargo. A saída coletiva abrangeria outros órgãos e empresas vinculadas à Pasta, exceto a CVM, cujos dirigentes tem mandato. O PT já adotou tal prática no passado. Foi quando Antônio Palocci saiu do ministério. Ministério Público É muito trabalho O MP enfrenta dificuldades para cumprir a sua missão. Está claro na nova edição do “Ministério Público – Um Retrato”, estudo que será lançado nesta segunda-feira 15, em Brasília. Em 2013, o órgão recebeu nove milhões de Termos Circunstanciados, que envolvem delitos menores tipo briga de vizinhos e abusos à Lei do Silêncio, e de inquéritos policiais. Mas só 1,8 milhão foi arquivado ou ofereceu-se denúncia. O MP está com uma montanha de processos em mãos. Também obstáculos na área extrajudicial (crimes contra o meio ambiente, direito do consumidor e improbidade administrativa, por exemplo). Das 466 mil ações recebidas, 160 mil foram encaminhadas. Estatuto da Criança Olhar global A terceira edição do “Ministério Público – um retrato” contribuirá para o debate sobre a redução da maioridade penal, tema, aliás, presente na campanha presidencial. Dos nove milhões de inquéritos acolhidos pelo MP no ano passado, apenas 25 mil envolviam crimes previstos no Estatuto da Criança e do Adolescente. Então, é preciso debater o tema por completo para não adotar uma falsa solução para um falso problema. Agricultura No pódio O levantamento é do Conselho Superior de Pesquisas da Espanha. Depois do portal do Institut National de la Recherche Agricole, da França, o sítio da Embrapa é o segundo mais acessado no mundo, entre os centros de pesquisa agrícola do planeta. Foram estudados endereços eletrônicos de oito mil instituições. O portal da Embrapa teve 1.260.840 visualizações no mês passado. O tempo médio de visita foi de 4m11s. TV paga Agradou legal Tal como outros concorrentes, a Oi está criando o serviço de vídeo a pedido (vídeo on demand –VOD). A tecnologia caiu no gosto dos assinantes da GVT, NET e SKY em HD. E leva para a sepultura locadoras de vídeo de norte a sul. Os números do Now (NET) atestam o sucesso: mais de 20 mil conteúdos, com vendas subindo 15% no trimestre abril-junho. Foram 430 milhões de visualizações desde sua criação, em 2011 – 147 milhões em janeiro último. Para atrair mais clientes, a oferta de conteúdo chegará agora integrada: computadores, iPads e iPhones com o sistema operacional iOS6 e iOS7. O baixo número de cinemas no Brasil (uns 2.500) faz com que cada vez mais produtores coloquem suas obras no VOD, semanas após lançados no mercado. 3#2 LEONARDO ATTUCH - BAIXARIA OU DEBATE POLÍTICO? Assim como os seus adversários, Marina pode e deve ser contestada por suas posições e recuos. O novo mote da candidata Marina Silva é o de que seus adversários, Dilma Rousseff e Aécio Neves, estariam desesperados e, por isso, decidiram partir para a baixaria na reta final da disputa presidencial. Assim, colocando-se na condição de vítima, Marina evita responder aos questionamentos que lhe são feitos pelos dois oponentes. Mas será que isso é realmente saudável para a democracia? Ou o debate político não é natural e necessário em qualquer disputa eleitoral? Do lado tucano, a crítica maior se refere à incoerência política de Marina, que seria movida apenas por seu desejo de poder. Nos comerciais, a equipe de Aécio alega que Marina permaneceu o quanto pôde no PT, mesmo durante a crise do chamado “mensalão”, e só deixou o partido quando percebeu que não seria escolhida pelo ex-presidente Lula para sucedê-lo. Ou seja: a mensagem é a de que ela se move mais por ambição do que por princípios. Na realidade, seria mais pragmática do que “sonhática”. Do lado petista, o arsenal é mais variado e até agora a equipe de Dilma já questionou o fato de Marina ser sustentada pela herdeira de um grande banco privado e, ao mesmo tempo, defender uma agenda de governo que interessa às instituições financeiras, com propostas como a independência do Banco Central. Foi também criticada por retardar projetos de usinas hidrelétricas, o que é incontestável, e por se submeter à pressão de um pastor evangélico, recuando na defesa de direitos civis dos homossexuais. Até agora, Dilma apresentou apenas fatos. Nada além dos fatos. Nesses últimos dias, Aécio chegou, inclusive, a debater com Marina numa rede social, o Twitter, dizendo não estar “desconstruindo” a imagem de Marina e afirmando ainda que “o debate político é fundamental para a democracia”. “Quem imagina ser presidente precisa dizer quem é”, prosseguiu o tucano. E Marina, no entanto, mais uma vez se vitimizou, dizendo que Aécio promovia uma “desconstrução” semelhante à feita pelo PT. Marina precisa compreender que não está acima do bem e do mal e que tem o dever de responder com clareza sobre suas posições, seus recuos, como no caso da homofobia e dos transgênicos, e sobre suas próprias contradições. Afinal, não foram nem Aécio nem Dilma que mudaram o programa de governo depois que o pastor Silas Malafaia estrilou. E também não foram eles que, dias atrás, corrigiram a declaração de patrimônio enviada ao Tribunal Superior Eleitoral porque havia uma omissão equivalente a um terço dos ativos pessoais. Sim, Marina se esqueceu de declarar um terço de seu patrimônio. Não pode ser questionada por isso? 3#3 PAULO LIMA - TABU Uma garota surfando completamente nua funciona como uma espécie de manifesto contra o tabu, os medos e as contradições que, em pleno século XXI, ainda cercam a nudez e o órgão sexual feminino.. Numa conversa despretensiosa, olhando para o mar, com uma das mais competentes representantes da ciência brasileira – alguém que através da biogenética ajuda a desvendar alguns desses segredos que nos cercam –, algo inesperado surgiu. Lygia da Veiga Pereira, a acadêmica em questão, depois de remar por 50 minutos em seu stand up em busca de um tipo de iluminação que não se encontra em laboratórios, inicia o relato: assistindo a um importante congresso de sua área realizado nos Estados Unidos, viu-se extasiada durante a apresentação de um colega americano. O cientista apresentava inacreditáveis avanços que ele, junto de uma equipe numerosa, havia obtido na reprodução em laboratório de órgãos genitais de animais fêmeas. Em suas mãos, uma improvável vagina de coelha construída a partir de células-tronco era exibida como uma espécie de troféu científico, que enunciava um salto quântico para o alcance de estágios até há pouco tempo impensáveis para a medicina reparadora, entre outras especialidades. Mas o fato que causou espécie a nossa observadora era ainda mais curioso. Durante cerca de uma hora de apresentação, o estudioso não utilizou sequer uma vez a palavra vagina. Quase tão complexo como os estudos necessários para atingir seu feito histórico parecia ser o esforço enorme que fazia para encontrar eufemismos e desvios que evitassem o vocábulo proibido. A tarde caiu, o sol foi embora, mas a pergunta ficou. Por que, afinal, depois de milênios de evolução, continuamos temendo e evitando uma parte da anatomia tão fundamental, presente e associada à ideia de vida? O que há por trás (e pela frente) desse tabu que parece resistir bravamente a todas as derrubadas de muros que se verificaram ao longo das últimas décadas? De certa maneira chegam a ser assustadores a dificuldade e o desconforto com os quais ainda lidamos com a nudez de maneira geral e a anatomia íntima feminina em particular. Na foto ao lado, a surfista australiana Marama Kake tenta fazer a sua parte para desmistificar a nudez e desfrutar completamente da liberdade a que tem direito. Ela tem atraído muitos olhares por pegar ondas completamente nua. A atleta de 34 anos surfa assim sempre que tem vontade, com chuva, sol ou com 100 outros surfistas na água. A primeira vez foi em 2003, em Byron Bay, quando na busca por um pico tranquilo acabou indo parar numa praia de nudismo. “Foi uma das experiências mais libertadoras que já vivi: eu era a única pessoa na água, sem nada no meu corpo, nem mesmo o leash (a cordinha que liga a prancha ao tornozelo do surfista), cercada pela natureza”, lembra. Marama não parou por aí. Continuou pegando onda pelada e até construiu uma alaia, tipo de prancha artesanal feita de madeira. “Não tinha como ser um surfe mais natural, e supersustentável: eu, pelada, surfando numa tábua de madeira!” A imagem de Marama, vista pela primeira vez pelos leitores da coluna (e ao que parece também pelo surfista de olhar petrificado que aparece na fotografia), é parte da próxima edição da “Trip” que será inteiramente dedicada a entender por que, afinal, o órgão sexual feminino ainda é um dos maiores tabus do mundo. A coluna de Paulo Lima, fundador da editora Trip, é publicada quinzenalmente 3#4 GISELE VITÓRIA Gisele Vitória é jornalista, diretora de núcleo das revistas ISTOÉ Gente, ISTOÉ Platinum e Menu e colunista de ISTOÉ Com Woophi de novo Luciana Gimenez parece ter seu próprio planeta. O mundo da Lu é divertido, autêntico e, ao contrário do trocadilho que indica distração, ligadíssimo. Pop chic na medida do radar internacional, a apresentadora da Rede TV! está em negociação avançada para participar novamente da bancada do “The View”, programa na rede americana ABC, que tinha a apresentação de Barbara Walters e que agora segue com a atriz Whoopi Goldberg. Até o fim do ano, como antecipa a edição de setembro da revista IstoÉ Gente, a escorpiana Luciana volta a brilhar ao lado da escorpiana Whoopi. No ensaio de capa (foto), Luciana posou para J.R. Duran, com direção criativa de Luis Fiod. Balas Jantares e campanhas A temporada de jantares para candidatos está a mil. Prato principal: apoio político e financeiro. Na segunda-feira 15, um jantar para Geraldo Alckmin na casa de João Doria Jr. reúne Aécio Neves, FHC e empresários em São Paulo. Na mesma noite, Eduardo Suplicy, candidato do PT ao senado, reúne apoiadores em um restaurante paulistano. Mais jantar Beto Albuquerque, vice na chapa de Marina Silva, encontrou-se com 35 empresários e dirigentes de bancos num jantar reservadíssimo no hotel Emiliano em São Paulo. Estavam Flavio Rocha, da Riachuelo, Rafael Guinle, do BTG Pactual, entre executivos do Santander e do Merrill Lynch. Discursou também Paulo Bornhausen, filho de Jorge Bornhausen e candidato ao senado pelo PSB (SC), que marinou apesar das raízes paternas no velho DEM. Nova dama para L.A. Suzana Pires está de malas prontas para Los Angeles. A atriz foi indicada ao prêmio de melhor atriz do Los Angeles Brazilian Film Festival por sua atuação no filme “A Grande Vitória”, de Stefano Capuzzi Lapietra, com coprodução de Fernando Meirelles. “Estou feliz. Vou a L.A., mas volto na semana que vem para trabalhar na minissérie”, diz Suzana. Ao lado de Walther Negrão, ela é coautora de “Dama da Noite”, minissérie sobre a cafetina Eny Cezarino, prevista para 2015. “Estamos reformulando a história, que foi ampliada de quatro para dez capítulos”, conta. Requisitado Mal saiu da novela das nove “Em Família”, Reynaldo Gianecchini está cotado para outras duas produções: “Babilônia”, próxima trama de Gilberto Braga, Ricardo Linhares e João Ximenes Braga, que substituirá “Império” no horário nobre da Globo em 2015, e para a próxima novela de Walcyr Carrasco, no horário das 23 horas. Enquanto define suas participações, a ator toca projetos paralelos a todo vapor. Começa a filmar o longa “Diminuta”, na Itália, e se prepara para a sequência de “SOS Mulheres ao Mar 2”, com Giovanna Antonelli. Giane também começou a turnê da peça “A Toca do Coelho”. No rodízio do choro Numa eleição onde duas mulheres são protagonistas nas pesquisas, Aécio Neves foi perguntado por esta coluna se sua mulher, Letícia, tem ou poderia ter um papel em sua campanha: “Ela está amamamentando de duas em duas horas dois, um no peito e outro no outro. E ainda administrando o rodízio do choro”, suspirou, sorrindo, o candidato do PSDB à Presidência. “Os gêmeos ainda estão se recuperando e vão muito bem, mas eu não posso cobrar dela uma agenda de viagens, que certamente estaria fazendo se não fosse essa circustância.” Pelas lentes de Diane Para registrar os melhores momentos de seu backstage na Semana de Moda de Nova York, Diane Von Furstenberg carregou uma máquina fotográfica na bolsa. As lentes da diva fashion, ex-princesa e inventora do Wrap Dress nos anos 70 miraram a top Isabelli Fontana, que levou o namorado Di Ferrero para o camarim. Foi a primeira vez que a top brasileira desfilou para Diane. “Amei vê-la com o namorado lá”, disse a estilista. O roqueiro acompanhou a namorada, da maquiagem à manicure. Após o desfile, o casal também foi ao jantar after-party que Diane ofereceu para um grupo de amigos no studio dela, na região do Meatpacking. Também passou por lá Paris Hilton, que havia machucado a perna durante o dia e foi até o bar pedir gelo para servir de compressa. Cacá de Souza, PR da Valentino e Jay Jaegger também deram um rasante. 3#5 ANA PAULA PADRÃO - URNA ELETRÔNICA: ESTE ANO VAI SER DIFERENTE "Imagine o que aconteceria se muitas urnas quebrassem ao mesmo tempo". Nesse Brasil de poucos heróis, uma urna eletrônica bem pode galgar o degrau mais alto no pódio do orgulho nacional. Vem sendo assim desde 1996. Duvidou-se de sua eficácia, questionou-se sua confiabilidade. Mas a novidade ganhou o mundo e levou consigo a fama da competência brasileira no processo eleitoral. Somos rápidos. Somos high tech. Somos à prova de fraudes. Ou éramos. A urna eletrônica é apenas a caixa que guarda um programa com os nomes, números e fotos de todos os candidatos de cada região do Brasil, além dos nomes e números dos títulos de cada eleitor e sua seção eleitoral. Quem insere esses dados nas 380 mil urnas e testa cada um desses equipamentos são empresas terceirizadas, contratadas após licitação nacional promovida pelo Tribunal Superior Eleitoral, o TSE. É assim desde 1996. Mas este ano vai ser diferente. O ex-presidente do TSE ministro Marco Aurélio Mello deixou o processo licitatório iniciado, mas, na troca de comando do tribunal para o atual presidente, ministro Dias Toffoli, a licitação virou descentralização. Numa decisão de ordem técnica e que, portanto, não foi levada ao pleno do tribunal, o comando do TSE transferiu para os TREs a responsabilidade de contratar as empresas que vão gerir as urnas eletrônicas este ano. Como essa decisão foi tomada há cerca de dois meses e em geral gastam-se pelo menos três meses apenas para treinar as empresas gestoras das urnas, o tempo está correndo contra a eficiência do processo eleitoral. Mas não se trata apenas de um calendário apertado. O que está acontecendo agora em muitos Estados é que a licitação para a contratação dessas empresas nem foi aberta. Em outros casos, alegando urgência, o processo licitatório foi para o espaço. Há ainda exemplos como o do Maranhão, no qual a empresa vencedora da licitação tem relações diretas com integrantes do poder político do Estado. Para que a urna faça jus ao selo de inviolável, a cada eleição o Brasil gasta cerca de R$ 200 milhões para atualizar os softwares e manter a decisão do eleitor livre da esperteza de hackers e cyberpiratas. Ao que tudo indica, essa parte do processo de votação continua confiável. Mas imagine o que aconteceria se muitas urnas quebrassem ao mesmo tempo. Imagine que muitas delas não funcionassem justo no dia da eleição. O que a lei eleitoral prevê nesses casos? A reposição das peças inutilizadas por outras igualmente eletrônicas. E se isso não for possível? Nesse caso, o eleitor teria que tirar a caneta do bolso e preencher, como no passado, a cédula de papel e colocá-la na urna de lona. O que, é claro, atrasaria em dias a totalização dos votos e o resultado das eleições. Mas também não é só esse o problema. Quantas eleições, num país do tamanho do Brasil, são decididas por 50 votos, 100 votos, mil votos? Quantas urnas eletrônicas quebradas são necessárias para que algumas centenas de preciosos votos digitais sejam substituídos por cédulas de papel? E quem se lembra dos tantos escândalos do Brasil pré-1996, onde os votos “cantados” na seção eleitoral eram “anotados” de maneira diferente da original? Sim, isso é fraude. E fraude não é culpa da urna, mas de processos mal conduzidos e dos eternos aproveitadores de nosso próprio amadorismo na manutenção de nossas conquistas. Esteja preparado, eleitor. No Brasil do futuro, urna eletrônica pode virar coisa do passado. Ana Paula Padrão é jornalista e empresária 3#6 BRASIL CONFIDENCIAL por Eumano Silva As reclamações do PMDB contra o PT O clima de campanha e a delação premiada do ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa complicaram um pouco mais a difícil convivência entre PT e PMDB no governo. O vice-presidente Michel Temer não sabe mais a quem apelar no Planalto para conter os embates. Renan Calheiros e Henrique Alves classificam como “seletivo” o vazamento da delação de Paulo Roberto Costa. O senador Eunício Oliveira denuncia o uso da PF contra sua candidatura a governador. José Sarney engrossa o coro dos descontentes. Caixa 2 do sexo Parlamentares envolvidos no escândalo da Petrobras estão muito preocupados com as quebras de sigilo do doleiro Alberto Youssef. A Polícia Federal identificou pagamentos de passagens aéreas para dezenas de mulheres. Os grampos telefônicos indicam que elas eram amantes de deputados e senadores e tinham suas despesas bancadas pelo doleiro. Embrapa na muda Os caciques do PMDB identificaram o interesse do ministro Aloizio Mercadante, da Casa Civil, em retirar a Embrapa do Ministério da Agricultura, controlado pelo partido. O órgão de pesquisa seria levado para o Ministério da Ciência e Tecnologia, pasta comandada pelo PT. Secretário escanteado Nomeado por Antonio Andrade, antecessor de Neri Geller no Ministério da Agricultura, o secretário de Defesa Agropecuária, Rodrigo Figueiredo, tem papel figurativo. Geller não divide com ele as decisões importantes da pasta. Prefere recorrer a técnicos mais experientes. Rota de colisão Concorrente de Renan Filho (PMDB) ao governo de Alagoas, o senador Benedito de Lira (PP) levou ao ar propaganda política em que acusa o adversário de ser responsável por um acidente de