0# CAPA 15.10.14 ISTOÉ edição 2342 | 15.Out.2014 [descrição da imagem: foto do rosto de Paulo Roberto Costa, ex-diretor da Petrobras] CAMPANHA DE DILMA SOB SUSPEITA Delator diz que dinheiro desviado da Petrobras ajudou a eleger presidenta em 2010. Esquema pode ter contaminado corrida pela reeleição. “3% eram para o PT” [parte superior da capa] COMO SERÃO OS PRÓXIMOS 4 ANOS? _______________________ 1# EDITORIAL 2# ENTREVISTA 3# COLUNISTAS 4# BRASIL 5# COMPORTAMENTO 6# MEDICINA E BEM-ESTAR 7# ECONOMIA E NEGÓCIOS 8# MUNDO 9# CULTURA 10# A SEMANA _____________________________ 1# EDITORIAL 15.10.14 "A FALSA GUERRA DA SECESSÃO À BRASILEIRA" Carlos José Marques, diretor editoria Ao longo das quatro últimas campanhas presidenciais – incluindo esta na conta –, em um equívoco de raízes históricas nos últimos 12 anos, o conceito de apartheid social e geográfico no Brasil dividindo ricos e pobres, Norte e Sul, vingou como tática de ataque do Partido dos Trabalhadores para arregimentar votos na base da falsa cizânia. Líderes da legenda apelaram para uma espécie de guerra da secessão fantasiosa, ignorando laços sentimentais e pilares federativos que sacramentam a Nação.Tudo em nome da vitória final, do “vale-tudo” a qualquer custo, como se pudessem separar o País em dois brasis. Logo que saiu o resultado das urnas no início da semana passada, Ricardo Berzoini, ministro das Relações Institucionais, licenciado do cargo para engrossar o pelotão de frente da candidata Dilma, voltou a recorrer ao mesmo subterfúgio ao avaliar a batalha do segundo turno: “Vamos para a luta do pobre contra o rico, do bem contra o mal”. O antagonismo sem fundamento, que naturalmente desperta reações exacerbadas por alimentar sentimentos bairristas adormecidos, é conveniente às pretensões de perpetuação de poder do partido. Na ausência de um conteúdo programático consistente, de um plano de governo para os desafios que se apresentam, nada melhor que incitar a animosidade de torcidas, o “Fla-Flu” irracional típico nas platitudes dos gramados de futebol, que fora dali apenas desvirtua a realidade e ilude os incautos. Não bastou muito para que a intenção de Berzoini, em forma de profecia, se concretizasse. Tomando por mote um comentário do ex-presidente Fernando Henrique sobre os votos dos menos informados, logo seu arquirrival Lula viu a chance de mais uma vez carimbar o mantra divisionista. “É um absurdo que o Nordeste e os nordestinos sejam caracterizados como ignorantes.” Em nenhum momento foi o que disse FHC, mas a deturpação dos fatos em prol da versão preconceituosa servia ao intento. Em resposta o tucano tripudiou: “Ele quer transformar uma categoria do IBGE em insulto. Daqui a pouco ele só será ouvido em programas humorísticos”. Não era a primeira vez que Lula apontava tal arma nesse tipo de contenda. Já em 2006, na disputa com o também tucano Geraldo Alckmin, radicalizou. Pregou no adversário a pecha de elitista e se autoproclamou “pai dos pobres” na propaganda eleitoral. Sua pupila Dilma, advogando em causa própria, quer repetir a fórmula. Voltou a endossar Lula, alegando em palanque no Piauí que “tem gente que olha para o Nordeste com olhar de quem governou o País só para outra região”. Sabem ambos que a alegação não é condizente com a verdade. O Plano Real, de estabilização da economia, elaborado e levado a campo na gestão tucana, foi o maior motor de resgate social do País ao derrotar a inflação e estabelecer as bases do desenvolvimento sustentável. Desse berço saíram os avanços sociais que, a despeito das lorotas populistas, beneficiaram todos os brasileiros, indistintamente, do Oiapoque ao Chuí, de norte a sul. O resto é discurso eleitoreiro. __________________________________ 2# ENTREVISTA 15.10.14 LEONIDAS DONSKIS - "OS PARTIDOS QUE NÃO TÊM PROGRAMA ADOTAM O DISCURSO DO MEDO" Um dos maiores porta-vozes dos direitos humanos no mundo e membro do Parlamento Europeu, o filósofo lituano diz que antes os políticos debatiam ideias, hoje trocam ameaças por Helena Borges VITRINE - "A lógica de um programa político de televisão é ter um tipo de promessa sensacional ou partir para intimidação", diz ele Membro do Parlamento Europeu desde 2009, o filósofo, teórico político e analista social lituano Leonidas Donskis, 52 anos, é famoso pela veemência na defesa dos direitos humanos e da liberdade civil mundo afora. Em entrevista à ISTOÉ, concedida de Kaunas, na Lituânia, ele fala sobre o uso do medo nas práticas eleitorais e da efetividade das manifestações pelo mundo. Donskis passou grande parte de sua vida entre Estados Unidos, Inglaterra e Suécia e estava em Nova York quando atentados terroristas derrubaram as torres do World Trade Center. "Há uma crise de representação em todo o mundo, o Brasil não é exceção Suspeito que a grande votação da oposição esteja relacionada a um desapontamento com o governo" Para ele, esse foi o começo do discurso do medo e da intimidação. Casado, sem filhos, ele diz que dedica a vida “inteiramente à mensagem da união dos povos”. Critica fortemente o presidente russo Vladimir Putin, a quem considera uma “ameaça à Europa e à humanidade civilizada”. No Brasil, o filósofo falará sobre tolerância e preconceitos na Festa Literária Internacional de Cachoeira (Flica), que começa no dia 29 de outubro, no Recôncavo Baiano. "Putin é uma figura sinistra e perigosa, uma ameaça à Europa e à humanidade civilizada. Se não for parado, ele nos levará ao apocalipse nuclear" Istoé - Quais as consequências do discurso do medo em campanhas eleitorais? Leonidas Donskis - Muitos acontecimentos políticos hoje em dia são reflexo dessa política do medo, da ameaça. Não é algo específico de regiões, já se tornou geral. Os partidos que não têm programa, que não têm absolutamente nada concreto, adotam o discurso do medo. Populistas na Europa usam desse jogo político com a imigração, por exemplo. Outros partidos jogam com medos de desastres ecológicos ou sociais. Cria-se o demônio, o fantasma. Fala-se da existência de um grupo secreto muito poderoso que vai controlar a política ou a economia e que você irá viver sob a influência dessa poderosa organização. Quanto mais perigo você tiver à mão, mais popularidade ganha nas eleições. Istoé - Marina Silva, candidata do PSB derrotada no primeiro turno na disputa presidencial, se disse vítima da campanha do medo por parte do PT. Leonidas Donskis - Não acompanho de perto o cenário político brasileiro, seria leviano fazer comentários mais diretos. Mas sei que a política, de modo geral, está se aproximando de um teatro. Pensava que no Brasil os políticos estivessem mais próximos da realidade do que os europeus, mas pode ser que isso esteja chegando com força também à América Latina. Os candidatos tentam transformar tudo em um tipo de ficção. De certa forma, nossas vidas se transformam em uma extensão do comercial. Essa é a lógica de um programa político de televisão, ter um tipo de promessa sensacional ou partir para a intimidação. Istoé - A votação da oposição surpreendeu por ser maior do que o esperado. O que isso significa? Leonidas Donskis - Suspeito que esse movimento esteja relacionado a um desapontamento com o governo. Há essa crise de representação em todo o mundo, o Brasil não é exceção, e localmente sente-se que alguém precisa ser culpado. Uma guinada significa que a população não está feliz com a visão do governo e com seus instrumentos. Istoé - De onde surgiu o fenômeno da política do medo? Leonidas Donskis - Testemunhei o início dessa tendência no 11 de setembro (data do atentado terrorista contra as torres do World Trade Center, em Nova York, EUA) e pude ver a onda de pânico, medo e ódio. Iniciou-se, ali, uma nova tendência social e política que eu descrevo como multiplicação do medo. Uma linha sensacionalista, pessimista e apocalíptica adotada para que se possa beneficiar politicamente do pânico moral. O medo se tornou uma commodity política muito valiosa, ele vende bem. Se vendido da forma correta, as eleições estão praticamente garantidas. É uma ação de relações públicas, uma manobra. O eleitor é intimidado por um cenário assolador. Mas, então, eis que o candidato aparece como o salvador. Essa narrativa tão simples foi introduzida à política e se tornou parte do show convencional. Candidatos estão muito acostumados a dizer “se meu partido não vencer, esse país irá diretamente para o inferno” ou “esse presidente irá arruinar a economia, simplesmente arruinar!”. Istoé - Esse tipo de discurso atrapalha o processo democrático? Leonidas Donskis - Temo que esse procedimento gere uma atmosfera contra-produtiva na política. Antes, os políticos debatiam ideias, eram responsáveis pela qualidade do debate, hoje trocam ameaças. Cria-se um grande desafio à nossa capacidade de lidar de maneira reflexiva com questões políticas. Surtar toda hora e ficar debatendo o fim do mundo não leva a lugar algum. Os exageros – os gritos, os bate-bocas, a oferta de cenários apocalípticos toda hora e todo dia – podem fazer as coisas ficarem bem perigosas. Istoé - Por que essa técnica é tão efetiva? Leonidas Donskis - Estamos perdendo a deliberação política. “Eu não tenho as respostas para todas as suas perguntas. Por favor, me dê algum tempo para deliberar sobre isso”, esse elemento está desaparecendo. O medo estimula nossa obsessão por saber, controlar e responder a tudo. Esperamos que os candidatos digam “eu sei isso e posso explicar tudo porque sei o que está atrás de você e o que o aflige”. Por isso, o medo é tão valioso; com ele o candidato pode sair de qualquer situação. Se assustar as pessoas, elas acreditam em você. Esse é o caso de muitos ditadores, que exploraram medos públicos ou particulares. Ou, ainda, desenvolvem outro mecanismo: transformar os pavores particulares em públicos. Pode ser o discurso homofóbico, como a ideia idiota de uma conspiração gay e lésbica para controlar a União Europeia. Ou, num cenário mais antigo, onde os judeus tomariam o poder. Nas duas imaginações, homofóbica ou antissemita, existe o medo. Istoé - Um dos pontos de desacordo entre as propostas de política externa dos dois candidatos brasileiros é a relação com a União Europeia, de quem a oposição se aproximaria. Como o sr. avalia isso? Leonidas Donskis - Qualquer aproximação entre Brasil e União Europeia é positiva, uma das melhores coisas que podem acontecer aos dois. O País está crescendo econômica e politicamente, é uma grande promessa para o futuro. A União Europeia, por sua vez, deve ser compreendida como um “soft power” (tipo de postura em relações internacionais que usa a persuasão em vez da força) e esperamos ser um exemplo disso. Não acredito na efetividade de blocos hostis. Queremos mostrar que nosso compromisso é com princípios como direitos humanos, transparência e democracia, o resto se conversa. E, se posso dar algum conselho aos candidatos, é: não tente fazer seu projeto desconexo do mundo, não podemos mais nos fechar em políticas nacionais ou locais. Estamos no século XXI, a economia está completamente conectada, decisões de um país afetam o mundo inteiro. Istoé - As ondas de protestos no Brasil e no mundo, nos últimos dois anos, apontam para uma nova organização política? Leonidas Donskis - Posso antecipar mudanças profundas nos partidos políticos se eles não desejam desaparecer da face da terra. Há indicadores da falência moral da forma que eles existiram e agiram até agora. Em muitos casos, não são sequer verdadeiramente democráticos ou responsáveis para com a sociedade. Se os partidos desejam se tornar sensíveis e representativos para seus eleitorados e para a sociedade civil, terão que se misturar aos movimentos sociais ou, ao menos, interagir com eles. Devido a profundas mudanças na cultura e na tecnologia, como a criação das redes sociais, a sociedade adquiriu novas ferramentas para se envolver e participar da política. Istoé - Como transformar a energia política que existe na manifestação em algum programa político válido e sólido? Leonidas Donskis - Essa é a questão. Foi assim entre os indignados, na Espanha, em Occupy Wall Street, nos Estados Unidos, e em muitos outros países. Entre as multidões que tomaram as ruas, apenas um pequeno grupo tem ação política de fato para levar à mudança. Sim, é muito bom que se tenha cidadãos expressando sua desilusão e desapontamento, mas isso não diz nada sobre sua habilidade em oferecer uma alternativa. Istoé - Como avalia o presidente da Rússia, Vladimir Putin? Leonidas Donskis - O sr. Putin é uma figura sinistra e perigosa, uma ameaça à Europa e à humanidade civilizada. Se não for parado, ele nos levará ao apocalipse nuclear. Ele é um gângster político e um criminoso de guerra com suas armas nucleares. Além do mais, recebe cobertura e é apoiado por forças na Rússia que são impossíveis de descrever de outra forma que não seja o fascismo aberto. Istoé - Também o presidente dos EUA, Barack Obama, tem sido atacado pela forma como lida com o grupo terrorista Estado Islâmico. Leonidas Donskis - Obama vive um dilema. Ele é o presidente da paz e não da guerra, criticou seu predecessor por isso e ficaria muito feliz em evitar esse caminho, mas teme um possível genocídio. A intervenção militar se torna importante quando se tenta salvar a vida de milhões de pessoas. Mas os EUA deveriam usar seu poder, sua força e prestígio para tentar criar um Estado viável e normal no Iraque, antes de tudo. Porque o problema vem do fato de que, quando o Estado é muito fraco, disfuncional, que é o que aconteceu no Iraque, gera-se o desastre. Quando não se tem uma organização política viável, é muito difícil contar apenas com o militarismo. Algumas vezes ele ajuda, mas na maioria dos casos não. Não se pode vencer todas as guerras nem levar a guerra a qualquer território. É muito fácil começar uma guerra, mas quase impossível acabar com ela. _______________________________________ 3# COLUNISTAS 15.10.14 3#1 RICARDO BOECHAT 3#2 LEONARDO ATTUCH - CHEGOU A HORA DA REFORMA POLÍTICA 3#3 PAULO LIMA - NA REAL 3#4 GISELE VITÓRIA 3#5 ANA PAULA PADRÃO - REFLEXÃO PÓS-ELEIÇÃO 3#6 BRASIL CONFIDENCIAL 3#1 RICARDO BOECHAT Com Ronaldo Herdy Mão de ferro Cumprindo prisão domiciliar após prestar depoimentos à Polícia Federal e ao MPF sobre sua participação na Operação Lava Jato, Paulo Roberto Costa será alvo de outras ações - mesmo homologada pelo STF a sua delação premiada. A direção da Petrobras pretende cobrar do ex-diretor na Justiça prejuízos financeiros sofridos, caso sejam apontados nas várias Comissões Internas de Apuração em curso, bem como fará o mesmo em relação às empresas arroladas nos inquéritos que correm na Justiça. Daí os dois detalhados pedidos de acesso aos autos da delação premiada, até aqui negados pelo ministro Teori Zavascki, do STF. Política Será? Vice-presidente na chapa de Marina Silva, Beto Albuquerque almoçava na quinta-feira 9 no restaurante Nippon, em Brasília, tendo ao lado o vice-governador eleito de São Paulo, Márcio França, e o governador do Espírito Santo, Renato Casagrande. Para quem o cumprimentou e quis saber sobre o segundo turno da eleição presidencial, Albuquerque disse: “Vamos ganhar de Dilma no Rio Grande do Sul (seu Estado) e no Brasil, dando férias coletivas ao PT”. Congresso Um pelo outro Um resultado das eleições do domingo 5 em especial provocou comoção na Câmara dos Deputados. Trata-se da derrota de Guilherme Campos (PSD-SP). O parlamentar era atuante na Casa – mas também atraia muitos olhares e suspiros do público feminino. Com 69.426 votos, perdeu a cadeira para o colega de partido Walter Ihoshi (88.070), que, segundo as “órfãs” do Legislativo está a milhas de distância no quesito beleza. Negócios Lugar de político O célebre Waldorf Astoria, na Park Avenue em Nova York, vendido à uma companhia chinesa por R$ 4,7 bilhões (US$ 1,95 bilhão), é endereço muito frequentado por brasileiros - inclusive pelos nossos dois candidatos à Presidência. Ninguém se assuste. O novo dono deixará a administração do hotel com a cadeia Hilton. Aécio Neves passou lá sua lua de mel com a modelo gaúcha Letícia Weber, em 2013. Dilma esteve dois anos antes no WA, quando participou da Reunião da ONU sobre Doenças Crônicas Não Transmissíveis. PSDB Sua Excia. Depois da reunião em que o PSB, PSC e PV declararam apoio a Aécio no segundo turno, em Brasília, José Serra foi visitar o deputado federal Tarcísio Perondi, que conseguiu reeleição pelo PMDB gaúcho. De acordo com os relatos, do primeiro ao último minuto que o tucano esteve no gabinete, deixou no ar que se Aécio derrotar Dilma, ele poderá assumir o comando do MEC, pasta, aliás, que o PSDB elegeu como uma de suas prioritárias, no caso de conquista do Planalto. Indústria Fogo limpo A Ambev vai expandir o uso de biomassa como fonte de energia em suas unidades no Brasil e na América Central. Em 2011 o insumo natural representava 8%. Agora está em 37%. Nesse período o gasto de combustível fóssil caiu 9%. Tudo que é possível entra nas caldeiras, como cavaco de madeira, casca de coco de babaçu, bagaço de malte desidratado e casca do arroz, entre outros resíduos. A meta da empresa é utilizar 40% de biomassa até 2017, reduzindo despesas e poluindo menos. Eleições 2014 Mágoa no peito A desconstrução de Marina Silva pela campanha de Dilma Rousseff provocou grande mágoa na ex- ministra, que não perdoará tão cedo, mesmo sendo evangélica. Quando ouvia o programa do PT no horário eleitoral e a fala da concorrente repetia: “Isso é mentira, isso é mentira. Ela sabe que tudo é mentira!”