0# CAPA 24.12.14 ISTOÉ edição 2352 | 24.Dez.2014 [descrição da imagem: no centro da capa foto com (da esquerda para a direita) RICARDO PESSOA - Diretor da UTC, EDUARDO LEITE - Vice-presidente da Camargo Corrêa, e JOSÉ ADELMÁRIO PINHEIRO FILHO - Presidente da OAS.] A PRESSÃO DO NATAL Executivos presos entram em depressão e ameaçam contar tudo para passar o fim de ano em casa. [parte superior da capa: foto de Sérgio Moro] BRASILEIRO DO ANO Sérgio Moro, o juiz da operação lava-jato, é o brasileiro do ano de ISTOÉ. Conheça os outros escolhidos. _______________________ 1# EDITORIAL 2# ENTREVISTA 3# COLUNISTAS 4# ESPECIAIS – BRASILEIROS DO ANO 2014 5# BRASIL 6# COMPORTAMENTO 7# MEDICINA E BEM-ESTAR 8# ECONOMIA E NEGÓCIOS 9# MUNDO 10# CULTURA 11# A SEMANA _____________________________ 1# EDITORIAL 24.12.14 "OBAMA FAZ HISTÓRIA" Carlos José Marques, diretor editorial O histórico reatamento das relações dos EUA com Cuba estabelece uma nova ordem no tabuleiro da diplomacia global. Como último resquício da Guerra Fria, o bloqueio político e econômico convertia a ilha de Fidel em um território inexpugnável do comunismo, umbilicalmente dependente dos russos e de países simpatizantes do bolivarianismo, como a Venezuela, que ainda enxergam os EUA como o inimigo a ser vencido. Na jogada de mestre para normalizar as relações, Obama tenta uma nova abordagem que pode pôr fim a décadas de animosidade na região, com reflexos positivos para todos os envolvidos. O embargo econômico ainda deve vigorar por mais algum tempo – afinal, só pode ser derrubado pelo Congresso americano –, mas a simples sinalização de entendimentos de lado a lado encoraja o mundo a imaginar que uma era de diálogo propositivo está se iniciando no concerto das nações. Estava mais do que claro que as medidas restritivas impostas a Cuba alimentavam por inércia a permanência do regime, que, de mais a mais, se tornou anacrônico nos dias de hoje. Os defensores da ditadura local tinham na retaliação externa o argumento ideal para levar adiante sua política. Cuba atualmente se debate contra o atraso. Enquanto ainda impõe à população um estado repressivo e cerceador de direitos, esforça-se para viabilizar avanços de outra natureza. O atual presidente, Raúl Castro, irmão e sucessor do líder revolucionário Fidel Castro, empreendeu de uns tempos para cá medidas que permitiram alguns benefícios básicos aos cubanos, como a aquisição de carros e imóveis. Porém, a maioria das mudanças esbarra na limitação de recursos e no baixo desenvolvimento interno. A reabertura de diálogo com os EUA, após a quase falência dos aliados históricos, como Rússia e Venezuela, serve ao intento de Raúl. Barack Obama, por sua vez, na reta final de mandato, pode cravar a pacificação como grande marca de seu governo. Os sinais dados até aqui pelos dois líderes são animadores não apenas como demonstração do fim das hostilidades. Além de liberarem presos políticos e discutirem o restabelecimento das embaixadas já a partir do próximo ano, eles vão emanar esforços conjuntos para a retomada, no mais curto espaço de tempo, das transações comerciais e financeiras entre os dois países, com reflexos difusos pelo mundo todo, Brasil inclusive. Um grande marco. ____________________________________________ 2# ENTREVISTA 24.12.14 GILMAR MENDES - "VIVEMOS UMA ESCALADA DAS DEGRADAÇÕES" Ministro do STF diz que a Lava Jato pode atingir outros órgãos do governo e que não adianta discutir financiamento de campanha antes da revisão do sistema eleitoral Eumano Silva ROTINA Para o ministro do STF, é difícil imaginar que haja negócios sem irregularidades Os brasileiros devem se preparar para viver, em 2015, um ano de grandes desafios nos três poderes da República. Esse é o diagnóstico do ministro Gilmar Mendes, do Supremo Tribunal Federal (STF). A mais alta corte do Judiciário deverá julgar, por exemplo, várias questões relacionadas ao salário do funcionalismo público, assunto que tem reflexos no Executivo e no Legislativo. O caso que vai mobilizar as principais autoridades do País, no entanto, será o escândalo da Petrobras. "Nós que tínhamos tanto orgulho da Petrobras estamos todos constrangidos e envergonhados. Estamos sendo apresentados como culturalmente corruptos" As decisões do STF sobre as descobertas da Operação Lava Jato, da Polícia Federal, podem atingir caciques políticos com mandato eletivo, executivos e donos de grandes empresas – em especial empreiteiras –, integrantes do governo atual e de gestões passadas. Pelo que viu, até agora, Mendes se diz “chocado e perplexo” com a extensão da rede criminosa que sangra os cofres da maior estatal do País. Na opinião do ministro, os tentáculos da poderosa organização ilegal podem chegar a outros órgãos do governo. “É difícil imaginar que haja negócios regulares nesse ambiente”, afirma Mendes. "Temos de definir o custo de campanha. O Duda Mendonça disse que é preciso acabar com as campanhas artificiais na TV. Vimos agora que, dos gastos da campanha vitoriosa, mais de R$ 70 milhões foram para o João Santana" Istoé - O STF está preparado para essa situação? Gilmar Mendes - Penso que sim. O tribunal tem crescido em momentos difíceis, isso é próprio de instituições com certa tradição. Muitas vezes o tribunal é maior do que a composição individual, que às vezes deixa a desejar. Mas a gente não pode atribuir essa missão exclusivamente ao tribunal. É fundamental que o estamento político realize sua missão. Por exemplo, a reforma política não pode ser obra de tribunal. Istoé - O que mais chama sua atenção nesse processo deflagrado pela Operação Lava Jato? Gilmar Mendes - Estou chocado e perplexo com as revelações em torno da Petrobras. Um dia desses um jornal publicou que, entre dirigentes da Petrobras, havia até um tipo de troca de créditos de propina. É difícil, diante da narrativa a que tivemos acesso até aqui, imaginar que haja negócios regulares nesse ambiente. Chega ao cidadão, mesmo aos mais simples, a ideia de que essa é a rotina. Isso choca. É a normalização do mal. Istoé - Por que isso acontece? Gilmar Mendes - Até pouco tempo atrás costumava-se dizer que a corrupção estava associada ao financiamento eleitoral. Mas estamos a ver que os recursos não fluem necessariamente para os caixas dos partidos. Há patrimonialização, contas no exterior em volumes elevadíssimos, até uma devolução de US$ 100 milhões. Fala-se também, nas delações, de pessoas que já assumiram compromisso de devolver R$ 500 milhões. No mensalão, nós orçávamos os valores dos desvios em torno de R$ 170 milhões e achávamos que aquilo era significativo. Istoé - Qual é o grande ensinamento do processo do mensalão? Gilmar Mendes - Do ponto de vista institucional, acho que mostrou que se encerrou um ciclo tendencial de impunidade. Virou um processo símbolo, por conta de todas as implicações, dos sujeitos envolvidos. Do ponto de vista processual, mostrou-se também que é quase impossível julgar um processo com 40 pessoas, aqui, no plenário do Supremo. Por isso, fragmentamos as competências do plenário, passamos para as turmas e estamos a exercitar essa segmentação de processos. Istoé - Apesar das condenações do mensalão, o escândalo da Petrobras demonstra que as práticas corruptas continuaram. Houve mesmo esse aspecto educativo? Gilmar Mendes - A gente percebe que tem algum efeito, talvez, tendo em vista a delação premiada agora. As pessoas viram, por exemplo, que os operadores, como o publicitário Marcos Valério ou Kátia Rabello, do Banco Rural, tiveram penas elevadas, se levarmos em conta as que foram aplicadas às pessoas do segmento político. Tenho a impressão de que isso estimulou esse ânimo de cooperação que nós estamos vendo e que está resultando positivo. Mas concordo que a práxis indica uma certa normalização desse tipo de conduta. Se imaginamos que essa rede de propinas se instalou há muitos anos na Petrobras, por que não estará também em outras estatais, nos fundos de pensão e em outros entes sob a influência desse Estado ocupado partidariamente? Istoé - A Petrobras sobrevive a essa crise? Gilmar Mendes - Esse é o grande desafio. Nós que tínhamos tanto orgulho da Petrobras, de suas façanhas históricas, estamos todos constrangidos e envergonhados. Essas investigações nos Estados Unidos são constrangedoras. Empresários que também têm raízes no exterior dizem que essas investigações se refletem também em outras empresas brasileiras. É a credibilidade do País que está sendo afetada. Estamos sendo apresentados como culturalmente corruptos. Isso é extremamente grave, precisamos reagir. Vivemos uma escalada das degradações. Istoé - Por que o sr. pediu vista de um processo que acaba com as doações eleitorais das empresas privadas? Gilmar Mendes - O discurso fácil é que a corrupção existe por conta do financiamento das empresas privadas. Parece que o petrolão está desmentindo isso. O Brasil chegou ao modelo do financiamento das empresas privadas depois do episódio do impeachment do presidente Fernando Collor. Foi a CPMI do Paulo César Farias e do Collor que recomendou a adoção do financiamento das empresas privadas, com um certo limite, para evitar o caixa 2. E agora se diz que o financiamento das empresas privadas rima com corrupção. Parece que se imaginava, com isso, mudar o sistema eleitoral. O partido que desenhou essa proposta (o PT) queria o financiamento público e o voto em lista. A minha objeção é que nós temos de discutir o sistema eleitoral para saber qual é o modelo de financiamento. E não discutir o modelo de financiamento para definir o sistema eleitoral. Istoé - Nas contas eleitorais da presidente Dilma, o sr. chegou a suspeitar de doações feitas no caixa 1 com dinheiro ilegal... Gilmar Mendes - Não se sabe, necessariamente. Chamo a atenção para o fato de que não adianta simplesmente vedar a participação das empresas privadas se nós não definirmos qual vai ser o modelo eleitoral. E, claro, temos de definir o custo de campanha. O publicitário Duda Mendonça disse que é preciso acabar com as campanhas artificiais na televisão. Vimos agora que, dos gastos da campanha presidencial vitoriosa, mais de R$ 70 milhões foram para o (marqueteiro) João Santana. Istoé - O que os técnicos do TSE apontaram de mais importante no trabalho sobre as contas da presidente Dilma? Gilmar Mendes - Os técnicos apontaram alguns desvios, mas um percentual alto estava no fato de não ter havido a prestação de contas no tempo certo, o que é um problema operacional sério para os partidos e, por isso, reconhecemos. Algumas incongruências nós apontamos. Por exemplo, o segundo maior gasto, de R$ 24 milhões, foi para aquela empresa de São Bernardo dirigida por um motorista. Surgiram dúvidas se determinada empresa fez doação porque é grande beneficiária de financiamento do BNDES. Há nisso uma condicionalidade, ou não? A mesma coisa vale para empresas prestadoras de serviço para o governo. Tudo isso não é suscetível de ser examinado no âmbito do TSE. Por isso, mandamos essas dúvidas para os órgãos competentes como Ministério da Fazenda, Coaf e TCU para que possam também fazer a devida avaliação. Istoé - Além dos julgamentos de pessoas com direito a foro especial, que outros casos vão mobilizar o STF em 2015? Gilmar Mendes - Teremos a retomada das atividades nas causas de repercussão geral – algumas já foram colocadas este ano. Por exemplo, o direito a uma possível revisão geral anual dos salários dos funcionários públicos. Isso começou a ser julgado e está com um pedido de vista. Temos a desaposentação, também já colocada, várias questões de índole tributária e os planos econômicos, cuja votação ficou suspensa. Há também refregas corporativas. Nós temos muitas questões salariais tensionando o ambiente. Os próprios juízes estão mais reivindicativos. Nós temos essa questão do auxílio-moradia e certamente outras categorias vão tentar também obter algum tipo de vantagem. Vislumbro um ano muito tenso nesse ambiente corporativo, especialmente no STF. Istoé - Até que ponto essas ações que aumentam os gastos públicos ameaçam as contas do governo? Gilmar Mendes - Estou muito preocupado com esse quadro. Tenho a responsabilidade fiscal como um pressuposto de toda a ação estatal. Quando começamos a conceder vantagens sem base legal, em geral infringimos também a lei orçamentária e corremos o risco de, daqui a pouco, termos dado um benefício sem termos condições de assegurar a sua continuidade. Na magistratura federal nós já temos o auxílio-alimentação e, recentemente, o auxílio-moradia, baseado em uma liminar do ministro Luiz Fux, estendido pelo CNJ. Tem um valor único, de R$ 4.500, independentemente do local onde a pessoa vive, e de o sujeito ter ou não imóvel. Isso convida outras categorias a reproduzir a mesma prática, como já acontece no Ministério Público, que é paradigma dessa ação. A defensoria pública está fazendo a mesma coisa. Daqui a pouco, vêm auditores, delegados, consultores legislativos e assim por diante. Istoé - A Comissão da Verdade recomenda uma reinterpretação da Lei da Anistia. O sr. acredita que possa haver uma mudança nessa questão? Gilmar Mendes - Vamos aguardar a provocação. Existe um dado que, às vezes, escapa. A ideia da anistia ampla, geral e irrestrita veio também no próprio processo constituinte, no artigo 4° da emenda que convocou a Assembleia Nacional Constituinte. Está na base da nossa ordem constitucional. A emenda incorporou aquela regra básica. A mim me parece que esse debate foi levado a cabo com toda a competência em todos os sentidos pelo tribunal. ___________________________________________ 3# COLUNISTAS 24.12.14 3#1 RICARDO BOECHAT 3#2 LEONARDO ATTUCH - É MESMO O FIM DA GUERRA FRIA? 3#3 RICARDO AMORIM - SURPRESAS BOAS NA ECONOMIA?! 3#4 GISELE VITÓRIA 3#5 BRASIL CONFIDENCIAL 3#1 RICARDO BOECHAT Com Ronaldo Herdy "Tô ligado" O que se suspeitava foi comprovado neste início de verão. Uma pesquisa com brasileiros habitués das redes sociais feita pela consultoria inglesa Sparkler constatou que 98% das 1.009 pessoas entrevistadas acessam o Facebook nas férias – 92% fazem login diariamente. Mais da metade dos usuários (73%) admitiu que a conexão é hábito. Para muitos desligar-se da rotina diária hoje não é dar off no Facebook. Entidade de classe Troca-troca Na quarta-feira 17, Herculano Anghinetti pediu demissão da presidência da Associação Brasileira das Indústrias de Refrigerantes e de Bebidas Não Alcoólicas, após quatro anos no cargo. Alegou razões pessoais. Seu substituto foi escolhido em assembleia no mesmo dia. A partir de 5 de janeiro, Alexandre Kruel Jobim terá vários desafios pela frente, como discutir no STF a legitimidade das autuações da Receita Federal em associados da Abir, relativas a créditos de IPI, que somam uns R$ 4 bilhões. O advogado é filho de Nelson Jobim, ex-ministro do supremo. Brasília Sem brilho Quem percorre o Lago Sul em Brasília nesta época do ano não se depara com um cenário cintilante. As mansões das grandes empreiteiras estão sem sinais de que abrigarão as megafestas de anos anteriores. Pudera. Com 42 de seus altos executivos denunciados pelo Ministério Público Federal no escândalo da Petrobras, as casas talvez permaneçam fechadas por mais tempo – ou quem sabe para sempre. Concorrência Devagar, devagarinho... Foi adiada a licitação da Casa da Moeda para escolha do sistema de controle de venda de bebidas no Brasil, que permite à Receita Federal verificar quantas garrafas ou latinhas foram negociadas para recolhimento de impostos. O processo, iniciado em 2012, prevê para abril a abertura das propostas. A suíça Sicpa, há seis anos fornecedora única, disputa o contrato – de R$ 1,3 bilhão anual – com a brasileira Valid. Telecomunicações Bem mais São 37,5 milhões de clientes da TIM com smart-phones – de 75 milhões de assinantes. Citamos na última edição que eram dez milhões com celulares inteligentes – diferença de 26,76%. Colunistas também precisam de férias. Brasil Na corda bamba Aumentou muito a pressão do PMDB do Rio de Janeiro para ocupar o Ministério dos Esportes. Isso foi tratado na terça-feira 16, no Planalto, em reunião com a presença de Aldo Rebelo. Menos de 24h depois, o prefeito carioca Eduardo Paes voltou ao tema, também em Brasília, em encontro sobre a Olimpíada. Aldo prestou conta do andamento das obras desportivas e o alcaide, das construções em infraestrutura. O ministro deve lamentar não ter disputado em outubro um sétimo mandato de deputado federal pelo PCdoB-SP. Lava Jato Alvo fixo Acusado de corrupção passiva e lavagem de dinheiro em 64 operações de transferência de valores ao exterior, Nestor Cerveró deverá receber sanção tão grave quanto Paulo Roberto Costa, no processo aberto contra ele na segunda-feira 15, na Comissão de Ética Pública (CEP) da Presidência da República. A “censura ética” o inabilitará para assumir cargos públicos. A investigação é para saber se recebeu US$ 40 milhões em propinas, junto com o lobista Fernando Soares. Sua primeira ação na CEP é se sonegou informações ao conselho de administração da Petrobras, como diretor da área internacional, na compra da Refinaria de Pasadena. Indústria farmacêutica Trio de ouro A poucos dias do apagar das luzes de 2014, um anti-hipertensivo (Losartana Potássica) vai encabeçar a lista dos medicamentos mais comercializados no País. Ele dará à Neoquímica receita da ordem de R$ 500 milhões. O analgésico Dorflex vem a seguir – cerca de R$ 450 milhões de faturamento para o