trânsito que matou o contador Mário Jorge Jacinto da Silva. O caso se deu em 2004. Homenagem pegou mal Paula Lobão, mulher do candidato a governador do PMDB, Lobão Filho, foi fotografada com um cartaz em que chama o corregedor do TRE-MA, Antônio Pacheco Guerreiro Jr., de desembargador “do povo”. Guerreiro soltou uma nota explicando que não tinha nada a ver com a cortesia. Pesos e medidas Governadores de Estados com altos índices de violência estão sem entender os critérios do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) em relação ao envio de tropas federais para garantir as eleições. A corte autorizou o reforço policial no Pará, mas recusou o envio da Força Nacional ao Rio de Janeiro. Outros cinco Estados pediram ajuda ao tribunal. Inquérito Denunciado por ISTOÉ em reportagem de capa de abril de 2013, o ex-ministro da Agricultura Antônio Andrade (PMDB), vice na chapa do petista Fernando Pimentel ao governo de Minas Gerais, virou alvo de inquérito sigiloso sno STF por crimes contra a fé pública e falsidade ideológica. Fichas ainda mais limpas Um novo projeto de iniciativa popular, em fase de coleta de assinaturas, estabelece normas para dificultar a carreira dos políticos profissionais. Liderado pelo criminalista Luiz Flávio Gomes, a iniciativa propõe o fim da reeleição para o mesmo cargo e exige que o detentor de mandato concilie suas atividades políticas com a profissão original. A proposta também permite que os eleitores destituam autoridades em casos flagrantes de incompetência ou escândalos de corrupção. Se adotadas, avalia Gomes, essas medidas vão representar um avanço na Lei da Ficha Limpa e melhorar o perfil dos eleitos. Campanha contraditória O Poder Judiciário do Amapá lançou campanhas para conscientizar os eleitores em relação à escolha dos candidatos. As peças publicitárias ignoram o fato de que dois inquéritos que apuram denúncias de corrupção contra dezenas de autoridades estão há quatro anos parados no próprio Judiciário. Sem o julgamento desses casos, os acusados podem continuar na vida pública. Toma lá dá cá Nilmário Miranda (PT-MG), da Comissão de Direitos Humanos da Câmara ISTOÉ – Ao julgar o caso Rubens Paiva, o TRF da 2ª Região decidiu que a Lei da Anistia não se aplica a crimes permanentes e de lesa-humanidade. Qual a importância da decisão? Miranda – Rompe uma interpretação equivocada da Lei da Anistia e derruba o princípio da impunidade dos que cometeram graves violações dos direitos humanos. ISTOÉ – Pode ser estendida a outros casos? Miranda – Pode inspirar o STF, inclusive diante dos trabalhos da Comissão Nacional da Verdade. ISTOÉ – Assassinos e torturadores podem ir para a cadeia? Miranda – Sim. Mais importante, porém, é o sinal de que o Brasil entrou definitivamente na era do estado democrático de direito. Rápidas * O presidente nacional do PT, Rui Falcão, não engoliu o esvaziamento de seu poder imposto pela presidenta Dilma Rousseff com a nomeação do ex-ministro Miguel Rossetto para a coordenação da campanha. O ambiente continua tenso entre os petistas. * Após atacar o adversário Paulo Câmara (PSB), por causa do polêmico contrato do jatinho que era usado por Eduardo Campos em sua campanha, Armando Monteiro (PTB) perdeu a liderança nas intenções de voto para o governo de Pernambuco. * Paulo Câmara promete ressuscitar o escândalo da farra de passagens aéreas no Senado. Um dos beneficiários de várias passagens da cota do senador foi seu filho Armando Monteiro Bisneto, além de sua mulher. * O novo presidente do STF, Ricardo Lewandowski, tem o desafio de se posicionar sobre o Princípio da Insignificância de alguns processos. O plenário deve analisar nos próximos dias uma ação contra um homem que furtou um chinelo de R$ 16 em Minas Gerais. Retrato falado A posse do novo presidente do STF, Ricardo Lewandowski, foi marcada por críticas veladas ao antecessor Joaquim Barbosa. O ex-presidente, que se aposentou em julho, brigou com vários setores do Judiciário e conta com a antipatia de magistrados e advogados. A resistência a Barbosa ficou clara no discurso do presidente da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), Marcus Vinicius Coelho, aplaudido ao lembrar que o cargo de juiz é maior do que quem o ocupa. Especialista em indenização O advogado Antonio Campos (foto) tem experiência em pedidos de reparação por danos morais e materiais. Ele foi responsável pela ação que obrigou a Fiat a pagar, em 2007, uma indenização à família do cantor Chico Science, morto dez anos antes em um acidente de carro. Agora, Antonio decidiu processar a União e a fabricante de aviões Cessna pelo desastre que matou seu irmão, Eduardo Campos, em Santos. De carona com Campos A morte de Eduardo Campos fez o governador da Paraíba, Ricardo Coutinho (PSB), mudar sua campanha de reeleição. Aliado de Dilma, ele ignorava o correligionário. Agora, de carona na popularidade póstuma, ele usa imagens de Campos e enaltece sua trajetória política. ____________________________________ 4# BRASIL 17.9.14 4#1 NO RASTRO DO DINHEIRO DA PROPINOBRÁS 4#2 FOCO NOS ESTADOS 4#3 PT ADOTA TÁTICA DO MEDO 4#4 UMA ORIGEM, DOIS DESTINOS 4#5 MINISTROS RUINS DE VOTO 4#6 BOICOTE DOS MILITARES 4#1 NO RASTRO DO DINHEIRO DA PROPINOBRÁS Entenda como o esquema na Petrobras abasteceu o caixa de aliados do governo e conheça os novos nomes denunciados pelo ex-diretor de Abastecimento Paulo Roberto Costa na delação premiada Mário Simas Filho, Sérgio Pardellas e Josie Jerônimo Há duas semanas, uma equipe composta por integrantes da Polícia Federal e do Ministério Público trabalha arduamente para detalhar como funcionaria o propinoduto instalado na Petrobras para abastecer políticos aliados do governo Dilma Rousseff. Até agora, eram conhecidos trechos da delação do ex-diretor de Abastecimento e Refino da Petrobras Paulo Roberto Costa, considerado o maior arquivo vivo da República. Em depoimento à Polícia Federal, o ex-executivo da estatal entregou nomes de políticos e empresas que superfaturaram em 3% o valor dos contratos da Petrobras exatamente no período em que ele comandava o setor de distribuição, entre 2004 e 2012. HOMEM BOMBA - O ex-diretor de Abastecimento da Petrobras Paulo Roberto Costa depôs novamente à PF, na última semana, e apresentou novos nomes envolvidos no escândalo Já se sabia que dessa lista faziam parte figuras graúdas da República, como os presidentes do Senado, Renan Calheiros, e da Câmara, Henrique Eduardo Alves, o ministro de Minas e Energia, Edison Lobão, o ex-governador do Rio Sérgio Cabral, a governadora do Maranhão, Roseana Sarney, João Vaccari Neto, secretário nacional de finanças do PT, Ciro Nogueira, senador e presidente nacional do PP, Romero Jucá, senador do PMDB, Cândido Vaccarezza, deputado federal do PT, João Pizzolatti, deputado federal do PP, e Mário Negromonte, ex-ministro das Cidades, do PP, e até o ex-governador de Pernambuco Eduardo Campos, morto em acidente aéreo no mês passado. No entanto, a relação de nomes entregue pelo ex-executivo da Petrobras é ainda mais robusta. ISTOÉ apurou com procuradores e fontes ligadas à investigação que, além desses políticos já citados, também foram delatados por Paulo Roberto Costa o deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ), o governador do Ceará, Cid Gomes, e os senadores Delcídio Amaral (PT-MS) e Francisco Dornelles (PP-RJ). O DOLEIRO AMEAÇA FALAR - Envolvido na Operação Lava Jato, o doleiro Alberto Youssef, que também está preso, tem sido pressionado a contar tudo, em troca de benefícios Na semana passada, as investigações avançaram sobre o rastreamento do dinheiro desviado. Os levantamentos preliminares já confirmaram que boa parte da lista de parlamentares e chefes de governos estaduais contemplada, segundo o delator, pelo propinoduto da Petrobras, tem conexão direta com as empresas envolvidas no esquema da estatal. Levantamento feito na prestação de contas registradas no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) revela que cinco empreiteiras acusadas de participar do esquema este ano doaram quase R$ 90 milhões a políticos relacionados ao escândalo. Procuradas por ISTOÉ, as empresas envolvidas respondem em uníssono que as doações “seguem rigorosamente a legislação eleitoral”. A PF, no entanto, apura a origem dos recursos doados e se, além dos repasses oficiais, houve remessas ilegais. Suspeita-se que as doações eleitorais sejam usadas para lavar e internalizar o dinheiro depositado no exterior. Instada a colaborar, a Justiça da Suíça, país por onde circularam receitas provenientes de superfaturamento dos contratos da Petrobras, já deu o sinal verde para a cooperação. FACHADA - O governador do Ceará, Cid Gomes, delatado por Paulo Roberto Costa, nega que tenha envolvimento no caso A análise do mapa de distribuição do dinheiro para as campanhas de políticos ligados ao escândalo mostra que os repasses financeiros nem sempre guardam relação com o perfil econômico dos Estados. Essa constatação intriga a PF. É o caso de Alagoas, Estado do presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), um dos personagens citados no testemunho do delator. Em uma unidade da federação em que as principais atividades são a indústria açucareira e o turismo, as empreiteiras contratadas pela Petrobras não têm nenhum interesse de investimento ou projetos no estado. Mesmo asism, abarrotaram o caixa de campanha de Renan Filho (PMDB), herdeiro político do senador. Cinco empresas relacionadas ao esquema entraram com R$ 8,1 milhões na campanha, o equivalente a 46,8% dos R$ 17,3 milhões arrecadados pelo diretório estadual do partido, presidido pelo parlamentar. No fim de agosto deste ano, um cheque de R$ 3,3 milhões da Camargo Corrêa irrigou o caixa controlado por Renan. Para que os recursos não saíssem diretamente para a campanha do filho do presidente do Senado, o dinheiro foi pulverizado em campanhas de deputados estaduais de diferentes partidos que compõem a coligação formada em torno de Renan Filho. Partidos como PDT, PT, PCdoB e PROS dividiram os recursos. O senador reagiu indignado ao vazamento do acordo de delação e negou proximidade com a diretoria da Petrobras. “As relações nunca ultrapassaram os limites institucionais”, afirma o parlamentar alagoano. A Camargo Corrêa foi levada à investigação da PF pelo doleiro Alberto Youssef, responsável pela lavagem do dinheiro ilegal da Petrobras. Em uma mensagem interceptada, ele reclamou que adiantou dinheiro à empreiteira e que não sabia como cobrar a dívida, de R$ 12 milhões, por ser amigo de diretores da empresa. As denúncias do ex-diretor da Petrobras, feitas no depoimento concedido ao juiz Sérgio Moro, especialista em lavagem de dinheiro, atingiram as duas principais autoridades do Poder Legislativo. Além de Renan, Costa também mencionou o presidente da Câmara, Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN), como beneficiário do esquema criminoso. Alves viveu por semanas a pressão de submeter o deputado André Vargas (PT-PR), amigo do doleiro Youssef, às instâncias do conselho de ética da Casa. Agora, ele próprio se vê envolvido na incômoda lista de políticos apontados pelo delator. Alves nega ter recebido recursos de Paulo Roberto Costa, mas, a exemplo de Renan, tem a campanha abastecida por empresas situadas no epicentro do escândalo. Henrique Eduardo Alves lidera a corrida ao governo do Rio Grande do Norte. Até agora, recebeu R$ 6,7 milhões de três empreiteiras apontadas no esquema de desvio de verbas da estatal. A relação do presidente da Câmara com a Petrobras é antiga. Sua influência nos quadros da estatal alcança desde grandes postos no Rio de Janeiro até a gestão da Refinaria Clara Camarão, no seu Estado. Só para alojar um apadrinhado na refinaria, o presidente da Câmara ordenou em 2012 a constituição de uma nova gerência de serviços especiais. Trata-se de Luiz Antônio Pereira. Um ano antes, a refinaria Clara Camarão havia passado por um pente fino do TCU e o tribunal encaminhou a auditoria para o Ministério Público, com o objetivo de esmiuçar indícios de superfaturamento e contratos sem licitações que marcaram a gestão da obra. BENEFICIÁRIO - Mencionado pelo ex-diretor da Petrobras na delação premiada, o senador Delcídio Amaral obteve recursos para sua campanha de empresas citadas como integrantes do esquema Incluído também na lista do ex-diretor da Petrobras, o senador Romero Jucá (PMDB-RR) viu brotar na conta bancária do diretório partidário que preside em Roraima recursos provenientes das empreiteiras citadas no esquema. A OAS, Andrade Gutierrez e UTC doaram, juntas, R$ 1,6 milhão ao projeto político do PMDB no Estado. O valor que as empreiteiras repassaram à sigla de Jucá é maior do que os recursos transferidos das empreiteiras para o PSB, partido do cabeça de chapa da coligação do PMDB: o comitê do candidato ao governo Chico Rodrigues, que tem o filho de Jucá, Rodrigo Jucá, como candidato a vice, arrecadou R$ 615 mil. Em seu depoimento à PF, Paulo Roberto Costa revelou que as empreiteiras contratadas pela Petrobras eram obrigadas a fazer doações para um caixa paralelo de partidos e políticos integrantes da base de sustentação de Dilma. Seguindo o rastro do dinheiro, a investigação mostra que, até agora, as empresas contratadas pela Petrobras engordaram o caixa do PMDB em R$ 15,5 milhões. Enquanto os peemedebistas adotam um método pulverizado de doação de campanha, o PT é o que concentra a maior fatia do dinheiro das empresas citadas no escândalo. Andrade Gutierrez, OAS, Queiroz Galvão, Engevix e UTC destinaram R$ 28,5 milhões à direção nacional do PT. À candidata Dilma Rousseff, R$ 20 milhões foram repassados pela OAS e outros R$ 5 milhões pela UTC. CITADO - O senador Francisco Dornelles, alvo do delator Paulo Roberto Costa, obteve R$ 400 mil da Andrade Gutierrez e R$ 800 mil da Queiroz Galvão A rede de corrupção guarda íntima relação com problemas de gestão identificados pelos órgãos de fiscalização na execução de outras obras de refinarias. No Maranhão, a pressa política do PT em apresentar a pedra fundamental da Refinaria Premium custou R$ 84,9 milhões à Petrobras. O lançamento foi feito sem o projeto básico e o consórcio de empreiteiras contratado atrasou o início das obras, pois os terrenos ainda estavam sub judice. Ainda no Estado maranhense, o filho do ministro de Minas e Energia, integrante da lista de Paulo Roberto Costa, e candidato do PMDB ao governo do Maranhão, Lobão Filho, recebeu para sua campanha R$ 500 mil da empresa Andrade Gutierrez. A PF apura ligações do candidato com a empresa fornecedora de material para a construção da refinaria, no município de Bacabeira. O ex-ministro de Minas e Energia Silas Rondeau atua há muito tempo nessa área para a família do ex-presidente José Sarney (PMDB), pai da governadora do Maranhão, Roseana Sarney. Quando saiu do ministério, Rondeau foi trabalhar na Engevix, uma das cinco empreiteiras abraçadas pelo escândalo. Recém-incluído na rumorosa relação do delator, o senador petista Delcídio Amaral também obteve recursos para sua campanha de empresas mencionadas como integrantes do esquema. A campanha de Delcídio ao governo de Mato Grosso do Sul recebeu R$ 622 mil da OAS, R$ 2,8 milhões da Andrade Gutierrez e R$ 2,3 milhões da UTC. Entre 2000 e 2001, Delcídio ocupou a diretoria de Gás e Energia da Petrobras. Com a eleição de Luiz Inácio Lula da Silva para presidente, em 2002, ele se transferiu do PFL para o PT e apadrinhou a indicação de Nestor Cerveró, primeiro para a área de Gás e Energia, ocupada por Ildo Sauer, e, finalmente, para a área Internacional. Um dos depoentes da CPI da Petrobras no Congresso na última semana, Cerveró encontra-se no rol de investigados no escândalo da estatal. ELE, DE NOVO - O deputado Eduardo Cunha é outro integrante do PMDB incluído na lista do ex-diretor da Petrobras Outros três políticos que aparecem no escândalo receberam, direta ou indiretamente, dinheiro das empreiteiras acusadas de irregularidades nos contratos com a Petrobras. O deputado Cândido Vaccarezza (PT-SP) foi agraciado com R$ 150 mil provenientes da UTC. Já o senador Francisco Dornelles (PP) obteve R$ 400 mil da Andrade Gutierrez e R$ 800 mil da Queiroz Galvão. À ISTOÉ, Dornelles admitiu que conhece Paulo Roberto Costa, mas, segundo o senador, não houve qualquer participação dele nessas doações. “Todas as doações recebidas pelo diretório do PP no Rio tiveram como origem empresas juridicamente aptas a fazê-las”, afirmou. O ex-ministro das Cidades Mário Negromonte foi contemplado com R$ 200 mil da OAS e R$ 100 mil da UTC. Na delação que fez à PF, Paulo Roberto Costa menciona ainda o governador Cid Gomes, do Ceará, com quem negociou a instalação de uma minirrefinaria no Estado. O projeto seria apenas uma fachada para um esquema de lavagem de dinheiro por meio de empresas que nunca sairiam do papel, conforme ISTOÉ denunciou em abril. “Não sei quem é Paulo Roberto. Nunca estive com esse cidadão e sou vítima de uma armação de adversários políticos”, disse o governador Cid Gomes à ISTOÉ na tarde da sexta-feira 12. Quando a Polícia Federal iniciou as apurações, os investigadores tentaram abraçar um universo de temas. Sob a guarda do juiz federal Sérgio Moro, a PF buscava provas de crimes de evasão de divisas, contrabando de pedras preciosas e tráfico internacional de drogas, mas tinha dificuldade para amarrar uma linha de trabalho e caracterizar a ação de uma quadrilha. O acordo de delação do ex-diretor da Petrobras contribuiu, e muito, para apontar um rumo. Mas, para se livrar dos 50 anos de prisão que teria de pagar pelos seus crimes, Paulo Roberto Costa terá de trazer provas. Todos os políticos rechaçam as acusações do delator com o argumento de que não foram apresentadas provas. De fato, para que o depoimento do delator tenha relevância na elucidação da rede de corrupção, Costa terá de materializar suas afirmações. Pelo que se pode depreender até agora, as movimentações feitas com os recursos desviados da Petrobras abrangem o caixa formal dos candidatos, como mostra esta reportagem, e também dinheiro de caixa 2. No curso de seu trabalho para desvendar as tenebrosas transações, Sérgio Moro deu