0# CAPA 25.3.15 ISTOÉ edição 2364 | 25.Mar.2015 [descrição da imagem: Foto de Renato Duque, ex-diretor da Petrobras, sentado em uma cadeira com forro vermelho, do estilo Luiz XV, vestindo uma roupa que remete a época dos reis. Na frente uma mesa, tendo a mão esquerda apoiada na mesa e segurando notas de dólares] AS TRAPAÇAS DO DUQUE DO PETROLÃO Quem é e como operou Renato Duque, ex-diretor da Petrobras que alimentou o PT com milhões desviados da estatal. [parte superior da capa] EXCLUSIVO AÉCIO NEVES "Quem governa o Brasil é o Renan e o Cunha _______________________ 1# EDITORIAL 2# ENTREVISTA 3# COLUNISTAS 4# BRASIL 5# COMPORTAMENTO 6# MEDICINA E BEM-ESTAR 7# ECONOMIA E NEGÓCIOS 8# MUNDO 9# TECNOLOGIA E MEIO AMBIENTE 10# CULTURA 11# A SEMANA _____________________________ 1# EDITORIAL 25.3.15 "A PRESIDENTE DO DESGOVERNO" Carlos José Marques, diretor editorial Está tão acelerado o processo de esfacelamento do Governo que é difícil acompanhar o ritmo dos eventos que inviabilizam seu funcionamento. Ministro que sai atirando contra o Congresso, vazamento de documento sugerindo uso dirigido e ilegal da publicidade oficial, erros em cascata na resposta às ruas, um “salve-se quem puder” como poucas vezes se viu no Planalto. A presidente parece estar à frente de um desgoverno e para entornar de vez o caldo experimenta queda vertiginosa na sua popularidade. Pelo que se pode depreender da última pesquisa Datafolha, Dilma chegou ao ponto em que quase ninguém a aprova. Nem mesmo os aliados. Muito menos aqueles que a elegeram. A rejeição saltou para impressionantes 62% enquanto a sua aprovação desceu ao nível de 13%. São indicadores recordes. Algo jamais imaginável para quem se encontra ainda em início de gestão. Seus números só são comparáveis aos do presidente Collor às vésperas da renúncia. E se esse não é um sinal claro, evidente, de que ela está conduzindo o País por um rumo errado, não há mais como sensibilizar os sensores palacianos e, nessa toada, Dilma irá comandar sob o estigma da ilegitimidade. Uma coisa desde já é certa: caiu por terra o mito do Brasil dividido, que embalava as ilusões do Governo e do PT para se perpetuar no poder. Hoje Dilma não seria a escolhida da ampla massa de eleitores. Muitos mudaram de opinião e agora formam fileiras contra ela. A desculpa frágil de uma orquestração das elites, dos “ricos”e “coxinhas”, desabou frente a óbvia demonstração dos números estatísticos e das manifestações que galvanizam brasileiros do Oiapoque ao Chuí. No levantamento Datafolha, pela primeira vez, a maioria do público de baixa renda e com menor escolaridade classifica sua gestão como ruim ou péssima. Os protestos do último domingo já haviam dado um eloquente alerta – o que, para a maioria dos mandatários, seria mais do que suficiente para despertar preocupações e atitudes convincentes de humildade e compreensão do recado. No caso de Dilma serviu apenas e tão somente para repisar promessas de diálogo que ela nunca coloca em prática e para desengavetar um surrado projeto anticorrupção. A presidente até aqui foi incapaz de assumir um mea-culpa, de admitir publicamente os erros. Provavelmente não irá fazê-lo. E tamanha soberba tem irritado qualquer um que dela se aproxima. Sua falta de habilidade política, pouca paciência e muito de prepotência para ouvir a sociedade está levando o segundo mandato a um ponto de inoperância absoluta. Poucos acreditam em um desfecho positivo do processo. Seja nas rodas palacianas, nos corredores do Congresso, nas conversas de simpatizantes, aliados, amigos ou opositores, Dilma é vista como a antítese da governante que comanda em nome do interesse geral. Isolada e sob pressão intramuros do Planalto ela parece não perceber isso. Se atira aos mais desabusados rompantes de ciclotimia, considera a crise passageira e continua a distribuir ordens que não negocia com ninguém, tal qual uma soberana que se enxerga inabalável, absoluta e senhora da verdade. Ledo engano. Seria recomendável, em seu próprio proveito, um certo resguardo do mau humor, pitadas de modéstia e menos descaso e preconceito contra a horda de insatisfeitos que teima em desqualificar como uma minoria de burgueses brancos. ________________________________________ 2# ENTREVISTA 25.3.15 AÉCIO NEVES - "QUEM GOVERNA O BRASIL É O RENAN E O CUNHA" Principal nome da oposição, o presidente nacional do PSDB diz que Dilma Rousseff perdeu o controle do governo e que o PT defende apenas os interesses do partido e não dos brasileiros por Eumano Silva CRÍTICA - Aécio no Senado, na quinta-feira 19: "Sensação de engodo" No final da campanha eleitoral do ano passado, quando esteve perto de derrotar a presidente Dilma Rousseff, o senador Aécio Neves se mostrava orgulhoso por ter reencontrado multidões nas ruas, sensação que não tinha desde a mobilização das Diretas Já, em 1984. No dia 15 de março, Aécio acompanhou o gigantesco protesto contra Dilma da janela de seu apartamento no Rio – e surpreendeu-se mais uma vez com a força popular. “O que aumenta o distanciamento entre a sociedade e a presidente é a sensação do engodo”, afirma Aécio, referindo-se às medidas tomadas pelo governo que contrariam o discurso de campanha de Dilma. "O governo Dilma Rousseff terminou antes de começar. A cada dia, as denúncias de corrupção chegam mais próximas da cúpula do PT" Presidente nacional do PSDB e principal nome da oposição, o senador mineiro acompanha com atenção os confrontos entre o Palácio do Planalto e o Congresso Nacional. “A presidente ainda não sabe, mas hoje quem governa o Brasil é o Renan Calheiros e o Eduardo Cunha”, afirma Aécio, referindo-se aos presidentes do Senado e da Câmara, respectivamente. Nesta entrevista, o parlamentar diz que ainda não há elementos para o impeachment, mas é mordaz na avaliação do trabalho de Dilma: “Este governo terminou antes de começar.” "Eduardo Cunha vive um momento delicado, mas, mesmo assim, assumiu uma liderança na Câmara dos Deputados" Istoé - Multidões protestam contra o governo, as investigações da Lava Jato trazem novas revelações todos os dias e o ministro da Educação, Cid Gomes, foi demitido depois de dizer que mais de 300 parlamentares são achacadores. O que está acontecendo com o Brasil? Aécio Neves - Este governo terminou antes de começar. O Brasil hoje tem um interventor na economia (o ministro da Fazenda, Joaquim Levy), de quem a presidente Dilma é dependente. Ele cumpre uma agenda que não é aquela proposta pela presidente da República durante a campanha. Do ponto de vista político-administrativo, nós vivemos no parlamentarismo. A presidente não sabe ainda, mas quem governa o Brasil hoje é Renan Calheiros, na presidência do Senado, e Eduardo Cunha, na Câmara dos Deputados. E olha que esses são personagens que vivem um momento delicado. Enquanto isso, os indicadores econômicos se deterioram, as denúncias de corrupção cada vez chegam mais próximas da cúpula do PT e dos beneficiários dessa grande organização criminosa, como nomeia a Polícia Federal, que se instalou na Petrobras e sabe-se lá onde mais. Istoé - Qual é a saída para a crise? Aécio Neves - O que aumenta o distanciamento entre a sociedade e a presidente é a sensação de engodo. A mentira que conduziu a campanha da presidente Dilma, agora mostrada em todas as suas cores à população, aumenta o sentimento de indignação que já tinha razões objetivas para existir com a corrupção, o desacerto na economia, o aumento nas contas de luz e nos combustíveis. Sempre que teve que optar entre o Brasil e o PT, o partido ficou com o PT. Istoé - O senhor tem exemplos disso? Aécio Neves - Vou citar quatro exemplos. Foi assim na eleição de Tancredo Neves para presidente, que pôs fim ao ciclo autoritário. O PT expulsou os parlamentares que votaram em Tancredo. Depois, o PT se negou a apoiar a Constituição de 1988 (o partido se recusou a participar da homologação coletiva da Constituição). No governo de Itamar Franco, de conciliação nacional, o PT afastou Luíza Erundina por ter aceitado ser ministra. Por último, no Plano Real, o PT atrapalhou como pôde. Istoé - O senhor defende o impeachment da presidente Dilma? Aécio Neves - Essa não é a agenda do PSDB. O impeachment precisa de alguns componentes que ainda não se colocaram. Mas não podemos tapar o sol com a peneira. Essa não é uma palavra proibida. O impeachment é uma previsão constitucional e setores da sociedade falam abertamente nisso. Não dá para acreditar que o governo quer enfrentar a corrupção se aceita que o tesoureiro do partido da presidente, investigado pelo Ministério Público, com indícios graves de recebimento de propina, continue no cargo. O Brasil e o governo vivem uma crise de credibilidade. Istoé - Qual é o papel de Eduardo Cunha neste cenário de crise? Aécio Neves - Eduardo inegavelmente assumiu uma liderança na Câmara dos Deputados, expressa na suja eleição em primeiro turno. Mas eu o vejo, ainda, apesar de todos esses percalços, como um líder do PMDB, um partido aliado do governo. O PMDB participa de forma muito expressiva do governo. Nós temos de fazer nosso papel e a oposição o tem feito de forma extremamente competente e vigorosa. Istoé - Como se explica a demissão do ministro Cid Gomes? Aécio Neves - Esse é um fato inédito e mostra, claramente, o descontrole do governo. Depois do enfrentamento público, pessoal, com o presidente da Câmara dos Deputados , o ministro obviamente perdeu as condições de ficar no governo. O que fica disso é a sensação de que não há governo, que o descontrole é absoluto. Mas houve outro fato extremamente grave nesta semana no governo. Istoé - Qual? Aécio Neves - O documento, vazado de dentro do Palácio do Planalto, que atesta que o governo cometeu crime durante a eleição. Confirma que robôs financiados pelo governo foram usados para fazer campanha para a presidente Dilma. É a velha dificuldade do PT de separar o que é público, do que é partidário e do que é privado. Mostra que os critérios de distribuição de verba pública levam em conta, em grande parte, a vinculação ideológica e política. O documento é atribuído ao ministro Thomas Traumann (da Secretaria de Comunicação Social). Ele será convocado para vir ao Senado e à Câmara. Ao mesmo tempo, estamos entrando com um ação pública contra o ministro e uma ação de improbidade administrativa na procuradoria da República do Distrito Federal. Istoé - Qual será a agenda do PSDB nos próximos meses? Aécio Neves - Queremos avançar em alguns temas da reforma política no Congresso. Posso antecipar algumas: fim da reeleição, com mandatos coincidentes de cinco anos para todos os cargos majoritários; cláusula de barreira, para que os partidos voltem a ter conexão com setores da sociedade e não sejam apenas legendas a serviço de interesses menores. Não é razoável que nós tenhamos no Congresso 28 partidos funcionando. Defendemos também o voto distrital misto que, na visão do PSDB, parece ser o caminho mais adequado para aproximarmos um pouco mais a sociedade dos seus representantes. Istoé - Quer dizer que a agenda prioritária do PSDB será a reforma política? Aécio Neves - Claro que não. Temos também a agenda anticorrupção. Nesse aspecto, o governo requenta propostas, apresenta projetos que tramitam no Congresso, algumas até já em fase final de aprovação. Ontem (quarta-feira, 18), apresentamos na Câmara dos Deputados uma proposta que cassa o registro dos partidos políticos que, comprovadamente, tenham recebido dinheiro de corrupção em seu caixa partidário ou nas campanhas eleitorais. Estou falando inclusive de caixa 1 com dinheiro ilícito. Hoje existe essa possibilidade para partidos que recebem dinheiro do exterior. Eu gostaria que o primeiro apoio a essa proposta fosse do PT. Istoé - O PT anunciou que vai pedir ao STF a abertura de uma investigação contra o senhor, com base nas investigações da Lava Jato, sobre desvio de dinheiro de Furnas. Qual é sua opinião sobre isso? Aécio Neves - Abram todas as investigações. Ninguém no Brasil foi tão investigado como eu, que sou adversário frontal do PT. Eu recebi um atestado de idoneidade de todos os órgãos públicos. Na verdade, isso é uma ação de um deputado estadual de Minas Gerais (Rogério Correia, do PT) que busca um pouco de publicidade para a sua atuação. Istoé - O senador Antonio Anastasia (PSDB-MG), que pertence ao seu grupo político, também está na lista de investigados. Qual é a dimensão desse problema para o PSDB? Aécio Neves - É uma grande injustiça. Eu tenho absoluta convicção que o senador Anastasia será o primeiro inocentado. A investigação em relação a ele é a única que não vem das delações premiadas. Tem como base o depoimento de um ex-policial federal que disse ter entregue dinheiro para alguém em Minas Gerais que se parecia com uma fotografia do Anastasia. Imagina, ele não era apenas um candidato, já era governador de Minas Gerais. A história é tão sem pé nem cabeça que não se sustenta. Já há uma afirmação do advogado de quem seria o “mandante” desse dinheiro, de que jamais enviou dinheiro para o Anastasia. Istoé - Alguns setores do PT dizem que o ministro da Fazenda, Joaquim Levy, é “tucano”. O que o senhor acha da atual política econômica? Aécio Neves - Joaquim Levy é um homem de bem. Agora, o ajuste fiscal proposto por ele, que se sustenta no aumento da carga tributária e na supressão de direitos trabalhistas, não seria o ajuste do PSDB. Na verdade, não se mexeu até agora na questão estrutural. Não se discutiu, por exemplo, a profissionalização das agências reguladoras, para que elas sejam realmente instrumentos do Estado, estimuladoras do investimento privado. Tivemos uma redução de 8% no investimento privado no último ano. Fevereiro foi o pior mês em geração de empregos com carteira assinada dos últimos quinze anos. A inflação já beira os 8%. Onde está o governo? _____________________________________________ 3# COLUNISTAS 25.3.15 3#1 RICARDO BOECHAT 3#2 LEONARDO ATTUCH - AS LIÇÕES DA QUEDA DE CID GOMES 3#3 RICARDO AMORIM - TEM JEITO SIM 3#4 GISELE VITÓRIA 3#5 BRASIL CONFIDENCIAL 3#1 RICARDO BOECHAT Com Ronaldo Herdy Fé que rende Por obra de Gim Argello, PTB, (foto) que Brasília teve o bom senso de não reeleger ano passado, chegou à Comissão de Constituição e Justiça do Senado uma emenda que transforma o Minha Casa Minha Vida em feudo religioso. Sem medo do ridículo, o texto determina que o programa dê prioridade, na distribuição dos imóveis, a “autoridades eclesiásticas, incluindo padres, pastores, missionários e demais agentes de entidades religiosas de qualquer natureza”. Nem o diabo pensaria em tamanha maldade contra os pobres fiéis que estão na fila esperando por um teto... Justiça Bumerangue Na 1ª Vara Federal de Brasília, na terça-feira 17, o juiz Tiago Borré indeferiu pedido da Advocacia Geral da União, pelo fim do pagamento de auxílio-moradia a juízes e promotores – adicional de uns R$ 4,3 mil por mês no contracheque. Julgou legal a resolução da Procuradoria Geral da República que regulamento o benefício. Com a caneta nas mãos, o juiz aproveitou o despacho para pedir que se “apure responsabilidades” de dirigentes da AGU na ação que culminou com aprovação de um complexo portuário de R$ 2 bilhões, de interesse do ex-senador Gilberto Miranda, na paradisíaca Ilha das Cabras, em SP. A O caso está sob julgamento do STF. Indústria “I love Rio” Ao que tudo indica, a Fiat Chrysler está morrendo de amores pelo Rio de Janeiro. Nesta segunda e terça-feira apresentará o Jeep Renegade para convidados ilustres do Brasil e da América Latina. As vendas começarão dia 10 de abril, em 120 concessionárias próprias. A apresentação técnica acontece na Marina da Glória e o glamour, um sofisticado jantar de encerramento da festa, terá como palco Ilha Fiscal. Em paralelo, já à venda uma edição especial do Uno, com o símbolo dos 450 anos do Rio estampado nas laterais e tampa traseira do carro. Internacional Sempre na dianteira A julgar pela pulsante atuação do chanceler Mauro Vieira na eleição do uruguaio Luis Almagro para o comando da OEA na semana passada, o Brasil viverá uma fase de paz e amor com a entidade. Hoje, nem diplomata lá temos. Mal a sessão abriu ele sugeriu a escolha por aclamação (a Jamaica protestou). Com os 33 votos contados (dos 34 integrantes da entidade), o ministro brasileiro pegou rápido o microfone radiante com a vitória. Restou aos EUA pedir a palavra a seguir, para também celebrar o resultado. Educação Na rede Chegou ao Facebook, o laboratório de testes de ideias inovadoras de ensino (Lab Educação) que está sendo desenvolvido por Maria Cláudia Amaro, uma das sócias controladoras da LATAM, e Luiza Barguil, ex-conselheira da Unesco para ciência, tecnologia e inovação. Na página da rede social, as duas buscam experiências educacionais por intermédio de jornadas de aprendizagem realizadas ao redor do mundo, compartilham iniciativas e reproduzem insights dos maiores especialistas em ensino. Transportes Alto risco O Cade diz estar ciente das negociações entre caminhoneiros e empresas, intermediadas por autoridades públicas. Nessa quarta-feira 26, entre outros assuntos, as partes discutirão uma tabela para regular o preço dos fretes no País. Ex-presidente do órgão por quatro anos e ex-secretário de Direito Econômico do Ministério da Justiça por três anos, Ruy Coutinho desconfia da pureza do debate. “Em princípio, acerto do gênero fere à livre concorrência. É a antessala do ilícito”. Eleições Toffoli sozinho O Tribunal Superior Eleitoral sepultou na quinta-feira 19, o processo que se arrastava há mais de dois anos sobre a legalidade ou não do mandato do prefeito tucano de Ouro Preto, José Leandro. Depois de devolvê-lo ao TRE mineiro, que derrotou o chefe do