0# CAPA 16.4.14 ISTOÉ edição 2316 | 16.Abr.2014 [descrição da imagem: caricatura do deputado petista André Vargas, fazendo sinal de positivo (dedo polegar levantado e outros dedos fechados) com a mão direita. Ao fundo aparece uma casa comercial com uma placa onde lê-se LAVANDERIA ANDRÉ VARGAS] LAVANDERIA ANDRÉ VARGAS Como funciona o esquema de lavagem de dinheiro montado pelo deputado petista. _______________________ 1# EDITORIAL 2# ENTREVISTA 3# COLUNISTAS 4# BRASIL 5# COMPORTAMENTO 6# MEDICINA E BEM-ESTAR 7# ECONOMIA E NEGÓCIOS 8# MUNDO 9# TECNOLOGIA E MEIO AMBIENTE 10# CULTURA 11# A SEMANA _____________________________ 1# EDITORIAL 16.4.14 "LULA, O RETORNO 3" Carlos José Marques, diretor editorial Lula voltou aos holofotes. Mais uma vez. Veio, de novo, socorrer a pupila Dilma; tentar estancar a sangria de popularidade do governo petista nas últimas pesquisas; e cobrar providências, ação e reação, mais agressivas do Planalto contra a avalanche de problemas que estão surgindo no horizonte. Lula sentiu o cheiro de queimado. Teme que o espetáculo de ineficiên­cia leve o público a quebrar o cinema e a desistir da protagonista do show. Recomendou, até ele, mudanças na política econômica. Apontou que vai falar mais, dar mais palpites e levar pelo braço a “candidata” em todos os palanques nacionais que sejam necessários para o intento maior que é, ainda, a reeleição de Dilma. Lula voltou para dizer que ele não volta ao comando do País. Ao menos não agora. Não descartou a busca por um terceiro mandato. Mas o projeto fica para depois que Dilma cumprir sua almejada saga de oito anos no poder. Não há entre observadores e no mercado quem acredite que essa seja uma posição definitiva de Lula. A grande maioria avalia que, em um eventual cenário demasiadamente negativo à presidenta, lá para meados de agosto, quando a campanha eleitoral estiver de fato esquentando, o “volta Lula” pode novamente ser cogitado com uma edificante resposta do líder ao estilo “tá bom, diga ao povo que eu volto”! Assim “Lula, o retorno 3” entraria em cartaz mais cedo do que se planejava. Com a expectativa petista de repetir junto à plateia o sucesso arrebatador das edições passadas. Lula, o cobiçado como melhor opção nas hostes aliadas, sabe que esse é um lance por demais arriscado. Consagra o fracasso de sua escolhida – e, por tabela, dele mesmo que a conduziu até lá – e coloca em duro teste sua reputação costurada em oito anos de Presidência. Ele terá de convencer a turba de que, apesar dos pesares, da herança entregue até aqui, poderá fazer mais que a oposição. Uma aventura rumo ao terceiro mandato se mostra mais segura e confortável na disputa de 2018, quando o cenário econômico estará mais bem definido – para o bem ou para o mal. Lula entraria assim ou como salvador da pátria ou como consolidador das conquistas. Cravaria o feito de 20 anos do PT no controle do Brasil. E seguiria no papel de fiador e tutor da estabilidade. É aguardar os próximos capítulos da temporada! 2# ENTREVISTA 16.4.14 FELIPE MASSA - "NÃO VOU MAIS ABRIR PASSAGEM" O piloto brasileiro garante ter lavado a alma ao desobedecer à ordem da Williams no GP da Malásia, afirma estar novamente motivado e diz que o automobilismo também é business por Rodrigo Cardoso ALÍVIO - "Tirei um peso gigante das costas", diz ele sobre sair da Ferrari Felipe Massa não tem um título mundial no currículo. Na 11ª posição da classificação geral da atual temporada de Fórmula 1, ainda não subiu ao pódio neste ano. Mas, apesar de não ter tantos motivos para sorrir, ele é só alegria. O paulistano, que quatro anos atrás perdeu a aura de piloto aguerrido ao cumprir uma ordem da Ferrari e entregar a posição que ocupava em uma corrida para o então companheiro, o espanhol Fernando Alonso, conseguiu, segundo suas palavras, reparar esse erro recentemente. Foi no mês passado, no segundo GP, na Malásia. Na ocasião, o brasileiro recebeu a mesma ordem da Williams, sua atual escuderia, mas recusou-se a dar passagem ao parceiro, o finlandês Valtteri Bottas. Aos 32 anos, casado, pai de Felipe, 4 anos, Massa, hoje, fala o que pensa, um reflexo da transferência de escuderia – da italiana para a inglesa. É o que fica claro na entrevista a seguir. "Hoje, é difícil a gente ver um piloto brasileiro correndo lá fora. Falta talento no automobilismo nacional" "Fiquei amigo do Eric Clapton e, parece estranho, ele virou meu fã. Ele me escreve antes e depois de toda corrida" Istoé - Você disse que riu quando ouviu pelo rádio da Williams que o seu companheiro, Valtteri Bottas, estava mais rápido na Malásia e, portanto, você deveria deixá-lo passar. Por quê? Felipe Massa - Era um riso de “de novo não”. Foi usada a mesma construção de frase que escutei da Ferrari, em 2010. Foi uma maneira de eu também reparar a ultrapassagem do (Fernando) Alonso, em 2010 (Felipe abriu para o espanhol, seu companheiro de Ferrari, ultrapassá-lo no GP da Alemanha, seguindo uma ordem da escuderia italiana). Não vai acontecer de novo, não vou seguir a ordem da equipe nessas mesmas condições. No dia seguinte àquele episódio de 2010, eu logo me dei conta que tinha agido errado. E a Ferrari também não gostou do que aconteceu. Ela não repetiria aquilo. Como tenho certeza também de que o Jean Todt (que comandava a escuderia italiana) não faria o que fez em 2002, quando mandou o Rubinho entregar a posição para o Schumacher. Istoé - Não obedecer à equipe lhe trouxe problemas? Felipe Massa - Não aceitei (a ordem da Williams) porque não tinha o menor sentido. Tanto que me pediram desculpas. Agora, se chegar no fim do campeonato, meu companheiro estiver disputando o título e eu não, serei o primeiro a tentar ajudá-lo. Fiz isso com o Kimi Raikkonen. O ajudei a ser campeão no GP do Brasil, em 2007, deixando de vencer na minha casa. Quando acabou aquela corrida, estava mal por deixar de vencer no Brasil. Chorei muito no box. Istoé - Como o público reagiu ao fato de você descumprir a ordem da Williams? Felipe Massa - Recebi cartas, muitas mensagens pelo Twitter, Instagram, e-mail. A maioria era gente me parabenizando, que se dizia com alma lavada, dizendo que o que eu havia feito foi importante para o Brasil. Lavou a minha alma também. Outra vez, não! Agora chega! Não estou ali para passar o carão que já passei (em 2010). Istoé - Quem ficou mais nervoso nesse episódio da ordem de equipe: o Valtteri Bottas com você, que não permitiu que ele o ultrapassasse, ou você com a Williams, que deu a ordem? Felipe Massa - Eu não fiz nada contra o Bottas. Falei para ele que não tinha nada contra ele, que o problema era a ordem da equipe que não era correta. O Bottas não me olha torto, não. Se ele me olhar torto, eu vou olhar torto para ele também. Eu estou preparado para lutar contra ele e contra os outros Istoé - Essas reações positivas fizeram você entender que naquele episódio de 2010 seria melhor não ter entregado a posição para o Alonso? Felipe Massa - Talvez sim, talvez não. Só eu iria pagar por isso. A minha vontade não era ter feito aquilo, aceitado (a ordem). É muito difícil achar um piloto que gostaria de passar por uma situação como aquela. O que eu estava fazendo era aceitar a ordem da minha empresa. Mas com vontade zero de cumpri-la. Istoé - Qual preço pagou por atender à ordem da Ferrari em 2010? Felipe Massa - Eu sofri muito, aquilo me fez muito mal, me jogou para baixo durante um tempo. Me fez mal porque é preciso estar bem psicologicamente falando. Depois daquele episódio, toda hora que eu começava uma corrida na frente do Alonso, eu não tinha pensamentos positivos, bons. Ficava imaginando: “O que pode acontecer agora?” Mas nunca entrei em uma corrida pensando em guiar mais ou menos. Istoé - Se voltar atrás fosse possível, obedeceria à ordem da Ferrari? Felipe Massa - Eu não abriria para o Alonso passar, não. Só faria isso se eu e o companheiro estivéssemos em estratégias diferentes e um não disputasse com o outro. Ali, estávamos a 10, 12 voltas do fim da prova. Não havia motivo para deixá-lo passar. Agora, vir para mim uma ordem de equipe na segunda corrida do campeonato, como aconteceu com a Williams? Não há a menor chance de eu abrir passagem, não vou mais abrir passagem. Você percebeu o que aconteceu na última corrida do Bahrein, depois que eu não aceitei a ordem da Williams no GP anterior, na Malásia? Os pilotos da mesma equipe estavam disputando ferozmente entre si. Isso aí, pode ter certeza, é reflexo também de eu não ter aceitado a ordem da equipe. Istoé - Atender a uma ordem de equipe é um mau exemplo, esportivamente falando? Felipe Massa - Não. Você tem de pensar, no final das contas, que uma equipe de Fórmula 1 tem dois pilotos, 900 pessoas trabalhando, que faz dinheiro no campeonato de construtores. Os pontos que o piloto faz significam dinheiro para a equipe. O automobilismo não é só esporte, é business também. Istoé - Para que se esforçar tanto se é o dinheiro, e não o mérito, que define resultado? Felipe Massa - A essência da Fórmula 1 há 20 anos era outra. Havia menos dinheiro, menos interesse. Os companheiros de equipe batiam roda com roda durante a corrida inteira e as equipes ficavam felizes, porque não mudava nada, para elas, um ou outro chegar na frente. O lado do piloto contava mais. Infelizmente, a coisa mudou. O esporte como um todo mudou e não só a Fórmula 1. O que eu posso fazer? Quando comecei a correr, a coisa já era assim. A Fórmula 1 continua sendo esporte, mas há muitas coisas envolvidas. A vida é agora, o meu momento é esse e eu tenho de pensar o que é melhor para mim e para a equipe. Istoé - Houve algum momento em que você achou que ficaria desempregado no fim do ano passado, quando a Ferrari disse que não renovaria o seu contrato? Felipe Massa - Teve. Eu não queria correr em uma equipe pequena para ficar no final do grid. Queria uma equipe com potencial. Passou pela minha cabeça me aposentar da Fórmula 1. Tive de reduzir o salário, porque assinei por três anos com a Williams, que é uma equipe que investe no futuro e não é uma Ferrari, a maior da categoria. Istoé - Sair da Ferrari foi um bom negócio? Felipe Massa - Foi. Tirei um peso gigante das costas. Estava desmotivado já nos últimos dois anos. Eu queria mudar, não queria ficar. Foram oito anos de equipe como piloto oficial. Sempre fui profissional. Até demais, muitas vezes. Era algo que eu estava precisando. E a Ferrari também. Hoje, quando falo o que penso sobre o carro, o que não está certo e precisa mudar, as coisas mudam de uma hora para a outra. Eu estou sendo uma peça importante dentro da Williams, me sinto mais livre e desejado. Às vezes, você pensa: “O cara corre pela Ferrari, tem um trabalho desejado por muitos como piloto de Fórmula 1.” Mas, no final da história, a gente tem mais é que se sentir bem e não apenas estar na Ferrari, dentro de um carro dos sonhos e ter um contrato incrível. Eu estava precisando disso, de me encontrar e começar de novo. Istoé - A Fórmula 1 alimentou o orgulho nacional por muito tempo graças a pilotos como Ayrton Senna, Emerson Fittipaldi e Nelson Piquet. Por que você não conseguiu dar sequência a isso? Felipe Massa - Eu tive a chance (de ser campeão mundial, em 2008). Perdi um campeonato na última curva, nos últimos metros, em um ano em que fiz um trabalho magnífico, ganhei o maior número de corridas. Não aconteceu porque Deus sabe melhor que qualquer um. Sempre mostrei garra e o máximo para conquistar (um título mundial). Ser campeão mundial segue sendo o meu sonho e é mais uma vontade própria do que uma pressão. Quero ser campeão porque eu tenho essa vontade e não porque me sinta obrigado. Istoé - Você é um piloto azarado? Felipe Massa - Se for olhar aquele campeonato em que perdi na última curva, pode-se pensar que eu tive azar. Mas, um cara que chocou a cabeça em uma mola a mais de 300 km/h, sobreviveu ao acidente e voltou a correr, não dá para dizer que é azarado. Eu poderia não estar aqui! E outra coisa: saí da Ferrari, passei a conversar com a Lotus e acabei indo para a Williams. Se tivesse ido para a Lotus, eu estaria andando em último hoje. Não se pode dizer que eu sou azarado, viu? Istoé - Por que o automobilismo brasileiro não revela mais talentos? Felipe Massa - Tem de haver uma mudança grande na Federação Brasileira de Automobilismo, que é muito fraca. Não temos uma categoria de fórmula depois do kart. Está feia a coisa. Eu montei uma para ajudar os pilotos que saem do kart a ter uma categoria-escola e poder chegar à Europa mais preparado. Durou dois anos e fechei porque não tinha ajuda da federação, faltava piloto. Tentei ajudar, não adiantou e perdi dinheiro no final das contas. Falta também a gente encontrar um piloto com nível alto para chegar à Fórmula 1. Quando cheguei à Europa, havia um brasileiro em cada categoria, Fórmula Renault, Fórmula 3, Fórmula 3000, nos Estados Unidos também. Hoje, é difícil a gente ver um piloto brasileiro correndo lá fora. Falta talento no automobilismo nacional. Istoé - Soube que você tem uma guitarra que pertenceu ao Eric Clapton. Você faz coleção ou toca alguma coisa? Felipe Massa - Na verdade, não entendo nada de rock. É que eu fiquei amigo do Eric Clapton e, parece muito estranho, ele virou meu fã. Ele me escreve antes e depois de toda corrida e, inclusive, dedicou um show para mim no Brasil. Ele veio me procurar em uma festa do príncipe do Bahrein, após assistir à corrida. Jogamos sinuca, conversamos e combinei de dar um capacete para ele, que me presenteou com uma guitarra. Nessa última corrida, por exemplo, o Eric me escreveu dizendo que estava torcendo e desejou boa sorte. Ao final, escreveu de novo: “Que largada! Que corrida!” Istoé - Você é um pai que acompanha o filho de perto? Felipe Massa - Sou um bom pai. Tenho o filho que sempre sonhei. Felipinho é uma figura. Sou um pai bem próximo, levo e busco o Felipinho na escola, o acompanho na escolinha de futebol, brinco e faço muita besteira com ele. Já está com 4 anos, o tempo passa. 3# COLUNISTAS 16.4.14 3#1 RICARDO BOECHAT 3#2 LEONARDO ATTUCH - GRAÇA SABIA DAS COISAS 3#3 RICARDO AMORIM - HERANÇA MALDITA 3#4 GISELE VITÓRIA 3#5 BRASIL CONFIDENCIAL 3#1 RICARDO BOECHAT Com Ronaldo Herdy Uma por outra Anunciada pelo ministro Celso Amorim, a decisão das Forças Armadas de investigar "crimes contra os direitos humanos em unidades militares a partir de 1964" pode dar em nada. Ditadura Uma por outra Anunciada pelo ministro Celso Amorim, a decisão das Forças Armadas de investigar “crimes contra os direitos humanos em unidades militares a partir de 1964” pode dar em nada. Nenhuma das três Forças instaurou Inquérito Policial Militar para lidar com as denúncias e indícios de autoria disponíveis. Optaram por criar comissões de sindicância, que são simples avaliações administrativas dos feitos. A escolha tem pinta de água fria... Ditadura 2 Patente alta Na Aeronáutica foi nomeado como sindicante o major brigadeiro Raul Botelho. Chefe do III ComAr e respeitado na FAB, ele está na lista de oficiais aptos à promoção à quarta estrela, em março do ano que vem. Alguns membros do Alto Comando, que escolherão os ungidos, são francamente contrários às investigações. Botelho trabalhará sob forte pressão. Legislativo Retorno O ex-ministro Eliseu Padilha está de volta a Brasília. Não para assumir a Secretaria Especial de Portos, como foi cogitado. Na Câmara ocupará a vaga de Mendes Ribeiro Filho. O deputado pediu aposentadoria por invalidez para seguir tratando um tumor no cérebro e trabalhando na política, dentro do possível. No Legislativo e quando ministro da Agricultura, o gaúcho recorria a várias licenças, em função da doença. Padilha está escalado também para trabalhar nas redes sociais, na campanha de reeleição de Dilma Rousseff. Justiça Briga na corte Em resposta à consulta da presidenta do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro, Leila Mariano, o CNJ determinou que o Órgão Especial deve ser composto em igualdade por desembargadores de carreira e aqueles oriundos da advocacia e do Ministério Público. O governo fluminense foi ao STF questionar a fórmula, a pedido do TJ. O mandado de segurança caiu nas mãos do ministro Marco Aurélio, que indeferiu o pedido de liminar. Copa É ele Com a aposentadoria de Valmir Campelo no Tribunal de Contas da União, a fiscalização do uso de dinheiro do governo federal nas obras de construção e reforma dos estádios ficará a cargo do ministro Walton Alencar Rodrigues. Ele é o decano da corte e dirá, em última instância, se as nossas arenas afinal foram superfaturadas ou são as mais caras, quando comparadas às das últimas três copas. Há quem jure que não. Energia Alta tensão Ate dezembro, 47 distribuidoras de energia terão suas tarifas reajustadas pela Aneel. Embora a agência afirme não existir tendência de aumentos de dois dígitos nas contas de luz neste ano, especialistas no setor admitem que haverá muitas correções acima de dez por cento, em função do alto custo da energia no mercado de curto prazo, fruto em parte das secas e do consequente uso das termelétricas. Previdência Social Eu, não! Funcionários da Dataprev, que processa os benefícios do INSS entre outros serviços, relatam indignados pressões internas para que entrem na Onda, uma espécie de Facebook da empresa. Os brasileiros adoram redes sociais, mas imposições assim colidem com o espírito de liberdade que é uma marca da internet, além de gerar ti-ti-ti interno de que a dona do software ganha por cada habilitação na ferramenta. Igreja Pregador no alvo. Há pecado? A Polícia Federal investiga o pastor José Wellington Bezerra Costa, presidente da Convenção Geral das Assembleias de Deus no Brasil há 25 anos. O inquérito feito a pedido do procurador Antonio Cabral, do Ministério Público Federal, é para apurar supostos crimes previdenciários, de lavagem de dinheiro e contra a ordem tributária. Tudo começou com denúncia ao MPF feita por sete pastores da denominação, representados pelo Escritório Jorge Vacite Neto, do Rio de Janeiro. Agricultura Sinal verde Até o ano passado batizada