0# CAPA 31.12.14 ISTOÉ edição 2353 | 31.Dez.2014 [descrição da imagem: fundo da capa em vermelho, na parte superior o nome da revista, ISTOÉ, em letras grandes, vermelha. No centro da capa os números 20, e logo abaixo meio sobrepondo o número 20, está o número 15. Os números 2 e o 5 estão em preto, e os números 0 e 1 em vermelho] PERSPECTIVA 2015 COMO SERÁ O BRASIL? _______________________ 1# EDITORIAL 2# ENTREVISTA 3# COLUNISTAS 4# ESPECIAL – PERSPECTIVA 2015 5# ESPECIAL – RETROSPECTIVA 2014 6# BRASIL 7# A SEMANA _____________________________ 1# EDITORIAL 31.12.14 "QUE VENHA 2015" Mário Simas Filho, diretor de redação Independentemente do horizonte econômico que ameaça fazer de 2015 um período assustador, o ano que se inicia apresenta condições favoráveis para se transformar em meses de enorme amadurecimento democrático. Isso desde que as lideranças políticas se mostrem capazes de serem regidas pelas boas normas republicanas. As manifestações populares – fortes em 2013 – e o apertado resultado eleitoral de 2014 indicam que o PT perdeu a primazia das ruas e a inserção no movimento social agora também faz efetivamente parte da agenda oposicionista. Um movimento novo, pois desde que passou a ocupar o posto da situação, em janeiro de 2003, o partido do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva jamais enfrentou uma oposição como a que se desenha para os próximos quatro anos. Liderados por Aécio Neves, os oposicionistas saíram fortes das urnas, conseguiram aglutinar quase metade do eleitorado e dão sinais de que planejam continuar a construir um projeto de poder alternativo em sintonia com a sociedade. O próprio Aécio já declarou que pretende correr o Brasil dialogando com sindicatos e organizações populares. No Congresso, apesar do amplo leque de apoio ao governo, a presidente Dilma Rousseff não deverá encontrar facilidades. Diante desse cenário, dois caminhos se colocam à frente de nossos líderes, tanto da oposição como da situação. O mais fácil é o de continuar remando como se fez até aqui. O governo ignora tudo o que disse durante a disputa eleitoral, adota a explícita política do toma lá da cá para reunir apoios sempre que precisa aprovar alguma medida, loteia a administração pública e acusa a oposição de promover um golpista terceiro turno eleitoral todas as vezes em que se vê acuado. E a oposição apenas esperneia com discursos cada vez mais adjetivados e com pouco conteúdo. O outro caminho leva a um Brasil melhor. Cabe à oposição fiscalizar o governo e, principalmente, apresentar projetos alternativos que estejam afinados com os anseios da sociedade. É papel do governo procurar impor suas demandas pela força do diálogo com todos os setores, defender seus planos com argumentos – e não com meras promessas de cargos – e buscar a convergência. Esse é o caminho que leva ao amadurecimento democrático, ao surgimento de novos líderes e à construção de um país mais igualitário, independentemente dos entraves econômicos que se colocam no horizonte. Os primeiros movimentos do governo, porém, não parecem animadores. A escalação do Ministério indica muito mais uma opção pelo arcaico fisiologismo do que pelas práticas prometidas durante a campanha. Mas o ano está apenas iniciando e se ao menos a oposição fizer a sua parte poderá até trazer a situação para um jogo político mais produtivo e maduro. ____________________________________ 2# ENTREVISTA 31.12.14 ROBÉRIO DE OGUM - "TEREMOS UM ANO DE JUSTIÇA E PUNIÇÃO" O médium diz que em 2015 mais escândalos virão à tona e prevê a prisão de um grande número de políticos, gestores e empresários por Fabíola Perez ACERTO - Antes das eleições, ele registrou em vídeo que Dilma venceria Há dois anos, o médium paulista Robério Alexandre Bavelone, 59 anos, conhecido nacionalmente como Robério de Ogum, previu o agravamento da crise econômica no Brasil. Em outubro de 2014, em meio às eleições mais acirradas desde 1989, ele registrou em vídeo que Dilma Rousseff seria reeleita presidente da República. Para 2015, o médium prevê que novos escândalos políticos virão à tona no País e que o mundo inteiro seguirá um movimento de justiça. “Todos aqueles que tentaram se beneficiar nas sombras do poder serão punidos”, adverte. “Será um ano muito mais da justiça do que da impunidade, a caçada mal começou.” "Politicamente, 2015 não será um ano bom para o ex-presidente Lula. Os escândalos vão afetar muitas pessoas do PT, e ele precisa dar atenção à saúde" O médium errou ao prever que a Seleção Brasileira ganharia a Copa do Mundo e explica que o desastre começou a se anunciar na partida contra o Chile. “Perdemos muito do nosso astral naquele jogo. Houve uma discussão dos jogadores no vestiário”, afirma. “Naquele dia foi quebrada a energia que o Brasil tinha.” Robério diz que gostaria de errar previsões negativas como mortes e acidentes, mas vê um ano com importantes falecimentos: um ou dois ex-presidentes brasileiros, dois ícones do esporte, um grande comunicador e um ídolo do rock mundial. "O ex-presidente do Supremo Tribunal Federal Joaquim Barbosa está numa espécie de retiro para se reciclar, mas ele vai voltar e se tornar um político" Istoé - Como será o ano de 2015? Robério de Ogum - Será um ano regido por Ogum e Exu, por isso haverá muita punição ao ser humano. Aquelas pessoas que matam, que prejudicam os outros serão castigadas e punidas. No Brasil, vamos ver muitos escândalos ganharem visibilidade. Podemos nos preparar para ver coisas que estavam escondidas aparecerem. Vamos ver empresários que nunca poderíamos imaginar caindo nas mãos da Justiça. Teremos uma Justiça e uma polícia muito fortalecidas, governadores estarão muito acuados. Istoé - A presidente Dilma enfrentará um ano mais difícil? Robério de Ogum - Dilma caminha na direção certa. Ela veio ao mundo para chegar onde está, mas tem uma missão muito difícil. Dilma tem uma história de contestação, de cobrança social, de atuação como guerrilheira, o que significa dizer que o espírito dela é muito atingido. Ela está tendo de enfrentar um escândalo ainda pior do que o do mensalão. O carma de Dilma é de punir muito, de ser muito severa, de brigar. Istoé - O escândalo da Petrobras continuará abalando o governo? Robério de Ogum - Veremos muitos governadores cassados. Um número muito maior do que imaginamos de gestores e políticos será preso. Este ano será muito mais da justiça do que da impunidade. Em todo o mundo, será um ano severo e de punição. Istoé - Em 2014, o senador Aécio Neves se mostrou uma força política nas eleições. O que o sr. prevê para ele no próximo ano? Robério de Ogum - O Aécio cresceu muito, mas será atropelado pelo próprio partido e por Geraldo Alckmin. Aécio vai tentar manter o prestígio que conseguiu, mas vai ter dificuldade. Alckmin vai tentar ser o candidato à Presidência da República. Neste ano, não vejo nada que possa abalar o prestígio de Aécio. Ele é uma pessoa que tem que se preparar porque tem chances de chegar à Presidência em um momento em que Dilma encerra um ciclo do PT no poder. Aécio tem que manter a luz acesa, mas este ano terá de saber lidar com uma força muito grande que virá do governador de São Paulo. O PT não deverá fazer o próximo governante. Istoé - Quais políticos terão um 2015 de dificuldades? Robério de Ogum - Vamos perder de um a dois ex-presidentes da República. Veremos dois governadores de Estado muito pressionados pela Justiça. Veremos deputados cassados. Veremos neste início de governo uma troca de ministros. Politicamente, não será um ano bom para o ex-presidente Lula. Esses escândalos vão afetar muitas pessoas do PT, e ele precisa dar muita atenção para a saúde. Istoé - Como vê o cenário econômico para o Brasil no próximo ano? Robério de Ogum - Os grandes países entraram numa crise muito forte que não atingiu o Brasil. Nós pegamos a cauda dessa crise. O plano espiritual diz que em 2015 não haverá crise, mas não será um mar de rosas. O escândalo da Petrobras vai puxar outros e aqueles que viviam nas sombras do poder vão se dar muito mal. Não vejo crise financeira para o Brasil. Não vejo um país endividado nem uma inflação galopante. Istoé - Será um ano de recuperação financeira mundial? Robério de Ogum - A agonia financeira para o mundo já passou. Ainda não foi totalmente resolvida, mas está sendo superada no Brasil e no exterior. O poder de equilíbrio ainda não chegou, mas estamos muito mais perto dele do que do desequilíbrio. O mundo passou por uma complicação financeira muito grande, mas as dificuldades começam a ser superadas. Istoé - O papa Francisco tem sido bem-sucedido na reaproximação dos fiéis com a Igreja Católica. Ele passará por alguma dificuldade em 2015? Robério de Ogum - Não vejo nada de grave envolvendo o papa Francisco em 2015. Mas ele vai estar muito cansado, a saúde dele estará mais afetada. Será um ano difícil no âmbito pessoal. Em compensação, a humildade dele tocará o coração de muitas pessoas. Ele tem uma força de exemplo muito bonita, é uma pessoa iluminada que na essência da humildade lembra Chico Xavier. Istoé - O sr. previu que a Seleção Brasileira seria hexacampeã contra a Argentina na Copa do Mundo, o que não aconteceu. A Seleção também passou por um período de descrédito. O que prevê para 2015? Robério de Ogum - Previ que o Brasil ganharia a Copa das Confederações e a Copa do Mundo, mas errei. Tem previsões, como de acidentes e mortes, que gostaria de ter errado, mas essa não. Perdemos muito do nosso astral no jogo contra o Chile. Houve uma discussão dos jogadores no vestiário, Felipão decidiu tirar Daniel Alves e eles discutiram. Quando o time voltou a campo já estava fragilizado. Daniel Alves não jogou mais, na sequência Neymar sofreu a contusão. Naquele dia foi quebrada a energia que o Brasil tinha. Istoé - Neymar irá brilhar em 2015? Robério de Ogum - O ano que vem será do Neymar. Ele vai superar Lionel Messi e vai se tornar a bola da vez porque é muito iluminado. Ele tem intuição e enxerga as coisas antes dos outros. Em 2015 esse processo de conquista vai começar e em 2016 ele vai se tornar o melhor jogador do mundo. Istoé - O Brasil vai ganhar a Copa América? Robério de Ogum - O novo presidente da Confederação Brasileira de Futebol, Marco Polo Del Nero, não tem os mesmos pensamentos do atual presidente, José Maria Marín. Pode ocorrer um atrito entre Del Nero e o técnico Dunga, o que levaria a mudanças e renovação. E Dunga é uma pessoa de estopim curto. Se não houver divergência entre eles, o Brasil ganha. Se deixarem o Dunga tranquilo, o Brasil ganha a Copa América. Istoé - Em 2014, o mundo assistiu ao alastramento do ebola na África. Prevê alguma nova epidemia? Robério de Ogum - Até hoje, o HIV não foi completamente controlado. A medicina estará muito fortalecida em 2015, mas de tempos em tempos surge uma nova doença. O ebola se espalhou pela África justamente porque é o equilíbrio do mundo. As dores de alma são maiores naquele continente. Há pessoas com carmas mais pesados. Mas, nos próximos anos, não vamos ter uma doença de carma coletivo, como o ebola. Istoé - Alguma celebridade terá pela frente um ano difícil? Robério de Ogum - Em 2015, perderemos muitas pessoas famosas. Vamos perder dois comediantes brilhantes que marcaram a história. Perderemos também um comunicador. No esporte, dois grandes campeões mundiais virão a falecer. Pelé precisa cuidar da saúde e se voltar para o lado espiritual. No mundo, vamos perder um ícone do rock. Será um ano muito ruim para Fidel Castro. A apresentadora americana Oprah Winfrey também passará por dificuldades. Istoé - E o presidente americano Barack Obama? Robério de Ogum - Vejo um ano negativo para Obama. Ele estará muito pressionado, encontrará dificuldades para governar e não conseguirá fazer o sucessor. Istoé - No fim de 2014, a apresentadora Xuxa foi dispensada da Rede Globo. Ela voltará à tevê? Robério de Ogum - Sempre disse que seria difícil para Xuxa encontrar um grande amor. Até que ela encontrou. Mas Xuxa não tem um carma equilibrado. Quando ela está mal no amor, ela cresce profissionalmente e abre caminhos. Ela não tem dois fôlegos para estar bem no amor e bem profissionalmente. Este ano, ela estará bem no amor, porque encontrou sua alma gêmea (o cantor Juno), mas profissionalmente será um ano complicado. Istoé - Quem será a grande revelação em 2015? Robério de Ogum - O neto do Silvio Santos, Thiago Abravanel. Ele poderá ser o substituto do avô. Istoé - Quais líderes políticos mundiais terão um ano de obstáculos? Robério de Ogum - O primeiro-ministro da Rússia, Vladimir Putin, pode ser deposto. É um ano em que a imagem política dele começa a se apagar. A presidente da Argentina, Cristina Kirchner, também terá um ano difícil em todos os aspectos. O presidente do Uruguai, José Mujica, terá um ano de dificuldades em relação a sua saúde. Istoé - Politicamente, 2015 será melhor do que 2014 no Brasil? Robério de Ogum - As instituições brasileiras foram muito fortalecidas com os escândalos revelados. O ex-presidente do Supremo Tribunal Federal Joaquim Barbosa está numa espécie de retiro para se reciclar, mas ele vai voltar e se tornar um político. A senadora Kátia Abreu não vai conseguir se manter no Ministério da Agricultura por conta do seu temperamento forte. Dilma vai mudar suas concepções na política econômica. E, em relação aos escândalos, a caçada aos corruptores mal começou. _______________________________________ 3# COLUNISTAS 31.12.14 3#1 RICARDO BOECHAT 3#2 LEONARDO ATTUCH - DILMA SE BLINDA NO CONGRESSO 3#3 BRASIL CONFIDENCIAL 3#1 RICARDO BOECHAT Com Ronaldo Herdy Ofensiva síria Desde julho de 2012, quando o Brasil fechou a embaixada em Damasco, nunca foi tão grande a ação do governo sírio pela reabertura da chancelaria. Ao Itamaraty é destacado que nos quatro anos do conflito entre tropas do Exército e os insurgentes não houve incidente com qualquer diplomata ou embaixada naquele país. Para o novo embaixador sírio no Brasil, Ghassan Nseir, “os profundos laços que unem a população dos dois países justifica a retomada plena das relações oficiais”. STJ Fim da polêmica Antes de entrar em recesso, a 2ª Seção do STJ uniformizou interpretação sobre a partilha de bens em uniões estáveis (concubinato puro) – assunto muito debatido nos tribunais. Por 5x4, quem se uniu até 1996, no caso de separação ou morte terá que provar – ou o herdeiro – ter contribuído para a formação do patrimônio comum. A partir desse ano, com a lei 9278, há a presunção legal da comunhão