0# CAPA 13.8.14 ISTOÉ edição 2333 | 13.Ago.2014 [descrição da imagem: foto da cidade de Miami, onde aparecem prédios, palmeiras, carros, parte do mar e uma lancha] COMO VIVER EM MIAMI FLORIDA O que é preciso para morar na capital do sol e das compras [parte superior da capa] CERCO AO EBOLA O Brasil e o mundo se preparam para se proteger do mortal vírus. _______________________ 1# EDITORIAL 2# ENTREVISTA 3# COLUNISTAS 4# BRASIL 5# COMPORTAMENTO 6# MEDICINA E BEM-ESTAR 7# ECONOMIA E NEGÓCIOS 8# MUNDO 9# TECNOLOGIA E MEIO AMBIENTE 10# CULTURA 11# A SEMANA _____________________________ 1# EDITORIAL 13.8.14 "A DISPUTA ENTRE 'PESSIMISTAS' E 'OTIMISTAS'" Carlos José Marques, diretor editorial No Brasil de hoje a discussão sobre pessimismo ganhou conotações puramente políticas. Não se trata de um justificável estado de espírito movido pelas circunstâncias, pelos cenários pouco favoráveis, pelas estatísticas negativas (que são muitas) ou pela ausência de perspectivas quanto a uma retomada do País no curto prazo – variáveis que qualquer especialista normalmente levantaria para justificar o ânimo geral captado em pesquisas de opinião e nas manifestações de rua de uns tempos para cá. Ser pessimista é estar contra o governo e sua condução econômica propriamente dita. Simples assim. “Não há por que ser pessimista!”. É o que vendem coordenadores da campanha oficial por esses dias, lançando o placebo da conversa fácil como espécie de antídoto ao mau humor e às críticas crescentes. Reeditam dessa maneira o velho jargão do “xô, baixo astral”, sem oferecer reais alentos para a guinada de opinião da massa de insatisfeitos e desvalidos. Virou bandeira de palanque reclamar do pessimismo. Os pessimistas são os inimigos e martelar o combate a tamanha praga será o maior foco das baterias de ataque petista nos programas do horário eleitoral gratuito. O Brasil vai dar certo em um eventual segundo mandato porque “o Brasil é o Brasil” – um mantra que, caso transportado para o mundo do futebol, seria comparável à crença de que a seleção canarinho sairia campeã apenas com o “peso da camisa”. E quem pensar o contrário, tanto em um caso como no outro, que assuma inapelavelmente a pecha de pessimista. Decorre daí que ganham passe livre nas fileiras dos otimistas aqueles que apostam numa reviravolta, numa mudança rápida e indolor das condições gerais da Nação por pura inércia, com um simbólico voto na urna pró-continuidade. No pêndulo das expectativas, “pessimistas” e “otimistas” travam ali a guerra para ver quem leva a melhor. Oposicionistas culpam a política econômica pelo pessimismo. Aliados do poder atribuem o mal aos propagadores da ideia do “quanto pior, melhor”. Os realistas não têm vez nessa disputa. ________________________________________ 2# ENTREVISTA 13.8.14 ROMÁRIO - "NÃO ERA HORA DE O DUNGA VOLTAR" O ex-craque afirma que o novo técnico da Seleção representa uma mentalidade antiga no futebol e, candidato ao Senado pelo PSB, diz ter aceito a coligação com o PT no Rio por ordem do seu partido por Helena Borges DESTAQUE - "Acharam que eu era mais uma 'personalidadezinha' no Congresso", diz ele O ex-jogador Romário, 48 anos, sempre aparece como atacante, mesmo que seu campo de atuação não seja o futebol, mas sim a política, como agora. Deputado federal pelo PSB-RJ e candidato ao Senado em coligação ambígua que une o PT de Lindbergh Farias (que disputa o governo do Estado do Rio de Janeiro) e Eduardo Campos, postulante a presidente da República pelo seu partido, ele passou a evitar críticas à presidenta Dilma Rousseff. "Sei que a CBF é privada, mas ela é diferente porque usa o hino, o escudo, a paixão, o patrimônio cultural e esportivo nacional" O “baixinho”, como é conhecido, recebeu ISTOÉ entre a piscina e a churrasqueira de uma das suas centrais de campanha, uma casa de condomínio na Barra da Tijuca, zona oeste do Rio. Um dos maiores críticos da Copa, Romário não poupou nem Dunga, seu companheiro na conquista do tetracampeonato de futebol há 20 anos, e agora mira os jogos olímpicos. “A Olimpíada está indo para o mesmo ralo. Estão gastando com coisas que não era para gastar.” "O Nuzman (presidente do Comitê Olímpico Brasileiro) só tem mais quatro anos. Espero que o próximo não seja da mesma quadrilha, do mesmo bando" Istoé - O sr. é o candidato ao Senado com maior intenção de voto no Rio. Esperava esse resultado? Romário - Quando ganhei para deputado federal, em 2010, pensei: “Agora minha vida será totalmente diferente. Caí de paraquedas e, tenho certeza, 80% das pessoas não tinham noção exata de onde eu poderia chegar e o que eu poderia fazer. Era tido como mais uma ‘personalidadezinha’ que, como outros, nada faria. Então, chamei as melhores pessoas para trabalhar comigo em um grande grupo, e esse é o ponto mais forte da experiência positiva que tive. Fui uma decepção para quem pensava que eu seria mais um. Hoje, falam: “Poxa, você me surpreendeu...” Na verdade, eu também me surpreendi. Não esperava pegar essa coisa da política em tão pouco tempo. Istoé - É difícil para um deputado de primeiro mandato se sobressair? Romário - Muitos deputados novos passam por esse momento de constrangimento. Trabalhamos mais de um mês em cima de um projeto e aí não anda, fica parado em alguma comissão, e você se angustia. É complicado. Sou um cara combativo, falo coisas que machucam e incomodam muita gente. Por isso, muitos projetos meus estão parados em comissões. Tenho certeza de que o mesmo acontece com outros, não sou o único bom político que existe no País ou no Congresso. De qualquer forma, não desanimo. Istoé - Tem vontade de trabalhar no Executivo? Romário - Hoje meu objetivo é o Senado, mas tenho vontade de, um dia, ser prefeito do Rio de Janeiro. Istoé - Como vê as coligações partidárias? Romário - São boas ou ruins, dependendo do caso. Vou dar o meu exemplo. As pessoas não entenderam minha coligação com o PT. Por tudo que venho falando, mais especificamente sobre os gastos dos grandes eventos, questionaram: “O cara fala mal do PT e se aliou ao PT”. É claro que o PT é o mesmo, nacional ou estadual, mas fizemos uma frente popular porque entendemos que é essa a forma de tentar mudar a política do Rio. Istoé - Por esse objetivo vale até se unir a pessoas de quem discorda? Romário - É preciso de legenda para ser político. A partir do momento em que algo é decidido pela direção do partido, você tem que dançar conforme a música, ou não te dão a legenda. Por mais que hoje eu entenda essa aliança como positiva, estou torcendo por uma reforma política para termos independência. Conheço políticos que tiveram quase 100 mil votos e não foram eleitos e outros de três mil votos foram eleitos. Istoé - Como avalia o andamento do projeto que cria a Lei de Responsabilidade Fiscal no esporte? Romário - Para a relatoria do Otávio Leite (deputado federal do PSDB-RJ, autor do projeto), de 1 a 10, eu daria 9. Mas, quando a lei seguiu para a comissão, foi quebrada. Tiraram artigos que exigiam responsabilidade fiscal da CBF. A possibilidade de, como punição, os clubes abrirem um liga independente também foi retirada. Sei que a CBF é privada, mas é 100% diferente das outras empresas, porque usa o hino, o escudo, a paixão, o patrimônio cultural e esportivo nacional. E o mais importante: a nossa matéria-prima. Por que não pode manter um fundo para o futebol de base, como estava no projeto? Por mais que ela pague seus impostos, me parece natural. Por que não? É uma das empresas privadas que mais ganham com patrocínio público. Mas existe a bancada da CBF, deputados que não estão nem aí para o que é bom para o esporte, que levam direta ou indiretamente da CBF ou de outras instituições, e não deixam esses artigos passarem. Istoé - Qual é a origem da sua raiva pela CBF? Romário - Todas as vezes que me virem falando a respeito de alguma situação é porque tenho dados para isso. Se chamo o presidente da CBF, José Maria Marin, de ladrão, é porque ele é ladrão mesmo. Roubou medalha, roubou energia do vizinho, terreno da prefeitura. É ladrão, ué! Istoé - O sr. fez duras críticas à Copa do Mundo no Brasil. O Mundial não teve pontos positivos? Romário - Nunca fui contra a Copa. Quando a Fifa deu ao Brasil a posição de país-sede e perguntaram se o País tinha condições de fazer uma boa Copa, fui além e respondi que não só tinha condições como faria a melhor Copa. No período que antecedeu a entrega do evento ao Brasil, o ex-presidente da CBF Ricardo Teixeira e o próprio Lula disseram que o investimento seria 90% privado e no máximo 10% de dinheiro público. Foi totalmente diferente. Não é concebível gastar quase R$ 3 bilhões com dois estádios, o Mané Garrincha, em Brasília, e o Maracanã. O orçamento era de R$ 26 bilhões, o que já é um absurdo, e chegou a quase R$ 32 bi. E ainda tem gente achando que a Copa do Mundo foi positiva. Istoé - Não teve legado? Romário - O maior legado de todos foi imaterial. O mundo conheceu o verdadeiro brasileiro: hospitaleiro, carinhoso, receptivo. Esse é o legado que a Copa deixou. Qual outro? Nenhum. Por mais que tenha sido vergonhosa nossa derrota de 7 a 1 para a Alemanha, ela reacendeu no Congresso a obrigatoriedade de mudança. Conversei esses dias com o pessoal do Bom Senso Futebol Clube. Eles estão com ideias que vamos colocar na Lei de Responsabilidade Fiscal por meio de emendas. Quando elas passarem, poderei afirmar que o Brasil vai começar a dar passos para a frente. Por exemplo: tem muito jogador que fica três, quatro meses sem receber e não acontece nada. Não pode. Os clubes têm de entender que agora as administrações que não são profissionais não cabem mais no futebol. Istoé - Apesar do clamor por mudanças, temos Dunga de volta à Seleção. O que achou da escolha? Romário - Não era a hora de o Dunga voltar. Até esperava que ele voltasse um dia para a Seleção, mas esse momento é de mudanças radicais, de coisas novas e diferentes. Por mais que eu o respeite e tenha grande carinho, ele representa uma mentalidade que já passou. Não tenho um nome para dizer, mas, com certeza, teria alguém no País com ideias diferentes para levar à mudança de atitude. Mas, por exemplo, um Gilmar Rinaldi, coordenador de seleções, tem uma empresa de direcionamento de jogadores, é agente Fifa... O cara não pode ser da Seleção. Não bate, não combina. Istoé - Há informações de que Dunga já agenciou jogadores também. Romário - Isso aí é mais uma prova de que não é correto, não está legal. Não é o momento do futebol para ter isso. Desejo ao Dunga boa sorte, mas vai ser difícil fazer a mudança. Istoé - O tetra acaba de fazer 20 anos. Como essa experiência marcou sua vida? Romário - Foi uma reviravolta no nosso futebol. Estávamos há 24 anos com aquela coisa da seleção de 1970, de que o Pelé era, e sempre vai ser, o grande nome do futebol mundial. Em 1982 e em 1986, formaram-se dois grandes times e acabaram perdendo, então existia uma descrença. A gente mostrou que não precisa ser só técnico para ganhar a Copa do Mundo, tem que ter um grupo imbuído com o objetivo de ganhar. Tínhamos algumas deficiências técnicas dentro do time em si. Comparando aos times de 1970, de 1982 ou de 1986, e até mesmo em comparação ao time campeão de 2002, o nosso era tecnicamente inferior aos outros, taticamente também, mas sabíamos que só ganharíamos em conjunto. Istoé - A CBF elegeu seu próximo presidente antes da Copa. O que achou desse movimento? Romário - Eles anteciparam a eleição para que o presidente que assumir no ano que vem não seja o perdedor da Copa do Mundo em casa. Até eles já imaginavam que não iriam ganhar. Mais um problema: uma entidade como a CBF não ter mais de um candidato para concorrer. Os caras manipulam, pagam, usam a corrupção e o poder para fazer com que não tenha concorrente. Se a eleição fosse em outubro, como é o normal, nesse movimento atual por uma renovação do futebol, com certeza apareceriam outros nomes. Istoé - Podemos usar a experiência da Copa na preparação da Olimpíada? Romário - Devemos! Mas a Olimpíada já está indo para o mesmo ralo. Já estão gastando com coisas que não tem que gastar. Tanto que o Comitê Olímpico Internacional (COI) colocou um representante deles no Rio para acompanhar. É uma vergonha. Mostra que o Brasil não tem capacidade e profissionais para realizar um grande evento. E até tem, só que esses com capacidade não são os escolhidos, porque não estão no meio da corja, da quadrilha. Istoé - O Comitê Olímpico Brasileiro (COB) também está na sua mira? Romário - Vamos ter que provocar futuramente uma nova briga, no bom sentido, para mudar algumas coisas dentro do COB. Não pode continuar como está. Veja as federações, primeiro a do vôlei e agora a do futsal. É um escândalo em cima do outro. Menos mal que o (Carlos Alberto) Nuzman (presidente do COB) vai sair. Há uns meses saiu uma medida provisória dizendo que as entidades esportivas que recebem direta ou indiretamente dinheiro de algum ente estatal vão ter que fazer eleições de quatro em quatro anos. Então ele só vai ter mais quatro anos antes de aparecer outro. Espero que o próximo não seja da mesma quadrilha, do mesmo bando. Porque na CBF entrou um, saiu outro e ficou tudo na mesma. _____________________________________ 3# COLUNISTAS 13.8.14 3#1 RICARDO BOECHAT 3#2 LEONARDO ATTUCH - OS BRICS E A NOVA REVOLUÇÃO RUSSA 3#3 PAULO LIMA - AH, MOLEQUE! 3#4 GISELE VITÓRIA 3#5 ANTONIO CARLOS PRADO - A DOSE A MAIS DE HIV 3#6 BRASIL CONFIDENCIAL 3#1 RICARDO BOECHAT Com Ronaldo Herdy Indisponível Enquanto o PT e o PMDB brigam em Brasília pelo controle da CPI do Metrô de São Paulo, a Procuradoria-Geral da República emitiu na quarta-feira 6 parecer pela manutenção do sequestro de bens e de contas no Exterior dos 19 envolvidos no Caso Alstom, pessoas físicas e jurídicas. O documento está com o ministro Og Fernandes. A 2ª Turma do STJ analisa o suposto esquema de pagamento de propinas na área de energia do governo paulista entre 1998 e 2002. Eleições Termômetro político Se a campanha política não empolga ainda os eleitores no Rio de Janeiro, um recurso eletrônico quer atrair audiência para o primeiro debate entre candidatos ao Palácio Guanabara, a ser transmitido pela Band Rio na quinta-feira 14. Em época de uso intenso do microblog, um “tuitômetro” medirá em tempo real momentos do programa, inclusive sendo possível pedir ao candidato que explique melhor uma proposta ou peça informações sobre algo discutido. Para isso, basta tuitar a raschtag #DebateBandRio. Maranhão “Meu nome é trabalho!” Candidato ao governo do Maranhão, Edson Lobão Filho deu uma declaração na semana passada que vai entrar para o anuário da campanha política do Estado em 2014. Em entrevista à TV Guará, afiliada da Record News, o senador declarou: “Começo a trabalhar cedo, às nove horas da manhã”. Para quem arregaça as mangas assim que o dia amanhece, o político tem um conceito “sui generis” de cair no batente. CNJ Pingo nos is Por unanimidade, o Conselho Nacional de Justiça arquivou o processo administrativo disciplinar (PAD) contra o desembargador Divoncir Schreiner Maran, do Tribunal de Justiça de Mato Grosso do Sul. A queixa foi julgada improcedente em fevereiro. Portanto, incorreta a nota publicada aqui, na semana passada, de que o caso seria apreciado pelo conselho em uma de suas imediatas sessões plenárias. CNJ 1 E mais... Ainda em relação ao CNJ, a informação certeira na nota (“Perto do fim”) foi a de que haveria mais celeridade nos julgamentos de processos contra magistrados. Na reunião da terça-feira 5 foram prorrogados cinco PADs – inclusive o que envolve o desembargador Claudionor Duarte (MS) –, mas não 140 dias, como pediram inicialmente os conselheiros-relatores, e sim 90 dias. O ministro Ricardo Lewandoski quer cuidado com prorrogações, preocupado com eventual “punição antecipada” de magistrados investigados em processos e que, em alguns casos, são afastados preventivamente de suas funções. Literatura Mais sucesso Best-seller em 52 países, o livro “50 Tons de Cinza”, da escritora britânica E. L. James, aumentou as vendas no Brasil. Medições do BookScan mostram o crescimento de 111% na comercialização uma semana após o lançamento do primeiro trailer oficial do filme, dia 24 de julho. A obra voltou, assim, a figurar no top 10 do mercado nacional. O longa estreia nos cinemas em fevereiro de 2015. Justiça Total flex A Justiça do Rio de Janeiro julgou uma ação de um senhor de 44 anos, com problema na próstata, que queria uma prótese peniana flexível (importada e mais cara), e não a rígida (nacional e mais barata), como a operadora oferecia. Prevaleceu a tese de que o plano de saúde não pode ser revisor de decisão médica, além de pesar o aspecto psicológico do paciente – desejoso de ver o progresso da coisa. TCU Quatro de Ouro Do primeiro ao último ministro que ficou no TCU em defesa da Petrobras, segundo ministros da Corte, o advogado-geral do governo, Luís Inácio Adams, não economizou elogios a Guilherme Estrella (ex-diretor de Exploração e Petróleo), Jorge Zelada (ex-diretor da Área Internacional) e Almir Barbassa (diretor-financeiro). Para ele, o trio e a presidente Graça Foster agiram no interesse da estatal ao brigar na Justiça americana contra a decisão de corte arbitral internacional, que obrigou a estatal a honrar contratos firmados na compra da refinaria de Pasadena, nos EUA. Agricultura Cada um por si Alvo de muitas críticas de Aécio Neves e Eduardo Campos na semana passada, o Ministério da Agricultura enfrenta outras pressões. Agricultores do Vale do São Francisco querem que o titular da Pasta, Neri Geller, gaste R$ 10 milhões na Moscamed, assustados com a explosão do avanço da mosca das frutas na região. Difícil. O caixa está curto e técnicos do ministério afirmam que a empresa nunca produziu um mosquito transgênico, que seria usado no combate à praga. Lembram, também, que segmentos que exportam, como o de algodão, milho e soja, enfrentam sozinhos seus próprios problemas. Negócios 7 x 1 Depois de junho e julho, absolutamente parados para eventos do mundo dos negócios, São Paulo retorna ao seu ritmo natural. Só em agosto acontecerão 219 eventos na capital paulista. Taxistas, donos de hotéis, bares e restaurantes estão otimistas. Esperam uma receita do tipo 7 a 1, maior que a do período da Copa do Mundo. Saúde pública Bateu a meta O Ministério da Saúde anuncia nesta semana que o Brasil superou a meta de reduzir em 2% ao ano na taxa de morte prematura (30 a 70 anos) por doenças crônicas não transmissíveis. Os óbitos provocados por problemas cardiovasculares, respiratórios, cânceres e diabetes baixaram 3,8%, entre 2010 e 2011. Ou seja, passaram de 393 por 100 mil habitantes para 378 por 100 mil habitantes. Sindicato Bem no alto Há mais de uma semana a foto do secretário de Defesa Agropecuária, Rodrigo Figueiredo, está estampada em frente à entrada principal do Ministério da Agricultura. Ela aparece numa faixa, com corte igual ao de sinal de trânsito que mostra o que é proibido, junto à frase: “Intruso, respeite os fiscais federais agropecuários!”