ISTOÉ edição 2303 | 15.Jan.2014 [descrição da imagem: foto do ator Mateu Solano, intérprete de Felix na novela Amor à Vida, com mão direita no quadril e mão esquerda no peito. Aparece de perfil, da cintura para cima, com a cabeça virada para a direita, olhando para frente] O EFEITO FÉLIX Com uma atuação impecável, o ator Mateus Solano leva a discussão da homossexualidade para dentro dos lares brasileiros. _______________________ 1# EDITORIAL 2# ENTREVISTA 3# COLUNISTAS 4# BRASIL 5# COMPORTAMENTO 6# MEDICINA E BEM-ESTAR 7# ECONOMIA E NEGÓCIOS 8# MUNDO 9# TECNOLOGIA E MEIO AMBIENTE 10# CULTURA 11# A SEMANA _____________________________ 1# EDITORIAL 15.1.14 "OS PROBLEMAS REAIS DA COPA" Carlos José Marques, diretor editorial Embalada por evidente interesse político, uma grande torcida se move pelo desastre da Copa do Mundo que acontece por aqui em junho próximo. Levados por motivações difusas, manifestantes em número ainda inestimável deverão sim recorrer à arma dos protestos e, a depender da extensão de seus atos, podem tirar parte do brilho da festa. Mas, para além de boicotes condenáveis e ameaças veladas, a Copa em versão brasileira padece de inegáveis problemas de organização e planejamento. E por essa brecha dão espaço para as críticas abertas do alegórico presidente da Fifa, Joseph Blatter. Disse o cartola em entrevista na última semana que desde que começou a trabalhar na instituição em 1975 nunca havia visto atraso como esse. Referia-se fundamentalmente aos 12 estádios, dos quais a metade ainda apresenta obras não concluídas. É, por assim dizer, um fator menor – todos deverão, com certeza, ficar prontos a tempo – diante do possível caos logístico que vem se armando no entorno do evento. Os aeroportos que vão receber esse público, por exemplo, seguem com estruturas insuficientes e qualidade de serviço precária para dar vazão ao fluxo de pessoas que por ali passarão. O teste da virada de ano e dessas férias de verão não deixa margem a dúvidas: guichês de check-in e esteiras de bagagem em número insuficiente, congestionamento de aviões, filas a perder de vista no controle de passaportes e na alfândega, péssima sinalização e despreparo dos atendentes mostram um cenário desolador aos viajantes. No maior “hub” do País, o aeroporto de Guarulhos, em São Paulo, a situação assume contornos de calamidade. Passageiros exasperados espalham-se por todos os lados reclamando, com razão, que nada funciona. A situação não é nova, mas surpreende que persista restando tão poucos meses para os jogos. É possível superar desafios vitais, que demandam tempo e dinheiro, como o treinamento de pessoal e a conclusão das arrastadas obras de expansão? Blatter tem razão quando diz que o Brasil teve mais prazo que a maioria dos países que já sediaram a competição e desperdiçou. Foram sete anos, dos quais os primeiros quatro gastos em discussões ideológicas tolas sobre a privatização da malha. A projeção de recursos estourou, e muito! Já soma o triplo do inicialmente estimado. O plano de novos aeroportos e aeroportos a reformar ficou bem aquém do prometido. Para completar, as companhias aéreas adotaram uma indecente política de tarifas nos bilhetes da temporada. Os hotéis (esses também em número insuficiente para receber a quantidade de visitantes prevista) fazem o mesmo. A movimentação com o intuito de levar o máximo de vantagem grassa às fuças das autoridades, que nada fazem para conter abusos. Em meio a esse festival de espertezas, desorganização e gastança, fica também uma constatação lamentável: o verdadeiro legado de infraestrutura para as cidades-sedes, alardeado como o maior trunfo da Copa, não passará ao final de uma miragem. 2# ENTREVISTA 15.1.14 FRANÇOISE HÉRITIER - A TECNOLOGIA GERA ALIENAÇÃO Herdeira intelectual de Lévi-Strauss, a antropóloga francesa diz que os pequenos prazeres da vida foram perdidos e que os recursos modernos impedem a reflexão por Mariana Brugger REDES SOCIAIS - “A crença de que dividimos tudo com todos o tempo todo se transformou em um grande prazer coletivo”, diz A antropóloga francesa Françoise Héritier trilhou uma brilhante carreira acadêmica, a ponto de ter sido escolhida pelo renomado colega Claude Lévi-Strauss (1908-2009) para sucedê-lo no Collège de France. Lá, ocupou por muitos anos a cadeira de estudos comparados de sociedades africanas e tornou-se referência na área de estudos de gênero. Atualmente professora honorária, Françoise resolveu lançar-se em outra seara após receber um cartão-postal de um amigo em férias com a seguinte mensagem: “Uma semana roubada de férias na Escócia.” A frase não saía da cabeça da antropóloga. Quem estava roubando o quê? O amigo, médico e professor, entendia que estava furtando um pouco de descanso de um mundo que o devorava com tarefas e compromissos? As reflexões acabaram virando um livro ao estilo autoajuda: “O Sal da Vida” (Valentina) – best-seller na França em 2012 que chega agora ao Brasil. A obra de 100 páginas se despe de sofisticação para falar, da maneira mais trivial possível, sobre o que é o ‘sal da vida’: não sentir culpa por se dar o direito ao descanso e de perceber os raros encantos simples da vida. Para a antropóloga, a ansiedade e o uso excessivo da tecnologia são os males do nosso tempo. Portadora de uma doença autoimune rara há 32 anos, a policondrite recidivante, que ataca todas as cartilagens do corpo e a deixou diabética, com insuficiências cardíaca e renal, e com problemas ósseos, Françoise garante que é possível ver beleza no mundo mesmo nos momentos de depressão. "O símbolo mais forte da sociedade moderna é o uso do Facebook e sua rede de falsos amigos. Esse sentimento falso de pertencimento cria um mundo desmaterializado” “Lévi-Strauss tinha uma visão muito pessimista. Ele via um mundo saturado de tudo: imagens, palavras, indivíduos, tecnologias" Istoé - A sra. é uma antropóloga renomada e lançou um livro que se assemelha muito à autoajuda. Sentiu algum tipo de preconceito dos intelectuais? Françoise Héritier - Ninguém falou nada para mim sobre isso, pelo contrário. Muitos amigos e pessoas que nunca vi me apoiaram e enviaram listas com as coisas que dão sabor às suas vidas. Não publiquei esse livro como antropóloga. Istoé - O que dá sabor à vida? Françoise Héritier - Pode ser algo extremamente ordinário, lembranças da época de criança ou coisas absolutamente pessoais. A ideia é lembrar que atravessamos a existência inundados de pequenas coisas que nos dão prazer, mas não prestamos atenção. Nosso estado civil, nossas opiniões, tudo isso forma nosso exterior e não diz nada sobre nós. São as nossas reações a essas pequenas experiências cotidianas que formam nosso interior. Embora não acredite que essas experiências comuns possam definir a personalidade das pessoas, acho que elas são fundamentais para definir a percepção de mundo que cada um tem. Istoé - Por que paramos de prestar atenção a esses pequenos prazeres? Françoise Héritier - Não creio que a vontade tenha sido perdida, mas, talvez, a capacidade de sentir-se realizado esteja diminuída ou até mesmo acabada. O cansaço vence muitas vezes pessoas que se encontram no sofrimento. Para outros, infelizmente, o que está em alta é o delírio da globalização e a vontade de possuir riquezas e bens materiais. Chamo isso de um “cansaço essencial” do espírito, uma renúncia. Istoé - Como aprender a aproveitar o cotidiano? Françoise Héritier - Com as crianças, que têm isso naturalmente – e precisamos encorajá-las a continuar assim, estimular a qualidade imaginativa delas. Perceber o que dá sabor à vida não significa esquecer dos problemas. Mesmo quando estamos infelizes podemos viver momentos memoráveis. Tudo depende da sua atitude. Istoé - Como descobrir o que importa nos dias de hoje, quando a falta de tempo parece ser a principal queixa de todos? Françoise Héritier - Não existe receita. É uma disposição da alma, ávida por saber aquilo que a constitui e a legitima. A presença de acontecimentos marcantes não esconde necessariamente aqueles menores. Porém, acredito que nos lembramos mais dos prazeres íntimos ou dos compartilhados com amigos do que de nossas conquistas profissionais. Istoé - A tecnologia mudou os problemas e a maneira de enxergar o mundo? Françoise Héritier - Os problemas fundamentais que se apresentam para os seres humanos são os mesmos. Creio no universal. A maneira de responder a esses problemas é que muda, e a maneira atual é com o uso intensivo da tecnologia. Acho que isso gera uma bestialização e uma alienação voluntárias, sem promover o fundamental, que é a busca pela emancipação do espírito. Istoé - Onde a internet entra nesse contexto? Françoise Héritier - Para uma pequena parte da humanidade, a mais jovem evidentemente, a internet diminui certos momentos dedicados ao pensamento e a outras atividades. Os mais velhos, como eu, não se sentem à vontade com essas tecnologias e as usam menos. Mas seria isso o que nos impede de conhecer as coisas insignificantes da vida para extrair prazer? Não, porque essa comunicação imediata e sobre o nada se tornou ela mesma um prazer. A crença de que dividimos tudo com todos o tempo todo se transformou em um grande prazer coletivo. Istoé - Quais são os prazeres da vida com tecnologia? Françoise Héritier - Existem alguns, mas eles são reduzidos frequentemente a experiência da primeira vez ao usar algo novo. Todo adulto se lembra do prazer ao andar de bicicleta sozinho pela primeira vez. O hábito e a saciedade fazem esse sentimento de domínio de uma atividade desaparecer muito rápido, exceto quando perdemos tempo para nos deliciarmos com aquele momento. Porém, nesse caso, mudamos o registro: não é mais o prazer de dominar a técnica, é o hedonismo que permite aproveitar um instante com todos os seus componentes. Istoé - Faz bem se entediar? Françoise Héritier - O tédio se tornou condenável. Mas o tédio é o motor da reflexão, da inovação, da descoberta e da contemplação. Ao nos esforçarmos para satisfazer as frustrações com auxílio das tecnologias modernas, fazemos desaparecer essas possibilidades. Istoé - A medicação tem a função de suprir a incapacidade humana de aproveitar as pequenas alegrias da vida? Françoise Héritier - É simplista demais responder apenas sim. As doenças mentais que levam alguém a tomar remédios psicotrópicos são dolorosas e complexas. Eu mesma tive depressões, mas, mesmo sem enxergar nada com senso de humor, elas não me impediram de manter os olhos abertos para o mundo. A psicologia em massa se tornou um recurso diante do vazio da vida, da solidão, da incompreensão. Mas não saberia estabelecer uma ligação direta entre isso e a perda da capacidade de degustar a vida. Istoé - Qual é o símbolo mais forte da sociedade moderna? Françoise Héritier - O símbolo mais forte é certamente o uso do Facebook e sua rede de falsos amigos, que amam todas as mesmas coisas ao mesmo tempo. Esse grande sentimento falso de pertencimento cria um mundo desmaterializado. Não ver mais as pessoas em carne e osso talvez não impeça o surgimento de laços mais fortes, mas fundir-se aos outros não significa encontrar-se. Isso constitui uma grande armadilha: a despersonalização em vez da afirmação de si. Istoé - É a ansiedade que gera esse comportamento? Françoise Héritier - Sem dúvida é ela que leva as pessoas para esse falso lugar de pertencimento. E aí voltamos à questão da origem da ansiedade como fenômeno maior do nosso tempo. Ela é gerada pela insegurança política e econômica, pelos relacionamentos, pelo aumento da expectativa de vida, pela necessidade incessante de proclamar que vai “dar certo” na vida, entendendo isso como a acumulação da maior quantidade de riquezas, honras e reconhecimento dos outros. Istoé - A chegada de um novo ano suscita emoções que nos permitem criar esperanças? Françoise Héritier - Na verdade, não. As loucuras e alegrias, familiares ou nacionais, são úteis, mas, além da excitação, elas não têm muito efeito sobre nossa estrutura interna e nossa capacidade de harmonizar a vida. Istoé - A sra. conhece o Brasil? Acredita que o povo é tão feliz como é proclamado mundo afora? Françoise Héritier - Já fui a algumas universidades brasileiras, mas nunca passei muito tempo no País. Não acredito que as pessoas sejam mais felizes do que em qualquer outro lugar do mundo. Me informo sobre o País pela imprensa francesa e sou sensível à questão indígena e à das favelas. Também aprecio a política do projeto Bolsa Família, que me parece excelente. Visto daqui, o Brasil parece ter encontrado boas saídas, apesar de ainda ter problemas como a falta de respeito ao direito dos indígenas, o desmatamento consentido e a importância dada à hierarquia social calcada na cor da pele. Istoé - Por que, mesmo com tantos problemas, o brasileiro é alegre? Françoise Héritier - Por que sorriem apesar de tudo? Porque guardam, mesmo em tempos complicados, a capacidade de aproveitar o instante, sem reservas. Istoé - Os franceses são conhecidos por ser um povo antipático e mal-humorado. Existem povos que aproveitam mais a vida do que outros? Françoise Héritier - Não acredito que existam povos naturalmente mais inclinados a saborear a vida. Porém, encontramos mais vontade nos povos empreen­dedores, jovens e ávidos por experiências. Talvez os franceses estejam muito cheios de experiências para saber como saborear a vida. Acredito que essa reputação nos foi atribuída de forma justa. Os franceses são irritadiços, estão sempre decepcionados, desinteressados, rabugentos... Atualmente, eles me decepcionam muito. Esse tipo de pobreza intelectual ao qual nos resignamos me entristece. O motivo? Nesse espírito progressista, a saciedade imediata dos desejos é colocada como prioridade no lugar da vivência de momentos inesquecíveis. Istoé - A sra., que sucedeu Claude Lévi-Strauss, poderia imaginar como ele veria a sociedade hoje? Françoise Héritier - Ele tinha uma visão muito pessimista do nosso mundo atual, pensava que ele faliria por conta da superpopulação e da devastação do meio ambiente. Ele via um mundo saturado de tudo: imagens, palavras, indivíduos, tecnologias... Uma espécie de “veneno interno” com efeitos nocivos e prazo de validade próximo. 3# COLUNISTAS 15.1.14 3#1 LEONARDO ATTUCH - O NÓ POLÍTICO DO MARANHÃO 3#2 GISELE VITÓRIA 3#3 BRASIL CONFIDENCIAL 3#4 RICARDO ARNT - DESTRAVOU? 