0# CAPA 22.10.14 ISTOÉ edição 2343 | 22.Out.2014 [descrição da imagem: fundo preto e sobre ele uma mão, aberta, formada por frases como CORRUPÇÃO, COMPRA DE VOTOS, MESALÃO, CPI DOS CORREIOS, PROPRINODUTO, DINHEIRO NA CUECA, ONGS DE LARANJA, PETROBRAS, INDÚSTRIA DOS SINDICATOS...] VOCÊ ACEITA ISSO? [parte superior da capa] PESQUISA ISTOÉ / SENSUS AÉCIO 13 PONTOS NA FRENTE _______________________ 1# EDITORIAL 2# ENTREVISTA 3# COLUNISTAS 4# BRASIL 5# COMPORTAMENTO 6# MEDICINA E BEM-ESTAR 7# ECONOMIA E NEGÓCIOS 8# MUNDO 9# TECNOLOGIA E MEIO AMBIENTE 10# CULTURA 11# A SEMANA _____________________________ 1# EDITORIAL 22.10.14 "DE ONDE VEM O GOLPE?" Carlos José Marques, diretor editorial A visível decadência moral do Estado ganhou contornos assombrosos quando a própria presidenta da República, Dilma Rousseff, veio a público para chamar de “golpe” a divulgação dos depoimentos de delatores sobre o maior esquema de assalto já montado em uma estatal brasileira, que sangrou os cofres da Petrobras em bilhões de dólares para financiar partidos aliados do governo. Registre-se que a presidenta e aspirante à reeleição, Dilma, considerou estarrecedor não o roubo revelado e confessado, mas a liberação dos áudios – de resto, feita de maneira absolutamente legal e legítima. O processo não corre em segredo de justiça e trata-se, portanto, de informação sob domínio público. O PT não se conformou e passou a enxergar manipulações, tachando a denúncia de conspiração das instituições com o objetivo diabólico de sabotar a candidatura oficial. Há algo de muito perigoso quando dirigentes da Nação partem para a afronta gratuita aos demais poderes constituídos. O patrono da legenda do PT, o ex-presidente Lula, resolveu por sua vez lançar um deboche escrachado: “Estou de saco cheio dessas denúncias!”, disse em um tom de indignação que não se vê quando as denúncias recaem sobre seus adversários. O que se assistiu daí por diante foram truques de cena, com o Partido dos Trabalhadores em ataques abertos ao juiz responsável, Sergio Moro, como tática diversionista para confundir e tirar o foco das delinquências cometidas na maioria das vezes a seu favor. Comportamento idêntico a agremiação e seus quadros tiveram para encobrir os malfeitos do mensalão, um escândalo que negam até hoje, mas que levou para a cadeia várias de suas estrelas, como o ex-ministro e “chefe da quadrilha”, José Dirceu. No atual episódio causam estranheza as declarações da presidenciável, alegando que seu governo apura a fundo os escândalos, em claro contrassenso com as manobras para abafar o caso – esse e os demais –, demonstrando a pouca seriedade das afirmativas. No afã de seu projeto de poder parece haver uma disposição seletiva do governo em propagar acusações aos “inimigos”, acobertar desvios próprios e dos amigos (mesmo os condenados) e engavetar investigações que contrariem seus interesses. Flerta-se assim com o autoritarismo. Algo latente em ações e reações como a que teve a candidata Dilma ao dizer que em eleição se pode “fazer o diabo”. A esquadra de marqueteiros não mede esforços nesse sentido. Deu para notar que os escrúpulos foram para as calendas nessa campanha e um festival de mentiras ganhou corpo com o intuito de destruir reputações – de Marina Silva a Eduardo Campos, muitos sentiram o peso da artilharia petista, no que pode ser interpretado, esse sim, como o autêntico golpe pelo poder a qualquer preço. Extrapolando os limites de civilidade, apelando a toda sorte de desvios éticos e apoiando-se no fisiologismo desavergonhado do toma lá dá cá – que une no mesmo arco de alianças para reeleger Dilma personagens que vão de Collor a Maluf –, o Partido dos Trabalhadores consagrou o vale-tudo. Há no seio da sociedade um crescente sentimento de repulsa a esse modus operandi do PT e é ele que move o desejo pela mudança. Sem golpes, democraticamente, nas urnas. ___________________________________ 2# ENTREVISTA 22.10.14 FERREIRA GULLAR - "A CONTINUAÇÃO DO PT NO PODER É UM DESASTRE" O poeta e mais novo imortal da Academia Brasileira de Letras (ABL) fala de sua decepção com o Partido dos Trabalhadores e afirma que fazer poesia não depende de sua vontade por Eliane Lobato PRESENTE - Ex-comunista, exilado na ditadura, ele conta que seu hobby é pintar, desenhar, fazer colagens O poeta maranhense Ferreira Gullar, 84 anos, acaba de ser eleito imortal da Academia Brasileira de Letras (ABL), depois de décadas recusando a honraria. Recebeu 36 dos 37 votos, sendo um em branco. Ele aceitou ocupar a cadeira 37, que pertenceu ao presidente Getúlio Vargas (1882-1954) e ao jornalista e empresário Assis Chateaubriand (1892-1968), simplesmente porque ela foi ocupada, por último, por seu amigo e também poeta Ivan Junqueira, falecido em julho. Mas a eleição que o mobiliza, atualmente, é a presidencial. Notório crítico do Partido dos Trabalhadores, ele diz que “a saída do PT do poder é uma revolução para o Brasil”. "Tenho criticado o governo do PT. Torci pela Marina no primeiro turno, mas agora é o Aécio. Eu o conheço" Após ter votado em Marina Silva (PSB) no primeiro turno, Gullar, agora, optou por Aécio Neves (PSDB). Ex-comunista e ex-exilado pela ditadura, o poeta concorda que o ideal de sociedade mais justa é difícil de ser alcançado, mas defende que ele seja perseguido por todas as pessoas de boa-fé. Residente no mesmo apartamento há décadas, no bairro de Copacabana, na zona sul do Rio de Janeiro, ele se diz feliz na companhia de muitos livros, quadros e da gata, cujo nome é Gatinha. "José Sarney foi meu colega de juventude, fazemos parte da geração que mudou a literatura maranhense. Faço questão de não me envolver com a política do Maranhão" Istoé - O sr. escreveu, antes do primeiro turno, que esta eleição é das mais imprevisíveis e tumul­tuadas. Continua achando? Ferreira Gullar - Acho que o Aécio (Neves-PSDB) tem chances de ganhar. Pode ser que não ganhe, mas acompanhe: quem votaria na Dilma (Rousseff-PT) no primeiro turno já votou. O Aécio, porém, teve seus votos divididos com a Marina (Silva-PSB). Então, agora, quem tem possibilidade de crescer é ele. Acho que a margem de crescimento dela é muito pequena. É, aliás, o que eu desejo. Desejo que a Dilma perca a eleição. Doze anos no poder não tem cabimento, e ainda quer ficar mais! Istoé - O sr. também acha que os 20 anos do PSDB em São Paulo são um exagero? Ferreira Gullar - Só que não tem essa safadeza, essa corrupção toda. O Geraldo Alckmin (PSDB) é um homem limpo. Istoé - O sr. vota em Aécio porque acredita que ele é a melhor opção ou porque ele é oposição ao PT, que o sr. critica tão fortemente? Ferreira Gullar - São duas coisas: primeiro, alguém tem que substituir o PT, chega de PT. Segundo, não tenho dúvida de que o Aécio é essa pessoa. Pelo governo que fez em Minas Gerais, acho que ele não é um irresponsável, pelo contrário. Deu uma prova admirável quando caiu nas pesquisas, ficou com menos de 20%, mas continuou na batalha, dizendo que ia para o segundo turno, que ia ganhar. Achei aquilo curioso. Achei que ele estava querendo apenas não jogar a toalha, não se dar por vencido. Mas não, ele mostrou uma capacidade, uma raça que é coisa muito positiva. E o Brasil precisa de uma pessoa assim, dada a situação que o PT criou para o País. Istoé - Qual situação? Ferreira Gullar - O Brasil está encalacrado, com a economia em crise, a inflação subindo, uma corrupção espantosa. Não pode continuar isso. Acho que a saída do PT do poder é uma revolução no Brasil. E a continuação é um desastre. Quando o PT foi criado, eu fiquei a favor, acreditava que seria benéfico para o País, para fazer avançar essa luta pela sociedade mais justa, e depois me desapontei. Tenho sempre criticado o governo do PT, continuo nessa visão crítica, e torcendo para alguém vencer o PT. Torci pela Marina no primeiro turno porque parecia que ela é que iria disputar o segundo turno com a Dilma. Mas agora é o Aécio. Eu o conheço, sei que é competente, capaz, e apoio a candidatura dele. Istoé - Atualmente, o que atrai mais seu interesse, a poesia ou a política? Ferreira Gullar - Não sou político. Sou cidadão e tenho uma coluna num grande jornal (“Folha de S.Paulo”) em que posso emitir minhas opiniões. Agora, o País é uma coisa que me preocupa o tempo inteiro. A poesia é outra coisa. Dou minha opinião de cidadão, pai de família, com filhos e netos, que compreende que a sociedade brasileira é muito injusta, e isso tem que ser mudado, corrigido, e é obrigação de cada um de nós lutar contra isso. Não se pode aceitar a desigualdade que existe no Brasil, os hospitais cheios de pessoas morrendo sem ser atendidas, ou o ensino péssimo. Paga-se mal aos professores, que têm que trabalhar em quatro ou cinco lugares para sustentar a família. Istoé - O sr. tem feito poesia? Ferreira Gullar - Não. A poesia depende de fatores que não dependem da nossa vontade. Posso determinar que vou escrever uma crônica amanhã sobre tal coisa. Mas não posso dizer que vou escrever um poema amanhã, porque vai sair uma bobagem. O poema, como digo, nasce de um espanto, não é uma coisa que sai por querer. Mas eu parei de me espantar. Só me espanto com a corrupção – mas a corrupção não merece um poema. Istoé - E os quadros? Tem pintado? Algum novo livro? Ferreira Gullar - Meu hobby é pintar, desenhar, fazer colagens. E esse hob­by vai ganhar uma exposição em São Paulo, em novembro, e depois outra no Rio. Tem um livro de colagem que está sendo feito e deverá ser publicado no começo do ano que vem, por uma editora nova, a Edições de Janeiro. E tem, também, por essa mesma editora, um livro que venho compondo há 30 anos, que se chama “O Prazer do Poema”. São os que li e que mais me comoveram e encantaram, de autoria de outros poetas. Deve sair no fim deste ano ou no começo do outro. Istoé - O sr. sempre recusou se candidatar a vagas na Academia Brasileira de Letras. Por que aceitou, agora? Ferreira Gullar - Demorei porque não fazia parte do meu projeto de vida entrar para a Academia, nunca tinha pensado nisso. Há pessoas que têm entre seus objetivos conseguir um lugar na ABL. Eu não. Quando me convidavam, eu falava que não tinha interesse; isso levou anos e anos. Mas alguns amigos insistiam, insistiam, e eu comecei a me sentir mal, um pouco arrogante, o dono do pedaço... Quando morreu o (poeta) Ivan Junqueira (1935-2014), que era um grande amigo, pessoa por quem eu tinha muito afeto, pensei: “Bom, já que vou ter que entrar, vou entrar no lugar do Ivan, que é meu amigo, uma cadeira que me honra.” Istoé - Como está se sentindo eleito? Ferreira Gullar - A posse é em dezembro. Se aceitei me candidatar é porque vou aceitar o convívio na Academia. Tenho muitos amigos lá, e nada tenho contra. Evidentemente, sou bastante ocupado, nem sempre estarei lá. Mas o compromisso que tenho que assumir assumirei. Pretendo frequentar e cumprir com a minha obrigação. Istoé - A governadora do Maranhão, Roseana Sarney (PMDB), vai oferecer o fardão, como é praxe, já que o sr. é maranhense. O sr. se sente confortável, já que o Maranhão é o Estado com maior número de miseráveis do País? Ferreira Gullar - O Sarney foi meu colega de juventude, nós temos a mesma idade praticamente e fazemos parte da geração que mudou a literatura maranhense, que renovou. Mais tarde, conheci a Roseana, muito cordial, gentil. Eu não vivo no Maranhão, eu vivo no Rio. Mal tomo conhecimento disso, não estou envolvido com a política do Maranhão, faço questão de não me envolver nisso. Acho o Sarney uma pessoa afetuosa, gentil. Fez uma carreira política que o levou até a Presidência da República, certamente por isso também. Istoé - O sr. começou sua militância política no Maranhão? Ferreira Gullar - Não. Eu entrei para o Partido Comunista por causa do golpe militar (1964) porque eu sabia que ia lutar contra aquele regime que estava surgindo, e não ia lutar sozinho. Depois, aconteceu comigo o que aconteceu com muita gente; fui preso e exilado. Istoé - Como se define politicamente hoje? Ferreira Gullar - Eu acho que, hoje, essas denominações de direita e esquerda se tornaram bastante precárias, já não têm mais a nitidez que tinham na época em que a gente estava lutando pela reforma agrária, etc., o que resultou no golpe militar. Mas, com o fim do socialismo real, o fim da União Soviética e o fato de hoje a China e a Rússia serem, de fato, capitalistas, é uma teimosia o cara se prender a essa ideologia que não deu certo. É um sistema que fracassou. Querer a sociedade justa e a igualdade entre as pessoas é uma coisa muito correta. Agora, a maneira como isso se transforma em função administrativa está errada, não dá certo. O capitalismo, que é o regime da exploração, se baseia na iniciativa privada e a cada momento milhões de pessoas criam empresas. Isso é uma força produtiva muito grande. Mas não pode comparar isso a seis burocratas dizendo como o país deve funcionar, como é que a economia deve ser. Istoé - A sociedade justa é definitivamente uma utopia? Ferreira Gullar - A sociedade justa deve continuar sendo o objetivo de todas as pessoas de boa-fé, honestas e solidárias com os outros. O que eu digo é que aquela tentativa não deu certo, mas não quer dizer que não seja possível. Acho que tem de continuar buscando o caminho. O que não pode, realmente, é ter um sujeito que ganha US$ 1 milhão a cada cinco minutos e outro que ganha US$ 500 por mês. Não dá, né? Istoé - O sr. tem um filho com esquizofrenia. O que acha do uso medicinal da maconha para tratamento de doenças como essa? Ferreira Gullar - Meu filho hoje vive normalmente com os remédios que são resultado de pesquisas durante décadas e décadas. Funcionam muito bem. Agora, isso é a minha opinião. Hoje, qualquer opinião contrária a coisas dessa natureza é tachada de preconceito. Se de fato a maconha tem qualidades medicinais, e pode ser, não sou médico para dizer que não, acho certo usar. Não sou contra o uso medicinal da planta. Mas dizer que a maconha é inofensiva para ser usada como divertimento eu acho perigoso. Para parte das pessoas não é alucinógena, mas para parte das pessoas é um risco grande. Elas perdem o controle e podem ser levadas a fazer coisas graves. Sem falar que a maconha pode ser a porta para outras drogas pesadas. ____________________________________ 3# COLUNISTAS 22.10.14 3#1 RICARDO BOECHAT 3#2 A BOMBA ATÔMICA NO CONGRESSO EM 2015 3#3 GISELE VITÓRIA 3#4 RICARDO ARNT - PERDIGOTOS EM FÚRIA 3#5 BRASIL CONFIDENCIAL 3#1 RICARDO BOECHAT Com Ronaldo Herdy Caberá a Emerson Fittipaldi dar a bandeirada ao vencedor do GP Brasil no dia 9 de novembro, no autódromo de Interlagos, em São Paulo. A prova poderá decidir a temporada de 2014 da categoria, entre Louis Hamilton ou Nico Rosberg. Tudo, claro, dependendo da performance de ambos na corrida dos EUA, uma semana antes. Em 2013, a honraria coube a Nelson Piquet. Os troféus que os três melhores pilotos receberão no pódio reproduzem uma torre de extração de petróleo e gás em alto-mar, idêntica às da Petrobras. Meio ambiente Mais check-up Pela primeira vez o amianto de crisotila foi incluído na Lista Nacional de Agentes Cancerígenos, preparada pelos ministérios da Saúde, Trabalho e Previdência Social. Em função disso, mesmo não considerando que o produto faz mal à saúde, a indústria terá obrigações legais extras, como realizar um monitoramento especial e periódico da saúde dos trabalhadores que lidam diretamente com o produto. Saúde Pública Bala ou ebola Entreouvido no campus da Fundação Oswaldo Cruz, em Manguinhos, no Rio de Janeiro: uma semana é bala, na outra ebola. É que o renomado centro de investigação sobre saúde sofreu uma tentativa de assalto em setembro. Superado problema, em outubro a Fiocruz serviu como centro de isolamento para Souleymane Bah, 47 anos, que veio da Guiné, suspeito de infecção por ebola. Internacional No páreo Aos 48 anos, professor da UFMG e da PUC-MG, além de presidente do Centro de Direito Internacional sediado em Belo Horizonte, Leonardo Nemer Caldeira Brant foi indicado pelo Brasil para ser juiz do Tribunal Penal Internacional, baseado em Haia, na Holanda. Há seis vagas na corte e 16 candidatos. O mandato é de