. Longe de ser uma homenagem, a iniciativa é do sindicato nacional da categoria (ANFFA). TSE Ira comunista A Frente Popular (PCdoB, PT, PSB e PV) recorrerá à corregedoria eleitoral do Tribunal Superior Eleitoral contra a intervenção do TRE/RJ na convenção dos comunistas, em junho. Alegam erros na condução da juíza Daniela Barbosa, como desconhecimento do horário da convenção e uso até de fiscais armados, segundo a deputada federal Jandira Feghali. Política Na telinha A democracia exige dos políticos a saudável defesa de projetos e ideias. Mas a série de debates programados pelas redes de tevê com os candidatos à Presidência da República, em algumas situações, pode dar traços de audiência. Ninguém duvida que a abertura dos confrontos (dia 21 na Band) e o fechamento (2/10 na TV Globo) despertarão o público. O problema é o excesso no meio de campo: 1/9, SBT/UOL/Folha SP; 16/9, Rede Vida/CNBB; 22/9, TV Cultura/Estadão; e 28/9, Record. Televisão Polêmica à vista Uma campanha de âmbito internacional está sendo articulada para assim que a TV Globo exibir “Sexo & as Negas”, de Miguel Falabella. ONGs ligadas à defesa dos direitos humanos consideram que a obra que irá ao ar reforça o estereótipo que associa os negros à pobreza. Enquanto a versão americana inspirada em “Sex and the City” tem quatro protagonistas bem-sucedidas, a brasileira traz uma camareira, uma cozinheira, uma operária e uma costureira – todas de pele escura. 3#2 LEONARDO ATTUCH - OS BRICS E A NOVA REVOLUÇÃO RUSSA Demanda mais antiga do agronegócio, a abertura russa foi obtida graças ao cerco do Ocidente a Putin. Na mesma semana em que os três presidenciáveis se submeteram a uma sabatina na Confederação Nacional da Agricultura, o Brasil obteve uma conquista histórica para o agronegócio. O mercado russo, um dos maiores do mundo, e que ainda era fechado às exportações de proteína animal brasileira, decidiu escancarar suas portas e porteiras aos produtos nacionais. Nada disso se deve à generosidade do governo de Vladimir Putin, mas, sim, a uma nova ordem geopolítica internacional que emerge a olhos nus e que se acelerou de um mês para cá. Primeiro, a cúpula dos BRICs, em Fortaleza, reforçou as afinidades entre Brasil, Rússia, Índia e China. Depois, o cerco do Ocidente à Rússia, desde a queda do avião malaio na fronteira com a Ucrânia, abriu uma oportunidade. Às sanções impostas por Estados Unidos e União Europeia contra a Rússia, Putin respondeu também com sanções na área alimentar. Resultado: a Rússia, que importa US$ 40 bilhões ao ano em alimentos, dos quais apenas US$ 2,7 bilhões das fazendas e agroindústrias nacionais, decidiu banir compras dos Estados Unidos e da Europa, elegendo o Brasil como seu parceiro prioritário. Para o Ministério da Agricultura, trata-se de uma “revolução”, segundo disse o secretário de Política Agrícola, Seneri Paludo. E representantes de entidades como a Associação Brasileira de Proteína Animal apontam que o Brasil tem plenas condições de suprir rapidamente toda a demanda russa. Só na avicultura, os Estados Unidos perderão vendas de mais de US$ 300 milhões, que serão substituídas por carnes brasileiras. Ao todo, os americanos perderão mais de US$ 600 milhões, ao lado de outros países fortemente afetados, como Noruega (US$ 1,1 bilhão), Espanha (US$ 800 milhões) e Alemanha (US$ 650 milhões). Guerras comerciais, motivadas por questões políticas, costumam ser insanas e irracionais. Mas o Brasil, que não tem nada a ver com isso e é apenas um ator que se fortalece na cena internacional, tem o dever de aproveitar a oportunidade. 3#3 PAULO LIMA - AH, MOLEQUE! Uma das cabeças mais vibrantes e atuantes do jornalismo e da cultura do Brasil faz 70 anos em outubro. Nelsinho relaxa em sua casa no Rio, com vista permanente para o mar e para o mundo Há quem aponte a sexta-feira à noite como o melhor momento da semana. Em geral, é quando se concluiu a jornada, contabilizaram-se as perdas e, com um pouco de sorte, os ganhos e se tem toda a perspectiva de um fim de semana para zerar o odômetro, fazer o que der na telha e subir a lente para enxergar o todo da vida, e não apenas as partes. De alguma forma o editor do “Jornal da Globo” deve ter levado tudo isso em conta quando definiu a escalação de seu colunista mais interessante para as noites de sexta. É nelas que o trabalho vigoroso e atento de Nelson Motta brilha há seis anos. Como sempre tratou de fazer na vida, em sua coluna global Nelsinho transita. Vai sem cerimônia para onde lhe der na telha. Pode contar sobre suas aventuras ao lado de Raul Seixas num dia, no outro pode falar sobre como seu amigo Tim Maia expressava seu desgosto com o próprio pênis em noites de porre ao lado do amigo que ele insistia em chamar de Nelsômotta. Numa outra semana pode mirar o cinema, tratando de algum ator ou filme que lhe tenha parecido único, ou mesmo navegar pela semelhança artística entre Picasso e Miles Davis, pelas quebradas das poesias de Paulo Leminski, pela luta de Muhammad Ali contra o racismo ou, claro, pelas mulheres lindas e incríveis que ele conheceu ao longo das décadas (biblicamente ou não), numa lista que consegue trafegar sem obstáculos ou desvios por nomes que vão de Marisa Monte a Leila Diniz. Debaixo da retranca mágica denominada “Comportamento”, uma espécie de salvo-conduto que se dá a alguns colunistas muito especiais, ele usa sua arma mais letal, o sorriso, para matar nos cerca de cinco minutos de suas crônicas televisivas, pautas muitas vezes cabeludas, sempre com pegada leve, estilosa e exata. Isso, claro, lançando mão do auxílio luxuoso do inigualável acervo global de dados e imagens e das feras da edição e da produção que, em boa medida, são grandes responsáveis pelos maiores acertos da emissora da família Marinho. O jovem da foto completa em outubro 70 anos. Pai de três filhas e avô de três netos, vem participando como integrante e propagador de quase tudo que possa ter merecido o carimbo de “novo” na música do Brasil nos últimos quase 50 anos. Bossa nova, tropicalismo, sua famosa incursão no ramo das casas noturnas, como a Dancin’ Days e a Noites Cariocas, entre outras, a invenção das Frenéticas, as bandas de rock/pop dos anos 1980, o cirúrgico e matador lançamento de Marisa Monte na cena da MPB, etc. E ele continua produzindo sem parar, em todas as mídias, sempre com a cabeça modulada no grau máximo de abertura para o que possa ser original, mas que, ao mesmo tempo, carregue a vocação para virar clássico. Nas palavras dele: “Tenho uma alma de fã, gosto de admirar as pessoas. Isso me ajudou muito na vida”. Nelsinho trabalha muito desde os 16 anos. Jornalista, letrista, compositor, roteirista, escritor (tem 14 livros publicados, sendo que só “Noites Tropicais” e “Vale Tudo – O Som e a Fúria de Tim Maia” venderam juntos mais de 300 mil exemplares) e produtor musical, construiu sua vida e identidade profissional com muita correria, mas também com doses industriais de savoir-vivre e de talento. Por onde passou teve a habilidade de fazer muitos amigos sem carregar a pecha de puxa-saco. Sobre isso ele comentou em entrevista para o jornalista Pedro Só, na “Trip”, em 2012: “Durante toda a minha vida, muitas vezes fiz amigos no trabalho e muitas vezes me juntei com amigos para trabalhar. Às vezes eu imagino que é como uma lasanha. Tem uma camada de época da vida e aqueles amigos todos de recheio, uma outra camada de outra época e mais outros amigos de recheio, e aí você corta a lasanha e vai vindo tudo junto. O que eu sou hoje é a soma desses encontros com amigos”. Ver Nelson Motta completar 70 anos é, além de tudo, uma aula para reverter uma ideia equivocada e deprimente instalada no Brasil que costuma associar idade com decadência e com desencaixe da sociedade. Nelson Motta prova, com sua cabeça viva e moleca, que envelhecer bem faz bem. A coluna de Paulo Lima, fundador da editora Trip, é publicada quinzenalmente 3#4 GISELE VITÓRIA Gisele Vitória é jornalista, diretora de núcleo das revistas ISTOÉ Gente, ISTOÉ Platinum e Menu e colunista de ISTOÉ Ela só quer, só pensa em aproveitar... Lea T só quer saber de curtir as férias. Em pleno verão europeu, a top aproveita as praias de Ibiza e nem de longe pensa em trabalho. Celular, nem pensar. Só usa o aparelho para, de vez em quando, postar nas redes sociais fotos de seu corpo, mais feminino do que nunca. Ora de topless, ora de cabelos molhados, ela brilha nas praias espanholas. Rodeada de amigos, está sempre com o inseparável BFF (best friend forever) Riccardo Tisci, estilista da Givenchy, que festejou seus 40 anos em Ibiza, e com o diretor de arte italiano Macs Iotti. Enquanto não dá o ar da graça por aqui, esta coluna mostra um dos últimos trabalhos de Lea em terras brasileiras, que acabou de sair do forno: um editorial de moda para o jornal da Ellus, marca da qual é garota-propaganda. Curadora de museu Luana Piovani será curadora teatral do Museu da Infância Brasileira, um projeto para 2016. Além das gravações da minissérie da Globo “Dupla Identidade”, de Gloria Perez, a atriz estreia a peça infantil “Mania de Explicação”. “Há algum tempo me rendi a esse público, não por alguma vantagem, mas por predileção. Gosto de estar rodeada de crianças”, diz. Na foto de Miro, ela posa com o filho Dom, de 2 anos. “Ele está abduzido por todos os super-heróis”, derrete-se. E pela mãe, quando a vê em cena: “Às vezes estranha, às vezes curte e às vezes fica enciumado”. Balas Dirceu recorrerá em novembro ao regime aberto José Dirceu deverá entrar no regime aberto em novembro. Pela contagem dos dias trabalhados e pela remissão automática da pena, ele poderá dormir fora da prisão e deve passar o próximo Natal com a família. Seu advogado, José Luis de Oliveira Sobrinho, já está fazendo as contas para entrar com o pedido no fim do ano. “Eu não tive que comprar a liberdade” Bernie Ecclestone está livre das acusações de suborno e de outros crimes que poderiam levá-lo à prisão por até dez anos. Após a decisão do Tribunal de Munique de encerrar o caso do chefão da Fórmula 1 com um acordo de pagamento de US$ 100 milhões à Justiça alemã, vieram as críticas de que o dirigente inglês de 83 anos teria comprado a liberdade. Em entrevista exclusiva a esta coluna, Ecclestone afirma que não foi condenado pelas leis alemãs. Pelas leis brasileiras, segundo advogados consultados, a pena pecuniária é uma forma de condenação que tira a primariedade do réu. É tida como uma reparação financeira que substitui, quando possível, a pena da prisão pela pena do pagamento. Mas Ecclestone rebate a polêmica: “O pagamento é normal e por lei, na Alemanha, se a pessoa é absolvida”. Ele explica que o julgamento custou caro ao tribunal e que o valor foi baseado no seu patrimônio. Casado com a brasileira Fabiana Ecclestone, que celebrou a decisão dentro do tribunal enviando e-mails a amigos do Brasil, ele planeja retornar em breve a São Paulo, onde sua mulher tem uma fazenda de café no interior do Estado. “Volto ao Brasil para trabalhar e encontrar amigos. Vejo você em breve”, despede-se o big boss da F 1. ISTOÉ – Por que uma pessoa inocente precisa pagar US$ 100 milhões à Justiça? O que você fez que, afinal, custou tão caro? Bernie Ecclestone – O pagamento é normal e por lei, na Alemanha, se a pessoa é absolvida. Foi caro para o tribunal. Vinte e um dias e mais de 30 testemunhas. O pagamento leva em consideração a riqueza da pessoa. ISTOÉ – Qual foi a sua sensação depois do encerramento dessa batalha judicial? Ecclestone – No meu caso, eu estava tentando limpar o meu nome, buscando a verdade, que está comigo. O encerramento do caso foi realizado pelo juiz em um comunicado ao tribunal, que incluía jornalistas presentes. ISTOÉ – O que você diria aos que apontam o pagamento de US$ 100 milhões como uma compra imoral da sua liberdade? Ecclestone – Não tive que comprar a liberdade porque não fui condenado. Eu era suspeito junto com outras cinco pessoas (ele foi acusado de pagar US$ 44 milhões a um banqueiro alemão a título de suborno). De acordo com o tribunal, um caso muito complicado. Achavam que se o caso tivesse continuado por mais três meses eu teria sido absolvido. ISTOÉ – Mas você tinha certeza de que o juiz daria a absolvição? Temeu ser condenado e ir para a prisão? Ecclestone – Não, eu não estava certo. Era o juiz que tinha que decidir se acreditava na tese da acusação ou na minha. ISTOÉ – Você sempre declarou sua inocência. O que de fato aconteceu para receber a acusação de suborno? Ecclestone – Isso levou 21 dias no tribunal para eu responder. ISTOÉ – O que aprendeu com a experiência? Ecclestone – Lutar por seu direito. ISTOÉ – O que não faria novamente? Ecclestone – Eu, como sempre, continuarei a realizar negócios de forma justa e honesta. ISTOÉ – O que pretende fazer agora? Ecclestone –Trabalhar duro para recuperar o atraso com os dias que perdi. ISTOÉ – Você foi afastado da Fórmula 1. Quais são os novos projetos? Você, afinal, nunca deixou a F 1? Ecclestone – Estou em meu escritório quatro dias por semana, incluindo sábados e domingos, exceto quando estou em uma corrida de Fórmula 1. Portanto, nenhuma mudança. Negócios como de costume. ISTOÉ – Por que o Brasil não forma mais campeões de F 1? Ecclestone –Talvez as novas gerações não estejam preparadas para desistir de um estilo de vida atual e, assim, tornarem-se pilotos como foram Senna, Piquet e Fittipaldi. Ou seja, se dedicar para superar qualquer coisa que esteja no caminho e atingir os objetivos. ISTOÉ – Existem pilotos brasileiros em quem você aposta? Ecclestone – Existem. Eles precisam de apoio comercial e esforço. Me parece que Felipe Nasr (terceiro piloto da Williams) tem um futuro. ISTOÉ – Que medidas pretende tomar para que o automobilismo brasileiro volte ao topo? Ecclestone – Não é muito fácil de responder, mas eu estou tentando. ISTOÉ – Quais são os caminhos para a F 1 manter o status de principal categoria do automoblismo? Ecclestone – Há mudanças no esporte. Só precisamos ver o que é bom para a Fórmula 1 e seus apoiadores. ISTOÉ – A F 1 tem expandido seu mercado para países emergentes. Por que isso é tão importante? Ecclestone – A F 1 é um campeonato do mundo. ISTOÉ – De agora em diante, como aproveitará a vida? Ecclestone – Eu me divirto fazendo o que faço e apoiando Fabiana com sua fazenda Celebrity Coffee (uma fazenda de café no Estado de São Paulo). 