0# CAPA 11.6.14 ISTOÉ edição 2324 | 11.Jun.2014 [descrição da imagem: homens e mulheres, vestindo camisa laranja, aparecem através da rede de uma goleira, em expressão de alegria, gritando] INVASÃO GRINGA Mais de 800 mil fanáticos já começaram a chegar ao Brasil para a copa do mundo. _______________________ 1# EDITORIAL 2# ENTREVISTA 3# COLUNISTAS 4# ESPECIAIS COPA 2014 6.11.14 5# BRASIL 6# COMPORTAMENTO 7# MEDICINA E BEM-ESTAR 8# ECONOMIA E NEGÓCIOS 9# MUNDO 10# TECNOLOGIA E MEIO AMBIENTE 11# CULTURA 12# A SEMANA _____________________________ 1# EDITORIAL 11.6.14 "O PESSIMISMO EM NÚMEROS" Carlos José Marques, diretor editorial De maneira demolidora os números da pesquisa do instituto americano Pew Research Center – um dos mais respeitados no mundo e que regularmente rastreia os humores de cidadãos em 82 países – traduziram o tamanho da insatisfação dos brasileiros com o seu governo. Os índices são assustadores e levaram a responsável pelo estudo, Juliana Horowitz, a dizer que tal nível de frustração nacional só tem paralelo com o de países que enfrentaram convulsões sociais, rupturas institucionais e crises como a do Egito. Segundo o trabalho, 86% dos entrevistados desaprovam a atuação de Dilma em relação à corrupção. 85% estão decepcionados com a maneira que a presidenta lida com assuntos como criminalidade e saúde. 76% criticam a falta de planejamento na área de transporte. 71% reclamam de sua política externa. 63% condenam a sua gestão econômica. E nada menos que 72% do total, equivalentes a um universo de três em cada quatro brasileiros, estão descontentes com a chefe da Nação. As estatísticas surpreenderam os próprios realizadores do trabalho, não apenas pelo grau de decepção geral como também pela rapidez com a qual se deu essa virada de ânimo. No ano passado, o mesmo levantamento detectou um índice de insatisfeitos com Dilma da ordem de 55%. O salto ocorreu a partir das manifestações de rua para cá. Concretamente a pesquisa da Pew aponta a consolidação da onda de pessimismo. “Se cristalizou o cenário de avaliação mais negativa”, diz a analista Horowitz. Algo como uma queda do cavalo. Em curto tempo, nos pouco mais de três anos de mandato, o brasileiro passou da euforia generalizada ao desânimo em escala que beira a depressão. No QG da presidenta, a pesquisa Pew serviu como sinal de alerta. O responsável por sua campanha à reeleição, João Santana, admitiu o desgaste e reuniu-se com Dilma e Lula para afirmar que o cenário de queda de confiança do eleitor exigia uma radical mudança de postura. O problema é o tempo até as urnas e a personalidade pouco conciliadora de Dilma. Fatores como a apatia ministerial, que nesse período de Copa e eleição se acentua dada a falta de realizações dignas de nota, pesam contra. Na base de apoio a desmobilização visível também não ajuda. E é nesse ambiente que a descrença na mandatária toma corpo. _________________________________ 2# ENTREVISTA 11.6.14 STEVE CARELL - "NÃO SABIA O QUE FAZER PARA CONHECER MULHERES" Famoso por papéis engraçados no cinema e na tevê, o ator agora parte para filmes sérios e conta que era extremamente tímido na juventude por Elaine Guerini, de Cannes FAMA - Carell só conheceu o sucesso depois dos 40 anos O ator Steve Carell, 51 anos, esperou 15 anos para alcançar o reconhecimento em Hollywood. Foram muitas pontas em filmes e seriados de tevê até o comediante estourar no papel-título do longa “O Virgem de 40 Anos” (2005) e na série “The Office’’ (2005-2013), na pele do chefe incompetente de empresa de papel. “Nunca achei que um dia venceria”, disse o ator, que atualmente embolsa cerca de US$ 15 milhões por filme. Eleito o “homem mais engraçado da América” pela revista “Life”, Carell busca agora um novo desafio, mergulhando em território sério e dramático. Embora faltem quase nove meses para o próximo Oscar, ele já desponta como possível candidato pelo retrato do milionário John du Pont (1938-2010) em “Foxcatcher”, que concorreu à Palma de Ouro do 67° Festival de Cannes. Mentalmente perturbado, o ricaço assassinou o lutador Dave Schultz, medalha de ouro na Olimpíada de Los Angeles de 1984, quando o mesmo era técnico da equipe de atletas patrocinada por Du Pont, na Pensilvânia. “Foi uma tragédia movida pela inveja que Du Pont tinha do talento de Schultz”, disse o ator, que ganhou prótese no nariz para o papel, ficando quase irreconhecível. A seguir, os principais trechos da entrevista que Carell concedeu à ISTOÉ, no luxuoso hotel Carlton, na Croisette cannoise. Assim que soube que a reportagem era do Brasil, o ator logo perguntou: “Vocês estão preparados para sediar a Copa do Mundo?’’ Antes de ouvir a resposta, ele soltou: “Pelas notícias que ouço, parece que tudo ficou para a última hora”... "Sempre pensei no Brasil como uma grande festa. Por isso, acho que farão uma das melhores Copas, apesar de eventuais problemas na organização" "John du Pont (na foto) teve uma história de vida muito diferente da minha. É sempre complicado interpretar personagens verídicos" Istoé - Qual é a sua percepção do Brasil como o país da Copa? Steve Carell - Já conversei com alguns brasileiros sobre o assunto e todos parecem não acreditar que o Brasil terá tudo em ordem, a tempo para a Copa. Mas certamente dará tudo certo no final. Sempre dá. Não existe um país no mundo que não tenha conseguido sediar uma Copa. Não será o Brasil o primeiro. Aposto que a Copa será ótima no Brasil, um país que, infelizmente, não conheço. Istoé - Qual é a imagem que tem do Brasil? Steve Carell - Sempre pensei no Brasil como uma grande festa. É um lugar que o visitante procura para se divertir e para aproveitar o melhor da vida. Um lugar onde a palavra de ordem é curtir. Por conta disso, acho que vocês farão uma das melhores Copas, apesar de eventuais problemas na organização. Istoé - Quem você acha que conquistará a taça? Steve Carell - (Risos) Não tenho ideia, pois não sigo futebol. Gosto mais de futebol americano, hóquei, basquete e beisebol. Istoé - Acha que a Copa e a Olimpíada podem servir de plataforma para a humilhação de países mais pobres e menos preparados? Steve Carell - Infelizmente, a ideia de que todos competem em pé de igualdade num torneio internacional é falsa. Há obviamente países cujo desempenho é limitado pela falta de recursos. Ainda assim, acho que o espírito a prevalecer não é o de competição entre países. Esses eventos unificam os povos do mundo, em vez de separá-los. Vejo como uma competição saudável entre atletas vindos de todas as partes do planeta. É um momento de confraternização entre as culturas. Istoé - John du Pont, que você vive em “Foxcatcher”(ainda sem previsão de estreia no Brasil), se vendia como um grande apoiador dos esportes amadores nos EUA. Aparentemente, ele era um patriota... Steve Carell - Sim. Ele deveria ter boas intenções. Por isso, me recusei a abordá-lo como um vilão ou um monstro. Ele foi um cara problemático, com uma infância complicada. Todo o poder e a fortuna que tinha não eram nada comparados à autoconfiança de Dave Schultz, tudo o que Du Pont queria ser. Por ele não ter o respeito de ninguém, era um homem frágil e potencialmente perigoso, ainda que ninguém acreditasse nisso na época. Istoé - O que o filme diz sobre os EUA, onde a ideia de que o dinheiro pode comprar tudo é geralmente levada ao extremo? Steve Carell - O dinheiro não compra a felicidade. Nesse sentido, o filme é um grito de alerta. O dinheiro não ajudou Du Pont, naquilo em que ele mais precisava de ajuda, que era o psicológico. Todos sabiam disso. Mas ninguém fez nada por medo de perder o emprego. Ele passou a vida cercado de pessoas que precisavam do seu dinheiro, mas não eram necessariamente suas amigas. Istoé - O que mudou na sua vida, ao passar a ganhar muito dinheiro? Muitas vezes, isso pode vir acompanhado daquela obsessão por ter tudo, não? Steve Carell - Já ouvi dizer que pessoas com muito dinheiro podem se sentir com mais direito à felicidade. Eu nunca tive tanto dinheiro quanto Du Pont (risos). Ele estava num outro patamar, por ter nascido em berço de ouro. O dinheiro pode, sim, ter um efeito negativo sobre as pessoas, mas isso depende de quem você é. É uma questão de caráter e do que você considera mais valioso em sua vida. Ter dinheiro é um luxo. Como nunca tive, hoje eu o valorizo. Não gasto com qualquer coisa. Istoé - Essa postura se deve ao fato de você ter alcançado o sucesso depois dos 40 anos? Steve Carell - Não sei como teria sido se eu tivesse tido qualquer projeção quando era mais jovem. Fico feliz por isso ter acontecido. Não importa a idade. Não foi algo que eu achava possível. Quando aconteceu, eu já era casado (com a atriz Nancy Walls) e já tinha dois filhos (Annie, 13 anos, e Johnny, 10). Ou seja, por conta das minhas prioridades, tinha a cabeça no lugar. Ainda assim, gosto de pensar que eu teria sido um cara maduro diante do sucesso e não teria me transformado num idiota completo (risos). Mas nós nunca vamos saber... Istoé - Há muitos idiotas em Hollywood? Steve Carell - (Risos) Só vou dizer que, ao saírem do anonimato, alguns sentem uma estranha necessidade de transformação. O curioso é que viram outra pessoa. Nunca vou entender o motivo. Istoé - Até que ponto acha que a sua aparência, de um cara comum e não de movie star, favoreceu a sua carreira, aproximando-o do público? Steve Carell - Nunca pensei muito a respeito. Dizem que a plateia muitas vezes se identifica mais com um sujeito normal. Não sei. Sempre tive essa cara (risos). Ao longo da carreira, nunca senti que fosse uma habilidade ou, por outro lado, uma deficiência. Nunca fui empregado com base na minha aparência. E nem despedido por conta disso. Istoé - John du Pont não parecia se sentir bem com quem ele era. Passou por isso em alguma fase de sua vida? Steve Carell - Ele teve uma história de vida muito diferente da minha. Por isso, é sempre complicado interpretar personagens verídicos. Tudo o que fiz foi especular por que Du Pont se sentia tão mal na própria pele. Acho que ele se sentia humilhado por não ter a aprovação da mãe (vivida no filme por Vanessa Redgrave), que preferia estar com seus cavalos do que com o filho. Felizmente, não passei por nada parecido. Talvez na juventude tenha me sentido um pouco desajustado, principalmente na hora de paquerar garotas. Eu não era muito sociável. Istoé - Era tímido? Steve Carell - Terrivelmente tímido. Nunca fui de frequentar bares na época em que era solteiro. Na juventude, não sabia o que fazer para conhecer mulheres. A ideia de puxar papo com uma estranha num bar, com o objetivo de ter um contato físico no fim da noite, era vagamente repulsiva para mim (risos). Não achava que era a melhor maneira de me conectar com alguém. E o fato de eu não ter autoconfiança também não ajudava. Istoé - Como fez quando conheceu Nancy, sua mulher? Steve Carell - Nós nos conhecemos quando eu atuava num grupo de teatro de Chicago, o The Second City. Levei um tempo até tomar coragem para convidá-la para sair. Brinquei com a ideia primeiro. Até ter certeza de que ela diria sim (risos). Istoé - Há muitos elementos em comum em sua galeria de personagens. Muitos deles enfrentam situações embaraçosas, o que desencadeia o humor. É algo que procura? Steve Carell - Não necessariamente. Mas a verdade é que a melhor comédia, na minha opinião, sempre nasce de uma situação. Gosto quando o personagem tenta desesperadamente manter a dignidade, mesmo num momento constrangedor. Isso é muito engraçado e, ao mesmo tempo, tocante. Istoé - Concorda com a ideia de que o bom comediante precisa ter um lado obscuro? Steve Carell - É o que dizem. Não sei se é certo. Pode soar estranho, mas eu nunca abordei comédia ou drama de uma forma diferente. Eu só procuro fazer o papel, buscando a sua honestidade. Não dá para escolher o drama ou a comédia. É preciso deixar acontecer, até porque um personagem nunca deve agir como se ele soubesse estar numa comédia ou num drama. Istoé - A ideia é buscar papéis mais dramáticos, como Du Pont, daqui para a frente? Steve Carell - O meu objetivo principal é apenas estar empregado. Isso não mudou desde o meu início de carreira. A diferença é que antes eu precisava aceitar o que me ofereciam. Agora posso escolher, o que é um luxo. De acordo com as ofertas, sempre vou escolher o que parecer mais instigante. Mas nunca será um movimento calculado, no sentido de mudar ou não a percepção que o público e a indústria têm de mim. Istoé - Pela boa recepção de “Fox-catcher” em Cannes, já se fala de uma possível indicação sua ao Oscar de melhor ator. Steve Carell - Obviamente, é bom ouvir isso. Mas é muito prematuro. Se eu ousasse dar importância a esse burburinho, correria o risco de me transformar no que mais odeio: pessoas pretensiosas. _____________________________ 3# COLUNISTAS 11.6.14 3#1 RICARDO BOECHAT 3#2 LEONARDO ATTUCH - EXPECTATIVAS, COPA E ELEIÇÕES 3#3 RICARDO AMORIM - DESEMPREGO E MANIPULAÇÕES 3#4 GISELE VITÓRIA 3#5 BRASIL CONFIDENCIAL 3#1 RICARDO BOECHAT Com Ronaldo Herdy Legislação Supremo no alvo Ao considerar em 15 de maio que a terceirização de mão de obra é tese merecedora de repercussão geral, daí será analisada em caráter extraordinário no plenário, o STF mexeu num vespeiro. Mesmo sem querer. O TST, o Ministério Público do Trabalho e as centrais sindicais já se mobilizam para defender que não pode haver terceirização de trabalhadores nas atividades-fins de uma empresa, princípio que tem prevalecido até aqui. O ministro Luiz Fux é o relator da Ação Civil Pública, na qual a Cenibra é a ré. Agricultura Pingo nos is O Ministério da Agricultura terá de detalhar a setores do governo federal o seu projeto de comprar milhares de sementes de cooperativas de agricultores familiares e destiná-las a pequenos produtores rurais. De início, o gasto seria da ordem de R$ 3 milhões. Há no pedido de explicações uma dúvida razoável: microfornecedores não têm preço, tecnologia e escala para produzir sementes tão boas quanto as das grandes empresas que investem pesado em pesquisas de campo. Aviação Civil Pinto na frente No voo inaugural da TAP, na terça-feira 3, ligando Lisboa-Manaus-Belém, o presidente da empresa, Fernando Pinto, pousou em solo paraense na cabine de comando do Airbus A330. “Quase caí ao ver lá de cima como a capital cresceu.” Pelas normas brasileiras, cabe multa de até R$ 5 mil ao piloto e de, no máximo, R$ 20 mil à empresa. A TAP é lusa, então é a Anac de Portugal quem regula o vaivém de pessoas à área do piloto e do copiloto. E dirá se houve abuso. Redes sociais Na ótica dos famosos Entre músicos, modelos, estilistas e esportistas, o Instagram convidou nove personalidades brasileiras para participar do InstaGuide, falando sobre os seus lugares preferidos nas cidades-sede de jogos do Mundial da Fifa. Ao longo dos próximos dias, Anitta, Claudia Leitte, Gilberto Gil, Carol Trentini e outros guiarão a comunidade do Instagram por pontos turísticos de Rio de Janeiro, São Paulo e Salvador, por exemplo, dando ainda dicas de gastronomia, programação cultural, musical e até religiosa. STF Ao pé do ouvido Amigos de Joaquim Barbosa o aconselharam a “desaparecer” da mídia até o fim do ano, a fim de evitar desgastes e polêmicas. Se seguirá o aconselhamento, o tempo dirá. Mas o fato é que, tão logo pendure a toga, ele não terá mais a centenária instituição para respaldá-lo de ataques cruzados. Eleições 2014 Aécio ou Campos? Um ministro do Executivo encontrou casualmente Yves Gandra Martins no Aeroporto de Brasília. O papo logo enveredou para a política. Diante da pergunta sobre a sua escolha na disputa pelo Planalto, o jurista respondeu sem titubear: “Sei em quem não votarei, por todos os equívocos de sua política econômica, ou seja, na presidenta Dilma.” STJ Outros tempos A vida não anda fácil... para José Sarney. Apoiou para ministro do STJ Reynaldo Soares da Fonseca, seu sobrinho e desembargador do TRF da 1ª Região. Para a cadeira que era de Eliana Calmon, Dilma Rousseff preferiu indicar ao Senado Luiz Garcia (TRF 5ª Região). Como se não bastasse, Sarney corre o sério risco de não ganhar um sexto mandato no Senado pelo Amapá (destaque nas pesquisas para o deputado Davi Alcolumbre, do DEM). No Maranhão, o candidato do clã (Edison Lobão Filho – PMDB) está muito atrás de Flávio Dino (PCdoB). OEA Casamento polêmico A proposta brasileira de aprovar resolução contra a discriminação dos homossexuais provocou barulho em Assunção, ao final da assembleia-geral da OEA, na quinta-feira 5. Ativistas tradicionalistas paraguaios ocuparam o entorno do Centro de Convenções da Conmebol, gritando palavras de ordem contra o casamento gay. Uruguai e Argentina, entre outros países, estavam com o Brasil, mas o tema saiu da pauta. O Brasil foi representado na reunião pelo secretário-geral do Itamaraty, Eduardo dos Santos. Política Na encruzilhada No sábado 14, o Partido Ecológico Nacional fará convenção nacional definindo o seu “norte” nas eleições de outubro. Em Barrinha (SP), duas opções terão os partidários do PEN: apoiar Aécio Neves ou partir para uma candidatura própria ao Planalto. Nesta utópica opção concorrem na legenda a socióloga Ana Maria Rangel, o empresário Bertolino Ricardo e a advogada Denise Abreu. Eleição 2 Entre eles O PEN tem 36 segundos na propaganda eleitoral obrigatória e um orçamento com R$ 48 mil mensais do Fundo Partidário. A luta interna é grande. Denise Abreu, exatamente por sua passagem pela Anac, teve pedido de 24 anos de prisão pelo Ministério Público Federal em São Paulo, no rastro dos inquéritos relativos ao voo TAM, que causou a morte de 199 pessoas em 2007. Aliás, ela diz que tem apoio militar à sua candidatura. Já Bertolino de Almeida não cansa de repetir: “Abomino a ditadura.” Indústria Para esportistas Desde 2006, o mais vendido medicamento no Brasil – R$ 431 milhões só nos últimos 12 meses encerrados em abril –, o Dorflex, está ganhando novas apresentações. O uso tópico do analgésico virá com adesivos flexíveis, bandagem elástica, roll-on e spray. A linha Icy Hot, que aposta na terapia do frio e quente para alívio de dores e lesões musculares, existe há 40 anos nos EUA. Medicina Silêncio sepulcral O Conselho Federal de Medicina fará nova recomendação aos médicos para que forneçam o prontuário do paciente morto ao cônjuge ou companheiro sobrevivente, sucessores legítimos em linha reta ou colaterais até o quarto grau. Quem não quiser ter o documento divulgado precisará registrar isso por escrito junto ao profissional que o assiste, evitando conflitos futuros. Trânsito Ninguém escapa Alvo de uma homenagem na Academia Brasi­leira de Filosofia na quinta-feira 5, no Centro do Rio de Janeiro, o ex-secretário Municipal de Transportes Carlos Osório teve de justificar o atraso demasiado à cerimônia: “Peguei um trânsito danado.” Aliás, problema que piora dia a dia na cidade-sede da Olimpíada de 2016. Saúde Camisinha na torcida Tal como no Carnaval, em parceria com as secretarias municipais de Saúde, o governo federal distribuirá preservativos nas cidades-sede de jogos da Copa. Estima-se que cerca de 60% dos torcedores estrangeiros que virão aqui sejam solteiros, 80% do sexo masculino e, aproximadamente, 70% com idade entre 25 e 45 anos. Seleção Brasileira Doce vida Foram doces e saborosos os últimos dias de Neymar na Granja Comary, em Teresópolis, onde a Seleção Brasileira se prepara para o Mundial da Fifa. O craque encomendou – e recebeu de graça – 40 latas do badalado Brownie do Luiz, que virou uma espécie de lanche obrigatório para a galera que circula pela zona sul carioca. Quantas guloseimas dividiu com Bruna Marquezine, que também esteve na cidade serrana, é um mistério que só o casal poderá revelar, agora que eles reataram a relação com doces beijinhos. 