0# CAPA 14.1.15 ISTOÉ edição 2354 | 14.Jan.2015 [descrição da imagem: desenho de uma metralhadora, aparecendo de lado (perfil) tendo na frente do cano um pequeno lápis, com borracha, que está começando a apagar a metralhadora pelo cano. No lápis está escrito Je suis Charlie] A LIBERDADE RESISTE Atentado ao “Charlie Hebdo”, em Paris, impõe o desafio de combater o terrorismo sem alimentar a intolerância. [parte superior da cada: desenho do Palácio do Planalto, tendo uma fita métrica ao redor] DIETA DO PODER Conheça o método de emagrecimento que conquistou presidente, ministros e parlamentares. _______________________ 1# EDITORIAL 2# ENTREVISTA 3# COLUNISTAS 4# BRASIL 5# COMPORTAMENTO 6# MEDICINA E BEM-ESTAR 7# MUNDO 8# TECNOLOGIA E MEIO AMBIENTE 9# CULTURA 10# A SEMANA _____________________________ 1# EDITORIAL 14.1.15 "ATAQUE CONTRA A CIVILIZAÇÃO" Mário Simas Filho, diretor de redação É praticamente unânime entre os sociólogos a constatação de que a liberdade de expressão é uma das grandes conquistas civilizatórias da humanidade. Atentar contra essa conquista significa violentar a sociedade como um todo, renegar séculos de evolução e alvejar valores universais como o direito de livre pensar e o próprio conceito de liberdade. O covarde ataque de terroristas radicais islâmicos contra o jornal satírico “Charlie Hebdo”, em Paris, na semana passada, não atingiu apenas os 12 mortos ou os franceses, que passaram a protagonizar uma rotina de guerra, com medo e incertezas. Os disparos que vitimaram cartunistas, jornalistas e policiais acertaram também o peito de todos os que desejam viver em um mundo onde o respeito ao próximo, às divergências e o direito de ir e vir sejam premissas irrevogáveis. Alvejaram inclusive os muçulmanos, que, em sua maioria, também rejeitam o radicalismo e o terror como plataforma de ação. Para conter ações como essas não basta a indignação. Reagir a atos como o ocorrido em Paris é um dever da humanidade e não apenas das autoridades francesas ou europeias. Porém, o desafio que se coloca agora é de como promover uma reação sem fortalecer os extremistas – também nocivos à civilização – que apregoam o aumento da intolerância, a xenofobia e a islãfobia, comportamentos que no final da história em nada contribuem para a evolução dos povos e que só acirram uma guerra sem vencedores. Pela violência, pela covardia e pelas consequências de dimensão planetária, o terror que se abateu sobre a França ganhou uma justa repercussão mundial. Mas não é apenas o terrorismo de grupos religiosos radicais que vem promovendo, nos últimos anos, ações que atentam contra a liberdade de expressão e atingem em diversas partes do mundo os meios de comunicação e os profissionais que neles atuam. Diariamente surgem em todos os cantos tentativas de controlar ou intimidar a mídia, seja por intermédio de projetos de lei, seja por abuso de poder econômico e até por ameaças contra a vida de jornalistas e cinegrafistas. Também a esses ataques é preciso que os adeptos de uma sociedade capaz de conviver com as divergências permaneçam atentos. __________________________________________ 2# ENTREVISTA 14.1.15 MURILO ENDRES - "POR QUE NÃO POSSO COMANDAR A CONFEDERAÇÃO DE VÔLEI?" O jogador defende a participação dos atletas na gestão da entidade e diz que a corrupção está disseminada nas organizações esportivas brasileiras por Raul Montenegro OLIMPÍADA - "A pressão aumenta bastante por jogarmos em casa. Não tem como fugir do favoritismo", diz ele O escândalo dos desvios de dinheiro público na Confederação Brasileira de Voleibol (CBV) – detectados pela Controladoria-Geral da União (CGU) e revelados no fim do ano passado – pôs em xeque o futuro do esporte no País, após o Banco do Brasil suspender o patrocínio de R$ 70 milhões anuais. As irregularidades ocorreram na gestão de Ary Graça, atual presidente da Federação Internacional de Vôlei. Para retomar o contrato, a instituição financeira quer garantias de que a atual administração da entidade irá sanar os problemas e a inclusão dos jogadores e técnicos na gestão. A CBV se comprometeu a atender às exigências e um aditivo no contrato deverá ser assinado em breve para que os desembolsos sejam retomados. "Tivemos muitos arranca-rabos na seleção. Em 2011, tive uma discussão feia com o Bernardo. Minha relação com ele é ótima, mas, se precisar brigar de novo, vamos discutir" A entidade também já teve uma primeira reunião com jogadores para discutir como será a participação deles. O ponta Murilo Endres, do Sesi-SP, é um dos atletas mais envolvidos nesse processo. À ISTOÉ, ele diz o que os jogadores querem, fala do favoritismo da seleção na Olimpíada e da sua vida com a mulher, Jaqueline Carvalho, da seleção feminina, com quem há um ano teve Arthur. "Éramos virgens (antes do início do namoro) mais por falta de oportunidade. Eu e a Jaque saímos cedo de casa, ela com 15 anos e eu com 17. Foi assim no nosso caso, não ficamos pregando virgindade para ninguém" Istoé - A CBV comunicou ao Banco do Brasil que concorda com as exigências feitas pelo banco e pela CGU, como a inclusão de atletas na gestão da entidade, para retomar o patrocínio. Como se dará essa participação? Murilo Endres - A CBV irá indicar alguns nomes. Já sabemos quais são, mas os atletas precisam aceitar o cargo e saber que papel realmente terão lá dentro. Houve uma reunião com a CBV na qual estavam presentes jogadores, técnicos, dirigentes e tivemos algumas garantias de mudanças na administração da entidade. Vamos dar um voto de confiança para que eles possam trabalhar. Uma vez lá dentro, iremos saber o que acontece nas assembleias da CBV, vamos ter acesso a contratos e aí tudo vai ficar mais claro para nós. Istoé - Vocês já tentaram participar antes? Murilo Endres - Na época do Ary Graça (presidente da CBV quando houve os desvios), nós tentamos criar uma comissão de atletas, a Unidos pelo Vôlei. Ela começou com alguns jogadores da seleção discutindo como poderíamos melhorar o vôlei. Decidimos, então, fazer contato com os capitães de todos os times brasileiros para conversar sobre isso. Logo criamos um grupo na internet onde conseguimos reunir praticamente todos os jogadores do País – mais de 300. O movimento tinha dado uma esfriada, mas, com a divulgação do relatório da CGU, voltamos à tona. Queremos ser uma espécie de Bom Senso FC do nosso esporte. Istoé - O que fizeram na época? Murilo Endres - Chegamos a ir às reuniões, mas infelizmente não tínhamos voz ativa nem poder de decisão. Então, a primeira coisa que queremos é que tenhamos direito a voto. Só se participarmos das decisões é que alguma coisa vai mudar. Talvez até uma mudança no estatuto para que atletas possam escolher o presidente. Clubes e técnicos também. Não acho justo que só os presidentes das federações estaduais possam se eleger para liderar a confederação nacional. Por que eu não posso comandar a CBV? Dediquei 15 anos da minha vida ao vôlei. Istoé - Não temeu retaliações após suas duras críticas, nas redes sociais, aos desmandos? Murilo Endres - O livro de regras da Superliga diz que os jogadores não podem criticar. Outros atletas já foram notificados e receberam multas por causa disso. Comigo nunca aconteceu, e eu não fiquei com medo porque não falei nenhuma mentira. Foi um desabafo. Nesse dia, conversei com outro jogador, que me falou: “Esquece isso, vai dar em nada. Você está vendo aí o mensalão e o escândalo da Petrobras”. Eu respondi: “Mas esse está muito mais próximo da gente. Podemos influenciar. É nossa obrigação tentar”. Não quero que caia no esquecimento, como muitas coisas no nosso país. Istoé - Em meio à crise, você, o técnico Bernardinho e outros esportistas foram punidos por causa de um episódio no mundial da Polônia. Acha que esses fatos estão relacionados? Murilo Endres - Fui punido com suspensão por um jogo. Vejo como uma retaliação do Ary Graça (ele agora está à frente da Federação Internacional de vôlei). Foi por causa de uma briga que aconteceu no Mundial do ano passado, mas é engraçado o julgamento sair logo após as denúncias. O Ary disse que não participou da decisão, mas eu não acredito. Ele fazia a mesma coisa na Confederação Brasileira, controlava tudo. Desde o office boy até o cargo mais alto, tudo passava por ele. Istoé - Recentemente, a Confederação Brasileira de Tênis também foi acusada de malfeitos. A corrupção está disseminada nas organizações esportivas? Murilo Endres - Está tudo infestado. O modelo é ruim, arcaico. A CGU não pode atuar diretamente nas federaçõe a não ser que elas recebam dinheiro público. Então ninguém consegue fiscalizar. Elas mesmas se fiscalizam ou contratam uma auditoria externa, que é uma perda de tempo porque você paga para a pessoa te auditar. A CBF (Confederação Brasileira de Futebol) também é um exemplo negativo. Eles se defendem muito. A estrutura das confederações conta com presidentes de federações há 20, 30 anos no poder. Os caras não precisam mostrar serviço, trocam voto por perdão de dívidas, que a maioria dos clubes tem. Para mudar é preciso uma série de medidas: limitar o número de reeleições da presidência, fortalecer os clubes e punir os responsáveis pelos desvios, ressarcindo e reinvestindo o dinheiro. Acho que depois de episódios como esses o esporte sairá fortalecido. Istoé - A seleção é favorita ao ouro olímpico? Murilo Endres - A pressão aumenta bastante por jogarmos em casa. Não tem como fugir do favoritismo. Na Olimpíada, se a gente não for campeão será um resultado que não vai agradar a ninguém. Precisamos unir a equipe e nos fechar porque a mídia e os torcedores vão estar em cima. Mas somos um time com condição de brigar pelo ouro. Temos alguns jogadores mais velhos – meu caso – e também outros mais novos, uma mescla muito boa. Istoé - É certo que você jogará? Murilo Endres - Quero jogar, mas não é certo. O técnico tem que me convocar, e para isso eu tenho que estar 100% fisicamente. Não quero estar na seleção pelo nome que eu tenho, quero estar lá para brigar pelo ouro. Hoje, por conta de duas operações que fiz, ainda não estou 100%. Istoé - Você e outros jogadores já tiveram conflitos com o Bernardinho. A relação está desgastada para 2016? Murilo Endres - Nem um pouco. Tivemos muitos arranca-rabos na seleção. São coisas que acontecem dentro de quadra e que ficam ali. Em 2011, tive uma discussão feia com o Bernardo, que envolveu também o Serginho. Ninguém viu, mas quando o jogo acabou nós apertamos a mão dele. Minha relação com o Bernardo é ótima. Se precisar brigar de novo, vamos discutir. Talvez num momento em que eu esteja irritado – ele está sempre irritado – o atrito pode acontecer. No masculino isso é comum e resolvemos dentro de quadra mesmo. Istoé - Existe alguma possibilidade de o Bernardinho não ser o técnico da seleção no Rio? Murilo Endres - Eu acho que não, a não ser que o presidente da confederação o demita. Ou se ele não quiser. Mas pelos atletas, por causa de briga, sem a mínima chance de ele sair. Istoé - Qual foi o momento mais difícil da sua carreira? Murilo Endres - Foi difícil ficar na sombra do meu irmão, Gustavo, no começo da carreira, porque ele já era um jogador de seleção. Tive que correr atrás para provar que eu tinha o meu talento, que podia chegar à seleção. Desvincular da imagem dele levou muito tempo. Até hoje muitos me chamam de Gustavo. Durante anos eu precisei ficar escutando isso quieto. Istoé - Incomoda-se com o fato de a Jaqueline, sua mulher, da seleção feminina de vôlei, ser considerada uma musa? Murilo Endres - Não. Em casa ela é só a minha esposa. Também pelo fato de todo fã de voleibol saber que estamos juntos há muito tempo, praticamente 15 anos, há muito respeito. Em quadra sempre tem alguém que grita alguma coisa, mas isso não abala. Nunca tivemos um episódio de estarmos num local público e sofrermos um assédio maior. Istoé - Dos dois, quem é mais assediado? Murilo Endres - A gente tem mais fãs mulheres que homens no vôlei, então, consequentemente, acho que sou eu. Istoé - A Jaqueline já disse que no começo da carreira foi isolada na seleção pela fama de beldade. O mesmo aconteceu com você? Murilo Endres - Não, no masculino eu sou sacaneado por isso. Dizem: “Pô, que frescura”. Fiz umas fotos sensuais uma vez e os caras colaram no vestiário. Não tem essa de “muso”. No feminino tem muita vaidade. No masculino é só zoação. Istoé - Vocês dois eram virgens antes de começarem a namorar por opção, religião ou falta de oportunidade? Murilo Endres - Foi mais por falta de oportunidade. Eu e a Jaque saímos cedo de casa, ela de Recife (PE), com 15 anos, eu de Passo Fundo (RS), com 17. Simplesmente foi assim no nosso caso. Não ficamos pregando virgindade para ninguém. Istoé - Em casa, quem manda mais? Murilo Endres - Hoje em dia não tem por que ficar negando, a mulher manda muito mais dentro de casa do que o homem (risos). Istoé - O que mudou na sua vida desde que virou pai? Murilo Endres - O fato de eu chegar em casa e ele estar me esperando com um sorriso. O estresse do pós-jogo melhorou porque tenho que dar atenção a ele. Eu e a Jaque compramos uma casa em Itu para sair de São Paulo, dar uma chance de ele correr num gramado e andar na rua. Praticamente todo fim de semana a gente ia, respirava ar puro. É lá que a gente quer que o Arthur cresça. Agora está um pouco mais difícil porque ela está em Belo Horizonte. Fechou um contrato no início de dezembro do ano passado. Vamos ficar indo e vindo com o Arthur até acabar a Superliga. Istoé - Seu sonho, qual é? Murilo Endres - No esporte é fechar a Olimpíada com o ouro aqui no Brasil. Apesar de eu ter dois em casa, ambos são da Jaqueline. Não é a mesma coisa (risos). Pessoalmente, educar meu filho e quem sabe criar outros daqui a alguns anos. Pensamos em pelo menos mais um. Mas só depois de 2016. Antes disso está fora de questão. Istoé - Pensa em aposentadoria? Murilo Endres - Se eu chegar à Olimpíada, vai ser a minha última competição na seleção. Mas em clubes acho que ainda dá para jogar mais alguns anos. O meu irmão está com 39. Na Olimpíada estarei com 35. Depois disso devo jogar mais uns dois anos. Isso se não houver problemas com lesões, lógico. __________________________________________ 3# COLUNISTAS 14.1.15 3#1 LEONARDO ATTUCH - LEVY E BARBOSA, OS EQUILIBRISTAS 3#2 PAULO LIMA - RIO DE QUÊ? 3#3 GISELE VITÓRIA 3#4 ANA PAULA PADRÃO - PERIFÉRICOS E PRIVILEGIADOS 3#5 BRASIL CONFIDENCIAL 3#1 LEONARDO ATTUCH - LEVY E BARBOSA, OS EQUILIBRISTAS Ajuste fiscal começa num momento difícil, com demissões na indústria e greves nas montadoras. Há praticamente um consenso, entre economistas, de que o Brasil necessita de um ajuste fiscal. A grande dificuldade, no entanto, é encontrar a dose certa do remédio, especialmente no momento em que a economia começa a emitir sinais de fragilidade no seu indicador mais importante, que é o emprego. Nesta semana, houve 800 demissões na Volks e 244 na Mercedes-Benz, seguidas de greves nas duas montadoras do ABC paulista. Ainda que os cortes resultem de problemas internos das empresas, como, por exemplo, a perda contínua de mercado da Volks nos últimos anos, é inegável que as empresas são também afetadas pelo fim da política de desonerações fiscais – um regime de incentivos que, com Joaquim Levy e Nelson Barbosa na economia, não tem data para voltar. O principal risco, em momentos de alta do desemprego, é a contaminação das expectativas. Nem tanto entre investidores, mas sobretudo entre quem consome. O trabalhador, ainda empregado, vê o vizinho demitido e ordena à família: é hora de apertar os cintos. Menos consumo, menos emprego, menos arrecadação fiscal e, de novo, mais necessidade de ajustes fiscais.