nove anos e as eleições de 8 a 17 de dezembro. Votarão representantes de 122 países. Caso vença, o jurista, que fala quatro idiomas e foi funcionário da ONU, será o segundo brasileiro no TPI, por onde passou a professora da USP Sylvia Steiner. Comércio Alguém na porta Presente em 322 municípios e com receita bruta de R$ 24,9 bilhões em 2013, a Via Varejo acaba de contabilizar média de um milhão de entregas mensais no endereço de clientes da Casas Bahia e do Pontofrio. Poucas redes de comércio exibem tal marca. Diante do crescimento da demanda, no primeiro semestre a empresa investiu cerca de R$ 30 milhões em estrutura logística e tecnologia de informação. Este ano, a Via Varejo abriu 70 novas lojas no País. Eleições 2014 O indesejado O debate entre os candidatos ao governo do Rio de Janeiro envolve a religião mais do que em outros Estados. Marcelo Crivella (PRB) não era o adversário desejado por Luiz Fernando Pezão (PMDB). O discurso do bem vence o mal pode não pegar em um eleitorado que rejeita Anthony Garotinho, mas que acredita em soluções messiânicas. Daí, os ataques do governador tentando ligar o seu adversário ao bispo Edir Macedo, na reta final de campanha, são um ingrediente inesperado, que pode reduzir a diferença de votos entre eles. No QG de Pezão, porém, a fé na vitória predomina. Evangelho Manual de fé As Escrituras Sagradas seguem como o livro mais lido no planeta. Ao todo, 2.551 línguas têm hoje pelo menos um trecho do novo ou do velho testamento traduzido. O trabalho de tornar a palavra de Deus acessível envolve sociedades bíblicas de vários países, inclusive a do Brasil. Política É mentira Uma das polêmicas surgidas na disputa pelo Palácio do Planalto é que Dilma Rousseff usou em certas entrevistas e comícios ponto de escuta na orelha. Com isso, ela receberia orientação remota de algum assessor. Imagens da petista com o dispositivo chegaram a circular na internet. A foto da presidenta de perfil no último debate da Band deixa claro que o blá-blá-blá foi uma das muitas bobagens plantadas por partidários desta ou daquela campanha na internet em 2014. TST Banho: individual ou coletivo? Com um pedido de vistas, o TST suspendeu na quinta-feira 16 um julgamento que envolve acaloradas discussões entre ministros – e conceituadas bancas de advocacia. As grandes indústrias processadoras de alimentos podem colocar seus empregados (separados por sexo) tomando banhos coletivos de higienização, apenas com peças íntimas? Os patrões alegam estar o procedimento previsto nas normas de barreira sanitária do Ministério da Agricultura. Os sindicatos dos trabalhadores avolumam ações na Justiça, alegando que o direito à saúde não pode ferir o direto à intimidade. A decisão dos 14 ministros da Seção de Dissídios Individuais criará jurisprudência no assunto. Presídios Lamentável Tal como no dia 5, também no segundo turno da eleição poucos presos provisórios votarão. O maior exemplo de desprezo ocorreu no Rio de Janeiro, onde nenhuma seção eleitoral foi montada nos centros de detenção. Já em São Paulo, onde cinco mil pessoas estavam aptas a exercer tal direito, apenas 890 escolheram seus candidatos – número próximo ao observado em Santa Catarina: 746. Trabalho infantil Nobel em Brasília Um dos ganhadores do Prêmio Nobel da Paz de 2014, Kailash Satyarthi é velho conhecido do Brasil. Há dois anos, o ativista indiano participou de seminário organizado pelo TST, em Brasília, quando classificou o trabalho infantil como crime e um problema global. Para os presidentes do STF (Ayres Brito) e do TST (João Dalazen), entre outras autoridades, ele disse: “Se as crianças trabalharem, elas não vão se desenvolver e o ciclo da pobreza se perpetuará”. PMDB Mais um A bancada minúscula do DEM no Senado poderá encolher ainda mais. Um dos três senadores eleitos pelo partido no domingo 5, Ronaldo Caiado topou convite de Iris Rezende (PMDB) para ser secretário de Segurança Pública de Goiás – na hipótese de o peemedebista derrotar Marconi Perillo (PSDB) no segundo turno da eleição para governador. O PMDB então elevaria de 17 para 18 seus senadores na próxima legislatura – Luiz Carlos do Carmo é o primeiro suplente de Caiado. Internet Futebol & política Empresa de detecção de perfil de consumo, a Socialise CRM criou uma plataforma de big data que mediu o gosto, em diversos segmentos, dos curtidores de Aécio Neves (PSDB) e Dilma Rousseff (PT) no Facebook. No campo do futebol, enquanto corintianos, palmeirenses e são-paulinos se dividiram entre os dois, cruzeirenses, santistas e atleticanos optaram pelo tucano mineiro, segundo a ferramenta da empresa. Já os flamenguistas estão com a candidata petista. Simples assim? Lava Jato Contra o cartel A tensão na CPI mista da Petrobras subirá na quarta-feira 22. Enquanto o presidente Vital do Rêgo (PMDB-PB) protela a convocação do tesoureiro do PT, João Vaccari, e do ex-diretor da estatal Renato Duque, partidos de oposição querem ouvir novos depoentes. O presidente e o superintendente-geral do Cade, Vinicius de Carvalho e Eduardo Rodrigues, estão na lista do deputado Izalci Lucas (PSDB-DF). O objetivo é saber o que o órgão fez – e fará – após Paulo Roberto Costa e Alberto Youssef afirmarem que existe um cartel na Petrobras. Pela Lei de Defesa da Concorrência, o Cade não precisa esperar a abertura da delação premiada. 3#2 A BOMBA ATÔMICA NO CONGRESSO EM 2015 As delações premiadas da Operação Lava Jato podem ajudar o novo presidente a fazer a reforma política. Qualquer que venha a ser o presidente eleito no próximo dia 26, sua primeira tarefa será administrar os efeitos das delações premiadas da Operação Lava Jato, não mais restritas aos dois protagonistas da trama: Paulo Roberto Costa, ex-diretor da Petrobras, e Alberto Youssef, o doleiro e operador do esquema. Além deles, já aceitaram colaborar com a Justiça outros três integrantes da engrenagem de corrupção e lavagem de dinheiro: o advogado Carlos Alberto Pereira Costa, o empresário Leonardo Meirelles, que simulava importações por meio do laboratório Labogen, e a também doleira Nelma Kodama. Embora sejam coadjuvantes, podem revelar detalhes importantes, capazes de implicar outros personagens nesse enredo. Em Brasília, já se fala numa lista de até 190 políticos. Entre eles, há deputados, senadores, governadores e nomes que acabam de ser eleitos para mais um mandato. Se antes o esquema parecia restrito a três partidos da base aliada, PT, PP e PMDB, já se sabe, agora, que Costa também delatou personagens da oposição. Um deles, o senador socialista Fernando Bezerra Coelho, ex-ministro de Dilma, mas agora aliado de Aécio, que teria pedido uma doação de R$ 20 milhões para a reeleição de Eduardo Campos, em 2010. Outro, o ex-presidente nacional do PSDB, Sergio Guerra, que teria recebido recursos para colocar em fogo brando uma CPI sobre a Petrobras. Caso seja eleita, a presidenta Dilma Rousseff pretende fazer do limão uma ­limonada. O terremoto da Lava Jato, que arrasta para a lama parlamentares e empreiteiros, será o argumento ideal para a reforma política, com o fim do financiamento privado de campanhas eleitorais. Afinal, a necessidade de se garantir a governabilidade não pode ser fonte permanente de novos escândalos de ­corrupção – o Brasil não suporta mais. Do lado tucano, Aécio Neves já deu indicações de que também defende uma reforma política. Embora o PSDB tenha uma firme posição contra o fim do financiamento privado, Aécio já defendeu pontos como cláusulas de barreira, que restringiriam o número de partidos políticos. Seu desafio, se eleito, será enfrentar esse terremoto com uma base parlamentar, ao menos hoje, mais frágil, numericamente, do que a de Dilma. Para um candidato que promete reformas estruturais, turbulências no Congresso seriam inconvenientes a ser evitados em 2015 – o que pode gerar um esforço de conciliação com as forças implicadas no escândalo. A uma semana das eleições, depois de debates que foram marcados por ataques pessoais, os dois candidatos poderiam responder ao distinto público uma questão: que encaminhamento pretendem dar às descobertas da Operação Lava Jato, a bomba atômica que desabará no Congresso em 2015? 3#3 GISELE VITÓRIA Gisele Vitória é jornalista, diretora de núcleo das revistas ISTOÉ Gente, ISTOÉ Platinum e Menu e colunista de ISTOÉ A mais sexy Aos 40 anos, Penélope Cruz foi eleita a mulher mais sexy do mundo. O título foi dado à atriz espanhola pela “Esquire”, na capa da edição de novembro da revista americana. Musa de Pedro Almodóvar e casada com Javier Bardem, Penélope é ícone de beleza. Estrela da Lâncome, poderosa marca mundial de cosméticos, ela agora é embaixadora da linha de maquiagem e rosto da campanha da máscara Grandiôse, principal lançamento da grife francesa para 2015. “Beleza não deve ser uma restrição, mas algo libertador e divertido”, diz a atriz. A seguir, mais Penélope Cruz, com exclusividade para a coluna: O que faz para relaxar: “Leio. Assisto a um filme”. Livro favorito: “‘Within’, do dr. Habib Sadeghi. É uma obra-prima. Ler este livro pode ser uma experiência que muda a vida”. Último filme que gostou: “Azul É a Cor Mais Quente”. Sonho de criança: “Ser bailarina”. O que a fez querer ser atriz: “O desejo de trabalhar com Almodóvar e Meryl Streep”. Viagens que deseja: “Polinésia Francesa. Galápagos. Quênia”. Refúgio favorito: “Minha casa”. Do que jamais desistiria? “De uma forma otimista de ver a vida”. Uma verdade: “Quanto mais velha eu fico, menos interessada estou em fingir ser algo que não sou”. Vestidos para Muay Thai A top Renata Kuerten abriu uma academia de muay thai e ganhou o amigo e apresentador Matheus Mazzafera como o aluno mais assíduo. Na foto de Jacques Dequeker, eles posam no ringue da 9Round Fight Club. “Quando comecei a fazer tevê, eu aparecia grande no vídeo. Precisava secar”, diz Matheus, que intercala treinos de muay thai e da modalidade de luta mahamudra. “Perdi dez quilos. Isso funciona!” A academia da modelo é focada em lutas. “Na aula de boxe não cabe mais ninguém”, conta Renata. “Amo muay thai. É um treino completo, me deixou definida. Em 40 minutos de luta você tem os resultados de uma hora de musculação. Estou sendo mais procurada para campanhas de fitness.” Pão de Queijo e Açaí As baixas na comissão executiva da Rede por conta do apoio a Aécio Neves não teriam abalado Marina Silva. “Marina não se deixou sequestrar por pressões”, diz Walter Feldman, seu braço direito e ex-tucano de volta ao ninho. Os cerca de sete sonháticos de Goiás, Rio e São Paulo que deixaram a Rede pregavam o voto nulo ou branco diante da polarização PSDB-PT. “Ela está tranquila. Tínhamos que nos posicionar.” A dobradinha Pão de Queijo e Açaí (em alusão ao apelido “Açaí e Tapioca”, quando ela se aliou a Eduardo Campos) foi selada publicamente na sexta-feira 17, no centro empresarial que abriga escritórios de multinacionais como Siemens e Alstom, Nike e Sony, em São Paulo. Novo romance Há oito anos sem publicar romances, Ignácio de Loyola Brandão está debruçado numa nova obra. Não há data para lançar, mas já tem título: “Desta Cidade Nada Vai Restar a Não Ser o Vento Que Sopra sobre Ela”. Por que tão longo? “Quero que ocupe a capa inteira”, resume. Antes, ele está de volta às noites de autógrafos. Em 6 dezembro, o escritor lança o livro sobre seu avô, “Os Olhos Cegos dos Cavalos Loucos” (ed. Moderna). Donatella e a bolsa de apostas Donatella Versace chega a São Paulo em 4 de novembro para lançar a coleção fast-fashion da marca italiana Versace para a Rede Riachuelo. Corre nos bastidores da moda que o negócio, que incluiu trazer Donatella pela primeira vez ao País, tem valores estratosféricos. Fala-se em seis milhões. O esporte é desvendar a moeda: reais, dólares ou euros. A empresa desmente os valores estimados e diz que não comenta números. 3#4 RICARDO ARNT - PERDIGOTOS EM FÚRIA Quando o perdigoto eleitoral - essa jabuticaba tão apreciada - atinge as proporções que atingiu na internet e na mídia, a quantidade se transforma em qualidade e micróbio vira pérola. Graças aos debates eleitorais de 2014, é preciso rever o aforismo de Nelson Rodrigues segundo o qual “no Brasil, da discussão não nasce a luz, nascem perdigotos”. O autor não conheceu a era da escala eletrônica. Quando o perdigoto atinge as proporções que atingiu na internet e na mídia, a quantidade se transforma em qualidade e micróbio vira pérola. Na tevê ele está contido pela camisa de força das regras e pelo bordão “seu tempo está esgotado, candidato”, mas a repetição dos embates pelas emissoras também acelera a reprodução. Nessas semanas perdigóticas entre o primeiro e o segundo turno, o fervor de agressão, distorção, mentira, calúnia e hipocrisia chega a gerar luminescências. Nunca a leitura dos jornais foi ao mesmo tempo tão reveladora e tão penosa. Coitados dos jornalistas que têm de ler tudo e se esquivar dos projéteis voadores. Por isso mesmo, destacam-se as “luzes” do encontro de Guido Mantega e Armínio Fraga sob os auspícios de Miriam Leitão; a entrevista de Aloizio Mercadante no “Estadão”; o boletim psiquiátrico de Bruno Torturra, “Transtorno Bipolar Eleitoral”, na “Folha”; e o primeiro duelo “solo” de Dilma e Aécio, na Band. Em meio a perdigotos de várias consistências, o petardo mais potente chegou a afogar o seu autor: “o aparelho excretor não reproduz”. Mas seria insensibilidade não ressaltar o ódio viscoso ao voto nordestino e ao PT que invadiu os shopping centers e o Facebook, a repetição goebbeliana de refrões (“Eles quebraram o Brasil três vezes”; “Eles queriam privatizar a Petrobras”), as distorções maliciosas (“Brasil apoia degoladores do Estado Islâmico”) e a manipulação ampla, geral e irrestrita (“O investimento e o crescimento estão prestes a melhorar”; “Ajuste fiscal rápido é menos custoso”; “Banco Central independente = menos comida no prato das famílias”). As urnas já falaram. A grande minoria desamparada votou na inclusão social e na distribuição de renda, enquanto a maioria com mais autonomia e renda votou pela alternância no poder e por um governo mais eficiente. Dilma ganhou 60% dos votos do Nordeste, venceu em todos os municípios do Maranhão e levou 78% dos votos nos 150 municípios com maior cobertura do Bolsa Família. Hoje, os 49 milhões de pessoas (!) beneficiadas pelo cartão bancário querem o 13º salário. O que Victor Nunes Leal, o autor do clássico “Coronelismo, Enxada e Voto”, estudioso da “dependência do voto de cabresto”, pensaria desse vínculo eletrônico? Em contraste, quem estuda, trabalha e corre atrás na batalha diária quer menos inflação e mais crescimento. Aécio levou 44% dos votos da multidão de São Paulo e 51% dos do Paraná e de Santa Catarina. Ganhou em 88% das cidades paulistas. Inclusive em São Bernardo do Campo. Juntos, Aécio e Marina obtiveram 55% dos votos; Dilma e Luciana Genro (imaginando uma convergência eventual), 43%. Qualquer marciano percebe que o governo ideal, empenhado com o País todo e não com classes sociais ou minorias privilegiadas, deveria tentar conciliar as demandas de inclusão social e de ajuste econômico. A sociedade entendeu isso e Marina propôs explicitamente o compromisso de uma terceira via contra o diálogo de surdos e a polarização perniciosa. Mas não deu certo. Ninguém disse que seria fácil. Pressionado pela economia e pelas ruas, o “povo” elegeu um Congresso mais conservador. Cresceram as oligarquias familiares e as bancadas evangélica, ruralista e empresarial. O bloco sindicalista encolheu. A “bancada da bala” dos delegados e ex-militares aumentou. Mas o crescimento dos extremos some diante do ímpeto confuso da maioria. Essa é a virtude de eleições limpas. Sempre há perdigotos, mas o oxigênio limpa o ambiente tóxico. Se avançarmos nas reformas política, tributária, judiciária, previdenciária, ambiental, trabalhista e em todas as demais necessárias (e se a nossa convivência de país dividido não degringolar pelo caminho), a eleição de 2018 será mais luminosa. 