Executivo por seis a zero, o TSE apreciou novamente o calhamaço e salvou o alcaide, em ação relatada pelo ministro Gilmar Mendes. O único a votar pela cassação foi o presidente do tribunal, Dias Toffoli, “em respeito à jurisprudência da Corte”. As principais bancas de Brasília atuaram em defesa do prefeito. Infraestrutura Olho vivo Quando a Delta entrou em parafuso, em 2012, envolvida em maracutaias diversas, o empresário Joesley Batista estudou seriamente comprar a construtora em crise. À frente do JBS/Friboi, maior grupo privado não financeiro de capital aberto do País, com receita de R$ 120 bilhões em 2014, ele se sentiu atraído pela polpuda carteira de contratos que a empreiteira deixaria órfã. Não rolou. Mas negócios do gênero continuam a seduzi-lo. Tanto que Batista está de olho numa grande empreiteira abalada pela Lava Jato. Se a chance surgir, ele dá o bote. Aviação Civil Lá em cima Em janeiro, a Azul Linhas Aéreas registrou a maior pontualidade técnica do mundo em voos operados por aeronaves E-jet da Embraer. O resultado foi alcançado com 99,5% das decolagens com modelos da fabricante brasileira partindo no horário previsto, frente a 99,3% da média global. A Azul tem mais de 80 modelos E190 e E195. Ambos também são utilizados por cerca de 70 companhias aéreas de aproximadamente 50 países. Ministério Público Bebês no tempo Muita choradeira na Procuradoria Geral da República. Não é reação aos pedidos de abertura de inquérito a fim de investigar suspeitos de envolvimento no caso de corrupção da Petrobras. O GDF recusa a dar habite-se ao Anexo 4 do MPF porque o local era uma creche. Agora reformada pretende-se nele colocar o setor de engenharia do órgão. Esporte Bolha de campeões A volta da General Motors à Stock Car, cuja temporada 2015 começa neste domingo 22, em Goiânia, terá significado especial para os cinco pilotos escolhidos pela marca para representá-la na competição. Cada um receberá as chaves de um Cruze novinho, para uso no dia a dia. E de quebra, a cada prova, prêmio em dinheiro para os melhores classificados. Por isso, na categoria é grande a expectativa de que a GM elegerá mais um profissional para o seu Power Team que já tem Power Team Átila Abreu, Daniel Serra, Max Wilson, Ricardo Maurício e Thiago Camilo. Brasil Na berlinda A Petrobras está batendo no setor de construção pesada em duas frentes. Uma como vítima outra como vilã. Numa ponta pelos reflexos do assalto que sofreu por parte dos envolvidos na Lava Jato, que colocou em colapso a quase totalidade dos contratos da estatal. No outro extremo por ter reajustado em quase 40% em apenas dois meses o preço do asfalto, do qual é a única produtora no Brasil. O material é o item de maior custo das empresas que fazem e mantém rodovias. Entre elas, a chiadeira é enorme. Lava Jato Debaixo do angu... As investigações em torno da Sete Brasil no rastro da Operação Lava Jato tem tudo para comprometer um grande banco de investimentos brasileiro, ao revelar a existência de certa “intimidade” entre a instituição financeira e aliados graúdos do Poder. Legislativo Lobby religioso O deputado Marcus Pestana (PSDB/MG) virou relator na Comissão de Seguridade de um projeto que modifica o artigo 1557 do novo Código Civil. A proposta (PL 3875/12) inclui dispositivo que anula o casamento, caso o cônjuge seja transexual e não tenha avisado ao parceiro. A bancada evangélica, temendo perder a votação, retirou o projeto de pauta na quarta-feira 18. E cerrará fileiras para o assunto ser arquivado. 3#2 LEONARDO ATTUCH - AS LIÇÕES DA QUEDA DE CID GOMES Quem governa o Brasil é ou não refém de "300 picaretas" ou de "400 achacadores"? Como sair desse impasse?. Muito antes de ser presidente, o então operário Luiz Inácio Lula da Silva denunciou a existência de “300 picaretas” no Congresso Nacional. Quando chegou ao poder, organizou a maior coalizão governista que já se viu no País. Uma coalizão, diga-se de passagem, que lhe permitiu governar, mas também trouxe problemas a ele, como no caso do chamado “mensalão”, e a sua sucessora Dilma Rousseff, nos episódios da “faxina ministerial” e, mais recentemente, da Lava Jato. Agora, foi a vez de Cid Gomes, ex-ministro da Educação, diagnosticar a presença de “400 achacadores” no parlamento – ou seja, a cota de “picaretas” teria aumentado 33,33%. Na quarta-feira, quando muitos esperavam que Cid pudesse se desculpar no Congresso, baixou nele o espírito de Ciro, seu mais do que arretado irmão. Cid apontou o dedo para o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), e disse que é melhor ser chamado de mal-educado do que de achacador, reiterando sua acusação anterior. Naturalmente, caiu. Para o governo Dilma, que atravessa um momento de convulsão política, teria sido melhor manter as aparências. Cid pediria desculpas, diria que tropeçou nas palavras inadvertidamente e a vida seguiria em frente. Aliás, nada disso seria necessário se ele próprio tivesse sido demitido de forma sumária quando sua declaração vazou, há pouco mais de uma semana. Assim, seguiríamos a máxima de La Rochefoucauld: a hipocrisia é uma homenagem que o vício presta à virtude. Ocorre que, em momentos turbilhonares, como o atual, a verdade tem mais valor do que a hipocrisia. Afinal, o que revela o “sincerídio” de Cid Gomes? Nada menos que o altíssimo custo da chamada governabilidade no Brasil. No momento em que o Brasil se vê, novamente, estarrecido com pagamentos a parlamentares, será que ninguém se pergunta qual é a origem disso tudo? E mais: será que ninguém vê realmente a necessidade de uma reforma política, apenas porque esta não era a bandeira dos protestos do dia 15 de março? Pois o caso Cid tem tudo a ver com a Lava Jato e todos os outros escândalos recentes do País. A política, hoje, no Brasil é caríssima e leva ao financiamento privado, que leva à corrupção. A governabilidade, com a miríade de partidos, também é cara e produz corrupção. Só há uma saída: reforma política e com urgência. 3#3 RICARDO AMORIM - TEM JEITO SIM A situação política e econômica do Brasil não apenas tem solução, como é, ela própria, a solução para a crise moral que vivemos. A crise é o jeito. Não é à toa que o ideograma chinês para crise e oportunidade é o mesmo. Sabedoria milenar.... Corrupção, impunidade e impotência frente aos desmandos dos poderosos têm levado cada vez mais brasileiros a deixarem o país. Os que ficam lamentam-se que iriam também se tivessem a chance. “O Brasil não tem mais jeito”, dizem uns a boca pequena, outros aos gritos. A crise econômica é séria, mas não é a responsável por tanta desesperança. A desolação é consequência de nossa crise moral. O Brasil já enfrentou e superou muitas crises econômicas e, mais cedo ou mais tarde, superará esta também. Já a sensação de que o Estado, nos mais diversos níveis, foi usurpado por quadrilhas que o usam como um meio para servir a interesses próprios é muito mais grave e perniciosa. A própria razão de ser do Estado democrático – servir à sociedade – foi deturpada. Pior, estes grupos nos roubaram o orgulho de sermos brasileiros e a fé em nosso próprio país. Na visão de muitos, o Brasil voltou, em poucos anos, do país em que o futuro parecia estar chegando ao país sem solução, eternamente condenado ao fracasso. É fácil entender a desilusão. A presidente reeleita comandava o Conselho de Administração da Petrobras no maior caso de corrupção da história do planeta segundo o jornal The New York Times. O presidente da Câmara dos Deputados, o presidente do Senado, dezenas de outros congressistas e até ex-ministros de Estado e governadores estão sob investigação judicial com fortes suspeitas de corrupção. O Judiciário, supostamente o último bastião da legalidade no país, está com sua credibilidade em xeque após o passeio de Porsche do juiz que cuidava do caso Eike Batista, a injustificada voz de prisão dada por outro juiz à oficial de trânsito que cumpria sua função e parou-o em uma blitz, e as dúvidas quanto à imparcialidade do Supremo Tribunal Federal para julgar políticos envolvidos na Operação Lava-Jato. Para piorar, enquanto o governo pede sacrifícios à população e aumenta impostos, o Congresso expande os benefícios dos congressistas e aumenta os salários da presidente, ministros, juízes e os seus próprios. Não satisfeito, triplica os recursos para os partidos políticos. E ainda querem construir para uso próprio um palacete ao custo de mais de R$ 1 bilhão. Pois é, o país é rico. Negar os problemas e desafios que o Brasil vive seria, no mínimo, ingênuo. Igualmente ingênuo é considerar permanente uma situação com tantas fontes de instabilidade. A Operação Lava Jato abriu a caixa de Pandora. A delação premiada ligou o ventilador. A sociedade reagiu, como evidencia a maior manifestação já vista no país em quase 30 anos – as duas últimas, de proporções semelhantes, resultaram na redemocratização e no impeachment de Collor. Desta vez, não ocorrerão transformações significativas na política brasileira? Improvável. Aliás, a primeira mudança já ocorreu. Até recentemente, a presidente negava a insatisfação popular, insultando a inteligência dos eleitores. Demorou, mas ela mudou de estratégia e agora reconhece que tem de ouvir os brados das ruas. Sábias palavras, mas muito mais importantes foram as ações. Finalmente, acabaram cumpridas as promessas de campanha de enviar ao Congresso um pacote de medidas para endurecer a legislação de combate à corrupção. Ao contrário do que temem os pessimistas, esta situação política e econômica não apenas tem solução – ela é a solução para a crise moral que vivemos. Sem uma crise de tamanhas proporções, dificilmente a sociedade brasileira se mobilizaria para mudar o país. O Brasil tem jeito, sim. A crise é o jeito. Não é à toa que o ideograma chinês para crise e oportunidade é o mesmo. Sabedoria milenar... Ricardo Amorim é economista, apresentador do programa “Manhattan Connection”, da Globonews, e presidente da Ricam Consultoria 3#4 GISELE VITÓRIA Gisele Vitória é jornalista, diretora de núcleo das revistas ISTOÉ Gente, ISTOÉ Platinum e Menu e colunista de ISTOÉ Musa do saber Ver Maria Fernanda Cândido e verbalizar sobre sua beleza é quase inevitável. Algo que a atriz já se acostumou, mas educadamente dá de ombros. “Estou com 40 anos e esse realmente não é mais um tema na minha vida”, diz. O tema a que se dedica: estudos. Nem quando gravava minisérie “Felizes para Sempre?” ela abriu mão de estar presente nas reuniões da Casa do Saber, da qual é sócia. “É o que mais ocupa meu tempo”, confessa a atriz, enquanto intercala essas atividades com a gravação de “Dois Irmãos”, próxima minissérie da Globo. Desta vez, ela dará vida à Estelita, uma mulher rica e esnobe. Casada com o empresário francês Petrit Spahija, e mãe de Tomás, de 9 anos e Nicolas, de 6, Maria Fernanda Cândido faz côro com os indignados com o momento político brasileiro. ISTOÉ – A vida começa aos 40? Maria Fernanda Cândido – Não diria isso. Vejo mais como uma fase da vida. ISTOÉ –Depois do sucesso da série “Felizes para sempre?”, sua próxima personagem na minissérie “Dois Irmãos” é uma mulher rica e esnobe. Você não pensa mais em novelas? Maria Fernanda – Por enquanto não. Quero desenvolver projetos na Casa do Saber, e fazer cursos. Já estou matriculada no curso “O Poder e a Política na obra de Shakespeare”. A Casa do Saber faz 11 anos. Começou com reuniões que eu e uns amigos fazíamos em casa para estudar filosofia. De 20 pessoas, sempre tinha mais 20 querendo participar. Abrimos sem saber no que ia dar e é um sucesso. É o que mais toma meu tempo. Faço as reuniões de briefing e a curadoria. As aulas são ministradas como se estivéssemos em casa e mantemos a tradição de ser algo prazeroso. Como fazíamos em casa, no intervalo das aulas que duram duas horas, servimos vinho e petiscos. ISTOÉ – O curso que fará passa pela política. Por falar nisso, como tem visto o momento no Brasil? Maria Fernanda – Não vejo o impeachment como possibilidade real no momento. Não acho que seja uma opção legítima. Precisamos urgentemente ter uma reforma política. No governo FHC não foi feita, nem no governo Lula e agora a Dilma entra no quinto ano de mandato e nada. Sou a favor da mudança do nosso sistema de voto. Não temos representatividade alguma. As pessoas votam e depois não tem noção do que vai acontecer porque o contato com o político que elegeu é nulo. Dizem que o eleitor brasileiro é imaturo, mas não é. ISTOÉ – E a corrupção? Maria Fernanda – A própria Dilma disse que “a corrupção é uma senhora muito antiga”. Está na hora de acharmos uma forma dessa “senhora” não existir mais. ISTOÉ – Você participou da manifestação de 15 de março? Maria Fernanda – É para ser lembrado como fato memorável. Não fui andar no meio do povo, mas fiquei bem perto e vimos o movimento. Neste dia estávamos com quatro crianças, meus filhos e mais dois amiguinhos, então achamos demais ir com eles. Mas vimos tudo. Aposentada aos 34? Se você ainda não viu o poderoso andar malemolente e os passos largos, só tem mais uma chance. Gisele Bündchen anunciou sua despedida das passarelas do circuito fashion, aos 34 anos e 20 de carreira, após o próximo desfile da Colcci no SP Fashion Week, entre 13 e 17 de abril. Executivos de sua própria agência americana, a IMG, se surpreenderam, até porque seu contrato com a Chanel prevê desfiles eventuais. Mas sua irmã, Patrícia Bündchen, esclarece: “Não é verdade que seja uma aposentaria. Gisele simplesmente não vai mais desfilar nas semanas de moda do circuito fashion, mas continua trabalhando normalmente”. Se há possibilidade de ela fazer algum desfile no futuro? “Isso poderia ocorrer sim, em um caso especial, quem sabe? Mas não vamos ver a Gisele todos os anos na passarela como costumávamos.” Como só os tolos nunca mudam de ideia, já dizia o escritor Jorge Luis Borges, um próximo contrato talvez faça a mais bem paga modelo dos últimos oito anos, com US$ 25 milhões de estrada, de novo levantar da cama para as passarelas (mesmo que seja da cama de uma campanha como esta da foto acima, by joalheria Vivara). “A trama vai além de um ou mais beijos” O beijo amoroso de duas mulheres de 85 anos, com o significado de elas serem Fernanda Montenegro e Nathalia Timberg, surpreendeu no horário nobre a largada da novela Babilônia. Exaltações e protestos nas redes sociais não modificam um fato: a Globo definitivamente integrou as relações homossexuais à televisão. “A trama vai além de um ou mais beijos”, atesta Fernanda. “Vai discutir as diferenças, o amor e o respeito. Estela e Teresa têm uma relação sólida e feliz. É normal que haja demonstrações de carinho. Comum a qualquer casal.” Nathalia endossa: “É uma felicidade o enfoque dos autores e da direção, que, por essa primeira abordagem, que já mostrou a que veio.” Mônaco é aqui A discrição reina nos preparativos do jantar de gala com a presença do príncipe Albert de Mônaco na casa de Zeco e Mariana Auriemo, no jardim Europa em São Paulo, na terça-feira 24. O filho de Grace Kelly prestigiará o lançamento do Brasil Monaco Project, criada por Luciana de Montigny, que promoverá o intercambio entre o País e o principado. No evento, haverá leilão em prol do Projeto Terra, ONG do fotógrafo Sebastião Salgado, que atua em reflorestamentos. Bala Athina e Doda festejam Doda Miranda e Athina Onassis vão festejar em São Paulo os 15 anos da filha do cavaleiro, Viviane Miranda. A festa será na Casa Petra, no Ibirapuera. 