0# CAPA 15.4.15 ISTOÉ edição 2367 | 15.Abr.2015 [descrição da imagem: capa tem todo o fundo preto, e no centro aparece parte do rosto do ex-presidente Lula, como aparecendo em uma pequena fresta. A imagem do rosto está em vermelho, assim como os títulos da capa.] O CREPÚSCULO DO LULISMO Como os escândalos de corrupção e o fraco desempenho de Dilma comprometem o projeto eleitoral de Lula para 2018. [parte superior da capa: imagem de Michel Temer, Renan Calheiros e Eduardo Cunha] GOVERNO TERCEIRIZADO Michel Temer assume a coordenação política e o poder se concentra nas mãos do PMDB _______________________ 1# EDITORIAL 2# ENTREVISTA 3# COLUNISTAS 4# BRASIL 5# COMPORTAMENTO 6# MEDICINA E BEM-ESTAR 7# ECONOMIA E NEGÓCIOS 8# MUNDO 9# TECNOLOGIA E MEIO AMBIENTE 10# CULTURA 11# A SEMANA _____________________________ 1# EDITORIAL 15.4.15 "O OCASO DO LULISMO" Carlos José Marques, diretor editorial Em determinado momento da escalada do líder sindical e ex-presidente Lula sua imagem virou a personificação de uma corrente política, popular e poderosa. O lulismo ganhava força nas camadas sociais e contornos claros de fenômeno, dada à influência e a capacidade de agregação de simpatizantes que mobilizava. Muito além daquela arregimentada pelo Partido dos Trabalhadores, que ele mesmo criou. O “salvador da pátria” capaz de resgatar o País da miséria, o “homem do povo” que chegou lá, o “defensor dos pobres” que iria varrer a corrupção do mapa! Uma coleção de epítetos compunha a mística do lulismo, para além das rinhas partidárias e disputas eleitorais. Lula surfou nessa onda até o ponto de legar enormes decepções a seus seguidores e àqueles que acreditaram em suas promessas. Hoje o lulismo agoniza em praça pública. Perdeu a primazia das ruas. Em uma mobilização compactuada com entidades sindicais na semana passada expôs o tamanho da deserção de seus exércitos e a humilhação a que ficou sujeito após rasgar, por anos a fio, bandeiras que fundamentaram sua plataforma original. Um aglomerado de parcos militantes, a maioria deles participantes em troca de cachê, lanche e transporte, em nada lembrava as hordas de seguidores de outrora. Esses sumiram em debandada. A grande massa de manifestantes de hoje se encontra justamente do lado oposto, indignada com os desmandos sem fim e criticando os descaminhos do partido e do líder que, juntos, converteram deliberadamente um projeto de Brasil em um projeto de poder a qualquer custo. Levantamento encomendado pelo próprio PT não deixa margem a dúvidas: a agremiação perdeu a base social. Pesquisa de opinião aponta que, se as eleições fossem hoje, uma eventual candidatura de Lula seria fragorosamente derrotada. O tucano Aécio Neves venceria Lula com larga margem, por 51,5% a 27,2%. O declínio do lulismo se dá em várias etapas e por desvios bem conhecidos. A Revista ISTOÉ acompanhou e retratou a trajetória do criador e da criatura desde a sua nascente. Foi a primeira publicação a dar voz e projeção ao então desconhecido sindicalista que liderava uma greve no ABC paulista, ainda nos idos de 1979. De lá para cá, também expôs na capa o advento do culto personalista e agora constata que o lulismo, no atual contexto, se transformou numa caricatura dele mesmo. Se entregou a alianças espúrias com opositores, mesmo os mais retrógados, enquanto vários de seus arautos são pilhados em práticas nada republicanas, maculando a ética pública, sem fazer distinção entre governo e partido. No momento, há o esgotamento de um modelo, o ocaso de um símbolo. Lula, que no passado se vangloriava de ostentar o “efeito teflon”, uma vez que nele nada colava, nem as pesadas acusações de escândalo do “Mensalão” descoberto em meio ao seu primeiro mandato, agora é consumido por erros em cascata no insaciável projeto de poder. Em alguns momentos flerta com o radicalismo e dá contornos típicos de guerrilha a uma causa que demonstra ser só sua, a despeito do interesse geral da Nação. Parece lhe faltar um olhar mais sutil, mais apurado, sobre a complexidade da situação. E não fosse isso suficiente, ainda enfrenta os reflexos negativos da má gestão de um governo que não é seu, mas que está ali por obra e graça de sua vontade. O lulismo passa pelo maior dos testes e cristaliza a impressão de que entrou no seu crepúsculo. __________________________________ 2# ENTREVISTA 15.4.15 SEBASTIÃO SALGADO - "CAMINHAMOS PARA O FIM DA FOTOGRAFIA" Fotógrafo mineiro ocupa as telas do mundo com um documentário sobre a sua trajetória, abre exposições na Europa e trabalha em um novo projeto sobre tribos indígenas intocadas por Daniel Solyszko DOIS LADOS DA CÂMERA - Sebastião Salgado, personagem principal da única representação brasileira do Oscar deste ano, "Sal da Terra", em cartaz nos cinemas Um dos fotógrafos mais conhecidos do planeta, o mineiro Sebastião Salgado, aos 71 anos, não pensa em se aposentar. Em cartaz nos cinemas como personagem principal da única coprodução brasileira indicada ao Oscar, “O Sal da Terra”, documentário dirigido por Wim Wenders e Juliano Salgado, seu filho, Sebastião Salgado inaugura exposições na Alemanha e em Portugal. "Nunca aprendi fotografia na escola. Nem jornalismo. Quem me apresentou para a câmera foi minha mulher, a arquiteta Lélia Walnick" A mostra “Genesis”, que tem muito dos bastidores revelados no longa-metragem, também está em cartaz no Museu Oscar Nimeyer de Curitiba. Em entrevista à ISTOÉ, Salgado adianta detalhes de seu próximo trabalho, uma grande reportagem sobre as tribos indígenas brasileiras que não tiveram contato com a civilização – projeto em parceria com a Fundação Nacional do Índio (Funai). “Trata-se da verdadeira história brasileira não contada.” "Minhas primeiras fotografias eram vendidas a US$ 100, US$ 150. Hoje tenho imagens que valem US$ 100 mil" Istoé - Apesar do sal do título do filme “O Sal da Terra” ser uma referência às pessoas do mundo retratadas pelo sr., nota-se o movimento de sua lente em direção à natureza. Por que esse caminho? Sebastião Salgado - Eu passei mais de 40 anos fotografando aspectos sociais, imagens às vezes duras. Chegou uma hora que eu queria ver o planeta. Tive uma vontade muito grande de me aproximar da natureza e da ecologia em “Genesis” (livro mais recente do fotógrafo, cuja produção é documentada pelo filme). E tive de me organizar muito para fazer isso. Foram oito anos. Me ofereci o maior presente que uma pessoa pode se dar na vida. Istoé - O filme mostra que o sr. percorreu lugares distantes e difíceis de se chegar. Como financia esses projetos de longa duração? Sebastião Salgado - Foi caro, não saberia mais dizer quanto gastei. Não sou rico, não tenho a quantidade de dinheiro necessária para viajar o ano inteiro como diletante. Durante oito anos passei dois meses em cada lugar, depois um mês editando. Acabei fazendo 32 reportagens para grandes revistas nesse período. Não é fácil. Minhas primeiras fotografias eram vendidas a US$ 100, US$ 150, hoje tenho imagens que valem US$ 100 mil. Mas isso não faz de mim um homem rico. Istoé - E como o sr. acha que o seu projeto ajudou a natureza? Sebastião Salgado - No Vale do Rio Doce, em Minas Gerais, começamos a replantar uma floresta em uma área completamente degradada, onde não achava que nasceria nem um arbusto. Foi uma coisa fabulosa. No decorrer do projeto, começaram a nascer dezenas de milhares de árvores. E então voltaram os pássaros e a água. Istoé - Mas o sr. recuperou nesse caso terras pertencentes a sua família, certo? Sebastião Salgado - Hoje as terras se tornaram um espaço público. De qualquer maneira, é algo que pode ser replicado em outros lugares. O problema de São Paulo hoje não é só a falta de chuvas, é a falta de árvores, que retém a umidade. Não é que eu tenha me transformado em um fotógrafo de paisagens ou sobre os animais, é que quis fazer uma história ligada ao planeta. Istoé - Isso não é algo que muitos outros já fazem? Sebastião Salgado - Possivelmente sou um dos fotógrafos que mais trabalhou em fotos sociais no mundo e acho que não poderia ter feito outra coisa melhor. Mas há uma década fiz uma pesquisa e descobri que praticamente metade do planeta estava como no dia da Criação. Isso é espantoso se pensarmos no formigueiro humano que se tornaram as grandes cidades. Então me coloquei como desafio fotografar esses lugares. Momentos desse trabalho compõem boa parte do filme. Istoé - O que fará depois de “Genesis”? Sebastião Salgado - Depois de “Genesis” comecei uma outra história, sobre as tribos indígenas brasileiras. É a respeito de seu direito sobre o território. Estou trabalhando nisso em parceria com a Funai. Istoé - Será um novo livro, seguido de exposição, como de praxe? Sebastião Salgado - É um projeto que vai me tomar ainda alguns anos. O que já tenho é uma reportagem com um grupo indígena no norte do Maranhão, os Sawá, e uma mais longa, com os Yanomami. Subi até o Pico da Neblina, no Amazonas, com um grupo de 22 indígenas. Lá é a montanha sagrada dos Yanomamis. Segundo eles, trata-se da morada de uma grande deusa. Eram pajés, um grupo de guerreiros e eu. Istoé - No próximo projeto então o sr. volta a retratar seres humanos. Sebastião Salgado - Sim, voltei a fotografar o ser humano. Não que eu tivesse deixado totalmente de lado. Em “Genesis”, pelo menos um terço do que eu fotografei são seres humanos. Mas voltei a retratar grupos antigos, remotos e intocados pela civilização. Essa é a verdadeira história brasileira. Tem pelo menos 100 grupos que nunca foram contactados. Istoé - O sr. pretende ficar mais no Brasil ou continuará estabelecido em Paris? Sebastião Salgado - Moro em Paris há muitos anos, desde 1969. Saímos daqui na época de uma repressão brava, participávamos do movimento estudantil de esquerda contra a ditadura. Cassaram meu passaporte na França e durante muitos anos tive que usar um mandado de segurança. Foi lá que me transformei em fotógrafo. Istoé - Como vê a situação política na França e na Europa no momento? O sr. acredita que há um forte renascimento da direita? Sebastião Salgado - É uma dinâmica muito forte. Não é que a esquerda entrou em crise ou a direita que tenta resolver o problema. A direita assumiu o poder na França com o Sarkozy, e entregou um país falido. O Françoise Hollande pegou a França falida e vai entregá-la mais falida ainda. Mesmo com todas as medidas possíveis e imagináveis ele não consegue resolver. Porque a máquina é tão cara e os gastos da França tão sofisticados que eles não tem mais dinheiro para pagar. Não é um problema de direita ou esquerda. Para mim é uma crise estrutural. Esses países vão resolver a crise, mas não vão manter aquele glamour que tiveram, porque eles já não tem recursos para isso. Istoé - Mas ainda é possível se viver de fotografia na França? Sebastião Salgado - A comercialização do meu trabalho é internacional, estou apenas baseado em Paris. De qualquer maneira, a fotografia é uma arte que não vai durar muito tempo. Ela está acabando. Estamos caminhando para o fim da fotografia. Istoé - Como a fotografia terminará se nunca se fotografou tanto? Sebastião Salgado - Na realidade nunca se produziu tanta imagem. Fotografar é algo que se faz cada vez menos. A mudança dos instrumentos de captação, as infinitas possibilidades que existem hoje, como mexer, mudar, manipular a imagem depois que ela foi capturada, mudam completamente a linguagem. Antigamente existia uma espera para captar, depois o tempo da revelação e a impressão. Agora você vê a imagem, mas ela não passa mais pela fotografia. Istoé - O sr. tem um exemplo? Sebastião Salgado - Muito próximo! Meu filho (Juliano Salgado, diretor de “O Sal da Terra”, vencedor de um César e candidato ao Oscar de Melhor Documentário este ano) realizou o filme inteiro sobre meu trabalho com uma única máquina. Você perde o equipamento, perde as imagens. Elas não existem mais fisicamente, nem se espera mais que algo seja assim. Istoé - Apesar de hoje ser lembrado pelos seus trabalhos autorais, de cunho social, como “Trabalhadores” (1996) e “ Exodos” (2000), o sr. teve sua primeira projeção internacional com imagens exclusivas que conseguiu captar do atentado contra o então presidente Ronald Reagan, em 1981. Foi a partir dali que se tornou um nome da fotografia, não? Sebastião Salgado - Quando eu fiz essas fotos já estava na agência mais sofisticada do mundo, a Magnum. Já tinha passado pelas melhores agências que existem. Não foram as fotos do Reagan que trouxeram reconhecimento para o meu trabalho. Istoé - Mas se conta que o sr. arrumou a vida nessa ocasião. Sebastião Salgado - A venda das fotos me proporcionou uma facilidade financeira. Pude comprar um apartamento, o que eu não tinha até então, um carro sofisticado. Acrescentou muito mais do lado material do que do lado profissional. As fotos foram vendidas imediatamente e eu nem quis assiná-las para não ficar identificado com esse tipo de trabalho. Quando ocorreu o atentado já tinha publicado uma parte do meu primeiro livro, “Outras Américas”. ______________________________________ 3# COLUNISTAS 15.4.15 3#1 RICARDO BOECHAT 3#2 LEONARDO ATTUCH - TEMER, TOMA QUE O FILHO É TEU 3#3 GISELE VITÓRIA 3#4 BRASIL CONFIDENCIAL 3#5 LUIZ FERNANDO SÁ - ENTRE A PALAVRA E A AÇÃO 3#1 RICARDO BOECHAT Com Ronaldo Herdy Um e outro Falta pouco para o pleno do Supremo Tribunal Federal julgar os agravos regimentais de Eduardo Cunha e Renan Calheiros. O deputado e o senador pedem o arquivamento dos inquéritos em que são investigados por supostos envolvimentos no escândalo da Petrobras. O relator é o ministro Teori Zavascki. Acolhido os argumentos da defesa os processos acabam e eles que adoram apregoar “tranquilidade” vão dormir por ora em paz. Caso não, as investigações serão aceleradas. Brasil Realidade política Presidente do Conselho Nacional de Educação de 2006 a 2008, Edson Nunes diz não entender tanta polêmica acerca da terceirização. “O sistema está perfeitamente testado e funciona no Executivo, a partir da eleição presidencial”. Para quem se surpreende com a observação, o professor explica: “O PMDB terceirizou o pleito. Botou a candidata do PT para ganhar a disputa e, depois, saiu governando”. Ou seja, a matéria que tanto mobiliza o Congresso e entidades sindicais é fato na vida política. Negócios Business zen Mais fashion dos herdeiros de Abílio Diniz, Pedro Paulo Diniz foi piloto da F1, namorou modelos e morou no Principado de Mônaco. Agora na ioga, alimentação orgânica e meditação natural, prioriza negócios relacionados com a sua rotina odara. Criou uma linha de alimentos orgânicos para venda no Pão de Açúcar. O negócio tem escala de produção, mas a notada falta de charme está perto do fim. Diniz conversa com Marcos Palmeira, que assinaria os produtos da linha. O ator é do ramo: comercializa vegetais orgânicos cultivados na sua fazenda há uma década. Tudo numa boa, tudo zen, tudo bem light. Lava Jato Gente que sabe Radiografia de um mega empreiteiro cuja empresa está sendo investigada sob o paiol da Lava Jato – “quem pagou propina a intermediários do quilate de Fernando Baiano, por exemplo, está f.... Não tem cabeças coroadas a entregar. Já quem operou diretamente com o escalão de cima possui pólvora para explodir o Palácio”. Congresso Novo ninho Além de Martha Suplicy, outra senadora prestes a se filiar ao PSB é Lúcia Vânia (GO). Foi preterida pelo PSDB para ocupar a primeira – secretaria do Congresso, depois da eleição de Renan Calheiros. A cúpula tucana preferiu no cargo Paulo Bauer (SC). Ela aguarda parecer jurídico para ter certeza que a mudança partidária não implicará em perda do mandato. Mesmo no PSB seguirá afinada com o governador de Goiás, Marconi Perillo, do PSDB. MPF Pingo nos is A decisão da 22ª Vara Federal do DF, indeferindo pedido da AGU pelo fim do pagamento de auxílio moradia a juízes e promotores, não fez menção ao ato que autoriza o ex-senador Gilberto Miranda utilizar para fins particulares a Ilha das Cobras, em São Paulo. Portanto, equivocada a nota publicada aqui, em 25 de março, com informações colhidas no MPF, em Brasília. O juiz Tiago Borré também nada escreveu no despacho relacionando dirigentes da AGU com a situação atual do imóvel público federal. O local é alvo de uma disputa jurídica hoje que envolve a AGU e a empresa do ex-senador. Genéricos Boa briga Segundo a IMS Health, consultoria que audita a indústria farmacêutica no País, a Sandoz foi quem mais cresceu (44%) em unidades (remédios em caixas),entre 2013 e o ano passado – o segundo lugar ficou com a Teuto, seguido pela Eurofarma. O estudo se baseou no balanço das 10 principais produtoras de genéricos. A empresa do Grupo Novartis foi a primeira a lançar um medicamento para disfunção erétil com o princípio ativo do Cialis (tadalafila), em novembro passado, detendo 56% do concorrido mercado. Indústria Café e pinga A defesa de um pacto que una a sociedade. Isso é o que querem os empresários mineiros nesse momento de crise que paralisa o Brasil. Nos próximos dias, o ministro do Desenvolvimento, Armando Monteiro, visitará Minas Gerais e receberá do presidente da Federação das Indústrias de Minas, Olavo Machado Junior, um book com propostas para o Brasil sair do atoleiro. Em discurso, Olavo pregará uma politica que valorize as “Marcas” regionais, mas sem confrontos gerados por interesses corporativos e fisiológicos. Direito A voz do mestre Na semana passada, o ministro Luís Roberto Barroso foi patrono da Turma de Direito da UERJ de 2014, da qual foi professor. O discurso virou hit na internet, com mais de dois milhões de acessos e quase 50 mil compartilhamentos em Facebook. Em “A vida e o direito: breve manual de instruções”, entre parábolas e casos reais, Barroso deu cinco conselhos aos formandos: 1. Nunca forme uma opinião sem antes ouvir os dois lados; 2. A verdade não tem dono; 3. O modo como se fala faz toda a diferença; 4. Seja bom e correto mesmo quando ninguém estiver olhando; e 5. Ninguém é bom demais, ninguém é bom sozinho e é preciso agradecer. Bebidas Por trás da marca Reconhecida no mercado como também uma fábrica de líderes, a Ambev promoveu cerca de 10 mil funcionários em 2014. Essas pessoas foram movimentadas para cargos dentro da função, em outras posições e setores da companhia. “Nosso foco está em contratar gente boa, treinar, engajar, motivar e dar espaço para crescimento” afirma Renato Biava, diretor de desenvolvimento de gente da Ambev. Filantropia Corrida de jalecos Espécie de Lei Rouanet da Medicina, os programas nacionais de Apoio à Atenção Oncológica (Pronon) e de Apoio à Pessoa com Deficiência (Pronas) só poderão receber adesão de empresas e pessoas físicas até o dia 30 próximo. É a data-limite fixada pelo Governo. As doações abatidas no Imposto de Renda são para ações e serviços aprovados pelo Ministério da Saúde e voltados para a população carente. O prazo exíguo provoca uma verdadeira maratona nessa reta final de captação, entre dirigentes de entidades, associações e fundações privadas sem fins lucrativos. Cultura Aviso cobiçado O maior prazer para a turma do teatro é colocar a plaquinha “lotação esgotada” na bilheteria. Pois bem. Atualmente, no Rio, um espetáculo vende ingressos a rodo com duas semanas de antecedência - fenômeno que há muito não ocorria na cidade. “As Noviças Rebeldes”, com versão brasileira de Flávio Marinho e direção de Wolf Maya, no Teatro Net-Rio fez sucesso nos anos 80, depois com elenco masculino baiano foi ovacionado nos anos 90 e, agora, com atrizes e atores bate os recordes anteriores. Encabeçado por Soraya Ravenle e Sabrina Korgut fica na cidade até 10 de maio e, depois, parte em excursão nacional pelas principais capitais brasileira, por três meses. 