de safrinha, a segunda colheita nacional de milho perdeu a definição em diminutivo no mundo do agronegócio. Fala-se agora em primeira e segunda safra anuais. A que termina de ser retirada do campo este mês somou 31,5 milhões de toneladas; a que se inicia em maio alcançará 43,9 milhões de toneladas. E por falar em milho, a China acaba de retirar todas as restrições sanitárias ao grão brasileiro. Isso multiplicará as vendas do Brasil para o gigantesco. Cultura Triste realidade Estudo do Sesc e da Fundação Perseu Abramo, constatou que 61% dos brasileiros nunca assistiram a uma peça teatral. O índice atinge 89% quando se trata de ópera ou concertos de música clássica. Quando perguntados sobre quais atividades gostariam de fazer nas horas livres, se pudessem escolher, sem a preocupação com o tempo, dinheiro ou permissão, 51% citaram o desejo de viajar, 41% curtir a companhia da família, 24% a vontade de cuidar de si mesmos e outros 18% a intenção de descansar. Economia Perdeu a forma No fundo, o Palácio do Planalto não irá se abalar se a Medida Provisória 627 perder a validade no Congresso. Isso porque foram tantas as modificações feitas pelo deputado Eduardo Cunha, relator da matéria, que o texto ficou com ar de “Frankstein”. Disputas à parte, a profunda mudança na sistemática de tributação dos lucros de empresas no Exterior é algo que tira o sono de executivos brasileiros. Negócios Retenção Pesquisa da CNI que será entregue nos próximos dias à Receita Federal mostra que os R$ 20 bilhões em créditos tributários retidos em cofres públicos afetam muito as empresas exportadoras. Das 640 companhias ouvidas numa sondagem da entidade, metade garantiu que não aumenta a venda de produtos lá fora devido aos créditos que acumularam – 58,8% de PIS/Cofins, 43,3% de IPI e 54,6% de ICMS. MPF Com status Em documento que enviará ao Ministério da Defesa, a Procuradoria-Geral da República dirá que os comandantes da Aeronáutica, do Exército e da Marinha não precisam ir para a reserva, se completarem 70 anos na chefia de suas Forças. A idade limite para um servidor público se aposentar não vale nos casos de nomeados para cargos comissionados de natureza especial, como é o caso. O questionamento sobre os quatro estrelas partiu de militar da reserva, que vive no Rio de Janeiro. Política Dançou legal O deputado André Vargas está na lista dos 100 parlamentares mais influentes e em ascensão no Congresso Nacional. O Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar teve que retirar correndo o nome do parlamentar paranaense da lista que será divulgada no mês que vem. Em 2013, “por seu compromisso com o PT, a democracia e a sociedade brasileira” Vargas era uma das estrelas do Diap. Literatura A caminho Em avião próprio e com uma comitiva de apenas seis pessoas, o presidente de Gana, John Dramani Mahama, chega ao Brasil na terça-feira 15. Nas 48 horas que ficará por aqui, ele participará da 2ª Bienal do Livro e da Leitura, em Brasília, onde autografará “Meu Primeiro Golpe de Estado”. O editor Luiz Fernando Emediato, da Geração Editorial, que comprou os direitos da obra antes de Mahana ser eleito, teve que recorrer ao Itamaraty, já que o filósofo circulará no evento agora como “chefe de Estado”. Ele também foi eleito este ano líder da Comunidade Econômica dos Estados da África Ocidental. 3#2 LEONARDO ATTUCH - GRAÇA SABIA DAS COISAS A Operação Lava-Jato é a oportunidade para cortar de vez os laços entre a política e a maior empresa brasileira. No dia 27 de abril de 2012, Graça Foster, indicada diretamente por Dilma Rousseff para o comando da Petrobras, demitiu Paulo Roberto Costa, até então o todo-poderoso diretor da área de refino na companhia. Ao falar com os jornalistas, Costa, que havia sido um dos mais influentes executivos da estatal, disse não ter compreendido os motivos da demissão. Agora, dois anos depois, eles estão expostos ao distinto público, em detalhes, na Operação Lava-Jato, da Polícia Federal. De acordo com as investigações, Costa representava a quintessência daquilo que tanto Dilma quanto Graça mais detestam no setor público: a infiltração de interesses políticos em áreas que devem ser estritamente técnicas. Nesse balaio, estão lá os mesmos personagens de sempre: os doadores de campanha, que são as empreiteiras e fornecedores de equipamentos às estatais, os operadores políticos e financeiros – no caso, Paulo Roberto Costa e o doleiro Alberto Youssef – e os beneficiários no Congresso, que fazem parte de uma miríade de partidos. A grande novidade – e que deveria estar sendo saudada com fogos de artifício pelos investidores da Petrobras, que hoje só pensam em aumento dos combustíveis, bem mais do que em Pasadena – é que um edifício desse porte esteja sendo detonado publicamente. A Operação Lava-Jato pode cortar de vez os laços entre a política e a maior empresa brasileira e nada fará tão bem à companhia, no longo prazo, quanto uma blindagem real e efetiva a novos personagens como Paulo Roberto Costa. Ele, como se sabe, era apoiado por um consórcio de partidos. Julgando-se acima do bem e do mal, criou uma espécie de Petrobras dentro da Petrobras. Financiou deputados, foi cortejado em Brasília e, claro, ao longo do caminho construiu seu próprio pé-de-meia. Jamais poderia imaginar sua queda e um fim tão melancólico. A grande questão é: o que acontecerá depois disso tudo? Será que, desta vez, haverá realmente um efeito pedagógico no Brasil? Antes de se tornar diretor, pelas mãos do finado ex-deputado José Janene, do PP, Costa havia construído uma carreira de sucesso em mais de 30 anos na estatal. Poderia terminar bem sua trajetória, mas preferiu servir ao mundo político. Conheceu a glória, mas ela agora cobra seu preço. Nada, no entanto, é tão surpreendente quanto a imprudência de empreiteiros, políticos e do próprio doleiro Alberto Youssef. Alvo principal do caso Banestado, Youssef já havia sido preso pela Polícia Federal no fim da década de 90. Só saiu depois de uma delação premiada. É espantoso que as peças que formam a engrenagem da corrupção no Brasil tenham recorrido aos préstimos do mesmo personagem, sem imaginar que ele estaria sendo monitorado pelas autoridades que, tão recentemente, o colocaram atrás das grades. Será que, no Brasil, ninguém aprende? 3#3 RICARDO AMORIM - HERANÇA MALDITA "Ganhe quem ganhar a eleição, em 2015 o crescimento será ainda muito baixo e talvez até negativo". Todo fim de ano publico um artigo sobre as perspectivas econômicas para o ano seguinte. Nos últimos quatro anos, previ que o crescimento econômico decepcionaria. Infelizmente, nos três anos que já se passaram, essas previsões se concretizaram. Em 2014, não é preciso nem esperar o fim do ano. Terminado o primeiro trimestre, já há elementos suficientes para afirmar que haverá mais decepção em 2015. Dois fatores que permitiram que o Brasil avançasse 2,5 vezes mais rápido entre 2004 e 2010 do que antes se esgotaram: incorporação de mão de obra e maior utilização da infraestrutura já existente. Desde 2003, quase 20 milhões de brasileiros sem emprego passaram a trabalhar. O desemprego caiu de 12% para 5%. Quanto à infraestrutura, dificuldades financeiras e operacionais no setor público e problemas regulatórios impediram um crescimento dos investimentos na magnitude necessária, criando um apertado gargalo para o desenvolvimento. Só poderíamos crescer como antes acelerando a produtividade, o que exigiria trabalhadores mais bem preparados e equipados. Como não investimos o bastante em educação e treinamento, nem em máquinas, a taxa média anual de expansão do PIB desde 2011 caiu para apenas 2% e em 2014 continuará nesse ritmo. Pior, há razões para crer que o crescimento vá desacelerar em 2015. Não apenas crescemos pouco, mas bagunçamos a casa. Piorou o desempenho das contas externas e das contas públicas e a inflação subiu. Cedo ou tarde, esses desequilíbrios terão de ser corrigidos. Enquanto os ajustes forem feitos, provavelmente em 2015, nossa economia crescerá ainda menos. Para limitar a deterioração da balança comercial e tentar proteger nossa indústria dos importados, o governo desvalorizou o real, aumentou impostos sobre produtos estrangeiros, compras no Exterior e em sites de importados. Isso permitiu que a indústria nacional elevasse preços e recompusesse suas margens. Às altas de preços dos produtos industrializados somaram-se fortes elevações dos preços dos serviços, mantendo a inflação acima da meta de 4,5% ao ano desde 2009. A inflação não está apenas elevada, está grávida. O dragãozinho dos preços controlados pelo governo nasce após as eleições. Há mais de um ano, os preços de ônibus, metrô, gasolina, energia elétrica e outros têm sido represados para conter a inflação e as manifestações de rua. Esses preços terão de ser realinhados para evitar o colapso dos serviços e das contas públicas. Só a diferença entre o preço internacional do petróleo e os preços nacionais de seus derivados custa à Petrobras mais de R$ 40 bilhões anuais. A utilização de usinas termoelétricas para geração de energia elétrica custará de R$ 20 bilhões a R$ 30 bilhões só neste ano, e mais ainda em 2015. A renúncia fiscal com a desoneração de salários custará mais R$ 24 bilhões só em 2014. O ajuste das contas públicas é inevitável. Ele virá através de elevação de preços, corte de gastos do governo ou aumento de impostos, provavelmente os três. Os reajustes pressionarão a inflação, forçando o BC a aumentar ainda mais os juros, que já estão no nível mais alto desde 2011, limitando o crédito e reduzindo o crescimento. Aumentos de impostos e redução de gastos do governo devem retirar dinheiro da economia em 2015. Além do risco de racionamento de energia, há riscos externos de uma nova crise global. Desde 2008, os bancos centrais dos países desenvolvidos injetaram volumes colossais de dinheiro em suas economias, o que causou várias bolhas. Pelas suas proporções, dois riscos se destacam. Primeiro, as bolhas imobiliária e de crédito chinesas. No Brasil, construímos cerca de 400 mil novas moradias em 2013. Na China, foram 55 vezes mais. Há ainda o megaendividamento das empresas chinesas. O crescimento dos empréstimos locais a empresas chinesas desde 2008 sozinho é maior do que toda a dívida corporativa nos EUA, mas há ainda o endividamento externo. Em 2008, menos de 2% dos financiamentos globais em dólares, euros e ienes iam para empresas chinesas. No ano passado, foram 39%. Os calotes já começaram e as consequências podem atingir proporções parecidas às da crise do Lehman Brothers em 2008. Segundo, a Bolsa americana. Pelas minhas estimativas, ela está quase 80% acima de seu preço justo. Desde 1870, isso só aconteceu em 1929 e 2000. O resultado das eleições será fundamental para a economia brasileira, mas, ganhe quem ganhar, em 2015 o crescimento será ainda muito baixo e talvez até negativo. Ricardo Amorim é economista, apresentador do programa “Manhattan Connection”, da Globonews, e presidente da Ricam Consultoria 3#4 GISELE VITÓRIA Gisele Vitória é jornalista, diretora de núcleo das revistas ISTOÉ Gente, ISTOÉ Platinum e Menu e colunista de ISTOÉ Peixão que não sabe nadar Top model das mais requisitadas no mundo, Aline Weber só quer uma coisa: voltar a morar no Brasil. Está promovendo uma bela reforma em sua casa em Florianópolis. “Ainda tenho muito o que fazer lá fora. Mas sinto falta do Brasil. Quero voltar a morar no meu país. No máximo em três anos”, disse a modelo durante o SP Fashion Week. Ela vive em Nova York com o namorado, o modelo Matheus Strapasson. Aline sonha com a vida de “gente normal”. Diz que nunca teve tempo para aprender a nadar, por exemplo. “Resolvi ter aulas na Lagoa Peri (em Floripa)". Também não sabe dirigir. “Para isso, vou esperar mais um pouco. Deixa meu namorado dirigir para mim, não é?”, brinca. Na foto, Aline posa para J.R. Duran na campanha de inverno 2014 de Carina Duek, com direção criativa de Luis Fiod. Coração paulistano Carioca de nascença, mas paulistana de coração. Bruna Lombardi foi escolha unânime entre os vereadores da Câmara Municipal de São Paulo para receber a Medalha Anchieta, concedida a personalidades admiradas pelos paulistanos. “Foi maravilhoso. Mesmo em um cerimonial de premiação tão sério, foi uma noite de um astral único”, disse a atriz e roteirista. Ela também recebeu o Diploma de Gratidão da Cidade de São Paulo na mesma cerimônia no MIS (Museu da Imagem e do Som). A indicação veio do vereador Andrea Matarazzo. “Fiquei honrada. E emocionada com os vídeos do Juca de Oliveira e do meu filho, Kim, com depoimentos lindos, e a presença de pessoas que jamais imaginei que iriam, como o governador Geraldo Alckmin.” Na noite, houve uma prévia do próximo filme de Bruna e do marido, Carlos Alberto Riccelli, “Amor em Sampa”, que estreia após a Copa. O pequeno príncipe e o ventinho indiscreto O vestido vermelho assinado por Catherine Walker era uma estudada reedição de um look semelhante da mesma estilista, usado por Lady Di, em 1984. E parecia tudo combinado com o ventinho indiscreto da Nova Zelândia na hora do desembarque. Ao lado do príncipe William, Kate ­Middleton quase mostrou mais do que devia. Mas a cena definitivamente era dele, George. No colo de uma mamãe quase sereia, o pequeno príncipe estreou aos 8 meses sua primeira viagem oficial. Depois, só deu ele. Na cidade de Wellington, George foi o centro de todas as atenções ao interagir com outras crianças. Arrancou sorrisos ao brincar com os cabelos da mãe. Último tango... em São Paulo? A Argentina está de cabeça para baixo com a greve geral que tumultuou o país, mas, por enquanto, a agenda da presidenta Cristina Kirchner segue impassível. Segundo a embaixada do Brasil na Argentina, é alta a chance de ela ir a São Paulo na última semana deste mês para um evento. Um encontro com Lula estaria no programa. O Instituto Lula não confirma nem nega, mas um grande hotel em São Paulo já teria sido mobilizado para sediar a possível reunião. No mar do Havaí aos 7 meses Guilhermina Guinle levou a filha Mina, de 7 meses, para o Havaí. Foi seu primeiro banho de mar. “O médico liberou e queria um lugar especial para o primeiro mergulho dela”, conta a atriz. Ela e o marido, Leonardo Antonelli, passaram 20 dias entre Hawai e Califórnia. “Minha mãe (Rosa May Sampaio) não acreditou: ‘Deixa de frescura, Guilhermina! leva a menina para Búzios!” Para deputado federal Álvaro Garnero pode se candidatar a deputado ­federal pelo PRB, partido de Edir Macedo. “Gosto da ideia, mas não decidi. Só se for para defender o turismo no Brasil”, diz o empresário e apresentador do programa “50 por 1”, da Record. O pai, Mário Garnero, é a favor. Mas o amigo ­Aécio Neves, candidato à Presidência pelo PSDB, e a ex-namorada Cristiana Arcangeli são contra. A recente separação do casal, diz ele, tem tudo a ver com o tema. Saúde à prova O acesso de tosse de Sharon Stone no baile da amfAR sinalizou. Dois dias após a festa em que ela e Nizan Guanaes arrecadaram US$ 2,7 milhões num divertido leilão em prol da cura da Aids, a diva de “Instinto Selvagem” foi hospitalizada no Sírio-Libanês, em São Paulo. A possível traqueobronquite não tirou seu ânimo por muito tempo. Na quarta-feira 9, a atriz de 56 anos e a amiga brasileira Carol Andraus já saracoteavam pelos Jardins fazendo compras. Na NK Store (foto), ela comprou peças das marcas Talie NK, StellaMcCartney e Cèline. E, na loja de Cris Barros, duas camisetas e uma saia de couro preta. Sharon foi embora na quinta-feira 10, cheia de sacolas... Bala Dia especial Alessandra Ambrosio festejou seus 33 anos no Festival Musical de Coachella. A top levou toda a família para a Califórnia. 