É essa a espiral negativa que deve ser evitada a todo custo. Nas primeiras sinalizações que fizeram até agora, Levy e Barbosa soltaram metas realistas de ajuste e não adotaram discursos sanguinários. Com o corte de despesas não obrigatórias de R$ 1,9 bilhão ao mês no orçamento federal, é possível começar a reequilibrar as contas. Mas Barbosa deixou claro que a relação dívida/PIB só entrará em trajetória declinante a partir de 2016. O que ainda falta no governo é um discurso mais otimista em relação a outros aspectos da política econômica, que volte a despertar o “espírito animal” dos investidores e mantenha acesa a chama do consumo. Se alguns setores enfrentarão dificuldades, outros, como, por exemplo, os exportadores, serão favorecidos pelo novo momento cambial. Mas o mais importante será sinalizar a continuidade de uma política de distribuição de renda, que alargue as oportunidades e o mercado de consumo no País. 3#2 PAULO LIMA - RIO DE QUÊ? Um atleta solitário e silencioso revela: na cidade mais importante da sétima economia do planeta, algumas das maiores corporações do País têm suas janelas voltadas para um caldo de massa liquefeita de lixo, gases fétidos e podridão. O campeão de stand-up paddle Alessandro Matero arrisca a pele para denunciar um dos maiores absurdos de São Paulo: a podridão de suas águas Deve haver infinitas maneiras de medir o índice de desenvolvimento de uma comunidade. Há quem diga que quanto menor o número de notícias relacionadas à política nas primeiras páginas de seus jornais, mais avançada será a sociedade. Há quem prefira medir o nível de civilidade de um povo pela qualidade média dos guardanapos oferecidos nos restaurantes do local. Se forem de tecidos de bom toque, alvos e exalando aromas agradáveis de limpeza, segundo essa corrente, tudo indica se tratar de um lugar desenvolvido. Umas métricas podem ser mais aceitas e fazer mais sentido que outras, mas pouca gente discorda de que se pode avaliar o grau de avanço de um aglomerado urbano com muita precisão pela qualidade de suas águas. Não há espaço aqui nem é ocasião para tratar de questões que remontam ao começo do século passado, como a pendenga entre Prestes Maia e Saturnino de Brito vencida pelo primeiro, que tratou de canalizar boa parte dos rios da cidade de São Paulo, atendendo aos interesses da elite da época em detrimento do projeto de navegabilidade pretendido pelo segundo, como aponta o executivo da área de tecnologia e estudioso diletante das questões da cidade, Ari Meneghini. Nem mesmo para falar do que vivemos hoje em termos de desabastecimento e da chamada “crise hídrica”. A imagem ao lado mostra algo que podemos chamar, já pedindo perdão pelo trocadilho infame, de “uma abordagem mais seca” do tema. O remador profissional e ex-campeão brasileiro de stand-up paddle Alessandro Matero resolveu arriscar a pele para produzir um alerta muito claro a respeito de um dos maiores absurdos estampados na cara da cidade mais importante da sétima maior economia do planeta: o que resta dos principais rios que ainda permanecem sob a luz do dia na cidade de São Paulo são na verdade massas liquefeitas, fétidas e putrefatas de algo que há muito não pode nem merece mais ser chamado de água. Para lembrar aquilo que jamais devia ter sido esquecido, Matero se lançou em parceria com a revista “Trip”, ao desafio de uma seção de remo sobre sua prancha ao longo de três quilômetros do “rio” Pinheiros. Munido de uma roupa especial que protegia seu corpo dos riscos graves que uma eventual queda representaria ao seu organismo e de uma máscara para defender seus pulmões dos gases irrespiráveis que exalam do caldo de lixo em que se transformou o rio, o atleta remou por cerca de meia hora num protesto silencioso que podia ser visto das janelas das maiores corporações atuantes no País. Algumas das maiores empresas dos setores de alimentos, farmacêutico, petroquímico, bancos, bancas de advogados, construtoras, holdings e diversas empresas do setor financeiro têm suas sedes e seus negócios exatamente às margens dessa artéria podre do organismo do qual fazem parte e retiram seus rendimentos. Tanto o governo do Estado quanto a iniciativa privada têm nos rios da cidade uma das mais óbvias oportunidades para mostrar quais são seus reais propósitos. Ainda que não seja pelo espírito de cidadania, é difícil imaginar uma chance mais perfeita para edificar de forma definitiva a imagem de modernidade e de propósito social tão almejada hoje pelos conselhos de administração e que decora nove entre dez paredes de salas de reuniões impressa nos inevitáveis quadros de missão, visão e valores pendurados nas sedes de grandes empresas. E se as questões ligadas aos rios de São Paulo estão longe de ser equações simples, também não há nada além de falta de motivação real que nos impeça de tomar atitudes muito efetivas no sentido de uma solução concreta. Na USP e em outros centros de pensamento, há pessoas com ideias sérias para serem consultadas. A organização não governamental “Águas Claras do Rio Pinheiros” é outra fonte importante e confiável. Em eu site, por exemplo, podem-se conhecer seis alternativas objetivas para atacar as diferentes problemáticas que já vêm inclusive sendo testadas numa parceria dessa ONG com o governo do Estado. Fica a dica. A coluna de Paulo Lima, fundador da editora Trip, é publicada quinzenalmente 3#3 GISELE VITÓRIA Gisele Vitória é jornalista, diretora de núcleo das revistas ISTOÉ Gente, ISTOÉ Platinum e Menu e colunista de ISTOÉ À la Bond Girl... 2015 começa com um grande desafio para Paolla Oliveira: dar vida a uma prostituta lésbica na série “Felizes para Sempre?”, de Euclydes Marinho. Acostumada a encarnar mocinhas, a atriz vai protagonizar cenas quentes de nudez e sexo, inclusive com mulheres. “Lidei com naturalidade. É uma oportunidade diferente, com um personagem rico e conflitante.” Tanto que Paolla dispensou dublês em todas as cenas de sua Danny Bond, levemente inspirada nas Bond Girls. “É uma brincadeira. Mais pela famosa frase ‘eu sou Bond’”. Mais do que sexy, ela fará uma mulher superpoderosa, que, na verdade, vai trazê-la para o rol das estrelas que se eternizaram na pele de prostitutas, como Ana Paula Arósio, Giovanna Antonelli e Camila Pitanga.“Sei que esse é o tipo de personagem que causa expectativas e repercussão. Mas tento não criar expectativas e nem pensar em polêmicas”, pondera. Sobre seus planos para o ano novo, Paolla faz mistério. “Está só começando...”. Tops em Trancoso As tops Kate Moss e Naomi Campbell roubaram a cena em Trancoso (BA). Na noite da virada, elas foram a sensação da praia de Taipe. Kate chamou a atenção pelo modelito de gosto duvidoso, que lembrava um pijama listrado. Naomi, pela cara fechada, incomodada pela presença de fotógrafos. Na sexta-feira 2, a dupla amanheceu na praia de Trancoso. Enquanto Kate curtia o mar baiano sem se importar com a barriguinha saliente, Naomi continuava firme e forte em seu propósito de não ser fotografada. Irritada, a modelo correu atrás de um paparazzi, mas não conseguiu evitar os cliques. Minutos depois, relaxou e foi curtir o mar ao lado da amiga Kate. Boas-vindas a 2015 As festas de Réveillon foram bem animadas. Em Florianópolis (SC), Bruna Marquezine passou o primeiro dia do ano agarradinha no top model Marlon Teixeira, com quem trocou muitos beijos. Já a turma da moda preferiu receber 2015 nas praias de Trancoso. “Foi bem agitado. Teve festa todos os dias que estive por lá”, conta Lelê Saddi, que passou 10 dias na Bahia, acompanhada da mãe, Cris Lotaif, e das amigas blogueiras Thássia Naves e Lala Rudge. Luciana Gimenez e Marcelo de Carvalho optaram por uma noite mais glamourosa e viraram o ano no luxuoso resort St Regis Bal Harbour, em Miami. Já a apresentadora Liliana Rodrigues fez uma celebração mais intimista no Choppin, na orla carioca. Entre os convidados, estava HélioMagalhães, presidente do Citibank. Garden The right man in the right place: atende pelo nome de Arnaldo Jardim o novo titular da Secretaria da Agricultura do governo de São Paulo. Deputado federal pelo PPS, que reúne os ex-comunistas do antigo PCB, Jardim, formado em engenharia pela Escola Politécnica da USP, militou no Movimento Estudantil nos anos 1970, mesmo grupo do chefe da Casa Civil da Presidência da República, Aloizio Mercadante. Momento holístico Rodrigo Santoro recebeu o ano novo de uma forma diferente. Em vez de destinos badalados, o ator preferiu passar o Réveillon em meio à natureza, na Chapada dos Guimarães, em Mato Grosso. Pouco antes da virada, ele se entregou às mãos de Vera Holística, terapeuta local que equilibra energias com elementos da natureza e técnicas de reiki. Também fez uma limpeza dos chacras com pedras naturais. Tudo para entrar com o pé direito em 2015, quando completa 40 anos. Acompanhado da namorada Mel Fronckowiak, Santoro ficou hospedado na casa do casal Daniela e Luiz Mauro de Oliveira, amigos de sua irmã Flavia Santoro. Na turma também estava o ator Eriberto Leão. Durante a estadia de cinco dias, o galã ainda fez questão de conhecer a culinária local e pontos turísticos do Parque Nacional, como a Cachoeira do Marimbondo e a Cachoeira da Geladeira. Rodrigo Santoro e Eriberto Leão com o garçom Wagner Pereira 3#4 ANA PAULA PADRÃO - PERIFÉRICOS E PRIVILEGIADOS A cidadania é possível e pulsa pedindo espaço na agressividade das metrópoles. No Marco Zero da cidade do Recife tive minha primeira experiência emocionante de 2015. Caminhei por ali no começo da noite esperando a lua e vendo as gentes felizes, em férias, ocupando a praça. Não havia tensão nem linhas divisórias entre periféricos e privilegiados. Aquele era um lugar tranquilo numa cidade nem tanto. O clima era ameno, a brisa vinha do mar, pessoas jogavam conversa fora e usavam o espaço público como seu. De cada um. Não haveria arrastão em nenhum restaurante. A polícia estava presente, mas de maneira discreta. É assim que tem que ser, pensei eu. Tive saudade de cidades seguras que já conheci, de andar livre nas ruas, de não ter medo de ser cidadão.Lembrei de uma praça de Barcelona e de um restaurante que servia um peixe de carne branca e macia. Fizemos a refeição vendo os moradores das casas em frente sentados em suas cadeiras na calçada conversando até alta noite. Ninguém chamava as crianças para dentro e elas brincavam de pique-esconde até suar muito e ficar com aquele cheiro de galinha molhada que toda criança tem. Parecia uma vila do interior no meio de uma metrópole. Um pedacinho de bairro onde o tempo não passou.Talvez por ser época de férias, minhas memórias me levaram a tantos outros lugares seguros onde já estive. Numa favela de Medellín que ganhou uma das estações de metrô mais modernas que já conheci e uma biblioteca gigantesca e permanentemente lotada de moradores. Nem tudo na cidade está livre da delinquência, mas a revolução pela qual passou a cidade é notável. O ex-prefeito de Bogotá Enrique Peñalosa diz que uma cidade rica não é aquela onde os pobres andam de carro, mas aquela na qual os ricos andam de ônibus. Em São Paulo, quem pode se desloca em veículos blindados. Eu, que sonho com uma daquelas motos pequenas, das que circulam nas ruas da Itália, me surpreendo com frequência dizendo a alguém: cuide-se. Não ande distraído por aí, São Paulo é perigosa. Pessoas morrem por nada, de bala perdida, atropeladas, vitimadas em assaltos, as ruas não são de ninguém, nem do morador nem do Estado. Me pergunto quando os homens públicos que dirigem cidades acordarão para o fato de que é nelas que seus eleitores devem estabelecer suas rotinas sem sobressaltos. E que isso se faz não atrás de cadeados e muros altos, mas no espaço que é para o convívio de todos. Segurança é a apropriação do espaço público pelos homens de bem e não pelos que se aproveitam do vácuo do poder público para roubar, depredar, sequestrar. Esse era para ser um artigo sobre a gestão das cidades e terminou num desabafo sobre meu sonho de bem viver. De lugares mais carinhosos onde pessoas possam residir em calma. De cidades que abracem seus moradores e nas quais eles possam namorar no meio da rua, levar seus filhos a parques que não fiquem a mais de dez minutos a pé de suas casas, pegar um ônibus confortável e chegar, mais rápido que num carro, a qualquer lugar que desejem. É uma ideia romântica, mas inteiramente factível. Essa é uma das coisas que aprendi e não esquecerei. A cidadania é possível e pulsa pedindo espaço na agressividade das metrópoles. Ana Paula Padrão é jornalista e empresária 3#5 BRASIL CONFIDENCIAL por Eumano Silva A faca no pescoço de Manoel Dias A presidente Dilma Rousseff manteve o pedetista Manoel Dias no Ministério do Trabalho, mas fez algumas ressalvas. Ao acertar a permanência do auxiliar na Esplanada, ela exigiu a demissão imediata dos servidores já citados em escândalos ligados à pasta. Na mesma conversa, a presidente avisou que, ao primeiro sinal de irregularidade tornado público, a cúpula do ministério perderá os cargos. Em outras ocasiões, no primeiro mandato, Dilma teve mais tolerância com denúncias na área. A conferir. O partido de Gabas I O ministro da Previdência Social, Carlos Eduardo Gabas, está de bola cheia com a presidente Dilma. Diz-se em Brasília que ele ganhou mais cargos do que os caciques do PMDB e do PT. A nova presidente do INSS, Elisete Berchiol, é indicação dele. A nomeação irritou peemedebistas, e aliados de Dilma estão dizendo que ele ganhou dois cargos. O partido de Gabas II Carlos Gabas é filiado ao PT e se comporta como tal. Em 2013, ele era secretário-executivo da Previdência e, em uma reunião do PT, reagiu contra a ordem de cortar R$ 10 bilhões da pasta. “Não vamos demitir nem mesmo um peão. É um erro botar gente na rua perto da eleição.” De olho no litoral Alagoas aposta nos turistas. Pelo menos por enquanto, Renan Calheiros mantém no cargo o ministro do Turismo, Vinicius Lage. Agora, o ex-coordenador de Competitividade e Inovação do MTur Jair Galvão Freire, servidor da Embratur, assumiu a secretaria de Turismo de Maceió. Hora de pagar a conta A nova equipe do Ministério de Minas e Energia se assustou com o tamanho do buraco causado pela redução das contas de energia no ano passado. Na quarta-feira 7, pelo menos seis reuniões realizadas na pasta tinham como objetivo arrumar dinheiro para socorrer as elétricas. O recado dos sindicatos Pelo que se viu na posse de Dilma, as relações entre governo e trabalhadores serão complicadas nos próximos anos. Diferentemente das posses de Lula, os principais líderes sindicais não apareceram em Brasília. Nem mesmo as bandeiras das centrais foram vistas na Esplanada. Indicação de Blairo Mesmo perdendo as eleições em Mato Grosso, o senador Blairo Maggi (PR-MT) emplacou outro aliado na Agricultura. Trata-se de Décio Coutinho, o novo secretário de Defesa Agropecuária. Era um pleito de 2007. Agora, contou com o apoio da ministra Kátia Abreu, que tem como missão aproximar Dilma do agronegócio, setor em que Maggi é referência. Orgulho O currículo postado na página oficial do secretário-executivo do Ministério dos Transportes, Anivaldo Vale, chamou a atenção dos servidores. Três vezes deputado federal, ele registrou na lista de experiências a função de porteiro e agente de portaria, apesar de não correlatas ao novo cargo. O STF e as barreiras Pelo menos cinco ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) dizem que se a discussão da cláusula de barreiras para os partidos políticos fosse retomada a decisão seria outra. A regra julgada e derrubada em 2006 estabelecia que os partidos que não conseguem 5% dos votos para deputado federal teriam o tempo de rádio e TV reduzido para dois minutos por semestre. Além disso, os nanicos precisariam dividir entre eles apenas 1% do Fundo Partidário. Essas legendas ainda perderiam estruturas de lideranças, como verbas e assessores. Por enquanto, não existe outra ação no Supremo sobre o assunto. A guerra do aeroporto A deputada Alice Portugal (PCdoB-BA) vai reapresentar o projeto que devolve ao aeroporto Luiz Eduardo Magalhães, de Salvador, o nome de “Dois de Julho”, data comemorada pelos baianos como a “independência” do Estado. Ex-presidente da Câmara, Luiz Eduardo morreu em 1998. Parlamentares do DEM, partido ao qual ele pertenceu, vão fazer plantão para obstruir a proposta. Toma lá da cá Juliana Pereira, estilista que criou a roupa usada pela presidente Dilma na posse ISTOÉ – Como recebeu a repercussão sobre o modelo do vestido? Juliana – Foi imensa, nunca