Sanofi. No terceiro lugar estará o anti-inflamatório (Torsilax) – R$ 400 milhões para a Neoquímica. Brasil Tempo de espera O Ministério da Fazenda vive dias incomuns. Com a saída de Guido Mantega e a não posse de Joaquim Levy, burocratas evitam grandes decisões. Se alguém acha que a situação se assemelha à de Hidra de Lerna, cuidado: o monstro de um corpo e mais de uma cabeça tinha hálito venenoso. Internacional Escola infame Principal ONG americana dedicada à formulação de políticas públicas para a América Latina – o Council on Hemispheric Affairs – aplaudiu o Relatório da Comissão da Verdade no Brasil. Ao fazê-lo revelou um horror. De 1954 a 1985, 300 militares brasileiros cursaram a Escola das Américas, operada pelo governo dos EUA. As aulas sobre como administrar sessões de tortura tinham por base um modelo criado pelo Exército francês (na luta contra a independência da Argélia) e técnicas da CIA, da Guerra do Vietnã. Criminosos de guerra nazistas, contratados pelo governo americano, também ensinaram tortura aos brasileiros. O prédio da Escola das Américas no Panamá, hoje, abriga o Hotel Melia. Tão insólito como se a casa da morte em Petrópolis virasse uma pousada para turistas. Petrolão Letras mortas Dentro da Petrobras hoje, Paulo Roberto Costa, Nestor Cerveró e Renato Duque são considerados “diretores infiéis”. Quando eram “estrelas”, os três participaram de reunião da diretoria executiva que aprovou o “Código de Ética da Petrobras”, em 2006. Ao que parece, nunca leram o documento. O item 1.5 obriga o funcionário da empresa “a promover negociações honestas e justas, sem auferir vantagens indevidas por meio de manipulação, uso de informação privilegiada e outros artifícios”. Gastos Públicos Boa boca Que não se ofendam os integrantes da Comissão Aeronáutica Brasileira em Washington. Mas em plena era da comunicação instantânea faz sentido manter na capital americana três coronéis, um major, um capitão, dois suboficiais e quatro civis, com salários de até US$ 10 mil (fora gastos com logística) para tratar de “interesses operacionais” da FAB? A gastança irracional não fica nisso. Há outra Comissão igualzinha, em Londres. Coisa de país rico... Festas Sorte grande...nota fria Há um mês o Barrashopping, um dos maiores do Rio de Janeiro, sorteou um BMW entre seus clientes que fizeram compras de Natal nas lojas do empreendimento. O ganhador do carrão despertou suspeitas ao revelar-se incapaz de lembrar quais lojas tinha frequentado ou o que havia adquirido. Mexe daqui, vira dali, o golpe veio à tona: a figura conseguiu R$ 1,4 milhão em nota de despesa do restaurante Antiquarius, por evento que prometeu realizar e não realizou. A polícia está no caso... Balança comercial Tá ruço Estudo do Banco Interamericano de Desenvolvimento apontou que as exportações da América Latina apresentarão crescimento negativo de 1,4% este ano. É o pior resultado do continente desde o colapso comercial de 2009. O Brasil contribuiu muito para o resultado – queda de -6% em nossas vendas internacionais. Argentina e Peru tiveram contrações iguais (-11%). Paisagem Meninos do Rio A despeito da Petrobras, dezembro é mês de pouca notícia. Vítima da escassez sazonal, a coluna pede licença aos leitores para lançar uma campanha de alma carioca: a Prefeitura do Rio de Janeiro bem que poderia instalar uma estátua de Vinicius de Moraes ao lado da de Tom Jobim, inaugurada há dias no Arpoador. Os motivos são vários: eles eram grandes amigos, inseparáveis parceiros e amavam Ipanema, que ajudaram a eternizar. E, talvez principalmente, Tom detestava solidão... 3#2 LEONARDO ATTUCH - É MESMO O FIM DA GUERRA FRIA? Um dia depois de reatar relações com Cuba, Barack Obama assinou sanções contra a Rússia. Saudada pelo escritor Fernando Morais, profundo conhecedor da história cubana, como “o fim da Guerra Fria”, a decisão dos governos de Barack Obama e Raúl Castro de retomar relações diplomáticas tem um gigantesco significado político para a América Latina e, em especial, para o Brasil. Ao desafiar a oposição republicana, Obama cedeu diante de uma evidência óbvia: os 50 anos de isolamento imposto a Havana não atingiram a sua meta não declarada, que era promover uma mudança de regime na Ilha – os Castro resistiram a nada menos que dez presidentes americanos. O passo seguinte, inevitável, será o fim do embargo econômico, que poderá gerar grandes benefícios para o Brasil. Depois de financiar o porto de Mariel, o País está extremamente bem posicionado para aproveitar o fluxo de comércio crescente entre os dois países, podendo criar, em Cuba, um poderoso entreposto para exportação de produtos brasileiros. Os americanos, por sua vez, serão tentados a relançar um projeto de livre-comércio nas Américas, no momento em que várias economias da região enfrentam dificuldades. A decisão é, de fato, histórica e foi saudada por empresários brasileiros. Paulo Skaf, presidente da Fiesp, divulgou um estudo prevendo que o PIB per capita dos cubanos irá dobrar em dez anos. Segundo a entidade, o Brasil deverá intensificar sua relação com Cuba, um país que, segundo a Fiesp, já dispõe de um bom capital humano, com fortes indicadores nas áreas de saúde e educação. Outro ganho colateral será a redução do preconceito de segmentos da sociedade brasileira em relação a cubanos, como se nota no caso do programa Mais Médicos. Dito isso, é também necessário enxergar que, se a Guerra Fria do século passado chega ao fim, novas tensões, com os mesmos protagonistas, ganham dimensão. Um dia depois de reatar com Havana, Obama assinou um novo pacote de sanções contra a Rússia, em represália à anexação da Crimeia. Além disso, nunca é demais lembrar que a mudança de regime na Ucrânia foi claramente apoiada pelos Estados Unidos. Obama derrubou um muro em suas relações com a América Latina, mas é também evidente que os Estados Unidos não veem com bons olhos iniciativas como o fortalecimento dos BRICS (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul), que, na última cúpula de Fortaleza, assumiram compromissos relevantes, como a decisão de criar um banco de desenvolvimento. A reabertura das pontes com Havana se insere nesse contexto – num mundo multipolar, os americanos buscam retomar influência no próprio continente. 3#3 RICARDO AMORIM - SURPRESAS BOAS NA ECONOMIA?! Joaquim Levy é o homem certo no lugar certo. Se a presidente deixá-lo reduzir gastos públicos, em vez de aumentar impostos, poderemos gerar uma recuperação inesperadamente robusta. Há anos, publico nesta época do ano um artigo sobre as perspectivas para o ano seguinte. Nos últimos quatro anos, alertei que as expectativas de crescimento do PIB, que oscilaram entre 4% e 5%, decepcionariam e, infelizmente, o crescimento efetivamente ficou aquém das expectativas, em alguns anos até mesmo das minhas. Crescemos apenas 1,6% a.a., nesses quatro anos, menos que todos os países latino-americanos. Pasme, mas para os próximos quatro anos as probabilidades de surpresas positivas são maiores do que de más surpresas. Não, as boas surpresas não começarão em 2015. As expectativas de crescimento de 0,7% parecem relativamente realistas. Realistas, mas muito ruins. Por que tão pouco? Além de baixíssimo crescimento, a política econômica do primeiro mandato da presidente Dilma gerou desequilíbrios macroeconômicos que agora têm de ser corrigidos à custa de desaceleração econômica. Altas de preços controlados pelo governo e do dólar pressionarão a inflação e exigirão que o Banco Central continue a subir a taxa de juros, encarecendo o crédito e limitando assim consumo e investimentos em expansão da capacidade de produção. O péssimo estado das contas públicas exigirá um duro ajuste fiscal, retirando recursos da economia. O cenário político estará conturbado, com o avanço da Operação Lava Jato. As incertezas colaborarão para deprimir ainda mais a confiança de empresários e consumidores, limitando investimentos e consumo. Assim, novas quedas do PIB na primeira metade do ano são bastante possíveis. Dois riscos adicionais podem até fazer com que o PIB caia no ano como um todo: um eventual racionamento de energia elétrica na região Ssudeste e uma possível nova crise externa. Porém, este não é o ponto deste artigo. O ponto é que as atuais expectativas de crescimento de menos de 2% em 2016 e menos de 2,5% em 2017 e 2018 são muito ruins, criando uma boa chance de surpresas positivas. O mesmo fenômeno aconteceu em 2009 e 2010. Em 2009, o PIB caiu e, com ele, as expectativas para 2010. No entanto, em 2010 o Brasil acabou registrando a maior taxa de crescimento em um quarto de século, 7,5%. Joaquim Levy, conhecido em Brasília como Joaquim Mãos de Tesoura, é o homem certo no lugar certo. Se a presidente deixá-lo ajustar as contas públicas reduzindo gastos públicos, em vez de aumentando impostos, poderemos ter um choque positivo de confiança, gerando uma recuperação inesperadamente robusta. Cortes sistemáticos e profundos dos gastos públicos abririam espaço a seguir para elevação dos investimentos em infraestrutura, redução dos impostos e da necessidade de financiamento do governo, permitindo que os juros caíssem a partir de 2016, o que por sua vez reduziria a atração de capital especulativo, permitindo que o País tivesse uma taxa de câmbio mais competitiva. É cedo demais para garantir que isso vá acontecer, mas, pela primeira vez em muito tempo, a probabilidade de boas surpresas econômicas é maior do que a das más. Aí é que mora a oportunidade. Ricardo Amorim é economista, apresentador do programa “Manhattan Connection”, da Globonews, e presidente da Ricam Consultoria 3#4 GISELE VITÓRIA Gisele Vitória é jornalista, diretora de núcleo das revistas ISTOÉ Gente, ISTOÉ Platinum e Menu e colunista de ISTOÉ Ano da coragem O ano nem terminou ainda mas Sabrina Sato já está em 2015. “2014 foi um ano maravilhoso para mim. Foi um ano que me deu coragem”, diz a apresentadora, que fará um ano de Record. “Se a gente tem coragem para fazer o novo, tudo dá certo.” Ela já está em clima de Carnaval e tem ido à luta em sua preparação. Abusa do muay thay e do jiu-jítsu. “Tô saindo para correr até de madrugada, mas ainda prefiro investir nas lutas”, diz. “Chego em casa, pego o tênis, a sacola e vou. Dou uns chutes, socos e pronto.” Na foto, Sabrina posa para a marca Sommer, para a qual fez uma linha exclusiva. Últimas lições Um último artigo inédito do ex-ministro da Justiça Márcio Thomaz Bastos foi publicado na “Revista do Advogado”, da Associação dos Advogados de São Paulo (AASP), lançada na quinta-feira 18. Bastos, que morreu há um mês, deixou lições em sete páginas do texto “Um modelo de Política de Combate à Corrupção”. Entre os caminhos sugeridos, ele destacou a transparência pública e a prevenção aliada à punição. Sugeriu ainda uma educação cidadã para “mudar a mentalidade social que ainda tolera a malversação”. Propôs uma reforma política “que diminua a influência do dinheiro nas eleições”. Citou Norberto Bobbio, Max Weber e Padre Vieira. Mencionou Lula e seus anos no Ministério da Justiça. E terminou: “O que está em jogo é o aperfeiçoamento das nossas instituições democráticas”. Por uma cláusula Na hora exata em que começaram a vazar informações de que Abilio Diniz assumiria participação acionária no Carrefour no Brasil, 100 executivos da rede francesa ouviam o professor Willian Ury, de Harvard, em palestra sobre técnicas de negociação em São Paulo, na terça-feira 16. Ury, conhecido mediador internacional de conflitos, intermediou em 2013 o acordo entre Diniz e Jean-Charles Naouri, CEO do Casino e seu ex-sócio no Pão de Açúcar. Um dos pontos do acerto foi a liberação da cláusula de não competição, que permitiu ao brasileiro voltar ao varejo pouco mais de um ano depois. Xuxa e os três projetos Em dias de silêncio em meio às notícias sobre o fim de seu contrato de 30 anos com a Rede Globo, Xuxa pretende apresentar três novos projetos à emissora. A reunião aconteceria na sexta-feira 19 com o diretor-geral Carlos Henrique Schroder. Na segunda-feira 15, a rainha dos baixinhos deixou o repouso de lado e bateu pé. Pulou e dançou ao participar do “Natal do Bem”, evento beneficente do Lide (grupo de líderes empresariais) que arrecadou R$ 1,5 milhão para a Fundação Xuxa Meneghel, entre outras entidades. Levantou a plateia em São Paulo, cantando sucessos durante uma apresentação de “Chacrinha, o Musical”, no qual o ator Stepan Nercessian interpreta o velho guerreiro. “Tenho certeza que o Chacrinha pode se despedir em paz, porque quem vai ficar é ela, a Xuxinha do pai”, disse o ator, representando Abelardo Barbosa. Xuxa se emocionou. Na quinta-feira 18, ela gravou entrevista com Ivete Sangalo para o programa “Superbonita”, do GNT. Vida que segue. Cada era tem seu “Porta dos Fundos” De volta à TV após assinar contrato com o Multishow, canal por assinatura da Globosat, Tom Cavalcante está voltando de Los Angeles para São Paulo, após três anos na cidade americana. O novo programa se passará num shopping. O humorista vai bater o martelo sobre o diretor do programa, que estreia em 2015. Ele esteve no “Natal do Bem” com a mulher, Patrícia Lamounier. Tom está fora da televisão desde 2011, quando saiu da Record, e retorna depois de dez anos às Organizações Globo. ISTOÉ – A ideia é criar um novo personagem totalmente diferente dos demais que já viveu? Tom – Terei um novo personagem, mas vou usar minhas referências de cantor, de imitador. Estou contente com a vida nova em 2015. Que bom, as coisas mudam. ISTOÉ – Você acredita que existe uma mudança no humor brasileiro depois do fenômeno “Porta dos Fundos”? Tom – Acho que houve um aquecimento desse humor. Essa garotada veio com uma linguagem própria, autoral, mas que também foi praticada no passado. Isso é uma renovação e é muito bem-vinda. Na época do Chico Anysio jovem, praticava-se o “Porta dos Fundos” equivalente à época dele. São passagens. Jô Soares foi o “Porta dos Fundos” da era dele. Aí veio meu trabalho junto com a Claudia Jimenez, veio Fernanda Torres, e é assim. ISTOÉ – O que vem pela frente? Tom – O humor na sua essência continua. Mas é preciso que se aprofunde mais essa literatura do humor nacional. Acho que está faltando a gente seguir. A gente precisa rever a comédia nacional e reaquecer isso. Com Terry Richardson e tops fotógrafos O ator André Martinelli posou para Terry Richardson e outros fotógrafos tops num calendário em solidariedade ao Grupo de Apoio Amigos da Medula (GAAM), lançado sábado 20 na Prince Books, em São Paulo. O canadense Terry Tsiolis, o inglês Matt Jones e brasileiros como André Schiliró e Cristiano Madureira clicaram o ator. No bloco do Boni e do Amaral Boni e Ricardo Amaral vão criar neste Carnaval um bloco gastronômico. A concentração será no centro do Rio, com barraquinhas assinadas por chefs. A madrinha da bateria será a chef Heaven Delhaye. A ideia surgiu à reboque do novo guia gastronômico da dupla “Boni e Amaral – O Rio é uma festa”, sobre a cozinha popular carioca. 