3#5 BRASIL CONFIDENCIAL Por Paulo Moreira Leite As três prioridades de Dilma até outubro O Planalto calcula que a reeleição depende do governo ultrapassar três obstáculos até a corrida às urnas. As grandes prioridades não incluem nem a CPI da Petrobras nem as ramificações perigosas do doleiro Alberto Youssef com o mundo político. A preocupação envolve assuntos que atingem o eleitor, diretamente. O maior de todos os riscos é a inflação: uma alta nos preços desvaloriza os salários e gera mau humor. O segundo é a seca: com o sistema de chuvas longe da normalidade, as principais vítimas envolvem eleitores de regiões que apoiam o PT desde as eleições de 2002. O terceiro é a Copa. Convencido de que o eleitor sabe separar a bola da urna, a preocupação do governo é vencer o jogo difícil da infraestrutura. Turismo incidental Não durou um mês a nomeação de Sérgio Braune Pontes como secretário-executivo do Ministério da Cultura. Dilma acaba de exonerá-lo. Ex-número dois do Turismo, Pontes perdeu a função depois de polêmica viagem a Taiwan. Agora será abrigado em função executiva no Tribunal Superior Eleitoral com o ministro Dias Toffoli. O jogo de Lula Num país onde os grandes clubes de futebol pedem ajuda para resolver um passivo com o governo da ordem de R$ 4 bilhões – a conta inclui Previdência, FGTS, Imposto de Renda e outros débitos –, Lula decidiu que só entra em campo quando a partida estiver perto do final. O ex-presidente defende a tese de que será melhor permitir que os clubes paguem ao menos uma parte de sua dívida em vez de registrar perda total. No governo, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, mantém-se irredutível, mas Lula acha que só deve se mexer depois que o debate estiver mais desenvolvido. O mundo ideal Se depender da vontade do governo, não haverá nenhuma CPI sobre a Petrobras, nem exclusiva, como quer a oposição, nem ampliada para o propinoduto tucano, como defendem PT e PMDB. A visão é de que ruído dessa natureza nunca faz bem a quem se encontra no governo durante uma campanha eleitoral. Por essa razão, a bancada do Planalto fará o possível para impedir a CPI ou, se não houver jeito, atrasar sua instalação ao máximo. Segredo Neri Geller substituiu gestores financeiros dos principais programas da pasta em seu primeiro mês à frente do Ministério da Agricultura. Apesar de Geller também ser do PMDB, partido do ex-ministro Antonio Andrade, o clima no ministério é de reformismo. Queridinho da Frente Parlamentar Agropecuária, o novo ministro pretende entregar ainda este ano mudança no sistema de registro de pesticidas genéricos, um pleito antigo do setor. O mundo real A bancada do PT prepara-se para o pior. Na semana passada, dois emissários de São Paulo se reuniram por quatro horas com assessores do Congresso e dos ministérios para uma sabatina detalhada sobre o metrô de São Paulo. Chame a irmã Ângela Funcionária de firma terceirizada para serviço de limpeza, Ângela Marques se tornou uma espécie de celebridade no Senado. A evangélica recebe pedidos frequentes dos mais variados gabinetes para fazer previsões e orações para senadores. Irmã Ângela, como é conhecida, chegou a ser convocada no Palácio do Planalto, quando a senadora Gleisi Hoffmann estava à frente da Casa Civil, para fazer orações por uma boa gestão na pasta. Além de Gleisi, irmã Ângela ora pelo senador Rodrigo Rollemberg (PSB-DF) e foi chamada por assessores do falecido senador João Ribeiro quando ele estava em uma UTI, em São Paulo. O deputado alagoano João Caldas (SDD) também atravessa o Salão Azul atrás das orações de irmã Ângela. Às sextas-feiras, ela lota a sala que durante a semana abriga a Comissão de Meio Ambiente em um culto que reúne de chefes de gabinete a funcionários da limpeza. Toma lá dá cá Senador Rodrigo Rollemberg (PSB-DF), um dos articuladores do movimento que implodiu a indicação do senador Gim Argello (PTB-DF) ao Tribunal de Contas da União (TCU). ISTOÉ – O perfil político dos ministros do TCU compromete o trabalho das auditorias? Rollemberg – O problema não é o perfil político. O fundamental é ter idoneidade e reputação ilibada. O candidato também precisa ter conhecimento financeiro e de administração pública. ISTOÉ – A rejeição de Gim Argello pode criar constrangimento entre o parlamentar e os colegas? Rollemberg – A rejeição foi um recado político claro para a presidenta Dilma e o presidente Renan Calheiros: as coisas têm limite. ISTOÉ – O governo reclama que a ação do TCU acaba atrasando obras... Rollemberg – As paralisações só ocorrem em casos de irregularidades muito sérias e que comprometem os recursos públicos, e não em casos de mera formalidade. Retrato falado Enquanto PT e PSDB travam batalha em torno da criação de uma CPI no Congresso, os partidos caminham de mãos dadas nas eleições para o governo de Mato Grosso do Sul. No Estado, o senador Delcídio Amaral (PT-MS) será o candidato com o apoio tucano. O inimigo histórico do PT na região é o PMDB, explica o senador Waldemir Moka (PMDB-MS), aliado do governador André Puccinelli. “Não adianta explicar para o eleitor de Mato Grosso do Sul que o PMDB apoia a Dilma Rousseff. Há uma rivalidade histórica entre PT e PMDB e aqui os petistas são aliados dos tucanos. Vai ser um palanque estranho para os presidenciáveis.” Rápidas Na terça-feira 29, a Polícia Federal inaugura uma sede em Macapá, destinada a fazer o trabalho na região de fronteira do Norte do País. Com 200 cômodos numa área imensa, localizado em ponto estratégico da Amazônia, o imóvel custou R$ 29 milhões. Na semana passada havia sido reduzido o espírito denuncista de três senadores da oposição em relação a Petrobras. A mensagem é uma oferta de bandeira branca. Chama o Jucá O novo ministro das Relações Institucionais, Ricardo Berzoini, iniciou sua gestão com a máxima: muitas vezes a fórmula do sucesso está no óbvio. Berzoni diagnosticou que a atuação de sua antecessora, Ideli Salvatti, começou a fazer água com a saída do senador Romero Jucá (PMDB-RR) da liderança do governo. Na semana passada, Jucá já fora acionado por Berzoini para atuar nos bastidores. Berzoini já começou o mandato pontuando no Planalto. Pinta de artista Um retrato de Renan Calheiros ilustrava o último capítulo da minissérie “A Teia”, da Rede Globo. No contexto do drama, o político, que não é identificado nominalmente, aparece como vinculado ao crime organizado. Através de sua assessoria, Renan informou que não tomou conhecimento do seriado. Eu avisei ONGs ambientais estão reunindo documentos para apresentar denúncia no Ministério Público Federal contra empreiteiras contratadas no âmbito do Minha Casa Minha Vida que construíram em área de proteção ambiental. No Espírito Santo, Bahia e Tocantins existem conjuntos habitacionais acusados de derramamento de córregos e afundamento de terrenos que não poderiam receber empreendimentos habitacionais. As empresas constríram em áreas de proteção amparadas por trecho da Lei 11.977, de 2009, que autoriza regularização em benefício do programa do governo federal. 4# BRASIL 16.4.14 4#1 UM ESQUEMA MONTADO PARA ESQUENTAR DINHEIRO 4#2 O ENIGMA DO VOLTA, LULA 4#3 E O IPEA, MERECE SER ATACADO? 4#4 CPI DE ARAQUE? 4#1 UM ESQUEMA MONTADO PARA ESQUENTAR DINHEIRO Obtido com exclusividade por ISTOÉ, inquérito no STF pode levar André Vargas à cadeia por falsidade ideológica. Para o MP e a PF, deputado petista montou uma "lavanderia" para justificar recursos de origem duvidosa que irrigaram suas campanhas eleitorais Izabelle Torres (izabelle@istoe.com.br) e Claudio Dantas Sequeira (claudiodantas@istoe.com.br) O deputado André Vargas (PT-PR) é um político em estado terminal. Num último esforço para tentar preservar o mandato, o petista renunciou ao posto de vice-presidente da Câmara e tirou uma licença de 60 dias. Não foi o suficiente para impedir que seus pares instaurassem um processo contra ele no Conselho de Ética da Câmara por quebra de decoro parlamentar, nem que o seu partido, o PT, o ameaçasse de expulsão. Sua situação se deteriorou depois que ele foi acusado de manter uma relação promíscua com o doleiro preso na Operação Lava Jato, Alberto Youssef. Vargas é o deputado que ergueu os punhos cerrados, repetindo o gesto dos mensaleiros presos, para debochar do presidente do STF, Joaquim Barbosa, em sessão de abertura do ano legislativo no Congresso. Agora, por ironia da política, quem pode selar o destino político de Vargas é justamente o Supremo, instituição à qual o petista ousou desafiar e fazer troça. Na última semana, ISTOÉ teve acesso com exclusividade às mais de 500 páginas do inquérito 3596, instaurado pelo STF a pedido do Ministério Público Federal, que pode levar Vargas para a cadeia pelo crime de falsidade ideológica para fins eleitorais. A pena prevista, caso o petista seja condenado, varia entre um e cinco anos de reclusão. No robusto processo, o Ministério Público Federal afirma que há fortes indícios de que o parlamentar montou uma lavanderia de dinheiro para justificar doações eleitorais. Nem a Justiça Eleitoral consegue dizer se os recursos apresentados nas prestações de campanha algum dia chegaram mesmo a circular na conta bancária. ORIGEM SUSPEITA - A Justiça Eleitoral não identificou na conta bancária os recursos apresentados nas prestações de contas de André Vargas Constam do processo depoimentos de mais de 80 testemunhas que afirmam nunca terem doado dinheiro para a campanha de Vargas. Mas esses são apenas parte dos 200 “laranjas” utilizados pelo petista para justificar a origem dos recursos suspeitos em suas campanhas eleitorais. A prática ilícita teria começado nas eleições de Vargas para deputado federal em 2006 e se reproduzido na campanha de 2010. Na documentação que embasa o inquérito em curso no STF há relatos dos auditores do Tribunal Eleitoral do Paraná sobre a dificuldade de fazer uma apuração detalhada das contas apresentadas devido à complexidade do esquema. Os procuradores, porém, acreditam que as notas de gastos apresentadas pelo deputado licenciado são frias. Uma lista completa com os dados bancários do parlamentar e dos doadores fictícios, com observações sobre o desencontro dos dados e valores, fundamenta a suspeita dos procuradores. No STF, o inquérito contra André Vargas é relatado pelo ministro Teori Zavascki. O ministro delegou ao juiz Marcio Fontes a missão de coordenar as investigações. Diligências já foram pedidas à Polícia Federal O esquema de lavagem de dinheiro de Vargas não se limitaria às operações de fraude nas prestações de contas de campanha. Teria ramificações. Em outra ponta da investigação, a Polícia Federal segue o rastro de empresas em nome dos familiares de Vargas. Nos grampos telefônicos divulgados até agora, o deputado aparece em conversas com o doleiro Alberto Yousseff cobrando pagamento de comissões a determinados consultores, um deles chamado “Milton”. Trata-se de seu irmão Milton Vargas Ilário e a PF suspeita que outros familiares do petista também tenham sido usados como laranjas. Nessa vertente do amplo esquema montado por Youssef, a lavagem de dinheiro se daria a partir do uso de empresas de fachada abertas por seus familiares. Entre as empresas investigadas pela Polícia Federal, que teriam sido usadas na lavanderia Vargas, encontra-se a LSI Solução em Serviços Empresariais. Foi constituída em agosto de 2011 pelo irmão Leon Denis Vargas Ilário e a mulher, Simone Imamura Vargas Ilário, com capital social de apenas R$ 15 mil. Em 18 de setembro de 2013, os sócios trocam de lugar. Simone sai e entra Milton. É justamente a véspera da intensa troca de mensagens em que parlamentar e doleiro comemoram as gestões da parceria entre os laboratórios Labogen, LFM e EMS para abocanhar contrato de até R$ 150 milhões com o Ministério da Saúde. Em apenas um ano, a LSI mudou três vezes de ramo, ampliando seu leque de atuação de pesquisa e consultoria a atividades de cobrança, publicidade, organização de eventos, gestão empresarial e até tecnologia da informação. Curiosamente, a empresa foi aberta no número 58 da alameda Sarutaia, no bairro do Jardim Paulista (SP), onde já funcionava há anos outra empresa, a agropecuária Adram S/A, que acaba de ser selecionada para uma linha especial de crédito do BNDES. Existe a desconfiança na PF de que Vargas e seus parentes também estejam por trás da Adram S/A. Com a entrada de Milton, irmão do petista, a sede da LSI foi transferida para um apartamento residencial da Vila Mariana, bairro da capital paulista. A PF não identificou qualquer indício de atividade comercial no endereço. Da mesma forma não foi encontrada atividade empresarial no endereço da L Vargas & CIA Ltda., localizada em São José dos Pinhais. A empresa está em nome de outro irmão do deputado chamado Loester Vargas Ilário e sua mulher, Luzia Salete Ribeiro Ilário, e tem como objeto social a prestação de “serviços auxiliares do mercado de capitais”. No STF, o inquérito que pode levar Vargas à cadeia pelo crime de falsidade ideológica para fins eleitorais é relatado pelo ministro Teori Zavascki. O ministro delegou ao juiz instrutor Marcio Fontes a missão de coordenar as investigações. O juiz pediu dezenas de diligências à Polícia Federal, que trabalha há meses na tomada de depoimentos de testemunhas. Nos próximos dias, o juiz vai analisar as notas fiscais apresentadas nas últimas campanhas por Vargas. Com base nos depoimentos já registrados de pessoas que constam da lista de doadores, e que garantem não saber como seus nomes foram parar lá, a Polícia Federal vai intensificar a apuração sobre a origem dos recursos que abasteceram a campanha do petista. O uso de laranjas para justificar parte das doações seria uma manobra contábil para esquentar recursos de origem duvidosa. No último dia 18 de março, um ofício assinado pelo ministro Zavascki foi enviado à PF. No ofício, o ministro pede o encerramento da fase de oitivas de testemunhas. Para a PF, os depoimentos não deixam dúvidas de que as doações eram mesmo fictícias. Os documentos reunidos até agora no inquérito em tramitação no STF complicam de vez a situação política de Vargas. No processo, o Ministério Público identifica uma série de operações estranhas a prestações de contas de um candidato a deputado federal. Por exemplo, extratos bancários da conta aberta em 2006 pelo então candidato do PT mostram movimentações muito abaixo dos custos de uma campanha, com saldos que não passam de R$ 2 mil. Além disso, o ritmo de arrecadação oficial era lento, com a realização de jantares de adesão que arrecadavam pouco mais de R$ 3 mil a cada evento. Mas foi a lista provavelmente fictícia de doações recebidas em 2006 pelo parlamentar que encorpou o processo que pode levar Vargas à cadeia. Dos pouco mais de R$ 300 mil declarados à Justiça Eleitoral naquele ano, quase R$ 100 mil aparecem como sendo de pequenas doações – entre R$ 20 e R$ 600 – de pessoas físicas. O problema é que cerca de 200 pessoas listadas como “doadoras” por Vargas afirmam nunca terem contribuído com qualquer campanha, especialmente a do petista. RELAÇÕES PROMÍSCUAS - A Polícia Federal suspeita de que o deputado André Vargas e seus irmãos frequentavam o escritório do doleiro Alberto Youssef, preso na Operação Lava Jato, no número 155, da rua Dr. Elias César em Londrina Nesse grupo estão 81 vigilantes da Universidade Estadual de Maringá. Eles chegaram a entrar com processos por danos morais na Justiça Estadual contra Vargas e quase a metade já recebeu indenizações. ISTOÉ localizou alguns desses doadores fictícios, que nos últimos dias vêm sendo chamados a depor na Polícia Federal. “Levamos um susto quando avisaram que nosso CPF estava na lista de campanha. Muita gente da universidade correu para ver o que tinha acontecido. Nunca nos explicaram direito como fomos parar lá. Agora, esperamos a resposta do processo”, diz Wilson Novo, que, segundo a prestação de contas do deputado Vargas, teria doado R$ 90 para a campanha petista. “Não doamos nada a ninguém. Por isso, buscamos reparações”, completa João Lozada, outra vítima de Vargas. Na campanha de 2010, o deputado licenciado André Vargas repetiu a fórmula de elencar muitos doadores de pequenas quantias. Não bastasse essa prática suspeita, o petista ainda transformou a sua conta oficial em um duto para que doações ocultas fossem distribuídas a outros candidatos. Empresas doaram dinheiro para o diretório do PT, que, por sua vez, repassou as quantias para a conta de Vargas, a quem cabia fazer uma nova distribuição. Pelo menos R$ 800 mil de origem desconhecida foram repassados por ele a outros candidatos. Na leitura técnica de quem investiga o caso no STF, descobrir a origem dos recursos que passaram pelas contas eleitorais de Vargas pode ser o caminho para desvendar as dúvidas que ainda precisam ser dirimidas no inquérito no Supremo. Relator do processo contra André Vargas na Câmara, o deputado Júlio Delgado (PSB-MG) promete dar celeridade ao caso A PF pretende ainda pedir a quebra de sigilo bancário e telefônico de Vargas e de seus familiares para identificar a movimentação financeira das empresas e eventuais contatos dos familiares com o doleiro Alberto Youssef. Suspeita-se que o parlamentar e seus irmãos frequentavam o escritório do doleiro no número 155, da rua Dr. Elias César em Londrina. Há mais de R$ 60 mil em notas de abastecimento de veículos usados por Vargas num posto de gasolina (Posto Centro Cívico) a apenas 550 metros do apartamento de Youssef. Ao constituírem a LSI, o casal Leon Vargas e Simone deram como endereço o número 480 da avenida Inglaterra, a apenas 1,7 km dali. Além da família, a Polícia Federal também está de olho nos assessores políticos de Vargas. Seu chefe de gabinete, Wagner Pinheiro, também serviu ao falecido deputado José Janene e outros caciques do PP desde a época da eclosão do escândalo do mensalão. Acuado pelas denúncias que o cercam, Vargas recebeu na semana passada apelos do PT para que renunciasse ao mandato. Seria, na visão desses petistas, uma tentativa de não contaminar a candidatura à reeleição de Dilma Rousseff. O petista se negou a atender aos pedidos. Reclamou de abandono e desabafou com colegas mais próximos que sua resistência em abrir mão do mandato se deve ao temor de que seu inquérito no STF, aquele que pode colocá-lo atrás das grades, seja enviado à Justiça de primeira instância do Paraná. A essa altura, porém, são poucas as alternativas políticas para André Vargas, o petista que ousou desafiar a Suprema Corte do País e que pode ter seu destino selado por ela. “Não imaginava que estava sendo gravado” “Deveria ter dito: “Vai à PQP!... mas fiquei quieto” ISTOÉ – Num despacho de 7 de abril, o juiz Sergio Moro, responsável pela operação Lava Jato, diz que a polícia segue examinando o material apreendido e complementando as investigações, mas que ainda seria prematuro afirmar que a relação do senhor com o doleiro Alberto Youssef tem “natureza criminosa”. Por quê? ANDRÉ VARGAS – O despacho do juiz Sergio Moro é esclarecedor. Para mim, Alberto Youssef sempre foi um grande empresário, dono do maior hotel de Londrina. Ele me disse que tinha sido doleiro no passado e até que fizera delação premiada no Ministério Público. Mas dizia que não atuava mais como doleiro. ISTOÉ – Num diálogo gravado, o doleiro fala que vocês dois poderiam conquistar a independência financeira em negócios com o governo. VARGAS – Meu erro foi ficar em silêncio quando ouvi isso. Não imaginava que estava sendo gravado. Deveria ter dito: “Vai à PQP!...” Mas fiquei quieto e o silêncio foi gravado. ISTOÉ – Estava deslumbrado? VARGAS – Não. Deveria ter reagido e não reagi. Mesmo assim, logo depois a transcrição mostra um “kkkkk”. Ele estava fazendo graça. ISTOÉ – O sr. também pergunta pelo dinheiro para o “Milton.” Era seu irmão? VARGAS – Era. Quando estava montando o laboratório Labogen, o Youssef me pediu uma indicação para a área de informática. Indiquei o Milton, que é consultor sênior de grandes empresas. Ele trabalhou para o Youssef e não recebeu. Por isso perguntei. ISTOÉ – O sr. ajudou o Labogen esperando dinheiro para campanha? VARGAS – Isso não aconteceu. Dei orientações. Não marquei uma reunião em Brasília. Se era o Labogen uma empresa para lavar dinheiro, como dizem hoje, é preciso uma auditoria para demonstrar. ISTOÉ – O sr. responde a processo no STF em que é acusado de falsidade ideológica, por ter apresentado falsos doadores nas contas de campanha. VARGAS – Na campanha de 2006 reuni um grupo de vigilantes para pedir apoio para minha eleição. Eles me trouxeram 199 votos. A acusação de lavagem de dinheiro não faz sentido. Deram contribuições de R$ 20. Alguém vai fazer alguma coisa para lavar R$ 20? 