3#5 ANTONIO CARLOS PRADO - A DOSE A MAIS DE HIV As campanhas de prevenção no Brasil precisam dizer claramente que a bebida alcoólica é uma porta escancarada para a entrada do vírus da Aids . Não é nas farmácias nem nos hospitais, mas sim na informação, que estão os mais eficazes medicamentos e métodos para a prevenção de doenças. As autoridades brasileiras no campo da saúde pública têm o mérito de colocar o País como referência mundial na distribuição do coquetel antirretroviral destinado ao controle do HIV no organismo humano. Falham, no entanto, na promoção de campanhas claras para explicar que a ingestão de bebidas alcoólicas é uma das principais portas de entrada do vírus da Aids. O Brasil vai muito bem no tratamento e muito mal na prevenção. Fala-se nas campanhas sobre sexo não seguro, mas cala-se a respeito de uma das mais prevalentes razões para a ocorrência desse tipo de relação: o consumo de álcool – e isso em um país no qual é alarmante o uso de bebida entre os jovens. É sobretudo esse o motivo de o Brasil arcar com o aumento no número de novas infecções entre 2005 e 2013, segundo o Programa Conjunto das Nações Unidas HIV/Aids. Em todo o mundo, o índice de novos casos diminuiu 28%; aqui subiu 11%. Na América Latina, é no Brasil que o HIV mais se disseminou na última década. Depois da cafeína, a bebida alcoólica está em segundo lugar no rol das substâncias psicoativas mais consumidas. Trata-se de uma droga depressora do sistema nervoso central, que implica alterações comportamentais, seja na cronicidade (beber todo dia), seja na intoxicação aguda (beber muito a cada vez, ainda que esporadicamente). Na verdade, o risco de exposição ao HIV é maior na intoxicação aguda, pois o alcoolista acaba tendo inapetência sexual, o que não acontece com quem se embebeda de vez em quando e sente exacerbada excitação. Estudos internacionais frisam que o “consumo de álcool deveria ser incluído como fator a para prevenção do HIV”, e isso precisa ser dito claramente em escolas, nas telas dos cinemas antes de os filmes começarem e nos intervalos das programações de tevê. E dito com todas as letras. No sexo oral, por exemplo, as células da boca, expostas a 4% de álcool por 15 minutos, se tornam até seis vezes mais vulneráveis ao vírus – principalmente se houver feridas na mucosa bucal. Outro dado importante: o acréscimo de 0,1 miligrama de álcool por mililitro de sangue aumenta em 5% o risco de se fazer sexo não seguro – em qualquer forma de relação. É desse ponto que nasce a mais vital questão: por que uma dose a mais expõe a pessoa ao sexo inseguro? Por que homens ou mulheres quando bebem podem desprezar a camisinha, se antes de beberem juraram que a usariam? O que ocorre é que o álcool age nos neurotransmissores, destacando-se o ácido gama-aminobutírico alfa (Gaba A) e o glutamato – o primeiro é inibitório, o segundo, excitatório. São das ordens e contraordens que o álcool dá a eles (alegrar, deprimir) que surge a falência da capacidade de julgamento e da preservação da memória, em um processo que envolve também neurotransmissores, como dopamina e os de ação serotoninérgica. Ninguém esquece da camisinha porque bebeu além, esquece de usá-la porque “esqueceu” de parar numa dose segura – ou seja, “esqueceu” mesmo é de parar de beber, e esse “esquecimento” já é a perda da crítica. Esquecer do preservativo é mera decorrência. Não dá para ir à balada e deixar o Gaba em casa. O ideal, então, não é a pessoa comprometer-se consigo em utilizar camisinha, já que isso é esquecido se ela beber muito, mas comprometer-se que não beberá ou não tomará mais que uma dose. Vale lembrar o escritor chinês Bai Juyi: “Basta um copo para eu despertar, dois para afastar a tristeza de vez. Após três copos vem a embriaguez”. E, muitas vezes, com HIV. Antonio Carlos Prado é editor executivo da revista ISTOÉ 3#6 BRASIL CONFIDENCIAL por Eumano Silva Um dilema para Dilma Com a saída de Joaquim Barbosa do Supremo Tribunal Federal (STF) em plena campanha eleitoral, a presidenta Dilma Rousseff ficou em uma encruzilhada. Qualquer escolha que ela faça pode dar margem a críticas e a reações negativas turbinadas pela oposição. Se não indicar um negro, por exemplo, corre o risco de sofrer baixas nos movimentos étnicos. Na hipótese de deixar para depois do resultado das urnas e ganhar a disputa, tudo bem. Mas, em caso de derrota, ficará enfraquecida para indicar o ocupante da cadeira. Renovação na corte Fora a vaga de Joaquim Barbosa, o vencedor da corrida presidencial terá quatro postos para preencher no STF. A aposentadoria compulsória vai afastar, pela ordem, os ministros Celso de Mello (2015), Marco Aurélio (2016), Teori Zavascki (2018) e Ricardo Lewandowski (2018). Isso significa uma renovação de mais de um terço na composição do Supremo. Conselhos para Skaf O marqueteiro Duda Mendonça tem grande influência na resistência de Paulo Skaf em abrir seu palanque para Dilma. Como as últimas pesquisas mostraram a presidenta estagnada, Duda prefere esperar mais um pouco. A orientação pode mudar se a petista voltar a subir nas consultas. Agenda direcionada A veiculação de reportagens no Jornal Nacional sobre a agenda dos candidatos provocou uma discreta adaptação das campanhas presidenciais. Nos primeiros dias, os candidatos privilegiaram temas relacionados aos protestos do ano passado, como transporte público e saúde. Ver para crer A governadora do Maranhão, Roseana Sarney (PMDB), acaba de criar uma poderosa moeda de troca com prefeitos, o Fundo Estadual de Apoio e Desenvolvimento dos Municípios do Maranhão (Fundema). O fundo será financiado pelo BNDES. O Tribunal de Justiça prometeu fiscalizar. Ovelha negra Enquanto as confederações nacionais da indústria (CNI) e da Agricultura (CNA) ganham o noticiário com as sabatinas dos presidenciáveis, a do Comércio (CNC) parece alheia ao debate. Seus dirigentes estão mais preocupados com o processo eleitoral interno da entidade. Nanicos PMDB, PT, PSDB e PSB parecem nanicos nas campanhas de 13 Estados onde seus candidatos a governador amealham entre 2% e 8% de apoio nas pesquisas. Socialistas patinam em Minas Gerais, Ceará, Pernambuco e Sergipe. Tucanos sofrem no DF, no Espírito Santo e em Alagoas, enquanto os peemedebistas têm problemas na Paraíba e no Rio Grande do Sul. Petistas estão na rabeira em Goiás, Santa Catarina e São Paulo. O herdeiro de Vargas Prestes a ser degolado pelo Conselho de Ética da Câmara, André Vargas (sem partido-PR) tenta fazer um sucessor. Optou por Denílson Pestana (PT), único candidato do partido no norte do Estado, região de Vargas. O ex-petista ajuda na busca de financiadores para o amigo. O dono da casa O imóvel alugado pelo marqueteiro João Santana para servir de estúdio de gravação para programas eleitorais da presidenta Dilma Rousseff pertence ao empresário José de Sousa Teixeira. Durante os governos FHC e Lula, ele foi presidente do Postalis, que administra o fundo de pensão dos Correios. Na sua gestão, o Postalis foi citado na CPMI dos Correios por suspeitas de investir no Banco Rural para ajudar no mensalão. A sócia de Santana, Mônica Moura, diz que sua empresa fechou contrato direto com uma imobiliária, não sabia quem era o dono da casa e pagou adiantado o aluguel mensal de R$ 20 mil. O peso das campanhas Parece haver relação direta entre o peso dos candidatos e as distâncias percorridas por eles desde junho, mês das convenções. Com mais de 15 mil quilômetros de voo, Eduardo Campos perdeu quatro quilos. Com dez mil quilômetros nos ares, Aécio Neves está dois quilos mais magro. Dilma viajou quatro mil quilômetros e é a única que ainda não precisou renovar o guarda-roupa. Toma lá dá cá Renato Ticoulat Neto, diretor da Associação Comercial de São Paulo ISTOÉ – Qual foi o impacto da PEC das Domésticas para as empresas de fornecimento de mão de obra para limpeza em residências? Renato – O mercado explodiu. As empresas novas estão recrutando pessoal até pelo Facebook. O crescimento chega a 1000%, por mês. ISTOÉ – Ainda existem dúvidas sobre a PEC? Renato – Temos dúvidas se a intermediação de mão de obra para serviços residenciais tem respaldo legal. A empresa calcula o serviço por metro quadrado de limpeza, o serviço autônomo calcula horas trabalhadas. ISTOÉ – Isso pode gerar ações trabalhistas? Renato – Se o contratante não prestar atenção se a empresa está fazendo retenção de ISS na fatura, se não pedir nota fiscal detalhada, pode ser alvo de uma ação trabalhista, mesmo contratando uma firma de limpeza. Rápidas *O Exército está deixando o bloco “O” da Esplanada dos Ministérios para ocupar um novo anexo do QG no Setor Militar Urbano. Enquanto isso, vários órgãos do governo ocupam andares inteiros do edifício Park Cidade Corporate, no Setor Comercial Sul, cujo preço de locação é o dobro do praticado no mercado. *Em reunião com o ministro da Secretaria de Relações Institucionais, Ricardo Berzoini, na segunda-feira à noite, os líderes do PT no Congresso receberam uma orientação: mandar a bancada voltar para as bases eleitorais. O governo chegou à conclusão de que o melhor remédio para abafar a crise envolvendo a CPI da Petrobras é o silêncio. Retrato falado As declarações de Gilberto Carvalho, com autocríticas ao papel do PT, já renderam problemas ao ministro da Secretaria-Geral da Presidência. Mesmo assim, Gilbertinho insiste na tecla de que o atual sistema político jogou todos os partidos na vala comum da corrupção. Portos e aeroportos Depois da construção do Porto de Mariel com financiamento do BNDES, o governo brasileiro vai bancar um ambicioso projeto de modernização dos aeroportos de Cuba. Os detalhes do projeto na ilha foram discutidos pela presidenta Dilma Rousseff com o empresário Marcelo Odebrecht em recente audiência no Palácio do Planalto. Essa foi a quarta reunião privada da presidenta com o empresário este ano. Grata coincidência O presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), está em pé de guerra com o ministro-chefe da Casa Civil, Aloizio Mercadante. O motivo do mal-estar é o avanço do braço direito de Dilma sobre um antigo feudo peemedebista, a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel). Além de encaminhar duas reconduções de cargo sem negociar com Renan e José Sarney, o governo indicou o secretário de infraestrutura portuária Tiago de Barros Correia para cargo de diretor da Aneel, atropelando os aliados. Depois de adiar a votação da nomeação de Correia por duas semanas, na noite da terça-feira 5, o painel do Senado apresentou falha justamente quando os parlamentares decidiriam o futuro do novo diretor. Mesmo sem edital de licitação previsto, Renan garantiu que a Casa vai trocar o painel em setembro, para evitar novas falhas. _______________________________________ 4# BRASIL 13.8.14 4#1 CPI CONTRA CPI 4#2 PROGRAMA SOCIAL DE AÉCIO: US$ 1,25 POR DIA 4#3 FORÇA AÉREA ELEITORAL 4#1 CPI CONTRA CPI Enquanto a população clama pela investigação de denúncias, políticos demonstram que as CPIs estão aí apenas para servir de arma eleitoral Izabelle Torres (izabelle@istoe.com.br) Não é de hoje que as Comissões Parlamentares de Inquérito instaladas no Congresso Nacional perderam a credibilidade. O instrumento que deveria servir para o Legislativo exercer a nobre prerrogativa de investigar irregularidades na administração pública vem servindo a interesses eleitoreiros cada vez mais indisfarçáveis. Na semana passada, não faltaram demonstrações de que o mundo político está mesmo determinado a usar essas comissões como armas eleitorais e de que todos os lados querem tirar proveito dessa disputa. APURAÇÃO QUE É BOM ... - Deixada de lado até a semana passada, a CPI do Metrô (à dir.) foi reativada às pressas pelos governistas interessados em ofuscar o jogo combinado entre governo e depoentes na CPI da Petrobras (à esq.) O governo vinha conduzindo as CPIs da Petrobras ao sabor de seus próprios interesses e conveniências. Ao ser surpreendido com a divulgação de que os parlamentares de sua base operavam para facilitar a vida dos depoentes, tratou de armar uma contraofensiva. Retirou da gaveta a CPI do Metrô de São Paulo, destinada a apurar as irregularidades nas licitações durante sucessivos governos do PSDB no Estado. Embora estivesse aprovada desde maio, a comissão não havia sido instalada nem deslanchou porque, a despeito da sua importância para investigar a formação de cartel nos setores de trem sobre trilhos em São Paulo e o envolvimento de políticos tucanos, os próprios governistas a deixaram de lado. O abandono foi uma resposta silenciosa à inércia da oposição na CPI da Petrobras, que deixou a base governista livre para um jogo que parecia ganho e não causaria qualquer efeito eleitoral na campanha à reeleição de Dilma Rousseff (PT). Ao ter de explicar a ajuda dos petistas aos dirigentes e ex-diretores da Petrobras para os depoimentos que seriam dados ao colegiado, o governo se viu obrigado a reagir. Embora essa prática seja comum e conhecida no Congresso, os personagens envolvidos tiveram de passar a semana dando explicações, o que causou turbulências na campanha petista logo na largada da corrida presidencial. Esse assunto, certamente, será explorado pela oposição nos programas eleitorais no rádio e na televisão, o palco mais ostensivo do vale-tudo eleitoral. Daí a resposta ao desgaste governista ter vindo rapidamente. PARA DEBAIXO DO TAPETE - Integrante da CPI da Petrobras, Vital do Rêgo foi orientado a não criar problemas para o governo Dilma O ministro de Relações Institucionais, Ricardo Berzoini, ligou para os líderes do PT na Câmara e no Senado na manhã da segunda-feira 4 e avisou que a ordem do Planalto era o contra-ataque. O PT então decidiu retomar a pressão política pela instalação da CPI do Metrô de São Paulo. Mas a ofensiva tardia dos governistas através da instalação da CPI do Metrô foi tão desorganizada quanto tem sido a oposição em sua temerária atuação nas CPIs da Petrobras. No caso do metrô, o início dos trabalhos foi adiado para setembro porque petistas e peemedebistas, que teoricamente deveriam atuar juntos, ainda disputam o comando e a relatoria da comissão. Enquanto PT e PMDB brigavam para adiar os trabalhos do colegiado,tucanos insistiam que queriam ser investigados. “Esse adiamento para setembro foi decidido sem o nosso apoio. É um absurdo, pois gostaríamos mesmo era de ver essa investigação”, ironizou o senador Flexa Ribeiro (PSDB-PA). A preocupação dos partidos é colocar nos cargos de comando dessas comissões apenas parlamentares que cumpram bem a missão eleitoral que vem subscrita nas justificativas formais dos pedidos de criação das CPIs. O senador Vital do Rêgo (PMDB-PB) conhece bem esses meandros. Escolhido para operar as duas comissões que deveriam apurar possíveis irregularidades na compra da refinaria de Pasadena, no Texas, pela Petrobras, o senador recebeu duas orientações: não criar problemas para o governo Dilma Rousseff e evitar que qualquer apuração respingasse no presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), responsável pela indicação de dirigentes da estatal. Vital do Rêgo vem cumprindo a missão com louvor e tenta se cacifar para ocupar um ministério, depois de ter sido preterido por Dilma para o comando da pasta da Integração na última reforma ministerial. Com objetivos definidos, o senador segue sem preocupações em disfarçar sua intenção de salvar o governo. À espera de votação há pelo menos 300 requerimentos apresentados por parlamentares para conduzir os trabalhos das comissões que investigam a Petrobras. Não há qualquer indicação de quando essas propostas serão apreciadas. Vai depender do andamento das campanhas e, se demorar muito, talvez nem sejam analisados. Na quinta-feira 7, ao encontrar o colega José Pimentel no corredor das comissões, Vital do Rêgo teve uma conversa descontraída que resume o teatro armado pelos parlamentares. O presidente das CPIs disse ao colega petista que esse tipo de exposição sobre a relação de políticos com depoentes não fazia bem para a comissão. Lembrou que a ideia é não parecer que “todos estão juntos”. Por isso, avisou que anunciaria a abertura de uma investigação para apurar as responsabilidades. O sorriso que se seguiu depois da conversa deixou a impressão de que será mais um ato de encenação. Na prática, os episódios da semana passada demonstram como se conspira para que as CPIs não tenham qualquer resultado, a não ser o de servir de palanque e arma eleitoral. Mas os personagens das comissões já instaladas não esperavam o efeito político negativo que esse comportamento lhes poderia acarretar. Tudo seria menos grave se, além da imoralidade das CPIs que não investigam, não houvesse custos pesados para os cofres públicos. Uma comissão de inquérito gasta, em média, R$ 100 mil durante seu funcionamento. O Congresso paga diárias e passagens aéreas dos depoentes, gratificações para servidores que trabalham nas comissões e viagens para parlamentares e assessores. Para o eleitor, fica a certeza de que, até o final, esse teatro armado no Congresso custará caro aos cofres públicos. 