ISTOÉ edição 2300 | 18.Dez.2013 [descrição da imagem: um telefone celular, com a parte de cima aberta, destacada do corpo do aparelho, e aparecendo dentro quatro pessoas, três moças e um rapaz, tirando foto de si mesmo, ou mostrando sua foto no aparelho] A ERA DO EXIBICIONISMO DIGITAL O que leva pessoas a divulgar detalhes da sua intimidade nas redes sociais. HISTÓRIA Os furos da nova versão sobre a morte de JK _______________________ 1# EDITORIAL 2# ENTREVISTA 3# COLUNISTAS 4# BRASIL 5# COMPORTAMENTO 6# MEDICINA E BEM-ESTAR 7# ECONOMIA E NEGÓCIOS 8# MUNDO 9# TECNOLOGIA E MEIO AMBIENTE 10# CULTURA 11# A SEMANA _____________________________ 1# EDITORIAL 18.12.13 "A EDUCAÇÃO MALTRATADA" Carlos José Marques, diretor editorial O monumental abismo que separa o Brasil do resto do mundo desenvolvido, e em desenvolvimento, no campo da educação parece não ter fim. É o que ficou mais uma vez evidente com o último resultado do Pisa, o exame patrocinado a cada três anos pela OCDE com um grupo de estudantes entre 15 e 16 anos de 65 países. O Brasil, nas três categorias em análise (matemática, leitura e ciência), oscilou entre a 55ª e a 59ª posição. Em suma: perdeu fragorosamente na qualidade do ensino/aprendizado. Houve melhorias pontuais como na área de matemática, critério no qual o País foi o que mais avançou entre os avaliados. Porém, as distâncias no nível de conhecimento, comparativamente, são tão grandes, mesmo nessa matéria, que as evoluções passam despercebidas. A posição no ranking demonstra isso. É secular e inaceitável o descaso que o assunto enfrenta por aqui. Não apenas do ponto de vista do direcionamento de verbas, como do planejamento do setor no curto, médio e longo prazos. O Brasil segue vivendo uma equação perversa: tem anualmente gasto mais e gasto pior. O mau investimento é fruto de políticas equivocadas, desvios de toda ordem e ausência de critérios eficazes para uma escolarização de alto padrão. Quantidade nem sempre é sinônimo de qualidade e no âmbito da educação essa conclusão assume proporções gritantes. Tome-se o exemplo do ensino superior brasileiro, que conta com mais de duas mil universidades e conseguiu incluir apenas quatro delas em um ranking das 100 melhores existentes no bloco dos Brics (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul). A péssima condição de parte das instituições, verdadeiros caça-níqueis sem nenhum compromisso com a formação adequada dos universitários, só amplia o problema. De maneira geral, um dos motivos para o déficit educacional pode estar no tempo que o aluno passa em sala de aula – bem menor que o da média mundial. Outras das razões, e talvez as mais graves, são a qualidade e o grau de preparação do corpo docente. Algo diretamente ligado à baixíssima remuneração dos mestres e professores, que encontram pouco, ou nenhum, estímulo para investir na carreira. Mudar esse status de atraso requer mais que simplesmente verbas. Exige uma mudança radical no modo de pensar a educação. Nacionalmente. Envolvendo autoridades e todos os agentes da sociedade civil. É sabido, nenhuma nação pode almejar o desenvolvimento sem um ensino de qualidade. A pré-condição é conhecida por todos há muito tempo. E por aqui já passou da hora de sairmos da teoria para a prática. 2# ENTREVISTA 18.12.13 CLETE KUSHIDA - "DORMIR MAL PODE MATAR" Presidente da Federação Mundial do Sono, o neurologista americano afirma que a má qualidade do sono aumenta o risco de infarto, obesidade e diabetes. E pode atrapalhar o desenvolvimento mental de crianças e adolescentes por Wilson Aquino ALERTA - Kushida orienta as pessoas a se afastarem dos remédios para dormir por causa do risco de dependência Noites mal dormidas podem causar obesidade, diabetes, problemas cardiovasculares e até levar à morte. O alerta é de uma das maiores autoridades mundiais no assunto, o neurologista americano Clete Kushida, 56 anos, presidente da Federação Mundial do Sono e professor de Psiquiatria e Ciências Comportamentais da Universidade de Stanford, na Califórnia, nos Estados Unidos. Ele também dirige o Centro de Medicina do Sono da instituição americana. Considerando que os maus hábitos, a luz artificial e cerca de 80 transtornos do sono estão fazendo com que a humanidade durma cada vez menos, a situação é preocupante. Kushida esteve no Rio de Janeiro para participar do XIV Congresso Brasileiro do Sono e conversou com ISTOÉ. Segundo ele, crianças e adolescentes formam o grupo que mais sofre com a falta de sono adequado, porque podem ter seu desenvolvimento físico e mental comprometido pelas noites mal dormidas. Ele ainda condena uma das práticas mais comuns na sociedade moderna: apelar para remédios que ajudam a dormir. "Se a pessoa tiver sonolência durante o dia, a quantidade ou a qualidade do sono não estão sendo suficientes. Nesses casos é preciso se submeter a uma avaliação médica” “O indivíduo que dorme mal acaba comendo mais do que deveria e acumula gordura e glicose no organismo" Istoé - A má qualidade do sono pode levar à morte? Clete Kushida - Sim. Existem estudos que mostram que pacientes com apneia obstrutiva do sono (as vias aéreas superiores se afunilam enquanto a pessoa dorme e obstruem a passagem de ar) correm mais risco de mortalidade por ataques cardíacos. A apneia do sono causa uma deformação nas células dos vasos sanguíneos, que aumenta o risco de formação de coágulos. Isso pode levar a infartos e a outros problemas cardiovasculares, como o acidente vascular cerebral (AVC). Várias pesquisas comprovam a relação muito forte entre a apneia do sono e a hipertensão por causa da baixa oxigenação, o que acaba também afetando o coração. Istoé - A pessoa dorme mal porque não consegue respirar direito? Clete Kushida - Correto. Ela não consegue dormir a noite toda. Cerca de 25% dos homens e 10% das mulheres entre 30 e 60 anos têm apneia do sono. O ronco é um dos sintomas mais visíveis desse problema. Istoé - Por que isso acontece? Clete Kushida - As principais causas são o Índice de Massa Corporal (IMC) acima de 25, que indica sobrepeso, ou algum problema craniofacial que atrapalha fisiologicamente a passagem do ar e o controle da ventilação, que é feito pelo cérebro. Em resumo, é um problema estrutural. Istoé - A pessoa que ronca não está dormindo profundamente? Clete Kushida - Pelo contrário. Quem ronca não pode estar dormindo bem, porque o ronco significa que existe alguma resistência para a entrada do ar nas vias respiratórias – o ronco é produzido pela vibração dos tecidos que estão no caminho da entrada do ar. Estudos indicam que uma das complicações disso é a hipertensão. Acordar com a boca seca, ter suor noturno ou dor de cabeça matinal são outros sintomas de que não se está dormindo bem. Istoé - Quais são os tratamentos para a apneia do sono? Clete Kushida - O tratamento mais indicado é o uso de Cpaps (sigla em inglês de Continuous Positive Airway Pressure, ou pressão positiva contínua na via aérea), um gerador de fluxo que, por meio de uma máscara nasal, fornece uma pressão de ar suplementar para manter a via aérea desobstruída enquanto a pessoa dorme. Terapia e cirurgia também podem ser indicados de acordo com cada caso. Istoé - Dormir mal também pode levar à obesidade? Clete Kushida - Pode, porque afeta a produção de dois hormônios: leptina e grelina, que agem no sistema nervoso central e estão envolvidos no controle do apetite e da saciedade. A leptina incrementa o metabolismo da glicose. A grelina dispara a sensação de fome. O resultado é que a pessoa que dorme mal acaba comendo mais do que deveria e acumula gordura e glicose no organismo. Istoé - Daí a associação entre o sono e o diabetes? Clete Kushida - Exatamente. Dormir mal pode ??levar ao diabetes da mesma maneira que pode tornar a pessoa obesa. Além disso, pesquisas comprovam que o diabético que dorme mal tem maior resistência à insulina, o hormônio que permite a entrada nas células da glicose que está circulando no sangue. Dormir mal pode engordar e matar. Istoé - Por que as pessoas estão dormindo menos? Clete Kushida - Por causa das responsabilidades, compromissos de trabalho e de família. O ser humano passou a dormir menos desde a invenção da lâmpada (1879). A iluminação artificial cada vez mais transforma noites em dia e acaba alterando os hábitos da humanidade e desregulando nosso organismo. Istoé - Isso está acontecendo com todas as pessoas ou atinge mais um grupo em particular? Clete Kushida - Todas. No entanto, o grupo mais afetado são os jovens. Crianças e adolescentes têm um agravante, porque não deveriam atrasar seu sono. Se eles estão dormindo à meia-noite e acordando às 7 horas para a escola, não conseguem ter o sono necessário. O jovem precisa dormir dez horas diárias. Istoé - Qual é o papel do computador e da televisão nessa piora na quantidade e na qualidade do sono registrada na atualidade? Clete Kushida - Esses dois aparelhos só atrapalham o sono. O fato de as pessoas usarem computador e assistirem à televisão não é bom para o sono porque, em vez de ajudar a adormecer, a sentir sono, pode deixar o indivíduo acordado por mais tempo. Quem tem dificuldade para dormir não deve usar computador nem televisão duas horas antes de se deitar. Existe controvérsia, mas a luz azul do computador pode alterar o nosso ritmo circadiano (relógio biológico) e retardar o sono. Istoé - Dormir mal prejudica o desenvolvimento da criança? Clete Kushida - Acredito que sim. O problema é que o hormônio do crescimento é criado no primeiro terço da noite. Então, se a criança não dorme profundamente nesse momento, não consegue produzir a substância. Essa é a mesma coisa que acontece com quem tem apneia. Acordar muitas vezes durante a noite também reduz a quantidade de hormônio do crescimento. O que sabemos é que as crianças que manifestam apneia do sono, quando são tratadas desse mal, apresentam um aumento na taxa de crescimento muito grande. Pesquisas indicam também que o distúrbio no sono pode causar dificuldade de memória e concentração, mudanças de humor e sonolência diurna. Tudo isso atrapalha o desenvolvimento intelectual e cognitivo. Istoé - Distúrbio de sono compromete o desempenho sexual? Clete Kushida - Existe uma relação entre apneia do sono e impotência. A apneia pode provocar acúmulo de gorduras nos vasos sanguíneos, entupindo esses canais. Isso pode levar à impotência masculina ou reduzir o desejo sexual do homem. Istoé - O que se pode fazer para dormir direito? Clete Kushida - Manter disciplina de horários. Ou seja: ter hora para adormecer e para acordar. Evitar luz forte e não consumir nicotina e estimulantes duas horas antes de se deitar. E se estiver demorando a pegar no sono ou despertar durante a madrugada, não fique “fritando” na cama por mais de 20 minutos. Levante, saia do quarto e vá fazer alguma atividade que lhe deixe sonolento, como ler um livro com uma luz leve – desde que seu enredo não provoque muita adrenalina –, meditar, enfim, qualquer atividade relaxante. Istoé - Muita gente acredita que ingerir bebida alcoólica leva ao sono. Isso é verdade? Clete Kushida - Não. O álcool pode causar efeitos tranquilizantes, a pessoa pode dormir mais rapidamente, mas a qualidade do sono é ruim. O álcool tende a relaxar os músculos das vias aéreas superiores, de modo que, se uma pessoa tem um distúrbio respiratório relacionado ao sono, o álcool pode agravar essa condição e causar mais perturbações. Istoé - Como saber se estamos dormindo bem? Clete Kushida - Se não tiver sonolência diurna, você está dormindo bem. Se tiver, a quantidade ou a qualidade do sono não estão sendo suficientes. Nesses casos é preciso se submeter a uma avaliação médica para investigar as causas do problema. Istoé - Existe um período ideal para dormir? Clete Kushida - Isso varia de idade e de pessoa para pessoa, mas três estudos epidemiológicos demonstram que dormir menos de quatro horas aumenta o índice de mortalidade. Há indivíduos que com poucas horas de sono se sentem bem, são os curto dormidores. Existem também os longo dormidores, que precisam de nove horas de sono. A recomendação geral é de oito horas, mas os adolescentes, por exemplo, necessitam dormir mais tempo. As crianças recém-nascidas costumam dormir de 16 a 18 horas e conseguem dormir o sono REM (etapa mais profunda do sono). Nesse período, a pessoa descansa realmente e as informações são consolidadas na memória. Istoé - Na medida em que se envelhece, a necessidade de sono diminui? Clete Kushida - Sim. As alterações do sono chegam com a idade. Quando você vai envelhecendo, além de dormir menos, desperta no meio da noite com mais frequência. Istoé - Existe posição ideal para dormir? Clete Kushida - O melhor é dormir de lado com um travesseiro entre as pernas, porque mantém a curvatura da espinha e deixa a pessoa mais confortável. É bom evitar dormir de barriga para cima, porque a gravidade puxa a língua para trás e pode obstruir a passagem de ar. Istoé - Remédios para dormir são indicados? Clete Kushida - O ideal é se afastar dos medicamentos para dormir, porque as pessoas se tornam dependentes dessas medicações. 3# COLUNISTAS 18.12.13 3#1 RICARDO BOECHAT 3#2 PAULO LIMA - SEM BOLA PRETA 3#3 GISELE VITÓRIA 3#4 BRASIL CONFIDENCIAL 3#5 ANTONIO CARLOS PRADO - CADEIA PARA QUEM QUISER ESTRAGAR A COPA 3#1 RICARDO BOECHAT Com Ronaldo Herdy viação Simbolismo no ar Na terra e no céu, pelo mundo, se multiplicam as homenagens a Nelson Mandela, morto no dia 5 e enterrado no domingo 15. Aqui no Brasil, a Azul acaba de batizar um de seus aviões de “Madiba Azul”. A companhia tem tradição de dar nomes aos jatos Embraer de sua frota, mas é a primeira vez que faz isso em tributo a uma personalidade política. Calma, Lula! Judiciário Bateu, levou Nove anos após sofrer um acidente de carro no Rio Grande do Sul, com sequelas no rosto, Carmem Vicente Niquel acaba de ganhar ação contra a Renault no STJ. Receberá R$ 20 mil por danos morais. Para os ministros, o airbag vendido como item de segurança, e que aumenta o preço do veículo, deveria ter funcionado em caso de colisão e não cabe ônus da prova à vítima, como pretendia a montadora. O caso é relevante precedente na Justiça em prol dos consumidores. Tecnologia espacial Desafio extra A Agência Espacial Brasileira tentará obter descontos junto ao governo chinês na produção do satélite Cbers 4, com lançamento previsto entre 2014 e 2015, depois do fracasso que resultou na perda do Cbers 3. Será difícil. A engenhoca que explodiu no espaço na segunda-feira 9 não tinha seguro por conter muita tecnologia nova. Por ora, cada país fica com o seu prejuízo de US$ 125 milhões. Indústria Cofre cheio Nem toda economia anda com “duas pernas mancas”, ministro Guido Mantega. A indústria farmacêutica no Brasil fechará o ano com faturamento da ordem de R$ 56 bilhões – crescimento de robustos 14% em relação a 2012. Mais uma vez, os genéricos impulsionaram o setor. O aumento de 19% na comparação com 2012 se traduz em vendas que somarão cerca de R$ 13 bilhões. Os dados são da consultoria IMS Health, que audita a saúde financeira dos produtores de remédios. Economia Está na mira Reguladora do mercado de capitais americano, a Securities and Exchange Comission (SEC) investiga Eike Batista. A questão é a mesma que dá pano para manga aqui. No primeiro semestre, o empresário alardeava pelo Twitter o futuro promissor da OGX, enquanto vendia ações da derrocada petroleira na Bolsa de Valores de São Paulo. Comprovadas as irregularidades, o empresário pode sofrer sanções lá bem mais duras do que no Brasil, onde as leis dão margem a inúmeros recursos, além de alívio nas penas. Saúde Sinal verde Na quarta-feira 4, por unanimidade, o Cade aprovou a compra dos hospitais cariocas Pro-Cardíaco e Samaritano (213 leitos), ambos em Botafogo, pela Amil, a maior empresa de medicina do País. As aquisições ocorreram em 2010, por R$ 278,4 milhões. Nos últimos três anos, em sua marcha de crescimento, a Amil incorporou outros 16 tradicionais centros de atendimento médico pelo País afora. Educação Subiu O resultado do Exame Nacional de Revalidação de Diplomas de 2013 é melhor que o do ano passado. Ficou acima de 80% a aprovação dos 155 candidatos que fizeram a fase 2 da avaliação (habilidades clínicas), para a tristeza dos críticos do Revalida, como o ministro da Saúde, Alexandre Padilha. Todos os detalhes da terceira edição serão divulgados na segunda-feira 23. Brasil Sem limites Não foi só em organismos internacionais que o irmão do ex-presidente do Metrô e consultor indiciado pela Polícia Federal, Jorge Fagali Neto, tentou arrecadar recursos para a companhia. Em e-mail de novembro de 2007, em posse do Ministério Público, ele tenta agendar audiência com o presidente do BNDES, Luciano Coutinho. Ao que se sabe, o encontro não prosperou. Medicina Ordem & limpeza Até o fim de janeiro entra em vigor o “Manual de Fiscalização e Vistorias para Hospitais”. Terá regras rígidas, como limites de operações em salas de cirurgia e intervalos mínimos entre operações, para assegurar a descontaminação do ambiente. O Conselho Federal de Medicina criou manual no rastro do sucateamento da rede pública de hospitais. A unidade que descumprir as regras pode sofrer interdição, com denúncia do caso ao Ministério Público e aos tribunais de contas, diz o diretor de Fiscalização do CFM, Emmanuel Fortes. Até abril, igual rigor valerá para os centros de assistência psiquiátrica. Internacional Continente aprisionado Estudo da OEA sobre prisões indica que 12 entre os 15 países com maior taxa de presos por 100 mil habitantes estão nas Américas. Os EUA, com 731 presos por 100 mil habitantes é quem mais prende no mundo. Cuba e El Salvador vêm logo atrás. O Brasil ocupa a 17ª posição no continente, com 273 presos por 100 mil pessoas. As informações fazem parte do dossiê “Observatório de Segurança Pública da OEA”. Redes sociais Jogo na rede O Facebook estreia segunda-feira 16 um meio de pagamento para games no País de olho naqueles que não têm cartão de crédito e em adolescentes que não dependerão dos pais para comprar bens virtuais. Gifts cards com valores de R$ 25 a R$ 45 estarão disponíveis em redes de varejo, na carona do consumo do Natal. Esporte História do tênis Guga incorporou o item 100 mil ao seu arquivo em Santa Catarina – na verdade, um extenso banco de dados sobre o tênis brasileiro. A peça que estabeleceu a marca é o troféu Heritage, que a ATP deu a exclusivos 16 profissionais do esporte que foram o número 1 do ranking da entidade. O acervo de Guga é aberto a pesquisadores e amantes do tênis. Livros Em nome de Deus Projeto de distribuição gratuita de 60 milhões de bíblias até 2050, em cidades brasileiras, sobretudo no interior, será lançado no domingo 15, no Sesc, em Caldas Novas, Goiás. A missão evangélica é de iniciativa da Sociedade Bíblica do Brasil e da Jocum, que atua em 171 países. Música Fim da trilogia Pelo iTunes, na terça-feira 17, acontecerá a pré-venda do novo CD/DVD “Multishow Ao Vivo – Caetano Veloso – Abraçaço”. Quem reserva ganha no ato download da música tema do disco. Nas lojas a partir do dia 21 de janeiro, o álbum da Universal Music fecha um ciclo iniciado com “Cê” e “Zii e Zie”. Um dos destaques agora é “Escapulário”, música de Caetano sobre poema de Oswald de Andrade, numa versão mais moderna do que a do disco “Joia”, de 1975. Pesquisa Bons efeitos O Mundial da Fifa e a Olimpíada de 2016 estão incentivando os brasileiros a se exercitarem. Pesquisa da Nielsen Sports constatou o efeito desses eventos na população. Por exemplo: 46% das pessoas com idade entre 16 e 65 anos disseram praticar hoje uma atividade física. No Rio de Janeiro e em São Paulo, as cinco modalidades mais populares são artes marciais, corrida de rua, ciclismo, futsal e caminhada, segundo Otavio Carvalho, analista de mercado da Nielsen. 