0# CAPA 2.7.14 ISTOÉ edição 2327 | 02.Jul.2014 [descrição da imagem: foto de um pão, do tipo baguetti, com um aparelho de medidas fixado nele] A GUERRA DO GLÚTEN Por que a dieta preferida de milhares de pessoas causa controvérsia entre cientistas. _______________________ 1# EDITORIAL 2# ENTREVISTA 3# COLUNISTAS 4# ESPECIAIS - COPA 2014 5# BRASIL 6# COMPORTAMENTO 7# MEDICINA E BEM-ESTAR 8# ECONOMIA E NEGÓCIOS 9# MUNDO 10# TECNOLOGIA E MEIO AMBIENTE 11# CULTURA 12# A SEMANA _____________________________ 1# EDITORIAL 2.7.14 "A PAJELANÇA POLÍTICA" Carlos José Marques, diretor editorial Na sombra da Copa uma guerra surda se desenvolve em torno das alianças e acordos de chapas partidárias. Surpreende o tamanho da pajelança de correntes e ideias, que não obedece a qualquer critério lógico. Muitas vezes não há sequer sinergia, seja de programas, seja de bandeiras, nesse movimento. Está prevalecendo mesmo é o interesse de curto prazo, específico, da vitória nas eleições de outubro próximo. E, assim, siglas tradicionalmente adversárias em nível nacional podem se juntar aqui, acolá, para logo depois firmarem divórcio. No troca-troca, que virou característica deplorável da política brasileira, destacam-se também os claros sinais de um desembarque em massa da chapa oficial, algo que pode ser interpretado como descrença crescente na reeleição da presidenta Dilma. A retirada de apoios importantes teve início com a saída do PTB do bloco. O partido, umbilicalmente vinculado ao governo, resolveu romper após se sentir menosprezado na reforma ministerial. Outro aliado, o PR, iria fazer o mesmo e para evitar a debandada uma troca de ministros na pasta dos Transportes foi providencialmente arranjada. O cala-boca deu certo e o PR renovou juras de amor eterno. Está em jogo perda de palanques e de tempo no horário eleitoral gratuito de tevê, as maiores armas dessa disputa. Mas as fissuras no arco de sustentação de Dilma podem abrir espaço para mais fugas. No Rio de Janeiro, uma coligação majoritária está colocando do mesmo lado o PSDB do presidenciável Aécio Neves e o PMDB do atual vice-presidente, Michel Temer. O mesmo PMDB também pode registrar novas baixas nas fileiras com a conversão do ex-ministro Eunício Oliveira, que estaria disposto a abrir palanque para os tucanos nas suas trincheiras do Ceará. Há ainda na conta eventuais diásporas regionais como a do PCdoB paulista, que pode deixar a chapa do candidato petista ao governo do Estado, Alexandre Padilha, caso não tenha espaço e cargos à altura de seus anseios. As deserções pontuais são todas produzidas no caldeirão de negociatas que alimenta há algum tempo o fisiologismo barato e rasteiro em vigor nas paragens politiqueiras por obra e graça daqueles que enxergam o poder público como mero instrumento para se locupletar. ___________________________________ 2# ENTREVISTA 2.7.14 VALTER HUGO MÃE - "DILMA É GENERAL DE SI MESMA" O escritor que revoluciona a literatura portuguesa conta como a influência brasileira foi fundamental em sua obra, comenta sobre a Copa e afirma que a presidenta tem um perfil militar por Gisele Vitória e Silviane Neno COPA - "O Brasil está no ponto de fazer uma burrada ou ascender como uma grande nação", diz ele O escritor Valter Hugo Mãe via o mundo embaçado até os 11 anos. Julgava que todos apreciavam as paisagens e as pessoas como telas de Van Gogh. “Não sabia que eu enxergava mal, até perceber que as pessoas conseguiam ler as legendas da televisão e eu não”, conta. Hoje, ele vê o mundo com uma nitidez desconcertante, como mostram seus livros. Filho de portugueses, nascido em Angola, Valter Hugo Lemos – Mãe é pseudônimo – retornou a Portugal antes dos 5 anos. De Vila do Conde, ao norte do país, onde vive até hoje, ele escreveu romances retumbantes a ponto de ganhar de José Saramago o apelido de “tsunami literário”. Três anos antes de morrer, o Prêmio Nobel português disse que, ao ler seu conterrâneo, hoje com 42 anos, tinha a sensação de assistir a “um novo parto da língua portuguesa”. Mas foi na Flip (Festa Literária de Paraty) de 2011 que Valter Hugo ganhou notoriedade por aqui. "Cristiano Ronaldo não iria fazer nenhum milagre. Ele sozinho não poderia conquistar a Copa para Portugal" Admirado por Chico Buarque e Caetano Veloso, naquela ocasião emocionou a plateia com uma declaração de amor ao Brasil. Em Paraty, o escritor português contou que descobriu os encantos do País com as belas vizinhas brasileiras, as primeiras que vira fora da tevê. Valter Hugo acabou de lançar em São Paulo seu sexto romance – “A desumanização” (Ed. Cosac Naify). Em agosto ele volta para um festival literário em Curitiba. E em setembro lança em São Paulo, antes de Portugal, um novo livro: “O Paraíso São os Outros” (Ed. Cosac Naify). “É dedicado ao público jovem e trata da estranha mania dos adultos de estar sempre à procura de um par”, diz. Ele não veio para a Copa, mas, de Portugal, acompanha na tevê seus melhores e mais dramáticos lances. “Só não vejo demasiado para não me tornar cardíaco.” "Gostei das manifestações. Achei alguns slogans bem sacados. Um cidadão é isso: exige, protesta. Tenho esperança de que o Brasil seja um dos países deste século" Istoé - Você esperava mais de Portugal na Copa? Valter Hugo Mãe - Fiquei com pena de nós todos, portugueses. Cristiano é muito rico para ter pena dele. A namorada dele é linda. Mas foi desolador. Temos supostamente o melhor jogador do mundo. Esperávamos no mínimo que não tivesse ido tão mal. Quando fui ao Brasil da última vez, voltei num voo ao lado do Paulo Bento, técnico de Portugal. Disse que simpatizava com ele, que esperava que ganhasse. Agora penso em ligar e dizer: “Paulo, o que aconteceu?” Mas pressentia: Cristiano Ronaldo não iria fazer nenhum milagre. Ele sozinho não poderia conquistar a Copa para Portugal. Istoé - E a eliminação da Espanha? Valter Hugo Mãe - A gente gostou, né? E só não rimos de gargalhada por nós também termos perdido. Ainda teve a coroação do novo rei da Espanha no mesmo dia da derrota... coroação esta que Portugal ainda vê como anedota. A gente abateu a monarquia há tempos. E eles ficam brincando de princesa. Lamento, mas, entre vizinhos, o amor é assim. Istoé - E o Brasil? Felipão leva a taça? Valter Hugo Mãe - Acho Felipão – como digo isso? – um pouco brega. Ele deve consultar orixás, búzios. E, de vez em quando, toma umas decisões por fé. Às vezes o futebol está na cara: é bom. É ruim. Até eu sei disso. Istoé - Essa antipatia nasceu quando ele foi técnico da seleção portuguesa? Valter Hugo Mãe - Em Portugal, Felipão foi muito casmurro. Uma vez, bateu num jogador. Um jogador se aproximou do outro e ele deu um tapa. “Ah, eu só estava protegendo o menino”, ele disse. Fez uma burrada, promoveu a violência. Jogadores de futebol não são meninos. São cavalos de corrida, homens enormes e não precisam de um velho para protegê-los. Felipão é meio bobão. Istoé - Há 15 anos você frequenta o Brasil. O País mudou? Valter Hugo Mãe - A mudança é espantosa. As primeiras vezes em que viajei pelo Brasil, em 2000, chegando pelo Rio ou por São Paulo, tinha gente propondo todo tipo de negócio, de sexo a droga. Gente que não era taxista oferecendo carona. Enfim, nós ainda estávamos dentro do aeroporto e já sentíamos a insegurança absurdamente. Hoje chego nos mesmos aeroportos e é tão aborrecido e seguro quanto qualquer aeroporto do mundo. Istoé - Como vê a Copa para o Brasil? Valter Hugo Mãe - A Copa pode ser uma história de sucesso. Espero que sirva para ajudar o Brasil com essa ilustração de país capaz. Se o país gasta o dinheiro com as coisas corretas é diferente. Agora, gastar dinheiro no Brasil é fundamental. O País é muito grande. Quando se pensa em algo, tem que pensar em algo grande. Precisa de estádios, de estradas, de grandes construções. Só espero que estejam construindo coisas que tenham uso, que motivem a juventude para o esporte. Ao mesmo tempo, o Brasil é uma lição de criatividade. Tem o segredo de saber fazer omeletes sem ovos. No momento do evento, podem chegar que vamos recebê-los. O País tem essa propensão ao bonito. O Brasil está no ponto perfeito para fazer uma burrada enorme ou ascender de uma vez por todas como uma grande nação. Istoé - O que você achou de Dilma ter sido xingada na abertura da Copa? Valter Hugo Mãe - Achei legítimo. Dilma nem merecia nem deixa de merecer. Não é uma questão pessoal e o mundo vai saber entender isso. É um cargo ocupado por uma mulher que está a tomar suas decisões. Estará às vezes certa, e às vezes errada. (O xingamento) Não é nem feio nem bonito. Isso de ter dito que não se abaterá foi bom. Um líder não pode ser muito boiolinha, cheio de frescurinha. Um líder deve ter a força que às vezes não temos: ser vaiado e ficar de pé. Istoé - Você tem acompanhado a campanha presidencial? Valter Hugo Mãe - Não, mas sinto que a Dilma está sendo crucificada demais. Que ela não seja a presidente perfeita, é uma coisa. Que seja tudo isso que têm dito, parece-me demasiado. Aumentou em 10% o Bolsa Família e, em vez de celebrarem minimamente, dizem que é horrível. Não há nada em lugar nenhum do mundo que esteja a subir 10%. Em Portugal, o normal é ouvirmos que vai ser cortado 10%. Istoé - Como você vê Dilma? Valter Hugo Mãe - Forte, austera. Não é uma mulher que faz a gente morrer de amores por ela. Mas a gente espera que seja boa presidente, que não seja corrupta. Tenho simpatia por Lula. Adoraria jantar com ele. Lula foi um homem que teve um sonho e que o concretizou mais ou menos. Dilma passa mais realidade. Tem menos sonho. Tem um perfil mais militar. É um general de si mesma. Talvez, por ter sido torturada, não possa ser cândida como Lula. Istoé - No livro “Máquina de Fazer Espanhóis”, você diz: “Os portugueses são cidadãos não praticantes.” Por quê? Valter Hugo Mãe - Quando digo isso, critico a herança de 48 anos de ditadura no século XX. Também brinco com a expressão católicos não praticantes. Ora, ou você é católico e pratica, ou não pratica e é agnóstico. Em Portugal, as pessoas foram levadas a não fazer, não pensar, não opinar. Desenvolveram o espírito de menosprezo, desprezo e incapacidade. Istoé - Que cidadãos o Brasil tem? Valter Hugo Mãe - Cada vez mais praticantes. Gostei de ver as manifestações. Achei alguns slogans muito bem sacados. Um cidadão é isso: exige, protesta. Por isso, tenho esperança de que esse momento-chave, em vez de resultar numa burrada, resulte numa redenção para que o Brasil seja um dos países deste século. Istoé - Há mais influência dos brasileiros na sua vida? Valter Hugo Mãe - O Brasil influenciou muito Portugal nas últimas décadas. Ajudou a abrir um país antigo. Nós precisamos dessa energia. Li Clarice Lispector, Guimarães Rosa, Manoel de Barros, Ignácio Loyola Brandão, Drummond. Não sou só o escritor que leu os brasileiros. Para mim foi fundamental o despudor em relação à língua. Em Portugal, somos muito ortodoxos. Não achamos que temos o direito porque não somos ninguém para inventar alguma coisa que Eça (de Queiroz) já não tenha inventado. O português falado pelos outros países é muito mais livre e criativo. Istoé - Como foi a experiência de dormir no quarto de Fernando Pessoa? Valter Hugo Mãe - Foi impactante. Aprendemos a criar um misticismo em torno de Fernando Pessoa. Convidaram-me para dormir no quarto dele, de forma privada, no meio das coisas dele, em Lisboa. Eu estava ali, ao lado da cômoda onde ele escrevia e guardava seus manuscritos. Tenho alguma reticência em acreditar no além, mas há qualquer coisa em mim que me manda acreditar. Istoé - É ateu? Valter Hugo Mãe - Não diria que sou ateu, mas acho que vou até a morte pedindo perdão. Sempre fui muito crente. Queria até ser padre. Queria estar do lado que eu considerava bom. Até os 8 anos tive essa fase estranha. Queria viver nessa dimensão de pureza extrema. Depois percebi que a santidade ia estragar muita coisa em mim. Eu era a criança perfeita. Daquelas que se dissessem “senta aí” esperaria três horas. Quando, aos 10 anos, disse a minha mãe que queria comprar um livro de Alfred Hitchcock, ela ficou preocupada. Foi o primeiro livro que li. Eu era tão contemplativo que minha mãe achou que havia algo errado. “Talvez ele procure num livro a companhia que não consegue ter”, pensava ela. Istoé - Você contou na Flip de 2011 que era pequeno quando viu as primeiras brasileiras fora das novelas. Como foi? Valter Hugo Mãe - Foi especial. Em Paços de Ferreira, onde morei, nada acontece. Todos comentavam da chegada das brasileiras: eram seres mágicos porque sabiam o final das novelas. Era como se elas viessem de um mundo posterior ao nosso. Istoé - Por quê? Valter Hugo Mãe - Havia um sentimento de gratidão em nós. Era estranho elas quererem voltar a viver no passado. Pensávamos: por que elas ainda querem viver nesse tempo que já não é o delas? No verão, elas usavam biquínis mais decotados. Traziam o lado festivo e sabiam fazer pizza. Lá ninguém tinha a receita. Istoé - Por ter nascido em Angola, você sofreu racismo em Portugal? Valter Hugo Mãe - Meus pais são portugueses e moraram em Angola. Nasci lá e regressei pequeno. Fui viver em Paços de Ferreira. Percebi, aos 5 anos, que éramos aquilo que se chamava em Portugal de “os retornados”: pessoas que viviam em Angola ou Moçambique, mas com a Revolução dos Cravos regressavam. Lembro de as pessoas me chamarem de preto, como se eu fosse um negro africano. Era uma forma de racismo. Minha memória mais forte era de uma funcionária da escola. No recreio, eram servidas canecas de leite. Ela nunca enchia a minha caneca e dizia: “Vamos ter que alimentar o preto”. Isso causava uma confusão enorme em mim, porque eu nem lembrava de como eram as pessoas em Angola. Istoé - Você sentiu o preconceito? Valter Hugo Mãe - Descobri que existia gente negra quando, num supermercado, uma senhora me disse: “Vai para a tua terra. Estás aqui a comer o que é nosso. As mulheres em Angola não têm filhos normais. Elas põem ovos. Depois não cuidam deles. Eles que partam a casca.” Fui para casa e perguntei a minha mãe se as pessoas em Angola eram negras. Ela disse sim. Perguntei se eu ia ficar negro. Mas minha mãe disse: “Não, vais ser sempre assim, amarelinho.” Fiquei frustrado. Pensei que, eventualmente, ser negro deveria ser incrível. Eu me olhava e pensava: Uau! E se eu fosse preto?! À noite ninguém iria me ver. Seria o homem-aranha de Paços de Ferreira. _________________________________________ 3# COLUNISTAS 2.7.14 3#1 RICARDO BOECHAT 3#2 LEONARDO ATTUCH - EMOÇÃO ATÉ O ÚLTIMO SEGUNDO 3#3 PAULO LIMA - OS MANOS E A COZINHEIRA 3#4 GISELE VITÓRIA 3#5 BRASIL CONFIDENCIAL 3#6 RICARDO ARNT - FUTEBOL OU POLÍTICA? FUTEBOL 3#1 RICARDO BOECHAT Com Ronaldo Herdy Fim de papo Segue a luta pela taça da Fifa de campeão do mundo, mas outra disputa extracampo acabou no Brasil, com vitória da CBF. Na terça-feira 17, o STJ bateu o martelo de que a 2ª Vara Cível da Barra da Tijuca, no RJ, é competente para julgar processos que envolvam a confederação, já que neste bairro da zona oeste fica a sede da entidade. Portanto, na órbita do TJ-RJ se decidirá a briga sobre o rebaixamento da Portuguesa para a Série B do Brasileirão, em 2013, e outras ações nas quais a CBF é citada. Turismo Receita gorda O Banco Central fechou na semana passada o balanço dos gastos dos estrangeiros no Brasil, nos 18 primeiros dias de junho. Foram US$ 365 milhões, o que significa 24% a mais do que no mesmo período de 2013. Importante ressaltar que a maior parte dos desembolsos foi com cartão de crédito, portanto, será contabilizada em julho, quando as faturas serão pagas e o dinheiro entrará para as estatísticas oficiais. O valor pode assim alcançar a marca de meio bilhão de dólares. Eleições Política regional Para o presidente do PP, Ciro Nogueira, a confusão após a convenção de quarta-feira 25, que aprovou apoio à reeleição de Dilma Rousseff, vem em parte de quem não leu a resolução da Executiva Nacional. “O Artigo 3º estabelece que o 1m e 4s da propaganda eleitoral no rádio e TV nos estados será entregue ao candidato a governador escolhido pelos diretórios regionais, independente do acordo nacional”, enfatiza. Gilberto Occhi – quem? – ministro das Cidades indicado pelo PP, será mantido no cargo. Cultura Contra falsificações O Instituto Brasileiro de Museus criará até dezembro um comitê para avaliar as obras de Aleijadinho. A medida vem no rastro da exposição “Berço do Barroco Brasileiro”, encerrada em maio, em Brasília. Das 140 peças atribuídas ao artista, cerca de 45 não eram originais. É boa iniciativa o trabalho científico e a consolidação das informações, porém, se o grupo não contar com especialistas, inclusive de fora do Iphan, o insucesso é certo. STF Antes da posse Carmén Lúcia Rocha não assumiu ainda a vice-presidência do STF, mas na prática exerce as funções. Como no posto está Ricardo Lewandowski, por quem os sinos de Joaquim Barbosa não tocam, o ainda presidente a tem enviado para missões em nome do órgão. E ela sempre se sobressai, diga-se de passagem. Foi assim na reunião da Comissão Européia para a Democracia através do Direito, em Ouro Preto, em maio, e no encontro de presidentes e magistrados de tribunais constitucionais da América Latina, semana passada, na Argentina. Política Vida dura A mais recente pesquisa eleitoral divulgada no Maranhão deu 58,2% para o ex-deputado federal Flávio Dino (PCdoB) contra 20,7% para Edison Lobão Filho (PMDB), candidato apoiado pelo clã Sarney. No Amapá, sem anunciar que não disputaria a reeleição,o ex-presidente viu análise sobre a corrida ao Senado. Daí a aposentadoria ampla, geral e irrestrita a concorrer a cargo majoritário. África Haja tempo! Na segunda-feira 23, José Mário Vaz assumiu o comando de Guiné-Bissau, país dos mais pobres da África, apesar do potencial de seu mar. No repleto Estádio Nacional 24 de Setembro o presidente anunciou o combate à pobreza como uma das prioridades de seu governo, inspirado em Lula e Dilma Rousseff. Já a cerimônia de posse durou seis horas, no melhor estilo Fidel Castro e Nicolás Maduro. Presídios Literatura na cadeia Na semana em que o STF decidiu que condenados no regime semiaberto não precisam cumprir um sexto de suas penas antes de ter direito de trabalhar fora da prisão, o Conselho Penitenciário do RJ abraçou uma causa e tanto em direitos humanos. Distribuiu 675 livros dos mais variados assuntos, obtidos em campanhas, e os doou ao Presídio Oscar Stevenson, em Benfica, zona norte carioca. Lá 288 mulheres cumprem penas nos regimes aberto e semiaberto. Presídios 1 Páginas soltas Obras na biblioteca, agora o Conselho Penitenciário fluminense luta