0# CAPA 16.7.14 ISTOÉ edição 2329 | 16.Jul.2014 EDIÇÃO HISTÓRICA COPA DO MUNDO 2014 [descrição da imagem: o desenho que se forma na capa é a bandeira do Brasil, sendo que no campo verde e o amarelo estão fotografias de rostos de pessoas. O globo no centro, em azul, tem na faixa, onde estaria escrito ORDEM E PROGRESSO, está escrito ACREDITE NO BRASIL] EDIÇÃO HISTÓRICA COPA DO MUNDO 2014 ACREDITE NO BRASIL O país deve se orgulhar de sua capacidade de realizar grandes feitos e da qualidade de seu povo. _______________________ 1# EDITORIAL 2# ENTREVISTA 3# COLUNISTAS 4# ESPECIAIS COPA 2014 5# BRASIL 6# COMPORTAMENTO 7# MEDICINA E BEM-ESTAR 8# ECONOMIA E NEGÓCIOS 9# MUNDO 10# TECNOLOGIA E MEIO AMBIENTE 11# CULTURA 12# A SEMANA _____________________________ 1# EDITORIAL 16.7.14 "A NAÇÃO QUE VENCE SEUS DESAFIOS" Carlos José Marques, diretor editorial Em 2008, quando o Brasil estava prestes a sucumbir psicologicamente diante de uma ameaça de contaminação pela crise econômica global que avançava sem controle, a revista ISTOÉ veio às bancas com a mesma bandeira do “Acredite no Brasil” que volta a hastear nesta edição. Havia ali, em meio a cenários negativos e a um estado de prostração geral, a convicção da chegada de mais um revés dramático a solapar as esperanças do País – muito embora ele estivesse experimentando uma fase de crescimento sem precedentes, baseado em fundamentos sólidos que então vigoravam. Como se pôde constatar mais adiante, o Brasil atravessou razoavelmente bem a borrasca (bem melhor que parte considerável do mundo). E a força para resistir, para se superar, ele foi buscar aqui mesmo: apostando no mercado de consumo interno e nas linhas de crédito nacionais, abundantes naquele momento graças a um confortável colchão de reservas. O Brasil se mostrou maior que a crise, muito embora não tenha faltado quem levantasse o dedo para apontar deficiências estruturais e para enaltecer o eterno espírito vira-lata que acomete aqueles derrotistas por convicção. Felizmente, a esmagadora maioria não comunga das ideias dessa patota de pessimistas. Há algo na essência do brasileiro e na sua alma que é a crença, rotineiramente renovada, de que ele pode vencer as adversidades, de que pode chegar lá. É isso que o move, que o faz se levantar e tomar ânimo para aprender com os erros e tentar de novo, a cada sonho desfeito, a cada derrota pelo caminho. Também no futebol essa é uma premissa mais do que válida. A “Pátria de Chuteiras” foi capaz, inúmeras vezes, de dar demonstrações de superação. Do “Maracanazo” de 50 para cá o Brasil se transformou numa legenda do esporte, com cinco títulos mundiais – um feito que mesmo o vencedor da final deste domingo não será capaz de superar. O exemplo do artilheiro Ronaldo, que após o apagão de 98, contra todos os prognósticos, voltou a brilhar e participou decisivamente da conquista da Copa de 2002, está firme na memória nacional. O mundo louva a capacidade nata de nosso povo de se reinventar, de encarar com otimismo os recomeços necessários e, por isso, o classifica entre os mais felizes da Terra. A venerada alegria do futebol canarinho também pode voltar mais uma vez aos gramados a partir de um trabalho de base consistente, de planejamento e reformulação das estruturas que controlam times e federações. Emocionalmente abalada pelo baile histórico que tomou no campo, a Nação tem de novo a missão de se reerguer. E sobram motivos e elementos para tanto. O Brasil fez uma extraordinária Copa, talvez a Copa das Copas, e disso ninguém tem dúvidas, com estupendos jogos, chuva de gols, maciça participação internacional e uma infraestrutura que nada deixou a desejar. De tamanho feito temos que nos orgulhar, pois ele diz muito de nossa capacidade de realização, do “fazer acontecer”. O País calou críticos e provou ao mundo e à Fifa que, nessa área, tem talento não apenas entre as quatro linhas. Nossa pátria do futebol é maior do que um jogo e se aquela vexatória partida pode trazer lições é a de que há caminhos para se reinventar, que nem todas as esperanças foram soterradas naquele 7 a 1. O desafio é gigantesco, mas o Brasil sai dessa peleja já vitorioso e por inúmeras razões (como mostra o especial desta edição), podendo angariar mais e mais conquistas que irão recompor o brilho, o moral e a identidade nacionais. ___________________________________ 2# ENTREVISTA 16.7.14 DANIEL PASSARELLA - "PELÉ É MAIS INTELIGENTE E MARADONA MAIS VISTOSO" Bicampeão com a seleção Argentina, o ex-jogador fala da Copa no Brasil, da rivalidade entre os dois países e diz que o nível do futebol atual é baixo por Helena Borges EM CASA - "É complicado jogar na posição de anfitrião. Existe muita pressão da torcida", diz ele, que passou por isso em 1978 Único jogador presente nas duas conquistas do Mundial pela Argentina, Daniel Passarella se tornou técnico da seleção de seu país e quebrou o jejum de quatro décadas da azul e branco no Maracanã, em 1998, quando a alviceleste venceu a canarinho no estádio-símbolo do Brasil. Ele foi zagueiro e técnico da Argentina, treinador e presidente do River Plate e hoje, aos 61 anos, é também diretor da Fifa e disputado comentarista esportivo – avaliou o desempenho das seleções no Mundial no SporTV. Durante a realização da Copa do Mundo, Passarella se estabeleceu no Rio de Janeiro, onde disse ter se sentido em casa. "No jogo contra a Colômbia, David Luiz deu uma aula sobre o que o povo brasileiro espera dos jogadores de sua seleção. Ele e Neymar são os melhores jogadores do Brasil" Na Fifa até 2015, o ex-jogador se esquivou de comentar o escândalo dos ingressos para a Copa: “Não poderia falar sobre isso porque não conheço o assunto. Estou vivendo no hotel, tendo acesso apenas ao meu celular e nem ele tem funcionado direito, então não pude nem ler os jornais, não estou sabendo direito do que aconteceu”. Atualmente, seu grande motivo de emoção é o neto mais novo, Ignácio, de 2 anos e meio, que, diz ele, já leva jeito com “la pelota” (a bola) e deve manter a tradição do futebol na família. "Não creio que Blatter seja reeleito para presidir a Fifa. Acredito que Michel Platini (na foto) vai ganhar" Istoé - O que o sr. achou da organização da Copa do Mundo? Daniel Passarella - Pelo menos nas partidas a que assisti nos estádios ou na televisão, estava tudo certo. A segurança funcionou muito bem, as pessoas se divertiram em paz. O brasileiro sabe fazer a gente se sentir em casa e a torcida é muito bem-humorada. Ri muito de uma música que vocês cantavam: “Argentina, me diz como é ter duas Copas, uma a menos que o Pelé”. Istoé - É verdade que o sr. acha Pelé melhor do que Maradona? Daniel Passarella - Eu nunca disse isso. Eu falei que Pelé é mais inteligente e Maradona mais vistoso. Cada um que interprete como quiser. Istoé - Argentina e Alemanha era a final dos seus sonhos? Daniel Passarella - Meu desejo era ter Argentina e Brasil na final para termos um jogo latino-americano decidindo uma Copa realizada na América do Sul. Mas, de qualquer forma, o Brasil chegou à semifinal, o que não deixa de ser um bom resultado para vocês. Istoé - Mas o desempenho do Brasil em campo foi vergonhoso. Daniel Passarella - Me pareceu que o Brasil se equivocou na preparação contra a Alemanha e acabou perdendo por uma cifra categórica. Eles estavam desarticulados e saíram atacando demais, quando já se sabe que a Alemanha no contra-ataque é letal, simplesmente letal. Istoé - Essa poderia ter sido a Copa de Neymar? Daniel Passarella - Neymar é o coração da equipe e é óbvio que ele preocupa muito as defesas dos adversários. Mas Thiago Silva também fez muita falta, muita mesmo. Há de se pensar também na organização do time. Não se pode colocar todo o peso de uma equipe nas costas de um só jogador. Por exemplo, contra a Holanda, a Argentina não teve muitas situações de gol, mas teve uma defesa sólida, que foi muito bem durante toda a partida, e um goleiro sólido que foi iluminado durante os pênaltis. Messi, o grande nome, não fez sua melhor partida, foi o time que o apoiou. Já o Brasil, quando ficou sem Neymar e Thiago Silva, ficou muito mal. Istoé - Se o sr. estivesse no lugar do Felipão, teria se demitido depois do jogo contra a Alemanha? Daniel Passarella - Bom, vou responder com uma história pessoal. Em 1994, eu tinha seis meses de contrato para completar no River Plate e eles queriam estender por mais dois anos. Muitos clubes tinham me procurado: Inter de Milão, Fiorentina, Roma... Mas eu disse ao presidente do River que o único time pelo qual eu os trocaria seria a seleção. Quando acabou o Mundial nos Estados Unidos, fui convocado e comecei um trabalho de quatro anos à frente da Argentina e finalmente fomos à Copa. Estávamos nas quartas de final, contra a Holanda, o jogo seguia empatado até que eles fizeram o segundo gol aos 44 minutos do segundo tempo. Quando a partida acabou fui à coletiva de imprensa dizer que não era mais o treinador da equipe. Istoé - Diria que os zagueiros de hoje não são tão bons? Daniel Passarella - Não, não são... Mas é preciso entender que um zagueiro, como qualquer outro jogador, só é bom se tiver uma equipe que o apoie. Não adianta ser um craque se o resto do time está sempre errando, porque assim não se pode dar todo o potencial. A verdade é que o nível do futebol baixou muito se comparado a épocas passadas, em especial aos anos 1980. Istoé - A Argentina sempre formou bons zagueiros, mas nesta Copa esse não foi o caso. Daniel Passarella - A Argentina tem um time bom, especialmente seu ataque. O Agüero faz bem à equipe; o esquema formado entre ele, Messi, Higuaín e Di María é forte. E Messi é, esse sim, do nível das estrelas dos anos 1980. Já bateu muitos recordes, é o melhor jogador dos clubes espanhóis, quatro vezes campeão da bola de ouro. Já coleciona muitas conquistas. Na Argentina, alguns o comparam ao Maradona, mas eu não gosto desse tipo de análise. Istoé - O que acha da atual geração dos jogadores brasileiros? Daniel Passarella - No jogo contra a Colômbia, o David Luiz deu uma aula sobre o que o povo brasileiro espera dos jogadores de sua seleção. Ele mostrou uma personalidade que o coloca junto a Neymar, são os dois melhores jogadores do Brasil. Istoé - A parte psicológica afeta o resultado de um jogo? Daniel Passarella - Veja só uma coisa: a Colômbia vinha jogando muito bem, ganhando todas, mas contra o Brasil desapontou, não deu tudo que podia dar. Eles demoraram para acordar durante a partida. Quando já estavam com o jogo perdido, levando de dois a zero, foi como se tivessem soltado as amarras. Começaram a correr e aí complicaram as coisas para o Brasil, mas podiam ter feito isso antes. Por que não souberam aproveitar o tempo, esperaram tanto para se desenvolver em campo e reagir? Porque é muito difícil jogar uma Copa contra as potências do mundo futebolístico. Não é fácil encarar uma Alemanha, uma Argentina. Não é fácil jogar contra o Brasil ou contra a Itália, que lamentavelmente se foi cedo. Istoé - O que dizer das potências que voltaram cedo para casa? Daniel Passarella - A Espanha, por exemplo, veio aqui e não jogou tudo o que podia, mas, mesmo assim, era o último campeão do mundo. A França vinha jogando muito bem, muito bem mesmo, mas contra a Alemanha praticamente não entrou em campo. Não se pôde ver o mesmo vigor, a mesma vontade de vencer a batalha como se via antes. Por quê? Porque a Alemanha é uma coisa que assusta, é um bicho-papão. Mas também teve um fator local, o calor. De qualquer forma, esse fator se abateu sobre as duas equipes igualmente e, mesmo assim, a Alemanha conseguiu jogar bem. É um grande time, o alemão. Istoé - O sr. já ganhou uma Copa em casa. Como é a relação com a torcida quando o país recebe o Mundial? Daniel Passarella - É muito complicado jogar na posição de anfitrião. Existe muita pressão da torcida, que quer ver sua seleção ser campeã. Ninguém quer coroar outro campeão em sua própria casa. Não é fácil aguentar a pressão, mas os jogadores são profissionais, faz parte do trabalho deles acostumar-se a isso. O Brasil, é claro, sofreu muita pressão por ser o dono da casa, mas a Argentina praticamente foi local também por aqui. A nossa torcida lotou os estádios, eu via argentinos por todos os lados. Istoé - O sr. já foi zagueiro, técnico e presidente de clube. Alguns atletas preferem não virar dirigentes achando que pode manchar sua imagem de ídolos. Acha que afetou a sua? Daniel Passarella - Se afetou, não foi negativamente. Tudo o que fiz, como profissional, o fiz convicto em meus atos e porque tinha gana. Seja como jogador, seja como treinador, presidente ou, até hoje, como comentarista. Ainda por cima, sou dirigente da Fifa até 2015. Não penso em me aposentar, não conseguiria ficar muito tempo sem trabalhar. Quando fazemos muitas coisas diferentes, em algumas a gente se sai bem, em outras somos regulares e há aquelas em que nos saímos mal, mas o importante é fazê-las. Quem não faz nada não se equivoca, mas também não ganha nada. A maioria dos jogadores famosos não se dá bem em todas as posições, não sou exceção. Creio que fui melhor jogador do que treinador ou presidente. Istoé - Acredita que Joseph Blatter vai ganhar as eleições da Fifa no ano que vem? Daniel Passarella - Não creio que Blatter será reeleito para presidir a Fifa. Penso que Michel Platini vai ganhar. É o que me parece. Se for para apostar em algum candidato, creio que é o Platini. Istoé - O resultado da Copa pode influenciar a política do país? Daniel Passarella - Não acredito que o resultado da Copa mude trajetórias políticas, são coisas diferentes. Tem muita gente que ficou feliz com a Copa, mas também tem muita gente que não ficou. Istoé - Qual é a sua opinião sobre a atual situação política da Argentina? Daniel Passarella - O que vejo nos governos, tanto da Argentina como do Brasil, é que há um enfrentamento entre o governo e um monopólio de poder. Há uma verdadeira guerra na Argentina, parece que nunca vai reinar a união e a cordialidade, nunca se chegará a um acordo. E isso é prejudicial para todos nós porque atrapalha as decisões a serem tomadas em prol do país. Há um governo com um tipo de ideia e um grupo de oposição, os dois perdem objetividade por essa guerra, gastam tempo demais se criticando. O certo seria, quando a pessoa que está de um lado falar, entender que o lado oposto não é de todo mau. Chega um momento em que a população se cansa de todos os dois. E aqui no Brasil, pelo menos visto por quem está de fora, parece que acontece a mesma coisa. Toda a América do Sul está com esse quadro político, na verdade. _____________________________________ 3# COLUNISTAS 16.7.14 3#1 RICARDO BOECHAT 3#2 LEONARDO ATTUCH - IMAGINA NAS OLIMPÍADAS 3#3 PAULO LIMA - FAÇA-SE A LUZ 3#4 GISELE VITÓRIA 3#5 BRASIL CONFIDENCIAL 3#6 ANTONIO CARLOS PRADO - RASGA CORAÇÃO 3#1 RICARDO BOECHAT Com Ronaldo Herdy Vai cair água Quase um mês após a ONU alertar governos para que se preparem para secas e inundações decorrentes do El Niño, especialistas em meteorologia se reunirão dia 23, no Inpe, em São José dos Campos. Um relatório a ser redigido dirá que o evento chegou ao Brasil:já subiram 2ºC as águas do Oceano Atlântico, entre o Rio Grande do Sul e São Paulo. A partir de agosto, por uns 90 dias, choverá mais de 150 mm só em São Paulo. O nível de água do sistema Cantareira sairá dos 18,8% de hoje para cerca de 25%, baixando o risco de racionamento na região metropolitana paulista. Justiça Dois pesos e duas medidas Um assunto fora do dia a dia do mundo jurídico é muito comentado por desembargadores do TJ do Rio de Janeiro. O órgão entregou à Construtora Lopes Marinho – que herdou obras da Delta – a reforma das instalações da Primeira Instância, ao preço inicial de R$ 105 milhões. Ela havia ganho licitação para construir um prédio para o TRE fluminense. A concorrência, considerada inidônea por todos os sete membros do Pleno, foi anulada e denunciada ao MP, órgãos de controle de contas e ao CNJ. As Cortes de Justiça do Rio parecem não conversarem muito entre si. São Paulo Igual a ioiô Paulo Maluf bate recorde nessa campanha eleitoral. Em 2013 estava fechado com a reeleição de Geraldo Alckmin, que em troca lhe deu as chaves da Secretaria de Habitação. O ano começou, ele abraçou Alexandre Padilha e agora está com Paulo Skaf. Onde estará o ex-governador daqui a dois meses? Resposta incerta quando se trata de Paulo Maluf. Brasil Vai levar cartão? O Mundial da Fifa acabou com uma baita interrogação na cabeça do ministro da Saúde, Arthur Chioro. Antes de a bola rolar, ele indagou à Comissão de Ética da Presidência da República se poderia aceitar convites e ver jogos da Copa. “Não”, lhe responderam em despacho, com base no Código de Conduta da Alta Administração Federal. E Chioro grudou os olhos na tevê. Enquanto isso, o ministro do Desenvolvimento, Mauro Borges, ia aos estádios até com a mulher. O caso será discutido na Comissão de Ética dia 29. Borges pode terminar advertido. Legislativo Quase 500 A CPI mista da Petrobras patina – se é que algum dia dará resultados. Sessões são canceladas uma atrás da outra, enquanto crescem os requerimentos na mesa do presidente Vital do Rêgo. Eram 393 em 10 de julho. Para entrar com um pedido não se exige quórum. E tem cada requerimento surreal, como quebrar os sigilos bancário, fiscal e telefônico das construtoras Camargo Corrêa, Constran/UTC, OAS e Queiroz Galvão. São empresas tão grandes que só o exame da papelada levaria uns dez anos – numa CPI com prazo de 180 dias. Eleições Vida dura A declaração de bens que Romário entregou ao TSE revela que o patrimônio do deputado soma R$ 1,3 milhão. O problema do ex-jogador, que tentará o Senado, é que só na Justiça Federal há ações de cobrança que somam R$ 2,9 milhões. Saúde Ordem do Mérito Há quase três décadas na luta pela proibição do amianto no Brasil, pelo efeito cancerígeno do produto, Fernanda Giannasi