3#5 BRASIL CONFIDENCIAL por Eumano Silva Vaccarezza atuou na capitalização da Petrobras Enquanto ocupou o cargo de líder do PT ou do governo na Câmara, Cândido Vaccarezza teve destacada atuação na capitalização da Petrobras. Em nome dos petistas, em dezembro de 2009, o então deputado defendeu um aporte de R$ 120 bilhões na estatal. Não conseguiu. Três nomes depois, representando o governo, Vaccarezza comandou a aprovação da proposta na Câmara. Na época, o diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa fazia pressão pela capitalização, pois os aditivos nos contratos haviam atingido o teto. Pagamento de doações O Senado ratificou a capitalização da Petrobras em novembro de 2010, logo depois das eleições. A sequência de fatos reforça a ideia de que as doações das empreiteiras aos partidos eram, na verdade, empréstimos feitos aos candidatos. Por esse raciocínio, depois de receber recursos nas campanhas, os parlamentares restituíram as empresas. Pressão parlamentar Enquanto defendia a capitalização da Petrobras, Cândido Vaccareza pressionava as empreiteiras com requerimentos de informação apresentados nas comissões de Minas e Energia e de Fiscalização e controle. Os pedidos questionavam licitações relacionadas à construção de sondas. Como uma força-tarefa Outros deputados investigados pela Operação Lava Jato também apresentaram, nas comissões, requerimentos sobre sondas para pressionar a Petrobras. São eles: Eduardo da Fonte (PP-PE), Missionário José Olímpio (PP-SP), Alexandre Santos (PMDB-RJ) e João Pizzolati (PP-SC). Notícias do Planalto I Os otimistas do Planalto comemoraram um dado divulgado pela empresa Scup, que monitora as mídias sociais. Pesquisa feita durante os protestos do dia 15 mostraram que as menções favoráveis a Dilma se igualaram às referências a corrupção e pedidos de saída da presidente. Notícias do Planalto II As citações positivas sobre a presidente perdiam para as negativas desde fevereiro. No Planalto, acredita-se que a boa marca foi atingida porque até mesmo brasileiros contrários ao governo petista se voltaram contra as manifestações em defesa de um golpe militar no país. Problemas com o xará Homônimos de personagens do escândalo da Lava Jato sofrem com seus interlocutores. No Rio de Janeiro, o técnico de logística da Petrobras Paulo Roberto Costa precisa se explicar sempre que se identifica com o mesmo nome do ex-diretor da empresa que se transformou em delator. Trabalhar na mesma empresa que o Costa famoso piora a situação. Duques Em Brasília, quem sofre as consequências de ter um xará enrolado com o Petrolão é Renato Duque, filho do ex-deputado Hélio Duque (PMDB-PR). O rapaz não aguenta mais ter de explicar que nada tem a ver com o ex-diretor da Petrobras acusado de intermediar propinas de empreiteiras para o PT. Um problema a menos A empreiteira Constran/UTC solicitou ao governo do Maranhão a rescisão de um acordo firmado em 2010, na gestão de Roseana Sarney. A desistência ocorreu após o governador Flávio Dino pedir auditoria no pagamento à empreiteira de mais de R$ 100 milhões em precatórios. A transação caiu nas investigações da Lava Jato graças a depoimento da contadora Meire Poza, que trabalhava para o doleiro Alberto Youssef. Ela disse que a Constran furou a fila dos precatórios após pagar R$ 6 milhões em propina a funcionários do governo. Ao desistir dos precatórios, a empreiteira tem uma dor de cabeça a menos. O destino das armas O deputado Alexandre Leite (DEM-SP) mandou um questionamento para o ministro da Defesa, Jaques Wagner, sobre o que será feito com os fuzis FAL, ainda hoje usados pelo Exército brasileiro. A Força Terrestre iniciou recentemente a troca do armamento por outros modelos do tipo IA2, mas ainda não definiu para onde vão os equipamentos antigos. A mudança foi decidida em 2013. Toma lá dá cá Deputado Carlos Manato (PSD-ES), corregedor da Câmara ISTOÉ – A corregedoria vai atuar nos processos de quebra de decoro relacionados à Lava Jato? Manato – Se os processos forem abertos no Conselho de Ética, não. A corregedoria atua se algum cidadão ou a presidência da Casa apresentar representação. ISTOÉ – Se o Conselho de Ética não investigar, os cidadãos podem acionar a corregedoria? Manato – Qualquer cidadão pode mandar, mas se chegar uma representação aqui, eu tenho que mandar para o presidente da Casa antes de abrir investigações. ISTOÉ – O fato de o presidente da Câmara, Eduardo Cunha, estar na lista da Lava Jato pode interferir nos trabalhos? Manato – O presidente pode lançar suspeição e encaminhar para outro membro da Mesa Diretora. Rápidas * O presidente do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), Ricardo Lewandowski, quer deixar o cargo com um saldo positivo de produtividade nos tribunais. Para isso, estabeleceu metas e prazos para os juízes de primeira instância, que reclamam da pressão sofrida. * Um dos ministros presentes na reunião do conselho político na manhã de segunda-feira (16) brincou sobre a orientação de que os porta-vozes do governo tenham humildade e reconheçam os erros: “Quem sabe ela também adote essa estratégia a partir de agora”. * Um sujeito muito parecido com João Santana, marqueteiro da presidente Dilma Rousseff, viajou de São Paulo para Brasília na tarde da terça-feira (16). Discreto, passou a maior parte do tempo trabalhando em um notebook e não foi abordado pelos passageiros. * Naquela mesma tarde, o site do jornal O Estado de São Paulo divulgou o documento com duras críticas à área de comunicação do governo. A autoria do texto foi atribuída à Secretaria de Comunicação da Presidência da República (Secom). Até pareceu coisa do PT. Retrato falado Após as manifestações que levaram mais de um milhão de pessoas às ruas, integrantes da oposição se silenciaram, por temor de ganhar a pecha de “golpistas”. No plenário do Senado, coube a um petista fazer a mais dura crítica ao governo. Paulo Paim (PT-RS) usou a tribuna na tarde de terça-feira (17) para pedir a seus colegas da base aliada que fizessem uma leitura “honesta e realista” dos protestos. Fux não quis revelar o voto Presente na solenidade que sancionou o texto do novo Código de Processo Civil (CPC), o ministro Luiz Fux, do Supremo Tribunal Federal (STF), foi abordado por quase uma dezena de parlamentares. Todos queriam saber a opinião do magistrado sobre os próximos passos da Operação Lava Jato. Fux se esquivou com respostas genéricas sobre o Judiciário. O ministro do Supremo coordenou a elaboração do novo CPC. A conta do discurso A oposição da Câmara está vasculhando os sistemas de informações sobre gastos públicos para saber detalhes das despesas com a produção dos pronunciamentos oficiais da Presidente da República veiculados na mídia nacional nos últimos meses. Ainda não encontraram respostas. ____________________________________________ 4# BRASIL 25.3.15 4#1 OS ESQUEMAS DO DUQUE 4#2 DILMA ENCASTELADA 4#3 CID PERDE A CABEÇA 4#4 DE NOVO, A CULPA É (SÓ) DO TESOUREIRO? 4#5 CENSURA COM DINHEIRO PÚBLICO 4#6 CONSELHOS PAGOS A OURO 4#1 OS ESQUEMAS DO DUQUE As operações nada nobres e a vida imperial de Renato Duque, o ex-diretor da Petrobras que fez fortuna ao alimentar o PT com milhões de reais desviados da estatal Josie Jeronimo (josie@istoe.com.br) “Se o senhor é o duque, quem é o rei?” O questionamento foi feito pelo deputado Altineu Côrtes (PR-RJ) ao ex-diretor de Serviços da Petrobras Renato Duque durante sessão da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) que investiga a rede de corrupção instalada dentro da maior estatal brasileira. Preso pela Polícia Federal (PF) na segunda-feira 16, o ex-funcionário da petrolífera prestou depoimento à CPI três dias depois. A PF prendeu Duque após a inteligência da instituição descobrir que ele tentou movimentar mais de 20 milhões de euros de uma conta da Suíça para vários países, entre eles o Principado de Mônaco – não poderia haver, afinal, lugar mais apropriado para um duque. Na comissão, o ex-diretor não revelou quem é o monarca supremo nem respondeu às outras perguntas dos parlamentares. Pelo menos momentaneamente, o silêncio confortou as hierarquias do Palácio do Planalto e do PT. Se confirmasse o teor da denúncia do Ministério Público Federal (MPF) sobre o aparelhamento da Petrobras por uma quadrilha, o reinado petista sofreria abalos irremediáveis. Segundo os investigadores da Operação Lava Jato, a rede de corrupção era integrada por parlamentares, empreiteiros e diretores da Petrobras. Em depoimentos prestados em regime de delação premiada, executivos e donos de empreiteiras revelaram como funcionava a complexa engrenagem montada para capitalizar as empresas e abastecer os cofres de partidos políticos e funcionários corruptos. Duque, ironicamente chamado de “nobre” pelos empreiteiros do cartel, negociava o montante de propina para os petistas. Nesse sentido, as declarações de Augusto Mendonça, do Grupo Setal, forneceram valiosas informações para o Ministério Público. Documentos obtidos com exclusividade por ISTOÉ revelam o funcionamento detalhado do esquema que chegou ao topo do PT. Um caso narrado por Mendonça e acontecido na área de influência de Duque balizou a denúncia do MPF. A máquina montada para desviar dinheiro público se sustenta com o aumento ilegal dos custos das obras da Petrobras. O pagamento de serviços fantasmas era legalizado por notas fiscais de empresas de fachada. Mendonça relata que os aditivos fictícios na Refinaria Presidente Getúlio Vargas (Repar), em Araucária (PR), renderam R$ 111,7 milhões a seu grupo de empresas. Desse montante, R$ 4,26 milhões foram repassados como doação oficial de campanha para diretórios do PT, por meio de 24 transferências financeiras realizadas entre outubro de 2008 e março de 2012. O dono do grupo Setal – que reúne as empresas PEM Engenharia, Projetec e SOG Óleo e Gás – apresentou comprovantes e datas destas movimentações financeiras. O contrato da Repar recebeu 32 aditivos, de acordo com o sistema de monitoramento da Petrobras. Depois de sucessivos avisos sobre essas irregularidades, o Tribunal de Contas da União (TCU) incluiu a Repar na lista dos empreendimentos irregulares e recomendou que o Congresso – na votação da Lei orçamentária de 2010 – bloqueasse a liberação de recursos públicos para o projeto. O Legislativo avaliou que as denúncias contra a Repar eram graves e suspendeu o pagamento. Mas o então presidente Luiz Inácio Lula da Silva vetou o texto da lei orçamentária que bloqueava repasses para obras da refinaria. O veto foi publicado no Diário Oficial da União no dia 27 de janeiro de 2010. No mesmo dia, o Diretório Nacional do PT foi contemplado com uma transferência de R$ 350 mil da SOG Óleo e Gás, uma das beneficiárias da obra. Na ocasião, Lula – uma espécie de imperador dos petistas – justificou o veto como uma medida para evitar milhares de desempregos. Mendonça afirma ter pago a propina em troca de favorecimentos de suas empresas em obras da Repar. O contrato com a companhia foi firmado em julho de 2008. A primeira parcela, de R$ 100 mil, caiu na conta do diretório do PT na Bahia três meses depois. De acordo com os depoimentos dos delatores, os números das contas beneficiadas com os depósitos eram fornecidos pelo tesoureiro do PT, João Vaccari. A utilização do caixa de campanha para mascarar a propina obtida com contratos superfaturados da Petrobras já havia sido mencionada por outros réus colaboradores, conforme revelou ISTOÉ em sua edição de 21 de novembro de 2014. O papel de Renato Duque e Vaccari na rede de corrupção também foi mencionado pelos executivos Shinko Nakandakari (consultor da Galvão Engenharia), Eduardo Leite (vice-presidente da Camargo Corrêa), e Mário Góes (UTC, OAS, Mendes Junior, Andrade Gutierrez e Schain). O dinheiro que Duque tentou movimentar no fim do ano passado em Mônaco compõe apenas uma parte dos R$ 311 milhões em propina que ele abocanhou com o esquema, segundo a Operação Lava Jato. Relatórios do MP elaborados a partir dos depoimentos de delação apontam que, entre 2003 a 2012, quando Duque deixou a Petrobras, ele angariou R$ 1,5 bilhão de empreiteiras. Desse total, quase US$ 200 milhões recolhidos por Vaccari foram diretamente para o Partido dos Trabalhadores. Nos depoimentos dos delatores, o tesoureiro e Renato Duque aparecem como a dupla responsável por angariar e recolher a cota de propina que caberia ao PT. O empreiteiro do Grupo Setal contou ainda que foi procurado por Duque no início de julho de 2010 e o ex-diretor pediu que ele se encontrasse com Vaccari para depositar R$ 500 mil em benefício do PT. De acordo com Augusto Mendonça, cinco transferências de R$ 100 mil foram realizadas em 7 de julho de 2010 no CNPJ do Diretório Nacional. Os recursos seriam “deduzidos do percentual das vantagens indevidas da Diretoria de Serviços da Petrobras em decorrência da obra da Repar”, conforme denúncia do MP. O episódio mostra, no entanto, que o PT já contava com a doação antes mesmo de receber o dinheiro. Na prestação de contas do partido, as transferências de R$ 100 mil foram lançadas no dia 28 de junho de 2010, nove dias antes da data informada pelo empreiteiro à força tarefa da Lava Jato. O Ministério Público identificou pelo menos 10 das 24 doações partidárias feitas com o objetivo de disfarçar o pagamento de propinas. Esses repasses intermediados por Duque e Vaccari foram realizados para o Diretório Nacional do PT em 2010, ano da disputa eleitoral que consagrou Dilma Rousseff presidente da República. A análise de recibos de transferências para o PT apresentados por Augusto Mendonça abriu uma nova frente de investigação para a Lava Jato. Os procuradores vão cruzar documentos entregues pelos empreiteiros que fizeram delação premiada com a prestação de contas do partido na Justiça Eleitoral. Na terça-feira 17, o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) foi oficiado pelo Ministério Público a entregar “em formato eletrônico pesquisável todas as doações feitas ao Partido dos Trabalhadores desde 2008.” Inconsistências na prestação de contas de Dilma foram encontradas por técnicos do TSE, em dezembro de 2014. Durante o julgamento das contas, os profissionais que elaboraram o relatório deram parecer pela rejeição. Os técnicos apontaram irregularidades em 9% dos documentos apresentados para comprovar a arrecadação de R$ 350 milhões e em 14% das notas fiscais de despesas. Pelo menos por enquanto, a força tarefa da Lava Jato não tem contado com a colaboração do ex-diretor da Petrobras. Ele resiste às investidas do Ministério Público, não compromete ninguém e alega inocência. Se for julgado culpado pelos crimes de corrupção e lavagem de dinheiro, segundo a denúncia do MP, será condenado a, no mínimo, 30 anos de prisão. As negativas de colaboração com a Justiça colocam a família de Duque no olho do furacão. Em um dos poucos momentos em que soltou a voz na sessão da CPI, foi para negar que sua esposa, Maria Auxiliadora Tibúrcio, tenha procurado o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva com o objetivo de pedir ajuda para um habeas corpus que tirasse o marido da cadeia na primeira vez em que foi preso, em novembro de 2014. O filho do ex-diretor, Daniel Duque, também entrou no radar das investigações da CPI. A deputada Elisiane Gama (PPS-MA) questionou a participação de Daniel na empreiteira Technip. Entre 2011 e 2012, ele trabalhou na sede da empresa no Texas, nos Estados Unidos, e na subsidiária brasileira de 2012 a 2014. A Technip tem parcerias com a holandesa SBM Offshore, acusada de pagar US$ 240 milhões em propina a funcionários da Petrobras para obter contratos. Um consórcio integrado pela Technip ganhou, em 2011, a concorrência para um contrato de US$ 1 bilhão de frete e operação de navios que estão sendo construídos na Coreia do Sul. Antes de ser preso, Duque recebeu valiosa ajuda da família na montagem de uma grande operação para eliminar provas. Além da tentativa de esvaziar as contas da Suíça, eles limparam as gavetas. Um vizinho do ex-diretor relata que, um dia antes de ser novamente preso, muita coisa foi retirada do apartamento dele, na Barra da Tijuca, no Rio de Janeiro, e levada para a casa do filho, no prédio ao lado. De acordo com o relato dos moradores, foram feitas cerca de 20 viagens de carro, do prédio de Renato Duque para o do filho. Os dois imóveis são colados, parede com parede. “Chegava a ser engraçado”, afirma o vizinho. “O carro, todo fechado e com vidro escuro, saía de frente da garagem do Duque e entrava de ré na garagem ao lado. Depois fazia o caminho inverso.” Capitalizado com dinheiro ilícito, Duque levou um estilo de vida incompatível com a renda de um diretor da Petrobras. Em sua cobertura duplex na Barra da Tijuca, nobre endereço da zona sul do Rio, a Polícia Federal apreendeu 131 obras de arte. Foram encontrados trabalhos supostamente assinados por artistas como Miró, Djanira, Heitor dos Prazeres, Agostinho Batista de Freitas, Antonio Poteiro, Carybé, Yara Tupynamb e Guignard. O expressivo número de obras pode ser um indício de lavagem de dinheiro. Segundo especialistas, esse é um artifício utilizado por criminosos do mundo inteiro. A questão é saber da autenticidade dos quadros e dimensionar o número de gravuras (que custam, no mercado, no máximo R$ 10 mil) e de pinturas a óleo (um Miró genuíno pode chegar a valer R$ 5 milhões). Por ora, é impossível calcular o valor do acervo. “Pelo que vi nos jornais, o material apreendido só serve para enxaguar e não para lavar dinheiro”, diz o marchand e diretor da Pinakotheke Cultural, Max Perlingeiro. Duque era rei no prédio onde morava. Dos quatro andares do edifício, três pertencem à sua família. Em número menor, os outros moradores não tinham voz ativa nas decisões do condomínio. Segundo um vizinho, a reforma da cobertura do imperador da Petrobras começou de forma ilegal e só foi regularizada depois que mais de R$ 800 mil foram pagos à Prefeitura do Rio. O que mais surpreendeu os agentes da Polícia Federal foi a descoberta, na segunda-feira 16, de um cômodo secreto, uma espécie de bunker, dentro do closet do quarto de casal. A primeira porta, por detrás do forro, é aberta apenas quando um ponto específico do armário é pressionado. Depois, surge uma segunda porta, operada por controle remoto, que dá acesso, enfim, ao espaço de aproximadamente seis metros quadrados, com iluminação e ventilação independentes do resto do apartamento. Lá dentro, os policiais encontraram documentos, relógios e joias. (Colaboraram Helena Borges e Eliane Lobato) 4#2 DILMA ENCASTELADA Enquanto os escândalos se sucedem, a presidente se isola com conselheiros palacianos, é tutelada por Lula e se mostra incapaz de fazer o governo andar Izabelle Torres (izabelle@istoe.com.br) A sequência de acontecimentos é avassaladora. Na tarde do domingo 15, dois milhões de brasileiros vãos às ruas gritar contra a presidente Dilma Rousseff. Na noite do mesmo dia, os ministros José Eduardo Cardozo e Miguel Rossetto, desalinhados nas roupas e desorientados nas ideias, rechaçam os protestos, enquanto as cidades clamam em mais um ruidoso panelaço. Na segunda-feira 16, Dilma faz um pronunciamento sobre as manifestações e ninguém, nem seu séquito, parece dar bola para o que ela diz. Ao contrário: enquanto a presidente fala, ouve-se panelaços em várias cidades do País. Na terça-feira 17, ela é informada que o escudeiro José Dirceu recebeu uma fortuna, em supostos serviços de consultoria, de empresas investigadas pela Operação Lava Jato. Também no dia 17, surge um documento atribuído ao ministro da Comunicação Social, Thomas Traumann, que espezinha o governo. Na quarta-feira 18, a rainha Dilma descobre que os súditos estão insatisfeitos. Segundo pesquisa do Instituto Datafolha, seus índices de rejeição estão próximos aos do ex-presidente Fernando Collor às vésperas do impeachment – palavra que, aqui e ali, começa a circular no País. Na quinta-feira 19, o ex-diretor da Petrobras