0# CAPA 6.8.14 ISTOÉ edição 2332 | 06.Ago.2014 [descrição da imagem: desenho de uma ampulheta, antigo objeto de medir o tempo. Também é conhecida como relógio de areia. Na parte inferior da âmbula (recipiente) está cheia de comprimidos e na parte superior, três comprimidos estão passando da parte superior para o inferior.] OS POLÊMICOS REMÉDIOS PARA EMAGRECER As medicações para emagrecer podem voltar ao mercado e dividem opiniões de médicos e pacientes. _______________________ 1# EDITORIAL 2# ENTREVISTA 3# COLUNISTAS 4# BRASIL 5# COMPORTAMENTO 6# MEDICINA E BEM-ESTAR 7# ECONOMIA E NEGÓCIOS 8# MUNDO 9# TECNOLOGIA E MEIO AMBIENTE 10# CULTURA 11# A SEMANA _____________________________ 1# EDITORIAL 6.8.14 "REAJUSTE DE PREÇOS A CAMINHO" Carlos José Marques, diretor editorial A conta da energia e da falta de água se aproxima do consumidor na proporção direta da chegada das eleições. Em ambos os casos, água e luz, há um passivo enorme a ser conhecido por quem de direito somente após o fechamento das urnas. E por motivos óbvios: candidatos não querem ver sua imagem arranhada por crises de abastecimento ou tarifaços impopulares fora de hora. Depois que se elegerem, tudo bem! Até lá vão sendo empurradas com a barriga eventuais dificuldades aqui e ali. Tome-se, por exemplo, o encarecimento inevitável da energia logo no raiar de 2015. É líquido e certo que os empréstimos de socorro ao setor elétrico – em fase de contrato – deverão provocar reajustes nas contas do usuário final. A discussão gira em torno do tamanho da pancada. Especialistas preveem aumento de até 30% no próximo ano. Mesmo a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) trabalha com a hipótese de números altos nesse sentido. O Ministério de Minas e Energia tratou de desmentir as previsões. Falou de alta escalonada, em suaves prestações. Apenas 2,6% em 2015, outros 5,5% em 2016 e 1,4% em 2017. De uma maneira ou de outra, o movimento trará pressão direta nos preços e os conhecidos efeitos colaterais de remarcação em cadeia, com impacto na inflação nossa de cada dia. A celeuma da água alcançou, por sua vez, o ponto de ebulição máxima em São Paulo, motor econômico do País, onde as reservas estão pela hora da morte, literalmente no volume morto, com evidências de um racionamento gradativo que só as autoridades teimam em negar. A seca por enquanto é regional, mas ameaça assumir proporções nacionais com a proximidade da temporada de estiagens no Norte e Nordeste, onde não há qualquer plano de socorro ou sinal de conclusão da eternamente prometida por sucessivos governantes, e nunca cumprida, transposição do rio São Francisco. A falta de chuvas recente suscitou uma guerra aberta entre poderes, com o Ministério Público Federal exigindo a adoção imediata de racionamento em São Paulo, enquanto a Sabesp afirmava “discordar frontalmente” da recomendação. Na ponta final de ambos os processos, fornecimento de água e luz, o desfecho é conhecido: virão os amargos reajustes de preços de serviços essenciais, para desencanto da população. ________________________________________ 2# ENTREVISTA 6.8.14 ELISA SANZI - "NO CÁRCERE VOCÊ ENTENDE O PODER DO ESTADO" A ativista conhecida como Sininho diz que vivemos uma farsa eleitoral, fala dos seus dias na prisão e diz compreender quem age com violência nas manifestações por Helena Borges Ela diz que sua identidade está sendo destruída para a criação de um líder Elisa Sanzi, 28 anos, é conhecida como Sininho, apelido dado por colegas de ativismo que a consideram parecida com a personagem da história infantil Peter Pan, no aspecto físico e na rebeldia. De vestido, meia-calça, botas de cano longo e óculos escuros, recebeu ISTOÉ no escritório de seu advogado, Marino D’Icarahy, no centro do Rio de Janeiro. Antes de iniciar a entrevista, o advogado avisou que ela não poderia comentar nada sobre as acusações de dano ao patrimônio, formação de quadrilha e lesão corporal. "Que democracia é essa que te obriga a votar, mas, na hora de escutar o povo, não escuta? Não vou me obrigar a votar" Elisa deixou o presídio há pouco mais de uma semana, beneficiada por um habeas corpus. Nascida em Porto Alegre, mudou-se para o Rio ainda criança. É produtora cultural, já foi casada e não tem filhos. “Teve uma época em que me afastei do movimento, tinha acabado de casar, pensei em investir na carreira, essas coisas que a sociedade cobra. Mas acabei optando por investir em meus ideais”, diz. Como julgar uma ação mais radical se aquelas pessoas são torturadas ou desumanizadas, têm as mães estupradas? Como querer que elas lidem com a paz? Istoé - Você é a líder das manifestações? Elisa Sanzi - Não. É o seguinte: existe um circo midiático que foi formado à minha volta pela necessidade de uma ação de liderança para o que estava acontecendo no Brasil. E essa criação de uma nova identidade foi tão grande que está me obrigando a dar depoimentos e a fazer um papel que eu nunca quis e que não existe. Estou me colocando em uma posição em que tenho que dar explicação de como comecei, por que fiz cada coisa. Não é algo que eu queira. A gente repete, repete, repete, mas acho que as pessoas não entendem. Não, não existe uma liderança. Não sou líder de nada. Participei ativamente de alguns movimentos, mas isso não significa ser uma liderança. Tanto que nunca fui muito de falar em assembleia, só apoio as lutas. É diferente. Istoé - Como começou a se envolver com política? Elisa Sanzi - Sempre me fascinou porque fui criada nos movimentos sociais, meus pais são militantes. Pequenininha, com 3, 4 anos, ia com eles a comícios em Porto Alegre, a movimentos universitários. Sempre fiz parte de movimento estudantil, fui representante de classe desde a primeira série, sempre tentando criar grêmio estudantil, fazia parte do jornalzinho da escola, etc. Em 2001, foi incrível, conquistamos o passe-livre para Macaé, uma das primeiras cidades do Rio a conseguir o benefício para os estudantes, e eu estava presente. Inclusive, foi a primeira vez que fui detida, por desacato, e que apanhei da polícia, que me vi tão perto da violência policial em manifestações. Istoé - Como foi essa primeira experiência? Elisa Sanzi - Nunca me surpreendeu. Se você estuda história, vê que é uma repetição da mesma narrativa. E a partir do momento que você enfrenta algo tão grande como o Estado, tem de estar disposto a encarar as consequências. Eu sabia disso, até porque meus pais passaram por isso. Já tinha noção de que ia ter muita violência, um bombardeamento da mídia, só não esperava que ia ser tão rápido. Desde o começo teve milícia atrás, sofremos todos os tipos de ameaça. E, se for parar para pensar, desde junho do ano passado já tem prisões políticas, perseguições, gente pedindo asilo político. Istoé - Você tem raiva da imprensa? Elisa Sanzi - Não. Sinto muita dor em ver que acham que um dia vou fazer mal a algum jornalista. Jamais faria isso, porque sou extremamente humanista. Jamais vou colocar o profissional de imprensa numa situação de perigo, mas, ao mesmo tempo, tenho que me defender, defender a minha identidade, o meu psicológico. Istoé - As notícias sobre você te abatem emocionalmente? Elisa Sanzi - Essa destruição da minha identidade para criação de um líder está sendo tão pesada que está desconstruindo o ser humano Elisa, porque até o apelido Sininho, que foi carinhosamente dado por ativistas do “Ocupa Cabral”, foi desconstruído. Porque era um apelido carinhoso. E eu gosto. Mas existem duas Sininhos: a da mídia e a militante, a Elisa. Então eu me vejo obrigada a entrar em aspectos pessoais, na minha vida, o que é extremamente invasivo, e as pessoas não estão entendendo isso. Eu não quero ter que expor a minha vida pessoal, que já está mais do que exposta por mentiras e fofocas, me obrigar a falar, porque é uma invasão. Eu já perdi a minha vida pessoal, o meu dia a dia. Istoé - Você tem alguma ligação partidária? Elisa Sanzi - Não. Neste momento eu sou contra as eleições, contra a farsa eleitoral. O que os deputados ou os partidos vão fazer ou não na campanha, qual é a jogada política, não me interessa. O que me importa é mostrar que existe uma farsa eleitoral gigante, de coligações. As pessoas não têm é que votar mesmo. Elas têm que questionar a forma eleitoreira com que tudo é feito, as campanhas, tudo. Sou contra a democracia? Ao contrário! Quero democracia, mas uma democracia de verdade, e não essa falsa de hoje. Istoé - Não acha que ao não votar deixamos de apoiar o trabalho dos políticos que valem a pena? Elisa Sanzi - Sei lá se existem bons políticos. A partir do momento que ele está dentro do sistema tem três caminhos: ou é corrompido, ou é assassinado por tentar fazer algo diferente, ou vai passar anos ganhando a grana dele lá e não vai fazer a diferença. Sendo obrigado a votar, o cidadão brasileiro acaba sendo uma marionete. Você vota e passa dois, quatro anos sem ser ouvido e sendo criminalizado na rua quando faz uma greve, uma ocupação. Que democracia é essa que te obriga a votar, mas, na hora de escutar o povo, não escuta? As escolas estão sendo destruídas, pessoas morrem em hospitais, e ainda somos obrigados a votar? Não vou me obrigar a votar. E se tiver que pagar o preço de uma passagem, que é o preço da multa – R$ 3,20 –, eu pago, sim. Istoé - Existe algum modelo de política que considere adequado? Elisa Sanzi - Não existe uma proposta pronta porque cada país tem a sua cultura. Mas as assembleias diretas são a forma de o povo criar uma voz e participar sem influência de partidos ou políticos. Não é uma mudança que vá se fazer de hoje para amanhã. É um movimento que leva dez, 15, 20 anos para desenvolver um novo sistema que se encaixe à nossa realidade política. Istoé - Tem vontade de se candidatar? Elisa Sanzi - Nunca tive nem nunca vou ter, porque o que eu gosto é de ir para a rua, botar a mão na massa e ajudar as pessoas a se organizarem – que é muito diferente de eu tentar organizá-las. Não serei candidata política. Istoé - Qual é o próximo passo para as manifestações? Elisa Sanzi - Os políticos é que têm que ir para a rua. Não adianta convidar meia dúzia de ativistas para criar uma liderança e chamar na Câmara de Vereadores que a gente não vai. Quantas vezes a gente foi para a frente da prefeitura, da Assembleia Legislativa, da Câmara, e nenhum político apareceu para conversar? E não saem por quê? Medo. De se queimar, de não se eleger, de perder o poder. E, enquanto isso, os movimentos sociais vão continuar se organizando como acham melhor, cada um a seu jeito. Istoé - Qual foi o pior momento em manifestações para você? Elisa Sanzi - No dia que vi os professores apanhando na minha frente. Vi um monte de senhoras, crianças, todo mundo apanhando e levando spray de pimenta na cara. Aquilo para mim foi uma violência sem tamanho, foi um dos dias mais violentos que guardo na memória. E eu lembro que os black blocs tinham sido barbaramente criminalizados pela direção do sindicato dos professores depois que deram apoio em todos os atos, tinham levado porrada pra caramba para ajudar os professores e agora estavam sendo criminalizados. E eles não entendiam por que estava acontecendo aquilo. Eles não tinham estrutura de primeiros-socorros, então todo mundo foi com soro, leite de magnésia. Estive lá também, ficamos na frente, levamos muita porrada nesse dia. Istoé - E na cadeia, como foi sua experiência? Elisa Sanzi - Você não consegue explicar direito o que é a experiência de um cárcere. Por mais que não tenha sido vítima da violência física – nenhuma das duas vezes eu fui –, tive uma vivência e ouvi muitas histórias de tortura, desumanização e abandono da sociedade. Nessa última vez, presenciei três torturas que não consigo explicar bem o tipo. Eles colocam as mulheres no corredor, no frio – e o presídio de Bangu é muito frio –, e as deixam ali, com short e blusinha, a madrugada inteira sem comer nem beber. Ali você percebe que o Estado é seu dono e que a sua vida não te pertence, porque quando quiserem tirar sua vida, sua liberdade, seus pertences, tudo, eles vão tirar. No cárcere você entende exatamente o poder do Estado. Não tem como reclamar. Se você não colocar as mãos para trás, abaixar a cabeça e falar “sim, senhor”, vai levar tapa, vai para o frio, vai sofrer e não vai poder reclamar. Istoé - Acha que a violência nas manifestações e as atuações dos black blocs são justificáveis? Elisa Sanzi - O que mais vejo é a polícia praticando violência. Como você pode julgar uma ação mais radical num ato, se aquelas pessoas são, desde a infância, torturadas ou desumanizadas, têm as mães estupradas? Como querer que elas lidem com a paz? Se o próprio Estado não lida com a paz, tira os direitos dela. Não quero que as pessoas se machuquem, jamais fiz planos para as pessoas se machucarem. Se isso aconteceu, vou culpar o Estado, o político ou o jurista. Eles não veem a realidade em que essas pessoas vivem, preferem criminalizar o menino que pegou uma pedra e quebrou um banco. Mas isso é uma inversão de valores. Istoé - Mesmo quando há ferimentos ou mortes? Elisa Sanzi - Foram mortos 28 manifestantes, um jornalista e não sei a conta dos policiais. Essas mortes não têm que fazer parte da luta, mas elas não começaram na jornada de junho. É uma coisa que não parou desde a ditadura militar. Ela se escondeu nas favelas e nas baixadas, só agora está vindo à tona nos endereços onde a burguesia e a classe média estão. A história do Santiago (Santiago Ilídio Andrade, cinegrafista da TV Bandeirantes, faleceu no dia 10 de fevereiro atingido por um rojão no Rio) é muito triste, e acabaram me envolvendo em algo com o que não tenho absolutamente nada a ver. Eu estava na delegacia com os militantes detidos quando soube o que tinha acontecido. Minha primeira ação foi ir ao hospital. Fiquei louca, mas não deixaram. Istoé - As manifestações estão perdendo popularidade? Elisa Sanzi - É normal, após mais de um ano de manifestações. Estão acontecendo manifestações espontâneas em diversos lugares. Não sei se estamos caminhando para uma nova leva de manifestações, mas cada vez mais vamos ver a massa se rebelando. Istoé - Você tem medo? Elisa Sanzi - A gente sempre tem. Se eu não tivesse apoio de família, amigos e até de militantes, já teria caído. E o que eu mais sinto falta hoje em dia, daria muito por 24 horas de um dia normal: ir ao cinema, ir tomar uma cervejinha, sem precisar falar de Sininho ou colocar óculos escuros. De vez em quando a gente tem vontade de sair, porque ninguém quer voltar para a prisão, ainda mais sendo inocente, mas vamos ficar e encarar. _______________________________________ 3# COLUNISTAS 6.8.14 3#1 RICARDO BOECHAT 3#2 LEONARDO ATTUCH - E O ANÃO SE AGIGANTOU 3#3 RICARDO AMORIM - NUNCA DESPERDICE UMA CRISE 3#4 GISELE VITÓRIA 3#5 BRASIL CONFIDENCIAL 3#1 RICARDO BOECHAT Com Ronaldo Herdy Os excluídos Para o TSE, 142,8 milhões de brasileiros estão aptos a votar em outubro. No entanto, o tribunal não se esforça muito para presos provisórios e adolescentes internados irem às urnas. Eles têm direitos políticos. No Rio de Janeiro são 14 mil detentos a votar. O TRE já disse que não instalará seções especiais nos presídios. Em outros Estados ocorre o mesmo. O Conselho Nacional de Política Criminal e Penitenciária condena a prática. No Brasil, em 2012, por tudo isso, só 8.871 presos votaram. Rio de Janeiro Além do limite Marcada para dezembro, a eleição para o Tribunal de Justiça do RJ está acirrada. Ex-presidente da corte, o desembargador Luiz Zveiter propôs emenda ao Regimento Interno possibilitando a ocupação de cargos de direção por até oito anos. Ou seja, o dobro do prazo fixado na Lei Orgânica da Magistratura e na jurisprudência do STF, que inclusive proíbem reeleição à presidência. A tese pode reduzir as eleições nos tribunais a uma dança das cadeiras. Direito internacional Briga nos EUA O Brasil contratará este mês uma banca de advocacia nos EUA para acelerar os trâmites de um processo na corte de Los Angeles, envolvendo uma das maiores esmeraldas do mundo. A posse da pedra avaliada em US$ 400 milhões é discutida em tribunais americanos, em paralelo a uma ação penal na Justiça Federal em Campinas. A AGU quer a esmeralda de volta, já que ela teria saído ilegalmente do nosso país, em 2005. CNJ Perto do fim Na retomada de seus trabalhos, o Conselho Nacional de Justiça acelerará julgamentos de vários processos administrativos disciplinares contra desembargadores estaduais. Um dos primeiros deu entrada no órgão em fevereiro de 2013. Claudionor Miguel Duarte e Divoncir Schreiner Maran, de Mato Grosso do Sul, respondem a ações no CNJ por incompatibilidade entre seus rendimentos e os patrimônios constituídos. A PF (MS) acompanha com muito interesse o desenrolar dos processos sobre ambos, em Brasília. Minerais Será? Eike Batista volta a se movimentar no mundo dos negócios, meses após a sua fortuna derreter no Brasil. O autor do lema “empreender é identificar riquezas” estaria debruçado sobre projetos voltados à exploração de ouro no Chile, segundo pessoas próximas ao ex-bilionário. Política Mensalão espírita Último político a saber que caixa 2 e briga com ex-mulher (Vanessa Felippe) não são bons negócios, Rodrigo Bethlem (PMDB-RJ) escapou de processo no Conselho de Ética da Câmara dos Deputados. Por agora. A representação feita pelo líder do PPS, Rubens Bueno, será arquivada porque deveria ser protocolada por todo o partido – e não via bancada. Bethlem é acusado de receber R$ 70 mil por mês da Casa Espírita Tesloo. Em função dos pardieiros que eram os abrigos da ONG e o recolhimento compulsório e em massa de viciados em drogas das ruas, a Defensoria Pública do RJ briga contra a prefeitura carioca na Justiça, desde 2011. TV Mais qualidade No final do ano passado, 64 canais em HD estavam no ar, segundo a Associação Brasileira de Televisão por Assinatura. O número vai subir. Em setembro, o Canal Brasil disponibilizará seu sinal em alta definição para as operadoras. A NET e a GVT serão as primeiras a oferecer a novidade ao mercado. Cinema Quebrou a cara Previsto para estrear em setembro, “O Candidato Honesto”, de Roberto Santucci, vai ser lançado no dia 9 de outubro. Portanto, depois das eleições, evitando que a figura do deputado popular, desonesto e mentiroso e candidato à Presidência da República, interpretado por Leandro Hassum, seja associado a políticos que disputam o pleito do dia 5. Detalhe: após um tombo, ele para de mentir. Pura ficção. Brasil Raio X Caso as favelas fossem um Estado, seriam o quinto mais populoso da federação, movimentando R$ 63 bilhões por ano. Empenhados em decodificar os enigmas, o poder de compra e o cotidiano das pessoas que vivem nessas comunidades, Renato Meirelles, presidente do Data Popular, instituto de pesquisa especializado em “mercados emergentes”, referência no Brasil no conhecimento das classes C, D e E, e Celso Athayde, o mesmo de “Falcão – Meninos do Tráfico”, mostram no livro “Um País Chamado Favela”, informações inéditas sobre a periferia nacional. Brasil 1 Perfil “Nas favelas vive um brasileiro feliz, trabalhador, que chama para si a responsabilidade sobrea própria vida, consome produtos industrializados e exige mais dos serviços públicos”, diz Meirelles. O livro será lançado na quinta-feira 7 em São Paulo (Livrariada Vila/Shopping JK) e na quinta-feira 14 no Rio de Janeiro (Livraria da Travessa/Shopping Leblon). Na apresentação da obra, MV Bill, Luciano Huck e o sociólogo Luiz Eduardo Soares. Poder Público Há vagas São Paulo vive uma crise no abastecimento de água – e um déficit. A Agência Reguladora de Saneamento e Energia do Estado tem apenas três diretores. Há mais de um ano, duas outras cadeiras (Serviços de Gás e Relações Institucionais) no primeiro escalão do órgão estão vazias. Decisões nessas áreas, sobretudo num momento como o atual, quanto mais debatidas, melhor. Emprego e renda Com lupa Representantes das Centrais Sindicais no Conselho do FI-FGTS (Fundo de Investimento do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço) pretendem pedir vistas em todos os projetos que demandam recursos no órgão, a partir deste mês. Alegam ser necessário um pente-fino para evitar o uso político de verbas num semestre eleitoral. O gesto pode comprometer o andamento de importantes obras de infraestrutura no País, mas também evitar gastos com viés político. Turismo Ecos da Copa Estudo da Fipe a ser divulgado na terça-feira 5 revelará que os turistas estrangeiros que vieram ao Brasil em junho e julho tinham renda média familiar de US$ 7.078,41. Segundo a Embratur, 8% acima do registrado em igual período do ano passado. PSDB Sobre a pista O Instituto Sensus fez uma pesquisa de emergência na semana passada e concluiu que o noticiário sobre o Aeroporto de Cláudio (MG) não gerou efeito negativo sobre as intenções de voto em Aécio Neves. O resultado fez o candidato tucano respirar aliviado. Cultura Eterna lembrança Na turnê internacional que Roberto Carlos inicia na sexta-feira 15, um dos momentos de maior emoção do cantor será no palco do Radio City Hall, no dia 3 de outubro. No mesmo local, ao fim de um show em 2010, ele recebeu a notícia de que sua mãe acabara de morrer no Brasil. Como era de esperar, não voltou para o bis tradicional em espanhol, mas desde então, em todas as suas apresentações, no Brasil e no exterior, o Rei sempre interpreta “Lady Laura”, com muita emoção. 