0# CAPA 17.12.14 ISTOÉ Edição 2351 | 17 Dez. 2014 [descrição da imagem: foto do rosto de uma jovem, usando óculos escuros, onde se vê, em uma das lentes a imagem do Big Ben de Londres, e na outra lente a estátua da liberdade de Nova York. A jovem está sorrindo] FÉRIAS Por que os brasileiros estão preferindo viajar ao exterior _______________________ 1# EDITORIAL 2# ENTREVISTA 3# COLUNISTAS 4# BRASIL 5# COMPORTAMENTO 6# MEDICINA E BEM-ESTAR 7# ECONOMIA E NEGÓCIOS 8# MUNDO 9# TECNOLOGIA E MEIO AMBIENTE 10# CULTURA 11# A SEMANA _____________________________ 1# EDITORIAL 17.12.14 "A INDIGNAÇÃO DA JUSTIÇA" Carlos José Marques, diretor editoria A comunidade jurídica brasileira está alarmada com a corrupção. Em várias declarações e gestos, durante a semana passada, foi possível notar o tamanho do estarrecimento que tomou conta dos senhores da lei diante do que viram. O ministro que comandava a Controladoria-Geral da União, Jorge Hage, talvez se sentindo impotente diante da monumental tarefa de combater a avalanche de desvios, resolveu pedir demissão, aproveitando para deixar um claro alerta. No seu entender, as estatais estão “fora do alcance” dos mecanismos de controle, avaliadas por auditorias “burocráticas” e, portanto, à mercê de esquemas bilionários de assalto ao dinheiro público. Hage admitiu abertamente que a CGU se encontra sem recursos físicos e financeiros para cumprir o papel de fiscal da administração pública. O governo, que alardeia aos quatro cantos seu empenho no combate à corrupção, reduziu o orçamento de custeio da CGU e eliminou cerca de 300 postos de auditores nos últimos anos. Descontroladas, as estatais se converteram em verdadeiras caixas-pretas. Na voz do procurador-geral da República, Rodrigo Janot, veio o discurso mais inflamado e crítico contra a situação. Referindo-se à Petrobras, que puxa o bonde das investigações mais recentes, disse que o escândalo “convulsiona” o País e gera “chagas que corroem a probidade e as riquezas da Nação”. Pedindo a substituição da diretoria, Janot falou em “gestão desastrosa”. Despertou a ira da presidente Dilma, que, através do ministro da Justiça, Eduardo Cardozo, dobrou a aposta na atual equipe da estatal. É um risco para o próprio governo se mostrar surdo aos apelos da Justiça. O festival de descalabros de recursos alcançou, segundo as investigações, os caixas de campanha da base aliada oficial, via contribuições de origem duvidosa ou legais. E nessa ponta do novelo pode perseguir incessantemente o segundo mandato da presidente, comprometendo sua gestão. O ministro do Supremo Tribunal Federal, Gilmar Mendes, encontrou o que chamou de “fortes indícios de doações acima do teto legal” e, dadas as falhas nas prestações de gastos, o STF aprovou, com ressalvas, as contas de campanha de Dilma. O presidente do TSE, Antonio Dias Toffoli, se disse por sua vez “chocado” com os custos de campanha. São tantas e tão variadas as vozes da Justiça levantando-se contra as transgressões que dá até para sonhar com o desdobramento ideal das apurações, no qual a lei será efetivamente cumprida e todos – todos! – os culpados condenados. ___________________________________________ 2# ENTREVISTA 17.12.14 CESAR CIELO - "É UM MOMENTO HISTÓRICO DA NATAÇÃO DO BRASIL" O maior nadador brasileiro diz que os atletas estão fazendo a parte deles dentro da piscina, mas falta estrutura para o esporte no País por Rodrigo Cardoso Auge - "Treino mais forte, hoje, do que quando tinha 21, 22 anos", diz ele Medalhista olímpico e recordista mundial das duas provas mais badaladas da natação (50 m e 100 m livre), o paulista Cesar Cielo retornou recentemente do Campeonato Mundial em piscina curta, em Doha, no Catar, com três medalhas de ouro e duas de bronze. No ano que vem, no Mundial de Esportes Aquáticos, na Rússia, cairá na água para tentar um feito incrível: o tetracampeonato na prova mais veloz da modalidade, os 50 m livre. Dono de um retrospecto individual sem comparação no Brasil, Cielo está feliz como nunca com o trabalho coletivo da equipe de natação nacional. "Anos atrás houve um boom de molecada que passou a jogar tênis por causa do Guga. Hoje, a coisa se perdeu" Em Doha, o time brasileiro conquistou dez medalhas, cravou dois recordes mundiais, outros dois do campeonato e 22 sul-americanos e, fato inédito, terminou o mundial na primeira colocação geral. Aos 27 anos, o experiente Cielo sabe que, resultados à parte, a administração da modalidade no Brasil está longe de acompanhar o desempenho dos nadadores dentro da piscina. Falta melhorar a estrutura para os atletas, avançar na organização de campeonatos com mais qualidade e afinar a relação entre atletas e patrocinadores. O maior nadador da história do Brasil – que pensa em estender a carreira para além da Olimpíada de 2016 – diz que está disposto a ajudar a construir um futuro ainda mais brilhante para a natação brasileira. "Tirando eu e o Thiago Pereira, que temos bons patrocínios, há atletas de seleção fechando contratos que não são tão bons porque isso é melhor que nada" Istoé - Qual sentimento motivou aquele choro no pódio do Mundial de Doha, quando você recebeu a medalha de ouro? Cesar Cielo - O que passou na minha cabeça dessa vez, para ser sincero, não foi a superação ou os problemas que enfrentamos no dia a dia para chegar ali. Mas o fato de eu ter conseguido (vencer) de novo. Manter-se no topo depois de um certo tempo é uma das coisas mais difíceis do esporte. Porque a gente começa do zero sempre ao fim de cada temporada. Do zero mesmo! Temos de passar por todo aquele processo de queimar gordura acumulada nas férias, encarar treino de velocidade, potência, explosão. Eu venho fazendo isso desde 2001/2002 e, em alto nível mundial, desde 2006/2007. E a gente vê novas gerações, uma turma nova, talentos aparecendo. Então, cheguei a me questionar: “Será que vou conseguir ganhar mais uma vez, me manter no topo?” A minha preparação para o Mundial de Doha foi uma das melhores que já fiz na minha carreira inteira. Deixei de fazer coisas que faria antigamente aos sábados, como comer uma sobremesa que gosto e pegar uma sessão de cinema que iria até às duas horas da manhã, por causa da preparação. Fui para o Mundial de Doha como se fosse o último da minha vida. Istoé - Esse resultado coletivo pode impulsionar mudanças na estrutura da natação no País? Cesar Cielo - Eu espero que sim. Agora, acreditar, por mais que eu queira... Bom, a nossa parte, dentro da piscina, estamos fazendo. Dentro do que posso fazer, tenho feito. O restante é problema político que vai além do nosso esforço. Esse momento é histórico, é o melhor momento da natação brasileira. O Mundial não tem o glamour de uma olimpíada, mas nunca fomos campeões do mundo como país. E acho que o Brasil não tem tanto esporte nesse nível para se dar ao luxo de pensar: “É só natação, deixa passar, não é tão importante, não”. No nosso país, as vitórias não vêm com tanta constância. É a melhor fase da natação do Brasil. Somos o país do futebol, não tem jeito. Não sei o quanto vamos poder colocar a natação na rotina, na cabeça do brasileiro. Em momento nenhum a gente quer ser campeão para ser conhecido – digo isso também porque essa história de querer ser notório, receber likes, virou uma febre. Na verdade, a gente quer ser reconhecido. Falo isso para os caras (nadadores) daqui do Minas Tênis clube. Istoé - Por que o mercado e muitos brasileiros ainda não enxergam a natação como motivo de orgulho? Cesar Cielo - Anos atrás houve um boom de molecada que passou a jogar tênis por causa do Guga. Hoje, a coisa se perdeu. É uma questão mais política do que estrutural, talvez. A gente vê a arquibancada do Maria Lenk (parque aquático no Rio), por exemplo, quase vazia ou recheada em sua maioria por pais e amigos dos atletas. Nós, eu, o Thiago e outros, sabemos nadar. O esforço que for preciso para ajudar a natação, a gente faz. Mas chega um momento em que se depende mais da ala política do que da esportiva. Mesmo com campeões mundiais e olímpicos, não dá para deixar a coisa acontecer só por osmose. Tem de se fazer algo para divulgar essa imagem adiante. Não dá para esperar o pessoal se ligar no que está ocorrendo e curtir a gente. É um problema de gestão mesmo. Por outro lado, a gente gostaria que as pessoas entendessem que um atleta campeão mundial não é um artista de tevê. A gente não é celebridade. Nós temos essa dificuldade no trato com patrocinadores muitas vezes. Não se pode esperar do atleta o mesmo retorno de uma celebridade. Istoé - Quais as principais dificuldades que os atletas de natação brasileira encontram? Cesar Cielo - A maior é a financeira. Hoje, tirando eu e o Thiago que temos bons patrocínios, há atletas de seleção fechando contratos que não são tão bons porque isso é melhor que nada. Enfim, enquanto se fala em profissionalização, há muito atleta no dia a dia com dificuldade de pagar as contas do mês vivendo apenas como nadador. E faltam mais competições nacionais de alto nível. O que funciona bem nos Estados Unidos é o sistema de Grand Prix. Tudo é organizadinho, com o horário certo. Falta isso aqui. Temos apenas três competições por ano nas quais vale a pena participar: Maria Lenk, Troféu José Finkel e Open de Natação. É muito pouco. Quem não está na seleção não compete lá fora e fica basicamente preso a essas três e a alguns campeonatos estaduais com nível menor. Ou seja, tem atleta que compete três, quatro vezes por ano só. É muito pouco. Istoé - Em 2016, você estará com 29 anos. Qual o peso que a idade tem para um nadador como você? Cesar Cielo - O Gary Hall foi campeão olímpico dos 50 m, em Atenas-2004, aos 29 anos. O que vale é estar disposto a passar novamente pelo treinamento, pela disciplina, rotina, mais do que a idade. A parte mental, então, conta mais. Fisicamente falando, é só saber respeitar o seu corpo. A idade não tem peso para mim. Digo a você que venho treinando com cada vez mais intensidade a cada ano. Eu treino mais forte, hoje, do que quando tinha 21, 22 anos. E o meu corpo continua suportando. Não sei quanto tempo a minha carreira de atleta poderá durar. Enquanto eu estiver competitivo e tiver confiança de que vou ganhar, vou continuar. Quero olhar para trás, quando parar de nadar, e não ter nenhum remorso. Istoé - Considera-se um atleta mentalmente forte? Cesar Cielo - Sou um cara que consegue deixar as coisas boas e ruins para trás com facilidade. Istoé - No que a acusação de doping e o julgamento no qual foi inocentado o fortaleceram? Cesar Cielo - Sinceramente o (episódio do) doping não me fez mais forte em nada. O que tirei desse episódio foi a certeza de que gosto do que faço. Numa situação extrema, vi que não era aquilo que iria me tirar do foco. Mancha na minha carreira? Em relação ao público, não sei o que as pessoas pensam. Mas, na minha cabeça, sei que não fiz nada de errado. Istoé - Ainda tem costume de escrever em papéis, antes das provas, o tempo que irá cravar nelas? Cesar Cielo - Sim. Em Doha, não bati os tempos que havia escrito. Nos 50 m livre, errei 30 centésimos e nos 100 m, mais ou menos, meio segundo. Sempre fui muito exigente comigo. Fico satisfeito quando faço o meu melhor, mais do que ser campeão em si. A medalha de bronze em Pequim foi a mais importante na minha carreira até hoje. Não fosse ela, nada na minha vida teria acontecido. Istoé - Quais programas você faz quando não está trabalhando? Cesar Cielo - Vou a restaurantes, cinemas. Estou namorando faz dois anos e meio. Quando começamos, disse a ela (a modelo Kelly Gisch) para esquecer feriado a dois enquanto eu estivesse treinando ou competindo. A alimentação teria de ser controlada como a minha, não podia sair da dieta e comer comidas naturebas comigo (risos). Essa parceria ajuda muito. Engraçado que o meu técnico, durante a temporada, deixa a barba crescer. Quando chegamos à competição e eu vou rapar os pelos do corpo, ele raspa a barba também. Diz que é para entrar na competição mentalmente raspado. Parece bobo, mas é bacana esse tipo de relacionamento, essa divisão de responsabilidades. Istoé - Você passou por uma cirurgia delicada nos dois joelhos logo após a Olimpíada de Londres. Temeu pela continuação da carreira em alto nível? Cesar Cielo - Demorou uns 13, 14 meses para eu sentir que poderia colocar força neles novamente, para deixar de sentir dor. Mesmo assim, dez meses depois da cirurgia, fui campeão mundial em Barcelona. Eu me questionava se iria conseguir nadar novamente no nível de antigamente. Foi um ano difícil. Istoé - Já imagina em qual prova, na Olimpíada de 2016, irá se sair melhor? Cesar Cielo - Nos 50 m livre. A prova de 100 m estou tentando focar mais no revezamento. O nosso time tem tudo para subir no pódio. Se será a minha última Olimpíada em 2016? Vai depender dos meus resultados, da minha motivação pós-Jogos. Mas, se eu sentir que dá para ir um pouquinho mais adiante com a carreira, irei. ________________________________________ 3# COLUNISTAS 17.12.14 3#1 RICARDO BOECHAT 3#2 LEONARDO ATTUCH - OS OBSTÁCULOS DE DILMA 3#3 PAULO LIMA - FUTURO DO PRESENTE 3#4 GISELE VITÓRIA 3#5 RICARDO ARNT - O ENLACE DA PONTE AÉREA 3#6 BRASIL CONFIDENCIAL 3#1 RICARDO BOECHAT Com Ronaldo Herdy Tempo de presentes A folha de pagamentos de salários do Tribunal Superior Eleitoral mês a mês surpreende. Os contracheques pagos pela Corte superam com folga aos de milhões de trabalhadores da iniciativa privada. Os exemplos são muitos. Lotado no Gabinete de Coordenação de Auditoria, Juarez Machado Jr. ganhou R$ 25.598,72 em novembro como “vantagens eventuais” (horas extras e 13º salário), fora a remuneração fixa. É mais do que o dobro do embolsado na mesma rubrica pelo presidente do TSE, ministro Dias Toffoli (R$ 13.258,05). Para quem trabalha ali, o Natal tem outra dimensão. Churrasquinho de processo Doze anos depois, o TST começará a julgar ações restauradas do incêndio do prédio onde funcionava o TRT no Rio de Janeiro. À época, 35 mil processos viraram cinzas. Na quarta-feira 17, o ministro Maurício Godinho decidirá um caso controverso. Júlio Costa perdeu R$ 1 milhão que ganhara contra a Cedae, estatal fluminense de água e esgoto. Sentença reformada pela 1ª Turma do TRT, sem que cópia do recurso incendiado tivesse vindo aos autos. A desembargadora Mery Bucker relatou baseada em voto vista guardado em backup de seu computador pessoal. Brasil Três em um A Comissão de Ética Pública da Presidência da República examinará nesta segunda-feira 15 os processos de Paulo Roberto Costa, Nestor Cerveró e Renato Duque, os três ex-diretores da Petrobrás enrolados nas investigações da Lava Jato. A complexidade dos casos e o exame de informações pedidas ao juiz Sérgio Mouro provocarão muitos debates. A tal ponto que já se agendou uma outra reunião, logo para o início de 2015: 30 de janeiro, no Palácio do Planalto. Política Banho-Maria Padrinho da indicação de Sergio Gabrielli para presidir a Petrobrás no Governo Lula, Jaques Wagner sofre os efeitos de seu ato. O Palácio do Planalto estaria aguardando os desdobramentos da Operação Lava Jato para se certificar de que as investigações não atingirão o governador da Bahia, cotado para um lugar de destaque na administração federal, no segundo mandato de Dilma Rousseff. A presidente acredita em Gabrielli. Mas não quer ministro parando de cuidar do dia-a-dia de uma Pasta para dar explicações por algo feito sem o seu conhecimento – e aval. Entidade de classe Efeito Petrobrás A operação Lava Jato está provocando baixas na nova diretoria do Sindicato das Indústrias da Construção e Reparação Naval e Offshore. Está de saída Gerson Almada, presidente da Engevix e Ecovix, escolhido delegado representante três dias antes de ser preso pela Polícia Federal. Também pediu para sair o primeiro vice presidente, Augusto Mendonça, da Toyo Setal, um dos signatários da delação premiada. A Petrobrás é a maior cliente dos associados do Sinaval, presidido desde 2001 pelo empresário Ariovaldo Rocha. Turismo A bordo Iniciada em novembro e com duração até abril de 2015, a temporada de cruzeiros no Brasil tem como destino preferido o Nordeste, seguido do Rio de Janeiro. A Associação Brasileira de Cruzeiros Marítimos acentua que os passeios de três ou quatro noites representam 47% dos 115 roteiros. Telecomunicações Novo perfil Enquanto avalia “profundamente” eventual negócio com a Oi, na quarta-feira 10 o presidente da TIM Brasil, Rodrigo Abreu, disse que metade dos clientes da empresa hoje são proprietários de celulares inteligentes. “Há um ano eram 20%”, disse. Em outras palavras, no apagar das luzes de 2014 a empresa terá 10 milhões de usuários usando aparelhos que rodam algum sistema operacional e são capazes de baixar aplicativos e ferramentas de lojas online. O que significa faturamento crescente. Anistia Revisão no horizonte Vice-presidente da Corte Interamericana de Direitos Humanos, o juiz Roberto Caldas está convicto de que é uma questão de tempo a revisão da Lei da Anistia pelo STF. Para ele não há como não interpretar a nossa Constituição à luz da convenção americana (Pacto de San Jose da Costa Rica). O perfil atual do supremo dá ao magistrado certeza de que a mudança ocorrerá em debates de grande nível. TV Globo Presente de Natal A TV Globo anunciou na semana passada ao grupo de roteiristas que eles passarão a redigir seus textos no ipad usando o “Final Draft Writer”. O aplicativo, utilizado em Hollywood tem ferramentas especializadas de produção, como revisões coloridas e páginas A/B travadas, útil para leituras em casa e fazer mudanças na hora. Legislativo Caiu no Maranhão Na quinta-feira 11, a Mesa Diretora da Câmara dos Deputados sofreu a primeira derrota numa Corte de Justiça, ao querer punir o juiz de direito Marlon Reis, autor do livro “O Nobre Deputado”. O TRE do Maranhão arquivou representação contra o magistrado. A obra repudiada pelo presidente da Câmara, Henrique Eduardo Alves, inspirou uma reportagem do programa Fantástico, da TV Globo, sobre corrupção no Legislativo e compra de votos. Loteria Coisa de louco Apesar da torcida oficial, dificilmente a arrecadação deste ano da Mega da Virada baterá a expressiva marca de R$ 1 bilhão. Em2013 as apostas renderam ao governo R$ 758 milhões. A previsão para 2014 é de uma receita 18% maior para a União. Independente de quanto o governo vai faturar, se um único sortudo levar os R$ 240 milhões estimados do prêmio, a grana não acaba fácil. Atirando uma nota de R$ 100 pela janela a cada minuto, durante 24h, seriam necessários quatro anos e meio só para o principal acabar. Mais tem o rendimento das aplicações... Infraestrutura Trava indesejada Muito suspense sobre se haverá na quarta-feira 17 reunião do Comitê de Investimento do FI-FGTS. É que até a semana passada não saiu a convocação dos conselheiros. Vários membros da sociedade civil – trabalhadores e empregadores – com assento no órgão estão indignados com a paralisação das sessões, por ação do governo federal, que atua aparentemente para proteger projetos das empresas envolvidas no “petrolão”. Só que com isso ficam adiados sine die