3#2 PAULO LIMA - SEM BOLA PRETA Paulo Lima é fundador da editora e da revista Trip O preconceito racial vigente nos anos 1960 entre as camadas mais ricas da cidade obrigou os negros de São Paulo a fundar um clube que os aceitasse. Será que alguma coisa mudou?. Na década de 1960, um grupo de respeitáveis senhores paulistanos, todos membros de uma classe média ascendente e em profissões valorizadas como médicos, advogados, professores ou enfermeiros, decidiu unir esforços e juntar recursos para fundar mais um clube social e esportivo em São Paulo. A entidade já nasceu com nome cheio de garbo e elegância: Aristocrata Clube. Associações desse tipo abundavam na cidade nessa época: Pinheiros, Paulistano, Harmonia, Paineiras e Espéria eram apenas alguns nomes de agremiações que reuniam as famílias paulistanas de então. Porém, uma coisa era certa: muito dificilmente algum dos respeitáveis cidadãos mencionados no início seria admitido como sócio de uma delas, mesmo que tivesse condições financeiras para comprar o título e honrar as mensalidades sem maiores percalços. O motivo, embora nunca declarado, era, com o perdão pelo trocadilho involuntário, muito claro: eram todos negros. O racismo tinha mesmo que ser velado, pois as leis do País já impediam esse tipo de discriminação na época. Só que, na prática, os clubes da elite paulistana sempre encontravam um meio de justificar o veto, a chamada “bola preta”. “Chegaram a alegar que o cloro usado na piscina fazia mal à pele negra. Por isso, nós decidimos fundar o nosso próprio clube”, conta Luiz Carlos dos Santos, 77 anos, atual presidente da executiva do Aristocrata Clube. “Havia três brancos entre os 50 fundadores. Eram descendentes de árabes, que também sofriam com o preconceito”, explica Luiz. A pompa não estava presente só no nome. As frequentes festas e bailes de gala promovidos pelo clube chegavam a atrair até cinco mil pessoas e incluíam vasto rol de personalidades, como Jair Rodriges, Wilson Simonal, Milton Nascimento e Agostinho dos Santos, para mencionar apenas os cantores. Grandes astros negros internacionais de passagem por São Paulo também desfilaram pelos salões do Aristocrata. Sara Vaughan, Johnny Mathis, Josephine Baker e Muhamad Ali são alguns bons exemplos do naipe da constelação black vista por lá. “Quando vi aqueles pretos bem-vestidos – as mulheres, lindas, de longo e os homens de passeio completo –, quase não acreditei. Era um foco de resistência de um jeito que eu jamais tinha imaginado. Já que não era permitido aos pretos o direito de frequentar os clubes da elite branca – a não ser como garçom e faxineiro –, agora tínhamos nosso próprio espaço”, relata Milton Nascimento num depoimento exclusivo sobre o clube para a repórter da revista “Trip”, Lia Hama. Os bailes aconteciam na sede do Aristocrata na rua Álvaro de Carvalho, 118, no centro de São Paulo, ou ainda em salões alugados do Club Homs ou do Rotary. Havia também um clube de campo com piscina e quadras de futebol, basquete e vôlei, construído em um grande terreno de 60 mil metros quadrados, na estrada do Bororé, no bairro do Grajaú, hoje parte da região mais barra pesada do lado sul da capital de São Paulo. Mas na década de 1990 o clube entrou em franca decadência. Há três anos, devido às dificuldades financeiras, a sede no centro da cidade teve que ser fechada. O clube de campo foi desapropriado pela prefeitura, parte do terreno foi invadida e virou uma favela. Mas a boa notícia é que o clube ainda resiste bravamente. Doze conselheiros se reúnem todas as quintas-feiras numa espécie de sede provisória: uma sala alugada no bairro da Liberdade. Com o dinheiro da desapropriação eles pretendem comprar um imóvel de 400 metros quadrados e abrir o quadro social para o ingresso de mais novos sócios, conforme garante o professor universitário aposentado Valdemar Venancio, 75 anos, atual presidente do conselho da agremiação. A história desse importante e pouquíssimo conhecido marco do orgulho negro do País foi registrada no documentário “Aristocrata Clube” (2004), de Jasmin Pinho. A coluna de Paulo Lima, fundador da editora Trip, é publicada quinzenalmente 3#3 GISELE VITÓRIA Gisele Vitória é jornalista, diretora de núcleo das revistas ISTOÉ Gente, ISTOÉ Platinum e Menu e colunista de ISTOÉ Sexo planejado Bastaram cinco minutos da chegada de Gisele Bündchen na NKStore, em São Paulo, na tarde da quarta-feira 12, para começar uma aglomeração em volta da loja de Natalie Klein, que venderá lingeries da linha Gisele Bündchen Intimates by NK. “Quando penso em fazer lingerie, quero celebrar a mulher. Somos as guerreiras do amor”, diz Gisele. Como o papo era sobre lingeries, Gisele revelou que elas são suas ferramentas para seduzir o marido Tom Brady, agora que é mãe de família. “É o que dá um pouco de “spicy” (tempero) na relação. Você chega em casa, coloca as crianças para dormir, e elas são algo para criar um pouco de excitação, imaginação.” Mais do que nunca, o sexo tem que ser planejado. “Tem que planejar com carinho. É assim: vou colocar uma lingerie bonita para criar uma história, e planejar para não ter um filho gritando no outro quarto ou entrando na porta. Porque assim não dá, né?”, disse com exclusividade à coluna, em uma entrevista que virou quase um talk-show, diante de dezenas de pessoas, entre fãs, blogueiras e vendedoras da loja. E o que mudou depois da maternidade? “Na primeira vez, fiquei meio perdida. Era só a mãe do Benjamin. Foram três meses em casa sem saber o que era uma escova de cabelo. Hoje, cuido mais de mim”, diz a top, que também é mãe de Vivian, de 1 ano. E ensina: “Hoje eu sei que tenho que estar bem para cuidar de todos. Adoro quando falam no avião: coloque a máscara de oxigênio primeiro em você e depois no seu filho. Isso é para a vida”. Encontro providencial GENTE-03-IE-2300.jpg No jantar para Bill Clinton no Palácio da Cidade, no Rio, o ex-presidente americano chegou quase duas horas antes da hora marcada, às 19h30, e não resistiu a um clique do Cristo Redentor com seu blackberry. O jantar, oferecido por Eduardo Paes, Sérgio Cabral, Nizan Guanaes e Luciano Huck, seria inicialmente na casa do apresentador da Globo. Mas os planos mudaram por conta da logística para levar Clinton até o bairro do Joá. O ex-presidente, que é vegetariano, não jantou. Entre os convidados a que foi apresentado no Clinton Global Iniciative Latin America, estava Ivo Pitanguy. Os que repararam no rosto envelhecido do charmoso ex-presidente, hoje com 67 anos, recomendavam: encontros com o lendário cirurgião plástico brasileiro deveriam ser mais frequentes. Arte em Brasília Fernanda Feitosa, a criadora do SP/Arte, notabilizada como uma das feiras de artes mais respeitadas do País, está expandindo suas fronteiras. Em ­março de 2014, ela levará o evento para Brasília. Balas Samba da Copa Felipão conta: a música da Copa ainda não foi escolhida, mas a turminha do samba na Seleção Brasileira (leia-se Dante e Neymar) tem recebido sugestões de Claudia Leitte, Ivete Sangalo e Zeca Pagodinho. “Assim que tivermos a convocação definitiva, eles terão as músicas que imaginam”, diz. “De samba de raiz a axé, eles enganam em todas as áreas. Menos lá na minha área, a dos gaúchos” Revival? Parece que Madonna está mesmo solteira. E mais, pode ter um revival com o ex Sean Penn, com quem foi casada nos anos 80. A cantora teria terminado o namoro de três anos com Brahim Zaibat porque não gostou nada do dançarino estar no programa “Dancing With The Stars”, da França. Tanto que parou de segui-lo no Instagram, e começou a seguir Penn, que, recentemente, postou uma foto sua em uma viagem com Rocco, filho de Madonna. Sociedade do anel O sorteio de chaves para a Copa do Mundo catapultou a beleza da apresentadora Fernanda Lima para os quatro cantos do planeta. Mas uma outra joia chamou a atenção de cidadãos do mundo. Foi o anel do joalheiro Ara Vartanian. Ara nem sequer assistia ao sorteio quando recebeu um torpedo de Mônaco. Era o amigo Samy Sass, dono do Sass Café, point do high society em Mônaco, enquanto o evento da Fifa acontecia. “Esse anel é seu?”, avisou o amigo, mandando-lhe a foto. O joalheiro paulistano, famoso por suas pedras, mal pode acreditar. Bola da vez? Ainda é um mistério se Ronaldinho Gaúcho vai ou não ser convocado para a Copa do Mundo pela Seleção Brasileira. Mas enquanto não sai o veredito de Felipão, o jogador volta a se destacar no futebol por suas atuações no Atlético Mineiro, que disputa as finais do Mundial de Clubes da Fifa, na quarta-feira 18, no Marrocos. “A expectativa é de fazer um excelente trabalho. Se tudo der certo, conquistar este título inédito para mim e o clube”, disse o craque, garoto-propaganda da chuteira Tiempo Legend V, novidade da Nike, evolução da lendária Nike Tiempo Premier, que estava nos pés de 22 jogadores, entre brasileiros e italianos, na final da Copa de 1994, quando o Brasil foi tetracampeão. “Espero que elas me dêem muita sorte, pois vamos precisar.” 3#4 BRASIL CONFIDENCIAL Por Paulo Moreira Leite Lula entrou no Ceará O impasse cearense de 2014 está chegando ao fim graças ao empenho de Lula. Sem a menor disposição para envolver-se em tratativas dessa natureza, Dilma atendeu ao pedido do vice, Michel Temer, e permitiu que o ex-presidente entrasse nas conversas que terminaram pela indicação de Ciro Gomes para o Ministério da Saúde – o que já foi acertado, mas não anunciado – e pela nomeação de Cid Gomes para uma diretoria do BID, o banco de desenvolvimento latino-americano, em Washington. A hipótese ministerial de Ciro Gomes estava em curso há mais de um mês. Com a família Gomes bem acomodada, será mais fácil fechar um acordo para apoiar a candidatura de Eunício de Oliveira, do PMDB, ao governo do Estado. Reciprocidade Irã-Israel Mais ativa adversária do acordo entre as principais potências e o governo do Irã sobre energia nuclear, a diplomacia israelense procurou a Comissão de Relações Exteriores do Senado para sugerir uma palestra de seu embaixador no Brasil sobre o tema. Os senadores concordaram. Também decidiram que a embaixada do Irã será convidada a se manifestar, em condições iguais. O argumento para os dois convites envolve o princípio da reciprocidade. Dívida exumada O deputado Alfredo Kaefer (PSDB-PR) incluiu na MP 628 emenda que estende à liquidação do Banco de Desenvolvimento do Estado do Paraná as condições do perdão de dívida concedido pelo governo ao Congo, na África. É uma retaliação à decisão do BNDES de ajuizar ação por atraso no acordo de liquidação ocorrido há 29 anos. Impositivo se impõe O Planalto deu sinal de que se renderá ao orçamento impositivo, que garante dinheiro a emendas de parlamentares. A ministra Ideli Salvatti anunciou recuo 24 horas após prometer resistência à la Passionária. A causa é política: poucas vezes se viu fúria tão exaltada no Congresso como nas reuniões em que se debateu a postura do governo. Cartorários à espreita Amigo do dono do principal cartório de Goiás, e autor da PEC 471, o deputado João Campos está à espreita para tentar a aprovação do texto que oficializa os tabeliões sem concurso. A emenda constitucional vai contra decisão do Supremo, tomada há duas semanas de forma unânime, garantindo a posse dos concursados de 2008. Sabedoria que só o tempo ensina Anunciada para o fim do ano ou início de 2014, a reforma ministerial deve demorar um pouco em função de um cálculo sábio. Com exceção dos possíveis nomeados, não há muitos interessados numa decisão rápida. Quem está no cargo e irá disputar posto eletivo gostaria de prolongar ao máximo a permanência na posição. Ao Planalto, funciona uma regra pragmática: quanto mais a reforma demorar, mais aumenta o valor de troca de nomeação. Justiça compensatória? Diante da convicção de que o julgamento do mensalão do PSDB-MG irá decepcionar quem acredita em condenações comparáveis à Ação Penal 470, pois deve ser grande o número de casos prescritos, cresce em Brasília a promessa de que os paulistas do propinoduto tucano serão chamados a pagar a conta dos mineiros. STF pisa no freio Os ministros Luiz Fux e Joaquim Barbosa até defenderam que as novas regras de financiamento eleitoral entrassem em vigor já nas eleições de 2014. Embora tenha amparo na lei, que fixa até 10 de junho para mudanças desse tipo, a proposta não teria amparo na vida real, já que nenhum partido iria começar uma campanha sem saber como poderia pagar as contas no fim do ano. Nos intervalos das votações, a maioria dos ministros concordou que as mudanças, que devem proibir contribuições eleitorais de empresas privadas, devem ser moduladas num período maior de tempo, entre um e dois anos depois de aprovadas pelo STF. Natal boliviano O senador boliviano Roger Pinto Molina, que vive em Brasília, vai esta semana ao Acre participar das festas de fim de ano com a família, que deverá vir da Bolívia para encontrá-lo. Será o primeiro Natal no Brasil. Com muitos amigos brasileiros, Molina vai com milhas cedidas por conhecidos. Rápidas * O esforço para criar uma CPI sobre transportes urbanos no Senado esbarra numa falha de origem. Seu principal inspirador é Valmir Amaral (PMDB-DF), com investimentos pesados na área de transportes e nuvem de denúncias com a mesma espessura à sua volta. * O ex-secretário de Portos Leônidas Cristino foi convocado pela Procuradoria do Tribunal de Contas da União para explicar os contratos sem licitação firmados em sua gestão com a Empresa Brasileira de Projetos (EBP) para a concessão de terminais portuários. * O tucano Beto Richa comemorou o feito histórico: visitou todos os 399 municípios do Paraná como governador no exercício do cargo. Algumas cidades nunca haviam recebido um governador em toda sua história. * Centenas de próteses importadas compradas por brasileiros estão barradas na alfândega por falta de registro na Anvisa. Já há parlamentares mobilizados para salvar aparelhos de parentes. Retrato falado “Essa prática de regulamentar vem nos trazendo mais desprestígio do que prestígio, está desmoralizando essa corte.” Durante sessão de análise da Ação Direta de Inconstitucionalidade (Adin), que pode impedir empresas de financiarem diretamente as eleições, o relator da ação, ministro Luiz Fux, sugeriu que o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) ficasse responsável por determinar as regras para a doação eleitoral. O presidente do STF, ministro Joaquim Barbosa, no entanto, achou melhor intervir e admitiu que a atuação do Supremo em assuntos que deveriam sair do Congresso está maculando a imagem do Judiciário. Toma lá dá cá Deputado Leonardo Picciani (PMDB-RJ), relator do projeto que estabelece 20% de cotas nos concursos públicos para candidatos negros. ISTOÉ – A reserva de vagas para negros nos concursos públicos está de acordo com a Constituição? Picciani – Sim. A Constituição de 1988 traz a questão da desigualdade racial para o plano material e indica que o Estado tem de atuar para fazer o resgate histórico. ISTOÉ – Por que associações de concurseiros são contrárias ao projeto? Picciani – Recebi correspondências de representantes dos concurseiros criticando as cotas. Mas todos nós, brasileiros, somos concurseiros em potencial, brancos ou negros. Espero que o projeto do executivo inspire governos estaduais, Judiciário e Legislativo para implantar cotas nos concursos. ISTOÉ – As cotas nas universidades não seriam suficientes para corrigir distorções sociais? Picciani – As cotas nas universidades e no serviço público se complementam. A reserva de vagas vai acelerar a inclusão do negro. Hoje, apenas 30% das vagas são ocupadas por negros. Em busca do plano B Enquanto o ex-ministro Fernando Bezerra se encontra em campanha aberta, aliados de Eduardo Campos gostariam de uma definição mais rápida sobre quem será seu candidato na sucessão pernambucana. É uma decisão mais importante do que parece, desde que se admita a hipótese, ao menos teórica, de o candidato do PSB não se tornar presidente da República em 2014. Se isso acontecer, Campos terá necessidade de abrigo para enfrentar uma travessia sem cargos públicos que pode chegar a 2018. Indexação desindexada Governo e oposição fizeram acordo cívico de que não se deve mexer no indexador das dívidas de Estados e municípios antes da virada do ano. Isso porque qualquer queda nos pagamentos teria impacto negativo nas receitas da União, o que poderia rebaixar a cotação do país nas agências de rating, num sempre delicado ano eleitoral. Não há entendimento, porém, sobre o que se deve fazer a partir de janeiro, o que deixa governadores e prefeitos em choque e ninguém sabe quem é aliado e quem é adversário. por Paulo Moreira Leite Colaboraram: Claudio Dantas Sequeira, Izabelle Torres e Josie Jerônimo 3#5 ANTONIO CARLOS PRADO - CADEIA PARA QUEM QUISER ESTRAGAR A COPA Antonio Carlos Prado é editor executivo da revista ISTOÉ Torcedor vândalo não é respeitado nem pelos marginais. Com a licença de Marx e Engels, ele é o lumpembandido" . Os “black bloc” dos estádios não vão conseguir estragar a Copa do Mundo. Podem tirar o time de campo. E a melhor polícia contra eles será a esmagadora maioria dos próprios brasileiros que quer torcer (e sabe torcer) como gente civilizada e repudia o comportamento de predadores sociais – sejam eles integrantes ou não de torcidas organizadas. Copa do Mundo é festa para aqueles que gostam de futebol ou são a ele indiferentes, festa