0# CAPA 1.10.14 ISTOÉ edição 2340 | 01.Out.2014 [descrição da imagem: Fotos de José Roberto Arruda, Paulo Roberto Costa, José Dirceu, Paulo Maluf, Marcos Valério ÉTICA O vale-tudo, as mentiras das campanhas e os escândalos nos três poderes expõem a crise de valores no país. [parte superior da capa: do lado esquerdo foto do rosto de Marina e no lado oposto a de Aécio] EMPATE NA RETA FINAL Pesquisa ISTOÉ/SENSUS mostra que a sucessão será decidida no 2º turno e que Aécio e Marina estão embolados. _______________________ 1# EDITORIAL 2# ENTREVISTA 3# COLUNISTAS 4# BRASIL 5# COMPORTAMENTO 6# MEDICINA E BEM-ESTAR 7# ECONOMIA E NEGÓCIOS 8# MUNDO 9# TECNOLOGIA E MEIO AMBIENTE 10# CULTURA 11# A SEMANA _____________________________ 1# EDITORIAL 1.10.14 "AMARROTARAM A ÉTICA" Carlos José Marques, diretor editorial Poucas vezes se viu uma campanha eleitoral tão pobre de ideias e repleta de promessas populistas que mascaram intenções partidárias dos que estão no poder e ludibriam a confiança dos incautos. Com o Estado tomado por um aparelhamento que assaltou algumas das maiores companhias brasileiras, a ética na política desceu ao seu mais baixo degrau por esses tempos. Foi amarrotada e jogada de lado como valor descartável. Candidatos e aliados não exibem mais qualquer sinal de constrangimento ou resquício de dúvida ao mentirem para ganhar voto. Nem mesmo quando desmentem o que antes pregavam com resoluta convicção. Contrariam princípios e toleram malfeitos em nome de uma causa maior que é, em geral, o seu próprio proveito e o dos seus apaniguados em detrimento do interesse nacional. Alianças espúrias são formadas com o único intuito de manter o “status quo” de controle da máquina. Fichas-sujas ganham espaço e notórios larápios são saudados por autoridades como injustiçados do sistema. Banalizaram o crime do colarinho-branco. Pulverizaram e multiplicaram os saques aos cofres públicos. E o debate construtivo das mudanças necessárias e das soluções aos problemas evidentes cede lugar ao vale-tudo rasteiro nas campanhas. Está claro que valores morais ficam em segundo plano quando a sucessão de escândalos de corrupção, de peculato e de formação de quadrilha converte-se em cena corriqueira, passível de aceitação – e até de cínica justificativa – por aqueles que deveriam liderar seu combate. Na onda da emoção, muitos eleitores foram assediados com falsos compromissos que mais tarde, certamente, não serão cumpridos. Ao final e ao cabo do processo, a racionalidade irá prevalecer. A índole cordata e ordeira do brasileiro não pode, nem deve, ser confundida com resignação ou aceitação a tudo que está aí. Erram aqueles que imaginam poder enganar todos o tempo todo. A melhor arma de combate a essa impressão equivocada é a urna. Ali cada cidadão exerce seu legítimo direito de reagir, de manifestar sua opção e de influenciar por um país melhor. Não pairam dúvidas, a sociedade há de escolher o melhor caminho e de confirmar que, em sua imensa maioria, zela por padrões de dignidade e respeito à ética, como valores inegociáveis da Nação. ______________________________________ 2# ENTREVISTA 1.10.14 RENATO ARAGÃO - "SOU A FAVOR DO 'BOLSA PRESÍDIO' PARA OS POLÍTICOS" O humorista conta que não vota há tempos porque está decepcionado com a política e, às vésperas de completar 80 anos e após superar um infarto, diz se sentir com 47 por Eliane Lobato POSTURA - "Muita gente quando sai dos holofotes se desespera", diz ele Conhecido como um artista avesso a dar opiniões políticas, o comediante Renato Aragão, 79 anos, quebrou a regra e desabafou sobre seu desencanto com os governantes brasileiros à ISTOÉ. Aragão diz que não irá votar porque não acredita mais em promessas de candidatos, e que “as cadeias ficariam superlotadas” se os corruptos fossem todos presos. "Não bebo, não fumo, tenho boa qualidade de vida. O que me levou ao infarto? A emoção. Era aniversário de 15 anos da minha filha, Lívian, me emocionei muito" Imortalizado pelo personagem Didi Mocó, que encarnou no programa “Os Trapalhões”, exibido na Rede Globo por décadas e ainda presente nos filmes que ele faz, Aragão critica o engessamento do humor pelo politicamente correto e culpa os humoristas do sarcasmo e do escracho por terem pegado pesado e gerado tantas limitações. Ele vai pisar pela primeira vez na vida num palco teatral. A partir de 3 de outubro, protagoniza o espetáculo “Os Saltimbancos Trapalhões”, com músicas de Chico Buarque e direção de Charles Möeller e Cláudio Botelho, no Rio de Janeiro. "O humor virou avacalhação, apelação, crítica cruel. Nos Trapalhões, fazíamos brincadeira sem atingir ninguém, e o povo não via preconceito. Mas os humoristas passaram a pegar pesado" Istoé - O sr. vai estrear no teatro com quase 80 anos, a serem completados em janeiro. Por que resolveu enfrentar o palco agora? Renato Aragão - Trabalho desde 1960, vivia na correria entre televisão, shows e cinema, não tinha tempo antes. Agora, estou fazendo só dois telefilmes por ano e consegui tempo. Mesmo assim, para optar pelo teatro, deixei de fazer um filme. Então, a minha fase de vida atual é a de começo. Estou aprendendo tudo. O teatro é intimista, as pessoas estão ali, sentadas bem perto, veem todas as suas expressões. Em algumas cenas, chego tão na frente do palco que tenho a impressão de que mais um pouco e caio na plateia. Totalmente diferente de trabalhar em tela. São 2h15 de espetáculo e eu fico em cena o tempo todo. Entro e saio. É uma expectativa muito grande para mim essa estreia. Istoé - Este ano, o sr. teve um infarto. Também considera que sua vida recomeçou depois desse episódio? Renato Aragão - Sim. Brinco que vou até mudar meu nome para Didi Highlander (referência ao guerreiro imortal do filme homônimo) porque já tive um AVC (acidente vascular cerebral) há dois anos, já fraturei o rosto, e sigo renascendo. O infarto foi um susto grande. Eu não bebo, não fumo, tenho boa qualidade de vida, alimentação adequada, faço exercícios físicos. O que me levou a isso? A emoção. Era aniversário de 15 anos da minha filha, Lívian, me emocionei muito. De repente, estava no hospital. Eu pedia: ‘Meu Deus, não me leva agora’. Fui atendido por médicos de Primeiro Mundo. Depois que tudo já tinha passado, um deles falou: “Renato, você pode viver mais 70 anos”. Eu respondi: “Não quero, não. Me dá a metade só e está ótimo”. Istoé - Qual foi o momento mais difícil? Renato Aragão - Sinceramente, o pior foi depois do infarto, quando tive que ser internado novamente devido a uma infecção hospitalar. Tive um febrão, peguei uma bactéria terrível, fiquei sete dias internado. Isso foi o pior, acabou comigo. O conselho que dou aos outros, hoje, é o que pratico: alimentação de qualidade e exercícios físicos. Não como carne, doce, fritura, gordura. E meu lema é: troque todos os seus compromissos por um par de tênis, e vá para uma esteira, vá caminhar. Essa é a minha receita. Eu sigo, e vou durar até 110 anos. Istoé - Como encara o envelhecimento? Renato Aragão - Não me sinto com 80 de jeito nenhum. Minha idade cronológica é essa, mas a física é 47 anos – e já é muito. O que faz a gente não envelhecer é ter projetos. Mesmo que a pessoa se aposente, tem que fazer algum projetinho para a vida, tem que se ocupar e ler. Eu leio muito, contos, jornais, revistas. Leitura é bom para que nunca se tenha problemas de cabeça. Estou sempre fazendo coisas como sinopses de filmes, minisséries. Não posso detalhar porque já estão inscritos na Rede Globo. Istoé - Estamos perto das eleições. O sr. já escolheu seus candidatos às disputas majoritárias? Renato Aragão - Faz tempo que eu não voto. Estou muito decepcionado com a política. Sou a favor do Bolsa Presídio para os políticos. Porque é muita cara de pau o que vemos por aí. Como é que têm coragem de fazer isso com a população? Roubar e não saber de nada, como assim? O Bolsa Presídio para políticos ia fazer as cadeias ficarem superlotadas. Mas, como essa bolsa não existe, muitos estão aí pedindo votos. A gente fica desestimulado. Estou falando de modo geral, não quero citar nomes, todos os partidos têm seus políticos corruptos. Acho que tem um percentual muito pequeno dos que querem mesmo mudar o Brasil. Nas campanhas, eles falam que querem mudar o País, falam maravilhas que dizem que vão fazer, mas, quando chegam lá, não fazem. Eu quero votar, mas não consigo achar um candidato. Istoé - O que é prioritário mudar no Brasil? Renato Aragão - A educação, sem dúvida. Os professores têm que ser bem remunerados, e não são. O abandono escolar é muito grande, não tem escolas, merenda, ensino de qualidade. As crianças estão abandonadas. Não estou vendo iniciativas concretas sendo tomadas nesse sentido. Istoé - O projeto “Criança Esperança”, da Rede Globo, capitaneado pelo sr., apresenta resultados concretos ou é enxugar gelo? Renato Aragão - Ajuda. As doações são importantes, resolvem alguma coisa, mas isso não é nosso papel, é papel do governo. Claro que cada um de nós pode fazer a sua parte. Porém, acho que o importante que fazemos não é só angariar doações, é mostrar o problema da criança. Quando a televisão mostra isso, logo aparecem mais creches, mais ONGs, mais gente querendo ajudar – e isso é mais importante que as doações. Me sinto feliz em ter feito a minha parte. Istoé - Acha que os projetos sociais do governo são úteis? Renato Aragão - Tudo é útil. Aprovo o Bolsa Família, acho o Fome Zero divino. Mas não pode deixar de dar emprego. Essas pessoas têm que ser estimuladas a trabalhar para que não prefiram viver de bolsa. Isso eu ainda não vi, e teria que ser feito paralelamente. Deu Bolsa Família, tem que dar o Bolsa Emprego também. Aí, sim, viramos outro país. Istoé - Conhece a pobreza de perto? Renato Aragão - Meus pais sempre foram da classe média alta, mas eu vi a fome de perto no Ceará. Era criança, não tinha noção do que era aquilo, mas percebia que amigos comiam como refeição apenas uma banana misturada com rapadura ralada e farinha. Eu levava meu prato com carne, coisas boas, mas misturava a minha comida, que era muita, com a deles e, no final, tudo dava para quatro pessoas. Fazia aquilo por intuição, não sabia que elas estavam passando fome. Tinha uns cinco anos nessa época. Istoé - O sr. nunca foi convidado para ser candidato político? Renato Aragão - Fui há muito tempo, nem me lembro que partido era. Respondi que não tenho competência, não tenho saco para isso. Política deveria ser apenas para quem nasceu com vocação para se dedicar a causas. Hoje, política está passando de pai para filho. Tomara que seja uma geração melhor, bem-intencionada. O fato de eu não votar não significa que eu não tenha esperança. Tenho. Meu nome poderia ser, também, Renato Esperança, além de Didi Highlander. Tenho esperança de que o Brasil tenha políticos que não pensem em roubar. A frase melhor para o Brasil é “É só querer”. Se quiser, faz. É um país forte, rico, maravilhoso. Istoé - Recentemente, soubemos de suicídios de humoristas, como o americano Robin Williams e o brasileiro Fausto Fanti. Por que pessoas que lidam com a alegria são tão deprimidas a ponto de acabar com a vida? Renato Aragão - Não sei. Sei que muita gente, quando sai dos holofotes – independentemente de ser artista ou não –, se desespera. Alguns procuram drogas, álcool, entram em depressão por não conseguirem viver bem sem fama. Sobre humoristas, podem ter perdido a alegria. A vida tem etapas e temos que ir nos acostumando com essas etapas. Istoé - Em que etapa o sr. está? Renato Aragão - Na inicial. Estou na metade da minha vida. Istoé - O sr. acha que o humor mudou? Renato Aragão - O humor, de modo geral, está muito engessado pelo “politicamente correto”. E isso aconteceu porque o humor virou avacalhação, apelação, crítica cruel. Antes, a gente fazia brincadeira de palhaço e o povo não se incomodava, não via preconceito. Nos Trapalhões, tinha um paraíba (eu), um negro (Mussum), o galã de periferia (Dedé) e um menino que era mistura de adulto com criança (Zacarias). A gente podia fazer o que quisesse, e fazia sem atingir ninguém. Mas humoristas passaram a pegar muito pesado e apareceu o “politicamente correto”, necessário, mas uma camisa de força. Os Trapalhões são palhaços que existem dentro de uma caixa de vidro. Somos ingênuos, românticos, com humor visual. Existe outro humor que faz sátira e críticas com as quais não concordo. Mas quem sou eu para discordar? Istoé - Como vê o humor na internet? Renato Aragão - Acho que hoje é comum usar o humor e a internet para ridicularizar, agredir, enxovalhar. E todos ficam impunes. Se um comediante faz humor preconceituoso na tevê, será punido. Mas essa turma da internet fica impune. Há um outro lado de divulgação na internet que é bacana. Muitos trabalhos antigos dos Trapalhões, por exemplo, estão sendo resgatados e mostrados por pais aos filhos. Ou seja, há uma nova geração se divertindo com aquelas piadas. Istoé - Se há uma nova geração interessada no humor dos Trapalhões, por que não estão na tevê? Renato Aragão - Vou voltar, mas um programa semanal na tevê é muito estressante. Vou voltar aos poucos. ________________________________________ 3# COLUNISTAS 1.10.14 3#1 RICARDO BOECHAT 3#2 LEONARDO ATTUCH - PONTO DE INFLEXÃO EM SÃO PAULO 3#3 RICARDO AMORIM - ISAAC NEWTON E A ECONOMIA BRASILEIRA 3#4 PAULO LIMA - PODE CRER 3#5 GISELE VITÓRIA 3#6 BRASIL CONFIDENCIAL 3#1 RICARDO BOECHAT Com Ronaldo Herdy Quer lutar “Eu tinha 23%, né?”, disse Martha Suplicy, indagada se o PT estaria melhor em São Paulo com ela na disputa pelo governo do Estado. O ungido de Lula – Alexandre Padilha – tem menos de 10% na intenção de voto. A ministra apoia candidatos petistas em vários lugares – reuniu-se com Fernando Pimentel e a cultura mineira em Belo Horizonte, na sexta-feira 19. Ao comentário de que é a número 1 do PT na próxima eleição paulista, diz que o prefeito Fernando Haddad pode querer a reeleição. Mas deixou no ar a certeza de que o Palácio dos Bandeirantes é uma luta que julga ser capaz de vencer, em 2018. Arte Papo aberto Um dos artistas brasileiros de maior destaque no mundo, Cildo Meireles poderá ter uma obra exposta no Dia Art Foundation, em Nova York. O imenso museu reconhecido pela excelência de sua coleção de obras minimalistas quer comprar Cruzeiro do Sul, minúsculo cubo de madeira com 9 mm em cada face. O artista plástico pediu US$ 12 milhões pela inspirada criação. A negociação ainda não chegou a termo. Gente Fruto da fé Cerca de mil pessoas estão numa fila de espera para ter contato com o médium João de Deus em Nova York. O brasileiro fará seis sessões de cura espiritual no Instituto Ômega, a partir da terça-feira 30. Cada ingresso custa R$ 400. Conhecido mundialmente como “pai da motivação”, Wayne Dyer, autor de 30 livros na área de autodesenvolvimento, estará lá. Diz que o médium o curou de uma leucemia há dois anos, com uma cirurgia, estando ele em casa, em Maui, nos EUA, e o médium, em Goiás. Eleições 2014 Bela estreia Disputando primeiro mandato para a Câmara dos Deputados, Clarissa Garotinho(PR) tem tudo para ser uma das musas na nova Legislatura, em Brasília. Pesquisa do Instituto Informa para o PMDB fluminense, na quarta-feira 24, revelou que a novata política será a mais votada nessas eleições no Estado do Rio. Seu potencial é 363 mil votos. A seguir vieram Jair Bolsonaro (PP – 221 mil votos) e Chico Alencar (PSOL – 128 mil). Justiça Tortura se pune Uma versão em português com as 50 principais sentenças da Corte Interamericana de Direitos Humanos será lançada nesta quarta-feira 1º, em Brasília, na presença do presidente da instituição, Humberto Sierra Porto. Entre as decisões, a que não considera prescritos crimes de tortura, como os praticados durante regimes militares. Eles não são anulados por qualquer Lei de Anistia. Quem for ao evento deve levar ajudante. A obra tem sete encorpados volumes. Corrida Eleitoral Último canto Diz o ditado mineiro que “eleição e mineração, só depois da apuração”. O presidenciável o PSDB, Aécio Neves, acredita na máxima política. Ele marcou seu último comício para Belo Horizonte na quinta-feira 2 como o marco da virada. Na capital mineira, ele tem batido o PT ao longo dos últimos 15 anos. A data consta no calendário da campanha. Infância Ranking perverso Levantamento da Fundação Abrinq constatou que São Paulo é recordista no número absoluto de jovens em situação de trabalho infantil do país: 533 mil (15,16%), dos 3,5 milhões de registrados sno Brasil, com idade entre 5 e 17 anos. O reflexo dessa realidade perversa aparece nas escolas de ensino médio paulistas: três em cada dez meninos não estão em turmas adequadas à sua faixa etária. Judiciário Vovô venceu Aos 81 anos, Carlos Magalhães da Silveira ganhou R$ 50 mil da Arquitetura Urbanismo Oscar Niemeyer na segunda-feira 22. Acionou a empresa por dano moral porque logo após a morte do ex-genro e amigo (novembro de 2012) Niemeyer parou de receber o salário de R$ 5.763,00. Para o juiz Grijaldo Coutinho, da 19ª Vara do Trabalho do DF, “as folhas de ponto exibidas pela empresa, como tentativa desesperada de provar o abandono de emprego, nada significam. Ao contrário, os demais elementos nos autos as desmoronam rapidamente”. MEC Que susto! Ao abrir uma conferência na Academia Brasileira de Ciências no Rio de Janeiro, na terça-feira 23, o ministro Henrique Paim apresentou o secretário de Educação Superior do MEC, Paulo Speller, sentado ao seu lado. “É o único servidor do alto escalão do governo federal com emprego garantido após 31 de dezembro.” Antes que alguém pense que o PT jogou a toalha, vai a explicação. Speller foi eleito secretário-geral da Organização Ibero-Americana de Educação, Ciência e Cultura, cargo que ocupará a partir de janeiro de 2015. Indústria 4 x 3 Reunidos na CNI na quinta-feira 24, empresários da indústria começaram a discutir mudanças para o Conselho Administrativo de Recursos Fiscais, criado em 2008. Uma das ideias a serem submetidas à área econômica do governo federal é rediscutir os critérios de desempate no julgamento dos processos. Como cada turma tem três representantes da Fazenda Nacional e mais três dos contribuintes, o voto de minerva sempre lhe dói no bolso, segundo os empresários, pois é dado por alguém indicado pelo Ministério da Fazenda. Televisão Nova atração Entre 15 e 17 de outubro o Canal Brasil começa a exibir em alta definição. Hoje, uns seis milhões de assinantes da TV paga são usuários da tecnologia. A emissora tem 1.300 títulos de curta, média e longa-metragem em seu acervo. A maior parte está em HD, assim como os programas produzidos pelo canal nos últimos três anos. O investimento ficou em torno de R$ 1 milhão. Medicina Na UTI Para o Conselho Federal de Medicina, o PAC 2 respira com dificuldade na área da Saúde. Com base em relatórios oficiais do Comitê Gestor do programa, a entidade e a ONG Contas Abertas destacam que das 23.196 ações programadas, de abril de 2011 até abril passado, só 16,5% foram concluídas. Cerca de 40% à época estavam em estágios como “estudo e licenciamento”, “em contratação” ou “em licitação”. Arte Pela história Fundada em 1582 por José de Anchieta, a Santa Casa de Misericórdia do Rio de Janeiro vive a pior crise de sua história – há muito deixou de ser referência como hospital-escola. Em boa hora, o valioso patrimônio artístico da instituição será incorporado ao Museu Nacional de Belas Artes, vinculado ao Ibam. Entre as centenárias sete pinturas e três esculturas estão obras de Ferdinand Pettrich e Chaves Pinheiro. Livros Na boca da coxia Um ponto fora de curva no mercado editorial brasileiro, a Giostri Editora especializou-se em livros com peças de autores nacionais. Reza a tradição que obra de teatro não vende, mas a empresa tem estratégia que dá resultados: negocia em quiosques montados nas salas de espetáculo de São Paulo e do Rio de Janeiro exemplares com textos de peças de autores como Flávio Marinho, Lauro César Muniz, Luiz Salem, Maitê Proença, Maria Adelaide Amaral, Mauro Rasi e Sábato Magaldi. 