ainda não saboreou a vitória. Mas o trabalho, que já lhe rendeu fama no Exterior, terá reconhecimento significativo no Brasil. O Tribunal Superior do Trabalho vai condecorar a engenheira com a Ordem do Mérito Judiciário do Trabalho, sua homenagem maior, no dia 11 de agosto, na sede do tribunal. Cultura De volta à ONU João Portinari está em Nova York tratando da reinauguração dos painéis pintados por seu pai e que foram doados pelo governo brasileiro à ONU nos anos 50. Eles voltarão ao hall de entrada da Assembleia Geral entre dezembro e janeiro de 2015. No local será montada exposição igual a que se viu até o mês passado no Grand Palais em Paris. A noite de estreia terá ainda exibição do balé de David Parsons, com Ana Botafogo e Alex Neoral dançando em frente aos painéis “Guerra e Paz”, de Candido Portinari. Trabalho Hora de luta Cerca de cinco milhões de trabalhadores vinculados à Força Sindical terão dissídio neste segundo semestre. A pauta do movimento começa a ser montada em reuniões nesta semana com metalúrgicos, químicos e empregados de indústrias de alimentação e do setor têxtil. “Com a inflação ganhando força, exigiremos aumentos reais, nada de perdas no poder de compra do salário”, adianta o presidente da Força, Miguel Torres. Saúde Finalmente Destinado ao tratamento oral para os pacientes com esclerose múltipla, o Fingolimode passará a ser distribuído pelo SUS. A incorporação do medicamento pelo serviço público é realidade em 35 países. A medida foi aplaudida por Cleuza Carvalho, presidente do Mopem, movimento que reúne os portadores da doença – ela mesma acometida há 30 anos. “Foram anos de luta. Até aqui, a principal linha terapêutica do sistema público era a aplicação de injeções, mas que traziam sérios efeitos colaterais.” Aviação Rumo ao espaço A Boeing, onde trabalham vários brasileiros, intensificou sua parceria com a Nasa. A empresa acaba de assinar contrato de US$ 2,8 bilhões com a agência. O trabalho principal a ser desenvolvido é o da base central do Space Laumch System, o mais poderoso foguete já construído e destinado a impulsionar a exploração humana do espaço. O primeiro voo-teste está previsto para ocorrer em 2017. Seleção Brasileira Fazendo humor De olho na cadeira de presidente da Câmara dos Deputados no ano que vem, portanto convicto de sua reeleição, Eduardo Cunha decidiu fazer graça logo após a humilhante derrota imposta pela Alemanha à Seleção Brasileira, na terça-feira 8. “Embarcando para Brasília. Vou de TAM porque cansei de ver gol”, escreveu em seu Twitter o líder do PMDB. Medicina Bola fora Caso a CBF queira levar adiante a queixa contra os médicos do Santos que teriam sugerido um tratamento alternativo para Neymar atuar contra a Holanda no sábado 12, o processo dará em nada. É que para o Conselho Federal de Medicina o paciente é o jogador e não a entidade. Portanto, caberia a ele a autoria da denúncia, o que certamente não fará. Religião Custo zero Os 60 anos do lançamento da “Bíblia” para pessoas com deficiência visual está sendo comemorado com um resultado social. No período, cerca de três mil escrituras sagradas em áudio e em braile foram distribuídas de graça para bibliotecas comunitárias e igrejas pela Sociedade Bíblica do Brasil. Copa Nos braços da galera Capitão do time tricampeão do mundo, Carlos Alberto Torres diz que o comportamento do torcedor frente à Seleção Brasileira hoje é muito diferente do tempo em que atuava. Para ele, se o time de Felipão não foi hexa, o problema esteve no campo, não na arquibancada. “O público vibra atualmente com qualquer jogadinha. No passado, para tirar o grito de aprovação, era preciso fazer dribles espetaculares, marcar gols antológicos ou dar passes maravilhosos.” 3#2 LEONARDO ATTUCH - IMAGINA NAS OLIMPÍADAS Depois da festa da Copa, agora será a vez de gigantes como Usain Bolt e Michael Phelps em ação na Rio 2016. No Brasil, o show não pode parar. Encerrada, com sucesso, a Copa de 2014 deixa como legado aeroportos reformados e alguns, como o de Brasília, de Primeiro Mundo, além de arenas esportivas no estado da arte, por onde desfilaram craques como Messi, Schweinsteiger, Robben, Benzema e David Luiz. Agora será a vez de outros gigantes entrarem em ação. Nomes como Michael Phelps, rei das piscinas, e Usain Bolt, o homem mais rápido do mundo. Assim como na Copa, muita coisa ainda não está pronta para a Rio 2016. Recentemente, uma delegação do Comitê Olímpico Internacional apontou a preparação do Rio de Janeiro como uma das mais lentas da história. Desta vez, será o momento de aprender as lições da Copa para evitar entregas de última hora numa operação que é muito mais complexa do que a organização de uma Copa do Mundo. Para os Jogos Olímpicos, virão delegações de muito mais países e a quantidade de modalidades esportivas exige que centros esportivos, como parques aquáticos, campos de atletismo, velódromos, hípicas e ginásios estejam prontos com o “padrão COI”. Isso sem falar, é claro, na construção das vilas olímpicas, para os atletas, e nas condições de mobilidade no Rio de Janeiro, que talvez receba mais turistas do que durante a Copa. O que já se aprendeu com a Copa é que o Brasil foi capaz de superar seu maior inimigo: a baixa autoestima, que se reflete no complexo de vira-lata. A despeito dos 7 a 1 para a Alemanha, os brasileiros deram um show fora de campo, com a organização de uma Copa eficiente, festiva e alegre. Se dentro de campo os craques não corresponderam, paciência. Vergonha, vexame e humilhação seria perder o jogo do lado de fora dos gramados. E nada disso aconteceu. Que venha, agora, a Olimpíada de 2016! 3#3 PAULO LIMA - FAÇA-SE A LUZ A Copa do Mundo pode nos ajudar a perceber que, apesar de tudo e especialmente dos 7 a 1 traumatizantes, há sim uma nação e que ela é maior do que os problemas absurdos em que o Brasil vive mergulhado?. Uma cena de paz e liberdade que só se torna possível a cada quatro anos em jogos do Brasil. O fotógrafo Alexandre Vianna e o skatista Carlos Tapareli ressignificam a arquitetura e a luz de São Paulo em viaduto sobre a avenida 23 de Maio Últimos dias da competição. Se tivemos que conviver ao longo de meses com prognósticos furados e palpites sem pé nem cabeça de todas as qualidades e procedências, agora é a vez dos “balanços da Copa”. Prepare-se para uma rajada de análises e filosofias de botequim tentando entender o que houve, incluindo mas não se limitando às teorias mais distintas sobre as razões da derrota mais vexatória já imposta ao futebol nacional. Palavras como “legado” por exemplo, serão usadas à exaustão e veremos de tudo nas tentativas de refletir sobre o certame. No melhor estilo “se não pode vencê-los, junte-se a eles”, a escolha desta bela imagem para ilustrar a coluna num período tão especial da história contemporânea do Brasil, tem a ver com alguns pontos dignos de realce. O principal deles é que a surpresa da reversão absoluta da expectativa de um evento deprimente (deixando de lado aqui a performance do time brasileiro e a gangue que “gerencia” o futebol no País) e cheio de falhas e manifestações de revolta resultou em alguns efeitos sutis e interessantíssimos. Não é segredo que desde o ano passado atravessamos um período de pré-depressão no País. E não me refiro apenas à apatia absoluta da economia ou de outros quesitos ligados a dinheiro, geração e transferência de riquezas materiais. Falo da sensação coletiva de que por aqui eternamente andamos três passos adiante para em seguida recuar cinco. Mais até do que os estádios funcionando e os jogos espetaculares, a forma como as visitas foram envolvidas em abraços, festas, beijos e outras demonstrações de afeto inesquecíveis (não confundir com as bestas que vieram atrás do nefasto turismo sexual) promoveu em escala global aquilo que cada um de nós cansou de presenciar a vida inteira. Gente de fora se entregando apaixonada por um tipo de amorosidade gratuita e que não impõe condição, que realmente existe por aqui em doses e graus sem par. E celebrar isso nada tem a ver com o tal ópio do povo de outrora. Minha impressão leva mais para a direção da seguinte imagem: alguém que se sente aprisionado num quarto escuro e sem saída de repente percebe um alçapão que é aberto no teto. Com esforço, ergue a cabeça e vê que o mundo é muito maior do que o tal quarto escuro. Ainda que saiba que em poucas semanas terá o alçapão trancado e voltará a lidar com a escuridão e o aperto, lembrar de que há algo maior, iluminado e mais alentador do lado de fora mudará de forma importante sua capacidade de sobreviver e de, com sorte, um dia encontrar uma nova saída. Mas, é bom lembrar sempre, independentemente do resultado dos jogos ou do êxito do evento, voltaremos logo a encarar nossos cantos sem luz e cheios de enigmas sem sentido e que não conseguimos solucionar. Como o da menina Monise, nascida com paralisia cerebral, que, algumas semanas atrás, sofrendo com obstrução intestinal, foi recusada em diferentes hospitais públicos e mandada de volta para casa onde morreu da doença Brasil. Como você, torci para que pudéssemos ser campeões, mas mais ainda para que consigamos derrubar as paredes do quartinho em que nos aprisionamos. E nossa derrota clamorosa diante da Alemanha talvez tenha servido para nos recolocar, de forma insuportavelmente dura e seca, cara a cara com todas as nossas inseguranças e incompetências. Antecipar a volta à caixa-preta pode servir para que nos sintamos mais motivados ainda a agir de forma inteligente e contundente, em especial através do voto, para romper de uma vez essas grades de ignorância, passividade e “mau caratismo”, para além do futebol. A coluna de Paulo Lima, fundador da editora Trip, é publicada quinzenalmente 3#4 GISELE VITÓRIA Gisele Vitória é jornalista, diretora de núcleo das revistas ISTOÉ Gente, ISTOÉ Platinum e Menu e colunista de ISTOÉ Mulher reality Capa da revista Istoé Gente de julho, Isabelli Fontana completou 31 anos. A top, que não gosta de comemorar aniversários, decreta: “Depois dos 30, a idade te transforma. Agora sei do que gosto e do que não me agrada”. Mas, garante, não perde a alma apaixonada. O felizardo é o namorado, o roqueiro Di Ferrero, a quem ela há sete meses chama de “alma gêmea”. A nova fase da modelo poderá ser vista ao vivo e online. Ela estreia um reality show na internet, em outubro, que mostra seu dia a dia de modelo e mãe de Zion e Lucas. “Foi divertido mostrar o lado normal da Isa, como passar horas sentada em uma cadeira, muitas vezes sem fazer uma refeição direito”, conta. Ela diz ainda que vibra a cada novo contrato. “As contas vencem todo mês, né?”. O ensaio para Istoé Gente teve cliques de JR Duran e edição de moda de Luis Fiod. É menino! Ticiana Villas Boas está grávida. Casada há dois anos com o bilionário Joesley Batista, dono da JBS Friboi, a âncora do “Jornal da Band” espera um menino. Em março, ela já havia adiantado à coluna que poderia ser mamãe a qualquer momento. “Meu relógio biológico bateu, viu? Estou com 33 anos. Está na hora”, disse. Mas agora, mesmo com três meses de gestação, ela prefere não falar sobre o assunto. O motivo? Ticiana é baiana e supersticiosa. Quer se preservar e manter seu bebê longe dos holofotes. Vai tirar alguns dias de folga da bancada para curtir a gravidez. Balas Copa no ar A presidente da TAM, Claudia Sender, lamenta a derrota do Brasil, festeja que o caos aéreo não tenha se confirmado na Copa, mas diz que o Mundial foi ruim para as companhias. “Estimamos de 10% a 15% de queda no tráfego aéreo”, diz ela, que embarca esta semana para o Fórum de Mulheres Líderes, do Lide, no Caribe. Passageiros corporativos reduziram voos e muita gente não tirou férias para ver os jogos. Um livro de memórias e um novo menestrel Mesmo perto dos 85 anos, é difícil imaginá-lo pendurando as chuteiras. Testemunha ocular da história recente do Brasil e de tantas Copas do Mundo, o senador Pedro Simon começa esta conversa lamentando o pior fracasso do Brasil na história do futebol: “Vivemos uma tragédia ao vivo, em campo. Não temos no esporte nada parecido. Nunca vi. Se fosse 3 a zero... Mas 7 a 1? Fiquei tonto. Perguntava: É replay? Estão repetindo o gol?” Apesar da decisão de não sair candidato, o político gaúcho do PMDB não quer tirar seu time de campo. No dia do seu aniversário, em 31 de janeiro de 2015, ele deixa o Senado após 32 anos de casa impondo-se duas novas missões: percorrer o Brasil, talvez como um novo menestrel, e escrever seu livro de memórias: A autobiografia “Quero começar o livro com a experiência de ter ido ao enterro de Getúlio (Vargas)em São Borja, em 1954, aos 24 anos. Estava com os pais de uns amigos. Vi seu corpo chegar, depois da notícia do suicídio. Os discursos de Oswaldo Aranha, de João Goulart e de Tancredo Neves me emocionaram. Vou recapitular os grandes fatos da história do Brasil que vivi: o golpe, do AI 1 ao AI 5, a tortura, a anistia e a redemocratização. Tenho que organizar a montanha de entrevistas e os discursos que fiz no Parlamento e gravar minhas lembranças.” Como Teotônio Villela... “Tentarei executar um velho plano que tenho de percorrer o Brasil, dando palestras, coisa que não dava tempo no Senado. Quero criar um movimento em que outras pessoas se engajem. No passado, viajei pelo País com o doutor Ulysses (Guimarães) e também com Teotônio Villela. Teotônio, de cadeira de rodas, com quatro cânceres, muletas, se apoiava nas paredes e nos corrimãos, mas falava com uma força descomunal. Ele dizia: ‘Me nego a morrer’. Era emocionante". Um movimento contra o “é dando que se recebe”. “A minha forma de colaborar é mobilizar o Brasil com um grande debate para acabar com o ‘é dando que se recebe’. Essa política de cargos em troca de apoio. Dilma até tentou fazer isso no começo, mas depois entregou os pontos. Se não fizermos isso, vai ser o caos. Gostaria de começar a falar na Faculdade de Direito da USP, no Largo São Francisco. Lá há aquele ambiente acalorado, ambivalente e histórico.” “Nunca sonhei em casar” Nem as orquídeas que rodeavam a passarela do desfile da Dior nos jardins do museu Rodin roubaram a atenção do casal Charlize Theron e Sean Penn. A bordo de um microvestido da marca francesa, Charlize estava na primeira fila do desfile na semana de moda de alta-costura de Paris, e era só carinhos com o ator. “Eu e o Sean nos conhecemos há 18 anos. Éramos bons amigos”, disse ela à ISTOÉ. “Mas algo foi crescendo lentamente.” Casamento não está nos planos da atriz. “Me casei em filmes dezenas de vezes. Mas nunca tive aquele sonho de me casar de verdade de véu e grinalda.” “Mick não se abate” A fama de pé frio e as piadas contra Mick Jagger tiraram Luciana Gimenez do sério. Ela saiu em defesa do roqueiro e do filho Lucas após o Brasil perder de 7 x 1 para a Alemanha. De férias, o garoto de 15 anos veio com o pai ao País para os jogos finais do Mundial. Chegaram na véspera do jogo e fizeram um bate-volta ao Mineirão. Logo após assistirem à final no Maracanã, eles voltariam para Nova York, onde está Luciana. A seguir, o desabafo da apresentadora. ISTOÉ – Como vê essa situação? Luciana – Isso é contra a lei. O Ministério Público deveria entrar contra todos esses veículos porque isso é cyber bullyng contra o meu filho. ISTOÉ – Mas as piadas são direcionadas ao Mick Jagger... Luciana – Para você ver como as pessoas são ignorantes. Como podem atacar uma pessoa que é um ídolo internacional e que vem prestigiar nosso País? Deveriam achar legal e não fazer o que estão fazendo, ainda machucando uma criança de 15 anos. ISTOÉ – Para quem ele torceu? O que ele diz sobre o assunto? Luciana – Não sei, mas ele é tranquilo. É inglês, e vai continuar sendo o Mick Jagger. A vida dele está feita, e pelo próprio talento. Escreveu milhões de músicas que todos adoram. Ele não se abate por coisas pequenas. Gosta de Copa e paga para ver os jogos. Brasileiro morre pela boca. Sorte que os fãs dele não entendem português. ISTOÉ – O que dizem ao Lucas? Luciana – Lucas é zen e bem mais educado que eu. Postou no Instagram que está em paz. Se fosse eu, xingaria meio mundo. Mas ele é elevado. Sabe que é amado pelo pai, pela mãe e pela família. Atacá-lo é maldade. ISTOÉ – Por que você acha que a Seleção Brasileira perdeu de 7x1? Luciana – Perdeu porque jogou mal. 3#5 BRASIL CONFIDENCIAL Por Paulo Moreira Leite Dilma fora da reforma do futebol Testemunhas presenciais dos diálogos recentes de Dilma Rousseff sobre os problemas do futebol brasileiro confirmam que a presidenta ficou impressionada com números e dados, a começar pela quantidade de baixos salários e de atletas sem emprego. Também gostou das análises apresentadas e das sugestões oferecidas. Até elogiou algumas ideias. Mas desmentem que ela tenha se comprometido com projetos de A, B ou C para reformar o futebol brasileiro. O Planalto informa que o interlocutor do governo para futebol chama-se Aldo Rebelo, o ministro do Esporte. A noção de que a presidenta decidiu entrar no debate sobre a refundação do futebol ganhou vulto depois, claro, daquele jogo da terça-feira 8. Esvaziando o TCU Parecer recente de um ministro do Supremo procura tirar do TCU a prerrogativa de ­condenar agentes públicos que ocupem cargos no Executivo. O tribunal ficaria ­limitado a emitir um parecer sobre irregularidades em contas de prefeitos, governadores e do presidente da República. A decisão deve encurtar a longa lista de fichas-sujas do tribunal. Padrinho forte Com apoio do ex-presidente da Federação das Indústrias do Estado do Ceará Jorge Parente, a Alusa acaba de abocanhar sem licitação contrato de R$ 23 milhões para fazer a iluminação pública da Prefeitura de Fortaleza. A Alusa teve seu nome envolvido em diferentes escândalos em São Paulo e Pernambuco. Retrato Nos dias que antecederam as reuniões dos Brics, a diplomacia chinesa não se limitou a informar sobre investimentos e projetos para o país. Deixou