dos bens adquiridos e, portanto, de que são partilhados (quando o amor acaba) ou transmitidos em herança (no caso de morte). Planalto Bom tempero Andréa Munhoz, chef da cozinha do Palácio do Alvorada, é rigorosa na dieta de baixa caloria e sem glúten indicada por nutricionista e adotada por Dilma Rousseff. Ela gosta de misturar influências francesas a ingredientes tipicamente brasileiros, quando cozinha. Mas é discreta por natureza. Daí nem uma palavra sobre os oito quilos que a presidente deixou para trás em 2014 – e outros dez, meta para 2015. Claro, num contexto em que a chefe do Governo continuará firme no cardápio light – e a base aliada dando ajuda extra, ao tirar o apetite da petista. Justiça Só o escrito O TST reverteu decisão do TRT do Rio no primeiro caso julgado dos 35 mil restaurados do incêndio que destruiu a sede da Corte, em 2002. Foi mantida decisão inicial que deu R$ 1 milhão para Júlio Costa, da Cedae. Para o ministro relator Maurício Godinho a falta de comprovantes de recolhimento de custas e do depósito recursal inviabilizou a análise. A estatal inerte não entregou cópias de papéis que o fogo destruiu. Aviação Estranho silêncio Faz quatro meses que o Comando da Aeronáutica nada diz sobre as investigações com o avião PR-AFA, que matou Eduardo Campos, em Santos. Como o Cenipa frisa que “não trabalha com “causas” de acidentes mas fatores preponderantes”, o silêncio dos militares só dá eco a rumores de que o Palácio do Planalto vetou a divulgação de informes sobre o andamento dos trabalhos, como é comum nesses casos, para associações da tragédia com a acirrada disputa pela Presidência da República. Saúde Pública Dilema na saúde A relação entre gestores e a mídia foi um dos temas do seminário Conass Debate – Que saúde você vê?, feito pelo Conselho Nacional de Secretários de Saúde. O SUS funciona, mas precisa usar a comunicação como ferramenta de gestão, levando ao cidadão informações de saúde e se fazendo ouvir por ele. Gente Tempo de paz O espírito de família típico desta época do ano tocou Carol Celico e Kaká. Saboreavam comida japonesa no Empório Santa Maria, no Itaim Bibi, em São Paulo, na segunda-feira 22. O clima indicava que desistiram do processo judicial de separação que corria no Fórum paulista. A última aparição de Carol e Kaká juntos tinha sido em 26 de outubro, ao lado dos filhos, num post no perfil dela no Instagram. Brasília Toga estrelada Pelo andar da carruagem, o chefe do Estado Maior da Aeronáutica, brigadeiro Nivaldo Rossato, será nomeado ministro do Superior Tribunal Militar no início do próximo ano. Ocupará a vaga do colega de farda José Américo dos Santos, que está se aposentando. Aliás... além de torrar um orçamento anual de quase R$ 350 milhões e julgar menos de 500 processos por período, para que serve mesmo o STM? Agricultura Grão de ouro Os últimos estudos do governo indicam forte tendência para o plantio do milho, a partir de fevereiro. Grandes produtores de soja – em fase final – compram fertilizantes e sementes do cereal, animados com as altas crescentes da saca de 60kg – em um mês passou de R$ 11 para R$ 15. Educação Novo ramo Filha do fundador da TAM Rolim Amaro, Maria Cláudia Amaro está na contagem regressiva de inédito voo de carreira. Após deixar em setembro passado o conselho de administração da Latam, companhia resultante da fusão da aérea brasileira com a chilena LAN, ela ingressará em ambicioso projeto educacional focado no desenvolvimento de pessoas com inclusão social. O LAB vai abrir as portas no primeiro trimestre de 2015, em São Paulo. Brasil Sargento X general Parece que o culto ao abuso de autoridade está mudando no Brasil. O juiz Marco Falcão, do 3º Juizado Especial Federal no Rio de Janeiro, condenou a União a pagar R$ 43.440 ao sargento da reserva do Exército Marco Antônio dos Santos. O magistrado considerou que em novembro de 2013, “exorbitou de sua autoridade” Francisco Carlos Modesto, comandante militar do Leste, ao prender o sargento, após informado, por um de seus oficiais, de que o militar se recusara a sair de imóvel numa vila militar dentro do 24º Batalhão de Infantaria, na Ilha do Governador, área à época já vendida ao governo do Rio de Janeiro, por R$ 32 milhões. Petrobras No páreo Vice-presidente da Fundação Getulio Vargas e membro do conselho de administração da Petrobras, Sérgio Quintella é um dos nomes lembrados no Planalto, caso Graça Foster deixe a estatal. O engenheiro participa das investigações internas que apura responsabilidades de funcionários e ex-funcionários na compra de Pasadina. Quintella sabe descascar abacaxi. Foi ele quem ajudou o governo federal na solução de mercado para o gigantesco Projeto Jari na Amazônia. Embrapa Comer tudo Neste fim de ano não deu. Mas em breve a dona de casa poderá colocar um pato no forno embalado em plástico com sabor de laranja e servi-lo sem tirar a proteção. É que a Embrapa acaba de desenvolver um plástico comestível à base de frutas. A novidade abre um vasto campo de aplicação para a indústria alimentícia, como pizzas embaladas em plástico feito de tomate e manjericão e goiabadas em embalagens da fruta. Até aqui foram gastos R$ 200 mil. A estatal quer parceiros para dar escala industrial ao projeto. Medicina Técnica aprovada Até março sairá resolução do Conselho Federal de Medicina normatizando a embolização das artérias para tratamento do aumento benigno da próstata (hipterplasia). O mal atinge metade dos homens com mais de 60 anos. O procedimento pode servir como alternativa a medicamentos e a cirurgias e permite ao paciente ter alta no mesmo dia. Foi desenvolvido por médicos do Hospital das Clínicas de São Paulo e está sob avaliação do governo dos EUA. Cultura A caminho Whoopi Goldberg aceitou convite para fazer sua primeira visita ao Brasil. Virá em março, para a estreia, dia 5 em São Paulo, da versão brasileira do musical “Mudança de Hábito” (mais de cinco milhões de espectadores em 11 países). Em 1992, a atriz protagonizou a comédia no cinema, outro grande sucesso de bilheteria. O elenco nacional em montagem terá como intérprete principal Karins Hils, uma das protagonistas de “Sexo e as Negas”, da TV Globo. 3#2 LEONARDO ATTUCH - DILMA SE BLINDA NO CONGRESSO A nova etapa da reforma ministerial sinaliza que o maior critério foi a densidade política de cada um. Os 13 nomes anunciados para compor o segundo governo Dilma sinalizam que a maior preocupação do Palácio do Planalto, após uma disputa eleitoral extremamente radicalizada, é recolocar o País num ambiente de tranquilidade institucional e estabilidade política. Depois de buscar retomar a confiança dos agentes econômicos, com os anúncios de Joaquim Levy e Nelson Barbosa, chegou a hora de enfrentar o terremoto da Operação Lava Jato. Com os ministros que agora se incorporam ao time de Dilma, fica claro que o governo buscou reforçar sua blindagem no Parlamento. Entre os escolhidos, destacam-se três ex-governadores (Cid Gomes, Jaques Wagner e Eduardo Braga) e um ex-prefeito da maior cidade do País (Gilberto Kassab). Todos reconhecidos pela lealdade que tiveram em relação a Dilma e pela capacidade de articulação política, além da experiência administrativa. Se Braga foi líder do governo em momentos delicados, Cid teve papel essencial na eleição presidencial, ao rachar o PSB, enquanto Wagner garantiu uma votação recorde na Bahia. Kassab, por sua vez, é peça estratégica na montagem de uma grande frente de centro, disposta a garantir a governabilidade no segundo mandato. Outros nomes de destaque são Eliseu Padilha, do PMDB gaúcho, que foi ministro dos Transportes de FHC e tem bom trânsito na Câmara dos Deputados, onde paira a ameaça da eleição de Eduardo Cunha (PMDB-RJ). Kátia Abreu, por sua vez, embora seja contestada pelos movimentos sociais, será chamada a dialogar com a sempre influente bancada ruralista. E sua nomeação, antes contestada pelo PMDB, acabou sendo abençoada pelo senador Renan Calheiros (PMDB-AL), outro cacique que se fortaleceu na montagem da nova equipe. A nova equipe de Dilma pode ter desagrado alas do PT e eleitores mais alinhados à esquerda, mas não se pode negar que as escolhas obedeceram a um critério: a busca de paz no campo político. 3#3 BRASIL CONFIDENCIAL por Eumano Silva Governo quer Paulo Lacerda de volta Ex-diretor-geral da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) e da Polícia, o delegado Paulo Lacerda recebeu uma sondagem do Palácio do Planalto sobre a possibilidade de retornar ao governo. O emissário não especificou a função para a qual Lacerda pode ser convidado. No final de 2008, Lacerda foi demitido pelo então presidente Lula depois de uma crise provocada por denúncias feitas relacionadas a supostos grampos telefônicos ilegais feitos pela Abin. O delegado ainda não respondeu se aceita a missão. O preço de Pasadena Recentemente, no gabinete de um ministro do STF, a prisão do ex-presidente da Petrobras José Sérgio Gabrielli foi tratada como algo iminente. O que mais pesa contra o ex-dirigente é a compra da refinaria de Pasadena, nos Estados Unidos. Segundo a Controladoria-Geral da União (CGU), o negócio deu um prejuízo de US$ 1,8 bilhão para a empresa. Investigação italiana Delator responsável pela prisão dos maiores empreiteiros do País, o executivo Julio Camargo diz que, além da Toyo Setal, representou no Brasil a Prysmian, ex-Pirelli. Investigações internacionais relacionam a empresa italiana a formação de cartel e pagamento de propina. Conexão Negromonte A Operação Lava Jato investiga contratos de desenvolvimento urbano em torno de obras como o Comperj, as refinarias Premium I, Premium II e Abreu e Lima. O ex-ministro das Cidades Mario Negromonte assinou os negócios, junto com o ex-diretor Petrobras Paulo Roberto Costa. Processos estagnados As dúvidas sobre o futuro do Ministério de Minas e Energia estagnaram os processos na pasta. Por via das dúvidas, servidores de carreira deixaram de fazer pareceres solicitados às pressas pelo atual ministro, Edson Lobão, que está de saída. Aguardam novas orientações. Uma reforma política Candidato à reeleição – embora não assuma publicamente – , Renan Calheiros (PMDB-AL) faz agrados discretos aos seus eleitores. Para a próxima legislatura, os gabinetes dos senadores ganharam novos móveis e decoração. A reforma custará R$ 16,9 milhões aos cofres públicos. Cerco ao deputado A pedido do Ministério Público, o STF solicitou nas duas últimas semanas três diligências ao Banco Central e à Polícia Federal para investigações sobre dois inquéritos que têm como alvo o deputado Alfredo Kaefer (PSDB-PR). Os detalhes sobre as operações financeiras feitas pelas empresas do parlamentar devem chegar à Corte em fevereiro. Império O chefe da Casa Imperial do Brasil, Luiz de Orleans e Bragança, enviou mensagens de Natal aos meios de comunicação. No texto, ele fala do dever de todo cristão na “caminhada determinada e sempre confiante”, ainda que “em tempos adversos”. Pelo visto, considera o momento pouco republicano. Acusados na frente A mesma Polícia Federal que atua com firmeza nas investigações da Operação Lava Jato tem suas ligações políticas no Congresso. A Câmara mantém laços estreitos com os policiais, por meio da Frente de Apoio à Reestruturação da PF. Parlamentares da oposição se divertem com a composição da frente, que tem entre seus integrantes os deputados Cândido Vaccarezza (PT-SP), Nelson Meurer (PP-PR) e Aline Corrêa (PP-SP), os três citados nos depoimentos de delação premiada que integram as investigações do escândalo da Petrobras. Pelo que se sabe até agora, a lista de acusados atinge dezenas de congressistas. Em defesa da lei As Forças Armadas querem enterrar a recomendação da Comissão Nacional da Verdade de excluir civis da jurisdição militar. No relatório final, a CNV se refere ao assunto como “verdadeira anomalia que subsiste da ditadura”. Em defesa de sua posição, a caserna argumenta que as ações de pacificação em favelas aumentaram o envolvimento de cidadãos comuns em crimes militares. Toma lá dá cá Senador Álvaro Dias (PSDB-PR) ISTOÉ – Se o governo enviar uma proposta de mudança no seguro-desemprego, a oposição vai apoiar? Álvaro Dias – Não vamos nos opor à modernização na regra do seguro-desemprego. Nós temos que aprovar, por mais impopular que possa ser. ISTOÉ – Há problemas na concessão do benefício? Dias – O governo anuncia uma taxa de desemprego muito inferior ao que se gasta com o seguro. Ou a legislação permite desvio ou o governo está enganando o País com uma taxa de desemprego irreal. ISTOÉ – A oposição pode apoiar outras propostas impopulares, para acertar as contas públicas? Dias – Legislar para evitar desvios, sim. Aumentar impostos para tapar buracos da incompetência, não. O retorno da CPMF, por exemplo, tem que ser espancado. Rápidas * O Congresso mal aprovou o projeto que estabelece a guarda compartilhada dos filhos e a deputada Lilian Sá (PROS-RJ) já criou uma nova contenda na área da família. Ela defende que padrastos e madrastas com união estável com mais de três anos tenham o mesmo direito. * Um grupo de senadores anda preocupado com as estatísticas de multas de trânsito no País. Eles detectaram que 60% do montante recolhido se refere a infrações leves e, por isso, questionam a necessidade de radares que flagram infrações cometidas abaixo de 80 km/h. * Tradicional escritório baiano da área de Direito Trabalhista, o Pessoa & Pessoa Advogados Associados é um dos destaques na edição 2014 da pesquisa anual “Análise Advocacia 500”. O estudo tem o objetivo de eleger os advogados e escritórios mais admirados do Brasil. * A pesquisa incluiu o grupo de juristas Pessoa & Pessoa na segunda posição do ranking nacional, na área trabalhista. Além de Salvador, há unidades em São Paulo, Rio de Janeiro, Aracaju e Ilhéus. Trata-se do mais relevante levantamento do mercado jurídico brasileiro. Retrato falado O senador Cristovam Buarque (PDT-DF) subiu à tribuna do Senado na tarde da segunda-feira 22 para enaltecer o papa Francisco pela atuação nas negociações que colocaram um fim ao embargo econômico dos Estados Unidos a Cuba. Segundo o parlamentar do Distrito Federal, o religioso deu uma aula de política para o mundo. Buarque aproveitou a ocasião e fez um diagnóstico da situação atual do Brasil neste ano em que estourou o escândalo da Petrobras. Uma vitória de Kátia Abreu A bancada ruralista assegurou mais dois anos de prazo para o início do emplacamento de veículos agrícolas. Pela lei, desde o início do mês as máquinas deveriam ser tratadas como veículos categoria B, respondendo à legislação de trânsito correspondente. O apelo da senadora Kátia Abreu (PMDB-TO), cotada para comandar o Ministério da Agricultura, pesou na decisão do governo federal de adiar a medida. Em causa própria Acionado no STF e no Conselho de Ética por quebra de decoro e apologia ao estupro, Jair Bolsonaro (PP-RJ) quer derrubar a portaria do governo que cria um grupo de buscas por conteúdos agressivos e preconceituosos na internet. Bolsonaro é contra o “politicamente correto”. ___________________________________________ 4# ESPECIAIS – PERSPECTIVA 2015. 