bons empreendimentos de outras companhias que estão fora do inbroglio. Literatura Verdade ou ficção? O relatório da Comissão Nacional da Verdade divulgado na semana passada tocou o coração do escritor Edgard Telles Ribeiro. É que tanto em “O punho e a renda” (2010) como no recente “Damas da noite” ele conta histórias que descrevem, a partir de realidades que criou, episódios que ilustram o envolvimento de elementos do Itamaraty com a extrema direita. “Fiquei satisfeito ao constatar que a comissão citou diplomatas que, por oportunismo ou vocação, se uniram a militares brasileiros e estrangeiros nesses anos sórdidos por que passou a Nação, para perseguir jovens idealistas dentro e fora de nossas fronteiras”. Não por acaso, Telles Ribeiro foi o principal depoente e formulador da tese de defesa de seu colega Jom Tob Azulay, quando este foi reintegrado ao Ministério das Relações Exteriores, por decisão da Comissão de Anistia em 2010. Música Efeito imediato O lançamento nos EUA do novo selo de musica eletrônica da Universal Music na semana passada teve repercussão a jato no Brasil. A empresa fechou acordo com a gravadora Musicmasters, que representa importantes selos internacionais do gênero por aqui. O primeiro artista nacional a ser lançado em 2015 nesta nova frente de EDM (Eletronic Dance Music) será Marcelo CIC, há 20 anos atuando como DJ e eleito “Melhor Produtor de Música Eletrônica” no Cool Awards, premiação da conceituada revista CoolMagazine. Também no ano que vem, em São Paulo, haverá a primeira edição do maior festival de EDM do mundo, o Tomorrow Land. 3#2 LEONARDO ATTUCH - OS OBSTÁCULOS DE DILMA Ela já enfrentou a crise de confiança e passou no teste do TSE. Falta ajeitar a política e sanear a Petrobras. Logo após a vitória de Dilma Rousseff, na sucessão presidencial, era possível enxergar duas nuvens escuras no horizonte: uma na economia, outra na política. A primeira era a crise de confiança, decorrente de excessos fiscais cometidos ao longo dos últimos anos. Com a nova equipe econômica, capitaneada por Joaquim Levy, ela tende a ser superada, logo que os técnicos começarem efetivamente a atuar, livres de quaisquer constrangimentos, a partir de janeiro. Até porque todos os sinais emitidos até agora – metas fiscais realistas, redução da dívida bruta e diminuição dos subsídios aos bancos públicos – foram positivos e bem recebidos. O segundo pepino, a crise política que virá com a revelação dos parlamentares envolvidos no escândalo da Petrobras, será enfrentada assim que for apresentada a denúncia do procurador-geral da República, Rodrigo Janot, que poderá trazer até 70 nomes. Dilma terá desafios para reunir uma nova base política, mas conta com fatores importantes, como o esforço do ex-prefeito Gilberto Kassab para aglutinar um grande partido de centro. A essas duas nuvens escuras, outras duas, gigantescas, se somaram, ameaçando criar a chamada tempestade perfeita. A primeira era o risco de crise institucional, que viria com uma eventual rejeição das contas de campanha da reeleição. Essa ameaça, que parecia concreta, foi pelos ares na última quarta-feira com a aprovação, ainda que com ressalvas, das contas de Dilma, por unanimidade. Com esse resultado, Dilma poderá ser diplomada com tranquilidade no dia 18, será empossada em 1º de janeiro e governará por quatro anos. O maior problema, no entanto, vem do Oriente Médio e atinge diretamente a Petrobras, assim como várias petroleiras no mundo. A queda brutal dos preços do barril do petróleo, orquestrada pelos países árabes, reduz a rentabilidade dos projetos do pré-sal e atinge uma companhia que vem sendo alvo de um intenso bombardeio, dentro e fora do País, com denúncias internas e ações coletivas de investidores nos Estados Unidos. Dilma já deu sinais de que não pretende mexer na gestão da companhia e irá manter Graça Foster no comando. Graça, por sua vez, já divulgou a criação de novos mecanismos de controle e a empresa, possivelmente, voltará a se submeter à lei de licitações. O problema, agora, no entanto, é muito maior: saber dosar a necessidade de investimentos de longo prazo com a nova realidade de mercado, sem paralisar uma longa cadeia de fornecedores, que já sofre os efeitos da Operação Lava Jato. São empresas que empregam milhões de pessoas, estão em praticamente todas as obras do País, mas já começam a parar. 3#3 PAULO LIMA - FUTURO DO PRESENTE O corpo escultural, a vida de modelo, a fama na tv, a dependência química e o recomeço. Catorze anos atrás, aos 19, a paulistana Marina Filizola posou para seu primeiro ensaio sensual. No texto que acompanhava as fotos, ela dizia que sonhava com um futuro em que estaria morando com seu amor num sítio, com cachorros e galinhas. Jovem, linda e com um corpo escultural irretocável, ela definitivamente não passava despercebida onde quer que fosse. Começou na carreira de modelo aos 16 anos, atuando em inúmeras campanhas publicitárias. Inquieta, no finalzinho dos anos 90 participou na TV Bandeirantes do programa “H”, que acabara de perder seu criador e apresentador Luciano Huck para a Globo. O novo apresentador escalado, hoje também funcionário da Globo, Otaviano Costa, na esteira dos sucessos retumbantes dos personagens Feiticeira e Tiazinha, tratou de juntar a equipe para criar a sua versão de uma sensualíssima encantadora de telespectadores naquele mundo pós-chacretes e pré-paniquetes. Marina foi chamada para viver a personagem “Internética”, uma espécie de mulher do futuro que habitava uma redoma de vidro. Sempre, claro, desfilando lingeries que deixavam à mostra 97% de suas formas exatas. O programa não teve vida longa, mas foi suficiente para que ela experimentasse uma boa dose do embriagador licor da fama. Ainda na TV, ela atuou na série global “Amazônia”, de 2007, e no reality show “Hipertensão”. O esporte sempre foi uma obstinação. Marina fez natação, surfe, handball, remo (chegou a ser campeã de canoa havaiana) e tomou aulas de circo. Mas não foram só os esportes que a atraíram. Como ela mesma conta, junto com a beleza, a fama, o corpo esculpido e o tônus vital dos vinte e poucos anos, vieram a vida noturna forte, as baladas e as drogas, que, aos poucos, também começaram a fazer parte da sua rotina. O tempo rolou, o futuro que parecia distante na época da redoma de vidro deu as caras e finalmente ela diz ter encontrado seu eixo. Na marra, como ela própria frisa. Hoje, aos 33 anos, casada e com um filho de 9 meses, Filizola continua morando em São Paulo. Há dois anos passou a dedicar-se à literatura descobrindo e desenvolvendo seu texto nas aulas do escritor Marcelino Freire, em participações nas oficinas de literatura dadas por ele. Em 2015 lançará o livro “Caviar com Cocaína” em que conta com linguagem que ela descreve como “solta e sem pudores” os bastidores de uma fase da vida em que a dependência química a dominou. Uma certa maturidade, o silêncio pleno da escrita e a prática de atividade física têm sido os recursos de que ela afirma ter lançado mão para alcançar o tão perseguido equilíbrio atual. Paulo Lima é fundador da editora e da revista Trip 3#4 GISELE VITÓRIA Gisele Vitória é jornalista, diretora de núcleo das revistas ISTOÉ Gente, ISTOÉ Platinum e Menu e colunista de ISTOÉ Levantando bandeiras Leandra Leal está a mil por hora nas gravações da novela “Império”. A personagem Cristina, sua primeira protagonista no horário nobre, passou de camelô a executiva da joalheria do comendador José Alfredo (Alexandre Nero) e está a um passo de ter a confirmação, por DNA, de que é filha dele. “Como minha personagem, dou muito valor a minha família e aos meus amigos. Mas acho que para por aí”, diz. “A Cristina é bem mais esquentada e cabeça-dura do que eu.” ISTOÉ – O que mudou com a experiência de ser protagonista em uma novela das nove? Leandra Leal – O volume de trabalho é algo inimaginável. Só quem passa por isso sabe como é difícil manter a qualidade do começo ao fim do trabalho. É uma adrenalina constante. É difícil conciliar outros projetos e a vida pessoal. Ser protagonista da novela das 21h é um grande desafio. ISTOÉ – Tem projetos para depois da novela? Terminar o meu documentário “Divinas Divas” (que narra a trajetória de Rogéria e outras artistas travestis). ISTOÉ – Durante as eleições, você declarou apoio a Marina Silva. Seu engajamento a ajuda? Em quem votou no segundo turno? Acho importante o posicionamento político de todo cidadão. Quando sinto confiança no projeto político, declaro o meu voto. Votei em Dilma no segundo turno. Mas a polarização que vivemos nesse processo eleitoral infantilizou o debate e evitou discussões importantes. A reforma política é a bandeira das bandeiras. Precisa ser urgentemente debatida por toda a sociedade para avançar nas instituições. ISTOÉ – As últimas novelas vêm com casais homossexuais em suas tramas. Como vê esse novo cenário? É um avanço, mas ainda é um tema que enfrenta resistência. Infelizmente, a parcela conservadora da sociedade brasileira é mais organizada e faz mais barulho. Novelas cumprem um papel importante de tirar tensão dessas questões, retratar com naturalidade temas humanos e complexos. O casamento gay, assim como outras questões envolvendo direitos civis, nunca é debatido com a seriedade necessária numa eleição. ISTOÉ – Você gostaria de viver uma personagem gay? Quero viver personagens complexos, independentemente da orientação sexual. Gostaria de chegar num ponto que considero ideal, em que esse assunto fosse tratado de forma tão natural que nem me fariam essa pergunta. Balas Tempo do Santo do pau oco O vice-presidente Michel Temer remeteu a corrupção no Brasil aos tempos do santo do pau oco. “Essa história de corrupção não é de hoje”, disse ele, durante um almoço-debate do Lide, comandado por João Doria Jr., em São Paulo. Em seu discurso sobre o momento brasileiro, pontuado com referências à história do País, Temer lembrou da época em que se escondia o ouro dentro de santos para não enviá-lo a Portugal. Depois, ele disse ser absolutamente falsa a planilha apreendida na Camargo Corrêa, que registra seu nome grafado como “Themer”, relacionando-o a dois pagamentos de US$ 40 mil. E disse que nem era deputado e nunca fez emendas destinadas a Araçatuba (SP). “Aperto” em Levy Após um jantar no Palácio do Alvorada com a presidente Dilma Rousseff, a empresária Luiza Helena Trajano, que lidera o grupo “Mulheres do Brasil”, com 79 empreendedoras, encontrou por acaso o futuro ministro da Fazenda, Joaquim Levy, no bar do hotel Meliá, em Brasília. “Ministro, o senhor não vai mexer no consumo, né?”, provocou a dona do Magazine Luiza. Ela estava com Claudia Sender, presidente da Tam, Chieko Aoki e Martha Medeiros. Tinham acabado de chegar do jantar com Dilma. Claudia Sender brincou: “Ministro, me diga o que o senhor quer da gente, porque a gente sabe bem o que quer do senhor!” Levy sentou-se por 20 minutos com o grupo e causou ótima impressão. Disse, entre outras coisas, que fará os ajustes que o Brasil precisa. Santíssimo octógono Enquanto os novos nomes do segundo mandato do governo Dilma são apresentados, o senador Aloysio Nunes Ferreira (PSDB-SP), que foi vice na chapa de Aécio Neves, sustenta que existe uma santíssima trindade de oito pessoas em torno da presidente. “São muitas caras em um único sujeito. É como uma santíssima trindade, mas eles têm um octógono”, disse, em encontro empresarial do Lide na Espanha. ISTOÉ – Quem formaria esse octógono? Aloysio Nunes Ferreira – Renan Calheiros, Eduardo Cunha, Eduardo Braga, Eunício Oliveira, Vital do Rego, Romero Jucá, Henrique Alves e Michel Temer. Michel dá o tom cerimonial. Eles estão querendo exercer no governo da Dilma um papel equivalente à força que têm. E vão tentar arrancar tudo dela, evidentemente. ISTOÉ – E isso significaria o quê? Ferreira – Eles vão levantar o veto à eleição de Eduardo Cunha na Câmara, vão garantir a reeleição de Renan, vão pôr Henrique Alves num ministério, vão botar o Vital do Rego no TCU. Eles estão nesse jogo. E se a Dilma der tudo o que eles querem? Mas ela não vai comprar. Não é uma operação de compra e venda. É leasing. “Tá tudo dez” A catarinense Eliza Joenck está namorando Leonardo DiCaprio. Há seis meses a modelo trocou São Paulo por Nova York e lá, por meio de amigos, conheceu o ator americano. Eles estão saindo há três meses, tempo em que seu trabalho também deslanchou por lá. “Tá tudo fluindo muito bem. Tá tudo 10”, disse, desculpando-se por não se estender sobre o namoro recente. “Agora é o momento de descansar e encontrar a família no Natal no sul”, diz. Eliza estaria planejando seu Réveillon em Floripa, com DiCaprio. Mas não quis confirmar. “Ainda não sei exatamente como será.” Rainha má no Instagram A cantora Daniela Mercury encontrou um jeito divertido e digitalmente moderno de divulgar o seu novo hit “A rainha do Axé”. “A ideia foi de Malu”, contou ela. A jornalista Malu Verçosa, casada com a cantora, sugeriu a amigos que cantassem trechos da música postando filminhos no instagram. Gilberto Gil e Ivete Sangalo foram os primeiros. Adriane Galisteu cantou no chuveiro: “Eu não sou a cinderela/Nem adormecida bela/eu sou Daniela/a rainha má!”. E o coro só aumenta na rede. Daniela está em Portugal, comandando o ‘The Voice Kids’, com cantores mirins na tevê portuguesa. 3#5 RICARDO ARNT - O ENLACE DA PONTE AÉREA Em São Paulo os motoristas de táxi são donos dos carros; no Rio são empregados da frota. Adivinhe onde o troco volta integralmente e você tem menos chance de se aborrecer.. Quando fui morar em São Paulo, eu nada entendia. Demorei um ano para montar um mapa mental das áreas em que circulava, perdido no trânsito e no concreto sem pontos de orientação, muito diferente do Rio de Janeiro, onde as montanhas e o mar balizam os caminhos. Minha primeira impressão foi a pior possível. O que importam a prosperidade, o dinamismo e a efervescência quando se vive numa cidade tão feia? Eu não sabia que a beleza de São Paulo é invisível. À primeira vista não se percebe. No Rio, você ia à padaria, pedia um litro de leite e o português, atrás do balcão, enfiava a mão na geladeira e saía com um saco plástico de leite da CCPL, pingando. Aí, pegava o papel de embrulhar pão, fazia um pacote e atava com um barbante. O papel colava no saco úmido. Você ia para casa carregando aquela coisa pegajosa pelo cordão. Em São Paulo, enfiavam o saco de leite num saco plástico. Pronto. Na banca de revista, punham o jornal em saco plástico para você não sujar a mão de tinta. De todas as diferenças, o clima é a mais sensível. São Paulo está a 760 metros de altitude, a altura de Teresópolis. Por causa do frio, as pessoas se cobrem de casacos e suéteres. Nos correios e nos cinemas, as filas são mais distintas. Até o trânsito é mais civilizado. Nos cruzamentos, as pessoas paravam e eu passava sempre primeiro, como bom bárbaro. Nos engarrafamentos, a manada de automóveis, resignada, espera sem buzinar, algo impensável no Rio. Em São Paulo, os motoristas de táxi são donos dos carros; no Rio, são empregados da frota. Adivinhe onde o troco volta integralmente e você tem menos chance de se aborrecer. São Paulo é plutocrática. Tudo gira em função de dinheiro. Há mais empregos, os salários são mais altos e todos cobram pesado uns dos outros. Eletricistas, encanadores, chaveiros, táxis, todos os serviços são mais caros – mas mais profissionais. É preciso dinheiro para ter um bom apartamento, dinheiro para entrar como sócio num clube, dinheiro para ter casa de praia ou sítio (para fugir da cidade) e dinheiro para comprar um bom assento num show. Sem contar que é preciso se adiantar e andar rápido, porque há milhares iguais a você lotando todos os lugares. O Rio é uma cidade para fora. São Paulo é para dentro. Os cariocas vão à praia, andam no calçadão e correm na Estrada das Paineiras. Os paulistas frequentam as casas, recebem amigos e dão jantares. No Rio, as pessoas exibem as formas e volumes na praia, democraticamente pelados, durante a vida inteira. Dá para acompanhar a evolução da humanidade. Talvez por isso os cariocas sejam mais informais (e folgados). Na capa de “Cinema Transcendental”, Caetano Veloso registrou uma clássica atitude do Rio: espairecer com os cotovelos enterrados na areia, de frente para o mar, de costas para a confusão, a decadência e os arrastões. Em São Paulo, conheço apenas a Praça do Pôr do Sol. A cidade da garoa não dá refresco. Bobagens à parte, todos sabem que os cariocas têm inveja dos paulistas e os paulistas, inveja dos cariocas. Por isso a Ponte Aérea é a melhor coisa do Brasil – desculpem aí, Salvador, Porto Alegre e Belém. A diferença irrefutável é que o calor do Rio é insuportável e o clima de São Paulo, agradável. Mas entre as virtudes invisíveis da cidadania e a beleza exuberante, prefiro a aparência jubilante da forma. É verdade que a existência de Florianópolis complica a teoria. Ricardo Arnt é diretor da revista Planeta 3#6 BRASIL CONFIDENCIAL por Eumano Silva Rollemberg e a obra de R$ 36 bilhões O governador eleito Rodrigo Rollemberg (PSB) pretende reavaliar uma Parceria Público Privada firmada pelo governo do Distrito Federal com a empreiteira OAS. A empresa lidera o consórcio escolhido para construir a Nova Saída Norte, projeto rodoviário avaliado em R$ 36 bilhões. Como a obra foi paralisada pelo Judiciário por suspeita de cessão irregular de terras, Rollemberg ganhou tempo para renegociar o acordo fechado pelo antecessor, Agnelo Queiroz, com a empreiteira, enrolada no escândalo da Petrobras. A festa dos cargos Antes de deixar a presidência da Câmara, Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN) ajeitou a distribuição dos cargos de natureza especial. PT e PMDB terão, cada um, 114 assessores. O PSDB fica em terceiro, com 106 postos. Siglas ­nanicas como PEN, PSDC, PTC, PTdoB, PSL e PRTB terão dois cargos. Os salários variam de R$ 2,8 mil a R$ 15,6 mil. O preço do apoio I Os parlamentares da base governista já sentem o desgaste decorrente da manobra orçamentária. No fim de semana depois da votação no Congresso, um grupo de 100 manifestantes promoveu um panelaço, em Goiânia, na frente do edifício onde mora o deputado Sandes Junior (PP-GO). Transição prejudicada A governadora do Maranhão, Roseana Sarney (PMDB), renunciou na quarta-feira 10 e, no dia seguinte, centenas de assessores deixaram os cargos. Com isso, o governo do sucessor, Flávio Dino (PCdoB), fica prejudicado, pois eles tinham as informações necessárias para a transição. O preço do apoio II Os manifestantes de Goiânia chamaram Sandes Junior de “deputado 748”. Era uma referência maldosa aos R$ 748 mil que a presidente Dilma Rousseff prometeu liberar de emendas parlamentares em troca da aprovação da mudança na Lei das Diretrizes Orçamentárias (LDO) de 2014. Um gesto conhecido A renúncia de Roseana faz lembrar a posse de seu pai, José Sarney, na Presidência da República, em 1985. João Figueiredo, o antecessor, chamava Sarney de “traidor” e saiu pelos fundos do Palácio para não transmitir a faixa presidencial. Roseana alega problemas de saúde. Laços de família