0# CAPA 25.2.15 ISTOÉ edição 2360 | 25.Fev.2015 [descrição da imagem: foto da presidente Dilma, aparecendo dos ombros para cima. Está de frente, forçando um sorrido, mas com boca apertada, sem mostrar os dentes. Veste uma roupa vermelha. Ao redor de sua cabeça, dentro de 4 círculos, estão escritos: TRAIÇÃO AOS BOLSISTAS DO FIES; CORTES NO ORÇAMENTO DA EDUCAÇÃO; ATRASO NOS RECURSOS DO PRONATEC; NOTAS BAIXAS NAS AVALIAÇÕES DO ENSINO BÁSICO] CADÊ A ‘PÁTRIA EDUCADORA’? [outros títulos na parte superior da capa] BEATOS DAS MULTIDÕES Quem são os videntes católicos que afirmam conversar com Maria e reúnem milhares de pessoas pelo país. MARCAS DA NEGLIGÊNCIA Pesquisas revelam os prejuízos ao desenvolvimento causados pela falta de cuidados na infância. _______________________ 1# EDITORIAL 2# ENTREVISTA 3# COLUNISTAS 4# BRASIL 5# COMPORTAMENTO 6# MEDICINA E BEM-ESTAR 7# ECONOMIA E NEGÓCIOS 8# MUNDO 9# CULTURA 10# A SEMANA _____________________________ 1# EDITORIAL 25.2.15 "O PMDB REINA NO BRASIL" Carlos José Marques, diretor editorial Pelos projetos em andamento, pelo monopólio da pauta política, pelas deliberações de cargos nas principais comissões e nos órgãos públicos, quem vem mandando muito no Brasil é o PMDB. E o deputado Eduardo Cunha está, indiscutivelmente, no controle, com demonstrações diárias de sua força. De uma só sentada nos últimos dias ele aprovou o orçamento impositivo, colocou a reforma política nas mãos da oposição (com o DEM no comando) e convocou, de quebra, os 39 ministros para dar explicações. Inclusive com ameaça: quem não for poderá ser intimado a comparecer mesmo a contragosto. Incorporando poderes tal qual um primeiro-ministro de regime parlamentarista, tenta relegar a presidente Dilma à condição de soberana que não governa. Faz isso sutilmente e de maneira calculada, impondo seu estilo. Suprema provocação! Ou seria retaliação? Até as pedras sabem que Cunha não engoliu as manobras de Dilma para evitar que ele assumisse a direção da Casa. E seu contra-ataque está sendo sistemático, dentro de uma linha inapelavelmente hostil ao Planalto. Articulou para que um simpatizante do senador tucano Aécio Neves assumisse a liderança do seu partido e negocia agora com ele temas duros contra a presidente e o PT. O novo líder peemedebista, o deputado carioca Leonardo Picciani, nos passos e modelo de Cunha, anunciou que terá como prioridades a CPI da Petrobras e a reforma política. Picciani, que fez campanha para Aécio Neves à Presidência do Brasil, desponta como promissora liderança no arco de soldados de Cunha. No Rio foi um dos idealizadores do movimento “Aezão” e, ao lado de outros peemedebistas insatisfeitos com o governo, deve trabalhar com Cunha por uma maior independência do partido em relação ao Planalto. De uma maneira ou de outra, em várias esferas, seu partido parece hegemônico, levando todas e fazendo “barba, cabelo e bigode” no que se refere a postos-chave. Além de conquistar a presidência da Câmara dos Deputados e do Senado – e também a vice-presidência da República –, o PMDB conta hoje com o maior número de prefeitos e uma bancada de parlamentares quase equivalente à do próprio PT. Poucas vezes exibiu tanta robustez e influência sobre os desígnios nacionais. E poucas vezes se viu uma agremiação usar tamanho poderio para estabelecer uma clara distância entre Legislativo e Executivo. Nesse ambiente, o presidencialismo de coalizão sonhado por Dilma pode estar com os seus dias contados. ____________________________________ 2# ENTREVISTA 25.2.15 CARLOS VITAL TAVARES CORRÊA LIMA - "20% DAS ESCOLAS DE MEDICINA DO PAÍS DEVERIAM SER FECHADAS" O presidente do Conselho Federal de Medicina critica a qualidade dos cursos brasileiros e afirma que estudantes sem avaliação adequada colocam em risco a vida dos pacientes Fabíola Perez OPINIÃO - O CFM é contra o "Mais Médicos" por considerar que não é possível atestar a qualidade do profissional estrangeiro O último exame para a obtenção do registro médico do Conselho Regional de Medicina de São Paulo (Cremesp) reprovou 55% dos candidatos. Os estudantes erraram diagnósticos considerados simples, como pneumonia. O presidente do Conselho Federal de Medicina, Carlos Vital Tavares Corrêa Lima, atribui esse resultado ruim à má qualidade dos cursos, agravada pela abertura acelerada de novas escolas médicas no País nos últimos anos. "Escolas médicas estão sendo autorizadas a abrir de forma desordenada. O Brasil tem mais cursos do que a China e os EUA" “São instituições sem a qualificação necessária para o ensino médico”, diz ele. “Um estudante que não é avaliado minimamente coloca em risco a vida dos pacientes.” O Brasil possui hoje 247 instituições públicas e privadas, que oferecem anualmente 22 mil vagas, número superior ao de países como China e Estados Unidos. Para Lima, os estudantes deveriam ser avaliados ao longo do curso, de dois em dois anos. Nesse sentido, o CFM criou, em parceria com a Associação Brasileira de Educação Médica (Abem), uma espécie de selo de qualidade para as escolas bem avaliadas pelas entidades. "No Brasil, no setor privado, o trabalho de parto não é coberto pelas operadoras e não é pago com o mínimo de dignidade" Istoé - A que atribui o fato de 55% dos estudantes não terem acertado o mínimo exigido pelo exame do Cremesp? Carlos Vital Tavares Corrêa Lima - Esses exames refletem a abertura de escolas sem qualificação. A consequência disso é um profissional que sai sem os requisitos básicos para uma profissão que lida com valores absolutos de saúde. Isso precisa ser entendido dentro de uma perspectiva de qualificação do ensino. O exame não é obrigatório para a inscrição do médico no Conselho Regional, mas o resultado deixa claro que há deficiências no ensino de muitas escolas. O índice de reprovação exacerbado está relacionado à qualidade do ensino ofertado. Istoé - Alguns estudantes erraram questões básicas, como diagnóstico de pneumonia em bebês. Um paciente atendido por um médico com essa formação corre riscos? Carlos Vital Tavares Corrêa Lima - Patologias como essas precisam ter diagnósticos. Há casos complexos nos quais é possível aceitar uma dificuldade diagnóstica. Mas isso não é a regra geral. A regra é que um quadro pode e deve ser diagnosticado por um médico com relativa facilidade. Um estudante que não é avaliado minimamente e pratica a medicina está colocando em risco a vida dos pacientes. Istoé - Como diminuir os índices de reprovação no exame, que desde 2007 estão acima dos 40%? Carlos Vital Tavares Corrêa Lima - É necessário investimento na qualidade do ensino e controle das escolas médicas. A lei do “Mais Médicos” prevê avaliação dos estudantes do segundo, do quarto e do sexto anos. Além do progresso do aluno, analisa-se a qualidade da instituição. Se os estudantes não têm resultados positivos, a escola deveria sofrer sanções e as vagas deveriam ser reduzidas. Mas para melhorar a formação precisamos ter professores com capacidade pedagógica, com cursos de mestrado e doutorado, e infraestrutura. As escolas precisam ter campo de prática suficiente com hospitais próprios ou conveniados. Mas as escolas médicas estão sendo autorizadas a abrir de forma desordenada, sem a segurança necessária para o seu funcionamento. Hoje, o Brasil tem mais cursos do que a China e os EUA. São oferecidas 21.816 vagas por ano para novos estudantes no Brasil. Nos EUA, são 17.364 vagas. Istoé - Por que as instituições particulares, que cobram mensalidades elevadas, apresentam índice ainda maior de reprovação, de 65%? Carlos Vital Tavares Corrêa Lima - Ao contrário das escolas públicas, mais antigas e com um corpo docente articulado, as privadas são mais recentes. De 2010 a 2014, 36 cursos privados foram autorizados a abrir. Há um objetivo de lucro em detrimento do ensino. Estamos lutando contra a abertura das escolas por não terem condições básicas de ensino. É preciso corrigir as distorções que existem antes de lançar novos cursos. Istoé - Mas a demanda é grande, tanto que mais de quatro mil brasileiros foram para outros países estudar medicina. Carlos Vital Tavares Corrêa Lima - Por um lado, o preço das mensalidades não é acessível a grande parte dos jovens. Existem cursos de péssima qualidade, com mensalidade de R$ 6 mil. Por outro, quem não consegue entrar em instituições públicas vai para cursos fora do País, que são verdadeiras arapucas. Nas escolas de fronteiras, os estudantes brasileiros também têm um ensino de péssima qualidade, muito pior do que as particulares daqui. São instituições destinadas a fazer comércio. Temos visto um aumento de escolas médicas para satisfazer o mercado, porque são cursos lucrativos. Istoé - E nas escolas públicas, o que precisa ser feito para melhorar a qualidade do ensino? Carlos Vital Tavares Corrêa Lima - Elas precisam de mais investimentos. Os hospitais universitários precisam ser mais bem equipados. Agora foi criada uma empresa pública para cuidar desses hospitais, que estavam abandonados. Não se pode simplesmente transformá-los em hospitais de assistência. É preciso valorizar os corpos docentes, que são muito mal pagos. Não pode haver a preocupação com a assistência em detrimento do ensino que o hospital oferta. Istoé - O número de escolas de medicina com avaliação insuficiente pelo MEC também cresceu. Quais são as deficiências dessas instituições? Carlos Vital Tavares Corrêa Lima - As escolas são autorizadas a funcionar com pendências que não são resolvidas. Os cursos são criados mesmo sem hospital conveniado, insumos e materiais de laboratório. O MEC tem que visitar essas escolas, mas muitas vezes os primeiros cursos terminam, o aluno recebe o diploma e a avaliação não é feita. Há uma liberalidade indevida. Espera-se que as escolas cumpram as solicitações exigidas, mas muitas deixam de cumprir e não há novas exigências. E não ouvimos falar em escolas fechadas por deficiência de ensino. Cerca de 20% das escolas de medicina no País deveriam ser fechadas. As correções são sempre postergadas. Istoé - Especialidades como oncologia e cardiologia têm alta procura, ao contrário de carreiras como pediatria e medicina da família. Como despertar o interesse por elas? Carlos Vital Tavares Corrêa Lima - Isso passa por uma valorização dessas áreas. É preciso oferecer ao médico condições de trabalho e carreiras de Estado, como existe no meio jurídico. Essa tendência existe pela desvalorização das áreas básicas, que são esquecidas pelo governo. Há muitos profissionais que gostam de trabalhar na clínica médica, mas as áreas de maior complexidade remuneram melhor e oferecem melhores perspectivas socioeconômicas. O caminho seria a abertura de concursos públicos e valorização profissional. Enxergar as condições de trabalho é fundamental para entender a falta de interesse dos médicos pela carreira pública no Brasil. Istoé - No início, o CFM era contrário ao programa “Mais Médicos”, como o avalia agora? Carlos Vital Tavares Corrêa Lima - O programa trouxe médicos estrangeiros sem a revalidação dos diplomas e ao mesmo tempo não se fez nenhum investimento mais eficaz na saúde. Foi deixado de fora um plano de carreira para os médicos e não se investiu em condições adequadas de trabalho para os profissionais nacionais. Temos uma preocupação com a qualidade desses médicos que vêm de cursos com uma carga extremamente reduzida, muito aquém do necessário. Um paciente que não tem nenhum médico naturalmente se sente mais acolhido com alguém dando atenção. Mas os indicadores de saúde é que vão dizer se isso trouxe algum resultado. Istoé - Mas uma pesquisa da Universidade Federal de Minas Gerais mostrou que 95% da população está satisfeita com o “Mais Médicos”. O sr. não acha que ele ajudou a melhorar o acesso à saúde? Carlos Vital Tavares Corrêa Lima - A população certamente não aprovaria menos médicos. Há uma satisfação por ter alguém por perto para dar atenção. Ao mesmo tempo nos preocupamos porque o programa perpetua problemas que poderiam ser resolvidos de forma planejada, com investimento de médio e longo prazos. Não se corrigem distorções na saúde com medidas heroicas. Istoé - Recentemente o governo criou medidas para estimular o parto normal. Qual é a posição do CFM sobre isso? Carlos Vital Tavares Corrêa Lima - A taxa de cesáreas recomendada pela OMS é de 15% . Mas pouquíssimas nações atingem essa porcentagem. Em países como a França, há número suficiente de médicos, obstetras e enfermeiras para atender à demanda que chega aos hospitais. No Brasil, no setor privado, o trabalho de parto não é coberto pelas operadoras e não é pago com o mínimo de dignidade. O CFM possui uma resolução que obriga toda maternidade a ter uma equipe de médicos de plantão para o atendimento do parto. Se a gestante quer fazer o parto com o profissional que fez o pré-natal, ela deve estabelecer isso contratualmente com ele. Hoje, o maior ressarcimento das operadoras de saúde ao SUS é com o parto porque não há credenciamento de leitos nas maternidades particulares. Os hospitais particulares não se interessam em aumentar as vagas nas maternidades – há um déficit de mais três mil leitos. Istoé - O Brasil vai conseguir reduzir o número de cesarianas? Carlos Vital Tavares Corrêa Lima - Ter uma equipe médica em número suficiente é fundamental. Há uma demanda imensa de gestantes para pouquíssimos profissionais de plantão. Um médico atende hoje entre 10 e 15 gestantes ao mesmo tempo. Por isso, a evolução dos trabalhos de parto não é acompanhada da forma adequada. Istoé - Mas as propostas esbarram na disponibilidade dos médicos para realizar partos longos. Os médicos também têm culpa pelo número de cesáreas? Carlos Vital Tavares Corrêa Lima - A causa é multifatorial. Pode existir um profissional que queria fazer o parto de forma intempestiva, que queria evitar um tempo maior. Outro ponto fundamental é que existe preconceito das gestantes com o parto normal pela questão da dor, do trauma. Elas preferem fazer a cesárea. Istoé - Maternidades estão sendo fechadas por não gerarem lucro. Como fica a função social dos hospitais? Carlos Vital Tavares Corrêa Lima - É a mesma situação das escolas privadas. Muitas são boas, mas muitas não têm condições de ensino e estão gerando lucro. O hospital é uma entidade de função pública, mas precisa dar remuneração. O que não pode ocorrer é a geração de lucro em detrimento das funções públicas. Não posso crucificar os empresários dos hospitais dizendo que são irresponsáveis, porque eles atuam dentro de uma lógica de mercado. Às vezes os hospitais têm prejuízos insustentáveis. Trata-se de um contexto de gestão que o hospital tem que equacionar. A Agência Nacional de Saúde precisa disciplinar esse processo. Istoé - O número de leitos do SUS vem caindo. O governo deveria repensar o modelo de financiamento? Carlos Vital Tavares Corrêa Lima - De 2010 a 2014, o SUS perdeu 13 mil leitos. Os sistemas que se propõem a serem únicos no mundo têm pelo menos 70% do gasto sanitário total bancado pelo Estado. No Brasil, esse valor é de 45,7%. Na França, esse percentual é de 76,8%. Há que se ter mais investimento no SUS. Mas, antes disso, queremos que o recurso disponível seja bem gasto. Nos últimos dez anos, tivemos R$ 112 bilhões disponíveis e não utilizados. Esse valor é maior do que o orçamento de um ano do SUS. É necessário competência administrativa e acabar com a corrupção. Também precisamos ter 10% da receita bruta da União para a saúde, mas hoje isso me parece impossível. ______________________________________ 3# COLUNISTAS 25.2.15 3#1 RICARDO BOECHAT 3#2 LEONARDO ATTUCH - DE CURITIBA PARA BRASÍLIA 3#3 RICARDO AMORIM - OPORTUNIDADES EM MEIO À ESTAGNAÇÃO 3#4 PAULO LIMA - QUE BONITO É 3#5 GISELE VITÓRIA 3#6 BRASIL CONFIDENCIAL 3#1 RICARDO BOECHAT Com Ronaldo Herdy Agendas clandestinas Mais do que a representação do PPS na Comissão de Ética da Presidência (CEP), que pede para investigar a reunião de José Eduardo Cardozo com a defesa da Odebrecht na Operação Lava Jato, na quarta-feira 25 os membros da CEP vão debater outro assunto. Virou letra morta a norma que obriga registro claro das audiências? O serviço público parece estar sendo exercido ao bel-prazer de Suas Excias. Na quinta-feira 19, 46 dos 49 ocupantes de cargos de confiança no Ministério da Fazenda colocaram em suas agendas que o dia era de “despachos internos”. Carnaval Empolgado na folia Em Salvador, na semana passada, o prefeito ACM Neto foi a mais festas de Carnaval do que seu avô Antônio Carlos Magalhães, nos melhores anos de vida. Pode ter sido recordista nacional. Na Bahia, ultrapassou com folga o governador Rui Costa. Talvez por isso, após subir no trio da cantora Alinne Rocha, onde “foi até o chão” ao som de “Porque Homem não Chora”, Neto confidenciou empolgado a um amigo: “Queria que a eleição fosse amanhã”. Economia Avante, Brasil! Em palestra para investidores em NY na quarta-feira 18, Joaquim Levy encerrou com slide mostrando uma competição da classe 49er. O ministro veleja e previu um 2015 de desafios e 2016 “um ano de crescimento, um outro ciclo”. Para ajudar os brasileiros na travessia, a coluna pediu a Marco Aurélio Ribeiro, presidente da Confederação Brasileira de Vela, que analisasse com lupa a imagem. “O barco brasileiro está atrás dos demais e sem preferência. Contudo, segue em direção à Praia do Flamengo, onde, nessas condições, costuma ter mais vento. Além disso, na próxima cruzada, o barco brasileiro vai vir com direito de passagem e esperamos que ele supere os demais.” Hora de torcer, minha gente! STJ Dívida alta na pauta Um assunto importante será decidido em breve no STJ. Ele está presente ainda na primeira e segunda instância de muitos tribunais brasileiros. Ou seja, a possibilidade ou não de limitar a 30% da remuneração os descontos em conta corrente referentes a pagamentos de parcelas de empréstimos bancários em virtude de superendividamento do correntista. Também em jogo a culpa das instituições financeiras, que, mediante a oferta de crédito fácil, sem uma análise rigorosa do perfil econômico-financeiro do consumidor, aceitam o risco de o cliente não suportar o pagamento de tudo que assumiu. A decisão do STJ firmará jurisprudência no