31.12.14 4#1 O QUE SE PODE ESPERAR DE DILMA... 4#2 ...O QUE SE PODE COBRAR DE DILMA 4#3 UM ANO PARA BARRAR A CORRUPÇÃO 4#4 A NOVA OPOSIÇÃO 4#5 A IGREJA CHEGA AO SÉCULO XXI 4#6 E A SECA VAI CONTINUAR 4#7 O ANO DO ENSAIO OLÍMPICO 4#1 O QUE SE PODE ESPERAR DE DILMA... Novo governo nasce com cara de velho. A repetição de vícios do passado pode afastá-lo ainda mais dos anseios da sociedade Josie Jeronimo (josie@istoe.com.br) Durante a campanha eleitoral, a presidente Dilma Rousseff recheou o discurso com muitas promessas. Estabeleceu um eixo de 26 temas prioritários, garantindo ampliação de investimentos e pulso firme na administração pública para coibir a utilização política da máquina. OUVIDOS MOUCOS - Dilma ignora o recado das urnas insistindo em erros cometidos no governo anterior As denúncias que atingiram a cúpula dos principais partidos que compõem a base do governo e o descontrole das contas públicas – que carregavam o peso de quatro anos de demãos de maquiagem – indicavam que a presidente teria que remontar sua equipe priorizando a qualidade técnica em detrimento ao loteamento político. A poucos dias de inaugurar o segundo mandato, no entanto, Dilma demonstra ignorar as opções para reabilitar o governo e acena para a continuidade de vícios que comprometeram seriamente o funcionamento do País nos primeiros quatro anos de sua administração. Na prática, fica a impressão de que, em 2015, teremos um governo novo com feição de velho. O primeiro gesto de desalento se deu com o empenho do governo em obrigar o Congresso a alterar a meta de superávit de 2014 e reformar a Lei de Diretrizes Orçamentárias por meio de um projeto de lei. Em vez de apertar os cintos e imprimir responsabilidade aos gastos, o Parlamento acatou a orientação do Planalto e aprovou a mudança. Para aprovar essa flexibilização, o Planalto destinou R$ 748 mil de emendas para cada parlamentar. Nada mais evidente de que, em seu segundo mandato, Dilma continuará abraçada à velha estratégia do toma lá dá cá. Essa relação pouco republicana com o Legislativo tende a ficar ainda mais promíscua nos próximos meses com o avanço das investigações da Operação Lava Jato, que vai atingir em cheio a base aliada. Nesse cenário, a dependência mútua entre governo e os partidos que o apoiam vai aumentar, o que deve significar a ampliação das concessões aos parlamentares da base governista. CARTADA NADA NOVA - Composição do novo ministério de Dilma segue orientada pelo fisiologismo. Miguel Rosseto e o chefe da Casa Civil, Aloizio Mercadante, permanecem como homens de confiança da presidente Um problema extra vai atormentar a presidente no próximo ano. Diferentemente do que aconteceu nas últimas eleições para presidente da Câmara, desta vez o candidato favorito, Eduardo Cunha (PMDB), não tem a simpatia do Planalto. Com isso, Dilma terá mais dificuldade de negociar com o Congresso, o que pode criar mais percalços para a governabilidade. Essa mudança na correlação de forças diminuiu o poder do PT no Parlamento e no governo, apesar de o partido manter o apetite por cargos. A presidente Dilma também passou a campanha afirmando que, se fosse reeleita, o segundo mandato teria mais a sua cara, denunciando o excesso de interferência do PT e do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva nos primeiros quatro anos de sua administração. O desejo de mais autonomia, porém, parece uma realidade distante de ser atingida. Apesar de publicamente Lula afirmar que o governo é de Dilma, o ex-presidente se movimenta para assumir o papel de articulador no Congresso. Nessa direção, Lula convocou parlamentares da bancada do PT na Câmara e no Senado para traçar estratégia de neutralização da oposição. Anseia ainda montar uma espécie de gabinete de crise. Outra promessa de campanha foi a ampliação de mecanismos de transparência sobre as contas públicas. Na realidade, o governo se esforça para resguardar áreas sensíveis que despertam questionamentos da sociedade e da oposição. Assim como fez durante anos com a Petrobras, o Planalto trabalha para blindar as contas do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) do escrutínio público. O senador Álvaro Dias (PSDB-PR) afirma que já esgotou as vias formais de solicitação de dados sobre financiamentos concedidos pelo BNDES a empreendimentos no exterior e defende a formação de uma comissão parlamentar de inquérito para analisar a aplicação dos recursos geridos pelo banco antes de o País se deparar com um novo escândalo da proporção do descoberto pela Operação Lava Jato. Pelas contas do senador tucano, o Tesouro repassou mais de R$ 400 bilhões para o caixa do BNDES para o financiamento de obras em vários países por intermédio de empreiteiras brasileiras. Também nesse tópico, os fatos demonstram que se deve ter pouca expectativa positiva em relação ao futuro. 4#2 ...O QUE SE PODE COBRAR DE DILMA Em meio a um cenário de descrédito, Dilma terá de tirar o País da estagnação, ampliar o diálogo com o setor privado, disciplinar as contas públicas, mas sem comprometer a geração de empregos e os programas sociais Izabelle Torres (izabelle@istoe.com.br) No final de novembro, após semanas de suspense, a presidente Dilma Rousseff anunciou sua nova equipe econômica. Comandado pelo ministro da Fazenda, Joaquim Levy, um economista formado pela ortodoxa Universidade de Chicago, o trio composto ainda por Nelson Barbosa (Planejamento) e Alexandre Tombini (Banco Central) assumiu com a missão de tentar retomar a credibilidade do País, mas encontrou um cenário complicado de estagnação, descontrole total das contas públicas e inflação em alta. Em conversas no gabinete improvisado no Palácio do Planalto, o ministro da Fazenda, Joaquim Levy, tem revelado a interlocutores estar chocado com a “multiplicação de algumas despesas”, que atingiram uma dimensão “impossível de ser sustentada”. A situação é pior do que ele próprio imaginava. Na avaliação de Levy, conhecido no PT como “mãos de tesoura” por ser adepto do ajuste fiscal duro como remédio para correção de rumo, é inevitável o corte de despesas, assim como de incentivos. Disciplinar os gastos públicos, pondo fim às manobras fiscais e à chamada contabilidade criativa, usada sem pudores no primeiro mandato a fim de maquiar os balanços do governo, é fundamental para a retomada da confiança e do crescimento econômico mais adiante. O desafio da presidente Dilma no segundo mandato é conseguir retirar o País da estagnação e manter a inflação num patamar de 4,5%, mas sem comprometer a geração de empregos e os programas sociais. Depois de fazer uma campanha eleitoral no rádio e na televisão acusando os adversários de terem a intenção de adotar medidas impopulares, Dilma e sua equipe sabem que podem pagar um preço amargo se partirem dela tais medidas. A presidente teme a cobrança dos brasileiros de baixa renda, que representam a maioria do seu eleitorado. Esse grupo de eleitores foi destinatário de outras dezenas de promessas feitas pela então candidata, como a de melhorar a saúde pública, ampliar os programas sociais e até erradicar o analfabetismo. Essa conta será cobrada a partir de 2015. Além da população mais dependente do poder público, a presidente também terá contas a prestar a empresários e representantes dos setores que respondem pelo PIB do País. Durante a campanha, eles ouviram reiteradas promessas de diálogo – algo que faltou nos primeiros quatros anos de governo. O empresariado anseia por uma postura diferente da adotada por Dilma até agora. Em 2014, presidentes e representantes de algumas das maiores empresas do País desfiaram um rosário de críticas ao governo. Além do problema da falta de interlocução, os empresários reclamaram dos atrasos em investimentos nas áreas de infraestrutura e logística. Os empresários argumentam que as decisões são tomadas sem que os setores afetados sejam ouvidos previamente. “Não é feio falar com empresários. São eles que geram riqueza e precisamos ouvi-los”, ponderou o deputado do PP gaúcho Jerônimo Goergen. Um dos principais interlocutores do ex-presidente Lula, o economista Luiz Gonzaga Belluzzo reconhece a dificuldade de Dilma no relacionamento com o empresariado. “Houve um afastamento não recomendável entre o Estado e o setor privado, que tem interesse no desenvolvimento de certos projetos. Faltou ao governo capacidade para negociar com o setor privado”, disse. TRIO DE FERRO - Os ministros da Fazenda, Joaquim Levy, do Planejamento, Nelson Barbosa, e o presidente do BC, Alexandre Tombini terão o desafio de resgatar a credibilidade do País O grande dilema de Dilma é que para cumprir as mais importantes metas da sua campanha será preciso admitir as próprias falhas e aceitar ser cobrada por elas. O déficit das contas públicas é um dos mais evidentes. Ela prometeu austeridade nos gastos. Sua nova equipe econômica garante não repetir a receita fracassada da atual gestão de fazer contabilidade criativa para forçar índices de superávit ilusórios e contas no azul. Este ano, o governo gastou nada menos do que R$ 30 bilhões a mais do que sua arrecadação. Uma conta bilionária, tornada pública recentemente com discursos genéricos para a causa do descontrole e que forçou Dilma a dizer que será preciso rever os próprios métodos de gastos. Se fizer isso, poderá dar sinais de disposição para cumprir as metas de investimentos e empenho em busca da retomada do crescimento. Se não fizer, poderá sentir o dissabor de ser cobrada por uma sociedade que vem aprendendo a mobilizar-se para brigar por seus direitos e pelo cumprimento das promessas políticas que lhe foram feitas. 4#3 UM ANO PARA BARRAR A CORRUPÇÃO O País tem a chance histórica de combater os malfeitos e punir corruptos e corruptores. Se falhar a classe política pode cair em total descrédito Claudio Dantas Sequeira (claudiodantas@istoe.com.br) O tema pautou as eleições e ocupou boa parte da agenda legislativa e do noticiário no ano que passou. Agora, ganha status de política pública. Nenhum desafio será maior em 2015 que o combate à corrupção. Dele depende a retomada do crescimento e a própria garantia de governabilidade da presidente Dilma Rousseff. Declarações populistas que lhe renderam votos na campanha não surtirão efeito sem medidas concretas. Ao que cabe à chefa do Executivo, a cautela na escolha de ministros e assessores deve ser redobrada. Assim como evitar curvar-se ao fisiologismo político e, ao menor sinal de negociatas, varrer da Esplanada os responsáveis. Escudada em índices de aprovação do primeiro mandato, Dilma ainda resiste a cortar na carne. Também não dá sinais de que vá desaparelhar e reforçar o papel dos órgãos de controle, como CGU e COAF. ELE IMPÕE RESPEITO - O juiz da Operação Lava Jato, Sérgio Moro, tornou-se símbolo do combate implacável à corrupção O ato mais aguardado para o início do ano virá das mãos do procurador-geral da República, Rodrigo Janot, que prometeu apresentar até o final de fevereiro a denúncia contra os políticos envolvidos no escândalo do “petrolão”. É porvável que o total de políticos envolvidos supere em muito os 28 nomes indicados pelo ex-diretor de Abastecimento da estatal Paulo Roberto Costa. Mas de nada valerão tais suspeitas se o procurador-geral não apresentar provas robustas de que parlamentares, governadores e ministros foram destinatários da propina paga por contratos superfaturados da Petrobras. De uma denúncia bem feita dependerá a abertura da ação penal no STF. A oposição se articula para, na volta do recesso, pressionar por investigações de potencial ainda mais explosivo, como dos empréstimos do BNDES, os investimentos dos fundos de pensão e os contratos de grandes obras. Mais importante que comissões de inquérito, é imperativo a aprovação de uma reforma política profunda, que reveja os atuais mecanismos de financiamento eleitoral – origem de todos os descalabros do sistema político. 