Filho do deputado Arlindo Chinaglia (PT-SP), o advogado Olavo Zago Chinaglia integrou até 2012 o Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade). Por um período, ele ­chegou a presidir interinamente o órgão. Na condição de conselheiro, Olavo relatou alguns processos de interesse de empresas que fizeram doações para campanhas eleitorais de seu pai. O filho do parlamentar petista deu parecer favorável a um milionário negócio feito entre as empreiteiras Andrade Gutierrez e GDK, ambas citadas na operação Lava Jato, da Polícia Federal. Essa transação, na área de gás, girou em torno de R$ 200 milhões. Outras empresas doadoras Olavo Chinaglia também julgou ação de interesse da Eurofarma e recebeu em audiência representantes da Schincariol. Essas duas empresas doaram recursos para a eleição de Arlindo. Em um caso sobre o “cartel do lixo” na gestão da petista Marta Suplicy na Prefeitura de São Paulo, ele se declarou impedido. Hoje, o advogado trabalha em um escritório de advocacia que atua no Cade. Toma lá dá cá Deputado Lira Maia (DEM-PA), presidente da comissão especial que analisa o projeto que cria o “pão brasileiro”. ISTOÉ – Com a adição de 10% de farinha de mandioca, o pãozinho vai ficar mais caro? Maia – Pelo contrário. A fécula de mandioca é mais barata que o trigo, que importamos a maior parte. O pão fica mais crocante e nutritivo. ISTOÉ – Todas as panificadoras serão obrigadas a acrescentar o ingrediente brasileiro? Maia – O projeto obriga apenas os fornecedores do governo, de merenda escolar, alimentos para hospitais. Nas panificadoras, o pão francês e o pão brasileiro coexistirão. ISTOÉ – Quais são os benefícios? Maia – A produção de pães e massas para pessoas que têm intolerância ao glúten e incremento na produção familiar no Norte e no Nordeste. Rápidas * Um levantamento realizado no Senado vai mostrar detalhes sobre a economia feita nos últimos dois anos, que passou de R$ 500 milhões. Chama a atenção a redução da verba indenizatória depois que os dados sobre os gastos foram abertos no site do Senado. * Desde que esas informações se tornaram públicas, os senadores economizaram R$ 10 milhões em apenas um ano. Os gastos dos parlamentares com serviços de Correios também tiveram queda significativa: de R$ 9 milhões no ano passado para R$ 2,5 neste ano. * Na manhã da quarta-feira 10 foi a vez de os servidores do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente (Ibama) se manifestarem contra irregularidades no órgão. Auditoria da CGU identificou desvios de pelo menos R$ 5,8 milhões em obras nas dependências do órgão. *Algumas das benfeitorias foram pagas sem sequer terem sido erguidas. Revoltados com a situação, os funcionários do Ibama fizeram um ruidoso apitaço para exigir o afastamento imediato dos diretores do órgão responsáveis pela contratação das obras. Retrato falado Convidado para participar da primeira mesa do seminário “O Brasil e a Ordem Internacional”, na Comissão de Relações Exteriores e de Defesa Nacional da Câmara, Marco Aurélio Garcia teve um momento de insatisfação. Questionado pelo sociólogo Demétrio Magnoli sobre a atuação diplomática do Brasil nos conflitos da Faixa de Gaza, Marco Aurélio se aborreceu. Mudança de comportamento Na gestão de Joaquim Barbosa como presidente do Conselho Nacional de Justiça, o presidente nacional da OAB, Marcus Vinicius Furtado Coelho, quase não aparecia no plenário. Os dois não se bicavam. Agora, com Ricardo Lewandowski no comando do CNJ, Coelho é assíduo e falante. Nos corredores, especula-se que Lewandowisk seja cabo eleitoral do advogado para a vaga no STF deixada justamente por Barbosa. O petróleo é nosso Caciques do Congresso ligaram para Ricardo Lewandowski com um pedido: colocar em votação no plenário, antes do recesso, a ação sobre distribuição das receitas do petróleo entre os Estados. Uma liminar da ministra Cármen Lúcia suspendeu os critérios aprovados no Congresso. __________________________________________ 4# BRASIL 17.12.14 3#1 AS RESSALVAS QUE ASSOMBRAM DILMA 3#2 A TESTEMUNHA PUNIDA 3#3 A ROTINA DO DELATOR 3#4 O PREÇO DA VERDADE 3#5 JOGO DE CENA 3#1 AS RESSALVAS QUE ASSOMBRAM DILMA Aprovação das contas da campanha à reeleição é recebida com alívio pelo governo, mas o parecer do ministro Gilmar Mendes mantém a contabilidade petista sob suspeita e pode até ligá-la à Operação Lava Jato Sérgio Pardellas (sergiopardellas@istoe.com.br) O PT e a presidente Dilma Rousseff viveram dias de forte expectativa até receberem na noite da quarta-feira 10 a aprovação parcial da prestação de contas da campanha de 2014. Após o plenário do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) afastar a hipótese de rejeição, Dilma ganhou um respiro. Poderá comparecer à cerimônia de diplomação no dia 18 sem o constrangimento de ser apontada como uma candidata em desconformidade com a Justiça Eleitoral. Mas as ressalvas do voto do ministro-relator do processo de prestação de contas, Gilmar Mendes, mantiveram aceso o sinal de alerta no Planalto. Indícios de irregularidades As observações de Mendes são contundentes e remetem às investigações da Lava Jato, que apontaram o financiamento oficial de campanha como o método mais usado para lavar o dinheiro desviado da Petrobras. Em seu parecer, o ministro foi assertivo ao dizer que não eximia o PT de futuras responsabilizações que poderão vir de apurações de outras instâncias. “Ressalte-se que essa conclusão não confere chancela a possíveis ilícitos antecedentes e/ou vinculados às doações e às despesas eleitorais, tampouco a eventuais ilícitos verificados pelos órgãos fiscalizadores no curso de investigações em andamento ou futuras. Pelo contrário, foram verificados indícios de irregularidades que merecem a devida apuração.” Há duas semanas, em um dos mais reveladores depoimentos até então sobre o esquema de desvios de recursos da Petrobras, o empresário Augusto Ribeiro de Mendonça Neto, executivo do grupo Toyo Setal, disse a procuradores e policiais que o PT, entre 2008 e 2011, recebeu parte da propina na forma de contribuição ao partido por meio do “caixa 1” de campanha. A confissão confirmou reportagem de capa de ISTOÉ publicada uma semana antes. As doações ao PT foram intermediadas pelo diretor de Serviços da Petrobras, Renato Duque, que era o elo com o tesoureiro da legenda, João Vaccari Neto. Vem daí os temores do Planalto. “Se comprovarem futuramente que a campanha foi alimentada por dinheiro desviado, fruto de superfaturamento, a chapa de Dilma à reeleição está comprometida”, afirmou um ministro do TSE à ISTOÉ. O trabalho de análise formal de notas fiscais e recibos, feito por técnicos do TSE, apontou irregularidades em pelo menos 13,88% dos R$ 350 milhões declarados em despesas pela campanha de Dilma. Na avaliação de Mendes, os R$ 48,5 milhões em questão compõem uma pequena amostra de um universo que não pode ser desvendado pelos servidores do tribunal. Assim, o relator encaminhou as contas ressalvadas para o Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf), Receita Federal, Ministério Público Federal. As secretarias de Fazenda Estadual de São Paulo e Fazenda Municipal de São Bernardo do Campo – cidade sede da Focal Confecção e Comunicação Visual – também receberão cópias da prestação de contas para realizar investigações paralelas. Isso porque a empresa Focal de São Bernardo recebeu R$ 23,9 milhões do PT e chamou a atenção da Justiça Eleitoral. Um dos membros do quadro societário é um motorista com renda mensal de R$ 2 mil (leia matéria ao lado). O relator não pôde usar a suspeição como elemento para rejeitar as contas, mas não deixou de frisar a gravidade da denúncia. “A conduta configura crime de falsidade ideológica. Não se pode descartar a possibilidade de os serviços não terem sido efetivamente prestados, servindo o contrato como forma de desviar recursos da campanha. Estamos diante de indicativo de irregularidade em empresa que prestou serviços à campanha, da ordem de 24 milhões. Ou seja, o próprio valor sugere que os fatos merecem apuração.” Relatório técnico Quando recebeu os 245 apensos com documentos da prestação de contas, Mendes escalou servidores do tribunal e solicitou ajuda de funcionários da Receita Federal, Banco Central e Tribunal de Contas da União para processar os dados. Mas a força-tarefa restringiu o trabalho a aspectos meramente técnicos. Faltou braço e tempo para que os documentos de receitas e despesas apresentados pelo PT fossem esmiuçados a ponto de detectar a utilização do partido como instrumento de lavagem de dinheiro, confirmando relatos de diretores das empreiteiras Toyo-Setal, Queiroz Galvão e Galvão Engenharia à Polícia Federal. Os empreiteiros afirmaram que de 2008 a 2011 as doações legais foram usadas para “esquentar” recursos ilícitos. “Os poucos quadros dos servidores não permitem investigações para mostrar se uma doação aparentemente legal veio de um esquema de corrupção”, frisou Mendes ao iniciar a leitura do voto. A descentralização de pagamentos e repasses de outros diretórios ao PT nacional e à campanha presidencial ajudou a mascarar a identidade de alguns doadores, de acordo com o relatório técnico do TSE. O trabalho identificou que o Sistema de Prestação de Contas Eleitorais (SPCE) distorcia os valores ao analisar movimentação de dinheiro entre comitês. Quase R$ 30 milhões em prestações de contas irregulares referiam-se a discrepância de datas entre o lançamento de recibos de gastos e a emissão de notas fiscais e transferência de recursos de diretórios estaduais para o nacional e campanha presidencial. Por isso, o parecer técnico dos analistas do TSE apontou para a desaprovação das contas de Dilma e do PT. Embora a recomendação dos técnicos não tenha sido endossada pelo TSE, irregularidades semelhantes encontradas na contabilidade da campanha de Geraldo Alckmin ao governo de São Paulo foram suficientes para o TRE-SP desaprovar suas contas na última semana. Dinheiro sem carimbo Recentemente a Justiça Eleitoral adotou um novo método de apuração de informações chamado “sistema de circularização”. Firmas que aparecem como fornecedoras e recebem grandes quantias são intimadas a comparecer em juízo para detalhar e confirmar a prestação de serviços a candidatos. Segundo o advogado eleitoral Eduardo Nobre, a aprovação com ressalvas é apenas uma decisão usual da corte. A investigação de irregularidades mais graves se dá em um segundo momento. “Os mecanismos melhoraram, mas realmente se perde o rastro, porque dinheiro não tem carimbo”, afirma Nobre. A novidade ainda não é usada em larga escala e não foi aplicada na verificação das contas presidenciais. Os desdobramentos das investigações do caixa do PT que seguirão em outras esferas, porém, podem trazer dor de cabeça à presidente. O motorista de R$ 24 milhões Ludmilla Amaral Na semana passada, em meio às discussões sobre as contas da campanha de reeleição da presidente Dilma Rousseff (PT), um insólito personagem chamou a atenção. Trata-se de Elias Silva de Mattos, um motorista que, em novembro de 2013, se tornou sócio minoritário da Focal Confecção e Comunicação Visual, localizada em São Bernardo do Campo, no ABC paulista. A Focal foi a empresa que mais lucrou com a corrida eleitoral petista, cerca de R$ 24 milhões, ficando atrás apenas da Pólis Propaganda, do marqueteiro João Santana (R$ 70 milhões). Segundo documentos da Junta Comercial de São Paulo, Elias (cota de R$ 3 mil) aparece como sócio-administrador ao lado de Carla Regina Cortegoso (cota de R$ 27 mil), filha de Carlos Cortegoso, empresário citado nas investigações do mensalão. Em sua primeira declaração, antes de atrair os holofotes, Elias chegou a dizer que sabia que a empresa “ia virar um transtorno na sua vida”. Na quarta-feira 10, ISTOÉ esteve com o motorista. Vestindo uma camisa azul-escura e jeans surrado, ele apareceu na sede da Focal acompanhado por cinco homens. Aparentando estar tenso, evitando olhar nos olhos do interlocutor, Elias – um moreno alto, de cabelos encaracolados e fala mansa – contou que trabalha na empresa há oito anos e que conhece Carlos de outros serviços prestados, antes de fazer parte do Grupo Focal. Segundo o motorista, seu “crescimento na firma” foi fruto do trabalho árduo. “Um faxineiro, por exemplo, não pode ser promovido?”, questionou gesticulando com as mãos. Um homem, mais baixo, grisalho, que não quis se identificar, mas parecia orientar Elias, o interrompia quando achava que ele falava demais e aconselhou a reportagem a procurar por Carlos Cortegoso. “Ele (Carlos) é o verdadeiro dono da empresa. O Elias cuida da administração aqui”, disse o homem. Antes de fechar o portão, Elias fez um apelo. “Eu não quero me expor, minha mãe tem problemas no coração e eu já estou preparando ela para o pior”. SOB SUSPEITA - A sede da Focal fica localizada em São Bernardo do Campo. O motorista e sócio Elias mora a 4 km da empresa, em um bairro da periferia da cidade Elias mora a 4 km da empresa, em um bairro da periferia de São Bernardo. O portão estreito, que até a terça-feira 9 exibia adesivos da campanha de Dilma, mas que foram retirados na quarta-feira 10, leva a uma casinha com estrutura precária e sem pintura nos fundos de um salão de cabeleireiro. A proprietária do salão disse que é muito difícil encontrar com Elias. “Estou aqui há dois anos e o vejo muito pouco.” Segundo ela, o salão abre às 10h e o ex-motorista já está fora de casa nesse horário. Ela fecha o portão às 19h e Elias raramente chega antes disso. De acordo com vizinhos, ele mora sozinho com um cachorro. O proprietário de um boteco ao lado da casa do motorista de R$ 24 milhões contou à ISTOÉ que “cada dia ele aparece em sua residência com um carro diferente”, mas que não procura contato com os vizinhos. O relacionamento da Focal com o Partido dos Trabalhadores é de longa data, como mostram as prestações de contas de eleições passadas. A Focal monta comícios do partido desde 2006. Assim como a empresa, Elias também tem ligação pretérita com o PT. O ex-motorista trabalhou como arquivista no Sindicato dos Metalúrgicos na época de Jair Meneguelli e do deputado Vicentinho – décadas de 80 e 90 –, ambos filiados ao PT. Procurado pela reportagem da ISTOÉ para falar sobre o assunto, Vicentinho informou por meio de sua assessoria que preferia “não falar sobre isso”. Na terça-feira 9, o empresário Carlos Cortegoso admitiu que a segunda maior fornecedora da campanha de Dilma Rousseff é dele, embora esteja em nome de outras pessoas, no caso a filha e o motorista Elias. “Eu que toco a empresa e sou o responsável. Eu precisava e ele (motorista) merecia. Ele era quem mais reunia méritos para ser recompensado”, alegou. De acordo com Cortegoso, ele pediu à filha Carla que assumisse o negócio porque ele estava inadimplente em 2003 quando a empresa foi montada. Não foi a primeira vez que Cortegoso e a Focal foram enredados num escândalo petista. Ele e a empresa surgiram como destinatários de dinheiro do esquema do mensalão, conforme uma lista encaminhada pelo empresário Marcos Valério à CPI dos Correios, ao Ministério Público e à Polícia Federal. Na ocasião, Cortegoso foi autuado e teve de pagar uma multa de R$ 1,5 milhão. Atualmente, se diz parceiro do marqueteiro João Santana. A porta de entrada no partido foi pelas mãos de Paulo Okamotto, assessor de Lula. Depois, estreitou laços com os tesoureiros do PT Delúbio Soares, Paulo Ferreira e João Vaccari Neto, hoje envolvido no escândalo da Petrobras. O tesoureiro da campanha de Dilma Rousseff, deputado estadual Edinho Silva (PT), confirma a relação antiga entre a Focal e o PT e disse que a empresa recebeu vultosos pagamentos porque prestou serviços de montagem de palanques e de material gráfico para a reeleição da presidente. Mesmo com tantos amigos ilustres, Cortegoso alega que convidou Elias Mattos para assumir a sociedade, pois não tinha outra pessoa de confiança, como alguém de sua família, para integrar a empresa. Os técnicos do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) que examinaram as contas da campanha de Dilma consideraram irregulares as notas fiscais da Focal e Elias pode ser a peça-chave para ajudar na investigação. 3#2 A TESTEMUNHA PUNIDA Ex-gerente da Petrobras diz ter informado à atual diretoria sobre irregularidades em contratos antes mesmo da Operação Lava Jato, mas, em vez de conter os desvios, a cúpula da estatal resolveu afastá-la do cargo Helena Borges (helenaborges@istoe.com.br) Há cerca de dez dias, a ex-gerente da Petrobras Venina Velosa da Fonseca não é vista em seu apartamento no bairro do Flamengo, no Rio de Janeiro. Vizinhos disseram à ISTOÉ que a moradora tem aparecido muito pouco no local nos últimos dois meses. A reportagem apurou que Venina alugou um flat em São Paulo, onde fez contatos com um procurador da força-tarefa que investiga os desvios na Petrobras. Nos últimos dois fins de semana, ela buscou refúgio na casa da mãe, no interior de Minas Gerais, onde refletiu muito até tomar a decisão de trazer à tona tudo o que sabe sobre o esquema de corrupção que drenou bilhões da estatal. Esperada para depor nos próximos dias no Ministério Público Federal em Curitiba, Venina promete envolver muito mais gente graúda no escândalo. A amigos diz que chegou ao limite e não perdoa a atual gestão da Petrobras por tê-la afastado da companhia, em 20 de novembro, junto a outros executivos suspeitos de irregularidades. “Não vou cair sozinha”, garante. A ex-gerente diz que desde 2008 vem alertando a cúpula da empresa sobre desvios em diferentes setores, segundo reportagem publicada no jornal “Valor Econômico” na sexta-feira 12. A SOLUÇÃO FOI TIRÁ-LA DO CAMINHO - Desde 2008, a ex-gerente da Petrobras Venina Velosa, que trabalhou ao lado de Paulo Roberto Costa (abaixo), vem alertando a empresa sobre desvios em diferentes setores As denúncias envolveriam o pagamento de R$ 58 milhões por serviços não realizados na área de comunicação, o superfaturamento em até 15% na compra de combustíveis no exterior, e aditivos que elevaram os custos das obras da Refinaria de Abreu e Lima, de R$ 4 bilhões para R$ 18 bilhões. Segundo Venina, depois de ela fazer uma das acusações, Paulo Roberto Costa, então diretor de abastecimento, a convocou em seu gabinete e, apontando o dedo para o retrato do presidente Lula, perguntou-lhe se ela queria “derrubar todo mundo”. Descontente, a gerente encaminhou a denúncia ao então presidente da estatal, José Sérgio Gabrielli, que instaurou um processo administrativo. Aquela foi apenas a primeira ocorrência. Em 3 de abril de 2009, Venina enviou e-mail para a então diretora da Gás e Energia, Graça Foster, solicitando apoio e alertando-a sobre a escalada nos preços das obras de Abreu e Lima. Os contratos, sob a responsabilidade do diretor de Serviços, Renato Duque, continham cláusulas que responsabilizavam a Petrobras sobre eventuais problemas no andamento das obras, isentando as empreiteiras e jogando no colo da estatal os custos extras por atrasos e paralisações. Num ofício de 4 de maio, a gerente criticou também os contratos que beneficiavam sempre as mesmas empresas da Associação Brasileira de Engenharia Industrial (Abemi), espécie de sede do chamado “clube” das empreiteiras que são investigadas pela Lava Jato. No total, a executiva fez 107 solicitações de modificação de projetos que propunham uma economia de quase R$ 1 bilhão nas obras da refinaria pernambucana. Nenhuma foi aceita. Embora a Petrobras garanta que investigou todas as denúncias da gerente, Venina diz ter sido perseguida dentro da estatal por conta de sua conduta. “Até arma na minha cabeça e ameaças às minhas filhas eu tive”, garante. Segundo ela, Costa teria agido para tirá-la do caminho, conseguindo transferi-la no final de 2009 para a unidade da Petrobras em Cingapura, onde foi orientada a fazer um curso de especialização. “Do imenso orgulho que eu tinha pela minha empresa passei a sentir vergonha. Diretores passam a se intitular e a agir como deuses e a tratar as pessoas como animais. O que aconteceu dentro da Abast (Diretoria de Abastecimento) na área de comunicação e obras foi um verdadeiro absurdo”, desabafou Venina em outro e-mail a Graça Foster, enviado em 7 de outubro de 2011. Naquele mesmo ano, a geóloga virou ré em investigações do TCU, ao lado de Costa, Gabrielli e empreiteiras agora denunciadas pelo MPF. Venina curtiu o exílio de luxo até o início de 2012, passou cinco meses no Rio e voltou a Cingapura como chefe do escritório. De lá assistiu à deflagração da Operação Lava Jato em março deste ano. Uma semana depois, resolveu encaminhar a José Carlos Cosenza, sucessor de Costa na Diretoria de Abastecimento, um e-mail falando sobre perdas financeiras em operações internacionais da estatal que ela identificou a partir do trabalho em Cingapura. Em 10 de abril, enviou outra mensagem a Cosenza, falando de perdas de até 15% na comercialização de combustível para navios no exterior – chamados bunkers. Venina diz que Cosenza não lhe deu nenhuma resposta. Após as denúncias, a oposição no Congresso pede o afastamento da presidente da Petrobras, Graça Foster. “Não há como tolerar essa passividade do governo com relação aos gestores da Petrobras”, afirmou o senador Álvaro Dias (PSDB-PR) na sexta-feira 12. A Petrobras, por meio da assessoria, diz que aprimorou os procedimentos de compra e venda com “a implementação de controles e registros adicionais”. Garante que não constatou nenhuma “não conformidade” na área. Venina ainda fez uma nova denúncia em outro e-mail enviado em 17 de novembro. Dois dias depois, no entanto, foi afastada do cargo ao lado de outros funcionários suspeitos de desvios. Soube da demissão pela imprensa. 