3#2 LEONARDO ATTUCH - PONTO DE INFLEXÃO EM SÃO PAULO Haddad enfrentou a histeria conservadora, mas sua aposta civilizatória começa a dar certo na cidade. Alguns meses atrás, quando era confrontado com taxas recordes de rejeição à sua administração, o prefeito de São Paulo, Fernando Haddad, reagia com tranquilidade. “Vamos ver no fim do mandato”, dizia. De algumas semanas para cá, o que poderia parecer ilusão ou autoengano deu lugar a uma nova realidade. A popularidade de Haddad cresceu e os elogios, antes raros, se tornam cada vez mais comuns. “Pode-se gostar ou não do prefeito, mas ninguém há de negar que São Paulo, agora, tem um rumo claro”, disse o ex-ministro do Desenvolvimento, Luiz Fernando Furlan. Sim, São Paulo tem um novo rumo e ele está ancorado no transporte público ou em meios alternativos, como a bicicleta. Desde o início do mandato, Haddad já implantou 358 quilômetros de faixas exclusivas de ônibus e 78 quilômetros de ciclofaixas – que serão 400 até o fim de 2015. No caso dos ônibus, a velocidade média aumentou 68,7% com a mudança. Com as ciclofaixas, a expectativa do secretário dos Transportes, Jilmar Tatto, é de que o número de ciclistas, pelo menos, triplique. Especialmente, se for implantada a política de incentivos fiscais para as empresas que estimulem esse meio de transporte, com bicicletários e vestiários. Naturalmente, numa cidade acostumada com o mito de que bons prefeitos são aqueles que fazem túneis, viadutos e “minhocões”, Haddad assumiu um risco considerável. Enfrentou a histeria dos setores mais conservadores da sociedade e contrariou interesses do próprio PT, que de alguns anos para cá se tornou um partido mais obreiro do que propriamente operário. No entanto, a possibilidade de reeleição daqui a dois anos, que antes parecia remota, hoje é concreta. A São Paulo de 2016, provavelmente, será melhor do que a que Haddad recebeu em 2012. Do ponto de vista estético, a proliferação de ciclistas contribuirá para a melhoria da paisagem urbana e até para criar, nos paulistanos, uma sensação de “aggiornamento” em relação às outras metrópoles mundiais – com mais bicicletas, São Paulo será, ao mesmo tempo, mais bela e mais moderna. E se a elite aderir a um transporte público veloz e de qualidade, a cidade será também menos preonceituosa, desafiando a máxima do compositor Criolo, que disse que “Não existe amor em São Paulo”. Nos planos de Haddad para civilizar a maior cidade do País, há, ainda, uma lacuna. Tão ou mais importante quanto incentivar o transporte público é estimular o trabalho remoto – o que é cada vez mais possível com as novas tecnologias de comunicação e transmissão de dados. São Paulo pode e deve se consolidar como uma cidade inteligente, onde o trabalho vai ao trabalhador – e não o inverso. Se as empresas permitissem, por exemplo, que 20% de seus funcionários trabalhassem em casa a cada dia da semana, isso equivaleria ao rodízio de veículos na capital. Traria também benefícios ambientais e contribuiria para valorização dos comércios locais, nos bairros residenciais. Mas já houve uma inflexão civilizatória na cidade. 3#3 RICARDO AMORIM - ISAAC NEWTON E A ECONOMIA BRASILEIRA Para que a confiança dos empresários volte, é necessário estimular a produção e não apenas o consumo. Dia 5 de julho de 1687, Isaac Newton publica sua obra-prima, “Princípios Matemáticos da Filosofia Natural”. Descreve as três leis do movimento e redefine a ciência, em especial a física. O notável é que as três Leis de Newton ajudam a compreender também a economia. Primeira Lei do Movimento: um objeto continua em repouso, ou continua a se mover a uma velocidade constante, a menos que seja levado a mudar de estado por alguma força externa. Resumindo, objetos em movimento tendem a continuar em movimento e objetos parados tendem a continuar parados. Idem para a economia. Em países que crescem de forma sustentada e ritmo acelerado, a confiança dos empresários e consumidores no futuro é grande, o que os leva a investir e consumir muito, fazendo com que esses países continuem crescendo rapidamente. Já em países que, como o Brasil de hoje, crescem pouco ou nada, empresários e consumidores perdem a confiança e pisam no freio. Dilma tem razão quando diz que o pessimismo atrapalha o crescimento, mas esquece de dizer que o pessimismo foi inicialmente causado pelo crescimento pífio anterior. Para a economia brasileira voltar a crescer velozmente e sustentar sua expansão, a desconfiança tem de passar. Para que a confiança volte, é necessário estimular a produção e não apenas o consumo, como tem acontecido aqui há mais de dez anos. Como? Reduzindo impostos, burocracia e intervencionismo estatal e aumentando investimentos em infraestrutura, educação e treinamento. Se o próximo governo fizer isso, os investimentos crescerão e com eles a geração de empregos, a confiança dos consumidores e as compras. Segunda Lei de Newton: a mudança de movimento é proporcional à força externa. A economia funciona da mesma forma. O desempenho da economia brasileira será diretamente proporcional à força que a impulsionar. Quanto mais significativas as mudanças de política econômica, maior pode ser a recuperação. Porém, segundo Newton, força é um vetor que corresponde à massa multiplicada pela aceleração. Em vetores há dois componentes: um de magnitude, outro de direção. Com a economia não é diferente. Não importa apenas se as mudanças são significativas, mas se levam à direção certa. Mudanças incoerentes, na melhor das hipóteses, anulam-se e a economia do país não sai do lugar. Na pior, fazem a economia encolher, como aconteceu no Brasil no primeiro semestre. Terceira Lei de Newton: para toda ação há sempre uma reação igual e contrária. Trazendo para nossa realidade, mudanças que são boas para todo o país não são necessariamente boas para todos no país. Os prejudicados farão o que puderem para evitá-las. Corruptos não querem que sequem suas fontes, burocratas não querem leis mais simples, beneficiários de programas de governo, sejam do Bolsa-Família, sejam de quotas educacionais ou de financiamentos subsidiados do BNDES, querem sempre mais recursos. Desmontar nosso Estado paternalista e ineficiente é um desafio hercúleo. Os benefícios de cada mudança são difusos, divididos por todos os brasileiros; as perdas são concentradas nos atuais beneficiários. Grandes mudanças, e particularmente as que precisam de aprovação no Congresso, só são possíveis quando um presidente recém-eleito toma posse, chancelado pelo apoio de dezenas de milhões de brasileiros. Voltar a crescer bem é totalmente possível, mas, se o próximo governo não tomar as medidas necessárias já em seus primeiros meses de mandato, teremos de esperar mais quatro anos por outra chance. Ricardo Amorim é economista, apresentador do programa “Manhattan Connection”, da Globonews, e presidente da Ricam Consultoria 3#4 PAULO LIMA - PODE CRER Você pode não conhecê-la e não acreditar no que ela acredita. Mas, creia, Bruna Karla é hoje uma das maiores figuras do pop nacional. É bem possível que você não conheça a mocinha com cara e pose de santa aí ao lado. Mas, acredite, muita gente conhece. É chover no molhado, hoje, discorrer sobre como há fenômenos pop incríveis acontecendo sem que precisem passar pelos canais da chamada “mídia convencional”. Mas quando tais fenômenos se materializam em forma de gente e de milhões de discos vendidos, por exemplo, ficam ainda mais instigantes. A cantora Bruna Karla, a loirinha da foto, nasceu no morro da Congonha, numa comunidade pobre e numa família mais pobre ainda. Sem nenhuma ponta de constrangimento, na verdade com orgulho, ela relata que morava de favor com o pai, pedreiro, e a mãe, dona de casa, num pequeno imóvel atrás da igreja. E foi justamente nela que, muito menina, começou a cantar. Como relatou à repórter Kátia Lessa, Bruna, hoje com 25 anos de idade, dos quais 13 de ministério, já nasceu em berço evangélico. Ela lembra que aos 3 anos subia na mesa da escola para simular cultos. Aos 5 pedia ao pastor para cantar na igreja e um ano depois já fazia shows em outros templos. Bruna também lembra que, como não tinha computador nem televisão, não tinha muito acesso ao que rolava fora da comunidade evangélica. “Minha mãe arranjava umas fitas cassete de cantoras gospel e eu ensaiava igual. Fui muito humilhada na vida. As pessoas diziam: ‘Você mora aqui neste buraco. Ninguém nunca vai te ver. Você acha que um dia vai fazer sucesso na TV?’ Hoje, a mesma menina ostenta números que desafiam ídolos do porte de Ivete Sangalo e Claudia Leitte: nove milhões de fãs no Facebook, sete discos gravados e mais de cinco milhões de cópias dos seus cds vendidas. Ela conta que se casou virgem e que até se arrepende de ter dado alguns beijos no rapaz que namorou antes de conhecer o marido. Diz também que vive brigando com a balança, que pretende treinar boxe para ficar em forma e que segue os preceitos de sua igreja sobre questões polêmicas como aborto e casamento gay. “Como serva de Deus, acho que a relação homossexual é pecado. Mesmo assim não concordo com as agressões aos homossexuais. Cada um escolhe ser o que quiser e é preciso respeitar isso. Mas acredito que orando a pessoa pode deixar de ser gay. Já ouvi muitos testemunhos na igreja de gente que mudou de vida e conseguiu ter uma família”, afirma com tom de pastora. Ainda que opiniões e posições como essas devam provocar rejeição em boa parcela da sociedade, há algo que não se pode negar. Com todas as consequências nefastas que a tecnologia da informação e as redes digitais acabam gerando como subproduto, diversidade e espaços mais democráticos de mercado e de debate são, definitivamente, coisas a celebrar. 3#5 GISELE VITÓRIA Gisele Vitória é jornalista, diretora de núcleo das revistas ISTOÉ Gente, ISTOÉ Platinum e Menu e colunista de ISTOÉ A nova dupla A foto acima provoca esta pergunta: o que Deborah Secco, atriz da Globo, tem a ver com Marcos Mion, apresentador da Record? É simples: ambos são apaixonados por teatro e estão juntos na peça “Mais Uma Vez Amor”, de Rosane Svartman. A história começou no Gala Brazil Foundation, em São Paulo, em maio, quando Deborah e Mion se encontraram por acaso. Papo vai, papo vem e a atriz perguntou o porquê de o apresentador, veterano das coxias, não voltar aos palcos. Ele respondeu que não recebia convites. Então Deborah convidou. A estreia, em Niterói (RJ), na sexta-feira 27, é o começo de uma longa temporada da nova dupla. ISTOÉ – A química de vocês deu certo? Deborah Secco – Estou muito feliz. Em novembro faço aniversário e sempre foi um sonho completar 35 anos fazendo tevê, cinema e teatro, tudo junto (ela está na novela “Boogie Oogie” e estreia em novembro o filme “Boa Sorte”). Marcos Mion – Deborah é a maior artista deste país. Isso vai ser ótimo. ISTOÉ – Como foi esse encontro? Mion – Conheço a Deborah há anos. Cobria as peças dela quando estava na MTV. No baile do Brazil Foundation, enquanto ela me mostrava fotos do filme “Boa Sorte”, surgiu o papo de teatro. Deborah – Sempre achei o Mion genial. Quando mandei o texto, ele chorou. Aí vi que ele era o cara. A cada ensaio, ele me surpreende com a força e a verdade que traz ao palco. ISTOÉ – Deborah, você montou essa peça em 2010... Deborah – Sempre que volto ao teatro, remonto essa peça. Ela me emociona. Sou romântica. Acredito na força do amor. Os encontros e desencontros do casal protagonista fazem as pessoas se enxergarem ali. ISTOÉ – Mion, como é voltar aos palcos? Mion – O teatro não sai da gente, né? É a sensação de voltar para casa. Até entrar na tevê, passei todos os dias da minha vida no palco, desde os 13 anos. Era daqueles atores batalhadores. Já fiz peça para três pessoas na plateia, sendo que uma delas era a minha mãe. Em alta Um nome anda em alta na corte de Marina Silva: Rubens Ricupero, ex-ministro da Fazenda no governo de Itamar Franco, que substituiu Fernando Henrique Cardoso, entre 1993 e 1994. Ricupero é hoje diretor da Faculdade de Economia da Faap e do Instituto Fernand Braudel de São Paulo. Até quem não pertence à campanha da candidata do PSB à Presidência sabe que ele gosta muito dela. Parece que é correspondido. Caminho adiado A ong Caminho de Abraão, que promove a paz dos povos do Oriente Médio e no Brasil tem adeptos como David Feffer, Abilio Diniz, Alexandre Chade e Carlos Jereissati, transferiu a caminhada deste ano para junho de 2015. A caminhada era esperada por conta do momento delicado entre Israel e Palestina. Mas o foco do País na eleição foi uma das pedras no meio do Caminho. O plano da ong agora é juntar o evento com uma reunião do board mundial em 2015 e também lançar em São Paulo o novo livro de seu fundador, William Ury. Parto em casa Nasceu em casa no sábado, 13 de setembro, de parto natural, a primeira neta de Walter Feldman, coordernador da campanha de Marina Silva. A psicóloga e ambientalista Elis Feldman, 28 anos, caçula do político e “marineira” antes do pai, deu à luz Dora, que nasceu com três quilos, sem anestesia. “Só soube oito horas depois. Ela me ligou, contando a surpresa. Foi uma emoção”, diz o avô. Tiago eclético A dias da estreia de sua primeira turnê musical “Eclético”, Tiago Abravanel fraturou o pé esquerdo ao pular de paraquedas num quadro do “Domingão do Faustão”. Mas nada que o desanimasse. “O show acontecerá de qualquer maneira. Como é bem teatral, fiz adaptações”, diz. Ele terá como “assistente de palco” uma atriz que encarnará uma enfermeira. “É fato que existe um pé quebrado. Então, vamos brincar”, sorri. Tiago usará perucas e cantará sucessos como “Vale Tudo”, de Tim Maia, e “Menina Veneno”, de Ritchie, além de canções inéditas. O primeiro show será sexta-feira 3, no Rio. E o Silvio vai? “No Rio, acho que não. Mas para o show de São Paulo, ele já tem convite”, diz Tiago. O artista também prepara parcerias com Ana Carolina e Carlinhos Brown. “Existe, sim, esse movimento. Vamos compor juntos ou serei o intérprete. Vem coisa boa por aí.” Há 30 anos, Madonna virou Madonna Prestes a lançar seu 25º disco, Madonna completou 30 anos no topo da fama, como a maior estrela do show biz. Em setembro de 1984, ela fez sua grande estreia mundial cantando “Like a Virgin”, no palco do MTV Video Music Awards. Vestida de noiva, a cantora rolou pelo palco, escandalizou e virou ícone pop. Hoje, Madonna celebra a data fazendo música. Imersa na produção de seu novo álbum – ainda sem nome –, que lança em 2015, ela dá pistas nas redes sociais do que vem por aí: “As coisas boas vêm aos que esperam. Não posso servir um bolo assado pela metade”, avisou. Na moda e na ONU A moda já era um caminho previsível para a ex-spice girl Victoria Beckham. Agora, o ícone fashion surpreendeu com um tempero especial na cena política mundial. Tornou-se embaixadora da boa vontade da Unaids (Programa das Nações Unidas para a Aids). “Precisei fazer 40 anos para perceber que tenho uma responsabilidade como mulher e mãe”, disse ela, na Assembleia-Geral da ONU, em Nova York. Victoria trabalhará para que crianças da África do Sul nasçam sem o vírus da Aids e mulheres soropositivas tenham acesso a cuidados e remédios. “Visitei o país e fiquei tocada. Cheguei em casa e sabia que tinha que fazer algo.” Em nome da causa, ela deixou de ir à abertura de sua primeira loja em Londres. Em Nova York, contudo, a família foi em peso ao desfile de sua marca. David Beckham e os quatro filhos, Brooklyn, Romeu, Cruz e Harper, alegraram a fila A. “Meus filhos não sabiam que eu tinha um trabalho até irem ao meu desfile”, disse a estilista. 3#6 BRASIL CONFIDENCIAL por Eumano Silva Assine Campanha de Dilma multiplica diárias de militares As andanças da presidenta Dilma Rousseff neste ano eleitoral provocaram um aumento significativo nos gastos com diárias do Palácio do Planalto. Para proteger a candidata à reeleição, o ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), general José Elito Carvalho Siqueira, viu as despesas com viagens de militares de seu setor aumentarem 1.500 % em relação a 2013. No ano passado, esses pagamentos atingiram R$ 26 mil. Em 2014, até agora, os custos somam R$ 426 mil. É o custo da campanha. Contra a homofobia Pesquisas internas do PSB mostram que um dos motivos da queda de Marina Silva nas pesquisas é sua condição de evangélica, muitas vezes associada ao discurso homofóbico. Para desmanchar essa imagem, Marina convocou uma eleitora insuspeita: Adriana Calcanhoto. A cantora é casada com Suzana de Moraes, filha do poetinha Vinicius de Moraes. Um juiz cuidadoso I Na vitrine do escândalo da Petrobras, o juiz federal Sérgio Moro tem um critério especial para selecionar a equipe que o cerca. Em vez de escolher agentes e procuradores renomados para confiar os detalhes mais secretos da Operação Lava Jato, Moro opta por jovens talentos. Um juiz cuidadoso II Os auxiliares de Sérgio Moro na Lava Jato têm menos de dez anos de serviço público e perfis de aguerridos críticos da corrupção no Brasil. O juiz desconfia de quadros que tiveram rápida ascensão na carreira. Associa esse tipo de sucesso a empurrões de padrinhos políticos. Genu de novo Condenado à “prestação de serviços comunitários” na ação penal 470, o ex-assessor do PP João Claudio Genu busca um bom advogado. Ele avalia que não escapará do inquérito da Lava-Jato. Ganha força a tese de que o mensalão adotou novos métodos após o escândalo de 2005. PP...Petrobras A Polícia Federal descobriu que, mesmo após a morte do deputado José Janene (PP-PR), seus familiares e aliados políticos continuaram com acesso aos cofres públicos. A locadora de veículos JCR, de um irmão do falecido, obteve contrato milionário com a Petrobras em 2012. Omissão municipal Mais de 2.800 câmaras municipais de todo o País desrespeitam solenemente a lei de transparência, que obriga órgãos públicos a divulgar na internet relatório de suas despesas – pagas, claro, com dinheiro público. De acordo com a lei, os legislativos municipais deveriam ter colocado no ar as páginas de transparência em maio de 2013. Candidato a ficha suja A Justiça Federal da Paraíba deve julgar em breve o processo que acusa o ex-senador Wilson Santiago de passar empresas para o nome de laranjas e sonegar cerca de R$ 30 milhões à Receita Federal. Candidato ao Senado, não poderá assumir se for condenado por infringir a Lei da Ficha Limpa. A força dos sobrenomes O novo presidente do Conselho Nacional de Justiça, Ricardo Lewandowski, vai mandar para a gaveta uma proposta do antecessor Joaquim Barbosa que causa grandes preocupações na elite jurídica de Brasília. Barbosa pretendia editar uma norma para proibir filhos de ministros do Judiciário e desembargadores de atuarem como advogados nos tribunais do país. A medida atingiria uma centena de profissionais que circulam nas cortes com mais desenvoltura do que os colegas sem filiação influente. Lewandowski disse a dois interessados que a proposta ficou no passado. Os sobrenomes continuam com prestígio. Para não cair no fosso A direção do Senado