tema. Brasil Bis indesejado O MEC precisa dar transparência ao Pronatec, programa que oferece cursos gratuitos de capacitação profissional. O ministério paga às escolas privadas, públicas e instituições do Sistema S (Senac, Senai, Senar e Senat) por matricula e não por aluno treinado. Em caso de alta evasão, como se suspeita, centenas de milhões de reais podem ter ido para o ralo, num escândalo parecido com o que ocorreu nos Ministério do Trabalho, Turismo e Esporte, quando quase meio bilhão foi transferido para ONGs, muitas ainda enroladas na prestação de contas à CGU. Outro problema do Pronatec é não atender alunos efetivamente carentes, de baixa qualificação - os que mais precisam de apoio. Infraestrutura Novo reforço Em época de crise na venda de aço e minério, Benjamin Steinbruch vai na contramão do mercado e reforça o time. Além de Ciro Gomes para cuidar da Transnordestina, está assumindo a diretoria de portos da CSN o ex-ministro da Integração Nacional Pedro Brito. Sua missão é melhorar os terminais portuários da empresa, onde são embarcados anualmente milhões de toneladas de carga, em especial minério de ferro. Eike Voando baixo A Polícia Federal bem que poderia tentar descobrir a quem pertence o jatinho prefixo PR-OGX, registrado na Anac em nome da americana Green Lane Capital Corporation e arrendado à brasileira AVX Táxi Aéreo. Segundo fonte do setor aéreo, o contrato é de fachada e o sofisticado Gulfstream pertence mesmo a Eike Batista, que estaria tentando vendê-lo nos EUA. No interesse dos lesados pelo ex-bilionário, diga-se que a sofisticada aeronave vale muito, muito, muito mais que todas as bugigangas “nouveau riche” apreendidas até agora em suas casas. Aviação O preço da liberdade Nos EUA, um anúncio para a TV da companhia Northtrop and Grumman mostra pela primeira vez a (até então secreta) linha de montagem destinada à fabricação do superavião bombardeiro de nova geração LRS-B com tecnologia stealth (imunes aos sinais de radar). A propaganda é exibida em Washington, pelas principais cadeias de TV. O fabricante (Northtrop and Grumman) quer conquistar a posição de principal fornecedor de aviões de guerra para o governo dos EUA, atualmente ocupada pela Boeing e Lockheed Martin. Na capital americana onde vivem deputados, senadores, militares e lobistas, o comercial apela para os americanos aceitarem o “preço da liberdade”. Cada aeronave custa cerca de US$ 1 bilhão. Política Últimos dias Paulo Maluf perderá de vez, na terça-feira 24, o comando do diretório regional do PP em São Paulo. A Executiva Nacional do partido se reunirá em Brasília para sacramentar a medida. Em dezembro, ele foi afastado do cargo por decisão “ad referendum” do presidente da legenda, Cyro Nogueira. Reagiu indo à Justiça e recuperando o cargo. Agora, o cartão vermelho sairá em decisão colegiada. O deputado federal Guilherme Mussi está de olho no lugar do ex-governador, que arranjou desafetos na legenda ao partilhar tempos do PP na propaganda eleitoral obrigatória em TV e rádio, nas últimas eleições. Social Favela olímpica No que depender de Celso Athayde, a Central Única de Favelas estará de corpo e alma ajudando na realização da Olimpíada, no ano que vem. Agora que o Carnaval passou, ele vai procurar autoridades e apresentar projetos nos quais a comunidade desce dos morros e apoia o evento, criados a partir da associação da Cufa com o grupo publicitário PPG, resultando na criação do iNFavela. O investimento inicial foi de R$ 2 milhões, em escritórios no Rio de Janeiro e em São Paulo. Economia Com lupa O governo português ampliou as investigações na semana passada para descobrir até que ponto o Banco Espírito Santo teria sido utilizado por grupos brasileiros em esquemas de lavagem de dinheiro. Uma força-tarefa daquele país poderá desembarcar aqui nas próximas semanas, pedindo ajuda de autoridades do Ministério Público Federal e do governo nas investigações. STF Será? Um ministro do STF entende que o recente imbróglio envolvendo Joquim Barbosa e José Eduardo Cardozo fez desaparecerem as chances de ele vir a compor o Supremo no futuro. Fumo Menos fumacê Foi difícil 2014 para a indústria do tabaco no Brasil. As exportações de cigarros caíram 54% em relação ao ano anterior e no mercado interno houve 5% de queda no consumo – comercialização de três bilhões e 620 milhões de produtos em maço e boxe. Na ponta do lápis essa baixa significa mais ou menos 174 milhões de pacotes vendidos. Esportes Em prova A União Internacional de Pentatlo Moderno (UIPM) fará no início do ano que vem o evento-teste da modalidade para Rio 2016. A capital fluminense receberá, de 9 a 14 de março, a segunda etapa da Copa do Mundo da temporada, que vai contar pontos para o ranking que definirá as últimas vagas do esporte para a Olimpíada. As provas acontecerão no Estádio de Deodoro (natação, hipismo e combinado) e na Arena Futuro (esgrima). Será a quinta vez que a cidade sediará uma disputa da Copa do Mundo de Pentatlo Moderno. O Brasil tem uma histórica medalha olímpica na modalidade, graças ao bronze da pernambucana Yane Marques, em Londres 2012. Lava Jato Queda de braço A Segunda Turma do STF deve começar a julgar essa semana pedidos de soltura de empresários presos na Operação Lava Jato. Advogados estão esperançosos de que os ministros decidirão que seus clientes não podem continuar trancafiados porque não há nos processos instaurados indícios que comprovem a intenção deles em deixar o País, prejudicando o andamento das investigações. Aliás, tese muito parecida com a utilizada pela defesa do ex-diretor de Serviços da Petrobrás, Renato Duque, que responde ao inquérito da Lava Jato em liberdade, apesar do STF reconhecer a gravidade dos indícios criminais que pesam sobre ele. Talvez já desconfiado de uma decisão favorável do supremo a Ricardo Pessoa, da UTC, e Eduardo Leite, Dalton Avancini e José Auler, da Camargo Corrêa, o juiz federal Sérgio Moro, responsável pelos processos decorrentes da Operação Lava Jato, renovou as prisões dos quatro empresários na quarta-feira 18, sob argumento de que a eventual soltura “colocaria em risco à ordem pública, risco à instrução, à aplicação da lei penal e à integridade da Justiça”. 3#2 LEONARDO ATTUCH - DE CURITIBA PARA BRASÍLIA Com a lista de Janot, a Lava Jato irá migrar do Paraná para a capital e os empreiteiros devem sair do foco principal. A Operação Lava Jato, que ­galvaniza as paixões políticas nacionais há praticamente um ano, está prestes a entrar numa nova fase. Nos próximos dias, com a provável denúncia do procurador-geral da República, Rodrigo Janot, o País conhecerá os nomes das autoridades envolvidas no esquema. Ao que consta, serão mais de 40 políticos com direito ao foro privilegiado. Com isso, a bola passará do juiz Sergio Moro, de Curitiba, para as mãos do ministro Teori Zavascki, do Supremo Tribunal Federal. Nessa nova etapa, a tendência é que os empreiteiros saiam do foco principal do noticiário e consigam até a liberdade. Afinal, já estão presos preventivamente há mais de três meses, antes de qualquer sentença condenatória, e isso tem causado grande desconforto nos meios jurídicos, onde muitos avaliam que as prisões têm sido utilizadas como meio para se obter delações premiadas, como se fossem uma nova forma de tortura chancelada pelo Estado. Até mesmo Marco Aurélio Mello, um dos mais experientes integrantes do STF, já externou seu descontentamento com as punições antecipadas e com o atropelo a garantias constitucionais, como a presunção de inocência e o direito que réus primários, sem antecedentes criminais, têm de responder processos em liberdade. É essa migração da Lava Jato, de Curitiba para Brasília, que explica a falsa polêmica em torno do encontro do ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, com advogados de empreiteiras. Até porque nem seria necessário que o ministro sugerisse qualquer estratégia às defesas das construtoras. Desde que o STF confirmou a liberdade a Renato Duque, ex-diretor da Petrobras, ficou evidente que o mesmo critério de julgamento terá de ser aplicado, mais cedo ou mais tarde, aos empreiteiros. Como já estariam prestes a deixar a prisão, os empresários detidos em Curitiba não teriam mais qualquer motivo para se submeter a novas delações premiadas. Nesse novo cenário, será mais difícil recolher evidências que subsidiem um eventual processo de impeachment contra Dilma Rousseff ou inviabilizem a candidatura do ex-presidente Lula, pré-candidato do PT em 2018. Assim, a Lava Jato ficaria restrita aos parlamentares e demais políticos que se beneficiaram do esquema. É isso que explica toda a gritaria dos últimos dias. 3#3 RICARDO AMORIM - OPORTUNIDADES EM MEIO À ESTAGNAÇÃO "As empresas que se perpetuam são aquelas capazes de se fortalecer em ambientes desafiadores". Em meu trabalho como consultor e palestrante, tenho a oportunidade de interagir com pessoas e empresas de todos os setores da economia brasileira. Ao menos desde o Plano Collor, há 25 anos, não observo tanta preocupação, medo e pessimismo. Razões não faltam. Ao maior caso de corrupção da história do planeta, na Petrobras, somam-se prováveis racionamentos de água e energia elétrica. Em 2015, pela primeira vez em mais de 70 anos, o PIB cairá pelo segundo ano seguido. É óbvio que um cenário econômico assim traz muitos desafios a cada um de nós. Menos óbvio, ele também traz muitas oportunidades. Nos períodos de bonança, o barco se move rapidamente sem que sequer tenhamos de cuidar de suas velas. Tornamo-nos displicentes, preguiçosos e acomodados. Com a economia crescendo 5% a.a. em média entre 2004 e 2008, dezenas de milhões de brasileiros sendo incorporados aos mercados de trabalho e de consumo e a demanda por produtos brasileiros no exterior batendo recordes, salários subiam acima da inflação, os lucros das empresas cresciam e os desequilíbrios das contas públicas pareciam controlados, apesar de corrupção e gastos galopantes. O cessar dos ventos, ou, neste caso, do crescimento, expôs a insustentabilidade dessas situações. Salários só sobem acima da inflação se a produtividade cresce. Para ganhar mais, o trabalhador tem de produzir mais. Caso contrário, seu produto ou serviço ficará cada vez mais caro e acabará não sendo mais comprado, a empresa perderá dinheiro e o trabalhador, o seu emprego. Sem nenhum programa nacional amplo e profundo de automação e qualificação de mão de obra, a produtividade brasileira estagnou desde 2011. É responsabilidade do governo e de cada empresa criar programas assim, mas, se queremos ganhar mais, também cabe a cada um de nós nos qualificarmos, independentemente das políticas do governo e das empresas em que atuamos. Nas empresas, o período de bonança levou muitas a esquecer seus propósitos e focar em ganhos de curto prazo. Adeus inovações, melhoria de processos, produtos e serviços ou geração de oportunidades de crescimento para seus colaboradores. As empresas que se perpetuam são aquelas capazes de se fortalecer em ambientes desafiadores. Nos períodos de seca, os erros das épocas de abundância são expostos. Se corrigidos, o sucesso das empresas a longo prazo será garantido. E o governo? No dia 2 de agosto de 2011, ele lançou o Programa Brasil Maior, voltado a aumentar a competitividade da indústria através de maior intervenção governamental. Desde então, a indústria encolheu. Desde o ano passado, o PIB também encolheu. A estagnação reforçou ao menos três lições fundamentais. Primeira: planejamento e gestão são imprescindíveis se não quisermos viver novas crises hídrica, hidrelétrica e outras. Segunda: um Brasil mais competitivo, rico e justo requer um Estado menor, menos oneroso à sociedade e mais eficiente. Terceira: combater implacavelmente a corrupção é função de todo e qualquer governo e deve ocorrer em três frentes. Primeira: para diminuir o volume de recursos acessível aos mal-intencionados, precisamos reduzir o tamanho do Estado, sua participação direta na economia e os impostos. Segunda: a transparência das contas e dos negócios do setor público deve ser total para que a corrupção seja menor. Por fim, quando houver corrupção, as punições têm de ser draconianas. Se o governo, as empresas e cada um de nós aproveitarmos essas oportunidades, este momento difícil da economia não terá sido perdido. Ricardo Amorim é economista, apresentador do programa “Manhattan Connection”, da Globonews, e presidente da Ricam Consultoria 3#4 PAULO LIMA - QUE BONITO É Um sujeito misto de playboy, empresário, cineasta e aviador não só conseguiu façanhas como descobrir Cid Moreira e gravar algumas das primeiras imagens de Pelé, mas revolucionou a maneira de o Brasil ver e sentir seu futebol. É possível que tenha havido algo à altura, mas é pouco provável que qualquer lugar do planeta tenha superado em graça, beleza e vibração o Rio de Janeiro das décadas de 40, 50 e 60. Esses foram exatamente os anos que emolduraram a juventude de Carlos Novo de Niemeyer, o Carlinhos, apelido que ele detestava, ou Nini para seus colegas do “Clube dos Cafajestes” e outros amigos muito íntimos. Sempre bronzeado, com porte atlético e pinta de galã que lhe renderam até testes e cenas para filmes de cinema, incluindo algumas dirigidas por seu amigo Orson Welles, Carlinhos foi construindo uma daquelas biografias que nos dias de hoje soam até fantasiosas de tão improváveis. Piloto de aviões militares e primeiro tenente da Aeronáutica, lutador de jiu-jítsu ligado à família Gracie, namorado de Carmen Miranda, playboy, garoto de praia e produtor de cinema parceiro de Jean Manzon. Apesar da amplitude de sua trajetória de vida, é difícil não associar a memória de Carlos à sua mais conhecida e longeva obra: o Canal 100. Numa época em que as emissoras de TV ainda engatinhavam e boa parte da informação audiovisual que circulava pelo País transitava pelas salas de cinema, havia uma lei obrigando os exibidores a apresentar um noticiário produzido no Brasil antes dos filmes. Inconformado com o tom formal e oficialesco das produções da época, Carlinhos resolveu partir para a produção de algo que pudesse deixar de ser um fardo na vida dos cinéfilos e passasse a ser algo desejado e admirado. E ele conseguiu. Captados com câmeras de cinema, os programas semanais do Canal 100 revolucionaram o que se conhecia até então como a imagética do futebol brasileiro. As cenas majestosas, os closes de torcedores se contorcendo em ansiedade, os takes em câmera lenta filmados no gramado do Maracanã e a inesquecível música que embalava os lances (uma versão belíssima do samba de Luis Bandeira “Na Cadência do Samba”) emocionavam até o mais desencanado dos indiferentes ao ludopédio. E não ficava nisso. De 1959 a 1986, o Canal 100 conseguiu registrar desde visitas de autoridades e artistas famosos ao País até o surgimento do surfe no Brasil nas águas da praia do Arpoador. Desde o avô do MMA, os famosos encontros de vale-tudo, até a cobertura de várias Copas do Mundo, iniciando pela de 66 na gelada Inglaterra e passado pelo inesquecível e “caliente” massacre brasileiro no México em 70. Tudo impecavelmente capturado em película pela aguerrida e raçuda equipe de cinegrafistas canarinhos, com destaque para o grande Chico Torturra, que, além de cunhado de Nelson Rodrigues, viria a ser avô do jornalista Bruno Torturra. E já que falamos em Nelson, vale reproduzir aqui algumas linhas escritas por ele sobre o assunto em tela: “Foi a equipe do Canal 100 que inventou uma nova distância entre o torcedor e o craque, entre o torcedor e o jogo, grandes mitos do nosso futebol, em dimensão miguelangesca, em plena cólera do gol. Suas coxas plásticas, elásticas enchendo a tela. Tudo o que o futebol brasileiro possa ter de lírico, dramático, patético, delirante.” Finalmente uma das mais preciosas coleções da tão judiada memória brasileira está sendo compartilhada com o público. Uma exposição sobre o Canal 100 está aberta até 29 de março no Espaço Tom Jobim, em pleno Jardim Botânico. Nada mais carioca para celebrar a obra e a memória daquele que era considerado o sujeito mais parecido com o estereótipo que o imaginário coletivo parece associar a essa simpática designação dos cidadãos da Guanabara. Além da exposição, há um bom livro à venda com imagens belíssimas e um dvd com episódios inteiros do cinejornal. Relíquia rara na qual se pode até ouvir, pasmem, Cid Moreira sendo lançado para sua interminável carreira na locução. O simpático site www.canal100.com.br também oferece bons antepastos para o banquete do livro e da mostra. Vá ver. A coluna de Paulo Lima, fundador da editora Trip, é publicada quinzenalmente 3#5 GISELE VITÓRIA Gisele Vitória é jornalista, diretora de núcleo das revistas ISTOÉ Gente, ISTOÉ Platinum e Menu e colunista de ISTOÉ Musas campeãs Suas escolas foram mal, mas elas reinaram. A Vila Isabel amargou o 11º lugar e a Viradouro foi rebaixada. Mesmo assim, ciente de que toda unanimidade rodriguiana é burra, esta coluna elege Sabrina Sato e Juliana Paes as musas campeãs do Carnaval 2015. À frente da bateria da Vila, Sabrina deu asas à liberdade de seu Cisne Negro, com seus gracejos de rainha sedutora. Sua melhor foto no Carnaval, assinada por Marcos Serra Lima, do portal EGO, prova isso. Coube a ela representar o balé Lago dos Cisnes na homenagem a Isaac Karabtchevsky. E Juliana Paes, arrebatador elemento surpresa no abre-alas da Viradouro, fez jus ao seu reinado na avenida, onde não pisava há sete anos. A atriz defendeu com garras e correntes a escola de sua terra natal, Niterói. “Ensaiei pouco. Ninguém pode dizer que não sou corajosa. Quem gosta de Carnaval se esbalda, quem não gosta reclama. Estou no primeiro bloco”, disse. Sobre a derrota, escreveu: “Querida Viradouro, estarás sempre no meu coração. Coragem! Continuemos!”