3#5 BRASIL CONFIDENCIAL por Eumano Silva Henrique descumpre promessa feita a Mercadante Logo depois das eleições, o presidente da Câmara, Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN), prometeu ao ministro Aloizio Mercadante, da Casa Civil, que não colocaria em votação projetos que acarretassem gastos para o governo – chamados de “pauta-bomba”. Nas semanas seguintes, os deputados aprovaram o aumento do Fundo de Participação dos Municípios (FPM), o orçamento impositivo, a mudança do índice que mede a dívida dos Estados e a aposentadoria integral por invalidez. Tudo o que o Planalto não queria. Mágoa de campanha Ao contrariar o Planalto, Henrique Alves reforça a impressão de que ficou ressentido com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva na eleição para o governo potiguar. Na campanha, Lula ignorou os serviços prestados por Alves ao governo e pediu votos na TV para seu adversário no segundo turno, Robinson Farias (PSD), vencedor da disputa. Contra a Ordem I Eduardo Cunha apresentou na semana passada um projeto que acaba com a taxa de inscrição para os exames da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB). De acordo com o deputado do PMDB, a OAB gasta R$ 84 por pessoa para aplicar a prova, mas cobra R$ 200 de cada um dos candidatos. Contra a Ordem II A relação complicada entre Eduardo Cunha e a OAB tem precedente. O deputado nunca engoliu o veto da Ordem ao seu nome para a relatoria do Código de Processo Civil, em 2011. O argumento na época foi que a função deveria ser exercida por um parlamentar com formação em direito. Estranho no ninho O relacionamento do deputado Mendonça Prado (DEM-SE) com a cúpula do seu partido ficou tenso desde que ele apoiou o governo na alteração da meta de superávit fiscal. Na eleição, Prado chancelou a aliança regional entre DEM e PT na campanha do governador Jackson Barreto. Burocracia O Brasil recebe por ano cerca de 1.200 aeronaves, de 30 países, com delegações oficiais. A legislação obriga o presidente da República a assinar uma autorização para cada pouso. O Ministério da Defesa reivindica a tarefa para o titular da pasta, mas o Congresso segura o projeto há cinco anos. Padilha convidado O ex-ministro da Saúde Alexandre Padilha pode desembarcar em Alagoas depois de ficar sem cargos e perder prestígio no PT. O presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), tenta levá-lo para a equipe de Renan Filho, eleito governador. Padilha pode comandar a Secretaria estadual da Saúde. Ele é de Alagoas e a família ainda vive no Estado. Assédio a Delgado O PT assedia Júlio Delgado (PSB-MG) na tentativa de convencê-lo a apoiar Arlindo Chinaglia (PT-SP) para a presidência da Câmara. Delgado obteve 165 votos para o cargo em 2013 e, agora, o PT precisa dele para sonhar com a derrota de Eduardo Cunha (PMDB-RJ). O mineiro resiste. Devassa nas contas do DF O Tribunal de Contas da União vai fiscalizar o Fundo Constitucional do Distrito Federal para entender o que o governador Agnelo Queiroz (PT) fez com os recursos para a saúde e a educação. A gestão do petista chega ao fim em estado de penúria, com atrasos nos pagamentos de fornecedores e de salários dos servidores. Agnelo tentou barrar a auditoria. Alegou que somente o Tribunal de Contas do DF poderia realizar o trabalho. O TCU questionou o STF e recebeu aval para fazer a devassa. Se irregularidades forem encontradas, o governador e sua equipe podem ser condenados a ressarcir os cofres públicos. Hora da fatura Com o atraso na votação do orçamento de 2015, parlamentares que venceram disputas estaduais precisam de amigos no Congresso para patrocinar suas emendas. Durante a campanha, muitos firmaram compromissos com aliados regionais e empresários. Estão nessa situação os senadores Pedro Taques (PDT-MT) e Rodrigo Rollemberg (PSB-DF) e o deputado Reinaldo Azambuja (PSDB-MS). Toma lá da cá Deputada Rebecca Garcia (PP-AM) ISTOÉ – Qual é a sua opinião sobre as afirmações relacionadas a estupro feitas por Jair Bolsonaro (PP-RJ) contra Maria do Rosário (PT-RS)? Rebecca – Mesmo defendendo a liberdade de expressão, sou rigorosamente contra o deputado. Quem tem seus pecados que pague. ISTOÉ – A sra. se sente constrangida por discordar de um colega de legenda? Rebecca – Ele não está falando em nome do partido. Mesmo assim, é constrangedor. O PP é um partido conservador, mas ele está fora da curva. ISTOÉ – O corporativismo do Conselho de Ética compromete o pedido de cassação? Rebecca – A gente precisa ver como vai ser a formação do conselho no próximo ano. Senti uma indignação bem forte por parte dos homens do partido. Pode ocorrer de tudo. Retrato falado As mudanças do novo Código de Processo Civil (CPC) ainda são tema de grande debate entre os parlamentares. Os senadores que aprovaram o texto-base na noite da terça-feira 16 conseguiram consenso sobre a inclusão no novo código do crime de caixa 2, um dos pontos polêmicos. No caso do aborto, assunto controverso em campanhas eleitorais, os congressistas preferiram não mexer na legislação de 1940. “Sobre o aborto, há uma consciência jurídica, ética e médica e mantivemos intacto o texto de 1940, que é tão bom que não merece ser aperfeiçoado.” Rápidas * O deputado Pauderney Avelino (DEM-AM) apresentou um projeto de lei que estabelece como crime de responsabilidade a alteração de meta de superávit após a aprovação da LDO. Se a proposta estivesse em vigor, Dilma não poderia ter manobrado para ajustar as contas de 2014. * Parlamentares da base só compareceram à reunião da CPMI da Petrobras que aprovou o relatório de Marco Maia (PT-RS) depois que a oposição argumentou que o pedido de indiciamento de 52 pessoas pode enfraquecer a instalação de uma nova CPI no próximo ano. * Na votação do Orçamento para 2015, o plenário da Câmara foi tomado por lobistas e assessores de outros poderes. Sem parcimônia, eles pediam recursos para seus órgãos e diziam falar em nome de ministros do Judiciário. Alguns ficaram irritados com esse lobby. * O deputado Fábio Ramalho (PV-MG) é considerado o parlamentar mais festeiro do Congresso. A dois meses do início da nova legislatura, o mineiro já prepara uma série de convescotes para receber os novatos. Até parece relações-públicas. O fracasso da carteirada Na terça-feira16 a deputada Andréa Zito (PSDB-RJ) tentou embarcar do Rio de Janeiro para Brasília sem documento de identificação. Funcionários da companhia aérea impediram o embarque, mas enfrentaram a revolta de dez deputados que estavam no mesmo voo. Eles disseram que ela é muito conhecida e não poderia ser barrada. A resposta foi que a regra vale para todos, sem exceção. A deputada ficou no solo. O bordão de Argôlo Flagrado em gravações usando expressões como “eu te amo” nas conversas com o doleiro Alberto Youssef, o deputado Luiz Argôlo (SD-BA) foi vítima de insinuações sexistas. Embora ressentido, sempre que algum amigo o abraça ele retribui e brinca: “Já que eu sou gay, mesmo...” ________________________________________ 4# ESPECIAIS – BRASILEIROS DO ANO 2014. 24.12.14 4#1 BRASILEIROS DO ANO 2014 - CONFIRA OS ESCOLHIDOS 4#2 ESPORTE - GABRIEL MEDINA 4#3 POLÍTICA - LUIZ FERNANDO PEZÃO 4#4 CIÊNCIA - ARTUR AVILA 4#5 CULTURA - MARIETA SEVERO 4#6 SÉRGIO MORO 4#1 BRASILEIROS DO ANO 2014 - CONFIRA OS ESCOLHIDOS No ano em que o País se deparou com o maior escândalo de corrupção de sua história, ISTOÉ homenageia o juiz Sérgio Moro por sua busca implacável pela justiça na condução da Operação Lava Jato. Escolhido Brasileiro do Ano, Moro tem mostrado que o Brasil de 2014 é um país com instituições sólidas, um país maduro. Os outros homenageados também atingiram a maturidade. Marieta Severo, Brasileira do Ano na Cultura, está na plenitude aos 50 anos de carreira. Com apenas 20, o surfista Gabriel Medina, chegou ao topo. O matemático Artur Avila ganhou um prêmio equivalente ao Nobel. O Brasileiro do Ano na Política é o governador eleito do Rio de Janeiro, Luiz Fernando Pezão, que mostrou amadurecimento para vencer uma das eleições mais disputadas do País, depois de largar entre os últimos. Sérgio Moro Dono de estilo reservado e hábitos simples, o juiz da vara federal de Curitiba entrou para a história do País ao levar executivos de empreiteiras para a cadeia e se mostrar implacável no combate à corrupção na política Gabriel Medina Aos 20 anos, O Neymar do surfe conquista o mundo ao produzir manobras arriscadas e inovadoras. Nenhum brasileiro foi tão longe quanto ele nesse esporte Luiz Fernando Pezão O governador reeleito do Rio começou a campanha desacreditado, mas virou o jogo eleitoral graças à sua habilidade política e à empatia criada com o eleitor durante as andanças pelo Estado Artur Avila Ganhador da medalha Fields, considerada o prêmio Nobel da matemática, o pesquisador de 35 anos espera que sua conquista inspire os jovens a ver as ciências com outros olhos Marieta Severo Aos 50 anos de carreira, a atriz brilha com o premiado espetáculo "Incêndios" e representa com o mesmo sucesso personagens inesquecíveis da televisão, do teatro e do cinema brasileiros 4#2 ESPORTE - GABRIEL MEDINA Aos 20 anos, O Neymar do surfe conquista o mundo ao produzir manobras arriscadas e inovadoras e conquistar um título inédito para o surfe brasileiro Rodrigo Cardoso Em uma sexta-feira de praia perfeita, com o sol conferindo cores vivas à areia branca e ao azul do mar, Maresias, no litoral paulista, estava cheia de graça para o caiçara mais famoso do pedaço. De passagem relâmpago pelo lugar onde se criou e aprendeu todos os macetes que o tornaram o surfista brasileiro a ir mais longe no circuito mundial de surfe (WCT), o paulista Gabriel Medina, escolhido Brasileiro do Ano no Esporte por IstoÉ, experimentava momentos hollywoodianos. O quarto de sua confortável casa de dois andares e piscina, localizada em um condomínio luxuoso a poucos passos da areia, tinha as janelas fechadas, o zunido do ar-condicionado e, ainda assim, era possível ouvir os gritos vindos da portaria: “Medina! Medinaaa!”. Por aquelas bandas, uma multidão ronda o jovem de 20 anos a cada deslocamento dele, que lamenta: “Estou perdendo a privacidade.” Medina, o Neymar do surfe, sabe que a tendência é piorar. Por causa do assédio, a ida à padaria ou à sorveteria não leva mais 15 minutos como antigamente. Balada em Maresias? Esquece. Abusado como o parceiro dos gramados, o atleta arrisca manobras com alto grau de dificuldade e é um fenômeno de publicidade. “Temos que nos superar para acompanhá-lo. É como tentar alcançar um Tiger Woods”, diz Kelly Slater, numa comparação com a lenda americana do golfe, o americano 11 vezes campeão do mundo. Em algumas baterias do WCT, Slater foi derrotado por Medina. Ninguém no circuito é tão atirado quanto o brasileiro. Voar literalmente alto para assinar uma apresentação com a sua manobra mais famosa, o aéreo 360º, é o que mais o deixa feliz. “O Gabriel chegou no circuito sem medo de arriscar. As manobras aéreas, inovadoras não eram vistas antes dele”, diz o padrasto Charles Rodrigues. Ele entrou na família um ano depois que Simone Medina, mãe do surfista, se separou do pai do jovem surfista. Medina tinha 8 anos e começava ali a parceria que o levaria ao topo do esporte. “Meu pai (como ele chama Charles) já me levava a sério desde moleque. Eu não era nada, mas ele me treinava igualzinho ao que fazemos hoje”, conta. Com 12 anos, corria na rua durante meia hora pela manhã e engatava uma hora de natação. No fim da tarde, quando retornava do colégio, encarava uma sessão de ioga e um treinamento à base de ginástica corporal. Com o padrasto burilando o talento do enteado, Simone, uma ex-vendedora de loja, se encarregava da educação do filho, que lavava a louça, cuidava do irmão Felipe, dois anos mais novo, e pegava ônibus para ajudar nas compras. “A gente morava longe, eu era molequinho e voltava cheio de sacola para casa”, lembra Medina, que ainda vendia latas que recolhia nas ruas. Com 15 anos, ele venceu uma etapa do circuito de acesso, o WQS. Com metade da premiação de R$ 25 mil, realizou um antigo sonho e comprou um quadriciclo. Dois anos mais tarde, em sua temporada de estreia, venceu duas etapas e começou uma escalada profissional e financeira. Medina termina o ano com R$ 1 milhão em prêmios, mas garante: “Peço dinheiro aos meus pais quando quero sair”. E agora sonha em morar sozinho. “Mas minha mãe não deixa”, diz. Paparicado pela ala feminina e vaidoso – gosta de depilar o peito, tirar os pêlos da sobrancelha e andar perfumado –, teve apenas um namoro, na adolescência. Neste ano, encarou quatro meses de abstinência sexual. “Sexo em dia de competição atrapalha”, diz ele, que, dois anos atrás, foi mal em um torneio depois de um encontro quente com uma garota horas antes. “Não faço mais sexo desde o início até o fim de um torneio.” A notícia boa para Medina é que surfar para valer, agora, só em 2015. A boa notícia para as fãs: ele vai passar as férias em Florianópolis. 4#3 POLÍTICA - LUIZ FERNANDO PEZÃO O governador reeleito do Rio começou a campanha desacreditado, mas virou o jogo eleitoral graças à sua habilidade política e à empatia criada com o eleitor durante as andanças pelo Estado Eliane Lobato (elianelobato@istoe.com.br) O Brasileiro do Ano na Política, eleito por ISTOÉ este ano, Luiz Fernando Pezão (PMDB), 55 anos, iniciou a campanha para disputar o cargo de governador do Estado do Rio de Janeiro na lanterninha das pesquisas. Seus concorrentes – Anthony Garotinho, do PR, Marcello Crivela, do PRB, e Lindberg Farias, do PT – despontavam como favoritos nas bolsas de apostas. Seu antecessor e padrinho político, Sérgio Cabral Filho (PMDB), de quem foi vice-governador e recebeu o cargo no início deste ano para completar o mandato, amargava um alto índice de rejeição no Estado. Por fim, Pezão era desconhecido por 67% dos habitantes do Rio. Mas contrariou a lógica política. Graças ao amplo arco de alianças, que chegou a reunir 21 partidos no segundo turno, e à disposição para promover um intenso corpo a corpo eleitoral na campanha pelo Estado, o candidato do PMDB saiu consagrado das urnas. “Andei muito por esse Rio afora falando das conquistas do governo Cabral e o que eu faria num novo governo. Houve dias em que andei oito horas a pé”, contou. Algumas das marcas registradas do governador são a dedicação ao trabalho – não raro, trabalha 14 horas por dia –, a vocação para o diálogo e a aglutinação de forças políticas. Para o próximo ano, ele ajudou a constituir um grupo de quatro governadores – Geraldo Alckmin (PSDB/SP), Paulo Hartung (PMDB/ES), Fernando Pimentel (PT/MG), além dele – que trabalharão em conjunto com o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, em grandes operações de segurança nas fronteiras brasileiras. “Vamos trabalhar com as quatro polícias estaduais junto com a Marinha, a Aeronáutica e o Exército, além da Polícia Rodoviária Federal, para fazer uma grande integração de segurança pública. O objetivo é combater o tráfico de drogas e armas, mas também a sonegação de impostos e outros crimes”, antecipou Pezão à ISTOÉ. A medida, segundo ele, será anunciada por Cardozo no início de 2015. No Rio, o tema segurança pública permanecerá como prioridade. Pezão promete que as Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs) serão mais bem equipadas para combater os constantes ataques do tráfico e de milicianos inconformados com a tomada territorial das favelas cariocas. O alinhamento político entre os governos estadual, municipal e federal, que rendeu bons frutos para o Rio, também será mantido. Pezão pretende estreitar os laços com o prefeito Eduardo Paes (PSDB) e com a presidente Dilma Rousseff (PT), a fim de conseguir benefícios para o Estado e a capital, que vai sediar um dos maiores eventos esportivos do mundo, a Olimpíada de 2016. “Temos uma série de obras em andamento, vamos deixar legados importantes para a cidade. Não adianta falar em limpar a Baía da Guanabara (palco da disputa de velas) se não tratar o esgoto de São Gonçalo, Caxias, Magé, que ficam na margem da Baía”, explica. E aposta: “Nosso grande legado será na área de mobilidade.” Nascido em Piraí, ao sul do Estado, Pezão começou a carreira política na década de 1980 como vereador. Em seguida, foi prefeito da cidade – onde, este ano, obteve 87% dos votos válidos para governador. Recebeu apoio da maioria dos prefeitos do interior, como José Rechuan Júnior (PP), de Resende, que costuma ressaltar outra qualidade de Pezão: “Ele conhece como ninguém os problemas de infraestrutura, saúde, mobilidade e educação do Rio”. O governador é casado com a economista Maria Lúcia Cautiero Horta Jardim, por quem se apaixonou aos 10 anos de idade. Os pais, o torneiro mecânico Darcy, 87 anos, e a dona de casa Ercy, 84, moram em Piraí e até hoje levam uma vida simples, sem empregados domésticos. Casados há mais de 60 anos, deixaram como legado aos filhos um ensinamento que o governador diz ter assumido como lema de vida: “O poder é passageiro. O importante é a simplicidade”, prega. 4#4 CIÊNCIA - ARTUR AVILA Ganhador da medalha Fields, considerada o prêmio Nobel da matemática, o pesquisador de 35 anos espera que sua conquista inspire os jovens a ver as ciências com outros olhos Helena Borges (helenaborges@istoe.com.br) Se uma nação se faz com heróis, o Brasil moldou boa parte da sua identidade com a força e a raça de ídolos esportivos, como o piloto Ayrton Senna e o Rei Pelé. Mas, desde agosto, o País pode se orgulhar de ter também um herói de projeção internacional num campo em que costuma perder de lavada nos rankings internacionais: a matemática. Naquele mês, em Seul, na Coreia do Sul, o carioca Artur Avila, 35 anos, foi laureado com a medalha Fields, considerada o Prêmio Nobel da matemática e entregue apenas a pesquisadores que conseguem surpreender a comunidade científica antes dos 40 anos. Considerado prodígio desde o ensino fundamental, Avila, escolhido por ISTOÉ Brasileiro do Ano em Ciências, teve uma carreira meteórica. Ganhou sua primeira medalha de ouro aos 16 anos, na Olimpíada Internacional de Matemática. Por ser um aluno extraordinário, um ano depois entrou e concluiu o mestrado no Instituto de Matemática Pura e Aplicada (Impa). Ao mesmo tempo que obtinha o diploma de graduação na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), defendeu o doutorado, em 2001, quando pôde validar os diplomas de pós-graduação. Tornou-se o profissional mais novo a assumir a direção de pesquisa no conceituado Centro Nacional de Pesquisas Científicas de Paris, aos 29 anos. O foco de seu trabalho é uma área da matemática conhecida como sistemas dinâmicos – estuda-se o caos dentro de um sistema. Mais especificamente, Avila usa equações para compreender sistemas quânticos. Dessa relação entre física e matemática surgiu “o problema dos dez Martinis”. A questão busca demonstrar um padrão matemático nas variações energéticas de elétrons e ganhou esse nome porque o pesquisador polonês Mark Kac ofereceu a generosa dose a quem conseguisse resolvê-la. Infelizmente, ele faleceu em 1984 e não poderá pagar a aposta a Avila. Da mesma forma que as jogadas geniais de Pelé e a sede de vitória de Senna até hoje encantam as novas gerações, o diretor do Impa, César Camacho, acredita que o prêmio de Avila terá impacto no futuro: “Com certeza o número de matemáticos formados no Brasil vai aumentar e pesquisadores de fora passam a ter o instituto como referência de berço de vencedores”, diz ele, para quem Artur foi um prodígio encontrado pelo Impa. O jovem cientista também confia que sua conquista irá inspirar os mais jovens. “Espero que esse prêmio mude a forma como as pessoas veem a ciência, especialmente a matemática, no Brasil. Temos institutos de pesquisa de ponta que ombreiam com os da Europa”, diz. Uma vez no olimpo, passou a ser paparicado. Teve, inclusive, encontros com os presidentes dos dois países onde vive – François Hollande, da França, e a brasileira Dilma Rousseff. Desde 2008, Avila era cotado para receber a condecoração Fields. Na primeira candidatura, chegou a somatizar a pressão em forma de gastrite. “Levei mal a situação, passei a dormir pior, é muito cansativo ter que fazer publicidade do seu trabalho”, diz. Em 2010 optou pela própria saúde, passou a se exercitar, aproveitar melhor suas duas cidades, Rio e Paris, e focar apenas nas pesquisas que mais o interessavam, sem pressa de publicar artigos. O resultado veio com o tempo. Avila estudou em tradicionais colégios cariocas. Dos tempos de juventude, abandonou a postura encurvada e os óculos, mas ainda guarda a voz baixa, os cabelos desgrenhados e o olhar focado no infinito, enquanto escolhe cuidadosamente as palavras antes de falar. Sua vida acadêmica começou no São Bento e, em 1991, mudou-se para o Santo Agostinho. A transferência causou rebuliço na nova escola. “Corria no colégio a história de que vinha um pequeno gênio da matemática. Era minha primeira turma de ensino médio”, lembra a professora Cristiane Guedes, 46 anos. Ela fazia mestrado na Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-RJ), enquanto Avila fazia o dele no Impa. “Cada vez que ele levantava a mão, eu tremia com medo da pergunta. Mas sempre era muito discreto, me chamava na carteira dele e sugeria novas e brilhantes formas de resolver as questões”, conta Cristiane. Eram soluções mais criativas e eficientes do que as tradicionais, mas que, de tão sofisticadas, ele não tinha como dividir com a turma. Hoje, o herói brasileiro da matemática compartilha com o mundo o seu conhecimento. 