4#2 O ENIGMA DO VOLTA, LULA Os apelos para a volta do ex-presidente dificilmente cessarão. O problema é que o preço é o "sai daí, Dilma" Paulo Moreira Leite Ao contrário do que ocorre em absolutamente 100% das eleições do mundo inteiro, em 2014 Luiz Inácio Lula da Silva diz que não é candidato e até promete apoiar outro nome na campanha, mas um número cada vez maior de brasileiros acredita que vai acabar encontrando seu retrato nas urnas de outubro. Presente nas pesquisas de intenção de voto, sempre com aprovação infinitamente superior à de qualquer concorrente, inclusive da aliada Dilma Rousseff, o “Volta, Lula” frequenta os gabinetes de Brasília, os encontros de empresários e também as conversas nos sindicatos. Lula não perde uma oportunidade para anunciar sua não candidatura, como fez na terça-feira da semana passada, num encontro com blogueiros no instituto que leva seu nome. “Eu não sou candidato. Minha candidata é a Dilma Rousseff. E eu conto com vocês para divulgar isso e acabar com essa boataria”, disse. Quatro dias antes da coletiva, num encontro reservado com a própria Dilma, em Brasília, Lula já tinha dito: “Você é nossa candidata e nós vamos ganhar com você. Vou ser seu maior cabo eleitoral.” Em dezembro, os dois tiveram uma conversa, com o mesmo teor. Embora as circunstâncias fossem outras, a verdade é que Lula tem agido assim desde 2008. Dois anos antes de deixar o Planalto, quando acumulava índices recorde de aprovação e era tratado como “O Cara” por Barack Obama, ele proibia ministros de comentar em sua presença a hipótese de disputar um terceiro mandato. Mas o murmúrio do “Volta, Lula” dificilmente vai acabar, apesar dos apelos do personagem-título. Isso porque se tornou sintoma de uma mudança na situação política. Antes de Pasadena, do operador-diretor da Petrobras Paulo Roberto da Costa, das amizades do doleiro Alberto Youssef e dos insistentes repiques da inflação, havia a impressão geral de que Dilma Rousseff tinha se tornado uma candidata imbatível. Não é mais assim. Embora as pesquisas digam que ela tem inclusive chances matemáticas de vitória no primeiro turno, a maioria dos analistas acredita que o governo irá enfrentar a eleição mais difícil desde que Lula chegou ao Planalto, em 2002. Num sinal da mudança de ventos a favor, Fernando Henrique Cardoso recomenda ao PSDB que cumpra o dever profissional de trabalhar para derrubar Dilma – mas faça isso devagar, para não despertar o “Volta, Lula”. Com a mesma finalidade, Aécio Neves deixa claro que fará o possível para preservar a presidenta, evitando questionar sua “probidade”. Os petistas andam por caminhos diferentes que apontam para a mesma direção. Elogiam Lula mesmo quando poderiam criticá-lo. E falam mal de Dilma mesmo quando ela merece ser elogiada. Em terceiro lugar nas pesquisas, Eduardo Campos também assiste a uma elevação no coro que pretende promover a vice Marina Silva ao posto de titular. No fundo, o argumento básico é o mesmo que alimenta o “Volta, Lula” – força nas intenções. Hoje, Marina é a única que encosta em Dilma. A situação de Eduardo Campos é muito diferente, contudo. Não só porque é dono de fato e de direito do PSB, que acolheu Marina quando ela perdeu o registro do seu partido. Outro problema é que o rebaixamento de Eduardo Campos a vice seria uma aposentadoria precoce, para um político ambicioso a ponto de romper com Lula para garantir um lugar na campanha de 2014. A mais duradoura lição aprendida na passagem de 50 anos do golpe de 1964 consiste em lembrar que as boas democracias dispensam tutelas que tolhem a vontade da maioria. Se todos os poderes emanam do povo, como diz o artigo 1 da Constituição, é recomendável que sejam exercidos em seu nome. No país que em 1997 operou uma mudança particularmente dramática – modificar a Constituição para permitir que Fernando Henrique Cardoso disputasse um segundo mandato sem deixar o posto –, não há motivo razoável para se impedir uma troca de candidatos caso aliados e eleitores venham a concluir que é a solução mais adequada para atender à prioridade de todo político – conquistar e permanecer no poder. Escrita com linhas muito tortas, a reeleição tinha um sentido correto, como ficou claro quando FHC venceu o pleito de 1998 ainda no primeiro turno. Manter ou substituir um concorrente envolve uma decisão que deve ser resolvida pelos eleitores, que podem ou não aprovar a escolha dos partidos políticos. Quando o Congresso norte-americano concluiu, após quatro mandatos sucessivos de Franklin Roosevelt, que os presidentes não poderiam cumprir mais de dois mandatos sucessivos no cargo, reformou a Constituição. Cabe lembrar, em 2014, duas lições básicas do universo político. Quando deixam o reino da mitologia para retornar à condição de carne-e-osso, os deuses da política podem revelar-se desgraçadamente humanos, fracos e falíveis. O preço não contabilizado do “Volta, Lula” é “Sai daí, Dilma”. Até agora não se descobriu um caminho para impedir que a parte interessada – que inclui não só uma protegida que se tornou presidenta, mas também dezenas de ministros, assessores e vários escalões de Brasília – se sinta tratada sem deslealdade e mesmo traída. Esse é o enigma do “Volta, Lula”. 4#3 E O IPEA, MERECE SER ATACADO? Erro de informação em pesquisa sobre violência contra a mulher abala a credibilidade do instituto, acusado de aparelhamento político, e reacende o debate sobre o foco de seus estudos: planejamento econômico ou políticas públicas? Fabíola Perez (fabiola.perez@istoe.com.br) A avalanche de críticas após a divulgação do erro na apresentação do resultado da pesquisa sobre a percepção dos brasileiros em relação à violência contra as mulheres, publicada há três semanas pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), fez o presidente do instituto, o economista Marcelo Neri, anunciar na semana passada novos procedimentos para a revisão dos estudos publicados pelo órgão. Ele também rebate os ataques de especialistas que apontam um possível aparelhamento político da instituição. “Criamos uma nova ferramenta que permitirá às pesquisas receber dois pareceres técnicos antes de sua publicação”, disse Neri à ISTOÉ. “Isso fará com que todos os técnicos da casa se debrucem sobre as nossas produções.” O programa, que ainda está em fase de testes, tem como objetivo aumentar o rigor na etapa da revisão e evitar que informações incorretas – como a troca de 26% por 65% no percentual de brasileiros que concordavam com a afirmação de que “mulheres que usam roupas que mostram o corpo merecem ser atacadas” – sejam publicadas. FALHAS - Especialistas apontam que o estudo polêmico não contou com o mesmo rigor metodológico que o IPEA costuma adotar Com uma repercussão sem precedentes, o resultado do estudo ofuscou, à primeira vista, aspectos metodológicos que, depois, começaram a ser questionados. “É nítido que houve falhas durante a elaboração da pesquisa”, afirma Ana Maria Nogales, professora de estatística da Universidade de Brasília (UnB). “O estudo não tem um objetivo claro e as perguntas foram formuladas de maneira enviesada”, diz. “Além disso, não contou com o mesmo rigor metodológico que o Ipea costuma adotar.” Segundo Neri, a equipe dirigida por Rafael Guerreiro Osório, ex-diretor do Departamento de Estudos e Políticas Sociais, usou como modelo um estudo da Organização das Nações Unidas (ONU) realizado na Colômbia. “A nossa pesquisa pode ser melhorada, mas não podemos dizer que tem uma qualidade inferior”, afirma. “Estamos em uma curva de aprendizado.” Por trás do erro que abalou a imagem da instituição, um debate mais profundo vem à tona: qual é a função atual do instituto, que nasceu com o objetivo de avaliar políticas econômicas adotadas pelo governo? O que está em jogo é saber se o Ipea perdeu a função que lhe foi atribuída há 50 anos de órgão de planejamento econômico e, ao enveredar para o campo das políticas públicas, tornou-se um órgão “aparelhado pelo governo”. “Em 1964, o Ipea era um refúgio para quem tinha opiniões contrárias ao regime e o governo não costumava interferir”, afirma Raul Velloso, consultor econômico e ex-secretário de Assuntos Econômicos do governo José Sarney (1985-1990). “Com o passar do tempo, foi perdendo esse caráter e hoje tornou-se um grande cabide de empregos para funcionários públicos”, critica. O Ipea surgiu como uma espécie de consciência crítica para apontar erros e riscos do projeto econômico que os militares implantavam. Em 1974, por exemplo, o economista Pedro Malan alertou que o governo do general Ernesto Geisel subestimara os efeitos da crise do petróleo de 1973 em seu 2º Plano Nacional de Desenvolvimento (leia quadro). A mudança de instituto econômico para órgão social ocorreu, de fato, segundo Raul Velloso, com a chegada do governo Lula e do economista Márcio Pochmann à presidência da instituição. “O peso dos gastos do governo com a área social aumentou e eles transformaram o instituto em um órgão de Estado.” Já o atual presidente, Marcelo Neri, acredita que, a exemplo de instituições como o Banco Mundial e a ONU, o Ipea deve aliar atuação econômica à perspectiva social. “O instituto reflete um Brasil que tem uma agenda mais diversificada do que o combate à inflação”, afirma. Para o professor de história do Instituto Federal de Goiás Walmir Barbosa, as políticas públicas tornaram-se o centro dos estudos da instituição há mais tempo, desde o final da década de 1980. “O órgão se transformou num instrumento de avaliação de políticas sociais porque o Estado também perdeu seu papel central na economia na época das privatizações”, diz. “Hoje, o Ipea atua como um leitor crítico do governo com vistas a um desenvolvimento regional”, diz. Segundo ele, não houve uma ruptura na trajetória do instituto. “As políticas sociais eram trabalhadas desde a época do ex-presidente Itamar Franco, com estudos sobre negros e fome, mas foi durante o governo Lula que os temas sociais se tornaram mais relevantes.” Agora, depois deste duro golpe, resta saber para qual lado o Ipea caminhará. 4#4 CPI DE ARAQUE? Manobra do governo para ampliar escopo da CPI da Petrobras pode fazer com que nada ou muito pouco seja efetivamente apurado no ano eleitoral Izabelle Torres (izabelle@istoe.com.br) A ameaça do Senado de investigar denúncias de corrupção na Petrobras deve naufragar por conta da disputa eleitoral. Na semana passada, a Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) aprovou o texto apresentado pelo senador Romero Jucá (PMDB-RR), propondo a criação de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) destinada a investigar também as denúncias de cartel no Metrô de São Paulo e possíveis irregularidades nas obras do Porto de Suape e da refinaria de Abreu e Lima, em Pernambuco. O caso do cartel envolve o PSDB de São Paulo e pode ser usado contra a candidatura do senador Aécio Neves (PSDB-MG) à Presidência, enquanto irregularidades em Suape podem desgastar o pré-candidato Eduardo Campos (PSB), governador licenciado de Pernambuco. A manobra orquestrada pelo presidente da Casa, Renan Calheiros (PMDB-AL), e costurada pela senadora Gleisi Hoffmann (PT-PR), que se transformou na mais ferrenha e estridente defensora do governo na Casa, foi minuciosamente executada por Romero Jucá, com o objetivo claro de tirar a Petrobras do foco das investigações e livrar o governo do desgaste de ver a maior empresa brasileira submetida a uma devassa. Na manhã da terça-feira 8, líderes da oposição entraram com um mandado de segurança no STF para tentar impedir que a CPI da Petrobras investigasse assuntos não relacionados à estatal. A ação é movida pelo PSDB, pelo DEM e pelo PSB. “Mais do que defender a CPI, estamos aqui para defender o Parlamento brasileiro”, disse o senador Aécio Neves, pré-candidato tucano ao Planalto. CONTRASTE NA CCJ - Na segunda-feira 7, enquanto a senadora petista Gleisi Hoffmann comemorava manobra para ampliar escopo da CPI da Petrobras, a oposição lamentava a derrota política O pedido inicial da CPI feito pela oposição tinha o objetivo de apurar a compra da refinaria em Pasadena, no Texas (EUA), e possíveis prejuízos, os indícios de superfaturamento na construção de refinarias, as suspeitas de pagamento de suborno a funcionários da estatal e denúncias de que plataformas operariam sem componentes de segurança. A aprovação da proposta de Jucá, entretanto, fez o Planalto respirar aliviado. O único consenso, entre governistas e oposicionistas, é que se uma CPI for aprovada nesta semana, nos termos votados pela CCJ, não haverá chances de investigação efetiva sobre nenhum dos temas. No máximo, haverá uma guerra de acusações entre partidos, sem ganhadores. Desta vez, o cheiro de pizza veio antecipado. RESTOU APELAR AO STF - Acompanhado de líderes oposicionistas, o senador tucano Aécio Neves se dirigiu ao Supremo Tribunal Federal para que a CPI fique circunscrita à Petrobras 5# COMPORTAMENTO 16.4.14 5#1 TRAGÉDIA DE FREI TITO 5#2 AS MENTIRAS QUE ELES (E ELAS) MAIS CONTAM 5#3 NORDESTE NO TOPO DA VIOLÊNCIA 5#4 CAMISAS A PESO DE OURO 5#5 AO NATURAL 5#1 A TRAGÉDIA DE FREI TITO Quarenta anos depois da morte do dominicano, um dos personagens mais emblemáticos da truculência na ditadura militar, psiquiatra conta detalhes da agonia que o levou ao suicídio Camila Brandalise (camila@istoe.com.br) 1973. Exilado em um convento nas colinas da vila francesa de L´Arbresle, Tito de Alencar Lima, o frei Tito, volta seu corpo frágil em direção ao vilarejo do outro lado do vale e diz ao amigo, prostrado ao seu lado: “Ouço gritos vindos de lá. São do delegado Sérgio Paranhos Fleury. Ele está torturando meus irmãos e prometeu que vai terminar pela minha mãe.” Fleury estava no Brasil, assim como a família de Tito. Mas sua voz ainda ecoava na mente do religioso. Ouvir suas ameaças não era loucura, nem paranoia, nem alucinação. Foi a maneira encontrada pelo dominicano envolvido com a resistência à ditadura de expressar a violência e a destruição psicológica sofrida durante sessões pungentes de tortura, a primeira comandada por Fleury, então do Dops, em 1969, e a segunda, pela equipe do capitão Benoni de Arruda Albernaz, da operação Bandeirantes, em 1970. Pouco menos de um ano depois, Tito, ainda sufocado pelas lembranças de terror, amarrou uma corda a um álamo, pendurou-se e morreu enforcado. Em seu quarto, seu amigo, o frade francês Xavier Plassat, o mesmo que estava com ele no momento já descrito, encontrou uma anotação: “É melhor morrer do que perder a vida”. EXÍLIO - Frei Tito em 1974, ano de sua morte, durante viagem pelos alpes franceses; abaixo, reprodução de carta enviada ao colega de convento Magno Vilela 2014. Passados 40 anos da morte do frade e 50 do início da ditadura, a trajetória de um dos personagens mais emblemáticos da truculência do regime militar é contada no livro “Um Homem Torturado – Nos Passos de Frei Tito de Alencar” (Civilização Brasileira). Entre as mais de 30 entrevistas feitas pelas autoras Leneide Duarte-Plon e Clarisse Meireles está o relato inédito do psiquiatra francês Jean-Claude Rolland, que acompanhou Tito em seus últimos momentos. Ao se deparar com o frei em um quarto de hospital, em 1973, quando de sua primeira internação, o médico cogitou classificar seu problema como sendo um delírio alucinatório. Tito estava encostado em uma parede com os braços abertos, como se estivesse esperando para ser assassinado. “Estou pronto”, disse. Com o tempo, porém, Rolland chamou seu quadro de “sintoma-testemunho”. Ele queria expressar seu sofrimento, e a única maneira que encontrou foi dramatizando o que vivera. “Penso que (Tito) desmoronou quando foi escolhido para ser trocado pelo embaixador, como se a prisão o protegesse contra uma espécie de desejo de morrer”, afirma Rolland no livro, referindo-se à libertação do frei em troca do diplomata suíço Giovanni Enrico Bucher e à posterior mudança do Brasil para a França. ALGOZ - O delegado Sérgio Fleury, que torturou Tito pela primeira vez e foi um fantasma na vida do frei em seus últimos momentos Tito foi preso em 1969 na operação Batina Branca (leia no quadro abaixo). Seu pecado: com outros frades dominicanos, colegas no Convento das Perdizes, em São Paulo, dava apoio logístico à Aliança Libertadora Nacional (ALN), comandada por Carlos Marighella, um dos maiores nomes da guerrilha na época. “Ajudávamos a esconder militantes perseguidos e a mandá-los para fora do País”, diz frei Oswaldo Rezende, que conviveu com Tito até 1969 no Brasil e depois o reencontrou na França. “Não havia outra opção. À medida que a ditadura começava a ter um caráter extremamente repressivo, crescia a ideia de que só tinha uma saída, a luta armada”, afirma Ivo Lesbaupin, ex-frei e também colega de Tito. Progressistas, os dominicanos acreditavam na interpretação do “Evangelho” em favor da justiça social. “Não pegamos em armas, mas dar apoio a quem precisava nos parecia o caminho para combater a violência da ditadura.” No livro, fica evidente, porém, que Tito foi um dos primeiros a apontar as falhas no projeto revolucionário. “Ele era muito questionador. Via os limites da revolução popular e apontava a falta de adesão do povo”, diz Clarisse Meireles. A lembrança que frei Oswaldo tenta guardar de Tito é a dos anos do convento. “Ele era alegre, tínhamos boas conversas”, diz. “No exílio, quando nos reencontramos, já não o reconhecia. Havia algo de diferente em seu olhar.” A segunda vez que passou pela tortura, sob o comando do capitão Albernaz, o abalou ainda mais. Entre os freis, foi o único a ter duas temporadas de sevícias. Mas, como aponta o psiquiatra Jean-Claude Rolland e concordam os seus antigos colegas, o fato de sair do Brasil foi o motivo decisivo para desestabilizá-lo. “Ele sentiu o