. As duas musas mais quentes da avenida não fizeram verão para ganhar o Carnaval, mas têm nosso troféu. “Sambei em muita poça d’água” ISTOÉ – Você brilhou, mas a Vila Isabel quase foi rebaixada. O que houve? Sabrina – As escolas que desfilaram no primeiro dia saíram prejudicadas pela chuva. Sambei em muita poça d’água, menina. A Vila estava linda, mas foi muito prejudicada. Carnaval tem altos e baixos. A Vila foi campeã no ano retrasado, mas no ano passado teve uma reestruturação, muita gente saiu. É claro que fiquei triste. É muita dedicação e trabalho de todos. Fiquei muito emocionada na avenida. E no ano que vem estarei lá. ISTOÉ – Qual é a diferença entre desfilar no Rio e em São Paulo? Sabrina – Desfilar na Gaviões da Fiel é uma coisa única, pela torcida imensa que tem. É uma energia maravilhosa. A Vila Isabel é comunidade e eu sou bem frequente na quadra da escola. Está no meu coração. Sou paulista, mas carioca de alma. ISTOÉ – E a vitória polêmica da Beija-Flor? Sabrina – As pessoas falam muito. O desfile deles estava lindo. Acho que foi merecido. ISTOÉ – Qual é o programa do fim de semana, sem a Vila no desfile das campeães? Sabrina – No domingo 22 farei minha primeira viagem ao Japão. Vou ficar oito dias lá. Fui convidada para participar de um programa japonês. Vou aproveitar para gravar matéria para o meu programa. Já fiz a lista dos lugares que quero ir. ISTOÉ – E o casamento, quando sai? Sabrina – Uma hora sai, né? Mas não sei quando. A gente fala de casamento, de filhos, mas não temos nem dois anos de namoro ainda. E sabe como é? Eu quero a festa, gosto de vestido, de casamento. Homem não liga muito para essas coisas... Disputa de sorrisos Sabrina e Juliana ensaiaram uma batalha das musas? Não fossem elas sempre tão risonhas, confiantes e imunes ao olhar crítico, a resposta seria não. Mas houve quem enxergasse uma sutil disputa no Camarote da Boa, espaço da cervejaria Antárctica na Sapucaí: Num vestido de Lethicia Bronstein, Juliana Paes, musa oficial do espaço, chegou sem distribuir tantos de seus mágicos sorrisos. Posou gentil para fotos e seguiu para o camarim. Uma hora depois, Sabrina roubaria a cena. Num curtíssimo Davidson Zanine, ela levou a mãe, o namorado, João Vicente de Castro, e acenou até para rapazes da limpeza. A comoção foi tal que alguém provocou: “Sabrina, você está tão linda que parece até que a musa do camarote é você!”. Vinte minutos depois, Juliana reapareceu esfuziante. Na varanda, brincou e fez caretas para quem buscava abrigo da chuva, cheia de humor. Coisas de Carnaval. Caloura na Sapucaí Claudia Leitte não ficou imune às críticas em sua estreia como rainha de bateria vestida de sol na chuvosa Marquês de Sapucaí, mas sejamos justos: a musa do axé foi guerreira no comando de seus trios elétricos em Salvador e à frente da bateria da Mocidade Independente de Padre Miguel, no Rio. Caloura na Sapucaí, carregou os integrantes da bateria da escola carioca para seu bloco na Bahia. Lá, tocaram o enredo da escola. Claudia estará novamente na Mocidade: “No ano que vem tem mais ousadia, beleza e paixão”. Irreconhecível Ellen Page veio ao Brasil na pele de documentarista. Gay recém-assumida, acabou na Marquês de Sapucaí, onde conheceu e filmou o Carnaval carioca. Mas a estrela de sucessos de Hollywood como “X-Men – O Confronto Final” e “Juno” não atraiu tantos holofotes. Muito pelo contrário. A atriz canadense até tentou se arriscar a vestir um costeiro de plumas, mas nada superou seu visual masculino. Ellen pouco se importou. Estava encantada com o desfile. “Nunca participei de nada parecido”, disse, sobre a folia brasileira. Beijo da noite Bruna Marquezine ensaiou um papo, mas Chace Crawford, que estrela a série “Gossip Girls”, acabou nos braços de Manu Gavassi. A cantora foi ícone de uma série adolescente no YouTube. O ator americano andava solto pela pista de dança, longe dos “cercadinhos” vips. Sorte de Manu. E para quem pensava que seria só um “beijo e tchau”, no dia seguinte outra selfie da cantora circulava pelo Instagram: os dois, e uma amiga dela, no Sushi Leblon. Quero vê-la sorrir... Thaila Ayala estreou em grande estilo como musa da Grande Rio. A atriz chamou a atenção pela fantasia de cigana, que, além de realçar sua boa forma, a colocou como uma das mais lindas e fashion na avenida. “Eu sou supernovata no Carnaval, mas só tive experiências maravilhosas”, disse Thaila. Foi ela, aliás, que pediu para ir vestida assim. “Quando eu vi a fantasia no papel, pedi na hora para ir de cigana. Tenho uma ligação forte com elas, me identifico muito”, conta. “Tanto que a minha mãe sempre me chamou de ciganinha por causa do cabelo comprido.” Irritado na folia Recém-separado de Paolla Oliveira, Joaquim Lopes chegou sozinho na Sapucaí. O ator, intérprete do chef de cozinha Enrico em “Império”, desconversou: “Carnaval é uma festa popular, estou aqui para comemorar, mais do qualquer coisa”. Mas, durante a festa, o foco mudou. Alta noite, o ator conversava com uma morena ao pé da escada, no fundo do camarote. Porém, o tom de voz nada tinha a ver com romance. Segurando a moça pelo braço, ele sussurrava irritado. Enquanto isso, Paolla curtiu o feriado nos Estados Unidos, embora o seu famoso derrière exibido pela personagem Dany Bond tenha sido uma das fantasias mais vendidas no Carnaval. Dama de vermelho Entre tantas rainhas na avenida, Marina Ruy Barbosa reinou na maistradicional festa do Carnaval carioca: o Baile do Copacabana Palace. Vestida de vermelho, a atriz de 19 anos chegou por volta da 1h, acompanhada do namorado, o empresário Caio Nabuco. Culpa das intensas gravações da reta final de “Império”. “Estava na avenida gravando as cenas de Carnaval da novela. Só deu tempo de tomar umbanho e vir”, disse. Mas nada que a fizesse perder o pique. “O baile está lindo. Vamos dançar!” Salvador, Votuporanga, filho e oração Ivete Sangalo também foi uma das artistas que abriram uma brechinha na apertada agenda de Carnaval para sair de Salvador. A cantora abriu uma exceção para a cidade de Votuporanga, interior de São Paulo. Segundo ela, teve que abdicar de uma folga na terça de folia para estar na cidade paulista. No dia seguinte, a estrela comandou o tradicional “Arrastão”, queencerra a maratona das festas baianas, com o filho Marcelo, de 5 anos, no colo e ao lado do marido, Daniel Cady. Depois, Ivete seguiu para a Igreja do Senhor do Bonfim, onde pediu três minutos de silêncio para rezar e agradecer. Bala Cantando no camarote O ator Thiago Martins atacou de cantor com uma banda ao vivo no Camarote da Boa. Nota dez em animação, nem tanto para o ritmo. Enquanto cantava covers da banda Charlie Brown, arriscou um improviso e trocava o nome da banda pelas falas eu sou do Vidigal”, em referência à favela na qual nasceu. Se atrapalhou na métrica, mas o público lotou a pista. 3#6 BRASIL CONFIDENCIAL por Eumano Silva Gleisi Hoffmann briga pela liderança do governo A falta de prestígio do governo no início do segundo mandato da presidente Dilma Rousseff pode ser medida pela dificuldade de nomeação dos líderes no Congresso. Escolhido para representar o governo na Câmara, o deputado José Guimarães (PT-CE) aceitou depois de dizer que ninguém queria o cargo. No Senado, o PMDB avisou que abre mão do posto e, com isso, o PT entrou na briga pelo espaço vago. Na disputa interna, a maior interessada na função é a senadora Gleisi Hoffmann (PR), ex-ministra da Casa Civil. Depois das comissões Os petistas avaliam que, apesar da recusa inicial, o PMDB ainda vai mudar de posição e indicar um nome para a liderança do governo no Senado. Em dúvida, Dilma adiou a decisão para depois das eleições dos presidentes das comissões permanentes, previstas para esta semana. O cargo de líder pode ficar com um senador preterido nessas disputas. O futuro da relação I Na Câmara, a bancada do PMDB tem reunião na terça-feira 24 para demarcar terreno em relação ao governo. Um dos temas do encontro será a suspeita de que o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), pretende entregar aos petistas a relatoria da CPI da Petrobras. O futuro da relação II Um grupo de deputados se opõe à negociação da relatoria da CPI com os petistas. “Não vamos permitir que o PMDB faça esse acordo”, afirma o deputado Danilo Forte (PMDB-CE). Esses parlamentares pretendem cobrar de Cunha a promessa de independência em relação ao Planalto. Pressão sobre Cid O ministro da Educação, Cid Gomes, assumiu o cargo sem apoio político até mesmo do próprio partido, o PROS. Agora, deputados querem levá-lo à Comissão de Educação para prestar esclarecimentos sobre cortes de verbas em sua pasta. Parlamentares do PROS engrossam a pressão. Outras frentes de ataque No Senado, o oposicionista Cássio Cunha (PSDB-PB) apresentou requerimento pedindo esclarecimentos a Cid Gomes sobre problemas com o acesso ao Fundo de Financiamento Estudantil (Fies). Senadores do PMDB também querem colocar Cid em uma comissão temática para pressioná-lo. De olho no fundo Uma auditoria do Tribunal de Contas da União (TCU) preocupa o governo. Antes do escândalo da Petrobras, o tribunal analisou 12 denúncias e representações contra o Petros, fundo de pensão dos funcionários da companhia. Os procedimentos foram encerrados, mas as investigações da Lava Jato fizeram o TCU olhar para o fundo com mais cuidado. Argumento Aliados da presidente Dilma Rousseff tentam convencer o TCU de que um relatório que aponte problemas nas contas do Petros deixaria o ambiente político ainda mais instável neste momento. O Planalto trabalha para que o resultado das auditorias nos fundos de pensão só fique pronto em 2016. Teste para a Olimpíada A Secretaria Extraordinária de Segurança de Grandes Eventos aproveitou o Carnaval do Rio de Janeiro para aplicar em larga escala o sistema de monitoramento usado durante os jogos da Copa do Mundo, no ano passado. Os centros de controle e a plataforma de observação elevada acompanharam os deslocamentos da multidão de foliões na orla da zona sul carioca. As equipes responsáveis pelo teste ficaram satisfeitas com o desempenho demonstrado pelo sistema. A experiência da última semana funcionou como treinamento para o esquema de segurança que está sendo aperfeiçoado para os Jogos Olímpicos de 2016. Luto na plataforma Os problemas nos navios-plataforma da Petrobras estão cada vez mais graves e frequentes. Antes das explosões no litoral norte do Espírito Santo, há duas semanas, um funcionário passou mal em um navio embarcado no Rio de Janeiro. Sem equipe médica e sem helicóptero para transporte do servidor até um hospital, não houve tempo de socorrê-lo. O homem morreu horas depois. Toma lá dá cá Deputado Jean Wyllys (PSOL-RJ) ISTOÉ – A legalização do aborto e da maconha e a criminalização da homofobia perdem força com Eduardo Cunha na presidência da Câmara? Jean – Não deveria, pois o presidente não pode usar como filtro dos trabalhos as suas convicções religiosas ou morais. ISTOÉ – Como neutralizar a interferência religiosa nos trabalhos da Casa? Jean – Levamos as nossas pautas para as ruas. Vamos agir assim diante das alianças de Cunha com a bancada fundamentalista, com a bancada do agronegócio e com a bancada da bala. ISTOÉ – Qual é a gravidade desta situação? Jean– Está ocorrendo um alinhamento entre a representação desses fundamentaslistas religiosos e a presidência da Câmara, o que deixa a pauta à mercê das convicções religiosas. Rápidas * Será no dia 25 de fevereiro o disputado leilão do Senado. Como acontece todo início de legislatura, a direção da Casa vai renovar seus equipamentos. Com isso, atrai dezenas de pessoas interessadas em comprar produtos de qualidade por preço simbólico. * No leilão deste ano serão postos à venda alguns produtos pouco lembrados quando se fala do Senado. Na lista dos itens que serão negociados estão seis carros, um caminhão e um micro-ônibus. A relação de bens inclui, até mesmo, camas hospitalares. * O Tribunal de Contas da União levou quase 20 anos para proferir acórdão final que condenou os juízes do Tribunal Regional do Trabalho do Ceará Francisco Tarcísio Guedes Lima Verde, João Nazareth Pereira Cardoso e José Ronald Cavalcante Soares. * O processo no TCU foi aberto em 1996, depois que uma auditoria identificou a nomeação de parentes para funções comissionadas no Tribunal Regional do Ceará. No pente-fino, também foi encontrado pagamento de adicional de insalubridade a servidor inativo. Retrato falado O ex-ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Joaquim Barbosa conseguiu irritar ao mesmo tempo o governo e o PT com 140 caracteres de uma postagem no Twitter. Barbosa criticou o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, por ter recebido em audiência advogados e representantes da Odebrecht, empreiteira investigada por participação no esquema de corrupção na Petrobras. Tarso Genro, que foi ministro da Justiça de 2007 a 2010, defendeu Cardozo. Uma conta em Paris Procuradores da Operação Lava Jato receberam a informação de que o doleiro Alberto Youssef teria US$ 287 milhões em um banco em Paris. A conta seria do ex-deputado morto José Janene (PP-PR), considerado o patrono do Petrolão. O Ministério Público Federal quer saber se a viúva, Stael Janene, e o ex-assessor Wagner Pinheiro, que também serviu a André Vargas, ex-deputado cassado, sabem da conta secreta. Petrolão sem fim Integrantes da Lava Jato reavaliam a decisão de manter na Justiça Federal de Curitiba todos os processos decorrentes do inquérito original, pois toda hora surgem fatos novos. Uma saída é aumentar o contingente da força-tarefa. “Nada parece ter fim”, diz um dos investigadores. _________________________________________ 4# BRASIL 25.2.15 4#1 CADÊ A "PÁTRIA EDUCADORA"? 4#2 CONEXÃO PETROLÃO - HSBC 4#3 A NOVA ESTRATÉGIA DAS EMPREITEIRAS 4#4 O LABORATÓRIO DE KASSAB 4#5 O VICE COMPLICADO 4#6 GOVERNADOR ENCURRALADO 4#7 POR QUE PAROU? 4#1 CADÊ A "PÁTRIA EDUCADORA"? Primeiros atos do governo Dilma mostram que o discurso da posse, que elegeu a educação como prioridade, está muito longe da realidade. Do ensino básico ao superior, o setor está em crise e as medidas tomadas pelo governo prejudicam ainda mais o estudante Camila Brandalise (camila@istoe.com.br) "Só a educação liberta um povo e lhe abre as portas de um futuro próspero”, cravou Dilma Rousseff em seu discurso de posse, em 1º de janeiro. A presidente justificou a alcunha de “pátria educadora” dada ao País nesse dia ao afirmar que “democratizar o conhecimento significa universalizar o acesso a um ensino de qualidade em todos os níveis, da creche à pós-graduação”. Palavras de impacto e com o aval de todos os brasileiros. Afinal, quem ousaria dizer que essa não é uma das áreas mais importantes para o desenvolvimento econômico e social de um povo? Mas medidas tomadas pelo governo mostram que ele está seguindo na direção oposta das palavras que abriram o segundo mandato da presidente eleita. Da educação básica ao ensino superior, sem distinção, todos os níveis apresentam graves problemas. Recentes mudanças no Programa de Financiamento Estudantil (Fies), por exemplo, podem deixar alunos fora do ensino superior. O corte orçamentário fará com que sejam subtraídos cerca de R$ 7 bilhões dos gastos do Ministério da Educação neste ano, o maior bloqueio entre todas as pastas. Além disso, estudos mostram que a educação básica, que deveria dar sinais de avanço, apresenta desaceleração nos níveis de aprendizado. Levando-se em conta que não se passaram nem dois meses do início de 2015, é impossível não fazer a pergunta: onde está a pátria educadora? O caso mais emblemático é o do Fies., programa pelo qual o governo banca a mensalidade dos estudantes. A dívida é paga após a formatura com juros camaradas. No final de 2014, o governo estabeleceu algumas mudanças, entre elas a de que só seriam mantidas no programa as instituições de ensino superior que tivessem teto de reajuste da mensalidade até 4,5%. Depois de negociações com entidades do setor e reclamações de alunos, a taxa subiu para 6,4%, o índice da inflação. Ainda assim, muitos estudantes correm o risco de deixar seus cursos porque suas universidades tiveram aumento maior do que esse percentual. Segundo a Associação Brasileira de Mantenedoras do Ensino Superior (ABMES), apenas 280 mil do 1,9 milhão de contratos haviam sido renovados até a sexta-feira 13. Procurado, o Ministério da Educação não explicou por que o percentual foi estabelecido, mesmo com a reclamação das universidades sobre a liberdade de mercado para que cada uma possa estipular o reajuste necessário. Para o professor de políticas públicas Fernando Schuler, do Insper, o fato de o programa ser do governo lhe dá o direito de colocar essa regra, mas não de uma hora para outra, como foi feito. “O planejamento financeiro das instituições é fechado com muita antecedência. Educação não é resolvida a curto prazo”, diz. “Além disso, o argumento para chegar a esse número é de que ele corresponde à inflação. Mas na precificação do ensino superior há inúmeras variáveis, como reajuste de salário dos professores, que não segue a mesma lógica.” No topo dos mais prejudicados es tão os alunos. Ao mesmo tempo que é preciso reconhecer o grande feito do programa em ampliar o acesso ao ensino superior e aumentar sobremaneira o número de brasileiros em universidades, uma mudança como essa deverá prejudicar milhares de estudantes, muitos deles no meio de seus cursos. É o caso de Dayanne Torquato Lourenço, 28 anos, aluna do nono período de psicologia da Universidade Anhembi Morumbi, em São Paulo. Sua mensalidade subiu de R$ 1.155,49 para R$ 1.265,26, ou seja, cerca de 9,5%. E, ao tentar fazer o aditamento, como é chamada a renovação do contrato, a página da internet mostra um erro. “Meu Fies é integral, se não fizer esse procedimento, fico inadimplente e não consigo providenciar os contratos de estágio, necessários para a conclusão do curso”, diz. Até resolver o entrave, Dayanne, assim como outros colegas, está frequentando a graduação normalmente para não ser prejudicada. “Meu problema é com o MEC”, diz. Procurada, a Anhembi Morumbi afirma que, apesar das novas regras definidas pelo governo, “está trabalhando para garantir que todos os estudantes já beneficiados pelo programa tenham suas matrículas renovadas para este semestre”. Somente de 2012 para 2013, o número total de matriculados pelo Fies em instituições particulares aumentou 100% – de 11% para 21%, segundo dados de 2013 da consultoria Hoper Educação. Até 2010, quando as regras do programa mudaram e os financiamentos dispararam, o índice de inadimplência nas