0# CAPA 1.4.15 ISTOÉ edição 2365 | 01.Abr.2015 [descrição da imagem: foto do rosto de Palocci. A mão esquerda encostada no rosto. Dedo indicador entre os lábios e polegar no queixo. Está de óculos, olhando por cima das lentes, em direção ao seu lado direito.] AS OPERAÇÕES DE PALOCCI NA LAVA JATO Consultorias do ex-ministro teriam sido usadas para desviar R$ 100 milhões ao PT. [parte superior da capa] A INSUSTENTÁVEL MÁQUINA DO GOVERNO Só os salários dos 39 ministérios de Dilma consomem R$ 214 bilhões – quase 4 vezes o ajuste fiscal que a presidente quer fazer às custas da sociedade. _______________________ 1# EDITORIAL 2# ENTREVISTA 3# COLUNISTAS 4# BRASIL 5# COMPORTAMENTO 6# MEDICINA E BEM-ESTAR 7# ECONOMIA E NEGÓCIOS 8# MUNDO 9# CULTURA 10# A SEMANA _____________________________ 1# EDITORIAL 1.4.15 "DILMA REFÉM DE TODOS" Carlos José Marques, diretor editorial Dilma está refém de Cunha. Dilma está refém de Renan. Dilma está refém de Levy. Dilma está refém de Lula. Do próprio partido, PT. E da oposição em geral. Experimenta sonoras derrotas no Congresso e vê encurtar, dia a dia, sua margem de manobra para governar. Não há sinais de trégua. Ao contrário. Tudo indica que o movimento tende a se acentuar. A presidente caiu na armadilha que ela própria criou. Imaginou que poderia fazer o que bem entendesse no segundo mandato, sem dar satisfações, disparando determinações e esbanjando autossuficiência, uma vez que não precisaria mais de votos de apoio. Nem do eleitor que a colocou lá. Ledo engano. Nos últimos dias, desmontou-se por completo o chamado governo de coalizão. Sem contar a rejeição nas ruas que cresce geometricamente. A base aliada registrou rebeliões de tradicionais simpatizantes. Ministros foram caindo em sequência por equívocos primários. Críticas e reversões de suas decisões são feitas, de maneira aberta, por parlamentares que parecem confrontar o presidencialismo, exigindo uma nova ordem. Os erros de Dilma provocaram o quadro de ingovernabilidade. Ela quis, de novo, sabotar o PMDB endossando a criação do partido PL, de seu ministro Kassab. Levou o troco. A Câmara, comandada pelo PMDB, aprovou a mudança na indexação das dívidas de Estados e Municípios, ferindo brutalmente o escopo do ajuste fiscal, enquanto o Senado (também sob o tacape do PMDB) estabeleceu prazo para que ela apresente alternativas. Na queda de braço, perde o País e a economia. Não dá para esquecer que foi a própria Dilma quem incitou a ideia de renegociação dessas dívidas no ano passado, em mais um ímpeto populista. Agora volta atrás. Foi alertada sobre o tamanho do buraco que estava criando. Calcula-se um rombo de ao menos R$ 3 bilhões por ano na brincadeira. De onde tirar tamanha dinheirama para cobrir as contas, se os parlamentares fincarem o pé? A presidente resiste em cortar na própria carne, enxugando a pesada máquina do Estado que conta com 39 ministérios, milhares de servidores e um gasto anual que ultrapassa os R$ 400 bilhões em custeio. Sem alternativa terá que, finalmente, ceder nesse campo. Mesmo a contragosto. Está cada vez mais claro que ela não tem como medir forças com os adversários. Dilma reina, o Congresso comanda. Houve um reequilíbrio de forças e no novo arranjo o Governo não sabe para onde ir. Nem como ir. ___________________________________ 2# ENTREVISTA 1.4.15 MIGUEL REALE JÚNIOR - "DILMA PODE SER AFASTADA POR CRIME COMUM" Ex-ministro da Justiça afirma que presidente perderia o mandato por prevaricação se fosse comprovado que ela sabia do Petrolão quando presidia o Conselho de Administração da Petrobras por Raul Montenegro REALE EM SUA BIBLIOTECA - "Se estivéssemos no parlamentarismo, o governo teria sido destituído" O advogado Miguel Reale Júnior já ocupou todas as posições que um jurista pode almejar. Professor titular de Direito Penal da Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo, foi membro do Conselho Administrativo da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) e ministro da Justiça em 2002, durante o mandato de Fernando Henrique Cardoso. Quadro histórico do PSDB, próximo do ex-presidente tucano e do ex-governador de São Paulo Mário Covas (1930-2001), foi um dos principais responsáveis pelo processo de impeachment que levou à renúncia do ex-presidente Fernando Collor de Mello. Filho de um dos mais influentes juristas brasileiros, Reale hoje está indignado com a situação do Brasil. "O PSDB deve considerar a possibilidade de apoiar o Michel Temer. Ele está à frente de um partido forte e tem trânsito na oposição" Foi aos protestos do dia 15 de março defender a renúncia de Dilma Rousseff (PT), mas é contra o impeachment, que, de acordo com ele, não possui bases jurídicas. Abaixo, o advogado fala sobre fatos marcantes da história do País nos quais esteve presente, o atual momento do Brasil e o que pode acontecer a partir dessa ebulição das ruas. José Eduardo Cardozo tem assumido muito mais um papel de advogado do que de ministro da Justiça. É o rei do lugar comum Istoé - O sr. é a favor do impeachment? Miguel Reale Júnior - O impeachment não é juridicamente viável porque os atos que poderiam justificá-lo ocorreram no mandato anterior. A pena do impeachment é a perda do cargo. Mas acabou o mandato e Dilma foi reeleita para outro. Não existe vaso comunicante. Para se pedir o impeachment, a presidente precisaria ser suspeita de algum malfeito de janeiro até agora. Eu fiz a petição de impeachment contra o ex-presidente Fernando Collor. Ali havia fatos praticados por ele, o recebimento de vantagens ilícitas claras. Impeachment não é golpe, porém precisa estar enquadrado tecnicamente. Eu tenho uma responsabilidade de consciência jurídica, não posso forçar a mão. Istoé - O impeachment é também um processo político. É possível que o Congresso atropele os argumentos jurídicos para validá-lo? Miguel Reale Júnior - Aí a Dilma entra com um mandado de segurança no Supremo Tribunal Federal e anula tudo. O Collor entrou com um mandado de segurança no Supremo Tribunal Federal para conseguir alguns direitos de defesa que não estavam sendo considerados no processo. E não é só a atual configuração do Supremo que invalidaria, não. Qualquer STF consideraria ilegal. O Supremo da época do Collor também concedeu mandado de segurança para alguns pontos que ele solicitou. Se existe uma violação da lei ou da Constituição, o sujeito vai ao STF e ganha. Istoé - Isso quer dizer que a presidente não poderá ser responsabilizada caso seja ligada às denúncias do Petrolão? Miguel Reale Júnior - O que pode haver, eventualmente, é a apuração de crime comum. O procurador-geral da República disse que não há elementos, mas Dilma prevaricou se sabia do esquema quando era presidente do Conselho de Administração da Petrobras e manteve a diretoria após assumir a presidência da República. Caso seja enquadrada num crime comum, ela será processada perante o Supremo com autorização da Câmara dos Deputados. Se condenada, perderia o mandato como qualquer outro político. Resta examinar se existem elementos mostrando que ela foi omissa ou conivente ao manter a diretoria. A Constituição diz que o presidente não pode ser responsabilizado por atos estranhos às suas funções, porém atos de prevaricação – como o que ocorreu na Petrobras – não seriam estranhos à função. Istoé - Caso Dilma fosse afastada, a situação melhoraria com o vice Michel Temer? Miguel Reale Júnior - O Michel tem habilidade e experiência como presidente da Câmara dos Deputados. Está à frente de um partido forte e conta com capacidade de trânsito na oposição. Seria o caso, para que houvesse um grande pacto nacional como ocorreu com o Itamar Franco (vice de Collor). Naquela época, eu fui procurado por um brigadeiro que comandava a zona aérea de São Paulo e manifestou a preocupação das Forças Armadas quanto à governabilidade. Eles não estavam preocupados com o impeachment do Collor, mas com o futuro. O brigadeiro queria saber se havia a possibilidade de o PSDB apoiar o Itamar. Ele me procurou porque eu estava à frente do impeachment e porque eu era próximo dos então senadores Fernando Henrique e Mário Covas. Ambos me garantiram que dariam apoio ao Itamar e eu transmiti isso ao militar. A mesma preocupação que as Forças Armadas tiveram naquele momento é a preocupação que todos nós deveríamos ter agora. Istoé - Hoje o PSDB daria apoio ao Temer? Miguel Reale Júnior - O PSDB deve considerar a possibilidade de apoiá-lo. É um caminho que pode não interessar à oposição que queira assumir livremente o poder daqui a quatro anos. Independentemente disso, nós temos que pensar como chegaremos lá se não houver um pacto, pois já estamos em frangalhos. Também tem outro problema extremamente grave. Apesar de as passeatas do dia 15 de março terem sido tranquilas, os ânimos estão acirrados. Amigos se separam por conta de divergências políticas, familiares viram a cara uns para os outros. Esse pacto também vai por um pouco de tranquilidade na sociedade. Istoé - O sr. foi aos protestos do dia 15 de março? Miguel Reale Júnior - Fui, sim. Estava em Canela, no interior do Rio Grande do Sul, e participei do ato na cidade. Havia mais de duas mil pessoas. Eu sou favorável à renúncia de Dilma Rousseff pela dificuldade que ela tem de governar. A governabilidade será difícil porque no momento em que ela fala tem panelaço, quando seus ministros falam há panelaço. Por causa disso, a presidente já tem pouco espaço para manobra – e a operação Lava Jato vai trazer mais fatos, ainda vai se estender para outros setores da administração. Istoé - As manifestações juntaram pessoas favoráveis ao impeachment, à intervenção militar e aqueles que apenas reclamavam da corrupção. Como unir esses interesses? Miguel Reale Júnior - Os que defendem os quartéis são minoritários e foram rechaçados nas ruas. É um grupo muito pequeno e inexpressivo. Já o impeachment é um processo jurídico e técnico. Se não houver enquadramento, não tem impeachment. Movimentações sem um norte se diluem. Por exemplo, nos protestos da Praça Tahrir, no Egito, a população destronou o ex-ditador Hosni Mubarak, mas não soube construir uma via. Primeiro, o fundamentalismo ganhou. Depois vieram os militares. As redes sociais são capazes de arregimentar contra, mas a rua não apresenta um denominador comum porque é composta de visões díspares. Temos que criar um caminho. Entidades como a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, a Ordem dos Advogados do Brasil e a Associação Brasileira de Imprensa devem sair dos seus nichos e participar porque esse processo representa muito do que a sociedade deseja. E os cabeças dos movimentos das ruas têm que trabalhar junto com lideranças políticas para formatar uma proposta. Istoé - É possível que políticos participem dos protestos? De Paulinho da Força (SD-SP) a Jair Bolsonaro (PP-RJ), quando eles falaram nos carros de som foram vaiados. Miguel Reale Júnior - Isso é perigoso porque significa uma descrença generalizada da classe política. Alguém precisa exercer o poder, organizar esses anseios. Não estou falando de uma pessoa, um salvador da pátria. Mas de um grupo político que se una à sociedade para constituir a base de um pacto. Se isso não ocorrer, gera-se um processo anárquico. Istoé - A forma de governo no Brasil afasta os políticos do povo? Miguel Reale Júnior - Se estivéssemos no parlamentarismo não haveria toda essa comoção que estamos vendo porque o governo teria sido destituído. O parlamentarismo impede que crises se avolumem e prejudiquem a vida do país. É verdade que a população também não acredita no Congresso, mas ela precisa saber que no regime parlamentarista a Câmara pode ser dissolvida. Istoé - E quanto à reforma política, o sistema eleitoral deve mudar? Miguel Reale Júnior - O sistema proporcional com lista aberta que temos hoje é horroroso. Com ele vêm gastos de campanha elevadíssimos e ocultos. De qualquer forma, o voto distrital é melhor. Eleição em dois turnos para deputados também pode ser um caminho, melhora bastante. De qualquer modo, Constituinte exclusiva para analisar o tema (como defendeu o governo após os protestos de junho de 2013) é loucura, seria um poder paralelo ao Congresso. Também não precisa fazer plebiscito ou referendo. É pacto, o Congresso já tem poderes para realizar. No entanto, o Tancredo Neves dizia que era mais fácil fazer um boi voar do que conseguir consenso em relação ao sistema eleitoral. É muito difícil. Istoé - A principal reclamação das ruas está relacionada à corrupção. O pacote de Dilma vai resolver o problema? Miguel Reale Júnior - A medida repete propostas antigas. E eles se esquecem que o crime de caixa dois já existe, artigo 350 do Código Eleitoral, com pena mínima de dois anos. Há diversos projetos tramitando na Câmara sobre enriquecimento ilícito. Eles não avançaram porque não foram votados pela própria base parlamentar. Vamos deixar de enganar a população brasileira. Istoé - O sr. foi ministro da Justiça no mandato FHC. Como avalia o desempenho de José Eduardo Cardozo no cargo? Miguel Reale Júnior - José Eduardo Cardozo tem assumido muito mais um papel de advogado do que de ministro da Justiça, com a distância que deve ter um ministro da Justiça de fatos que estão sendo manifestados. Ele sai em defesa do seu partido, em defesa da presidente. O discurso dele é um discurso repetitivo, cheio de chavões. É o rei do lugar comum. ______________________________________ 3# COLUNISTAS 1.4.15 3#1 RICARDO BOECHAT 3#2 LEONARDO ATTUCH - O CONTÁGIO CHEGOU AO EMPREGO 3#3 GISELE VITÓRIA 3#4 ANTONIO CARLOS PRADO - O LEVIATÃ ESTÁ COM ANEMIA 3#5 BRASIL CONFIDENCIAL 3#1 RICARDO BOECHAT Com Ronaldo Herdy Não escapa O pedido de demissão na semana passada não livrará o ex-ministro de Comunicação Social de Dilma Rousseff, Thomas Traumann, de dar explicações à Comissão de Ética da Presidência da República. Até 10 de abril precisa provar que não misturou a comunicação do governo federal com ação política, ao produzir documento admitindo uma comunicação oficial “errada” desde a reeleição da presidente. Não convencendo será alvo de “censura pública”, uma espécie de cartão vermelho do colegiado. Trabalho Novos ares Ao que parece, a Justiça do Trabalho quer atenuar o impacto econômico e os efeitos sociais de demissões em massa nas empresas. Na terça-feira 24, o TRT de São Paulo manteve decisão de primeira instância contra a Sorocaba Refrescos, que em pleno sábado de carnaval demitiu 219 motoristas e ajudantes, mandando o aviso de dispensa por um motoboy, sem qualquer conversa com o sindicato da categoria. Ato contínuo contratou a mão de obra pagando em alguns casos R$ 700 a menos, em Itu (separada de Sorocaba pela Rodovia Castelo Branco). Para os desembargadores ao agir dessa forma a engarrafadora da Coca Cola ofendeu os princípios da dignidade humana. Legislativo Ao pé do ouvido Diante do aviso de Eduardo Cunha de que colocará as medidas provisórias 664 e 665, que retiram direitos dos trabalhadores, para serem votadas antes do feriado da Páscoa, a Força Sindical convocou dois mil sindicatos associados para estarem em Brasília, a partir desta segunda-feira 30. Cada dirigente está escalado para fazer pressão sobre os parlamentares do seu Estado. Rio de Janeiro A dança do Pezão Será amarga a Páscoa do governador Luiz Fernando Pezão. Com pompa em julho do ano passado ele assinou decreto com apoio formal à implantação de uma grande indústria no Rio de Janeiro, voltada para a produção de fármacos para o tratamento, inicialmente, de câncer e artrite reumatoide. A Bionovis de quatro laboratórios que respondem por 33% do mercado farmacêutico brasileiro em volume entraria em operação daqui a três meses. Na última terça-feira 24, com um sorriso no rosto, o governador Geraldo Alckmin anunciou que Valinhos abrigará a fábrica de R$ 739 milhões. O terreno que