3#1 LEONARDO ATTUCH - O NÓ POLÍTICO DO MARANHÃO Em Pedrinhas, também se joga o futuro da aliança PT-PMDB na disputa de 2014. De repente, o Brasil descobriu Pedrinhas, sucursal do inferno, no Maranhão, onde 60 presos foram mortos no ano passado e dois em 2014 – alguns decapitados. De lá, partiu a ordem para que criminosos tocassem o terror em São Luís, onde Ana Clara, uma menina de 6 anos, foi morta, após um ônibus ser incendiado. São motivos suficientes para uma intervenção federal? Em tese. Segundo o Artigo 34 da Constituição Federal, a União deve intervir quando autoridades locais se mostram incapazes de garantir direitos humanos, como ocorre em Pedrinhas, e a segurança da população, como aconteceu do lado de fora do presídio. No entanto, existem condições políticas para que isso ocorra? Na realidade, não. E isso é reconhecido até por Flávio Dino, presidente da Embratur, pré-candidato ao governo do Maranhão e principal opositor ao governo de Roseana Sarney no Estado. O motivo é simples: nos oito anos de governo Lula e nos dois primeiros da presidenta Dilma, o ex-presidente José Sarney foi um dos esteios – talvez o principal – da estabilidade política. O que não é pouco num país traumatizado pelo escândalo do chamado mensalão, que antecedeu a aliança entre PT e PMDB, os dois maiores partidos do Congresso Nacional. Quer dizer então que a política se sobrepõe à ética, à justiça, aos direitos humanos? Na realidade, não. Mas não custa lembrar que, um ano atrás, ônibus eram incendiados em São Paulo e o Primeiro Comando da Capital, o PCC, ordenava, também de dentro dos presídios, ataques contra a população. E ninguém cogitou uma intervenção federal em São Paulo – o que também não ocorreu nem quando 111 detentos foram massacrados no extinto presídio do Carandiru, na gestão de Luiz Antonio Fleury. Ao governador Geraldo Alckmin, foi confiada a capacidade de reagir diante da onda de violência recente em São Paulo. O mais provável é que o mesmo direito se dê a Roseana Sarney no Maranhão, até porque a intervenção é uma medida de caráter absolutamente excepcional, que teria óbvias repercussões políticas. A principal delas, a desmoralização de seu governo e a implosão da aliança PT-PMDB – o que interessa a muitos que hoje gritam por uma intervenção, talvez até mais do que a defesa dos direitos humanos. O procurador-geral Rodrigo Janot deve apresentar um pedido de intervenção e fontes próximas à procuradoria-geral da República afirmam que ele aguarda o “melhor momento” para isso. Uma medida extrema, em tese, deveria ser tomada pelo plenário do STF. Mas também pode ser decidida em caráter liminar pelo presidente da corte, Joaquim Barbosa, que está em férias. Será? 3#2 GISELE VITÓRIA Gisele Vitória é jornalista, diretora de núcleo das revistas ISTOÉ Gente, ISTOÉ Platinum e Menu e colunista de ISTOÉ A maré virou... O sucesso da minissérie da Globo “Amores Roubados”, que estreou com grande audiência (31 pontos no Ibope), abrandou a inquisição pública que Isis Valverde vem sofrendo nas redes sociais. Desde a polêmica de que foi o pivô da separação de Grazi Massafera e Cauã Reymond, com quem contracena na série, a atriz foi vítima de um interminável assédio moral digital. Diariamente era bombardeada com palavras desrespeitosas, machistas e agressões injustificáveis em seu Instagram. Após a estreia da minissérie, a maioria dos comentários elogia sua atuação como Antônia. “Não tenho como fugir disso. Acho que rebater é pior. Não pode. Você tem que relevar, tentar entender e viver da sua maneira”, disse a atriz em entrevista ao jornal “Extra”. Agora, Isis segue em frente e aproveita a maré de novo a seu favor. É o amor... A escritora e roteirista Adriana ­Falcão está na reta final de seu novo livro. Narra a história de amor de seus pais, Caio Franco de Abreu e Maria Augusta. “O amor é o narrador. ‘Ele’ se apresenta e explica que teria milhões de histórias para contar, já que é protagonista de todas as histórias de amor da humanidade”, diz ela. “Mas ‘o amor’ resolveu contar essa história através das cartas reais que meus pais trocavam.” Esta semana, Adriana finaliza em Petrópolis a obra para ser publicada no segundo semestre pela Intrínseca. “Meus pais se amavam a ponto de se maltratar, mas não conseguiam viver longe. Aos 45 anos, ele se matou. Minha mãe morreu de overdose por não conseguir viver sem ele.” A história mexe com as emoções da roteirista. “Tinha 18 anos quando meu pai se suicidou, e estava grávida da primeira filha, Tatiana. Depois de eu ter Clarice, minha mãe morreu. Em seguida fiquei grávida da Isabel.” No ano passado, Adriana achou o baú com as cartas. “Estava com as minhas irmãs e me emocionei muito enquanto as lia.” Balas Ao contrário... O ponto final do namoro com o jogador Neymar foi dado pela atriz Bruna Marquezine. “Ela não segurou a onda de conviver com o universo que envolve os jogadores de futebol, sempre rodeados de mulheres”, diz uma amiga da atriz. Nos últimos dias, o craque postava frases enigmáticas no Instagram enquanto se consolava com a família em Barcelona. Bruna se jogou no trabalho. Está gravando “Em Família”, próxima novela das nove da Globo. “Valsa” de 15 anos com Chico Buarque Ana Carolina começou 2014, ano em que celebra 15 anos de carreira, realizando um sonho: gravou um clipe de sua música “Resposta da Rita” com Chico Buarque. A canção homenageia a música “A Rita”, composta por ele em 1965. “Quando gravamos, lá em casa, fiz tudo como manda o figurino. Só depois a ficha caiu: era meu ídolo cantando comigo”, diz ela. Uma espécie de valsa de 15 anos de carreira aconteceu na gravação. “Ele me tirou para dançar e me deixei levar. Quem resiste a tanto charme?” A cantora revela que foi Maria Bethânia quem lhe deu a ideia de compor a resposta à canção de Chico. “Como não levar adiante uma ideia da ‘rainha’? Pensamos em cantar juntas, mais aí ela veio e disse: ‘Faça com o Chico’.” A canção faz parte do repertório do novo show de Ana Carolina #AC, que estreia dia 31, em São Paulo. Triângulo das bermudas SEM CHUVA - Cristine e Eduardo Paes. Mariana Rios na piscina do Copa. No Chopin, Nestor Rocha e Liliana Rodriguez e Narcisa Tamborindeguy Em tempos de bermudas liberadas para o serviço público no Rio, a bermuda cáqui do prefeito Eduardo Paes reinou no Réveillon do Copacabana Palace. “Com o calor na cidade nem pensei em outra opção”, disse Paes. Naquela noite, ele sabia que o bom tempo estava garantido. Enquanto a peça usada pelo prefeito chamava a atenção, um verdadeiro “Triângulo das Bermudas”, com seus mistérios climáticos, teria sido “montado” sob o céu de Copacabana. Visava o desaparecimento de qualquer vestígio de chuva na hora da queima de fogos. Liderados pela médium Adelaide Scritori, da Fundação esotérica Cacique Cobra Coral – para minimizar chuvas –, médiuns voluntários concentraram-se em uma tenda armada na areia da praia. A operação espiritual ocorreu após uma conversa no gabinete do prefeito, no dia 23. Os convênios anuais – sem fins lucrativos – com a Cobra Coral estavam por um fio. A Fundação Rio Águas e a Secretaria de Obras não tinham enviado os relatórios de execução de drenagens. É a moeda de troca exigida para a proteção do cacique. Após um alerta de que a cidade entraria em estado de atenção, a Cobra Coral recebeu e-mail do chefe de gabinete da fundação Rio Águas, Paulo Luiz da Fonseca, com os relatórios. E um ofício do subsecretário de obras, José Iran Peixoto Junior. Depois do corre-corre, tudo deu certo. A ponto de a noite garantir o banho de piscina da atriz Mariana Rios no Copabana Palace e a visão perfeita dos fogos no badalado edificio Chopin. Para ser atriz, a top não veste Prada Uma das queridinhas de Miuccia Prada e presença certa em todos os desfiles das marcas da estilista, a top Daiane Conterato desta vez disse não, e estará ausente no desfile do inverno 2015 da grife Prada, em fevereiro. O motivo? “Vou investir em um curso de interpretação. Na semana que vem, estarei em São Paulo por 15 dias para um curso com Daniel Lopes. Tive que cancelar duas apresentações, da Prada e para o estilista Haider Ackermann. Provavelmente terei que cancelar também os desfiles de alta-costura”, conta a top. Daiane também aproveita sua estada por aqui para bater o martelo na compra de um apartamento. “Quero ter um lugar só meu em São Paulo. Fico em flats e é bom ter um canto no Brasil”, diz a modelo, que acabou de fotografar para as revistas “W” e “Dazed & Confused”. 3#3 BRASIL CONFIDENCIAL Por Claudio Dantas Sequeira (interino) Vão faltar ministérios? A primeira etapa da reforma ministerial já terminou. Envolveu conversas entre Dilma, Lula, Aloizio Mercadante e Jaques Wagner. A segunda etapa envolve vagas para ministros que vão ocupar as cadeiras de quem vai embora. É a parte mais difícil. Um exemplo: depois de perder a Saúde, o plano B de Ciro Gomes (foto) é a Integração. O PMDB, que chegou antes na fila, aceita mudar-se para Cidades, mas aí é o PP que não quer jogar assim. Num jogo embolado, o prazo da reforma, que era janeiro, já mudou para fevereiro e pode ressuscitar a conversa, eterna nessas horas, de que falta ministério para tanto apetite. Como já são 39 pastas, essa visão circula em Brasília apenas como piada – ao menos até agora. Faltou combinar Na última semana de trabalhos no Congresso, os parlamentares prometeram reagir contra a tendência do Supremo Tribunal Federal (STF) de decidir questões relativas ao trabalho e funcionamento do Legislativo. Todos os partidos concordaram. Mas 48 horas depois o PPS entrou com uma ação querendo que a corte obrigue o Parlamento a votar a proposta que criminaliza a homofobia, alegando omissão dos congressistas. Ministra reticente (1) A ministra do STF, Rosa Weber, tem dito a colegas que não está confortável para assumir a presidência da primeira turma da corte no próximo ano. Pelo critério de revezamento, ela seria a substituta do ministro Luiz Fux. Ministra reticente (2) A mesma Rosa Weber rejeitou a relatoria no processo sobre o propinoduto tucano. Marco Aurélio Mello, que acabou ficando com o caso, desmembrou o julgamento, separando réus com direito a um segundo grau de jurisdição daqueles que serão julgados diretamente no STF. Os petistas da Ação Penal 470 tentaram e não conseguiram o desmembramento. Marco Aurélio votou a favor do desmembramento dos petistas. Rosa votou contra. Ataque pela base Os deputados vão começar o ano de 2014 em uma bela enrascada. A Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) aprovou a PEC 361, projeto que define regras para a carreira de policial federal. Na prática, os agentes federais defendem uma equiparação das carreiras com os delegados – grandes adversários da proposta. Releitura da conta Técnicos do Senado desconfiam que o presidente Renan Calheiros (PMDB-AL) exagera na divulgação dos cortes de orçamento, preferindo divulgar apenas valores efetivamente pagos e ignorando a rubrica de valores empenhados para o próximo ano. Mico maranhense Assessores de Roseana Sarney levaram uma bronca pela produção do vídeo do pronunciamento da governadora exibido na segunda-feira 6. Além das falhas de áudio, no fundo da imagem uma foto borrada da presidenta Dilma Rousseff se destacava em comparação com o retrato da governadora, pendurado na parede. A imagem da presidenta foi impressa em cima da hora e foi para a moldura ainda molhada e com jeito de amassada. Notícias do passado Cresce a convicção em Brasília de que o trabalho final da Comissão da Verdade, a ser entregue em dezembro, desmentirá o ceticismo da maioria dos observadores. Realizando pesquisas junto a vítimas da repressão, a comissão deve trazer novidades relevantes em três áreas – ao menos. No capítulo dos trabalhadores, os dados deixam claro que a perseguição a militantes operários e assalariados, em geral, foi muito mais cruel e sistemática do que se pensa. Em outro tema, tortura a mulheres, em particular grávidas, será possível registrar marcas especialmente dolorosas de violência. Os documentos mostram também o papel lamentável de diplomatas brasileiros no atendimento de exilados e seus familiares. Cartão milionário O Espírito Santo sofre com a tragédia das chuvas, mas o Amazonas é o campeão de gastos no cartão da Defesa Civil, que transfere recursos sem licitação para compras em situação de emergência. O Amazonas já gastou R$ 42 milhões no cartão, contra R$ 438 mil do Espírito Santo. Toma lá dá cá Deputado André Figueiredo (PDT-CE), autor da lei que fortaleceu regras contra produtos piratas. ISTOÉ – O brasileiro deve comprar o mascote oficial da Copa produzido na China ou as versões piratas feitas aqui sem licenciamento? Figueiredo – Sem dúvida a pirataria deve ser combatida, mas é absurdo o Brasil permitir a importação dos mascotes da Copa que vai ser aqui. ISTOÉ – A Fifa licencia os produtos e escolheu a fábrica da China. O que o Brasil pode fazer para obter receita com Fulecos? Figueiredo – Pelo menos os produtos de segunda linha devem ser confeccionados no Brasil. Esses produtos devem ser altamente taxados na importação. O governo tem de se impor. ISTOÉ – As empresas e os trabalhadores brasileiros serão prejudicados? Figueiredo – Esses pequenos suvenires geram muitos postos de trabalho e riqueza. É um absurdo o brasileiro ter de comprar um Fuleco da China se não quiser um mascote considerado pirata. Rápidas * Com o afastamento do piauiense Wellington Dias para disputar o governo do Estado, Humberto Costa, de Pernambuco, é o mais forte candidato à liderança do PT no Senado. Outro concorrente, Paulo Paim, não tem apoio do Planalto. * Apareceu uma aliança que pode destruir o projeto do deputado José Guimarães (PT-CE) de se tornar senador em 2014. Mesmo aliado de Dilma Rousseff, o governador Cid Gomes deve apoiar a candidatura de Tasso Jereissati (PSDB-CE) ao Senado. * No segundo semestre de 2014 o Brasil irá ao G20 parlamentar. É um encontro nobre, para o qual a maioria dos parlamentares não está preparada. No momento, encarregaram assessores para levantar projetos para serem apresentados. Retrato falado “O golpe de 64 não foi destino nem fatalidade. Os personagens tomaram decisões que levaram a um desfecho. Mas havia alternativas” Autor de uma premiada biografia sobre João Goulart, o historiador Jorge Ferreira retorna às livrarias em março, com o livro “1964. O Golpe Que Derrubou um Presidente, Pôs Fim ao Regime Democrático e Instituiu a Ditadura no Brasil”, escrito em parceria com Ângela Castro Gomes. Com lançamento previsto para 13 de março, 50º aniversário do comício da Central do Brasil, onde Jango assinou as reformas de base, a principal novidade do livro é mostrar que a queda de Jango não era um processo inevitável, mas envolveu uma escolha política dos principais personagens políticos do País naquele momento. A tolice e a bandeira Na semana em que o site do PT no Facebook cometeu a tolice de xingar Eduardo Campos de “tolo” e disse que Marina Silva é o “ovo da serpente”, o site do PSB exibiu uma imagem estranha: uma bandeira nacional onde a divisa “Ordem e Progresso” estava encoberta por uma mancha branca. O PSB explica que é uma questão de estilo. Confusão alagoana A Assembleia Legislativa de Alagoas vive pela segunda vez uma crise feia. Desde novembro, a Mesa Diretora está afastada, acusada de desviar dinheiro da folha de pagamento e da manutenção da Casa. Nos últimos dias do ano, descobriu-se que os recursos dos salários e do 13º dos funcionários sumiram do caixa no mesmo dia em que os deputados foram avisados do afastamento. A Mesa provisória não conseguiu pagar as contas e os servidores estão sem salários. Os sindicatos estão sendo obrigados a negociar justamente com os parlamentares acusados de corrupção. Em 2008, a Mesa Diretora já havia sido afastada pelo desvio de R$ 300 milhões. 3#4 RICARDO ARNT - DESTRAVOU? Ricardo Arnt é diretor da revista Planeta Apesar das dificuldades econômicas, o resultado dos últimos leilões de concessões sugere que o governo pode estar destravando um novo ciclo de investimento em infraestrutura. O último leilão da concessão de rodovias de 2013, o da BR-040 (Brasília-Juiz de Fora), estabeleceu um novo marco para o debate político-eleitoral de 2014. Depois de nada arrematar nas últimas concorrências (e perder mercado), o grupo Invepar entrou para ganhar e venceu sete empresas oferecendo um deságio de 61%. Propôs uma tarifa de pedágio de R$ 3,32 a cada 100 km, menor do que os R$ 3,34 pedidos pelo governo na primeira tentativa de leilão, em janeiro, adiado após o desinteresse das empresas. O governo reviu suas condições, subiu o teto do pedágio para R$ 8,30 e acabou colhendo a tarifa de R$ 3,32! A concorrência superou as expectativas e demonstrou suas virtudes. Em sete disputas em 2013, o governo transferiu para a iniciativa privada a modernização de 4.248 quilômetros de estradas, a maioria a ser duplicada, que deverão induzir o escoamento e a produção do agronegócio a um novo patamar. Junto com a nova Lei dos Portos, regulamentando a criação de terminais privados, as medidas deverão contribuir para uma mudança de escala na economia. Muitos consideravam essa evolução impossível. Apesar de crescentes dificuldades econômicas – balança comercial em queda, desajuste fiscal, inflação alta, falta de investimento e elevação dos gastos sociais (aumento do salário mínimo, Previdência Social, Bolsa Família, seguro-desemprego, etc) –, o governo parece estar destravando um novo ciclo de investimento em infraestrutura. Em novembro, cinco consórcios disputaram o leilão dos aeroportos Galeão e Confins, vencidos com ágios de 294% e 66%, respectivamente. Tomara que a abertura para investimentos se expanda para aeroportos, ferrovias e saneamento. Na verdade, trata-se de uma desestatização parcial, na medida em que o governo financia as novas concessões por meio do BNDES e dos fundos de pensão, quando não mantém altas participações nas operações, como 49% da Infraero. Sem dúvida, desestatiza-se a gestão. Na véspera do Natal, um aporte de R$ 1,4 bilhão do BNDESPar aumentou a participação estatal na Odebrecht TransPort de 30% para 40,61%. O marco da virada foi o leilão de concessão do Campo de Libra do pré-sal, em outubro, após seis anos de atraso e batalhas ideológicas estéreis, durante os quais os Estados Unidos iniciaram a exploração barata do gás do xisto e o México abriu sua estatal de petróleo, ameaçando todo o valor do pré-sal. A vitória do consórcio formado por Petrobras (10%), Shell (20%), Total (20%) e as chinesas CNPC (10%) e CNOOC (10%) abençoou o modelo de partilha, mas escancarou suas limitações ao registrar apenas uma proposta. Não houve concorrência nem ágio. Prevaleceu o lance mínimo fixado no edital, de as empresas pagarem com 41,65% do excedente de petróleo produzido (descontado o custo de extração). Se tivesse havido concorrência, o País teria ganhado mais. Dificilmente poderia ser diferente. Além de proprietária estatutária de 30% das jazidas do pré-sal, o regime de partilha impõe a Petrobras como a operadora exclusiva de todos os campos. Que consórcio se organizaria para disputar com a estatal tendo-a obrigatoriamente como operadora? Esse desenho não incentiva a concorrência. 4# BRASIL 15.1.14 4#1 O GOLPE DE KENNEDY 4#2 MPL PARA EXPORTAÇÃO 4#3 OPERAÇÃO DUPLA 4#4 PARA QUE SERVEM NOSSOS CONSULADOS E EMBAIXADAS? 