0# CAPA 12.11.14 ISTOÉ edição 2346 | 12.Nov.2014 [descrição da imagem: foto dos ministros Rosa Weber, Marco Aurélio Mello, Celso de Mello, Teori Zavascki e Ricardo Lewandowski] POLÊMICA SUPREMA Até 2018, o PT terá indicado 10 dos 11 ministros do STF. Como isso podem impactar a democracia no Brasil? _______________________ 1# ENTREVISTA 2# COLUNISTAS 3# BRASIL 4# COMPORTAMENTO 5# MEDICINA E BEM-ESTAR 6# ECONOMIA E NEGÓCIOS 7# MUNDO 8# TECNOLOGIA E MEIO AMBIENTE 9# CULTURA 10# A SEMANA _____________________________ 1# ENTREVISTA 12.11.14 NATHAN BLECHARCZYK - "NÓS AJUDAMOS A CONSTRUIR CONFIANÇA ENTRE ESTRANHOS Fundador do site de hospedagem Airbnb, Nathan Blecharczyk fez fortuna com uma estratégia ousada: convencer as pessoas a alugar suas casas para desconhecidos por Mariana Queiroz Barboza CONCEITO SIMPLES - "No Airbnb, você só precisa ter uma casa e o desejo de hospitalidade" Presente em 190 países e com 17 milhões de usuários, o Airbnb revolucionou a experiência de viajar pelo mundo ao fazer as pessoas entregarem as chaves de suas casas para estranhos. Quando a ideia surgiu, em 2007, Nathan Blecharczyk era apenas um jovem recém-formado em ciência da computação pela Universidade Harvard com dificuldade para bancar o apartamento em São Francisco, nos Estados Unidos. "Antes da Copa do Mundo, tínhamos cinco mil propriedades registradas no Rio de Janeiro. Agora, já são 20 mil" Hoje, depois de criar a maior rede de hospedagem do mundo, oferecendo o aluguel temporário de imóveis por preços mais baixos do que hotéis, acumula fortuna pessoal de US$ 1,5 bilhão e dirige, ao lado dos também fundadores Brian Chesky e Joe Geb­bia, uma gigante avaliada em US$ 10 bilhões, mais do que a tradicional rede Hyatt. “Uma das coisas mais incríveis que fizemos foi a habilidade de construir confiança entre pessoas que não se conhecem”, disse Blecharczyk, direto de São Francisco, em entrevista por telefone à ISTOÉ. "No começo, pensamos que só atenderíamos Nova York (foto). Hoje, estamos em mais de 190 países" Istoé - A simples ideia de emprestar a casa para estranhos parece absurda, mas o Airbnb possui 17 milhões de usuários no mundo todo fazendo justamente isso. Como é possível convencer as pessoas a abrir a porta de suas casas para gente do outro lado do mundo? Nathan Blecharczyk - Uma das coisas mais incríveis que alcançamos foi a habilidade de construir confiança entre estranhos. Isso foi parte da inovação original. A chave é a seguinte: quando o viajante reserva uma propriedade, ele paga ao Airbnb. Nós seguramos o dinheiro até a chegada do hóspede. Assim, se o lugar não é como está descrito ou, por qualquer outro motivo, o viajante quiser cancelar a reserva, ele só precisa ligar para nosso serviço de atendimento ao cliente que funciona 24 horas por dia. Enquanto isso, para ser pago, o anfitrião deve entregar tudo aquilo que foi prometido em seu perfil. Istoé - É apenas isso? Nathan Blecharczyk - Isso funciona bem para assegurar que as expectativas sejam atendidas. Depois da estadia, o hóspede avalia o anfitrião e o anfitrião avalia o hóspede. As duas partes constroem uma reputação, que fica mais forte com o passar do tempo. Numa busca rápida, você verá milhares de propriedades com dezenas de avaliações cada uma. Isso é o que constrói a confiança: as avaliações e o fato de protegermos seu dinheiro. Istoé - A sua casa está disponível para alugar no Airbnb? Nathan Blecharczyk - É algo que eu fazia no início, parei por um tempo e agora retomei. Sou um anfitrião em São Francisco, mas as pessoas não sabem que sou eu. Eu diria que sou um anfitrião misterioso. Istoé - As redes sociais tiveram um papel importante no crescimento do Airbnb? Nathan Blecharczyk - Muito importante. Na última década, as pessoas se tornaram mais confiáveis em seus perfis virtuais. Antes do Facebook, ninguém acreditava nesses perfis, era difícil saber se nomes ou fotos eram verdadeiros. Aos poucos, as pessoas começaram a colocar sua real identidade online. Essa foi uma transformação fundamental para o sucesso do Airbnb. Istoé - O Airbnb foi criado em 2008 e é um dos precursores do