junto à Vara de Execuções Penais e o Governo do Estado para adotar a remissão da pena por leitura. São Paulo, Paraná, Santa Catarina, Tocantins e a Paraíba fazem isso. “A leitura é libertadora, aumenta a criatividade dos presos e lhes ensina a escrever melhor”, diz Maíra Fernandes, presidente do colegiado. A regra é quatro dias de remissão por livro lido, no limite de 12 obras por ano. Justiça Sem retrocesso Entre os ministros do STF, a grande maioria acredita que Joaquim Barbosa votará pela manutenção do número da bancada de parlamentares existente em 2010, na sessão de terça-feira 1º de julho. A tese do presidente e reinante na Corte é a de manter o princípio da segurança jurídica e da anualidade. São Paulo Derrotada & feliz O Palácio do Planalto transmitiu à prefeita do Guarujá, Antonieta de Brito (PMDB), elogio da equipe da Bósnia, pela forma como foi recebida na cidade paulista. O time que não se classificou na fase de grupos contou até com o reforço do humorista Marcelo Adnet, que liderou a torcida nos jogos. Redes sociais Quadruplicou Brasileiros entre 15 e 24 anos permanecem como a faixa etária predominante e uma das que mais crescem no Facebook no País. Segundo a consultoria Comscore, em maio, 18,6 milhões de pessoas nessa faixa de idade usaram a rede social pelos computadores. O volume representa quase o dobro dos 9,3 milhões nessa categoria que acessavam o “face” em dezembro de 2013, via PCs. Comparando com 2012, o número de usuários mais que quadruplicou. Aviação Civil Chuteiras de ouro a bordo Desde sábado 28, as 16 seleções classificadas para as oitavas de final do Mundial da Fifa voam em jatos da Gol. Na fase de grupos, a aérea dividia com a TAM a preciosa carga, considerando os altos salários dos jogadores participantes do torneio. O contrato de exclusividade com o comitê organizador irá até 13 de julho, dia da final no Maracanã. Medicina Ponto final O TRF da 3ª Região, em sessão presidida pelo desembargador Luís Antonio Johonsom Di Salvo, manteve a cassação do médico Walter Sayeg. Ele perdeu o registro profissional em 1994, sob acusação de falsificar laudos necroscópicos decorrentes de autópsias e exames feitos em cadáveres de presos políticos. Sayeg recorreu à época. Ganhou em primeira instância contra a decisão do Cremesp e do Conselho Federal de Medicina. Agora, morto, não viu sua outra derrota. Fifa Não, Excelência! Os 90 juízes e auxiliares que atuam no Mundial da Fifa também retornam aos seus países na medida em que o torneio avança. Isso era visível na visita ao ­Cristo Redentor no sábado 28, que teve o brasileiro Sandro Meira Ricci como uma espécie de anfitrião. No Brasil, o outro único evento social do grupo foi um jantar na casa de shows Lajedo, em Vargem Pequena, zona oeste carioca. Na ocasião, animados pelo show de Nilze Carvalho, filha de Nei Lopes, alguns árbitros quiseram dançar com as garçonetes. Alegando estar no trabalho, os convites foram um a um recusados. 3#2 LEONARDO ATTUCH - EMOÇÃO ATÉ O ÚLTIMO SEGUNDO Assim como na Copa, as batalhas políticas são decididas no fim e ainda reservam grandes surpresas. Em meio a uma Copa repleta de emoções, com grandes batalhas decididas nos instantes finais, os jogos da política não têm ficado para trás em emoção. Esta semana, por exemplo, começou com uma bola nas costas do PT e do PMDB. “Traída” pelo PTB, de Benito Gama e Roberto Jefferson, a chapa Dilma-Temer perdeu preciosos segundos do horário eleitoral gratuito, mas conseguiu reverter o placar, consolidando as alianças com partidos como Pros, PP, PSD e PR. Um 4 a 1 consistente, mas que só saiu depois de uma substituição polêmica: a do ministro dos Transportes, César Borges, que era considerado um craque pelo Palácio do Planalto, mas perdeu a posição de titular para atender à gritaria da torcida “republicana”. Em São Paulo, Estado que sempre repercute nacionalmente, a partida também ganha emoção, com dois jogadores encenando a peça “Quem fica com José Serra?”. Enquanto o governador defende que Serra seja vice de Aécio Neves, o presidenciável tucano o empurra para a vaga no Senado do governador paulista. Alckmin pretende escalar o ex-prefeito Gilberto Kassab, fechando assim uma ampla coalizão com PSB e PSD. Aécio, por sua vez, parece não desejar um vice que teria excessiva fome de bola e estaria sempre afoito para entrar em campo. Atento a esses movimentos, o estrategista Kassab colocou no aquecimento o experiente Henrique Meirelles, ex-presidente do Banco Central. No Rio, a confusão é ainda maior e a disputa virou uma pelada de rua, onde ninguém sabe mais quem joga em que time. Até recentemente, todos eram Dilma desde criancinha. Mas o governador Luiz Fernando Pezão fortaleceu o movimento “Aezão” ao fechar uma inusitada aliança com o veterano Cesar Maia. O petista Lindbergh Farias, que vinha sendo menosprezado pelo Planalto, surpreendeu a todos ao lançar a bola em profundidade para ninguém menos que o rei da pequena área – ele mesmo, Romário, que é ligado a Eduardo Campos. E o ex-governador Anthony Garotinho diagnosticou que Dilma poderia ficar isolada, enquanto o prefeito Eduardo Paes falou em “bacanal eleitoral”. Pelo Brasil afora, caneladas, cotoveladas, mordidas e dribles sensacionais têm marcado a disputa política. No Distrito Federal, havia a expectativa de que o ex-governador José Roberto Arruda fosse julgado na quarta-feira 25, num processo ligado à Operação Caixa de Pandora. Se fosse derrotado, levaria o segundo amarelo e ficaria de fora da final, mas seus advogados adiaram a decisão, livrando Arruda da posição de impedimento. No Amapá, o quase eterno José Sarney anunciou que estaria pendurando de vez as chuteiras. Mas ainda há quem acredite que ele esteja apenas esperando o grito da torcida para que siga em campo. Como no futebol, o jogo só acaba quando termina. 3#3 PAULO LIMA - OS MANOS E A COZINHEIRA Paulo Lima é fundador da editora e da revista Trip Você conhece as armas ocultas na preparação dos maiores craques da Seleção Brasileira?. Esta edição de IstoÉ circula exatamente na quarta semana da Copa no Brasil. Se há alguma coisa de que não precisamos num momento como este, é de mais um palpiteiro tentando desvendar os segredos inexpugnáveis do “outro lado do mundo da bola”. Dito isso, cabe explicar que, apesar de admirar profundamente os mistérios e a graça do fenômeno místico/físico/sociológico popularmente conhecido por futebol, não sou do tipo que acompanha jogos pela tevê nas quartas-feiras, vai a estádios com alguma frequência ou manda torpedos caçoando dos colegas de trabalho cujos times perderam um jogo do campeonato. Tenho preguiça de ler sobre os jogos e mudo de canal na hora dos gols nos programas de domingo. Importante frisar: gosto muito de futebol, mas não gosto tanto de tudo o que há em volta dele, em especial o excesso de teorização, os sábios de mesas redondas, mitificadores profissionais, comentaristas grosseiros, torcedores agressivos , estádios perigosos, uniformes cheios de marcas, dirigentes estúpidos e corruptos com cara de mafiosos de filme de Mazzaropi e outras mazelas e chatices. Assim, procuro focar em alguns assuntos e personagens, como se fechasse a lente em busca de proteger e resgatar algo que tende a se perder no meio de tanto dinheiro e da ignorância que o futebol foi magnetizando ao longo das décadas. Seleção, claro, é algo acima de tudo isso, mas mesmo nela costumo dedicar atenção muito mais ao comportamento de figuras como o genial e enigmático Murtosa, uma espécie de “Mini-Me” , ou uma versão futebolística do Mionzinho, que, em vez de sombrear Marcos Mion, está sempre ao lado de Felipão. O rosto do médico Runco, por exemplo, também sempre me intrigou. Passaria ele as noites em claro arrumando frascos de remédios e bandagens? Aproveitaria ele o fato de não ter de obedecer às regras rígidas impostas aos atletas e sairia das concentrações para noitadas sem fim? De onde, afinal, se originaria aquela expressão um pouco cansadae abatida de quem administra uma ressaca ou algo parecido? Bem, todo esse introito para dizer que essa característica de uma espécie de outsider futebolístico que ao mesmo tempo aprecia a arte talvez tenha sido fundamental para que eu saboreasse mais ainda um convite tão inesperado quanto irresistível: passar cerca de 72 horas acompanhando a equipe do programa “Caldeirão do Huck” no encalço de alguns dos mais valorizados e festejados homens do futebol mundial. A correria dessa visita rapidíssima a Londres e Barcelona gerou boas matérias no programa da TV Globo mencionado. O relato mais completo do que vi conhecendo um pouco da vida de David Luiz, Paulinho, Oscar e Neymar está numa longa reportagem na edição deste mês da revista de bordo da Gol, que gentilmente autorizou a publicação da foto ao lado. Mas há algo que ficou muito patente para mim, depois de vivenciar essa experiência única. Se tivermos algum êxito nesta Copa, ele terá uma dívida grande com uma turma que quase não aparece nas reportagens e nos álbuns de figurinhas: os amigos de infância e as cozinheiras brasileiras. Talvez a única coisa absolutamente igual no “lifestyle” dos nossos jogadores que vivem no Exterior (100% entre os quatro que visitei) seja a presença de um ou mais amigos de infância ao lado dos nossos garotos. Na imagem que você vê, por exemplo, além de Oscar e de um dos rostos mais conhecidos do Brasil, estão os incríveis Juninho e Boca. O segundo chegou a jogar bola seriamente, mas não teve tanto sucesso quanto o amigo. Juninho só bate bola de brincadeira. Ambos nunca tinham saído de Americana, interior de São Paulo, até aceitarem o convite do amigo famoso e irem passar alguns meses estudando inglês e curtindo ao lado de Oscar uma das fases mais intensas de sua vida, a espera pela Copa e pela primeira filha. Assim como Oscar tem a dupla Juninho e Boca, Neymar tem o já quase famoso Gil Cebola vivendo com ele e a família em Barcelona, e Paulinho importou o dele diretamente do bairro paulistano da Vila Guilherme. Os amigos de infância parecem exercer papel-chave no bem-estar dos nossos astros do futebol expatriados. São um elo importante dos atletas com suas origens tão diferentes e distantes do Velho Mundo. A moça que é vista no fundo da foto é outra figura fundamental na comissão técnica do nosso craque da camisa 11. É a governanta e cozinheira brasileira Marizete. Ela conta que deixou a tão famosa quanto perigosa região do Capão Redondo, na zona sul da periferia paulistana, muitos anos atrás. Na Inglaterra casou, separou e se formou enfermeira. Trabalhava como cuidadora de idosos até receber o irresistível convite do jovem futebolista com nome de troféu hollywoodiano. Lá está, cuidando com feijão, arroz, frango à milanesa e macarrão, do garoto, dos dois amigos e das visitas. Acredite, se formos bem nesta Copa com um time de meninos em que mais de 80% dos jogadores vivem longe da terrinha, gente como Boca, Juninho, Marizete e muitos outros anônimos sangue bom, terão muito a ver com isso. 3#4 GISELE VITÓRIA Gisele Vitória é jornalista, diretora de núcleo das revistas ISTOÉ Gente, ISTOÉ Platinum e Menu e colunista de ISTOÉ Copa animal Enquanto a seleção brasileira luta pelo hexa, a top Fernanda Tavares veste a camisa verde e amarela e levanta a bandeira pelo fim dos testes com animais na indústria de cosméticos. “Essa crueldade envergonha o Brasil. Tem que acabar”, diz ela. “A Copa é o maior show do planeta. Como o futebol é o idioma comum dos brasileiros, usei a camisa para alcançar o público e pedir aos senadores que aprovem o projeto de lei e acabem com os testes”. Fernanda foi nomeada embaixadora da Humane Society International para a campanha internacional “Liberte-se da Crueldade Brasil”. Assumirá a frente para que a lei estadual, já sancionada pelo governador de São Paulo Geraldo Alckmin, passe pelo Senado e vire lei federal. Ela já se reuniu com o Ministro da Justiça José Eduardo Cardozo e outros políticos e está otimista com a aprovação do projeto. Balas Van Persie, Blatter e O copa na Copa Na quarta-feira 25, o craque holandês Van Persie enlouqueceu o público de plantão na frente do Copacabana Palace enquanto deixava o hotel no Rio em seu dia de folga. No domingo 15, o jogador que eliminou a Espanha também tietou Seedorf no restaurante Pérgula à beira da piscina. O Copa, QG da FIFA, hospeda Joseph Blatter, que , segundo os garçons, pouco sai do hotel quando está no Rio. Final com ópera de Plácido Domingo Mesmo com a eliminação da Espanha, Plácido Domingo vai assistir à final da Copa do Mundo no Brasil. Apaixonado por futebol, o tenor espanhol programou o concerto no “Concert In Rio 2014”, às vésperas da final, no dia 11 de julho, na HSBC Arena, para já estar no Rio e poder ir ao Maracanã. Antes, porém, ele recebe uma homenagem especial da Associação Brasileira de Artistas Líricos pelo conjunto da obra de sua carreira e planeja visitar o Cristo Redentor. “Ele é a realeza, eu sou a realidade” Sabrina Sato foi uma das seis pessoas escolhidas pela Embaixada Britânica para recepcionar o Príncipe Harry na festa que celebrou em São Paulo o aniversário da Rainha Elizabeth II. Antes do jantar para 200 pessoas, a apresentadora esteve em uma sala reservada com Harry, com quem dialogou em inglês por três minutos. Famosa por nada saber do idioma e sempre chegar atrasada, ela brincou que usou toda a sua pontualidade e “inglês britânico”. “Fiquei encantada. Ele fala olhando nos olhos”, disse. Ao príncipe, ela foi apresentada como uma “popstar brasileira”. Contou a ele sobre seu programa e que é rainha de bateria no Carnaval. “Eu o convidei para vir aos desfiles e ele disse que tem curiosidade e gostaria muito”. E Harry a teria convidado para Buckingham? “Até parece, né? Sou @sabrinareal. Ele é a realeza, eu sou a realidade”, disse, aos risos. Baby boom A cantora Sandy e a top model Fabiana Semprebom estão felizes da vida. Elas estrelam o baby boom da temporada. Sandy anunciou o nascimento de Theo Scholles Lima, seu filho com Lucas Lima, pelo facebook. Logo após o parto em um hospital de Campinas, ela postou: “Nasceu nosso meninão. Veio lindão, com 48,5cm, pesando 2,9kg e cheio de saúde! A cesariana foi tranquila e estou muito bem! Estamos felizes demais e loucos pra curtir cada segundo com o filhote!”. O bebê de Fabiana Semprebom, Juan Semprebom Cañas, veio ao mundo medindo 53cm e pesando 3,6 kg. “Mudou tudo. Durmo pouco, mas vale a pena. Não trocaria uma hora a mais de sono por cada momento com ele”, diz a top. O pai, o tenista Guilhermo Cañas, acompanhou o parto normal, em Miami. “Ele cortou o cordão umbilical e me deu o Juan nos braços. Chorei muito ao ver a carinha dele, loirinho, dos olhos azuis”, conta a modelo. Freud explica e Selton filma Estréia em 4 de agosto no GNT a terceira temporada de “Sessão de Terapia”. Desta vez o roteiro é 100% brasileiro. Até agora a série era uma adaptação da versão israelense. A direção prossegue nas mãos do ator Selton Mello, que já comandou 115 episódios. ISTOÉ – Você é adepto de psicoterapia? Selton Mello – Sim, faço há a alguns anos e indico para todo mundo. Autoconhecimento é fundamental para qualquer pessoa. ISTOÉ – Para dirigir a série você fez laboratório de psicanálise? Selton Mello – Não foi preciso. Eu já era bastante ligado ao universo da psicanálise quando a série surgiu na minha vida. Mas sem dúvida a minha vivência pessoal nesse campo foi decisiva no meu olhar afetuoso sobre todos os personagens que desenvolvemos. Fiz minha pós-graduação em direção com esse trabalho. ISTOÉ – Quais são os próximos passos? Selton Mello – Como ator, preparo um filme com Seu Jorge chamado “Soundtrack”, que será rodado na Islândia no início de 2015. Tenho um projeto com um diretor que admiro bastante, José Luis Villamarim. Será estréia dele no cinema. Também trabalho no levantamento de meu próximo filme como diretor, baseado no livro “Um Pai de Cinema” do escritor chileno Antonio Skármeta, mesmo autor de “O Carteiro e o Poeta”. E ainda estudo novas possibilidades, entre elas quem sabe mais uma temporada da série, se todas essas datas funcionarem bem. 3#5 BRASIL CONFIDENCIAL Por Paulo Moreira Leite O documento mais aguardado Até o encerramento do expediente de quarta-feira, 25, Joaquim Barbosa ainda não havia entregado ao Ministério da Justiça seu pedido de aposentadoria como ministro do Supremo Tribunal Federal. Embora já estejam em circulação listas anônimas com nomes de candidatos à vaga que será aberta no STF, nenhum movimento de caráter oficial – nem mesmo uma conversa exploratória – pode ser iniciado antes da formalização da saída. Conhecedor do gosto do ministro por futebol, o governo acredita que a documentação será entregue no início desta semana. Mas quem conhece o gosto de Joaquim Barbosa por criar momentos de suspense admite que é bom não confiar demais nessas previsões. Na bancada da bala A chamada “bancada da bala” do Congresso fez consulta à Receita Federal para saber quanto custaria ao governo arcar com as despesas da renovação do porte de arma de policiais aposentados. Os parlamentares da frente de segurança pública fazem pressão a favor de uma parcela da categoria policial que trabalha na iniciativa privada fazendo segurança. A força em torno de Haddad A velha guarda do PT considera que a Prefeitura de São Paulo é administrada por um círculo de seis auxiliares que contam com a confiança absoluta de Fernando Haddad. Sem maiores compromissos com o próprio partido, eles protegem Haddad contra interferências petistas. Na linha da igualdade O ministro Luiz Roberto Barroso pretende abandonar o controle direto sobre a execução das penas dos condenados da AP 470, transferindo para a juíza Leyla Khoury, titular da Vara de Execuções Penais do Distrito Federal, atribuições que Joaquim Barbosa mantinha perto de si. Barroso vai deixar que Leyla Khoury tenha a palavra final sobre o direito dos presos a dar entrevistas e depoimentos – o que era proibido até aqui. A lei manda que toda entrevista seja autorizada – ou não – pelo juiz. Barroso não pretende interferir na autoridade da magistrada, mas avisa: “Quem vai resolver é a titular da VEP. Mas a regra que for aplicada a um prisioneiro deverá ser aplicada aos demais.” A necessidade de impor um regime de igualdade quase absoluta entre prisioneiros foi argumento de Barroso para negar pedido de prisão domiciliar a Genoíno. Fim do monopólio Aprovado em abril de 2013, o Estatuto da Juventude pode sofrer emendas ainda este ano. A motivação para mudanças no texto é política. Partidos da base do governo consideram que o PCdoB foi o grande favorecido do Estatuto, ao limitar à União Nacional dos