claro que faz questão de uma pausa para fotografias ao lado de Dilma Rousseff. Recesso? O Congresso Nacional está parado, mas o orçamento da ­Câmara dos Deputados segue escoando. No mês de junho, repleta de pontos facultativos e sem trabalhos parlamentares, a Casa empenhou R$ 3,3 milhões para pagar emissão de passagens aéreas, gastou outros R$ 27,5 mil em ­diárias e R$ 302 mil na compra de itens de alimentação. Henrique Alves vira tucano em agosto... O comando do PSDB está confiante de que até o fim de agosto o presidente da Câmara, Henrique Alves, acabe com a dupla militância, de quem apoia Aécio e Dilma, para anunciar oficialmente o apoio à campanha tucana. Interlocutores de Alves dizem que ele não consegue mais esconder a mágoa com Dilma, que tentou compensá-lo recentemente com a diretoria do Dnocs. Ou não... Monitorando cada movimento nas alianças estaduais, o Planalto acredita que Henrique Alves não deve se mexer. O argumento é de que o apoio ao senador mineiro Aécio Neves poderia ajudar o PSDB no plano federal, mas o abandono da presidenta da República, Dilma Rousseff, jogaria uma fatia dos aliados de hoje nos braços do PT. Comprou briga Ao visitar a comunidade Sol Nascente – favela de Ceilândia considerada a maior da América Latina, ganhando até mesmo da Rocinha, no Rio de Janeiro –, o presidenciável do PSB, Eduardo Campos, comprou uma briga com Agnelo Queiroz (PT), que há um mês lançou pacote de obras estruturais que vinha sendo comemorado pela população. Os moradores da Sol Nascente detestam que o local seja chamado de favela. Lista VIP Órgão máximo do patronato brasileiro, a Confederação Nacional da Indústria (CNI) elaborou uma lista de 100 candidatos a vários cargos eletivos, entre deputados, senadores e governadores que terão uma mãozinha financeira do setor na campanha. Toma lá dá cá Juan Tellategui, ator argentino que estreia no cinema brasileiro no longa “Divã 2”. ISTOÉ – Os argentinos esperavam problemas de infraestrutura? Tellategui – O Brasil evoluiu muito nos últimos anos. Ouvi muitas histórias de que haveria problemas na Copa, mas as coisas aconteceram de forma tranquila. Claro que houve coisas tristes, como a queda do viaduto em Belo Horizonte. Nós ficamos muito preocupados, porque a cidade serviu de base para a seleção da Argentina. ISTOÉ – Brasileiros e argentinos aprenderam a se respeitar, apesar da rivalidade no futebol? Tellategui – Muito dessa rivalidade é criado na mídia e alimenta preconceitos. A rivalidade esportiva não deve ser transformada em rivalidade cultural. ISTOÉ – O que foi mais bonito de ver na Copa? Tellategui – A diversidade nas ruas. Fiquei feliz em encontrar muitos latino-americanos e africanos nos pontos turísticos. Em São Paulo, também, foi muito divertido ouvir vários sotaques no metrô. Rápidas Nem todos os aliados de Dilma no Nordeste estão felizes de associar suas campanhas à reeleição da presidenta. O governo está definitivamente convencido de que a lista de requerimentos para depoimentos de empresários à CPI da Petrobras transformou-se numa linha mestra da campanha financeira de 2014 – mesmo entre parlamentares aliados. Uma semana antes de deflagrada a operação Jules Rimet, o secretário de Turismo do Rio de Janeiro, Claudio Magnavita, já alertava representantes diplomáticos da Rússia e do Catar, futuras sedes da Copa, para o risco de superfaturamento de diárias de hotéis por empresas ligadas à Fifa. Candidato a grande puxador de votos do PT em São Paulo, o cartola corintiano Andrés Sanchez resolveu entrar no corpo a corpo eleitoral. Seus aliados começam a convocar veteranos militantes do partido para pedir votos nos bairros e entidades sindicais. Retrato falado Nem os políticos passaram ilesos às brincadeiras de estrangeiros após a derrota da Seleção Brasileira de Futebol na Copa do Mundo. ­Em reunião com comitiva de parlamentares ­russos, um dia depois do jogo no Mineirão, o vice-presidente da Câmara, Arlindo Chinaglia (PT-SP), teve de responder a provocações. Embora sua própria seleção tenha caído nas eliminatórias, os russos perguntaram a Chinaglia se depois da goleada Brasil e Alemanha manterão a parceria de ações contra a espionagem na internet. “Se nós fôssemos misturar futebol e política, como é que nós poderíamos construir o Brics, se só o Brasil é pentacampeão?” Sangue quente Com os não tão conhecidos Rui Costa (PT) e Paulo Ganem (DEM) disputando o governo da Bahia, o eleitorado tem prestado atenção, mesmo, na briga pelo Senado. O ex-ministro da Integração Nacional Geddel Vieira Lima (PMDB) e a ex-ministra do Superior Tribunal de Justiça Eliana Calmon concorrem pela única vaga ao ­Senado. Cinco candidatos disputam a cadeira que será deixada por João Durval (PDT), mas Geddel já avisou que vai mirar a artilharia em Eliana. A exemplo de Geddel, a ex-ministra é conhecida por não econo­mizar palavras para dizer o que pensa. 3#6 ANTONIO CARLOS PRADO - RASGA CORAÇÃO Eu, que não sou do palco mas sim da plateia, homenageio o dramaturgo Oduvaldo Vianna Filho - que sempre acreditou no trabalhador brasileiro e não naqueles que contestam tudo e todos. Nelson Rodrigues foi um dos melhores dramaturgos do Brasil – e também o mais econômico em elogios em relação aos autores que admirava. Fácil deduzir, então, qual era o seu comportamento diante daqueles que o desagradavam. Entre esses “desafetos intelectuais” sempre esteve outro dramaturgo, o mais revolucionário do País na exploração do espaço cênico, na sobreposição de planos, no tempo da narrativa e no mergulho na alma do brasileiro: Oduvaldo Vianna Filho. Eu, que não sou do palco mas sim da plateia, aqui o homenageio nas quatro décadas de sua morte que se completam nessa quarta-feira 16. Qual sua dimensão no teatro nacional? Nelson Rodrigues se curvou ao comentar a peça “Rasga Coração”: “É a mais fascinante obra-prima; impossível ser mais definitivo”. Vianninha morreu de câncer no pulmão aos 38 anos. Quem assiste à série da Rede Globo “A Grande Família” lê ainda o seu nome entre os créditos – foi ele quem criou em 1974, pouco antes de morrer, o programa “Nossa Vida em Família”, que fixou estruturas da dramaturgia na nossa televisão. As noites de domingo são ótimas para ir ao teatro, parte do público de sábado vai como programa de fim de semana a musicais importados e aplaude fora de hora; o de domingo vai a peças de verdade. Perguntei a alguns diretores, sempre aos domingos, por que não se reencena “Rasga Coração”, a mais brasileira de todas as peças na coragem da ternura (a começar pela música de Anacleto de Medeiros e Catulo da Paixão Cearense, agregado do senador “Coleira” da República Velha) e na coragem política de afirmar “que o novo não é necessariamente revolucionário nem o antigo é sempre reacionário” – atualíssima aula para muito contestador de rua, embora ele não tenha competência para aprender isso. A resposta de um dos diretores me foi definitiva: “Haja fôlego emocional”. A peça cobre 40 anos da história política do Brasil a partir de Getúlio Vargas no poder com a revolução de 1930. Dá-se numa multiplicidade de planos, mostrando a repetição das angústias humanas, familiares e políticas, a cada geração, e revelando que os conflitos não ocorrem entre tais gerações, mas se instalam no interior de cada uma delas. Boa parte da esquerda que já seguiu a bobagem marxista de que “a história só se repete enquanto farsa” execrou então Vianninha porque ele mostrou que a história se repete, e muito, como verdade sociológica. Houve quem o criticasse alegando que ele congelara a esperança. Nada disso, a peça dá a saída abrangendo o psiquismo de cada um e o psiquismo social: “Não faça do seu medo de viver um espetáculo de coragem”. É um convite para as pessoas crescerem enquanto cidadãs. Para Vianninha o grande revolucionário desse Brasil, que ainda se fará socialmente mais justo, é o “trabalhador brasileiro”, “lutador e herói anônimo” que sai do emprego, bebe uma no botequim para relaxar, se aperta na condução lotada e vai para casa ao encontro de mulher e filho, com “seus “dramas e seus sonhos” – não, os grandes revolucionários não são os profissionais dos palanques nem dos partidos políticos. Nenhum dramaturgo cresceu tão largo e profundo. Cresceu na ternura: “Se tu queres ver a imensidão de céu e mar/refletindo a prismatização da luz solar/Rasga o coração/vem te debruçar/sobre a vastidão do meu penar”. E na política: “olhar nos olhos da tragédia é dominá-la”. Vianninha estava morrendo quando alguém lhe balbuciou no ouvido que a peça não fora censurada pela ditadura militar (mentira analgésica de amigo para que ele partisse feliz). Liberada em 1979, nesse mesmo ano, ainda sob o regime de exceção, estreou no Teatro Guaíra, em Curitiba. Na primeira noite foram 28 minutos de aplausos ininterruptos; na segunda, quase uma hora. Antonio Carlos Prado é editor executivo da revista ISTOÉ ___________________________________ 4# ESPECIAIS COPA 2014 – 16.7.14 4#1 ACREDITE NO BRASIL 4#2 MARACANAZO X MINEIRAÇO 4#3 É PRECISO MUDAR TUDO 4#4 OS DOIS LADOS DA MOEDA 4#1 ACREDITE NO BRASIL A derrota para a Alemanha não pode apagar o brilho da organização impecável de uma das maiores Copas do Mundo da história. O País deve se orgulhar de sua capacidade de realizar grandes feitos e da competência e da qualidade de seu povo Ana Carolina Nunes (acarol@istoe.com.br), Paula Rocha e Yan Boechat Finalmente chegou ao fim na terça-feira 8, em Belo Horizonte, o trauma que marcou o Brasil pelos últimos 64 anos e ajudou a moldar a visão que os brasileiros têm de si. Quis o destino que o fantasma do Maracanazo, drama que perseguiu e maltratou a autoestima nacional por mais de seis décadas, tenha sido enterrado com uma derrota vergonhosa e acachapante para a Alemanha, no Mineirão. Os sete gols marcados pelo time Müller, Klose, Khedira & cia tornaram aquele chute meio mascado de Ghiggia em 1950 um mero soluço na vitoriosa história do futebol brasileiro. Ainda é cedo para entender a real dimensão de uma derrota tão impactante numa semifinal de Copa do Mundo disputada em casa. Mas nunca é tarde para o País analisar o passado e não incorrer no profundo erro que cometeu em 1950 após perder o Mundial em pleno Maracanã: a crença de que a culpa para o fracasso em uma partida de futebol se deve a uma fragilidade, a uma inferioridade, a um pecado original intrínseco à identidade brasileira. O que ocorreu nestes 64 anos que separam as duas hecatombes prova, com demonstrações indiscutíveis, que o Brasil e os brasileiros precisam livrar-se de uma vez por todas do que o gênio Nelson Rodrigues classificou como complexo de vira-latas. UNIÃO - Brasileiros de todas as cores, credos e classes uniram-se para fazer desta uma das maiores Copas de todos os tempos Os profundos avanços econômicos, sociais, tecnológicos e culturais brasileiros nas últimas seis décadas são suficientes para aniquilar na raiz qualquer ilação sobre uma pretensa precariedade da alma nacional. De nação puramente agrária, em um lento processo de industrialização e absolutamente desigual, o Brasil transformou-se em uma das maiores economias do mundo, numa das mais avançadas democracias do planeta, dono de um parque tecnológico pujante e ator importante no cenário geopolítico regional e global. Trata-se ainda, é verdade, de um país em construção, com uma série de duros e complexos desafios a enfrentar. Mas é inegável que o Brasil de 2014 não parece nem sombra daquele de seis décadas atrás – e isso não é obra de vira-latas preguiçosos e desleixados. Creditar a derrota de terça-feira a uma suposta supremacia moral alemã, ou a vícios de um povo indolente, é jogar fora mais de 50 anos de trabalho suado, de história vitoriosa confirmada por uma infinidade de estatísticas. Até mesmo no campo – hoje de gosto amargo – do futebol. Desde 1963, as duas seleções se enfrentaram 22 vezes. O Brasil venceu 12 confrontos e empatou cinco. Já os alemães venceram apenas cinco jogos, incluindo a goleada do Mineirão. O vira-latismo, apesar de antigo, é persistente. Volta e meia uma espécie de surto toma conta do País e, olhando-se de longe, tem-se a impressão de que o Brasil está sempre prestes a sucumbir a uma inerente incapacidade. Foi assim nos meses que antecederam a Copa do Mundo. Até o início da competição, uma vaga de pessimismo espalhou-se por todos os cantos. Os estádios não ficariam prontos, os aeroportos iriam colapsar, a violência tornaria a vida dos estrangeiros um inferno, os protestos e greves paralisariam a economia. O clima era tão ruim que até mesmo o Comitê Olímpico Internacional se dizia preocupado com a capacidade de o País organizar um evento da magnitude da Olimpíada. DEU CERTO - O risco de um apagão no sistema de transportes se mostrou infundado e milhares de estrangeiros cruzaram o país sem problemas Não foi preciso muito tempo para a realidade se impor. Em menos de uma semana de Mundial, brasileiros, turistas, jornalistas e mesmo quem estava do outro lado do mundo já começavam a considerar esta como a melhor Copa de todos os tempos. Goleadas históricas, jogos notáveis, viradas emocionantes, disputas improváveis de pênaltis fizeram dentro do campo este Mundial para lá de especial. Fora dele, centenas de milhares de turistas ficaram absolutamente encantados com a maneira de ser do brasileiro. O acolhimento, a generosidade, a capacidade ímpar no mundo de viver com as diferenças e se adaptar a elas conquistaram aqueles que vieram ao Brasil temendo encontrar o caos em seu sentido mais amplo. Mesmo na infraestrutura, uma área em que o Brasil de fato precisa avançar muito, tudo deu certo. O transporte público nas grandes cidades, como em São Paulo, Rio ou Belo Horizonte, funcionou sem problemas. Os aeroportos, o grande calcanhar de aquiles deste Mundial, suportaram o fluxo concentrado de passageiros de forma exemplar. O percentual de voos atrasados durante a Copa foi inferior à média europeia, por exemplo. E os estádios, tão criticados, cumpriram seu papel com elegância. É verdade que alguns deles, como a Arena Corinthians, iniciaram o torneio ainda necessitando de ajustes, mas que foram resolvidos rapidamente. Apesar do naufrágio do time brasileiro, é impossível não concordar que, se essa não foi a “Copa das Copas”, chegou muito perto de ser. Até um esquema milionário de venda de ingressos por tubarões ligados à Fifa – impunes em várias paragens – acabou desbaratado pela sempre tão criticada polícia brasileira. “Tudo funcionou bem, tudo foi ótimo. Menos a nossa seleção, essa é que não ficou pronta para o Mundial”, brinca o humorista Hélio de La Peña. Outro que ficou impressionado com o que viu foi Mauricio de Sousa, o criador da turma da Mônica. “Foi um sucesso. A profecia da catástrofe não se concretizou.” Qual o motivo, então, para o brasileiro ter apostado tanto no fracasso da sua Copa e ter temido um constrangimento colossal justo no seu grande momento de apresentar ao mundo a capacidade de organizar um evento desta magnitude? “É engraçada a dúvida que surgiu no Brasil sobre sua condição de realizar um megaevento de porte mundial”, diz Bryan McCann, professor de história brasileira da Universidade Georgetown, em Washington, nos Estados Unidos. “Foi tudo muito aceitável ou melhor do que a média mundial e quem apostou em desastre claramente exagerou”, diz ele. Para o diretor da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo do Mackenzie, em São Paulo, Valter Caldana, o que houve foi um debate acalorado demais, que induziu ao erro de avaliações. “O debate saiu do campo técnico e político e foi para o campo eleitoral, o que sempre pode ultrapassar os limites do bom senso”, diz ele. Com as questões de infraestrutura resolvidas, sobrou espaço para que o Brasil mostrasse ao mundo exatamente o que tem de mais único, de mais especial, algo que os próprios brasileiros têm dificuldade em compreender e aceitar: a tal da brasilidade, esse conjunto de características que une um país de dimensões continentais como nenhum outro no mundo. Darcy Ribeiro, o antropólogo que, como poucos, conseguiu traduzir em palavras a alma brasileira, gostava de dizer: “Os brasileiros se sabem, se sentem e se comportam como uma só gente, pertencente a uma mesma etnia”. O sociólogo Alberto Carlos Almeida, autor do best-seller “A Cabeça do Brasileiro”, diz que, apesar da tradição europeia, não somos um povo europeu. “Essa Copa serviu para mostrar ao mundo as características muito próprias do brasileiro, como a alegria, a flexibilidade e a nossa imensa capacidade de conciliação”, diz ele. “O brasileiro poderia ser mais sério, é verdade. Mas por outro lado não podemos renegar quem somos. A alegria do povo brasileiro é algo maravilhoso, não podemos perder isso”, diz o filósofo Renato Janine Ribeiro. Darcy Ribeiro argumentava que essa alegria veio do índio, para quem o sentido da vida era só um: viver. JEITINHO - A improvisação e a alegria dos brasileiros conquistaram os turistas E não se trata apenas de alegria. Há muita capacidade também. São poucos os países do mundo que podem se orgulhar de ter uma empresa de pesquisa como a Embrapa, que com tecnologia puramente nacional conseguiu fazer com que o Brasil se transformasse em um dos maiores produtores de grãos do planeta. Ou como a Embraer, por exemplo, que pelo empenho de engenheiros nacionais é hoje uma das quatro maiores fabricantes de aviões do mundo. Ou o que dizer de artistas que influenciaram – e influenciam – a arte mundial, como João Gilberto, Tom Jobim e Heitor Villa-Lobos. Por isso, imaginar que a derrota, por mais humilhante que seja, em uma partida de futebol, tem o poder de sintetizar a pretensa inferioridade de um povo como o brasileiro é mais que burrice, trata-se de má-fé. Como diria João Ubaldo Ribeiro, com toda a sua crítica ácida à formação histórica do Brasil: Viva o povo brasileiro. 