3#2 LEONARDO ATTUCH - TEMER, TOMA QUE O FILHO É TEU Se nem o vice for capaz de domar o PMDB, o Brasil poderá se tornar ingovernável. A sabedoria popular ensina que tudo aquilo que não tem remédio… remediado está. Traduzindo para a política brasileira: se nem o vice-presidente da República, Michel Temer, que é também presidente nacional do PMDB, for capaz de pacificar seu partido, ninguém mais será. Portanto, ou Temer se mostra capaz de conter a rebelião permanente do deputado Eduardo Cunha (PMDB/RJ), presidente da Câmara dos Deputados, e do senador Renan Calheiros (PMDB-AL), presidente do Congresso, ou será mais prático chegar à conclusão de que a aliança PT-PMDB ruiu de vez e que os peemedebistas deveriam logo entregar todos os seus ministérios e espaços na máquina pública. As primeiras reações a esse movimento radical do governo Dilma foram positivas. No mercado financeiro, o dólar caiu com força, num indício de que os investidores enxergam uma administração fortalecida para aprovar o ajuste fiscal. No Congresso, a CPI sobre o BNDES, que estava pronta para ser instalada, evaporou depois que seis senadores retiraram suas assinaturas. O ponto mais importante, no entanto, foi a declaração do senador Renan, que elogiou a escolha de Temer e apontou uma “virada” no governo Dilma. Com isso, Cunha foi isolado – o que não significa que deixará de ser atendido por Temer. O vice já anunciou a ida de Henrique Alves, um dos principais aliados do presidente da Câmara, para o Turismo. Em breve, irá pilotar também a distribuição dos cargos do segundo escalão. Desde o governo Sarney, o PMDB não tinha tanto poder como agora. Além de um vice-presidente “com caneta”, o partido comanda as duas casas legislativas. Os peemedebistas também já anunciaram que, em 2018, farão um voo solo, com candidatura própria à presidência da República. Ou se mostram responsáveis diante da crise atual ou perderão a oportunidade. 3#3 GISELE VITÓRIA Gisele Vitória é jornalista, diretora de núcleo das revistas ISTOÉ Gente, ISTOÉ Platinum e Menu e colunista de ISTOÉ Diva aos 34 Para comemorar seus 34 anos no sábado 11, a top Alessandra Ambrosio acelerou a agenda de trabalho. Quis curtir uma semana de férias e mais um aniversário em pleno festival de música de Coachella, na Califórnia, onde costuma festejar em família e com amigos. Em um de seus recentes trabalhos em Nova York, Alessandra se divertiu encarnando divas do cinema americano em uma campanha mundial da marca alemã Rimowa, de malas de viagem. Na atmosfera dos anos 20, ela vestiu o figurino de estrelas como Greta Garbo, Bette Davis e Marlene Dietrich em cliques do fotógrafo Horst Diekgerdes no Studio Pier 59, e admitiu: “Nessa atmosfera de glamour, é fácil se sentir uma atriz de Hollywood”. Alessandra diz que não se inspirou em nenhuma diva específica. “Como modelo, gosto de criar imagens diferentes e sair da zona de conforto. O que mais admiro nas divas é a força do olhar.” Michelle cai no funk e na rede É definitivo: nunca houve uma primeira-dama como Michelle Obama. Na tradicional festa da Casa Branca “White House Easter Egg Roll”, a mulher do homem mais poderoso do mundo subiu ao palco e deu um show de dança ao som de Uptown Funk, de Mark Ronson em parceria com Bruno Mars, em prol da campanha Let’s Move, de combate à obesidade infantil nos Estados Unidos. A performance de Michelle no palco, junto com o grupo All-Star, viralizou na internet na tarde de terça-feira 7 e se tornou um dos memes mais acessados da rede. Contagiando ‘o baile todo’, Mrs Obama executou divinamente a coreagrafia do hit que há 13 semanas lidera o top 10 das mais tocadas nos Estados Unidos. Durante o show da poderosa dama, o funk imperou nos jardins da Casa Branca. "A arte no Brasil está cara" Tudo o que Ella toca e principalmente o que Ella compra vira ouro. Presidente da Fontails Cisneros Art Foundation (CIFA), em Miami, Ella Cisneros é hoje uma espécie de Midas do mercado das artes. A empresária nascida em Cuba e criada na Venezuela fundou em 2003 o seu próprio museu, Miami Art Central (MAC) e vem sendo celebrada como uma das maiores colecionadoras do mundo. Graças a Ella, ao menos em parte, Miami cresceu como pólo de artes visuais. Por 33 anos, Ella foi casada com o magnata da mídia venezuelana Oswaldo Cisneros, dono de uma fortuna de US$ 6 bilhões, de quem se divorciou em 2001. De lá pra cá, alçou voo próprio, sermpre rodeada por uma comunidade de expoentes da arte contemporânea. Há três anos não vai a Caracas. Passa grande parte do tempo em Cuba. Ella se diz triste com a insegurança, a política e a economia do país comandado por Nicolás Maduro e vê com esperança o fim do embargo econômico em Cuba, onde se impôs a missão de divulgar os artistas locais. Em recente temporada no Brasil, esteve no aniversário de Carolina Andraus Miranda, em São Paulo, onde falou à coluna. Em terras brasileiras, teve um espanto: ficou impressionada com a alta nos preços das obras de artistas nacionais. Culpa dos novos ricos que querem imitar os velhos ricos. A expressão “por la ora de la muerte não é corrente em espanhol. Mas é mais ou menos isso que diz do mercado de arte brasileiro a milionária colecionadora.” ISTOÉ – Como você avalia a arte no Brasil? Ella – Há anos compro arte brasileira. Tenho artistas magníficos: os concretos todos, (Iberê) Camargo, (Helio) Oiticica, Jac Lerner. Entre os jovens, gosto da Carla Chaim. Gosto da Maria Fernanda Gomes. Adoro arte brasileira, é uma grande potência. O problema é o preço. ISTOÉ – Por quê? Ella –Os preços subiram muito aqui. A arte no Brasil está muito cara. Brasileiros compram brasileiros e o preço das obras acompanha um mercado interno forte. Aqui se acostumaram com dólares. Fui ver Luiz Zerbini (na galeria Fortes Vilaça, em São Paulo). Pelo amor... US$ 275 mil? Até perguntei: “Por que não me diz em reais?” ISTOÉ – Por que você acredita que os preços poderiam ser mais razoáveis? Ella –Olha, os artistas emergentes da America Latina têm seus preços na faixa de US$3 mil, US$5 mil. Aqui, um artista emergente custa US$12 mil, US$13 mil. É duas ou três vezes mais caro do que em qualquer outro país. ISTOÉ – O que determina o preço das obras? Ella –É a força interna do mercado. O que determina o preço é quem é o seu galerista e quanto tempo e dinheiro o mercado vai investir na sua arte. Funciona assim. No Brasil, todo mundo tem dinheiro e todo mundo paga. Creio que, na economia brasileira, como em qualquer país emergente, há cada vez mais novos ricos. É uma quantidade de gente nova com dinheiro. O que quer essa gente? Comprar o que os outros compravam antes. E os preços sobem. Todos esses novos milionários querem ter obras que outros milionários já têm. É mais ou menos assim: “O que tem você? Ah, também quero.” Ou então: “Ah, você quer algum dos artistas concretos? Eu também!” Hoje há 12 mil novos ricos querendo comprar concretos. Mas agora, com a alta do dólar, os preços devem baixar. ISTOÉ – Você passa a maior parte do seu tempo em Cuba. O fim do embargo econômico fará crescer o mercado de arte lá? Ella – Cuba não tem um mercado de arte. Não tem colecionadores, não tem dinheiro, não tem nada. O mercado cubano é formado por gente como eu e poucas pessoas que compram sua arte. Agora as coisas estão mudando. Este ano e ano passado, cresceu o número de americanos comprando artistas cubanos. Buscas de Lea T Sempre na ponte aérea Milão-Roma-Ibiza, Lea T está em Belo Horizonte com a família materna. Em fase de recolhimento, a modelo transexual tem praticado yoga e investe seu tempo em leituras sobre hinduísmo e autoconhecimento. Lea, que tem como padrinho o estilista da Givenchy, Ricardo Tisci, preferiu não participar este ano do baile de gala da amfAR (Fundação para pesquisa da Aids) em São Paulo, para o qual Tisci veio. Mas ela ainda pode dar o ar da graça no São Paulo Fashion Week. Balas Delta de olho na Avianca e na Azul De olho na situação do mercado aéreo brasileiro, a americana Delta Airlines tem esticado suas asas na direção da Azul e da Avianca. Dilema que sobrevoa as intenções: a Delta tem participação acionária na Gol. 3#4 BRASIL CONFIDENCIAL por Eumano Silva O cabelereiro e a dentista de Kátia Abreu Algumas nomeações feitas pela ministra da Agricultura, Kátia Abreu causaram estranheza entre os funcionários mais antigos da pasta. Um exemplo é seu cabeleireiro de Tocantins, Célio da Costa, agora assessor no gabinete de Kátia. Também provocou incômodo a indicação de Tânia Mara Garib para chefe da Assessoria de Gestão Estratégica do Ministério. Amiga da ministra, Tânia é odontóloga e, no final de abril, vai viajar para Austrália e Nova Zelândia para visitar áreas de ovinocultura e bovinocultura. Critérios de escolha Kátia Abreu defende a nomeação de Tânia Mara Garib. Diz que ela ocupa cargos públicos desde 1996 e que ela já foi secretária de Desenvolvimento Social do Mato Grosso do Sul. A viagem, assegura, será sem ônus para o governo. Em relação a Célio da Costa, a ministra afirma que os funcionários são escolhidos por “confiança” e “competência”. Pedidos sem consistência Até agora, foram protocolados 22 pedidos de impeachment contra a presidente Dilma Rousseff. Desse total, 18 acabaram arquivados por falta de consistência. Os absurdos incluem reclamações pela participação da presidente em programas de TV e pedidos com erros de português. Lição de casa Dos quatro pedidos de impeachment ainda em análise, três foram apresentados por advogados e um pelo deputado Jair Bolsonaro. Nenhum dos textos inclui provas para embasar o impeachment. Para evitar mais vexames, deputados estão fazendo consultas à área técnica da Câmara. O PMDB quer o DNIT A paz do PMDB com o governo passa pelo Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (DNIT). O partido está de olho na indicação do diretor da autarquia. Se a demanda for atendida, os peemedebistas vão retomar um órgão que comandou por mais de uma década. Uma autarquia cobiçada O DNIT está sem diretor efetivo desde a posse da presidente Dilma, no início do ano. A autarquia federal tem como diretor o interino Adailton Cardoso, indicado pelo PR da Bahia. Responsável por obras dos Transportes, o DNIT é muito cobiçado pelos políticos. Renovação política O instituto Res Novae difunde a bandeira da inelegibilidade automática dos ocupantes de todos os cargos eletivos. Pela proposta, quando o cidadão encerra o mandato, retorna à sua atividade profissional de origem. A ideia que ganha força nas capitais do País está em sintonia com os movimentos atuais em favor do aperfeiçoamento da representatividade. Despejo Enquanto novos parlamentares pressionam a direção da Câmara para ganhar imóveis funcionais, dez deputados que não foram reeleitos ainda não entregaram os apartamentos. Os novatos reclamam que o auxílio moradia, de R$ 3,8 mil, não paga bons imóveis em Brasília. Eles preferem os funcionais. O inquérito de Lula na PF O Ministério Público Federal aguarda há seis meses a devolução pela Polícia Federal do inquérito que apura a denúncia, feita pelo publicitário Marcos Valério, de que o ex-presidente Lula teria negociado pagamento de propina da Portugal Telecom para o PT. A PF requisitou o processo em outubro do ano passado e, até a semana passada, não havia devolvido. Em dezembro, Lula foi ouvido. Em janeiro, a delegada Andrea Pinho Albuquerque solicitou às autoridades portuguesas, por meio de carta rogatória, cópia do depoimento de Miguel Horta, ex-presidente da empresa de telefonia. A investigação corre em sigilo. Delegado ou deputado? O deputado Delegado Waldir (PSDB-GO) teve uma recaída policial na terça-feira 7, durante o depoimento do diretor da Petrobras, Hugo Repsold Junior. Como se estivesse na Polícia Civil, o parlamentar ameaçou “indiciar” o interrogado. Como legislador, ele quer proibir imagens de mulheres de lingerie em anúncios publicitários – segundo diz, para não incitar prostituição. Toma lá dá cá Deputado Nelson Marquezelli (PTB-SP) ISTOÉ – As negociações da fusão do PTB com o DEM avançaram? Marquezelli – Na reunião de terça-feira 7, a maioria da bancada pediu prazo até setembro para deliberar sobre a fusão. ISTOÉ – A data limite para a decisão leva em conta as eleições de 2016? Marquezelli – Este é o pulo do gato. Os correligionários precisam de no mínimo um ano de filiação na nova sigla criada com a fusão para disputar as eleições municipais. ISTOÉ – O senhor apóia a guinada do partido para a oposição? Marquezelli – Eu vou acompanhar o líder Jovair Arantes. Ele já manifestou intenção de permanecer na base do governo. O diretório de São Paulo, comandado pelo Campos Machado, também deve continuar na base. Fusão é soma, não podemos somar perdendo. Rápidas * Em reunião com parlamentares, o ministro da Previdência, Carlos Gabas, ouviu calado que a culpa da crise no setor é também dele. Embora tenha acabado de assumir a pasta, disseram, Gabas já mandava na pasta quando o ministro era Garibaldi Alves. * Ao deixar o Congresso na semana passada depois de uma audiência sobre a epidemia de dengue, o ministro da Saúde, Artur Chioro, perguntou a um assessor: “viu aquilo?”. Referia-se às críticas que Marta Suplicy (PT-SP) fez à gestão “desorganizada” do colega. * A senadora Marta Suplicy atacou o ministro da Saúde em relação a falhas no combate à epidemia de dengue no País. Exatamente o assunto tratado por Artur Chioro na audiência daquele dia com os parlamentares. Em crise com o PT, Marta está de saída do partido. * Aos 25 anos, o deputado Hugo Mota (PMDB-PB) ficou famoso ao ser escolhido presidente da CPI da Petrobras. No cargo, ele emite sinais explícitos de vaidade. Um exemplo: a parte de trás da capa que cobre seu celular exibe uma foto do parlamentar. Retrato falado Acusado de usar influência política para ajudar uma eleitora a furar a fila do SUS e realizar uma cirurgia digestiva, o senador Luiz Henrique (PMDB-SC) reclamou que está sendo alvo de calúnia. Embora tenha semelhanças com práticas mais comuns em Câmaras Municipais, o caso rendeu um inquérito contra o senador catarinense no Supremo Tribunal Federal (STF). Luiz Henrique reagiu indignado e usou a tribuna do Senado para se contrapor às acusações. Hospital de portas fechadas Cid Gomes e seu irmão Ciro inauguraram no final de dezembro o Hospital Regional do Sertão Central, em Quixeramobim (CE). Cid era governador do Ceará e, Ciro, secretário de Saúde. As portas foram abertas e... fechadas. Tocada pela empreiteira Fujita , a obra teve um custo de R$ 88 milhões. A construtora foi doadora da campanha do atual governador, Camilo Santana (PT), apoiado pela dupla do PROS. Demóstenes se movimenta Até a quinta-feira 9, o ex-senador Demóstenes Torres (GO) ainda não havia cumprido a promessa de comprovar denúncias contra o ex-correligionário Ronaldo Caiado (DEM), também senador. Mas, no início da semana, foi visto em Brasília reunido com uma equipe de advogados. 