imaginei. ISTOÉ – Alguns estilistas afirmaram que o modelo não era adequado para uma pessoa acima do peso. O que achou? Juliana – Cada um tem sua opinião e o direito de expressá-la. Os estilistas têm estilos e escolhas diversas e, por isso, temos uma moda tão rica. Estou segura sobre o modelo que escolhi e acho que ficou adequado. ISTOÉ - Acredita que esse trabalho a tornou ainda mais conhecida? Juliana – Foi a primeira vez que desenhei para a presidente. Certamente esse trabalho me tornou mais conhecida, me deu visibilidade. Retrato falado Os senadores preparam uma cama de gato para a presidente Dilma Rousseff. Entre eles, o senador Acir Gurgacz (PDT-RO). Enquanto ela se mobiliza para ressuscitar a Contribuição de Intervenção no Domínio Econômico (Cide) e usar o imposto como fonte de recursos para tapar o buraco orçamentário, os parlamentares já se mobilizam para votar uma Proposta de Emenda à Constituição (PEC) que transfere a receita com o tributo para subsidiar preço de passagens de ônibus. “A gratuidade das passagens de ônibus é custeada por quem paga a passagem inteira” Rápidas * Será em março a estreia de Joaquim Levy num megaevento mundial. O ministro da Fazenda chefiará a delegação brasileira na Assembleia dos Governadores do Banco Interamericano de Desenvolvimento, em Busan, cidade onde fica o maior porto da Coreia do Sul. * Na Coreia, Joaquim Levy explicará a nova política monetária e fiscal do Brasil a colegas de 48 países membros da instituição e debaterá o relatório de final de ano do BID, que estimou em 2,2% o crescimento econômico da América Latina e do Caribe em 2015. * Petistas insatisfeitos com a composição da equipe ministerial reclamaram ao presidente do partido, Rui Falcão, da permanência da ministra Tereza Campelo na pasta do Desenvolvimento Social. Acham que a presidente gosta do estilo agressivo da ministra. * Assim como a chefe, Tereza toca o ministério com broncas diárias e muita cobrança para cima dos auxiliares. Trata-se da pasta mais importante para as metas sociais do governo. Se todos os ministros fizerem o mesmo, a tensão vai aumentar na Esplanada. Sem liberdade de expressão Ao desautorizar uma declaração sobre salário mínimo do ministro do Planejamento, Nelson Barbosa, Dilma Rousseff repetiu a estratégia do primeiro mandato para calar a boca dos auxiliares. Em janeiro de 2011, o secretário nacional de Política sobre Drogas, Pedro Abramovay, perdeu o cargo porque defendeu o fim da prisão de pequenos traficantes. Depois dessa, todos ficaram com medo de dar opiniões. Servidores insatisfeitos O governo corta gastos, mas os delegados reclamam do veto, pela presidente Dilma, dos artigos da LDO que lhes concederia verbas para moradias. Os defensores públicos esbravejam por não terem sido incluídos em negociações de auxílios do Judiciário e do Ministério Público. ________________________________________ 4# BRASIL 14.1.15 4#1 AS PRIMEIRAS TROMBADAS 4#2 TESOURA NO DISCURSO DE POSSE 4#3 LINHA DE FRENTE 4#4 DA CAMPANHA À REALIDADE 4#1 AS PRIMEIRAS TROMBADAS Primeiros dias do segundo governo de Dilma Rousseff são marcados pela falta de sintonia entre integrantes do primeiro escalão Josie Jeronimo (josie@istoe.com.br) DISSONÂNCIA - O ministro do Planejamento, Nelson Barbosa, foi desmentido por Dilma depois de antecipar a nova regra para correção do salário mínimo Os sorrisos e as gentilezas entre a equipe ministerial do segundo mandato de Dilma Rousseff só duraram o tempo da foto oficial do dia 1º de janeiro. Na primeira semana de trabalho, os ministros chamaram mais a atenção por brigas e divergências internas do que pela pauta de ações do novo governo. A falta de sintonia expôs o novo ministro do Planejamento, Nelson Barbosa, a um episódio constrangedor. No dia seguinte à posse, Barbosa havia convocado uma coletiva de imprensa para relatar temas próprios de sua área, entre eles, a definição da regra de correção do salário mínimo. É o Planejamento que elabora o Orçamento da União e o envia ao Congresso. Portanto, qualquer nova norma de reajuste do mínimo, em tese, deveria ser definida pelo ministro. Respondendo a um questionamento sobre a possibilidade de o governo alterar, em 2016, a lei que rege a atualização do salário, o ministro adiantou: “Nós vamos propor uma nova regra para 2016 a 2019 ao Congresso Nacional nos próximos meses.” A resposta foi interpretada como uma ameaça à conjuntura política. O ministro da Casa Civil, Aloizio Mercadante, interrompeu as férias da presidente na Base Naval de Aratu, na Bahia, e a alertou do incidente. Interpelado pela presidente, Barbosa teve que se desmentir. “A regra atual ainda vale para 2015, acabou de ser editado decreto com base na regra atual.” A desautorização obedeceu a uma leitura política. Dilma e Mercadante entendem que Nelson Barbosa antecipou um debate polêmico de maneira desnecessária. O tema espinhoso, no entanto, não poderá ser ignorado em 2015. A lei do reajuste do salário mínimo só vale até dezembro e o governo terá que enviar, até agosto, um projeto para o Congresso propondo a nova regra que valerá em janeiro de 2016. A intervenção de Dilma aliviou possível mobilização das centrais sindicais contra o governo logo no início do ano, mas a imagem de Barbosa junto às entidades ficou enfraquecida. “Ele é gestor de política pública, quem manda é a presidente”, afirmou Canindé Pegado, secretário da União Geral dos Trabalhadores (UGT). O episódio parece ter insuflado o resto da equipe. Os novos ministros da Agricultura, Kátia Abreu, e do Desenvolvimento Agrário, Patrus Ananias, resolveram imprimir um tom ideológico ao discorrerem sobre as políticas e os objetivos de suas áreas e acabaram invadindo as atribuições da pasta coirmã. Estabeleceu-se a confusão. Os ministérios da Agricultura e do Desenvolvimento Agrário são órgãos com objetivos distintos. Um representa o setor produtivo. O outro trata da função social da terra. Em entrevista ao jornal “Folha de S. Paulo”, Kátia afirmou que o País não precisaria aprimorar políticas de distribuição de terras, ação que caberia ao Desenvolvimento Agrário de Patrus. “A reforma agrária tem de ser pontual, para os vocacionados. Latifúndio não existe mais.” A declaração despertou a fúria de representantes dos movimentos dos trabalhadores sem terra e, claro, de Patrus. O ministro não se esquivou do embate. Retrucou que o País usa os módulos rurais como unidade de medida para verificar o tamanho das propriedades. Em seguida, apoiou-se no conceito de função social da terra para defender a importância da reforma agrária. “Não basta derrubar a cerca do latifúndio, é preciso derrubar as cercas que nos limitam a uma visão individualista e excludente do processo social.” A colisão frontal entre Kátia e Patrus se assemelha aos entrechoques verificados entre a Frente Parlamentar da Agricultura e os defensores da reforma agrária no Congresso. Mas os ministros, em tese, deveriam fazer parte de um mesmo projeto. Afinal, integram o mesmo governo. A reação desafinada indica que os próximos quatro anos de administração terão que passar pelo divã antes de os administradores construírem, juntos ou não, soluções para avançar na resolução dos problemas. O loteamento de cargos entre partidos muitas vezes dotados de ideais distintos é uma das explicações para a composição de uma equipe de governo em permanente dissonância. Mas não é a única. Logo ao assumir o Turismo, Juca Ferreira, do PT, teve de justificar a aliados o motivo de sua antecessora, a senadora Marta Suplicy, do mesmo partido que o seu, ter feito críticas tão agressivas à sua indicação. Marta havia usado as redes sociais para censurar a escolha de Juca para o ministério que comandou de setembro de 2012 a novembro de 2014. A ministra da Secretaria de Direitos Humanos, Ideli Salvatti, também foi alvo de fogo amigo. A setorial de Direitos Humanos do PT rejeitou a recondução de Ideli ao cargo. As críticas foram feitas em carta aberta. “O governo Dilma está sendo atacado por colocar ministros completamente estranhos às suas pastas. Manter a atual ministra na pasta de Direitos Humanos é corroborar com isso. Colocar alguém não caracterizado com a militância em Direitos Humanos fez com que nenhuma política específica da pasta avançasse”, criticou a nota. Após tirar cinco dias de descanso na Base Naval de Aratu (BA), a presidente Dilma Rousseff retornou na terça-feira 6 irritada com os desencontros dos primeiros dias de governo. Aos ministros, transmitiu a ordem: as discussões entre integrantes do primeiro escalão devem ser travadas no âmbito do governo, de forma alguma publicamente. Tem razão, a presidente. Só que o exemplo precisa vir de cima. 4#2 TESOURA NO DISCURSO DE POSSE Contrariando promessa feita por Dilma ao ser empossada para o segundo mandato, governo anuncia um bloqueio de gastos que coloca a Educação no topo dos cortes Izabelle Torres (izabelle@istoe.com.br) COMEÇA O AJUSTE - O corte nas despesas dos ministérios é apenas o primeiro passo para o ajuste fiscal anunciado pelo novo ministro da Fazenda, Joaquim Levy Dois dias depois de assumir o cargo, o ministro da Fazenda, Joaquim Levy, conhecido no PT como “mãos de tesoura”, fez jus à alcunha. Coordenou uma ofensiva aos chamados gastos com custeio da inchada máquina governista e mandou cortar cerca de 30% das despesas previstas na Lei de Diretrizes Orçamentárias deste ano. O percentual equivale ao bloqueio mensal de gastos de R$ 1,9 bilhão, segundo o Ministério do Planejamento. Se durasse um ano, o corte atingiria R$ 22,7 bilhões. O corte atinge diretamente despesas com diárias, horas extras e viagens, que compõem a classe de gastos não obrigatórios. A iniciativa não constituiu surpresa nem para os demais integrantes do governo muito menos para o meio político e empresarial. O contingenciamento de recursos era uma medida esperada para o início do ano, qualquer que fosse o governo eleito. Embora o represamento de verbas seja apenas o primeiro passo para o ajuste fiscal que deverá vir mais adiante para economizar R$ 66 bilhões, não haveria outro caminho possível senão disciplinar as contas públicas, diante do cenário de estagnação econômica, de farra fiscal e da desorganização orçamentária herdadas da administração anterior. O surpreendente foi a presença do Ministério da Educação no topo das pastas atingidas pelo bloqueio de recursos. Representa a antítese do que Dilma Rousseff prometeu em sua posse. Na ocasião, a presidente reeleita disse que o lema do seu novo governo seria “Brasil, pátria educadora”. Nas palavras da própria presidente, isso incluiria o aumento dos investimentos na área e a valorização dos profissionais da educação. Entretanto, dias depois do discurso, o corte mensal anunciado na pasta é de R$ 586 milhões, um valor quase quatro vezes maior do que o bloqueio no Ministério da Defesa, segundo colocado na lista, com R$ 157 milhões. Por ano, equivale a R$ 7 bilhões. “A gente gostaria que esses cortes fossem feitos com cuidado, considerando o que é mais importante. A educação hoje é básica para que o País possa retomar o desenvolvimento”, afirmou o padre Gabriele Cipriani, do Movimento de Educação de Base, ligado à Igreja Católica. Os cortes anunciados na semana passada, porém, podem sofrer modificação. O contingenciamento definitivo só será anunciado após o Orçamento proposto pelo governo para 2014 ser aprovado pelo Congresso. Até lá o governo é autorizado a gastar por mês até 1/12 do que está previsto como despesa de custeio. Mas a ideia da equipe econômica é que, depois de aprovado o Orçamento, ocorra uma tesourada ainda mais drástica nas contas públicas. O ajuste incluiria inclusive as previsões de investimentos, que atualmente representam apenas 1,3% do Produto Interno Bruto (PIB). Durante a posse, Joaquim Levy anunciou que pretende elevar a meta de superávit primário, a economia feita para pagar juros da dívida pública, para 1,2% do Produto Interno Bruto (PIB) neste ano. Isso atingiria todo o setor público, inclusive Estados e municípios. “O equilíbrio das contas públicas é condição indispensável para manter a justiça social”, afirmou. Durante cerimônia de posse na segunda-feira 5, o novo ministro utilizou o termo ajuste fiscal como balizador do seu discurso e destacou que o equilíbrio fiscal é indispensável para o crescimento. “O equilíbrio é a chave primordial para aumentarmos o crédito, que permite aos empreendedores investir e gerar empregos para mantermos a credibilidade da economia e o desenvolvimento do país”, disse o ministro. Os planos de Levy para a economia vão além dos cortes de gastos. O ministro dá sinais de que pretende acabar com os financiamentos do BNDES a juros muito baixos para setores selecionados pelo governo, quer promover o fim da guerra fiscal entre Estados e fazer os polêmicos realinhamentos dos preços da energia elétrica e da gasolina, além de impor o temido aumento de impostos. As medidas já estão sendo discutidas com sua nova equipe, composta por Marcelo Barbosa no Tesouro Nacional, Tarcísio Godoy na secretaria-executiva da Fazenda e Jorge Rachid no comando da Receita Federal. O desafio da presidente é fazer os ajustes fiscais necessários, conseguir retirar o País da estagnação e manter a inflação num patamar de 4,5%, sem comprometer a geração de empregos e os programas sociais. “Precisamos alertar a sociedade que quando o governo vier com um pacotão de tarifas e aumento de impostos ninguém pode acreditar na tese de que é para o bem do País. O que precisamos mostrar é o quanto eles gastaram de forma irresponsável no ano eleitoral e o quanto foram demagogos”, alerta o senador Ronaldo Caiado (DEM-GO). Nesse primeiro momento, a Educação já foi afetada. O jogo não será fácil para o Planalto, que tentará se equilibrar entre o que será necessário fazer e o que anseiam suas bases eleitorais. As cobranças já começaram. 