que conhecemos como economia compartilhada. Esse modelo de negócio foi beneficiado pela crise econômica? Nathan Blecharczyk - Sim. A depressão começou no fim de 2008, justamente quando abrimos a empresa. As pessoas estavam perdendo seus empregos e sofrendo o risco de perder suas casas. Nós demos a elas uma oportunidade de manter suas casas ao monetizar um espaço extra. Temos histórias assim até hoje, apesar de a economia ter melhorado em muitos países. Istoé - Qual é o perfil das pessoas que colocam suas casas para alugar no Airbnb? Nathan Blecharczyk - Uma das coisas mais legais da economia compartilhada é que ela abre oportunidades para todo mundo. Em muitos setores, para se ter oportunidade é preciso ter diploma universitário, experiência prévia. Na economia compartilhada, só é necessário querer participar. No Airbnb, você só precisa ter uma casa e o desejo de hospitalidade. Isso permite que pessoas de diferentes idades e origens participem. Gosto de pensar em nossos usuários como microempreendedores. Damos a eles uma ferramenta para construir um negócio. Istoé - Alguns críticos dizem que a economia compartilhada nada mais é que “não dividir nada, cobrar por tudo.” O sr. concorda com isso? Nathan Blecharczyk - As pessoas implicam com a palavra “compartilhada”. Mas, nesse caso, isso não significa que seja gratuito. O que dividimos é o acesso. As pessoas estão tendo experiências que não tinham antes. Istoé - Qual é o balanço que o ­Airbnb faz das hospedagens na Copa do Mundo no Brasil? Nathan Blecharczyk - A Copa foi um grande evento. Antes dela, tínhamos cinco mil propriedades registradas no Rio de Janeiro. Isso é muito, mas, durante os jogos, o número subiu para 20 mil. No total, acomodamos 120 mil visitantes no Brasil. Cerca de 20% dos turistas estrangeiros que foram ao País se hospedaram pelo nosso site. Permitimos que eles viajassem de uma maneira relativamente barata e participassem de um evento que só acontece de quatro em quatro anos. E isso permitiu que os brasileiros também participassem dessa oportunidade econômica. Durante o Mundial, eles ganharam US$ 38,8 milhões, uma quantia significativa que dá uma média de US$ 4 mil por anfitrião. Foi um grande impacto que causamos. Istoé - As acomodações alternativas são a chave para o desenvolvimento do turismo em um país, sobretudo durante grandes eventos? Nathan Blecharczyk - As acomodações alternativas ajudam as cidades a vender sua habilidade de sediar o evento de forma atraente. Nessas ocasiões, os hotéis normalmente ficam lotados. O problema é que não se pode construir tantos hotéis por limitações de orçamento, terra disponível e tempo. E, no fim, ainda pode ser que esses quartos novos fiquem ociosos. O Airbnb é uma forma mais sustentável de incentivar o turismo. Além do mais, ao ficar na casa de alguém, em bairros mais residenciais que turísticos, o Airbnb produz uma experiência mais autêntica para o viajante. Istoé - O sr. acha que, no futuro, o negócio central da empresa será o aluguel de outras coisas, como carros e bicicletas, em vez de só hospedagem? Nathan Blecharczyk - Temos pensado de forma mais ampla sobre a viagem e reconhecemos que os viajantes não precisam só de acomodação, mas de muitas outras coisas. Então, queremos conectá-los a toda forma de conveniência e tornar sua experiência mais autêntica e pessoal. Isso pode significar ou não o aluguel de bicicletas e carros. Istoé - Em alguns países, o Airbnb tem sofrido certa resistência. Em Barcelona, a empresa chegou a ser multada por violar as regras regionais do aluguel de propriedades. Nathan Blecharczyk - Em primeiro lugar, devo dizer que fiquei impressionado sobre como o conceito do Airbnb pode ser universal. Quando começamos a empresa, nos perguntamos se só atenderíamos Nova York, se ficaríamos só nos Estados Unidos, na Europa, mas não na Ásia. E o que descobrimos até esse momento, em que estamos em 190 países, é que há muito mais em comum entre esses lugares do que diferenças. Viajar é um conceito internacional que apela a um desejo humano básico que descobrimos ser parte de todas as culturas em que