4#2 PROGRAMA SOCIAL DE AÉCIO: US$ 1,25 POR DIA ISTOÉ teve acesso a detalhes do Família Brasileira, que será o carro-chefe da política social de Aécio Neves, caso o tucano seja eleito. Pelo programa, os beneficiários receberão valores indexados ao dólar Ludmilla Amaral (ludmilla@istoe.com.br) A partir deste mês, a menos de 60 dias das eleições, os candidatos à Presidência da República começam a formatar seus programas de governo. Nos comitês de campanha, técnicos e especialistas em diversos setores reúnem-se com mais assiduidade com os aspirantes ao Planalto para debater e acertar os últimos detalhes das plataformas eleitorais que serão submetidas aos eleitores. Na semana passada, ISTOÉ teve acesso, com exclusividade, aos principais pontos do programa que será o carro-chefe da política social do candidato à Presidência da República pelo PSDB, o senador Aécio Neves. Trata-se do Família Brasileira, uma política voltada às pessoas em situação de miséria, pobreza e extrema pobreza, que abrangerá o Bolsa Família e outros benefícios sociais. Segundo os tucanos, o Família Brasileira está “um passo adiante” do programa de transferência de renda petista. A grande novidade, em relação aos governos Lula e Dilma Rousseff, é que os beneficiários do Bolsa Família tucano receberão valores atrelados ao dólar. Aécio promete que cada pessoa enquadrada no programa terá direito a receber US$ 1,25 por dia ou US$ 37,5 por mês. A julgar pelo câmbio comercial de sexta-feira 8 (R$ 1 = US$ 2,27), o repasse seria de cerca de R$ 85 por pessoa. Hoje, Dilma paga no máximo R$ 77 por integrante da família. A proposta orienta-se pelas metas do milênio estabelecidas pela ONU no ano 2000. Segundo a organização, para uma pessoa estar acima do nível da pobreza, ela precisa ter uma renda de US$ 1,25 por dia. “Estipular esse valor é o compromisso do Aécio. Respeitaremos o que preconiza os acordos internacionais”, disse à ISTOÉ um dos integrantes da equipe técnica do programa de governo do PSDB, lembrando que o Bolsa Família será transformado em política de Estado. PASSO ADIANTE - O Família Brasileira, principal programa social de Aécio Neves (PSDB), irá abranger o Bolsa Família, que vai virar política de Estado, e estimulará a mobilidade social O programa Família Brasileira quer se distinguir das ações sociais do PT em outros pontos. A partir de um Cadastro Único dos Programas Federais, as famílias serão divididas e classificadas por escalas de necessidades ou grupos de risco (Risco Social Familiar), que observarão as realidades regionais. A escala de risco vai do 5+ ao 1. Quanto maior a necessidade da família, maior sua classificação de risco. As famílias em situação de risco 5+, por exemplo, são as mais vulneráveis. O objetivo de Aécio é que uma família não permaneça no mesmo grupo de risco por mais de um ano. Assim, decrescerão de patamar até não precisarem mais ser sustentadas pelo governo. Em bairros como Vigário Geral e Caju, ambos no Rio de Janeiro, o risco 5 – em tabela usada por programas sociais locais que serviram de inspiração para o Família Brasileira – equivale a famílias que possuem crianças em idade escolar fora da escola, gestantes sem pré-natal, pessoas sem qualquer renda e em situação de violência e abuso sexual. Já o risco 2 corresponde às famílias compostas por jovens com escolaridade, mas desempregados e o risco 1, àqueles dotados de alguma renda. Para aferir o decréscimo de um patamar de necessidade para outro, no período de um ano o governo tucano pretende estabelecer um recadastramento obrigatório para todos os beneficiários. As tabelas serão definidas em parceria entre os governos federal e municipal. Caberá ao governo levar as soluções para essas famílias por meio do direcionamento correto dos programas já existentes. Por exemplo, uma família que vive em uma casa de risco terá prioridade no programa Minha Casa Minha Vida. Outra que não possui banheiro ou sanea­mento básico será incluída no programa de cisterna. “O objetivo é que a pobreza seja superada no campo monetário e no campo das privações. O programa Família Brasileira dá uma diretriz para fazer a segunda etapa do Bolsa Família”, explicou um dos integrantes do staff de Aécio Neves. 4#3 FORÇA AÉREA ELEITORAL Uso dos jatos da FAB pelos ministros quase dobra durante a campanha, o que contraria a cartilha que recomenda preservar a máquina pública nas eleições Josie Jeronimo (josie@istoe.com.br) Todo ano de eleição, a Advocacia-Geral da União (AGU) publica uma detalhada cartilha com explicações aos agentes públicos federais sobre o que não deve ser feito para preservar a máquina pública da fúria das campanhas eleitorais. O manual de 2014 é bem claro ao proibir servidores e autoridades de pedir votos ou anunciar preferências partidárias durante eventos oficiais e, muito menos, de utilizar bens da União em agendas políticas. Apesar das recomendações, os pedidos de voos da Força Aérea Brasileira (FAB) por ministros logo na largada da corrida eleitoral mostram que a orientação do governo foi deixada de lado. Nos meses de junho e julho deste ano foram feitas 335 solicitações, o que corresponde a um aumento de 78% em relação ao mesmo período do ano passado. A maioria das viagens dos ministros se enquadra no que passou a ser conhecido como “agenda casada”. Nessas viagens, os ministros de fato participam de eventos oficiais, mas também fazem reuniões políticas e ajudam os aliados em suas bases. O ministro da Agricultura, Neri Geller, é um dos adeptos dessa prática. Matogrossense, ele pediu ajuda à FAB no mês de julho para cumprir oito agendas fora de Brasília. Metade dos compromissos se concentrou em Cuiabá e Sinop, região onde atua seu padrinho político, o senador licenciado Blairo Maggi (PMDB). No dia 31 de julho, Geller deixou Brasília com destino à capital do Estado, acompanhado de uma comitiva de seis pessoas. O grupo foi prestigiar a Expoagro, feira organizada pelos principais empresários do agronegócio de Mato Grosso. Depois da aparição pública na feira, o ministro se fechou em reuniões com o PP e o PDT. Geller aproveitou para pedir votos. “O PP está conosco na esfera federal. Queremos esse apoio também aqui em Mato Grosso”, afirmou após os encontros políticos. Em alguns casos, as autoridades utilizam a aeronave da FAB para visitar obras que não pertencem às suas pastas. Um exemplo é a ministra Ideli Salvatti, da Secretaria de Direitos Humanos. Na noite do dia 2, ela pegou um avião da FAB e foi a Joinville (SC) inaugurar na tarde do dia seguinte um empreendimento do Minha Casa Minha Vida. Estava cercada de candidatos aliados. No dia 4 de julho, em uma viagem a Palmas (TO), ela posou ao lado de políticos para fotos de “santinhos”. Na ocasião, ela permitiu o registro de imagens no momento em que entregou a chave de um automóvel comprado com recursos federais ao candidato a governador Ataídes Oliveira (PROS), integrante da coligação que apoia a reeleição da presidenta Dilma Rousseff. Ignorando a cartilha da AGU, Ideli aproveitou a entrega do carro para elogiar Oliveira. “A solicitação de Ataídes é de muita importância para o Tocantins”, discursou. Outros exemplos ajudam a explicar como os gastos de junho e julho com combustível dos aviões da Força Aérea chegaram a R$ 283 milhões – R$ 22 milhões a mais que no mesmo período de 2013. No dia 30 de junho, o ministro da Pesca, Eduardo Lopes, estava no Rio e solicitou um avião da FAB. De lá, voou com outras oito pessoas para São Paulo, onde participou da convenção do PRB, partido ao qual é filiado. ISTOÉ entrou em contato com a assessoria dos ministros citados nesta reportagem, mas as pastas não deram explicações sobre a agenda política. Com tantas viagens, fica mais difícil encontrar os ministros em Brasília. _______________________________________ 5# COMPORTAMENTO 13.8.14 5#1 VIVER EM MIAMI 5#2 O MOVIMENTO DAS ANTI-FEMINISTAS 5#3 A OLIMPÍADA APORTOU 5#4 O DESTINO DE PISTORIUS ESTÁ NAS MÃOS DELA 5#5 CRISE NA ÓPERA DE NOVA YORK 5#6 "O PAPA APRECIA A TEOLOGIA DA LIBERTAÇÃO" 5#1 VIVER EM MIAMI Cada vez mais brasileiros vivem na capital do sol e das compras. Saiba quem são eles e o que é preciso fazer para realizar esse sonho Chris Delboni, de Miami, e Mariana Queiroz Barboza (mariana.barboza@istoe.com.br) Foi com poucas malas e o sonho de experimentar a vida nos Estados Unidos que a empresária Ana Paula Mariutti, 45 anos, o marido, Alexandre, 46, e os filhos Thomas, 15, e Lucas, 13, desembarcaram no Aeroporto de Miami, na Flórida, no domingo 3. Sócia de duas escolas bilíngues em São Paulo, Ana Paula já estava acostumada a passar as férias na cidade ao menos uma vez por ano. Encantou-se tanto com o lugar que decidiu ficar em definitivo por lá. Os Mariutti vão morar em North Miami Beach, um paraíso a menos de dois quilômetros da praia, e assim se juntam aos 250 mil brasileiros que atualmente vivem na Flórida. A maioria deles, em Miami e arredores, como Fort Lauderlade e Boca Raton. “Sou atraída pelo estilo de vida americano, mas queria um lugar próximo de nossa realidade cultural”, diz Ana Paula. Não é recente o interesse dos brasileiros pela região. A novidade é que o fenômeno agora conhece um terceiro – e mais marcante – ciclo. Primeiro houve a invasão dos turistas, em meados da década de 1990. Depois, no final dos anos 2000, muitos deles descobriram que era vantajoso comprar um imóvel na cidade. Além de o custo ser inferior a similares vendidos no Brasil e da perspectiva de valorização do investimento, parecia ser um jeito de manter uma ligação com a cidade. Agora, nessa terceira fase, as pessoas simplesmente querem ficar – talvez para sempre. Qual é a mágica de Miami que seduz tanta gente? Não são poucos os seus atributos. A cidade é daquelas raras que combinam beleza natural com vasta oferta de serviços. São 24 quilômetros de praias de areia branca e mar azul de frente para o Caribe. Mas isso pode ser encontrado em outros lugares. A diferença da capital do sol nos Estados Unidos é todo o resto que ela proporciona. Para quem gosta de ir às compras, talvez não exista melhor destino no mundo. Para os padrões brasileiros, seus preços são baixíssimos. Roupas, eletrônicos, computadores, itens de decoração, cosméticos, artigos para bebês, tudo custa bem menos. Quase sempre, metade do valor praticado no Brasil. Às vezes, um terço. Não é só. Em Miami, os serviços públicos funcionam. Os parques são bem cuidados. Os pedestres são respeitados no trânsito. Se a pessoa mora numa região central, dá para fazer tudo a pé ou de bicicleta. A sensação de segurança permite que se caminhe à noite, de frente para o mar, sem o pavor típico experimentado por quem vive em uma grande cidade brasileira. As escolas públicas são boas. Faz calor boa parte do ano. E Miami é perto de tudo. Até do Brasil. Para São Paulo, são oito horas de voo. Nova York, menos de três. Havana, a capital cubana, 40 minutos. A maior deficiência de Miami, e que rendia críticas severas mundo afora, era sua irrelevância cultural. Mas isso está mudando. Se não é uma Paris ou uma Nova York, a região caminha para se tornar um centro cosmopolita. E parte dessa transformação se deve à extensa comunidade latina. Antes vista com certo preconceito, agora ela se insere na sociedade americana pela via mais nobre, a da arte e da cultura. Há seis meses, o antigo Miami Art Museum foi renomeado Pérez Art Museum, depois de um aporte de US$ 40 milhões do bilionário cubano-americano Jorge Pérez. Há muito mais. No inverno, a cidade respira cultura com a realização do Art Basel, reconhecido como um dos mais importantes eventos de arte contemporânea do mundo. Inspirado por essas transformações, o jornal britânico “The Guardian” classificou Miami como “a cidade mais excitante dos Estados Unidos”, um elogio e tanto vindo de uma das publicações mais sisudas da Europa. “Às vezes, Miami parece estar seguindo a fórmula de Londres: especulação imobiliária + arte contemporânea + boom de restaurantes + diversidade cultural = cidade global dinâmica”, escreveu o crítico de arquitetura Rowan Moore, em artigo recente. Uma comprovação definitiva dessa tendência é o Design District, região que concentra grifes como Cartier, Louis Vuitton e Louboutin e que, nos últimos anos, ganhou novas galerias, estúdios e antiquários. Perto dali, o bairro de Wynwood fez de suas ruas uma grande galeria de arte alternativa, ao exibir grafites do mundo inteiro, inclusive do Brasil, presente com os desenhos dos Gêmeos. O País desempenha um papel relevante no amadurecimento cultural da cidade. Com uma galeria na Lincoln Road, em Miami Beach, o pernambucano Romero Britto foi um dos primeiros brasileiros a se instalar na região e a fazer sucesso entre americanos e latinos. Neste exato momento, a arte brasileira está em destaque na região. Até setembro, na Galeria Richard Shack do ArtCenter/South Florida, está aberta à visitação uma exposição da escultora e pintora paulista Laura Vinci. “Quando vim para cá de vez, não havia uma ligação relevante da cidade com a arte e a cultura”, afirma Paulo Bacchi, dono da loja de móveis de luxo Artefacto, com três endereços na Flórida e 11 no Brasil. Bacchi trocou São Paulo pelos Estados Unidos em 2002. Fez tanto sucesso por lá que se tornou líder no segmento de móveis de luxo na cidade. “Hoje, Miami é cosmopolita.” A presença maciça de brasileiros tem forte impacto na Miami que surgiu nos últimos anos. Graças a eles, os restaurantes começaram a ficar abertos até mais tarde, como acontece em São Paulo e no Rio de Janeiro. Por causa do Brasil, muitas lojas estimulam seus funcionários a aprender algumas palavras em português. Em 2013, 755 mil turistas brasileiros desembarcaram em Miami, segundo o órgão oficial de turismo da cidade – um avanço de 9,5% em relação ao ano anterior e de quase 20% sobre 2011. Na Flórida como um todo, que abriga os parques da Disney em Orlando, os brasileiros correspondem ao maior contingente de turistas estrangeiros, com 1,8 milhão de visitantes no ano passado e um desembolso total de R$ 5,7 bilhões no período. Isso provocou um aumento nos investimentos das companhias aéreas, interessadas na demanda cada vez maior. Até o fim do ano, a Azul deve inaugurar uma rota já utilizada pela Gol que liga Campinas, no interior de São Paulo, a Fort Lauderdale, a cerca de 40 quilômetros de Miami, com tarifas promocionais a partir de US$ 600. A American Airlines, que realiza voos diretos partindo de várias capitais do País, planeja fazer a mesma rota em breve. No mundo dos negócios, os brasileiros provocaram uma revolução, especialmente no setor imobiliário. O movimento começou depois que a crise econômica de 2008 derrubou o preço dos imóveis no mercado americano. Atraídas pela ideia de pagar menos por uma casa de veraneio em Miami do que por uma propriedade no Rio ou em São Paulo, muitas pessoas começaram a procurar apartamentos para investir. Não por acaso, os brasileiros se tornaram o terceiro maior grupo de compradores de imóveis em Miami e arredores. “A procura é tanta que, nos próximos dois anos, eles devem liderar esse ranking”, afirma Claudia Murad, sócia da Unique Living Miami – Exit Realty Brickell. Para atender à crescente demanda, os serviços das corretoras se estenderam a recepção nos aeroportos, reserva de restaurantes, aluguel de carros e barcos e ao cuidado das casas enquanto os proprietários estão fora do país. No segmento de luxo, os brasileiros também representam fatia importante. Projetado pela arquiteta pop star Zaha Hadid, o One Thousand Museum, que tem apartamentos cotados entre US$ 5 milhões e US$ 15 milhões, já vendeu 28% de suas unidades a brasileiros, mais até do que para americanos. REQUISITADO - O artista plástico pernambucano Romero Britto foi um dos primeiros brasileiros a se instalar em Miami e fazer sucesso entre os americanos Há dez anos, a imobiliária Elite International Realty recebia dois pedidos por mês de brasileiros interessados em se mudar para o sul da Flórida. Hoje são duas consultas por dia – e de pessoas que não querem baixar o padrão que têm no Brasil. Dona de uma casa de cinco suítes em Miami Beach, usada há três anos como refúgio da família em feriados prolongados, Cristiane Quitete Nogueira, 44 anos, quer se mudar de vez em 2015 com o marido, o empresário aposentado Marco Antônio Gomes Nogueira, 56, e a filha mais nova do casal, Antônia, 5. “Vou em busca de mais qualidade de vida e segurança”, afirma. A questão da segurança é um fator importante na escolha de muitas pessoas. A psicóloga Taluana Cabral, 35 anos, considerou três episódios de violência urbana sofridos por sua família em Santos para que decidisse pela mudança. “Vivia em estado de alerta”, diz. “Em Miami, tenho outro estilo de vida. Matriculei meus filhos numa escola pública de Key Biscayne e faço quase tudo a pé.” Outro atrativo para os brasileiros é o dinamismo típico da sociedade americana. Ao contrário do que acontece no Brasil, montar um negócio nos Estados Unidos requer pouca burocracia. Para abrir uma empresa no ramo de logística, com instalações físicas e alvará de funcionamento, o empresário Junior Amaral, 46 anos, precisou de apenas um mês em Miami. Em São Paulo, chegou a esperar um ano e meio apenas por uma licença da prefeitura. Os brasileiros também estão descobrindo que obter um visto de permanência é menos complicado do que se imagina. Ainda que só a compra de um imóvel não garanta nenhum direito especial, empreendedores dispostos a investir a partir de US$ 500 mil num negócio que gere emprego a americanos ou residentes permanentes legais conseguem um visto de imigrante que, na maioria dos casos, se estende ao cônjuge e aos filhos menores de 21 anos. As licenças de moradia para não imigrantes são boas opções para os estrangeiros que ambicionam fazer um período de experiência nos Estados Unidos. Nesses casos, basta aos interessados se matricular em universidades e outras instituições de ensino, inclusive escolas de idiomas. Nunca foi tão fácil morar em Miami. Será que está chegando a sua vez? 5#2 O MOVIMENTO DAS ANTI-FEMINISTAS Surgem na internet comunidades de mulheres, a maioria jovens, que consideram o feminismo ultrapassado, radical e desnecessário nos dias de hoje Fabíola Perez (fabiola.perez@istoe.com.br) Para um número cada vez maior de mulheres jovens, o