escolas particulares era de 9,58%, tendo caído para 8,46% um ano depois. Há um grande envolvimento das instituições de ensino com o Fies. Muitas podem perder alunos e ter prejuízos econômicos com as mudanças. “Há muitas universidades com um número alto de usuários do financiamento, mais de 80%”, afirma Romário Davel, consultor da Hoper. A perspectiva do diretor-executivo da ABMES, Sólon Caldas, é de que as faculdades vão se adequar a essa taxa. “A concepção do programa é muito focada na inclusão social e as escolas estão comprometidas com isso”, diz. Quem atrapalha é o governo. Também aluna de psicologia, Ohara de Souza Coca, 25 anos, cursa o quinto e último ano na Faculdade São Judas, em São Paulo, e passa pela aflição de não saber se vai conseguir concluir a faculdade, já que sua mensalidade passou por um reajuste de 8%. “A falta de informações tem causado grande preocupação. Enquanto isso não for resolvido, há o medo de que tenha de deixar os estudos a qualquer momento”, diz. “Não escolhi o Fies por ser cômodo, mas por ser a grande possibilidade de conseguir estudar.” Outra polêmica diz respeito à exigência de 450 pontos no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) e nota maior do que zero na redação para o aluno poder usufruir do Fies, mudanças impostas também no final de 2014 pelo governo. Embora seja um ponto importante a ser discutido, uma vez que o estudante precisa estar minimamente apto para acompanhar as aulas no ensino superior, por outro lado a educação básica no País ainda precisa melhorar muito para possibilitar que um aluno da rede pública chegue a uma pontuação dessas, considerada baixa, inclusive. Com esse requisito, o jovem que não teve acesso a uma boa formação estaria, mais uma vez, enfrentando dificuldade para ter acesso à educação. Recente estudo divulgado pelo movimento Todos Pela Educação com base nos dados da Prova Brasil de 2013 mostra que o desempenho dos estudantes não tem avançado. Apenas 10,8% dos municípios brasileiros atingiram a meta de aprendizado adequado para matemática no nono ano, enquanto em 2011 esse índice era de 28,3%. Em língua portuguesa, também para o nono ano, as cidades que atingiram o objetivo representam 29,6%, contra 55% em 2011. O estudo também apresenta queda se levadas em conta as disciplinas no quinto ano (leia na pág. 36). “A cada período, as metas aumentam, porque a intenção é que em 2022 pelo menos 70% das crianças tenham aprendizado adequado”, afirma Alejandra Meraz Velasco, coordenadora-geral do Todos Pela Educação. Em vez de aumentar, o percentual caiu. O Brasil avançou muito na inclusão e nos anos iniciais há uma evolução. Mas para os finais, próximos ao ensino médio, que tem grande evasão de alunos, é preciso pensar em novas políticas públicas.” Essa mesma análise pode ser feita a partir dos dados do Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb) de 2013, divulgados em setembro de 2014. Dos 5.369 municípios com índice da rede pública calculado, apenas 39,6% alcançaram a meta de 2013 para os alunos do sexto ao nono ano. Foi a primeira vez desde 2007 que o objetivo para esse nível não foi alcançado. A situação se torna ainda mais preocupante em época de arrocho econômico e com corte no Ministério da Educação que chega a R$ 7 bilhões para este ano, como anunciado em janeiro. Na opinião do senador Cristovam Buarque (PDT/DF), o bloqueio de verbas vai na contramão de um verdadeiro projeto de crescimento educacional para o País, que já deveria estar em prática. “O Brasil deveria gastar R$ 9,5 mil por ano por aluno. Hoje esse valor é de R$ 3 mil a R$ 4 mil”, diz. Ou seja, o que precisava dobrar vai diminuir. “Ao longo do tempo, é preciso aumentar os recursos gradativamente, subir o salário dos professores, reconstruir escolas e garantir educação integral. É um processo que duraria entre 20 e 25 anos, mas que não se vê qualquer esforço para ser aplicado de verdade”, afirma o senador. Para Daniel Cara, coordenador-geral da Campanha Nacional pelo Direito à Educação, o corte traz o prejuízo de não alimentar o sistema educacional com os recursos que eram comumente utilizados. “Não ampliar melhorias em infraestrutura e até em transporte, que é o que pode acontecer, acaba fazendo com que o rendimento do aluno caia. E esse tempo não pode ser recuperado depois”, diz. Cara salienta que projetos estruturais podem ser bastante afetados pela medida. “A maior preocupação deveria recair para programas básicos, como o Proinfância, de assistência financeira a creches e pré-escolas”, afirma. “Projetos de reconstrução de escolas não têm a atenção que deveriam receber”, afirma. Apesar de a educação básica precisar, sim, entrar nessa pauta, o que ainda deve dominar as discussões, por enquanto, são os carros-chefes da campanha eleitoral. Além do Fies, o Programa Nacional de Acesso ao Ensino Técnico e Emprego (Pronatec) também tem sido alvo de reclamações por parte de instituições de ensino (leia na pag. 37). O governo deixou de repassar verbas de financiamento dos cursos desde outubro, enquanto a então candidata à reeleição Dilma Rousseff citava orgulhosa o programa em seus discursos a todo momento e por qualquer motivo. O MEC informou na quinta-feira 19 que liberou R$ 119 milhões para regularizar o fluxo referente às mensalidades de 2014 para instituições privadas. Disse, ainda, que o pagamento de cada parcela pode ser feito em até 45 dias após o vencimento do mês de referência – há parcelas, porém, que teriam ultrapassado esse prazo. Universidades públicas também devem sofrer com a diminuição de repasses, segundo especialistas. “Não há a menor dúvida de que a crise vá impactar negativamente o ensino superior, que é uma área dispendiosa para o governo”, afirma o professor Renato Hyuda de Luna Pedrosa, coordenador do laboratório de estudos em educação superior da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Para algumas, o corte nos repasses já é uma realidade. Na Universidade de Brasília (UnB), por exemplo, dos R$ 11 milhões que deveria receber este ano, foram transferidos R$ 7 milhões, cerca de 30% a menos. A instituição, no entanto, afirma que ainda assim conseguiu manter as contas em dia. Devem ser adiadas melhorias em infraestrutura, contratação de novos professores, propostas de qualificação, aberturas de novos cursos e linhas de pesquisas. “O maior prejuízo é a perda da expectativa em relação ao acesso à educação, principalmente a superior. Uma das boas coisas que aconteceram no Brasil foi esse sonho concretizado de se conseguir um diploma”, afirma o senador Cristovam Buarque. “A cada ano ficava mais fácil entrar na universidade. Em 2015, parece que vai acontecer o contrário.” Que o diga a caloura do curso de enfermagem da Pontifícia Universidade Católica de Campinas (SP) Bruna Santoni Silva, 21 anos. Dependente do Fies para começar o curso, ela pode não conseguir validar o contrato com o programa, que abre para novos alunos no dia 23, porque sua faculdade teve reajuste de 9%. “Falei com a universidade, mas eles não têm nenhuma posição sobre o assunto. Só me resta esperar, sabendo que meus estudos e meu futuro profissional estão em jogo. Aliás, não só o meu, mas de milhões de estudantes de nosso país.” Cadê a pátria educadora? 4#2 CONEXÃO PETROLÃO - HSBC Empresa de fachada do doleiro Alberto Youssef, a GFD Investimentos recebeu em depósitos no HSBC Brasil mais de R$ 84 milhões de empreiteiras envolvidas no esquema da Petrobras Claudio Dantas Sequeira (claudiodantas@istoe.com.br) Considerado um dos maiores bancos do mundo, o HSBC virou alvo nas últimas semanas de escândalo proporcional ao seu tamanho. Registros internos de sua filial na Suíça vazados à imprensa indicam que a instituição financeira manteve, até 2007, práticas condenadas pelas regras internacionais de combate à lavagem de dinheiro. O HSBC teria gerido mais de US$ 100 bilhões em recursos de origem duvidosa. Na imensa lista de clientes de conduta nada ilibada estão ditadores, corruptos e traficantes, além de estrelas de Hollywood e esportistas famosos. O Ministério Público suíço abriu inquérito sobre o caso, fez uma devassa na sede do banco em Genebra, na Suíça, e descobriu cerca de 8,7 mil correntistas brasileiros com mais de US$ 7 bilhões em depósitos. Agora, surge o elo entre o escândalo envolvendo o HSBC e o Petrolão. Integrantes da Operação Lava Jato já reúnem provas de que a filial do HSBC no Brasil serviu de guarda-chuva para operações ilegais do esquema de corrupção e lavagem de dinheiro que drenou os cofres da Petrobras. Uma das principais empresas de fachada do doleiro Alberto Youssef, a GFD Investimentos, era cliente da sede do HSBC na avenida Brigadeiro Faria Lima, em São Paulo. Entre 2009 e 2013, a conta numerada “2005002928” recebeu mais de R$ 84 milhões, em sua maioria depósitos de companhias integrantes do “clube” que agia em cartel nos contratos com a estatal, como Mendes Júnior, Engevix e UTC, além da Sanko Sider. O ELO - A GFD Investimentos, de Alberto Youssef, era cliente da matriz do HSBC na avenida Brigadeiro Faria Lima, em São Paulo. Em Genebra, Suíça (abaixo), o banco sofreu uma devassa na semana passada Os procuradores já sabiam que 11 suspeitos de envolvimento no Petrolão, inclusive o ex-gerente de engenharia da Petrobras Pedro Barusco, um dos principais delatores do esquema, mantinham contas no HSBC da Suíça. Mas é a primeira vez que eles relacionam o centro nevrálgico do esquema do Petrolão com o HSBC. Os investigadores confirmaram à ISTOÉ que estão dispostos a colaborar com o MP suíço. Na denúncia feita pelo MPF em 11 de dezembro passado, os procuradores afirmaram que a GFD Investimentos nunca exerceu “qualquer atividade”, funcionando apenas como fachada para operações de lavagem de dinheiro. “Jamais prestou serviços às empreiteiras cartelizadas contratadas pela Petrobras, de modo que não há justificativa econômica lícita para os pagamentos”, disse o MPF. O extrato da movimentação da conta da GFD, obtido por ISTOÉ, registra mais de 3,4 mil transações, entre depósitos, saques e transferências, no período de 23 de novembro de 2009 a 21 de março de 2014 – quatro dias depois da deflagração da Operação Lava Jato. As operações com o HSBC correspondem a 98% de todo o relacionamento bancário da GFD. Os outros 2% são de uma conta no Safra. As normas internacionais de combate à lavagem de dinheiro, também aplicadas no Brasil, obrigam instituições bancárias a avaliar a capacidade financeira e patrimonial do cliente, a fim de determinar se ele tem condição econômica compatível com o volume movimentado em suas contas. Além disso, o banco deve zelar também pela procedência legal dos recursos e comunicar ao Coaf qualquer transação acima de R$ 10 mil. No caso da conta da GFD no HSBC, os valores superam muito esse limite. Um exemplo é o depósito de R$ 2,45 milhões feito na conta da GFD no dia 6 de outubro de 2010, três dias depois do primeiro turno da eleição presidencial de 2010. No dia seguinte, foram realizadas duas transferências, uma de R$ 600 mil e outra de R$ 1,2 milhão para destinatários desconhecidos. Outros R$ 500 mil foram para a Piemonte Empreendimentos, que pertence a um dos sócios do Grupo MPE, que faz parte do consórcio Interpar ao lado da Mendes Júnior e Toyo Setal. O extrato das movimentações da conta no HSBC apresenta outras centenas de operações sem identificação da origem ou destino dos recursos. Segundo a força-tarefa da Lava Jato, a GFD também foi usada em operações de câmbio ilegais para remessa de divisas para o exterior. No contrato social, a GFD é controlada pela Devonshire Global Fund, uma offshore fantasma sediada na Holanda, e administrada por Carlos Alberto da Costa, testa-de-ferro de Youssef. De acordo com o MPF, a GFD Investimentos foi constituída em abril de 2009 por Alberto Youssef, doleiro com recursos no exterior “provenientes de crime por ele praticado, visando a lavagem de bens e valores, mediante blindagem de patrimônio”. Em setembro, a empresa recebeu R$ 9 milhões da offshore. Ao MPF, Meire Poza, ex-contadora de Youssef, disse que ele usava a conta da GFD no HSBC “para esquentar” o dinheiro. Nos quatro anos de operação, a empresa simulou diversos negócios e prestação de consultorias para justificar o recebimento de propina desviada de contratos com a Petrobras, com a participação do ex-diretor de abastecimento da estatal Paulo Roberto Costa. Procurado pela reportagem, o HSBC disse que “segue os mais altos padrões de compliance em todos os países nos quais atua e colabora com as autoridades sempre que requisitado”. Na quinta-feira 19, executivos da instituição financeira informaram à cúpula do Banco Central que não haveria nenhum indício de envolvimento da filial brasileira no escândalo da Suíça ou no Petrolão. 4#3 A NOVA ESTRATÉGIA DAS EMPREITEIRAS Entenda por que as construtoras envolvidas no Petrolão resolveram recuar nas negociações para a delação premiada e como pretendem agir na próxima etapa da Lava Jato Josie Jerônimo (josie@istoe.com.br) Até o início de fevereiro, as grandes bancas de advogados de empresas acusadas de participar do esquema de corrupção da Petrobras temiam que algumas das empreiteiras fizessem amplo acordo na Justiça, com delação premiada de seus executivos e pacto de leniência para as entidades jurídicas. O pesadelo dos investigados estava prestes a se materializar com o avanço das conversas da gigante Camargo Corrêa com integrantes da força-tarefa do Ministério Público e da Controladoria-Geral da União (CGU). As empresas OAS e UTC também flertavam com a chance de entregar detalhes do esquema em troca da atenuação de penas que a Justiça decidirá futuramente. Nos últimos dias, porém, houve uma inflexão. Os representantes das construtoras encerraram as conversas e as negociações ganharam termos inegociáveis. Advogados das empreiteiras ouvidos por ISTOÉ afirmam que CGU e MP ofereceram “muito pouco” em troca da delação. Por isso, preferiram aguardar o desenrolar dos processos. MUDANÇA DE RUMO - Empreiteiras se negaram a pagar multas bilionárias em troca da colaboração Para aliviar as punições às empreiteiras, os procuradores propuseram garantias institucionais para que elas mantivessem contratos com a União. Como compensação, as empreiteiras pagariam multas pesadas. A proposta não foi considerada vantajosa pela maioria delas. A Camargo Corrêa, por exemplo, achou exorbitante o valor da multa estipulado pelos negociadores do acordo de leniência: R$ 1,5 bilhão. Os advogados tentaram, em vão, reduzi-la para R$ 500 milhões. Diante do impasse, encerraram as conversas. O advogado Antônio Cláudio Mariz, que defende o vice-presidente da Camargo Corrêa, Eduardo Leite, confirma que a discordância no valor da multa inviabilizou a colaboração nas investigações. “O acordo da empresa não deu certo em relação a valores”, afirmou. ESTACA ZERO - Dalton dos Santos Avancini, presidente da Camargo Corrêa, recomendou que seus advogados negociassem a redução da multa à empreiteira, em troca da delação premiada, mas o acordo não avançou Aos executivos das empreiteiras, os representantes do MP e da CGU ofertaram a atenuação de penas e o relaxamento de pedidos de prisão preventiva. Mas os dirigentes não se sensibilizaram. Os executivos das empreiteiras do cartel argumentam que não há benefícios diretos na estratégia de assumir culpa por crimes administrativos. “Com as pessoas físicas, ainda não houve desfecho das tratativas, mas o Eduardo Leite já conversou com o Ministério Público nesse sentido”, acrescentou o advogado Antônio Cláudio Mariz. Depois da divulgação do conteúdo dos depoimentos de delação premiada de outros investigados, os empreiteiros da Camargo Corrêa e da UTC chegaram à conclusão de que a colaboração com a Justiça provoca efeito mais negativo do que o cumprimento de penas. A exposição pública das empreiteiras como resultado da delação, avaliam, afeta diretamente a imagem da empresa e, de quebra, inviabiliza a retomada profissional dos executivos. Os advogados dizem acreditar, ainda, que a redução da pena na hipótese de delação premiada seria muito pequena, pois os grandes acordos já foram fechados com o doleiro Alberto Youssef e o ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa. Pesa ainda na nova estratégia o fato de o TCU e a Advocacia-Geral da União (AGU) estarem trabalhando num acordo de leniência que permite às empresas continuarem no mercado das obras públicas. Nesse sentido, alguns executivos asseguram contar com o ex-presidente Lula. VOLTOU ATRÁS - O presidente da UTC, Ricardo Pessoa, que teve negado o pedido de habeas corpus feito no STF, era a adesão mais aguardada à delação, mas de última hora resolveu permanecer em silêncio A morosidade da Justiça e as amplas possibilidades de recursos e artifícios jurídicos para empurrar por longos anos as sentenças contra os executivos também jogam contra o acordo de colaboração, admitem os representantes das empreiteiras. Nesse cenário, não haveria razão para reconhecer a culpa. Mariz afirma ainda que os defensores de investigados da Lava Jato sentiram falta da regulamentação dos acordos de colaboração pela presidente Dilma Rousseff, previstos na Lei 12.846, conhecida como Lei Anticorrupção. “Falta regulamentar a delação. É um assunto novo, eu advogo há 45 anos e nunca me deparei com isso. A delação é comum no direito americano, onde tudo se resolve no pagamento. Aqui é diferente, a solução de conflitos se dá no processo. Por isso, demanda uma regula­mentação.” Não se pode deixar de considerar que influiu na mudança de tática das empreiteiras a possível alteração do foco da Operação Lava Jato. A expectativa dos advogados é de que, com a divulgação da lista de políticos envolvidos, prevista para as próximas semanas, os holofotes saiam de Curitiba, sob a batuta do juiz Sérgio Moro, e se voltem para Brasília, mais precisamente para o Supremo Tribunal Federal, instância na qual os processos tramitarão. Na semana passada, Eduardo Leite e os executivos João Auler e Dalton Avancini, da mesma empreiteira, além do presidente da UTC, Ricardo Pessoa, tiveram negados os pedidos de habeas corpus feitos no STF. Eles estão presos há três meses na carceragem da Polícia Federal em Curitiba. Esperam, no entanto, que o cenário mude com a volta dos políticos à ribalta. 