Estudantes a emissão da carteira que concede pagamento de meia-entrada em eventos culturais. Parlamentares abraçaram projeto do deputado Ademir Camilo (PROS-MG) que amplia o número de entidades emissoras da carteirinha. A proposta tem adesão de muitos partidos; só o PCdoB se empenha para barrar o projeto. Dissidência brizolista O ingresso de Cesar Maia na aliança com Pezão está ameaçado por parte da fatia do PDT carioca, que venera a memória de Leonel Brizola. Na lista de diversos inimigos que Brizola acumulou na vida pública – onde também deixou uma legião de admiradores –, Maia ocupou um lugar destacado. Inconformados, os brizolistas ameaçam abandonar a chapa formalmente, privando o candidato do PMDB daquele minuto e alguns segundos de tempo de tevê a que teria direito. O autor da Copa das Copas Toda vez que se pronuncia a frase “Copa das Copas”, o publicitário Nizan Guanaes ganha um ponto em Brasília. A expressão é de sua lavra e foi adotada por Dilma Rousseff e Aldo Rebelo num tempo em que a Copa era vista como um estorvo. Historicamente tucano, Nizan aproximou-se do governo depois que adquiriu a CDN, titular da publicidade externa do governo brasileiro. Apressado O PSDB de Goiás ganhou um puxão de orelha por usar o horário de divulgação do programa do partido para enaltecer o governador Marconi Perillo, candidato à reeleição. Em vez de falar do PSDB, o horário tucano veiculou imagens de viadutos e rodovias feitas no governo Perillo. Toma lá dá cá Deputado Fábio Trad (PMDB-MS). ISTOÉ – O PMDB do Mato Grosso do Sul vai seguir a aliança nacional com o PT? Trad – Não. Aqui estamos fechados com o PSB e apoiaremos a candidatura de Eduardo Campos. ISTOÉ – O sr. prevê constrangimentos com Michel Temer, quando ele visitar o estado como vice de Dilma Rousseff? Trad – O Michel vai pedir votos para o PMDB, mesmo se o PMDB não pedir voto para ele. Esse é o acordo que foi feito. Por mais que o Michel Temer seja grande, o PMDB vai ser maior. ISTOÉ – Dilma não terá palanque do PMDB no estado? Trad – O governador André Puccinelli é “dilmista”, vai fazer um palanque à parte. Isso é a demonstração mais eloquente da política partidária do país. Rápidas A equipe econômica não está em festa, mas comemorou, muito discretamente, a queda dos índices do IPC-Fipe que foi divulgada na semana passada. Os números mostram um índice vizinho de zero nos preços do atacado, queda mais forte do que era esperado. Em função do fim de semana e dos feriados, a previsão é que na quarta-feira 2, José Dirceu tenha direito a deixar a Papuda pe­­la primeira vez, desde 15 de novembro, para assumir seu posto de trabalho no escritório do advogado José Grossi. No Ministério da Saúde, a chegada de Arthur Chioro, provocou uma disputa interna entre os técnicos da pasta. A leitura é clara: diante de possíveis desacertos da equipe, vai sobrar para o ministro. A saída de Joaquim Barbosa do comando do Conselho Nacional de Justiça enterra a ameaça da proibição dos filhos de ministros que são advogados de atuarem nos tribunais onde os pais componham o pleno. A assessoria do ministro chegou a fazer um levantamento com 32 nomes que seriam o alvo da resolução proibitiva. Retrato falado Enquanto José Sarney anuncia que não participará da campanha para o Senado, seus aliados explicam que a presença do ex-presidente no Legislativo é só um adereço. Para eles, é pela atuação nos bastidores que Sarney faz a diferença. Max Barros (PMDB-MA), deputado estadual e ex-secretário de Infraestrutura do governo Roseana Sarney, afirma que longe da corrida eleitoral o senador vai fazer de tudo para eleger Lobão Filho (PMDB-MA) governador do Maranhão – e que essa é sua real prioridade. “Ele terá mais tempo para fazer campanha no Maranhão, se não concorrer no Amapá. Há muito tempo ele não entra nessa refrega eleitoral. O problema é que o Senado não mais terá Sarneys”. Lei da física no Ceará Adversários dos irmãos Gomes acreditam que a lei que impede dois corpos de ocupar o mesmo lugar no espaço vai cobrar seus direitos na campanha eleitoral do Ceará. Ciro Gomes montou uma aliança com 23 partidos, mas ninguém acha que será possível agradar a todos durante todo o tempo. De olho no voto imigrante De acordo com levantamento da Prefeitura de São Paulo, cerca de 300 mil bolivianos vivem na cidade e, de olho em eleitores potenciais, o governo do país vizinho decidiu montar postos de cadastramento eleitoral para coletar seus votos. O Ministério da Justiça vai ajudar, fazendo uma campanha para orientar os imigrantes sobre o direito de votar no Brasil. 3#6 RICARDO ARNT - FUTEBOL OU POLÍTICA? FUTEBOL É melhor aproveitar cada instante de jogo bonito da Copa. Faltam craques para driblar o jogo feio da política que vem aí. Para quem gosta de futebol, os 5 a 1 de Holanda x Espanha, os 2 a 1 de Itália x Inglaterra, os 4 a 0 de Alemanha e Portugal e o gol de Messi contra o Irã já valeram a Copa. Esses foram jogos espetaculares e inesquecíveis, cheios de estilo, drama e acaso, com direito às cintilações do imaginário global, numa espécie de encenação olímpica do “concerto das nações”. Até agora a Copa tem se revelado uma festa ensolarada enfeitada por estrangeiros felizes com os jogos, com a eficiência do metrô, com os brasileiros, a caipirinha, Copacabana, Vila Madalena e a Bahia. Nenhuma arquibancada desmoronou, não houve arrastão em aeroporto, Angela Merkel não levou uma garrafada e “o rei da Suécia não morreu de dengue”, como escreveu Antônio Prata. Independentemente da sorte do Brasil nas oitavas de final, ainda teremos jogos sensacionais. Com perdão do clichê, o importante é mesmo competir, isto é, levar-se a sério, jogar o melhor possível e não fazer feio – como Japão x Grécia. Diante das seleções do primeiro parágrafo (que tampouco são estáveis), as chances brasileiras não parecem entusiasmantes, mas poderemos brilhar, sim. Quando o jogo é limpo, a Costa Rica pode bater a Itália, o Uruguai e a Inglaterra. Mas o melhor de tudo, de longe, é que, enquanto a Copa encanta chilenos, croatas, mexicanos, holandeses e colombianos, podemos olhar de esguelha para o iminente colapso da economia argentina que nos arrastará ao inferno, para o avanço sunita rumo a Bagdá e à terceira guerra mundial e para o dilema de Gilberto Kassab entre apoiar Geraldo Alckmin ou Paulo Skaf. Não nos iludamos. Tão logo a Copa acabe, voltaremos ao pau de arara do debate político e à sucessão de pânicos, vandalismo, intolerância e inflação. Podemos escapar do blecaute de energia, do fim do investimento estrangeiro direto, da tempestade perfeita, da irresponsabilidade fiscal, do aparelhamento do Supremo Tribunal Federal, do leilão do campo de Libra, da falta de água na Cantareira, da depredação dos ônibus e das lixeiras, das vaias à presidenta, do avanço do bolivarianismo e dos trens da Alstom. Mas do ajuste final, da conta apocalíptica do fim dos preços represados, da mãe de todas as recessões que vem aí, i-ne-xo-ra-vel-men-te, não haverá saída. Esperem até depois das eleições. Será o caos com juros! Como sabemos, não há almoço grátis, o cobertor não dá para todos, etc., etc. Depois que os preços aumentarem, elevaremos os juros para segurar a inflação e cortaremos os gastos públicos para pagar juros. A recessão gerará desemprego e melhorará a competitividade pelo barateamento da mão de obra. “Não há saída”, repete o coro ditirâmbico dos economistas que governam para o mercado, não para a sociedade. Pode ser diferente? É claro. Basta que cada um deixe de fazer precisamente o necessário para que aconteça a desgraça que pretende evitar e respeite o adversário. Basta procurar consenso, prestigiar as pontes entre o governo e a oposição – não narcisistas pagos para babar perdigotos –, fortalecer as instituições e não depredá-las. Mas, como faltam craques para driblar o jogo feio da política, o melhor a fazer é aproveitar cada instante de jogo bonito da Copa. Ricardo Arnt é diretor da revista Planeta _________________________________________ 4# ESPECIAIS - COPA 2014. 2.7.14 4#1 O PESO DA JUVENTUDE 4#2 COPA NA ESTRADA 4#3 UMA VAMPIRESCA COMPULSÃO: O CRAQUE E O MONSTRO 4#4 CADÊ ELES? 4#5 JOGANDO POR GRANA 4#6 FUTEBOL COM VISTA PANORÂMICA 4#7 SAUDADES DO MUNDIAL 4#8 O ORGULHO DA CIDADE RETORNA 4#1 O PESO DA JUVENTUDE À exceção de Pelé, nenhum outro jogador foi a estrela maior de uma seleção campeã do mundo sendo tão jovem quanto Neymar. Até que ponto a idade pode ser decisiva em uma Copa? Amauri Segalla (asegalla@istoe.com.br) "Juventude é uma coisa maravilhosa. Que pena desperdiçá-la com jovens.” Ninguém definiu tão bem as duas faces da pouca idade quanto o dramaturgo irlandês Bernard Shaw. Aos 22 anos, Neymar é um sujeito impetuoso, ousado e criativo. Mas, tão jovem assim, terá maturidade suficiente para carregar o Brasil nos ombros até o título mundial? A história das Copas escancara o desafio que o maior craque brasileiro tem pela frente. À exceção de Pelé, ninguém conseguiu ser a estrela maior da seleção campeã com apenas 22 anos. O Rei do futebol tinha 17 em 1958, e mesmo assim ele só foi escalado na última partida da fase de grupos. As maiores lendas da história do esporte demoraram muito mais para atingir o auge. No Mundial do Chile, em 1962, Garrincha teve algumas das maiores atuações individuais da história das Copas. Tinha 29 anos. Nos Estados Unidos, em 1994, Romário exibiu seu imenso talento com 28 anos. Maradona ganhou sozinho o Mundial de 1986, no México, aos 25. Depois de Pelé, os mais jovens a ser estrela máxima de uma Copa foram o argentino Mario Kempes, em 1978, no campeonato disputado em seu próprio país, e o uruguaio Ghiggia, no Mundial de 1950, no Brasil. Contavam 23 anos. A favor de Neymar pesa o histórico impressionante de recordes. Depois do jogo contra Camarões, ele somou 35 gols com a camisa da Seleção. Superou, por um mês, o Rei Pelé. Zico precisou de 29 anos para chegar a essa marca. Romário, 30. Neymar já é o sexto maior artilheiro do Brasil, adiante de gente grande como Rivaldo, campeão mundial em 2002, na Copa da Ásia, Jairzinho, artilheiro brasileiro na Copa de 1970, no México, e Ronaldinho Gaúcho, eleito duas vezes o melhor jogador do mundo. Neymar parece ter mesmo apenas Pelé à sua frente. Depois do maior craque de todos, é o camisa 10 mais novo do Brasil em Copas. Zico, um 10 clássico, tinha 29 anos no Mundial de 1982, quando ostentava o mítico número. Até no campo financeiro Neymar quebra marcas. Segundo a revista americana “Forbes”, o craque, que no Barcelona fatura US$ 20,5 milhões por ano, é o jovem esportista mais rico do planeta. RARO - O craque comemora um de seus gols contra Camarões: depois de Pelé, é o mais jovem jogador a vestir a camisa 10 do Brasil em uma Copa Por mais que esteja acostumado a frequentar o topo, não é simples, com apenas 22 anos, conduzir uma seleção do tamanho do Brasil, ainda mais diante da própria torcida. “É sem dúvida um peso enorme, mas Neymar parece ser aquele tipo de jogador que não tem medo”, diz Carlos Alberto Torres, o capitão do tri. O técnico Luiz Felipe Scolari fica irritado quando perguntam sobre a maturidade – ou a falta dela – do principal jogador do Brasil. “Neymar é um menino que sempre assumiu suas responsabilidades”, diz Felipão. Para o lateral-direito Daniel Alves, colega do craque no Barcelona, o talento excepcional é suficiente para superar a falta de anos vividos. “Ele nasceu para jogar futebol, é um cara que parece ser de outro mundo”, diz Daniel. Em entrevista recente, o zagueiro David Luiz disse que o que mais impressiona em Neymar é o fato de ele jamais se omitir. O craque pode estar até num dia ruim, mas jamais se esconde. “Esses caras são únicos, fazem a diferença”, afirma David Luiz. O caso Neymar é ainda mais simbólico diante da escassez de gênios na atual Seleção Brasileira. Em 1962, Garrincha jogou ao lado de monstros como Nilton Santos, Didi, Vavá e Amarildo. Em 1994, Romário tinha Bebeto, outro atacante extraordinário, para servi-lo. Em 1970, é covardia fazer comparações: Pelé trocava passes com Rivelino, Tostão, Gérson e companhia. Em 2002, Ronaldo Fenômeno brilhou na conquista do penta, mas ladeavam com ele estrelas como Rivaldo e Ronaldinho Gaúcho. Sobre Ronaldo, vale lembrar de sua convulsão, em 1998, no mesmo dia da final contra a França. Ronaldo tinha então 21 anos. Além da juventude, Neymar tem agora o desafio de ganhar a Copa ao lado de Oscar, Luiz Gustavo e Fernandinho, indiscutivelmente bons jogadores, mas que não parecem destinados a entrar na lista dos gigantes do futebol brasileiro. Quem foi próximo diz que Neymar é bom de cabeça. Em entrevista à BBC, a psicóloga Juliane Fecchio, que trabalhou com o craque quando ele jogava no Santos, relatou a surpreendente capacidade de Neymar dormir nas horas que antecedem partidas importantes. Enquanto os outros jogadores demonstravam ansiedade natural, Neymar apagava. O tricampeão mundial de Fórmula 1 Ayrton Senna, lenda do esporte nacional, fazia algo parecido. Antes das corridas, Senna tirava uma soneca dentro do próprio carro. Que Neymar é um talento especial, está mais do que provado. Resta saber até que ponto a juventude será decisiva para as ambições brasileiras na Copa. 4#2 COPA NA ESTRADA Em busca de aventuras, belas paisagens ou economia, torcedores latino-americanos deixam o avião de lado e recorrem às estradas brasileiras para seguir suas seleções Paula Rocha (paularocha@istoe.com.br) e Fabíola Perez (fabiola.perez@istoe.com.br) Uma invasão estrangeira está mudando a paisagem de várias cidades brasileiras. Turistas internacionais, especialmente latino-americanos, têm lotado estradas e ruas do País a bordo dos mais variados veículos. São trailers, motorhomes, vans, ônibus, carros customizados e até taxis com placas de fora do Brasil transportando torcedores que aproveitaram a Copa de 2014 para cair na estrada. Apesar das enormes distâncias que separam algumas das cidades-sede do Mundial, turistas de várias nacionalidades estão percorrendo milhares de quilômetros Brasil adentro, em busca de aventuras, belos visuais ou tarifas mais baixas do que as oferecidas pelas companhias aéreas. Mas sempre movidos pela paixão pelo futebol. SOBRE RODAS - Argentinos improvisam beliche dentro de van para viajar pelo Brasil sem perder os lances de Lionel Messi e companhia Munidos de bandeiras, faixas e muita animação, esse contingente entrou no Brasil pelas cidades de fronteira. De acordo com a Polícia Rodoviária Federal, desde que a Copa começou, aumentou o movimento de automóveis nessas regiões que são porta de entrada para nossos torcedores vizinhos. Por Foz do Iguaçu (PR), mais de três mil chilenos chegaram ao País de uma só vez, em uma caravana que reuniu mais de 800 carros. De lá, foram seguindo os passos da “La Roja”, como é conhecida a seleção chilena, até aportarem em Belo Horizonte, para a partida contra o Brasil nas oitavas de final. Pelo Estado do Rio Grande do Sul, de 22 a 27 de junho, 25 mil argentinos cruzaram a fronteira. Apenas na quarta-feira 25, dia da partida contra a Nigéria, a Prefeitura de Porto Alegre registrou a chegada de 36 mil veículos hermanos. Ruas e avenidas da capital foram tomadas por mais de 120 mil compatriotas de Lionel Messi, que não economizaram na festa após a vitória por 3 x 2. MARATONA - Os chilenos Michel Diaz (dirigindo) e Pablo Barrios já percorreram mais de 9 mil km atrás da seleção do Chile Para aproveitar a Copa e seguir de perto a seleção do coração, vale tudo. Até vir da Colômbia de bicicleta. Foi o que fizeram 13 torcedores de Barranquilla. Eles andaram 1,4 mil quilômetros de bicicleta e os 8 mil km restantes num ônibus personalizado, com as cores do país de origem e detalhes do Mundial. A turma já contabiliza mais de 30 dias de aventura. No Brasil, pedalam em média cinco horas por dia de bicicleta e depois fazem 500 km de ônibus. O destino é o próximo jogo da sua seleção. Mas nem precisa de tanta organização para cair na estrada. Quatro amigos uruguaios decidiram uma semana antes do Mundial pegar o carro de um deles, sair de Montevidéu e percorrer 5,5 mil quilômetros para acompanhar a Celeste. A base na primeira fase foi Natal, a mesma do time. Muitos turistas têm se virado como podem para realizar tarefas diárias básicas, como comer, dormir ou tomar banho. Na caravana de chilenos que atravessa o País, vários levam seus próprios fogões a gás e mantimentos e tomam banho de mangueira. “Pelo menos aqui a água não é tão gelada quanto no Chile”, disse Francisco Cabrera, 34 anos, um dos chilenos que seguiam na carreata e que estava acampado no Sambódromo do Anhembi, em São Paulo, no dia 25 de junho. PEDALA - Torcedores vieram da Colômbia de bicicleta, tendo como apoio um ônibus Já os torcedores da Argentina têm se destacado pela criatividade e pelo “jeitinho argentino” na hora de viajar. Para não gastarem com hospedagem nas cidades por onde passam, um grupo de jovens instalou um beliche dentro da van que dirigem desde Córdoba. Antes, no Rio de Janeiro, hermanos motorizados ocuparam quase todos os espaços de estacionamento da orla de Copacabana, num movimento nunca antes visto. Alguns chegaram a dormir na areia da praia, mas a farra acabou quando a Prefeitura do Rio proibiu a permanência dos veículos no local. Havia trailers em péssimo estado de conservação – e isso não está sendo incomum. Carros muito desgastados, que não passariam pela inspeção veicular nacional, têm circulado pelas estradas e cidades-sede do País. Mesmo assim, a Polícia Rodoviária Federal afirma que ainda não aplicou nenhuma multa em veículos estrangeiros. Na noite da quinta-feira 26, porém, um argentino de 72 anos morreu e outros três ficaram feridos em acidente na BR-290 em Uruguaiana (RS). Foi o primeiro acidente registrado com turistas nas rodovias federais. CARONA - Grupo de uruguaios em Natal: improviso para seguir a celeste A maioria desses torcedores estradeiros tem em comum a paixão pela seleção de seu país e a sede por aventura. Caso dos chilenos Pablo Barrios, 35 anos, e Michel Diaz, 34, que estão na estrada desde o dia 6 de junho. Em 20 dias de viagem, já percorreram mais de nove mil quilômetros e enfrentaram temperaturas que variaram de cinco graus negativos, na região dos Andes, até mais de 35oC, em Cuiabá. Ambos destacam a hospitalidade do povo brasileiro como fator decisivo para que tudo esteja correndo bem. “Não trouxemos mapa ou GPS, então temos que descobrir os caminhos apenas lendo as placas ou perguntando. Mas todo mundo ajuda e até agora deu certo”, afirma Diaz.  4#3 UMA VAMPIRESCA COMPULSÃO: O CRAQUE E O MONSTRO O que faz um jogador de alto nível e de tanto talento como Luis