para torcedores de todos os países. É bandeira nas ruas e nos campos, é festa de cores, arco-íris, criança e adulto com a camisa de sua seleção. Tomara que ergamos a taça, mas também aplaudiremos outra seleção que seja campeã – antes de existir no mundo o regime democrático já existiam modalidades esportivas em refinadas culturas e é por isso que a democracia se traduz tão bem por meio do esporte em geral. Os vândalos dos estádios ganharam mais uma partida contra a ordem no final da semana passada na Arena de Joinville no jogo entre Atlético Paranaense e Vasco da Gama. Na verdade ganharam diversas vezes ao longo desse Campeonato Brasileiro e nos mais diversos campos. Mas é impossível que autoridades e cartolas não tenham agora, a seis meses da Copa, a noção de que há quadrilhas a fim de denegrir o nome do Brasil – ou será que vão usar a velha peneira do desdém contra o sol da marginalidade nos estádios, a ponto de se chegar nos campos de futebol à situação que hoje existe em cada esquina do País? Falando-se em marginalidade, registre-se, aqui, que dentro das cadeias a seleção de futebol é entidade sagrada, a comemoração de um gol é ensurdecedora num bater de canecas em grade de ferro. Pergunte numa penitenciária a alguém “barra pesada” o que ele acha de quem espanca nas arquibancadas, e a resposta mais leve é a seguinte: “é otário, joga ele aqui”. Ou seja: o valentão das arenas esportivas é condenado até pela lei do crime. Com a licença de Karl Marx e Friedrich Engels, ele é “lumpembandido”. Diversas teorias já se formaram para explicar brigas em estádios. Houve tempo, por exemplo, em que choviam garrafas de cerveja nos bandeirinhas (o mínimo de bom senso é proibir mesmo a venda de bebidas alcoólicas), e vem dessa época a tese do “estouro da boiada” – dois ou três começavam a brigar e o clima de violência se generalizava (a psiquiatria francesa explica esse fenômeno de “loucura contagiosa” denominando-o “folie à deux”). O que ocorre agora, no entanto, são brigas premeditadas, e prova disso é que em Joinville a pancadaria foi detonada já aos 17 minutos do primeiro tempo. Mais: até torcedores de uma mesma equipe criam tumulto entre si como se viu com cruzeirenses. Ficar-se debatendo se a PM pode ou não estar dentro de estádios não vai levar a lugar algum: constitucionalmente não pode porque se trata de evento privado (seria o mesmo de ela policiar um baile funk). Em São Paulo, os clubes destinam parte de verba à PM, o que também é irregular porque a polícia só pode receber do Estado. Esse é o nó. Imprescindível, contudo, é sair-se da esfera do Superior Tribunal de Justiça Desportiva. Fala-se na “criação de delegacia especializada em tumulto de torcedor”, e é incrível como no Brasil tudo precisa de delegacia especializada para pouco se resolver. Agressões como as que estão ocorrendo são tentativas de homicídio, e para isso já há delegacia. E são casos para a Justiça criminal. Recentemente, um pai foi enquadrado absurdamente na lei do crime hediondo porque furtou uma bola para o filho brincar. Enquadrar vandalismo de torcedor em crime hediondo pode não render voto a legisladores, mas isso sim é que tem de ser feito. Daí não veremos mais helicóptero pousar no gramado para recolher feridos de vandalismo. Antonio Carlos Prado é editor executivo da revista ISTOÉ 4# BRASIL 18;12;13 4#1 LOBBY INCONVENIENTE 4#2 A SEGUNDA MORTE DE JK 4#3 O VOO DE DILMA 4#4 AGORA NÃO PODE PARAR 4#5 POR QUE ELES AINDA ESTÃO SOLTOS 4#6 O FALSÁRIO 4#1 LOBBY INCONVENIENTE Franceses se reúnem com Lula para pressionar Dilma a comprar os caças Rafale, mas o governo praticamente descarta essa possibilidade A presença do presidente da Dassault, Éric Trappier, na comitiva do francês François Hollande durante visita ao Brasil na semana passada poderia passar como um fato absolutamente normal, já que em eventos como esse é necessário que ocorram encontros de empresários de ambos os países em busca de acordos comerciais. Também seria natural que nos encontros oficiais, com a presidenta Dilma Rousseff e seus auxiliares, Hollande e Trappier procurassem retomar os entendimentos com o Brasil para vender o Rafale, caça supersônico produzido pela Dassault e que já foi tido como o favorito na disputa pela modernização da Força Aérea Brasileira. No entanto, o empenho dos franceses em vender seu peixe passou dos limites e se tornou inconveniente quando a questão deixou os gabinetes e passou para as salas de visitas em conversas particulares com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Uma evidente tentativa de buscar pressionar a presidenta Dilma, pois, como é sabido, Lula foi o principal defensor do Rafale. Apesar do apoio do ex-presidente e da prometida transferência de tecnologia, o avião francês nunca contou com a aprovação da FAB e dos setores econômicos do governo, por ser o mais caro entre os concorrentes tanto na aquisição como na manutenção. Além disso, caso optasse pelo caça francês, o Brasil teria de refazer boa parte de seus hangares. Apesar dos acertos com a França, Lula deixou a decisão para Dilma, que tem outros planos. Até dois meses atrás, era dada como certa a compra dos caças americanos F-18. Um acordo com o presidente Barack Obama havia assegurado a transferência de tecnologia desejada pelo Brasil. O negócio só não foi anunciado por causa do escândalo das espionagens americanas, e Hollande busca agora se aproveitar disso. Na Aeronáutica, porém, nossos aviadores avaliam que chegou a hora de o governo considerar a compra do sueco Gripen, um avião que poderá ser desenvolvido em boa parte no Brasil. Mário Simas Filho 4#2 A SEGUNDA MORTE DE JK A Comissão da Verdade da Câmara de São Paulo quer que o País troque a polêmica versão do acidente que matou o ex-presidente por uma implausível hipótese de assassinato político sem comprovação Alan Rodrigues ACIDENTE OU CONSPIRAÇÃO? - O carro em que o ex-presidente Juscelino Kubitschek viajava, destruído na via Dutra, em 1976 Guimarães Rosa tinha uma frase impecável para expressar a sua relação cética, mas enxerida, com os mistérios do mundo: “Não sei de nada, mas desconfio de muita coisa”. Uma interpretação linear dessa frase do escritor mineiro parece ter inspirado a Comissão da Verdade da Câmara de Vereadores de São Paulo em sua investigação sobre a morte do ex-presidente Juscelino Kubitschek. Passados 37 anos da tragédia, os vereadores produziram um relatório que se proclama conclusivo: “A Comissão declara o assassínio de Juscelino Kubitschek de Oliveira, vítima de conspiração, complô e atentado político”. O calhamaço montado pelos vereadores paulistanos junta, segundo eles, “90 indícios, provas, testemunhos, controvérsias e questionamentos” para chegar à conclusão de que houve o crime. A leitura da papelada mostra, porém, que ali há realmente quase tudo isso. Exceto “provas”. O que a Comissão Municipal da Verdade está sugerindo é que o País troque a plausível (embora mal documentada) versão de um acidente automobilístico pela inverossímil hipótese de um assassinato político que ainda carece de provas. Embora a remodelação incerta não ofereça nenhuma vantagem para a história brasileira, ela faz barulho por carregar a atração fácil das teorias conspiratórias. Os historiadores registram que JK viajava de São Paulo para o Rio de Janeiro ao anoitecer do domingo 22 de agosto de 1976. Ia ao encontro da bela Lúcia Pedroso, uma paixão semissecreta que havia 28 anos entrara em sua vida e o ajudava a suportar o “irrespirável” ambiente doméstico, como anotou em seu diário. Ele ia no banco de trás do Opala dirigido por Geraldo Ribeiro, que JK chamava de Platão, seu motorista por mais de três décadas. Na curva do quilômetro 165 da via Dutra, o Opala ultrapassou, indevidamente pela direita, um ônibus da Viação Cometa que acabou tocando-o na traseira esquerda. Desgovernado, o automóvel atravessou a pista e colidiu com uma carreta Scania-Vabis de 12 rodas que trafegava em sentido contrário. O carro foi arrastado por 30 metros, ficou destruído e seus passageiros estavam irreconhecíveis. DEFINITIVOS - Vereadores de São Paulo levantam contradições da versão oficial, mas não apresentam provas de crime A Comissão Municipal da Verdade propõe um cenário distinto. Levantando contradições em perícias, testemunhos controversos, elucubrações políticas e doses de pura especulação, joga sobre a fatídica curva da Dutra mais alguns veículos e um magnífico atirador. O carro de JK teria sido perseguido e empurrado por uma Caravan de agentes da ditadura militar brasileira. De dentro da camionete, a 90 quilômetros por hora, o atirador acertou a nuca do motorista Geraldo Ribeiro. Sem controle, o Opala atravessou a pista até ser abalroado pelo caminhão que vinha no sentido oposto. Tudo armado meticulosamente pelo general João Figueiredo, então chefe do Serviço Nacional de Inteligência (SNI). O problema básico da nova hipótese da Comissão Municipal da Verdade tem o tamanho de uma carreta Scania carregada de gesso. A Comissão aponta engodos da versão oficial e tentativas de suborno e intimidação por parte dos militares, arrola testemunhos que negam o choque do Opala de JK com o ônibus da Cometa, ouve gente que vislumbrou Geraldo Ribeiro desabado entre o volante e a porta do carro que cruzava as pistas e apresenta até um perito que diz ter visto um buraco de bala no crânio do motorista de JK. Mesmo que tudo isso se confirme, os membros da Comissão não resolveram um detalhe fundamental para que a tese da conspiração criminosa fique em pé: o Scania. Quem planejaria um assassinato que, para dar certo, dependeria de um caminhão que, trafegando desde o Rio de Janeiro, atingisse a curva do quilômetro 165 da Dutra no local preciso e no momento exato em que um Opala desgovernado estivesse atravessando a pista? Quem seria capaz de prever êxito numa empreitada dessas? Sem a carrreta não haveria morte, o carro de JK poderia ter passado direto para o outro lado da Dutra. E se, em vez do Scania, o Opala tivesse batido num Fusca, talvez Juscelino lastimasse apenas uma perna quebrada. Não havia, afinal, um modo mais simples de cometer um assassinato? O aparelho de repressão da ditadura militar brasileira não ficou afamado por expertise em inteligência nem ostenta histórico de sofisticação técnica. Sua rotina se resumia basicamente em moer de pancadas os militantes presos e, com auxílio de equipamentos baratos de tortura, arrancar nomes e endereços de encontros. Ações que se pretenderam mais espetaculares acabaram em tragédia e vexame, como no caso do Rio Centro, quando a bomba destinada a aterrorizar uma plateia de estudantes explodiu no colo do sargento que a carregava. Em inúmeros casos já comprovados a repressão também deixou marca de incompetência na armação de cenários destinados a esconder execuções sumárias de adversários. No caso de JK a Comissão Municipal da Verdade apurou vários indícios de que a documentação da tragédia sofreu manipulações e de que houve algum teatrinho. E é com base nesses achados que vereadores se animaram a seguir adiante para afirmar que a causa da morte de JK foi forjada. Circunstâncias que embasam a conclusão, entretanto, também são historicamente imprecisas. 2.jpg Segundo a Comissão, Juscelino Kubitschek, presidente de 1956 a 1961, se articulava para disputar a presidência quando o País retornasse à democracia. E era isso que os militares queriam evitar. Os historiadores mostram, porém, que naquela época Juscelino já não fazia qualquer movimento que pudesse ser chamado de articulação. A ditadura ainda duraria mais nove anos e a última ação política de JK remontaria a 1968, quando ele tentou unir uma frente ampla, destroçada logo depois pelo AI-5. Aos 74 anos, com problemas de saúde, ele achava que não duraria muito. “O construtor de Brasília era um cassado, banido da vida pública havia 12 anos, intimidado por um processo em que a ditadura o acusava de enriquecimento ilícito. Sentia-se exilado em seu próprio País”, relata o jornalista Elio Gaspari em “A Ditadura Encurralada”, um dos quatro livros de sua monumental obra sobre os anos de chumbo. Em 1976, os projetos do ex-presidente eram mais singelos, circunscritos aos 300 alqueires da fazenda em Goiás. Costumava dizer que sua “escala de grandeza” havia se reduzido: “Em lugar de planejar a prosperidade do Brasil, planejo a construção de uma cocheira na fazenda”. O presidente Ernesto Geisel só foi informado sobre a morte de JK um dia depois, na segunda-feira, e reclamou dos assessores. O funeral de JK, oito anos após a edição do AI-5, trouxe o povo de volta às ruas, reunindo três mil pessoas numa passeata pelo Rio e 350 mil nos cortejos em Brasília. “Tanto pedi a Deus que esse homem não morresse no meu governo!”, lastimou Geisel. Outra peça-chave do relatório da Comissão Municipal da Verdade deriva de inquirições feitas em 1996. Naquele ano, o ex-secretário particular de Juscelino Kubitschek, Serafim Jardim, questionou judicialmente a versão oficial da morte do antigo amigo e conseguiu a abertura de novas investigações. Por determinação da Justiça, o corpo do motorista do presidente, Geraldo Ribeiro, o Platão, foi exumado e a partir daí foi que surgiu uma das principais suspeitas sobre o caso. Um perito em balística, Alberto Carlos de Minas, que acompanhava a exumação, disse ter visto um furo de bala no crânio de Ribeiro. O perito prestou um novo depoimento à Comissão Municipal da Verdade em novembro. “Quando eles tiraram a caixa ossária eu vi o crânio”, disse Minas. “Vi um provável orifício provocado por entrada ou saída de arma de fogo”. O perito alega que “fecharam imediatamente a caixa e não me deixaram fotografar”. O laudo oficial da exumação acabou apontando a presença no crânio do motorista de um “pequeno fragmento metálico de forma cilindro-cônica, medindo sete milímetros de comprimento e diâmetro médio de dois milímetros”. A Secretaria de Segurança de Minas Gerais concluiu que o metal era “fragmento de prego enferrujado e corroído”. O vereador Gilberto Natalini (PV), presidente da Comissão Municipal da Verdade, se inquieta com essas conclusões: “Prego de caixão vai entrar dentro do crânio de um cadáver? Isso é conto da carochinha. Não sei como o País pode ter acreditado nisso. Vamos pedir uma nova exumação”. A ideia da nova exumação desagrada Maria de Lourdes Ribeiro, filha do motorista de JK. Advogada, ela diz que não permitirá a exumação, pois considera “primária” a tese do tiro. “Seria mais confortável para mim se eu comungasse com essa tese”, afirma Maria de Lourdes. “Eu até poderia pedir indenização do governo, mas meu pai me ensinou que a mentira prende e a verdade solta. Meu pai não levou um tiro.” Com a posição firme e exemplar da filha de Platão, é bem provável que o relatório da Comissão Municipal da Verdade não tenha o poder de reescrever a história brasileira como pretendia. Pelo menos até que alguém decida patrocinar uma terceira morte de JK. 4#3 O VOO DE DILMA Os bastidores da viagem ao funeral de Mandela que acomodou no mesmo voo a presidenta Dilma Rousseff e quatro ex-presidentes - José Sarney, Fernando Collor, Fernando Henrique Cardoso e Luiz Inácio Lula da Silva Paulo Moreira Leite JUNTOS, MAS NEM TANTO - Durante as 36 horas em que estiveram juntos, desde a pose para a foto no embarque no Galeão até o retorno de Johannesburgo para Brasília, Dilma e os ex-presidentes da República mantiveram um convívio educado, mas tenso, com pitadas de descontração Em mais um bom motivo para Nelson Mandela ser reconhecido como herói da humanidade, o funeral do líder africano permitiu ao Brasil assistir a um espetáculo raro na história do País. Durante 36 horas, desde o meio-dia da segunda-feira 9, quando o Airbus presidencial deixou a base aérea do Galeão, no Rio, rumo a Johannesburgo, até 1h30 da madrugada da quarta-feira 11, quando a nave pousou de volta em Brasília, Dilma Rousseff e quatro ex-presidentes – José Sarney, Fernando Collor, Fernando Henrique Cardoso e Luiz Inácio Lula da Silva – passaram por uma experiência que não deve se repetir tão cedo. Acomodados numa área reservada, com algumas dezenas de metros quadrados, no interior do Airbus presidencial, ou nas arquibancadas do Soccer City, local das homenagens a Mandela, aqueles rostos, gestos e biografias que comandaram o País desde a democratização – a única ausência foi Itamar Franco, falecido em 2011 – mantiveram um convívio educado, mas tenso, segundo relatos dos ilustres passageiros a bordo. Coube ao ex-presidente Lula a tarefa de tentar quebrar o gelo, logo no início do voo. Em uma de suas primeiras intervenções, em tom de brincadeira, o petista definiu o regulamento do bom convívio. “Aqui ninguém pode tratar de assuntos controversos, porque estão todos representados”, brincou. Revigorado no retorno a Brasília, José Sarney descreveu o clima do ambiente: “Algumas pessoas liam livros, outras pegavam uma revista. Só de vez em quando conversavam”, disse à ISTOÉ. A descrição ilustra uma delegação que, a pedido da tripulação do Airbus, até se reuniu para uma foto sinceramente emocionada, na hora do embarque, no Galeão, mas que formou um grupo cuja maior identidade consiste na passagem pelo terceiro andar do Palácio do Planalto, onde cada um deixou uma herança diversa. Quando entraram no Airbus, dirigindo-se àquele compartimento reservado, exclusivo para a presidenta e convidados, foi possível detectar a formação de alianças fugazes no espaço aéreo que, muito naturalmente, refletiam as opções duradouras na terra firme de todos os dias. Lula e Fernando Henrique Cardoso evitaram excessivos contatos diretos. Mas, nos momentos em que conversaram, relatou FHC, os dois compuseram a dupla que mais tinha “memória em comum”. Perguntaram sobre o destino de antigos colegas e falaram sobre as greves de São Bernardo do Campo. Lula viajou sentado ao lado de Sarney, aliado profundo desde que enfrentou o risco de impeachment. Companheiros em 1989, quando Fernando Collor sonhou em levá-lo para o ministério, Fernando Henrique fez companhia – mais educada do que simpática – ao presidente afastado no impeachment de 1992. Collor, segundo FHC, era o mais formal entre todos. Dilma não usou a cabine privativa do avião, como usualmente faz. Sentou-se no corredor, como os demais. Segundo FHC, a presidenta esteve sempre muito à vontade, falante, contadora de causos. “Longe da imagem de “rabugenta” que é apresentada ao público”, afirmou FHC, que classificou a viagem de “mais bem organizada” do que a primeira, que levou ex-presidentes ao funeral do papa João Paulo II, em 2005. Depois da partida, a