4#3 LINHA DE FRENTE Por trás da greve na Volkswagen esconde-se a primeira batalha entre o governo e o movimento sindical, que teme ver suas conquistas ameaçadas pela nova política econômica Yan Boechat e Cesar Soto SEGURO - Os metalúrgicos do ABC querem que o governo aprove um programa de proteção ao emprego para reduzir a carga horária dos trabalhadores com risco de demissão, sem perdas salariais No início da tarde da quinta-feira 8, Rafael Marques Júnior, o presidente do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, mal teve tempo para almoçar. Envolvido em um sem-número de reuniões acerca da greve que paralisa a linha de produção da Volkswagen em São Bernardo do Campo, só conseguiu comer um sanduíche natural de queijo com pão integral. Precisava correr para chegar à porta da fábrica antes da troca de turno e liderar mais uma assembleia. Rafael, um eletricista de manutenção que ingressou na Ford de São Bernardo em 1986, tem 50 anos e pela primeira vez lidera uma paralisação desse porte à frente do mítico Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, o grande protagonista das greves históricas do fim dos anos 70, o berço petista e a entidade que catapultou o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva ao posto de liderança nacional, há mais de 30 anos. A greve de agora na Volks em nada lembra as grandes paralisações lideradas por Lula. Mas, à sua maneira, também pode ser emblemática. A depender do seu resultado, pode marcar o início de um distanciamento entre o movimento sindical e o governo da presidente Dilma Rousseff, que inicia seu segundo mandato enviando sinais claros de que, a partir de agora, a ordem é ajustar as contas, custe o que custar. Situação muito distinta da dos últimos 12 anos, quando o movimento sindical não teve ameaçada sua agenda e via no comando da Fazenda um ministro mais preocupado em manter o emprego do que controlar a inflação. “O setor automotivo está acostumado a benesses que o protegem, como as desonerações, algo a que o novo ministro da Fazenda já disse ser contrário. Essa crise da Volkswagen é o primeiro embate com a política econômica defendida pelo Joaquim Levy”, diz João Guilherme Vargas Neto, conselheiro sindical e integrante do Diap. Rafael Marques sabe disso. E sabe também que todo o movimento sindical está olhando com atenção para como as coisas vão se desenrolar em São Bernardo do Campo, em especial o papel que o governo vai desempenhar na intrincada negociação que deve se desenrolar nos próximos dias entre os trabalhadores e a Volkswagen. O resultado pode ser a senha para uma inédita ofensiva sindical contra o governo petista na busca da manutenção de seus interesses. “Este é o momento de os sindicatos começarem uma série de ações pela defesa do emprego”, diz Adalberto Moreira Cardoso, professor do Instituto de Estudos Sociais e Políticos da Uerj e pesquisador do movimento sindical no Brasil. Ao contrário dos últimos anos, desta vez os trabalhadores não esperam novas medidas de resgate momentâneo, como as inúmeras desonerações setoriais que marcaram os anos de Mantega na Fazenda. A pressão do movimento sindical, em especial dos metalúrgicos, é que a presidente Dilma tire da gaveta um projeto que já está no Planalto há pelo menos dois anos e que cria uma espécie de “seguro-emprego”. O projeto, que recebe o nome de Plano de Proteção ao Emprego, foi inspirado por um similar alemão e tem o apoio, ao menos conceitualmente, de boa parte da indústria. Em linhas gerais, o PPE prevê a criação de um fundo com recursos do FAT ou do FGTS – ou uma união dos dois – para ser usado em momentos de crise setorial, como a que se aproxima do setor automotivo. A proposta é que as empresas reduzam a carga horária – entre 20% e 50% – em vez de demitir os funcionários. Os salários seriam reduzidos por conta disso, mas o trabalhador receberia os vencimentos de maneira praticamente integral por conta do aporte do governo com os recursos do fundo. A ideia nasceu no Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, foi adotada como bandeira pela CUT e conta com o apoio das principais centrais sindicais, apesar de haver divergências entre alguns itens. Ela também é bem-vista por parte da indústria, mas vem patinando no Planalto. O projeto estava a cargo do ex-secretário-Geral da Presidência, Gilberto Carvalho. Agora passou às mãos do seu sucessor, Miguel Rossetto. Para os metalúrgicos do ABC, a simples sinalização do governo de que vai desengavetar o projeto ainda no primeiro trimestre poderia resolver a questão com a Volkswagen. “Se a Dilma mostrar que isso pode acontecer de fato, tenho certeza de que chegaríamos a um entendimento de forma rápida”, diz o presidente do sindicato. Apesar de estar a cargo do Planalto, o projeto vai em direção contrária à nova política econômica baseada na austeridade prometida por Dilma. Os metalúrgicos concordam que a discussão ainda não está madura para a criação de um programa que englobe todos os setores da economia e pressionam o governo para que uma espécie de projeto piloto focado, claro, no setor automotivo seja criado de forma imediata. Uma ideia que não deve encontrar apoio da equipe econômica, cujo atual comandante, Joaquim Levy, classificou como patrimonialismo “ajudas pontuais a setores”. Ainda não há um clima beligerante entre governo e o movimento sindical, que vê o Planalto como aliado, apesar da mudança na política econômica, de viés mais liberal. “Nós apoiamos a presidente, mas a CUT tem autonomia e independência e vai cobrar os compromissos assumidos pela presidenta”, diz Carmen Foro, vice-presidente da CUT. Apesar de entender que as empresas se beneficiaram profundamente dos incentivos fiscais do governo nos últimos anos, o Sindicato dos Metalúrgicos do ABC diz que compreende a posição da Volks, que vinha tentando renegociar o acordo estabelecido em 2012, com validade até 2016, desde a metade do ano passado. O próprio Sindicato recomendou que a categoria aprovasse a proposta que previa congelamento de salários até 2016 – com a garantia de abonos em 2014 e 2015 – para que os empregos fossem mantidos até 2019. A categoria, no entanto, rejeitou. Nos últimos dez anos, trabalhadores e indústria têm mantido uma relação que poderia ser considerada “cordial” em comparação às décadas anteriores. A última greve de grande porte no ABC ocorreu em 2006, quando a Volks demitiu 1,8 mil funcionários. De lá para cá, acordos de longo prazo têm sido costurados, muitas vezes com o apoio direto do governo. Por isso, os metalúrgicos do ABC acreditam que o momento é muito mais de pressionar o governo para a criação do PPE do que entrar em confronto direto com a Volkswagen. Por enquanto, a pressão está sendo feita nos bastidores, mas na próxima semana ela pode ganhar as ruas, em protestos realizados longe da fábrica de São Bernardo, e direcionados ao governo, pedindo proteção ao emprego. Recém-reformada, a sede do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC pouco lembra o antigo prédio revestido de pastilhas que se tornou um símbolo de resistência trabalhista. A antiga sala da presidência, a mesma em que Lula comandou as greves históricas do fim dos anos 70, foi abandonada. Vai virar, agora, uma espécie de museu, com a recolocação dos móveis e fotografias originais daquela época e ficará aberta apenas para visitação. Rafael Marques agora ocupa uma sala mais ampla, bem iluminada e com móveis tinindo de novos. A decoração é frugal, mas simbólica. Apenas três quadros ornam as paredes. Uma foto de uma greve na Ford na década de 90; uma foto oficial da presidente Dilma colocada em uma coluna ao lado da janela, numa área pouco privilegiada do escritório; e uma foto oficial de Lula como presidente da República, estrategicamente colocada acima da mesa ocupada pelo presidente do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC paulista. Dali, Rafael Marques garante que o governo continua como um aliado do movimento sindical. “Mesmo com a mudança na política econômica, este é um governo que tem uma relação com o movimento sindical”, diz ele, com Lula ao fundo, talvez sem a mesma certeza dos tempos em que seu antigo antecessor comandava o País. Com reportagem de Ana Carolina Nunes 4#4 DA CAMPANHA À REALIDADE Governadores tomam posse e, nas primeiras ações, já mostram o abismo entre as promessas eleitorais e a prática administrativa, ao aderirem ao nepotismo e nomearem secretários de conduta questionável Ludmilla Amaral (ludmilla@istoe.com.br) DISCREPÂNCIA - O governador de Minas Gerais, Fernando Pimentel, fez um discurso de moralização, mas agiu de modo diferente Os primeiros atos de governadores recém-eleitos revelam um fosso profundo entre o que foi dito na campanha e o exercício do poder. O governador de Minas Gerais, Fernando Pimentel (PT), é um caso emblemático. Durante a campanha, o petista fez um discurso de moralização do Estado calcado na transparência e no respeito aos anseios da população. Contudo, ao anunciar os nomes que passaram a integrar, a partir deste mês, o primeiro escalão do governo, indicou nada menos do que 11 secretários que respondem a processos na Justiça ou que já tiveram seus nomes atrelados a escândalos. Entre eles, Marco Antônio Teixeira, novo secretário da Casa Civil. Teixeira é réu ao lado do próprio Pimentel em dois processos: um referente a improbidade administrativa na implantação do programa Olho Vivo em Belo Horizonte, em 2004, e outro no caso do superfaturamento em contratos para a construção de casas populares. Já o novo secretário da Fazenda, José Afonso Bicalho, é réu no chamado mensalão tucano de Minas Gerais. Nomeado para a pasta do Desenvolvimento, Paulo Guedes, além de responder a três processos, é citado na Operação Curinga da Polícia Federal como um dos beneficiários do esquema de compra de votos montado pelo vice-prefeito de Monte Azul, Toninho da Barraca (PT). “Creio que algumas opções foram equivocadas, pessoas erradas em lugares errados. A nossa bancada de oposição estará atenta”, afirmou à ISTOÉ Marcus Pestana, presidente do PSDB mineiro. Em nota, Pimentel disse que “em todos os casos citados ainda não houve julgamento ou há possibilidade de recurso”. Fernando Pimentel nomeou 11 secretários com problemas na Justiça ou que já se envolveram em escândalos Seguindo a toada de contradições, Suely Campos (PP) é outra que ilustra bem o abismo entre o discurso eleitoral e a prática no poder. A chefe do Executivo de Roraima teceu duras críticas aos apoiadores da candidatura do adversário Chico Rodrigues (PSB), ao afirmar que o Estado não poderia ser governado por “uma oligarquia formada por uma família”. Embora tenha dito isso, Suely nomeou 19 parentes de primeiro e segundo graus para ocuparem cargos no serviço público, alguns de primeiro escalão. Entre eles, as filhas Emília Santos e Daniele Araújo para comandarem a Secretaria de Trabalho e Bem-Estar Social e a Casa Civil, respectivamente. Sua irmã, Selma Mulinari, está à frente da Secretaria de Educação. Os sobrinhos Fred Linhares (Gestão Estratégica e Administração), Kalil Coelho (titular de Saúde) e Paulo Linhares (adjunto de Saúde) também foram nomeados. Uma farra nepotista. O sogro da filha, Josué Filho, assumiu a Secretaria de Justiça e Cidadania. No Rio Grande do Sul, a discrepância entre o que foi dito antes e o feito depois foi observada nas ações do governador José Ivo Sartori (PMDB). Ele tinha como proposta orçamentária “renegociar de forma útil para o Estado a dívida com a União, agir por reforma tributária, equilibrar contas de forma consistente e duradoura”. Contudo, apenas um dia após ser empossado, Sartori decretou uma moratória: suspendeu a dívida, orçada em R$ 700 milhões, deixada pelo antecessor – os chamados “restos a pagar” – por 180 dias. Não foi um bom começo. ________________________________________ 5# COMPORTAMENTO 14.1.15 5#1 UM REGIME PODEROSO 5#2 MISTÉRIO EM JERICOACOARA 5#1 UM REGIME PODEROSO Como o método de emagrecimento do médico argentino Máximo Ravenna conquistou presidente, ministros e parlamentares em Brasília e se tornou a nova moda entre as dietas Josie Jeronimo e Camila Brandalise O poder está de dieta e isso não é uma metáfora para o cenário de arrocho financeiro do País. A austeridade está no cardápio e os resultados já podem ser verificados em muitas silhuetas, inclusive na da presidente Dilma Rousseff. De vestido claro, Dilma desfilou na cerimônia de posse, no dia 10 de janeiro, ostentando seis quilos a menos. A proeza foi alcançada em dez dias e, o feito, creditado à dieta Ravenna, método de emagrecimento que alia o corte de farinhas e açúcares a sessões de acompanhamento terapêutico para mudar a relação do paciente com a comida. Dilma foi apresentada ao trabalho do médico argentino Máximo Ravenna (leia entrevista na pág. 46) pela ministra da Secretaria de Políticas para Mulheres, Eleonora Menicucci. Quando a amiga apareceu 17 quilos mais magra, a presidente resolveu aderir ao método e logo o indicou para a nova titular da Agricultura, Kátia Abreu. Antes de trazer Dilma para as fileiras de Ravenna, Eleonora já havia passado a corrente para Miriam Belchior, ex-titular do Ministério do Planejamento. E as conversas nas reuniões ministeriais fizeram o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, entrar para o clube, até então exclusivamente feminino no Planalto. A presidente fez adaptações para conseguir seguir o método do especialista argentino: ela não poderia frequentar o centro terapêutico nem participar das reuniões de acompanhamento, como fazem os outros pacientes. No seu lugar, então, mandou a chef de cozinha da Presidência para a clínica. Andrea Munhoz conheceu o cardápio Ravenna e o adaptou para Dilma. O consultório, geralmente, oferece pratos prontos congelados para pacientes que queiram levar a comida balanceada em porções de 300 calorias para casa. A presidente não comprou as refeições da clínica, mas sua chef reproduziu o modelo e elaborou as frações. Antes da refeição, a presidente toma um caldo de legumes ralo, bem quente. Aquecer as papilas gustativas é uma técnica que o médico usa para dar ao paciente à sensação de saciedade antes de consumir o prato principal. A dieta de Dilma revolucionou as compras do governo. As despensas das copas do Palácio do Planalto foram abastecidas, nas últimas semanas de dezembro, com gelatinas diet, barras de cereal sem glúten, água de coco, chá-verde e castanhas. Esses produtos são os lanchinhos intermediários que a presidente come entre as quatro refeições. A chef de Dilma tem de usar a criatividade para inventar pratos, pois o método do argentino proíbe alimentos à base de farinhas refinadas e controla as carnes, permitindo apenas proteínas com pouco teor de gordura. Convidada pela equipe do consultório de Brasília a aderir à dieta junto com a chefe do Executivo, Andrea Munhoz preferiu manter o próprio cardápio. A inserção de um novo método na rotina presidencial tirou as funções da nutricionista oficial da Presidência. A alimentação do chefe de Estado sempre foi uma responsabilidade de funcionários das Forças Armadas. A nutricionista oficial do Palácio da Alvorada é a capitã de fragata Luisa da Costa. Geralmente, os profissionais são orientados a oferecer pratos de até 1.800 calorias para os presidentes e familiares. Na dieta Ravenna, Dilma é submetida a 900 calorias diárias. Por enquanto, a petista anda empolgada com os resultados. Mas ela não está seguindo um princípio básico do método, que é o acompanhamento terapêutico. O tratamento é conhecido por ajudar o paciente a manter o peso, não só a perder os excessos. Apesar da propaganda positiva que a clínica teve com a redução das medidas da presidente do País, sócios temem que, se ela não se dedicar ao tratamento integral e voltar a engordar, o marketing possa ter efeito contrário. A febre Ravenna tem dado trabalho para outras equipes de copa da Esplanada. Ministros que costumavam sair para almoçar agora têm como hábito pedir a refeição no gabinete para não fugir da dieta. Entre eles está José Eduardo Cardozo, da Justiça, que perdeu cinco quilos com o método, mas tem objetivos ambiciosos de afinar pelo menos 22. Cardozo diz estar reduzindo a agenda de almoços políticos para não cair em tentação. Kátia Abreu, da Agricultura, não teve a disciplina necessária e comeu de tudo nas festas de fim de ano. Ela chegou a perder quatro quilos em pouco mais de uma semana, pois queria ficar bem no vestido de noiva que usará em sua cerimônia de casamento no próximo mês. Mas a nova ministra afirma que, depois dos abusos do fim de ano, voltou ao cardápio light. Quem introduziu Ravenna no meio político foi a deputada federal Erika Kokay (PT-DF). Em abril de 2010, ela sofreu um infarto. Após deixar o hospital e voltar à rotina, seu cardiologista lhe deu um puxão de orelha: ela precisava emagrecer. Com sobrepeso e complicações cardíacas, o médico recomendou uma dieta que não utilizasse medicamentos. Assim, ela conheceu o consultório de Ravenna. “Fui eu quem indicou o método para a Eleonora. Em dezembro de 2013, fui a uma reunião com a ministra e ela me perguntou o que eu havia feito para emagrecer. Eu perdi 24 quilos”, diz Erika. No Congresso, a dieta do especialista argentino criou uma espécie de “frente parlamentar Ravenna”. Pelo menos 15 deputados da base governista e da oposição estão unidos no objetivo de emagrecer. Nos dias de intensos debates e votações, alguns deputados levam comida saudável congelada em vez de almoçar nos restaurantes do Parlamento. Um exemplo é a deputada Luciana Santos (PCdoB-PE), que perdeu 12 quilos. Sua colega de partido Alice Portugal (PCdoB-BA) foi uma das primeiras a conhecer o sistema de emagrecimento, que faz sucesso com celebridades da música da Bahia desde 2010. Ela foi à clínica para apoiar sua filha e também entrou na dieta. A jovem perdeu 37 quilos e se tornou uma atleta amadora e a deputada deixou para trás 13 quilos. “A vida parlamentar engorda, não tem um restaurante no Congresso que ofereça comida mais saudável, é uma vida sem regra. Parei durante a campanha, mas, assim que eu puder, volto para o Ravenna”, afirma Alice. Entre os parlamentares que conheceram o método por meio de Alice está o deputado Lúcio Vieira Lima (PMDB-BA). Ele perdeu seis quilos em dez dias, mas tem sofrido