3#2 LEONARDO ATTUCH - EXPECTATIVAS, COPA E ELEIÇÕES O Brasil hoje espera tão pouco da Copa que se o torneio for minimamente normal já será um sucesso. Fazia tempo que o Brasil não chegava tão desacreditado a uma Copa do Mundo. Não se trata aqui do time de Felipão, que, com jogadores como Neymar, David Luiz, Oscar e Fred tem chances reais de conquistar o título e de enterrar o fantasma do “Maracanazo”, de 1950. Aliás, é o grande favorito para a grande maioria dos torcedores que já estão desembarcando no País e também para os treinadores das equipes adversárias, que se surpreendem com o mau humor nacional. Segundo um grande banco, a probabilidade de que o Brasil levante o troféu é de 48,5%. Quem chega desacreditado, no entanto, é o próprio País. E não porque não tenha se preparado. Apesar dos percalços, o torcedor brasileiro ganhou arenas à altura do futebol brasileiro, aeroportos foram reformados e há um legado inegável de obras que foram aceleradas em várias capitais. Porém, é também impossível negar que a Copa de 2014 foi contaminada pela disputa política e, hoje, mais do que a taça, os fatores que estão em jogo são a imagem e a autoestima do Brasil. Ao fim do torneio, a grande dúvida será: o brasileiro terá vergonha, como disse Ronaldo, ou orgulho do próprio País? Naturalmente, há fatores de risco, concentrados, sobretudo, na partida de estreia. Será o primeiro jogo com capacidade total do Itaquerão, um estádio com arquibancadas provisórias que terão sido liberadas na véspera e que, de certa forma, é também o mais associado ao chamado “lulismo”. Para ampliar o quadro de tensão, a greve no metrô paulista, meio mais eficiente para se deslocar ao estádio, potencializa o risco de que torcedores tenham problemas para chegar à arena – hoje, o grande temor da Fifa é que se repitam as imagens do jogo Corinthians e Botafogo, quando muitos torcedores só conseguiram tomar seus assentos depois da partida já iniciada. No entanto, caso o Brasil passe bem pelo teste da primeira partida, tanto dentro quanto fora de campo, a tendência é que o ambiente passe a ser contagiado, aos poucos, pelo clima de Copa do Mundo. E que o grito contido da torcida, hoje intimidada por manifestantes, black blocs e grupos de sem-teto, passe a ser mais ouvido, com direito ao refrão “sou brasileiro, com muito orgulho, com muito amor”. Eis aí o risco para quem apostou no fracasso. Hoje, as expectativas nacionais sobre a Copa são tão baixas que um torneio minimamente normal já será percebido como um grande sucesso. Por isso mesmo, assim como o governo assumiu riscos ao inchar o campeonato com 12 sedes e abri-lo num estádio não testado, também terá sido um risco para a oposição sentir vergonha antecipadamente. Se tudo der certo, o Brasil passará da depressão à euforia e os derrotistas serão identificados como autênticos vira-latas. Que venha o pontapé inicial! 3#3 RICARDO AMORIM - DESEMPREGO E MANIPULAÇÕES Economista, apresentador do "Manhattan Connection" (Globo News) e presidente da Ricam Consultoria (www.ricamconsultoria.com.br) "A taxa de desemprego no Brasil tem sido baixa e cadente, mas quase metade dos brasileiros em idade de trabalhar não trabalha e este número tem crescido". Facebook, Twitter e outras redes sociais trouxeram coisas boas e outras nem tanto. Para mim, uma das mais convenientes é saber os assuntos que mais interessam às pessoas. Recentemente, poucos geraram tanta inquietação e nenhum tanta incompreensão quanto nossos números de desemprego. Quase todos sabem que a taxa de desemprego despencou no País e está entre as mais baixas do mundo, mas você sabia que de cada 100 brasileiros em idade de trabalho só 53 trabalham? Isso mesmo. Pelos dados oficiais do IBGE, de cada 100 brasileiros em idade de trabalho, 53 trabalham, três procuram emprego e não encontram e 44 não trabalham nem procuram emprego. É considerado desempregado quem procura emprego e não encontra (3%) sobre o total dos que procuraram emprego (56%): 3% / 56% = 5%. Quem não procura (44%) tecnicamente não está desempregado. Esta não é uma manipulação estatística feita pelo governo brasileiro. O mesmo conceito vale no mundo inteiro. Porém, se a estatística não é manipulada, sua interpretação é. Baseado na estatística de desemprego, o governo sugere que quase todos os brasileiros têm emprego. Na realidade, quase metade (47%) não tem. Excluindo-se empregados e desempregados, sobram os que só estudam, os aposentados, os pensionistas e os que não querem trabalhar, totalizando 44% da População em Idade Ativa (PIA). Na PME, a PIA considera em idade de trabalho todos acima de apenas dez anos. Quem tem menos de 18 anos não deveria trabalhar, mas paradoxalmente, incluí-los na PIA reduz a taxa de desemprego. Os poucos que trabalham aumentam o número total de empregos, mas a quase totalidade dos que não trabalham não procura emprego. Este efeito explica por que a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua, também do IBGE, que mede o desemprego em 3,5 mil municípios entre os maiores de 15 anos, aponta uma taxa de desemprego de 7%, contra 5% da PME. Se considerássemos apenas aqueles de 18 a 65 anos, a taxa de desemprego seria ainda bem mais alta. De qualquer forma, a taxa de desemprego tem sido baixa e cadente, mas quase metade dos brasileiros em idade de trabalhar não trabalha e este número tem crescido. Pior, o número de empregos tem caído. Só nas maiores regiões metropolitanas há hoje 142 mil empregos menos que há um ano. Por que o desemprego continua caindo, então? Porque o número dos que desistiram de procurar emprego foi maior do que a queda do número de empregos. Milhões de pessoas deixaram de buscar empregos nos últimos dez anos por quatro razões. A primeira é positiva. Temos, hoje, dois milhões de universitários a mais. Uma parte deles não trabalha nem busca emprego. As outras três razões são negativas. A população brasileira está envelhecendo, reduzindo a parcela dos que trabalham em relação aos que não trabalham. Mais tristes são os efeitos de políticas do governo. O Bolsa Família gera condições de sobrevivência para milhões de famílias, mas em locais onde os salários são pouco superiores ao benefício desestimula a busca por emprego. Há ainda a expansão do prazo e o valor do seguro-desemprego. Nos últimos dez anos, o desemprego caiu de 13% para 5%, mas os gastos com abono e seguro-desemprego subiram de R$ 13 bilhões para mais de R$ 45 bilhões. Quem recebe seguro-desemprego e não busca emprego enquanto recebe o benefício não é considerado desempregado na estatística. De um ano para cá, o mercado de trabalho piorou bastante, mas a taxa de desemprego não refletiu isso. Há menos gente trabalhando e quem procura emprego demora mais para encontrar. Entre os novos empregados, a participação dos que encontraram emprego em menos de seis meses caiu 8%; já a dos que levaram de seis meses a um ano subiu 19% e a dos que levaram mais de um ano subiu 36%. Dificuldade em conseguir emprego estimula as pessoas a deixarem de procurar, o que reduz a taxa de desemprego, mesmo com a economia piorando. É o que tem acontecido há um ano. Resumindo, criar condições para que o País volte a criar empregos e estimular os brasileiros a quererem trabalhar serão dois dos maiores desafios dos próximos anos. Ricardo Amorim é economista, apresentador do programa “Manhattan Connection”, da Globonews, e presidente da Ricam Consultoria 3#4 GISELE VITÓRIA Gisele Vitória é jornalista, diretora de núcleo das revistas ISTOÉ Gente, ISTOÉ Platinum e Menu e colunista de ISTOÉ A bola da vez Izabel Goulart mergulhou no clima da Copa. A top model será musa da Nike e estará ao lado de Ronaldo Fenômeno como anfitriã da Casa Fenomenal, projeto da marca no Rio de Janeiro, que receberá personalidades durante o Mundial. “Estou lisonjeada. Saber que fui escolhida madrinha, e ao lado do Ronaldo, é sensacional”, diz a top. Izabel vai assistir ao primeiro jogo do Brasil em São Paulo. “É um momento histórico, para ser lembrado.” E já prepara até o modelito. “Carina Duek está criando um look para mim, com base na ­­camiseta da Nike, customizada pelo Pedro Lourenço. Me deram a número 1”. Depois, Izabel segue para Berlim, Milão, Ibiza e Los Angeles a trabalho. “Mas volto para as finais”, garante a top. Ela é a musa do Brasil na capa da revista IstoÉ Gente de junho. Prioridade Estrela da novela “Em Família”, Bruna Marquezine anda sem tempo para nada. As gravações corridas da trama de Manoel Carlos na Globo quase não permitem folgas. A atriz só abre exceções para ver Neymar. Com o namoro recém-reatado, Marquezine faz tudo para estar perto do jogador. Já foi duas vezes à Granja Comary. Cinco dias antes de ser fotografada no treino da Seleção, ela esteve em Teresópolis na madrugada da terça-feira 27. Saiu de lá com o dia claro e ninguém viu. No domingo 8, a atriz será vendedora na joalheria Vivara, em São Paulo, marca da qual é garota propaganda. A rainha está nua Não fossem os 216 mil cristais Swarovski, a popstar Rihanna teria revivido uma versão feminina para o conto de fadas “A Roupa Nova do Rei” no tapete vermelho do Alice Tully Hall, em Nova York. Ninguém gritou “a rainha está nua” ou algo do gênero, mas o vestido transparente da atrevida musa, feito sob medida pelo estilista Adam Seiman, entrou para a história dos red carpets no prêmio de moda CFDA (Council of Fashion Designers of America). Para cobrir as partes íntimas, a cantora usou apenas uma calcinha fio dental e uma estola. Dias depois, lá estava Rihanna no centro das polêmicas outra vez ao estrelar uma campanha de perfume censurada no Reino Unido. Motivo? A rainha estava nua. De novo. Vai ser dureza José Serra acredita que será duro enfrentar o PT na eleição presidencial. “Eles vêm com tudo.” Mas vê vantagem para a oposição num ponto: “Nas eleições passadas, ninguém queria mudar nada. Hoje o povo quer mudança.” O ex-governador descartou ser vice de Aécio Neves. E minimizou seu distanciamento na campanha: “Não é relevante (a presença física). Gravar o horário eleitoral é o importante.” Luiza e Lírio reatam A fria noite de gala do Brazil Foundation em São Paulo deu sorte para Luiza Brunet aquecer de novo o coração. Vestida de Dior, a musa deixou a mesa de Cris Lotaif no jantar antes do leilão beneficiente na Fundação Luiza e Oscar Americano. Foi jantar com o ex-namorado, o empresário Lírio Parisotto, no hotel Fasano. Ali, os dois reataram o namoro de dois anos rompido havia um mês. Kassab, vice de Alckmin O namoro de Gilberto Kassab com o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, evolui em alta harmonia. No fim de semana, eles estiveram juntos numa festa e conversaram animadamente em rodinhas. A bolsa de apostas cravava que a chapa de Alckmin na reeleição para o governo paulista terá mesmo Kassab como vice. A amigos o próprio Kassab afirma com toda segurança que tudo já está decidido. Já o governador sorri e desconversa: “Nada resolvido.” Bala Médico do coração Roberto Kalil se mantém como o médico-mor dos corações e das mentes políticas. Confidente da presidenta Dilma, também hospedou em sua casa na Quinta da Baroneza, em Bragança Paulista, o ex-presidente Lula e dona Marisa no fim de semana passado. “Não tem volta” A apresentadora Eliana não vê chances de reverter sua separação do produtor João Marcello Bôscoli. “Não tem volta”, sorri. “Nos damos muito bem. João Marcelo frequenta minha casa para estar sempre perto do nosso filho. É nele que temos que pensar.” Eliana tem circulado na noite paulistana na companhia de amigos, mas diz que nem pensa agora num novo romance. “Quero trabalhar e me dedicar ao Arthur. A essa altura, não é preciso ter alguém só por ter”, diz. Depois da temporada em Dubai, Eliana estuda viajar para Israel e fazer um especial. 3#5 BRASIL CONFIDENCIAL Por Paulo Moreira Leite A conversa mais animada de Brasília O ministro Ricardo Berzoini e o deputado Eduardo Cunha nunca se tornarão amigos de infância, mas conversam como nunca antes na história do governo Dilma Rousseff. São de três a quatro telefonemas por semana, em que passam a sempre detalhada agenda do líder do PMDB, um reconhecido estudioso do regimento interno da Câmara, aplicado caçador de oportunidades para emendar medidas provisórias – e um poder de influenciar, em graus variados de fidelidade, perto de 200 centenas de parlamentares. O Planalto não considera que a paz já foi estabelecida até porque nem sempre Cunha deixa o interlocutor conhecer seus planos com antecedência, mas acredita que o terreno esteja aplainado, num momento em que o PMDB realiza a convenção para discutir a sucessão presidencial. Agnelo e o BRB Processo licitatório para contratação de agência de publicidade do BRB pode complicar o governador Agnelo em Brasília. A comissão de licitação está ignorando todos os questionamentos e erros no edital e na apresentação das propostas. O assunto agora está nas mãos do TCDF. O processo ou é anulado ou os participantes deverão barrar na Justiça. Fala-se em condução do processo para agências ligadas ao governador. Temer aguarda consagração Pelas contas do senador Valdir Raupp, a convenção do PMDB para discutir a sucessão presidencial será uma consagração de Michel Temer. Raupp calcula que vários estados vão levar 100% de apoio a Dilma Rousseff – inclusive na Bahia, onde o líder local Geddel Lima é adversário do PT no plano estadual, mas jura fidelidade absoluta no federal. Pelas contas de Raupp, a maior dissidência, liderada – é claro! – por Eduardo Cunha, no Rio de Janeiro, chega a 30% dos votos. Sabe quem eu sou? O senador Jayme Campos (DEM-MT) é investigado por usar funcionários públicos na sua fazenda. Chamado a depor pela PF, disse que trabalhava muito como senador e sugeriu data e hora para ser ouvido. Levou um não do delegado, que lembrou por ofício que investigados não são celebridades e que o cargo no Senado não garante a ele o direito de escolher como e onde depor. Sabóia e seu destino O diplomata Eduardo Sabóia, que organizou a fuga do senador boliviano Roger Pinto da embaixada em La Paz, fazendo uma viagem clandestina pelo país vizinho até a fronteira brasileira, dificilmente escapará de uma sentença desfavorável no inquérito aberto pelo Itamaraty para investigar o caso. Mesmo colegas simpáticos a Sabóia reconhecem que é difícil negar que seu gesto não só implicou quebra de hierarquia, mas também contribuiu para desmoralizar as regras que definem o direito de asilo, um dos pontos altos da diplomacia moderna. Bomba de campanha Servidores do STF perceberam que nos últimos dias tem havido uma procura significativa pelo processo que investiga o deputado Renan Filho (PMDB-AL) por improbidade administrativa. Renan Filho é candidato ao governo de Estado. Segura o Arruda Da Penitenciária da Papuda, o ex-deputado Valdemar da Costa Neto recebeu pedido para mobilizar interlocutores a convencer o ex-governador do Distrito Federal José Roberto Arruda a desistir de disputar o Palácio Buriti. O PR está em avançadas negociações para compor palanque com o PT e o Distrito Federal é território importante na costura das alianças que têm impacto na eleição nacional. Quem manda? O Ministério da Pesca e o Ibama estão em choque. Pescadores do Rio de Janeiro apresentaram na Câmara extensa lista de multas aplicadas pelo Ibama, apesar de terem recebido licença de pesca emitida pelo ministério que cuida da área pesqueira. Os pescadores reclamam que quando os seus barcos são parados pela fiscalização do Ibama, apresentam o documento emitido pelo Ministério da Pesca, mas os fiscais afirmam que o papel “não vale nada”. Enquanto os órgãos não se entendem, os pescadores não sabem a quem recorrer para não pagar as multas, que chegam a R$ 70 mil por pesca de sardinha. Toma lá dá cá Deputada Rosane Ferreira (PV-PR), integrante da delegação de parlamentares convidados pelo Irã para apoiar o resultado das eleições na Síria. ISTOÉ – Qual o objetivo do Irã em montar grupo supranacional de parlamentares? Rosane – Difundir os interesses do governo iraniano. Convidaram integrantes de 32 países para criar um grupo de parlamentares amigos da Síria. Querem dar legitimidade ao processo eleitoral, à eleição de Bashar al-Assad. ISTOÉ – É uma ação diplomática? Rosane – É uma situação totalmente atípica. O que o governo do Irã tenta com isso é criar uma linha de discussão contra-hegemônica, para dizer não a qualquer processo militar dos EUA em relação à eleição na Síria. ISTOÉ – O encontro produziu algum documento? Rosane – Sim, o documento final de debates tem um texto de respeito absoluto às eleições da Síria. Rápidas Para quem adora criticar investimentos do BNDES: números exibidos no Conselho de Desenvolvimento Econômico Social mostram uma relação positiva entre empréstimos do banco e a elevação na taxa de investimento do País. Primeiro ministro da Educação do PSDB a quem se apresentou o projeto de cobrar mensalidade em universidades públicas, Paulo Renato de Souza (....