presidenta chamou os convidados para mostrar o plano de voo, com todas as turbulências atlânticas reais, imaginárias e eventuais que poderiam encontrar pela frente. Quando chegaram em terra firme e perguntaram a Fernando Henrique como havia sido a viagem, ele não perdeu a chance de fazer uma levíssima ironia, referindo-se aos conhecimentos “de especialista” da presidenta. Durante as oito horas de viagem, os passageiros a bordo só fizeram uma refeição: risoto e peixe com camarões. No Soccer City, a união de 90 chefes de Estado e centenas de milhares de cidadãos causou confusões e atropelos. Em meio ao trânsito infernal, muitas autoridades – inclusive brasileiras – desceram do carro para percorrer um longo trecho, a pé, para não perder a hora. No momento de ir embora – em acordo multipresidencial, todos concluíram que não havia necessidade de permanecer na África do Sul após o discurso de Dilma – ocorreu outra dificuldade. O céu estava um aguaceiro e era preciso, de novo, caminhar até os automóveis. Numa delegação que incluía dois octogenários, Sarney, com 83 anos, e Fernando Henrique, com 82, forçados a subir três andares de escada antes de se acomodar na cerimônia, era um exercício preocupante. Na correria, Dilma dividiu o guarda-chuva com FHC. Internado recentemente em São Paulo, Sarney chegou a deixar integrantes da delegação com receio, mas completou bem a travessia. No esforço para assegurar tratamento igualitário a cada antecessor, Dilma chegou a revezar os acompanhantes no carro presidencial. Deu carona a Fernando Henrique ainda no Rio de Janeiro, quando os dois saíram juntos do seminário na presença de Bill Clinton para tomar o helicóptero rumo ao Galeão. Lula entrou em seu carro num deslocamento já em Johannesburgo e deu lugar a Sarney em outro, o que só não ocorreu com Fernando Collor por falta de oportunidade. Exibindo gentileza, autocontrole e até um relativo espírito fraterno formado em várias décadas de atividade – a carreira dos quatro antecessores de Dilma soma cerca de 180 anos de dedicação contínua e permanente à política –, a viagem foi acertada no mesmo dia em que o governo sul-africano confirmou a morte de Mandela. A presença de todos explica-se por uma razão nobre, já que nas últimas décadas o Brasil cumpriu um papel positivo no resgate do continente africano. Sarney apoiou sanções econômicas contra o apartheid quando o regime racista sul-africano era defendido por Estados Unidos e Inglaterra. Empossados na Presidência de seus países no mesmo ano, Fernando Henrique e Nelson Mandela mantiveram um diálogo enquanto a saúde do líder africano permitiu. Capaz de transformar a África em prioridade diplomática, entre 2003 e 2010, Lula esteve quatro vezes na África do Sul. Voltou mais duas já fora do cargo. Em dezembro de 2012, quando Mandela se encontrava adoentado, sua mulher, Graça Machel, agora viúva, reuniu a família para homenagear Lula e a delegação num jantar em sua casa. Dilma não usou a cabine privativa do avião, como usualmente faz. Esteve sempre muito à vontade, falante, contadora de causos. Depois da partida, a presidenta chamou os convidados para mostrar o plano de voo A viagem a Johannesburgo tinha muito sentido, como se vê. Mas o encontro de cinco presidentes teve algo semelhante ao aperto de mãos de Barack Obama e Raul Castro, nas escadarias do Soccer City. Foi uma imagem que poucos esquecerão e que gerou comentários positivos em vários lugares. Da mesma forma, a viagem presidencial mostrou uma força institucional acumulada pelo País. Mas, dez meses antes da eleição presidencial de 2014, não é necessário confundir seu significado. “Foi um evento institucional, uma afirmação da democracia brasileira,” afirma-se na assessoria da presidenta Dilma Rousseff. “Mas foi um parêntese. Ninguém deixou de ser quem é, nem trocou de programa em Johannesburgo.” Somando as duas travessias do Atlântico, em menos de 48 horas os presidentes passaram 20 horas e 30 minutos a bordo. Nenhum abandonou a vigília para dormir nem mesmo na viagem de volta, depois de uma noite com menos de cinco horas de descanso num hotel em Johannesburgo, o que ilustra uma situação de tensão maior ou menor, mas sempre permanente. No esforço de relaxamento, o máximo que eles se permitiram eram curtas caminhadas pelo avião, fazendo exercícios desengonçados de esticar a musculatura em pleno uso de trajes formais e até sapato social. 4#4 AGORA NÃO PODE PARAR Justiça Federal confirma indícios do propinoduto e remete caso ao STF, mas há risco de prescrição de crimes se o processo não andar Pedro Marcondes de Moura ACUSADOS - Segundo o ex-diretor da Siemens, Edson Aparecido (à esq.) recebia propina e Rodrigo Garcia(à dir.) mantinha relações com lobista do cartel O escândalo do Metrô, denunciado inicialmente como cartel de empresas em contratos com o Metrô paulista e a Companhia Paulista de Trens Metropolitanos (CPTM), transformou-se em uma investigação de corrupção envolvendo políticos. Ao remeter o caso ao STF, a Justiça Federal entendeu que há indícios veementes de envolvimento de deputados federais – detentores de foro privilegiado – com a máfia responsável por lesar os cofres paulistas nas gestões tucanas à frente do Estado. Na prática, isso significa que parlamentares podem ser denunciados e virarem réus no STF por corrupção. Caberá à ministra Rosa Weber, escolhida como relatora, autorizar ou não a abertura formal da investigação contra os políticos. A decisão, tomada a pedido da Polícia Federal, deve-se a depoimentos prestados pelo ex-dirigente da Siemens Everton Rheinheimer. Neles o executivo aponta que o parlamentar Arnaldo Jardim (PPS) e o secretário estadual da Casa Civil e deputado federal licenciado Edson Aparecido (PSDB) receberam propina. Everton diz ainda que os secretários paulistas e congressistas licenciados Rodrigo Garcia (DEM) e José Aníbal (PSDB) mantinham relações com o lobista Arthur Teixeira. Todos negam as acusações. Em julho, ISTOÉ publicou, com exclusividade, denúncias do executivo sobre o envolvimento de políticos tucanos na fraude dos trens. 2.jpg O encaminhamento do caso ao STF, no entanto, não pode retardar o andamento do grave e rumoroso caso. Principalmente por envolver autoridades no exercício do mandato e secretários de Estado, que ainda são capazes de influir na área de transporte sobre trilhos em São Paulo – cujas licitações estão sob suspeita. Centralizado no STF e na Procuradoria-Geral da República, o inquérito deve ficar parado pelo menos até o Supremo voltar do recesso, em fevereiro. Promotores e procuradores da força-tarefa que investiga o escândalo estão preocupados. Fontes ouvidas por ISTOÉ dizem que eles já suspenderam oitivas e diligências e não podem nem manusear o material recolhido pelo Cade em busca e apreensão feita em maio nas sedes de empresas do cartel. “O atraso nas investigações pode levar até mesmo à prescrição de delitos, como o de formação de cartel”, lamenta uma fonte ligada à apuração do caso. Ao decidir não desmembrar o inquérito, o juiz retirou a competência deles de apurar criminalmente a conduta de empresas, políticos sem foro e agentes públicos. 4#5 POR QUE ELES AINDA ESTÃO SOLTOS Quem são os "símbolos da corrupção" favorecidos pela lentidão do STF que despertam a indignação do ministro da Controladoria-Geral da União Izabelle Torres BENEFICIADOS - Paulo Maluf (à esq.) e Jader Barbalho (à dir.) respondem a processos no STF Na última semana, durante cerimônia da Controladoria-Geral da União (CGU), em Brasília, o ministro Jorge Hage declarou que os símbolos da corrupção brasileira ainda estão soltos. Hage, em seu pronunciamento, preferiu não declinar nomes, mas referia-se a figurões da política que, mesmo condenados, ainda estão livres. Alguns deles, inclusive, exercem mandatos eletivos, colocando em xeque a sensação disseminada na sociedade de que o País, com o mensalão, começou a mudar a forma de combater práticas de corrupção. O deputado federal Paulo Maluf (PP-SP) é um desses políticos cujo julgamento ainda se arrasta no STF, mas que pode ganhar celeridade se contar com a boa vontade dos ministros da corte. O parlamentar teve voto desfavorável do ministro-relator Ricardo Lewan­dowski, mas sua defesa entrou com um recurso, ainda a ser julgado. Em 2012, o processo ficou quase um ano parado nas mãos do ministro Dias Toffoli por causa de um pedido de vistas. O ex-prefeito de São Paulo tem ordem de prisão dada pela Interpol em 181 países. Os crimes aos quais ele responde são os mais diversos, incluindo desvio de recursos públicos para uma conta em Nova York e Ilha Jersey. As investigações ocorrem desde 2001. No Brasil, Maluf foi condenado a cinco anos de cadeia pela Justiça paulista. Na ação penal que tramita no STF, ele é investigado por formação de quadrilha e lavagem de dinheiro. Outro caso emblemático de morosidade da Justiça, mas que já pode ser resolvido pelos ministros do STF, se assim o desejarem, no início do próximo ano, é o do ex-presidente Fernando Collor de Mello, que ainda responde pelas acusações que o levaram ao processo de impeachment em 1992. Ele é acusado de corrupção passiva, peculato e falsidade ideológica. Os mesmos crimes de alguns dos condenados no núcleo político do mensalão. O processo está pronto para ir para pauta e ser votado. Se os ministros mantiverem o mesmo entendimento que valeu para os mensaleiros, Collor pode ser condenado à prisão. A demora da Justiça levou outros figurões da política a se reelegerem dezenas de vezes, mesmo na condição de réus no STF. O senador Jader Barbalho (PMDB-PA) foi acusado de nove crimes. Ele chegou a ir para a cadeia pelo desvio de mais de R$ 1 bilhão na Superintendência de Desenvolvimento da Amazônia (Sudam). No entanto, nunca mais voltou para o cárcere. Apesar de ser réu em seis ações penais, seus processos esbarraram na demora do cumprimento das cartas de ordens e depoimentos de testemunhas nos Estados. Outros dois parlamentares estão na marca do pênalti do STF. São eles: o senador Ivo Cassol (PP-RO) e o deputado Asdrúbal Bentes (PMDB-PA). Ambos estão condenados à prisão e aguardam o julgamento de um recurso para confirmarem a ida para a cadeia. São os primeiros na fila do STF do cumprimento de sentenças. Cassol foi condenado a quatro anos e oito meses de reclusão por fraudes em licitação. Bentes recorre desde 2011 da sentença que o condenou a três anos de cadeia por trocar cirurgias de laqueaduras por votos. No próximo ano, o Supremo retomará as atividades pressionado a adotar posições que mantenham a coerência da corte na punição aos corruptos. O desafio, em nome da própria credibilidade, será fazer andar a fila de políticos que estão a apenas alguns passos da cadeia e simbolizam as velhas práticas às quais o Brasil ensaia enfrentar. 4#6 O FALSÁRIO Denúncia do Ministério Público mostra como age o estelionatário que falsificou a Lista de Furnas envolvendo políticos tucanos e relata uma série de golpes contra empresários e espólios milionários O CHEFE - Nilton Monteiro está preso no Complexo Penitenciário Nelson Hungria, mas continua planejando seus golpes Com a chegada de mais um ano eleitoral, políticos de diversas colorações partidárias se transformam no alvo preferencial daquele que o Ministério Público de Minas Gerais define como o “Midas da falsificação”. Trata-se de Nilton Antônio Monteiro, um antigo conhecido das delegacias de estelionato que costuma trafegar com enorme desenvoltura no eixo Minas-Rio-Brasília e que nos últimos 13 anos teria, segundo o promotor André Luiz Garcia de Pinho, movimentado cerca de R$ 1,3 bilhão com seus golpes e achaques. Niltinho, como é chamado no Complexo Penitenciário Nelson Hungria, onde está preso, ficou conhecido nacionalmente em 2005, quando divulgou a famosa lista de Furnas, uma relação com o nome de 155 políticos ligados ao PSDB que teriam recebido de forma irregular recursos da estatal para abastecer suas campanhas. Além de listar os nomes dos parlamentares e os supostos valores recebidos, Monteiro fazia ameaça com recibos que teriam sido assinados pelos próprios políticos ou por seus prepostos. Na ocasião, a denúncia mobilizou o Judiciário e emporcalhou muitas biografias. Mas perícias realizadas pela Polícia Federal atestaram que tudo era falso. Nas últimas semanas, o Ministério Público descobriu que o falsário dispunha de outra lista de Furnas, esta elaborada com nomes de políticos ligados ao PT. A relação petista foi encontrada em um dos computadores de Monteiro, apreendidos com autorização judicial. “Esse cidadão não tem jeito. É, com certeza, um dos maiores falsários do País”, disse o promotor Pinho, na quinta-feira 12. Ele é o responsável pela denúncia que classifica Monteiro como o líder de uma quadrilha composta por mais cinco pessoas. Antes de se identificar como lobista, o falsário já se apresentou como médico oncologista. Até que a Lista de Furnas fosse definitivamente desmascarada, Monteiro frequentou diversos gabinetes em Brasília e costumava ser visto nos mais nobres restaurantes da capital. A muitos interlocutores se dizia proprietário de uma ilha e de vários terrenos na Barra da Tijuca, no Rio de Janeiro, quando na verdade mora em um bairro na periferia de Belo Horizonte e não tem renda fixa. Comprovada a fraude, a partir de 2007 Monteiro acabou se aperfeiçoando na arte de falsificar notas promissórias, contratos de prestação de serviços e até títulos públicos. Com esses documentos falsos ele recorre ao Judiciário em busca de valores estratosféricos. São dezenas de processos em diversos Estados, inclusive em inventários. Na maior parte dos casos, apresenta-se como consultor. Para tentar imprimir veracidade às suas histórias, Monteiro conta com outro membro da quadrilha que é definido pelo MP de Minas Gerais como o “relações-públicas do bando”, como registra a página dois da denúncia da 11ª Promotoria de Justiça da Comarca de Belo Horizonte. Trata-se de Marco Aurélio Flores Carone, editor de um jornal eletrônico chamado “NovoJornal”. Segundo o promotor Pinho, é por intermédio desse veículo que os falsários promovem linchamento moral daqueles que se opõem a eles e também divulgam falsas notícias a fim de dar ares de credibilidade às cobranças que Monteiro faz na Justiça usando os documentos falsos. “O ‘Novo Jornal’ atua como verdadeiro balcão para intimidação das vítimas da quadrilha, disseminação de papéis falsos criados pelo bando e divulgação de matérias enaltecendo o chefe dos quadrilheiros”, redigiu o promotor em sua denúncia de 39 páginas, datada de 12 de novembro. O Ministério Público também quer descobrir quem são os financiadores do “Novo Jornal”. A DENÚNCIA - Em 39 páginas, o Ministério Público mostra como atua o grupo comandado por Monteiro Nos golpes que Monteiro e seu grupo tentaram aplicar, os valores envolvidos são gigantescos. Contra o espólio do ex-deputado Sérgio Naya, ele tenta cobrar uma “dívida” de R$ 970 milhões. Contra Andréa de Cássia Vieira de Souza, Monteiro apresentou uma nota promissória de R$ 68 milhões com vencimento em 20 de agosto de 2008. O Ministério Público já comprovou a falsidade do documento, que foi fabricado em maio de 2010. Outra vítima é o ex-presidente de Furnas Dimas Fabiano Toledo. Monteiro apresentou uma nota promissória de R$ 5,9 milhões vencida em 10 de maio de 2010. O MP comprovou que o documento fora feito no computador do falsário em 13 de maio de 2013. Com esse histórico, os promotores de Minas entendem que Monteiro está entre as pessoas físicas que mais trabalho dão ao Judiciário, seja como réu, seja como autor de processos em busca de cobranças extraordinárias. 5# COMPORTAMENTO 18.12.13 5#1 COMO VIRAR O JOGO 5#2 NINGUÉM QUER ESTA FERRARI 5#3 ARMADILHA NAS ESTRADAS 5#4 A ERA DO EXIBICIONISMO DIGITAL 5#1 COMO VIRAR O JOGO Às vésperas da Copa do Mundo, terror nas arquibancadas e viradas de mesa nos tribunais mancham a imagem do futebol brasileiro. O que o País pode fazer para mudar esse cenário Rodrigo Cardoso BARBÁRIE - Torcedores brigam na partida entre Atlético-PR e Vasco: violência sem-fim Poucas atividades tiveram um papel tão decisivo na construção da identidade brasileira quanto o futebol. Foi graças a esse esporte que o País se reconheceu como uma nação criativa, vitoriosa e feliz. Nos últimos tempos, porém, o futebol tem servido mais para expor as mazelas nacionais do que para revelar nossas qualidades. No domingo 8, o mundo acompanhou as cenas de barbárie ocorridas na Arena Joinvile, quando torcedores do Atlético-PR e do Vasco protagonizaram uma briga que chocou pelo grau elevado de violência. Junto desse fato, que provocou a interrupção da partida por mais de uma hora, certamente as parabólicas direcionadas para o país-sede da Copa do Mundo de 2014 captaram uma tragicomédia que ainda está em cartaz. O Campeonato Brasileiro, maior competição esportiva do País e um dos mais importantes do mundo, não terminou no campo, como deveria ser – a última rodada aconteceu justamente no domingo 8 –, mas caminha para ser encerrado nos tribunais. Tudo porque o Fluminense, rebaixado nos gramados, entrou com uma ação no Superior Tribunal de Justiça Desportiva, que irá decidir se a Portuguesa, até então livre da queda, teria escalado um jogador irregular em uma partida. Se culpada, a equipe paulista perderá os pontos e o Fluminense se salvará da degola. “Esses dois episódios são nefastos demais para a imagem do Brasil”, diz o sociólogo Maurício Murad, autor do livro “Para Entender a Violência no Futebol”. “O País não se deu conta de que estamos a seis meses da Copa e que fatos assim comprometem a nossa credibilidade.” Não é a primeira vez que craques de terno e gravata dos tribunais desportivos emergem ao final de uma competição e mudam os desígnios dos gramados com uma simples canetada (leia quadro). Igualmente reincidentes são os lamentáveis casos de briga de torcedores que fazem do Brasil o atual campeão mundial de mortes em confrontos entre torcidas organizadas – são 30 casos fatais apenas neste ano. Às vésperas de 2014, o futebol brasileiro de hoje parece, sob diversos aspectos, estar pior do que em 1950, ano em que o País sediou também uma Copa do Mundo. À época nem sequer havia um campeonato realmente nacional, mas a violência passava longe das arquibancadas. É possível mudar esse cenário? Para muitos especialistas consultados por ISTOÉ, a resposta é sim. Em primeiro lugar, é preciso analisar o futebol em outros países. Na Inglaterra, no lugar de uma Justiça desportiva institucionalizada, existem comissões disciplinares que, durante os jogos, recebem a súmula, analisam e decidem sobre qualquer irregularidade sempre no mesmo dia. Já por aqui, a lenga-lenga se deve, em boa medida, à falta de estrutura e ao amadorismo do STJD, tribunal que não remunera juízes e auditores nos despachos esportivos. Uma medida simples, e provavelmente eficiente, seria publicar os resultados dos julgamentos em um boletim informativo oficial, que seria repassado aos clubes para que fossem evitadas confusões e suspeitas. Para o advogado Gustavo Lopes Pires Souza, especializado em direito desportivo, a falta de profissionalismo dos clubes também contribui para a ineficiência do STJD, criado há 25 anos para democratizar os julgamentos esportivos. “Muitos clubes pagam alto para os atletas e investem pouco no departamento jurídico”, diz. “Depois acabam prejudicados nesse outro jogo.” Detalhe: o advogado que defendeu a Portuguesa no STJD era terceirizado. “Infelizmente, futebol não se ganha só nos gramados”, diz Souza. Acadêmicos que estudam o fenômeno da violência de torcidas organizadas defendem que o problema é menos a ausência de leis e mais a generalizada tendência a não cumpri-las. Num mundo ideal, as autoridades envolvidas com o espetáculo esportivo investem na prevenção, a polícia reprime e prende os torcedores violentos e a Justiça os mantém na cadeia. Como fazer esse sistema funcionar? Para especialistas, medidas simples teriam eficácia imediata. Segundo o sociólogo Murad, uma varredura nas redes sociais ajudaria na identificação de delinquentes infiltrados nas arquibancadas. Ele também sugere a criação de um disque denúncia das torcidas organizadas, modelo adotado, por exemplo, nas favelas pacificadas do Rio de Janeiro e que resultou na diminuição da violência. DIAGNÓSTICO - Falta de estrutura e de maior profissionalismo do STJD explica o fato de o Campeonato Brasileiro muitas vezes ser decidido no tapetão Nem tudo é sinônimo de tragédia no futebol brasileiro. Alguns movimentos recentes, como a criação do Bom Senso F.C., apontam para uma transformação positiva. Liderado pelos próprios jogadores, o Bom Senso defende melhores condições de trabalho aos atletas e a gestão profissional do futebol. O barulho feito por estrelas como Paulo André, do Corinthians, e Rogério Ceni, do São Paulo, obrigou a Confederação Brasileira de Futebol a se mexer. Há alguns dias, a entidade anunciou que, a partir de 2015, os campeonatos serão mais enxutos e os jogadores farão menos partidas por ano. É pouco, mas representa um avanço. O desafio maior é dar um cartão vermelho para a violência e para a maracutaia dos tribunais.  