3#5 BRASIL CONFIDENCIAL por Eumano Silva Candidato conectado A foto que ilustra esta nota foi tirada 15 minutos antes do início do debate dos presidenciáveis, na Rede Bandeirantes, na terça-feira 14. Em uma sala reservada no segundo andar da emissora, o tucano Aécio Neves e o vice, Aloísio Nunes Ferreira, demonstravam estar tranquilos. Depois de conferir os relatórios sobre sua gestão em Minas, Aécio pegou o próprio celular e gravou um breve vídeo chamando os eleitores para assistirem ao embate. Ele mesmo postou a mensagem eletrônica nas redes sociais. Lobby do Nordeste Na reta final da campanha, as bancadas do Nordeste no Congresso reivindicam à presidenta Dilma Rousseff o fim do imposto de importação de açúcar cobrado pela União Europeia. De olho na preservação dos votos da região, onde leva larga vantagem, Dilma atua junto ao Itamaraty para tentar convencer os parceiros a eliminar essa barreira. Verdes de raiva Um grupo de marineiros que simpatizava com Dilma Rousseff ficou revoltado com os ataques sofridos pela candidata do PSB no primeiro turno. Essas pessoas não perdoam a destruição de Marina Silva patrocinada pelos petistas e tiveram influência na guinada em favor de Aécio. Focos do antipetismo Antes do debate da Band, na terça-feira 14, integrantes da campanha de Dilma Rousseff estavam assustados com o crescimento do antipetismo País afora. O senador Jorge Viana (AC) mostrava-se particularmente preocupado com esse sentimento em São Paulo, no DF e no Paraná. Pluralidade partidária Quem viu os depoimentos em regime de delação premiada feitos por Paulo Roberto Costa e Alberto Youssef afirma que a lista completa dos parlamentares citados pelos dois tem integrantes de todos os grandes partidos. O PT reclama da “divulgação seletiva” das informações. Por dentro da PTrobras Incomodados com o aparelhamento da Petrobras, servidores de carreira e acionistas fizeram um mapeamento da influência do PT na cúpula da estatal. Petistas com histórico de atuação política para a sigla ocupam pelo menos sete dos 24 principais postos da cúpula da empresa. À espera das urnas A Comissão Mista de Orçamento aguarda o resultado das urnas para votar a Lei de Diretrizes Orçamentárias de 2015. A reeleição de Dilma Rousseff deixará a LDO nos moldes da proposta enviada ao Congresso pelo Ministério do Planejamento. Uma eventual vitória de Aécio Neves dará ao gabinete de transição o poder de mudar a peça orçamentária. Aposta Em tempo de especulações sobre o próximo governo, fala-se que o deputado Abelardo Lupion (DEM-PR) será o ministro da Agricultura caso o tucano Aécio Neves seja eleito presidente. Se confirmadas essas hipóteses, chegará ao fim o longo domínio do PMDB na pasta preferida pelo agronegócio. O caminho da salvação Pessoas do meio jurídico atentas ao caso do deputado André Vargas (PR) acreditam que exista uma manobra em curso para salvar a pele do parlamentar e, ao mesmo tempo, proporcionar um discurso político aos petistas. Se o PT for vitorioso no TSE na ação em que pede o mandato do deputado, o partido poderá alardear que patrocinou a punição. Mesmo que isso aconteça, Vargas tem a chance de manter os direitos políticos, caso seja esse o entendimento do tribunal. Para se livrar da cassação no Conselho de Ética, basta que o deputado consiga empurrar a decisão para o ano que vem, quando não terá mais mandato. Na defesa de Barbosa A impugnação pela OAB-DF do pedido de registro do ex-ministro Joaquim Barbosa provocou reação na categoria. Um grupo com cerca de 100 advogados, liderados por Paulo Roque Khouri, fez um manifesto para pressionar o presidente da entidade, Ibaneis Rocha, a pedir desculpas à sociedade pelo inusitado veto a Barbosa. Em 2012, Khouri disputou com Rocha o comando da OAB. Toma lá dá cá Senador Vital do Rêgo (PMDB-PB), presidente da CPMI da Petrobras e autor do projeto que determina o compartilhamento do conteúdo de delações premiadas entre Judiciário e comissões parlamentares. ISTOÉ – Se o projeto estivesse em vigor, a CPI já teria as delações da Lava Jato? Rêgo – A Constituição determina que as CPIs tenham os mesmos poderes das investigações do Judiciário. O ministro Teori Zavascki indeferiu o pedido de acesso às delações premiadas com base em uma lei ordinária. ISTOÉ – O compartilhamento reduz o poder do Judiciário? Rêgo – Os poderes são independentes e harmônicos. ISTOÉ – A proposta pode ser votada neste ano? Rêgo – O projeto estará na lista de votações da CCJ após o segundo turno. Depois de aprovado, vai a plenário. Rápidas * A chegada do ministro Dias Toffoli à presidência do TSE criou um clima tenso entre os funcionários que ocupam cargos de chefia. Toffoli trocou vários ocupantes desses postos, o que provocou insatisfações e uma guerra interna entre os pretendentes. * O estresse interno decorrente das mudanças promovidas por Dias Toffoli tende a aumentar depois do segundo turno das eleições, quando novas mexidas devem ser feitas. Até lá, vai prevalecer a orientação do presidente do TSE de manter tudo como está. * O deputado Rogério Peninha Mendonça (PMDB-SC) apresentou um projeto que prevê a distribuição de cópias impressas da Constituição Federal aos alunos que entram no ensino médio da rede pública. São cerca de 1,4 milhão de alunos estudantes todos os anos. * A proposta de Mendonça custaria R$ 20 milhões e não faz o menor sentido. A maioria dos alunos desta faixa de ensino tem entre 15 e 17 anos, geração que prefere usar computadores e tablets e pode baixar o documento pela internet sem pagar um centavo. Retrato falado A bancada do PSB se reuniu após o resultado do primeiro turno das eleições na manhã da terça-feira. No encontro, os socialistas choraram as mágoas por não disputarem o segundo turno das eleições presidenciais. O deputado Beto Albuquerque disse que cumpriu uma missão ao abdicar da candidatura ao Senado pelo Rio Grande do Sul, para compor a chapa ao lado de Marina Silva após a morte de Eduardo Campos, e afirmou que o ex-governador de Pernambuco teria se saído melhor nos debates na televisão. Um estádio sem fundo Dois aditivos ao orçamento feitos nas últimas semanas pelo governo do DF vão injetar mais de R$ 113 milhões no estádio Mané Garrincha. Parte do dinheiro se destinará à “manutenção” da arena. O restante será para uma “reforma”. Inaugurada no ano passado, a obra custou quase R$ 2 bilhões. Responsável pelo estádio, o governador Agnelo Queiroz ficou em terceiro lugar no primeiro turno das eleições. A fúria dos aposentados Algumas associações de aposentados ficaram furiosas com Henrique Eduardo Alves. O presidente da Câmara incluiu na pauta o projeto que recupera perdas dos que ganham mais de um salário mínimo. Os aposentados lotaram as galerias, mas os deputados não apareceram para votar. _________________________________________ 4# BRASIL 22.10.14 4#1 O DOLEIRO E O TESOUREIRO DO PT 4#2 A CONFISSÃO DAS EMPREITEIRAS 4#3 "CAMPANHA GOLPISTA"? ALTO LÁ! 4#4 AÉCIO ESTÁ 13 PONTOS À FRENTE DE DILMA 4#1 O DOLEIRO E O TESOUREIRO DO PT Dono do cofre petista, João Vaccari Neto intermediou operações para Alberto Youssef que desviaram R$ 500 milhões do fundo de pensão da Petrobras Claudio Dantas Sequeira (claudiodantas@istoe.com.br) Na semana passada, o tesoureiro do PT, João Vaccari Neto, foi identificado na engrenagem da corrupção que desviou bilhões da Petrobras. Agora surge o elo do comandante das finanças petistas com o doleiro Alberto Youssef na Fundação Petros, o fundo de pensão dos funcionários da Petrobras. A Polícia Federal concluiu, nos últimos dias, a investigação sobre uma operação que causou prejuízo de R$ 13,9 milhões ao fundo. Mas o valor desviado nesta e em outras operações pode chegar a R$ 500 milhões, segundo os investigadores. No computador de Youssef, a PF encontrou uma pasta com 12 arquivos referentes a negócios do doleiro com a Petros. Quem teria intermediado a operação com ajuda de dois diretores indicados pelo PT para o fundo foi Vaccari. Um deles seria Luiz Carlos Fernandes Afonso, que chegou a presidir a entidade entre 2011 e 2014. PARCERIA - Segundo a PF, João Vaccari (abaixo) contou com a ajuda de diretores indicados pelo PT para operar para o doleiro Youssef (acima) Além deles, a PF registra a participação de um político “de grande influência” no governo. Ele teria conseguido no Ministério da Fazenda a liberação de um seguro necessário ao investimento. Segundo o advogado Carlos Alberto Costa, espécie de testa de ferro de Youssef, o recurso foi desviado para “pagamento de propina” aos funcionários da Petros. Costa já havia denunciado o caso à PF em agosto e depois detalhou o caso em depoimento ao juiz federal Sérgio Moro. Agora, os investigadores cruzaram as declarações com documentos do computador do doleiro e relatórios de movimentação financeira das empresas usadas pelo grupo. Confirmaram, por exemplo, que a Petros foi induzida a investir num negócio que se sabia irregular. Os quase R$ 14 milhões foram usados na compra de uma cédula bancária emitida pelo Banco Banif Primus como antecipação de recebíveis de um contrato de venda de ferro-gusa, firmado entre a Indústria Metais do Vale (IMV) e a siderúrgica Barra Mansa. Ocorre que a IMV era uma empresa falida. Para habilitá-la como investimento seguro ao segundo maior fundo de pensão do País, Youssef e o deputado José Janene (morto em 2010) iniciaram um plano de recuperação judicial, injetaram nela R$ 4 milhões por meio da CSA Project Finance e entregaram o projeto na mão de Claudio Mente, empresário muito amigo de Vaccari. O tesoureiro do PT acionou o então diretor financeiro da Petros Luis Carlos Fernandes Afonso e o gerente de novos projetos Humberto Pires Grault. “Emitiram nota através de outras empresas e o recurso foi desviado para pagamento de propina para os funcionários da Petros”, disse Costa à Justiça. Afonso foi nomeado diretor em 2003 por indicação de Wilson Santarosa, ligado a José Dirceu e que presidia o conselho deliberativo da Petros na ocasião. Afonso tem longa ficha de serviços prestados ao PT, tendo sido secretário de Finanças do ex-prefeito de Santo André Celso Daniel, assassinado em 2002. Grault, apadrinhado pela cúpula partidária, já passou por vários fundos de pensão e conselhos de empresas controladas. Da Petros, ele foi para a Funcef, nomeado como gerente na diretoria de participações, chefiada por Carlos Borges. Foi Borges quem recebeu Youssef em março deste ano, numa reunião privada, a pedido do deputado André Vargas, para apresentar uma “proposta de investimento”. Tanto Afonso como Grault respondem por denúncias de improbidade. No depoimento à Justiça, Carlos Costa alerta que a negociata com a IMV em 2006 foi apenas “a primeira operação”. Muitas outras vieram. A próxima suspeita na lista da PF é a barragem de Apertadinho, na qual a Petros colocou R$ 62,4 milhões em troca de cédulas de crédito bancário. Como se sabe, a barragem – construída pela empreiteira Schain e EIT – desmoronou e o dinheiro virou pó. 4#2 A CONFISSÃO DAS EMPREITEIRAS Construtoras de pequeno e médio porte contam na Justiça detalhes do propinoduto na Petrobras e dificultam a defesa das gigantes do setor Claudio Dantas Sequeira e Josie Jerônimo Há pelo menos duas semanas as investigações da Operação Lava Jato contam com uma importante ajuda: a participação de empreiteiras de médio e pequeno porte que romperam com as gigantes do setor e resolveram buscar um acordo de leniência para ajudar nas investigações sobre o propinoduto da Petrobras, em troca de punições mais brandas. A Engevix, por exemplo, tentou informalmente obter um acordo com a Justiça, entregando informações que foram consideradas insuficientes pelo MP. Outras duas empresas, subcontratadas para obras da Refinaria Abreu e Lima, em Pernambuco, apresentaram ao juiz federal Sérgio Moro números de contas de parlamentares no exterior. Os dados apresentados foram considerados consistentes e o acordo de leniência já foi firmado. ENGEVIX - A empresa que trabalhou em Abreu e Lima tentou o acordo, mas não convenceu o MP As informações, no entanto, não puderam ficar no âmbito das investigações do Paraná, pois as contas apontadas pela empreiteira envolvem autoridades com foro privilegiado e os documentos foram remetidos ao ministro do Supremo Tribunal Federal Teori Zavascki, relator do caso. Os montantes de transferências apresentados pelas empreiteiras, porém, foram considerados pequenos, abaixo da casa de R$ 1 milhão. O posicionamento dessas empresas atrapalhou o acordo que vinha sendo feito pelas gigantes do setor. Elas queriam uma defesa conjunta, argumentando que teriam sido vítimas de extorsão. Ou seja, diriam à Justiça que caso não entrassem no esquema não teriam como trabalhar. Essa estratégia deu certo durante o Collorgate. Agora, porém, os empreiteiros estão bem divididos. Quem obtiver o acordo de leniência poderá ter punição mais branda e continuar a trabalhar. Quem ficar de fora corre o risco de não poder firmar contratos com o governo, de ver os executivos na cadeia e de ter os bens indisponíveis. 4#3 "CAMPANHA GOLPISTA"? ALTO LÁ! O PT é alvo de seus próprios erros e armações Josie Jeronimo (josie@istoe.com.br) Desde a eclosão do mensalão, os escândalos não assumiam de maneira tão escancarada a linha de frente de uma campanha presidencial, relegando ao segundo plano as propostas e as ideias dos candidatos necessárias à correção de rota almejada pela população para a melhoria do bem-estar do povo e das condições do País. A exemplo de 2006, mais uma vez o PT e o governo vão para uma eleição mergulhados em denúncias. A mais grave delas, os desvios bilionários da Petrobras em benefício do PT e de partidos aliados ao governo. E, como num filme repetido, os petistas cumprem um roteiro já bastante conhecido na tentativa de encobrir seus próprios erros. Reagem não só como vítimas, mas imbuídos de certa arrogância, como se pairassem acima dos demais partidos e instituições. Em resposta à divulgação de áudios em que o ex-diretor de Abastecimento da Petrobras Paulo Roberto Costa e o doleiro Alberto Youssef revelam que 3% de todo dinheiro desviado dos contratos da estatal abasteceram o PT e a campanha de 2010, a presidenta Dilma Rousseff acusou a oposição de usar as investigações para dar um golpe no País. “Na véspera eleitoral, sempre querem dar um golpe. E estão dando um golpe. Esse golpe nós não podemos concordar.” Na avaliação da presidenta, as denúncias de abastecimento de seu partido e campanha com recursos drenados da estatal não poderiam ter vindo a público durante o período eleitoral. O mesmo raciocínio, porém, não é aplicado por Dilma quando as acusações envolvem o partido adversário. No debate do SBT realizado na quinta-feira 16, usando dois pesos e duas medidas, Dilma valeu-se de um vazamento da delação premiada de Paulo Roberto Costa para atacar o candidato do PSDB, Aécio Neves. Segundo Costa, o ex-presidente do PSDB, Sérgio Guerra, morto este ano, teria recebido propina para esvaziar uma CPI em 2009. Ou seja, contra o PT, a divulgação dos áudios “é golpe”. Mas, se o mesmo áudio atinge o partido adversário, vira munição eleitoral nas mãos do PT. O ex-presidente Lula discursou na mesma toada da sucessora. Em comício no bairro de Campo Limpo, São Paulo, bradou como se a vítima fosse o seu partido: “Eu já estou de saco cheio (das denúncias contra o PT). Daqui a pouco eles estarão investigando como nós nos portávamos dentro do ventre da nossa mãe”, afirmou Lula. Ato contínuo, aliados da presidenta Dilma abriram fogo contra o juiz federal Sérgio Moro, responsável pela condução dos processos resultantes da Operação Lava Jato. Como as ações não correm sob sigilo judicial, o magistrado autorizou a divulgação do áudio dos interrogatórios. Na guerrilha virtual, o PT inundou as rede sociais com ataques a Moro. Os militantes o acusaram de transformar a operação em um trampolim para uma vaga de ministro no Supremo Tribunal Federal (STF). As agressões não ficaram restritas à rede de computadores. Em protocolos entregues ao Supremo e à Procuradoria-Geral da República, com pedidos de acesso aos autos da Lava Jato, o presidente do PT, Rui Falcão, insinuou que o magistrado não foi cuidadoso com dados da delação premiada, permitindo vazamentos seletivos. O governador do Rio Grande do Sul e candidato à reeleição, Tarso Genro, gravou um vídeo tentando comparar as eleições deste ano às de 1989, quando Fernando Collor venceu Lula com uma série de lances de jogadas sem ética e sem relação com desvios de dinheiro público, como acontece agora.