. Menos que a política, a maneira como foi tratada pessoalmente na campanha determinou a decisão de Marina de liberar o apoio a Aécio, na semana passada. TSE Mamãe Justiça Quem passar os olhos pela folha de salário do TSE vai ter muitas surpresas. A maior delas é o contracheque de Oswaldo Gomide, chefe da Assessoria de Segurança e Transporte. Em agosto e setembro, ele recebeu cerca de R$ 50 mil em horas extras. Dezenove razões o funcionário da Polícia Federal cedido ao tribunal alegou para trabalhar tanto no bimestre, como “realizar contatos externos e a supervisão de eventos”. Advogados Quem fala Sob a presidência de Marcus Vinicius Coelho, a OAB reunirá mais de 15 mil advogados no Rio de Janeiro, a partir do dia 20. Abrirá o encontro o ministro Luís Roberto Barroso, do STF, com conferência sobre “Estado, Sociedade e Direito: Diagnósticos e Propostas para o Brasil”. Aliás, foi ele quem encerrou a última conferência, propondo ideias sobre reforma política, reforma do sistema penal, educação, saneamento básico e proteção das minorias, entre outras. A verdade é que em três anos pouca coisa mudou. Barroso tem ligações históricas com a instituição e era advogado de sucesso, antes de ir para o STF. Rio de Janeiro Dose dupla Em menos de uma semana, Anthony Garotinho sofreu duas derrotas no Estado do Rio. Primeiro nas urnas e depois na quarta-feira 8, quando a Justiça condenou o ex-governador a pagar R$ 120 mil ao secretário de Segurança Pública, José Mariano Beltrame. Garotinho publicou em seu blog o endereço de Beltrame, fotos e comentários “depreciativos” sobre a vida privada do secretário. TV por assinatura Alta definição Ficou para 27 de outubro o lançamento do Canal Brasil em HD. Ou seja, dez dias depois da data prevista. E, por falar na emissora, ela reapresentará o programa “Abertura”, sucesso na TV Tupi nos anos 70. O programa, criado por Fernando Barbosa Lima, terá nesse resgate um âncora de peso, o jornalista Geneton Moraes Neto. Impressiona como continuam atuais problemas discutidos à época por personagens como João Saldanha, Glauber Rocha, Ziraldo e Eduardo Mascarenhas. Aviação civil No ar Depois da derrocada da Varig, o Brasil encolheu no mundo global da aviação. Aos poucos, o quadro muda. Em 2013, maior nível de oferta da última década (140 mil voos), as empresas nacionais foram responsáveis por 29,9% dos voos internacionais; em em 2012, a porcentagem foi de 29,5%. Os dados constam no Anuário do Transporte Aéreo de 2013 da Anac, a ser divulgado na segunda-feira 13. O continente com o maior número de voos com origem ou destino no Brasil foi a América do Sul, seguido de América do Norte e Europa. A rota mais frequente ligou o nosso país aos EUA (28,5 mil), vindo depois a Argentina (26,8 mil). Foram transportados em voos internacionais com origem ou destino no Brasil 5,76 milhões no ano passado. Teatro O valor da humildade “Rei Lear”, que Juca de Oliveira estreará no Rio de Janeiro a partir da sexta-feira 17, no Teatro dos Quatro, na Gávea, depois de uma temporada de sucesso em São Paulo, é peça que os políticos atuais não podem deixar de assistir – além do público em geral. O texto de Shakespeare, com tradução e adaptação de Geraldinho Carneiro, evidencia os perigos da arrogância. O lendário rei começa cheio de sonhos de poder e glória, e acaba com um chapéu de bobo. No palco, Juca interpreta seis personagens. 3#2 LEONARDO ATTUCH - CHEGOU A HORA DA REFORMA POLÍTICA Será que o abalo sísmico provocado por Youssef e Costa servirá para mudar o nosso sistema?. Eis o Brasil, mais uma vez, diante de um escândalo de financiamento irregular de campanhas políticas. Agora, tendo como foco a maior empresa do País, a Petrobras. Segundo afirmou o ex-diretor Paulo Roberto Costa, em sua delação premiada, formou-se um cartel de empreiteiras, que, em vez de disputar obras brigando para oferecer o menor preço e o melhor serviço, faziam conluios entre si. Os agentes públicos, que deveriam coibir a prática, a estimulavam. Especialmente porque recolhiam vantagens pessoais e políticas. Segundo afirmou o doleiro Alberto Youssef, a partilha era feita da seguinte forma: 60% para os políticos, 30% para o “dr. Paulo Roberto” e 10% para os operadores, como ele, Youssef, e o ex-tesoureiro do PP João Cláudio Genu. O “cartel das empreiteiras” evoca outro caso recente: o do “cartel do metrô de São Paulo”, onde gigantes internacionais, como Siemens, Alstom e Bombardier, também faziam acertos que tinham como consequência aquisições superfaturadas de trens e propinas políticas. A mesma lógica, mas com personagens diferentes. De um lado, PT, PP e PMDB. De outro, PSDB e seus aliados. Os dois casos mostram que o sistema político brasileiro apodreceu. As campanhas políticas, dominadas pelo marketing eleitoral, são excessivamente caras e a proliferação de partidos favorece o balcão de negócios. Embora não exista o financiamento público de campanhas, ele predomina, mas de forma velada. No fim das contas, são empresas estatais que acabam arcando com o custo dessa farra. A consequência atinge diretamente a economia. Com licitações arranjadas, o Brasil se afasta de um regime competitivo e se torna refém de um capitalismo de Estado, onde as boas relações se tornam mais importantes para os empresários do que aspectos propriamente qualitativos de suas empresas. E isso está na raiz de obras caras, atrasadas e dos serviços de má qualidade. Punir os responsáveis pela corrupção, quando descoberta, é apenas parte do problema. A solução definitiva passa por reformas institucionais. Por isso mesmo, é inadiável a reforma política, que deveria ser o compromisso inicial dos dois postulantes à Presidência da República. Uma reforma que contemple o financiamento público de campanhas, que já teria vingado no Supremo Tribunal Federal, não fosse o pedido de vistas do ministro Gilmar Mendes, e a adoção de medidas para limitar o número de partidos e o custo das campanhas, como a adoção de listas e do voto distrital misto. Enquanto nada for feito, ficaremos à espera do próximo escândalo. 3#3 PAULO LIMA - NA REAL Um filme sobre adolescentes, drogas, favela, tiros e amor. É possível fazer algo diferente com esses ingredientes?. Há alguns anos o Brasil sofreu uma overdose de filmes e séries sobre favelas. Depois de décadas em que as chamadas comunidades não tinham vez nas telas, com o sucesso arrasador de “Cidade de Deus”, morros, escadas sinuosas, ruas apertadas, tiros, sangue escorrendo por atacado, antenas e gatos de TV a cabo invadiram roteiros e sets de forma implacável. Algum tempo depois, nem os próprios moradores de periferia aguentavam mais se ver ao lado dos invariáveis personagens do “traficante armado até os dentes, mas que ainda pode voltar a ser do bem”, da “gatinha com corpão que dança funk e sonha com uma vida melhor” ou do “casal honesto que a duras penas luta para criar seus filhos longe do tráfico”. Com a chegada das comédias classe média em que Leandro Hassoun e companhia reabilitaram o mundo dos shoppings, da zona sul carioca e dos cruzeiros marítimos, as favelas puderam descansar a imagem por algum tempo. O filme “Na Quebrada”, dirigido por Fernando Andrade, retoma as histórias e os dramas das periferias brasileiras. Se por um lado não consegue passar totalmente ao largo de situações e figuras-chave descritas acima, traz alguns elementos que instigam e o colocam num lugar especial. Para começar, consegue um nível de realismo e de sofisticação na execução de cenas de violência e, muito especialmente, nos diálogos e situações vividos numa cadeia, que pouquíssimas vezes foram vistos no cinema por essas plagas. Deixando de lado, claro, o intervalo de tempo que separa as duas obras, mesmo com a assessoria de gente como o rapper Sabotage e outras figuras muito próximas do universo dos presídios e das periferias, em trabalhos como “Carandiru” por exemplo, o que se via eram grandes interpretações de presos, feitas por atores como Milhem Cortaz, Rodrigo Santoro e Gero Camilo. Em “Na Quebrada”, porém, quem faz papel de preso são presos. E isso muda tudo. Nenhum roteirista, preparador de elenco ou maquiador do planeta seria capaz de recriar olhares, diálogos, expressões, jargões, respirações e carrancas que se veem ali. Além disso, o filme de Andrade, feito para reviver histórias reais de alunos formados nos dez anos do Instituto Criar, fundado por seu meio-irmão Luciano Huck, faz um recorte interessante. Ele não retrata adolescentes começando a descobrir o mundo, como a incrível dupla Acerola e Laranjinha da série/filme “Cidade dos Homens”, nem jovens já criados, como os traficantes de “Tropa de Elite”. A lente aqui, aponta para outros tipos de aviões. Aqueles que estão colocados na pista, prontos para decolar. São jovens na faixa dos 16 aos 20 e poucos anos que começam a desenhar um plano de voo para suas vidas. E isso dá uma originalidade notável às histórias. O filme “Na Quebrada” merece ser visto. Pelas cenas fortes e bem realizadas, pelas atuações avassaladoras de detentos e ex-presidiários de um grupo de teatro criado numa cadeia, pela revelação de Jorge Dias, inequivocadamente filho do rapper Mano Brown (visto na pré-estreia desempenhando o papel de pai coruja enternecido, a poucas cadeiras do governador de São Paulo, Geraldo Alckmin), e de sua irmã Domenica e de atores profissionais como Gero Camilo (de novo genial) e Cláudio Jaborandy. Mas o filme “Na Quebrada” precisa ser visto. Porque nunca é demais ver de perto e com nitidez o tamanho da vala que separa o Brasil real daquele com o qual se sonha. A coluna de Paulo Lima, fundador da editora Trip, é publicada quinzenalmente 3#4 GISELE VITÓRIA Gisele Vitória é jornalista, diretora de núcleo das revistas ISTOÉ Gente, ISTOÉ Platinum e Menu e colunista de ISTOÉ Na capa e na festa Um outro lado de uma campeã de audiência aos domingos foi o mote da capa da edição de outubro da revista IstoÉ Gente. De colecionadora de artes a dona de uma editora de livros de luxo, cinema e fotografia, Eliana é contada em frente e verso. Poucos sabem que ela já recebeu para jantar o cineasta Fernando Meirelles e Pilar del Rio, viúva do escritor português José Saramago. “Foi uma honra ouvi-la dizer que se ele estivesse ali ficaria emocionado”, diz. Para comemorar o lançamento da edição, Eliana reuniu amigos no bar Numero, em São Paulo, a convite de IstoÉ Gente. Cheia de pique, saiu direto do SBT, onde gravou seu programa, para um drinque que acabou virando festa, tamanha a sua animação. Eliana dançou, papeou e cantou até as 3h da manhã. O ensaio é de J.R. Duran, com edição de moda de Luis Fiod. Balas Nomes para a AmFar Ainda está longe, mas as cotações para o próximo gala da AmFar Brasil, em 9 de abril, já começaram. George Michael pode ser a atração do baile beneficiente pela causa da Aids na casa de Dinho Diniz, em São Paulo. Elton Jonh também estaria cotado. A edição Brasil da festa pode ainda repetir a dose da AmFar Los Angeles, no dia 29, com Tom Ford como homenageado e Gwyneth Paltrow como hostess. Vale-tudo nas eleições Anderson Silva negocia a adesão à campanha de Aécio Neves. O lutador de UFC (evolução do vale-tudo) pode gravar um vídeo de apoio ao candidato do PSDB à Presidência. O vídeo seria veiculado no horário eleitoral e na internet. O Spider tem contrato com a 9ine, comandada por Ronaldo e Marcus Buaiz, que estão mergulhados na campanha de Aécio. Ronaldo voltou a Londres, mas se pôs à disposição na reta final, assim como Zezé di Camargo e Wanessa, genro e mulher de Buaiz. Recuperado da perna quebrada, Anderson está no Brasil treinando para voltar aos ringues da UFC na luta marcada para 31 de janeiro de 2015. Cinderelas e grávidas Após anunciar que está grávida, a princesa de Mônaco Charlene Wittstock mais uma vez é comparada à Duquesa de Cambridge Kate Middleton. Plebeias e ícones fashion, que entraram para a realeza, elas protagonizaram os dois mais festejados casamentos reais dos últimos tempos. Ambos em 2011. Kate se casou com o príncipe William em 29 de abril enquanto Charlene se uniu ao príncipe Albert II em 2 de julho. No ano seguinte, a Duquesa de Cambridge saiu na frente ao engravidar de George. Agora, espera seu segundo filho. Mas Charlene não vai ficar atrás: terá gêmeos. Na febre do fashion film Cada vez mais, as grandes marcas de moda apostam na máxima que “moda e arte caminham juntas”. A Ermenegildo Zegna chamou o cineasta sul-coreano Park Chan-wook para criar um “fashion film”. O resultado é “A Rose Reborn”, uma série de filmes que narram a história da Zegna. “A ideia era fazer um filme elegante e filosófico. Não um outro comercial”, diz o diretor. Stefano Pilati, diretor criativo da marca italiana, o ajudou na criação. “O conceito é afastar-se dos senhores tradicionais para chegar à nova elite e aos novos líderes”, diz. “Os personagens são pessoas gentis e elegantes, que buscam a inteligência em vez do poder.” E o vestido vai para... Camila Coutinho, blogueira do “Garotas Estúpidas”, entrou nas comemorações mundiais dos 40 anos do wrap dress, icônico vestido criado pela estilista belga Diane Von Furstenberg. Ela foi convidada para o projeto Journey of a Dress Influencers. Por um mês a peça viaja ao redor do mundo nas mãos de it-girls do planeta. Este mês é da blogueira pernambucana. “Quis produzir algo diferente. Fiz um vídeo em Olinda”, diz ela, 26 anos. “Minha mãe tinha este vestido e eu vivia pegando emprestado aos 14 anos.Quando conheci Diane, me veio a lembrança.” Camila esteve com a estilista em Los Angeles, em janeiro. Seu vídeo entra no ar na segunda-feira 13. 3#5 ANA PAULA PADRÃO - REFLEXÃO PÓS-ELEIÇÃO Concordo com a liberiana Leymah Gbowee: mulheres só terão mais poder quando mais mulheres estiverem no poder. O que é preciso para dar mais poder às mulheres? Mais mulheres no poder!” A frase foi, para mim, uma epifania. A simplicidade da dedução, que está longe de ser simplista, vem de uma mulher de voz forte, gestos assertivos e que ganhou o Prêmio Nobel da Paz em 2011 por usar armas muito pouco ortodoxas, mas incrivelmente eficientes, para ajudar a encerrar a sangrenta guerra civil em seu país. A liberiana Leymah Gbowee foi minha convidada num dos muitos seminários que promovo para e com mulheres, os Fóruns Anuais Momento Mulher. Ali ela contou a história de um movimento que enfrentou governo e rebeldes a partir de quase nada. Movida pela certeza de que as principais vítimas do conflito armado na Libéria eram mulheres como ela, donas de casa, Leymah liderou um protesto que tinha tudo para ser um fiasco. Reuniu outras poucas e foi às ruas. O grupo mirradinho foi ficando cada vez maior e postou-se em frente ao Palácio do Governo. Chamou a atenção da mídia internacional. Leymah teve então a ideia de ouro: anunciou uma greve de sexo enquanto não terminassem os combates. Não teve medo da patrulha feminista ou da fúria machista dos combatentes. Usou o poder que tinha para ganhar apoio e visibilidade e contar com a ajuda de outros países para interromper o conflito. Simples assim. Lembrei-me muito dela lendo as diversas reportagens sobre o pífio resultado da eleição de mulheres no fim de semana passado, aqui no Brasil. Ainda somos muito poucas em cargos políticos. As explicações para o fato variam entre a falta de interesse dos partidos em promover causas femininas, a ausência do financiamento público e transparente das campanhas e a dificuldade da mulher em circular num meio tão masculino e plantar ali suas ideias. Todas passam, de algum modo, pela divisão sexual do trabalho (o mundo doméstico para as mulheres e o público para os homens). Não tenho uma opinião formada sobre isso, mas estou convencida de que a gente só encontra as respostas certas quando faz as perguntas certas. Leymah não perguntou o que impedia um acordo que desse fim ao conflito armado na Libéria. Ela fez com que ele terminasse. Ela liderou. Ela impôs sua vontade e a de uma maioria. Isso é fazer política. Mesmo sem exercer cargo algum. Não quero com isso dizer que seja fácil ter algum tipo de poder. Ou que a profunda dívida histórica que a sociedade tem com as mulheres não tenha deixado um rastro cultural conservador difícil de mudar. Ou que o machismo não exista. Ou que todas as opções acima não sejam verdadeiras. Apenas não me interessa o como. Me interessa o porquê. Lideranças políticas nascem de movimentos que combatem o que consideram um problema. Nesse sentido, muitas mulheres participam de movimentos políticos o tempo todo no Brasil. Não participam, necessariamente, de movimentos partidários. Meu palpite é que, antes de qualquer barreira cultural ou de gênero, há um porquê inicial: os partidos não falam com elas. Não as representam. E isso precisa mudar porque, sim, concordo com Leymah: mulheres só terão mais poder quando mais mulheres estiverem no poder. www.tempodemulher.com.br Ana Paula Padrão é jornalista e empresária 3#6 BRASIL CONFIDENCIAL por Eumano Silva Desgaste do PT arrastou junto o PCdoB O alinhamento automático do PCdoB com o PT desde 1989 revelou-se uma tática acertada até as eleições de 2010. Este ano, os comunistas pagaram junto com os petistas o preço do desgaste do governo. A bancada do martelo e da foice na Câmara tem hoje 15 deputados federais, mas será reduzida para uma dezena na próxima legislatura. A maior vitória do PCdoB este ano foi a eleição de Flávio Dino para o governo do Maranhão – nesse caso, sem aliança com o PT, que manteve apoio formal à família Sarney. Bancada mais fraca Além de reduzida, a bancada federal dos comunistas também perdeu alguns de seus integrantes mais experientes e qualificados. O ministro do Esporte, Aldo Rebelo (SP), não disputou a eleição. O senador Inácio Arruda (CE) tentou uma vaga na Câmara, mas não conseguiu. Ex-vice-governador do Piauí Osmar Júnior também não retornará ao Congresso. Perda de identidade Para muitos observadores, o PCdoB repete a trajetória do PPS. De tanto fazer concessões, o antigo “Partidão” se descaracterizou e virou apêndice do PSDB, embora no primeiro turno o PPS tenha apoiado Marina Silva. O PCdoB estaria para o PT assim como o PPS está para os tucanos. Disputa interna Os deputados petistas Arlindo Chinaglia (SP) e Marco Maia (RS) disputam a indicação do partido para a eleição de presidente da Câmara. Ambos já ocuparam o cargo e, como trunfo, exibem o desempenho que obtiveram no dia 5. Maia teve 133 mil votos e Chinaglia, 135 mil. Sinal dos tempos Derrotado na eleição para presidente em 2010 e para prefeito de São Paulo em 2012, o senador eleito José Serra (SP) desfruta a popularidade. No final do ato em favor de Aécio Neves no Memorial JK, ele foi cercado para selfies. Sorridente, foi o último a deixar o auditório. Não me deixe só Causou estranheza a ausência de Lula no momento em que a presidenta Dilma Rousseff fez o discurso de vitória no primeiro turno. Até quinta-feira 9, o ex-presidente ainda não havia confirmado se vai acompanhar sua protegida nas viagens de campanha pelo Nordeste do País. Tensão na transição Flávio Dino enfrenta dificuldades para receber informações oficiais da gestão atual. Por enquanto não há diálogo entre a turma da governadora Roseana Sarney (PMDB) e os futuros ocupantes da máquina estadual. Muitos secretários e servidores nem aparecem no trabalho. Os comunistas planejam fazer rigorosas auditorias nas contas de Roseana. Corpo fora Um ilustre petista anda incomodado com as reclamações que ouve de ministros em relação à presidenta. Recentemente, na frente de um empresário, um auxiliar culpou a chefe por não conseguir tocar um projeto. “Se eu pensasse como você, pediria demissão do governo”, reagiu o prócer petista. As contas em Hong Kong Depois de rastrearem o dinheiro do petroduto na Suíça, os investigadores da Polícia Federal agora se debruçam sobre remessas feitas para a Ásia. Interceptações nos telefones do doleiro Alberto Youssef detectaram três contas em Hong Kong. Uma delas recebeu R$ 23,7 milhões em uma operação de câmbio-importação. Empresas fantasmas criadas no Brasil simulavam operações de compra e venda de produtos para justificar as movimentações internacionais. Os responsáveis pelas investigações do escândalo da Petrobras suspeitam, também, de dez cidadãos de Hong Kong envolvidos nas perigosas transações. Sonho de aposentados O STF deve retomar nesta semana o julgamento do processo da desaposentadoria. O recurso terá impacto em 6.831 processos