com a quantidade de reuniões políticas que envolvem comida e bebida. Como precisa acompanhar os colegas, em vez de degustar um bom vinho, ele enche a taça com refrigerante diet. De olho nas autoridades que estão sempre em jantares por Brasília, os restaurantes passaram a oferecer cardápio específico para os adeptos de Ravenna. O Dali Camões, o Lakes e a pizzaria Santa Pizza, todos frequentados pelas esferas de poder, são exemplos. Mesmo os lugares que ainda não têm parceria com a clínica já estão em sintonia com o sucesso da dieta na cúpula política de Brasília. Nos restaurantes estrelados da capital, os garçons estão habituados a pedir adaptações nos pratos, quando o cliente informa que está em tratamento. Além de ser uma dieta, o método Ravenna está se tornando um modo de comer. O ex-ministro da Secretaria de Aviação Civil Moreira Franco nunca viu o ponteiro da balança disparar. Ainda assim, ele usa o cardápio do médico argentino quando sai para comer em Brasília. A fórmula é antiga: uma dieta de baixíssimas calorias que exclui alimentos engordativos, gordurosos ou que possam disparar o apetite, como os carboidratos refinados. Não entram pães, macarrão e arroz, nem integrais. É feito, ainda, um plano de exercícios e agendadas consultas com médicos, nutricionistas, educadores físicos e psicólogos. Ainda assim, nada de revolucionário. Por que, então, a dieta Ravenna é a bola da vez da perda de peso? “O grande diferencial é uma excelente estrutura de marketing”, afirma a endocrinologista Cintia Cercato, integrante do grupo de obesidade do Hospital das Clínicas da Universidade de São Paulo e presidente da Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade e da Síndrome Metabólica (Abeso). Na opinião de Cintia, o método tem vários pontos a favor, por seguir preceitos amplamente difundidos na literatura médica sobre metabolismo e perda de peso, como o baixo consumo de calorias e exclusão de alguns tipos de carboidratos. Mas salienta que é preciso acompanhamento para que um cardápio tão restrito não signifique falta de nutrientes. O médico e psicoterapeuta argentino Máximo Ravenna começou sua trajetória de sucesso em 1993, ao abrir a primeira clínica em Buenos Aires. Lá, teve entre os clientes famosos o ex-jogador Diego Maradona. Mas só em 2009 fundou uma clínica no Brasil, primeiro em Salvador. Um ano depois, já fincava base em São Paulo. Na lista de pacientes da capital paulista está a empresária Luiza Helena Trajano, dona do Magazine Luiza. Apresentada ao método pela filha, resolveu frequentar a clínica. “Assistência prestada e serviços realizados fizeram eu me adaptar bem”, diz Luiza, que perdeu 23 quilos em um ano. Também passou por lá Mariana Belém, filha da cantora Fafá de Belém, que contabilizou 15 quilos a menos em três meses e meio. Em 2012, a marca pousava também em Brasília, mas mesmo antes já se ouvia o nome do médico entre os parlamentares. Apesar do cardápio restrito, a nutricionista do centro terapêutico do dr. Ravenna em São Paulo, Thais Shibuia, salienta que não se trata de uma dieta de proteínas, que tem como arauto o médico Pierre Dukan. “Além disso, muitos alimentos são cortados apenas na fase do ‘descenso’, ou seja, até o paciente perder os quilos que precisa”, diz Thais. Na primeira etapa, não adianta chiar. É preciso seguir à risca as orientações e, se pedir para aumentar a quantidade de alimentos, o paciente provavelmente será encaminhado para a psicóloga para entender o porquê dessa necessidade. O lema geral é “emagreceu, o peso desceu”. O próprio Ravenna vem ao Brasil, de duas a três vezes por ano, para fazer palestras em seus centros. O médico se orgulha de não incluir remédios nem cirurgias nos tratamentos. Para a endocrinologista Maria Edna de Melo, membro de entidades como The Endocrine Society, dos Estados Unidos, e Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM), por ser uma doença, a obesidade não pode ser tratada apenas pelo seu caráter comportamental. “Pode ser que a questão psicológica seja o fator principal para alguns, mas não se pode generalizar”, afirma. Cintia Cercato, da Abeso, concorda. “A obesidade é colocada como se fosse um problema puramente psicológico e como pesquisadora posso dizer que não é. Há mais de 250 genes envolvidos na fisiopatologia da doença”, diz. “No tratamento, é preciso mudar os hábitos de vida, mas há situações em que focar só no comportamento não funciona.” Alguns especialistas afirmam que o grande trunfo do Ravenna é unir todas as atividades em um mesmo centro, chamado pelos pacientes de “clube” . Ele concebeu uma mistura de spa com Vigilantes do Peso, já que, além de todo o acompanhamento médico e nutricional, conta ainda com atendimento psicológico e grupos terapêuticos para que os clientes dividam suas experiências. É prático – quem pode, passa o dia lá: toma o café da manhã no restaurante, depois pode ir para um grupo e, ao fim dessa segunda atividade, vai para a sala de ginástica se exercitar. Se tiver alguma consulta, pode esperar pelo almoço e ficar até o jantar. O pacote para ter acesso a esse clube da saúde é de R$ 1.570 para adultos. No preço não estão incluídas refeições, que, além de serem servidas no local, também são vendidas congeladas. “O método está famoso porque é a bola da vez. Aí muitos seguem, têm bons resultados, e outras pessoas vão atrás”, afirma Walmir Coutinho, presidente da Federação Mundial de Obesidade. “Daqui a um tempo, vai aparecer outra dieta para ocupar esse lugar.” Mas até lá a marca de 120 toneladas perdidas pelos pacientes do Ravenna até hoje só aumentará – com uma contribuição de peso vinda de Brasília. “MUITOS POLÍTICOS TÊM VERGONHA DE SE CUIDAR” Aos 76 anos, o médico argentino Máximo Ravenna possui clínicas em cinco países – Argentina, Brasil, Espanha, Paraguai e Uruguai – e tem entre seus clientes artistas, empresários e políticos, muitos deles brasileiros. ISTOÉ – Nos últimos meses, autoridades brasileiras têm atribuído o afinamento da silhueta à adesão ao método Ravenna. O sr. sempre atendeu políticos? Dr. Máximo Ravenna – Sempre atendi políticos. São pessoas que vivem distraídas e ocupadas com sua função e acabam ganhando peso. Muitos ainda têm vergonha de se cuidar, mas eles têm uma imagem pública. ISTOÉ – Pessoas com rotina profissional muito estressante têm mais facilidade para engordar? Dr. Ravenna – Sim, porque têm mais tendência a acumular cortisol e ter desequilíbrios na liberação do hormônio insulina. ISTOÉ – Por que o método do sr. favorece a manutenção do peso? Dr. Ravenna – Uma pessoa gorda sabe emagrecer e engordar, mas não sabe manter. E isso não é bom. No nosso método temos o lema do abandono de alimentos que dificultam o emagrecimento, como as farinhas e o açúcar, e isso exige atenção plena. ISTOÉ – Como funciona o tratamento psicológico do paciente? Dr. Ravenna – A reprogramação mental é a base do tratamento. É a partir do conhecimento profundo de cada um, da consciência do que significa o alimento, que o paciente vai perder e manter o peso. As pessoas vão se pesando dia a dia, perdendo peso e nós acompanhamos como ela está emocionalmente. ISTOÉ – Inibidores de apetite funcionam? Dr. Ravenna – Nós achamos que fazem mal, pois produzem pequenos resultados, praticamente imperceptíveis. Os remédios podem causar transtornos emocionais. ISTOÉ – Os adoçantes são aliados ou vilões? Dr. Ravenna – Adoçantes não naturais podem trazer problemas ao organismo, mas ainda não se sabe bem as enfermidades que podem causar. E podem ter efeito no pâncreas, na produção de insulina: a pessoa tem sensação de fome, mas não lhe falta nada. ISTOÉ – O sr. aprova dietas que cortam o glúten e derivados do leite? Dr. Ravenna – A eliminação do glúten, em certa linha de trabalho responsável, se dá pelo grande número de enfermidades digestivas e metabólicas que ele provoca. E nós não aplicamos de forma drástica a redução dos lácteos. Não vamos nos transformar em fundamentalistas. Nosso mecanismo de trabalho é que a pessoa deve estar bem nutrida. 5#2 MISTÉRIO EM JERICOACOARA Envolta em dúvidas, morte de jovem italiana no Ceará desafia polícia, que é criticada pela condução da investigação. Uma suspeita foi presa, mas a motivação para o crime ainda não está clara Rogério Daflon (daflon@istoe.com.br) ENIGMA - Gaia não foi roubada nem sofreu violência sexual A italiana Gaia Barbara Molinari, 29 anos, adorava viajar pelo mundo e sempre fez amigos com facilidade. Herdeira de uma fábrica de calçados ortopédicos no norte da Itália, morava em Paris, onde era relações-públicas de uma multinacional. Na véspera de Natal sua vida teve um fim trágico. Por volta de 15h do dia 25 de dezembro, o corpo de Gaia foi encontrado numa área de reserva ambiental próxima à praia de Jericoacoara, na cidade de Jijoca de Jericoacoara, a cerca de 300 quilômetros de Fortaleza (CE). O laudo da Polícia Civil cearense diz que ela morreu na véspera, foi estrangulada, teve o rosto desfigurado os braços e as pernas feridos ao extremo. A morte tão chocante, contudo, continua envolta em mistérios após duas semanas. A italiana não foi roubada, não foram encontrados indícios de violência sexual e não evidências claras de qual seria a motivação do crime. Por enquanto, a polícia só admite revelar a identidade de uma suspeita: a farmacêutica carioca Mirian França de Melo, 31 anos, presa desde 29 de dezembro. CONFLITO - Mirian está presa desde o dia 29 de dezembro. Sua mãe, Valdicéia, acredita em racismo, hipótese negada pela delegada Patrícia Bezerra A delegada responsável pelo caso, Patrícia Bezerra, da Delegacia de Proteção ao Turista, pediu a prisão temporária de Mirian por 30 dias (por se tratar de crime hediondo) e a Justiça do Ceará acolheu a solicitação. “Ela mentiu várias vezes sobre pessoas, horários e locais nos seus dois depoimentos e suas afirmações não se sustentaram diante das acareações”, diz ela, que já ouviu mais de 15 testemunhas. Segundo a delegada, Mirian disse, por exemplo, que tinha visto Gaia pela última vez às 13h45 do dia 24 de dezembro na pousada em Jericoacoara, mas as duas foram vistas na pousada por volta de 18h30. Foi neste horário, aliás, que as testemunhas viram a italiana pela última vez. Patrícia afirma que há outros suspeitos, mas não divulga os nomes porque, segundo ela, isso atrapalharia as investigações. O caso, porém, parece complexo. Coordenador de medicina legal do Ceará, Sângelo Abreu afirmou à ISTOÉ que o laudo pericial leva a crer que a italiana não teve um único algoz. “Pelo menos duas pessoas devem ter participado deste assassinato, já que o nível de violência foi extremo”, acentuou o legista, para quem o responsável – ou responsáveis – deveria ter marcas da tentativa de defesa de Gaia. A conduta da polícia tem sido bastante questionada. A Defensoria Pública do Ceará, responsável pela defesa da farmacêutica, diz que a prisão dela é irregular. “Mirian está presa ilegalmente. Foi uma resposta absurda à grande repercussão do caso. As contradições dela não são prova para uma prisão”, diz o defensor público Emerson Castelo Branco, que, com mais dois colegas, entrou com pedido de habeas corpus. “Ela colaborou com as investigações e prestou depoimentos como testemunha. Não estava orientada por advogados e não é obrigada a lembrar de tudo.” Entre as pessoas ouvidas, o uruguaio Rodrigo Sanz também reclamou da abordagem policial. Ele e sua noiva, uma francesa, foram detidos e levados de camburão para a delegacia em Fortaleza onde os investigadores insistiram para que confirmassem a existência de um romance entre Miriam e Gaia, segundo contou. Duas mensagens da noiva de Sanz foram encontradas no celular de Gaia, o que também levou a polícia a pensar num triângulo amoroso. O casal cedeu material para exames de DNA. Em nota à ISTOÉ, a polícia negou arbitrariedades: “A Polícia Civil do Estado do Ceará informa que o casal de turistas estrangeiros, assim como várias outras pessoas, foi conduzido à Delegacia de Proteção ao Turista (Deprotur) na condição de testemunha, onde prestou depoimento e se colocou à disposição para coleta de material genético”. O uruguaio contesta: “É inadmissível uma testemunha ser tratada com camburão e pressão psicológica”. Orientada pelo advogado Humberto Adami, a mãe de Mirian, Valdicéia França, acredita que sua filha esteja sofrendo racismo. Adami – que defende, por exemplo, causas de quilombolas – afirmou ser “factível” a hipótese de que Mirian seja vítima de preconceito por ser negra, possibilidade negada pela polícia cearense. “Há um racismo institucionalizado no Brasil”, diz o advogado. O Movimento Negro também acompanha o caso. Adami defende que, embora os exames periciais em Gaia não tenham encontrado vestígios de estupro, como sêmem, essa possibilidade não pode ser descartada. Há quatro anos, as autoridades cearenses receberam do Conselho Comunitátio de Jericoacora um dossiê sobre a proliferação desse tipo de crime na região. Nascida em Austin, em Nova Iguaçu, um dos lugares mais pobres da região metropolitana do Rio, Mirian está numa cela sozinha por ter curso superior completo. Além da graduação em farmácia, ela tem mestrado e faz doutorado na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Vive da bolsa da pós-graduação e hoje mora em um apartamento em Bonsucesso com mais duas estudantes. Depois de 12 dias, o corpo da jovem italiana foi transladado para a Itália para ser enterrado em Piacenza, cidade onde ela nasceu. Gaia teria conhecido Mirian pela internet, em um site de viagens. Como a mãe de Mirian desistiu de viajar com a filha, ela então teria procurado alguém para rachar as despesas da pousada em Jericoacoara. As duas se encontraram no dia 17 em um hostel em Fortaleza e, no dia 21, partiram para a praia cearense, onde a história das duas mudaria para sempre. ___________________________________________ 6# MEDICINA E BEM-ESTAR 14.1.15 UMA MEDIDA EFICAZ CONTRA A EPIDEMIA DE CESÁREAS? Conjunto de normas estabelecidas pelo governo é o primeiro passo para reduzir o número de partos cirúrgicos, mas fatores culturais pesam contra Fabíola Perez (fabiola.perez@istoe.com.br) EXIGÊNCIA - Agora, as grávidas terão um cartão com dados do pré-natal e um documento que mostra a evolução do trabalho de parto O Brasil é líder mundial em cesarianas. O índice desse tipo de parto vem subindo, chega a 84% dos casos em hospitais privados e a 41,9% em instituições públicas, enquanto a média recomendada pela Organização Mundial da Saúde é de 15%. Para tentar reverter esse quadro, o governo lançou um conjunto de normas para incentivar o nascimento natural e desestimular o cirúrgico. “As cesarianas foram desenvolvidas para salvar vidas, mas estão sendo usadas como regra”, diz André Longo, diretor da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS). As cesáreas aumentam as chances de prematuridade da criança e podem triplicar o risco de morte da mãe. Agora, as grávidas passarão a ter o cartão da gestante, com dados sobre o pré-natal, e o partograma, documento com a evolução do trabalho de parto e as condições da mãe e do bebê. Uma medida mais polêmica, que contraria entidades do setor, é a obrigação dos planos de saúde de divulgar quantas cesáreas e quantos partos normais são realizados por médicos e hospitais conveniados. Com mais informações sobre o histórico do obstetra, a grávida teria mais ferramentas para decidir com quem e onde ter seu filho. Etelvino Trindade, presidente da Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (Febrasgo), concorda com a necessidade de diminuir o número de cirurgias, mas acredita que a divulgação do número de cesarianas pode prejudicar os médicos: “Muitos profissionais se especializam nesse procedimento. Se a gestante analisá-los apenas com base nesses dados, poderá ter uma concepção errada”. Embora o objetivo seja louvável, não é fácil mudar algo já arraigado à nossa cultura. Uma pesquisa da Fiocruz com 437 mulheres no Rio de Janeiro mostrou que 70% não tinham preferência pela cesárea no início do pré-natal, mas 90% delas acabaram optando pela cirurgia antes mesmo de entrar em trabalho