3#2 LEONARDO ATTUCH - E O ANÃO SE AGIGANTOU Uma semana depois de ironizar o Brasil, Israel conseguiu uma proeza: o isolamento absoluto. Raras vezes uma decisão de política externa se mostrou tão acertada, eficaz e oportuna quanto a que foi tomada pelo Itamaraty no início da ofensiva militar em Gaza. Ao convocar o embaixador brasileiro em Tel Aviv para consultas, o Brasil demonstrou coragem e conquistou, aos olhos do mundo, uma superioridade moral incontestável na questão Israel-Palestina. Classificado como “anão moral” pelo porta-voz da chancelaria israelense, que ainda ironizou os 7 a 1 sofridos contra a Alemanha, numa provocação que ecoou entre os porta-vozes do vira-latismo nacional, o Brasil se antecipou aos fatos e aplicou uma goleada histórica no regime do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu. Basta notar o que aconteceu nos dias que se seguiram à posição brasileira, prontamente seguida pelos demais países do Mercosul. Estarrecido com a brutalidade de um bombardeio a uma escola das Nações Unidas, o secretário-geral Ban Ki-moon responsabilizou Israel e disse que “nada causa tanta vergonha quanto matar crianças dormindo”. Também enfática, a alta comissária para Direitos Humanos da ONU, Navi Pillay, disse que os “crimes de guerra” de Israel, devem ser julgados e punidos. A cena mais marcante da semana, no entanto, foi a de outro representante da ONU, o porta-voz Christopher Gunness, que, impotente diante de tanta violência e iniquidade, foi às lágrimas diante das câmeras. “Não somos burocratas sem coração.” Tamanha foi a onda de indignação internacional que até mesmo os Estados Unidos, que fizeram de Israel sua base militar apontada para o petróleo do Oriente Médio, se viram forçados a recuar. O presidente Barack Obama, que entope de armas Israel e, portanto, é cúmplice da barbárie, classificou o ataque à escola como “inaceitável” e “vergonhoso”. Ainda que tenha sido hipócrita, já foi um avanço para um país imperialista que se tornou refém de seu pequeno protetorado. Resultado: o mundo, em peso, seguiu a posição do “anão” Brasil, que se agigantou. E o regime brutal de Israel obteve uma proeza inédita: o isolamento absoluto de um governo que, segundo a ONU, envergonha não apenas seu povo, mas a humanidade como um todo. 3#3 RICARDO AMORIM - NUNCA DESPERDICE UMA CRISE A goleada da Alemanha sobre o Brasil é maior que 7 a 1 em setores como o da Educação . Crises são parte da vida de qualquer pessoa, país ou seleção. Elas são importantes. Sinalizam que algo está errado e precisa ser melhorado. Se reconhecidas e respondidas corretamente, elas nos fortalecem. Se ignoradas, aprofundam-se e se repetem até que, finalmente, aprendamos a lição. Nossa crise mais recente veio com o Alemanha 7 a 1 Brasil. Já tive a sorte de ver o Brasil ganhar duas Copas. Espero que isso se repita mais algumas vezes. Ainda assim, temo que minhas recordações do trauma da derrota para a Alemanha serão ao menos tão fortes quanto as de nossas conquistas. A Alemanha não ganhou a Copa só no campo. Ganhou no marketing e, principalmente, no planejamento. A vitória alemã começou 14 anos antes, com um projeto de busca e desenvolvimento de talentos. Hoje, a Alemanha tem o dobro do número de jogadores que nós, apesar de a população brasileira ser duas vezes e meia a alemã. A média de público da segunda divisão do campeonato alemão é maior do que a do Brasileirão. A Alemanha construiu seu próprio centro de treinamento na Bahia, com direito a campo com gramado cortado a laser. A análise do desempenho de cada jogador e da equipe em cada treinamento é feita com software desenvolvido só para isso. Resultado? Ganhou a Copa, mesmo com uma seleção sem craques, mas com muitos bons jogadores, preparo tático e técnico e espírito de equipe. Quais as respostas brasileiras à crise? Substituir o treinador pelo treinador que perdeu a Copa anterior!? A sugestão do governo de expandir o modelo de intervenção pública, que não tem funcionado na economia, ao futebol?! Espero estar enganado, mas desconfio que estamos desperdiçando a crise por incapacidade de fazermos mudanças reais. Esta mesma incapacidade me traz a outros campos, onde a goleada da Alemanha é maior e mais grave. O que choca mais? Perdermos de 7 a 1 da Alemanha na Copa ou sermos massacrados por ela e por tantos outros países em educação, renda per capita, produtividade, IDH, expectativa de vida e infraestrutura? O que temos a aprender com a Alemanha nessas áreas mereceria um livro, mas, como só tenho uma página, destaco o mais importante, começando pela educação. O modelo educacional alemão diferencia-se pelo melhor ensino técnico do planeta, não por universidades de ponta. Assim, o país conquistou a liderança global em tecnologia e inovação. O planejamento e sua implementação que culminaram com a conquista da Copa levaram mais de uma década. Tampouco, as metas da política econômica alemã são de curto prazo. Quando a economia patinou, após a unificação do país, o governo não exagerou nos estímulos fiscais ou foi leniente com a inflação, comprometendo sua capacidade de crescimento futuro, como o Brasil andou fazendo. Para ganhar competitividade, a Alemanha apostou na produtividade e investiu em qualificação profissional, infraestrutura, flexibilização de leis trabalhistas e melhora do ambiente de negócios, em vez de tentar desvalorizar sua moeda e reduzir a competição, encarecendo produtos importados ou impedindo os alemães de comprarem no Exterior. Hoje, essas lições importam mais do que nunca. Segundo pesquisas, sete em cada dez brasileiros querem mudanças no País. No entanto, as mesmas pesquisas mostram a presidenta liderando as intenções de voto para as eleições de outubro. A aparente incoerência se explica pelo fato de a população não ver na oposição as mudanças que almeja. Isso me traz de volta ao exemplo alemão. Lá, não se busca salvadores da pátria e balas de prata. As mudanças são fruto de planejamento, paciência, perseverança e trabalho. Espero que não tenhamos de tomar outros 7 a 1, como o que a inflação dará no crescimento do PIB neste ano, para aprendermos esta lição. Ricardo Amorim é economista, apresentador do programa “Manhattan Connection”, da Globonews, e presidente da Ricam Consultoria 3#4 GISELE VITÓRIA Gisele Vitória é jornalista, diretora de núcleo das revistas ISTOÉ Gente, ISTOÉ Platinum e Menu e colunista de ISTOÉ Um novo teste Bruna Marquezine antecipou a volta ao Brasil após três dias de férias em Ibiza ao lado de Neymar. A atriz, que permaneceria na Espanha até a terça-feira 5, quando o jogador se reapresenta ao Barcelona, retornou ao País na segunda-feira 28. Uma briga do casal teria sido o motivo aventado. O craque foi visto na mesma noite em que a namorada se foi curtindo o show de David Guetta, em Ibiza, ao lado da loira Priscilla Silva. Mas Bruna voltou às pressas porque foi convocada pela direção da Rede Globo. Ela faria um teste para estrelar a nova novela das nove de João Emanuel Carneiro, que tem o título provisório de “Favela Chique”. A trama substituirá “Babilônia”, de Gilberto Braga, que vem logo após “Império”. Entre os atores escalados estão Adriana Esteves, Mateus Solano, Giovanna Antonelli e Murilo Benício. Além do teste, Bruna viaja para Los Angeles, nos Estados Unidos, em agosto, onde filma “Breaking Through”, longa do produtor Uri Singer. Ela será Roseli, colega da protagonista, atuará em inglês e terá cenas de dança. O amor está no ar Paris Hilton e Álvaro Garnero Filho estão namorando. Embora já se conheçam há algum tempo, a socialite americana de 33 anos e o filho de 18 anos do empresário e apresentador Álvaro Garnero assumiram o romance este mês e estão curtindo o verão europeu em Ibiza. Na segunda-feira 28, o novo casal estava no Club Amnésia, point badalado da ilha espanhola. Eles se conheceram há três meses em Mônaco, em uma festa que o Café de la Musique, clube do qual o pai é sócio, promoveu por lá na temporada de Fórmula 1. Já Álvaro pai voltou para os braços de Cristiana Arcangeli. Balas Presença Luiza Brunet vai à Flip (Festa Literária Internacional de Paraty) especialmente para assistir à palestra de Fernanda Torres sobre seu livro “Fim”. Ela também comemora o licenciamento de uma linha de lingerie, maiôs e sapatos. Às compras Os italianos do time Fiorentina perderam o jogo para o Palmeiras, mas não a viagem. Um grupo de jogadores foi às compras na loja Christian Louboutin, no Shopping JK, em São Paulo, e gastaram quantias generosas em sapatos. Chamou a atenção a quantidade de sacolas da marca e os uniformes da cor lilás. De volta ao batente Fernanda Motta voltou à ativa. Em um mês, a modelo perdeu 12 quilos, um a mais do que ganhou durante a gravidez. As campanhas de moda marcam a despedida da licença-maternidade para cuidar de Chloe, 5 meses. Na tevê, a modelo retorna em setembro ao “Domingão do Faustão”. “Apresento quadros e quero continuar assim. Sou contratada da Globo como apresentadora e um dia quero ter meu programa”, avisa. Mas a top concilia bem a rotina de mãe e a volta ao batente. “Tenho flexibilidade de horários. Só que agora acordo às 5h30 da manhã para cuidar da minha filha e sempre volto mais cedo para casa”, diz a top. “Toda mulher contemporânea tem que saber conciliar. É natural.” Fernanda divide seu tempo entre o Brasil e Nova York. “Assim Chloe já vai se acostumando a viajar. Ela vai ser criada para o mundo.” Na foto, Fernanda posa para a grife My Shoes. Vale a pena ver de novo Projetos profissionais as distanciaram, mas o encontro fortuito foi uma alegria para Cleo Pires e Mariana Ximenes na festa de relançamento da grife Rosa Chá, em São Paulo. “Fiz a primeira novela da Cleo, “América”. Éramos melhores amigas lá”, diz Mariana. Cleo, agora ruiva por vontade própria, concorda: “A gente não convive tanto quanto eu gostaria.” O tempo é curto. Mariana está de malas prontas para Toronto, no Canadá. Passa um mês filmando o longa “Zoom”, onde contracena com o ator de “Barrados no Baile” Jason Priestley. Cleo começa a filmar em novembro “Qualquer Gato Vira-Lata 2”. Elas festejaram o reencontro ao menos nas telas, na reprise da novela “Cobras & Lagartos”, no “Vale a Pena Ver de Novo”. Visita a João de Deus A atriz Deborah Secco foi vista em Abadiânia (GO), no centro de cura espiritual do médium João de Deus, há cerca de um mês. Estaria cuidando do fígado. O esforço para emagrecer 15 quilos enquanto filmava “Boa Sorte”, no qual vive uma soropositiva, e depois engordar dez quilos para fazer “A Estrada do Diabo” trouxe alguns problemas de saúde para a atriz. Na época das filmagens de “Boa Sorte”, ela chegou a ser hospitalizada. “Tive acompanhamento médico 24 horas nessa época”. Agora, filmando a novela das seis, Boogie Oogie, tudo está bem. Adeus às madeixas Grávida de oito meses, Scarlett Johansson foi fotografada na terça-feira 29 com o cabelo bem curtinho e nuca raspada, em um passeio pelas ruas de Nova York com o noivo, Romain Dauriac. Segundo o “Daily Mail”, o novo corte de cabelo também seria parte dos preparativos para o casamento secreto da atriz com o jornalista francês, que deve acontecer em agosto. 3#5 BRASIL CONFIDENCIAL Por Paulo Moreira Leite Higiene democrática A reação indignada de familiares dos presos da AP 470 contra a chamada “revista vexatória” na entrada dos presídios do País estimulou a Secretaria de Direitos Humanos a debater o tema no Congresso. O ritual é conhecido: nos dias de visita a parentes que cumprem pena, mulheres e filhas de prisioneiros são despidas e apalpadas nas partes íntimas, em frente umas das outras. Ao longo dos anos o assunto foi denunciado em inúmeras ocasiões. Filha da advogada Therezinha Zerbini, fundadora do movimento pela anistia durante o regime militar, a também advogada Eugênia Zerbini levou quatro décadas para conseguir denunciar o tratamento, constrangedor e desrespeitoso, que sofria durante visitas à mãe, companheira de cela de Dilma Rousseff, na década de 1970. Reforço externo O senador Jorge Viana (PT/AC), vice-presidente do Senado, acertou esta semana uma visita de Lula em companhia do presidente Evo Morales ao Acre. Lula e Evo vão conhecer projetos desenvolvidos pelo governo do irmão Tião Viana (PT), e assegurar assim imagens a serem usadas na propaganda eleitoral. Evo também aproveitará para gravar imagens com Lula e usar esse mesmo material em seus comerciais na Bolívia, já que as eleições lá serão também no mesmo dia da brasileira: 5 de outubro. Dúvida de repercussão Depois de perceber que alguns empresários ficaram de pé para aplaudir Aécio Neves durante a sabatina na Confederação Nacional da Indústria (CNI), o candidato Eduardo Campos (PSB) quis saber dos assessores sobre a repercussão do seu discurso. Queria saber por que, com um discurso muito parecido ao do tucano, ele não levantou a plateia, como Aécio. Pressa e interesse O presidente do Senado, Renan Calheiros, prometeu que votará no próximo mês a proposta que cria uma nova fórmula de recalcular as dívidas dos Estados. O filho do senador é candidato ao governo de Alagoas, um dos Estados mais endividados da federação, e lidera as pesquisas. A ideia de Renan é que se o filho for eleito, não sofra o desgaste da falta de crédito. Resposta rápida para Genoino A documentação que sustenta o pedido de regime aberto para José Genoino foi finalizada pelos advogados e deve chegar ao gabinete do ministro Luiz Roberto Barroso na terça ou quarta-feira. Tanto a Vara de Execuções Penais como o Ministério Público deram parecer favorável a Genoino. No Supremo Tribunal Federal, a expectativa é de uma decisão rápida. Boicote financeiro Como o governador do PMDB Luiz Fernando Pezão é o aliado preferencial do Planalto, os petistas têm tido dificuldades para receber recursos para a campanha de Lindbergh Farias. Assessores já reclamam da falta de dinheiro, até porque as pesquisas mostram que, pela primeira vez em muitos anos, o PT tem um concorrente competitivo no Estado. Silêncio na bioeconomia Quem gosta de teorias conspiratórias deveria prestar atenção no que acontece com a bioeconomia. Com receio da campanha eleitoral, o Ministério do Meio Ambiente e industriais interessados em criar regras para definir o uso do patrimônio genético para fins comerciais decidiram deixar a deliberação sobre o assunto para depois de outubro de 2014. O acordo governo-indústria exclui, expressamente, qualquer direito sobre alimentos e produtos da agricultura, mas, mesmo assim, a movimentação de lobistas do agronegócio criou o receio de que o debate fosse embaralhado pela incompreensão e falta de dados concretos. Interessados em debater o tema na sabatina da Confederação Nacional da Indústria (CNI), empresários não tocaram no assunto para evitar constrangimentos para Marina Silva e Eduardo Campos, que não acertaram as diferenças neste caso. Toma lá dá cá A lei obriga os partidos a preencherem 30% das vagas com mulheres. o procurador regional eleitoral de Minas Gerais, Patrick Salgado Martins, resolveu impugnar dois terços das candidaturas femininas do Estado ISTOÉ – Por que fazer tantas impugnações? Martins – Além de centenas de registros com falhas na documentação, detectamos candidatos enquadrados no critério da Ficha Limpa e mulheres que não pretendiam se candidatar, mas tiveram o nome usado indevidamente. ISTOÉ – Os partidos estão registrando candidatas fictícias para preencher a cota de mulheres? Martins – Sim. Temos casos de mulheres que foram registradas a partir de fotos e dados recolhidos do Facebook. ISTOÉ – O MP está investigando essas fraudes? Martins – Além das candidatas fantasmas, vamos apurar casos de servidores que só se registraram para ganhar os três meses de licença previstos pela lei. Cruzaremos os nomes com o banco de dados de 2010 e, se constatarmos que a candidatura não recebeu recursos ou votação expressiva, o servidor deverá ser processado por improbidade administrativa, com pena mínima prevista de devolução dos meses de salário que recebeu sem trabalhar, para fazer a campanha fictícia. Rápidas * Várias empreiteiras dão sinais de desconforto – talvez fosse melhor falar em ciúme – pelas audiências seguidas de Marcelo Odebrecht com Dilma Rousseff. *Uma semana depois de divulgar 64 casos de tortura ocorridos no País depois de 2010, a Human Rights Watch será recebida pela ministra Ideli Salvatti, da Secretaria de Direitos Humanos. Para o governo, a entidade produziu um documento fidedigno. * Problema de caixa na Confederação Brasileira de Futebol: remuneração dos clubes das séries C e D pode ficar mais alta que na Série B. * Paulo Skaff pode ser o principal prejudicado por sua recusa em apoiar Dilma Rousseff, criando dificuldades para uma operação de transferência de votos de Alexandre Padilha. Retrato falado O senador Jorge Viana (PT-AC) aderiu ao discurso “eu bem que avisei” quando comenta as cifras astronômicas da campanha deste ano. Para Viana, o aumento das despesas vai crescer ainda mais se o Congresso não assumir a responsabilidade de votar uma reforma política dura o suficiente para cortar na própria carne. Perda e reparação Políticos costumam perder seus mandatos depois de terem sido eleitos e retornam aos cargos quando inocentados. O ex-prefeito de Joinville Carlito Merss venceu o primeiro turno em 2012, mas foi impedido de disputar a segunda rodada pela Justiça local. Ao recorrer ao TSE, Carlito foi inocentado por 7 a 0. Como não pode receber de volta o mandato nem disputar de novo a prefeitura, agora faz campanha para deputado federal, em outubro, com um reforço: os aliados pedem que seja eleito para reparar erro cometido. Mais um ministro Chegou à Comissão de Legislação Participativa um projeto que, na prática, pede a criação de um novo ministério: o da Ouvidoria. O posto de “ouvidor-geral” teria status de ministro, mas um ministro escolhido pelo Legislativo. As atribuições do ouvidor-geral são muito parecidas com as que tem hoje o procurador-geral da República. No entanto, o novo posto analisado pelo Congresso seria uma instância de fiscalização do Executivo comandada pelo Legislativo. ____________________________________ 4# BRASIL 6.8.14 4#1 A GUERRA NA TEVÊ 4#2 PATRULHAMENTO ELEITORAL 4#3 TREM DA ALEGRIA DAS OBRAS PÚBLICAS 4#4 ALIADO TRAPALHÃO 4#5 SEDUZIDO POR UMA BOLADA? 