5#2 NINGUÉM QUER ESTA FERRARI Veículo de luxo vai a leilão duas vezes e não encontra comprador. O estigma de ter pertencido a um traficante está atrapalhando a venda? Mariana Brugger NO LANCE - A Ferrari e o leiloeiro Jonas Rymer: embora o preço do carro já tenha caído 25%, o veículo não foi vendido. Uma Ferrari vermelha conversível, ano 2011, tem repousado seus 460 cavalos de potência há cinco meses em um estacionamento no Rio de Janeiro. Carro dos sonhos dos amantes da velocidade, o bólido já foi a leilão duas vezes – algo inédito no País, segundo especialistas ouvidos por ISTOÉ –, mas não encontra comprador. O motivo divide opiniões: o valor pedido está alto demais ou a possante máquina está pagando o preço de ter pertencido a um traficante de drogas? Apreendido por agentes da Delegacia de Repressão a Entorpecentes (DRE) em 27 de junho, o veículo era do espanhol Oliver Ortiz de Zarate Martin, 35 anos, que está preso por lavagem de dinheiro e tráfico internacional. No primeiro leilão, em novembro, foi anunciado a R$ 1,190 milhão – cerca de R$ 160 mil a menos que um similar nas lojas. No segundo, na semana passada, o desconto de 25% não foi suficiente para fechar negócio. O próximo pregão está marcado para fevereiro. O traficante espanhol Oliver Ortiz de Zarate Martin, preso em junho. Acima, alguns de seus bens “Bens raros, que são facilmente reconhecíveis, demoram a ser arrematados porque as pessoas temem que o próprio bandido, quando em liberdade, fique com raiva e tente retomar o que é seu”, diz o advogado Breno Melaragno, presidente da Comissão de Segurança Pública da Ordem dos Advogados do Brasil do Rio de Janeiro (OAB/RJ). O medo de algum tipo de represália de inimigos do traficante também pode afastar o seleto público com potencial de compra. O advogado esclarece, porém, que as seguradoras não podem levar isso em consideração e cobrar mais caro na hora de fazer a apólice. O leiloeiro público Jonas Rymer, responsável pelas tentativas de venda do veículo, acredita que o preço elevado é o culpado pelo encalhe. Ele diz que em lojas de importados, uma Ferrari custa aproximadamente R$ 1,350 milhão, com garantia e possibilidade de o comprador experimentar a máquina. “Só vale a pena comprar em leilão quando o preço é convidativo, já que a pessoa não vê o carro antes e precisa pagar à vista”, explica. O preço é estipulado pelo Ministério Público, após duas avaliações de mercado. No dia 10 de fevereiro, o carro, que rodou apenas 1.721quilômetros, será oferecido a R$ 945 mil. Se ainda assim não encontrar comprador, novo pregão será realizado dez dias depois. E aí a Ferrari estará uma pechincha: R$ 710 mil, acrescido das custas legais. “Este preço é praticamente dado”, diz Rymer. No leilão dos bens de Martin na semana passada, foi vendida uma Harley-Davidson por R$ 34 mil – o preço inicial era R$ 38 mil. Nas mãos do traficante espanhol, que é tido como grosseiro e de difícil trato por seus ex-funcionários, a Ferrari modelo Califórnia costumava frequentar garagens privativas e espaçosas, como as mansões triplex de seu dono, na Joatinga, avaliada em R$ 4 milhões e outra de R$ 3 milhões, na Barra da Tijuca, ambos na zona Oeste do Rio. À noite, Martin gostava de ir à sua boate, The Room, no mesmo bairro, pilotando o modelo. O luxuoso veículo também já foi visto na Praia do Pepê, point da Barra frequentado pelo bandido, que é casado com uma brasileira e tem um filho. Martin adora o Brasil, onde vive desde 2009 e fez uma fortuna avaliada em R$ 20 milhões. À Polícia, ele explicou que a rota de seu “negócio” era marítima, com origem na Colômbia e destino para América do Sul, Austrália e Europa. O Brasil era um entreposto para lavar o dinheiro. 5#3 ARMADILHA NAS ESTRADAS No período de férias, mais pessoas estão expostas a assaltos em rodovias, que costumam ser realizados por bandidos jovens e violentos. Saiba como escapar de emboscadas Raul Montenegro Às vésperas das férias de verão, uma onda de assaltos em rodovias paulistas vem aterrorizando os motoristas. Os criminosos agem quase sempre da mesma forma: obrigam as pessoas a parar na estrada furando o pneu ou quebrando o vidro dianteiro de seus carros com pedras ou outros objetos. Às vezes, usam veículos para fechar a via, causam pequenas colisões ou mandam o viajante encostar, fingindo que são policiais. Uma vez que a vítima desacelera, os bandidos roubam dinheiro e objetos pessoais e fogem rapidamente do local. No sábado 7, um desses crimes terminou na morte de um turista canadense que visitava o Brasil. O empresário Dean Tiessen havia chegado ao País em novembro para fazer negócios em São Paulo. No fim de semana, ele e um amigo inglês rumaram para o litoral e, na volta, foram abordados por um bando armado na rodovia Anchieta, em Cubatão, a 50 km da capital. Eles dirigiam vagarosamente para admirar a Mata Atlântica quando foram forçados a parar no acostamento por outro carro. Dois homens saíram do veículo para assaltá-los e, depois, atiraram em Tiessen duas vezes sem que ele reagisse. Perto dali, horas depois, o operador de máquinas Edi Nelson de Barros foi baleado numa tentativa de assalto enquanto ia para Santos, também no litoral paulista. O carro em que ele estava parou para ajudar outro veículo que teve o pneu furado por uma pedra na pista. Isso não é um fenômeno de São Paulo nem se restringe a carros de passeio. Na semana passada, as chuvas no Rio de Janeiro provocaram imensos engarrafamentos na Via Dutra, que liga a capital fluminense à paulista. Bandidos aproveitaram para fazer arrastões nos veículos parados e saquear um caminhão. O Rio pediu ajuda federal para conter os crimes na estrada. Além disso, os assaltos a ônibus interestaduais estão cada vez mais comuns. De janeiro a agosto de 2013, foram 211 roubos a ônibus informados à Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT) em todo o País. O número é 4,46% superior ao registrado no mesmo período do ano passado. O Estado com mais casos é Goiás, com 81 assaltos. A Dutra é uma estrada bastante visada pelos bandidos. No mês passado, a estudante Isabella Pavani Castilho Cruz, 18 anos, foi morta com um tiro na cabeça quando seguia de Arujá a Guarulhos, em São Paulo. Ela parou depois de sofrer uma batida em sua traseira. “A regra mais importante é não parar”, diz o inspetor Moisés Dionísio, chefe da Divisão de Combate ao Crime da Polícia Rodoviária Federal, que, apesar da falta de estatísticas, percebe um aumento no número de ocorrências. “O bandido que realiza esse tipo de assalto tem um perfil mais jovem e é extremamente violento.” Especialista em segurança pública da Fundação Getulio Vargas (FGV), Guaracy Mingardi concorda: “Não é um criminoso de alto escalão, são ladrões de segunda categoria, que são violentos porque muitas vezes estão drogados”, afirma. As viagens à noite são mais arriscadas. O microempresário Paulo Altenhofen, de Toledo, interior do Paraná, hoje evita trafegar pela estrada depois que escurece. Há cinco anos, quatro homens fingindo ser policiais encostaram ao lado do seu carro, apontaram uma pistola e o forçaram a parar em uma via menor. Lá, roubaram R$ 600 em dinheiro e objetos pessoais. “Ficamos meia hora – eu, minha esposa e minha cunhada – na mão deles. Na hora você pensa que eles vão matar você”, conta. Para Guaracy, da FGV, é preciso uma atuação mais efetiva das polícias locais. “Não é difícil investigar, porque elas conhecem as áreas mais visadas. Os bandidos normalmente moram a até 2 km do local do crime e muitas vezes fogem a pé”, diz. 5#4 A ERA DO EXIBICIONISMO DIGITAL O que leva cada vez mais pessoas a abrir mão de sua privacidade e divulgar detalhes da sua intimidade nas redes sociais, numa exposição sem limites e repleta de riscos Fabíola Perez "Ela não anda, ela desfila, é top, capa de revista. É a mais mais, ela arrasa no look. Tira foto no espelho pra postar no Facebook" O funk “Ela é Top”, de MC Bola, onipresente nas pistas brasileiras desde abril do ano passado, descreve uma típica garota carioca, de formas, gestuais e vestuário superlativos, que, não contente em chamar a atenção por onde passa, registra todos os seus provocantes trajes em fotos e os posta nas redes sociais. Tamanho sucesso tem explicação óbvia, além do ritmo pegajoso e hipnotizante. O hábito da musa de MC Bola é adotado por milhões de pessoas, homens e mulheres que, desde a mais tenra idade, numa viagem um tanto inconsequente e com altas doses de carência, diversão e despreocupação, abrem mão da privacidade e compartilham sua rotina e intimidade nas redes sociais, numa exposição sem limites e repleta de riscos. Até o presidente dos Estados Unidos embarcou nessa onda egocêntrica. Na terça-feira 10, Barack Obama, o primeiro ministro britânico, David Cameron, e a premiê da Dinamarca, Helle Thorning-Schmidt, ganharam a atenção do mundo ao registrarem um polêmico autorretrato pelo celular durante o funeral do líder africano Nelson Mandela. Ainda que a foto não tenha ido parar em nenhuma rede social, o gesto do poderoso trio é uma marca dos dias atuais, tanto que ganhou um nome: selfie. O termo em inglês é usado para descrever fotos de si mesmo e foi eleito pelo “Dicionário Oxford” como a palavra do ano. Se antes as chances de fotografar pessoas e momentos únicos estavam restritas a, no máximo, 36 poses de um filme, hoje as novas tecnologias possibilitam infinitas tentativas, com os mais diversos conteúdos. São inúmeras as ferramentas para registrar imagens e lugares, produzir vídeos e publicá-los na internet, passatempo hoje de milhões de usuários das redes sociais. O Brasil se destaca nessa área. Uma pesquisa realizada pela Nielsen detectou que os brasileiros são os que mais usam mídias sociais no mundo, superando países mais populosos como Estados Unidos, Índia e China. O levantamento mostra que 75% da população nacional acredita que a principal função do smartphone é acessa-las. “As pessoas gostam de se relacionar e de contar aspectos de sua vida particular às outras e a web potencializou esse comportamento”, afirma Fernanda Pascale Leonardi, especialista em direito digital. “Os brasileiros têm o hábito de se expor, de dizer que vão viajar, de contar o que compraram, mas é preciso entender que na internet há um nível insuficiente de privacidade.” A bacharel em direito Gabriela Fonseca, 25 anos, é adepta das redes sociais desde os tempos do Orkut. Por meio dele, por exemplo, conheceu o marido, Bruno Barioni. E pelas novas plataformas descobriu um jeito inovador de organizar seu casamento. “Encontrei minha assessora por meio do Facebook e todos os fornecedores foram contratados pelo Instagram.” Um dia antes da cerimônia, Gabriela teve a ideia de pedir para seus convidados desbloquearem as redes sociais para que ela pudesse ter acesso às fotos do dia. Com isso, criou-se uma teia de amigos que compartilhavam informações sobre o evento. “Percebi que as pessoas começaram a usar mais as redes sociais durante as cerimônias”, diz. Temos, então, o que muitos críticos apontam como a sociedade do espetáculo, na qual comemorações particulares ganham ares de grandes acontecimentos públicos. A publicitária Ângela de Carvalho Valadão, 23 anos, também sempre foi uma entusiasta das redes sociais e tinha necessidade de compartilhar detalhes de sua rotina. “Quando o Instagram surgiu, fiquei bem viciada, postava fotos de tudo o que eu fazia, do que comia ou comprava”, afirma. “Não conseguia ficar dois dias sem usar.” Ângela conta, no entanto, que no ano passado sentiu que era preciso se afastar do Facebook, após o término de um relacionamento. “Publicava letras de músicas e frases bem tristes, depois não gostava que as pessoas viessem me perguntar o que estava acontecendo”, conta. Ela percebeu que perdeu o controle da situação e deixava que qualquer um participasse de sua intimidade. “Ficava incomodada com uma coisa que eu mesma permitia que acontecesse”, conta. Hoje, Ângela encontrou uma nova forma de usar as redes sociais. A publicitária optou por compartilhar apenas momentos positivos. “As pessoas continuam comentando o que publico, mas agora estou certa de que são informações que realmente quero tornar públicas.” Com cerca de 900 fotos publicadas no Instagram e mais de 300 seguidores, Ângela costuma postar fotos de seus cachorros, momentos com amigos e de si mesma. “O ser humano criou a necessidade de se expor em um grupo virtual. É possível criar fantasias nesse mundo e uma imagem daquilo que gostaríamos de ser”, diz Ana Luiza Mano, psicóloga do núcleo de pesquisa de psicologia em informática da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP). A sociedade vive um momento de supervalorização do “eu”. “As pessoas constroem a personalidade de forma a ter mais visibilidade, é uma maneira de se transmitir para o mundo”, diz Rodrigo Nejm, diretor de prevenção da SaferNet Brasil. E isso ocorre de forma instantânea. Uma vez publicado, um post pode receber imediatamente curtidas ou comentários. A celeridade na reação dos amigos é um dos fatores que trazem bem-estar. Se o grupo se comportar com indiferença, o internauta tende a se sentir um fracassado. “Temos percebido uma ansiedade e um imediatismo muito grande”, diz a psicóloga Ana Luiza. “Motivadas pelas redes sociais, as pessoas desejam ter uma resposta muito rápida e quando isso não acontece acabam passando por um processo de frustração.” Publicar fotos no Facebook se tornou um passatempo divertido para a administradora de empresas Renata Coelho Ricci, 36 anos. Para ela, as redes sociais ganharam outra dimensão desde que ficou grávida. “Estava de licença médica do trabalho e criei o hábito de publicar fotos da gravidez”, diz. Renata conta que o retorno é sempre imediato. “Amigos, família, pessoas distantes e gente que nem imaginamos curtem nossas fotos.” A administradora pretende continuar publicando as fotos do filho Miguel, hoje com dois anos, e, por enquanto, ainda não se preocupa com o que o ele possa pensar no futuro sobre essa exposição involuntária. “É uma maneira de deixar as pessoas admirá-lo.” O sociólogo Sérgio Amadeu da Silveira, da Universidade Federal do ABC, alerta: “A maioria das pessoas nem imagina o poder do compartilhamento de informações.” Tudo o que é postado na rede deixa uma espécie de rastro virtual e pode colocar em risco a privacidade do usuário. “As redes sociais montam um banco de dados de tudo o que fazemos e as empresas vêm se aperfeiçoando nas tecnologias de monitoramento, por isso é fundamental pensar em formas de se proteger durante a navegação”, diz Silveira. Existem diversos riscos implícitos no simples ato de publicar uma informação pessoal na rede. Sem perceber, os usuários acabam divulgando detalhes importantes acerca de sua rotina. “Não é recomendável publicar que estamos saindo de férias, que a casa ou o apartamento ficará sem ninguém”, afirma a especialista na área digital Fernanda Leonardi. “Também não é aconselhável postar fotos com crianças com roupas de praia. As imagens podem ser facilmente usadas por sites de pornografia infantil.” Além disso, o retrato ou o comentário considerado engraçado hoje pode se tornar um problema amanhã. Várias empresas olham o conteúdo do que os aspirantes a um emprego colocam na internet e, dependendo do que está exposto, eles podem perder a vaga. Outro componente importante é o cyberbullying. “As pessoas que publicam fotos com frequência tornam a sua imagem pública e ficam vulneráveis”, alerta a psicóloga Ana Luiza. “Muitos usuários perdem o controle sobre a sua imagem e não estão preparados para administrar as consequências de uma agressão que pode vir de um anônimo ou não.” Quem experimentou a ampla repercussão de uma imagem divulgada numa rede social foi o jogador Emerson Sheik, do Corinthians. O atacante enfrentou uma avalanche de críticas, em agosto deste ano, depois de publicar uma foto em que aparecia dando “um selinho” em um amigo para comemorar a vitória do clube sobre o Coritiba no Campeonato Brasileiro. Dezenas de celebridades também têm o hábito de postar fotos nas