-....) rejeitou a ideia por ser barulhenta e inútil. Acha que iria provocar uma reação social azeda e sem resolver o problema dos grandes custos do ensino superior. O senador Roberto Requião (PMDB-PR) dá por cumprido seu esforço para garantir a recriação do Direito de Resposta por erros dos jornais. Requião fez o projeto e garantiu aprovação unânime no Senado. Aguarda que o PT cumpra o combinado e ajude a colocar a proposta em votação antes da Copa. Governadores de Estados-sede da Copa foram ao Planalto reclamar que a Fifa não tem dado ingressos de presente para distribuir entre amigos e apadrinhados. Retrato falado Em tempos de futebol, o plenário da Câmara fica vazio, mas a antessala que abriga o cafezinho dos deputados, mobiliada com confortáveis poltronas e televisores, é disputada. No dia do jogo entre Brasil e Panamá, na terça-feira 3, não foi diferente. Os debates do Plano Nacional de Educação (PNE) estavam abertos e os parlamentares acompanhavam no cafezinho os dribles do craque Neymar. Mesmo assim, o relator da CPI Mista criada para investigar a Petrobras afirma que os trabalhos da comissão não serão paralisados nas próximas semanas. “Nós vamos ter sessões durante a Copa. Nossa intenção é trabalhar o máximo possível”. “ Eu voto, tu votas, ele veta...” Os lançamentos do livro “Fortuna – O Cartunista dos Cartunistas” têm servido para lembrar uma faceta menos conhecida de Reginaldo Fortuna (1931-1994), um dos grandes artistas gráficos do País. Amigos de Fortuna gostam de recordar que seus desenhos saíam das páginas de jornal para se transformar em panfletos contra a ditadura. Uma dessas ilustrações, como a publicada pelo “Correio da Manhã” em 1965 (abaixo), chegava a ser gritada, em coro, por estudantes em passeata de protesto. _____________________________________ 4# ESPECIAIS COPA 2014 11.6.14 4#1 INVASÃO ESTRANGEIRA 4#2 O MUNDO NO BRASIL 4#3 "EM ITAQUERA, AGORA NÓIS É TUDO PLAYBOY" 4#4 OBRIGAÇÃO DE SER HERÓI 4#5 A DIPLOMACIA DA BOLA 4#6 LEGADO PARA O BRASIL 4#7 O PRIMEIRO CRAQUE 4#1 INVASÃO ESTRANGEIRA Mais de 800 mil fanáticos por futebol já começaram a chegar ao Brasil para embalar a Copa do Mundo. Quem são eles, como se prepararam e o que farão durante a maior competição esportiva do planeta Mariana Brugger (marianabrugger@istoe.com.br) e Raul Montenegro (raul.montenegro@istoe.com.br) Quando começa uma Copa do Mundo? A resposta óbvia, e correta, é no momento em que abre oficialmente a festa de abertura e, em seguida, a bola rola, com o jogo inaugural, tradicionalmente capitaneado pelo país anfitrião. Mas um Mundial de futebol se inicia bem antes disso. Quando chegam os atores da competição, as seleções e as torcidas dos países envolvidos na disputa, que colorem e transformam a atmosfera das cidades-sede com sua vibração. Ainda há poucos times no País – até a sexta-feira 6, haviam chegado oito delegações –, mas, se depender dos estrangeiros que já estão aqui e daqueles que chegam nas próximas semanas, a Copa do Brasil, que se inicia protocolarmente no dia 12 de junho, às 17h, com Brasil e Croácia, na Arena São Paulo, já está a todo vapor. “Turistas de 186 países vêm nos visitar e serão 30 bilhões de espectadores em todos os jogos, no mundo todo”, diz o ministro do Turismo Vinícius Lage. Segundo a Fifa, foram vendidos pouco mais de 2,9 milhões de ingressos, 40% deles para torcedores de fora. Levantamento recente do Ministério dos Esportes revela que serão mais de 800 mil pessoas vindas do exterior durante a competição. “Sendo que meio milhão virá pela primeira vez ao Brasil por conta da Copa do Mundo. Isso alavanca a economia nacional”, afirma o secretário-executivo do Ministério dos Esportes, Luis Fernandes. A expectativa é que gastem cerca de R$ 2,5 bilhões por aqui. MAPA-MÚNDI - Quarta-feira 4: torcedores de nacionalidades diferentes que já chegaram do Exterior para o Mundial se confraternizam na praia de Copacabana, no Rio de Janeiro O fato de ser a primeira Copa realizada no continente americano no século 21 colaborou também para uma grande procura. Os sul-americanos, por exemplo, se valem da proximidade para assistir ao Mundial, da maneira que for possível. No Chile, uma caravana gigantesca foi organizada para partir de Santiago, cruzar a Cordilheira dos Andes e estacionar em Cuiabá, onde a seleção realiza sua primeira partida contra a Austrália, na sexta-feira 13. Serão entre 800 e 3200 carros dirigindo em comboio por cinco dias, percorrendo 800 quilômetros diários. “Fazemos de tudo para ver o Chile ser campeão. Somos uma torcida apaixonada e aventureira”, diz Alberto Schmidt, chefe de operações do grupo. São esperados até 70 mil chilenos no Brasil durante a competição, quatro mil vindos somente do grupo de Schmidt. Igualmente apaixonada, a torcida alemã desembarcará em peso por aqui. Segundo o Consulado da Alemanha no Rio de Janeiro, são esperados, pelo menos, 20 mil alemães no país para participar do Mundial. Recente levantamento do site de pesquisas de passagens aéreas Skyscanner confirma o dado. Os alemães ocupam o terceiro lugar do ranking dos países que mais enviarão torcidas para cá, perdendo apenas para os norte-americanos e os argentinos. “A torcida alemã é a mais simpática e feliz. O torcedor grita e cria expressões para se referir aos jogadores da equipe adversária”, afirma Harald Klein, o cônsul-geral da Alemanha no Rio de Janeiro. O web-designer alemão Sami Jaafar, de 28 anos, economizou durante dois anos para ver a Copa. No dia 7 de julho, ele desembarca no Rio de Janeiro sonhando com uma final entre o Brasil e a Alemanha. Sami não comprou ingresso para ir ao Maracanã, porque achou o preço “um absurdo”. Mas também porque prefere sentir o clima das ruas. Ele pretende quer assistir aos jogos em telões ao ar livre, de preferência, na Praia de Copacabana, tomando caipirinha e vendo mulheres bonitas. Ele não teme nem os protestos, nem a criminalidade: “Em 2006, a mídia internacional também disse que a Copa na Alemanha seria perigosa por causa dos hoolligans e dos neo-nazistas. Mas o clima não poderia ter sido melhor”. Sami vai viajar com um amigo – o único que não se assustou com os preços. Os dois vão ficar hospedados em Copacabana, a cinco minutos da praia, num apartamento alugado através de uma agência de viagens berlinense. Com pouca tradição futebolística, os americanos surpreenderam já na compra de ingressos. Foram 196.838 entradas vendidas para eles, segundo a Fifa, perdendo apenas para o Brasil. “Estou certa de que vocês verão milhares de americanos se produzindo com todos os tipos de fantasias e roupas típicas”, afirma Liliana Ayalde, a embaixadora dos Estados Unidos no Brasil. A esperança dela se confirma no grupo de Kimberly Kallansrude, 20 anos. Ela e outros quinze amigos vieram ao país para fazer um intercâmbio e resolveram esticar a estadia para aproveitar a Copa do Mundo. Para fugir dos preços altos, se hospedaram no Albergue Bonita, em Ipanema, zona sul do Rio. “Vamos assistir só ao início da Copa, mas estamos muito empolgados.” Conhecida por sua neutralidade em assuntos políticos, a Suíça terá 6 mil torcedores por aqui. “A torcida suíça é um pouco como o time, cheia de potencial, mas nem sempre ciente das suas capacidades. É como uma pessoa tímida, que só se revela de verdade quando está à vontade”, diz o suíço Claudio Baumann, que mora no País há dois anos e já recepciona vinte conterrâneos para o Mundial. A gelada Rússia também fará parte da festa. Com QG da torcida montado no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro, o torcedor que não conseguir entrar no Maracanã no domingo 22 para assistir a partida contra a Bélgica não ficará sem lugar para brindar. O russo Euan Kay, 24 anos, ainda tem esperança em conseguir sua entrada. “Eu não poderia perder uma Copa no Brasil. A melhor parte do futebol é que ele une as diferenças entre os povos.” Essa pluralidade é apontada justamente como a chave do sucesso do Mundial. “O Mundial é aquele momento em que fingimos assistir a um duelo de nações, que será resolvido no campo esportivo”, afirma o sociólogo Ronaldo Helal, professor da Universidade Estadual do Rio de Janeiro. Diferenças à parte, o historiador e pesquisador André Couto aponta algumas semelhanças entre os grupos de torcedores. “Os latinos costumam ser mais apaixonados, festivos e coloridos. Os ingleses são eufóricos, apesar de causar preocupação com a violência dos hooligans. Os portugueses são frios, mas pode ser que o bom momento do Cristiano Ronaldo mude essa percepção. E a Holanda costuma ter as mulheres mais bonitas.” Rahima Ayla Dirkse, 20 anos, é uma ilustre representante da beleza holandesa. Há quatro anos, enquanto Wesley Sneijder marcava o segundo gol da vitória da Holanda contra o Brasil na Copa do Mundo da África do Sul, seu avião pousava em Salvador. Foi só colocar o pé fora do aeroporto Luís Eduardo Magalhães para perceber uma cidade calada. Foi nesse momento que ela se deu conta: o País do futebol tinha sido eliminado justamente pela sua seleção. “Era um baixo astral, todo mundo chorando. Futebol não tem essa mesma força onde eu moro”, diz. Ela queria ver a festa na cidade – um dos principais motivos de sua segunda visita ao Brasil. “Foi naquele dia que decidi que voltaria para a Copa do Brasil”, afirma a estudante de Farmácia, de 20 anos, que hoje mora em Groningen, cidade universitária localizada ao norte da Holanda. Dito e feito. Rahima convenceu seus pais e os três voltam a Salvador. A família Dirkse vai desembarcar mais uma vez na Bahia, estado onde seu país faz o primeiro jogo, contra a Espanha, na sexta-feira 13. O trio, que só chega ao Brasil no dia 5 de julho e ainda não possui ingressos, tem esperanças de ver os jogos do time laranja nas fases eliminatórias. Uma coisa é certa: os holandeses esperam transformar o Brasil em uma grande nação laranja. Em São Paulo, eles preparam uma grande caravana para o jogo do dia 23, contra o Chile. Cerca de 500 holandeses que estão acampados num clube na zona sul paulistana acompanharão, a partir das 8h, a “Oranje March” - percurso tradicionalmente feito por um ônibus laranja de dois andares cercado por uma multidão que segue a seleção do País durante os campeonatos internacionais. Na primeira parte do trajeto, caminharão ao lado do veículo do local onde estão as barracas até o metrô mais próximo. Do fim da linha até o estádio, voltarão a se juntar ao coletivo até um terreno perto da Arena São Paulo, onde festejarão até o início do jogo, às 13h. “No resto do ano somos normais, mas durante os jogos viramos loucos. Vestimos roupas cor de laranja e fazemos maluquices ao som dos nossos gritos de guerra”, diz a acampante holandesa Dorinda Hovenga. Com o Papa Francisco ao seu favor, e o melhor ataque da competição – Messi, Di Maria, Aguero e Higuaín –, a passional argentina está confiante. Na base do GPS, uns poucos contatos e alguma sede de aventura, um trio de jovens portenhos sairá de Buenos Aires de carro nesta semana e chegará antes de a bola começar a rolar.“Vamos parando em casas de amigos e hostels. Levamos até barraca para acampar”, diz o programador David Sadrinas. Os três amigos têm certeza de que essa é a Copa deles. “A próxima é na Rússia, a seguinte no Catar, tudo muito longe”, afirma o analista de crédito Santiago Pascale. Eles mostram, satisfeitos, os ingressos adquiridos em sites como eBay e Mercado Livre. Apesar de a revenda ser proibida, não se intimidaram em gastar até US$ 500 dólares em cada entrada. Sonhar é grátis, mas, ir à Copa, definitivamente não. “Estourei todos os cartões de crédito. Para voltar, a cada parada pedirei um depósito na conta aos pais”, diz o analista Francisco Mora. Se há torcedores que viajam na base do improviso, outros são extremamente meticulosos. Como o inglês James Connaughton, de 25 anos, que começou a guardar dinheiro e fazer os planos para a viagem em 2007, quando soube que o Brasil receberia a Copa de 2014. Mesmo sem saber se a Inglaterra se classificaria, ele estava decidido a realizar um sonho de infância e assistir ao maior torneio do mundo no país que, para ele, é “a casa do futebol”. Pela internet, James estudou as 12 cidades-sede em busca de uma base onde pudesse conciliar os jogos com praias e baladas. Acabou se decidindo por Natal, onde deve passar duas semanas em uma pousada, na companhia de outros cinco amigos. “Vi que Natal é uma cidade pequena, menos caótica, mais segura e com mais chances de ter sol e calor nesta época do ano”, diz, já imaginando os roteiros que programou para os dias sem futebol: passeios de buggy pelas dunas de Genipabu e uma esticada à Praia da Pipa.Na última semana da viagem, passa por Recife e termina no Rio, onde se, tudo sair como o esperado, poderá ver sua Inglaterra disputar uma oitava-de-final em pleno Maracanã. Para aproveitar ao máximo a experiência, matriculou-se num curso particular intensivo de português. A Football Association (FA) e a Federação dos Torcedores de Futebol britânica estimam que cerca de 10 mil ingleses devem viajar ao Brasil. As casas de câmbio britânicas mostram isso – aumentou em 1000% a demanda pela moeda brasileira em Londres. Outro hóspede europeu de Natal é o italiano Davide Bizzoto, 39 anos, que terminou com a namorada, que viria com ele, mas não desistiu do sonho de acompanhar sua seleção no Brasil. “Essa será a melhor copa de todos os tempos”, diz ele, que ficará na Praia do Pipa. Na terra dos atuais campeões mundiais, a crise econômica e taxas de desemprego na casa dos 25%, estão fazendo o sonho de ver ao vivo o bicampeonato ser cancelado pela grande maioria dos torcedores espanhóis. A dificuldade até virou mote para o comercial de um dos patrocinadores, que pediu aos espanhois para cortar e enviar ao time “seus corações”, os escudos de suas camisas da seleção. O caro souvenir foi costurado e transformado em uma bandeira que acompanhará os jogadores pelo Brasil. Para alguns poucos, no entanto, as passagens e entradas nos estádios estão garantidos e o uniforme pode continuar intacto. É o caso do jornalista Ángel Rubiano, 29 anos. “Estrear na Copa vendo a seleção jogando no Maracanã é sensacional!”, diz ele, que terá como base a cidade do Rio de Janeiro. Apesar de saber que não vai ser fácil para a Espanha, ele se diz otimista. “Esse time nos deu duas Eurocopas e a última Copa. Não tem como estar pessimista com eles.” Nem todos os espanhóis, no entanto, estão tão esperançosos. “Somos um dos favoritos, mas ganhar vai ser muito difícil porque estamos um pouco abaixo do que éramos em 2010”, diz Miguel Riera Menendez, que chegou sozinho ao Brasil para acompanhar os jogos de seu time no Rio e em Curitiba e ficará hospedado em casas de amigos e em hotéis. O argelino Mohamed Kellala também veio sozinho, apesar de uma caravana do seu País estar trazendo 2,1 mil compatriotas, segundo a embaixada. Além de acompanhar todos os jogos da Argélia na primeira fase, Kellala pretende conhecer outras atrações brasileiras, como as obras do arquiteto Oscar Niemeyer. Primeiro o esporte, depois o turismo. Afinal, nada mais divertido para esses torcedores do que uma partida de futebol. Durante uma Copa. E no Brasil. Com Cristiane Ramalho, de Berlim (ALE); Janaina Cesar, de Bassano del Grappa (ITA); Lucas Moretti, de Croningen (HOL); Maria Luisa Cavalcanti, de Londres (ING); Rachel Costa, de Madri (ESP); Samuel Rodrigues, de Buenos Aires (ARG) e Paula Rocha 4#2 O MUNDO NO BRASIL Estrangeiros que adotaram o Brasil como casa ajudam a contar um pouco da história desta Copa. São representantes das 32 seleções (além do Brasil) que moram em uma das 12 cidades sede Rio de Janeiro Conhecida no mundo por monumentos como o Cristo Redentor e belezas naturais como o morro do Pão de Açúcar, o Rio de Janeiro entrará para a história do futebol como uma das raras cidades a sediar duas finais da Copa do Mundo (a outra é a Cidade do México). Principal porta de entrada de turistas no Brasil, o Rio também é famoso por realizar festas grandiosas, como o Carnaval e o Réveillon, e por sua hospitalidade Cuiabá Conhecida como “cidade verde”, a capital do Estado de Mato Grosso receberá quatro partidas na primeira fase do Mundial São Paulo Na maior cidade do País será dado o primeiro chute da Copa 2014. A Arena Corinthians deve receber cerca de 60 mil torcedores no jogo de abertura, disputado entre Brasil e Croácia. Como toda metrópole, tem vários programas para entreter os visitantes entre as partidas. Mas também tem protestos e manifestações, muitos deles contrários ao próprio evento Salvador Uma das principais cidades turísticas do Brasil, a capital da Bahia sediará o melhor embate da primeira fase: Espanha e Holanda Belo horizonte A cidade com maior número de bares por habitante (1 para 170) é famosa também por sua hospitalidade e culinária Recife A capital do frevo também é conhecida como a Veneza Brasileira, por causa dos rios que a dividem. Com forte vocação turística, é um polo cultural dinâmico Porto alegre O sotaque peculiar do porto-alegrense é uma das características que fazem o torcedor saber bem onde está. Afinal, dificilmente vai ouvir em outra cidade-sede uma frase como “mas bá, guria!”. Também são típicos da capital gaúcha o churrasco, o chimarrão e as baixas temperaturas durante o inverno Fortaleza Fortaleza foi eleita pelo “The New York Times” a cidade com a noite de segunda-feira mais agitada do mundo. Nos arredores da capital, destacam-se as praias paradisíacas Natal Conhecida por suas belezas naturais e por ser uma das cidades mais procuradas pelos turistas, a capital potiguar sediará quatro partidas na primeira fase do Mundial Brasília O centro político do País, famoso pela arquitetura assinada por Oscar Niemeyer, será palco do terceiro jogo do Brasil na primeira fase Curitiba A capital paranaense se destaca pela diversidade de culturas. Com invernos rigorosos, é repleta de áreas verdes, muitas vezes cobertas por araucárias, árvore típica da região Manaus A cidade que irá abrigar jogos importantes na primeira fase promete compensar a falta de tradição no esporte com os encantos da Floresta Amazônica 4#3 "EM ITAQUERA, AGORA NÓIS É TUDO PLAYBOY" Como a bilionária Arena Corinthians transformou um bairro esquecido da periferia de São Paulo, abriu perspectivas para milhares de moradores e colocou a zona leste da cidade no centro do mundo Amauri Segalla É terça-feira à tarde e o carro da reportagem está rodeando o Itaquerão, o estádio que vai receber a primeira partida da Copa do Mundo. A uns 500 metros da entrada principal, numa rua ladeada por prédios coloridos do conjunto habitacional Cohab – edifícios verdes, amarelos, laranjas e vermelhos –, uma gritaria chama a atenção. O carro para diante de um boteco enfeitado com bandeiras do Brasil, e dá para ver o nome Bar da Rose ao lado da televisão. No aparelho de LCD passa um daqueles modorrentos amistosos pré-Copa e alguém manda aumentar o som. Em pé, com a mão no peito, pelo menos 20 sujeitos cantam bem alto o “Hino Nacional”, mais por farra do que por patriotismo. Enquanto deixam a camaradagem fruir, movida por incontáveis litros de cerveja, o assunto não poderia ser outro: o estádio construído no quintal da casa deles. “Isso aqui ficou uma maravilha”, diz o “autônomo” (foi ele mesmo quem fez o gesto clássico de aspas) Luciano Silva Costa, 35 anos, enquanto ergue os óculos escuros para dar uma piscadinha. “Agora nóis é tudo playboy.” Só quem nasceu e cresceu na zona leste de São Paulo sabe como esse pedaço da capital foi, desde sempre, o túmulo do progresso da cidade. A região foi a última a ter shopping center. Nos anos 80, quando abriram um McDonald’s no Tatuapé, a criançada até fez festa. Na mesma época chegaram as primeiras concessionárias de marcas bacanas de carro, o primeiro hospital decente, a primeira balada com shows ao vivo de bandas legais. A Radial Leste, a avenida que faz a conexão com o centro, até hoje é um inferno com 30 quilômetros de congestionamentos diários. O rio Aricanduva, que corta bairros populosos como Penha e Vila Carrão, inundou e destruiu casas e famílias durante 30 anos e só recentemente, com os piscinões, saciou sua sede. Só