Renato Duque depõe na CPI que apura malfeitos na estatal e que deve trazer elementos para incriminar gente graúda do PT, o partido da presidente. Na sexta-feira 20, o dólar dispara, a Bolsa cai e alguém revela que o desemprego avança. No sábado, o que virá? E no domingo? O que a nação descobrirá nos próximos dias? O que as semanas reservam ao País? Onde isso tudo vai parar? Mergulhada na mais grave crise política do Brasil desde a queda de Collor, em 1992, a presidente Dilma está encastelada em um palácio que parece prestes a desmoronar. A presidente reage tibiamente. Não faz movimentos consistentes. Não toma uma decisão capaz de reverter – ou, pelo menos, estancar – o ciclo de escândalos. É uma rainha à procura da coroa perdida. Em um artigo publicado no jornal O Estado de S. Paulo, o professor da USP Oliveiros Ferreira compara a presidente ao monarca Luís XIV. Foi ele quem disse “LÉtat cést moi” (“o Estado sou eu”). Por mais que comparações desse tipo sejam imprecisas, Dilma tem agido como se fosse a encarnação de uma soberana auto-suficiente, indiferente aos caos generalizado, incapaz de expressar um gesto qualquer de humildade, de lançar um movimento, de propor uma ação que traga alguma boa nova ao País. Oliveiros faz referências à política externa do governo brasileiro, política essa expressa nas inclinações pessoais da presidente e não nos interesses do Brasil. “LÉtat cést moi” diria uma Dilma confiante de seus propósitos. O País vai mal e a rainha encastelada não ceifa ministérios (em tempos de ajuste de contas, seria simbólico e altamente positivo enxugar a máquina), não assume os erros na condução da política econômica, não corta a corrupção pela raiz (até quando ela vai poupar antigos aliados?). Faz, enfim, apenas o que lhe convém – e não o que é necessário para tirar o Brasil do marasmo. Na terça-feira 17, Dilma se encontrou com o rei sem trono, o ex-presidente Lula, e foi informada que o isolamento cada vez maior pode ser perigoso para a sobrevivência dela e do próprio PT. “Se não tem verba, use o verbo”, disse Lula, sem paciência, ao ouvir a ladainha da falta de recursos e convicto de que é preciso melhorar a comunicação do governo. Lula fez lembrar a frase de Maria Antonieta. Ao ouvir de um cocheiro que o povo não tinha o que comer, a consorte da França saiu-se com um “se não têm pão, que comam brioches.” Para ficar no campo da realeza, há alguns dias o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso disse que “o rei está nu”, numa alusão às feridas escancaradas do governo. FHC tem lançado artilharia pesada. Falou que Dilma precisa vestir as sandálias da humildade e que a presidente “está perdendo as condições políticas de governar.” O tiroteio vem de todos os lados. Na semana passada, o senador João Capiberibe (PSB-AP) afirmou que o Brasil vive “uma cleptocracia.” Desde que se elegeu para o segundo mandato, a presidente tem evitado o diálogo com a sociedade. Nesse período, escalou ministros para pronunciamentos vazios, deu respostas confusas sobre os temas que preocupam o País e, nos jantares forçados com aliados, fez promessas de aproximação que se desfizeram nos dias seguintes. Mesmo quando decidiu sair da clausura, fez isso de forma atabalhoada. Na quarta-feira, 18, escalou sua equipe para o lançamento do pacote anticorrupção prometido como resposta às manifestações. Com uma plateia repleta de assessores dispostos a aplaudir os discursos, o clima estava artificialmente favorável, embora o pacote não tenha trazido nenhuma novidade. É formado basicamente por projetos que já tramitavam no Congresso e outros discutidos há anos, como a Lei Anticorrupção, que prevê a punição de empresas envolvidas em práticas relacionadas ao desvio de recursos. A norma esperou na mesa de Dilma quase dois anos por regulamentação. Na semana passada, circularam na internet reportagens sobre o pacote anticorrupção lançado, repare bem, pelo governo Lula, em 2005. É praticamente a mesma coisa que foi proposta por Dilma. Uma década passou e o PT não atualizou suas ideias. Antes de ser apresentado ao País, o pacote foi entregue aos presidentes da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), e do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), ambos investigados, repare bem novamente, por envolvimento na Operação Lava Jato. Para confirmar que o governo se tornou refém desses políticos, uma reunião na véspera do lançamento do pacote levou o ministro da Justiça, Eduardo Cardozo, a detalhar as propostas para um público especial. Cardozo defendeu os pontos do pacote para parlamentares como Fernando Collor de Mello (PTB-AL), Benedito de Lyra (PP-AL) e Humberto Costa (PT-PE). Detalhe interessante: todos eles foram citados nas delações premiadas dos acusados de operar os desvios de recursos da Petrobras. Alheios ao constrangimento de precisar submeter-se aos investigados, Dilma e seus ministros comemoraram o lançamento do pacote. “Acho que esse quadro de rejeição e queda de popularidade é reversível”, disse, como se estivesse alheio à realidade, o secretário-geral da Presidência, Miguel Rossetto. O clima de otimismo durou pouco. Uma crise política repentina ofuscou a agenda positiva que ela tentou criar. Enquanto os ministros se reuniam em seus gabinetes para avaliar a repercussão das propostas, o então ministro da Educação, Cid Gomes, fazia uma lambança na Câmara dos Deputados (leia reportagem à pág 54). Para colocar ainda mais obstáculos ao reinado dilmista, partidos de oposição apresentaram na semana passada um pedido de reconsideração ao ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Teori Zavascki, para que analise a possibilidade de a presidente ser incluída no rol de investigados da Operação Lava Jato. Embora tenha sido mencionada em depoimentos dos delatores Paulo Roberto Costa e Alberto Youssef, Dilma foi retirada da investigação pelo procurador-geral Rodrigo Janot. Zavascki afirmou que encaminhará o pedido ao Ministério Público Federal. Ilhada, a presidente tenta reagir, mas deixa evidente sua fragilidade e dependência do Congresso, que parece dedicado a lhe ser cada vez mais hostil. Dilma não tem sossego. Na quinta-feira 19, uma proposta aprovada no TCU (Tribunal de Contas da União) poderá levar a presidente a se tornar alvo de ações de fiscalização do órgão que apura desvios na Petrobras. Se isso acontecer, será a abertura das portas do inferno. A decisão permite que Dilma seja investigada, multada e tenha bens bloqueados. Mas isso é coisa da semana passada. Na próxima segunda-feira, na terça, na quarta e nos muitos dias à frente, Dilma provavelmente estará enredada em novos e escabrosos episódios. A rainha precisa sair de seu castelo. 4#3 CID PERDE A CABEÇA Ainda ministro da Educação, ele foi chamado de palhaço e ridicularizado em plena Câmara. Deixou o cargo minutos depois do show de descontrole, mas muito do que disse para os deputados está em sintonia com o que pensa a população Ludmilla Amaral (ludmilla@istoe.com.br) O espetáculo burlesco que o então ministro da Educação Cid Gomes (Pros-CE) encenou no Congresso na quarta-feira 18 é a prova definitiva de que alguns súditos da presidente Dilma mais atrapalham do que ajudam o governo a sair do enrosco em que se meteu. Cid sempre foi conhecido no meio político pela falta de modos e pelo temperamento intempestivo, características que o impelem a disparar desaforos em situações incômodas. Na semana passada, bateu seus próprios recordes de destempero ao discutir com parlamentares em plena Câmara dos Deputados. O detalhe é que ele havia ido ao plenário pedir desculpas por ter dito em uma palestra, duas semanas antes, que havia no Congresso “uns 300 ou 400 achacadores”. O show de descontrole fez Cid passar por momentos de ridículo que não são dignos de um ministro e expôs, mais uma vez, toda a desarticulação e fragilidade do governo federal. Ao mesmo tempo, suas frases ditas na tribuna sobre os parlamentares ecoaram positivamente em grande parte da sociedade. Afinal, quantos brasileiros não gostariam de ter dito o que Cid Gomes disse, em plena Câmara dos Deputados? “Sempre tive profundo respeito pelo Parlamento. Isso não quer dizer que eu concorde com a postura de alguns, de vários, de muitos, que mesmo estando no governo, os seus partidos participando do governo, tenham postura de oportunismo”, afirmou, antes de emendar. “Partidos de oposição têm o dever de fazer oposição. Partidos de situação têm o dever de ser situação. Ou então larguem o osso e saiam do governo!” Os parlamentares já estavam revoltados com a declaração de Cid, até que ele complementou o discurso apontando o dedo em riste diretamente para o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ). “Eu fui acusado de ser mal educado. Eu prefiro ser acusado por ele (Cunha) a ser como ele, acusado de achaque.” Parlamentares, como o líder do PMDB, Leonardo Picciani (RJ) e do PSC, André Moura (SE), saíram em defesa da Casa e afirmaram que Cid não tinha mais moral para continuar como ministro. O ex-governador seguiu a artilharia, dessa vez contra o PMDB: “Alguns querem criar dificuldades pra conseguir mais um ministério (...) tinha um que só tinha cinco. Criou dificuldades, conquistou o sexto. Agora quer o sétimo. Vai querer o oitavo. Vai querer a Presidência da República.” O acalorado bate-boca foi subindo de tom até que o então ministro foi chamado de palhaço pelo deputado Sérgio Zveiter (PSD-RJ), teve seu microfone cortado e saiu sem se despedir. O PMDB, aliado histórico do PT e maior bancada no Congresso Nacional , mal esperou ele deixar o plenário e anunciou que a sigla não votaria mais projetos de interesse do Executivo enquanto Cid Gomes continuasse à frente da Educação. A ameaça surtiu efeito. Enquanto o político do Pros seguia em direção ao Planalto, sua demissão já estava certa. O ministro da Casa Civil, Aloizio Mercadante, foi quem deu a notícia a Eduardo Cunha, que anunciou-a em primeira mão. O presidente da Câmara comemorou como se exibisse a cabeça de Cid a seus pares. Foi ovacionado pela platéia. ATAQUE - Cid Gomes discute com os parlamentares na quarta-feira 18: o objetivo inicial do discurso do então ministro era pedir desculpas por ter dito que havia no Congresso "uns 300 ou 400 achacadores" Apesar de dizer que seria ministro “enquanto a presidente Dilma desejasse”, a demissão de Cid era vista como planejada. Ele já sabia que sua permanência no governo estava em pauta, por conta dos constantes embates com o Congresso, e que Dilma pretendia fazer uma reforma ministerial para contentar o PMDB. Seu discurso no plenário teria sido a forma encontrada para deixar o cargo de cabeça erguida, dizendo aos deputados o que os brasileiros têm dito nas ruas. “A minha declaração na Câmara cria dificuldades para a base do governo. Portanto, eu não quis criar nenhum constrangimento. Pedi demissão em caráter irrevogável”, declarou. A família também o influenciou na decisão. Seu irmão, Ciro, secretário de Saúde no Ceará e famoso por suas frases controversas (leia quadro), lhe aconselhou a manter a declaração polêmica feita dias antes de seu encontro com parlamentares. Na quinta-feira 19, a presidente negou que esteja realizando uma reforma ministerial. “Estou fazendo uma alteração pontual. As circunstâncias às vezes obrigam você a fazer uma que outra mudança”, disse. Com a saída de Cid, o secretário-executivo da pasta, Luiz Cláudio Costa, comandará o Ministério da Educação interinamente. 4#4 DE NOVO, A CULPA É (SÓ) DO TESOUREIRO? Como no caso Delúbio, o PT quer colocar toda a responsabilidade pela corrupção do partido apenas nos ombros dos arrecadadores de dinheiro Josie Jeronimo (josie@istoe.com.br) João Vaccari Neto e Delúbio Soares nunca tiveram títulos na nobreza do PT. Na hierarquia da sigla eles pertencem, no máximo, à ordem dos escudeiros. A fidelidade inabalável de Vaccari e Delúbio ao projeto de poder da legenda os lançou em uma função inglória: a tesouraria do partido. Em 2000, o PT adotou um discurso mais ameno para ampliar o perfil do eleitorado. A mudança acarretou uma guinada de vida no partido, que começou a forrar seus cofres para financiar um duradouro projeto de poder. Delúbio assumiu a Secretaria Nacional de Finanças. Só saiu de lá em 2005, denunciado como um dos operadores do mensalão. Vaccari é o Delúbio da vez. Na segunda-feira 16, ele foi denunciado pelo Ministério Público Federal (MPF) por corrupção e lavagem de dinheiro. Contra o tesoureiro pesam depoimentos de dois ex-funcionários da Petrobras e quatro empreiteiros que fizeram acordos de delação premiada. Todos unânimes em apontá-lo como recolhedor de propinas para o PT. Com as acusações decorrentes da Operação Lava Jato, caiu por terra a defesa ferrenha que alguns petistas faziam da honra de Vaccari. Internamente, antigos companheiros pedem seu afastamento da secretaria de finanças para preservar o partido. As apurações da Polícia Federal e do MPF indicam que U$186 milhões em propina teriam passado pelas mãos do homem responsável por arrecadar dinheiro para o PT. Segundo os delatores, o dinheiro abasteceu o caixa de campanha da presidente Dilma Rousseff. Ainda assim, a degola de Vaccari pedida pelos correligionários sugere uma estratégia marota: colocar todos os malfeitos do partido nos seus ombros, evitando que as denúncias extrapolem para outros nomes. O mesmo ocorreu com Delúbio no escândalo do Mensalão. O tesoureiro foi para o altar dos sacrifícios, admitiu que arrecadava recursos além do contabilizado pelas campanhas eleitorais e figurou como coordenador do “núcleo central da quadrilha” no processo do mensalão. Ele foi o único, entre os oito petistas investigados por participar do esquema, a ser expulso do partido. Saiu em 2006, mas retornou aos quadros de filiados em 2011, após a eleição de Dilma. O ex-tesoureiro foi condenado a seis anos e oito meses de prisão, passou cinco meses no presídio da Papuda e outros cinco em regime semiaberto. Em setembro, ganhou o direito de cumprir o restante da pena em casa. Se as descobertas dos investigadores da Lava Jato forem confirmadas na Justiça, Delúbio e Vaccari ficarão na história do reinado petista como os responsáveis por ilícitos financeiros que beneficiaram da alta cúpula do partido aos diretórios no interior do País. Embora tenham trajetórias parecidas, os dois adotaram práticas diferentes. O modus operandi usado por Vaccari pouco lembra o antigo estilo de arrecadação posto em prática por Delúbio. A falta de uma legislação eleitoral que obrigasse o detalhamento da prestação de contas explica, em parte, a opção de Delúbio pelo esquema de caixa 2. Uma resolução do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) de 2002 obrigou candidatos e comitês financeiros a expor em minúcias as receitas e despesas. Essa regra dificultou a vida de Delúbio. Em uma reunião do Diretório Nacional, no mesmo ano, o então tesoureiro discursou contra a divulgação do nome dos doadores e disse uma frase que entrou para a história. “Transparência demais é burrice.” Transparência não foi um problema para Vaccari. As investigações mostram que ele mascarou as propinas que o PT recebeu no esquema da Petrobras em forma de doação oficial de campanha. 