4#2 MARACANAZO X MINEIRAÇO As lições de dois tristes momentos em que o Brasil foi anfitrião da Copa do Mundo, mobilizou e empolgou sua população e depois foi abalado pelo trauma de uma derrota em campo Rodrigo Cardoso (rcardoso@istoe.com.br) Os anos de 1950 e 2014 têm em seus registros duas tragédias brasileiras coletivas patrocinadas pelo futebol. Tanto em um como no outro, ser anfitrião em duas Copas do Mundo trouxe ao Brasil a euforia de um favoritismo que se transformou em pesadelo depois de dois revezes inesperados. Perder a final de 1950 por 2 a 1 para o Uruguai, quando se jogava pelo empate, trouxe a dor de uma derrota justa. A virada uruguaia a poucos minutos do fim imprimiu contornos de fatalidade àquele episódio conhecido como Maracanazo, que calou os 174 mil espectadores presentes no estádio carioca, segundo dados da Fifa, naquele 16 de julho de 1950. “O silêncio era tão grande que, se uma mosca estivesse voando por lá, ouviríamos o seu zumbido”, contou Alcides Ghiggia, uruguaio autor do gol que deu a vitória à Celeste. A possibilidade de acontecer algo semelhante, 64 anos depois, assombrava. Assim como causava euforia a chance de expurgar definitivamente essa mancha no país do futebol. Infelizmente, na semana passada, no Mineirão, o tal fantasma de 50 apareceu novamente e expulsou o anfitrião Brasil da parte boa da festa: a final. Mas o luto disseminado com a humilhante derrota de 7 a 1 para a Alemanha, em jogo válido pela semifinal, desta vez tem outra conotação. E está longe da fatalidade “seis minutos de pane geral” defendida pelo técnico Luiz Felipe Scolari e sua trupe da comissão técnica. O Mineiraço, como ficou conhecido o revés de 8 de julho de 2014, marca a indignação dos brasileiros com o futebol, que está no fundo do poço. Em campo, os jogadores não sabiam o que fazer, tal qual um exército sem general. Diante dessa constatação, a manifestação da depressão coletiva, em Belo Horizonte, desta vez, não foi o silêncio. 16 de julho de 1950 - A derrota apertada para o Uruguai de Ghiggia, autor do segundo gol a poucos minutos do fim do jogo, foi uma fatalidade que silenciou o Maracanã e transformou, injustamente, o goleiro Barbosa em bode expiatório 8 de julho de 2014 - A indignação da vexatória derrota para a Alemanha por 7 a 1, no Mineirão, não calou a torcida, que protestou ao perceber que o revés é reflexo da estrutura dos que comandam o futebol (acima, a prostração do lateral Marcelo) Das arquibancadas do Mineirão, surgiram vaias a jogadores do Brasil, gritos de “olé” quando os alemães trocavam passes e aplausos ao adversário. “Esta derrota foi pior do que a de 50, porque reedita uma catástrofe que a gente teve a chance de redimir e não o fez”, afirma o sociólogo Maurício Murad, da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (Uerj) e do mestrado da Universidade Salgado de Oliveira (Universo). Há uma apropriação muito maior da derrota de agora do que a de seis décadas atrás. Em 1950, quando as tevês começaram a chegar ao Brasil, milhões de brasileiros escutaram a final do Mundial pelo rádio e outros tantos souberam do resultado negativo pelo boca a boca ou no dia seguinte, por meio da imprensa. O mito daquela queda, portanto, foi construído no imaginário do torcedor. A derrota deste ano, pelo contrário, foi vista e compartilhada em tempo real, o que impediu a criação de vilões do massacre do Mineiraço. Essa globalização do vexame da Seleção de 2014 permitiu que ficasse claro que, tratando-se de esporte coletivo, o revés é problema de todos e não de apenas um personagem, seja ele o centroavante que não marca gols, seja o treinador que peca tática e tecnicamente, ou a psicóloga contratada que diz atender seus jogadores-pacientes pelo telefone ou WhatsApp. “O que acontece no campo é reflexo da estrutura ao qual o time pertence”, diz a psicóloga do esporte Katia Rubio, docente da Universidade de São Paulo. Em entrevista coletiva na quinta-feira 10, o camisa 10 da Seleção, Neymar Jr., afirmou ser uma injustiça os jogadores ficarem marcados como aconteceu em 1950 com o goleiro brasileiro Barbosa. “Meu pai me contou a história e eu concordei que foi uma injustiça muito grande”, afirmou. Esse entendimento mais amplo da derrota não existia em 1950, o que abriu espaço para que Barbosa carregasse até a morte o fardo de ser o vilão do Maracanazo. “Por vias transversais, o Mineiraço deixa como herança a redenção do Barbosa. Ficou, de vez, evidente a injustiça feita ao goleiro brasileiro de 50”, diz Murad. A humilhação sofrida pelo Brasil, em Belo Horizonte, é a comprovação de que um craque e a aura de país do futebol não bastam para ganhar campeonato. Trabalho a longo prazo, modernização dos métodos de treinamento, organização e disciplina são mais eficientes do que o jeitinho e uma dose de motivação. “O legado desse resultado acachapante é a incompetência da maneira de gerir o futebol em nosso em país”, diz Katia, da USP. Quatorze anos atrás, a Alemanha, a dita pátria de um futebol sem muito brilho, mas que cravou sete gols no anfitrião Brasil, patrocinou uma revolução no esporte para por fim a derrotas que manchavam a sua história marcada por três títulos mundiais (leia reportagem na página 60). Boa parte dessa geração alemã, que surrou o Brasil em campo inserindo o Mineiraço na história do futebol, é fruto dessa revolução feita no futebol. Por outro lado, o massacre sofrido pela Seleção Brasileira, a maneira como ele ocorreu, demonstrando receio de jogar, incapacidade de enfrentar a adversidade, desorganização, despreparo e fragilidade emocional, remete ao complexo de vira-lata que se espalhou pelo País depois da derrota de 64 anos atrás. Para Murad, sociólogo da Uerj, todos esses elementos podem transbordar para fora dos gramados. “As pessoas podem achar que somos assim e por isso perdemos; que perdemos porque somos inferiores; que somos inferiores porque somos latinos, emotivos e mestiços.” Ser enxotado de casa dessa maneira, como aconteceu com a Seleção Brasileira, portanto, não faz bem para o povo. Que o País, então, passe a cuidar bem de uma das mais importantes marcas da nossa identidade: o futebol. 4#3 É PRECISO MUDAR TUDO Por que a tragédia do Mineirão representa uma oportunidade única para o País se livrar das mazelas que há muito tempo corroem o futebol brasileiro Amauri Segalla (asegalla@istoe.com.br) Se fracassos servem para alguma coisa, é para lembrar que está na hora de promover mudanças. O inacreditável 7 a 1 da Alemanha contra o Brasil foi uma desonra para a camisa mais vitoriosa da história, mas pode significar também uma oportunidade. Se tem algum sentido, a bordoada escancarou que algo vai muito mal com o futebol brasileiro. Claro, o técnico Luiz Felipe Scolari cometeu uma série de barbaridades – a paralisia diante do blitzkrieg alemão, a soberba mesmo depois da derrota acachapante, a má escalação, a má convocação, e muitas outras –, mas ele é apenas parte de um problema muito maior. Corrupção, gestão amadora, clubes insolventes, êxodo de jogadores, estádios vazios, campeonatos esdrúxulos que vez ou outra terminam no tapetão, tudo isso seria ignorado não fosse a humilhação imposta pelos alemães. É horrível perder de 7 a 1, principalmente se você jogar em casa e estiver numa semifinal de Copa do Mundo, mas o Brasil precisava de um choque de realidade, por mais cruel que ele fosse. “O que acontece dentro do campo tem relação com o que acontece fora, está ligado à direção do futebol brasileiro”, diz Tostão, craque do time tricampeão em 1970 e hoje um lúcido crítico. “É um sistema viciado, incompetente e promíscuo, baseado numa estrutura política de troca de favores que começa desde as categorias de base. A derrota só reflete isso.” DE SAÍDA - Felipão e Parreira deixam o Mineirão depois da goleada para a Alemanha: eles apostaram na mística da Seleção e não no trabalho e planejamento Em outras palavras: o futebol brasileiro virou uma sombra do que foi no passado graças aos péssimos serviços prestados pelos seus gestores. A CBF, a entidade que comanda o esporte no País, é um meio para o enriquecimento de cartolas e não para apoiar clubes e atletas. Basta um exemplo para comprovar isso: Ricardo Teixeira, presidente da CBF entre 1989 e 2012, renunciou ao cargo para fugir das denúncias de corrupção que associavam seu nome a negócios espúrios realizados com a Fifa. Sucessor de Teixeira, José Maria Marin não tem demonstrado disposição para deflagrar as mudanças necessárias, responsabilidade empurrada para Marco Polo Del Nero, que assumirá a presidência da CBF em 2015. Por eles, tudo seria mantido como está, com a entidade rica e clubes pobres, mas ninguém imaginou que os alemães fariam o que fizeram no estádio Mineirão. Como deixar tudo no mesmo lugar depois de uma humilhação dessas? É preciso virar o futebol brasileiro do avesso, a começar pela formação de jogadores. Por que, afinal, aparecem cada vez menos Zicos e Rivellinos? O que explica o fato de o Brasil ir a campo, em uma Copa disputada em seu próprio território, com apenas um craque de verdade? É óbvio que há um problema sério na formação de talentos, e isso se deve principalmente à mercantilização cada vez mais precoce. As categorias de base dos principais clubes brasileiros são dominadas por empresários e se transformaram em balcões de negócios entre pais, agentes e técnicos de futebol. Hoje em dia, você só consegue entrar num sub-12, num sub-15 de um time grande se pagar propina para um empresário, que, por sua vez, suborna o diretor do clube. Não importa mais se o garoto é bom de bola. O que interessa é que ele possa gerar algum dinheiro. Mesmo quando o talento excepcional se impõe, como é o caso de Neymar, as deficiências na formação ficam evidentes. Na entrevista coletiva da quinta-feira 10, Neymar disse que futebol é ensinado de forma equivocada no Brasil. “Eu fazia coisas em casa que no treino não fazia”, disse o camisa 10 da Seleção. “Aprendi muita coisa de maneira errada.” Nossos técnicos, mesmo aqueles que deveriam trazer conceitos inovadores, como os que têm a rara chance de dirigir um time grande, pararam no tempo – Felipão é o exemplo acabado da falta de sintonia com os novos tempos. “Há um desinteresse das federações e da CBF na promoção de cursos para técnicos e na realização de intercâmbio com treinadores estrangeiros”, diz José Alberto Cortez, coordenador do grupo de estudos de futebol da Universidade de São Paulo. “Na Alemanha, quando perceberam que o futebol não atingia os objetivos, foram criados vários núcleos de treinamento com profissionais especializados.” A Alemanha é o modelo mais pulsante do que pode ser feito com planejamento, organização e boas ideias. Quando a seleção perdeu a final para o Brasil na Copa de 2002, os cartolas do país fizeram um pacto: era preciso mudar tudo para que os alemães voltassem a rivalizar com os gigantes do futebol. O primeiro passo foi fazer uma varredura na situação financeira dos clubes, expurgar a corrupção e investir pesado no que realmente interessa – os jogadores. No período de dois anos, foram construídos 200 centros de excelência esportiva no País (hoje já são quase 400), onde trabalham técnicos, fisioterapeutas, nutricionistas, psicólogos, educadores, médicos e o pessoal jovem das universidades que têm a missão de sugerir formas de aprimorar a tática e a técnica dos futuros atletas. Uma parceria com a Universidade de Colônia resultou na elaboração minuciosa de estatísticas sobre o universo do futebol. Os acadêmicos passaram a contabilizar coisas como “chutes certos para o gol”, “nível de estresse”, “potencial criativo” e “capacidade de concentração.” Depois, as informações são transmitidas aos treinadores, que detectam o que precisa ser melhorado em cada jogador. Dos 23 atletas da Alemanha convocados para a Copa no Brasil, 22 foram formados assim. A exceção é o artilheiro Klose, o veterano de 36 anos que começou a carreira antes desse processo. FIASCO - Marin, presidente da CBF, e treino da Seleção na Granja Comary: sucessão de erros culminou no maior vexame do futebol brasileiro Enquanto isso, no Brasil, a máxima de que “brotam talentos naturalmente” acomodou uma geração inteira de gestores e treinadores. Na cabeça arcaica deles, nada precisava ser feito, porque uma hora ou outra novos Romários iriam aparecer. Pior ainda: muitos técnicos continuaram a dar valor excessivo para valores etéreos. Na Copa, segundo dados da imprensa esportiva, o Brasil foi o time que menos treinou. Em vez de trabalhar variações táticas e estudar os adversários, Felipão preferiu confiar o destino da Seleção para a sua santa preferida, para o casaco que ele jamais tirou por ser um amuleto da sorte, para frases de autoajuda marteladas diariamente na cabeça dos jogadores. Carlos Alberto Parreira, o auxiliar de Felipão, agarrou-se à mística da Seleção e não à realidade nua e crua. “O futebol tem hierarquia”, “a camisa pesa”, “a amarelinha vale ouro” são frases que ele repetiu o tempo todo, em vez de explicar, digamos, à zaga brasileira como bloquear os avanços dos atacantes alemães. Para Carlos Alberto Torres, o capitão do tri, Felipão esqueceu que ganhou o penta porque tinha no time gente como Ronaldo Fenômeno, Ronaldo Gaúcho, Rivaldo e Cafu, e não porque ele tem mais fé que os adversários. É esse modo de agir que flerta com o amadorismo que precisa ser combatido. Até a escolha da Granja Comary, em Teresópolis, como local de treinamento da Seleção foi uma estupidez. O Brasil treinou com temperaturas em torno de 15 graus para jogar em fornos como Fortaleza. Felipão disse que não preparou variações táticas porque a Granja não permite privacidade e havia o risco de os rivais desvendarem as armas brasileiras. Ora, por que razão insondável ele então aprovou Teresópolis? Mas não deve ficar apenas na conta dos técnicos as explicações para o fracasso brasileiro. “A origem do problema está no organograma dos clubes”, diz Fernando Ferreira, fundador da Pluri Consultoria, especializada no mercado esportivo. O fato de dirigentes esportivos não serem remunerados no Brasil leva a duas situações: à dedicação parcial ao clube e, mais grave ainda, à corrupção. “Essa estrutura amadora não combina com o grande negócio que é o futebol”, diz Ferreira. País que é referência mundial neste esporte, o Brasil está perdendo a corrida não apenas para os grandes centros, como Alemanha, Espanha e Inglaterra, mas até para emergentes. Um estudo da Pluri concluiu que o campeonato brasileiro tem valor de mercado calculado em 672 milhões de euros, atrás de nações sem brilho futebolístico como Turquia e Ucrânia. No ano passado, o campeonato brasileiro foi o que mais se desvalorizou, com queda de 28%. Os que mais avançaram em valor de mercado foram China (alta de 55%) e Estados Unidos (36%). Com a saída cada vez mais precoce dos talentos brasileiros e uma provável ressaca pós-Copa, há o risco de o cenário piorar. A boa notícia é que está diante dos gestores do futebol brasileiro uma oportunidade única. Não há mais desculpas para não mudar. Por que não promover uma ruptura completa? Por que não contratar um técnico estrangeiro em vez de ficar na mesmice? Por que não cobrar dos clubes o saneamento de suas finanças? Por que não dar espaço para moleques talentosos, em vez de transformar a formação num negócio rentável? Por que não investir na preparação, em vez da magia? Marin, Del Nero, Felipão, Parreira e companhia precisam agora responder a tudo isso. 4#4 OS DOIS LADOS DA MOEDA Mesmo manchada por ruidosos casos de corrupção, a Fifa organizou um torneio elogiado mundialmente pelo público e pela imprensa Raul Montenegro (raul.montenegro@istoe.com.br) Na reta final da Copa no Brasil o mundo tomou conhecimento de forma absolutamente cristalina de duas faces opostas que compõem uma mesma entidade, a Fifa, poderosa federação que comanda o bilionário futebol em todo o planeta. O lado bom da entidade diz respeito à sua capacidade de promover o maior evento esportivo da Terra. Ao longo dos anos, a Fifa vem se superando na arte de organizar e colocar em prática uma cultura própria para o desenvolvimento de cada detalhe de um campeonato que mobiliza milhões de pessoas. No Brasil, o chamado “padrão Fifa”, que durante meses virou alvo de protestos, acabou surpreendo e, tomara, se tornará um dos legados do evento. Mas, se do ponto de vista organizacional a entidade encerra a Copa com saldo positivo, a mesma Fifa deixa o País com uma marca extremamente negativa no que diz respeito à maneira pouco transparente com que é gerida. E coube à polícia brasileira a investigação de algo que há quatro Copas vem sendo tratado apenas como desconfiança: a corrupção na venda de ingressos para os jogos dos mundiais. Nas últimas semanas, a Polícia Civil do Rio de Janeiro debelou um esquema internacional de venda ilegal de bilhetes que se instalou nas barbas dos dirigentes da Fifa e prendeu Raymond Whelan, presidente da empresa que detém exclusividade na venda de pacotes da entidade. Ele é apontado como o elo entre a Fifa e a quadrilha acusada de desviar e revender entradas do torneio. A trama ganhou ares cinematográficos quando Whelan foi solto por um alvará concedido pela Justiça brasileira, continuou trabalhando normalmente e, na noite da quinta-feira 10, sumiu do Copacabana Palace, onde estava hospedado, e passou a ser considerado foragido pelas autoridades. APOTEOSE - Torcida brasileira em êxtase na partida de abertura da Copa, no Itaquerão: estádios funcionaram bem O escândalo do câmbio negro respingou na Fifa porque envolve uma das principais parcerias comerciais da entidade, mas outros casos atingiram a organização ainda mais profundamente. Em março, foi revelado que o FBI apontou pagamento de quase R$ 3 milhões ao ex-vice-presidente da Fifa Jack Warner por uma empresa qatariana que promoveu a candidatura vitoriosa do país a sede da Copa 2022. Ele era um dos membros da entidade com direito a voto. No ano passado, a Fifa admitiu que o brasileiro João Havelange recebeu propina no período em que era presidente da organização. Ele recebeu subornos da empresa de marketing ISL em troca de benefícios em negociações comerciais. Como Havelange renunciou ao seu cargo na entidade dias antes da conclusão da investigação, ele escapou de punição interna. Não se pode negar que a Fifa organizou um belo espetáculo. Como uma organização execrada de forma praticamente unânime por quem entende de futebol pôde realizar um evento impecável? O acesso aos estádios aconteceu de forma tranquila, os banheiros foram elogiados e os funcionários desempenharam seu trabalho eficientemente. Até pontos inicialmente criticados, como o excesso de filas nas lanchonetes e as falhas de segurança, que resultaram na invasão dos chilenos no Maracanã, foram depois consertados. Para o jogador Ruy Cabeção, membro do Bom Senso FC – entidade criada por atletas para melhorar as condições do futebol brasileiro –, os escândalos de corrupção ajudam a explicar a capacidade de organização. “Com dinheiro em caixa você pode montar uma infraestrutura de primeira”, diz. Especialistas apontam que o ponto negativo da gestão “padrão Fifa” é o aumento dos preços dos ingressos. A cara do Brasil no torneio ficou a cargo das Fan Fests, eventos que reuniram torcedores ricos e pobres, mas que também são alvo de críticas. “Como o comércio é limitado aos produtos oficiais, criou-se uma ilha num espaço público para os patrocinadores ganharem dinheiro”, diz o jornalista Luiz Carlos Azenha, autor de um livro sobre negociatas do mundo da bola. Esse modelo de negócios está empurrando, cada vez mais, o evento para países mais autoritários – como a Rússia e o Qatar. Para combater a corrupção na Fifa, especialistas recomendam atenção pública permanente. “Denúncias da imprensa são importantes porque os patrocinadores da Fifa não querem associar seu nome à podridão”, afirma Azenha. Não se pode esquecer que os mandatários são escolhidos pelas confederações locais. “Vamos cuidar primeiro do nosso quintal.” diz Bebeto de Freitas, ex-presidente do Botafogo. Para o jornalista português Luís Aguilar, autor de um livro sobre a entidade, “quando o público perceber que seu amor está sendo maltratado, vai exigir mais transparência”. “A Fifa não é o futebol.” ________________________________________ 5# BRASIL 16.7.14 5#1 POR QUE AS CAMPANHAS SERÃO TÃO CARAS? 