4#1 A GUERRA NA TEVÊ ISTOÉ acompanhou os bastidores dos programas eleitorais dos candidatos ao Planalto, que investirão R$ 200 milhões e mobilizarão 400 pessoas para conquistar o voto do eleitor pela televisão a partir do dia 19 Izabelle Torres (izabelle@istoe.com.br) Há pelo menos 15 dias, as equipes dos principais candidatos à Presidência da República se dedicam à produção dos programas de tevê que serão exibidos durante o horário eleitoral gratuito. Na última semana, a reportagem de ISTOÉ acompanhou de perto os preparativos para a confecção do material eletrônico que será exibido a partir do dia 19 para cerca de 190 milhões de brasileiros. Conversou com marqueteiros, produtores, assistentes de estúdio e até maquiadores de Dilma Rousseff (PT), Aécio Neves (PSDB) e Eduardo Campos (PSB), que anteciparam qual o tamanho da estrutura montada para dar suporte às gravações, como serão os primeiros programas dos presidenciáveis na tevê, seus jingles e de que maneira eles pretendem se apresentar ao eleitorado. Para conquistar o voto do eleitor pela televisão, estão sendo investidos mais de R$ 200 milhões e mobilizadas cerca de 400 pessoas – incluindo produtores de conteúdo, assistentes e maquiadores. Embora a internet e as redes sociais tenham assumido um papel relevante para moldar a opinião do eleitorado, especialistas e candidatos consideram que a propaganda na televisão é o marco inicial da guerra eleitoral. Por isso, tudo está sendo minuciosamente preparado pelas equipes tucanas, petistas e socialistas para a primeira semana de propaganda. No programa de estreia de Dilma Rousseff na tevê, o locutor dirá: “Você assistirá agora a um Brasil que mudou para melhor...”. Em seguida, a candidata à reeleição fará uma prestação de contas das realizações dos governos petistas, somando os resultados do seu mandato com os do ex-presidente Lula. Em seu jingle, ao som popular de um xote, a presidenta Dilma será descrita como uma “mulher de mãos limpas” e que “nunca desviou o olhar do sofrimento do povo”. A música da petista também faz referência ao padrinho político da candidata, o ex-presidente Lula. Tempo não faltará para passar em revista os 12 anos de gestão petista. A candidata terá 11 minutos e 48 segundos em cada bloco de 25 minutos da propaganda no rádio e na televisão. Nos filmetes do PT, programas como o Pronatec, voltado para a capacitação profissional, e o Mais Médicos serão exaltados. Apesar de elencar as conquistas de Lula e Dilma, a intenção é que a campanha carregue um tom propositivo e não fique olhando apenas para o retrovisor. A candidata à reeleição, Dilma Rousseff, já gravou algumas cenas no próprio Palácio da Alvorada. Nos próximos dias, o marqueteiro do PT, João Santana, irá levar a presidenta para gravar novas inserções no megaestúdio montado em uma casa de 1.200 metros quadrados no bairro do Lago Sul, região nobre de Brasília. Com a frente voltada para o Lago Paranoá, o endereço é tratado com discrição pela equipe do PT. A produção dos programas e tudo o que a envolve custarão ao partido cerca de R$ 90 milhões, dinheiro que vai custear uma equipe de 220 pessoas, sendo 45 diretamente ligadas às filmagens, e o restante com a divulgação pela internet. Aliás, esta será uma das novidades da campanha eletrônica deste ano de todos os candidatos à Presidência. No momento das transmissões dos programas, equipes estarão abastecendo as redes sociais para amplificar a audiência. Também farão, em tempo real, observações críticas sobre os programas dos adversários. Outra novidade é que os candidatos poderão gravar seus pronunciamentos em qualquer lugar e não necessariamente nos estúdios. O material será editado e colocado sobre um cenário digitalizado. Esse modelo facilita a agenda e permite a gravação em estúdios de menor porte, como o que Aécio Neves (PSDB), principal candidato de oposição, utilizou no Rio de Janeiro na sexta-feira 1º. O tucano tem gravado por cerca de três horas semanais em São Paulo, mas já viajou para pelo menos cinco outras cidades. Na televisão, o tucano terá direito a quatro minutos e 31 segundos em cada bloco. O senador pretende aproveitar esse tempo para fazer críticas incisivas ao atual governo e exibir suas realizações à frente do governo de Minas Gerais. Na telinha, o tucano se apresentará como o mais capacitado a fazer as mudanças desejadas pela população, sobretudo na economia, hoje assombrada pelos fantasmas da inflação e da volta do desemprego. O jingle de Aécio Neves será mais objetivo e curto, usando as sílabas inicias do nome do candidato para ritmar a música. “É ele quem vai mudar o País”, dirá o locutor. A equipe de produção do tucano tem cerca de 30 pessoas, dedicadas a acompanhá-los nas andanças pelo País. Outras 80 ficarão responsáveis pela divulgação na internet. Os custos podem chegar a R­$ 8­5 milhões ou cerca de 30% do teto de gastos informado pelo PSDB ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE). CASA-ESTÚDIO - Candidata à reeleição, Dilma Rousseff grava os programas em casa de 1.200 metros quadrados no Lago Sul, área nobre de Brasília O candidato do PSB, Eduardo Campos, fará a campanha de tevê mais modesta, afinal terá apenas um minuto e 49 segundos no horário eleitoral. O principal desafio dos socialistas, num primeiro momento, será apresentá-lo ao eleitorado, já que Campos ainda é pouco conhecido nacionalmente. Para isso, vai utilizar um modelo de filmagem em que o candidato será entrevistado pelos eleitores. Segundo um dos articulares da campanha de Campos em Pernambuco, a estratégia assemelha-se à utilizada por Barack Obama, na primeira campanha à Presidência dos Estados Unidos. Campos tem filmado em São Paulo sempre acompanhado da vice, Marina Silva, que teve 20 milhões de votos nas últimas eleições presidenciais. A dobradinha com Marina é uma das apostas para os primeiros programas na tevê. Inclusive, o jingle que vai embalar a campanha de Eduardo Campos é o único entre as três que fará referência ao candidato a vice-presidente. Na canção, a dupla é descrita como a “cara” e “as cores” do País. A música ainda sugere “coragem para mudar o Brasil” ao eleitor “que tá na dúvida”. A equipe do candidato responsável pelo programa eleitoral terá 100 pessoas, sendo 40 envolvidas diretamente com as filmagens. Na expectativa dos tesoureiros da campanha, a produção dos programas não custará mais do que R$ 40 milhões. 4#2 PATRULHAMENTO ELEITORAL Governo reage à análise de instituição bancária contra Dilma e prefeituras comandadas pelo PT, de forma autoritária, promovem retaliação ao banco. Pressão resulta em demissão de analista Desde o início do ano, o mercado financeiro emite sinais contrários à reeleição da presidenta Dilma Rousseff. Já virou um lugar-comum. Toda vez que pesquisas de intenção de voto mostram a queda da popularidade de Dilma e a ascensão dos candidatos de oposição, a Bolsa de Valores reage com alta. O otimismo com a eventual alternância de poder se apoia na esperança de que o próximo governo resgate os pilares econômicos abandonados após a crise internacional de 2008. A grande maioria dos analistas defende este como único caminho para a retomada do equilíbrio fiscal e do crescimento econômico. Também aponta a oposição como a mais capacitada para debelar os fantasmas da inflação – hoje em 7% – e do desemprego. Mas o PT parece disposto a calar quem elabora análises condizentes com essa realidade. A tentativa de patrulhamento evidenciou-se na semana passada, quando o banco Santander, por meio de uma analista, alertou seus clientes com rendimentos acima de R$ 10 mil que os indicadores piorariam se aumentassem as chances de Dilma ser reeleita. Num informe de rendimentos enviado a 40 mil clientes, o banco alegou dificuldade em prever até quando vai durar o cenário de “quebra de confiança” e “pessimismo constante” que assola os mercados. E relacionava a eventual estabilização ou o crescimento da candidata a um cenário de “deterioração” da economia. Em qualquer democracia do mundo, um episódio como esse passaria batido. Além de serem instituições destinadas ao depósito de dinheiro, os bancos cumprem o papel de consultores de investimentos. Por isso, é mais do que legítima a avaliação feita por uma instituição privada aos seus clientes. No PT, no entanto, o alerta do Santander, repetindo o que o alemão Deutsche Bank já havia feito em maio, soou como ataque eleitoral. “É inadmissível aceitar qualquer nível de interferência de qualquer integrante do sistema financeiro na atividade eleitoral e política”, afirmou Dilma. Ao ataque de Dilma, seguiu-se uma contundente declaração de Lula, pedindo publicamente a cabeça da analista do Santander responsável pelo texto. “Essa moça não entende p... nenhuma de Brasil e de governo Dilma Rousseff. Pode mandar embora”, afirmou o ex-presidente. O PT ainda estimulou a militância a cancelar suas contas na instituição e, numa clara retaliação movida por interesses partidários, suspendeu o contrato de gestão da folha de pagamento da Prefeitura de Osasco. Temendo perder a parceria com os governos petistas em Santo André, Cubatão e São José dos Campos, o banco foi forçado a recuar. Pediu desculpas publicamente e demitiu a funcionária. Presidente mundial do Santander, o espanhol Emilio Botín disse que o documento não expressava a opinião da instituição, mas da analista, e foi distribuído sem consulta prévia à direção do banco. “O presidente Lula é muito meu amigo”, afirmou Botín, tentando pôr panos quentes na polêmica. Além de criar um precedente perigoso, o patrulhamento feito a uma instituição privada que depende de autorização do Banco Central para funcionar e do aval do próprio presidente da República para se estabelecer no País deve abalar ainda mais a confiança dos investidores, segundo o economista-chefe da TOV Corretora, Pedro Paulo Silveira Vale. Durante a semana, o PT ainda recorreu ao TSE para proibir a divulgação de anúncios da consultoria Empiricus, que viralizaram nas redes sociais ao propor soluções a uma iminente crise econômica pós-eleição. Sócio da Empiricus, Felipe Miranda classificou a atitude como “absurda”. “Esse governo é incapaz de receber críticas”, disse. 4#3 TREM DA ALEGRIA DAS OBRAS PÚBLICAS Sem alarde, parlamentares tentam votar, na próxima semana, lei que torna permanente modelo emergencial criado para a Copa do Mundo. A regra flexibiliza as licitações e dá todo poder às empreiteiras Josie Jeronimo (josie@istoe.com.br) Para conseguir terminar as obras a tempo da Copa do Mundo, o governo flexibilizou as regras de licitação. Conhecido como Regime Diferenciado de Contratações (RDC), o modelo visava a dar agilidade a projetos emergenciais. Tratava-se, portanto, de uma regra de exceção para atender a fins específicos e que exigiam pressa em sua conclusão. Agora, sem alarde, às vésperas das eleições, os parlamentares trabalham para colocar em votação, na próxima semana no Senado, um projeto que transforma a iniciativa em permanente. Aprovada, a medida vai beneficiar as empreiteiras, principais doadoras de campanha, e diminuir o controle do poder público sobre as grandes obras de infraestrutura do País, além de dificultar a transparência. Órgãos de fiscalização e entidades ligadas ao setor denunciam que a revisão da lei é o trem da alegria para a corrupção em obras públicas. “O projeto vai mexer com a parte nuclear da lei, o trecho que determina como é feita a escolha dos contratados. Estão escancarando a porta da corrupção”, desabafa o ex-deputado Luís Roberto Ponte, autor da Lei de Licitações. ERA PARA SER EXCEÇÃO - Obra do VLT (Veículo Leve sobre Trilhos), em São Paulo, foi feita com base no regime diferenciado de contratações. Parlamentares querem perpetuar regra. O novo modelo acaba com a exigência da elaboração de um projeto prévio pelo governo para a contratação da empreiteira que fará a obra. Hoje, a empreiteira executa um projeto elaborado pelo órgão público. Aprovada a nova regra, o governo indicará apenas uma ideia básica do empreendimento e os empresários apresentarão preços para transformar em realidade essa ideia. Se vencer, o empresário terá liberdade para escolher o material e o traçado da obra mais adequados com as despesas que terá. A dupla responsabilidade de elaborar o projeto e executar a obra é chamada de “contratação integrada”. Por exemplo, para construir uma linha de metrô, atualmente o governo elabora o projeto e faz análise de solo para verificar se a contratada pode ter problemas futuros com licenças ambientais ou com a mudança de traçado por causa de acidentes geológicos e desapropriações. Isso leva tempo, mas dá ao governo controle sobre planos de trabalho e escolha das técnicas e dos materiais empregados na obra. A versão simplificada da licitação é um tiro no escuro. O governo entra com o dinheiro e a empreiteira, com a missão de entregar a obra. Mesmo assim, se durante o processo de execução a empresa alegar que precisou fazer mudanças no projeto ou teve prejuízos inesperados, os órgãos públicos poderão reajustar o contrato, com aditivos. Os defensores do projeto argumentam que a revisão dá agilidade à escolha das empresas e, consequentemente, à aplicação dos investimentos. O presidente da CauBR (Conselho de Arquitetura e Urbanismo do Brasil), Haroldo Pinheiro, discorda com veemência. “Quem projeta não constrói, quem constrói não projeta. Dessa forma, o empreiteiro é quem vai especificar ao projetista qual referência de qualidade seguir, não o contratante. O Estado vai abdicar de seu dever de planejar a infraestrutura e os espaços públicos do País, entregando a missão para as empreiteiras”, argumenta. O projeto que estende a contratação diferenciada para todas as esferas da administração causa efeito, também, nas prefeituras. Com a aprovação da revisão da Lei de Licitações, o limite para a contratação de obras sem concorrência subirá dos atuais R$ 15 mil para R$ 150 mil. Com isso, empreendimentos de pequenas prefeituras ficarão a cargo de empresas diretamente escolhidas pelos prefeitos. Era tudo o que eles queriam. 4#4 ALIADO TRAPALHÃO Com promessas não cumpridas e diversos erros administrativos, o governador Jaques Wagner deixa de ser um puxador de votos e vira um problema para a campanha de Dilma Rousseff na Bahia Ludmilla Amaral (ludmilla@istoe.com.br) Em 2010, o governador Jaques Wagner (PT) foi o grande responsável pela vitória da presidenta Dilma Rousseff na Bahia, o quarto maior colégio eleitoral do País, com uma diferença de 2,8 milhões de votos sobre a oposição. Quatro anos depois, o cenário é o oposto. Amargando um crescente desgaste de sua imagem, devido a sucessivos equívocos administrativos, Wagner é uma das razões para a perda de prestígio do PT em território baiano. Como consequência da deterioração do prestígio do petista perante a população baiana, Dilma desaba nas pesquisas de intenção de voto no Estado, que conta com 417 municípios e cerca de dez milhões de eleitores. Segundo as mais recentes pesquisas, embora Dilma ainda ocupe a liderança, suas intenções de voto no Estado caíram de 63%, em fevereiro para 48%, em julho. EM BAIXA - Com a imagem arranhada, o governador da Bahia, Jaques Wagner, vê seu sucessor, o candidato Rui Costa (PT), amargar apenas 8% das intenções de voto Em baixa, Wagner também não consegue nem sequer transferir votos para o seu sucessor, e ex-chefe da Casa Civil, Rui Costa (PT), que figura nas pesquisas com apenas 8%. Em contrapartida, o maior adversário de Costa no pleito deste ano, o ex-governador Paulo Souto (DEM), aparece em primeiro com 42%. A chapa costurada por Aécio Neves, candidato do PSDB ao Planalto, é considerada praticamente imbatível por reunir no mesmo palanque ex-inimigos históricos no Estado, mas grandes puxadores de voto, como o próprio Paulo Souto, o ex-deputado Geddel Vieira Lima (PMDB), aspirante ao Senado, e o ex-deputado Joacy Góes, ex-diretor do jornal “Tribuna da Bahia”, candidato a vice-governador pelo PSDB. A chapa tem conta com o apoio do prefeito de Salvador, ACM Neto (DEM), um dos dois prefeitos mais bem avaliados do País. O processo da perda da popularidade do governador da Bahia remonta a 2012, quando o petista adotou uma postura atrapalhada durante negociação com os policiais militares do Estado, que cruzaram os braços por 12 dias pedindo o reajuste salarial e melhorias de trabalho, duas das principais promessas de sua campanha à reeleição. Como efeito da falta de traquejo de Jaques Wagner na hora de negociar com os grevistas, a Bahia experimentou uma escalada da violência jamais vista no Estado e passou a ostentar um recorde negativo: ficou entre os sete Estados brasileiros que apresentaram crescimento explosivo no número de homicídios, entre 2002 e 2012, de acordo com o Mapa da Violência 2014. Ainda em 2012, o governador ainda teve de enfrentar a paralisação, por 115 dias, dos professores estaduais por um reajuste de 22,22% nos salários, outra promessa de campanha não honrada por ele. A greve deixou 1,5 milhão de alunos sem aula e o setor da Educação se transformou numa outra vidraça da gestão petista. OUTRO LADO DA TRINCHEIRA - Geddel Vieira Lima: "O governo de Wagner é pífio" Outros compromissos alardeados com pompa por Wagner durante a campanha também não passaram de palavras ao vento e contribuíram para o desgaste de sua imagem e da do PT no quarto maior colégio eleitoral do País. Foi o caso da construção da fábrica chinesa da JAC Motors, em Camaçari, que iniciaria suas operações em outubro de 2014, mas pode nem sair do papel, bem como a do Porto Sul de Ilhéus, cujas obras deverão ter início apenas em dezembro deste ano, último mês de seu mandato. “Disseram que a parceria com o governo federal revolucionaria a Bahia, mas o que se vê agora é um governo pífio”, criticou o deputado federal e adversário político, Geddel Vieira Lima (PMDB). Com a performance desastrosa de Jaques Wagner na Bahia, pela primeira vez, desde 1998, a oposição nutre a expectativa de triunfar nas urnas baianas nas eleições presidenciais. 