4#4 A NOVA OPOSIÇÃO Estimulados pelo apoio popular recebido durante a disputa presidencial, os oposicionistas liderados por Aécio Neves prometem inaugurar no Congresso uma era de vigilância e fiscalização permanente ao governo Ludmilla Amaral (ludmilla@istoe.com.br) Desde 2003, quando o PT chegou ao Palácio do Planalto, o País não tinha uma oposição tão combativa. Com o apoio de mais de 51 milhões de brasileiros, o senador Aécio Neves (PSDB-MG) retornou ao Congresso como o principal líder dos que se opõem ao governo de Dilma Rousseff. O tucano demonstrou sua capacidade de aglutinação ao ser recebido no Parlamento, no dia 4 de novembro, como uma celebridade. Apesar da derrota nas urnas, foi aclamado como “presidente” por militantes tucanos e parlamentares da oposição – cerca de 350 pessoas ao total –, que também cantaram o “Hino Nacional” em homenagem ao ex-candidato à Presidência da República. Esse novo cenário se refletiu nas ruas. A presidente Dilma Rousseff mal fora reeleita na eleição mais disputada desde a redemocratização e cerca de mil pessoas, de acordo com a Polícia Militar, já tomavam a avenida Paulista em manifestação contra o governo. As novas revelações e denúncias sobre o escândalo na Petrobras mobilizaram ainda mais os oposicionistas, que até este ano pareciam inertes. “A grande mudança foi a conscientização da população dos desmandos do atual governo, de sua ineficiência administrativa e dos casos constantes de corrupção”, afirmou Aécio em entrevista à ISTOÉ. Logo nas primeiras votações no Congresso, após término da corrida eleitoral, o governo percebeu que não terá vida fácil nos próximos quatro anos. INFANTARIA REFORÇADA - Em 2015, o senador eleito Ronaldo Caiado (DEM-GO) se juntará a Aécio Neves na oposição ao governo no Senado A primeira derrota do Planalto aconteceu dois dias depois da presidente Dilma ser reeleita. No dia 28 de outubro, a Câmara derrubou o decreto presidencial que estabelecia a consulta a conselhos populares por órgãos do governo antes de decisões sobre implementação de políticas públicas. Não demorou muito para a oposição voltar a mostrar sua força durante o envio aos parlamentares da famosa manobra fiscal destinada a conferir ares de legalidade ao descumprimento do superávit primário. As dificuldades que o governo federal enfrentou no no final de 2014 foram apenas uma demonstração do que está por vir. Em 2015, se juntarão a Aécio no Congresso parlamentares que não darão vida fácil a Dilma, como José Serra (PSDB-SP) e Ronaldo Caiado (DEM-GO). Em pauta, a instalação de uma nova CPMI para investigar os desvios na Petrobras e o possível envolvimento do PT e do governo no escândalo. A oposição ficará de olho ainda nos nomes dos políticos da base governista envolvidos no escândalo da Petrobras para que sejam punidos e cassados. “O Congresso não vai se furtar de fazer as devidas penalizações”, afirma o líder do PSDB na Câmara, Antonio Imbassahy (BA). Outro tema que merecerá atenção dos parlamentares oposicionistas é a influência do governo Dilma na indicação de ministros ao Supremo Tribunal Federal. Dilma poderá indicar mais dois nomes para o STF no ano que vem. Como se vê, os tempos para a oposição são outros. “Refletiremos a voz das ruas” Líder da oposição mais aguerrida desde 2003, o senador Aécio Neves (PSDB-MG) falou à ISTOÉ sobre os planos para 2015: ISTOÉ – Desde 2003, quando alcançou o Planalto, o PT não se deparava com uma oposição tão combativa como a que encontrou após as eleições. O que mudou? Aécio – A grande mudança foi a conscientização da população dos desmandos do atual governo, de sua ineficiência administrativa e dos casos constantes de corrupção. A sociedade acordou e foi para as ruas cobrar de seus governantes. A votação que a oposição teve foi um reflexo dessa insatisfação. No próximo mandato, a oposição não ficará restrita aos gabinetes. Nós refletiremos a voz das ruas. ISTOÉ – Quais serão os grandes desafios da oposição em 2015? O que está na agenda? Aécio – A oposição cumprirá com rigor e determinação o papel que lhe foi conferido por 51 milhões de eleitores: fiscalizar diariamente, com rigor e seriedade, todos os atos do governo de Dilma Rousseff. Estaremos vigilantes a qualquer tentativa de restringir a democracia, a qualquer tipo de desmando e de medida injustificável na economia. ISTOÉ – Como a oposição lidará com os processos de cassação dos políticos envolvidos no escândalo da Petrobras? Aécio – Se houver comprovação de participação, defenderemos as punições a todos, sem levar em consideração a filiação partidária. 4#5 A IGREJA CHEGA AO SÉCULO XXI Com a segunda parte do sínodo das Famílias, em outubro, papa Francisco deverá conferir um novo status aos católicos divorciados, recasados e gays Débora Crivellaro (debora@istoe.com.br) Nem o mais fervoroso católico imaginaria que, sob os escombros de uma Cúria corroída por escândalos de corrupção e pedofilia e enfraquecida por um pontífice renunciante, erigiria um líder capaz de reconstruir com extrema habilidade e coragem a Igreja Católica. Mais do que isso, um protagonista no cenário político mundial que, entre outras façanhas recentes, conduziu a reaproximação de Cuba e Estados Unidos, anunciada em dezembro. Papa Francisco, 78 anos, tem sido uma lufada de renovação e austeridade na alquebrada instituição romana. Em 19 meses de pontificado, o carismático argentino, primeiro latino-americano a assumir a frente da religião mais poderosa do Ocidente, já produziu e indicou mudanças significativas em sua instituição e não se furta de criticá-la abertamente – na segunda-feira 22, afirmou que a Santa Sé sofria de “15 doenças graves, entre elas, Alzheimer espiritual”. Mas, quando questionados sobre o gesto mais contundente deste movimentado pontificado até o momento, vaticanistas não deixam dúvidas e apontam o Sínodo das Famílias, que reuniu bispos e cardeais do mundo inteiro em outubro de 2014 no Vaticano e deve ser concluído em outubro de 2015. Na primeira fase desse encontro, amparados pelo discurso seguro de Francisco, empedernidos cardeais discutiram temas considerados tabus em pleno século XXI, como a acolhida de católicos em segunda união e cristãos gays nas paróquias. A prévia da reunião já indicou que há mudanças em curso. Acenos concretos de tolerância e solidariedade foram dirigidos, por exemplo, aos casais de católicos em segunda união que são impedidos de comungar nas celebrações e circunscritos a pastorais temáticas. Também foi estendida a mão para os milhares de casais gays que se escondem em suas comunidades religiosas, atormentados por versículos bíblicos que, de acordo com a interpretação vigente, repudiam sua orientação sexual. Mas isso não quer dizer que, a partir de outubro de 2015, os católicos passem a assistir a casamentos homossexuais ou divorciados sejam vistos confessando e comungando. Por mais que a Igreja Católica esteja caminhando num ritmo mais acelerado com Francisco, sua engrenagem continua no vagar da Idade Média. “Em 2015 nenhuma norma irá mudar”, afirma o professor Francisco Borba, da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP). “Até porque não daria tempo, com o sínodo sendo concluído em outubro.” Para Borba, o mais significativo não é a mudança de lei, mas de perspectiva, pois essa discussão sobre a família, os gays e os divorciados transforma a maneira como essas pessoas se sentirão aceitas em suas comunidades. “A Igreja não é o Estado, lá as normas não são o mais importante”, diz. O fato é que depois dos repetidos pronunciamentos do papa, que entre outras coisas disse que há várias formas de se amar, o olhar do católico sobre a nova conformação das famílias e das relações amorosas já foi transformado irremediavelmente. EMBATE - A primeira edição do sínodo, em outubro de 2014: forças conservadores tentaram impedir o avanço das discussões Para o vaticanista americano John Allen, o sínodo 2015 será um avanço, mas para isso terá muitas trocas de participantes, promovidas pelo próprio Francisco. Ele acredita que as forças conservadoras, lideradas pelo cardeal americano Raymond Burke (EUA), que impediram o avanço das discussões em outubro de 2014, serão enfraquecidas. E não duvida que a corrente favorável à comunhão para os divorciados e recasados, liderada pelo alemão Walter Kasper, prevaleça. “Por mais puro que esse momento tenha sido, ele pode empalidecer-se em comparação com os desafios de manter a Igreja unida na medida em que as coisas avançam”, diz Allen. Se tem alguém preparado para a missão, ele é Jorge Mario Bergoglio. 4#6 E A SECA VAI CONTINUAR Apesar das chuvas de fim de ano, as ondas de calor serão recorde e os meteorologistas preveem um longo período de estiagem Cesar Soto (cesar.soto@istoe.com.br) Após quase um ano de negativas, propostas conciliadoras e eternas promessas de que não havia necessidade de medidas mais drásticas para reduzir o consumo de água na Grande São Paulo, o governador do Estado, Geraldo Alckmin, capitulou. Pela primeira vez desde o início da crise hídrica que ameaça deixar a maior cidade do País sem água, Alckmin decidiu implantar um rigoroso sistema de punição para quem aumentar o consumo, com aumento de 50% no valor da conta de quem gastar mais de 20% acima do volume médio rotineiro. A decisão foi tomada a poucos dias do início deste verão que promete temperaturas recorde. O governo paulista, finalmente, começa a acreditar no que a maior parte dos especialistas vem alertando há anos: com as torneiras abertas, São Paulo vai secar. A fé de que os céus mandariam chuvas volumosas para a região nesta primavera e neste verão jamais contaminou os meteorologistas. Eles, no entanto, vinham alertando que, sob o olhar estritamente científico, não havia indicadores de que isso iria acontecer. E agora, dois meses depois do início oficial das chuvas, só um milagre, dizem os especialistas, impedirá que uma situação que já era crítica se transforme em catastrófica. A estimativa dos principais meteorologistas e especialistas em hidrologia é de que, se São Paulo simplesmente não secar, a água servida à população terá qualidade bastante inferior à que é oferecida hoje. “Um dos piores cenários que prevíamos era que este verão fosse igual ao do ano passado e, pelo que observamos até aqui, continuará sendo”, diz Marussia Whately, uma arquiteta especializada em recursos hídricos que coordena a ONG Aliança Pela Água, que congrega uma série de organizações preocupadas com o tema. De acordo com o meteorologista Alexandre Nascimento, da Climatempo, neste verão as chuvas não chegarão a atingir nem ao menos a média histórica. “Janeiro até pode superar um pouco, mas nos meses seguintes choverá menos do que o normal”, diz ele. O reflexo disso, claro, será a redução ainda maior da quantidade de água disponível nos diversos reservatórios que abastecem a cidade, como o Guarapiranga, o Alto Tietê e o agora tristemente famoso Cantareira. A necessidade de se retirar água de camadas cada vez mais profundas, com muitos sedimentos, como acontece no Cantareira, leva o chefe do departamento de demografia da Unicamp, Roberto Luiz do Carmo, a prever que a qualidade da água deve cair nos próximos meses. “O impacto de doenças não muito acompanhadas, como as diarreicas, tendem a aumentar muito nos próximos anos”, diz ele. A parcela mais prejudicada da população, segundo Carmo, será aquela com menos recursos econômicos. “As pessoas vão procurar soluções individuais”, diz. “Quem pode pagar vai conseguir comprar algo um pouco melhor; quem não pode vai beber água de péssima qualidade.” O professor titular do Instituto de Energia e Ambiente (IEE) da USP Pedro Jacobi, que estuda governança da água e indicadores de sustentabilidade, concorda que não há muito o que fazer para evitar os efeitos da seca em 2015. “Vai levar de seis a oito anos para que a situação dos reservatórios volte ao normal”, diz. “É necessário também reduzir as águas contaminadas, aumentar o tratamento e reúso do esgoto, além de investir mais para diminuir a dependência da região do sistema Cantareira”, afirma. “O governo tem tapado o sol com a peneira, fingindo que o problema não existe. Houve muita procrastinação”, diz o professor. A não ser que um milagre contrarie as previsões e haja de fato um aumento das chuvas nos próximos meses, parece que não há muito que fazer a não ser esperar pelo momento em que não sairá mais água da torneira aberta. “Sabíamos do problema há 20 anos. Ele foi sendo construído nessas últimas décadas. Provavelmente, levaremos mais 20 anos para que o solucionemos”, diz o professor Carmo, da Unicamp. 4#7 O ANO DO ENSAIO OLÍMPICO O Pan-Americano de Toronto e importantes competições mundiais darão a largada na preparação para a Olimpíada do Rio de Janeiro Rodrigo Cardoso (rcardoso@istoe.com.br) O ano mais olímpico de todo o ciclo que antecede a 31ª edição dos Jogos, no Rio de Janeiro – sem contar, claro, 2016 –, é o de 2015. Para a grande maioria dos atletas, é a chance de dar um salto na carreira e entrar para o seletíssimo grupo da elite do esporte. Em 92 anos de participação do Brasil, apenas 1.800 pessoas atingiram tal status. Por isso, conquistar uma vaga e desembarcar na Vila Olímpica é, simbolicamente, uma medalha conquistada para muitos atletas. A largada em busca desse sonho se dará com mais afinco em meados do ano, com atletas correndo atrás de boas marcas em competições de nível mundial e continental, principalmente. O Pan-Americano de Toronto, no Canadá, marcado para acontecer entre 10 e 26 de julho, é o evento esportivo de maior visibilidade de 2015. Ao todo, 41 delegações vão brigar por medalhas. Muitos brasileiros, porém, devem participar de seletivas para os Jogos do Rio em torneios locais. A Associação Internacional de Federações de Atletismo deverá divulgar os prazos para a obtenção de índices olímpicos somente no segundo semestre – o atletismo é a modalidade que mais tem levado atletas brasileiros para os Jogos (entre 30 e 35 competidores). A partir de então, qualquer competição oficial vale como seletiva. “O Pan-Americano é importante, mas o Mundial de Pequim, que ocorre um mês depois, é a prévia do que esperar em termos de resultados na Olimpíada”, diz Benê Turco, assessor da Confederação Brasileira de Atletismo (CBAt). O Comitê Olímpico Brasileiro (COB) prepara uma lista de competições oficiais de 2015 para orientar modalidades e competidores. Isso porque muito próximo ou juntamente com o Pan de Toronto estarão acontecendo outros torneios importantes, como o Mundial de Esportes Aquáticos, em Kazan, na Rússia, entre 17 de julho e 2 de agosto, e os Jogos Mundiais Militares, entre 29 de maio e 5 de junho, na Coreia do Sul. “Cada atleta, cada time olímpico está montando a sua estratégia e escolhendo em qual competição vai participar”, diz Marcus Vinícius Freire, diretor executivo de esportes do COB. “O Pan é um evento de grande festa, mas não representa nada em termos de resultado em nível internacional”, diz a psicóloga Katia Rubio, membro da Academia Olímpica Brasileira. “Em modalidades individuais, os mundiais serão o grande termômetro para atletas que estão mirando 2016”, completa ela, que é orientadora de mestrado e doutorado da Faculdade de Educação Física da Universidade de São Paulo. A delegação brasileira já conta com 320 atletas classificados para o Pan de Toronto e o COB estima que levará para o Canadá um total de 580. Eleitas as melhores velejadoras do mundo pela Federação Internacional de Vela e atuais campeãs mundiais, Martine Grael e Kahena Kunze devem competir no Pan. “O Torben (multimedalhista olímpico e pai de Martine) acha importante que elas tenham experiência de vila, estejam em uma competição com várias modalidades, para não correr o risco de se deslumbrarem na Olimpíada”, conta Freire, do COB. Em algumas modalidades, no entanto, é provável que grandes estrelas fiquem de fora, como na natação. “Acho muito difícil eles disputarem o Pan e o Mundial, na Rússia, na sequência”, diz o ex-nadador e medalhista olímpico Ricardo Prado, prata em 1984, e, hoje, presidente do Conselho de Esportes do Comitê Rio 2106. No judô, outro esporte historicamente de destaque em Olimpíadas, o esquema de classificação se dará pelo desempenho no Circuito Mundial, que ocorre entre maio de 2015 e abril de 2016. O Brasil tem 14 vagas e somente o melhor colocado no ranking de cada categoria ao final do Circuito garante vaga para os Jogos do Rio. Aos 23 anos, a atual campeã mundial (na categoria até 78 kg) Mayra Aguiar, bronze nos Jogos de Londres, em 2012, é a maior esperança de medalha da modalidade. As seleções de futebol feminino, prata nos Jogos de 2004 e 2008, e a de handebol feminino, atual campeã do mundo, também irão disputar mundiais em 2015. No momento, o Brasil está garantido em 36 modalidades para os Jogos do Rio. Resta sacramentar a participação do atletismo, do basquete, do hóquei sobre a grama, da natação e do tênis. Ensaio para o que esperar na Olimpíada, 2015 irá dar a cara da delegação nacional que pretende ficar entre as dez primeiras no quadro geral de medalhas. _______________________________________ 5# ESPECIAIS - RETROSPECTIVA 2014. 