3#5 LUIZ FERNANDO SÁ - ENTRE A PALAVRA E A AÇÃO O Planalto precisa aprender a ouvir. E, se é assim, que comece ouvindo o que Dilma falou. Padrão nas páginas desta revista, o preceito constitucional da liberdade de imprensa e opinião permite que se elogie aqui a presidente Dilma Rousseff. Seu discurso ao empossar o novo ministro da Comunicação Social (Secom), Edinho Silva, é um promissor compromisso com as melhores práticas democráticas. Ao se comprometer a não usar o peso das verbas oficiais de publicidade para pressionar veículos ao alinhamento automático com as posições de seu governo – e o que é pior, de seu partido –, Dilma abafou o coro de vozes que se levantavam (em seu governo e em seu partido) a favor do uso político dos quase R$ 2 bilhões que circulam pela Secom anualmente. A turma que queria favorecer com recursos os veículos que apoiam a gestão petista e relegar os que dela discordam ao esquecimento financeiro não ganhou seu apoio. “Estamos comprometidos com o direito de se manifestar, de informar, de criticar. Somos contra a censura, a autocensura, as pressões, os lobbies e os interesses não confessados que podem coibir o direito à livre manifestação e à liberdade de imprensa”, disse ela. Convém anotar para cobrar. O problema com a Dilma do segundo mandato não reside tanto nas ideias e no discurso, mas na ação. Pior: na ação comparada ao discurso. Caminhando em sentidos contrários, palavra e ato caracterizam contradição e, em casos mais graves, mentira. A Dilma eleitoral e a Dilma eleita são duas estranhas seguindo em rumos distintos. Há uma expectativa de que se reencontrem. O tom do pronunciamento da terça-feira 31 de março indica uma tendência de arrefecimento e busca de diálogo que ainda não havia sido sequer verbalizada no Palácio do Planalto. A nomeação de Edinho, um político com fama de moderado e negociador, seria concretização das palavras. Assim como a indicação, dias depois, do professor Renato Janine Ribeiro para a Pasta da Educação. No lugar do irascível político Cid Gomes, entra um acadêmico habilidoso e respeitado, um homem que entende o mundo em que vive e como deve se comunicar com ele. Sua primeira manifestação como indicado foi uma mensagem postada nas redes sociais, que viralizou arrebatando apoios. Seu primeiro ato oficial no cargo, a assinatura de um programa de combate ao cyberbulling, formatado em conjunto com Google, Facebook e Twitter. São duas correções de rumo importantes ao cabo de apenas três meses de mandato. Mas não serão nada mais do que isso caso se revelem somente uma manobra para desviar a atenção da opinião pública. A gestão Dilma passa por um necessário processo de “desideologização”. É fundamental que ele permeie todas as áreas e que seja calcado em projetos e objetivos, e não na barganha política que levaria a uma nefasta “fisiologização”. O Planalto precisa aprender a ouvir. E, se é assim, que comece ouvindo o que a própria presidente falou: “A liberdade de expressão e de imprensa é o exercício do direito de ter opinião, do direito de criticar e apoiar os políticos e o governo, do direito de ter oposições e do direito de externá-las sem consequências e sem repressão”. Luiz Fernando Sá, diretor de Mídias Digitais e Projetos da Editora Três _________________________________________ 4# BRASIL 15.4.15 4#1 O CREPÚSCULO DO LULISMO 4#2 O NOVO GOVERNO 4#3 NO RASTRO DO ESTALEIRO 4#4 LAVA JATO: A NOVA ORIGEM 4#5 UM MINISTRO COM LUZ PRÓPRIA 4#1 O CREPÚSCULO DO LULISMO Os escândalos de corrupção envolvendo o PT e a inoperância do governo Dilma abalam a força política do ex-presidente e colocam em risco o projeto eleitoral de Lula para 2018 Josie Jeronimo (josie@istoe.com.br) Forjado no carisma pessoal e no amplo apoio popular ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o lulismo vive o seu crepúsculo. Se, num passado recente, Lula encarnava a figura política em quem nada de ruim colava, hoje o petista absorve o descrédito do governo e os sucessivos escândalos de corrupção protagonizados pelo PT. Para a população que ocupa as principais avenidas do País para protestar contra o governo, Lula é o parceiro fundamental do fracasso político-administrativo do projeto de poder que levou Dilma Rousseff à Presidência. É a face mais visível e seu principal fiador. Em 2005, no auge do escândalo do mensalão, o então presidente se livrou de um processo de impeachment porque a oposição temia enfrentar as massas em prováveis protestos em defesa do seu mandato. Hoje, a capacidade de mobilização de Lula encontra-se em xeque. Desde o final de 2014, quando fora proclamada a vitória da presidente Dilma Rousseff, depois de uma eleição vencida por uma margem apertadíssima, o “nós contra eles” não funciona como em outrora. Antes considerados imbatíveis, Lula e o PT perderam a primazia das manifestações e o “eles” abafou o “nós” na retórica e nas ruas. O que aconteceu na última semana é emblemático. Convocado por Lula com o intuito de se contrapor a mais uma manifestação contra o governo programada para o dia 12 de abril, o protesto organizado pelas centrais sindicais e movimentos sociais em defesa de Dilma produziu um fiasco. Em São Paulo, reuniu pouco mais de 200 pessoas. No Nordeste, onde Lula já registrou seus maiores índices de popularidade, houve Estados, como a Bahia, que não conseguiu mobilizar nem uma centena de militantes. Na desesperada tentativa de engrossar o coro dos esvaziados movimentos em favor do PT, a CUT numa manobra vergonhosa para seu histórico chegou ao despautério de alugar militantes. Para fazer número na manifestação de terça 7 em Brasília, a central pagou cachê de R$ 45, além de oferecer lanche, boné e camiseta para a pessoas pobres da periferia do DF. Na região do Sol Nascente, a maior favela do DF, foram recrutadas 30 pessoas. Apesar de conhecido por um otimismo empedernido, Lula tem se revelado descrente com o futuro, em conversas com pessoas próximas na sede do Instituto que leva o seu nome em São Paulo. A frase “o fracasso do governo Dilma é o meu fracasso” cunhada pelo ex-presidente há duas semanas expõe um misto de preocupação e rara sinceridade. De acordo com interlocutores que estiveram com Lula recentemente, o ex-presidente ficou apreensivo com pesquisas internas do partido que chegaram a ele nos últimos dias. Elas mostram que a base social que o sustentava derrete na mesma velocidade da perda de sua capacidade de mobilização. Pior, revelam também que as falcatruas do PT e inoperância de Dilma abalaram sua imagem e colocaram em xeque o patrimônio político que poderia lhe garantir um terceiro mandato presidencial em 2018. O choque de realidade veio após as manifestações de 15 de março, que levaram milhões de pessoas às ruas contra o governo. Até então, Lula e a cúpula do PT minimizavam os protestos. Consideravam as manifestações mero resultado do incentivo da imprensa e do apoio de parcela pouco expressiva da população. O barulho das ruas, no entanto, levou os dirigentes da Fundação Perseu Abramo a encomendar as pesquisas qualitativas às quais Lula teve acesso. Segundo o levantamento, as mesmas pessoas que consideram Dilma incapaz de resolver os problemas do País e os roubos na Petrobras identificam o governo Lula como sendo a origem dos escândalos de corrupção. Para elas, a corrupção está ligada aos desmandos administrativos. Ou seja, para boa parte da população, não há como dissociar Lula da crise atual. A decepção do eleitor com o lulopetismo fica ainda mais clara na sondagem da CNI/Ibope divulgada no dia 1º registrou que a maioria dos eleitores de Dilma mostra-se arrependida. Em dezembro, 20% dos eleitores da presidente afirmaram que escolheram a petista, mas tinham ressalvas sobre sua maneira de governar. Três meses depois o índice de eleitores arrependidos de terem votado na sucessora de Lula subiu para 66%. Outra pesquisa, desta vez do Instituto Paraná, mostra que o risco de uma derrota eleitoral do PT e de Lula em 2018 é real. Projeção de um segundo turno entre o ex-presidente e Aécio dá ao tucano uma vitória de 51,5% contra 27,2% de Lula – cenário impensável até dois anos atrás. Os cientistas políticos André Singer e Rudá Ricci, que se dedicaram ao estudo da ascensão petista na última década, notam o abalo nos pilares do lulismo. Este termo, criado como uma forma de definir simpatizantes do líder petista, nasceu de uma sofisticada leitura de Singer. O cientista político definiu o lulismo como um modelo de composição política centrado nos predicados carismáticos de Lula e envolto numa estratégia econômica de incentivo ao consumo – como a geração de emprego e renda, apoio do Estado a investimentos privados e a políticas sociais para socorrer os mais pobres. Esse fenômeno, no entanto, estaria com os dias contados. Singer, ex-porta-voz de Lula, considera que o lulismo está ameaçado desde os protestos de junho de 2013. Para o estudioso, a ascensão social ocorrida no governo Lula se deu unicamente pela esfera do consumo. Sem dinheiro circulando, a revolução proporcionada pelo lulismo estancou. Para outro estudioso do lulopetismo, o professor Rudá Ricci, além do cenário econômico, a falta de cuidado do governo Dilma em preservar aspectos estratégicos que garantiram a governabilidade dos oito primeiro anos do governo PT também ameaçam o fenômeno. “Ao tratar o arco de governabilidade com óbvios movimentos de toma lá, dá cá - sem qualquer cortesia institucional – e cortar os veios do consumo popular, Dilma eliminou pontos cruciais construídos por Lula”, avalia ele. As correntes mais à esquerda do PT preferem debitar a crise do lulismo na conta da ala mais pragmática do partido, que ascendeu na década de 90, quando José Dirceu assumiu a presidência da legenda. “Embora o estilo predominante no atual governo possa agravar as coisas, os impasses atuais não decorrem principalmente das ações e inações da presidenta Dilma. As escolhas estratégicas feitas pelo PT foram anteriores ao ingresso de Dilma no partido”, diz um trecho de documento interno que compõe teses do debate que permeará o Congresso Nacional do PT, em junho. Numa última tentativa de preservar o seu legado e, com isso, não arder na mesma fogueira de Dilma até 2018, Lula aproxima-se da esquerda petista, dos sindicatos e movimentos sociais. Ou seja, ao mesmo tempo em que recomenda a presidente a partilha do poder com o PMDB, nas bases partidárias Lula joga em outra direção, revelando o caráter personalista do seu projeto. Líderes de movimentos sociais até então esquecidos ou que tiveram quadros burocráticos cooptados pela estrutura do governo estão sendo, um a um, chamados para conversas e reuniões com o líder petista. O ex-presidente também retomou o Governança Metropolitana, nome de um projeto do Instituto Lula destinado a debater as cidades brasileiras. Deste modo, Lula pretende ouvir reclamações, antecipar o pleito das ruas. O ex-presidente ainda articula o resgate da boa convivência do Movimento dos Sem Teto. Na terça-feira 7, um dia após o líder do MTST, o filósofo Guilherme Boulos, afirmar em entrevista que “o lulismo não funciona mais”, o ex-presidente recebeu em seu Instituto representantes dos movimentos nacionais de moradia. Os militantes estavam indóceis com o cancelamento da terceira fase do programa Minha Casa, Minha Vida. Muitos anos de omissão do PT com a juventude petista também estão no radar de preocupações do ex-presidente. Aos 69 anos, Lula ainda fala melhor com os jovens correligionários do que os dirigentes do partido responsável pela interlocução. Em pesquisas internas, o PT identificou a perda de força entre esses militantes. No caderno de teses que o partido apresentará no congresso da legenda, em junho, está registrado o reconhecimento da rejeição dos jovens à sigla. “É preciso organizar a atuação e a influência de massas do petismo entre os jovens que supere seu profundo processo de dispersão e desorganização em um dos momentos em que o PT é mais desafiado a dialogar com as novas gerações”, afirma o documento. Pesquisa da CNI/Ibope vai na mesma direção ao mostrar que o maior percentual da queda de popularidade do governo concentrou-se entre os mais jovens. Entre os entrevistados de 25 a 34 anos, 92% reprovam a administração petista. Na faixa de 16 a 24 anos, a rejeição é de 86%. A falta de oxigenação do PT expõe uma falha da estratégia lulista. Ao cooptar a União Nacional dos Estudantes (UNE) e se aproximar institucionalmente dos líderes da entidade, o PT imaginou que ganharia o apoio dos jovens. O método não funcionou. O mesmo ocorreu com as centrais sindicais. Os burocratas das organizações trabalhistas ganharam assento no governo, mas os trabalhadores não se sentem mais representados pelos sindicatos. Para o cientista político e sociólogo Antonio Lavareda, o lulismo respira por aparelhos. O destino do fenômeno, segundo ele, será jogado nas eleições municipais de 2016. “O PT declinou no mensalão, mas conseguiu resgatar um patamar de preferência mais adiante. Nós só podemos saber o futuro do lulismo quando soubermos como terminará o governo Dilma. Provavelmente, as eleições municipais serão as primeiras eleições em que o PT decairá no número de prefeituras. De qualquer forma, os fatos recentes mostram que o lulismo já está bastante enfraquecido”, afirma Lavareda. O resgate do lulismo, como forma de preservação do PT e de seu projeto de poder, no entanto, não é uma unanimidade entre os petistas. Documento apresentado pela corrente Articulação de Esquerda defende uma refundação da sigla e, até mesmo, a criação de uma corregedoria interna para punir acusados de corrupção. A crise partidária, avalia o grupo, é consequência de concessões feitas pelo governo a grandes empresas, geralmente comandadas por dirigentes que flertam com partidos situados à direita do espectro ideológico. No que depender deles, Lula agonizará sozinho. 4#2 O NOVO GOVERNO Depois de entregar o comando da economia a Joaquim Levy, um adepto das receitas tucanas, Dilma terceiriza a articulação política para o PMDB. O poder, agora, se concentra num triunvirato: Michel Temer, Renan Calheiros e Eduardo Cunha são os homens fortes Izabelle Torres (izabelle@istoe.com.br) Desde a última semana, o País encontra-se sob a égide de um novo governo. Não de direito, mas de fato. Desde que foi empossada, a presidente Dilma Rousseff, aos poucos, abre mão de suas prerrogativas, numa tentativa desesperada de sair da crise político-administrativa. Num primeiro momento, para corrigir as barbeiragens feitas nas contas públicas durante o mandato anterior, Dilma terceirizou a condução da política econômica e recorreu à Joaquim Levy, incumbindo-o do ajuste fiscal para cortar R$ 66 bilhões de despesas. Na prática, adotou a política defendida pelo PSDB para tentar sair da crise econômica. Nos últimos dias, a presidente terceirizou o braço que ela ainda controlava – mesmo que aos trancos e barrancos: o político. Ao transferir para o vice-presidente Michel Temer as atribuições da articulação, Dilma praticamente delega a condução de seu governo ao PMDB – mais precisamente ao triunvirato Michel Temer, Renan Calheiros, presidente do Senado, e Eduardo Cunha, presidente da Câmara. “A decisão de Dilma é uma espécie de renúncia branca”, definiu o senador Aécio Neves (MG), presidente nacional do PSDB. “Ela dexou de governar, não desempenha mais papel algum”, afirmou Aécio. Se antes o PMDB ditava os rumos do governo por meio do Congresso, ao sabor de suas conveniências, agora o partido irá estabelecer o norte político a partir do Palácio do Jaburu, sede da vice-presidência, para onde se deslocará o eixo das decisões mais importantes do governo. Muito diferente do que ocorreu nos primeiros três meses da presidência de Dilma, quando Temer esteve isolado, sem poder relevante, embora se manifestasse disposto a ajudar. Hábil tanto nas articulações de bastidor como no manejo das palavras, o experiente Temer nunca admitirá ultrapassar a fronteira decisória e hierárquica que o separa da Presidência da República e o distingue da presidente eleita. Mas o vice-presidente sabe que ele e o PMDB dispõem hoje de um poder colossal. Frágil como nunca, Dilma vê sua autoridade pessoal desvanecer. Não é capaz nem de, por vontade própria, indicar um nome que julga mais adequado para assumir a vaga de ministro do Supremo Tribunal Federal, aberta há oito meses. O PMDB submeteu-lhe a uma liturgia vexatória. O nome, segundo imposição do partido, não pode estar associado ao PT e deve necessariamente passar pelo crivo de Renan Calheiros, que é investigado pela Lava Jato com autorização do STF. A ideia da transferência da articulação política ao PMDB era uma tentativa de partilhar a administração e debelar a crise com o partido, consequentemente com o Congresso. Mas a iniciativa colocou Dilma e o governo numa encruzilhada. Se Temer conseguir apaziguar os caciques peemedebistas