3#3 A ROTINA DO DELATOR Em prisão domiciliar, o ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa abandonou as caminhadas pelo condomínio onde mora, demitiu a empregada e o jardineiro e passou a se dedicar, ao lado da mulher, apenas aos afazeres domésticos Rogério Daflon (daflon@istoe.com.br) O homem que tinha poder para assinar contratos milionários na Petrobras hoje não tem liberdade para se locomover dentro da própria casa, e muito menos fora dela. Aos 60 anos, o engenheiro paranaense Paulo Roberto Costa, ex-diretor de Abastecimento da petrolífera – mentor e delator de uma organização criminosa que desviou bilhões da estatal –, vive em prisão domiciliar, usa uma tornozeleira eletrônica que limita seus passos a ponto de já ter sido visto mancando e é vigiado por agentes da Polícia Federal (PF) que ficam parados 24 horas por dia no portão de sua casa, no Condomínio Rio-Mar, na Barra da Tijuca, zona oeste do Rio de Janeiro. Depois de passar oito meses detido na carceragem da Superintendência da Polícia Federal do Paraná, agora o ex-diretor dirige apenas a sua casa. Mas até a rotina privada não é como antes. Uma de suas primeiras decisões, ao voltar da cadeia, foi tentar reduzir o salário da empregada doméstica. Ela não aceitou e foi demitida. O jardineiro também foi dispensado, o que sugere uma tentativa de reduzir custos. SEM SOSSEGO - Vigiado de perto por agentes da PF, que ficam parados 24 horas por dia no portão de sua casa, num condomínio na Barra da Tijuca, Paulo Roberto Costa só recebe visitas de advogados e parentes. As tarefas de casa passaram a ser, então, assumidas por Costa e sua mulher, Marici. Ele faz os serviços de jardineiro, piscineiro e cuidador de cachorros – quatro no total, todos vira-latas – e ela cuida da casa, segundo vizinhos. O engenheiro mecânico também abandonou as caminhadas nas redondezas e só recebe visitas de advogados e parentes, como as duas filhas, Ariana e Shanni de Azevedo Costa, e os respectivos maridos – Marcio Lewkowicz e Humberto Sampaio de Mesquita –, além dos filhos menores de ambas. Toda a família (mulher, filhas e genros) foi indiciada pelo Ministério Público Federal como cúmplices de Costa e vivem com sigilo telefônico e bancário quebrados. A casa é apropriada para quem quer tentar levar uma vida mais reservada, depois do escândalo em que se meteu: penúltima do lado esquerdo de quem entra no condomínio, a residência de Paulo Roberto Costa é isolada das demais e conta, ainda, com um muro muito alto e árvores na calçada que inviabilizam a visão do interior. Com dois andares – sala e cozinha no primeiro piso e quatro quartos no segundo – é avaliada em R$ 3 milhões, segundo moradores da região. Um carro modelo Audi, agora sem função, permanece sozinho na garagem. A PF apreendeu o outro carro, uma Land Rover que tinha sido presenteada pelo doleiro Alberto Youssef, que também colabora na deleção premiada para redução de penas. O mimo, de R$ 500 mil em média, ilustra o tipo de presente brindado a integrantes do esquema do Petrolão. Segundo um policial que se reveza na escolta, Costa tem permissão apenas para caminhar até a guarita do condomínio, a cerca de 50 metros de sua residência – o que nunca faz, no entanto. Ao contrário do delator do escândalo, Marici tem liberdade para se locomover, mas opta por ficar reclusa com o marido. Quando quis ser gentil com os policiais que não saem de sua calçada, abriu a porta e levou café para eles. Vizinhos contam que ela emagreceu muito. Além de a vida dos dois ter virado do avesso, o desgaste e as pressões sofridas nos últimos meses, com consequências até para os filhos, foram pesados. Os moradores já se habituaram com a alteração do ritmo do condomínio. Um deles disse que o susto maior aconteceu no momento em que Costa foi preso, pois helicópteros, viaturas policiais e agentes da Polícia Federal invadiram o local. “Agora, já estamos acostumados”, disse um vizinho que pediu anonimato. Outro, mais exaltado e indignado, se disse impressionado com a quantidade de dinheiro que o vizinho até então considerado “um bom e honesto senhor” roubou. “Se ele já fez acordo com a Justiça para devolver US$ 23 milhões, imagina o quanto roubou!”, disse. Outro morador afirmou que “agora ele vai ficar mais humilde”, referindo-se ao jeito arredio de Costa antes de ser preso. Radicado no Rio, Paulo Roberto Costa tinha muitos amigos e chegou a ser condecorado como cidadão fluminense na Assembleia Legislativa do Estado, em 2008. Após deixar a Petrobras, em 2012, manteve a rotina de fraudes na estatal, tendo apenas mudado a trincheira: abriu a consultoria Costa Global e a usou como fachada de um novo esquema que lesou não só a Petrobras, mas também outros órgãos do País. 3#4 O PREÇO DA VERDADE Reações ao relatório da Comissão da Verdade, divulgado na última semana, mostram um resgate histórico ainda incompleto. Vítimas, familiares de desaparecidos e os agentes da ditadura ainda terão um custo alto a assumir Eumano Silva O choro da presidente Dilma Rousseff no meio do discurso feito na quarta-feira 10, ao receber o relatório final da Comissão Nacional da Verdade (CNV), deu a dimensão do momento histórico. Ex-guerrilheira, presa e torturada nos porões da ditadura militar, Dilma se emocionou por reencontrar mais uma vez o passado doloroso que marcou sua juventude e traumatizou o Brasil. No auditório do Palácio do Planalto onde se realizou a cerimônia, encontrava-se cerca de uma centena de familiares de mortos e de desaparecidos políticos do regime fardado. Com 4.328 páginas, o documento da CNV condensou o trabalho conduzido pelos comissários durante dois anos e sete meses de investigações e pesquisas feitas com o objetivo de resgatar a memória dos anos de chumbo. A solenidade simbolizou, então, o fim de uma importante fase da reconstituição das agressões e dos abusos contra os direitos humanos patrocinados pelo Estado. Mas significou também o início de um novo ciclo na busca de esclarecimento do passado obscuro. “Tenho certeza que ele (o relatório) encerra uma etapa e ao mesmo tempo começa uma nova etapa, demarca um novo tempo”, afirmou Dilma. INSUFICIENTE - Por causa da falta de colaboração dos militares, houve pouco avanço no tocante à localização dos corpos, por exemplo, de desaparecidos na Guerrilha do Araguaia (acima) Pelas primeiras reações ao relatório, pode-se dizer que o prosseguimento do resgate histórico tem um preço alto tanto para as vítimas quanto para os agentes da ditadura. Ainda sem saber o destino de 208 desaparecidos, os familiares permanecerão com suas vidas tragadas pela extenuante procura de informações que os ajudem a descobrir o que foi feito de seus entes queridos. Para os militares envolvidos na prática e no acobertamento das atrocidades, os ecos do passado têm o peso de um fantasma que os assombrará ainda mais com a possibilidade de ações judiciais fundamentadas no documento da CNV. Em um dos trechos mais incisivos, o texto entregue a Dilma responsabiliza 377 militares e civis pelos crimes investigados. Entre eles estão os cinco presidentes da República do período ditatorial: Humberto de Alencar Castello Branco, Arthur da Costa e Silva, Emílio Garrastazu Médici, Ernesto Geisel e João Baptista Figueiredo. Os desdobramentos dos trabalhos da comissão se fazem necessários por dois motivos. Primeiro, porque o relatório listou 29 recomendações a serem seguidas pelas instituições nacionais para dar continuidade ao resgate histórico. Em segundo lugar, porque o esforço da CNV se revelou insuficiente para cumprir a missão que lhe foi delegada. Embora categórico no conteúdo pela riqueza de detalhes sobre, principalmente, a tortura e convincente pelas provas apresentadas, o trabalho tem falhas em alguns aspectos estabelecidos na lei que criou a CNV. De acordo com o texto aprovado pelo Congresso, o grupo tinha como objetivos procurar a verdade factual, respeitar a memória histórica e promover a reconciliação do Brasil. Dessas três metas, pode-se dizer que apenas a segunda foi cumprida em sua totalidade. O relatório final, realmente, se preocupou com a solidez dos fatos narrados. Os outros dois propósitos, porém, não foram atingidos. Por causa da falta de colaboração dos militares, a reconstituição das circunstâncias das mortes e a localização dos corpos pouco avançaram. De resultado concreto, a Comissão obteve apenas a localização da ossada do camponês Epaminondas Gomes de Oliveira, assassinado sob tortura. Também se mostrou frustrada a tentativa de reconciliação entre os militares e a sociedade que luta pelo esclarecimento dos episódios acobertados por seus autores. Nessa direção, uma das recomendações da CNV diz respeito ao reconhecimento, pelas Forças Armadas, de sua responsabilidade institucional pelos crimes da ditadura. A maior prova da dificuldade de conseguir um entendimento nesse ponto está na ausência dos comandantes militares na cerimônia no Palácio do Planalto. Eles nem sequer foram convidados. Quem, de certa forma, os representou foi o ministro da Defesa, o civil Celso Amorim. De todas as recomendações, a mais dura para os militares é a que trata da revisão parcial da Lei da Anistia, promulgada em 1979 e referendada pelo Supremo Tribunal Federal em 2010. Para a CNV, a legislação brasileira deve seguir uma decisão da Corte Interamericana de Direitos Humanos, colegiado ligado à Organização dos Estados Americanos (OEA), e punir os que praticaram crimes contra a humanidade. Apesar da ligação pessoal com o combate ao regime militar, Dilma fez nesse ponto um gesto no rumo da conciliação. No discurso da semana passada, depois de reverenciar os antigos companheiros que tombaram e todos os que lutaram pela redemocratização, a presidente acenou para os militares. “Também reconhecemos e valorizamos os pactos políticos que nos levaram à redemocratização”, disse a presidente. Os militares da reserva e da ativa rechaçam a possibilidade de revisão da Lei da Anistia. Nesses círculos, Dilma e todos os que pegaram em armas para lutar contra o regime opressivo são “terroristas”. Eles argumentam que os inimigos da ditadura também cometeram crimes e que o perdão vale para os dois lados. Em resposta ao relatório da CNV, o presidente do Clube Militar, general Gilberto Pimentel, anunciou que vai divulgar uma lista com 120 nomes de pessoas mortas pelas organizações de esquerda. Contra a posição dos militares, os que buscam reparação pelos abusos dos agentes da ditadura afirmam que os adversários da ditadura já foram punidos com mortes, prisões, torturas e exílio. Até hoje, nenhum integrante do aparato repressivo sofreu punição pelos abusos. 3#5 JOGO DE CENA O procurador-geral da República eleva o tom das críticas contra o governo, diz que vai punir corruptos e corruptores, mas insiste em um acordo que poderá impedir que a Operação Lava Jato chegue ao Palácio do Planalto Mário Simas Filho e Claudio Dantas Sequeira Na última semana, em decorrência das descobertas feitas pela Operação Lava Jato, o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, elevou o tom das críticas ao governo. Durante evento de combate à corrupção disse que o escândalo da Petrobras “convulsiona” o País e que está envergonhado pelo fato de o “Brasil ser extremamente corrupto”. Janot propôs a demissão de toda a direção da estatal, segundo ele, responsável por uma “gestão desastrosa”, e mandou um recado direto a corruptos e corruptores: “Não haverá descanso enquanto não houver punição a todos os que instalaram uma roubalheira desenfreada na maior empresa pública do País”. Presente no mesmo evento, o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, reagiu, a princípio, timidamente, dizendo que o governo não é conivente e nem tolera a corrupção. Mais tarde, após receber dois telefonemas no Palácio do Planalto, Cardozo convocou entrevista coletiva para defender a direção da Petrobras. Na quinta-feira 11, o procurador-geral voltou ao ataque. Desembarcou em Curitiba (PR), onde está sediada a força-tarefa da Lava Jato, para apoiar os procuradores responsáveis pelas investigações, que denunciaram 36 pessoas pelos crimes de corrupção, lavagem de dinheiro e formação de quadrilha, entre eles 25 diretores e executivos de seis das maiores empreiteiras do Brasil (leia quadro na pág. 46), e novamente fez um discurso veemente. “O esquema montado na Petrobras é uma aula de crime”, disse Janot, minutos depois de o procurador Deltan Dallagnol apresentar a denúncia contra os empreiteiros, ex-funcionários da Petrobras e doleiros. “Um crime que roubou o orgulho dos brasileiros”, completou o procurador. Em seguida, referindo-se aos empresários, afirmou: “Não existe acordão para o Ministério Público. Todos serão punidos”. Nesse momento, o procurador deixou de manifestar a indignação com o que vem descobrindo em suas investigações e passou a fazer jogo de cena. Não é verdade que o Ministério Público descarte a possibilidade de um acordo com os empreiteiros envolvidos no petrolão. O MINISTRO E O PROCURADOR - Cardozo (à esq.) e Janot trocaram farpas em evento sobre corrupção, mas ambos buscam uma saída para livrar o governo Em sua última edição, ISTOÉ revelou os encontros que Janot manteve com representantes dos emp reiteiros em busca de acordos que possam agilizar as investigações. O problema é que a proposta oferecida pelo procurador, segundo dois ministros do STF ouvidos por ISTOÉ, impossibilita uma investigação sobre suposta participação do governo no maior esquema de corrupção já descoberto no Brasil. De acordo com advogados que participaram das reuniões com Janot, o procurador busca delações que isentem o governo, mas não abre mão de que os empreiteiros admitam a formação de cartel, assumam a responsabilidade criminal de seus executivos e diretores e citem em seus depoimentos não só parlamentares da base de apoio do governo como também da oposição. Até o final da semana passada diversas empresas ainda resistiam a esse acordo, mas a pressão sobre elas, segundo seus representantes, vem aumentando. “Agora estão nos apertando pelo lado financeiro”, afirmou à ISTOÉ um dos advogados que têm participado de encontros com procuradores da Lava Jato. A pressão financeira contra as empresas teria começado veladamente no final de novembro. No dia 1º de dezembro, durante reunião na sede da Controladoria-Geral da União, em Brasília, com a presença do secretário-executivo da CGU e representantes de pelo menos quatro das empresas envolvidas, foi comentada a possibilidade de serem suspensos os financiamentos dos bancos públicos para as empreiteiras envolvidas nas investigações. Na quarta-feira 10, o BNDES fez uma consulta formal à Advocacia-Geral da União (AGU) para saber qual posicionamento deveria ser tomado pelo banco em relação às futuras operações das empresas vinculadas à Operação Lava Jato. Isso porque, enquanto não houver uma manifestação oficial da AGU, não haverá operações com as empreiteiras investigadas. Também há cerca de duas semanas, segundo representantes de três empreiteiras, o Banco do Brasil e alguns bancos privados têm aumentado as exigências para liberar recursos às empreiteiras que estejam arroladas no Petrolão. MAPA DO ESCÂNDALO - O procurador Dallagnol, da Força Tarefa da Lava Jato, mostra como o dinheiro foi roubado da Petrobras A insistência do procurador em um modelo de negociação que pode impedir a Lava Jato de chegar ao Planalto e ao mesmo tempo apertar o cerco contra as empreiteiras já fez com que os empresários abrissem mão do projeto inicial de buscar um acordo comum. Com executivos na cadeia e um torniquete financeiro cada vez mais apertado, muitos concordaram com delações premiadas ao longo das duas últimas semanas. ISTOÉ teve acesso a parte desses depoimentos e eles indicam que as delações vêm sendo feitas de forma a atender às exigências de acordos que poupem o governo e atual administração da Petrobras. Assim, a estatal teria sido vítima de um grupo de empresários, que com a participação de ex-diretores e propinas pagas a alguns parlamentares, promoveram o maior caso de corrupção já descoberto no Brasil. O governo e os atuais diretores da empresa de nada saberiam. Um exemplo desse expediente está no relatório de indiciamento de Fernando Antônio Soares, conhecido como Fernando Baiano e apontado como o operador do PMDB no esquema. A delegada Érika Marena o classifica como o controlador de um “esquema de corrupção e lavagem” na diretoria Internacional da Petrobras, “enquanto foi de titularidade