o governo do RJ ofereceu à Bionovis não agradou, por haver planos de passar uma linha de trem por ele no futuro. Política Em baixa Em palestra no Rio de Janeiro para executivos da indústria do aço, na quinta-feira 26, o professor Gaudêncio Torquato (USP) arrancou enormes aplausos da plateia quando disse que o boom inaugurado por Lula já era. “Está decretado o fim do BO-BA-CO-CA: bolso cheio-barriga satisfeita-coração agradecido-cabeça feliz”. Segundo ele, com o cinto econômico apertando o estômago social, a votação no PT será menor a cada eleição - e nada fácil para Dilma governar até o fim do mandato. Meio ambiente Abaixo da meta A um mês do fim do prazo para as inscrições dos produtores rurais e posses, o Sistema Nacional de Cadastro Ambiental Rural recebeu registro de aproximadamente 50% da área útil agrícola brasileira. O índice corresponde a quase 200 milhões de hectares inscritos, de um total de 329 milhões de área útil, excluindo o tamanho das unidades de conservação. Pelas regras do Sicar, aberto em maio de 2014, em um ano todos os donos de terras teriam que estar cadastrados. STJ Perigo no tribunal Responsável por julgar no STJ recursos ordinários e habeas corpus dos investigados na Operação Lava Jato com foro na Justiça Federal do Paraná (funcionários públicos, doleiros e empresários na maioria), a Quinta Turma opera no limite. De seus cinco membros, três são ministros da Casa (Jorge Mussi, Felix Fischer e Luiz Gurgel de Faria) e dois desembargadores federais convocados (Newton Trisotto e Leopoldo Raposo). Só que a situação pode se complicar: o ministro Mussi sairá em meados de abril, para assumir a Corregedoria Geral da Justiça Federal. STJ 1 Nomeação urgente Pelo Regimento Interno do STJ, nenhuma turma pode julgar com igual ou mais magistrados convidados do que os ministros da casa. Se ocorre, a decisão é anulada. Uma saída é Dilma nomear já um desembargador federal da lista tríplice que STJ lhe enviou em março. Caso contrário, os processos da Lava Jato ficarão sem decisão. Aviação civil Sem pompa O acidente com o avião da Germanwings – que caiu nos Alpes franceses na semana passada com 150 pessoas a bordo – fez a Lufthansa, proprietária da companhia aérea de baixo custo, mudar no Brasil. A empresa organizou uma festa no Aeroporto Internacional Tom Jobim para esta segunda-feira 30, inaugurando o Boeing 747-8 na rota diária Rio de Janeiro – Frankfurt. O evento traria à cidade seu diretor para a América Latina e Caribe, Gabriel Leupold, junto com a Donna Hrinak, presidente da Boeing Brasil e América Latina. Sucos e canapés foram recolhidos. Brasil Na berlinda Vivendo momento crítico em seu segundo mandato, Dilma não quer perder uma chance para falar aos brasileiros. O Planalto já confirmou sua presença na festa de abertura oficial da fábrica da Fiat Chrysler dia 28 de abril, em Goiana, Pernambuco. Capaz de produzir 250 mil carros/ano, resultado de R$ 7 bilhões em investimentos, lá é feito o Jeep Renegade (45 unidades por hora). Fisco Bem acima Especialistas que investigam o esquema de suborno contra a Receita Federal acreditam que a fraude pode superar os R$ 19 bilhões estimados de início. Pelo porte das empresas e instituições envolvidas, que teriam topado pagar propina em troca da anulação ou redução indevida de multas, o caso tem ingrediente para virar a maior sonegação fiscal da história do Brasil. Felizmente descoberta. Além de executivos, pessoas próximas a figurões do Ministério da Fazenda nos últimos oito anos devem ser chamados à Polícia Federal para dar explicações. Transportes Com desconto Uma pesquisa da ANAC sobre as tarifas praticadas pelas companhias aéreas comprova o que percebem os passageiros: houve redução (3,8%) no bilhete para voos domésticos até o terceiro trimestre de 2014. O preço médio foi de R$ 317,21. Segundo a agência, 60% dos assentos saíram por menos de R$ 300 - e só 0,5% ultrapassou R$ 1,5 mil. Dados preliminares do ano fechado apontam ainda para redução nas passagens. Ou seja, compre com antecedência e se dê bem. História Finalmente, livre Com Milton Gonçalves no papel principal, Tiradentes será julgado dia 21 de abril, no Rio de Janeiro, pelo mesmo tribunal que o condenou, 223 anos depois. A absolvição é certa. O alferes será defendido por Técio Lins e Silva, com o também advogado criminalista Jorge Vacit atuando como promotor. Na presidência do júri o desembargador Cláudio Dell´Oro. Questões tormentosas à época serão debatidas como os abusos de poder e tributário-fiscal, além do autoritarismo. Após o “desenforcamento”, do TJ RJ sairá cortejo a pé até a Praça Tiradentes, no Centro carioca, ao som debateria de uma agremiação carnavalesca, entoando sambas que exaltaram aquele que “foi traído e não traiu jamais , a inconfidência de Minas Gerais”. 3#2 LEONARDO ATTUCH - O CONTÁGIO CHEGOU AO EMPREGO As demissões na construção civil são um claro sinal de que a Lava Jato pode quebrar o País . Os dados sobre o mercado de trabalho divulgados nesta semana foram devastadores. Ao mesmo tempo em que o desemprego saltou de 5,3% para 5,9%, entre janeiro e fevereiro, a renda do trabalhador registrou a primeira queda desde 2011. O epicentro desse crise é a construção, onde nada menos que 250 mil pessoas foram demitidas nos últimos meses. Sem crédito, as empreiteiras já paralisaram pelo menos trinta grandes obras de infraestrutura no País. E a recuperação judicial parece ser o caminho inevitável de empresas que, até ontem, exibiam solidez financeira e reconhecimento nacional e internacional. As primeiras a pedir proteção contra credores foram a Alumini e a Galvão Engenharia. Ao que tudo indica, a próxima será a OAS. A causa principal desse colapso é uma só: a Operação Lava Jato. E não apenas porque seis empresas, entre um universo de mais de vinte que também fazem parte do mesmo suposto cartel, tiveram suas lideranças encarceradas e, assim, perderam crédito e condições de competitividade. O pano de fundo da crise é também a guerra política, verbalizada com clareza pelo ex-governador paulista Alberto Goldman. Segundo ele, uma das condições para um eventual impedimento de Dilma Rousseff é a deterioração econômica. Portanto, quanto pior, melhor. No MP, o primeiro a falar sobre o impacto econômico da Lava Jato foi o procurador Deltan Dallagnol, em entrevista à jornalista Miriam Leitão. Disse ele, com razão, que países com maiores índices de corrupção crescem menos. Disse ainda, ao falar das demissões, que talvez seja o momento de dar “um passo atrás, para depois dar cinco passos à frente”. O problema é que ninguém é capaz de medir qual é a dimensão do “passo atrás”. Até agora, o cenário que se desenha para o pós-Lava Jato poderá ser até pior do que o atual. Como apenas seis entre mais de vinte empresas foram punidas e só as que não se submeteram a delações estão sendo empurradas para o precipício, o resultado final poderá ser um país com um setor de construção ainda mais cartelizado. Em outro setor, o impacto mais agudo é sentido na indústria naval. O governo japonês reclamou sobre três estaleiros que se implantaram no País, subcontratados pela empresa Sete Brasil. Eles têm R$ 1,3 bilhão a receber, mas que não foram pagos em razão da Lava Jato – como o lendário Pedro Barusco atuou na empresa, a Sete se tornou radioativa. Se houvesse visão de futuro no Brasil de hoje, as lideranças estariam buscando o diálogo, e não o confronto. Chega a ser chocante o silêncio de lideranças empresariais, em especial da CNI, que assistem impassíveis ao desmoronamento da indústria naval. 3#3 GISELE VITÓRIA Gisele Vitória é jornalista, diretora de núcleo das revistas ISTOÉ Gente, ISTOÉ Platinum e Menu e colunista de ISTOÉ Bela vice De visual novo para encarnar a vice-presidente dos Estados Unidos na nova série “Agent X”, Sharon Stone entrou em estúdio em Los Angeles no último dia 16 com força total para estrear este ano na tevê americana, no canal pago TNT. Por essa razão, a implacável madrinha do baile da AmFar não virá este ano para comandar o leilão pela causa da Aids nesta edição 2015 em São Paulo, em 10 de abril. No sábado 28, contudo, a atriz dá um rasante em Mônaco para o lançamento de uma campanha mundial do laboratório Galderma pelos efeitos naturais dos tratamentos estéticos (foto). Tendo a beleza muito além do botox de Sharon como cartão de visitas, a marca vai demonstrar os resultados de seus lançamentos. “É inspirador quando a ciência se encontra com a beleza de forma tão eficaz”, diz Sharon, 55 anos, que sempre atacou as plásticas. Solteríssima, a musa eterna do filme Instinto Selvagem aposta num revival, agora na televisão, com lançamento da série. Ao chegar ao poder, sua personagem percebe uma conspiração na Casa Branca e conta com agentes secretos parceiros para combatê-la. Mesmo em gravação, Sharon só tem interrompido a rotina agitada para dar aulas eventuais em Harvard, onde detém o título de professora honorária. Na chuva para se molhar O ministro das Minas e Energia, Eduardo Braga, passou um aperto na semana passada. Sua filha, a médica Bruna Braga, teve que abandonar o carro numa rua em São Paulo durante o forte temporal que provocou enchente na cidade, na quinta-feira 19. “A água atingiu a altura da janela do carro dela, e foi abandonado. Mas com ela não aconteceu nada”, contou, durante a festa de aniversário de 70 anos de Marta Suplicy. “Mas não posso reclamar. Tá chovendo e isso é muito bom. Estamos precisando de mais água. Com um arranhão aqui outro ali, vamos passar por isso.” A nova aventura de Ferran Adriá Mago da cozinha molecular, Ferran Adriá assinou um contrato de três anos de sua Fundação El Bulli com a maison Dom Pérignon. Juntamente com o chef de cave Richard Geoffroy, ele se lançará ao desafio de “decodificar” o lendário champanhe e definir sua importância no futuro. Não se trata de promover harmonizações com suas invenções na cozinha. Adriá mergulhará na experiência do vinho em si. Balas “Novo PTB”, sem (des)DEM Até integrantes do DEM que trabalham para a fusão do partido com o PTB torcem o nariz com o nome Democratas para batizar a nova sigla. O nome mais defendido é “Novo PTB”, por razões históricas e alusões a Getúlio Vargas. Com a fusão, a bancada se igualaria a do PSDB no Congresso. Globo queria Xuxa nas novelas A todo vapor para estrear na Record, Xuxa mergulha nos pilotos do novo programa inspirado no Ellen Degenere Show, da rede norte-americana NBC. Soube-se que o mesmo formato de programa foi apresentado dois anos antes à Globo. Boninho não teria topado. Ela teria ido então a Manoel Martins. Na última rodada de negociações antes de Xuxa deixar a Globo, a emissora teria proposto a Xuxa fazer novelas.Foi quando a Rainha dos Baixinhos e sua equipe se deram conta que era mesmo hora de partir para novos voos. De novo, noiva cadáver Marina Ruy Barbosa já está a mil por hora para viver a Noiva Cadáver (sim, como a personagem de Tim Burton) nas gravações da minissérie da Globo, Assombrações, que estreia em maio. Para tanto, ela pintará de preto as madeixas ruivas. Para quem não se lembra, a ex-mocinha da novela Império já viveu uma noiva fantasma. Quem não se lembra de Nicole, a noiva que morreu no altar na novela Amor à Vida e sempre aparecia para o namorado? Na foto, Marina posa com o modelo americano Noah Mills, para a campanha da grife Mr.Cat, com direção criativa de Luis Fiod. 3#4 ANTONIO CARLOS PRADO - O LEVIATÃ ESTÁ COM ANEMIA A legitimidade do monopólio da violência mostra-se diluída e frágil, e isso é grave para o Estado de Direito - um bom remédio para esse quadro anêmico são as audiências de custódia. Soa como caos. Agora leia de trás para a frente, letra por letra. Pois bem, ela dá a mesma leitura, seja da esquerda para a direita, ou vice-versa. Abro o artigo com essa frase porque foi uma presidiária quem me ensinou, e como escrevo sobre fatos crônicos que recentemente chocaram o País envolvendo o sistema prisional, a moça cabe na história. E cabe também a tal frase porque a política penitenciária nacional, seja qual for a direção que ela siga, tem, igualmente, sempre a mesma leitura. O poder público tem a obrigação de impedir rebeliões, mas o que se vê é o contrário: os motins se sucedem e nos últimos dias foi a vez do Rio Grande do Norte com 17 de seus 33 presídios rebelados. Uma leitura linear do sistema penitenciário revela que nenhuma providência é tomada pelo governo federal (é há dinheiro para isso, no mínimo R$ 10 bilhões sangrados de uma estatal) para que penitenciárias deixem de ser masmorras a enxovalhar o País no cenário internacional e a fomentar rebeliões: “locais onde tortura e violência são endêmicas”, diz relatório da Anistia Internacional. E o próprio ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, já declarou que o sistema prisional é medieval e que ele preferiria morrer a cumprir pena longa no Brasil. Vamos agora à leitura mais difícil, como se fosse a de trás para a frente, e se verá que dá no mesmo. O que está em questão é o fato de o monopólio da violência, competência legítima do Estado, ter-se tornado uma espécie de Leviatã anêmico no interior do qual as diversas facções do crime organizado se atrevem a se achar também legítimas em tal função -- é no sociólogo Max Weber que encontramos a mais correta defesa do Estado como “idealtipo” da legitimidade da posse do monopólio da violência, ação da racionalidade para a manutenção da ordem social. Tanto o descaso das autoridades em relação aos presos quanto esse Leviatã raquítico da legitimidade levam a idêntico resultado: rebeliões. Eis a nossa política penitenciária: repetitiva e pobre de sentido, quer de frente para trás, quer de trás para frente. Para se devolver a legitimidade do monopólio da violência ao Estado e frear o crime organizado é preciso reconhecer que facções criminosas já não formam um estado paralelo, mas atuam como próprio Estado e no interior de um dos pilares constitucionais que é local de treinamento à reinserção social – a cadeia. Com quase 800 mil presidiários o Brasil tem a terceira maior população carcerária do mundo, com 40% deles na condição de presos provisórios, e a superpopulação é fator de rebelião. Na semana passada veio um excelente exemplo de racionalidade weberiana que atenua o problema: os primeiros dias de audiências de custódia, implantadas pelo secretário da Segurança Pública de São Paulo, Alexandre de Moraes, indica que 40% das prisões em flagrante foram revogadas pelo Poder Judiciário já que os detidos não apresentavam periculosidade – foram encaminhados à assistência social ou aguardarão julgamento em liberdade. Não é sem razão que pelo menos 15 estados já se mostram interessados em seguir tal modelo. O sociólogo Theodor Adorno provocava: “para não mais haver campos de concentração é preciso que haja civilização; como pode haver civilização depois que existiram campos de concentração?” Vale a adaptação: para haver sociedade sem crime organizado é necessário que não haja cadeia que funcione como campo de tortura; mas como humanizar as cadeias após o advento do crime organizado? O impasse é duro. O Estado “banalizou o mal”, tomando emprestado o diagnóstico de Hannah Arendt. As audiências de custódia são um caminho para o esvaziamento de que tudo “soa como caos”. Antonio Carlos Prado é editor executivo da revista ISTOÉ 3#5 BRASIL CONFIDENCIAL por Eumano Silva Presença da Kroll na CPI provoca desconfianças A contratação da empresa de espionagem norte-americana Kroll Advisory Solutions para auxiliar nos trabalhos da CPI da Petrobras na Câmara provocou dúvidas no deputado Ivan Valente (PSOL-SP). O parlamentar paulista defende a divulgação dos termos do contrato e o critério para a escolha, feita sem licitação. Valente teme que a Kroll não se limite a investigar o destino do dinheiro desviado da Petrobras no exterior, conforme