Suárez perder totalmente o controle em campo e atacar seu adversário às dentadas como se fosse um pit bull raivoso Yan Boechat (yan@istoe.com.br) O atacante uruguaio Luis Suárez é um jogador diferenciado. Sua habilidade, combinada com um raro faro de gol, e a intensidade típica dos uruguaios o transformaram em um dos goleadores mais temidos do futebol europeu, onde joga há quase dez anos. Nesta Copa, chegou como dúvida por conta de uma operação que fizera no joelho um mês antes do início da competição, mas precisou de apenas um jogo para mostrar que poderia ser uma das sensações do Mundial. Tudo ia bem até Suárez abandonar, em uma fração de segundo, o seu lado de craque para se transformar em uma fera descontrolada que ataca os oponentes a dentadas. A cena do jogo em que o Uruguai venceu a Itália por 1 x 0 em Natal, na terça-feira 23, e captada por uma das 34 câmeras da Fifa que registram tudo o que acontece em campo, chocou o mundo não só pela agressão absolutamente inusitada, mas principalmente por essa ser a terceira vez em menos de cinco anos que o maior jogador uruguaio em atividade avança sobre seus marcadores como um pitbull raivoso. MARCAS Suárez trombou com Chiellini na pequena área e, do nada, deu-lhe uma dentada no ombro A Fifa agiu de forma rápida e dura. Em menos de 48 horas após o fim da partida anunciou a punição de Suárez: suspensão de nove partidas, multa de 100 mil francos suíços e o banimento por quatro meses de qualquer evento ligado ao futebol. Se cumprida à risca, a decisão da Fifa impede que Suárez vá a um estádio de futebol até mesmo para assistir a um jogo como espectador. A punição exemplar, no entanto, não oferece nenhuma garantia de que o atacante da Celeste entenderá, de uma vez por todas, que morder os adversários em campo talvez seja levar um pouco a sério demais a estratégia de irritar os zagueiros. Pouco mais de um ano atrás, Suárez tomou dez jogos de suspensão por ter mordido o zagueiro do Chelsea, Branislav Ivanovic. Quando deu dentadas em um zagueiro do PSV em uma partida pelo campeonato holandês em 2010, recebeu pena de sete jogos. Para psicólogos, o atacante uruguaio voltará a morder zagueiros se não fizer um tratamento de longo prazo “E esta não foi a última vez. Suárez vai voltar a morder em campo”, afirmou o professor de psicologia da Universidade de Salford, na Inglaterra, Thomas Fawcett. O psicólogo ganhou fama nesta semana por ter sido o primeiro a prever que a compulsão do atacante uruguaio em morder seus adversários se manifestaria novamente em uma partida. Fawcett afirmara em uma entrevista à BBC, em abril de 2013, que Suárez era um atleta que não conseguia lidar com as emoções em momentos de grande tensão e frustração e, como uma criança, descarregava toda a raiva mordendo os oponentes. “Era fácil prever. Isso está dentro dele e não serão algumas sessões de terapia que resolverão o problema. A raiz disso deve estar nos anos difíceis de sua infância pobre”, afirmou também à BBC Fawcett, prevendo que ele voltará a atacar. ATAQUES - Em 2013, Suárez mordeu o braço de Ivanovic, do Chelsea (acima), e três anos antes já havia atacado com os dentes o defensor do PSV, Otman Bakal (abaixo) Luis Suárez nasceu em uma família pobre de Salto, cidade a quase 500 quilômetros de Montevidéu, para onde se mudou aos 7 anos de idade. Sua mãe, empregada doméstica, foi abandonada pelo marido com sete filhos quando Suárez tinha 9 anos, mesma época em que ele começou a treinar no Nacional. Mas Luisito, como os uruguaios gostam de chamá-lo, só veio a se dedicar verdadeiramente ao futebol na adolescência, após a família de sua namorada, na época, Sofia Balbi, ter se mudado para a Espanha. Até então, trabalhando como gari, bebendo, arrumando confusões pelas ruas da capital e faltando mais aos treinos do que jogando futebol, Suárez era apenas mais um adolescente malandro de Montevidéu. Com a partida de Sofia, ele desenvolveu um plano mirabolante, desses típicos de adolescentes, para voltar a encontrar a namorada. Dedicaria-se ao futebol para conseguir jogar na Europa. Poucos anos depois, foi para a Holanda jogar em um pequeno time, reencontrou Sofia e, logo em seguida, casou-se com ela, com quem tem um casal de filhos. A vida complicada de Suárez não serve para explicar sua compulsão por morder os zagueiros. Boa parte dos jogadores latino-americanos, com poucas exceções, tiveram uma infância dura. Apesar de causar tanta estranheza, talvez por remeter o ser humano aos seus instintos mais básicos e à sua natureza animal, as mordidas são uma arma comum em momentos de raiva ou tensão. Um estudo publicado pelo “Emergency Medicine Journal” mostrou que entre pacientes que necessitam de cirurgia plástica por mordidas de mamíferos, até 20% deles foram atacados por pessoas. No esporte, o caso mais clássico de ataques a dentadas se deu em 1997, na luta entre Evander Hollyfield e Myke Tyson. O ex-campeão mundial arrancou parte da orelha de Hollyfield em pleno ringue. Suárez, a partir de agora, deve ganhar lugar de honra entre os esportistas que perderam a esportiva e agiram como cães selvagens. 4#4 CADÊ ELES? Por que alguns personagens de destaque para a realização da Copa no Brasil estão passando despercebidos durante a competição Helena Borges (helenaborges@istoe.com.br) e Wilson Aquino (waquino@istoe.com.br) A Copa do Mundo no Brasil é um sucesso e, agora, todos querem aparecer como responsáveis ou apoiadores do evento. Certo? Errado. Alguns nomes que pesaram para que o Mundial fosse realizado aqui simplesmente sumiram do mapa – ou melhor, das arquibancadas, dos gramados, dos holofotes. Como, por exemplo, o do presidente de honra da Fifa, João Havelange, 98 anos, sitiado por muitas acusações de corrupção, que está recluso em sua casa, em Ipanema, na zona sul do Rio de Janeiro. Ainda se recuperando de uma pneumonia depois de uma semana de internação hospitalar, ele acompanha as partidas pela televisão, segundo um amigo, e “tem gostado dos jogos, achando-os tecnicamente interessantes, com muitos gols”. O cartola também se regozija, elogiando a organização. “Os pessimistas foram calados”, teria dito, referindo-se aos que apostavam no fracasso do Mundial no País. Menos sumido, mas muito discreto, o atual presidente da federação, Joseph Blatter, 78 anos, assiste a alguns jogos nos estádios e, embora se esforce para não chamar atenção, já foi vaiado pela arquibancada quando sua imagem foi projetada no telão durante uma disputa. O secretário-geral da entidade máxima do futebol, o polêmico Jérôme Valcke, 53, está no Brasil desde maio, mas passou despercebido na primeira fase. Talvez para encerrar o período de reclusão, resolveu marcar uma entrevista coletiva na sexta-feira 27, no Maracanã, no Rio. CARTOLAS - Acima, o presidente Joseph Blatter e, abaixo, o secretário-geral da Fifa, Jérôme Valcke: presenças discretas nesta primeira fase do Mundial Agora, incógnita mesmo é o destino do ex-presidente da Confederação Brasileira de Futebol (CBF) Ricardo Teixeira. Alguns de seus interlocutores afirmam que ele está longe da Copa do Mundo, viajando pela Europa. Com residência fixa no Rio e em Miami, Teixeira não é encontrado em nenhum dos dois endereços. No mês passado, foi visto almoçando com o ex-presidente do Flamengo Edmundo Santos Silva, no Leblon, zona sul do Rio. “Ele vive ‘zanzando’ entre os Estados Unidos, Europa, especialmente a Espanha, e o Brasil. Só não fica de vez nos Estados Unidos porque não tem o green card (literalmente, cartão verde, que permite a estrangeiros morar no país) americano”, diz uma pessoa próxima. Menos importante, mas também uma ausência notada, é a neta de Havelange, Joana, diretora-executiva do Comitê Organizador Local (COL). Ela está sumida também da casa do avô, com quem ainda não teria assistido a uma partida de futebol, desde a indigesta gafe cometida em maio, quando postou em sua conta do Instagram um texto que, entre outras coisas, dizia: “O que tinha que ser gasto, roubado, já foi”. NO SOFÁ - Presidente de honra da Fifa e à frente de inúmeras Copas pela entidade, João Havelange tem visto os jogos em casa A dirigente não estudou na cartilha do avô, segundo um velho conhecido da família, que não quis se identificar. “Ela fez exatamente o contrário do que João Havelange ensinou. Ele sempre foi discreto, tomou cuidado redobrado com sua imagem. Joana se expôs e expôs a organização do evento. É claro que ele ficou chateado com ela”, afirmou. Resultado: outra Havelange fora de cena, outra executiva do futebol escondida nos bastidores. Joana segue sua rotina diária de reuniões no COL e assiste a jogos diretamente nos estádios, mas, até agora, está praticamente invisível. O time dos sumidos não ficaria completo sem o mascote da competição, o tatu-bola Fuleco, que sequer foi chamado para a abertura da Copa. O personagem só apareceu rapidamente, e em versão digital, nos telões das arenas para comemorar gols ou no noticiário como figura principal de um embate entre a Fifa e a Associação Caatinga, organização não governamental que reclama da falta de apoio financeiro da Federação aos projetos contra a extinção do bicho. EXTINÇÃO - O tatu-bola Fuleco, mascote deste Mundial, não apareceu nem na abertura do torneio, na Arena São Paulo 4#5 JOGANDO POR GRANA Como chegaram ao Brasil os US$ 3 milhões, em espécie, que o governo de Gana enviou aos seus jogadores Raul Montenegro (raul.montenegro@istoe.com.br) Na quinta-feira 26, após a derrota por 2 x 1 para Portugal que selou a eliminação da seleção de Gana em Brasília, o capitão da equipe, ­Asamoah Gyan, disse que os problemas fora do campo “não serviam de desculpa” para a lanterna do Grupo G. “Passamos por momentos difíceis, fizemos uma reunião e esperamos ter resolvido a situação. Agora, temos que ser fortes e seguir adiante”, afirmou. A força chegou no dia anterior, quando o time recebeu US$ 3 milhões do país africano depois que jogadores deixaram de treinar e ameaçaram até faltar à partida decisiva por não receberem um bônus prometido pela Associação Ganesa de Futebol pela classificação para a Copa. O presidente de Gana, John Dramani Mahama, liberou um valor estimado em cerca de US$ 100 mil por atleta. Havia um problema adicional: os esportistas se recusavam a receber sua cota por depósito bancário. “A prática entre nós sempre foi pagar em dinheiro vivo e não por transferência. Alguns jogadores nem têm conta em bancos”, disse o técnico da seleção, James Appiah. Diante disso, as autoridades ganesas decidiram enviar um avião para o Brasil com a quantia a ser entregue aos atletas, que se concentravam num hotel do Distrito Federal. O jato pousou por volta das 20h na Base Aérea de Brasília e contou com uma escolta de cinco viaturas da Polícia Militar com quatro homens em cada carro. Do aeroporto até o Setor de Hotéis Norte foram 20 km, percorridos em menos de meia hora. “Foi uma situação de entendimento a partir de realidades que estão postas para a realização da Copa”, disse o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo. A Embaixada de Gana solicitou à Secretaria de Segurança Pública do DF que fosse realizado o comboio policial, e o pedido foi aceito. DANÇOU - Confusões fora do campo não são desculpa para eliminação, disse Asamoah Gyan (centro) Apesar de a Receita Federal não ter divulgado quanto chegou ao País, uma fonte do Ministério da Justiça confirmou à ISTOÉ que a delegação declarou os US$ 3 milhões. Não é ilegal entrar com a quantia no Brasil, mas ela poderia ser apreendida caso a Receita não fosse informada. Isso foi feito, e os esportistas agora terão que declarar com quantos reais sairão do Brasil. Com o dinheiro em mãos, os jogadores afastaram os temores de boicote, mas não debelaram a fama de encrenqueiros. Dois deles, Sulley Muntari e Kevin-Prince Boateng, foram suspensos por se envolverem em brigas. “As confusões refletem a desorganização do futebol na África. Do ponto de vista político, a situação de muitos países é complicada. E isso acaba sendo um retrato do continente”, diz Túlio Velho Barreto, especialista em sociologia do futebol. 4#6 FUTEBOL COM VISTA PANORÂMICA Emissoras de tevê exibem as belezas do País para o mundo em estúdios com paisagens de tirar o fôlego. Como isso pode impulsionar o turismo nacional Wilson Aquino (waquino@istoe.com.br) As redes de televisão do mundo que estão no País para a cobertura da Copa têm mostrado muito mais do que a competição em si. Elas estão exibindo o Brasil. Localizados em endereços com vistas panorâmicas, especialmente no Rio de Janeiro – onde estão concentrados os estúdios e centros de mídia –, os programas são transmitidos tendo como pano de fundo paisagens de tirar o fôlego. Como a ESPN internacional, maior canal de esportes dos Estados Unidos, que alugou parte do Clube dos Marimbás, nas areias da praia de Copacabana, na zona sul carioca, para gerar programas para os Estados Unidos e a América Latina. Na bancada, estrelas do esporte internacional, como a apresentadora inglesa Lynsey Hipgrave e os ex-jogadores Alexi Lalas (EUA) e Michael Ballack (Alemanha) são ofuscadas pelo cenário – a sinuosidade da praia e seu famoso calçadão. Tanto faz se é dia ou noite, a visão é deslumbrante. CENÁRIO - Acima, jornalistas da emissora britânica ITV apresentam programa em quiosque na praia de Copacabana. Abaixo, o estúdio da Sportv na Ilha Fiscal Relações públicas da emissora americana, Bill Hofheimer afirma que dois motivos levaram a ESPN internacional a montar sua base no Rio: a final da Copa ser na cidade e o “fator beleza”. Ele explica que “não há nada melhor do que a orla do Rio para representar o espírito brasileiro.” Outras emissoras internacionais parecem ter a mesma opinião, pois também escolheram Copacabana como endereço. A BBC, de Londres, se instalou em uma cobertura na avenida Atlântica, no mesmo bairro, assim como os também britânicos da ITV, que apresentam programas em quiosques na areia. E estúdios de emissoras como KBS, (Coreia), SBS (Austrália) e TV4 (Suécia) estão no Presentation Studios, uma espécie de ponte suspensa erguida pela prefeitura no Posto Seis da praia. Os canais nacionais também estão apostando em belas paisagens. A SporTV construiu um moderno estúdio de 81 m2, todo de vidro e com formato de bola, na histórica Ilha Fiscal. “Foram dois anos de negociação com a Marinha, Aeronáutica e com o Instituto do Patrimônio Artístico e Cultural Nacional (Iphan)”, afirma o diretor de conteúdo da emissora, Raul Costa Júnior. Segundo ele, a opção é um dos diferenciais da emissora. “Conseguimos um lugar que tem seis cenários fantásticos: a ponte Rio-Niterói, o aeroporto Santos Dumont, a Igreja da Candelária, o Pão de Açúcar, o Cristo Redentor e a própria Ilha Fiscal.” O estúdio tem piso rotativo, que vai girando bem devagar e alterando as paisagens. Próximo ao Maracanã, emissoras como a árabe Al-Jazira e a japonesa NHK gravam suas imagens do alto do prédio da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), de onde tem uma visão privilegiada de toda a nave do estádio. A americana Associated Press (AP) espalhou estúdios de vidro por todas as cidades-sedes. Segundo a Fifa, até o dia 13 de julho, data da final no Maracanã, a Copa do Mundo do Brasil contabilizará 73 mil horas de transmissão de tevê, o equivalente a um aparelho ligado por oito anos. São tantas câmeras transmitindo para tantos lugares que, na avaliação do Ministério do Turismo, metade da população do planeta – algo em torno de 3,6 bilhões de pessoas – terá acompanhado os jogos e, de quebra, visto alguma imagem bonita do País. Trata-se de um recorde de audiência. “Essa é a maior cobertura de futebol da ESPN”, diz Hofheimer. Muitas transmissões são feitas de Jacarepaguá, zona oeste do Rio, onde foi instalado o IBC (Centro Internacional de Transmissão), com capacidade para abrigar 17 estúdios de tevê. “Do IBC, partem imagens para mais de 200 nações, o que significa uma exposição gigantesca do País”, disse o secretário-executivo do Ministério dos Esportes, Luis Fernandes. BATE BOLA - A ESPN internacional escolheu o Clube dos Marimbas, em Copacabana, como base para suas transmissões Tanta exposição, na avaliação do ministro do Turismo, Vinicius Lage, vai mudar, para muito melhor, a posição do Brasil na disputa pela preferência como destino turístico internacional. “Países como a África do Sul e Alemanha, que já realizaram a competição, se beneficiaram bastante”, afirma. “A expectativa é de um aumento de até 10% no número de turistas estrangeiros nos próximos anos no País.”  4#7 SAUDADES DO MUNDIAL Com o fim da fase de grupos, quatro cidades-sede se despedem da Copa. Municípios que movimentaram a economia durante os jogos lamentam a despedida Raul Montenegro (raul.montenegro@istoe.com.br) Se para a maioria dos brasileiros a Copa não vai acabar até 13 de julho, quatro das 12 cidades-sede disseram adeus ao Mundial com o fim da fase de grupos. Os moradores de Cuiabá (MT), Curitiba (PR), Manaus (AM) e Natal (RN) irão acompanhar o desfecho do evento, mas a partir das oitavas-de-final eles sentirão o clima da competição como os habitantes dos 5.549 municípios do País que não foram escolhidos como locais de jogos. A sensação é de ressaca. “A Copa já está deixando saudades. O povo abraçou a festa de forma surpreendente”, afirma Marcus Fabricio, secretário de Turismo de Cuiabá. FESTA - Inglaterra 1 x Itália 2, no sábado 14, na Arena Amazônia. No detalhe, torcedores celebram nas ruas de Manaus Nessa capital, porém, há o risco de a Arena Pantanal ter sua capacidade diminuída pela metade. A decisão caberá à iniciativa privada, a quem o governo quer passar a operação do estádio. Os indicadores locais, no entanto, refletem a empolgação da população com o evento. O comércio registrou aumento de 40% nas vendas e o setor hoteleiro teve lotação máxima, de acordo com Fabricio. Colaboraram para isso os 172 mil turistas (28 mil deles estrangeiros), que despejaram R$ 311 milhões na economia, segundo estimativa do Ministério do Turismo. O valor é idêntico ao projetado para Natal. Curitiba, que enfrentou problemas com os atrasos na Arena da Baixada, superou as dificuldades durante o torneio, segundo o secretário Reginaldo Cordeiro. Os terrenos próximos ao estádio serão usados para inspeção veicular e construção de um posto de saúde. Manaus, cidade que recebeu o maior número de visitantes e movimentou mais dinheiro entre as quatro, busca tentar manter a exibição atual. “É uma oportunidade de nos consolidarmos como um destino turístico com condições de receber grandes eventos”, afirma o secretário do Turismo Bernardo Monteiro de Paula. 