semelhantes e pode permitir que aposentados que continuaram trabalhando tenham seus benefícios reajustados. A maioria dos ministros é simpática à proposta. Um estudo feito por especialistas sobre o prejuízo nas contas públicas vai nortear a decisão. Toma lá dá cá Antonio Carlos Andrada – Presidente da Associação Mineira de Municípios e prefeito de Barbacena (MG) ISTOÉ – A estratégia municipalista ajuda a presidenta Dilma nas eleições? Andrada – Sim. Os municípios se tornaram meros executores das políticas federais. O forte nas cidades é o Bolsa Família, o Minha Casa Minha Vida e o programa de creches. ISTOÉ – A centralização das políticas na União prejudica a atuação dos prefeitos? Andrada – Os prefeitos perderam força no debate eleitoral. ISTOÉ – Este cenário explica, em parte, a derrota de Aécio Neves em Minas Gerais? Andrada – Ter um mineiro com chances de chegar à Presidência vai acender uma chama que estava adormecida, foi uma queda momentânea. Quem é governo votou no governo, quem não é vota pela mudança. Rápidas * Os resultados das pesquisas no primeiro turno uniram integrantes do governo e da oposição em um projeto que estava esquecido. Pela proposta, quem divulgar levantamentos com números muito diferentesdos das urnas terá de pagar uma multa de R$ 1 milhão. * No ato de apoio a Aécio Neves no Memorial JK, causou surpresa a presença da ex-deputada Raquel Cândido (RO), cassada em 1994 por envolvimento no escândalo dos “anões” do Orçamento. Animadíssima, ela ficou em uma das primeiras filas do auditório. * Se Dilma Rousseff vencer a eleição no segundo turno, a partir do ano que vem terá uma oposição de peso no Senado. As urnas mandaram de volta para Brasília os tucanos José Serra (SP), Tasso Jereissati (CE), além do novato Antonio Anastasia (MG). * Nesta hipótese, o trio tucano acima vai se juntar a dois senadores com mais quatro anos de mandato pela frente, Aécio Neves (MG) e Aloysio Nunes Ferreira (SP), e a Álvaro Dias (PR), que foi reeleito com a maior votação proporcional do País. Retrato falado Na sessão da CPI da Petrobras da quarta-feira 8, o deputado mineiro Domingos Sávio (PSDB) se revezou ao microfone com o líder do PT no Senado, Humberto Costa (PE), zagueiro do governo na comissão. No debate acalorado, o tucano cobrou a liberação pela Polícia Federal da lista de nomes de congressistas envolvidos no escândalo, revelada pelo ex-diretor da estatal Paulo Roberto Costa. Pelo que se sabe, a lama pode atingir mais de uma centena de políticos. Campanha com dinheiro público No mês de setembro, a Câmara dos Deputados ficou parada, mas seu presidente, Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN), teve intensa agenda em sua campanha para governador. Mesmo assim, Alves pediu à Câmara ressarcimento de uma nota de combustível de R$ 7 mil referentes a mais de 500 litros de gasolina comum e 900 litros de óleo. Como a regra impõe teto para esses gastos, ele recebeu reembolso de R$ 4,5 mil. Falta de solidariedade A Câmara estuda uma posição definitiva sobre a vaquinha feita há décadas para viúvas de parlamentares, logo depois da morte dos maridos. Com o passar dos anos, as doações ficaram minguadas e quem contribui reclama da falta de participação dos colegas nas últimas coletas. _________________________________________ 4# BRASIL 15.10.14 4#1 ESCÂNDALO DA PETROBRAS - DELATOR DA PETROBRAS DIZ QUE A CAMPANHA DE DILMA EM 2010 FOI BENEFICIADA POR DINHEIRO DESVIADO 4#2 ESCÂNDALO DA PETROBRRAS - O TESOUREIRO DO ESQUEMA 4#3 O QUE ESPERAR... DOS PRÓXIMOS 4 ANOS 4#4 DINHEIRO VOADOR 4#5 ONDA A FAVOR 4#6 A RETOMADA DO TERRORISMO ELEITORAL 4#7 MUITO LONGE DAS JORNADAS DE JUNHO 4#8 AS PESQUISAS DERROTADAS 4#9 O PAÍS É UM SÓ 4#1 ESCÂNDALO DA PETROBRAS - DELATOR DA PETROBRAS DIZ QUE A CAMPANHA DE DILMA EM 2010 FOI BENEFICIADA POR DINHEIRO DESVIADO O ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa e o doleiro Alberto Youssef afirmam que o PT foi o partido mais contemplado pela propina. As revelações estarrecedoras escancaram a falência moral do Estado nos últimos anos Josie Jerônimo (josie@istoe.com.br) Na quarta-feira 8, vieram à tona áudios de depoimentos feitos em regime de delação premiada na Justiça Federal em Curitiba por Paulo Roberto Costa, ex-diretor da Petrobras, e pelo doleiro Alberto Youssef – considerados hoje dois dos maiores arquivos vivos da República e detentores dos segredos mais explosivos da maior estatal do País. As declarações dos delatores descrevem uma gigantesca rede de corrupção formada por dirigentes da Petrobras, empreiteiras e partidos políticos integrantes da base de sustentação do governo Dilma Rousseff. As revelações são estarrecedoras. A corrupção estatal poucas vezes foi exposta de maneira tão crua e direta narrada abertamente por seus executores a serviço do Estado. Nos áudios, os depoentes apontam PT, PMDB e PP como as legendas beneficiadas pelo propinoduto e colocam sob suspeição a campanha de 2010 da presidenta Dilma Rousseff. “Dos 3% da Diretoria de Abastecimento, 1% seria repassado para o PP e os 2% restantes ficariam para o PT. Isso me foi dito com toda a clareza”, afirmou o ex-diretor da Petrobras. “Outras diretorias também eram PT. O comentário que pautava dentro da companhia era que em alguns casos os 3% ficavam para o PT”, acrescentou. Um dos operadores dos desvios na Petrobras, de acordo com os depoimentos, era João Vaccari Neto, tesoureiro do PT. Indicado para o cargo pelo ex-ministro da Casa Civil José Dirceu, o ex-diretor de Serviços Renato Duque e Nestor Cerveró, ex-dirigente da Área Internacional da Petrobras da cota do PMDB, também recebiam propina. “Bom, era conversado dentro da companhia e isso era claro que sim. Sim. A resposta é sim”, afirmou Paulo Roberto Costa, questionado sobre o pagamento de suborno aos dois. As movimentações irregulares, segundo disseram, continuaram até 2012, quando Costa deixou a estatal, e pode ter contaminado a atual campanha de Dilma à reeleição. É fato que se a sociedade brasileira encarar como natural esse assalto à coisa pública terá de estar preparada para aceitar todo e qualquer tipo de desmando de seus governantes. Os limites estarão rompidos indissoluvelmente. Mas, sabe-se, não é da índole do brasileiro compactuar com malfeitos. Neste caso, malfeitos perpetrados no coração da maior estatal do País, motor do desenvolvimento e outrora símbolo da soberania nacional. O dinheiro desviado tinha origem no superfaturamento dos contratos da Petrobras. A taxa média do sobrepreço, além da boa margem de lucro, girava em torno de 3%. Paulo Roberto Costa explicou como funcionava a fábrica de dinheiro para as campanhas políticas e o bolso dos corruptos. Costa confessou que atuava como guardião dos numerários da corrupção. Ele intermediava contatos políticos, gerenciava o pagamento de propina das empreiteiras e cuidava dos critérios da distribuição dos lucros aos partidos envolvidos. O ex-diretor foi assertivo ao apontar o PT como o maior beneficiário dos desvios. Cada partido tinha seus próprios operadores. De acordo com os depoimentos, o ex-deputado José Janene (PR), que faleceu em 2010, e Youssef eram os responsáveis por distribuir o dinheiro da propina no PP. Eles também entregavam a parte que cabia ao ex-diretor da Petrobras por sua atuação nas irregularidades. Costa não detalhou como era feita a divisão dos recursos no PT, tarefa do tesoureiro João Vaccari. No organograma do crime, o delator aponta o ex-diretor de Serviços Renato Duque, apadrinhado de José Dirceu, como o contato do tesoureiro do PT na estatal. O MAGISTRADO - Os depoimentos, colhidos pelo juiz Sérgio Moro, impressionaram pela riqueza de detalhes e pela sofisticação do esquema corrupto narrado A farra da base aliada na estatal se iniciou, de fato, em 2007, quando a Petrobras direcionou o orçamento para grandes projetos, como a construção de refinarias. Mas a idealização e a montagem da rede de corrupção remetem a 2004, com a nomeação de Paulo Roberto Costa para a Diretoria de Abastecimento. Na cúpula da estatal, ele teve grande importância na ampliação do poder do cartel das empreiteiras e na geração de mais divisas para a ala de políticos da quadrilha. Por isso, contou com o lobby de fortes lideranças do cenário nacional para chegar ao posto, com o aval do Palácio do Planalto. Nesse ponto, o doleiro Youssef fez uma das revelações mais importantes de seu depoimento. “Para que Paulo Roberto Costa assumisse a cadeira de diretor da Diretoria de Abastecimento, esses agentes políticos trancaram a pauta no Congresso durante 90 dias. Na época o presidente Luiz Inácio Lula da Silva ficou louco, teve que ceder e realmente empossar o Paulo Roberto Costa”, contou Youssef no interrogatório. Ao afirmar que Lula se curvou aos interesses de um bando especializado em drenar dinheiro dos cofres da Petrobras, o doleiro pode ter fornecido um dos fios da meada para se entender como os governos petistas contemplaram as práticas ilícitas. Registros do Congresso trazem indícios de que o doleiro, realmente, tinha razão. Na primeira quinzena de abril de 2004, um mês antes de Costa ser nomeado diretor da Petrobras, o governo Lula sofreu com uma rebelião da base, capitaneada pelo PMDB. À época, o presidente mandou ao Congresso uma medida provisória que reajustava o salário mínimo para R$ 260. Para retaliar o governo, a base passou a exigir o cumprimento de uma promessa de campanha de Lula, que previa o salário mínimo a US$ 100, o equivalente a R$ 289. O PT trabalhava, ainda, para aprovar um projeto que criava 2.800 cargos de confiança no governo. O PP de José Janene passou algumas semanas sem sequer registrar presença no plenário, com o único objetivo de prejudicar o governo do Planalto. Renan Calheiros (PMDB-AL), hoje presidente do Congresso e também citado nas investigações da Lava Jato, comandou a rebelião no Senado. Presos no início do ano durante a Operação Lava Jato da Polícia Federal, Costa e Youssef aceitaram contribuir com as investigações em troca do abrandamento de suas penas. Nos depoimentos em Curitiba, eles não tinham autorização para explicitar os nomes das autoridades com direito a foro especial, caso de parlamentares, por se tratar de Justiça de primeira instância. Esses casos são apurados somente no Supremo Tribunal Federal (STF). OS SEGREDOS DO DOLEIRO - Preso em Curitiba, Alberto Youssef disse que o Congresso ameaçou paralisar a pauta e Lula capitulou às pressões para que Paulo Roberto Costa fosse nomeado Mesmo sem poder citar nomes, o ex-diretor forneceu informações que, de forma indireta, tiram o sono de muitas autoridades. O delator descreveu, por exemplo, uma consultoria prestada a um político fluminense candidato a cargo majoritário, que queria fazer um plano de governo direcionado ao setor de energia para captar recursos de financiamento de campanha das empresas da área. Costa também envolveu o PMDB ao citar a Diretoria Internacional da Petrobras como feudo da sigla. Segundo o ex-diretor, o responsável por fazer o serviço sujo do recolhimento da propina junto às empreiteiras seria Fernando Soares, conhecido como Fernando Baiano. “Na Diretoria Internacional, o Nestor Cerveró foi indicado por um político e tinha ligação forte com o PMDB”, disse o delator. Nos bastidores do Congresso, atribui-se a indicação de Cerveró a Renan Calheiros. “Em diretorias como gás, energia e exploração, o comentário na companhia é que 3% ficavam com o PT” Chamou a atenção dos investigadores o tom de deboche muitas vezes adotado nas conversas dos envolvidos nas práticas corruptas. Nesse contexto, uma das expressões mais usadas pelos interlocutores era um trecho da Oração de São Francisco de Assis, aquele que prega “é dando que se recebe”. “Nós tínhamos reuniões, com certa periodicidade, com esse grupo político e nesses encontros comentava-se, recebemos isso, recebemos aquilo”, afirmou o ex-diretor, sobre os acertos de propina. As cifras astronômicas que abasteciam o esquema são tratadas com naturalidade pelo ex-diretor, mas deixam confusos até mesmo os experientes investigadores do caso. Ao narrar episódio em que recebeu R$ 500 mil das mãos do presidente da Transpetro, Sérgio Machado, por ter ajudado a intermediar contratação de empresas de navios, os interrogadores não esconderam o espanto e questionaram Costa sobre a forma de pagamento da propina. “Uma parcela”, respondeu. “Tem uma tabela e ela revela valores de agentes de vários partidos relativos à eleição de 2010” Meio milhão de reais é uma cifra desprezível no universo de dígitos dos contratos firmados entre as empreiteiras que compunham o cartel que dominou a Petrobras. Relatório da Polícia Federal estima que, de R$ 5,8 bilhões em transações firmadas, R$ 1,4 bilhão escoou pelo ralo graças a obras superfaturadas para abastecer a quadrilha. Paulo Roberto Costa apontou 11 empresas envolvidas nos desvios. Ele detalhou a ação orquestrada das companhias, mas faz questão de dizer que nem todos os contratos da estatal estão contaminados. Como exemplo, ele cita a Refinaria Abreu e Lima, de Pernambuco. De acordo com Costa, o empreendimento reúne aproximadamente 50 empresas, mas o cartel não encampa todas as contratadas. A máquina de irregularidades era tocada pelas empreiteiras Odebrecht, Camargo Corrêa, Andrade Gutierrez, Mendes Júnior, UTC, Engevix, Iesa, Toyo Setal, Galvão Engenharia, OAS e Queiroz Galvão. O delator listou, também, o nome de diretores responsáveis por negociar as condições especiais proporcionadas às firmas. As empreiteiras repudiaram publicamente as denúncias. O ex-diretor envolveu os altos escalões das empresas: “Os presidentes das companhias tinham conhecimento do esquema”. As empresas agiam como se fossem donas da Petrobras, segundo relato do delator. Rateavam os contratos conforme a disponibilidade de suas equipes e determinavam a taxa de lucro que queriam. Quando uma firma fora do grupo conseguia romper a barreira do cartel, as empreiteiras protestavam. “Às vezes participaram empresas que não eram do cartel, ganhavam a licitação e isso deixava as empresas do cartel muito zangadas”, afirmou. DRENAGEM DE BILHÕES - Erguida ao custo de US$ 20,1 bilhões - valor dez vezes superior ao estimado preliminarmente (US$ 2,5 bilhões) -, a Refinaria Abreu e Lima é o retrato da corrupção, incompetência e malversação de recursos, revelou a Polícia Federal O cartel formado pelas empreiteiras para sangrar as contas da Petrobras, segundo Paulo Roberto Costa, agia também em alguns ministérios. A rede de pagamento de propina da estatal funcionaria para abrir portas em pastas com gordos orçamentos para obras de infraestrutura. “Empresas que tinham interesses em outros ministérios, capitaneados por partidos, participaram de obras de rodovias, saneamento básico, do Minha Casa Minha Vida. No meu tempo na Petrobras, nenhuma empresa deixou de pagar propina. Se você cria um problema de um lado, pode gerar de outro”, afirmou. “Na refinaria Abreu e Lima a Camargo Corrêa participou do cartel e efetuou os repasses a políticos” Ao fim do trabalho de análise e recolhimento de provas, os empresários atrelados à fraude responderão a processo criminal. Além dos relatos do ex-diretor, os investigadores da Lava Jato conseguiram obter de uma das companhias um tipo de colaboração no formato de um acordo de leniência. A empresa está ajudando a reunir provas financeiras para demonstrar a atuação do cartel. A ajuda garantirá a essa empreiteira a possibilidade de evitar sanções, como firmar novos contratos com o poder público. Seus diretores, no entanto, terão de responder penalmente pela participação nas negociatas. “Recebia em espécie na minha casa, no shopping ou escritório. Recebi da Transpetro R$ 500 mil e quem pagou foi Sérgio Machado” A divulgação do interrogatório do doleiro e do ex-diretor da Petrobras incendiou o ambiente eleitoral e os citados se apressaram em repudiar as acusações. O ex-presidente Lula usou um repertório que já lhe é peculiar ao reagir às novas denúncias. Em discurso em Campo Limpo, São Paulo, bradou como se vítima fosse e como se ele e o seu partido estivessem acima do bem e do mal: “Eu já estou de saco cheio (das denúncias contra o PT). Daqui a pouco eles estarão investigando como nós nos portávamos dentro do ventre da nossa mãe”. No governo, intensificam-se as pressões para a demissão de Sérgio Machado, da Transpetro, que teria entregado R$ 500 mil para Paulo Roberto Costa. O objetivo é evitar mais desgastes para o Planalto. O PT, como Lula, também cumpre roteiro conhecido. Pretende procurar o ministro Teori Zavascki, do Supremo Tribunal Federal, para pedir que não ocorram novos vazamentos, durante o segundo turno das eleições, dos depoimentos feitos em sigilo de justiça. Zavascki desempenha papel de protagonista nas investigações. Como ministro do STF, instância responsável por julgar políticos e autoridades com foro privilegiado, coube a ele validar os depoimentos colhidos pelo juiz Sérgio Moro. Na etapa atual, ele analisa as provas colhidas pela Polícia Federal e pelo Ministério Público Federal que envolvem parlamentares e ministros do Estado na rede de corrupção. Não são poucas. “Dentro do PT a ligação do diretor de serviço era com o tesoureiro, o senhor João Vaccari” 4#2 ESCÂNDALO DA PETROBRAS - O TESOUREIRO DO ESQUEMA João Vaccari Neto, apontado pelo delator como o operador do PT na corrupção da Petrobras, também é acusado pelo MP de São Paulo de lesar uma cooperativa habitacional Izabelle Torres (izabelle@istoe.com.br) O secretário nacional de finanças do PT, João Vaccari Neto, é admirado pelos companheiros pela dedicação ao partido. Dizem que ele não mede esforços para cumprir as missões que recebe. Foram essas características de fidelidade e resignação partidárias que o levaram a substituir Delúbio Soares e a desempenhar o papel de tesoureiro informal das campanhas de Dilma Rousseff. Assim, passou a transitar facilmente entre empresários interessados em estreitar relações com o partido que comanda o País há 12 anos. Homem de confiança de José Dirceu, símbolo maior do mensalão, e do ministro das Relações Institucionais, Ricardo Berzoini, Vaccari é discreto, avesso a badalações e grandes eventos. Mas, segundo as revelações relacionadas ao escândalo da Petrobras, ele tem função destacada no submundo da política, onde atuaria há anos com grande desenvoltura – especialmente com a missão de abastecer o caixa 2 da legenda nas campanhas eleitorais. Na semana passada, o depoimento à Justiça do ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa detalhou como o tesoureiro do Partido dos Trabalhadores agiu na divisão dos recursos desviados de contratos da Petrobras. HOMEM DE CONFIANÇA - Como Delúbio Soares, Vaccari é admirado pela fidelidade aos amigos e ao partido Segundo Costa, o PT tinha direito aos 2% dos contratos. As licitações da área de abastecimento seriam conduzidas pela diretoria de serviços, comandada por Renato Duque, indicado pelos petistas para o cargo