“Isso que está sendo feito é uma manipulação para interferir no voto, é um golpe político em curso. É um golpe contra a democracia, contra a livre manifestação dos eleitores.” NO PALANQUE DO ATRASO - Em comício em Alagoas, a presidenta Dilma Rousseff discursa ao lado de Renan Filho, herdeiro do presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB), e Fernando Collor (PRTB). Hoje, os três são aliados Em lugar de questionar a intempestividade dos vazamentos e atacar um juiz no exercício de suas funções e prerrogativas constitucionais, o PT e o governo deveriam se dedicar a esclarecer as revelações estarrecedoras. Faz parte do processo democrático, munir o eleitor de informações relevantes para que ele tenha discernimento para decidir sobre quem ele considera mais preparado e em melhores condições para comandar os destinos do País. Portanto, nada mais adequado que o conteúdo dos depoimentos tenha vindo a público no momento em que o eleitor terá de se definir sobre dois projetos para o País: a continuidade, personificada por Dilma Rousseff, do PT, ou a mudança proposta por Aécio Neves, do PSDB. A discussão sobre o momento mais adequado para o vazamento ou não dos áudios não poderia se sobrepor ao gravíssimo teor das revelações do ex-diretor da maior estatal do País. Não se trata do discurso udenista de quem possui mais virtudes para ocupar o Palácio do Planalto, mas do sacrossanto direito do eleitor de poder reunir o máximo de informações disponíveis dos candidatos e respectivos partidos antes da derradeira decisão. Não por acaso, as associações de classe reagiram prontamente, repudiando a tentativa do PT de tentar tirar a credibilidade do magistrado e do trabalho da Polícia Federal. O ministro Gilmar Mendes, do STF, foi o mais contundente. Tachou de “absurda” a tese que condiciona o andamento do inquérito e dos processos decorrentes da Operação Lava ao calendário eleitoral. “Levantou-se esse mesmo argumento na época do julgamento do mensalão. De tão absurdo, isso chega a ser risível. O Brasil tem eleições a cada dois anos”, disse Gilmar Mendes. “Então, nós vamos suspender os inquéritos e os processos judiciais em períodos eleitorais? Será que vão suspender também o cometimento de crimes? E quanto aos prazos de prescrição, o que fazemos com eles?” Gilmar Mendes realçou que um magistrado pode ser acusado do crime de prevaricação se deixar de executar os atos inerentes à sua função. Lembrou que os incomodados dispõem de um “sistema de proteção” contra eventuais abusos. Queixas contra juízes podem ser protocoladas no Conselho Nacional de Justiça. Abusos de promotores e procuradores podem ser reportados ao Conselho Nacional do Ministério Público. O ministro ironizou. “Estão querendo decretar o fim da independência entre os poderes e inventar um novo recesso para o Poder Judiciário. Teremos de fazer uma consulta ao Tribunal Superior Eleitoral. A Constituição prevê que o processo eleitoral não pode ser modificado um ano antes do pleito. Há incontáveis inquéritos e processos envolvendo políticos. Vamos suspender a tramitação um ano antes de cada eleição ou podemos adotar o período de seis meses? Parece brincadeira.” As práticas da vitimização não são novas para o PT. Originado do movimento sindical brasileiro no início da década de 80, o partido se especializou em assumir a figura de mártir nas disputas eleitorais. A rotina remonta ao primeiro embate com os tucanos em 1994. Como agora, PT e PSDB disputaram aquela eleição na condição de principais antagonistas. Em desvantagem na refrega devido ao sucesso do Plano Real, idealizado pelo então ministro de Relações Exteriores do governo Itamar Franco e candidato à Presidência, Fernando Henrique Cardoso (PSDB), o PT classificou o plano de “factoide e estelionato eleitoral” criado pelos tucanos, segundo o partido, com não outro propósito senão o de vencer as eleições. O desenlace, no entanto, se deu na contramão da retórica petista. O Plano Real pôs fim à hiperinflação e trouxe a estabilização da moeda, essencial para os avanços sociais conquistados a partir da ascensão de Lula ao poder em 2003. Desde então, porém, o partido parece se recusar a aprender com os próprios erros, preferindo imaginar manobras antidemocráticas toda vez que se vê ameaçado de deixar o Palácio do Planalto. O histórico dos quase 12 anos de PT no poder expõe um extenso repertório de escândalos que causaram indignação aos brasileiros e a petistas históricos, que abandonaram a agremiação para não compactuarem com o crime. Foram pelo menos 38 escândalos durante a era petista. Parte da energia e do tempo que deveriam ser usados no aprimoramento da administração e gestão públicas foi canalizada para responder a uma série de acusações e inquéritos policiais. O partido, criado em 1980 para representar os trabalhadores e se diferenciar das outras legendas, aos poucos assimilou as velhas práticas da política nacional e viu vários de seus principais representantes serem tragados por casos de corrupção. Como famílias que preferem esconder os problemas para evitar o julgamento público, o PT afagou seus correligionários, alimentando a sensação de impunidade no seu próprio seio. Foi assim com Antonio Palocci, ex-ministro da Fazenda de Lula e da Casa Civil de Dilma. Afastado em 2006, acusado de quebrar o sigilo bancário do caseiro Francenildo Santos Costa, Palocci regressou em 2011 e foi novamente dispensado por não conseguir explicar contratos de consultoria que lhe renderam R$ 20 milhões. A prática de dar uma segunda chance a envolvidos em corrupção teve seu ápice neste ano. Dilma Rousseff começou o governo em 2011, dando a impressão de que mudaria o quadro ao faxinar da Esplanada seis ministros alvos de denúncias. O selo de faxineira dos “malfeitos”, no entanto, caiu por terra quando ela reabilitou ministros que saíram sem explicar irregularidades. Paulo Sergio Passos – secretário-executivo à época em que Alfredo Nascimento foi apeado do cargo – voltou graças à necessidade de Dilma de recompor com o PR. O mesmo ocorreu com o ministro Carlos Lupi. Ele saiu da pasta do Trabalho sem conseguir justificar suas relações com ONGs que mantinham convênios fraudulentos com a pasta e explicar a indústria de criação de sindicatos. Mesmo assim, continuou dando as cartas e emplacou Manoel Dias como sucessor, na cota do PDT. Os episódios registram que o PT decretou a falência moral dos seus governos em nome de um arranjo político que sustenta o grupo instalado no poder. Ao construir uma base artificial, atraída por promessas de aparelhamento de ministérios e estatais, o PT também ficou refém de aliados. O depoimento do ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa à Justiça Federal do Paraná ilustra bem essa situação. O PT e os partidos da base se apoderaram dos órgãos públicos e, em vez de apoio político, passaram a formar um exército alimentado à base do fisiológico toma lá dá cá político. Apesar da série de equívocos cometidos em mais de uma década, o PT nunca admitiu erros ou fez mea-culpa. O mensalão levou para a cadeia os principais nomes da legenda e, até hoje, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva trata o episódio como uma grande perseguição orquestrada pelo Judiciário, a imprensa e legendas da oposição. A constante negação dos problemas teve repercussão social e no interior do próprio partido. Grupos de diferentes segmentos ideológicos e econômicos passaram a pregar o “voto anti-PT”, associando o partido a práticas de corrupção e ao aparelhamento do Estado. O antipetismo cresceu na sociedade disseminado não apenas por oposicionistas históricos do partido, mas por pessoas que votaram uma, duas, três vezes na legenda e, hoje, encontram-se desiludidas. No primeiro turno das eleições presidenciais, análises do diretório nacional do PT detectaram que um terço dos votos válidos, o equivalente a 34 milhões, se basearam no sentimento de desaprovação à legenda. Os “antipetistas” se dividiram entre Aécio Neves e Marina Silva. No segundo turno, esse movimento voltou com toda a força, segundo as mais recentes pesquisas. DOIS PESOS, DUAS MEDIDAS - Dilma valeu-se do vazamento do áudio da delação de Paulo Roberto Costa, classificado anteriormente por ela de “golpista”, para tentar atingir o candidato do PSDB, Aécio Neves. Segundo Costa, Sérgio Guerra, ex-presidente do PSDB, teria recebido propina para abafar uma CPI contra a Petrobras O PT não pode acusar seus eleitores de traição. Antes mesmo do crescimento da rejeição na sociedade civil, a legenda sofreu defecções no interior da própria legenda. Desencantados com os rumos do partido, históricos fundadores puxaram o adeus ao PT. Entre eles, os políticos Chico Alencar, Milton Temer, Heloisa Helena e o jurista Hélio Bicudo. Aos 92 anos, Bicudo vive hoje a desilusão de ver o partido que ajudou a fundar, e do qual se desfiliou em 2005, ser desfigurado por abandonar princípios éticos que defendeu fervorosamente antes de se tornar governo. O PT perdeu Hélio Bicudo e com ele parte de sua história e um dos quadros mais respeitáveis na luta dos direitos humanos e da intelectualidade do direito brasileiro. “Hoje, o PT, infelizmente, gosta de aparecer como vítima: vítima da mídia, vítima de uma traição, de um poder que quer se apoderar do que está nas mãos dele”, lamentou. Há 34 anos, o “nós” a que o PT se referia eram os trabalhadores e o “eles”, os políticos tradicionais, flagrados em esquemas de corrupção. O selo de legenda criada para servir ao povo inspirou um slogan que virou hit durante a primeira eleição de Lula: “No fundo, no fundo, todo mundo é um pouco PT”. A exaltação que hoje pode causar arrepios em muitos fazia sentido e despertou um sentimento de união que culminou com a eleição do líder operário para a Presidência. Hoje, “o nós contra eles” ainda está presente no discurso, mas os personagens mudaram. O “nós” representa o partido, não mais os trabalhadores, e o “eles” retrata uma indefinível gama de adversários, sem deixar claro se os inimigos pertencem a um grupo econômico específico ou a uma categoria social. O “eles” da década de 1980 agora são aliados políticos e apoiadores do PT, a exemplo da família Sarney e do próprio Fernando Collor, adversário de Lula em 1989. 4#4 AÉCIO ESTÁ 13 PONTOS À FRENTE DE DILMA Pesquisa ISTOÉ/Sensus realizada entre a terça-feira 14 e a sexta-feira 17 mostra a consolidação da liderança de Aécio Neves (PSDB) sobre a petista Dilma Rousseff no segundo turno da sucessão presidencial. De acordo com o levantamento, o tucano soma 56,4% dos votos válidos, contra 43,6% da presidenta. Uma diferença de 12,8 pontos percentuais, que representa cerca de 19,5 milhões de votos. Se fossem considerados os votos totais, Aécio teria 49,7%; Dilma, 38,4%; e 12% dos eleitores ainda se manifestam indecisos ou dispostos a votar em branco. A pesquisa indica que nessa reta final da disputa os dois candidatos já são bastante conhecidos pelos eleitores. O índice de conhecimento de Dilma é de 94,4% e de Aécio, de 93,3%. “Com os candidatos mais conhecidos, a tendência é a de que o voto fique mais consolidado”, afirma Ricardo Guedes, diretor do Instituto Sensus. O levantamento, que ouviu 2.000 eleitores de 24 Estados, revela também a liderança de Aécio Neves quando não é apresentado ao eleitor nenhum candidato. Trata-se da chamada resposta espontânea. Nesse quesito, o tucano foi citado por 48,7% dos entrevistados e a petista, que governa o País desde janeiro de 2011, por 37,8%. São Paulo (SP) - No maior colégio eleitoral, o PSDB prepara uma vitória sem precedentes Realizada em 136 municípios, a pesquisa ISTOÉ/Sensus também constatou que a campanha petista não conseguiu reduzir o índice de rejeição à candidata Dilma Rousseff. Quase metade do eleitorado, 45,4%, afirma que não admite votar na presidenta de maneira alguma. Com relação ao tucano, segundo o levantamento, a rejeição é de 29,9%. “Isso significa que a margem de crescimento da candidata Dilma é menor do que a de Aécio”, avalia Guedes. Os números mostram, segundo a pesquisa, uma forte migração para o senador tucano dos votos que foram dados a Marina Silva (PSB) no primeiro turno. “Hoje estamos juntos em torno de um programa para mudar o Brasil”, disse Marina na sexta-feira 17, ao se encontrar com Aécio em evento público na zona oeste de São Paulo. Contagem (MG) - Petistas tentam evitar crescimento tucano na terra de Aécio Desde 1989, quando o Brasil voltou a eleger diretamente o presidente da República, é a primeira vez que um candidato que terminou o primeiro turno em segundo lugar começa a última etapa da disputa na liderança. A pesquisa Istoé/Sensus divulgada no sábado 11 já apontava esse movimento, quando revelou que Aécio estava com 52,4% das intenções de voto. Na última semana, os levantamentos que são feitos diariamente pelo comando das duas campanhas também mostraram a liderança de Aécio. É com base nessas consultas que tanto o PT como o PSDB planejam a última semana de campanha. E tudo indica que o tom será cada vez mais quente. No PT há uma divisão. Um grupo sustenta que a campanha deve aumentar o tom dos ataques contra Aécio e outro avalia que a presidenta deva imprimir um ritmo mais propositivo à campanha. O mais provável, no entanto, é que a campanha de Dilma continue a jogar pesado contra o tucano. Segundo Humberto Costa, líder do PT no Senado, o partido vai insistir na tese de que é necessário “desconstruir a candidatura tucana”. “Não basta ficar defendendo nosso governo”, disse o senador na sexta-feira 17. Claro, trata-se de um indicativo de que a campanha de Dilma vai continuar usando a mesma tática. “Se deu certo contra Marina, deverá dar certo contra Aécio”, afirmou Costa. No QG dos tucanos, a ordem é não deixar nada sem resposta e continuar mostrando ao eleitor os inúmeros casos de corrupção que marcam as gestões petistas, particularmente os quatro anos do governo de Dilma. “Não podemos nos colocar como vítimas. O que precisamos é mostrar nossas propostas, mas em nenhum momento deixar de nos defender com veemência das armações feitas pelos adversários”, disse um dos coordenadores da campanha de Aécio Neves. “Marina tentou apenas fazer a campanha propositiva e acabou atropelada pela máquina de calúnias do PT.” Nessa última semana de campanha, Aécio vai intensificar a agenda em Minas e no Nordeste, principalmente na Bahia, em Pernambuco e no Ceará. Não está descartada a possibilidade de que os nomes de novos ministros venham a ser divulgados pelo candidato. UNIDADE - Marina e Aécio se encontram em São Paulo na sexta-feira 17 _______________________________________ 5# COMPORTAMENTO 22.10.14 5#1 MEIO SÉCULO DE CRIME 5#2 O SERIAL KILLER DE GOIÂNIA 5#3 DEPOIS DA SECA, O FOGO 5#4 AGREDIR PARA EXIBIR 5#1 MEIO SÉCULO DE CRIME Como funcionava a maior quadrilha de abortos já desmontada no Brasil, que lucrava R$ 300 mil por mês e era comandada por médicos ricos do Rio de Janeiro Helena Borges (helenaborges@istoe.com.br) Na semana passada, foi desmontada a maior rede de abortos clandestinos já descoberta no País. Foram presas 58 pessoas no Rio de Janeiro, em São Paulo e no Espírito Santo, entre as quais seis médicos, nove policiais e dois advogados, membros de uma quadrilha que atuava no Rio. O caso impressiona por vários motivos. Um dos integrantes praticava esse crime há 50 anos, o lucro mensal do grupo era de R$ 300 mil e a quadrilha tinha um organizado modus operandi, composto de agenciadores, seguranças, profissionais de saúde e advogados. Os detalhes são chocantes. Entre os registros, está a realização de um aborto em uma menina de 13 anos e outro em uma grávida de sete meses. Não havia qualquer tipo de medida sanitária, as condições dos locais onde as mulheres se submetiam ao procedimento – muitas vezes, na própria casa do médico – eram insalubres e, talvez por isso, várias terminavam nos atendimentos de emergência nas redes públicas de saúde, que assinalam quase 300 mil procedimentos