4#8 O ORGULHO DA CIDADE RETORNA Chamado de traidor por parte da torcida brasileira, Diego Costa é ídolo inconteste em Lagarto, sua terra natal, em Sergipe Rodrigo Cardoso Equipe de TV acompanha festa dos moradores de Lagarto: comerciantes distribuíram camisas com as cores da Espanha e do Brasil Diego Costa desembarcou, esta semana, em Lagarto, sua cidade natal, localizada a 75 quilômetros da capital sergipana, Aracajú, com vontade de assistir a alguns jogos e curtir um pouco a Copa. Sim, porque desfrutar da sua estreia em mundiais foi tudo o que ele não pode fazer. Não bastasse o péssimo futebol apresentador pela atual campeã Espanha, equipe eliminada na logo na primeira fase que ele resolveu defender após recusar uma convocação da Seleção Brasileira, na arquibancada Diego contava com uma quase nação de brasileiros que jogava contra ele. Nos dois jogos em que atuou, nas derrotas para Holanda e Chile, o sergipano de 25 anos não teve paz, foi marcado impiedosamente por seus conterrâneos, que o vaiaram e o xingaram a cada toque dado na bola. “A família toda ficou constrangida ao ver brasileiros vaiando o Diego. Mas vaiaram até mesmo a presidente Dilma. Então, temos que relevar”, diz Jair Costa, irmão do jogador. Em Lagarto, porção de terra nordestina habitada por aproximadamente 100 mil pessoas, a situação é completamente diferente. Lá, o atacante-sensação da Liga Espanhola, campeão este ano com o Atlético de Madrid, pode, enfim, sentir-se bem recebido. “Mas ainda não consegui ver nenhum jogo porque é um entra e sai aqui em casa de gente que vem me ver e conversar”, disse Diego, na quarta-feira 25, a um grupo de amigos que o visitou. Na cidade, a pecha de traidor da pátria que o tornou alvo preferido dos torcedores não pegou. Pelo contrário: recebeu em casa uma comitiva da prefeitura local e aceitou o convite para ser homenageado na sexta-feira 4. “Ele irá receber uma placa por ser um embaixador da cidade pelo mundo”, explica Rilley Guimarães, secretário de Esportes do município. “Ele relutou um pouco porque quer evitar aparecer em momentos de confraternização para não ferir mais ainda o sentimento do povo espanhol já triste com a eliminação da sua seleção.” Diego Costa (direita) ao lado do secretário de esportes de Lagarto, Rilley Guimarães: reconhecimento ao filho da terra sergipana Nesse dia de homenagens, um trio elétrico com os dizeres “Lagarto fechado com Diego” deverá circular pelas ruas da cidade acompanhado de um bloco em direção à praça, onde o jogador receberá a placa das mãos do prefeito. “Muita gente deixou durante a Copa deixou claro que torcia pelo Diego”, conta o empresário Laelson Correa, amigo do jogador. “Equipes da HBO espanhola e do Canal Cuatro estiveram aqui durante os jogos.” De fato, Lagarto se mobilizou para prestigiar os jogos do filho ilustre. Um telão de LED de 200 polegadas foi instalado na praça central, local onde os lagartenses se reuniram para assistir aos jogos da La Roja. Antes e depois de cada partida, apresentações de quadrilha e um trio elétrico animavam a festa. Em postes, foram penduradas bandeiras da Espanha, do Brasil e fotos de Diego Costa. Mais: comerciantes locais confeccionaram cinco mil camisetas, nas quais os uniformes da Espanha e do Brasil dividiam um mesmo espaço. Diego Costa nunca jogou uma partida profissional no Brasil. Construiu sua carreira em Portugal e na Espanha, principalmente – daí a sua opção por defender o país ibérico. Pagou, porém, um preço alto por essa escolha. Seus pais e outros familiares, que foram prestigiá-lo na estreia da Espanha contra a Holanda, em Salvador, por pouco não se viram no meio de uma briga com torcedores que xingavam o atacante hispânico-brasileiro. “Alguns parentes quase partiram para as vias de fato com quatro pessoas no estádio. Só não foi assim porque os torcedores viram a foto de Diego estampada nas camisetas da turma e se deram conta de que podiam ser familiares”, conta o empresário Correa. Jair, o irmão de Diego, disse que não assistiu a nenhum jogo da Seleção brasileira e não pretende assistir. “Por tudo o que aconteceu a gente pega até raiva, sabe?”, explica. Semana passada, o ex-jogador Zico criticou a postura de treinador da Seleção Luiz Felipe Scolari quando este afirmou que o sergipano deu “as costas para o sonho de milhões” de brasileiros ao preterir o Brasil pela Espanha. “Tenho o maior respeito pelo Felipão, mas ele foi um dos grandes responsáveis por isso”, disse o Galinho de Quintino. “Ele jogou o rapaz contra a torcida brasileira. Isso não é justo.” ________________________________ 5# BRASIL 2.7.14 5#1 O ABANDONO DE DILMA 5#2 O FENÔMENO PEZÃO 5#3 A VOZ DA CONSCIÊNCIA 5#1 O ABANDONO DE DILMA Diante da debandada de aliados, o Planalto recorre ao fisiologismo para evitar a implosão da aliança governista. Mesmo com o esforço, partidos da base irão rachados para a campanha Izabelle Torres (izabelle@istoe.com.br) e Ludmilla Amaral (ludmilla@istoe.com.br) Quando Dilma Rousseff assumiu o comando do País, quase quatro anos atrás, ela reunia o apoio de 17 partidos, o que lhe assegurava votos favoráveis no painel eletrônico da Câmara de pelo menos 306 dos 513 deputados. Era a maior base aliada de um presidente em início de mandato desde a redemocratização. Às vésperas da campanha pela reeleição, o quadro de alianças nem de longe lembra aquele desfrutado pela então presidenta recém-eleita. Em queda nas pesquisas e com a popularidade em xeque, Dilma Rousseff assiste a uma debandada de partidos da sua coligação. O primeiro a pular fora da nau governista foi o PTB, que chegou a participar de um jantar no Palácio da Alvorada oferecido por Dilma e saiu de lá com a promessa de selar a aliança, mas pegou de surpresa a todos no Planalto ao anunciar o rompimento às vésperas da convenção do PT. Depois, veio o anúncio do apoio de Sérgio Cabral, aliado histórico de Dilma no Rio de Janeiro, a Aécio Neves (PSDB), principal candidato de oposição. APOIO PELA METADE - Partidos garantem o maior tempo de tevê à candidatura de Dilma. Mas a divisão nas legendas é irremediável, o que beneficia candidatos de oposição Na última semana, para evitar a deserção de novas legendas, o que lhe custaria preciosos minutos na televisão durante o horário eleitoral, o governo teve de recorrer ao fisiologismo e ao velho e surrado toma lá dá cá. Só que, desta vez, Dilma precisou aprimorar o método. Para agraciar o PR, fez uma das maiores concessões a um aliado desde que assumiu o poder: trocou o comando de dois ministérios, o dos Transportes e o de Portos, setores considerados fundamentais para o andamento dos projetos de infraestrutura do governo. Com isso, César Borges deu lugar no Ministério dos Transportes a Paulo Sérgio Passos. Como compensação, assumiu a Secretaria de Portos, na vaga deixada por Antônio Henrique Silveira. Até então, Dilma resistia a promover alterações nas áreas, mas teve de ceder temendo uma defecção de partidos ainda maior e de olho no tempo de tevê durante a eleição. Contabilizados os apoios oficiais de PMDB, PR, PDT, Pros, PSD e provavelmente o do PP, Dilma terá 11 minutos e 25 segundos em cada bloco de 25 minutos na propaganda eleitoral, cerca de 45% na fatia do tempo. Com as concessões aos aliados, o governo almejava em primeiro lugar assegurar o maior naco de tempo na televisão. Conseguiu. O outro objetivo, no entanto, que era o de contar com o apoio da máquina partidária, ou seja, com o trabalho e o esforço de prefeitos e governadores dessas legendas para reeleger Dilma, dificilmente será alcançado. O PR, por exemplo, segue dividido na campanha, uma vez que grande parte dos deputados federais promete declarar apoio a Aécio Neves (PSDB). Na prática, mesmo se rendendo ao preço imposto pela cúpula do PR, Dilma não conseguirá a adesão das lideranças regionais do partido. O mesmo deve ocorrer no PP, cuja convenção foi conturbada e parou na Justiça. O presidente da legenda, Ciro Nogueira (PI), precisou usar o poder do cargo para atropelar a maioria dos integrantes do partido que discursava na convenção a favor do apoio ao candidato tucano Aécio Neves. Nogueira suspendeu a discussão sob ataques dos companheiros que gritavam palavras como “vendido” e “ditador”. Ainda que tenham garantido o tempo de televisão do PP a Dilma, os progressistas convivem com um racha irremediável. No Rio Grande do Sul, a candidata Ana Amélia (PP) anunciou que a decisão de dar palanque ao tucano Aécio Neves independe do diretório nacional. A maior fonte de dor de cabeça para Dilma durante as eleições, porém, deve ser o PMDB. O cenário de provável segundo turno vem incentivando a revoada de peemedebistas da linha de frente da campanha da presidenta, mesmo com a legenda compondo formalmente a chapa presidencial. Embora tenham indicado, por decisão da maioria, o nome de Michel Temer para vice-presidente, setores expressivos do PMDB dificilmente entrarão de corpo e alma na campanha de Dilma. Há, entre as lideranças do partido, quem acredite que manter certa distância do PT é saudável para os planos futuros do próprio partido. Outros peemedebistas de peso decidiram já pelo rompimento total. Foi o caso do PMDB fluminense, que resolveu apoiar Aécio Neves (PSDB). O tucano vai subir no palanque do governador Luiz Fernando Pezão, cujo padrinho político é o ex-governador Sérgio Cabral, que já foi muito próximo da presidenta (leia reportagem na pág. 38). Os problemas do PMDB com Dilma se estendem pelo Brasil. No Rio Grande do Norte, o presidente da Câmara, Henrique Eduardo Alves, será apoiado pelo PSDB, pelo PSB e pelo PSC. Todos com candidatos próprios e opositores de Dilma. Eles serão convidados a pedir votos para Alves no Estado e o único acordo é que o presidente da Câmara não pedirá votos para eles diretamente em respeito à aliança nacional com o PT. No Paraná há outro enrosco. A candidatura da senadora Gleisi Hoffmann depende do apoio do PMDB. Mas o partido quer lançar o senador peemedebista Roberto Requião afinado com o PSB, por considerar suas chances de vitória superiores às de Gleisi. Em São Paulo, é o vice-presidente da República, Michel Temer, quem turbina pessoalmente a candidatura de Paulo Skaf (PMDB), que vai disputar o Palácio dos Bandeirantes contra o candidato petista Alexandre Padilha. Nos bastidores, tem sido cada vez mais difícil para a presidenta esconder o incômodo com a debandada e o racha dos aliados. Especialmente porque tudo o que Dilma não queria era se tornar refém do “toma lá dá cá” com os partidos. O que se viu com muita clareza na última semana é que nem mesmo quando cede às chantagens – e o faz negociando cargos públicos – o governo consegue o apoio esperado. Na quarta-feira 25, quando recebia adesão oficial de uma surpreendente maioria do PSD de Gilberto Kassab, a presidenta não conseguiu conter a indignação. Em entrevista, disparou contra as legendas que abandonaram seu projeto de reeleição. “Tem uma espécie de esperteza que tem vida curta. A política que aprendi a praticar ao longo da vida, desde a minha juventude, que me levou inclusive à prisão, implica construir relações que sejam baseadas, não em conveniências, mas em convicções”, disse ela. O discurso é correto. Pena que, na prática, o PT não só não abandonou como aperfeiçoou essas práticas, combatidas fervorosamente pelo partido antes de ascender ao poder. 5#2 O FENÔMENO PEZÃO Numa articulação comandada por Sérgio Cabral, governador do Rio monta em torno dele uma ampla aliança com 19 partidos e deslancha nas pesquisas para a reeleição O governador do Rio de Janeiro e candidato à reeleição, Luiz Fernando Pezão (PMDB), e o seu antecessor, Sérgio Cabral, surpreenderam os analistas políticos de plantão. Demonstrando ampla capacidade de articulação, conseguiram montar um extenso arco de alianças em torno da candidatura do PMDB. Até a última semana, Pezão contabilizava o apoio de nada menos do que 19 partidos – entre eles o PSDB, o PPS e até o DEM, cuja adesão à chapa parecia improvável até o início deste ano. EM ALTA - Candidato à reeleição, o governador Luiz Fernando Pezão (PMDB) subiu de 6% para 13% nas intenções de voto Se as articulações foram bem-sucedidas, as recentes pesquisas também deram fôlego extra à candidatura. De acordo com o último levantamento do Ibope, há duas semanas, a liderança ainda é do deputado federal Anthony Garotinho (PR), com 18%, seguido de Marcelo Crivella, com 16%. Mas Pezão, que no início da campanha parecia estacionado na casa dos 6%, subiu para 13%, ultrapassando Lindbergh Faria (PT), com 11%. Mestre em sociologia política pela Universidade de Paris e diretor do Instituto Universitário de Pesquisas do Rio de Janeiro (Iuperj), Geraldo Tadeu Monteiro afirma que a ampliação das alianças tornou o candidato do PMDB ainda mais competitivo. “As alianças chamam muita infantaria, como os candidatos a deputados esta­duais e federais”, lembra Monteiro. O embarque do Democratas na campanha de Pezão contou com o empenho pessoal do ex-governador Sérgio Cabral. No que foi considerado um dos principais lances da disputa até agora, Cabral abriu mão de disputar a vaga ao Senado em troca de apoio do ex-prefeito Cesar Maia, principal líder do DEM no Rio. Maia, que sempre fez oposição ferrenha ao PMDB e a Cabral, agora é o nome da coligação de Pezão para o Senado. “Aceitei a proposta de Cabral por prevalência da eleição presidencial. O objetivo é lutar contra Dilma”, afirmou Cesar Maia à ISTOÉ. A intervenção do candidato do PSDB ao Planalto, Aécio Neves, também teria contribuído para o acordo, segundo Maia. Aécio tem total interesse em turbinar a chapa. No início do mês, Aécio recebeu o apoio das principais lideranças do PMDB do Rio. Em jantar num restaurante da zona sul, 45 deputados, prefeitos e vereadores fundaram o movimento “Aezão”, que prega o voto conjunto em Aécio e Pezão. Na quinta-feira 26, o governador do Rio afirmou que haverá espaço para Dilma em seu palanque eleitoral. Mas ele não abre mão de abrigar Aécio. O PMDB fluminense decidiu apoiar Aécio após o PT lançar a pré-candidatura do senador Lindbergh Farias (PT) para o governo, rompendo com a aliança formada desde 2006. Agora, o principal objetivo do PMDB do Rio é aparar definitivamente as arestas com o prefeito do Rio, Eduardo Paes, que reagiu fortemente à aproximação do partido com Cesar Maia, seu histórico adversário político. Segundo apurou ISTOÉ, nas conversas iniciais com Paes, Pezão e Cabral já obtiveram êxito: conseguiram manter o prefeito na linha de frente da campanha peemedebista, embora ele não vá apoiar Maia ao Senado. 5#3 A VOZ DA CONSCIÊNCIA Gilberto Carvalho deflagra onda de autocrítica no PT e recebe apoio de alas do partido defensoras de uma volta às origens, de Lula e até do marqueteiro de Dilma, João Santana Josie Jeronimo (josie@istoe.com.br) Depois de o PT passar quase 12 anos no poder resistindo a assumir seus erros, o partido parece ter iniciado uma fase de autocrítica. A onda foi puxada, na última semana, pelo ministro da Secretaria-Geral da Presidência, Gilberto Carvalho. Até então, o PT, Rui Falcão à frente, e o ex-presidente Lula vinham conduzindo a campanha com base na exacerbação do discurso do “nós contra eles”. A retórica petista dividia o País, como se eleitores do partido fossem “especiais e diferentes” e travassem, na eleição, uma disputa contra “adversários” representados por setores da população que pensam diferente da legenda, não raro tachados de “elite branca”. Agindo como se fosse a voz sincera da consciência do partido, Carvalho foi o primeiro a se posicionar contra essa tese maniqueísta. Disse que os xingamentos sofridos pela presidenta Dilma Rousseff na abertura da Copa não podem ser resumidos a uma questão de luta de classes. As críticas, disse ele, “desceram” para o povo, e, por isso, o PT “erra o diagnóstico”. “Tinha muito moleque dentro do metrô gritando palavrão e eles não tinham nada a ver com a elite branca”, afirmou. “(Que o PT) não parta da ilusão de que o povo pensa que está tudo bem”, alertou. GRILO FALANTE - Para Gilberto Carvalho, as vaias a Dilma não partiram da "elite branca" Ao longo da semana, foi possível constatar que o ministro não falava sozinho. Além de receber o apoio do marqueteiro de Dilma, João Santana, para quem o discurso do “nós contra eles” está defasado, Carvalho ecoou o pensamento de alas do PT defensoras de um “retorno às origens”. Essa discussão, tornada pública agora, nasceu no Processo de Eleição Direta (PED) de 2013. Na ocasião, fundadores do partido admitiram que o PT foi vítima da teoria do sociólogo Robert Michels, que cunhou a Lei de Ferro das Oligarquias. Ou seja, ao se fechar em um núcleo duro, se burocratizar e priorizar o poder, o partido abriu as portas para os vícios da corrupção. O remédio para escapar disso seria admitir os problemas e tentar mostrar que o PT “não é como os outros”. O movimento, no entanto, foi sepultado com a reeleição de Rui Falcão para a presidência da sigla. Agora, porém, volta com força total. A onda revisionista deflagrada por Carvalho terminou a semana sendo surfada por Lula. Em entrevista ao SBT, o ex-presidente, que havia culpado a “elite branca” pelos xingamentos a Dilma, mudou o tom. “Possivelmente a gente tenha culpa de não ter cuidado disso com carinho. O PT não pode fazer uma campanha sem discutir o tema da corrupção. Não podemos, como avestruz, enfiar a cabeça na areia e falar ‘esse tema não é nosso’ ”, afirmou o ex-presidente. É o PT cortando na própria carne. _________________________________________ 6# COMPORTAMENTO 2.7.14 CRIME ABALA MÔNACO Dona de uma das maiores fortunas da Europa, a família Pastor choca o principado com prisão de filha e genro da matriarca Hélène, acusados de envolvimento com o atentado que levou à morte a bilionária de 77 anos Camila Brandalise (camila@istoe.com.br) Em um pequeno país europeu, reduto de bilionários, um evento trágico comove o high society. Uma das mulheres mais ricas – e discretas – do lugar, herdeira de um império imobiliário, é alvejada dentro do carro, em um estacionamento de um hospital, por um criminoso que fugiu na garupa de uma motocicleta. Presume-se que seja uma emboscada, fala-se em máfia russa e italiana, mas o mistério persiste. Até que a polícia prende a filha e o genro da vítima, suspeitos de terem encomendado o crime para ficar com sua vultosa herança, na casa dos bilhões. Podia ser a sinopse de um filme dirigido por Alfred Hitchcock com pitadas de “O Poderoso Chefão”, mas trata-se de uma história real, que abala Mônaco desde 6 de maio, dia do atentado. Hélène Pastor, 77 anos, matriarca de uma das famílias mais ricas da Europa, dona de um terço dos imóveis do