4#5 CULTURA - MARIETA SEVERO Aos 50 anos de carreira, a atriz brilha com o premiado espetáculo "Incêndios" e representa com o mesmo sucesso personagens inesquecíveis da televisão, do teatro e do cinema brasileiros Ana Weiss (ana.weiss@istoe.com.br) Poucos artistas brasileiros transitam com tanta desenvoltura e equilíbrio entre o teatro, o cinema e a televisão como Marieta Severo, artista escolhida por ISTOÉ como Brasileira do Ano em Cultura. Só em 2014 a atriz, avó de sete netos, levou ao público, com sucesso estrondoso, Dona Nenê, do global “A Grande Família”, Newal, personagem do aplaudidíssimo espetáculo “Incêndios”, que esteve em cartaz em São Paulo e agora segue para mais quatro cidades, e ainda prepara o nascimento da protagonista de “Aos Nossos Filhos”, aguardado filme da portuguesa Maria de Medeiros previsto para estrear em 2015. “Para mim não existe esse negócio de ‘ser’ do teatro, ou do cinema ou da televisão. Quando se escolhe um trabalho pela crença na sua qualidade e não pelo potencial comercial, não importa se é dentro do estúdio, sobre um palco ou numa locação”, diz ela. “Preciso de desafios e persigo aqueles que possibilitem voo artístico, nem que seja para eu me esborrachar em algum momento.” Se foram muitos os vôos, foram pouquíssimas as quedas. Desde o início da carreira, Marieta coleciona um repertório que conta a história do amadurecimento cultural brasileiro, como “Se Correr o Bicho Pega, Se Ficar o Bicho Come” (do grupo Opinião) e “Roda Viva” (dirigido por José Celso Martinez Corrêa), espetáculos de resistência política num tempo em que o cerco da ditadura militar se apertava. “Achávamos que podíamos mudar o mundo e aquilo tinha uma força incrível. Hoje, a percepção do que se é capaz de tocar nas pessoas atuando de uma forma mais pessoal e particular não é menor. Trabalho como uma formiguinha”, diz ela, que, como “descanso” de fim de ano, vai ficar “apenas” com as apresentações de sexta a domingo da peça do libanês Wajdi Mouawad sobre a mulher oriental que deixa a aldeia miserável e passa cinco anos sendo estuprada e torturada na prisão antes de se autoexilar com os filhos. Nos dias de apresentação de ‘Incêndios”, dirigido por Aderbal-Freire-Filho, dificilmente se vê cadeira vaga na plateia. E invariavelmente se assiste aos aplausos finais entre lágrimas do público diante da história de Newal, interpretada pela atriz da infância à velhice com uma verdade desconcertante. Não é por um acaso que papéis de grandes mulheres dominam o portfólio da carioca de 66 anos – 50 de carreira – que queria ser professora. Depois do golpe de 1964, exilou-se na Itália com seu segundo marido, Chico Buarque de Holanda (o primeiro foi o artista plástico Carlos Vergara), grávida, aos 22 anos, da primeira filha, a também atriz Silvia Buarque. De volta ao Brasil, retornou ao trabalho – menos à TV, que não dava espaço para os indesejados pelo governo. Criou as três filhas e Janaína Diniz Guerra, filha da amiga Leila Diniz, morta num acidente de avião. E por muito tempo com as filhas pequenas o casal sofreu ameaças da polícia militar. Os muitos anos ao lado de Chico Buarque não ofuscaram a carreira luminosa da atriz, colecionadora de prêmios Shell, Molière e Mambembe – os principais por atuações em teatro no País. Sua segurança não a impediu inclusive de trabalhar em parceria com o compositor. Além de “Roda Viva”, escrita por ele, fez parte do elenco de “Ópera do Malandro”, de 1978, em que assumiu a inesquecível interpretação de “O Meu Amor”. Como agora, em “Incêndios”, se sente completamente à vontade em atuar com Freire-Filho, seu namorado há oito anos. “Precisaria ser alguém com muita experiência e muita confiança no trabalho do ator para montar essa tragédia tão viva e atual como ‘Incêndios’”, referenda a intérprete do texto premiado, que não havia sido montado no País até então. Uma das falas de Newal, uma reflexão sobre as guerras do Oriente Médio, é, para a atriz, uma mensagem direta para a cisão do Brasil de hoje. “Somos feitos da mesma história e, por isso, responsáveis todos, uns pelos outros”, discursa Newal diante de seu algoz no tribunal. “É o que eu diria para o nosso país neste momento.” 4#6 SÉRGIO MORO Dono de estilo reservado e hábitos simples, o juiz da vara federal de Curitiba entrou para a história do País ao levar executivos de empreiteiras para a cadeia e se mostrar implacável no combate à corrupção na política Claudio Dantas Sequeira (claudiodantas@istoe.com.br) Sempre que alguém o compara com Joaquim Barbosa, ex-presidente do Supremo Tribunal Federal, Sérgio Moro desconversa. Ou melhor, silencia. O juiz da 13ª vara federal criminal de Curitiba, que ganhou notoriedade à frente das investigações da Operação Lava-Jato, não gosta desse tipo de comparação nem de especulações sobre o seu futuro. Há alguns anos, rejeitou sondagens para se tornar desembargador, o que para muitos é degrau natural para galgar a última instância do Judiciário. Moro afastou-se da oferta por desconfiar de tentativa de cooptação por parte de um figurão da política nacional que temia virar réu num inquérito que chegou à sua mesa. Não fosse isso, ele daria outro jeito de recusar a oferta por acreditar que ainda há muito o que fazer na primeira instância. Eleito por ISTOÉ o “Brasileiro do Ano”, Moro não mostra sedução pelo poder da toga. De hábitos simples, ele faz parte de uma rara safra de juízes que encararam a magistratura como profissão de fé. Não dá entrevista, nem posa para fotos. Dispensa privilégios. Vai para o trabalho todos os dias a bordo de um velho Fiat Idea 2005, prata, bastante sujo e repleto de livros jurídicos empilhados no banco de trás. Antes, chegou a ir de bicicleta.“Quando eu chego aos lugares, ninguém imagina que é o Sérgio Moro”, conta, sorrindo. Apesar de ter se tornado o inimigo número 1 de poderosos, prefere andar sem guarda-costas. Quem sempre reclama é a esposa, a advogada Rosângela Wolff de Quadros Moro, procuradora jurídica da Federação Nacional das Apaes, instituição dedicada à inclusão social de pessoas com deficiência. A “sra. Moro” teme pela segurança do marido, e dela mesma, afinal o magistrado se mostrou implacável com a corrupção ao encurralar integrantes do governo do PT e levar, numa ação inédita, executivos das maiores empreiteiras do País à cadeia. Nascido em Ponta Grossa há 42 anos, Moro é filho de Odete Starke Moro com Dalton Áureo Moro, professor de geografia da Universidade de Estadual de Maringá – morto em 2005. Antes de ingressar na magistratura, seguiu os passos do pai. Integrou o mesmo Departamento de Geografia da UEM e também deu aula nos colégios Papa João XIII e Dr. Gastão Vidigal. Obteve os títulos de mestre e doutor em direito do Estado pela Universidade Federal do Paraná. Seu orientador foi Marçal Justen Filho, um dos mais conceituados especialistas em licitações e contratos. Cursou o Program of Instruction for Lawyers na prestigiada Harvard Law School e participou de programas de estudos sobre lavagem de dinheiro no International Visitors Program, promovido pelo Departamento de Estado americano. Moro criou varas especializadas em crimes financeiros na Justiça Federal e traz no currículo outras operações de peso. Presidiu o inquérito da operação Farol da Colina, que desmontou uma rede de 60 doleiros, entre eles Alberto Youssef. A investigação fora um desdobramento do caso Banestado, que apurou a evasão de US$ 30 bilhões de políticos por meio das chamadas contas CC5. Moro não se deixa seduzir pelo poder da toga. Dirige-se para o trabalho todos os dias a bordo de um Fiat com dez anos de uso repleto de livros jurídicos empilhados no banco de trás Ciente de que os mecanismos de lavagem de dinheiro evoluem e se tornam cada vez mais complexos, Moro não para de estudar. É um aficionado pela histórica “Operação Mãos Limpas”. Quando a compara com a Lava Jato, não tem dúvidas: “É apenas o começo”. O caso que marcou para sempre a política italiana foi deflagrado por um acordo de delação, mecanismo inaugurado anos antes nos processos contra a máfia. Após dois anos de investigações, a Justiça italiana havia expedido 2.993 mandados de prisão contra empresários e centenas de parlamentares, dentre os quais quatro ex-premiês. Num artigo sobre o caso italiano em 2004, Moro exalta os chamados “pretori d’assalto”, ou “juízes de ataque”, geração de magistrados dos anos 1970 na Itália que ganharam espécie e legitimidade ao usar a lei para “reduzir a injustiça social”, tomar “posturas antigovernamentais” e muitas vezes agir “em substituição a um poder político impotente”. O juiz se identifica com essa geração e vê no Brasil de hoje um cenário semelhante e propício ao combate à corrupção. ____________________________________________ 5# BRASIL 24.12.14 5#1 MINISTÉRIO ENCRENCADO 5#2 O NATAL PARA ESSES SENHORES SERÁ BEM DIFERENTE 5#3 CONEXÃO ARGENTINA SOB GABRIELL 5#4 CONEXÃO ARGENTINA SOB GABRIELL 5#5 SAÍDA PELA PORTA DOS FUNDOS 5#6 RIQUEZA SUSPEITA 5#1 MINISTÉRIO ENCRENCADO Sustentada por uma base política fragmentada e pressionada pelas denúncias na Petrobras, Dilma não consegue conciliar todos os interesses partidários para, enfim, anunciar sua nova equipe Josie Jeronimo (josie@istoe.com.br) FICOU PARA DEPOIS - Dilma admite: “É muito difícil montar um ministério” O atraso na definição da nova equipe ministerial é um sintoma da dificuldade que a presidente Dilma Rousseff tem para harmonizar uma composição de nove partidos. E os contratempos são tantos que Dilma não resistiu a uma inconfidência. Em conversa com a presidente da Argentina, Cristina Kirchner – em áudio que escapou nos microfones de jornalistas que cobriam a 47ª reunião da cúpula do Mercosul –, ela resumiu seus embaraços na reforma ministerial. “Estou formando. É muito difícil, muito difícil. Você não sabe no Brasil como é difícil.” A coalizão presidencial à brasileira supera a tradição das composições partidárias comuns em outros países. Dilma tem 39 ministérios, dezenas de autarquias, agências e empresas de economia mista para distribuir, mas, mesmo com tanto espaço, a acomodação dos aliados continua sendo um grande problema. Nos últimos dias, a dificuldade tem sido debelar as insatisfações no PT. Dilma decidiu reduzir a cota do PT para conquistar o apoio dos aliados de uma maneira mais sólida num momento em que precisa estar fortalecida politicamente, por causa das denúncias envolvendo a Petrobras. A provável ascensão ao primeiro escalão de Kátia Abreu (PMDB-TO) e Gilberto Kassab (PSD-SP) reflete esse novo cenário. Mas o xadrez permanece intrincado. O PMDB quer ter prioridade na escolha de cinco ministérios. A dificuldade de Dilma é conciliar os cinco postos com as preferências do partido e as subdivisões da legenda. Embora seja filiada ao PMDB, Kátia Abreu não é considerada da cota do partido. Confirmada, será considerada uma “ministra de Dilma”. A presidente ainda precisa contornar as diferenças regionais entre partidos aliados. O Estado do Ceará pode ganhar dois importantes ministros na nova equipe. Os planos iniciais do governo eram deixar Cid Gomes (PROS) com o Ministério da Educação e o senador Eunício Oliveira (PMDB) com o Ministério da Integração Nacional. Mas Gomes não ficou satisfeito e recusou o convite. O governador do Ceará avalia que a Integração oferece mais dividendos políticos do que a Educação. Até o início de 2014, a cota da Integração pertencia ao PSB. Quando o partido deixou a base do governo para disputar a Presidência, o feudo ficou sem dono. A rejeição de Cid obrigou o governo a rever a programação de distribuição de cargos. 5#2 O NATAL PARA ESSES SENHORES SERÁ BEM DIFERENTE Como a proximidade das festas de fim de ano e o longo período de cárcere têm levado alguns executivos de empreiteiras a entrar em depressão. Quatro deles já admitem a delação premiada em troca da liberdade Mário Simas Filho (mariosimas@istoe.com.br) Há menos de um ano Eduardo Leite, vice-presidente da Camargo Corrêa, realizou o antigo desejo de comprar um apartamento na Vila Nova Conceição, um dos endereços mais sofisticados de São Paulo. Desde então, ele e a mulher vinham planejando inaugurar a nova residência na noite de Natal, quando o imóvel, avaliado em R$ 5,5 milhões, seria oficialmente apresentado a toda família. Ao longo de 2014 o apartamento veio sendo cuidadosamente decorado e a ideia era que a família se reunisse para celebrar o Natal e ao mesmo tempo promover uma espécie de comemoração ao sucesso obtido pelo jovem trainee que entrou na construtora em 1994 e se tornou o executivo titular de um dos mais cobiçados cargos numa das maiores empreiteiras do País. Na terça-feira 16, Leite soube oficialmente que as festas de fim de ano não serão como planejadas. Acusado de ser um dos corruptores no escândalo da Petrobras, ele passará as noites de Natal e de Réveillon sobre o colchonete instalado na fria cela de seis metros quadrados que divide com outros três presos pela Operação Lava Jato, na Superintendência da Polícia Federal em Curitiba (PR). RICARDO PESSOA (esquerda) - Diretor da UTC, tinha planos de passar o Réveillon em Nova York. Na carceragem da PF, segundo amigos, está “perto de explodir” EDUARDO LEITE (centro) - Vice-presidente da Camargo Corrêa, queria aproveitar a noite de Natal para receber a família no novo apartamento. Com a permanência na cadeia tem dito aos outros presos que fará delação premiada JOSÉ ADELMÁRIO PINHEIRO FILHO (direita) Presidente da OAS, planejava passar o Natal na Europa. Deprimido, quase não fala com os colegas e pouco se alimentaA notícia de que estará confinado nas festas de fim de ano provocou uma enorme mudança no comportamento do executivo. Entre os 11 diretores de empreiteiras encarcerados desde 14 de novembro, Eduardo Leite era apontado como um dos mais refratários às delações premiadas propostas pelo Ministério Público Federal e mostrava-se otimista em relação aos recursos jurídicos que procuram libertá-los. “É evidente que a prisão funciona como uma forte pressão psicológica e muitos buscam a delação em troca de penas mais brandas”, disse um dos procuradores da Operação Lava-Jato na quinta-feira 18. “Até a semana passada Eduardo Leite era um dos que mais animavam os colegas de cadeia a resistirem às propostas de acordo”, completou o procurador. Mas, segundo advogados ouvidos por ISTOÉ, nos últimos dias o executivo vem insistindo na tese de que o melhor seria aderir à delação premiada desde que lhe seja assegurada a liberdade. Na última semana, Leite permaneceu mais calado do que de costume e a outros presos disse que está muito perto de “dar a mão à palmatória”. “Está muito difícil para ele enfrentar essa situação e a cada dia o vejo mais deprimido”, disse um dos advogados que visitaram os empresários. Leite é hipertenso e no início do mês chegou a apresentar dois picos de pressão. Desde então ele mantém, ao lado do beliche onde dorme, um aparelho com o qual monitora a pressão pelo menos duas vezes ao dia. De acordo com o ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa, Leite teria sido beneficiado com cerca de R$ 20 milhões provenientes de obras superfaturadas. A prisão funciona como uma forte pressão psicológica e muitos buscam a delação em troca de penas mais brandas Com a proximidade das festas de fim de ano a vida fica mais difícil para os diretores e executivos das maiores empreiteiras do País. Até o início da semana passada, apesar do sofrimento provocado por um mês de confinamento, havia entre eles um certo otimismo com a possibilidade de obterem algum benefício jurídico. Na terça-feira 17, dois advogados disseram a seus clientes que dificilmente será concedida a liberdade. A informação transmitida aos presos foi a de que a Justiça só deverá se manifestar, sobre os recursos que procuram tirá-los da carceragem, em fevereiro. “Recebi recados dos