5#2 VOLTA INDESEJADA 5#1 POR QUE AS CAMPANHAS SERÃO TÃO CARAS? A previsão de gastos das principais candidaturas à Presidência este ano é de R$ 1 bilhão, um aumento de 100% em relação a 2010. Entenda os motivos do encarecimento das eleições Josie Jeronimo (josie@istoe.com.br) e Alan Rodrigues (alan@istoe.com.br) A cada eleição no Brasil, o mercado se aquece. A expectativa de alcançar o poder – ou de permanecer nele – faz com que os partidos invistam bilhões em portentosas estruturas de campanha. São profissionais especializados, produtoras de tevê, gráficas, bancas de advogados, cabos eleitorais e toda sorte de material e serviço que possam ser usados na batalha pelo voto. Soma-se a isso uma infinidade de gastos não contabilizados. As cifras são bilionárias e não param de crescer, indicando que política é um negócio arriscado, mas altamente lucrativo. A previsão de gastos das principais candidaturas à Presidência este ano é 100% maior do que na eleição de 2010. PT, PSDB, PMDB, PSB e siglas nanicas devem desembolsar juntas quase R$ 1 bilhão. Há quatro anos, esse valor era pouco maior que R$ 450 milhões, enquanto que em 2006 não chegou a R$ 180 milhões. Se a inflação acumulada nesses oito anos chegou a 54%, o custo do voto subiu dez vezes mais. CIFRAS MILIONÁRIAS - A campanha de Dilma Rousseff (PT) estimou um teto de gastos de R$ 298 milhões, a de Aécio Neves (PSDB) de R$ 290 milhões e a de Eduardo Campos (PSB) de R$ 150 milhões Só a campanha de reeleição da presidenta Dilma Rousseff estimou um teto de gastos de R$ 298 milhões, quase o dobro dos R$ 176 milhões previstos em 2010. É claro que o limite previsto nem sempre é o efetivamente gasto. Para a presidenta Dilma ser eleita, sua campanha consumiu 76% daquele valor, ou R$ 135 milhões, há quatro anos. Mesmo que não alcance o teto novamente, o custo este ano deve dobrar. Com previsão semelhante à dos petistas, a campanha de Aécio Neves declarou R$ 290 milhões como limite de gastos. É quase o triplo dos R$ 106 milhões estimados por seu partido, o PSDB, na campanha capitaneada por José Serra em 2010. O presidenciável Eduardo Campos foi o mais modesto na previsão de receitas e estabeleceu teto de R$ 150 milhões. Como Aécio, é a primeira vez que ele concorre à Presidência. Mesmo assim, o valor é considerado alto para um candidato de primeira viagem, cujo partido tem uma estrutura menor que os concorrentes. Consultados por ISTOÉ, comitês eleitorais das principais siglas informaram que o maior impacto no crescimento exponencial dos gastos se deve ao uso da internet, especialmente das redes sociais. Toda campanha que se preze precisa investir em novas plataformas de interação por um motivo simples: mais de 39% do eleitorado brasileiro é hoje formado por jovens que passam o dia colados em seus smartphones. REDE GANHOU RELEVÂNCIA - O marqueteiro João Santana pilotará a campanha de Dilma Rousseff na tevê, mas é na internet que os gastos cresceram exponencialmente. O PT prevê pagar R$ 12 milhões para guerrilheiros virtuais Além de perfis oficiais no Facebook e no Twitter, o comando das campanhas aposta na militância virtual que ajuda a multiplicar a mensagem do candidato e também a infernizar a vida dos concorrentes, disseminando boatos e intrigas. Para ter sucesso na internet, uma campanha para deputado federal em São Paulo precisa investir ao menos R$ 3 milhões. A campanha de reeleição da presidenta Dilma Roussef, por exemplo, prevê gastar quatro vezes mais: R$ 12 milhões. A guerra virtual entre os presidenciáveis deve movimentar R$ 30 milhões até outubro. Há quem considere que os militantes virtuais são os cabos eleitorais do século XXI. Quanto maior o domínio das ferramentas de internet, mais caro é o profissional. “A guerrilha digital requer um amplo e treinado exército e isso custa caro”, afirma o tesoureiro do PSDB, deputado Rodrigo Castro (MG). Jovens com habilidade nas redes sociais estão sendo recrutados pelas campanhas por cerca de R$ 2 mil por mês. “Os mais baratos têm como missão apenas replicar mensagens, apoiar e comentar conteúdos”, diz um cacique petista. Quem tem formação política é escalado para rebater críticas e opinar em fóruns e blogs especializados, o que rende mensalmente R$ 4 mil. Considerando a mobilização de cerca de 60 mil internautas, estima-se que o mercado de internet movimente R$ 120 milhões por mês. Além da internet, as campanhas também preveem gastar mais com serviços jurídicos. A proliferação de agressões, boatos e ações de propaganda irregular impacta diretamente na quantidade de ações movidas pelas bancas de advogados, seja para denunciar, seja para se defender. Até agora, a Justiça Eleitoral já impôs R$ 23,8 milhões em multas. Além dos gastos jurídicos, também estão mais caros o material gráfico, que precisa ter melhor qualidade, segundo o presidente do Sindicato das Indústrias Gráficas do Distrito Federal, Pedro Henrique Achcar Verano. “Os candidatos não querem mais santinhos simples, querem material editorial com papel bom. Eles têm pedido mais cartilhas e folders”, explica. De acordo com os donos das chaves dos cofres das campanhas, boa parte do dinheiro previsto para ser gasto nas campanhas será reservada para o horário eleitoral gratuito de rádio e tevê que irá ao ar a partir de 19 de agosto. “As campanhas tenderão a absorver a artilharia e a infantaria do arsenal tecnológico e isso custa muito dinheiro”, garante Gaudêncio Torquato, especialista em marketing político, professor da Universidade de São Paulo (USP). A previsão de gastos este ano com os programas de tevê é bem maior do que há quatro anos. Dois fatores contribuirão para esses aumentos. O principal deles é a criação em 2012 da chamada “Lei da TV Paga”, que obriga os canais por assinatura a terem metade de sua programação produzida por empresas brasileiras. Desde que passou a vigorar, a nova legislação causou uma revolução positiva no setor audiovisual do País. Impôs a obrigatoriedade de três horas e meia de programação nacional em horário nobre das grades de programação dos canais, passou a contemplar toda a cadeia de profissionais. Os custos finais aumentaram e está faltando mão de obra: de roteiristas a operadores de câmera. DO OUTRO LADO DA TRINCHEIRA - Para o tesoureiro do PSDB, deputado Rodrigo Castro (MG), "a guerrilha digital requer um amplo e treinado exército e isso custa caro" Durante a discussão da fracassada proposta de reforma política que pregava o financiamento público de campanha, a consultoria legislativa da Câmara fez estudo que já detectava a hiperinflação eleitoral. De acordo com a pesquisadora Ana Luiza Backes, nem mesmo alterações nas leis que proibiram showmícios, outdoors e distribuição de brindes funcionaram para baratear as campanhas. “Eleições tão onerosas ameaçam a representatividade dos eleitos, diminuindo a representação dos setores mais pobres”, critica. Sem uma reforma política que limite os gastos e a arrecadação partidária, o custo eleitoral tende a subir indefinidamente. A projeção é feita por Geraldo Tadeu Monteiro, professor de ciência política do Instituto Universitário de Pesquisas do Rio de Janeiro (Iuperj). Segundo ele, os gastos com campanhas eleitorais cresceram 471,3% em uma década, enquanto a inflação, no mesmo período, foi de 78%.  5#2 VOLTA INDESEJADA PT corre contra o tempo para reverter decisão da Justiça que anulou convenção do partido em São Paulo. A liminar foi obtida pelo deputado petista Luiz Moura, acusado de ligação com o PCC, que, com a vitória judicial, regressou à legenda Claudio Dantas Sequeira (claudiodantas@istoe.com.br) Desde a semana passada, a cúpula do PT está inteiramente mobilizada para tentar resolver a maior confusão surgida desde o início de campanha. O caso envolve o deputado estadual Luiz Moura (SP), afastado provisoriamente da legenda por conta de denúncias de envolvimento com o Primeiro Comando da Capital (PCC). Por não poder participar da convenção estadual que oficializou a candidatura de Alexandre Padilha ao governo de São Paulo, Moura recorreu ao Tribunal de Justiça e obteve liminar que não só restabeleceu sua filiação como anulou o evento partidário. Se as eleições fossem neste fim de semana, o PT não poderia concorrer no Estado, pois estaria esgotado o prazo legal para a realização de uma nova convenção. Seria um golpe de morte para a legenda, com desdobramentos imprevisíveis e impacto direto na campanha de Dilma Rousseff, que perderia seu maior palanque na disputa pela reeleição. Para piorar, o PT ficaria sem representantes na Assembleia Legislativa. Um fato insólito, sem dúvida, especialmente por ter vindo de alguém do próprio PT e não da oposição. Na terça-feira 8, Moura comemorou a liminar. “A Justiça existe. Obrigado, senhor, pelo reconhecimento e por iluminar o Judiciário a também reconhecer a verdade”, comentou o parlamentar em seu perfil no Facebook. IMAGEM ARRANHADA - O deputado Luiz Moura (PT) foi afastado depois de acusação de envolvimento com o PCC Por sorte do PT, as chances de a decisão ser revertida são boas. O presidente estadual do partido em São Paulo, Emídio de Souza, se disse surpreso com a notícia e divulgou nota oficial alegando que irá recorrer da decisão logo que for citado. “O PT empreenderá todos os esforços para fazer valer uma decisão soberana, democrática e pela ética na política”, escreveu. O ex-presidente Lula exigiu dedicação total da cúpula do partido e do próprio Palácio do Planalto para fazer valer o resultado da convenção que oficializou a candidatura de Padilha. O principal argumento da legenda será o de que a convenção não pode ser anulada pela Justiça comum, uma vez que envolve registro de candidaturas. Caberia, portanto, à Justiça Eleitoral a decisão final, segundo os advogados do PT. Antes de ir ao TJ-SP, no entanto, Moura acionou o Tribunal Regional Eleitoral, que declinou da competência sobre o caso. Em sua decisão, o juiz eleitoral Costa Wagner recorreu à jurisprudência do Tribunal Superior Eleitoral, citando inclusive parecer do ministro Dias Toffoli, ex-advogado do PT e hoje presidente do TSE. Segundo Toffoli, “não cabe a atuação da Justiça Eleitoral em relação a atos interna corporis dos partidos que não tenham reflexo no processo eleitoral”. Caso não haja uma solução jurídica, o PT deve tentar buscar um acordo com Moura, ainda que isso represente um risco à imagem da sigla. "O PT foi rápido e mostrou que é implacável com qualquer pessoa que se aproxime de facção criminosa" - Alexandre Padilha, candidato do PT ao governo de São Paulo Enquanto o PT não é citado oficialmente sobre a decisão do TJ-SP, a legenda tem procurado evitar fazer marolas sobre o caso. Padilha se disse confiante na Justiça e lembrou que o deputado estadual fora suspenso por 60 dias em decisão da Executiva Estadual corroborada pela Nacional – uma medida saneadora na esteira da divulgação de informações da Polícia Civil, que identificou, Moura numa reunião com membros do PCC na sede de uma cooperativa de transportes. “O PT foi rápido e ágil nessa decisão. Mostrou que diferentemente de outros partidos é implacável com qualquer facção criminosa e pessoa que se aproxime de facção criminosa”, disse Padilha. _______________________________________ 6# COMPORTAMENTO 16.7.14 6#1 O TRIBUNAL DO ABUSO 6#2 CRISTO DA DISCÓRDIA 6#1 O TRIBUNAL DO ABUSO Absolvição pelo TJ-SP de fazendeiro acusado de estuprar garota de 13 anos fere a lei, é considerada um retrocesso, abre precedente para impunidade de abusadores e coloca em xeque os critérios dos desembargadores Fabíola Perez (fabiola.perez@istoe.com.br) Os tribunais de Justiça são órgãos colegiados constituídos por desembargadores, os juízes de segunda instância. Suas decisões são tomadas em conjunto e se sobrepõem às dos magistrados de primeira instância. Por isso, causou incredulidade o fato de o Tribunal de Justiça de São Paulo (TJ-SP) ter minimizado a gravidade do sexo com menores de 14 anos em recente decisão. Três desembargadores paulistas inocentaram o fazendeiro Geraldo Brambilla, 79 anos, acusado de ter estuprado uma menina de 13 anos. A decisão, criticada por entidades que defendem os direitos da criança e do adolescente, considerou que a garota era prostituta e que o réu teria sido induzido a acreditar que ela seria mais velha. Vinda de quem deveria zelar pela lei, a deliberação suscitou espanto também por ferir a legislação (leia quadro). Ela se choca com artigos do Código Penal, com o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) e com a própria Constituição Federal. Em fevereiro de 2011, o fazendeiro foi pego em flagrante com duas garotas, de 13 e de 14 anos, dentro de sua caminhonete em um canavial da zona rural de Pindorama (SP). À época, ele chegou a ser condenado em primeira instância a oito anos de prisão, mas ficou detido por apenas 40 dias. “A absolvição é uma licença para a exploração sexual”, afirma Ariel de Castro Alves, fundador da Comissão Especial da Criança e do Adolescente do Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil. No acórdão, o relator Airton Vieira até admite que menores de 14 anos são vulneráveis, mas acolhe a defesa do fazendeiro. “Não se pode perder de vista que, em determinadas ocasiões, podemos encontrar menores de 14 anos que aparentam ter mais idade, mormente nos casos em que se dedicam à prostituição, usam substâncias entorpecentes e ingerem bebidas alcoólicas, pois em tais casos é evidente que não só a aparência física como também a mental desses menores destoarão do comumente notado em pessoas de tenra idade”, escreveu. O histórico do desembargador mostra seu pouco apego às questões que envolvem direitos humanos. Quando atuava como juiz da 28ª Vara Criminal de São Paulo, Vieira, 49 anos, chegou a defender a pena capital. “Não tenho nenhum constrangimento em assumir que sou favorável à pena de morte e à prisão perpétua”, afirmou. Ele teve também o nome incluído em uma lista criada pela OAB paulista da qual constavam 54 juízes considerados “inimigos da advocacia” e que já foram alvo de queixas e processos de colegas. Os outros desembargadores que seguiram o relator são: Hermann Herchander, 55 anos, procurador de Justiça, no TJ desde 2008, e Waldir de Nuevo Campos Júnior, 55 anos, que atuou como magistrado em diversos municípios do interior de São Paulo e ingressou no TJ em 2009. A decisão ressoou ainda mais por ter ocorrido meses após a presidenta Dilma Rousseff sancionar a lei que torna hediondo o crime de favorecimento da prostituição e de exploração sexual de crianças e adolescentes e dias antes de o ECA completar 24 anos. “A impunidade é um retrocesso, e o Judiciário não pode trilhar caminho oposto à lei”, afirmou à ISTOÉ a ministra dos Direitos Humanos, Ideli Salvatti. “Infelizmente, temos juízes que utilizam argumentos conservadores para absolver exploradores”, diz Miriam Maria José dos Santos, presidente do Conselho Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente. Embora o fazendeiro tenha afirmado à Justiça que se enganou quanto à idade da jovem, o conselheiro tutelar de Pindorama, David Elton Gramacho, conta que o homem conhecia a garota havia mais de um ano. “Ele a convidava para dar voltas de carro pela região”, diz. Foi a irmã mais nova da menina que acionou o conselho. Uma delas disse que não era a primeira vez que fazia sexo com o réu em troca de dinheiro. Gramacho diz que ambas vieram de famílias desestruturadas e que a de 13 anos havia sido incitada pelo pai a trocar sexo por dinheiro. “Ela não era prostituta, fez sexo por dinheiro umas três vezes quando se viu sem crack”, diz. Na semana passada, a assessoria do TJ informou à ISTOÉ que os desembargadores não iriam atender à reportagem, pois “não podem se manifestar sobre processo em segredo de Justiça”. O Ministério Público de São Paulo ainda pode recorrer ao Superior Tribunal de Justiça (STJ). Vale lembrar, no entanto, que, em 2012, o STJ chegou a inocentar um homem acusado de estuprar três meninas de 12 anos. Somente após um embargo do Ministério Público Federal, o STJ suspendeu a decisão. 