de parto. “O comportamento do brasileiro de valorização do corpo desencoraja a mulher a optar pelo parto normal. A gestante ainda se questiona se será sexualmente aceita”, afirma Trindade, da Febrasgo. Pesam contra o nascimento natural também o desejo de evitar a dor e a conveniência de agendar a data. Os valores pagos pelos planos aos médicos são os mesmos para a cesárea ou para o nascimento natural, mas vários profissionais cobram taxas extras das mães para acompanhar o trabalho de parto, que pode levar horas. É uma realidade difícil de mudar. ___________________________________________ 7# MUNDO 14.1.15 EM DEFESA DA LIBERDADE O atentado ao jornal satírico "Charlie Hebdo", em Paris, impõe ao mundo o desafio de combater o terrorismo sem alimentar a xenofobia e a intolerância religiosa Lucas Bessel (lucasbessel@istoe.com.br) e Luisa Purchio (luisapurchio@istoe.com.br) SOMOS TODOS CHARLIE - Multidão se reúne na Place de la République na noite da quinta-feira 8 em solidariedade às vítimas do ataque terrorista Quando o berço do ideal de liberdade ocidental é atacado, o golpe é mais dolorido. Quando um dos pilares mais sagrados da democracia – o da livre expressão – é atingido pelo terrorismo, o dano é mais profundo. Quando o humor a lápis e caneta se torna vítima da intolerância religiosa manifestada pelo disparo de fuzis e bombas, o riso se perde e a graça e o chiste cobrem-se de luto. Para que a combinação de ações lamentáveis e trágicas como essas jamais e em tempo algum voltem a se repetir, o 7 de janeiro de 2015 deve ser para sempre lembrado. Nesse dia, última quarta-feira, aos gritos de “Allahu akbar” (Deus é grande), dois homens mascarados e armados com fuzis AK-47 invadiram a sede do jornal satírico “Charlie Hebdo”, em Paris, na França, e mataram 12 pessoas, sendo nove jornalistas, incluindo o editor-chefe, renomados cartunistas e dois policiais, além de ferirem outras 11. De acordo com a polícia francesa, os autores dos ataques foram os irmãos franceses Said e Chérif Kouachi, de 34 e 32 anos. Ao pior atentado terrorista na França dos últimos 54 anos – desde a Guerra da Argélia –, o mundo demonstrou consternação e a Europa reagiu com milhares de pessoas nas ruas exibindo cartazes e entoando vozes em defesa da liberdade de expressão. Diante da pressão para responder celeremente à comoção mundial, a polícia francesa se lançou numa caçada sem precedentes aos autores da barbárie. Mais de 80 mil agentes foram mobilizados. Forças especiais da polícia francesa lançam ataque contra o sequestrador Amedy Coulibaly, que fez reféns no mercado judaico em Porte de Vincennes, em Paris, na sexta-feira 9. Na ação, morreram Coulibaly e outras quatro pessoas Na tarde da sexta-feira 9, Said e Chérif Kouachi foram mortos em uma ação coordenada dos agentes franceses. Eles mantinham um refém em uma fábrica em Dammartin-en-Goele, nordeste de Paris, a cerca de 40 km da capital. O refém foi libertado pelas forças de segurança. Os irmãos já estavam no radar dos serviços antiterroristas franceses e, de acordo com autoridades americanas e europeias, tinham ligações com a Al-Qaeda. Em 2011, Said fez treinamento em um campo da Al-Qaeda, no Iêmen, de como manusear armas e atirar. “Nossa melhor arma é a união. Nada pode nos dividir e nada pode nos colocar uns contra os outros”, conclamou o presidente da França, François Hollande, um dia antes do assassinato dos acusados. Ameaça com data marcada Ácido nas críticas às religiões e à política, o jornal satírico “Charlie Hebdo”, que tem circulação de cerca de 30 mil exemplares por edição, estava longe de figurar entre os grandes representantes da imprensa europeia, mas conquistou a admiração de boa parte da população francesa pela coragem de manter a publicação das charges satíricas, desde 2006, sobre o profeta Maomé, fundador do islamismo, mesmo após incontáveis ameaças. Em 2011, a redação do periódico já havia sido alvejada por coquetéis molotov e incendiada na madrugada. Quatro anos depois, porém, o desenlace ganhou contornos trágicos. No início da manhã da quarta-feira 7, poucas horas antes do ataque, o Twitter do semanário francês havia publicado uma charge em que satirizava Abu Bakr al-Baghdadi, líder do grupo terrorista Estado Islâmico. Na mesma semana, a edição impressa mais recente do “Charlie Hebdo” trazia um cartoon quase premonitório. “Nenhum ataque na França ainda?”, questionava o quadrinho. Ao que um guerreiro jihadista com um fuzil nas costas respondia: “Calma, ainda podemos mandar nossas felicitações até o fim de janeiro”. Na França, é tradição desejar feliz ano-novo até o fim do primeiro mês. O humor cáustico, sem fronteiras, que não perdoava religiosos, políticos e homens de negócios, é uma das marcas do jornal. Seu diretor editorial, Stéphane Charbonnier, o Charb, 47 anos, era um defensor do direito irrestrito de satirizar, criticar e ofender. Foi um dos primeiros a morrer no ataque, atingido por um tiro na cabeça. Ao seu lado, caiu o policial designado para protegê-lo. Por causa das constantes ameaças de morte, Charb era escoltado desde 2012. A sequência de assassinatos cometidos pelos dois terroristas encapuzados, armados com fuzis AK-47, durou cinco minutos. Na fuga, os suspeitos, os irmãos franceses Said e Chérif Kouachi, trocaram tiros com a polícia e executaram um oficial que, caído ao chão, levantava as mãos em sinal de rendição. “Vingamos o profeta Maomé”, gritaram antes de entrar no carro. Ao volante, segundo as primeiras investigações, havia um terceiro homem, identificado como Hamyd Mourad, 18 anos, que se entregou horas mais tarde. Chérif chegou a ficar preso em 2008 por ligação com a rede Buttes-Chaumont, que arregimentava potenciais terroristas para lutar pela Al-Qaeda no Iraque. O nome de Said também apareceu na investigação, mas ele nunca foi processado por falta de provas. O choque e o horror que se seguiram ao atentado extrapolaram a dimensão do modesto “Charlie Hebdo” e foram exacerbados pela morte de uma policial, de 26 anos, ao sul de Paris, na manhã seguinte. Antes da morte dos suspeitos, os investigadores franceses haviam estabelecido uma conexão entre os apontados como responsáveis pelo massacre em Paris e o assassinato da agente de polícia. O acusado de disparar os tiros na área de Montrouge conhecia Cherif e Said Kouachi. Segundo os investigadores, os três homens seriam todos membros da mesma célula jihadista parisiense que dez anos atrás enviou jovens voluntários franceses ao Iraque para combater as forças dos Estados Unidos. Na tarde de sexta-feira 9, em meio às buscas pelos suspeitos do atentado ao “Charlie Hebdo”, um tiroteio foi registrado no leste de Paris em uma mercearia kosher (judaico). Cinco pessoas foram feitas reféns pelo mesmo homem acusado de matar a policial. Na ação coordenada que matou os suspeitos pelo massacre ao jornal satírico, a polícia francesa também invadiu a mercearia judaica e eliminou o sequestrador, identificado como Amedy Coulibaly. Durante a operação, quatro reféns teriam morrido. Até o final da tarde da sexta-feira 9, não havia informação oficial sobre o total de mortos. Um sequestro foi registrado no centro de Montpellier, enquanto durava a caçada aos terroristas. Oficialmente, a informou que não há relação com a ação terrorista. A reação mundial ao terror aconteceu na velocidade, tons e contundência que se esperam ante um ataque de tamanha brutalidade. Começou na internet, onde vídeos da ação dos terroristas, capturados pelas câmeras de smartphones de moradores e funcionários de prédios vizinhos, se espalharam e causaram horror e indignação. Em poucas horas, o tópico #JeSuisCharlie (Eu sou Charlie) era o mais popular em redes sociais. Nos dias seguintes, outra hashtag, #JeSuisAhmed (Eu sou Ahmed), lembrava o policial muçulmano Ahmed Merabet, executado na rua por um dos terroristas. O frio assassinato também foi gravado. Em homenagem aos colegas mortos, cartunistas de diferentes nacionalidades publicaram charges sobre o episódio (confira quadro). Na noite daquela quarta-feira, quase todas as grandes cidades europeias foram tomadas por manifestações de solidariedade. O dia seguinte, quinta-feira 8, foi de luto nacional na França. Milhares de cidadãos foram às ruas com cartazes, flores, lápis e canetas nas mãos para prestar tributo às vítimas do atentado. No Brasil, houve homenagens na avenida Paulista, em São Paulo, e no Largo do Machado, no Rio de Janeiro. Em resposta ao ataque, seis dos maiores diários europeus se uniram e assinaram um editorial conjuntamente. O francês “Le Monde”, o espanhol “El País”, o inglês “The Guardian”, o italiano “La Stampa”, o alemão “Süddeutsche Zeitung” e o polonês “Gazeta Wyborcza” afirmaram: “Continuaremos informando, investigando, entrevistando, editando, publicando e desenhando sobre todos os temas que nos pareçam legítimos”. Para Bete Costa, secretária-geral da Federação Internacional dos Jornalistas, a liberdade de reflexão e de humor são essenciais à imprensa. “A falta desses elementos seria um suicídio”, disse à ISTOÉ. “O ataque em Paris não pode mudar a forma como os meios tratam as questões de religião ou fundamentalismo.” Armadilha do radicalismo Mas ao mesmo tempo em que o mundo e, em especial, a Europa se veem novamente diante do desafio de reafirmar sua liberdade, o continente precisa refrear uma perigosa e crescente onda radical e xenófoba que tende a ganhar ainda mais força após o ataque contra o “Charlie Hebdo”. A líder da extrema direita francesa Marine Le Pen, do partido Frente Nacional (FN), é quem mais tem a ganhar com isso. Logo após o ataque, ela pediu um referendo sobre a aplicação da pena de morte aos responsáveis. A prática foi abolida na França em 1981. Cada vez mais relevante na política nacional e ostentando vitórias históricas nas eleições municipais e parlamentares do ano passado, a FN foi excluída da marcha nacional que seria realizada no domingo 11. Esse fato despertou a ira de Marine Le Pen, provável candidata à Presidência da França em 2017, e também foi visto como provocação por outros movimentos ultraconservadores europeus. Diante do seu próprio “11 de Setembro” – e num contexto de crise econômica, naturalmente propício ao fortalecimento da xenofobia –, o presidente François Hollande precisa de pulso forte para evitar a divisão do país e proteger uma população de quase sete milhões de muçulmanos que vivem em seu território. Esse mesmo desafio é imposto ao restante da Europa ocidental. Na Alemanha, que tem cerca de quatro milhões de muçulmanos, uma pesquisa da revista “Die Zeit” mostrou que quase 60% da população considera o Islã “uma ameaça”. No mesmo levantamento, 40% disseram se sentir “estrangeiros em seu próprio país” e outros 24% afirmaram que a imigração de muçulmanos deveria ser proibida. Na segunda-feira 5, dois dias antes do ataque na França, 18 mil pessoas (um recorde) participaram de protestos xenófobos promovidos pelo grupo Pegida (Europeus Patriotas contra a Islamização do Ocidente) na Alemanha, apesar dos pedidos da chanceler Angela Merkel para que a população ignorasse o movimento. “A xenofobia alimenta os grupos radicais”, afirma Samuel Feldberg, professor de política internacional da Universidade de São Paulo. “É necessário construir uma educação para a tolerância.” Na quinta-feira 8, restaurantes árabes, mesquitas e associações muçulmanas foram atacados em toda a França, em ações que não deixaram vítimas, mas espalharam medo entre a comunidade. “O Estado tem de oferecer toda a proteção necessária a grupos muçulmanos para evitar a violência”, diz à ISTOÉ Jean-Marie Fardeau, diretor da Human Rights Watch na França. Também cabe à comunidade muçulmana condenar sem ressalvas nem dúvidas a ação dos grupos terroristas. Mas apenas palavras não bastam. É preciso tirar qualquer resquício de legitimidade das ações violentas promovidas por minorias que distorcem uma religião que deveria ser baseada em princípios de paz e bondade. “Nossa voz estava enfraquecida”, disse à ISTOÉ Mohammed Al Habash, especialista em estudos islâmicos da Universidade de Abu Dhabi e um dos principais representantes do movimento de revitalização do Islamismo. “Tenho pedido para diferentes líderes levantarem a voz contra o terrorismo, pois muitas pessoas ainda têm uma visão errada e perigosa do que é o Islã.” Todos esses grupos de terror, em especial a Al-Qaeda e o autodenominado Estado Islâmico, buscam a legitimação religiosa como forma de arrebanhar fanáticos. Sem a desumana justificativa do massacre de “infiéis” em nome da crença, poucos atrativos restam. “A condenação não é suficiente”, diz o Dr. Khaled Hanafy, membro da Academia Árabe de Ciência e Tecnologia. “Os muçulmanos devem agir, realizar manifestações, porque o perigo que ameaça a Europa também ameaça os próprios muçulmanos.” O “Corão”, o livro sagrado do islamismo, relata diversos insultos e agressões físicas e verbais sofridos pelo profeta Maomé na cidade de Meca. “Nem por isso seus discípulos assassinaram os agressores”, diz o Dr. Yasir Qadhi, acadêmico do Instituto Al-Maghrib, nos Estados Unidos. Na sequência dos atentados em Paris, é preciso que não pairem dúvidas: o direito de se expressar e até de ofender pela sátira também é sagrado. Treinados pela Al-Qaeda Os suspeitos do massacre que deixou 12 mortos na revista parisiense “Charlie Hebdo”, Chérif Kouachi, 32 anos, e Said Kouachi, 34 anos, assassinados pela polícia na tarde da sexta-feira 9, nasceram em Paris em 28 de novembro de 1982 e em 7 de setembro de 1980, respectivamente, e ambos possuem nacionalidade francesa. Segundo a mídia francesa, Said e Chérif foram abandonados pelos pais de origem argelina do oeste da França e ficaram sob os cuidados dos serviços sociais. Contudo, a trajetória dos dois até o fatídico dia 7 de janeiro de 2015 foi um pouco diferente. Enquanto o caçula Chérif, que adotou o nome de Abu Isen, integrava a chamada “rede de Buttes-Chaumont” – comandada pelo “emir” Farid Benyettu, sendo responsável por enviar jihadistas franceses para o braço iraquiano da Al-Qaeda – e foi julgado e condenado em 2008 a três anos de prisão, Said não tinha antecedentes conhecidos até a informação de que treinou com a Al-Qaeda do Iêmen em 2011. Chérif foi detido antes de viajar à Síria e dali ao Iraque e dos três anos em que esteve preso, 18 meses foram em liberdade condicional. Em 2010, quando já estava em liberdade, seu nome foi alvo de busca mais uma vez ao aparecer num projeto de tentativa de fuga da prisão de um islamita, Smain Ait Ali Belkacem, condenado em 2002 à prisão perpétua por um ataque que feriu 30 em Paris, em 1995. Além de assassinarem os suspeitos do massacre ao Charlie Hebdo, a polícia francesa eliminou Amedy Coulibaly, o homem que esteve barricado numa mercearia judaica em Porte de Vincennes, na zona leste da capital francesa. Coulibaly fez seis pessoas reféns e seria ligado aos irmãos Chérif e Said. Quatro pessoas teriam morrido durante a operação. ELIMINADO - Amedy Coulibaly foi morto pela polícia francesa após fazer seis pessoas reféns _________________________________________ 8# TECNOLOGIA E MEIO AMBIENTE 14.1.15 CONEXÃO ATÉ EMBAIXO DA CAMA Na maior feira de tecnologia do mundo, a "internet das coisas" finalmente sai da ficção e chega à casa dos consumidores Mariana Queiroz Barboza, de Las Vegas CONECTADA - A criança levantou da cama no meio da madrugada? A cama inteligente SleepIQ Kids avisa E se as senhas para acessar computadores e sistemas de segurança não fossem mais necessárias? E se seu próprio rosto fosse o suficiente para abrir a porta de casa? Mais do que isso: e se todos os aparelhos eletrônicos tivessem sensores e pudessem comunicar-se entre si? A narrativa virou realidade na semana passada, quando a International Consumer Electronics Show (CES), maior feira de eletrônicos do mundo, mostrou que essa tecnologia está cada vez mais acessível. O tema recebeu novidades de 900 expositores, de eletrodomésticos a automóveis. “As pessoas pensam que esse mundo faz parte de um futuro distante”, disse Boo-Keun Yoon, presidente global da Samsung. “Mas a