justificativa apresentada pelo presidente da CPI, Hugo Motta (PMDB-PB). O passado condena Criada por ex-integrantes da CIA, a Kroll foi acusada na década passada de espionar a cúpula da Telecom Itália e de quebrar os sigilos telefônicos de jornalistas e do primeiro escalão do governo Lula. Na Operação Chacal, de 2004, a PF descobriu que a Kroll teve políticos e banqueiros como alvo na década de 1990. A empresa nega as acusações. Solução caseira Servidores da Agência Brasileira de Inteligência (ABIN) avaliam que, ao contratar a Kroll, a CPI põe em risco os segredos industriais do pré-sal. Esses funcionários se colocam à disposição da comissão de inquérito para atuar no caso sem a presença dos norte-americanos. Mantido no cargo O diretor da ABIN, Wilson Trezza, convocou reunião com os servidores na quinta-feira 19. O motivo oficial era anunciar a implantação da folha de ponto no serviço secreto. Mas Trezza comunicou que continuará à frente da agência por decisão da presidenta Dilma Rousseff. A lista preterida Wilson Trezza disse ter comunicado ao Palácio do Planalto sua intenção de sair da ABIN. Para substituí-lo, apresentou lista tríplice com os nomes de Luis Alberto Salaberry, Luís Fernando Cunha e Luely Moreira Rodrigues, todos do quadro da agência. Nenhum agradou a Dilma. A herança de Vaccari O tesoureiro do PT, João Vaccari Neto, deixou problemas para seus sucessores no Bancoop. Na semana passada, a Justiça bloqueou os bens dos diretores atuais para garantir as indenizações dos cooperados que levaram golpe na gestão de Vaccari. Os diretores culpam o petista. Puxão de orelha O ministro interino da Comunicação Social, Roberto Bocomy Messias, funcionário de carreira do Banco do Brasil, já foi condenado pelo TCU por irregularidades em contratos de publicidade, entre 2000 e 2005. Messias foi multado em R$ 3 mil, mas recorreu e o tribunal cancelou a punição monetária. As recomendações, no entanto, foram mantidas. Discurso O documento da Secom que levou à queda do ministro Thomas Traumann desnuda as intenções do governo em relação aos meios de comunicação. Enquanto militantes do setor defendem a comunicação pública, de interesse nacional, o Planalto se preocupa em favorecer veículos que defendem o governo. Coaf fecha o cerco O Conselho Administrativo Financeiro (Coaf) fechou parcerias com os conselhos de classes de profissionais que trabalham com aplicações financeiras. Economistas e contadores estão recebendo cartas lembrando o compromisso ético de suas categorias. Os destinatários devem assinar declarações com garantias de que não identificaram quaisquer indícios de lavagem nas movimentações de dinheiro dos seus clientes. O Coaf tomou essa iniciativa devido ao envolvimento em escândalos de profissionais dessas áreas. No Petrolão, o caso mais conhecido foi o de Meire Pozza, ex-contadora do doleiro Alberto Youssef. O julgamento de Afif Na quinta-feira 26, um desembargador pediu vista e adiou a conclusão do julgamento do ministro da Micro e Pequena Empresa, Afif Domingos, no TJ de São Paulo. Afif é acusado de favorecimento na concessão de licença ambiental para a construção de um condomínio de luxo em uma área que possui no litoral paulista. Dos três desembargadores, dois votaram contra o ministro. Toma lá dá cá Deputado Paulo Pimenta (PT-RS), presidente da Comissão de Direitos Humanos da Câmara. ISTOÉ – O senhor defende a descriminalização da maconha e do aborto e a criminalização da homofobia. Por quê? Pimenta – Há uma demanda da sociedade para que o Congresso trate da vida real. Esses temas dizem respeito ao dia a dia das pessoas. ISTOÉ – Como aprovar estas propostas em um Congresso conservador? Pimenta – O Parlamento costuma responder às pressões da sociedade. Pautamos os temas para que a sociedade faça o debate. ISTOÉ – Qual das propostas tem mais facilidade de ser aprovada? Pimenta – A criminalização da homofobia, já aprovada na Câmara. Ficar contra esse projeto é tão constrangedor quanto defender o racismo. Rápidas *A Câmara dos Deputados tem mais uma armadilha pronta para pegar a presidente Dilma Rousseff. O presi­dente da CCJ, Arthur Lira (PP-AL), marcou para esta segunda-feira, 30, a votação da admissibilidade da PEC 171, que reduz a maioridade penal de 18 para 16 anos. * Esse é um tema muito delicado para o governo. Caso a tramitação da PEC avance e siga para sanção da presidente, não haverá solução boa para o Palácio do Planalto. Se vetar, Dilma vai contrariar a maioria esmagadora da população, que defende a PEC. * Na hipótese de sancionar a redução da maioridade penal no país, a presidente da República entrará em choque com suas bases ligadas aos Direitos Humanos e, também, com o Unicef, órgão das Nações Unidas responsável pelos direitos das crianças no mundo. * Segundo o Unicef, dos 21 milhões de adolescentes que vivem no Brasil, somente 0,013% cometeram atos contra a vida. De acordo com o Instituto Datafolha, 93% da população do estado de São Paulo é favoráveil à redução da maioridade penal. Retrato falado Ex-governador do Rio Grande do Sul, Tarso Genro (PT) ficou bastante contrariado com a decisão do Palácio do Planalto de recuar na mudança dos indexadores das dívidas dos estados e municípios. No final do ano passado, Genro foi um dos líderes na aprovação da lei que alivia os cofres de prefeitos e governadores. Na última semana, o petista usou o Twitter para postar mensagens com críticas ao governo federal, ao PT e ao PMDB, tratado como “mui amigo”. Limparam a ficha suja Nomeado secretário-executivo substituto do Ministério dos Transportes, o ex-deputado Edson Girotto (PSDB-MS) havia sido preterido por Dilma Rousseff no primeiro momento. A presidente justificou o veto com o argumento de que Girotto respondia a processos no estado. De uma hora para outra, a Justiça aceitou recursos do investigado e o retirou da lista de réus. O caminho ficou livre para a nomeação. Despachos retroativos Oficialmente, o tucano Edson Girotto está no cargo desde o dia 9 de março. No entanto, o ex-deputado assina decisões retroativas a fevereiro, como se estivesse na função há mais tempo. Esse tipo de despacho não é usual e causa estranheza entre os funcionários da pasta. _______________________________________ 4# BRASIL 1.4.15 4#1 AS OPERAÇÕES DE PALOCCI NA LAVA JATO 4#2 A INSUSTENTÁVEL MÁQUINA DO GOVERNO 4#3 DILMA AINDA NÃO ENTENDEU! 4#4 O QUE SEGURA VACCARI? 4#1 AS OPERAÇÕES DE PALOCCI NA LAVA JATO Consultorias do ex-ministro teriam sido usadas para desviar R$ 100 milhões ao PT. Agentes da PF relacionam intermediação de petista à doação milionária à campanha de Dilma em 2010 Claudio Dantas Sequeira e Mário Simas Filho A pedido da Procuradoria Geral da República está em curso na Justiça Federal do Paraná uma investigação sobre a participação do ex-ministro da Fazenda e da Casa Civil, Antônio Palocci Filho, no esquema do Petrolão. Entre os alvos principais do processo estão contratos feitos entre a Projeto – consultoria financeira pertencente ao ex-ministro – e empresas que fizeram direta ou indiretamente negócios com a Petrobras. Com base em delações premiadas, documentos apreendidos e até na prestação de contas feitas pelos partidos, procuradores e delegados da Operação Lava Jato calculam que consultorias feitas por Palocci possam ter sido usadas para desviar cerca de R$ 100 milhões do Petrolão para os cofres do PT. “Vamos demonstrar que, assim como o ex-ministro José Dirceu, Palocci trabalhou para favorecer grupos privados em contratos feitos com a Petrobras e canalizou ao partido propinas obtidas a partir de recursos desviados da estatal”, disse um dos procuradores na tarde da quarta-feira 25. Até a semana passada, os procuradores observavam com lupa seis contratos da empresa de Palocci e nas próximas semanas deverão recorrer ao juiz Sérgio Moro para que autorize a quebra dos sigilos bancário e fiscal do ex-ministro. Os documentos e depoimentos que mais têm despertado a atenção de delegados e procuradores dizem respeito às relações do ex-ministro com a WTorre Engenharia e com o Estaleiro Rio Grande. De acordo com os relatos feitos por procuradores da Lava Jato, em 2006, após deixar o governo Lula acusado de violar o sigilo bancário do caseiro Francenildo dos Santos Costa (leia quadro na pág. 38), Palocci teria intermediado a aquisição do Estaleiro Rio Grande pela WTorre. Meses depois da negociação e sem nenhuma expertise no setor naval, a empresa venceu uma concorrência para arrendamento exclusivo do estaleiro à Petrobras. Em seguida, a estatal fez uma encomenda para a construção de oito cascos de plataformas marítimas, em um contrato de aproximadamente US$ 6,5 bilhões. “Não é comum que uma empresa sem nenhum histórico no setor vença uma concorrência bilionária”, afirma um dos procuradores da Lava Jato. Os indícios encontrados pelo Ministério Público, porém, vão além do simples estranhamento. Investigações promovidas pela Operação Lava Jato indicam que, por orientação de Palocci, o Estaleiro Rio Grande buscou parcerias internacionais para poder cumprir o contrato com a Petrobras. Uma das empresas procuradas para tanto foi a holandesa SBM, já relacionada como uma das mais fortes pagadoras de propinas no esquema do Petrolão. Os documentos em poder da Operação Lava Jato mostram que, no início do ano passado, um ex-executivo da SBM, Jonathan Taylor, procurou a Receita e o Ministério Público da Holanda e revelou que empresa destinara US$ 102 milhões para o pagamento de propinas no Brasil, em troca de contratos para o fornecimento de navios e plataformas a Petrobras. Passados quatro anos, a parceria do Estaleiro Rio Grande com a SBM não se concretizou, embora o contrato para o fornecimento dos oito cascos permanecesse em vigor. Com isso, a Petrobras passou 48 meses sem receber os cascos contratados. Agora, os procuradores investigam quais os pagamentos efetuados pela estatal ao estaleiro durante esse período. “Temos informações de que o estaleiro usou dinheiro pago pela estatal para investir em plataformas, mas não entregou nada a Petrobras”, disse na sexta-feira 27 um dos agentes da PF que atuam na Lava Jato. De acordo com dados preliminares obtidos pela Lava Jato entre 2006 e 2010 a estatal teria repassado anualmente ao Estaleiro Rio Grande cerca de R$ 25 milhões. Em 2010, meses antes de assumir a coordenação de campanha presidencial de Dilma Rousseff, Palocci e sua consultoria voltaram a operar em favor do estaleiro. O ex-ministro, segundo os procuradores da Lava Jato, trabalhou ativamente na venda do Estaleiro Rio Grande da WTorre para a Engevix – outra empreiteira já envolvida no Petrolão – em parceria com o Funcef, o fundo de pensão dos servidores da Caixa Econômica Federal. Um dos interlocutores de Palocci na negociação foi o vice-presidente da Engevix, Gerson de Mello Almada, atualmente preso na sede da Polícia Federal em Curitiba, apontado pelo Ministério Público como um dos principais corruptores do Petrolão. Depois de comprar o estaleiro, a Engevix obteve da Petrobras um contrato de US$ 2,3 bilhões para a construção de três navios sonda. Em janeiro desse ano, Almada admitiu aos procuradores da Lava Jato que fez pagamentos de propinas a “agentes da Petrobras” para que pudesse ganhar os contratos e na semana passada, o empresário manifestou o interesse de aderir à delação premiada. Para que seja feito o acordo, porém, o Ministério Público Federal vem insistindo para que o empreiteiro revele detalhes do envolvimento de Palocci e sua empresa na venda do estaleiro. Como boa parte dos contratos de consultoria permite o sigilo, caso o vice-presidente da Engevix não colabore, os procuradores não descartam a possibilidade de recorrer ao Judiciário para obter cópia da documentação. PROPINODUTO - Ex-gerente da Petrobras, Pedro Barusco afirmou que a construção de navios-sonda, cujo negócio teria sido intermediado por Palocci, envolveu o pagamento de R$ 60 milhões em propina, sendo R$ 40 milhões para o PT Com a quebra do sigilo bancário de Palocci, os procuradores da Lava Jato esperam checar informações já passadas por Almada e descobrir se houve ou não a participação do ex-ministro na elaboração do contrato de US$ 2,3 bilhões com Petrobras. Em delação premiada, o ex-gerente de serviços da estatal, Pedro Barusco, afirmou que esse negócio envolveu o pagamento de R$ 60 milhões em propinas, dos quais R$ 40 milhões teriam abastecido os cofres do PT. “Temos indícios de que durante anos o Estaleiro Rio Grande serviu como um poderoso braço para canalizar propinas do Petrolão e que essa parte do esquema seria comandada pelo ex-ministro Palocci”, disse um dos procuradores na manhã da quinta-feira 26. Ao aprofundar as investigações sobre as relações de Palocci com o Estaleiro Rio Grande, os procuradores e delegados da Operação Lava Jato confirmaram importantes revelações feitas pelos maiores delatores do Petrolão e nas últimas duas semanas começam a traçar a participação do ex-ministro em uma ligação direta entre o propinoduto da Petrobras e recursos para a campanha eleitoral de 2010. Em um de seus depoimentos, o ex-diretor de Abastecimento da Petrobras, Paulo Roberto Costa, assegura que Palocci teria pedido e intermediado a remessa de R$ 2 milhões para a primeira campanha presidencial de Dilma Rousseff. Na semana passada, ao analisarem a prestação de contas do PT, agentes da Polícia Federal identificaram uma doação oficial de R$ 2 milhões feita pela WTorre Engenharia ao diretório nacional do partido. O dinheiro, segundo os documentos, foi entregue em duas parcelas de R$ 1 milhão. “É muito provável que essa doação esteja ligada a venda do Estaleiro Rio Grande da WTorre para a Engevix”, afirma um dos procuradores. O negócio intermediado por Palocci movimentou R$ 410 milhões e foi concluído dois meses antes do primeiro repasse de R$ 1 milhão feito ao comitê financeiro nacional do PT, em 24 de agosto de 2010. O outro R$ 1 milhão caiu na conta do comitê em 10 de setembro. Para a WTorre, a venda do estaleiro foi um excelente negócio. A empresa declara ter investido cerca de R$ 170 milhões nos quatro anos em que esteve à frente das operações e vendeu o empreendimento por R$ 410 milhões. A Engevix também se deu bem, pois assumiu o estaleiro com uma encomenda de mais de US$ 2 bilhões e ainda assinou outro contrato com a Sete Brasil para o fornecimento de plataformas à petrolífera brasileira. Para a Petrobras, o negócio significou um prejuízo, segundo os procuradores da Lava Jato, ainda não calculado. O atraso na entrega das plataformas consumiu o período de 10 anos que a estatal tinha de exclusividade sobre o estaleiro e ainda a obrigou a encomendar novas plataformas da China para atender sua demanda. Além do Estaleiro Rio Grande, o ERG 1, entrou no pacote da Engevix o direito de exploração das áreas adjacentes, batizadas de ERG 2 e ERG 3. Longe das plataformas marítimas, mas também pelas mãos de Palocci, segundo os procuradores da Lava Jato, a WTorre teria conseguido um outro negócio exclusivo e bilionário com a Petrobras. Com um investimento de aproximadamente R$ 600 milhões, a construtora ergueu no bairro da Lapa, no Rio de Janeiro, um moderno complexo de quatro edifícios envidraçados e, sem que houvesse qualquer tipo de licitação, assinou um contrato de locação com a estatal válido até 2039 pelo valor de R$ 100 milhões, reajustáveis anualmente. Os prédios e o contrato de locação deveriam dar lastros para a criação de um fundo imobiliário com o qual a empresa previa obter R$ 1,2 bilhão no mercado. Com tantas construtoras no País chama a atenção dos procuradores o fato de que a Petrobras, para locar uma nova sede no Rio de Janeiro, tenha optado justamente por aquela que tinha Palocci como consultor. Também pesam contra o ex-poderoso ministro de Lula e de Dilma Rousseff as delações feitas pelo doleiro Alberto