quem nasceu e cresceu na zona leste sabe que ela é a única região da cidade que apelida seus moradores. Quem nasce e cresce na zona leste é chamado pelos outros de “ZL”, como se isso fosse ofensivo. Não existe “ZN”, “ZO” ou “ZS”. Nesse aspecto, os moradores da Zona leste sempre estiveram à frente dos outros, que jamais possuíram uma identidade própria. OPOSTOS - O campo de terra Negritude fica atrás do bilionário estádio do Corinthians, a não mais de um quilômetro de distância A Arena Corinthians foi a vingança definitiva dos moradores da zona leste. No próximo dia 12 de junho, quando Brasil e Croácia entrarem em campo, 1,5 bilhão de pessoas do mundo inteiro terão seus olhos voltados para Itaquera, o bairro de 523 mil habitantes escolhido para a construção do estádio. “A gente ficou orgulhoso, mas o que conta mesmo é que a vida vai melhorar”, diz o técnico de raio X Alexandre Alves, um são-paulino de 30 anos. Para ele, o Mundial será uma benção. “O pessoal da Ambev pagou R$ 25 mil para a gente autorizar a pintura do prédio.” Alexandre vive em um dos edifícios da Cohab a poucos metros da entrada do Itaquerão e que foram escolhidos pela fabricante de cerveja para fazer desenhos alusivos à festa do futebol. Segundo ele, os moradores ainda não decidiram se vão dividir o dinheiro ou se farão melhorias na construção. Na abertura da Copa, 1,5 bilhão de pessoas vão voltar seus olhos para um bairro negligenciado pelos governos Se fosse preciso escolher uma única imagem como símbolo máximo de Itaquera, essa imagem seria a de um prédio da Cohab. A prefeitura estima que 40 mil pessoas vivam nos mais de 500 edifícios de cinco andares, sem elevador e com área média de 50 metros quadrados, que constituem o conjunto criado na década de 60 sob o nome de Companhia Metropolitana de Habitação de São Paulo. Para quem vive nas zonas nobres da cidade, Cohab é sinônimo de moradia precária. Basta dar uma olhada mais atenta nas construções que ficam no entorno do Itaquerão para descobrir que isso não corresponde exatamente à realidade. Se você tem uma mochila pesada nas costas, não é fácil subir, de escada, cinco andares, mas alguns prédios oferecem certa infraestrutura, como quadra de futebol e gramado para a molecada brincar. “Em 2009, passei mais de um ano procurando apartamento para comprar em São Paulo, e com os R$ 90 mil que tinha só consegui vir para a Cohab”, diz a enfermeira baiana Patrícia Martins Silva. FARTURA - Alexandre Alves, diante de seu prédio (com o número 58), e Rosilene Cabral, dona do Bar da Rose: ele ganhou dinheiro para autorizar a pintura e ela vai aumentar o preço de seus produtos Patrícia nasceu na Chapada Diamantina, um paraíso ecológico na Bahia, mas veio para São Paulo estudar. Quando fechou negócio, não tinha a menor ideia de que a Arena Corinthians seria erguida diante da janela de sua sala. O apartamento dela, de dois dormitórios e 58 metros quadrados, aconchega bem duas pessoas (Patrícia vive ali com a filha pré-adolescente), tem tevê de plasma e aparelho de som de qualidade. Graças à decisão dos organizadores da Copa, ela melhorou de vida. “Há alguns dias venderam um apartamento igual ao meu, aqui ao lado, por R$ 200 mil.” Não é preciso muito esforço para entender o milagre da multiplicação do patrimônio. “O Itaquerão fez minha casa valer o dobro.” Enquanto vê o Brasil fazer uma partida morna contra o Panamá, a turma reunida no Bar da Rose tem histórias parecidas para contar. Todos dizem que, de uma forma ou de outra, lucraram e lucram com o estádio. No domingo 1º, o técnico de raio X Alexandre Alves, o mesmo que faturou um dinheiro com a pintura patrocinada pela Ambev, saía de casa quando um carro cheio de turistas estacionou diante de seu prédio. “Eles olharam para mim e perguntaram quanto era”, diz Alexandre. “Não entendi e os caras falaram alguma coisa sobre o preço para estacionar.” Maroto, respondeu que custava R$ 20. “Deveria ter falado R$ 100, porque os bacanas iam pagar.” Dona do Bar da Rose, Rosilene Cabral, 51 anos, não tem dado conta do número de pessoas, inclusive estrangeiros, que aparecem em seu boteco depois de visitar a Arena Corinthians. Ela faz um caldo de feijão caprichado e cobra atualmente R$ 6,50 por ele. “Na semana que vem, durante a Copa, acho que vou cobrar uns R$ 10.” Seu bar fica na zona de exclusão definida pela Fifa, mas ela até agora não tem ideia se poderá ou não abri-lo durante o Mundial. TRANSFORMAÇÃO - As centenas de Cohabs em Itaquera e o muro na Radial Leste grafitado por artistas plásticos: pressa para deixar o bairro bonito para a Copa O Itaquerão não terá impacto positivo apenas para um número pequeno de moradores. As obras nos arredores do estádio, inauguradas com atraso e que na semana passada ainda estavam passando por ajustes, devem dar maior fluidez ao caótico trânsito da região. Um trecho da Radial Leste foi duplicado, viadutos e túneis foram construídos. “Antes, eu levava 40 minutos para sair de carro da minha casa e fazer o retorno para a Radial no sentido centro”, diz o motorista de ônibus Paulo César Leite. “Agora, faço o mesmo percurso em dez minutos.” Uma bela passarela de vidro permitirá que moradores cruzem a Radial em direção ao estádio, em vez de atravessar a perigosa avenida. Na semana passada, quem visitava Itaquera tinha a noção exata do jeito brasileiro de ser. Em toda parte do bairro centenas de profissionais plantavam grama, arrumavam canteiros, limpavam muros pichados, passavam cimento em calçadas quebradas, varriam o lixo das ruas. Na estação Corinthians-Itaquera, uma das duas que desembocam no estádio (a outra é a Arthur Alvim), o barulho de furadeiras pregando placas indicativas era infernal. É inegável que Itaquera está ficando bonita para receber a maior festa do esporte mundial, mas isso não exclui o fato de que tudo deveria ter sido feito com mais antecedência. O que está pronto, porém, enche os moradores de orgulho. O que mais impressiona são os quatro quilômetros de muros grafitados por 70 artistas plásticos e que enfeitam a Radial até a entrada do estádio. O canteiro central da avenida foi pintado de verde e amarelo e é impossível não entrar no clima da Copa ao se deparar com tudo isso. EM OBRAS - Novo viaduto e nova passarela construídos para melhorar o fluxo de carros e de pessoas no entorno do estádio Por mais que Itaquera tenha se transformado nos últimos anos, ela é, afinal de contas, um bairro periférico da maior cidade do País. A fotografia que aparece na primeira página desta reportagem foi tirada no Campo do Negritude, onde funciona a Escola de Futebol Cohab 1. Rodeado por prédios, o terrão fica atrás da Arena Corinthians, a não mais de um quilômetro de distância. É um lugar modesto, cheio de buracos e com vira-latas passeando enquanto os moleques jogam bola. Ali dá para ouvir o som da torcida gritando no estádio bilionário. “Um dia vou jogar no Itaquerão”, diz Pablo Everton Souza Santos, o garoto de meião azul que aparece na foto. Por enquanto, o que separa Pablo do Itaquerão são alguns poucos prédios da Cohab. 4#4 OBRIGAÇÃO DE SER HERÓI Em uma seleção marcada pela constância de seus jogadores, recaem sobre Neymar o peso e a responsabilidade de ser a estrela que pode desequilibrar e garantir o hexa para o Brasil Rodrigo Cardoso (rcardoso@istoe.com.br) Em esportes coletivos cultua-se uma folclórica máxima. Ela prega que, na hora do aperto, da decisão, o atleta dono de habilidades infinitamente superiores à média deve ser acionado para resolver uma jogada, um ponto, um título. O futebol, é claro, não foge a essa regra. Na quinta-feira 12, a Seleção Brasileira abre a Copa do Mundo enfrentando a Croácia, em São Paulo, e inicia a sua caminhada rumo ao sonhado hexacampeonato. Escalado por Felipão para vestir a mítica camisa 10 da Seleção, Neymar, aos 22 anos, entra no Mundial com a missão de desequilibrar para o Brasil, de ser o maestro de um bom time ensaiado para fazer o craque brilhar. “Ele vai decidir pra gente”, disse Fred, o centroavante da Seleção, ao final do amistoso contra o Panamá, na terça-feira 3. Na vitória por 4 x 0, Neymar anotou seu 31º gol em 48 partidas pelo Brasil, deu passe de calcanhar para outro gol, chapelou e enfiou a bola no meio das pernas dos adversários e correu bastante durante o jogo. Os números de Neymar na Seleção treinada por Felipão não deixam dúvidas de que, se o craque for bem no Mundial, o Brasil tem tudo para também ir bem. Desde que o técnico gaúcho iniciou a sua segunda passagem no comando do Brasil, em 2012, a Seleção marcou 57 gols – não está contabilizado aqui o jogo entre Brasil e Sérvia ocorrido na sexta-feira 6. Desses, o atacante, que é jogador do Barcelona, anotou 14 e deu passe para outros 11. Considerando-se essas duas estatísticas, significa que a participação de Neymar nos gols da equipe é de incríveis 43%. “Neymar tem potencial para ser o craque da Copa, é o artista da Seleção e fica à vontade nesse papel”, afirma Paulo Vinícius Coelho, o PVC, comentarista dos canais ESPN. “Se o Neymar não brilhar, fica mais difícil a caminhada”, diz João Batista da Silva, o Batista, que jogou as copas de 78 e 82. É verdade que outros fatores podem ajudar o Brasil a ganhar a Copa sem que o time dependa exclusivamente de Neymar. Além de a Seleção poder contar com a torcida empurrando nas arquibancadas, a Copa do Brasil é o primeiro mundial de dimensões continentais em 20 anos (o último foi em 1994, nos Estados Unidos). Os deslocamentos de muitas equipes farão com que os jogadores sofram fisicamente ao se exporem aos climas frio, quente, seco e úmido do País. Dessa forma, é plausível que o desgaste de um adversário favoreça o Brasil apesar de uma possível má fase ou ausência de seu craque. Para não correr riscos, o melhor antídoto contra a neymardependência é uma equipe com ótimos jogadores em suas posições. Desde que Felipão assumiu, em 2012, Neymar marcou ou participou de 43% dos 57 gols da seleção Para o ex-jogador Tostão, campeão do mundo em 1970, Neymar se destaca quando o time brasileiro joga bem. “Não acho que o Neymar inspirado vai fazer o time jogar bem. Mas se o coletivo funcionar, ele vai ser o destaque da equipe”, diz. Ter um time encaixado taticamente pode fazer mais diferença do que o brilho solitário de uma estrela. Nunca na história das Copas um time médio levou a taça, mas equipes com alguns jogadores excepcionais e sem um craque já triunfaram, como as duas últimas campeãs, Espanha e Itália. A única exceção foi a Argentina campeã em 1986, um time razoável que venceu por um fator conhecido: Maradona, o Pelé argentino. “Mesmo em 94, em que o Romário foi a estrela e um dos principais responsáveis pela nossa vitória, a Seleção tinha obediência tática muito forte”, diz Maurício Capela, comentarista esportivo da Rede TV e coordenador do blog Dbico. “Neymar é o craque, o diferencial. Mas o coletivo é muito importante”, diz ele. Como uma outra máxima do esporte aponta para o fato de que o futebol não é uma ciência exata, do mesmo jeito que há campeões mundiais sem um grande craque no time, a presença de um fora de série aumenta muito a possibilidade de triunfo em Copas (leia quadro). “Um craque deixa seus companheiros mais confiantes, abre espaços para eles e preocupa mais os adversários”, diz Tostão. Neymar está a um mês de reforçar essa lista. Tem pela frente, porém, dois fortes candidatos: Messi, quatro vezes eleito o melhor do mundo pela Fifa e o português Cristiano Ronaldo, atual melhor do mundo. 4#5 A DIPLOMACIA DA BOLA Com a presença de inúmeros chefes de Estado no País, o Mundial é o momento oportuno para estreitar relações internacionais Como sede de um dos eventos esportivos mais importantes do planeta, o Brasil deverá receber nas próximas semanas não só turistas, mas dezenas de autoridades estrangeiras. Tanto o Palácio do Planalto quanto o Itamaraty esperam uma intensificação da diplomacia por ocasião da Copa. A Fifa garante assento na tribuna de honra aos chefes de Estado dos países que têm times no Mundial, e é natural que a maior parte das 31 nações que terão seleções no torneio, ao lado da brasileira, se faça representar politicamente. Ao menos um terço já confirmou presença no almoço que será oferecido pela presidenta Dilma Rousseff em São Paulo na quinta-feira 12, dia da abertura do Mundial. Logo após o término da Copa, ainda ocorrerá uma reunião de cúpula dos países membros do BRICs, o grupo de emergentes formado por Brasil, Rússia, Índia e China. A presença dos três líderes dessa frente era dada como certa na cúpula do governo. O russo Vladimir Putin tem quase uma obrigação formal de comparecer ao encerramento da Copa, em 13 de julho, uma vez que seu país sediará o evento daqui a quatro anos. Empresários também sinalizavam que o presidente chinês, Xi Jinping, não deve faltar, uma vez que partiu dele o pedido de reagendamento da reunião dos Brics, marcada inicialmente para abril. O primeiro-ministro da Índia, Narendra Modi, é outro que deve comparecer. CAMAROTE VIP - Abaixo, o presidente chinês, Xi Jinping. Acima, o vice-presidente americano, Joe Biden A presidenta Dilma enviou cartas a todos os chefes de Estado de países classificados para a Copa, chamando-os para o evento esportivo. Também convidou os colegas sul-americanos cujos países ficaram de fora do torneio, como Bolívia, Venezuela e Suriname. Outro convite foi enviado ao secretário-geral das Nações Unidas, o sul-coreano Ban Ki-moon. O Planalto precisou esperar até o último momento a definição dos cenários eleitorais na Índia e em El Salvador para chamar seus titulares. A presença de tantos representantes está sendo considerada nos corredores do Itamaraty como um marco na política externa de Dilma. E renova a validade da chamada “diplomacia da bola”, tão utilizada por Luiz Inácio Lula da Silva. Quando presidente, de 2003 a 2010, ele distribuiu bolas e uniformes, firmou parcerias, treinou técnicos estrangeiros e promoveu amistosos da seleção, como no Haiti, em 2004. Mas a aproximação mais aguardada é entre Dilma e o vice-presidente americano, Joe Biden, que aceitou o convite da presidenta para prestigiar o torneio, pavimentando a reaproximação de Brasil e Estados Unidos após o episódio da espionagem americana. O representante de Barack Obama assistirá ao primeiro jogo da seleção dos Estados Unidos em Natal, contra Gana, e depois passará por Brasília, onde terá encontros com Dilma e com o vice Michel Temer. Além disso, várias autoridades devem prestigiar a presidenta, como é o caso da chanceler alemã Angela Merkel, que terá agenda social e política em Salvador, onde sua seleção enfrenta a portuguesa. As duas devem se reunir reservadamente. A partida também será acompanhada pelo primeiro-ministro português, que se reunirá com Dilma na capital baiana. Pedro Passos responde, assim, à visita da brasileira a Lisboa, ocorrida há um ano. O sul-africano Jacob Zuma (acima); o russo, Vladimir Putin; e o secretário-geral da ONU, Ban Ki-Moon: eles vêm para a Copa Em termos de segurança, não está previsto nenhum esquema especial por parte das comitivas presidenciais, além do protocolar. De qualquer forma, a escolta de cada um dos chefes de Estado será a mais rigorosa do evento. Haverá atiradores de elite no teto dos aeroportos, helicópteros com artilharia, blindados nas ruas, aeronaves de vigilância, batedores e grupos de forças especiais – antiterror, resgate armado e antissequestro. Além de forças militares, haverá homens da Polícia Federal treinados para atuar com os agentes das delegações estrangeiras. O pessoal envolvido é altamente qualificado, e não pode ser identificado. Cerca de 90% já atuou em outros grandes eventos, como a reunião da ONU em 2012, a Rio+20, a Copa das Confederações e a Jornada Mundial da Juventude. O boliviano Evo Morales, um apaixonado por futebol, foi convidado também por Lula, que esteve recentemente em La Paz, e confirmou presença. Assim como o paraguaio Horácio Cartes, que tem se aproximado após o polêmico impeachment de seu sucessor, o ex-bispo Fernando Lugo. Entre as demais autoridades que responderam ao convite estão Ban Ki-Moon, da ONU; o presidente de Angola, José Eduardo dos Santos; o de Gana, John Dramani Mahama; o do Gabão, Ali Bongo; o do Suriname, Dési Bouterse; o do Sri-lanka, Mahinda Hajapaksa; o primeiro-ministro croata, Zoran Milanovic; o novo emir do Catar, Tamim bin Hamad Al-Thani; e o presidente suíço, Didier Burkhalter, além do equatoriano, Rafael Corrêa. Também estão previstas as presenças do presidente da África do Sul, Jacob Zuma, e de pelo menos dois príncipes, um japonês e um inglês. 