decidiu acelerar o processo de compra de novos elevadores. Os equipamentos que há 50 anos sobem e descem os 28 andares do anexo I deixaram servidores e parlamentares na mão. Em agosto, uma pane assustou os usuários e provocou incêndio na casa de máquinas. A administração da Casa vai gastar mais de R$ 8 milhões para substituir a parafernália antiga. Toma lá dá cá Embaixador do Iraque no Brasil, Adel Al-kurdi ISTOÉ – Como o governo do Iraque avalia a crítica da presidenta Dilma na ONU aos bombardeios contra o Estado Islâmico? Al-kurdi – Entre outros assuntos, ela manifestou posição contra todo tipo de terrorismo. Disse também que os ataques têm de ser monitorados pelas Nações Unidas. A posição brasileira é respeitada e entendida pelo Iraque. ISTOÉ – Há brasileiros no Estado Islâmico? Al-kurdi – Não tenho notícias oficiais sobre a presença de brasileiros. Já soubemos de um terrorista de origem chilena. ISTOÉ – O que o Iraque espera da comunidade internacional? Al-kurdi – Contamos com a ajuda dos parceiros, sem especificar quais, para resolver esse conflito. Rápidas * O projeto do submarino franco-brasileiro está adernando. A cúpula da Marinha descobriu recentemente que a prometida transferência de tecnologia de propulsão nuclear depende de aval da Alemanha, que possui patente sobre alguns componentes estratégicos. * Ao investigar a rede de apoio aos rebeldes da Síria, um serviço de inteligência europeu descobriu indícios de que um grupo árabe importador de carne da América Latina, inclusive do Brasil, ajudaria a financiar o sanguinário Estado Islâmico. * O ex-senador Eduardo Azeredo (PSDB-MG) pediu ao Senado, este mês, um ressarcimento de R$ 4,4 mil, referentes a despesas médicas. Ele renunciou ao mandato em 2010 para não ser julgado pelo Supremo Tribunal Federal no processo do “mensalão mineiro”. * Na tarde de quarta-feira 24, os soldados que fazem a patrulha do estacionamento do Comando da Aeronáutica, em plena Esplanada, levaram um susto. Um homem armado roubou um carro à luz do dia e os militares, estupefatos, nada fizeram para impedir. Retrato falado O senador José Eduardo Fleury (DEM-GO), suplente do ex-parlamentar cassado Demóstenes Torres, tornou-se um sucesso surpreendente entre os piadistas de plantão do Senado graças ao jeito solto que imprime em seus discursos. Fleury, que é cadeirante, sentiu-se à vontade ao enaltecer a luta dos portadores de deficiência visual, em audiência realizada na Comissão de Direitos Humanos. Mas, dessa vez, a oratória do parlamentar não agradou aos presentes. Se procurar, tem mais A Operação Frota, deflagrada pela Polícia Federal na quinta-feira 25, pode ser a ponta de um iceberg no Ministério da Saúde. Servidores contam que, além das fraudes investigadas na semana passada, quatro contratos firmados pela pasta com locadoras de veículos têm preços estratosféricos. O ex-ministro Alexandre Padilha e o atual, Arthur Chioro (foto), receberam ofícios com alertas sobre o caso. Oposição cobra resposta Deputados da oposição querem saber se a Secretaria de Políticas para as Mulheres adotou medidas contra casos de assédios moral e sexual ocorridos dentro da instituição. Em julho, servidores entregaram à ministra Eleonora Menicucci um manifesto com denúncias desse tipo. ___________________________________________ 4# BRASIL 1.10.14 4#1 O SUCATEAMENTO DO IBGE 4#2 O QUE O DOLEIRO PODE ENTREGAR? 4#3 "TENHO QUE CONSTRUIR MEU PRÓPRIO CAMINHO" 4#4 BANDITISMO ELEITORAL 4#5 A MENTIRA CONTINUA 4#6 ÉTICA: UM CONCEITO CADA VEZ MAIS DIVORCIADO DA POLÍTICA 4#7 EMPATE NA RETA FINAL 4#1 O SUCATEAMENTO DO IBGE Sindicância no instituto, após os erros nos resultados sobre a desigualdade no País, poderá lançar luz sobre um cenário de divergências internas, falta de estrutura e influência política em um órgão cuja sobrevivência depende de credibilidade Izabelle Torres (izabelle@istoe.com.br) Um dos mais tradicionais e respeitados órgãos federais do país, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) vive uma crise com potencial para colocar em xeque os dados divulgados pelo governo. Na semana passada, o instituto passou pelo constrangimento de desmentir os resultados sobre a desigualdade social no Brasil revelados pela Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD). Oficialmente, o problema ocorreu devido a um erro de metodologia que teria superestimado informações das regiões metropolitanas de alguns estados. O índice que mede as discrepâncias sociais passou de 0,496 em 2012 para 0,495 no ano passado, o que indica uma estagnação na redução da desigualdade, e não o aumento dela para 0,498, como fora divulgado inicialmente. A má notícia em relação à desigualdade obrigaria a presidenta Dilma Rousseff a reformular o discurso de campanha à reeleição e a baixar o tom na propaganda feita em torno de suas realizações. DE SAÍDA - Com a crise, Wasmália Bivar, presidente do IBGE, deve deixar o cargo Enquanto ministros esperneavam contra o primeiro resultado divulgado, a cúpula do IBGE se reunia para pensar uma forma de desmentir os próprios dados e assumir o erro. A correção foi feita com rapidez e sem rodeios, o que atendeu às necessidades imediatas da campanha petista. Dilma classificou o erro como “banal” e, para dar uma resposta à sociedade – principalmente aos eleitores –, mandou instalar duas sindicâncias encarregadas de descobrir a origem e os responsáveis pela trapalhada. Uma das iniciativas será executada por funcionários do Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão, pasta à qual o IBGE se subordina. A outra sindicância ficará a cargo de uma instituição externa. Se as investigações forem a fundo, a barbeiragem da semana passada servirá para jogar luz em um cenário de divergências internas, sucateamento e influência política em um órgão cuja sobrevivência depende de credibilidade. “O problema é enorme. Cada vez mais precisamos trabalhar com menos estrutura, menos recursos e menos pessoas treinadas”, afirma Suzana Drummond, diretora do sindicato dos servidores do IBGE. Na verdade, a crise no instituto se arrasta há muito tempo, mas somente este ano se tornou pública. Os funcionários ficaram em greve 79 dias por melhores condições de trabalho e contra as diretrizes políticas impostas ao órgão. ISTOÉ ouviu técnicos do instituto para entender o que está por trás do erro grosseiro em uma das mais importantes pesquisas anuais realizadas sobre o Brasil. Dentro do IBGE, há quase um consenso em que os governos petistas sucatearam o órgão com sucessivos cortes orçamentários. Avalia-se também que o órgão contrata servidores efetivos em número menor do que o dos que se aposentam ou se transferem para áreas com salários melhores. Para preencher as vagas, são recrutados trabalhadores temporários com treinamento deficiente. Para rebater as críticas de sucateamento, a presidenta Dilma diz que fez centenas de contratações. Na prática, porém, não foi bem assim. Segundo dados do sindicato, há cinco anos o IBGE tinha cerca de 14 mil funcionários. Hoje este total continua mais ou menos o mesmo, mas em torno de 6 mil são terceirizados, sem qualificação específica. O montante de recursos também diminuiu. Para o próximo ano, por exemplo, em vez dos R$ 776 milhões solicitados pelo instituto para as pesquisas, o governo prevê a liberação de R$ 204 milhões. Em alguns casos, a interferência do governo atual no trabalho do IBGE se dá de forma ainda mais contundente. Em maio, por ordens do Planalto, a divulgação oficial da PNAD Contínua foi adiada para 2015 por trazer resultados desfavoráveis ao governo. Ao divulgar números favoráveis e adiar a divulgação de estatísticas que poderiam prejudicar o discurso governista, a cúpula do IBGE deixa clara a relação de dependência do instituto em relação ao governo e ao partido que indica seus diretores. A interferência política no órgão chamou a atenção da Comissão de Fiscalização e Controle da Câmara, que tentou por quatro vezes, sem sucesso, discutir o assunto com as autoridades do órgão. Em consequência da última crise, a presidente do instituto, Wasmália Bivar, avisou a interlocutores que vai deixar o cargo. Será mais um capítulo triste na história recente do órgão, nascido em 1938, que se tornou referência de credibilidade nos dados sobre o Brasil.  4#2 O QUE O DOLEIRO PODE ENTREGAR? Ao detalhar como funcionava o esquema de lavagem de dinheiro e pagamento de propinas a políticos, o doleiro Alberto Youssef ameaça dobrar o tamanho da lista de ministros e parlamentares delatados pelo ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa Claudio Dantas Sequeira (claudiodantas@istoe.com.br) Nos corredores do poder em Brasília, “xeique” é o apelido usado para designar empresários influentes que embolsaram bilhões nos anos dourados da gestão petista à frente da Petrobras. Na quarta-feira 24, ao aceitar os termos de um acordo de delação premiada, o doleiro Alberto Youssef prometeu entregar nomes e detalhes das operações que criaram esses novos bilionários. Em seu depoimento, conforme ISTOÉ apurou, será explicado o esquema de pagamento de propinas e lavagem de dinheiro, que inclui, segundo o doleiro disse a procuradores, a criação de até cinco estágios diferentes de off-shores em paraísos fiscais. “São como cascas de uma cebola ou aquelas bonecas russas, que se fecham uma dentro da outra”, disse uma fonte ligada à investigação. HOMEM BOMBA - O doleiro Alberto Youssef simulou mais de 3,6 mil operações de importação e exportação que movimentaram bilhões Informações obtidas pela reportagem indicam que, para escapar dos vários processos em que é réu, o doleiro tem a intenção de revelar como o esquema financeiro paralelo criado desde a época do mensalão, em parceria com o falecido deputado José Janene (PP), continuou abastecendo contas de partidos e políticos. Confirmada a disposição do doleiro em contar tudo o que sabe e vivenciou, o tamanho da lista de ministros e parlamentares delatados pelo ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa pode dobrar. Pelo papel central que detinha na organização criminosa herdada de Janene, morto em 2010, o MPF espera que Youssef contribua também para a compreensão mais ampla de um esquema que drenou recursos, não apenas da Petrobras, mas dos Ministérios de Minas e Energia, Cidades, Integração, Saúde e Transportes, além de bancos públicos e estatais elétricas. Para os procuradores que compõem a força-tarefa da Lava Jato, sem as informações de Youssef seria impossível rastrear o destino dos recursos que foram desviados de obras públicas. Apesar dos evidentes indícios de superfaturamento em grandes projetos, como o da Refinaria de Abreu e Lima, que, segundo o TCU, já chega a R$ 1,7 bilhão, o MP quer saber como o dinheiro foi “esquentado” em operações de comércio exterior e da estruturação de créditos para projetos de fachada, além dos números das contas bancárias no exterior. Já se sabe, por exemplo, que Youssef simulou mais de 3,6 mil operações de importação e exportação que movimentaram ao todo R$ 1 bilhão em contas de instituições financeiras de 24 países na América. DELAÇÃO - Operação Lava Jato da Polícia Federal poderá ter desdobramentos com novas revelações do doleiro Um dos procuradores do grupo disse à ISTOÉ que a quebra dos sigilos bancários de pessoas físicas e jurídicas arroladas no inquérito até agora revelou menos do que se esperava. Não há mais “saques na boca do caixa” como no mensalão. “Eles refinaram o pagamento de propina”, diz o procurador. Nas conversas informais que levaram ao acordo de delação, que ainda precisará ser homologado, Youssef explicou que a Bolsa de Valores tornou-se um dos melhores ambientes para fraudes financeiras. Segundo ele, a atual matriz energética brasileira, concebida à época em que José Janene presidia a Comissão de Minas e Energia da Câmara e Dilma Rousseff era ministra do setor, tornou-se uma grande bolha de especulação, um campo fértil para fraudes. “Se falta energia no Brasil é porque 70% das empresas do setor não existem de fato e nunca existirão”, disse o doleiro. Ele explicou que o esquema consiste na abertura de empresas de fachada, também chamadas de “power-point”. Com ajuda de agentes públicos, elas são autorizadas a comercializar ativos, alavancando recursos no mercado financeiro por meio de corretoras de valores, que recorrem a fundos de investimentos – especialmente os grandes fundos de pensão. A anuência política garante a concessão de linhas de crédito público, como do BNDES. Mas esses empréstimos nunca serão pagos. O dinheiro desaparece após uma série de incorporações feitas por empresas de investimentos, participações ou holdings financeiras controladas por off-shores em paraísos fiscais. Como se vê, é um sistema complexo de fraudes que se utiliza das vias legais. Youssef revelou, por exemplo, que muitos bancos pequenos e médios que quebraram nos últimos dez anos foram usados para lavar dinheiro do esquema. Ele promete entregar os nomes. Assim como o de funcionários de grandes bancos e servidores de órgãos de controle que teriam sido coniventes com a operação, como já apontaram os depoimentos da doleira Nelma Kodama, e do operador de câmbio Lucas Pacce. Réu em seis ações decorrentes do inquérito da Lava Jato, Youssef corria o risco de pegar condenação superior a 50 anos de prisão. O doleiro passou a cogitar a delação premiada depois que Paulo Roberto Costa decidiu fazer o acordo. Ele também sofreu pressão da família. 4#3 "TENHO QUE CONSTRUIR MEU PRÓPRIO CAMINHO" Depois de emocionar a plateia ao discursar em comício do candidato do PSB ao governo de Pernambuco, o filho mais velho de Eduardo Campos, João Campos, diz em entrevista exclusiva à ISTOÉ que não quer ficar à sombra da imagem do pai Ludmilla Amaral (ludmilla@istoe.com.br) O filho mais velho de Eduardo Campos, João Campos, 20 anos, saiu do luto e foi para as ruas. Na última semana, João emocionou dezenas de pessoas ao discursar no comício de Paulo Câmara, candidato do PSB ao governo de Pernambuco. O ato político foi realizado nos municípios de Caetés e Garanhuns, terra de Lula – a 200 km do Recife. “Meu pai não deixou uma herança. Esta, quando dividida, pode se acabar. Deixou um legado que, quanto mais o dividirmos, mais crescerá”, afirmou. Assim como os outros dois filhos de Campos, Pedro, 18, e Maria Eduarda, 22, João virou uma espécie de celebridade nas caminhadas pelo interior do Estado. Por onde passa, é cumprimentado e recebido com efusivos abraços. Não raro, se ouvem choros e relatos emocionados. NO PALANQUE- Discurso de João Campos levou militantes do PSB às lágrimas O mesmo ocorre com a mãe, Renata, viúva do ex-governador, morto em acidente aéreo em agosto. Ela estreou na propaganda de TV de Paulo Câmara na segunda-feira 22. No dia seguinte, em outro ato de campanha, os filhos de Campos foram abordados e cercados por estudantes, que pediram autógrafos nos uniformes. A participação da família na campanha em Pernambuco fez com que Câmara, antes posicionado num distante segundo lugar, tomasse a dianteira na corrida eleitoral. Hoje, ele figura à frente de Armando Monteiro. Segundo pesquisa Ibope divulgada na terça-feira 23, o candidato do PSB tem 39%, contra 35% do senador do PTB. João, no entanto, faz questão de rechaçar o papel de herdeiro. Embora seja o filho mais ligado à política, ele – que é filiado ao PSB – disse em entrevista à ISTOÉ que sua prioridade agora é concluir o curso de engenharia civil na Universidade Federal de Pernambuco. Campanha, garante ele, só durante a noite para não afetar os estudos. Depois que terminar a faculdade, avaliará uma possível candidatura. Caso enverede mesmo pela política, João deseja ter luz própria. “Preciso de uma formação. Quero estudar para que, lá na frente, se for o caso, eu possa construir o meu caminho e não conseguir algo por ser filho de alguém. Tenho que construir o meu próprio caminho”, disse. ISTOÉ – No comício do candidato do PSB ao governo de Pernambuco, Paulo Câmara, você disse que não vai desistir da luta e do legado de seu pai. O que você quer dizer quando afirma isso? João Campos – Meu pai dedicava sua vida a duas coisas: à família e à política. Ele sempre lutou pelo povo. É continuar a luta dele em favor do povo. Ele estava muito triste porque o governo federal se distanciou do povo. No governo dele, ele sempre buscou governar junto com o povo. Ele sempre buscava trazer o povo para dentro do governo. Sempre buscou ouvir o povo. LUZ PRÓPRIA - João Campos: "Não quero conseguir algo por ser filho de alguém" ISTOÉ –Você é apontado como o herdeiro político em Pernambuco. Pretende se tornar político e se candidatar a algum cargo? João – Não penso nisso agora. Antes de ele partir, ele deixou claro o desejo de trazer de volta valores que deixaram de existir. Graças a Deus ele teve a chance de expressar o seu desejo. Não sou eu, mas todos nós vamos dar essa continuidade. Ele deixou o sonho dele pela metade. Há um desejo de continuidade, de seguir. ISTOÉ – Mas e mais para a frente? Não pensa em se candidatar? João – Minha prioridade são meus estudos. Faço engenheiria civil na Universidade Federal de Pernambuco. Entrei com 17 anos, estou no tempo certo de estudo. Só participo da campanha no período da noite para não prejudicar os meus estudos. Eu sei que o Paulo Câmara vai continuar esse legado do meu pai em Pernambuco. Eu preciso de uma formação, estudar, para que, lá na frente, se for o caso, eu possa construir o meu caminho e não conseguir algo por ser filho de alguém. Eu tenho que construir o meu próprio caminho. ISTOÉ – Quando você se forma? João – No meio de 2016. ISTOÉ – Você sempre acompanhou seu pai em atividades de campanha? João – Sempre o segui, desde muito jovem. Sempre que o povo de Pernambuco precisar vai poder contar comigo e com a minha família. Na campanha de 2002, quando ele se candidatou a deputado federal, eu participei ativamente. Naquele ano eu tinha apenas 9 anos de idade. ISTOÉ – O PSB ou outros partidos já lhe procuraram para falar sobre uma possível candidatura? João – Sou militante do PSB, sou filiado ao partido, e não faço isso com pretensão política. Eu devo isso ao meu pai. Devo comunicar ao povo de que ele tanto gostava quais eram os seus sonhos e planos. Assim como qualquer jovem militante, eu tenho que dar o meu testemunho. Estou aqui para falar dos sonhos do meu pai, para que a luta dele não se acabe. 