tribunais superiores dizendo que nada mudará até o fim do recesso judicial”, disse à ISTOÉ na quinta-feira 18 um dos advogados que atuam a favor dos empreiteiros. Entre os delegados e procuradores da Operação Lava Jato, a avaliação é a de que a manutenção das prisões nesse período de festas possa provocar uma avalanche de delações premiadas logo no início de 2015. ISTOÉ apurou que se depender do estado psicológico dos presos é possível que novas denúncias surjam antes mesmo da virada do ano. Os 11 empresários ainda encarcerados dividem três celas de seis metros quadrados. Eles não têm banheiro privativo, televisão nem geladeira. Em cada cela há um beliche de alvenaria e colchonetes são colocados no chão para que todos possam dormir. É nesse ambiente, onde os únicos “luxos” são algumas garrafas de água mineral Evian, poucas barras de chocolate importado levadas por advogados e pacotes de biscoitos, que além de Eduardo Leite outros três presos manifestaram nos últimos dias o desejo de contar tudo o que sabem. Uma situação vista com otimismo pelos procuradores e delegados e com preocupação pelos advogados das empreiteiras. O presidente da OAS, José Aldemário Pinheiro Filho, conhecido como Léo Pinheiro, tem deixado os colegas da empresa bastante tensos. Acostumado a viver em um apartamento de 400 metros quadrados com cinco vagas de garagem no Alto de Pinheiros – ao lado de um dos principais parques de São Paulo – desde que foi preso em 14 de novembro ele vem insistindo com os advogados em aceitar a delação premiada. No início de dezembro começou a apresentar sinais de depressão. Na última semana, em pelo menos duas ocasiões deixou de sair da cela para tomar sol e pouco tem falado com os demais presos, inclusive com os três companheiros de empresa também encarcerados. “Me disseram que ele tem chorado muito, quase não conversa e pouco se alimenta”, afirmou à ISTOÉ um advogado com acesso aos presos. O estado psicológico de Léo Pinheiro se agravou depois que o ministro Teori Zavascki, do Supremo Tribunal Federal, negou habeas corpus a seu favor, na sexta-feira 12. Outros presos disseram a seus advogados que durante a semana passada Léo Pinheiro nem sequer deixou a cela para conversar no “lounge”, um espaço com cerca de 14 metros quadrados que os próprios presos organizaram com colchonetes e lençóis onde costumam passar o tempo conversando e lendo. VISITAS - Advogados e familiares chegam à Superintendência da PF em Curitiba para conversar com os empresários. Os diálogos são restritos e feitos em um parlatório Denunciado pela prática dos crimes de lavagem de dinheiro, fraude em licitações e corrupção ativa, o presidente da OAS planejava inicialmente passar as festas de fim de ano na Europa. Quando veio a prisão chegou a comentar com parentes e advogados que certamente não poderia deixar o País e que passaria as festas em sua casa de quatro dormitórios, localizada em um condomínio de luxo em Maresias, no litoral norte de São Paulo. Jamais imaginou que passaria Natal e Réveillon calçando um chinelo de dedos e comendo marmitex. “Ele já estava bastante abalado e queria contar tudo o que sabe. Agora está muito pior”, disse o parente de um dos presos que esteve na Superintendência da PF de Curitiba na semana passada. Delegados e procuradores da Operação Lava Jato ouvidos por ISTOÉ na quinta-feira 18 avaliam que, caso Léo Pinheiro resolva trilhar o caminho da delação premiada, as investigações poderão avançar para além dos limites da Petrobras e chegar aos principais fundos de pensão do Brasil. Advogados avaliam que só em fevereiro, depois do recesso judicial, alguns recursos poderão ser julgados Ao contrário dos presos que costumam frequentar o sistema penitenciário nacional, os executivos e diretores das principais empreiteiras do Brasil que estão encarcerados na PF de Curitiba não precisam usar uniformes. Mas não podem usar cintos nem cadarço nos sapatos. Anéis e relógios caríssimos tiveram de ser deixados com os carcereiros e as conversas com as visitas que recebem semanalmente só podem ser feitas no mesmo parlatório onde recebem as orientações dos advogados. Durante o dia, eles podem se deslocar ao pátio externo em duas turmas distintas. Uma entre as 8h e as 10h e, a outra, entre 10h e meio-dia. Podem, porém, circular livremente entre as celas e a pequena área que chamam de lounge. Nas duas últimas semanas, no entanto, o vice-presidente da Mendes Júnior, Sérgio Mendes, raramente tem sido visto nas áreas comuns da carceragem, segundos advogados ouvidos por ISTOÉ. De acordo com o relato feito por alguns presos a seus familiares, Sérgio Mendes tem se isolado dos demais e com frequência tem sido flagrado chorando em um canto de sua cela. “Hoje, ele (Sérgio Mendes) é um homem completamente diferente daquele que chegou em novembro. Nos primeiros dias de prisão, Sérgio Mendes passou uma imagem de arrogante”, lembra um dos advogados dos empreiteiros. “Chegou a Curitiba em um jatinho particular e parecia ter a convicção de que seria libertado em poucos dias.” Depois de uma semana preso, Sérgio Mendes passou a cogitar aderir à delação premiada, mas foi convencido por advogados a prestar um depoimento colocando-se como vítima de extorsão de políticos e ex-diretores da Petrobras. Admitiu ter pago R$ 8 milhões ao doleiro Alberto Youssef e afirmou que o ex-diretor da estatal Paulo Roberto Costa teria ameaçado cortar os pagamentos devidos à Mendes Júnior caso a propina não fosse paga. Logo depois de prestar o depoimento, pediu à Justiça que fosse revista sua prisão. Mas em 1º de dezembro o juiz Sérgio Moro negou seu pedido. “Desde que percebeu o fracasso da estratégia de defesa, Sérgio Mendes vem se deprimindo a cada dia”, afirma um advogado. “Ele cogitou várias vezes estar sendo pressionado pela família a fazer a delação premiada e já pediu a amigos para procurarem um especialista para tratar dessa questão”, concluiu o advogado. Apontado como o líder do clube dos empreiteiros, o presidente da UTC, Ricardo Pessoa, é um dos mais abalados emocionalmente. Como não pode fumar nas dependências da Superintendência da PF, ele tem aumentado a cada dia a carga de adesivos usados para tentar substituir a nicotina. Baiano e tido como falastrão, até ser preso Pessoa planejava passar Natal e Réveillon em Nova York. Ele costumava comentar com amigos suas façanhas financeiras. O executivo assumiu o comando da empresa em 1997 e logo mudou-se para São Paulo onde passou a residir em uma cobertura com 600 metros quadrados nos Jardins. Em abril, um mês depois de deflagrada a Operação Lava Jato, Pessoa investiu R$ 1,5 milhão na compra de dois imóveis comerciais. Na cadeia, segundo advogados e membros da Lava-Jato, o diretor da UTC foi um dos primeiros a sinalizar com a possibilidade de um acordo em troca da liberdade. Na sexta-feira 19, havia boatos de que tanto ele quanto Léo Pinheiro haviam acertado os termos da delação. Advogados ouvidos por ISTOÉ não confirmaram a informação, mas nos depoimentos que Pessoa prestou à Polícia Federal ele envolveu os nomes de líderes da oposição nos escândalos investigados e admitiu a formação de cartel para lesar os cofres da maior estatal do País. Duas das exigências defendidas pelo procurador-geral da República para a delação premiada. Assim como aconteceu com seus colegas de cadeia, Pessoa vem se mostrando extremamente depressivo desde que o ministro Teori Zavascki negou o habeas-corpus. “O Ricardo (Pessoa) está a ponto de explodir. Ele não fala mais com ninguém, chora em todos os cantos e passa boa parte das noites sem conseguir dormir”, revelou a um advogado um dos presos que divide a cela com o diretor da UTC. Se depender das decisões que veem sendo tomadas pela Justiça até agora, não há por que os executivos e diretores de empreiteiras fazerem qualquer plano de liberdade antes do Carnaval. 5#3 CONEXÃO ARGENTINA SOB GABRIELL Além de comprar Pasadena superfaturada, com Gabrielli a Petrobras vendeu uma refinaria na Argentina que registrou grande prejuízo. Documentos obtidos por ISTOÉ mostram a operação desastrada que favoreceu um amigo da presidente Cristina Kirchner Claudio Dantas Sequeira (claudiodantas@istoe.com.br) No olho do furacão - O ex-presidente da Petrobras José Sérgio Gabrielli foi denunciado pelo MP-RJ, que pediu a quebra de seus sigilos fiscal e bancário e a indisponibilidade de seus bens. Agora, terá que explicar outro negócio suspeito de sua gestão Há cerca de um mês, o ex-presidente da Petrobras José Sérgio Gabrielli reuniu-se com o presidente do PT, Rui Falcão, na sede do partido em Brasília. Foi uma conversa tensa. Gabrielli se disse preocupado com o futuro, pois avaliava que o cerco da Polícia Federal poderia se fechar em torno dele. Em um dado momento do diálogo, queixou-se da indiferença com que tem sido tratado pelo governo e pelo partido. “Não posso ser preso, você sabe!”, reclamou, bastante alterado. O estado de ânimo demonstrado por Gabrielli naquela ocasião se explica agora. Na última semana, o ex-presidente foi arrolado entre os executivos que serão alvo de processo administrativo pela CGU por causa de irregularidades na compra da refinaria de Pasadena. Também foi denunciado por conta de desvios de R$ 31,5 milhões em obras do Centro de Pesquisas da Petrobras (Cenpes) pelo Ministério Público do Rio de Janeiro, que ainda pediu à Justiça o bloqueio de seus bens e a quebra de seus sigilos bancário e fiscal. A Polícia Federal está cada vez mais convicta de que Gabrielli foi um importante protagonista do esquema de corrupção na maior estatal do País. Segundo um integrante da força-tarefa, sua digital aparece em toda parte. “Praticamente todos os grandes negócios realizados no período em que vigorou o esquema criminoso, no Brasil e no exterior, tiveram a chancela do presidente da estatal”, afirma um delegado. Um desses negócios consistiu na venda da refinaria San Lorenzo na Argentina durante a gestão de Gabrielli. Segundo revelam documentos obtidos por ISTOÉ, a negociata causou um prejuízo de ao menos US$ 100 milhões à estatal. A PF abriu inquérito para apurar denúncias de irregularidades no negócio – que incluíam pagamento de propina – em abril deste ano. Acabou descobrindo que Gabrielli adotou conduta semelhante à identificada no caso da refinaria de Pasadena, nos Estados Unidos. A diferença é que a compra no Texas foi superfaturada, enquanto a venda da usina de San Lorenzo na Argentina ficou bem abaixo do preço de mercado. Para os investigadores, as suspeitas começaram pelo comprador da refinaria: o empresário Cristóbal López, dono de cassinos e ligadíssimo à presidente Cristina Kirchner. Ainda surpreendeu a PF o tempo recorde das tratativas para a venda, a contratação de intermediários e a existência de avaliações de mercado que foram desprezadas pela gestão de Gabrielli. A petrobras alegou que a refinaria de san lorenzo estaria ultrapassada e que era necessário investir us$ 1 bilhão para torná-la viável Uma delas foi feita pela Petrobras Argentina e devidamente encaminhada à matriz no Brasil. Segundo esse estudo, o valor total do ativo de San Lorenzo, incluindo a refinaria, 360 postos de distribuição e os estoques de combustível, seria de US$ 185 milhões. Outra avaliação independente feita pela consultoria Ernest & Young, a pedido da estatal, estimou o valor total do negócio em US$ 351 milhões, mais que o triplo dos US$ 102 milhões finalmente pagos pela empresa Oil S&M, do Grupo Indalo de Cristóbal López. Os pareceres foram sumariamente ignorados. Numa comparação superficial sobre os valores praticados pela Petrobras, pode-se afirmar que por Pasadena pagou-se valor equivalente a US$ 3.800 o barril/dia, enquanto a San Lorenzo foi vendida por US$ 600 o barril/dia. Para a PF, a divergência de valores já seria indício suficiente de que se tratou de um péssimo negócio para a Petrobras. A suspeita é confirmada pela própria empresa, que em relatório encaminhado à Securities and Exchange Commission (SEC), a bolsa de valores dos Estados Unidos, admite que a transação “resultou numa perda de P$ 209 milhões (petrodólares)”, ou US$ 55 milhões – considerando a cotação média da moeda americana em 2010. Em relatório financeiro posterior, o prejuízo identificado pela estatal foi ainda maior. No documento, a Petrobras diz que os US$ 36 milhões pagos apenas pela refinaria e pelos postos de combustível, excluídos os US$ 66 milhões dos estoques, foram inferiores ao “valor líquido contábil” da usina, resultando numa perda de “R$ 114 milhões”, ou US$ 68 milhões. Os prejuízos registrados nos relatórios entregues às autoridades americanas não constam da versão divulgada no Brasil. Tampouco a estatal fez qualquer comunicação ao mercado, como recomendam as boas práticas de governança corporativa. Batizado de “Projeto Atreu”, o negócio foi formatado pelos executivos da PESA Roberto Gonçalves e José Carlos Vilar Amigo, ligado a Gabrielli, e passou pelo secretário-geral da Petrobras, Hélio S. Fujikawa, diretamente subordinado ao ex-presidente. Em abril de 2010, a diretoria executiva da estatal reuniu-se para dar o aval e recomendou posterior análise do conselho de administração. O então diretor da área internacional Jorge Zelada convocou o engenheiro argentino Sebastian Augustín Passadore para fazer uma apresentação, complementando as explicações. Nas justificativas para a venda, a Petrobras alegou que a refinaria de San Lorenzo estaria ultrapassada e que precisaria investir US$ 1 bilhão para torná-la viável operacionalmente. Este ano, no entanto, Cristóbal López iniciou uma reforma na unidade que consumiu US$ 250 milhões. Outro ponto alegado pela estatal foi a ineficiência e a complexidade logística para recebimento de petróleo e despacho de derivados. Ocorre que a mesma Petrobras assinou com o empresário argentino contrato de fornecimento de nafta virgem para sua indústria petroquímica, “vizinha à refinaria de San Lorenzo”. Segundo a estatal, o objetivo seria garantir a “sustentabilidade do negócio petroquímico da PESA por 15 anos”. Além disso, no mesmo ano em que negociou a venda da usina, a estatal fechou importantes contratos para a compra de óleo cru e iniciou a operação de quatro novos dutos de carga e descarga. A refinaria processava em média 49 mil barris/dia para a produção de gasolina premium, podium, comum, diesel de aviação, diesel comum, entre outros produtos. NEGÓCIO DA ARGENTINA - Avaliação feita pela consultoria Ernest & Young estimou o valor total do negócio da venda da refinaria San Lorenzo (foto) em US$ 351 milhões, mais que o triplo dos US$ 102 milhões pagos Não bastassem as contradições do negócio e do rombo nas contas da estatal, a PF também questiona benefícios legais fornecidos ao sócio argentino e a complexa engenharia financeira montada para a concretização do negócio. A PF ainda apura denúncia de que o negócio envolveu pagamento de propina de até US$ 10 milhões, que seriam distribuídos entre caciques do PMDB e do PT. Chamou a atenção dos investidores a diferença de US$ 8 milhões entre o preço de venda de US$ 110 milhões anunciado pela Petrobras e o de US$ 102 milhões registrado posteriormente nos balanços da empresa. Os investigadores estão atrás agora dos detalhes do contrato de Lopez com o escritório do advogado Sérgio Tourinho Dantas, ex-deputado conterrâneo de Gabrielli. Tourinho receberia um percentual maior em honorários, caso conseguisse reduzir o preço da refinaria. Lopez, de fato, chegou a oferecer US$ 50 milhões por San Lorenzo. Batizado de “Projeto Atreu”, o negócio foi formatado pelo execu-tivo José Carlos Vilar, ligado a José Sérgio Gabrielli O advogado alega, porém, que abandonou a transação antes de concluída, ao saber que deveria repassar parte do dinheiro a terceiros e por meio de offshores em nome de executivos ligados ao empresário argentino. Quem acompanhou a negociação, afirma que, com a saída de Tourinho Dantas, outro intermediário foi contratado e o negócio deslanchou. A PF suspeita que o intermediário tenha sido Fernando Baiano, operador do PMDB que tinha trânsito livre na área internacional. Hoje, Baiano está preso na carceragem da PF em Curitiba. Gabrielli teme ter o mesmo destino. 