principado, levou os tiros ao sair do hospital onde visitava o filho, Gildo, 47 anos, que se recupera de um Acidente Vascular Cerebral. Ela morreu duas semanas depois. As investigações levaram à prisão, na segunda-feira 23, de Sylvia Pastor, 53, filha de Hélène, e Wojciech Janowski, 64, seu genro, junto com outras 21 pessoas. O motorista da bilionária, Mohamed Darwich, também foi atingido e faleceu dias depois. EM FAMÍLIA - Acima, o carro no qual Hélène Pastor (abaixo) foi alvejada no dia 6 de maio As informações disponíveis sobre o caso ainda são obscuras, o que dá margem a todo tipo de especulação. Donos de um conglomerado imobiliário, os Pastor poderiam ser alvo de crimes envolvendo dinheiro e disputa de poder. O número de detenções chama a atenção, sobretudo porque as pessoas que teriam ligação com o atentado foram capturadas em diferentes regiões da França: Rennes, Marselha e Nice – essa última, a cidade onde viviam Sylvia e o marido. De todos os presos pela polícia francesa, pelo menos 13, incluindo o genro da bilionária, continuarão sendo investigados formalmente. Segundo o jornal britânico “The Independent”, o promotor de Marselha Brice Robin afirmou existir evidências de que Janowski seria o mentor do crime e teria contratado a dupla de atiradores. A motivação seria a bilionária herança da matriarca. As investigações descobriram movimentações bancárias suspeitas dele que terão de ser explicadas à polícia. Formado pela Universidade de Cambridge, Janowski trabalhou em diversas empresas respeitadas da região e se tornou um homem de negócios. Desde 2007, é cônsul honorário da Polônia em Mônaco. Na semana passada, a polícia prendeu a filha dela, Sylvia Pastor, e o genro, Wojciech Janowski (acima). Eles são suspeitos de envolvimento com o crime Há dúvidas se a filha, Sylvia, estaria de fato envolvida no crime, embora tenham surgido informações de que mãe e filha estariam se desentendendo por causa de questões financeiras. Ela também deve continuar presa até que mais dúvidas sobre o caso sejam esclarecidas. Entre os detidos figuram ainda os suspeitos de ter atirado nas vítimas. Os dois foram facilmente identificados porque deixaram pistas – não se atentaram, por exemplo, às gravações das câmeras de segurança. Também está preso um homem acusado de fazer ameaças à família Pastor e afirmar possuir informações sobre os assassinos que seriam reveladas em troca de dinheiro. A polícia ainda investiga a conexão de duas pessoas que intermediavam o contato direto com os assassinos. Embora a herança surja como forte motivação para o crime, a polícia não abandonou outras hipóteses. Ainda não foi descartado, por exemplo, o envolvimento da máfia com a morte de Hélène. Nessa linha de investigação, as suspeitas recaem sobre os dois grandes grupos criminosos italianos, a ‘Ndrangheta e a Camorra. Ambas tanto podem ter apenas algum envolvimento com o atentado como podem ser as próprias mandantes da tentativa de homicídio. Seguindo esse raciocínio, estariam interessadas em entrar no ramo imobiliário na Riviera Francesa e queriam expandir a área de domínio para a região de Mônaco. Eliminar a matriarca da família Pastor teria sido uma maneira de os mafiosos tomarem o poder no mercado, em uma ação digna de um discípulo de Don Corleone. Coisa de cinema. ____________________________________ 7# MEDICINA E BEM-ESTAR 2.7.14 A BATALHA DO GLÚTEN Milhares de pessoas em todo o mundo estão tirando o nutriente da alimentação na esperança de emagrecer e ter mais saúde. Mas a dieta causa enorme controvérsia na comunidade científica Cilene Pereira, Mariana Brugger e Mônica Tarantino* Basta um teste rápido para identificar a nova febre mundial no que diz respeito a regimes de emagrecimento. Uma conversa no trabalho, com os amigos, na academia e com certeza você ouvirá que alguém está fazendo, fez ou pretende fazer a dieta do glúten. Retirar o nutriente do cardápio tornou-se a solução mais propagada do momento para perder peso e ter mais saúde. A recomendação contagiou o Brasil, os Estados Unidos, a Europa. Os números de um mercado em franca expansão confirmam a crescente popularidade desse movimento. Nos Estados Unidos, por exemplo, a previsão é de que o consumo de produtos sem glúten salte de US$ 2,6 bilhões, em 2010, para US$ 5 bilhões em 2015. No Brasil, não há estimativas exatas, mas proliferam pelo País restaurantes com opções glúten-free no menu, e mercados, como o Santa Luzia, em São Paulo, reservam prateleiras para os artigos sem a substância. A reboque dessa onda está a exclusão da lactose, o açúcar do leite (leia mais sobre o assunto à pág.70). "Como tenho prazer em comer, sofri com a retirada do glúten. Mas me fez muito bem. Perdi 17 quilos e regularizei meus níveis de colesterol" - Rubens Araújo, empresário, de São Paulo O glúten é uma proteína existente no interior dos grãos. Nas plantas, cumpre a função de guardar nitrogênio e carbono para a germinação das sementes. Não tem calorias ou função importante no organismo. Sua vantagem é ter se tornado imprescindível na panificação. Por suas características, acrescenta viscosidade e elasticidade às massas e pães. Deixar de consumi-lo significa riscar do prato sua principal fonte, o trigo, e outros cereais em que também está presente em menor quantidade, como a cevada, o centeio, o malte e a aveia. Em substituição, a orientação é usar outras fontes de carboidratos, como a farinha de mandioca, arroz e tubérculos como o inhame. EFEITOS COLATERAIS Os defensores da exclusão argumentam, em primeiro lugar, que a troca elimina eventuais desconfortos abdominais provocados pela substância. “O glúten é uma proteína grande e de difícil digestão. Ele altera a bioquímica do intestino, pode levar à diarreia e constipação e prejudica a absorção de nutrientes”, diz a farmacêutica e nutricionista funcional Lucyanna Kalluf, do Natunutry Núcleo de Nutrição e Clínica Personalizada, em São Paulo. A endocrinologista Júlia Gouvea, de São Paulo, também recomenda a retirada do glúten da alimentação. “Pesquisas provam que o nível de inflamação do organismo – maior nos obesos e se eleva por reação ao glúten e à lactose – aumenta a predisposição à manifestação de problemas cardiovasculares e de doenças autoimunes, entre elas a diabetes tipo 1”, diz. Tirar o nutriente, para ambas as especialistas, equivale a remover um fardo do metabolismo, que passa a trabalhar mais rapidamente. ESCOLHAS - Renata (acima) é celíaca e não pode consumir a proteína. Seu namorado, Gustavo, procura ingerir alimentos sem a substância, mas sem radicalismo. A médica Júlia (abaixo) afirma que glúten e lactose causam inflamação Os relatos de quem aderiu à vida sem glúten corroboram essas afirmações. O empresário de moda Rubens Araújo, por exemplo, começou uma dieta sem glúten e sem lactose após um check-up revelar colesterol elevado e alto risco de diabetes. “Estranhei a retirada do glúten porque adoro comer. Mas a mudança regularizou meus índices de risco”, diz. Ele emagreceu mais de 17 quilos em seis meses. “Os exames de Araújo revelaram intolerância ao glúten e à lactose. Retirar esses alimentos restaurou o equilíbrio no intestino e melhorou seu metabolismo”, diz a nutricionista Lucyanna. A ciência concorda que o glúten não é uma substância completamente inofensiva. Ele não pode ser consumido de forma alguma por portadores de doença celíaca. Nesses indivíduos, a ingestão do composto ocasiona uma reação autoimune que com o tempo produz danos na mucosa do intestino delgado, causa má absorção de nutrientes e pode levar a uma grande variedade de sintomas, como diarreia, distensão abdominal e perda de peso. Um dos argumentos que embalam a onda glúten-free é a afirmação de que há indivíduos que não teriam a doença celíaca ou alergia ao trigo (neste caso, o corpo produz anticorpos específicos contra o glúten), mas uma sensibilidade à proteína. “Sensibilidade ao glúten é uma condição mais recentemente identificada que imita muitos dos sintomas de doença celíaca, mas é menos grave e não causa dano intestinal. Temos muito a aprender sobre ela”, disse à ISTOÉ o cientista Alessio Fasano, do Centro de Pesquisa Celíaca e Tratamento do Hospital Geral de Massachusetts, nos Estados Unidos. “Meus estudos revelaram uma nítida diferença entre o mecanismo molecular da doença celíaca e o da sensibilidade ao glúten. Agora, trabalho para achar uma substância que sirva de marcador para diagnosticar a sensibilidade ao glúten”, afirmou. Fasano e a escritora científica Susie Flaherty acabam de lançar o livro “Gluten Freedom”, ainda sem tradução. Para ele, quem tem sensibilidade à proteína de fato se beneficia com a sua retirada. VARIEDADE - Patrícia não entrou na onda. Fez reeducação alimentar e emagreceu comendo de tudo SERVE PARA QUEM? Aqui, porém, começam os problemas apontados pelos críticos dessa estratégia. “As únicas pessoas para quem a retirada do glúten é recomendada são os celíacos”, afirma a endocrinologista Cintia Cercato, do Departamento de Obesidade da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia. “E eles somam apenas 1% da população”, complementa. Há também uma grande controvérsia no meio científico em relação à tal sensibilidade ao glúten. Recentemente, Peter Gibson, da Monash University, o mesmo pesquisador que em 2011 publicou artigo sobre o assunto, surpreendeu seus pares com a divulgação do resultado de outras duas pesquisas, dessa vez feitas com mais rigor, mostrando que a sensibilidade existe, mas não é tão comum, e que, na verdade, o responsável pelos sintomas de desconforto não seria o glúten, mas um tipo específico de carboidrato conhecido como FODMAPs. “Pessoas sem doença celíaca, mas com desconforto abdominal, podem se beneficiar com a redução do consumo de alimentos com trigo, mas isso está sendo atribuído incorretamente ao glúten”, afirmou o cientista à ISTOÉ. “Nossos estudos não identificaram qualquer evidência de que a proteína seja a responsável pelos sintomas. As 37 pessoas estudadas melhoraram quando foi diminuída a quantidade de FODMAPs. Isso não significa que todos os indivíduos que pensam ser sensíveis ao glúten não o sejam, mas isso é muito incomum, para dizer o mínimo”, disse à ISTOÉ. O cientista Alessio Fasano contesta. “A intolerância alimentar, geralmente envolvendo o açúcar dos alimentos e os FODMAPS, é muito diferente de sensibilidade ao glúten. É como comparar maçãs e laranjas”, diz. “No entanto, pode ser que eles agravem o quadro clínico da sensibilidade ao glúten”, afirma. Outra ponderação contra a dieta é que ela priva o organismo de uma boa parte de carboidratos, fonte importante de energia. Sem ela, o corpo pode acabar recorrendo às fontes da gordura e da proteína para obter o combustível de que necessita. “Quebrar a proteína da gordura, por exemplo, para transformá-la em energia tem um custo alto para o organismo”, afirma o pediatra Mauro Fisberg, de São Paulo, também especialista em nutrição. Há um gasto metabólico desnecessário aplicado para essa função. Os críticos também argumentam que o emagrecimento resultante da dieta advém da redução do consumo de alimentos calóricos nos quais há a presença do glúten, como os pães e as pizzas. “Muitas vezes essas são as fontes de vulnerabilidade para que a pessoa engorde”, diz a nutricionista Beatriz Rique, da Clínica Ivo Pitanguy, do Rio de Janeiro. A especialista lembra a história de uma paciente que entrou na onda glúten-free e acabou engordando porque passou a comer tanto quanto antes, mas dessa vez produtos sem o ingrediente. “E o pão sem glúten tem calorias semelhantes aos integrais e francês”, complementa o médico pós-graduado em nutrologia João Curvo, do Rio de Janeiro. “A tapioca, muito usada para substituir o pão, não emagrece”, diz. A administradora de empresas carioca Patrícia Dias, 32 anos, preferiu seguir essa linha de pensamento a aderir à moda sem glúten da qual muitas de suas amigas viraram seguidoras. “Perguntei à minha nutricionista se valia a pena tirá-lo”, lembra. “Ela me disse que se não tivesse doença celíaca ou intolerância não era o caso de fazer isso.” Com uma dieta personalizada, ela emagreceu. “E comendo de tudo”, ressalta. CRÍTICA - O especialista Fisberg diz que a retirada do glúten e da lactose da alimentação sem necessidade pode causar prejuízos ao organismo Diante de tanta controvérsia, há quem prefira ficar no meio-termo. O publicitário Gustavo Negrini, de São Paulo, que trabalha com marketing na área da nutrição, decidiu evitar o glúten há cerca de cinco anos, quando começou a ler a respeito para organizar um evento no setor, a feira Gluten Free, que ocorrerá em agosto. “Não tenho problema algum com o glúten, mas sinto a digestão mais leve e fico mais disposto quando escolho alimentos sem o nutriente”, afirma. Hoje, Negrini diz que só não resiste à tentação de estar diante de um pão caseiro assado na hora, como ocorreu no final de semana, em uma pousada em São Carlos do Pinhal (SP). Sua namorada, a chef Renata Macena, colabora para mantê-lo afastado do nutriente. Celíaca, ela cria pães e doces sem glúten. “Dá para viver muito bem. É só aprender a escolher.” A onda sem lactose Na esteira da moda glúten-free surgiu também a dieta sem lactose, o açúcar do leite. Portanto, a recomendação é não consumir leite, ou, se beber, ingerir os produtos que não contenham a substância. E milhares de pessoas no mundo estão fazendo isso. O raciocínio é parecido com o aplicado para justificar a retirada do glúten da alimentação. A lactose também provocaria intolerância em muita gente, sendo responsável por sintomas desconfortáveis, como diarreia, inchaço e dor abdominal. Há de fato uma condição de saúde caracterizada pela intolerância à lactose. O composto é metabolizado no organismo pela enzima lactase. O problema é que com o passar dos anos sua produção diminui, o que, consequentemente, reduz a quebra da lactose. Esse processo pode resultar no surgimento dos sintomas. Além disso, há algumas circunstâncias transitórias, como intoxicações alimentares, e a presença de enfermidades como a doença de Crohn que também prejudicam a fabricação da enzima, facilitando o acúmulo de lactose no organismo. A primeira crítica a esse modismo é que a intolerância ao composto estaria sendo superdiagnosticada, embora existam testes que forneçam uma resposta concreta. E, por conta disso, muita gente estaria desnecessariamente prescindindo de um alimento essencial para a saúde. “O leite tem alto valor nutricional”, explica o pediatra Mauro Fisberg. Sua proteína participa de processos do crescimento, da síntese de outras proteínas e hormônios e também alguns relacionados à imunidade. “Além disso, é a melhor fonte de cálcio, ajudando no fortalecimento ósseo”, diz a endocrinologista Cintia Cercato. Na opinião dos especialistas contrários à exclusão da lactose, a suplementação de cálcio feita por meio de comprimidos não apresenta os mesmos benefícios proporcionados pela ingestão do mineral por meio da alimentação. Eles ponderam ainda que, também a exemplo do glúten, as opções sem lactose costumam ser mais caras, o que pode afastar o indivíduo do consumo. No entanto, é importante ressaltar que os derivados lácteos possuem os mesmos benefícios do leite, mas com menor teor de lactose (o açúcar acaba sendo quebrado durante o processo de fabricação). Por isso, podem servir de boa alternativa para quem não consome o leite em sua forma natural. _____________________________________ 8# ECONOMIA E NEGÓCIOS 7.2.14 8#1 SINAL DE ALERTA NO EMPREGO 8#2 AS NOVAS REGRAS DA GARANTIA ESTENDIDA 8#1 SINAL DE ALERTA NO EMPREGO Ritmo de criação de vagas desacelera em maio e indica que o mau humor da economia pode afetar postos de trabalho Mariana Queiroz Barboza (mariana.barboza@istoe.com.br) A economia brasileira tem sofrido com juros altos, pressão inflacionária, restrição ao crédito e desconfiança de investidores. O mercado de trabalho, no entanto, permanece há anos quase como um oásis em meio a ondas de pessimismo. Na semana passada, essa percepção foi abalada pelos dados de maio divulgados pelo Ministério do Trabalho e acendeu um alerta para o governo. Segundo o Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), o saldo de criação de vagas formais no mês passado foi de 58,8 mil, o pior para o mês desde 1992, início da série histórica. O fraco desempenho foi puxado pelo setor de serviços, que criou mais da metade dos novos postos de trabalho – muitos deles impulsionados pela Copa do Mundo –, e negativamente influenciado pela indústria de transformação, que cortou 28.533 vagas com carteira assinada e registrou demissões líquidas em 11 de seus 12 subsetores. Desde abril, a indústria demite mais do que contrata. APERTO - A indústria de transformação cortou 28.533 vagas com carteira assinada. Desde abril, mais demite do que contrata Os números do Caged são preocupantes, porque refletem uma desaceleração no ritmo da atividade econômica do País, começando pela produção industrial. “Os anos de ouro da geração de emprego no Brasil acabaram e essa fase dificilmente será reproduzida,” diz Julio Gomes de Almeida, ex-secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda e professor de economia da Universidade Estadual de Campinas. De acordo com Almeida, entre 2005 e 2011 o processo de distribuição de renda favoreceu o emprego nas camadas de qualificação e remuneração mais baixas. Ao mesmo tempo, o aumento dos rendimentos das famílias aliado a um mercado de trabalho aquecido nesse período permitiu que muitas pessoas deixassem de procurar emprego para estudar por mais tempo ou esperar por novas oportunidades. “A tendência agora é ganhar eficiência e produtividade, o que requer mais investimentos na formação de mão de obra,” afirma o economista. Por isso, também, a desaceleração na criação de empregos não deverá ter um impacto tão direto no nível de desemprego da população. Na quinta-feira 26, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgou apenas a taxa de desemprego de quatro regiões metropolitanas, porque uma greve de funcionários impediu a consolidação dos dados de Salvador e Porto Alegre. Ainda assim, as notícias não foram tão ruins. Se, em Recife e Belo Horizonte, o desemprego de maio sobre abril subiu de 6,3% para 7,2% e de 3,6% para 3,8%, respectivamente, em São Paulo e no Rio de Janeiro a taxa caiu de 5,2% para 5,1% e de 3,5% para 3,4%, nesta ordem. No País como um todo, ainda vale o número da Pnad Contínua, que registrou 7,1% de desemprego no primeiro trimestre – percentual abaixo dos 8% calculados no mesmo período de 2013. 