4#4 O LABORATÓRIO DE KASSAB Para ganhar espaço político, o ministro Gilberto Kassab planeja uma nova alquimia partidária: a recriação do PL, só que governista. Promessas de obras e parcerias são os atrativos usados para arrebanhar parlamentares Izabelle Torres (izabelle@istoe.com.br) O ministro das Cidades, Gilberto Kassab, descobriu um caminho peculiar para ganhar espaço político. Depois da controversa experiência de montar o PSD e cooptar levas de parlamentares de outras siglas, o político paulista usa mais uma vez as brechas da legislação eleitoral para tentar recriar o Partido Liberal (PL). A exemplo das 32 siglas existentes e das outras 41 que tentam formalização na Justiça Eleitoral, a legenda em gestação não possui linha ideológica específica ou inovadora. Entretanto, ganha força como solução mais viável para aumentar a base aliada de Dilma Rousseff no Congresso. Foi graças a seu empenho de reerguer o PL que o ex-prefeito de São Paulo conquistou o posto de ministro na equipe da presidente Dilma Rousseff. Empossado, ele tratou de mostrar serviço. MOQUECA PARTIDÁRIA - Para refundar o PL, o ministro Gilberto Kassab utiliza os temperos de sempre. Promete cargos estratégicos e investimentos em obras Desde a posse na Esplanada, Kassab realiza reuniões diárias com políticos das mais variadas esferas. Aos interlocutores, promete novas obras e parcerias de longo prazo para projetos que nem sequer foram apresentados. Sob o pretexto de visitar as regiões e conhecer suas necessidades, Kassab se aproxima de líderes políticos País afora. Há duas semanas, ele participou da assembleia mensal de prefeitos do Consórcio Intermunicipal Grande ABC, em Santo André. A região é formada por sete municípios paulistas. As promessas do ministro de fazer investimentos em obras de infraestrutura levaram os prefeitos presentes a declarar apoio a qualquer ideia de Kassab sobre um novo partido. Esse mesmo método foi utilizado em meio à formação do PSD. Quando, em 2011, criou o PSD para receber dissidentes da oposição e do governo, Kassab arrastou parlamentares para o partido sob a promessa de que assumiriam papel de destaque na legenda. Como, em muitos Estados, a promessa não foi honrada, políticos, sobretudo de São Paulo, ameaçam desertar da sigla. DA CÁ, SEM TOMA LÁ - Ao não dispor de cargos no governo para ofertar, Marina Silva segue com dificuldades para criar a Rede Kassab não fala sobre seu projeto de refundar o PL. Afastado oficialmente da presidência do PSD, ele também não declara publicamente sua intenção de fundir as duas legendas para tentar dar fôlego ao governo. Mas, na semana passada, o ex-deputado goiano Cleovan Siqueira contabilizava mais de 410 mil assinaturas a favor da criação do partido. São necessários 500 mil apoios e, até o ano passado, Siqueira conseguira 80 mil. Com a entrada do ministro em ação, o total foi multiplicado por cinco. “Seremos um partido com disposição não apenas de caminhar junto com o PSD como também de apoiar o governo”, diz Siqueira. Um obstáculo para o projeto de Kassab foi a eleição de Eduardo Cunha (PMDB-RJ) à presidência da Câmara. Cunha quer aprovar a toque de caixa uma proposta que limita a fusão de partidos políticos apenas a legendas que tenham obtido o registro no TSE há pelo menos cinco anos, mas a turma do ex-prefeito de São Paulo segue otimista. A rapidez com que Kassab viabiliza a nova legenda é uma demonstração de que as regras atuais para criação de siglas favorecem partidos de aluguel. Mostram, também, como um cargo na Esplanada pesa na conquista de aliados. Para efeito de comparação, a ex-ministra Marina Silva não conseguiu validar as 500 mil assinaturas colhidas pelos seus militantes e seu partido, a Rede, não foi criado a tempo de disputar a Presidência em 2014. Pelos planos do ministro, o novo PL atrairá políticos acostumados a marchar junto ao governo. A legenda pode ser oficializada, ainda neste semestre, com pelo menos 20 deputados federais, o que garante acesso ao Fundo Partidário. Essa é uma das grandes atrações para a criação de uma legenda. O PSD, atual partido do ministro, recebeu R$ 18,5 milhões do Fundo Partidário. Com os recursos, foram contratados assessores que hoje se dedicam a colher assinaturas para ressuscitar o PL. O laboratório de Kassab está em plena ação. 4#5 O VICE COMPLICADO Novo número 2 da Câmara, o deputado Wilson Maranhão responde a inquéritos no STF por ocultação de bens e lavagem de dinheiro Izabelle Torres (izabelle@istoe.com.br) O deputado Waldir Maranhão (PP-MA) era um parlamentar sem muita visibilidade em Brasília e com atuação discreta na área de educação. No domingo 1º, entretanto, ele se elegeu para o segundo cargo mais importante da Casa, o de vice-presidente da Câmara. Além do prestígio adquirido e da possibilidade de influenciar diretamente em decisões políticas importantes, Maranhão atrai para si também as atenções sobre sua conduta e seu passado. O cenário não é dos mais favoráveis. O vice-presidente é investigado em dois inquéritos no Supremo Tribunal Federal (STF), ambos por suposta prática de crimes de ocultação de bens e participação no esquema de lavagem de dinheiro. ISTOÉ teve acesso aos processos, que narram as possíveis relações do parlamentar com o doleiro Fayed Traboulsi, preso no final de 2013 sob suspeita de participar de um esquema de lavagem de dinheiro e desvio de recursos de fundos de pensão que teria movimentado R$ 300 milhões em um ano e meio. O processo de Fayed tramitava na vara criminal de Brasília e possui mais de mil páginas. Entre sigilos fiscais e telefônicos quebrados pela Justiça de primeira instância, constam ligações e conversas com Waldir Maranhão. As provas colhidas contra o doleiro na Operação Miqueias, da Polícia Federal, agora fazem parte dos inquéritos que investigam o parlamentar. NOVO ANDRÉ VARGAS? - STF investiga as relações do parlamentar com o doleiro Fayed Traboulsi, preso no final de 2013 Uma das principais linhas de apuração é a possível relação do atual vice-presidente com empresas fantasmas sediadas no Maranhão e que abasteciam o esquema de lavagem de dinheiro capitaneado pelo doleiro. A quadrilha de Fayed também operava desviando recursos de fundos de pensão nos Estados e municípios. A defesa do parlamentar pediu que o STF mantivesse os processos em sigilo, mas apenas dados fiscais e contábeis dos investigados e das empresas citadas fazem parte dos anexos em segredo de Justiça. Os desdobramentos do caso representam uma preocupação real para o número 2 da Câmara. A visibilidade do cargo arrastou o ex-deputado André Vargas (sem partido- PR) para um escândalo de corrupção sob acusação também de relações com um doleiro, Alberto Youssef. Apesar dos precedentes, Maranhão afirma que nada teme. “Estou absolutamente tranquilo. É muito importante que qualquer dúvida sobre a conduta de um homem público seja esclarecida. O meu desejo é que a verdade prevaleça”, jura ele. 4#6 GOVERNADOR ENCURRALADO Manifestações populares no Paraná ganham força e obrigam Beto Richa a recuar em pacote de austeridade Ludmilla Amaral (ludmilla@istoe.com.br) O governador do Paraná, Beto Richa (PSDB), sentiu na pele, nos últimos dias, o mesmo que a presidente Dilma Rousseff (PT) poderá vir a enfrentar no plano nacional. Por motivos idênticos. Para tentar resolver o rombo nas contas do Estado, situação que ele legou a si mesmo, o governador reeleito encaminhou à Assembleia Legislativa do Paraná um “pacotaço” que previa, entre outras medidas, alterações na previdência estadual, cortes de benefícios do funcionalismo, além de modificações nas regras de licenciatura dos professores da rede pública. O conjunto de iniciativas de austeridade provocou a ira da população. Na quinta-feira 12, dia da votação das propostas, cerca de oito mil manifestantes, entre estudantes, servidores e professores públicos, cercaram a Assembléia em protesto. Os deputados só conseguiram entrar no plenário escoltados pela tropa de choque da Policia Militar. A entrada dos parlamentares indignou os manifestantes, que entraram em confronto com os policiais. A polícia usou balas de borracha, gás de pimenta e bombas de efeito moral para tentar dispersá-los. Mesmo assim, a multidão conseguiu entrar no local onde os deputados se reuniam. Com o avanço dos manifestantes, a sessão de votação foi cancelada. Diante da intensa pressão, Richa capitulou e orientou pela retirada dos projetos da pauta. Os servidores da área da Educação, no entanto, permanecem numa greve que já dura duas semanas. Depois do Carnaval, os funcionários do departamento de trânsito também resolveram paralisar suas atividades. A fase do governador do PSDB realmente não é boa. Pelas redes sociais, ele foi alvo de uma crítica doméstica. Partiu do cunhado Avelino Antônio Vieira Neto. “Qualquer pessoa de bem tem de criticar quando as coisas poderiam ser diferentes. Também não concordo com o que está acontecendo.” 4#7 POR QUE PAROU? Governo de São Paulo paralisa investigações sobre o cartel de trens, protege servidores indiciados pela PF e engaveta sugestões de grupo criado para apurar escândalo Alan Rodrigues (alan@istoe.com.br) Em julho de 2013, quando o escândalo do cartel de trens em São Paulo foi denunciado nas páginas de ISTOÉ, o governador Geraldo Alckmin posou de vítima. Prometeu punir as empresas e funcionários públicos envolvidos no esquema, disse que cobraria o ressarcimento aos cofres públicos e criou uma comisão composta por representantes da sociedade civil para ajudar nas investigações. Passados quase dois anos, nada andou. As empresas que se locupletaram com milhões de reais do dinheiro público continuam atuando em obras estaduais, servidores não foram punidos, apesar de a Polícia Federal ter indiciado 33 pessoas por corrupção ativa e passiva, nem um centavo desviado retornou aos cofres do Estado e faz um ano que a apuração interna da Corregedoria-Geral do governo está literalmente parada. Desde fevereiro de 2014 nada é investigado e ninguém é chamado para depor. “Eles, do governo, é que não deram prosseguimento às nossas sugestões”, afirma Claudio Weber Abramo, diretor-executivo da ONG Transparência Brasil, que participa do grupo montado por Alckmin. ________________________________ 5# COMPORTAMENTO 25.4.13 5#1 OS BEATOS QUE ATRAEM MULTIDÕES 5#2 NEGÓCIOS DA CHINA 5#3 O REI DO CARNAVAL 5#4 UMA NOVA ESPÉCIE HUMANA? 5#5 DE ONDE VÊM AS ARMAS DO CRIME? 5#1 OS BEATOS QUE ATRAEM MULTIDÕES Quem são os videntes católicos que afirmam ver e conversar com Maria e reúnem milhares de pessoas pelo País Helena Borges (helenaborges@istoe.com.br) Aos 43 anos, o advogado carioca Pedro Siqueira tem, à primeira vista, um cotidiano comum. Casado, pai de um menino de 3 anos, ele trabalha na Advocacia-Geral da União (AGU), é fã de esportes e enfrenta diariamente os problemas de quem vive em uma grande cidade. A diferença é que Siqueira afirma ver e falar com Nossa Senhora. O advogado chega a reunir dez mil pessoas em celebrações nas quais reza o terço e profere mensagens que são atribuídas a Maria. E ele não é o único. No interior do Espírito Santo, a pacata cidade de Serra, com pouco mais de 400 mil habitantes, também virou ponto de peregrinação porque no jardim de uma casa são recolhidas folhas com desenhos e mensagens feitos por formigas a pedido de Nossa Senhora, segundo Maria Aparecida D’Ávilla, 56 anos, que cuida do santuário. Dona de casa, ela diz que vê e fala com a Virgem nas situações mais corriqueiras, como durante as compras no supermercado. Na Bahia, Pedro Regis, 45 anos, é seguido por multidões de até 50 mil pessoas quando narra, em tempo real, palavras que afirma receber da mãe de Jesus. Casado e pai de duas filhas, ele já deu palestras sobre o fenômeno na França, em Portugal e Israel. Juntos, esses três videntes lideram, ao ano, peregrinações de mais de um milhão de fiéis pelo Brasil. Além da particularidade do contato direto com a mãe de Jesus, eles têm em comum o fato de serem católicos “leigos”, que não fazem parte da hierarquia da Igreja (leia outras aparições de Nossa Senhora pelo mundo na pág. ao lado). Isso não quer dizer que entrem em conflito com padres ou bispos. Ao contrário, costumam contar com a compreensão dos representantes oficiais. O papa João Paulo II (1920-2005), por exemplo, era devoto de Nossa Senhora de Fátima, à qual se referia como “Senhora da Mensagem”. O pontífice chegou a se encontrar com Irmã Lúcia (1907-2005), uma dos três jovens que dizem ter visto Maria na Cova da Iria, em Portugal, em 1917. Já o papa Francisco não se diz contra, mas adota uma postura mais cautelosa em relação aos videntes. “Eventos extrassensoriais acontecem. Há inúmeros relatos de pessoas que os sentem ou presenciam. Ninguém os pressupõem”, afirma dom Aldo di Cillo Pagotto, arcebispo da Paraíba. O carioca Siqueira diz ver Nossa Senhora desde criança. Segundo o advogado, ela surge de uma janela espiritual que se abre no teto, veste bata e véu em tons claros, tem os pés descalços, os cabelos escuros e mantém o olhar muito sereno. Em volta dela, anjos e uma aura colorida descem até o plano terreno, sem tocar o chão. Essas experiências já renderam três livros sobre fé católica e suas vivências espirituais. Para não confundir a intenção de ajudar o próximo com a pretensão de ser considerado um clérigo ou santo, o baiano Pedro Regis faz questão de ter um padre ao seu lado sempre que organiza suas orações. Regis conta que muitas pessoas relatam curas de doenças ou resolução de problemas após irem aos encontros promovidos por ele. “Mas se teve algum milagre, foi de Nossa Senhora. Sou apenas um instrumento. Sou pecador, como todas as pessoas”, diz. Nesses eventos, uma cruz é carregada pela multidão e, após as orações, ele repete o que afirma ouvir de Maria. As aparições começaram aos 18 anos, quando Regis passou mal na rua e uma jovem o ajudou a voltar para casa – ela seria Maria. Desde então, ele contabiliza ter recebido mais de quatro mil mensagens da mãe de Jesus. Na região metropolitana de Vitória (ES), Serra também virou local de peregrinação. Lá, em um jardim, que já ganhou fama de santuário, as folhas caem na grama e são atacadas por formigas, que formam com suas pequenas mordidas desenhos do perfil de Nossa Senhora ou mensagens creditadas a ela. O acontecimento já levou zoólogos da Universidade Federal do Espírito Santo a realizarem testes nos rastros deixados – eles concluíram que o tipo de marca não é característica de uma mordida de formiga, mas sim de perfurações por objetos pontiagudos. A dona de casa capixaba Maria Aparecida, destinatária das mensagens deixadas nas folhas, afirma ver Maria em diferentes situações. “Ela é de poucas palavras, mas é brava. De vez em quando fico até sem graça, porque bem no dia em que as folhas são lidas na missa ela me manda uma mensagem de correção”, diz, referindo-se às celebrações realizadas na igreja ao lado do jardim. Duas vezes por mês algumas folhas são lidas por um padre. A igreja tem uma postura cautelosa em relação aos videntes. Quando aparecem relatos de fiéis que viram e ouviram santos e anjos ou receberam revelações da Virgem Maria, o bispo da região designa uma comissão para analisar o caso, composta por padres, psicólogos e médicos. Observam-se, então, as condições psicológicas e de saúde da pessoa e se o tipo de mensagem que ela está passando vai ao encontro dos princípios cristãos. Só após esse processo, que leva anos, o Vaticano se posiciona a favor ou contra a “credencial”. O coordenador do curso de pós-graduação em ciência da religião da Universidade Federal de Juiz de Fora, Emerson Silveira, afirma que não é possível falar de um católico brasileiro com um perfil único. “Há aqueles ligados à Teologia da Libertação e às Comunidades Eclesiais de Base, que colocam em segundo plano ou não prezam a crença em milagres e intervenções de santos, anjos ou Virgem Maria”, diz. Se as mensagens são reais ou não, afirma Silveira, quem julga é a multidão que os segue. O teólogo Afonso Murad, doutor pela Pontíficia Universidade Gregoriana, em Roma (ITA), conta que esse tipo de contato com o divino é aceito com maior facilidade no País pela influência do movimento carismático forte. Mas essa abertura não é necessariamente 100% positiva, já que é preciso ter crivo para aceitar ou refutar algum evento como milagre. “Quando aparecem videntes fanáticos, com mensagens apocalípticas e moralistas que não estão em sintonia com o evangelho e a caminhada da Igreja, não devem ser aceitos como legítimos.” 