redes sociais, compartilhando sua rotina com os fãs. A apresentadora Luciana Gimenez passou a semana passada publicando imagens de sua barriga e de detalhes de sua calcinha. A modelo Gisele Bündchen postou uma foto sua de roupão amamentando a filha Vivian. São momentos íntimos que eles mesmos divulgaram. Por isso, é curioso que depois costumem reclamar de invasão de privacidade por parte da imprensa quando são fotografados em locais públicos. A justificativa mais comum das celebridades para ser atuante nas redes sociais é a possibilidade de se comunicar sem filtros com os fãs e fazer com que se sintam próximos delas. A atriz Thaila Ayala é uma das mais ativas. Publica fotos de viagens, moda e imagens relacionadas à proteção de animais. Ela afirma, entretanto, que tenta se precaver antes de divulgar qualquer informação. “Hoje, tudo é tomado como verdade absoluta, então é muito difícil postar um conteúdo com alguma ironia, com duplo sentido”, diz. “As pessoas não querem pensar sobre o que é compartilhado; então, temos que publicar mensagens mais práticas”, afirma. O Instagram, o mais popular aplicativo para postar fotografias, permite aos usuários se tornar uma espécie de “microcelebridade”. Quem publica imagens tem a sensação de inspirar seus seguidores em diferentes aspectos – desde o jeito de vestir até a prática de atividades físicas. A designer Gabriela Pugliesi, 27 anos, é dona de um dos perfis mais seguidos do Instagram. Ela entrou para a rede social postando fotos de quando praticava exercícios físicos e decidiu apostar no estilo fitness para “inspirar os demais usuários”. “Gosto de ver as pessoas se alimentando bem e praticando exercícios; então, comecei a usar o Instagram com essa finalidade”, afirma. Quando os usuários aumentaram, a blogueira passou a receber mensagens de pessoas que diziam ter mudado de vida por sua causa. “Hoje preciso postar, é o meu trabalho”, diz. A autopromoção é o que mais se vê nas redes sociais atualmente. O gerente de projetos Peter Hahmann, 26 anos, gosta de compartilhar mensagens motivacionais e usar as redes sociais como um canal para se promover. “Se todo mundo posta fotos do trânsito ruim, publico uma imagem bonita para inspirar as pessoas”, diz. Ele também costuma divulgar fotos de viagens e passeios e o que mais gosta é o retorno que alcança. “As pessoas vêm falar comigo e dizem que precisam ouvir exatamente aquilo que postei.” Rafael Nakamura, 30 anos, mora e trabalha em Cabo Frio, Rio de Janeiro, em uma plataforma de petróleo. Em seus momentos de lazer, costuma frequentar a academia. Mas mesmo durante os exercícios físicos ele conta que não deixa o celular de lado. “Publico fotos de vitaminas que compro para o corpo porque as pessoas vêm conversar comigo e pedir informações”, afirma. “Desde o início do Facebook, compartilho fotos de academia e de produtos para melhorar a disposição; assim, muitos se inspiram em mim”, conta, admitindo estar alimentando sua vaidade com esse gesto. “Gosto disso, faz bem para o ego.” Registrar o lugar exato onde está – o famoso check in – também é um hábito de Nakamura. “Quando saio à noite, gosto de fazer check in porque tem muitos restaurantes e bares que oferecem brindes”, afirma. A pesquisadora do Centro de Tecnologia e Sociedade da Fundação Getulio Vargas, Joana Varon Ferraz, explica que há um número cada vez maior de pessoas que criam perfis para compartilhar conteúdo relacionado a autopromoção. “Caiu no gosto popular fazer uma espécie de marketing pessoal nas redes sociais”, diz ela. Na contramão dos exibicionistas, um grupo de pessoas que parecem estar saturadas dos efeitos causados pelas redes sociais começa a ganhar força. Para Rodrigo Nejm, da SaferNet, aparecem os primeiros sinais de cansaço digital. Mais poderosa rede social do mundo, o Facebook, por exemplo, começou a registrar uma diminuição no número de usuários. “Algumas pessoas já estão migrando para redes sociais que tentam garantir um nível maior de privacidade”, afirma Nejm. Isso não significa que a era do “selfie” esteja com os dias contados. Ela é um caminho sem volta, dizem os especialistas. Mas, se o exibicionismo digital for feito com responsabilidade e segurança, já é um bom começo. Obama, o galanteador - O presidente americano causa polêmica por se divertir com a bela primeira-ministra da Dinamarca O presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, esteve entre os tópicos mais comentados da imprensa internacional na semana passada, não pelo discurso em homenagem a Nelson Mandela, mas por seu comportamento durante o funeral do ex-presidente sul-africano na terça-feira 10. Além de posar para um “selfie” ao lado do primeiro-ministro britânico, David Cameron, e da premiê da Dinamarca, Helle Thorning Schmidt, Obama apareceu numa sequência de imagens muito próximo de Helle. Loira, curvilínea e sorridente, a dinamarquesa parecia responder com entusiasmo a um flerte do presidente americano. Do outro lado, bem menos contente, mas igualmente espontânea, a primeira-dama Michelle Obama demonstrou insatisfação com a cena do marido e depois trocou de lugar com ele. A jornalista conservadora Andrea Peyser, do “New York Post”, escreveu que o presidente “perdeu sua moral, sua dignidade e sua cabeça, ao usar a solenidade do memorial de Nelson Mandela para agir como um garoto a caminho de um strip bar”. A premiê dinamarquesa, que também é casada, riu da repercussão e declarou que sua atitude “não foi inapropriada”. Não é a primeira vez que Obama foi flagrado de olho em outras mulheres. Num encontro com a premiê da Tailândia, Yingluck Shinawatra, em 2012, o presidente era só sorrisos e olhares encantados. Cumplicidade semelhante foi observada pelos jornalistas em relação a Carla Bruni, ex-primeira-dama da França. Em 2009, na foto oficial de uma reunião do G-8, na Itália, o americano não escondeu sua admiração pelo derrièrre da brasileira Mayara Tavares, convidada para representar a delegação jovem do País. No mesmo ano, durante um jantar na Casa Branca, Obama arriscou uns passos de salsa com a cantora latina Thalía. Ao voltar para a mesa que dividia com a mulher, nem os abraços mais carinhosos fizeram Michelle retribuir o olhar do presidente. 6# MEDICINA E BEM-ESTAR 18.12.13 6#1 VACINA CONTRA A ESCLEROSE MÚLTIPLA 6#2 IMPACTO PROFUNDO 6#1 VACINA CONTRA A ESCLEROSE MÚLTIPLA Experiência feita na Itália revela que o imunizante ajuda a evitar a progressão da doença em pessoas que tiveram algum sintoma inicial Mônica Tarantino A vacina usada contra a tuberculose, a BCG, é uma das fortes apostas da ciência para combater os danos cerebrais provocados pela esclerose múltipla, doença degenerativa do sistema nervoso central que afeta pelo menos 2,5 milhões de pessoas no mundo. Resultados de um estudo realizado em quatro centros italianos com pacientes que apresentavam sinais precoces da doença – como dormência em partes do corpo ou falta de equilíbrio – indicaram que o imunizante ajuda a bloquear a progressão dos sintomas. Dos 82 voluntários que participaram do estudo, todos com alto risco de apresentar a doença no futuro após terem tido um primeiro surto (uma situação identificada como síndrome clinicamente isolada), metade tomou a vacina, enquanto os outros receberam placebo. Por seis meses, o grupo completo foi submetido a exames de imagem mensais para verificar a existência de danos neurológicos. No final, a média de lesões encontrada nos indivíduos não vacinados era praticamente o dobro do que se viu naqueles que tomaram o imunizante. Depois, os dois grupos foram tratados com remédios específicos (imunomoduladores) para controlar sintomas, reduzir a inflamação que permite o avanço da doença e o risco de sequelas. As conclusões do estudo, recentemente publicado pela revista “Neurology”, revelam que, cinco anos depois, 58% das pessoas vacinadas não manifestaram o quadro clássico da doença. No grupo não vacinado, essa proporção foi de 30%. “O trabalho sugere que a associação da vacina após o primeiro episódio da doença com o tratamento convencional pode alterar positivamente o curso da doença. Isso foi demonstrado estatisticamente de forma significativa”, diz o neurologista Rodrigo Thomaz, do Centro de Esclerose Múltipla do Hospital Albert Einstein, em São Paulo. Embora os mecanismos de ação da BCG contra a doença ainda não estejam claros, ela foi selecionada para o teste por alguns motivos. Já havia um estudo piloto demonstrando que era segura e possivelmente eficaz contra novas lesões. Também existiam dados de que poderia diminuir, a longo prazo, os danos neurológicos que podem conduzir, por exemplo, à perda da mobilidade. Os resultados são promissores, mas os médicos preferem cautela. “Trabalhos com mais pacientes são necessários para que o tratamento seja recomendado”, diz Rodrigo Thomaz. Concorda com ele Giovanni Ristori, pesquisador da Universidade de Sapienza, em Roma, que liderou a pesquisa. “Os médicos não devem começar a usá-lo para tratar a esclerose ou a síndrome clinicamente isolada. Precisamos saber mais sobre os efeitos de segurança a longo prazo dessa vacina”, alertou. 6#2 IMPACTO PROFUNDO Estudo revela que a meditação consegue reduzir a ação dos genes associados a processos inflamatórios. Isso melhora inclusive a resposta do corpo ao estresse Cilene Pereira Uma pesquisa realizada por cientistas americanos, espanhóis e franceses revelou que a meditação é forte o suficiente para produzir alterações na forma de expressão dos genes. O trabalho mostrou que, após oito horas de prática, os adeptos manifestaram uma série de modificações genéticas e moleculares, incluindo a redução na atividade de genes associados a processos inflamatórios. Entre outros efeitos, essas transformações resultaram no reequilíbrio mais rápido dos níveis do hormônio cortisol, liberado em situações de estresse. “É a primeira vez que se consegue demonstrar as rápidas mudanças genéticas provocadas pela meditação”, afirmou Richard Davidson, da Universidade de Wisconsin-Madison, nos Estados Unidos, e um dos coordenadores do trabalho. Os pesquisadores acompanharam as reações de um dia de intensa meditação realizada por praticantes experientes e as respostas de outros participantes simpáticos ao método, mas sem tanta prática. As análises moleculares revelaram que a técnica afetou os genes proinflamatórios RIPK2 e COX2 e também outra categoria de genes, responsável pelo controle de um grupo maior de genes. “A expressão do nosso material genético é dinâmica, responde a estímulos”, disse Davidson. “E acalmar a mente tem potencial para influenciar a forma como ele se expressa em nosso organismo.” Os achados reforçam as observações que já haviam sido feitas sobre o potencial da meditação. A própria Associação Americana do Coração recomenda o método como uma das formas de prevenção de doenças cardiovasculares e outros estudos relataram benefícios no tratamento de enfermidades inflamatórias. Na pesquisa agora divulgada – foi publicada na revista científica “Psychoneuroendocrinology” – as alterações foram observadas justamente em genes que hoje já são alvo de remédios anti-inflamatórios e analgésicos. 7# ECONOMIA E NEGÓCIOS 18.12.12 7#1 QUANTO VALEM AS SUAS MILHAS? 7#2 FÉRIAS PARA OS PETS 7#1 QUANTO VALEM AS SUAS MILHAS? Os pontos acumulados em viagens aéreas e nos cartões de crédito agora podem ser trocados por uma variedade de produtos e até transferidos para terceiros. Saiba como aproveitar melhor os programas de fidelidade e evite as armadilhas do mercado Luisa Purchio Foi-se o tempo em que juntar milhas significava apenas a chance de fazer uma nova viagem aérea. As companhias ampliaram seus programas de fidelidade, uniram-se a parceiros de diversas áreas e passaram a oferecer, em troca dos pontos acumulados, uma ampla variedade de produtos e serviços. Alguns bilhetes da boa e velha ponte aérea podem valer eletrodomésticos, brinquedos, roupas, acessórios esportivos, perfumes e até crédito em cartões de pagamento. Há alguns dias, outra novidade chegou a esse mercado. O programa Smiles, ligado à Gol, passou a permitir o repasse de milhas para terceiros. A mudança tem como objetivo diminuir o número de milhas não utilizadas pelos passageiros (por ano, segundo números da Gol, cerca de cinco bilhões delas deixam de ser trocadas) e coibir o mercado paralelo. “A venda ilegal é prejudicial para as companhias aéreas”, diz Leonel Andrade, CEO do Smiles. Um levantamento feito por ISTOÉ mostra como as milhas se tornaram moedas de troca vantajosas. Pelo programa Multiplus, da TAM, uma única viagem à Europa garante pontuação suficiente para o passageiro ter direito a um telefone sem fio, e ele ainda fica com um belo troco de mais de 1.000 pontos. No Smiles, da Gol, uma viagem aos Estados Unidos pode equivaler a um crédito de R$ 300 no Paypal, maior empresa de pagamento digital do mundo. Daniel Mazotti sabe bem como aproveitar as ofertas. A grande quantidade de viagens que realizava a trabalho lhe rendeu pontos que foram trocados por relógios e acessórios para a prática de esportes radicais. “Com o tempo, fui aprendendo a ganhar milhas”, diz.“Às vezes empresto o meu cartão de crédito para amigos justamente para acumular mais pontos.” Uma das dificuldades enfrentadas pelos consumidores é a diferença de regras entre as empresas e o enorme leque de opções oferecido pelas bandeiras de cartões de crédito, que se tornaram ferramentas importantes para o acúmulo de pontos. A padronização das normas é uma tendência para o futuro. Há dois meses, a Smiles ingressou na Associação Brasileira das Empresas de Cartão de Crédito e Serviços (Abecs), o que significa um primeiro passo para alinhar as regras do setor. “Não existe uma regulamentação clara, mas isso pode mudar”, diz Leonel Andrade, da Smiles. Uma das possibilidades de mudança é que o setor seja regulado pelo Banco Central, a exemplo do que acontece em diversos países. Isso propiciaria maior segurança aos consumidores. “Os problemas existem, mas já foram piores”, diz Selma Amaral, diretora de atendimento do Procon São Paulo. O mercado de milhas cresceu tanto nos últimos anos que se tornou atraente para jovens empreendedores. Há alguns meses, o estudante de engenharia José Arivar se uniu a quatro amigos para montar a plataforma online Supreme Points, que funcionará a partir do primeiro trimestre de 2014 e conectará vendedores e compradores de milhas em potencial, sem que os dados pessoais tenham de ser expostos. O projeto surgiu com os obstáculos que o jovem, que viaja com frequência para o Exterior, enfrentou para entender as pontuações das empresas aéreas e decidir pelas melhores ofertas, tanto na hora de comprar passagens quanto na hora de trocá-las por produtos e serviços. “Queremos transformar nossa dificuldade em uma oportunidade”, diz Arivar. “As promoções variam diariamente e há muitos detalhes para a pessoa usá-las bem. Queremos ser um canal de informação que facilite o uso das milhas.” 7#2 FÉRIAS PARA OS PETS A procura por hotéis para cães e gatos dispara no fim do ano. Confira as boas alternativas de hospedagem e o que fazer se o plano for levá-los para curtir a viagem com a família por Luisa Purchio Segundo estimativas da Sociedade Brasileira de Medicina Veterinária (SBMV), há 25 milhões de animais de estimação em lares brasileiros. Às vespéras das férias de fim de ano, os donos dessa turma enfrentam um dilema: o que fazer com os pets? Vale a pena deixá-los em um hotel? Como proceder se o plano for levá-los na viagem? Se você ainda não tem a resposta para essas questões, é bom se apressar. “No fim do ano, o hotel tem sempre lotação máxima”, afirma Viviane Almeida, dona do hotel fazenda Encrenquinha’s, que tem capacidade para receber até 180 cães de todas as raças e portes. Alguns fatores devem ser levados em consideração antes de decidir se os animais devem pegar a estrada ou ser levados a hotéis especializados. “Os gatos são mais ligados ao ambiente e os cães, às pessoas”, diz Josélio Moura, presidente da SBMV. “É preciso verificar as circunstâncias da viagem e avaliar bem o hotel em que se quer deixá-los.” 8# MUNDO 18.12.13 UM VIZINHO MUITO LIBERAL Como a liberação do plantio e do consumo da maconha no Uruguai pode influenciar o Brasil e nossa fronteira Mariana Queiroz Barboza EXPERIMENTO - O presidente uruguaio, José Mujica, disse que não hesitará em recuar na lei se os resultados forem negativos Droga mais consumida do mundo, a maconha vai perder o status de ilícita no Uruguai. Na semana passada, o Senado aprovou uma lei que regula a produção, a venda e o consumo da erva no país. Os uruguaios que se registrarem no recém-criado Instituto de Regulação e Controle da Maconha poderão plantar em casa para consumo pessoal (no máximo, seis plantas ou 480 gramas por indivíduo), em cooperativas (com até 45 parceiros e, no máximo, 99 plantas) ou comprar em farmácias até 40 gramas por mês por US$ 1 a unidade – preço próximo ao praticado no mercado negro, abastecido principalmente pelo Paraguai. Quem não seguir as normas legais estará sujeito a penas de 20 meses a 10 anos de cadeia. O governo do ex-guerrilheiro José Mujica também foi o responsável nos últimos meses pela descriminalização do aborto e pela aprovação do casamento gay. Com isso, o Uruguai se oficializa no posto de país mais liberal da América do Sul – e um dos mais progressistas do mundo. Nas contas oficiais, o mercado da maconha movimenta US$ 30 milhões por ano no Uruguai. Para os apoiadores da nova lei, não se trata de uma mera legalização da erva, que poucos considerariam boa, mas da regulação de um mercado existente, com a intenção de combater uma questão de saúde pública e, sobretudo, as máfias que exploram um vício. “Não são decisões bonitas, mas não queremos deixar os dependentes para o narcotráfico”, disse o presidente Mujica, da Frente Ampla. O governo insistiu que a medida tem como objetivo enfraquecer o tráfico num país onde fumar maconha já é permitido há décadas. Os opositores criticaram uma declaração de Mujica que, em agosto, disse que esse seria um “experimento” e que, se não desse certo, o governo recuaria. “Na verdade, trata-se de ensaiar uma nova solução institucional para um grave problema social”, disse à ISTOÉ Oscar Sarlo, professor da Faculdade de Direito da Universidade da República, de Montevidéu. “Nesse sentido, toda legislação é um ensaio, porque não temos a possibilidade de experimentá-la previamente em animais ou em simulações.” Segundo o professor, o país já usou estratégia parecida na regulação da prostituição e do jogo. Nos dois casos foi bem-sucedido. As novas