4#5 CENSURA COM DINHEIRO PÚBLICO Governo federal e PT planejam concentrar ainda mais as verbas de publicidade a veículos favoráveis à presidente Dilma Em movimentos distintos, mas extremamente preocupantes, o governo federal e o PT deram mostras na semana passada de que estão determinados a instalar no Brasil um modelo de censura aos meios de comunicação feito com dinheiro público. Algo parecido com o que ocorre na Argentina, onde a presidente Cristina Kirchner usou seus recursos para enfraquecer o principal grupo de mídia do país, o Clarin, e na Venezuela, nação na qual o presidente Nicolás Maduro silencia qualquer veículo com ímpeto oposicionista. As ações observadas ao longo dos últimos dias por aqui apontam para a tentativa de asfixiar financeiramente os veículos que mantêm uma posição independente e crítica – como determinam as regras de uma imprensa de qualidade – e não se colocam a serviço da administração sob o comando da presidente. VINGANÇA - Rui Falcão, presidente do PT, quer punir os meios de comunicação que, segundo ele, teriam apoiado os protestos Uma das estratégias para minar o fôlego dessas publicações é reduzir a verba publicitária a elas destinada pelo governo federal. Esta ação ganha a alcunha de “guerrilha política”, em um documento do Planalto que ficou conhecido esta semana. O texto, vazado da Secretaria de Comunicação da Presidência, recorre a outras tantas expressões belicosas para explicar o que o governo pretende fazer. Boa parte disto, por sinal, já está adotado no tratamento com publicações não alinhadas com Dilma ou o PT. O oposto também está se tornando uma prática: a oferta sistemática de anúncios de estatais a sites, blogs e outros veículos simpáticos à administração da presidente. O documento do Planalto explicita, sem o menor pejo, a opção pelos amigos da corte: “A guerrilha política precisa ter munição vinda de dentro do governo, mas ser disparada por soldados de fora” Um dos indícios de que o método pode se aprofundar como forma de ação em relação à mídia veio pelas palavras do presidente nacional do PT, Rui Falcão. Reunido com a bancada do partido para avaliar as conseqüências das manifestações do domingo, 15 de março, Falcão defendeu que o governo restrinja ainda mais as verbas publicitárias aos meios de comunicação que, na sua opinião, teriam apoiado o ato ou convocado a população a sair as ruas. “Não se enganem. O monopólio da mídia não será quebrado apenas nas redes sociais. Isso é uma ilusão”, disse o dirigente petista. CERCO - Berzoini, à esq., quer a regulação da mídia. Traumann defende anúncios em veículos que defendem Dilma Falcão levantou a bandeira de que é preciso haver uma quebra do que ele considera um monopólio das comunicações. “Isso deve ser feito por meio de uma nova política de anúncios para os veículos da grande mídia”, afirmou. Para defender sua tese, o político reclamou da Rede Record. “A Record, que sempre teve simpatia maior por nós, no domingo começou em rede aberta a convocar a manifestação.” O documento da Secretaria de Comunicação, comandada pelo ministro Thomas Traumann, descreve as dificuldades do governo em relação à comunicação e a classifica como “errada e errática”. O texto é dividido em três partes: “onde estamos”, “como chegamos até aqui” e “como virar o jogo”. É neste último trecho que residem sugestões de concentrar ainda mais os gastos com os veículos parceiros. Aponta-se ainda a necessidade de se investir na publicidade feita na cidade de São Paulo, administrada pelo petista Fernando Haddad. “A publicidade oficial em 2015 deve ser focada em São Paulo, reforçando as parcerias com a prefeitura. Não há como recuperar a imagem do governo Dilma em São Paulo sem ajudar a levantar a popularidade do Haddad.” A leitura que se pode fazer disso é que a solução desenhada para a crise de comunicação enfrentada pelo governo Dilma é financiar, com dinheiro público, aqueles que o defendem. A divulgação do documento aprofundou a confusão política das últimas semanas. Traumann saiu de licença horas após o vazamento. Era previsto que voltasse ao trabalho na segunda-feira 23, mas se especulava que poderia ser o próximo a deixar o governo. A oposição reagiu. O senador Aloysio Ferreira (PSDB-SP) pediu a demissão do ministro, anunciou que pedirá a sua convocação para depor na Comissão de Comunicação do Senado e irá requerer uma investigação ao procurador-geral da República, Rodrigo Janot. “Ele está propondo uma ação conjunta e coordenada entre a divulgação institucional de atos do governo, cargo do órgão federal, e os blogs ditos progressistas, com a finalidade de destruir a reputação de adversários, num verdadeiro terrorismo ideológico”, disse. Quem pode se fortalecer com a polêmica é o ministro das Comunicações, Ricardo Berzoini, parte da cota do PT do ministério. O partido tem interesse em concentrar as ações de comunicação do governo e a pasta hoje comandada por Traumann é fundamental nesta política. Ela responde pelas relações do governo com todos os veículos e também pela publicidade institucional. O investimento total de propaganda do governo federal foi de R$ 2,3 bilhões. Berzoini defende a regulação da mídia, um projeto antigo do PT que enfrenta resistência dos que defendem a liberdade plena de expressão e também do PMDB, da base aliada de Dilma. A questão é que o governo ainda não convenceu ninguém de que seu propósito não é o de domesticar a imprensa livre do País. A movimentação do PT e do Planalto esta semana serve para ampliar esta desconfiança, pois o uso de dinheiro público (que deveria servir para campanhas de interesse público)para favorecer políticos e partidos ofende a Constituição. E esta é uma das fronteiras que distingue os regimes democráticos dos autoritários. 4#6 CONSELHOS PAGOS A OURO Relatório da Receita mostra que José Dirceu recebeu milhões de reais para prestar consultoria a empresas investigadas pela Lava Jato Eumano Silva No primeiro semestre de 1994, o então deputado José Dirceu (PT-SP) vislumbrava três alternativas para o futuro. “Acho que vou me eleger governador de São Paulo este ano. Se não conseguir, serei ministro do Lula. Mas, se o Lula também não ganhar a eleição, vou trabalhar com advocacia para ganhar um milhão de dólares”, afirmou o deputado em conversa com o autor desta reportagem. Dirceu não foi eleito governador, mas se tornou ministro de Lula em 2003, ao assumir a Casa Civil. Quanto às finanças, ele foi muito além do que poderia imaginar. Segundo um relatório da Receita Federal, entre 2006 e 2013 recebeu R$ 29,3 milhões por trabalhos de consultoria. A dinheirama parece ter uma origem pouco nobre. Dirceu está sendo investigado por apropriação de recursos ilícitos, provenientes de empreiteiras contratadas pela Petrobras. Do total faturado pela JD Assessoria e Consultoria, empresa do petista, mais de R$ 6 milhões foram pagos por companhias acusadas de formação de cartel para vencer licitações fraudadas na estatal. Os R$ 29 milhões recebidos por José Dirceu em 8 anos correspondem a um faturamento médio anual de R$ 3,6 milhões. É bastante dinheiro para uma consultoria desconhecida e sem número definido de funcionários. Para efeito de comparação, o montante corresponde a algo como 10% do faturamento de uma empresa como a LCA Consultores, umas líderes do setor de no Brasil e que conta com mais de uma centena de colaboradores. Dirceu vive desde novembro recolhido em prisão domiciliar, em Brasília, depois de passar quase um ano na cadeia em decorrência de condenação no processo do mensalão. O ex-ministro nega todas as acusações. Ele diz que sua empresa não tem qualquer vínculo com os contratos das empreiteiras com a Petrobras. As consultorias foram prestadas, afirma, a cerca de 60 clientes de 20 setores da economia. Na terça-feira 17, a defesa de Dirceu entrou com um mandato de segurança contra a quebra de sigilo de seus dados bancários e fiscais. Ao se enrolar com contratos milionários de consultoria, o ex-homem-forte do governo, uma espécie de eminência parda que transita na órbita do PT, reprisa um episódio vivido por seu correligionário Antonio Palocci. Em 2011, Palocci perdeu o cargo de ministro da Casa Civil depois que se descobriu que ele recebeu cerca de R$ 20 milhões no ano anterior por esse tipo de trabalho. ________________________________________ 5# COMPORTAMENTO 25.3.15 5#1 FIES, A BARBEIRAGEM DO GOVERNO 5#2 O DEMÔNIO DE COMPOSTELA 5#3 OBSTÁCULOS À GUARDA COMPARTILHADA 5#4 A REDESCOBERTA DE CERVANTES 5#5 CONFISSÃO PELA TEVÊ 5#1 FIES, A BARBEIRAGEM DO GOVERNO Problemas sistemáticos no programa de financiamento estudantil, depois de uma série de medidas desastradas do MEC, comprometem o futuro de estudantes em todo o País. Está cada vez mais difícil renovar contratos e fazer novas inscrições Camila Brandalise (camila@istoe.com.br) Estava ruim e ficou pior. Nos últimos três meses, desde que foram anunciadas mudanças no Programa de Financiamento Estudantil (Fies), alunos do ensino superior e aspirantes a universitários têm enfrentado dificuldades para renovar contratos e requerer o subsídio pela primeira vez. Basicamente, a alegação é que há instabilidade no sistema, o SisFies. Mas, antes disso, a definição de um teto de reajuste de mensalidades (6,4%), a exigência de nota mínima no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) e várias outras circunstâncias estabelecidas já limitavam o acesso ao programa. As trapalhadas culminaram com um discurso da presidente Dilma Rousseff, que deu como desculpa para tanta confusão o fato de ter deixado o Fies na mão de universidades particulares, o que explicaria o aumento drástico e descontrolado de vagas. Mas agora o estrago já está feito e a situação fica cada dia mais dramática, já que o Ministério da Educação (MEC) não presta esclarecimentos sobre as novas regras nem às instituições nem aos alunos. Para exigir uma solução do governo, entidades estudantis e universidades apelam para a Justiça, movendo ações contra a União e o Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE). O maior prejudicado pela barbeiragem, claro, tem sido o estudante, que vê se esvair o sonho do diploma. ESPERA - Fila de alunos na FMU, em São Paulo, para regularizar contratos com o Fies. Problemas com o sistema do programa impedem que universitários renovem acordos e façam novas matrículas Percebendo que, em vez de respostas, surgem apenas mais dúvidas, alunos de diversas instituições têm organizado manifestações em diferentes cidades do País para chamar a atenção para os problemas enfrentados. Em São Paulo, um grupo das Faculdades Metropolitanas Unidas (FMU) bloqueou parte de uma avenida no Centro para protestar por não conseguir ser atendido pela instituição, que alegou problemas no sistema. No segundo ano do curso de Direito da Universidade São Judas Tadeu, também na capital paulista, Carla Natacha Gomes da Silva, 23 anos, alega que protestar é a única opção possível. “Se os problemas não forem solucionados, pretendo juntar outros alunos e fazer manifestações. Meu risco é grande, caso não tenha o financiamento terei que trancar o curso.” Carla diz que não consegue renovar seu contrato, firmado em 2012, por problemas insignificantes. “Há vezes que meu CPF é considerado inválido. Outras, o erro aparece ao preencher o CEP de casa”, diz. Segundo o advogado especializado em financiamento estudantil Saulo Rodrigues, a confusão coloca em jogo o princípio universal do livre acesso à educação. “Por isso, quem se sentir lesado pode acionar o judiciário”, afirma. É o que universitários e instituições já estão fazendo. PROTESTO - Manifestação de alunos da Furb, de Blumenau (SC). Diretório de estudantes venceu ação civil pública contra União para que todos os contratos com o Fies sejam renovados Na Faculdade Regional de Blumenau (Furb), em Santa Catarina, o diretório central dos estudantes entrou com uma ação civil pública contra a União e o FNDE. Na terça-feira 17, uma juíza da vara federal da cidade deferiu o pedido e deu à União o prazo de dez dias para regularizar todos os contratos, caso contrário a multa será de R$ 10 mil por dia, segundo o presidente da entidade estudantil, John Maicon Albanis, 23 anos. “Entramos em contato com o MEC por vários motivos e o ministério nunca se manifestou. A saída legal foi a única alternativa para resolver o entrave”, diz. Ainda cabe recurso da decisão. Medidas similares foram tomadas em outras partes do País, como Distrito Federal, Alagoas, Pará e Paraíba. “Nesses últimos dias, o cenário só melhorou porque os prejudicados estão tendo ganho de causa”, afirma Elizabeth Guedes, vice-presidente Associação Nacional das Universidades Particulares (Anup) e diretora executiva da Associação Brasileira para o Desenvolvimento da Educação Superior (Abraes). Além de travas no sistema, outra reclamação dos alunos, segundo Elizabeth, é a exigência da nota de corte de 450 pontos no Enem para novos contratos. “É prejudicado, principalmente, quem vem de camadas sociais menos favorecidas”, diz. “No fundo, é tudo problema de orçamento, não acredito que tenha a ver com preocupação com a qualidade do ensino.” Por todo Brasil, instituições reclamam também da falta de atenção do MEC. Em comunicado, a Universidade Veiga de Almeida, do Rio de Janeiro, sinaliza que o maior problema é a falta de informações oficiais com relação a todas as mudanças, gerando uma grande preocupação nos estudantes. “Passamos todas as informações obtidas, que são aquelas veiculadas pela imprensa”, afirmou a entidade. A Veiga de Almeida não foi informada oficialmente sobre a quantidade de vagas do programa. Mesmo assim, muitos alunos não conseguem concluir o pedido de novo contrato porque o sistema acusa não haver mais vagas. Além disso, os estudantes de Enfermagem, que possui o conceito 5, o máximo atribuído pelo MEC, deveriam ser automaticamente contemplados pelo Fies, mas também não puderam se inscrever ainda. “Até o dia 19 de março, o FNDE não se pronunciou a respeito, embora já tenhamos enviado uma solicitação específica pedindo orientação”, informa a Veiga de Almeida. Em Brasília, o Centro Universitário Estácio adiantou o lançamento de um programa próprio de financiamento estudantil para suprir a lacuna. “Sempre acompanhei os processos de renovação de contratos e de novos inscritos no Fies bem de perto. Nunca tivemos tantos problemas quanto neste ano”, diz Adriano Luís Fonseca, reitor da entidade. Elizabeth Guedes, representante de entidades ligadas ao ensino superior, classifica os recentes acontecimentos como desumanos. “Estão jogando os alunos contra as escolas”, diz. Segundo ela, se Dilma conhecesse a burocracia do sistema, ela não teria feito a crítica sobre o programa estar nas mãos das universidades particulares. “Ela não sabe nem como foi feito. As decisões partiram do MEC. É fumaça para esconder erro de planejamento orçamentário.” Especialistas concordam que, por se tratar de dinheiro público, é justo que o governo delimite as regras e decida como vai distribuir a verba. O problema é ter feito de uma hora para outra, sem planejamento, sem conversa com entidades da área e, pior, com pouquíssimos esclarecimentos aos afetados. Para Renato Hyuda de Luna Pedrosa, coordenador do laboratório de estudos em educação superior da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), os investimentos destinados ao Fies de fato aumentaram muito, pulando de R$ 7,57 bilhões em 2013 para R$ 13,75 bilhões em 2014. “Há um custo para o tesouro. Como no primeiro mandato da presidente não houve tanto controle fiscal, agora o governo está repensando esse crédito subsidiado.” Porém, como se vê pelo desespero dos estudantes, essa revisão está sendo feita da pior maneira possível. 5#2 O DEMÔNIO DE COMPOSTELA Escândalo envolvendo frade franciscano do famoso santuário espanhol com menor de idade reacende o debate sobre os crimes sexuais dentro da Igreja Católica Paula Rocha (paularocha@istoe.com.br) Começou como uma inocente conversa no WhatsApp. Um homem solitário, que vivia praticamente recluso no alto de seus 57 anos, procurava uma amiga com quem pudesse dividir suas angústias e alegrias. A troca de mensagens entre a dupla logo evoluiu para uma amizade real, que depois se transformou em paixão, consumada em diversas ocasiões. A história poderia ser apenas o início de um lindo caso de amor, não fosse por dois detalhes sórdidos: ele, José Quintela Arias, é um frade franciscano da cidade de Pedrafita do Cebreiro, na Galícia, um dos principais pontos de parada do famoso Caminho de Santiago, na Espanha; ela uma jovem de apenas 16 anos, que frequentava a igreja até então dirigida por Arias. O escândalo de abuso sexual entre o religioso e a adolescente veio à tona após a prisão de Arias, em 23 de fevereiro e deixou toda a comunidade da região em estado de choque. O frade está sendo acusado de abusos sexuais à menor e ao primo dela, que é deficiente mental, além de indução à prostituição e apropriação indevida de dinheiro doado por fiéis. Mais um caso para a coleção de problemas do Vaticano, que, desde a chegada de Francisco, há dois anos, elegeu o combate à pedofilia como uma de suas principais bandeiras. CHAGA - Acima, Frei Arias em Compostela: ele ajudava os peregrinos e escondia uma vida pessoal perversa. Abaixo, papa Francisco , que luta contra os pedófilos Conhecido como “Pepe, o franciscano”, Arias era a figura mais famosa do santuário de O Cebreiro, porta de entrada da região da Galícia no caminho francês que leva a Santiago de Compostela, rota que atrai anualmente milhares de peregrinos de todo o mundo. Há cinco anos no comando do templo, ele era querido por muitos desses viajantes, que reconheciam sua notória generosidade. Contam esses peregrinos que Arias comprava sapatos para os andantes que chegavam até ele com calçados furados e pagava refeições para aqueles que não tinham dinheiro para se alimentar. Por isso a indignação dos fiéis é tão grande. Segundo investigações da polícia espanhola, o religioso manteve relações sexuais durante um ano com a jovem, que hoje tem 17. Os encontros aconteciam em um hotel em outra cidade, na casa de Arias no município de Ourense, e principalmente, na própria sacristia, depois de encerradas as atividades paroquiais. O abuso ao jovem com deficiência mental teria ocorrido após o frade pedir à adolescente que chamasse uma terceira pessoa, para fazerem sexo a três. Em depoimento, a garota, que garante que todas as relações com o religioso foram consentidas, disse que sugeriu seu primo, então com 19 anos. Na casa de Ourense, o franciscano teria oferecido gim e rum aos jovens e depois pedido que eles tirassem as roupas e fizessem sexo, enquanto fotografava o ato com o celular. Apenas na pasta de mensagens “enviadas” do smartphone do frade, a polícia encontrou 250 fotos de caráter sexual, e em muitas delas figuram ele e a jovem. Ainda em depoimento, a adolescente afirmou que recebia dinheiro de Arias após os encontros sexuais, em quantias que variavam de 100 a 300 euros, provenientes de doações dos fiéis e dos milhares de peregrinos que passavam pelo santuário turístico. A trama só foi descoberta quando uma vizinha alertou a polícia depois de ler uma mensagem provocativa enviada pelo padre a outra jovem do povoado próximo ao templo. O episódio do demônio de Compostela retoma a discussão sobre os casos de pedofilia e abuso sexual na Igreja Católica. Após os primeiros escândalos sobre o tema repercutirem, no início dos anos 2000 (leia quadro), milhares de outras denúncias foram feitas em relação à má conduta sexual de padres em várias partes do mundo. Frente a essas acusações, o combate à pedofilia e ao abuso sexual na Igreja ganhou fôlego sob a regência de Bento XVI e é uma das principais metas do pontificado do papa Francisco. No ano passado, o argentino escreveu a bispos exigindo tolerância zero em casos de abusos, e, pela primeira vez, a Igreja divulgou um balanço da condução interna desses episódios. De 2004 a 2014, 848 padres foram expulsos e 2.575 punidos por relatos de abuso sexual. “Francisco tem defendido a política da transparência e estimulado os bispos a denunciar às autoridades casos de abuso sexual”, diz Brenda Carranza, socióloga da religião e professora da Pontifícia Universidade Católica (PUC) de Campinas. “Dessa forma, ele busca restabelecer a imagem da Igreja e a credibilidade da instituição perante a opinião pública”. Casos como o de Santiago de Compostela, e de muitos que ainda estão escondidos nas sacristias pelo mundo, mostram que esse caminho é longo e tortuoso. 