anuais em consequência de abortos malfeitos. Na casa da inspetora da Polícia Civil Sheila da Silva Pires, por exemplo, a maca ginecológica ficava no quarto ao lado da cama onde ela dormia. Era ali que os médicos faziam abortos, que chegavam a custar R$ 7,5 mil. MÉDICOS PRESOS - Acima, Aloísio Guimarães é detido em sua casa no Leblon; abaixo, Genésio da Silva e seu apartamento, na avenida Atlântica, em Copacabana; e a médica Ana Maria Barbosa que mora no condomínio Golden Green, na Barra da Tijuca A inspetora Sheila estava em liberdade provisória. Em junho de 2013, ela foi pega em flagrante organizando abortos no mesmo endereço onde foi presa, no bairro de Jacarepaguá, na zona oeste do Rio. A volta à ativa de Sheila, exatamente na mesma casa em que fora detida um ano atrás, é prova da impunidade desses criminosos. O grupo do qual ela fazia parte é responsável pela morte de Jandira dos Santos, 27 anos, assassinada após uma tentativa de aborto em agosto. Com o objetivo de despistar a polícia, a quadrilha deu um tiro na cabeça da jovem para simular um assalto, depois eles removeram sua arcada dentária, deceparam suas mãos e queimaram o corpo para torná-lo irreconhecível. Outro integrante da quadrilha que também usava a própria residência para o crime era o sargento do Exército André Luiz da Silva. Os abortos ocorriam dentro de uma vila militar, na zona norte carioca. Um dos depoimentos dados por mulheres que estão cooperando com a operação policial descreve o clima do local: “Entrei e senti medo. Eram muitas mulheres deitadas em macas. A casa nem de longe parecia uma clínica”. As gestantes eram encaminhadas às pressas para as “salas de cirurgia”, onde eram dopadas – há registros de médicos alcoolizados e usando linguajar chulo durante as operações. “É uma monstruosidade, é assassinato premeditado. Eles não estão nem um pouco preocupados com a vida da pessoa, só querem o dinheiro”, afirma Fernando Boigues, presidente do Sindicato dos Hospitais, Clínicas e Casas de Saúde do Rio (SINDHRio), para quem é necessária maior diligência dos conselhos nacional e regional de medicina e da Polícia Federal para coibir esses crimes. E as somas envolvidas eram altas. O médico Aloísio Soares Guimarães, 88 anos, líder do núcleo de Copacabana, possuía carros de luxo, um imóvel no Leblon, bairro mais caro do Rio, e acumulava R$ 2,8 milhões em uma conta bancária no banco suíço UBS. Guimarães teve sua primeira passagem pela polícia por realização de aborto em 1962. Este será o sexto processo penal ao qual responderá por prática abortiva. Por isso, cabe a pergunta: como conseguiu manter-se impune praticando o mesmo crime durante 50 anos? Ainda na zona nobre carioca, no bairro de Botafogo, morava Evangelista Pereira, o proprietário das clínicas, que está, atualmente, foragido em Miami e é procurado pela Interpol. Em sua casa foram encontrados, dentro de um cofre, R$ 15 mil em espécie, além de joias de ouro e esmeraldas. Já a médica Ana Maria Barbosa, que servia ao núcleo de Guadalupe, na zona norte, morava em uma cobertura de frente para o mar na Barra da Tijuca e mantinha quatro carros na garagem, entre eles uma Mercedes-Benz, comprada recentemente por R$ 212 mil. A Operação Herodes contou com uma força-tarefa de 70 delegados e 430 agentes de polícia trabalhando juntos por 15 meses para desmontar a rede de clínicas clandestinas no Rio. O sistema criminoso era organizado em sete grupos. De tempos em tempos, os componentes podiam alternar de núcleo, o que dificultou a investigação. Eles variavam também os locais de encontro com as clientes e, uma vez percebendo que muitos de seus telefones haviam sido grampeados, evitavam informar endereços em ligações. O procedimento era feito para confundir tanto a clientela quanto a polícia: um carro buscava até quatro mulheres em diferentes pontos de encontro, rodava pela cidade para que elas perdessem as referências, até chegar a uma das nove sedes. “Os abortos, em torno de dez por dia em cada ponto, eram realizados no início da manhã, a partir das 5h e até, no máximo, 10h para não chamar muito a atenção”, explica o delegado Glaudiston Galeano. Uma vez completa a operação e presos todos os 75 acusados, o próximo passo da polícia será uma intervenção direta com os delegados responsáveis pelas áreas onde os crimes ocorreram. “Existe uma hipocrisia muito grande em relação ao aborto. Todo mundo conhece alguém que já foi indicado a ir a um desses lugares. Vamos cobrar explicações dos delegados de cada uma dessas regiões e cobraremos em dobro as delegacias da mulher”, afirma Fernando Veloso, chefe da Polícia Civil do Rio de Janeiro. Ele conta que o serviço de inteligência do Rio irá se dispor a trocar experiências com os demais Estados, auxiliando no combate a esse tipo de crime em todo o País. “A polícia encontrou mais de dois mil casos só em parte do Rio. Projete esses números para o Brasil inteiro e pode-se ter a dimensão do problema”, provoca o especialista em reprodução Isaac Yadid. Ele alerta para a importância de a população ser informada sobre os riscos e como se proteger para não precisar desse tipo de intervenção, completando: “Ninguém faz aborto porque é prazeroso, faz por desespero”. Procurado, o Ministério da Saúde, informou por meio de sua assessoria que o controle de clínicas clandestinas é caso de polícia, não de saúde pública. Para o Conselho Federal de Medicina (CFM), porém, é. “Esse contexto de iniquidade, que tem causado mortes e sequelas, configura um problema de saúde pública que deve ser enfrentado em um amplo debate com a sociedade e com a definição de políticas públicas específicas”, afirmou em nota à ISTOÉ. Segundo o CFM, o aborto é a quinta maior causa de mortalidade materna, podendo ser evitada em mais de 90% dos casos. Quando realizado de forma insegura, representa a terceira maior causa de ocupação dos leitos obstétricos no Brasil. Estudo feito com base em dados do Datasus de 1995 a 2007 revela que a curetagem – procedimento necessário quando existem complicações após um aborto – foi a cirurgia mais realizada no SUS no intervalo de tempo avaliado, com 3,1 milhões de registros. O Conselho Regional de Medicina do Rio de Janeiro (Cremerj) anunciou que abrirá sindicância para investigar os profissionais acusados. 5#2 O SERIAL KILLER DE GOIÂNIA Investigado por roubos, vigilante confessa ter cometido 39 homicídios, diz ter sofrido abuso sexual na infância e tenta suicídio na prisão. Entre as vítimas estão moradores de rua, homossexuais e mulheres Fabíola Perez (fabiola.perez@istoe.com.br) Durante meses, as famílias de Goiânia viveram aterrorizadas, com medo de um serial killer que estaria matando mulheres a esmo na cidade. Entre janeiro e agosto, 16 foram assassinadas. Em 2012, pairou a mesma suspeita diante de uma série de execuções de moradores de rua. Na terça-feira 14, a polícia prendeu o vigilante Tiago Henrique Gomes da Rocha, 26 anos, e anunciou ter desvendado esses mistérios após ele ter confessado 39 homicídios – entre suas vítimas também estavam homossexuais. “Ele matava porque sentia raiva de tudo e de todos”, afirmou Deusny Aparecido Silva Filho, superintendente da Polícia Civil. “Quando matava, ele relata que sentia alívio e parecia acabar com o estresse.” Há 70 dias, uma força-tarefa da Polícia Civil começou a investigar o assassinato das mulheres, a execução de um homem e outros crimes de agressão. A polêmica envolvendo um suposto assassino em série começou no dia 18 de janeiro com a morte de Bárbara Luiza Ribeiro Costa, 14 anos. Nos últimos meses, mais homicídios com as mesmas características foram denunciados: mulheres entre 13 e 29 anos executadas a tiros por um motociclista de capacete. “No começo, ele matava aleatoriamente, mas no fim estabeleceu um padrão”, diz João Gorski, delegado-geral da polícia. ASSASSINO EM SÉRIE - Abaixo, Tiago Henrique Gomes da Rocha praticando um assalto e acima já preso: ele relatou à polícia que tinha raiva de tudo e de todos e que se sentia aliviado e menos estressado quando matava Na casa onde Tiago vivia com a mãe, foram encontrados um revólver, uma motocicleta com uma capa vermelha para o assento e diferentes placas, além de recortes de jornais, pelos quais o suspeito ficava sabendo o nome das vítimas. À polícia, ele as identificou pela ordem em que cometeu os assassinatos. A operação começou quando um vigilante de rua anotou o número da placa do veículo após o homicídio de Janaína Nicácio de Souza, 25 anos, executada em 8 de maio. Descoberto o proprietário, a polícia concentrou a investigação no suspeito. “A força-tarefa levantou informações de que ele havia roubado farmácias, padarias e lotéricas”, diz Silva Filho. Por meio do reconhecimento facial e de imagens de câmeras, a polícia reuniu características físicas de Tiago, preso na segunda-feira 13, quando chegava em casa. “Temos imagens e vídeos dele praticando o homicídio com a moto apreendida”, diz o superintendente. Além disso, exames balísticos realizados no revólver retido indicaram que dessa arma saíram tiros que mataram ao menos seis vítimas. Oito delegados colheram depoimentos de Tiago na madrugada da sexta-feira 17. Entre as revelações, ele afirmou que sofreu abuso sexual de um vizinho quando tinha 11 anos, o que o teria deixado traumatizado. O vigilante também contou que sofria bullying na escola e que foi vítima de diversas traições e desilusões amorosas. Por isso, sentia “raiva da sociedade”. Segundo os investigadores, Tiago ficou incomodado com a presença de uma escrivã. “Ele trava quando tem uma mulher na sala. É preciso que um homem converse com ele”, afirmou a delegada Silviana Nunes. O primeiro crime teria ocorrido em 2011, contra um homossexual de 15 anos, que foi dado como desaparecido na época. O serial killer confessou que matou o garoto e o enterrou num terreno baldio, além de ter assassinado mais oito moradores de rua. “O homicídio implica uma descarga de adrenalina muito grande e quando a pessoa executa sente uma sensação intensa de alívio”, explica Antonio Serafim, coordenador do núcleo forense do Hospital das Clínicas de São Paulo. “O alívio faz com que ele tenha a necessidade de repetir a ação com um menor intervalo de tempo para se satisfazer.” Na madrugada da quinta-feira 16, Tiago tentou se suicidar com fragmentos de uma lâmpada. Policiais responsáveis por monitorá-lo perceberam cortes nos braços e acionaram o corpo de bombeiros para medicá-lo. “Ele estava sentindo fobia por ficar trancado, estava abatido e teve de levar seis pontos no pulso”, afirma Thiago Huáscar Santana Vidal, advogado do suspeito, para quem o vigilante foi coagido a assumir os homicídios. “Tiago era muito fechado e introvertido, mas levava uma vida normal.” Ele trabalhava como vigilante noturno em um hospital. Vidal diz que pedirá um exame de sanidade. “Estamos aqui para oferecer a defesa para qualquer cidadão. Se ele for o culpado, pagará pelo que fez”, afirma o advogado. 5#3 DEPOIS DA SECA, O FOGO Além de enfrentar a maior estiagem em 100 anos no Sudeste, o País lida agora com as queimadas, que já aumentaram em 71% em comparação com todo o ano passado As cenas do solo seco e rachado e das represas sem água deixaram há alguns meses de retratar o semiárido nordestino para ilustrar a situação atual de São Paulo. Agora, a falta d’água histórica que afeta o Sudeste – a maior em 100 anos – traz com ela incêndios e desabastecimento nos maiores Estados do Brasil. A Cantareira, em São Paulo, virou símbolo da escassez por contar atualmente com apenas 4,1% de água em seu reservatório. A região foi castigada de domingo 12 a terça-feira 14 por um incêndio. O fogo só foi controlado após a intervenção de 40 bombeiros, dez guardas do Parque da Cantareira e 15 da Defesa Civil de Guarulhos, além de três helicópteros da Polícia Militar. O combate ao fogo resume bem a encruzilhada na qual se encontram os paulistas: as aeronaves retiraram água de um lago quase seco para despejar na mata em chamas. PERIGO - Fogo na área da Cantareira, em São Paulo: na segunda-feira 13, os bombeiros receberam uma chamada a cada oito minutos No Estado de São Paulo, na segunda-feira 13, dia mais quente do mês, os bombeiros receberam uma chamada para combater focos de incêndio a cada oito minutos. Dois meses e meio antes de encerrar o ano, o País já registra 71% a mais de queimadas que em relação a todo 2013. Considerando-se apenas os primeiros 15 dias de outubro, o aumento é de 113%. Os cenários mais críticos estão no Sudeste. No Rio de Janeiro, os incêndios aumentaram 3.841% na primeira quinzena do mês, pulando de 11 para 394 casos. Em seguida, estão o Distrito Federal (2.200%), São Paulo (1.727%), Espírito Santo (820%) e Minas Gerais (527%). Nesses lugares, o aumento mais que dobrou considerando o ano inteiro. Pesquisador do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) e responsável pelo programa de monitoramento de queimadas e incêndios florestais, Alberto Setzer aponta que a estiagem é a maior culpada: “São localidades há semanas sem chuva, com temperaturas chegando a 35º, com umidade na faixa de 30%. Essa combinação é propícia para a propagação do fogo”. SUFOCO - Todas as regiões da capital paulista registram falta de água. Sem o líquido nas torneiras, população tem recorrido a carros-pipa Em relação à água, a situação é de calamidade em São Paulo. Uma semana depois de o governador Geraldo Alckmin (PSDB) ser reeleito no primeiro turno, a falta d’água atinge 13,7 milhões de pessoas em 70 cidades, de acordo com levantamento do jornal “O Estado de S. Paulo”. Bem menos, porém, confirmam oficialmente o rodízio: 38 dos 645 municípios. Além disso, todas as regiões da capital, por exemplo, registram falta de água. Carros-pipa estão por toda a parte. No momento, o governo discute aumentar bônus para quem economizar, conseguiu autorização judicial para usar o segundo volume morto da Cantereira e diz que as faltas são pontuais, apenas em endereços mais altos. Dois dos Estados mais populosos do País, Rio de Janeiro e Minas Gerais, enfrentam problema semelhante. Há desabastecimento em massa no centro-oeste, zona da mata e sul de Minas. Em todo o Estado, 155 municípios decretaram situação de emergência por conta da seca, segundo a Defesa Civil. Maior distribuidora de água de Minas, a Copasa afirma que pelo menos 20 cidades estão com rodízio. No Rio, o cenário não é tão grave, mas preocupa. Em Barra do Piraí, 70% dos moradores estão sob revezamento de água. Em Angra dos Reis também ocorre controle dos recursos hídricos. Um dos maiores especialistas do mundo no assunto, o professor Benedito Braga, da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo, aponta três culpados pela situação atual. “Nenhuma crise tão grande acontece só por culpa do governo, do tempo ou do consumidor. É uma conjunção de fatores. Não estou minimizando o fator infraestrutura ou o consumo, entretanto o grande problema foi a falta de chuvas”, diz. De acordo com ele, sai muito caro construir represas com água o bastante para lidar com o pior cenário possível, como o atual. “O racionamento é o último recurso porque quando fechamos os dutos corremos o risco de a água poluída entrar no cano. Propus que o governo estabeleça um limite para cada domicílio. E que a partir disso o valor de cada metro cúbico adicional aumente exponencialmente. Quando sente no bolso a pessoa economiza”, afirma 5#4 AGREDIR PARA EXIBIR Multiplicam-se os casos de mulheres que batem e torturam rivais, filmam as cenas e depois postam na internet. O que leva a esse tipo de atitude? Camila Brandalise (camila@istoe.com.br) Com o rosto voltado para a câmera de um celular, a adolescente V. S. C., 17 anos, é obrigada a responder à pergunta de uma voz feminina. “Ainda quer saber do Bolinho?” “Não quero, não.” Na cena seguinte, surge um braço tatuado apagando um cigarro na face da menina. “Tira a mão”, ordena a mesma voz, contra a tentativa da jovem de se esquivar da queimadura. O vídeo foi postado no perfil do Facebook da suspeita das agressões, Elisângela Fernandes Maciel, 22 anos, que já teve prisão temporária decretada, mas está foragida. O caso se desenrolou no