4#6 LEGADO PARA O BRASIL A Copa do Mundo impulsionou uma série de obras de infraestrutura e mobilidade no País, como o BRT Transcarioca, que acaba de ser inaugurado no Rio de Janeiro e une o aeroporto do Galeão à Barra da Tijuca Wilson Aquino (waquino@istoe.com.br) Muito se discute sobre as vantagens e desvantagens em sediar a Copa do Mundo. Ainda que se fale dos estádios caríssimos, é inegável que o País se beneficiará de relevantes investimentos em infraestrutura, mobilidade urbana e serviços por causa do Mundial. Alguns legados são de extrema importância para a população – como o BRT Transcarioca, (sigla em inglês para Transporte Rápido por Ônibus), que acaba de ser inaugurado no Rio de Janeiro, unindo o Aeroporto Internacional Galeão/Antonio Carlos Jobim à Barra da Tijuca. Um percurso de 39 quilômetros que demorava três horas para ser percorrido e, agora, consome 1h10 – e por apenas R$ 3. Este era um daqueles projetos engavetados havia décadas e que só viraram realidade por causa da realização do evento esportivo no Brasil. “Era uma obra aguardada há quase 50 anos, uma eterna promessa. Com a Copa conseguimos firmar a parceria com o governo federal, financiar toda a construção e entregá-la antes do Mundial”, disse a ISTOÉ o prefeito do Rio, Eduardo Paes (PMDB). RAPIDEZ BRT - Transcarioca, recém-inaugurado no Rio: viagem do Galeão à Barra que era percorrida em três horas agora leva 1h10 A construção deste BRT foi o único compromisso assumido pela prefeitura carioca com a Fifa, a entidade máxima do futebol. É uma obra de mobilidade fundamental para os jogos que acontecem na cidade, mas, sobretudo, é importante para a população por ser o primeiro transporte de alta capacidade a atender o Aeroporto Internacional, que até então contava apenas com táxis e ônibus comuns. Durante o Mundial, quem chegar à cidade pelo aeroporto para assistir aos jogos poderá utilizar a via expressa para ir ao Maracanã, ao Centro ou à zona Sul utilizando a conexão com o metrô na estação Vicente de Carvalho. Se for estrangeiro, não ficará perdido: as estações Galeão 1 e 2 contam com profissionais com noções de inglês para auxiliar os turistas. Os BRTs, claro, têm bagageiros. Depois da Copa, muita gente vai embarcar e desembarcar nas 47 estações que passam por 27 bairros e se integram com metrô e trens. O BRT é rápido porque transita em um corredor exclusivo e o passageiro compra o bilhete antes de entrar na estação O BRT é mais rápido porque transita em um corredor exclusivo, sem disputar espaço com outros veículos, nem mesmo ônibus. Para somente em semáforos e nas estações. O embarque é semelhante ao de metrô, o passageiro compra o bilhete antes de ingressar na estação, que é climatizada, tem bancos de espera e telas LED informando quantos minutos faltam para o ônibus chegar. O ônibus tem poltronas confortáveis e serviço de som, que informa a estação e as conexões com trens ou metrô, na voz da locutora mais famosa do País, Íris Lettieri. MODERNIZAÇÃO - No Recife, importante porta de entrada para turistas estrangeiros, o aeroporto foi ampliado e agora pode receber 16 milhões de passageiros por ano Das 167 intervenções previstas inicialmente, 22 foram excluídas, 37 concluídas e o restante está incompleto As estações estão entrando em funcionamento aos poucos. A expectativa é transportar 320 mil pessoas por dia, sendo que cada ônibus da frota tem capacidade para até 180 passageiros. O sistema, inaugurado no domingo 1º, está sendo aprovado pela população. Dono de uma consultoria na área de suprimentos, o empresário carioca Adeir Gonçalves, 57 anos, conta que gastava R$ 190 de táxi entre a Barra, onde mora, e o Galeão, que fica na Ilha do Governador, toda vez que precisava viajar para Belém, capital do Pará, onde tem um escritório. O bordão “Imagina na Copa!”, para ele, virou algo positivo. “Era o tipo de transporte que faltava à cidade. Além da pontualidade, é confortável e barato”, comemora. A segurança também é uma questão importante: policias militares à paisana estarão dentro dos ônibus para dar proteção aos passageiros durante a Copa. Depois, o policiamento será feito em todo o trajeto de forma ainda não divulgada. A Transcarioca custou R$ 1,9 bilhão. Foram construídos dez viadutos, nove pontes (duas estaiadas) e três mergulhões, além de terem sido feitas reformas nas casas afetadas pelas obras. Segundo especialistas ouvidos por ISTOÉ, a Copa no Brasil antecipou a realização de uma série de projetos necessários para o desenvolvimento do País, que não teriam saído do papel sem essa alavanca. “Até mesmo porque há uma tensão dentro do próprio governo entre intensificar o investimento público para o desenvolvimento do País e manter o superávit primário relativamente elevado para garantir a estabilidade monetária”, explicou o secretário executivo do Ministério dos Esportes, o cientista político Luis Fernandes. “Infelizmente, fizemos menos do que poderia ser feito, mas se não tivesse a pressão e a motivação da Copa não teríamos nada”, pondera José Roberto Bernasconi, presidente do Sindicato Nacional das Empresas de Arquitetura e Engenharia Consultiva (Sinaenco). A Copa antecipou a realização de projetos que não teriam saído do papel sem esse estímulo Das 167 intervenções previstas na primeira versão da Matriz de Responsabilidade, documento que definia as obras e os responsáveis pela execução e custo delas (União, Estados, Municípios ou iniciativa privada), 22 foram excluídas, 37 foram concluídas e o restante está incompleto, mas será entregue à população em datas variadas, segundo levantamento do Sinaenco. “As obras que não ficarem prontas para a Copa ficarão em agosto, em setembro. E daí? O povo brasileiro vai usufruir para o resto da vida delas”, diz Gilberto Carvalho, ministro da Secretaria Geral da Presidência da República. Dos custos totais, de R$ 25,6 bilhões de acordo com o Ministério dos Esportes, R$ 8 bilhões foram investidos somente em mobilidade urbana que priorizam o transporte coletivo. O País resolveu fazer uma série de obras de infraestrutura, modernização dos aeroportos, portos, telecomunicações e segurança. “Nem todas constavam de recomendação da Fifa. As especificações da entidade eram focadas, basicamente, nas condições dos estádios e instalações temporárias do seu entorno”, esclareceu o secretário Fernandes, do Ministério do Esporte. As 12 cidades-sede receberam investimentos. Para Cuiabá (MS), por exemplo, foram projetadas 56 para melhorar a infraestrutura urbana da cidade. Dessas, 22 foram concluídas, entre as quais o Viaduto do Despraiado, que permitirá maior fluxo entre pontos extremos da cidade. O restante deverá estar pronto até dezembro. No Recife, importante porta de entrada para turistas estrangeiros, o Aeroporto Internacional dos Guararapes/Gilberto Freyre foi modernizado e agora pode receber 16 milhões de passageiros por ano. Também foram feitas outras obras importantes na cidade, como a Via Mangue, na Zona Sul, considerada a maior intervenção viária das últimas décadas na capital pernambucana, com 4,5 quilômetros de extensão. 4#7 O PRIMEIRO CRAQUE O pontapé inicial da Copa no Brasil certamente terá força suficiente para emocionar o mundo. Ele será dado por uma pessoa com paralisia, que, no gramado, deixará de lado uma cadeira de rodas, vestirá uma espécie de armadura e caminhará em direção à bola no centro do campo. Trata-se de uma demonstração do que pode ser feito com o exoesqueleto, equipamento criado para ajudar a voltar a andar pessoas que não conseguem mais se movimentar. A construção do aparelho foi coordenada pelo neurocientista brasileiro Miguel Nicolelis e contou com a participação de pesquisadores de 25 nacionalidades. Depois da Copa, o próximo passo é aprimorar ainda mais o aparelho. “Queremos expandir a capacidade da tecnologia nele aplicada”, contou Nicolelis à ISTOÉ. ______________________________ 5# BRASIL 11.6.14 5#1 COMO O PT PERDEU PODER NOS FUNDOS DE PENSÃO 5#2 O MOMENTO INFERNAL DE DILMA 5#3 A DUPLA DA IMPUNIDADE 5#4 BANCADA ESCRAVOCRATA 5#1 COMO O PT PERDEU PODER NOS FUNDOS DE PENSÃO O desejo de mudança chega à Previ, à Funcef e à Petros, que movimentam R$ 280 bilhões, e dirigentes sindicais petistas e executivos ligados ao governo perdem força. Saiba como isso pode influenciar até no resultado das eleições presidenciais Claudio Dantas Sequeira (claudiodantas@istoe.com.br) O sentimento de mudança captado em pesquisas eleitorais e que ameaça a hegemonia do PT chegou primeiro aos fundos de pensão. Em menos de um mês, eleições realizadas em dois dos principais fundos de previdência complementar do País destronaram dirigentes sindicais e executivos ligados ao governo. Além do risco de perder o controle sobre recursos que se tornaram essenciais à política de investimentos do governo federal, o Palácio do Planalto teme que o voto de protesto nos fundos contamine as urnas em outubro. A primeira derrota ocorreu na Funcef, dos funcionários da Caixa Econômica Federal, o terceiro maior. Lá, a oposição colheu expressivos 45% dos votos, contra 31% da chapa petista. Duas semanas depois, foi a vez da Previ, dos funcionários do Banco do Brasil, o maior em patrimônio e contribuintes. Numa disputa acirrada, os opositores venceram com 31%, nove pontos percentuais à frente dos governistas. A onda anti-PT agora ameaça a Petros, dos servidores da Petrobras, o segundo maior do País. VOZ DA RAZÃO - Para Paulo Paim, derrotas do PT completam "um ciclo natural de desgaste" Previ, Petros e Funcef reúnem mais de R$ 280 bilhões em patrimônio, quase metade dos R$ 624 milhões de mais de 250 fundos em operação. Por trás dessas cifras astronômicas, está o interesse de seis milhões de contribuintes ativos, aposentados e pensionistas. O futuro dessas pessoas depende da saúde financeira das entidades que administram poupanças acumuladas por toda uma vida. E não se trata apenas de indivíduos, mas de famílias inteiras. No frio cálculo eleitoral, são 30 milhões de votos, mais da metade do total obtido por Dilma Rousseff no segundo turno de 2010. Imagine agora toda essa gente insatisfeita com o rumo de seus investimentos. Pois é exatamente isso que está acontecendo. Em 2013, os fundos de previdência fecharam seus balanços com um déficit histórico de R$ 22 bilhões e o saldo negativo só cresceu na primeira metade deste ano. A Previ acumula R$ 5 bilhões de prejuízo, a Petros tem algo próximo a R$ 3 bilhões, enquanto a Funcef já ostenta um saldo negativo de R$ 4 bilhões. Para se defender, os comandos das entidades culpam a difícil conjuntura econômica. Levantamento da Abrap, associação que reúne o setor, indica que 262 planos de benefícios fecharam o ano passado no vermelho, um aumento de quase 100% na comparação com 2012. Para os associados, porém, a justificativa não cola. Entre as principais bandeiras levantadas pelas chapas vitoriosas estão justamente as críticas à ingerência e ao aparelhamento promovido pelos petistas. “Nos últimos anos, ficou patente o interesse do governo em viabilizar seus projetos em detrimento da rentabilidade da previdência”, afirma o novo diretor de administração da Funcef, Antônio Augusto de Miranda. Ele pondera que no governo de Fernando Henrique o uso dos fundos era explícito. Após a chegada de Lula ao poder, criou-se um novo marco regulador que prometia proteção. Abriu-se a oportunidade de eleição para conselheiros e, posteriormente, para diretores. Essa dinâmica, porém, retroagiu quando o PT percebeu o poder que tinha nas mãos. “O governo passou a usar os fundos para viabilizar concessões públicas e empreendimentos em que o mercado não tinha interesse”, avalia. Ao aparelhamento, somam-se a pouca transparência na gestão e o alto déficit. Na lista de negócios que o governo empurrou para a Funcef, Miranda destaca o caso da Brandes, empresa que prometia desenvolver em parceria com a IBM uma solução tecnológica para financiamento imobiliário na internet. Ficou no papel e consumiu R$ 1,2 bilhão. Outra foi a Eldorado Florestal, que também não existia, e a ALL Logística, que só deu prejuízo. A gota d’água foi a denúncia de que o deputado André Vargas intermediou uma reunião do doleiro Alberto Youssef com o diretor de participações societárias, Carlos Borges, nomeado pela Caixa. “O caso Youssef simbolizou o grau de ameaça que paira sobre a destinação dos recursos dos fundos. O alinhamento político canaliza esse tipo de negociata, como ocorreu na Postalis”, alerta Miranda. Na Previ, a eleição garantiu mudanças substanciais no conselho deliberativo, no consultivo e na diretoria-executiva. A chapa vencedora é formada por auditores de carreira do BB. Apesar do alegado perfil técnico, ela foi organizada nos bastidores por Valmir Camilo, que já foi filiado ao PPS, e com apoio da Confederação Nacional dos Trabalhadores nas Empresas de Crédito (Contec), cujo presidente, Lourenço Prado, é do PMDB do Distrito Federal. Recentemente, a Contec também andou cortejando o pré-candidato presidencial do PSB, Eduardo Campos. Essa chapa multipartidária emplacou três diretores, entre eles Cecília Garcez (administração), ex-diretora de planejamento da Previ entre 2004 a 2010. À ISTOÉ, Camilo diz que não é militante partidário e sua relação com o PPS é pela amizade com Roberto Freire. “Nem sou mais filiado”, diz. Ex-membro do conselho deliberativo da Previ, Camilo avalia que o desgaste do PT era previsível e se refletiu numa insegurança generalizada entre os participantes do fundo quanto à administração dos ativos. Ele cita como exemplos de “uma gestão nebulosa” o uso da Previ na criação da Oi, da BR Foods e da Invepar. “O Tasso Jereissati tinha R$ 150 milhões para investir num negócio de R$ 3 bilhões e uma dívida de R$ 700 milhões com o Bradesco. De repente, virou dono de tudo. Não há fórmula matemática que explique isso!”, ataca. Segundo ele, a Previ perdeu oito anos na gestão de Sérgio Rosa, que deixou o fundo no “piloto automático”. O governo continua com alguns dos cargos principais, que são privativos de nomeação do presidente do BB. Manteve o presidente, Dan Conrado, e indicou como diretor de investimentos Márcio Hamilton Ferreira, no lugar de Renê Sanda, o japonês. Também nomeou Marcio Geovanne como diretor de participações. O cargo era eletivo até 1997 e a nova chapa cogita recuperá-lo. Conrado confidenciou a alguns amigos que estava cansado e queria sair e o PT pensou em emplacar Robson Rocha, que ocupa hoje uma das vice-presidências do banco. Mas o governo resolveu deixar como está para evitar mais lenha na fogueira. Conrado entrou para pacificar a crise deflagrada em 2012 pelo então presidente da Previ, Ricardo Flores, ligado ao PT de Zé Dirceu. Para o senador Paulo Paim (PT-RS), que tem origem sindical – chegou a secretário-geral da CUT –, as derrotas do partido no comando dos fundos é um processo natural. “Acho que é um ciclo natural de desgaste de quem está na direção das entidades. O próprio movimento sindical está passando por isso”, diz. 5#2 O MOMENTO INFERNAL DE DILMA Pesquisa feita por instituto americano e confirmada por levantamento encomendado pelo PT provoca mau humor nos principais auxiliares da presidenta e obriga o partido a mudar os rumos da campanha Coube ao marqueteiro João Santana, que há poucas semanas insistia em profetizar uma acachapante vitória da presidenta Dilma Rousseff sobre “os anões da oposição” ainda no primeiro turno da disputa presidencial, jogar um balde de água fria no comando da pré-campanha petista. Na segunda-feira 2, durante jantar no Palácio da Alvorada, Santana foi rápido e objetivo. Tendo em mãos os dados de uma pesquisa contratada pelo PT, ele afirmou: “Está diminuindo de forma considerável e rápida a confiança do eleitor na capacidade do governo para realizar mudanças.” A constatação azedou o humor do ex-presidente Lula, do presidente do PT, Rui Falcão, do ex-ministro Franklin Martins e dos ministros Paulo Bernardo (Comunicações) e Aloizio Mercadante (Casa Civil), que dividiam a mesa com Dilma. O que todos ali já sabiam é que a pesquisa reportada por Santana confirmava outra enquete realizada entre os dias 10 e 30 de abril pelo Pew Research Center, um instituto americano que rastreia os ânimos dos cidadãos em 82 países. O resultado desse estudo é arrasador para a campanha de Dilma. Ele mostra, entre outras coisas, que apenas 26% dos brasileiros estão satisfeitos com o País, 86% desaprovam a maneira como a presidenta lida com a corrupção, 85% criticam a maneira de Dilma enfrentar questões como segurança e saúde. E, o que é mais surpreendente, o número de insatisfeitos saltou de 49% para 72% de 2010 para cá. “Essa frustração só tem paralelo com a de países que enfrentam convulsões sociais, rupturas institucionais e crises como a do Egito”, disse Juliana Horowitz, responsável pela pesquisa americana. NOVA POSTURA - Lula pediu a Dilma para mudar de atitude em relação aos aliados Diante de dados tão negativos, Lula e Santana trataram de sugerir mudanças imediatas no comportamento da presidenta e nos rumos da pré-campanha. O primeiro objetivo é o de evitar que o desgaste da administração acabe favorecendo uma debandada entre os partidos aliados – que poderão fornecer preciosos minutos ao tempo de propaganda para a presidenta durante a campanha – em busca de alternativas de poder na oposição. Para tanto, Lula aconselhou Dilma a comparecer às convenções de cada um desses partidos. Também ficou definido que a presidenta precisa tentar reconstruir a imagem de gerente competente, fortemente abalada durante os três anos de um governo que não entregou sequer uma grande obra, não conseguiu evitar o aparelhamento do Estado que vem dilapidando empresas públicas e que não consegue romper a equação que junta crescimento pífio, juros elevados e inflação em alta. Para isso, mesmo durante os jogos da Copa, Dilma deverá percorrer o Brasil inaugurando tudo o que for possível. Também foi recomendado que a presidenta passasse a dar entrevistas diárias para as redes de tevê, promovendo a defesa do governo. Na quinta-feira 5, uma pesquisa do DataFolha confirmou a tendência de queda da presidenta. Segundo o instituto, Dilma conta com 34% das intenções de voto, uma queda de dez pontos em relação à pesquisa realizada em fevereiro. Os principais candidatos da oposição, Aécio Neves (PSDB) e Eduardo Campos (PSB), também, segundo a pesquisa, perderam votos. O primeiro caiu um ponto, dentro da margem de erro, e Campos perdeu quatro pontos. O que aumentou foi o número de eleitores indecisos. Um cenário muito pior para quem está no governo do que para a oposição. SANTANA - O marqueteiro que preconizava uma eleição fácil já fala em segundo turno Durante o jantar no Palácio da Alvorada, sobrou conselhos para o presidente do PT, deputado Rui Falcão. A ele, Lula e Santana sugeriram que seja abandonado definitivamente o discurso de vitória no primeiro turno, como forma de melhor acolher os aliados. Também foi pedido que o PT seja rápido e incisivo no tratamento de seus quadros que estiverem envolvidos em casos de corrupção ou falta de decoro. Foi por isso que o deputado estadual paulista Luiz Moura acabou abandonado pelo partido, dias depois de ser acusado de se reunir com membros do crime organizado. A ideia é embasar um discurso de que o mensalão foi um divisor de águas dentro da legenda. 