operamos. Istoé - Como o Airbnb lida com as diferentes regulações? Nathan Blecharczyk - Em geral, as regulações estão centradas na esfera municipal. Estamos em 35 mil cidades, então há muitas regras diferentes. Devo dizer que algumas delas são antiquadas. O Airbnb é um conceito novo. Por isso, não se encaixa em certos limites impostos por leis que existem há tanto tempo. Agora elas estão sendo reconsideradas. Entendo que isso seja parte do processo. Sempre que algo muda e causa controvérsia, levamos tempo para nos adaptar. Istoé - Como o sr. avalia a postura dos governos em relação à inovação tecnológica, especialmente quando ela vem de empresas estrangeiras? Nathan Blecharczyk - É totalmente imprevisível. Vejo muitos países acolhendo a economia compartilhada e o Airbnb. Em Amsterdã, por exemplo, foi criada uma nova categoria de “aluguel de férias”. Qual é o padrão? Não sei. A verdade é que a política é complexa, há interesses de grupos diferentes em jogo, e é preciso chegar a um consenso. Isso tem sido complicado em algumas cidades, mas outras foram capazes de ter um diálogo mais construtivo. Istoé - A maior crítica dos donos de hotéis é que eles obedecem a um sistema tributário mais rigoroso que o Airbnb. Os anfitriões não deveriam pagar taxas relativas ao aluguel de suas propriedades? Nathan Blecharczyk - Eu concordo. Temos trabalhado com as cidades para descobrir como podemos ajudá-las a recolher as taxas. Hoje a empresa paga seus impostos, mas também é verdade que os hóspedes deveriam pagar taxas também. O problema é que o processo burocrático das cidades não é muito direto. Quando falamos de indivíduos, muitas vezes eles não sabem a que taxas devem se submeter. Outra crítica que nos fazem é que damos aos anfitriões uma vantagem desleal sobre os hotéis, mas acho que esse não é um entendimento correto. Nossa vantagem é proporcionar aos nossos viajantes experiências únicas e por isso as pessoas nos procuram, e não por que o Airbnb é mais barato. Istoé - Na visão de algumas pessoas, o Airbnb vive uma verdadeira guerra com os hotéis. Como é a sua relação com os representantes da indústria hoteleira? Nathan Blecharczyk - É importante entender que nosso sucesso não vem à custa dos hotéis. Os hotéis, na maioria dos países, estão tendo alguns de seus melhores anos da memória recente, o que significa que a taxa de ocupação e os preços se mantêm em alta. Cada um vende um produto que apela a públicos diferentes. Istoé - Que tipo de serviços o Airbnb desenvolve em locais como o Brasil, já que o centro das operações se concentra em São Francisco? Nathan Blecharczyk - Temos escritórios em todos os nossos mercados mais importantes e o Brasil se qualifica para isso por ser o líder na América Latina. Nossos funcionários desenvolvem parcerias brasileiras, entendem o contexto local e asseguram que isso seja incorporado ao nosso produto e a tudo que fazemos. O mais importante, para mim, é que eles sejam incrivelmente apaixonados pelas experiências locais e pelo conceito de hospitalidade pessoal, porque essa é a categoria de viagens que o Airbnb praticamente criou. _______________________________________ 2# COLUNISTAS 12.11.14 2#1 RICARDO BOECHAT 2#2 LEONARDO ATTUCH - CID, KASSAB E A NOVA BASE DE DILMA 2#3 GISELE VITÓRIA 2#4 ANA PAULA PADRÃO -GENTILEZA VIROU FRAQUEZA 2#5 BRASIL CONFIDENCIAL 2#1 RICARDO BOECHAT Com Ronaldo Herdy Pela liberdade O indulto de Natal este ano será bem humanitário. A proposta é dar o benefício ao preso cego, paraplégico, amputado ou a quem contraiu doença grave cumprindo pena. As normas preestabelecidas pelo Conselho Nacional de Política Criminal e Penitenciária passam por um último crivo no Ministério da Justiça, antes de Dilma Rousseff sancionar a lei. Continuam válidas as regras de anos anteriores, como dar o benefício aos condenados que cumpriram um terço da pena, se não reincidentes, ou metade, se reincidentes. TSE Transparência opaca A folha salarial detalhada do Tribunal Superior Eleitoral permanecia como mistério até a quinta-feira 6. A rigor, a sua divulgação é norma estabelecida pelo Conselho Nacional de