6#2 CRISTO DA DISCÓRDIA Veto da arquidiocese carioca à presença do Cristo em franquia mundial de filme lança polêmica sobre os limites dos direitos de imagem do famoso ponto turístico Mariana Brugger (marianabrugger@istoe.com.br) Um homem (Wagner Moura) salta de asa-delta no Rio de Janeiro e, ao sobrevoar a estátua do Cristo Redentor, começa a questionar a participação do filho de Deus nas desgraças que se abatem sobe ele e a humanidade. Xinga e faz cobranças, dizendo que ele deveria ver com os próprios olhos como o mundo está perdido. Depois faz o gesto de dar uma banana. Quem teve acesso aos bastidores do filme “Rio, Eu Te Amo” – um dos dez segmentos que compõem o terceiro filme da franquia que lançou “Paris, Eu Te Amo” (2006) e “Nova York, Eu Te Amo” (2008) – diz que essa é a cena que a Arquidiocese do Rio de Janeiro proibiu. O veto abriu a polêmica sobre os limites dos direitos de imagem do famoso ponto turístico carioca. A cena faria parte da sequência “Inútil Paisagem”, dirigida por José Padilha que, por isso, deixou de integrar o longa previsto para estrear em setembro. SÍMBOLO - Dom Orani, da arquidiocese: fé ofendida Dona dos direitos patrimoniais do monumento, a arquidiocese considerou “atentatória contra a fé católica” e a caracterizou como “vilipêndio”, crime no qual se encaixa o menosprezo religioso. “Se fosse só a imagem do Cristo como cenário, tudo bem. Mas ele fala, claramente, com alguém. O diálogo gera uma ofensa ao sentimento religioso”, justifica o padre Jesús Hortal, ex-reitor da Pontifícia Universidade Católica (PUC) do Rio. Do outro lado, Fábio Cesnik, da Comissão de Direito Autoral da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB-RJ), afirma que há uma confusão nesse debate. “Não há problema de direito autoral”, diz. “A arquidiocese atua como censora ao impedir a difusão do filme.” Até o prefeito da cidade, Eduardo Paes, saiu em defesa do cineasta. “O Cristo é patrimônio da arquidiocese, mas é um ícone do Brasil e do Rio. Tudo tem limite”, disse. FICOU DE FORA - Padilha teve seu filmete, “Inútil Paisagem”, retirado do longa“Rio, Eu Te Amo” por causa da proibição A diretora jurídica da arquidiocese, Claudine Milione, afirma que a entidade recebeu um pedido de liberação de outros segmentos de “Rio, Eu Te Amo” e que a imagem do Cristo aparece inclusive no cartaz do filme. “Seria negligência nossa permitir, pois não dá para achar que o personagem está apenas fazendo um desabafo com o Redentor. Ele é um símbolo religioso e sempre será”, argumenta. Ao jornal “O Globo”, Wagner Moura e José Padilha garantiram: “Se fôssemos produtores, não aceitaríamos essa censura passivamente. Entraríamos na Justiça”. _____________________________________________ 7# MEDICINA E BEM-ESTAR 16.7.14 7#1 OS FALSOS MAGROS 7#2 DIAGNÓSTICO ANTECIPADO PARA O ALZHEIMER 7#1 OS FALSOS MAGROS Novo exame de imagem começa a ser usado para medir a composição corporal e revela muitos casos de pessoas com peso normal, mas com quantidade de gordura suficiente para colocar a saúde em risco Mônica Tarantino (monica@istoe.com.br) Uma forma mais eficiente de avaliar a constituição corporal começa a revelar que alguns indivíduos com peso normal segundo o Índice de Massa Corporal (IMC) – usado para classificar peso normal, sobrepeso e obesidade – podem, na verdade, ter mais gordura escondida no interior do organismo do que os exames existentes conseguiam descobrir até agora. O novo teste, que está sendo chamado de densitometria de corpo total, já está disponível em países como Espanha, Grécia, Estados Unidos e também no Brasil. MUDANÇAS - Liat tinha mais gordura do que devia e reformulou seu programa de exercícios e a dieta Feito em até 20 minutos pelo densitômetro, mesmo aparelho usado para avaliar o risco de osteoporose (doença que leva ao enfraquecimento ósseo), o exame usa um software diferente. “Por meio da emissão de uma radiação muito baixa, mostra a presença de músculos e de gordura a cada meio centímetro do corpo”, descreve a endocrinologista Patrícia Dreyer, do Laboratório Fleury Medicina e Saúde, um dos centros que oferecem a avaliação no País. Hospitais de primeira linha também já o fazem. Há mais opções para estimar a quantidade de gordura e músculos, como a bioimpedância (uma corrente elétrica de baixa intensidade que percorre os tecidos), a adipometria (medida das pregas cutâneas feita com uma pinça) e a medida da cintura abdominal. Em todos os casos, a informação obtida ajuda a estimar os riscos para a saúde de quem apresenta concentração de gordura acima ou abaixo do recomendado. “Porém, estudos mostram que os dados da densitometria de corpo inteiro não variam conforme a temperatura ambiente, se a mulher está no ciclo menstrual e com retenção de líquido, se comeu antes ou bebeu muito líquido. Tudo isso pode afetar o resultado dos outros meios de mensuração”, diz a endocrinologista Maria Fernanda Barca, de São Paulo. RETRATO - O teste emite radiação muito baixa e mostra a presença de músculos e de gordura a cada meio centímetro do corpo A médica começou a pedir o exame após ter assistido à apresentação de trabalhos em congressos internacionais. Um deles, feito na Espanha, mostrou que apenas um terço das pessoas com níveis elevados de gordura abdominal do tipo não aparente era tratado adequadamente. “Ao revelar a gordura mesclada aos músculos e escondida no abdome, por exemplo, esse teste permite identificar pacientes que, apesar de magros, podem ter maior risco de se tornarem diabéticos ou de ter síndrome metabólica”, explica Maria Fernanda. A síndrome a que se refere a médica é caracterizada pela presença dos fatores de risco para as doenças cardiovasculares, como a hipertensão e a diabetes tipo 2.“Pessoas com mais gordura na cintura apresentam maior risco para doenças do coração e morte precoce”, diz a americana Mary Oates, do Marian Regional Medical Center, na Califórnia (EUA). Ela é uma das principais pesquisadoras da nova densitometria. O exame também aponta obesos que possuem menos gordura do que se afere somente pela medida do IMC (calculado por meio de uma conta que considera o peso dividido pela altura ao quadrado). Seriam, portanto, mais saudáveis do que se imagina. “É um teste que precisa se tornar mais conhecido pelos benefícios que pode trazer”, diz a endocrinologista Patrícia Dreyer. “Mas ainda é necessário avançar em algumas definições. Os endocrinologistas se perguntam a partir de quais valores se pode diagnosticar síndrome metabólica. Isso ainda não está definido internacionalmente e por isso não inserimos essa conclusão no laudo”, pondera a médica. Outra boa aplicação do exame é indicar se há perda de massa muscular, um processo que avança com a idade. Mostra também fraturas ósseas que antes não eram visíveis com a densitometria tradicional. A precisão da nova densitometria surpreendeu a engenheira Liat Rubin, 29 anos, de São Paulo. Adepta dos exercícios de musculação, da corrida e da alimentação saudável, ela descobriu que, apesar do Índice de Massa Corporal normal e do corpo esguio, a quantidade de gordura escondida no organismo estava acima do aceitável para o seu caso. “O laudo da densitometria informou 27% de gordura na composição corporal. Uma avaliação anterior, feita com o adipômetro, havia indicado 19%!”, conta Liat. O dado foi usado para reformular o programa de treinamento e a dieta, com o objetivo de eliminar mais gordura. “Mantive a musculação para não perder massa magra, aumentei a atividade aeróbica para queimar mais gordura e passei a comer a cada três horas para acelerar o metabolismo”, conta Liat, que perdeu seis quilos. “Junto foi uma barriguinha que teimava em não desaparecer”, diz. 7#2 DIAGNÓSTICO ANTECIPADO PARA O ALZHEIMER Cientistas ingleses e americanos anunciam a criação de um exame de sangue e outro que analisa a retina capazes de prever com grande antecedência o surgimento da doença Cilene Pereira (cilene@istoe.com.br) Prever o desenvolvimento da doença de Alzheimer é um dos mais importantes desafios da medicina. Caracterizada pela perda gradual da memória e pela demência – decorrência da morte progressiva dos neurônios –, a enfermidade só dá sinais quando já está instalada, tornando seu controle difícil. Na semana passada, pesquisadores ingleses e americanos anunciaram avanços na criação de métodos indicativos de risco mais eficazes. Na Inglaterra, cientistas de quatro instituições inglesas afirmaram que estão próximos de criar um teste de sangue capaz de apontar, com um ano de antecedência, quais indivíduos com leve prejuízo cognitivo terão a doença. PRECISÃO - A presença de dez proteínas no sangue indica com 87% de eficácia a chance de a enfermidade surgir um ano depois Os cientistas chegaram ao exame a partir da análise das informações obtidas em três estudos internacionais. Eles reuniram amostras de sangue coletadas de 1.148 indivíduos (476 eram portadores da doença, 220 apresentavam leve limitação cognitiva e o restante não tinha qualquer problema). Parte dessas pessoas também foi submetida a exames de imagem (ressonância magnética) para que fossem detectadas eventuais modificações nas estruturas cerebrais. O objetivo era descobrir de que maneira 26 proteínas que haviam sido previamente associadas à enfermidade estavam de fato a ela ligadas. A investigação resultou no isolamento de 16 substâncias com forte vínculo à enfermidade. Após novas análises, conclui-se que apenas dez proteínas manifestavam papel preponderante no indicativo de risco. Ao final, os pesquisadores constataram que elas são capazes de prever com 87% de eficácia a chance de uma pessoa com pequenas limitações cognitivas ter Alzheimer após um ano. “Problemas de memória são muito comuns. O difícil é identificar quem, entre aqueles que apresentam lapsos, manifestará demência”, afirmou Abdul Hye, coordenador do trabalho, do Instituto de Psiquiatria do King’s College London. “Agora conhecemos dez proteínas que podem nos dar essa resposta com alto nível de eficácia.” Os cientistas estão conversando com possíveis parceiros comerciais que poderão transformar a descoberta em um exame de sangue acessível a todos. Nos Estados Unidos, os pesquisadores divulgaram os resultados do uso de um exame na retina que detecta mudanças registradas de 15 a 20 anos antes do diagnóstico. “A retina é parte do sistema nervoso central e divide algumas características do cérebro. Havíamos descoberto que um dos processos associados ao Alzheimer ocorre também nessa estrutura e conseguimos identificá-lo, dentro do olho, antes mesmo de ele ser iniciado no cérebro”, explicou Keith Black, do Cedars-Sinai’s, e responsável pelo experimento, que deverá ser aprofundado. _________________________________________ 8# ECONOMIA E NEGÓCIOS 16.7.14 8#1 GRANA CURTA 8#2 CANCELAMENTO SEM ESPERA 8#1 GRANA CURTA Com a alta da inflação, o endividamento elevado e a queda do poder aquisitivo, tem sobrado menos dinheiro no final do mês. Saldo dos depósitos na poupança foi o mais baixo desde 2011 Luisa Purchio (luisapurchio@istoe.com.br) Com inflação e nível de endividamento elevados, os brasileiros estão colocando menos dinheiro na poupança. Segundo dados do Banco Central, divulgados na segunda-feira 7, a captação líquida dos depósitos na poupança no primeiro semestre de 2014 foi a menor dos últimos três anos e perdeu somente para 2011, quando o saldo no período foi de R$ 3 bilhões negativos. Em relação ao mesmo período do ano passado, a queda foi de 66%. De janeiro a junho de 2014, o saldo da poupança foi de apenas R$ 9,61 bilhões, enquanto no mesmo período de 2013 ele foi de R$ 28,7 bilhões. Os baixos resultados no primeiro semestre podem ser atribuídos à diminuição do ganho dos trabalhadores diante da desaceleração da renda, ao grau de endividamento de parte expressiva da população, principalmente da chamada classe C, e à alta da inflação, que ultrapassou a meta do governo e, de acordo com o último relatório do Banco Central, deve ficar em 6,4% em 2014. A alta dos preços – sobretudo da alimentação – diminuiu o poder aquisitivo e de consumo da população. Pesquisa do instituto Kantar Worldpanel, que monitora o consumo de cerca de 80 itens usados diariamente e visita 11,3 mil domicílios brasileiros semanalmente, constatou que no primeiro trimestre do ano, em relação ao mesmo período do ano passado, as famílias cortaram em duas vezes a ida a pontos de venda de produtos de uso diário, como alimentos, bebidas e itens de higiene e limpeza. “Quando a pessoa tem menos dinheiro para consumir, ela tem também menos para poupar”, lembra Paulo Feldmann, professor de economia brasileira da USP. “Depois de muitos anos, a classe C está enfrentando problemas financeiros”, diz o especialista. A queda dos investimentos na caderneta de poupança também é atribuída por economistas aos consecutivos aumentos que a taxa Selic vem sofrendo desde 2013. Em abril deste ano, quando a taxa de juros subiu para 11%, a caderneta apresentou o saldo de R$ 1,27 bilhão negativo – o mais baixo desde 2011. A ligação entre os dois é direta, tendo em vista que a alta da Selic faz com que a caderneta se torne menos vantajosa que os fundos de renda fixa como CDBs ou títulos do Tesouro Direto, que apresentam maior rentabilidade. Segundo especialistas, essa é uma situação que se arrasta desde 2011 e já era esperada pelo mercado. Pessoas, por exemplo, que compraram o carro em 72 meses ainda estão pagando as prestações, lembram. “A queda dos recursos da poupança só não é maior porque os brasileiros, principalmente os mais velhos e as classes C e D, culturalmente ainda veem a caderneta como o investimento mais seguro, o que não é verdade”, afirma André Sacconato, diretor de pesquisa da consultoria Brasil Investimentos & Negócios (BRAiN). Economistas avaliam, no entanto, que, independentemente do rendimento, a caderneta de poupança ainda é uma boa opção de investimento para pequenos poupadores, para pessoas que procuram aplicações de curto prazo ou que buscam formar um “fundo de reserva” para emergências – uma vez que não há incidência de Imposto de Renda. Nos fundos de investimento ou até mesmo no Tesouro Direto (programa do governo de compra de títulos públicos pela internet), há cobrança do IR. Também na maioria dos investimentos são cobradas taxas de administração, o que não ocorre na poupança. De todo o modo, não foram apenas os depósitos em poupança que caíram. A Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima) aponta que os fundos de investimento captaram apenas R$ 2 bilhões no primeiro semestre de 2014, o que representou o pior resultado desde 2002. Além disso, dados da Cetip apontam que os recursos de títulos de renda fixa CDBs diminuíram 9% nos últimos 12 meses. Em junho de 2014, o saldo foi de R$ 9 bilhões, enquanto em junho de 2014 ele caiu para R$ 5 bilhões. O baixo volume de recursos nos bancos pode ser ruim para o aquecimento da economia. Com menos dinheiro em estoque, os bancos dificultam o acesso da população ao crédito. “Taxa Selic alta e saldo baixo em poupança a médio e longo prazo podem impactar na disponibilidade do crédito imobiliário e agrícola”, afirma Sacconato. Mesmo assim, o diretor- executivo de clientes e estratégia de varejo da Caixa, Edilo Ricardo Valadares, faz previsões otimistas para o ano. “A expectativa é que no segundo semestre haja uma captação de mais de R$ 12 bilhões.” 