fim de setembro, em Praia Grande (SP), e chocou pela crueldade e pelo exibicionismo da acusada, que desconfiava do envolvimento de Bolinho, apelido de seu marido, com V. S. C., ex-namorada dele. Na semana passada, o mesmo roteiro se repetiu, também em Praia Grande. Um vídeo de duas meninas apanhando de outras duas jovens foi postado por uma das agressoras nas redes sociais. A causa também foi ciúme e supostas traições. A Delegacia da Mulher da cidade já localizou sete envolvidos, que terão de responder por crimes como tortura e formação de quadrilha. No primeiro caso houve uma prisão temporária, a da jovem que gravou o vídeo e é acusada de omissão. Já Elisângela deve responder por sequestro, cárcere privado e crime de tortura, considerado hediondo e inafiançável. A pena pode chegar a 12 anos. EXPOSIÇÃO - Jovem dá tapa em garota por ciúme do namorado em vídeo postado na internet pela própria agressora Por mais absurdas que essas histórias sejam, não são fatos isolados. Em todo o País há casos semelhantes e recorrentes: mulheres que, por ciúme, agridem cruelmente outras, contam com cúmplices que gravam as cenas e, depois, orgulhosas, exibem suas façanhas nas redes sociais. “Noto pelos depoimentos que todas falam muito em provas. Postar o vídeo seria uma maneira de a traída mostrar que, na verdade, estaria fazendo justiça”, diz Rosemar Cardoso, delegada responsável pelos casos. O machismo nessas situações é evidente. “Existe essa ideia de que é natural dos homens seduzirem outras mulheres. Então, se há infidelidade, a culpada é sempre a mulher”, diz Jacira Melo, diretora do Instituto Patrícia Galvão, especializado em questões femininas. “É uma lógica perversa que leva a situações de violência.” Na era da superexposição, a rede social torna-se o canal para a mulher traída justificar seus atos. “Ela se coloca no papel de injustiçada e acredita que será compreendida”, analisa a psicóloga Andrea Jotta, do Núcleo de Pesquisas da Psicologia em Informática da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo. Na verdade, porém, está criando provas contra si. “A partir do vídeo podem surgir inclusive agravantes”, diz Felipe Gonçalves, pesquisador na área de direito digital da Fundação Getulio Vargas (FGV). Foi por meio dos compartilhamentos que a polícia de Praia Grande chegou aos casos, pois nenhuma das vítimas prestou queixa. ___________________________________________ 6# MEDICINA E BEM-ESTAR 6#1 UM MAL POUCO CONHECIDO QUE ATACA O INTESTINO 6#2 PLANTA EFICAZ CONTRA O VÍCIO 6#1 UM MAL POUCO CONHECIDO QUE ATACA O INTESTINO Especialistas se empenham em tornar a doença de Crohn mais conhecida. Entre outros sintomas, ela causa diarreia e fortes dores abdominais. Quanto mais cedo o diagnóstico for obtido, maiores as chances de a enfermidade ser controlada Cilene Pereira (cilene@istoe.com.br) A situação é triste e infelizmente bastante comum. Durante anos, o indivíduo perambula de consultório em consultório em busca de uma resposta para os sintomas que se manifestam há tempos e que pouco a pouco destroem sua qualidade de vida. São desgastes como crises de diarreia frequentes, cólicas abdominais, vômitos e fraqueza nas pernas. Ele pode ser portador da doença de Crohn, uma enfermidade extremamente debilitante e que, muitas vezes, é desconhecida pelos próprios médicos. Por isso, há atualmente um grande esforço por parte dos especialistas para torná-la mais conhecida e seus tratamentos, mais eficazes. ESPERA - A médica Marina demorou anos para saber que era portadora. Medicada, mantém a doença sob controle. O médico Sobrado, especialista no tratamento, lamenta os atrasos para a obtenção do diagnóstico A doença é caracterizada por uma inflamação intestinal crônica. Ela pode atingir todo o sistema digestivo, mas em geral ataca principalmente a parte final do intestino delgado (íleo) e a área que inclui o reto e o ânus. Sabe-se que está associada a marcas negativas do estilo de vida, como maus hábitos alimentares, ansiedade e estresse. A ciência ainda busca identificar todas as suas causas, mas entre as já catalogadas estão o tabagismo, disfunções do sistema imunológico (as células de defesa do corpo passam a atacar as células intestinais) e também desequilíbrios na composição da flora bacteriana do intestino. Estima-se que sua prevalência mundial seja de 30 a 50 casos por 100 mil habitantes. Já o surgimento de novos casos está calculado entre quatro e sete por 100 mil habitantes por ano. Não há dados específicos do Brasil. Em geral, a doença se manifesta a partir da adolescência (por volta dos 15 anos) e até os 40 anos. Além dos sintomas relacionados ao sistema digestivo, ela pode dar sinais em outras partes do corpo. Entre eles estão o surgimento de aftas frequentemente, dores nas articulações, lesões na pele e vermelhidão nos olhos. É exatamente por causa de manifestações por vezes tão distintas que o diagnóstico se torna um desafio para médicos não treinados a identificar a enfermidade. “O paciente acaba procurando um dermatologista quando surge um problema na pele. Depois aparece a vermelhidão nos olhos e ele vai a um oftalmologista. E a resposta sobre o diagnóstico vai sendo adiada”, diz o coloproctologista Carlos Walter Sobrado, professor da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo e presidente do Departamento de Coloproctologia da Associação Paulista de Medicina. O problema do atraso no reconhecimento da enfermidade é que sua progressão pode levar a consequências graves, como o aparecimento de fístulas e estenoses, e até à morte, sem falar no enorme impacto que causa na qualidade de vida pessoal e profissional. A médica paulista Marina Epstein, 29 anos, é uma das portadoras que já sofreram muito por causa da doença. Ela só obteve o diagnóstico há oito anos. Antes disso, passou por crises pontuadas por dores abdominais, sangramentos, diarreia. Hoje, Marina tem a doença sob controle. “Estou muito bem”, conta. Ela faz uso dos recursos que a medicina conseguiu encontrar para tratar a enfermidade e que se destinam a atacar diferentes frentes do problema. Basicamente, são três opções. A primeira são os corticoides, remédios que ajudam a combater a inflamação intestinal em sua fase aguda. A outra alternativa são os imunossupressores. Sua finalidade é diminuir a atividade do sistema imunológico. “É uma forma de fazer com que as células de defesa deixem de atacar as células intestinais”, explica Sobrado. A categoria mais recente a entrar no arsenal contra a doença de Crohn foi a dos medicamentos biológicos. São medicações modernas que atuam sobre substâncias específicas associadas à enfermidade (daí o fato de produzirem menos efeitos colaterais). Por essa razão, apresentam os melhores resultados, com impacto positivo não só no controle dos sintomas, mas também na cicatrização da mucosa intestinal. A escolha do recurso a ser usado deve obedecer a alguns critérios. “É preciso levar em consideração pontos como a gravidade e a extensão da doença”, explica o gastroenterologista Jaime Zaladek Gil, do Hospital Albert Einstein, de São Paulo. Há poucas semanas, a Associação Americana de Gastroenterologia divulgou novas recomendações nesse sentido. “É preciso fazer a estratificação dos riscos do paciente antes de determinarmos a estratégia a ser adotada”, disse à ISTOÉ o médico William Sandborn, da Universidade da Califórnia, em San Diego (EUA), e um dos coordenadores do trabalho que resultou no relatório da entidade americana. “O objetivo é prevenir que a enfermidade evolua para complicações como as fístulas e, em última instância, evitar que cirurgias sejam necessárias”, afirmou. 6#2 PLANTA EFICAZ CONTRA O VÍCIO Pesquisa brasileira mostra que remédio feito a partir de composto extraído de árvore africana interrompeu a dependência de drogas como crack e cocaína em 72% dos casos Cilene Pereira (cilene@istoe.com.br) Pesquisadores da Universidade Federal de São Paulo divulgaram na semana passada resultados animadores sobre a eficácia da ibogaína no tratamento de dependências químicas. O medicamento é produzido a partir de substâncias extraídas da raiz da planta africana iboga. De acordo com trabalho conduzido na instituição, o remédio pode interromper o vício em drogas como o crack, a cocaína, a maconha e também em álcool em 72% dos casos. O artigo sobre a experiência será publicado em dezembro no “The Journal of Psychopharmacology”, importante publicação da área de farmacologia. PODER - Em muitos casos, foi preciso apenas uma dose para interromper a dependência em crack O remédio já é usado no Canadá, na Nova Zelândia e em países da América Central. Ele produz dois efeitos no cérebro. O primeiro é a elevação da concentração de uma substância capaz de criar conexões entre os neurônios e de reparar as que foram danificadas pelas drogas. A segunda é possibilitar a manutenção de quantidades adequadas de compostos cerebrais relacionados à sensação de prazer (serotononina, dopamina e noradrenalina). Dessa forma, de uma vez só, o indivíduo tem melhorado o funcionamento cerebral – antes prejudicado – e redescobre o prazer em outras coisas, e não mais nas drogas. Na experiência da Unifesp, 75 pacientes (67 homens e oito mulheres) foram acompanhados entre 2005 e 2013. Todos haviam sido submetidos a vários tratamentos antes. “Após receberem a Ibogaína, 55% dos homens e 100% das mulheres se livraram da dependência por pelo menos um ano”, diz o médico Bruno Chaves, um dos idealizadores da pesquisa, coordenada pelo psiquiatra Dartiu Xavier. É um índice significativo, principalmente quando comparado ao obtido com a terapia tradicional, que obtém resultados semelhantes em apenas 5% a 10% dos casos. A maioria precisou de apenas uma dose do remédio. O dependente fica internado entre quatro e 48 horas para que receba acompanhamento médico durante a ação da ibogaína. O remédio – que tem sua importação permitida pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária – não é alucinógeno, mas estimula a produção de sonhos. ___________________________________________ 7# ECONOMIA E NEGÓCIOS 22.10.14 7#1 O NOBEL DE OLHO NOS MONOPÓLIOS 7#2 COMO ECONOMIZAR NA COMPRA DE PASSAGENS AÉREAS 7#1 O NOBEL DE OLHO NOS MONOPÓLIOS Terceiro francês a receber o Nobel de Economia, Jean Tirole ajudou governos a regular a concorrência nos mercados mais concentrados. Agora, ao mirar as empresas de tecnologia, sua maior contribuição ainda pode estar por vir Mariana Queiroz Barboza (mariana.barboza@istoe.com.br) Conhecido pela humildade e discrição, o teórico francês Jean Tirole recebeu com surpresa a notícia de que havia ganhado o Nobel de Economia na segunda-feira 13. “Precisei de meia hora para me recuperar da ligação (do comitê do Nobel)”, declarou. Professor da Universidade de Toulouse, na França, Tirole já era um dos economistas mais influentes do mundo e seu livro sobre a teoria da organização industrial, de 1988, uma das principais referências bibliográficas nos cursos de pós-graduação em economia. Mas foi sua contribuição para a regulação de mercados em que poucas ou apenas uma empresa têm muito poder que pesou na decisão dos jurados de homenageá-lo. Sem regulação, essas indústrias produzem muitas vezes “resultados sociais indesejados”, como preços altos e baixa eficiência, declara a Academia Real das Ciências da Suécia, responsável pela premiação. Seus estudos têm, portanto, ampla aplicação prática. TEORIA NA PRÁTICA - Jean Tirole teve influência na criação das agências reguladoras no Brasil pós-privatizações O ponto-chave da teoria de Tirole sobre a área de regulação é que cada setor deve ter uma política de concorrência específica – antes dele, como destacou o comitê do Nobel, as regras gerais valiam para todos os mercados. Assim, o francês derrubou antigas certezas de que tetos tarifários, por exemplo, trazem eficiência e ganhos de produtividade em todas as situações. “Antes dos trabalhos de Jean Tirole e de seu mais importante coautor, Jean-Jacques Laffont, regulação era um assunto de engenheiros, não de economistas”, disse à ISTOÉ Renato Gomes, professor da Universidade de Toulouse. “Se pensava que o problema principal era determinar quanto o monopólio deve produzir e que preço pode cobrar.” Nessa abordagem, desconsiderava-se a possibilidade de as empresas manipularem custos para maximizar os lucros, sem qualquer preocupação com o interesse público. As ideias propostas por Tirole descobriram incentivos para os dois lados e encontraram aplicação, sobretudo, nas áreas de telecomunicações e bancos. O vencedor do Nobel atualmente trabalha junto com Gomes numa pesquisa sobre regulação de plataformas de busca e compras pela internet. Num momento em que a Comissão Europeia, braço executivo da União Europeia, reabre uma investigação antitruste contra o Google, essa é a nova fronteira dos oligopólios a ser explorada. “Tirole mostra que, num mercado onde há poucas empresas, é preciso limitar a capacidade delas de restringir a entrada de novos concorrentes”, afirma Rafael Costa Lima, professor da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da Universidade de São Paulo e ex-aluno de Tirole em Toulouse. É justamente isso que se suspeita que o Google e outros gigantes da tecnologia, que também incluem a Amazon e o Facebook, façam. Seu poder é enorme. De acordo com um levantamento da consultoria americana Net Applications, o Google domina 71% do mercado global de buscas on-line. No Brasil, o índice chega a 98%. Sem cobrar do consumidor ou praticando preços muito mais baixos que os dos concorrentes, essas companhias conquistam importantes fatias de mercado, acumulam poderes e sufocam potenciais oponentes. No Brasil, as conclusões apresentadas por Tirole tiveram peso especial no período das privatizações, nos anos 1990, e influenciaram a criação das agências reguladoras e dos órgãos de defesa da concorrência. Ainda assim, segundo Armando Castelar, coordenador do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas, há espaço para mais. “A necessidade de melhorar e atualizar marcos regulatórios é hoje um dos principais entraves ao investimento em setores estratégicos no País”, afirma. “Esse é um momento propício para usufruir de seus trabalhos.” Embora o francês tenha ganhado o prêmio sozinho na semana passada, é justo dizer que Tirole deve muito ao colega e mentor Jean-Jacques Laffont, morto em 2004. Ao receber o Nobel, o economista disse que Laffont merecia estar junto com ele. 7#2 COMO ECONOMIZAR NA COMPRA DE PASSAGENS AÉREAS O consumidor atento pode gastar até 65% menos na aquisição de bilhetes Luisa Purchio (luisapurchio@istoe.com.br) Com a abertura do mercado de passagens aéreas, em meados de 2001, as empresas de aviação civil passaram a comercializar seus produtos conforme as regras da livre concorrência. Desde então, viajar ficou mais acessível, mas os preços das passagens nunca mais deixaram de oscilar, fazendo com que o consumidor se sinta muitas vezes desorientado. De acordo com a Associação Brasileira das Empresas Aéreas, o País está a frente dos EUA, China e Japão nesse vaivém dos preços. Entender essa variação é fator determinante para economizar. “Descobrimos que o período com maior probabilidade de se encontrar o menor preço é de 60 dias antes da data que se pretende embarcar”, diz Nicolas Scafuro, diretor do Kayak, site buscador de produtos de viagem. Empresas como essa estão surgindo com força no Brasil e, mais que comparar preços, elas fazem estatísticas, disponibilizam diariamente as variações de valores e as enviam ao consumidor que se cadastrar. Antes de concluir a compra, no entanto, é preciso ficar atento às condições da viagem. “As informações muitas vezes não são claras e o viajante compra o bilhete sem perceber, por exemplo, que não poderá alterar a data sem o pagamento de multa”, diz Cláudio Candiota Filho, presidente da Associação Nacional em Defesa dos Direitos dos Passageiros do Transporte Aéreo. __________________________________________ 8# MUNDO 22.10.14 PUTIN É UM BOM CAMARADA Como se fosse dono do país, o presidente russo ajeita a vida de seus velhos amigos dando-lhes altos cargos em órgãos estatais, bancos e empresas - e, claro, a mais privilegiada é a sua namorada Luisa Purchio (luisapurchio@istoe.com.br) Amigos, amigos, negócios à parte. Essa é uma regra que não vale para o presidente da Rússia, Vladimir Putin. Numa adaptação bem própria, ele segue o princípio de amigos, amigos, negócio fechado. O mais recente exemplo disso é a transferência de tudo o que envolve o setor de eletricidade no país para o banco Rossiya, presidido por Yuri Kovalchuk, velho amigo de Putin, companheiro de confidências, ópera, festas, vodca e rubros desde os tempos em que a projeção do presidente não ultrapassava os limites de São Petersburgo. Um detalhe em nada desprezível é que, quando se fala do mercado de eletricidade na Rússia, está se falando de nada menos que 2% do PIB do país – ou seja, o negócio com que ele presenteou Kovalchuk gira na casa dos US$ 42,4 bilhões e já rendeu ao amigo cerca de US$ 100 milhões. “O Rossiya é o banco pessoal de Putin”, alfinetou certa vez o presidente dos EUA, Barack Obama, ao saber que contas de empresas estatais e até da Frota do Mar Negro na Crimeia já foram transferidas ao Rossiya, que soma atualmente US$ 11 bilhões em ativos e possui participações em diversos setores da economia – entre eles diversos órgãos ligados à mídia, que amplificam o poder de sedução política de Vladimir Putin junto à opinião pública. GINÁSTICA NO PODER - Putin e a namorada, Alina (nos tempos de atleta, no detalhe): ele a transformou em todo-poderosa da mídia, justamente para a mídia falar bem dele O presidente russo também tem sido um bom camarada para o famoso violoncelista Sergei Roldugin. A sua erudição e o seu virtuosismo são incontestáveis, mas, quando se atesta a fortuna do músico, fica claro que tem um dedo de Putin no robusto instrumento: US$ 350 milhões. A amizade é antiga, vem lá da década de 1970 quando ele conheceu o hoje presidente e fez-se padrinho de Maria, sua filha mais velha. Roldugin garante, segundo reportagem do “The New York Times”, que seu capital se multiplicou graças a bons investimentos feitos em papéis de pequenos bancos, conduzidos por homens próximos a Putin. Dinheiro é uma coisa, arte é outra coisa, e nesse campo Putin funcionou como um mecenas: Roldugin é diretor artístico da Casa da Música, uma academia onde se aprende os clássicos, sediada num sofisticado palácio de São Petersburgo, datado do século XIX e que pertenceu a familiares do czar Alexander II. A escola foi aberta com a ajuda de Putin e isso toda a Rússia sabe e aplaude. Roldugin costuma presentear o amigo com concertos particulares no Kremlin. No programa, Mozart, Weber e Tchaikovsky. Esse cenário remete, pouco mais, pouco menos, aos tempos de monarquia e ao deleite de reis e rainhas com seus artistas da cortes. De volta à Rússia de hoje, no entanto, o regime governamental burocrático, estamental e patrimonialista, assim como a política de apadrinhamento de Putin, é herança das obscuras estruturas de poder da ex-União das Repúblicas Socialistas Soviéticas nas quais também o público e o privado são confundidos pelos mandatários. O capitalismo de compadres é descendente direto do comunismo de camaradas, e Vladimir Putin foi treinado nessa cultura e práxis política ao trabalhar durante cinco anos na extinta Alemanha Oriental como oficial da KGB, a agência de espionagem e polícia secreta da URSS. Quando o império soviético ruiu, Putin foi trabalhar no escritório do prefeito de São Petersburgo, onde teve uma malsucedida carreira de amanuense. Afastado do serviço, recorreu aos amigos, obteve apoio e solidariedade. Nele cristalizou-se então, tanto por temperamento quanto pelo que a vida lhe bateu, o princípio de aos amigos tudo, aos inimigos a lei. A velha camaradagem transborda também para esferas mais íntimas do presidente. Se ele ajeita e acerta a vida dos amigos, dá para imaginar a sua dedicação com as mulheres pelas quais se apaixona. É o caso de sua namorada, Alina Kabaeva, com quem, de acordo com a imprensa internacional, o presidente tem um filho e até cogitou se casar, mesmo já sendo casado. De Putin, Alina ganhou joias e cargos privilegiados. Ex-campeã de ginástica rítmica, ela é quase três décadas mais nova que o presidente, que está com 62 anos, já foi eleita pelo mesmo partido de Putin para o Parlamento Russo onde exerceu o cargo de deputada por seis anos e, recentemente, assumiu o cargo de dirigente do Grupo Nacional de Mídia, a principal empresa de comunicação da Rússia – pró-Kremlin, naturalmente. Desde 2008, quando esse conglomerado foi criado, a ex-atleta dirige o conselho de supervisão do grupo. E surpresa: um de seus proprietários é o antigo camarada Yuri Kovalchuk, aquele do banco Rossiya – lembram dele? É assim que o ciclo de amizades de Vladimir Putin se fecha. E sempre em torno dele. _____________________________________ 9# TECNOLOGIA E MEIO AMBIENTE 22.10.14 MATANÇA INDISCRIMINADA Estudo da WWF com mais de 3 mil espécies mostra que os humanos destruíram 50% da população de animais selvagens do mundo em apenas 40 anos Cesar Soto (cesar.soto@istoe.com.br) O mundo está se tornando um lugar inóspito para os animais selvagens. Não importa o local no planeta em que vivem ou mesmo se são espécies terrestres, marinhas ou de água doce. Um estudo inédito divulgado pela ONG WWF, uma das mais importantes do mundo na defesa da natureza, mostra, em números, que os seres humanos estão dizimando os animais selvagens de forma indiscriminada e, principalmente, irresponsável. Batizado de Planeta Vivo, o relatório da organização, com base em centenas de estudos científicos desenvolvidos nos quatro cantos do mundo, aponta que mais de 50% das populações dos principais animais selvagens do planeta simplesmente desapareceram nas últimas quatro décadas. O estudo engloba o acompanhamento de mais de 3 mil espécies de vertebrados em todos os continentes. São números chocantes, que mostram o impacto direto da ação do homem na natureza num período em que a população mundial seguiu caminho inverso, dobrando de tamanho entre 1970 e 2010. Os dados são ainda mais impressionantes quando vistos de forma individual. Os elefantes da floresta, por exemplo, tradicionais no oeste e no centro da África, sofreram uma redução de 60% de sua população apenas entre 2002 e 2011. No caso dos peixes de água doce, a redução do número de animais vivendo nos rios do planeta foi de quase 80% nos últimos 40 anos. O desaparecimento de tantos animais pode ser explicado pela caça indiscriminada, pela destruição dos habitats naturais e pelo desmatamento motivado pela agricultura ou pela geração de energia, como em casos de hidrelétricas. Estas últimas, aliás, são a principal ameaça na América Latina, região que perdeu 83% de sua população animal, a maior queda em todo o mundo. “Em países tropicais, que concentram a maior parte das florestas, acontece muito a transformação da vegetação natural em sistemas agrícolas. No caso da Amazônia, é a pastagem”, explica o superintendente de conservação da WWF-Brasil, Mauro Armelin. “Esse estudo serve de alerta para mudarmos nossa maneira de pensar, de nos relacionar com os animais. Senão repetiremos o que os portugueses fizeram na colônia, expandindo a exploração inconsequentemente. O governo tem de pensar em novas tecnologias para a agricultura, para que se produza mais em um menor espaço.” _____________________________________ 10# CULTURA 22.10.14 10#1 ARTES VISUAIS - DALÍ, O MODERNO CONSERVADOR 10#2 LIVROS - PARA SEMPRE SOPHIA 10#3 TELEVISÃO - VOCÊ DECIDE O FINAL 10#4 EM CARTAZ – CINEMA - ENTRE A CIVILIZAÇÃO E A BARBÁRIE 10#5 EM CARTAZ – LIVROS - O DICKENS QUE OS GRANDES LERAM 10#6 EM CARTAZ – BLU-RAY - CAIXA TRAZ MIYASAKI RARO E POLÍTICO 10#7 EM CARTAZ – EXPOSIÇÃO - SURREALISMO LATINO 10#8 EM CARTAZ – CD - O GOLPE DUPLO DE PRINCE 10#9 EM CARTAZ – AGENDA - PUBLIC/DESCONSTRUÇÃO/MÚSICA 10#1 ARTES VISUAIS - DALÍ, O MODERNO CONSERVADOR Exposição evoca a monumentalidade da vida e da obra do pintor catalão, marcadas por contradições Paula Alzugaray Vivo em permanente estado de ereção intelectual”, declarou certa vez Salvador Dalí (1904-1989), o mais midiático expoente do movimento surrealista, pintor compulsivo e autor das frases de impacto mais bombásticas do século XX, em retrospectiva no Brasil. Embora celebrizado pela pintura, “Salvador Dalí”, em cartaz no Instituto Tomie Ohtake, quer mostrar que, além de pintor, o artista catalão foi desenhista, pensador, escritor, apaixonado pela ciência, catalisador das correntes de vanguarda, ilustrador, designer, cineasta e cenógrafo, “um criador, no sentido mais amplo do termo”, segundo a curadora Montse Aguer, diretora do Centro de Estudos Dalinianos na Fundação Gala-Dalí. DESCONSTRUÇÃO - "A Máxima Velocidade da Madonna de Rafael", obra finalizada por Salvador Dalí em 1954, será vista pela primeira vez em São Paulo, no Instituto Tomie Ohtake Entre as 24 pinturas, 135 gravuras e desenhos, 16 fotos, três filmes e 39 documentos em exposição no ITO estão algumas das mais importantes obras de Dalí, como “O Sentimento da Velocidade” (1931), “O Espectro do Sex-Appeal” (1932) e “Figura e Drapeado em uma Paisagem” (1935). Com o intuito de “repensar o lugar de Salvador Dalí na história da arte do século XX e considerá-lo muito além de seu papel de artífice do movimento surrealista”, a exposição confirma que talvez a maior de suas obras tenha sido ele mesmo. Dalí foi acima de tudo um performer, um precursor da ideia de “obra de arte total” (conquistada a partir da justaposição de sua obra e sua personagem). A exposição compreende os anos de formação, quando estudava belas-artes em Madri, mas se mostrava mais interessado nos ventos futuristas e cubistas que lhe chegavam de Paris nas páginas das revistas da livraria de seu tio Anselm Domènech, em Barcelona. A mudança para Paris, em 1929, e o ingresso no movimento surrealista, estão representados pela exibição dos magistrais “Um Cão Andaluz” e “A Idade do Ouro”, curta-metragens realizados em parceria com o conterrâneo Luis Buñuel. Nas telas, nos desenhos e nas gravuras da fase surrealista, o artista começa a dar vazão às obsessões, às inquietações, às paixões pelo invisível, pelo misticismo e pelo inconsciente. Em Paris, traz à tona a pesquisa sobre a duplicidade da identidade, um tema presente desde “Autorretrato Desdobrando-se em Três”, de 1926-27, até os autorretratos da fase final, em que aparece sempre fundido à imagem de Gala, sua esposa, musa, colaboradora e cara-metade. A melhor chave para a compreensão de Dalí é seu método paranoico-crítico de interpretação da realidade, definido por ele como um “método espontâneo de conhecimento irracional apoiado na subjetivação sistemática de associações e interpretações delirantes”. Mas talvez o mais chocante de seus delírios e de suas crises identitárias tenha sido seu apoio à ditadura de Franco, além de episódios envolvendo a delação de Buñuel nos EUA – dados incômodos, que historiadores de Dalí costumam evitar, mas que lhe causaram a expulsão do movimento surrealista. A mostra chega ao Instituto Tomie Ohtake, em São Paulo, vinda do Centro Cultural Banco do Brasil no Rio de Janeiro, onde atraiu 978 mil visitantes. 10#2 LIVROS - PARA SEMPRE SOPHIA Uma das maiores musas do cinema de todos os tempos, Sophia Loren conta sua história em uma reveladora autobiografia, que traz fotografias e bilhetes inéditos escritos por personalidades como Cary Grant e Frank Sinatra Paula Rocha (paularocha@istoe.com.br) "Quando penso na minha vida, às vezes me parece impossível que seja tudo verdade. Um dia desses, vou acordar de manhã e perceber que tudo não passou de um sonho.” É com essa confissão que a atriz italiana Sophia Loren, 80 anos completados em setembro, apresenta ao leitor a sua singular história de vida, na recém-lançada autobiografia “Ontem, Hoje e Amanhã” (Editora BestSeller), com lançamento previsto para a primeira semana de novembro no Brasil. Batizado em referência a um de seus filmes mais cultuados, dirigido por Vittorio de Sica (1901-1974), o livro revela detalhes da infância pobre de Sophia na pequena vila de Pozzuoli, na Itália, passagens inusitadas sobre os bastidores da indústria de Hollywood, e sua relação com personalidades do calibre de Frank Sinatra, Richard Burton e, seu amor platônico, Cary Grant, cujos bilhetes e cartas são reproduzidos em um encarte especial com 64 páginas, que inclui ainda fotografias inéditas do acervo pessoal da estrela napolitana, uma das maiores musas do cinema internacional. ASCENSÃO - Sophia ao lado de Carlo Mazzarella em "Carrossel Napolitano" (1954) Prosa leve e saborosa, a narrativa começa com a nonna Sophia preparando um jantar de Natal para os dois filhos, Carlo e Edoardo, fruto do casamento de quatro décadas com o produtor Carlo Ponti (1912-2007), e os quatro netos, em sua casa atual, na Suíça. Depois de pendurar o avental sujo de farinha e tentar dormir, sem sucesso, ela caminha até seu escritório, onde encontra sua “caixa de segredos”: um baú com cartas, telegramas, bilhetes e fotografias que ela conta que nem lembrava mais que existiam, e que se tornam o ponto de partida para seu livro de memórias. CONTO DE FADAS - Capa da autobiografia "Ontem, Hoje e Amanhã" (Editora BestSeller) Entre as lembranças mais apetitosas da atriz destacam-se as curiosidades da proximidade com as grandes personalidades de seu tempo, a quem Sophia, apesar de ser ela própria uma diva, reverencia com humildade. Sobre a convivência com Frank Sinatra (1915-1998) no set do longa “Orgulho e Paixão”, em 1956, a atriz descreve o astro como um homem bom e divertido, “embora estivesse sofrendo por causa de Ava Gardner e não estivesse exatamente com o melhor dos humores”. Sophia também presenciou de perto a dor de outro colega de cena e amigo, o britânico Richard Burton (1925-1984), que no início dos anos 70 vivia uma relação tempestuosa com Elizabeth Taylor (1932-2011). Em uma carta de 1974, Burton declarou à amiga: “Elizabeth (Taylor) nunca sairá dos meus ossos, mas finalmente está fora da minha cabeça e o amor que eu sentia se transformou em compaixão. (...) Não há nada que eu possa fazer por ela sem me destruir junto”. A recordação mais tocante do livro, porém, é sem dúvida o amor platônico vivido entre Sophia e o galã Cary Grant (1904-1986). A dupla conviveu intensamente por seis meses durante as filmagens de “Orgulho e Paixão” e, aos poucos, a amizade deu lugar ao amor. No entanto, tanto Sophia quanto Grant estavam comprometidos com outras pessoas na época e a atriz deixa subentendido no livro que a paixão dos dois nunca foi concretizada. Na última noite em que jantaram juntos, Grant, em um movimento inesperado, pediu Sophia em casamento, mas ela, sabendo da impossibilidade do romance, pediu um tempo para pensar. No dia seguinte, recebeu de Grant um buquê de rosas com o bilhete: “Perdoe-me, garota querida – eu te pressiono muito. Reze – e eu farei o mesmo. (...) Apenas com pensamentos felizes, Cary”. Sophia acabou permanecendo ao lado do companheiro de toda a sua vida, Carlo Ponti, e Grant encontrou o amor nos braços de outra mulher, Barbara Hutton. Mais do que uma viagem fascinante pelos bastidores da história do cinema, a autobiografia de Sophia é também um retrato de uma mulher verdadeira e sincera, que, apesar de todas as adversidades, conseguiu se tornar uma das personalidades mais admiradas do mundo, como num conto de fadas da vida real. “Sem a vida, o conto de fadas perde a magia, e vice-versa. Bom é caminhar no meio, sem renunciar jamais nem a um nem a outra”, ensina Sophia. 10#3 TELEVISÃO - VOCÊ DECIDE O FINAL Novelas brasileiras ganham versões independentes na internet que agradam mais que a trama original, arrebanhando seguidores que se multiplicam por dia Daniel Solyszko (daniel@istoe.com.br) Febre em redes sociais, as fan fictions (ou fanfics) são textos escritos por fãs de filmes ou seriados em que os personagens ganham novos desfechos. No Brasil, o gênero tem crescido com as narrativas emprestadas de telenovelas como “Geração Brasil” (Globo). Apesar de a novela das 19 horas, que deve acabar no dia 31 de outubro, registrar uma média de 18 pontos de audiência no Ibope, número considerado baixo (“Cheia de Charme”, exibida no mesmo horário, chegou a registrar 30 pontos), ela é uma das que mais repercutem na web, com mais de 50 páginas diferentes sendo alimentadas diariamente, que chegam a receber 30 mil visitas por mês. Filipe Miguez e Izabel de Oliveira, roteiristas de “Geração Brasil”, não se ressentem de ver a sua criação ganhando novos rumos na internet. Eles acompanham os sites e encaram o sucesso dos posts como termômetros para avaliar a repercussão do seu trabalho.