4#5 BARBÁRIE BRASILEIRA 4#1 O GOLPE DE KENNEDY Gravações revelam que o presidente dos Estados Unidos cogitou uma intervenção militar no Brasil para derrubar o governo João Goulart Meses antes do golpe militar de 1964, o Brasil esteve na mira de uma intervenção armada dos Estados Unidos. É isso o que mostram registros de conversas entre o ex-presidente americano John Kennedy, o seu embaixador no Brasil, Lincoln Gordon, e assessores. Num dos diálogos, em outubro de 1943 (46 dias antes de ser assassinado a tiros no Estado do Texas), Kennedy interrompe uma análise da conjuntura política brasileira feita pelo diplomata e o questiona sobre a possibilidade de Washington usar seu aparato militar para derrubar o governo democrático de João Goulart. “Você vê a situação indo para onde deveria? Acha aconselhável que façamos uma intervenção militar?”, questiona o presidente. A resposta de Lincoln Gordon é esclarecedora: “Essa é uma outra categoria, que eu chamo de ‘contingência perigosa possivelmente requerendo uma ação rápida’. Esse é o principal problema.” CONSPIRADORES - O presidente John Kennedy e o embaixador Lincoln Gordon: eles temiam que o Brasil se tornasse "uma nova Cuba" As gravações disponibilizadas ao público pelo jornalista Elio Gaspari no site recém-lançado “Arquivos da Ditadura” fazem parte do acervo da Biblioteca Kennedy e foram guardadas graças a uma decisão do ex-mandatário da Casa Branca de manter registros de diálogos para que fossem alvos de pesquisas futuras. Em outras conversas gravadas, o presidente John Kennedy e o embaixador Gordon revelam o que pensam sobre João Goulart. Para eles, Jango era um ditador populista com fortes inclinações esquerdistas. Nesse contexto, os Estados Unidos temiam que o Brasil se tornasse “uma nova Cuba” (palavras usadas pelo embaixador), colocando em risco os interesses da Casa Branca durante o ápice da Guerra Fria travada com a União Soviética. Como se sabe, a intervenção armada americana nunca saiu do papel. Em 1º de abril de 1964, forças militares nacionais depuseram o governo de João Goulart. O movimento golpista contou com amplo apoio do sucessor de John Kennedy, Lyndon Johnson. Em uma operação conhecida como Brother Sam, uma frota com 11 navios americanos (confira quadro) foi enviada ao Brasil às vésperas do golpe militar. Antes de se aproximarem da costa brasileira, porém, as embarcações retornaram. João Goulart já havia sido deposto da presidência da República e o golpe militar estava consolidado. O regime de exceção se perpetuou por 21 anos e serviu de inspiração para uma sucessão de golpes em outras nações da América do Sul. A história vira sucata Ícone máximo do apoio do governo dos Estados Unidos ao golpe de 1964, o porta-aviões da Marinha americana USS Forrestal vai virar sucata. Enviado pela Casa Branca ao Brasil como parte de uma frota de 11 embarcações que daria suporte e apoio ao golpe militar contra o presidente João Goulart, o USS Forrestal, que já foi um dos maiores do gênero no mundo, chegou a ser oferecido em 1993 às autoridades brasileiras para que se transformasse em fonte de estudos. Como o País recusou a oferta, o navio ficou esquecido todos esses anos. Agora, uma empresa americana vai desmontá-lo no Texas em troca do direito de vender componentes da embarcação reciclados e de um simbólico pagamento de US$ 0,01 realizado pelo governo americano. 4#2 MPL PARA EXPORTAÇÃO Inspirador das manifestações de junho do ano passado no Brasil, o Movimento Passe Livre é investigado pelo governo mexicano por participar da organização de protestos no país Pedro Marcondes de Moura Ao liderar as manifestações de junho do ano passado, o Movimento Passe Livre (MPL) ganhou projeção dentro e fora do Brasil. Desde então, vieram muitos convites de grupos estrangeiros interessados em trocar experiência com os jovens responsáveis por levar milhões de pessoas às ruas e forçar governantes a desistir de aumentar tarifas do transporte público. Alguns desses convites foram aceitos. Segundo reportagem publicada há alguns dias pelo jornal mexicano “El Universal”, o MPL está participando, de forma ativa, de protestos no país. Com base em documentos obtidos junto ao governo, o jornal afirma que sete integrantes do MPL estão em solo mexicano fornecendo consultoria ao grupo PosMe Salto, cujo nome é uma referência à sua principal estratégia de manifestação: incentivar os usuários a saltar as catracas do metrô para não pagar a passagem. Os protestos do PosMe Salto, iniciados em dezembro na capital mexicana, se insurgem contra o aumento de 60% nas tarifas do metrô. De acordo com o “El Universal”, a ação do MPL representa uma violação à soberania do México. INTERCÂMBIO - À esq., integrante do MPL protesta nas ruas da capital do México O MPL nega participação nos protestos. “O alardeio da imprensa mexicana corresponde certamente ao incômodo que causam as crescentes mobilizações”, disse o grupo brasileiro em nota. “Atacar integrantes do MPL, que nada têm a ver com tal movimento, não reduzirá a sua força.” Apesar de declarar que não se envolveu, do ponto de vista institucional, com as manifestações, o MPL admite que alguns de seus integrantes possam ter ligações com os protestos. É o caso, segundo o “El Universal”, de Caio Martins Ferreira, estudante da Universidade de São Paulo (USP), e de Maria Aguilera. Há, inclusive, registros fotográficos deles nas manifestações. À ISTOÉ, Lucas Monteiro, um dos líderes do MPL, diz que os sete colegas estão no México “em caráter pessoal” para eventos relacionados à comemoração do 20º aniversário do levante do Exército Zapatista de Libertação Nacional (EZLN). “O movimento faz intercâmbios e já participou de encontros em vários países, como Argentina e Uruguai”, diz Lucas Monteiro. Nessas ocasiões, o tema em pauta é invariavelmente o mesmo: o processo das manifestações no Brasil. “A troca de experiência é uma coisa normal”, afirma Monteiro. “O próprio MPL espelhou-se nos movimentos antiglobalização.” POSME SALTO - O grupo mexicano leva o nome de sua principal estratégia: pular as catracas 4#3 OPERAÇÃO DUPLA Testemunha reafirma participação de secretários de Alckmin no propinoduto dos trens e STF resolve dividir a investigação Pedro Marcondes de Moura As investigações do escândalo de corrupção na área de transporte sobre trilhos ganharam na semana passada novos desdobramentos. O ministro Marco Aurélio Mello, do Supremo Tribunal Federal (STF), sinalizou que desmembrará o inquérito que apura o pagamento de propina a funcionários públicos e políticos. Segundo a denúncia, o dinheiro era pago por empresas interessadas em firmar contratos com o Metrô de São Paulo e a Companhia Paulista de Trens Metropolitanos (CPTM). Na prática, a decisão, que só aguarda parecer da Procuradoria-Geral da República, divide a investigação.Procuradores e promotores paulistas vão investigar criminalmente apenas integrantes sem foro privilegiado do esquema perpetuado em sucessivas gestões do PSDB à frente do Estado. A outra parte da investigação permanecerá em Brasília. Nela aparecem os nomes do deputado federal Arnaldo Jardim (PPS) e dos secretários do governo Geraldo Alckmin, Edson Aparecido (PSDB); da Casa Civil, Rodrigo Garcia (DEM); do Desenvolvimento Econômico, e José Anibal (PSDB), da Energia. Os quatro foram acusados pelo ex-dirigente da Siemens, Everton Rheinheimer, de receber suborno. Em depoimento à Polícia Federal, o executivo relata ter acertado pessoalmente o pagamento de propina com Rodrigo Garcia. Na época, o secretário de Alckmin comandava a Comissão de Transportes da Assembleia Legislativa de São Paulo. Everton também afirma ter negociado suborno com um intermediário do secretário de Energia, o tucano José Anibal. Todos negam qualquer envolvimento com o escândalo de corrupção. PROXIMIDADE - Governador Geraldo Alckmin (PSDB) e seu secretário Rodrigo Garcia (DEM), acusado de receber propina Com o desmembramento, as investigações sobre essas e outras acusações do propinoduto devem avançar. A decisão do STF foi elogiada por promotores e procuradores paulistas. Com ela, a força-tarefa que apurou o caso desde o início e chegou aos indiciados será retomada. “Se o inquérito inteiro ficasse em Brasília, o ritmo das investigações seria outro. Corria-se o risco até da prescrição de crimes, como o de cartel”, explica um dos responsáveis pela apuração. “Enfim, podemos voltar a realizar oitivas, diligências. Há muito ainda a se investigar e novos envolvidos devem aparecer.” A decisão de repartir o caso, no entanto, levanta polêmica. No mensalão, o próprio Supremo decidiu justamente o contrário. Negou aos acusados sem foro privilegiado, como os petistas José Dirceu e Delúbio Soares, o direito de serem julgados por instâncias de primeiro e segundo grau. Cúpula - Três secretários do governo paulista foram acusados por executivo de receberem suborno da máfia do Metrô 4#4 PARA QUE SERVEM NOSSOS CONSULADOS E EMBAIXADAS? A bilionária máquina diplomática do País proporciona mordomias a servidores públicos, mas falha na missão de dar suporte aos cidadãos brasileiros no Exterior Izabelle Torres e Wilson Aquino Na semana do Natal e do Réveillon, os brasileiros que foram ao consulado de Florença, na Itália, em busca de uma solução para algum embaraço burocrático, foram informados de que as atividades da casa estavam suspensas pelo recesso de fim de ano. No dia 4 de janeiro, a psicóloga amazonense Jaqueline Lopes Marques morreu em um acidente de carro em Los Angeles, nos Estados Unidos, e sua família declarou que não recebeu nenhum suporte da representação consular brasileira. Graças à morosidade das autoridades, o corpo de Jaqueline demorou quase uma semana para ser liberado para o Brasil. Na semana passada, o jornal “Folha de S. Paulo” revelou que o embaixador Guilherme de Aguiar Patriota (irmão do ministro das Relações Exteriores, Antonio Patriota), número dois da missão do País na ONU, mora no Upper West Side, uma das regiões mais nobres de Nova York, em um imóvel alugado por US$ 23 mil mensais, o equivalente a cerca de R$ 54 mil. Detalhe importante: a conta é paga pelos cofres públicos. Em comum, todas as histórias apresentadas aqui revelam a ineficiência da bilionária máquina diplomática do Brasil. LUXO - A embaixada brasileira na Piazza Navona tem obras de arte e teto banhado a ouro Com um orçamento que ultrapassa os R$ 2,2 bilhões, o Ministério das Relações Exteriores gasta R$ 800 milhões apenas com servidores ativos, grande parte ganhando acima do teto constitucional, e outros R$ 400 milhões para manter a estrutura de embaixadas e consulados em 182 postos espalhados pelo mundo. Em Roma, na Itália, o Brasil mantém quatro representações diplomáticas. São duas embaixadas (uma delas no magnífico Palazzo Pamphili, na Piazza Navona, ornado com obras de arte e teto banhado a ouro, além de outra no Vaticano), um consulado-geral e um escritório junto à FAO, braço da ONU para alimentação e agricultura. Para que tudo isso? Procurado por ISTOÉ, o Itamaraty nada informou sobre o alto preço pago pelos brasileiros para sustentar seus tentáculos diplomáticos. Os gastos são bancados pelo contribuinte brasileiro, é claro, mas tratados com sigilo, o que é de estranhar em um País onde a transparência se tornou lei. O órgão tem prometido ano após ano abrir sua caixa-preta de despesas e mostrar como os representantes brasileiros do alto escalão da diplomacia gastam o dinheiro público, mas os sistemas de controle de gastos do governo federal só alcançam um terço das despesas e não incluem detalhes das compras feitas por embaixadas, que são controladas pelo escritório financeiro de Nova York. Só em festas, jantares e recepções, serão mais de R$ 12 milhões para custear eventos no Exterior em 2014. A maioria deles ocorrerá nas residências oficiais dos embaixadores, com o argumento de que ajudam a azeitar as relações dos homens que representam o Brasil em solo estrangeiro com autoridades de outros países. Trata-se, porém, de estratégia questionável cujos resultados práticos nem mesmo diplomatas experientes conseguem listar. A divulgação de que o embaixador Guilherme de Aguiar Patriota mora em um imóvel cujo aluguel custa R$ 54 mil mensais escancarou as mordomias da cúpula diplomática que vive no Exterior. Legalmente, o auxílio-moradia varia de US$ 3,2 mil a US$ 6,6 mil por mês, mas esses valores podem ser driblados por servidores de alto escalão cuja moradia é classificada na categoria de “residência oficial.” Na prática, isso permite o pagamento de aluguel de qualquer quantia. Dois diplomatas ouvidos por ISTOÉ afirmaram que a manobra é aceita pelo ministério apenas em alguns casos, mas sempre a partir de critérios que costumam ser justificados por apadrinhamentos. EMBAIXADA EM BERLIM Estrutura cara, mas ineficiente Do lado de fora dos muros das embaixadas e dos consulados, brasileiros que buscam ajuda efetiva da diplomacia sofrem com a passividade do País diante de problemas que mereciam reações mais firmes e solidárias. A má qualidade dos serviços explica-se por uma prática cada vez mais frequente: a indicação de servidores sem experiência prévia e treinamento para funções de chefia, e até empregados terceirizados para exercer funções de vice-cônsul do Brasil. “Isso foi um absurdo e relata os problemas administrativos que os consulados vivem”, diz Soraya Castilho, presidente da Associação Nacional dos Oficiais de Chancelaria do Serviço Exterior Brasileiro. A maioria dos cidadãos que já enfrentou um problema grave no Exterior descreve uma situação comum. No início, a reação é de passividade total – marasmo que só costuma ser rompido quando vem uma ameaça externa, em particular alguma reportagem em jornal ou tevê. Foi assim no caso dos torcedores corintianos presos na Bolívia sob a arbitrária acusação de assassinato. Graças à inoperância da diplomacia brasileira, foram necessários cinco meses para que todos saíssem da prisão. Os casos não são isolados. “Os nossos diplomatas começaram a agir somente depois que procuramos a imprensa”, afirma a arquiteta Suzana Paschoali, cujo filho, o estudante de artes cênicas da Universidade de Brasília Artur Paschoali, 20 anos, está desaparecido desde 21 de dezembro de 2012, no Peru. “E, mesmo assim, demonstraram um total despreparo para lidar com a questão.” A família acredita que o jovem foi sequestrado por remanescentes do grupo terrorista Sendero Luminoso quando tirava fotos na região de Machu Picchu. Suzana conta que, quando soube do sumiço de Artur, ela e o marido viajaram para Lima, mas encontraram apenas funcionários terceirizados na embaixada brasileira. “Os diplomatas mais tarde se desculparam, alegando que, como era fim de ano, estavam de férias”, lembra a arquiteta, para quem, caso a representação consular tivesse se mobilizado com mais interesse e rapidez, Artur poderia ter sido resgatado. “Agora, quando cobro uma solução, eles ficam irritados”, diz ela. Brasileiros que travam na Justiça disputas com estrangeiros também reclamam da falta de atenção e apoio por parte dos consulados. A advogada paulista Jacy Raduan, 33 anos, relata a situação de desamparo em que se encontrou quando foi pedir ajuda ao consulado para recuperar os dois filhos, de 5 e 7 anos, que lhe foram tomados pela Justiça alemã. Divorciada do pai dos meninos, um advogado alemão, ela levou as crianças em 2009 para visitá-lo na cidade de Baden-Baden. O pai declarou que Jacy tentaria sequestrar as crianças para trazê-las ao Brasil e a Justiça alemã deu a guarda imediatamente a ele. “O pai fez uma declaração falsa ao governo alemão. Fui procurar o consulado e a atendente me disse que o máximo que ela poderia fazer era ouvir o meu lamento”, diz Jacy. Segundo ela, o consulado nem sequer a orientou sobre os procedimentos legais necessários para recuperar a guarda das crianças. Jacy hoje vive no Brasil – sem os filhos. A ineficiência se sucede. Na embaixada de Roma, localizada na histórica Piazza Navona, a servidora pública Aracy Souza tentou sem sucesso um encontro com o embaixador para apresentar os termos de uma parceria comercial entre a multinacional em que trabalha e uma empresa brasileira. Foi informada de que não seria atendida e nem sequer passou da portaria. Acabou conseguindo uma audiência, em Brasília, com o ministro Fernando Pimentel, da Indústria e Comércio Exterior. “Pretendia fechar um acordo de cooperação entre empresas, mas nada consegui em Roma”, diz. “Me fizeram seguir um caminho mais trabalhoso.” Tudo isso se revela pior e mais grave enquanto o Itamaraty não for capaz de explicar, de modo transparente, o destino real do dinheiro que recebe dos cofres públicos. Para que servem palacetes suntuosos se os cidadãos brasileiros – afinal, os que pagam a fatura – são tratados com tamanha indiferença? 