4#4 BANDITISMO ELEITORAL No Maranhão, presidiário confessa que participou de armação contra Flávio Dino, candidato do PCdoB ao governo estadual, e o PMDB acusa a Polícia Federal de promover ação ilegal contra a candidatura de Lobão Filho com o objetivo de intimidá-lo A perspectiva de pôr fim à hegemonia do grupo do senador José Sarney que há seis décadas mantém o poder no Maranhão faz com que a disputa política no Estado ganhe ares de banditismo eleitoral. Às vésperas da eleição, práticas nem um pouco republicanas passaram a pautar a campanha. Há cerca de dez dias, veículos de comunicação ligados ao grupo político de Sarney, padrinho da candidatura do senador Édson Lobão Filho, divulgaram um vídeo com o depoimento de um homem acusando o candidato Flávio Dino (PCdoB), líder nas pesquisas, de ser um dos chefes de uma quadrilha criminosa especializada em assaltos a banco, inclusive com participação no ataque a um carro-forte ocorrido no campus da Universidade Estadual do Maranhão (UEMA), em 11 de fevereiro, quando foi roubado quase R$ 1 milhão. A denúncia virou o principal tema da campanha e, na terça-feira 23, o autor foi identificado. Trata-se de André Escócio de Caldas, um presidiário do Complexo Penitenciário de Pedrinhas. No mesmo dia, Caldas prestou depoimento na Superintendência Estadual de Investigações Criminais e confessou ser participante de uma criminosa armação contra o candidato do PCdoB. Agora o caso segue sob investigação da Polícia Federal, que espera conseguir identificar todos os envolvidos até o final da corrida eleitoral. O ALVO - Em primeiro lugar na corrida ao governo do Maranhão, Flávio Dino foi vítima de ataques infundados Ao delegado Tiago Mattos Bardal, Caldas afirmou que o vídeo fora gravado uma semana antes na sala do diretor da Central de Custódia de Presos de Justiça de Pedrinhas, Carlos Aguiar. Disse que teria recebido a “promessa de conseguirem um Alvará de Soltura e mais uma boa quantia em dinheiro, além de ficar blindado no sistema”. Para tanto, Caldas teria que apontar Flávio Dino como mandante do assalto ao banco do campus da UEMA. O preso também esclareceu que o enredo para tentar incriminar Flávio Dino foi criado após conversas com Aguiar. O diretor da Central de Custódia confirmou ter sido o autor do vídeo, mas nega qualquer responsabilidade pela divulgação da armação. Desde a quarta-feira 24, o caso, definido como crime eleitoral, passou a ser investigado pela Polícia Federal e pelo Ministério Público. Na quinta-feira, Aguiar foi afastado do cargo. ARAPUCA - André Caldas, presidiário do Complexo Penitenciário de Pedrinhas, acusou Flávio Dino de liderar quadrilha de assaltos a banco Mas o banditismo eleitoral no Maranhão parece servir aos dois lados. Na noite da quarta-feira 25, a Polícia Federal revistou o avião, as bagagens e os membros da comitiva do candidato Lobão Filho, no aeroporto de Imperatriz. A ação, segundo relato dos policiais, buscava “encontrar malas de dinheiro” após uma denúncia anônima. A ação da PF provocou mal-estar entre o PMDB e o PT. O vice-presidente Michel Temer, do PMDB, saiu em defesa de Lobão Filho e solicitou ao ministro da Justiça que apure com rigor a verdadeira motivação da Polícia Federal. “Em uma democracia é absurdo que instituições do Estado sejam usadas para intimidar uma candidatura”, disse Temer. A contar pelos últimos lances, essa última semana antes do primeiro turno tende a aumentar a temperatura na disputa maranhense. 4#5 A MENTIRA CONTINUA Sem conseguir explicar sua relação com o ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa, o governador do Ceará, Cid Gomes, recorre a inverdades e a ataques Há 15 dias, o governador do Ceará, Cid Gomes, teve uma recaída de autoritarismo. Recorreu e conseguiu na Justiça de Fortaleza censurar a edição da revista ISTOÉ que circularia no fim de semana. A publicação dizia que Gomes estaria entre os políticos acusados pelo ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa de participar de um esquema de corrupção na estatal. Graças a uma decisão do ministro Luis Roberto Barroso, do STF, a liminar foi derrubada e aos leitores foi permitido o livre acesso à informação. Em sua última edição, a revista ISTOÉ fez uma cronologia dos encontros do governador do Ceará com Paulo Roberto Costa. Os fatos narrados e as imagens das reuniões expuseram a proximidade entre os dois. Na terça-feira 23, o governador resolveu adotar outra tática. Apelou a mentiras, acusando ISTOÉ de manipular as fotos publicadas. “Fizeram uma edição da foto. Cortam uma foto de uma reunião de 2008, na qual apareço junto a vários diretores da Petrobras e minha equipe, e me mostram ao lado do funcionário. Isso é brincadeira! Não tenho relação com esse senhor”, afirmou Gomes. UM NOVO ÂNGULO DA PROVA - Cid Gomes diz que a foto publicada por ISTOÉ na semana passada (acima) foi“adulterada” para colocá-lo ao lado do ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa. A foto maior que ilustra esta página retrata a mesma reunião de 10 de junho de 2008: e eles seguem lado a lado A revista ISTOÉ não manipula fotos. De maneira alguma. Como se pode ver na foto acima sob um novo ângulo, sem qualquer edição ou corte, o governador estava ao lado de Paulo Roberto Costa numa reunião ocorrida no dia 10 de junho de 2008, no Palácio de Iracema, destinada a tratar da construção da refinaria Premium II, no Ceará. Há outros diretores da Petrobras na imagem, mas em nenhum momento ISTOÉ afirmou que Cid Gomes estava sozinho com Costa no encontro. Diz o texto publicado na página 36: “Na imagem, Cid está sentado à cabeceira de uma ampla mesa de reuniões, tendo Costa imediatamente a seu lado”. E esse foi apenas o primeiro de pelo menos oito encontros entre Cid ou integrantes do governo do Ceará com Costa entre junho de 2008 e janeiro de 2014, dois meses antes de o ex-diretor da Petrobras ser preso. Cid Gomes, porém, prefere seguir na toada de inverdades. A negação, até o confronto com os fatos, é artifício comum aos políticos flagrados em malfeitos. Depois, as versões vão sendo refeitas e adaptadas, à medida que novas evidências vêm à tona. Cid Gomes já negou ter visto e se encontrado com o delator. Em seguida, refez a declaração, dizendo que as reuniões eram “apenas institucionais”, o que também não é verdade, já que encontros ocorreram mesmo depois de Paulo Roberto Costa ter deixado a Petrobras. As mentiras continuam. O GOVERNADOR DO CEARÁ ADOTA O ROTEIRO TÍPICO DE POLÍTICOS FLAGRADOS EM ATIVIDADES NADA REPUBLICANAS 4#6 ÉTICA: UM CONCEITO CADA VEZ MAIS DIVORCIADO DA POLÍTICA O vale-tudo eleitoral, as mentiras das campanhas, as candidaturas de políticos corruptos e os recentes escândalos nos Três Poderes expõem a crise dos valores éticos no País Josie Jeronimo (josie@istoe.com.br) As primeiras eleições presidenciais depois da ditadura militar, realizadas em 1989, ficaram marcadas pela acirrada disputa entre o “caçador de marajás” Fernando Collor de Mello e o petista Luiz Inácio Lula da Silva. Na reta final da campanha, quando as pesquisas apontavam empate técnico entre os dois concorrentes, Collor levou ao programa de TV o depoimento de Miriam Cordeiro. Ex-namorada de Lula, ela o acusava de ter proposto um aborto quando estava grávida de Lurian, filha do casal, na época com 15 anos. A cartada foi decisiva para a vitória de Collor e o episódio entrou para a história brasileira como a primeira grande baixaria política da democracia que se instalava no País. O que poderia servir de exemplo sobre práticas a serem esquecidas e condenadas pela sociedade, porém, tornou-se regra das campanhas eleitorais. Nos 25 anos seguintes à refrega de 1989, a ética e a política seguiram caminhos distintos. Sucessivos escândalos de corrupção em quase três décadas de democracia revelaram aos brasileiros uma profunda crise nos valores que deveriam nortear o comportamento dos governantes. Apesar de avanços inegáveis, como a Lei da Ficha Limpa, hoje prevalece nas campanhas e no exercício do poder um vale-tudo que contamina candidatos e instituições. Os programas dos partidos apresentados no rádio e na TV expõem ataques pessoais, acusações infundadas, mentiras e distorções sobre as propostas dos adversários. Nesta semana que antecede o dia das eleições, o jogo bruto das campanhas tende a se intensificar. Nesse ambiente de abusos, resta aos eleitores redobrar a atenção na hora do voto, método mais eficiente na tentativa de resgatar os valores éticos tão imprescindíveis a uma sociedade desenvolvida em todos os aspectos. A tática do jogo sujo ficou tão banalizada que nem mesmo as autoridades escondem seus maus costumes. Em março do ano passado, num lampejo de sinceridade, a presidenta Dilma Rousseff revelou em um discurso feito na Paraíba sua filosofia nas disputas pelo poder: “Podemos fazer o diabo quando é hora de eleição”. Pelo que se viu nas últimas semanas, Dilma e outros candidatos cumprem à risca esse ensinamento. A falta de filtros morais no jeito de fazer política se manifesta desde a negociação das coligações, acertadas na maioria das vezes em função de mais tempo nos programas de TV, até a formação dos governos, definida em função do rateio de cargos em todos os escalões. “A ética brasileira foi cunhada pelo absolutismo, que centraliza os poderes do Estado, mas que por não ser um governo totalmente legítimo precisou cativar os setores que poderiam se rebelar. Daí nasceu a troca de favores e a venda de cargos”, afirma o professor da Unicamp Roberto Romano, especialista em filosofia política e ética. Estudo elaborado pela ONG alemã Transparência Internacional situa o País na 72ª posição entre 177 nações analisadas sob o critério de percepção de corrupção Esse sentimento de subversão generalizada dos preceitos republicanos tem reflexos deletérios para a imagem do Brasil no mundo. O último estudo elaborado pela ONG alemã Transparência Internacional situa o País na 72ª posição entre 177 nações analisadas sob o critério de percepção de corrupção. Pelas projeções feitas sobre os resultados de 2014, a tendência é piorar essa classificação. “Há criminosos candidatos que não foram enquadrados pela Lei da Ficha Limpa, e escândalos como o da Petrobras impactam os avaliadores. Fica a impressão de que no setor público até os contratos de faxina têm esquema de corrupção e que sem propina nem o cafezinho é servido”, afirma Léo Torresan, presidente da Amarribo, associação que representa a organização alemã em solo brasileiro. Os exemplos da falta de honestidade apareceram com força logo depois da primeira eleição direta para a Presidência. Em 1992, o então presidente, Fernando Collor, foi submetido a um processo de impeachment após ser alvo de denúncias de corrupção. No governo Fernando Henrique Cardoso, para aprovar a emenda constitucional que permitiu a reeleição de ocupantes de cargos executivos, deputados foram acusados de vender seus votos. Em 2005, no mais rumoroso caso de corrupção da história recente, os brasileiros foram surpreendidos com o “mensalão”, nome pelo qual ficou conhecida a transferência de dinheiro ilegal do PT para partidos aliados. O então presidente Lula se defendeu com o argumento de que se tratava de “caixa 2” de campanha, o que configura crime eleitoral, mas é disseminado por quase todas as legendas. O STF, porém, entendeu que se tratava de compra de apoio parlamentar. Com isso, foram parar na cadeia alguns figurões do PT, como o ex-ministro José Dirceu, da Casa Civil, e o ex-presidente do partido José Genoino. A lista de escândalos com dinheiro público, no entanto, não escolhe partidos. No ano passado, os brasileiros souberam pela ISTOÉ que, no Estado de São Paulo, durante as gestões tucanas de Mário Covas, José Serra e Geraldo Alckmin foi montado um propinoduto em que autoridades, em troca de verbas para campanhas do PSDB paulista, usavam influência política para interferir na assinatura de contratos com as empresas Alstom e Siemens para a construção do metrô. Investigações identificaram pagamento de R$ 13,5 milhões só em propinas. No Distrito Federal, o então governador José Roberto Arruda teve a carreira interrompida depois de divulgadas imagens de um vídeo que o mostraram recebendo pacotes de dinheiro ilegal. O envolvimento no caso provocou a prisão de Arruda, por dois meses, na sede da Superintendência da PF em Brasília. Apesar da imoralidade das imagens, até três semanas atrás, Arruda liderava as pesquisas para governador. Ele só decidiu desistir da disputa depois que teve a candidatura impugnada pelo TSE com base na Lei da Ficha Limpa. Mais recentemente, irrompeu o escândalo da Petrobras. Em depoimento sob o regime de delação premiada, o ex-diretor da estatal, hoje preso, acusou parlamentares, governadores e ministros do governo Dilma de participação de um esquema de corrupção que sangrou os cofres da Petrobras em bilhões. O próprio delator admitiu ter recebido US$ 23 milhões de uma única empreiteira. Os métodos condenáveis não são exclusividade do Executivo e Legislativo do País. Mancham também o Judiciário. Embora não seja crime, a prática de indicar parentes para cargos de destaque se tornou corriqueira nos tribunais. É o que faz atualmente o ministro Luiz Fux, do Supremo Tribunal Federal (STF). Fux está empenhado em assegurar a nomeação de sua filha Marianna Fux para desembargadora do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro. Ela disputa o posto com outros 38 cidadãos com credenciais para a função. A pressão do ministro do STF ganhou repercussão nacional nos últimos dias e fez com que a OAB mudasse o processo de escolha, com o objetivo de blindar-se de possíveis críticas de favorecimento à filha do ministro. Letícia Mello, filha de outro ministro do STF, Marco Aurélio de Mello, teve sucesso em empreitada semelhante. Em abril deste ano, ela tomou posse como desembargadora no Tribunal Regional Federal da 2ª Região (Rio de Janeiro e Espírito Santo). Marco Aurélio afirmou, à época, que não pediu votos aos desembargadores, mas reconheceu que telefonou para agradecer a atenção que os magistrados deram à filha quando ela os visitou nos gabinetes. "Fica a impressão de que no setor público até os contratos de faxina têm esquema de corrupção e que sem propina nem o cafezinho é servido", afirma Léo Torresan, presidente da Amarribo O presidente da Câmara, Henrique Alves, quer que o juiz Marlon Reis, idealizador da Lei da Ficha Limpa, seja punido pela publicação de um livro em que relata casos de parlamentares corruptos Na atual campanha eleitoral, os exemplos de tentativas de ludibriar os eleitores surgem aos borbotões. Durante entrevista na semana passada ao telejornal “Bom Dia Brasil”, da TV Globo, a presidenta Dilma apresentou números econômicos irreais contestados de imediato pelos jornalistas. Ao forjar situações inexistentes, distorcer e falsear dados oficiais, os políticos conseguem piorar uma prática tornada pública, involuntariamente, em 1994, pelo então ministro da Fazenda, Rubens Ricupero. Na ocasião, enquanto aguardava o momento em que seria entrevistado pela TV Globo e, sem saber que o microfone estava aberto, Ricupero expôs o que nenhuma autoridade diz em público. “Eu não tenho escrúpulos. O que é bom a gente fatura, o que é ruim a gente esconde”, disse o ministro. Captadas por aparelhos com antena parabólica, o ministro perdeu o cargo. Apesar das evidentes rupturas com os princípios éticos, a realidade demonstra como é difícil mudar o comportamento dos poderosos. Em junho do ano passado, as ruas das principais cidades brasileiras foram tomadas por milhões de pessoas que protestavam por mudanças na política e nos governos. Agora, no entanto, observa-se a dificuldade em institucionalizar esse clamor. O mesmo aconteceu com a “Primavera Árabe”, nome pelo qual ficaram conhecidas as manifestações que sacudiram países do Oriente Médio e do norte da África a partir de dezembro de 2010. Passada a turbulência inicial, muita coisa continua como antes. No Egito, por exemplo, depois da derrubada do ditador Hosni Mubarak, a disputa pelo poder no país continua sendo travada pelos militares e pela Irmandade Muçulmana. Também no Brasil, a história demonstra que mesmo as grandes rupturas ocorridas em nome do combate à corrupção se revelaram inócuas. Em 1954, Getúlio Vargas cometeu suicídio quando seu governo era acusado pelos adversários de se ter transformado em um “mar de lama”. Dez anos depois, os militares deram um golpe e assumiram o poder com a bandeira da moralidade, mas foram escorraçados do poder em 1985 quando a censura não conseguia mais abafar o que ocorria nos porões do regime autoritário. A poucos dias do primeiro turno das eleições, ainda há tempo para os brasileiros provocarem uma interferência efetiva na triste realidade. Somente o eleitor, na solidão da cabine de votação, pode afastar os maus políticos. Se dependêssemos apenas das autoridades, não haveria solução. O melhor exemplo disso talvez tenha sido dado pelo presidente da Câmara, Henrique Eduardo Alves. Na semana passada, ele encaminhou ao Conselho Nacional de Justiça uma representação contra o juiz Marlon Reis, um dos principais responsáveis pela aprovação da Lei da Ficha Limpa. Alves quer que Reis seja punido pela publicação de um livro em que relata dezenas de casos de parlamentares envolvidos em corrupção. “Afirmei e reafirmo que há entre os deputados pessoas que alcançaram seus mandatos por vias ilícitas. Estes precisam ser detidos, o que demanda uma profunda mudança do vigente sistema eleitoral, corroído por uma mercantilização do conceito de política”, diz o juiz. O primeiro passo para isso pode ser dado pela sociedade no dia 5 de outubro. Corruptos, tremei! Com a aposentadoria do ministro Joaquim Barbosa, é do juiz da 13ª Vara Federal de Curitiba Sérgio Moro o título de algoz dos corruptos, atualmente. Moro é considerado o principal especialista brasileiro no crime de lavagem de dinheiro. À frente do Caso Banestado, criou método de trabalho que levou à condenação de 15 réus e o mapeamento da movimentação irregular de U$ 30 bilhões. Aos 41 anos, o magistrado tem um extenso currículo. Assessorou a ministra Rosa Weber durante o julgamento do mensalão, em 2012, e agora é o responsável pelo processo da Operação Lava Jato, escândalo que abala as estruturas do poder por envolver a Petrobras e parlamentares da base governista. ALGOZ - O juiz Sérgio Moro é o responsável pelo processo da Operação Lava Jato 4#7 EMPATE NA RETA FINAL Pesquisa ISTOÉ/Sensus mostra que a sucessão presidencial será decidida no segundo turno e que Aécio e Marina chegam embolados na última semana de campanha Os candidatos Marina Silva (PSB) e Aécio Neves (PSDB) entram na semana que antecede o primeiro turno das eleições presidenciais em empate técnico. Essa é a principal constatação feita pela pesquisa ISTOÉ/Sensus realizada entre o domingo 21 e a sexta-feira 26. Segundo o levantamento, Marina tem 25% das intenções de voto e Aécio 20,7%. Como a margem de erro da pesquisa é de 2,2% para mais ou para menos, ambos estão empatados tecnicamente na briga por um lugar no segundo turno. A presidenta Dilma Rousseff (PT) conta com 35% e só não estará na segunda etapa da disputa se houver uma hecatombe nuclear sobre a sua campanha. A pesquisa mostra que tanto Dilma como Aécio acertaram nas estratégias adotadas nas últimas semanas. A presidenta reforçou os ataques contra Marina, exagerou na defesa de seu governo e intensificou as agendas públicas. Com isso, cresceu 5,3% durante o mês de setembro. O senador mineiro procurou demonstrar as semelhanças entre Dilma e Marina, questionou a veracidade do que ambas mostravam em seus discursos e colocou-se como a alternativa mais segura para mudar os rumos do País. A estratégia lhe valeu um crescimento de 5,5 pontos percentuais nos últimos 30 dias. Já Marina apostou em se colocar como vítima de uma campanha que chama de “difamatória” e adotou um tom emocional tanto em entrevistas como nos palanques. Não conseguiu explicar as contradições de seus discursos e perdeu 4,5 pontos percentuais em menos de um mês. “Pela primeira vez se constata a situação de empate técnico entre Marina e Aécio. O senador mineiro chega na reta final com tendência de crescimento e a ex-senadora com tendência de queda”, diz Ricardo Guedes, diretor do Instituto Sensus. A pesquisa ouviu dois mil eleitores de 24 Estados e também constatou um significativo aumento no índice de rejeição da candidata Marina Silva. No início do mês, 22,3% dos eleitores diziam que não votariam em Marina de forma alguma. Na semana passada esse índice saltou para 33%, superando a rejeição ao senador tucano