8#2 AS NOVAS REGRAS DA GARANTIA ESTENDIDA Com a regulamentação da lei, o consumidor terá maior prazo para voltar atrás na contratação de seguros Luisa Purchio (luisapurchio@istoe.com.br) Entraram em vigor as regras de venda de seguros e da garantia estendida aprovadas em 2013 pelo Conselho Nacional de Seguros Privados (CNSP). As resoluções 296 e 297/2013 garantem uma série de direitos a quem adquirir uma cobertura de riscos, principalmente no que diz respeito à transparência da comercialização. A falta de clareza dava espaço, por exemplo, para a aquisição de produtos disfarçados de garantia estendida, configurados como venda casada – prática proibida por lei. “É um divisor de águas para o mercado, uma vez que o consumidor vai estar ciente do que está comprando”, afirma Rosana Dias, coordenadora de seguros de bens e estudos tarifários da Susep, o órgão governamental que fiscaliza o setor. A nova regulamentação também permite que o consumidor desista da compra do seguro em até sete dias após sua contratação. Além disso, é possível adquiri-lo posteriormente à aquisição do bem ou serviço, o que possibilita a escolha da seguradora que melhor convier ao usuário. “Muitas vezes o consumidor escolhia o seguro oferecido pela loja por impulso, sem poder analisá-lo”, afirma Renata Reis, supervisora de assuntos financeiros e habitação do Procon-SP. __________________________________ 9# MUNDO 7.2.14 A "GUERRA MALDITA" VOLTOU O conflito no Iraque que foi amaldiçoado pelo governo Obama é reaceso pela ofensiva dos rebeldes sunitas. Irã e Síria também são arrastados para o combate Mariana Queiroz Barboza (mariana.barboza@istoe.com.br) Em 2011, o vice-presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, demonstrou otimismo quanto à retirada das tropas americanas de solo iraquiano. “Essa pode ser uma das grandes conquistas dessa administração”, declarou ele, entusiasmado com a possibilidade do cumprimento de uma das principais promessas de campanha de Barack Obama. Ele foi ainda mais explícito num telefonema a Obama, segundo Peter Baker, correspondente da Casa Branca no jornal americano “New York Times”. “Obrigado por me dar a chance de acabar com esta maldita guerra,” disse ao presidente. Na ocasião, Biden estava em Bagdá para acompanhar a saída dos últimos soldados americanos e encerrar oficialmente uma impopular intervenção militar, que durou oito anos e matou quase meio milhão de pessoas. Menos de três anos depois, os EUA estão de volta ao atoleiro que custou US$ 1,7 trilhão aos cofres americanos. Nos últimos dias, Obama se viu obrigado a aumentar seu apoio às forças de segurança iraquianas para conter o avanço de insurgentes sunitas no norte e no oeste do País. DE VOLTA AO ATOLEIRO - O governo americano anunciou o envio de 300 forças especiais para auxiliar o Iraque O governo americano anunciou, na semana passada, o envio de ao menos 300 forças especiais para auxiliar o Iraque, enquanto extremistas do Estado Islâmico do Iraque e Levante (EIIL) seguiram conquistando cidades importantes, como Mossul, segunda maior do país, e Baiji, onde fica a maior refinaria de petróleo iraquiana, a caminho de Bagdá. Na quarta-feira 25, atacaram uma base aérea. Os EUA calculam em dez mil o número de militantes do grupo radical, que tem o objetivo de redesenhar as fronteiras da região e criar um Estado Islâmico entre o Iraque e a Síria. De acordo com a Organização das Nações Unidas, ao menos 1.075 pessoas, a maioria civis, morreram nos primeiros 17 dias desde o início da escalada da violência. Somados a isso, os indícios de que o Irã tem fornecido armas, munições e inteligência ao governo do xiita Nouri al-Maliki, no Iraque, e de que a Síria tem bombardeado cidades fronteiriças em poder dos sunitas arrastam a administração de Obama para um envolvimento mais direto do que se planejava inicialmente. Ainda assim, o presidente americano descartou a possibilidade de suas tropas voltarem a combate. AGRADECIMENTO PRECOCE - Há três anos, o vice-presidente dos EUA, Joe Biden, agradecia a Barack Obama pela chance de encerrar a guerra no Iraque Apesar de tanto o Irã quanto os EUA desejarem um Iraque estável, há divergências de interesses entre os dois países. Os iranianos querem fortalecer Maliki. Os americanos condicionam sua ajuda à formação de um novo governo, mais inclusivo aos sunitas. Nos últimos meses, o premiê Maliki alienou ainda mais essa parte da população, o que contribuiu para a radicalização de jovens que se identificavam com o EIIL. “Os EUA precisam obrigar o governo iraquiano a fazer concessões radicais à comunidade sunita numa tentativa de ganhar o apoio dos sunitas,” disse à ISTOÉ Nussaibah Younis, especialista em Iraque e pesquisadora do Programa de Segurança Internacional da Universidade Harvard. “Isso é crucial para recuperar o território permanentemente.” Nas eleições de abril, Maliki não conseguiu a maioria de votos necessária para lhe garantir um terceiro mandato. A saída do primeiro-ministro atenderia também aos interesses de importantes aliados sunitas dos EUA, como a Arábia Saudita, e evitaria um novo componente inflamável para a polarização entre Teerã e Riad. Agora, pelo menos uma previsão do vice-presidente americano, Joe Biden, tem merecido mais atenção. Em 2006, Biden propôs a divisão do Iraque em três regiões autônomas: uma xiita, uma sunita e uma curda. Foi ignorado pelo então presidente George W. Bush. Mas, com o agravamento do atual conflito sectário, que, para alguns especialistas, é a reedição da guerra civil que estourou no Iraque entre 2006 e 2008, a manutenção de um país unido é cada vez mais improvável. ____________________________________ 10# TECNOLOGIA E MEIO AMBIENTE 2.7.14 INSCRIÇÕES PARA O PRÊMIO ISTOÉ EMPRESAS MAIS CONSCIENTES VÃO ATÉ 18 DE JULHO Podem se inscrever companhias pequenas, médias e grandes de todos os ramos de atividade da redação As inscrições para o Prêmio ISTOÉ Empresas Mais Conscientes foram prorrogadas e agora podem ser feitas até o dia 18 de julho, via internet. A entrega da premiação será em 18 de setembro. Podem participar empresas pequenas, médias e grandes de todos os ramos de atividade. Serão premiadas aquelas que se destacarem dentro de uma nova forma de se fazer negócios no Brasil, atentas ao fato de que sua contribuição para a sociedade vai além da geração de lucro, renda e empregos. Serão distribuídos 19 prêmios: melhor pontuação geral, melhor pontuação nas três categorias (pequena, média e grande) e melhores empresas pequenas, médias e grandes em cada uma das cinco dimensões de avaliação (governança, modelo de negócios, relacionamento com funcionários, relacionamento com a comunidade e meio ambiente). __________________________________ 11# CULTURA 2.7.14 11#1 LIVROS - A ARTE DE DIOR 11#2 CINEMA - O NOVO DESAFIO DE DEBORAH SECCO 11#3 EM CARTAZ – CINEMA - SUSPENSE NA SALA DE AULA 11#4 EM CARTAZ – CD - MAIS LOIRA DO QUE NUNCA 11#5 EM CARTAZ – TEATRO - UMA FAMÍLIA AMORAL 11#6 EM CARTAZ – LIVROS - OS MUITOS JOGOS DE CORTÁZAR 11#7 EM CARTAZ – DANÇA - SHAKESPEARE SOBRE SAPATILHAS 11#8 EM CARTAZ – AGENDA - OS MOSQUETEIROS/MAYAS/NEVILLE D'ALMEIDA 11#9 ARTES VISUAIS - SOBRE RODAS 11#10 ARTES VISUAIS – ROTEIROS - FANTASMAS MODERNOS - SERGIO ROMAGNOLO/ GALERIA MARILIA RAZUK, SP/ ATÉ 25/7 11#1 LIVROS - A ARTE DE DIOR Dois novos livros mostram como o estilista Christian Dior resgatou a feminilidade na moda e retratam a importância da fotografia em seu trabalho Nos salões do mítico número 30, da avenida Montagne, em Paris, o estilista Christian Dior deu início a uma revolução na manhã do dia 12 de fevereiro de 1947. Naquela data, quando fez seu primeiro desfile, já com 42 anos, ele apresentou à imprensa sua coleção na qual se destacavam as silhuetas, até então inéditas, com cintura marcada e busto sexy. Coube a uma editora de moda presente cunhar a expressão “new look”, que ganharia o mundo a partir de uma pitoresca sequência de eventos. Reza a lenda que um jornalista de uma agência de notícias ouviu o termo, escreveu-o em um bilhete, atirou-o pela janela a um mensageiro e, no mesmo dia, o vocábulo chegou aos Estados Unidos, onde causou grande impacto. Dior começava ali a escrever um novo capítulo da moda. As únicas fotos existentes desse desfile foram feitas pela americana Pat English. Começava ali também uma parceria fundamental para propagar o sucesso do artista. MARCO - O tailleur Bar criado por Dior (abaixo), imortalizado na foto de Willy Maywald A relação entre o estilista e os fotógrafos está documentada no recém-lançado livro “Dior, The Legendary Images”, que acompanha uma exposição homônima no Museu Dior, na França, com curadoria de Florence Muller. Foram selecionadas cerca de 200 imagens feitas entre 1947 e 2014 – 60 manequins vestidos com criações do mestre estão dispostos no local. Os bastidores do primeiro desfile e relatos dos dez anos em que Dior comandou sua maison são objeto de outro livro. “Monsieur Dior: Once Upon a Time”, da prestigiada jornalista de moda Natasha Fraser-Cavassoni, chegará às livrarias no segundo semestre. Para contar detalhes dessa época de ouro, ela entrevistou dezenas de pessoas que conviveram diretamente com o estilista, de ajudantes a vendedoras, e teve acesso a arquivos inéditos da Dior. NA MODA - Acima, foto icônica de Richard Avedon e, abaixo, os dois livros que retratam o universo da Dior A revolução empreendida pelo estilista com o “new look” no pós-guerra deixa para trás os dias de racionamento, dos uniformes, das restrições. Dior constrói suas criações como um arquiteto. “Queria vestidos moldados sobre as curvas do corpo feminino”, disse o estilista. “Eu apontava o tamanho, o volume dos quadris, valorizava o busto. Para assentar melhor os meus modelos, dupliquei praticamente todos os meus tecidos com percal e tafetá.” O mergulho da autora nesse universo ganha imagens à altura, com fotos de ícones como Cecil Beaton, Henri Cartier-Bresson e Willy Maywald. As imagens lendárias que contam a história da maison, aliás, realçam o diálogo estabelecido entre moda e fotografia. Grandes fotógrafos como Richard Avedon, Horst P. Horst e Clifford Coffin criaram os parâmetros visuais da Dior – o enquadramento, a luz, a encenação, a atitude da modelo – e influenciam até hoje a atual geração de fotógrafos do mundo fashion. CRIAÇÕES - Vestido Mozart, de 1950, em foto de Norman Parkinson à esq. e vestido Turquie, de 1951, em retrato de Cecil Beaton 11#2 CINEMA - O NOVO DESAFIO DE DEBORAH SECCO Para atuar em "Boa Sorte", filme que marca um novo olhar sobre a temática da Aids no cinema nacional, a atriz precisou recorrer a uma equipe médica para emagrecer 12 quilos e teve dificuldades para retomar a alimentação normal Maria Elisa Arruk e Simone Blanes (simoneblanes@istoegente.com.br) Elas são cineastas. Uma é paulistana, outra carioca. Filhas de diretores famosos, cresceram numa época em que a Aids fazia suas primeiras vítimas, no início dos anos 1980, e alcançava, no início dos anos 1990, o pico como epidemia, espalhando-se rapidamente entre homossexuais, hemofílicos, usuários de drogas injetáveis e, mais tarde, entre todos os grupos sociais imagináveis, transformando a expressão “HIV positivo” em uma sentença de morte. A Aids saiu do centro dos debates, mas seu crescimento entre a população jovem no Brasil é alarmante. Um aumento de 65% no número de casos de 2007 a 2012, entre pessoas de 15 a 24 anos – entre 2002 e 2006, vivemos uma queda de 8% de contágios nessa faixa etária. Como um espelho da realidade, Carolina Jabor, 39 anos, e Marina Person, 45, lançam seu primeiro longa-metragem de ficção justamente sobre o tema. Cada uma à sua maneira, elas retratam em “Boa Sorte” e “Califórnia” a descoberta da sexualidade na adolescência. E cada filme, a seu modo, apresenta o tema sobre a névoa da Aids, que por aqui levou faróis de gerações como Heinfil, Lauro Corona, Cazuza, Cláudia Magno, Caio Fernando Abreu, Renato Russo, Betinho e Sandra Bréa. “Boa Sorte”, de Carolina Jabor, é uma adaptação fiel do conto “Frontal com Fanta”, do roteirista, escritor e diretor gaúcho Jorge Furtado (que também assina o roteiro do filme), publicado originalmente em 2005 no livro “Tarja Preta”. Narra a curta e intensa história de amor entre a junkie balzaquiana Judite e o adolescente João, que se conhecem em uma clínica de reabilitação para viciados em drogas. Judite é interpretada por Deborah Secco, que perdeu 12 quilos para encarnar a personagem. Segundo ela, a preparação para o papel foi “uma da mais difíceis transformações” pelas quais já passou. Mesmo com o apoio de uma equipe médica, o impacto da perda de peso fez com que a atriz tivesse dificuldades para voltar a se alimentar. Mas, apesar do abatimento físico, Judite é um personagem luminoso. Com apenas alguns meses de vida, conhece João (João Pedro Zappa), que tem 17 anos e acredita possuir o dom da invisibilidade – isso sob o efeito de Frontal, tranquilizante que descobre no armário do banheiro da mãe e do qual se torna dependente. COMEÇO DIFÍCIL - Carolina Jabor e Marina Person, cineastas, cresceram numa época em que contrair o vírus da Aids era uma sentença de morte “Quando li ‘Frontal com Fanta’, na hora percebi que dava um filme”, conta Carolina, sócia da Conspiração Filmes e integrante da lista dos grandes diretores de publicidade do País. Carolina é filha do cineasta Arnaldo Jabor. “Deu vontade de falar sobre minha geração, sobre a difícil passagem da adolescência para a juventude, numa época em que a Aids assombrava. Criança, vi meu pai chorar algumas vezes a perda de um amigo querido. Isso mexeu muito comigo”, revela. Acrescenta que quis ir além da discussão sibre Aids, abordando o atual tema das drogas lícitas. “Mas o que marca mesmo é a história de amor, um amor que transforma”, enfatiza. De acordo com a diretora, o filme trata de educação sentimental. Judite está morrendo, mas exala vitalidade. Ela vive intensamente a curta vida que teve. João é um jovem distante da morte, mas vive como se fosse um fantasma, anestesiando-se na farmacinha do banheiro dos pais. “Do breve encontro entre os dois, nasce um amor lindo, no qual a troca é fundamental. Ao insistir na beleza da vida, Judite ensina a João o que é o amor. E ela acaba ganhando um presente dele: a certeza de que a vida valeu a pena”, explica.“Boa Sorte”, com estreia prevista para outubro, foi rodado em dois prédios abandonados do Rio de Janeiro: o do Hospital da Beneficência Portuguesa, no Catete, construído em 1897 e desativado há 13 anos, e o antigo colégio Sagrado Coração de Jesus, no Alto da Boa Vista, transformado em polo cinematográfico. “Califórnia” é o título do longa-metragem de Marina Person, ex-VJ da MTV, apresentadora de programas na televisão e diretora do documentário “Person”, sobre seu pai, o cineasta Luís Sérgio Person. Em fase de finalização, chega aos cinemas em 2015. Narra as dificuldades da adolescente Estela (Clara Gallo) em viver suas descobertas sexuais. “É um rito de passagem”, comenta Marina. “Começa com Estela menstruando pela primeira vez e termina com a sua primeira transa.” O fantasma da Aids chega até a protagonista por meio de seu tio, vivido por Caio Blat. Depois de morar na Califórnia, “o melhor lugar para se viver nos anos 1960 e 1970, berço da contracultura”, nas palavras da cineasta, ele retorna ao Brasil infectado pelo vírus HIV e muito debilitado. Representa para Estela o mito do amor livre e da liberdade, mas está doente. Durante um ano, Marina se reuniu com duas colegas de colégio para construir o enredo. “Estela tem um pouco de cada uma de nós. Além das aflições inerentes à adolescência, iniciamos nossa vida sexual com medo de contrair o vírus da Aids, numa época em que a doença era uma sentença de morte. O caso de Cazuza foi o mais emblemático, mexeu com todas nós. A primeira geração de jovens que conviveu com isso foi a minha. 11#3 EM CARTAZ – CINEMA - SUSPENSE NA SALA DE AULA Ana Weiss (ana.weiss@istoe.com.br) “O Amor É um Crime Perfeito”, novo longa-metragem da dupla francesa Arnaud e Jean-Marie Larrieu (diretores de “Pintar ou Fazer Amor” e “Viagem aos Pirineus”), é uma adaptação do romance “Incidences”, de Philippe Djan (o mesmo de “Betty Blue”). Clasificado pela crítica americana de suspense hitchcockiniano, conta a história de um professor de literatura da Universidade de Lausanne, conhecido colecionador de aventuras amorosas com suas alunas. Marc, interpretado pelo ator francês Mathieu Amalric (“O Escafandro e a Borboleta”), mora com a irmã em um chalé isolado, região de lagos e montanhas entre a França e a Suíça e faz do lugar idílico o cenário para seus jogos de sedução. Um dia, porém, uma de suas mais brilhantes alunas, e recente conquista, desaparece. A pergunta “ele é inocente ou culpado?” impulsiona o suspense até o final. + 5 Filmes sobre a relação entre professores e alunos A PROFESSORA DE PIANO No filme de Michael Haneke, Isabelle Huppert interpreta uma pianista sádica que vive um caso amoroso com um de seus alunos. NUNCA FUI BEIJADA Comédia romântica sobre uma jornalista que retorna à escola para escrever sobre o mundo teen e acaba caindo nos braços de um professor. A BELA JUNIE De Christophe Honoré, narra a história de uma jovem de 16 anos, que muda de escola após a morte da mãe e desperta a paixão do professor de italiano. FATAL Apresenta Penélope Cruz na pele de uma jovem que se apaixona por seu orientador de mestrado, 30 anos mais velho. EDUCAÇÃO SENTIMENTAL De Júlio Bressane, conta a história de amor, cumplicidade e até aprendizagem entre o jovem e sua professora. 11#4 EM CARTAZ – CD - MAIS LOIRA DO QUE NUNCA Ana Weiss (ana.weiss@istoe.com.br) “Blondie 4(0) Ever” é o primeiro CD da banda nova-iorquina em três anos. Presença feminina importante na grande onda do punk rock dos anos 1970 e no new wave da década seguinte, não nega o passado no novo disco. A edição de luxo, dupla, é eclética: um álbum com faixas inéditas chamado “Ghost of Download”, para baixar, e um conjunto de grandes hits que ganharam novas versões (“Greatest Hits: Delux Redux”). 11#5 EM CARTAZ – TEATRO - UMA FAMÍLIA AMORAL Ana Weiss (ana.weiss@istoe.com.br) Em sua montagem de “Killer Joe”, do dramaturgo americano Tracy Letts, Mário Bortolotto leva ao palco do Teatro Cemitério de Automóveis, em São Paulo, uma família desestruturada e inescrupulosa. Para se livrar de uma dívida de drogas, um jovem de planeja matar a mãe e ficar com seu seguro de vida. Para tanto, conta com o apoio do pai e da madrasta, que contratam um matador de aluguel. A peça fica em cartaz até dia 3 agosto. AZ – TEATRO – 11#6 EM CARTAZ – LIVROS - OS MUITOS JOGOS DE CORTÁZAR Ana Weiss (ana.weiss@istoe.com.br) Esgotados há mais de 30 anos no Brasil, dois títulos do escritor argentino Julio Cortázar são reeditados pela Civilização Brasileira. “Final do Jogo”, publicado pela primeira vez em 1956, reúne 18 contos divididos em três níveis de dificuldade, medidos pelo esforço que o leitor deve fazer para compreender cada um dos textos. O segundo título, “Um Tal Lucas”, foi apresentado ao público pela primeira vez em 1979 e abarca os contos mais fantásticos do autor. 