uma ordem: não quer depender de grampos ou suposições e vai fugir da “teoria do domínio do fato”, método que permeou o julgamento do mensalão, o maior escândalo de corrupção dos governos do PT. 4#2 FOCO NOS ESTADOS A três semanas das eleições, o senador Aécio Neves cola nos candidatos tucanos a governador mais bem avaliados nas pesquisas para tentar voltar à disputa pelo segundo turno Ludmilla Amaral (ludmilla@istoe.com.br) A menos de um mês das eleições, o candidato à Presidência pelo PSDB, Aécio Neves, empreende um último esforço na tentativa de voltar a ser competitivo na corrida eleitoral. A nova estratégia do senador tucano consiste em coincidir sua agenda com a de candidatos a governador pelo PSDB mais bem avaliados nas pesquisas. Dessa forma, espera recuperar o eleitorado que possuía antes da morte de Eduardo Campos e da entrada de Marina Silva no jogo eleitoral. Até o início de agosto, Aécio oscilava entre 20% e 24% das intenções de voto, patamar que poderia levá-lo ao segundo turno das eleições. Hoje, o cenário é adverso. Além de não ter atraído o eleitorado indeciso, Aécio perdeu votos para a concorrente direta do PSB. Apesar da situação delicada, o tucano joga outra cartada na reta final da campanha. TUDO OU NADA - Aécio ao lado de Marconi Perillo em evento em Goiânia na terça-feira 9. Intenção é se apoiar na popularidade do governador líder nas pesquisas Na última semana, a agenda do senador já começou a privilegiar os Estados em que os candidatos tucanos estão mais bem posicionados, como São Paulo com Geraldo Alckmin, Goiás com Marconi Perillo e Pará com Simão Jatene. Todos eles são candidatos à reeleição e estão com a popularidade em alta nos respectivos Estados. O tucano também cola em aliados em franca ascensão, como Ana Amélia Lemos, no Rio Grande do Sul. Nos próximos dias, Aécio irá se dedicar ao corpo a corpo eleitoral também em Minas Gerais, onde tem um potencial grande de votos, na avaliação de integrantes da campanha tucana. Na quinta-feira 11, o senador esteve em Montes Claros em encontro com o prefeito Ruy Muniz (PRB) e com políticos do PSDB e, posteriormente, em Belo Horizonte com a juventude tucana. Em São Paulo, Estado onde Aécio figurava na liderança, ele se depara com o desafio de desmontar o fenômeno denominado “Geraldina” – o voto em Geraldo Alckmin para governador e Marina para presidente. De acordo com as mais recentes pesquisas de intenção de voto, Alckmin venceria as eleições com tranquilidade em primeiro turno, mas 43% dos eleitores do tucano dizem votar em Marina. Nos últimos dias, trackings (entrevistas por telefone) encomendados pelo PSDB mostravam que o tucano já ultrapassava Dilma no Estado. Seu objetivo, no entanto, é mais ambicioso: o de pelo menos encostar em Marina em São Paulo, o principal colégio eleitoral do País. Por isso, na sexta-feira 12, Aécio participou de mais uma caminhada ao lado de Alckmin na capital paulista. Só neste mês, os dois já fizeram ao menos cinco agendas conjuntas. AGENDA CASADA - Na sexta-feira 12, Aécio participou de uma caminhada ao lado de Geraldo Alckmin na capital paulista. Só neste mês, os dois já fizeram ao menos cinco agendas conjuntas O que ocorre em São Paulo se repete em Goiás. O candidato tucano à reeleição para o governo, Marconi Perillo, lidera as pesquisas de intenção de voto, mas nem todos os seus votos são transferidos para Aécio. Há um movimento no Estado chamado “MariMar”, pregando votos para Marconi governador e Marina presidente, o que também preocupou a campanha nacional do PSDB. Buscando diminuir a força do movimento, o senador esteve na terça-feira 9 em Goiânia ao lado de Perillo. Durante a visita, Aécio foi questionado sobre os votos casados no governador tucano e em Marina, mas foi interrompido por Perillo: “No Brasil inteiro há partidos que apoiam o Aécio e partidos que defendem outras candidaturas. Os nossos governadores, os candidatos a senador e toda a nossa base do PSDB e dos partidos que estão com o Aécio vão garantir a vitória dele”, discursou. Cerca de cinco mil pessoas participaram do comício organizado por Perillo no Tatersal de Elite do Parque de Exposição Agropecuária. “Agora é a hora da virada”, repetiu Aécio sobre o palanque. Cerca de 100 prefeitos, vereadores e candidatos ao parlamento estadual se acotovelavam no palco erguido por Perillo. A nova estratégia da campanha de Aécio foi iniciada na segunda-feira 8 em Marabá. Na companhia do governador tucano e candidato à reeleição no Estado do Pará, Simão Jatene, o senador se comprometeu a ser “o presidente dos municípios”. Jatene, que lidera as pesquisas de intenção de voto, mas empata tecnicamente com o candidato do PMDB, Helder Barbalho, e o venceria no segundo turno, acompanhou o senador no encontro com lideranças políticas no Rotary Clube de Marabá e enalteceu o candidato tucano à Presidência por ter sido o único a visitar a cidade. Se ele voltará lá como presidente, é outra história. REFORÇO NO SUL - Aécio espera conquistar o eleitor gaúcho que vota em Ana Amélia Lemos (PP-RS) 4#3 PT ADOTA TÁTICA DO MEDO Dilma vai para o confronto com Marina usando os mesmos métodos de terror que o partido condenava no passado, quando o alvo era Lula. O detalhe é que a candidata sataniza a adversária atribuindo a ela propostas semelhantes às de seu governo Izabelle Torres (izabelle@istoe.com.br) Diante da ameaça de perder a eleição, a campanha da presidenta Dilma Rousseff partiu para um ataque sórdido contra a candidata do PSB ao Planalto, Marina Silva. Munida de impressionante desfaçatez, a propaganda do PT lançou mão, na última semana, dos mesmos métodos que combatia num passado recente. Numa tentativa clara de manipulação, a presidenta ocupou o horário eleitoral na televisão para dizer que a proposta de Marina Silva de conceder autonomia ao Banco Central vai enriquecer ainda mais os banqueiros e prejudicar a população. O vídeo, totalmente apelativo, mostrou uma família vendo a comida desaparecer do prato. As cenas estão recheadas de um cinismo explícito, pois o governo Lula, no qual Dilma foi gerente e chefe da Casa Civil, não apenas adotou a autonomia operacional do Banco Central como fez mais: indicou um banqueiro, Henrique Meirelles, para presidir a instituição e conferiu à presidência do BC o status de ministério. Nos dois governos de Lula, nem o Ministério da Fazenda, ao qual o Banco Central deveria estar subordinado, podia dar ordens a Meirelles. Se, como prega a peça publicitária do PT, seria lícito dizer que aumentar os juros é jogar afinado com os banqueiros, então nunca antes na história um governo esteve tão em sintonia com os bancos como o do PT. GOLPES BAIXOS - O PT deu autonomia operacional ao Banco Central e escolheu um banqueiro para presidi-lo, mas Dilma (à dir.) ataca Marina querendo taxá-la de candidata tutelada pelos bancos, exatamente por defender a autonomia do BC A propaganda petista também agiu com descaramento quando acusou a adversária do PSB de se opor ao uso dos recursos do pré-sal para financiar a educação. Os petistas escondem o fato de terem resistido à proposta que destinou 10% dos recursos do petróleo para o ensino público. Na época das discussões sobre o assunto no Congresso, o governo atuou nos bastidores pela liberdade para escolher onde seriam feitos os investimentos. A verdade factual, no entanto, parece estar longe da campanha petista.As pesquisas realizadas depois da mudança no discurso da presidenta mostram que ela recuperou pontos na corrida eleitoral e neutralizou a vantagem de Marina Silva em um eventual segundo turno. A diferença, que já foi de dez pontos percentuais, caiu para quatro e as duas encontram-se empatada,s considerada a margem de erro, de acordo com o último Datafolha. Não foi a primeira vez, nesta campanha, que o PT recorreu ao medo e a golpes baixos a fim de obter êxitos eleitorais. Semanas atrás, numa nova tentativa de manipular o eleitor, a campanha petista comparou Marina aos ex-presidentes Jânio Quadros e Fernando Collor, numa alusão à dificuldade que ela terá de governar, sob o risco de ter o mandato interrompido. A esdrúxula equiparação foi criticada até por petistas, como o senador Jorge Viana (AC). “Essa ideia de tentar comparar Marina a Collor e a Jânio Quadros é desinteligente. Ou de querer buscar desvio ético e moral na vida de Marina, isso também é perda de tempo e não tem nenhum sentido”, afirmou. Até agora, apenas um caso provocou transtornos para a campanha da presidenta. Os tucanos entraram com uma ação no Tribunal Superior Eleitoral (TSE), reclamando do terrorismo eleitoral protagonizado pelo PT. O tribunal considerou a linguagem do programa petista degradante e inapropriada para uma disputa democrática e determinou a retirada do ar das agressões. Para o relator do caso, ministro Herman Benjamin, o tom adotado pela campanha do PT “não combina com a postura ética que deve nortear o debate político e as campanhas eleitorais”. A constatação é de que o PT age como se o fim justificasse os meios, sendo “o fim” a eleição de Dilma, e “os meios”, as práticas de terrorismo eleitoral. Pelo jeito, para o PT vale mesmo “fazer o diabo” para vencer a eleição, usando palavras da própria presidenta Dilma. Nesse vale-tudo, quem perde é o eleitor. 4#4 UMA ORIGEM, DOIS DESTINOS Nascidas no Seringal Bagaço, as irmãs Marina Silva e Maria Lúcia, muito parecidas fisicamente, trilharam caminhos opostos. Hoje a sósia leva uma vida simples e distribui santinhos em Rio Branco, onde é confundida com a candidata ao Planalto Ludmilla Amaral (ludmilla@istoe.com.br) Na década de 50, quem nascesse no Seringal Bagaço, no Acre, a 70 quilômetros do centro de Rio Branco, estava destinado a um futuro ao mesmo tempo previsível e triste – fruto da lamentável realidade brasileira que condenava a viver na pobreza os que sobreviviam da extração da borracha nos rincões do País. Nesse contexto e ambiente, surgiam ao mundo duas filhas do seringueiro cearense Pedro Augusto da Silva e da dona de casa Maria Augusta da Silva. Em fevereiro de 1958, Maria Osmarina Marina Silva, hoje candidata do PSB à Presidência. No ano seguinte, Maria Lúcia Silva, irmã mais próxima de Marina Silva e com quem ela mais se parecia fisicamente. Na infância, elas e mais seis irmãos trabalhavam no seringal da Colocação Breu Velho para ajudar as custear as despesas de casa. Não tiravam mais do que R$ 20 por mês com o serviço. A família era tão miserável que só a irmã mais velha, Deuzimar, por ostentar essa condição, tinha o direito de dormir na única cama de que dispunham os filhos. Os demais deitavam em redes de pano ou até no chão. Uma decisão levada a cabo por Marina em 1973, porém, mudaria por completo o seu destino, e a diferenciaria dos demais integrantes da família Silva, entre eles Maria Lúcia. Diagnosticada aos 15 anos com malária, a menina Marina implorou ao pai para morar na cidade a fim de cuidar da saúde e trabalhar. Os parentes temiam pelo pior. Achavam que ela estaria fadada ao infortúnio experimentado por todas aquelas que se desgarravam precocemente da família iludidas pelos encantos da cidade grande. Uma das avós vaticinou: “Ela voltará em três meses. Grávida”. Diante da insistência da filha, no entanto, o pai finalmente aprovou, ao que Marina, genuflexa, agradeceu. PARECE, MAS NÃO É - Na infância, Marina Silva chamava a irmã Maria Lúcia de "Marinô" Enquanto a irmã permanecia sob a tutela dos pais, no seringal Bagaço, Marina aos 16 anos foi matriculada no Mobral – projeto de alfabetização do regime militar –, porque queria ser freira e sua avó lhe dizia: “Não existe freira analfabeta”. De 1974 a 1975, Marina trabalhou como empregada doméstica, em Rio Branco, até ficar sob os cuidados do então bispo do Acre, dom Moacyr Grechi, ter acesso à Teologia da Libertação e começar a frequentar as reuniões das Comunidades Eclesiais de Base. Em 1976, Marina decidiu fazer um curso de liderança sindical rural, se aproximou de Chico Mendes, de quem se tornou amiga, e do PT. O restante da história da candidata do PSB ao Planalto todos sabem. EM FAMÍLIA - Marina, a irmã-clone (em destaque), o pai (de boné) e os demais irmãos. A família se reúne sempre que pode no Acre De certa forma, os destinos de Marina Silva e Maria Lúcia se cruzaram este ano durante a campanha presidencial. Hoje, Lúcia, aos 55 anos, apenas alfabetizada, trabalha como dona de casa no bairro de Taquari – região pobre e violenta de Rio Branco – e congrega na Assembleia de Deus. Humilde, muito simples e com pouca instrução, Maria Lúcia distribui santinhos de Marina Silva pelas ruas da capital do Acre. Quem a vê, de longe ou de perto, imagina estar diante da própria Marina Silva. Motivo: ela não só guarda semelhanças físicas com Marina como possui o mesmo timbre de voz, o sotaque e o léxico característico da aspirante ao Planalto. “Mãe, olha ela ali. É a Marina”, diz a meninada. “Não sou ela, mas quem puder vote na Marina”, explica sempre calmamente Maria Lúcia. “Sei que ela vai fazer o possível para que as coisas fiquem melhores do que estão”, acredita. EM CAMPANHA - Maria Lúcia faz panfletagem para a irmã nas ruas e é cercada por crianças: "É a Marina", dizem Por causa da candidatura da irmã, o telefone de sua casa no Taquari não para há pelo menos duas semanas. São repórteres de jornais locais, nacionais e até estrangeiros querendo dar uma palavrinha com a sósia e irmã de Marina. Maria Lúcia, que na infância era chamada de “Marinô” por Marina, toda vez em que se despediam uma da outra, desde o início da campanha virou uma espécie de porta-voz da família. Ela não recusa entrevistas, mas a assessoria de Marina diz que a irmã “só fala pessoalmente e no Acre”. No fim de semana do 7 de setembro, ela e mais duas irmãs, Maria de Jesus e Maria Elizete, aproveitaram os festejos oficiais para intensificar a panfletagem em Senador Guiomard, município de 20 mil habitantes, no Acre. Em 2010, Marina se mostrou decepcionada com o desempenho eleitoral no Estado. Apesar de ser a terra natal da senadora, o Estado preferiu José Serra (PSDB), que ficou com 52,18% dos votos, contra 23,74% de Dilma Rousseff (PT). Marina ficou em terceiro, com 23,58% dos votos. Quando era filiada ao PT, Marina Silva sempre conquistava muitos votos no Estado: foi eleita vereadora de Rio Branco, deputada estadual e senadora duas vezes. Em 2010, sofreu uma importante baixa no Acre. Indagada na época sobre o sentimento a respeito da votação de seus conterrâneos, Marina respondeu: “É uma tristeza muito grande, mas é a democracia”. A irmã Maria Lúcia acredita que, nesta eleição, o jogo possa virar. Como o destino virou em favor de Marina Silva quando ela deixou a casa dos pais aos 15 anos. 4#5 MINISTROS RUINS DE VOTO Mesmo com o apoio descarado da máquina e da estrutura do governo federal, ex-ministros de Dilma encontram dificuldades em decolar nas campanhas aos governos estaduais Izabelle Torres (izabelle@istoe.com.br) A três semanas das eleições, as pesquisas de intenção de voto realizadas até agora abalam a crença de que a força da máquina e da estrutura dos ministérios é decisiva para construir e alavancar quaisquer candidatos. Não é bem assim. Os competidores que dispõem da caneta e das benesses oficiais largam em vantagem, não há dúvida. Mas isso não significa garantia de triunfo nas urnas. Depois de utilizarem por anos os canais oficiais do governo para autopromoção, quatro ministros que deixaram os cargos para disputar o governo não demonstram vigor eleitoral. Apenas um deles, Fernando Pimentel (PT), aparece bem colocado na disputa ao governo de Minas Gerais. Os outros – Marcelo Crivella, Alexandre Padilha e Gleisi Hoffmann – permanecem sem entusiasmar o eleitorado. DESÂNIMO - Em terceiro lugar na disputa ao governo de São Paulo, o petista Alexandre Padilha, ex-ministro da Saúde, não conseguiu empolgar o eleitorado do Estado A proximidade com Dilma Rousseff e o cargo de ministra da Casa Civil, o mais importante dentre os ministérios, foram insuficientes para tornar competitiva a candidatura da ex-ministra da Casa Civil Gleisi Hoffmann (PT) ao governo do Paraná. A cúpula petista foi ao Estado em pelo menos 12 eventos no prazo de um ano e meio para inaugurar obras e mostrar a influência da então ministra. Gleisi conta ainda com o apoio do próprio marido, o ministro das Comunicações, Paulo Bernardo, que tirou férias para se dedicar à campanha da petista e também é responsável por grandes projetos, como o de popularizar a internet banda larga. Durante os atos de campanha, o casal governista tenta desvincular as obras públicas federais realizadas no Paraná da gestão do atual governador, Beto Richa (PSDB). Mesmo assim, Gleisi não tem conseguido sair da terceira posição. De acordo com integrantes da coordenação da sua campanha, a atual dificuldade da candidata é a reviravolta na campanha presidencial e a necessidade de Dilma de reconstruir suas estratégias na tentativa de conter o crescimento de Marina Silva (PSB). Restou um espaço pequeno para que Dilma e o ex-presidente Lula se dediquem à campanha dos aliados, até mesmo de quem foi braço direito da presidenta. SEM PERSPECTIVAS - Apesar do apoio do marido, ministro Paulo Bernardo, e da cúpula do PT a candidatura da ex-ministra da Casa Civil Gleisi Hoffmann não demonstra competitividade no Paraná As recentes dificuldades do PT na campanha nacional, aliadas a mais uma demonstração de que a máquina ministerial é incapaz, por si só, de construir uma candidatura de sucesso, também servem de obstáculo para o ex-ministro da Saúde Alexandre Padilha na disputa pelo governo de São Paulo. Por quase três anos, Padilha teve nas mãos o comando do maior ministério da Esplanada, com orçamento anual em torno de R$ 100 bilhões. O poder financeiro da pasta e o apelo social do órgão que comandou pareciam a receita ideal para uma futura campanha bem-sucedida. A realidade eleitoral do PT em São Paulo, entretanto, se mostrou diferente das expectativas iniciais dos petistas, especialmente do ex-presidente Lula, que escolheu Padilha para tentar tirar dos tucanos o comando do maior e mais rico Estado brasileiro. Embora tenha aproveitado bem a gigante estrutura do ministério, aparecendo em 60% dos vídeos institucionais da pasta e com citações diárias no Twitter do órgão, Padilha não decolou. De acordo com as pesquisas, o típico exemplo de “poste” bancado por Lula amarga o terceiro lugar, atrás do tucano Geraldo Alckmin, candidato à reeleição, e de Paulo Skaf (PMDB). A julgar pelo cenário atual, inclusive, Alckmin liquidaria as eleições no primeiro turno. Terceiro lugar é também a posição do ex-ministro da Pesca Marcelo Crivella (PRB), na disputa pelo governo fluminense. O ex-ministro mandou recursos e realizou projetos para as comunidades do Rio de Janeiro, mas hoje ele possui dificuldades reais de ampliar o eleitorado. Pesquisa Datafolha sobre a eleição para governador do Rio, divulgada na quarta-feira 10, mostra os candidatos Anthony Garotinho (PR) e Luiz Fernando Pezão (PMDB), que tenta a reeleição, empatados com 25%. Marcelo Crivella (PRB) tem 19% e o petista Lindberg Farias tem 12%. Até agora, o único caso bem-sucedido de candidato ex-ministro de Dilma encontra-se em Minas Gerais. Ex-titular do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Fernando Pimentel (PT) surge no cenário político com chances de vitória na disputa pelo cargo de governador. O petista é amigo de Dilma Rousseff desde os tempos em que militavam contra a ditadura militar Durante os três anos em que ficou à frente da pasta, ele estreitou relações com os empresários e com partidos aliados. Desde o início da campanha, uma estratégia discreta de tentar se descolar da imagem da presidenta Dilma irritou tanto adversários como aliados. No PT, durante uma reunião da Executiva na semana passada, o presidente da legenda, Rui Falcão, disse que o candidato mineiro estaria disfarçando sua relação de proximidade com Dilma, retirando a presidenta dos panfletos espalhados pelas ruas de Minas. O mesmo discurso foi usado pelo adversário de Pimentel, Pimenta da Veiga (PSDB), que o acusa de se descolar da candidata do PT a fim de conquistar o coração dos mineiros. Eleito, Pimentel seria a exceção a confirmar a regra. 