5#3 A DUPLA DA IMPUNIDADE Donos de um passado marcado por cassação e casos de corrupção, José Roberto Arruda e Luiz Estevão se unem na corrida ao governo do DF num explícito deboche à lei da Ficha Limpa Ludmilla Amaral (ludmilla@istoe.com.br) A história recente do País mostra que escândalos de corrupção não escolhem partidos ou ideologias. Poucos homens públicos, hoje, são capazes de ostentar um currículo sem nenhuma mácula. Dois personagens, no entanto, possuem o dom de superar os seus pares pela insistência em não deixar as páginas policiais, como se tivessem uma compulsão pelo malfeito. São eles os políticos brasilienses José Roberto Arruda (PR) e Luiz Estevão (PRTB). Este ano, numa composição política que desafia a lei da Ficha Limpa e o bom senso do eleitor, eles marcharão juntos na campanha eleitoral ao governo do DF. Nas últimas semanas, Estevão confirmou apoio à candidatura de Arruda ao Palácio do Buriti. “É o sujo apoiando o mal lavado”, lamenta o cientista político da UnB David Fleischer. JUNTOS - O ex-senador Luiz Estevão selou apoio ao ex-governador José Roberto Arruda ao governo do DF Arruda e Estevão exibem trajetórias e comportamentos parecidos e estão sempre a postos para reiniciar um novo ciclo vicioso, que só não foi interrompido até hoje por conta da impunidade e da morosidade da Justiça. As semelhanças entre eles são evidentes. Ambos debutaram na vida pública em Brasília, pertencem à mesma geração de políticos, foram flagrados em práticas ilegais, condenados e presos. Arruda, aliás, foi o primeiro governador preso no exercício do mandato. Estevão, o primeiro senador cassado da história do País. Na esteira de seus infortúnios, eles agiram de modo harmônico: submergiram, experimentaram o ocaso político e, depois, retornaram cândidos pedindo mais uma chance com a promessa de fazer diferente. Arruda regressou à vida pública. Estevão, à empresarial. Não há sinais de que mudaram. Pelo contrário. Num país em que ladrões de latas de leite vão rapidamente para a cadeia, Estevão, por exemplo, acusado de desviar R$ 400 milhões dos cofres públicos, desfilava pela capital federal até o início do ano a bordo de uma Ferrari. Em abril, a Justiça determinou a penhora do carro como forma de garantir o pagamento de dívidas. Processos é que não faltam para a dupla. Desde 2000, quando foi cassado, Estevão recorre de uma condenação a 31 anos de prisão por desvios na obra do Tribunal Regional do Trabalho (TRT) de São Paulo. Na ocasião, ele chegou a ser preso preventivamente, mas foi solto dias depois. Hoje, ele devolve aos cofres públicos quase meio bilhão de reais por conta das irregularidades no TRT. Mesmo assim, tem esse valor abatido ao alugar imóveis para a própria União. Arruda, por sua vez, então governador do DF, ficou preso entre fevereiro e abril de 2010 na Superintendência da Polícia Federal, após a divulgação de vídeos contendo imagens em que ele aparece recebendo dinheiro de propina de Durval Barbosa, delator e um dos operadores do esquema de corrupção montado na capital, com distribuição de mesadas para parlamentares, secretários e funcionários. Menos de dois meses depois, Arruda foi solto quando o Superior Tribunal da Justiça (STJ), por oito votos a cinco, entendeu que ele não ofereceria mais riscos à investigação. Em 16 de março de 2010, teve seu mandato cassado pelo TRE do Distrito Federal por infidelidade partidária. Embora tenha sido denunciado pelo Ministério Público Federal como chefe da organização criminosa, Arruda ainda não foi julgado pela Justiça nesse processo. ELE TAMBÉM - Joaquim Roriz, outro ficha suja, irá indicar o vice de Arruda Por coincidência, a primeira derrapada ética de Arruda se deu num episódio em que Estevão estava diretamente envolvido. Em 2000, Arruda renunciou depois de violar o painel eletrônico do Senado durante o processo de cassação de Estevão. Em 2002, pediu desculpas públicas e retornou à política como o deputado mais votado proporcionalmente do País. Em 2006, elegeu-se governador e foi apeado do poder depois de flagrado recebendo propina. Resta saber, agora, se o eleitorado terá coragem de perdoá-lo nas urnas mais uma vez. A última pesquisa do Instituto Dados aponta a liderança de Arruda com 23,1%, contra 16,4% do petista Agnelo Queiroz. Os processos acumulados por Arruda na Justiça, porém, podem até lhe tirar o direito de se candidatar, caso ele seja julgado por um órgão colegiado até outubro deste ano. Nesse caso, ele seria enquadrado na Lei da Ficha Limpa. Isso vai depender da velocidade com que o processo será julgado. “Não tenho dúvidas de que a candidatura de Arruda será questionada”, acredita Luciano Santos, integrante do Movimento Contra a Corrupção Eleitoral. David Fleischer faz coro. “Ele pode até recorrer ao Supremo, mas acredito que a Justiça não vai deixar Arruda ser candidato”, afirmou. A aliança entre Arruda e Estevão vem sendo articulada desde o ano passado. A princípio, Liliane Roriz (PRTB) seria a vice na chapa. Contudo, a deputada distrital desistiu para concorrer à reeleição. A indicação do nome que irá substituí-la caberá ao seu pai, o ex-governador Joaquim Roriz, outro notório ficha suja que dispensa apresentações. 5#4 BANCADA ESCRAVOCRATA Enquanto um grupo de parlamentares responde no STF por manter trabalhadores em condições análogas à escravidão, proposta no Congresso quer dificultar a caracterização desse crime Izabelle Torres (izabelle@istoe.com.br) e Josie Jeronimo (josie@istoe.com.br) A possibilidade de erradicar o trabalho escravo no Brasil nunca foi tão exaltada. Na semana passada, a promulgação de uma proposta que expropria terras de fazendeiros flagrados praticando esse crime, a chamada PEC do Trabalho Escravo, escondeu as articulações em defesa dos próprios interesses de parlamentares acusados justamente de manter trabalhadores em condições análogas à escravidão. ISTOÉ teve acesso a inquéritos que apuram a relação de políticos de diferentes Estados com o trabalho escravo, além de processos administrativos que resultaram apenas em acordos trabalhistas. Na maioria dos casos os acusados foram enquadrados por manter trabalhadores em “condições degradantes”. O deputado Beto Mansur (PRB-SP), teve a condenação mais recente. O Tribunal Superior do Trabalho o condenou a pagar R$ 200 mil por danos coletivos. O caso caminha a passos lentos no STF. O recém-chegado à Câmara Ursenir Rocha (PSDB-RR) também é investigado pelo tribunal. No inquérito contra ele constam fotos de funcionários de sua fazenda alojados em condições desumanas, dormindo no chão e sem instalações sanitárias. A acusação de manter funcionários em condições “degradantes” é o principal problema para os parlamentares. Não por acaso, é justamente esse termo que a frente ruralista entusiasta da nova proposta tenta expurgar do texto que ainda será regulamentado na PEC promulgada na semana passada. Se isso acontecer, nenhum dos congressistas que atualmente é réu em processos correria o risco de condenação. Por isso a proposta arrancou tantos elogios. “A regulamentação da proposta trará segurança jurídica para o campo e vai evitar a expropriação de terras de forma irresponsável”, disse o senador Jayme Campos (DEM-MT). Campos assinou recentemente um Termo de Ajuste de Conduta para se livrar das acusações de manter empregados nas suas fazendas sem salários e em estrutura física precária. DESUMANOS - Parlamentares investigados pelo STF mantêm funcionários em condições degradantes Nos processos analisados por ISTOÉ estão situações repetitivas de trabalhadores flagrados sem acesso à água potável, alojados em barracões com cobertura de plástico e sendo obrigados a comprar alimentos em comércio dos próprios fazendeiros. Apesar de os registros dos fiscais do trabalho não deixarem margem para o questionamento do conceito de “degradante”, o deputado Valdir Colatto (PMDB-SC) ironiza. “Tem que ter um banheiro para cada dez funcionários, azulejo na cozinha e muito mais”. Tanto nos inquéritos como nos processos administrativos contra ruralistas congressistas, o principal argumento da defesa é justamente de que os donos das terras nada sabiam. No caso do deputado João Lyra (PTB-AL), por exemplo, os advogados alegaram no STF que o parlamentar, como dono de um império, hoje em ruínas, não tinha como saber que os funcionários de suas usinas cooptavam mão-de-obra em Estados pobres e prometiam salários que não eram pagos e condições de trabalho que não eram cumpridas. ___________________________________ 6# COMPORTAMENTO 11.6.14 6#1 O ASSASSINO DO APARTAMENTO 111 6#2 VÍTIMA DA BUROCRACIA 6#1 O ASSASSINO DO APARTAMENTO 111 Publicitário que esquartejou zelador em São Paulo tinha comportamento estranho no prédio, possuía documentos falsos e armas em casa e é suspeito, junto com a mulher, de envolvimento no homicídio do ex-marido dela Fabíola Perez (fabiola.perez@istoe.com.br) Sexta-feira, 30 de maio. As câmeras de segurança do prédio da rua Zanzibar, na zona norte de São Paulo, registram às 15h30 o zelador Jezi Lopes de Souza, 63 anos, entregando correspondência pelos andares do condomínio. Depois, ele não foi mais visto. O mistério do desaparecimento de Jezi dentro do edifício chegou ao fim na segunda-feira 2, quando a polícia prendeu o publicitário Eduardo Tadeu Pinto Martins, 47 anos, morador do apartamento 111 do prédio, em uma casa na Praia Grande, litoral paulista. “Eduardo Martins estava ao lado de uma churrasqueira queimando as vísceras do corpo do zelador”, afirmou Ismael Rodrigues, delegado da 4ª Seccional de São Paulo. Os policiais encontraram pedaços do corpo de Jezi espalhados em sacos plásticos pela casa. Em depoimento, o publicitário admitiu o crime. Ele disse à polícia que tinha brigas constantes com o zelador por vagas na garagem e supostos furtos de jornais. A mulher do publicitário, a advogada Ieda Cristina Martins, 42 anos, também é investigada por participação na ocultação do corpo. Agora, o casal é suspeito de envolvimento com outro assassinato, dessa vez, no Rio de Janeiro. A vítima seria o ex-marido da advogada, José Jair Farias, morto a tiros em 2005 aos 57 anos. NO CONDOMÍNIO - Eduardo Martins, certa vez, colou todos os botões do elevador e o síndico do prédio registrou Boletim de Ocorrência porque ele escreveu palavras obscenas e ameaças nos avisos do condomínio O publicitário confessou o esquartejamento, mas disse que a morte foi acidental, após uma briga com troca de socos quando o zelador entregava as cartas em seu andar. “Ele bateu na quina do batente e caímos dentro do apartamento. Olhei os sinais vitais, mas ele já estava morto”, conta. “Enrolei o corpo num cobertor e coloquei dentro da mala, não sabia o que fazer.” O advogado da família de Jezi, Robson Lopes de Souza, não acredita nessa versão. “Os indícios levam a crer que ele foi asfixiado ainda no prédio”, diz. Segundo vizinhos, Martins apresentava comportamento estranho. Um morador conta que o síndico registrou boletim de ocorrência contra o publicitário em dezembro de 2012. “Ele foi visto com roupa preta e máscara escrevendo palavras obscenas e ameaças contra o síndico nos avisos do condomínio”, relata. Noutra ocasião, as câmeras registraram Martins passando cola em todos os botões do elevador. Ele foi advertido por isso. O publicitário está detido, mas a prisão temporária de Ieda foi revogada pela Justiça após ela ser inocentada pelo marido. Martins trabalhava de casa e por isso permanecia mais tempo no condomínio. Ieda costumava sair cedo para trabalhar. Uma professora do curso de reforço que o filho frequentava conta que era o pai quem costumava pegar o filho de 10 anos nas aulas. Mas na sexta-feira foi a mãe quem o buscou, às 17h40. Por volta desse horário, segundo a investigação, o publicitário teria colocado o corpo de Jezi em uma mala, levado até o carro com a ajuda de Ieda, como mostram as câmeras de segurança, e seguido para Praia Grande, no litoral paulista. Antes, deixou a mulher e o garoto na entrada do escritório na sexta-feira, no início da noite, segundo relato de uma funcionária do prédio onde Ieda trabalhava. Ela disse à polícia que achava que havia roupas para doação na mala. No domingo 1º, conforme depoimento em vídeo, Martins disse para a mulher: “Preciso resolver um problema”, e retornou sozinho para Praia Grande. Numa busca no apartamento do casal, a polícia encontrou documentos falsos, o cano de uma pistola, um silenciador e munição. Agora, suspeita-se de que o casal possa estar envolvido em outro crime. Em 2005, foi aberto na 36ª Delegacia de Polícia de Santa Cruz, no Rio de Janeiro, um inquérito que investiga a morte do empresário José Jair Farias, ex-marido de Ieda. Eles se casaram em 1994 e teriam permanecido juntos por cinco anos, de acordo com Fabiane Farias Busich, filha de uma união anterior do empresário. Com a separação, o filho do casal, José Jair Farias Júnior, hoje com 18 anos, passou a ser alvo de disputa. “Ela descumpria as datas de visitas de meu pai e começou a extorqui-lo para ele ver o filho”, diz Fabiane. Farias registrou queixa na delegacia por ameaças de Martins em 2002. Em 20 de dezembro de 2005, o empresário foi executado com dois tiros quando chegava à sua fábrica. Após a morte dele, a família encontrou um diário no qual o empresário registrava os pedidos de Ieda. “Eles tinham encontros amorosos, inclusive depois de ela estar casada com o Eduardo”, diz Fabiane. “Ela pedia quantias entre R$ 3 mil e R$ 8 mil.” Fabiane afirma que a advogada usou o dinheiro do pai para fugir para São Paulo. “Ieda pegou R$ 100 mil que ele tinha em casa para pagar funcionários”, conta. Dois dias após a suposta fuga, ocorreu o homicídio. Com a morte do zelador Jezi, agora a polícia investiga se a arma utilizada na execução do ex-marido de Ieda é a mesma encontrada na casa de Martins na Praia Grande. A polícia do Rio de Janeiro afirma que na época intimou o publicitário a dar depoimento, mas ele não compareceu. Ieda foi ouvida duas vezes, mas a investigação não chegou a ser concluída. Martins será indiciado por homicídio triplamente qualificado no caso de Jezi e Ieda continua sendo investigada. 6#2 VÍTIMA DA BUROCRACIA Morte de bebê com síndrome rara que podia ser tratada com remédio de maconha mostra o quanto a relutância da Anvisa em legalizar a substância é equivocada Camila Brandalise (camila@istoe.com.br) Por cerca de duas semanas o bebê Gustavo Guedes, de 1 ano e 4 meses, usou um remédio à base de canabidiol (CBD), derivado da maconha. Portador da síndrome de Dravet, o menino sofria com convulsões severas. Nesse curto prazo, a família dele já notava alguma melhora. O menino, porém, sucumbiu a uma crise convulsiva e faleceu no domingo 1º. A morte do bebê é um triste exemplo de como é equivocada a postura da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), que reluta em reclassificar o composto usado para tratar epilepsia, de modo que ele possa ser prescrito e importado. O canabidiol poderia ter evitado a convulsão? É possível. Em várias crianças brasileiras a substância tem se mostrado bastante eficaz. Gustavo, no entanto, não teve tempo de se beneficiar integralmente do composto. Seus pais foram os primeiros a conseguir autorização especial da Anvisa para importar o produto, que ficou 40 dias retido na Receita Federal. Agora, a agência disse que vai investigar o caso. ATRASO - Crianças não podem se beneficiar de produto que reduz convulsões porque a Anvisa, presidida por Dirceu Barbano (abaixo), não autoriza a legalização de canabidiol A decisão sobre o tema foi postergada por pressão política do Palácio do Planalto, temeroso de eventuais prejuízos eleitorais com grupos conservadores. Para o público, o presidente da Anvisa, Dirceu Barbano, argumentou ser “inócua” a reclassificação, uma vez que no canabidiol importado há traços de outros canabinoides, ativos da maconha não legalizados nem comprovadamente seguros, como o THC. Especialistas dizem que a explicação não se sustenta. Membros de um grupo pioneiro no estudo do uso da maconha medicinal, Antonio Zuardi, José Alexandre Crippa e Jaime Hallak, pesquisadores da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo no campus de Ribeirão Preto, afirmam que nos 40 anos de estudos não foram indentificadas consequências negativas da substância. “O canabidiol que temos usado em nossas pesquisas possui quantidades irrisórias de outros canabinoides e não observamos efeitos deletérios”, diz Crippa. Lucas Maia, coordenador do grupo de estudos sobre maconha medicinal da Universidade Federal de São Paulo, também questiona a agência: “O que é mais prejudicial: convulsão que leva à morte ou um efeito adverso que nem se sabe se existe?” PESQUISA - Grupo de professores da USP que estuda o uso medicinal da maconha: não foram observados efeitos deletérios do canabidiol nas pesquisas Para o professor de psiquiatria da Universidade de Campinas Luís Fernando Tófoli, a decisão defendida por Barbano deixa de lado pilares da bioética. “Há um benefício em potencial trazido pela substância. Pode ter risco? Pode. Mas garantir que as crianças continuem vivendo com qualidade é o começo. Aí, pode-se, inclusive, registrar efeitos indesejáveis do produto”, afirma ele, para quem a liberação é importante também para facilitar pesquisas e testes clínicos. Essa é uma das principais bandeiras das famílias que importam o canabidiol – em muitos casos, ilegalmente. Curiosamente, consta da lista de substâncias legais da Anvisa o dronabinol, versão sintetizada do THC, um dos canabinoides proibidos. Procurada, a agência afirmou que segue uma convenção internacional que proíbe o THC. ___________________________________ 7# MEDICINA E BEM-ESTAR 11.6.14 O CORPO ENFRENTA O CÂNCER Medicamentos que fortalecem a proteção natural do organismo contra as células tumorais tornam-se o principal alvo da medicina contra a doença. Um deles reduziu de forma significativa o tamanho do melanoma, um dos tipos mais agressivos da enfermidade Mônica Tarantino (monica@istoe.com.br), de Chicago (EUA) Entender de que modo os tumores driblam o sistema imunológico e crescem foi sempre um dos desafios da medicina. Mas se por muitos anos a ideia de criar tratamentos para atiçar as defesas do corpo contra as células tumorais era uma entre outras possibilidades, agora se tornou a principal linha de investigação de cientistas, indústria farmacêutica e companhias de biotecnologia. Os primeiros resultados concretos desse esforço foram vistos na semana passada durante o congresso da American Cancer Society (Asco), realizado em Chicago (EUA). RECUPERAÇÃO - O empresário João voltou a andar com a ajuda de um remédio imunoterápico. Ele tem câncer ósseo Um dos estudos mais comentados foi executado na Universidade da Califórnia com 411 pacientes de melanoma (tumor de pele bastante agressivo) em estágio avançado. Todos haviam sido tratados com várias medicações, incluindo o ipilimumabe, a terapia mais atual contra a doença. Porém seus tumores haviam voltado a crescer. Os voluntários receberam uma substância injetável, o pembrolizumabe, que bloqueia uma proteína encontrada nas células de defesa, a PD-1. Por meio dela, um composto fabricado pelo tumor (PD-L1) penetra nas células do sistema imunológico e neutraliza seu poder de ataque ao câncer. Dos participantes do experimento, 72% apresentaram diminuição do tumor – 39% dos quais tiveram o câncer reduzido a menos da metade do tamanho. Quando foi combinado a outra droga, o nivolumabe, o resultado foi a elevação da sobrevida média de um ano para três anos e meio. Espera-se que o remédio represente uma possível cura do melanoma, mas mais estudos são necessários. “Em alguns doentes com a doença avançada obtivemos a remissão total do tumor”, disse o líder da pesquisa, Antoni Ribas. Por causa dos resultados sem precedentes, a droga está sendo avaliada em regime de urgência pela FDA, a agência americana responsável pela aprovação de medicamentos. “Estamos diante da possibilidade de uma mudança de paradigma no tratamento do melanoma”, diz o médico Antonio Buzaid, diretor do Centro de Oncologia do Hospital São José, em São Paulo. A expectativa é de que a droga chegue ao mercado até o fim do ano. Ela também está sendo testada contra tumores de pulmão, bexiga e rim. EXPECTATIVA - O médico Buzaid acredita que a droga contra o melanoma esteja disponível até o fim do ano Buzaid coordenou os testes com o remédio no Brasil. O empresário mineiro João Cerqueira, 60 anos, experimentou os benefícios. Desde outubro do ano passado ele usa o remédio e contabiliza 90% de regressão no tamanho de um tumor ósseo diagnosticado há um ano. “Não andava mais. Hoje já caminho.” Outras substâncias imunoterápicas estão em teste. O cientista taiwanês John Lin, vice-presidente de imunoterapia do laboratório farmacêutico Pfizer, trabalha na identificação de outro composto envolvido na desativação do sistema de defesa, o 4-1bb. “Ele se expressa na maioria dos tumores”, disse à ISTOÉ. A Genentech, uma das mais destacadas empresas de biotecnologia, trabalha com a indústria farmacêutica Roche na criação de uma droga que estimule as defesas contra os tumores de bexiga e de pulmão.