Youseff e o testemunho de empresários da Camargo Corrêa que colocaram o setor energético na mira da Operação Lava Jato. Os procuradores tentam detalhar a participação de Palocci em favor da CPFL, a maior distribuidora de energia elétrica do País, que tem a Camargo Corrêa como principal acionista privado. O ex-ministro teria atuado junto à Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) para conseguir a aprovação de uma norma que liberou o uso de medidores de energia inteligentes para redes de alta tensão, como indústrias. Com a licença, a empresa conseguiu instalar os medidores em 25 mil unidades de consumo de oito distribuidoras em São Paulo e na Região Sul, num negócio que envolveu cerca de R$ 215 milhões. Os equipamentos garantiram privilégios à companhia como maior eficiência energética, com redução de perdas e economia na manutenção. A Companhia também teria obtido posteriormente, com auxílio do consultor, autorização do Ministério de Minas e Energia de projetos eólicos de sua subsidiária CPFL Energias Renováveis. Os procuradores querem saber se houve alguma contrapartida financeira da Camargo Corrêa ao PT em troca da ação de Palocci na Aneel. “Há indícios de que Palocci seja um dos principais elos entre os empresários envolvidos no Petrolão e o PT”, afirma um dos procuradores. Em delação premiada, o doleiro Youseff, principal operador do esquema, revelou que de fato era o ex-ministro Palocci o contato do partido com o empresário Júlio Camargo, da Toyo Setal. A empresa tem cerca de R$ 4 bilhões em contratos com a Petrobras e Camargo já fez várias delações. “Estamos finalizando alguns cruzamentos de dados para definir melhor a suposta participação do ex-ministro nos esquemas ligados à área energética”, afirmou um dos procuradores. Há ainda uma equipe da Operação Lava Jato que analisa a atuação parlamentar de Palocci, a partir de 2007, quando já trabalhava paralelamente como consultor. O então deputado petista teve papel destacado em todos os projetos relacionados a Petrobras que foram à votação na Câmara. Palocci foi o primeiro relator do polêmico projeto de capitalização da estatal e também nos projetos que instituiu o modelo de partilha para exploração do pré-sal, criou o Fundo Social e a empresa pública Pré-sal Petróleo S.A. (PPSA). Com o primeiro, aprovado depois de longa discussão no Congresso, o governo Dilma conseguiu injetar na estatal mais de R$ 120 bilhões, sendo que R$ 74,8 bilhões saíram do BNDES. Como não tem foro privilegiado, toda a investigação que envolve o ex-ministro será acompanhada pela Justiça Federal no Paraná e caberá ao juiz Sérgio Moro a palavra final sobre os próximos passos a serem dados pelos procuradores e delegados da Lava Jato. Na tarde da sexta-feira 27, por intermédio de seu advogado, José Roberto Batochio, o ex-ministro informou que seu relacionamento com a WTorre se restringe a palestras proferidas ao corpo diretivo da empresa. Palocci também afirmou que nunca teve contato e desconhece a existência da Engevix e que jamais foi contratado pela CPFL para qualquer assunto. A WTorre informou que desconhece qualquer investigação e que nunca utilizou a intermediação do ex-ministro em seus negócios. Sobre o estaleiro, a empresa afirma que em 2006 participou de concorrência organizada pela Rio Bravo Investimentos S/A DTVM, administradora de um Fundo de Investimento Imobiliário que tinha o objetivo de construir um estaleiro que seria alugado posteriormente para a Petrobas. “A WTorre venceu a concorrência, construiu e entregou o estaleiro para o Fundo Imobiliário. A Petrobras tinha a prerrogativa de devolver o estaleiro ao cabo de um período de 10 anos de uso. Foi este direito que a WTorre vendeu para a Engevix”, registra a nota encaminhada pela empresa. Sobre as doações para a campanha de Dilma, a empresa afirma que fez tudo de acordo com a legislação. 4#2 A INSUSTENTÁVEL MÁQUINA DO GOVERNO Os 39 ministérios de Dilma custam mais de R$ 400 bilhões por ano e empregam 113 mil apadrinhados. Só os salários consomem R$ 214 bilhões - quase quatro vezes o ajuste fiscal que a presidente quer fazer às custas da sociedade Izabelle Torres (izabelle@istoe.com.br) Diante da necessidade imperativa de disciplinar as desordenadas contas públicas, legadas da farra fiscal praticada no mandato anterior, a presidente Dilma Rousseff impôs ao País um aperto de cintos. Anunciou como meta de sua segunda gestão um ajuste fiscal capaz de gerar uma folga de R$ 66 bilhões no Orçamento até o fim do ano. O necessário ajuste seria digno de louvor se as medidas anunciadas até agora pela presidente não tivessem exigido sacrifícios apenas de um lado dessa equação: o dos cidadãos brasileiros. Mais uma vez, a conta da irresponsabilidade fiscal de gestões anteriores sobra para o contribuinte. Ao mesmo tempo em que aumenta impostos, encarece o custo de vida da população, ameaça suspender a desoneração de empresas e retira dos trabalhadores direitos previdenciários e trabalhistas, Dilma Rousseff segue no comando de uma bilionária máquina pública aparelhada, inchada e – o mais importante – ineficiente. Na semana passada, pressionada por líderes no Congresso, especialmente do PMDB, a presidente sacou mais uma de suas promessas. “A ordem é gastar menos com Brasília e mais com o Brasil”, disse. A despeito do efeito publicitário indiscutível da frase, a presidente dá sinais de que seguirá na toada já recorrente de dizer uma coisa em público e praticar outra bem diferente no exercício do poder. O governo, na realidade, sempre resistiu em cortar na própria carne. Por isso, permanece desde 2010 com uma colossal estrutura administrativa composta por 39 ministérios, a maioria deles criados para acomodar apadrinhados políticos, cujos custos de manutenção – o chamado custeio – consomem por ano R$ 424 bilhões. Desse total, o gasto com pessoal atinge a inacreditável marca de R$ 214 bilhões, o equivalente a 4,1% do Produto Interno Bruto (PIB) do País. Esse universo de servidores soma quase 900 mil pessoas distribuídas pela Esplanada, sendo 113.869 ocupantes de funções comissionadas e cargos de confiança, as chamadas nomeações políticas baseadas no critério do “quem indica. A credibilidade do governo está no fundo do poço, e é impossível imaginar a sociedade acreditando no ajuste fiscal sem que sejam tomadas medidas radicais para reduzir o tamanho dessa monumental máquina. Sem cortar na própria carne, o governo do PT não tem autoridade para pedir sacrifícios ou falar em ajuste fiscal”, afirmou o senador Álvaro Dias (PSDB-PR). Não bastassem os 39 ministérios com seus milhares de cargos de indicação política, o que se vê hoje na Esplanada em Brasília é o claro desperdício do dinheiro público, facilmente ilustrado pelo excesso de regalias e benesses à disposição dos ocupantes do poder. A principal função do ministério da Pesca, por exemplo, é distribuir o seguro-defeso – espécie de seguro-desemprego pago a pescadores. A pouca expressividade da pasta não limita as vantagens e os benefícios de quem garantiu um cargo executivo no órgão provavelmente chancelado por algum partido aliado de Dilma. Segundo apurou ISTOÉ, há carros de luxo com motoristas disponíveis aos sete integrantes da cúpula do ministério para deslocamento em Brasília. O custo estimado com a regalia é de R$ 1,5 milhão por mês. Embora o ministério esteja constantemente ameaçado de extinção, a pasta vem se mantendo com estrutura que chama a atenção. São mil servidores em exercício, sendo 440 indicados políticos. O benefício de ter carros e motoristas à disposição não é uma exclusividade do ministério da Pesca. Segundo gestores públicos ouvidos por ISTOÉ que já atuaram em diferentes órgãos do governo petista, pelo menos 28 das 39 pastas permitem a benesse para quem está até cinco níveis da hierarquia abaixo do ministro. Isso sem contar os celulares, os cartões corporativos e uma dezena de assessores cujas funções frequentemente coincidem. No ministério do Turismo, que tem uma estrutura mais enxuta e apenas 268 cargos de confiança, o que causa espécie é a quantidade de garçons e copeiras disponíveis para atender a cúpula da pasta. Segundo um dos servidores, há 16 funcionários para servir água e cafezinho aos executivos do ministério. No ministério do Turismo, 16 garçons e copeiras foram contratados para servir os executivos do órgão Embora prometa cortar despesas, Dilma e sua equipe econômica não querem ouvir falar em redução de pessoal, que consome muito mais do que os principais programas sociais do governo. O Bolsa Família, por exemplo, receberá R$ 27 bilhões – o correspondente a 12% do que o País gasta com servidores federais. Já a Saúde, considerada área prioritária para os brasileiros em todas as pesquisas realizadas, terá investimentos de R$ 109 bilhões neste ano. Custará, portanto, metade do gasto do governo com o funcionalismo. Atualmente, o ministério da Educação é a pasta com maior número de funcionários da Esplanada e serve para mostrar que o tamanho da máquina está longe de ser sinônimo de eficiência. No órgão, há mais de 44 mil cargos de confiança, além dos 285 mil efetivos. Nos últimos anos do governo Dilma, foram criadas 50 mil novas vagas. Em 2015, se a presidente preservar os recursos previstos para a pasta, serão R$ 101 bilhões destinados a cumprir a promessa utópica de campanha de transformar o Brasil em uma “pátria educadora”. Mas até aqui as demonstrações de gestão dadas pelo MEC são da mais completa ineficiência. Um exemplo é o programa de financiamento estudantil, o FIES. O governo flexibilizou as regras relacionadas aos fiadores dos estudantes e reduziu as taxas de juros. Mas falhou no controle dos preços das mensalidades e forçou a ampliação do programa sem analisar os reflexos financeiros. Um exemplo típico de má gestão em um órgão aparelhado por servidores. FARRA DOS CARROS OFICIAIS - Não é rara a utilização dos veículos oficiais pelos ministros fora do horário do expediente A Presidência da República figura em segundo lugar no ranking do número de servidores: emprega 6.969 pessoas. Os cargos vêm acompanhados das benesses, o que significam mais e mais gastos com o dinheiro do contribuinte. Em outubro do ano passado, para atender aos seus servidores, a Presidência comprou 130 taças de cristal por R$ 4,5 mil. No apagar das luzes de 2014, além de eletrodomésticos, toalhas de banho e de rosto, o Planalto adquiriu aparelhos de malhação e até roupões de banho. Ao todo, a conta saiu por R$ 262,8 mil. O conjunto de banho completo custou R$ 7,8 mil. Já a aquisição de 20 frigobares, 100 bebedouros e 30 fragmentadoras de papel custou ao órgão R$ 155,7 mil. A Presidência justificou a compra por eventuais atendimentos em cerimônias oficiais. Outros R$ 99,3 mil foram gastos pela Presidência na reposição de aparelhos de ginástica. Na lista, figuram um crossover angular, um banco extensor e outro flexor, um apolete, um crucifixo, duas esteiras eletrônicas e um smith machine (plataforma para a realização de vários exercícios). Segundo o órgão, a aquisição dos equipamentos ocorreu em função da necessidade de manutenção ou melhoria do treinamento de força e do condicionamento físico do pessoal da segurança e para melhoria da qualidade de vida dos servidores. UNIDOS PELA REFORMA ADMINISTRATIVA - Os presidentes da Câmara e Senado, Eduardo Cunha e Renan Calheiros, propõem a redução dos ministérios A criação desenfreada de ministérios é obra recente da democracia do País e se acentuou na era petista no poder. O ex-presidente Getúlio Vargas (1951-54) contava com apenas 11 pastas de primeiro escalão. Juscelino Kubitschek (1956-61), 13. O governo Fernando Henrique Cardoso terminou seu mandato (1994-2002) com 24 órgãos. Lula (2003-2010), para abrigar a aliança que o elegeu, criou mais 11, chegando a 35 – um recorde até então. Dilma o superou: subiu para 39. O cenário de distribuição de poder em Brasília é uma anomalia especialmente se comparado a outros países, como França, Portugal, Espanha e Suécia, que possuem uma média de 15 ministérios. Para se ter uma ideia do despropósito do aparelhamento, quem hoje discute corte de ministérios como ocorre atualmente no Brasil é o pobre Moçambique, que possui 28 pastas e está sendo pressionado a reduzir a própria estrutura por países que o apóiam financeiramente. “Essa forma de gestão caminha na contramão da história e de tudo aquilo que seria o ideal para a administração pública, não só no Brasil, mas em qualquer País. A criação desses ministérios é uma forma de abrigar a base aliada do governo e acelera ainda mais as distorções dentro da máquina pública”, afirma José Matias-Pereira, professor de administração pública da Universidade de Brasília (UnB). A necessidade de enxugamento da máquina administrativa ganhou eco durante a última campanha presidencial. O então candidato à presidência Aécio Neves (PSDB) propôs a fusão de ministérios, de modo a reduzir drasticamente os gastos e a estrutura governamental. Nos últimos dias, foi a vez de o PMDB encampar a bandeira da reforma administrativa. Como se não ocupasse fatia considerável da Esplanada e não exigisse a nomeação de um sem-número de afilhados políticos como condição ao apoio ao governo – a qualquer governo, diga-se – caciques peemedebistas, caso do presidente da Câmara, Eduardo Cunha, querem limitar a 20 o número de ministérios. Um projeto de sua própria autoria já está em tramitação na Casa. Na semana passada, depois de discursar para empresários, o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), engrossou o coro. Afirmou, em tom de ironia, que o momento exigia o lançamento pelo governo do programa Menos Ministérios, numa brincadeira com o programa Mais Médicos. Renan promete apoiar a proposta de Cunha. “Isso vai gerar menos cargos comissionados, menos desperdício e menos aparelhamento. Devemos aproveitar a oportunidade”, disse ele. Pressionada pelo Congresso e pelos protestos nas ruas, Dilma pode ser forçada a repensar a estrutura da portentosa burocracia que ajudou a criar. No final da última semana, informações oriundas do Planalto deram conta de que um estudo teria sido encomendado à Casa Civil visando à redução no número de pastas. Resta saber se a presidente ficará mais uma vez na retórica ou atenderá ao clamor público. 