5#2 NEGÓCIOS DA CHINA Conheça o empresário chinês por trás das milionárias transações de jogadores brasileiros para o futebol oriental, que quer se tornar uma potência no esporte Rodrigo Cardoso (rcardoso@istoe.com.br) O movimento chamou a atenção dos brasileiros nesta temporada, quando o melhor jogador do Campeonato Brasileiro de 2014, Ricardo Goulart, deixou o Cruzeiro (MG) para jogar no Guangzhou Evergrande, o tetracampeão chinês, por R$ 48 milhões. E Goulart não foi sozinho nessa empreitada. Logo depois, o festejado atacante Diego Tardelli anunciou que estava deixando o Atlético Mineiro para jogar no Shandong Luneng, cujo técnico é seu amigo, o também brasileiro Cuca. Por trás dessas e de muitas outras transações – hoje 40% dos estrangeiros que atuam na China são brasileiros – está o indonésio naturalizado chinês Lee Yue Hung, 56 anos. Nenhum outro empresário oriental desfruta, no Brasil, da posição de Joseph Lee, como é conhecido entre cartolas e atletas. Patrocínio - Joseph Lee (acima) mora no País há 35 anos, é casado com uma brasileira e torce para o São Paulo. Wang Jianlin (abaixo) é o segundo homem mais rico da China, mecenas de futebol e amigo de Lee. Lee tem um ótimo trânsito entre os mecenas chineses que, atualmente, patrocinam a expansão da Super Liga Chinesa (CSL). É homem de confiança, por exemplo, de Wang Jianlin, 60 anos, o segundo na lista dos mais ricos da China, 42º na da “Forbes”, dono de uma fortuna avaliada em R$ 49 bilhões. Filho de um veterano da Revolução Comunista, Jianlin trocou a farda do Exército chinês pelos ternos ao comprar uma imobiliária falida e fazer dela um megaconglomerado, o Dalian Wanda Group, que engloba desde lojas de departamento a hotéis. Dalian era o nome de um time de futebol do bilionário. “Wang era dono do time e virou meu amigo. Ele batia no meu ombro e dizia: ‘Leezinho, posso confiar no jogador que você está trazendo para cá?’”, diz Lee. Jianlin, que no final do ano passado adquiriu 20% do campeão espanhol Atlético de Madrid por R$ 140 milhões, injetou R$ 210 milhões na federação chinesa, em 2011, para dar nova vida ao futebol local, que andava desacreditado desde a década passada. Escândalos de corrupção, manipulação e venda de resultados levaram o esporte às páginas policiais. Cartolas, atletas e o único juiz chinês da história a apitar uma partida de Copa do Mundo foram parar atrás das grades. Se os bilionários estão financiando a construção do renovado futebol chinês, é Lee o arquiteto. Foi ele quem levou para o Oriente, além das estrelas Ricardo Goulart e Diego Tardelli, Wagner Love, já de volta, hoje no Corinthians, o argentino Conca (em 2011) e técnicos como Cuca e o campeão mundial pela Itália Marcelo Lippi. O chinês também convenceu o Real Madrid a mandar uma comissão técnica, dois anos atrás, à China para aplicar sua metodologia de treinamentos nas categorias de base do Guangzhou. No Brasil, fez o mesmo, no ano passado, com o São Paulo, que enviou profissionais para cuidar da escola de futebol do Shandong, time que dispõe de um CT para 300 alunos e 22 campos. “Lee é simpático, respeitoso. Muitos empresários não conseguem o mesmo sucesso dele na China”, diz Juvenal Juvêncio, ex-presidente do tricolor paulista. “De vez em quando, o Lee é chato”, diz, em tom de brincadeira, Cuca, técnico do Shandong. Campeão da Libertadores com o Atlético Mineiro, em 2013, ele se transferiu para a China no ano seguinte. “Quando o presidente do clube está insatisfeito com o desempenho de algum atleta, é ele quem vem conversar comigo”, conta Cuca. Fluente em português, malaio, inglês e mandarim, Lee é muito discreto. Filho de um dentista que fabricava chocolate, papelão e espuma, ele mora em São Paulo há 35 anos e é casado com uma brasileira, com quem tem três filhos. No Brasil, antes de conquistar respeito com o futebol, abriu uma loja de carro e um restaurante. “A cultura aqui é mais aberta do que na Ásia, muito mais rígida”, diz o empresário, torcedor do São Paulo, que planeja ver seu negócio crescer ainda mais nas próximas temporadas. “A China se fortaleceu economicamente e tem a maior população do mundo. Entre 20% e 30% dos chineses gostam de futebol. Se fizermos essas pessoas irem para o campo, teremos a maior torcida do mundo.” Para Fernando Ferreira, diretor da Pluri Consultoria, especializada em negócios esportivos, em três anos o valor de mercado dos elencos que disputam o campeonato chinês irá ultrapassar o brasileiro. “Em 2011, a China estava na 60ª colocação entre os mercados mais valiosos do planeta. Hoje, é o 14º. O Brasil é o nono”, afirma. Com base nesses dados, não é para ninguém ficar surpreso com a voracidade com que os chineses têm contratado atletas do Brasil. Tudo sob a batuta de Joseph Lee. 5#3 O REI DO CARNAVAL Como foi a estadia milionária no Rio de Teodorín Obiang, filho do ditador da Guiné Equatorial, que bancou o polêmico desfile da campeã Beija-Flor em homenagem ao país africano Nem as rainhas de bateria nem as comissões de frente. O Carnaval carioca de 2015 vai entrar para a história por ter tido um insólito rei da Sapucaí: Teodoro Obiang Mangue, conhecido como Teodorín, filho do ditador da Guiné Equatorial, Teodoro Obiang Nguema Mbasogo, há 35 anos no cargo. O herdeiro e vice-presidente de 45 anos divertiu-se como poucos na folia carioca. Alugou dois camarotes na avenida por R$ 120 mil e decorou-os com motivos africanos e as cores de seu país. Aos cerca de 40 convidados, serviu paella, bacalhau e champanhe Dom Pérignon. Antes e depois da festa, relaxava em uma das sete suítes de cobertura reservada para a comitiva no luxuoso hotel Copacabana Palace, a um custo de R$ 77 mil a diária. Também gastou R$ 79 mil em um regabofe no restaurante de frutos do mar Marius, um dos mais caros do Rio. DINHEIRO DE QUEM? - O luxuoso desfile custou R$ 10 milhões. A Guiné Equatorial diz que os recursos são de patrocinadores culturais, mas a Beija-Flor afirma que os financiadores são empreiteiras brasileiras com interesses no país O ápice da estadia do clã no Brasil aconteceu na Quarta-Feira de Cinzas, quando a Beija-Flor sagrou-se campeã do Grupo Especial. O enredo da escola era justamente uma homenagem à terra natal dele. Por trás da festa que sacudia Nilópolis, porém, estava a polêmica causada pelos R$ 10 milhões que teriam sido doados à agremiação pela Guiné – uma ditadura sangrenta que desrespeita direitos humanos, massacra opositores políticos e deixa seu povo à míngua, apesar de ser o terceiro maior produtor de petróleo da África. Divulgar o país no Brasil combina com as medidas adotadas nos últimos anos pelo governo de Obiang para melhorar sua péssima reputação internacional. A Guiné Equatorial financiou um prêmio para a promoção da ciência em parceria com a Unesco, da Organização das Nações Unidas, em 2012, o que suscitou duras críticas de organismos de defesa dos direitos humanos. No mesmo ano, a Justiça francesa expediu um pedido de prisão de Teodorín por lavagem de dinheiro. Ele também é investigado por esse crime no Brasil, pelo Ministério Público Federal, desde 2013, em colaboração com a Justiça dos EUA e da França. Não é a primeira vez que o país é celebrado no Carnaval brasileiro. Em 2013, foi o bloco baiano Ile Aiyê que homenageou a Guiné. Desta vez, a oportunidade para a nação africana apareceu após a Beija-Flor amargar o sétimo lugar no ano passado, com um enredo sobre José Bonifácio de Oliveira Sobrinho, o Boni, da Globo. Para 2015, a escola fechou um acordo com Obiang: colocaria a Guiné em destaque em troca dos R$ 10 milhões, valor bem acima dos R$ 5 milhões normalmente gastos pelas demais escolas. A origem dos recursos que financiou a Beija-Flor está cercada de controvérsias. O governo da Guiné nega ter dado diretamente esse dinheiro; disse que seriam de patrocinadores culturais locais. A escola de Nilópolis afirma que a verba saiu de empreiteiras brasileiras que fazem ou fizeram negócios no país africano. Três foram citadas: Odebrecht, Queiroz Galvão e ARG. “São mais empresas, essas são as que eu sei”, diz Fran-Sérgio Oliveira, um dos carnavalescos da agremiação. As empreiteiras, por sua vez, negam. Os negócios entre Brasil e Guiné Equatorial floresceram nos anos petistas. O fluxo comercial saltou de US$ 7.7 milhões em 2002 para US$ 1,2 bilhão em 2014.Há tempos patrocínios assim são comuns. Tudo começou com cervejarias bancando a Império Serrano em 1985. Logo depois vieram forças políticas, com financiamento de Estados e de outros países. “O caso da Beija-Flor choca porque é uma nação pobre tirando recursos que poderiam ser do povo para demonstrar uma falsa realidade”, diz a pesquisadora de Carnaval, Rachel Valença, para quem o dinheiro passou a ser protagonista em vez dos valores autênticos do samba, como as alas de passistas, que perderam importância. “Hoje ganha quem tem mais recursos”, diz. A antropóloga Alba Zaluar, da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), defende que, para evitar situações como essa, os critérios de avaliação devem ser revistos: “É muito luxuoso e impressiona, mas o samba-enredo é uma porcaria, apresenta uma África estereotipada. Por isso, os quesitos não podem ter o mesmo peso”, afirma. Não é de hoje que dinheiro sujo abastece o Carnaval carioca. Afinal, as escolas de samba cresceram bancadas pelos bicheiros. Mas eles não costumavam interferir na criatividade dos carnavalescos. Já a Beija-Flor, acatou até mudanças na letra da música impostas pelo ditador Obiang – ele queria que o nome completo do país fosse citado para evitar confusões entre Guiné, Guiné Bissau e Guiné Equatorial –, medida que não pegou bem nem entre os membros da escola de Nilópolis. 5#4 UMA NOVA ESPÉCIE HUMANA? Análise de fósseis encontrados na China sugere a existência de um ancestral humano ainda desconhecido Paula Rocha (paularocha@istoe.com.br) Um achado arqueológico pode colocar uma nova peça no quadro da evolução do gênero Homo, do qual os homens modernos fazem parte. Em um recente estudo publicado no “American Journal of Physical Anthropology”, pesquisadores do Centro Nacional de Investigação da Evolução Humana, na Espanha, e do Instituto de Paleoantropologia de Pequim, na China, sugerem a existência de um ancestral humano até agora desconhecido. A descoberta é resultado da análise de fósseis, que incluem dentes e fragmentos de crânios de quatro indivíduos, encontrados em uma caverna na província chinesa de Xujiayao, em 1976. “Depois de estudar e comparar os itens achados com mais de cinco mil dentes de outros hominídeos, chegamos à conclusão de que as características dos fósseis em questão não batem com nenhuma espécie que tenha habitado o planeta durante o Pleistoceno superior (de 126 mil a 11 mil anos atrás)”, disse à ISTOÉ María Martinón-Torres, que liderou a pesquisa. Até agora era sabido que, durante esta idade geológica, pelo menos três tipos de humanos primitivos habitavam a Terra. Enquanto o Homo sapiens surgia na África, há cerca de 200 mil anos, os neandertais dominavam a Europa. Entre 400 mil e 50 mil anos atrás, na Ásia e atual Rússia, viviam os denisovanos e na Indonésia, de 95 mil a 17 mil anos atrás, o Homo floresiensis, cuja descoberta só foi confirmada em 2004. O novo ancestral teria ocupado o atual norte da China entre 120 mil e 60 mil anos atrás e poderia ser uma nova espécie ou o resultado do cruzamento entre duas das espécies conhecidas. Segundo María, os dentes analisados teriam algumas características parecidas com as dos Homo erectus (hominídeo que viveu entre 1,8 milhão e 300 mil anos atrás) e outras semelhantes às dos Neandertais. “Eles mostram uma mistura até então inédita”, diz a pesquisadora. “Porém, para afirmar com certeza que se trata de uma nova espécie precisamos de mais fósseis”, afirma. Outra possibilidade é que os dentes e fragmentos de crânio encontrados sejam de indivíduos denisovanos. Esta espécie foi identificada pela primeira vez em 2010, através de uma análise de DNA realizada em dois dentes e uma falange descobertos na caverna de Denisova, na Sibéria. Apesar de terem convivido e procriado com o Homo sapiens, pouco se sabe sobre esse grupo, e, especialmente, sobre sua morfologia. “Por isso não podemos confirmar nem descartar que os indivíduos de Xujiayao sejam denisovanos”, diz María. “Nossa esperança é que mais fósseis sejam descobertos na Ásia.” 5#5 DE ONDE VÊM AS ARMAS DO CRIME? Pesquisa mostra que 38% do armamento apreendido em roubos e homicídios em São Paulo tem origem legal e mais da metade não pode ser rastreada Fabíola Perez (fabiola.perez@istoe.com.br) O número expressivo de armas apreendidas em roubos e homicídios no País mostra que o governo precisa apertar o cerco em torno desse mercado no Brasil. Uma pesquisa inédita realizada pelo Instituto Sou da Paz em parceria com o Ministério Público do Estado de São Paulo constatou que 38% das armas rastreadas na capital paulista foram vendidas legalmente e depois desviadas. Isso mostra a necessidade de uma fiscalização mais intensa sobre o armamento que está sob controle da polícia e nas mãos dos cidadãos e de empresas de segurança privada. De outro lado, o estudo revelou que é impossível detectar a origem de mais da metade das armas por conta do número do registro apagado. “Descobrir a origem é fundamental para que possamos definir estratégias que antecipem a entrada do armamento em circulação, ajudando a reduzir o número de crimes”, diz Márcio Fernando Elias Rosa, procurador-geral de Justiça do Estado de São Paulo. Segundo ele, essa falta de identificação prejudica o esclarecimento de crimes, o reconhecimento dos traficantes de material bélico e gera impunidade. CAI O MITO - O levantamento revela que apenas 2% do armamento capturado com criminosos foi fabricado no Exterior “É preciso ter um diagnóstico mais preciso sobre o caminho que as armas percorrem”, acrescenta Bruno Langeani, do Instituto Sou da Paz. O primeiro passo para um rastreamento mais qualificado por parte da polícia, segundo ele, seria a criação de outros mecanismos de marcação de armas. “Alguns países estão colocando chips nelas para ajudar no esclarecimento de crimes e identificar o trajeto que percorrem”, conta. Um mito que a pesquisa derruba é que boa parte do armamento dos criminosos é fabricada no Exterior e entra pela fronteira. O levantamento mostrou que apenas 2% das armas apreendidas em roubos e homicídios têm origem internacional. “Os governantes costumam dizer que elas vêm de países como Paraguai, mas mais de 90% dos revólveres e pistolas analisadas são nacionais.” ____________________________________________ 6# MEDICINA BEM-ESTAR 25.2.15 AS MARCAS DEIXADAS NO CÉREBRO PELA FALTA DE CUIDADOS NA INFÂNCIA Pesquisas revelam os prejuízos ao desenvolvimento causados pela negligência sofrida por crianças de zero a seis anos Cilene Pereira e Mônica Tarantino Um campo recente de investigação científica está revelando com clareza as marcas deixadas no cérebro por causa da falta de cuidados com as crianças durante seus seis primeiros anos de vida – período batizado de primeira infância. São prejuízos que comprometem a capacidade de aprendizado, de memória e de formação de vínculos afetivos na vida adulta e que também predispõem ao surgimento de doenças como a depressão, a ansiedade e a comportamentos violentos. Por ausência de cuidados entende-se desde a negligência para com ações que asseguram conforto físico à criança, como alimentá-la e vesti-la de acordo suas necessidades, até para com aquelas que lhe garantem segurança emocional. Entre elas estão atos simples como um toque carinhoso e o acolhimento em momentos de medo ou de dor. O mais recente trabalho a demonstrar esse impacto foi divulgado pela equipe comandada por Johanna Bick, do Boston Children’s Hospital (EUA). Os cientistas selecionaram 136 crianças com idade de dois anos e que haviam passado pelo menos um ano em instituições de amparo. Elas foram avaliadas até os 12 anos e seu desenvolvimento cerebral comparado ao de crianças criadas por suas famílias. Aquelas que haviam sido abandonadas apresentavam alterações importantes em partes da substância branca (formada pelas extensões dos neurônios) localizadas, por exemplo, em áreas envolvidas no processamento das emoções. “Essas marcas terão impacto na capacidade futura de raciocínio e de regular as emoções, entre outras funções”, disse à ISTOÉ a pesquisadora Johanna. À conclusão parecida chegou o cientista Jamie Hanson, da Universidade de Wisconsin-Madison (EUA), após analisar o cérebro de 128 crianças negligenciadas. Hanson verificou que elas possuíam tamanho reduzido de amígdala e hipocampo – estruturas cerebrais associadas às emoções e à memória. “Acreditamos que o impacto seja devido à exposição contínua da criança ao hormônio cortisol, liberado em condições estressantes”, explicou o cientista à ISTOÉ. As evidências científicas mostram ainda modificações relacionadas à maior probabilidade de surgimento de doenças como a depressão e a ansiedade e também de dificuldade de criar laços afetivos. “Nos primeiros anos de vida é formado o vínculo emocional da criança com seus cuidadores familiares”, afirmou à ISTOÉ o psiquiatra James Leckman, da Universidade de Yale (EUA), um dos mais renomados especialistas do mundo nesse campo. “Essa ligação contribui para seu desenvolvimento emocional e cognitivo e para seu investimento nas relações pessoais no futuro.” A confirmação pela ciência de que a primeira infância é decisiva para a saúde física e mental na vida adulta está motivando iniciativas para que o período receba mais atenção. Uma delas é a criação do Marco Legal da Primeira Infância. O projeto de lei a esse respeito está seguindo os trâmites necessários para ser aprovado pelo Congresso Nacional. “Ele assegura prioridade absoluta aos direitos das crianças de zero a seis anos”, explica Claudius Ceccon, secretário executivo da Rede Nacional Primeira Infância, formada por mais de 120 organizações envolvidas na promoção do desenvolvimento adequado no começo da vida. “O País precisa investir em políticas públicas e em outras ações nesse sentido”, diz João Figueiró, do Instituto Zero a Seis. Na cartilha para o correto crescimento emocional e cognitivo deve estar presente a preocupação para não exagerar nos estímulos. “Pode haver a aceleração do desenvolvimento. Acaba-se condicionando a criança a fazer coisas que ela poderia fazer e aprender sozinha no seu tempo”, ressalva a socióloga Lourdes Atié, pós-graduada em educação. DANO - Equipe da americana Johanna Bick descobriu que crianças abrigadas em orfanatos apresentavam alterações em sistemas associados às emoções Na dose certa, os estímulos e o amor produzem resultados fabulosos. Pais de Caio e Luiza, de dez meses, Gabriela Domingues e Sérgio Veiga, de São Paulo, sabem bem disso. As crianças nasceram prematuras e passaram três meses na UTI. “Falar com eles, tocá-los, ficarmos próximos, fazia com que se acalmassem”, lembra Gabriela. Muitas vezes até o padrão de respiração mudava para melhor. A psicóloga Marília Kerr também faz questão de oferecer ao filho, Henrique, 3 anos, bases emocionais sólidas. “Fui emocionalmente muito bem nutrida quando criança. Faço o mesmo com ele.” _________________________________________ 7# ECONOMIA E NEGÓCIOS 25.2.15 7#1 UMA BIG REAÇÃO 7#2 COMO ADQUIRIR INGRESSOS PARA A OLIMPÍADA DE 2016 7#1 UMA BIG REAÇÃO Com queda de lucro, corte de investimento e fechamento de lojas, o McDonald's corre para reinventar a marca e impulsionar as vendas Luisa Purchio (luisapurchio@istoe.com.br) O McDonald’s, maior rede de lanchonetes do mundo enfrenta uma de suas mais sérias crises desde 2004, quando virou alvo de campanhas em série contra a obesidade. Os números da empresa, que possui mais de 36 mil unidades e serve todos os dias 70 milhões de clientes, não param de cair. Nos Estados Unidos – onde se concentra seu principal mercado –, a empresa não registra crescimento de vendas desde outubro de 2013. No quarto trimestre de 2014, o lucro líquido da companhia caiu 21% em comparação ao mesmo período de 2013. Prestes a fechar mais de 300 lojas, o McDonald’s tenta sair das cordas e reagir. O britânico Steve Easterbrook, que a partir do dia 1º de março assumirá a presidência da rede, é a esperança de que números mais animadores passem a fazer parte dos balanços da empresa. Vice-presidente encarregado da marca e ex-chefe de operações europeias, ele veio para substituir Don Thompson, que liderou a marca durante 25 anos e deixou a empresa após o anúncio dos resultados ruins. “Ele era um líder muito tradicional”, diz Enzo Donna, presidente da consultoria de fast-food ECD. “O McDonald’s precisa rever seus produtos.” As mudanças já começaram a ser colocadas em prática. Na quinta-feira 19, a marca anunciou a volta dos “chicken tenders”, tiras de frango frito que estiveram no cardápio durante dez anos, mas foram extintos em 2013. A decisão atende à expectativa dos franqueados de priorizar itens mais tradicionais no menu. Outra novidade, implementada na Austrália no final do ano passado, é uma unidade experimental chamada “The Corner by McCafé”, que serve salada de quinoa, arroz integral e suco artesanal. A ideia é abranger um novo perfil de clientes, que prefere alimentos saudáveis. “É preciso mudar a imagem para atrair o consumidor”, avalia Caio Gouvêa, sócio-diretor de Foodservice da consultoria GS&MD Gouvêa de Souza. 