31.12.14 5#1 ELEIÇÕES - UM PAÍS ELEITORALMENTE DIVIDIDO 5#2 CORRUPÇÃO - UM ESCÂNDALO MAIOR QUE O MENSALÃO 5#3 ESPORTE - A COPA DOS SONHOS E DO PESADELO 5#4 MEDICINA E BEM-ESTAR - O TERROR DO EBOLA 5#5 INTERNACIONAL - LAÇOS REFEITOS 5#6 AS MARCAS DE UM ANO AGITADO 5#7 MEMÓRIA 5#1 ELEIÇÕES - UM PAÍS ELEITORALMENTE DIVIDIDO Dilma Rousseff é reeleita depois de promover uma campanha destrutiva, como pouco se viu na história do País. O resultado foi uma vitória por uma margem apertada e um Brasil que sai rachado das urnas Izabelle Torres (izabelle@istoe.com.br) Em 2014, o Brasil viveu a eleição mais acirrada da história do seu período democrático. A vitória de Dilma Rousseff (PT) com a apertada margem de 3,4 milhões de votos desenhou um cenário de divisões e acirramentos ideológicos. As urnas racharam o País por renda e escolaridade, levando Dilma a vencer onde há mais beneficiários de políticas assistencialistas e Aécio a liderar em Estados produtores. A votação expressiva da petista no Nordeste e nas regiões mais pobres e a de Aécio onde se pagam mais impostos criou um clima hostil entre brasileiros conhecidos pela tolerância e pela boa convivência com as diferenças. Passados dois meses da eleição, as relações odiosas entre eleitores estão amenas, mas os sinais de que a sociedade está mais politizada são evidentes. Além disso, a oposição que emergiu das urnas está fortalecida e preparada para atuar como poucas vezes se viu desde que o PT assumiu o País há mais de uma década. Com opositores dispostos ao enfrentamento e amparados pelos mais de 51 milhões de eleitores que queriam alternância de poder, Dilma enfrenta dificuldades políticas desde que foi declarada reeleita. ROUND FINAL - Dilma e Aécio Neves protagonizaram uma disputa acirrada no segundo turno das eleições. No fim, deu Dilma por uma diferença de 3,4 milhões de votos O cenário pós-eleição e o aumento surpreendente do papel da oposição são resultados de uma disputa marcada por reviravoltas. A morte trágica do ex-governador de Pernambuco Eduardo Campos (PSB), vítima de um acidente aéreo ainda no início da campanha, fez com que a comoção revertesse em apoio à sua vice, Marina Silva, que, galgada à vaga de candidata, apareceu nas pesquisas como favorita durante semanas. Marina se tornou um problema para o PT e o alvo preferencial dos ataques de campanha. Capitaneados pelo marqueteiro João Santana, os programas de rádio e televisão da petista partiram para ataques contra seus adversários, em um confronto no qual valia tudo, menos perder a eleição. Diante dos ataques de Dilma e de peças publicitárias violentas e agressivas, Marina Silva silenciou. Alegando preferir discutir ideias em vez de trocar acusações, viu seu favoritismo sucumbir. A candidata encolheu, desidratou em tempo recorde, e a disputa retomou a polarização histórica entre PT e PSDB. O PADRINHO - Lula teve participação decisiva na reta final das eleições. A expectativa é de que ele exerça maior influência no segundo mandato, a despeito das manifestações pelo País (abaixo) que revelam o esgotamento do atual modelo de gestão petista No segundo turno, o adversário de Dilma ainda precisou enfrentar uma verdadeira guerrilha virtual, montada na campanha pelo ex-ministro Franklin Martins visando à desconstrução dos adversários nas redes sociais. O PT usou a máquina partidária, treinou militantes e fez uma campanha destrutiva, como nunca se viu. Em muitos momentos durante a campanha, o tucano Aécio Neves dava sinais de que iria virar o jogo. Mas Dilma saiu vencedora da guerra eleitoral, embora não tenha apresentado oficialmente um plano de governo e tenha feito apenas promessas genéricas. O FATO NOVO - O trágico acidente aéreo que ceifou a vida do então candidato do PSB, Eduardo Campos, contribuiu para alterar o rumo das eleições O resultado apertado ficou aquém dos planos petistas e da mobilização feita para elegê-la. Reeleita, assume o segundo mandato bem menos poderosa do que foi. Terá uma base de apoio menos disposta a aceitar suas imposições. As dificuldades nacionais refletiram-se nos Estados e o poderoso PT da presidente obteve desempenho ruim na ­com­posição da Câmara Federal, das Assembleias Legislativas e do Senado Federal. Na Câmara, o número de deputados federais caiu de 86 para 70, numa comparação entre as eleições de 2010 e de 2014. Para piorar, não elegeu nenhum deputado federal em seis Estados. Nos governos estaduais, o PT fez cinco governadores, enquanto seu aliado mais poderoso e ameaçador, o PMDB, elegeu sete. Em número de habitantes que serão governados, o PSDB de Aécio Neves sai na frente, com o comando de cinco Estados cujas populações ultrapassam 72 milhões de pessoas. O PT governará 48,7 milhões de habitantes. As dificuldades eleitorais incentivaram petistas e aliados a deixar claras suas resistências ao estilo de governar da presidente reeleita. Embora discurse garantindo que vai unir o Brasil e aumentar o diálogo com aliados e com integrantes do seu próprio partido, poucos são os setores da sociedade crédulos na sua boa vontade. 5#2 CORRUPÇÃO - UM ESCÂNDALO MAIOR QUE O MENSALÃO A descoberta do propinoduto na Petrobras para favorecer partidos e políticos da base aliada do governo expõe internacionalmente a principal estatal do País e promete punir corruptos e corruptores Claudio Dantas Sequeira (claudiodantas@istoe.com.br) Em março de 2014, o País ainda digeria a prisão dos caciques políticos condenados meses antes no processo do mensalão, quando surgiu um escândalo de proporções infinitamente maiores. Se o noticiário já relatava problemas de gestão na Petrobras e alguns negócios suspeitos, a deflagração da Operação Lava Jato descortinou um complexo esquema criminoso que teria desviado mais de R$ 10 bilhões dos cofres da mais importante estatal brasileira. A detenção do doleiro Alberto Youssef, conhecido do caso Banestado, somou-se à do ex-diretor de Abastecimento da companhia Paulo Roberto Costa, cujas ligações com o PP do mensaleiro José Janene – morto em 2010 – e a estreita relação com petistas de primeiro escalão encadearam-se numa lógica perversa. Quem esperava que o julgamento da Ação Penal 470 fosse o remédio para extirpar da política o mal da corrupção, não sabia o que ainda estava por vir. O DELATOR - Preso na Operação Lava Jato, o ex-diretor de Abastecimento da Petrobras Paulo Roberto Costa entregou à PF uma lista com cerca de 60 nomes, entre ministros e parlamentares Sob comando do juiz Sérgio Moro, da 13ª Vara Federal de Curitiba (PR), o inquérito da Lava Jato desdobrou-se em mais de uma dezena de ações penais distintas. Em nove meses, a operação teve sete fases, a última delas – batizada de Juízo Final – colocou atrás das grades personagens até hoje intocáveis: os donos e principais executivos das maiores empreiteiras brasileiras, acusadas de prática de cartel, fraude em licitações e superfaturamento de contratos para o pagamento de propinas a agentes públicos e políticos. As investigações revelaram que o esquema também lavou recursos ilícitos em doações oficiais para campanhas políticas do PT, do PMDB, do PP e de outros partidos aliados do governo. Por não ter jurisdição sobre autoridades de foro privilegiado, Moro não pôde avançar nessa seara. Evidências e indícios colhidos pela Polícia Federal e o MPF foram encaminhados ao ministro Teori Zavascki, relator do caso no Supremo Tribunal Federal, e também ao procurador-geral da República, Rodrigo Janot, a quem caberá decidir sobre eventual pedido de investigação dos políticos. Costa, que firmou um acordo de delação premiada para reduzir sua pena, entregou uma lista com cerca de 60 nomes, dos quais 28 já vazaram, entre os quais estão ministros, governadores e parlamentares. MAIS UM TESOUREIRO - Como no mensalão, outro tesoureiro petista é envolvido: João Vaccari Neto. Ele é apontado como beneficiário da propina O benefício da delação premiada foi uma das novidades introduzidas pela Lava Jato. Já existia desde 2003, mas foi aperfeiçoado. Como disse o procurador Deltan Dallagnol, integrante da força-tarefa da Lava Jato, as colaborações têm utilidade social. Servem para trocar “um peixe pequeno por um peixe grande”. “Quando você pega uma sardinha, você pode comer essa sardinha ou usá-la como isca para pegar um tubarão”, diz. Até agora, 12 investigados firmaram acordos de delação, mas apenas quatro foram homologados pelo STF. Ao propor um acordo, o investigado deve convencer os procuradores e delegados de que possui informação nova e valiosa. Tudo o que for dito em depoimento precisa ser corroborado por evidências materiais, caso contrário, não vale e o investigado perde o benefício. Youssef e Costa foram os primeiros a entrar em acordo e revelar como funcionava o pagamento da propina, os percentuais pagos aos partidos e os principais operadores. Com a ajuda deles, a PF chegou ao ex-diretor Internacional Nestor Cerveró, que ainda não foi indiciado, e ao ex-diretor de Serviços Renato Duque, que chegou a ser preso e depois acabou liberado por habeas corpus – mas continua sendo investigado. Outro personagem-chave arrolado por ambos foi o tesoureiro do PT, João Vaccari Neto, que ainda permanece solto. Das delações mais produtivas até agora, destacam-se as dos ex-executivos da Toyo Setal Julio Camargo e Augusto Mendonça Neto, responsáveis por corroborar as provas que PF e MPF tinham contra os grandes empreiteiros. Outro delator importante de Duque foi o ex gerente-executivo Pedro Barusco que não apenas entregou contas e nomes de autoridades, como se comprometeu a devolver aos cofres públicos cerca de US$ 100 milhões, algo em torno de R$ 260 milhões. O ELO COM O PT - O ex-diretor de Serviços da Petrobras Renato Duque representava a ponte do esquema com o PT Há ainda outros delatores não identificados. Um deles teria prometido devolver o dobro desse valor. 5#3 ESPORTE - A COPA DOS SONHOS E DO PESADELO Partidas espetaculares, estádios modernos e uma festa que nenhum outro país jamais realizou. Só a seleção brasileira não fez jus ao maior Mundial da história Amauri Segalla (asegalla@istoe.com.br) Dentro e fora de campo, extraordinária. Para a Seleção Brasileira, bisonha. Não é exagero dizer que a Copa do Mundo de 2014 foi, sob diversos aspectos, a melhor da história. Também não é incorreto afirmar que o time nacional conheceu, em seu próprio território, o maior vexame de todos os tempos. O Mundial surpreendeu pelo que não se esperava dele – organização quase impecável, estádios lotados, torcedores festejando nas ruas com segurança, transporte público eficiente – e decepcionou no ponto mais sensível para os brasileiros: a performance da sua seleção. A bordoada de 7 a 1 para a Alemanha, em plena semifinal e em pleno Mineirão, não só enterrou a segunda chance de conquistar o título em casa (o Brasil havia fracassado em 1950, na derrota para o Uruguai no Maracanã) como escancarou, da forma mais cruel possível as mazelas que há anos corroem o futebol do País. Foi, em suma, uma Copa inesquecível – para o bem e para no mal. O curioso é que, antes de a bola rolar, havia enorme desconfiança quanto à capacidade brasileira de organizar um evento desse porte. Esperava-se um caos completo. Nas redes sociais, o bordão “Imagina na Copa” se tornou uma advertência contra o futuro sombrio que estava por vir. DECEPÇÃO - O lateral Marcelo lamenta um dos gols da Alemanha na goleada por 7 a 1: a maior derrota da Seleção Brasileira em 100 anos Atletas, jogadores e torcedores estrangeiros desembarcaram no País com a expectativa de encontrar o próprio inferno. Depararam-se com algo muito diferente. “Foi a maior Copa que vi e provavelmente jamais haverá outra igual a essa”, disse o alemão Jürgen Klinsmann, técnico da seleção americana e que tem nos ombros o peso de três Copas disputadas como jogador. “O País do futebol merecia um Mundial deste nível”, afirmou o italiano Fabio Cannavaro, capitão da seleção italiana campeã do mundo em 2006. “Se os jogadores deram espetáculo dentro de campo, a torcida fez o mesmo nas ruas e nos estádios.” Cannavaro lembrou dos hinos cantados a capela por multidões, principalmente pelos torcedores sul-americanos. Jamais o mundo do esporte – nem em Olimpíadas – viu coisa parecida. Um dado para ser lembrado: 700 mil estrangeiros de 203 nacionalidades entram no Brasil por terra, mar ou ar, número 40% acima da previsão oficial. O time comandado pela dupla Luiz Felipe Scolari e Carlos Alberto Parreira não fez jus à festa. Foi, de longe, o maior fiasco nos 100 anos da seleção e talvez a maior derrota de um país, em qualquer esporte. A Alemanha humilhou a equipe mais vitoriosa (a única pentacampeã) da história do futebol e a que, de longe, produziu a maior quantidade de craques. À exceção de Neymar – que abandonou a Copa depois de receber uma joelhada criminosa do colombiano Zuñiga, nas quartas-de-final –, todos fraquejaram. O capitão Thiago Silva desabou emocionalmente nas oitavas-de-final, contra o Chile. Entre lágrimas, recusou-se a fazer a sua cobrança na decisão por pênaltis. No jogo contra a Alemanha, o zagueiro David Luiz falhou em pelo menos três gols do adversário. Durante toda a Copa, Fred foi um poste. Oscar, uma decepção. Daniel Alves, uma nulidade. Pior: Felipão revelou-se incapaz de interromper o blitzkrieg alemão, e a mesma paralisia ficaria evidente na decisão do terceiro lugar, quando o Brasil perdeu por 3 a 0 para o Holanda. Dado constrangedor: a Seleção Brasileira sofreu 14 gols, recorde negativo, e foi a mais vazada do torneio. TROFÉU - Jogadores da Alemanha comemoram o título mundial depois da vitória por 1 a 0 contra a Argentina: os alemães foram os maiores responsáveis pelo recorde de gols Diversos indicadores comprovam as virtudes da Copa no Brasil. Segundo dados da Fifa, 3,6 bilhões de pessoas viram os jogos pela TV, ou 12,5% mais do que na África do Sul. Nas arenas, a média de público chegou a 53 mil pessoas, a segunda maior da história, atrás apenas do Mundial dos Estados Unidos (que tinha estádios maiores). Dentro de campo, craques como o alemão Toni Kroos, que comandou a seleção campeã, o argentino Messi e o holandês Robben protagonizaram grandes espetáculos, até mesmo para quem não é aficionado por futebol. Eles e outros talentos fizeram 171 gols no Mundial do Brasil, igualando o torneio da França, em 1998, que detinha a melhor marca. Para além do fiasco brasileiro, a Copa do Mundo foi mesmo soberba. 