e amigo de Vaccari. “Todas as licitações da área de abastecimento eram feitas na diretoria de serviços, que escolhe as empresas, coordena a comissão de licitação e faz o orçamento básico”, explicou. “Dentro da área de serviços, tinha o diretor Duque, que foi indicado na época pelo ministro da Casa Civil, José Dirceu. Ele tinha essa ligação com o Vaccari dentro desse processo do PT”, relatou Paulo Roberto. De acordo com o depoimento dado pelo ex-diretor, o PT recebia ainda mais das outras diretorias da estatal, que repassavam 3% dos contratos para o PT e ainda pagavam o PMDB e o PP. A cobrança da cota petista seria feita diretamente por Vaccari. Como fizeram todos os mensaleiros, ele nega tudo. Em nota, disse que nunca tratou sobre contribuições financeiras do partido, ou de qualquer outro assunto, com Paulo Roberto Costa. Reclama que não tem acesso ao processo e não consegue exercer o direito à ampla defesa. O secretário insiste ainda que as contribuições financeiras recebidas pelo PT são transparentes e realizadas sempre de acordo com a legislação em vigor. Não é bem assim. O escândalo do mensalão mostrou que distribuir recursos para partidos da base aliada e, claro, para o próprio PT, não é uma novidade. Vaccari chegou a ser citado no auge das investigações do mensalão, que levou alguns dos seus companheiros mais próximos para a cadeia. Segundo o depoimento do corretor de fundos Lúcio Funaro, dado durante as investigações, em 2004 Vaccari o recebeu na sede da Bancoop – cooperativa de crédito habitacional que à época era presidida por ele – e explicou ao corretor interessado em fazer negócios nos fundos de pensão que era preciso pagar propina ao PT em qualquer contrato fechado. O depoimento consta no processo, mas Vaccari não chegou a ser indiciado porque o ex-ministro Joaquim Barbosa, relator do caso no Supremo Tribunal Federal, entendeu que não era a Bancoop que irrigava o mensalão. O PADRINHO - O ministro Ricardo Berzoini é um dos responsáveis pelo prestígio de Vaccari no PT Como já foi reportado por ISTOÉ, embora não tenha sido envolvida oficialmente na ação penal do mensalão, a cooperativa habitacional é investigada em outro processo, que apura a prática de corrupção durante a gestão de Vaccari. Segundo denúncia feita em 2007 pelo Ministério Público de São Paulo, desde 2002 a Bancoop lesou cerca de três mil mutuários e foi usada pelo PT para desvio de dinheiro para financiamento de campanhas eleitorais, especialmente a do ex-presidente Lula, em 2002. Os desvios eram feitos para empresas fantasmas em nome de laranjas do partido e depois distribuídos oficialmente para o PT. Tudo sob o comando de Vaccari. Como as operações deram resultado e o chefe da Bancoop tem respondido sozinho pelas denúncias, em 2010 Vaccari acabou recompensado pelos companheiros. Deixou a cooperativa para assumir o prestigiado cargo de tesoureiro da legenda. A denúncia do Ministério Público afirma que os desvios causaram um rombo de R$ 170 milhões e pede que os responsáveis paguem a conta com recursos do próprio bolso. A ação penal protagonizada por Vaccari tramita até hoje na 5a Vara Criminal de São Paulo, ainda sem um desfecho. Em agosto deste ano, o julgamento foi retomado e a expectativa dos mutuários é de que o processo finalmente seja concluído nos próximos meses. De acordo com as acusações, o secretário de finanças do PT cometeu crimes em série, como formação de quadrilha, estelionato, falsidade ideológica e lavagem de dinheiro. A gestão do homem forte do partido na Bancoop também deixou para trás cerca de mil processos movidos por associados que alegam terem sido lesados pelas fraudes. Enquanto isso, nos bastidores, Vaccari segue firme e prestigiado dentro da legenda que ele ajuda a enriquecer. O problema para ele é que quando o processo da Petrobras chegar ao fim é possível que não seja mais um réu primário. DENÚNCIA - Em 11 de junho de 2008, ISTOÉ revelou o esquema de João Vaccari e Ricardo Berzoini na Bancoop 4#3 O QUE ESPERAR... DOS PRÓXIMOS 4 ANOS As encruzilhadas em que se meteu o País nas áreas da saúde, educação, segurança e economia, e o que pode acontecer se o cenário não for revertido Izabelle Torres (izabelle@istoe.com.br) O Brasil que vai às urnas no dia 26 de outubro, para o segundo turno das eleições presidenciais, viveu mudanças significativas nas últimas décadas. O governo Fernando Henrique Cardoso (PSDB) trouxe a estabilidade da moeda, retirou a inflação dos patamares anuais de três dígitos, que impediam o consumo a prazo e o planejamento das famílias, instituiu a Lei de Responsabilidade Fiscal e criou o embrião de diversos programas sociais. O governo Lula aproveitou os ventos favoráveis da economia para fazer o Brasil deslanchar na área social e virar modelo de combate à extrema pobreza, distribuindo renda e viabilizando a ascensão das classes mais baixas. O sucesso dos oito anos do governo Lula alavancou Dilma Rousseff e a levou para o comando do País sob a expectativa de uma gestão técnica de continuidade. O que se viu, entretanto, foi a construção de um cenário bem diferente do que imaginavam os brasileiros em 2010. O País promissor que despontava como uma potência emergente se meteu em encruzilhadas nos mais importantes setores, estagnando o crescimento e levando a população a níveis de insatisfação, medidos com precisão no resultado do primeiro turno da eleição, quando 58,42% dos eleitores optaram pela oposição ao atual governo. Dessa forma, o PT deixou as urnas mais fragilizado e Dilma seguiu na disputa com o menor índice de um vencedor da primeira fase desde a eleição de 1994. A CONTINUIDADE E A MUDANÇA - Dilma Rousseff (PT) e Aécio Neves (PSDB), que se enfrentam no segundo turno, apresentam receitas diferentes para mudar os rumos do País Um resultado desfavorável não se constrói de uma hora para outra. O governo alterou a política econômica costurada pelos governos anteriores e, em defesa das políticas sociais, descuidou das contas públicas e da inflação e atrapalhou o desempenho da iniciativa privada, inibindo investimentos com medidas intervencionistas. A consequência foi o crescimento médio do PIB de 1,6% ao ano, a inflação superando o teto de 6,5% e o índice de confiança da indústria – que alavanca investimentos – com quedas sucessivas, atingindo redução de 23,8% este ano, segundo cálculo da FGV. Na semana passada, o Fundo Monetário Internacional (FMI) reduziu a previsão de crescimento da economia brasileira para este ano. O diagnóstico do Fundo é que o Brasil freou e vai crescer mero 0,3% em 2014, o que corresponde a 10% da média mundial, de 3,3%. No relatório, o FMI resume o significado desse percentual: “Uma competitividade frágil, baixa confiança dos empresários e condições financeiras mais ajustadas restringem o investimento”. A saúde foi outro nó dos últimos quatro anos. Pesquisas realizadas em junho pelo Instituto Datafolha indicaram que 93% da população está insatisfeita com o setor. Os principais problemas enfrentados incluem filas de espera, falta de acesso aos serviços públicos e má gestão de recursos. De acordo com o estudo, a saúde é apontada como a área de maior importância para 87% dos brasileiros, mas a falta de leitos, de equipamento e de médicos criou situações preocupantes no País. Além das dezenas de demonstrações das falhas de gestão do Sistema Único de Saúde (SUS), a pressão de entidades privadas de planos de saúde e indústrias de medicamentos e equipamentos exerce influência cada vez maior nas decisões das instituições públicas. Relação essa, vale lembrar, capitalizada pelos financiamentos de campanhas eleitorais. Para melhorar os serviços públicos de saúde, o governo do PT lançou o Programa Mais Médicos, com a importação de estrangeiros para áreas isoladas. Essa medida estimulou o debate sobre a qualidade da estrutura pública de saúde nessas localidades, não tendo sido elas beneficiádas pelas tais metas ou promessas de campanha. Em 2010, a presidenta Dilma prometeu, por exemplo, construir 500 Unidades de Pronto Atendimento (UPA), mas apenas 175 estão funcionando. Apesar das soluções paliativas, o direito universal à saúde ainda é uma realidade distante dos brasileiros. Distância comparável à qualidade da educação pública prometida nos discursos de campanha. O baixo investimento em educação básica e os salários dos professores, muito aquém das metas pleiteadas pela categoria, são apenas alguns dos ingredientes que tornaram o setor um problema a ser administrado. Em 2010, Dilma prometeu criar seis mil creches e pré-escolas e dez mil quadras esportivas cobertas. No entanto, foram entregues pouco mais de mil creches e 45 quadras. Além disso, embora o acesso às faculdades tenha aumentado durante os governos do PT, 38% dos alunos de nível superior são considerados analfabetos funcionais. O País ocupa ainda a triste posição de líder no ranking de violência contra professores e o penúltimo lugar do mundo na qualidade da educação pública. A desaprovação ao governo de parte majoritária dos eleitores no primeiro turno pode ser explicada ainda por outros dois problemas cruciais enfrentados pelo País: a corrupção e o aumento da violência. Foi durante os governos petistas que brotaram escândalos como o mensalão e os desvios bilionários de contratos da Petrobras. Diante de cifras desviadas e de caciques partidários condenados à cadeia, ficou difícil desvincular-se dos malfeitos. “Se somarmos a esse cenário um crescimento estagnado e a queda do poder de compra, será possível compreender a falta de apoio ao atual governo”, avalia David Fleisher, da UnB. Na área de segurança pública, existe um outro enrosco. Os números mais recentes sobre o setor mostrados no estudo do Mapa da Violência 2014 apontam que, em 2012, 154 pessoas morreram, em média, por dia no Brasil. No total, foram 56.337 pessoas que perderam a vida assassinadas no ano — 7% a mais do que em 2011. O estudo que analisou a última década registra aumento de 13,4% da violência no período, enquanto o crescimento da população ficou em 11,1%. Os índices brasileiros ultrapassam as mortes registradas nos mais sangrentos conflitos armados do mundo. Diante da crise de segurança, não faltam contra-argumentos do governo sobre o aumento dos investimentos na área e os esforços com o lançamento de programas voltados a combater a violência. A questão que se apresenta como um grande imbróglio na segurança pública são as cifras de investimentos. O governo federal participa com apenas 13% do financiamento da segurança pública, cabendo aos Estados e municípios arcar com os outros 87% do que deveria ser gasto. Sem recursos, os Estados alegam que não há o que fazer e o jogo de empurra faz com que o País ostente índices acima dos países em guerra civil. Nos últimos quatro anos, foram liberados apenas 10,5% dos recursos previstos no Fundo Penitenciário Nacional, que devem ser usados para ampliar a estrutura das penitenciárias. Diante de números e fatos que desmentem as mais mirabolantes promessas de campanha eleitoral, o questionamento que se impõe é o que pode acontecer com o Brasil se tudo continuar como está. O próximo presidente assume um país com manobras fiscais evidentes e inegáveis, o que dificulta o desenho do real cenário financeiro das contas públicas. O Brasil acumulou o quarto déficit mensal seguido em agosto. Os gastos superaram a arrecadação em R$ 10 bilhões. Mesmo assim, o governo afirma que as análises sobre os gastos descontrolados são eleitoreiras e que o discurso de que é preciso fazer ajustes no próximo ano, que obrigaria a próxima administração a reduzir despesas, não possui base técnica. A presidenta Dilma diz que não pretende realizar nenhum choque fiscal, embora especialistas digam que, se isso não acontecer, o País pode quebrar de vez. Na lista dos gastos descontrolados está ainda o déficit da previdência, próximo de 7,5% do PIB. Especialistas concordam que se não houver controle dessa conta poderá faltar recursos para financiar os gastos com setores vitais como saúde e educação. Além disso, reajustes de energia elétrica e gasolina estão represados para não aumentar ainda mais a inflação em ano eleitoral. Essa realidade terá de ser enfrentada no próximo ano. O cientista político brasileiro Bruno Hoepers, da Universidade de Pittsburgh, ressalta que a manutenção das diretrizes do atual governo ainda guardam outro problema: as alianças no Congresso para obter o mínimo de governabilidade. “O grande desafio será gerenciar melhor a coalizão, o que implica distribuir de forma mais equitativa as pastas ministeriais e cargos na burocracia federal entre os partidos aliados”, afirma. Na opinião de Hoepers, essa tarefa será mais desafiadora em um eventual segundo mandato de Dilma, uma vez que seu partido, o PT, terá menos cadeiras na Câmara do que tem hoje. A situação ainda será agravada pelas negociações que terão de ser feitas com 28 partidos, número de legendas da próxima legislatura. Atualmente, são 22 partidos na Câmara. Se Dilma for reeleita, por certo a inflação permanecerá nos atuais patamares, já que a própria presidenta defende que a perseguição de uma meta mais austera pode significar o aumento do desemprego. É justamente o que o PT promete evitar. Embora receba críticas de diversos setores, o atual governo não dá sinais de que pretende mudar sua política econômica. Pelo contrário, integrantes da equipe de reeleição dizem que a orientação em um eventual segundo mandato será o de continuar a perseguir índices inflacionários próximos a 6%, como ocorre desde 2011. Aécio Neves, candidato do PSDB, defende justamente o oposto. Acredita que é preciso trazer a inflação para o centro da meta e que durante seu mandato o ideal seria atingir índice de 3%, que é a meta semelhante a países como o Chile. Na prática, esses números complexos e a discussão de metas e índices representam para os brasileiros os valores do custo de vida. Quanto menor o índice, menos será preciso gastar para consumir. Para o economista da UnB Flavio Basílio, o Brasil passa por um momento de transição, no qual a estratégia de crescimento sustentado no aumento do crédito e dos salários acima da produtividade, ambos estimulando o consumo, mostra sinais de esgotamento. Isso significa que o crescimento futuro da economia brasileira depende, mais do que nunca, da ampliação dos investimentos produtivos, do aumento da competitividade da indústria de transformação e, por consequência, da retomada da confiança do empresariado. O risco, segundo o especialista, se as coisas continuarem no mesmo caminho, é de o País perder o grau de investimento nos próximos anos. “Com uma inflação próxima do teto da meta de 6,5% ao ano e com crescente ampliação do déficit em transações correntes, é importante que o próximo governo promova um ajuste fiscal para auxiliar a política monetária no combate à inflação e assegurar a manutenção do poder de compra dos trabalhadores e o grau de investimento do Brasil”, diz Basílio. “Sem o ajuste, o risco de o país perder o grau de investimento nos próximos anos é real”, afirma. Na opinião do professor, essa perda poderia ocorrer justamente quando o Banco Central americano subisse os juros, o que provocaria fuga de capitais do Brasil com consequências inflacionárias e com repercussões negativas sobre a estabilidade da economia. 4#4 DINHEIRO VOADOR PF apreende R$ 116 mil em aeronave cujos passageiros têm ligações com o PT. Os planos de voo fazem a polícia suspeitar que o recurso possa ser caixa 2 de campanha Claudio Dantas Sequeira (claudiodantas@istoe.com.br) No início da noite da terça-feira 7, o turboélice King Air prefixo PR-PEG que havia partido de Belo Horizonte alcançou a cabeceira do aeroporto internacional de Brasília. Ao abordar a aeronave, a Polícia Federal encontrou R$ 116 mil em cédulas de R$ 100 e R$ 50 distribuídos em sacolas e mochilas. Três passageiros foram detidos: o empresário Benedito Oliveira Neto, o Bené, conhecido operador do PT mineiro, o segurança Pedro Medeiros e o jornalista Marcier Trombiere, ex-assessor do Ministério das Cidades, indicado pelo PP. Em depoimentos marcados por lacunas e contradições, alegaram que o dinheiro seria pagamento por serviços à campanha de Fernando Pimentel, eleito governador de Minas Gerais. Mas não apresentaram qualquer recibo ou nota fiscal. A PF abriu inquérito para apurar o caso. Os elementos colhidos até agora indicam que quase nada do que disseram os três ocupantes da aeronave é verdade. E levantam a suspeita de que os valores seriam sobra de caixa 2 destinados à campanha de Dilma Rousseff. PROCEDÊNCIA SUSPEITA - Donos de avião que levava pessoas ligadas ao PT seriam laranjas de Bené, conhecido operador do partido Os investigadores já têm uma pista importante: o King Air não foi fretado pelo grupo. Registrado na Anac na categoria de “serviço aéreo privado”, em nome da empresa Bridge Participações, teria como verdadeiro proprietário o próprio Bené. A Bridge tem como presidente Ricardo Santos Guedes, um advogado de 38 anos que se apresenta como “representante” da Gráfica e Editora Brasil, que pertence ao empresário mineiro. Guedes, seu irmão Alexandre e Cleusa Centeno dos Santos, possível parente de ambos, participam da composição acionária de mais sete empresas de diferentes ramos, como publicidade e propaganda, mineração, construção civil e consultorias. Apesar do “sucesso empresarial”, nenhum dos dois irmãos possui sequer um veículo, nem mesmo um carro popular. Cleusa, que tem em seu nome um Gol 1999, um Fiat 2000 e outro Gol 2012, não possui habilitação. Além disso, ela viveria numa casa de baixa renda localizada em Canoas (RS). Alexandre e Ricardo, por sua vez, têm endereço nos bairros Asa Norte e Sudoeste, em Brasília. Mas não foram localizados pela reportagem. Para a PF, eles seriam “laranjas” de Bené. Na opinião de uma autoridade ligada à investigação, registrar a aeronave em nome de uma empresa integrada por pessoas interpostas pode significar tentativa de ocultação de patrimônio. O caso fica ainda mais complexo quando se analisa o relatório dos planos de voo registrados no prefixo PR-PEG do King Air de Bené. Vê-se que o turboélice cumpriu uma intensa agenda de campanha entre 14 de julho e 7 de outubro, e que cobriu o trecho entre Brasília e Belo Horizonte diversas vezes. O avião também percorreu o interior de Minas, usando pequenas pistas de pouso. Diferentemente dos jatos, o turboélice é uma aeronave versátil por ser capaz de pousar até em estradas de terra. Alguns voos coincidem com comícios de Pimentel. Em 1º de agosto, por exemplo, o então candidato ao governo de Minas participou de comício em Montes Claros com a presença de Dilma e Lula. Os planos de voo também registram em agosto visitas às cidades mineiras de Juiz de Fora, Uberaba, Tatuí e Divinópolis. A PF agora quer confirmar quais voos de fato ocorreram, se possível saber quem embarcou e se houve transporte de valores em outras oportunidades. Fontes ligadas à campanha de Pimentel informaram à ISTOÉ que o candidato usou duas aeronaves na eleição, sendo uma delas a de Bené. A assessoria de imprensa de Fernando Pimentel disse que o candidato não contratou serviço de táxi-aéreo de Bené e não utilizou a aeronave citada para nenhum deslocamento. A mesma fonte disse que o King Air também transportou o presidente do Instituto Lula, Paulo Okamoto. Por meio da assessoria de imprensa, Okamoto disse que nem ele nem o ex-presidente viajaram no referido avião. Afirmou ainda que nem sequer conhece Bené. O empresário também não foi localizado para comentar o caso. Não será surpresa se a PF descobrir que a aeronave atendeu caciques do PT e da campanha de Dilma, uma vez que Bené tornou-se uma eminência parda na cúpula petista. Em 2010, o empresário envolveu-se na frustrada montagem de um dossiê contra o candidato tucano José Serra, que concorreu com a petista. Bené também foi quem pagou o aluguel da mansão que serviu como QG da campanha de Dilma no Lago Sul. O empresário mineiro foi apresentado a Pimentel pelo ex-deputado Virgílio Guimarães, o mesmo que levou o publicitário Marcos Valério ao ex-ministro José Dirceu. Não por acaso, Bené ascendeu empresarialmente justamente após o escândalo do mensalão e a queda de Valério. Seu nome chegou a estar associado a 11 empresas simultaneamente, sendo a principal delas a Gráfica e Editora Brasil. Até 2004, seus rendimentos não superavam R$ 400 mil. Mas essa realidade mudou bastante. De 2005 até hoje, as empresas de Bené faturaram em contratos com o governo do PT cerca de R$ 300 milhões, 70% desse valor só com a gráfica. Para se defender no TCU, o empresário contratou o escritório de Erenice Guerra, ex-ministra da Casa Civil e braço direito de Dilma. Para administrar tantas frentes de atuação, Bené costuma repassar o controle de suas empresas a terceiros. Isso foi feito com a Projects Brasil, que em 2011 assumiu a digitalização de documentos do Ministério das Cidades, então comandado por Mario Negromonte. Além de emplacar o contrato, Bené ainda conseguiu que Negromonte nomeasse um ex-funcionário seu na função estratégica de coordenador-geral de modernização e informática. Outro aliado nas Cidades era o então chefe da comunicação, Marcier Trombiere, que estava no avião. Trombiere deixou o cargo a convite de Bené. Trombiere, segundo a assessoria de Pimentel, atuou na comunicação da campanha. Já a Gráfica e Editora Brasil prestou serviços gráficos. “As despesas serão declaradas na prestação de contas final”, informou em nota. Seja como for, nada se falou sobre o empréstimo do avião. Convocados pela PF, piloto e copilotos foram orientados a permanecer em silêncio. 