4#3 DILMA AINDA NÃO ENTENDEU! Presidente volta a abusar dos equívocos políticos e, ao manobrar em favor do PL de Gilberto Kassab, aprofunda ainda mais a crise com o Congresso e o PMDB Izabelle Torres (izabelle@istoe.com.br) Apesar das evidências da supremacia do Congresso na relação com o Executivo, a presidente Dilma Rousseff segue desafiando a lógica política e ignorando preceitos básicos de relacionamento entre os Poderes. Como se não entendesse que quem personifica a atual crise é ela, a presidente comete equívocos em série. O último desastre na articulação política do governo foi o movimento realizado na semana passada afinado com o ministro das Cidades, Gilberto Kassab. Contrariando as expectativas – principalmente do já enfurecido PMDB –, Dilma segurou por um dia a sanção de uma lei que inibia o surgimento de novas legendas. Dessa forma, permitiu que os aliados de Kassab apresentassem o pedido de recriação do PL (Partido Liberal) à luz de regras mais flexíveis. Se a presidente não tivesse participado do jogo combinado com Kassab, o PL ficaria submetido às normas rigorosas impostas por um projeto aprovado pelo Congresso há duas semanas. DESNORTEADA - Mergulhada numa crise sem precedentes na era petista, Dilma Rousseff ignora a liturgia política e sofre sucessivas derrotas no Congresso Por trás do renascimento do PL reside uma estratégia do governo para enfraquecer o PMDB. A intenção do Planalto ao estender tapete vermelho para a chegada da nova velha legenda é atrair para uma espécie de “centrão”, comandado pelo PL, aliados insatisfeitos de legendas diversas, sem que eles sejam punidos pela regra da infidelidade partidária. Assim, imagina que conseguirá reequilibrar as forças políticas no Congresso, hoje pendendo fortemente para o lado do PMDB. Não por acaso, o partido reagiu com virulência e classificou o acerto entre o Planalto e o Kassab de “molecagem”. Para o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), a manobra foi um golpe e ameaçou retaliar, levando as relações entre o Legislativo e o Executivo a um nível de desgaste irreversível. “Vamos reagir à altura”, disse ele a aliados, logo depois de retornar de um encontro com o vice-presidente Michel Temer (PMDB) na noite de terça-feira 24. SINAL VERDE - Ministro das Cidades, Gilberto Kassab recebe o apoio do Planalto para recriar o Partido Liberal, que será liberal só no nome e atrairá políticos governistas A articulação mais uma vez atabalhoada do governo surpreende pelo momento delicado vivido por Dilma. Não bastassem os escândalos de corrupção envolvendo o PT, a crise política e a deterioração da popularidade da presidente, em meio a protestos e panelaços pelo País, o Congresso tem imposto derrotas sucessivas ao Planalto desde o início do ano. Hoje, os presidentes da Câmara e Senado, Eduardo Cunha e Renan Calheiros, dão as cartas como se vivêssemos sob um regime parlamentaria. “A presidente ainda não sabe, mas hoje quem governa o Brasil é o Renan e o Cunha”, afirmou o senador Aécio Neves em entrevista à ISTOÉ publicada na última semana. A equipe econômica, liderada pelo ministro da Fazenda, Joaquim Levy, insistia na quarta-feira 25 para que o Senado não votasse o projeto de lei que dará prazo de 30 dias para o governo alterar o indexador das dívidas de Estados e municípios com a União. Um dia antes, com votos do PMDB e do próprio PT, a Câmara havia derrotado o governo estendendo o tempo para a negociação das pendências. A mudança prevê a correção pela taxa básica de juros Selic ou pelo IPCA mais 4% ao ano, em vez do indexador atual do IGP-DI mais 6% a 9% ao ano. A troca aliviaria a situação fiscal dos Estados e das prefeituras. Segundo a contabilidade oficial, a proposta nunca foi regulamentada porque dará prejuízo superior a R$ 1 bilhão por ano nas contas públicas. O presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), mesmo a contragosto do seu partido, havia sido o fiador do adiamento da votação da proposta sobre as dívidas dos estados para dar tempo do governo apresentar uma saída alternativa. Mas o acerto do governo com Kassab cuja conseqüência mais imediata é o enfraquecimento do PMDB voltou a atiçar a ira de Renan. Para ele, a estratégia pode azedar de vez as relações do partido com o governo. A reação já está em curso. Cunha e Renan combinaram de fazer uma “pauta expressa” de votações, onde – esperam – o governo não terá tempo para reagir. Oficialmente, o argumento é de que seria uma forma de demonstrar independência do Legislativo e aprovar as matérias de acordo com as intenções parlamentares, em vez de apenas seguir orientações governistas. Nos bastidores, a ideia é considerada a primeira resposta às demonstrações de Dilma Rousseff de encarar um enfrentamento direto com o Congresso e seus caciques. Para os presidentes das duas Casas, a presidente não terá outra alternativa senão negociar. 4#4 O QUE SEGURA VACCARI? Agora réu na Operação Lava Jato, o tesoureiro do PT segue como o dono do cofre petista apesar das pressões do Planalto para deixar o cargo Ludmilla Amaral (ludmilla@istoe.com.br) Na última semana, João Vaccari Neto, o tesoureiro do PT, tornou-se réu na investigação da Operação Lava Jato por crimes de corrupção e lavagem de dinheiro. Ele é acusado de intermediar o pagamento de propinas ao PT por meio de doações oficiais ao partido feitas entre 2008 e 2010. Apesar da gravidade das denúncias, Vaccari segue como o dono da chave do cofre do partido, equilibrando-se há meses – e com maestria – em uma corda bamba que balança principalmente sob o ataque do Palácio do Planalto. São claras as mensagens que saem da sede do governo federal para que deixe o cargo, reduzindo, dessa forma, o desgaste da figura da presidente Dilma Rousseff. SEGREDOS - Vaccari possui informações que podem prejudicar ainda mais o PT Vaccari não dá sinais de que irá ceder. Ele já informou ao comando petista que pretende continuar no cargo, pelo menos até prestar seu depoimento à CPI da Petrobras ainda como tesoureiro do partido. A depender do PMDB e do PSDB, isso pode ocorrer no dia 9 de abril, três dias antes dos protestos marcados para o dia 12. A avaliação dos dois partidos é a de que o depoimento de Vaccari pode esquentar ainda mais a disposição de as pessoas irem às ruas. Além da persistência pessoal de Vaccari em permanecer no cargo, o que o mantém à frente de uma posição estratégica dentro do partido é o próprio PT. É verdade que o tesoureiro enfrenta pressão para renunciar por parte do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e de alguns de seus outros companheiros, como o senador Paulo Paim (PT-RS). “Seria muito bom se ele pedisse uma licença”, defende o parlamentar gaúcho. No entanto, o grupo do qual Paim faz parte está longe de ser a maioria entre os petistas. Paim, inclusive, já demonstrou a intenção de deixar o partido, seguindo o mesmo caminho da senadora Marta Suplicy. Entre o comando do partido, o consenso é o de que, hoje, é melhor ter Vaccari por perto do que longe dos olhos. O tesoureiro guarda informações que podem prejudicar ainda mais o PT e, portanto, o ideal seria que, se fosse para sair, que deixasse o cargo após a consolidação de um acordo no qual o partido fosse preservado. Não se sabe até quando essa situação será mantida e quem terá mais força na queda de braço – se Dilma e seus aliados ou os companheiros petistas de Vaccari. Quando estava sob investigação no escândalo do mensalão, o ex-tesoureiro Delúbio Soares cedeu à pressão e acabou pedindo seu afastamento do cargo. ______________________________________ 5# COMPORTAMENTO 1.4.15 5#1 OS SOBREVIVENTES DO MASSACRE DE REALENGO 5#2 QUE FAMÍLIA O BRASIL QUER? 5#3 AS 8 LIÇÕES DOS BILIONÁRIOS 5#1 OS SOBREVIVENTES DO MASSACRE DE REALENGO Quatro anos depois da tragédia que assombrou o País, as vítimas contam histórias de superação, dor e revolta Helena Borges (helenaborges@istoe.com.br) Os disparos parecem ainda ecoar em Realengo, bairro da zona oeste do Rio de Janeiro, cenário de uma tragédia que horrorizou o Brasil. Em 7 de abril de 2011, o ex-aluno Wellington Menezes de Oliveira, 23 anos, passou tranquilamente pela portaria da Escola Municipal Tasso da Silveira. Na seqüência, vieram momentos de pavor, com crianças banhadas em sangue, que traumatizaram o País. Nos quase 12 minutos em que descarregou os dois revólveres, de calibres 32 e 38, comprados meses antes para o objetivo macabro, Wellington ceifou a vida de doze estudantes e deixou 17 feridos. Quatro anos depois, ISTOÉ voltou ao bairro. Dentre os quatro sobreviventes que levaram tiros, uma garota ficou paraplégica, um menino perdeu a visão de um olho e os outros lidam com sequelas menos drásticas. Os familiares também foram atingidos. Duas mães enfrentam graves desequilíbrios emocionais, pelo menos três parentes sofreram infarto, sendo um deles fatal. Já a escola escolheu o pior caminho, segundo especialistas: adotou a lei do silêncio. CORAGEM - Luan Santos fez três cirurgias no cérebro e não tem mais a visão no olho direito por causa dos dois tiros que levou. Curado da depressão, quer estudar engenharia Thayane Tavares, hoje com 17 anos, era uma assídua praticante de atletismo antes de três balas se alojarem em sua coluna vertebral e deixá-la paraplégica. Impressionante exemplo de superação, a jovem continua atleta e hoje faz canoagem. “Não vou parar minha vida por estar em cima de uma cadeira de rodas. Tive os sonhos adiados, mas ainda os tenho”, afirma a aspirante a advogada que aguarda ansiosa pelo próximo Exame Nacional do Ensino Médio (Enem). Atualmente, ela faz progressos na fisioterapia e acredita que voltará a andar. O boné, que há quatro anos não sai da cabeça de Luan Santos, 17, esconde a cicatriz que lhe percorre o crânio. Ele ficou cara a cara com o assassino, que colocou a arma em sua face e atirou duas vezes. Uma bala atingiu seu olho direito e o cegou. O garoto perdeu massa encefálica, enfrentou três cirurgias e a depressão, mas emergiu. Afirma que, mais do que nunca, gosta de comemorar seu aniversário, no dia 29 e março, jogando futebol com amigos. Apesar de reconhecer que nunca conseguirá esquecer o horror que viveu, Santos diz ter enfrentado o trauma com o apoio dos amigos, da família, de terapia e de “ajudinhas especiais”, como a visita dos ídolos Ronaldinho Gaúcho e Cafu ao hospital. O antigo bom aluno acabou repetindo dois anos do colégio. Hoje, quer mais é que venha o futuro. “Serei engenheiro. Gosto muito de matemática e química. E, o que quero, consigo.” NEGAÇÃO - Depois das cenas de horror em suas salas de aula, a Escola Municipal Tasso da Silveira passou por uma reforma. Mas se recusa a tocar no assunto e proíbe seus alunos de fazê-lo Apesar das jovens vítimas lutarem para seguir em frente, a memória da tragédia é patente. Edson Clayton, 18, não esquece cada detalhe dos minutos de agonia passados no chão da sala de aula onde permaneceu deitado com duas balas no abdômen e uma no maxilar. “Estava na primeira sala em que ele entrou. Não atirava a esmo nem demorava, mirava e logo apertava o gatilho. Não escolhia ninguém, era quem estivesse na frente. O último tiro que levei foi cara a cara. Depois disso fiquei encolhido com muita dor, mas não apaguei.” Ao completar a maioridade, neste mês, ele teve acesso à indenização concedida pelo município e pretende comprar uma casa com o dinheiro. De resto, o fatídico 7 de abril mudou sua forma de encarar a vida. “Hoje penso mais nos outros e vivo intensamente”, diz Clayton, que alimenta o sonho de ser paraquedista do Exército. Duas ex-alunas, Bruna Lopes, 16, e Tainá Bispo, 19, viveram experiências similares. Conseguiram escapar dos disparos, mas ficaram com sequelas emocionais por perderem pessoas muito importantes. Tainá machucou a coluna ao cair na escada perto do atirador, mas não levou tiro e fugiu. Porém, sua irmã mais nova, Milena, então com 14 anos, morreu. “Ele me tirou a irmã e também a inocência da infância. Passei a ver o mundo de forma fria. É triste admitir isso, mas me tornei uma pessoa seca”, diz. Já Bruna estava no terceiro andar do prédio e precisou correr muito com outros 40 estudantes para fugir das balas. Todos se comprimiram em uma sala que teve a porta trancada e bloqueada por móveis. “Quando o policial bateu, entramos em pânico por achar que era o assassino”, lembra. Ao sair, porém, soube que a melhor amiga, Géssica Guedes, 15 anos, tinha falecido. O golpe levou Bruna a precisar de tranquilizantes para manter a rotina. Segundo a psicanalista carioca Monica Donetto, o tempo e a reação de cada pessoa frente a um trauma com este grau de violência podem variar muito. “As relações familiares e as experiências prévias, em geral, ditam a reação. Se era uma criança protegida no seio familiar e que não presenciava eventos mais fortes, o choque pode ser maior”, afirma. Para enfrentar o luto e se ajudarem mutuamente, as famílias envolvidas na tragédia criaram a Associação Anjos de Realengo. Hoje, a instituição carrega bandeiras como a conscientização dos profissionais de educação para identificar alvos de bullying — por este motivo, o assassino teria voltado à sua ex-escola em um funesto acerto de contas — e a presença de psicólogos e seguranças em todas as escolas. Adriana Silveira, presidente da associação e mãe de Luiza Paula, uma das vítimas fatais, encontrou forças na causa pela qual agora dedica a vida. “Confesso que machuca saber que nenhuma providência foi tomada para que a morte deles não fosse em vão. Ainda não há proteção nas escolas”, afirma. “Ao se matar, ele nos tirou até a possibilidade de brigar por justiça.” A criação de uma associação ou similar é a melhor ferramenta para seguir em frente, aponta Andréa Junqueira, coordenadora do grupo de estudo independente Formação Freudiana. Suely Guedes, mãe de Géssica, confirma. “Só eles entendem completamente a minha dor.” Segundo a psicanalista, a pior coisa a se fazer é transformar o assunto em um tabu. “Quem sofreu diretamente vai viver com esse fantasma e precisa conversar. O luto tem que ser vivido para se construir possibilidades de reagir e lidar com o trauma.” Contrariando as indicações dos especialistas, o massacre que arrasou a escola em 2011 se tornou assunto proibido dentro da Tasso da Silveira. Em um sarau, no ano passado, uma das alunas iniciou uma homenagem aos colegas mortos e o microfone teve o som cortado abruptamente. Ao final, ela teria sido repreendida pela diretoria. “Disseram que os nomes daquelas crianças não deveriam ser falados dentro do colégio”, disse uma testemunha à ISTOÉ, que não pôde entrar nas dependências da instituição e foi informada que a atual diretora não dá entrevistas. 5#2 QUE FAMÍLIA O BRASIL QUER? Enquanto o Judiciário amplia o direito dos gays, o Legislativo retoma o estatuto que prega o casal constituído apenas por homem e mulher. No centro do debate, estão os anseios da sociedade Fabíola Perez (fabiola.perez@istoe.com.br) Dez anos depois de uma longa batalha judicial, o Supremo Tribunal Federal (STF) publicou neste mês uma decisão inédita, que reconheceu o direito de um casal homossexual de adotar crianças. O educador Toni Reis, seu marido, o tradutor David Harrad, e os três filhos, Alysson de 14 anos, Jéssica, de 9 anos, e Felipe, com 8 anos, foram finalmente considerados uma família. O posicionamento favorável da corte endossou o julgamento histórico de 2011, no qual o então presidente do STF, Carlos Ayres Britto, ressaltou que a Constituição Federal não distingue a família heteroafetiva da família homoafetiva. A decisão, considerada emblemática, abrirá precedentes para outros casais homossexuais que desejem adotar. “Se a Justiça começou a admitir é porque se trata se um comportamento já consolidado na sociedade”, diz a jurista Maria Berenice Dias, do Instituto Nacional de Direito da Família (Ibdfam). Na contramão do caminho que vem percorrendo o Judiciário, que está na vanguarda do Direito de Família, o Poder Legislativo criou recentemente uma comissão especial para discutir o projeto de lei conhecido como Estatuto da Família, que define a entidade familiar como “um núcleo social formado a partir da união entre um homem e uma mulher.” Mas, afinal, o que pensa a sociedade brasileira sobre a configuração familiar do século XXI? IDENTIDADE - Toni Reis (à esq.), os filhos Alysson e Jéssica, o marido David Harrad, e o caçula Felipe: "Ganhei meu marido e meus filhos, agora me sinto um cidadão pleno, que acredita nas instituições. Temos o poder máximo do Judiciário como nosso guardião" A reação dos brasileiros em relação aos diferentes tipos de família também pode ser medida após a exibição de uma cena amorosa, protagonizada pelas atrizes Fernanda Montenegro e Nathália Timberg, ambas com 85 anos, na novela “Babilônia”, da Rede Globo. A reações com o beijo gay ultrapassaram as redes sociais e fizeram a Frente Parlamentar Evangélica do Congresso Nacional divulgar uma nota de repúdio. “A telenovela tem a clara intenção de afrontar os cristãos em suas convicções e princípios, querendo trazer para quase toda a sociedade brasileira o modismo denominado por eles de ‘outra forma de amar’”. A nota diz, ainda, que a cena ataca diretamente a ‘família natural’. “Trata-se de uma visão repleta de preconceito”, diz a psicóloga Célia Mazza de Souza. “Sempre que estamos próximos de mudanças, enfrentamos resistências e, nesse caso, a reação