4#6 BOICOTE DOS MILITARES Agentes da ditadura se negam a prestar informações à Comissão da Verdade. Mesmo assim, processo que apura a morte e o desaparecimento do deputado Rubens Paiva é reaberto Alan Rodrigues (alan@istoe.com.br) Depois de dois anos de trabalho, 1.045 depoimentos em 73 audiências públicas, os integrantes da Comissão Nacional da Verdade (CVM) mapearam e ajudaram a esclarecer boa parte dos casos de torturas, mortes, e ocultação de cadáveres praticadas ou comandadas por agentes do Estado durante a ditadura militar. No entanto, a três meses da entrega do relatório final, os responsáveis pelas investigações que apuram as denúncias de violações aos direitos humanos se depararam com um obstáculo: a resistência de militares em colaborar com a comissão. Talvez estimulado pelo fato de até hoje as Forças Armadas se recusarem a reconhecer as práticas de tortura e morte durante o regime, o tenente do Exército José Conegundes do Nascimento, que atuou na Guerrilha do Araguaia, se recusou a depor sobre suas atividades na repressão. Pior. Ainda provocou a Comissão. “Não vou comparecer. Se virem. Não colaboro com o inimigo”, escreveu Conegundes em documento. Convocado, o general do Exército José Brandt Teixeira seguiu na mesma toada. “Segundo orientação do Comando do Exército, as convocações devem partir daquela autoridade”, escreveu ele na intimação. À REVELIA - Ao mesmo tempo que militares celebram pacto para se manter calados, ação penal do caso Rubens Paiva volta a tramitar na Justiça O boicote dos militares, no entanto, não tem surtido o efeito desejado por eles. A Segunda Turma Especializada do Tribunal Regional Federal, do Rio, decidiu na quarta-feira 10, por unanimidade, restabelecer a ação penal e retomar o processo que apura a morte e o desaparecimento do deputado federal Rubens Paiva, em janeiro de 1971. Pela primeira vez, a Justiça brasileira reconheceu que os crimes praticados por militares durante a ditadura foram contra a humanidade. Os três votos a favor do processo descartaram a intenção da defesa dos militares de que o crime prescreveria e eles não poderiam ser julgados pela Lei de Anistia. “Os crimes cometidos contra a humanidade não podem ser abraçados pela Lei de Anistia”, afirmou a procuradora Silvana Batini. O processo estava parado desde que um habeas corpus fora impetrado por cinco militares acusados de assassinar e ocultar o corpo do ex-deputado. SILÊNCIO FARDADO - Em documento encaminhado à Comissão da Verdade, o tenente do Exército José Conegundes do Nascimento se recusa a colaborar com o que chama de "inimigo" _____________________________________ 5# COMPORTAMENTO 17.9.14 5#1 NO CAMINHO DA GUARDA COMPARTILHADA 5#2 O SUSTO DA VACINA 5#3 FORMAÇÃO MÉDICA EM XEQUE 5#4 INTOLERÂNCIA E BARBÁRIE 5#5 O DESAFIO DAS CICLOVIAS 5#6 HIERÓGLIFOS MODERNOS 5#7 O TITANIC CANADENSE 5#1 NO CAMINHO DA GUARDA COMPARTILHADA Comissão do Senado aprova projeto de lei que torna regra a guarda compartilhada, deixando os pais mais próximos de garantir o convívio igualitário com os filhos após as separações Camila Brandalise (camila@istoe.com.br) A separação de um casal já é um processo traumático por si só. Envolve dor, mágoa, insegurança. Mas se ex-marido e ex-mulher não conseguem atravessar incólumes esse período de intenso sofrimento e transformação, resta a eles preservar os filhos, mostrando às crianças que, apesar de pai e mãe não viverem mais juntos, a família se mantém, mas sob uma nova perspectiva. A melhor forma de manter os filhos saudáveis depois desse difícil processo é a guarda compartilhada, em que homem e mulher dividem igualitariamente as responsabilidades sobre os filhos. Apesar de o Código Civil contemplar essa alternativa desde 2008, quando uma alteração passou a contemplar essa questão, a maioria do Judiciário brasileiro insiste em estabelecer guardas unilaterais, amparada em brechas na legislação. “Grande parte dos juízes ainda decide deixar o filho com a mãe. É uma questão cultural, um vício, e eles tendem a mantê-lo”, afirma Analdino Rodrigues Paulino Neto, presidente da Associação de Pais e Mães Separados (Apase). Mas isso está prestes a mudar, o que será um grande avanço no direito de família no País. A Comissão de Constituição e Justiça do Senado aprovou recentemente o texto do Projeto de Lei 117/13, já examinado pela Câmara, que tornará a guarda compartilhada regra, caso os pais não cheguem a um consenso. “Com a obrigatoriedade, o ex-casal precisa de bom senso para criar a criança, o que acaba melhorando a relação entre eles”, diz Silvana Rabello, professora da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), mestre em educação e especialista em psicologia clínica com crianças. Autor do projeto de lei que altera o atual texto, o deputado Arnaldo Faria de Sá (PTB-SP) sugeriu a modificação após receber uma série de pedidos de pais insatisfeitos por terem o relacionamento com os filhos se limitado a visitas esporádicas com hora marcada após as separações. “A lei diz que a guarda compartilhada será estabelecida ‘sempre que possível’. Isso faz muitos juízes lavarem as mãos”, afirma Faria de Sá. O projeto segue agora para votação no plenário do Senado, o que deve ocorrer na primeira quinzena de outubro. Com isso, espera-se que, em breve, a guarda compartilhada se torne regra nas varas de família do País – o que já deveria estar acontecendo desde 2008. Segundo a juíza da 3ª Vara de Família de Santo André, Fernanda Pernambuco, entusiasta do projeto de lei, o que está em jogo é o bem-estar da criança. “Se um dos pais não quiser ou não for apto a criar seu filho, a guarda compartilhada não será imposta. Mas é preciso entender que ter o pai e a mãe por perto é o melhor, por isso essa opção tem que vir em primeiro lugar.” Em parecer de 2011, a então ministra do Superior Tribunal de Justiça Nancy Andrighi afirmou que a própria imposição sobre atribuições de cada um dos pais e o período de convivência da criança em guarda compartilhada – o que costuma ser definido entre os próprios ex-cônjuges – é uma medida extrema, mas necessária para que o texto legal não se torne letra morta. ACORDO - Luiz Alexandre Roitburd estabeleceu uma rotina com a ex-mulher para que os filhos Flora e Ariel pudessem conviver com ambos igualmente A situação ideal é que ex-marido e ex-mulher cheguem a um consenso, sem precisar brigar judicialmente. Mas esse ideal está longe de ser realidade. O litígio está presente em 90% dos divórcios, segundo a Apase. “O grande perigo é quando os filhos se tornam moeda de troca entre os adultos”, alerta Ivete Gattás, coordenadora da Unidade de Psiquiatria da Infância e Adolescência da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp). Por isso, muitos advogados e juristas defendem a obrigatoriedade da guarda compartilhada para evitar um desgaste ainda maior. “É preciso seguir o princípio constitucional do interesse da criança, e o melhor é manter a convivência com as duas referências, pai e mãe”, diz o advogado Rodrigo da Cunha Pereira, presidente do Instituto Brasileiro de Direito de Família (IBDFAM). “Tornando a guarda compartilhada obrigatória, os juízes vão se adaptar a um novo pensamento. Há certo receio com a mudança, mas com o tempo ela ganhará ares de normalidade.” Para a psicopedagoga Teresa Messeder Andion, o corte da ligação com o pai ou com a mãe cria um abismo emocional. “A criança se sente desamparada, triste. E isso se reflete na aprendizagem, pois ela fica sem estímulo para aprender e até para conviver socialmente.” Alguns ex-casais optam naturalmente por compartilhar as responsabilidades. Caso da diretora de arte Luciana Bueno, 45 anos, mãe dos gêmeos Ariel e Flora, 8 anos. Quando se separou do marido, o artista de teatro Luiz Alexandre Roitburd, 46 anos, ela mudou de casa e disse aos filhos que, a partir de então, eles teriam dois lares. Nas segundas e terças-feiras eles ficam com o pai. A mãe busca na escola na quarta-feira e permanece com eles até sexta-feira. Os fins de semana são alternados. “Achamos importante criar uma rotina para que funcionasse bem para as crianças”, diz Luciana, para quem, independentemente de divergências pessoais, o mais importante é a concordância entre os pais na educação das crianças. Assim que se divorciaram, os dois procuraram um terapeuta para entender como proceder em relação à guarda compartilhada. “Não é só uma questão de direito. Na verdade, é uma obrigação tanto do pai quanto da mãe estar perto de seus filhos”, afirma Roitburd. CONVÍVIO - Francisco Becerra (acima) passa o dia com o filho, Chico, e à noite o leva para a casa da mãe; antes de conseguir a guarda compartilhada, os dois se viam de 15 em 15 dias por quatro horas. Abaixo, Elder Guedes com o filho, Pedro, que faz parte da vida do pai e tem boa convivência com sua atual mulher, Christiane Batista Apesar de ainda não ser regra entre os magistrados, alguns profissionais estão à frente dessa luta e se empenham para que a guarda compartilhada seja mais difundida. Juíza da 1ª Vara da Família da Barra da Tijuca, no Rio de Janeiro, Maria Cristina de Brito Lima criou há quatro anos um projeto de audiência pública coletiva, com palestras e vídeos divulgando a importância de a criança conviver igualmente com pai e mãe após a separação. Os encontros, de 45 minutos de duração, são agendados anteriormente às audiências de definição da guarda e contam com a participação de cerca de 60 pessoas, devidamente acompanhadas de seus advogados. “Tento mostrar que a criança não pode ser usada como escudo por nenhuma das partes”, diz. Depois, todos são encaminhados para duas sessões com uma psicóloga em um grupo de orientação familiar. Segundo Maria Cristina, após a criação do programa, 80% dos ex-casais concordaram em dividir a guarda. “Antes, esse número não passava de 15%”, afirma. Um desses casos foi o do advogado Elder Guedes, 42 anos. “Quando pedi o divórcio, queria a guarda compartilhada, mas não chegava a um consenso com minha ex-mulher”, afirma o pai de Pedro, 10 anos. Depois de participarem das palestras e orientações, concordaram em dividir as responsabilidades. Hoje, pai e mãe partilham a guarda do menino, alternando a residência dele de 15 em 15 dias. “O que não impede que ela o veja quando está comigo e vice-versa.” O ex-casal concordou em dividir os gastos com a criação do filho: 50% cada um. Combinaram ainda de alinhar as regras em cada casa – mas ambos podem tomar as próprias decisões. “Com a mãe, ele não usa o computador durante a semana. Comigo pode, mas só enquanto tiver nota boa.” Para a juíza Fernanda Pernambuco, que, além de defender ativamente a guarda compartilhada, divide igualmente as responsabilidades dos três filhos desde 2005 com o ex-marido, manter pai e mãe na vida da criança preserva a igualdade parental que existe no relacionamento antes da separação. Se um casal se divorcia, o ideal é que a convivência com as crianças seja mantida. Além disso, os conflitos que levaram ao divórcio não podem influenciar a decisão de um dos genitores ter mais ou menos direitos. “Hoje, homem e mulher são atuantes. Passamos por mudanças sociais que não foram corretamente percebidas pelo direito. A legislação está atrás dos fatos”, afirma a juíza. O gerente de farmácia Francisco Becerra, 48 anos, entende bem essa mudança de comportamento. “Quando eu era criança, quase não via meu pai. Era natural vê-lo apenas como provedor. Eu sou completamente diferente, penso no bem-estar do Chico o tempo todo e mesmo depois da separação eu o vejo diariamente”, diz, referindo-se ao filho Francisco, 11 anos. Becerra conseguiu a guarda de Chico em 2012, mas lutava por isso desde 2008. Nesse meio tempo, durante um ano e meio, podia vê-lo de 15 em 15 dias somente por quatro horas. Hoje, a rotina é outra. O garoto passa o dia com o pai e dorme com a mãe. “Depois da escola, ele fica comigo até por volta das 18 horas, quando o levo para a casa dela.” Os gastos são divididos de acordo com a possibilidade de cada um. Bastante apegado à família do pai, Chico diz que é bom ter os primos e avós sempre por perto. “Quando estava afastado do meu pai, sentia falta de todo mundo. Agora que tenho os dois, até minhas notas na escola melhoraram”, conta o menino, comprovando que, para quem realmente importa, os filhos, a guarda compartilhada é a melhor opção. 5#2 O SUSTO DA VACINA A hospitalização de 11 garotas em Bertioga (SP), com efeitos colaterais após a vacinação contra o HPV, deixa pais preocupados, mas autoridades garantem que o imunizante é seguro Paula Rocha (paularocha@istoe.com.br), de Bertioga (SP), e Mônica Tarantino (monica@istoe.com.br) Um caso surpreendente envolvendo um grupo de adolescentes em Bertioga, no litoral de São Paulo, tem assustado pais de todo o Brasil. No dia 4 de setembro, 11 alunas da escola estadual William Aureli passaram mal após receberem a segunda dose da vacina contra o vírus HPV, da campanha nacional realizada pelo Ministério da Saúde. Em comum, todas relataram dor de cabeça, tonturas e tremedeiras, e foram levadas ao pronto-socorro da cidade. Oito meninas receberam alta após serem medicadas. Três jovens, no entanto, apresentaram sintomas mais graves. Luana Barros e Mariana Lima, 12 anos, não sentiam as pernas. Já Nathália dos Santos, 13, tinha dores na coluna e perda da sensibilidade das mãos. No sábado 6, elas foram transferidas para o hospital Guilherme Álvaro, em Santos, onde realizaram exames de sangue, raio X e ressonância magnética. Apesar do quadro apresentado pelas jovens, neurologistas asseguraram que os resultados estavam normais. Na quarta-feira 10, Luana e Mariana tiveram alta, mas até sexta-feira 12 Nathália seguia internada com fortes dores de cabeça e nas costas, sem previsão de alta. Desde que o imunizante começou a ser aplicado no País, em março, não havia registro de um grupo tão numeroso com reações colaterais. Em março, duas meninas no Rio Grande do Sul tiveram reações alérgicas intensas e uma teve convulsões. A explicação mais plausível para as autoridades de saúde é que ocorreu uma espécie de fenômeno de sugestão coletiva. “O quadro das 11 adolescentes pode ser avaliado como uma síndrome de estresse pós-injeção, algo que acontece também com outras vacinas”, garantiu o secretário de Vigilância em Saúde do Ministério da Saúde, Jarbas Barbosa. Ele afirma que as vacinas são consideradas um dos produtos médicos mais seguros do mundo. Já a possibilidade de problemas com o lote de vacinas foi descartada. “Não houve falhas de refrigeração ou armazenamento”, afirmou a médica Helena Sato, diretora de Imunização da Secretaria Estadual de Saúde de São Paulo. REAÇÃO - As mães Rosália Barros e Fabíola Lima acreditam que a vacina provocou o mal-estar das filhas. Rafaella, do Rio, teve sintomas graves que os pais também atribuem ao fármaco As mães das adolescentes paulistas, porém, creem que os sintomas foram deflagrados pela injeção. “Os médicos dizem que a culpa não é da vacina, mas só pode ser. Minha filha tem a saúde boa, nunca tinha ficado internada”, disse Rosália Alves Barros, mãe de Luana. Assim como Rosália, outros pais associam o imunizante a sintomas até mais graves. É o caso da menina Rafaella Oliveira Silva, 13 anos, de Resende (RJ). Após tomar a anti-HPV, em março, ela sentiu o braço inchar e perdeu os movimentos. Com o surgimento de sintomas como a visão prejudicada e alterações circulatórias, Rafaella chegou a ficar em uma cadeira de rodas. Depois de ir a vários médicos, foi diagnosticada com uma doença autoimune. “Os problemas dela começaram após a vacina”, assegura o pai, o funcionário público Ismar Costa e Silva. O caso de Rafaella está sendo estudado pelo Ministério da Saúde, foi reportado ao fabricante da vacina e incluído em bases internacionais de dados. Na opinião do infectologista Renato Kfouri, presidente da Sociedade Brasileira de Imunizações, estudos feitos até agora indicam que a vacina contra o HPV não eleva a taxa de doenças autoimunes. “São casos que poderiam ocorrer independentemente da vacina”, diz o especialista. Ainda que nada comprove a ligação de casos excepcionais como o de Rafaella com o imunizante, as investigações prosseguem. Elas são feitas por instituições que monitoram a segurança e os efeitos adversos da vacina do HPV, atualmente dada em 50 países. Nos Estados Unidos, por exemplo, o Centro de Controle de Doenças (CDC) montou um sistema de notificação que recolhe informações do público e dos fabricantes sobre eventos ocorridos após a vacinação. Em agosto, a instituição divulgou uma análise de dados relativos à aplicação de 67 milhões de doses. Segundo o CDC, 92,4% dos relatos se referiam a sintomas não graves, como desmaios, tonturas, náuseas, dor de cabeça e febre, dor e vermelhidão no local da injeção. De acordo com a instituição, a vacina tem bom perfil de segurança. Mesmo assim, o Japão suspendeu a campanha de vacinação, mas oferece o fármaco a quem quiser tomar. O aval do CDC e da Organização Mundial da Saúde é o argumento do pediatra Fábio Ancona-Lopez, ex-presidente da Sociedade Paulista de Pediatria, para orientar as mães que o procuram com dúvidas. “Até agora essa vacina é considerada muito segura”, diz ele. O ginecologista Sérgio Nicolau, professor da Universidade Federal de São Paulo, diz que reações como desmaios e tonturas são comuns também em exames ginecológicos. “Uma das recomendações para prevenir essas reações, mais comuns em uma faixa etária na qual as jovens são muito influenciáveis e sensíveis, é ficar sentada ou deitada por 15 minutos após tomar a vacina”, diz o especialista. 