4#5 ONDA A FAVOR O candidato do PSDB à Presidência, Aécio Neves, larga na frente nas pesquisas e amplia os palanques para o segundo turno, reforçando-se para a derradeira disputa contra Dilma Rousseff Ludmilla Amaral (ludmilla@istoe.com.br) Nos primeiros dias após o primeiro turno da disputa presidencial, os eleitores parecem ter se movido numa velocidade maior que a de seus líderes. Um exemplo desse descompasso está em Marina Silva, candidata terceira colocada pelo PSB que conquistou mais de 20 milhões de votos. Até o final da semana, ela não havia definido a forma como pretende apoiar a candidatura de Aécio Neves (PSDB) na segunda etapa da eleição, embora já tivesse sinalizado que não irá marchar ao lado de Dilma Rousseff (PT). Mas as pesquisas já mostravam uma migração de seus eleitores para a candidatura de Aécio. Tanto no Ibope, como no Datafolha, o candidato tucano apareceu à frente da concorrente petista: 46% a 44%. No QG de campanha de Aécio, o resultado foi recebido em tom de euforia. A imprevisibilidade que tem marcado esta eleição presidencial recomenda prudência nos prognósticos, mas reza a tradição eleitoral brasileira que quem larga na frente no segundo turno da disputa presidencial, em geral, vence. Desde a redemocratização, a lógica se cumpriu. Essa constatação impregnou a campanha tucana de otimismo, mas as boas-novas não pararam por aí para o candidato que era dado como carta fora do baralho no primeiro turno e protagonizou uma das maiores viradas eleitorais da história recente – pulou de 19% para 33,5% em duas semanas. Durante os últimos dias, Aécio ampliou seu o leque de apoios no segundo turno. Em apenas uma semana, os tucanos foram reforçados pelo PSB, PV, PSC e PPS. Não quer dizer que os votos recebidos por essas legendas no primeiro turno serão transferidos automaticamente para Aécio, mas numa disputa parelha como a atual, a abertura de novos palanques pode fazer muita diferença no final. O gesto mais emblemático foi o do PSB. Aliado histórico do PT, o PSB optou por tomar um caminho oposto ao que vinha seguindo antes de romper com o governo no ano passado. Na quarta-feira 8, o partido declarou apoio à candidatura de Aécio Neves após reunião da executiva nacional, em Brasília. A decisão guarda relação com a campanha eleitoral de Dilma, a qual os dirigentes consideraram “caluniosa” contra a candidatura de Marina e Beto Albuquerque. Dos 29 integrantes que compareceram à reunião, 21 votaram a favor de Aécio, sete indicaram neutralidade e apenas um votou pelo apoio a Dilma Rousseff. Beto Albuquerque, ex-candidato a vice de Marina, já apostava nessa decisão tomada pela legenda. Ele, inclusive, telefonou ao tucano na terça-feira 7, quando Aécio estava em seu primeiro evento de campanha após a apuração dos votos. “Ver defeitos nos outros é um costume do PT. Sua conduta na campanha no primeiro turno foi uma conduta lacerdista de esquerda, que só soube nos ofender, mentir e nos caluniar desde o início”, disse. PALANQUES REFORÇADOS - Durante a semana, o tucano Aécio Neves recebeu apoio de Roberto Amaral, do PSB (topo), de Eduardo Jorge, do PV, do Pastor Everaldo, do PSC, e de Renata Campos, viúva de Eduardo Campos . Marina ainda não anunciou sua posição, mas sinaliza em favor do PSDB O PPS, de Roberto Freire, que estava coligado com o PSB, também assegurou presença na campanha de Aécio. “Nós temos que estar juntos com a candidatura de Aécio para combater o lulopetismo”, declarou Freire na terça-feira 7. O mesmo caminho foi seguido pelos ex-candidatos Pastor Everaldo (PSC) e Eduardo Jorge (PV). Em Pernambuco, Aécio também ampliou apoios. No Estado em que registrou o pior desempenho (6% dos votos), o tucano reforçará a campanha com os familiares de Eduardo Campos, herdeiros políticos do chamado Eduardismo, novo fenômeno estadual que conduziu Paulo Câmara ao triunfo no primeiro turno na disputa ao governo. No sábado 11, o tucano estará no Recife, onde se encontrará com a viúva de Eduardo, Renata Campos. 4#6 A RETOMADA DO TERRORISMO ELEITORAL Campanha de Dilma inicia o segundo turno como terminou o primeiro: espalhando o medo para tentar desconstruir seus adversários No primeiro turno da disputa presidencial, o PT e sua candidata Dilma Rousseff partiram para um aético vale-tudo para desconstruir a candidatura de Marina Silva (PSB). Na última semana, a presidenta e seu partido mostraram que agora a mesma receita será usada contra o tucano Aécio Neves, repetindo nos palanques e em seus programas de rádio e tevê o terrorismo eleitoral que recorre a mentiras e à manipulação dos fatos. Na quarta-feira 8, em comício no Piauí, Dilma disse que a volta do PSDB ao governo representa o fim do Bolsa Família e de todas as conquistas sociais obtidas nos últimos 12 anos. “Nós fizemos o Bolsa Família, construímos o Bolsa Família. Vem uma pessoa agora falar que vão fazer melhor o Bolsa Família, por que não fizeram antes?” No mesmo evento, realizado em um centro de convenções de Teresina, a petista afirmou que os tucanos também pretendem acabar com o Programa Mais Médicos e com o Minha Casa Minha Vida. São temas que amedrontam o eleitor, mas que não encontram respaldo na realidade. Antes mesmo de começar a campanha eleitoral, o senador Aécio Neves (PSDB-MG) apresentou projeto no Congresso Nacional que torna o Bolsa Família obrigatório por lei, deixando de ser um programa de governo para ser um programa de Estado. Portanto, não é verdadeira a afirmação de que uma provável vitória do tucano irá decretar o final do Bolsa Família. Dilma também esconde que o Bolsa Família, embora com números bem mais acanhados do que os atuais, teve origem no governo do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, e foi iniciado com os cadastros elaborados na gestão do PSDB. MENTIRAS - Em palanque no Piauí, Dilma diz que a provável vitória do PSDB pode acabar com as conquistas sociais Sobre o Mais Médicos e o Minha Casa Minha Vida, Aécio também já se manifestou publicamente. Disse que irá manter o programa habitacional e direcioná-lo para famílias com renda de até três salários mínimos. E quanto ao Mais Médicos, assegurou que irá mantê-lo, porém, com algumas modificações, principalmente em relação ao acordo feito com Cuba, cujo governo fica com boa parte do que deveria ser pago aos médicos. As mentiras disparadas visando atingir o PSDB começaram logo depois de conhecido o resultado do primeiro turno. Em uma sequência de mensagens postadas no Twitter, Dilma faz menção ao governo do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso e afirma que “o povo brasileiro não quer de volta aqueles que trouxeram o racionamento de energia”. O que a campanha da presidenta não informa é que um levantamento feito pelo Centro Brasileiro de Infra Estrutura (CBIE) revela que de janeiro de 2011, quando Dilma assumiu o governo, até fevereiro deste ano, o País registrou 181 apagões, sendo dez de grandes proporções. O último deles, em 4 de fevereiro, deixou mais de seis milhões de pessoas sem energia em 11 Estados. “A partir de 2001, já no fim do governo de FHC ficou evidente que o Brasil precisaria expandir o sistema de geração hidroelétrica, mas os governos do PT nada fizeram nesse sentido e estamos atuando sempre no limite”, afirma o físico José Goldemberg. Em outra mensagem postada no Twitter, os petistas afirmam que vão “melhorar a economia, mas sem desempregar ou fazer arrocho salarial”. O que eles não dizem é que foram nos últimos quatro anos, durante a gestão de Dilma, que a economia brasileira passou a acumular indicadores preocupantes, alta de inflação e crescimento pífio, o que efetivamente ameaça empregos e compromete o futuro. A petista também atenta contra os fatos quando diz que o PSDB “quebrou o País três vezes”. Não é verdade. O Brasil só declarou moratória em 1987, quando o ex-presidente José Sarney suspendeu o pagamento de uma dívida que superava os US$ 10 bilhões. Com FHC, em momento de crise internacional, o País recorreu a empréstimos no FMI – um deles feito a pedido do ex-presidente Lula que iria assumir o governo em janeiro de 2003. O PT diz que com o PSDB virão os apagões, mas nas gestões de Lula e Dilma boa parte dos brasileiros ficou no escuro pelo menos dez vezes “O terrorismo tem o objetivo de suscitar um sentimento de medo permanente na sociedade. Não tem limites ideológicos, religiosos ou étnicos e normalmente é usado para enfraquecer um inimigo político”, diz Renato Cancian, mestre em sociologia política. Mesmo no PT, há líderes que condenam fortemente a prática que vem sendo adotada pela campanha de Dilma. Um deles é o governador eleito de Minas, Fernando Pimentel. “Acredito que fazer uma campanha de ataques pode trazer um resultado contrário ao desejado”, afirmou Pimentel na segunda-feira 6. O mesmo tem dito Jaques Wagner, que conseguiu eleger seu sucessor para o governo da Bahia ainda no primeiro turno. Dilma afirma que Aécio pode acabar com o Bolsa Família, mas projeto do tucano pretende transformar o programa em lei, para que ninguém possa liquidá-lo 4#7 MUITO LONGE DAS JORNADAS DE JUNHO Eleição para o Congresso forma bancadas cujas bandeiras estão na contramão das manifestações que tomaram as ruas no ano passado. Nova correlação de forças fortalece figuras e práticas condenadas pela população Alan Rodrigues (alan@istoe.com.br) As eleições deste ano encerraram o último capítulo de um enredo iniciado a partir das manifestações que levaram milhares de pessoas às principais avenidas do País, em junho de 2013. O desfecho, no entanto, passou ao largo dos ecos das ruas. Durante as jornadas de junho, se convencionou que a população bradava contra os partidos, a polarização e um sistema político que estimulava o toma lá dá cá por verbas e cargos na administração pública. O alvo da ira dos manifestantes foi tudo o que as urnas chancelaram neste primeiro turno. As eleições presidenciais levaram para o segundo turno os dois partidos hegemônicos da política nacional nos últimos 20 anos, PT e PSDB. No pleito para o Congresso, o eleitor não só manteve a necessidade da negociação no varejo político, fragmentando o Parlamento que a partir do próximo ano terá 28 partidos representados, como impulsionou bancadas cujas bandeiras estão na contramão das manifestações populares de junho, como as chamadas bancadas da bala, a evangélica e a ruralista. “Isso é produto da alienação. Quem foi para a rua, em grande medida, foi pedindo mudanças. Mas sem ter uma liderança capaz de direcionar e coordenar (o movimento). Era ‘contra tudo o que está aí’”, lamenta o diretor do Diap, Antônio Augusto Queiroz. “O novo Congresso é, seguramente, o mais conservador desde a redemocratização”, afirma. No Legislativo que toma posse em fevereiro de 2015, emergem ou ganham força figuras que representam a velha política. Aos 56 anos de idade, 25 deles na política, o deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ), foi reeleito com 232.708 votos e já tem no horizonte uma nova disputa. Embora não goste de falar no assunto, o líder da bancada do PMDB é a aposta do partido para ocupar a presidência da Câmara em 2015, quando inicia o quarto mandato federal. Cunha foi o terceiro deputado mais votado do Estado e o campeão de votos do PMDB. Na noite do domingo 5, comemorou: “Aumentou o número dos meus patrões”, como se refere aos eleitores. “Tenho um forte eleitorado evangélico, que não me faltou. Mas perdi muitos votos para o Bolsonaro”, calcula. Jair Bolsonaro (PP) foi o deputado mais votado do Rio, com 464.572 votos. RETROCESSO - Desde a redemocratização, o Congresso nunca foi tão conservador como agora Suas principais bandeiras são a luta contra o aborto, contra o casamento gay e contra a legalização das drogas. “Há um segmento conservador que, ao vê-lo combatendo figuras mais progressistas, se identifica”, reconhece o cientista político e professor da PUC-Rio Ricardo Ismael. Fiel da igreja Sara Nossa Terra, Cunha mistura, nas redes sociais, a publicação de propostas e salmos na mesma medida. Na mesma toada do proselitismo religioso, o pastor Marcos Feliciano foi reeleito por São Paulo com quase 400 mil votos, o dobro do que ele obteve na eleição anterior. Nas manifestações do ano passado, de norte a sul do País, uma das principais bandeiras do protesto era “Fora, Feliciano”, o parlamentar que foi acusado de homofobia quando chegou à presidência da Comissão de Direitos Humanos da Câmara (CDHM). “A cada eleição há uma piora na qualidade da representação. Isso é muito triste, revoltante e acaba comprometendo a própria democracia. Demos um passo inacreditável para trás na representação da Câmara dos Deputados nesta eleição”, afirma a deputada federal Luíza Erundina, reeleita. Dos 513 parlamentares da Câmara, somente 43,58% dos mandatos foram renovados. A contabilidade eleitoral mostra que apenas 198 deputados federais são, de fato, novatos. Esse percentual é menor do que o verificado em 2010, que chegou a 46,4%. “Falta educação política”, entende Queiroz. A nova radiografia do Parlamento significa que o próximo presidente, seja Aécio (PSDB), seja Dilma (PT) deverá enfrentar dificuldades para aprovar propostas no Parlamento. A governabilidade ficará mais difícil. As negociações com cada um dos 28 partidos, mais complicadas. E as pressões por espaço num futuro governo, maiores. Mais uma vez, a velha e carcomida estrutura política brasileira se impôs sobre os clamores das ruas. 4#8 AS PESQUISAS DERROTADAS Os principais institutos não conseguiram captar as ondas formadas na reta final da eleição e os resultados das urnas desmentiram as previsões em muitos Estados. As pesquisas erraram ou o eleitor está mais volúvel? Ludmilla Amaral (ludmilla@istoe.com.br) A apuração das urnas, no domingo 5, surpreendeu a todos pela quantidade de divergências entre os resultados eleitorais e os índices detectados pelas pesquisas de intenções de voto nos dias antecedentes ao primeiro turno. A maioria dos institutos não conseguiu captar as “ondas” que se formaram na reta final das eleições, tanto na disputa presidencial como em boa parte das corridas estaduais. Os principais institutos atribuíram as falhas nos levantamentos às constantes mudanças de opinião do eleitor, que cada vez mais decide o seu voto às vésperas do pleito ou até mesmo no próprio dia da eleição. “A coisa é dinâmica. Um percentual significativo do eleitorado resolve o voto ou muda de última hora”, alega a diretora do Ibope, Márcia Cavallari. Mesmo que as explicações se mostrem plausíveis, a profusão de discrepâncias, neste primeiro turno, colocou não só o Ibope, como o Datafolha, os dois maiores institutos do País, na berlinda e os transformou em alvos de críticas nas redes sociais. Os levantamentos do Ibope divulgados nos 26 Estados e no Distrito Federal destoaram da apuração em nada menos do que 17 unidades da Federação, ou 66,66%. O instituto só conseguiu estimar corretamente o resultado das eleições para governador em dez Estados. De fato, a margem de acerto dos levantamentos fica prejudicada quando há um grande contingente do eleitorado disposto a decidir o voto apenas no último momento. Ocorre que, no caso da pesquisa envolvendo a disputa presidencial, o Ibope teve dificuldade em prever até as tendências de crescimento, como a do candidato do PSDB, Aécio Neves. O instituto Sensus foi o primeiro a identificar uma possível virada de Aécio sobre a candidata do PSB, Marina Silva, quando restava mais de uma semana para o pleito. Enquanto isso, o Ibope o manteve estacionado na casa dos 19% do dia 13 de setembro a 1º de outubro, período em que divulgou quatro levantamentos. Apenas na derradeira pesquisa do instituto, a ascensão do tucano foi identificada. Mesmo assim, Aécio, ao alcançar 33,5% dos votos, teve 4,55 pontos percentuais a mais do que a última simulação do Ibope. O Datafolha já registrava a curva ascendente de Aécio. Não chegou nem perto, no entanto, dos números finais – 7,55 de diferença. As divergências entre os resultados das pesquisas e aqueles expressos nas urnas não se limitaram às eleições presidenciais. Na Bahia e no Rio Grande do Sul, por exemplo, o placar final destoou completamente do aferido pelos levantamentos. Tarso Genro (PT) aparecia em primeiro nas intenções de voto dos gaúchos, com 36% contra 29% de