feminismo é um movimento ultrapassado, cheio de ideias equivocadas. “Atualmente não temos mais as mesmas desigualdades do passado”, afirma a administradora Léia Sampaio, 24 anos, integrante da comunidade Mulheres Contra o Feminismo e uma das representantes do que está sendo chamado de antifeminismo. Esse grupo cresce na esteira das redes sociais – há uma profusão de comunidades sobre o tema na internet – e, amparado em lemas como “homens e mulheres são diferentes sim e têm de ser tratados como tal”, vem angariando adeptos. Segundo a especialista em feminismo e professora da Universidade de Brasília Susane Rodrigues de Oliveira ideias contrárias à emancipação das mulheres existem desde a Antiguidade, mas têm ganhado expressividade no Brasil por se tratar de um país ainda educado em torno de valores conservadores e cristãos. “Elas veem o feminismo como uma subversão da ordem sacralizada e heterossexual”, afirma. “Trata-se de uma reação de setores mais vinculados à Igreja, que defendem uma concepção de família mais antiquada”, completa Tica Moreno, militante da Marcha Mundial das Mulheres para quem o surgimento de grupos antifeministas deve-se à popularização do feminismo nas redes sociais. À MODA ANTIGA - A mineira Silvania Delduque e o marido, Samy Houchaini: ela diz que o romantismo é visto pelas feministas como uma forma de submissão A administradora Léia chegou a integrar um grupo feminista durante a adolescência. O ponto de virada ocorreu em um debate sobre a legalização do aborto – ela é contra a interrupção da gravidez. Há quatro anos, Léia tornou-se uma das administradoras de um dos grupos de antifeministas da internet. “Quero mostrar à sociedade que para uma mulher lutar por seus direitos ela não precisa ser feminista”, diz. Para a jovem, homens e mulheres não são biologicamente iguais e por isso assumem papéis sociais diferentes. “É preocupante que, para conquistar a igualdade, uma mulher tenha que trabalhar tanto quanto um homem e ficar sobrecarregada”, afirma. A antropóloga e pesquisadora do Núcleo de Estudos de Gênero da Unicamp Guita Grin Debert observa que a diferença de salários, por exemplo, reforça a necessidade da luta feminista no Brasil. “Existem desigualdades entre homens e mulheres e a crítica se dá quando elas são usadas para inferiorizar o gênero feminino”, diz. BANDEIRA - Léia Sampaio, 24 anos, do Movimento de Mulheres contra o Feminismo: "Biologicamente não somos iguais" Estudante de letras e ex-militante feminista, Tamara do Nascimento Mota, 23 anos, começou a se identificar com o antifeminismo quando teve um texto de sua autoria sobre emagrecimento censurado em uma página feminista. “Comecei a perceber que havia uma apologia à obesidade. As feministas diziam que cedíamos à ditadura da beleza imposta”, diz. Para a estudante, o movimento feminista no Brasil adotou ares radicais. “Elas desqualificam e são intolerantes com as mulheres que divergem de sua ideologia”. Fundadora de outra página antifeminista nas redes sociais, a educadora Silvania Delduque, 41 anos, acha que as mulheres devem resgatar o romantismo, visto como submissão pelas feministas. Ela também critica as manifestações públicas dos grupos de igualdade de gênero. “Comecei a notar que muitas utilizam o rótulo de feminista para praticar atos de atentado ao pudor”, diz. Católica, ela acredita que atos que utilizam símbolos religiosos em performances sexuais desmoralizam as mulheres. Para Tica Moreno, da Marcha, porém, quando se busca uma mudança estrutural é necessário ser radical. “As performances fazem parte da nossa estratégia, mas é importante compreender que o feminismo vai além das marchas”, diz. Silvania também questiona a necessidade da luta pela igualdade. “Hoje as mulheres têm seus direitos conquistados e amparos legais para recorrer”, diz. Ela acredita que homens e mulheres têm papéis diferentes: “A mulher é a mãe que deve estar presente na vida dos filhos e o homem é o chefe da família.” A ativista Tica ressalta, entretanto, que a conquista não ocorreu na mesma medida entre os gêneros. Para ela, apesar de as mulheres atuarem cada vez mais no mercado de trabalho, os homens não incorporaram as atividades domésticas em sua rotina. “A sociedade ainda precisa evoluir muito para que as mulheres sejam livres e autônomas”, diz. Até lá, é necessário que levantem a voz por seus direitos e pela preservação de suas conquistas. 5#3 A OLIMPÍADA APORTOU A dois anos dos Jogos Olímpicos, o Rio de Janeiro acelera o ritmo das obras, começa a testar os locais de competição e tenta assegurar uma herança benéfica para toda a cidade. Mas o prazo é curto Lucas Bessel (lucasbessel@istoe.com.br) O terreno onde um dia funcionou o autódromo de Jacarepaguá, na capital do Rio de Janeiro, hoje é um dos maiores canteiros de obras do Brasil. O ritmo frenético de escavadeiras, bate-estacas e caminhões carregados de milhares de toneladas de terra deixa claro que não há tempo a perder na construção do Parque Olímpico da Barra da Tijuca. A correria no complexo de um milhão de metros quadrados que sediará algumas das principais competições dos Jogos de 2016 – como natação, basquete e tênis – contrasta com a calmaria da Marina da Glória. Dali era possível observar, na semana passada, dezenas de veleiros competindo na regata internacional Aquece Rio, primeiro evento-teste para a Olimpíada realizado na cidade. As duas cenas são uma síntese da fase atual de preparação para o evento. De um lado, obras aceleradas e muita cobrança por evolução. De outro, uma cidade que já respira esporte. PRIMEIRO TESTE - Velejadores chegam à Marina da Glória após regata na Baía de Guanabara: está melhor, mas precisa melhorar mais Se a Copa do Mundo ensinou que o pessimismo diante da organização de grandes eventos no País é exagerado, a Olimpíada mostra que materializar um acontecimento desse porte está longe de ser um trabalho simples. “É a maior operação logística em tempos de paz”, afirma o diretor de operações do Comitê Organizador Local (COL), Leonardo Gryner. Paz, entretanto, não é exatamente o que o COL experimentou nos últimos meses. Em abril, após reclamações de atrasos no início das obras, o Comitê Olímpico Internacional (COI) interveio na cúpula do evento e mandou seus próprios especialistas para ajudar – e cobrar muito. Hoje, o clima é muito mais otimista, inclusive entre os estrangeiros. “Sim, estou confiante de que vai dar certo e tudo ficará pronto”, disse o diretor-executivo para os Jogos do COI, o suíço Gilbert Felli. O otimismo é permeado por boas doses de alívio. Finalmente, todas as grandes obras foram iniciadas. Algumas, como as do Complexo de Deodoro, estão em fase inicial – os primeiros tratores começaram a mover terra no início de julho – e são consideradas críticas (confira quadro). Outras, como as da Vila Olímpica, que abrigará cerca de 16 mil atletas, na Barra da Tijuca, já estão mais de 50% completas. De acordo com a organização, o custo estimado para a realização dos Jogos Olímpicos – incluindo obras de infraestrutura, como a expansão do metrô, a modernização de portos e a construção de vias expressas para ônibus – está em R$ 37,6 bilhões. Até agora, 60% do valor veio da iniciativa privada. “Serão os Jogos da economia de recursos públicos, sem elefantes brancos”, disse o prefeito do Rio, Eduardo Paes, que cita o estádio do Engenhão – sede das provas de atletismo – como exemplo de bom uso de estruturas já existentes. A arena, construída para os Jogos Pan-Americanos de 2007, passa por extensas reformas estruturais e ainda precisará receber uma pista completamente nova. COLOSSAL - Área do Parque Olímpico tem um milhão de metros quadrados: obras na Barra da Tijuca avançam em ritmo frenético Até os Jogos Olímpicos, o Rio de Janeiro ainda sediará ao menos 45 eventos-teste que mobilizarão mais de oito mil atletas. As competições acontecerão mesmo em localidades que ainda não estiverem finalizadas. “Não preciso testar o rúgbi com 20 mil lugares, posso fazer com cinco mil”, explica o diretor executivo de esportes do COL, Agberto Guimarães. O próximo evento será uma maratona, em julho de 2015, que avaliará aspectos como bloqueios de ruas, trânsito, segurança e cronometragem. O objetivo de todas essas competições é um só: identificar e sanar potenciais problemas para que eles não ocorram durante a Olimpíada. Problemas que, na Baía de Guanabara, sede das competições de vela e da regata internacional da semana passada, são muito claros. “A poluição da água atrapalha, sim”, diz a velejadora brasileira Isabel Swan. Mas ela afirma ter motivos para acreditar que, até os Jogos, a questão será resolvida. “Na comparação com competições anteriores, esta semana já foi muito melhor, e pode melhorar ainda mais.” Lição que também vale para a cidade e o projeto olímpico como um todo. 5#4 O DESTINO DE PISTORIUS ESTÁ NAS MÃOS DELA Presa por combater o apartheid e rigorosa em suas punições, a juíza Thokozile Masipa irá decidir sozinha se o corredor será condenado pela morte da namorada Raul Montenegro (raul.montenegro@istoe.com.br) Após cinco meses de um julgamento marcado por um enredo novelesco, o corredor sul-africano amputado Oscar Pistorius, 27 anos, que confessou ter matado a tiros sua namorada, Reeva Steenkamp, 30 anos, em fevereiro de 2013, deverá conhecer seu destino nos próximos dias. Na semana passada, a promotoria e a defesa apresentaram seus argumentos finais no tribunal de Pretória, na África do Sul. Na quinta-feira 7, o promotor Gerrie Nel acusou o atleta de mentir durante o processo e disse que ele disparou contra sua companheira através de uma porta depois de uma briga entre os dois. No dia seguinte, o advogado Barry Roux afirmou que o esportista não sabia que a namorada estava atrás da porta e atirou pensando se tratar de alguém que invadira a casa. A decisão final deverá ser tomada no dia 11 de setembro pela juíza Thokozile Masipa, 66 anos, que também se tornou uma estrela do midiático julgamento. NA CORTE - Masipa tem um histórico de punições duras em casos de violência contra mulheres. Pistorius alega que confundiu Reeva com um intruso Negra, a magistrada nasceu na época em que o apartheid começava a vigorar na África do Sul e cresceu na comunidade pobre de Soweto, uma das mais oprimidas pelo governo local – e onde uma série de protestos contra o regime racista estourou em 1976. Um ano depois, Masipa, então jornalista, foi parar na cadeia por participar de uma manifestação que pedia a soltura de repórteres negros presos no período. Passou uma noite até ser liberada. Em 1990, quatro anos antes do fim do apartheid, Masipa formou-se em direito. Desde 1998 ocupa o cargo no qual está hoje. Diferentemente do Brasil, a África do Sul não tem tribunal do júri em casos de homicídio. Uma vez proferida a sentença, os envolvidos poderão apelar da decisão para um tribunal superior de juízes. Até lá, no entanto, o destino de Pistorius caberá apenas a Masipa, que terá o auxílio de dois assessores para chegar a uma conclusão. A juíza tem um histórico de punições duras em casos de violência contra mulheres – já condenou vários estupradores à prisão perpétua, assim como um policial que matou a esposa em 2009. “O juiz não tem como fugir de sua história de vida. E isso influencia na forma como ele vai enxergar o caso”, diz Thiago Bottino, professor de direito penal da Fundação Getulio Vargas (FGV) do Rio de Janeiro. Na maioria dos casos, porém, prisioneiros por toda a vida ganham liberdade condicional após 25 anos na cadeia. 5#5 CRISE NA ÓPERA DE NOVA YORK Colapso financeiro pode fechar a Metropolitan Opera de Nova York, uma das maiores e mais prestigiadas companhias teatrais do mundo Paula Rocha (paularocha@istoe.com.br) Consagrada por encenar alguns dos maiores melodramas do teatro mundial, como “Romeu e Julieta”, de Shakespeare, e “Anna Bolena”, de Gaetano Donizetti, a Metropolitan Opera de Nova York protagoniza agora um colapso financeiro com ares dramáticos. Pelo segundo ano consecutivo, a prestigiada companhia teatral deve registrar um déficit que beira os US$ 3 milhões. A redução de doações mais a queda na bilheteria e os custos cada vez mais altos das produções seriam as causas desse descompasso. Para tentar sanar o rombo, Peter Gelb, diretor da instituição, sugeriu cortes em salários e benefícios dos mais de dois mil funcionários, medida que o elevou ao posto de vilão da vez – 15 sindicatos que representam os trabalhadores da Met Opera não concordam com a proposta e o acusam de má gestão. Caso o imbróglio não seja solucionado nos próximos dias, a companhia pode fechar as portas por tempo indeterminado. OPULÊNCIA – O Campo de papoulas de seda para a peça "Príncipe Igor" custou mais de US$ 165 mil Em defesa de Gelb, dados apontam que dois terços do orçamento da entidade, cerca de US$ 211 milhões, são comprometidos com o pagamento dos funcionários. O salário de um integrante do coral, por exemplo, pode chegar a US$ 200 mil por ano. Os trabalhadores, por sua vez, afirmam que a instabilidade financeira atual é resultado de más escolhas de Gelb, que está há nove anos no cargo, e foi o responsável por transmitir as óperas da Met, ao vivo e em alta definição, para salas de cinema no mundo todo, incluindo o Brasil. Apesar do sucesso dessa iniciativa, que já conquistou mais de 14 milhões de espectadores ao redor do globo, outras ideias não tiveram o mesmo êxito, como a construção de um campo de papoulas de seda para a peça “Príncipe Igor”, do compositor russo Alexander Borodin. Só este cenário custou mais de US$ 165 mil e a baixa procura por ingressos não teria justificado o gasto. APELO - Funcionários pedem o não fechamento da Met Opera Mais do que um colapso financeiro, o drama nos bastidores da maior instituição de artes cênicas dos EUA é sinal de uma crise conceitual na arte, na opinião de Soledad Galhardo, do curso de pós-graduação em gestão cultural do Centro Universitário Senac, de São Paulo. “Assistimos ao fim da hegemonia das companhias monumentais de espetáculos e à ascensão de uma arte menos pomposa e mais acessível”, acredita. 5#6 "O PAPA APRECIA A TEOLOGIA DA LIBERTAÇÃO" Ideólogo do movimento católico identificado com as questões sociais, o teólogo Leonardo Boff fala sobre a reabilitação do padre nicaraguense Miguel d'Escoto, um dos expoentes dessa corrente Débora Crivellaro (debora@istoe.com.br) Os últimos anos não foram fáceis para os simpatizantes da Teologia da Libertação (TL), movimento católico que interpreta o Evangelho à luz das questões sociais. Os dois últimos papas, João Paulo II e Bento XVI, trataram de punir teólogos, modificar grades curriculares de seminários e esvaziar cardeais, bispos e padres identificados com essa corrente. Mas Francisco parece querer mudar o curso dessa história. Na semana passada, ele removeu a suspensão “a divinis”, que, em tese, não poderia ser cancelada, feita por João Paulo II ao padre e ex-ministro das Relações Exteriores da Nicarágua Miguel d’Escoto, 81 anos. Um dos idealizadores da TL, o ex-frei e teólogo Leonardo Boff é um dos melhores amigos do sacerdote nicaraguense. “Fui seu assessor quando ele foi eleito presidente da Assembléia das Nações Unidas”, diz. A seguir, ele fala o que essa iniciativa significa para a Igreja Católica. ISTOÉ – O sr. concorda quando se diz que o papa Francisco não é simpático à Teologia da Libertação? Leonardo Boff – Não. O papa Francisco sempre se entendeu dentro da teologia da libertação de vertente argentina, que vem sob o nome de “teologia do povo” ou “teologia da cultura oprimida”. Dela tirou a decisão de viver na pobreza, frequentar as favelas e lutar por justiça social. Tanto aprecia a teologia da libertação que recebeu no dia 11 de setembro de 2013, em audiência privada, o fundador dessa teologia, o peruano Gustavo Gutiérrez. Também já me solicitou textos sobre ecologia. ISTOÉ – O sr. acha que pode nascer um movimento de reabilitação da Teologia da Libertação neste pontificado? Leonardo Boff – O papa não precisa reabilitar a Teologia da Libertação porque a está confirmando por sua prática e palavras. ISTOÉ – O sr. acha que a Nicarágua, do padre Miguel d’Escoto, viveu de forma diferente a Teologia da Libertação? Lá, os religiosos católicos assumiram cargos políticos importantes. Leonardo Boff – Na Nicarágua viveu-se uma situação de extrema urgência. Triunfou a revolução, na qual participaram muitos cristãos, e não havia quadros. A Igreja não buscou o poder, queria apenas servir ao povo para consolidar a revolução. O papa Paulo II cometeu um grave erro ao condenar a Teologia da Libertação. RETORNO - Miguel d'Escoto: punição cancelada por Francisco ISTOÉ – Muitos dizem que a Teologia da Libertação foi praticamente dizimada nos últimos anos. O sr. concorda? Leonardo Boff – Como a Teologia da Libertação não é mais polêmica, como foi anos atrás, tornou-se um pouco invisível, mas não ausente. Sempre que há um Fórum Social Mundial, que ajudamos a fundar, ocorre o Fórum Mundial da Teologia da Libertação e nunca há menos de três mil, quatro mil pessoas. Os principais teólogos latino-americanos são teólogos da libertação. Hoje ela está no seu lugar verdadeiro: no meio dos pobres. ISTOÉ – Em quais