5#3 FORMAÇÃO MÉDICA EM XEQUE Nos últimos quatro anos foram abertos 62 novos cursos de medicina no País, mas 30% deles têm deficiências, como falta de hospitais universitários, laboratórios e professores Fabíola Perez (fabiola.perez@istoe.com.br) O Brasil possui dois médicos para cada mil habitantes, índice pouco abaixo da média recomendada internacionalmente e ainda distante da de países desenvolvidos. Para contar com mais profissionais, o governo criou o “Mais Médicos” e estimulou a criação de cursos. Das 242 escolas de medicina, 62 foram inauguradas nos últimos quatro anos. Nessa área, o País é o segundo colocado no ranking mundial, perdendo apenas para a Índia, com 271 faculdades nessa área. Recentemente, foi anunciado que 39 municípios devem receber novos cursos como parte do programa de expansão do atendimento médico. No entanto, irregularidades como falta de laboratórios, professores e hospitais de ensino também passaram a ser mais frequentes. Um levantamento realizado pelo Conselho Federal de Medicina (CFM) revela que 30% dessas novas instituições apresentam deficiências. “Uma faculdade de medicina deveria ser criada somente se tivesse um hospital universitário, laboratórios de pesquisa e um amplo quadro de docentes”, diz Lúcio Flávio Gonzaga Silva, do CFM. RETRATO - Alunos da Universidade Estadual de Mato Grosso (acima) reivindicam melhorias no curso. Abaixo, estudantes da Universidade Municipal de São Caetano do Sul, que não possui hospital, e a Universidade Federal do Recôncavo da Bahia, que tem apenas cinco professores Não é o que está acontecendo. Por isso, é preciso atentar para a qualidade da formação atual dos médicos brasileiros. A oferta de vagas em faculdades particulares é a que mais cresce. Dos 62 cursos criados no governo Dilma, 36 são privados. “São escolas que têm dificuldade para implementar a proposta pedagógica, poucas estão integradas ao sistema de saúde e não contam com professores com alta titulação”, diz Mário César Scheffer, professor de medicina preventiva da Universidade de São Paulo. O resultado do exame do Conselho Regional de Medicina (CRM) de São Paulo mostrou que o índice de reprovação entre estudantes recém-formados de escolas privadas em 2013 foi de 71%. O exame não impede o exercício da medicina, mas serve de parâmetro para o nível do profissional que chega ao mercado. No âmbito das escolas públicas, também há problemas. O curso da Universidade Estadual de Mato Grosso atravessa uma greve que já dura mais de um mês. O primeiro processo seletivo ocorreu em agosto de 2012, mas até hoje os alunos não contam com prédio próprio, itens para aulas de anatomia e biblioteca com títulos básicos. “Usamos materiais emprestados do curso de enfermagem e ficamos sem professores em algumas disciplinas”, diz o estudante Bruno Diniz. Situação ainda mais grave ocorre na cidade de Santo Antonio de Jesus, no interior da Bahia. Inaugurado em dezembro de 2013, o curso de medicina da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia possui apenas cinco professores. “Temos tido dificuldades para encontrar profissionais que queiram trabalhar fora da capital”, diz Luciana Alaíde Alves Santana, pró-reitora de graduação da faculdade. Embora novas instituições estejam abrindo portas em municípios do interior – uma das maneiras de tentar fixar os médicos onde há carência de profissionais –, uma boa infraestrutura é fundamental. “Só haverá um aumento do acesso da população aos serviços de saúde se os médicos formados nas novas escolas tiverem estrutura para trabalhar, manter a família e disponibilidade de meios diagnósticos adequados”, explica Wilson Catapani, professor da Faculdade de Medicina do ABC. O Estado de São Paulo concentra 41 escolas de medicina. Ainda assim, o Cremesp aponta fatores que podem comprometer a qualidade de ensino nas instituições paulistas. “A maioria das faculdades não possui hospitais universitários e acaba oferecendo um treinamento inadequado”, diz Bráulio Luna Filho, presidente do Conselho. O curso de medicina da Universidade Municipal de São Caetano do Sul, inaugurado em fevereiro, é um deles, embora esteja inserido na rede de atenção básica de saúde da cidade, onde os alunos realizam as atividades práticas. “Não precisamos de um hospital de ensino. Quem deve gerenciar esses espaços são os gestores públicos”, afirma José Lúcio Machado, gestor do curso. Hoje, a instituição possui 120 estudantes que pagam R$ 5,3 mil de mensalidade. A última avaliação dos cursos de medicina do Brasil, realizada pelo Ministério da Educação, foi divulgada em 2010 e já indicava luz amarela: nenhuma instituição obteve a nota máxima. O resultado do exame de 2014, referente ao último triênio, será divulgado no final do ano. “É importante formar mais médicos, mas só conseguiremos avaliar o impacto dessa expansão de cursos e da qualidade dos novos profissionais no futuro”, diz Scheffer, da USP. 5#4 INTOLERÂNCIA E BARBÁRIE Tortura e morte de jovem em Goiás e incêndio criminoso no local onde haveria um casamento gay mostram que o preconceito está enraizado na sociedade brasileira e é preciso encontrar meios para enfrentá-lo Helena Borges (helenaborges@istoe.com.br) Abaixo, Maria Inês e Gislaine: salão onde elas iriam se casar foi incendiadoft;">A página do Facebook de João Donati, 18 anos, como a da maioria dos adolescentes brasileiros, é recheada de selfies – aquelas fotos feitas pela própria pessoa – com infinitas caretas e poses com a língua de fora para exibir um piercing. É possível também ver imagens de casais do mesmo sexo abraçados, de mãos dadas, trocando carícias ou se casando. Na mesma rede social, o rapaz aparece abraçado e sorridente com sua mãe ou outros parentes, mostrando a boa relação familiar. Mas, para o pesar de todos, na quarta-feira 10 os comentários na rede social passaram de elogios para condolências e protestos. João foi encontrado morto em um terreno baldio de Inhumas (GO), com sinais de tortura. A polícia suspeita que o brutal assassinato tenha sido motivado por homofobia. Na madrugada seguinte, em Santana do Livramento (RS), dois mil quilômetros distante da cidade goiana, outro ato de intolerância: um incêndio criminoso atingiu o salão reservado para receber no sábado 13 um casamento comunitário – entre os 29 casais inscritos, um homoafetivo. Os fatos de extrema violência em um intervalo de menos de 30 horas causaram revolta e viraram estopim para a organização de diversos protestos pelo País, deixando claro que, apesar da fama internacional de “gay friendly” (em português, amigável aos gays) ostentada pelo Brasil, o preconceito ainda reside em nossa sociedade. IGNORÂNCIA - João Donati, 18 anos (acima), foi brutalmente assassinado e a polícia desconfia de crime motivado por homofobia Em entrevista à ISTOÉ na quinta-feira 11, a ministra dos Direitos Humanos, Ideli Salvatti, contou estar fazendo as malas para ir ao casamento de Gislaine Moura de Vargas, 41 anos, e Maria Inês Machado, 26 anos, o casal do Rio Grande do Sul que, desde o incêndio criminoso, está sob proteção da polícia. “Meu primeiro telefonema do dia foi para a secretária de Direitos Humanos do Rio Grande do Sul. Estamos só aguardando a confirmação de que a solenidade vai acontecer”, afirmou a ministra. Ideli diz que a criminalização da homofobia é uma necessidade, mas afirma que a sanção da lei não é o suficiente. “É preciso criar um constrangimento social aos preconceituosos que complemente e dê eficácia à legislação no comportamento da sociedade.” Segundo a ministra, casos atordoantes como os da semana passada devem ser acompanhados de perto e julgados para então servirem de emblema, mostrando que o preconceito e a violência, de qualquer teor, não devem ser tolerados. Acima, Maria Inês e Gislaine: salão onde elas iriam se casar foi incendiado A homofobia, à luz da psicanálise, jamais será extirpada, já que representa um surto primitivo. “Na visão psicanalítica a homofobia está muito próxima da ideia do medo, como se a identidade sexual do próprio agressor pudesse eclodir. De alguma forma, essas agressões nos levam a pensar sobre a necessidade de o homofóbico extirpar no outro aquilo que o ameaça, algo que está na ordem do insuportável dentro dele”, diz a psicanalista carioca Monica Donetto, especialista em homoafetividade e homofobia. Ela afirma que a sociedade jamais irá se livrar desses surtos, mas que eles podem ser controlados a partir da educação. E explica que, tanto a homofobia quanto a homoafetividade se constroem desde a primeira infância, quando o indivíduo está formando sua personalidade e sua identidade sexual. Para a psicanalista, há ainda um certo moralismo no seio da família, que trata a homossexualidade como doença e a ignora como uma das diversas formas de identidade sexual. “O indivíduo cresce com aquela noção de moral e com a ideia de heterocentrismo, de que ser homem é ser hétero.” Segundo o último levantamento do Relatório Sobre Violência Homofóbica, da Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República, o número de denúncias desse tipo de crime cresceu 166% em 2012 em relação ao ano anterior. A presidenta da comissão de direito homoafetivo da Ordem dos Advogados do Brasil no Rio de Janeiro, Raquel Pereira, critica a postura da corte em rejeitar a criminalização da homofobia. “Hoje, ainda que uma pessoa seja racista, ela não verbaliza isso, não ofende o outro e, ainda por cima, não faz outras pessoas ouvirem suas ideias, reverberando o preconceito. Queremos que o mesmo aconteça com a homofobia. Temos discursos de ódio que são proferidos o tempo inteiro e são julgados como crimes comuns. Mas não são.” Casamento após 72 anos juntas Que sejam felizes para sempre não é um voto adequado a essas noivas: Alice Dubes, 90, e Vivian Boyack, 91, já usufruíram da felicidade durante 72 anos de vida em comum. Faltava só casar no papel, usar aliança na mão esquerda e receber a bênção nupcial. Não mais. A cerimônia foi realizada no sábado 6, em Davenport, Iowa, nos EUA, pela reverenda Linda Hunsaker, da Primeira Igreja Cristã de Davenport. Foi, provavelmente, o primeiro casamento gay de nonagenárias. Elas se conheceram antes dos 20 anos, namoraram cinco e foram morar juntas. “É preciso muito amor e esforço para manter um relacionamento”, diz Vivian. Comovida, a reverenda disse: “Essa é a celebração de algo que deveria ter acontecido há muito tempo” 5#5 O DESAFIO DAS CICLOVIAS Elas são uma boa alternativa de transporte, mas nas grandes cidades do Brasil muitas delas vêm sendo construídas na base do improviso e nem sempre garantem a segurança do usuário Cada vez mais brasileiros estão optando pela bicicleta como meio de transporte. Para atender a essa demanda, os prefeitos de grandes cidades brasileiras passaram a construir quilômetros e quilômetros de ciclovias. O problema é que, embora seja uma boa alternativa de mobilidade, adotada pelas mais modernas metrópoles do mundo, muitas vêm sendo construídas de forma atabalhoada, na base do improviso. Em São Paulo, há exemplos de ciclovias que atravessam pontos de ônibus. Em vias mais rápidas, a separação entre a bicicleta e o carro poderia ir além de olhos de gato. Há ainda faixas em que ciclistas disputam espaço com pedestres e carrinhos de bebê. Mas a capital paulista não está sozinha no quesito desorganização. Em Belo Horizonte, por exemplo, faixas para bikes ficam entre a calçada e o espaço destinado aos carros estacionarem. “A implantação em São Paulo foi baseada no improviso”, diz Fábio Fortes, presidente do Conselho de Segurança de Santa Cecília, que reclama, ainda, da falta de diálogo da prefeitura com a população. ROTINA - Acima, ciclistas na orla do Rio de Janeiro. Abaixo, carros flagrados estacionados numa ciclovia em São Paulo Há, porém, algumas boas iniciativas. A prefeitura de São Paulo anunciou que um dos cartões-postais do País, a avenida Paulista, terá sua ciclovia, ao custo de R$ 15 milhões. A obra deve ficar pronta em 2015 e faz parte do plano de construir 400 km dessas rotas até o fim do ano que vem. Desses, cerca de 58 km estão prontos. Quando uma ciclovia é bem feita, com um projeto estruturado como o da Paulista, tende a produzir bons resultados e a atrair ainda mais adeptos. Como a analista de produtos Maira Fujii e o funcionário público Guilherme Martins, que decidiram usar a bicicleta como meio de transporte na cidade de São Paulo há cerca de duas semanas. Antes da mudança, Martins percorria cerca de dois quilômetros de metrô de sua casa para o trabalho, na zona Sul da cidade, e refazia o caminho no fim do expediente. “Cogitei a ideia há um ano, mas desisti por falta de segurança. Quando vi a faixa pintada, comprei a bike”, diz. Maira também abraçou as duas rodas. Moradora da região de Pinheiros, na zona oeste, ela andava insatisfeita com a demora para chegar ao trabalho. “Eu via a galera indo mais rápido de bicicleta pela Avenida Faria Lima, onde trabalho. Pensei num jeito de vir mais depressa e que queimasse calorias”, diz ela. TRÁFEGO - Acima, via de Belo Horizonte: capital mineira tem uma malha pequena, de 70km apenas Outras cidades do Brasil têm se esforçado para melhorar suas estruturas cicloviárias, mas também enfrentam problemas. Apesar de contar com um dos melhores índices do País (430 km de vias), ciclistas de Brasília (DF) reclamam que as ciclovias da cidade não estão nos locais mais perigosos. “Também não conectam as cidades-satélites, onde mora a maior parte da população, ao centro, onde estão os empregos”, afirma Renata Florentino, da ONG Rodas da Paz. O Rio de Janeiro (RJ), onde a quilometragem de ciclovias é alta para os padrões nacionais (370 km), adota essa política desde a conferência ambiental Eco 92. Naquela época, as rotas para bikes se concentravam na orla, mas recentemente elas se expandiram para outras áreas. “Na zona norte o desafio é desenvolver áreas no entorno do BRT Transcarioca”, diz Clarisse Linke, diretora do Instituto de Políticas para o Transporte e o Desenvolvimento (ITDP, na sigla em inglês). Fortaleza (CE) e Belo Horizonte (MG), contam com extensão bem menor de ciclovias (86 e 70 km, respectivamente), e usuários apontam desconexão entre as faixas e asfalto ruim. MUDANÇA - Guilherme Martins esperou só construírem uma ciclovia no seu caminho para poder aderir à bicicleta Entre os moradores de cidades como São Paulo, por exemplo, a maior reclamação é que eles não puderam se preparar porque não foram avisados das novas rotas exclusivas. A própria prefeitura admite que faltou diálogo com a sociedade. “É um aperfeiçoamento, algo novo que você vai melhorando. Agora estamos avisando os locais onde as faixas serão implantadas”, afirma Jilmar Tatto, secretário dos Transportes de São Paulo. 