de Nestor Cerveró”. Sugere, assim, que após a demissão de Cerveró, em 2011, o esquema deixou de funcionar. No depoimento prestado por Baiano, em nenhum momento os responsáveis pela Lava Jato o questionam sobre negócios feitos a partir de 2011, embora em declarações prestadas anteriormente o executivo da Toyo-Setal, Julio Camargo, tenha admitido ter pago propinas para Baiano no Exterior em 2011 e 2012. O relatório mostra ainda que os agentes da PF estavam mais interessados em saber como era a atuação de Baiano na estatal em 2000, durante o governo de FHC. Outro caso que revela a condução das delações é o depoimento de Augusto Mendonça, também executivo da Toyo-Setal. Ele relata que a partir de 2012 o clube de empreiteiras deixou de existir. Afirma que a atual direção da Petrobras abriu as concorrências para a participação de empresas de fora do esquema e garante que não houve mais pagamentos irregulares. No mesmo depoimento, no entanto, afirma que pagou propinas nas obras do Consórcio Interpar, de julho de 2008 até janeiro de 2013. Nem os delegados nem os procuradores o questionaram sobre a contradição, apesar de na denúncia do MP constar que o esquema durou até meados de 2014. Mendonça também nem sequer é perguntado pela PF ou pelo MP sobre detalhes da revelação de que que acertou com Renato Duque, ex-diretor de Serviços da Petrobrás, o pagamento de propinas via doações de “caixa 1” para campanhas do PT. São detalhes como esses que o ministro Teori Zavaski, do STF, planeja examinar com lupa a partir do momento em que receber a totalidade das investigações. _________________________________________ 5# COMPORTAMENTO 17.12.14 5#1 A GUERRA DO MOLHO PARDO 5#2 AGORA AS FÉRIAS SÃO NO EXTERIOR 5#3 POR QUE OS EXAMES PSICOLÓGICOS NÃO FUNCIONAM 5#4 "EU MATAVA PORQUE GOSTAVA" 5#5 TRAIÇÃO NO TRONO INGLÊS 5#1 A GUERRA DO MOLHO PARDO Em defesa de receitas tradicionais, chefs criam campanha para utilizar sangue animal em seus restaurantes, item proibido em alguns Estados Camila Brandalise (camila@istoe.com.br) Se comida é memória, a campanha lançada por dois chefs de São Paulo pela liberação do uso de sangue animal nas receitas dos restaurantes pretende nos salvar de uma amnésia. Jefferson Rueda, do Attimo, e a mulher, Janaina Rueda, do Bar da Dona Onça, ambos de São Paulo, iniciaram uma mobilização para trazer essa discussão à baila e lutar pela volta do ingrediente, ligado às origens da cozinha nacional. Não há legislação específica por parte da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), mas em alguns Estados do País, incluindo São Paulo, é preciso registrar o sangue e comprovar sua origem. “Essas regras inviabilizam nossa criação”, afirma Rueda. “Fala-se muito na nova e alta gastronomia brasileira, mas não podemos deixar de lado nossa história.” ALTERNATIVA - Para fazer galinha a molho pardo, o chef Jefferson Rueda, do Attimo, usa um embutido de sangue de porco O casal começou uma expedição para ver como chefs e cozinheiros utilizam o ingrediente. Foram a Minas Gerais, por exemplo, para conhecer o restaurante Maria das Tranças, que construiu um abatedouro e um frigorífico para manter a galinha ao molho pardo no cardápio. Para 2015, já tem planejadas viagens ao Nordeste e ao Japão. Também tem se manifestado via redes sociais. No Instagram, criaram a “hashtag” #sangueéingrediente. “É uma maneira de chamar a atenção para o assunto”, diz Janaína. A rígida regulação do uso do sangue colocou em extinção pratos como a galinha ao molho pardo, também chamada de cabidela, trazida ao País pelos portugueses. No Attimo, a saída encontrada por Jefferson foi preparar a receita com chouriço, o embutido de sangue de porco. Chef brasileiro reconhecido mundialmente, Alex Atala considera legítima a reivindicação dos Rueda. Fundador do Instituto Atá, que busca reavaliar a relação do homem com a comida por meio de pesquisas e estudos, Atala ressalta que na Europa as regras são parecidas com as brasileiras, mas toda vez que um produto é comprovadamente relacionado à cultura e à economia locais é aberta uma exceção. “Não podemos fechar os olhos ao controle dos alimentos, mas as normas precisam de revisão para salvaguardar nossa tradição.” 5#2 AGORA AS FÉRIAS SÃO NO EXTERIOR Preços exorbitantes de passagens e hospedagens cobrados por aqui fazem turistas brasileiros optarem por viajar para outro país nos seus momentos de lazer Camila Brandalise (camila@istoe.com.br) Depois de passar várias temporadas de férias em resorts pelo Brasil, a administradora hospitalar Eliane Biasi, 43 anos, resolveu mudar o roteiro. Fez as contas e concluiu que seria mais vantajoso aproveitar a folga em outro país. Escolheu os Estados Unidos, para onde foi com o marido e os dois filhos. “São viagens bem diferentes, mas vejo que no exterior há mais possibilidades. Mesmo os estabelecimentos com preços módicos oferecem serviços muito bons”, diz. Como Eliane, cada vez mais brasileiros estão colocando os gastos na ponta do lápis e percebendo que há opções bastante atrativas de viagens para fora do Brasil. “Notamos uma migração de 25% a 30% de pessoas que compravam rota nacional e agora fazem internacional”, afirma Alípio Camanzano, diretor-geral da Decolar.com, agência online de turismo. Da passagem de avião às compras, dos hotéis ao aluguel de carro, tudo está mais acessível lá fora (leia na pág. 60). “Os destinos brasileiros são incríveis, mas o custo para o turismo está muito alto”, diz Edmar Bull, vice-presidente da Associação Brasileira das Agências de Viagens (Abav). Houve uma migração de cerca de 30% de pessoas que faziam a rota nacional e agora optam pela internacional. O problema começa já no primeiro passo do planejamento, ao cotar as passagens aéreas. Essa é, inclusive, uma das maiores reclamações dos turistas que pretendem viajar dentro do Brasil na época de férias escolares e acabam desistindo, devido aos valores exorbitantes. Os preços para regiões do Nordeste na alta temporada por vezes se equiparam a promoções recorrentes para Europa e Estados Unidos, por exemplo. Segundo Edmar Bull, da Abav, com a malha aérea nacional trabalhando com 80% de ocupação durante o mês de janeiro, ou seja, com voos praticamente lotados, a tendência é que os preços sejam mesmo altos. “Para diminuir o custo, é preciso haver mais ofertas: mais voos e empresas trabalhando aqui”, afirma. Para o exterior, a história se inverte: há mais malha e menos procura. “Por isso, pode ser mais acessível.” Já a hotelaria nacional trabalha com ocupação de 52%, o que torna o custo maior e, consequentemente, encarece o preço final. EM FAMÍLIA - Eliane Biasi, à esquerda, desistiu dos resorts no Brasil por causa do preço e vai anualmente com a família para os Estados Unidos Ao fazer a análise do custo-benefício, várias famílias optam por embarcar para Orlando, na Flórida. Consultor e palestrante na área de recursos humanos, Alexandre Slivnik, 32 anos, faz frequentes viagens a trabalho para lá e, na hora de optar por um destino para passar as férias, escolhe mais uma vez a cidade americana e os parques da Disney. “Encontro em Orlando a oportunidade de ver diferentes culturas, tendo contato com pessoas de todos os lugares do mundo”, afirma. Para Slivnik, ir para fora do País hoje não é mais um sonho distante, como era há alguns anos, ainda mais nesse momento em que os preços estão altos no Brasil. “Analisando as ofertas de pacotes para o Nordeste, por exemplo, faço as contas e vejo que uma semana em um resort para uma família de quatro pessoas com tudo pago sairá mais caro do que uma semana em Orlando, também com tudo pago”, afirma. Para a empresária Liana Rangel, 44 anos, mãe de dois meninos, outra fã da cidade americana, a grande preocupação ao viajar é em relação à estrutura turística e à programação disponível para entreter as crianças. “Aconteceu de, nas viagens nacionais, chegarmos ao destino e percebermos que a cidade não está tão preparada”, afirma. Garantir um roteiro estruturado é essencial para que as férias sejam prazerosas para todos. “Adulto se vira, come qualquer coisa na rua, se um passeio não dá certo sai para fazer outro. Mas com criança não é tão fácil.” BENEFÍCIO - Poliana Moreno, à direita, decidiu ir para Santiago com a irmã porque as cotações para viagens no Brasil estavam muito caras Para muitos brasileiros, viajar para fora também significa aproveitar os bons preços dos produtos, que aqui podem alcançar o dobro ou o triplo do valor. Segundo o diretor-geral da Decolar.com, a primeira pergunta que muitos clientes fazem ao pesquisar seus roteiros é “o que posso comprar nesse lugar?”. “Não podemos criticá-los por isso. Lá fora tem muitas lojas que não existem aqui”, diz Camanzano. A turismóloga Rita Michelon, vice-presidente da Associação Brasileira de Turismólogos e Profissionais do Turismo (Abbtur), afirma que esse é um costume dos turistas brasileiros. “Faz parte da nossa cultura de consumo”, diz. “Por isso, é normal muitas pessoas optarem por ir a um destino onde, além de passear, é possível encontrar produtos por menos da metade do preço em comparação aos valores praticados aqui.” Aparelhos eletrônicos, como smartphones, tablets e notebooks, costumam ser itens bastante procurados. O engenheiro mecânico Robson Brandão Watanabe, 28 anos, mudou o destino da viagem de lua de mel que faria com a mulher, Caroline Cristina Galhardo Watanabe, 25 anos, após realizar algumas cotações. Ambos sonhavam em ir para Fernando de Noronha, mas acharam o preço alto demais e optaram por conhecer o Caribe e os Estados Unidos, onde aproveitaram para comprar coisas para a casa nova, principalmente eletrônicos. “Foi um ótimo custo-benefício. Fomos para Punta Cana e Nova York e gastamos em torno de US$ 10 mil (cerca de R$ 26 mil)”, diz Caroline. Fãs de mergulho, eles ainda planejam visitar Fernando de Noronha quando encontrarem um pacote mais em conta. Ainda que a maioria dos brasileiros viaje pensando também em fazer compras, há os que preferem um roteiro em que o passeio valha por si só. Esse é o pensamento da médica ortomolecular Luciana Luiz Granja, 42 anos, que costuma viajar com o filho de 8 anos e os pais. “Gosto de conhecer lugares diferentes e mostrar o mundo para a minha família”, afirma. Viagens pelo País já saíram da lista de opções. “Costumava ir para o Nordeste e para o Sul, mas ultimamente tem saído mais barato passear lá fora.” Por suas experiências no exterior, Luciana afirma que o dia a dia de uma viagem na Europa ou nos Estados Unidos lhe parece mais em econômica que no Brasil. O mesmo relato é feito por outros turistas, que falam da variedade de bons restaurantes e hotéis que podem ser considerados baratos se comparados com o mesmo nível de serviço em uma cidade brasileira. “Já fui a bistrô parisiense onde paguei o mesmo valor de um restaurante por quilo um pouco mais sofisticado no Brasil”, diz Luciana. TOUR - Luciana Granja (à esq.) tira férias todos os anos e viaja com os pais e o filho. Antes, ia para Nordeste e Sul do País. Agora, visita a Europa. Para que a escolha pelas viagens internacionais fique ainda mais vantajosa, uma dica importante é se planejar com antecedência. Pensando nisso, o publicitário Thiago Garcia Caranassios, 23 anos, e três amigos fecharam, já no meio do ano, uma viagem para passar o Réveillon em Montevidéu, no Uruguai. Em 2013, queriam festejar a data em Florianópolis. “Mas ficaria muito caro e desistimos”, diz. Quando começaram a pesquisar os destinos, viram que ir para um país próximo poderia sair mais barato, e logo pensaram no Uruguai. A diária da casa alugada para oito dias na capital do país acabou ficando mais barata do que a de um hostel no Rio de Janeiro. De cotação em cotação, a coordenadora de marketing Poliana Guimarães Moreno, 36 anos, também preferiu um país da América do Sul ao Brasil por causa do preço. “Queria viajar com meus dois irmãos para Gramado (RS). Mas fizemos vários levantamentos, um deles para Santiago. A viagem de dez dias para lá sairia R$ 500 a menos do que a opção nacional.” Poliana diz já ter visitado outros lugares na região, como Colômbia e Argentina. “E sempre fica mais vantajoso financeiramente do que no Brasil.” LUA DE MEL - Caroline e Robson Watanabe trocaram Fernando de Noronha, muito caro, pelo Caribe como destino após o casamento: não se arrependeram. As agências de viagens já perceberam há algum tempo a movimentação de brasileiros que deixaram de viajar pelo País e optaram pelo exterior. “Acredito que a tendência começou há dois ou três anos, quando muitas companhias estrangeiras chegaram ao Brasil e começaram a operar em várias rotas”, afirma Claudine Blanco, proprietária da ViaBR Turismo. Com os preços favoráveis, os viajantes que já conheciam o País começaram a cogitar novas possibilidades de destinos. Segundo Márcio Federicci, do departamento de promoção da agência Intravel, a opção pelo exterior vem também por causa da excelência no atendimento ao turista. “Por mais investimento que o governo coloque, estamos em falta. Hoje aqui há muitos hotéis cinco-estrelas, cobrando caro, com serviço de quatro.” Outro ponto levantado pelos brasileiros é que, principalmente em cidades europeias, há uma sensação de segurança maior, o que possibilita o uso de transporte público mesmo tarde da noite, por exemplo. A alta do dólar também não parece ser empecilho para os viajantes. “Pode ser que a pessoa pense duas vezes se quiser ir para um destino de compras, mas não deixará de viajar para fora”, diz Claudine. RÉVEILLON - Thiago Caranassios (à direita) passará o Ano-Novo em Montevidéu, no Uruguai, com os amigos. "O preço da casa que alugamos é mais barato que o de um hostel no Rio". Os gargalos no turismo no País, principalmente questões envolvendo preços, afetam o setor como um todo. Para Rita Michelon, da Abbtur, um dos problemas é que a área de viagens passou a ser vista como negócio muito recentemente. Ela compara a história do Uruguai, cujo Ministério do Turismo foi criado em 1975, com a nossa, que tem o órgão apenas desde 2003. “Com três milhões de habitantes, eles recebem três milhões de turistas. Nós, com 200 milhões de pessoas, recebemos seis milhões”, afirma. Há, portanto, muito para ser melhorado. Políticas públicas, investimentos do governo, maior concorrência entre companhias aéreas e redes hoteleiras são alguns dos objetivos a serem alcançados. Até lá, mais brasileiros devem continuar rumando para o exterior em suas férias. 5#3 POR QUE OS EXAMES PSICOLÓGICOS NÃO FUNCIONAM Profissionais da segurança privada que confessaram autoria de assassinatos em série e decapitações colocam em dúvida a eficiência dos testes exigidos pela Polícia Federal Fabíola Perez (fabiola.perez@istoe.com.br) Candidatos aos postos de segurança ou vigilante são submetidos a uma série de exames psicotécnicos para comprovar que têm condições físicas e mentais para manusear uma arma de fogo. Não se trata de um processo seletivo comum. Esses testes foram desenvolvidos para apontar características como tendência à depressão, agressividade e equilíbrio emocional. No entanto, nos últimos meses, dois casos envolvendo seguranças que possuíam autorização da Polícia Federal para porte de armas ganharam visibilidade nacional pela crueldade dos seus crimes. Recentemente, em Mogi das Cruzes, São Paulo, o vigilante Jonathan Lopes de Santana, de 23 anos, foi preso depois de confessar ter cometido seis homicídios, com requintes de crueldade: ele decapitou suas vítimas. Outro caso que chocou os moradores de Goiânia foi o do segurança particular Thiago Henrique Gomes da Rocha, 26 anos, que admitiu ter assassinado 39 pessoas, entre mulheres e moradores de rua. Coincidentemente, ambos foram considerados aptos para o manuseio de armas, o que significa dizer que em seus laudos psicológicos constavam características como maturidade, prudência e controle. O que poderia então ter ocorrido para a obtenção de resultados tão distintos da realidade? PERIGO - Thiago Rocha, o serial killer de Goiânia, que matou 39 pessoas: passou pelo exame de porte de arma da PF sem nenhuma restrição Um dos fatores que explicam a discrepância, segundo a psicóloga Maria Cristina Pellini, do Laboratório Interdepartamental de Testes Psicológicos da Universidade de São Paulo (USP), é que somente em setembro deste ano passou a vigorar uma nova legislação que amplia o número de testes a serem aplicados nos interessados aos postos de segurança. A lei obriga, ainda, os psicólogos a se credenciarem na Polícia Federal para poder aplicar os exames psicotécnicos e de sanidade. “A arma se torna um objeto de poder, por isso o psicólogo não pode ter dúvidas na hora de concluir o laudo”, afirma Maria Cristina. Antes da nova lei, apenas um teste era aplicado aos candidatos. Hoje, são realizados cinco exames diferentes e uma entrevista pessoal. À época que foram avaliados, os vigilantes Santana e Rocha não tiveram nenhum desvio de conduta diagnosticado. Porém, ambos passaram pelos exames antes de a lei entrar em vigor. Em depoimento à polícia, o serial killer de Goiânia chegou a afirmar que havia sido abusado sexualmente por vizinhos. Santana, de Mogi, disse à polícia que ouvia vozes que o incentivavam a matar. PERIGO - O segurança Jonathan Santana decapitou seis pessoas em Mogi das Cruzes (SP). Em seu teste constavam características como maturidade e prudência Ao concluir o curso de formação, o vigilante precisa passar por reciclagem a cada dois anos e por novos testes psicológicos a cada ano. Nesse percurso, muitos fatores podem interferir na qualidade dos exames. “Alguns psicólogos podem aplicar os testes com menor período de tempo ou sem corrigir corretamente”, diz Maria Francisca Romanó, diretora da escola de Cursos Profissionais de Segurança, em Curitiba. Outro problema, segundo ela, refere-se à fiscalização realizada pela Polícia Federal. “É um efetivo pequeno e, muitas vezes, a escola que comete alguma irregularidade demora a ser autuada”, diz. Dados da Polícia Federal mostram, porém, que, nos últimos 12 meses, 222 sanções foram aplicadas às escolas de formação. Do outro lado estão as empresas de segurança privada que se queixam de alguns aspectos da nova legislação. A principal reclamação seria a de que, com mais rigidez e um maior nível de complexidade, menos profissionais de segurança chegariam ao mercado. “Não é simples saber se a pessoa possui algum indício de transtorno. Em muitos casos, ela pode desencadear desvios já no posto de trabalho”, afirma Keli Cristina Mota dos Santos, psicóloga que presta serviço à EmForVigil, empresa pela qual se formou Jonathan Santana. “Seriam necessários testes mais elaborados e mais caros, um investimento que dificilmente as empresas de segurança estariam dispostas a pagar.” 