se potencializou por se tratar de duas idosas, o que gerou duplo preconceito.” Para Célia, a sociedade ocidental viveu durante muito tempo sob a influência do patriarcado, quando apenas o pai era o provedor e o chefe da família. “Os arranjos que se vêem hoje não são decorrentes de uma crise na instituição familiar, são um reflexo de mudanças na sociedade.” IBOPE - Nathália Timberg e Fernanda Montenegro no beijo da discórdia: reação preconceituosa e conservadora A história de Toni Reis e David Harrad é um exemplo dessas mudanças. Ela começou em 2005, quando o casal entrou com pedido de adoção junto à Vara da Infância e Juventude de Curitiba. O juiz se manifestou favorável à decisão, mas impôs restrições. As crianças adotadas deveriam ser meninas e terem mais de dez anos de idade. Tempos depois, a ministra Carmen Lúcia negou o recurso extraordinário do Ministério Público. “Delimitar o sexo e a idade da criança a ser adotada por um casal homoafetivo é transformar a sublime relação de filiação em ato de caridade provido de obrigações sociais e totalmente desprovido de amor e comprometimento”, afirmou a relatora do caso. “A decisão mostrou que o conceito de inclusão foi reconhecido pela Justiça, ainda que o Congresso tente engessar pessoas dentro de um modelo único”, afirma Maria Berenice, do Ibdfam. “O direito à paternidade mudou minha concepção sobre tudo”, diz Reis. “Essa decisão vai ser uma referência para outras instâncias, não podemos ter leis apenas para um tipo de família.” De acordo com o IBGE, existem no Brasil 3.701 casamentos entre cônjuges do mesmo sexo. Apesar do número expressivo, o projeto de lei de autoria do deputado Anderson Ferreira (PR/PE) propõe que esse grupo não seja considerado família. “O Estatuto tem como objetivo garantir o que está na Constituição, os valores estão invertidos e a maioria da sociedade não está aceitando isso”, diz. “O movimento LGTB tenta embutir um novo formato de família como se fosse o padrão.” Embora exista uma parcela da sociedade mais conservadora, as diferentes configurações familiares estão cada vez mais corriqueiras. “Existem mães solteiras, uniões estáveis entre pessoas do mesmo sexo, casamentos, famílias multiparentais, por isso a lei não pode limitar o reconhecimento que já existe na prática”, afirma Suzana Viegas, professora de Direito Civil da Universidade de Brasília. “A família não pressupõe necessariamente laços sanguíneos.” Os poderes refletem uma divergência que ainda hoje divide o País. O antropólogo da Universidade Federal da Bahia, Luiz Mott, considera que o Estatuto da Família pode representar um retrocesso. “É inaceitável que modelos antiquados como esse sejam levados adiante”, afirma. “Mesmo com a onda conservadora, a sociedade consegue reagir com manifestações públicas em momentos que a intolerância fica escancarada. O mundo caminha para a diversidade.” 5#3 AS 8 LIÇÕES DOS BILIONÁRIOS Levantamento minucioso feito por brasileiro que acompanhou de perto a rotina dos ultra-ricos mostra quais os segredos para acumular bilhões na conta bancária Paula Rocha (paularocha@istoe.com.br) Responda com sinceridade: se você tivesse US$ 1 bilhão em sua conta bancária, passaria o resto da vida de férias em uma praia paradisíaca? Se a sua resposta foi sim, lamento informar, mas você nunca será um bilionário. Pelo menos é isso o que garante o empresário brasileiro Ricardo Geromel, 27 anos, que acaba de lançar o livro “Bilionários” (Editora Leya). Na obra, o jovem escritor usa a experiência e a trajetória de vida dos homens mais ricos do mundo para enumerar as oito lições desses magnatas (leia quadro abaixo). “Dos atuais 1.645 bilionários do mundo, 90% trabalham 40 horas por semana ou mais e preferem acumular dinheiro a gastar”, diz, citando como exemplo o empresário americano Warren Buffett, 85, terceiro homem mais rico do mundo e que, apesar da fortuna de US$ 72,7 bilhões, vive de forma modesta. O próprio Geromel pode ser considerado um aprendiz de bilionário. Aos 24 anos, ele foi escolhido para ser um “caçador” dos ultra-ricos em uma publicação conhecida por realizar anualmente o ranking das pessoas mais abastadas do planeta. A partir dessa oportunidade, e dos encontros que teve com grandes empresários, como o brasileiro Abílio Diniz (“que é muito atencioso e faz com que você se sinta a pessoa mais importante da sala”, conta) Geromel pôde absorver esse manual de comportamento bilionário, e diz colocar em prática as oito lições diariamente. No final de 2014, o jovem comprou, junto com o sócio Ronaldo Fenômeno, o time de futebol “Fort Lauderdale Strikers”, dos Estados Unidos. Ele ressalva, porém, que praticar as regras de ouro dos ricos não é uma fórmula para se tornar um. “Mas posso garantir que quem as cumprir dará passos largos rumo à prosperidade”, diz. __________________________________________ 6# MEDICINA E BEM-ESTAR 1.4.15 AS IDADES DA INTELIGÊNCIA Trabalho revela quando habilidades como a memória e a rapidez de raciocínio alcançam seu auge ao longo da vida Cilene Pereira (cilene@istoe.com.br) Uma investigação realizada por cientistas do Massachusetts Institute of Technology deixa claro que não há uma idade única na qual a inteligência se manifeste em sua plenitude. Ao longo da vida, as diferentes capacidades cognitivas que a compõem se apresentam com maior ou menor intensidade, segundo a faixa etária. “Em qualquer idade, você está indo melhor em algumas habilidades, pior em outras e está experimentando o pico em determinadas capacidades”, disse o pesquisador Joshua Hartshorne, um dos coordenadores do trabalho. As conclusões são resultado de um estudo extenso que se baseou em dois bancos de dados: um formado a partir da comparação do desempenho de mais de três milhões de pessoas em jogos eletrônicos formatados pelos cientistas e, outro, composto pela análise mais detalhada de um grupo de 50 mil pessoas submetidas a testes de aferição de habilidades específicas. Entre os achados, estão o de que o auge da memória de curto prazo – usada para registrar informações que serão usadas imediatamente a seguir – se dá entre os 25 e 30 anos, enquanto a sensibilidade de perceber as emoções alheias está mais aguçada entre os 40 e 50 anos. A MELHOR HORA Confira os resultados obtidos pelos cientistas sobre a relação entre a faixa etária e o momento no qual as capacidades cognitivas estão mais aguçadas. ADOLESCÊNCIA ATÉ POUCO MAIS DE 20 ANOS – A velocidade de processamento de informações está no máximo. Um dos testes usados foi a medição da velocidade na qual deveriam ser encontrados números e formas correspondentes. ENTRE 20 E 25 ANOS – É a melhor fase para memorizar nomes. Os voluntários passaram por provas de reconhecimento de nomes. DOS 25 AOS 30 ANOS – A memória de curto prazo está afiada. É usada para gravar informações que serão úteis nos momentos seguintes, como um número de telefone. DOS 30 AOS 40 ANOS – É o auge da capacidade de reconhecimento facial e de retenção de dados sobre a pessoa. Os participantes tinham de reconhecer rostos a eles mostrados. DOS 40 AOS 50 ANOS – É o melhor momento de cognição social, como a habilidade de julgar o que uma pessoa sente apenas por seu olhar. DEPOIS DOS 50 ANOS, CO PICO ENTRE OS 65 E POUCO MAIS DE 70 ANOS – Ocorre o auge da inteligência cristalizada (a acumulação de fatos e conhecimentos). A capacidade de apresentar vocabulário rico é uma das funções em alta. Um dos desafios agora é entender os mecanismos que explicam essas diferenças. Acredita-se que por trás delas estejam mudanças genéticas e transformações na estrutura cerebral ocorridas com o passar do tempo. Na opinião da pesquisadora Laura Germine, co-autora do trabalho, uma das principais lições do trabalho é a de que focar a atenção em apenas um aspecto do funcionamento cognitivo – memória ou raciocínio, por exemplo – é um erro. “Você perde o quadro todo”, disse à ISTOÉ. “Mesmo que não nos consideremos tão rápidos em alguma coisa como éramos aos 18 anos, outras funções podem estar mais afiadas. As pessoas devem pensar menos no envelhecimento cerebral e mais no modo como nosso cérebro e a forma como experimentamos o mundo mudam. Não para pior, apenas de maneira diferente.” _______________________________________ 7# ECONOMIA E NEGÓCIOS 1.4.15 7#1 VAI DOER NA CARTEIRA 7#2 É HORA DE INVESTIR NO TESOURO DIRETO 7#1 VAI DOER NA CARTEIRA Governo desiste de segurar a cotação do dólar, mas os efeitos da medida ainda são incertos. Num cenário de inflação em alta, quem deve pagar a conta é você Ludmilla Amaral (ludmilla@istoe.com.br) O Banco Central apresentou na semana passada uma medida que deve afetar a cotação do dólar nos próximos meses. A partir do dia 31 de março, o programa de leilões diários da moeda americana, chamado de “swap cambial”, deixará de existir. Na prática, significa que o governo não quer mais segurar artificialmente o dólar, permitindo que ele flutue de acordo com os ventos econômicos. Um dia depois do anúncio, o mercado deu seu recado. A moeda disparou 2,3%. Também na semana passada, um relatório do mesmo BC informou as projeções de inflação para 2015. Agora, estima-se que alta de preços neste ano será de 8,12% e não mais de 7,93%. Qualquer que seja o número, ele está distante do teto da meta, de 6,50%. Afinal, o que os indicadores querem dizer? Um fato parece inquestionável: em breve, tudo isso vai pesar no bolso dos brasileiros. Uma alta excessiva do dólar provoca danos na economia. De imediato, ela encarece o preço de artigos importados, o que afeta uma boa parte da cadeira produtiva. Muitos bens fabricados no Brasil usam insumos vindos de outros países. Se o valor desses itens subir demais, o preço final do produto aumenta. A escalada da moeda americana também dificulta o acesso a viagens ao exterior – muita gente é obrigada a deixar a Disney para depois. No final, o conjunto dessas forças pressiona a inflação. O desafio do mercado é estimar qual será o ponto de equilíbrio. “Do ponto de vista conjuntural, o cenário de incertezas pode fazer o dólar ultrapassar os R$ 3,50”, diz Clemens Nunes, professor da Fundação Getúlio Vargas. Usar artifícios como o swap cambial não funcionou até agora para segurar a disparada do dólar. Em 2015, sua cotação ante o real acelerou mais de 20%, percentual muito acima dos rendimentos de qualquer aplicação financeira. Quer dizer que, sem o controle do governo, há o risco de a moeda subir ainda mais? Essa lógica não é tão simples assim. Em geral, represar preços costuma ter efeitos desastrosos na economia. “O câmbio é um preço como outro qualquer”, diz André Sacconato, diretor de pesquisa da consultoria Brasil Investimentos e Negócios (Brain). “Quando você tenta segurar muito a cotação de uma moeda, pode esperar que haverá um grande salto lá na frente.” Para o ministro da Fazenda, Joaquim Levy, a maneira mais eficaz de evitar o descontrole do dólar e da inflação é a aprovação do ajuste fiscal. Por enquanto, isso está longe de acontecer. 7#2 É HORA DE INVESTIR NO TESOURO DIRETO A aplicação é segura e garante rendimento superior ao da poupança e da previdência privada Luisa Purchio (luisapurchio@istoe.com.br) Com o aumento da taxa Selic (atualmente girando em torno de 12,65% ao ano), os Títulos do Tesouro Direto se tornaram um investimento ainda mais vantajoso que a tradicional caderneta de poupança, a previdência privada, os CDBs e demais fundos de renda fixa – não sem razão as suas emissões atingiram recorde em fevereiro e chegaram a R$ 366,39 milhões. Além de oferecerem segurança e baixas taxas de custódia e de administração, eles vêm significando bom retorno financeiro. “A porcentagem de rendimento é igual para quem investe R$ 30 ou R$ 1 milhão”, diz Samy Dana, professor da Escola de Economia da Fundação Getúlio Vargas, em São Paulo. Uma boa recomendação a quem vai colocar dinheiro nesse tipo de investimento é pesquisar qual título se encaixa melhor ao seu perfil. “Os títulos atrelados ao IPCA protegem da inflação o rendimento”, diz André Massaro, professor do Instituto Educacional BM&FBovespa. “Os pós-fixados também são oportunos já que a tendência é de aumento da Selic”. ______________________________________ 8# MUNDO 1.4.15 O ASSASSINO DO VOO 9525 Problemas de saúde mental mantidos em segredo podem explicar por que um jovem copiloto alemão deliberadamente derrubou nos Alpes Franceses um Airbus com 150 pessoas a bordo Lucas Bessel e Mariana Queiroz Barboza Dez minutos transcorreram desde o momento em que Andreas Lubitz tomou a primeira ação para tirar a própria vida até a hora exata em que o Airbus A-320 se chocou contra as encostas dos Alpes franceses, na terça-feira 24. Tirar a própria vida e assassinar 149 pessoas. Durante a queda de 11 mil metros, o piloto de 27 anos não disse uma única palavra. Trancado, sozinho no cockpit, Andreas podia ouvir as batidas de seu comandante do lado de fora da porta blindada. Depois, escutou socos e chutes cada vez mais fortes. Em seguida, manteve-se impassível diante das tentativas desesperadas de pessoas querendo derrubar a barreira intransponível com um machado. Na cabine de passageiros, transformou-se em puro terror o que havia começado como uma incomum redução de altitude – marcada por aquela incômoda variação de pressão nos ouvidos e por um leve frio no estômago. O voo 9525 da companhia alemã Germanwings, entre Barcelona, na Espanha, e Düsseldorf, na Alemanha, virou um dos episódios mais macabros da história da aviação. A cena de um piloto tentando arrombar a porta do cockpit enquanto o avião se dirige ao choque fatal poderia estar numa peça de ficção macabra. Mas era real. O tempo na região estava bom. Pelas janelas, os passageiros podiam ver cada vez mais próximas as duras montanhas dos Alpes ainda habitadas por grupos de lobos. A descida se deu em ritmo paradoxalmente lento (por ser similar ao de um pouso normal) e rápido (por levar à morte certa). Em meio aos gritos de desespero dos ocupantes do Airbus, que puderam ser ouvidos nos registros da caixa-preta, Andreas manteve o tempo todo a respiração calma, regular, como se nada de anormal estivesse acontecendo. E permaneceu em silêncio nos últimos dez minutos de sua vida. Havia deliberadamente programado o A-320 para fazer uma descida fatal em direção aos picos rochosos. Os últimos sons que o copiloto ouviu foram os alertas de proximidade de solo emitidos pelo Airbus e as ordens automáticas dadas por uma voz levemente metálica, de tom alarmante, em inglês: “Terrain! Pull up! Terrain! Pull up!” (Terreno! Suba! Terreno! Suba!). Andreas não obedeceu. O choque a cerca de 600 km/h obliterou a aeronave. O maior dos pedaços restantes é do tamanho de um carro popular. A identificação dos restos mortais dos 144 passageiros e seis tripulantes será feita por testes de DNA. O que começou como o pior acidente aéreo em território francês desde 1981, chocante como esses eventos costumam ser, transformou-se, na quinta-feira 26, numa investigação de homicídio. Segundo o promotor de Marselha que analisou a gravação da caixa-preta de voz, principal evidência recuperada até a sexta-feira 27, qualquer outra explicação para a tragédia que não a vontade do copiloto de tirar a própria vida e a dos ocupantes do Airbus agora está em segundo plano. Os mortos compreendem pessoas de ao menos 15 nacionalidades. Entre as vítimas, 16 alunos do Ensino Médio e duas professoras da escola Joseph-König, no pequeno município alemão de Haltern am See, que voltavam de um intercâmbio de uma semana na Espanha, na vila de Llinars del Valles. Um casal de marroquinos recém-casados, Asmae Ouahoud el Allaoui, de 23 anos, e Mohammed Tehrioui, de 24, viajava a Düsseldorf para começar uma nova vida. Três gerações de uma mesma família (filha, mãe e avó), todas da cidade espanhola de Sant Cugat del Valles, perto de Barcelona, morreram. O cantor