4#5 SEDUZIDO POR UMA BOLADA? Depois de desativar o perfil fictício de Dilma na internet, o estudante de publicidade Jeferson Monteiro volta às redes sociais como consultor do PT Josie Jeronimo (josie@istoe.com.br) Na terça-feira 29, seis dias depois de desativar sua página no Facebook e seu perfil no Twitter, o criador do perfil Dilma Bolada, o estudante de publicidade Jeferson Monteiro, retornou às redes sociais em meio a efusivas comemorações da militância petista. Não por acaso: o rapaz contabiliza 1,4 milhão de seguidores e é hoje um dos pontas de lança da campanha de Dilma na internet. No entanto, a misteriosa saída de cena aliada ao regresso igualmente enigmático às redes sociais, menos de uma semana depois, alimentou especulações de que o publicitário teria negociado alguma vantagem pecuniária para permanecer na trincheira do PT. Não seria a primeira vez que ele se envolveria numa polêmica sobre transações financeiras. Durante a pré-campanha, o criador de Dilma Bolada acusou o PSDB de tentar comprá-lo – levando-o para a oposição – por meio de uma agência de publicidade. Quando desativou o perfil, na última semana, Jeferson insinuou que se sentia abandonado. “Estou quase sozinho no meio de uma tormenta que é a internet.” No comitê presidencial, enquanto Dilma Bolada esteve fora do ar, falou-se que o autor do perfil teria recebido uma “sinalização” de auxiliares da presidenta de que ele seria procurado para resolver “pendências financeiras”. Com a volta do perfil, integrantes do staff de Dilma revelaram que Jeferson passaria a atuar como uma espécie de consultor do PT. No meio político, comenta-se que, em troca da “consultoria” e da reativação do popularíssimo perfil, Jeferson receberia uma bolada: segundo essa versão, o estudante de publicidade teria acertado com o PT o pagamento de R$ 200 mil pelos próximos três meses. IDEOLOGIA - Criador do perfil Dilma Bolada, Jeferson Monteiro diz que mantém o personagem na ativa apenas por afinidade ideológica Ele nega tudo peremptoriamente – desde o acerto para atuar como consultor de marketing da campanha petista até o recebimento de qualquer valor. Insiste que jamais recebeu dinheiro pela Dilma Bolada e que mantém o personagem na ativa apenas por afinidade ideológica com a presidenta. Ele tem boas razões para isso. Se afirmasse que recebe para rechear o perfil fictício da presidenta na internet de informações positivas e provocações aos adversários, Jeferson estaria confessando um crime eleitoral, pois a lei veda propaganda paga na rede. Os seis dias sem a militância da Bolada na internet deixaram claro para a campanha do PT a importância de Jeferson para a ressonância positiva da imagem de Dilma. Estrategistas identificaram que a figura simpática do perfil fictício ajuda a atenuar a rejeição à presidenta. Resta saber a que custo. ______________________________________ 5# COMPORTAMENTO 6.8.14 5#1 A MECA DOS EVANGÉLICOS 5#2 ELES DEFENDEM O FIM DO VÍNCULO COM O EXÉRCITO 5#3 O BRASILEIRO POR TRÁS DA FERA DOS ARES 5#4 MEMÓRIAS DO CARCEREIRO DE MANDELA 5#5 O PAPA E OS PENTECOSTAIS 5#1 A MECA DOS EVANGÉLICOS Com a inauguração da réplica do "Templo de Salomão", o maior espaço religioso do Brasil, o bispo Edir Macedo, da Igreja Universal, procura se aproximar dos símbolos do judaísmo Rodrigo Cardoso (rcardoso@istoe.com.br) Se o pentecostalismo avança Brasil afora – nos últimos 10 anos, cresceu 61,45%, ou mais 16 milhões de pessoas – e vem redesenhando o mapa religioso no País, em paralelo, Edir Macedo, 69 anos, se firma com um dos protagonistas da cena evangélica na história do País. O carioca, que, abriu a primeira e modesta portinhola da sua Igreja Universal do Reino de Deus (IURD) em 1977, construiu um império de 6.500 templos, controla um partido político, o Partido Republicano Brasileiro (PRB), aliado do PT há 12 anos, é proprietário de uma rede nacional de televisão, a Record, que rivaliza com a Globo, e possui diversas mídias eletrônicas. Na quinta-feira 31, às 19h, o bispo da IURD reuniu a presidente da República Dilma Rousseff, o vice presidente Michel Temer, o governador de São Paulo Geraldo Alckmin, o prefeito da capital paulista Fernando Haddad e seu antecessor Gilberto Kassab, ministros do Supremo Tribunal Federal e artistas como Gugu Liberato e Sabrina Sato. Essas e outras personalidades e autoridades públicas se embrenharam entre os 10 mil convidados para presenciar a inauguração, na capital paulista, do Templo de Salomão, agora a jóia mais cintilante do império da IURD. Trata-se de uma obra gigantesca que levou quatro anos para ser erguida em um espaço equivalente a cinco campos de futebol. Mais alta do que o Cristo Redentor, no Rio de Janeiro, custou R$ 680 milhões e nasceu para ser uma réplica do templo sagrado do judaísmo, destruído duas vezes na Antiguidade, em Jerusalém (leia detalhes da obra na pag, 46). Durante a cerimônia de abertura do templo, o bairro do Brás, situado na área central de São Paulo, uma antiga região industrial que, hoje, além do megatemplo da IURD, abriga cortiços, imigrantes nordestinos, confecções que empregam bolivianos e comércio popular, viveu uma noite de gala. Um tapete vermelho foi estendido na rua para que um cortejo transportasse uma réplica folheada a ouro da Arca da Aliança – segundo a Bíblia, dentro dela ficavam depositados os Dez Mandamentos –, para o interior do local, e o evento fosse iniciado. Helicópteros sobrevoavam a área trazendo autoridades. Agentes de trânsito e centenas de policiais cuidavam do fluxo de carros e pedestres. Na fachada do templo, revestida com pedras calcárias importadas de Hebron, na Cisjordânia, foi projetado um filme que contou a história do cristianismo. Outros detalhes conferiram ares suntuosos à arquitetura do templo, que é, a partir de agora, o maior espaço religioso do Brasil. Macedo comprou 40 imóveis, uma fábrica de cimento, um posto de gasolina, um estacionamento e, após os demolir, levantou um gigante de 72 mil m2 de área construída – 3,2 vezes maior do que o Santuário de Aparecida do Norte –, com capacidade para dez mil pessoas sentadas e cujo estacionamento comporta 1.800 veículos. Só com as cadeiras, importadas da Espanha, foram gastos R$ 22 milhões. Há 11 pavimentos dentro dessa grande casa da IURD, que abriga 60 apartamentos que servirão de moradia para bispos. Um deles, no último andar, foi feito para Edir Macedo, que fixou residência lá para acompanhar os acertos finais do templo antes da inauguração. PRIMEIRA FILA - A presidenta Dilma Rousseff, entre o seu vice, Michel Temer, e o bispo Edir Macedo, na inauguração do novo templo da Igreja Universal do Reino de Deus Durante a inauguração, o fundador da IURD promoveu um breve culto e chamou atenção pelo visual. Edir Macedo ostentava uma barba branca comprida e estava vestido com indumentárias judaicas como o quipá, chapéu utilizado pelo povo judeu, e o talit, um xale ritualístico. “Por meio dessas importações miméticas de visual e de acessórios de rituais tradicionais do judaísmo, ele pleiteia para si a mesma majestosa aura dos velhos profetas bíblicos”, diz o sociólogo Ricardo Mariano, autor de “Neopentecostais: Sociologia do Novo Pentecostalismo no Brasil” (Edições Loyola). Macedo sempre demonstrou grande apreço pelo Velho Testamento em suas pregações. Antes de ele subir ao altar, ex-dependentes químicos deram seu testemunho de fé e um pedido de ofertas aos presentes foi feito por outro bispo da denominação. “A teologia da prosperidade, praticada pela IURD, cresce em solo teológico judaico e não nas raízes do Novo Testamento”, diz Leonildo Silveira Campos, professor de pós-graduação em ciências da religião da Universidade Mackenzie. Conhecer o Templo de Salomão não será privilégio para qualquer um. O candidato a visitante terá de retirar uma senha em uma unidade da IURD e aguardar o dia estipulado. Fiéis do sexo masculino estarão proibidos de entrar no local de boné, camiseta regata, de times de futebol, bermuda e chinelo. Já às mulheres estão vetados o uso de minissaias e roupas com decote. Celulares também não serão permitidos. “O templo irá se tornar a meca de uma parcela dos evangélicos”, diz o teólogo Edin Abumansur, da Pontifícia Universidade Católica (PUC), de São Paulo. Até os anos 1990, os endereços da Universal eram rotulados, muitas vezes, de supermercados da fé, imagem reforçada pela aparência das edificações, galpões transformados em templos com fachadas de neon. Para superar essa pecha e angariar uma imagem religiosa mais respeitável, nos últimos 15 anos, a IURD passou a construir imponentes catedrais em diversas capitais do País. Os megatemplos existem no Brasil há seis décadas e não são privilégio da Universal. “O Templo de Salomão de Edir Macedo, porém, representa o cume dessa estratégia”, diz Mariano, professor de sociologia da Universidade de São Paulo. Mesmo à revelia de suas lideranças, a nova sede deverá se transformar em um ponto turístico. “É possível que esse templo atraia tanto quanto os parques temáticos da Disney ou de outro, inaugurado por um televangelista, nos Estados Unidos, que conta inclusive com um museu da criação do mundo”, afirma Campos, do Mackenzie. Ele se refere ao Creation Museum, um gigante de 60 mil metros quadrados situado em Pittsburg, construído pelo pastor australiano Ken Ham. VISUAL - Macedo de barba branca comprida, quipá sobre a cabeça e talit branco: aura profética No caso de Macedo, além de importar 40 mil m2 de pedras da cidade israelense de Hebron, a antiga capital do reino de Davi, ele mandou erguer, ao lado do megatemplo, um museu de 630 m2 que irá contar a história das 12 tribos de Israel descritas no Velho Testamento. A IURD, de acordo com o último Censo de 2010, registrou uma queda acentuada de fiéis, 10,8%. Aproximadamente 230 mil adeptos deixaram a denominação. O tempo dirá se, além do peso simbólico e do marco arquitetônico, o Templo de Salomão será capaz de amealhar novos súditos. 5#2 ELES DEFENDEM O FIM DO VÍNCULO COM O EXÉRCITO Pesquisa mostra que 76% dos Policiais Militares apoiam a desmilitarização da corporação. Por que ela não vai adiante? Fabíola Perez (fabiola.perez@istoe.com.br) Não é apenas a população brasileira que está insatisfeita com a atuação das polícias no Brasil. Os próprios agentes de segurança querem mudanças, como revela uma pesquisa do Fórum Brasileiro de Segurança Pública e da Fundação Getulio Vargas (FGV) realizada com 21 mil policiais civis, militares e federais, divulgada na semana passada. O item que mais surpreendeu diz respeito ao vínculo da PM com o Exército. Dos entrevistados, 73% afirmam que ele deveria acabar. Entre os PMs o número é ainda mais alto: 76,1% defendem a desmilitarização, bandeira antiga de quem acredita que ela contribui para o uso intensivo de força, abordagens violentas e prisões aleatórias. “O Exército utiliza técnicas de combate e uma polícia formada para preservar direitos não pode enxergar a população como inimigo”, diz Rafael Custódio, coordenador do Programa de Justiça da ONG Conectas. “Muitos militares entram na corporação acreditando que o papel da polícia é somente repressivo”, diz o tenente da Polícia Militar Danillo Ferreira, que defende o fim do vínculo com as Forças Armadas. “O policiamento deve primar pela prevenção. O modelo que atua repressivamente não pode ser regra.” Para a desmilitarização ir adiante, é preciso mudar a Constituição. Havia três Projetos de Emenda Constitucional (PEC) em tramitação no Congresso que tratam do tema. No ano passado, eles foram consolidados em um único texto. Para o senador Blairo Maggi (PR-MT), autor de uma das propostas, é importante acabar com as práticas militares para que haja uma aproximação entre a polícia e a sociedade. OPINIÃO - O tenente da PM Victor Fonseca é a favor da unificação das polícias civil e militar A desvinculação do Exército esbarra na resistência das cúpulas da PM e das Forças Armadas, segundo especialistas. “Ela é mais aceita entre as patentes mais baixas, que se expõem em conflitos diariamente e sofrem com a falta de estrutura da polícia”, diz Alexandre Ciconello, da Anistia Internacional. A PEC 51, atualmente sob análise da Comissão de Constituição e Justiça do Senado, estabelece também a unificação das polícias civil e militar, um grande tabu entre os agentes de segurança. “Hoje, os PMs não têm acesso às investigações da Polícia Civil. A unificação traria mais autonomia às corporações”, acredita o tenente da PM Victor Fonseca, para quem a integração dos sistemas, cumprindo o ciclo completo de prevenção, repressão e investigação, traria melhores resultados. 5#3 O BRASILEIRO POR TRÁS DA FERA DOS ARES Quem é o engenheiro aeronáutico mineiro que atua ao lado do bicampeão mundial de corridas aéreas no circuito internacional Raul Montenegro (raul.montenegro@istoe.com.br), de Gdynia (Polônia) Se voasse dentro de um avião de acrobacias, a maioria das pessoas sentiria uma sensação desconfortável por causa da força G que atua sobre o corpo durante loopings, parafusos e outras manobras feitas por essas aeronaves. A adrenalina e a sensação de liberdade, porém, são indescritíveis e compensam um eventual incômodo, como conferiu a reportagem da ISTOÉ durante um voo de 20 minutos numa das máquinas que participam da corrida aérea Red Bull Air Race, em Gdynia, cidade litorânea da Polônia. Os ases que escolheram passar a vida competindo nos céus, entretanto, aprenderam a controlar tanto o mal-estar quanto a excitação para percorrer circuitos aéreos como o de Gdynia no menor tempo possível. O melhor deles é o inglês Paul Bonhomme, duas vezes campeão mundial e piloto com mais vitórias na história do evento – 16, o dobro do segundo lugar. Para conquistar esses números, o aviador contou com a ajuda do engenheiro brasileiro Paulo Iscold, que ganhou ao seu lado o título da última temporada do Air Race. “Muito desse campeonato foi decidido graças ao Paulo. Eu poderia ter a melhor aeronave do mundo, mas isso de nada adiantaria se eu não soubesse como usá-la”, diz o britânico. Especialista em projetos aeronáuticos, Iscold atua na competição como engenheiro de corrida da equipe de Bonhomme. Até o começo deste ano, o time era o único a contar com uma figura como ele no hangar, mas, desde a segunda prova da temporada, outros três pilotos também adotaram a novidade. O trabalho do brasileiro está baseado em dois pontos principais. O primeiro é a análise do circuito. Iscold e seus alunos da Universidade Federal de Minas Gerais, onde ele dá aulas, recebem o trajeto da corrida e determinam qual é o melhor traçado. Avaliam a telemetria do monomotor e observam onde o piloto está errando em relação ao percurso ideal. A segunda atribuição diz respeito à aerodinâmica. O engenheiro é um dos responsáveis por mudar características, como o formato das pontas de asas, o tamanho da cabine e o capô do motor, para melhorar a performance do aparelho. Nascido e criado em Belo Horizonte (MG), Iscold tem 38 anos, é casado e pai de um menino de 6. Piloto nas horas vagas, entrou no Red Bull Air Race de forma inusitada. Em 2004, enviou um e-mail para um sul-africano que estava construindo um avião semelhante ao que ele desenvolvia na faculdade. O destinatário era o aviador Glen Dell, que só respondeu à mensagem quatro anos depois, convidando-o a participar da competição. Depois da saída de Dell, passou pela equipe de Adilson Kindlemann (que também já não corre mais) até se unir a Bonhomme, em 2010. Iscold não ganha dinheiro para estar no Air Race. “Não posso, pois sou funcionário da universidade”, diz. Na última prova, em Gdynia, diante de um público de 130 mil pessoas, Bonhomme cometeu um erro ao passar acima de um dos pilões e sofreu uma penalidade de dois segundos, ficando fora da final, em quinto lugar. Com o resultado, ele está na segunda colocação no campeonato, com 13 pontos a menos que o líder. O vencedor de uma etapa leva 12 pontos – neste ano, há oito corridas. Uma máxima adotada pelo engenheiro brasileiro, porém, cabe bem à situação. “No Brasil, crescemos escutando que precisamos aprender a perder, mas essa é a maior burrice. O que a gente precisa é aprender a ganhar, mas perder faz parte.” 