e resolver ao menos parte dos muitos problemas do Executivo com o Congresso, ficará ainda mais forte, credenciando seu partido para a sucessão de 2018. Caso fracasse, empurra o governo – e não ele – para um beco sem saída. QUINTA-FEIRA 9 - Temer visita Lula em São Paulo e comunica a autonomia para preencher cargos no governo Os riscos assumidos pela presidente ao terceirizar seu governo não são resultados de uma estratégia corajosa e tampouco representam sinais de uma virada nos rumos do País. Resultam sim de uma completa falta de opção e da inoperância do ministro da Casa Civil, Aloizio Mercadante, que saiu enfraquecido com as mudanças estruturais ocorridas no governo. A terceirização também decorre da articulação mambembe do governo, incapaz de promover simples trocas ministeriais sem desencontros, desacertos e vazamentos que partem do próprio Planalto. A intenção inicial de Dilma era acomodar o ministro da Aviação Civil, Eliseu Padilha (PMDB), na pasta até então comandada pela petista Pepe Vargas. Dessa forma, contemplaria o PMDB, atendendo a recomendação do ex-presidente Lula de dividir o poder com o partido aliado. Mas o processo de substituição se deu de forma atabalhoada. O convite para que Padilha trocasse a Aviação Civil pela pasta de Relações Institucionais foi feito na noite da última terça-feira 6. Acostumada a enviar emissários para sondar ministeriáveis e poupar-se de eventuais negativas, Dilma inovou e decidiu agir sozinha. Ouviu de Padilha que precisava de tempo para pensar a respeito. Os problemas foram dois. O primeiro foi que o convite vazou e Vargas soube que estava sendo apeado do cargo pelos sites. Depois, Padilha recusou a oferta. Constrangimento pior impossível. Para Vargas, estaria reservado ainda mais um vexame. Ele convocou uma entrevista para anunciar seu novo destino, a Secretaria de Direito Humanos, mas teve de interrompê-la para atender um telefonema de Dilma, que desoutorizava o anúncio. Imperialmente, à noite, Dilma nomearia o dócil Pepe Vargas. A última cartada foi recorrer a Temer. Segundo relatou o próprio vice-presidente a sete políticos com quem jantou no Palácio do Jaburu na quarta-feira 8, Dilma apelou para que ele assumisse a articulação, ressaltando que o governo poderia ficar sem saída, caso Temer recusasse. “Não tive alternativa. Não pude recusar pela forma como o apelo foi feito”, disse ele. Temer e Dilma estavam no gabinete presidencial quando a presidente afirmou: “Só me resta você. Você terá de aceitar a coordenação. Do contrário, o governo poderá não se manter”. Temer questionou se teria autonomia e se iria cuidar do preenchimento de cargos do segundo escalão. Ouviu uma resposta positiva seguida da seguinte promessa: “Vamos dividir o governo”. Temer aquiesceu, mas sua tarefa não será simples. Domar Eduardo Cunha e Renan Calheiros, que dão as cartas na Câmara e no Senado, e estão em permanente litígio com o governo exigirá muita negociação. Ambos espalham sinais de que não estão dispostos a facilitar a vida do Planalto e adotam o discurso em defesa da “independência” do parlamento. Renan é menos arredio. Gostou da indicação de Temer e acredita que foi um gesto de boa vontade da presidente para inserir o partido nas decisões relevantes e “abrir o Palácio ao PMDB”, segundo palavras dele mesmo. Cunha, por outro lado, embora mantenha boas relações com o vice-presidente, tende a seguir mais afinado com a ala do partido disposta a agir como oposição. Na semana passada, orientou seus liderados a aprovar na Comissão de Constituição de Justiça da Câmara a proposta de limitar a 20 o número de ministérios. Sob o comando de Cunha, a Câmara dos Deputados aprovou na noite de quarta-feira 8, por 324 votos a favor, 137 contra e duas abstenções, o texto-base do projeto que regulamenta e amplia o processo de terceirização de trabalhadores, mesmo com a resistência do PT. Para Cunha, o resultado mostrou “dissonância” do governo com sua base. “Quando o líder do governo encaminha a votação pelo governo contra todos os partidos da base, mostra que ele atua em dissonância com sua própria base. Eu sou testemunha de que o relator acordou com a equipe do Ministério da Fazenda pontos importantes que o governo considerou que tinham que estar no projeto”, afirmou. Se quiser obter sucesso em sua nova empreitada, Temer ainda precisará enfrentar a ira do PT. O partido detinha o comando da articulação política enquanto a função estava sob a batuta de Pepe Vargas e fez o possível para enfrentar o PMDB no Congresso. Agora, o PT percebe que pode tornar-se figurante desse segundo mandato e aposta na recorrente postura de Dilma Rousseff de prometer e não honrar promessas feitas a aliados. NOVO CENTRO DAS DECISÕES - Com a ascensão de Michel Temer à articulação do governo, o Palácio do Jaburu, sede da vice-presidência, se tornará o palco das mais importantes decisões políticas Enquanto o mundo político ainda digeria a entrada do vice-presidente da República na articulação política do governo, ele já atuava na nova função. Na quarta-feira 8, Temer dividiu seu tempo entre conversar com aliados e tentar barrar as três Comissões Parlamentares de Inquérito (CPIs) protocoladas no Senado na véspera. Obteve sucesso na retirada de seis assinaturas da comissão que pretendia vasculhar os empréstimos feitos pelo BNDES durante o governo PT. Mas assiste outras duas, a do Carf e a dos fundos de pensão, tomarem formas e se tornarem ameaças reais ao Planalto. Nos próximos dias, o governo ainda terá de definir a forma como pretende extinguir a secretaria de Relações Institucionais, uma vez que Temer acertou com a presidente que não irá tornar-se ministro e tampouco quer ser designado para a função pelo Diário Oficial, o que o tornaria subordinado direto de Dilma e do chefe da Casa Civil, Aloizio Mercadante. A tendência é que as atribuições de antiga pasta sejam transferidas pura e simplesmente para a vice-presidência, condição imposta por Temer a Dilma durante a conversa que o sacramentou no comando da articulação política. Nos bastidores, aliados e oposição concordam que Dilma transformou-se, contraditoriamente, numa figura menor do seu próprio mandato. Precisa entregar e dividir o poder com partidos antes renegados para não ser devorada por eles. À primeira vista, terceirizar o governo parece ser a única saída para tentar estancar a crise criada pela sucessão de desacertos presidenciais. O problema é se a concentração do poder nas mãos do PMDB significar a renúncia de fato da presidente da República, mesmo que não de direito. 4#3 NO RASTRO DO ESTALEIRO Oposição e TCU querem investigar desdobramentos do contrato assinado por Dilma e ISTOÉ revela novo documento sobre as fraudes no Estaleiro Rio Grande Claudio Dantas Sequeira (claudiodantas@istoe.com.br) As investigações sobre a participação do Estaleiro Rio Grande no escândalo do Petrolão ganharam uma nova dimensão na última semana. Depois de ISTOÉ revelar que a presidente Dilma Rousseff assinou como testemunha o contrato para o início das obras que deram início ao estaleiro, tanto a oposição como o Ministério Público e o Tribunal de Contas da União passaram a se empenhar para esmiuçar todos os detalhes que cercam o estaleiro e seus inúmeros contratos. Na semana passada, além do documento assinado por Dilma e pelo ex-diretor de Serviços da Petrobras, Renato Duque, hoje preso pela Polícia Federal, a reportagem de ISTOÉ trouxe o depoimento de um ex-funcionário da Petrobras que, sob o compromisso de ter a identidade preservada, contou as falcatruas feitas em todos os negócios envolvendo o estaleiro. Agora, novos documentos obtidos por ISTOÉ revelam como foram feitos de forma irregular aditivos milionários que permitiram um desvio de aproximadamente R$ 500 milhões. O primeiro aditivo de R$ 150 milhões feito ao contrato assinado por Dilma foi aprovado pelo ex-gerente de Engenharia da Petrobras Pedro Barusco. Réu confesso na Lava Jato, Barusco foi quem afirmou aos procuradores que, dos R$ 100 milhões desviados do contrato do Estaleiro com a Engevix para construção de navios-sonda, R$ 40 milhões foram parar nos cofres do PT. Nos novos documentos aos quais ISTOÉ teve acesso chama a atenção uma análise jurídica da Petrobras a respeito do aditivo. O relatório mostra que a equipe da Petrobras fez ressalvas à ausência “de uma definição precisa quanto aos motivos que justificariam esse acréscimo”. Ainda segundo o relatório, “tal indefinição poderia suscitar questionamentos dos órgãos de controle de que a pretendida alteração estaria tornando os contratos de fornecimento mais vantajosos para a WTorre, em ofensa aos princípios da licitação, com uma espécie de adiantamento de valores que ainda não se sabem serem devidos”. O documento foi assinado pelo gerente jurídico de Serviços Luiz Carlos Delfim, a gerente jurídica de Engenharia Mariana Fernandes da Silva, e pelos advogados Pedro Henrique Sellmann e Daniele Varanda. Para o procurador junto ao TCU Marinus Marsico, o aditivo aprovado por Barusco é “equivalente a um cheque em branco”. “Precisamos averiguar se essa contratação foi econômica, eficiente e se seguiu os parâmetros legais”, disse à ISTOÉ. Orçada originalmente em R$ 223 milhões e ampliada um ano depois para R$ 440 milhões, a construção de um estaleiro para fabricar plataformas semi-submersíveis (SS) e navios-sonda (FPSO) ultrapassou os R$ 840 milhões. O processo licitatório foi terceirizado pela Petrobras à corretora Rio Bravo DTVM, que depois passou à condição de gestora de um fundo imobiliário criado para captar no mercado os recursos para a construção. Segundo um ex-funcionário, a aprovação dos aditivos foi feita por pressão política de “caciques do PT”. Marsico, do TCU, questiona a terceirização da licitação, cujo resultado foi o contrato assinado por Dilma, e a grande diferença entre o custo original do contrato e o valor pago ao final. “Esse contrato com o Estaleiro Rio Grande não vai escapar ao crivo do Tribunal”, avisa. Na semana passada, em nota encaminhada à reportagem, a Rio Bravo, gestora do fundo imobiliário, afirmou que todas as operações financeiras foram concretizadas e aprovadas pela Petrobras, dona de 99% das cotas do fundo e de 100% dos direitos econômicos. Na última semana, PSDB e DEM prepararam requerimentos de convocação dos envolvidos e solicitação de toda a documentação da obra. “A CPI tem que abrir uma linha de investigação exclusiva para ver até onde vai a responsabilidade de Dilma”, disse à ISTOÉ o líder do PSDB na Câmara, Carlos Sampaio (SP). Para o deputado, a assinatura da então ministra da Casa Civil seria “uma sinalização” a integrantes do esquema do Petrolão “de que ali estava um negócio do interesse do partido”. O líder do DEM no Senado, Ronaldo Caiado, lembrou que o nome de Dilma já foi citado 11 vezes em depoimentos dos delatores da Lava Jato. Para ele, a assinatura de Dilma no contrato do estaleiro “não faz nenhum sentido republicano”. 4#4 LAVA JATO: A NOVA ORIGEM Em nova etapa de investigações, a PF prende ex-deputados e começa a desvendar casos de corrupção no Ministério da Saúde e na CEF Cláudio Dantas Sequeira Na sexta-feira 10, ao deflagrar a 11ª etapa da Operação Lava Jato, o juiz Sérgio Moro abriu duas novas frentes de investigação para além da Petrobras e que tendem a emparedar ainda mais o governo Dilma e seus aliados. Batizada de “Origem”, a nova operação investiga esquema de fraudes em contratos no Ministério da Saúde e na Caixa Econômica Federal. Em ambos os casos, a Polícia Federal e o MPF descobriram a participação do ex-deputado federal André Vargas (PR), ex vice-presidente da Câmara e homem forte do PT até o ano passado. Depois de ser expulso da legenda e ter o mandato cassado, Vargas agora ficará detido na Superintendência da PF em Curitiba. Além dele, também foram presos os ex-deputados Luiz Argolo (SD -BA) e Pedro Corrêa (PP-PE), já condenado no processo do mensalão. LUXO E PROPINA - A Polícia usou o Range Rover que pertencia ao delator da Petrobras, Paulo Roberto Costa, para prender André Vargas A queda de Vargas assusta o Palácio do Planalto, pois há meses ele dava sinais de que entregaria outros caciques petistas, caso fosse preso. O ex-deputado é acusado de corrupção e lavagem de dinheiro, além de sonegação fiscal. Segundo a PF, ele teria recebido ao menos R$ 2,4 milhões em propinas para intermediar contratos de publicidade para a agência Borghierh Lowe Propaganda e Marketing com a Caixa e o Ministério da Saúde, além de outros órgãos públicos. De acordo com as investigações, Vargas foi o destinatário de pagamentos das chamadas “comissões de bônus de volume”, em esquema semelhante ao usado no caso do mensalão. O dinheiro era depositado nas contas das empresas Limiar e LSI, controladas por André Vargas e seus irmãos, conforme revelou ISTOÉ no ano passado. Além da agência, a PF suspeita também dos contratos da empresa IT7 Sistemas com a Caixa, o Serpro e outros órgãos. A contadora de Youssef, Meire Poza, confirmou a emissão de notas frias em favor da IT7 para “acobertar transferência de recursos” para Leon Denis e André Vargas. Emails interceptados confirmaram a transação. Moro determinou a prisão de Leon Denis Vargas Ilário, irmão de André Vargas, de Elia Santos da Hora, secretária de Argolo, Ivan Torres, laranja de Corrêa, e Ricardo Hoffmann, vice-presidente e diretor-geral da agência Borghierh Lowe em Brasília. No caso do Ministério da Saúde, o esquema incluiria contratos com laboratórios farmacêuticos. Na primeira fase da Lava Jato, a PF descobriu que Vargas atuou em parceria com o doleiro Alberto Youssef para abocanhar um contrato de R$ 150 milhões, usando a empresa Labogen, como laboratório de fachada para o pagamento de propinas. Para a PF, as novas provas confirmam que Vargas era sócio de Youssef. Os investigadores, porém, querem descobrir a participação de outros agentes públicos que colaboraram com o esquema. 4#5 UM MINISTRO COM LUZ PRÓPRIA Aclamado pelo meio acadêmico e até pela oposição, o professor da USP Renato Janine assume o Ministério da Educação prometendo expansão quantitativa, qualidade no ensino e mais espaço para experiências criativas Eliane Lobato (elianelobato@istoe.com.br) Num governo marcado por ministros inexpressivos, surge enfim uma estrela de primeira grandeza. Na última semana, tomou posse como novo ministro da Educação o filósofo e professor de Ética e Filosofia Política da USP, Renato Janine Ribeiro. Ele ascende ao comando da pasta saudado por integrantes do governo, oposição, universo acadêmico e meio intelectual imbuído de um dos maiores desafios impostos ao segundo mandato da presidente Dilma: proporcionar o salto necessário para uma educação de qualidade. Até agora, o propalado “Brasil, pátria educadora” permanece circunscrito à retórica da presidente. O próprio ministro, antes de ser convidado, vinha tecendo críticas a Dilma Rousseff e a sua maneira de conduzir o País. Disse que ela não fazia política, tinha uma concepção de governo “autoritária” e não dava autonomia aos ministros, sendo “uma decepção do ponto de vista econômico”. UM PENSADOR - O filósofo Renato Janine torna-se a estrela de um ministério recheado de ministros sem expressão Em entrevista à ISTOÉ, ele reconhece que virou vitrine do governo. “Altas expectativas sempre deixam a gente vulnerável ao risco de decepção”, pondera. Mas, ao acentuar que os projetos de sua pasta são de longo prazo, sugere que as cobranças também deveriam ser. Nascido em Araçatuba, no interior de São Paulo, e vivendo na capital, Janine, 65 anos, é separado e tem dois filhos. Doutor pela Universidade de Sorbonne, na França, é autor de 18 livros publicados, 78 capítulos de livros editados, além de um grande número de artigos veiculados nos principais jornais do País. A este relevante currículo, ele agora acrescenta mais um item: tornou-se quase uma unanimidade na política brasileira. ISTOÉ – Como se sente sendo alvo de tanta expectativa agora? Renato Janine Ribeiro – Sinto que não é uma coisa pessoal. Há, no Brasil, um espaço de muita esperança na educação. Só que isso é muito vago, quase uma panaceia. Mas educação é muito ampla mesmo, não é só formal, ela abrange muitas coisas. Por eu ser um educador, não ter ligação com partido político, cria uma expectativa de que alguém da área tenha maior preocupação com a pasta. Mas é claro que não precisa ser assim. Veja que trocas engraçadas deram certo: o (Antonio) Palocci, que é médico, foi bom ministro na Fazenda (governo Lula) e o (José) Serra, que é economista, foi bom ministro na Saúde (governo Fernando Henrique Cardoso). ISTOÉ – Mas é o sr. que passa a ser vitrine. Está preparado para levar pedradas? Janine – Espero que esteja... Altas expectativas sempre deixam a gente vulnerável ao risco de decepção. Agora, a gente tem que pensar isso tudo a longo prazo. Podemos ter, este ano, dificuldade orçamentária, mas isso vai passar. Temos um projeto de 10 anos, o Plano Nacional de Educação (PNE), que mostra um caminho, e dá segurança de longo voo. O fato de a presidente Dilma (Rousseff) ter escolhido Pátria Educadora como tema é muito significativo porque coloca as ações