países a Teologia da Libertação foi vivida de forma mais intensa? Leonardo Boff – O Brasil foi um dos primeiros a assumir a Teologia da Libertação. O próprio Gustavo Gutiérrez, seu primeiro formulador, confessa que ela nasceu no Brasil, ao redor da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) e da figura carismática de Dom Helder (Câmara). Durante a ditadura militar foi uma das forças sociais de maior crítica e resistência. ___________________________________ 6# MEDICINA E BEM-ESTAR 13.8.14 CERCO AO EBOLA A Organização Mundial de Saúde declara a epidemia uma emergência mundial. O Brasil e o mundo se preparam para se proteger do vírus, que já matou quase mil pessoas até agora na África Cilene Pereira (cilene@istoe.com.br) e Helena Borges (helenaborges@istoe.com.br) A epidemia de Ebola que castiga os países africanos Serra Leoa, Guiné e Libéria ganhou contornos ainda mais preocupantes na semana passada. Na sexta-feira 8, a Organização Mundial da Saúde (OMS) declarou a proliferação do vírus uma emergência de saúde internacional. A OMS considera a atual epidemia um evento extraordinário. “É a mais complexa de toda a história da doença”, disse a médica Margaret Chan, diretora-geral da instituição. Na avaliação da entidade, as possíveis consequências da internacionalização da epidemia são sérias, particularmente em vista da agressividade do vírus. É a terceira vez nos últimos anos que a OMS determina uma emergência mundial. Em 2009, a pandemia de gripe causada pelo H1N1 recebeu a classificação e, em maio, foi a vez da ameaça da volta da poliomielite a países nos quais a doença está erradicada. Em relação ao Ebola, a entidade não determinou a proibição de comércio com as nações atingidas ou de viagens internacionais a esses locais, mas recomendou aos governos que informem os viajantes com esses destinos sobre como minimizar os riscos de contaminação. Além disso, orientou que os países estejam preparados para detectar casos e tratá-los e que tenham planos para repatriação de cidadãos que foram expostos. Nos países afetados, referendou a necessidade de submeter a exames pessoas com sintomas que passem por aeroportos, portos e postos fronteiriços e da aplicação de medidas efetivas de proteção dos profissionais que lidam com os doentes. Os pacientes não devem deixar seus países, salvo se for para receber tratamento médico em outro país. A OMS quer reunir esforços para conter a epidemia, que até agora não deu sinais de arrefecimento. Até sexta-feira, haviam sido registrados 1.711 casos e 932 mortes. O sinal mais importante de que ela pode se espalhar ainda mais foi a confirmação de nove casos na Nigéria, país de porte muito maior do que as nações atingidas até então e também com relações muito mais intensas com o resto do mundo. Além disso, um homem morreu na Arábia Saudita com sintomas, outras duas pessoas estão sendo monitoradas na Inglaterra e em Benin, na África, e na Tailândia 21 turistas também estão sob observação. TRATAMENTO - Na quinta-feira 7, o padre espanhol Miguel Pajares chegou a Madri, na Espanha, levado da Libéria, onde foi infectado Diante da ameaça, o mundo reagiu. A Nigéria começou a montar centros de atendimento de urgência. Na Libéria, soldados impedem que moradores de áreas atingidas cheguem à capital, Monróvia. Na Espanha, foram adotadas todas as precauções no transporte do padre Miguel Pajares da Libéria a Madri, onde está internado depois de se contaminar. Nos Estados Unidos, o Centro de Controle de Doenças (CDC), em Atlanta, considerado a maior referência do mundo no combate a doenças infectocontagiosas, elevou o surto para nível 1 de alerta. Postos de quarentena estão montados em portos, aeroportos e postos de fronteira de 20 cidades e aumentou o número de funcionários no Centro de Operações de Emergência, que rastreia casos. No Brasil, na sexta-feira 8 o ministro da Saúde, Arthur Chioro, anunciou que indivíduos das áreas afetadas que manifestem desejo de vir ao Brasil passarão por triagem médica antes de embarcar. “Reforçaremos a vigilância epidemiológica do viajante”, informou. A OMS, porém, não tem nenhuma recomendação nesse sentido. Além disso, serão colocados nos aeroportos avisos a passageiros que estiverem febris para que procurem postos da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). Antes, na quarta-feira 13, Jarbas Barbosa, secretário de Vigilância em Saúde do Ministério, reuniu-se por videoconferência com os secretários estaduais de saúde para reforçar as medidas a serem adotadas em caso de suspeita de infecção (leia mais no quadro à pág. 70). O trabalho deve ser feito de forma coordenada entre os serviços de vigilância sanitária, especialmente os localizados em portos e aeroportos, e os hospitais de referência no tratamento de doenças infectocontagiosas para onde seriam levados os pacientes. Cada Estado deve ter uma instituição com esse perfil. “É preciso ter leitos isolados. E qualquer instituição de referência em enfermidades transmissíveis tem um”, disse Barbosa. O Ministério também enviou às secretarias uma cartilha com as orientações. Em São Paulo, profissionais do Instituto de Infectologia Emílio Ribas – uma das principais referências em atendimento de moléstias infecciosas do País – vêm se aprimorando para a eventualidade de receberem um caso. “Estamos treinando novamente todos os que podem entrar em contato com esse tipo de paciente”, disse o infectologista Ralcyon Teixeira, chefe do Pronto-Socorro da instituição. Por lá, o paciente seria recebido no serviço de emergência e depois internado em um leito na UTI (são 17). “Nossos leitos são equipados com um sistema no qual o fluxo de ar que sai do quarto é purificado para evitar que o ambiente seja contaminado”, explica o médico. “E o ar do quarto é filtrado e purificado.” No caso do Ebola, a transmissão não ocorre pelo ar. Por isso, os médicos dizem que, se a demanda por leitos aumentar, é possível colocar os contaminados em quartos comuns. “O essencial é que o doente seja internado em leito sozinho e com acesso limitado de pessoas”, afirma Teixeira. Entre outras questões repassadas no Emílio Ribas estão coisas como decidir que avental impermeável usar para evitar a contaminação do profissional. Eles têm dois: um verde e um branco. Optaram pelo branco, mais resistente. Eles vestirão ainda macacão e bota impermeável, máscara e proteção para o rosto com viseira e dois pares de luvas. Relembraram ainda a importância de registrar o nome de todo profissional que tiver contato com o doente ou entrar em seu ambiente e bem como o horário da visita. É uma precaução para que essas pessoas sejam monitoradas se surgir algum problema. Entre autoridades de saúde e estudiosos, no entanto, é consenso que o risco de o Ebola chegar por aqui é baixo. Várias explicações sustentam a previsão. Uma é de ordem científica. “Todos os elementos da cadeia epidemiológica de transmissão do vírus estão na África. Aqui não existem animais que possam carregá-lo”, afirma Crispim Cerutti Junior, da Associação Brasileira de Saúde Coletiva. Ele se refere a espécies de morcegos que servem de reservatórios do Ebola. Outra diz respeito ao nível de perícia dos profissionais envolvidos no atendimento a males contagiosos. Desde 2011, por exemplo, há treinamentos de vigilância epidemiológica visando a grandes eventos. “As simulações de incidente biológico incluem o caso Ebola”, diz a infectologista Otília Lupi, da Fundação Oswaldo Cruz, do Rio de Janeiro. Além disso, há uma experiência significativa armazenada no trato de pacientes com doenças infecciosas sérias, como a Aids. “No Brasil, é inadmissível hoje um enfermeiro manusear um paciente sem luvas ou usar agulhas que não sejam descartáveis ou esterelizadas”, diz Otília. Isso é importante porque, no caso do Ebola, a transmissão ocorre pelo contato direto com sangue, excreções ou secreções da pessoa infectada ou com objetos contaminados. Outro aspecto levantado é a existência de grandes diferenças culturais entre o Brasil e os países onde ocorre a epidemia. Na África, muitas famílias mantêm os pacientes em casa, o que facilita o contágio dos outros moradores. E insiste-se no ritual de velório que inclui a lavagem do cadáver à mão e sem luvas. Há, porém, inquietações. “Nosso temor é a epidemia se expandir em direção a países com maior conexão com o Brasil, como Angola. Aí sim estaríamos em risco de o vírus chegar”, diz Otília. Não se pode esquecer, também, que a conexão do País com a Nigéria, onde já há infectados, também é considerável. _______________________________________ 7# ECONOMIA E NEGÓCIOS 13.8.14 7#1 OS FUNCIONÁRIOS FOLGAM, AS EMPRESAS LUCRAM 7#2 PARA NÃO DERRAPAR NO ALUGUEL DE CARRO NO EXTERIOR 7#1 OS FUNCIONÁRIOS FOLGAM, AS EMPRESAS LUCRAM Uma tendência ganha espaço no mundo corporativo brasileiro: companhias de todos os portes reduzem o horário de trabalho dos empregados e recebem em troca o aumento da produtividade Luisa Purchio (luisapurchio@istoe.com.br) São quase oito horas da manhã e Weenna Ribeiro, 36 anos, já deixou a filha Júlia, de 6, na escola. De lá, a analista de recursos humanos segue para a Bosch, multinacional alemã de engenharia e eletrônica sediada em Campinas (SP). Ao meio-dia, Weena termina o expediente, desliga o computador e vai buscar Júlia no colégio. O resto do dia elas passam juntas. A jornada reduzida é fruto de uma negociação que a executiva fez depois que Júlia ficou doente. “Tive que repensar a vida”, diz. Replanejar tudo significou pedir demissão da própria Bosch. O afastamento, porém, durou apenas um ano. De volta à multinacional, Weena trabalha atualmente quatro horas por dia. O salário caiu, mas a vida melhorou. “Conviver com uma criança não tem preço”, afirma. A história descrita acima representa uma tendência cada vez mais presente nas empresas brasileiras. Elas descobriram que, ao fazer concessões na jornada de trabalho, é possível manter os melhores quadros. Mais do que isso: horários flexíveis podem até aumentar a produtividade – e, portanto, trazer melhores resultados para os balanços. MUDANÇA - Marina Peliello, da Vagas.com, empresa que eliminou hierarquias, e Weenna Ribeiro, da Bosch, que trabalha das 8h ao meio-dia para ficar com a filha Um caso interessante é o da empresa de recrutamento Vagas.com, uma das líderes do setor no País. A Vagas não estabelece horários fixos de entrada e saída e muitas das hierarquias foram suprimidas. O modelo, que recebe o nome de holocracia, estimula o surgimento de líderes naturais e não os impostos pela direção. “Eu não saio da empresa nem por um salário mais alto”, diz Marina Corrêa Peliello, 26 anos, responsável por intermediar os contatos entre um candidato a uma vaga e futuros empregadores. O resultado desse jeito diferente de ser está na performance econômica: há muito tempo a Vagas cresce acima de 20% ao ano. No Brasil, a flexibilidade da jornada tem sido adotada por empresas de todos os portes. A Mondelez, multinacional americana que detém marcas como Lacta e Trident, dispensa de trabalhar depois das 13h, em duas sextas-feiras do mês, os 1,5 mil funcionários da área administrativa de São Paulo. Estimular a felicidade dos funcionários não é uma questão de bondade por parte das empresas. Trata-se, acima de tudo, de uma preocupação financeira. Presidente do Google, que adota uma política de flexibilidade total nos horários de trabalho, Larry Page defende que, no futuro próximo, quem não entender isso ficará condenado ao fracasso. O mexicano Carlos Slim, o homem mais rico do mundo, vai além. Segundo ele, em breve os finais de semana terão de ser ampliados para que as pessoas desfrutem de tempo livre e, assim, se sintam estimuladas a produzir mais no horário do expediente. O recado é claro. Não interessa manter um empregado12 horas dentro de um escritório fechado se ele não produz a contento. No mundo do trabalho moderno, o funcionário fica na empresa apenas o tempo realmente necessário – simular eficiência não vai funcionar mais. “A ideia é fazer com que a pessoa fique na empresa o tempo que quiser, mas produzindo”, afirma Alexandre Teixeira, jornalista e autor do livro “Felicidade S.A.”. As novas relações entre funcionários e empregadores estão sendo construídas com a ajuda da internet. Graças a ela, é possível trabalhar remotamente, numa praia distante ou num prédio comercial, e em qualquer horário, de manhã ou de madrugada. O próximo desafio será evitar que a facilidade proporcionada pela tecnologia não tenha um efeito adverso – o de fazer com que as pessoas trabalhem o tempo todo, em qualquer lugar. No Brasil, outra dificuldade é adaptar a legislação trabalhista para as novas demandas do mercado. “Pela CLT, a empresa tem de controlar o número de horas que o funcionário trabalha”, afirma o especialista Alexandre Teixeira. “Se não controlar, ela fica sujeita a uma ação trabalhista.” Para o professor de gestão de pessoas da USP Wilson Amorim, o ideal seria deixar o funcionário escolher em qual regime deseja trabalhar. “O modelo pode ser vantajoso para uns, mas prejudicial a outros”, afirma. Outro entrave é a cultura organizacional da maioria das empresas brasileiras. No ano passado, o Banco Mundial promoveu em São Paulo um projeto-piloto com 20 companhias interessadas em flexibilizar os horários de trabalho dos funcionários. Depois de seis meses de estudos e discussões, só duas empresas adotaram novas práticas de gestão. 7#2 PARA NÃO DERRAPAR NO ALUGUEL DE CARRO NO EXTERIOR Ao retirar o carro em outro País, muitas pessoas são surpreendidas pela cobrança de impostos e taxas extras. Saiba como não cair em armadilhas e conheça os melhores caminhos para planejar a viagem Por Luisa Purchio (luisapurchio@istoe.com.br) Nunca foi tão fácil alugar um carro para desbravar outro País, mas entender as inúmeras regras internacionais e as excessivas taxas embutidas na locação pode não ser tão simples assim. Um dos erros mais comuns é alugar pela internet um carro que está com o preço baixo e ser surpreendido, na retirada do automóvel, com a cobrança de valores extras, como seguro obrigatório e a contratação do serviço de pedágio expresso. “Os sites dão todas as informações necessárias, mas as pessoas não estão habituadas a ler com atenção”, alerta Paulo Gaba Júnior, presidente da Federação Nacional das Locadoras de Automóveis (Fenaloc). Algumas dicas podem aliviar o bolso do consumidor. Adquirir um carro com quilometragem controlada sai mais barato que a quilometragem livre, mas funciona apenas para os viajantes que conseguem planejar a distância que vão percorrer. Outro conselho é adquirir serviços adicionais no momento da reserva do veículo. “Aproveite sempre os pacotes com seguro. Contratar o serviço no momento da retirada do veículo pode custar três vezes mais”, afirma Diego Fernandes, gerente do call center da Sixt. _________________________________________ 8# MUNDO 13.8.14 AINDA É POSSÍVEL ALCANÇAR A PAZ? O movimento islâmico Hamas não aceita prorrogar trégua com Israel em Gaza e bombardeios são retomados. Com esse cenário, negociações para um cessar-fogo permanente tornam-se cada vez mais difíceis Ludmilla Amaral (ludmilla@istoe.com.br) O conflito entre israelenses e palestinos, que já dura 60 anos, ganhou novos capítulos na última semana. Às 2 horas da sexta-feira 8 foi encerrada a trégua de 72 horas estabelecida entre Israel e facções palestinas na Faixa de Gaza, após negociadores não conseguirem chegar a um acordo final para que o cessar-fogo temporário entre as partes fosse estendido. Apesar de os dois lados da trincheira terem sinalizado mais uma vez com a possibilidade de fazer concessões e, com isso, encerrar a contenda que alcançou seu ápice no último mês com uma sangrenta escalada de violência, a paz na região ainda parece ser uma quimera. Quatro horas antes do fim do cessar-fogo, foguetes lançados da Faixa de Gaza atingiram o território israelense. “Agora mesmo, dois foguetes disparados de Gaza atingiram o sul de Israel. Os terroristas violaram o cessar-fogo”, afirmou o Exército de Israel. O líder do Hamas, Moussa Abu Marzouk, rebateu: “Se havia uma oportunidade de paz, foi perdida junto com os corpos de nossas crianças e os escombros de nossas casas”, afirmou. No fim da manhã da sexta-feira 8, Israel já retomava os bombardeios contra Gaza. ECOS DO CONFLITO - Na sexta-feira 8, enquanto cidadãos palestinos deixavam suas residências nas regiões norte e leste da cidade de Gaza, o Exército de Israel se reunia para organizar novos ataques, diante da recusa do Hamas em prolongar o cessar-fogo Desde o primeiro dia da ofensiva militar na Faixa de Gaza, em 8 de julho, até o início da trégua, 1.875 pessoas morreram, incluindo 430 menores de idade e 243 mulheres no lado palestino. No lado israelense, morreram 64 soldados e três civis. Como os dois lados se recusaram a reunir-se frente a frente, mediadores egípcios foram escalados para articular a extensão da trégua, além de tentar abrir negociações em direção a um acordo permanente de cessar-fogo. Em vão. Um dos principais argumentos do Hamas para rejeição da ampliação do cessar-fogo foi o fato de os israelenses não aceitarem acabar com o bloqueio sobre a Faixa de Gaza, que já