5#4 MEMÓRIAS DO CARCEREIRO DE MANDELA Sul-africano narra em livro como nasceu a amizade com o líder que lutava contra o apartheid, fala da postura humilde e da delicadeza dele nos anos de prisão e conta como a convivência o influenciou Camila Brandalise (camila@istoe.com.br) O líder sul-africano Nelson Mandela é uma referência para as gerações mais jovens do país. Mas, para Christo Brand, 53 anos, ele é mais que um exemplo: é uma pessoa que influenciou decisivamente o curso de sua vida. Brand foi carcereiro de Mandela por 12 anos. Esteve com ele na prisão na Ilha Robben e nas cadeias de Pollsmoor e de Victor Verster, na região da Cidade do Cabo. Da convivência, surgiu uma improvável amizade que perdurou até a morte do maior símbolo da luta contra o apartheid, em dezembro do ano passado. Dessa relação nasceu também o livro “Mandela: Meu Prisioneiro, Meu Amigo” (ed. Planeta), em que Brand, com a ajuda da escritora Barbara Jones, narra os anos em que estiveram próximos. LEMBRANÇA - Christo Brand trabalhou na prisão da ilha Robben nos anos em que Nelson Mandela estava detido A obra não teria sido escrita se não fosse pelo próprio Mandela. O líder sul-africano acabara de lançar seu próprio livro de memórias e estimulou o amigo a fazer o mesmo. “Na hora, relutei. Disse que não era escritor, que não conseguiria”, relembra Brand em entrevista à ISTOÉ. Demorou quase dez anos, mas acabou por seguir o conselho de Mandela, como, aliás, acontecera outras vezes. Na primeira, Brand era seu carcereiro na prisão, quando lhe contou que pensava em abandonar o posto. “Mas ele falou que eu era importante lá e decidi ficar.” Em outra, Mandela o aconselhou a estudar – sugestão que lhe rendeu uma promoção. Brand conheceu Nelson Mandela em 1978, quando se tornou seu carcereiro na Ilha Robben, uma prisão de segurança máxima. Este havia sido o destino do então líder do Congresso Nacional Africano (CNA), após ser condenado por sabotagem – palavra encontrada pelo governo para relegar sua luta pelo fim do apartheid e enquadrá-lo como um traidor aos olhos do Estado. O país fervilhava com os embates travados entre os que combatiam e os que eram a favor da segregação racial. Mas Brand, oriundo de um vilarejo na zona rural, não tinha noção do que acontecia. “Não sabia quem ele era nem o que representava. Onde eu morava, as notícias não chegavam. Em Robben, me disseram que ele era um perigoso terrorista”, conta. Ao ficar a sós com Mandela pela primeira vez, se surpreendeu. “Imaginava um homem bravo, alterado. Mas encontrei o contrário. Ele era calmo, humilde e respeitoso mesmo com a nossa diferença de idade: eu tinha 19 anos e ele 60.” Desde então, passou a saber mais sobre o que acontecia em seu país e tirar suas próprias conclusões sobre Mandela. Não demorou muito e estava do seu lado. “Queria ajudá-lo. Percebi que era um homem privado da sua liberdade por lutar pela liberdade do seu povo”, diz. No livro, Brand conta histórias de sua vida pessoal ao mesmo tempo que descreve as impressões sobre as transformações políticas pelas quais passou a África do Sul nos anos de trabalho no sistema penitenciário. Chama a atenção seu olhar delicado sobre alguns momentos com Mandela. Quando o escoltava em caminhadas, o líder sempre se agachava para pegar uma flor e depois a colocava na cabine de visitas para que nos horários em que recebia a mulher, Winnie, ela a visse do outro lado da vidraça que os separava. Detalha seu asseio, a preocupação em modelar o cabelo com a brilhantina Pantene e o porte altivo, que atraía a atenção de todos em volta, quando começava a falar. “Era um pai falando a seus filhos”, compara Brand. Para ele, o mais impressionante era a humildade do líder sul-africano. “Certa vez ele me contou uma história muito emblemática. Caminhando pela praia, uma mulher disse que ele se parecia com Nelson Mandela. Ele respondeu falando que gostaria muito de conhecê-lo pessoalmente”, diz, em um dos poucos momentos da conversa em que se permite rir. Quando Mandela foi finalmente solto, Brand diz ter ficado feliz e triste, pois não teria mais aquele amigo ao seu lado. Os dois continuaram se encontrando nas visitas que Mandela fazia às prisões. Um tempo depois, ao ser eleito presidente, ofereceu-lhe um emprego público. Mais uma vez, estariam próximos, mas em uma situação hierárquica oposta. O último encontro deles foi em março do ano passado. Antes de morrer, Mandela pôde ler os dois primeiros capítulos do livro de Brand. “Ele gostou, ficou feliz por eu ter começado a escrevê-lo”, conta. O ex-carcereiro ainda lida diariamente com as lembranças da época do trabalho na prisão. A Ilha Robben tornou-se um ponto turístico e ele é o supervisor das lojas de suvenires. Compartilha também as próprias lembranças, contando aos visitantes como as coisas funcionavam quando Mandela estava preso ali. “Tenho muito orgulho de tê-lo conhecido, de ter passado tanto tempo ao seu lado e de ser considerado um membro de sua famíla”, afirma. Das imagens que guarda na memória, com a voz um pouco embargada, diz que a risada de Mandela é das mais lúcidas: “Ele ainda está vivo dentro de mim”. 5#5 O PAPA E OS PENTECOSTAIS Durante visita a uma igreja evangélica na Itália, Francisco pede perdão pelas perseguições cometidas por católicos aos evangélicos Paula Rocha (paularocha@istoe.com.br) Desde o início de seu pontificado, o papa Francisco não tem se esquivado de abordar temas polêmicos, como os casos de pedofilia na Igreja Católica e a corrupção no Vaticano. Agora, em uma visita a um templo evangélico na Itália, na semana passada, o pontífice pediu perdão aos pentecostais por perseguições cometidas pelos católicos, especialmente durante o regime fascista italiano (1922-1943), quando essa denominação religiosa era proibida por lei. “Entre as pessoas que perseguiram os pentecostais houve também católicos: eu sou o pastor dos católicos e peço perdão por aqueles irmãos e irmãs que não compreenderam e que foram tentados pelo diabo”, afirmou Francisco. A declaração foi feita em um encontro com mais de 350 fiéis protestantes na cidade italiana de Caserta, ao norte de Nápoles, onde Francisco também se reuniu com o pastor protestante Giovanni Traettino, seu amigo de longa data. IRMÃOS - Francisco chega ao templo protestante na Itália, onde se reuniu com o pastor Giovanni Traettino, seu amigo de longa data Durante o ato público, que durou cerca de uma hora e meia, o pontífice também rogou a união de todos os cristãos. “O Espírito Santo cria diversidade na Igreja. A diversidade é bela, mas o próprio Espírito Santo também cria unidade, para que a Igreja esteja unida na diversidade: para usar uma palavra bonita, uma diversidade reconciliadora”, disse. A atitude ecumênica do papa Francisco foi bem recebida tanto pela comunidade evangélica, quanto pela católica, e pode sinalizar uma mudança na postura dos fiéis dessas duas religiões, na opinião de Fernando Altemeyer Júnior, doutor em ciência da religião pela Pontifícia Universidade Católica (PUC) de São Paulo. “A declaração de Francisco é um primeiro passo em busca da conciliação desses fiéis. É um pedido para que eles deixem preconceitos de lado e se unam como irmãos, algo muito positivo”, disse o teólogo. O corajoso pontífice argentino, mais uma vez, está tentando corrigir os rumos de sua Igreja Católica. __________________________________________ 6# MEDICINA E BEM-ESTAR 6.8.14 6#1 A GUERRA DOS REMÉDIOS PARA EMAGRECER 6#2 A VIDA PARA SALVAR OUTRAS VIDAS 6#1 A GUERRA DOS REMÉDIOS PARA EMAGRECER Depois de três anos, drogas à base de anfetaminas indicadas para perder peso podem voltar ao mercado brasileiro. Médicos e pacientes se dividem quanto à sua eficácia e segurança. Enquanto isso, a ciência prepara uma nova safra de medicações Cilene Pereira (cilene@istoe.com.br) e Mônica Tarantino (monica@istoe.com.br) Falta muito pouco para que os remédios de emagrecimento à base de anfetaminas voltem ao mercado brasileiro. Com sua fabricação e comercialização proibidas desde 2011 por determinação da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), resta apenas uma votação, no Senado, para que eles possam novamente ser consumidos por pacientes brasileiros. Trata-se da última etapa de tramitação do projeto de decreto legislativo apresentado pelo deputado Beto Albuquerque (PSB-RS) que susta a proibição da agência. Ele já foi aprovado na Câmara e na Comissão de Constituição e Justiça. Dos 27 senadores, apenas seis se posicionaram contrários à liberação dos medicamentos. E a presidenta Dilma Rousseff não poderá se interpor, já que um decreto legislativo não pode ser vetado pela Presidência da República. No mesmo projeto está também o fim das restrições impostas à venda da sibutramina, outro medicamento usado no tratamento da obesidade. Desde a resolução da Anvisa, a droga só pode ser comercializada se houver, entre outras exigências, a apresentação de um termo de responsabilidade assinado pelo médico e pelo paciente. O provável retorno desses remédios está dividindo os médicos em um debate acalorado. De um lado estão os que apoiam a proibição e que, por isso, se encontram preocupados. Eles têm uma lista de argumentos para sustentar suas posições. Em relação aos derivados de anfetamina, o primeiro deles é o de que, por se tratar de medicações antigas, não há estudos confiáveis, feitos no chamado padrão ouro da ciência, que ratifiquem sua eficácia e segurança. “Não são pesquisas capazes de formar evidência científica, especialmente no que diz respeito à eficiência a longo prazo e à segurança”, afirma o cardiologista Flávio Fuchs, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Entre os problemas elencados, estão o risco de dependência e de surgimento de doenças cardiovasculares e hipertensão pulmonar. Outra crítica é a de que a perda de peso seria insignificante e temporária. “A efetividade a longo prazo dos inibidores de apetite é na melhor das hipóteses questionável”, afirma o pesquisador Francisco Paumgartten, da Fundação Oswaldo Cruz, do Rio de Janeiro. “E na maioria dos casos o emagrecimento é revertido quando a droga é interrompida.” Na opinião da nutricionista funcional Luciana Harfenist, do Rio de Janeiro, nesse aspecto há outro agravante. “Pacientes que consomem inibidores de apetite, na sua maioria, não aprendem a comer, não nutrem adequadamente seu organismo”, diz. LIBERAÇÃO - Os endocrinologistas Maria Edna e Alfredo Halpern lutam para que os derivados de anfetamina e a sibutramina sejam acessíveis. Eles consideram as medicações importantes para parte dos pacientes Em relação à sibutramina, os críticos ressaltam que a droga, bem mais moderna do que os anfetamínicos, foi objeto de estudos, mas o problema é que uma das principais investigações concluiu que não vale a pena usá-la. Eles se referem ao levantamento Scout (Sibutramine Cardiovascular Outcome Trial). Foram acompanhados cerca de dez mil pacientes por cinco anos. As perdas de peso registradas foram modestas. Pior do que isso, a pesquisa apontou risco mais elevado de infarto e acidente vascular cerebral entre obesos que utilizavam o remédio do que entre os que não o tomavam. Em favor da liberação advogam os especialistas no tratamento da obesidade, especialmente os endocrinologistas. “Nós, especialistas em obesidade, discutimos a questão a fundo e fornecemos dezenas de argumentos sobre a necessidade desses remédios”, relata o endocrinologista Alfredo Halpern, da Universidade de São Paulo (USP). O resultado da compilação de estudos e razões dos médicos foi consolidado em um documento assinado pela Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade e da Síndrome Metabólica (Abeso) e pela Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (Sbem). “Porém a agência não nos deu ouvidos e tomou uma decisão autoritária. Agora, um projeto de decreto legislativo irá passar por cima da decisão da Anvisa”, pontua Halpern. Exageros na dose O médico é um dos pesquisadores mais experientes na avaliação do desempenho de drogas contra obesidade, muitas testadas no serviço que dirige na USP. “Há trabalhos suficientes mostrando seus benefícios quando bem indicadas e ministradas na dose certa”, afirma. Segundo ele, há obesos que só respondem aos derivados de anfetamina, conhecidos por proporcionar perda de peso rapidamente. Halpern diz ainda que reações indesejáveis como euforia, delírios ou surtos de esquizofrenia paranoide, como menciona a Anvisa, são vistas apenas em pessoas com histórico de doença psiquiátrica ou de abuso de substâncias. Nesse aspecto, outro problema são os exageros na dose cometidos em formulações aviadas em farmácias magistrais e o uso recreacional desses remédios, dois fatores que também teriam influenciado a sua retirada do mercado. “Neste item, o problema foi, e continua sendo, a falta de uma fiscalização efetiva”, diz Halpern. A proibição, aliás, não encerrou o assunto. Ainda existem o comércio ilegal de antigos estoques e farmácias magistrais que aviam fórmulas com anfetamínicos clandestinamente. Necessidade vital Uma das observações contrárias aos remédios que mais incomodam os especialistas é a de que eles seriam dispensáveis. “A obesidade é uma doença crônica. E para algumas pessoas o controle alimentar é muito difícil sem medicamentos”, diz a endocrinologista Maria Edna de Melo, da diretoria da Abeso. O endocrinologista Tércio Rocha, do Rio de Janeiro, partilha da mesma opinião. “A volta da comercialização no Brasil dessas medicações é imensamente necessária, pois vários pacientes precisam delas”, diz. Concorda com ele o endocrinologista João Lindolfo, especialista pela Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia. “Tem de haver controle, mas as restrições precisam diminuir”, defende. Na opinião de Maria Edna, a compreensão desatualizada e limitada das características e consequências da doença está também na origem da ausência de drogas para tratar o problema na rede pública. “Não há nenhum remédio aprovado com essa finalidade para quem é atendido no SUS. A Anvisa acredita que somente a mudança na alimentação e atividade física já são suficientes”, diz. CRÍTICOS - Para o cardiologista Flávio Fuchs (acima), não há evidência científica da eficácia e segurança do uso dos derivados de anfetamina. Já o pesquisador Paumgartten afirma que a perda de peso proporcionada pelos remédios é pequena e temporária Certamente é urgente encontrar métodos mais eficientes de combate à obesidade. No Brasil, metade da população está acima do peso e os que já atingiram a classificação de obesos somam 30 milhões de pessoas. Trata-se de um contingente extremamente preocupante, considerando que o excesso de peso está por trás da alta incidência de doenças como a diabetes tipo 2, de infartos e de acidentes vasculares cerebrais. O difícil neste debate é apontar com certeza quem de fato se beneficiaria da volta das medicações. Ao longo da reportagem, por exemplo, é possível ler histórias de quem se deu muito bem, de quem se deu muito mal e para quem os remédios não fizeram diferença na briga contra o peso. Parte dos médicos defende que os medicamentos, na verdade, quaisquer que sejam eles, são coadjuvantes, e não protagonistas nessa batalha. “O tratamento medicamentoso da obesidade deve ser precedido por modificação do estilo de vida. Isso deve ser sempre a pedra fundamental da terapia”, afirma o clínico geral André Salgado, do Rio de Janeiro. Os endocrinologistas, porém, afirmam que há pacientes que não emagrecem sem remédio. Paralelamente à discussão sobre a necessidade de utilização das medicações, há outro aspecto que chama a atenção nesse assunto. Em Brasília, onde trafega o projeto que propõe sua liberação, pairam suspeitas sobre a iniciativa. Estranha-se, por exemplo, a celeridade com que o projeto está sendo analisado, algo incomum mesmo em tempos normais, que dirá em época pré-eleitoral, quando o Congresso normalmente para. Enquanto milhares de proposições demoram quatro anos, em média, para passar pelo crivo do plenário da Câmara, o projeto de decreto legislativo do parlamentar Beto Albuquerque precisou de apenas oito meses para ser estudado. Existe a suposição de que por trás da urgência está o interesse da indústria farmacêutica e das farmácias magistrais em explorar o rentável mercado dos medicamentos antiobesidade. O segmento farmacêutico acompanha de perto os movimentos referentes ao projeto e aciona seus principais interlocutores no Congresso para derrubar a resolução da Anvisa o mais rápido possível. Nos bastidores, congressistas contam que foram procurados por emissários de empresas farmacêuticas condicionando doações para a campanha eleitoral deste ano à rapidez da votação do projeto. “Respeito a opinião dos profissionais que consideram essencial a comercialização desses remédios. Mas pergunto: até que ponto não existe também o interesse de grandes conglomerados farmacêuticos que querem expor a saúde dos brasileiros?”, diz o senador Humberto Costa (PT-PE), contrário ao retorno dos medicamentos. Situação no mundo Por enquanto, ainda sem a data da votação definida, a Anvisa adota a cautela. A agência comunica que não decidiu quais medidas tomará se o projeto for aprovado, como tudo indica. Porém, de antemão, afirma que a medida desconsidera a atribuição primária da agência, que é justamente a de arbitrar e decidir quais produtos de saúde podem ou não entrar e permanecer no mercado. Em outras partes do mundo, a oferta de anfetamínicos e da sibutramina parece mais bem resolvida do que no Brasil. Nos Estados Unidos, é permitida a venda de derivados de anfetaminas como a anfepramona e a fentermina. Eles são aprovados para serem usados para perda de peso rápida, em poucas semanas. Em 2011, inclusive, a fentermina foi o remédio mais prescrito para emagrecimento naquele país, segundo a Food and Drug Administration (FDA), a agência americana responsável pela liberação de remédios. Já a sibutramina foi retirada do mercado pelo fabricante, o laboratório Abott, após recomendação do FDA. Na Europa, a situação em relação aos anfetamínicos é um pouco diferente. “Alguns desses medicamentos antigos ainda são comercializados em escala reduzida em determinados países europeus”, explica Francisco Paumgartten, da Fiocruz. “A European Medicines Agency tentou retirá-los do mercado com a fundamentação de ‘falta de eficácia’ mas a tentativa foi frustrada”, diz ele. Em relação à sibutramina, a agência europeia que regula medicamentos informou à ISTOÉ que recomendou a suspensão das autorizações para venda de produtos contendo a substância nos Estados membros em 2010, após concluir que os riscos são maiores do que os benefícios. No fim, a Abott decidiu tirar o remédio de todo o mercado mundial. Hoje, em lugares como o Brasil, a substância é encontrada em drogas genéricas ou em medicações manipuladas. A discussão ferrenha sobre a oportunidade de usar os anfetamínicos e a sibutramina evidencia quanto a medicina busca desesperadamente uma solução, uma pílula capaz de emagrecer e produzir pouco ou nenhum efeito colateral. Trata-se de uma das maiores ambições da ciência atualmente. Há várias opções em estudo (leia mais no quadro ao lado), mas mesmo os mais otimistas sabem que o caminho será longo até que uma delas seja finalmente disponibilizada. Indicação informal Enquanto isso, médicos e pacientes recorrem principalmente a medicamentos desenvolvidos para outras finalidades, mas que, na prática, mostraram-se eficazes também no controle de peso. É o chamado uso off label (fora do rótulo). É assim, por exemplo, com o topiramato, aprovado contra enxaqueca e compulsão, mas que ajuda a conter o impulso de comer em uma parcela dos obesos. A mesma situação ocorre com alguns antidiabéticos de última geração que tornam mais lento o esvaziamento gástrico e agem na sinalização da saciedade enviada ao cérebro. São, sem dúvida, esforços válidos para tentar conter o avanço de um dos maiores perigos à saúde já conhecidos. 