5#4 MEDICINA E BEM-ESTAR - O TERROR DO EBOLA O vírus nunca matou tanta gente e pela primeira vez extrapolou as fronteiras africanas. A assustadora epidemia evidenciou quanto o mundo ainda não está preparado para conter mais esta ameaça Cilene Pereira (cilene@istoe.com.br) O ebola já havia assustado o mundo antes. Mas nunca como em 2014. Um dos vírus mais letais conhecidos, ele matou mais de sete mil pessoas ao longo deste ano, infeccionou mais de 19 mil e, pela primeira vez, extrapolou as fronteiras da África. Houve quatro casos nos EUA, com uma morte, e um na Espanha. No Brasil, uma suspeita foi registrada em outubro. Souleymane Bah, 47 anos, vindo da Guiné, passou cinco dias hospitalizado no Instituto Evandro Chagas, no Rio de Janeiro, até ser liberado. CAOS - Em Serra Leoa, na África, médicos preparam corpos de vítimas para serem enterrados No início de agosto, a situação havia atingido um nível tamanho de gravidade que a Organização Mundial da Saúde declarou a proliferação do vírus uma emergência de saúde internacional. A entidade havia dado essa classificação apenas à pandemia de gripe provocada pelo H1N1, em 2009, e, em maio deste ano, à ameaça da volta da poliomielite a nações onde a doença está erradicada. Os países mais atingidos foram Serra Leoa, Libéria e Guiné. Lá, o cenário causado pelo avanço do ebola foi de caos. Logo nas primeiras semanas ficou claro que nenhuma dessas nações tinha condições apropriadas para deter o vírus. Os hospitais superlotaram e os centros de quarentena montados para isolar os doentes mostraram-se frágeis. Infectados conseguiram sair dos locais e ir para as ruas. Em Monróvia, capital da Libéria, um rapaz contaminado foi ameaçado pelos moradores quando circulava pelas ruas. Foi resgatado e enviado novamente ao isolamento. Além da indisfarçável falta de estrutura – incluem-se aqui remédios insuficientes e deficiência de pessoal minimamente treinado para atender os doentes –, contaram para a proliferação assustadora do ebola aspectos culturais fortemente enraizados no continente africano. Até hoje, em muitos rituais de velório, há lavagem do cadáver à mão, sem qualquer proteção, e muitas famílias escondem parentes infectados dentro de casa. Somente em dezembro a epidemia deu sinais de arrefecimento. Mas a violência com a qual o vírus se disseminou obrigou Ban Ki-moon, secretário-geral das Nações Unidas, a fazer um aviso e um apelo: “Devemos aprender as lições do ebola desenvolvendo melhores sistemas de alerta e de resposta rápida. Os países precisam se preparar para a próxima epidemia, que certamente ocorrerá”. 5#5 INTERNACIONAL - LAÇOS REFEITOS Acordo histórico entre Estados Unidos e Cuba deu o primeiro passo para o fim do embargo econômico à ilha caribenha Mariana Queiroz Barboza (mariana.barboza@istoe.com.br) Foi preciso um intervalo de mais de cinco décadas, uma série de reuniões secretas no Canadá e até um empurrão divino, com a mediação do papa Francisco, para que, em dezembro, Estados Unidos e Cuba anunciassem a retomada das relações diplomáticas. Separados por apenas 140 quilômetros de distância e um abismo ideológico, os dois países acertaram uma troca de prisioneiros, que envolveu três cidadãos cubanos e dois americanos. Mais do que isso, o limite de remessas para Havana foi expandido, Cuba saiu da lista de “Estados patrocinadores do terrorismo” e as regras para viagens à ilha caribenha foram relaxadas, ainda que o turismo continue proibido. “Esses 50 anos mostraram que o isolamento não funcionou”, disse o presidente americano, Barack Obama, durante o anúncio oficial. “É tempo de outra atitude.” Nos próximos meses, os americanos planejam abrir uma embaixada em Havana, que, sob o comando de Raúl Castro, irmão de Fidel Castro, já passava por uma transformação, com novas regras para a atração de investidores estrangeiros e o direito sobre propriedades privadas. NOVOS AMIGOS - Barack Obama (à esquerda na montagem) e Raúl Castro trocaram prisioneiros e palavras de confiança. O embargo, no entanto, continua Estima-se que o rompimento com os vizinhos causou um prejuízo de US$ 1 trilhão para a pequena ilha de 11 milhões de habitantes. Antes da revolução de 1959, que levou Fidel ao poder, Cuba dependia amplamente das exportações de açúcar aos EUA. O regime castrista, no entanto, estatizou ativos estrangeiros e se aproximou da União Soviética. Com o colapso do bloco socialista e sob os efeitos do embargo econômico americano, que pune, por exemplo, empresas estrangeiras que negociem com a ilha, Cuba se aprofundou em crise. A partir de 2000, o eixo comercial virou-se para a Venezuela de Hugo Chávez. O país sul-americano passou a fornecer petróleo subsidiado à ilha em troca de médicos e professores, entre outros serviços – mas agora, com o preço do barril em queda e a economia castigada pela inflação e pelo desabastecimento, Caracas já não tem a mesma capacidade de ajudar Havana. A retirada do embargo é, portanto, estratégica. Mas, para o azar de Raúl Castro, sua aprovação depende do aval do Congresso americano, dominado por uma oposição republicana muito menos disposta a reatar com Cuba que Obama. Ali, a frase “somos todos americanos” proferida pelo presidente, em espanhol, dificilmente terá o mesmo efeito que teve para os cubanos que saíram às ruas para comemorar a nova fase. 5#6 AS MARCAS DE UM ANO AGITADO Fatos, personagens e situações que construíram o ano de 2014 JAN/11 – Eclodiu em São Paulo e se espalhou por diversas capitais a onda do rolezinho – a invasão de shoppings por milhares de jovens da periferia que pretendiam apenas mostrar que existem socialmente. A reação violenta da polícia tornou desnecessariamente tensa essa situação. Como veio, o movimento se diluiu. JAN/16 – Na penitenciária maranhense de Pedrinhas, em São Luís, ocorreu a primeira de uma série de bárbaras rebeliões que marcaram esse presídio em 2014 – e levaram a ONU e a mídia internacional a denunciarem as precárias condições prisionais no Brasil. Mais de 100 presos foram assassinados por facções criminosas em Pedrinhas. JAN/27 – A ex-ginasta brasileira Lais Souza se acidentou nos EUA num dos treinos para os Jogos de Inverno na Rússia. Ficou tetraplégica, retornou ao Brasil em dezembro e segue em tratamento para recuperar os movimentos. FEV/5 – Condenado pelo STF a quase 13 nos de prisão no processo do mensalão, foragido do País e com a Interpol em seu encalço, o ex-diretor de marketing do Banco do Brasil Henrique Pizzolato foi preso na Itália, onde entrou com passaporte falso em nome de seu irmão falecido. Vive lá agora em liberdade. O governo brasileiro tenta a sua extradição. FEV/6 – O cinegrafista de Rede bandeirantes Santiago Andrade cobria um confronto entre polícia e manifestantes no Rio de Janeiro quando foi atingido por um rojão disparado por um dos tantos vândalos que frequentaram os protestos em 2014. Ele morreu no dia 10; FEV/27 – Pela primeira vez um oficial do exército foi responsabilizado publicamente pela tortura e morte do deputado Rubens Paiva. Trata-se do major José Antonio Belham, sobre o qual chovem acusações em diversos depoimentos colhidos pela Comissão Nacional da Verdade. Ligado a organizações armadas que se opunham à ditadura militar, Paiva morreu em 1972 no DOI-Codi do Rio de Janeiro. Até hoje o seu corpo não foi localizado. MAR/8 – Com 239 pessoas a bordo, um avião da Malaysia Airline desapareceu misteriosamente 40 minutos após ter decolado de Kuala Lumpur rumo a Pequim. Nove meses depois do acidente, a Austrália divulgou as primeiras imagens que podem ser dos destroços da aeronave no Oceano Índico. MAR/18 – O presidente russo, Vladimir Putin, assinou acordo para anexar o território ucraniano da Crimeia – dois dias antes a população, dividida, aprovara a união com Moscou. Em fevereiro o então presidente da Ucrânia, Viktor Yanukovich, fora deposto pelo Parlamento e em junho tomou posse o novo líder, Petro Poroshenko. MAR/30 – “Frozen: uma Aventura Congelante” consagrou-se nas telas como a animação de maior bilheteria da história do cinema – US$1,27 bilhão. Ganhou dois Oscar e foi o filme mais procurado no Google em 2014. A sua música original, “Let It Go”, foi reproduzida no YouTube cerca de 380 milhões de vezes. ABR/14 – Encontrado o corpo do menino de 11 anos Bernardo Boldrini a cerca de 80 quilômetros da cidade gaúcha de Três Passos, onde ele residia com o pai, o médico Leandro Boldrini, e a madrasta, Graciele Ugulimi. Em agosto foi divulgado um vídeo no qual Graciele o ameaça de morte. O processo está em fase de instrução: pai, madrasta e demais cúmplices são acusados de homicídio e ocultação de cadáver. ABR/23 – A presidente Dilma Rousseff sancionou o Marco Civil da Internet, que estabelece direitos e deveres da rede mundial no Brasil. O texto fora aprovado um dia antes pelo Senado. O tema ganhou força após as denúncias de espionagem que levaram o Palácio do Planalto a pedir urgência constitucional na matéria. ABR/27 – João Paulo II e João XXIII foram canonizados pelo Papa Francisco na Praço de São Pedro, no Vaticano. O papa emérito Bento XVI também participou da cerimônia assistida por aproximadamente 500 mil pessoas. MAI/6 – A Câmara dos Deputados aprovou o projeto de lei que permite a publicação de biografias não autorizadas, após muita polêmica que colocou em campos opostos biógrafos e artistas famosos como Chico Buarque, Gilberto Gil e Caetano Velosos, favoráveis ao veto. O projeto será analisado pela CCJ do Senado em 2015. MAI/7 – O presidente do Uruguai, José Mujica, regulamentou a lei que permite cultivo, distribuição, venda e consumo da maconha. O Uruguai se tornou assim o primeiro país da América latina a combater o narcotráfico por meio da interferência oficial do Estado em todos os passos da produção e comercialização da droga. MAI/29 – Joaquim Barbosa, então presidente do STF, anuncia que se aposentará e deixará a Corte para se dedicar à família e tratar da saúde. Estava à época com 59 anos (a aposentadoria compulsória é aos 70). Foi o relator do processo do mensalão. A última sessão que presidiu foi em 1º de julho. JUN/2 – Desgastado por acusações de corrupção, Juan Carlos abdicou do trono da Espanha após 39 anos de reinado, legando a corou a seu filho Felipe de Bourbon. A sua filha Cristina foi condenada a ressarcir em 600 mil euros o erário espanhol devido a transações ilícitas. JUN/26 – O juiz federal dos EUA Thomas Griesa rejeitou o pedido da Argentina para suspender temporariamente o pagamento de US$ 1,3 bilhão aos fundos especulativos conhecidos como “abutres”, aumentando as chances de um novo calote do país presidido por Cristina Kirchner. JUL/1 – Foram sepultados os corpos de três jovens israelenses sequestrados e mortos pelo Hamas. Assassinados a tiros e carbonizados. O episódio deu início ao maior conflito desde 2012 entre israelenses e palestinos na Faixa de Gaza. JUL/16 – A ONU divulgou um relatório preocupante para o Brasil: enquanto a média mundial no número de pessoas infectadas pelo HIV vem diminuindo, no Brasil o índice de contaminação subiu 11%. Ocupamos a triste liderança no ranking latino-americano de transmissão do vírus. JUL/17 – Um avião da Malaysia Airlines caiu após ser atingido por míssil quando sobrevoava o leste da Ucrânia, região dominada por separatistas pró-Rússia. Todos os 298 passageiros morreram. O míssil era de fabricação russa. AGO/5 – Foram 35 anos de buscas até que Estela Carlotto, presidente do grupo Avós da Praça de Maio, localizou o seu neto, Guido. Ainda bebê e a exemplo de tantas outras crianças, ele foi entregue à adoção pela ditadura militar argentina, que assassinou sua mãe sob tortura porque ela lutava contra o regime. AGO/9 – O jovem negro Michael Brown, que estava desarmado, foi morto por um policial branco em Ferguson, no Estado americano do Missouri. O crime desencadeou uma série de protestos localizados. Quando o policial responsável ganhou a absolvição em novembro, as manifestações se expandiram para todos os EUA. AGO/19 – Condenado a 278 anos de prisão por abuso sexual de suas pacientes e foragido desde 2011, o ex-médico das estrelas Roger Abdelmassih foi preso em sua luxuosa casa no Paraguai. Cumpre pena numa penitenciária no interior de São Paulo. AGO/19 – O jornalista americano James Foley morreu decapitado pelo grupo radical Estado Islâmico, que deseja impor sua ideologia ao mundo por meio do terror e do crime. Foi a primeira de cinco decapitações – na segunda delas, um vídeo evidenciou o sotaque britânico do carrasco e a presença de estrangeiros no grupo. SET/3 – O STJD excluiu o Grêmio da Copa do Brasil devido às ofensas raciais de uma de suas torcedoras ao goleiro Aranha, do Santos. Num espetáculo deplorável, Patrícia Moreira foi flagrada por câmeras de televisão xingando o goleiro quando o seu time perdia por dois a zero. SET/11 – Assistiu-se ao último episódio de um dos melhores seriados da história da televisão brasileira: “A Grande Família”, sucesso da Rede Globo durante 14 anos. Baseava-se até hoje na obra original “Nossa vida em família”, de Oduvaldo Viana Filho. SET/11 – O velocista sul-africano Oscar Pistorius viu-se declarado “culpado de homicídio sem intenção de matar” pela Justiça de seu país (a sentença foi de cinco anos de prisão, dada posteriormente): em 2013 ele atirou através da porta do banheiro de sua casa e matou a namorada, a modelo Reeva Steenkamp. Alegou que imaginou se tratar de ladrões. OUT/1 – A população de Hong Kong tomou as ruas pedindo democracia e o direito de escolher seus governantes em 2017. Os protestos entram para a história com o nome de Revolução dos Guarda-Chuvas devido às sombrinhas coloridas com as quais manifestantes se protegiam do gás lacrimogêneo usado pela polícia. OUT/2 – O governo de Santa Catarina admite pela primeira vez a força do crime organizado no Estado: 52 ataques em 21 cidades (sobretudo