5#4 "EU MATAVA PORQUE GOSTAVA" Preso no Rio, serial killer diz que matou 42 pessoas na Baixada Fluminense, não se arrepende e avisa: quando solto, voltará ao crime Helena Borges (helenaborges@istoe.com.br) Trinta e oito mulheres, três homens e uma criança. Essa é a conta macabra do número de assassinatos que Saílson José das Graças, 26 anos, diz ter cometido. Ele foi preso na noite da quarta-feira 10, na Baixada Fluminense (RJ), e discorreu, com frieza que impressionou até os mais experientes policiais, como matava suas vítimas. O assassino contou que escolhia suas presas, em sua maioria mulheres brancas, depois de “estudar” o comportamento delas durante dias, e que não atacava negros por serem “da família”. Costumava estrangulá-las e esfaqueá-las – e, algumas vezes, arrancava suas unhas. Os únicos casos que fogem ao padrão são os da criança de 3 anos, morta por ter chorado ao ver a mãe ser assassinada, e três homens, eliminados mediante pagamento. “Matava porque gostava. Não me arrependo e, quando sair, provavelmente vou matar de novo”, disse. Ao lembrar da primeira vez que assassinou alguém, aos 17 anos, falou: “Deu aquela adrenalina”. Esta é a quinta vez que Saílson é preso. BARBÁRIE - Saílson José das Graças, na quarta-feira 10, ao ser preso: frieza e crueldade ao descrever seus assassinatos. “Confesso que é a primeira vez que vejo um serial killer com uma psicopatia tão forte”, disse o delegado Pedro Henrique Medina. Porém, a psicóloga Beatriz Breves, autora do livro “A Maldade Humana”, acha que o comportamento dele não é doentio: “Se fosse patologia, não faria distinção. Ele não ataca o negro porque se identifica, isso é um sinal de culpa.” A especialista afirma que o prazer descrito pelo assassino e a adrenalina são fruto da sensação de poder sobre a vida e a morte do outro, como um Deus. Da mesma forma, o especialista em criminologia Alvino Augusto de Sá acrescenta que os serial killers têm uma situação não resolvida que pede para ser extravasada. “Quando cometem o primeiro homicídio, é como se encontrassem uma resposta para essa turbulência interna, que se torna uma demanda irrefreável”, diz. Felizmente, agora, Saílson está impedido de matar. 5#5 TRAIÇÃO NO TRONO INGLÊS Exame de DNA identifica ossada de Ricardo III, mas coloca a sucessão real em xeque ao descobrir que houve infidelidade conjugal na coroa britânica Raul Montenegro (raul.montenegro@istoe.com.br) Exames de DNA na ossada de Ricardo III comprovam que houve traição na corte inglesa e que parte dos monarcas atuais pode não carregar sangue puramente nobre. O repórter Raul Montenegro explica como os cientistas descobriram isso. "Um cavalo, um cavalo, meu reino por um cavalo!” De acordo com William Shakespeare, essas teriam sido as últimas palavras do rei Ricardo III antes de ser morto na batalha de Bosworth, na qual perdeu a coroa britânica para a dinastia Tudor. Na peça em que conta a vida do mais contestado monarca inglês, o dramaturgo o descreve como um “aborto de porco”, corcunda “deformado, inacabado”, o “agente negro do inferno (...) determinado a ser vilão e odiar os prazeres vazios desses dias”. Recentemente, porém, ficou pronta a pesquisa que começou a revelar a verdade por trás do mito, conduzida por um time de especialistas em história, genética e arqueologia da Universidade de Leicester, no Reino Unido. O estudo descobriu com 99,999% de certeza que a ossada achada em 2012 debaixo de um estacionamento inglês pertence ao polêmico soberano, revelou suas características físicas e colocou em xeque a legitimidade de diversos governantes do país, incluindo o próprio Ricardo. FACETAS - Catedral de Leicester, onde Ricardo será reenterrado (acima), retrato do soberano e seus restos mortais (abaixo) Isso aconteceu porque, para comprovar a identidade do corpo, os cientistas analisaram dois tipos de DNA: o mitocondrial, passado de mãe para filho, e o do cromossomo Y, transmitido pelo pai. No primeiro caso, os exames atestaram a compatibilidade genética dos restos encontrados em 2012 com dois descendentes vivos da linhagem feminina de Ricardo. Com isso, confirmaram que o cadáver é do rei. O problema ocorreu nos testes com o cromossomo Y. Eles revelaram uma quebra na cadeia paterna em algum ponto entre o tataravô de Ricardo e um sucessor do século XVIII. Ou seja, nesse período um ou mais maridos foram traídos, e vários deles podem ser pais de monarcas. “Nós não temos prova sobre onde a descontinuidade ocorreu. A maioria dos elos neste ínterim, 13 de 19, não afeta descendentes reais. Mas os seis restantes podem levantar dúvidas sobre a legitimidade de vários governantes”, diz o historiador Kevin Schürer, que conduziu o estudo. Além de Ricardo III, os afetados podem ser Eduardo IV, Henrique IV, V e VI e toda a dinastia Tudor. A descoberta, ironicamente, põe em questão a própria reivindicação ao trono que matou Ricardo. Nobre ligado à casa York, ele cresceu e viveu durante a Guerra das Rosas, conflito que botou em choque pelo trono inglês sua família e a casa Lancaster. Para chegar à coroa após a morte de seu irmão, Eduardo IV, aprisionou os dois herdeiros e os declarou ilegítimos, usurpando o trono. Os garotos nunca mais foram vistos. Quando sua mulher morreu de tuberculose, foi acusado de envenená-la para se casar com a sobrinha. Apenas dois anos depois de assumir, enfraquecido politicamente, Ricardo foi morto numa luta contra o exército de Henrique Tudor, que também reivindicava o poder pelos Lancaster. Foi o último monarca britânico a morrer em batalha, em 1485, aos 32 anos. Seu corpo foi encontrado num estacionamento construído sobre o convento onde ele havia sido enterrado. Em 2013, a universidade revelou que havia confirmado a identidade de Ricardo, mas a pesquisa completa só foi publicada agora. “Nós sabíamos que os restos mortais se encontravam no local onde antes estava um mosteiro franciscano de Leicester e lá nós achamos uma ossada que parecia ser a dele”, afirma a arqueóloga e geneticista Turi King, que chefiou o projeto. Com o estudo, descobriu-se, ainda, qual era o retrato que mais se aproximava da fisionomia do rei (que pode ser visto nesta página) e que sua fama de corcunda era justificada. O monarca possuía uma escoliose severa que o deixava com um ombro mais alto que o outro. Essa característica, no entanto, só surgiu à medida que ele envelhecia e nunca o impediu de levar uma vida ativa. Os cientistas não conseguiram apurar com exatidão a causa de sua morte, mas encontraram 11 marcas de ferimentos de armas medievais, incluindo adagas, espadas e lanças. Depois que o corpo de Ricardo III for reenterrado na Catedral de Leicester, em março de 2015, numa cerimônia aberta ao público, a busca acadêmica continuará. A fixação inglesa pelas intrigas reais e a importância histórica de se descobrir o maior número de detalhes sobre a sucessão monárquica já levam os estudiosos a querer estabelecer onde, exatamente, se deu a não paternidade na linhagem masculina. “Seria importante investigar e tentar entender onde a quebra ocorreu”, diz o historiador Schürer. ____________________________________________ 6# MEDICINA E BM-ESTAR 17.12.14 O REMÉDIO MAIS FORTE CONTRA A GORDURA Pesquisadores anunciam a criação de uma molécula capaz de produzir os melhores resultados obtidos até hoje no emagrecimento Mônica Tarantino (monica@istoe.com.br) Cada vez que um grupo de cientistas anuncia bons resultados em testes com novas substâncias contra a obesidade, o mundo se enche de esperança. Não é para menos – o drama do excesso de peso assumiu proporções globalmente epidêmicas e ameaçadoras. Desta vez, o passo à frente foi dado por cientistas americanos e alemães. Pela primeira vez, eles conseguiram fundir em uma única molécula algumas estruturas criadas à semelhança de três hormônios fabricados pelo corpo humano com ação importante no metabolismo. Desse amálgama surgiu uma substância inédita e com um poder jamais visto na luta contra a gordura. Os resultados dos testes pré-clínicos (feitos com animais) divulgados na semana passada pela revista científica “Nature Medicine” indicam que a substância não só eliminou 30% da gordura corporal como também diminuiu o apetite, os níveis de colesterol e a quantidade de gordura no fígado. Além disso, melhorou a sensibilidade à insulina (hormônio que permite a entrada, nas células, da glicose que está circulando no sangue) e aumentou a taxa de queima de calorias. O novo composto foi moldado para atuar nos receptores existentes nas células para os hormônios GLP-1, GIP e glucagon. Eles são chamados de incretinas. Em sua forma natural, GLP-1 e GIP melhoram a liberação de insulina, reduzindo os níveis de glicose no sangue. O primeiro tem ainda uma ação no sistema nervoso central e na redução do esvaziamento gástrico. O terceiro hormônio associado a ambos, o glucagon, estimula a atividade do fígado na quebra do glicogênio (a forma como a glicose se deposita no fígado). “O efeito desses três hormônios unidos em uma única molécula oferece resultados nunca alcançado antes”, disse um dos autores do trabalho, Brian Finan, do Helmholtz Diabetes Center, na Alemanha. Finan obteve seu doutorado em bioquímica na Universidade de Indiana Bloomington, nos Estados Unidos, no laboratório do químico Richard DiMarchi, que é coautor do estudo. TRIPLA AÇÃO - DiMarchi (à esq.) e Finan uniram três substâncias na mesma molécula. Ela atua em diferentes mecanismos relacionados à perda de peso O impacto impressionante ocorreria por causa da capacidade da molécula de interferir em diversos centros de controle metabólico ao mesmo tempo. “Ela age no pâncreas, no fígado, nos depósitos de gordura e no cérebro”, observa o químico DiMarchi. O novo estudo informa que a molécula teve quase o dobro do impacto obtido no ano passado pelo mesmo grupo com molécula desenhada pelo próprio DiMarchi que combinava as propriedades de dois hormônios e chegou a ser testada em seres humanos. A maior potência da molécula combinada sugere que ela poderá ser ministrada em dose mais baixa e com menos efeitos colaterais (como náuseas e vômitos) do que as medicações já disponíveis no mercado. “Trata-se de um estudo muito interessante e pioneiro. Os mecanismos exatos pelos quais essa molécula agirá ainda serão muito estudados”, diz a endocrinologista Maria Edna de Melo, do Grupo de Obesidade e Síndrome Metabólica do Hospital das Clínicas de São Paulo (HC/SP) e diretora da Associação Brasileira para o Estudo da Síndrome Metabólica e Obesidade. Ela explica que os caminhos pelos quais atuam o GIP e o glucagon, por exemplo, não são tão conhecidos como os do GLP-1, sobre o qual agem alguns dos remédios já lançados no mercado. “A interação desses três hormônios pode até trazer um efeito específico”, diz a endocrinologista. EXPECTATIVA - A endocrinologista Maria Edna, do Hospital das Clínicas de São Paulo, considera o estudo pioneiro Outra promessa é que a molécula se converta em uma opção para tratar a síndrome metabólica (quando a obesidade está associada a fatores como pressão arterial elevada, triglicérides elevados, hiperglicemia e colesterol HDL baixo). Dados da Federação Internacional de Diabetes indicam que cerca de 20% dos adultos têm algum tipo de síndrome metabólica, o que os torna muito mais vulneráveis a ataques cardíacos e acidentes vasculares cerebrais do que as pessoas sem a síndrome. O próximo passo dos cientistas será dar início aos estudos com seres humanos, que devem ser realizados pela empresa Roche. Como os estudos são bem iniciais, há ainda muita coisa a ser feita. Se for aprovada nos testes com seres humanos, uma eventual medicação feita com essa molécula chegará ao mercado entre cinco e dez anos. ____________________________________________ 7# ECONOMIA E NEGÓCIOS 17.12.14 7#1 A EMPRESA MAIS ODIADA DO MUNDO 7#2 A NOVA ONDA DOS SPAS 7#1 A EMPRESA MAIS ODIADA DO MUNDO O Uber, aplicativo que oferece carros de luxo para o transporte de passageiros, faz fortuna apesar de incomodar rivais e até clientes Cesar Soto e Mariana Queiroz Barboza Desleal, irregular, machista e sabotador. O aplicativo Uber, serviço que usa carros de luxo para o transporte de passageiros, opera em mais de 200 cidades de 52 países, inclusive no Brasil (em São Paulo, Belo Horizonte, Brasília e Rio de Janeiro), mas leva para onde for uma reputação pouco lisonjeira, descrita por uma série de impropérios. Desleal: porque os taxistas acham que não competem em pé de igualdade. Irregular: porque ainda não há uma legislação que contemple o serviço dos motoristas particulares conectados a usuários pela plataforma virtual. Machista: porque colocou modelos como motoristas numa promoção que questionava “quem disse que mulher não sabe dirigir?” E sabotador: porque os concorrentes acusam o Uber de contratar uma equipe apenas para cancelar milhares de corridas dos aplicativos rivais e, assim, recrutar os motoristas insatisfeitos que trabalhavam para essas empresas. Não bastasse isso, a imagem já suficientemente desastrosa ficou ainda mais manchada depois que, na semana passada, um motorista foi acusado de estuprar uma passageira na Índia. Resultado: o app acabou banido no país, como já havia acontecido na Espanha e na Tailândia (nesses dois casos, por motivos regulatórios). EMPREENDEDORES - Os fundadores Travis Kalanick (acima) e Garrett Camp (abaixo) levaram o Uber a uma avaliação de US$ 40 bilhões em apenas cinco anos O que espanta no caso Uber é que, apesar da imagem negativa, a empresa cresce como quase nenhuma outra no mundo. Fundada há apenas cinco anos, a companhia de São Francisco, que trabalha com metas semanais e recebeu recentemente um novo aporte de US$ 1,2 bilhão, está avaliada em US$ 40 bilhões. O montante é maior do que o do Facebook em seu quinto ano de operação e quase o dobro do que o Twitter, fundado em 2006, vale hoje. “Não somos uma empresa de transporte, mas de tecnologia”, afirma Guilherme Telles, diretor-geral do Uber no Brasil. “Ainda somos uma coisa nova, que não se encaixa nas legislações, então como podemos ser ilegais?” Ao concentrar a operação no celular, o aplicativo ganhou espaço por acabar com a necessidade de as pessoas andarem com dinheiro, gorjetas ou cartão no bolso. Da chamada do carro ao pagamento, tudo é feito eletronicamente. E nem sempre isso sai mais barato que um táxi. No País, onde só existe a opção Uber Black, que utiliza carros de luxo, é vantajoso utilizar o serviço só em São Paulo e em Belo Horizonte. Mas o intuito do Uber é oferecer uma experiência melhor, mais cortês e personalizada do que a proporcionada pelos taxistas. Com base apenas no sistema Android, o aplicativo já foi baixado por cinco milhões de usuários. Mas a coleção de polêmicas – há ainda denúncias de violação de privacidade e ameaças a jornalistas – pode causar problemas para a estratégia agressiva de crescimento da marca. “O Uber depende das pessoas para ser bem-sucedido”, disse à ISTOÉ Kellsy Panno, analista da consultoria SNL Kagan, da Califórnia. “Se as pessoas perderem a confiança na empresa, elas provavelmente vão deixar de aprovar os seus serviços e isso pode ameaçar o modelo de negócios.” Ciente disso, o Uber contratou, em agosto, um antigo diretor da campanha de Barack Obama à Presidência dos Estados Unidos para mudar sua imagem e passou a enfatizar que cria 50 mil empregos globais por mês. No horizonte da empresa, os investidores enxergam um negócio que pode incluir o transporte de bens e serviços e, assim, extrapolar os mercados de táxis e aluguéis de carros. Antes disso, o Uber precisa lidar com seus próprios demônios. Presidente e cofundador, Travis Kalanick é uma figura tão controversa quanto a própria empresa. Ele justifica que tamanha pressa e obstinação para ser grande são resultado de milhares de “nãos” que ouviu em outras aventuras empreendedoras antes de fundar o Uber, ao lado de Garrett Camp. Naquela época, a falta de dinheiro fez Kalanick, que nunca chegou a se formar na faculdade de engenharia de computação, voltar a morar na casa de seus pais. Agora, aos 38 anos, é um bilionário. “Quando começamos o Uber, não pensávamos numa batalha, mas a guerra foi trazida a nós”, diz o empresário, que costuma se referir à indústria de táxis como um “cartel”. Nessa guerra, ele parece estar ganhando. 7#2 A NOVA ONDA DOS SPAS Espaços que oferecem tratamentos estéticos e relaxantes se multiplicam nos centros urbanos e estão presentes até em festas de casamento. Confira as opções para relaxar Luisa Purchio (luisapurchio@istoe.com.br) Acabou o tempo em que era preciso percorrer grandes distâncias para se refugiar em um espaço relaxante e colocar as energias em dia. Nos últimos anos, o mercado de spas se diversificou para atender às mais diferentes demandas: desde mulheres que desejam realizar tratamentos estéticos, como drenagem linfática, até executivos que pretendem passar algumas horas em um ofurô após um dia estressante de trabalho. “Não estávamos acostumados a ver spas em empresas, aeroportos ou condomínios de praia, mas agora as unidades estão indo para onde as pessoas estão”, afirma Gustavo Albanesi, presidente do Conselho de Deliberação da Associação Brasileira de Clínicas e Spas e sócio do Buddha Spa, rede com 18 unidades em três Estados. O faturamento da empresa, que ampliou as suas sedes e passou a atuar em casamentos, cresceu 24% em 2014. Quem ganha com a expansão é o consumidor, que conta com mais opções para relaxar. Contratar 60 minutos de massagem relaxante em um Spa Day, por exemplo, pode variar de R$ 140 a R$ 335. __________________________________________ 8# MUNDO 17.12.14 OS VIZINHOS DE GUANTÁNAMO Os Estados Unidos aceleram o processo de fechamento da cadeia que abriga prisioneiros sem julgamento em Cuba. Seis deles foram recebidos pelo Uruguai Mariana Queiroz Barboza (mariana.barboza@istoe.com.br) Aberta em janeiro de 2002 como uma das respostas do então presidente americano, George W. Bush, para os ataques de 11 de setembro de 2001, a penitenciária da Baía de Guantánamo, em Cuba, foi durante todos esses anos um símbolo da chamada Guerra ao Terror. Desde então, ela se tornou também um símbolo da injustiça. Acusados de crimes de guerra e de ligações com o terrorismo, 136 homens são mantidos encarcerados sem nunca terem sido julgados. É verdade que esse número já foi bem maior – em junho de 2003, a prisão chegou a ter 684 detentos –, mas, apesar da promessa do presidente Barack Obama de que faria disso uma prioridade, os esforços para fechá-la têm recebido doses homeopáticas. “Não há dúvida de que Guantánamo é um retrocesso para a autoridade moral, que é a moeda mais forte dos Estados Unidos no mundo”, disse Obama em seu primeiro ano na Casa Branca. “A existência de Guantánamo provavelmente criou mais terroristas do que jamais deteve.” Na semana passada, o processo de fechamento do local recebeu um empurrão do Uruguai, que acolheu seis ex-prisioneiros como refugiados. RECUPERADOS Acima, um dos ex-detentos acena para os fotógrafos em Montevidéu. Abaixo, outro homem libertado experimenta o mate. No período que passaram em Guantánamo, muitos aderiram a uma greve de fome e foram alimentados à força. Para a advogada Cori Crider (mais embaixo), o tratamento era desumano Dos seis, quatro são sírios, um tunisiano e um palestino, que dividem uma história de vida comum. Sobre eles pesavam as suspeitas de participação em células terroristas na Síria e no Afeganistão, mas o próprio governo