6#2 A VIDA PARA SALVAR OUTRAS VIDAS As comoventes histórias dos médicos que se arriscam - e morrem - para tratar as vítimas da maior epidemia de ebola da história, que segundo a OMS pode se espalhar e virar uma catástrofe Wilson Aquino (waquino@istoe.com.br) A médica paulista Rachel Soeiro, 35 anos, acaba de chegar da Guiné, na África Ocidental, um dos três países do continente que estão enfrentando o pior surto do vírus ebola da história – os outros dois são Libéria e Serra Leoa. Integrante da organização internacional Médicos Sem Fronteiras, ela ainda guarda na mente as imagens e as emoções pelas quais passou durante os dias em que atendeu 21 pacientes e viu cinco deles morrerem, entre os quais um bebê. Apesar de ter estado no ambiente infectado pelo vírus mais letal do mundo, Rachel garante que não teve medo. “Queremos cuidar do paciente, dar medicação, examinar do jeito que dá”, diz. RISCO - O médico americano Kent (acima) foi infectado pelo vírus enquanto fazia o atendimento a pacientes na Libéria. Khan (abaixo), maior especialista de Serra Leoa no combate ao vírus, morreu após a contaminação O relato da brasileira é exemplar. Dá a dimensão do desprendimento e empenho de profissionais de saúde que superam o medo de se contaminar e se mantêm fiéis à vocação. Nesse novo surto de ebola, casos assim ficaram patentes. Infelizmente, nem sempre com um bom desfecho. No domingo 27, morreu vítima do vírus o médico Samuel Brisbane, que trabalhava para conter a epidemia na Libéria. Na terça-feira 29, o médico Sheik Omar Khan – o maior especialista no combate ao ebola em Serra Leoa – também faleceu, infectado. Antes, ele havia tratado mais de 100 pacientes. E o médico americano Kent Brantly permanecia internado, contaminado. Em tempos de epidemia, aqueles com maior risco de infecção são justamente os profissionais da saúde, familiares e outras pessoas em contato próximo com doentes e pacientes falecidos. E é isso o que se está vendo na África nas últimas semanas. Estima-se, por exemplo, que mais de 60 profissionais da saúde morreram até agora. COMBATE - Em Serra Leoa (acima), médicos levam comida a pacientes mantidos em isolamento. Na Guiné, hospital onde estão doentes contaminados, em quarentena O agravante, porém, é que médicos, enfermeiros e voluntários estão enfrentando, desta vez, um surto de ebola sem precedentes. Até sexta-feira 1, mais de 1,3 mil pessoas haviam sido infectadas, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS) - 729 morreram. Serra Leoa anunciou o fechamento das escolas. Na Libéria, foi declarado estado de emergência. A notificação de casos em Lagos, na Nigéria, deixou o mundo ainda mais preocupado. O temor é que, tendo chegado a uma grande cidade, o vírus se espalhe. Segundo Margaret Chan, diretora da OMS, ele pode se propagar sem controle e causar perdas humanas catastróficas. “A resposta a seu avanço foi inadequada. O Ebola está se propagando mais rápido do que os esforços para controlá-lo”, afirmou na sexta-feira 1º. Estados Unidos, Europa e Ásia permaneciam em alerta. No Brasil, a ordem é acompanhar com cuidado casos de viajantes que desembarquem com febre ou diarreia. Recomenda-se que viagens não essenciais às regiões atingidas sejam adiadas. Para médicos como Rachel, Sheik, Kent e Samuel, porém, o tamanho da epidemia não assusta. Ao contrário, estimula a contribuir para soluções. No caso da epidemia de gripe H1N1, foi a mesma coisa: diversos profissionais de saúde envolveram-se tanto que acabaram infectados. “Na China, quando houve o surto da chamada pneumonia asiática, muitos médicos também terminaram contaminados”, lembra Eduardo de Medeiros, da Sociedade Brasileira de Infectologia. “Os profissionais seguem princípios filosóficos e bioéticos, integrantes dos compromissos vocacionais assumidos, e que os fazem superar até o medo da morte”, explica Carlos Vital, vice-presidente do Conselho Federal de Medicina. No entanto, colocar intencionalmente a vida em risco, como acontecia em tempos remotos, quando os cientistas usavam o próprio corpo para testar seus experimentos, está fora de questão. “O médico tem a obrigação de preservar o próprio organismo”, adverte Vital. Mas, apesar de existir protocolos de segurança criados para proteger a vida de quem cura, acidentes acontecem. “Você pode eventualmente se contaminar no laboratório”, lamenta Edmilson Migowsky, chefe do Serviço de Infectologia Pediátrica da Universidade Federal do Rio de Janeiro. _______________________________________ 7# ECONOMIA E NEGÓCIOS 6.8.14 7#1 OS BONS TEMPOS VOLTARAM? 7#2 TEMPO ESGOTADO PARA CRISTINA 7#3 PARA PROTEGER A CASA 7#1 OS BONS TEMPOS VOLTARAM? Estados Unidos e China, as duas maiores economias do mundo, voltam a crescer em ritmo forte e trazem otimismo num momento em que países como Brasil enfrentam dificuldades Luisa Purchio (luisapurchio@istoe.com.br) Desde a crise de 2008, Estados Unidos e China, as duas maiores economias do planeta, alternaram momentos de baixo crescimento com picos de euforia que se revelaram passageiros. Em alguns períodos, houve até retração, como no desempenho do PIB americano no primeiro trimestre de 2014. A novidade é que, pela primeira vez em seis anos, os dois países apresentaram resultados consistentes – ao mesmo tempo. Na quarta-feira 30, o Departamento de Comércio americano anunciou que a economia do País avançou 4% no segundo trimestre, acima da estimativa de 3%. Melhor que isso: foi a terceira maior alta desde o início de 2011. A performance se deve, em boa medida, ao aumento de 2,5% nos gastos dos consumidores, responsáveis por mais de dois terços da atividade econômica. Também na semana passada foram apresentados novos dados sobre o PIB da China. No segundo trimestre, o país cresceu 7,5%, índice acima do índice dos seis últimos trimestres. O mais significativo é que a indústria chinesa voltou a fazer muito dinheiro. De janeiro a junho de 2014, o lucro das maiores empresas do país acelerou quase 18%. EM ALTA - Obama e Jinping: o presidente americano comemora alta do PIB acima das estimativas e o chinês vê seu país acelerar O fôlego renovado das duas maiores forças econômicas mundiais é importante por diversas razões. Responsáveis por mais de 20% do fluxo do comércio mundial, Estados Unidos e China impulsionam, quando estão bem, os negócios em diversos países. Com o PIB em alta, as empresas investem mais, os consumidores se dispõem a gastar e o mercado esbanja confiança, num ciclo que traz incontáveis benefícios. Para o Brasil, a retomada dos dois gigantes globais representa também uma oportunidade valiosa, especialmente num momento de baixa da economia brasileira (para citar um único exemplo, o superávit primário do País no primeiro semestre foi o pior dos últimos 14 anos). Segundo especialistas, o crescimento da economia dos Estados Unidos pode provocar um impacto imediato, que consiste na alta das exportações brasileiras, sobretudo de commodities. Mas há um aspecto que preocupa também. “Os investimentos em papel americano vão se tornar mais atraentes”, diz Claudio Roberto Frischtak, presidente da consultoria InterB. “Isso é ruim para o Brasil, que deixou de ser a bola da vez.” Maior parceiro comercial do Brasil em 2013, a China tem demonstrado interesse em ampliar suas relações com o País – estratégia que deve ser reforçada num momento em que a economia avança em ritmo maior. As autoridades chinesas já estão imbuídas dessa ideia. A recente visita do presidente Xi Jinping ao Brasil resultou na assinatura de 56 documentos de cooperação. Enquanto a exportação de carne bovina brasileira pode chegar a US$ 1 bilhão em 2015, a China indica que reforçará sua participação na construção da infraestrutura do País, especialmente no setor ferroviário. “O Brasil possui muitas áreas onde a capacidade da produção industrial doméstica não vem se aprimorando por várias razões, incluindo falta de investimentos em infraestrutura e impostos elevados”, disse à ISTOÉ Binu Pillai, executivo da Meorient, empresa que trouxe, em 2014, duas feiras de negócios que reuniram empresas chinesas interessadas no mercado brasileiro. “Nós estamos tentando preencher as lacunas em setores em que o Brasil não é competitivo.” Detalhe interessante: Pillai acredita que, em 2015, o número de expositores chineses nas duas feiras crescerá pelo menos 50%. Do ponto de vista político, a recuperação econômica dos Estados Unidos e da China abranda os danos causados por dificuldades recentes enfrentadas pelos presidentes dos dois países. Barac­k Obama fracassou nas tratativas de paz entre israelenses e palestinos e Xi Jinping está às voltas com denúncias de corrupção envolvendo assessores próximos. Em situações delicadas como essas, que podem surtir efeitos negativos nos índices de popularidade dos presidentes, os indicadores econômicos são a melhor resposta que Obama e Jinping poderiam dar. 7#2 TEMPO ESGOTADO PARA CRISTINA Fracasso na negociação da dívida externa expõe as fragilidades do governo da Argentina e amplia a crise em um país às voltas com a recessão Na quarta-feira 30, a presidenta da Argentina, Cristina Kirchner, adicionou mais um fracasso à série impressionante de infortúnios de seu governo. Após dez horas de negociações em Nova York, nos Estados Unidos, emissários enviados por Cristina não chegaram a um acordo com credores, que alegam ter o direito de receber mais de US$ 15 bilhões em títulos não quitados. Para o advogado Daniel Pollack, indicado pela Justiça americana para mediar as conversas entre o governo argentino e os fundos, o impasse representa um calote. A questão é complexa. Em 2001, o governo provisório de Adolfo Rodríguez decretou o não pagamento de US$ 81 bilhões devidos a credores privados. Em 2005, o valor foi renegociado com a maioria deles, resultando na diminuição significativa do saldo devedor – desde então, a Argentina tem honrado o que foi assinado nessa rodada de negociações. Um grupo, porém, não aceitou a proposta e foi aos tribunais para receber o valor integral da dívida. É isso que está em jogo agora. Cristina diz que não se trata de calote porque vem pagando regularmente os fundos que aceitaram reestruturar a dívida. Os outros fundos, apelidados de “abutres” pelo governo argentino, se dizem amparados pela lei e reforçam a tese do calote. ATRASO - A presidenta Cristina Kirchner enfrenta inflação em alta e emprego em baixa Cristina Kirchner acumula insucessos que podem custar caro nas eleições presidenciais de 2015. No campo econômico, há muito tempo o país coleciona indicadores negativos. A Argentina está em recessão (projeções indicam que o PIB pode encolher 1% em 2014), o peso não para de se desvalorizar, a inflação anual perto de 25% corrói salários e empregos e, nos últimos dois anos, investidores estrangeiros deram as costas para o país. Na política, Cristina perdeu o apoio de antigos aliados e enfrenta uma oposição cada vez mais feroz. Para o Brasil, a crise pode provocar danos. Terceiro maior destino das exportações brasileiras, a Argentina é um mercado fundamental, especialmente para a indústria automotiva do País. Na semana passada, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, disse que a Argentina não deu novo calote em sua dívida externa. “Eu não creio que a Argentina esteja em default (calote), porque ela está pagando suas dívidas”, disse Mantega. Questionado sobre o impacto para a economia brasileira, o ministro tentou minimizar os efeitos negativos. “Num primeiro momento, não tem impacto nenhum”, disse. 7#3 PARA PROTEGER A CASA Impulsionado por pequenos serviços oferecidos pelas empresas, como reparos hidráulicos e elétricos, o mercado de seguros residenciais cresce mais de 10% ao ano. Conheça as novidades do setor e saiba como escolher o seu plano Por Luisa Purchio (luisapurchio@istoe.com.br) O mercado de seguros residenciais está em alta no Brasil. De acordo com a Confederação Nacional das Seguradoras (CNseg), entre janeiro e maio de 2014 o setor avançou 11,9% em relação ao mesmo período do ano passado – um índice significativo diante do fraco desempenho da economia brasileira. Apesar do crescimento, a entidade estima que o serviço está presente em apenas 10% dos domicílios brasileiros. Portanto, há espaço para uma evolução ainda maior. “Quem mora em prédio acha que o seguro do apartamento está incluso no condomínio, mas isso não é verdade”, afirma Danilo Silveira, presidente da Comissão de Riscos Patrimoniais da Federação Nacional de Seguros Gerais. O curioso é que a contratação do seguro residencial tem sido impulsionada por um tipo de serviço que até pouco tempo atrás não era oferecido pelas empresas. Atualmente, as principais seguradoras oferecem pacotes que vão muito além da tradicional cobertura contra incêndios, desastres naturais e roubos. Quem contrata um seguro residencial tem direito à assistência de profissionais como eletricistas, encanadores e até especialistas em reparos de telhados. “Se o seguro for acionado para consertar uma vez a máquina de lavar roupa, o encanamento e o computador, a contratação já terá valido a pena”, diz Ivone Elise Gonoretske, associada da Asteca Corretora de Seguros. ____________________________________ 8# MUNDO 6.8.14 8#1 POR QUE NINGUÉM OUVE A ONU? 8#2 "NINGUÉM QUER A MORTE DE CIVIS" 8#1 POR QUE NINGUÉM OUVE A ONU? Como o mais importante organismo mundial da diplomacia perdeu relevância e se tornou impotente diante dos crescentes conflitos em Gaza, na Ucrânia e na Síria Mariana Queiroz Barboza (mariana.barboza@istoe.com.br) Criada logo após o fim da Segunda Guerra Mundial, sob o pilar de que a paz deve ser estabelecida por meios pacíficos, a Organização das Nações Unidas (ONU) tem se mostrado cada vez mais impotente diante do acirramento de conflitos que se espalham pelo mundo. A violência entre Israel e o Hamas, que contabiliza mais 1,4 mil vítimas – a maioria civis –, é um exemplo de sua ineficácia. Apesar de o Conselho de Segurança ter exigido um cessar-fogo imediato após uma reunião de emergência na segunda-feira 28, isso não impediu que os bombardeios continuassem dos dois lados. Na quinta-feria 31, uma trégua foi acordada entre as partes, mas ela seria descumprida horas depois. No mesmo dia, o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, descartou o fim da operação militar em Gaza até que seu Exército completasse a missão de destruir os túneis construídos pela força terrorista Hamas com o objetivo de atacar Israel. Detalhe: a negociação mais promissora de uma trégua definitiva tem sido conduzida pelo Egito. SEM TRÉGUA - Prédio da ONU em Nova York e explosão em Gaza: a rotina da entidade inclui reuniões de emergência, declarações contra a violência e pedidos de cessar-fogo, mas poucos dão ouvido Como uma organização dirigida por consensos, a ONU expõe a falência da cooperação supranacional, mesmo nas situações mais graves, quando há aliados em jogo. “O Conselho de Segurança é um órgão politizado, em que qualquer resolução passa por interesses nacionais”, afirma Mark Lagon, diretor de estudos políticos globais e segurança da Universidade de Georgetown. “O problema é que os membros permanentes têm seus protegidos e congelam o Conselho”, diz Ruth Wedgwood, professora de Direito Internacional e Diplomacia na Universidade Johns Hopkins. “Se não concordam entre si, não há muito o que possa ser feito.” Em termos práticos, os Estados Unidos impedem qualquer ação mais enérgica contra Israel, enquanto a Rússia faz o mesmo em relação à Síria e a outros aliados. Desde o fim da Guerra Fria, segundo levantamento do jornal americano “The New York Times”, os Estados Unidos utilizaram seu poder de veto 14 vezes e a Rússia, 11. Na falta de um consenso no Conselho de Segurança – além de EUA e Rússia, França, Reino Unido e China têm poder de veto –, iniciativas independentes têm ganhado importância. Diante da incapacidade da ONU de chegar a um entendimento sobre punir a Rússia pela anexação da Crimeia e por apoiar rebeldes separatistas no leste da Ucrânia, os EUA e os países da União Europeia optaram por sanções econômicas e diplomáticas fora do âmbito da entidade. Na semana passada, uma nova rodada foi imposta. Em resposta, a Rússia disse que a energia que fornece ao mercado europeu ficaria mais cara. Para Jan Oberg, diretor da Transnational Foundation for Peace and Future Research, isso mostra que são os próprios Estados-membros que têm “marginalizado” as Nações Unidas. O especialista, que já participou de mais de 20 missões internacionais da ONU, compara o orçamento anual do órgão, ao redor de US$ 3 bilhões, com os gastos militares globais no mesmo período. “Os Estados-membros gastam US$ 1,7 trilhão se preparando para a guerra, porque pensam que segurança é Exército, mas estão dispostos a investir menos de 0,2% disso na paz”, diz. O esvaziamento da ONU cresce na medida em que muitas nações decidem se engajar militarmente mesmo sem o aval da entidade. Foi assim que, em agosto do ano passado, os americanos e britânicos cogitaram uma intervenção militar na Síria. Eles acusavam o presidente Bashar al-Assad por um ataque com armas químicas em Damasco. Embora a guerra civil, que já dura três anos, esteja longe de um desfecho, a ação só foi descartada depois que o presidente russo, Vladimir Putin, mediou um acordo para a entrega do arsenal químico em poder de Assad. Em 2003, os Estados Unidos e o Reino Unido também não convenceram Alemanha, França e Rússia sobre a existência de armas de destruição em massa no Iraque. Ainda assim, eles invadiram o país. O mesmo aconteceu na guerra do Kosovo, em 1999, quando a Otan ignorou a decisão do Conselho de Segurança da ONU de não intervir no conflito. O veto coube à Rússia, que apoiava a Iugoslávia, depois desmembrada em várias nações independentes. O grande avanço da ONU ressaltado pelos especialistas está na assistência humanitária. Com soldados levemente armados, as missões de paz coordenadas pela entidade não lutam para derrotar nenhum Exército, mas para evitar novvas tensões e proteger os civis em terra. Um exemplo é a missão enviada ao Chipre, que tem sido hábil em controlar as hostilidades entre cipriotas gregos e turcos desde os anos 60. Para Mark Lagon, mais dinheiro deveria ser destinado aos programas de refugiados e de combate à fome, que são capazes de salvar milhares de vidas todos os anos. Na semana passada, o braço das Nações Unidas que cuida dos refugiados palestinos, a UNRWA, pediu US$ 187 milhões extras. Seu porta-voz, Chris Gunness, chegou a chorar numa entrevista à tevê árabe Al-Jazeera após o ataque a uma escola em Gaza. Diante da impotência da ONU para suscitar ações concretas, Gunness não poderia produzir uma metáfora melhor. 