5#6 HIERÓGLIFOS MODERNOS Nova rede social em que é permitido apenas o uso de "emojis" reafirma a importância desses símbolos que imprimem emoção à escrita Uma nova rede social foi criada no fim de agosto, a Emojli. O que a diferencia de outros serviços como o Facebook ou o Twitter? A descrição que você lê na página inicial do site resume tudo: “Sem palavras. Sem spams. Só emoji”. Essas serão as únicas letras que alguém verá no serviço. Aos neófitos na rede mundial de computadores, os emojis são a evolução dos emoticons, aqueles símbolos feitos de pontuação para expressar alegria, tristeza e outros sentimentos. Se os emoticons davam conta somente dos estados mentais mais básicos, os emojis são os desenhos que simbolizam, além da boa e velha “smiley face”, animais, comidas, profissões, gestos, roupas, locais, flores, bandeiras, formas geométricas e uma quantidade incrível dos mais diferentes objetos cotidianos – como telefones, CDs e até abóboras de Halloween. Os usuários de aplicativos como o WhatsApp, que serve para trocar mensagens pelo celular, já devem ter falado com alguém que faz um uso exagerado desses sinais gráficos. Foi partindo da premissa de que as pessoas adoram usar os emojis que os dois britânicos que criaram a nova rede social decidiram incluir no serviço apenas emojis. A comunicação, obviamente, fica um pouco prejudicada. Afinal, fazer novos amigos usando apenas símbolos pré-definidos não é fácil. Então por que milhares de internautas se dispuseram a tentar – e muito mais pessoas trocam milhões de emojis diariamente? Os emojis podem parecer bobagem para quem está mais acostumado ao modelo formal de escrita, mas fazem uma imensa diferença para a geração que cresceu ou foi criada online. Uma mensagem de texto seca, por exemplo, como um “ok”, pode ser vista como rude ou mal educada numa conversa virtual. Mas adicione a isso um símbolo sorridente e dificilmente o interlocutor terá a mesma impressão. Segundo o linguista Marcelo Buzato, da Universidade de Campinas (Unicamp), a comunicação mediada por computador tem como característica emular a instantaneidade da fala usando o meio material da escrita. A fala é constituída não apenas de palavras, mas de uma série de outros recursos expressivos que são fundamentais para a produção dos sentidos, como as expressões faciais e os gestos. “Os emoticons e emojis são uma forma de compensar essa lacuna da ‘fala digitada’”, afirma. A escrita humana começou com formas figurativas, que acompanharam a evolução da humanidade. “Os emojis e emoticons são uma manifestação disso. Meio estereotipados, mas legítimos”, diz Marisa Lajolo, professora de literatura da Unicamp e da Universidade Presbiteriana Mackenzie, de São Paulo. Entre a criação da prensa e a popularização da internet, pode haver quem tenha apostado que as imagens estavam destinadas ao desaparecimento na linguagem escrita. Mas a poesia concreta, em que o posicionamento das letras e palavras é usado para formar desenhos, e depois os emoticons e emojis, vieram para mostrar que essa é uma tendência que nunca abandonou a comunicação. Jornalistas e escritores como Vladimir Nabokov (1899-1977), autor de “Lolita”, há muito já davam sugestões de que era necessário incluir um sinal gráfico para expressar sentimentos. Em uma entrevista ao jornal “The New York Times” em 1969, Nabokov disse: “Eu sempre penso que deveria existir um sinal tipográfico especial para o sorriso – algum tipo de marca côncava, um parênteses voltado para cima”. A visão dele tomou vida em 1982, quando o professor Scott Fahlman percebeu que piadas feitas num grupo de discussão online da universidade Carnegie Mellon, nos Estados Unidos, muitas vezes eram mal compreendidas. Ele então sugeriu que mensagens contendo sarcasmo fossem acompanhadas da carinha :-). Não demorou muito para que variações dela surgissem e ganhassem o mundo. Tempos depois, no fim dos anos 90, o japonês Shigetaka Kurita desenhou versões melhoradas dos smileys rudimentares feitos de pontuação para uma marca de celular. Sua ideia também se espalhou rapidamente. Se inicialmente essas figuras surgiram para expressar sentimentos em conversas informais, elas estão ganhando uma importância que poucos imaginariam. Em 2013, a biblioteca do Congresso americano adicionou às suas fileiras o livro “Emoji Dick”, uma adaptação do clássico “Moby Dick”, de Herman Melville. O projeto foi idealizado pelo engenheiro de dados Fred Benenson e contém uma linha de símbolos gráficos para cada linha de texto do escritor original. Ações como o Emojli e o Emoji Dick se alinham ao iConji, cujos fundadores almejam criar uma linguagem única no mundo usando apenas emojis. 5#7 O TITANIC CANADENSE Mergulhadores encontram navio desaparecido há 165 anos no Ártico, desvendando um dos maiores mistérios da arqueologia naval do mundo Helena Borges (helenaborges@istoe.com.br) Um dos maiores mistérios da arqueologia naval do planeta começa a ser desvendado. Arqueólogos e mergulhadores canadenses encontraram, próximo ao Arquipélago do Ártico, um navio britânico de exploração da era vitoriana, desaparecido há 165 anos. As imagens de sonar produzidas pela expedição no estreito de Victoria, no noroeste do Canadá, mostram claramente as ruínas de uma embarcação no solo oceânico. A partir delas, segundo o arqueólogo britânico William Battersby, é possível perceber evidências impressionantes de que as condições marinhas preservaram inclusive restos mortais humanos. “Esse é um momento histórico”, comemorou o primeiro-ministro canadense, Stephen Harper. FOTOGRAFIA - Sonar captou as imagens da embarcação em solo oceânico O mistério começa em maio de 1845, quando o capitão da Marinha real britânica Sir John Franklin partiu da Inglaterra com dois navios: HMS Erebus e HMS Terror. Sua expedição, com 129 homens, buscava novas rotas no território noroeste do Ártico Canadense. Subitamente, o contato foi perdido. Historiadores acreditam que as embarcações se prenderam a uma espessa camada de gelo marinho. Sem notícias dos tripulantes, rumores começaram a circular. Diziam que os integrantes haviam congelado ou atingido um nível tal de fome a ponto de recorrer ao canibalismo. Em desespero, a mulher de Franklin enviou cinco navios para buscá-lo e deixou latas de comida sobre blocos de gelo no caminho, na esperança que o marido as encontrasse. Mais de um século depois, o mistério ainda servia de combustível para lendas. Nos anos 1980, três corpos foram descobertos e apresentavam alta taxa de chumbo, dando margem a especulações sobre envenenamento gerado pelo contato entre os alimentos e as paredes das embalagens de lata por serem mal soldadas. No entanto, pesquisas recentes indicam que a comida das embarcações não era ácida o suficiente para promover esse tipo de reação química e que era mais provável o chumbo ter saído do sistema de tubulação. Cerca de 50 expedições já haviam procurado em vão pelos destroços dos navios. O governo canadense começou a busca em 2008 como parte da estratégia para manter sua soberania sobre a Passagem do Noroeste – rota marítima ligando o Atlântico ao Pacífico através do Arquipélago do Ártico – que recentemente se tornou acessível a embarcações por conta do derretimento das placas de gelo. ________________________________________ 6# MEDICINA E BEM-ESTAR 17.9.14 Treinos turbinados Equipamentos que simulam a prática de esportes e permitem o treinamento de vários grupos musculares ao mesmo tempo, com maior controle dos movimentos e menor risco de lesões, são as novidades que estarão nas academias na próxima temporada Cilene Pereira (cilene@istoe.com.br) Uma nova geração de equipamentos irá mudar a face dos treinos nas academias a partir dos próximos meses. São aparelhos que, entre outras inovações, privilegiam a execução de movimentos mais globais – e não mais focados apenas em um ou dois grupos musculares –, proporcionam maior controle dos movimentos e colocam níveis de desafios mais sofisticados para os praticantes de atividade física. As novidades foram apresentadas durante a última edição da IHRSA Fitness Brasil, feira realizada recentemente em São Paulo. Uma das mais tradicionais do setor, ela é conhecida por apresentar o que há de mais importante em tendências para a área. O que é mostrado por lá normalmente desembarca nas academias rapidamente. VELOCIDADE - Esteira que simula subidas pode ser usada por ciclistas para treinos mais intensos e rápidos A esteira Hi-Tech foi um dos aparelhos que mais despertaram a atenção. Ela simula subidas e descidas – coisa que a maioria já proporciona, é verdade – e permite que o praticante corra de costas. Além disso, pode ser usada por cadeirantes e também por ciclistas, pois sua velocidade chega a 80 km/h. Normalmente, a bicicleta pode alcançar até cerca de 50 km/h. “A esteira que simula subidas e descidas (acima) e outros novos aparelhos trazem muita versatilidade para o treinamento cardiorrespiratório”, afirma Tavicco Moscatello, diretor pedagógico da Fitness Brasil, empresa organizadora da IHRSA. Nessa mesma linha há também o E-glide, um equipamento de spinning em pé. Na verdade, trata-se de uma mistura da conhecida bicicleta de spinning com elíptico. O treino nesse aparelho oferece uma intensidade consideravelmente maior do que na bike comum. Porém, uma das vantagens que mais agradam é a de proporcionar movimentos mais amplos do que no spinning tradicional, com menos riscos de lesões. Conta também a favor do novo equipamento o fato de exigir o trabalho de outros grupos musculares, como os usados para sustentar a posição em pé (das costas e quadril). O recurso pode ser usado tanto nas aulas de spinning como nos modelos circuito, no qual o aluno passa por diversas estações com um tipo diferente de exercício. "Os novos aparelhos trazem muita versatilidade para o treinamento cardiorrespiratório" Tavicco Moscatello, diretor pedagógico da Fitness Brasil Outra tendência de fôlego são os aparelhos que imitam a prática de esportes. Podem ser usados isoladamente, como é o caso do simulador de esqui, ou em aula, a exemplo da proposta que une o equipamento water rower com o treino intervalado de alta intensidade. No simulador, a ideia é possibilitar que o praticante trabalhe glúteos, abdome e coxas, gastando em torno de 800 calorias por hora. Já com o equipamento que permite a execução de movimentos do remo, o objetivo é utilizá-lo como mais um recurso para os treinos nos quais a intensidade é alternada. Entre outras coisas, ele possui um reservatório de água para possibilitar uma simulação precisa do movimento da remada. INOVAÇÃO - O simulador de esqui e a prancha com rodas semelhante ao skate atraem pela novidade e proporcionam alta queima calórica e resultados mais rápidos A ênfase em proporcionar o treinamento de movimentos que integrem grupos musculares também se traduz nas novas aulas a serem adotadas nas academias. Algumas foram apresentadas durante o 16º Congresso Internacional SM Fitness & Wellness, no Rio de Janeiro. Uma delas é o Funcional Board Fitness. O aluno precisa fazer movimentos se equilibrando sobre uma prancha de madeira coberta por material emborrachado, com quatro rodas articuladas em sua parte inferior. Assemelha-se a um skate e aguenta até 120 quilos. “A principal vantagem da prancha instável é que força a ativação da região central do corpo e o equilíbrio, tornando os exercícios mais difíceis. O aluno tem maior gasto calórico e um resultado mais rápido”, afirma o professor de educação física Fernando Fonseca, entusiasta da modalidade. Em aulas de 30 a 40 minutos, é possível perder 880 calorias (homens) e 580 (mulheres). _________________________________________ 7# ECONOMIA E NEGÓCIOS 17.9.14 7#1 DRONES PARA DELIVERY 7#2 ESTÁ ABERTA A TEMPORADA DE CAÇA AOS TRAINEES 7#1 DRONES PARA DELIVERY Corporações como Google e Amazon e até uma empresa brasileira aceleram o desenvolvimento de aeronaves não tripuladas capazes de realizar uma atividade ao mesmo tempo trivial e bilionária: a entrega de encomendas Luisa Purchio (luisapurchio@istoe.com.br) Algumas das grandes invenções que mudaram o mundo – computadores, internet, forno de microondas, GPS, laser e câmeras digitais, para ficar apenas nos exemplos mais marcantes – surgiram nas fileiras militares. A próxima revolução tecnológica criada pela turma de farda ainda não transformou a vida das pessoas, mas isso é apenas uma questão de tempo. Desenvolvidos pelo Exército americano, os drones, aqueles aviões não tripulados comandados por sistemas de comunicação mantidos em terra firme, ganharam fama de máquinas assassinas graças aos ataques dos Estados Unidos em países como Iraque e Afeganistão, mas agora começam a encontrar sua verdadeira vocação: servir ao cidadão comum e gerar oportunidades de negócios para grandes empresas. Duas das corporações mais impetuosas do planeta, Google e Amazon aceleram o desenvolvimento de drones capazes de realizar uma atividade ao mesmo tempo trivial e bilionária: a entrega de encomendas, o famoso delivery. A ideia é que os pequenos aviões transportem produtos de todo tipo (pizzas, livros, roupas, aparelhos eletrônicos, celulares) e os deixem na porta da casa dos consumidores. Parece irrealizável. Não é. FUTURO - Jeff Bezos, presidente da Amazon, com o drone testado pela empresa (acima); a padaria Pão to Go também experimentou seu veículo (abaixo), assim como a pizzaria Domino's, com o DomiCopter (abaixo, à dir.) e o Project Wing, do Google Em parceria com o Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT), o Google desenvolve há dois anos robôs voadores capazes de entregar mercadorias em áreas urbanas. Recentemente, o gigante da internet testou na Austrália, cuja legislação não coíbe experimentos desse tipo, um protótipo de asa única, com 1,5 metros de extensão e 76 centímetros de altura, impulsionado por quatro propulsores que permitem que se movimente em todas as direções. O aparelho transportou e entregou com sucesso vacinas para gado, água, rádios e doces. Na Amazon, o homem por trás de projeto parecido é o próprio Jeff Bezos, que fundou a empresa e a transformou numa das maiores corporações de comércio virtual do mundo. A ideia de Bezos é que os drones transportem pacotes de no máximo 2,3 kg, peso que representa 86% dos pedidos atuais da Amazon. Apesar dos avanços recentes, há uma série de obstáculos antes da utilização comercial dos drones. A questão de segurança é a que mais preocupa. “Precisamos desenvolver um modelo que detecte casas, árvores e postes, mas ainda existem limitações de sensores”, diz Anderson Harayashiki Moreira, professor do Instituto Mauá de Tecnologia. Para os drones funcionarem por mais tempo, seria necessário também aumentar o tamanho das baterias, o que deixaria o veículo mais pesado e diminuiria a sua capacidade de carga. Outro entrave diz respeito aos possíveis desvios de mercadorias e roubos dos equipamentos. Na maioria dos países as aeronaves remotamente pilotadas ainda não são permitidas. Nos Estados Unidos, o Google contratou um dos mais respeitados escritórios de advocacia do país para fazer lobby junto às autoridades pela liberação dos drones. No Brasil, a Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) afirma que a proposta de regulamentação deve ser submetida à audiência pública até o final de 2014. Enquanto isso não acontece, algumas aeronaves são certificadas para voos experimentais sem fins lucrativos e fora de áreas urbanas. Recentemente, uma experiência inusitada foi realizada em São Carlos, no interior de São Paulo. A rede de padarias Pão to Go, que possui mais de cem endereços no País e no exterior, entregou, com um drone, pães, manteiga e biscoitos em um condomínio residencial a cerca de 1 km da unidade. Todos os testes foram bem-sucedidos e a empresa aguarda a autorização da Anac para levar o projeto adiante. Os principais benefícios seriam a diminuição dos gastos com entregas, que seriam feitas sem a necessidade de um motoboy, e a agilidade que só um objeto aéreo é capaz de proporcionar. “Assim que conseguirmos a licença, vamos comprar drones para todas as franquias”, diz Tom Ricetti, fundador e dono da rede. O equipamento que ele testou custou R$ 6 mil e a bateria suporta de quatro a cinco entregas de curtas distâncias. Não vai demorar para você receber pão quentinho – e muitos outros produtos – vindo dos céus. 7#2 ESTÁ ABERTA A TEMPORADA DE CAÇA AOS TRAINEES Grandes empresas dão início ao processo seletivo para a contratação de profissionais recém-formados. Saiba o que fazer e como se preparar para concorrer a uma vaga Por Luisa Purchio (luisapurchio@istoe.com.br) Os atalhos para ingressar nas companhias mais cobiçadas do Brasil estão abertos. Com a desaceleração econômica, passar em um processo seletivo de trainee ficou mais difícil. De acordo com a Cia de Talentos, em 2014 o número de vagas abertas será o mesmo em relação a 2013, quando a empresa mediou a contratação de 1.562 profissionais – 19,4% a menos que em 2012. A boa notícia é que a maioria das vagas ainda vai abrir até o fim do ano. Os programas das corporações incluem salários de, em média, R$ 5,5 mil e benefícios que vão desde treinamentos internacionais a participação nos lucros. Ficar entre os finalistas não é fácil – apenas 0,3% dos candidatos é contratado –, mas alguns conselhos podem ajudar na classificação. “Todo mundo tem um talento que só precisa ser direcionado para se sobressair”, afirma Kleber Piedade, sócio-diretor da Seja Trainee. ______________________________________ 8# MUNDO 17.9.14 8#1 OBAMA PARTE PARA O ATAQUE 8#2 O INIMIGO DESCONHECIDO 8#1 OBAMA PARTE PARA O ATAQUE Após a decapitação de dois americanos, os Estados Unidos anunciam plano para a destruição do Estado Islâmico no Iraque e na Síria Mariana Queiroz Barboza (mariana.barboza@istoe.com.br) Três anos e muitos fios de cabelo branco separam os dois discursos mais relevantes do presidente americano, Barack Obama, em relação ao Iraque. Em 2011, ele se cercou da mulher, Michelle, e de soldados na base militar de Fort Bragg, na Carolina do Norte, para anunciar o plano de retirada das tropas americanas do Iraque depois de quase nove anos de guerra. Era a entrega de uma promessa de campanha. “O futuro do Iraque estará nas mãos de seu povo”, disse. “Estamos deixando para trás um país soberano, estável e autossuficiente.” Na quarta-feira 10, Obama apareceu sozinho na Casa Branca para anunciar uma nova ofensiva no Iraque – é o quarto presidente americano consecutivo a fazê-lo. Desta vez, o inimigo é o Estado Islâmico (EI), grupo extremista que luta para estabelecer um califado na região e que recentemente decapitou dois jornalistas americanos. A ação tem o objetivo final de destruí-lo, o que, se bem-sucedida, só deve acontecer no governo do próximo presidente dos Estados Unidos. EM BUSCA DE APOIO - O presidente Barack Obama tentará formar uma coalizão internacional para combater os jihadistas do Estado Islâmico Na estratégia militar anunciada, os EUA devem enviar mais 475 conselheiros ao local, além de ampliar os ataques aéreos contra os radicais e aumentar o apoio às forças que combatem o EI em solo, leia-se o Exército iraquiano, o curdo e a oposição síria, como já têm feito há meses. No entanto, para Andrew Terrill, professor do Instituto de Estudos Estratégicos do U.S. Army War College, da Pensilvânia, agora é diferente. “Ter um foco mais intenso no EI e a presença maior de conselheiros na região não é o mesmo que fornecer dinheiro e armas. É muito mais eficiente”, disse à ISTOÉ. O envio de tropas americanas, que chegou a 150 mil na guerra iniciada por George W. Bush, não está incluído no plano de Obama. “Nós poderíamos enviar nossos próprios soldados”, afirma Terrill. “Mas, se quando sairmos de lá o Iraque não tiver lidado com seus problemas fundamentais, algo pior acontecerá.” Peter Robert Demant, professor da Universidade de São Paulo, diz que essa foi a maior lição das guerras anteriores. “Em 2003, os americanos planejaram bem a conquista militarmente, mas não planejaram bem uma ocupação prolongada. O que ficou foi uma estrutura fraca demais para se sustentar sozinha”, diz. É na Síria, contudo, que estão os maiores riscos. Primeira intervenção ocidental no país desde o início da guerra civil, em 2011, a ofensiva americana pode ter efeito ambíguo. No ano passado, Obama considerou liderar uma investida para derrubar Bashar al-Assad depois de denúncias de que ele usava armas químicas contra seu próprio povo, mas recuou. Agora os dois veem o EI como um inimigo comum, já que, como Washington, os extremistas querem Assad longe do poder. “Enfraquecê-los poderia ajudar o governo sírio a recuperar território”, diz Austin Long, professor do Instituto de Guerra e Paz Arnold Saltzman, da Universidade de Columbia, de Nova York. A Rússia, que apoia Assad, já avisou que uma intervenção sem o aval do Conselho de Segurança da ONU será uma violação do direito internacional. Nas próximas semanas, Obama usará o fórum para a difícil missão de convencer os russos a não usar seu poder de veto. AMEAÇA - Os guerreiros do Estado Islâmico sequestram, escravizam e decapitam seus inimigos. O objetivo é construir um califado Esse é o último ponto estratégico da nova operação militar. Durante seu discurso, o presidente americano deixou claro que essa não é uma luta isolada dos EUA e que quer trabalhar com uma coalizão internacional que reúna nações com interesses distintos na Europa e no Oriente Médio. A Turquia, dona de uma fronteira com a Síria que é a principal rota de entrada de homens e armas para as milícias jihadistas, deve manter uma postura discreta em relação ao EI. O país teme que uma atitude mais agressiva coloque em risco a vida de seus 49 diplomatas mantidos reféns pelos extremistas e que os curdos que ocupam parte de seu território e reivindicam autonomia sejam beneficiados pelo Ocidente. Mais do que olhar para fora, o Iraque precisa olhar para dentro. Os especialistas são unânimes em dizer que uma eventual derrota do EI depende da formação de um governo mais inclusivo em Bagdá. “O único motivo pelo qual os jihadistas e líderes tribais que sustentam o EI se entendem hoje é que existe uma política excludente”, afirma Andrew Terrill. “Nem todos querem viver sob um califado e uma rígida interpretação da lei islâmica.” Na semana passada, com o apoio dos EUA, o Parlamento iraquiano aprovou o gabinete do novo premiê, Haidar al-Abadi, que promete adotar um programa de descentralização. Sobre o sentimento antiamericano que cresce a cada investida dos EUA no mundo árabe, entretanto, Obama pouco pôde fazer. 