americano os considerava presos de baixa periculosidade. Há cinco anos, o grupo esperava ser transferido e receber a liberdade. Numa carta aberta ao povo uruguaio, o sírio Omar Mahmoud Faraj, que passou 12 anos na base militar americana, agradeceu por ter sido libertado “daquele buraco negro em Cuba”. Em março, o presidente uruguaio, José “Pepe” Mujica, tinha aceitado os ex-detentos por razões humanitárias, mas adiou a transferência – rejeitada por metade da população – para depois das eleições presidenciais realizadas em novembro. “Oferecemos nossa hospitalidade para seres humanos que sofriam um sequestro atroz em Guantánamo”, disse Mujica em comunicado. Ele próprio foi preso e torturado durante mais de 14 anos, entre as décadas de 70 e 80, quando era guerrilheiro, e garantiu que os homens serão livres para fazer o que quiserem no país. Casa e emprego foram oferecidos. Mujica espera inspirar outros países, inclusive o Brasil, a oferecer a mesma acolhida. Alemanha, Reino Unido e Rússia já aceitaram indivíduos que estiveram em Guantánamo, mas os Estados Unidos ainda precisam convencer mais governantes a receber o restante dos 67 presos aptos à transferência. Isso porque o Congresso atualmente proíbe que eles sejam levados para território americano. Com a cadeia esvaziada, porém, o presidente espera conseguir colocar os detentos mais perigosos em cadeias de segurança máxima no país. “Quando Obama disse que queria fechar Guantánamo, ele se referia apenas à instalação, e não à injustiça que ela representa”, diz o advogado americano David Remes, especialista em direitos humanos. “Guantánamo é maior que isso. A ideia de uma cadeia em que as pessoas vão presas sem direito a um júri vai continuar existindo.” Há mais de dez anos, Remes abandonou a carreira num grande escritório de advocacia de Washington para se dedicar à defesa de dezenas de presos em Cuba. Hoje ele representa 18. “Nesse momento, o clima é de excitação”, afirma. “Meus clientes estão focados em quando vão ser soltos e para onde vão.” Na quarta-feira 10, quando falou à ISTOÉ, o advogado comemorava a mudança de categoria do iemenita Abdalmalik Wahab. Acusado de ser guarda-costas de Osama bin Laden, Wahab agora está apto a ser libertado desde que algum país aceite recebê-lo. Ele está em Guantánamo desde janeiro de 2002. Em protesto a esse limbo jurídico a que foram confinados, os detentos organizaram uma greve de fome em massa em 2013, que durou até 21 meses. Nesse período, eles foram alimentados à força por meio de tubos colocados em suas narinas. O caso chegou à Justiça depois que advogados processaram o Estado pelo tratamento desumano – alguns presos chegavam a vomitar durante as sessões gravadas em ao menos 11 horas de vídeo. Cori Crider, advogada de Jihad Ahmed Diyab, que participou da greve e hoje está no Uruguai, afirmou: “Esses vídeos mostram que existe muita coisa chocante acontecendo agora”. Na semana passada, um relatório do Senado americano, baseado em informações fornecidas pela CIA, a agência oficial de espionagem, mostrou a extensão da tortura institucional. A mesma Guerra ao Terror que criou Guantánamo produziu muitas outras situações tão violentas quanto ineficazes durante o governo Bush. Depois de analisar milhares de documentos internos da CIA, os senadores detalharam as técnicas de tortura utilizadas pelos agentes, como afogamentos e privações de sono de até uma semana. E concluíram: diferentemente do que os Estados Unidos fizeram o mundo crer, a tortura de suspeitos não foi determinante para a captura de Bin Laden, em 2011. O homem que levou ao líder da Al Qaeda era investigado pela CIA havia pelo menos dez anos. _________________________________________ 9# TECNOLOGIA E MEIO AMBIENTE 17.12.14 UM OLHO MUITO GRANDE NO CÉU Começa a ser construído, com a participação do Brasil, o maior telescópio do mundo, com capacidade de observar galáxias distantes até 300 milhões de anos-luz Cesar Soto (cesar.soto@istoe.com.br) A comunidade científica brasileira está encerrando 2014 com duas notícias bastante animadoras. A primeira é o sucesso do lançamento do satélite sino-brasileiro Cbers-4, que decolou da estação de Tayiuan, localizada a 700 km de Pequim, a bordo do foguete chinês Longa Marcha 4B. A segunda, e mais importante, é a confirmação pelo Observatório Europeu do Sul de que finalmente será construído o E-ELT, o maior e mais impressionante telescópio já construído no mundo, com capacidade superior à do Hubble, o responsável pelas mais impressionantes imagens espaciais já captadas pelo homem. A grande notícia para a comunidade científica nacional é que o Brasil foi confirmado como o único país não europeu a participar desse projeto gigantesco que vai consumir mais de US$ 2 bilhões e só estará operacional dentro de dez anos. ESTRELAS - Cerro Amazonas, no Atacama chileno, onde será instalado o E-ELT a partir do ano que vem O E-ELT – sigla em inglês para Telescópio Extremamente Grande – será um colosso de mais de 74 metros de altura – algo como um prédio de 20 andares – instalado no alto de uma montanha no meio do deserto do Atacama, no Chile. Com um diâmetro quatro vezes maior do que o mais potente telescópio em atividade hoje na Terra, o E-ELT terá a capacidade de captar imagens do centro de galáxias distantes mais de 300 milhões de anos-luz. Para se ter uma ideia do que isso significa, a Alpha Centauri, o sistema estelar mais próximo do Solar, está distante “apenas” 4,37 anos-luz do Sol. “Temos a expectativa de que seremos capazes de analisar corpos muito parecidos com a Terra”, afirma o professor de astronomia da USP Amâncio Friaça. Essa incrível potência do E-ELT se explica por uma nova tecnologia que permitirá a construção de sistemas de espelhos de até 40 metros de diâmetro. Hoje o VLT citado por Friaça tem apenas dez metros de diâmetro. O tamanho do espelho primário desses sistemas de observação são essenciais na qualidade das imagens detectadas. Quanto maior a distância de um objeto no espaço em relação à Terra, menor é a quantidade de luz que chega ao planeta, já que os raios luminosos tendem a se dissipar. Assim, uma grande superfície de espelho consegue coletar quantidade maior de luz, o que aumenta a definição da imagem quando ela é concentrada em um ponto. De acordo com a astrofísica Beatriz Barbuy, professora de astronomia da USP e membro da Academia Brasileira de Ciências, o E-ELT conseguirá procurar planetas habitáveis em outras galáxias. “A ideia é encontrar mundos próximos à Terra que sejam similares. Até conseguiríamos achar corpos assim em outras galáxias, mas eles não interessam, já que ficam muito longe. Levaríamos um tempo grande demais para chegar”, explica Barbuy, que desenvolve um dos instrumentos do projeto, responsável pela observação de aglomerados de galáxias em expansão durante sua formação. “Só na nossa galáxia existem 100 bilhões de estrelas, muitas delas parecidas com o nosso Sol. A probabilidade de haver planetas como o nosso por aqui são gigantescas.” A adesão ao ESO custará ao Brasil cerca de R$ 81 milhões por ano pela próxima década, mas o investimento vale a pena. “A construção do E-ELT já está incluída no acordo. Não há nenhum adicional. Estamos entrando em um consórcio que tem muitas outras vantagens e estruturas e teremos poder de decisão”, diz o professor de astronomia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) Thiago Gonçalves. Com isso, cientistas brasileiros terão acesso ao telescópio e poderão, inclusive, propor projetos para serem desenvolvidos em parceria com cientistas de outros países que compõem o consórcio. _______________________________________ 10# CULTURA 17.12.14 10#1 COLEÇÕES - PAISAGENS BRASILEIRAS 10#2 TELEVISÃO - O SHOW TEM QUE CONTINUAR 10#3 LIVROS - HENDRIX NO ESPELHO 10#4 EM CARTAZ – CINEMA - "HOBBIT" RESGATA ATRIZ DA SÉRIE "LOST" 10#5 EM CARTAZ – LIVRO - A PRÓXIMA VÍTIMA 10#6 EM CARTAZ – O MELHOR DE SPIELBERG 10#7 EM CARTAZ – MÚSICA - NO TIMBRE DA DOR 10#8 EM CARTAZ – EXPOSIÇÃO - RETRATOS DO COTIDIANO 10#9 EM CARTAZ – AGENDA - UNIVERSO/ENTREVISTAS/NOVAS 10#10 ARTES VISUAIS - A ILUSÃO DA BELEZA 10#11 ARTES VISUAIS – ROTEIROS - CURADORIA LÍRICA 10#1 COLEÇÕES - PAISAGENS BRASILEIRAS Depois de quatro anos de reformas, o Itaú Cultural, em São Paulo, abre para o público o Espaço Olavo Setubal, que exibirá as mais importantes representações artísticas do Brasil desde o século XVI Paula Rocha (paularocha@istoe.com.br) Há cinco anos, a direção do instituto Itaú Cultural, liderada por Eduardo Saron, assumiu um grande desafio: reunir em um único espaço expositivo 500 anos do pensamento artístico e cultural brasileiro. A iniciativa partiu do desejo de disponibilizar para o público nacional e estrangeiro itens das coleções “Brasiliana Itaú” e “Itaú Numismática”, que contemplam um dos mais ricos acervos da produção artística sobre o País. São mapas, gravuras, livros, documentos, moedas e pinturas a óleo que registram a história do Brasil, desde seu descobrimento até o início do século XX. As obras, que começaram a ser adquiridas em 1969 pelo engenheiro Olavo Setubal (1923-2008), ex-presidente do banco Itaú, agora têm residência fixa no novo espaço batizado com seu nome, inaugurado em 13 de dezembro no prédio do Itaú Cultural, na avenida Paulista. NATUREZA SUSPENSA - Em torno da escada que conecta os dois andares do espaço expositivo, a cenógrafa Daniela Thomas e o arquiteto Felipe Tassara elaboraram uma montagem que passa para o público a impressão de que as centenas de gravuras da coleção flutuam no espaço Estão expostas de forma permanente 1.364 peças do total de 12 mil itens da coleção privada de Setubal. A difícil missão de selecionar quais obras de arte, documentos históricos e moedas entrariam para a exposição ficou a cargo do economista e historiador Pedro Corrêa do Lago, responsável pela seleção das peças da “Brasiliana Itaú”, e do também historiador Vagner Porto, que escolheu as moedas históricas. Para facilitar a visitação, a mostra permanente foi dividida em nove módulos, que percorrem, em ordem cronológica, cinco séculos de história. Do primeiro módulo, “Brasil Desconhecido”, que traz os desenhos de índios e paisagens feitos na Europa a partir do relato de viajantes, ao último, “Brasil dos Brasileiros”, dedicado às manifestações artísticas da República, o acervo traz representações feitas pelos holandeses, no século XVII, pelos Naturalistas europeus, no século XIX, e por pintores também da Europa sob encomenda da corte imperial brasileira. Entre os destaques, há peças raríssimas e de alto valor histórico como o óleo sobre tela “Panorama da Cidade de São Paulo”, pintado em 1821 pelo francês Armand Julien Pallière (1784-1862), obra que Corrêa do Lago descobriu, sem querer, na coleção privada de uma família carioca. “Este é o único registro a óleo da cidade de São Paulo antes da invenção da fotografia, daí a sua importância”, diz Lago. Já o quadro “Casamento de D. Pedro I”, de autoria do francês J.B. Debret (1768-1848), registro da cerimônia de casamento de dom Pedro I com sua segunda esposa, dona Amélia, foi descoberto de uma forma curiosa. “Uma pesquisadora brasileira encontrou a pintura em um antiquário da Espanha, com retoques e outra assinatura. Desconfiada de se tratar de um Debret original, ela trouxe a peça para o Brasil, onde o quadro foi restaurado, tendo sua autoria confirmada”, conta Lago. Também faz parte da mostra a primeira obra comprada por Setubal, o óleo sobre madeira “Povoado numa Planície Arborizada”, do holandês Frans Post, datado do século XVII. OLHAR ESTRANGEIRO - Litografia colorida à mão de Johann Moritz Rugendas Acomodar todas as peças raras que compõem a exposição, no entanto, não foi uma tarefa fácil. Há cinco anos, os dois andares ocupados pelo Espaço Olavo Setubal abrigavam escritórios, ambientes projetados para receber diariamente funcionários em sua rotina de trabalho. O projeto de reestruturação, assinado pela cenógrafa Daniela Thomas e pelo arquiteto Felipe Tassara, precisaria não só adequar os andares para a circulação como resolver exigências de conservação de obras de arte como isolamento térmico, para evitar que o calor da fachada de vidro e aço do prédio danificasse as obras. “Estávamos divididos entre a necessidade de preservar esses itens e a vontade de democratizar o acesso a eles”, diz Eduardo Saron. A solução foi recorrer às mais avançadas tecnologias em conservação e expografia de objetos de arte do mundo. “Trouxemos da Alemanha um vidro especial que não distorce a cor do papel e é antirreflexo”, contou Daniela. Foi ideia da cenógrafa expor as obras feitas em papel, como gravuras e mapas, sem moldura. Para conseguir esse efeito, Daniela e Felipe descobriram uma espécie de cola que não danifica o papel, e com ela fixaram as obras em pedaços imperceptíveis de papelão branco, que por sua vez estão fixos às paredes brancas da exposição. O efeito é deslumbrante. As obras parecem flutuar, e o fundo totalmente branco deixa as cores de algumas figuras de pássaros, plantas e índios brasileiros ainda mais vibrantes, como na sala de entrada da exposição, repleta de gravuras do chão ao teto. “Esta é uma exposição de arte, e não de história. Queremos que o novo espaço seja uma referência tanto para turistas quanto para os próprios brasileiros”, diz Corrêa do Lago. 10#2 TELEVISÃO - O SHOW TEM QUE CONTINUAR Numa decisão inusitada, Aguinaldo Silva substitui Drica Moraes, afastada por problemas de saúde, por atriz que interpretou a vilã Cora na primeira fase de "Império". E o público gosta Daniel Solyszko (daniel@istoe.com.br) Por ser uma obra aberta, as novelas estão sujeitas a todo tipo de intempérie. O maior pesadelo de um autor é se ver diante da necessidade de o protagonista da trama se afastar – rompimento de contrato, morte, doenças ou separação conjugal são as razões mais comuns. Foi com esse desafio que o autor de “Império” (Rede Globo), Aguinaldo Silva, teve de lidar quando a atriz Drica Moraes deixou o folhetim no qual interpretava a vilã Cora dos Anjos Bastos, segundo a emissora para o tratamento de uma faringite que lhe provocava rouquidão, atrapalhando as filmagens. EFEITO DORIAN GREY - Drica Moraes foi substituída pela curitibana Marjorie Estiano: plástica explica rejuvenescimento Aguinaldo Silva achou uma saída pouco usual, e optou por substituir Drica Moraes, de 45 anos, por Marjorie Estiano, de 32, que viveu a malvada Cora durante a juventude, no início da novela. A explicação para o público é tão estranha quanto a mente maquiavélica da personagem: uma plástica para se tornar mais nova e seduzir o amor da vida de uma irmã morta. O temor em ver virar fumaça o sucesso que a doentia Cora vem conquistando entre o público, pelo menos por enquanto, foi dissipada pela nem tão jovem atriz curitibana. No começo da semana seguinte da aparição da vilã repaginada, o folhetim segurou uma média de 36 pontos no Ibope – apenas um ponto abaixo do pico alcançado pela novela até agora, 37 pontos. A situação inusitada também fez crescer o interesse pela trama nas redes sociais. Para Mauro Alencar, doutor em teledramaturgia brasileira e latino-americana pela USP, a receptividade do público não deve diminuir, apesar de toda a grandeza da interpretação de Drica Moraes, que em 2010 se submeteu a um transplante de medula, vencendo a luta contra a leucemia. “Creio que esse será um fator emocional a marcar ainda mais a trama”, diz ele. Aparentemente bem-humorada, Drica Moraes disse, por e-mail, para a ISTOÉ que só deixou a novela porque ainda não aprendeu a atuar sem voz. E que espera retornar em breve. Se tudo correr bem, o próximo desafio de Aguinaldo Silva vai ser reenvelhecer a malvada Cora, como um Dorian Grey que perdeu a segunda chance. 10#3 LIVROS - HENDRIX NO ESPELHO Nova biografia baseada em arquivo pessoal revela face mais íntima do guitarrista que revolucionou a forma de sua geração ver o mundo Amauri Segalla (asegalla@istoe.com.br) Poucos dias antes de morrer, Jimi Hendrix, o maior virtuose da guitarra de todos os tempos, disse o que pensava de si próprio. “Acho que sou um guitarrista melhor hoje, mas nunca fui bom de verdade. Não toco bem o suficiente para botar essa música toda para fora.” A principal lição que se extrai da leitura de “Jimi Hendrix por Ele Mesmo” é que os mitos, afinal, são feitos de carne e osso. Outras biografias – e há pelo menos duas boas na praça – escancararam a face tímida e insegura do músico americano. A diferença agora é “ouvir” isso da boca do próprio Hendrix. Eis aí o mérito do livro organizado pelo cineasta Peter Neal e o produtor Alan Douglas. A dupla pesquisou, durante quase cinco anos, o que Hendrix disse e escreveu em sua curta mas arrebatadora existência. Foram resgatadas entrevistas para estações de rádio e televisão, cartas e anotações em cadernos, diários, guardanapos de bares, maços de cigarro e até caixas de fósforos. O resultado é uma autobiografia póstuma que percorre da infância aos momentos finais do artista, morto aos 27 anos de causa nunca explicada. “Posso escutar sua voz em minha cabeça enquanto leio”, disse o irmão do guitarrista, Leon Hendrix. TÍMIDO - Livro organizado pelo cineasta Peter Neal e pelo produtor Alan Douglas em cima de diários e anotações do menino que se escondia para escrever poemas No começo, Hendrix fala da indiferença pela escola em Seattle, onde nasceu e cresceu, da relação conturbada com a família e de como a música salvou o garoto que escrevia poesias escondido e que, cedo ou tarde, fugiria para bem longe. Está lá também a passagem pelo Exército (ele serviu como paraquedista), tratada com humor e ironia. O bacana vem depois: o relato das viagens Estados Unidos afora, sem dinheiro no bolso, em busca da descoberta musical. Hendrix aprendeu a domar a guitarra sozinho e refinou o talento tocando com figuras como Little Richard, B.B. King e Chuck Berry. Ele descreve os encontros que teve com gente que se tornaria lendária. “Bob Dylan andava sempre com um bloco para anotar o que via à sua volta. Ele não precisava estar chapado para compor, mas geralmente estava.” O melhor são as observações marotas. “Os Stones são muito legais longe dos microfones, mas é um negócio de família, tão de família que, às vezes, tudo começa a soar meio igual”, ele diz sobre a banda liderada por Mick Jagger. O livro é um alívio num mundo – especialmente no show biz – que dá pouco espaço para a sinceridade. “Esse lance do dinheiro pode acabar transformando você num escravo do público, num zumbi”, escreveu Hendrix. Outro trecho: “O show foi ótimo. Deixei a plateia ligada com uma música pesada, voltei ao hotel, fiquei chapado e fiz amor com Pootsie, uma loura sulista”. “Hendrix por Ele Mesmo” é também a manifestação de uma mente delirante que não se encaixa em rótulos. O guitarrista fala de psicodelismo (com certo desprezo), dos hippies (“a paz e o amor não estão nos cabelos encaracolados, nas miçangas e nos balangandãs”), de racismo (não se identifica com os Panteras Negras), do calvário do sucesso, de Woodstock, da juventude perdida, do desejo de morar numa cabana na montanha, da morte que ele pressente. E, claro, de sua guitarra. Hendrix foi o maior de todos não porque revolucionou o uso das guitarras elétricas, ou porque literalmente botou fogo nelas, ou por transformar “Hey Joe” no hino de uma geração e fazer do riff de “Purple Haze” uma obra inesquecível. Hendrix foi o maior porque, além de tudo isso, verteu sentimento como nenhum outro. “Minha meta é que eu e a música sejamos um só”, ele disse. Conseguiu. 