5#3 OBSTÁCULOS À GUARDA COMPARTILHADA Apesar de estar em vigor desde dezembro, lei que garante o convívio igualitário entre filhos e pais separados ainda enfrenta resistência de alguns juízes Paula Rocha e Fabíola Perez O Brasil passou a figurar na vanguarda do direito de família desde dezembro do ano passado, quando entrou em vigor a lei da guarda compartilhada. Após tramitar por quatro anos no legislativo federal, período em que houve intensos debates, estudos e audiências públicas sobre o tema, a lei 13.058/14 tornou obrigatório o convívio igualitário entre filhos e pais separados, mesmo nos casos em que não há consenso entre o ex-casal. A aprovação da medida foi uma vitória para milhares de pais que há anos lutam por uma divisão justa do tempo de convivência com os filhos e representou um grande passo para a justiça brasileira. A nova regra tem o respaldo da comunidade científica internacional, pois assegura o bem-estar de crianças e adolescentes através do contato com ambos os genitores. Apesar dos óbvios benefícios da lei, no entanto, alguns juízes resistem em aplicar a nova medida nos casos em que não há diálogo entre os pais, decisão que pode prejudicar os maiores interessados nessa questão, as crianças. “A resistência de tais juízes incentiva o genitor que não quer dividir a guarda do filho a criar todo tipo de conflito e até falsas denúncias e acusações”, diz Isaac Magalhães, membro da associação “Guarda Compartilhada - Pais em Camisa de Força”, entidade que luta para garantir os direitos de pais e filhos. O drama vivido pelo servidor público Eduardo Toledo, de 39 anos, é um exemplo disso. Em 2013, após se separar da ex-companheira, ele entrou com um pedido de compartilhamento da guarda da filha Maria Eduarda, então com 1 ano de idade. “Para impedir a divisão da guarda, a mãe usou falsas denúncias de agressão e até hoje tenta destruir minha imagem para a criança”, diz. Por causa dessas acusações, o processo ainda não foi concluído e Toledo entrou com um novo pedido de guarda após a vigência da nova lei. “Já são dois anos e meio de luta para obter a guarda compartilhada da Eduarda. Essa nova lei trouxe o reconhecimento do direito da minha filha, que deve poder conviver com o pai e com a mãe de forma igualitária”, diz. Para inibir o desrespeito à lei, o grupo “Pais em Camisa de Força”, que junto com outras associações reúne 60 mil pais de todo o Brasil, está monitorando e listando as sentenças de juízes em casos de requerimento de guarda compartilhada. “Já temos várias favoráveis”, diz Marco Almeida, um dos fundadores do grupo. “Mas estamos observando e catalogando as sentenças para que os juízes que negarem a aplicação saibam que os grupos estão se organizando para fazer cumprir a lei.” Até agora, no entanto, Almeida afirma que a maioria dos juízes tem cumprido a nova norma. Porém, segundo Magalhães, caso a lei continue a ser desrespeitada por uma minoria de juízes, os pais estudam entrar com representações em massa contra o Brasil na Organização dos Estados Americanos (OEA). Os pais de filhos separados ainda contam com o apoio do deputado federal Arnaldo Faria de Sá (PTB-SP), autor do projeto que originou a lei da guarda compartilhada. Sá entrou com um requerimento para uma audiência pública a ser realizada na Câmara dos Deputados com representantes da sociedade civil e do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) para cobrar explicações das autoridades que insistem em não aplicar as leis de proteção dos direitos dos filhos de ex-casais. “As decisões contrárias à guarda compartilhada são um absurdo e só podem ser justificadas pelo conceito ultrapassado que alguns juristas têm de que o filho deve ficar com a mãe”, disse o deputado à ISTOÉ. Sá reforçou que a maioria dos juízes está aplicando a lei, “porém a minoria que não está acaba repercutindo negativamente.” A juíza Jaqueline Cherulli, titular da 3ª Vara Especializada de Família e Sucessões de Várzea Grande, no Mato Grosso, por sua vez, atenta para o fato de que a lei ainda não tem nem dois meses de aplicação. “Acredito que a reclamação dos pais é legítima, porém talvez seja muito cedo para afirmar que a nova lei não esteja sendo aplicada”, disse. A magistrada, que lançou em 9 de março uma cartilha sobre guarda compartilhada com o objetivo de orientar os pais separados, aconselha aqueles que não se sentiram favorecidos por decisões judiciais a recorrerem. “Os casos em andamento serão julgados pela nova lei. Contudo, aqueles já julgados poderão ser revistos somente se uma das partes ajuizar uma nova ação para modificar a guarda estabelecida”, diz. 5#4 A REDESCOBERTA DE CERVANTES Ossada do autor de "Dom Quixote" identificada por cientistas em convento às vésperas dos 400 anos da morte do escritor vai impulsionar turismo na Espanha Raul Montenegro (raul.montenegro@istoe.com.br) O pacato cotidiano das freiras do Convento de las Monjas Trinitarias Descalzas, em Madri, nunca mais será o mesmo. Na terça-feira 17, uma equipe de cientistas de diversas instituições da Espanha anunciou que descobriu em antigas criptas no subterrâneo da edificação a ossada do escritor Miguel de Cervantes (1547-1616), pai do romance moderno e autor de “Dom Quixote”. Com o achado, a prefeitura da cidade – que financiou a pesquisa, orçada em 115 mil euros (cerca de R$ 400 mil) – anunciou que abrirá o local ao público no ano que vem, no aniversário de 400 anos da morte do escritor. Também está sendo estudada a realização de um funeral oficial e a inauguração, ali, de um museu dedicado à memória do literato, o que deve impulsionar o turismo no país. “Você conhece Cervantes lendo sua obra. Mas, com o projeto, nós descobrimos a localização exata de seu sepulcro, além de informações sobre seus últimos dias”, disse à ISTOÉ a arqueóloga Almudena García-Rubio, uma das responsáveis pelo achado. ACHADO - Acima, cientistas trabalham em ossadas: 16 corpos encontrados. Abaixo, o Convento de las Monjas Trinitarias Descalzas, em Madri Os cientistas sabiam que o corpo de Cervantes se encontrava no convento porque documentos históricos atestavam que o escritor havia pedido para ser enterrado no local. Ele possuía uma antiga dívida de honra com os religiosos. Na juventude, provavelmente por ferir um homem durante uma disputa, fugiu para a Itália e se uniu à Marinha espanhola lá aportada. Participou de batalhas e foi baleado. Em 1571, quando voltava para casa, piratas argelinos o sequestraram nas proximidades de Barcelona. Nos cinco anos em que esteve cativo, tentou fugir quatro vezes, mas só foi libertado depois que a ordem ajudou sua família a pagar o resgate. Nas décadas seguintes, levou uma vida errática e até foi preso antes de se estabelecer como homem de letras. Após a morte, seu cadáver foi para o convento, mas esteve perdido desde que o prédio passou por obras para ampliação, no fim do século XVII. Os pesquisadores esperavam encontrar ossos com feridas de guerra compatíveis com as de Cervantes. Em vez disso, acharam um caixão com as iniciais M.C. contendo 16 corpos, roupas e moedas da época em que ele foi enterrado. Afirmam não poder identificar com certeza quais dos restos mortais seriam os do escritor, mas, por conta das evidências históricas e arqueológicas, estão certos de que ele e sua mulher estão no conjunto. “A individualização da ossada de Cervantes, porém, não é possível devido ao mau estado de conservação”, diz a arqueóloga García-Rubio. A próxima etapa da pesquisa será dedicada justamente a descobrir qual dos cadáveres pertence ao literato. Por enquanto, os cientistas afirmam que não é possível realizar o teste de DNA pela falta de descendentes e de restos mortais de parentes para a comparação. “É complicado, mas estamos trabalhando para isso. O projeto agora vai nessa direção”, afirma García-Rubio. 5#5 CONFISSÃO PELA TEVÊ O estranho caso do bilionário americano que admitiu os crimes que cometeu falando a um gravador Luisa Purchio (luisapurchio@istoe.com.br) "Então é isso”, começou a cantarolar o empresário americano Robert Durst ao entrar no banheiro de seu escritório após interromper a gravação de um documentário sobre a sua vida para o canal HBO – a série se chama “The Jinx: The Life and Deaths of Robert Durst” (“O pé frio: a vida e as mortes de Robert Durst”). Na sequência, não mais cantando mas falando sério para si, ele prosseguiu: “Que diabos eu fiz? Matei todos eles, é claro”. Durst sabia que existia um microfone atado à sua roupa, mas se tinha conhecimento ou não de que ele estava ligado, isso é outra história. O fato é que sua fala se transformou em motivo para que a polícia americana reabrisse a investigação de um crime do qual ele sempre foi o principal suspeito: o assassinato em 2000 de Susan Berman, sua amiga e confidente, morta pelas costas com um tiro na nuca. Em sua biografia, no entanto, Durst acumula também a suspeição de ter matado friamente a sua primeira mulher, Kathleen McCormack (1982), e um de seus vizinhos, Morris Black (2001). Entre os psiquiatras forenses que o examinaram, levanta-se a hipótese de que ele sabia que continuava sendo gravado e se auto-sabotou intencionalmente para confessar os homicídios. Na contramão dessa tese pesa o enorme período transcorrido entre os crimes e os dias atuais: se ele não se arrependera antes, por que se arrependeria agora, tantos anos depois? CRIME E CASTIGO - O empresário Robert Durst, de uniforme prisional: ainda há dúvida se ele quis confessar intencionalmente ou não Com 71 anos de idade, filho de empresário do mercado imobiliário (o famoso mafioso Bugsy Siegel, interpretado no cinema por Warren Beatty) e dono de uma fortuna avaliada em R$ 4,4 bilhões, Durst já está preso numa penitenciária adequada a portadores de desordens mentais – o que em nada atenua a sua responsabilidade, segundo a legislação dos EUA, caso ele seja mesmo culpado. Durst, como muitos psicopatas, pode simplesmente não ter resistido ao impulso de ver a sua história contada. “Ele quer expressar quem ele é”, diz o diretor da série “The Jinx”, Andrew Jarecki, que já realizara um primeiro filme (“Entre Segredos e Mentiras”) sobre o mesmo personagem. “Na época Durst me telefonou, disse que o assistira e que chorara três vezes”, lembra Jarecki. “Em seguida sugeriu a gravação do documentário atual”. ___________________________________________ 6# MEDICINA E BEM-ESTAR 25.3.15 6#1 VACINA CONTRA O TÉTANO VIRA ARMA PARA DESTRUIR O CÂNCER 6#2 CORAÇÃO BIÔNICO 6#1 VACINA CONTRA O TÉTANO VIRA ARMA PARA DESTRUIR O CÂNCER Doses do imunizante aumentam de forma expressiva a eficácia do tratamento contra o mais letal tumor de cérebro. Paciente com prognóstico de três meses de vida está viva há mais de oito anos Cilene Pereira (cilene@istoe.com.br) Uma ajuda da vacina contra o tétano – doença grave causada pela bactéria Clostridium tetani – mostrou-se decisiva para aumentar de maneira significativa o tempo de vida de pacientes com o tipo mais letal de câncer cerebral. O imunizante foi adicionado ao tratamento de portadores de glioblastoma, enfermidade cujo prognóstico é geralmente muito ruim. A sobrevida após o diagnóstico é de pouco mais de um ano. A associação da vacina antitétano ao tratamento permitiu, no entanto, que um dos pacientes vivesse quase seis anos mais. Outro, a americana Sandra Hillburn, 68 anos, permanece viva mais de oito anos depois de saber que estava doente. SUCESSO - Kristen e Sampson conduziram a experiência. A recuperação de Sandra (acima) é a que mais chama a atenção A experiência foi feita por médicos da Universidade de Duke (EUA) e relatada na última edição da revista científica Nature. Os cientistas tiveram a ideia de usar o imunizante contra o tétano porque queriam dar mais eficácia à imunoterapia – estratégia cada vez usada contra vários tipos de tumores e que tem como objetivo ativar o sistema de defesa do paciente para atacar as células doentes. Eles prepararam uma vacina a partir de células do sistema imunológico extraídas do doente e transformadas de forma a ajudar as outras células do exército de defesa a destruir o glioblastoma. Estas células foram reinjetadas nos doze participantes do experimento. Antes, porém, parte dos voluntários recebeu duas doses da vacina contra o tétano. O restante teve uma dose administrada. Elas foram ministradas um dia antes da aplicação das injeções da imunoterapia (leia mais no quadro). A diferença no tempo de sobrevida entre os que foram medicados com as duas doses da antitetânica e os que receberam o imunizante uma vez foi expressiva. Entre este último grupo, 50% teve sobrevida de 18,5 meses. Os números entre os imunizados duas vezes são bem diferentes. “Metade viveu entre 4,2 anos e 8,4 anos”, disse John Sampson, líder da pesquisa, que teve a participação de Kristen Batich. O caso de Sandra Hillburn foi o que mais chamou a atenção. Quando recebeu o diagnóstico, em 2006, foi informada de que teria três meses de vida. Hoje, vive cercada pelos cinco netos em New Jersey. Acredita-se que a antitetânica tenha servido como um alarme para deixar o sistema de defesa mais alerta, aumentando a eficiência da imunoterapia. No Brasil, o oncologista Fernando Maluf, chefe do Departamento de Oncologia Clínica do Hospital São José-Beneficência Portuguesa, em São Paulo, acha que o experimento reforça a importância do método. “Suas conclusões fortalecem a estratégia da imunoterapia. Ela será o futuro do tratamento”, afirma. Os médicos planejam expandir o experimento para mais pacientes. “Estamos otimistas quanto à futura aplicação do tratamento”, disse Duane Mitchell, co-autor do artigo sobre a experiência. 6#2 CORAÇÃO BIÔNICO Cientistas americanos testam com sucesso prótese que mantém as funções cardíacas Um coração que não bate. Impulsiona o sangue em vez de bombeá-lo. Um protótipo desse novo coração biônico acaba de ser desenvolvido no Texas Heart Institute, nos Estados Unidos. Seu principal diferencial em relação às próteses criadas até agora é justamente o fato de injetar o sangue no organismo por meio de um sistema que não exige seu bombeamento. Esta capacidade natural do coração é uma das mais difíceis de serem imitadas e diversas tentativas estão sendo feitas ao redor do mundo para tentar reproduzi-la – uma delas usa tecido cardíaco criado a partir de células-tronco. “O coração humano bate em torno de 42 milhões de vezes por ano”, afirma William Cohn, chefe da equipe que desenvolve o aparelho. “Se tentarmos substitui-lo por uma máquina com muitas partes móveis, ela pode se desgastar muito rapidamente”, completa. AÇÃO - Dentro do aparelho, um disco gira entre duas e três mil vezes por minuto para injetar o sangue para o resto do corpo A solução dos americanos foi usar um propulsor que levita devido à força eletromagnética. O sistema garante o aporte necessário de sangue para o organismo e não permite o contato mecânico entre as partes do aparelho. “Evita-se assim seu desgaste precoce”, explica o cirurgião Mauro Leme de Sá, da Universidade Federal do Rio de Janeiro. O protótipo já foi testado em animais, com sucesso. Um mês após o implante, as cobaias foram sacrificadas para que os cientistas conferissem o estado de órgãos como os rins, o cérebro e os pulmões. “Eles estavam sem sinais de qualquer problema”, disse Cohn. No Brasil, pesquisadores do Instituto Nacional de Cardiologia, no Rio de Janeiro, conhecem a estratégia. “Trabalhamos com essa tecnologia, porém não com a prótese total”, informou o cirurgião cardíaco Alexandre Siciliano. “Apenas o suporte para o lado esquerdo, chamado de ventrículo artificial esquerdo”, completou. Na opinião do especialista, embora a opção do coração biônico ainda necessite ser melhor estudada, a tecnologia pode realmente servir como alternativa às demandas de transplantes de coração no futuro. _________________________________________ 7# ECONOMIA E NEGÓCIOS 25.3.15 7#1 OS EMPREGOS SUMIRAM 7#2 MUDARAM AS REGRAS DO DIVÓRCIO 7#1 OS EMPREGOS SUMIRAM Com a economia fragilizada, aumenta o número de pessoas em busca de trabalho. As empresas, no entanto, estão demitindo mais do que contratando Mariana Queiroz Barboza (mariana.barboza@istoe.com.br) O paradoxo de uma economia que cresce pouco, mas mantém o desemprego em baixa começou a ruir. Desde o “Pibão” de 7,5% em 2010, o Brasil não cresce acima de 3% ao ano. Para 2015, as projeções são ainda mais sombrias. Apesar disto, o mercado de trabalho continuava aquecido, sobretudo no setor de serviços, com aumento da formalização, impulsionando o poder de compra dos brasileiros. Agora, em tempos de ajuste fiscal, a situação é diferente. Segundo dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), divulgados pelo Ministério do Trabalho e Emprego na semana passada, fevereiro foi o segundo mês consecutivo com saldo negativo na geração de empregos com carteira assinada. No acumulado em 12 meses, as demissões líquidas já passam de 47 mil. Os números do Caged reforçam a tendência de desaceleração do mercado de trabalho apontada na Pesquisa Mensal do Emprego (PME) e na Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) Contínua. No trimestre encerrado em janeiro, a Pnad mostrou um inchaço da população desocupada, calculada em 6,8 milhões de pessoas, e o indicador de desemprego saltou para 6,8%. No mesmo período de 2014, a taxa foi de 