lírico Oleg Bryjak, da Ópera de Düsseldorf, também perdeu a vida na queda do avião. Ele havia apresentado a peça “Siegfried”, de Richard Wagner, no teatro Liceu de Barcelona, ao lado da também cantora Maria Radner, outra vítima da tragédia, que viajava com o marido e o filho bebê. O tema central de “Siegfried” é o medo. A busca pelos motivos para as ações do copiloto começaram na própria tarde de quinta-feira, quando viaturas de polícia cercaram uma bela casa de dois pavimentos na pacata cidade de Montabaur, no oeste da Alemanha. Foi nessa área, entre as ruas tranquilas e os jardins bem cuidados do município de 12,5 mil habitantes, que Andreas morou a maior parte da vida, ao lado dos pais e do irmão mais novo. Enquanto a polícia alemã coletava evidências e tentava garantir a segurança da família Lubitz, outra equipe investigava o apartamento do aviador nos arredores de Düsseldorf. Ali, segundo um porta-voz, eles fizeram “uma descoberta significativa”, que incluiria documentos médicos indicando uma suposta doença mental, que teria sido mantida em segredo por Andreas. As evidências compreendem, de acordo com os procuradores alemães, um atestado médico para afastamento do trabalho “por causa de uma doença”. O atestado estava rasgado e trouxe um dado revelador: quando derrubou o Airbus, Andreas estava oficialmente de licença por motivos de saúde. Em nota, os investigadores ainda disseram que não foram encontrados bilhetes de suicídio ou evidências de “ligações políticas e religiosas” do copiloto, o que tornaria a hipótese de atentado terrorista pouco provável. Agora, o histórico de saúde, profissional, financeiro e afetivo de Andreas será minuciosamente investigado. Segundo a Lufthansa, controladora da empresa aérea de baixo custo Germanwings, o aviador era “100% apto para o serviço”. A corporação confirmou, no entanto, que ele interrompeu o treinamento de voo durante seis meses em 2009, sem esclarecer os motivos. À imprensa europeia, amigos de Andreas afirmaram que o copiloto sofrera de depressão e de distúrbios relacionados ao estresse. De acordo com o jornal alemão “Bild”, a interrupção no treinamento do copiloto, que acontecia em Phoenix (EUA), ocorreu justamente por causa de sérios episódios depressivos. A publicação afirma, ainda, que Andreas teria passado por tratamento com remédios controlados. Nenhuma dessas alegações foi confirmada oficialmente pela polícia alemã, pelos investigadores franceses ou pela Lufthansa. Na posição de copiloto do fatídico voo da Germanwings, Andreas era certamente o aviador menos experiente. No assento principal do Airbus, o esquerdo, estava o comandante Patrick Sonderheimer, piloto com dez anos de companhia e pai de dois filhos. As 6 mil horas de voo acumuladas por Patrick faziam dele um profissional tarimbado, especialmente se comparado a Andreas, que contabilizava apenas 630 horas no ar e havia entrado para a Germanwings em setembro de 2013. Nada, entretanto, poderia preparar o comandante para o que aconteceu meia-hora depois da decolagem. Segundo a promotoria francesa que investiga o desastre, quando Patrick deixou o cockpit (para ir ao banheiro, esticar as pernas ou falar com alguém da tripulação), Andreas trancou a porta blindada e programou o avião para realizar uma descida rápida, porém controlada, em direção às montanhas (confira quadro). LUTO - A chanceler da Alemanha, Angela Merkel, o presidente da França, François Hollande, e o primeiro-ministro da Espanha, Mariano Rajoy, participam de homenagem às vítimas Segundo Peter Goelz, ex-diretor do Conselho Nacional de Segurança do Transporte dos Estados Unidos (NTSB), responsável pela investigação de todos os acidentes aéreos no país, não é comum que pilotos ou copilotos fiquem sozinhos na cabine durante o voo. “Mas isso às vezes acontece”, disse o especialista à ISTOÉ. A legislação americana pós-11 de Setembro determina que, se um dos aviadores precisa deixar o cockpit, algum comissário de bordo deve esperar lá dentro até que ele retorne. O mesmo não ocorre em linhas aéreas de outros países. “Se o piloto tranca a porta por dentro, não há como outra pessoa entrar sem autorização”, diz Goelz. “Essa política certamente será revista depois desse incidente.” De fato, nas horas imediatamente posteriores à tragédia, companhias como Air Canada, Norwegian Air Shuttle e EasyJet informaram que instituiriam imediatamente a “regra das duas pessoas no cockpit”. O mesmo ocorrerá em todas as empresas da Alemanha, segundo a associação local responsável pela segurança em voo. No Brasil, os pilotos da Avianca foram informados de que o procedimento será adotado pela companhia. A tragédia do voo 9525 também levanta questões sobre a confiabilidade das avaliações psicológicas realizadas pelas companhias aéreas. Carsten Spohr, diretor-executivo da Lufthansa, disse na quinta-feira que Lubitz havia sido aprovado “com louvor” em todas as checagens de saúde promovidas pela companhia. “Não havia nenhuma limitação para ele”, afirmou. Questionado sobre a interrupção no treinamento do copiloto em 2009, Spohr afirmou que, se as razões para isso foram de natureza médica, as leis alemãs sobre privacidade impediriam a divulgação. Diante disso, autoridades europeias como a chanceler alemã, Angela Merkel, o presidente da França, François Hollande, e o primeiro-ministro da Espanha, Mariano Rajoy, já deram indicações de que vão pressionar por mais rigor nas avaliações. Ainda assim, segundo especialistas ouvidos por ISTOÉ, parar um piloto suicida seria uma tarefa muito difícil. A resposta poderia estar em sistemas de controle remoto de aviões, similares aos utilizados em drones militares, que seriam acionados em situações extremas. Testes com esse tipo tecnologia já estão em curso, mas a eventual aplicação prática, dependente de uma infinidade de aprovações de segurança, ainda está a pelo menos uma década de distância. Ao menos publicamente, Andreas era “um jovem normal, de bem com a vida, que não fazia nada que saísse do comum”, como descreveu Klaus Radke, 66 anos, presidente do clube de aeronáutica de Montabaur, onde o aviador começou a ter aulas de pilotagem, aos 14 anos. “Ele era muito competente”, disse o instrutor à agência France Presse. Foi esse súbito rompimento da normalidade na vida de Andreas que causou choque generalizado. Na pequena cidade natal, vizinhos sempre viam o jovem correndo pelas ruas, ao lado da namorada ou do irmão. Em 2007, mesmo ano em que deixou a residência fixa dos pais, foi 72º colocado em uma prova de 10 km com 780 participantes. Filho de um executivo bem-sucedido e de uma professora de piano, o copiloto não passou por dificuldades financeiras nem se envolveu em confusões durante a infância e a adolescência. Tudo certo, até a manhã de terça-feira, 24 de março de 2015, quando, as investigações apontam, Andreas se tornou um assassino em massa. _____________________________________ 9# CULTURA 1.4.15 9#1 O BAÚ DE EDITH PIAF 9#2 LIVRO - MÁQUINA DE ESCREVER 9#3 EM CARTAZ – CINEMA - AVERSÃO À FAMA 9#4 EM CARTAZ – LIVRO - AULA DE CRÍTICA 9#5 EM CARTAZ – TEATRO - OUTRO CASTELO DE CARTAS 9#6 EM CARTAZ – DVD - LUZ E SOMBRAS 9#7 EM CARTAZ – CD - O MELHOR SOLO DO PRODUTOR DE AMY WINEHOUSE 9#8 EM CARTAZ - WAKING/EXPERIÊNCIA/CARMENCITA 9#9 ARTES VISUAIS - O MAIOR DESAFIO DA PINTURA 9#10 ARTES VISUAIS – ROTEIROS - DE MINAS PARA O MUNDO 9#1 O BAÚ DE EDITH PIAF Diários, músicas inacabadas e cartas inéditas recontam a história da cantora franzina de temperamento irascível que levou a canção francesa para o mundo Ana Weiss (ana.weiss@istoe.com.br) Ela era pequena, franzina, desbocada. De origem pobre e temperamento irascível, Edith Piaf se tornou símbolo da canção francesa sem nunca deixar as gírias aprendidas nas ruas e bordéis onde cresceu. Abandonada pelo pai, acrobata, e pela mãe, também cantora, e negligenciada pela avó, encontrou acolhimento entre as prostitutas que atendiam em um estabelecimento onde a mãe cantava em Bernay, na Normandia. Edith Giovanna Gassion conheceu desde cedo o valor dos amigos, que carregou e que a carregaram durante uma vida tumultuada e breve, marcada por casos tórridos, saúde limítrofe e o vício em morfina. Dois dos mais próximos, o casal Danielle e Marc Bonel mantem até hoje a própria casa como uma espécie de memorial da amiga morta em 1963. “A reforma que fizemos no fundo era para recebê-la depois da última internação. Mas ela morreu sem saber”, contou Danielle a Jean-Paul Mazillier, um dos autores de “Piaf: de Môme a Edith”, que chega ao Brasil pela editora Martins Fontes no ano em que o “Pequeno Pardal” completaria um século de vida. Na casa do acordeonista e de sua mulher dançarina, o pesquisador descobriu um baú esquecido. “Uma caixa de madeira, repleta de chaves”, escreve Mazillier. Descontadas as reverências de admirador, o compêndio traz preciosidades. Letras e partituras de canções que Piaf nunca chegou a gravar, cartas de conteúdo muito pessoal trocadas com gente como Federico Fellini, Jean Cocteau e Yves Montand, um dos amantes que ajudou a ascender na carreira. Muitos anos depois da morte da artista, Montand, a propósito, negou ser uma “criação” de Môme: “Ela não me criou, ela me ajudou e sobretudo, me amou, me apoiou e me magoou com tanta sinceridade, com tanta graça, que precisei de muitos anos para me recuperar”. A vontade de dourar a passagem de Piaf, por sorte do leitor, não foi suficiente para deixar de fora contradições básicas de sua personalidade. No auge da fama, a pequena parisiense sustentava a mãe por meio de uma secretária. Dizia evitar qualquer contato porque considerava imperdoável abandonar um filho. Ali, no baú, os Bonel guardavam retratos desconhecidos de Marcelle, a filha que ela própria nunca cuidou. A menina, que vivia com o pai, o entregador Louis Dupont, morreu de miningite com dois anos de idade num momento em que Môme cantava em um café. Retratos inéditos de seus últimos dias de vida, cartazes raríssimos de discos e shows promovidos por gravadoras como a Polydor e a Columbia, além de discos de vinil de primeira edição, foram reproduzidos no volume preparado por três fãs, que dedicam parte de suas vidas a encontrar vestígios da cantora que internacionalizou “La Vie em Rose”. Mas mais comovente – pois tudo em torno de Edith Piaf concorre em comoção – são os diários, anotações em páginas de caderno escolar de uma francesa que quase nada teve de educação formal, mas que se dedicou em cada linha anotada a dominar sua língua, para poder cantar. 9#2 LIVRO - MÁQUINA DE ESCREVER Biografia conta como o paulista Rubens Lucchetti escreveu 1547 livros em 67 anos de carreira dedicada a um gênero veloz que um dia dominou as bancas de jornal: o "pulp fiction" Daniel Solyszko (daniel@istoe.com.br) Um crime misterioso seguido de investigação, uma reviravolta e um desfecho inesperado. Usando sempre a mesma fórmula, as revistas “pulp” ganharam esse nome por serem produzidas em papel barato feito de polpa de madeira. Os volumes com contos curtos começaram a ser publicados no Brasil na década de 1930, tendo sido editados até 1985. Periódicos como “X-9” e “Suspense”, os mais conhecidos veículos do gênero, popularizaram enredos de suspense e terror. “Nesse tipo de história, as cenas se sobrepõem. Existe apenas um fio narrativo, são as situações que atraem o leitor”, diz Rubens Francisco Lucchetti, último autor vivo das “pulps” no Brasil, que publicou eu primeiro conto em 1948. ACERVO - Lucchetti em sua casa em Jardinópolis, no interior de São Paulo, onde mantém sua coleção de livros, filmes, pôsteres e objetos Após anos de ostracismo, Lucchetti ganha agora uma biografia em formato de entrevista, “Conversações com R.F. Lucchetti”, organizada pelo jornalista Rafael Spaca, e lançada pela editora Verve. “Ele é parte importante da cultura visual e literária do Brasil”, diz Spaca, cuja obra é fruto de oito anos de pesquisas e preparação. O livro conta em detalhes como, além dos textos para revistas, histórias em quadrinhos e roteiros para cinema, Lucchetti também escreveu 1.547 livros usando pseudônimos, além de outros 35 com o nome da carteira de identidade. No total, vendeu aproximadamente 50 milhões de exemplares. Paulo Coelho comercializou 140 milhões de unidades dos 27 livros que escreveu e Jorge Amado, 50 milhões de 49, para efeito de comparação. O maior sucesso de R.F. Lucchetti é “O Fantasma do Tio William”, com tiragem esgotada de 300 mil livros. Para ele, porém, apenas 200 histórias que inventou valem a leitura. “No mais, fiz coisas deprimentes, feitas por encomenda. Lixo editorial. Escrevia só para ajudar no orçamento”. Mesmo dentro de estilos que ele afirma não gostar, como o faroeste, escreveu quase 60 publicações. Entre os favoritos, alguns, como “A Máscara do Mistério” encabeça uma lista de relançamentos previstos para este ano pela editora Devaneio. Muito atualizado, Lucchetti diz que seus leitores podem adquirir os livros diretamente com ele por meio do seu perfil nas redes sociais. 9#3 EM CARTAZ – CINEMA - AVERSÃO À FAMA por Elaine Guerini, de Nova York Thomas Pynchon não dá entrevistas, recebe fãs ou é visto publicamente há pelo menos 40 anos. Muitas foram as tentativas de verter suas obras para as telas, mas até “Vício Inerente”, em cartaz nos cinemas, ele nunca havia autorizado nenhum outro projeto para as grandes telas. Mesmo para a realização do filme, Pynchon não concordou em falar com o diretor, Paul Thomas Anderson (“Sangue Negro” e “Boogie Nights”). Os interlocutores do cineasta foram os advogados do escritor e, a base de seu filme, o livro homônimo de 2009, sobre um detetive (interpretado por Joaquin Phoenix) perdido no universo das drogas dos anos 1970. Otimista, Anderson tentou, ainda, convidar o autor recluso para uma participação especial. “É muito curioso. Ninguém sabe qual a aparência de Pynchon hoje, aos 77 anos.” Claro, não conseguiu. +5 filmes de ou sobre autores reclusos Memórias de Salinger Documentário sobre a vida e a obra do autor de “O Apanhador no Campo de Centeio” A vida secreta de Emily Dickinson Cinebiografia sobre a poeta americana que começa a ser rodada neste ano A Grande Arte Longa-metragem de Walter Salles sobre livro de Rubem Fonseca, escritor brasileiro que foge de câmeras e jornalistas O Sol é Para Todos Baseado no livro homômino da norte-americana Harper Lee, que optou pelo isolamento e até parou de escrever O Tesouro de Serra Madre Durante a produção do filme, o cineasta John Huston recebia páginas esparsas do roteiro de B. Traven, com quem nunca conversou 9#4 EM CARTAZ – LIVRO - AULA DE CRÍTICA Ana Weiss (ana.weiss@istoe.com.br) Uma das maiores autoridades em teatro no Brasil, o mineiro Sábato Magaldi escreveu mais de 650 artigos e de 2 mil críticas de espetáculos nacionais. Organizado por sua mulher, a escritora Edla van Steen, “Amor Ao Teatro”, lançado agora pelas Edições Sesc São Paulo, traz um apanhado dos seus textos em um único volume. Ordenadas cronologicamente, as mais de 1.200 páginas trazem críticas e textos originalmente publicados entre 1966 e 1988. 