8#2 O INIMIGO DESCONHECIDO Terrorismo assusta o Chile: atentados sem autoria definida colocam o país em alerta Às vésperas do aniversário de 41 anos do golpe militar que depôs o socialista Salvador Allende e colocou Augusto Pinochet no poder, o Chile viu a agenda pública mudar o foco da reforma educacional para a segurança do país. Na segunda-feira 8, uma bomba caseira explodiu na estação de metrô Escola Militar, de Santiago, em pleno horário de almoço, deixando 14 pessoas feridas, duas delas gravemente. “Isso é claramente um ato terrorista”, disse a presidenta Michelle Bachelet. Na mesma semana, seu governo acelerou o processo de revisão da lei antiterrorismo para dar um tratamento mais duro aos autores. Dois jovens foram registrados pelas câmeras de segurança colocando os explosivos num cesto de lixo e fugindo em seguida. Até a quinta-feira 11, os suspeitos ainda não haviam sido identificados. A principal desconfiança recai sobre grupos anarquistas. Eles teriam sido responsáveis pela metade dos quase 200 atentados que ocorreram no Chile desde o ataque a um supermercado, em 2005. Segundo a polícia, de 11 indivíduos processados, apenas dois foram condenados e um está preso. O padrão dos ataques inclui explosões durante a madrugada em locais pouco movimentados, como agências bancárias e igrejas – diferentemente do que aconteceu no atentado ao metrô da semana passada. De acordo com as autoridades chilenas, os artefatos são fabricados de forma artesanal, com extintores, pólvora negra e relógio. Na terça-feira 9, foi a vez de uma nova bomba explodir num supermercado em Viña Del Mar, a cerca de 120 quilômetros da capital, onde uma mulher ficou ferida. No dia seguinte, representantes de todos os partidos políticos reconheceram a crescente ameaça à segurança e se reuniram com Bachelet para demonstrar apoio na luta contra o terrorismo doméstico. O tema é especialmente espinhoso para a presidenta, porque a legislação antiterror foi criada durante a ditadura militar para combater os opositores do regime, entre os quais Bachelet se incluía. Durante a campanha eleitoral do ano passado, ela disse que dispensaria o mecanismo para lidar com o conflito indígena mapuche. Agora se vê obrigada a fortalecê-lo, ainda que o inimigo seja desconhecido. ________________________________________ 9# TECNOLOGIA E MEIO AMBIENTE 17.9.14 ELE CRESCEU... E GANHOU COMPANHIA Com o maior pacote de inovações desde a morte de Steve Jobs, os lançamentos do iPhone 6 e do Apple Watch tentam resgatar o encanto que sempre caracterizou a marca da maçã Lucas Bessel (lucasbessel@istoe.com.br) Nenhuma empresa no mundo consegue mobilizar tantos fãs, entusiastas, detratores, mídia e curiosos para um lançamento de produto quanto a Apple. É quase irresistível. Parece que, a cada encontro promovido pela gigante da tecnologia em Cupertino, na Califórnia, algo mágico e super-revolucionário vai sair de uma caixa muito bem guardada. E não é mera questão de adoração cega. A Ferrari, para ficar em apenas um exemplo, tem clientes tão fanáticos pela marca quanto a Apple, mas nem de longe ganha a mesma publicidade espontânea quando apresenta um novo carro. Por que, então, a cada poucos meses, uma parcela do mundo interrompe tudo que está fazendo para assistir a um show de marketing muito bem orquestrado? Boa parte da resposta reside no fato de que os produtos da Apple não são acessíveis a ponto de se tornarem banais nem caríssimos a ponto de serem absolutamente inalcançáveis. E são, acima de tudo, tecnologia útil, intuitiva e compreensível à maioria das pessoas. Entretanto, o fato é que, desde a morte do fundador e showman da Apple, Steve Jobs, em 2011, parte do encanto se desvaneceu numa nuvem de lançamentos pouco inovadores, ameaçados pelo avanço de uma concorrência feroz, especialmente no segmento de smartphones. Com a apresentação do iPhone 6 e de sua versão gigante, o iPhone 6 Plus, na semana passada, a empresa americana tenta resgatar parcela dessa mágica característica. Para isso, conta também com a chegada de seu primeiro dispositivo vestível, o relógio inteligente Apple Watch (confira quadro). Mas será suficiente? CONCEITO - Tim Cook, o substituto de Jobs, tenta mostrar que tem estilo próprio apostando em telas maiores e em um relógio inteligente A mudança mais óbvia do iPhone 6 é o seu tamanho. Contrariando os princípios do próprio Jobs – que nunca foi a favor de celulares com telas muito grandes –, o smartphone cresceu consideravelmente. Na versão “normal” do novo dispositivo, a tela tem 4,7 polegadas, contra as 4 polegadas do modelo anterior, o 5S. Já o iPhone 6 Plus é um verdadeiro gigante com tela de 5,5 polegadas, o que inquestionavelmente o coloca na categoria dos phablets (mistura das palavras inglesas “phone” e “tablet”). Para decepção de muitos, o display não é feito de vidro de safira “inquebrável”, tão especulado nos meses que antecederam o lançamento. Não dá para jogar o telefone de qualquer jeito e esperar que a tela não se estilhace em mil pedacinhos. Ao longo dos anos, a espessura do iPhone também foi gradualmente reduzida: passou de 11,6 mm em 2007 para 6,9 mm em 2014. Nesta nova geração, o desenho do aparelho retomou as bordas arredondadas que marcaram o primeiro iPhone, com linhas contínuas, sem quinas ou interrupções. PRIMEIRO - Steve Jobs conseguiu reinventar a Apple e transformá-la em sinônimo de inovação primeiro com o iPod e, depois, com o iPhone Segundo a Apple, o novo processador do iPhone 6, batizado de A8, é 50 vezes mais rápido do que o primeiro modelo da marca e até 20% mais eficiente do que o antecessor imediato. A empresa também promete qualidade de imagem para jogos superior até mesmo à de consoles de videogame tradicionais. No entanto, em muitos aspectos, na fria comparação de números, o novo iPhone ainda é inferior a concorrentes diretos, como o Samsung Galaxy S5. A tela é menor, assim como as resoluções do display e da câmera principal (confira quadro). Para compensar, a Apple promete um casamento impecável entre hardware e software. O aparelho vem equipado com o novíssimo sistema operacional iOS8 – o programa que “roda” todas as funcionalidades do aparelho. Além disso, tradicionalmente, o iPhone se sai melhor na fotografia e na filmagem do que a maioria dos celulares equipados com o sistema Android, característica que deve ser mantida. O smartphone da Apple agora conta com um recurso chamado “Focus Pixel”, presente nas câmeras digitais profissionais, que melhora significativamente o foco automático. Ele também permite gravar vídeos ao ritmo de 240 quadros por segundo, o que gera fantásticas imagens em câmera lenta. De acordo com o presidente da Apple sucessor de Steve Jobs, Tim Cook, essas melhorias representam “a maior evolução na história do iPhone”. Com o novo produto, a Apple também quer que as pessoas deixem em casa os cartões de débito e crédito e esqueçam as senhas na hora de fazer pagamentos. Ao contrário de seus antecessores, o iPhone 6 conta com o sistema conhecido como NFC, que permite ao smartphone se comunicar com outros dispositivos próximos por ondas de rádio. Por meio dele, a empresa vai implantar o chamado Apple Pay, uma plataforma de pagamentos automática. Basta ao dono do telefone passar o smartphone por um leitor habilitado em qualquer loja e confirmar a operação via impressão digital no próprio celular. Os dados são criptografados e nem mesmo o comerciante tem acesso a eles. Esse tipo de recurso não é exatamente novo. Aparelhos com Android têm NFC há anos, mas nenhum deles conseguiu popularizar os sistemas de pagamento via celular. A impressionante quantidade de parcerias fechadas pela Apple pode ser responsável por dar o empurrão que faltava: vai das principais operadoras de cartões a empresas como Disney, Sephora e Starbucks. Nos Estados Unidos, 220 mil estabelecimentos trabalham com essas transações sem fio. É nesse tipo de força, aliada ao peso da marca ­Apple e aos novos recursos do iPhone, que a empresa aposta para encantar novamente. “Consistência e diferenciação são fatores que tornam uma marca forte, e a inovação foi o que fortaleceu esses critérios em toda a história da Apple”, diz Laura Garcia Miloski, diretora de estratégia da consultoria Interbrand no Brasil. O jogo vai ficar interessante novamente. _________________________________________ 10# CULTURA 17.9.14 10#1 LIVROS - DETETIVES SÃO ETERNOS 10#2 TELEVISÃO - ASSASSINOS EM SÉRIE 10#3 CINEMA - A VEZ DOS HERÓIS DE SEGUNDA LINHA 10#4 EM CARTAZ – CINEMA - FESTIVAL DE BRASÍLIA HOMENAGEIA GLAUBER ROCHA 10#5 EM CARTAZ – BLUE-RAY - OS PENÚLTIMOS DIAS DE LAURA PALMER 10#6 EM CARTAZ – LIVRO - FORÇA DAS CIDADES 10#7 EM CARTAZ – FOTOGRAFIA - TRISTE AMÉRICA 10#8 EM CARTAZ – CD - ARLINDO CRUZ E HERDEIROS 10#9 EM CARTAZ – AGENDA - FILE/CERRADO/8ª 10#1 LIVROS - DETETIVES SÃO ETERNOS Com dois bilhões de livros vendidos, Agatha Christie, a escritora mais lida no planeta, volta a ter o nome estampado em novo romance, depois de liberação inédita pelo herdeiro da continuação da saga do investigador Poirot, seu maior personagem Ana Weiss (ana.weiss@istoe.com.br) Agatha Christie estava limpando o quarto quando pensou pela primeira vez em Hercule Poirot. “Ele seria meticuloso, muito organizado. Um homenzinho metódico”, escreveu a autora sobre a invenção de seu personagem. A partir dali, o pequeno ex-investigador da Scotland Yard seguiria resolvendo os mais impressionantes casos da escritora inglesa que ultrapassou a marca de dois bilhões de volumes vendidos no mundo, sem contar as traduções. Como costuma acontecer com os detetives dos romances policiais, Poirot teve uma vida interessantíssima, encerrada no final dos anos 1930 com sua morte no livro traduzido para o português como “Cai o Pano” (“Courtain”), só lançado em 1975, pouco antes de a autora morrer. FINAL - Agatha Christie havia encerrado a carreira de Poirot em livro publicado às vésperas de sua morte Depois de uma longa negociação com o neto de Agatha Christie, Mathew Prichard, e a HarperCollins, casa editorial da autora, a escritora inglesa Sophie Hannah traz o vaidoso homenzinho de volta à vida com “Os Crimes do Monograma” (“The Monogram Murders”), um thriller perfeitamente no estilo e no tom da Rainha do Crime, que a também poeta – finalista do Prêmio T. S. Elliot – lê desde os 13 anos. O livro de Sophie Hannah (que na edição brasileira tem o nome de Agatha Christie estampado quase no dobro do tamanho do seu) não é o primeiro a recriar um personagem célebre de autor já morto. Detetives quase tão ou mais conhecidos que o investigador belga– James Bond e Sherlock Holmes, por exemplo – têm até hoje suas sagas continuadas pelas mãos de novos escritores e roteiristas, para a alegria de fãs e o engrossamento da renda sobre os direitos autorais, que no caso de Poirot ficam para Mathew Prichard, sorridente em todas as imagens de divulgação do lançamento mundial do novo mistério. Mas poucos renascimentos causaram tantas torções de nariz no Reino Unido como este. Descontados os preciosismos acadêmicos ou a defesa quase fanática de que apenas o autor pode escrever sobre seus personagens, a morte do investigador que se gabava de suas “células cinzentas” não foi uma decisão arbitrária ou um capricho simples de Agatha Mary Clarissa Christie. A escritora decidiu encerrar a carreira de Poirot durante a ascensão nazista. SOPHIE HANNAH - Autora de tramas psicológicas, convenceu a HarperCollins com um rascunho de um mistério que, segundo ela, só poderia ser resolvido pelo personagem de Agatha Christie RAYMOND CHANDLER - Filho de americanos educado em Londres, o ex-soldado, criador do investigador Philip Marlowe, começou a vender seus livros policiais na Grande Depressão Tendo pertencido ao grupo de escritores que escolheu permanecer em Londres durante a Blitz (os bombardeios sistemáticos da Alemanha contra a Inglaterra), a autora, já reconhecida na Europa, terminou de escrever “Cai o Pano”, trancou-o num cofre para que não caísse em mãos inimigas e deixou um documento determinando que ele só fosse publicado depois de sua morte. E, de fato, apesar do declínio criativo detectado pela crítica em seus últimos livros, Agatha Christie só tirou o livro dali para ser publicado na véspera de seu falecimento. O fim de Poirot pelas mãos de sua autora tem por isso, para os críticos ingleses, um significado histórico que não poderia ser contornado, na opinião dela, por uma oportunidade de mercado. A autora discorda. “Seria uma omissão termos continuações de Bond e Holmes e não de Poirot”, disse Sophie Hannah no lançamento. “Os personagens amados não deveriam morrer.” IAN FLEMING - Ex-funcionário da inteligência da Marinha britânica, o autor inglês escreveu na Jamaica quase todas as histórias que conhecemos de James Bond ARTHUR CONAN DOYLE - O médico começou a publicar as aventuras de Sherlock Holmes e do fiel parceiro John H. Watson no final do século 19. Ambos sobreviveram a seu criador em novas histórias O livro é divertido e evoca com minúcia a ambientação dos mistérios de Agatha Christie, como no “Assassinato no Expresso do Oriente” e “O Caso dos Dez Negrinhos”, duas das mais impressionantes atuações de Poirot. A nova trama passa por todos os itens obrigatórios de uma novela policial da Rainha: personagens misteriosas, descritas com um certo humor inglês, em lugares onde cada detalhe pode levar à solução do mistério. Mas Hannah segue com tanto esforço e à risca a escola de Agatha Christie que em alguns momentos o tom do texto soa artificial. E datado. O demérito parece acompanhar mesmo o modelo de reciclagem literária. “A Loura de Olhos Negros” é outro título de um grande escritor que desviou a trajetória para fazer “cover” de um grande ídolo. O romance traz de volta às vitrines das livrarias o investigador particular Philip Marlowe. Foi aplaudido por autores como Stephen King, que o descreve como a perfeita reprodução da melancolia de Raymond Chandler. O autor John Banville, ganhador de um Man Booker Prize por um romance totalmente inventado por ele, assina este novo policial como Benjamin Black. Como se o uso do pseudônimo advertisse o leitor do resultado que, no final das contas – e por mais divertido que seja –, mora ali no limite entre a imitação e o exercício literário. 10#2 TELEVISÃO - ASSASSINOS EM SÉRIE Em novo folhetim, a Globo investe no filão dos serial killers, sucesso no cinema e em seriados estrangeiros. O elenco tem aula com analista criminal para mergulhar na mente do criminoso que mata sem razão aparente Wilson Aquino (waquino@istoe.com.br) Quase 22 anos após o brutal assassinato de sua filha, a dramaturga Glória Perez assina uma minissérie sobre um matador de mulheres – “Dupla Identidade”, que estreia na sexta-feira 19, na Globo. Glória diz que o perfil do protagonista Edu, assassino em série interpretado por Bruno Gagliasso, é bem diferente do de Guilherme de Pádua, responsável pela morte de Daniela Perez, a filha da autora. ESPREITA - O ator Bruno Gagliasso, que interpreta o matador Edu em "Dupla Identidade", queria muito o papel “O assunto da série não são os psicopatas, mas sim o serial killer”, diz. O elemento em comum entre eles estaria na frieza em ceifar vidas sem motivo algum. De importância vital para a trama é o trabalho da analista criminal Vera (Luana Piovani), que auxilia a polícia a identificar o matador de mulheres que aterroriza o Rio de Janeiro e a destrinchar seu perfil psicológico. A Globo resolveu investir em um filão que já teve o sucesso testado pelo cinema e por séries estrangeiras. O personagem de Gagliasso se esconde atrás da máscara de um jovem adorável e trabalhador, que tem namorada (Débora Falabella) e reserva uma noite na semana para trabalhar como voluntário no GAV (Grupo de Apoio à Vida). Edu se torna um assassino frio que submete suas vítimas a torturas físicas e mentais antes de matá-las. O ator diz que tinha um desejo pessoal intenso de interpretar o papel. “Quando fiz o teste, não era apenas isso. Estava me preparando para um personagem que botei na cabeça que era meu”, conta. Luana Piovani vai viver Vera, a investigadora que precisa conhecer a mente dos assassinos que não aparentam nenhuma incorreção e, no entanto, cometem violências repetidamente, muitas vezes e quase sempre por longos anos. Ela e o restante do elenco tiveram aulas com a analista criminal Ilana Casoy, responsável pela solução de dezenas de casos do tipo. “Acho fundamental que a TV brasileira abra espaço para essa realidade pouco compreendida dos serial killers no País”, diz a também escritora, amiga pessoal de Glória Perez há 12 anos. “Aqui ainda é muito comum, por exemplo, que dados como um exame de DNA sejam ignorados durante uma investigação por conta de um testemunho em outra direção”, diz ela. “A Glória conhece muito bem esse universo, mas foi importante mostrar para os atores como o verniz social sob o qual ele se esconde beira a perfeição”, diz a especialista, que é, no dia a dia, o que Luana será em “Dupla Identidade”. 