6,4%. A PME, que mede o desemprego em seis regiões metropolitanas, registrou um índice de 5,3% em janeiro – no mesmo mês do ano anterior, estava em 4,8%. Soma-se a esse quadro três elementos: a renda do trabalhador está crescendo menos, a inflação está subindo e o acesso ao crédito, mais restrito. Assim, mais pessoas saem à procura de emprego. Pesquisador da área de Economia Aplicada da FGV/IBRE, Rodrigo Leandro de Moura alerta ainda para o contingenciamento das verbas na área educacional. “A redução de bolsas e das possibilidades de financiamento estudantil pode induzir uma expansão da População Economicamente Ativa”, afirma. “E esse aumento da busca por vagas não tem sido totalmente absorvido pela geração de novos postos de trabalho.” Com o fechamento de 11.101 vagas em fevereiro, o Rio de Janeiro é o Estado mais afetado pelas demissões. Parte da explicação está no setor petroleiro, prejudicado pela paralisação de obras e cortes de investimento da Petrobras. “Neste primeiro momento, a questão da Lava Jato influenciou em redução de emprego”, disse o ministro do Trabalho, Manoel Dias. “A Petrobras pediu que procuremos sindicatos para ver o alcance que teve.” Moura, da FGV/IBRE, diz que o efeito multiplicador que a estatal teve sobre o comércio local e empresas terceirizadas pode ter efeito reverso durante a crise. Também afetada pelas investigações da Lava Jato, a construção civil foi o setor que mais demitiu. A indústria, por sua vez, voltou a contratar, sobretudo no segmento calçadista. Mas na produção de bens de alto valor agregado, como automóveis, a trajetória é oposta. A partir de 30 de março, 4,2 mil operários da fábrica da Volkswagen em Taubaté, no interior de São Paulo, entrarão em férias coletivas. Em Betim, Minas Gerais, a Fiat deu férias coletivas a 10% dos funcionários. A deterioração da economia e a insegurança em relação ao emprego têm espalhado pessimismo. Na quinta-feira 19, uma pesquisa da Associação Comercial de São Paulo mostrou que a confiança do consumidor brasileiro diminuiu em fevereiro. O índice, em 128 pontos, é 17 pontos menor que o do mesmo mês do ano passado. Com mais gente desempregada e com menos dinheiro disponível, a pressão sobre os preços poderia diminuir, provocando um impacto positivo no controle da inflação. Isso, no entanto, tem efeito limitado. Os economistas calculam que os preços administrados, com os dos combustíveis e as tarifas elétricas, têm crescido numa velocidade maior do que os preços livres, como os praticados nos supermercados, têm caído. Na ata de sua última reunião, o Comitê de Política Monetária do Banco Central admitiu que a inflação deve permanecer acima do centro da meta de 4,5% em 2015 e 2016. O mercado prevê o índice ainda mais alto, próximo de 8%. 7#2 MUDARAM AS REGRAS DO DIVÓRCIO O novo Código de Processo Civil determina que casais que desejam se divorciar tentem uma separação amigável antes de entrar na Justiça - em até uma hora o casamento pode ser desfeito em cartório Luisa Purchio (luisapurchio@istoe.com.br) Sancionado pela presidente Dilma Rousseff na segunda-feira 16, o novo Código de Processo Civil, visando rapidez e menos acúmulo de ações no Poder Judiciário, fixa algumas regras para os casais que vão se divorciar. Antes de entrarem com pedido de separação na Justiça, por exemplo, marido e mulher agora têm de tentar obrigatoriamente um desfecho amigável para o casamento (antes isso era facultativo), e tal tentativa pode ocorrer em Cartório de Notas sem que nenhuma das partes pise num fórum. “O número de divórcios extrajudiciais deve aumentar consideravelmente”, diz Andrey Guimarães Duarte, diretor em São Paulo do Colégio Notarial do Brasil. Outra novidade é o resgate da palavra “separação”, fase preliminar que praticamente havia sido extinta: hoje, quem quiser pode valer-se novamente dessa figura jurídica e só depois divorciar-se. _________________________________________ 8# MUNDO 25.3.15 APOSTA NO RADICALISMO Reeleito primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu deve formar uma coalizão ainda mais conservadora, nacionalista, religiosa - e coesa Mariana Queiroz Barboza (mariana.barboza@istoe.com.br) Na terça-feira 17, pouco mais de 4 milhões de israelenses deram seus votos para a composição de um novo Parlamento, numa eleição antecipada pelo primeiro-ministro Benjamin Netanyahu no fim do ano passado. Naquele momento, Netanyahu já dava demonstrações de que intensificaria sua retórica ultraconservadora, com a proposta de transformar Israel num “Estado nação judeu”. Durante a campanha, quando a oposição tocou em temas como o crescimento da desigualdade e o aumento do custo de vida no país, o premiê perdeu o favoritismo e apostou alto na conquista dos votos da direita nacionalista e religiosa. Às vésperas das eleições, invocou uma conspiração para derrubá-lo, disse que ampliaria os assentamentos judeus – considerados ilegais pela comunidade internacional – e não hesitou em abandonar o compromisso de permitir um Estado palestino, que havia assumido em 2009. Depois de reeleito, negou o recuo, mas disse que as circunstâncias impedem uma solução. QUARTO MANDATO - Em visita ao Muro das Lamentações em Jerusalém, Netanyahu (acima) disse estar “emocionado com a grande responsabilidade” de sua vitória. Mas, dessa vez, ele terá que enfrentar uma oposição mais forte. Acima, cidadãos árabes-israelenses comemoram o desempenho da Lista Árabe Conjunta em Nazaré A estratégia funcionou. Ainda que as pesquisas de intenção de voto mostrassem a coalizão de esquerda União Sionista, de Isaac Herzog, na liderança, as urnas confirmaram a vitória do Likud, partido de Netanyahu. Para garantir mais da metade das 120 cadeiras do Knesset (o Parlamento israelense), a coalizão que o primeiro-ministro deve formar nas próximas semanas será provavelmente mais radical que a anterior. Segundo Daniel Levy, diretor do European Council on Foreign Relations, dificilmente o novo governo avançará no processo de paz com os palestinos. “Netanyahu não terá mais ao seu lado uma figura moderada, como foi Tzipi Livni, e isso pode trazer problemas na relação com outros países”, disse à ISTOÉ. Livni, ex-ministra das Relações Exteriores e responsável pelas negociações com a Autoridade Palestina que fracassaram no ano passado, apoiou Herzog. Para Levy, outro ponto que desafia Netanyahu será a necessidade de lidar com uma oposição “mais forte e coerente.” Entre ela, está a Lista Conjunta, sigla formada por três partidos árabes e um socialista, que obteve 14 cadeiras no Parlamento e se tornou a terceira maior força política do país, a despeito dos esforços de Netanyahu. A Lista só se reuniu, numa iniciativa inédita, depois que a lei eleitoral ampliou para 3,25% dos votos a exigência mínima para representação no Knesset. No dia do pleito, o premiê publicou um vídeo com um apelo. “O governo da direita está ameaçado. Os eleitores árabes estão indo às urnas em massa”, disse. Para o líder da lista árabe, Ayman Odeh, “o racismo tem se tornado um fenômeno crescente na política israelense”. A minoria árabe-israelense, que totaliza 1,7 milhão de cidadãos, representa 20% da população do país, mas sua participação política é historicamente abaixo da média geral. Árabes que vivem na Cisjordânia, na Faixa de Gaza e na Jerusalém Oriental não podem votar. Por mais que Netanyahu tenha recebido um voto de confiança dos israelenses, o que significa que o país vai continuar investindo em assuntos como o terrorismo islâmico e o programa nuclear iraniano, Israel não poderá se esquecer de sua agenda doméstica. O país tem 2,5 milhões de pobres, incluindo uma em cada três crianças, segundo a organização de ajuda humanitária Latet, que contradisse a narrativa oficial de que a taxa de pobreza estava em queda. O relatório apresentado no fim de 2014 também mostrou que 76% das pessoas acreditam que combater a miséria seja uma tarefa do governo, mas só 22% pensam que o governo esteja trabalhando nisso. Para eles, o radicalismo não basta. _____________________________________________ 9# TECNOLOGIA E MEIO AMBIENTE 25.3.15 O PRÉDIO SEM SOMBRA Arquitetos criam projeto de arranha-céu que pode ajudar a diminuir o problema da "escuridão à luz do dia" nos grandes centros urbanos Ana Carolina Nunes (acarol@istoe.com.br) A proliferação dos arranha-céus nas grandes cidades pode ter resolvido um problema de falta espaço, mas também criou outros desafios. Um deles é o aumento de áreas cobertas por sombras projetadas pelos espigões. Em Londres (Inglaterra), que planeja erguer 250 grandes edifícios na próxima década – e onde 66% dos dias são nublados –, o efeito colateral da verticalização é ainda mais dramático. Foi essa problemática que inspirou o escritório de arquitetura NBBJ a criar um inovador edifício-conceito batizado de “arranha-céu sem sombra”. A construção, planejada para ocupar um terreno na zona sul londrina, bem ao lado do meridiano de Greenwich, consiste em duas torres espelhadas que atuam como “parceiras”: a maior anula parte da sombra projetada pela menor. PARCEIROS - No projeto do escritório NBBJ, o prédio maior anula parte da sombra do menor Com o uso de um avançado programa de computador (confira quadro), os arquitetos criaram um design em que o prédio mais alto, de 50 andares, “rebate” a luz solar de forma difusa, projetando-a na sombra do outro edifício. O formato mais estreito na base, que se alarga em direção ao topo, somado ao redirecionamento da luz painel por painel, garante que a solução funcione a qualquer hora do dia e em todas as estações do ano. Isso também ajuda a evitar calor intenso ou brilho excessivo no térreo. De acordo com a NBBJ, o projeto reduz em até 50% as áreas sombreadas e pode ser aplicado em qualquer lugar do mundo, independente da latitude. Ainda não há previsão para o início da construção. ____________________________________________ 10# CULTURA 25.3.15 10#1 PICASSO, UMA MOSTRA QUE VAI DEIXAR SAUDADE 10#2 A VERDADEIRA HISTÓRIA DO CONDE DE MONTE CRISTO 10#3 O BEIJO DO VOVÔ 10#4 EM CARTAZ – CINEMA - FUTURO INCERTO 10#5 EM CARTAZ – REDES SOCIAIS - DO VIRTUAL PARA O REAL 10#6 EM CARTAZ – DVD - A VIRADA DE HITCHCOCK 10#7 EM CARTAZ – LIVRO - NUM RABO DE FOGUETE 10#8 EM CARTAZ – POESIA - UM POETA CONTRA A ESTUPIDEZ 10#9 EM CARTAZ – AGENDA - FINGIDOR/KRUM/ABELARDO 10#1 PICASSO, UMA MOSTRA QUE VAI DEIXAR SAUDADE Com a alta do dólar, a coleção vinda do Museo Reina Sofía, da Espanha, pode ser a última do ciclo de ouro que colocou o Brasil no centro do circuito exibidor de arte no planeta Ana Weiss (ana.weiss@istoe.com.br) Vai longe o tempo que o Brasil penava para conseguir emprestadas obras dos grandes acervos de arte internacional. Da exposição de esculturas de Auguste Rodin em 1995 (150 mil visitantes em 38 dias) em diante, ficou provado para os responsáveis pelas mais valiosas coleções do mundo que o País tem todas as condições técninas de receber e exibir, como também talento para promover e divulgar montagens que por muitas razões deixam raramente a segurança de suas casas oficiais. Nos últimos anos, o Brasil quebrou todos os recordes mundiais de visitação a exposições itinerantes, sendo a maior de todas, marcando 1,2 milhão de pessoas, “A Magia de Escher” realizada em diferentes espaços e cidades brasileiras. Este ano, porém, um vento mudou a paisagem favorecida pelas leis de incentivo fiscal para quem patrocina arte: a disparada do dólar. A mostra “Picasso e A Modernidade Espanhola”, que abre para o público na quarta-feira 25, no Centro Cultural Banco do Brasil de São Paulo, apesar do nome, traz apenas quatro pinturas do cubista. Fora isso, obras consideradas menores, como gravuras e estudos (pedaços de esboços) que ele fez para a criação do mais político de seus trabalhos, a tela “Guernica”, que veio inteira uma única vez para o Brasil, em 1953 para a 2ª Bienal de São Paulo. Maria Ignez Mantovani, diretora da Expomus, que traz o conjunto emprestado do Museo de Arte Reina Sofía, enxerga um momento de paralisação nos projetos expositivos: “É uma pena, pois o Brasil havia se tornado um dos players do circuito internacional. Foi uma conquista de muitas décadas de investimento em confiança e formação profissional e de público”. Para Maria Ignez, a tendência é que os produtores, captadores e patrocinadores se arrisquem muito menos daqui pra frente. Por esse crivo, projetos contemporâneos como a vinda do australiano Ron Mueck, que levou 4.178 pessoas por dia à Pinacoteca do Estado de São Paulo e explodiu a contagem de mídia espontânea nas redes sociais, não serão viáveis nos próximos tempos. “Se o dólar continuar nessa toada, é possível que tenhamos de levar mais arte brasileira para fora, do que trazer arte de fora para o Brasil”, diz a diretora. RESUMO - Mostra que abre em São Paulo reúne apenas cinco pinturas de Pablo Picasso, como “O Pintor e a Modelo”, tela de 1963 (abaixo). Do célebre painel “Guernica” (acima), tela criada sob o impacto do bombardeio de Hiltler à cidade de mesmo nome em 1937, vem apenas alguns dos esboços, como “Cabeça de Cavalo” (no destaque) Pieter Tjabbes, diretor da Art Unlimited, realizador da mostra de Escher no Brasil, está na fase de aprovação de empreitada que trará coleção de primeira grandeza de Patrick Mondriand ainda este ano. Mas quando começou a escrever o projeto para a vinda das 70 obras (quase todas nunca vistas por aqui), o dólar girava em torno de R$ 2. Hoje, ele não baixa da casa dos R$ 3,20. “O transporte das peças e das equipes de apoio, uma das etapas mais onerosas do projeto é calculado em dólar. Evidentemente teremos de fazer adequações”, diz ele. Os ajustes podem significar, segundo os produtores de exibição de arte ouvidos por ISTOÉ, um enxugamento das mostras já orçadas (menos obras) e, mais adiante, a redução do número de exposições internacionais (menos eventos). “Operamos como importadores e, nesse cenário econômico, o nosso lado do balcão é que se encolhe. Não se pode contar com uma compreensão dos fornecedores externos, vitais no tipo de trabalho que trazemos, em baixar os seus preços diante da queda tão vertiginosa da nossa moeda”, diz Tjabbes. “Da mesma forma que é compreensível que os patrocinadores apertem os cintos, é certo que vamos ter de trabalhar com menos.” O Louvre, principal museu da França e um dos maiores do mundo, encomendou uma pesquisa que detectou o brasileiro como seu segundo maior público estrangeiro. De acordo com o levantamento, o turista daqui – esse mesmo que fica cinco horas numa fila sob o sol para ver a obra de uma japonesa que vive numa clínica psiquiátrica (Yayoi Kusama, 522 mil visitantes) — é o que mais se informa sobre o que vê e o único que gasta mais de um dia de viagem para visitar o museu. Ainda que não seja um problema dos fornecedores estrangeiros, a desvalorização do Real vai minguar a nossa invejável programação expositiva, ao mesmo tempo que reduzirá o número de brasileiros que dedicam suas férias fora do país a conhecer arte. Um verdadeiro “perde, perde” para a arte. 10#2 A VERDADEIRA HISTÓRIA DO CONDE DE MONTE CRISTO Chega ao Brasil a premiada biografia do pai de Alexandre Dumas. Ele foi o primeiro general negro do Ocidente e inspirou a obra do filho Daniel Solyszko (daniel@istoe.com.br) Filho de um conde falido e uma escrava negra, Thomas-Alexandre Dumas (1762-1806) nasceu no Haiti colonial e foi vendido ainda criança pelo pai. Em Paris, fez carreira brilhante como militar. Lutou na Revolução Francesa e se tornou um importante parceiro de Napoleão, que, depois, enciumado pelo reconhecimento cada vez maior do colega alto e forte, decidiu tirá-lo do caminho. O herói, por isso, passou o final da vida encarcerado e morreu miseravelmente na pequena cidade de Villers-Cotterêts. RACISMO - O general Thomas-Alexandre Dumas (acima) como seu filho, escritor Alexandre Dumas (abaixo) sentiu a segregação na pele Sua existência estaria completamente enterrada, não fosse seu filho, o escritor Alexandre Dumas, ter se inspirado na figura do pai para escrever romances como “O Conde de Monte Cristo” e “Os Três Mosqueteiros”. Mas a verdadeira história do militar habilidoso só veio à luz em 2013, quando o historiador Tom Reiss descobriu, naquela mesma cidadezinha francesa onde morreu o pai de Alexandre Dumas, um cofre trancado com documentos, diários e cartas que mostram que o general lutou e matou muito mais do que um filho poderia admitir. Tom Reiss ganhou o prêmio Pulitzer de biografia em 2013 com a obra, que agora chega ao Brasil pela Editora Objetiva. Em entrevista à ISTOÉ, Reiss conta que levou mais de cinco anos para encontrar todas as peças do quebra-cabeças. Uma delas, um documento em frangalhos, mostra que o conde chegou a passar pela fila da guilhotina comandada por Maximilien de Robespierre, graças à proximidade que tinha a alguns círculos aristocráticos no início da Revolução Francesa, um curto período de tolerância racial no país de seu pai. “A maioria das cartas e documentos estava escondida em caixas empoeiradas em porões, e não facilmente disponíveis em bibliotecas. O tipo de coisa que você só encontra viajando”, diz. Em uma dessas viagens, ao Musée Alexandre Dumas, em Villers-Cotterêts, Reiss encontrou o material mais imporante para o trabalho. Tão pequeno e esquecido o museu, que a museóloga responsável tinha morrido com o segredo de um cofre que pertenceu à família Dumas. O biógrafo explodiu o compartimento e dentro dele encontrou alguns dos materiais mais importantes para o livro como uma carta escrita durante seu período na prisão para a mulher. “Desse relato, Alexandre Dumas tirou toda a base do romance ‘O Conde de Monte Cristo’”, arrisca Reiss. A única referência direta ao pai, segundo ele, está nos livros de memória de Alexandre Dumas. “Mas são passagens absolutamente fantasiosas”, diz o escritor, destacando o fato de o filho esconder a cor da pele do pai, que retratou também em seus romances como branco. “Ele fez isso porque ainda era muito perseguido. Mesmo tendo apenas um quarto de descendência negra, ele era chamado pela imprensa da época de ‘canibal africano’”, afirma Reiss, fã confesso do ficcionista. “A França se vê como um país liberal, mas na realidade a comunidade negra se sente completamente marginalizada. Quando meu livro foi publicado lá houve uma incrível reação de espanto. Ouvi relatos de que muitos negros chegaram a chorar ao saberem pela capa do livro que houve um herói negro na história francesa”. Certamente não foi o único. 