dura oito anos, a principal exigência do grupo. Diante do impasse, milhares de cidadãos palestinos deixaram na sexta-feira 8 suas casas nas regiões norte e leste da cidade de Gaza, onde aconteceram os enfrentamentos mais violentos durante o mês de julho. Para o especialista em Oriente Médio e professor da FGV e Rio Branco, Guilherme Casarões, como o Hamas e o governo sob a batuta do primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, assumiram uma postura de extremo radicalismo e não representam os anseios de toda a população, a paz definitiva naquela região parece não ser uma opção em um futuro próximo. O professor de história e sociologia do Mackenzie, Alexandre Hecker, faz uma projeção ainda mais pessimista. “Apesar de todas as tentativas, eu não acredito que possa haver paz nos próximos 500 anos lá”, opina Hecker. Na avaliação de Casarões, os EUA deveriam adotar uma postura mais contundente, em vez de apenas mediar o conflito, e Israel precisaria compreender que, sem aceitar algumas condições, não há como chegar a um consenso negociado. “Os EUA deveriam pressionar mais politicamente. E cabe ao Netanyahu dar o primeiro passo, fazendo algumas concessões. A paz só vai acontecer quando o governo de Israel sentar com os palestinos e resolver isso. Mas eles têm medo, porque o único ministro de Israel que negociou com os palestinos foi morto por um judeu ortodoxo”, lembrou numa referência a Yitzhak Rabin, assassinado em 1995 pela direita radical israelense. Para Hecker, a ONU, que nos últimos dias recomendou a extensão do cessar-fogo, poderia constituir uma força de paz e implantá-la no território da Palestina, na Cisjordânia. Mas a medida, argumenta o especialista, “significaria diminuir o poder de Israel, e isso os Estados Unidos nunca iriam permitir”. _________________________________________ 9# TECNOLOGIA E MEIO AMBIENTE 13.8.14 MEDO E SECA EM LAS VEGAS Em meio a uma seca devastadora, a Cidade do Pecado, ao contrário do que fez São Paulo, investe quase US$ 1 bilhão em um sistema de captação antes que seja preciso racionar a água Ana Carolina Nunes (acarol@istoe.com.br) Las Vegas ainda não vive tempos de racionamento não oficiais como São Paulo. Mas uma seca persistente, o aumento populacional e o consumo sem limites da escassa água nessa região desértica estão se tornando uma séria ameaça a uma das mais populares cidades americanas. A situação tem se tornado tão preocupante que as autoridades de Nevada, o Estado em que Las Vegas está abrigada, abrem os cofres e investem quase US$ 1 bilhão em projetos emergenciais de captação de água. O governo também está criando leis que impedem que os quase dois milhões de moradores da região metropolitana mantenham jardins com grama, que precisam ser regados. A nova legislação também obriga os hotéis a reciclar até mesmo a água das descargas de seus milhares de quartos. MAIS FUNDO - O novo duto de captação vai descer mais de 90 metros de profundidade no Lago Mead Ao contrário de São Paulo, que hoje depende quase exclusivamente dos humores da natureza para não ver seu principal manancial secar e enfrentar uma crise de abastecimento sem precedentes, Las Vegas ainda não sofre com a falta de água. E não deve sofrer pelos próximos anos, graças aos investimentos que estão sendo feitos de forma preventiva. Hoje, cerca de 90% da água consumida pela cidade é captada no Lago Mead, o maior reservatório de água potável construído pelo homem nos Estados Unidos. A cidade conta com dois túneis de captação, um construído na década de 60 e que desce 33 metros, e um segundo, construído no início dos anos 2000, que busca água a 48 metros de profundidade em relação à lâmina de água. Os dois túneis de captação seriam suficientes para abastecer a cidade se o Lago Mead não estivesse simplesmente secando. Com menos de 40% de sua capacidade total, a estimativa é que o primeiro túnel comece a sugar apenas ar até o fim deste ano. Se não houver uma ampliação nas chuvas – e as previsões indicam que a região continuará seca – até o final de 2015 a lâmina de água ficará abaixo do segundo túnel. EXAGERO - O consumo de água per capita diário em Las Vegas passa dos 800 litros Por isso um terceiro túnel, que chegará quase ao fundo do lago, a 91 metros de profundidade, está sendo escavado neste momento. Nevada e a cidade de Las Vegas estão investindo US$ 817 milhões nesse ambicioso projeto que promete, sozinho, abastecer toda a região metropolitana enquanto os níveis do Lago Mead não aumentarem. É um projeto programado para ficar pronto no final de 2015, que, no entanto, não garante que os problemas de abastecimento de água estarão resolvidos. O Lago Mead foi formado após a construção da famosa represa Hoover, na década de 1930. Ele é abastecido pelo rio Colorado, que tem suas águas utilizadas para servir grandes cidades americanas como Los Angeles, Phoenix e Tucson. Por conta da seca de mais de uma década, o rio simplesmente não está conseguindo repor a água que é retirada do Mead. “Se nada for feito, se não pararem as construções, Las Vegas não se salvará”, diz Tim Barnett, um pesquisador da Universidade da Califórnia. Os estudos de Barnett apontam que, sem cortes drásticos no consumo da região, há 50% de chance de o reservatório ser considerado “morto” até 2036. “E o mais absurdo é que continuam construindo e construindo na região”, diz. O próximo passo para a sobrevida de Las Vegas é um amplo e extenso programa de restrição ao uso abusivo das águas, algo que ainda não é exatamente bem visto pelos luxuosos hotéis da cidade, como o Bellagio e sua suntuosa e famosa fonte de águas dançantes. Mas, como estão aprendendo os paulistanos, muitas vezes é melhor se antecipar ao problema do que simplesmente não ter alternativas para enfrentá-lo quando já for tarde demais. ____________________________________ 10# CULTURA 13.8.14 10#1 ARQUITETURA - O MUNDO VÊ LINA BO BARDI 10#2 TELEVISÃO - 70: A DÉCADA QUE NÃO TERMINA 10#3 LIVROS - ENTRE O GOLPE E O FIM 10#4 EM CARTAZ – CINEMA - GRAMADO SE DESPEDE DE JOSÉ WILKER 10#5 EM CARTAZ – CD - O MELHOR AMIGO DE ERIC CLAPTON 10#6 EM CARTAZ – MÚSICA - O TERROR DOS MORALISTAS 10#7 EM CARTAZ – DVD - CLÁSSICOS DO SUSTO 10#8 EM CARTAZ – LIVROS – NOS BASTIDORES DA POLÍCIA CARIOCA 10#9 EM CARTAZ – AGENDA - MIRA/MOSTRA/CLÓVIS 10#10 ARTES VISUAIS - ESTUDOS SOBRE A VIZINHANÇA 10#11 ARTES VISUAIS – ROTEIROS - O RIO EM CORPO, MENTE E ESPÍRITO 10#1 ARQUITETURA - O MUNDO VÊ LINA BO BARDI Criadora de alguns dos mais importantes edifícios do País, a arquiteta tem a obra exibida no Brasil, nos EUA e na Europa. Enquanto isso, o Masp, seu projeto mais conhecido, se prepara para a maior alteração de sua história Ana Weiss (ana.weiss@istoe.com.br) Até chegar ao Brasil, em 1946, Lina Bo Bardi nunca tinha visto um edifício seu sair do papel. Formada em arquitetura no período entre guerras, a jovem estagiária de Gio Ponti vivia como jornalista até colocar os pés no País, na companhia do marido, o colecionador Pietro Maria Bardi, a convite de Assis Chateaubriand para criar um museu que revolucionaria o cenário das artes. O casal tinha duas urgências na chegada: erguer o museu e uma casa para viver. Assim, nasceram o Museu de Arte Moderna de São Paulo, o Masp, e a Casa de Vidro, projetos que hoje circulam o mundo como dois exemplos expoentes da arquitetura moderna brasileira. Com o pretexto do centenário do nascimento da arquiteta, exposições com postais brasileiros como o Sesc Pompeia e o Teatro Oficina, ambos em São Paulo, e o Museu de Arte Moderna da Bahia viajarão pela Europa, outras abrem no País e uma retrospectiva deverá ocupar o Museu de Arte Moderna de Nova York (MoMA) no ano que vem. Enquanto o mundo celebra a ousadia de Lina Bo Bardi, o Brasil poderá testemunhar uma transformação sem precedentes no Masp, seu trabalho mais reconhecido: a construção de um edifício anexo, projeto patrocinado pela Vivo por R$ 12 milhões e vetado em seguida pelo Conselho Municipal de Preservação do Patrimônio Histórico, Cultural e Ambiental (Conpresp) em 2005, diante dos protestos na alteração da proposta original de Lina Bo Bardi. “É preciso adequar o Masp à realidade dos anos 2000 e isso também vale para o edifício”, disse à ISTOÉ Heitor Martins, sócio da McKinsey & Company e ex-presidente da Bienal de São Paulo. Indicado para assumir a presidência da instituição pelo banco Itaú, que assumiu este ano as dívidas de cerca de R$ 10 milhões do museu, o executivo deixou claro que não fala ainda pelo Masp, mas confirma que a adequação do edifício é uma das missões da gestão, que deve começar oficialmente no início de setembro. “O Masp foi projetado nos anos 1950, para as necessidades da cidade nos anos 1950 e para um público dos anos 1950”, avalia ele. “A realidade hoje é completamente diferente e as alterações para colocar o museu em sintonia com seu tempo serão prioridade. E a ampliação do edifício, sem dúvida, é uma necessidade.” Se a nova gestão do museu correr com as suas metas, as imagens do Masp que circulam pelo mundo serão cartões-postais desatualizados da cidade de São Paulo. 10#2 TELEVISÃO - 70: A DÉCADA QUE NÃO TERMINA Na guerra pela audiência, a Rede Globo olha para trás e busca no sucesso do passado a fórmula para alavancar o difícil horário das 18h Rodrigo Cardoso (rcardoso@istoe.com.br) Mais que moda ou pura nostalgia, o espírito dos anos 1970 volta às telas da Rede Globo para tentar salvar o Ibope do horário, que atingiu a pior pontuação histórica na anterior “Meu Pedacinho de Chão”, de Benedito Ruy Barbosa. “Boogie Oogie”, nova novela das 18h da Rede Globo, estreou na segunda-feira 4, exibindo ícones daquela década a cada cena e uma seleção de hits da chamada “Era Disco” difícil de achar até mesmo em LPs da época. A missão é clara: alavancar o horário que marcou a pior audiência de um último capítulo de novela, 19,1 pontos no Ibope, na sexta-feira (1º/8). Ambientada em uma boate, em 1978, o novo folhetim olha para trás. Mais precisamente para outra produção da mesma emissora, “Dancyn’ Days”, exibida nos mesmos 1978 e , não por acaso, de volta ao ar no canal Viva. PANTERAS - Deborah Secco, em "Boogie Oogie", e seu visual à la Farrah Fawcett: símbolos sexuais Autor de “Boogie Oogie”, o moçambicano Rui Vilhena tinha 18 anos em 1978. Um ano antes, o filme “Os Embalos de Sábado à Noite”, que catapultou John Travolta à fama, fez o mundo riscar as pistas. Vilhena não fugiu à regra. Foi ver como era a vida nas discotecas do Rio de Janeiro, que, naquela época, era uma festa, uma descontração que terminava na pista de dança. “Quero transmitir na história esse astral”, diz o autor. A febre não é local. Em Hollywood, a década de 70 fervilha desde o ano passado. “Argo”, que ganhou duas estatuetas do Oscar em 2013, abusou de golas compridas, costeletas e calças boca de sino na composição dos personagens. Este ano, “Trapaça” concorreu ao Oscar de melhor figurino vestindo Amy Adams com decotes profundos e mostrando Bradley Cooper com cabelo cacheado. Já faz, aproximadamente, dois anos que o mercado da moda, lá fora, colocou o metalizado, as franjas, o macacão e as bijuterias de forma mais geométrica com força novamente nas prateleiras. Na releitura de looks que foram tendência quatro décadas atrás, a Globo fez de Deborah Secco uma espécie de Farrah Fawcett, a eterna pantera, com calça de cintura alta e cabelo escovado. REVIVAL - Bianca Bin com o visual inspirado na personagem de Sônia Braga em "Dancyn' Days", de 1978: da discoteca para as ruas Já a atriz Bianca Bin, colega de elenco, pode ser vista em uma cena de hot pants (shorts curtos com cintura alta), meia e salto plataforma como a Julia Mattos vivida por Sônia Braga em “Dancyn’ Days”. A década de 1970 foi um momento paradoxal no Brasil. A ditadura militar perseguia, torturava e matava. Mas havia na música, no cinema e nas artes uma esperança pela abertura. Mais que isso, apesar da censura apertada em todas as áreas da cultura, a criação fervilhava, com uma qualidade que depois disso não mais se viu. “A década de 70 parece não ter ficado para trás porque quem fazia e acontecia não morreu nem física nem culturalmente falando. Eles, Chico Buarque, Caetano Veloso, Gilberto Gil, estão aí e produzindo”, afirma a antropóloga Mirian Goldenberg, autora de “Toda Mulher É Meio Leila Diniz”. Os três últimos anos que precederam a década de 80, porém, foram de pura euforia, marcados por ousadias no campo do comportamento, como a legalização do divórcio, em 1977. “As passeatas eram muito felizes, havia um sentimento do ‘Vai Passar’ que o Chico (Buarque) cantava, um começar de um abrir as asas”, conta a psicanalista Maria Rita Kehl, que atuou em movimentos de contestação e resistência ao regime militar no período. Quem foi jovem naquela época diz que nunca houve tempo tão divertido. Quem não viveu (como a maior parte do elenco de “Boogie Oogie”) olha com encantamento para ela e constata que algo muito interessante aconteceu lá atrás. 10#3 LIVROS - ENTRE O GOLPE E O FIM Volume encerra trilogia sobre Getúlio Vargas com retrato dos seus últimos anos de vida, a partir de correspondência inédita dele com a filha Daniel Solyszko (daniel@istoe.com.br) Entre enormes quantidades do tranquilizante Nembutal e conselhos espirituais de um médium, Getúlio Vargas passou os anos seguintes ao golpe que pôs fim ao Estado Novo na sua cidade natal de São Borja (RS), tramando seu retorno político, que ocorreria com a esmagadora vitória nas eleições de 1950. Esse é o mote de “Getúlio 1945-1954”, que chega às livrarias esta semana, fechando a trilogia do jornalista Lira Neto sobre o estadista. EM FAMÍLIA - O autor usou como fonte correspondência inédita entre Getúlio e sua filha do meio, Alzira Vargas Boa parte das fontes do autor veio da correspondência entre Getúlio e sua segunda filha, Alzira Vargas, conselheira pessoal e informante durante o período em que ele esteve afastado da política. Segundo o autor, quase todo o material – mais de mil páginas – é inédito e nunca foi consultado por outros pesquisadores. “As cartas estabelecem as táticas que ele usou até sua volta ao poder. Esse material era inexplicavelmente desconhecido, e revela também o cotidiano e a intimidade de Getúlio”, disse Lira Neto à ISTOÉ. Uma dessas articulações políticas envolvia o apoio do então governador de São Paulo, Ademar de Barros, contra quem pesavam na época diversas acusações de corrupção. “Não assinei nem autorizei a assinatura dum pacto com Ademar”, escreveu Getúlio à filha, preocupada com a recente visita do aliado a São Borja, para assinatura de uma aliança política. Entre as surpresas da obra estão as histórias relacionadas ao guru espiritual Menotti Carnicelli, um ítalo-brasileiro que contava com diversos seguidores no Rio de Janeiro. Getúlio recebia conselhos de Carnicelli – conhecido então pelo codinome “professor” – por meio da filha. “Ele dizia que Getúlio deveria ser derrotado para ressurgir e que seria melhor que ficasse politicamente isolado”, diz Neto. 10#4 EM CARTAZ – CINEMA - GRAMADO SE DESPEDE DE JOSÉ WILKER Ana Weiss (ana.weiss@istoe.com.br) “Isolados” traz a última aparição do ator José Wilker. Com Bruno Gagliasso e Regiane Alves nos papéis principais, o filme que abre a 42ª edição do Festival de Gramado (de 8 a 16/8) mostra a decisão de um psiquiatra de levar sua paciente para uma casa isolada no campo. A escolha do longa-metragem dirigido por Tomas Portella para a sessão mais importante da mostra tem uma razão simples. Wilker – no papel do supervisor do médico interpretado por Gagliasso – foi curador do festival de 2012 até sua morte, em abril deste ano. O filme, com estreia no grande circuito prevista para 18 de setembro, desenrola-se como thriller a partir da mudança do casal para a morada afastada da civilização, cenário de um assassinato misterioso que abre uma sequência de situações dúbias e tensas, como os melhores da tradição europeia e americana do suspense. +5 filmes do festival Os Senhores da Guerra (FOTO) Baseado em fatos verídicos, conta a história de dois irmãos da elite gaúcha que acabam se enfrentando em lados opostos durante a guerra civil de 1924 El Critico O longa argentino mostra um crítico de cinema que não suporta comédias românticas, mas acaba se apaixonando A Luneta do Tempo O músico Alceu Valença estreia na direção com um drama musical ambientado no sertão pernambucano El Lugar del Hijo Filme uruguaio sobre um estudante que viaja para o enterro do pai e descobre diversas dívidas Sinfonia da Necrópole O aprendiz de coveiro Deodato começa a questionar seu trabalho ao mesmo tempo que conhece uma nova funcionária 10#5 EM CARTAZ – CD - O MELHOR AMIGO DE ERIC CLAPTON Rodrigo Cardoso (rcardoso@istoe.com.br) Eric Clapton perdeu o músico e amigo JJ Cale há um ano, vítima de infarto. O álbum “The Breeze” é um tributo ao parceiro, compositor de “Cocaine” e “After Midnight”. Cale criou com a sonoridade sutil de sua guitarra um estilo que ficou conhecido como Tulsa sound, referência à sua cidade natal, em Oklahoma. Country, blues e jazz reverberavam de seu amplificador – e as Stratocasters de Clapton reproduziram muito bem o barulhinho bom do amigo. Juntos, gravaram o ótimo “The Road to Escondido”, de Clapton, que convidou, para essa homenagem para a posteridade chamada “The Breeze...”, Mark Knopfler, John Mayer, Willie Nelson, Tom Petty, Derek Trucks e Don White. 