“Temos uma boa medida do impacto de certos momentos da trama e de quais personagens as pessoas gostam mais ou menos”, diz Isabel. ROMANCE - O casal Megan (Isabelle Drummond) e Davi (Humberto Carrão), de "Geração Brasil", que inspirou mais de 50 fanfics A maior parte das páginas sobre “Geração Brasil” explora o casal jovem da trama, Megan (Isabelle Drummond), loira rica e mimada, inspirada na atriz Lindsay Lohan, e Davi (Humberto Carrão), um nerd viciado em computadores, de origem pobre. No original eles ficam juntos por um curto período, e o personagem acaba se envolvendo com uma antiga namorada. Sabrina Lima, que começou a escrever fanfics inspiradas no seriado “Arquivo X” no final dos anos 1990, é a autora de “Love Me Harder”, em que dá destaque ao relacionamento entre o casal. “Os autores parecem estar tentando minar o espaço de Megan, forçando uma reaproximação entre Davi e a ex-namorada, quando a grande maioria do público rejeita isso. O que faço é dar mais personalidade a Davi, dando aos leitores algo que a novela não tem oferecido ultimamente”, diz. Sabrina publica sob o pseudônimo “Lab Girl” em fóruns como o “Need For Fics” e o site “Nyah”, principal do estilo no Brasil, com mais de 160 mil histórias publicadas e 300 mil usuários cadastrados, somando mais de 4 milhões de visitas por mês. Entre as novelas que geraram o maior número de adaptações estão a extinta “Avenida Brasil” (Globo) e as dedicadas ao público adolescente, como “Chiquititas” (importadas pelo SBT) e “Malhação” (Globo). Micheli Jochem, estudante de 20 anos, criou uma história baseada em “Chiquititas” na qual a personagem Milena, de 16 anos (13 na trama original), se envolve romanticamente com Armando, 34, algo que nem sequer é insinuado na novela. Fã dos filmes da série “Crepúsculo” e de “A Culpa É das Estrelas”, ela acha que encontrou um caminho genuinamente nacional para as fanfics. De fato, a novela brasileira é conhecida no mundo como um dos melhores produtos culturais do país. E poucas nações têm uma plateia tão grande e assídua na internet como o Brasil. Os “fanficcionistas” só ligaram os pontos. 10#4 EM CARTAZ – CINEMA - ENTRE A CIVILIZAÇÃO E A BARBÁRIE Daniel Solyszko (daniel@istoe.com.br) Terceiro longa-metragem do diretor argentino Damián Szifrón, “Relatos Selvagens” reúne seis histórias de humor negro envolvendo personagens em busca de vingança. O ator Ricardo Darín aparece em um dos episódios como um especialista em demolição que, depois de perder o emprego, acaba se tornando uma espécie de herói terrorista local. Seguindo uma linha parecida, as outras narrativas acompanham indivíduos em situações-limite em que decidem abandonar seus últimos resquícios de civilidade. Coproduzido pelo espanhol Pedro Almodóvar, o filme foi exibido na última edição do Festival de Cannes e escolhido para representar a Argentina na disputa pelo próximo Oscar. +5 filmes com Ricardo Darín Um Conto Chinês Filme de Sebastián Borensztein em que dono de loja recluso decide ajudar imigrante chinês que não fala espanhol O Segredo dos Seus Olhos Ex-oficial de justiça escreve livro baseado em tragédia real, no longa-metragem de Juan José Campanella Abutres Advogado especializado em acidentes rodoviários trabalha para agência envolvida em casos de corrupção, na obra de Pablo Trapero O Filho da Noiva Campanella dirige a comédia sobre dono de restaurante em crise que enfrenta problemas com a família Nove Rainhas Dois golpistas se reúnem para participar de negociação envolvendo selos falsificados no filme de Fabián Bielinsky 10#5 EM CARTAZ – LIVROS - O DICKENS QUE OS GRANDES LERAM Ana Weiss (ana.weiss@istoe.com.br) Charles Dickens dizia que “David Copperfield” era seu filho favorito. Publicado originalmente em episódios entre 1849 e 1850, as narrativas de pendor autobiográfico (nunca inteiramente admitido) fizeram menos sucesso de vendas do que romances que vieram depois, mas nenhum outro é tão citado por seus grandes pares: Dostoiévski contou ter se deleitado em sua prisão da Sibéria com as primeiras páginas; Henry James confessou que se escondia na infância para ouvir a mãe lendo a novela; “Amerika”, o último de Kafka, nasceu para ser uma paráfrase do romance inglês. Na nova tradução que chega ao País pela Cosac Naify, os editores cuidaram de juntar uma pequena fortuna crítica. Nela, um texto em que Virginia Woolf, que não tinha nenhum afeto por Dickens – muito pelo contrário –, admite a genialidade do conterrâneo. “É quase demais o que seu olhar capta (...) ele tem o poder extremo da visualização”, escreveu a autora. 10#6 EM CARTAZ – BLU-RAY - CAIXA TRAZ MIYASAKI RARO E POLÍTICO Ana Weiss (ana.weiss@istoe.com.br) Apesar de toda a decadência do mercado físico de filmes, a Versátil tem insistido em lançar caixas preciosas como a da filmografia de Hayao Miyasaki e seu Studio Ghibli, da qual apresenta um novo conjunto de animações importantes, que não se acha disponível para download. “O Castelo no Céu”, “Kiki” e “Porco Rosso”, anteriores a “A Viagem de Chihiro” (que lhe valeu o Oscar), trazem a obsessão pela aeronavegação e a fantasia ainda com contornos políticos claros. “Porco Rosso”, por exemplo, é um grande aviador italiano que se torna um mercenário para não servir ao fascismo. 10#7 EM CARTAZ – EXPOSIÇÃO - SURREALISMO LATINO Daniel Solyszko (daniel@istoe.com.br) Com cerca de 85 fotografias do cineasta espanhol produzidas entre 1947 e 1965, “México Fotografado por Luis Buñuel” mostra os bastidores de filmes realizados no período em que morou no país. Alguns dos retratos foram tirados por Buñuel antes do início das gravações dos filmes que rodou em solo mexicano, como parte do processo de pesquisa que ele costumava utilizar. A mostra fica em cartaz até 29 de outubro na Cinemateca Brasileira, em São Paulo, que exibirá seus filmes , como “Um Cão Andaluz” e “A Idade do Ouro”. 10#8 EM CARTAZ – CD - O GOLPE DUPLO DE PRINCE Rodrigo Cardoso (rcardoso@istoe.com.br) Como excesso para ele é o mínimo, Prince ressurge de um hiato de quatro anos com um duplo mortal na indústria fonográfica e lança ao mesmo tempo o álbum solo “Art Official Age” e, em banda, “Plectrum Electrum”, com as roqueiras do 3rd Eye Girl. Como uma cobra excêntrica de quem nunca se pode antever o bote, Prince, do alto dos seus 56 anos, dá duas opções às “vítimas”. A festa funk e o r&b do primeiro o colocam mais próximo daquele dos anos 80, que levantava qualquer pista, e da multifacetada sonoridade. Já ao lado de 3rd Eye Girl, ele e as garotas se fundem em um feliz casamento a quatro. 10#9 EM CARTAZ – AGENDA - PUBLIC/DESCONSTRUÇÃO/MÚSICA Daniel Solyszko (daniel@istoe.com.br) Public Enemy (Clube Tietê, em São Paulo, 18 de outubro) O grupo de hip-hop de Nova York toca clássicos e novidades em show gratuito O show gratuito terá canções clássicas como "Can't truss it". Desconstrução da Paisagem (Museu Municipal de Arte de Curitiba, até 1º de fevereiro) Mostra do artista espanhol Isidro Blasco, com imagens que propõem um olhar diferente sobre a capital paranaense Música & Cinema (Sesc Pinheiros, em São Paulo, até 11 de janeiro) Exposição interativa que explora o universo das trilhas sonoras clássicas e do uso da música em filmes ______________________________________ 11# A SEMANA 22.10.14 por Antonio Carlos Prado e Elaine Ortiz "PRONTA PARA MORRER" No dia 1º de novembro, a jovem desta foto vai morrer. Ela é americana, chama-se Brittany Maynard, tem 29 anos e está com um tumor no cérebro já tratado em vão com medicamentos e cirurgias. Informada pelos especialistas de que não sobreviverá até o fim do ano e que padecerá de dores lancinantes e possível alteração de personalidade, Brittany decidiu então mudar-se da Califórnia para o Oregon, estado no qual a legislação permite a prescrição médica para o suicídio assistido. “Eu não sou suicida e não quero morrer. Mas já estou morrendo, e quero que a morte ocorra nos meus próprios termos”, diz Brittany. “Pretendo, no último momento, estar no meu quarto, em paz, ouvindo alguma música da qual eu gosto.” A sua decisão levantou novamente nos EUA a discussão sobre o significado ético desse procedimento. No Oregon, 1.173 doentes já requisitaram prescrições para tal finalidade – 752 de fato tomaram as drogas e morreram. "SECRETÁRIO DO BEM-ESTAR DA INGLATERRA OFENDE PESSOAS COM NECESSIDADES ESPECIAIS" Enquanto muitos países do planeta, entre eles o Brasil, comemoram a cada dia a conquista de direitos a portadores de necessidades especiais, uma nação que é referência mundial no campo da ciência e da justiça está deixando a desejar. Na semana passada, o secretário do Bem-Estar Social da Inglaterra, David Freud (foto), foi obrigado pelo governo a pedir desculpas aos deficientes físicos britânicos após criticar o fato de eles ganharem seis libras e meia por hora de trabalho (R$ 25,90). “Essas pessoas não valem o salário que recebem”, disse Freud, sugerindo que elas fossem remuneradas com apenas duas libras. O primeiro-ministro, David Cameron, rebateu imediatamente a declaração discriminatória e sentiu o preconceito do secretário doer-lhe na alma e na carne: Cameron é filho de um homem com deficiência nas pernas e pai de uma criança com paralisia cerebral. "SEXO E DROGAS ENTRAM NO PIB ITALIANO" Para driblar aquilo que é definido como recessão técnica (dois trimestres consecutivos de retração na economia), o governo italiano tomou uma decisão inusitada: incluir a prostituição e o tráfico de drogas no cálculo de seu PIB. O objetivo é dar mais chances ao primeiro-ministro do país, Matteo Renzi, para que o déficit seja mantido abaixo do limite de 3% fixado pela União Europeia. "Sínodo Do Nada" Sempre que um católico conservador protesta, cem católicos liberais coçam a cabeça e começam a duvidar de suas convicções. A tradição tem peso. Não foi diferente agora com o documento produzido pelo Sínodo da Família, que congregou duas centenas de bispos e cardeais no Vaticano ao longo da semana passada. No caminho liberal do papa Francisco, que cumpre a missão jesuítica de estancar a evasão de fiéis, o documento abordava temas sensíveis como a permissão para que católicos divorciados possam se casar novamente na Igreja (o que implica poderem comungar), valorizava “dons e qualidades” dos gays e não demonizava os contraceptivos. Como era de se esperar, conservadores protestaram. Também como era de se esperar, os liberais recuaram por intermédio do porta-voz do Vaticano, Federico Lombardi. Ele frisou que o documento será novamente debatido em 2015. 10 MIL" 10 mil novos casos de contaminação por ebola podem acontecer, a cada semana, a partir do começo de dezembro. O alerta é da OMS. “Nunca vi um caso de saúde pública ameaçar tanto a própria sobrevivência de países que já são muito pobres”, declarou a diretora-geral da entidade, Margaret Chan. "COTAS PARA NEGROS NO MINISTÉRIO PÚBLICO" No início do ano que vem, o Conselho Nacional do Ministério Público decidirá se a instituição adotará em seus concursos de admissão em todo o País o sistema de cotas para negros. Dos três poderes da República, atualmente apenas o Executivo já tem esse tipo de reserva de vagas. "INQUÉRITO CONTRA SERRA É ARQUIVADO" O ex-governador e senador eleito pelo PSDB José Serra não será ouvido no caso do cartel de empresas que atuaram em licitações de trens em São Paulo. O Conselho Superior do Ministério Público paulista arquivou na terça-feira 14 a investigação sobre o suposto envolvimento de Serra nesse esquema de corrupção, homologando assim a decisão do procurador-geral de Justiça, Márcio Elias Rosa. Em outro inquérito sobre o cartel, conduzido pela Polícia Federal, o senador eleito foi intimado a prestar esclarecimentos. O seu depoimento estava marcado para o dia 7 de outubro, mas foi adiado e ainda não tem nova data agendada. DESCOBERTO O PORTO DE ONDE PARTIU COLOMBO" Que a expedição do navegante genovês Cristóvão Colombo para a conquista da América partiu em 1492 do Puerto de Palos, na região espanhola da Andaluzia, isso já se sabia. O que se passa a conhecer agora, graças à descoberta de arqueólogos da Universidad de Huelva, são vestígios concretos desse porto: escombros de paredes, fornos de artesanato, local para a ancoragem de barcos, pátio com 800 metros para atividades aduaneiras e armazéns. "IGUALA É A BOCA DO LOBO" Continuavam desaparecidos no México até a noite da quinta-feira 16 os 43 estudantes que há cerca de um mês foram abordados na região de Iguala por traficantes e policiais que trabalham para o crime organizado. Na semana passada a população foi às ruas para exigir que o governo se empenhe mais e melhor nas buscas. A esperança de seus familiares de ainda os encontrar com vida aumentou quando testes genéticos apontaram que os 28 corpos localizados em valas comuns nessa região não são dos alunos. "DRONE SOBREVOA CAMPO DE FUTEBOL" Não foi a paixão pelo futebol o que se viu na Sérvia na semana passada no estádio do Partizan Belgrado. Viu-se, isso sim, a manifestação de uma rivalidade histórica que vem da Guerra de Kosovo na década de 1990. Sérvia e Albânia disputavam uma partida pelas Eliminatórias da Eurocopa de 2016 quando um drone carregando uma bandeira da Albânia sobrevoou o campo. Confusão generalizada a partir de então entre os jogadores, e partida encerrada aos 41 minutos do primeiro tempo. O drone teria sido acionado por um irmão do primeiro-ministro albanês, Edi Rama, que foi preso na área vip do estádio. Kosovo é território sérvio e, com a guerra, a Albânia acolheu milhões de kosovares que haviam sido expulsos da região, o que fez crescer ainda mais o confronto entre os países que já não se entendiam no campo da religião: muçulmanos albaneses x cristãos ortodoxos sérvios. "O INCÔMODO DITADOR ESTÁ DE VOLTA" Sorridente. Obeso. E de bengala. Foi assim que ressurgiu na semana passada o ditador da Coreia do Norte, Kim Jong-un, após seis semanas de reclusão – não se sabe onde e muito menos por que ele sumiu. Como ocorre nos países totalitários, as autoridades não pretendem esclarecer absolutamente nada, mas o fato é que Kim reapareceu durante uma visita a um conjunto habitacional em Pyongyang. Em sua ausência houve rumores de um eventual golpe de Estado. Segundo a imprensa oficial coreana, Jong-un desapareceu porque passou por um “incômodo”. "HORÁRIO DE VERÃO MAIS LONGO, ECONOMIA MAIS CURTA" O horário de verão deste ano, que começa à meia-noite do sábado 18, será mais longo – mas nem por isso mais eficiente em seu objetivo de economizar energia. Em 2014, os 126 dias desse período implicarão economia de R$ 278 milhões ao setor elétrico, 31% a menos se comparada à de 2013: em 119 dias foram economizados R$ 405 milhões. Motivo para o menor ganho: o uso intensivo das termelétricas devido à seca que afeta algumas regiões do País. "5 MILHÕES" 5 milhões de brasileiros estão no patamar dos 10% mais ricos do planeta. E 1% da população mundial concentra 48% da riqueza total existente. Os dados constam no Relatório de Riqueza Global do Banco Credit Suisse. "BIOGRAFIA NÃO AUTORIZADA DE GUIMARÃES ROSA ESTÁ LIBERADA" A biografia não autorizada “Sinfonia Minas Gerais – A Vida e a Literatura de João Guimarães Rosa”, escrita por Alaor Barbosa, poderá novamente ser comprada nas livrarias brasileiras. Deve-se isso a uma decisão judicial inédita. Em 2008 a Justiça acatara o pedido de Vilma Guimarães Rosa, filha do escritor, de proibir a venda. Ela acusa o biógrafo de ter plagiado trechos de sua obra, “Relembramentos: João Guimarães, Meu Pai”. Barbosa, no entanto, não pretende devolver o livro às prateleiras: “A minha luta era pelo princípio da liberdade da criação intelectual. Já consegui minha vitória”.