4#5 BARBÁRIE BRASILEIRA Cenas chocantes de violência no Maranhão são resultado de dois fenômenos devastadores: a expansão do crime organizado para todo o País e a inépcia da família que governa o Estado há 45 anos Josie Jeronimo A cenas pavorosas de violência no Maranhão provocaram revolta e perplexidade, mas elas são acima de tudo o retrato de um velho fenômeno brasileiro: o crime organizado detentor de poderes sem limites. Mais do que isso: a criminalidade brutal ilustra a inépcia das autoridades. Elas falharam em conter, na década de 70, o aparecimento das primeiras facções em presídios do Rio, organizações que mais tarde se alastraram para as carceragens paulistas e depois, como uma epidemia, chegaram a inúmeros Estados. Tudo isso às vistas de governos de diversas colorações partidárias. Diversos fatores podem ser atribuídos à escalada da violência, mas o poder público, que deveria ser o escudo contra a criminalidade, teve um papel decisivo na disseminação do fenômeno. A estratégia de espalhar líderes do crime organizado para cárceres no Brasil inteiro não enfraqueceu as facções, como imaginaram os gestores da segurança, mas possibilitou a elas criar ramificações. O resultado está aí, nas imagens grotescas vindas do Maranhão. O Maranhão revelou-se campo fértil para criminosos graças ao estilo peculiar de seus governantes. Em 2002, a candidatura presidencial de Roseana Sarney foi implodida pela descoberta de R$ 1,3 milhão em dinheiro vivo no cofre de uma empresa de São Luis, a Lunus, propriedade de sua família e de um empresário local, Luiz Carlos Cantanhede Nunes. Uma décadas depois, Cantanhede encontra-se no centro do colapso do sistema de segurança pública. Sempre amigo da família, é dono da Atlântica Segurança Técnica, empresa que já embolsou R$ 22,4 milhões do governo Roseana para prestar serviços terceirizados ao sistema carcerário. A abastada Atlântica não impediu a rebelião que produziu 59 mortos na penitenciária de Pedrinhas. A família do ex-presidente José Sarney governa o Maranhão há 45 anos. Num Estado onde o culto à dinastia está em toda parte, vive-se sob um regime senhorial de poder sem paralelo no Brasil. O patriarca José Sarney chegou pela primeira vez ao governo de seu Estado nomeado pelos militares, em 1966. Desde então, a família asfixia a crítica e o debate a partir de um monopólio nas comunicações, com seis emissoras de tevê, dez de rádio e o jornal de maior circulação. Hoje, como ontem, o Estado continua nos últimos lugares nas estatísticas que medem o bem-estar da população brasileira. Sarney foi amigo dos generais quando eles governavam o País. Tornou-se presidente da República na democratização e desde 2002 é aliado fiel e insaciável de verbas e cargos do condomínio Lula-Dilma. Embora tenha permitido ampliar os poderes da família, essa situação trouxe poucos benefícios para o conjunto da população. A soma de oportunidades perdidas é enorme. O Brasil conheceu o “milagre” dos generais, o Real de Fernando Henrique, a expansão da classe média com Lula, mas o Maranhão de Sarney e do amigo Cantanhede não viu. Apenas nos últimos 20 anos, 360 dos 1.035 convênios do Estado com o governo federal foram perdidos por erros administrativos. Nesse mundo fechado, a rebelião dos criminosos encarcerados em Pedrinhas produziu horrores, entre eles corpos dilacerados e decapitados. Atacados por bandidos que cumpriam ordens de chefes de bando instalados no interior do presídio, cidadãos das ruas de São Luis passaram dias tentando escapar de chamas no interior de ônibus. Nem todos conseguiram fugir. Uma menina de 6 anos, Ana Clara Santos Souza, morreu com 90% do corpo queimado, depois de sua mãe implorar aos criminosos que poupassem suas vidas. Na semana de labaredas humanas e cabeças cortadas, viveu-se uma típica situação de Maria Antonieta, a célebre rainha fora do mundo que, quando o povo foi às ruas de Paris protestar pela falta de pão, recomendou que comesse brioches: a governadora Roseana lançou uma licitação de R$ 1,3 milhão para a cozinha do Palácio dos Leões, que inclui, entre outras iguarias, 80 quilos de lagosta. HORROR - O velório de Ana Souza, 6 anos, vítima do incêndio no ônibus; suspeitos de incitarem a onda de violência; e policiais diante do Complexo Penitenciário de Pedrinhas (da esq. para a dir.): o crime se organizou graças ao Estado omisso A violência dos últimos dias ilustra o aparecimento, no Maranhão, de uma escola de crime que parecia exclusiva de São Paulo e Rio. Num caso que já fora denunciado em 2011, e que jamais recebeu a devida atenção, funciona em São Luis um braço do PCC, facção que atua nos presídios paulistas. Se a falta de segurança é um problema grave no País inteiro, ela piorou no Maranhão, graças a uma política de segurança suicida. Cada vez mais omisso, o Estado possui hoje o menor efetivo policial per capita de toda a Federação. 01.jpg Uma das bases da política de segurança é a terceirização dos serviços de vigilância de presídios. Ela permite receitas milionárias a empresas que dirigem o sistema, como a Atlântica do velho amigo Cantanhede, partilhando uma verba de ­R­$ 9­0­ milhões, mas reserva uma ninharia para o trabalho essencial de lidar com criminosos que comandam um universo paralelo, violento e organizado. Enquanto o salário de um agente penitenciário do Estado fica em R$ 5 mil mensais, a verba disponível para um terceirizado se limita a R$ 800 por mês, quantia que não permite empregar cidadãos com um preparo mínimo para lidar com situações de violência e alto risco. As brechas do sistema de segurança transformaram o Estado “numa terra fértil para o êxodo de criminosos,” afirma Lucylea França, estudiosa de segurança pública da Universidade Federal do Maranhão. Para a professora, até hoje o Maranhão vive numa “ditadura criada nos anos 60, o que deixou o Estado exposto ao crime organizado.” Como já acontece nos Estados do Sul, no Maranhão o tráfico de drogas já é hoje a principal causa da prisão de mulheres e a violência avança em escala crescente: o número de homicídios aumentou 61% nos últimos três anos. Nesse ambiente, ninguém tem paz, nem o secretário de Segurança, um veterano policial, Aluísio Mendes, grande amigo da família, obviamente. Mendes costuma deslocar-se pela cidade sob a proteção de vários círculos de guarda-costas, num espetáculo que causa estranheza e temor e que os brasileiros só costumam ver em filmes sobre a guerra perdida de policiais contra traficantes na fronteira do México com os Estados Unidos. 5# COMPORTAMENTO 15.1.14 5#1 RISCO NA NEVE 5#2 PERIGO NAS PISCINAS 5#3 UM PERSONAGEM CONTRA O PRECONCEITO 5#4 UM MACUMBÓDROMO PARA O RIO 5#5 ABUSO EM ALTO-MAR 5#1 RISCO NA NEVE Esquiar fora da pista e o aumento de praticantes podem explicar o grande número de acidentes nas estações de esqui nesta temporada Raul Montenegro Destino de brasileiros endinheirados que querem passar as férias longe das praias, as estações de esqui internacionais nunca foram vistas no País como locais perigosos, sendo frequentados só por caçadores de emoções. Essa percepção, porém, começou a mudar depois que o lendário piloto de Fórmula 1 Michael Schumacher, sete vezes campeão mundial, sofreu um acidente esquiando nos Alpes franceses no fim do ano passado. Dias depois, outra alemã, a chanceler Angela Merkel, machucou a pélvis praticando o esporte na Suíça. Enquanto a chefe de governo apenas cancelou compromissos e já foi fotografada de muletas, a lesão do ás do automobilismo é mais crítica: ele está em coma induzido depois de bater a cabeça ao esquiar num pequeno trecho rochoso entre duas pistas demarcadas. Através da análise da imagem de uma filmadora acoplada no capacete de Schumacher, a equipe responsável pela investigação divulgou na quarta-feira 8 que ele não saiu da pista para ajudar outro esquiador, como chegou a ser divulgado. Também foi constatado que o piloto não estava em alta velocidade. CHOQUE - O heptacampeão mundial de F 1 Michael Schumacher: lesão na cabeça e coma induzido Nesta temporada, uma série de casos na Europa assustou turistas. Na Áustria, foram ao menos 11 mortes em duas semanas. Lá, a principal causa foram as avalanches. Segundo o Instituto para Pesquisa de Neve e Avalanche (SLF, na sigla em alemão), a situação é crítica e afeta principalmente quem esquia fora das pistas, uma modalidade mais perigosa que vem ganhando popularidade. Para Laurent Reynaud, delegado geral de Domaines Skiables de France – uma associação de áreas de esqui –, fora das pistas o esporte oferece maior liberdade, mas é mais arriscado. “Pode haver rochas e outras coisas escondidas. Nas pistas esses perigos foram retirados”, afirma. O esquiador brasileiro Jhonatan Longhi considera que o aumento no número de praticantes pode estar por trás das tragédias. “Eles não conhecem os riscos e por isso temos mais mortes”, diz. “Esquiar fora de pista é recomendado somente para esquiadores experientes, que devem estar acompanhados por um guia que conheça o local”, afirma o presidente da Confederação Brasileira de Desportos na Neve, Stefano Arnhold. SUSTO - A chanceler Angela Merkel machucou a pélvis ao esquiar na Suíça Apesar dos casos recentes, dados mostram que esquiar ainda é seguro para a maioria dos praticantes. Na França, principal destino para a atividade no mundo, a associação médica Médicins de Montagne registrou 2,44 acidentes por mil dias esquiados na temporada 2011-2012, uma pequena baixa em relação à anterior. Nos Estados Unidos, 54 pessoas morreram no período, ou 5,5 fatalidades por milhão de esquiadores. No Brasil, a chance de morrer assassinado é quase 50 vezes maior. Mesmo assim, especialistas recomendam cautela. Usar equipamentos de proteção é uma das principais precauções. “Se Schumacher não estivesse com capacete, o acidente poderia ter sido fatal”, diz Arnhold. Para ele, o esqui não é perigoso para quem tem cuidado. “Assim como o mar, a montanha exige respeito. Ninguém se aventuraria em alto-mar num local desconhecido.” 5#2 PERIGO NAS PISCINAS Morte de três crianças vítimas da sucção de bombas de água em seis dias é um alerta para a falta de segurança sob as águas. Dos 1,7 milhão de piscinas existentes no Brasil, 90% estão irregulares João Loes Tida como fonte de diversão e alívio para o calor escaldante do verão, a piscina ganhou contornos de armadilha neste começo de ano. Em menos de uma semana, três crianças morreram em acidentes distintos depois de se verem presas pela sucção de ralos de filtragem e recirculação de água enquanto se banhavam. Mesmo com a intervenção de adultos, Kauã Santos, 7 anos, Mariana Oliveira, 8, e Naisla Cestari, 11, não conseguiram se desvencilhar da força de aspiração das máquinas e se afogaram. “A sucção é causa de cerca de 35% das mortes por afogamento em piscinas de crianças com idade entre 1 e 9 anos”, estima David Szpilman, diretor-médico da Sociedade Brasileira de Salvamento Aquático (Sobrasa), para quem essas tragédias ainda ocorrem porque as pessoas continuam acreditando que esses acidentes só acontecem com os outros. Com isso, a piscina acaba sendo construída e mantida com desleixo e sem respeito aos parâmetros que garantem a segurança de seus usuários. Segundo estimativa da Sobrasa, do 1,7 milhão de piscinas existentes no Brasil, cerca de 90% estão, de alguma maneira, irregulares. O fato de o País não ter uma lei federal que regule a construção e manutenção desses espaços favorece o improviso. “O que temos são normas técnicas e algumas poucas leis municipais”, diz Eugênio Tolstoy de Simone, diretor-técnico da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT). E como a fiscalização das leis, nos poucos municípios onde elas existem, é falha e as normas técnicas não têm força regulatória, há verdadeiras arapucas sob as águas. Mas há formas, simples até, de se evitar esse tipo de acidente (leia quadro). Para quem usa piscinas coletivas, por exemplo, vale contar o número de ralos antes de mergulhar – quanto mais ralos, mais diluída a força de sucção –, além de buscar informações com o guarda-vidas sobre botões para desligamento de emergência da bomba. Questionar se os ralos são do tipo antiaprisionamento, ou seja, curvos e com grade fina o suficiente para impedir o encaixe de dedos e cabelos, também é importante. “Mas fundamental mesmo é ter sempre um responsável de olho”, diz Szpilman, da Sobrasa. Em condomínios sem guarda-vidas, os pais podem se alternar nessa função. Tudo para garantir que a diversão preferida do verão não acabe em tragédia. 5#3 UM PERSONAGEM CONTRA O PRECONCEITO Em uma interpretação primorosa na pele do vilão regenerado Félix, o ator Mateus Solano leva o tema da homossexualidade para a casa das famílias brasileiras. Especialistas explicam o que isso significa Camila Brandalise e Michel Alecrim CENA 1 - Eu gostei da Edith. Tínhamos uma relação conjugal. - Jura? Vocês iam para a cama mesmo? - Pra você ver que talvez eu não seja um cara assim tão definido, apesar de ter minhas preferências. - Ué, Félix, você pode ser bissexual. - Eu bissexual? Bichexual, né? CENA 2 - Niko, sinceramente, não faço o seu tipo. E nem você o meu. - Félix, você não tem tipo. Você tem pressa. Eu chamei você para dormir no quarto de hóspedes. - Você me chamou com segundas intenções. - Não sou esse tipo de pessoa que quer se aproveitar de alguém que chega aqui completamente por baixo. - Por baixo? Frase de duplo sentido, hein? Quem gosta de ficar por baixo? - Que? Eu não gosto nem de ficar por baixo. QUÍMICA - Um é o mau-caráter que passa por um processo de redenção. O outro é o chef de cozinha que sonha em formar uma família. Juntos, Mateus Solano (à esq.) e Thiago Fragoso se tornaram o centro das atenções da trama das nove Os diálogos acima foram travados na terça-feira 7 em um programa que, tradicionalmente, prima pelo conservadorismo, a novela das nove. Foi visto por cerca de oito milhões de famílias brasileiras, se considerada a média de audiência nacional da trama no dia, de 40 pontos. A conversa seria mais um roteiro banal de novela caso os personagens envolvidos não fossem dois homens gays que se tornaram o principal par romântico da história – Niko, papel de Thiago Fragoso, e Félix, em interpretação magistral de Mateus Solano. A despeito do formato pouco liberal, “Amor à Vida”, da Rede Globo, tem hoje o primeiro casal gay protagonista de uma novela, justamente a do horário mais nobre da grade. Segundo a Globo, telespectadores chegam a ligar para a Central de Atendimento ao Telespectador (CAT) da emissora para se manifestar a favor da dupla. Em grande parte, os louros pelo sucesso do romance são de Solano. Com uma interpretação minuciosa, pendendo ora para o humor, ora para o drama, o ator de 32 anos fez o espectador torcer para o mau-caráter que, nessa reta final, tem expurgado seus pecados de forma convincente. “Félix conquistou o telespectador como vilão por ser engraçado, emotivo, impulsivo, contraditório, como, em última análise, todos nós somos”, diz o autor Walcyr Carrasco. “A performance de Mateus Solano tem tudo a ver com o êxito da história”, afirma Maria Immacolata Lopes, coordenadora do Centro de Estudos de Telenovela da Universidade de São Paulo (USP). EM CENA - O autor Walcyr Carrasco admite: inicialmente, Niko (à esq.) e Félix não formariam um casal. Agora, telespectadores ligam para a Rede Globo pedindo que eles fiquem juntos Mas há de se pesar outros fatores para o sucesso da dupla gay, principalmente a mudança da sociedade, em que a maioria heterossexual tem se tornado mais sensível a temas ligados ao universo LGBT. Em outros tempos, casais homoafetivos tiveram suas histórias modificadas por causa da rejeição do público – o caso mais emblemático foi o de “Torre de Babel”, exibida pela Globo em 1998, em que duas personagens foram mortas porque os espectadores não aprovaram o romance lésbico entre elas (leia mais na pág. 6). O próprio autor da novela, Silvio de Abreu, admite que, se fosse exibida hoje, a história não causaria tanta comoção. “Casais gays são uma constante nas tramas e já não assustam mais ninguém”, diz ele, que teve outros homossexuais em suas obras: Sandrinho (André Gonçalves) e Jefferson (Lui Mendes), de “A Próxima Vítima”. “A principio, a história deles havia sido vetada até pela emissora”, afirma. Não que o fato de Niko e Félix se envolverem tenha peso para mudar a sociedade ou indique que o preconceito está prestes a acabar. Mas, de alguma maneira, leva para os milhões de famílias que acompanham a trama diariamente um assunto que, em muitos lares, é considerado tabu. O interessante, no caso de “Amor à Vida”, foi que o romance homossexual parece ter sido uma vontade do público seguida por Carrasco, que não planejava, inicialmente, unir Niko e Félix. “Sou muito instável como o autor e justamente por isso é que