afastamento do País mais do que todos nós exilados. Queria voltar de qualquer jeito”, afirma frei Oswaldo. Mesmo à distância, continuava militando. Segundo a autora Leneide Duarte-Plon, mantinha a imprensa informada e constantemente dava testemunhos sobre a tortura sofrida. Volta para 1970: em dado momento, durante os três dias de castigos na Operação Bandeirantes, Albernaz manda Tito abrir a boca para receber a hóstia consagrada e coloca um fio para que o frei tome choques elétricos. Dizia que, se Tito não falasse, seria quebrado por dentro. E foi. Cinco décadas depois, assim como o terror da tortura ecoou na mente de Tito, sua trágica experiência reverbera na história do Brasil. Para que não se repita mais. 5#2 AS MENTIRAS QUE ELES (E ELAS) MAIS CONTAM Pesquisa mostra quais são as falsidades que costumam embalar os relacionamentos amorosos dos brasileiros Raul Montenegro (raul.montenegro@istoe.com.br) Numa sexta-feira de 2012, a então universitária Joana Santos, hoje com 23 anos, recebeu do namorado a notícia de que os dois não poderiam se ver naquela noite. “Ele falou que tinha uma coisa séria para resolver. Eu adorei, porque aí poderia cair na balada”, diz a jovem, que trabalha na área de recursos humanos de uma empresa de telefonia. Horas depois, Joana deu de cara com o parceiro na porta de uma festa. “Comecei a brigar e soltei a minha mentira: disse que fui até lá porque me alertaram sobre a escapada dele”, lembra, rindo. Festeira assumida, Joana costuma mentir para os namorados quando quer sair. “Já disse, por exemplo, que ia a um velório. Uma boa opção para justificar a cara de quem passou a noite inteira acordada”, afirma a jovem, sem um pingo de arrependimento. CONQUISTA - O dançarino Euler Consolli Gabarita no ranking de mentiras: costuma dizer quase todas Quem passou por um relacionamento, certamente, já contou e ouviu uma mentira, inocente ou não. Baseado nessa constatação, um dos maiores sites de relacionamentos do País, o Par Perfeito, fez uma pesquisa com milhares de homens e mulheres para descobrir quais as falsidades mais proferidas entre os casais. A partir daí, estabeleceu um ranking com as campeãs de audiência. Entre as mais ditas por elas, a liderança fica com o local de residência. De acordo com o levantamento, 33% delas já enganaram alguém a respeito disso. Joana faz parte dessa estatística. “Sempre minto onde moro. Tenho medo de falar porque homem é meio psicopata. Também sinto vergonha do meu bairro, porque aqui é periferia”, diz ela, que mora no Jardim Ângela, zona sul da capital paulista. Para o psiquiatra especialista em sexualidade Jairo Bouer, essa inverdade serve para as pessoas esconderem quem são e tentarem se preservar fisicamente e emocionalmente. “É uma questão de segurança e também insegurança”, afirma. ESTRATÉGIA - Joana Santos nunca diz que mora na periferia, e também já inventou velórios para ir a festas Inventar que não está comprometido é a campeã entre os homens – 24% já usaram esse artifício para se aproximar de uma pretendente. Solteirão convicto, o professor de dança Euler Consoli, 37 anos, de Osasco, na Grande São Paulo, lembra que usou a história cerca de oito vezes em seu último e mais duradouro relacionamento – que acabou há uma década e durou pouco menos de um ano. “Eu não era a pessoa mais fiel do mundo. Mentia que não estava namorando porque é chato dizer a verdade”, diz. Ele prefere não falar em mentiras, mas em “omissões”. Consoli costuma omitir, por exemplo, que fica com amigas em comum, um de seus esportes de conquista prediletos. Mas sua inverdade preferida é sobre o número de aniversários festejados. “A maioria das pessoas diz que eu não aparento a minha idade. Então, sempre pergunto quantos anos a menina acha que eu tenho. A resposta dada sempre será a correta.” Inverdades sobre o tempo de vida ganham a medalha de prata entre mulheres e homens: 30% delas e 23% deles já disseram ser mais novos ou mais velhos do que realmente são. FINAL FELIZ - Mais novo, engenheiro Raphael Lages mentiu a idade para a companheira - e, graças a isso, se casou com ela O engenheiro Raphael Lages, que trabalha no setor de defesa de uma multinacional brasileira, tinha 21 anos quando conheceu a médica anestesista Alessandra Bittencourt, então com 24. “Não acho uma grande diferença, mas meus amigos começaram a fazer piadas dizendo que eu era muito novo. Por causa desse terrorismo, chegamos à conclusão de que eu teria de mentir minha idade”, afirma Lages. Foram mais de três meses de deboche dos conhecidos. “Eles se divertiam perguntando quantos anos eu tinha na frente dela.” Quando Raphael não aguentou mais esconder e contou, sua então namorada admitiu que o teria dispensado caso soubesse a verdade desde o início. “Graças àquela mentira nós estamos casados, morando na França, e nossa primeira filha, Beatriz, acaba de nascer.” Segundo estudiosos, inverdades sobre idade e local de moradia são realmente mais fáceis de serem contornadas. Outras, nem tanto. “Se entendemos que aquilo tem mais a ver com as emoções do mentiroso do que conosco, substituímos por pena, compaixão e compreensão. Mas, até passar a raiva, ninguém consegue perdoar”, diz Sergio Senna Pires, doutor em psicologia pela Universidade de Brasília (UnB). Para especialistas, as lorotas acontecem mais no começo dos relacionamentos. “Nessa fase, você quer vender um peixe que não é realmente”, afirma Bouer. Na internet, isso normalmente é potencializado. “Já frequentei muitos sites de namoro na minha adolescência. Lá, eu inventava tudo”, revela Joana. Estudiosos veem a mentira como um lubrificante social, mas alertam para exageros. “Ela entra na nossa vida pela porta dos fundos.” 5#3 NORDESTE NO TOPO DA VIOLÊNCIA Estudo da ONU escancara o crescimento do número de homicídios na região. Em alguns Estados, o aumento foi de 150% em quatro anos O Nordeste do Brasil mais uma vez figura entre os campeões de uma triste estatística. Na quinta-feira 10, o Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crime divulgou um estudo que registra um acentuado crescimento do índice de homicídios naquela região, apesar de o País como um todo permanecer estável no ranking internacional da violência. O caso mais assustador é o da Paraíba, que viu o número de assassinatos crescer cerca de 150% entre 2007 e 2011. Na Bahia, que ficou em segundo lugar, os indicadores subiram 50%. A maioria dos outros Estados do Nordeste ficou em situação semelhante. O levantamento chega à mesma conclusão de outra pesquisa recente, feita pela ONG mexicana Conselho Cidadão para a Segurança Pública e Justiça Penal, que colocou 16 cidades brasileiras entre as 50 com mais homicídios no planeta – dessas, nove ficam no Nordeste. No ranking mexicano, Maceió (AL), Fortaleza (CE) e João Pessoa (PB) figuram na quinta, sétima e nona posições mundiais, respectivamente. POSIÇÃO - Cena de violência no País: com seu desempenho, o Brasil ajudou as Américas a registrar 36% dos assassinatos no mundo Com seu desempenho, o Brasil ajudou as Américas a registrar 36% dos assassinatos do globo. Com isso, o continente ficou à frente da África, que contou com 31% das mortes. A América do Sul ficou em terceiro lugar no cálculo das sub-regiões, atrás da América Central e do sul da África – a mais violenta delas. No total, revela o estudo, 437 mil pessoas foram assassinadas no mundo em 2012, quando foram contabilizados os resultados. De acordo com José Vicente, coronel da reserva da Polícia Militar e membro do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, a questão aqui não se resume à criminalidade. Ela reside no comportamento da população de maneira geral. “O problema do Brasil não são só os homicídios. As 60 mil mortes no trânsito por ano mostram que nossa sociedade é extremamente violenta em vários aspectos”, diz. 44 homicídios a cada 100 mil habitantes é a taxa de assassinatos na Paraíba, um dos estados mais violentos do Brasil, segundo a ONU Para melhorar a situação, José Vicente recomenda um conjunto de medidas: atualização da legislação penal, reestruturação das polícias Civil e Militar, maior agilidade do Poder Judiciário e uma melhora no sistema prisional. A má colocação das cidades do Nordeste pode ter a ver com a deficiência desses mecanismos, segundo o estudioso. “A polícia lá, por exemplo, costuma ser maltratada e mal paga”, diz. “Por incrível que pareça, o índice de homicídios é o mais fácil de ser reduzido, por isso ele é usado nesses estudos. Se um local vai mal nos indicadores de homicídio, costuma ir bem pior nos demais.” 5#4 CAMISAS A PESO DE OURO Até o ministro britânico reclamou do alto preço do uniforme da seleção inglesa, mais barato que o exemplar brasileiro. Mas por que essas roupas oficiais são tão caras? Wilson Aquino (waquino@istoe.com.br) Quando soube do valor cobrado pela camisa oficial que sua seleção irá vestir na Copa do Mundo, que começa em junho, no Brasil, a ministra dos Esportes da Inglaterra, Helen Grant, levou um susto e desabafou no Twitter. “O preço de 90 libras (R$ 333,19) não está certo. Torcedores fiéis são o alicerce de nosso jogo. Esse custo precisa ser repensado”, escreveu ela, que recebeu apoio imediato do primeiro ministro britânico David Cameron, igualmente revoltado com o alto valor da peça. Se eles, entretanto, fossem comprar o mesmo produto no Brasil, ficariam mais irritados ainda, porque gastariam R$ 16,71 a mais. Aqui, camisa oficial de qualquer seleção não sai por menos de R$ 199,90, segundo os sites de vendas das principais fornecedoras de material esportivo. A da brasileira custa R$ 349,90, mesmo valor cobrado pelas de Portugal, Holanda, França e Inglaterra. Mas o troféu exagero é arrebatado, de longe, pela peça da seleção italiana: lá, 180 euros (R$ 549,68); aqui, R$ 499,80. ELENCO - Jogadores da seleção inglesa com o uniforme oficial do time, cuja camisa custa R$ 333,19: ministra do Esportes disse que esse preço precisa ser repensado Mas por que custam tão caro? Especialistas divergem. Segundo o coordenador de MBA Estratégico em Ciência do Consumo da Escola Superior de Propaganda e Marketing do Rio de Janeiro (ESPM Rio), Eduardo França, “são edições de roupas produzidas especialmente para a Copa do Mundo” e “a enorme procura tende a elevar os preços”. O especialista em marketing esportivo Celso Forster aponta a falta de concorrência como responsável. “São apenas três empresas que dominam o mercado. As peças têm alta tecnologia, design, valor agregado, mas nada justifica o preço tão alto”, afirma Forster. O diretor de comunicação da Nike do Brasil, Alexandre Alfredo, disse à ISTOÉ que, no caso da camisa brasileira, foi usado o que existe de mais avançado em tecnologia e inovação em produtos esportivos. “Pela primeira vez, a camisa oficial de jogo levou em conta o biotipo do jogador brasileiro. Vários tiveram as formas escaneadas para permitir um caimento perfeito do uniforme”, afirmou. POSE - Parte do time brasileiro se exibe com a camisa oficial de R$ 349,90: falta de concorrência e alta tecnologia explicariam o valor alto Segundo Alfredo, também foi usada a tecnologia Dri-Fit, que extrai o suor do corpo para fora do tecido, evitando que a camisa fique encharcada e mais pesada. Além disso, a temperatura do corpo, medida em testes que indicaram as áreas de maior aquecimento quando em movimento, é regulada por zonas de ventilação. “Essas áreas são compostas por pequenos furos cortados a laser, que vão das axilas até o quadril, e garantem que o ar circule para manter o conforto”, disse o executivo. Mas, para o torcedor, é necessária tanta tecnologia? Alfredo reconhece que não e diz que há uma alternativa. “A camisa ‘versão torcedor’ custa R$ 229,90”, diz ele, como se esse valor fosse barato. Para a grande maioria dos fãs de futebol, ainda é um preço alto. David Cameron apoiou sua ministra dos Esportes e pediu que o preço da camisa oficial da Inglaterra fosse repensado O professor Eduardo França, da ESPM, diz que investimentos em novas tecnologias e tecelagens diferenciadas não pretendem apenas melhorar o desempenho dos atletas em campo. Fazem parte da estratégia das empresas para manter a competitividade da marca. “A Nike e Adidas são as duas grandes concorrentes. Elas praticamente dividem o segmento; cada uma tem entre 35% e 40% do mercado mundial”, afirma França. Fora dos campos, de futebol ou comercial, como estão reagindo os consumidores? Segundo Alfredo, da Nike, esses números não podem ser revelados, mas ele garante que “as expectativas estão sendo superadas”. Profissionais do setor fazem uma aposta: os torcedores vão acabar comprando camisas falsas, em camelôs e lojas populares, com preços bem inferiores. E vão torcer para que o uniforme high-tech ajude a seleção canarinho a levantar o caneco, mesmo sabendo de cor e salteado uma das máximas do futebol: camisa não ganha jogo. 5#5 AO NATURAL Movimento contra a ditadura da depilação como padrão único de beleza ganha força no Brasil e no Exterior. Celebridades aderem à moda das axilas com pelos Mariana Brugger (marianabrugger@istoe.com.br) A rainha egípcia Cleópatra (69 a.C.-30 a.C.) já depilava o corpo, e vem dessa época o recurso de arrancar os pelos com cera quente, técnica aperfeiçoada e usada até hoje. No início do século XX, a sociedade ocidental implantou praticamente a obrigatoriedade de as axilas femininas serem lisas, como sinônimo de beleza. Até chegar aos dias atuais, em que as mulheres resolvem ter liberdade para, enfim, não depilar as axilas. Para mostrar que a opção não é restrita a um grupo pequeno, o fotógrafo israelense radicado em Londres Ben Hopper criou a série “Natural Beauty” (beleza natural, em inglês), em que fotografa belas moças com muitos pelos embaixo dos braços. O coletivo de arte político-poética Além, sediado em São Paulo, também se inspirou na liberdade para produzir fotos de mulheres nuas e peludas. ENSAIO - O fotógrafo israelense Ben Hopper criou a série "Natural Beauty", em que retratou belas mulheres com muitos pelos embaixo dos braços O assunto também provoca polêmica na publicidade. A marca Veet, de cremes depilatórios, fez um comercial recente comparando mulheres que não depilam as axilas a homens. As peças publicitárias, que foram ao ar somente nos Estados Unidos, na semana passada, foram criticadas duramente pela mídia internacional e pelas mulheres, especialmente as jovens. “A depilação é item básico nas representações midiáticas da beleza feminina”, diz Adriana Braga, professora do Departamento de Comunicação da PUC-Rio e pesquisadora do CNPq. “Trata-se de uma prática naturalizada, o que não quer dizer que seja natural.” Ben Hopper, que contou com presenças ilustres em seu projeto fotográfico, como a cantora americana Amanda Palmer e a atriz sueca Emilia Bostedt, disse que “algumas deixaram os pelos crescer especialmente para as fotos”, uma forma de apoiar a iniciativa. O fotógrafo declarou achar sexy mulheres com atitude para bancar as axilas fora dos padrões. Também em Londres, como fruto de um trabalho de mestrado de antropologia visual na University of London, o documentário “My Body, My Hair” (meu corpo, meus cabelos, em inglês) fez sucesso nas redes sociais em outubro ao propor uma reflexão sobre a naturalidade dos pelos nos corpos das pessoas, independentemente de gêneros. Atrizes como Drew Barrymore e Julia Roberts e as cantoras Madonna e Beyoncé são algumas entre várias celebridades que já foram fotografadas sem estarem depiladas. No Brasil, a moda também já chegou. Fotógrafa do coletivo Além, a catarinense Núbia Abe disse que seus braços não são mais tocados por lâminas ou ceras desde setembro, quando iniciou o projeto Pelos Pelos, que trata do assunto. “É preciso tomar essa postura de vanguarda para naturalizar nossos pelos, tirar a mulher desse padrão estético absurdo”, diz. A ex-participante do Big Brother Brasil 14 Bella Maia não se depilou durante o programa e recebeu críticas ao fazer um ensaio sensual sem se desfazer dos pelos. “Defendo a liberdade de a mulher ter a axila da maneira que ela quiser. Que poder é esse que os pelos têm que impedem a gente de fazer qualquer coisa?”, questiona ela, que garante nunca ter deixado de colocar uma roupa sem mangas por causa da ausência de depilação. Do ponto de vista da saúde, os pelos podem, sim, ser aliados da mulher. “Eles existem no corpo para proteção e aquecimento. Por outro lado, ao retirá-los previnem-se alguns tipos de bactérias. Mais importante do que ter ou não, é manter a área limpa e cuidada”, diz Lôua Unger, coordenadora estética do W Spa, no Rio. A dermatologista Renata Marques, da rede Dicorp, desaconselha apenas o uso de “roupas com tecido sintético, para evitar um cheiro mais forte embaixo dos braços devido aos pelos”. A pesquisa “Hábitos de beleza da brasileira no verão e inverno”, encomendada pela P&G (multinacional de produtos de beleza) para o Instituto Ilumeo, revelou que apenas 2% das mulheres não depilavam a axila, mostrando quão forte é a cultura contra os pelos. O estudo foi realizado com 1.179 mulheres do Sudeste do País, de 25 a 32 anos de idade. “Fazer depilação é uma questão de higiene associada à estética. Não acho que essa moda vá pegar por aqui”, afirma a dermatologista Gabriella Vasconcellos, do Goa Health Club, centro de estética no Rio. “Esse é o único argumento que usam contra a depilação, e não é verdade. Ninguém se mete com os pelos dos homens, só com os nossos”, afirma a fotógrafa Nubia. Em outros países da Europa e dos Estados Unidos, o modismo atingiu também os pelos pubianos. Artistas como Cameron Diaz andam na contramão da depilação íntima total, em busca de um visual mais natural. Madonna divulgou, no mês passado, uma imagem com a axila peluda em redes sociais e provocou muitos comentários. Com o debate instalado, ela revelou que o visual fora feito para um ensaio de moda. “Quem sabe, com todas essas discussões, se ampliem as opções femininas, em que um corpo sem depilação seja uma possibilidade estética real”, afirma a professora universitária Adriana Braga. E, tudo indica, muitas outras mulheres. 