“Estou animado em ver pela primeira vez que a imunoterapia é uma realidade. Essa estratégia terá ampla aplicação contra a doença”, disse à ISTOÉ Clifford Hudis, presidente do congresso. ________________________________________ 8# ECONOMIA E NEGÓCIOS 11.6.14 8#1 SABOR AMERICANO 8#2 COMO MUDAR DE OPERADORA DE CELULAR 8#1 SABOR AMERICANO A demanda por culinária estrangeira e a privatização dos aeroportos contribuem para o desembarque de redes dos EUA no Brasil Luisa Purchio (luisapurchio@istoe.com.br) Aqueles que viajam com freqüência para os Estados Unidos já estão familiarizados com a culinária do País. Agora, famosas redes norte-americanas de restaurantes desembarcarão no Brasil. A hamburgueria americana Carl’s Jr. foi inaugurada no ano passado e atualmente já possui quatro unidades em shoppings e aeroportos nacionais. A lagosta do Red Lobster também já pode ser experimentada no Aeroporto Internacional de Guarulhos, em uma refeição que fica em torno de R$ 58. O conhecido restaurante norte-americano Olive Garden, que serve massa italiana e possui cerca de 800 unidades espalhadas pelo mundo, também está presente em terminais do local. O restaurante norte-americano Red Lobster, especializado em fruto do mar, inaugurou uma franquia no Aeroporto Internacional de Guarulhos, em São Paulo A chegada dos novos restaurantes são resultado do investimento de grandes empresas do ramo da alimentação na internacionalização de suas marcas. A International Meal Company (IMC), maior empresa de alimentação fora da América Latina, foi a responsável pelas parcerias com empresas americanas e negociações que permitiram o desembarque desses restaurantes no Brasil. Presente aqui desde 2007, a IMC representa marcas como Viena, Frango Assado e Wraps. A empresa pretende inaugurar em breve no aeroporto de Guarulhos o bar Margaritaville, especializado em coquetéis dos mais variados tipos. “Há uma tendência gastronômica de internacionalização de paladares. E o franqueamento vem atender esse movimento global”, explica João Bonomo, especialista de empreendedorismo do IBMEC. Outro fator que contribuiu para a chegada ao País dos restaurantes americanos foi a privatização dos aeroportos, que possibilitou a entrada das franquias em áreas restritas de voos internacionais. “Encontramos uma demanda de passageiros que queriam repetir no Brasil a experiência que tiveram em suas viagens para os Estados Unidos”, disse à ISTOÉ Neil Amereno, diretor de relações com investidores da IMC. Aproveitando o ambiente propício aos novos negócios, a Alsea, operadora mexicana de franquias responsável por trazer ao Brasil a pizzaria Domino’s e o sucesso americano Starbucks – cuja participação foi posteriormente vendida – se prepara para inaugurar duas unidades do restaurante americano PF Chang’s, de culinária asiática, no Rio de Janeiro e em São Paulo. A expectativa é abrir 30 restaurantes em 10 anos. Com mais de 800 restaurantes espalhados pelo mundo, a maioria deles nos Estados Unidos onde a rede nasceu, o italiano Olive Garden também abriu uma unidade em Cumbica. O bar Margaritaville, especializado em coquetéis, chegará em breve O mercado gastronômico do País parece andar na contramão dos baixos resultados econômicos do País. Novos cursos de culinária, feiras gastronômicas e produtos gourmets têm surgido a cada dia no País. De acordo com a Associação Brasileira de Bares e Restaurantes, o setor de alimentação hoje no Brasil é responsável por 2,7% do PIB nacional. Em 2014, espera-se um crescimento real do mercado de 3% e R$ 104 bilhões em faturamento. “Por mais que a economia vá mal, as pessoas comem fora de casa. É uma necessidade e um evento ”, afirma Bonamoro. Para evitar prejuízos, a exemplo do que ocorreu com o Hard Rock Café e a rede Chili’s Grill & Bar, que não “pegaram” no Brasil, o conhecimento do mercado nacional é essencial. Nesse quesito, a IMC diz estar prevenida e afirma que os resultados dos novos restaurantes são positivos até agora. “Aprendemos algumas coisas. Sabemos o que o consumidor brasileiro quer e o que ele não quer”, afirmou Neil Amereno, diretor de relações com investidores da IMC. “Temos de nos adaptar ao paladar do brasileiro. O conhecimento local é a chave nesse negócio”, ensina. 8#2 COMO MUDAR DE OPERADORA DE CELULAR Brasileiro é recordista mundial em troca de companhia telefônica. Saiba como fazer a mudança sem correr riscos Luisa Purchio (luisapurchio@istoe.com.br) Pesquisa da fabricante Nokia com 12 mil usuários de 11 países apontou que o brasileiro é o consumidor mais disposto a trocar de operadora de celular no mundo. O estudo mostrou que 67% dos consumidores brasileiros mudaram de operadora nos últimos cinco anos e 48% estão interessados em mudar nos próximos 12 meses. A taxa mundial é inferior a 40%. Hoje, graças à chamada portabilidade, o usuário consegue trocar de operadora mantendo o número do seu aparelho. Para que a mudança valha a pena, porém, o dono do aparelho tem de levar alguns fatores em conta, antes de selecionar uma nova empresa. “A dica é escolher a que melhor se encaixe ao seu perfil de uso e a sua região. Não existe uma empresa mais adequada para todos”, diz Eduardo Tude, presidente da Teleco, uma das mais conceituadas consultorias de telecomunicações do Brasil. Verificar o grau de satisfação dos outros usuários é uma forma de avaliar as operadoras. “O usuário pode olhar nos órgãos de defesa do consumidor o número e os motivos das reclamações feitas contra as empresas”, sugere Maria Inês Dolci, coordenadora institucional da Proteste. __________________________________________ 9# MUNDO 11.6.14 O NOVO REI D'ESPANHA Como será o reinado de Felipe VI, que já assume com multidões nas ruas pedindo a volta da República Mariana Queiroz Barboza (mariana.barboza@istoe.com.br) Foi com as ruas apinhadas de manifestantes tremulando bandeiras republicanas – com uma faixa roxa em meio às cores vermelha e amarela – em Madri, Barcelona, Sevilha e outras cidades que a Espanha recebeu, na segunda-feira 2, a notícia da chegada de um novo rei. Pela tevê, um emocionado Juan Carlos I, de 76 anos, anunciou a abdicação do trono em nome do filho Felipe. “O príncipe de Astúrias tem a maturidade, a preparação e o senso de responsabilidade necessários para assumir com plenas garantias a chefia do Estado e iniciar uma nova etapa de esperança na qual se combinem a experiência adquirida e o impulso de uma nova geração”, disse. Num país precursor dos protestos organizados via redes sociais com o movimento “Indignados”, de 2011, e que sofre com a crise econômica e o desemprego (em torno de 25%, o maior da zona do euro), a passagem da Coroa não poderia ocorrer sem forte pressão social. “Precisamos de um novo rei?”, questionam os espanhóis. SUCESSÃO - O rei Juan Carlos I abdicou do trono para o filho Felipe, que pregou a união do país em seu primeiro discurso. Nas ruas, manifestantes exibem cartazes expressando o desencanto com a monarquia Expresso nas ruas, o desencanto pela monarquia representada por uma figura que, ao nascer, herda poder e privilégios está em seu auge na Espanha. A última sondagem do Centro de Pesquisas Sociológicas, realizada há um mês, mostrou que a aprovação da realeza era de apenas 3,72 de um total de 10. Em 1995, a popularidade rendia uma nota de 7,5. Por ora, no entanto, é muito difícil que haja qualquer mudança no sistema político. Nesse contexto, o principal desafio do novo monarca Felipe VI, com previsão de assumir no fim do mês, será manter a estabilidade das instituições e a integridade territorial. “Essa minoria que está nas ruas, embora seja respeitável, não tem representação suficiente no Parlamento”, disse à ISTOÉ José María Roman, diretor-geral da Fundação Cidadania e Valores, de Madri. “A grande maioria dos partidos aposta na continuidade.” No trono há 39 anos, Juan Carlos I teve papel fundamental na transição da ditadura militar para a democracia na Espanha, mesmo tendo sido escolhido pelo general Francisco Franco como seu sucessor. Em vez disso, com a morte do ditador em 1975, o rei criou um Estado que, a exemplo do Reino Unido, funcionaria como uma monarquia constitucional. Seis anos depois, Juan Carlos impediu uma tentativa de golpe depois que militares invadiram o Parlamento, reforçando sua legitimidade perante os espanhóis. Isso, contudo, tem pouco valor para quem nasceu após a ditadura. “Os jovens não entendem por que alguém como o rei teve que levar a democracia a eles”, afirma Louie Dean Valencia, pesquisador da Universidade de Fordham, de Nova York, especialista na transição da ditadura espanhola para a democracia. “Há, por isso, uma grande diferença entre a forma como as pessoas veem o rei hoje e 30 anos atrás.” O mal-estar com Juan Carlos se intensificou depois de um safári em Botsuana, na África, em plena crise da dívida em 2012. Na mesma época, a imprensa espanhola insinuou que o rei mantinha um caso extraconjugal com uma assistente. A situação só piorou quando um escândalo de corrupção e tráfico de influência chegou a Iñaki Urdangarin, seu genro, e obrigou o Palácio de Zarzuela a ser mais transparente. No ano passado, uma nova legislação abriu para o público o orçamento da Coroa, que em 2014 deve ser de 7,8 milhões de euros. A oportunidade de reescrever essa história está agora com Felipe de Borbón, 46 anos, que conseguiu se manter relativamente distante das polêmicas. Classificado pelo pai como “o príncipe mais bem preparado de nossa história”, Felipe foi rigidamente educado para o cargo, com sólida formação acadêmica e militar. Estudou Direito e Economia na Universidade Autônoma de Madri e fez mestrado em relações internacionais na Universidade Georgetown, em Washington, onde dividiu uma república com estudantes de vários países. Esportista talentoso, Felipe participou da seleção espanhola de vela na Olimpíada de Barcelona, em 1992. Há dez anos, é casado com a jornalista Letizia Ortiz, com quem tem duas filhas: Leonor, que, aos 8 anos, passa a ser a princesa mais nova da Europa, e Sofia. Como sua mãe fazia quando era pequeno, ele e Letizia mantêm o hábito de levar pessoalmente as meninas à escola. No primeiro discurso após a abdicação do pai, dom Felipe falou sobre a importância de manter o país unido. “Em tempos de dificuldade como o que atravessamos, a experiência do passado nos ensina que só unindo nossos esforços conseguiremos avançar em direção a melhores cenários”, disse durante a entrega de um prêmio no Mosteiro de Leyre, na quarta-feira 4. O apelo se opõe à agenda secessionista que ganhou força recentemente com o agravamento da crise econômica e o precedente aberto pela península da Crimeia, que, em março, optou por se separar da Ucrânia e se aliar à Rússia, mesmo sem o apoio de um mecanismo constitucional. A preocupação do príncipe com a Catalunha está clara desde a criação da Fundação Príncipe de Girona, em 2009, que busca aproximar a região da Coroa por meio de iniciativas na área de educação. Segundo o jornal espanhol “El Confidencial”, desde janeiro dom Felipe organizou encontros com mais de 50 empresários e personalidades catalãs com o objetivo de discutir a questão separatista. Só neste ano, ele já esteve seis vezes na comunidade autônoma. A Catalunha também é um dos locais onde o republicanismo mais cresce e espera que os protestos da semana passada tenham um efeito em seu processo de independência. A região prepara um referendo para se separar da Espanha em novembro, mas o governo não o reconhece, porque essa prerrogativa é contrária à Constituição. Ainda assim, se as manifestações levarem a uma reforma constitucional – o que é improvável –, ela poderia incluir também um trecho favorável à independência da Catalunha e de outras regiões autônomas, como o País Basco. Além desse ponto, o papel do novo rei será especialmente relevante no campo internacional. “Felipe VI será um rei menos propenso ao charme e mais ao profissionalismo num mundo em que as relações internacionais se regem mais por interesses do que por afinidades”, disse à ISTOÉ Alejandro Barón, analista de política externa da Fundação para as Relações Internacionais e o Diálogo Exterior de Madri. _____________________________________ 10# TECNOLOGIA E MEIO-AMBIENTE 11.6.14 NOSSOS IRMÃOS NO ESPAÇO Descoberta de novos planetas com características similares às da Terra ajuda cientistas a expandir as possibilidades na busca por vida extraterrestre Lucas Bessel (lucasbessel@istoe.com.br) Saiba quem são os nossos irmãos no espaço Um é enorme, rochoso, quente e muito distante. O outro está mais próximo – a “apenas” 13 anos-luz da Terra – e tem a temperatura certa para abrigar água líquida na superfície, condição essencial à vida. Os dois são exoplanetas, termo que define os planetas localizados fora do Sistema Solar, e vão ajudar os cientistas a compreender melhor, ao longo dos próximos anos, como ocorreu a formação de ambientes com potencial para abrigar vida fora da Terra. Nessa busca incessante por indícios de atividade biológica extraterrestre, a descoberta de planetas similares ao nosso é celebrada com entusiasmo pelos astrônomos. “Esta é mais uma evidência de que quase todas as estrelas têm planetas, e de que mundos possivelmente habitáveis em nossa galáxia são tão comuns quanto areia numa praia”, disse Pamela Arriagada, pesquisadora do Instituto Carnegie para a Ciência, uma das instituições responsáveis por encontrar o Kapteyn b, que orbita uma estrela do tipo anã vermelha nos limites da Via Láctea. Esse planeta se juntou, na semana passada, ao Kepler 10-C, apelidado de “megaterra” por ter o dobro do tamanho do nosso planeta e apresentar estrutura rochosa similar. Esses não são os primeiros planetas parecidos com a Terra encontrados fora do Sistema Solar, mas são especiais por suas próprias razões. O Kapteyn b, além de ser o mais antigo mundo desse tipo – tem 11,5 bilhões de anos, mais do que o dobro da idade do nosso Sistema Solar –, também é o mais próximo de nós. Já o Kepler 10-C, que fica a distantes 560 anos-luz, introduz uma nova categoria de planeta. Após sua descoberta, em 2011, os cientistas acreditavam se tratar de um grande planeta gasoso e inóspito. Novas análises revelaram, no entanto, que ele tem 17 vezes mais massa do que a Terra (confira quadro). O Kepler 10-C é quente demais para sustentar água líquida, mas ajuda a provar que planetas muito maiores que o nosso também podem ter estrutura rochosa, condição que favorece o aparecimento de vida. “Esse é o Godzilla das terras”, comparou o astrônomo de Harvard Dimitar Sasselov, um dos responsáveis pela descoberta. A referência ao iguana gigante da ficção pode parecer exagerada, mas o fato é que, até então, os teóricos acreditavam que mundos desse tamanho teriam que ser necessariamente gasosos, uma vez que a enorme força gravitacional atrairia todo o hidrogênio ao redor para formar um planeta como Netuno ou Júpiter. As descobertas desses mundos só foram possíveis graças ao telescópio Kepler, da Agência Espacial Americana (Nasa), que operou até o ano passado. Em órbita, ele identificava, com base na variação da luz de estrelas distantes, a existência dos exoplanetas. A expectativa é de que, nos próximos 20 anos, novas espaçonaves do tipo possam analisar em detalhes esses mundos recém-descobertos em busca de sinais de metano, vapor de água e oxigênio, que seriam bons indícios de vida. A corrida começa já em 2017, quando a Nasa deve lançar o satélite Kess, cuja missão será identificar novos planetas rochosos. “E, se você consegue criar rochas, consegue criar vida”, diz Sasselov. __________________________________________ 11# CULTURA 11.6.14 11#1 LIVROS - A ÚLTIMA DERROTA DE NAPOLEÃO 11#2 CINEMA - FELLINI, O MENTIROSO 11#3 EM CARTAZ – CINEMA - LOBO EM PELE DE GATA 11#4 EM CARTAZ – LIVROS - QUE VIVA MÉXICO 11#5 EM CARTAZ – EXPOSIÇÃO - SERRA EM ESCALA INTIMISTA 11#6 EM CARTAZ – MÚSICA - JOVEM AOS 81 11#7 EM CARTAZ – TEATRO - DO CONTRA 11#8 EM CARTAZ – AGENDA - PENNY DREADFUL/CÁSSIO VASCONCELOS/MERCADO DE ARTE 11#1 LIVROS - A ÚLTIMA DERROTA DE NAPOLEÃO Novo livro reconta em detalhes os últimos três dias do imperador que foi venerado, detestado e exaustivamente estudado Nenhuma outra figura histórica vendeu tanto livro quanto Napoleão Bonaparte, se descontarmos a “Bíblia”. Somam-se cerca de 80 mil títulos, sendo que alguns alcançaram a venda de mais de um milhão – como a biografia de André Castelot, dos anos 1960. Tão incensado quanto detestado, o general que se tornou o primeiro imperador da França nunca saiu da moda nas universidades ou livrarias. Às vésperas das comemorações dos 200 anos de sua abdicação, em 1815, começam a pipocar títulos sobre o período. Um dos mais curiosos deles – que já pode ser encontrado em português – trata com lente de aumento dos três dias que antecederam a renúncia que marcou o fim de seu governo. “L’Abdication”, que chega no Brasil como “A Queda de Napoleão”, relata as 72 horas que separam a volta do imperador a Paris depois da derrota em Waterloo do ato que devolveu a França à dinastia de Luiz XIII. Além dos documentos já mais que conhecidos, o historiador Jean-Paul Bertaud, se apoiou nas cartas trocadas entre o governante e o grupo minguado de aliados depois das sucessivas derrotas do Grande Exército, sustentáculo do governo bonapartista. O desespero e suas tentativas de justificar a derrota mostram a consciência do general que estava mais frágil do que nunca. Nesse ponto, seu império já experimentava uma sobrevida. Um ano antes, em abril de 1814, ocorrera uma primeira abdicação, da qual Napoleão se reergueu, apesar do decréscimo de saúde, dinheiro e soldados. Além de muita dificuldade em largar o poder, Napoleão tinha o controle de quase todos os jornais e dos telégrafos, de maneira que rumores da abdicação não foram veiculados em nenhum momento antes da derrota. E, depois que aconteceu, levou semanas, quando não meses, para chegar a todo o território francês. COMEÇO DO FIM - A notícia da derrota na Batalha de Waterloo, em 1815, minou o apoio a Napoleão Bertaud mostra num relato emocionado que a renúncia encontrou ainda resistência da população francesa em aceitar o fato. Mesmo dividida naquele instante, prevalecia a ideia de que o país havia se tornado um império graças ao seu herói controverso. A abdicação ocorreu em 22 de junho. Nos Baixos Alpes, o povo de Dignes, por exemplo, só soube do ato em 2 de julho. Três meses antes, quando Napoleão voltou de Elba, Dignes levou poucos dias para receber a informação e distribuir entre os seus habitantes. Em Lyon, os cartazes sobre a renúncia foram retirados dos muros e rasgados. Em Périgueux, uma junta militar cobriu os locais que deveriam noticiar a saída de Bonaparte com mensagens de fidelidade ao antigo governante. “Não seremos russos, nem prussianos, nem ingleses, nem alemães. Preferimos morrer de armas em punho a deixar de ser franceses.” Napoleão era uma lenda em vida. AMARGO REGRESSO - Derrotado, o imperador volta a Paris para tentar salvar seu império, mas já não tem homens nem dinheiro para isso E sabia disso. “Minha vida daria um romance”, era um de seus bordões. Em suas memórias, Benjamin Constant sintetiza a forma como Napoleão se tornou um mártir. “Contando com os destroços de um Exército ainda invencível e uma multidão galvanizada pelo som do seu nome, preferiu abrir mão do poder a disputá-lo pelo massacre da guerra civil.” Não era bem assim. Napoleão queria ficar e refazer seu Exército, mas não tinha dinheiro, nem apoiadores que o ajudassem na arrecadação. Três dias antes de renunciar em nome do filho, que ainda era uma criança e por isso não assumiria, o imperador pensava em resistir. Passadas 24 horas, ele começava a elaborar outros planos: mudar-se para a terra de Benjamin Franklin, que também tinha lutado contra a Inglaterra. Como cidadão comum instalado, poderia chamar seus amigos mais próximos e fundar uma pátria nova. “Antes que se passe um ano, os acontecimentos da França e da Europa haverão de agrupar a seu redor milhões de indivíduos, em sua maioria dispondo de propriedade, talento e instrução” – teria lhe aconselhado Lavalette, um de seus últimos homens de confiança. Ou seja, o sacrifício não teria sido exatamente uma escolha. HORA A HORA - Thriller de Bertaud repassa os últimos do governo de Napoleão Bilhetes como estes trocados nessas últimas 72 horas de permanência do governo no palácio do Eliseu mostram também que a megalomania, assim como a cistite e as dores de estômago, não queriam deixar o governante. Diferentemente do que Benjamiw n Constant defendia, e que bonapartistas repercutiram ainda durante muito tempo depois de sua morte, Napoleão Bonaparte não abdicou para salvar a França da guerra civil. Ele ainda tentou argumentar a favor de uma ditadura temporária. “Eu preciso ser investido de um grande poder. No interesse da pátria eu poderia me apropriar desse poder, mas seria muito mais útil e mais racional que ele me fosse concedido pelas Câmaras.” Não convenceu. Em três dias embarcava para a Ilha de Santa Helena, onde morreria seis anos depois, eternizando-se como mártir. 