hoje existe esse casal”, diz. Sempre atento às opiniões alheias, ele afirma que a mentalidade do País está mudando sim. “Casais formados por pessoas do mesmo sexo estão deixando de ser algo marginal à sociedade para entrar na legalidade.” Ver dois gays se tornarem o principal casal romântico de uma novela, um produto de comunicação de massa exibido por uma emissora que, na iminência de perder audiência, sempre pende para o conservadorismo, é indício de que os tempos são outros. “É uma feliz junção de signos artísticos perfeitamente harmoniosos com uma nova etapa da evolução social”, afirma Mauro Alencar, doutor em teledramaturgia brasileira e latino-americana pela USP. De fato, é um tema da agenda do País. Um dos marcos da discussão pelos direitos dos homossexuais se deu em 2011, quando o casamento gay foi reconhecido pelo Supremo Tribunal Federal por unanimidade. “Por que o homossexual não pode constituir uma família? Por força de duas questões que são abominadas pela Constituição: a intolerância e o preconceito”, afirmou à época o ministro Luiz Fux. No ano passado, o Conselho Nacional de Justiça (CNJ) decidiu pela obrigatoriedade dos cartórios de oficializarem matrimônios entre pessoas do mesmo sexo. Também em 2013 a cantora Daniela Mercury assumiu seu relacionamento com a jornalista Malu Verçosa, fazendo o tema voltar à tona com vigor. A discussão, tanto no âmbito legal e político quanto no cultural, contribui para dar visibilidade ao assunto. “É uma maneira de quebrar estigmas retratando a questão com naturalidade. Faz os mais conservadores refletirem e pode ajudar quem está em conflito com a própria sexualidade a ver que outras pessoas passam pelos mesmos dilemas”, diz a psiquiatra Alessandra Diehl, coordenadora do curso de pós-graduação de Transtornos da Sexualidade da Universidade Federal de São Paulo. Para Maria Immacolata, do Centro de Estudos de Telenovela da USP, o folhetim nacional é mais do que um retrato do cotidiano dos brasileiros. “Se fosse só isso, a novela seria muito mais conservadora. Acredito que ela elabora temas sociais e devolve uma discussão mais avançada. Tanto é que, no Exterior, quem vê nossas tramas tem a impressão de que os brasileiros são muito mais liberais do que de fato são”, afirma. Mas, para entender melhor a questão, é importante diferenciar o público do privado, segundo o psicólogo Paulo Tessarioli, especialista em sexualidade. “A temática gay é aceita com mais naturalidade na televisão do que no meio social. Individualmente, o espectador aceita ver um casal homoafetivo e até torce por ele. Porém, encontrar esse casal na rua, no espaço público, ainda assusta, porque coletivamente ainda existe muito preconceito.” Segundo o Grupo Gay da Bahia, organização que compila anualmente agressões contra homossexuais e transexuais, em 2013 foram registrados 306 homicídios de gays no País. O dado faz parte de um estudo inédito que será divulgado no final deste mês. “É um pouco menos do que em 2012, com 338. Mas o Brasil ainda responde por 44% desses crimes cometidos em todo o mundo”, afirma Luiz Mott, antropólogo e fundador do grupo. Já as queixas em relação a crimes de homofobia crescem timidamente. Em São Paulo, por exemplo, segundo a Delegacia de Crimes Raciais e Delitos de Intolerância (Decradi), foram registrados nos anos de 2011, 2012 e 2013, respectivamente, 30, 41 e 49 boletins de ocorrência relacionados a delitos praticados contra a população LGBT – o órgão esclarece que esse número deve ser maior. Para Mott, apesar de as novelas abordarem o mundo gay, ainda há uma forte homofobia cultural. “Muitos telespectadores só aceitam o gay como o engraçado, para provocar riso. É preciso mostrar os tipos diferentes, não só o caricato. Além disso, deviam exibir cenas de intimidade afetiva, como acontece com os casais héteros.” Em “Amor à Vida”, o casal “oficialmente” protagonista, formado por Paloma (Paolla Oliveira) e Bruno (Malvino Salvador), já encenou momentos quentes. Nem isso, porém, foi suficiente para mantê-los em alta. Já sem conflito para ser resolvido – e, consequentemente, sem brilho –, a grande expectativa de desfecho é entre Niko e Félix. Mais do que ficarem juntos, será que os dois vão protagonizar o famigerado beijo gay, um dos grandes tabus da tevê? Um selinho poderia ser um grande final para um casal pelo qual a audiência torce. Mauro Mendonça Filho, porém, diz que isso não é uma preocupação. “Acho que já rompemos outras barreiras na novela. Sendo bem sincero, essa questão até me soa como algo do passado.” Para Carlos Magno Fonseca, presidente da Associação Brasileira de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais (ABGLT), a televisão está atrasada em adiar o tal beijo. “Mas mostrar um casal gay adotando uma criança é até mais importante, pois tem a ver com direitos civis.” Irineu Ramos Ribeiro, autor do livro “A TV no Armário – A Identidade Gay nos Programas e Telejornais Brasileiros”, acredita que dificilmente Félix e Niko vão protagonizar uma cena de afeto mais intensa. “Um beijo iria incomodar o público, e não é isso que a emissora quer.” Com ou sem beijo, o grupo dos personagens inesquecíveis da teledramaturgia nacional ganhou um novo membro, graças à interpretação primorosa de Solano. E pensar que, antes de a novela estrear, o ator se preparava – e até torcia – para ser odiado. “Acho um barato ser um vilão e receber vaias”, diz (leia entrevista nas págs. 4 e 5). A missão era mesmo difícil. Retratado como vítima ou personagem submisso, o homossexual, dessa vez, apareceria malicioso e mau-caráter. Bem diferente do estereotipado Crô, personagem de Marcelo Serrado em “Fina Estampa”, de 2011/2012, e de vários outros papéis que carregavam na afetação. Mas bastou o primeiro capítulo ir ao ar para a “bicha má” se tornar um dos preferidos do público. Mauro Mendonça Filho, diretor da trama, chega a falar do “talento extraordinário” de Solano como explicação para o par com Niko ter dado tão certo. Para Fonseca, presidente da ABGLT, a interpretação é convincente. “O personagem tem o que chamamos de ‘pinta’, usa o linguajar gay, mas não é tão caricato como os de outras tramas.” No papel do bonzinho Niko, o ator Thiago Fragoso, que praticamente virou a “mocinha” da novela, tamanha a torcida para o seu final feliz, também deu muita contribuição para o sucesso da dupla. Tanto que já foi apontado por espectadores como um dos preferidos da trama. “Ele sempre foi carinhoso, justo e lutou para ser pai. Isso floresceu a empatia com o espectador”, afirma Maria Immacolata, da USP. O próprio Fragoso credita ao sonho do personagem de ter uma família uma das razões para a boa aceitação. “Me parece que, numa sociedade conservadora, o desejo de paternidade/maternidade é o melhor atalho para o coração do público”, afirma Fragoso. Soma-se a isso o sofrimento de Niko em diferentes partes da narrativa e, claro, a ótima interpretação do ator, que parece ter ficado ainda melhor desde o início do romance. “Ele fez uma composição sensível e foi o bom caráter da novela”, afirma o diretor Mauro Mendonça Filho. “Ficou fácil torcer pelos dois. Vejo crianças, homens rudes e senhoras conservadoras torcendo por esse amor.” Agora é esperar pelos próximos capítulos. “Estava preparado para ser odiado” ISTOÉ – Você chegou a temer que um personagem gay e vilão provocaria antipatia entre os homossexuais? Mateus Solano - Pelo contrário. Foi um dos meus maiores estímulos, o desafio desse personagem. Não só por ser inédito, mas pelas características desafiadoras mesmo. Eu estava preparado para tudo, até para ser odiado. Eu acho um barato você ser um vilão e receber vaias. ISTOÉ - Por que os personagens gays de “Amor à Vida” conseguiram uma empatia maior do público do que os de outras novelas? Solano - Acho que o Walcyr (Carrasco) escreveu personagens mais humanos. O homossexual sempre foi, e é até hoje, acho que por medo da não aceitação, pintado com tintas muito fortes e estereotipadas. Não que o Félix não tenha essas tintas, mas ele também tem um outro lado, muito humano. E, com o humano, vêm as verdades e as questões que o homossexual passa na nossa sociedade até hoje. Tudo isso está colocado de uma forma muito prazerosa de se assistir. Os personagens são muito carismáticos e têm identificação com o público, mesmo o público em questão não sendo homossexual. ISTOÉ - Em que medida você procurou evitar construir um personagem muito estereotipado ou caricato? Isso ajudou ou atrapalhou a identificação do público? Solano - Em toda a medida eu tentei. Na verdade, quando eu recebi a proposta era fazer um personagem gay que estava dentro do armário. Mas, quando eu li o primeiro capítulo, eu já vi que um cara que fala “pelas contas do rosário”, “salguei a santa ceia” e jargões do universo gay... Ele não podia estar dentro do armário. Fui abrindo mão da seriedade que eu havia pensado para o personagem e passei a aceitar que o Walcyr (Carrasco) estava escrevendo um personagem bem mais colorido. Aos poucos, eu também percebi que essa histrionice do Félix tinha muito mais a ver com a sua vontade de aparecer do que qualquer outra coisa. O que eu acho mais precioso foi a cena em que foi “revelada” a homossexualidade do Félix. A reação de todo mundo não foi de surpresa, foi de “ah, meu Deus, vou ter que mexer neste vespeiro”. Quando cai a máscara, quem sai do armário é a sociedade que está em volta do Félix e a família dele. Eles que têm que sair do armário e aceitá-lo como ele sempre foi. Por mais que falasse que não era gay, ele gritava isso aos sete ventos. ISTOÉ - É possível para o Félix se redimir sem mudar seu estilo, ou seja, o público vai relevar seu lado sarcástico? Solano - Eu acho que é o que o público quer. O Walcyr (Carrasco) escreve para o público. Ele escreve em cima do que o público vai achando e dizendo enquanto a novela está sendo exibida. Então acho que, neste sentido, essa redenção que ele está encontrando não significa que ele vá perder esse sarcasmo. Essa que é a delícia. Você tem um Félix que, apesar de dizer que é mau, você vê que é um cara carinhoso. Por mais que ele queira continuar com essa máscara de malvado. 5#4 UM MACUMBÓDROMO PARA O RIO Seguidores da umbanda e do candomblé terão um espaço público para executar seus rituais sem poluir o meio ambiente carioca Mariana Brugger Num dia, bela oferenda. No outro, um monte de lixo. Perseguidas por seguidores de outras crenças e por ecologistas em função dos rituais nos quais depositam frutas, bebidas e flores para suas divindades, a umbanda e o candomblé vão ganhar o primeiro espaço público para realizar suas práticas sem poluir o meio ambiente. A Curva do S, no Alto da Boa Vista, zona norte do Rio, ganhará agora status de Espaço Sagrado. O local será pavimentado para não gerar incêndios e ganhará central de tratamento de resíduos religiosos e recantos para cada divindade (leia quadro). As obras começam em fevereiro e devem ficar prontas no segundo semestre. RECANTO - "O espaço sagrado acaba com a ideia distorcida de que estamos fazendo algo irregular",diz Mãe Fátima Damas. Abaixo, maquete do Espaço Sagrado Para dar forma ao Espaço Sagrado, a Secretaria de Meio Ambiente (SEA) do Estado do Rio de Janeiro, que está à frente do projeto, discutiu com representantes religiosos o que seria possível fazer para manter os rituais e preservar a natureza. Entre as sugestões estão o uso de folhas em vez de alguidar para depositar oferendas e coités em vez de taças de vidro. “O reconhecimento de um espaço para a gente por parte das autoridades acaba com aquela ideia distorcida de que estamos fazendo algo irregular”, explica Mãe Fátima Damas, presidente da Congregação Espírita Umbandista do Brasil (CEUB). Entretanto, a experiência ainda é vista com desconfiança. “Apoiamos, desde que não encurralem a gente em um canto cercado e pequeno, sem policiamento”, pontua Dayse Freitas, diretora cultural da Federação Brasileira de Umbanda. Mãe Fátima lembra que, no projeto original, o local para acender velas será distante do espaço para oferendas. “Essa permissão só não pode significar a impossibilidade de uso de outros espaços públicos para rituais”, explica Sônia Giacomini, antropóloga do departamento de ciências sociais da PUC-Rio. O projeto pioneiro carioca poderá se multiplicar. Carlos Minc, secretário estadual de Meio Ambiente, já foi procurado por autoridades de outros Estados para compartilhar a experiência. “Outras duas áreas do Rio deverão receber Espaços Sagrados também”, afirmou. Dessa forma, será possível fugir de santuários e parques privados que cobram pela entrada para a prática de cultos. O Brasil conta com 589 mil praticantes de religiões de matriz africana, segundo o Censo 2010 do IBGE. 5#5 ABUSO EM ALTO-MAR Denúncias de trabalho degradante, ameaças, assédio moral e sexual em cruzeiros chegam à Justiça e à Secretaria de Direitos Humanos. O principal obstáculo à proteção dos brasileiros é que eles não estão sujeitos às leis trabalhistas do País Fabíola Perez Os cartazes fixados nas paredes da academia de dança de Florianópolis anunciavam uma oportunidade que parecia única. Salário em dólar e a chance de dançar para um público de todo o mundo fizeram com que o bailarino Arthur Fernando de Souza, 38 anos, e sua namorada se empenhassem em vencer o concurso que selecionava os melhores dançarinos de Florianópolis, em Santa Catarina, para se apresentar em espetáculos de balé em um navio da armadora Star Cruise, com sede na Malásia. Era fevereiro de 2008, auge da temporada de cruzeiros no Brasil, e mesmo tendo de arcar com os custos dos exames médicos e da passagem para São Paulo, Souza sentiu-se atraído pela proposta e pelo salário de US$ 900 por mês. Embalados pelo sonho de viver uma experiência internacional, ele e a namorada embarcaram para Hong Kong. Na primeira noite, porém, perceberam que haviam caído em uma enrascada. “Levamos um grande susto quando vimos que se tratava de um show erótico”, afirma Souza. “As meninas ficaram horrorizadas ao saberem que as apresentações seriam feitas com os seios à mostra.” PASSADO - O bailarino Arthur de Souza (em pé, à esq.) era um dos brasileiros contratados para fazer shows eróticos no navio Star Cruise em 2008. Hoje, participa de comissões no Senado (abaixo) em prol das vítimas de violações de direitos em cruzeiros Indignados, Souza e os demais bailarinos cobraram explicações da agência que os contratou, mas a pressão e as ameaças para que continuassem se apresentando aumentou. “Psicologicamente, o cérebro acaba aceitando a situação”, diz ele. “Eu aceitei porque, na época, passava por dificuldades financeiras, não tinha onde morar no Brasil.” Souza diz que os shows ocorriam sempre após as 23 horas para o público adulto do navio. “Éramos obrigados a simular relações sexuais durante o espetáculo”, relata. Denúncias como essa têm chegado à Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República desde o ano passado. “Vivemos uma fase inicial, ainda não temos noção do tamanho do problema”, afirma José Armando Guerra, coordenador da Comissão Nacional para a Erradicação do Trabalho Escravo (Conatrae) da SDH. Para ele, o que torna os casos ainda mais graves é a situação de confinamento dos tripulantes, que em muitos casos relatam ter a liberdade privada dentro do navio. “O cárcere em alto-mar é comparável à rotina de um trabalhador rural isolado em uma fazenda distante”, diz Guerra. O principal obstáculo à proteção dos brasileiros é uma norma do Direito Marítimo Internacional segundo a qual tripulantes de navios que passam por diferentes países devem seguir a legislação trabalhista da nação onde a embarcação está registrada. Diante disso, é comum as empresas operarem sob a chamada “bandeira de conveniência”. Ou seja, grandes armadoras registram suas embarcações em países pequenos como Malásia, Panamá e Bahamas, onde a legislação trabalhista costuma ser mais flexível. “Essas peculiaridades levam aos abusos”, afirma Maurício Coentro Pais de Melo, procurador do Ministério Público do Trabalho. “Em águas nacionais temos autoridade para investigar, mas a legislação brasileira não alcança as estrangeiras”, afirma. Outra norma do Conselho Nacional de Imigração estabelece que as embarcações que permanecem no País por mais de 30 dias são obrigadas a contratar no mínimo 25% de sua tripulação entre cidadãos brasileiros. Quando o contrato é superior ao período de cinco meses, porém, os tripulantes não ficam mais submetidos à legislação nacional e sim aos contratos internacionais. Para Raul Capparelli Vital Brasil, fiscal do Ministério do Trabalho e do Emprego, está aí o cerne do problema. “Eles abrem brechas para uma série de violações de direitos”, diz o auditor. “Os tripulantes não têm direito a intervalos, as jornadas são de 16 horas por dia e parte do salário pode