que variou de 31,5% para 31,9%. A rejeição à presidenta continua na casa dos 40%, o que, segundo Guedes, é um empecilho à reeleição. “O aumento da rejeição a Marina, já superior ao de Aécio, é outro dado que permite afirmar que permanece aberta a possibilidade de um segundo turno entre PT e PSDB”, avalia Guedes. Segundo ele, a candidata do PSB entrou na disputa com um forte apelo emocional, mas com o passar do tempo o eleitor passou a enxergar sua candidatura de forma mais racional. O levantamento realizado em 136 municípios de cinco regiões mostra em um eventual segundo turno com Aécio, Dilma somaria 43,4% dos votos contra 38,2% se a disputa fosse realizada agora. No cenário de segundo turno entre Dilma e Marina haveria empate, com 40,5% para Dilma e 40,4% para Marina. O GURU - FHC procura mobilizar as lideranças tucanaspara transferir votos a Aécio. Alckmin é o principal aliado As tendências mostradas pela última pesquisa ISTOÉ/Sensus confirmam os dados levantados diariamente pelas campanhas dos três principais candidatos. E é com base nesses números que são traçados os planos para os dias que antecedem o primeiro turno. No PT, a palavra de ordem é manter os ataques contra a candidatura de Marina e intensificar a mobilização dos militantes para atos de rua nas principais cidades do País. No QG de Dilma há a avaliação de que, como as principais lideranças no partido não têm obtido bons resultados em seus Estados, é necessário ocupar as praças para manter um crescimento na última semana. Os caciques petistas avaliam que é possível sair das urnas com cerca de 40% dos votos. ______________________________________________ 5# COMPORTAMENTO 1.10.14 5#1 CAMPUS SEM LEI 5#2 MACHÕES DE CASTIGO 5#3 O VELHO CHICO SECOU 5#4 CRUZADA CONTRA A PEDOFILIA 5#5 UM COLISEU NO SERTÃO 5#1 CAMPUS SEM LEI Série de crimes tendo como palco a Universidade de São Paulo expõe o clima de violência e insegurança a que estão expostas as 100 mil pessoas que frequentam diariamente a maior instituição de ensino do País Mais uma suspeita de crime tendo como cenário a Universidade de São Paulo (USP), na zona oeste da capital paulista, na semana passada, jogou luz sobre o espantoso aumento da violência e a insegurança reinante no campus da maior instituição de ensino superior do País. Neste ano, o número de roubos no campus Butantã, o principal da USP, mais que dobrou. De janeiro a agosto deste ano foram registradas 70 ocorrências pela Guarda Universitária, responsável pela segurança do local, contra 30 em 2013. Em três delegacias vizinhas, onde muitos dos crimes podem ter sido notificados, foram 42 estupros só até o mês passado. Em 2013, esse número foi de 40. Índices de roubos, furtos e assaltos também tiveram crescimento semelhante. Na tragédia mais recente, o corpo do estudante Victor Hugo Marques Santos, de 20 anos, foi achado na raia olímpica na terça-feira 23. O jovem estava desaparecido desde a madrugada de sábado 20, quando participou de uma festa para 5 mil pessoas organizada pelo Grêmio da Escola Politécnica no velódromo do clube do campus, o Cepeusp. “Frequento festas lá e vi situações iguais várias vezes. Assaltos, estupros, sequestros. A USP é uma terra de ninguém”, diz Vinícius Costa, 33, primo de Victor Hugo, que estudava design no Senac. O episódio escancarou as falhas de segurança do campus, a começar pelo corpo policial, 40 homens com a missão de zelar por uma população de 100 mil pessoas. Já há algum tempo as ruas arborizadas da Cidade Universitária são locais perigosos. Recentemente uma série de mortes vem chocando os membros da universidade líder em pesquisas no País. O mais rumoroso aconteceu em 2011, quando o estudante de ciências atuariais Felipe Ramos de Paiva, 24 anos, foi morto com um tiro na cabeça numa tentativa de assalto no estacionamento da FEA, a Faculdade de Economia e Administração da USP (veja outros casos na pág. 60). A principal queixa de alunos, professores e funcionários é a falta de iluminação, que deixa uma grande parte das ruas do campus vazia e escura à noite. “As novas luzes no estacionamento da FEA ficaram ótimas, mas parou por aí. Quando preciso pegar ônibus ou caminhar até outra unidade para pegar o carro, eu sinto medo”, diz Larissa Andreotte Carvalho, que está no terceiro ano do curso de administração de empresas. As novas lâmpadas a que ela se refere fazem parte de um projeto iniciado no ano passado, quando a USP passou a substituir antigas luminárias por novas, de LED. “Essas luzes podem ser reguladas com o anoitecer e acentuadas nos locais onde forem registradas ocorrências, mas a instalação não terminou porque é necessária uma central de monitoramento, que hoje não existe”, afirma Ana Pastore, superintendente de segurança na Cidade Universitária e responsável pela Guarda. Também não há câmeras em vários pontos do campus e as que existem somente registram em tempo real, não gravam. Outro fator de risco para as 100 mil pessoas que passam pelo campus Butantã diariamente é a discussão sobre quem é o maior responsável pela segurança no local. Setores da universidade defendem que a Polícia Militar seja proibida de entrar ali para não reprimir manifestações de trabalhadores e estudantes. Em 2011, na esteira do escândalo causado pelo assassinato no estacionamento, a USP fechou um convênio com a PM para aumentar a segurança no local, mas, após conflitos causados por protestos contra a detenção de três estudantes que fumavam maconha na faculdade, a presença dos policiais diminuiu bastante. Hoje, a corporação faz rondas esporádicas e possui uma Base Comunitária Móvel. Ana Pastore admite que o fraco efetivo da Guarda Universitária (que conta com apenas 40 homens, divididos em turnos de não mais de 15 pessoas) não consegue patrulhar o campus sozinho, mas gostaria que a PM só entrasse ali em casos críticos, como o de sequestros e roubos a bancos. Coronel reformado da PM e membro do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, José Vicente da Silva Filho discorda. “Esse pensamento é uma tolice que expõe a todos que frequentam a USP. A Guarda Universitária é insuficiente porque é patrimonial, não tem poder de polícia.” Na esteira da tragédia com Victor Hugo, a universidade também começou a tomar medidas para controlar as festas no campus. O Cepeusp desmarcou dois eventos já agendados e suspendeu temporariamente a realização de festas no velódromo. O diretor da Escola Politécnica também proibiu confraternizações na faculdade, declarando que alunos têm que estudar, e não “encher a cara”. Um grupo de trabalho que discutia se festas deveriam ou não ser permitidas na Cidade Universitária vai pedir que todos os diretores de unidades se posicionem. De acordo com Ana Pastore, a Cidade Universitária não tem estrutura para receber festas de grande porte e só eventos menores deveriam ser autorizados. Secretário-geral da Associação dos Docentes (Adusp), Francisco Miraglia afirma que a proibição é uma medida ineficaz porque em universidades de outros países as festas são realizadas rotineiramente. “Proibir é tratar o sintoma em vez de cuidar da causa”, afirma. Enquanto a instituição debate a ineficácia de seu sistema de segurança, a morte de Victor Hugo Marques Santos continua envolta em mistério. Não se sabe o que aconteceu depois das 5h da manhã do sábado 20, quando ele disse a amigos que iria comprar uma cerveja e não foi mais visto. A polícia suspeita que ele tenha sido assassinado e arrastado até a raia olímpica, pois havia escoriações no lado esquerdo do rosto. Também foi observado que o estudante não apresentava sinais de afogamento. O fato de dezenas de frequentadores da raia não terem visto o cadáver até terça-feira 23 reforça a desconfiança de que ele foi jogado ali três dias depois. Os investigadores, no entanto, não descartam a hipótese de suicídio e morte acidental porque as lesões encontradas não são compatíveis com feridas fatais. Além disso, um membro da Guarda Universitária relatou que amigos do jovem disseram que ele havia bebido e consumido LSD naquela noite. Os policiais também vão apurar se o homem retirado do velódromo por seguranças contratados pelo Grêmio da Poli era Victor Hugo. O laudo sobre o que causou a morte deve sair em um mês. 5#2 MACHÕES DE CASTIGO Reportagem de ISTOÉ acompanha curso para homens acusados de agredir suas mulheres. Na sala de aula, eles mostram má vontade no início, mas depois se envolvem nas palestras sobre direitos femininos e controle de impulsividade Raul Montenegro (raul.montenegro@istoe.com.br) Aos poucos os homens foram lotando o saguão de um prédio em Taboão da Serra, na região metropolitana de São Paulo. Olhares ressabiados, gestos contidos, a tônica das conversas é de reclamação. A plateia integralmente masculina se queixa do dia de trabalho perdido e do programa que se anuncia para as próximas horas. “A mulher ferra a gente e ainda somos obrigados a assistir palestra”, resume um funcionário de uma fábrica de plásticos, revoltado porque a máquina que ele opera ficaria parada durante toda a manhã da terça-feira 23. Isso porque ele foi obrigado, por uma notificação oficial, a comparecer à primeira das sete aulas do curso para agressores de mulheres promovido pelo Ministério Público de São Paulo. A reportagem de ISTOÉ acompanhou esse primeiro dia de aula, que foi ministrada num auditório para mais de 100 pessoas e começou com uma solenidade de abertura. Representantes do Poder Judiciário e da prefeitura da cidade se revezavam com discursos sobre a importância do projeto, batizado de “Tempo de Despertar” em homenagem a um filme de 1990 com o ator Robin Williams (1951-2014). Durante as palestras, os agressores mexiam no celular, bocejavam e davam risadas irônicas diante de algumas declarações das autoridades. Alguns se recusavam a aplaudir ao fim das apresentações e outros nem sequer abriram a sacola lilás na qual estava o material das aulas. NEGAÇÃO - Os 22 alunos passaram parte do dia bocejando e mexendo no celular, mas aos poucos foram aprendendo as lições do programa A atitude dos convocados reflete o tratamento que muitos homens dispensam às suas parceiras (leia quadro). “Eu fico humilhada e rebaixada com as agressões que sofri, porque não tenho condição física de revidar. Você sente uma dor muito grande no coração, que é maior do que a dor no corpo, porque não espera que a pessoa que ama vá fazer aquilo”, diz Lucélia Combinato, que trabalha numa quitanda e é mulher de José Manuel de Almeida, um dos homens recrutados. Ela já foi espancada várias vezes e não pretende voltar atrás na denúncia que fez contra o companheiro. Mesmo assim, não o abandonou. “Apesar das agressões, fico com ele pela família, pelo amor e pelo tempo de convivência. Eu acho que a pessoa merece uma segunda chance para tentar melhorar, mas acredito que o curso não vai mudar a mentalidade dele”, afirma a mulher. A união dura 23 anos. Depois da solenidade inaugural, a plateia formada por 22 alunos se mostrou um pouco mais envolvida, à medida que a pauta do dia – a evolução dos direitos femininos no Brasil e a criação da Lei Maria da Penha, em 2006 – era desenvolvida. As próximas aulas devem tratar de temas como tipos de violência doméstica, masculinidade, como controlar a impulsividade e lidar com ciúmes e traições. A maioria dos homens convocados é reincidente, apesar de eles serem acusados de crimes brandos, como ameaças e lesões corporais leves. Eles estão soltos e não foram julgados, mas o comparecimento ao curso poderá servir como atenuante em caso de condenação. A obrigatoriedade é a principal reclamação de Cléber de Oliveira, primeiro aluno a se pronunciar durante a palestra. “Chamei minha mulher de vagabunda, só que ela me ofendeu antes. Quem foi convocado se sente pré-julgado, mas estou determinado a provar a minha inocência.” Ele já esteve preso durante dois anos por assalto à mão armada, hoje é dono de restaurante e foi ao projeto com sua nova esposa, Érica Romão. “Todo mundo tem seus momentos, mas comigo o Cléber nunca foi agressivo”, diz. LUTA - Lucélia Combinato já foi espancada diversas vezes pelo parceiro, José Manuel de Almeida. Apesar de prestar queixa contra ele, quer manter a união de 23 anos. Abaixo, a promotora Maria Gabriela Manssur, coordenadora do curso em São Paulo O principal objetivo do programa é diminuir a taxa de reincidência. Pioneiro em São Paulo (uma ONG já deu aulas semelhantes sem caráter oficial), o projeto é baseado em experiências de sucesso no Brasil e no mundo. Estados Unidos e Europa já tomam medidas como essa, e por aqui alguns Estados já fazem o mesmo. “Aproximadamente 120 homens passaram pelas aulas, e por enquanto a taxa de reincidência é zero”, afirma Érica Canuto, do Ministério Público do Rio Grande do Norte, onde o curso existe há dois anos. No Rio de Janeiro, as palestras começaram em 2007 e tiveram 879 participantes. “Na primeira reunião eles chegam revoltados. A partir da segunda ou terceira ficam mais calmos e depois muitos falam que precisavam passar por ali para modificar o comportamento”, diz a juíza Adriana Mello, que coordena uma iniciativa parecida no Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro. Em Taboão da Serra, a mudança pôde ser observada já no primeiro encontro. Ela se deu depois que os 22 alunos foram separados em três grupos menores para conversar entre si com a mediação de psicólogos e assistentes sociais. Dispensado após essa dinâmica, ao meio-dia, junto com seus colegas de curso, o marido de Lucélia, José Manuel de Almeida, prometeu melhorar seu comportamento. Mas ainda coloca parte da culpa na companheira. “Sei que não estou 100%, assim como ela não está, porque às vezes coloca uma palavra errada quando está conversando comigo.” Para a promotora Maria Gabriela Manssur, que está à frente do curso em São Paulo, é essa visão que as aulas devem transformar. “Queremos que eles modifiquem o pensamento machista que os leva a cometer atos de violência”, diz. 5#3 O VELHO CHICO SECOU A longa estiagem que afeta toda a região Sudeste do País fez desaparecer a nascente do São Francisco e ameaça secar outros trechos do rio mais longo a correr exclusivamente pelo território nacional César Soto A seca duradoura que amea-ça deixar os mais de 11 milhões de paulistanos sem água neste início de primavera está castigando também o maior rio do País que corre exclusivamente em terras brasileiras. Com mais de 2,8 mil quilômetros, o São Francisco nasce num filetinho de água que brota na Serra da Canastra, na região central de Minas Gerais, e vai desaguar caudaloso no Oceano Atlântico dividindo os Estados de Alagoas e Sergipe. Por conta da estiagem, pontos específicos dessa longa trajetória estão simplesmente secando e o rio, desaparecendo da paisagem. “A gente nunca viu parar de correr água por aqui. Foi isso que assustou”, diz Luiz Artur Castanheira, analista ambiental do Parque Nacional da Serra da Canastra, onde oficialmente começa o São Francisco. DESERTO - Com apenas 5,58% de sua capacidade, a barragem de Três Marias, em Minas Gerais, se parece mais com o sertão nordestino Foi lá, a 1,3 mil metros de altitude, em uma área de mata localizada no município de São Roque de Minas (MG), que os funcionários do parque se depararam com a cena absolutamente insólita ao buscar água para tentar apagar um incêndio. Os pequenos filetes de água que brotavam do solo e formavam um pequeno arroio desapareceram. “A nascente sumiu, secou”, diz Castanheira, que saiu a entrevistar os mais antigos funcionários do parque para descobrir se algo semelhante já havia acontecido. Pela memória e pelo que já se pesquisou nos registros históricos, esta foi a primeira vez que a nascente do imponente São Francisco secou. Felizmente, os riachos que abastecem o parque e vão transformando o pequeno arroio em um rio de verdade estão sobrevivendo à seca e continuam a abastecer o Velho Chico. “Ele ainda percorre 14 km no parque e sai aparentemente normal”, diz Castanheira. Mas a 400 quilômetros dali, em Três Marias (MG), o São Francisco está novamente prestes a desaparecer. Criada em 1962, a imensa barragem de Três Marias, com seus mais de 2,7 quilômetros de extensão, está tendo destino semelhante ao do reservatório da Cantareira, em São Paulo. De maneira lenta, porém persistentemente, os mais de 15 bilhões de metros cúbicos de água estão desaparecendo e dando lugar à terra barrenta e rachada pelo sol forte do centro de Minas Gerais. SEM CHUVA - A estiagem na região central de Minas Gerais já dura três anos e o índice pluviométrico de setembro, que em média é de 52 mm, neste ano está em 7 mm A Cemig, a companhia de energia de Minas Gerais, responsável pela barragem e pela usina hidrelétrica de mesmo nome, estima que o volume útil do reservatório não chegue a 6%. “Desde o último ciclo chuvoso, em outubro de 2013, temos uma vazão abaixo da média”, conta o engenheiro de Planejamento Hidroenergético da Cemig, Ivan Carneiro. Se em setembro as chuvas costumam acumular 52 milímetros de água, neste ano o mês atinge apenas 7 milímetros. A cena por ali é desoladora. E nos 40 quilômetros seguintes o Velho Chico corre assim, capenga, até que o Rio Abaetés, um de seus importantes afluentes, lhe devolva o viço. Mas, até lá, as cidades da região já começam a conviver com o risco real de não ter água. “A tendência é que se suste o uso não prioritário”, diz o professor Demetrios Christofidis, do Departamento de Engenharia Civil e Ambiental da Universidade de Brasília (UnB). “Assim, são mantidos os abastecimentos apenas para consumo humano e de animais.” A diminuição do volume das águas do Velho Chico também começa a afetar o turismo e o transporte ao longo de sua extensão. Em Pirapora (MG), o barco a vapor Benjamin Guimarães, uma das maiores atrações do São Francisco, está ancorado desde agosto por não conseguir navegar em suas águas. Em Pernambuco, a Icofort, empresa especializada em transporte de caroço de algodão, suspendeu o transporte hidroviário de mercadorias em junho e passou a utilizar as rodovias. De acordo com o Comitê da Bacia Hidrográfica do São Francisco (CBHSF), a mudança deve aumentar em cerca de 20% e 30% o preço final do produto. COMEÇO - Pela primeira vez na história a nascente do São Francisco secou e o filete de água que dá início ao rio desapareceu Mais do que nunca os milhões de brasileiros que dependem do São Francisco esperam que ao menos metade da profecia de Antônio Conselheiro de que o sertão vai virar mar e o mar vai virar sertão se concretize. E rápido. 