do governo sob a inspiração da educação. No plano simbólico, é um reforço. No financeiro também deve ser. ISTOÉ – Que tipo de ministro ou educador o sr. pretende ser? Janine – Eu gostaria de fazer três coisas principais: expansão quantitativa, que é uma questão de justiça social porque ainda temos muita gente longe dos benefícios da educação; qualidade que acompanhe essa expansão numérica e, em terceiro, tentar dar espaço para experiências criativas. Hoje, a educação está extremamente associada, no mundo inteiro, à criatividade. E isso não é só uma questão de dinheiro, é de postura. Na internet tem uma enorme quantidade de conteúdo de qualidade; se souber fazer bom uso, se consegue resultados muito positivos. Conseguimos tornar as pessoas mais educadas e mais cultas. ISTOÉ – Acha que ética é um tema que deveria constar de todo o ciclo educacional? Em que idade as escolas deveriam começar a ensinar ética? Janine – Durante os últimos anos, atuei como consultor para a Unesco na elaboração de um programa de ética para escolas de ensino médio do Sesi. Não integro mais o programa, mas ele está sendo implantado em Salvador, na Bahia. Os pontos principais são: não se trata de dizer o que é certo ou errado, mas capacitar a pessoa para ser um sujeito autônomo. A palavra-chave na ética é autonomia – ou seja, aquele que dita a lei, o “nomos”, a si próprio, “autos”. O sujeito autônomo é aquele que encontra seu próprio caminho e responde por isso. Outro ponto é o aprofundamento dos valores. Por exemplo, as pessoas entendem o valor ‘não matar’ de uma maneira muito preguiçosa, como sendo não tirar vidas. Mas inclui também acudir pessoas em estado de risco, em situação de vulnerabilidade, de fome, de doença. Então, se você passa por essas pessoas e as deixa nessa situação, está conivente com a morte delas. A ideia central, neste caso, é fazer pensar o que ‘não matar’ quer dizer, e fazer os alunos explorarem as significações adicionais. ISTOÉ – Em sentido mais amplo... Janine – A ética pode substituir a violência por uma cultura de paz, o que é muito importante. Há em certas escolas um ambiente de violência que precisa ser revertido. Também pode desenvolver um pouco do sentimento de responsabilidade do estudante pelo País e a sociedade que o proporcionou estudar. Às vezes, esses estudantes estão em boas universidades, ótimas, sem pagar nada, mas não se sentem responsáveis pela sociedade que os educaram. Isso é ruim. ISTOÉ – O sr. tem ideia do montante dos recursos do pre-sal? Como pretende usá-lo? Janine – Não tenho. Nem como pretendo usar. Mas será muito bem usado, isso eu posso garantir.] ISTOÉ – O sr. disse: “Não poderemos promover mudanças sem uma constante valorização do professor, em todos os níveis de ensino.” Inclui aumento dos salários? Janine – Com certeza. A valorização do professor de educação básica é paga pelo estado e município. A situação orçamentária da União não é muito afetada por isso. Algumas das metas até 2020, contidas PNE, são fazer com que o salário de quem dá aula na rede pública fique no mesmo nível de uma pessoa com igual escolaridade, quatro anos de faculdade, que trabalhe fora do ensino. Hoje, o salário médio do professor de ensino básico estadual ou municipal é 72,7% do salário de quem está atua em outros segmentos. ______________________________________ 5# COMPORTAMENTO 15.4.15 5#1 AUMENTO SEM FIM 5#2 AS TRAPAÇAS DO JUIZ 5#3 UM ASSASSINATO PARA MUDAR A HISTÓRIA 5#4 O GARGALO DAS UPPS 5#1 AUMENTO SEM FIM Governo anuncia alta na conta de luz pela terceira vez consecutiva no ano e reajuste deve atingir 40% nos próximos meses. Até onde isso pode chegar? Claudio Dantas Sequeira (claudiodantas@istoe.com.br) Na véspera de 7 de setembro de 2012, a presidente Dilma Rousseff foi à TV fazer um pronunciamento com promessas de forte apelo social decoradas com frases de efeito. Falou em baixar juros, reduzir impostos e equilibrar o câmbio. Mas a cereja do bolo foi o anúncio de medidas destinadas a baixar a conta de luz. Quatro meses depois, a promessa foi cumprida com a edição da MP 579. Dilma fez, então, um novo pronunciamento declarando que o desconto seria ainda maior que o previsto: em média 20%. “As perspectivas são as melhores”, disse. Esses números ajudaram Dilma a se reeleger, convencendo o eleitor menos informado do sucesso de sua política. Tratava-se obviamente de um engodo. Logo no início de 2015, a realidade bateu à porta. Em apenas três meses, a conta de luz subiu em média 35% e deve chegar a 40% em breve. Na semana passada, a Aneel autorizou o terceiro reajuste nas tarifas de energia das principais distribuidoras do País. Com a eletricidade mais cara, o custo da produção na indústria também sobe e esse aumento é transferido para o preço de produtos e serviços. Assim como acontece com a gasolina e a água, o custo da eletricidade atinge toda a cadeia produtiva. A alta da conta de luz sofreu não apenas um, mas três tipos de reajuste. Uma correção extraordinária para cobrir os custos da eletricidade de Itaipu, indexadas ao dólar; o reajuste anual dos contratos de cada concessionária e o aumento da taxa extra da bandeira tarifária. Somando-se tudo isso, a energia elétrica foi, sozinha, responsável por mais da metade da inflação registrada em março, que acumula 8,13% em 12 meses – a maior alta em 11 anos. Segundo o IBGE, com a entrada em vigor da revisão das tarifas aprovada pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), “ocorreram aumentos extras fora do reajuste anual para cobrir custos das concessionárias. Na mesma data, houve um reajuste de 83,33% sobre o valor da bandeira tarifária vigente, a vermelha, passando de R$ 3,00 para R$ 5,50 para cada 100kWh”, explica o IBGE em seu relatório divulgado no início de abril. A chamada “bandeira tarifária” estabelece o pagamento de uma taxa extra para consumidores de regiões onde há aumento do custo de produção de energia. Isso acontece, por exemplo, quando é preciso acionar as usinas termelétricas para compensar a queda na produção das hidrelétricas por causa da falta de chuvas. PALAVRAS AO VENTO - Na campanha, Dilma vendeu a redução das tarifas de energia como uma política eficiente de governo. Sabe-se agora que era mais um engodo O sistema de bandeiras foi criado para evitar o colapso das companhias que, antes, arcavam com os custos extras de uma produção mais cara até a data oficial de reajuste do contrato, a cada 12 meses. Sem fluxo de caixa, situação financeira dessas empresas ficava fragilizada. As bandeiras tarifárias deveriam ter entrado em vigor ainda em 2014, mas a Aneel decidiu postergar sua aplicação alegando que as distribuidoras não estavam tecnicamente preparadas. “No mercado, especulou-se que o adiamento foi influenciado pelo próprio governo que temia uma repercussão negativa em ano eleitoral”, afirma o consultor Mateus Tolentino, da Prime Energy. Quando Dilma anunciou o pacote de bondades em 2013, ela sabia que estava tapando o sol com a peneira. O governo jogava com a possibilidade de não renovar as concessões daqueles que não aderissem à MP. Mas a pressão teve efeito inverso. Gigantes como CESP, Cemig e Copel, além de outras menores, alertaram que não havia margem para cortes nas contas de luz e disseram que entregariam suas operações. Para evitar isso, negociou-se um aporte de R$ 8 bilhões do Tesouro para que as companhias cortassem as contas, subsidiando na prática a medida com dinheiro público. A situação, porém, ficou ainda mais crítica por causa da redução das chuvas que levou ao acionamento das térmicas. O dinheiro foi usado para cobrir custos extras com a compra de uma energia mais cara. O buraco aumentou e o governo chamou o pool dos maiores bancos do país para cobrir o rombo. Foi feito um empréstimo de R$ 10 bilhões com vencimento para 2015. Mesmo assim, não adiantou. E novos empréstimos foram efetuados, criando um esqueleto de mais de R$ 34 bilhões. Se o governo não tivesse segurado os reajustes, o consumidor teria pago os custos extras normalmente em sua conta de luz. Com os empréstimos feitos para bancar a política de Dilma, terão de bancar um valor maior, devido aos juros cobrados sobre esses financiamentos. A conta sobra mais uma vez para o contribuinte. 5#2 AS TRAPAÇAS DO JUIZ ISTOÉ flagra juiz Flávio Roberto de Souza se divertindo em Buzios enquanto tenta a aposentadoria alegando problemas psiquiátricos e é acusado pelo Ministério Público de peculato e falsidade ideológica Helena Borges (helenaborges@istoe.com.br) Parece estranho que um homem de 52 anos afastado do trabalho por problemas de saúde apareça se divertindo na boate de um hotel de luxo, em Búzios, no litoral fluminense, conversando animadamente e relaxando nas camas dispostas em deques ao lado de jovens endinheirados, muitos deles trajando roupas de banho, num evento regado a champagne Moet Chandon e Veuve Clicquot. Foi nesta situação que a reportagem de ISTOÉ flagrou o juiz Flávio Roberto de Souza, que ficou famoso em todo País em fevereiro, ao utilizar os bens apreendidos do empresário Eike Batista, como um Porsche e um piano de cauda. Mas o magistrado tem outros golpes no currículo. Na semana passada, o Ministério Público Federal (MPF) do Rio de Janeiro apresentou denúncia à justiça acusando Souza de peculato, falsidade ideológica, extravio e destruição de autos. Caso seja aceita pelo tribunal, o juiz, que chegou a roubar dinheiro acautelado no cofre de seu gabinete — 150 mil dólares e 108 mil euros —, passará de magistrado a réu. A tese de sua defesa é que ele tem problemas psiquiátricos, o que o flagra em Búzios coloca bastante em dúvida. De fato, Souza tirou sucessivas licenças médicas: só este ano foram 75 dias – o período de dolce far niente em Búzios foram após o episódio Eike. Entre 2012 e 2013 foram 200, 20 a mais do que o máximo permitido para o período, de acordo com o relatório produzido a pedido de ISTOÉ pelo Tribunal Regional Federal. No entanto, isso não é suficiente para eximi-lo da culpa, segundo o desembargador André Fontes, responsável por um dos cinco processos administrativos ao qual o magistrado responde (leia quadro). “Mesmo que os problemas psiquiátricos sejam comprovados, uma doença não justificaria as acusações feitas a ele.” Não por acaso, o Ministério Público incluiu na denúncia o pedido de condenação, que conta com a perda do cargo público ou a cassação de eventual aposentadoria. Segundo inquérito policial, Souza inseriu documentação falsa nos autos da operação policial “Monte Perdido”, que confiscou bens do traficante espanhol Oliver Ortiz, para desviar valores apreendidos. O golpe teve início no dia 29 de abril de 2014, quando o magistrado solicitou transferência de R$ 47.190, alegando que o pedido lhe fora feito pela Vara Cível da Barra da Tijuca, zona oeste carioca. Myllena Knoch, servidora do gabinete, constatou via Receita Federal que os dados bancários eram referentes à loja Auto Peças Rio Castro Daire, e não a uma instância judicial. Ela alertou o magistrado do possível equívoco, o que fez com que ele agisse mais rápido. Souza emitiu ordem à Superintendência da Caixa Econômica Federal para enviar o dinheiro especificamente à loja de automóveis, contrariando o procedimento padrão da justiça. E a fraude continuou em junho, quando outra ordem foi incluída no processo, determinando a transferência de R$ 94.750 para a mesma conta. Mais uma vez, a Caixa Econômica realizou a transação sem questionar. Já no início deste ano, em 8 de janeiro, ele incluiu no sistema um documento afirmando que Marcos Cantuária e Joaquim da Silva, nomes inventados segundo constatou a Polícia Federal, pediam restituição do dinheiro, em moedas estrangeiras euro e dólar, que teriam dado ao traficante espanhol Ortiz para comprar um apartamento. Como se não bastasse, Souza incluiu no texto que o Ministério Público Federal (MPF) teria pedido audiência com os dois para esclarecer a origem do dinheiro e estipulou que a quantia deveria ficar guardada no cofre de seu gabinete até que as explicações fossem apresentadas. O MPF esclarece que a última vez que os autos deram entrada na Procuradoria foi em março de 2014, impossibilitando qualquer manifestação do gênero em janeiro de 2015. Um dia após a inclusão do documento falso, em 9 de janeiro, Souza ordenou que Myllena pedisse a transferência de R$ 148.581 – dessa vez à Concept Car Comércio de Veículos. Questionado no inquérito, o sócio da loja Rodrigo Gesualdi Júnior afirmou que Souza o procurou em dezembro interessado em uma Land Rover modelo Discovery, 2010, blindada. Ele apresentou o extrato bancário das transferências e o recibo de compra e venda, de 21 de janeiro, no nome de Flávio Roberto. Mas foi no dia 4 de fevereiro que o magistrado chegou ao auge da trapaça, ao retirar os euros e dólares que estavam guardados no cofre de seu gabinete. Ele enviou uma mensagem via whatsapp para seu motorista, Alexandre Barreto Costa, pedindo que o buscasse no dia seguinte, às 6h30, mas mandou que não usasse o carro oficial e, sim, o próprio veículo, um Palio 2002. Confuso, Costa afirmou ter dito que não era recomendável. A resposta levantou suspeitas: “Ninguém vai achar que estou nele”. E, de fato, durante todo o percurso de 64 quilômetros — ida e volta do apartamento onde mora, na Barra da Tijuca, até o gabinete, no Centro, onde ficou menos de cinco minutos — Souza escondeu o rosto atrás de um jornal. O horário fora escolhido a dedo, naquele princípio de manhã, pois no fórum, além deles, só havia uma faxineira como testemunha. “O sumiço do dinheiro somente foi revelado em 27 de fevereiro, quando o juiz substituto da 3ª Vara Federal Criminal realizava um levantamento sobre bens acautelados”, afirmam os procuradores regionais autores da denúncia, Flávio de Moura Júnior e José Augusto Simões. Àquela altura, os dólares e euros já estavam bem longe do cofre da Justiça Federal. E o juiz os usou para comprar um apartamento no segundo andar de seu prédio. Os proprietários, Mário Sérgio e Eliete Rufino, receberam quatro depósitos, provavelmente como sinal, totalizando 50 mil reais, todos oriundos da conta da filha de Souza, Camila. O magistrado tentou pagar a primeira parcela — de R$ 549 mil — com as notas estrangeiras. Porém, Rufino achou suspeito e disse que só aceitaria pagamento em reais. Eliete, então, foi levada a uma casa de câmbio pelo motorista de Souza. A segunda e última parcela, de R$ 101 mil, seria quitada no dia 30 de abril. Durante o inquérito policial o juiz admitiu o desvio dos valores apreendidos e que pretendia adquirir um imóvel com eles. Na semana passada, devolveu à Justiça R$ 599 mil por meio de guia de depósito. Mas, levando em consideração o câmbio atual, faltam aproximadamente 700 mil reais a serem pagos. Tentando ocultar seus crimes, Souza eliminou todos os falsos documentos inseridos nos autos. Mais uma vez, o motorista Costa foi chamado para o ‘serviço’. Ele afirma, em depoimento dado à Polícia Federal ao qual ISTOÉ teve acesso, que Souza entregou-lhe uma mochila ordenando “dar um sumiço” nela. Em seu interior, “vários papéis molhados, com cheiro de álcool e bem queimados”, como o motorista descreveu à polícia. Procurado por ISTOÉ, Costa se mostrou assustado e com medo de dar declarações, principalmente por ser recém-admitido para o cargo de motorista da Justiça Federal, em dezembro. “Caí de paraquedas para trabalhar com ele. Já fui envolvido nessa história toda, não vou me livrar tão cedo. Não quero mais problemas. Não posso colocar meu cargo em risco, lutei muito para conquistá-lo. Só quero seguir a diante e esquecer isso tudo.” 5#3 UM ASSASSINATO PARA MUDAR A HISTÓRIA Punição de policial branco flagrado executando um negro na Carolina do Sul pode reduzir a impunidade a crimes racistas nos Estados Unidos e mudar a conduta das forças de segurança Em março se completaram 50 anos de Selma, a marcha de negros e brancos contra a discriminação racial que durou três semanas e foi liderada por Marthin Luther King a partir daquela cidade do sul dos Estados Unidos até a capital do Alabama. Muita coisa mudou na América desde aqueles tempos heróicos de Selma – mas nem tudo. Na semana passada um covarde assassinato motivado pelo preconceito voltou a chocar o país. No sábado 4 na cidade de North Charleston, na Carolina do Sul, Walter Lamer Scott, um negro de 50 anos, pai de quatro filhos, dirigia seu carro com a luz traseira queimada. Por causa disso, foi morto pelo policial branco Michael Thomas Slager, 33 anos. Como muitos outros crimes cometidos pelos homens da lei, era provável que este também ficasse impune caso não fosse registrado por uma câmera que mostra o policial disparando oito vezes contra as costas da vítima. Slager foi indiciado por assassinato na terça-feira 7 e pode pegar prisão perpétua ou pena de morte caso condenado. Após uma série de ocorrências semelhantes nos EUA nos últimos meses, que acabaram sem justiça, esse crime começa, enfim, a mudar as práticas da polícia americana em relação aos negros, pontuadas pela brutalidade e o racismo. O caso foi gravado por duas câmeras. A primeira, dentro da viatura, mostra o motorista, parado pelo policial, sair correndo a pé. Um pedestre filmou o restante. O assassino afirmou que disparou ao se sentir ameaçado após a vítima tentar roubar sua arma de eletrochoque. A cena, no entanto, mostra Scott fugindo na direção contrária à de Slager no momento em que o policial saca a arma e aperta o gatilho oito vezes, acertando cinco tiros. Depois, é possível vê-lo voltando, pegando um objeto e jogando-o ao lado do morto. Em entrevista, seu irmão disse pensar que Scott correu por temer ser preso devido à falta de pagamento da pensão dos filhos. “Você vai de uma parada no trânsito a alguém sendo morto, não faz sentido”, afirmou à revista “Time”, que estampou o caso na capa. O episódio acontece após outros assassinatos de negros que mesmo com registro de câmeras de videos, não resultaram em punição aos assassinos. Foram os casos de Eric Garner, que morreu no ano passado ao ser enforcado por um policial, e o de Tamir Rice, um menino de 12 anos baleado por portar uma arma de brinquedo. Os trágicos acontecimentos já começam a alcançar efeitos práticos. A polícia de North Charleston prometeu que em breve 100% de seus homens levarão uma câmera presa à farda, e o presidente Barack Obama enviou um representante para tentar melhorar a relação dos municípios com as minorias. Mas, para garantir de fato um avanço, cada uma das 18 mil agências policiais precisarão mudar. “O preconceito está muito presente na sociedade americana, e isso atinge os policiais”, afirma José Vicente da Silva Filho, coronel reformado da PM paulista. 