Justiça. Noticiado pela Coluna há um mês que em agosto e setembro servidores receberam gordos contracheques, a título de hora extra, a administração do TSE confirmou os dados, adiantando à época que em outubro a realidade seria outra. Foi? FGTS De novo A proposta de aporte de R$ 1,2 bilhão em recursos públicos na Companhia Siderúrgica Nacional voltará a ser discutida na terça-feira 18, pelo Conselho de Investimentos do FI-FGTS, sob uma nova ótica. Membros do comitê tentarão elevar as condições do empréstimo, considerando baixas as condições de pagamento propostas pela CSN. Imóveis Quem se habilita? Um anúncio publicado nos classificados de “O Globo” no domingo 2 deixou perplexos muitos leitores. Por R$ 70 milhões está à venda um apartamento de 600 metros quadrados no edifício Cap Ferrat, na avenida Vieira Souto, quadra nobre de Ipanema, com vista oceânica frontal. O sigilo absoluto exige o preenchimento de um questionário para análise prévia da imobiliária, antes de qualquer conversa. Não é negócio para qualquer um. Com o metro quadrado a R$ 116 mil, um trabalhador que ganha salário mínimo levará 6.481 anos para comprar o imóvel. Política Um e outros Embora o PDT tenha eleito apenas 15 deputados em outubro, o seu presidente, Carlos Lupi, sonha – quer um outro ministério. E sonha alto: nessa nova Pasta ele seria o ministro. O MTE já não interessaria tanto ao dirigente porque os grandes convênios que administra estão integrados ao Pronatec. O argumento de Lupi para avançar no primeiro escalão federal é que o partido cresceu no Congresso e se não for atendido pode dar trabalho ao governo. Resta saber se os senadores do PDT têm a mesma opinião. Previdência Social Vida dura? Já que se comprometeu no acordo de delação premiada a devolver R$ 61,7 milhões à União, além de bens oriundos da corrupção, o ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa terá de se adequar a uma nova realidade. Se não tiver mais dinheiro escondido – ­hipótese bastante provável –, viverá apenas da aposentadoria de R$ 3.049,62 mensais do INSS. Com isso, engrossando a legião de brasileiros que xingam a Previdência Social pública a todo instante. Europa Bye-bye, Brasil Cerca de oito mil brasileiros foram morar em Portugal no ano passado. Parece pouco diante do tamanho da nossa população. Mas não é. O número representa aproximadamente 30% do total de estrangeiros que fixaram residência naquele país (26.593), segundo o governo luso. Eleições Ela ou ele? Tereza Collor foi sondada pelo tucanato para disputar o Senado por Alagoas, enfrentando seu ex-cunhado Fernando, finalmente eleito. A ideia, segundo confidenciou, foi reforçada por telefonema do ex-presidente FHC. Mas ela recusou. Sem saber como a candidatura seria viabilizada, já que faltavam apenas dois meses para as eleições, a “musa do impeachment” especula: “Talvez eu ganhasse”. Saúde Seguro-desemprego A presidente Dilma Rousseff parece que vai retribuir ao ex-secretário de Gestão do Trabalho do Ministério da Saúde Mozart Sales o esforço dele pelo programa Mais Médicos. Derrotado na eleição para deputado federal pelo PT de Pernambuco, o Planalto estuda nomeá-lo para o primeiro escalão da Hemobras. Em outras palavras, como a estatal criada em 2004 segue sem produzir uma única gota de hemoderivados, a diretoria continuará servindo de abrigo para aliados políticos. Futebol Donas da bola Com o Brasil continuando a ser dirigido por uma mulher, o Brasileirão Feminino de Futebol volta a campo na Loteria Esportiva. No concurso do próximo dia 24 haverá partidas entre as 20 equipes que disputam o torneio. Pela segunda vez. Em 6 de outubro um único apostador acertou o empate da Portuguesa de Desportos com a Adeco (SP) e a vitória da Ferroviária (SP) sobre o Vasco da Gama. Portanto, olho nelas. Redes Sociais O retorno Voltou ao ar o Instagram de moda, beleza e lifestyle das irmãs Flávia Santos e Roberta Santos, consultoras que vivem em Goiânia e falam do mundo. A paralisação do @santteestilo provocou vários boatos entre o 1,2 milhão seguidores. Entre eles, o de que o bloqueio foi pelo apoio da dupla a Aécio Neves. O