5#4 CRUZADA CONTRA A PEDOFILIA Ao punir com severidade dois bispos envolvidos em acusações de abusos sexuais, papa Francisco intensifica a faxina moral que promove na Igreja Católica Rodrigo Cardoso (rcardoso@istoe.com.br) Papa Francisco decidiu intensificar a cruzada contra a pedofilia na Igreja Católica, iniciada no pontificado de Bento XVI. Na semana passada, em um intervalo de dois dias, o Vaticano anunciou o afastamento do paraguaio dom Rogelio Ricardo Livieres Plano das funções de bispo da diocese de Ciudad del Este, no Paraguai, e mandou para a prisão o ex-núncio apostólico, o arcebispo polonês Józef Wesolowski, que esteve à frente da diocese de Santo Domingo, na República Dominicana, entre 2008 e 2013. Os dois estão envolvidos em casos de abuso sexual de menores. FIRME - Francisco demonstra tolerância zero diante dos casos de abusos sexuais praticados por padres Até o alemão Ratzinger se tornar papa, em 2005, o Vaticano tratava os casos de pedofilia praticados por seus pares como questões internas, resolvidas dentro dos muros da Santa Sé. Bento XVI mudou isso e orientou o colegiado católico a abolir o sigilo diante dos episódios, assumindo falhas cometidas pela Igreja, e, de certa forma, prestando contas às vítimas de abusos. Desde então, eclodiram casos mundo afora, o que causou, em um primeiro momento, perplexidade e abalou a credibilidade da instituição. O fato é que Francisco assumiu a Cúria, em março de 2013, imprimindo velocidade e firmeza à luta contra essa chaga moral. “Como Jesus, vou usar o bastão contra os padres pedófilos”, disse. No final de 2013, o argentino Jorge Mario Bergoglio criou a Comissão Pontifícia para a Proteção de Menores para cuidar dos casos de abusos sexuais. E em julho se encontrou com pessoas abusadas sexualmente por padres. Agora, pela primeira vez na história da Igreja, um caso envolvendo pedofilia praticada por um clérigo está sendo julgado dentro do Vaticano, onde Wesolowski, o ex-núncio polonês, se encontra em prisão domiciliar. Ele é acusado de pagar para manter relações sexuais com menores dominicanos e possuir material pornográfico infantil. Se condenado, pode passar até sete anos na prisão vaticana. “Com essas decisões, Francisco se adianta a uma possível perda moral, porque deixa claro que a Igreja tem suas sujeiras e trabalha para eliminá-las”, diz o sociólogo da religião Francisco Borba, da Pontifícia Universidade Católica (PUC), de São Paulo. SEM PERDÃO - Envolvidos em crimes sexuais, o paraguaio dom Rogelio (à esq.) foi afastado e o polonês Wesolowski, preso Foi essa tolerância zero do papa que precipitou o afastamento de dom Rogelio, o bispo paraguaio acusado de encobrir casos de abusos sexuais contra crianças praticados por sacerdotes da diocese de Ciudad del Este, então chefiada por ele. Seu número dois ali, o padre argentino Carlos Urrotigoity, que exercera o sacerdócio em uma paróquia da Pensilvânia, nos Estados Unidos, foi acusado de assédio sexual por um estudante, em 2002. A diocese para qual ele trabalhava o considerou “uma ameaça séria para os jovens”. A capacidade de reconhecer os próprios erros é o que mais tem fortalecido a Igreja durante os séculos. Francisco vem dando passos mais largos nesse sentido, de acordo com Borba, que coordena o Núcleo Fé e Cultura da PUC. “É reconhecendo e punindo que a Igreja se torna um modelo para a sociedade, que, mundo afora, tem procurado sinais de credibilidade em seus governantes.”  5#5 UM COLISEU NO SERTÃO Com verba do governo federal, cidade cearense de pouco mais de 16 mil habitantes e sem time de futebol ergue um estádio inspirado no anfiteatro romano para 20 mil pessoas Helena Borges (helenaborges@istoe.com.br) O Coliseu, peça-chave da história humana, uma das sete maravilhas do mundo moderno, palco de batalhas épicas, localizado no coração... do Ceará? Está sendo erguido, no município de Alto Santo, a 246 quilômetros de Fortaleza, um estádio de futebol com fachada inspirada nos arcos romanos do Anfiteatro Flaviano, um dos maiores pontos turísticos de Roma e do mundo. A construção comporta 20 mil pessoas, mas a população da cidade não chega a 17 mil nem tem um time de futebol. O projeto mirabolante não seria tão problemático se sua construção não fosse bancada com dinheiro do erário. A obra custará aos cofres públicos R$ 1.317.500. Os repasses do Ministério do Esporte foram ordenados por emendas à Lei Orçamentária assinadas por um político barrado na lei Ficha Limpa, o ex-deputado federal Marcelo Teixeira, ex-PMDB e hoje sem partido. CÓPIA - Acima, a fachada em Alto Santo, a 246 quilômetros de Fortaleza, está 70% concluída. Abaixo, o coliseu de Roma, um dos maiores pontos turísticos do mundo Questionado por ISTOÉ sobre os critérios adotados para a autorização da obra e os argumentos apresentados em defesa da construção, o Ministério do Esporte se limitou a emitir nota informando que todos os recursos destinados para a construção são originários de emendas parlamentares referentes aos anos de 2005, 2007 e 2008. Seu autor, Teixeira, teve a candidatura impugnada em 2010 por contas irregulares, segundo o Tribunal de Contas dos Municípios. Antes, foi eleito quatro vezes deputado pelo Ceará, onde também já foi vice-prefeito de Fortaleza. Questionados, os parlamentares atuais do Estado se mostraram contrários à construção. “É um absurdo. Nenhum município do interior do Ceará tem porte para abrigar um estádio nessas proporções”, afirma o deputado estadual cearense João Jaime, do DEM. Menor do que a arena romana, que acomodava até 50 mil espectadores, o projeto do coliseu cearense terá capacidade para 20 mil pessoas. No entanto, a obra será entregue – segundo as previsões da Federação Cearense de Futebol, em novembro – com cinco mil a seis mil lugares, um número mais proporcional aos 16.359 habitantes do município, de acordo com o último censo. Só falta agora um time de futebol. O clube da cidade, o Alto Santo Esporte Clube, está inativo desde 2009. Mas isso não é problema para a federação. “Outro clube de uma localidade próxima (ou não), pode indicar a praça esportiva para mandar seus jogos”, disse Manuella Vianna, diretora de comunicação da instituição. Visitas técnicas já foram feitas pela entidade, que aguarda, agora, a aprovação dos laudos técnicos e de segurança do Ministério Público. Segundo a federação cearense, este é um estádio simples, “apenas com uma fachada diferente, lembrando o Coliseu de Roma”. E qual seria o motivo da inspiração? Mero capricho. “O arquiteto não quis colocar apenas um muro branco e optou por algo diferente”, afirmou Manuella. Só esqueceram de avisar que a inovação custará caro – e que o coliseu é redondo, porque as paredes da construção de Alto Santo seguem o formato retangular do campo. Segundo a Caixa Econômica Federal, responsável pelos repasses das verbas do Ministério do Esporte para a construção, apenas a fachada e os muros de contorno somam R$ 730 mil. A Caixa assegura que não está financiando a obra, o município é o responsável pela licitação e execução do projeto. Ela apenas efetua a liberação dos recursos de acordo com a evolução – aliás, a famosa fachada já está 70% concluída. Para coroar a construção, um açude foi aterrado durante a execução da obra. Coincidência histórica, o coliseu original foi construído sobre o lago da casa de Nero, a Domus Áurea. Mas, para os moradores de Alto Santo, município atingido pela seca do Nordeste, esse pequeno alagado pode fazer mais falta do que o lago do famoso imperador. Segundo dados da Fundação Cearense de Meteorologia e Recursos Hídricos, os três açudes que abastecem a cidade estão com volume em baixa e o mais afetado deles, Figueiredo, tem, no momento, apenas 3,3% de seu total. Procurada, a Prefeitura de Alto Santo não atendeu às ligações da reportagem. No entanto, em sua página do Facebook é possível acompanhar as obras em fotos e vídeos. Na legenda das imagens, lê-se que “aos poucos vai tomando forma esse colosso do Vale Jaguaribano” e que está sendo construído um “paredão de três metros de altura”. Os créditos do feito são dados à Secretaria de Obras do município e ao prefeito José Iran (PRB), conhecido como Zé, sob acompanhamento técnico do ex-prefeito Adelmo Aquino, idealizador da obra. Aquino chegou a se candidatar a deputado estadual este ano pelo partido Solidariedade, mas teve a candidatura indeferida pelo Tribunal Regional Eleitoral. Ele foi condenado por abuso de poder em 2012, numa ação de investigação judicial que ainda está tramitando no Tribunal Superior Eleitoral, o que o enquadra na lei da Ficha Limpa. O político recorreu, mas renunciou à candidatura alegando motivos pessoais. Apesar da grandiloquência e inadequação, não há irregularidades com o coliseu de Alto Santo, de acordo com o Ministério Público Federal do Ceará. Uma denúncia recebida em 2012 pela Procuradoria da República em Limoeiro do Norte, município vizinho de Alto Santo, instaurou um inquérito civil público sobre possíveis irregularidades em sua construção. Desde então, o MPF-CE vem apurando o caso, por meio do acompanhamento, junto à Caixa, da execução dos recursos provenientes dos dois contratos firmados com o governo federal para o financiamento da obra. A última movimentação do inquérito foi o envio de um ofício ao Ministério dos Esportes no dia 27 de agosto, requisitando informações sobre os procedimentos de fiscalização dos repasses feitos à Prefeitura de Alto Santo. Um ofício anterior, enviado pelo banco no dia 17 de julho, informa que a obra está paralisada. Em nota oficial, a procuradoria concluiu que “até o presente momento não existem indícios de ilegalidade que justifiquem a instauração de inquérito policial ou ação de improbidade administrativa”. ________________________________________________ 6# MEDICINA E BEM-ESTAR 1.10.14 PARA SALVAR UMA VIDA Como é o curso do Instituto do Coração de São Paulo que ensina a socorrer indivíduos após a parada cardíaca fora de um hospital para aumentar suas chances de sobreviver sem sequelas Mônica Tarantino (monica@istoe.com.br) Quando alguém desmaia na Estação Carrão do Metrô de São Paulo, o operador Altair dos Santos Menezes, 53 anos, já não sente, como outrora, o coração apertado enquanto espera a chegada do serviço médico de emergência. Desde que fez cursos de treinamento em ressuscitação cardiopulmonar, ele segue um roteiro preparado por uma das entidades mais respeitadas do mundo, a Associação Americana do Coração (AHA, na sigla em inglês). “É um guia que ajuda a identificar rapidamente o que está acontecendo”, diz Menezes, há 27 anos na companhia. A primeira providência, conta ele, é ajoelhar ao lado da vítima e segurá-la pelos ombros para verificar se está consciente e respirando. Se estiver, são feitas perguntas para saber se há dor, náuseas, se a pessoa toma medicamentos, quando comeu pela última vez. Quando a vítima está inconsciente e sem respirar, porém, cada minuto sem receber os primeiros socorros adequados faz cair as chances de escapar com vida. “Aprendi a agir rápido”, diz Menezes, que já atendeu três casos de parada cardíaca em sua estação. O operador é um dos três mil funcionários do metrô paulistano treinados pelo Laboratório de Treinamento e Simulação em Emergências Cardiovasculares do Instituto do Coração (LTSEC – InCor), em São Paulo. PRECISÃO - O instrutor Cristiano Belvederesi (à frente) ensina grupo a fazer as compressões torácicas Na semana passada, junto com dez colegas, ele deixou por um dia seu posto de trabalho para fazer um curso de reciclagem em primeiros socorros. Repassou, sob orientação de instrutores especializados como o bombeiro e enfermeiro Cristiano Belvederesi, cada uma das etapas de um processo que a AHA chama de cadeia da sobrevivência. São procedimentos que vão desde a forma de abordar o paciente ao jeito certo de fazer as compressões torácicas e o manejo do desfibrilador, aparelho eletrônico portátil que diagnostica automaticamente as arritmias cardíacas e é capaz de tratá-las através de correntes elétricas para regularizar os batimentos, de modo que o coração retome o ritmo normal. “As compressões, por exemplo, têm que ser no ritmo certo. São 100 por minuto, sem parar, até o atendimento médico chegar”, diz o operador. Essas informações fazem diferença. “Em cidades como Seattle, nos Estados Unidos, onde a populacão foi treinada, muitas vidas são poupadas e diminuiu a quantidade de sequelas neurológicas. Ter um socorrista treinado para ministrar esses cuidados até a assistência chegar pode multiplicar a possibilidade de sobreviver a um mal súbito”, diz o cardiologista Sérgio Timerman, diretor do LTSEC – InCor, o mais avançado centro do gênero na América Latina. Em novembro, Timerman e sua equipe receberão, nos Estados Unidos, o primeiro Prêmio de Reconhecimento de Centros de Treinamento Internacionais dado pela Associação Americana do Coração. “Eles têm um programa de formação exemplar e se esforçam continuamente para treinar mais pessoas em primeiros socorros e cuidados cardiovasculares. Isso salva vidas”, elogiou Kelly Griesenbeck, diretora da AHA para os programas globais de cuidados em emergência cardiovascular. Só este ano, mais de oito mil pessoas fizeram cursos na instituição. “Nossa meta é ensinar a maior quantidade de indivíduos e formar instrutores para divulgar esses conhecimentos. Já demos treinamento até para crianças”, diz a enfermeira Thatiane Polastri, professora e coordenadora dos cursos. Além de ensinar o protocolo consagrado pela associação americana, o curso do InCor se diferencia pela preocupação em realizar pesquisas. “Registrar os resultados e analisá-los melhora o atendimento”, diz Timerman. Um estudo recém-concluído feito por seu grupo em parceria com o pesquisador Karl Kern, da Universidade do Arizona, investigou o que aconteceu com 102 pessoas que tiveram colapsos repentinos e foram atendidas conforme o protocolo da AHA desde o momento em que o coração parou até a alta hospitalar. “Uma das revelações dessa pesquisa é que chances de sobreviver e de não ter sequelas neurológicas são maiores quando o paciente é atendido em hospitais onde todos os funcionários foram treinados, da recepcionista da emergência ao cirurgião”, ensina o médico. __________________________________________________ 7# ECONOMIA E NEGÓCIOS 1.10.14 7#1 DÓLAR NAS ALTURAS 7#2 PARA ENTENDER AS NOVAS REGRAS DA RECEITA 7#1 DÓLAR NAS ALTURAS Valorização internacional da moeda americana, aliada a incertezas sobre o cenário eleitoral no Brasil, promove forte desvalorização do real e a tendência é de alta. O que isso significa para o País? Luisa Purchio (luisapurchio@istoe.com.br) Após meses em relativa calmaria, na semana passada, o dólar rompeu a barreira dos R$ 2,40 e atingiu R$ 2,44 na sexta-feira 26, uma das maiores cotações do ano. A escalada da moeda americana é motivada pelo cenário internacional e pelas incertezas provocadas pelas eleições presidenciais no Brasil. Para tentar conter a desvalorização do real, o Banco Central anunciou que irá dobrar sua intervenção diária no câmbio até o fim do mês. Mas as instabilidades externas, tanto econômicas quanto geopolíticas, e internas mostram que a tarefa do BC não será fácil e que a tendência da moeda é de alta. CAMINHO DO AEROPORTO - Os gastos dos brasileiros em outros países batem recordes e nem os picos de valorização do dólar conseguiram conter o ânimo para gastar de quem viaja O dólar está se valorizando no mundo porque os Estados Unidos estão retirando os estímulos à economia e há expectativa de que a taxa de juros no país pode subir em 2015, tornando-o mais atrativo para investidores. Enquanto isso, os dados econômicos da Europa mostram certa fragilidade e as guerras na Ucrânia e no Oriente Médio geram dúvidas. O Brasil agrega a esse quadro o componente eleitoral. “A eleição atual é uma incerteza, não tem um candidato favorito no primeiro turno em que o mercado confie 100%”, diz André Sacconato, diretor de pesquisa da consultoria Brasil Investimentos & Negócios (BRAiN). “Para se garantir, as instituições então estão comprando dólar.” Quanto mais a candidatura da presidenta Dilma Roussef se fortalece, mais a moeda americana sobe. Nos últimos anos, os governos optaram por manter o câmbio apreciado, estimulando, por exemplo, as compras no exterior. Os gastos dos brasileiros lá fora vêm se superando – foram US$ 2,35 bilhões em agosto, um recorde para o mês – e nem os picos de valorização do dólar que ocorreram em agosto de 2013 e fevereiro passado conseguiram conter o ânimo para gastar de quem viaja. Manter o dólar em um patamar baixo virou uma arma para segurar os preços no Brasil. “A inflação está alta e o governo não quer subir os juros e diminuir as despesas. Com isso, a última manobra é a taxa de câmbio, que não deveria ser uma ferramenta de controle inflacionário”, afirma o economista Bruno Lavieri, da consultoria Tendências. FUTURO - Expectativa de que taxa de juros suba em 2015 torna os EUA mais atraentes para os investidores, o que pressiona o dólar Quem pagou a conta foi o setor industrial, que não conseguiu exportar e vem perdendo importância econômica no País. A indústria representa, hoje, 12% do PIB e esse percentual já foi de 20%. O País se tornou um grande comprador de produtos da China, de roupas a eletrônicos. Um estudo da Universidade de São Paulo (USP) estima que a importação de manufaturados chineses pelo Brasil tenha gerado seis milhões de empregos em terras orientais em uma década, sobretudo nos últimos três ou quatro anos, período de maior valorização do real. “É pouco para eles, mas para o Brasil é muito significativo”, diz Paulo Roberto Feldmann, professor de economia da USP, para quem ficou muito difícil exportar e competir porque a China mantém sua moeda desvalorizada para facilitar as exportações. “Agora era a hora adequada para deixar o dólar se valorizar porque o consumo caiu. Mas o governo não deixa por causa da eleição”, completa. A dúvida é o fôlego que essa alta do dólar terá e como o próximo governo pretende lidar com a moeda americana. Instabilidade cambial não tem impacto positivo sobre o setor industrial. “Não podemos ter um olhar imediatista sobre o câmbio, como se no curto prazo pudesse promover grandes alterações ou mudanças”, diz Paulo Francini, diretor do Departamento de Pesquisas e Estudos Econômicos da Federação das Indústrias de São Paulo (Fiesp). “A indústria precisa ter como fundamento uma taxa confiável, ou seja, que possa prever qual será no futuro.” Ele espera que, vencido o período eleitoral, haja um novo olhar sobre a questão cambial. 