5#4 O GARGALO DAS UPPS Como evitar que o descontrole da violência no Complexo do Alemão coloque em risco uma política de segurança que melhorou os índices de criminalidade no Rio de Janeiro Eliane Lobato (elianelobato@istoe.com.br) “O programa das UPPs é a política de segurança mais importante do Rio de Janeiro dos últimos 30 anos. Em 2012, pela primeira vez, a taxa de homicídio do Estado ficou abaixo da taxa nacional, e houve um tempo que era três vezes maior.” A avaliação da cientista social Silvia Ramos, do Centro de Estudos de Segurança e Cidadania da Universidade Candido Mendes, compactuada pela maioria dos especialistas da área, deve ser levada em conta quando se analisa o gargalo pelo qual o projeto Unidade de Polícia Pacificadora (UPP), iniciado em 2008, passa atualmente. Na quinta-feira 2, o menino Eduardo de Jesus Ferreira, de 10 anos, morreu atingido por uma bala na cabeça quando brincava na porta de casa, na favela Nova Brasília, uma das dezoito que compõem o Complexo do Alemão, na zona norte do Rio. Em depoimento à Divisão de Homicídios, um soldado disse acreditar que o disparo tenha partido de sua arma. No dia anterior, na mesma comunidade, foi a vez da dona de casa Elisabeth Alves de Moura Francisco, de 41 anos, falecer após ser baleada na boca dentro da própria residência. Somente na semana passada, outras cinco pessoas morreram, além de Eduardo e Elisabeth, porque estavam no meio de uma guerra sem fim entre policiais e bandidos nos morros cariocas. Especialistas ouvidos por ISTOÉ analisam a atual situação crítica de sete entre as 38 UPPs já implantadas, e apontam ações para recuperação, como submeter a treinamento específico o policial da UPP, recuperar a confiança dos moradores das comunidades na polícia e oferecer melhores condições de trabalho, além de iniciativas sociais, como implantação de creches, escolas e hospitais dentro das favelas. “Hoje, a polícia está super tensa e o morador, apavorado. É preciso diálogo, contato. Claro que agora isso não é possível no Alemão e nem na Rocinha (territórios conflagrados)”, diz o sociólogo Ignacio Cano, coordenador do Laboratório de Análise da Violência da Universidade Estadual do Rio de Janeiro. “Mas não dá para jogar por água abaixo o projeto porque está em uma situação crítica.” Diretor do Instituto de Ensinos Religiosos (ISER), Pedro Strozemberg alerta para a necessidade da redução do enfrentamento nas comunidades. “UPP não é para confronto, é para resolver conflito. Falta a instância do entendimento”, afirma. Algumas iniciativas começaram a ser tomadas, como a colocação de uma cabine blindada em Nova Brasília, uma das mais violentas do Complexo do Alemão, o treinamento dos 980 policias das UPPs que atuam no Alemão — por enquanto, pouco mais de 300 — e a avaliação psicológica da tropa. O comandante geral da PM, coronel Alberto Pinheiro Neto pede para que se entenda o projeto das UPPs como algo “em maturação, em construção”. E reconhece: “Observamos um desequilíbrio do processo de pacificação em algumas áreas.” Segundo disse o governador Luiz Fernando Pezão à ISTOÉ, a população aprova a presença policial nas comunidades. “Recebi hoje hoje (quinta-feira 9) um relatório apontando que a população começa a acolher melhor o reforço do policiamento. Estamos completando uma semana sem tiro no Alemão.” À lista de iniciativas necessárias para tentar diminuir a violência nas favelas, o governador acrescenta uma que considera fundamental. “A ajuda do governo federal para cercar as rodovias federais. A gente não fabrica AK-47 aqui. De onde esses fuzis vêm?” Informações como a de que a favela Dona Marta, em Botafogo, na zona sul, está há cinco anos sem registro de óbito, ou que, em fevereiro o Rio teve a menor taxa de homicídio em áreas pacificadas, segundo o Instituto de Segurança Pública (ISP), são bastante animadoras, mas não ajudam a diminuir o sofrimento de quem perde parentes vítimas de violência. A batalha para reduzir, ou, quem sabe, acabar, com a ação assassina de traficantes ou milicianos em morros de grande densidade demográfica, como o Alemão e a Rocinha, esta em São Conrado, na zona sul — que têm mais de 100 mil habitantes cada — deverá levar mais uns cinco ou dez anos, como estima Pezão. O projeto das UPPs começou com o objetivo de reduzir a violência e recuperar o território das mãos do chamado poder paralelo. Como disse a cientista social Silvia Ramos, trocou “a lógica e o discurso fracassado da guerra por um discurso de proximidade.” O desafio agora é aprimorar essa proposta. __________________________________________ 6# MEDICINA E BEM-ESTAR 15.4.15 6#1 UM ANTICORPO PARA COMBATER A AIDS 6#2 RECEITA MEDIEVAL CONTRA SUPERBACTÉRIA 6#1 UM ANTICORPO PARA COMBATER A AIDS Remédio desenvolvido com a ajuda de cientistas brasileiros neutraliza o HIV e derruba sua concentração no corpo por quase um mês Cilene Pereira (cilene@istoe.com.br) A editora de Ciência de ISTOÉ, Cilene Pereira, traz mais detalhes sobre a pesquisa Uma nova estratégia de combate ao HIV, o vírus causador da Aids, usa um anticorpo como arma eficiente para ajudar a barrar a evolução da doença. Os detalhes sobre o mecanismo da novidade foram anunciados na última semana na revista científica Nature – uma das mais respeitadas do mundo – e recebidos com entusiasmo pela comunidade científica. Em testes feitos em seres humanos, o anticorpo foi capaz de reduzir em até 250 vezes a concentração de vírus presente na corrente sanguínea por um período que se estendeu por até 28 dias. A pesquisa foi conduzida no laboratório de Imunologia Molecular da Universidade Rockefeller, nos Estados Unidos, dirigido pelo brasileiro Michel Nussenzweig. Os cientistas usaram como base um dos anticorpos fabricados pelo organismo de pessoas infectadas pelo HIV mas que demoram muito mais do que a média dos contaminados para apresentar os sinais da doença. O anticorpo foi batizado de 3BNC117. Antes dele, outros anticorpos com características semelhantes haviam sido testados, mas com resultados desapontadores. O remédio foi administrado a 29 pessoas nos Estados Unidos e na Alemanha: 17 estavam infectadas (15 delas não tomavam o coquetel anti-HIV) e 12 eram soronegativas. Todas foram depois acompanhadas por 56 dias. Seu efeito foi impactante. Além de derrubar a carga viral entre oito e 250 vezes nos oito pacientes que receberam a maior dose, foi efetivo contra 195 das 237 cepas de HIV. “O anticorpo pertence a uma nova geração que potencialmente combate uma grande quantidade de cepas”, afirma a brasileira Marina Caskey, professora assistente do Laboratório e co-autora do artigo. O anticorpo atua de maneira precisa sobre o mecanismo usado pelo HIV para invadir as células CD-4, integrantes do sistema de defesa do corpo e usadas pelo vírus para se multiplicar dentro do corpo. Ele fecha o receptor do vírus por meio do qual o microorganismo se liga a essas células. “O vírus não consegue entrar na célula”, explica Nussenzweig. A ideia inicial é a de que o medicamento seja usado em conjunto com as drogas antiretrovirais. “Um antibiótico apenas, assim como qualquer outro remédio sozinho, não será suficiente para suprimir a carga viral por longo tempo porque acabará surgindo resistência”, afirma Marina. Por outro lado, os cientistas esperam que seja necessária apenas uma dose para que a medicação tenha efeito durante alguns meses. Seria uma comodidade, já que não adicionaria mais um item na lista diária de medicamentos que o portador do HIV é obrigado a tomar atualmente. A pesquisadora brasileira aponta outro benefício da terapia baseada em anticorpos. “Ela também pode estimular o sistema de defesa a ajudar a neutralizar o vírus”, explica. Outro efeito levantado pelos cientistas seria o uso do anticorpo em uma vacina para impedir a infecção pelo HIV. O raciocínio é o de que, se for possível ativar o organismo de uma pessoa não infectada para que ela produza anticorpos com tamanho poder, isso poderia ser suficiente para bloquear a contaminação. Os pesquisadores agora planejam estender os testes para um número maior de pessoas. O que já foi demonstrado, porém, impressionou a comunidade científica. “O estudo é pequeno ainda, mas seus resultados são muito animadores”, afirmou Anthony Fauci, diretor do Instituto Nacional de Alergia e Doenças Infecciosas dos Estados Unidos, um dos pioneiros no estudo da Aids em todo o mundo. 6#2 RECEITA MEDIEVAL CONTRA SUPERBACTÉRIA Fórmula encontrada em livro de mil anos atrás destrói uma das mais assustadoras bactérias resistentes a antibióticos Uma receita registrada em um livro de mil anos atrás pode se tornar opção contra uma superbactéria. A preciosidade está registrada como medicamento contra infecções oculares no Bald´s Leechbook - uma das mais antigas coletâneas de textos médicos ingleses. Mas nos testes realizados na Universidade de Nottingham, no Reino Unido, revelou-se potente contra a Staphylococcus aureus resistente à meticilina (MRSA), uma das bactérias resistentes à ação de antibióticos que mais preocupa pelas dificuldades e gastos envolvidos em seu tratamento. HISTÓRIA - Freya (à dir.) e os colegas Aled Roberts e Steve Diggle (no centro) se surpreenderam com a eficácia da preparação A ideia de testar o remédio antigo foi de Christina Lee, integrante do Instituto para Pesquisa Medieval. Após traduzir a receita a partir do texto original, guardado na British Library, ela chegou aos ingredientes: alho, cebola, alho poro, vinho e uma substância extraída da bile produzida pelo estômago de vacas. O texto dá indicações precisas do método de preparo, o que inclui o uso de recipientes de bronze e a recomendação para que seja feito nove dias antes de seu uso. A mistura conseguiu matar 90% das bactérias presentes em lesões produzidas em cobaias. Na opinião da pesquisadora Christina, o segredo de sua eficácia está na combinação de ingredientes. “Isto significa que o responsável por esse manuscrito tinha algum conhecimento sobre como diferentes componentes podem ativar uns aos outros”, disse à ISTOÉ. “Ficamos admirados com os resultados do experimento.” PASSO A PASSO - No manuscrito há informações detalhadas sobre o método de preparo da poção Outra participante do estudo, Freya Harrison, também se espantou. “Sabíamos que haveria algum efeito porque já conhecíamos o potencial bactericida dos ingredientes. Mas ficamos surpresos com o quanto a combinação foi eficaz”, disse. A transformação da receita em medicamento largamente disponível é o próximo desafio do grupo. “Ainda há muito trabalho a ser feito antes de chegarmos a isso. Mas sempre há esperança”, afirma Christina. ______________________________________ 7# ECONOMIA E NEGÓCIOS 15.4.15 7#1 A FILA NÃO ANDA 7#2 COMO APROVEITAR O CELULAR USADO 7#1 A FILA NÃO ANDA Números negativos do emprego nos Estados Unidos lançam dúvidas sobre a recuperação da economia mundial e trazem preocupação para o Brasil, que já enfrenta crescimento baixo e inflação alta Luisa Purchio (luisapurchio@istoe.com.br) Os Estados Unidos foram a primeira potência mundial a sair da grande crise econômica de 2008. Depois de dois anos de recessão, o país voltou a crescer a partir de 2010 e, desde então, registrou cinco altas consecutivas do Produto Interno Bruto (PIB). Na semana passada, a longa sequência de indicadores positivos foi interrompida. Segundo dados do Departamento do Trabalho, em março foram criados, em todo o território americano, 126 mil postos de trabalho, o que corresponde a pouco mais da metade do que previam os especialistas. Pior ainda: a taxa de participação da população economicamente ativa encolheu para 62,7%. Trata-se do percentual mais baixo em quatro décadas. O recuo do emprego se deve sobretudo à redução dos investimentos das empresas. Eles avançaram 4,7% no quarto trimestre do ano passado – uma enormidade perto da paralisia do mercado brasileiro, mas pouco diante dos padrões americanos. Para efeito de comparação, no trimestre anterior os investimentos corporativos subiram 8,9%. Os dados acima levantam algumas questões. A maior economia do mundo perdeu o fôlego ou enfrenta um deslize momentâneo? O Brasil poderá ser afetado pelos indicadores negativos do governo de Barack Obama? NÃO HÁ VAGAS - Desempregados em busca de uma vaga em Nova York: cenário de incertezas Na terça-feira 7, poucos dias depois de saírem os dados do emprego nos Estados Unidos, o Fundo Monetário Internacional publicou um relatório que prevê um período de crescimento baixo para a economia mundial. O documento adere à tese da “estagnação secular”, defendida desde o ano passado pelo ex-secretário do Tesouro americano, Larry Summers, e que consiste em projeções pessimistas para os próximos anos. De acordo com o FMI, as grandes economias vão crescer 1,6% ao ano entre 2015 e 2020, bem menos do que a média de 2,25% verificada antes da crise financeira de 2008. Os Estados Unidos, que vêm avançando a uma taxa anual de 2,2%, podem inclusive reduzir esse ritmo. Quando a economia americana vai mal, muitos outros países são afetados, especialmente os emergentes, que dependem do comércio internacional com as grandes potências. Os números divulgados na semana passada também serviram de combustível para a oposição republicana. Na terça-feira 7, o senador Rand Paul lançou oficialmente sua pré-candidatura às eleições presidenciais de 2016 com duras críticas à política econômica de Obama. No Brasil, a resposta foi imediata. A cotação do dólar, que vinha batendo seguidos recordes, caiu. Na quarta-feira 8, a moeda americana fechou seu valor de venda em R$ 3,0563 – o menor em mais de um mês. Os economistas, porém, defendem a ideia de que se trata de um impacto passageiro. “A queda do dólar é momentânea”, diz Roberto Luis Troster, professor da FIPE e ex-economista-chefe da Federação Brasileira de Bancos. “Existem fatores mais importantes influenciando na desvalorização do real.” Nessa conta deve entrar a instabilidade política e o próprio caos econômico. Por ora, a boa notícia para o mercado brasileiro é o provável adiamento da alta dos juros americanos. A consultoria Guide Investimentos esperava que a decisão do Federal Reserve de aumentar a taxa ocorreria em junho próximo, mas alterou a previsão para outubro. “O Brasil ganhou alguns meses para colocar a casa em ordem, recuperar a confiança do mercado e não perder investidores para os Estados Unidos”, diz o economista Ignácio Rey. O Brasil tem seus próprios demônios para controlar. Na quarta-feira 8, o IBGE divulgou a inflação oficial de março. O resultado confirma que a pressão inflacionária é o maior entrave econômico do País. No mês passado, o IPCA subiu 1,32%. No acumulado dos últimos 12 meses, o índice chegou a 8,13%, o maior em 11 anos. Não é só. Considerando apenas a inflação do mês de março, trata-se da maior alta desde a implementação do Plano Real. Segundo o IBGE, o setor que teve maior impacto no aumento do IPCA foi o elétrico, que disparou 22% em março. Nesse caso, é óbvia a má gestão do governo, que represou preços com o discurso de que estava estimulando a economia. O tempo mostrou que era exatamente o oposto. Agora o Brasil precisa pagar essa conta. 