internet das coisas não é mais ficção científica, é um fato.” A “internet das coisas”, em que os dispositivos inteligentes se conectam por uma rede sem fio e podem ser controlados remotamente (leia quadro) está ao alcance do consumidor. Com ela, já é possível comandar a televisão, a máquina de lavar e até a cama das crianças de longe. O aspirador de pó robô lançado pela Samsung, que mapeia todo o ambiente, desvia de obstáculos e vai sozinho à estação de carregamento quando a bateria estiver acabando, deve chegar ao Brasil nos próximos meses. Entre os lançamentos de vários fabricantes, a regra é uma só: todos funcionam com código aberto. Assim, aparelhos de diferentes marcas e sistemas operacionais podem trabalhar juntos. Os fabricantes de processadores não ficaram de fora. A Intel, por exemplo, levou ao público um computador do tamanho de um botão de camisa. O Curie, previsto para chegar às lojas no segundo semestre, deve ser usado sobretudo na tecnologia vestível, como roupas e relógios inteligentes. A próxima revolução já começou e ela nunca foi tão conveniente. _________________________________________ 9# CULTURA 14.1.15 9#1 CINEMA - O ÚLTIMO ORSON WELLES 9#2 LIVROS - A SUPERAÇÃO DE TOM CARROLL 9#3 EM CARTAZ – CINEMA - O PODER QUE TUDO CONTROLA 9#4 EM CARTAZ – DVD - TRIBUTO À POESIA 9#5 EM CARTAZ – EXPOSIÇÃO - ARTE EM TRANSFORMAÇÃO 9#6 EM CARTAZ – LIVRO - UM SUSSURRO NAS TREVAS 9#7 EM CARTAZ – CD - A PEGADA DO KAISER 9#8 EM CARTAZ – AGENDA - LESADOS/POSTER/ÍNDIGO 9#9 ARTES VISUAIS - DE OLHOS BEM ABERTOS 9#10 ARTES VISUAIS – ROTEIROS - O VÍDEO COMO DEMARCAÇÃO SUBJETIVA DO ESPAÇO 9#1 CINEMA - O ÚLTIMO ORSON WELLES Engavetado por mais de quatro décadas, "The Other Side Of The Wind" será lançado no Festival de Cannes deste ano Daniel Solyszko (daniel@istoe.com.br) INÉDITO - O diretor não viu a versão final de sua obra Um dos diretores mais importantes da história do cinema – e também um dos mais difíceis de lidar –, Orson Welles passou os anos finais de sua vida empenhado em lançar o que poderia ser sua obra-prima. Rodado entre 1970 e 1976, “The Other Side Of The Wind” nunca chegou a ser editado. Suas quase dez horas de material, somando 1.083 rolos de negativos de filme, ficaram trancadas em um armazém no subúrbio de Paris enquanto os direitos autorais eram disputados judicialmente. A série de disputas legais impediu o lançamento do filme até a morte do diretor, em 1985, situação que deve ser revertida apenas agora. Um dos investidores do filme na época, Mehdi Bushehri, brigou com Welles e ficou com os negativos, embora um copião de cerca de 45 minutos tenha permanecido nas mãos do diretor. Com o tempo, as leis francesas deram a Beatrice Welles, sua filha, os direitos sobre os negativos novamente. Em outubro passado, a Royal Road Entertainment, uma produtora de Los Angeles, anunciou ter chegado a um acordo pelos direitos do filme, e deve lançá-lo finalmente em 6 de maio, durante Festival de Cannes, dia do nascimento de Welles. Frank Marshall, um dos produtores do filme original, está empenhado em montar as imagens guardadas ao lado de Peter Bogdanovich, diretor de cinema e amigo pessoal de Welles, que também participou como ator da produção. Algumas cenas isoladas do longa-metragem circularam ao longo do tempo, disponíveis em extras de DVDs de filmes de Welles e até no YouTube, mas nunca chegaram a ser exibidas publicamente em uma montagem coerente, com começo, meio e fim. As imagens misturam diferentes formatos de película, como super-8, 16 e 35 milímetros, com cenas em cores e outras em preto e branco. O roteiro circulou em impressos clandestinos, sem autorização legal, até ser finalmente publicado integralmente em 2005 pela revista francesa “Cahiers du Cinéma” em parceria com a organização do festival internacional de cinema de Locarno. TIME - Oja Kodar, última companheira de Welles, com o produtor Frank Marshall, o cinegrafista Gary Grever e o diretor durante as filmagens de "The Other Side Of The Wind" A trama se desenvolve ao redor da festa de aniversário de 70 anos de Jake Hannaford (interpretado pelo cineasta John Huston), um velho diretor de cinema prestes a lançar um novo filme. Assim como o grande clássico de Welles, “Cidadão Kane”, a história começa com a morte de Hannaford no dia seguinte à festa, e passa então para uma série de flashbacks mostrando a noite anterior. Apesar de nitidamente autobiográfico, o personagem de Hannaford é inspirado em Ernest Hemingway, que Welles conheceu em 1937. Os dois se tornaram amigos após uma briga marcada por ofensas dos dois lados, em que Hemingway se referiu a Welles como um dos “rapazes afeminados do teatro”. O filme traz diversas referências à Hemingway, desde o nome Jake, o mesmo do protagonista de “O Sol Também Se Levanta”, até a data do seu aniversário, mesmo dia da morte do escritor, além da paixão do personagem pela Espanha e o fato de seu pai ter cometido suicídio. INSIDER - O ator Peter Bogdanovich, que participou das filmagens no último filme de Welles, ficou responsável pela montagem do longa, previsto para estrear no próximo Festival de Cannes Já o filme dentro do filme é uma espécie de sátira aos diretores mais experimentais da chamada Nova Hollywood, entre os quais Dennis Hopper, que faz uma ponta como ator. Com cenas carregadas de sexo e violência, contém ainda referências ao estilo de alguns dos principais cineastas europeus do período, como Michelangelo Antonioni. Resta saber se o resultado final fará juz a um cineasta que passou a vida toda brigando com produtores para conseguir ter direito ao corte final dos seus filmes, e rodou boa parte da sua filmografia na Europa para não ter que lidar com os magnatas de Hollywood. Megalomaníaco e egocêntrico como seus personagens, Welles era alguém que não sabia ouvir um “não”, e foi assim que, por bem ou por mal, imprimiu seu nome entre os grandes do cinema. 9#2 LIVROS - A SUPERAÇÃO DE TOM CARROLL Sai no Brasil livro que conta a história da vida e a luta vitoriosa contra as drogas do ídolo do surfe que alçou o esporte ao patamar profissional que conhecemos hoje Daniel Solyszko (daniel@istoe.com.br) Sobre as ondas Tom Carroll surfando com a filha Jenna, em Newport, Austrália, em 2001 Bicampeão mundial de surfe em 1983 e 1984, o australiano Tom Carroll foi o ídolo máximo para uma geração que viu o esporte se profissionalizar. Hoje com 53 anos, permanece lembrado como uma das maiores referências da profissão. Sua trajetória, o sucesso, o vício em drogas e sua superação são contados em “TC”, biografia escrita por seu irmão mais velho, Nick Carroll, um dos mais importantes jornalistas da área no mundo. A história dos irmãos que testemunharam a transformação do surfe de uma ocupação juvenil para um dos grandes esportas radicais do planeta chega agora ao público brasileiro pela editora Rocky Montain. Em entrevista à ISTOÉ, o escritor, autor de livros como “Fearlessness: The Story Of Lisa Andersen”, sem tradução no Brasil, contou que decidiu contar a história do irmão para colocar luz sobre uma questão devastadora e pouco observada no mundo do surfe: o consumo de drogas.“TC” descreve a vida do atleta desde a infância e tem como ápice seu envolvimento com a cocaína, antes de passar a consumir o “ice” (apelido dado para a metanfetamina). Segundo o jornalista, a compulsão do irmão para o vício era partilhada com muitos colegas do período. “Para alguns surfistas que conheci, a prática do esporte os viciava em adrenalina, e eles acabavam procurando algo que substituísse aquela intensidade”, explica. As drogas, no entanto, são apenas parte de uma história pontuada por passagens luminosas, como a recusa de Tom em participar de uma etapa do campeonato mundial na África do Sul em 1985, em protesto contra o apartheid. Na mitológica praia de Pipeline, no Havaí, em 1991 Alguns trechos são mais tocantes, como a morte da mãe, quando o esportista tinha apenas 7 anos, e a da irmã, em um acidente de carro em 1988. Em ordem cronológica, a história é narrada alternadamente pelos dois irmãos. Os trechos “escritos” por Tom em primeira pessoa foram baseados em entrevistas colhidas e editadas pelo irmão, que tentou manter a linguagem o mais perto possível de uma descrição oral. “Somos pessoas muito dife­rentes. Queria que o leitor entendesse todos os aspectos disso e também tivesse uma visão mais aprofundada do que aconteceu”, diz. “Os surfistas de hoje são muito mais espertos e mais bem aconselhados”, avalia o autor, que foi editor-chefe da californiana Western Empire, que publica a “Surfing Magazine”. Tom Carroll largaria o vício em 2007, passando a dar palestras e a participar de reuniões dos Narcóticos Anônimos em diferentes países. Embora tenha as marcas de uma vida tumultuada estampadas no rosto, preserva a disposição e o bom humor de sempre, e atualmente apresenta o programa de TV “Storm Surfers”, exibido internacionalmente pelo Discovery Channel, em que viaja em busca das ondas mais difíceis de surfar do planeta. Vitorioso - Capa do livro escrito por Nick Carroll, um mergulho nos traumas e aspectos mais obscuros da vida do irmão Tom 9#3 EM CARTAZ – CINEMA - O PODER QUE TUDO CONTROLA Daniel Solyszko (daniel@istoe.com.br) O cenário de crise econômica e corrupção endêmica na sociedade russa atual é o tema central de “Leviatã”, indicado pelo país para concorrer ao Oscar de melhor filme estrangeiro deste ano. Kolia é um mecânico que vê sua vida lentamente desmoronar ao enfrentar o prefeito da pequena cidade onde vive que deseja se apropriar do terreno onde estão sua casa e sua oficina. Após recusar um suborno, Kolia se vê envolvido num imbróglio legal que acaba levando a uma série de tragédias pessoais. Vencedor do prêmio de melhor roteiro no festival de Cannes e eleito melhor filme pela crítica na Mostra Internacional de Cinema de São Paulo em 2014, o longa-metragem do diretor Andrey Zvyagintsev tem seu título tirado do clássico livro de Thomas Hobbes sobre o poder do Estado absoluto e a teoria do contrato social. +5 filmes contemporâneos russos Na Neblina (Foto) No filme de Sergei Loznitsa, um russo foge dos nazistas durante a Segunda Guerra e é rejeitado como traidor pelos compatriotas O Mestre e a Margarida Adaptação do célebre romance de Mikhail Bulgákov dirigida por Iúri Kara, sobre uma fantasiosa visita do diabo a Moscou Elena Longa-metragem de Andrey Zvyagintsev sobre casal de meia-idade que tenta manter a relação apesar das diferenças Pai e Filho A evolução de uma relação familiar através dos anos é mostrada nesse filme de Alexandr Sokurov Guardiões da Noite No filme de ação dirigido por Timur Bekmambetov, soldados da luz e da escuridão travam uma batalha milenar 9#4 EM CARTAZ – DVD - TRIBUTO À POESIA Daniel Solyszko (daniel@istoe.com.br) Filmado durante a edição de 2013 da Flip (Feira Literária Internacional de Paraty), o documentário “O Vento Lá Fora” mostra a cantora Maria Bethânia ao lado de Cleonice Berardinelli – maior especialista em Fernando Pessoa no Brasil – lendo alguns dos principais poemas do poeta. Com fotografia em preto e branco e entremeado por cenas de bastidores e conversas entre as duas intérpretes sobre a vida e a obra do autor, o filme serve tanto como uma introdução quanto uma síntese do trabalho de Pessoa, realçado ainda mais por uma leitura emotiva e grandiosa. 9#5 EM CARTAZ – EXPOSIÇÃO - ARTE EM TRANSFORMAÇÃO Daniel Solyszko (daniel@istoe.com.br) Reunindo as principais obras da importante artista plástica carioca produzidas nos últimos 60 anos, “Anna Bella Geiger Circa MMXI” fica em cartaz no Centro Cultural Correios em São Paulo até o dia 12, após passar por Rio de Janeiro, Salvador, Juiz de Fora e Brasília. Com curadoria da própria artista, a mostra reúne desenhos, pinturas, fotogravuras, serigrafia, esculturas, video-instalações e objetos tridimensionais, com influências diversas que vão da pop art nos anos 1960 ao pluralismo estético do seu trabalho mais recente. 9#6 EM CARTAZ – LIVRO - UM SUSSURRO NAS TREVAS Daniel Solyszko (daniel@istoe.com.br) Considerado um dos melhores escritores de horror na história da literatura, o norte-americano H.P. Lovecraft se especializou em contos curtos povoados por seres alienígenas e entidades ancestrais que habitam lugares ermos do planeta. Alguns de seus principais trabalhos estão reunidos em “Os Melhores Contos de H.P. Lovecraft”, publicado pela Editora Hedra, que também está lançando uma biografia do autor, escrita pelo crítico literário e historiador S. T. Joshi. Em “A Vida de H.P. Lovecraft”, Joshi explica como o conservadorismo moral, a aversão pelo mundo moderno e pela civilização urbana moldaram a obra do autor. 9#7 EM CARTAZ – CD - A PEGADA DO KAISER Daniel Solyszko (daniel@istoe.com.br) O quinto álbum do Kaiser Chiefs é uma surpresa das boas. Difícil uma banda sobreviver com o mesmo gás após perder o seu compositor-mor. Em 2012, o grupo inglês de Leeds teve de se virar com a saída do baterista e (letrista) Nick Hodgson. Com o lançamento de “Education, Education, Education & War” ficou claro que o vocalista Ricky Wilson e o baixista Simon Rix seguram a onda com ótimas composições. Com dez faixas, o álbum satiriza, na maioria delas, a sociedade britânica, como em “Coming Home”, na qual Wilson canta: “Devo lembrá-lo que você não tem para onde ir?”. Baladas como essa e “Roses” dão um tom mais pop ao som do grupo. O indie rock, porém, segue vivo. 9#8 EM CARTAZ – AGENDA - LESADOS/POSTER/ÍNDIGO Confira os destaques da semana Daniel Solyszko (daniel@istoe.com.br) Lesados (Sesc Pinheiros, em São Paulo, até 14 de fevereiro) Peça de humor negro encenada pelo Grupo Bagaceira, com personagens que não conseguem mudar suas vidas, numa crítica ao comodismo. Poster For Tomorrow (Caixa Cultural, em São Paulo, até 1o de março) Exposição que reúne mais de 100 cartazes produzidos no mundo inteiro, retratando temas ligados aos direitos humanos. Índigo (Sesc Ipiranga, em São Paulo, até 31 de janeiro) Espetáculo de dança que busca mostrar a supremacia dos ritmos naturais sobre as atividades humanas. 