Instagram diz não comentar detalhes da conta de seus usuários, mas garantiu não restringir manifestações políticas. O que leva a suspensão de uma conta? As regras de uso falam em violações de direitos autorais, nudez, violência explícita, entre outras. Etanol Ataque americano O American Petroleum Institute – das empresas petroleiras – promove campanha nos EUA sobre os perigos do etanol. Nas peças a tática do medo aparece em afirmações de que o etanol pode danificar o motor e anular a garantia de fábrica. Todo anúncio tem uma tirada irônica e ameaçadora: “Seu motor não vai gostar, mas o seu mecânico vai”. A Agência de Proteção ao Meio Ambiente dos EUA até o fim do ano deve manifestar-se sobre a obrigação de misturar o etanol à gasolina. Os interesse do etanol brasileiro lá é representado pela União da Indústria de Cana (Unica). Nas nuvens Invisível “Air” Tucanos “que ainda não desmontaram o palanque”, como diria Dilma, estão xeretando as constantes viagens de Lula. Sua agenda de deslocamentos é intensa – e o objetivo dos olheiros oposicionistas é descobrir que companhia aérea e aeroportos o ex-presidente tem usado. Afinal, dizem os maledicentes, “só não é visto em aviões de carreira, nem em áreas de embarque, quem voa em jatinho particular”. Tecnologia Brasil na frente Para entender o comportamento dos jovens no mundo de hoje em relação à tecnologia, o Facebook encomendou à Crowd DNA pesquisa com pessoas de 13 a 24 anos, em 13 países, incluindo o Brasil. Por aqui, 81% afirmaram não sair de casa sem seus telefones celulares (média dos demais países 72%). Outro dado surpreendente foi que, em média, os jovens usam diariamente cinco dispositivos diferentes e utilizam múltiplas telas durante a noite, especialmente enquanto veem TV (mesma média dos demais países). Medicina Lá e cá O professor paulista Ben-Hur Ferraz Neto vai liderar uma equipe de transplante de fígado e cirurgia do órgão, vias biliares e pâncreas na conceituada University of Birmingham, no Reino Unido. Lá também implantará a cirurgia robótica de fígado no Queen Elizabeth Hospital, que pertence à instituição. Aos 20 dias de cada mês trabalhando e dando aulas na Inglaterra se somarão outros dez, aqui, dedicados a trazer as novidades para os seus pacientes. 2#2 LEONARDO ATTUCH - CID, KASSAB E A NOVA BASE DE DILMA Por mais que eles possam estruturar novas frentes de apoio, ter o PMDB ainda será necessário. Ao contrário da percepção de vários analistas, a maior dificuldade do governo Dilma, no segundo mandato, está na política – e não na economia. No campo econômico, bastarão pequenos ajustes, no setor de combustíveis, e uma sinalização mais forte de contenção fiscal para restaurar a confiança empresarial. O que provavelmente será feito pela nova equipe econômica, que será anunciada após a reunião do G20, na Austrália, seja ela chefiada por Henrique Meirelles, ex-presidente do Banco Central, ou Nelson Barbosa, ex-secretário do Ministério da Fazenda. Na política, no entanto, o nó é mais complicado. Dilma hoje enfrenta a rebelião de um PMDB atemorizado com as possíveis revelações da Operação Lava Jato, que pode tragar algumas de suas principais lideranças. É nesse ambiente conturbado que os movimentos de dois personagens se tornam decisivos na montagem da nova base de apoio ao governo no Congresso Nacional: o governador do Ceará, Cid Gomes, e o ex-prefeito de São Paulo Gilberto Kassab. Estimulado pelo irmão Ciro, que diz que Dilma precisa “de melhores companhias”, num recado direto ao PMDB, Cid tenta montar uma grande frente de esquerda. Ela incluiria os parlamentares do Pros, partido que hoje abriga os dois políticos cearenses, além de representantes do PDT e, sobretudo, do PSB. Com um novo partido ou essa frente, Cid espera arregimentar cerca de 70 parlamentares. Num movimento semelhante, mas realizado ao centro, Kassab, que já tem o PSD, irá recriar o antigo Partido Liberal para atrair nomes dispostos a aderir à base de apoio ao governo. Em seguida, as duas siglas seriam fundidas numa só e ele chegaria perto de 70 deputados, rivalizando com PT e PMDB. Não por acaso, Cid e