ficar retida pelo navio até que o trabalhador termine o contrato.” DENÚNCIA - O chefe de cozinha Robin Konnel (à dir.) enfrentava intensas jornadas de trabalho no navio. Abaixo, com a mulher, Sarah, e a filha Greyce (à dir.), que acusa os superiores de assédio sexual. Casos de assédio são relatados por vários tripulantes brasileiros. A catarinense Greyce Konell de Souza, 31 anos, diz ter sido vítima de preconceito e de assédio sexual na temporada de 2011. Contratada pela agência Fatto para trabalhar na armadora MSC Cruzeiros, a camareira embarcou para a Itália. Segundo ela, a xenofobia era explícita, especialmente por parte dos superiores. “Os italianos diziam que os brasileiros não prestam para trabalhar e que só estávamos no navio por conta da cota mínima”, diz. Greyce conta que foi contratada para fazer o serviço de quarto no período noturno e em uma das noites foi escalada para levar o café da manhã para o chefe da cozinha, de nacionalidade italiana. “Ele me atendeu apenas de toalha”, diz ela. “A cada moça que se negava a ceder, ele dava ordens para aumentar a carga de trabalho de todo o departamento”, afirma. O assédio sexual e as longas jornadas fizeram Greyce, a mãe e o pai, que também trabalhavam na cozinha do navio, abandonarem a rotina em alto-mar. A família abriu um processo trabalhista e de danos morais contra a empresa e espera pela primeira audiência em fevereiro. A falta de água potável e de alimentos de boa qualidade para os tripulantes é outra denúncia frequente que chega ao Ministério do Trabalho. “Não é razoável imaginar que centenas de trabalhadores optem por pagar pela água que estaria disponível gratuitamente”, diz o fiscal Vital Brasil. Há relatos também de precário atendimento médico a bordo. O estudante de direito Márcio Freitas teve essa experiência. Em junho de 2009, ele foi contratado pela agência Rosa dos Ventos em Fortaleza para trabalhar no navio MSC Música. “Pedi demissão e tranquei a faculdade para viver uma experiência diferente”, conta. A realidade não foi o esperado. Freitas diz que enfrentava jornadas diárias de 16 horas e que chegou a trabalhar 244 dias seguidos. TRIBUNAL - Márcio Freitas acusa a MSC Cruzeiros de abandoná-lo em um hospital público na Grécia, após sofrer paralisia nas mãos e nos pés. O caso está na Justiça Um mês antes do encerramento do contrato, ele adoeceu. Diagnosticado com infecção respiratória, foi medicado com injeções na enfermaria do navio. Sete dias depois, ele conta que teve paralisia nas mãos e nos pés. Em julho de 2010, Freitas foi desembarcado do navio na Grécia para o tratamento médico. “Fui abandonado em uma cadeira de rodas no corredor de um hospital público sem nenhum funcionário ou enfermeiro da MSC para me ajudar”, afirma. Após nove dias internado, conseguiu ajuda para voltar ao Brasil. Depois de dez meses em tratamento, Freitas voltou a andar. O caso foi parar na Justiça que, em primeira instância, condenou a MSC a pagar pela recuperação dele. A empresa recorreu. Procurada, a MSC não quis comentar os dois casos. Para diminuir a vulnerabilidade dos tripulantes brasileiros, algumas iniciativas estão em curso. “Queremos propor um projeto piloto em alguns portos na costa brasileira de ações surpresas em navios”, afirma José Guerra, do Conatrae, para quem as agências de recrutamento também devem ser fiscalizadas porque são a porta de entrada para as embarcações. A recrutadora Sandra Farias, há seis anos na função pela armadora Royal Caribbean, admite que as horas de trabalho são longas e diz que quem quer ser tripulante deve se informar bem. “Trabalhar em um cruzeiro tem vantagens, como conhecer o mundo e ganhar em dólar, e desvantagens como a jornada intensa. É preciso pensar bastante.” 6# MEDICINA E BEM-ESTAR 15.1.14 O BRASIL NA VANGUARDA DAS CÉLULAS-TRONCO Cientistas iniciam pesquisa inédita com células de embriões para tratar pacientes cegos e criam o primeiro banco público com esses tecidos para investigar doenças como a esquizofrenia e o Parkinson Mônica Tarantino O País está na dianteira de uma série de estudos com células-tronco, uma das grandes esperanças da medicina para a cura de várias doenças. Da cegueira ao Alzheimer, pesquisadores brasileiros estão debruçados sobre as perspectivas de tratamento de diversas enfermidades a partir do desenvolvimento de novas terapias. Um dos trabalhos pioneiros envolve células-tronco extraídas de embriões – aquelas que podem se tornar qualquer tecido do corpo. Começa em fevereiro um estudo inovador com pessoas cegas em razão da degeneração macular relacionada à idade (DMRI). É a principal causa de cegueira irreversível em países desenvolvidos, especialmente na população idosa. A proposta é conter o progresso da doença e reverter seus danos.“Será a primeira pesquisa no mundo a usar células embrionárias cultivadas no laboratório para se diferenciar em tecidos específicos antes de implantá-las no olho”, explica o oftalmologista Rodrigo Brant, da Universidade Federal de São Paulo. O tratamento é promissor, mas o pesquisador frisa que não se aplicará a todos os casos de perda de visão. CRIAÇÃO - Rehen contempla neurônios (em verde) derivados de células-tronco Outra linha de pesquisa audaciosa está em andamento na FioCruz e no Hospital São Rafael, ambos na Bahia. Na primeira fase, sete pacientes paraplégicos (por traumas na coluna) receberam injeções de células-tronco adultas na medula espinhal (por onde passam os feixes nervosos que ligam o cérebro ao corpo). Em 2013, o número de pacientes tratados subiu para 14. “Agora estamos investigando os resultados de cada um deles para conhecer as características das lesões que respondem melhor ao tratamento”, diz a cientista Milena Soares, uma das responsáveis pelo projeto. A maioria recuperou a sensibilidade dos membros inferiores, passou a ter maior controle da bexiga e houve quem melhorasse a ponto de andar com a ajuda de aparelhos. Uma das beneficiadas pelo trabalho é a economista Andrea Damasio, 35 anos, que participa do estudo há um ano. Ela perdeu os movimentos dos membros inferiores após cair da escada. “A terapia ajudou a controlar os espasmos que eu tinha, o que já me permite dar uns passinhos com o andador, e recuperei a sensibilidade”, diz Andrea. A regeneração do coração é mais uma frente desafiadora de estudos. As primeiras pesquisas nessa área sugeriam que a injeção de células-tronco (tiradas da medula óssea) no coração poderia restituir as células perdidas no ataque cardíaco. Estudos posteriores revelaram apenas um aumento na formação de novos vasos. No Instituto do Coração da Universidade de São Paulo, um estudo de longa duração (mais de seis anos) está prestes a revelar, afinal, se há alguma vantagem no procedimento. Ali, metade dos 140 pacientes submetidos à cirurgia de ponte de safena recebeu, durante a operação, células-tronco adultas no local a ser recuperado. “Vamos comparar os resultados. As análises serão divulgadas nos próximos meses”, diz o cientista José Eduardo Krieger, que coordena o trabalho. AVANÇO - Brant, da Unifesp, usará células-tronco embrionárias na tentativa de brecar a cegueira causada por doença degenerativa No campo das doenças mentais, o neurocientista Stevens Rehen lidera uma revolução no estudo da esquizofrenia. Ele está trabalhando com células reprogramadas (induzidas, em laboratório, a voltar ao estágio embrionário e posteriormente convertidas em outros tecidos do corpo). O grupo de Rehen reprogramou células da pele de pessoas com esquizofrenia para criar neurônios. “Constatamos que o cérebro desses pacientes consome duas vezes mais oxigênio do que o normal”, explica o pesquisador, que coordena o Laboratório Nacional de Células-Tronco do Instituto de Ciências Biomédicas da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Além disso, o grupo conseguiu recentemente converter células da urina em neurônios. “Essa nova técnica facilitará estender a pesquisa a pacientes com outros transtornos mentais, inclusive crianças e idosos”, diz. Rehen está recrutando mais pacientes com esquizofrenia para ampliar o estudo. Mais uma tendência é o surgimento de coleções de células-tronco para o estudo de doenças e testes com medicamentos. “Temos já um banco de células-tronco e células reprogramadas de mais de 300 pacientes com doenças genéticas. Elas permitirão estudos importantes”, diz a geneticista Mayana Zatz, que dirige o Centro do Genoma e Células-Tronco da USP. Também está em formação um acervo nacional de células reprogramadas, o primeiro do gênero na América Latina. Será voltado para o estudo de problemas como Alzheimer, Parkinson e mais 15 enfermidades. A iniciativa envolve diversas instituições, é pública e tem apoio do Ministério da Saúde. “É um grande passo”, aprova o hematologista Nelson Hamerschlack, do Hospital Albert Einstein. Ele avaliou o impacto do transplante de células-tronco da medula óssea do próprio paciente com esclerose múltipla. “Em 75% dos casos, os sintomas melhoraram ou a doença ficou estabilizada”, diz. Hamerschlack planeja iniciar estudos com pacientes com a doença em estágio mais precoce. CONQUISTA - Andrea ficou paraplégica por causa de uma queda da escada. Após terapia com células-tronco, consegue dar alguns passos com ajuda de aparelhos 7# ECONOMIA E NEGÓCIOS 15.1.14 7#1 O CONFISCO SECRETO DA CAIXA 7#2 COMO PAGAR A FACULDADE 7#1 O CONFISCO SECRETO DA CAIXA Relatórios da Controladoria-Geral da União e do Banco Central mostram que a Caixa encerrou irregularmente mais de 525 mil contas poupança e usou o dinheiro para engordar seu lucro de 2012 em R$ 719 milhões Por Claudio Dantas Sequeira Uma auditoria realizada pela Controladoria-Geral da União (CGU), órgão vinculado à Presidência da República, aponta que, em 2012, a Caixa Econômica Federal promoveu uma espécie de confisco secreto de milhares de cadernetas de poupança. Em um minucioso relatório composto por 87 páginas, os auditores da CGU revelam os detalhes da operação definida como “sem respaldo legal”, que envolveu o encerramento de 525.527 contas sem movimentação por até três anos e com valores entre R$ 100 e R$ 5 mil. Os documentos obtidos por ISTOÉ mostram que o saldo dessas contas foi lançado, também de forma irregular, como lucro no balanço anual da Caixa, à revelia dos correntistas e do órgão regulador do sistema financeiro. No total, segundo o relatório da CGU, o “confisco” soma R$ 719 milhões. O documento foi remetido à Assessoria Especial de Controle Interno do Ministério da Fazenda e ao Banco Central e desde novembro auditores do BC se debruçam sobre a contabilidade da Caixa para apurar as responsabilidades. ISTOÉ também teve acesso a cinco pareceres do Banco Central que foram produzidos após as constatações feitas pela CGU. Em todos eles os técnicos concluem que a operação promovida em 2012 foi ilegal. No documento redigido em 4 de novembro do ano passado, o Departamento de Normas do BC (Denor) adverte que a operação examinada consiste em “potencial risco de imagem para todo o Sistema Financeiro Nacional”. Nos cálculos feitos pelos auditores da CGU, os R$ 719 milhões obtidos com essa espécie de confisco representaram nada menos que 12% do lucro do banco naquele ano, engordando o pagamento de bônus a acionistas. “Essa é uma forma de turbinar o lucro do banco, mas é crime contra o Sistema Financeiro Nacional”, disse à reportagem um dos auditores que investigam a operação. O dado que despertou a atenção dos auditores em uma rotineira prestação de contas foi um crescimento de 195% na rubrica “Outras Receitas Operacionais” em apenas um ano. A Caixa, então, foi convocada a detalhar a contabilidade, identificando as fontes de todos os recursos. No relatório, os técnicos da CGU registram que houve resistência em fornecer as explicações, mas a CEF acabou mostrando todas as planilhas. A CGU descobriu, então, que foram selecionadas para encerramento 525.527 contas de poupança, praticamente todas elas pertencentes a pes-soas físicas. Essas contas foram escolhidas a partir do saldo e do período em que permaneceram sem movimentação. Foram encerradas as poupanças com saldos de até R$ 100 e sem movimentação havia mais de um ano; até R$ 1 mil e inativas por dois anos; e até R$ 5 mil sem movimento por três anos. Essa rotina foi implantada em janeiro e finalizada em agosto. Ao final do semestre, os valores remanescentes na conta “Credores Diversos” eram transferidos para a subconta de resultado “Outras Receitas Operacionais”. Para a CGU, não há lei ou regulamento que determine que o saldo de uma conta encerrada deva ser incorporado ao resultado e, posteriormente, ao patrimônio de um banco. Além disso, a legislação determina o prazo prescricional de 25 anos para a devolução dos saldos de contas encerradas, com recolhimento ao Tesouro. Não sendo reclamados ao final de mais cinco anos, podem somente então ser incorporados ao patrimônio da União. Aos auditores da CGU e ao Banco Central, a Caixa argumentou que para encerrar as contas se amparou em resolução do Conselho Monetário Nacional (2025/1993), numa circular do Banco Central (3006/2000) e no ma-nual normativo da própria instituição. Alegou que as contas encerradas continham falhas cadastrais e, por isso, deviam ser fechadas. Ocorre que, segundo os técnicos da CGU e os analistas do Banco Central, as normas citadas não se aplicam no caso de encerramento de poupanças, muito menos prevê a apropriação dos valores pelo banco. A Resolução 2025 de 1993 trata na verdade, segundo os auditores, do encerramento de contas abertas “com documentação fraudulenta”, quando há indícios de crime contra a administração pública. E para promover o encerramento é necessária autorização judicial. Ou seja, para que a Caixa pudesse fechar as 525.527 poupanças precisaria comunicar cada um dos casos à Polícia Federal e só depois de confirmados os indícios de fraude é que as contas poderiam ser encerradas. Da mesma forma, de acordo com os auditores, a Circular 3006 de 2000 prevê autorização do cliente para encerramento da conta. Na operação de 2012, a Caixa não procurou os titulares das poupanças previamente, não identificou os indícios de fraude e nem sequer consultou o Banco Central, segundo os relatórios obtidos por ISTOÉ. Na semana passada, a direção da CEF encaminhou nota à revista reafirmando ter consultado os correntistas (leia a versão da CEF na pág. 49). Ainda segundo o relatório da CGU, os auditores tiveram acesso a um parecer anexado ao voto no conselho diretor pelo setor jurídico da Caixa. Nesse parecer era recomendado que antes de finalizar a operação fosse feita uma consulta ao BC. Além disso, no mesmo documento o setor jurídico da Caixa alertava para os riscos de dano à imagem do banco, além de enquadramento civil por “enriquecimento sem causa” (art.884 a 886 do Código Civil) e criminal, por apropriação indébita (art. 168 do Código Penal). Em parecer enviado à CGU, o Banco Central aponta a completa ausência de respaldo legal para o encerramento das contas, especialmente as de poupança. “A regulamentação não prevê a possibilidade de encerramento de contas que não tenham sido movimentadas. Não é possível se apropriar de um patrimônio que não é de sua propriedade”, afirma o documento. O BC ressalta ainda que a Caixa, antes da baixa das contas classificadas como inativas, procedeu à reclassificação de seus saldos para uma conta de natureza diversa da de poupança. O voto do conselho diretor que aprovou o encerramento das contas consideradas inativas também autorizou a transferência de seus saldos para a rubrica “Credores Diversos”, em uma subconta denominada “Contas Encerradas – RE. BACEN 2025/93”. “A mudança na conta de registro desrespeita a essência econômica (depósito) da operação e, ainda, compromete a sua devida evidenciação”, acrescenta o parecer do Banco Central. Segundo os técnicos do BC, “o procedimento visa a afastar a transparência”. Um dos anexos do relatório da CGU é o chamado “Certificado de Auditoria Anual de Contas”, assinado pelo coordenador-geral da área fazendária, Antonio Carlos Bezerra Leonel. Ele identifica como responsáveis diretos pela operação os vice-presidentes da Caixa Raphael Rezende Neto, da área de controle e risco, e Fabio Lenza, que cuida das contas de pessoa física. “Um dos vice-presidentes foi responsável pela execução do procedimento sem adequada transparência nas demonstrações contábeis e consulta ao Banco Central, o outro era responsável pela área finalística de onde mais de 99,70% dos recursos eram oriundos. Cabe ressaltar que o procedimento foi aprovado pelo conselho diretor da Caixa em 2010, mas não havia nenhuma explicação de que os recursos obtidos pelo procedimento seriam retirados do passivo para o resultado do banco”, escreve Leonel, que recomenda a aprovação com ressalva das contas dos dois dirigentes. O voto é reiterado pela diretora de auditoria econômica da CGU, Renilda de Almeida Moura, que o encaminha ao ministro-chefe da Controladoria-Geral, Jorge Hage, e ao Tribunal de Contas da União. O Banco Central já enviou para a CGU a conclusão final da inspeção feita nas contas da Caixa. Também emitiu ofício à CEF determinando a cessação imediata da prática adotada e a correção dos lançamentos contábeis na prestação de contas de 2013. Isso significa que o lucro inflado irregularmente em 2012 pela apropriação irregular das poupanças deverá ser descontado do lucro que será divulgado pela Caixa até março. A CEF também foi obrigada a emitir uma nota explicativa do caso e a ressarcir os correntistas que tenham sido prejudicados. Até novembro do ano passado, mais de 6,4 mil clientes já procuraram a Caixa preocupados com o desaparecimento de seus depósitos, num total de R$ 20,6 milhões. O banco diz que está restituindo cada centavo corrigido. FISCALIZAÇÃO - Auditores da Controladoria-Geral da União fizeram relatório com 87 páginas 7#2 COMO PAGAR A FACULDADE A concessão de empréstimos para financiar o curso superior cresceu mais de 600% nos últimos quatro anos. Saiba como obter crédito estudantil por Luisa Purchio Se até pouco tempo atrás ingressar no ensino superior era privilégio de alguns, hoje a situação é bem diferente. O número de faculdades particulares vem crescendo a cada ano e as opções para pagar as mensalidades estão cada vez mais diversificadas. Além das bolsas oferecidas pelas próprias instituições, os alunos encontram no mercado diversas opções de financiamento. As novas regras do Fundo de Financiamento Estudantil (Fies) provocaram uma expansão notável do número de beneficiados. Com juros mais baixos e a ampliação do prazo para a quitação do empréstimo, a concessão de financiamento pelo Fies cresceu 630% nos últimos quatro anos. “Com o crédito mais acessível, o aluno começa a escolher a instituição não pelo preço, mas por aquilo que ela agrega”, afirma Rodrigo Capelato, diretor-executivo do Sindicato das Entidades Mantenedoras de Estabelecimentos de Ensino Superior no Estado de São Paulo (Semesp). 