10#4 EM CARTAZ – CINEMA - "HOBBIT" RESGATA ATRIZ DA SÉRIE "LOST" por Elaine Guerini, de Nova York Evangeline Lilly recusa a maioria dos convites de Hollywood. “Quase todos os papéis são imitações de Kate Austen”, diz, referindo-se à personagem da série “Lost’’, que a projetou mundialmente. A canadense de 35 anos só não conseguiu dizer “não” ao chamado de Peter Jackson para ingressar na saga inspirada na obra de J. R. R. Tolkien. Em “O Hobbit: A Batalha dos Cinco Exércitos”, em cartaz, Evangeline encarna pela segunda vez a elfa Tauriel, a chefe da Guarda Real da Floresta das Trevas. “Sou fascinada pelos elfos, criaturas imortais”, contou ela, rindo. Tauriel não saiu da imaginação de Tolkien e sim de Jackson, para contrabalançar o predomínio de personagens masculinos. “É bom ter atenção especial. Ninguém quer estragar as poucas mulheres da história.’’ +5 atores de “Lost” no cinema Emilie de Ravin (Claire) Em 2015, ela será vista em “The Submarine Kid”, participando de jogo mortal em lugar misterioso. Matthew Fox (Jack) O ator enfrenta zumbis no pós-apocalíptico “Welcome to Harmony”, em pós-produção. Jorge Garcia (Hurley) Na comédia inédita “The Weeding Ringer”, seu papel é o do padrinho do noivo. Josh Holloway (Sawyer) No filme de ação “Sabotage”, o ator contracena com Arnold Schwarzeneg-ger. Ainda sem data para estrear. Yunjin Kim (Sun) A atriz acabou de rodar “The International Market”, drama sobre a Guerra da Coreia. 10#5 EM CARTAZ – LIVRO - A PRÓXIMA VÍTIMA Ana Weiss (ana.weiss@istoe.com.br) Ex-jogador de futebol e ex-vocalista de uma banda de rock, o norueguês Jo Nesbo se tornou um dos maiores fenômenos literários recentes do seu país com uma série de romances policiais protagonizados pelo inspetor Harry Dole. Alcoólatra e fã de Joy Division, Dole se encontra em Hong Kong no começo de “O Leopardo”, oitavo livro da franquia, publicado no Brasil pela Editora Record. Procurado pela policial Kaja Solness, ele acaba retornando a Oslo para tentar desvendar a identidade de um serial killer. 10#6 EM CARTAZ – O MELHOR DE SPIELBERG Ana Weiss (ana.weiss@istoe.com.br) Um dos diretores que melhor souberam conciliar prestígio e sucesso comercial, Steven Spielberg é homenageado em uma caixa com oito filmes de fases diferentes da sua carreira. Um dos destaques é o pouco conhecido “Encurralado” (1971), história do motorista perseguido por um caminhoneiro que quer matá-lo, sem saber a razão. A partir de “Tubarão” (1975), Spielberg passou a investir em blockbusters com sustos e efeitos especiais, fórmula que eventualmente mostraria sinais de desgaste, como em “O Mundo Perdido: Jurassic Park” (1997), segundo filme da franquia. A caixa deixa de fora os dramas mais sérios do diretor, concentrando-se em filmes de entretenimento familiar, como a ficção científica “E.T. – O Extraterrestre”(1982), talvez o mais popular do cineasta. BLU RAY – 10#7 EM CARTAZ – MÚSICA - NO TIMBRE DA DOR por Rodrigo Cardoso (rcardoso@istoe.com.br) No trabalho, o blues é matéria prima de canções como “Strange Fruit”. Acompanhe o clipe da música. Anne Lennox lança “Nostalgia”. Doze versões de clássicos americanos da primeira metade do século passado costuradas pela artista escocesa formam uma colcha de refino único – e de alma negra. O blues é a matéria-prima de canções como “Strange Fruit”, eternizada por Billie Holiday, que fez tremer os EUA cantando o racismo, e “Memphis In June”, de Nina Simone. E elas ganharam nova vida na dor da voz de Lennox 10#8 EM CARTAZ – EXPOSIÇÃO - RETRATOS DO COTIDIANO Ana Weiss (ana.weiss@istoe.com.br) Originalmente criado para designar trabalhos produzidos por artistas sem formação acadêmica, o termo “Arte Naif” (arte ingênua) dá nome a uma exposição com alguns dos principais trabalhos dessa escola produzidos no Brasil. Em cartaz até 20 de dezembro na Galeria Jacques Ardies, em São Paulo, a mostra reúne retratos de festas folclóricas e religiosas, paisagens bucólicas do interior e outras cenas do cotidiano, em 80 trabalhos de 30 pintores diferentes. 10#9 EM CARTAZ – AGENDA - UNIVERSO/ENTREVISTAS/NOVAS Confira os destaques da semana Ana Weiss (ana.weiss@istoe.com.br) O Universode Miyzaki/Otomo/Kon (Caixa Belas Artes, em São Paulo, até 23/12) Mostra com 18 longas-metragens de três dos principais diretores de filmes japoneses de animação Entrevistas (Itaú Cultural, em São Paulo, até 11/1) Exposição com trabalhos da fotógrafa Claudia Jaguaribe, mostrando casas e coberturas de prédios em São Paulo Novas Frequências (Oi Futuro Ipanema e Casa Daros, até 14/12, no Rio de Janeiro) Quarta edição do festival de música experimental que reúne artistas nacionais e estrangeiros em shows e workshops 10#10 ARTES VISUAIS - A ILUSÃO DA BELEZA Exposição na Casa Daros reúne trabalhos que mostram oscilações entre verdade, realidade e ilusão por Paula Alzugaray Ilusões/ Casa Daros, RJ/ até 22/2/2015 O provérbio bíblico adverte: “A beleza é uma ilusão e a formosura passageira”. Mas a humanidade sempre fez da beleza um valor soberano e permanente; estrutura de poder, em torno da qual erige seus conceitos e verdades. Pelo menos enquanto dure. A “Bíblia” foi precisa: na história – tanto da arte quanto das sociedades –, a noção de belo não é eterna. Na sociedade contemporânea, a beleza é um valor relativo. E é justamente sobre a relatividade da beleza que se debruça o artista panamenho Humberto Vélez, autor do projeto “Miss Education”, uma intervenção realizada no concurso Miss Panamá. INTERVENÇÃO - O artista Luis Camnitzer, júri do concurso Miss Education, criado por Humberto Vélez Na semana passada, Vélez esteve no Rio para uma conversa aberta ao público, ao lado do artista Luis Camnitzer e do curador da Coleção Daros Latinamerica, Hans-Michael Herzog. Intitulado “A Ilusão da Beleza”, o evento aconteceu no contexto da exposição “Ilusões”, em cartaz na Casa Daros até fevereiro. “Existem múltiplos tipos de beleza”, diz Vélez à ISTOÉ. “O que faço é criar performances baseadas em relações humanas. Meu trabalho é conhecer grupos e desenvolver uma obra de arte a partir do conceito de beleza que eles têm.” Antes da intervenção no concurso de miss no Panamá, o artista trabalhou em Londres com lutadores de boxe e nas Ilhas Canárias com fisiculturistas. O projeto Miss Education já teve duas edições. Em 2013, teve como júri o artista uruguaio Luis Camnitzer, e em 2014 o curador Gerardo Mosquera, que em 2003 trabalhou no Brasil como curador do Panorama da Arte Brasileira do MAM-SP. “O inesperado desdobramento de Miss Education, com as candidatas desejando e se preparando para o título, fez com que a organização de Miss Panamá decidisse manter por tempo indeterminado essa premiação”, conta Vélez. CONCEITO - "Landscape as an Attitude" (1979), de Camnitzer, na mostra "Ilusões" Com a intervenção, o artista traça um paralelo com o mundo da arte e suas estruturas de poder. Desse modo, o concurso está para as premiações de arte assim como o padrão de beleza feminina está para os critérios de legitimação do sistema da arte. “Busco romper os esquemas de poder da arte contemporânea, a fim de incluir novas formas de beleza, com valor e dignidade, por parte de nossos artistas latino-americanos. Só que é um outro tipo de beleza, fundamentalmente sensual”, diz ele. Da mostra “Ilusões” participam 12 artistas, entre os quais Luis Camnitzer e Teresa Serrano. A artista mexicana, residente entre Nova York e a Cidade do México, apresenta um trabalho que reflete sobre padrões repetitivos, mas não de beleza. “Boca de Tabla” (2008) é um filme psicológico, que fala sobre os níveis de ansiedade e claustrofobia de uma mulher que se movimenta ciclicamente dentro da própria casa, sem poder sair. 10#11 ARTES VISUAIS – ROTEIROS - CURADORIA LÍRICA EAVerão 2015/ Parque Lage, RJ/ de 12/1 a 6/2/ www.eavparquelage.org.br Paula Alzugaray Diretora da Escola de Artes Visuais do Parque Lage desde agosto deste ano, a curadora Lisette Lagnado está colocando em prática uma gestão em que os conceitos de curadoria e educação estão intimamente relacionados. Para as atividades de verão da escola que há 40 anos representa o mais importante centro de formação e pesquisa artística do Rio de Janeiro, Lisette concebeu uma programação inspirada na história musical do palacete onde está sediada. Tombado como patrimônio histórico e paisagístico nacional, a mansão foi construída em 1920 pelo armador brasileiro Henrique Lage para sua esposa, a cantora lírica italiana Gabriella Besanzoni. Adotando a linguagem musical como tema, o programa será formado por uma “ária” – a palestra inaugural do artista Tunga –; alguns “duetos” – palestras e oficinas com duplas de artistas –; um “trio”, composto pela artista Luiza Baldan e os arquitetos urbanistas Pedro Rivera e Paula Oliveira Camargo; e um “quinteto”. O encerramento do programa será um ritual orquestrado pelo artista Aderbal Ashogun, sacerdote do candomblé, percussionista e gestor ambiental, que será responsável ainda por uma oficina sobre a transcendência como experiência artística e uma série de atividades ligadas à cultura afro-brasileira. _________________________________________ 11# A SEMANA 17.12.14 por Antonio Carlos Prado e Elaine Ortiz "O FALSO BISPO PEDÓFILO" João Marcos Porto Maciel tornou-se notícia em todo o País ao ser preso na semana passada na cidade gaúcha de Caçapava do Sul. Contra ele pesa a acusação de abusar sexualmente de crianças em situação de vulnerabilidade social, que ficaram sob a sua guarda na abadia que fundou e chamou de mosteiro de Santa Cecília, isso há meio século – hoje ele está com 74 anos e se autointitula dom Marcos de Santa Helena. Foi a partir de um livro que acaba de ser lançado por um comerciante mineiro, no qual afirma ter sofrido abusos de Maciel quando era criança, que a polícia passou a investigar o que o falso religioso andava fazendo atualmente. Sua prisão se baseou então em dois novos crimes de pedofilia que teria cometido há pouco tempo. Maciel foi excomungado em 2009 por negar a doutrina, ingressou na Igreja Anglicana, mas também foi excluído “atitudes sorrateiras”. Partiu daí para a “Igreja Veterodoxa”, uma criação sua e na qual se presenteou com o bispado. DESCOBRIDOR DO DNA VENDEU O SEU PRÊMIO NOBEL, MAS AGORA VAI TÊ-LO DE VOLTA" Alisher Usmanov é russo, bilionário e homem de pouca conversa. Considerado o empresário mais rico de seu país, é dono do time inglês do Arsenal. Agora o seu destino se cruza com o de outro notável personagem: o cientista James Watson, revolucionário da medicina que em 1953 foi um dos descobridores da dupla hélice do DNA. Ou seja: tudo que se tem hoje de avanço científico na área da genética deve-se ao biólogo molecular que ganhou o Prêmio Nobel em 1962. De ares aristocráticos, tez branca e tom de olhos que beira a ardósia, Watson ganhou fama também por seu racismo, sua homofobia e neurastenia – e assim foi perdendo emprego atrás de emprego na comunidade acadêmica. Bateu então a penúria e ele se tornou o primeiro ganhador do Nobel a vender a medalha do prêmio. Usmanov acaba de arrematá-la em um leilão por US$ 4,8 milhões, e fez isso apenas para restituí-la a Watson. "NATURA TEM SELO SOCIOAMBIENTAL" A Natura, principal fabricante brasileira de cosméticos, acaba de conquistar o selo socioambiental. Ela é a mais nova integrante e também a empresa de maior porte no mundo a se filiar a esse movimento, que nasceu nos EUA há cerca de dez anos – o “B” significa benefícios à sociedade e ao meio ambiente. O Sistema B é parceiro de ISTOÉ no prêmio “Empresas Mais Conscientes do Brasil” e a metodologia usada para a certificação é a mesma utilizada para formar o ranking do prêmio. Tal sistema B já conta com cerca de 30 empresas certificadas no País. "PIB SEM CAPITAL" Dados divulgados pelo IBGE na quinta-feira 11: as capitais dos Estados estão participando cada vez menos do PIB brasileiro, e em 2012 tiveram a menor participação a contar de 1999. Os PIBs de todas as capitais, somados, equivaleram a 33,4% do PIB nacional em 2012. Menos que a participação de 33,7% registrada em 2011. São Paulo, Rio, Brasília, Curitiba, Belo Horizonte e Manaus geraram em 2012 cerca de 25% de toda a renda nacional "O CRIME DE BOLSONARO" Estados democráticos, como o nosso, contemplam em seus congressos nacionais parlamentares liberais e conservadores. O deputado Jair Bolsonaro (PP-RJ) é conservador, está no sétimo mandato e foi um dos três candidatos mais votados no País. Tem o direito de defender na tribuna as suas posições, mas não o de dizer o que disse na terça-feira 11 à deputada e ex-ministra Maria do Rosário (PT-RS): “Fica aí, Maria do Rosário. Há poucos dias, tu me chamaste de estuprador, no Salão Verde, e eu falei que não ia estuprar você porque você não merece. Fica aí pra ouvir”. A atitude do deputado (muito além de quebra do decoro e da ética parlamentares) foi criminosa – e com certeza os brasileiros que o elegeram não aprovam o seu comportamento. 48" 48 escritores brasileiros irão participar do Salão do Livro de Paris em março de 2015. Entre eles estão Paulo Coelho, Leonardo Boff e Cristóvão Tezza – um dos critérios para a seleção foi o de ter ao menos uma obra traduzida para o francês. R$ 4 milhões é o investimento do Brasil nesse evento. "PESQUISA INÉDITA DIZ QUE QUATRO DE CADA DEZ BRASILEIROS SOFREM DE DOENÇAS CRÔNICAS" Foi divulgada na quinta-feira 11 a primeira Pesquisa Nacional de Saúde, estudo inédito desenvolvido pelo IBGE (foram visitadas 80 mil casas em 1,6 mil municípios). 66,1% dos entrevistados se autoavaliaram como portadores de “estado físico bom ou muito bom”. Diz o ministro da Saúde,Arthur Chioro: “É importante que o brasileiro se veja como uma pessoa saudável, mas temos de dar ênfase aos problemas que o relatório apresenta”. Alguns dos problemas a que ele se refere são: • 18,3% dos homens e 24,2% das mulheres têm quadro de hipertensão; • 3,9% dos homens e 10,9% das mulheres sofrem de depressão, o equivalente a 11 milhões de brasileiros (menos de 50% desse total procura tratamento); • 4,5% dos homens e 10,4% das mulheres dormem com medicamentos; • 4 de cada 10 brasileiros portam ao menos 1 doença crônica não transmissível. Exemplos: câncer, diabetes, enfermidades vasculares. "ÁLCOOL ALÉM DA CONTA" O uso abusivo ou o uso nocivo de bebidas alcoólicas são patológicos no País. 25% dos entrevistados admitem que dirigem seus carros após beberem. 47% começaram a beber antes dos 17 anos. "AUSTRÁLIA PERTO DE ENCONTRAR O AVIÃO DA MALAYSIA AIRLINES" O misterioso desaparecimento em março do avião da Malaysia Airlines, 40 minutos após ter decolado de Kuala Lumpur em direção a Pequim e com 239 pessoas a bordo, continua sem explicação. Mas na sexta-feira 12, nove meses após o acidente, o Escritório Australiano de Segurança no Transporte divulgou as primeiras imagens que podem corresponder à localização da aeronave. A simulação computadorizada (foto) mostra o leito marinho do Oceano Índico, área na qual são procurados os destroços do voo MH370. "MINISTRO É ESGANADO EM PRAÇA PÚBLICA" Quando se julga que já foram vistas todas as cenas de ódio, atrocidades e intolerância na histórica guerra entre israelenses e palestinos, percebe-se que se pode ver uma loucura a mais. Foi o que se assistiu na quarta-feira 11, na Cisjordânia, quando um soldado de Israel esganou até a morte o ministro palestino Ziad Abu Ein. O presidente Mahmoud Abbas declarou que se trata de “um ato sobre o qual não se calará”. Leia-se: haverá revide e mais guerra pela frente. "O TOM DO RIO DE JANEIRO" Foi inaugurada na semana passada na praia de Ipanema, no Rio de Janeiro, uma estátua de bronze do maestro, compositor e cantor Tom jobim – homenagearam-se assim as duas décadas de sua morte Ocorrida em Nova York em 1994. A homenagem é mais que justa a quem se consagrou como um dos mais originais compositores do brasil (ouça-se “Lígia” e não há mais nada a dizer). A autora é a escultora Christina Motta, que já tem em sua biografia a fabulosa estátua de Brigitte Bardot em Búzios. Dois detalhes: Tom não costumava carregar o violão displicentemente nos ombros – essa é a marca do artista Juca Chaves. E o instrumento por excelência daquele que Chico Buarque chamou de “meu maestro soberano” sempre foi o piano. Se christina tivesse colocado o seu talento a fazer um Tom ao piano na areia de Ipanema, ela teria prestado um tributo definitivo ao compositor. "GOLEADA NA CASSAÇÃO DE ANDRÉ VARGAS" A Câmara dos Deputados cassou na quarta-feira 10 o mandato do deputado federal André Vargas (sem partido-PR) por quebra de decoro parlamentar. Ele é suspeito de envolvimento com o doleiro Alberto Youssef, acusado pela operação Lava Jato de ser um dos homens-chave no esquema de corrupção na Petrobras. O placar, implacável, indicou 359 votos favoráveis à cassação e somente um voto solitário a apoiar Vargas – o do deputado José Airton (PT-CE). Foram seis abstenções. Três dias antes da queda, Vargas protocolou em vão um recurso pedindo o adiamento da sessão: alegou que se recuperava de uma cirurgia odontológica. Na quarta-feira ele declarou estar internado no Hospital Albert Einstein, em São Paulo. Não revelou, porém, o motivo da hospitalização. "O PAI DOS VIDEOGAMES" Com o título de “pai dos videogames” e deixando um legado de 150 patentes, morreu aos 92 anos Ralph Baer, o único estrangeiro (ele era alemão) que recebeu pessoalmente das mãos de um presidente dos EUA a Medalha Nacional de Tecnologia e Inovação – quem a entregou a Baer em 2006 foi George W. Bush. A criação pioneira no campo dos videogames que lhe trouxe glória e fortuna foi o Magnavox Odyssey – na verdade o primeiro console doméstico. Ralph Baer assina também a invenção de um jogo de memória famoso em praticamente todo o mundo: o Simon, conhecido no Brasil nos anos 1980 com o nome de Genius. Baer morreu no sábado 6. "64,3 MIL" 64,3 mil homicídios foram registrados no Brasil em 2012, de acordo com o primeiro estudo da Organização Mundial da Saúde sobre violência. Mais: a cada 100 assassinatos em todo o mundo, 13 ocorreram no País. Os dados foram divulgados na quarta-feira 10. "O PRIMEIRO CASO DE FEBRE DO NILO NO BRASIL" Pela primeira vez no Brasil foi registrado, na semana passada, o relato médico sobre um paciente acometido da doença chamada febre do Nilo – o caso se deu no Piauí com um agricultor. Trata-se de um vírus originário do Egito e transmitido por mosquitos comuns. A informação foi confirmada pelo Ministério da Saúde na quarta-feira 10. Cerca de 80% dos episódios desse vírus não apresentam sintomas – nos 20% restantes eles são similares aos da gripe: febre, fadiga, dor de cabeça e dores musculares ou articulares.