ônibus queimados e caixas eletrônicos explodidos). A violência é atribuída a facções criminosas revoltadas com a transferência de presos para o Rio Grande do Norte. O ano em Santa Catarina fecha com mais de 130 ataques. OUT/22 – A procuradoria-Geral do México acusou o prefeito de Iguala, José Luis Abarca, de ter mandado matar 43 estudantes para impedi-los de protestas num evento promovido por sua mulher, acusada de corrupção. Apenas um corpo foi localizado. Prefeito e esposa, que estavam foragidos e têm envolvimento com o narcotráfico, acabaram presos em novembro. NOV/4 – O ex-ministro José Dirceu, condenado a sete anos e 11 meses no processo do mensalão, conquistou na Justiça o direito de cumprir o restante de sua pena em casa. Em dezembro foi autorizado a passar o Natal com a família em Minas Gerais. NOV/12 – Na mais importante conquista espacial desde que o homem chegou à Lua, o módulo Philae pousou com sucesso no cometa 67-P, a 500 milhões de quilômetros da Terra. Mandou imagens que comprovam a existência de água no cometa. NOV/15 – A segunda cota do volume morto do Sistema Alto Cantareira começou a ser usada para garantir o abastecimento de São Paulo na maior crise hídrica do Estado. Em dezembro a presidente Dilma Rousseff e o governador Geraldo Alckmin assinaram convênio de R$ 2,6 bilhões para obras de abastecimento. NOV/26 – O Brasil deu um passo decisivo para o saudável desenvolvimento emocional e intelectual dos filhos de pais separados: o projeto de lei que torna obrigatória a guarda compartilhada foi aprovado pela Comissão de Assuntos Sociais do Senado. Garante que as crianças convivam com o pai e com a mãe. A presidente Dilma sancionou a lei em 22 de dezembro. DEZ/7 – O presidente do Uruguai, José Mujica, acolheu terroristas libertados pelos EUA do presídio de Guantánamo (base militar americana em Cuba) – foi o primeiro país da América Latina a dar-lhes asilo. DEZ/10 – Após dois anos e sete meses de trabalho, a Comissão Nacional da Verdade concluiu o seu relatório sobre mortos e desaparecidos políticos durante a ditadura militar. Com 4.328 páginas o documento responsabiliza mais de 300 militares e civis pelo crime de tortura e ocultação de corpo. A presidente Dilma Rousseff, ex-presa política, se emocionou ao receber o relatório. DEZ/16 – A moeda russa desvalorizou em quase 30% em apenas um dia devido às pressões econômicas e políticas do bloco de países que se opõem à intervenção da Rússia na Ucrânia e à anexação da Crimeia. 5#7 MEMÓRIA As pessoas marcantes que nos deixaram em 2014 por Antonio Carlos Prado, Elaine Ortiz e Luisa Purchio JANEIRO CLAUDIO ABBADO – Nascido na Itália, tornou-se um dos mais renomados maestros do século XX: dirigiu a Opera La Scala, de Milão, consagrou-se como principal regente da orquestra Sinfônica de Londres e esteve à frente da Filarmônica de Berlim até 2002. Morreu aos 80 anos, no dia 20. FEVEREIRO EDUARDO COUTINHO – Um dos mais importantes documentaristas brasileiros, integrava a academia responsável pelo Oscar e tem entre as suas principais obras os filmes (Cabra Marcado para Morrer”, “Edifício Master” e “Jogo de Cena”. Dormia em seu quarto com a mulher quando o filho, portador de distúrbios mentais, atacou ambos com uma faca – só ele foi ferido fatalmente. Morreu aos 80 anos, no dia 2. SHIRLEY TEMPLE – Ao longo da carreira fez 43 filmes e era considerada uma das estrelas mais célebres de Hollywood. Estrelou, entre demais sucessos. “A Pequena Princesa” e “A Pequena Órfã”. Foi embaixadora dos EUA na extinta Tchecoslováquia e em Gana. Morreu aos 85 anos, no dia 10. MARÇO PAULO GOULART – O ator era considerado um dos mais talentosos do teatro e da televisão do País e fez do tom grave da voz uma das principais marcas de suas interpretações. Com a consagrada atriz Nicette Bruno, sua mulher, teve três filhos que profissionalmente seguiram os passos dos pais. Morreu aos 81 anos, no dia 13. HIDERALDO LUÍS BELLINI – Foi capitão da Seleção Brasileira de Futebol na conquista do primeiro título mundial, em 1958, na Suécia. A sua foto erguendo a Taça Jules Rimet tornou-se imortal. Morreu aos 83 anos, no dia 20. ABRIL JOSÉ WILKER – Alguns dos personagens marcantes de sua carreira são: Rodrigo da novela “Anjo Mau” (1976, Roque Santeiro, figura central da trama homônima (1985), e o ex-bicheiro Giovanni Improtta, de “Senhora do Destino” (2004). No cinema o maior sucesso aconteceu com “Dona Flor e Seus Dois Maridos”. Dirigiu programas humorísticos como “Sai de Baixo”. Morreu aos 69 anos, no dia 5. GABRIEL GARCÍA MÁRQUEZ – Escritor e jornalista colombiano, foi um dos mais importantes autores do século XX. Também conhecido como “Gabo”, ganhou o Nobel de Literatura em 1982 com o clássico “Cem Anos de Solidão”. Seus livros estão traduzidos em 36 idiomas. Morreu aos 87 anos, no dia 17. LUCIANO DO VALLE – Apresentador de televisão, locutor esportivo e empresário, é o grande responsável pela popularização do esporte amador no Brasil, sobretudo o vôlei. Morreu aos 66 anos, no dia 19. MAIO JAIR RODRIGUES – Um dos maiores sambistas brasileiros, surgiu na MPB ao participar dos grandes festivais dos anos 1960 – a canção “Disparada”, de Geraldo Vandré e Théo de Barros, foi eternizada em sua voz. Ao lado de Elis regina apresentou o programa “O Fino da Bossa”, na Rede Record. Morreu aos 75 anos, no dia 8. JUNHO MOISE SAFRA – Banqueiro e membro de uma das mais tradicionais famílias de financistas do Brasil e do mundo. Nascido no Líbano, conseguiu escapar da perseguição do nazismo aos judeus vindo para terras brasileiras. Com os irmãos fundou aqui o Banco Safra, até hoje um dos mais sólidos do País. Morreu aos 79 anos, no dia 14. JULHO JOÃO UBALDO RIBEIRO – Jornalista, escritor e roteirista baiano, tornou-se uma referência do romance moderno no País com “Viva o povo Brasileiro”. Outro grande clássico de sua autoria é “Sargento Getúlio”, adaptado para o cinema. Morreu aos 73 anos, no dia 18. ARIANO SUASSANA – O poeta, escritor e dramaturgo nascido na Paraíba consagrou-se com a peça “Auto da Compadecida”, adaptada para a TV e o cinema. Foi um dos principais defensores da cultura popular do País. Na década de 1970 fundou o Movimento Armorial que promoveu a arte nordestina. Morreu aos 87 anos, no dia 23. AGOSTO ROBIN WILLIAMS – Ator americano, fez fama na comédia “Uma Babá Quase Perfeita” na qual interpreta um pai divorciado que se disfarça de babá para ficar próximo aos filhos. Em seu currículo constam filmes como “Sociedade dos Poetas Mortos” e “Gênios Indomáveis” – esse lhe rendeu o Oscar de melhor ator coadjuvante. Sofrendo de depressão severa, suicidou-se aos 63 anos, no dia 11. ANTONIO ERMÍNIO DE MORAIS – Engenheiro e empresário, presidiu o Grupo Votorantim. Excelente administrador, fundou a Companhia Brasileira de Alumínio e sua família chegou a ser a terceira mais rica do País. Mantenedor do Hospital Beneficência Portuguesa, realizou diversas obras sociais. Costumava ensinar que “rico não é quem ganha muito dinheiro, mas sim quem gasta pouco dinheiro”. Morreu aos 86 anos, no dia 24. SETEMBRO SERGIO RODRIGUES – Considerado o “mestre das cadeiras”, criou um dos ícones do design brasileiro: a premiada poltrona Mole, em permanente exposição no MoMA, em Nova York. Morreu aos 86 anos, no dia 1. OUTUBRO HUGO CARVANA – Ator e diretor de cinema e televisão, atuou em mais de 20 novelas e 100 filmes – destaque para “Terra em Transe”, de Glauber Rocha. Foi perseguido pela ditadura militar, que o julgava subversivo. Morreu aos 77 anos, no dia 4. NOVEMBRO ADIB JATENE – Médico com mais de 20 mil operações no currículo, destacou-se por ter sido o primeiro a realizar a cirurgia de ponte de safena no Brasil. Atuou como secretário estadual da Saúde de São Paulo no governo de Paulo Maluf e duas vezes como ministro da Saúde nas gestões de Fernando Collor e de Fernando Henrique Cardoso. Morreu os 85 anos, no dia 14. MÁRCIO THOMAZ BASTOS – Foi um dos maiores advogados criminalistas do País, destacando-se sobretudo nos tribunais do júri. Teve papel de vital importância na defesa dos direitos humanos e na luta à época da ditadura pelo retorno do País ao Estado Democrático de Direito. Foi ministro da Justiça na gestão do ex-presidente Lula, função na qual devolveu à PF a sua função republicana. Morreu aos 79 anos, no dia 20. ROBERTO GÓMEZ BOLAÑOS – Ator, escritor, dramaturgo e diretor de televisão mexicano, criou e protagonizou os sucessos televisivos latino-americanos “Chaves” e “Chapolin Colorado”. Apesar do baixo orçamento para fazer as séries, elas fizeram sucesso por mais de maio século, principalmente no Brasil. Morreu aos 85 anos, no dia 28. DEZEMBRO RALPH BAER – Inventor do videogame, deixou um legado de 150 patentes. Foi o único estrangeiro (era alemão) a receber das mãos de um presidente dos EUA a Medalha Nacional de Tecnologia e Inovação. Criou o MAGNAVOX Odyssey, o primeiro console doméstico, o que lhe trouxe glória e fortuna. Morreu aos 92 anos, no dia 6. ______________________________________ 6# BRASIL 31.12.14 À ESPERA DO VENDAVAL! No aguardo da lista do Petrolão, parte do Congresso que assume em fevereiro não terminará o mandato. Como isso pode influir num ano em que os parlamentares terão uma agenda complicada de votações e a oposição promete não dar trégua ao governo Claudio Dantas Sequeira (claudiodantas@istoe.com.br) Sobre o Congresso que será empossado no dia 2 de fevereiro de 2015 há muitas dúvidas e uma certeza: parte dele não terminará o mandato. Muitos dos parlamentares que assumirão suas cadeiras não chegarão ao fim da Legislatura. Afinal, é enorme o potencial da Operação Lava Jato para impor a cassação de dezenas de deputados federais e senadores. Resta saber quem e quantos serão atingidos. No mesmo mês em que os parlamentares tomam posse, o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, promete apresentar sua denúncia ao STF. Já se sabe que quase metade da Câmara dos Deputados eleita em 2014 foi financiada com recursos das empreiteiras investigadas pela Polícia Federal e que essas empresas despejaram nos partidos políticos mais de R$ 264 milhões em doações oficiais, também usadas pelo esquema do doleiro Alberto Youssef para lavar dinheiro desviado de contratos da Petrobras. Haveria ainda uma lista de quase 60 nomes de políticos beneficiados com propina, segundo o ex-diretor de Abastecimento da estatal Paulo Roberto Costa, dos quais 28 já são conhecidos. Além dos desdobramentos da Lava Jato, o Congresso estará ainda mais fragmentado: a legislatura começa com 28 partidos constituídos Com a legitimidade de seus mandatos em xeque e a espada de Dâmocles do Supremo sobre a cabeça, o retrato institucional não poderia ser pior: um Legislativo manco que tem pela frente uma difícil e urgente agenda de reformas, que inclui ajustes fiscais imprescindíveis para recuperar a credibilidade da economia e voltar a atrair investimentos. Se o Palácio do Planalto tem sua responsabilidade em propor uma saída para a atual crise econômica, caberá ao Congresso transformar essas propostas em leis. Mas sem força e, sobretudo, debaixo de suspeição fica tudo mais difícil. Basta lembrar a dificuldade que foi no fim da última legislatura a aprovação do projeto que reduziu a meta de superávit do governo. Há novas medidas de arrocho fiscal para 2015, que pressupõe a redução de benefícios sociais, o aumento de tributos e a rejeição de reajustes do funcionalismo público. Tudo isso precisará passar pelo Congresso, que se mostrou pouco voluntarista ao aprovar, antes do recesso, novo aumento salarial dos parlamentares, contrariando pedido dos futuros ministros da Fazenda, Joaquim Levy, e do Planejamento, Nelson Barbosa. Não bastassem os desdobramentos da Lava Jato, o Congresso que saiu das urnas em 2014 está mais fragmentado, composto por 28 legendas organizadas inicialmente em 17 bancadas, e conta com uma oposição combativa, que já deu mostras no fim de 2014 de que adotará, sob a liderança do senador Aécio Neves, uma postura distinta daquela observada nos últimos 12 anos. Aécio saiu da eleição presidencial maior do que entrou e, com amplo apoio da opinião pública, não pretende dar trégua ao governo. Esse novo cenário incorpora ainda uma importante cisão dentro do PMDB, que deverá eleger o controverso deputado Eduardo Cunha para comandar a Câmara. Eleito presidente, Cunha deverá representar uma incógnita para o governo. Ora poderá atuar em sintonia com o Planalto, ora do outro lado da trincheira política. OS FAVORITOS - O controverso Eduardo Cunha (acima) é o mais cotado para presidir a Câmara, enquanto o senador Renan Calheiros (abaixo) tende a ser reconduzido à presidência do Senado. Os dois representam uma incógnita na relação com o governo Foi pensando em tentar garantir o mínimo de estabilidade no Congresso que a presidente Dilma Rousseff se rendeu novamente ao fisiologismo político, contemplando os partidos aliados com cargos na Esplanada. Nessa tática desesperada, Dilma irritou o próprio PT e alas importantes da esquerda, como movimentos sociais. Foi assim, por exemplo, com a nomeação do ex-prefeito de São Paulo Gilberto Kassab (PSD) para o Ministério das Cidades e da ruralista Kátia Abreu para o Ministério da Agricultura. Ex-DEM, Kassab já foi pupilo do tucano José Serra, mas se bandeou para o lado governista ao criar seu próprio partido. Já a presidente da Confederação Nacional da Agricultura não era sequer aceita como nome do PMDB, mas sua indicação satisfez um compromisso de Dilma com o setor agropecuário – que tem peso enorme na formação do PIB. Uma vez fechado o primeiro escalão, Dilma continuará sofrendo pressão para entregar outras joias da coroa, como os comandos de estatais e autarquias. A preocupação em atender a interesses partidários só não é maior que o temor de fazer as escolhas erradas, nomeando gente que posará a seu lado na foto do dia 1º de janeiro e meses depois estará figurando nas manchetes do noticiário policial. Para tentar se blindar desse tipo de ameaça é que a presidente chegou a propor ao Ministério Público que a ajudasse a escolher – no caso vetar – seus ministros, uma iniciativa encarada pela oposição como sinal de fraqueza e pelos procuradores como uma espécie de “cilada” que serviria apenas para dividir responsabilidades sobre futuros escândalos. Afinal, Dilma tem algumas de suas principais colaboradoras envolvidas no Petrolão. Além de Graça Foster, a ex-ministra Gleisi Hoffmann, senadora citada por Costa em sua lista de beneficiários da