6# MEDICINA E BEM-ESTAR 16.4.14 6#1 COMO FAZER O MELHOR CHECK-UP 6#2 O PREÇO DA CURA DA HEPATITE C 6#1 COMO FAZER O MELHOR CHECK-UP A morte repentina do ator José Wilker, adepto de exames regulares de saúde, levanta discussão sobre a eficácia dos testes preventivos. Especialistas dizem quais os exames que realmente devem ser feitos Michel Alecrim (michel.alecrim@istoe.com.br) Dois artistas populares no Brasil tiveram problemas graves de coração recentemente, apesar de serem adeptos de check-up regulares. O ator José Wilker faleceu por causa de um infarto no sábado 5, aos 69 anos. Amigos próximos relataram que ele havia se submetido a exames recentemente. “Fiquei chocado, porque ele se cuidava, fazia check-up”, disse o diretor Denis Carvalho. E o humorista Renato Aragão, 79 anos, também conhecido por zelar pela saúde, sobreviveu a um infarto, ocorrido em 15 de março. As histórias dos artistas chamaram a atenção para um fato considerado rotineiro por cardiologistas: na maioria das vezes, os check-ups cardíacos não incluem testes de imagem, os mais efetivos para detectar obstruções arteriais que levam ao infarto. Por isso, pessoas que acreditam estar com boa saúde porque apresentam índices normais dos principais fatores de risco acabam na emergência cardíaca dias ou semanas depois. CHOQUE - O infarto que levou Wilker à morte surpreendeu os amigos mais próximos Foi isso que aconteceu com o empresário carioca Hirohito Clemente das Neves Júnior, 51 anos. Aos 42 anos, ele sofreu no hospital duas paradas cardíacas. Antes disso, sentia-se seguro, pois passava bem nos testes anuais que realizava. Chegava a internar-se por um dia em hospitais de excelente nível, no Rio de Janeiro. Foi salvo porque correu ao hospital quando começou a suar e sentir dormência no braço esquerdo. “Agora, a cada dois anos faço uma cintilografia do coração”, conta o empresário, referindo-se a um exame de imagem que não faz parte do pacote habitual de checagem. Esse tipo de ocorrência está levantando a discussão sobre a eficácia dos check-ups comuns. De fato, há alguns pontos nesse sistema que podem levar à falha na sua capacidade de predição dos riscos. Um deles é exatamente o fato de a maioria não incluir exames de imagem. Ocorre, porém, que a obstrução arterial por placas de gordura só é visível por meio dessa tecnologia. “Além disso, não são apenas as placas de gordura que causam infarto, mas também eventuais espasmos musculares do coração”, afirma o cardiologista Emílio Zilli, diretor da Sociedade Brasileira de Cardiologia. “As pesquisas estão evoluindo também para se averiguar melhor o comportamento das partículas sanguíneas. Às vezes, uma partícula de gordura pode desencadear uma inflamação desastrosa”, explica. O cardiologista carioca Carlos Scherr, do Colégio Americano de Cardiologia, também enfatiza a necessidade de testes mais sofisticados. “As placas de gordura podem passar despercebidas num teste de esforço, se forem pequenas, mas não seriam ignoradas em um exame de cintilografia coronariana ou em uma angiotomografia”, afirma. “Mas são procedimentos mais caros e que submetem o paciente à radiação. E há relutância dos planos de saúde de autorizá-los por serem onerosos financeiramente”, diz. A Associação Brasileira de Medicina de Grupo disse, em nota à ISTOÉ, reconhecer que “o médico é sempre o profissional indicado para fazer a avaliação” e que libera exames complementares “nos casos de alto risco.” O desafio é descobrir quem precisa de investigação mais apurada, o que a entrevista médica pode indicar. Médico do Instituto do Coração, de São Paulo, o cardiologista Sérgio Timerman diz ser adepto da “conversoterapia”. Com ele, o diagnóstico não sai antes de ser traçado um quadro com os hábitos do paciente e o histórico de enfermidades de sua família. “Em consultas de 15 minutos não se faz medicina”, diz. Segundo ele, estudos mostram que pacientes que morreram de infarto muitas vezes tiveram algum sintoma que negligenciaram, como falta de ar. De detalhe em detalhe, é calculado o risco do indivíduo e o teste laboratorial mais indicado. Até um cateterismo pode ser usado em último caso. “Muita gente já foi enterrada com bons resultados de check-up”, afirma Timerman. O cardiologista e professor da Universidade Estadual do Rio de Janeiro Denilson Albuquerque diz que o médico pode fazer uma planilha com os fatores de risco do paciente, mas que o próprio indivíduo também precisa se monitorar. Por exemplo: pesar-se regularmente já que aumentos abruptos podem significar retenção de líquido e consequentes risco de infarto. Para complementar o esforço por uma melhor prevenção, a credibilidade dos testes é fundamental. Porém, a própria Sociedade Brasileira de Patologia Clínica e Medicina Laboratorial admite que dos 17 mil laboratórios públicos e privados do País, apenas seis mil adotam algum programa de qualidade. O diretor de Acreditação e Qualidade da entidade, Walter Shcolnik, diz que a maior parte dos erros está na coleta, no armazenamento e no transporte das amostras. 6#2 O PREÇO DA CURA DA HEPATITE C Apontada como a mais eficaz até agora, a terapia com sofosbuvir pode chegar a mais de R$ 184 mil. OMS pede redução do custo Mônica Tarantino (monica@istoe.com.br) Uma pílula que custa quase US$ 1 mil por dia é a mais nova e potente arma para curar a hepatite C. O sofosbuvir (nome comercial Sovaldi), da americana Gilead Sciences, eleva as chances de cura da doença, reduz o tempo de tratamento e poupa os pacientes dos intensos efeitos colaterais produzidos pela combinação de remédios atual para tratar a enfermidade, como cansaço e dores articulares. “As taxas de cura com o uso do sofosbuvir sobem de 60% para cerca de 98%”, garante o infectologista Artur Timerman, do Hospital Edmundo Vasconcellos, em São Paulo. VITÓRIA - Ewerton é um dos primeiros brasileiros a ganhar na Justiça o direito ao remédio Outra vantagem é que a droga pode dispensar o uso do interferon no início do tratamento, o que beneficia especialmente os pacientes que não toleram essa medicação (cerca de 10%). Por fim, diminui de um ano para três meses o tempo de tratamento. “Os estudos mostram que o sofosbuvir é eficiente contra os cinco subtipos do vírus. É uma revolução no tratamento”, diz o infectologista. Outro remédio que age de maneira semelhante – ambos neutralizam uma proteína fundamental para a replicação do vírus –, o simeprevir, está disponível nos EUA desde o final do ano passado. Mas há um problema sério com esses super-remédios: o preço. O custo do uso do sofosbuvir por três meses (tempo do tratamento) é de US$ 84 mil (cerca de R$ 184 mil). O feito com o simeprevir, de US$ 66 mil (R$ 144 mil). A associação de ambos, recomendada em pesquisas para casos resistentes, custa US$ 150 mil (R$ 328 mil). Há protestos para pressionar os fabricantes a baixarem o preço. Na última semana, a Organização Mundial da Saúde lançou um apelo nesse sentido e diretrizes de uso dos remédios. “Espero que as orientações promovam uma redução no preço”, disse Stefan Wiktor, que lidera o programa de hepatite da entidade. A OMS sugere opções como descontos diferenciados, o licenciamento voluntário dos remédios pelo fabricante para a indústria de genéricos e até mesmo o licenciamento compulsório (o governo rompe a patente). No Brasil, multiplicam-se as ações judiciais para a obtenção do remédio. “Isso é necessário porque o custo torna a terapia inacessível para a maioria dos infectados”, diz o advogado Julius Conforti, de São Paulo, especializado em saúde. O consultor Ewerton de Castro Filho, 33 anos, de Brasília, é um dos primeiros vitoriosos. “Teria de tomar remédio no hospital e sofreria com os efeitos colaterais. Com a droga, farei a terapia em casa e continuarei trabalhando. 7# ECONOMIA E NEGÓCIOS 16.4.14 7#1 AS EMPRESAS MAIS CONSCIENTES DO BRASIL 7#2 É HORA DE CHOCOLATE 7#1 AS EMPRESAS MAIS CONSCIENTES DO BRASIL ISTOÉ lança prêmio que vai identificar e reconhecer as companhias adeptas de uma nova forma de se fazer negócios Ganha força entre as empresas a consciência de que sua contribuição para a sociedade vai além da geração de lucro, renda e empregos. As crises econômicas, sociais e ambientais têm levado líderes empresariais a repensar o propósito de seus empreendimentos e o papel dos negócios em um mundo saturado dos velhos paradigmas. Sintonizados com os novos tempos, gestores pioneiros impulsionam um modelo de desenvolvimento que ganha cada vez mais adeptos no mundo corporativo. Trata-se do capitalismo consciente, conceito que consiste essencialmente na ideia de que as empresas devem ter uma motivação maior do que apenas a busca de lucro a qualquer preço. Atenta a essa transformação, a ISTOÉ lança o prêmio “As Empresas Mais Conscientes do Brasil”, que vai identificar e reconhecer as companhias que melhor estão fazendo essa transição. “O capitalismo consciente representa uma profunda e necessária transformação na forma de se fazer negócios”, diz Caco Alzugaray, presidente executivo da Editora Três. “As empresas que não se adequarem a essas mudanças provavelmente ficarão para trás.” As inscrições para o prêmio poderão ser feitas entre 15 de abril e 10 de junho, em um link disponível no site da ISTOÉ (www.istoe.com.br). Qualquer companhia pode participar. As empresas serão avaliadas de acordo com o seu porte (pequenas, com receita operacional bruta de até R$ 16 milhões, médias, com receitas de até R$ 300 milhões, e grandes, para as que faturam mais de R$ 300 milhões). Serão distribuídos 19 prêmios: uma campeã geral, as vencedoras nas três categorias (pequena, média e grande) e as melhores empresas pequenas, médias e grandes em cada uma das cinco dimensões de avaliação (governança, modelo de negócios, relacionamento com funcionários, relacionamento com a comunidade e meio ambiente). A organização do prêmio será feita pela Report Sustentabilidade e, para analisar as candidatas, a ISTOÉ vai utilizar a metodologia do B Lab, organização norte-americana dedicada a certificar empresas com práticas alinhadas ao lema: “Não ser apenas as melhores empresas do mundo, mas as melhores para o mundo.” No Brasil, essa cuidadosa avaliação é coordenada pelo Sistema B. Se houver dúvidas sobre a inscrição e os critérios, elas poderão ser esclarecidas em quatro webinars (seminários online) ou enviadas para o e-mail premioempresasconscientes@istoe.com.br. Nos Estados Unidos, os conceitos centrais do capitalismo consciente estão ganhando eco em empresas como a Whole Foods, maior varejista de produtos orgânicos do mundo, a Patagonia, grife de roupas esportivas, e a companhia aérea Southwest. No Brasil, o modelo já encontra exemplos valorosos. “Uma empresa não pode visar exclusivamente o lucro, mas precisa ter um conjunto de valores”, diz Camila Valverde, diretora de sustentabilidade do Walmart Brasil. “Quando vamos lançar uma marca, pensamos no que ela pode trazer de conceitos e como contribui para mudanças de comportamento positivas”, diz João Paulo Ferreira, vice-presidente comercial e de sustentabilidade da Natura. Em entrevista à ISTOÉ, o guru indiano Rajendra Sisodia, fundador do movimento capitalismo consciente, resumiu suas ideias em uma frase: “Muitas empresas estão começando a descobrir que devem aderir a uma abordagem diferente para o negócio, que se baseia na criação de valor em vez da exploração.” 7#2 É HORA DE CHOCOLATE Ovos de Páscoa têm até 38% de variação de preço em diferentes estabelecimentos. Saiba como escolher - ou fazer - o seu sem gastar muito Luisa Purchio (luisapurchio@istoe.com.br) Saiba como degustar um bom chocolate. Não é só para os cristãos que a Páscoa é motivo de comemoração. Por causa do grande volume de vendas, a data é a segunda mais importante para o varejo, atrás apenas do Natal. Nas prateleiras, deliciosas opções de ovos de Páscoa aguçam o paladar dos brasileiros – os terceiros maiores apreciadores de chocolate do mundo. Os números do setor mostram que a busca por produtos de melhor qualidade está crescendo: os chocolates chamados “Premium”, que há três anos representavam apenas 1% do mercado, hoje fazem parte de 8% da produção industrial. Para adquiri-los, porém, é necessário gastar mais. “A manteiga de cacau é o que dá qualidade para o chocolate e ela é mais cara do que as gorduras vegetais”, afirma o chef Bertrand Busquet, diretor da Chocolate Academy. Os fabricantes apostam em 150 novos produtos para a data, cujos preços cobrados por diferentes estabelecimentos chegam a variar 38%. “São 900 mil pontos de venda no varejo. O consumidor tem que fazer pesquisa de preço”, afirma Ubiracy Fonseca, vice-presidente da Abicab, a associação do setor. 8# MUNDO 16.4.14 8#1 A GREVE QUE SUFOCA CRISTINA 8#2 BRASILEIRA, COMUNISTA E VEREADORA NA FRANÇA 8#1 A GREVE QUE SUFOCA CRISTINA Acuada pela crise econômica, a presidenta argentina enfrenta ampla paralisação nacional comandada por antigos aliados Mariana Queiroz Barboza (mariana.barboza@istoe.com.br) Na quinta-feira 10, a ausência quase total de carros e pedestres poderia indicar apenas uma calmaria atípica para um observador acostumado com o ritmo frenético de aglomerações de turistas e “panelaços” políticos no centro de Buenos Aires. Mas a greve geral que parou a capital do país e cidades como Rosário, Mendoza e Santa Cruz demonstrou que os nervos estão à flor da pele. Sem ônibus, metrôs, trens e aviões, muitos argentinos ficaram em casa, mas outros se reuniram para protestar contra o governo da presidenta Cristina Kirchner, o que resultou em enfrentamentos com a polícia. Entre as reivindicações dos trabalhadores representados por três centrais sindicais peronistas, a principal delas a Confederação Geral do Trabalho (CGT), estavam a redução de impostos que incidem sobre a renda e a liberdade para negociar aumentos salariais duas vezes por ano e sem teto previamente estabelecido. Para os grevistas, Cristina também já não é mais capaz de controlar a inflação e frear a onda de criminalidade. LIMITE - Policiais contiveram manifestantes em piquetes nas vias de acesso à capital Não bastassem as más notícias na economia, a presidenta, outrora tão popular, enfrentará seus últimos meses na Casa Rosada num clima de conflito social. Para os próximos meses, já estão planejadas paralisações de 36 e 48 horas, cujos efeitos negativos cairão também sobre Daniel Scioli, governador da província de Buenos Aires e dado (por enquanto) como o candidato do governo à sucessão. “Esse é mais um golpe para Cristina”, diz Mario Sacchi, professor de relações internacionais da ESPM. Para Patrício Giusto, diretor da consultoria Diagnóstico Político, Cristina passa por um desgaste natural depois de sete anos de kirchnerismo no poder. “Dentro da conjuntura econômica ruim, seu estilo marcadamente autoritário e em constante conflito com a imprensa e setores importantes da sociedade tem gerado um mal-estar profundo na opinião pública”, disse Giusto à ISTOÉ. VAZIO - As estações de trem, como a de Retiro, em Buenos Aires, ficaram desertas Nos últimos 12 meses, o peso (moeda local) desvalorizou-se 35%, enquanto as contas públicas seguem pressionadas pelas quedas nas reservas internacionais. A inflação anual de dois dígitos (acima de 30%, segundo consultorias privadas) corrói os ganhos salariais dos trabalhadores, ao mesmo tempo que a retirada de subsídios do governo aumentou em 500% o preço do gás, em 406% o da água e em 66% o do transporte. O preço da energia elétrica deve ser o próximo a subir. Na semana passada, um relatório do Fundo Monetário Internacional (FMI) comparou a economia da Argentina com a da Venezuela e mostrou preocupação com a desaceleração do nível de atividade, a inflação e as políticas econômicas dos dois países. A expectativa do FMI é de que a Argentina cresça 0,5% em 2014. No ano passado, a economia avançou 3%. “Hoje ficou claro o desencanto que há entre o povo”, afirmou, em uma coletiva de imprensa, Hugo Moyano, porta-voz da greve. Segundo ele, a adesão chegou a 98% em alguns setores. “É muito difícil ter uma dimensão real do movimento”, disse à ISTOÉ o analista político Raúl Aragón. Como o sistema de transporte foi um dos setores mais afetados e as vias de acesso à capital foram bloqueadas por cerca de 50 piquetes, muitas pessoas ficaram em casa simplesmente porque não conseguiram chegar ao trabalho. Uma pesquisa conduzida na semana passada pela consultoria Raúl G. Aragón & Associados mostrou que o apoio à greve não era assim tão generalizado. Enquanto a maioria dos entrevistados dizia não saber o motivo por trás da paralisação, 51,7% não a consideravam legítima. Aragón pondera, no entanto, que a greve atinge principalmente a população economicamente ativa e a pesquisa também considerou desempregados, aposentados e estudantes. “Há uma briga política bastante avançada a respeito da eleição presidencial do ano que vem”, afirma Aragón. “Os líderes sindicais estão todos ligados a candidatos da oposição.” Semelhante ao que aconteceu com o grupo de mídia Clarín, Cristina e os sindicalistas eram aliados até pouco tempo atrás. O afastamento entre as centrais sindicais e o governo remete ao seu primeiro mandato. Segundo a lenda que circula nos meios políticos locais, foi uma dura briga por telefone entre Néstor Kirchner e o caminhoneiro Hugo Moyano, líder da CGT, na noite anterior à morte do ex-presidente, em outubro de 2010, que desencadeou um ataque cardíaco em Kirchner. A Moyano, que representa um contingente de mais de 200 mil trabalhadores, foi sendo negado, aos poucos, mais espaço dentro do governo e do partido peronista oficial. Até que, em 2012, ele se tornou um dos principais nomes da oposição e passou a convocar uma série de movimentos e passeatas a fim de desgastar a presidenta. Naquele ano, Moyano organizou a primeira greve geral contra Cristina. DESGASTE - Depois de quase sete anos no poder, a outrora popular Cristina Kirchner sofre com as pressões econômicas e agora sociais 8#2 BRASILEIRA, COMUNISTA E VEREADORA NA FRANÇA Quem