9#9 ARTES VISUAIS - DE OLHOS BEM ABERTOS Compartilhando o mesmo tema da 31ª Bienal de São Paulo, as "coisas que não existem", Trienal Frestas de Sorocaba se sai melhor do que o tradicional evento paulistano Paula Alzugaray RUÍNAS - "Bicho Geográfico" (2010), videoinstalação de Caetano Dias, aborda as frestas da história da colonização FRESTAS TRIENAL DE ARTES – O QUE SERIA DO MUNDO SEM AS COISAS QUE NÃO EXISTEM? Sesc Sorocaba, SP até 8/2 • POIPOIDROME/ Sesc Sorocaba, SP/ até 3/5 De olhos bem abertos, o que vemos é um cenário desolador. Em ruínas, a finada Estrada de Ferro Sorocabana – construída em 1875 para transportar algodão de Sorocaba a São Paulo e que na virada do século XX serviu ao transporte de café e de passageiros entre inúmeras cidades do oeste paulista – atravessa melancolicamente o edifício histórico da Estação de Ferro de Sorocaba, hoje condenado. Agora feche os olhos e imagine a cena: estamos na Estação Sorocabana de São Paulo, no bairro da Luz, onde desde 1999 funciona a Sala São Paulo. Ouvimos o apito do trem e entramos na Maria Fumaça, que desliza sobre os trilhos restaurados do trecho SP-Sorocaba. Ao chegar a nosso destino, encontramos uma estação refeita e convertida na Pinacoteca de Sorocaba, com um acervo em construção de arte contemporânea. Sonho? Talvez. Mas “O que seria do mundo sem as coisas que não existem?” Esse é o título da primeira edição de “Frestas – Trienal de Artes”, projeto transdisciplinar realizado pelo Sesc, com curadoria de Josué Mattos. “À primeira edição de qualquer projeto é dado o direito de sonhar, porque a história ainda não interpôs sobre ele os seus limites e as suas lacunas”, escreve o curador no texto de apresentação. Assim, com o cuidado de apresentar trabalhos que propõem escapes da realidade pragmática e objetiva, Mattos reuniu artistas de mais de 20 países em cinco espaços expositivos na cidade de Sorocaba, atingindo a grandeza de uma bienal do porte da de São Paulo. Mas, diferentemente da última edição da Bienal de SP, que também se propôs a falar de coisas que não existem, a Trienal Frestas, no frescor e no risco de sua primeira edição, lançando-se à especulação sobre o improvável e o utópico, chega a ser mais vigorosa e bem-sucedida do que a curadoria de Charles Esche para o evento paulistano. Entre os espaços expositivos ocupados destaca-se o diálogo estabelecido entre as obras concebidas por Rochelle Costi e Laura Belém, entre outros, com o acervo histórico do Museu da Estrada de Ferro Sorocabana e moradores da cidade. Outro espaço de enorme impacto é a ocupação provisória do estacionamento da sede do Sesc Sorocaba com dezenas de obras. Lá estão trabalhos potentes como o filme “Bicho Geográfico” (2010), do artista baiano Caetano Dias; a escultura de Romuald Hazoumé, da República do Benin; “Cantareira” (2014), desenho do pernambucano Kilian Glasner sobre a parede, criando a ilusão de uma represa ao mesmo tempo cheia e seca; ou os objetos surrealistas do colombiano Carlos Castro, entre os quais uma espiga de milho composta por dentes. TEMPO PERDIDO - Instalação de Laura Belém com objetos do Museu da Estrada de Ferro Sorocabana Interessante o modo como os trabalhos de Amilcar Packer e de Ana Teixeira se utilizam de jogos de palavras e da distribuição nos espaços. O primeiro inventa esquemas gráficos que discorrem sobre a origem das palavras e as relações entre nomes de coisas brasileiras, como a cachaça Cana Crioula e o álcool Zulu. Ao se debruçar nesse léxico de significados, Packer de certa forma evoca a identidade da nova Trienal Frestas, nomeada assim em homenagem à palavra Sorocaba, que em tupi-guarani quer dizer “terra rasgada”. Já Ana Teixeira teceu um poema espacial com as palavras Ainda, Mas, Aqui, Sim, Agora Não, Amanhã, Talvez, impressas em bancos distribuídos pelos vários espaços. Com essa proposição, Ana, além de lançar questões e enigmas aos visitantes, driblou muito bem a dificuldade de expor no edifício-sede do Sesc Sorocaba, que, apesar de recém-inaugurado, infelizmente, não tem um espaço expositivo projetado para esse fim. Em fevereiro, nova fase da exposição intitulada “Poipoidrome” (uma referência à obra homônima do artista francês Robert Filliou) ocupará o Sesc, junto a um simpósio internacional. 9#10. ARTES VISUAIS – ROTEIROS - O VÍDEO COMO DEMARCAÇÃO SUBJETIVA DO ESPAÇO Memórias da obsolescência - Seleção de Vídeos da coleção Ella Fontanals-Cisneros/ Paço das Artes e MIS, SP/ até 22/3 por Paula Alzugaray IEpag70e71_Artes-2.jpg Com curadoria de Jesús Fuenmayor, diretor da Fundação Cisneros-Fontanals (Cifo), importante coleção sediada em Miami e dedicada ao suporte de artistas emergentes da América Latina, a mostra “Memórias da Obsolescência” pretende expor um panorama do vídeo em relação a outras linguagens artísticas. Segundo o curador, trata-se das “memórias do vídeo observando a si mesmo, construindo e destruindo as fronteiras que o definem”. Assim, o grande tema abordado nesta mostra com trabalhos de 25 artistas internacionais são as relações do vídeo com a pintura, a escultura, a performance ou o desenho. Mas o sinal de que o desenho será determinante entre os campos relacionados está já na primeira obra exposta, “Campo” (foto), peça pioneira da videoarte brasileira, realizada por Regina Silveira em 1976. Nesse trabalho, em que a artista delimita um quadro com a ponta do dedo, está implícita a alusão a um campo visual – termo das artes que designa uma demarcação subjetiva do espaço. Diversas outras obras selecionadas por Fuenmayor apontam formas de delimitação e desenho no espaço. A começar pelo trabalho do sul-africano William Kentridge, que sustenta toda a sua produção sobre o desenho animado em vídeo. Chama a atenção também “21 Tentativas de Desenhar um Círculo Perfeito (Uma Atrás da Outra, a Cada Dois Quadros, Misturadas, Repetidas, Juntas, Aglomeradas e Repetidas de Novo)”, realizado pelo mexicano Mario Garcia Torres, em 2004. O desenho também está na base de toda a obra do argentino Nicolás Robbio, radicado em São Paulo. No vídeo “Geometría Accidental” (foto) (2008), o olhar do artista que busca o desenho na vida cotidiana encontra o traçado geométrico no caminhar de transeuntes na praça do Patriarca. Finalmente, chega a ser surpreendente encontrar um desenho espontâneo até mesmo na performance de Regina José Galindo. Em “Quem Pode Apagar as Marcas?”, um videomanifesto em memória das vítimas da violência na Guatemala, as pegadas da artista no asfalto da cidade funcionam como prova material de conflitos ideológicos. PA _______________________________________ 10# A SEMANA 14.1.15 por Antonio Carlos Prado e Elaine Ortiz "DESCOBERTO O LOCAL EM QUE JESUS FOI CONDENADO À MORTE " Há cerca de duas décadas uma equipe de arqueólogos vem atuando na cidade israelense de Jerusalém nas escavações que visam à expansão do famoso Museu da Torre de Davi. A certa altura do trabalho, no entanto, o imponderável mostrou-se pródigo: os pesquisadores localizaram sob o solo, e justamente ao lado da famosa torre, os escombros do palácio do rei Herodes onde Jesus teria ouvido a sua sentença de morte dada pelo governador romano Pôncio Pilatos, de acordo com os relatos bíblicos que constam no Novo Testamento. Trata-se da mais importante descoberta nos últimos tempos sobre a história de Jesus Cristo, revelada ao mundo na semana passada – e que na verdade envolve também toda a história do próprio povo judeu à época em que viveu sob o domínio romano. A DIFÍCIL TRINCHEIRA DE BARACK OBAMA, A DIFÍCIL COESÃO CONSERVADORA, A DIFÍCIL ELEIÇÃO DE 2016" Desde a terça-feira 6 os EUA têm um Congresso controlado pelo Partido Republicano – ou seja, majoritariamente conservador. Será essa a trincheira na qual o presidente democrata Barack Obama terá de lutar para aprovar as suas reformas, mas será essa também a arena em que os próprios republicanos terão a difícil missão de conter correligionários mais radicais e alcançar a unidade partidária com olhos na eleição à Presidência do país no ano que vem. Se a Obama caberá o jogo de cintura de governar com um Congresso conservador, também a maioria dos congressistas precisará fazer concessões para que os republicanos deixem de ser chamados de “partido do não” – esse rótulo não funcionará nas urnas em 2016, conforme já declarou o líder da maioria no Senado, Mitch McConnell. Os republicanos não facilitarão a vida de um Obama que já se viu obrigado a recorrer a decretos para colocar em moratória a deportação de imigrantes ilegais e para reatar relações diplomáticas com Cuba. "O NOVO COMANDO MILITAR DE DILMA" Anunciados pelo Palácio do Planalto na quarta-feira 7 os novos comandantes das Forças Armadas. O general Eduardo Dias da Costa Villas Bôas estará à frente do Exército (foi coordenador de operações em todo o território nacional). Comandará a Marinha o almirante-de-esquadra Eduardo Bacellar Ferreira (deixa a direção da Escola Superior de Guerra). O comando da Aeronáutica foi entregue ao brigadeiro Nivaldo Luiz Rossato (ex-diretor do departamento de ensino dessa Arma). "JOVENS NEGROS MORREM 2,5 VEZES MAIS QUE OS BRANCOS" Estudo feito pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública, a pedido do governo federal, aponta: - Jovens negros no Brasil correm, em média, 2,5 vezes mais risco de morrer se comparados aos jovens brancos; - Na região Nordeste esse índice é o dobro: 5 vezes mais risco de morte 30 mil jovens foram assassinados recentemente no País: 76,5% eram negros ou pardos; - Nos últimos anos o índice de homicídios de jovens brancos caiu 5,5%; o de jovens negros aumentou 21,3%; - As explicações sociológicas para tais constatações são o preconceito e a carência de políticas públicas que promovam a democracia social "PRESIDENTE DA CPTM DEIXARÁ O CARGO" O governo de Geraldo Alckmin anunciou na quinta-feira 8 a saída do presidente da Companhia Paulista de Trens Metropolitanos (CPTM), Mário Bandeira, após três anos à frente da empresa. Ele foi um dos 33 indiciados no inquérito da Polícia Federal que investiga o cartel, denunciado por ISTOÉ, formado entre multinacionais para fraudar concorrências e obter contratos do sistema metroferroviário de São Paulo entre 1998 e 2008. "SOCIALITE PRESA EM MANAUS TERIA PAGO R$ 7 MIL A MATADOR DE ALUGUEL" Sob a suspeita de mandar assassinar a sua rival numa relação amorosa envolvendo amantes e traições, a socialite Marcelaine Santos Schumann foi presa na semana passada ao desembarcar no aeroporto de Manaus, retornando de Miami – ela viajara aos EUA em 8 de dezembro, dez dias antes de a Justiça decretar a sua prisão preventiva e considerá-la foragida. Segundo a polícia do Amazonas, Marcelaine contratou um matador de aluguel para assassinar a estudante Denise Almeida da Silva, também pertencente à alta sociedade de Manaus. Motivo: Denise mantinha um caso amoroso com o mesmo homem com o qual Marcelaine se relacionava. O matador (teria cobrado R$ 7 mil antecipados) se aproximou de Denise quando ela saía de uma academia e entrava em seu carro Mercedes-Benz, deu-lhe dois tiros mas nenhum foi fatal. Marcelaine nega as acusações. "SINAIS DAS CAIXAS-PRETAS NO FUNDO DO MAR" Autoridades da Indonésia empenhadas nas buscas aos destroços do avião da AirAsia, que caiu no Mar de Java no final do mês passado, anunciaram na sexta-feira 9 que foram detectados no fundo do oceano sinais provenientes das caixas pretas instaladas na cauda da aeronave. O primeiro passo será agora resgatá-las e, depois, abri-las com sucesso. Se tudo der certo, elas poderão finalmente elucidar o que aconteceu com o voo no momento do acidente, ocorrido pouco depois da decolagem do território indonésio. Tais informações não trarão de volta a seus familiares os 162 mortos, mas pelo menos lhes darão o conforto de saberem por qual motivo aconteceu a tragédia. "BRASILEIRO PODE SE TORNAR O PRIMEIRO OCIDENTAL EXECUTADO NA INDONÉSIA" O governo indonésio negou definitivamente clemência ao brasileiro Marco Archer Cardoso Moreira, condenado à pena de morte por tráfico de drogas. No país asiático sentenciados à morte só podem fazer dois pedidos de clemência e a segunda solicitação de Marco foi negada em 31 de dezembro pelo presidente Joko Widodo. O brasileiro, que hoje tem 53 anos, foi preso em 2003 depois de tentar entrar no aeroporto de Jacarta com 13,4 kg de cocaína escondidos em tubos de asa-delta. O Itamaraty afirma não ter recebido comunicação “oficial” a respeito. "APÓS 28 ANOS, SURGE UM PODEROSO ANTIBIÓTICO" A medicina comemorou uma boa notícia na semana passada no campo das doenças infecciosas: pesquisadores dos EUA anunciaram a descoberta de um novo antibiótico capaz de destruir as mais resistentes bactérias. Chama-se teixobactina e em testes laboratoriais combateu as formas mais graves e agressivas de tuberculose . É a primeira classe de antibióticos descoberta em todo o mundo desde 1987. "ANGELINA JOLIE EXIBE AO PAPA SEU FILME "INVENCÍVEL"" Na quinta-feira 8 a atriz Angelina Jolie cumpriu agenda que ela própria classificou de “extrema honra”: pisou o Vaticano, como convidada, para assistir ao lado do papa Francisco ao filme “Invencível”, o segundo sob sua direção. O enredo conta a saga do campeão olímpico e herói na Segunda Guerra Mundial, Louis Zamperini (sobreviveu por quase 50 dias em uma jangada depois que seu avião militar foi abatido). Essa é a primeira vez na história do Vaticano que um artista é convidado a exibir o seu trabalho ao papa. "1 SEGUNDO" 1 segundo a mais terá o ano de 2015. Ou seja: o ano que se inicia terá 31.536.001 segundos. Isso porque será necessário, no dia 30 de junho, sincronizar o horário mundial com o movimento de rotação da Terra. "DENTE DE LEITE PARA CURAR DOENÇAS" Na expectativa de obter tratamento para muitas doenças degenerativas por meio de células tronco embrionárias, os brasileiros estão cada vez mais recorrendo aos serviços especializados de armazenamento e congelamento dos dentes de leite de seus filhos. Essa esperança ainda custa caro, não há garantia científica de sucesso, mas é uma porta que se abre à medicina do futuro. Em São Paulo, por exemplo, cobram-se cerca R$ 2 mil iniciais acrescidos de R$ 400 por ano pelos serviços de coleta, multiplicação de células e congelamento em condições especiais. As células provenientes da polpa dos dentes são guardadas em nitrogênio líquido a 196 graus negativos. "PRÍNCIPE ANDREW É ACUSADO DE ABUSO SEXUAL" Mais um escândalo assombra a realeza britânica: o príncipe Andrew teria violentado sexualmente a jovem Virginia Roberts, há cerca de uma década, quando ela tinha 17 anos. O episódio foi citado em um tribunal dos EUA que processa o investidor multimilionário Jeffrey Epstein – amigo de Andrew, ele teria promovido o seu encontro com Virginia. Atualmente ela está casada, é mãe de três filhos e resolveu falar. Deu entrevista ao tabloide britânico “Daily Mail” e detalhou o abuso. O Palácio de Buckingham advertiu os jornais sobre a possibilidade de punições sob a vigência da lei de imprensa no Reino Unido. "O PRESTÍGIO DO CACIQUE" Está na mesa do novo ministro de Minas e Energia, Eduardo Braga, a minuta de renovação de um convênio com a Fundação Cacique Cobra Coral, que diz poder influenciar no ciclo das chuvas. O governador do Rio de Janeiro, Luiz Fernando Pezão, e o prefeito da capital, Eduardo Paes, também já fecharam parceria com a fundação. O governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, tem optado por caminho oposto e não consegue se livrar do fantasma da seca. "O QUE CAUSOU O CHOQUE DE TRENS" O secretário estadual de Transportes do Rio de Janeiro, Carlos Roberto Osório, classificou de “inadmissível” qualquer falha ocorrida no sistema de segurança da rede ferroviária que tenha levado ao grave acidente da segunda-feira 5: um trem em movimento colidiu com uma composição que estava parada na Estação Presidente Juscelino, na Baixada Fluminense, resultando em 229 feridos. O secretário também garantiu que aplicará multas pesadas à concessionária Supervia. Segundo a polícia, a ausência do dispositivo de segurança que regula a velocidade do trem e a frenagem imediata de vagões (sigla em inglês ATP) pode ter causado o acidente. O governo do Rio de Janeiro aguarda a chegada de novas composições adquiridas na China. "19" 19 é o número de parentes que a governadora de Roraima, Suely Campos, nomeou para cargos públicos – inclusive secretarias de governo. A soma dos salários mensais de seus familiares é de R$ 398 mil. Os nomeados vão de filhas a tios. "A INÉDITA CARTA DE SARTRE AO PRÊMIO NOBEL" O jornal sueco “Svenska Dagbladet” revelou na semana passada um fato inédito que explica os constrangimentos pelos quais passaram em 1964 os outorgantes do Prêmio Nobel com a recusa do filósofo francês Jean-Paul Sartre em recebê-lo. No dia 14 de outubro Sartre enviou de Paris uma carta a Estocolmo, cidade na qual se reunia o júri do Nobel. Nessa carta ele dizia que jamais iria receber o prêmio se fosse o eleito. Ocorre, no entanto, que a carta atrasou. Sartre foi o escolhido para o Nobel de Literatura, os organizadores ficaram com o mico da estatueta nas mãos. "O TELESCÓPIO KEPLER REVELA OITO PLANETAS EM "ZONA HABITÁVEL" DO ESPAÇO" Oito planetas potencialmente habitáveis e fora do sistema solar foram identificados por pesquisadores americanos através do telescópio espacial Kepler – em relação a três deles já não há dúvida de que a vida seria bem possível. Foram batizados de Kepler-438b, Kepler-442b e Kepler-440b. Os planetas identificados estão dentro do recorte que os astrônomos chamam de “zona habitável” – qualquer “área cósmica” ao redor de uma estrela na qual a radiação dá conta de manter a água líquida. Segundo a Nasa, os diâmetros desses novos planetas são maiores que o da Terra. O telescópio espacial Kepler já revelou aproximadamente mil astros, todos fora do sistema solar. Os três novos planetas mais propícios para acolher vida: Kepler-438b: 12% maior que a Terra, que possui diâmetro de 12.742 quilômetros. Está a 473 anos-luz de distância Kepler-442b: 33% maior que a Terra e dela está distante a 1.115 anos-luz Kepler-440b: 90% maior que a Terra e está a 851 anos-luz de distância