Ana Amélia Lemos (PP) e os mesmos 29% de José Ivo Sartori (PMDB), segundo o Datafolha. No Ibope, os últimos números anunciados eram parecidos. Ao abrir as urnas no dia 5, Sartori surpreendeu ao aparecer em primeiro com 40% dos votos válidos. O peemedebista seguirá para o segundo turno contra Tarso Genro, que obteve 32,57%. Ana Amélia ficou em terceiro, com 21,79% dos votos válidos. Na Bahia, o resultado foi ainda mais inesperado. A última pesquisa divulgada pelo Ibope mostrou Paulo Souto (DEM) e Rui Costa (PT) empatados com 46% cada um. Em pesquisa anterior, Rui Costa tinha 27% e Souto, 43%. O cenário era de segundo turno. No final, deu Costa no primeiro, com 54,53% dos votos válidos, contra 37,39% de Paulo Souto. "A coisa é dinâmica. Um percentual significativo do eleitorado resolve o voto ou muda de última hora" Dois erros crassos em pesquisas entraram para a história das eleições. Em 1982, na disputa pelo governo do Rio, Leonel Brizola aparecia com apenas 2% das intenções de voto, mas nas urnas ele foi eleito com 34,2% dos votos, contra 30,6% de Moreira Franco. Em 1985, Fernando Henrique aparecia vitorioso em expressiva vantagem contra Jânio Quadros na corrida pela Prefeitura de São Paulo, mas o resultado foi diferente. Jânio venceu com 37,53%, comprovando que a única pesquisa à prova de erros é a da urna. 4#9 O PAÍS É UM SÓ Por que o discurso do "nós contra eles" que pretende dividir a população brasileira empobrece o debate e representa um retrocesso para a sociedade Josie Jerônimo (josie@istoe.com.br) Nas últimas campanhas eleitorais, o PT desenvolveu uma prática nem um pouco republicana ao tentar dividir o eleitor brasileiro entre os de primeira e os de segunda categoria, como se poder aquisitivo ou Estado natal pudessem ter pesos diferentes na hora do voto. Essa simplificação grosseira está longe de refletir a complexa organização social do Brasil, empobrece a discussão sobre os problemas nacionais e menospreza um dos principais atributos do País: a sua unidade. O recrudescimento desse discurso se deu durante o primeiro mandato de Lula, quando os petistas se viram ameaçados pelas denúncias do mensalão. Acuados pelas acusações, os petistas apostaram no discurso divisionista para não perder a eleição. Deu certo. Em 2006, Lula ganhou do governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, e, quatro anos depois, Dilma despachou o ex-ministro da Saúde José Serra. Nas duas ocasiões, prevaleceu o discurso das “elites” contra o “povo”, uma transposição para a realidade atual da velha luta de classes identificada por Karl Marx. Ao lançar mão dessa estratégia, os petistas tentam carimbar a oposição como inimiga das conquistas da população, como se eles fossem os únicos na história a formular políticas que beneficiaram o povo. A releitura da luta de classes, porém, não corresponde ao conceito concebido por Karl Marx, segundo avaliação do sociólogo e pesquisador da Unicamp Daniel Martins. O estudioso afirma que o PT se apropriou de outro fenômeno para confrontar o PSDB no ambiente político. “No Brasil existe preconceito de classe, de regiões. O PT se apropriou de manifestações de preconceitos e criou esse discurso. Mas existem inconsistências”, afirma Martins. Ele lembra, por exemplo, que entre os apoiadores do PT está a senadora Kátia Abreu (PMDB-TO), presidente da CNA. “Não faz sentido essa retórica que distorce o debate”, lamenta. De fato, levada para as ruas, essa divisão entre uma legenda dos ricos e outra dos pobres, uma agremiação que defende os interesses do Sul e outra que representa o Norte pouco acrescenta ao eleitor interessado em conhecer as propostas dos candidatos e contribui para um racha inconcebível na sociedade brasileira. ___________________________________________ 5# COMPORTAMENTO 15.10.14 5#1 ESTADO DE VIOLÊNCIA 5#2 O BRASILEIRO BRAÇO DIREITO DO PAPA 5#3 A MASMORRA DO CONDE DRÁCULA 5#1 ESTADO DE VIOLÊNCIA O que está acontecendo em Santa Catarina, que em apenas três semanas registrou 99 atentados, mesmo com a presença da Força Nacional de Segurança A onda de violência que tomou conta de Santa Catarina nas últimas semanas aterroriza os moradores do Estado, que estão sitiados. Apesar do reforço da Força Nacional de Segurança desde o sábado 4, que garantiu tranquilidade durante as eleições, novos ataques foram registrados nos dias seguintes à votação. Na madrugada da terça-feira 7, houve cinco ocorrências. Em Blumenau, um coquetel molotov destruiu um caminhão estacionado numa via pública e em Laguna, um veículo de passeio foi incendiado. Já em Chapecó, criminosos atearam fogo a uma sala da creche pública Jardim do Lago, enquanto nos municípios de Monte Alegre e Tubarão casas de policiais foram alvejadas. Ao todo, até a sexta-feira 10, a Polícia Militar catarinense contabilizava 99 ocorrências em 32 cidades. Três pessoas foram mortas durante as ofensivas – dois suspeitos de cometerem crimes e um ex-agente penitenciário, assassinado em Criciúma. PREJUÍZO - 41 ônibus já foram incendiados desde o início dos ataques em Santa Catarina Os ataques a ônibus, escolas, instalações públicas e casas de policiais tiveram início há três semanas, na sexta-feira 26. Segundo investigações da Polícia Militar, a ordem para as ações partiu de líderes de facções criminosas, entre elas o PGC (Primeiro Grupo Catarinense) – organização aos moldes do PCC (Primeiro Comando da Capital), de São Paulo, detidos em penitenciárias de Santa Catarina. Para conter os ataques, a Força Nacional de Segurança deslocou mais de 40 soldados para o Estado e transferiu 21 presidiários identificados como mandantes dos crimes para o Presídio Federal de Porto Velho, em Rondônia. Na quarta-feira 8, os militares, em parceria com a Polícia Rodoviária Federal, começaram a instalar bloqueios nas divisas de Santa Catarina com o Paraná e o Rio Grande do Sul, com o objetivo de impedir a entrada de armas, drogas e dinheiro ilegal no Estado. Já a Polícia Militar reduziu as escalas de trabalho dos agentes e colocou nas ruas parte do efetivo que trabalhava no setor administrativo. Até a sexta-feira 10, 52 suspeitos haviam sido presos e 17 menores apreendidos. Essa não é a primeira vez, entretanto, que a população catarinense sofre com a ação em massa de bandidos. Entre 2012 e 2013, houve mais de 182 atentados criminosos em 54 cidades da região. Na época, o PGC reivindicou a autoria dos ataques e justificou as ações como uma forma de cobrar melhorias no sistema prisional do Estado. Eles alegavam sofrer tortura dentro das penitenciárias. Agora, integrantes de facções criminosas declararam, através de bilhetes e mensagens divulgadas em redes sociais, que os novos ataques são uma resposta às operações da polícia catarinense, que se intensificaram neste ano. “Fizemos um trabalho extraordinário na segurança pública e o que está acontecendo é fruto desse enfrentamento”, afirmou o governador reeleito de Santa Catarina, Raimundo Colombo (PSD), durante encontro com o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, na terça-feira 7. Tanto Colombo, quanto a Polícia Militar catarinense, porém, defendem que a onda de violência está arrefecendo. “Desde a transferência dos presos para Rondônia, já notamos uma diminuição no número de ataques”, disse à ISTOÉ a tenente-coronel Claudete Lehmkuhl, chefe de comunicação da PM. “Mas a polícia militar continuará enfrentando a situação com mão forte”, disse. É o que esperam os mais de seis milhões de habitantes do Estado com o sexto maior PIB do País. 5#2 O BRASILEIRO BRAÇO DIREITO DO PAPA Presidente do Sínodo da Família, em Roma, cardeal Damasceno mostra um discurso em sintonia com Francisco e defende a acolhida dos casais gays Rodrigo Cardoso (rcardoso@istoe.com.br) A reunião de cerca de 200 bispos e cardeais do mundo todo convocada pelo papa Francisco de forma extraordinária, que acontece no Vaticano desde o domingo 5 até sábado 18, é considerada o evento mais importante desse pontificado. Não é para menos. O Sínodo Extraordinário sobre a Família toca em temas até então espinhosos para a Igreja Católica, como segunda união de fiéis divorciados, união homossexual e métodos contraceptivos, entre outros assuntos. Para estar ao seu lado na condução dos grupos de discussão, polêmicos e antagônicos desde antes de a reunião começar, Bergoglio nomeou três cardeais – e chamou-os de “presidentes”. Entre eles, o brasileiro dom Raymundo Damasceno de Assis, 77 anos, arcebispo de Aparecida (SP), presidente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) e membro, até então discreto, da hierarquia católica brasileira, cuja divisão entre progressistas e conservadores é histórica. TRABALHO - Dom Damasceno e Francisco durante reunião: o arcebispo conquistou o papa Desde que foi visto sentado ao lado do recém-escolhido papa, em 13 de março de 2013, no ônibus que levava os cardeais para a residência-dormitório ao fim do conclave que aclamou o cardeal de Buenos Aires, dom Damasceno está cada vez mais próximo do líder dos católicos. Eles estiveram juntos em algumas ocasiões, como em encontros do Conselho Episcopal Latino-Americano (Celam). Mas a relação se estreitou desde o ano passado. Na visita do papa ao Brasil, ele esteve em Aparecida, diocese de Damasceno. Lá, o cardeal pediu para que Francisco olhasse para a causa do beato jesuíta José de Anchieta, canonizado em abril deste ano. Para especialistas, a Igreja não pode deixar de dar projeção ao Brasil, maior país católico do mundo. Era preciso que um cardeal brasileiro ocupasse uma posição de proa dentro da instituição nesse momento delicado. Uma das reconhecidas capacidades de dom Damasceno é a de estar no lugar e na hora certos. “Ele é prudente, moderado, e foi escolhido por ser o presidente da conferência episcopal católica de maior importância hoje”, diz o sociólogo Luiz Alberto Gomes de Souza, diretor do Programa de Estudos Avançados em Ciência e Religião da Universidade Cândido Mendes. Durante o Sínodo da Família, Francisco pediu que os participantes expusessem os pontos de vista e fossem transparentes. Segundo os vaticanistas, o que está em jogo neste encontro não é a doutrina. O argentino pretende abordar as posturas práticas, adotadas nas paróquias, no corpo a corpo com os fiéis que caminham fora da tradição católica, como os divorciados e gays. Para o sociólogo da religião Francisco Borba, da Pontifícia Universidade Católica (PUC), de São Paulo, de nada adianta permitir, por exemplo, que casados em uma segunda união comunguem se, dentro do templo, eles ouvirem um burburinho ao redor ou se o padre os receber com má vontade. “A acolhida, o amor e o perdão têm de se tornar evidentes. E isso não acontece”, diz. “Se der respostas satisfatórias a temas relativos à sexualidade e ao matrimônio de modo que elas sejam absorvidas por autoridades católicas e fiéis, esse Sínodo será histórico.” MUDANÇA - O Sínodo da Família pode alterar a forma como a Igreja trata católicos divorciados e gays Ainda não dá para prever se esse encontro resultará em alguma abertura da Igreja – até porque as resoluções só serão divulgadas em uma nova reunião, no ano que vem. Certo é que Bergoglio não é um soldado disposto a evangelizar ou condenar alguém a flechadas de evangelho. Diante desse contexto, posições assumidas por importantes autoridades católicas já acenam, aparentemente, para uma boa vontade em alguns assuntos. Cardeal primaz da Hungria, Peter Erdö, relator do Sínodo a quem Francisco tem em alta conta, afirmou que os divorciados em segunda união fazem parte da Igreja e sugeriu avaliar o modelo da Igreja Ortodoxa, que permite um segundo ou terceiro matrimônios. Estuda-se, ainda, a ideia de facilitar o processo de declaração de nulidade do matrimônio, com a criação de tribunais diocesanos. “Pode haver mais amor cristão em uma união irregular do que em um casal casado pela Igreja”, diz o padre jesuíta espanhol Adolfo Nicolas, superior-geral da Companhia de Jesus, ordem do argentino Bergoglio. Ficou evidente que a prática dos cristãos não se prende à cartilha católica. As respostas dadas ao questionário que o Vaticano enviou às dioceses espalhadas pelo mundo no ano passado, como preparação para esse encontro, levaram para dentro da Igreja essa realidade. Se antes as percepções da Santa Sé partiam em grande parte de reflexões teológicas e eclesiásticas, agora, com os dados sociológicos e as respostas dos fiéis sobre a mesa, o confronto com a realidade se tornou inadiável. Mas alguns continuam resistentes a mudanças. Reunido com seus pares, em Roma, o cardeal-arcebispo de São Paulo, dom Odilo Scherer, reforçou que a Igreja deve se manter fiel ao evangelho. “As posições da Igreja nem sempre podem amoldar-se aos costumes correntes, sobretudo quando neles há contradições com o evangelho de Cristo”, diz. “Nesses casos, é a Igreja que convida à conversão e a mudar os costumes.” Liderando as discussões, e aparentemente mais sintonizado com as posições do papa Francisco, dom Damasceno afirmou, em discurso introdutório da sessão que discutiu situações familiares difíceis, na quarta-feira 8, que “a Igreja é a casa paterna, que deve acolher uniões homossexuais”. Não à toa é o brasileiro mais próximo do papa atualmente. 5#3 A MASMORRA DO CONDE DRÁCULA Arqueólogos descobrem local na Turquia onde o príncipe que inspirou o mais famoso dos vampiros teria sido mantido refém durante sua juventude, no século XV Raul Montenegro (raul.montenegro@istoe.com.br) Um vampiro, conhecido como o senhor das trevas, que mora num castelo, no topo de uma colina na Transilvânia. Essa imagem que livros e filmes cristalizaram há mais de cem anos sobre o Conde Drácula está sendo derrubada por um grupo de arqueólogos turcos. Eles descobriram recentemente, em Tokat, no norte da Turquia, durante o trabalho de restauração das ruínas de um castelo, a masmorra onde acreditam que Drácula foi mantido refém durante a sua juventude, em meados do século XV. O mais famoso dos vampiros não passa de um personagem literário criado pelo escritor irlandês Bram Stoker, em 1897. O autor, porém, se inspirou numa figura histórica real, que nunca foi conde, mas príncipe da Valáquia (uma região da Romênia). Vlad III recebeu a alcunha de Drácula (“o filho do dragão”) por ser herdeiro de um governante local autoproclamado Dracul (“o dragão”), membro de uma ordem de cavalaria chamada Ordem do Dragão. Para mostrar subserviência ao Império Otomano, o pai enviou seu descendente e o irmão mais novo ainda crianças para a Turquia. Agora, pesquisadores do país afirmam que eles ficaram no castelo de Tokat e que a descoberta de duas masmorras e um túnel escondido comprova isso. “As salas foram construídas como prisões. É difícil estimar em qual delas Drácula foi mantido, mas ele esteve por aqui”, afirmou o arqueólogo ?brahim Çetin, que trabalha na escavação. FICÇÃO - O ator húngaro Bela Lugosi interpreta o vampiro Conde Drácula em filme de 1931. Surgido na literatura, o personagem ganhou notoriedade nas telas de cinema Está comprovado que Drácula passou cerca de seis anos na Turquia, antes de voltar à Valáquia após a morte do pai e do irmão mais velho. Foi quando se virou contra os otomanos e ganhou o apelido de Vlad Tepes (“o empalador”) pelo hábito de enfiar uma estaca no ânus dos opositores derrotados para inspirar terror. Ele foi considerado um tirano sanguinário pelos inimigos, mas até hoje é visto como herói pelos romenos. Especialistas, no entanto, não têm certeza dos lugares por onde passou quando jovem. Tratando-se de um nome capaz de atrair turistas e dinheiro, novos achados são sempre bem-vindos. Em junho, um grupo de historiadores disse ter encontrado a tumba onde o príncipe estaria numa igreja da Itália. A maioria dos acadêmicos acredita que Drácula morreu numa emboscada durante uma batalha em 1476 e que seu corpo foi enterrado num local sem ornamentos ou num monastério próximo. Já os historiadores que sustentam a tese da tumba italiana dizem que ele foi capturado vivo e enviado para Nápoles após o pagamento de um resgate. A versão é fascinante, porém fantasiosa, pois as supostas evidências encontradas carecem de consistência histórica. REALIDADE - Ruínas do castelo de Tokat, Turquia, onde arqueólogos acreditam ter encontrado a masmorra onde o príncipe romeno Vlad Tepes Drácula foi mantido refém na juventude Diretor da Secretaria de Cultura e Turismo de Tokat, Ali Uçar garante que Vlad passou quatro anos ali, entre 1443 e 1447, e que pretende construir um museu dedicado à sua memória após os trabalhos de restauração. “Nenhum objeto dele foi encontrado, mas documentos históricos indicam que Drácula foi prisioneiro aqui”, afirma. Ileana Cazan, diretora do Instituto de História Nicolae Iorga, na Romênia, contesta a tese. “Tudo sobre o forte de Tokat é pura especulação. Se ele esteve lá não foi como prisioneiro, preso em masmorras ou túneis secretos. Ele tinha certa liberdade e era tratado como um príncipe.” Autor de um livro sobre a história do personagem, o britânico M.J. Trow contemporiza a discussão. Ele diz que o jovem Vlad de fato era tratado como um hóspede de honra do sultão, mas que justamente por isso pode ter permanecido no castelo de Tokat. “Pelo modo como ele foi mantido, ele pode ter se movido entre diferentes lugares. Podia sair para caçar, por exemplo; então é possível que tenha estado em muitos locais.” Até que mais investigações históricas sejam feitas, a resposta para o mistério permanecerá, como o próprio senhor das trevas, encoberta em sombras. ___________________________________________ 6# MEDICINA E BEM-ESTAR 15.10.14 O EBOLA ROMPE FRONTEIRAS Depois de chegar aos EUA e à Espanha, o vírus coloca em teste pela primeira vez o esquema de proteção montado no Brasil Cilene Pereira (cilene@istoe.com.br) e Mônica Tarantino (monica@istoe.com.br) O temor que toma conta do mundo com a proliferação do vírus ebola se tornou mais intenso na semana passada no Brasil. Na quinta-feira 9, o País registrou o primeiro caso suspeito da doença. Trata-se de Souleymane Bah, 47 anos, solteiro, que veio da Guiné – um dos países mais atingidos pela epidemia que assola a África. Ele deixou a capital de seu país, Conacre, no dia 18 de setembro, passou pelo Marrocos e, no dia 19 de setembro desembarcou no Aeroporto Internacional de Guarulhos, em São Paulo. De lá, seguiu para a Argentina. Depois foi para Dionísio Cerqueira, em Santa Catarina, onde pediu refúgio político à Polícia Federal. Acabou chegando a Cascavel, no interior do Paraná, onde ficou hospedado em uma casa com mais dois casais. Na tarde da quarta-feira 8, teve febre, tosse e dor de garganta. Procurou ajuda no posto de atendimento básico do município paranense, onde permaneceu em isolamento até ser transferido, na madrugada da sexta-feira 10, para o Instituto Nacional de Infectologia Evandro Chagas, no Rio de Janeiro. A instituição é um dos serviços de referência do País preparados para o atendimento de doenças infecciosas. Na sexta-feira 