7#2 COMO ADQUIRIR INGRESSOS PARA A OLIMPÍADA DE 2016 Quem quiser comprar entradas com antecedência e a preços mais baixos para os Jogos Olímpicos do Rio deve participar de um sorteio. As inscrições estarão abertas até o final de março Luisa Purchio (luisapurchio@istoe.com.br) A primeira fase de vendas de ingressos para a Olimpíada de 2016 já começou. A exemplo do que ocorreu na Copa do Mundo, como o interesse em assistir de perto o evento é bem maior do que a quantidade de entradas disponíveis, os torcedores terão de participar de um sorteio se quiserem adquirir os ingressos a preços mais em conta. Para comprar é preciso se inscrever no site oficial (www.rio2016.com/ingressos) até o final de março. O sorteio será realizado em maio. Em julho, haverá uma nova chance para os que participaram do primeiro sorteio. Quem não se inscrever nesta etapa só poderá participar da compra online, a partir de outubro, ou ficar à mercê dos cambistas ou empresas de revendas, que normalmente colocam o valor do bilhete lá em cima. Os brasileiros terão direito a 70% dos 7,5 milhões de bilhetes da Olimpíada. Deste total, 3,8 milhões custarão até R$ 70. O bilhete mais barato custará R$ 40 (inteira), e o mais caro, o da Cerimônia de Abertura, R$ 4.600. Apenas 3% dos ingressos custam mais de R$ 600. Para efetuar o pedido, os requisitos básicos são: ter mais de 18 anos, possuir CPF e residir no Brasil. As compras podem ser parceladas em até cinco vezes. _____________________________________ 8# MUNDO 25.2.15 A DESCONFIANÇA TOMA AS RUAS Aumentam as suspeitas sobre o envolvimento do governo de Cristina Kirchner na morte do procurador Alberto Nisman e os argentinos fazem uma marcha de protesto que deve influenciar as eleições presidenciais deste ano Ludmilla Amaral (ludmilla@istoe.com.br) Uma tempestade torrencial caía em Buenos Aires no final da tarde de quarta-feira 18 quando cinco promotores de Justiça, Guillermo Marijuán, José María Campagnoli, Carlos Stornelli, Germán Moldes e Raul Plee, chegaram à praça em frente ao Congresso carregando um grande cartaz: “Homenagem ao promotor Alberto Nisman”. A partir dali, o quinteto iniciou uma caminhada silenciosa de poucos quarteirões, em direção à Casa Rosada, sede do governo argentino, na Praça de Mayo. Em menos de uma hora, quando a chuva diminuía, o local já estava tomado por um mar de guarda-chuvas carregados por 400 mil pessoas. Era a “Marcha do Silêncio”, que a presidente Cristina Kirchner vinha sonhando evitar. Não se viam estandartes partidários, nem os tradicionais bumbos das manifestações portenhas. Apenas a bandeira nacional, acompanhada por outras duas, negras. Uma destas estampava a frase “Cry for me, Argentina” – numa versão afirmativa da música-tema da peça teatral “Evita”. Na outra bandeira negra, a explicação do protesto: “Silenciaram Nisman, despertaram milhares”. Em raros momentos, surgia um grito na multidão: “Justiça!”. Políticos de oposição a Cristina, como os pré-candidatos à presidência Sergio Massa, Mauricio Macri e Hermes Binner estavam presentes ao lado de empresários e intelectuais. O governo e seus aliados procuraram desqualificar a marcha, afirmando que ela não passava de um golpe político da oposição. Cristina Kirchner tentou não se mostrar abalada e, momentos antes da caminhada, fez um pronunciamento na TV sobre a produção de energia nuclear. Ignorou o protesto, embora ele se repetisse em outras cidades como Santa Fé e Mar Del Plata e até nas embaixadas argentinas no exterior. A Marcha do Silêncio foi promovida e liderada pelos colegas e familiares de Nisman, encontrado morto no banheiro de seu apartamento com um tiro na cabeça na madrugada de 19 de janeiro. No dia seguinte ele iria apresentar denúncia acusando o Irã pelo atentado anti-semita contra a Associação Mutual Israelita-Argentina, em 1994, e o governo de Kirchner por acobertar os suspeitos em troca de negócios valiosos. Um mês depois, a morte de Nisman ainda não está esclarecida. As autoridades afirmam que Nisman teria se matado, porém a população acredita que o governo pode ter sido o responsável pela sua morte. “De maneira nenhuma admito a possibilidade de suicídio e menos ainda com uma arma no meio”, disse a juíza Sandra Arroyo Salgado, ex-mulher de Nisman, à rádio “Vorterix”, no dia seguinte da passeata. Novas testemunhas apareceram na semana passada, lançando mais dúvidas sobre a investigação realizada pelas autoridades argentinas. Um carpinteiro, cuja identidade foi preservada, chamado para ser observador imparcial do trabalho dos peritos, afirmou à “Telefe” que viu sangue no banheiro da casa e pegadas que saiam do cômodo em direção a um closet. A outra testemunha, Natalia Fernandez, 26 anos, em entrevista ao jornal “Clarín”, contou que foi convocada para ser testemunha dos procedimentos de investigação e que a promotora Viviana Fein, responsável pela investigação, lhe mostrou cinco projéteis de cápsulas. Contudo, a informação oficial é de que apenas um disparo teria saído da arma que matou Nisman. Além disso, Fernandez contou que durante a perícia, os agentes usaram telefone, cafeteira e banheiro do apartamento e também mexeram nos documentos que lá estavam. Assassinado? - O promotor Alberto Nisman investigava o atentado que matou 85 pessoas em Amia. Um dia antes de acusar o Irã pelo atentado, e o governo de Kirchner por acobertar os suspeitos em troca de negócios valiosos, ele apareceu morto em seu apartamento A “Marcha do Silêncio” ocorre num momento delicado para o governo. Este ano, em 25 de outubro, os argentinos escolherão o novo presidente e as recentes pesquisas de intenção de voto dão vantagem a um ferrenho opositor de Cristina, o deputado Sergio Massa, da Frente Renovadora (FR), ex-aliado da presidente. Massa, também peronista, foi chefe de Gabinete de Kirchner, mas saiu do governo rompido com a presidente. Depois dele, aparece em segundo lugar outro nome oriundo do Partido Justicialista (peronista), o governador da província de Buenos Aires, Daniel Scioli, que igualmente não mantém relações afáveis com Cristina. Maurício Macri, do liberal Proposta Republicana, e o socialista Hermes Binner, do Frente Ampla Unen, são os outros nomes destacados nas pesquisas. “O caso Nisman serviu como ponto de partida do protesto, mas a corrupção que assola o país é a razão fundamental da insatisfação”, diz o cientista político argentino Mario Sacchi. “Acho que vai haver uma mudança na política e provavelmente a oposição ganhe a eleição”. A partir dessas manifestações, acredita Sacchi, a oposição começou a entrar em contato e selar acordos. Com a morte de Nisman, o promotor Gerardo Pollicita tomou à frente da investigação sobre o atentado a Amia e na sexta-feira 13, assinou um requerimento para indiciar Cristina, o chanceler Timerman e os outros envolvidos. As duas investigações podem ser cruciais para o resultado da eleição. Estratégia - Cristina Kirchner fez um pronunciamento momentos antes da caminhada para falar sobre o aumento da energia nuclear e ignorou o protesto ____________________________________ 9# CULTURA 25.2.15 9#1 UMA PRINCESA NO III REICH 9#2 OSCAR MUSICAL 9#3 LITERATURA EM GAMES 9#4 EM CARTAZ – CINEMA - O ETERNO PERDEDOR 9#5 EM CARTAZ – DVD - SOB SUSPEITA 9#6 EM CARTAZ – TEATRO - NADA DE NOVO NO FRONT 9#7 EM CARTAZ – LIVROS – CHEGA AO BRASIL LIVRO ACUSADO DE BLASFÊMIA NO EGITO 9#8 EM CARTAZ – CD - PARA SEMPRE PAUL 9#9 EM CARTAZ – AGENDA - MONA/FUKUSHIMA/TANTO 9#1 UMA PRINCESA NO III REICH "Diários de Berlim", mais importante relato da Operação Valquíria, que tentou matar Adolf Hitler, é publicado pela primeira vez no Brasil no ano em que se comemora o cinquentenário do fim da Segunda Guerra Mundial Ana Weiss (ana.weiss@istoe.com.br) Numa tarde abafada de 1944, um conde maneta e cego de um olho se infiltrou num quartel-general da Prússia Oriental onde Adolf Hitler, em algumas horas, se reuniria com o Estado-Maior. Claus von Stauffenberg levava duas bombas, o suficiente para matar toda a cúpula nazista que ali se encontraria. Acredita-se que pela dificuldade motora de Stauffenberg, apenas um dos explosivos cumpriu a missão. Hitler chegou a ter o uniforme destruído pelos estilhaços – existe uma imagem quase cômica de um soldado exibindo o que sobrou das calças do ditador. Mas sobreviveu, debelando o núcleo forte de traidores que ocupavam parte da inteligência do III Reich. O ninho de rebeldes, composto quase todo por altas patentes da SS e aristocratas, queria com o assassinato propor um acordo com os Aliados – mais por entenderem que a Alemanha seria destruída em breve do que por indignação aos crimes nazistas em curso. Entre os escritórios envolvidos com a Operação Valquíria – como entrou para a história a tentativa frustrada de assassinar Hitler –, o Ministério de Relações Exteriores e o Departamento de Informação serviram de cenário para parte importante da articulação rebelde. Só se sabe disso hoje porque ali, em edifícios que mantinham a tapeçaria e móveis das antigas embaixadas, trabalhava uma jovem russa expatriada pela Revolução Russa, a princesa Marie Vassiltchikov, que manteve durante sua vida de funcionária pública da Alemanha nazista um diário detalhado que cobriu os anos de guerra e que só veio a publicar quase 40 anos depois, poucas semanas antes de sua morte. “Diários de Berlim 1940-1945”, reconhecido como o mais importante relato de uma testemunha ocular da ascensão e queda da capital alemã, sai pela primeira vez no Brasil pela editora Boitempo, com comentário de Antonio Candido destacando a “qualidade extraordinária” do livro, como documento e como revelação de personalidade. Marie – Missie para os próximos –, apesar de nobre de origem, tinha a vida comum de uma exilada. Os empregos no governo que garantiam o seu sustento eram conseguidos graças às muitas línguas que falava e aos bons contatos que fez durante a sua vida em território alemão, um cotidiano que ia da fuga de bombardeios a festas em que a aristocracia europeia ainda tentava manter a ostentação de outrora. Numa das passagens, ela descreve que faltava cerveja, mas sobrava champanhe e caviar. AUTORA - Marie Vassiltchikov terminou o livro algumas semanas antes de morrer em 1978 “Muitas partes do diário foram propositadamente destruídas pela autora, conta o pesquisador e tradutor Flávio Aguiar, em entrevista à ISTOÉ, de Berlim. “Há duas hipóteses possíveis: preservação de pessoas da família ou de seu relacionamento, e seu envolvimento, com a conspiração. A autora insiste que foi apenas uma testemunha privilegiada. Mas fica claro que seu envolvimento foi maior”, disse Aguiar. Faltam partes de 1941, 1942 e o começo de 1943. Um dos mais admirados e próximos amigos de quem se pode aferir um perfil heroico é Adam Von Trott zu Solz, o cérebro do atentado e seu chefe no ministério. “Não é possível afirmar com certeza que tenha havido um romance entre ela e Trott, embora a tentação seja grande”, considerou o pesquisador. POR UM TRIZ - Ao lado, o bunker polonês depois da explosão. Se estivesse do outro lado da mesa, onde costumava deliberar, Adolf Hitler (foto) teria morrido na Operação Valquíria. Apenas seu uniforme sofreu com os estilhaços O que se pode dizer com certeza é que o afeto e a admiração mútuos eram muito intensos. Isso fica muito claro nas observações que ela faz sobre a personalidade e o rosto do amigo, que deve ter sido um homem muito atraente, além de um intelectual brilhante e um patriota dedicado. Trott foi julgado e condedado à morte pela traição. Foi enforcado da prisão de Plötzensee, em 26 de agosto de 1944, com cordas de piano. Mesmo com as perdas duras e com a convivência compulsória com os asseclas que Hitler enviava para fiscalizar suas repartições (como Franz Six, que vivia lhe pedindo reuniões particulares), Marie jamais abandonou seus diários. A decisão de publicar, porém, levou muitos anos. Marie Vassiltchikov terminou de editar o livro – quase todo feito em códigos taquigráficos criados por ela e depois datilografados em inglês – algumas semanas antes de morrer de leucemia, em Londres em 1978, cinco anos depois da morte do marido, Peter Graham Harnden, um militar americano. HERÓI - Adam von Trott zu Solz foi integrante da alta cúpula do Ministério das Relações Exteriores, era o arquiteto da Operação Valquíria. Foi condenado à morte e enforcado em 1944 pelo partido nazista com cordas de piano 9#2 OSCAR MUSICAL Maior festa do cinema faz da música carro-chefe da 87ª edição do evento A grande diva do Oscar deste ano é mesmo a música. Não por outra razão, o grande hit da semana nas redes sociais da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas não foram as apostas nos filmes, mas sim a confirmação de Lady Gaga na festa do cinema americano. Ela acaba de ganhar o Grammy pela regravação de “Cheek to Cheek”, em parceria com Tony Bennett. Para conduzir a cerimônia, a escolha não seria Neil Patrick Harris, ator conhecido apenas da série de TV “How I Met Your Mother”, se na entrega do Tony, prêmio maior da TV, ele não tivesse provado que sabe fazer piadas e cantar, tudo ao mesmo tempo, se necessário. Outro convidado pouco esperado para a premiação mais estrelada do cinema americano, Jack Black, nunca conseguiu – nem deve ter tentado – se descolar da banda de rock que encabeça, a Tenacious D, de rock engraçadinho e adolescente. MAIS SHOW, MENOS FILME - Lady Gaga foi mais assunto que os filmes às vésperas da entrega do prêmio. O ator de TV Neil Patrick Harris ganhou o cargo de mestre de cerimônias por ter provado que sabe fazer piadas e cantar ao mesmo tempo Como manda a tradição, os artistas que tiveram músicas indicadas ao prêmio interpretam suas composições –, esta edição a cargo de Adam Levine, Common, Tegan and Sara e o grupo de comédia The Lonely Island. Além das apresentações das trilhas sonoras ao vivo, os produtores Nel Meron e Craig Zadan anunciaram um espetáculo musical multimídia inédito uma semana antes da entrega. Como quase todo o script da premiação, tudo foi mantido em segredo. A origem dos produtores na área musical ajuda a entender o aumento do espaço para a música. Mas em excesso, o recurso pode ser um tiro no pé. Em 2013, para animar a festa, Shirley Bassey cantou “Goldfinger”, seu famoso tema para “007 Contra Golfinger”, de 1963, e Barbra Streisand interpretou “The Way We Were” em homenagem aos artistas mortos no ano anterior. Para compensar o tempo gasto, alguns artistas indicados ao prêmio de melhor canção tiveram suas performances canceladas, e o discurso de agradecimento de alguns vencedores precisou ser encurtado, às vezes de maneira forçada, com o uso de música alta para encobrir a fala. O difícil é ssempre achar a medida. 