7#2 PARA ENTENDER AS NOVAS REGRAS DA RECEITA Cresce o número de viajantes que não declaram a compra de produtos e são parados pela fiscalização. Para conter o aumento, o Fisco criou um sistema de monitoramento para identificar essas pessoas por Fabíola Perez (fabiola.perez@istoe.com.br) Quem viaja com frequência para fora do País precisará redobrar a atenção com as compras a partir do ano que vem. A Receita Federal criou um novo sistema de fiscalização em aeroportos para identificar com mais eficiência pessoas suspeitas de ultrapassar a cota para a compra de produtos no exterior isenta de impostos. O limite hoje é de US$ 500 no caso de turistas que chegam por vias aéreas e US$ 300 para viajantes de vias terrestres e marítimas. No novo sistema, que está em fase de testes, o Fisco terá acesso a informações sobre o turista antes de ele desembarcar. Detalhes como local de origem, volume da bagagem, duração da viagem e frequência com que costuma viajar serão informados pelas companhias aéreas à Receita e à Polícia Federal. “O turista comum pode ficar despreocupado porque os fiscais estarão mais atentos a quem traz mercadorias em excesso, prejudicando o comércio e a indústria nacional”, diz Ernani Checcucci, subsecretário de Aduana e Relações Internacionais da Receita Federal. Para ele, o sistema oferece um tratamento célere, com foco em quem efetivamente apresenta algum indício de irregularidade. O presidente da Comissão de Direito Tributário da OAB de São Paulo, Jarbas Machioni, concorda com a medida, mas afirma que o limite de compras com isenção de impostos, congelado há anos, poderia ser revisto. “É importante aumentar o controle, mas o limite deveria ser de US$ 1mil a US$ 2 mil”, afirma. “O brasileiro começou a viajar muito, passou a comparar preços e formou consciência financeira mais crítica.” ____________________________________________________ 8# MUNDO 1.10.14 O ATOLEIRO DE OBAMA O presidente dos Estados Unidos ataca radicais islâmicos na Síria. É mais uma guerra que começa sem qualquer perspectiva para acabar Luisa Purchio (luisapurchio@istoe.com.br) Uma das principais promessas de campanha de Barack Obama para chegar à presidência dos Estados Unidos na eleição de 2008 foi retirar as tropas americanas do Iraque e encerrar um ciclo de intervenções no Oriente Médio. As Forças Armadas americanas desocuparam o país de Saddan Houssein, mas, três anos depois, Obama iniciou uma nova guerra na região e ninguém sabe como ela pode acabar. Na semana passada, os EUA começaram a bombardear parte da Síria numa tentativa de enfraquecer o Estado Islâmico (EI), ameaça global que cresce a cada dia e tem como objetivo recriar o califado e impor pela violência a lei islâmica. Criado em 2004, o grupo de extremistas hoje já conta com o apoio de aproximadamente 30 mil combatentes no Iraque e na Síria. Calcula-se que 15 mil dos participantes são estrangeiros de 80 países – três mil deles europeus. Em um beco sem saída, Obama resolveu partir para a ofensiva, mesmo sem a anuência do Congresso. A decisão foi reforçada por sua taxa de reprovação, que já alcança 54%. Como 60% da população americana é a favor do enfrentamento ao EI, os ataques também são uma forma de conseguir apoio para seu partido às vésperas das eleições legislativas de novembro. NAÇÃO DE REFUGIADOS - Na semana passada, 130 mil curdos fugiram para a Turquia para escapar da violência dos radicais do Estado Islâmico Os ataques aéreos contra os alvos da milícia na Síria se iniciaram na madrugada da terça-feira 23, com a utilização de caças, bombardeiros e mísseis. Pelo menos 12 instalações controladas pelo EI que forneciam combustível e dinheiro para o grupo foram atingidas. A legitimidade da ofensiva é questionada pela comunidade internacional, uma vez que o ataque não foi autorizado pelo governo da Síria. “Bombardear sem autorização abre precedente para retaliações. É preciso agir, mas com cuidado”, afirma Reginaldo Nasser, especialista em política e conflitos internacionais da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP) e autor do livro “Conflitos internacionais em múltiplas dimensões”. Os Estados Unidos enfatizam, no entanto, que os ataques contam com o apoio de nações parceiras, entre elas Arábia Saudita, Jordânia, Emirados Árabes e Bahrein. Além disso, 26 países já haviam se posicionado a favor do combate – o Brasil foi contra e criticou a ofensiva. Na quarta-feira 24 o Conselho de Segurança da ONU aprovou por unanimidade uma resolução que determinou aos seus 193 países-membros a adoção de medidas legais para impedir a adesão de seus cidadãos a grupos extremistas. Cada ação militar alimenta o ciclo da violência, com reação imediata do EI, responsável por inúmeros atos hediondos, como estupro de crianças e de mulheres. Para fugir da violência, 140 mil curdos seguiram para a Turquia só na semana passada. Antes mesmo dos ataques começarem, na segunda-feira 22, os radicais convocaram seus simpatizantes em todo o mundo a matarem os cidadãos dos países que apoiam a Casa Branca. Três dias depois, um grupo jihadista divulgou um vídeo com cenas da decapitação do francês Hervé Pierre Gourdel, um guia de montanha de 55 anos que havia sido sequestrado na Argélia. Intitulado “Mensagem de sangue ao governo francês”, o vídeo começa com imagens do presidente da França, François Hollande, quando se recusou a apoiar o fim dos ataques ao Iraque. Foi a quarta decapitação de reféns ocidentais desde agosto. O grupo extremista também ameaça jogar bombas em Paris e em Nova York. CONFLITO - Obama discursa na ONU na quarta-feira 24 para defender a ofensiva: ao lado, refém francês que foi decapitado - o quarto ocidental - por grupo jihadista Especialistas concordam que a ofensiva dos Estados Unidos é necessária, mas, sozinha, não resolve o conflito a longo prazo. “São apenas limitações temporárias. Enfraquecidos, os extremistas vão adiar para daqui a alguns meses o que fariam na semana que vem”, afirma Samuel Feldberg, professor de política internacional da Universidade de São Paulo (USP). “Os ataques militares a países muçulmanos serão usados como pretexto para criar mais terrorismo e novos grupos podem surgir. O enfrentamento tem de ser contra a ideologia”, disse à ISTOÉ Stuart Gottliep, professor de relações internacionais do Instituto de Guerra e Paz Arnold Saltzman, da Universidade de Columbia, de Nova York. Para entender o conflito na região, é preciso analisar o histórico do cenário no qual os extremistas se proliferam. A ofensiva militar no Iraque, liderada por George Bush em 2003, deixou o país e a Síria em frangalhos. Sem um governo capaz de unir o país, o terrorismo desponta. “São pessoas que perderam a esperança, pois viram muitas mortes sem qualquer apoio da comunidade internacional”, disse à ISTOÉ Mohammed Al-Habash, especialista em estudos islâmicos da Universidade de Abu Dhabi. “Em busca de qualquer solução e recorrendo à violência, os radicais crescem.” _____________________________________________ 9# TECNOLOGIA E MEIO AMBIENTE 1.10.14 Sem compromisso Dilma não assina acordo mundial para preservação de florestas e vai na contramão dos defensores do meio ambiente, exatamente no ano em que o Brasil aumentou o desmatamento em 30% A presidenta Dilma Rousseff chegou a Nova York na madrugada da terça-feira 23 certa de que estaria no centro dos holofotes da comunidade internacional pelos próximos dois dias. Naquela manhã faria um discurso na Cúpula do Clima ONU e na quarta-feira abriria a 69ª Assembleia-Geral das Nações Unidas, como fazem todos os presidentes brasileiros desde a criação da organização, no fim da Segunda Guerra Mundial. Pouco mais de seis horas depois de pousar no Aeroporto JFK, Dilma subiu ao principal púlpito da ONU para contar ao mundo o que o Brasil tem feito para conter a destruição da maior floresta tropical do mundo. Mostrou números de fôlego, como a redução da área desmatada na Amazônia Legal em quase 80% desde 2004 e uma redução anual nas emissões de CO² de 650 milhões de toneladas. Os bons resultados, no entanto, não evitaram que a presidenta brasileira – o Brasil, por consequência – saísse da Conferência como uma das vilãs no combate ao fim do desmatamento mundial. Dilma decidiu ir na contramão da maior parte dos países, empresas e integrantes da sociedade civil comprometidos com o meio ambiente. Por pequenas divergências, a presidenta brasileira decidiu que o Brasil não faria parte da Declaração de Nova York contra o desmatamento, uma carta de intenções que tem como objetivo reduzir pela metade o desmatamento no mundo até 2020 e eliminar por completo a destruição de florestas em 2030. A decisão de Dilma colocou o País ao lado das nações que tradicionalmente se opõem aos esforços internacionais de redução na emissão de CO² e de proteção à natureza, como Índia e China, que também se abstiveram de assinar o acordo. A Declaração de Nova York foi o documento mais importante da Cúpula do Clima da ONU, que reuniu boa parte dos líderes dos 193 países que compõem as Nações Unidas. Estavam lá o presidente americano, Barack Obama, o premiê inglês, James Cameron, e celebridades como o ex-vice-presidente dos Estados Unidos e vencedor do Nobel da Paz Al Gore e o astro de Hollywood Leonardo DiCaprio. Dois dias antes, mais de 400 mil pessoas marcharam em Nova York exigindo mais comprometimento dos líderes globais com as questões ambientais. “É preciso tomar decisões agora para salvarmos o planeta e o que está proposto na Declaração de Nova York significa reduzir mais CO² do que todas as emissões dos Estados Unidos anualmente”, disse o secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, se referindo ao segundo país mais poluidor do mundo, atrás apenas da China. RECUSA - Dilma não aceitou assinar a Declaração de Nova York porque o Brasil só foi convidado para discutir o assunto após o debate ter sido iniciado O documento, assinado por mais de 30 países e dezenas de grandes companhias mundiais e organizações não governamentais, prevê metas ambiciosas, como o fim de toda e qualquer destruição de florestas no mundo até 2030 e a recuperação de mais de 350 milhões de hectares – uma área superior à ocupada pela Índia hoje – de matas nativas ao redor do planeta. Além disso, a Declaração, que na prática é apenas uma carta de intenções, prevê que os países ricos destinem até US$ 1 bilhão às nações pobres no auxílio à contenção do desmatamento e ao financiamento de atividades econômicas que possam substituir os ganhos financeiros com a destruição das florestas. “Não há tempo a perder. Nós acreditamos que qualquer companhia que tenha a floresta de alguma forma em sua cadeia de suprimentos precisa tomar ações já”, disse Aida Greenburfy, diretora de sustentabilidade da Asia Pulp and Paper, uma das gigantes mundiais da produção de papel. Dilma decidiu que o Brasil ficaria de fora basicamente por duas razões. A primeira é quase infantil. De acordo com o governo brasileiro, o País só foi convidado para discutir o tema depois que as conversas já haviam sido iniciadas. A segunda, essa mais prática, é que o Brasil tem um código florestal que permite que haja tanto desmatamento controlado quanto o manejo para extração de madeira. “O País foi coerente em não assinar. Poderíamos ficar em uma situação complicada do ponto de vista jurídico”, afirmou Maria Cecília Wey de Brito, secretária-geral da ONG WWF no Brasil, em artigo escrito no jornal “O Estado de S. Paulo”. ____________________________________________ 10# CULTURA 1.10.14 10#1 LIVROS - TRÓTSKI ENTRE QUATRO PAREDES 10#2 LITERATURA - SCLIAR INÉDITO 10#3 MEMÓRA - SENHOR DAS FORMAS 10#4 TELEVISÃO - POLÍTICA NAS TELAS 10#5 EM CARTAZ – EXPOSIÇÃO - LABIRINTO POÉTICO 10#6 EM CARTAZ – LIVRO - MAUS HÁBITOS 10#7 EM CARTAZ – DVD - SANGUE SOBRE A NEVE 10#8 EM CARTAZ – CD - SAMBA DE BAMBAS 10#9 EM CARTAZ – MÚSICA - BATIDA AFRICANA 10#10 EM CARTAZ – AGENDA - IVAN/MAX/ILHADA 10#1 LIVROS - TRÓTSKI ENTRE QUATRO PAREDES Biografia lança luz sobre os três últimos anos da turbulenta vida pessoal do revolucionário, assassinado no único país que lhe concedeu exílio, o México Clayton Netz Com cinco anos de atraso, chega às livrarias brasileiras “Trótski – Exílio e Assassinato de um Revolucionário”. Escrito pelo americano Bertrand M. Patenaude, pesquisador da Hoover Institution Library and Archives, da Universidade Stanford (EUA), o livro, da Zahar, é um mergulho nos três últimos anos de vida de um dos principais dirigentes da revolução russa de 1917. León Trótski, nome de guerra do ucraniano Lev Davidovich Bronstein, foi assassinado no exílio mexicano em 1940, com um golpe de picareta desferido pelo espanhol Ramon Mercader. O mandante, seu arqui-inimigo, Joseph Stalin, vencedor na fratricida luta pelo poder, desencadeada com a morte de Lênin, em 1924. Amparado numa sólida pesquisa histórica, o autor reconstrói as atribulações de um homem encurralado, banido de seu país e perseguido por seus inimigos por onde quer que andasse. Tratava-se de um dos períodos mais turbulentos da história, marcado pela ascensão do totalitarismo e a impotência das democracias em barrar o militarismo, que culminou na Segunda Guerra Mundial. Ao desembarcar no porto de Tampico, em 1937, Trótski, acompanhado por sua mulher, Natalia Sedova, estava longe de exibir a figura severa e arrogante dos tempos de glória, em que arrastava multidões para ouvi-lo discursar nas praças e nos teatros em Moscou ou que conduzia o Exército Vermelho. Como escreve Patenaude, ao pisar em solo mexicano parecia um tanto hesitante e inseguro. “Trajado de paletó tweed e bombachas, carregando uma bengala e uma pasta, projetava uma imagem de respeitabilidade civilizada, em nada se parecendo com um revolucionário desafiador”, escreve Patenaude. Na verdade, quem desembarcava depois de viagem de quase três semanas, acolhido pela generosidade do presidente Lázaro Cárdenas, era o “Profeta Desarmado”, para usar uma expressão de Isaac Deutscher, notável biógrafo do líder. Nos três anos em que permaneceu no México, o único país a conceder-lhe refúgio, Trótski e sua mulher viveram quase na condição de prisioneiros, enclausurados na maior parte do tempo entre quatro paredes das diferentes casas em que moraram, cercados de guarda-costas, com raros momentos de lazer. VIDA EM COMUM - A mulher de Trótski, Natalia Sedova, soube das traições do marido, que a reconquistou com bilhetes lascivos Embora tenha como pano de fundo sua trajetória revolucionária, é justamente o peso concedido ao cotidiano do exilado russo que distingue o trabalho de Patenaude das dezenas de biografias e escritos sobre o fundador da IV Internacional. Não faltam relatos sobre o cotidiano que humanizam o mito, revelando atributos admiráveis, como a inteligência superior, a integridade política, o talento literário e o comprometimento com a causa dos trabalhadores, mas que conviviam com traços deploráveis de personalidade e desvios de comportamento. Pode-se ver ali o homem irascível, exigente e cruel, que não poupa os colaboradores mais próximos e dedicados, nem mesmo o filho Liova, morto prematuramente, aos 32 anos de idade, numa suspeita clínica de Paris, dirigida por médicos russos emigrados. Obcecado pela política, Trótski, diz Patenaude, dava a impressão de alguém que havia estudado o manual de como não conduzir uma amizade. “Ele não tinha nenhum amigo de verdade”, afirmou Max Eastman, outro biógrafo e seu tradutor americano. “Um após outro, homens fortes sentiam-se atraídos por ele em razão de seus feitos e seu raciocínio íntegro e brilhante. Um após outro, eles se afastavam.” Trótski, na descrição do autor, parecia reservar seus melhores sentimentos aos coelhos e galinhas que criava em suas duas casas-fortalezas, no bairro de Coyoacan, na Cidade do México, e às mulheres, não necessariamente nessa ordem. O livro detalha o tórrido romance com a pintora Frida Kahlo, mulher do muralista Diego Rivera, o homem que acolheu em sua casa e sustentou financeiramente Trótski e sua entourage durante a maior parte do exílio mexicano, até o rompimento público, um pouco antes de sua morte. Não faltavam bilhetes entregues sorrateiramente e encontros furtivos na casa de Cristina, irmã de Frida, que escandalizaram seus seguidores e chegaram ao conhecimento de Natalia. A separação foi inevitável. O “Velho”, como era chamado pelos camaradas, acabou passando algumas semanas fora da capital, numa fazenda que pertencia a Frida e Rivera. Ali, ele e a amante, conhecida como uma predadora sexual (leia ao lado), resolveram pôr um fim ao caso. Foi da fazenda que ele escreveu um bilhete para Natalia que poderia figurar nos anais da correspondência erótica. “Desde que cheguei aqui, nem uma vez meu pobre pau ficou ereto. DE PERTO - Quarto da casa onde o líder russo morou no México: biografia se destaca por dar ênfase aos relacionamentos pessoais de Trótski Ele também está repousando das tensões destes dias. Mas, apesar disso, estou pensando ternamente na sua velha e querida boceta”(...). O casal Trótski e os Rivera continuaram se frequentando, como se nada tivesse acontecido, para desconsolo de Natalia. No entanto, a sexualidade à flor da pele não desviou o revolucionário de suas preocupações centrais no período: criar um partido, combater o que considerava como desvios políticos de Stalin, a quem chamava de “coveiro da Revolução”, defender sua própria honra da difamação stalinista e alertar a opinião pública mundial para o perigo da ascensão de Hitler. Tentava ao mesmo tempo fazer dinheiro, por ser obrigado a investir cada vez mais em sua segurança, ameaçada pela terrível perseguição de Stalin, que já ceifara a vida de Liova e dos outros três filhos seus. Em vão: após uma primeira tentativa frustrada de um assalto praticado por comunistas mexicanos, liderados pelo grande rival de Rivera, o muralista, David Alfaro Siqueiros, Trótski acabou encontrando seu fim. No dia 20 de agosto de 1940, três meses antes de completar 61 anos de idade, pelas mãos assassinas de Mercader, que havia se infiltrado em seu grupo próximo. Cumpria-se assim não apenas o mau pressentimento que o acompanhava desde o desembarque em Tampico, três anos e meio antes, mas também a fatídica previsão da “Time”, ao comentar sua chegada, em 1937. Numa referência à violência incrustada na vida política local, a revista americana publicou: “Hoje Trótski está no México – o país ideal para um assassinato”. Bingo. 10#2 LITERATURA - SCLIAR INÉDITO ISTOÉ publica com exclusividade trecho de conto inédito do escritor gaúcho, que tem sua vida e obra homenageadas em exposição em Porto Alegre Daniel Solyszko (daniel@istoe.com.br) Criado numa tradicional família judaica no bairro do Bom Fim, em Porto Alegre, Moacyr Scliar parecia destinado ao ofício de escrever, consequência direta de ter sido educado em um ambiente povoado por histórias na infância. Influenciado pela mãe, Sara, que lhe trazia livros de bibliotecas públicas, “mico”, como era chamado por amigos e familiares, cresceu cercado de narrativas orais e escritas. Essa habilidade de criar histórias a partir do que ouvia começou a se aprimorar a partir de 1968, quando começou sua fase mais prolífica. Um dos primeiros contos que escreveu foi “Joel Ia Voando”, texto inédito do escritor, morto em 2011, publicado agora com exclusividade por ISTOÉ. Ele teria sido escrito por volta de 1970, segundo Marie-Hélène Paret Passos, responsável pelo acervo de Scliar, e foi encontrado dentro de uma pasta com a referência “Contos-Joel”, que continha 22 histórias com o personagem. “Scliar provavelmente planejava reunir esse material em um único livro, mas acabou abandonando a ideia”, explica a pesquisadora. Quatro desses contos foram publicados na primeira edição de “O Carnaval dos Animais”, de 1968, que pode ser considerada a primeira obra de destaque na carreira de Scliar. Quando começou a escrever seu primeiro romance, “A Guerra no Bom Fim”, em 1970, ele recuperou alguns desses contos, reescrevendo-os de forma que se encaixassem em uma longa narrativa. O restante do material permanece inédito até hoje. Muito da farta produção de Scliar poderá ser novamente apreciado pelo público. Original de 1972, “A Guerra no Bom Fim” está sendo relançado pela editora L&PM juntamente com “O Exército de um Homem Só”, de 1973, e “Max e os Felinos”, de 1981. A Edelbra, por sua vez, traz uma coletânea de crônicas que saíram na imprensa entre 2008 e 2010, intitulada “A Banda na Garagem”. Além dos livros, o documentário “Caminhos de Scliar”, dirigido por Cláudia Dreyer, pode ser visto juntamente com a exposição “Moacyr Scliar, o Centauro do Bom Fim”, em cartaz até 16 de novembro no Santander Cultural, em Porto Alegre. Com curadoria do cineasta Carlos Gerbase, a mostra revela um pouco da vida pessoal do autor, e é dividida em ambientes fundamentais para entender sua formação cultural, como uma recriação da casa onde morava no bairro do Bom Fim, em Porto Alegre. Gerbase, que também foi baterista da banda punk Replicantes, conta que conheceu Scliar no set de filmagens do curta-metragem “No Amor”, inspirado em conto do escritor, do qual foi produtor. Ele diz que a primeira coisa que chamou sua atenção na obra do escritor gaúcho foi a proximidade geográfica. “Você sente que é uma literatura ao mesmo tempo regional e universal. Ele é como Anton Tchekhov, que fala da sua aldeia, mas também do mundo. Ele tinha uma ampla capacidade de dialogar”, diz. Para