regras no país vizinho foram recebidas com preocupação pelo governo brasileiro, que espera um aumento no fluxo da maconha na fronteira. Mas, para Ilona Szabó, diretora-executiva do Instituto Igarapé, do Rio de Janeiro, esse temor não é legítimo. “No momento, o grande paradoxo é que a proibição é muito mais permissiva do que a regulação”, afirma. “Hoje, quem quiser comprar drogas o faz sem nenhuma regra, restrição de idade ou controle de qualidade. Portanto, não é provável que as pessoas se desloquem até o Uruguai para comprar maconha.” No México, onde o narcotráfico é combatido principalmente por meio de medidas repressivas, o ministro das Relações Exteriores, José Antonio Meade, criticou o “enfoque unilateral”. A Organização das Nações Unidas (ONU), por meio da Junta Internacional de Fiscalização de Entorpecentes, revelou que o Uruguai desrespeitou leis internacionais das quais é signatário e que a nova legislação “estimula a experiência com a droga mais cedo”. Na tentativa de evitar o turismo da maconha e se tornar uma espécie de Amsterdã latina, o Uruguai limitou o acesso a usuários que comprovadamente residam no país – embora esse processo não esteja livre de fraudes. Desde a semana passada, a procura de estrangeiros por vistos e residência registrou aumento. Na capital holandesa, o consumo de maconha é amplamente tolerado para residentes e turistas em “coffee shops”, estabelecimentos que não estão previstos pela lei uruguaia. A FAVOR - Jovens fazem passeata pela legalização da maconha na frente do Congresso na terça-feira 10, em Montevidéu No Uruguai, onde a insegurança está no topo das preocupações da população, há um temor de que a legalização aumente o consumo da droga e, consequentemente, a incidência de delitos. “Para muitas pessoas, essa é uma relação direta”, disse à ISTOÉ Ignacio Zuasnabar, diretor de opinião pública da consultoria Equipos Mori, de Montevidéu. A pesquisa mais recente do instituto, de setembro, mostra que 61% da população é contrária à lei. De acordo com Zuasnabar, a Igreja Católica, responsável pela fé de quase metade dos uruguaios, tem influência limitada na agenda pública do país. “Na comunicação sobre a nova lei, alguns setores foram desarticulados e o próprio presidente deu declarações ambíguas”, afirmou. O sociólogo disse que a legalização é criticada internamente por dois ângulos opostos. De um lado, por quem entende que ela fomenta a excessiva liberdade para o consumo de drogas. De outro, por quem a vê como uma intromissão do Estado na esfera privada dos cidadãos. Apesar da pressão interna, endossada pela associação que representa os farmacêuticos no país, o Uruguai assumiu a vanguarda de um movimento estudado nos últimos anos por vários países. Nos Estados Unidos, Colorado e Washington foram os primeiros Estados a regular o uso recreativo da maconha em novembro de 2012. Por enquanto, não há estudos confiáveis que revelem o impacto da medida. Encabeçada pelo ex-presidente brasileiro Fernando Henrique Cardoso e pelo ex-secretário-geral da ONU Kofi Annan, a Comissão Global sobre Drogas promove debates internacionais para repensar as políticas públicas do gênero, mas os estudos que relacionam a liberação da droga com o aumento do consumo e a redução da violência ainda são inconclusivos. A venda de maconha em estabelecimentos cadastrados no Uruguai está prevista para começar no segundo semestre de 2014. Será um teste para todos. 9# TECNOLOGIA E MEIO AMBIENTE 18.12.13 9#1 VENTO CONTRA 9#2 AZAR ESPACIAL 9#1 VENTO CONTRA Condenação de empresa de energia por morte de aves nos Estados Unidos levanta novas dúvidas sobre impactos ao meio ambiente provocados por usinas eólicas, inclusive no Brasil Ana Carolina Nunes Em meio às constantes polêmicas em torno da construção das megausinas hidrelétricas na Amazônia, como Belo Monte ou Jirau, a energia eólica, aquela gerada a partir dos ventos, sempre é lembrada como uma alternativa limpa, com pouco ou praticamente nenhum impacto na natureza. O governo brasileiro, assim como muitos países mundo afora, tem investido de forma maciça na ampliação de seus parques eólicos. A estimativa do Ministério das Minas e Energia é de que em dez anos a energia produzida a partir dos ventos responda por quase 10% de toda a matriz energética brasileira. Hoje esse percentual não chega à casa dos 2%. Com o crescimento cada vez maior dos parques eólicos, tanto no Brasil quanto no restante do mundo, um volume cada vez maior de evidências tem mostrado que a geração de energia pelo vento não é tão verde quanto se imaginava. O caso mais recente aconteceu nos Estados Unidos, no mês passado, quando a Justiça americana multou a Duke Energy, responsável por diversas usinas eólicas no meio-oeste do país, por desrespeitar tratados que protegem pássaros migratórios. A companhia recebeu uma pena de US$ 1 milhão por conta da morte de 14 águias douradas – ave ameaçada na América do Norte, assim como outros pássaros, vítimas das gigantescas pás que fazem girar as turbinas. PUNIÇÃO - A Duke Energy foi multada em US$ 1 milhão pela morte de 14 águias douradas, que se chocaram com as torres de geração O problema não é exatamente novo. Nos anos 80, parques eólicos como Altamont Passa, na Califórnia (EUA), Tarifa e Gilbratar, na Espanha, se tornaram notórios pelo alto índice de mortalidade de aves na região e as usinas tiveram de ser desligadas em período de migração para evitar maiores danos. No Brasil, de acordo com a presidente da Associação Brasileira de Energia Eólica (ABEEólica), Elbia Melo, essa é uma questão superada, já que aqui a atividade é recente e os parques já foram instalados considerando-se as novas diretrizes do setor, como torres mais altas (100 metros, contra 30 metros no passado). Segundo ela, o índice de mortes de aves causadas por choque contra turbinas é muito baixo. Contudo, justamente pela história recente do setor no País, ainda seria desconhecido o impacto sobre aves e morcegos dos 140 parques eólicos em operação no Brasil, argumenta Pedro Develey, diretor da Sociedade para a Conservação das Aves do Brasil (Save). “Precisamos de monitoramentos mais eficientes para entender o que acontece de fato”, diz. No Complexo Eólico Corredor do Senandes, no Rio Grande do Sul, existe o temor de que o planejamento não tenha levado em conta toda a diversidade de aves da região. Para o ornitólogo e professor de ecologia da Universidade Federal de Pelotas, Rafael Antunes Dias, os estudos feitos até agora não garantem que os pássaros estarão imunes ao parque eólico, instalado em uma área de 80 mil hectares, onde vivem cerca de 210 espécies de aves, e que começa a operar no início de 2014. “A região é reconhecida internacionalmente pela BirdLife International como uma IBA (Área Importante para a Conservação das Aves, em inglês), por abrigar populações significativas de espécies ameaçadas de extinção”, explica Rafael. “Tem de ter um monitoramento efetivo.” O tempo e os ventos vão dizer se as empresas e os órgãos ambientais brasileiros estão levando em conta os riscos que as usinas eólicas podem representar para o meio ambiente. 9#2 AZAR ESPACIAL Rara falha no lançamento do satélite CBERS-3, construído em conjunto por Brasil e China, deixa o País sem imagens próprias vindas do espaço. Mas a culpa, pelo menos desta vez, não é nossa Lucas Bessel SEM IMAGENS - Com o satélite em órbita, Brasil não precisaria mais comprar fotos da Amazônia Anomalia”, “fato inesperado” e “baita azar”: assim líderes do Programa Espacial Brasileiro e especialistas em engenharia aeroespacial definem a falha no lançamento do satélite CBERS-3, na segunda-feira 9. O aparato, construído em parceria por Brasil e China, até chegou ao espaço, mas não conseguiu manter a órbita após a interrupção precoce na queima do último estágio do foguete Longa Marcha 4B, feito pelos chineses (confira infográfico). As causas do problema ainda são investigadas. O satélite, que faria monitoramento por imagens do território nacional, era um aguardado substituto para o CBERS-2B, que deixou de operar em 2010. Desde então, o Brasil compra de outros países as fotos de que precisa para controlar a atividade agrícola e o desmatamento da Amazônia. Antes desse fracasso, o mesmo tipo de foguete havia feito 19 lançamentos bem-sucedidos, colocando 34 satélites em órbita. O prejuízo financeiro é relativamente fácil de calcular: R$ 160 milhões, correspondentes à parte brasileira do satélite, além de R$ 34 milhões gastos no lançamento. Os pesquisadores temem, no entanto, que a imagem do Programa Espacial Brasileiro seja, mais uma vez, arranhada, justamente quando ele começa a se recuperar da tragédia de Alcântara (MA), em 2003, quando 21 pessoas morreram no acionamento acidental dos motores do foguete VLS (confira quadro). “A perda de uma unidade não é a perda de todo o programa”, diz Petrônio de Souza, diretor de política espacial e investimentos estratégicos da Agência Espacial Brasileira (AEB). “Os investimentos em desenvolvimento tecnológico, infraestrutura e qualificação de pessoal permanecem, mas é claro que, quando algo falha, as pessoas começam a procurar culpados.” O projeto do CBERS, sigla em inglês para satélite sino-brasileiro de recursos terrestres, é considerado o mais importante dentro das ambições espaciais do País. “As câmeras desse satélite são tão avançadas que o Brasil nem sequer tinha a competência para fabricá-las”, diz Carlos Alexandre Wuensche, chefe de gabinete do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe). “Essa tecnologia precisou ser desenvolvida aqui dentro, e é difícil colocar um preço nisso.” O próximo satélite do tipo, o CBERS-4, deve ter lançamento antecipado de 2015 para 2014, segundo a AEB. Em meio à frustração pela perda do CBERS-3, cujo projeto atrasou três anos, os brasileiros encontram consolo no fato de que, durante os minutos em que esteve no espaço, o satélite fez tudo o que deveria fazer. “Ele abriu o painel solar, apontou e calibrou as câmeras”, diz Wuensche, do Inpe. Para Othon Winter, professor da faculdade de engenharia da Unesp e especialista em tecnologia aeroespacial, o fracasso recente serve de recado para que o Brasil invista também em um veículo próprio de lançamento. “Se dominarmos a tecnologia para colocar satélites no espaço, existe um mercado bilionário pronto para ser explorado”, afirma. A decolagem de um novo VLS 100% nacional, no entanto, só deve acontecer em 2016. Isso, é claro, se não dermos azar. 10# CULTURA 18.12.13 10#1 DE EDITORA A ROMANCISTA 10#2 A COPA DE PELÉ 10#3 TOM HANKS É WALT DISNEY 10#4 EM CARTAZ – CINEMA - BELEZA ETERNA 10#5 EM CARTAZ – LIVROS - PRECISAMOS FALAR SOBRE COMIDA 10#6 EM CARTAZ – TEATRO - LOUCOS POR SAPATEADO 10#7 EM CARTAZ – DVD - A VINGANÇA DOS SAMURAIS 10#8 EM CARTAZ – MÚSICA - UM LEQUE SONORO 10#9 EM CARTAZ – AGENDA - CARTAZES/ANTI-NELSON RODRIGUES/FESTIVAL 10#1 DE EDITORA A ROMANCISTA Em "Anel de Vidro", Ana Luisa Escorel trata da crise conjugal dando voz a cada um dos personagens envolvidos Ivan Claudio Ao apresentar “O Pai, a Mãe e a Filha”, primeiro romance da editora e designer Ana Luisa Escorel, a crítica literária Walnice Nogueira Galvão escreveu sobre o relato memorialista centrado na infância da autora: “Será que as aventuras posteriores seriam menos interessantes? Não, com certeza, na pena desta escritora”. Estava correta, mesmo se a obra que agora chega às livrarias não se enquadre no mesmo projeto autobiográfico. “Anel de Vidro” (Ouro Sobre Azul) é uma ficção cuja universalidade libera o leitor de qualquer referência a pessoas ou fatos reais. Que cidade é essa, que já nas primeiras páginas se suspeita ser o Rio de Janeiro, onde a agora romancista paulistana vive e fundou há 12 anos uma das editoras mais criteriosas do País, responsável pela nova obra e pela reedição dos trabalhos de seu pai, o crítico Antonio Candido? Tanto faz, o que importa é a ambiência urbana sufocante, que faz de personagens mergulhados no tédio doméstico e no vai e vem do trabalho seres desgarrados de uma existência plena. E que trabalho é esse de que se ocupam os dois primeiros tipos, anônimos, ela no seu segundo casamento e ele, “marido de uma mulher só”, flagrados num romance corporativo? Deduz-se logo ser do ramo da cultura, e mais, mantido por uma estatal – o que delimita a extração de classe a que pertencem. Ana Luisa, que considera essa a sua estreia, conta que a sua opção pelo tipo de narrativa deu-se pelo interesse geral causado pelo tom memorialista do livro anterior. “Como boa desconfiada, pensei: se conseguir pegar um tema tão absolutamente banal como o casamento e fazer dele algo que tenha interesse talvez possa saber se sei realmente manejar a escrita”, diz. Para enfatizar a relatividade das situações, Ana Luisa dividiu a obra em quatro capítulos e construiu cada um deles segundo o ponto de vista dos personagens envolvidos, incluindo os cônjuges traídos. A autora afasta qualquer ligação com “O Quarteto de Alexandria”, de Lawrence Durrell, atribuindo a possível inspiração ao filme “Rashomon”, de Akira Kurosawa, que conta um crime por meio de vários depoimentos. Um tema, contudo, atravessa todo o livro: a crise masculina. “Por volta dos 40 anos, o homem passa por um enlouquecimento. A mulher não vive essa crise com tanta intensidade. Acho fascinante esse defeito de fabricação.” 10#2 A COPA DE PELÉ IstoÉ revela os bastidores das filmagens de "Pelé",o filme americano de US$ 15 milhões que narra o início da vida do Rei do Futebol Wilson Aquino BOLA DE MEIA - Leonardo Lima, como Pelé aos 10 anos No saguão do “Hotel Tourist”, hóspedes bem-vestidos misturavam-se a jogadores de futebol de agasalho esportivo verde e amarelo, que faziam embaixadinhas e outros malabarismos com uma bola preta de couro. De repente, um tal de Garrincha levanta a pelota com a lateral externa do pé e toca para o lateral direito Djalma Santos, que dá um chute de primeira. A bola passa como um foguete por cima da cabeça dos presentes e sai zunindo porta afora. Os turistas ficam atônitos; os atletas saem em disparada atrás da bola – e, entre eles, um menino pretinho e com topete, que de tão franzino mais parecia ser o mascote do time. O lance aconteceu em 1958, na pequena cidade de Hindas, na Suécia, onde a Seleção Brasileira estava hospedada para disputar a Copa do Mundo daquele ano. Agora, foi reproduzido fielmente no hall do Hotel Quitandinha, em Petrópolis, Região Serrana do Rio de Janeiro, como parte do filme “Pelé”, produção americana escrita e dirigida pelos irmãos Michael e Jeff Zimbalist sobre o início da carreira de Edson Arantes do Nascimento, o garotinho da cena, que a partir daí se despontaria como o Rei do Futebol. Seleção na Suécia em 1958 (no alto, à dir; o craque é o primeiro): das peladas aos gramados internacionais Gravar cenas com bola, o que exigia um mínimo de habilidade dos atores escalados, foi um dos maiores desafios da produção. “Esse cara é um perna-de-pau! Chutou mais de 50 vezes para acertar uma”, zombava a figurante Anna Schlosser, uma senhora de 77 anos e traços europeus, que ganhou R$100 para se passar por hóspede. Ela se referia ao jogador profissional e aspirante a ator Fabiano Bandeira, 29 anos, que interpreta Djalma Santos. Outra cena, dessa vez com o verdadeiro Pelé, também deu trabalho. “O Pelé estava em uma das mesas do hotel tomando café e uma bola acerta a xícara dele. Essa gravação foi repetida mais de 30 vezes porque ninguém acertava o chute”, diz Anna. A Prefeitura do Rio investiu R$ 1 milhão no projeto, liberando locações como o campo do América Futebol Clube, em Nova Iguaçu, na Baixada Fluminense, que se tornou o Estádio Rasunda, de Estocolmo, palco da final da Copa de 1958. Na competição, o Brasil venceu a seleção sueca por 5 a 2, com dois gols do Rei, o último deles após driblar dois adversários na área. Outra cena refeita dezenas de vezes. Orçado em US$ 15 milhões, o filme vai retratar o mito Pelé desde a infância pobre em Bauru, interior paulista, onde o menino jogava bola com laranjas, até o surgimento do craque nos gramados da Suécia. A relação conturbada com o pai, João Ramos do Nascimento, o Dondinho (vivido por Seu Jorge), e a repulsa do jogador pelo apelido que o tornou famoso são abordados. “O filme conta os obstáculos, a dor, os desafios e erros e percalços vividos por esse jovem no seu caminho rumo à glória”, afirmou Michael Zimbalist. Para interpretar Pelé, dois jovens brasileiros foram selecionados entre candidatos do mundo inteiro: Leonardo Lima Carvalho vive o jogador até os 10 anos, época em que era conhecido como Dico; Kevin de Paula ficou com o período entre os 15 e 17 anos. Para viver o “Rei” no cinema, Kevin de Paula ganhou R$ 30 mil de cachê. “Pelé era fisicamente menor e tinha menos experiência de vida do que a maioria dos homens em campo. Um garoto que amadureceu e encontrou seu lugar no mundo mais rápido do que qualquer ser humano que eu consiga imaginar”, afirmou Jeff Zimbalist. Ainda no elenco brasileiro, Rodrigo Santoro foi escalado como um locutor esportivo. Entre os nomes estrangeiros, Vincent D’Onofrio ficou com o papel do técnico Feola e Colm Meaney com o do seu rival sueco George Raynor. Pelé é um dos produtores ao lado de Brian Grazer, de “O Código Da Vinci”. O longa tem estreia prevista nos EUA para 28 de maio de 2014, 15 dias antes do início da Copa do Mundo. As perspectivas são ótimas, pois se os americanos não são o bons no futebol, em cinema são craques. 