propina. Com mandato até 2019, ela faz parte dos congressistas que correm o risco de não concluir o mandato, ao lado dos senadores petistas Humberto Costa (PE) e Lindbergh Farias (RJ), dos peemedebistas Renan Calheiros, que deve ser reeleito presidente do Senado, e Edison Lobão, que retorna ao mandato após ser substituído no comando do Ministério de Minas e Energia pelo senador do PMDB Eduardo Braga – uma boa exceção no novo Ministério de Dilma Rousseff que confirma a regra. Também integram o rol dos suspeitos os peemedebistas Valdir Raupp (RO) e Romero Jucá (RR), além de Ciro Nogueira (PI) e Benedito de Lira (AL), do PP. O PRIMEIRO ATINGIDO - Citado na lista do delator Paulo Roberto Costa, Henrique Eduardo Alves deixou o comando da Câmara e ficou sem cargo no primeiro escalão do governo Esses são apenas alguns nomes entre os 28 citados na delação de Costa. Mas a força-tarefa da Lava Jato estima que o número final de parlamentares da ativa envolvidos seja três vezes maior. Com tanta gente pendurada, não dá para esperar que os demais colegas de plenário decidam cortar na própria carne e abrir processos de cassação que corram tão rápido quanto o que baniu André Vargas (PT-PR), que antes do escândalo do Petrolão era uma das figuras mais prestigiadas pelo governo na Câmara. Na época do julgamento do mensalão, Vargas assumiu a linha de frente na defesa dos petistas condenados. Mas, em vez de solidariedade de seus pares, colheu desprezo e foi isolado para evitar danos colaterais à campanha de reeleição de Dilma. Sem a pressão do período eleitoral, espera-se que o corporativismo agora fale mais alto. Para piorar, caso sejam abertos, os processos de cassação deverão se arrastar por meses, fazendo o Legislativo sangrar em praça pública durante todo o ano de 2015, contaminando quaisquer novas CPIs e minando ainda mais sua imagem já tão desgastada. ____________________________________________ 7# A SEMANA 31.12.14 por Antonio Carlos Prado e Elaine Ortiz "CAMPEÃO CIDADÃO" Na condição de novo ídolo nacional, Gabriel Medina, 21 anos, mal desembarcou no Brasil após a conquista do título mundial de surfe (ele é o primeiro brasileiro a ganhá-lo) e já colocou sua popularidade a serviço da cidadania. Na véspera do Natal ele se valeu das redes sociais para pedir ajuda às vítimas da catástrofe provocada pelas chuvas em São Sebastião, no litoral norte paulista, onde mora com a família na praia de Maresias. “Aqui em São Sebastião está difícil! Muitas famílias desabrigadas e que perderam tudo. PRECISAMOS DA AJUDA DE VCS! Estamos precisando de tudo: eletrodomésticos usados, cobertores, alimentos, higiene pessoal e limpeza...”, escreveu Medina. Em sua homenagem estavam programados em Maresias desfile em carro aberto e inauguração de estátua. Tudo foi cancelado, e ele seguiu na tarefa de buscar doações, também em dinheiro. Consciente e seu merecido prestígio, prometeu uma prancha autografada para aqueles que fizessem os três maiores depósitos. "A NOVA CARA DO GOVERNO" Na terça-feira 23, Dilma Rousseff apresentou ao País 13 nomes que farão parte de seu segundo governo. Para chegar a essa escalação, a presidente manteve longas conversas com líderes dos partidos da base aliada e também com Lula. Parece, no entanto, não ter levado em consideração o recado que veio das urnas. Apesar de reconduzida ao Planalto, foi reeleita sob promessa da mudança. E a escolha dessa equipe mostra que nada está a caminho da mudança. O critério para a escolha do ministério continua a ser o toma lá da cá, a sociedade é mantida afastada das decisões e a tendência de o governo permanecer frequentando as páginas policiais é enorme. Escolhido para o Ministério do Esporte, o deputado George Hilton (PRB-MG) ganhou notoriedade em 2005 ao ser flagrado com malas de dinheiro no aeroporto da Pampulha, em Belo Horizonte. Hilton disse na ocasião que se tratava de doações feitas por fiéis evangélicos. Acabou expulso do então PFL. "AS BÊNÇÃOS E AS CATÁSTROFES DAS CHUVAS" As bençãos: depois de oito meses registrando quedas, o nível de água das represas do Sistema Alto Cantareira finalmente começou a subir – assim como o das demais represas que abastecem a população. Em apenas três dias foram 80,1 milímetros de água precipitadas na região do manancial do Cantareira – o equivalente a 80 litros por metro cúbico. Na sexta-feira 26 o seu nível era de 7,4%. As catástrofes: casas inundadas, famílias desabrigadas, árvores que desabam, pessoas mortas, omissão do poder público que nos tempos de seca nada faz de prevenção para a estação de temporais. Tomando-se como triste exemplo o litoral norte paulista, a cidade de São Sebastião tornou-se uma ilha de desgraça a ponto de donos de pousadas pedirem para que turistas não se dirijam à região. Já a rodovia Rio-Santos cedeu, ficando interditada por dois quilômetros. "PROTESTO TOLO" Mais uma vez o grupo feminista internacional Femen consegue ser notícia – e também mais uma vez por meio de atitudes inadequadas e escandalosas. No dia de Natal, uma ativista ficou nua da cintura para cima na Praça de São Pedro, no Vaticano. Em seu corpo lia-se: “Deus é mulher”. Em seguida ela correu para o presépio e furtou dele a imagem do menino Jesus. Foi contida pela polícia. "O FILME "A ENTREVISTA" É RUIM. MAS A "CENSURA" DEU-LHE CARTAZ" Após hackers terroristas terem ameaçado atacar nos EUA as salas de cinema que exibissem a polêmica comédia “A Entrevista”, o estúdio Sony Pictures decidiu lançar o filme de forma restrita (o enredo trata de um plano fictício da CIA para assassinar o ditador norte-coreano, Kim Jong-um). No dia de Natal somente 300 cinemas o exibiram, e esse número exíguo de salas, somado ao fato de ter sido temporariamente “censurado”, despertou as atenções pelo longa-metragem apesar de a crítica tê-lo desancado. Apenas no dia de estreia, “A Entrevista” arrecadou US$ 1 milhão em bilheteria. O lucro gerado até a sexta-feira 26, no entanto, não era ainda suficiente para compensar o rombo financeiro provocado na Sony pelas promessas de eventuais ataques. Mais: o prejuízo pode aumentar se os seus funcionários ganharem o processo que estão movendo contra a empresa pelo vazamento de informações. O valor das perdas deve ultrapassar US$ 200 milhões. "VOZ DE SOPRANO NA CADEIA" A cantora lírica catalã Montserrat Caballé é célebre em todo o mundo. Aos 81 anos e vítima de acidente vascular cerebral em 2012, ela continua brilhando em suas apresentações. Só que agora tornou-se notícia também nas páginas policiais dos jornais espanhóis: foi condenada por fraude fiscal a seis meses de prisão e pagamento de multa no valor de 240 mil euros (cerca de R$ 781 mil). Montserrat mora em Barcelona desde 2010 e deixou de pagar 500 mil euros (R$1,6 milhão) ao fisco, simulando que seu domicílio seria no principado de Andorra – não precisando assim prestar contas ao governo da Espanha. "US$ 772 MILHÕES" US$ 772 milhões é o valor da multa que o Departamento de Justiça dos EUA poderá impor à empresa francesa Alstom se ficar comprovado que ela recebeu propina para garantir contratos bilionários no setor de energia aos governos da Indonésia, Arábia Saudita, Egito, Índia e China. É a maior multa já aplicada nos EUA numa ação criminal a uma empresa envolvida em corrupção fora do território americano. "CAI LIMITE DE ISENÇÃO PARA PRODUTOS TRAZIDOS DO EXTERIOR" Quem retornar do exterior para o Brasil trazendo mercadorias, e aqui entrar por terra, rios ou lagos, só estará livre de pagar impostos sobre importação se a soma dos valores dos produtos não ultrapassar US$ 150. Antes o limite máximo para isenção era de US$ 300. Essa nova norma da Receita Federal vigorará já no primeiro semestre de 2015 e também fixa em 50% do imposto a tributação sobre os valores que excederem a cota. Alguns bens, como celulares por exemplo, não entram no cálculo dos US$ 150 “se a quantidade de aparelhos” for compatível com o uso pessoal. "PERIGOSO AMOR" A socialite Marcelaine Santos Schummann e a universitária Denise Silva têm em comum a beleza e o charme, a boa posição social que desfrutam em Manaus, a condição civil de casadas e praticamente a mesma idade – 36 e 35 anos, respectivamente. Isso é fato. O que a polícia quer saber agora é se elas tinham em comum, também, o mesmo amante: o empresário Marcos Souto, igualmente casado. É aí que pode estar o motivo pelo qual Marcelaine teria contratado um matador de aluguel para assassinar Denise – ela quase foi morta ao sair da academia, o atirador a feriu gravemente. Quando isso ocorreu, Marcelaine embarcou para os EUA. Na sexta-feira, 26, era considerada foragida pela Justiça. Todos os envolvidos negam esses fatos. "ASSINATURA DE FILMES EM VEZ DE INGRESSO" Para combater a queda na venda de ingressos, a segunda maior rede de cinema dos EUA irá testar em janeiro, em suas salas de Boston e Denver, um serviço inédito no setor – o de assinatura. A ideia é oferecer pacotes que custarão entre US$ 35 e US$ 45 por mês, permitindo ao seu portador assistir a um filme diariamente na rede AMC. A estratégia pode ser interessante já que a média do preço do ingresso individual no país é de US$ 9,48. "STF REJEITA NOTA SOBRE RACISMO EM LIVRO DE MONTEIRO LOBATO" O ministro do STF Luiz Fux não acolheu o mandado de segurança que pede a inclusão de uma nota explicativa sobre racismo no livro “Caçadas de Pedrinho”, um dos clássicos de Monteiro Lobato. A obra é distribuída pelo governo federal no Programa Nacional Biblioteca na Escola, mas em 2010 o Conselho Nacional de Educação recomendou que a distribuição fosse suspensa por considerar que o livro é racista ao comparar, por exemplo, Tia Nastácia a uma “macaca de carvão”. Também a Procuradoria-Geral da República se manifestou contrária ao mandado de segurança. "DILMA SANCIONA A LEI DA GUARDA COMPARTILHADA" A presidente Dilma Rousseff sancionou na segunda-feira 22 a lei que determina como regra a guarda compartilhada dos filhos de pais separados. Com isso, o modelo de divisão igualitária entre pai e mãe em relação às responsabilidades com a prole irá prevalecer, mesmo nos divórcios não consensuais. Dessa forma, o Brasil adota o que há de mais moderno e eficiente no mundo em termos de educação e desenvolvimento infanto-juvenil. A iniciativa de modificar a legislação foi do deputado Arnaldo Faria de Sá (PTB-SP). A notícia do aval de Dilma, que não vetou nenhum artigo do texto aprovado na Câmara e no Senado, foi comemorada por pais e entidades que lutavam para que a guarda compartilhada se tornasse lei no Brasil. "EM MEIO À CRISE, PROVEDOR DA SANTA CASA PEDE PARA SAIR" O provedor da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo, Kalil Rocha Abdalla, pediu licença de seu cargo por três meses (começa a contar em janeiro). Alega que, com sua ausência, a sindicância que investigará sua gestão poderá ser feita com liberdade e transparência. Ele evitou também, dessa forma, o risco de ser tirado da função, o que lhe seria mais desgastante. A Santa Casa atravessa a maior crise financeira de sua história com um rombo no caixa que supera os R$ 400 milhões. Está na iminência de fechar as portas devido às ameaças de suspensão de contratos por parte de fornecedores. "SUMIU A REPRODUÇÃO EM BRONZE DA CARTA DE GETÚLIO" Quem passou na manhã da segunda-feira 22 pela Praça da Alfândega, em Porto Alegre, na expectativa de ver a cópia em bronze da cartatestamento do ex-presidente Getúlio Vargas, encontrou somente a rocha na qual ela sempre esteve presa. Isso porque a placa que reproduz esse documento histórico, com dimensões equivalentes às de uma tevê de 42 polegadas, provavelmente foi furtada. Ela contém as últimas palavras escritas por Getúlio antes de ele se suicidar em 1954. A frase final tem a essencial dose de tragédia indispensável à estratégia populista que o norteava: “Saio da vida para entrar na história”. Até a sextafeira 26 a carta não havia sido localizada. "500 PRESOS" 500 presos que estão condenados à morte no Paquistão e se beneficiavam da suspensão das execuções nos últimos anos serão executados nos próximos dias sem direito a mais nenhum recurso de defesa. O próprio governo paquistanês admitiu, na terça-feira 23, que o fim da moratória da pena capital é um ato de vingança contra o ataque de talibãs a um colégio que resultou em 133 crianças e adolescentes mortos. "A ALMA NA VOZ DE JOE COCKER" Morreu na segunda-feira 22, aos 70 anos, uma das principais referências em todo o mundo na interpretação da música moderna: o cantor britânico Joe Cocker. Há os que criam estilo forçando um modo trágico de interpretar (tudo bem, têm seu mérito); mas há cantores cuja interpretação beira o delírio e o lancinante. Nessa linhagem sempre esteve a voz rouca de Joe Cocker, que saltou em fama para o mundo quando em 1969 cantou no eletrizante Festival de Woodstock a versão de “With a Little Help From my Friends” (assinam essa obra-prima os The Beatles). Joe Cocke morreu em sua casa no Colorado, e as informações sobre a causa da morte se desencontram: câncer de pulmão, segundo alguns, câncer de garganta, informam outros. Em uma perversa ironia do destino, a sua voz rouca e “quente” que lhe deu glória e alma na interpretação foi também motivo constante de preocupação no frio e racional universo da ciência – a rouquidão apontava muito precocemente para eventual doença. "A FICHINHA DA INFANTA" Finalmente será julgada no começo de 2015 a irmã do rei Felipe VI da Espanha. Trata-se da infanta Cristina, acusada num processo de delitos fiscais com a cumplicidade de seu marido, o ex-medalhista olímpico de handebol Iñaki Urdangarín. É a primeira vez que um membro da família real espanhola é julgado. Ambos são acusados de desviarem R$ 19,85 milhões. "AGORA, SÓ NA VOLTA AO TRABALHO" O Congresso Nacional entrou em recesso na terça-feira 23. Muitos e importantes projetos de lei que no planejamento original deveriam ser votados até dezembro ficaram na fila e passaram para 2015. Eis alguns deles: - Corrupção como crime hediondo (aprovado pelo Senado, aguarda votação no plenário da Câmara); - Passe livre no transporte público para estudantes; - Permissão para publicação de biografias não autorizadas; - Reforma do Código Penal. "CRISTIANO RONALDO EM TAMANHO GIGANTE" Foram utilizados 800 quilos de bronze na construção da estátua do craque Cristiano Ronaldo em sua terra natal, a Ilha da Madeira. Ela tem 2,40 m de altura e reproduz perfeitamente o modo como o jogador do Real Madrid se prepara e se concentra no campo na cobrança de faltas.