o curador, os dois aspectos mais importantes da obra do “mico do Bom Fim” são a questão da tradição judaica, que atravessa a maior parte dos seus quase 80 livros, e a influência do realismo mágico. “Ele dizia que entre os escritores que considerava mais importantes estavam Gabriel García Márquez, Julio Cortázar e Mario Vargas Llosa. Lendo você percebe todas essas influências”, explica. No aspecto ideológico, a vida de Scliar foi muito marcada pela influência política do socialismo. Em uma das salas da exposição é possível ouvir seu discurso de formatura na Faculdade de Medicina, no qual ressalta a necessidade de oferecer um serviço de saúde universal. “Sua fala começava com versos de Ferreira Gullar, foi muito contundente”, diz Judith Scliar, viúva do autor. “Ele decidiu entrar na área de saúde pública justamente por convicção política.” Scliar era médico, ofício que nunca abandonou definitivamente. Essa preocupação política, aliada a uma intensa pesquisa, sempre permeou sua obra. “As histórias dele sempre tinham alguma crítica social. Ele apresentava uma visão humanista de determinado fato histórico que te dava uma perspectiva completa de algo que você nunca tinha aprendido”, diz o jornalista e ex-cunhado Gabriel Oliven, outro organizador da exposição. Agora, está em negociação levar a mostra para outras cidades brasileiras, o que possibilitaria que um maior número de pessoas possa mergulhar na vida e obra de um dos grandes escritores brasileiros do final do século XX. 10#3 MEMÓRA - SENHOR DAS FORMAS Um dos principais nomes da arte figurativa brasileira, Abelardo da Hora deixa um importante legado para o cenário artístico nacional Daniel Solyszko (daniel@istoe.com.br) Escultor, gravurista e poeta, o pernambucano Abelardo Germano da Hora gravou seu nome no panteão das artes plásticas nacionais com uma produção de mais de 1.800 obras, entre gravuras, cerâmicas e esculturas. Tornou-se conhecido principalmente pelas últimas, que incluem o Monumento ao Frevo e o Monumento aos Retirantes, ambas no Recife. Seu trabalho refletia as mazelas sociais e os ritos populares como o frevo e o futebol, além de se destacar pela forte presença de formas femininas. Abelardo faleceu na manhã da terça-feira 23, de insuficiência cardiorrespiratória, na capital pernambucana. Uma de suas últimas obras foi “O Artilheiro”, escultura feita em bronze localizada em frente à Arena Pernambuco, estádio que sediou a Copa do Mundo. A obra foi inaugurada em julho, em homenagem aos 90 anos do artista. PRECURSOR - O artista foi um dos mais importantes para a cultura nordestina Abelardo foi um dos responsáveis, na década de 1940, pela criação da Sociedade de Arte Moderna do Recife (SAMR), da qual foi presidente por dez anos. A organização daria origem em 1952 ao Ateliê Coletivo, que abrangia artes plásticas, teatro e música, sempre com uma preocupação social. Para o professor Bertoneto de Souza, do curso de artes visuais do Centro Universitário Belas Artes de São Paulo, a importância de Abelardo transcendeu a influência regional. “Foi um pioneiro que fez em um contexto de Terceiro Mundo o que estava sendo feito no exterior pelos modernistas, sem deixar nada a dever”, diz ele. MULHERES - O pernambucano se especializou em esculpir formas femininas, como em "Nega Fulô" Preso mais de 70 vezes durante a ditadura, teve seus direitos políticos cassados. O viés socialista teve extrema importância no seu processo de criação, segundo o artista plástico pernambucano Raul Córdula, discípulo de Abelardo. “Ele fazia arte para o povo. Entre 1952 e 1977, sua atitude socialista contaminou outros artistas. Era alguém que retratava a prostituição e a pobreza em um período em que o governo era muito duro”, diz. 10#4 TELEVISÃO - POLÍTICA NAS TELAS Nova série da Record, "Plano Alto" é o mais novo exemplo de trama de cunho político exibida durante períodos pré-eleitoral ou agitação social Daniel Solyszko (daniel@istoe.com.br) A poucos dias do primeiro turno das eleições presidenciais, a Record resolveu pegar carona na efervescência do momento político brasileiro e estreia, na terça-feira 30, uma série que conta a história de uma família composta por três gerações de contestadores. Gracindo Júnior interpreta o governador do Rio de Janeiro que integrou a guerrilha durante a ditadura militar, enquanto Milhem Cortaz, seu filho, é um deputado federal, ex-cara-pintada que pediu o impeachment do ex-presidente Collor. Bernardo Falcone vive o neto, um manifestante ligado ao movimento black bloc. No enredo, o governador é acusado de corrupção e a partir daí se desenrola a trama na qual cada um tem sua própria perspectiva sobre a situação. TAKE - O diretor Ivan Zettel dirige André Mattos e Bruno Padilha em cena de "Plano Alto", nova série da Record Paralelos entre ficção e realidade são comuns na tevê e é uma maneira de fisgar o telespectador. “O interesse do público por tramas políticas é maior em momentos como esse, já que o assunto está presente nas discussões cotidianas”, diz o crítico Nilson Xavier, autor do livro “Almanaque da Telenovela Brasileira”. O roteirista Marcílio Moraes e o diretor Ivan Zettel têm um passado de militantes e participação em outras tramas que abordavam essa temática. Integrante do PCB (Partido Comunista Brasileiro) durante seu período de ilegalidade, Moraes afirma que se desiludiu com o comunismo após uma viagem ao Leste Europeu no final da década de 1960. Mas é fã do tema, já abordado na novela “Ribeirão do Tempo” (leia quadro). Já Zettel integrou o movimento das Diretas Já nos anos 1980 e, posteriormente, codirigiu “Anos Rebeldes”, série que marcou época ao influenciar os caras-pintadas. Os dois garantem que a série não faz críticas a partidos ou políticos específicos. “Tentamos mostrar como não há uma questão única em pauta nos dias de hoje. Existe um movimento que não é relacionado a bandeiras ou palavras de ordem”, diz Zettel, ecoando os protestos de junho de 2013. 10#5 EM CARTAZ – EXPOSIÇÃO - LABIRINTO POÉTICO Daniel Solyszko (daniel@istoe.com.br) A produção artística de Laerte, um dos nomes mais conhecidos do quadrinho brasileiro, pode ser conferida na “Ocupação Laerte”. Com curadoria do seu filho, Rafael Coutinho, a mostra reúne cerca de duas mil obras que compreendem um período de aproximadamente 40 anos. Estruturado como um labirinto, o ambiente apresenta um resumo das principais fases da artista (como prefere ser chamada). Ela explica em entrevista à ISTOÉ que é possível dividir sua carreira em três momentos: o período pré-profissional; uma fase de buscas repleta de “acertos e erros” que iria até o final da década de 90; e o momento atual. “Atualmente estou questionando vários modos de trabalhar. Parei de construir histórias cômicas e recuperei coisas mais poéticas”, diz. A mostra acontece até o dia 2 de novembro no Itaú Cultural, em São Paulo. +5 personagens famosos de Laerte Piratas do Tietê O grupo, que trocou o mar pelo rio que atravessa a cidade de São Paulo, teve revista própria na década de 80 Overman Super-herói repleto de dúvidas existencialistas, tem como principal inimigo seu próprio ego Deus Encara suas tarefas como rotina, passa o tempo discutindo com anjos e jogando cartas com Buda Hugo Espécie de comentário sobre o homem moderno, começou a se travestir na mesma época que a autora Lola Andorinha criada para o público infantil, é uma figura simples e quase desprovida de características 10#6 EM CARTAZ – LIVRO - MAUS HÁBITOS Daniel Solyszko (daniel@istoe.com.br) Um boiler queimado e a ideia de tomar uma ducha gelada em pleno inverno provocam uma reviravolta na vida de Célio. Enfastiado com sua vida mecânica e previsível, na qual as horas vagas se dividem entre a TV e a internet, o personagem decide parar de tomar banho. Em “Minha Vida Sem Banho”, Bernardo Ajzenberg cria uma metáfora da valorização excessiva do superficial na sociedade contemporânea, ao explorar com fina ironia as consequências da atitude do personagem, que repentinamente passa a ser respeitado por todos. 10#7 EM CARTAZ – DVD - SANGUE SOBRE A NEVE Daniel Solyszko (daniel@istoe.com.br) Uma das principais referências de Quentin Tarantino em “Kill Bill”, “Lady Snowblood” é finalmente lançado no Brasil, após permanecer inédito por 40 anos. A caixa da Versátil apresenta o filme original, “Vingança na Neve”, de 1973, e sua continuação, “Uma Canção de Amor e Vingança”, rodada no ano seguinte. Adicionando animação, fotografias e narrativa em off às cenas de ação, o primeiro mostra a vingança da personagem-título contra o grupo de ladrões responsáveis por atacar sua mãe e matar sua família. Menos fragmentada, a continuação mostra a personagem se envolvendo com um militante anarquista, o qual ela é encarregada de matar, no Japão do começo do século XX. 10#8 EM CARTAZ – CD - SAMBA DE BAMBAS Daniel Solyszko (daniel@istoe.com.br) Tem tambor, vassourinha e bandolim. Um show percussivo com Diogo Nogueira, artista pop de canto raro no samba, e Hamilton de Holanda, paparicado pela crítica, que faz o instrumento de quatro cordas duplas suingar, por exemplo, na regravação de “Mineira” (de João Nogueira e Paulo César Pinheiro). Sintonizados no projeto “Bossa Negra”, Nogueira e Holanda fazem uma ode ao passado do samba, ao toque afro que dá corpo e alma a essa dança popular saracoteantemente brasileira. Um projeto que olha para trás, colhe boas referências e aponta para uma renovação vigorosa do ritmo, com muita técnica (vocal e instrumental) e lirismo. 10#9 EM CARTAZ – MÚSICA - BATIDA AFRICANA Daniel Solyszko (daniel@istoe.com.br) Filho do nigeriano Fela Kuti, conhecido como o criador do afrobeat, Seun Kuti toca acompanhado da antiga banda do pai, a Egypt 80, no Vale do Anhangabaú, em São Paulo. O repertório mistura clássicos do progenitor com novas canções, incluindo algumas do recente “A Long Way To The Beginning”, lançado este ano. A apresentação, gratuita, encerra a programação do MCI (Mês da Cultura Independente) no domingo 28, às 16 horas. 10#10 EM CARTAZ – AGENDA - IVAN/MAX/ILHADA Confira os destaques da semana Daniel Solyszko (daniel@istoe.com.br) Ivan Grillo (CCSP, em São Paulo, até 7 de dezembro) Individual onde o artista dá continuidade à pesquisa iniciada por Mário de Andrade em 1938, focada na Bahia Max de Castro (Sesc Carmo, em São Paulo, 29 de setembro) O filho de Wilson Simonal faz show para divulgar o relançamento de “Samba Raro”, seu primeiro disco Ilhada em Mim – Sylvia Plath (Sesc Pinheiros, em São Paulo, até 1º de novembro) Peça teatral de André Guerreiro Lopes sobre a complexidade do universo interior da poetisa americana ____________________________________________ 11# A SEMANA 1.10.14 por Antonio Carlos Prado e Elaine Ortiz "O ENCANTO FEMINISTA " Em seu primeiro discurso na ONU como embaixadora da Boa Vontade para Mulheres, a atriz britânica de 24 anos Emma Watson surpreendeu. Famosa por interpretar Hermione – a melhor amiga do bruxo Harry Potter – a atriz conquistou repercussão mundial e sua fala acabou se transformando em ação de marketing contra o site 4chan, que recentemente abrigou fotografias de artistas nuas como Jennifer Lawrence e Kim Kardashian, e mobilizou anônimos e famosos a aderir à campanha “HeForShe”. O principal ponto de seu discurso foi o chamamento aos homens para entrarem na causa e que a participação masculina é essencial para que a igualdade de gêneros seja alcançada.“Se não se obriga um homem a acreditar que precisa ser agressivo, a mulher não será submissa. Quero que os homens se comprometam para que suas filhas, irmãs e mães se libertem do preconceito e também para que seus filhos sintam que têm permissão para ser vulneráveis, humanos e uma versão mais honesta e completa deles mesmos”, disse. "UM PROBLEMA FATAL PARA AS MULHERES" O obscurantismo em torno do aborto levou cerca de 7,5 milhões de brasileiras a interromper a gravidez nos últimos dez anos. Os números mostram que a morte de mulheres durante cirurgias em clínicas clandestinas é cada vez mais negligenciada pelo poder público. Na mesma semana em que um exame de DNA confirmou que o corpo encontrado em Guaratiba, no Rio de Janeiro, é da jovem Jandira Magdalena dos Santos Cruz, 27 anos, a polícia começou a investigar outro caso semelhante. O corpo de Elizângela Barbosa, 32 anos, grávida de cinco meses, foi encontrado na Estrada de Itioca, em Niterói – ela havia saído de casa para realizar um aborto. Levantamento feito pela Universidade Estadual do Rio de Janeiro revelou que somente no ano passado o número de procedimentos ilegais variou entre 685 mil e 856 mil. No Brasil, o aborto só é permitido quando há risco para a vida da gestante, diagnóstico de anencefalia no feto e em caso de estupro. "DELÚBIO VAI PARA CASA" De pouquinho em pouquinho todos os mensaleiros estão voltando para casa. Na semana passada, o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Luís Roberto Barroso autorizou o ex-tesoureiro do PT Delúbio Soares a cumprir em sua residência o restante da pena. Ele foi condenado a 6 anos e 8 meses de reclusão, inicialmente em regime semiaberto, pelo crime de corrupção passiva no esquema que dava dinheiro a parlamentares em troca de apoio político. O cumprimento do tempo mínimo de um sexto da pena e o bom comportamento de Delúbio foram os requisitos apreciados por Barroso para aprovar a progressão de regime. Outros três presos do mensalão já obtiveram o benefício: o ex presidente do PT José Genoino, o ex-tesoureiro do extinto PL, atual PR, Jacinto Lamas e o ex-deputado federal Bispo Rodrigues. "O CHEFE DO DOI-CODI E A MORTE DO JORNALISTA" Das inúmeras ficções inventadas à época da ditadura militar no Brasil para acobertar a morte de presos políticos que entravam com saúde para prestarem depoimentos em repartições como o Doi-Codi e de lá saíam sem vida, uma está prestes a ser esclarecida e seus responsáveis, punidos. O Ministério Público Federal de São Paulo apresentou denúncia por homicídio doloso qualificado contra três militares, entre eles o coronel reformado do Exército Carlos Alberto Brilhante Ustra, chefe do órgão de repressão de setembro de 1970 a janeiro de 1974, pela morte do jornalista Luiz Eduardo da Rocha Merlino, em julho de 1971. Merlino era integrante do Partido Operário Comunista e não resistiu às sessões de tortura a que foi submetido. O médico legista que assinou os laudos também foi denunciado. "CASA BRANCA MAIS LONGE" Se normalmente já era difícil aos turistas se aproximarem da Casa Branca, agora está quase impossível. Depois que o veterano da guerra do Iraque Omar González escalou o portão de dois metros de altura, correu pelo gramado da residência do presidente dos EUA e invadiu o edifício na semana passada, uma segunda cerca foi colocada ao longo do terreno, dificultando ainda mais o acesso de curiosos ou de possíveis visitantes. De acordo com a polícia americana, havia 800 cartuchos de munição no carro do invasor. Apreciar a Casa Branca, agora, só de longe. "O INFERNO ASTRAL DE EIKE BATISTA" Uma semana depois de ter R$ 117,3 milhões bloqueados pela Justiça Federal e declaradamente “voltar à classe média”, Eike Batista sofreu novo revés. Na quarta-feira 24, ele e outros sete executivos ligados à OGPar (ex-OGX) foram denunciados em São Paulo pelos crimes de formação de quadrilha, falsidade ideológica e indução de investidores a erro por divulgação de informações otimistas sobre a empresa. Mais: a quebra do sigilo fiscal de Eike poderá ocorrer em breve. O juiz Flávio Roberto de Souza, titular da 3ª Vara Criminal do Rio de Janeiro, quer avaliar o patrimônio do empresário em cinco anos e apurar o destino do lucro de R$ 122 milhões que ele teria obtido em duas vendas de ações realizadas em 2013. "UM SATÉLITE 100% INDIANO EM MARTE" A Índia tornou-se na terça-feira 23 o primeiro país asiático a colocar um satélite em órbita em Marte, o Mangalyaan. O feito foi celebrado entre os indianos por diversos motivos: a conquista ocorreu logo em sua primeira tentativa, o sucesso suplantou a corrida contra Japão e China e o custo da operação foi baixíssimo se comparado com as missões realizadas pelos EUA. Para se ter ideia, a missão da sonda americana Maven, que chegou a Marte também na semana passada, custou quase dez vezes mais que a indiana, orçada em 4,5 bilhões de rúpias (cerca de R$ 178 milhões). A inserção orbital da sonda foi transmitida ao vivo na internet. "90%" 90% foi o aumento no número de doadores efetivos de órgãos no Brasil nos últimos seis anos. Segundo o Ministério da Saúde, o salto foi de 1.350 doadores em 2008 para 2.562 em 2013. Com isso, a lista de espera para transplante registrou uma queda de 41,7% no período. "DENGUE DO BEM" Na Ilha do Governador, no Rio de Janeiro, o bairro deTubiacanga está sendo infestado propositalmente com mosquitos Aedes aegypti. Na semana passada dez mil foram soltos na região por pesquisadores da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz). Parece estranha a notícia, mas na verdade é dessa maneira que se pretende eliminar a dengue no Brasil. Os mosquitos liberados foram importados da Austrália e contêm a bactéria Wolbachia, capaz de inibir em até 80% a propagação do vírus. Durante os próximos quatro meses mais mosquitos serão colocados em circulação no bairro até que toda a população de insetos seja substituída, reduzindo, assim, os casos de infecção por dengue. Segundo os pesquisadores a bactéria não traz nenhum risco às pessoas. Estudos semelhantes já foram feitos no Vietnã e na Indonésia e nos próximos anos outros três bairros do Rio de Janeiro deverão participar da pesquisa. "AS DIVAS CHEGAM AOS 80" As atrizes Brigitte Bardot e Sophia Loren, musas do cinema e símbolos sexuais do século XX, estão comemorando 80 anos. As duas nasceram com apenas oito dias de diferença – Bardot, em Paris, no dia 28 de setembro de 1934, e Loren, em Roma, no dia 20 do mesmo mês e ano. Em celebração à data, as divas ganharam mostras especiais. A carreira da bombshell francesa será celebrada com duas exibições fotográficas na cidade de Saint-Tropez, na França, onde vive atualmente, e de onde milita a favor dos direitos dos animais. Já Loren é tema de uma exposição na Cidade do México que traz fotos, figurinos e o Oscar recebido pela italiana, em 1961, pela atuação no longa “Duas Mulheres”, de Vittorio De Sica. "PRESIDENTE POR ACORDO" Na semana passada, o Afeganistão, que já foi governado por extremistas do Talibã e convive com a intervenção militar americana desde 2001, mostrou ao mundo exemplo disso. Depois de três meses de impasse, o economista Ashraf Ghani foi proclamado vencedor das eleições presidenciais, disputadas em junho – o processo estava paralisado porque Ghani e o candidato rival, Abdullah Abdullah, trocavam acusações de fraude no pleito. Finalmente, o consenso: Ghani assumirá a Presidência do país, enquanto Abdullah será o responsável pelo governo de unidade local. O pacto foi mediado pelo secretário de Estado americano, John Kerry. ONU, Casa Branca, Otan, Irã e União Europeia manifestaram apoio ao acerto, enquanto o Talibã considerou uma armação inaceitável orquestrada pelos EUA. "R$ 839,5 MILHÕES" R$ 839,5 milhões é quanto deverá custar aos cofres públicos a propaganda eleitoral gratuita, já que a União deixará de arrecadar a quantia em impostos pagos pelas empresas de rádio e TV de sinal aberto com as inserções veiculadas entre 19 de agosto e 24 de outubro. A renúncia fiscal deste ano representa um aumento de quase 39% em relação a 2010, segundo estimativa da Receita Federal.