8# MUNDO 15.1.14 EUA FREEZER A maior onda de frio das últimas duas décadas nos EUA mata mais de 20 pessoas, paralisa parte do país e complica a vida de quem foi passar férias na capital turística do mundo Ana Carolina Nunes No filme “O Dia Depois de Amanhã”, uma superprodução americana de 2004 no melhor estilo cinema catástrofe, o mundo enfrenta uma espécie de cataclisma climático por conta das ações do homem no meio ambiente. Com o aquecimento global, calotas polares se desprendem do Ártico, bloqueiam correntes marinhas e, em vez de um período mais quente, boa parte do Hemisfério Norte passa a enfrentar uma nova era glacial. No filme, única saída para os americanos é pedir asilo no México para não morrer de frio. GLACIAL - Em Chicago, o lago Michigan congelou e a sensação térmica chegou a 50 graus negativos Mesmo dez anos depois de seu lançamento, muitos americanos devem ter se lembrado, nesta última semana de frio recorde em quase todo o país, dessa produção estrelada por Dennis Quaid. É verdade que as baixas temperaturas não foram capazes de fazer com que milhões de americanos simplesmente largassem tudo para viver no México, mas, com certeza, muita gente que enfrentou a sensação térmica de 50 graus negativos deve ter considerado essa possibilidade. Não fazia tanto frio nos Estados Unidos há pelo menos duas décadas. Por conta de um fenômeno climático raro, temperaturas glaciais tomaram conta de praticamente todo o meio-oeste e nordeste do país, afetando mais de 140 milhões. Ao menos 20 mortes foram registradas em decorrência do frio intenso que atingiu regiões do país que não estavam exatamente acostumadas a ver neve, gelo e ventos cortantes. E nas regiões já acostumadas com as temperaturas baixas, a sensação foi de estar no Polo Norte. Em Chicago, por exemplo, o urso polar do zoológico local precisou ser levado para um local fechado. Mas foi em Nova York que a onda recorde de frio pegou muita gente de surpresa. Capital turística do mundo, a principal cidade americana recebe cerca de 50 milhões de visitantes todos os anos, sendo dois milhões deles brasileiros. Mesmo conhecendo as características da cidade nesta época do ano, pouca gente imaginava que poderia enfrentar sensação térmica de 20 graus negativos e muita, muita neve. RECORDE - A massa de ar polar fez com que Nova York ficasse com a cara do Alasca, com muita neve, muito vento e muito frio, obrigando moradores e turistas a improvisar para suportar a sensação térmica de até 20 graus negativos “Eu quase não conseguia sorrir nas fotos, de tanto frio”, conta o comissário de bordo Fernando Tomazzini, de férias pela terceira vez em Nova York. Dificuldade também para o banho, pois, ao amanhecer, a água estava congelada nos canos, e chuveiros e torneiras não ofereciam mais que um filete de água. Apesar das boas histórias que colecionou, Tomazzini não pretende encarar uma nova onda de frio como a desse ano. “Nunca senti tanto frio na minha vida”, diz, mesmo tendo conseguido um casaco extra de esqui emprestado por uma amiga americana. As coloridas roupas de esqui foram a principal arma de quem estava em Manhattan para enfrentar o clima congelante. O brasileiro Leandro Lima, que vive na metrópole há seis anos, aproveitou a viagem para uma estação de esqui no estado de Wyoming e já saiu de casa paramentado. “Aqui na estação de esqui a temperatura está maior do que estava em Nova York”, compara achando graça. O mais complicado, no entanto, foi chegar ao aeroporto para sair da cidade. O percurso que normalmente dura cerca de 40 minutos se estendeu por duas horas e meia. “Era um deserto branco nas ruas. A neve caía intensamente e não se via um carro circulando”, testemunha. Chegando ao aeroporto, Leandro ainda se deparou com uma multidão que teve seus voos cancelados e não conseguia ir para casa. “As pessoas ficaram assustadas, pois no ano passado Manhattan não viu neve”, ele lembra. Leandro teve sorte em conseguir pegar o avião. No país todo, cerca de 15 mil voos foram cancelados durante os dias de frio e neve intensos. Tanto frio foi causado por um fenômeno conhecido como vórtice polar, que está presente constantemente nos dois polos do planeta, tanto no inverno quanto no verão. A diferença é que neste ano o vórtice, uma espécie de ciclone de ar frio responsável por enviar massas polares para fora dos polos, ficou maior do que o normal e seu centro de atividade mudou de posição. Em vez de ficar concentrado na região norte do Canadá, o centro do vórtice, dessa vez, moveu-se em direção ao sul e ficou parado sobre a região dos Grandes Lagos, na fronteira entre o Canadá e os Estados Unidos. Por conta disso, em algumas cidades do estado de Michigan as temperaturas chegaram a 35 graus negativos. Em Chicago, por conta do vento, a sensação térmica atingiu incríveis 51 graus negativos. Tanto frio paralisou boa parte do país. As autoridades apelaram para que a população permanecesse em casa e, principalmente, não dirigisse. Algumas famílias fizeram até estoque de alimentos para evitar saírem às ruas. Escolas e escritórios foram fechados como medida de segurança. Até mesmo alguns bombeiros foram afetados, ao se depararem com hidrantes congelados. Em Chicago, o Lago Michigan congelado se assemelhava mais a uma grande pista de patinação. Sofrimentos à parte, no estado de Michigan, a cidade de nome “Hell”, que significa “inferno” em inglês, virou piada ao ter sua paisagem congelada e vídeos na internet fizeram sucesso, como o que mostra a água fervendo se transformar em vapor frio assim que entra em contato com o ar ou a bolha de sabão se congelar em segundos. Apesar da intensidade, os meteorologistas afirmam que não há nada de anormal no frio registrado essa semana. “A Terra possui ciclos naturais que ainda não são totalmente conhecidos, como manchas solares, El Niño, La Niña. Não há nada de anormal nisso”, diz Samantha Martins, Meteorologista do Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas da USP. 9# TECNOLOGIA E MEIO AMBIENTE 15.1.14 ELE NÃO ESTÁ SOZINHO Antes mesmo do lançamento oficial, os óculos inteligentes do Google já enfrentam uma concorrência feroz que aposta na popularização da tecnologia de vestir Lucas Bessel O mundo da tecnologia aguarda com ansiedade o início das vendas do Google Glass, os óculos inteligentes criados pela gigante de tecnologia americana. De um lado estão os que acreditam que os “gadgets vestíveis” serão a principal tendência de comunicação e entretenimento de 2014. Do outro, os que acham que o conceito só vai se tornar realmente viável a partir da próxima década – e que apostam, sem meias palavras, no imediato fracasso da empreitada do Google. Seja como for, o Glass chegará ao mercado nos próximos meses (data exata e preço ainda são mantidos em segredo) para enfrentar uma concorrência feroz, que ganhou corpo durante a Consumer Electronics Show (CES), a maior feira de tecnologia dos Estados Unidos, em Las Vegas, na última semana. NA TELINHA - O Google Glass nem precisa de lentes para funcionar: as informações são projetadas em um pequeno visor sobre o olho De maneira geral, os smart glasses funcionam projetando em uma pequena tela ou na própria lente as funções que você encontraria na maioria dos telefones celulares inteligentes. Por meio de comandos de voz, movimento ou toque, o usuário pode ler e-mails e mensagens de texto, tirar fotos, gravar e transmitir vídeos ou fazer ligações. Mais do que isso: muitos desses óculos permitirão explorar de forma quase ilimitada os recursos da realidade aumentada. Imagine-se, por exemplo, caminhando por uma rua em busca de uma loja de artigos esportivos. Com um simples comando, o Google Glass – ou seu concorrente – poderá encontrar o estabelecimento e projetar em seu campo de visão um caminho estabelecido por GPS. Da mesma forma, ao cruzar essas informações com um banco de dados, ele poderá indicar onde estão os melhores preços para o produto que você procura. “Ainda é uma coisa meio de ciborgue”, admite Francesco Giartosio, presidente da italiana GlassUp, cujos óculos de mesmo nome devem ser lançados comercialmente até julho deste ano. O protótipo 100% funcional – com realidade aumentada, GPS, câmera e sistema de voz – que a empresa mostrou na CES ainda está longe do desenho elegante que a companhia pretende entregar ao consumidor. Esse, aliás, é um dos grandes desafios para os fabricantes: tornar os smart glasses visualmente agradáveis. Por enquanto, todos, sem exceção, causam estranheza quando colocados no rosto. REALIDADE AUMENTADA - Óculos poderão reconhecer seus amigos na rua e projetar informações obtidas nas redes sociais Enquanto produtos como o GlassUp atacam diretamente o Google Glass, outros fabricantes decidiram explorar nichos (confira quadro). O Jet são óculos desenvolvidos especialmente para esportistas. Segundo produto da fabricante americana Recon Systems, especializada em levar tecnologias militares ao cidadão comum, ele fornece aos ciclistas informações como elevação, distância percorrida e velocidade. Ainda permite, é claro, compartilhar fotos e vídeos nas redes sociais. As entregas mundiais começam em março deste ano. O mercado esportivo também é o foco da start-up libanesa Butterfleye, que criou o Instabeat, um tipo de monóculo que pode ser acoplado a óculos de natação para informar ao atleta a frequência cardíaca durante o exercício. Outras empresas acreditam que, antes de chegarem com força ao consumidor geral, os smart glasses ganharão terreno entre os usuários corporativos, especialmente na indústria. É o caso da XoEye, cujos óculos transmitem vídeo de alta qualidade via wi-fi e ainda servem como sistema de comunicação. Assim, um técnico poderia receber orientações vindas de milhares de quilômetros de distância enquanto conserta tubos de gás, por exemplo. Embora o grande teste mercadológico comece agora, alguns smart glasses já rodam por aí. O blogueiro e autor americano Robert Scoble, especializado em tecnologia, foi um dos primeiros no mundo a comprar, por nada módicos US$ 1.500, o Google Glass, depois de ser especialmente indicado pela empresa. “Adoro o meu Glass, mas estou um pouco frustrado com a velocidade com que o Google tem liberado aplicações e recursos”, avaliou. É em cima dessa demora que os concorrentes esperam conseguir alguma chance de vitória. 10# CULTURA 15.1.14 10#1 LIVROS - OS JOVENS SEM FANTASIA DE JOHN GREEN 10#2 TEATRO - CHICO BUARQUE LIBERADO 10#3 EM CARTAZ – MÚSICA - BEYONCÉ A TODO VAPOR 10#4 EM CART O FIM DE UMA TRILOGIA CULT 10#5 EM CARTAZ – QUADRINHOS - HUMOR NA ERA DAS CORPORAÇÕES 10#6 EM CARTAZ – CINEMA - O TERROR DE COPPOLA 10#7 EM CARTAZ – FOTOGRAFIA - AS CURVAS DE SANTOS 10#8 EM CARTAZ – AGENDA - CineMPB/NUNO RAMOS/NOSSA CIDADE 10#1 LIVROS - OS JOVENS SEM FANTASIA DE JOHN GREEN O romancista americano tornou-se um dos autores mais vendidos do mundo incorporando temas da vida real no lugar de criaturas de outro mundo Ana Weiss História de um amor que nasce num grupo de apoio para jovens com câncer, “A Culpa É das Estrelas” não chegou aos cinemas ainda (a versão cinematográfica tem estreia prevista para junho) e já é um dos livros mais vendidos do mundo. Seu autor, John Green, um vlogger (blogueiro de vídeo) de 36 anos, tem quatro romances lançados, dos quais três encabeçam os balcões das livrarias. No Brasil, “A Culpa É das Estrelas” (2012), “O Teorema Katherine” e “Cidades de Papel” (ambos de 2013) venderam, juntos, 610 mil exemplares. Nos EUA, os dois primeiros encabeçam as top lists do jornal “The New York Times” há 57 semanas. O índice confirma dois fenômenos recentes do mercado livreiro: o aumento expressivo de vendas dos chamados livros para jovens adultos e o aparecimento de personalidades das letras que fazem sucesso primeiro na internet. SUCESSO - Com três livros na lista de best-sellers, John Green já vendeu mais de 600 mil exemplares no Brasil Mas John Green carrega ainda um trunfo anterior dos livros de sucesso, um texto envolvente e ligeiro que atualiza em tramas questões perenes, como o amor, a solidão e a morte, no lugar de narrativas sobre vampiros e bruxos que tomaram conta das prateleiras dos jovens nas últimas décadas. “Nem os textos nem os leitores se beneficiam de tentativas de descobrir se há fatos reais por trás de uma história fictícia”, escreve o autor na introdução de “A Culpa É das Estrelas”. O best-seller costuma ser confundido com uma história real por ter elementos da vida da jovem Esther Earl, para quem a ficção é dedicada e que de fato inspirou o escritor na criação de Hazel Grace Lancaster, a protagonista que será vivida no cinema pela atriz Shailene Woodley. Esther morreu em 2010, com 16 anos, de câncer na tireoide – o mesmo de Hazel. Ainda em janeiro, um livro com as memórias da jovem americana louca por Harry Potter chega às livrarias para dirimir qualquer dúvida a respeito. 