10, Bah não tinha mais febre e uma suspeita de malária havia sido descartada. Equipe do instituto Evandro Chagas, no Rio de Janeiro, mantém-se protegida durante o transportede Souleymane. Ele veio da Guiné e tornou-se o primeiro caso suspeito no país A ocorrência que deixou o País em alerta na verdade é parte da evolução de uma epidemia que, sabia-se desde seu início, não ficaria restrita ao continente africano. Há tempos a Organização Mundial de Saúde vem alertando os países para preparem esquemas de contenção do vírus, já que há intenso tráfego internacional de viajantes registrado hoje pelo mundo. A confirmação de que o cuidado se justifica apareceu quando os Estados Unidos registraram seu primeiro caso de ebola. O liberiano Thomas Duncan, 48 anos, chegou ao País para participar da formatura do filho e acabou morrendo na quarta-feira 8, em Dallas. Na semana passada, foi a vez de a Espanha ter seu primeiro caso. O vírus contaminou a enfermeira Teresa Romero, que havia cuidado do padre Manuel Viejo, infectado na África, transferido para um hospital em Madrid e morto dias depois. Todos esses casos estão servindo para colocar em xeque os esquemas de proteção montados pelas nações. Nos EUA, ficou patente que ele falhou, e por causa de erros grotescos. Ao sentir-se mal, Eric procurou o hospital e relatou que havia chegado da Libéria, outro país que está no epicentro da epidemia, junto com Serra Leoa. Mas a informação não foi repassada ao médico e o liberiano acabou liberado. Voltou três dias depois, quando a doença se agravou. Na Espanha, ao que parece também houve falha preocupante. A enfermeira teria se infectado depois de tocar o rosto com a mão coberta pela luva com a qual havia manuseado o padre. O episódio mexeu com os profissionais de saúde espanhóis, que exigiram a demissão da ministra da Saúde, Ana Mato. FALHA - A enfermeira espanhola Teresa infectou-se pelo vírus No Brasil, pelo menos à primeira vista, o atendimento de Souleymane Bah seguiu o que ditam as normas de segurança nestes casos. Ao serem informados da procedência do guineense e de que tivera sintomas, apesar de estar assintomático no momento do exame, ele foi prontamente isolado e uma equipe do Evandro Chagas foi enviada imediatamente ao local. Durante o contato com o paciente, os profissionais usaram as vestimentas indicadas, protegendo corpo e rosto. Seu transporte até o aeroporto de onde seguiu para o Rio de Janeiro foi feito em ambulância do Samu preparada especialmente para isso. O mesmo ocorreu no avião da FAB que o transportou para o Rio de Janeiro. Nele, a tripulação também estava protegida. Já na capital fluminense, foi levado para o Evandro Chagas em ambulância especial. As amostras de sangue só foram coletadas dentro da instituição carioca, onde havia mais segurança no seu manuseio. Como o previsto, elas foram enviadas para o Pará, a uma unidade do Instituto Evandro Chagas que será a responsável pela análise do material coletado de casos suspeitos – trata-se de um laboratório de nível de segurança 3, o que significa que dispõe de um dos mais seguros sistemas de proteção contra eventuais acidentes no manuseio de vírus e bactérias. Até o início da tarde da sexta-feira 10, tinham sido identificadas 64 pessoas que haviam tido contato com Bah após a manifestação da febre. “Antes do aparecimento dos sintomas não há risco de transmissão”, disse Jarbas Barbosa, secretário de Vigilância em Saúde, do Ministério da Saúde. Elas serão monitoradas durante 21 dias (período de incubação do vírus), mas eram consideradas de baixo risco. _________________________________________ 7# ECONOMIA E NEGÓCIOS 15.10.14 7#1 O BOOM DOS OUTLETS 7#2 PLANO DE SAÚDE PARA ANIMAIS DE ESTIMAÇÃO 7#1 O BOOM DOS OUTLETS Com a ampliação do mercado consumidor, surgem em todo o País empreendimentos que vendem roupas de marca a preços camaradas fora dos grandes centros Luisa Purchio (luisapurchio@istoe.com.br) A relativa inveja que os brasileiros sentem ao mirar os outlets internacionais parece estar com os dias contados. A exemplo do que acontece em cidades como Miami e Orlando, pavilhões com estacionamentos amplos, ligeiramente afastados dos grandes centros comerciais e com roupas e bolsas de marcas de sucesso como Calvin Klein, Michael Kors e Kipling a preços baixos estão desembarcando com força no Brasil. No sábado 18, será inaugurado Catarina Fashion Outlet, do grupo JHSF, em São Roque, a 69 quilômetros de São Paulo, que terá marcas como Burberry, Cris Barros e Tory Burch. Será o primeiro que deverá estar integrado a um aeroporto executivo, também erguido pelo grupo, com inauguração prevista para 2016. PIONEIRO - Outlet Premium, inaugurado em 2009 em Itupeva (SP): fila para abertura de novas lojas A expansão desse modelo ocorre em todo o País. Empresas líderes do setor de shopping centers viram nos outlets uma grande oportunidade de negócios. O Platinum Outlet, inaugurado pelo grupo Iguatemi há um ano em Novo Hamburgo (RS) fatura mensalmente R$ 2 mil por metro quadrado – um ganho total de mais de R$ 20 milhões por mês. Dois novos outlets deverão entrar em funcionamento até 2016 e quatro novos destinos estão sendo avaliados. “Em até cinco anos, pretendemos que os recursos provenientes de outlets representem 10% do total da receita do grupo”, diz Sergio Zukov, diretor de operações sul e de outlets da Iguatemi Empresa de Shopping Centers. O consumidor só tem a comemorar, pois para integrar a maioria desses empreendimentos os lojistas devem se comprometer a oferecer descontos de 30% a 70% sobre o preço dos produtos encontrados nas lojas tradicionais. MAIS CONSUMIDORES - O Platinum Outlet, do grupo Iguatemi, funciona há um ano em Novo Hamburgo (RS) É a segunda vez que os outlets tentam se firmar no País. Na década de 1990, oito projetos surgiram no Brasil, mas não decolaram. Além dos próprios lojistas falharem na implementação do modelo, a alta taxa de juros e a inflação prejudicavam os negócios. Com a atual política econômica de estímulo ao consumo e mais acesso ao crédito, o cenário ficou mais favorável aos lojistas. Um dos primeiros dessa nova leva foi o Outlet Premium, inaugurado em junho de 2009 em Itupeva, a 72 quilômetros da capital paulista, pelo grupo General Shopping, uma das empresas líderes de gestão de Shopping Centers. “Foi difícil atrair os lojistas no início”, conta o diretor de marketing e varejo Alexandre Dias. “Na época tinha-se a ideia de que o outlet não funcionava no Brasil.” O empreendimento fez sucesso e hoje tem fila para abertura de loja e um crescimento de 37,5% do número de visitantes anuais. As roupas masculinas Brooksfield, as mochilas Kipling e as bolsas Coach também serão em breve comercializadas no local. A General Shopping possui três outlets – em São Paulo, na Bahia e em Goiás – e oito empreendimentos devem ser lançados até 2016. O atual sucesso dos outlets se deve ao bem-sucedido casamento entre lojistas, empresas de shopping center e consumidores. De um lado, há uma classe econômica em ascensão familiarizada ao modelo internacional de malls, que deseja consumir marcas conceituadas, mas nem sempre pode pagar os altos preços cobrados nas lojas tradicionais. De outro, as empresas construíram os espaços em locais relativamente próximos do consumidor, mas suficientemente longe dos altos custos de um estabelecimento de shopping em grandes metrópoles. E os lojistas aprenderam a lidar com esse tipo de comércio. “O que mais pesa no sucesso é oferecer a grade completa de produtos aos clientes”, afirma Maurício Morgado, professor do Centro de Excelência em Varejo da Fundação Getulio Vargas (FGV). “Para isso, é preciso fabricá-los ou importá-los já pensando no que será vendido nos outlets”, diz ele. Nichos específicos também começam a surgir. É o caso do Casa Outlet Shopping, o primeiro a abrigar prestigiadas lojas de design de interiores. Localizado em Taboão da Serra, na Grande São Paulo, o empreendimento deve ser inaugurado em breve. Apesar dos baixos resultados apresentados pelo varejo desde janeiro, o modelo de outlets costuma resistir bem às crises financeiras. “Os centros acabam recebendo mais mercadorias que não são vendidas nas lojas principais, o que é um impulso a curto prazo”, afirma Arnaldo Kochen, responsável pela comercialização e implantação do CasaOutlet e diretor da Kochen Consultoria e Participações. “A longo prazo, porém, os baixos resultados econômicos do Brasil podem ser muito ruins, pois as empresas acabam se adaptando. E produzem menos”, diz ele. 7#2 PLANO DE SAÚDE PARA ANIMAIS DE ESTIMAÇÃO Contratar um seguro de saúde pode ser uma boa opção, sobretudo para pets idosos que requerem mais tratamentos e cuidados Luisa Purchio (luisapurchio@istoe.com.br) Quem tem um animalzinho de estimação sabe o quanto os pets logo se transformam em um ente querido da família. Mas, além de fazer companhia, os bichos exigem cuidados que podem custar caro ao bolso, sobretudo quando ficam idosos e com a saúde mais frágil. “Se ele estiver doente, deve passar no mínimo duas vezes por ano no veterinário e fazer todos os exames”, afirma Thomas Faria Marzano, veterinário e presidente da Sociedade Paulista de Medicina Veterinária. “As consultas variam de R$ 30 a R$ 250 e os exames diagnósticos podem chegar a R$ 500”, afirma Marzano. De olho no nicho de saúde para pets, novas empresas surgiram para oferecer planos de saúde para cães e gatos, com preços mensais que variam de R$ 60 a R$ 300 por mês – conforme o animal e a cobertura que deseja contratar. “É uma modalidade que está crescendo, com executivos que vieram de companhias que comercializam planos de saúde para pessoas”, afirma Nelo Marraccini Neto, vice-presidente de comércio e serviços do Instituto Pet Brasil. ________________________________________ 8# MUNDO 15.10.14 8#1 MORALES E O POPULISMO DE RESULTADOS 8#2 UM BOM EXEMPLO 8#1 MORALES E O POPULISMO DE RESULTADOS As previsões são de que o presidente boliviano seja reeleito para um terceiro mandato, e as relações com o Brasil, estremecidas desde a fuga do senador boliviano para o País, devem ser retomadas Eliane Lobato (elianelobato@istoe.com.br) e Helena Borges (helenaborges@istoe.com.br) Se os institutos de pesquisa da Bolívia estiverem certos sobre a intenção de voto para presidente, o atual governante Evo Morales, 54 anos, se reelege, com folga, para um terceiro mandato de cinco anos no pleito deste domingo 12. As últimas medições indicavam 59% dos votos para ele, contra 18% do empresário Samuel Doria Medina e 9% do ex-presidente Jorge Quiroga. Também está previsto que ele consiga, graças ao efeito de suas práticas populistas, maioria absoluta no Congresso. É um fato importante para a realização dos novos desafios que Morales pretende enfrentar, como avançar na industrialização e colocar o país como um centro energético nos próximos anos, inclusive dando início a um programa nuclear civil com fins pacíficos e investimento de US$ 2 bilhões até 2025. PLEITO - A eleição será no domingo 12. Morales está com 59% das inteções de voto e o ex-presidente Jorge Quiroga tem 9%, segundo as pesquisas O pleito na Bolívia acontece duas semanas antes do segundo turno das eleições brasileiras. Seja quem for o vencedor no Brasil, os especialistas acham que não haverá mudanças drásticas no aspecto econômico na relação entre os dois países. Nenhum dos candidatos bolivianos pensa em voltar atrás na polêmica estatização dos hidrocarbonetos, que prejudicou a Petrobras, capitaneada por Morales em seu primeiro mandato. “O Brasil continuará sendo o maior importador de gás da Bolívia e os investimentos da Petrobras em infraestrutura naquele país não devem ser afetados, até porque são controlados por contratos internacionais”, diz o cientista político Rafael Antonio Villa, coordenador-adjunto do Comitê de Ciência Política e Relações Internacionais da Capes. Do ponto de vista político, porém, há diferenças. Existe mais identidade entre Morales e a presidente Dilma do que entre o governante boliviano e o tucano Aécio Neves. As relações bilaterais estão estremecidas desde que o senador boliviano oposicionista Pinto Molina, que estava refugiado na embaixada brasileira naquele país, fugiu para o Brasil com a ajuda e na companhia do diplomata Eduardo Saboia, atualmente afastado do Ministério das Relações Exteriores. O professor da Universidade de São Paulo e membro do Conselho Superior do Instituto de Estudos Internacionais e de Desenvolvimento (IHEID), Jacques Marcovitch aposta numa reaproximação a partir de 2015. “Uma eventual mudança de governo no Brasil contribuiria para uma solução do contencioso e a reintegração do diplomata Saboia”, diz ele. Já Villa acredita que Dilma teria mais interesse em refazer os laços. “Aécio não considera a relação com os países da América do Sul tão relevante quanto com os Estados Unidos”, diz ele. A prevista reeleição de Morales é resultado do crescimento econômico recorde em seus nove anos de governo, em duas administrações anteriores, e reconhecido por instituições como o Fundo Monetário Internacional e o Banco Mundial, depois de a Bolívia passar décadas no topo da lista de nações mais pobres da América Latina. O país andino reduziu a pobreza extrema de 28% para 18%, mas continua a enfrentar problemas gravíssimos como a corrupção generalizada, a exploração de mão de obra infantil e a superlotação carcerária. 8#2 UM BOM EXEMPLO Raros são os políticos dispostos a abdicar do poder diante da impossibilidade de levar adiante suas ideias. Foi o que fez Alberto Ruiz-Gallardón, ministro da Justiça da Espanha até duas semanas atrás, após o presidente Mariano Rajoy retirar do parlamento o projeto de reforma na legislação do aborto para dificultar a sua realização. A proposta era um compromisso eleitoral do Partido Popular (PP), e modificava uma lei de 2010 aprovada na administração de José Luis Zapatero. Eram tantas as resistências na sociedade e entre os próprios parlamentares que Rajoy decidiu recuar e optou pela retirada do projeto. Gallardón, que havia feito sua razão de ser no governo lutar por essa porposta, considerou então encerrada sua missão, não só no Ministério da Justiça, mas na vida pública. Depois de 30 anos na política, renunciou também ao seu mandato e saiu com elegância, diferentemente de alguns de seus pares que culpam os outros por seus fracassos ou esquecem suas convicções para manterem seu naco de poder. “É minha obrigação. Não estou saindo sob pressão, mas porque não fui capaz de cumprir minha tarefa”, disse, diante das câmeras de tevê. “Não sou dos que procuram desviar responsabilidades. A responsabilidade desse projeto é minha e quem tem de se demitir por não ter conseguido levá-lo adiante sou eu.” O ex-ministro pediu desculpas ainda aos seus adversários políticos no caso de eles terem se sentido tratados de forma injusta. Gallardón afirmou que nunca quis fazer ataques pessoais e, sim, manter-se no espaço do debate político. Advogado de formação, ele terá de aguardar um período de quarentena para voltar a exercer sua profissão. Um bom exemplo, porém, já deixou. ___________________________________________ 9# CULTURA 15.10.14 9#1 LIVROS - MARTIN LUTHER KING POR ELE MESMO 9#2 CINEMA - CINEMA DA CRISE 9#3 LIVROS - UMA ALICE PARA ADULTOS 9#4 EM CARTAZ – CINEMA - A LUZ, SEGUNDO WALTER CARVALHO 9#5 EM CARTAZ – CINEMA 2 - INFÂNCIA PERDIDA 9#6 EM CARTAZ – LIVRO - ALÉM DA GRANDE MURALHA 9#7 EM CARTAZ – BLU-RAY - ONDE OS FRACOS NÃO TÊM VEZ 9#8 EM CARTAZ – CD - CANÇÕES DE AMOR E ÓDIO 9#9 EM CARTAZ – AGENDA - BRINQUEDOS/ERASMO/TEMPO 9#1 LIVROS - MARTIN LUTHER KING POR ELE MESMO Livro com arquivos inéditos deixados pelo maior líder da luta pelos direitos civis nos EUA mostra que por trás dos discursos que encorajaram o movimento havia um homem ressentido, cansado dos inimigos e à beira de desistir da causa que lhe custou a vida Ana Weiss (ana.weiss@istoe.com.br) Rosa Parks, costureira de uma loja de departamentos de Montgomery, rumava para o trabalho numa manhã de dezembro, em um assento reservado aos negros no ônibus municipal. Convocada a ceder o lugar a um homem branco, a senhora Parks quebrou anos de cumprimento silencioso das leis de segregação dos Estados Unidos e se negou a levantar. Em 1955, em cidades do sul do país da liberdade considerava-se um despropósito um negro não se levantar para um branco se sentar em qualquer lugar que fosse (no ônibus era lei), como hoje não se espera que uma partida de futebol pare por causa de ofensas racistas da torcida. Mas a costureira preferiu a delegacia a ceder o lugar. No dia de seu julgamento e nos 381 dias que sucederam a sentença de culpa da costureira, os negros da cidade não puseram os pés nos ônibus, levando as empresas de transporte quase à bancarrota. O jovem pastor Martin Luther King Jr. havia acabado de chegar ao município para assumir a igreja batista local quando recebeu o telefonema do amigo E.D. Nixon, que pagara a fiança de Rosa Parks, sugerindo o boicote ao transporte municipal, assumindo, assim de sopetão, a liderança do primeiro movimento social de sua vida. 200 MIL - Acima, a passeata que ficou conhecida como marcha sobre Washington (1963) reuniu mais de 200 mil pessoas em frente ao Memorial Abraham Lincoln, na capital americana. Abaixo, a soprano Coretta King, viúva e herdeira da liderança pelos direitos dos negros No livro do historiador Clayborne Carson, da Universidade de Stanford, que chega agora ao Brasil pela Zahar, mais de uma centena de páginas de memórias, diários, cartas, gravações e transcrições de encontros inéditos deixadas por Luther King mostram como foi quase por um acaso que o Nobel da Paz de 1964 se tornou a maior voz dos direitos civis nos EUA. Carson, diretor do King Papers Project – daí o acesso privilegiado aos documentos –, reconta toda a trajetória da liderança nascida com o episódio da costureira desobediente, livre do filtro que King precisava para não diminuir com perplexidades e hesitações a função encorajadora de seus famosos discursos e para não fazer mais inimigos do que já tinha. Em anotações particulares reproduzidas na íntegra podem se ver com clareza os cortes do exímio orador sobre o que não gostaria que seus seguidores soubessem. Luther King esteve perto de desistir da incumbência de resolver a desigualdade racial dos Estados Unidos, mais de uma vez – e não sem motivos, como a narrativa deixa igualmente claro. APEDREJAMENTO - Ao pedir o cessar-fogo no Vietnã do Norte em 1965, Martin Luther King foi atacado por opositores e aliados na luta contra a segregação racial. Ambos os lados o acusavam, pela imprensa, de estar cuidando de uma causa que não lhe dizia respeito Um tom premonitório de despedida marca as últimas páginas do diário de King. “A vida é uma história contínua de sonhos destruídos”, escreveu ele poucos dias antes de ser assassinado em um quarto do Hotel Lorraine, em Memphis. “Mahatma Gandhi atuou anos e anos pela independência de seu povo. Foi assassinado e morreu de coração partido, pois a nação que desejava unida acabou dividida entre Índia e Paquistão.” Ou ainda, sobre Paulo, um dos apóstolos de Cristo: “Seu maior sonho era conhecer a Espanha, levar para lá o evangelho. Nunca chegou à Espanha. Acabou numa prisão em Roma.” O que mais impressiona no texto tão embebido pelo sentimento de descrença é que dele foi extraída uma das mais conhecidas peças de esperança de Luther King, a sua última fala pública. Chamou de “Sermão do Topo da Montanha” o discurso emocionante que datilografou um dia antes de ter a vida encerrada com um tiro no rosto, incendiando as ruas do país. “Nada me preocupa. Não temo nenhum homem”, escreveu ele, no quarto da pensão para negros do Tennessee. 