8#2 CANCELAMENTO SEM ESPERA Nova regulamentação amplia os direitos dos usuários dos serviços de telecomunicações. Empresas devem permitir que consumidor cancele contratos automaticamente Luisa Purchio (luisapurchio@istoe.com.br) Na terça-feira 8, entraram em vigor as novas regras do Regulamento Geral de Direitos do Consumidor de Serviços de Telecomunicações (RGC). Na prática, os usuários de serviços como telefonia fixa e móvel, tevê paga e internet passaram a contar com normas mais rígidas quanto à transparência e à qualidade de atendimento da empresa contratada. Em 2013, foram mais de três milhões de queixas registradas pela Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel), sendo as principais delas relacionadas a erros na cobrança de faturas. “Os problemas vinham do desconhecimento, pois o consumidor não havia sido informado corretamente de como o serviço seria cobrado”, explica Elisa Vieira Leonel, superintendente de relações com consumidores da Anatel. Além de ter de entregar no momento da contratação um sumário com os preços detalhados, as empresas agora têm prazo para responder às contestações de cobrança. Outra vitória do consumidor é a facilidade do cancelamento do serviço, já que poderá ser feito pela internet ou via opção no menu do atendimento telefônico da empresa – sem ter de falar diretamente com um atendente. “O consumidor não pode mais ser transferido de um lado para outro e a tentativa de convencê-lo a manter o serviço diminuirá”, afirma Veridiana Alimonti, advogada do Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (Idec). __________________________________________ 9# MUNDO 16.7.14 O CALIFA Quem é Abu Bakr al-Baghdadi, o herdeiro político de Bin Laden que desafia o mundo ao instaurar um Estado Islâmico entre a Síria e o Iraque Mariana Queiroz Barboza (mariana.barboza@istoe.com.br) Nem os homens que estavam na grande mesquita de Mossul, na sexta-feira 4, poderiam dizer quem era o clérigo de barba longa e vestido com túnica e turbante pretos se ele não tivesse se autoproclamado “o novo califa Ibrahim, emir dos crentes no estado islâmico.” Conhecido como Abu Bakr al-Baghdadi, líder do movimento extremista Estado Islâmico do Iraque e Levante (EIIL), agora rebatizado de Estado Islâmico, ele oficializava ali a criação de um califado numa faixa de terra que parte da cidade de Raqqa, no norte da Síria, e vai até Mossul, a segunda maior cidade do Iraque. No vídeo da pregação, que circulou na internet na semana passada, al-Baghdadi pedia: “Me obedeçam tanto quanto eu obedeço a Deus.” Hoje ele é considerado o homem mais perigoso, procurado e influente do Oriente Médio – o que, para muitos, faz dele o herdeiro político de Osama Bin Laden na ideologia jihadista. O HOMEM MAIS PROCURADO DO ORIENTE MÉDIO - Al-Baghdadi discursa, na sexta-feira 4, numa mesquita em Mossul. Foi sua primeira aparição pública. Em 2005, ele chegou a ser declarado morto pelos EUA, em um ataque aéreo Ao contrário de Bin Laden, no entanto, al-Baghdadi é um homem discreto. Há relatos de que, ao se encontrar com militantes, ele usava uma máscara, o que lhe rendeu o apelido de “xeque invisível.” Até a divulgação do vídeo, havia apenas duas fotos conhecidas do novo califa. “Al-Baghdadi é misterioso e o vídeo mostrou que, diferentemente de Bin Laden, ele não tem muita experiência em discursos públicos,” disse à ISTOÉ Patrick Skinner, diretor de Projetos Especiais do Soufan Group, de Nova York, e ex-agente da CIA. “Parecia um mau pregador.” Acredita-se, porém, que essa era a ocupação do líder antes da invasão do Exército americano ao Iraque, em 2003. Então com 32 anos, al-Baghdadi, que seria doutor em estudos islâmicos, teria se radicalizado e fundado um grupo armado. Em outubro de 2005, ele chegou a ser declarado morto pelos EUA, em um ataque aéreo. Mesmo assim, a milícia funcionava sem muita notoriedade até ele ser preso em Camp Bucca, cadeia mantida pelos americanos no sul do Iraque, três anos mais tarde. A irrelevância do grupo era tanta que ele era tido como um prisioneiro de baixa periculosidade. O período, contudo, foi fundamental para o envolvimento de al-Baghdadi na causa islâmica. “Na cadeia, ele teve contato com terroristas da Al Qaeda e, ao ser libertado, voltou ainda mais forte para as atividades extremistas,” disse à ISTOÉ Zainab Al-Suwaij, diretora da ONG Congresso Americano Islâmico, de Washington. Em 2011, al-Baghdadi entrou para a lista de terroristas do governo americano, que oferece uma recompensa de US$ 10 milhões a quem der informações que levem à sua morte ou captura. Naquele ano, segundo Zainab, ele havia jurado vingança à morte de Bin Laden. Mas foi Ayman al-Zawahiri quem sucedeu Bin Laden no comando da rede terrorista. Embora o rompimento com a Al Qaeda (para quem o EIIL era “violento demais”), em fevereiro, tenha deixado clara a disputa de poder com al-Zawahiri, al-Baghdadi é considerado hoje mais poderoso que o rival. “Há um choque de gerações,” afirma Pa­trick Skinner. “Os EUA estiveram muito focados na Al Qaeda na última década e a organização não conseguiu fazer nada relevante.” O EIIL, em contrapartida, se fortaleceu com a guerra civil na Síria, atraindo militantes e conquistando espaço no vácuo de poder. Agora al-Baghdadi não só controla um território considerável, que desafia o governo central do Iraque, como também segue resistente numa ofensiva até a capital Bagdá. Estima-se que, além de armas e veículos militares fornecidos pelos EUA, a tomada de diversas cidades iraquianas, inclusive do banco central de Mossul, rendeu aos insurgentes quase US$ 500 milhões. VIOLÊNCIA EXTREMA - Grupo de al-Baghdadi é conhecido por sua brutalidade e por ter executado e crucificado opositores na Síria Para ganhar projeção, al-Baghdadi, que vive cercado de conselheiros, lançou mão de práticas de extrema violência. Na sua terra, prevalece uma interpretação radical da lei islâmica, a sharia, em que os inimigos são decapitados, e os ladrões e adúlteros, açoitados. Num califado, o líder tem autoridade política e religiosa. Com a morte do profeta Maomé, de quem al-Baghdadi diz ser descendente, os chefes dos impérios muçulmanos posteriores eram considerados seus sucessores e, por isso, eram chamados de califas. Dentro da ideia de califado está também a ambição por uma unidade muçulmana. Mas não é isso que o novo califado tem promovido. Entre os movimentos sunitas que se levantaram contra o governo iraquiano, comandado pelo xiita Nouri al-Maliki, nenhum apoiou publicamente o Estado Islâmico declarado por al-Baghdadi. “Um grupo simplesmente anunciar um califado não é suficiente para se estabelecer um califado”, disse, em carta aberta, o líder religioso egípcio Yusuf al-Qaradawi. O apoio entre a população sunita, que tampouco respalda al-Maliki, é limitado. Assim que os extremistas assumiram o controle de Mossul, por exemplo, cerca de 500 mil pessoas deixaram suas casas. _________________________________________ 10# TECNOLOGIA E MEIO AMBIENTE 16.7.14 A CIÊNCIA DE ESCONDER AS COISAS Novas técnicas e materiais já permitem tornar objetos indetectáveis por som, tato, calor e até mesmo pela visão. O caminho para a capa de invisibilidade está aberto Lucas Bessel (lucasbessel@istoe.com.br) As histórias de fantasia e ficção científica estão recheadas de exemplos em que a capacidade de passar despercebido é muito útil. Da capa de invisibilidade do bruxo Harry Potter ao porta-aviões camuflado de “Os Vingadores”, tudo parece ficar mais fácil quando enganar o inimigo é uma mera questão de ser visto ou não. No mundo real, a ciência ainda não consegue atingir nada tão impressionante, mas já é capaz de tornar indetectáveis alguns objetos, não apenas escondendo-os dos olhos, mas também deixando-os imperceptíveis ao toque ou fazendo-os imunes às ondas sonoras e ao calor. A mais recente descoberta nesse campo vem do Instituto de Tecnologia de Karlsruhe, na Alemanha. Lá, os pesquisadores desenvolveram um metamaterial – denominação genérica para um material criado artificialmente com propriedades não encontradas na natureza – que torna imperceptível ao tato qualquer coisa colocada sob ele. “É como a história da princesa e da ervilha”, explica Tiemo Bückmann, um dos autores da pesquisa, citando o conto de Hans-Christian Andersen. “Só que, com nosso material, apenas um colchão seria suficiente para a princesa dormir bem, sem jamais sentir a ervilha por baixo.” O segredo está na forma como esse material cristalino é construído. Ele é feito de milhares de pequenos cones cujas pontas se tocam. Esses pontos de contato são ajustados para enganar os sentidos, de forma que qualquer objeto escondido se torne imperceptível não apenas às mãos humanas, mas também a instrumentos de medição de força. Entre as possíveis aplicações estão a fabricação de tapetes para ocultar cabos elétricos no chão ou a criação de colchões de acampamento ultrafinos, mas supereficientes (leia quadro). CAMUFLADO - Experimento japonês usa câmera e projetores para esconder pessoa na paisagem: limitações na vida real Recentemente, cientistas da Universidade Duke, nos Estados Unidos, também desenvolveram uma pirâmide “imune” a ondas sonoras. Feita de um metamaterial composto apenas por plástico e ar, ela foi cuidadosamente projetada para guiar o som por uma série de pequenos buracos na superfície. Segundo o professor Steven Cummer, autor do projeto, um localizador acústico é incapaz de detectar tanto a pirâmide quanto o objeto escondido sob ela. É como se ali houvesse apenas uma superfície plana. O princípio é similar ao utilizado por cientistas franceses para “esconder” objetos e torná-los imunes ao calor. No experimento, pesquisadores do Instituto Fresnel usaram camadas de material especialmente projetado para dissipar e desviar a energia. COLCHÃO PERFEITO - Metamaterial desenvolvido na Alemanha torna indetectável pelo toque qualquer objeto colocado sob ele Mas e quanto à invisibilidade da ficção científica? Ela já existe, mas em escala tão pequena que, ironicamente, é difícil de enxergar. Em março deste ano, pesquisadores da Universidade da Califórnia Central usaram nanotecnologia para criar um retângulo de 4 cm² feito de diversas camadas de um composto de metal projetado para “dobrar” a luz que as atinge. Na prática, isso significa que ele se torna invisível ao olho humano. É um grande avanço sobre experiências anteriores, que funcionaram apenas em escala microscópica, e sobre os mantos de camuflagem baseados em câmeras e projetores, criados por cientistas japoneses. Eles ficam ótimos na tela da tevê, mas têm pouca utilidade na vida real. Mais ou menos como a capa do Harry Potter. ACÚSTICA - O som atravessa esta espécie de pirâmide como se não houvesse nada ali: pura engenharia de materiais, sem componentes eletrônicos ___________________________________________ 11# CULTURA 16.7.14 11#1 IMPÉRIO GAY 11#2 A VOLTA DO MALANDRO 11#3 EM CARTAZ – CINEMA - OS MEUS, OS SEUS E OS NOSSOS 11#4 EM CARTAZ – LIVROS - AS MULHERES DE STEFAN ZWEIG 11#5 EM CARTAZ – TEATRO - O REI SOU EU 11#6 EM CARTAZ – BLUE-RAY - INÉDITOS DE BREAKING BAD 11#7 EM CARTAZ – CD - CHAMA ACESA 11#8 EM CARTAZ – AGENDA - UM OLHAR SOBRE CUBA/45 MINUTOS/ARTEVIDA 11#9 ARTES VISUAIS - A CONSTRUÇÃO DO ESQUECIMENTO 11#1 IMPÉRIO GAY Pela terceira vez consecutiva, a Rede Globo aposta em personagens homossexuais no horário nobre. Mas a nova trama de Aguinaldo Silva abordará também outros temas polêmicos, como relações extraconjugais em família, exploração sexual e homofobia Maria Elisa Arruk (mariaelisa@istoe.com.br) A Rede Globo levou quase meio século para exibir o primeiro beijo gay. Um ano depois da cena protagonizada por Félix (Mateus Solano) e Niko (Thiago Fragoso) fechando com sucesso “Amor à Vida”, de Walcyr Carrasco, Aguinaldo Silva promete ir além. No que depender de seu autor, “Império”, folhetim que estreia no próximo dia 21, vai substituir a insuficiente “Em Família” quebrando novos tabus nesse tema e em outros. “Em Família” apostou em uma relação lésbica. “Império” vai percorrer outros caminhos. José Mayer assume o personagem bissexual da trama, Cláudio Bolgari, um pai de família que mantém um caso amoroso com outro homem, muito mais jovem, com o conhecimento e anuência da mulher. Aguinaldo Silva disse que trata assim “do direito que os gays têm de não sair do armário”. Mas também não é só. Um dos filhos de Bolgari, Enrico (Joaquim Lopes), é homófobo. NO ARMÁRIO - O galã José Mayer interpreta um bissexual que não assume a escolha afetiva Já seu amante, um aspirante a ator, não se considera homossexual, apesar da relação longa e íntima, representando uma nova manifestação na fronteira dos gêneros conhecida como “os goys”, homens que não passam para os finalmentes com outros homens e por isso não se consideram integrantes da comunidade gay. De acordo com especialistas, colocar questões de gênero na televisão é sempre tiro certeiro. “Temas velados sempre agradam ao público”, diz Maria Immacolata Vassallo de Lopes, coordenadora do Centro de Estudos de Telenovela da Universidade de São Paulo (USP). “E cada vez o público exige mais verossimilhança nas narrativas ficcionais da televisão”, acrescenta a especialista. Conquistador inveterado de corações femininos, José Mayer encarna em “Império” o primeiro personagem homossexual da sua carreira na tevê, sem nenhum constrangimento. Perguntado sobre a expectativa em relação a cenas de amor homoafetivo, acha graça, mas não desconversa. PREFERÊNCIAS - José Alfredo (Alexandre Nero) não esconde a predileção por Maria Clara (Andreia Horta), a filha do meio. Aílton Graça (abaixo) vive o travesti Xana Summer, dono de um salão de beleza e líder comunitário “Essa festa que se arma em torno de finais de novelas aguardando o excepcional beijo é uma hipocrisia, uma bobagem”, declarou no anúncio da novela, acrescentando que o beijo entre pessoas do mesmo sexo não deveria, no mundo atual, causar frisson maior que o entre mulher e homem. A verdade é que Aguinaldo Silva sabe apetecer seu público. Em seu blog o autor escreve que as cenas não estão escritas em detalhes, mas que torce para que o tal encontro aconteça logo nos primeiros capítulos. “O personagem do Zé Mayer é gay, mas casado, tem filhos, a esposa é sua cúmplice”, adianta o autor. Dono de uma vasta coleção de obras do gênero, conta que teve a dura tarefa de entrecortar a trama central com pequenas histórias secundárias. Essas subtramas darão conta de diferentes tabus que a sociedade tem dificuldade em assumir. Entre eles, as relações extraconjugais, casos entre parentes, a exploração sexual, a homofobia e a mudança de gênero. “Para cumprir a missão de um folhetim, que é de prender o telespectador durante meses à espera do próximo capítulo, tem que ter tramas”, explica Aguinaldo Silva. “Há 50 anos a telenovela e a sociedade estão em interação. É difícil dizer quem inspira quem. Essa interação não apenas vem se acentuando como exigindo cada vez mais verdade nas narrativas ficcionais”, diz Maria Immacolata. O segredo tem sido tornar cada vez menos nítida a fronteira entre ficção e realidade. “Império” transcende a questão do gênero. O folhetim narra a trajetória de José Alfredo (Alexandre Nero), homem obstinado pelo poder, que se apaixona pela mulher de seu único irmão. Enriquece, casa-se para ter prestígio social com a paulista quatrocentona Maria Marta Mendonça e Albuquerque (Lilia Cabral) e se torna o Comendador José Alfredo de Medeiros, dono de uma famosa rede de joalherias, a “Império” do título. O casal tem três filhos que, mais tarde, irão disputar a todo custo o legado construído pelo pai. O autor explica que os tabus surgirão a partir das tramas e não ao contrário. “É um novelão à moda antiga, adaptado para os tempos atuais.” 11#2 A VOLTA DO MALANDRO Clássico de Chico Buarque, o espetáculo "Ópera do Malandro" retorna aos palcos em montagem com canções adicionais do compositor e alusão às manifestações de junho de 2013 Mariana Brugger (marianabrugger@istoe.com.br) O malandro está de volta, com seu icônico chapéu-panamá, o mesmo terno de linho branco que os sambistas e boêmios usavam no passado e os impecáveis sapatos bicolor. Essas são algumas das marcas do espetáculo “Ópera do Malandro”, um clássico de Chico Buarque montado em 1978, mantidas na remontagem que tem pré-estreia de luxo no Theatro Municipal do Rio de Janeiro, nos dias 17 e 18, e entra em cartaz no mês que vem, no Teatro Net Rio. Há novidades no revival. Por exemplo, só homens formam o elenco principal. Os papéis que foram de Marieta Severo (Teresinha) e de Elba Ramalho (Lúcia) são, agora, defendidos por Fábio Enriquez e Léo Bahia, respectivamente. A peça, que faz parte das comemorações dos 70 anos de Chico Buarque, contará também com outras músicas dele, e não somente as da primeira versão. MUDANÇA - No musical, os papéis femininos, como Lúcia e Teresinha de Jesus, são interpretados por homens O diretor João Falcão explica que resolveu adicionar algumas canções do compositor concebidas depois da “Ópera” porque elas completam o sentido da peça, como músicas do álbum “Malandro” (1985) e outras escritas especialmente para o filme homônimo de Ruy Guerra, também de 1985. “Chico nos deu muita liberdade para trabalhar”, conta o diretor. “As canções da ‘Ópera’ chegaram ao público mais por conta das releituras que foram feitas por outros artistas do que pela peça. Encená-la é dar uma chance de colocá-las de novo dentro do contexto”, acredita Rubens Lima Jr., diretor teatral e professor de interpretação da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (Unirio). Ele se refere a clássicos deste musical, como “Folhetim”, “Teresinha”, “Geni e o Zepelim”, entre outras. DO MAL - Ricca Barros faz Duran, dono de bordéis e desafeto do malandro Max Overseas Marco na dramaturgia nacional, a “Ópera do Malandro” é baseada em duas obras: a “Ópera do Mendigo” (1728), do inglês John Gay (1685-1732), e a “Ópera dos Três Vinténs” (1928), dos alemães Bertolt Brecht (1898-1956) e Kurt Weill (1900-1950). “É uma peça que ainda tem muito o que dizer e ensinar para o público”, pontua Lima Jr. “Não fizemos nenhuma atualização radical no texto porque ele, em si, trata de temas que ainda são muito atuais”, acrescenta Falcão. Uma, porém, chamará a atenção: no segundo ato, há uma manifestação que vai crescendo e envolvendo todos os segmentos da sociedade, em clara alusão aos movimentos de rua ocorridos em junho do ano passado. “Não é preciso atualizar o texto, vamos apenas tornar a encenação mais contemporânea”, conta o diretor, que planeja levar o clássico de Chico Buarque para outras cidades. A história do contrabandista malandro e romântico protagonizada por Max Over­seas (Moyseis Marques) se passa na década de 1940, na Lapa, bairro carioca que era um reduto de bordéis, agiotas, policiais corruptos, empresários inescrupulosos, entre outros tipos transgressores. O malandro se apaixona por Teresinha de Jesus, filha de Duran (Ricca Barros), poderoso dono de bordéis e desafeto do anti-herói. “Estou gostando tanto de atuar e desse personagem que já estão me chamando de Moyseis Max”, brinca o cantor, que estreia como ator. O espetáculo é um desfile de insinuantes prostitutas, um travesti (a Geni, interpretada por Eduardo Rios) e mulheres fortes, como Teresinha e Lúcia, responsáveis por um ponto alto do espetáculo, o dueto na canção “O Meu Amor”. “Queremos fazer mulheres com personalidade e estamos trabalhando para que a nossa briga não fique caricata no palco”, diz Bahia. “Estou vivendo um desafio duplo: cantar Chico Buarque como se fosse uma mulher”, afirma Enriquez. Curiosamente, a única atriz em cena, Larissa Luz, interpreta um homem, o João Alegre, narrador do musical. 