10#2 TEATRO - CHICO BUARQUE LIBERADO Após a polêmica sobre as biografias não autorizadas, o artista dá permissão para o uso de sua obra literária e musical em espetáculos e filmes, numa empreitada cultural que escreverá sua biografia artística na comemoração dos seus 70 anos Wilson Aquino Chico Buarque de Hollanda completa 70 anos em 19 de junho mas não pretende programar sequer um bolo para comemorar a data. Pelo menos no Brasil. Segundo pessoas próximas ao cantor, ele não deve passar o aniversário no País. Provavelmente apagará as muitas velas em Paris, onde o também escritor tem residência. Ele estará ocupado em terminar o seu novo romance, cujo tema é mantido no mais absoluto sigilo pela editora Companhia das Letras, que prevê seu lançamento para setembro. Integrante do grupo “Procure Saber”, que causou recente polêmica ao pregar censura às biografias não autorizadas, Chico tem, no entanto, permitido aos que querem lhe render homenagens dispor de seu vasto repertório musical. Isso vale para produções teatrais ou cinematográficas. Ou seja: Chico liberou sua valiosa biografia artística. Empresário e braço direito do compositor, Vinicius França confirma o momento de generosidade. “Todos os projetos que chegaram ao Chico foram autorizados”, revelou à ISTOÉ, esclarecendo que as produções contempladas “são de pessoas que trabalharam com ele no passado”. A primeira a vir à luz é o espetáculo “Todos os Musicais de Chico Buarque em 90 Minutos”, de Claudio Botelho e Charles Möeller, que estreou na quinta-feira 9, no Teatro Clara Nunes, no Rio de Janeiro. Em 20 anos, Botelho e Möeller montaram 36 peças, sendo que seis delas tiveram como inspiração o repertório de Chico. “Ele nos deu carta branca”, diz Botelho. Mas é uma liberdade vigiada: “O Vinicius França tem acompanhado todo o processo, inclusive a escolha de músicas.” A dupla não se sentiu tolhida na criação, pois já fez o mesmo tipo de espetáculo usando a obra de Milton Nascimento. “Mostramos tudo, qualquer mudança no roteiro. A gente não quer encher o saco do Chico”, afirma Möeller, que correu para ser um dos primeiros a homenageá-lo. “Todos os Musicais de Chico Buarque em 90 Minutos” narra os as aventuras de uma companhia mambembe que roda o Brasil parando em pequenas cidades – as praças foram nomeadas fazendo referências a livros do compositor. MAMBEMBE - A trupe, com o diretor Claudio Botelho ao centro: grupo interpreta O fio condutor são 49 canções feitas por Chico Buarque especialmente para teatro, cinema e televisão. A inspiração no filme “Bye, Bye Brasil”, de Cacá Diegues, embalado pela música homônima, do CD “Vida”, é óbvia e norteia o roteiro. Além de codirigir, Botelho interpreta o dono da companhia, que enfrenta problemas de memória, a ponto de não saber mais quem é a própria mulher, vivida por Soraya Ravenle. O título do espetáculo cria a falsa expectativa de que, finalmente, as novas gerações assistirão a passagens do antológico “Roda Viva”, dirigido por Zé Celso Martinez Corrêa, em 1967. Nada disso. Primeiro porque, nesse caso, Chico é inflexível: não permite que qualquer grupo leve aos palcos a sua primeira peça por achá-la pertencente a outro contexto. E nem é essa a proposta do musical, que usa apenas as canções teatrais ou referentes a personagens de filmes para alinhavar uma história que poderia ter saído de sua lavra. Além de “Roda Viva”, as músicas vieram de “Calabar” , “Gota d’Água” , “Ópera do Malandro”, “O Corsário do Rei” e outras peças. Não se esqueceu do balé “Grande Circo Místico” nem dos temas de filmes como “Quando o Carnaval Chegar”, “Dona Flor e Seus Dois Maridos” e “Para Viver um Grande Amor” . “Além das canções, vamos mostrar as relações pessoais nos bastidores da trupe”, revela Botelho, que trabalhou quatro meses para pôr o espetáculo de pé. SENSUAL - Cena da música "Tatuagem", composta originalmente para a peça O custo é de R$ 2 milhões. Nem precisaria de muito, diante da indispensável sequência de clássicos da MPB. “Tatuagem”, parceria com Ruy Guerra, veio de “Calabar”. “Ópera do Malandro” forneceu “Pedaço de Mim”, “O Meu Amor” e a insubstituível “Geni e o Zepelim”. Na seleção do repertório, os diretores optaram por uma canção nunca gravada por Chico, da qual nem ele se lembrava: “Invicta”. Ela será incluída no CD, a ser lançado durante a temporada que chega a São Paulo em agosto e se estende a Portugal em novembro. Embora tenha mantido distância da criação, Chico garantiu que assistirá ao musical antes de se enfurnar no Marais, onde fica o seu apartamento parisiense. Estão previstos outros tributos e, no mesmo clima de festa – embora já tenha dito que detesta fazer aniversário –, vai retribuir o público brasileiro com dois shows, um no dia 19 de fevereiro, no Rio, e outro no dia seguinte, em São Paulo. A renda de ambos será doada para a escola de samba predileta do cantor, compositor e escritor: a Mangueira. 10#3 EM CARTAZ – MÚSICA - BEYONCÉ A TODO VAPOR por Ivan Claudio Disposta a causar barulho com um trabalho lançado de surpresa, a megastar Beyoncé explora suas fantasias sexuais de forma despudorada no seu quinto CD. Em “Partition”, fala de uma transa no banco de trás da limusine. “Drunk in Love” descreve cenas quentes no hall de sua casa, colocando em risco uma tela de Andy Warhol. É uma parceria com o marido Jay-Z, a quem chama de “daddy” (papai) e “my boss” (meu chefe). Ainda assim, o disco mostra-se o mais bem-sucedido desde “B’Day”, de 2006. Beyoncé coproduz as faixas ao lado de Pharell Williams, Timbaland e outros, que deram acabamento moderno ao hip-hop dançante. Ela convidou também diretores de videoclipes para fazerem o mesmo nos 17 filmetes que ilustram as canções. O encarte a mostra em plena forma física, a começar pela capa, com o seu “derrière” coberto apenas por duas tiras de strass. +5 curiosidades sobre Beyoncé MANIA “Single Ladies”, música de 2010, é um de seus maiores sucessos. Seu single vendeu mais de 5 milhões de unidades apenas nos EUA REVELAÇÃO Quem primeiro chamou a atenção para o seu talento foi a cantora Whitney Houston, ao ouvi-la cantando no grupo Destiny Childs PERSONA Criou a personagem Sasha Fierce para, segundo ela, vencer a timidez no palco. O nome acabou batizando seu terceiro CD CINEMA Ela considera a atuação no musical “The Dreamgirls” a sua verdadeira estreia em filmes. Seu papel, Deena, é inspirado em Diana Ross PRÊMIOS Ganhou o Grammy de melhor cantora de rhythm and blues no ano passado pela música “Love on Top”. Em 2010, ela faturou seis prêmios 10#4 EM CART O FIM DE UMA TRILOGIA CULT por Ivan Claudio Considerada a sua obra mais ambiciosa, a trilogia de livros “1Q84” (Alfaguara), do japonês Haruki Murakami, chega ao seu desfecho flagrando o frustrado escritor Tengo e a assassina de aluguel Aomame perseguidos por uma seita religiosa e pelo chamado “Povo Pequenino”. A mistura de violência, suspense e distopia, inspirada em George Orwell, é conduzida com a habitual habilidade do autor japonês em tratar o fantástico por meio de elementos banais. AZ – LIVROS – 10#5 EM CARTAZ – QUADRINHOS - HUMOR NA ERA DAS CORPORAÇÕES por Ivan Claudio O cartunista americano Scott Adams detestava seu emprego quando criou Dilbert, engenheiro de 30 anos contratado, como ele, por uma empresa de tecnologia mergulhada nos clichês das firmas contemporâneas. O personagem, que gosta mais de computadores que de pessoas e é manipulado por seu cachorro, Dogbert, tornou-se sucesso imediato: hoje é publicado por 1.550 jornais e revistas em todo o mundo. Uma seleção das melhores tiras do burocrata corporativo sai agora em português sob o título “Já Nem me Lembro se Somos Muquiranas ou Espertos” (Conrad). 10#6 EM CARTAZ – CINEMA - O TERROR DE COPPOLA por Ivan Claudio Após uma década sem filmar, Francis Ford Coppola voltou aos sets em 2005 com uma resolução em mente: não faria filme que não tivesse origem em uma história original – e de sua autoria. “Virgínia”, rodado em 2011, é um dos frutos mais surpreendentes dessa decisão. A história do fantasma V. (na pele pálida de Elle Fanning), vítima de um assassinato, nasceu de um pesadelo quase infantil do diretor com vampiros, durante uma viagem à Romênia. Val Kilmer faz o escritor Hall Baltimore, à frente da investigação de um assassinato que passa pelo encontro com o escritor Edgar Allan Poe. 10#7 EM CARTAZ – FOTOGRAFIA - AS CURVAS DE SANTOS por Ivan Claudio Araquém Alcântara é um dos maiores fotógrafos de natureza do Brasil. Agora, mostra o seu lado de retratista da paisagem arquitetônica e humana ao documentar, sob a clave da memória, a Santos em que passou três décadas de sua vida. Não fossem pelas referências modernas, as 80 fotos do casario da cidade velha e do porto, enquadrados de forma esplêndida em preto e branco no livro “Santos” (TerraBrasil), passariam por flagrantes de um tempo impreciso, com suas fantasias de evasão. Como diz o texto de abertura de Xavier Bartaburu, “todo homem tem seu ‘Amarcord’. O de Araquém é igual ao de Fellini”. 10#8 EM CARTAZ – AGENDA - CineMPB/NUNO RAMOS/NOSSA CIDADE Conheça os destaques dasemana por Ivan Claudio CineMPB (CCBB, São Paulo, até 25/1; CCBB, Rio de Janeiro, até 27/1) Mostra de documentários musicais. Da safra recente, “A Batalha do Passinho” revela o estilo de dança carioca NUNO RAMOS (MON, Curitiba, até 30/3) A mostra “Anjo e Boneco” reúne desenhos em grandes dimensões, feitos com guache, carvão e pastel, e uma tela inédita, no estilo quadro-relevo que consagrou o artista paulista NOSSA CIDADE (Teatro Anchieta, São Paulo, a partir de 11/1) Reestreia da adaptação de Antunes Filho para a peça do americano Thornton Wilder. Às quintas-feiras, volta aos palcos “Toda Nudez Será Castigada” 11. A SEMANA 15.1.14 por Antonio Carlos Prado e Elaine Ortiz "A PEQUENA GRANDE MULHER, O PEQUENO GRANDE HOMEM" O justificado medo de morrer de uma menina de 10 anos e o voluntarioso destemor diante da morte de um garoto cinco anos mais velho provaram a muita gente grande que seus países e a própria humanidade podem ser melhores. Na segunda-feira 6, cada um deles a seu modo, colaborou decisivamente para que atentados suicidas promovidos no Afeganistão e no Paquistão comecem a ser desativados. A menina, identificada como Spozhmai, não cedeu às ordens de seu irmão que integra a organização terrorista Taleban e recusou-se a se fazer explodir com um colete forrado de bombas num atentado na província afegã de Helmand – para isso, fugiu de casa e agora pede abrigo ao governo de seu país. Já o menino Aitzaz Hassan, ao chegar atrasado à escola na cidade paquistanesa de Hangu, percebeu que um homem-bomba iria ingressar no colégio. Imediatamente ele se jogou contra o terrorista radical sunita – salvou os alunos e foi o homem quem se despedaçou. Lamentavelmente, o garoto Aitzaz morreu na explosão. "MICHELLE OBAMA, SEM BOCA LIVRE" “Snacks & Sips & Dancing & Dessert”. Isso está escrito nos convites que a primeira-dama dos EUA, Michelle Obama, está distribuindo a seletos convidados. Trata-se da sua festa de aniversário de 50 anos, a serem comemorados no fim deste mês. Traduzindo: “lanches & bebidas & dança & sobremesa”. Agora o detalhe de fato marcante do convite: nele Michelle escreveu para os convidados chegarem à festa “já jantados”, porque “não haverá jantar”. "O ASSASSINATO DA MISS E A DEMAGOGIA DE MADURO" O assassinato da ex-miss Venezuela Mónica Spear Mootz, na segunda-feira 6, seria apenas mais um número na estatística criminal de um dos mais violentos países da face da Terra – estima-se que ocorram 79 assassinatos por 100 mil habitantes. Mas a sua juventude (29 anos), beleza e fama colaram na morte o símbolo da luta contra a violência. Como ocorre em diversos países latino-americanos, quando a desgraça vem todo mundo tem fórmulas prontas para diminuir a criminalidade. Após o latrocínio, dois arqui-inimigos deram-se as mãos: o presidente Nicolás Maduro e seu opositor Henrique Capriles. Juraram extirpar a violência. Se o crime for acabar da mesma forma como veio a felicidade apenas porque Maduro criou um ministério com esse nome, é melhor os venezuelanos entregarem já a alma a Deus. "32 MILHÕES" de espectadores assistiram pela web à final do campeonato mundial de 2013 do game “League of Legends”, verdadeira febre entre os internautas. Os games bateram em audiência a final da NBA, tradicional liga de basquete dos EUA. A partida foi assistida pela tevê por 20,6 milhões de espectadores. "NUNCA SE APREENDEU TANTA DROGA" De duas, uma: ou a Polícia Federal está mais alerta ou o narcotráfico está crescendo assustadoramente no Brasil. Na terça-feira 7, a PF divulgou o número final de apreensão de cocaína no Brasil ao longo do ano passado. É recorde: 35,7 toneladas. Houve aumento de 80% em relação a 2012. Foram apreendidas também 220,7 toneladas de maconha – o dobro em comparação ao ano anterior. "SUJOU PARA A PRINCESA" Diferentemente dos contos de fada, nos quais todos torcem para que a princesa seja feliz com seu belo e virtuoso príncipe, a população espanhola quer ver a infanta Cristina pelas costas – nada de erótico não, é puro desprezo mesmo. Filha caçula do rei Juan Carlos, ela foi indiciada pelos crimes de fraude fiscal e lavagem de dinheiro no escândalo de contratos públicos da ONG de seu marido, Iñaki Urdangarin – que de príncipe não tem nada. Eles teriam desviado cerca de R$ 18,56 milhões. O depoimento da princesa está marcado para 8 de março. Se o caso for adiante, resultará no primeiro julgamento em toda a história de tradição e estirpe da família real espanhola. "CHAMPANHE ANTES DA EUTANÁSIA" Se o nosso último ato de autodeterminação pudesse ser a escolha de como morrer, com certeza o significado da vida e da própria morte ganhariam em dignidade. Escolher morrer feliz, por exemplo. É o que se depreende da história do belga Emiel Pauwels, estrela do atletismo máster aos 95 anos. Na terça-feira 7, ele reuniu cerca de 100 amigos e familiares, deu uma festa regada a champanhe, relembrou as mulheres que amou e se entregou à eutanásia – procedimento legal na Bélgica para portadores de doenças irreversíveis; Emiel padecia de câncer. A história de sua despedida e opção de morte é a encarnação do instigante e reconfortante filme “As Invasões Bárbaras”. "SOBE NÚMERO DE BRASILEIROS PROCURADOS PELA INTERPOL" Se na economia o Brasil tem apresentado déficit, na lista da Interpol o País aparece com superávit. Aumenta em média em 20% ao ano o número de brasileiros procurados no Exterior, segundo informações do escritório central da entidade. O ex-diretor de marketing do banco do Brasil Henrique Pizzolato é um dos recém-desembarcados no bloco do “Procura-se”. O deputado Paulo Maluf está nele há tempo. "A APARIÇÃO DE FIDEL" O ex-ditador de Cuba Fidel Castro reapareceu publicamente na quarta-feira 8 após quase um ano de recolhimento – seus assessores o levaram à inauguração de uma galeria de arte em Havana. A estratégia do marketing político foi a de fazer Fidel exibir-se exatamente na data na qual o regime obscurantista de Cuba completa 55 anos – Fidel, combalido física e mentalmente, tem 32 anos a mais. "O ACERTADO PROJETO DE FERNANDO HADDAD PARA DEPENDENTES DE CRACK - E SEU INFERNO ASTRAL" O prefeito de São Paulo, Fernando Haddad, faz 51 anos no dia 25 de janeiro – a mesma data em que se comemora a fundação da cidade. Assim caminha Haddad em seu inferno astral. Na quarta-feira 8 expôs o corajoso plano para recuperar dependentes químicos que vivem nas ruas. Sintonizado em países como Canadá e Holanda, a prefeitura vai empregá-los (R$ 15 por dia de salário) enquanto os trata. É o melhor projeto apresentado nos últimos tempos no Brasil. Já foi criticado. Também na quarta-feira 8 o TCM suspendeu a licitação para a construção de 128 quilômetros de corredores de ônibus. Quer saber de onde vêm os R$ 4,8 bilhões da obra. Haddad respondeu que o dinheiro vem do governo federal. O TCM decidirá em duas semanas. Sem o dinheiro que esperava arrecadar com o IPTU, cai a desapropriação de áreas nas quais ele dizia que construiria creches, casas populares e hospitais. Continua barrado na Justiça o seu projeto de aumentar em até 35% o valor do IPTU. "US$ 12,26 BILHÕES" foi o déficit do fluxo cambial no Brasil em 2013 – ou seja, saiu muito mais dinheiro do que entrou. O resultado negativo é o primeiro desde 2008 e o pior desde 2002. As informações foram divulgadas pelo Banco Central na quarta-feira 8. "CORDEIRO DO PAPA" Tudo tem limite. O jesuíta Francisco é um papa humilde e informal, mas convenhamos que a senhora que lhe colocou de supetão um carneiro nos ombros em sua visita à igreja de Santo Alonso forçou um pouco a barra. A expressão do papa diz tudo: sorriso para não decepcionar a pastora, mas olhar de quem mal crê no que está acontecendo. Também na semana passada Francisco suprimiu o título de monsenhor na Igreja Católica: primeiro passo para a extinção dos títulos honorários na hierarquia eclesiástica. ECONOMIA Quando fora dos limites das águas territoriais de um país, a exploração do fundo dos oceanos é controlada pela Autoridade Internacional para o Fundo do Mar. É por isso que o Brasil acaba de apresentar a essa entidade um inédito pedido para desenvolvimento de pesquisas de mineração em área de cerca de três quilômetros quadrados localizada no Atlântico Sul. A região se chama Elevado do Rio Grande e fica a mais de mil quilômetros da costa brasileira. Tem potencial de exploração de cobalto, manganês e ferro. Se o pedido for acolhido, o Brasil irá investir US$ 11 milhões nos primeiros cinco anos de contrato. "BLEFE NO "OBAMACARE"" Barack Obama pisou 2014 com o pé esquerdo no que diz respeito à sua principal bandeira social: o programa que obriga os cidadãos a adquirirem um plano de saúde. Ele começou a vigorar com 2,1 milhões de inscritos, enquanto a Casa Branca vinha bancando que já contava com 3,3 milhões de americanos cadastrados. Teve blefe no “Obamacare”. "COCAÍNA NO PUDIM" Um inocente pudim entrou para o noticiário policial argentino. Motivo: no Carrefour ele apareceu sendo vendido com embalagem na qual se lia que 12 gramas de cocaína integravam seus ingredientes. Na verdade, o fato era firme como um pudim – ou seja, não havia cocaína alguma. O Carrefour desmentiu tudo imediatamente e atribuiu a ocorrência à “conduta maliciosa de algum funcionário”. "MULHERES DÃO ADEUS À FUMAÇA " A Associação Médica Americana divulgou estudo na semana passada sobre o tabagismo nas últimas três décadas. Foram acompanhados 187 países (Brasil incluído). A dependência de nicotina entre as mulheres caiu 42% e entre os homens diminuiu 25%. A pesquisa foi patrocinada pela Fundação Bill e Melinda Gates.