5#4 CONEXÃO ARGENTINA SOB GABRIELL Além de comprar Pasadena superfaturada, com Gabrielli a Petrobras vendeu uma refinaria na Argentina que registrou grande prejuízo. Documentos obtidos por ISTOÉ mostram a operação desastrada que favoreceu um amigo da presidente Cristina Kirchner Claudio Dantas Sequeira (claudiodantas@istoe.com.br) No olho do furacão - O ex-presidente da Petrobras José Sérgio Gabrielli foi denunciado pelo MP-RJ, que pediu a quebra de seus sigilos fiscal e bancário e a indisponibilidade de seus bens. Agora, terá que explicar outro negócio suspeito de sua gestão Há cerca de um mês, o ex-presidente da Petrobras José Sérgio Gabrielli reuniu-se com o presidente do PT, Rui Falcão, na sede do partido em Brasília. Foi uma conversa tensa. Gabrielli se disse preocupado com o futuro, pois avaliava que o cerco da Polícia Federal poderia se fechar em torno dele. Em um dado momento do diálogo, queixou-se da indiferença com que tem sido tratado pelo governo e pelo partido. “Não posso ser preso, você sabe!”, reclamou, bastante alterado. O estado de ânimo demonstrado por Gabrielli naquela ocasião se explica agora. Na última semana, o ex-presidente foi arrolado entre os executivos que serão alvo de processo administrativo pela CGU por causa de irregularidades na compra da refinaria de Pasadena. Também foi denunciado por conta de desvios de R$ 31,5 milhões em obras do Centro de Pesquisas da Petrobras (Cenpes) pelo Ministério Público do Rio de Janeiro, que ainda pediu à Justiça o bloqueio de seus bens e a quebra de seus sigilos bancário e fiscal. A Polícia Federal está cada vez mais convicta de que Gabrielli foi um importante protagonista do esquema de corrupção na maior estatal do País. Segundo um integrante da força-tarefa, sua digital aparece em toda parte. “Praticamente todos os grandes negócios realizados no período em que vigorou o esquema criminoso, no Brasil e no exterior, tiveram a chancela do presidente da estatal”, afirma um delegado. Um desses negócios consistiu na venda da refinaria San Lorenzo na Argentina durante a gestão de Gabrielli. Segundo revelam documentos obtidos por ISTOÉ, a negociata causou um prejuízo de ao menos US$ 100 milhões à estatal. A PF abriu inquérito para apurar denúncias de irregularidades no negócio – que incluíam pagamento de propina – em abril deste ano. Acabou descobrindo que Gabrielli adotou conduta semelhante à identificada no caso da refinaria de Pasadena, nos Estados Unidos. A diferença é que a compra no Texas foi superfaturada, enquanto a venda da usina de San Lorenzo na Argentina ficou bem abaixo do preço de mercado. Para os investigadores, as suspeitas começaram pelo comprador da refinaria: o empresário Cristóbal López, dono de cassinos e ligadíssimo à presidente Cristina Kirchner. Ainda surpreendeu a PF o tempo recorde das tratativas para a venda, a contratação de intermediários e a existência de avaliações de mercado que foram desprezadas pela gestão de Gabrielli. A petrobras alegou que a refinaria de san lorenzo estaria ultrapassada e que era necessário investir us$ 1 bilhão para torná-la viável Uma delas foi feita pela Petrobras Argentina e devidamente encaminhada à matriz no Brasil. Segundo esse estudo, o valor total do ativo de San Lorenzo, incluindo a refinaria, 360 postos de distribuição e os estoques de combustível, seria de US$ 185 milhões. Outra avaliação independente feita pela consultoria Ernest & Young, a pedido da estatal, estimou o valor total do negócio em US$ 351 milhões, mais que o triplo dos US$ 102 milhões finalmente pagos pela empresa Oil S&M, do Grupo Indalo de Cristóbal López. Os pareceres foram sumariamente ignorados. Numa comparação superficial sobre os valores praticados pela Petrobras, pode-se afirmar que por Pasadena pagou-se valor equivalente a US$ 3.800 o barril/dia, enquanto a San Lorenzo foi vendida por US$ 600 o barril/dia. Para a PF, a divergência de valores já seria indício suficiente de que se tratou de um péssimo negócio para a Petrobras. A suspeita é confirmada pela própria empresa, que em relatório encaminhado à Securities and Exchange Commission (SEC), a bolsa de valores dos Estados Unidos, admite que a transação “resultou numa perda de P$ 209 milhões (petrodólares)”, ou US$ 55 milhões – considerando a cotação média da moeda americana em 2010. Em relatório financeiro posterior, o prejuízo identificado pela estatal foi ainda maior. No documento, a Petrobras diz que os US$ 36 milhões pagos apenas pela refinaria e pelos postos de combustível, excluídos os US$ 66 milhões dos estoques, foram inferiores ao “valor líquido contábil” da usina, resultando numa perda de “R$ 114 milhões”, ou US$ 68 milhões. Os prejuízos registrados nos relatórios entregues às autoridades americanas não constam da versão divulgada no Brasil. Tampouco a estatal fez qualquer comunicação ao mercado, como recomendam as boas práticas de governança corporativa. Batizado de “Projeto Atreu”, o negócio foi formatado pelos executivos da PESA Roberto Gonçalves e José Carlos Vilar Amigo, ligado a Gabrielli, e passou pelo secretário-geral da Petrobras, Hélio S. Fujikawa, diretamente subordinado ao ex-presidente. Em abril de 2010, a diretoria executiva da estatal reuniu-se para dar o aval e recomendou posterior análise do conselho de administração. O então diretor da área internacional Jorge Zelada convocou o engenheiro argentino Sebastian Augustín Passadore para fazer uma apresentação, complementando as explicações. Nas justificativas para a venda, a Petrobras alegou que a refinaria de San Lorenzo estaria ultrapassada e que precisaria investir US$ 1 bilhão para torná-la viável operacionalmente. Este ano, no entanto, Cristóbal López iniciou uma reforma na unidade que consumiu US$ 250 milhões. Outro ponto alegado pela estatal foi a ineficiência e a complexidade logística para recebimento de petróleo e despacho de derivados. Ocorre que a mesma Petrobras assinou com o empresário argentino contrato de fornecimento de nafta virgem para sua indústria petroquímica, “vizinha à refinaria de San Lorenzo”. Segundo a estatal, o objetivo seria garantir a “sustentabilidade do negócio petroquímico da PESA por 15 anos”. Além disso, no mesmo ano em que negociou a venda da usina, a estatal fechou importantes contratos para a compra de óleo cru e iniciou a operação de quatro novos dutos de carga e descarga. A refinaria processava em média 49 mil barris/dia para a produção de gasolina premium, podium, comum, diesel de aviação, diesel comum, entre outros produtos. NEGÓCIO DA ARGENTINA - Avaliação feita pela consultoria Ernest & Young estimou o valor total do negócio da venda da refinaria San Lorenzo (foto) em US$ 351 milhões, mais que o triplo dos US$ 102 milhões pagos Não bastassem as contradições do negócio e do rombo nas contas da estatal, a PF também questiona benefícios legais fornecidos ao sócio argentino e a complexa engenharia financeira montada para a concretização do negócio. A PF ainda apura denúncia de que o negócio envolveu pagamento de propina de até US$ 10 milhões, que seriam distribuídos entre caciques do PMDB e do PT. Chamou a atenção dos investidores a diferença de US$ 8 milhões entre o preço de venda de US$ 110 milhões anunciado pela Petrobras e o de US$ 102 milhões registrado posteriormente nos balanços da empresa. Os investigadores estão atrás agora dos detalhes do contrato de Lopez com o escritório do advogado Sérgio Tourinho Dantas, ex-deputado conterrâneo de Gabrielli. Tourinho receberia um percentual maior em honorários, caso conseguisse reduzir o preço da refinaria. Lopez, de fato, chegou a oferecer US$ 50 milhões por San Lorenzo. Batizado de “Projeto Atreu”, o negócio foi formatado pelo execu-tivo José Carlos Vilar, ligado a José Sérgio Gabrielli O advogado alega, porém, que abandonou a transação antes de concluída, ao saber que deveria repassar parte do dinheiro a terceiros e por meio de offshores em nome de executivos ligados ao empresário argentino. Quem acompanhou a negociação, afirma que, com a saída de Tourinho Dantas, outro intermediário foi contratado e o negócio deslanchou. A PF suspeita que o intermediário tenha sido Fernando Baiano, operador do PMDB que tinha trânsito livre na área internacional. Hoje, Baiano está preso na carceragem da PF em Curitiba. Gabrielli teme ter o mesmo destino. 5#5 SAÍDA PELA PORTA DOS FUNDOS Depois de cinco décadas no poder, dinastia Sarney se despede de forma melancólica do Maranhão, deixando para o governador eleito, Flávio Dino, um Estado sucateado, sem segurança e repleto de armadilhas administrativas Josie Jeronimo (josie@istoe.com.br) Sem corar a face, José Sarney se despediu do Senado dizendo que deixa o Maranhão "na vanguarda do País" Para evitar o constrangimento de entregar a faixa a seu arquirrival, Roseana Sarney renunciou ao cargo de governadora do Maranhão 20 dias antes do fim de seu mandato. O gesto amedrontado e deselegante é apenas uma parte do desastroso processo de transição maranhense. Orientada pelo pai, o ex-presidente José Sarney, que se despediu na quinta-feira 18 do Senado, Roseana deixou como herança para o sucessor, o governador eleito Flávio Dino (PCdoB), um Estado endividado e cheio de armadilhas administrativas. “Ela deixou a confusão para trás e sumiu. Vou tomar posse no escuro”, afirmou o futuro governador, que se elegeu com a promessa de dar fim à dinastia de cinco décadas da família Sarney. Dino ainda desconhece o tamanho do rombo. Só saberá ao certo no dia 1º quando tomar posse. Faltam informações sobre contratos, liberações de verbas a prefeituras e pagamentos de funcionários. O que é possível perceber, até agora, é estarrecedor. Antes de sair, a governadora autorizou licenças que comprometem a segurança pública do Estado e interrompeu pagamentos no setor de Saúde, há duas décadas sem concursos públicos. “A dívida com os precatórios é gigantesca. Não sabemos o que vai ser pago e o que vai ficar para o próximo ano”, lamenta Dino. O Estado vive dias de apreensão e paralisia, enquanto Roseana desfruta de férias nos Estados Unidos, depois de a Assembléia Legislativa autorizar uma pensão vitalícia de R$ 24 mil para ela. Prefeitos aliados da ex-governadora e empreiteiros correm para a capital, em busca de notícias sobre o pagamento de convênios atrasados. Para agradar ao eleitorado, muitas obras foram entregues antes das eleições. Os prefeitos contavam com a liberação de pelo menos R$ 74 milhões em recursos do Estado e penduraram a conta com as empreiteiras. Mas os repasses ainda não vieram. Agora, o governador em exercício precisa decidir se sangra ainda mais as contas do governo para honrar as dívidas de Roseana ou se cancela os convênios. Todas as opções são ruins para o novo governador. Se pagar, o Estado sofrerá mais um baque no caixa, que não está cobrindo nem mesmo as despesas com áreas cruciais como Saúde e Educação. O calote dos convênios, por outro lado, acirrará a hostilidade política dos ex-aliados da família Sarney. “Sou vítima de uma sabotagem”, acusa Dino. NÃO VAI DEIXAR SAUDADE - Antes do adeus, a governadora Roseana Sarney autorizou licenças que comprometem a segurança pública do Estado e interrompeu pagamentos no setor de Saúde. Os empresários amigos da família Sarney, no entanto, não foram abandonados por Roseana. Pelo contrário, estão muito bem aquinhoados. Antes de renunciar ao cargo, ela assinou renovação de contratos que só venceriam no decorrer de 2015. Para a surpresa do sucessor, as decisões saíram no “Diário Oficial” com 20 dias de atraso. Mesmo sabendo que estaria fora do governo, Roseana deixou outra bomba para o governador eleito desarmar. Brindou um grupo de coronéis da Polícia Militar com um curso de “tecnologia em segurança pública” por dois anos, mesmo diante da explosão dos índices de violência no Maranhão. Inexplicavelmente, o curso com previsão para começar este mês acontecerá em outro Estado, o Rio Grande do Norte. A consultoria contratada para ministrar as aulas à cúpula da PM do Maranhão custará R$ 9 milhões aos já combalidos cofres do Estado. Numa encruzilhada, Dino tenta ao menos adiar a data da viagem, para não ver a PM desfalcada às vésperas de assumir o mandato. Antes de renunciar, Roseana ainda tentou assinar um contrato de R$ 1,3 bilhão relativo à administração penitenciária, equivalente a 8% do orçamento total do Maranhão. Essa medida, no entanto, a nova administração conseguiu reverter. Ao mesmo tempo que cria dificuldades para o novo governo, Roseana trabalhou para não deixar rastros sobre problemas de sua gestão. A sessão de pessoal do “Diário Oficial” já trouxe exoneração de 200 funcionários comissionados. Muitos deles nem sequer cumpriam o meio expediente de trabalho do governo e outros pertenciam à família da governadora e de seu marido, Jorge Murad. Ao deixar o Senado, na quinta-feira 18, Sarney nem enrubesceu a face ao dizer que deixava o Maranhão “na vanguarda” do País.  BOMBAS PARA DESARMAR - O governador eleito Flávio Dino assume o Estado no escuro. O rombo no Orçamento ainda é incalculável 5#6 RIQUEZA SUSPEITA Alvo de ação penal no STF, Alfredo Kaefer, o deputado mais rico da Câmara, teria acumulado fortuna graças a calotes aplicados em credores e manobras no patrimônio familiar Izabelle Torres (izabelle@istoe.com.br) Dez vezes o patrimônio Segundo o MP, dívidas de Alfredo Kaefer com credores e instituições financeiras ultrapassariam a casa do bilhão O deputado federal Alfredo Kaefer (PSDB-PR) é o mais rico dentre os parlamentares recém-eleitos para a Câmara. Segundo sua declaração de bens entregue à Justiça Eleitoral, ele tem R$ 108,5 milhões em patrimônio e grande parte desses recursos provém do aglomerado de empresas em seu nome, que inclui seguradora, frigorífico e jornais. Longe dos números frios declarados pelo próprio parlamentar, sua fortuna é controversa. O deputado é alvo de três inquéritos e uma ação penal no Supremo Tribunal Federal (STF), dois deles em fase avançada, graças às investigações já realizadas pela Polícia Civil e pelo Ministério Público do Paraná. A suspeita mais recorrente nas investigações é a de que o deputado milionário tenha enriquecido graças a calotes aplicados nos seus credores e a uma série de manobras no patrimônio familiar para salvar seus bens de execuções. Segundo o Ministério Público Federal, a soma das dívidas de Kaefer com credores e instituições financeiras passa de R$ 1 bilhão, se somados os juros e as multas. É dez vezes o patrimônio que ele declara possuir. O mais delicado dos processos é o inquérito 3678/2013, relatado pelo ministro Marco Aurélio Mello. Composto de diligências policiais e depoimentos de testemunhas, o caso caminha rapidamente. No dia 13 de agosto, o deputado foi chamado a depor sobre o pedido de recuperação judicial das empresas de um dos seus grupos, o Diplomata, mas não compareceu. Segundo o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, há indícios de que a falência foi fictícia e serviu apenas para não pagar a credores do grupo, pois a mesma empresa fez doações para a campanha política do deputado e ainda transferiu mais de R$ 27 milhões para sua conta pessoal. Dias antes do pedido de recuperação, Kaefer se retirou da sociedade, deixando sua mulher na administração. Para o MP, foi uma tentativa de evitar que seu patrimônio fosse considerado parte do processo. “Tudo leva a crer que a retirada de Alfredo Stoffels Kaefer das sociedades foi um ata meramente formal, cujo fim era ludibriar credores e permitir operações e manobras”, concluiu Janot. Em setembro, Kaefer se tornou réu no STF por fraude do sistema financeiro. A ação penal aberta contra ele apura crimes de gestão fraudulenta, empréstimo dissimulado e fornecimento de informação falsa ao Banco Central quando era presidente do conselho de gestão da empresa Sul Financeira S/A. O parlamentar nega todas as acusações e chegou a criticar o juiz do Paraná que decretou a intervenção em suas empresas. ___________________________________________ 6# COMPORTAMENTO 24.12.14 O NOVO RETRATO DA SOCIEDADE BRASILEIRA As mulheres estão adiando a maternidade e o casamento, e são referência em 20% dos lares. Mas continuam ganhando menos que os homens e acumulam muito mais afazeres domésticos do que eles Helena Borges (helenaborges@istoe.com.br) Das transformações sociais que ocorreram no Brasil desde o ano 2000, a mudança no perfil feminino é o que mais chama a atenção. A pesquisa Síntese de Indicadores Sociais (SIS), divulgada na semana passada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), revelou um novo retrato da mulher brasileira: 38,4% da população feminina entre 15 e 49 anos não têm filhos e a maternidade vem sendo adiada, especialmente entre as de maior escolaridade – se é que serão mães. Os dados mostram que uma em cada cinco famílias brasileiras é formada por casais sem herdeiros e o número de casais com filhos caiu 13,7% na última década. Nesse período, a mulher também ganhou destaque em casa. Em 2013, elas eram “referência familiar” em cerca de 20% dos lares, enquanto em 2004 o percentual variava entre 6,6% (casais sem filhos) e 5,1% (casais com filhos). Esses dados estão conectados com outros divulgados no início do mês na pesquisa Estatísticas do Registro Civil, também do IBGE. No estudo, foi constatado que as pessoas, de ambos os sexos, estão casando dois anos mais tarde, em comparação com dez anos atrás. O motivo é o mesmo para o adiamento dos filhos, um maior investimento em estudos e carreira, deixando os relacionamentos amorosos em segundo plano. A carioca Suyan Cavalcante, de 36 anos, é um exemplo dessa nova mentalidade. Ela não pensa em se tornar mãe pelo menos até os 40 anos, mas admite que não foi sempre assim. “Quando era jovem, achava imprescindível engravidar cedo, hoje penso que, se não tiver condição de criar meus filhos com conforto, talvez abra mão”, diz. Formada em direito e com pós-graduação na área, largou tudo para abrir uma empresa de eventos. As mudanças estão em curso, mas alguns hábitos permanecem inalterados. As mulheres continuam trabalhando em regime de jornada dupla (em casa e no escritório) cinco horas semanais a mais do que os homens – isso quando eles ajudam nas tarefas do lar, coisa que apenas metade deles faz (leia quadro). A diferença da carga horária final revela um fato conhecido, mas alarmante: a desigualdade de gêneros já começa dentro de casa. É no mercado de trabalho, porém, que a falta de equilíbrio fica mais evidente. A diferença salarial é maior em empregos informais, nos quais uma mulher ganha 65% do recebido por um homem, apesar de exercer a mesma função. Entre os formais a discrepância aumenta de acordo com a escolaridade. Com até quatro anos de estudo, o rendimento