é a mineira Silvia Capanema, eleita conselheira municipal de Saint-Denis, a 15 minutos de metrô de Paris Mariana Queiroz Barboza (mariana.barboza@istoe.com.br) Ligada a Paris por duas linhas de metrô, a cidade de Saint-Denis, na França, é mais conhecida no Brasil por abrigar o fatídico estádio de futebol onde a Seleção Brasileira perdeu para a francesa na final da Copa do Mundo de 1998. Agora, a mineira Silvia Capanema, 34 anos e grávida da primeira filha, quer colocar Saint-Denis no mapa da política brasileira. Militante desde 2011 da Frente de Esquerda, Silvia foi eleita vereadora em Saint-Denis, de apenas 107 mil habitantes, e de uma aglomeração de oito municípios, chamada de “Plaine Commune”, com um total de 450 mil moradores. Nos dois casos, vai exercer o cargo pelo Partido Comunista Francês. Na câmara, a brasileira deverá lidar, segundo diz, com questões cotidianas e urbanísticas de seu bairro e trabalhará pela inovação dos métodos de democracia participativa, além de lutar pelos direitos das mulheres e dos imigrantes. Silvia manterá sua carreira como professora da Universidade de Paris 13, já que a política não lhe oferece um salário, mas uma ajuda de custo de 228 euros para o cargo de vereadora simples (que trabalha em cidades entre 100 mil e 200 mil habitantes) e cerca de 900 euros para sua função no Plaine Commune, em parte repassados ao partido. IMIGRANTE - Filha de médica e de engenheiro, Silvia mudou para a França em 2002 e não voltou mais Como os milhares de eleitores que desaprovam o presidente socialista François Hollande, Silvia é uma crítica contumaz do governo. “Hollande foi uma decepção muito grande”, diz. “Ele tinha um projeto de candidatura que questionava o capitalismo financeiro, mas fez justamente o contrário ao endossar a política de austeridade da União Europeia.” O resultado disso é que o agravamento da crise econômica, o alto desemprego e o desencantamento com a classe política têm impulsionado a direita. A Frente Nacional, partido de extrema direita, tornou-se o terceiro maior do país. “Esse avanço é preocupante, porque sua principal bandeira é contrária aos imigrantes”, afirma Silvia. “E, apesar de ter cidadania dupla há quatro anos, aqui sou brasileira.” Saint-Denis, onde a prefeitura é comandada por uma coalizão comunista desde 1945, se mantém como um foco de resistência da esquerda. Filha de médica e de engenheiro, Silvia mudou para a França em 2002 para fazer pós-graduação. Emendou mestrado e doutorado, casou com um urbanista franco-brasileiro e não voltou mais. 9# TECNOLOGIA E MEIO AMBIENTE 16.4.14 ESTAMOS PROCURANDO VIDA NO PLANETA ERRADO? Fortes evidências da presença de água líquida em lua de Saturno levantam a pergunta: por que Marte ainda é o preferido das missões que buscam sinais de vida fora da Terra? A resposta é econômica e técnica, mas também política Lucas Bessel (lucasbessel@istoe.com.br) Desde o início da corrida espacial, Marte tem sido um dos locais mais explorados pelo ser humano. Isso se deve, em grande parte, à expectativa de que o planeta sustente alguma forma de vida. As mais recentes descobertas, no entanto, podem indicar que essa procura acontece no lugar errado. Com base em dados da sonda Cassini, pesquisadores confirmaram, na semana passada, que Encélado, uma lua de Saturno, tem um verdadeiro oceano sob a superfície de gelo. A presença de água líquida é considerada essencial para a vida como conhecemos. Encédalo interessa aos cientistas desde 2005, quando a Cassini fotografou jatos de vapor e gelo no polo sul. Eles já sugeriam a presença de água líquida, praticamente confirmada agora por variações no campo magnético. “É uma quantidade imensa de água”, disse à ISTOÉ David Stevenson, do Instituto de Tecnologia da Califórnia, responsável pelo estudo. Além de Encélado, os astrônomos sabem que existe água líquida em Europa, uma das luas de Júpiter. Por que esses satélites não são mais explorados? Em duas palavras: custo e política. “Essas longas missões consomem muito dinheiro”, diz Stevenson. “É caro fazer algo que precisa funcionar por anos no espaço.” A Nasa e outras agências espaciais até teriam dinheiro para cobrir as despesas, mas definir essas missões como prioridade traria um custo político. “Há uma questão de relações públicas”, diz Carlos Alexandre Wuensche, pesquisador do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais. “Na cabeça de quem financia a ciência em tempos de crise, a demora e o risco das missões não compensam o investimento.” As críticas à priorização de Marte vêm de dentro da própria Nasa. Em 2013, quando cortes orçamentários acabaram com uma missão rumo à lua Europa, o cientista Robert Pappalardo, do Laboratório de Propulsão a Jato, disse que a agência americana “deveria explorar lugares que constituem prioridade científica”. O apelo não surtiu efeito. A Nasa tem apenas uma missão a caminho de Júpiter, mas nada mais planejado para o futuro. 10# CULTURA 16.4.14 10#1 TELEVISÃO - TENSÃO EM SÉRIE 10#2 LIVROS – FREUD E A COCAÍNA 10#3 CINEMA - CINEMÃO CHINÊS 10#4 EM CARTAZ – MÚSICA - O SÚDITO DO REI 10#5 EM CARTAZ – LIVROS - NA LONA MÁGICA DO CIRCO 10#6 EM CARTAZ – O FUTURO DOS JOVENS 10#7 EM CARTAZ – DVD - MARCADO PARA REVIVER 10#8 EM CARTAZ – TEATRO - DO LADO DE RITA LEE 10#9 EM CARTAZ – AGE HUDINILSON/FESTIVAL/IT'S ROCK 10#1 TELEVISÃO - TENSÃO EM SÉRIE Estrelado por Cauã Reymond - o galã que está em todas -, o seriado "O Caçador" promete aquecer o fim de noite da sexta-feira com uma trama de ação, sexo e conflitos psicológicos, segundo a tendência das produções americanas para a tevê a cabo Mariana Brugger (marianabrugger@istoe.com.br) Vai ser difícil resistir à tentação de ficar em frente à televisão na sexta-feira à noite. Movido a cenas quentes de sexo, violência e conflitos éticos, o seriado “O Caçador” estreou na Rede Globo com o objetivo de atrair a esse horário ingrato um tipo de espectador propenso à fidelidade: os fãs de thrillers policiais. Para satisfazer esse público que tem garantido a audiência das séries americanas, roteiristas renomados do cinema nacional integram a equipe de autores, experiência que já rendeu bons resultados em projetos anteriores. Na sequência de “A Teia”, que registrou 18 pontos no Ibope em sua estreia, o novo seriado segue a receita de suspense e tensão psicológica. Seu protagonista é um caçador de recompensas e o ambiente em que transita é o submundo do crime, habitado por tipos que os roteiristas Marçal Aquino e Fernando Bonassi e o diretor José Alvarenga estão habituados a retratar. Os três estavam por trás do sucesso de “Força-Tarefa”, que mostrava o dia a dia de uma equipe da Corregedoria da Polícia Militar e garantiu média de 20 pontos no Ibope em sua primeira temporada. Agora, Alvarenga divide a direção com Heitor Dhalia e caberá ao galã Cauã Reymond a missão de viver o ex-policial André, preso injustamente e obrigado a se virar diante das portas fechadas em busca de emprego. NUDEZ - Cauã Reymond e Cleo Pires em cena quente: ele diz que não é só sexo, ela acha natural Para se distanciar da imagem do sedutor Leandro da minissérie “Amores Roubados”, exibida em janeiro, Cauã cobriu o torso com 14 tatuagens de mentira e fez um corte de cabelo mais comportado. Não conseguiu, claro. O galã do momento na tevê não consegue esconder o jogo, mas o seu personagem, André, é mais introspectivo e não tão conquistador como Leandro. “Eles são muito diferentes. O André é frio e solitário, busca companhia em garotas de programa”, diz o ator. Na preparação, Cauã fez aulas de tiro e um treinamento na Força Especial da Polícia Civil: “Brinquei um pouco de polícia e ladrão e dei a sorte de ter um instrutor que, como o meu personagem, vinha de uma família de militares.” A linhagem, contudo, não garante uma boa convivência. Logo no primeiro episódio, o caçador descobre que foi traído por seu pai, Saulo (Jackson Antunes), um policial aposentado muito respeitado. Após cumprir três anos de prisão, ele é relegado pela família e, sem construir laços afetivos, torna-se frio e desiludido. TRAMA ADULTA - Cauã Reymond (acima) vive um policial desencantado que se torna caçador de recompensas e busca consolo em prostitutas como Marinalva, papel de Nanda Costa (abaixo). Segundo o diretor José Alvarenga (abaixo), o retrato desse universo precisa ser mostrado na tevê Diante da audiência média do horário, em torno de 12 pontos, a opção por um anti-herói é uma arma para fugir da mesmice com narrativas ficcionais pouco frequentes na televisão aberta. “Estamos entrando em um universo comum na dramaturgia estrangeira, em especial a americana, mas ainda pouco explorado no Brasil. Isso me interessa muito”, afirma Cauã. Segundo o diretor José Alvarenga, a emergência de tantos personagens com desvios morais e em busca de um sentido, como Doutor House, de “House”, e Mr. White, de “Breaking Bad”, tornou-se uma tendência atual. “Procuramos entender a nossa época. O mundo anda desestruturado e as pessoas se encontram vendo o desequilíbrio dos outros”, diz ele. À cata de bandidos e de pistas que provem sua inocência, André passará por maus – e bons – pedaços. Antes mesmo da estreia, já se comentava sobre suas cenas quentes com Cleo Pires. Ela interpreta Kátia, paixão de adolescência do protagonista e vítima de transtorno bipolar. A morena é a única que acredita no caráter do ex-policial e tem nele um porto seguro. Mas é casada: seu marido é o delegado Alexandre (Alejandro Claveaux), irmão de André, que não poupa esforços para prejudicá-lo. Apesar da promessa de ação e erotismo, Alvarenga garante que tanto a violência quanto as cenas de sexo evitarão os excessos espetaculares. “Não tem apelo pornográfico”, diz ele. Como a série vai ao ar depois das 11 da noite, o tom será adulto. “Faço essas cenas com tranquilidade, mas me preocupa pensar que as pessoas vão assistir só por isso. É um programa que engloba muitas coisas diferentes, como drama, ação, investigação”, diz Cauã. Cleo Pires, sua companheira em cenas de nudez, encara o assunto de forma mais leve: “Acho que tudo vale a pena quando você está dentro da personagem.” Nanda Costa, que interpreta Marinalva, uma ex-prostituta convertida à religião evangélica e única pessoa capaz de provar a inocência de André, também participará de passagens mais ousadas. “Dá tempo de assistir antes de sair para a balada”, estimula Cauã, que faz surpresa sobre o que prometem os 14 episódios do seriado, ainda sem uma segunda temporada programada. 10#2 LIVROS – FREUD E A COCAÍNA Nova biografia do psicanalista revela que ele usava a droga não só para as pesquisas médicas, mas porque gostava. E acabou viciado, embora nunca tenha admitido Ana Weiss (ana.weiss@istoe.com.br) Sigmund Freud usou, receitou e defendeu arduamente a cocaína antes de seu banimento das prateleiras das farmácias para o mercado clandestino. Nunca foi algo que o pai da psicanálise tenha exatamente escondido, pelo contrário. O testemunho de Freud do potencial nocivo do “mittel” (medicamento, em alemão), no fim das contas, contribuiu para a proibição do uso da substância que, até o começo do século XX, era sintetizada por laboratórios como Merck e Parke-Davis e comercializada como tratamento para o vício da morfina, esse sim já reconhecido pela ciência. ADICTO - Inimigos o acusam inclusive de assassinato, por ter receitado a droga, o que de fato levou à morte de pelo menos um paciente David Cohen, autor dos mais importantes perfis biográficos de psicólogos do século XX, segundo a respeitada revista “Psychology Today”, chega com seu novo livro “Freud e a Cocaína” (Record) a algumas conclusões sobre a relação de Freud com a droga que ele teria habilmente escondido do mundo. O fracasso das teorias em defesa da coca na cura de histeria, problemas digestivos, asma e como um estimulante genérico levou o psicanalista a queimar dezenas de documentos sobre a droga quando a medicina reconheceu sua nocividade. Mas Cohen vai além e mostra que Freud errou muito por não se reconhecer como viciado (apenas em charutos, o que lhe valeu o câncer de mandíbula, “causa mortis” oficial). Mais grave ainda, sugere que parte da obra que mudou a forma de tratamento de males da mente foi produzida sob a influência do pó, a euforia decorrente do seu uso ou mesmo do sentimento de derrota que acomete os abstinentes, ainda que livres da substância, vivendo os deprimidos “um dia depois do outro”. “Ao examinar Freud e o seu legado, devemos recordar que a psicanálise, esse estranho exercício em que o paciente conta seus sonhos e abre sua alma deitado em um divã, foi inventada por um homem com um passado profundamente traumático”, escreve o autor. “Um homem que se tornaria usuário habitual de cocaína. Freud era zeloso em ocultar o seu passado, difícil e marcado pela dor, e os seus leais seguidores não o inquiriam muito a respeito, por isso não costumamos pensar no jovem Freud como prejudicado, vulnerável e um candidato promissor à dependência química”, conclui. Também formado em psicologia, Cohen é possivelmente o jornalista que coleciona o maior número de entrevistas com os grandes nomes dessa ciência. E muito do que ele traz de demeritório em relação às experiências que Freud justificou como testes científicos vem de detratores confessos do médico austríaco. Cohen entrevistou dezenas de cientistas e pensadores para a revista “New Scientist” e conta que Freud, mesmo fora da pauta, tornava-se uma questão em qualquer conversa sobre análise. No livro ele reúne alguns que o amam e outros que o odeiam. E ainda os que simplesmente o acusavam de assassinato, como o colega Eric Miller. De fato, ele perdeu pelo menos um paciente na sua aposta na cocaína. Ernst von Fleischl-Marxow, médico amigo de Freud, viciou-se em heroína por conta das do tratamento contra a dor de uma amputação de um polegar no trabalho de laboratório. Freud acreditava que a cocaína fosse um remédio ainda não testado para o tratamento do vício em opiáceos e recomendou ao amigo. Em pouco tempo Fleischl-Marxow se tornou dependente da droga, tendo morrido aos 45 anos de idade em decorrência do seu uso abusivo. Para a maioria dos antifreudianos ouvidos pelo escritor, a psicanálise era uma teoria falha porque Freud seria pouco confiável, demente e falso. Não há como negar que ele deixou margem para isso. Além do material sobre cocaína destruído no momento da proibição da droga em 1914, o psicanalista deu um jeito de garantir que parte volumosa de sua produção do período de testes só pudesse ser acessada depois de 2025. Até lá, o material permanece, de acordo com o jornalista, trancado em caixas no acervo mantido pela Biblioteca Nacional do Congresso, em Washington. Mais que isso – e Cohen não é nada complacente com seu biografado –, vetar que Anna Freud, filha e herdeira profissional, conversasse com outros analistas além dele mesmo teria sido uma forma de evitar o vazamento de muito do que ele teria a esconder do mundo. Não se trata, porém, de um apedrejamento. Cohen reafirma a importância da obra freudiana sistematicamente durante o livro, mostrando que até a grande contrariedade causada por seus pressupostos teve papel vital na formação do pensamento e das terapias atuais. O jornalista é ostensivamente contra, isso sim, às drogas e à legitimação de experiências em nome de uma produção intelectual. Admite ele mesmo ter sido usuário de maconha, ter experimentado a própria cocaína e admirar muito do que foi escrito sob e sobre o efeito de psicotrópicos. Mas mostra com a crueza que lhe foi possível a devastação causada por esse tipo de precedente. O livro é dedicado à memória de William S. Burroughs Junior. Não ao pai, o autor faz questão. E atribui no prefácio, em que cruza o desamparo e a capacidade literária de Freud e Burroughs Junior, às aventuras de Burroughs pai com as drogas o papel definitivo na vida curta, dolorosa e não realizada do filho talentoso. Viciado, ele não encontrou divã que o salvasse da imagem da mãe tendo a cabeça estourada por um tiro do pai, um acidente durante um dos rituais que o sumo sacerdote da heroína costumava propor à mulher. O que para ele também era uma pesquisa com finalidade cultural. 