10#3 CINEMA - A VEZ DOS HERÓIS DE SEGUNDA LINHA Personagens coadjuvantes ou esquecidos que fracassaram nos quadrinhos estouram as bilheterias dos cinemas e ganham séries exclusivas na tevê Daniel Solyszko (daniel@istoe.com.br) Responsáveis por algumas das maiores bilheterias da história, as milionárias franquias de super-heróis chegaram a um impasse. “Batman” e “Homem-Aranha” viram suas histórias de vida rebobinadas diversas vezes. Idas e voltas a passados e futuros remotos esticaram a saga dos “X-Men”. Esse superuso dos personagens está levando empresas como a Marvel a desenterrar personalidades malsucedidas dos quadrinhos, que se tornaram sucesso na telona. REDENÇÃO - Pouco conhecidos nos quadrinhos, os "Guardiões da Galáxia" são a maior bilheteria do ano nos EUA “Guardiões da Galáxia” fez US$ 586 milhões em bilheterias no mundo todo, com US$ 295 milhões apenas nos EUA, o filme mais lucrativo do ano até agora. No Brasil, o longa-metragem rendeu R$ 35 milhões, a 14ª bilheteria de 2014. Uma continuação já está nos planos para 2017. A Marvel, estúdio responsável, também está produzindo “Homem Formiga”, com previsão de estreia para julho de 2015, e aprovou o roteiro para cinema de “Inumanos”. A Netflix, serviço por assinatura de filmes pela internet, fechou um acordo com o estúdio para a produção de quatro séries de baixo orçamento, que devem estrear simultaneamente em 2015: “Demolidor”, “Jessica Jones”, “Punho de Ferro” e “Luke Cage”. Outro que ganhou uma série é “Constantine”, personagem menor da DC Comics, com estreia prevista para 24 de outubro no canal NBC, nos EUA. Para o ilustrador e professor de quadrinhos Klebs Júnior, o mercado cinematográfico funciona em ciclos, e a demanda no momento é por mais adaptações. “HQs são a onda da vez, e por isso eles acabam procurando tramas secundárias”, diz ele, que agencia desenhistas brasileiros que atuam na Marvel e na DC. Klebs explica que a maioria desses heróis teve seus títulos cancelados em papel por terem sido ignorados pelo público. “Alguns já foram reformulados em 15 ou 20 ocasiões”, diz. Como fonte de inspiração para Hollywood, pelo menos, a quantidade de heróis do segundo escalão deve continuar se multiplicando nas telas durante os próximos anos. 10#4 EM CARTAZ – CINEMA - FESTIVAL DE BRASÍLIA HOMENAGEIA GLAUBER ROCHA Mais antigo evento dedicado ao cinema nacional, o Festival de Brasília chega a sua 47ª edição por Ana Weiss com Daniel Solyszko Mais antigo evento dedicado ao cinema nacional, o Festival de Brasília chega a sua 47ª edição. A maratona começa na noite de 16 de setembro, com uma homenagem aos 50 anos de “Deus e o Diabo na Terra do Sol”, de Glauber Rocha, que será exibido em cópia restaurada. Obra-chave do cinema novo, o filme mistura canções folclóricas e temas da literatura de cordel para narrar a história do casal Manoel e Rosa no sertão nordestino. Perseguidos por Antônio das Mortes após matarem um coronel, os dois entram para uma seita religiosa antes de se tornarem cangaceiros. O festival reúne nesta edição 60 filmes. Duas mostras paralelas fecharam suas grades para lembrar dos 50 anos do golpe que deflagrou a ditadura militar. “Reflexos do Golpe” concentra filmes produzidos durante o regime e “Luta na Tela”, produções contemporâneas que retratam o período. +5 destaques da edição O Caso Dos Irmãos Naves Clássico de Luiz Sérgio Person sobre dois irmãos injustamente presos e torturados durante o Estado Novo Brasil S/A No filme do pernambucano Marcelo Pedroso, trabalhador rural abandona o corte da cana para sair em uma missão espacial Sem Pena Documentário de Eugenio Puppo sobre os problemas enfrentados pela população carcerária brasileira As Canções Última obra de Eduardo Coutinho, em que diferentes pessoas revelam histórias de vida ilustradas por canções populares B-Flat Curta-metragem de Mariana Youssef em que indiano retorna à terra natal após 40 anos para visitar um amigo à beira da morte 10#5 EM CARTAZ – BLUE-RAY - OS PENÚLTIMOS DIAS DE LAURA PALMER por Ana Weiss com Daniel Solyszko Criada em 1990 pelo cineasta David Lynch, “Twin Peaks” marcou o momento em que as séries de TV passaram a se ocupar do suspense. Em uma cidade perto da fronteira com o Canadá, a colegial Laura Palmer é encontrada morta. A investigação revela os segredos da comunidade local, que por trás de uma fachada tranquila esconde uma rede de tráfico de drogas e prostituição. Nova caixa da Paramount reúne todos os episódios mais o longa-metragem “Twin Peaks: Os Últimos Dias de Laura Palmer”. Cerca de 90 minutos de cenas inéditas mostram o que teriam sido os dias anteriores aos momentos finais da vida da colegial. 10#6 EM CARTAZ – LIVRO - FORÇA DAS CIDADES por Ana Weiss com Daniel Solyszko As novas formas de ocupação das grandes cidades guardam as chaves para as próximas décadas do planeta. Passando pelo aspecto espacial e urbano, e também pelo alcance político de mudanças em metrópoles como Nova York, São Paulo, Mumbai e Pequim, David Harvey, um dos maiores nomes da geografia humana, analisa em “Cidades Rebeldes” da Comuna de Paris até o Movimento Occupy Wall Street para refletir sobre como a vida urbana poderia ser socialmente mais justa e ambientalmente mais saudável. 10#7 EM CARTAZ – FOTOGRAFIA - TRISTE AMÉRICA por Ana Weiss com Daniel Solyszko Walker Evans especializou-se em retratos da vida cotidiana nos EUA, tendo como personagens fazendeiros do Alabama ou passageiros do metrô de Nova York. Com um estilo realista, o fotógrafo registrou o ambiente do seu país durante a Grande Depressão, razão de ser comumente comparado ao pintor Edward Hopper. O 11º volume da coleção“Photo Poche”, lançado pela Cosac Naify, reúne algumas das suas principais fotos em formato de bolso, com texto do historiador Gilles Mora, fundador dos “Cahiers de la Photographie”. 10#8 EM CARTAZ – CD - ARLINDO CRUZ E HERDEIROS por Ana Weiss com Daniel Solyszko Um bom partideiro só chora versando, perpetuou o sambista Candeia (1935 - 1978) em “Testamento de Partideiro”. O carioca se tornou padrinho musical de Arlindo Cruz, com quem dividiu rodas de samba morro acima. Como o mestre, Arlindo ensina os mais jovens como se faz sambas românticos em “Herança Popular”, primeiro disco exclusivamente de composições suas para o qual se cercou de gente como Marcelo D2, Mr. Catra e Zeca Pagodinho. Herdeiro da mais nobre linhagem de sambistas, ele sabe que, como chorou Candeia, um bom samba é forma de oração. 10#9 EM CARTAZ – AGENDA - FILE/CERRADO/8ª Confira os destaques da semana por Ana Weiss com Daniel Solyszko File (Fiesp, em São Paulo, até 5 de outubro) Em sua 15ª edição, a mostra de arte digital apresenta 28 instalações de artistas de 12 países Cerrado – Uma Janela para o planeta (CCBB, em Brasília, até 19 de outubro) Dividida em três grandes módulos, a exposição mostra a diversidade natural e cultural da região 8ª Mostra do Fomento à Dança (Nove espaços diferentes, em São Paulo, até 28 de setembro) Companhias de dança contemporânea se apresentam gratuitamente do centro da cidade a bairros da periferia ______________________________________ 11# A SEMANA 17.9.14 por Antonio Carlos Prado e Elaine Ortiz "SEDATIVOS ELEVAM CHANCE DE DEMÊNCIA" Idosos que fazem uso regular (por mais de três meses) de remédios benzodiazepínicos têm 51% mais chances de desenvolver demência e doença de Alzheimer do que pessoas que nunca recorreram a esses remédios. E aqueles que tomam por mais de seis meses têm risco dobrado, segundo estudo publicado na semana passada na edição online da revista científica “British Medical Journal”. Fazem parte dessa classe de substâncias os remédios lorazepam, diazepam e alprazolam, prescritos pelos médicos para domar a ansiedade e induzir o sono. "SCHUMACHER CONTINUA TRATAMENTO EM CASA" A torcida do expiloto de Fórmula 1 Michael Schumacher sempre esteve acostumada a vibrar com suas vitórias nas pistas. Agora continua torcendo pelo heptacampeão, mas por sua recuperação do acidente de esqui sofrido em dezembro nos Alpes Franceses que o deixou em coma durante seis meses. Na semana passada, a boa notícia: ele recebeu alta do Centro Hospitalar Universitário de Vaud (CHUV), onde estava internado na Suíça, e foi transferido para sua residência. No local, uma equipe de 15 pessoas o monitora integralmente e terapeutas realizam um trabalho de estímulos motores e cognitivos. "R$ 3 MILHÕES" R$ 3 milhões é quanto um inglês desembolsou para apostar que a Escócia irá permanecer no Reino Unido no plebiscito que vai decidir o futuro do país na quinta-feira 18, apesar de pesquisas indicarem que há mais chances de a independência ser consagrada na votação. Trata-se do mais alto palpite já registrado em uma casa de apostas para um evento político. "UM NOVO ALTAR PARA A GRÃ-BRETANHA" Arqueólogos do Instituto Ludwig Boltzmann, de Viena, e da Universidade de Birmingham, na Inglaterra, anunciaram a descoberta de novas rochas a menos de três quilômetros de Stonehenge, o místico e famoso círculo de pedra no Reino Unido, cuja construção data de 3.100 a.C. Agora conhecido como Durrington Walls, o monumento é formado por mais de 50 pedras maciças encontradas quatro metros abaixo da terra. Esse se tornou o maior “henge” pré-histórico da Grã-Bretanha e tem 12 vezes o tamanho do próprio Stonehenge. Os cientistas acreditam que elas foram levadas ao local em torno de 2.500 a.C. e que compunham um altar em formato de “C”. Também foram encontrados 20 poços para rituais e 17 monumentos religiosos da Idade do Bronze e do Neolítico. "PARA JOGAR COM A MÃO ESQUERDA" Restou ao Partido Comunista da China apelar para o bom humor para ver se pelo menos assim consegue melhorar sua imagem perante a população e o mundo. Diante dos recorrentes escândalos de corrupção e exclusão de membros do alto escalão do partido, que culminou em uma das maiores crises da instituição desde a sua formação, uma inusitada estratégia foi colocada em prática na semana passada na tentativa de promover a alta liderança para os chineses: um baralho com a caricatura de membros do comitê central está em circulação em todo o país. Na foto, da esquerda para a direita, os vicepresidentes da Comissão Militar Central, Xu Qiliang e Fan Changlong, e o ministro da Defesa, Chang Wanquan. "O FIEL E DEDICADO BANQUEIRO" Morreu na terça-feira 9, em Madri, um dos homens mais influentes da economia mundial: Emilio Botín Sanz de Sautuola García de los Ríos. Dedicou sua vida a uma única empresa, o Banco Santander. De representante dos serviços centrais à presidência da instituição financeira, o principal executivo e máximo acionista desenvolveu uma trajetória de 55 anos de árduo trabalho que levou o Santander à posição de maior banco da Espanha e um dos dez maiores do mundo. Foi dele também a agressiva estratégia de expansão internacional que garantiu ao grupo forte presença em mercados asiáticos, europeus e latino-americanos.No Brasil, o Santander é hoje o quarto maior banco – atua no País desde 2000, quando adquiriu o Banespa por R$ 7 bilhões. Emilio Botín foi vítima de um ataque cardíaco aos 79 anos. Um dia após sua morte, Ana Patricia Botín, uma de suas filhas, que já dirigia a filial britânica da companhia, foi nomeada presidente do grupo por unanimidade. "CANDIDATO AO GOVERNO DO AMAZONAS VISITA EDITORA TRÊS" O senador do PMDB Eduardo Braga (primeiro à dir.), candidato ao governo do Amazonas, visitou na quinta-feira 11 a Editora Três, onde foi recebido pelo presidente executivo Caco Alzugaray (segundo à esq.). "US$ 33,7 BILHÕES" US$ 33,7 bilhões é quanto sai do Brasil anualmente em dinheiro sujo, ligado ao crime, à corrupção e à evasão de impostos. A emissão ilegal de divisas para o exterior equivale a 1,5% da produção econômica brasileira. os dados são da Global Financial Integrity. "ESCLARECIMENTO" Diferentemente do que foi dito na matéria “O ministro da Pesca e sua ONG Pesqueira”, de 10/05/2013, Marcelo Crivella (PRB), candidato ao governo do RJ, não utilizou a estrutura do Ministério da Pesca e Aquicultura para projetos da Fazenda Nova Canaã, em Irecê (BA), idealizada e mantida com recursos exclusivamente privados e das vendas dos seus CDs. "O PREÇO PELA QUALIDADE DA EDUCAÇÃO" Apesar de ter havido um aumento no total de universitários ingressantes nas faculdades brasileiras, o número de estudantes que concluem o ensino superior no País caiu pela primeira vez em dez anos. Hoje há um formando (36%) para cada três alunos ingressantes, enquanto em 2009 essa proporção era de 46%. Um olhar mais atento aos dados do Censo do Ensino Superior revela que os números, na verdade, podem representar o preço que se paga pela busca no aumento da qualidade no ensino superior no Brasil. Pelo menos foi essa explicação que o ministro da Educação, Henrique Paim, usou para justificar a queda no número de diplomados. Para ele, a redução de formandos nada mais é do que o impacto de uma série de ações de supervisão e regulação realizadas pelo MEC há cinco anos, como a suspensão de processos seletivos, o fechamento de cursos e o descredenciamento de instituições. “Tão importante quanto a expansão do ensino é o cuidado com a qualidade”, disse. "PERDEU O OLHO E A CULPA É DELE" A Justiça de São Paulo reformou a sentença que havia condenado o Estado a pagar indenização no valor de 100 salários mínimos ao repórter fotográfico Alexandro Wagner Oliveira da Silveira (foto), atingido no olho esquerdo por uma bala de borracha disparada pela Tropa de Choque da Polícia Militar durante um protesto de professores em 18 de julho de 2000. A justificativa do relator Vicente de Abreu Amadei é de que a conduta dos manifestantes explica a reação da polícia e, portanto, errado estava o profissional ao colocar-se em situação de perigo, sendo “dele a culpa exclusiva do lamentável episódio do qual foi vítima”. O absurdo da sentença é pretender dar a juízes a prerrogativa de determinar onde um repórter fotográfico deve estar ou não durante o exercício de seu trabalho. Os advogados de Silveira pretendem recorrer da decisão. "O NOVO MÍSSIL DE PUTIN" O presidente da Rússia, Vladimir Putin, continua afirmando que nada tem a ver com o conflito separatista do leste da Ucrânia, apesar de seus soldados já terem sido capturados no país vizinho e de imagens de satélites revelarem a incursão de tanques russos pelas fronteiras – o que fez a União Europeia e os EUA implementarem uma série de sanções contra o país, ampliadas na sexta-feira 12. Mesmo assim, Putin decidiu que agora era o momento apropriado para testar um novo artefato de guerra. Na semana passada, lançou com sucesso o míssil intercontinental Bulava de um submarino. A arma tem 12 metros de comprimento e é capaz de provocar uma explosão nuclear até 100 vezes mais potente do que a bomba atômica que atingiu Hiroshima em 1945. “Precisamos de uma avaliação confiável e completa das ameaças potenciais à segurança da Rússia. Para cada ameaça será encontrada uma resposta adequada”, justificou. EFEITO ESTUFA BATE RECORDE EM 30 ANOS" A concentração de gases que provocam o efeito estufa na atmosfera bateu recorde em 2013: desde 1984 não se registrava taxa tão elevada de dióxido de carbono (CO2) no ar. O volume de poluição chegou a 396 partes por milhão, um aumento de 2,9 partes por milhão em apenas um ano. Uma das consequências das emissões é o aumento da taxa de acidez dos oceanos, o que prejudica a biodiversidade marinha. Os dados são da Organização Meteorológica Mundial (OMM). "O HERÓI É ASSASSINO" O atleta Oscar Pistorius fez história em 2012 ao se tornar o primeiro biamputado a disputar uma Olimpíada. Foi com muita dificuldade e determinação que conseguiu superar suas limitações físicas e se tornar um ídolo do esporte. Um ano depois da glória, porém, revelou-se um outro Pistorius. Em 14 de fevereiro de 2013, matou a tiros a sua namorada, a modelo Reeva Steenkamp. Na sexta-feira 12, o velocista foi considerado culpado e poderá ser condenado a até 15 anos de prisão por homicídio culposo, quando não há intenção de matar. A juíza Thokozile Masipa, do Tribunal Superior de Pretória, na África do Sul, absolveu o atleta do crime de homicídio doloso, como era pedido pela promotoria, o que o livrou da pena mais dura da legislação sul-africana: a prisão perpétua. Pistorius sempre afirmou ter disparado por medo ao confundir a ex-namorada com um ladrão em sua casa. "UMA FERRARI DE US$ 38,1 MILHÕES" Pagar US$ 38,1 milhões por um carro de 1962 é coisa para colecionador dos mais apaixonados (e endinheirados). Uma Ferrari 250 GTO Berlinetta foi adquirida no leilão americano da Bonhams Quail Lodge pela cifra milionária – 28% mais alta do que o recorde de venda anterior de US$ 29,7 milhões pago por um carro de corrida da Mercedes-Benz no ano passado. A valorização não é para menos: apenas 32 Ferraris do imponente modelo foram produzidas entre 1962 e 1964.