11#7 EM CARTAZ – DANÇA - SHAKESPEARE SOBRE SAPATILHAS Ana Weiss (ana.weiss@istoe.com.br) Confira os bastidores O balé “O Conto de Inverno”, do The Royal Ballet, de Londres, chega aos cinemas. Baseado na obra homônima de William Shakespeare, a coreografia encerra a temporada 2014 da Royal Opera House com exibição em salas brasileiras. Com produção de Christopher Wheeldon, um dos mais requisitados coreógrafos de balé da atualidade, o clássico da literatura inglesa conta o amor de Perdita e Florizel. Perdita é filha do rei Leontes e de Hermione – encarcerada grávida pelo ciumento marido, morre na prisão, após dar à luz a filha. A menina é adotada por uma família de pastores e acaba se apaixonando por Florizel. O balé será exibido nas salas Cinemark, nos dias 28, 29, 30 de junho e 1º de julho. 11#8 EM CARTAZ – AGENDA - OS MOSQUETEIROS/MAYAS/NEVILLE D'ALMEIDA Confira os destaques da semana Ana Weiss (ana.weiss@istoe.com.br) OS MOSQUETEIROS (Pela Netflix, a partir de 1º/7) – Série épica produzida pela BBC com o ator chileno Santiago Cabrera, terá a primeira temporada transmitida no País pelo serviço de tevê por internet. MAYAS (Na Oca, em São Paulo, até 24 de agosto) – Depois do fechamento para melhoria na circulação de público, a mostra de arte, arquitetura e estudos astronômicos da civilização maia reabre no museu paulista. NEVILLE D’ALMEIDA (No Centro Cultural Banco do Brasil, em Brasília, até 20/7) – A mostra recupera filmes raríssimos do diretor, como “Mangue-Bangue”. 11#9 ARTES VISUAIS - SOBRE RODAS White Cube São Paulo começa seu diálogo com a produção artística brasileira com individual de Daniel de Paula por Paula Alzugaray Objetos de mobilidade, ações de permanência/Inside the White Cube, White Cube São Paulo, até 23/8 Migração e deslocamento são pautas que sempre estiveram no caminho de Daniel de Paula. Desde o berço: já que ele nasceu em Boston, filho de brasileiros que imigraram para os EUA, e veio pequeno para o Brasil, onde hoje vive e trabalha. Independentemente deste ponto de partida, hoje, aos 25 anos, Daniel de Paula inicia uma carreira artística ancorada sobre uma base móvel, com residências e exposições entre o Brasil e a Europa. O interesse pelos estados transitórios da vida cotidiana é matéria comum aos três trabalhos de sua primeira individual realizada em uma galeria de arte. A mostra “Objetos de Mobilidade, Ações de Permanência” também marca a primeira vez que a White Cube São Paulo apresenta uma individual de um artista brasileiro. LUZ E SOMBRA - Obras de Daniel de Paula subvertem princípios da iluminação urbana A White Cube é a maior galeria do Reino Unido e uma das primeiras do mundo em credibilidade, faturamento e área ocupada – tem seis endereços, sendo que a White Cube Bermondsey, no sudeste de Londres, tem uma metragem de 5.440 m2. Desde que foi inaugurada, em dezembro de 2012, a filial paulistana apresentou cinco individuais de artistas estrangeiros e incluiu um brasileiro em uma exposição coletiva: o pintor Daniel Senise em “The Gesture and the Sign”. Mas é com Daniel de Paula que a galeria efetivamente inicia um diálogo com a produção brasileira e demonstra seu real comprometimento com a cena local. Após ter integrado a coletiva “Open Cube”, curadoria de Adriano Pedrosa, na White Cube Mason’s Yard, em Londres, em 2013 (detalhe: foi um dos 17 selecionados entre 2.900 inscritos em convocatória), Daniel foi convidado pelos diretores da galeria a realizar uma individual dentro do projeto “Inside the White Cube”. Este é um programa de exposições desenvolvido com artistas que (ainda) não pertencem ao casting dos artistas representados. “‘Inside the White Cube’ é um programa que já existe há muitos anos em Londres, e para a primeira edição em São Paulo estamos felizes em apresentar as obras de Daniel de Paula. Seu trabalho estreita as relações entre público e privado, promovendo uma maior interação com o espectador. Podemos perceber na sua arte um forte diálogo entre disciplinas como arte, arquitetura e geografia, além do tempo”, diz Karla Meneghel, diretora da White Cube São Paulo. DERIVA - O artista lê texto de Hélio Oiticica nas ruas de Paris “É muito bom que eles estejam propondo um diálogo com urgências locais”, diz Daniel, que apresenta três trabalhos na exposição. O primeiro, “Crux” (2014), consiste em um poste de iluminação urbana atravessado no chão da galeria. O segundo é a frase-título da exposição escrita em neon. Ambos os trabalhos têm um dispositivo comum: usam a luz com o objetivo de atrair o espectador. Mas, quando ele se aproxima, a luz se apaga. As obras são equipadas com sensores, que fazem com que a luz se desligue com qualquer movimento; para ver a obra iluminada, o espectador deve permanecer estático diante dela. São trabalhos, portanto, que estimulam a contemplação e o silêncio. A terceira obra exposta também fala da tensão entre mobilidade e permanência, pois é o resultado de uma série de caminhadas do artista durante a leitura de livros. É, portanto, fruto da combinação entre a experiência solitária (a leitura) e a atividade pública (usos ou derivas no espaço urbano). A primeira ação se deu em fevereiro de 2013, quando vivia em Paris, na residência artística Cité International des Arts. “Foram sete horas de leitura do texto ‘Aspiro ao Grande Labirinto’, de Hélio Oiticica. Saí da Cité, à beira do Sena, e fui parar no Banlieu, a periferia da cidade, que tem um caldo cultural e uma mistura que vão muito além da imagem turística que temos de Paris”, conta Daniel de Paula, que persegue a dissolução da dicotomia entre os conceitos de centro x periferia, público x privado, coletivo x individual. “Prefiro a complexidade do que comparações binárias, pois o espaço que habitamos é complexo. São Paulo é ao mesmo tempo centro e periferia hoje”, diz ele. 11#10 ARTES VISUAIS – ROTEIROS - FANTASMAS MODERNOS - SERGIO ROMAGNOLO/ GALERIA MARILIA RAZUK, SP/ ATÉ 25/7 por Paula Alzugaray Há algo de muito impressionista nas pinturas recentes de Sergio Romagnolo, apresentadas na primeira individual do artista na Galeria Marília Razuk, em São Paulo. As oito pinturas, que dividem o espaço com quatro esculturas de plástico modelado, apresentam sobreposições de imagens do mesmo lugar visto por diferentes pontos de vista. Não importa se elas podem ser representações de cidades da América Latina ou da Europa, de paisagens modernas, pós-industriais ou contemporâneas. Há nas pinturas de Romagnolo o fantasma das catedrais pinceladas por Claude Monet em 1894. Contam os livros de história que o impressionismo é a arte da representação da passagem do tempo. Fugindo do realismo fotográfico, os pintores impressionistas criaram uma linguagem que chegou muito perto do cinema, porque representou o dinamismo do tempo. Hoje, na era pós-televisão das relações em tempo real, Romagnolo persegue o tempo não cristalizado. As figuras fantasmagóricas e fora de registro representadas em suas pinturas têm o aspecto das imagens “defeituosas” derivadas dos sinais desencontrados da televisão analógica. Há ainda as quatro esculturas: uma flor, uma motocicleta e dois objetos disformes e fragmentários, como se tivessem perdido a forma e a função em explosões ou radiações, e se tornado restos de uma civilização. As obras de Romagnolo são, portanto, arquivos de temporalidades distintas: do impressionismo à televisão analógica, passando por um cenário de destruição à la “Mad Max”. Compõem essa arqueologia catedrais de Monet e personagens de tevê. Como a Feiticeira, protagonista de um seriado dos anos 1960/70, que foi “apropriada” pelo artista e “deslocada” para um texto de ficção científica que ele vem escrevendo há alguns anos. O texto “A Feiticeira e as Máquinas”, cujos dois primeiros capítulos estão disponíveis em uma publicação na exposição, dá ao espectador outras claves de leitura do trabalho. Entendemos que estamos em um território de investigação sobre os estatutos da imagem, numa espécie de elo perdido entre o mundo moderno e o pós-moderno. Encontro de escultura, pintura e literatura, a exposição de Romagnolo tem um efeito semelhante ao ruído branco, sonoridade produzida pela combinação simultânea de sons de todas as frequências. __________________________________________ 12# A SEMANA 2.7.14 por Antonio Carlos Prado e Elaine Ortiz "ITÁLIA QUER MARCO CIVIL À BRASILEIRA" O Marco Civil da Internet começou a vigorar no Brasil na semana passada depois de sete anos de muita discussão no Congresso. Apesar de ainda não estar plenamente regulamentado (a exemplo do que ocorre com diversas leis) no que se refere à neutralidade da rede e à guarda de dados por provedores, o texto já serve de modelo a outros países. A Câmara dos Deputados da Itália criou uma comissão de estudos sobre a internet para elaborar uma lei semelhante à brasileira. "APÓS 105 ANOS, CRIME DA MÁFIA É SOLUCIONADO" Essa notícia começa em 1909: o policial italiano Joe Petrosino se disfarçou de médico, agente sanitário e entregador de pão na Sicília para prender mafiosos, mas não adiantou: teve a sua identidade descoberta e foi executado. A notícia continua somente agora, 105 anos depois: a polícia finalmente acredita ter solucionado o caso. Investigando criminosos por delitos que nada têm a ver com o assassinato de Petrosino, em uma das interceptações telefônicas o mafioso Domenico Palazzotto diz abertamente que “o tio do meu pai, chamado Paolo Palazzotto, foi quem matou o policial Petrosino obedecendo ordens de Cascio Ferro”. Detalhe importante: Ferro foi chefe da máfia na Itália e nos EUA. Era atrás dele que Petrosino estava quando foi morto. "A RAINHA GOSTA DE "GAME OF THRONES"" Até a rainha da Inglaterra, Elizabeth II, se rendeu à série “Game of Thrones”. Na semana passada, enquanto viajava pela Irlanda do Norte com o príncipe Philip, ela visitou os cenários e conversou com alguns atores da série mais popular da história da HBO – somente nos EUA 7,1 milhões de telespectadores assistiram ao último capítulo da quarta temporada. Baseada nos livros do escritor George R.R. Martin, “Game of Thrones” conta a história de famílias que lutam pelo controle da terra mítica Westeros. "O TCU AVISA QUE HÁ 6,6 MIL ADMINISTRADORES SOB SUSPEITA" Um calhamaço desembarcou na Justiça Eleitoral. Remetente: Tribunal de Contas da União. Conteúdo: os nomes de 6.603 administradores públicos que estão com suas contas sob suspeição e, por isso, podem se tornar inelegíveis nas eleições deste ano – a decisão cabe agora à Justiça. Entre os eventuais “fichas-sujas” há desde secretários municipais até ex-governadores. O Distrito Federal é a unidade federativa do Brasil que mais acumula gestores em condições irregulares, segundo o TCU: 729 pessoas. "MAIS PRAZO PARA A CONSCIÊNCIA" As companhias interessadas em participar do prêmio As Empresas Mais Conscientes do Brasil, promovido por ISTOÉ, ganharam novo prazo. As inscrições, feitas através do site empresasmaisconscientes.com.br, foram prorrogadas até o próximo dia 18 de julho. Em sua primeira edição, o prêmio tem como objetivo identificar e reconhecer as companhias que melhor estão fazendo a transição para o Capitalismo Consciente, uma nova forma de se fazer negócios a partir da premissa de que sua contribuição para a sociedade vai além da geração de lucro, renda e empregos. Serão premiadas empresas de todos os portes – pequenas, médias e grandes – e ramos de atividade. "A CONDENAÇÃO DO ARAPONGA ANDY COULSON ATINGE DAVID CAMERON" Para obter informações exclusivas, o tradicional jornal britânico “News of the World”, 168 anos de existência e uma das galinhas de ouro do império do magnata Rupert Murdoch, lançava mão de todos os expedientes – até aqueles ilegais e antiéticos como grampear telefones de celebridades, políticos e integrantes da família real. A história veio à tona em 2011, o jornal foi fechado, a Grã-Bretanha endureceu a legislação sobre a mídia e o caso começou então a ser tratado na Justiça. O editor-chefe do tabloide Andy Coulson foi condenado e aguarda sentença que pode chegar a dois anos de prisão (a sua antecessora Rebekah Brooks foi absolvida). A condenação de Coulson gerou um mal-estar político para o primeiro-ministro David Cameron, que pediu desculpas por tê-lo contratado como seu assessor de imprensa em 2010, um ano antes de eclodir o escândalo das escutas. O difícil é acreditar que o então todo-poderoso Murdoch não sabia de nada. "US$ 35 BILHÕES PODEM VIR DO LIXO" Atender melhor à demanda elétrica do País, aumentar US$ 35 bilhões no PIB e gerar 110 mil empregos nos próximos 18 anos. Isso tudo seria possível somente com a reciclagem. A conclusão consta de estudo divulgado na semana passada pelo Banco Mundial. Segundo os dados, faz-se necessário investir de US$ 1 bilhão a US$ 2 bilhões por ano até 2030 para se obter êxito. O estudo é preparatório para a Cúpula do Clima da ONU que será realizada em setembro em Nova York. “O ÚLTIMO SELFIE" A alegria de fazer um selfie está estampada nos rostos das americanas Collette Moreno e sua amiga Ashley Theobald (ao volante). Elas se dirigem à festa de despedida de solteira de Collette no Estado de Missouri. A alegria da festa, a alegria do selfie, a alegria das moças – impossível elas saberem que tragicamente estavam registrando a última imagem da noiva em vida: oito minutos depois da foto o carro se chocou com um caminhão. Collette morreu. "OS MENSALEIROS JÁ PODEM TRABALHAR" Por nove votos a um, e agora com o ministro Luís Roberto Barroso relatando o processo do mensalão em substituição a Joaquim Barbosa, o STF autorizou na quarta-feira 25 que o ex-ministro José Dirceu saia do presídio da Papuda para trabalhar durante o dia, retornando a ele no período da noite. José Dirceu foi condenado ao regime semiaberto, mas, paradoxalmente, desde a sua prisão em 15 de novembro do ano passado, o antigo relator o mantinha em regime fechado sem dar-lhe autorização para trabalho externo – contrariando jurisprudência de 15 anos fixada pelo STJ. Dirceu provavelmente trabalhará na biblioteca do escritório de advocacia de José Gerardo Grossi, em Brasília. Também ganharam o direito a trabalho externo Delúbio Soares, Valdemar Costa Neto, Pedro Corrêa e Jacinto Lamas. O STF decidiu ainda que José Genoino não tem direito imediato à prisão domiciliar por apresentar cardiopatia, uma vez que diversos laudos médicos atestam que seu quadro de saúde hoje é estável. "NOVA YORK LEGALIZA A MACONHA MEDICINAL" Cresce nos EUA o número de Estados que legalizam o uso de medicamentos que possuem o princípio ativo da maconha em suas composições. Na semana passada o Estado de Nova York aprovou esse tipo de remédio no tratamento da analgesia para pacientes com câncer, Aids, glaucoma e esclerose múltipla. O Estado americano de Nova York é o 23º a legalizar medicamentos à base de maconha. LEILOADO OSCAR DE "MINHA NAMORADA FAVORITA"" Foi leiloado nos EUA o Oscar concedido em 1942 (melhor direção de arte em cores) a um dos principais clássicos do cinema: “Minha Namorada Favorita”, protagonizado por Rita Hayworth e Victor Mature. A estatueta foi arrematada por US$ 79,2 mil. Desde 1929, quando se deu a primeira premiação, até os dias de hoje já foram leiloados 200 Oscar. "A "MULHER IMPOSSÍVEL"" O corpo de Rose Marie Muraro, escritora e uma das principais líderes feministas do Brasil, foi cremado no domingo 22 no Rio de Janeiro – ela morreu aos 83 anos devido a um câncer na medula óssea. Rose nasceu praticamente cega, fato que jamais a fez esmorecer na luta pelos seus ideais. Publicou 35 livros, criou instituições de defesa dos direitos da mulher e enfrentou a Igreja Católica dada a sua opção pela Teologia da Libertação que nos anos 1960 e 1970 se opunha ao clero mais conservador e combatia a ditadura militar no Brasil. Quando foi demitida da editora católica Vozes, escreveu em 2002 em parceria com frei Leonardo Boff o livro “Masculino/Feminino”, marco no estudo da sexualidade. “Ela foi uma mulher notável, determinada em tudo, na luta contra a barreira da cegueira e na luta pelas suas ideias”, declarou a presidenta Dilma Rousseff. "EBOLA AMEAÇA TODA A ÁFRICA OCIDENTAL" Alerta dado pela organização Médicos Sem Fronteiras em concordância com a OMS: a epidemia de ebola está completamente fora de controle nos países africanos da Guiné, Libéria e Serra Leoa – cerca de 400 mortes em três meses. Está aumentando também o risco de sua disseminação. É o surto mais virulento desde que pela primeira vez médicos e sanitaristas falaram de ebola, em 1976. Segundo a OMS, atualmente ele é uma ameaça a toda a África Ocidental. O vírus do ebola tem taxa de letalidade na casa dos 90%. Não tem cura, muito menos vacina contra ele. Na África a transmissão, nesse momento, está se dando sobretudo nos próprios rituais de sepultamento das vítimas. "OURO EM CAIXA ELETRÔNICO" Já é possível em nove países comprar barras de ouro em caixas automáticos – mas somente nos EUA há máquinas desse tipo instaladas diretamente nas ruas e não em locais fechados e altamente protegidos. Em Manhattan, por exemplo, é um caixa da empresa alemã Gold to Go que está operando. Oferece moedas de prata e barras de ouro de uma onça (28,35 gramas). Os preços podem mudar a cada momento, já que são atualizados de acordo com as oscilações da cotação do ouro. "60 ANOS DE PODER" Ao longo de sua jornada de 59 anos de vida pública, o senador e ex-presidente do Brasil José Sarney contabiliza meio século de poder. É uma arte pragmática e dela faz parte, vez ou outra, o blefe do anúncio da aposentadoria. Na semana passada, a exemplo do que já fez em outras ocasiões, Sarney declarou que está abandonando a vida pública. Sarney foi o primeiro presidente civil depois da ditadura militar que durou duas décadas e deixou o governo a um sucessor escolhido pelo povo em eleição direta. Durante sua gestão comportou-se como um democrata, alternando momentos de enorme prestígio e intensa rejeição. A popularidade veio com o primeiro Plano Cruzado e a desgraça com a volta da inflação, denúncias de corrupção e manobras espúrias para aumentar seu tempo de mandato. Sarney saiu do Palácio do Planalto em baixa, mas jamais abriu mão do poder, compondo-se com todos os seus sucessores, fosse qual fosse o matiz ideológico.