10#6 EM CARTAZ – MÚSICA - O TERROR DOS MORALISTAS Rodrigo Cardoso (rcardoso@istoe.com.br) O goiano Odair José deixou a fazenda da família, em Goiás, e escandalizou o Brasil. Escolheu ser músico. Naquela época, anos 70 (e de chumbo), ele ousou falar mal do casamento, cantar o amor por uma prostituta, e versou sobre a pílula anticoncepcional. Em “Filho de José e Maria”, de 1977, o “terror das empregadas”, como era conhecido, despertou a ira de um padre, que o ameaçou de excomunhão. Numa das faixas, “O Casamento”, o músico em cujo currículo já constava “Uma Vida Só”, que carregava o refrão “pare de tomar a pílula”, sustentava que Jesus tinha sido concebido antes de José e Maria se unirem, conforme manda a lei divina. O álbum – ele acaba de ser compilado em CD pelo Canal Brasil, que o gravou em um show feito pelo cantor, em 2013, no Theatro Municipal de São Paulo – é lendário, uma ópera-rock carregada de influências como Jeff Beck e Peter Frampton. 10#7 EM CARTAZ – DVD - CLÁSSICOS DO SUSTO Daniel Solyszko (daniel@istoe.com.br) Com seis longas-metragens distribuídos em três DVDs, o boxe “Obras-Primas do Terror” traz alguns dos principais momentos de mestres do gênero. O italiano Mario Bava dirige “O Chicote e o Corpo”, de 1963. Já o rei dos filmes B, Roger Corman, está presente com “A Orgia da Morte”, uma das melhores adaptações de Edgar Allan Poe. “O Túmulo Vazio” reúne os atores mais famosos do estilo, Boris Karloff e Bela Lugosi, numa produção de 1945, e o filme de episódios “Na Solidão da Noite” tem o brasileiro Alberto Cavalcanti entre seus diretores. A caixa conta ainda com “A Noite do Demônio” e “A Aldeia dos Amaldiçoados”. 10#8 EM CARTAZ – LIVROS – NOS BASTIDORES DA POLÍCIA CARIOCA Ana Weiss (ana.weiss@istoe.com.br) Escrito por Marcio Colmerauer, “O Pássaro de Ferro” conta a história do primeiro helicóptero blindado usado por forças policiais brasileiras. A trama tem início em 2006, durante o governo de transição do então recém-eleito governador Sérgio Cabral (PMDB), e narra as dificuldades na aquisição da aeronave, da qual participou o autor, na época subsecretário de Segurança do Estado do Rio de Janeiro. O livro descreve em detalhes o uso do veículo em operações como a implantação das UPPs pela Polícia Civil na capital fluminense, além de ações humanitárias como o resgate das vítimas de enchentes na região serrana em 2011. 10#9 EM CARTAZ – AGENDA - MIRA/MOSTRA/CLÓVIS Confira os destaques da semana Ana Weiss (ana.weiss@istoe.com.br) Mira Schendelm (Pinacoteca do Estado, em São Paulo, até 18/10) Retrospectiva da artista exibida do MoMA chega ao País Mostra de Teatro de Grupo (CCSP e CEUs, SP, até 10/8) Companhias de teatro latino-americanas se apresentam no evento que chega à nona edição Clóvis Graciano – Arte de Cavalete (Caixa Cultural São Paulo, SP, até 5/10) Mostra com 30 obras do brasileiro, referência no nosso muralismo 10#10 ARTES VISUAIS - ESTUDOS SOBRE A VIZINHANÇA Individual do argentino Guillermo Kuitca em São Paulo revela proximidade da arte contemporânea brasileira com a produção dos hermanos por Paula Alzugaray GUILLERMO KUITCA: FILOSOFIA PARA PRINCESAS/ Pinacoteca do Estado de São Paulo, SP/ até 2/11 Guillermo Kuitca não é um frequentador assíduo do Brasil, mas sua obra fez parte de um dos capítulos mais famosos e polêmicos da história das Bienais de São Paulo. O artista estava entre os oito integrantes da representação argentina da 18ª Bienal que tiveram suas pinturas enfileiradas em uma “Grande Tela” de 100 metros de extensão, entre dezenas de pinturas de outros artistas alemães, italianos e brasileiros. A Grande Tela foi um comentário crítico da curadora Sheila Leirner à profusão de pinturas neoexpressionistas que chegaram à Bienal naquele ano por meio das representações nacionais. Nas três décadas que sucederam aquele ato subversivo da curadoria (não raro chamado de “ditatorial”), Kuitca não chegou a solidificar uma relação profissional com o Brasil. Embora viva em Buenos Aires, cidades como Londres e Madri foram muito mais receptivas ao seu trabalho do que São Paulo. Felizmente, hoje, 30 anos após sua primeira aparição por aqui, ele volta ao Brasil em uma notável exposição na Pinacoteca de São Paulo. CARTOGRAFIAS - Detalhe da instalação "Le Sacre", em que mapas imaginários são desenhados sobre colchões Com curadoria de Giancarlo Hannud, “Guillermo Kuitca: Filosofia para Princesas” oferece um panorama completo da obra do artista – com cerca de 50 trabalhos em desenho, pintura e instalação, realizados entre 1980 e 2013 – e revela uma preocupação com alguns dos grandes temas globais da atualidade: deslocamento, nomadismo, isolamento, solidão. Mais que tudo, nota-se na obra de Kuitca um conflito entre o local e o global. Isso está particularmente expresso no grande destaque da exposição, a instalação “Le Sacre” (A Sagração), de 1992, obra mostrada na Bienal de 1989, que hoje ocupa o Octógono, espaço central da Pinacoteca. CUBISMO - Pintura "Sem Título (Guille)", em que Kuitca faz citação à geometria modernista A instalação é formada por 54 colchões, onde estão desenhados mapas reais e imaginários. Nessa espécie de mapa-múndi que configura o coração da exposição, o artista cria novas relações e vizinhanças entre cidades e regiões do mundo, de acordo com uma lógica pessoal e subjetiva. O fato de esse mapa estar desenhado sobre camas, o mais íntimo dos objetos da vida doméstica, acentua a polaridade entre local e global. Vale lembrar que, embora o nomadismo esteja entre seus principais temas, o artista nunca deixou de viver em Buenos Aires. Entre as pinturas e desenhos expostos, é possível encontrar fortes vizinhanças com a produção da “Geração 80” de pintores brasileiros, que reuniu, entre outros, os artistas paulistanos da Casa 7, que compartilharam as paredes da Grande Tela com Kuitca. Em maio passado, antes que argentinos e brasileiros tivessem se enfrentado nas arquibancadas e entornos de estádios da Copa do Mundo, a Casa Daros jogou um foco de luz sobre o diálogo pictórico entre o argentino e o brasileiro Eduardo Berliner. 10#11 ARTES VISUAIS – ROTEIROS - O RIO EM CORPO, MENTE E ESPÍRITO Marcos Chaves - Academia/ Sugar Loafer/ Galeria Nara Roesler, RJ/ até 7/9 por Paula Alzugaray Das grandes vistas às imagens da vida cotidiana, o Rio de Janeiro é o grande assunto da obra de Marcos Chaves. Nada mais natural, portanto, ele ter sido escolhido para inaugurar a filial carioca da galeria Nara Roesler, e tal tarefa é levada a cabo, acertadamente, pela exibição das séries “Academia” e “Sugar Loafer”. O sublime e o prosaico do Rio se encontram na sequência fotográfica de “Sugar Loafer”, nas quais o Pão de Açúcar é enquadrado como pano de fundo de cadeiras de plástico, duchas, carrinhos de supermercado abandonados e outros ícones vulgares da vida praiana. Assim, de vista em vista e objeto em objeto, que desfilam nas fotografias, chegamos às academias de beira de praia. Segundo o artista, “as instituições mais respeitadas do Rio de Janeiro”, ao lado das escolas de samba. O culto ao corpo, sem dúvida uma das grandes instituições do Rio, é levado para o âmbito da galeria de arte na forma de uma instalação com esculturas construídas com cimento, tubos de ferro, madeira e tirantes. Assim, a ironia (e a leveza), outra chave do trabalho do artista carioca, se presta como porta de entrada para a colocação de questões “de peso”, neste momento de turismo esportivo global que vivemos no Brasil. “Como a praia, o corpo em si tornou-se um ponto turístico”, aponta o curador americano Neville Wakefield no catálogo da exposição. __________________________________________ 11# A SEMANA 13.8.14 Antonio Carlos Prado e Elaine Ortiz "A AVÓ DO NETO 114" Após trinta e seis anos de procura e uma eternidade de indignação, chegou a vez de Estela de Carlotto: na terça-feira 5, ela anunciou em Buenos Aires que é a avó do neto número 114 e, no dia seguinte, encontrou-se finalmente com ele. O governo havia trocado o nome do bebê para Ignacio Hurbán e o entregou a um casal da cidade de Olavarría – até a sexta- feira acreditava-se que os pais adotivos acharam que se tratava de um recém-nascido abandonado. Guido-Ignacio está com 36 anos, é músico e compositor, e sempre apoiou o movimento das avós que têm na Justiça os seus DNAs cadastrados. Recentemente ele submeteu-se a exame genético, mas também até a sexta-feira não se sabia o motivo de por que agora e não antes. Descobriu então que é neto de Estela, assim como 113 descobriram antes dele as suas avós. "O BOMBARDEIO DO IRAQUE POR OBAMA É A HERANÇA DA GUERRA DE BUSH" A história está apresentando a Barack Obama a conta dos tempos em que George W. Bush sentou na mesma cadeira na Casa Branca, mentiu ao mundo sobre a existência de armas químicas no Iraque e mandou invadi-lo. Onze anos se passaram. O saldo está no vermelho: a guerra promovida por Bush desorganizou geopoliticamente o Iraque e abriu caminho para que grupos extremistas como o recém-nascido Estado Islâmico no Iraque e no Levante (Isil) se estruturassem – até califado acaba de ser criado (o fanatismo religioso como política de Estado) e o terror se dissemina novamente de olho em novos territórios, entre eles a Síria. Na quinta-feira 7 Obama começou a pagar a conta: para evitar um genocídio promovido pelos radicais sunistas e enviar ajuda humanitária às minorias étnicas, ele ordenou bombardeios aéreos no país. "A RÚSSIA E A EXPORTAÇÃO BRASILEIRA " O presidente da Rússia, Vladmir Putin, respondeu na semana passada ao embargo econômico que lhe foi imposto pelos EUA e União Européia na tentativa de freá-lo no apoio que vem dando aos separatistas ucranianos. E sua resposta foi embargo contra embargo. Putin cortou a importação de produtos desses países, alterando um fluxo de comércio que movimenta anualmente cerca de três bilhões de euros. Para garantir a demanda interna de seu país, anunciou que incrementará as relações comerciais com o Brasil ampliando de 30 para 90 o número de frigoríficos autorizados a exportarem para a Rússia carne bovina, suína e de frango – somente com esse último item o governo brasileiro poderá acrescentar aproximadamente US$ 300 milhões à balança comercial. "R$ 1,79 MILHÃO" É o quanto a gráfica e papelaria BSB recebeu da câmara dos deputados desde 2009. Trata-se de uma das empresas que mais obteve recursos da cota paga aos parlamentares via reembolso (sem haver a necessidade de licitação).o que existe no endereço em que ela está cadastrada, no entanto,é uma casa onde não há máquinas nem funcionários. "QUE MEDO!" O ex-capitão do navio Costa Concórdia, que apavorado fugiu da embarcação quando ela começou a afundar e ouviu de seu superior em terra o inesquecível “vada a bordo”, deu palestra numa das mais renomadas instituições de ensino superior: a Universidade La Sapienza de Roma. Tema: “gestão de crise e pânico”. "DOIS A UM CONTRA O CONSUMIDOR" O consumidor brasileiro recebeu três notícias na semana passada. Uma é relativamente boa, as outras duas são péssimas. -A ANS fixou teto de reajuste para planos e saúde contratados antes de 1998. Varia de 9,65% a 10,79% dependendo da seguradora. É relativamente boa porque os reajustes,apesar de serem bem altos, são inferiores aos que eram pleiteados pelos convênios. -O Senado autorizou que as lojas cobrem, pelo mesmo produto, preços mais caros ou mais baratos caso o cliente pague com cartão de crédito ou dinheiro. É péssimo porque trai o consumidor que há tempo vem sendo incentivado a usar cartões e já paga por eles. - Uma liminar suspendeu as novas regras da Anatel. É péssimo porque agora as empresas de telefonia podem novamente deixar o consumidor “pendurado” nas musiquinhas dos call centers. Mais: caiu a obrigatoriedade de estender aos usuários antigos as ofertas propostas aos novos clientes. "ESTELIONATO EM NOME DA CRUZ VERMELHA" “Por favor, esqueçam Guo Meimei.” Esse foi o apelo que a Cruz Vermelha lançou na semana assada aos chineses, tentando convencê-los a fazer doações à entidade em meio ao terremoto que matou cerca de 400 pessoas no país. E quem é Guo Meimei (foto)? Trata-se de uma jovem de 23 anos que ficou famosa na China devido ao seu luxuoso estilo de vida ostentado nas redes sociais, até que se descobriu que tudo que ela possuía fora adquirido com doações que recebeu ao longo dos anos fingindo ser “gerente comercial” da Cruz Vermelha. Desmascarada, Guo Meimei veio a público com as vestes laranja de presidiária: “Quero pedir desculpas à Cruz Vermelha, e desculpas mais profundas às vítimas do terremoto não resgatadas. Por causa da minha vaidade, cometi um grande erro”. "UM ÚNICO ASSASSINO EM SÉRIE?" Diversos assassinos que combinaram o mesmo modus operandi? Se for somente um criminoso, é homem ou mulher? Se forem vários, podem estar agindo cada um por si, mas ao mesmo tempo, para confundir a polícia? Até a manhã da sexta-feira 8 as autoridades de Goiânia não tinham ainda nenhuma resposta para essas questões, em meio a uma cidade que está terrificada. E não é para menos: há oito meses alguém aproximase de moto de vítimas aleatoriamente escolhidas em locais ermos e dispara contra elas. São ao todo 18 mortos (17 mulheres e um homem) e há somente uma precária filmagem feita por policiais – eles asseguram que se trata da perseguição a uma adolescente que foi morta. Em todos os assassinatos, por enquanto,nada foi roubado das vítimas. "O HOMEM QUE ODIAVA AS MULHERES" Herman Webster Mudget,conhecido como Henry Holmes,é até hoje o mais famoso serial killer de mulheres na história policial dos EUA. Agiu no final do século XIX, foi chamado de “o estrangulador de Boston” e inspirou o filme “O Homem que Odiava as Mulheres” – estima- se em 27 o número de vítimas. A polícia prendeu um homem julgando ser ele o assassino, mas tempos depois percebeu que o prisioneiro era um enfermo mental que confessaria qualquer coisa para aparecer nos jornais. Ou seja: é provável que Holmes tenha ficado impune. "NÓS, VÊNUS E O COMETA" Dois estudos que tentam esclarecer a origem da vida correram o mundo na semana passada. Nos EUA, o biólogo David Grinspoon, do Museu de Natureza e Ciência de Denver, reiterou que é praticamente certo que Vênus já teve oceanos como os da Terra – ou seja, é possível que ainda exista água nesse planeta, e onde há água há vida bacteriana. A segunda notícia chega à Terra graças às imagens do cometa 67P enviadas pela sonda europeia Rosetta. Nesse cometa teria existido a chamada “sopa orgânica” com água e carbono. "US$ 90 BILHÕES" US$ 90 BILHÕES foram gastos pelo Banco Central nas intervenções que fez no mercado de câmbio entre junho do ano passado e junho de 2014. O objetivo foi o de evitar grandes oscilações na cotação do dólar. Trata-se da maior intervenção desse tipo já feita pelo BC. "O PAI DAS PESQUISAS ELEITORAIS" Atualmente é inimaginável quaisquer eleições sem que as campanhas sejam acompanhadas de pesquisas de intenção de voto. Foi o cientista político Marcus Figueiredo um dos grandes preconizadores dessas consultas prévias no País, tornando-se especialista em analisá-las. Foi ele também quem fundou e ainda coordenava o Laboratório de Pesquisa em Comunicação Política e Opinião Pública, e candidatos de todo o País, independentemente do marqueteiro que tivessem, não abriam mão de consultá-lo. Aos 72 anos, Figueiredo morreu no Rio de Janeiro, de parada cardíaca, no sábado 2. "CUIDE DE MIM..." Três acidentes envolvendo crianças chocaram o País na semana passada. Em São Paulo um garotinho de 2 anos foi encontrado andando com muita dificuldade numa rodovia – descalço, sem camisa e ensanguentado. Ele conseguira milagrosamente subir uma ribanceira na qual despencara o veículo que seu pai dirigia. Estima-se que a criança tenha percorrido 150 metros quando foi resgatada. No Rio Grande do Sul a polícia pediu a prisão preventiva de um pai que, Embriagado, abandonou o filho de 12 anos preso às ferragens do carro e fugiu após um acidente. Estava ao volante, mas, antes do acidente, até deixara o filho dirigir. No Rio de Janeiro um garoto de 3 anos morreu atropelado por um ônibus após cair do táxi – abriu a porta que deveria estar, mas não estava, com a trava de segurança acionada. "BOA TOLERÂNCIA ZERO COM BANHISTAS "CORAJOSOS"" O litoral pernambucano está bem sinalizado sobre as áreas em que pode haver a presença de tubarões – além dos salva-vidas que orientam os banhistas. Mas sempre há “corajoso” que acaba vítima de ataques. O governo adotou então uma acertada política de tolerância zero com frequentadores que invadirem regiões interditadas das praias: será levado à delegacia, onde se fará boletim de ocorrência. Nas últimas duas décadas os tubarões fizeram 59 vítimas, 24 fatais. "A PRIMEIRA CINDERELA NEGRA DA HISTÓRIA DA BROADWAY" A atriz e cantora americana Keke Palmer, 21 anos, será a primeira Cinderela negra da história da Broadway. Subirá ao palco no musical “Rodgers & Hammerstein’s Cinderella”. “Sonhos tornam-se realidade. Acreditem em mim quando digo isso”, escreveu Palmer nas redes sociais.