11#2 CINEMA - FELLINI, O MENTIROSO Com cenas inéditas de bastidores de filmagens de Fellini, depoimentos e gravações desconhecidas, Ettore Scola homenageia o amigo, que conheceu nos anos 1940, famoso por inventar histórias Ana Weiss (ana.weiss@istoe.com.br) Fellini era dado a inventar histórias. Não só para seus filmes, diga-se. De vez em quando, o diretor de “Amarcord” e “A Doce Vida” mentia mesmo. Sobre a vida dos outros e sobre a própria – como a fuga com o circo na infância, uma fantasia que alimentou boa parte de sua cinematografia, uma das mais importantes do planeta. “É o maior Pinóquio do cinema italiano”, diz o narrador do filme “Que Estranho Chamar-se Federico”, homenagem de Ettore Scola ao colega e amigo de juventude, de quem guardava gravações inéditas e raras, incluídas agora no longa-metragem. Quem entrega Fellini, portanto, é Scola, um de seus amigos de vida inteira. TUTTI AMICI - Scola (abaixo) frequentava os sets de filmagens no mítico Studio 5 da Cineccitá (acima), onde Fellini (segunda foto abaixo) realizou grande parte de suas cenas e teve o corpo velado em 1993 Mistura de documentário com ficção, o filme passa pelos bastidores de grandes filmes do cineasta nascido em Rimini e mostra a genealogia de alguns de seus maiores personagens, como Cabíria, vivida por Giulietta Masina, sua mulher. A prostituta que valeu a ela o prêmio de melhor atriz no Festival de Cannes de 1957 foi inspirada, o filme mostra, por uma mulher para quem Fellini deu carona durante uma noite. A profissional teria lhe contado a história do amante que levara todas as suas economias. Sair de carro à noite, oferecendo carona a desconhecidos, era um dos métodos de pesquisa do cineasta, que depois recontava as biografias anônimas em seus filmes com o pincel de sua ironia fina e suas imagens oníricas, nascidas dos desenhos que antecediam suas cenas – prática também de Scola. O longa acaba sendo igualmente uma autobiografia. Scola chegou à capital italiana no fim dos anos 1940, vindo de Trevico, sul da Itália. Foi procurar emprego na revista satírica “Marc’Aurelio”, na qual, dez anos antes, Fellini (vindo de Rimini) tinha começado como desenhista. Uma cena mostra um menino comentando com o avô os desenhos de um cartunista chamado Federico. Até a morte de Fellini, em 1993, os dois foram muito próximos e o humor aparece impregnado na maior parte do filme de ambos. Scola não filmava havia dez anos e tinha anunciado a aposentadoria em 2011. Mas, afinal, no mundo do cinema, mudar de ideia é mentira perdoável. Assim como inventar histórias. 11#3 EM CARTAZ – CINEMA - LOBO EM PELE DE GATA Depois de colecionar prêmio de melhor filme e atriz em festivais nacionais e internacionais Ivan Claudio (ivanclaudio@istoe.com.br) e Ana Weiss (ana.weiss@istoe.com.br) Depois de colecionar prêmio de melhor filme e atriz em festivais nacionais e internacionais (Rio de Janeiro, San Sebástian, Toronto e Zurique), o brasileiro “O Lobo Atrás da Porta” chega às telas com a mais madura e impressionante interpretação de Leandra Leal. A atriz vive Rosa, garota suburbana de 24 anos que se envolve com um homem casado. Bernardo, inspetor de uma empresa de ônibus, tem a filha sequestrada na porta da escola. O diretor Fernando Coimbra, nesse que é seu primeiro longa, deixa transparecer a experiência de anos de trabalho como ator no Teatro Oficina, dando espaço para as atuações nesse thriller policial com contornos rodrigueanos, que tem ainda Melhem Cortaz (“Tropa de Elite”) no elenco. + 5 Filmes com Leandra Leal A Ostra e o Vento Filme da Walter Lima Jr. sobre a vida ilhada de Marcela e seu pai, o faroleiro José. Zuzu Angel Filme de Sergio Rezende sobre a estilista que teve o filho assassinado pelo regime militar brasileiro. Cazuza Dirigido por Walter Carvalho e Sandra Werneck, mostra a biografia do cantor morto em 1990. Bonitinha mas Ordinária Baseado em peça de Nelson Rodrigues, fala do dilema de Edgard entre o amor e um casamento por interesse. Dias de ­Nietzsche em Turim De Julio Bressane, narra o ano em que o filósofo Friedrich Nietzsche viveu na Itália e escreveu alguns dos seus textos mais importantes. 11#4 EM CARTAZ – LIVROS - QUE VIVA MÉXICO Ivan Claudio (ivanclaudio@istoe.com.br) e Ana Weiss (ana.weiss@istoe.com.br) No centenário de nascimento do poeta mexicano Octavio Paz (1914-1998), chega às livrarias mais uma de suas obras fundamentais, “Labirinto da Solidão” (Cosac & Naify), lançado em 1950. Antes saíram pela mesma editora “O Arco e a Lira” e “Os Filhos do Barro”, ambos tratando da história da poesia moderna. “Labirinto” investiga a identidade mexicana a partir de suas heranças coloniais e pré-colombianas, com a erudição e o rigor analítico que valeram a Paz o Nobel em 1990. 11#5 EM CARTAZ – EXPOSIÇÃO - SERRA EM ESCALA INTIMISTA Ivan Claudio (ivanclaudio@istoe.com.br) e Ana Weiss (ana.weiss@istoe.com.br) Mais conhecido por suas esculturas monumentais, o americano Richard Serra preferiu trazer uma coleção de desenhos para mostrar no Brasil. Entende-se. O conjunto será mostrado na sede do Instituto Moreira Salles do Rio, casa projetada por Olavo Redig de Campos, em 1948, que foi residência da família Moreira Salles. Envidraçada e aberta para um jardim projetado por Roberto Burle Marx, o espaço comporta mostras de proporções intimistas e nunca tinha recebido nada do escultor, considerado pela crítica internacional um dos maiores dos nossos tempos. 11#6 EM CARTAZ – MÚSICA - JOVEM AOS 81 Ivan Claudio (ivanclaudio@istoe.com.br) e Ana Weiss (ana.weiss@istoe.com.br) A cantora e artista plástica Yoko Ono, que completou 81 anos em fevereiro mostra-se rejuvenescida no CD “Take Me to the Land of Hell”, produzido pelo seu filho, Sean Lennon. Nas 13 faixas, a viúva de John Lennon vai do funk ao rock numa seleção de boas canções interpretadas com uma desenvoltura admirável. Para tanto, cercou-se de convidados igualmente criativos, caso dos guitarristas Lenny Kravitz e Neils Cline (do Wilco), do produtor Questlove e dos ex-Beastie Boys, Mike D e Ad-Rock. Às vezes ela soa como uma Laurie Anderson, outras vezes como o Talking Heads, mas vale para ela o denominador comum entre os companheiros: uma sonoridade genuinamente nova-orquina, cidade que ela abraçou desde os tempos de vanguardista das artes plásticas. 11#7 EM CARTAZ – TEATRO - DO CONTRA Ivan Claudio (ivanclaudio@istoe.com.br) e Ana Weiss (ana.weiss@istoe.com.br) Quem conheceu a cantora Cássia Eller (1962/2001) conta que ela era uma artista diferente, por não gostar da pirotecnia de shows e apresentações em palcos. Por isso, o espetáculo “Cássia Eller, o Musical”, em cartaz no CCBB do Rio de Janeiro, segue um formato quase oposto ao de musicais tradicionais. “Nada é espetaculoso. Tentamos criar um ambiente conectado à essência da Cássia”, explica Vinícius Arneiro, que assina a direção com João Fonseca. Com texto de Patrícia Andrade, o papel-título é defendido por Tacy de Campos, atriz e cantora curitibana que tem arrebatado plateias. 11#8 EM CARTAZ – AGENDA - PENNY DREADFUL/CÁSSIO VASCONCELOS/MERCADO DE ARTE Confira os destaques da semana Ivan Claudio (ivanclaudio@istoe.com.br) e Ana Weiss (ana.weiss@istoe.com.br) PENNY DREADFUL (Na HBO, a partir de 13/6) Drácula, Dorian Gray e Frankenstein são alguns dos personagens da nova série de suspense passada na Londres vitoriana. CÁSSIO VASCONCELOS (No Paço das Artes, em São Paulo, até 22/6) Mostra do fotógrafo paulista traz imagens aéreas de diferentes lugares do Brasil . MERCADO DE ARTE (Ricardo Camargo Galeria, São Paulo, até 21/6) – Exposição reúne raridades como a tela “Indecision e Candomblé”, a partir de R$ 7 mil. ___________________________________________ 12# A SEMANA 11.6.14 por Antonio Carlos Prado e Elaine Ortiz "ADIVINHE QUEM NÃO VEM PARA JANTAR" François Hollande, presidente da França, é bom de garfo – e isso o ajudou em uma esquisita programação: jantar duas vezes. O episódio, no caso, deve-se exclusivamente às animosidades entre os presidentes Barack Obama e Vladimir Putin. Impossível colocá-los à mesma mesa depois que Putin anexou a Crimeia e Obama, por sua vez, respondeu-lhe com sanções econômicas e comerciais. Na função de recepcionar 18 chefes de Estado que participaram das comemorações dos 70 anos do chamado Dia D (desembarque das tropas aliadas na Normandia durante a Segunda Guerra Mundial), Hollande jantou, então, primeiro e mais demoradamente, com Barack Obama e depois, frugalmente, com Vladimir Putin. O presidente russo, na verdade, anda atualmente tendo de comer sozinho. O evento do Dia D ocorreu um dia depois do jantar da reunião do G-7 em Bruxelas, e este ano a Rússia foi descartada do encontro que congrega as maiores potências industrializadas. É a primeira vez que ela fica de fora desde 1997. "O MISTÉRIO DO "HOMEM-TANQUE" SE MANTÉM HÁ 25 ANOS" Um dos homens mais influentes do século XX ninguém sabe quem é. Trata-se do jovem que há 25 anos postou-se corajosamente diante dos tanques de guerra do governo comunista chinês, na Praça da Paz Celestial, em Pequim, tentando impedir com o próprio corpo, e somente com o próprio corpo, que eles avançassem e massacrassem os manifestantes que exigiam a democratização do país – que até hoje não houve. Quem o elegeu personalidade do século foi a revista “Time”, e usou-se acima a expressão corajosamente porque nesse dia (4 de junho de 1989) os tanques esmigalharam cerca de 2,6 mil pessoas. Na quarta-feira passada, o governo chinês mostrou que, de sua parte, o obscurantismo é o mesmo: valeu-se de tudo para coibir as manifestações populares que homenageiam as vítimas de 25 anos atrás, e para isso usou a censura, o bloqueio da internet e, claro, os tanques nas ruas. Não conseguiu impedir, no entanto, que milhares de pessoas se concentrassem em Hong Kong. "A POLÊMICA LIBERTAÇÃO DO SARGENTO AMERICANO" O sargento americano Bowe Bergdahl ficou preso no Afeganistão durante cinco anos e, na semana passada, foi liberado pelo Taleban após os EUA terem oferecido em troca a libertação de cinco terroristas que estavam na base de Guantánamo. Duas polêmicas: a primeira se refere à dúvida em torno das circunstâncias da captura de Bergdahl. Há suspeitas de que ele desertara antes de ser capturado. O Pentágono anunciou que irá investigar o caso. A segunda polêmica se dá no âmbito político: republicanos alegam que o presidente Barack Obama não deveria ter negociado com terroristas, já que a libertação deles representa uma nova ameaça ao país. "ACERTOS E PERIGOS DOS CONSELHOS POPULARES" A presidenta Dilma Rousseff editou na semana passada decreto determinando que órgãos do governo promovam consultas públicas antes de decidirem sobre assuntos e leis de interesse geral – para essas consultas seriam criados conselhos populares. Tal decreto pode ser saudável para a democracia, mas há duas ressalvas. Primeira: por meio dos conselhos populares, não pode o governo federal passar por cima da Câmara e do Senado, os únicos que têm constitucionalmente legalidade e legitimidade para legislar – a linha direta poder-povo gera regimes populistas que algumas vezes descambam para o avesso da democracia. Segunda ressalva: os conselhos populares têm de ser apenas consultivos, e jamais deliberativos, e não podem ser “aparelhados” politicamente – prática que se vê no Brasil desde os primórdios da República, independentemente do partido que estiver no poder. "NETO DE JACQUES COUSTEAU A 20 METROS DE PROFUNDIDADE" O mais famoso oceonógrafo francês, Jacques Cousteau, permaneceu um mês realizando pesquisas em um laboratório submerso no Mar Vermelho. Isso faz meio século. Na semana passada seu neto, Fabien Cousteau (foto), iniciou um desafio semelhante, mas quer quebrar o recorde do avô e ficar 31 dias no fundo do oceano – a aventura ganhou o nome de “Missão 31”. Fabien e sua equipe estão desde domingo 1 no laboratório Aquárius, a 20 metros de profundidade (Jacques Cousteau esteve a 10 metros) na costa americana da Flórida. "SEM DIVERSIDADE, GOOGLE INCENTIVA A DIVERSIDADE" Dos 45 mil funcionários que o Google possui em todo o mundo, 70% são homens e 61% são brancos. Isso motivou a empresa a lançar na terça-feira 3 uma campanha mundial que promove no esporte a igualdade racial e o fim do preconceito contra homossexuais. Fala o vice-presidente de recursos humanos da empresa, Laszlo Bock: “O Google não está no lugar que gostaríamos quando olhamos a questão da diversidade”. "SUÍÇA SUSPENDE PARCERIA COM O BRASIL EM INVESTIGAÇÕES" A Suíça arquivou dez casos que estavam sendo investigados em parceria com o Brasil – entre eles o que apura o esquema de cartel de trens envolvendo a empresa Alstom nos governos do PSDB em São Paulo. O motivo do rompimento da Suíça foi o vazamento de dados sigilosos (nomes e informações bancárias de investigados). O ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, afirmou que pretende reverter a situação: “Não fui comunicado. Mas se isso for confirmado, farei gestões necessárias para que a colaboração continue a existir”. "OS FATOS REAIS DO FILME "PHILOMENA"" O filme “Philomena” concorreu ao Oscar este ano em quatro categorias. Conta a história verídica de uma irlandesa que passou a vida em busca do filho adotado por um casal americano logo após o seu nascimento – ela foi impedida de criá-lo e enclausurada em um convento que abrigava mães solteiras. Na década de 1970 o mundo ficou estarrecido com o anúncio da localização de cerca de 800 ossadas em um antigo convento na cidade de Taun, na Irlanda, local que justamente abrigou mães solteiras. Na semana passada, novo estarrecimento: as autoridades do país, após quatro décadas de absoluto sigilo, revelaram que são de crianças os ossos que foram encontrados lá no passado. O filho de Philomena não está entre esses restos mortais porque faleceu nos EUA. "59% " É em quanto diminuiu o índice de brasileiros impedidos de entrar na União Europeia nos últimos 4 anos. 2.524 brasileiros foram barrados no ano passado, enquanto em 2010 esse número chegou a 6.178. Os dados são da Agência Europeia de Controle de Fronteiras. " EUA APOSTAM ALTO NA QUEDA DA POLUIÇÃO" Compromisso do governo dos EUA anunciado na semana passada: baixar em 30%, até 2030, a emissão de CO2 pelas usinas termelétricas. A proposta é ousada e pretende impedir que 430 milhões de toneladas de dióxido de carbono cheguem à atmosfera. Cada estado americano tem autonomia para escolher por quais meios alcançará essa meta, mas todos deverão apresentar seus projetos até 2016. Os EUA são o segundo país (o primeiro é a China) que mais emite poluentes do efeito estufa em todo o planeta. "MUSEU EXPÕE CÓPIA "VIVA" DA ORELHA DE VAN GOGH" “A ciência foi o meu pincel e a minha tela.” Assim o artista visual alemão Diemut Strebe define a sua revolucionária obra. Valendo-se da tecnologia de uma impressora 3D e de material genético do tataraneto do pintor Vincent van Gogh, ele recriou uma réplica viva da orelha que o próprio Van Gogh decepou em uma de suas crises de automutilação e desilusão amorosa em 1888. A réplica da orelha está atraindo milhares de visitantes ao museu na qual está exposta – o Centro de Arte e Meios, na cidade alemã de Karlsruhe. No ano que vem será exibida em Nova York. "A DOLEIRA NELMA SALVA A VIDA DE SEU CARCEREIRO" A doleira Nelma Kodama está presa na Superintendência da Polícia Federal no Paraná, acusada de evasão de divisas e lavagem de dinheiro. Na semana passada tornou-se público um fato surpreendente ocorrido há um mês: ela salvou a vida de um de seus carcereiros. Ao ver um agente da PF desmaiar, Nelma, que nesse momento estava fora de sua cela, correu a fazer-lhe massagem cardíaca e respiração boca a boca. Isso foi fundamental para que o agente não morresse. Em seguida ela tomou a iniciativa de pegar a chave de outra cela e destrancar um médico para auxiliar no socorro. "O JOGADOR QUE DEU UM "CHAPÉU" EM PELÉ" Impossível que o lateral esquerdo Marinho Chagas, ídolo do Botafogo na década de 1970 e craque na Seleção Brasileira em 1974, não chamasse a atenção de quem o visse em campo devido aos seus cabelos longos demais, louros demais, esvoaçantes demais. Mas Marinho chamava a atenção também pelo futebol que jogava – e, sobretudo, pelo estilo ofensivo, chegando a ser apontado como o único e legítimo sucessor de Nilton Santos. No jogo de sua estreia no Botafogo, contra o Santos, ele deixou Pelé atordoado em dois lances: deu-lhe um “chapéu” e também o driblou passando a bola entre as suas pernas. Marinho morreu no domingo 1º, na Paraíba, aos 62 anos. Passou mal em uma banca de jornal participando de uma reunião de colecionadores de figurinhas de craques.