8#2 "NINGUÉM QUER A MORTE DE CIVIS" Presidente da Confederação Israelita do Brasil, Claudio Lottenberg é um dos principais representantes da comunidade judaica no País. Em entrevista à ISTOÉ, ele defende a operação militar de Israel em Gaza e diz que quem não aceita negociar a paz é o Hamas Mariana Queiroz Barboza (mariana.barboza@istoe.com.br) O oftalmologista Claudio Lottenberg teme que a interpretação dada ao atual conflito entre Israel e o Hamas possa despertar uma reação antissemita no Brasil. Segundo ele, o que Israel tem feito é uma resposta ao radicalismo terrorista do Hamas. ISTOÉ – Os críticos de Israel dizem que a operação militar em Gaza é desproporcional, especialmente pela quantidade de mortos no lado Palestino. Claudio Lottenberg – Essa é uma leitura equivocada. Não se trata de nenhuma população desprotegida. Existe um grupo armado até os dentes. A quantidade de túneis descobertos a cada momento e a capacidade bélica desse grupo mostram que o Hamas não tem nenhuma finalidade pacifista. ISTOÉ – Por que tantos civis do lado palestino morreram? Lottenberg – Não é que Israel ataca civis, mas os terroristas usam escudos humanos e colocam armas entre os civis. Israel tem de fato um poderio militar muito grande, mas seu Exército não está se defrontando com alguém que não tenha algo parecido. O Hamas vem atacando Israel há mais de um ano, atirando foguetes contra civis. Não é algo desproporcional. Trata-se de um Estado que foi provocado e está reagindo. Quando se entra numa briga, é preciso lidar com a força de seu adversário. ISTOÉ – Não existe outra maneira de combater o Hamas? Lottenberg – O que Israel tem de fazer é encontrar um caminho de paz junto ao povo palestino, com a criação de um Estado palestino, com fronteiras seguras, onde se possa viver em paz. O problema é que os palestinos estão profundamente divididos entre o Fatah, representado pelo Mahmoud Abbas, que é a favor do diálogo, e um lado incontrolável, que é o Hamas, que ocupa a região de Gaza. O Hamas não admite nenhuma conversa, tem o desejo único de destruir o Estado de Israel. Nem os cessar-fogo são respeitados. O que todos queremos é uma situação de paz permanente. ISTOÉ – Quem financia o Hamas? Lottenberg – Se o Hamas tivesse aceitado conversar, se não tivesse investido em material bélico, teria colocado dinheiro em escola, hospital, e a situação seria outra. A região de Gaza foi entregue aos palestinos em 2005, quando Ariel Sharon, visto como um homem radical, comandava o governo israelense. O que aconteceu é que criaram um verdadeiro arsenal bélico lá. A opinião pública tem de entender que esse problema não é do Oriente Médio, é do mundo todo. Existe alguém financiando o Hamas, mas financiar o processo de paz ninguém quer. Se houver boa vontade do outro lado, Israel quer que a paz seja alcançada. ISTOÉ – O sr. acredita que há um sentimento crescente de antissemitismo na opinião pública? Lottenberg – O antissemitismo passou ao largo da história com algumas feições. Na fase de colonização de nosso país, ele tinha caráter religioso. Num passado mais recente, quando presenciamos o holocausto, ele ganhou uma conotação racial. Agora as pessoas dizem que não têm nada contra os judeus, mas têm contra Israel. Então, ganhou uma conotação contra a identidade nacional judaica, é um antissionismo. ISTOÉ – Qual é o risco disso? Lottenberg – Isso me preocupa, porque cria um sentimento de intolerância contra uma comunidade, o que transpassa o limite geográfico de Israel e atinge todos nós. Temos de trabalhar para que o conflito não seja incorporado ao Brasil. ISTOÉ – O que o sr. achou da posição do governo brasileiro ao condenar o que a presidenta Dilma Rousseff classificou como o “massacre” de Israel contra o território palestino? Lottenberg – Tenho minhas dúvidas sobre se ela usou a terminologia adequada. A Dilma apelou para um posicionamento que, a meu ver, é exagerado. ISTOÉ – Ainda é possível uma solução pacífica? Lottenberg – A paz é possível desde que as partes queiram verdadeiramente conversar. Israel já deu sinais positivos de que deseja dialogar. Os palestinos se manifestaram de maneira concreta pelo Abbas, mas ele precisa exercer sua força política para trazer à mesa o grupo que não quer conversar. Os radicais estão se preparando para uma verdadeira guerra, entretanto, parece que só se mostra o que acontece na outra ponta. Mas ninguém quer a morte de civis. __________________________________________ 9# TECNOLOGIA E MEIO AMBIENTE 6.8.14 9#1 SEM DATA PARA ACABAR 9#2 NOVOS OLHOS PARA O ESPAÇO 9#3 UM GUIA PARA OS PÉS 9#1 SEM DATA PARA ACABAR No sábado termina o prazo para que os lixões cheguem ao fim no Brasil, mas uma medida provisória apoiada pelos pequenos municípios pode estender essa data por oito anos Ana Carolina Nunes (acarol@istoe.com.br) A 15 quilômetros do centro de Brasília repousa o maior lixão da América Latina, que recebe os rejeitos de 2,5 milhões de habitantes das cidades que compõem o Distrito Federal. O Lixão da Estrutural é um dos 2.507 lixões que ainda existem no País, apesar de a Lei 12.305, de 2010, que instituiu a Política Nacional de Resíduos Sólidos, ter determinado que a partir do dia 3 de agosto deste ano os municípios serão obrigados a dar destinação final ambientalmente adequada a seus rejeitos, o que significa enviá-los apenas a um aterro sanitário e desativar os lixões existentes. “Nos últimos quatro anos a questão dos lixões não avançou muito, e se continuar nesse ritmo não acabaremos com eles nem em 20 anos”, afirma Albino Alvarez, técnico de planejamento e pesquisa e coordenador da Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS) no Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea). Se depender do Congresso, corre o risco de não avançar nada em mais uma década. Uma medida provisória (MP) está prontinha para entrar na pauta de votações com uma emenda contrabandeada para adiar o prazo por mais oito anos. Com o apoio de pequenos municípios, em especial do Nordeste, Norte e Centro-Oeste, tem tudo para ser aprovada já em setembro. De acordo com levantamento do Ipea, a situação é mais grave exatamente nessas regiões do País, que juntas respondem por 86,8% dos lixões ainda existentes. A falta de recursos financeiros e técnicos para os projetos e para a construção de aterros sanitários seria o principal motivo para a estagnação nos lixões, especialmente em pequenos municípios. Isso porque, para um aterro sanitário ser economicamente viável, precisa receber um volume a partir de 300 toneladas por dia, o que seria o montante gerado por uma população de 300 mil pessoas. Antecipando-se às possíveis punições que gestores podem sofrer ao não se adequarem à lei, o deputado federal Manoel Júnior (PMDB-PB) lidera um movimento para viabilizar o adiamento desse prazo por até oito anos, por meio de uma medida provisória. “Não houve condições de os pequenos e médios municípios se endividarem”, alega o deputado. “Entendemos que mais oito anos será um tempo razoável para os municípios se adaptarem a essa questão tão grave que acomete a todos”, conclui. SONHO - Pela lei, todo o lixo produzido no Brasil deveria ter como destino um aterro sanitário, e não lixões improvisados A Confederação Nacional dos Municípios (CNM) também espera pelo adiamento e reclama da dificuldade do acesso ao apoio técnico e financeiro do governo federal. “Escrever uma lei é simples, mas quem executa são outros. As coisas estão andando, mas não na velocidade que deveriam”, alega Paulo Ziulkoski, presidente da CNM. Paulo admite que as eleições municipais ocorridas na metade do prazo, em 2012, colaboraram para retardar as ações. Já o deputado federal Arnaldo Jardim (PPS-SP), que presidiu o grupo de trabalho que formulou a política, não acredita no adiamento. “As alegações são as mesmas para a questão do saneamento, por exemplo. Temos de ser muito frios em relação às leis, e esse novo prazo é descabido.” A expectativa é de que a MP seja votada até setembro, após o fim do prazo. Enquanto isso, gestores estão sujeitos às sanções previstas na Lei de Crimes Ambientais (nº 9.605/1998) e na Lei da Improbidade Administrativa (nº 8.429/1992), que inclui reclusão (de um a três anos) e multa de R$ 5 mil a R$ 50 milhões (conforme a gravidade da contaminação). O próprio Plano Nacional de Resíduos Sólidos, formulado por uma comissão interministerial, ainda não foi finalizado. Atualmente aguarda análise do Conselho Nacional de Política Agrícola, parte do Ministério da Agricultura, conselho este que não se reúne há 15 anos. 9#2 NOVOS OLHOS PARA O ESPAÇO Como será a próxima geração de telescópios, maiores do que nunca, que dará aos cientistas acesso inédito a recantos distantes e ainda desconhecidos do universo Lucas Bessel (lucasbessel@istoe.com.br) Dentro de poucos anos, astrônomos ao redor do mundo terão à disposição uma quantidade inédita de imagens e dados sobre os confins mais distantes do universo. Serão fotografias, vídeos e análises de estrelas e exoplanetas obtidos por uma nova geração de telescópios – muito maiores e mais precisos – que estão em construção hoje. Alguns deles ficarão em terra, no topo de montanhas isoladas no Chile ou no Havaí, enquanto outros serão lançados ao espaço (confira quadro). EM ÓRBITA - Técnico observa espelhos do telescópio espacial James Webb, substituto do Hubble, que será lançado em 2018 pela Nasa Um dos mais aguardados equipamentos dessa nova “safra” é o telescópio espacial James Webb, da Nasa, que deve ser colocado em órbita em 2018. Considerado substituto do Hubble, responsável pelas mais fantásticas imagens do universo obtidas até hoje, ele tem espelho de captação três vezes maior que o do antecessor. Sua principal missão é fazer imagens em infravermelho, que ajudam os cientistas a entender o movimento de expansão das galáxias e a detectar o calor de planetas fora do sistema solar – onde há potencial para o surgimento de vida. “Com essas ferramentas, estará ao nosso alcance descobrir algo que pode mudar o mundo para sempre”, diz Matt Mountain, um dos cientistas participantes do projeto do telescópio. Entre os equipamentos que ficarão em solo, o Telescópio de 30 Metros – bancado por um consórcio de universidades americanas e entidades canadenses, indianas e japonesas – é um dos mais avançados. O nome bastante literal faz referência ao diâmetro de seu espelho, quase três vezes maior do que os utilizados nos telescópios mais poderosos atualmente. A construção no topo de uma montanha no Havaí começa em outubro. Após a conclusão, em meados de 2020, o observatório buscará pistas de buracos negros e estudará o processo de formação do universo. NO CHÃO - O Telescópio de 30 Metros (sim, esse é o nome oficial) será erguido no topo de uma montanha no Havaí e buscará pistas de buracos negros É também no topo de montanhas no Chile que outros três grandes telescópios serão baseados, incluindo o E-ELT, sigla em inglês para Telescópio Europeu Extremamente Grande. O Brasil, único país fora do Velho Continente a entrar no consórcio, deverá assumir parte dos custos, estimados em R$ 6 bilhões, em troca de acesso às instalações. A construção começou em julho e deve terminar em 2022. 9#3 UM GUIA PARA OS PÉS Tênis com GPS desenvolvido por empresa indiana promete ajudar pedestres e ciclistas a encontrar qualquer caminho A aplicação de recursos de conectividade, monitoramento e localização a objetos comuns, como óculos ou camisetas, já é uma realidade. A chamada tecnologia vestível é uma das principais apostas dos fabricantes para os próximos anos – e os limites para esse tipo de equipamento ainda precisam ser testados. Nesse processo de desenvolvimento, uma empresa indiana resolveu dar um passo à frente e criou um par de tênis que, literalmente, guia a pessoa que os calça. O Lechal – que no idioma híndi significa “me leve” – é estiloso e confortável, mas seus principais atributos ficam escondidos dos olhos. Por meio de uma conexão Bluetooth, ele se liga a um aplicativo de smartphone que usa as informações do Google Maps para guiar o usuário. Como? Por meio de vibrações nos pés. Segundo a startup indiana Ducere, os calçados são úteis tanto para pedestres “normais” quanto para corredores ou até ciclistas, já que eliminam a necessidade de verificar o mapa na tela do celular a cada poucos segundos. O funcionamento é bastante simples: se o caminhante precisa entrar em uma rua à esquerda, o tênis do pé correspondente vibra. Quanto mais próximo da mudança de trajeto, mais forte é a vibração. O mesmo vale para o outro lado. O executivo-chefe da Ducere, Krispian Lawrence, diz que as pessoas se adaptarão naturalmente aos calçados. “É como quando alguém toca no seu ombro direito e você naturalmente se vira”, afirma. ADAPTÁVEL - Palmilhas equipadas com sistema de navegação também estarão à venda: o recurso foi inicialmente planejado para ajudar deficientes visuais Inicialmente pensado para ajudar deficientes visuais a se locomover, o Lechal também incluirá funções para esportistas, como marcação de distância e contagem de calorias gastas. Os tênis devem chegar aos mercados americano e indiano em setembro, por US$ 150. Quem quiser também pode comprar as palmilhas avulsas equipadas com o sistema. _______________________________________ 10# CULTURA 6.8.14 10#1 LIVROS - AS MENTIRAS QUE OS ROLLING STONES CONTAM 10#2 TEATRO - DAS TELAS PARA OS PALCOS 10#3 MÚSICA - SETE VEZES MUTANTES 10#4 EM CARTAZ – CINEMA - A SOLIDÃO DAS METRÓPOLES 10#5 EM CARTAZ – LIVRO - O MAIOR ROMANCE DE DONNA TARTT 10#6 EM CARTAZ – DVD - A ÚLTIMA BATALHA DE MIYAZAKI 10#7 EM CARTAZ – TEATRO - NELSON RODRIGUES PARA MULHERES 10#8 EM CARTAZ – CD - VOZ DA NOVA GERAÇÃO LONDRINA 10#9 EM CARTAZ – AGENDA - JARDIM SECRETO/FESTIVAL/SESSÃO DE TERAPIA 10#1 LIVROS - AS MENTIRAS QUE OS ROLLING STONES CONTAM Nova biografia da banda mostra as polêmicas relações dos músicos com esposas de figuras públicas e revela como eles mentiram e passaram para trás juízes, gravadoras, mulheres e uns aos outros para chegar ao topo e se manter lá por mais de 50 anos Ana Weiss (ana.weiss@istoe.com.br) Eles tiveram passaportes cassados, fichas registradas em delegacias de dezenas de cidades por onde passaram, julgamentos por crimes como tráfico, ofenderam de várias formas os governos de muitos dos países que os receberam e nunca fizeram questão de esconder dos maridos traídos os relacionamentos com suas esposas. Seguindo a regra número 1 do código da pilantragem – negar até o fim –, engambelaram com um charme cínico juízes, gravadoras, mulheres e uns aos outros sempre que a situação pediu. Autor das festejadas biografias autorizadas de Mick Jagger (1993) e Keith Richards (2003), Christopher Sandford tinha jurado não escrever mais sobre a banda inglesa mais rentável da terra. Mas em 2007, depois de 147 apresentações, os músicos arrecadaram nada menos de US$ 560 milhões – US$ 3,8 milhões por show –, então ele decidiu juntar tudo o que tinha de inédito e vasculhou até os arquivos do FBI, além de ouvir mais pelo menos 300 pessoas que provavelmente os músicos não gostariam em seus perfis oficiais para tentar explicar o motor incessante do fenômeno cultural que move pequenas multidões há mais de meio século. Com o corajoso título “The Rolling Stones – A Biografia Definitiva”, o livro com entrevistas e passagens inéditas chega ao País ao mesmo tempo que duas produtoras brasileiras disputam a vinda da banda para quatro apresentações em fevereiro do ano que vem – com as negociações girando em torno de US$ 6 milhões. “Há uma linha de pensamento que diz que voltar para a estrada depois dos 60 anos foi a coisa mais indigna que os Stones já fizeram”, escreve o autor na abertura do livro. Em entrevista à ISTOÉ, Sandford contou que, sem a anuência de seus integrantes, obteve informações novas do diário de Ian Stewart, integrante da banda morto em 1985, e o pronunciamento de músicos como Dave Mason, Jack Bruce, Tommy James, Grace Slick, Terry Reid e Johnny Winter, que nunca tinham falado sobre sua relação com os Stones. “Mick Jagger permitiu que eu fizesse uma longa entrevista com seus pais”, escreve ele. “Dito isso, devo deixar claro que os membros sobreviventes da banda não colaboraram com o livro e que vários de seus amigos com quem entrei em contato na tentativa de agendar uma entrevista me disseram, depois de ‘checar’, que preferiam não falar.” Outros, admite o biógrafo, “aproveitaram a oportunidade para abrir o verbo comigo”. NEGÓCIOS À PARTE - Charlie Watts, Keith Richards, Mick Jagger e Ron Wood, sócios da banda que mais lucrou com shows no mundo Se nos anos 60 e 70 os Stones perderam passaportes, filhos e amigos, hoje eles tem um império a zelar. Um império mais financeiramente durável que algumas das marcas mais consolidadas e antigas do mundo. De acordo com a “Furtune”, o logo da língua é tão lembrado e reconhecido quanto a marca da Nike. Assim, se todos souberam que a primeira mulher de Jagger, Marianne Faithfull, lutou para deixar as drogas depois da separação do vocalista, pouco se ouviu do volume de entorpecentes que viajava com o casal na época da gravidez da atriz. Muito menos da depressão com o aborto sofrido no mesmo momento em que Anita Pallenberg – mulher de Keith Richards e amante de Jagger – também os acompanhava em viagens, grávida, carregando injeções de heroína e haxixe dentro das roupas íntimas. “A polícia é um hábito caro”, teria dito Richards nos anos 70, em um dos muitos julgamentos de que foi liberado apesar do flagrante com drogas, que alegou serem para consumo próprio – mas que poderiam abastecer Piccadily Circus. 