10#3 TOM HANKS É WALT DISNEY A história de como o criador da Disney conseguiu levar "Mary Poppins" ao cinema mostra por que o mito da babá quase perfeita ainda atrai público, 80 anos depois da sua publicação Ana Weiss Mary Poppins já tinha 30 anos em 1964, quando estreou no cinema. Durante as duas décadas anteriores, Walt Disney, dono da maior fábrica de filmes infantis do mundo, tentou sistematicamente convencer a criadora da babá que viaja de guarda-chuva a ceder os direitos autorais para a produção do musical. O empresário argumentava que se tratava de algo muito mais importante para ele que mais um produto: era uma promessa feita às filhas, leitoras vorazes das aventuras da personagem que se apresentava como “uma pessoa praticamente perfeita”. Disney conseguiu presentear as herdeiras. E ganhou naquele ano mais dólares com “Mary Poppins” do que com recordistas de bilheteria do período como “My Fair Lady” e “A Noviça Rebelde”. A história de como essa história chegou ao cinema é o mote da maior promessa destas férias para o cinema. “Walt nos Bastidores de Mary Poppins”, dirigido por John Lee Hancock, acaba de estrear nos Estados Unidos e chega em fevereiro ao Brasil. Traz Tom Hanks no papel do criador dos estúdios Disney e Emma Thompson na pele (e tailleurs) da intransigente e áspera P.L. Travers, autora dos livros sobre a empregada voadora, seu amigo limpador de chaminés e a desfuncional família Banks. Para além da atualidade do tema – pais ausentes, filhos infelizes –, Mary Poppins chega aos 50 anos de filme (e 80 de vida, já que o primeiro livro saiu em 1934) com a vivacidade de quem ainda pode arrebatar prêmios e novos fãs graças à originalidade de sua composição. Uma das missões do novo filme parece ser mostrar justamente a batalha de anos entre a escritora e o entertainer – dois ícones em suas áreas de atuação – como espuma criativa para o filme de 1964, que reúne a teatralidade verbal exigida pela escritora e a embalagem fantasiosa dos produtores – não por acaso, o filme atraiu Emma Thompson, uma das maiores representantes do teatro shakespeariano no cinema e cocriadora de uma outra babá com reconhecimento internacional, Nanny McPhee. SEDUTORES - Os irmãos e compositores Richard e Robert Sherman, autores da trilha sonora que valeu a “Mary Poppins” dois Oscar (melhor trilha e melhor canção original por “Chim-Chim-Cheree”), são homenageados no filme. Eles convenciam autores relutantes em ceder os direitos às suas histórias criando canções irresistíveis para seus personagens E, como não poderia deixar de ser, muita música boa. Richard Scherman, que ao lado do irmão Robert criou as grandes trilhas musicais da Disney, é consultor musical e personagem do filme e o processo criativo da dupla lendária é possivelmente um dos maiores tesouros da produção. Entre os extras da edição comemorativa do musical de 1964, em blu-ray, cenas de Scherman dirigindo seu intérprete mostram que o trabalho dentro dos estúdios Disney nos anos 1960 não era para os fracos. Apesar da empáfia intelectual do retrato de Ms. Travers, a verdade é que, como atriz, autora de livros adultos e professora de estudos celtas, a única obra que lhe rendeu reconhecimento foi mesmo “Mary Poppins”, redação produzida para se distrair da recuperação de um acidente e que, no final das contas (seis livros, um filme e um musical), a sustentou até morrer, em 1996. A biografia “Mary Poppins, She Wrote – The Life of P.L. Travers”, que volta agora aos sites de venda de livros na esteira do aniversário, conta que Travers rejeitava a ideia de escrever para crianças e que só o fez graças à insistência dos amigos diante do enredo fantasioso e comovente e de seu potencial comercial. O título original do novo filme dá pistas do quanto de redenção existe dentro da narrativa aparentemente lúdica de “Mary Poppins”. “Saving Mr. Banks” sugere que a missão babá, na ficção de Travers, não era salvar as crianças da ausência paterna, mas sim o pai, desconectado da família pelo trabalho no banco (o mesmo emprego do pai da autora na vida real). E assim, o filme também redime a intratável e rabugenta Ms. Travers, de quem, segundo o jornal “The New York Times”, nem sua biógrafa gostava. 10#4 EM CARTAZ – CINEMA - BELEZA ETERNA por Ivan Claudio O diretor italiano Paolo Sorrentino realizou uma espécie de “A Doce Vida” (clássico de Federico Fellini) em “A Grande Beleza”, seu filme mais recente, que estreia na sexta-feira 20. Passado em Roma, centra-se na trajetória do jornalista Jep Gambardella (Toni Servillo), autor de um único grande sucesso literário na juventude, que vive da fama entre a elite artística e social da cidade. Ao comemorar os 65 anos, ele embarca numa jornada pessoal, tentando reaver os bons tempos do passado. Sai em busca da “grande beleza” de que fala o título. Sucesso na Itália e ovacionado na edição mais recente do Festival de Cannes, o filme prova que o cineasta napolitano, autor de ótimos títulos, como “O Divo” e “Aqui É o Meu Lugar”, é o nome quente do chamado “risorgimento” do cinema italiano. +5 filmes passados em Roma A DOCE VIDA (FOTO) Marcello Mastroianni é um paparazzo às voltas com o hedonismo da elite romana. Uma das obras-primas de Federico Fellini O ECLIPSE O relacionamento entre um operador da bolsa e uma tradutora, que rompeu com o amante. De Michelangelo Antonioni MAMMA ROMA Ex-prostituta passa a viver com o filho adolescente. Clássico de Pier Paolo Pasolini ASSÉDIO Um pianista apaixona-se por sua empregada africana. A história de Bernardo Bertolucci passa-se num casarão na Piazza di Spagna HABEMUS PAPAM Papa desiste do cargo e vaga pelas ruas de Roma. O diretor Nanni Moretti filmou as dependências do Vaticano no Palazzo Farnese 10#5 EM CARTAZ – LIVROS - PRECISAMOS FALAR SOBRE COMIDA por Ivan Claudio “Grande Irmão” (Intrínseca), novo livro de Lionel Shriver, trata de um problema global mais alastrado que a psicopatia infantojuvenil descrita em seu romance anterior, “Precisamos Falar Sobre o Kevin”. Agora, o assunto é a compulsão alimentar, vetor de uma patologia que se torna familiar e social, na narrativa lenta e crua da autora. Ela perdeu um irmão no ano passado em decorrência da obesidade, mas garante que a nova obra é, sim, de ficção. 10#6 EM CARTAZ – TEATRO - LOUCOS POR SAPATEADO por Ivan Claudio Há 20 anos a atriz Claudia Raia assistiu pela primeira vez ao musical “Crazy for You” em sua casa natal, a Broadway. Nunca tirou da cabeça a vontade de montar o espetáculo com músicas de George Gershwin. Sob a direção de José Possi Neto, ela interpreta Polly, filha do dono de um teatro no Oeste americano e par romântico de Bobby Chil, um playboy nova-iorquino vivido por Jarbas Homem de Mello. A peça teve as canções traduzidas por Miguel Falabella e a coreografia premiada de Susan Stroman, preservada. A versão brasileira, em cartaz no Complexo Ohtake Cultural, em São Paulo, até fevereiro do ano que vem, reveza no palco mais de 130 figurinos. 10#7 EM CARTAZ – DVD - A VINGANÇA DOS SAMURAIS por Ivan Claudio A saga “Os 47 Ronins” é considerada uma lenda nacional no Japão. Conta como, no século XVIII, um bando de fiéis samurais decide vingar a morte de seu senhor, obrigado a cometer harakiri após desavenças com um poderoso mestre de cerimônias. A história, que já foi levada às telas por importantes cineastas japoneses, ganhou versão americana com Keanu Reeves no papel principal e tem estreia prevista para janeiro. Antes disso, está sendo lançada a caixa de DVDs com as três melhores adaptações do épico samurai. Elas são assinadas por Kenji Mizoguchi, Kunio Watanabe e Hiroshi Inagaki. 10#8 EM CARTAZ – MÚSICA - UM LEQUE SONORO por Ivan Claudio No CD “Atento aos Sinais”, o cantor Ney Matogrosso cobre um vasto leque da MPB: grava de Paulinho da Viola e Itamar Assumpção aos novíssimos Criolo e Tono, passando por Arnaldo Antunes, Lenine e Vitor Ramil, entre outros. São músicas de épocas e estilos diversos, mas Matogrosso se apropria delas com tal entrega e sentido de unidade que é como se tivessem saído de uma mesma assinatura. Créditos para a ótima direção musical de Sacha Amback, que costura os arranjos com o uso ostensivo de metais. Isso nada seria sem a qualidade da interpretação de Matogrosso, que, ao imprimir a sua marca, pratica um outro tipo de autoria musical. 10#9 EM CARTAZ – AGENDA - CARTAZES/ANTI-NELSON RODRIGUES/FESTIVAL Conheça os destaques da semana por Ivan Claudio CARTAZES (Caixa Cultural, Rio de Janeiro, até 19/1/2014) Mostra da coleção de cartazes do designer Rico Lins, que inclui a série sobre os 200 anos da Revolução Francesa ANTI-NELSON RODRIGUES (Teatro de Arena, São Paulo, até 19/12) O Grupo Tapa faz a primeira encenação da peça de Nelson Rodrigues desde a sua estreia, em 1973. É uma espécie de súmula de suas obsessões FESTIVAL (Cinesesc, São Paulo, até 2/1/2014) A Retrospec­tiva BR 2013 oferece uma segunda chance para se ver os filmes brasileiros lançados durante o ano, num total de 111 títulos 11# A SEMANA 18.12.13 por Antonio Carlos Prado e Elaine Ortiz "O QUE HÁ POR TRÁS DESSE APERTO DE MÃOS" Um aperto de mãos surpreendeu o mundo político e diplomático na África do Sul nas homenagens póstumas ao líder Nelson Mandela – as mãos que se encontraram são a do presidente democrata dos EUA, Barack Obama, e a do comunista cubano, Raúl Castro. EUA e Cuba estão rompidos diplomaticamente há 52 anos. O cumprimento foi, no entanto, mais que um gesto protocolar e improvisado. Por intermédio de emissários de ambos os lados, os dois países já vêm conversando há tempo e ensaiam nos bastidores uma aproximação que ainda tem como maior nó a questão dos direitos humanos. Castro mantém presos políticos, entre eles o americano Alan Gross, acusado de espionagem. Para libertá-lo, exige que Obama repatrie dissidentes cubanos que fugiram para os EUA em busca de liberdade – e é claro que ele jamais terá isso. Não é à toa, assim, que logo após o cumprimento Obama tenha declarado que “há países que se dizem dispostos a mudar, mas não cedem em questões elementares”. O recado foi para o cumprimentado. "DÍVIDAS SÃO O MOTIVO DA MORTE DE FAMÍLIA BRASILEIRA NOS EUA?" A polícia dos EUA não esclarecera até a sexta-feira 13 as circunstâncias da morte de uma família brasileira encontrada no interior de um carro na garagem do condomínio de luxo onde morava em Orlando. Marcio Ferraz do Amaral e Cledione Ferraz do Amaral, e a filha do casal, Wendy Ferraz do Amaral, 10 anos, moravam de aluguel nesse local havia cinco anos e foram descobertos sem vida pelo proprietário da casa. Marcio era piloto de avião e estava desempregado havia alguns meses; Cledione trabalhava em um parque da Disney. Estavam com dívidas. A polícia considera a hipótese de duplo homicídio seguido de suicídio. "PLANOS DE SAÚDE COBRIRÃO TESTES GENÉTICOS DE CÂNCER" O câncer está menos sob controle da medicina do que a própria ciência vinha imaginando. A OMS alertou na semana passada que o índice de óbitos por câncer subiu 8% em todo o mundo nos últimos quatro anos – isso equivale a 8,2 milhões de mortes. O câncer de mama, por exemplo, teve um aumento de casos fatais na casa dos 14%. Agora duas boas notícias: no Brasil os planos de saúde terão de cobrir exames genéticos, e um deles é o que analisa os genes BRCA 1 e 2, responsáveis justamente pelo câncer de mama; e o número de fumantes (o cigarro é fator cancerígeno) caiu 20% no País nos últimos seis anos, segundo a Unifesp. "AGENTE SECRETO SE INFILTRA EM VIDEOGAME" Agentes de carne e osso da Agência de Segurança Americana foram infiltrados em comunidades de jogos online como “World of Warcraft” e “Second Life”. Esse é o mais novo truque de espionagem revelado na semana passada pelo ex-analista da agência Edward Snowden. Os espiões agiram assim porque temiam que terroristas pensassem nisso antes deles. Também na semana passada oito gigantes da tecnologia nos EUA (Google, Apple, Microsoft, Yahoo!, Facebook, Twitter, LinkedIn e AOL) cobraram a revisão dos sistemas de coleta de dados na rede, uma vez que cerca de US$ 180 bilhões podem ser perdidos até 2016 (não mandados às nuvens via internet) devido ao chamado “efeito Snowden”. "560 " novas vagas para os cursos de graduação em medicina serão criadas em sete universidades federais do Brasil – a maioria delas será destinada ao Maranhão e a Minas Gerais. A medida integra o programa Mais Médicos que prevê a criação de 11.447 vagas até 2017. "ESTAÇÃO DE CHUVA E TRAGÉDIA" Chuvas começaram a castigar na semana passada alguns Estados brasileiros. O mais atingido foi o Rio de Janeiro, que até o dia 12, segundo a Defesa Civil, contabilizava quatro mortos e pelo menos seis mil desabrigados. Na Baixada Fluminense os municípios de Japeri e Nova Iguaçu foram os mais atingidos. Em meio às enchentes e ao tráfego completamente imobilizado (trens e metrô pararam), assistiram-se a cenas de vandalismo, roubos e saques. A presidenta Dilma Rousseff ofereceu a imediata ajuda da União na assistência aos desabrigados e na contenção dos arrastões promovidos por marginais. A Secretaria Nacional de Defesa Civil liberou R$ 4 milhões para auxílio humanitário. Também em Minas Gerais houve tempestades, sobretudo nas cidades de Belo Horizonte e Contagem. E na Bahia a tragédia se deu no município de Lajedinho: as enchentes mataram 20 pessoas e pelo menos outras mil perderam suas casas – entre elas o próprio prefeito da cidade, Antonio Mário Lima, que decretou estado de emergência. "UM ROBÔ PARA SER NOSSO HERÓI" Superar os limites físicos do corpo humano ainda é um sonho perseguido por pesquisadores de todo o mundo. Se existisse, por exemplo, um “ser” extremamente parecido com o homem, mas infalível no resgate de pessoas em incêndios, na localização de sobreviventes de tragédias naturais e em viagens ao espaço? Esse “ser” já existe. Trata-se do R5 Valkyrie, um novo robô desenvolvido pela Nasa. A expectativa é de que ele seja o primeiro humanoide a pisar em Marte. "QUASE METADE DOS ASSALTOS É COM ARMA DE BRINQUEDO " O Estatuto do Desarmamento está completando uma década no Brasil. O Instituto Sou da Paz apresentou na semana passada os seguintes números: 80% das armas apreendidas em roubos são de fabricação nacional, sendo que 57% delas foram produzidas antes de 2003. O mais surpreendente: 41% das armas são de brinquedo, mas extremamente similares às de verdade (assaltar com arma de brinquedo também é crime). ESQUECERAM O PASSAGEIRO DORMINDO NO AVIÃO" Há quem durma em voos porque sente muito medo de avião, toma tranquilizante e cai no sono. Mas há também quem durma porque vai relaxado e não sente medo algum. Ainda não se sabe em qual dos casos se encaixa a história do americano Tom Wagner. A aeronave da United Airlines em que ele viajava chegou ao seu destino final: Louisiana. Mas nenhum passageiro e ninguém da tripulação acordou Wagner, que dormia tranquilamente. Quando ele despertou, viu que estava sozinho no avião, no escuro e trancado. Pegou o celular e ligou para namorada, que então acionou a empresa aérea. Depois de meia hora as portas foram abertas e um espreguiçante passageiro pôde sair. "DELETADO E EXECUTADO" O ditador da Coreia do Norte, Kim Jong-un, seguiu à risca os ensinamentos stalinistas de banir dos documentos oficiais a imagem daqueles que se tornam voz discordante. E, se for preciso, matá-los. Kim deletou o seu tio e mentor Jang Song-Thaek das cenas nas quais ele aparecia em um documentário oficial (fotos). Depois ordenou sua execução sob a acusação de corrupção e de “se entregar a prazeres do capitalismo”. O tribunal que condenou Jang, é claro, é totalmente dominado pela cúpula governista do país. Também é claro que o “crime” do executado foi discordar do ditador. "VAI TER NOVO DECOTE!" O Irã não gosta muito de futebol. Gosta menos ainda de mulher bonita. Na transmissão do sorteio das chaves da Copa o governo iraniano mandou cortar as imagens nas quais a brasileiríssima (agradecemos a Deus) Fernanda Lima aparece com um deslumbrante e profundo decote. Azar o deles. Já a Fifa gostou de Fernanda e na semana passada deu prova disso: convidou-a para apresentar em janeiro, na Suíça, a premiação do melhor jogador do mundo. Vai ter novo decote! "O MAIOR FRIO DO MUNDO" Foi divulgado na semana passada o recorde de temperatura negativa na Antártida e, consequentemente, no mundo: 93,2 graus Celsius negativos. Esse fenômeno ocorreu em 2010, na Cordilheira do Domo Fuji, mas somente agora os estudos sobre ele foram concluídos pelo Instituto de Geofísica dos EUA. Em julho de 2013 o congelamento da Antártida foi de 93 graus negativos. Passou perto do recorde. ""TIME" ELEGE FRANCISCO A "PERSONALIDADE DO ANO"" O papa Francisco foi eleito a “personalidade do ano” pela revista “Time”. Diz a publicação: “Poucas vezes um novo ator do cenário mundial captou tanta atenção de maneira tão rápida – de jovens e velhos, crentes e céticos – como fez Francisco.” Ele concorreu, entre outros, com Bashar al-Assad (ditador Sírio), Miley Cyrus (cantora) e Barack Obama (presidente dos EUA). No ano passado, e pela segunda vez, foi Obama quem levou o título. A “Time” chama Francisco de “o papa do povo”. "CRIADOR DE SILICONE PARA SEIOS É CONDENADO " Estima-se que em todo o mundo 300 mil mulheres tenham se valido do silicone de marca Poly Implant Prothèse (PIP) em cirurgias de aumento dos seios. Na semana passada, o fundador dessa marca, Jean-Claude Mas, foi condenado na França a quatro anos de prisão. Motivo: ter sonegado a informação de que seu produto poderia sofrer ruptura com facilidade. Desde 2010 as autoridades francesas recomendam que as portadoras da PIP revertam seus implantes. Calcula-se que 25 mil brasileiras portem prótese dessa marca. "GASOLINA LIMPA EM 2014" Notícia animadora, benefício duplo. A partir de janeiro a gasolina produzida no Brasil terá menos enxofre e, como consequência, será mais limpa. Resultado: menor emissão de gases poluentes e maior durabilidade das peças dos veículos, já que a mudança reduz a concentração de impurezas nos componentes. Cor rosada é a pista para verificar se o combustível a ser comprando já é o limpo. "2,3 MILHÕES" de patentes foram solicitadas este ano em todo o mundo. Equivale a um aumento de 9,2% em relação a 2012. A China é o país que mais solicitou patentes e registros internacionais: cadastrou 560 mil inovações, 100 vezes mais que o Brasil. Está à frente dos EUA e o Japão. Os dados são da Organização Mundial de Propriedade Intelectual. "A GENERALA DOS MOTORES" A General Motors existe há 102 anos nos EUA. Pela primeira vez em sua história será comandada por uma mulher: a executiva Mary Barra, 51 anos, mãe de dois filhos e assídua frequentadora do ranking feito pela “Forbes” das 100 mulheres mais poderosas do mundo. Mary está na empresa desde 1980 e começou a trabalhar como estagiária quando tinha 18 anos, para pagar a faculdade de engenharia elétrica. Sobre a mesa de trabalho da nova CEO da GM há a miniatura de um busto: o de Albert Einstein. "VICE-GOVERNADOR DO RIO PEDE VERBA CONTRA ENCHENTE" Depois de o secretário de Defesa Civil e comandante-geral do Corpo de Bombeiros do Rio de Janeiro, coronel Sérgio Simões, ter confirmado que a Secretaria Nacional de Defesa Civil liberou R$ 4 milhões para a assistência humanitária no Estado a fim de assistir os atingidos pelas fortes chuvas de quarta-feira, ficou acertada nesta sexta-feira a ida do vice-governador Luiz Fernando Pezão a Brasília no começo da próxima semana. Pezão irá se reunir com a ministra-chefe da casa civil, Gleisi Hoffman, para discutir a liberação de mais verbas para o Estado. A informação foi confirmada nesta sexta-feira pelo governador Sérgio Cabral, em reunião com os prefeitos da Baixada Fluminense e com o ministro da Integração Nacional, Francisco Teixeira.