9#3 LITERATURA EM GAMES Um dos mercados de entretenimento que mais crescem no planeta, os videogames cada vez mais se apoiam na velha e boa literatura Daniel Solyszko (daniel@istoe.com.br) Uma das mídias de entretenimento mais lucrativas do mundo, os jogos de videogame ganham espaço no mercado apelando para uma das mais antigas diversões: a literatura. O jogo Device 6, vencedor do último Apple Design Awards, é um dos exemplos mais bem sucedidos dessa nova vertente, que encontra no Brasil o terceiro maior público no planeta: 45 milhões de usuários. Como num romance, a trama de Device 6 se desenvolve em torno da protagonista Anna, que acorda desmemoriada em um castelo e tenta descobrir como foi parar ali. Ao longo de seis capítulos, o game mistura referências de Franz Kafka e Lewis Carroll, usando o texto de maneira criativa, com frases se movendo na tela em diferentes sentidos. Muito criticado, o popular Dante’s Inferno baseia-se na descrição de Dante Alighieri do tártaro em sua “Divina Comédia”. “Em termos de mecânica, não é um bom jogo, e lembra muito God of War, que já usava diversas fontes literárias”, explica Flávia Gasi, autora de “Videogames e Miltologia” (editora Marsupial). Flávia, cujo livro nasceu de uma tese de doutorado para a Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), defende a ideia de que os jogos não precisam se ater a suas fontes de inspiração. Ela afirma que é comum os jogadores acabarem lendo e pesquisando as influências dos títulos originais. “Muita gente entrou em contato com a mitologia grega, por exemplo”, diz. Espelhos - Alice, a personagem mais famosa de Lewis Carroll (abaixo), serviu de inspiração tanto para American McGee's Alice (acima) quanto para o premiado Device 6 (abaixo) Mais respeitado por jogadores e especialistas é American McGee’s Alice, de 2000. A história se passa depois do fim de “Alice Através do Espelho”, último da série de Lewis Carroll, quando um incêndio destrói a casa da personagem e mata seus pais. Com apenas sete anos de idade, Alice acaba sendo internada em um hospício até reencontrar o coelho branco – ainda sob tratamento – dez anos depois, que a leva de volta para o País das Maravilhas. Outros exemplos criativos do gênero incluem BioShock, de 2009, que usa conceitos da escritora russo-americana Ayn Rand sobre liberdade individual ao retratar uma sociedade aquática, e The Binding of Isaac, de 2011, baseado na Bíblia, que causou polêmica no lançamento ao mostrar uma mãe religiosa atormentada por vozes que ordenam ela a matar o filho. Dois jogos independentes recentes mergulharam mais fundo na fonte literária. O primeiro é uma versão de “Ulysses”, de James Joyce, criada para que o jogador consiga entender melhor a intricada trama. O outro é Elegy For a Dead World, criado especificamente para escritores, no qual o objetivo é trocar histórias sobre civilizações antigas. Parece que a indústria de games entendeu que boas histórias rendem, ainda mais quando o consumidor pode participar de seu rumo. 9#4 EM CARTAZ – CINEMA - O ETERNO PERDEDOR Indicado ao Globo de Ouro de melhor comédia, "Um Santo Vizinho" foi um dos poucos filmes desta premiação que ficaram de fora do Oscar deste ano Ana Weiss (ana.weiss@istoe.com.br) Indicado ao Globo de Ouro de melhor comédia, “Um Santo Vizinho” foi um dos poucos filmes desta premiação que ficaram de fora do Oscar deste ano. Injustiça. O filme acompanha a vida do adolescente de 12 anos Oliver (Jaeden Lieberher), que se muda com a mãe, Maggie (Melissa McCarthy), para uma nova cidade quando ela decide se separar do marido. Com um novo trabalho e sem tempo para cuidar do garoto, ela acaba pedindo para que o vizinho Vincent (Bill Murray) o acompanhe depois da escola. Reticente, o recluso Vincent – um veterano do Vietnã aposentado e alcoólatra – acaba se aproximando de Oliver, por quem se afeiçoa. O diretor Theodore Melfi parte de uma trama típica de “Sessão da Tarde”, que foi, afinal, como muitos de nós conhecemos os Oscar históricos. +5 filmes com Bill Murray O Grande Hotel Budapeste Mais recente filme de Wes Anderson, ambientado num país fictício entre as duas guerras mundiais Flores Partidas Jim Jarmusch filma a história de um solteirão que descobre ter um filho e resolve viajar pelos EUAem busca de suas ex-namoradas Encontros e Desencontros Ator decadente se apaixona por uma mulher casada durante estadia em Tóquio Ed Wood Cinebiografia de Tim Burton sobre o pior diretor de todos os tempos Os Caça-Fantasmas Comédia de Ivan Reitman (que lançou o ator ao estrelato), sobre trio de professores de parapsicologia que resolve combater espíritos malignos 9#5 EM CARTAZ – DVD - SOB SUSPEITA Ana Weiss (ana.weiss@istoe.com.br) Um casamento aparentemente perfeito começa a desmoronar quando Nick Dunne (Ben Affleck) é acusado de assassinar sua mulher, Amy (Rosamund Pike, candidata ao Oscar de melhor atriz). Dunne alega ser vítima de uma armação, o que desperta a suspeita de que Amy pode estar viva. O diretor David Fincher (“Seven”, “Zodíaco”) retoma aqui um dos seus temas favoritos, o da solução de um mistério que gira sempre em falso, e aproveita ainda para ironizar o culto às celebridades na mídia. 9#6 EM CARTAZ – TEATRO - NADA DE NOVO NO FRONT Ana Weiss (ana.weiss@istoe.com.br) Um jovem passa a atirar aleatoriamente em pedestres que atravessam uma rua no momento em que uma mulher tenta cruzar a fronteira entre dois países. Segunda direção de Regina Duarte nos palcos, o espetáculo“A Volta Para Casa” é baseado em textos do escritor romeno naturalizado francês Matéi Visniec. O espetáculo é inspirado em conflitos atuais, mas evita a crítica direta, como sua diretora diante de perguntas sobre política. A montagem pode ser vista no teatro Sérgio Cardoso, em São Paulo, até 1º de março. 9#7 EM CARTAZ – LIVROS – CHEGA AO BRASIL LIVRO ACUSADO DE BLASFÊMIA NO EGITO Ana Weiss (ana.weiss@istoe.com.br) Um monge chamado Hipa descreve sua vida de peregrinação durante o século 5, quando deixa Hipa, no Alto Egito, para seguir por Alexandria e Síria em uma jornada espiritual. No caminho, ele é tentado frequentemente pelo demônio, que o faz pôr em xeque todas as suas crenças. Lançado no Brasil pela Record, “Azazel”, do especialista em estudos islâmicos Youssef Ziedan, vendeu mais de um milhão de cópias no Egito, e ganhou o Prêmio Internacional de Literatura Árabe em 2009. A obra causou polêmica entre membros da Igreja Copta do país – mesma religião do personagem –, que pediu sua proibição e acusou o autor de blasfêmia. 9#8 EM CARTAZ – CD - PARA SEMPRE PAUL Amauri Segalla (asegalla@istoe.com.br) Se fosse preciso fazer uma lista dos dez maiores compositores do século XX, Paul McCartney certamente estaria nela. Não é novidade dizer isso, mas sempre faz bem lembrar dos gênios de verdade – e é justamente isso que se depreende do álbum “The McCartney Of”, que reúne 34 canções do vocalista e multi-instrumentista dos Beatles. Paul tinha – e tem – a estranha habilidade de não fazer música ruim. Coloque suas criações nas vozes de gente como Bob Dylan, Alice Cooper, Brian Wilson, B.B.King, Willie Nelson e Billy Joel e o que nasce daí é um CD extraordinário, que vai muito além do clichê “cover/homenagem”. Ouça Billy Joel em “Live and Let Die” e você será perturbado por uma dúvida incômoda: será que Billy não deu nova alma a um dos maiores clássicos da história do rock? A resposta, acredite, pode ser sim. 9#9 EM CARTAZ – AGENDA - MONA/FUKUSHIMA/TANTO Confira os destaques da semana Ana Weiss (ana.weiss@istoe.com.br) Mona Hatoum (Estação Pinacoteca, em São Paulo, até 1º /3) Exposição com os principais trabalhos da artista libanesa, que inclui vídeos, performances e instalações Fukushima Mon Amour (Caixa Cultural, em Brasília, até 8/3) O japonês Tadashi Endo apresenta o espetáculo de dança inspirado no acidente nuclear ocorrido no Japão em 2011 Tanto Mar (Sesc Vila Mariana, em São Paulo, até 22/2) A peça infantil de bonecos reúne os músicos Danilo Tomic e Cris Miguel tocando uma seleção de músicas de Dorival Caymmi _______________________________________ 10# A SEMANA 25.2.15 por Antonio Carlos Prado e Elaine Ortiz "A BRASILEIRA QUE VAI A MARTE" Há filhas adolescentes que ouvem de suas mães todos os dias: você não vai namorar, você não pode ir à balada, você precisa estudar. Sandra Maria Feliciano já é uma mulher madura aos 51 anos e bem-sucedida como professora, mas nem por isso deixa de escutar a mesma frase todas as manhãs. Dá para adivinhar o que ela tem em mente se ouvirmos a sua mãe: “Você não vai para Marte”. A proibição é em vão. Sandra, que mora em Porto Velho, tornou-se na semana passada a única brasileira a integrar o projeto da empresa holandesa Mars One que está selecionando candidatos e promete enviá-los ao planeta vermelho em 2025 para iniciar a sua colonização – pela tecnologia atual, viagem só de ida. Mais: devido às condições ambientais, estima-se que os “colonizadores” começarão a morrer no 68º dia da missão. “Nada importa, eu vou”, diz Sandra. Deixando para trás 200 mil candidatos, ela agora está entre os 100 que serão reduzidos aos 12 casais a serem colocados no espaço. "O CESSAR-FOGO QUE NUNCA EXISTIU" Durou pouco o futebol dos soldados leais ao governo da Ucrânia nos primeiros momentos de mais uma tentativa de cessar-fogo na guerra contra as forças separatistas alinhadas com a Rússia. O acordo de paz para o conflito, que desde abril do ano passado matou cerca de seis mil pessoas (soldados e civis), foi costurado dessa vez pela França e Alemanha. Na quarta-feira 18, no entanto, violentos combates na cidade de Debaltsev (no leste do país) já deixavam claro que nenhum dos principais pontos acordados seria cumprido (ambos os lados se acusam de ter disparado o primeiro tiro), e um dia depois o Exército ucraniano (com 150 militares feridos e 22 mortos) abandonou Debaltsev tomada por tropas separatistas. O secretário de Estado dos EUA, John Kerry, cobrou do chanceler russo, Sergei Lavrov, que o cessar-fogo seja respeitado – mero jogo de cena, como se ele não soubesse que em nenhum momento (à exceção do curto tempo do bate-bola) o acordo fora cumprido. "PRINCIPAIS PONTOS NÃO CUMPRIDOS DO ACORDO" - O pacto chamado “Minsk 2” estabelecia que na segunda-feira 16 tanto o Exército da Ucrânia quanto os rebeldes começariam a retirada de armamentos pesados. Ambos os lados ignoraram esse ponto; - Estava acertada a libertação de prisioneiros. Deu-se o contrário: as forças pró-Rússia aprisionaram cerca de 300 ucranianos; - Observadores internacionais teriam livre acesso aos principais locais conflagrados. Tal visita não aconteceu. "OS CUIDADOS ECOLÓGICOS DO NETO DE RENAN" O garoto Renzo Calheiros tem 7 anos de idade, é neto do presidente do Senado, Renan Calheiros, e conquistou a simpatia de políticos em Brasília – do Congresso ao Planalto. Na semana passada foi revelado um curto diálogo que ele teve de improviso com a presidente Dilma Rousseff, quando recentemente se viu frente a frente com ela. – Você tem de cuidar dos caranguejos em Barra de São Miguel, Dilma. Você tem de cuidar, porque senão eles vão acabar (a praia Barra de São Miguel fica em Alagoas). – Mas eu não posso fazer nada sobre esse assunto. – Mas você é presidente da República, presidente pode tudo. "SÓ UM BATE-PAPO" Durou cerca de 20 minutos no Vaticano a reunião informal, na quarta-feira 18, do presidente do STF, Ricardo Lewandowski, com o papa Francisco. Conversaram, segundo a assessoria do tribunal, sobre o “papel do Judiciário na promoção da justiça e da paz social, na garantia dos direitos fundamentais da pessoa humana e na realização de objetivos de desenvolvimento sustentável”. Lewandowski foi à Itália para se encontrar com o presidente da Corte Constitucional – equivalente ao nosso STF. "JOÃO PAULO CUNHA FICARÁ EM PRISÃO DOMICILIAR" De todos os políticos do PT presos no processo do mensalão faltava apenas o ex-deputado João Paulo Cunha conseguir a autorização do STF para cumprir pena em prisão domiciliar. A decisão veio na quarta-feira 18, chancelada pelo ministro Luís Roberto Barroso – depois que Cunha comprovou o pagamento da multa de R$ 536 mil pelos desvios ocorridos na Câmara dos Deputados quando ele presidia a Casa entre 2003 e 2005. O ex-deputado está no regime semiaberto e contando-se os dias trabalhados ele já cumpriu um sexto da sentença de seis anos e quatro meses. "MADURO PRENDE PREFEITO OPOSICIONISTA DE CARACAS" Em mais uma demonstração do autoritarismo característico do chavismo, o presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, mandou prender na quinta-feira 19 o prefeito de Caracas, Antonio Ledezma. Mal havia acontecido a prisão, Maduro foi à TV dizer que o prefeito, um de seus mais aguerridos adversários, tenta há tempos promover um golpe de Estado. Disse também que ele foi preso por ordem da Promotoria e será processado por ter participado do golpe de 2002 que apeou do poder por três dias o então presidente Hugo Chávez. A Venezuela passa por uma profunda crise econômica com recessão do PIB de 2,8% no ano passado, inflação de 68% e escassez de produtos básicos. Ledezma é o mais graduado político detido pelo governo de Maduro, que já cassou o mandato da deputada Maria Corina Machado, investigada por supostamente ter tomado parte de uma conspiração para assassiná-lo. Há um ano o também líder oposicionista Leopoldo López foi preso sob a acusação de instigar protestos que deixaram 43 mortos. "ASSASSINATO DE UMA MULHER E DE SEUS BEBÊS GÊMEOS REVOLTA O BRASIL" Um crime bárbaro chocou o País na semana passada. O comerciante Matusalém Ferreira Júnior está preso na cidade mineira de Uberaba sob a suspeita de ter premeditado o triplo homicídio no qual foram mortos Izabella Gianvechio e os bebês gêmeos de dois meses Lucas e Ana Flavia, filhos de seu relacionamento amoroso com o acusado. Segundo a polícia, Matusalém planejou os assassinatos e contratou o pistoleiro Antônio Moreira Pires para executá-los porque não queria assumir a paternidade. Uma prova contundente é um áudio gravado por Izabella no qual ela relata que se encontraria com Matusalém e levaria junto as crianças, a pedido dele. Izabella fez o áudio porque já pressentia que algo de ruim poderia acontecer. E infelizmente aconteceu. Os três corpos foram encontrados na região da cidade paulista de Aramina (cerca de 45 quilômetros de Uberaba). Na quinta-feira 19 o executor também foi preso. "POUCO PEIXE E MUITO IMBRÓGLIO NO MEGA-AQUÁRIO CEARENSE" É no mínimo polêmica a construção de um mega-aquário na praia cearense de Iracema. Foi planejado para ser o quarto maior do mundo com 15 milhões de litros de água e 38 tanques. E pretende-se que ele atraia anualmente cerca de 1,2 milhão de turistas. Na semana passada, a construção desse aquário, uma das vitrines do ex-governador e hoje ministro da Educação Cid Gomes (PROS), foi paralisada a pedido da principal responsável pela obra, a empresa americana ICM Reynolds – ela alega erros em medições e falta de pagamentos. A inauguração do aquário, marcada para o mês passado, foi empurrada para 2017. E seu custo está estimado em R$ 300 milhões. "26%" 26% é o índice de queda de recursos destinados à promoção da cultura brasileira no exterior nos últimos dez anos. Os R$ 39,2 milhões investidos em 2004 desabaram para R$ 29 milhões no ano passado. Os dados são do Ministério da Cultura. "ANUNCIADA NOVA SUBSTÂNCIA CONTRA O HIV" A ciência acredita que o vírus transmissor da Aids em seres humanos tenha surgido em meados do século XVII, quando o vírus similar em macacos sofreu mutações genéticas em seu RNA – assim, do SIV (vírus da imunodeficiência símia) nasceu o HIV (vírus da imunodeficiência humana). Na semana passada, pesquisadores americanos fizeram em laboratório o caminho inverso: a partir do HIV subtipo 1, o mais comum na infecção ao homem, chegaram a um bloqueador do SIV que protegeu os macacos expostos ao contágio ao longo de oito meses. Essa substância está sendo denominada de eCD4-Ig e foi possível inoculá-la nas células das cobaias valendo-se de outro vírus inócuo que funcionou meramente como um meio de transporte. "O ROUBO DE US$ 1 BILHÃO" Uma quadrilha de hackers roubou mais de US$ 1 bilhão de 100 instituições financeiras em todo o mundo ao longo dos últimos dois anos – os ladrões tinham como bases principais de atuação a Rússia, a Ucrânia e a China. O fato veio a público por meio de um relatório da companhia de segurança em internet Kaspersky, de Moscou, que atua conjuntamente com a Interpol e a Europol. Os hackers não retiravam o dinheiro das contas dos clientes, mas sim dos próprios cofres dos bancos por meio de vírus que instalavam nos computadores. "MOEDAS DE OURO NO FUNDO DO MAR" Foi por acaso que integrantes de um clube de mergulho encontraram no antigo porto de Cesareia, na costa mediterrânea de Israel, duas mil moedas de ouro datadas de cerca de um milênio – estima-se que sejam as mais antigas das que foram cunhadas em Palermo, na Sicília, na segunda metade do século IX. Estão levantadas duas hipóteses para a origem das moedas: dinheiro de impostos transportado para o Egito ou dinheiro de pagamento dos homens que trabalhavam no porto. "A VALE VOLTA À CHINA" Depois de três anos de proibição, o governo da China decidiu reabrir os mares do país para os navios de grande porte operados pela Vale, como a embarcação Valemax (foto, capacidade de 400 mil toneladas). O embargo não era oficial, mas funcionava por protecionismo aos armadores chineses que se sentiam prejudicados pelo fato de a Vale construir os maiores navios em todo o mundo para o transporte de minerais. No ano passado, 77% do minério de ferro importado pela China saiu do Brasil e da Austrália. "CLP - OU CONSOLIDAÇÃO DAS LEIS DA PROPINA" Paulo Roberto Costa, ex-diretor da Petrobras investigado pela Lava Jato e que colabora com a polícia e o Ministério Público Federal sob o regime de delação premiada, assegurou em um de seus depoimentos que continuou recebendo propinas, mensalmente, mesmo após ser demitido da estatal em 2012 – como se propinas fossem direitos trabalhistas previstos em lei que tivessem de ser pagos pela empresa. Por mês as “propinas-desemprego” chegaram ao montante de R$ 550 mil. Foram pagas até somarem cerca de R$ 8,8 milhões. "7,27%" 7,27% será a inflação no Brasil em 2015, segundo estimativa das principais instituições financeiras do País. O índice foi divulgado na quarta-feira de cinzas. No mesmo dia, analistas consultados pelo Banco Central disseram esperar uma retração da economia na casa do 0,42% - há uma semana eles trabalhavam com expectativa de crescimento zero, mas não de retração. "BRASILEIRO GANHA INDENIZAÇÃO DE US$ 2 MILHÕES" O mestre em taekwondo André de Oliveira é mineiro, tem 56 anos de idade, já foi cinco vezes campeão brasileiro em artes marciais e mora atualmente nos EUA. Na semana passada ganhou na Justiça americana (em um júri de Denver, no Colorado) o direito à indenização no valor de US$ 2 milhões (cerca de R$ 5,6 milhões) por ter sido objeto de racismo – ele é negro. Além de dar aulas de luta, André trabalha numa empresa que presta serviços para o U.S Postal Service. Segundo alega, foi nessa prestadora que começou a “discriminação racial quando contrataram uma gerente que nem sequer cumprimentava os funcionários negros”. Mais: “Os brancos começaram a me chamar de preto folgado”. Juntamente com seis colegas, André recorreu à Justiça. E ganhou. O que fará com o dinheiro? “Quero dar para as minhas filhas uma vida digna”, disse ele. "PROFISSÃO DE ALTO RISCO" Dados da Associação dos Magistrados Brasileiros e do CNJ mostram que pelo menos 202 juízes do País recebem ameaças de morte e precisam de proteção policial – 83% dessas casos se dão na Justiça comum. - 162 magistrados ameaçados estão em tribunais de Justiça (são portanto desembargadores) - 23 juízes atuam em tribunais regionais do trabalho - 12 trabalham em tribunais regionais eleitorais 5 juízes com proteção policial estão em tribunais regionais federais - Em todo o Brasil, a cada 100 juízes 1 está ameaçado de morte