feminino corresponde a 81% do masculino; mas com 12 anos ou mais a proporção é de absurdos 66%. O sociólogo Rodrigo Prando, da Universidade Mackenzie, explica que o atraso no início da gestação é também uma técnica feminina para compensação da diferença salarial. “Vivemos quase 400 anos sob uma estrutura patriarcal, é óbvio que em 100 anos você não apaga esse passado machista”, diz ele. Segundo a pesquisa do IBGE, as mulheres têm investido em estudos e carreira e deixado os relacionamentos amorosos em segundo plano O brasileiro não está atrasando decisões importantes apenas no que se refere a casamento e prole, mas também para sair de casa. A “geração canguru”, grupo formado por adultos de 25 a 37 anos que ainda vivem com os pais, já representa quase um quarto dessa faixa etária. “Supomos que a decisão de ficar mais tempo na casa da família tem a ver com a necessidade de economizar para estudar mais, porque a média de escolaridade desses indivíduos é maior”, explica André Simões, pesquisador do IBGE. Outro grupo de jovens, este mais preocupante, é intitulado “Nem Nem”, aquele que “nem estuda nem trabalha” — eles somam, hoje, 9,9 milhões de pessoas. Desses, apenas 26% tentaram entrar no mercado de trabalho no último ano, sem sucesso. O restante nem sequer tentou. As mulheres são a imensa maioria, perfazem 98,8% do grupo. ________________________________________ 7# MEDICINA E BEM-ESTAR 24.12.14 A AMEAÇA DA SUPERBACTÉRIA NAS ÁGUAS CARIOCAS A presença de bactéria resistente a antibióticos em pontos turísticos importantes do Rio de Janeiro e também em raia que será usada na Olimpíada de 2016 acende um alerta às vésperas dos jogos. Mas os riscos de contaminação humana, pela água, são baixos Rogério Daflon (daflon@istoe.com.br) Uma das bactérias mais blindadas aos efeitos de antibióticos foi encontrada nas praias do Flamengo e de Botafogo, além do rio Carioca, na zona sul do Rio de Janeiro. Trata-se da KPC, sigla de Klebsiella pneumoniae carbapenemase, que também foi detectada numa das raias olímpicas da Marina da Glória, sede da competição de vela dos Jogos de 2016. O Instituto Oswaldo Cruz (IOC) e o Instituto de Microbiologia Paulo de Góes (IMPG), da Universidade Federal do Rio de Janeiro, fizeram as pesquisas sobre a presença do micro-organismo nesses locais. A KPC é considerada uma superbactéria por causa de sua enorme capacidade de resistência à ação dos antibióticos. Ela é encontrada primordialmente em hospitais. No Brasil, desde 2009 há registro de óbitos causados pelo agente devido à infecção hospitalar em cidades como Fortaleza, Brasília, São Paulo, Londrina e Rio de Janeiro. De acordo com os pesquisadores, porém, são raros no mundo os casos de contaminação de KPC fora de ambiente hospitalar – e no Brasil não há. ANÁLISE - Os cientistas Ana Paula e Carlos Felipe são os responsáveis pela descoberta, que teve repercussão internacional A superbactéria já havia sido detectada pelo IMPG em esgoto hospitalar em São Paulo e pesquisadores da Universidade de São Paulo a encontraram no rio Tietê. Ela também já foi achada em rios da França e de Portugal, além de esgoto na China e na Áustria. O contágio, na água, acontece de duas formas: por meio da ingestão de água ou por ferida na pele. Os sintomas variam, segundo a pesquisadora Renata Picão, do IMPG. “Os mais comuns são prostração e febre alta”, explica. O tratamento é administrado em hospital, onde são usadas drogas muito fortes, como a polimixina. Porém, elas têm efeitos colaterais importantes, como o prejuízo ao funcionamento dos rins. A presença da KPC nas águas também preocupa porque estimula sua proliferação. “Fezes contaminadas irão para a rede de esgoto, estabelecendo um ciclo de disseminação”, alerta a bióloga Ana Paula D’Alincourt, autora do estudo, em parceria com Carlos Felipe de Araújo, ambos do IOC. A explicação mais provável para a concentração do micro-organismo nas águas cariocas é o despejo ilegal do esgoto hospitalar nesses locais. A notícia de sua presença em pontos que serão usados nos jogos de 2016 repercutiu internacionalmente. A rede inglesa BBC, por exemplo, deu destaque ao achado. No Brasil, o velejador Torben Grael lamentou a situação, afirmando que a descoberta teve má repercussão entre os velejadores estrangeiros. _______________________________________ 8# ECONOMIA E NEGÓCIOS 24.12.14 A AMEAÇA QUE VEM DA RÚSSIA Desmoronamento do rublo assusta mercados, provoca estragos na economia brasileira e traz de volta o temor de uma recessão global CRISE - Mulher olha vitrine natalina em Moscou: moeda desvalorizada e inflação em alta freiam os negócios Em 1998, pouco depois do colapso político da União Soviética, a Rússia mergulhou em um caos econômico que resultou no desaparecimento de milhões de empregos, na desvalorização recorde do rublo e na moratória da dívida externa. O drama russo desencadeou uma recessão mundial, provocando estragos principalmente nos países emergentes. No Brasil, sob o governo FHC, a cotação do real despencou, as reservas caíram de US$ 60 bilhões para US$ 16 bilhões e os juros básicos dispararam para 45%. Na semana passada, a Rússia deu outro susto. Na terça-feira 16, o rublo chegou a se desvalorizar quase 30%. Como aconteceu no desmoronamento de 1998, os efeitos foram sentidos em diversas partes do mundo. No Brasil, o dólar alcançou R$ 2,76, a maior cotação desde março de 2005, e o fantasma da fuga de investidores estrangeiros voltou a assombrar os agentes financeiros. O desastre do passado pode se repetir? Em primeiro lugar, é preciso comparar os dois períodos. Como em 1998, o preço baixo do barril do petróleo vem provocando estragos na economia russa, que tem metade de seu orçamento associada às vendas do combustível. Há 16 anos, o barril despencou para US$ 10 e não havia perspectivas de aumento significativo. Agora, o barril custa em torno de US$ 60, mas os prognósticos apontam para a alta de preços a partir do ano que vem. Os fundamentos econômicos da Rússia do século XXI também são mais consistentes. Se em 1998 a inflação anual era de 100%, hoje ela está na casa dos 10%. A Rússia pós-União Soviética mal sabia o que era economia de mercado e agora dispõe de um meio empresarial forte e influente. No cenário externo, há semelhanças. Em 1998, o país enfrentava a retomada dos confrontos na Chechênia e a iminência de uma nova guerra entre separatistas e o governo russo. No contexto atual, o governo do presidente Vladimir Putin sofre as consequências das sanções da Europa e dos Estados Unidos por causa da intervenção militar na Ucrânia, sanções essas que geram perdas anuais de US$ 40 bilhões por ano. Muito se especulou sobre os impactos para economia brasileira. É impossível cravar o que virá, mas o risco do contágio financeiro é menor. O Brasil soma US$ 375 bilhões em reservas internacionais – mais do que suficientes para assegurar alguma tranquilidade mesmo diante das notícias negativas de Moscou. Pouco depois da sangria do rublo, Alexandre Tombini, presidente do Banco Central, anunciou que a instituição manterá os leilões cambiais para proteger o real, que em 2014 sofreu forte depreciação perante o dólar. A economia brasileira é diferente hoje do que era 16 anos atrás, mas também é verdade que o País precisa de ajustes para voltar a crescer. Num cenário já complicado, a crise na Rússia amplifica os desafios que virão pela frente. PREÇO - Em Moscou, painel mostra a queda do rublo: a moeda chegou a cair 30% em um dia ________________________________ 9# MUNDO 24.12.14 SOMOS TODOS AMERICANOS Retomada histórica das relações diplomáticas entre Estados Unidos e Cuba abre caminho para o fim do embargo econômico e pode trazer frutos para todo o continente Mariana Queiroz Barboza (mariana.barboza@istoe.com.br) A repórter da ISTOÉ Mariana Queiroz Barbosa explica o que muda após essa reaproximação histórica LINHA DIRETA - Pela primeira vez desde o rompimento das relações, um presidente americano, Obama, conversou com um presidente cubano, Raúl Castro, por telefone. No final de março, o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, se reuniu com o Papa Francisco, no Vaticano, durante menos de uma hora. De acordo com as informações oficiais, eles dialogaram sobre as dificuldades para combater a crescente pobreza no mundo. Na semana passada, Obama revelou o verdadeiro teor da conversa: a retomada das relações diplomáticas com Cuba, encerradas há mais de 50 anos. Nos últimos nove meses, o papa escreveu a Obama e ao presidente cubano, Raúl Castro, encorajando-os à reaproximação. O resultado desse esforço agora faz parte da história. “Hoje começamos um novo capítulo da relação entre os dois países”, disse Obama na quarta-feira 17. “Somos todos americanos.” Naquele momento, três ex-prisioneiros cubanos acusados de espionagem pelos EUA eram recebidos como heróis em Havana, e dois americanos, então presos na ilha, deixavam Cuba em direção a seu país de origem. “Essa decisão do presidente Obama merece respeito e reconhecimento pelo nosso povo”, afirmou o presidente Castro. Ainda que a reconciliação com Cuba estivesse no discurso de Obama desde a sua chegada à Casa Branca, em 2009, e circulasse há meses nos bastidores de Washington, a notícia não era esperada em 2014 – mesmo ano em que os saudosos da Guerra Fria pareciam estar ganhando novo fôlego com a polarização entre EUA e Rússia no Leste Europeu. “Obama entrará para a história como a pessoa que reverteu um erro histórico, uma política que falhou sob 11 presidentes”, disse à ISTOÉ Eric Hershberg, diretor do Centro de Estudos Latinos e da América Latina da Universidade Americana, de Washington. “Ao remover o pior exemplo da maneira antiga de os EUA lidarem com a América Latina, ele deu um passo mais ambicioso do que podíamos imaginar.” Entre as medidas que entrarão em vigor estão o aumento do limite de remessas a Havana, a flexibilização das regras de viagens à ilha (ainda que o turismo não entre nas categorias autorizadas), a regularização de cartões de crédito e débito americanos no país e a retirada de Cuba da lista de Estados considerados “patrocinadores do terrorismo.” O acordo deve culminar com a abertura de uma embaixada americana em Havana nos próximos meses. Cubanos foram às ruas de Havana comemorar a notícia Esse deverá ser o terceiro ponto de inflexão num relacionamento marcado por dois momentos distintos. Durante o processo de independência de Cuba, entre 1895 e 1898, os americanos tiveram papel preponderante e ajudaram os cubanos a lutar contra a Espanha pela libertação da ilha. “Logo após a independência, os EUA eram o maior importador do açúcar produzido em Cuba, e os dois países mantinham amplas relações econômicas e diplomáticas”, diz Luis Fernando Ayerbe, coordenador do Instituto de Estudos Econômicos e Internacionais da Universidade Estadual Paulista. Naquela época, a ilha era um lugar desigual e degradado, cheio de cassinos e bares frequentados por americanos. FICOU NO PASSADO - Presidente dos EUA no início dos anos 60, John F. Kennedy endureceu a postura em relação a Cuba ao assinar o embargo econômico. Na época, Fidel Castro nacionalizou ativos americanos e se aproximou da União Soviética A situação se inverteu quando, por conta da revolução socialista, Cuba adotou uma série de medidas radicais e estatizou sua economia. Os EUA reduziram a cota de importação do açúcar e os cubanos se aproximaram da ex-União Soviética. O bloco socialista considerava estratégica a posição do país caribenho, separado por 140 quilômetros dos EUA, para sua influência na América. A tensão aumentou nos anos 60, com uma tentativa de golpe contra o regime de Fidel Castro e a aprovação de uma série de leis com o objetivo de sufocar a economia da ilha. Começava o embargo econômico que, desde então, impôs perdas de US$ 1 trilhão a Cuba. MEDIADOR - Em encontro com Obama, em março, o papa Francisco se dispôs a conversar com Raúl Castro Apesar da atual troca de palavras de confiança e da promessa de uma nova era, o ponto mais delicado do diálogo entre os dois países será submetido ao Congresso americano. O fim do embargo está nas mãos dos opositores de Obama, que têm defendido uma posição ainda mais dura em relação ao vizinho. Significa, portanto, que sua aprovação é improvável? Para Rodolfo de La Garza, professor de relações internacionais da Universidade de Columbia, de Nova York, ela não está totalmente descartada. “Há muitos republicanos que são empresários e enxergam em Cuba a oportunidade de fazer negócios”, afirma. Desde o fim da União Soviética, a ilha sofre com o baixo crescimento econômico, a desvalorização da moeda e a dependência do petróleo subsidiado da Venezuela. Sob a administração de Raúl Castro, Cuba promoveu reformas e se abriu ao capital estrangeiro. “A reaproximação e o aumento do intercâmbio comercial, tecnológico e financeiro com os EUA certamente contribuirão para a aceleração desse processo”, diz Lorena Barberia, professora do departamento de ciência política da Universidade de São Paulo e ex-diretora do Programa de Estudos Cubanos na Universidade de Harvard. Nesse contexto, o Brasil deverá ser um dos maiores beneficiados. Principal investimento do País em Cuba, o Porto de Mariel tem potencial para ser um importante canal de entrada de produtos brasileiros nos EUA. A 200 quilômetros da costa da Flórida, Mariel, que recebeu US$ 1 bilhão de financiamento do Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social, é o terminal caribenho mais próximo do solo americano. O investimento, muito criticado à época da inauguração do porto, em janeiro, agora é visto como estratégico. A expectativa do fim do embargo econômico deverá ter impacto positivo sobre outros países do continente, que pressionaram pela inclusão de Cuba na Cúpula das Américas no Panamá em 2015. “Esse capítulo que se abre é muito interessante, porque a América Latina tem sido há muito tempo ignorada por Washington”, afirma Joseph Scarpaci, diretor-executivo do Centro de Estudos da Cultura e da Economia Cubana, na Virgínia. “Hoje, os EUA só olham para a região quando o assunto é narcotráfico, petróleo e BRICS (conjunto de economias emergentes formado por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul).” O foco da política externa americana, contudo, deverá continuar voltado ao Oriente Médio, à Ásia e à Rússia. A dois anos do fim de seu mandato como presidente dos EUA, Obama envia sinais de que pretende adotar uma abordagem mais ousada, pensando no legado que deixará. Nos últimos meses, ele anunciou, sem consultar o Congresso, uma reforma na política de imigração, assinou um acordo climático com a China e intensificou as conversas para um pacto nuclear com o Irã. A reabertura do diálogo com Cuba contraria os conservadores, para quem isso deveria acontecer depois que Havana fizesse a transição para um regime democrático, mas corrige uma injustiça histórica: o isolamento jamais funcionou. LIBERTADOS - Horas antes dos anúncios dos presidentes em rede nacional, o americano Alan Gross (acima) e três espiões de Havana foram mandados de volta para casa. Os cubanos se juntaram a outros dois ex-prisioneiros (abaixo) e foram recebidos como heróis Com reportagem de Paula Rocha e Ludmilla Amaral ___________________________________ 10# CULTURA 24.12.14 10#1 CINEMA - A COR DE MOISÉS 10#2 EM CARTAZ – CINEMA - AMOR EM TEMPOS DE CÓLERA 10#3 EM CARTAZ – LIVROS - LEMBRANÇAS DE GUERRA 10#4 EM CARTAZ – DVD - PROFECIA MACABRA 10#5 EM CARTAZ – EXPOSIÇÃO - A MENINA QUE AMAVA OS BEATLES 10#6 EM CARTAZ – CD - NARRATIVAS SUBURBANAS 10#7 EM CARTAZ - LEONARDO/HAVER/DESNUDAR 10#1 CINEMA - A COR DE MOISÉS Acusado de privilegiar artistas brancos em sua versão para a história do profeta, Ridley Scott diz que com atores africanos não teria como financiar a superprodução de US$ 140 milhões Elaine Guerini, de Paris LINHA DIRETA - Christian Bale na pele de Moisés, o líder que recebeu os mandamentos de Deus O homem branco sempre foi o herói em Hollywood. E, no que depender de “Êxodo – Deuses e Reis”, fime de Ridley Scott que estreia esta semana, os caucasianos continuarão reinando nas telas, apesar das acusações de racismo que a superprodução recebe desde o anúncio do elenco. Até uma petição online foi criada, o site change.org, incitando o boicote ao filme que reconta a saga de Moisés para libertar os judeus da escravidão no Antigo Egito. A escolha de atores ingleses, australianos e americanos para os papéis de africanos (enquanto os negros interpretam apenas os serviçais e os escravos), desagradou religiosos, historiadores e até os cinéfilos. “Que diferença faz a cor da pele, desde que todos sejam tratados com respeito?”, disse o inglês Christian Bale, escolhido por Ridley Scott para encarnar Moisés. Para personificar o profeta que conduziu o povo de Israel até a Terra Prometida, o ator leu três vezes o Antigo Testamento. “Nosso filme não poderia ser mais contra a segregação racial, já que o papel de Moisés foi justamente o de libertar o povo hebreu da escravidão imposta pelos egípcios, que se consideravam superiores”, completou Bale, em entrevista à ISTOÉ, concedida no hotel Le Bristol, de Paris. Bale é apenas mais um branco que interpreta o líder religioso que, segundo a “Bíblia”, recebeu no Monte Sinai as Tábuas da Lei de Deus, contendo os Dez Mandamentos. O bronzeamento artificial foi um dos recursos usados para escurecer sua pele alva e de outros atores do elenco principal (como o australiano