10#3 CINEMA - CINEMÃO CHINÊS Prestes a assumir a liderança como o maior mercado de filmes, o gigante asiático mostra que está pronto para a briga com superproduções aos moldes americanos a exemplo do drama de kung fu "O Grande Mestre" Ivan Claudio (ivanclaudio@istoe.com.br) Com uma população de 1,3 bilhão de pessoas, a China se posiciona hoje como o segundo maior mercado de cinema do mundo. Emperrado durante décadas, o setor teve uma reviravolta com o boom econômico e deve, inclusive, superar os EUA nos próximos cinco anos. Nessa corrida, o gigante asiático comprou e fez se alastrar em suas megacidades a maior rede multiplex do planeta, a AMC. Protecionista ao extremo, o governo chinês só permite que 34 filmes estrangeiros sejam exibidos por ano nos cinemas locais. Sorte, então, para os títulos liberados. “Homem de Ferro 3”, por exemplo, faturou US$ 124 milhões no país e teve mais da metade de seu orçamento de US$ 200 milhões pago numa tacada. Em contrapartida, a própria produção nacional, que abocanha o grosso da bilheteria, se desenvolveu com o ligeiro afrouxamento da censura. Natural, então, que queira ganhar o mundo e é nesse novo cenário que surge o filme “O Grande Mestre”, superprodução do diretor Wong Kar Wai feita em parceria com Hong Kong, previsto para estrear no Brasil na quinta-feira 17. Tido até então como um cineasta cult, muito elogiado, mas de público restrito, ele registrou a sua maior bilheteria em 15 anos de carreira, faturando US$ 64 milhões, o equivalente à soma dos lucros de todos os seus longas juntos. Foi também lembrado pelo Oscar, quando concorreu nas categorias de fotografia e figurino, o que mostra como Hollywood anda bajulando a produção da maior potência do Oriente. CLUBE DA LUTA - Tony Leung (ao centro), no papel do professor de Bruce Lee: braço quebrado duas vezes Nascido em Xangai, mas radicado em Hong Kong, onde pôde desenvolver uma carreira mais arejada e longe das tradicionais e pesadas produções de época, Kar Wai já havia feito coproduções com a China. “O Grande Mestre” é, no entanto, a primeira totalmente falada em mandarim e com um pano de fundo tipicamente “continental”: trata da vida de Ip Man (Tony Leung), o treinador do campeão de lutas marciais Bruce Lee. Não espere, contudo, uma sucessão de disputas coreografadas, feitas com o auxílio de cabos de aço, como é habitual nos filmes do gênero. A sequência de golpes, mais parecida com duetos de balé moderno, está lá, claro. Mas Kar Wai vale-se da figura desse mestre de uma das muitas modalidades de kung fu (wing chu) para falar de uma tradição milenar que ele teme estar desaparecendo – e com isso fazer um comentário sobre as rápidas transformações pelas quais passa a China atualmente. Dessa forma, fez questão de se manter atento aos detalhes históricos do enredo, que se inicia às vésperas da segunda guerra sino-japonesa (1937 – 1945). É nesse período que lutadores do norte do país se unem aos sempre rivais do sul, onde desponta Ip Man. BELEZA FATAL - Zhang Ziyi como a lutadora que abre mão do amor: treinamento de três anos Segundo o costume dessas sociedades monásticas, Man confronta o mestre do norte num duelo de astúcia. Vence, mas, em nome do clã, é desafiado pela filha do patriarca, Gong Er (Zhang Ziyi). Em surdina, nasce nessa disputa uma história de amor proibido, refém do estrito código de honra que rege essas seitas. Kar Wai leu tudo o que pôde sobre a época enfocada, viajou o país por três anos entrevistando mestres ainda vivos e seus descendentes e discípulos. Exigiu que seu figurinista pesquisasse tecidos e padronagens e treinou os protagonistas por mais três anos para que eles aprendessem a fundo todos os lances das lutas – Leung atrasou as filmagens devido a duas fraturas sofridas nessa fase. As gravações também não ajudaram: o diretor encenou muitas lutas sob constante chuva cenográfica, o que aumentava a exigência sobre o elenco – uma delas, gravada à noite, consumiu 30 dias. Não satisfeito, nunca dava por terminada a história – fez, então, três versões do filme, após dois anos de montagem: uma para a China, uma para a abertura do Festival de Berlim, no ano passado, e outra para o mercado americano, que vem com o selo de luxo “Martin Scorsese Presents”. O resultado visual é de encher os olhos. No funeral do mestre Gong Yutian (Wang Qingxiang), pai de Gong Er, um cortejo branco desfila sobre uma paisagem nevada, lembrando a grandiosidade de um Sergei Eisenstein ou Akira Kurosawa. A luta entre Gong Er e Ma San (Zhang Jin), assassino de seu pai, passa-se numa estação com trens em movimento, numa sequência que bem poderia estar em um filme de “Homem Aranha” ou “X-Men”. A lembrança dos super-herois não se dá por acaso. Na falta dos personagens sobre-humanos dos quadrinhos, a China tem os seus mestres do tatame, parece dizer Kar-Wai. Apenas citado ao final, um filme focado em Bruce Lee pode ser o novo desafio do diretor. Mas, após os dez anos gastos para realizar “O Grande Mestre”, ele diz que primeiro tem direito ao seu descanso de guerreiro. 10#4 EM CARTAZ – MÚSICA - O SÚDITO DO REI por Ivan Claudio (ivanclaudio@istoe.com.br) No início da carreira, o cantor e produtor Pharrell Williams quis conhecer Michael Jackson. Impressionado com a inventividade do rapaz, Michael se ofereceu para entrevistá-lo. Perguntou o que ele andava ouvindo. Williams disse: Isley Brothers. Michael lhe falou que essa era justamente a sua banda preferida. Passada uma década, Williams lança o seu segundo disco e prova que é o artista que mais aprendeu com o Rei do Pop. “Girl”, alavancado pelo espetacular hit “Happy”, uma das canções do Oscar, recicla o melhor da música negra com recursos inovadores. “Brand New”, por exemplo, é um funk que soa como o Jackson 5. “Know Who You Are”, dueto com Alicia Keys, tem refrão pegajoso ao estilo de Stevie Wonder. São apenas duas amostras de uma sequência de dez canções em que o talento sobra e a modéstia é rara. + 5 artistas produzidos por Pharrell Williams MADONNA Williams produziu sete canções do penúltimo disco da cantora, “Hardy Candy”, e canta em “Give It to Me” DAFT PUNK O cantor aparece em duas faixas do CD “Random Acess Memories”: “Get Lucky” e “Lose Yourself to Dance” FRANK OCEAN Assinou a produção do disco “Channel Orange”, segundo trabalho do talentoso rapper, premiado com o Grammy no ano passado BEYONCÉ O músico foi escalado para cuidar das faixas “SuperPower” e “Blow”, uma das mais dançantes do oitavo álbum da popstar ROBIN THICKE Williams está por trás do maior sucesso do cantor, a canção “Blurred Lines”, muito criticada pelo machismo 10#5 EM CARTAZ – LIVROS - NA LONA MÁGICA DO CIRCO por Ivan Claudio (ivanclaudio@istoe.com.br) Em “Circo Voador – A Nave” (Edição do Autor), Maria Juçá, diretora da casa de espetáculos carioca, conta em 700 páginas a história desse espaço cultural que viu nascer o rock dos anos 1980, com a estreia de bandas como Blitz, Barão Vermelho e Kid Abelha. Sobre esses primórdios relembra o músico Pedro Luís: “As pessoas se cotizaram, não só de influências como de grana mesmo. O Cazuza vendeu um telefone – naquela época o telefone era uma fortuna – para ajudar o projeto de efetivar o Circo Voador”. 10#6 EM CARTAZ – O FUTURO DOS JOVENS por Ivan Claudio (ivanclaudio@istoe.com.br) O filão de ficções científicas sombrias, destinado ao público adolescente, inaugura mais uma trilogia com “Divergente”, em cartaz na quinta-feira 17. Na trilha de “Jogos Vorazes”, o filme, que já faturou mais de US$ 100 milhões nos EUA, mostra uma sociedade aparentemente perfeita em que as pessoas são classificadas segundo qualidades necessárias para a vida comunitária, como sabedoria, amizade, sinceridade, etc. Beatrice (Shailene Woodley) não se enquadra em nenhuma delas e é considerada uma “divergente” – como Tobias “Four”Eaton (Theo James), em quem ela busca apoio após fugir de casa. Já está em produção o segundo episódio, “Insurgente”. CINEMA – 10#7 EM CARTAZ – DVD - MARCADO PARA REVIVER por Ivan Claudio (ivanclaudio@istoe.com.br) A produção de “Cabra Marcado para Morrer”, de Eduardo Coutinho, encerra uma história tão ou mais impressionante que a narrada pelo próprio filme. No dia 31 de março de 1964, véspera do Golpe Militar, a obra tinha quase metade rodada. Elizabeth Teixeira, protagonista do documentário inacabado, se escondeu por quase 20 anos. Em 1984, Coutinho terminou o filme. O Instituto Moreira Salles o relança agora com faixa comentada por Coutinho e o emocionante reencontro do cineasta com Elizabeth e alguns de seus filhos, registrado nos títulos inéditos “A Família de Elizabeth Teixeira” e “Sobreviventes de Galileia”. 10#8 EM CARTAZ – TEATRO - DO LADO DE RITA LEE por Ivan Claudio (ivanclaudio@istoe.com.br) Adaptação teatral do livro de Henrique Bartsch, o espetáculo “Rita Lee Mora ao Lado” (Teatro das Artes, São Paulo, até 29/5) traz Mel Lisboa no papel da roqueira. Misturando biografia e ficção, a história é narrada por Bárbara Farniente, vizinha, nascida no mesmo dia que Rita. A vida da ex-mutante é contada da infância aos dias de hoje, passando por seus encontros com Tim Maia, Gilberto Gil, Caetano Veloso, Ney Matogrosso, Elis Regina e outros. Entre as músicas selecionadas aparecem “Agora só Falta Você”, “Saúde”, “Banho de Espuma”, “Caso Sério”, “Menino Bonito”, “Panis et Circenses” e “Ando Meio Desligado”. 10#9 EM CARTAZ – AGE HUDINILSON/FESTIVAL/IT'S ROCK Conheça os destaques da semana por Ivan Claudio (ivanclaudio@istoe.com.br) HUDINILSON JR. (Galeria Jacqueline Martins, São Paulo, até 10/5) Desenhos, pinturas, mail-art, grafite e arte Xerox do artista morto em 2013 compõem a mostra “Posição Amorosa” FESTIVAL VARILUX (até 16/4) A mostra do cinema francês vai exibir 16 filmes em 45 cidades, num circuito de 70 salas. Entre os destaques, “A Grande Volta”, sobre um homem apaixonado pelo Tour de France IT’S ROCK (MIS, São Paulo, até 20/4) Instalação fotográfica com trabalhos de Mick Rock, que documentou a cena musical dos anos 1970, retratanto David Bowie, Lou Reed e Iggy Pop, entre outros NDA 11# A SEMANA 16.4.14 por Antonio Carlos Prado e Elaine Ortiz "O PAPIRO DA ESPOSA DE JESUS" Provar a veracidade da datação histórica de um documento não significa que seja também verdadeiro aquilo que nele está registrado. Mas o Vaticano terá de enfrentar novamente a delicada questão se Jesus teve ou não uma esposa. Motivo: uma equipe de pesquisadores americanos da Harvard Divinity School garantiu que “não se trata de falsificação” o fragmento de um papiro no qual há referências à possível esposa de Cristo. Segundo os cientistas, o papiro remonta ao período entre os séculos II e VI. Nele está escrito em dialeto egípcio: “Jesus disse a seus discípulos... minha esposa... ela será capaz de ser tornar uma discípula... quanto a mim, eu moro com ela... de modo que...”. O papiro foi apresentado há dois anos ao Vaticano pela historiadora Karen L. King (foto). O Vaticano terá de enfrentar uma questão essencialmente terrena: a reivindicação daqueles que defendem a queda do celibato na Igreja Católica. "MUSEU MULTIMÍDIA HOMENAGEIA O SANTO JOÃO PAULO II " João Paulo II (morto em 2005) será canonizado no próximo dia 27. A cidade polonesa de Wadowice, na qual ele nasceu, iniciou as comemorações na semana passada com a inauguração de um museu multimídia que reúne diversos objetos que lhe pertenceram ou que compuseram a sua trajetória de vida: tênis, as regimentais meias pretas, a “Bíblia” que o acompanhou nos últimos anos, retratos, quadros, a pistola com a qual o turco Mehmet Ali Agca o feriu em 1981. A edificação do museu custou 6,2 milhões de euros. "ESTRANHA CIRURGIA NA MP DA TRIBUTAÇÃO DAS EMPRESAS" Foi aprovada na Câmara na semana passada a MP 627 que trata sobre a tributação de empresas brasileiras no Exterior. Não tem nada a ver com planos de saúde no País, mas o seu relator, o deputado Eduardo Cunha, conseguiu enxertar-lhe a redução das multas que as operadoras têm de pagar ao consumidor caso elas não honrem os contratos. Pela proposta de Cunha, por exemplo, um plano de saúde que receba mais de mil multas, paga apenas 20. Um dos argumentos apresentados foi o de que multas menores coíbem eventual corrupção – ou seja, em vez de se punir o corruptor, beneficia-se o descumprimento de contrato. Choveu crítica ao deputado dentro do Palácio do Planalto. Na quinta-feira 10 ele declarou que a emenda merece ser vetada. Detalhe: fez isso após saber que a presidenta Dilma Rousseff vai mesmo vetar a emenda. "NÃO É QUALQUER JOÃO QUE CONSEGUE SER SILVA" Bom exemplo de cidadania e caráter: o segurança Marco Antonio da Silva estava num ponto de ônibus na cidade gaúcha de São Leopoldo quando uma mulher passou de moto e derrubou no chão um envelope. Ele o apanhou e viu que guardava um boleto e R$ 600. Não titubeou. Foi a uma lotérica, pagou a conta, postou a história e seu telefone no Facebook. A corretora Karine Peurot, que perdera o envelope, o localizou e recebeu de volta o troco e o boleto pago. “Minha educação vem de criança, minha mãe me ensinou a não ficar com aquilo que não é meu”, diz Silva. “Não fiz nada além da minha obrigação.” "MAU EXEMPLO DE CIDADANIA E CARÁTER:" Um homem ao volante de seu carro, em Brasília, bateu num automóvel que estava estacionado. Ao perceber que havia testemunhas, redigiu o seguinte bilhete e o deixou no para-brisa: “Olá, o meu nome é João. Bati acidentalmente no seu carro e alguém viu. Por isso, estou a fingir que escrevo meus dados. Desculpe, João”. "BEBÊ DE 9 MESES É ACUSADO DE "PLANEJAR CRIME"" O bebê paquistanês Muhammad Musa Khan que aparece chorando nessa imagem tem apenas 9 meses. No momento em que essa foto foi feita, ele era obrigado a assinar com suas digitais o documento que o livrou da prisão mediante pagamento de fiança. A acusação contra o bebê: “planejar assassinato, ameaçar policiais e interferir nos assuntos do Estado”. A incriminação de Muhammad se deu depois que a sua família foi considerada suspeita de ter atentado contra a polícia do Paquistão em represália à ação policial que capturou pessoas que teriam roubado gás na cidade de Lahore. "MUDE AS SUAS SENHAS. JÁ!" “Heartbleed” (hemorragia do coração) é o nome da falha de segurança na internet que nos últimos dois anos expôs bilhões de senhas, dados pessoais e números de cartão de crédito à ação de hackers. O erro de programação, divulgado na semana passada, atinge uma ferramenta chamada Open SSL, responsável por decodificar os dados enviados pela rede e utilizada por 66% dos sites. Quem soubesse dessa falha poderia roubar dados dos servidores. Isso aconteceu? É impossível saber, já que o ataque não deixa rastro. Sabe-se que Google, Facebook e Yahoo! ficaram vulneráveis, mas corrigiram o problema ao serem alertados. Usuários da internet devem imediatamente mudar as suas senhas. "O BUSH PINTOR É MELHOR QUE O PRESIDENTE" Como presidente dos EUA entre 2001 e 2009, George W. Bush legou ao mundo duas guerras – uma no Afeganistão, outra no Iraque. Dedica-se agora à pintura. Não passa nem perto de um Van Gogh, mas consegue não ser tão ruim como foi na Casa Branca. O seu talento já gerou 30 obras retratando líderes mundiais com os quais teve contato. Todas estão agora disponíveis para visitação num museu em Dallas. A mostra se chama “A Arte da Liderança: A Diplomacia Pessoal de um Presidente”, e entre os “homenageados” estão o presidente da Rússia, Vladimir Putin (um dos quadros preferidos do artista), e o ex-primeiro-ministro da Itália Silvio Berlusconi. Para especialistas, “os traços de Bush são simples e não passam de pinturas feitas a partir de fotografias, incapazes de transmitir sensações”. "O SENADO ABRE O DETERGENTE ANTITORTURA" A Comissão de Direitos Humanos do Senado aprovou na quarta-feira 9 a proposta parlamentar que exclui da Lei da Anistia de 1979 os agentes públicos que cometeram crime de tortura contra os oponentes da ditadura militar. O argumento do senador Randolfe Rodrigues é um bom detergente para um dos mais sujos passados da história do País, e ótimo protetor do futuro: “Não queremos levar para a cadeia velhinhos octogenários. Queremos retirar do arcabouço jurídico brasileiro uma lei que anistia torturadores”. O projeto agora vai ao plenário do Senado. "O DRAMA DE IAN THORPE E STEPHANIE RICE" Os australianos Ian Thorpe e Stephanie Rice são ex-campeões olímpicos de natação. Conquistaram diversas medalhas de ouro e quebraram recordes mundiais. Na semana passada, a notícia triste: com uma grave infecção no ombro que o deixou internado por alguns dias, Thorpe, 31 anos, nunca mais poderá nadar. Cogitou-se que, se a infecção não cedesse, perderia os movimentos ou teria de se submeter à amputação. Stephanie, 25 anos, anunciou a sua aposentadoria. Motivo: também um dos ombros está lesionado. A glória Ian Thorpe conquistou cinco ouros nos Jogos de Sydney (2000) e Atenas (2004). Entre 1998 e 2004, ele ganhou 11 títulos mundiais e bateu 13 recordes mundiais. Stephanie Rice conquistou três medalhas de ouro nos Jogos de Pequim (2008) com três recordes mundiais: nos 200 e 400 metros medley e no revezamento 4x200 nado livre. " EBOLA AVANÇA E MATA NA ÁFRICA" Veio na semana passada a primeira confirmação oficial das autoridades africanas e da OMS: somente na Guiné, em nove dias, o número de mortos devido à epidemia de ebola já passa de 100. Na Libéria são dez as vítimas fatais. “O surto é desafiador. Expande-se demais e são muitos focos”, diz o diretor-geral adjunto de Segurança Sanitária, Keiji Fukuda. O ebola é considerado o mais perigoso vírus que a humanidade conhece atualmente. O que é Foi identificado pela primeira vez em 1976. Desde então matou mais de 1,5 mil pessoas. O seu contágio é moderado, mas, uma vez infectada, a chance de a pessoa sobreviver é somente de 10%. Transmissão e sintomas O ebola é transmitido (humano-humano, animal-humano) pelo sangue ou por secreções. Sintomas iniciais: febre, fraqueza, dores, diarreia, vômito, disfunção hepática e renal, hemorragia interna e externa. "3 ANOS" É o tempo que o Acre irá levar para restabelecer sua economia após a cheia do rio Madeira. Em 20 dias cerca de R$ 834 milhões deixaram de circular na região. "VALESCA, A PENSADORA" Antonio Kubitschek (não é parente do ex-presidente Juscelino) leciona filosofia no ensino médio do Distrito Federal. Propôs em prova a seguinte questão a seus alunos – segundo a grande pensadora contemporânea Valesca Popozuda, se bater de frente: a) é só tiro, porrada e bomba b) é só beijinho no ombro c) é recalque d) é vida longa A resposta correta é a alternativa “a”. O fato de o filósofo ter chamado a funkeira de “grande pensadora” criou polêmica nas redes sociais. “Muita discussão por uma coisa pequena”, disse Valesca. Na verdade, não é tão pequena. “Quis criar uma discussão sobre formação de valores”, ­disse Kubitschek. Na verdade, bem filosófico. "PEQUENA, RARA E CARA" Bastaram 18 minutos para que uma pequena e raríssima peça de porcelana chinesa fosse vendida em leilão na Sotheby’s de Hong Kong ao preço recorde de R$ 80 milhões. Cabe na palma da mão e data da época do imperador Chenghua (1465-1487). É conhecida como o “Santo Graal das porcelanas”. "A RIQUEZA, A QUEDA... E NOVAMENTE A GLÓRIA" Ele já acumulara US$ 12 milhões quando bateu na casa dos 40 anos de idade, mas perdeu quase tudo em tempo recorde na boemia, oito casamentos e corridas de cavalo. Duas décadas depois, estava milionário novamente. Ele foi o mais popular astro do cinema americano entre 1937 e 1944 protagonizando a série “Andy Hardy”, caiu no ostracismo, mas recolocou o seu nome no topo da lista dos grandes atores ingressando na Broadway e nela fazendo “Sugar Babies”. Assim, nessa constante oscilação financeira, profissional e emocional, viveu até o domingo 6 o ator Mickey Rooney. Morreu nos EUA aos 93 anos. Alguns de seus trabalhos: “Sangue de Artista” (1939), “Bonequinha de Luxo” (1961), “Bill” (1982).