9#5 EM CARTAZ – TEATRO - OUTRO CASTELO DE CARTAS Ana Weiss (ana.weiss@istoe.com.br) Eleita uma das melhores peças americanas de 2009 pela revista “Time”, “Chuva Constante” consagrou seu autor, Keith Huff, roteirista das séries de TV “Mad Men” e “House of Cards”. Encenada pela primeira vez no Brasil, a trama gira em torno de dois policiais: o explosivo Denny (Malvino Salvador) e Joey (Augusto Zacchi), um alcoólatra solitário. Quando o filho de Denny leva um tiro, os dois passam a questionar suas motivações. Dirigido por Paulo de Moraes, o espetáculo pode ser visto no Teatro Vivo, em São Paulo, até 31 de maio. 9#6 EM CARTAZ – DVD - LUZ E SOMBRAS Ana Weiss (ana.weiss@istoe.com.br) O segundo volume da coleção “Filme Noir”, da Versátil, reúne dois dos melhores filmes do gênero em versões restauradas. “Mortalmente Perigosa”, de Joseph H. Lewis, influenciou cineastas como Jean-Luc Godard com sua trama sobre um casal de bandidos nos moldes de Bonnie e Clyde. Já “Os Corruptos”, sobre policial sanguinário busca vingar o assassinato da família, é considerado o melhor longa rodado por Fritz Lang nos EUA. Os outros quatro títulos da caixa apresenta filmes menos conhecidos de diretores importantes como Elia Kazan e Anthony Mann. 9#7 EM CARTAZ – CD - O MELHOR SOLO DO PRODUTOR DE AMY WINEHOUSE Ana Weiss (ana.weiss@istoe.com.br) Produtor de Amy Winehouse e Lily Allen, o inglês Mark Ronson investe cada vez mais na carreira solo. Conceitual, “Uptown Special”, seu quarto disco, tem letras, escritas em parceria com o ganhador do Prêmio Pulitzer Michael Chabon, que descrevem uma viagem de dois amigos entre Nova Orleans e Chicago. O álbum passa por quase todos os gêneros populares da música negra americana, do hip hop (“Feel Right”), à soul music (“I Can´t Loose”). 9#8 EM CARTAZ - WAKING/EXPERIÊNCIA/CARMENCITA Confira os destaques da semana Ana Weiss (ana.weiss@istoe.com.br) Waking Up in News America (MIS, em São Paulo, até 12/4) Instalação do americano Robert Heinecken de 1986, onde o visitante entra em uma sala totalmente cercada de transmissões televisivas Experiência Tumulto III (CCBB, em Brasília, até 20/4) Exposição com trinta obras do brasiliense Wagner Barja, com instalações, esculturas, fotografias e vídeos Carmencita (Sesc Pinheiros, em São Paulo, até 12/4) Espetáculo infantil da atriz Cris Miguel que mistura teatro de bonecos e música ao vivo, em uma livre adaptação da ópera “Carmen”, de Georges Bizet 9#9 ARTES VISUAIS - O MAIOR DESAFIO DA PINTURA Retrospectiva de Beatriz Milhazes em Fortaleza coloca ênfase no processo criativo da artista Paula Alzugaray Beatriz Milhazes é uma das artistas mais desejadas da arte contemporânea brasileira. Colecionadores pegam meses ou até anos de lista de espera para adquirir uma obra sua, já que seu complexo processo de trabalho, cheio de fases e camadas, leva-a a pintar apenas cerca de cinco a dez telas por ano. Mesmo assim, Beatriz Milhazes teve fôlego para encher as paredes de duas grandes instituições neste início de 2015. Até janeiro, realizou sua primeira retrospectiva nos EUA, apresentando 40 telas de grande formato no Perez Art Museum de Miami, e, partir de fevereiro, ela expõe cerca de 50 pinturas, colagens e gravuras, no Espaço Cultural Unifor, em Fortaleza. Explica-se: Beatriz Milhazes pinta sem parar há mais de 30 anos. MOTIVOS - Detalhe da tela "O moreno", de 2005, pertencente à coleção Edson Queiroz, de Fortaleza Sua opinião sobre a pintura não é importante simplesmente porque suas telas superam quantias de US$ 2 milhões, ou por ser a artista brasileira viva mais valorizada de todos os tempos. E sim porque Beatriz é uma militante da pintura. “Sempre estou criando motivos novos, mas o mundo da pintura é sempre o mesmo. É cor, forma e composição. E acabou”, disse à Istoé antes da abertura da exposição “Coleção de Motivos”, em Fortaleza. “Sua coleção de motivos está sempre em expansão”, afirma Luiza Interlenghi, curadora da exposição, que colocou em ênfase o processo criativo de Milhazes. “Recentemente, ela começou a trabalhar com motivos aborígenes da Austrália”. A exposição reúne obras da coleção da Fundação Edson Queiroz, do acervo da artista e de coleções públicas e particulares, como “O Moreno”, pertencente à coleção de Airton Queiroz, chanceler da Unifor e responsável pela coleção da Fundação Edson Queiroz, que construiu um importante acervo de arte moderna do século 20, fora do eixo Rio-SP. ISTOÉ – Qual o maior desafio da pintura contemporânea? Beatriz Milhazes – Posso falar a partir de minha observação dos artistas jovens, de 20 e poucos anos, que estão finalizando a graduação em pintura e que eu acompanho nos Visting Programms das Universidades americanas. Acho que o grande desafio hoje é o foco na própria pintura. Parece simples mas não é. O momento hoje convida todos, não só o artista, à dispersão. Você tem muitas ofertas, a começar pela internet, que tem todas as vantagens, desvantagens e armadilhas pra você cair. A pintura é um meio que requer concentração, foco, solidão. Você não vai conseguir resolver problemas pictóricos sem estar dentro do ateliê tentando resolvê-los. Pra um jovem hoje fazer essa opção, num mundo em que a arte contemporânea abriu um leque tão ilimitado – o que agora já está virando um problema – é difícil fazer essa opção por ficar concentrado dentro do ateliê pra tentar descobrir alguma coisa. LIÇÕES DE PINTURA: "A pintura carrega toda a história da cultura ocidental", diz Milhazes ISTOÉ – Qual o peso da história da arte para esse jovem artista? Milhazes – Toda história da arte ainda é centrada na pintura, então existe toda uma história antes de você. Nós brasileiros somos sempre mais flexíveis e abertos, temos uma leitura da nossa história com muitas lacunas, ela não foi tão estratificada, ela não exerce um peso sobre a nossa criação. Mas esse não é caso na Europa ou dos EUA, onde a história é um peso para os artistas. E a pintura carrega três vezes isso, no sentido de que nela está toda a história da cultura ocidental. ISTOÉ – Então, filtrar e selecionar são desafios contemporâneos? Milhazes – Exatamente. Sempre estou criando motivos novos, mas eles com certeza vêm de uma leitura do mundo que existe. É que o mundo da pintura é cor, forma e composição. E acabou. E pincel e tinta. Esse é o universo da pintura, sempre. E o raciocínio também é sempre bidimensional. Isso é o fascinante da pintura. 9#10 ARTES VISUAIS – ROTEIROS - DE MINAS PARA O MUNDO DO OBJETO PARA O MUNDO - COLEÇÃO INHOTIM/ Itaú Cultural/até 31/5 Paula Alzugaray Após passar pelo Palácio das Artes, em Belo Horizonte, onde foi exibido entre novembro e início de março, o projeto de itinerância do Instituto Inhotim chega ao Itaú Cultural, em São Paulo e vai ocupar três andares do edifício. A seleção apresenta mais de 50 obras de 29 artistas, que traçam uma cronologia da produção neoconcreta no Brasil e no mundo, incluindo nomes importantes como Lygia Clark, Hélio Oiticica, Lygia Pape, Jac Leiner, Cildo Meireles, Rivane Neuenschwander, Gabriel Sierra e Tsuruko Yamazaki. Reunindo instalações, fotografias, vídeos, performances e esculturas, a mostra possibilita a compreensão de como diversas expressões artísticas praticadas entre as décadas de 1950 e 1970 continuam repercutindo na produção contemporânea. Essa é a primeira vez que parte do acervo sai do seu estado de origem. A maioria das obras faz parte da reserva técnica da coleção mineira e não era acessível ao público, com exceção de nove trabalhos conhecidos dos visitantes. Além disso, a montagem paulistana agrega três trabalhos totalmente inéditos, de Marcellvs L., Michael Smith e David Lamelas, que só serão expostos em Brumadinho (cidade do Inhotim), depois. Coleção montada em 10 anos, reúne trabalhos produzidos entre dos anos 1950 até os dias de hoje. A seleção que São Paulo vê agora tem curadoria do diretor de arte e programas culturais de Inhotim, Rodrigo Moura, com a colaboração de Inês Grosso. Daniel Solyszko _______________________________________ 10# A SEMANA 1.4.15 por Antonio Carlos Prado e Elaine Ortiz "O GENE QUE PÕE MEDO EM ANGELINA JOLIE" Portadora de mutações genéticas que a tornam excessivamente vulnerável ao câncer de mama e de ovário, a atriz Angelina Jolie, 39 anos, surpreendeu o mundo em 2013 ao submeter-se à cirurgia de retirada dos seios. Na semana passada, Angelina revelou que acaba de passar por nova operação, dessa vez retirando os ovários e as trompas – o gene em questão, em seu caso, é identificado como BRCA1. O procedimento cirúrgico não é indicado de forma generalizada para todas as mulheres, mas especialistas de diversos países concordam que, na situação específica da atriz, foi uma decisão de boa cautela – pode reduzir o risco de câncer em cerca de 90%. “Quando exames comprovam mutações no gene BRCA1, eleva-se em até 40% a possibilidade de câncer de ovário”, disse a ISTOÉ o médico Bernardo Garicochea, coordenador de Ensino e Pesquisa do Centro de Oncologia do Hospital Sírio-Libanês. Além do gene, Angelina tem histórico familiar preocupante: sua mãe e uma de suas avós morreram de câncer. "OS NOVOS PRESOS E A NOVA CADEIA DOS ACUSADOS NA LAVA JATO" Na sexta-feira 27, a PF prendeu mais duas pessoas, na 11ª etapa da Operação Lava Jato: Dario de Queiroz Galvão Filho, diretor-presidente do Grupo Galvão Engenharia, e Guilherme Esteves, apontado como mais um operador do esquema de corrupção na Petrobras. Outra novidade envolvendo o petrolão na semana passada é que aumentou em 12 refeições a marmita coletiva do Complexo Médico-Penal no município de Pinhais, na região metropolitana de Curitiba. Agora são 693 pratos de alumínio descartáveis com arroz, feijão e a mistura. Os 12 “bandecos” a mais correspondem aos 12 presos que já estavam na carceragem da PF e agora foram transferidos para o complexo – entre eles o ex-diretor da Petrobras Renato Duque. O Complexo Médico-Penal funcionou durante muito tempo como manicômio judiciário e se tornou penitenciária em 1993. Para os recém-chegados a vida na cadeia piorou. "UMA OPERAÇÃO MAIOR QUE A DO PETROLÃO" A Polícia Federal deflagrou na quinta-feira 26, a operação Zelotes. Na mira está o Conselho de Administração de Recursos Fiscais (Carf), órgão do Ministério da Fazenda responsável pelo julgamento de recursos administrativos de autuações feitas pela Receita Federal. A PF desarticulou assim um esquema de corrupção que pode chegar a R$ 19 bilhões – quantia superior aos desvios na Petrobras. Foram cumpridos 41 mandados de busca e apreensão em São Paulo, Ceará e Distrito Federal. Os suspeitos manipulavam análises de multas no Carf. "POR FALTA DE DINHEIRO, NÃO VAI DAR PARA CONTAR" É bastante provável que o Brasil só saiba o novo total de sua população em 2020. Isso porque o IBGE anunciou na quinta-feira 26, que a contagem populacional que seria feita em 2016 foi cancelada devido ao corte de orçamento promovido pelo governo federal. Detalhe: a contagem deveria ser realizada esse ano segundo a agenda da instituição. Para 2020 está marcado o censo geral. "7,4 MILHÕES" 7,4 milhões de brasileiros se deslocam diariamente de um município a outro para trabalhar ou estudar. Em São Paulo e Rio de Janeiro, juntos, esse número é de 2,7 milhões de pessoas. Os dados, inéditos até a quarta-feira 25, são do IBGE. "MULHERES NAS NOTAS DE US$ 20" É recorrente a imagem de homens sisudos estampando cédulas de dinheiro. Nos EUA não é diferente, mas desde a semana passada foi lançada no país a campanha “Mulheres nas notas de 20”. O movimento cresceu após a atriz e cineasta Susan Sarandon publicar nas redes sociais uma foto sua, na qual ela segura uma nota. Montou-se um site onde é possível votar em um dos 15 nomes listados – entre eles o da líder feminista Betty Friedam e da ex-primeira dama Eleanor Roosevelt. Se forem recolhidas 100 mil assinaturas, a petição será levada ao presidente Barack Obama. "UM...DOIS...TRÊS MINISTROS DE DILMA DEIXAM O GOVERNO" O ministro da Secretaria de Comunicação Social, Thomas Traumann, demitiu-se na quarta-feira 25, uma semana após o vazamento de um “documento de análise interna” que avaliava como “errática” a comunicação do governo. Ele é o terceiro a sair em três meses de mandato de Dilma Rousseff – antecederam-no nas demissões Marcelo Néri (Secretaria de Assuntos Estratégicos, substituído por Roberto Mangabeira Unger) e Cid Gomes (Educação, substituído interinamente por Luiz Cláudio Costa). O DIA A DIA NO PRESÍDIO E COMO ERA NA PF" Cada cela tem 12 metros quadrados e abrigará 3 presos (na PF as celas medem 39 metros quadrados Nas celas não há vaso sanitário, somente um buraco no chão. E também não há chuveiro: o banho é coletivo (na PF existe vaso sanitário e o banho é individual) É obrigatório o uso de uniforme: calça cinza ou azul, camiseta branca, agasalho laranja ou azul (na PF pode-se vestir qualquer roupa) Visita de familiares somente nos fins de semana, por 2 horas e junto com os demais presidiários. A Secretaria de Segurança do Paraná informou que todas as visitas para os presos da Lava Jato serão submetidas à mesma revista imposta aos parentes dos outros detentos (na PF as visitas não seguiam normas fixas) Banho de sol coletivo e de uma hora (na PF era de 2 horas) Café da manhã: dois pães e café com leite ou chá. Almoço e janta: arroz e feijão, acompanhados de bife de panela ou empanado de frango. Aos domingos tem doce de leite de sobremesa (na PF a comida fica por conta da família) "FHC IRÁ DEFENDER OPOSITORES DE NICOLÁS MADURO" Dois estadistas falaram-se ao telefone na semana passada. O ex-primeiro-ministro da Espanha Felipe González e o ex-presidente do Brasil Fernando Henrique Cardoso (o primeiro ligou para o segundo). Assunto: unirem-se aos opositores políticos do presidente venezuelano, Nicolas Maduro, que cada vez mais aperta o passo rumo ao autoritarismo. Em pauta está a viagem de ambos à Venezuela e negociações para a libertação de presos políticos, entre eles Antonio Ledezma e Leopoldo López. "A POLÊMICA PROPOSTA DO MPF" No momento em que o Poder Judiciário e a Polícia Federal do Paraná põem em prática um trabalho impecável de combate à corrupção por meio da Operação Lava Jato, o Ministério Público Federal encaminha ao Legislativo uma proposta de alteração do Código de Processo Penal. Propõe enquadrar a corrupção como crime hediondo e quer que provas ilícitas valham no processo quando “os benefícios decorrentes do aproveitamento forem maiores que o potencial efeito preventivo”. Na terça-feira 24 começou a reação da comunidade jurídica. “A ‘prova’ ilícita não pode ser admitida no Brasil por violar uma cláusula pétrea constitucional”, declarou em entrevista a sites especializados o presidente da OBA, Marcus Vinicius Furtado Coêlho. “O respeito à Constituição deve orientar a conduta de todos os brasileiros, principalmente das autoridades como membros do Ministério Público”. "O BRASIL PERDE O ALTO ASTRAL DE JORGE LOREDO" Quando criança, Jorge Loredo fazia a família rir – e conseguia isso enquanto se recuperava de uma grave doença que enfraqueceu-lhe os ossos. Aos 20 anos, Jorge Loredo continuava a fazer as pessoas rirem – já então improvisava pequenas peças de teatro na clínica onde se internara devido à tuberculose. Pouco tempo depois, ao conhecer o humorista Chico Anísio, Jorge Loredo tornou-se um dos principais e mais populares comediantes do Brasil e ao longo de 55 anos manteve o País gargalhando – dessa vez com o seu personagem Zé Bonitinho roteirizado pelo próprio Chico (início dos anos 1960, Tevê Rio, no programa “Noites Cariocas”) . Zé Bonitinho era a inteligente caricatura do homem machista que adora propalar as suas insaciáveis conquistas amorosas. Um de seus bordões marcou gerações: “hoje estou de tpm, tempo pouco para as mulheres”. De doença pulmonar obstrutiva crônica, Jorge Loredo morreu na quinta-feira 26 no Rio de Janeiro, aos 89 anos "BUSTO PARA PUTIN" Uma procissão de séculos se passou desde a queda do Império Romano em 476 até os dias atuais, mas seus imperadores, como por exemplo Júlio César e Nero, ficaram eternizados em bustos. O presidente da Rússia, Vladimir Putin, que já deu mostras de que também se acha um imperador, terá agora o seu, instalado em São Petersburgo. Trata-se de uma homenagem à tomada de Berlim pelas tropas soviéticas na Segunda Guerra e comemora um ano da anexação da Crimeia. "0,1%" 0,1%, e nada além disso, foi o aumento do PIB do Brasil no ano passado em relação a 2013 - o pior desempenho dos últimos cinco anos. Setorialmente, houve um recuo do comércio em 1,8% e queda da indústria em 1,2%. Os dados foram divulgados na sexta-feira 27 pelo IBGE.