11#3 EM CARTAZ – CINEMA - OS MEUS, OS SEUS E OS NOSSOS por Ana Weiss (ana.weiss@istoe.com.br) Mais que testada, a química entre Drew Barrymore e Adam Sandler na tela ganha mais uma comédia romântica. O tema de “Juntos e Misturados”, de Frank Coraci, é atual. No filme, a dupla vive um casal com filhos de uniões anteriores. O viúvo Jim (Sandler) tem três meninas. Lauren (Barrymore) tem dois meninos, filhos de um ex-marido ausente. Após um desastroso encontro às cegas, todos eles acabam juntos em um resort na África. Aos poucos suas diferenças se transformam na cumplicidade diante do desafio de criar os filhos fora do formato tradicional. A crítica internacional se incomodou com o humor politicamente incorreto. O momento alto como comédia é quando, num lago escuro, Jim entra em pânico ao imaginar que crocodilos rondam seu bote. O medo do que se revela um cenário fica de metáfora engraçadinha da possibilidade de um novo casamento. + 5 filmes com Adam Sandler Cada um tem a gêmea que merece Sandler vive dois personagens nessa comédia: o pacato homem de família, Jack, e sua irmã gêmea, a grosseirona Jill (foto). O rei da Água Na comédia, também de Frank Coraci, ele interpreta um homem abobado que, de repente, vira estrela de um time de futebol. Afinado no amor Um compositor frustrado apaixona-se por uma garçonete (Barrymore). Como se fosse a primeira vez Sandler vive um veterinário que cai de amores por uma professora (Barrymore) sem memória. Click Em busca de um controle remoto universal, um arquiteto descobre um aparelho capaz de avançar fatos de sua vida. 11#4 EM CARTAZ – LIVROS - AS MULHERES DE STEFAN ZWEIG por Ana Weiss (ana.weiss@istoe.com.br) Organizado por Alberto Dines, “Três Novelas Femininas” reúne textos do autor austríaco Stefan Zweig que guardam em comum, como o título promete, o fato de contarem histórias passadas na vida de mulheres. Mas, mais que isso, as situações-limite em que Zweig retrata suas personagens apresentam de maneira envolvente uma preocupação-chave da literatura e da arte do começo do século passado: a instabilidade maquiada pelas fachadas familiares. 11#5 EM CARTAZ – TEATRO - O REI SOU EU por Ana Weiss (ana.weiss@istoe.com.br) Sob a direção de Elias Andreato, Juca de Oliveira sobe sozinho ao palco do Teatro Eva Herz, em São Paulo, para encenar “Rei Lear”, de Shakespeare. No monólogo, o ator interpreta Lear, suas três filhas e outros oito personagens da tragédia. Na trama, depois de ser traído por duas de suas filhas (Goneril e Regan), o rei da Bretanha enlouquece. “Hoje, mais do que nunca, filhos e filhas, modernos clones de Goneril e Regan, expulsam de casa os pais para encarcerá-los em asilos”, diz o diretor. De 18 de julho a 12 de outubro. 11#6 EM CARTAZ – BLUE-RAY - INÉDITOS DE BREAKING BAD por Ana Weiss (ana.weiss@istoe.com.br) Não é difícil recuperar os episódios de “Breaking Bad”. Mas a edição de luxo que a Sony distribui agora para venda e locação, além de 16 discos com a série toda sem cortes, traz mais de duas horas de conteúdo inédito, incluindo um documentário que registra a realização da temporada final da série, recorde de audiência no formato. Entrevistas, ensaios e momentos cômicos das gravações acompanham os 62 episódios, sem cortes, distribuídos por seis temporadas que renderam a Bryan Cranston o Emmy pela interpretação do pacato professor que se transforma em um poderoso traficante depois de descobrir ter os dias contados por causa de um câncer no pulmão. 11#7 EM CARTAZ – CD - CHAMA ACESA por Ana Weiss (ana.weiss@istoe.com.br) Sem Jim Morrison, a mais influente banda americana do fim dos anos 60 perdeu a mão. Ou melhor, a mistura. Formado em Los Angeles, o Doors marcou época com canções poéticas, riffs influenciados pelo blues e teclados psicodélicos. A coletânea “Weird Scenes Inside the Gold Mine”, lançada em 1972, marcou o “início” do Doors sem Morrison, morto um ano antes. É ela que está de volta, agora, em forma de CD duplo. O álbum abre com o hit “Break on Through. Em 22 músicas, tem um pouco de tudo o que foi gravado entre 1967 e 1971, o auge da chama. 11#8 EM CARTAZ – AGENDA - UM OLHAR SOBRE CUBA/45 MINUTOS/ARTEVIDA Confira os destaques da semana por Ana Weiss (ana.weiss@istoe.com.br) UM OLHAR SOBRE CUBA (No MIS, em São Paulo, até 10/8) – Mostra de fotografias, documentos, vídeos e cartazes da curadora Rose Carvalho, que morou em Cuba nos anos 1980. 45 MINUTOS (Itaú Cultural, em São Paulo, dia 16/7) – Em única apresentação gratuita, Caco Ciocler vive um ator obrigado a entreter o público por 45 minutos. ARTEVIDA (Casa França-Brasil, no Rio de Janeiro, até 21/9) – Exposição apresenta, em quatro espaços da cidade, esculturas de Lygia Clark, Hélio Oiticica e Lygia Pape. 11#9 ARTES VISUAIS - A CONSTRUÇÃO DO ESQUECIMENTO Relações entre poder e amnésia social são traçadas em exposição sobre um dos piores acidentes da construção civil brasileira, como o ocorrido há pouco mais de uma semana, em Belo Horizonte por Paula Alzugaray Lais Myrrha - Projeto Gameleira 1971/ Pivô/ até 2/8 4 de julho de 2014. Duas pessoas morreram e pelo menos 19 ficaram feridas no desabamento de um viaduto planejado para a Copa, em Belo Horizonte. Menos de um mês antes, uma viga de concreto desabou do monotrilho em obras, em São Paulo, matando um operário e ferindo outros dois. Desastres em consequência de obras de engenharia mal projetadas, mal fiscalizadas ou feitas de forma acelerada e imprudente são tão comuns no Brasil quanto seu imediato esquecimento pelos cidadãos brasileiros. Só de tempos em tempos essa espiral de lapsos e descasos tem a chance de ser revertida. Essa é a função do “Projeto Gameleira 1971”, da artista Lais Myrrha, que propõe a revisão de um dos maiores acidentes da construção civil já ocorridos no País, o desabamento de parte da estrutura de concreto que cobriria o Parque de Exposições, projeto do arquiteto Oscar Niemeyer para o bairro da Gameleira, em Belo Horizonte, que causou a morte de 117 operários. CLAUSTROFOBIA - A obra "O Silêncio do Arquiteto" lista os nomes das 117 vítimas da tragédia da Gameleira A exposição consiste em três trabalhos. Na primeira sala, uma grande maquete da cena do acidente oferece ao visitante a vista panorâmica do episódio documentado pelos meios de comunicação da época, mas rapidamente engolido e apagado pela história, então controlada pelos aparelhos de censura do regime ditatorial. O segundo trabalho expõe em uma coluna os nomes dos 117 desaparecidos e o terceiro revela a imagem documental que serviu de modelo para a maquete, acrescido de um pequeno texto da artista que informa sobre a demolição integral do edifício e indaga sobre as razões que teriam levado à eliminação de rastros do incidente. O fato de o “Projeto Gameleira 1971” ser realizado no Pivô, espaço artístico localizado no edifício Copan, é um ponto alto do trabalho de Lais Myrrha. O projeto não apenas resgata a memória incômoda de fevereiro de 1971 – apagada, em primeira instância, pelo próprio regime militar –, mas situa a lembrança desse evento no contexto de outro projeto “problemático” de Oscar Niemeyer. A artista lembra que o Copan teve uma história de incidentes – como a falência da construtora envolvida na obra – que impediram a realização integral do projeto original do arquiteto. Em vista disso, história e espaço se potencializam na exposição. A instalação da maquete na área de pé-direito mais alto do Pivô acentua a monumentalidade do desastre que apagou da história não apenas 117 vidas, mas também um projeto arquitetônico que pretendia ser mais um símbolo das glórias do modernismo brasileiro. O edifício não só desapareceu, como seu projeto não consta da biografia do arquiteto. Além disso, a escolha da artista por expor a imagem fotojornalística no espaço mais apertado, e de pé-direito mais baixo do Pivô, acentua o aspecto altamente claustrofóbico do evento. Impressa em 2.500 cartazes, a imagem é compartilhada e distribuída para os visitantes da exposição. RUÍNA - Maquete instalada no Pivô remonta parte da estrutura de concreto desabada As dinâmicas do esquecimento e as narrativas extraoficiais, que ficam relegadas às margens da história, já estavam no raio das pesquisas de Lais Myrrha há dez anos. Quando foi convidada para realizar um projeto no Pivô, ela havia acabado de publicar sua “Breve Cronografia dos Desmanches”, pela Bolsa Funarte, um compêndio de 22 formas de demolições, desmantelamentos, abandonos e ruínas de nossos edifícios. “Como vivemos essa cultura da demolição total do passado e do hábito de sempre começar a construir as coisas do zero, lancei essa conjectura (o Projeto Gameleira 1971) para ver como essa cicatriz se apresentaria”, diz a artista à ISTOÉ. Conjectura, de certo, muito apropriada em nosso país do esquecimento. O trabalho de Lais Myrrha tem o grato resultado de amplificar e repercutir o ruído ensurdecedor da ausência de memória. _______________________________________ 12# A SEMANA 16.7.14 por Antonio Carlos Prado e Elaine Ortiz "TAMBÉM NO CAMPO DA POLÍTICA, ALEMANHA MANDA AMERICANOS PARA CASA" A Alemanha ganhou na semana passada as manchetes dos jornais de todo o mundo não somente pela vigorosa derrota que impôs à Seleção Brasileira. No campo da política internacional, as diversas denúncias de espionagem americana no país deixaram perplexos os governantes europeus e levaram a chanceler Angela Merkel a tomar uma atitude inédita entre as nações da Otan: na quinta-feira 10 ela expulsou do território alemão o chefe do serviço secreto dos EUA e aprofundou as investigações em suas próprias agências. As autoridades apuram dois casos envolvendo a venda de 200 documentos e a participação de militares a serviço do governo americano. As relações entre Berlim e Washington estão abaladas desde que o ex-técnico da CIA Edward Snowden tornou pública a rede de espionagem que incluía escutas nos celulares de líderes como Angela Merkel e a presidenta Dilma Rousseff "MENOS CRUZEIROS NO MAR " As temporadas de cruzeiros marítimos no Brasil vão de novembro a abril. A próxima será acanhada. Somente dez transatlânticos atracarão no País – queda de 50% em relação ao último período. Os cruzeiros vêm fazendo água há algum tempo: em 2011/2012 foram contabilizados 805.189 passageiros; esse número recuou em 2012/2013 para 596.532. Os dados são da Associação Brasileira de Cruzeiros Marítimos. "VIÚVA DO PEDREIRO AMARILDO É LOCALIZADA" Foi localizada na quinta-feira 10 em Cabo Frio, no Rio de Janeiro, Elizabeth Gomes da Silva, mulher do pedreiro Amarildo, que há um ano foi preso, torturado e morto por PMs (todos exemplarmente presos). Ela estava desaparecida havia dez dias, e segundo a família isso aconteceu devido à sua recaída na dependência de drogas. "UMA PRISÃO CHAMADA CUBA" Aumentou em 175,5%, no primeiro semestre de 2014, o número de pessoas presas em Cuba porque se opõem à ditadura no país. A comparação é com os primeiros seis meses do ano passado (número de presos políticos). "JOSÉ ROBERTO ARRUDA PODE MANTER CANDIDATURA" O Tribunal de Justiça do Distrito Federal manteve na quarta-feira 9 a condenação por improbidade administrativa do ex-governador José Roberto Arruda (PR) – o processo se refere à compra de apoio político em 2006 no caso que ficou conhecido como “mensalão do DEM”. Tecnicamente, Arruda é agora “ficha-suja”. Juridicamente, no entanto, ele pode manter a sua candidatura na eleição deste ano ao governo do DF, uma vez que a registrou na Justiça Eleitoral no dia 5 de julho e a decisão do Tribunal deu-se quatro dias depois. "PERIGO, O PILOTO CAIU NO SONO..." Pela primeira vez a Associação Brasileira de Pilotos da Aviação Civil fez um levantamento de alta abrangência para diagnosticar o estresse desses profissionais. O Brasil tem 5.966 pilotos para voos comerciais e, segundo eles, o esgotamento físico e psíquico é causado sobretudo pela irregularidade dos horários de trabalho e pelas poucas horas de descanso. Voos domésticos: 56,6% dos pilotos e copilotos brasileiros afirmam que já cochilaram involuntariamente enquanto estavam no comando da aeronave. Voos internacionais: 70% dos pilotos brasileiros admitem que já dormiram sem querer na cabine de comando. "O QUE OS BRICS DECIDIRÃO EM FORTALEZA" Começa na terça-feira 15 em Fortaleza a reunião dos cinco presidentes das principais economias emergentes – bloco formado por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul sob a sigla Brics. Vai prevalecer na pauta não mais a obrigação de esses países auxiliarem na solução da crise econômica global, mas, isso sim, a criação de estratégias para combinar crescimento com redução das desigualdades sociais. Mais: será criado o Banco dos Brics (visa atuar como o Banco Mundial e o FMI) – o Brasil se compromete com US$ 28 bilhões nessa formação. O presidente da Rússia, Vladimir Putin, desembarca no País já nesse final de semana para participar da festa de encerramento da Copa – receberá da Fifa as honras de sediar o próximo Mundial. "CORPO DE ALPINISTA É LOCALIZADO APÓS 32 ANOS" Escalar o Mont Blanc (foto) é um dos principais desafios para alpinistas de todo o mundo – isso desde 1786, quando foi realizada a primeira subida a essa que é a maior montanha da Europa Ocidental. Como em toda aventura, há conquistas e tristezas. Patrice Hyvert, um jovem que escalou os Alpes Franceses no dia 1º de março de 1982, nunca mais foi localizado. Na semana passada, 32 anos após o seu desaparecimento, o seu corpo foi encontrado no Mont Blanc – e com os documentos de identificação conservados. Seus familiares declararam que preferiam a não localização. “Ele amava essa montanha; estava no lugar a que pertencia.” "VALE-CULTURA MOSTRA QUE BRASILEIRO GOSTA DE LER " A história corrente de que brasileiro não gosta de ler está desmentida. Talvez leia poucos livros porque eles são caros, não porque não goste de lê-los. Prova disso é o balanço do vale-cultura implantado pelo governo federal – 215.600 brasileiros foram contemplados com o cartão que dá direito de consumir com desconto bens culturais (créditos mensalmente cumulativos de R$ 50). A compra de livros, revistas e jornais está representando 88% do valor total de consumo pelo vale-cultura, montante que foi de R$ 13,7 milhões. Alguns números: - R$ 12,1 milhões foram destinados pelos brasileiros a livros e revistas - R$ 1,2 milhão foi gasto em cinema - R$ 180 mil foram investidos em instrumentos musicais "1,7% DOS MUNICÍPIOS " Brasileiros, e apenas isso, tem monitorado a qualidade do ar. Há no País 252 estações que efetuam esse acompanhamento ambiental – nos EUA são cinco mil estações. Os dados compõem estudo exclusivo do Instituto Saúde e Sustentabilidade. "FLECHA LOIRA", 418 GOLS EM 510 JOGOS" A sua incrível velocidade com a bola nos pés valeu-lhe o apelido de “flecha”. A cor clara dos cabelos completou: “flecha loira”. Seu nome: Alfredo Di Stéfano Laulhé, argentino, considerado um dos melhores jogadores de futebol de todos os tempos. A sua história de craque começa diferente em relação à da maioria dos jogadores de sua época, quando o futebol não rendia aos atletas milhões de dólares. Lá no passado, os pais preferiam que os filhos tivessem profissão que não a de “futebolista” em nome da estabilidade econômica. Com Di Stéfano foi o contrário: ele queria ser aviador, a família lhe impôs bola e chuteira. Em 1945, aos 19 anos, ele começou a jogar no River Plate. E brilhou ininterruptamente até 1964 quando se despediu dos campos atuando na Espanha. Acumulou nove títulos espanhóis, cinco da Copa dos Campeões da Europa e um título mundial. Marcou 418 gols em 510 jogos oficiais. Stéfano morreu de infarto em Madri. Tinha 88 anos. "SEM MEDO DE SER HONESTO" Morreu na terça-feira 8, em São Paulo, vítima de câncer, Plínio de Arruda Sampaio, um homem público, raro nos dias atuais: honesto tanto na ética de não participar de falcatruas quanto na de preservação de seus ideais católicos na construção de um país socialmente mais equânime. Certa vez ele disse ao signatário desta sessão de ISTOÉ: “Qualidade de vida não é tudo, o mais importante é uma vida qualificada”. Para ele essa qualificação incluía a cultura, a ética e a democracia. Sampaio estava com 83 anos de idade, 60 deles dedicados à política: integrou a Juventude Universitária Católica, depois esteve ao lado de João Goulart, exilou-se na ditadura militar e, de volta aos País, elegeu-se deputado constituinte. Ajudou a fundar o PT, mas dele desiludiu-se, candidatando-se em 2010 pelo PSOL à Presidência da República. "CONTRACEPÇÃO POR CONTROLE REMOTO" Chips contraceptivos que são implantados sob a pele da mulher, liberando diariamente hormônios no organismo, já são utilizados em todo o mundo. A novidade surgida na semana passada é que agora tais chips podem ser acionados por controle remoto. Pesquisadores dos EUA desenvolveram a tecnologia que funciona em uma peça de quatro centímetros quadrados. A mulher não mais precisa valer-se de clínicas para ligar ou desligar o chip. O novo equipamento está recebendo nos EUA o apoio de Bill Gates. "GUERRA SEM FIM" Há alguns meses o governo de Israel e autoridades da organização palestina Hamas acenaram ao mundo com a possibilidade de resolverem pacificamente os seus conflitos históricos. Na semana passada se viu a maior operação militar israelense desde 2012, com bombardeios aéreos à Faixa de Gaza e a iminência de invasão por terra diante da convocação de 50 mil reservistas. Nesse mesmo dia os palestinos contabilizavam cerca de 140 mortos. Em Israel, os foguetes sírios do Hamas, embora sem a precisão de alvo dos mísseis israelenses, cobriam distâncias cada vez maiores, chegando a atingir pontos a 100 quilômetros de Gaza – e obrigando 4,5 milhões de israelenses (dois terços da população do país) a se refugiarem em abrigos antiaéreos. O estopim da guerra se deu no mês passado com o sequestro e a morte de três adolescentes israelenses praticados pelo movimento Jihad Islâmico. Israel respondeu na mesma moeda, sequestrando e assassinando um jovem palestino.