10#2 TEATRO - DAS TELAS PARA OS PALCOS Apoiadas em patrocínio vindo das leis de incentivo, obras de televisão e do cinema migram para o teatro. Um movimento oposto do que é comum no País Helena Borges (helenaborges@istoe.com.br) Em plena era digital, quando os efeitos e as definições de infinitos megapixels seduzem cada vez com mais sofisticação os espectadores, um grupo respeitável de artistas brasileiros faz sucesso levando filmes e programas de televisão para o teatro. Peças como “220 Volts”, “Se Eu Fosse Você” e “Meu Passado me Condena”, nascidos na tela, têm seus ingressos esgotados em questão de horas e estão chamando o público e a atenção das produtoras de volta para as casas de espetáculos. Estrela de “220 Volts” — que fez sucesso de 2011 ao ano passado no canal a cabo Multishow —, Paulo Gustavo, que atua e assina o roteiro, diz que são dois os motivos que o levaram a criar a versão de palco: a repercussão na internet e “saudades”. E elenca o ritual que o encanta: “Me preparar por trás das cortinas, o feedback do público, a possibilidade de amadurecer o personagem, toda essa dinâmica teatral me faz mais realizado.” "Se eu fosse você" - Segunda maior bilheteria do cinema brasileiro voltou aos palcos no formato musical, uma das tendências do mercado de entretenimento Segunda maior bilheteria do cinema nacional, “Se eu Fosse Você” (2006) virou musical. Depois do sucesso no Rio de Janeiro, este ano, o espetáculo se prepara para estrear em São Paulo. Já o longa campeão de público, “Tropa de Elite”, teve sua versão cênica vetada pela alta complexidade operacional, considerada inviável para o teatro. A série “Meu Passado me Condena”, com Miá Mello e Fábio Porchat, pulou do Multishow para o cinema e, deste, para o teatro. Agora acaba de estrear em São Paulo. Por terem histórias de sucesso em outras mídias, essas peças estreiam com altas expectativas de atuação tanto nos palcos quanto nas bilheterias. Fernando Campos, diretor de “Se Eu Fosse Você”, afirma que, apesar do sucesso de público, as leis de incentivo ainda são vitais para a indústria cultural no teatro. “Sem isso, nenhuma produção de grande porte se viabiliza.” A professora de teatro da PUC-Rio Vera Novello diz que tudo depende do custo de produção e do elenco. “Se contar com um artista querido da televisão e do grande público, a peça consegue até se bancar com o dinheiro dos ingressos, mas isso ainda é muito raro”, afirma. Ela alerta, porém, para produções caça-níqueis, que fazem o espetáculo perder a qualidade. “Só funciona se for algo devidamente adaptado para o teatro. Se for para produzir o espetáculo apenas porque fez sucesso em outra mídia, tem grandes chances de desapontar.” Paulo Gustavo defende o ineditismo em suas peças: “A maior parte do texto é original, mantenho só alguns jargões ou falas muito famosas das personagens, mas adaptar é sempre muito difícil, porque também é preciso manter a essência”. O professor de direção teatral da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) José Henrique Barbosa Moreira explica que hoje existe um número muito maior de meios e uma velocidade cada vez mais alta na migração de um veículo para outro. Fábio Porchat é um dos rostos desse entrelaçamento de meios. Seus projetos passam, paralelamente, por teatro, internet, televisão e cinema e não necessariamente nessa ordem. Porchat garante que os vídeos que disponibiliza gratuitamente na rede não ameaçam o sucesso do espetáculo. “Tem gente que vem cobrar no fim do espetáculo porque eu não fiz aquela piada que está no Netflix. O público quer ver aquilo ao vivo e só o teatro tem isso.” E confidencia: “Meu sonho é fazer um musical do Porta dos Fundos”, referindo-se ao programa que é estrondoso sucesso na internet. A notícia é boa para os oito milhões de fãs que seguem o canal no YouTube. Se o desejo do humorista se concretizar, a luta por ingressos promete ser boa. 10#3 MÚSICA - SETE VEZES MUTANTES Grupo musical que melhor refletiu a psicodelia dos anos 1960 tem seus mais importantes discos relançados em uma caixa que traz também gravações das controversas apresentações em festivais Ana Weiss (ana.weiss@istoe.com.br) Foi Ronnie Von quem batizou os Mutantes. O Príncipe da Bossa Nova, na época dono de um prestigioso programa na TV Record, lia “O Império dos Mutantes”, de Stephan Wul, quando cruzou com o colorido trio composto pelos irmãos Arnaldo e Sérgio Batista e pela sílfide loira Rita Lee, autodenominados O Konjunto. DISCO A JATO - Capa de "Mutantes", de 1969, relançado agora em CD (abaixo). O vestido de noiva de Rita Lee foi emprestado por Leila Diniz, já um símbolo da liberdade sexual feminina A banda aceitou a sugestão e em outubro de 1966 fazia sua primeira aparição televisiva. Começou aí uma estrada que, temperada com experimentações musicais e lisérgicas, estabeleceu um ponto fora da curva da MPB brasileira. Mais: criou uma intersecção entre as correntes que alimentavam os festivais de música, transitando entre a nascente tropicália e o rock progressivo e se infiltrando em recantos mais intocados da geração contaminada pelo movimento hippie americano. Os sete CDs que saem agora em uma caixa de luxo organizada por Alice Soares e Rodrigo Faour para a Universal Music passam pela etapa da primeira formação da banda – a fase em que os Mutantes tiveram Rita Lee. Estão incluídas aí passagens históricas como a criação, com Gilberto Gil, de “Domingo no Parque”, segundo lugar do Festival de Música da TV Record de 1967. De acordo com o organizador, a apresentação dos Mutantes foi “um delírio para uns e um choque para outros”. “Eles foram os primeiros a usar guitarras elétricas para acompanhar música popular brasileira, ainda mais de raiz nordestina, causando comoção dos tradicionalistas em forma de muitas vaias”, escreve Faour no catálogo que acompanha a caixa. Em 1972, os irmãos Batista queriam uma direção menos irreverente para o trabalho. E a coleção termina aí, com a saída da ovelha negra Rita Lee da banda que fabricava os próprios instrumentos. Dizem que não foram poucas as brigas que desembocaram na cisão do trio. A versão oficial é que a vocalista só queria continuar fazendo graça. Conseguiu. 10#4 EM CARTAZ – CINEMA - A SOLIDÃO DAS METRÓPOLES por Ana Weiss (ana.weiss@istoe.com.br) No centro de Belo Horizonte, o protagonista do conto “O Homem das Multidões”, de Edgar Allan Poe, faz de seu anonimato um local de observação dos transeuntes. O solitário de Poe ganhou pelas mãos de Cao Guimarães (“A Alma do Osso” e “Andarilho”) e Marcelo Gomes (“Cinema, Aspirinas e Urubus”) nome, profissão e uma parceira de solidão na capital mineira em filme homônimo. Ele é o condutor de trens Juvenal, cuja colega de trabalho Margô tem centenas de amigos na internet e encontra prazer apenas no mundo da tecnologia. O longa, que conquistou o grande prêmio no Festival de Cinema Latino-Americano de Toulouse, na França, ocupa na tela o formato quadrado, lembrando as imagens da câmera polaroide. + 5 filmes rodados em trens Trem noturno para Lisboa Depois de salvar um homem do suicídio, professor embarca em uma viagem de trem para a capital portuguesa. Viagem a Darjeeling Três irmãos que não se falam há um ano partem em uma viagem de trem pela Índia, em busca de conciliação. Trem da vida Os moradores de um povoado judeu, temendo os nazistas, constroem um trem e simulam sua deportação para um campo de concentração. Assassinato no Expresso Oriente Cadáver é encontrado na cabine do trem, durante uma nevasca. A Dama Oculta No longa de Alfred Hitchcock, jovem resolve investigar o misterioso desaparecimento de uma mulher num trem. 10#5 EM CARTAZ – LIVRO - O MAIOR ROMANCE DE DONNA TARTT por Ana Weiss (ana.weiss@istoe.com.br) Prêmio Pulitzer de ficção deste ano, “O Pintassilgo” (“The Goldfinch”), que chega ao Brasil no mês que vem, é daqueles livros que despertam a vontade de devorar em uma sentada. A história do menino que aos 13 anos perde a mãe em um acidente se desenvolve com velocidade por mais de 700 páginas, que Donna Tartt levou 11 anos para escrever. Vale cada uma delas. 10#6 EM CARTAZ – DVD - A ÚLTIMA BATALHA DE MIYAZAKI por Ana Weiss (ana.weiss@istoe.com.br) Hyau Miyazaki (“A Viagem de Chihiro”, “Meu Vizinho Totoro”) apresentou o filme “Vidas ao Vento” como sua última animação. Para o longa, que sai agora em DVD, escolheu uma história real, a de Jiro Horikoshi, engenheiro criador dos aviões de caça Mitsubishi A6M Zero, usados pelo Exército japonês durante a Segunda Guerra Mundial. Com menos ingredientes fantásticos, é, acima de tudo, uma homenagem ao designer, que um dos protagonistas define como “aquele que dá forma aos sonhos”. 10#7 EM CARTAZ – TEATRO - NELSON RODRIGUES PARA MULHERES por Ana Weiss (ana.weiss@istoe.com.br) Na década de 1940, Myrna foi conselheira sentimental de dezenas de mulheres que escreviam para o jornal carioca “Diário da Noite” à procura de respostas para seus dilemas amorosos. Quem respondia às cartas com as questões femininas era o escritor e dramaturgo Nelson Rodrigues (1912-1980), em um de seus grandes projetos de ironia. As crônicas de Myrna/Nelson serviram de inspiração para o monólogo “Myrna Sou Eu”, de Elias Andreato, em cartaz em São Paulo. Na peça, Myrna (Nilton Bicudo), de peruca curta e grisalha, fala ao microfone, como se respondesse às ouvintes de rádio. 10#8 EM CARTAZ – CD - VOZ DA NOVA GERAÇÃO LONDRINA por Rodrigo Cardoso Com voz aguda e influências que chegam a Aretha Franklin, Sam Smith, um londrino de 22 anos, se candidata a novo fenômeno da Grã-Bretanha. O single “Stay With Me”, de seu recém-lançado primeiro álbum “In the Lonely Hour”, vendeu mais de um milhão de cópias, impulsionado por uma apresentação no programa “Saturday Night Live”. Para a Billboard, o álbum de estreia do londrino está entre os dez melhores do ano. “In the Lonely Hour”, como revelou este ano Sam Smith, foi inspirado em um amor não correspondido por um homem. 10#9 EM CARTAZ – AGENDA - JARDIM SECRETO/FESTIVAL/SESSÃO DE TERAPIA Confira os destaques da semana por Ana Weiss (ana.weiss@istoe.com.br) Jardim Secreto (Sesc Santana, em São Paulo, de 3 a 7/8) – A peça é uma adaptação do clássico da literatura infantil, da inglesa Frances Hodgson Burnett. Festival Literário de Votuporanga (Em Votuporanga, SP, até 10/8) – Entre os convidados do festival, Fernando Bonassi (“Um Céu de Estrelas”). Sessão de Terapia (Canal GNT, de 4/8 a 19/9) –Terceira temporada da série passada dentro de um consultório de psicanálise. ________________________________________ 11# A SEMANA 6.8.14 por Antonio Carlos Prado e Elaine Ortiz " O RETRATO DO BRASIL QUE VAI ÀS URNAS" O Tribunal Superior Eleitoral divulgou um abrangente perfil social e econômico do Brasil que vai às urnas daqui a dois meses. O Brasil que sairá dessas urnas (os candidatos eleitos) refletirá, portanto, tal perfil, que envolve 142,8 milhões de eleitores em todo o País. E há relevantes novidades. Pela primeira vez, por exemplo, o número de votantes com estudo superior supera o de analfabetos: 8 milhões e 7,4 milhões, respectivamente. Em 2010 deu-se o inverso: 7,8 milhões não sabiam ler nem escrever, enquanto 6,2 milhões dos que votaram possuíam diploma universitário. Outros fatos novos referem-se às mulheres e aos jovens na faixa etária entre 16 e 17 anos (voto não obrigatório). As mulheres são maioria no universo de votantes: 52,2%. Quanto aos jovens registrou-se queda de 31,5% – eles eram 2,4 milhões em 2010, hoje são 1,6 milhão. O fenômeno revela considerável grau de incredulidade dessa faixa etária com a política e os políticos em geral. "BRASIL ULTRAPASSA OS EUA E LIDERA O RANKING DE CIRURGIA PLÁSTICA" Pela primeira vez o Brasil ultrapassou os EUA no número de cirurgias plásticas eletivas – ou seja, com finalidade estética. O estudo foi divulgado na quarta-feira 30 pela Sociedade Internacional de Cirurgia Plástica Estética e revela também que em 2013 foram realizados mais de 23 milhões de procedimentos em todo o mundo. Desse total, 1,49 milhão (13%) ocorreu no País. Os EUA perderam o topo do ranking e aparecem agora em segundo lugar: 1,45 milhão de operações. No âmbito mundial, as intervenções prevalentes foram: aumento de seios (15%), lipossucção (13%), correção de nariz (8%) e redução de abdome (7%). Para especialistas, a melhoria na renda da população brasileira e a queda dos preços das operações devido ao maior números de médicos dessa área justificam a liderança do País. " A SUSTENTÁVEL LEVEZA DO CANDIDATO" Na quarta-feira 30, o senador e candidato à reeleição Eduardo Suplicy, 73 anos, carregou nos ombros, em São Paulo, um peso leve: o candidato ao governo Alexandre Padilha (PT) só tem 5% de intenção de voto, segundo o Ibope. "MANIFESTAÇÕES SERÃO MONITORADAS PELO EXÉRCITO" O Exército brasileiro criou um órgão especial para monitorar manifestações e protestos de grupos que se autoproclamam integrantes de movimentos sociais, mas, na prática, promovem apenas o vandalismo – e, em alguns casos, têm ligação com o crime organizado. Colher informações e analisá-las, bem como acompanhar os atos de rua, serão as funções da nova 4ª Subchefia do Comando de Operações Terrestres (Coter). "US$ 150 MILHÕES " Serão destinados pelo BNDES a Cuba. Motivo: financiar a modernização de aeroportos naquele país. O Brasil já auxiliou o governo cubano com US$ 802 milhões nas obras do porto de Mariel. "AMEAÇA DE CHACINA DEIXA NOVE MIL ALUNOS SEM AULA" A cidade piauiense de Luzilândia está aterrorizada. Corre a notícia de que um homem que está com mandado de prisão não cumprido por assalto vem ameaçando invadir uma das escolas do município para promover uma chacina. Cerca de nove mil alunos das redes estadual e municipal estão sem aula. Os pais se recusam a deixar os filhos saírem de casa. "O CARTEL DOS SÓIS" Hugo Carvajal, quando comandou o serviço de inteligência militar da Venezuela à época em que o país era presidido por Hugo Chávez (faleceu em março do ano passado), investiu dinheiro em tráfico de drogas, era considerado homem de confiança dos chefões do narcotráfico colombiano e remeteu toneladas de cocaína para fora do território venezuelano. A denúncia é do Ministério Público de Miami e de Nova York. Segundo autoridades americanas, há uma ligação entre traficantes bolivianos e o chamado “Cartel dos Sóis” – referência às insígnias dos uniformes de oficiais venezuelanos. "SADOMASOQUISMO MAIS VENDIDO, SADOMASOQUISMO MAIS ASSISTIDO" O sucesso do livro “50 Tons de Cinza” (70 milhões de cópias em todo o mundo ensinando o sadomasoquismo) deve se repetir no cinema. Na semana passada assistiu-se ao primeiro trailer do filme lançado no YouTube. Em cinco dias, cerca de 36 milhões viram o vídeo (até agora recorde em 2014). Os fãs da intensa aventura vivida pela tímida garota seduzida por um homem bilionário terão, no entanto, de ter um pouco de paciência. O filme chega às telas em fevereiro. "JUÍZA DESCONTA 34 DIAS DA PENA DE JOSÉ GENOINO" O ex-deputado federal e ex-presidente do PT José Genoino tem chance de cumprir em prisão domiciliar os quatro anos que lhe restam da pena à qual foi condenado no processo do mensalão – já está recluso há oito meses. Motivo: a juíza da Vara de Execuções Penais do Distrito Federal descontou 34 dias da pena total, remissão a que todo presidiário que estuda e trabalha tem direito. O STF decidirá agora se Genoino vai ou não para casa. "OS FRANCESES DE OLHO NOS ÓCULOS" Uma questão da mais alta desimportância se tornou assunto em Paris: os novos óculos do presidente François Hollande. De ­estilo quadrado e com armação preta e marcante, eles substituem os discretos e transparentes óculos anteriores. Hollande colocou no rosto a grife dinamarquesa Lindberg enquanto pede para a população prestigiar a indústria francesa. Há que se compreender o presidente, diz parte da mídia europeia: os novos óculos o aliviam emocionalmente, uma vez que os antigos foram presente de sua ex-mulher Valérie Trierweiler, quando ela ainda era a primeira-dama. Outros afiam mais a língua e dizem que os atuais são ao estilo do socialista Lionel Jospin, primeiro-ministro da França de 1997 a 2002. Jospin era um entusiasta das marcas dinamarquesas. "FAMÍLIA GUINLE VOLTA À LUTA PARA REAVER TERRENO DE AEROPORTO" Os herdeiros da família Guinle (ex-proprietária do Copacabana Palace) estão recorrendo à Justiça pela terceira vez na tentativa de reaver o terreno de 9,7 milhões de quilômetros quadrados onde está construído o aeroporto de Cumbica, na cidade paulista de Guarulhos. Alegam que a família doou o terreno em 1940 para a construção de aeroporto militar, e não civil. Valor do terreno: cerca de R$ 5 bilhões. "ALEGRE PROTESTO" Boa e alto astral a resposta das mulheres turcas ao governo do país que as proibiu de rir em público para “evitar a corrupção moral”. Com o termo “kahkaha” (risada, em turco) e hashtags relacionadas ao tema, cerca de 400 mil tweets, nos quais elas aparecem rindo, foram contabilizados até a sexta-feira 1º. Cobram providências contra a violência doméstica e o crescente número de violações sexuais. "1,2 MILHÃO" de doses de vacina contra a hepatite A serão distribuídas no Brasil. O Ministério da Saúde anunciou, na semana passada, a inclusão da vacina no calendário de imunização infantil. A estimativa é reduzir os casos da doença em 64% e o número de mortes em 59%. "DO HUMOR AO SUICÍDIO" A polícia de São Paulo trabalhava, na quinta-feira 31, na linha de investigação de que o humorista Fausto Fanti Jasmin cometera suicídio – seu corpo foi encontrado no dia anterior no apartamento em que morava, nu e com um cinto apertado ao pescoço. Ele estava com 35 anos e ficou famoso compondo o grupo Hermes & Renato. Quem o encontrou foi o também humorista Adriano Silva, amigo da família (conhecido por interpretar no grupo o personagem Joselito), juntamente com o síndico e o porteiro do prédio. A polícia quer descobrir qual foi a motivação do suicídio. Segundo vizinhos, Fanti estava deprimido nos últimos tempos devido à separação conjugal. "O MAIS PODEROSO CARTOLA DA ARGENTINA" Morreu na quarta-feira 30 em Buenos Aires um dos homens mais poderosos do futebol argentino: Julio Grondona. Ao longo dos últimos 35 anos ele presidiu a Associação Argentina de Futebol (AFA). Com extrema habilidade política e declarada ligação com os ditadores argentinos, saiu incólume do regime de exceção num país onde os que compactuaram com a ditadura respondem por isso na Justiça. Foi também sob seus comando na AFA que a seleção argentina conquistou a Copa do Mundo (1986) e medalhas de ouro olímpicas em Atenas e Pequim. Na Copa aqui no Brasil, o seu filho Humberto esteve envolvido na venda irregular de ingressos. Ele garantiu que não houve má-fé nem crime de câmbio. Julio Grondona morreu de infarto aos 82 anos.