7#2 COMO APROVEITAR O CELULAR USADO Nem pense em jogá-lo fora. Cresce o número de sites que ajudam você a ganhar dinheiro com velhos aparelhos Luisa Purchio (luisapurchio@istoe.com.br) Pesquisa divulgada na segunda-feira 6 pela consultoria IDC Brasil mostrou que em 2014 foram vendidos cerca de 54,5 milhões de smartphones em todo o País – média de 104 por minuto. Celular novo comprado, celular velho esquecido. De olho nos aparelhos usados que costumam ser relegados às gavetas por seus donos, mas que ainda valem mais ou menos dinheiro dependendo do estado de conservação, pesquisas recentes mostram também que disparam no Brasil o número de sites que compram tais telefones, fazem neles os reparos necessários e os revendem – a preços inferiores, naturalmente. “O consumidor adquire um modelo de última geração com ajuda do dinheiro que ganhou com o aparelho velho”, diz Amaury Bertaud, diretor da startup responsável pelo site Redial que compra smartphones. ________________________________________ 8# MUNDO 15.4.15 OBAMA NO CALDEIRÃO LATINO Na Cúpula das Américas, o presidente dos Estados Unidos faz história ao se encontrar com líder cubano, mas precisa encarar as tensões políticas e a crise econômica do continente Ludmilla Amaral (ludmilla@istoe.com.br) Um dia antes de viajar à Cidade do Panamá para participar, como estrela máxima, da sétima edição da Cúpula das Américas, o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, fez uma parada estratégica no Museu Bob Marley, em Kingston. Obama estava na capital jamaicana em visita oficial, mas quis conhecer a casa que homenageia o rei do reggae. Lá, enquanto observava fotos, vídeos e objetos pessoais do cantor, o presidente americano escutou alguns clássicos de Marley. O maior deles, “Get Up, Stand Up” (algo como “Levante, Resista”) era tudo o que precisava ouvir antes de encarar a tempestade que viria pela frente. No encontro que reuniu, entre a sexta-feira 10 e sábado 11, os chefes de Estado de 35 países das Américas, Obama se defrontaria com um caldeirão de problemas – alguns deles, justiça seja feita, urdidos em sua própria gestão. Pouco antes de embarcar de Kingston para o Panamá, Obama soube que a Venezuela, perturbada pelas sanções impostas pelos Estados Unidos contra o presidente Nicolás Maduro, não assinaria o documento final da Cúpula, arruinando assim a expectativa de união do continente após o fim do isolamento de Cuba. O presidente americano tentou contemporizar. “Não acredito que a Venezuela seja uma ameaça para os Estados Unidos, e os Estados Unidos não são uma ameaça para o governo da Venezuela”, disse. No Panamá, ele também teria que responder ao movimento chamado “contracumbre” (anticúpula), organizado pelos líderes de Nicarágua, Venezuela, Bolívia, Equador e talvez até Argentina, e que consiste basicamente em criticar o que chamam de “política imperialista” dos Estados Unidos. Do Brasil, havia o risco da presidente Dilma Rousseff exigir mais explicações sobre o caso da espionagem contra ela e outras autoridades brasileiras. Em meio à tensão política, boa parte dos debates se concentraria no crescimento anêmico da América Latina e nos números decepcionantes da economia americana . Por mais que as tentativas de Nicolás Maduro de tumultuar a Cúpula tenham chamado a atenção para as intrincadas relações entre a Venezuela e seu inimigo poderoso, a verdade é que a Cidade do Panamá ficará marcada como o local que abriu as portas para um acontecimento histórico. Pela primeira vez em 57 anos – período em que os Estados Unidos foram governados por 11 presidentes diferentes –, chanceleres americanos e cubanos participaram de um encontro diplomático. Na manhã da sexta-feira 10, o governo dos Estados Unidos publicou em sua conta no Twitter uma foto do aperto de mão entre John Kerry, o secretário de Estado americano, e o ministro das Relações Exteriores de Cuba, Bruno Rodríguez. O fato de a imagem ter sido divulgada antes mesmo do aguardado aperto de mão entre Barack Obama e o presidente cubano Raúl Castro diz muito sobre a ansiedade dos dois países em demonstrar para o mundo que a reaproximação é para valer. APERTO DE MÃOS - Bruno Rodríguez, ministro de Cuba, e John Kerry, secretário de Estado americano: cena inédita em 57 anos Há uma firme disposição, de ambos os lados, em estreitar rapidamente os laços desfeitos em 1961. Para Obama, representa um gesto marcante de seu governo. Para Castro, é a oportunidade de abrir uma frente comercial. Desde o fim da União Soviética, a ilha sofre com o baixo crescimento econômico e a dependência do petróleo subsidiado da Venezuela. A Cúpula das Américas é o segundo passo para dar fim ao embargo econômico. O primeiro foi a retomada das conversas, iniciadas em dezembro passado após intermediação do Papa Francisco. “O gesto de Obama traz uma nova realidade para o continente”, diz Francisco Américo Cassano, professor de Relações Internacionais do Mackenzie. Para o Brasil, que ficou com a missão de intermediar as tensas conversas entre Venezuela e Estados Unidos, a Cúpula é também uma oportunidade. “O encontro entre Dilma e Obama pode significar uma agenda econômica comum que interessa muito ao Brasil”, afirma Denilde Holzhacker, professora de Relações Internacionais da ESPM. ____________________________________ 9# TECNOLOGIA E MEIO AMBIENTE 15.4.15 SERÁ O FIM DOS CO-PILOTOS? Nasa e Departamento de Defesa dos EUA iniciam testes com robôs e softwares para substituir pilotos assistentes dos aviões O trágico acidente com o avião da Germanwings nos Alpes franceses trouxe à tona novamente uma antiga discussão envolvendo a real necessidade de co-pilotos na aviação civil e militar. Nos últimos anos, setores ligados à indústria de defesa e, claro, às companhias aéreas, vêm defendendo que a presença de apenas um profissional na cabine pode ser segura o suficiente se mecanismos de controle remoto ou eletrônico forem instalados nas aeronaves. A idéia, que desperta críticas severas das associações de pilotos, ganhou força após o acidente com a companhia alemã e tanto a Nasa quanto a agência de desenvolvimento tecnológico do Departamento de Defesa dos Estados Unidos preparam os primeiros testes de mecanismos que podem aposentar de vez o co-piloto na aviação mundial. O projeto mais avançado neste momento envolve a criação de um robô que irá substituir fisicamente o co-piloto tanto em aeronaves comerciais quanto em aviões militares. Desenvolvido pela Darpa, a agência de desenvolvimento e pesquisa militar dos Estados Unidos, o protótipo deste humanóide deve ser testado pela primeira vez ainda este ano. A idéia é de que o equipamento seja capaz de controlar um avião em todas as fases de vôo, desde a decolagem até o pouso. Batizado de Alias, o equipamento poderá se comunicar tanto com o piloto quanto com a torre de controle por meio de comandos de voz e será absolutamente flexível. Isso significa que ele será capaz de ser instalado em qualquer aeronave e irá comandar os equipamentos do avião, como o manche ou os pedais, fisicamente. Já a Nasa está estudando a criação de um sistema de manejo remoto em que um piloto, em terra, ficaria responsável pelo controle de não de apenas um, mas de vários aviões ao mesmo tempo. A idéia é que esse co-piloto a distância assuma a aeronave quando o piloto precise ir ao banheiro – como no caso do acidente da Germanwings – ou esteja incapacitado, por alguma razão, de pilotar. Os projetos ainda estão em teste, mas a tendência, dizem especialistas, é de que cada vez mais as máquinas estarão no comando dos milhares de aviões que cruzam os céus do mundo todos os dias. _______________________________________ 10# CULTURA 15.4.15 10#1 AS SAFADEZAS DO IMPERADOR 10#2 EM CARTAZ – CINEMA - ÚLTIMO FILME DE EDUARDO COUTINHO... 10#3 EM CARTAZ – DVD - ... E SUA ÚLTIMA ENTREVISTA 10#4 EM CARTAZ – LIVRO - INTOLERÂNCIA ANCESTRAL 10#5 EM CARTAZ – TETRO - ESTÁ COM TUDO 10#6 EM CARTAZ – CINEMA 2 - NOITES SOLITÁRIAS 10#7 EM CARTAZ – AGENDA - PANORAMA/DHRAMA/NOVA 10#8 ARTES VISUAIS - GOSTO SE DISCUTE 10#9 ARTES VISUAIS – ROTEIROS - PONTE CONCRETA 10#1 AS SAFADEZAS DO IMPERADOR Baseado em correspondência pouco conhecida, historiador português mostra que a vida sexual e afetiva de Dom Pedro I foi mais intensa, descontrolada e comprometedora do que se acreditava Ana Weiss (ana.weiss@istoe.com.br) "Um dos últimos pedidos de D. Pedro I foi que depositassem seu coração em uma igreja da cidade do Porto. No livro “1822”, o jornalista Laurentino Gomes conta que, “por um curioso fenômeno fotoquímico”, até hoje, quase dois séculos depois da sua morte, o órgão do monarca não para de crescer. A mais nova biografia sobre o primeiro imperador do Brasil também trata do tamanho do coração do personagem e de tudo (e de todas as mulheres) que passaram por ele. “Essas páginas procuram invadir a privacidade de D. Pedro. Deixou-se de lado o político, o administrador, o militar”, escreve o historiador português Eugénio dos Santos. “Pretendeu-se desvendar o homem, às vezes de um modo cruel, fornecendo ao leitor intimidades e gritos de alma que somente os íntimos deveriam conhecer”, continua o professor catedrático aposentado no livro “D. Pedro – Imperador do Brasil e rei de Portugal”, lançado aqui pela Alameda Editorial. Santos – autor de parte da bibliografia usada por Laurentino Gomes, a propósito – faz o percurso didático, do nascimento à morte, dedicando a maior parte dos capítulos às aventuras sexuais e atribulações afetivas do jovem monarca e aos desdobramentos de suas investidas na vida política do Brasil e de Portugal. Para ir além de tudo que já se disse a respeito, o historiador se apoiou em cartas dos protagonistas e de coadjuvantes que conviveram com a corte portuguesa instalada no Brasil. Algumas passagens caberiam nas mais desconsideradas revistas de fofoca, não fosse o linguajar da época preservado por exigência da Cátedra Jaime Cortesão, órgão da Universidade de São Paulo ligado ao Instituto Camões de Portugal, que co-editou o volume. Cruzando anotações como as da inglesa Maria Graham, melhor amiga da princesa Leopoldina, com os registros da época, ele conta com muito mais detalhes como começou e acabou o romance do primogênito de Dom João VI com uma dançarina francesa, caso que quase levou por água abaixo a aliança com a Áustria que representaria o casamento com a futura imperatriz Leopoldina. Apaixonado, o intempestivo príncipe levou a amante francesa para viver com ele e passou a chamá-la de esposa. Pela narrativa ficamos sabendo que foi necessária a intervenção direta de Carlota Joaquina, que ignorava o filho mais velho, a não ser em situações que o varão punha em risco suas articulações políticas. A rainha teria tratado diretamente com Noémie Thierry, a dançarina que deixou o palácio de São Cristóvão com uma boa quantidade de dinheiro e um bastardo no ventre. Chegando no Recife, ainda segundo as cartas de Maria Graham, a Noémie teria dado à luz um natimorto. VIDA DUPLA - D. Leopoldina (acima) e Domitila (abaixo) deitaram na cama de D. Pedro I e geraram filhos seus ao mesmo tempo. Os herdeiros legítimos e bastardos passaram parte da infância brincando no quintal imperial Enquanto Leopoldina, a princesa que a família lhe jurava ser uma linda moça de olhos azuis, não desembarcava em porto brasileiro, o herdeiro do trono ainda pode se relacionar com a irmã da namorada francesa. Mas Carolina Josefa Leopoldina de Habsburgo-Lorena por fim não atendia aos critérios estéticos de Pedro, que por muitos anos perambulou pelo reino em busca do que parece ter sido o seu principal alimento em vida, o amor erótico. Até o dia em que conheceu a paulista Domitila de Castro Canto e Melo, filha de militar que deixara o marido que a agredia. Começava aí o “mais escabroso capítulo da vida amorosa do primeiro imperador do Brasil”, como em mais de um livro de História é definido o caso com Domitila, que entrou para a história como a Marquesa de Santos. Titília, maneira com que D. Pedro se referia à amante nas cartas quase obscenas reproduzidas na biografia, se tornou durante a década que dormiu com o monarca, uma das mulheres mais poderosas, temidas e malfaladas do Brasil. A grande ironia aqui é que o romance tórrido só se tornou possível durante o casamento com Leopoldina, que, humilhada com as provas públicas de amor do marido pela amásia, tornou-se uma mulher deprimida que não escondia a infelicidade. Leopoldina morreu cedo e os austríacos nunca perdoaram o regente português pela vida a que ele submeteu sua princesa. Mas então, D. Pedro, mergulhado numa crise política de um país dividido entre nativistas brasileiros e liberais portugueses, precisava de uma nova mulher, outra de sangue azul, para governar ao seu lado. A fama de mulherengo não ajudou. Para casar com a princesa Amélia, teve de tirar a Marquesa de Santos e sua prole de casa, que a amante não facilitou. A forma com que o autor organiza os fatos leva concluir que o périplo do regente em busca de uma nova mulher, tão dificultado pela exposição de seus hábitos, o fragilizou ainda mais diante de cenário político que já não era favorável, acelerando a abdicação. Por fim, seus restos mortais foram depositados ao lado da primeira esposa, a Leopoldina. Mas como em vida, ele quis que seu coração repousasse em outro lugar. FREUD EXPLICA – Para o historiador Eugénio dos Santos, os excessos da ruidosa vida sexual e amorosa do primeiro imperador do Brasil era uma compensação pela ausência afetiva da mãe na infância. Carlota Joaquina nunca escondeu a preferência pelo irmão mais novo de Dom Pedro I, Dom Miguel – que se tornaria na vida adulta um dos piores inimigos do primogênito. O buraco na alma de Pedro, porém, ficava mais embaixo. “Pedro de Alcântara, em criança, nunca conhecera a ternura do amor. A mãe jamais lho dispensara e o pai nunca dele se abeirou. A este escasseava o tempo, àquela o sentimento maternal” escreve o professor aposentado da Universidade do Porto. Pedro de Alcântara nasceu e cresceu “cercado de amas, aios, serviçais, escravos”, mas distante da mãe a quem sempre se dirigia com subserviência excessiva, em tom que parecia mais temor que respeito. Na análise dos historiador, o famoso romance com a Marquesa de Santos um ano mais velha, extrapolou todos os limites do bom senso pela ansiedade do regente pelo afeto materno de que foi privado. 10#2 EM CARTAZ – CINEMA - ÚLTIMO FILME DE EDUARDO COUTINHO... Ana Weiss (ana.weiss@istoe.com.br) Eduardo Coutinho estava rodando “Últimas Cenas” quando foi assassinado pelo filho, em fevereiro do ano passado. Daniel de Oliveira Coutinho foi absolvido na quarta-feira 8, por sofrer de esquizofrenia. O documentário ficou por um tempo na gaveta até ser resgatado pelo também cineasta João Moreira Salles, um dos produtores do longa. Finalizada pelo próprio João Moreira Salles, a última obra de Coutinho chega a público agora durante o 20º festival É Tudo Verdade. Embora não possa ser considerado um filme-testamento, “Últimas Cenas” reutiliza os principais recursos estilísticos do documentarista, como o diálogo improvisado e as pausas longas. São de adolescentes do ensino médio do Rio de Janeiro os depoimentos que preenchem o filme inédito. Coutinho é também objeto de documentário em cartaz na capital paulista (leia abaixo). O festival É Tudo Verdade, em exibição até o dia 19 de abril em São Paulo e Rio de Janeiro, segue depois para Belo Horizonte, Santos e Brasília, onde permanece até maio. +5 destaques do É Tudo Verdade Cidadão quatro Filme de Laura Poitras sobre Edward Snowden. Oscar de Melhor Documentário deste ano Eu Sou Carlos Imperial Longa de Renato Terra e Ricardo Calil sobre o músico, empresário e ator Conterrâneos Velhos de Guerra Vladmir Carvalho descreve a história de trabalhadores que construíram Brasília Iracema, Uma Transa Amazônica Em cópia nova, a obra de 1976 de Jorge Bodansky e Orlando Senna mostra o impacto da rodovia Transamazônica sobre a população do local Verdades e Mentiras O último de Orson Welles une documentário e ficção no perfil do falsificador de pinturas húngaro Elmyr de Hory 10#3 EM CARTAZ – DVD - ... E SUA ÚLTIMA ENTREVISTA Ana Weiss (ana.weiss@istoe.com.br) Dirigido por Carlos Nader em 2013, o documentário “Eduardo Coutinho, 7 de Outubro” se faz de uma longa conversa com o diretor. Realizada com o auxílio da equipe técnica do entrevistado, o filme traz Coutinho falando sobre sua metodologia de trabalho enquanto comenta cenas de suas principais obras. Lançado agora em DVD pelo Selo Sesc, é rara oportunidade de conhecer a síntese do pensamento do cineasta. 10#4 EM CARTAZ – LIVRO - INTOLERÂNCIA ANCESTRAL Ana Weiss (ana.weiss@istoe.com.br) Difícil saber das verdadeiras razões de um escritor eleger um livro como favorito. Quando a escolha é de um Nobel de Literatura, a obra eleita merece no mínimo atenção especial. O inglês William Golding dizia que “Os Herdeiros”, lançado agora no Brasil pela Editora Alfaguara, era seu romance favorito. O aparecimento do homo sapiens a partir do ponto de vista de um neandertal, Lok, e todo o estranhamento com a ameaça que o novo ser pode representar em seu mundo faz do romance escrito nos anos 1950 um exercício de alteridade entre diferentes que parece ter sido feito para o mundo de hoje. 10#5 EM CARTAZ – TEATRO - ESTÁ COM TUDO Ana Weiss (ana.weiss@istoe.com.br) Um dos apresentadores mais importantes da história televisiva brasileira, Abelardo Barbosa é homenageado em “Chacrinha, o Musical”, escrito por Pedro Bial e Rodrigo Nogueira e com direção musical e arranjos de Delia Fischer. O espetáculo acompanha sua trajetória desde a infância no interior de Pernambuco até o auge da popularidade do programa “Cassino do Chacrinha” na Rede Globo, Leo Bahia interpretando o personagem quando jovem e Stepan Nercessian vive ele na fase adulta. A peça, que conta também com cenografia de Gringo Cardia, pode ser vista no Teatro Alfa, em São Paulo, até 26 de julho. 