10#3 O BEIJO DO VOVÔ Gene Simmons, líder do Kiss, se prepara para reencontrar o seu público mais numeroso e mais quente: o brasileiro Daniel Solyszko (daniel@istoe.com.br) Para Gene Simmons, o maquiadíssimo vocalista do Kiss, o rock morreu. Ainda assim, ele continua a animar multidões com a banda de sexagenários que volta ao Brasil no mês que vem para o Monsters Of Rock, mais de 30 anos depois de lotar o Maracanã. “Ninguém paga mais por música. Não são as corporações que estão matando as novas bandas, são os próprios fãs”, diz ele em entrevista à ISTOÉ. “O rock morreu. Mas nossa base de fãs nos segura.” MONSTRO - Gene Simmons encarnado em "The Demon", identidade que usa nos palcos. A banda toca em São Paulo, em 26 de abril. A primeira visita ao País, em junho de 1983, reuniu 200 mil pessoas no estádio carioca, a maior platéia do grupo até hoje. “Foi maravilhoso, mas não podíamos ir a lugar algum, ficamos presos no hotel por conta dos paparazzi e as centenas de fãs”, lembra. O feito não se repetiu nas três visitas seguintes. Menos polêmico que em outras turnês, Simmons diz que se pacificou com o amor. O também baixista, que gostava de listar as mulheres com quem teria feito sexo (hoje ele contabiliza 4.870 pessoas), encontra-se, nos altos de seus 65 anos, muito bem casado. “Resolvi me casar quando fiz 62. A maioria dos homens não deveria fazer isso até envelhecer. Quando você é novo, é muito estúpido”, diz ele, que porém, sente falta das “garotas quentes” do Brasil. Sobre a tese de que a maquiagem do grupo teria sido copiada do brasileiro Secos & Molhados, ele nega. Mas o fato é que o grupo brasileiro lançou o primeiro disco, estampando a pintura quase identica a do Kiss, em 1973, no mesmo ano que a banda americana apareceu. Judeu nascido em Israel, Simmons chegou a chamar o islamismo de cultura vil. Hoje ameniza a declaração. “Os muçulmanos são pessoas maravilhosas e o Alcorão é um livro que ensina amor e compreensão. Mas como em toda cultura há pessoas más”, filosofa o músico que há mais de 40 anos sobe aos placos atrás do personagem chamado por ele de “The Demon”. 10#4 EM CARTAZ – CINEMA - FUTURO INCERTO Ana Weiss (ana.weiss@istoe.com.br) Grande vencedor do último Festival de Brasília, “Branco Sai, Preto Fica” levou o Candango de Melhor Filme misturando técnicas de documentário com ficção científica. O filme mostra como seria ver a realidade racista em um futuro distante: sobreviventes de um tiroteio em baile de música black, que de fato aconteceu em 1986, encontram um enviado do futuro com a missão de evitar que o País caia nas mãos do totalitarismo. Em seu segundo longa-metragem de ficção, o diretor Adirley Queirós, morador em Ceilândia, cidade satélite de Brasília na qual foi jogador de um pequeno time de futebol, parte de um episódio real para criar uma realidade alternativa pouco diferente da vida real – decisão de risco muito bem apoiada pela força das imagens, da originalidade do tema e excelente desempenho de um elenco não profissional composto também por moradores de Ceilândia. +5 filmes ambientados em Brasília Faroeste Caboclo Baseado na canção de mesmo nome da banda Legião Urbana, o filme (foto) conta a trajetória de João de Santo Cristo Insolação Longa de Felipe Hirsch e Daniela Thomas sobre casais que confundem a sensação de insolação com o início da paixão A Concepção José Eduardo Belmonte dirige a história de três jovens que embarcam em uma seita espiritual Doces Poderes Filme de Lúcia Murat sobre jornalista (Marisa Orth) que assume sucursal de um canal de televisão na capital do Brasil A Idade da Terra Mauricio do Valle circula pela cidade como um imperialista que amaldiçoa o País, no último filme de Glauber Rocha 10#5 EM CARTAZ – REDES SOCIAIS - DO VIRTUAL PARA O REAL O livro de fotografia da artista plástica Gabriela Machado é mais que um olhar poético sobre o cotidiano da autora Ana Weiss (ana.weiss@istoe.com.br) O livro de fotografia da artista plástica Gabriela Machado é mais que um olhar poético sobre o cotidiano da autora. Ele é também o primeiro impresso a reunir imagens a partir da maior rede de compartilhamento de fotografias do mundo, o Instagram. Com linguagem de diário fotográfico, o volume traz um tratamento cromático suave e um olhar delicado para apresentar em 211 fotos a intimidade de Gabriela. O trabalho pioneiro da artista recebeu elogios de Julien Frydman, diretor da Paris Photo, em evento realizado na capital francesa no final de 2014. “Rever” foi coeditado pelas editoras Madalena e Terceiro Nome. Será lançado no mês que vem no Brasil durante a Feira Internacional de Arte de São Paulo, a SP-Arte. Por Fernanda Segabinassi 10#6 EM CARTAZ – DVD - A VIRADA DE HITCHCOCK Ana Weiss (ana.weiss@istoe.com.br) Alfred Hitchcock é homenageado em uma caixa da Versátil com os principais filmes do final de sua fase inglesa e início da produção nos EUA. Os dois primeiros carregam temas da Grande Depressão: “O Homem Que Sabia Demais” (1934) e “Os 39 Degraus” (1935). A caixa trás ainda “Rebecca, A Mulher Inesquecível” que lhe valeu o único Oscar de Melhor Filme, em 1940. Outros dois títulos apresentam a 2ª Guerra Mundial como pano de fundo: “Correspondente Estrangeiro” (1941) e “Interlúdio” (1946) 10#7 EM CARTAZ – LIVRO - NUM RABO DE FOGUETE Ana Weiss (ana.weiss@istoe.com.br) Uma das intérpretes mais importantes da MPB, Elis Regina tem a vida recontada pelo jornalista Julio Maria na biografia “Elis Regina – Nada Será Como Antes”. Fruto de quatro anos de pesquisa e mais de 100 entrevistas com pessoas que conviveram com a Pimentinha, que faria 70 anos na terça-feira 17, a narrativa percorre da infância em Porto Alegre, a revelação de sua voz na Rádio Farroupilha, até a morte trágica motivada pelo consumo excessivo de álcool e cocaína, em 1982. 10#8 EM CARTAZ – POESIA - UM POETA CONTRA A ESTUPIDEZ Ana Weiss (ana.weiss@istoe.com.br) Autor de 18 livros de poesia, Manoel de Barros costumava dizer que o poeta não precisa ser um intelectual, mas “é necessariamente um sensual”. A primazia dos sentidos e o retorno à liberdade da infância são elementos presentes em “Meu Quintal é Maior Do Que o Mundo”, antologia inédita de poemas publicada agora pela Alfaguara, que apresenta as diferentes fases de Manoel de Barros em muito bem-vinda ordem cronológica. A edição traz uma carta escrita pelo filólogo Antônio Houaiss em 1992 sobre o autor mato-grossense, morto em novembro do ano passado. Para Houaiss, a produção de Barros era um filtro contra a arrogância, a estupidez, a cobiça e a burrice. 10#9 EM CARTAZ – AGENDA - FINGIDOR/KRUM/ABELARDO Confira os destaques da semana Ana Weiss (ana.weiss@istoe.com.br) O Fingidor (Tucarena, em São Paulo, até 19/4) Reestréia da peça de Samir Yazbek sobre os últimos dias da vida do poeta português Fernando Pessoa Krum (Oi Futuro Flamengo, no Rio de Janeiro, até 26/4) Peça da Companhia Brasileira de Teatro sobre israelense que re­­­­tor­­­na ao país após viajar pela Europa Abelardo da Hora – 90 Anos de Arte (Caixa Cultural, em São Paulo, SP, até 10/5) Exposição em homenagem ao artista plástico pernambucano, morto no ano passado. _____________________________________________ 11# A SEMANA 25.3.15 por Antonio Carlos Prado e Elaine Ortiz "US$ 1 BILHÃO NO VERMELHO" O empresário Eike Batista, que já foi o homem mais rico do Brasil e sétima fortuna do mundo, começou a semana declarando publicamente que “em termos líquidos estou com patrimônio negativo de US$ 1 bilhão”. Na quarta-feira 18, em tese, ele entrou no vermelho em mais R$ 1,4 milhão – valor da multa decorrente de condenação em quatro processos administrativos junto à Comissão de Valores Mobiliários (CVM). A CVM o multou porque entende que ele foi pouco claro nos comunicados ao mercado no momento em que operava uma atípica movimentação de compra e venda de ações e demais papéis. Em sua defesa alegou-se que muitas dessas operações não foram divulgadas porque corria-se o risco de perda de oportunidades que eventualmente poderiam salvar suas empresas que navegavam num período crítico. Tomando-se a cotação do dólar a R$ 3,30 na quinta-feira, a multa não parece ser preocupante: é troco diante do vermelho na casa dos R$ 330 bilhões que ele declarou no início da semana. "OS PROBLEMAS DE UMA ESTUDANTE MUÇULMANA NO EXAME DA OAB - E APENAS POR USAR O VÉU RELIGIOSO" As regras do concurso da Ordem dos Advogados do Brasil, ao qual todo bacharel em Direito tem de se submeter para o exercício da profissão, proíbem que os candidatos usem “acessórios de chapelaria” durante o exame. O véu chamado hijab que esconde cabelos, parte do rosto, orelhas e pescoço das mulheres muçulmanas se enquadra entre tais acessórios, segundo organizadores da prova. Daí nasceu uma das maiores polêmicas vistas até hoje nesse concurso. Charlyane Silva de Souza foi ao exame na semana passada, em São Paulo, trajando o hijab e se recusou a tirá-lo alegando que a peça integra a sua cultura e religião: “Não é um acessório, é uma vestimenta”. Charlyane diz que teve de mudar de sala com a prova já iniciada (pois só tiraria o véu num ambiente em que estivesse sozinha, jamais em público) e tudo isso a constrangeu e consumiu-lhe uma hora do exame. A OAB afirma que a tratou de forma igualitária, já que véus são proibidos, e que todo o procedimento não demorou mais que 15 minutos. "OVOLÃO CUBANO" Mensalão. Petrolão. Ovolão. Esse último esquema de corrupção não aconteceu no Brasil – ou, pelo menos, ainda não. Em Cuba, porém, já é uma realidade, e na semana passada a Justiça condenou 18 funcionários públicos envolvidos no furto de oito milhões de ovos de empresas estatais (as penas vão de cinco a 15 anos de prisão). É o ovolão, gerado na Empresa Provincial de Comércio, a ovobras cubana. O impacto econômico do crime ocorrido em 2012 é de aproximadamente US$ 356 mil. Erros contábeis, prevaricação e alterações de rotas de comercialização foram algumas das artimanhas utilizadas pelos corruptos e corruptores no esquema de enriquecimento ilícito. O ditador Raul Castro reiterou que a corrupção é um “câncer que afeta a ilha”. "R$ 1 MILHÃO" R$ 1 milhão é o valor da indenização que o presidente do PRTB e ex-candidato à Presidência da República Levy Fidelix terá de pagar a entidades que representam a comunidade LGBT. Durante a campanha política, Fidelix associou a homossexualidade à pedofilia e disse que gays precisam de atendimento psicológico “bem longe daqui”. Ele vai recorrer da decisão da Justiça de São Paulo. "JOVENS QUE MATARAM CINEGRAFISTA COM ROJÃO SE LIVRAM DA ACUSAÇÃO DE ASSASSINATO" Os jovens Caio de Souza e Fábio Raposo, ambos de 23 anos de idade e que estavam presos por terem acendido e disparado o rojão que em fevereiro de 2014 matou no Rio de Janeiro o cinegrafista Santiago Andrade numa manifestação contra o governo federal, não mais serão julgados por homicídio qualificado – crime que, em caso de condenação, poderia levá-los a cumprir entre 12 e 30 anos de reclusão. Desembargadores que julgaram o caso entenderam que se trata apenas de crime de “explosão seguida de morte” com pena de dois a oito anos de prisão. A rigor, Caio e Fábio não tinham a intenção de matar ninguém mas assumiram o risco de fazê-lo ao soltarem o rojão na manifestação – nada diferente de um motorista bêbado que atropele e mate ou de um maluco que invada uma escola, dispare bombas a esmo e acabe assassinando crianças. Também nesses dois casos a Justiça diria que não é homicídio? O Ministério Público vai recorrer da decisão e eles podem voltar para a cadeira. "AMAMENTAÇÃO PARA O SUCESSO" Um estudo brasileiro inédito acaba de receber pleno acolhimento na comunidade científica internacional – e foi publicado na quarta-feira 18 na revista “The Lancet Global Health”. Trata-se de pesquisa desenvolvida ao longo de três décadas pela Universidade Federal de Pelotas (RS) demonstrando que crianças amamentadas por mais de um ano de vida apresentam escolaridade 10% superior em relação aos bebês que receberam por menos de um mês o leite materno. Mais: crianças que passaram por um período maior de amamentação conquistam, quando adultas, melhores funções profissionais e ganham em média salário 33% mais alto em relação a adultos não amamentados na infância. “Havia dúvidas se o efeito da amamentação sobre a inteligência e o desenvolvimento cerebral atingiria a vida adulta”, diz o pesquisador Bernardo Hortas, um dos coordenadores do estudo. “Os resultados agora mostraram que sim”. "DILMA É SATIRIZADA NO CANAL HBO" O programa humorístico americano “Last Week Tonight”, do canal HBO, satirizou durante três minutos na semana passada a presidente Dilma Rousseff. O seu apresentador, o comediante John Oliver, fez panelaço no ar, transformou Dilma em personagem do filme “Homens de Preto” e disparou: “Você precisa de uma enorme empresa de construção só para fazer um banco grande o suficiente e esconder toda a propina (...) e a menos que você esteja prestes a usar no País um desses apagadores de memória dos “Homens de Preto”, eu não acho que as pessoas vão esquecer”. "PRISÃO PARA QUEM FORNECER BEBIDA ALCOÓLICA A MENORES DE 18 ANOS" Quem vender, fornecer, servir, ministrar ou entregar bebida alcoólica a menores de 18 anos poderá ser preso por até quatro anos e pagar multas que variam de R$ 3 mil a R$ 10 mil, além de ter o estabelecimento comercial interditado. A lei entrou em vigor na quarta-feira 18 e altera o Estatuto da Criança e do Adolescente. Será estendida a demais produtos que causam dependência física e/ou psicológica. "O INSANO ESTADO ISLÂMICO VOLTA A ATACAR" O terror do Estado Islâmico avança pelo mundo de maneira assustadora: cabeças cortadas, pessoas queimadas vivas, crianças atirando em prisioneiros, cartunistas mortos para coibir a liberdade de expressão, obras de arte destruídas apagando-se da história importantes civilizações – e agora turistas assassinados a tiros. Foi isso que aconteceu na semana passada no Museu do Bardo, principal atração turística de Túnis, capital da Tunísia. Ao todo morreram 23 pessoas, 20 delas turistas de diversos países. Outros 50 visitantes do museu ficaram feridos. Na quinta-feira 19 o EI reivindicou a autoria da ação e classificou o atentado como “ataque abençoado contra um dos lares infiéis na Tunísia muçulmana”. "O RELÓGIO DE US$ 40 MILHÕES" É conhecido por “Fascinação”, e realmente fascina, um relógio avaliado em US$ 40 milhões (cerca de R$ 131 milhões). A peça é da joalheria britânica Graff e cravejada de diamante brancos. Brilhou na semana passada como a grande vedete na maior feira anual da indústria de relógios, que reúne fabricantes de todo o mundo na cidade suíça de Basileia. "PETROBRAS ESTÁ FORA DO ÍNDICE DE SUSTENTABILIDADE" Mais uma sequela da corrupção na Petrobras: ela foi retirada do Índice Dow Jones de Sustentabilidade, do qual fazia parte desde 2006. A partir dessa segunda-feira 23 a estatal não mais terá o selo outorgado pelo Dow Jones Sustainability Index World (DJSI World) que avalia práticas de gestão social, ambiental e econômica em todo o mundo. "A HISTÓRIA DO APARTAMENTO DE DARCY RIBEIRO" O ex-senador Darcy Ribeiro foi um dos mais conceituados antropólogos do Brasil e da América Latina. Morreu em 1997 e deixou para a sua mulher, Berta Gleizer Ribeiro, o apartamento que era do casal no Rio de Janeiro. Berta faleceu menos de um ano depois e o imóvel acabou sendo usufruído por funcionários da Justiça, que o manteve sob a sua guarda durante o inventário – mais especificamente por esposas de servidores. Localizado em Copacabana, com 276 metros quadrados e avaliado em R$ 3,8 milhões, seu aluguel seria de cerca de R$ 5 mil, mas foi locado por R$ 800. Segundo a Central do Inventariante Judicial não há irregularidade em se alugar tais imóveis a funcionários do Poder Judiciário. O apartamento (que possui uma das mais completas bibliotecas de antropologia) está agora com um sobrinho de Darcy. "23,3%" 23,3% dos rios de 6 estados brasileiros possuem qualidade de água ruim ou péssima, segundo o levantamento da ONG SOS Mata Atlântica. O percentual de amostras de água de qualidade regular subiu de 30,2% para 50,9%. "DESCOBERTO O PRIMEIRO POEMA DE MACHADO DE ASSIS" Um tesouro literário, não pela consistência do texto mas por ser ele de quem é, foi encontrado no site da Hemeroteca Digital Brasileira que reúne obras de Joaquim Maria Machado de Assis (1839-1908), um dos principais escritores do Brasil e do mundo. No site está quase tudo que foi selecionado pelo pesquisador francês Jean-Michel Massa, atento estudioso dos escritos de juventude do autor. Coube ao professor de pós-graduação em literatura Wilton Marques, da Universidade Federal da cidade paulista de São Carlos, descobrir nele um poema inédito de Machado feito aos 15 anos de idade. Chama-se “O Grito do Ipiranga” e segue o ideário romântico. É texto de adolescente. Tem no entanto o valor histórico de ser, provavelmente, o primeiro que ele publicou em sua vida.