9#2 CINEMA - CINEMA DA CRISE Chega ao Brasil uma onda de filmes espanhóis que retratam as mazelas econômicas e sociais do país europeu nos últimos tempos Daniel Solyszko (daniel@istoe.com.br) Embora tenha revelado um grande número de importantes diretores ao longo da sua história, o cinema espanhol nunca chegou a constituir um movimento com ideias e propostas específicas, como a nouvelle vague francesa ou o neorrealismo italiano. Seguindo uma constante segundo a qual cinematografias de diferentes países são impulsionadas por momentos de crise econômica, a recente produção espanhola deve reverter esse quadro. Principal destaque da Mostra de Cinema de São Paulo deste ano, o Foco Espanha reúne filmes clássicos e contemporâneos. Autor do cartaz oficial do evento, o cineasta Pedro Almodóvar é o grande homenageado desta edição, com uma retrospectiva de 15 longas-metragens. DESESPERADOS - Cena de "Hermosa Juventud", um dos mais importantes do cinema espanhol contemporâneo Mas é na seleção de 27 filmes inéditos que podem ser vistas as consequências da atual situação socioeconômica da nação ibérica, que alimenta com riqueza muitos dos longas-metragens que em breve devem entrar em circuito comercial. “Quisemos montar um panorama do país. Usamos filmes com uma linguagem mais alternativa e experimental, e muitos refletem a recente crise. Há várias obras de estreantes e diretores novatos”, explica Renata de Almeida, diretora do festival. Ela afirma que a iniciativa surgiu como uma forma de promover parcerias internacionais, com produtores espanhóis visitando o País para discutir novos projetos. Um dos principais diretores da nova geração é Alfonso Zarauza, cujo segundo filme, “Os Fenômenos”, vem para a Mostra. A trama acompanha um casal que vive num trailer na costa espanhola. Desempregada e abandonada pelo marido, Neneta vai para a Galícia, onde se emprega em uma construção, se integrando a um grupo formado pelos trabalhadores mais rápidos da região, que ganha como apelido o título do filme. Com um pouco mais de experiência, Jaime Rosales está presente neste ano com “Hermosa Juventud”, seu quinto filme. Nele, um casal desempregado cansa de viver sem dinheiro e se candidata a participar de um filme pornô. O diretor Luis Miñarro ficou conhecido em 2009 por “Blow Horn”, documentário que acompanha a trajetória de um grupo de amigos pelo interior da Espanha. Agora, ele lança aqui seu segundo filme, “Estrela Cadente”. Miñarro é parte do coletivo “Cineastas Contra La Orden”, de grande importância para o novo cinema espanhol. Ao lado de diretores como Isaki Lacuesta e Javier Rebollo, ele investe em um estilo de baixo orçamento, com histórias que refletem o momento atual. Considerando o número de títulos, essas dificuldades econômicas parecem capazes de gerar um grande fluxo criativo. Após a descoberta nas últimas décadas das cinematografias de países como Irã, Argentina e Coreia do Sul, a Espanha é a mais forte candidata a se tornar a queridinha da vez entre cinéfilos do mundo todo. 9#3 LIVROS - UMA ALICE PARA ADULTOS Poema tirado de um dos livros mais famosos de Lewis Carroll ganha nova tradução do concretista Augusto de Campos Daniel Solyszko (daniel@istoe.com.br) Escrito em 1871, “Jaguadarte” (ou “Jabberwocky”, no original em inglês) era quase um texto à parte, inserido em uma passagem do segundo livro da personagem mais famosa de Lewis Carroll, criada seis anos antes em “Alice no País das Maravilhas”. Na história original, Alice se depara com o poema, escrito em uma língua aparentemente ininteligível. Ao se lembrar de que está em um mundo onde tudo é invertido, decide ler seu conteúdo refletido em um espelho. Tão conhecido quanto a obra que o contém, o trecho foi publicado em mais de 15 línguas no mundo todo, e ganha agora uma nova tradução em português de Augusto de Campos, que será publicada em novembro pela Editora Nhambiquara. MUSA - Mia Wasikowska (acima) no papel de Alice, a personagem mais famosa de Lewis Carroll (abaixo) Campos traduziu antes uma série de poemas de Carroll, que chegaram a ser reunidos no livro “O Anticrítico”, de 1986. Em entrevista à ISTOÉ, ele afirma que encara o trabalho de Carroll como precursor da poesia concreta.“As obras de Carroll influenciaram sob muitos aspectos a literatura moderna. As ‘palavras-valise’ de ‘Jaguadarte’, que fundem duas palavras em uma só, anteciparam a linguagem do “Finicius Revém” (“Finnegans Wake”), a obra mais radical e experimental de James Joyce”, diz Campos. Grande admirador da obra de Carroll, ele cita o teórico Marshall McLuhan e o dramaturgo francês Antonin Artoud entre dois herdeiros estéticos do autor. FÃ - O escritor Augusto de Campos, responsável pela nova tradução de "Jaguadarte", poema do autor inglês publicado em 1871 Além de escritor e matemático, Carroll ficou conhecido por suas fotografias de garotas pré-adolescentes, o que ainda hoje sucita comentários sobre pedofilia. Campos acredita que isso é fruto de especulação. “Pode ser uma fixação subliminar, interpretável hoje à luz da psicanálise. Mas é preciso cuidado com a invencionice.” Carroll se mantém firme como um dos autores de livros infantis que mais despertam o interesse de adultos, seja pela maneira com que o autor subverte o uso da linguagem, seja pela não linearidade e o aspecto nonsense das histórias ou, talvez para muitos, pelo erotismo latente na personagem principal de sua obra. 9#4 EM CARTAZ – CINEMA - A LUZ, SEGUNDO WALTER CARVALHO Daniel Solyszko (daniel@istoe.com.br) Um dos mais importantes fotógrafos do cinema nacional, Walter Carvalho é homenageado em mostra no Caixa Belas Artes, em São Paulo, em cartaz até 15 de outubro. Com 32 filmes do também diretor, “A Luz (Imagem) de Walter Carvalho” reúne longas, curtas-metragens e programas de TV. Em entrevista à ISTOÉ, Carvalho, que começou no início dos anos 1970 sob a influência do cinema novo, compara seu trabalho com o de um pintor e afirma que cada novo projeto é um recomeço. “Uma tela em branco é uma metáfora interessante. Para mim é sempre um processo de desconstrução”, diz. O diretor está finalizando a edição de “Um Filme de Cinema”, documentário com depoimentos de cineastas como Ken Loach e Béla Tarr sobre a arte cinematográfica, que deve ser lançado até o fim do ano. +5 filmes assinados pelo fotógrafo Central do Brasil Funcionária pública viaja com garoto para ajudá-lo a encontrar o pai Madame Satã Karim Ainouz recria a vida do transformista que frequentava o círculo boêmio da Lapa carioca na década de 30 Amarelo Manga Longa-metragem de Cláudio Assis ambientado na periferia do Recife, com histórias entrelaçadas Entreatos Documentário de João Moreira Salles sobre os bastidores da campanha política que levou Lula ao poder em 2002 Budapeste Filme de Carvalho baseado em livro de Chico Buarque, sobre escritor que volta da capital húngara para o Rio de Janeiro 9#5 EM CARTAZ – CINEMA 2 - INFÂNCIA PERDIDA Conhecido por animações como "As Bicicletas de Belleville" e "O Mágico", o diretor e quadrinista Sylvain Chomet realiza seu primeiro filme com atores de carne e osso em "Attila Marcel" Daniel Solyszko (daniel@istoe.com.br) Conhecido por animações como “As Bicicletas de Belleville” e “O Mágico”, o diretor e quadrinista Sylvain Chomet realiza seu primeiro filme com atores de carne e osso em “Attila Marcel”. Com um visual que lembra uma HQ filmada, mostra um pianista de 30 anos que, criado pelas tias, vive de maneira superprotegida. Ao conhecer a senhora Proust, vizinha do andar de cima, passa a acertar as contas com traumas do passado para finalmente entrar na vida adulta. 9#6 EM CARTAZ – LIVRO - ALÉM DA GRANDE MURALHA Alan Rodrigues (alan@istoe.com.br) A onda de protestos em solo chinês coincide com o lançamento no Brasil do livro Maonomics; por que os comunistas chineses se saem melhores capitalistas do que nós. Em 390 páginas, a economista italiana Loretta Napoleoni descortina o milagre do desenvolvimento e crescimento econômico chinês sem fugir do debate dos direitos homanos. A escritora analisa os problemas econômicos do Ocidente sob a perspectiva cultural, comportamental e política da China. Ela mostra que se a economia de um país pudesse ser sugerida como receita de sucesso por um chef, a nova cozinha chinesa ofereceria um prato bastante exótico que vem conquistando a admiração de pessoas pelo mundo afora: marxismo ao molho capitalista. O ponto forte do livro é exatamente como os chineses misturaram os temperos do neoliberalismo ocidental com os ingredientes da teoria marxista e produziram uma iguaria sofisticada. A obra é leitura obrigatória para quem se interessa pelo desenvolvimento econômico dos tigres asiáticos. 9#7 EM CARTAZ – BLU-RAY - ONDE OS FRACOS NÃO TÊM VEZ Daniel Solyszko (daniel@istoe.com.br) Um dos atores e diretores mais conhecidos da velha guarda de Hollywood ainda em atividade, Clint Eastwood é homenageado nesta caixa, que reúne cinco filmes produzidos no início de carreira. Estão incluídos seus primeiros três trabalhos na direção – “Perversa Paixão” (1971), “O Estranho sem Nome” e “Interlúdio de Amor” (ambos de 1973); além de dois filmes em que trabalhou como ator para Don Siegel: “Meu Nome É Coogan” (1968) e “O Estranho que Nós Amamos” (1971). Nos longas-metragens, Eastwood vive homens do Velho Oeste americano e sua versão contemporânea, interpretando personagens durões que se sentem deslocados e enfrentam problemas para se adaptar aos novos tempos, tema constante em sua obra. 9#8 EM CARTAZ – CD - CANÇÕES DE AMOR E ÓDIO Daniel Solyszko (daniel@istoe.com.br) Em “Popular Problems”, seu 13º disco de estúdio, o canadense Leonard Cohen retoma a parceria com o compositor e produtor Patrick Leonard, com quem já havia trabalhado em “Old Ideas”, de 2012. Em nove canções curtas, o cantor destila histórias de conflitos e relacionamentos com sua característica voz grave. “Samson in New Orleans” descreve a cidade após a passagem do furacão Katrina em 2005, e “A Street” foi inspirada pelos atentados de 11 de setembro em Nova York. Mas nem tudo é tragédia: em “My Oh My” e “You Got Me Singing”, Cohen fala de amor, sua especialidade. 9#9 EM CARTAZ – AGENDA - BRINQUEDOS/ERASMO/TEMPO Confira os destaques da semana Daniel Solyszko (daniel@istoe.com.br) Brinquedos à Mão (Caixa Cultural Sé, em São Paulo, até 7 de dezembro) Exposição com 900 objetos do acervo da pesquisadora Sálua Chequer, reunidos em comunidades do interior do Nordeste Erasmo Carlos (Vila dos Ipês, em São Paulo, 11 de outubro) O cantor apresenta show baseado no repertório do último disco, “Gigante Gentil”, com jantar incluso Tempo Festival (no Rio de Janeiro, até 19 de outubro) Quinta edição do festival de artes cênicas, com teatro, dança e performances de artistas de diversos países __________________________________________ 10# A SEMANA 15.10.14 por Antonio Carlos Prado e Elaine Ortiz "O NOBEL DA PAZ PARA MALALA" Paquistão e Índia são países vizinhos que vivem historicamente em pé de guerra devido às disputas de territórios e aos conflitos étnicos e religiosos. Portanto, nada mais significativo para uma nova tentativa de pacificação dessa região, e também de demais pontos conflagrados em todo o mundo, que a paquistanesa Malala Yousafzai e o indiano Kailash Satyarthi dividam o Prêmio Nobel da Paz de 2014. O anúncio foi feito na sexta-feira 10. A ativista Malala, baleada na cabeça em 2012 por terroristas do Taleban por defender o direito de as mulheres paquistanesas estudarem, passou a viver na Inglaterra e segue em sua militância. Tornou-se agora a mais jovem ganhadora de um Nobel em mais de um século de existência do prêmio. O indiano Satyarthi tem se notabilizado pela luta contra o trabalho infantil e o direito das crianças ao estudo. Juntos dividirão a dotação de US$ 1,5 milhão. "PRIMEIRO BEBÊ DE PROVETA DO BRASIL COMPLETA 30 ANOS DE IDADE" Sempre que a paranaense Anna Paula Caldeira aniversaria, a ciência também festeja em todo o País. Não foi diferente nesta terça-feira 7 quando ela fez 30 anos de idade e a comunidade científica comemorou iguais três décadas do nascimento do primeiro bebê de proveta na América Latina. Ou seja: o primeiro bebê a saltar da fertilização in vitro para a vida foi Anna Paula (filha de Ilza e José Antonio Caldeira). Agora, 30 anos e 300 mil bebês depois, o procedimento revolucionário feito na época pelo médico Milton Nakamura tornou-se rotina nas clínicas de reprodução. Mais: abriu caminho para a avaliação genética de embriões em laboratórios (rastreando a probabilidade de doenças hereditárias), facilitou a gravidez em casais sorodiscordantes (as complicações maiores são no caso de hepatite e HIV) e facilitou a vida de homens com baixa contagem de espermatozoides. "O MASSACRE DOS ESTUDANTES" A maioria da população do México, o governo americano e a OEA querem saber onde estão os estudantes da Escola Rural de Ayotzinapa, que desapareceram no sul do país após serem abordados por membros de um grupo que controla a venda de drogas na região (Guerreros Unidos) e do qual fazem parte policiais. Sabe-se que ao menos 17 jovens foram mortos e por isso se teme pelo destino de outros 26 que continuavam desaparecidos até a sexta-feira 10. O Senado mexicano formou uma comissão para apurar o ocorrido e o chanceler José Antonio Meade garantiu que o governo não deixará o crime impune. "1/3" 1/3 da população carcerária mundial está presa sem nunca ter passado por julgamento – o que caracteriza crime contra a humanidade, segundo tratados internacionais. No Brasil, a cada 100 mil habitantes, 104 estão presos nessa condição. Os dados são da Fundação Open Society. "TUDO DE NOVO" EM FERGUSON" Podem se repetir no subúrbio de Ferguson todas as cenas de conflitos raciais ocorridas há dois meses porque nele se repetiu na quarta-feira 8 o assassinato de um jovem negro por um policial branco. O rapaz tinha 18 anos e os protestos foram imediatos. Disse o policial que o jovem estava armado e disparara três tiros ao ser perseguido. Levou 17. “Ele tinha um sanduíche na mão, e eles pensaram que era arma. Tudo de novo”, disse uma familiar da vítima ao jornal “St. Louis Post-Dispatch”. Nenhum nome foi divulgado. "FERREIRA GULLAR JÁ PODE ENCOMENDAR O FARDÃO" Na cadeira 37 da Academia Brasileira de Letras já se sentaram Getúlio Vargas, Assis Chateaubriand e João Cabral de Melo Neto. Nela se sentará agora o poeta, dramaturgo e crítico de arte Ferreira Gullar. “Vou ficar engraçado de fardão”, disse ele ao ser eleito na quinta-feira 9 (o fardão custa por volta de R$ 80 mil e o dinheiro sai do bolso do próprio acadêmico). Ferreira Gullar tem 84 anos, nasceu no Maranhão e se chama José Ribamar Ferreira. Destaque em sua obra para “Um Pouco Acima do Chão”, “Poema Sujo” e “Na Vertigem do Dia”. "GPS DO CÉREBRO" O Prêmio Nobel de Medicina de 2014 foi concendido a três pesquisadores: o britânico-americano John O’Keefe e os noruegueses May-Britt Moser e Edvard Moser. Eles descobriram o que passou a ser chamado “GPS mental”. Ou seja: o conjunto e conexão de células nervosas no cérebro que nos dá a orientação no espaço. A pesquisa ajudará nos estudos sobre os motivos que levam o portador de Alzheimer a não reconhecer ambientes com os quais já está habituado. Os três cientistas receberam, juntos, US$ 1,1 milhão. "O SUMIÇO DO DITADOR KIM JONG-UN" O ditador norte-coreano Kim Jong-un não aparece publicamente desde o dia 3 de setembro. Na sexta-feira 10 era grande a expectativa de que ele ressurgisse num evento no país em homenagem aos seus ancestrais. Jong-un mais uma vez não deu o ar da graça e isso inflou os rumores sobre seu estado de saúde ou até mesmo um possível golpe que o teria deposto. A obscura imprensa oficial nortecoreana limita-se a dizer que o ditador passa por um “incômodo”. Nas últimas vezes em que foi visto em público, ele estava bastante obeso e andando com dificuldade. "O MPF FEZ A SUA PARTE. A DECISÃO ESTÁ COM O SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL" Volta à pauta do STF nos próximos dias a questão da abrangência da Lei da Anistia promulgada em 1979, seis anos antes de chegar ao fim a ditadura militar. Essa mesma corte já decidiu que a lei que anistiou presos políticos deletou também, pelo princípio da conexidade, a responsabilidade daqueles que torturaram e assassinaram oponentes do regime. Há, porém, a tese, com respaldo nos mais altos tribunais internacionais, de que tortura é crime permanente, ou seja, não passível de anistia. Com base nesse princípio o MPF chega agora ao STF pedindo a punição penal de militares acusados de terem seviciado, matado e desaparecido com os corpos do então deputado Marcelo Rubens Paiva e do corretor de valores Edgard de Aquino. Entre os denunciados está o coronel da reserva Carlos Alberto Brilhante Ustra. O STF tem a derradeira oportunidade de passar a limpo esse obscuro período da nossa história republicana. "O PLANETA TERRA TEM MAIS CELULAR DO QUE GENTE" Há no mundo mais telefones celulares do que gente para usá-los. Número de aparelhos: 7,22 bilhões. Número da população da Terra: 7,19 bilhões de pessoas. Cerca de 50% dos habitantes do planeta, no entanto, não têm celular algum. Eles se concentram nas mãos da metade mais bem aquinhoada. "TORRE EIFFEL INAUGURA PISO DE VIDRO" A Torre Eiffel, em Paris, inaugurou na semana passada um novo piso em seu primeiro andar, a 57 metros de altura: ele é de vidro super-resistente. Quem o pisa tem a sensação de estar caminhando no ar – ou seja, na própria estrutura da torre construída pelo engenheiro Gustave Eiffel entre 1887 e 1889 (o mesmo que participou do projeto do Cristo Redentor no Rio de Janeiro). O piso custou 30 milhões de euros. "40,4%" 40,4% dos brasileiros pretendem adquirir bens duráveis no quarto trimestre deste ano. É a mais baixa perspectiva de consumo nesse setor para o período que abrange o natal, desde 2006, quando 36,8% planejavam comprar tal linha de produtos. "ISTOÉ OnLine é finalista do prêmio Allianz Seguros de Jornalismo" O Prêmio Allianz Seguros de Jornalismo anunciou na semana passada que ISTOÉ OnLine está entre as cinco finalistas com a reportagem “As novas regras da garantia estendida”, de autoria de Luisa Purchio. Esta é a oitava edição do prêmio, que teve 2.047 trabalhos inscritos.