Joel Edgerton, no papel de Ramsés, e os americanos Aaron Paul, como Joshua, e Sigourney Weaver, como Tuya). “Se eu tivesse escolhido atores africanos para contar essa história, o filme jamais teria sido financiado”, justificou o diretor britânico, que precisou de US$ 140 milhões para lembrar o episódio da libertação dos 400 mil escravos judeus com toda a pompa nas telas. UTOPIA - Segundo Ridley Scott, contratar atores africanos inviabilizaria o filme “Quase toda a iconografia da “Bíblia” foi, ao longo dos anos, representada por pessoas ocidentais e brancas. O mesmo vale para as centenas de filmes hollywoodianos baseados nela”, disse o canadense Sean Purdy, professor de história dos Estados Unidos na Universidade de São Paulo (USP), desde 2006. “Certamente isso aconteceu mais por ignorância da realidade dos tempos do Velho Testamento do que por racismo”, completa. Escalar atores que representem fielmente o tipo físico dos personagens bíblicos é impossível, de acordo com Afonso Soares, cientista da religião da Pontifícia Universidade Católica (PUC-SP). “Como saber, sem sombra de dúvida, as nacionalidades e as raças de figuras tão míticas? Mesmo que houvesse a assessoria de um esquadrão ecumênico de especialistas em “Bíblia”, o filme continuaria polêmico”, afirma. É preciso considerar que a literatura bíblica antiga foi escrita quase toda em hebraico, uma língua ritual e simbólica e repleta de trocadilhos, formas poéticas e entrelinhas. “Um leitor contemporâneo jamais perceberá tudo. Soares lembra que filmes como “A Última Tentação de Cristo” (1988), de Martin Scorsese, e “A Paixão de Cristo” (2004), de Mel Gibson, também geraram polêmica por questões interpretativas, que não se relacionavam com a cor da pele dos intérpretes. Sob a ótica de Scott, o Livro do Êxodo é a história de dois irmãos, Moisés e Ramsés, que se enfrentam para definir o destino do Egito. Embora tenha sido adotado pela família do faraó e crescido junto com Ramsés, Moisés é banido assim que sua origem judaica é descoberta. Depois de passar anos em exílio, período em que se casou com Zípora e teve um filho, Gérson, ele é encarregado por Deus (representado aqui como um menino) para libertar o povo de Israel. Ao retornar ao Egito, Moisés monta um exército contra Ramsés, agora faraó, o que desencadeia uma guerra, uma série de pragas e a famosa travessia do Mar Vermelho. “Antes de mais nada, vejo essa passagem bíblica como uma revolução social. E foi isso que mais me instigou a reconstituí-la”, disse Scott, agnóstico. IGNORÂNCIA - Para especialista, a iconografia bíblica costuma ser representada por ocidentais e brancos mais por desinformação que por racismo 10#2 EM CARTAZ – CINEMA - AMOR EM TEMPOS DE CÓLERA Ana Weiss (ana.weiss@istoe.com.br) Ganhador do prêmio da crítica no Festival de Gramado deste ano, “O Crítico”, do argentino Hernán Guerschuny, homenageia um dos gêneros mais amados pelo público e maltratados pela crítica, a comédia romântica. Victor Téllez (Rafael Spregelburd) é o personagem-título, que sofre do que chama de “la maladie du cinéma”: de tanto assistir a filmes, passa a enxergar a vida como um. Tudo muda quando, na procura por um apartamento, conhece Sofía (Dolores Fonzi). Embora a veja e as situações românticas que passa a viver como “puro clichê”, não consegue resistir à afeição que sente pela garota. Carregado de referências a filmes antigos, a obra é uma exceção ao tom pessimista que toma conta do cinema argentino recente, presente até em comédias como o sucesso de público “Relatos Selvagens”. E segue, como uma legítima peça de metalinguagem, uma estrutura próxima à da comédia romântica. + 5 sobre filmes de cinema Crepúsculo dos Deuses (foto) Roteirista se envolve com atriz decadente que tenta voltar a fazer filmes em Hollywood no clássico de Billy Wilder O Dia do Gafanhoto Filme de John Schlesinger sobre diretor que tenta ajudar a carreira de atriz problemática Mamãezinha Querida De Frank Perry, mostra a história da filha adotiva de uma sádica Joan Crawford A Rosa Púrpura do Cairo Obra de Woody Allen sobre garçonete que se encontra com o herói de seu filme favorito Ed Wood Tim Burton recria a história do diretor de mesmo nome, considerado o pior de todos os tempos, com Johnny Depp no papel principal 10#3 EM CARTAZ – LIVROS - LEMBRANÇAS DE GUERRA Ana Weiss (ana.weiss@istoe.com.br) Jornalista e grande cronista, Rubem Braga passou os meses finais da Segunda Guerra Mundial – de setembro de 1944 a abril de 1945 – como correspondente do jornal “Diário Carioca”, na Itália. Os textos que escreveu no período foram reunidos no livro “Crônicas da Guerra na Itália”, publicado pela primeira vez em 1945 e reeditado agora pela Record. Nelas, Braga descreve a solidão, o medo e as adversidades enfrentadas ao lado dos soldados brasileiros da FEB. (Força Expedicionária Brasileira). 10#4 EM CARTAZ – DVD - PROFECIA MACABRA Ana Weiss (ana.weiss@istoe.com.br) Considerada pelo crítico literário Harold Bloom a melhor adaptação de “Macbeth”, de William Shakespeare, para o cinema, “Trono Manchado de Sangue” foi filmado em 1957, auge da popularidade do diretor Akira Kurosawa no Ocidente. Toshiro Mifune e Akira Kubo interpretam dois militares que, após ouvir a profecia de uma bruxa (substituindo as três da história original), seguem caminhos opostos em sua escalada ao poder no Japão feudal do século XVI. Repleto de neblinas, fantasmas e florestas escuras, é uma das obras mais sombrias na filmografia do diretor japonês. 10#5 EM CARTAZ – EXPOSIÇÃO - A MENINA QUE AMAVA OS BEATLES Ana Weiss (ana.weiss@istoe.com.br) Personagem mais famosa do cartunista argentino Quino, Mafalda surgiu em 1964 e se tornou um sucesso global, com traduções em 26 idiomas. O universo da personagem pode ser visto na exposição “O Mundo Segundo Mafalda”, que, após passar por Argentina, Costa Rica, México e Chile, fica em cartaz em São Paulo até o dia 28 de fevereiro, na Praça das Artes, no centro da cidade. Dividida em 13 módulos, a mostra gratuita reúne as principais tiras da simpática e curiosa criança de seis anos, além de recriar ambientes das histórias em quadrinhos, como a sala de família, uma vitrola que toca Beatles, uma antiga TV e objetos da época. 10#6 EM CARTAZ – CD - NARRATIVAS SUBURBANAS Para ser direto, como mostra a história dos Racionais MC's, "Cores & Valores" é um álbum aquém da discografia da banda-referência do rap nacional. Ana Weiss (ana.weiss@istoe.com.br) Para ser direto, como mostra a história dos Racionais MC’s, “Cores & Valores” é um álbum aquém da discografia da banda-referência do rap nacional. Quem se acostumou a ver Mano Brown, Edi Rock, Ice Blue e KL Jay rimar sopapos contra uma realidade socialmente injusta e racista não topou muito com essa nova pegada do disco. Nele, vê-se a turma se referindo mais aos 25 anos de sua história. “Em 90 a cena ficou violenta / Brown e o Blue com pânico na zona sul”, canta Edi Rock em “O Mal e o Bem”, um dos destaques do álbum. A levada mais soul do trabalho também merece atenção. Mas incomoda bastante a repetição do mantra “somos o que somos” e a sequência de faixas-vinhetas na primeira metade do CD. Por Rodrigo Cardoso 10#7 EM CARTAZ - LEONARDO/HAVER/DESNUDAR Conheça os destaques da semana Ana Weiss (ana.weiss@istoe.com.br) Leonardo Da Vinci: A Natureza da Invenção (Fiesp, em São Paulo, até 10/5) Mostra com 40 objetos produzidos a partir de projetos do renascentista O Haver – Pinturas e Músicas para Vinicius (Caixa Cultural, em São Paulo, até 15/1) A mostra reúne aquarelas e músicas inéditas de compositores da MPB em homenagem à obra de Vinicius de Moraes A mostra “O Haver – Pinturas e Músicas para Vinicius” reúne aquarelas e músicas inéditas de compositores da MPB em homenagem à obra de Vinicius de Moraes. Confira o teaser da exposição. Desnudar (Sesc Belenzinho, em São Paulo, até 20/12) Espetáculo de dança da Cia Artesãos do Corpo, com performance baseada na obra de pintores de épocas diferentes. ________________________________________ 11# A SEMANA 24.12.4 por Antonio Carlos Prado e Elaine Ortiz "MASSACRE SEM FIM" Foi preciso que ocorresse um massacre com 148 pessoas mortas no Paquistão para que o mundo se desse conta de que o terrorismo fundamentalista dos talibãs está longe de ser extinto. Na terça-feira 16, jihadistas do Talibã paquistanês, facção que integra justamente com afegãos islâmicos o Movimento dos Talibãs do Paquistão (TTP), promoveram o maior ataque da história do país invadindo com metralhadoras e granadas a Escola Pública do Exército. Entre os mortos estão 132 crianças e adolescentes, a maioria executada com tiros no rosto. O atentado é em parte fruto de uma política suicida das autoridades do país que por muito tempo aceitaram dinheiro dos EUA para combater grupos de talibãs, mas, de forma inescrupulosa, davam as verbas justamente a tais grupos para que eles lutassem contra o Afeganistão. O primeiro-ministro Nawaz Sharif suspendeu agora a moratória da pena de morte a terroristas, e acha que fez muito. "JAIR BOLSONARO É DENUNCIADO NO STF" A vice-procuradora-geral da República, Ela Wiecko, denunciou na semana passada o deputado federal Jair Bolsonaro pelo crime de incitamento público à prática de estupro – há 15 dias ele declarou na tribuna da Câmara que não estuprava a deputada Maria do Rosário porque ela não merecia. A denúncia foi feita no STF e será analisada pelo ministro Luiz Fux. Quatro partidos estão pedindo ao conselho de ética a cassação de seu mandato: (PT, PC do B, PSOL e PSB). Em entrevista à mídia gaúcha ele reafirmou as ofensas à colega deputada. "FORA DO AVIÃO E FORA DA FUNÇÃO" O juiz Marcelo Baldochi, que deu voz de prisão a um funcionário da TAM no aeroporto maranhense de Imperatriz (ele se recusou a retardar a decolagem da aeronave para que o magistrado embarcasse), foi afastado de suas funções na quarta-feira 17. O Tribunal de Justiça do Maranhão assim decidiu para que Baldochi não interfira nas investigações sobre o seu ato, que pode configurar abuso de poder. "R$ 72,8 MILHÕES" R$ 72,8 milhões sairão a mais, anualmente, dos cofres públicos dos 26 Estados e do Distrito Federal para pagamento dos salários dos deputados estaduais e distritais a partir do ano que vem. O efeito cascata ocorre devido à aprovação pelo Congresso, na quarta-feira 17, do aumento dos vencimentos dos deputados federais – passaram de R$ 26,7 mil para R$ 33,7 mil. A Constituição determina que deputados estaduais recebam até 75% do valor do salário dos parlamentares federais. "ESCOLAS E HOSPITAIS ESTÃO COM VERBAS ATRASADAS" O governo federal entregou à rede pública de ensino somente metade dos R$ 936 milhões destinados aos colégios estaduais e municipais. O Ministério da Educação afi rma que a verba foi dividida em duas parcelas, mas não há previsão para o repasse da segunda parte – até porque o ano está acabando. A quantia de R$ 2 bilhões, referente ao mês de novembro, para o custeio das Santas Casas e hospitais fi lantrópicos de todo o País, não havia sido depositada até a metade deste mês. Ninguém sabe quando isso acontecerá. Como no caso acima, também porque 2014 está em seus últimos dias. "ANULADO PROCESSO CONTRA O ASSESSOR ACUSADO DE PLANEJAR A MORTE DO PREFEITO" Doze anos após o sequestro e assassinato do então prefeito de Santo André Celso Daniel, o STF anulou na semana passada o processo contra o empresário Sérgio Gomes da Silva, que era amigo pessoal e assessor da vítima – é sobre ele que pesava a acusação de ser o mentor do crime. Celso Daniel foi sequestrado em São Paulo em 2002 ao sair de uma churrascaria, e quem dirigia o carro era o amigo. O STF acolheu o argumento do advogado Roberto Podval de cerceamento do direito de defesa, uma vez que ele foi impedido de participar das audiências de outros acusados da morte do prefeito, hoje já condenados. A decisão da Corte não extingue o processo, apenas o anula e beneficia demais os condenados que já cumprem pena: serão refeitos interrogatórios e perícias. Para a polícia o sequestro foi crime comum; para o Ministério Público houve motivação política: Celso Daniel teria sido morto porque pretendia frear esquema de corrupção na prefeitura. "SONY CANCELA O LANÇAMENTO DE FILME SOBRE KIM JONG-UN" Depois que hackers invadiram os sistemas corporativos da Sony no final de novembro, provavelmente numa reação contra o filme “A Entrevista”, que mostra comicamente um plano fictício da CIA para assassinar o líder norte-coreano Kim Jong-un, as principais salas de cinema dos EUA optaram, na semana passada, por sua não exibição como medida de segurança. À Sony não restou outra saída a não ser cancelar o lançamento do filme protagonizado por James Franco e Seth Rogen. "MALUF GANHOU MANDATO, MAS PERDEU A PRESIDÊNCIA DO PP" A quarta-feira 17 deu uma derrota e uma vitória ao deputado federal Paulo Maluf. A DERROTA: ele perdeu a presidência do PP em São Paulo – o novo presidente do diretório estadual do partido é agora o também deputado federal Guilherme Mussi. Maluf estava com a imagem desgastada devido às constantes acusações de improbidade administrativa, e isso era um dos grandes empecilhos para que o PP ganhasse correligionários “Um partido político não pode gravitar em torno de uma pessoa, tem de gravitar em torno de ideias e de seus quadros”, disse Mussi à ISTOÉ. A VITÓRIA: o mesmo TSE que em setembro, com base na Lei da Ficha Limpa, barrara a candidatura de Maluf à reeleição a deputado federal, voltou atrás e decidiu autorizar a sua posse no ano que vem. O TSE agora entendeu que ele não pode ser punido pela Lei da Ficha Limpa porque a sua condenação anterior é por improbidade administrativa culposa (sem intenção) e não dolosa (intencional). "IGREJA ANGLICANA TEM SUA PRIMEIRA BISPA" Aos 48 anos a pastora Libby Lane tem uma vida tranquila. É casada, gosta de tocar o seu saxofone e não deixa de assistir aos jogos do campeonato inglês de futebol (torce para o Manchester United). Na quarta-feira 17 ela incorporou uma outra e importante função à sua rotina: tornou-se a primeira mulher nomeada para o cargo de bispa da Igreja Anglicana e irá liderar a diocese de Stockport. “É uma alegria inesperada estar aqui. É um dia marcante para mim e um dia histórico para a nossa Igreja”. A Igreja Anglicana congrega cerca de 80 milhões de fiéis em 165 países. "BLACK BLOCK DE ARCO E FLECHA" Cerca de 200 índios de diversas tribos tentaram invadir na terça-feira 16 a Câmara dos Deputados por uma de suas entradas laterais – e protagonizaram cenas graves de agressão e lesão corporal ao dispararem suas flechas: um capitão da PM de Brasília, por exemplo, foi atingido no pé e teve de ser hospitalizado. Tramita no Congresso um projeto de lei que transfere aos parlamentares a última palavra sobre homologações de demarcações de terras consideradas indígenas. É contra isso que os índios protestam. "A CONSTITUIÇÃO DERRUBA A COLETA DE DNA DE PRESIDIÁRIOS" Toda vez que se fere a Constituição Brasileia para se combater o crime organizado tem-se duas certezas: a primeira é que as facções criminosas estão de fato fortalecidas; a segunda é que as autoridades não sabem o que fazer. Começou agora a coleta de DNA de presidiários em penitenciárias federais, e tais dados serão incluídos no Banco Nacional de Perfis Genéticos. Tem como objetivo facilitar investigações: na hipótese de um crime, se um desses presos já estiver em liberdade, cruza-se o material genético encontrado no local do novo delito com o material que está arquivado para se descobrir se o ex-presidiário está reincidindo. A coleta de DNA vai prosperar, no entanto, até alguém reclamar junto ao STF: a Constituição do Brasil é exemplo de Estado de Direito e de modernidade ao fixar que ninguém é obrigado a produzir prova contra si próprio. "CORRUPÇÃO NO TÊNIS, CORRUPÇÃO NO VÔLEI..." Faltando 20 meses para o Brasil sediar os Jogos Olímpicos, escândalos envolvendo corrupção e malversação do dinheiro público no esporte amador continuam vindo à tona. Na semana passada, a Confederação Brasileira de Tênis foi denunciada pelo MP de São Paulo: o presidente da entidade, Jorge Lacerda Rosa, é acusado de utilizar no pagamento de contas pessoais parte das verbas que recebe. A Confederação Brasileira de Vôlei, por sua vez, segue sendo alvo de denúncias que acusam seus responsáveis de terem desviado R$ 30 milhões. Indignados com o fato de não terem recebido o dinheiro que legalmente lhes era destinado, jogadores estão entrando nas quadras usando nariz de palhaço. A Seleção corre o risco de ser suspensa de competições internacionais. "A BRASILEIRA QUE NASCEU PELA SEGUNDA VEZ NA AUSTRÁLIA" A brasileira Marcia Mikhael nasceu de novo na Austrália. Após 16 horas de pânico, tortura psicológica e com 140 estilhaços de balas e de explosivos nas pernas, ela sobreviveu à loucura do iraniano Man Faromn Harris que a tomou como refém num café na cidade de Sydney – juntamente com Marcia e sob a mira da arma de Harris havia outras 16 pessoas, e duas delas foram assassinadas. Seguindo as ordens de seu algoz, Marcia teve de falar ao telefone com uma rede de televisão repassando aquilo que o sequestrador exigia, sobretudo uma bandeira do grupo radical Estado Islâmico – pouco depois ele foi morto pela polícia. Na quarta-feira 17, dois dias após o sequestro, a brasileira, fisiculturista e gerente de tecnologia da informação, submeteu-se a uma cirurgia nas pernas e agradeceu a todos que torceram por ela aqui no Brasil, onde nasceu em Goiás.