10#6 EM CARTAZ – CINEMA 2 - NOITES SOLITÁRIAS Ana Weiss (ana.weiss@istoe.com.br) Em seu mais recente longa-metragem, “Noites Brancas no Píer”, o diretor francês Paul Vecchiali transpõe “Noites Brancas”, conto de Fiódor Dostoiévski, de 1848, para os dias atuais. Um homem solitário passa o período noturno caminhando pelo cais de uma cidade portuária, até que conhece uma mulher por quem se apaixona, mas que aguarda o retorno de um antigo afeto. Com poucos cenários, que se limitam a maior parte do tempo ao píer do título, Vecchiali se aproxima de um teatro filmado, extraindo sua força do texto original. 10#7 EM CARTAZ – AGENDA - PANORAMA/DHRAMA/NOVA Confira os destaques da semana Ana Weiss (ana.weiss@istoe.com.br) Panorama do Cinema Dinamarquês Contemporâneo (Sesc, em São Paulo, Santos e Campinas, até 25/4) Mostra sobre a produção cinematográfica na Dinamarca nos últimos 20 anos Dhrama (CCBB, Rio de Janeiro, até 26/4) Peça de Luca Bianchi inspirada no texto hindu “Bhagavad Gita” A Nova Fotografia Erótica Brasileira (Galeria Porão, em São Paulo, até 19/4) Exposição do fotógrafo Fernando Lessa, que utiliza técnicas como pinturas sobre imagens relacionadas ao erotismo contemporâneo 10#8 ARTES VISUAIS - GOSTO SE DISCUTE Rituais de identificação em torno de códigos visuais estão no cerne das novas pinturas de Leda Catunda Paula Alzugaray Leda Catunda e o Gosto dos Outros/ Galpão Fortes Vilaça, SP/ de 11/4 a 23/5 Em sua nova individual, Leda Catunda afirma que o gosto é uma zona de conforto, onde nos aninhamos a fim de nos sentirmos identificados e protegidos. Roqueiros reúnem-se em torno de tipografias góticas, de imagens de pin-ups e de grandes ícones da guitarra; surfistas se dividem entre a estética balinesa e a californiana; e as femmes fatales se protegem em estampas de pele de felinos. Todos esses grupos se encontram na exposição “Leda Catunda e o Gosto dos Outros”, em cartaz no Galpão Fortes Vilaça, em São Paulo. TODAS AS TRIBOS - Identidades visuais diversas convivem nas obras "MG - Mulheres Gostosas", "Borboleta Lobos", "Botão I" e "Ásia I" (em sentido horário), de Leda Catunda Desde o início de sua atividade artística, nos anos 1980, Leda Catunda se apodera do repertório de tecidos e estampas que nos envolvem em nossa vida cotidiana. Em sua pintura, a tela é substituída por toalhas, cobertores, cangas, cortinas, tapetes, roupas e acessórios recolhidos de mercados populares, que servem de base para trabalhos com tinta, tesouras e agulhas. O ambiente doméstico foi seu ponto de partida. Mas desde que começou a trabalhar com camisetas esportivas e as palhetas de cores que identificam os times de futebol, Leda intensificou sua pesquisa sobre a ânsia das pessoas em verem-se representadas por imagens. Agora, Leda compõe obras a partir de uma operação cut and paste de referências visuais do surfe, do rock e das férias de verão. Ao moldar essas imagens em padrões arredondados e orgânicos, a artista faz uma afirmação: o código visual é o elemento que nos aproxima dos outros e nos dá a tão almejada e necessária sensação de pertencimento. A ideia de calor e conforto é intensificada pelo papel de parede que envolve todo o espaço expositivo do galpão. Na estampa do papel, são desenhados todos os padrões que vem sendo desenvolvidos ao longo de sua trajetória, dando base às composições pictóricas: borboletas, besouros, biscoitos, botões. Nesse ambiente, códigos visuais discrepantes convivem em harmonia. Impossível não se deixar levar afetivamente pelas células iconográficas que condensam em alguns metros arredondados o suprassumo da imagem pop. E entender como “o gosto dos outros” pode tornar-se o gosto de todos. 10#9 ARTES VISUAIS – ROTEIROS - PONTE CONCRETA Willys de Castro - Múltipla Síntese/ Galeria Almeida e Dale, SP/ até 30/4 por Paula Alzugaray No final dos anos 1950, quando neoconcretos cariocas rompiam com concretos paulistas – questionando a utilização da tela como suporte da linguagem pictórica e convidando o espectador a participar da obra –, o mineiro Willys de Castro transitava com liberdade entre os dois movimentos. Artista visual, pintor, desenhista, gravador, cenógrafo, figurinista, químico, artista gráfico e até barítono eventual – participou do coral do Movimento Ars Nova, do Mastro Diogo Pacheco, para o qual também fez o design gráfico dos programas dos espetáculos –, Willys de Castro foi um artista completo e habilidoso, que soube filtrar e articular o pensamento artístico de seu tempo. Essa é a tese na mostra “Múltipla Síntese”, apresentada na galeria Almeida e Dale, em São Paulo. Com curadoria de Denise Mattar, a mostra reúne desde as pinturas em que o artista desenvolvia a abstração geométrica e dialogava como os princípios do movimento concreto – cores puras, formas geométricas, efeitos óticos e cinéticos –, até os trabalhos que se descolam do plano bidimensional e começam a explorar o movimento e a integração do espectador: os “Objetos Ativos”, dos anos 1960, e os “Pluriobjetos” dos anos 1970 – comparados por Ferreira Gullar às poéticas inovadoras de Lygia Clark e de Hélio Oiticica. Descomprometido com a superfície da tela e parceiro tanto dos paulistas quanto dos cariocas, de Castro compôs partituras para poemas de Augusto de Campos, Haroldo de Campos, Décio Pignatari, José Lino Grünewald e Ferreira Gullar. A exposição felizmente apresenta essas escrituras, assim como a peça sonora “Policromos”, composta por Willys de Castro em 1951, e o “Recital Concretista”, composto para o Teatro Brasileiro de Comédia, em 1957, e reeditado especialmente para esta ocasião. Com partituras, pinturas, projetos de estamparia e composições musicais, a exposição é muito eficaz em lembrar a policromia da arte de Willys de Castro. PA _____________________________________ 11# A SEMANA 15.4.15 por Antonio Carlos Prado e Elaine Ortiz "DOM HÉLDER SE TORNARÁ SANTO" Desembarcou na Arquidiocese de Olinda e Recife na quarta-feira 8 a autorização do Vaticano para que seja iniciado o processo de canonização de dom Hélder Câmara – fundador da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil e incansável defensor da justiça social. Com essa autorização, o cearense dom Hélder, que morreu em Pernambuco aos 90 anos em 1999, já passa a ser “servo de Deus”. As autoridades eclesiásticas brasileiras terão de comprovar agora dois milagres que teriam ocorrido por sua interseção para que ele se torne santo. Dom Hélder, chamado em todo o mundo por “dom da Paz” e quatro vezes indicado ao Prêmio Nobel nessa categoria, marcou sua vida pela solidariedade aos desvalidos e aos discriminados. Ao longo da ditadura militar, duramente perseguido, fazia declarações antológicas. Uma delas é: “quando dou comida aos pobres, me chamam de santo. Quando pergunto o motivo pelo qual são pobres, me chamam de subversivo”. "EMPRESÁRIO MATA JUIZ, ADVOGADO E SÓCIO NO PALÁCIO DA JUSTIÇA DE MILÃO" Nem a máfia, uma das mais brutais e ousadas organizações criminosas do mundo, chegou ao ponto de atirar no interior de um fórum italiano durante audiência de um de seus membros. Assim, o trágico e cruel pioneirismo coube na quinta-feira 9 ao empresário do setor da construção civil Cláudio Giardiello: em meio à sessão no Palácio da Justiça de Milão, na qual era julgado por falência fraudulenta, ele disparou 13 vezes matando o juiz Fernando Ciampi, o advogado Lorenzo Appiani (que queria abandonar o caso) e outro acusado no mesmo processo, o seu sócio Giorgio Erba. “É a primeira vez que isso acontece”, declarou à imprensa italiana Massimiliano Monti, funcionário de um escritório de direito em Milão. O atirador conseguiu ingressar armado no tribunal porque os detectores estão quebrados. Foi preso pela polícia. "OPERAÇÃO RETRATO" O carioca Gabriel Gucci é artista plástico, tem 28 anos de idade e mora em Nova York. Decidiu transformar em cores e telas a Operação Lava Jato e pintou uma série de quadros com o rosto dos principais envolvidos no escândalo de corrupção na Petrobras. O ex-diretor da estatal Nestor Cerveró e o proprietário da UTC Engenharia, Ricardo Pessoa, são alguns dos mais famosos figurantes na “Operação Retrato”. "A VIDA DEPOIS DO FOGO" A Defesa Civil do Estado de São Paulo declarou na tarde da quinta-feira 9 que controlara o incêndio que há oito dias eclodira e persistia em proporções gigantescas em seis tanques da empresa Ultracargo, na área industrial da cidade de Santos, no litoral paulista (seis milhões de litros de combustível foram queimados). O controle das chamas não impedia, no entanto, que novas labaredas “brotassem” do solo em decorrência de vazamentos nos dutos que interligam os tanques. A prova maior de que o trabalho da Defesa Civil e do Corpo de Bombeiros está longe de se encerrar era a expectativa que se mantinha da chegada ao País de 180 mil litros de líquido gerador de espuma (LGE) provenientes dos EUA. Até a sexta-feira já tinham sido utilizados cerca de dez bilhões de litros de água do mar e 800 mil litros de LGE. A Prefeitura de Santos embargou todas as atividades da Ultracargo. "7,4%" 7,4% é o índice de desemprego registrado no País entre dezembro de 2014 e fevereiro de 2015 – equivale a 7,4 milhões de desempregados. É o maior índice desde o período de março a maio de 2013. Os dados são do IBGE. "O MISTÉRIO DO ESQUILO DA MONGÓLIA" Considerado uma praga em regiões áridas como desertos, seu habitat natural, o esquilo da Mongólia é criado como animal de estimação em diversos países – trata-se de um roedor que cabe na palma da mão. Na quinta-feira 9, pouco antes do início do depoimento do tesoureiro do PT, João Vaccari Neto, à CPI da Petrobras, três exemplares desse esquilo, mais dois hamsters foram soltos no plenário da Câmara. Instalou-se a confusão, até que acabou detido e sumariamente demitido o servidor Márcio Martins Oliveira, apontado como responsável pela soltura dos bichos. Ele atuava na 2ª vice-presidência da Casa e nega a acusação. Os roedores foram adotados por alguns parlamentares e, se de fato Oliveira for inocente, esse é mais um mistério para a CPI investigar – até porque o ex-funcionário já trabalhou com diversos deputados "BRASIL NÃO CUMPRE METAS DA UNESCO" Cento e sessenta e quatro países, entre eles o Brasil, fi rmaram há 15 anos com a Unesco um acordo de melhoria no setor da educação. Na semana passada foi divulgado o balanço dos objetivos atingidos: o Brasil deixou de cumprir pelo menos quatro deles. As duas situações mais graves que perduram são: a má qualidade do ensino e a não redução do analfabetismo. O índice de analfabetos com mais de 15 anos de idade passou de 12,4%, em 2001, para 8,7%, em 2012. O cumprimento da meta exigia queda para 6%. "AS CONSEQUÊNCIAS AMBIENTAIS" A água do mar utilizada para apagar o fogo (média diária de 1 bilhão de litros) torna-se poluída por metanol e etanol ao entrar em contado com os tanques incendiados. A parte dela que não evapora retorna ao próprio mar. Estima-se que cerca de 8,5 toneladas de peixes já tenham morrido. Como se teme que vazamentos agora indetectáveis possam causar incêndios no futuro, técnicos americanos da empresa Williams Fire & Hazard Control se instalarão em Santos por algum tempo. Esses vazamentos contaminarão cada vez mais o solo, a vegetação e o mar. Rios da região também sofrem consequências: milhares de peixes mortos devido ao aquecimento da água, à poluição por metano e etanol e à falta de oxigênio. Somente após a extinção radical do fogo se medirá efetivamente a situação do ar e os efeitos do dióxido de enxofre no organismo de moradores da região – há residências num raio de três quilômetros em relação ao parque industrial. "AS MULHERES FALAM POUCO NA BÍBLIA" Quantas mulheres aparecem na Bíblia e o que elas dizem? Foi com essas questões em mente que a reverenda americana Lindsay Hardin Freeman, sacerdotisa da Igreja Episcopal Trindade, debruçou-se durante três anos no projeto inédito de contar todas as palavras ditas por mulheres nas Sagradas Escrituras. É a primeira vez que esse tipo de dado foi compilado. * 93 mulheres falam na Bíblia * 49 delas têm nome * 14.056 palavras são ditas por essas mulheres – cerca de 1,1% do texto total * 191 foram proferidas por Maria, mãe de Jesus * 61 são de Maria Madalena * 141 palavras falou Sarah, esposa de Abraão "DISTRITO FEDERAL TERÁ DE INDENIZAR ESPOSA ACUSADA DE TRAIÇÃO" Uma decisão rara foi dada na semana passada pela Justiça da Fazenda Pública: o Distrito Federal se viu condenado a indenizar uma mulher que passou a ser acusada de adultério por seu marido depois que ele recebeu o diagnóstico de portador de doença sexualmente transmissível – o marido considerou que contraíra a enfermidade com a esposa devido a relações que ela teria mantido fora do casamento. O que conta para a Justiça não é a questão se alguém foi ou não infiel (até porque algumas dessas doenças podem ser contraídas em sanitários públicos), mas sim o fato de o diagnóstico ter sido fixado sem exame laboratorial. Autoridades sanitárias do DF alegaram que o procedimento seguiu as diretrizes do Ministério da Saúde. O valor da indenização é de R$ 5 mil. "PELA PRIMEIRA VEZ, JAPÃO EXPÕE ATROCIDADES QUE COMETEU NA 2ª GUERRA " Uma inédita e terrível exposição foi aberta na quarta-feira 8 no Japão na Escola de Medicina da Universidade de Kyushu – e em poucas horas a notícia correu o mundo. O que nela se expõe são vivissecções de soldados americanos que se tornaram prisioneiros de japoneses na II Guerra Mundial e tiveram parte de seus órgãos retirados (submetidos vivos a tais cirurgias, conscientes e sem anestesia). Foram removidas sobretudo partes de cérebro e fígado de oito soldados da força aérea americana – oficiais do Japão queriam que seus médicos realizassem experimentos sobre epilepsia e doenças hepáticas. Testou-se ainda injeção intravenosa com água do mar como estudo de algo que substituísse o soro fisiológico. Nada diferente das atrocidades cometidas contra os judeus pelo médico Josef Mengele nos campos de extermínio nazistas. Estamos a poucos meses de comemorar 70 anos do fim do conflito mundial. Já era tempo, portanto, de o governo do Japão admitir publicamente os crimes de guerra que cometeu. "JUSTIÇA CONDENA AUTOR DE ATENTADO EM BOSTON" Dzhokhar Tsarnaev, 21 anos, foi considerado culpado das 30 acusações que pesam contra ele por ter cometido em 2013 o atentado à Maratona de Boston – três pessoas morreram e outras 264 ficaram feridas. Como é de praxe na Justiça americana, primeiro se estabelece a culpa e somente depois de alguns dias a sentença é determinada. Analistas dos EUA avaliam a situação da seguinte maneira: se o terrorista for condenado à morte, corre-se o risco de ele se tornar mártir; se for condenado à prisão perpétua, corre-se o perigo de ele arregimentar para terror colegas de penitenciária. "1 MILHÃO" 1 milhão de toneladas de agrotóxicos é utilizado anualmente nas lavouras brasileiras, o que equivale a um consumo médio, por habitante, de 5,2 quilos desse produto químico. Os dados são do Instituto Nacional do Câncer. "O PAÍS PERDE A SUA MESTRE EM SHAKESPEARE" A presença de Barbara Heliodora na estreia de uma peça era motivo de júbilo e de temor para dramaturgos, diretores e atores. Bastava um elogio seu, e era a glória; mas, igualmente, bastava uma crítica, e o espetáculo caía no ostracismo. Assim era ela, metodologicamente rigorosa e intelectualmente honesta em todas as análises que publicou desde 1957 em jornais como “Tribuna da Imprensa”, “Jornal do Brasil”, “O Globo”. Heliodora Carneiro de Mendonça era o seu nome verdadeiro e ela pode ser considerada a maior especialista em William Shakespeare que o País já teve, assinando traduções de “Sonho de uma Noite de Verão" e “O Mercador de Veneza". Barbara Heliodora morreu na sexta-feira 10, aos 91 anos, no Rio de Janeiro. A causa da morte não foi divulgada. "37 GOLS" 37 gols em 30 jogos foram marcados por Cristiano Ronaldo, do Real Madrid, no Campeonato Espanhol desse ano até a quarta-feira 8. Cristiano marcou mais do que todo o time do Atlético Madrid, terceiro colocado no campeonato com 34 gols. "SÃO PAULO APOSTA EM TERAPIA COMPORTAMENTAL" A metodologia denominada “incentivo motivacional” integra o leque de recursos da terapia comportamental – e apresenta resultados positivos em diversos países no campo da saúde pública. Esse é o novo caminho que o governo de São Paulo em parceria com a Unifesp irá seguir no tratamento de dependentes químicos de crack que vivem nas ruas. Quem aderir ao programa receberá um vale. A cada dois dias será submetido a exames e, se não tiver utilizado a droga, poderá trocar tal vale por diversos produtos (menos bebida alcoólica e cigarro). O valor do vale vai aumentando quanto maior for o período que o paciente ficar sem crack. Em experiência anterior da Unifesp, os produtos mais procurados foram celulares e bicicletas.