Kassab estiveram entre os primeiros políticos recebidos por Dilma nesta semana de retomada dos trabalhos, após suas férias na base naval de Aratu, na Bahia. A diferença entre Cid e Kassab é o tratamento em relação ao PMDB. Enquanto o primeiro gostaria de libertar o governo Dilma da tensa aliança com os peemedebistas, Kassab é mais realista. “O problema é quantitativo”, diz ele, aos interlocutores mais próximos. O PT e seus novos aliados, mesmo turbinados, não garantem uma maioria estável ao governo Dilma, que, como disse o senador Aécio Neves (PSDB-MG), irá enfrentar uma “oposição revigorada por seus 51 milhões de votos”. Por isso mesmo, o presidente do Congresso, Renan Calheiros (PMDB-AL), disse que seu partido ainda é “insubstituível” na relação com o PT. 2#3 GISELE VITÓRIA Gisele Vitória é jornalista, diretora de núcleo das revistas ISTOÉ Gente, ISTOÉ Platinum e Menu e colunista de ISTOÉ "Vou comemorar muito!" “Não me deixem mais velha antes do tempo, heim?”, brincou Gisele Bündchen no camarim da Colcci, momentos antes de entrar na passarela do SP Fashion Week e virar o furacão que arrebata multidões . “Só faço 20 anos de carreira em janeiro de 2015. E vou comemorar muito!” Esta coluna acompanhou a sua correria durante o desfile. Era quase como uma Space Montain, a montanha-russa às escuras da Disney. Nas duas entradas que fez, a übermodel era levada pelas mãos de Daniel Mafra, RP da grife, até um túnel de modelos enfileiradas. De lá ela partia para o fashion-show, numa velocidade de segundos. Na volta, Gisele gritava eufórica como se vivesse a adrenalina de um parque de diversões. Após o desfile, uma fila interminável de fãs ilustres, empresários e clientes se acumulava na porta do camarim para vê-la. “Para aguentar esse calor, tenho que dar nela um beijo na boca”, ria a atriz Christine Fernandes, aglomerada. “Pronto, dei até uma encoxada”, brincou, na saída. De MC Guimê a Sabrina Sato, todos aguardaram seu momento. No final, como num truque de mágica, ela desapareceu por uma passagem secreta. O tema do almoço era beleza, verão e Réveillon. Um “Summer Lunch” pilotado pela blogueira Lele Saddi com a P&G reuniu as superbloggers da moda. Bastou, contudo, a mineira Thassia Naves lamentar e procurar elucidar a derrota de Aécio Neves em Minas que política virou o prato principal do menu das garotas superpoderosas. “Temos que nos posicionar na política, não só na moda”, defendeu. Houve quem bloqueou provocadores ofensivos. Houve quem perdeu seguidores. Houve o desabafo por ser chamada de burguesa. Estavam Lalá Rudge, Helena Bordon, Nati Vozza e Camila Coutinho, do blog Garotas Estúpidas. Na sobremesa, elas concluíram no mais alto astral: ser politizada é saudável e está na moda. Tutto bello Um desfile retumbante, com cenário inspirado num parque de diversões. Modelos flutuando em carrinhos bate-bate, guiados por marinheiros desacamisados. Ao final do show da Versace para a marca brasileira Riachuelo, Donatella Versace mostrou que ficou feliz da vida com a experiência fast-fashion no Brasil. A excêntrica diva da moda italiana se jogou na superfesta armada depois da megaprodução, que ainda contou com outra surpresa: os convidados podiam comprar as peças desfiladas na hora. Gentil e pronta para fotos com todos que se aproximavam, Donatella dançou, bebeu, riu e adorou os meninos marinheiros que faziam parte do show. “Amei a Donatella. Ela me perguntou se eu era o pai do Pedro”, dizia o estilista Reinaldo Lourenço no camarote da dona da Versace. Na sexta à noite, após um almoço na casa do anfitrião Flavio Rocha, ela voltou para Milão. Balas Para quem pode Pela Forbes, Beyoncé foi a cantora que mais lucrou no último ano: US$ 115 milhões entre junho de 2013 e julho de 2014. Mas Madonna continua sendo a mais rica: seu patrimônio é avaliado em US$ 1 bilhão, segundo o site “The Richiest”, e portanto a única bilionária. Nem tudo é perfeito... Grazi Massafera assumiu que não é tão perfeita assim: “Tenho TPM. E tenho até medo de falar dela. As pessoas não vão querer se aproximar. Eu já aviso: ‘To demônio’”, sorri. Em bate-papo com Mônica Iozzi e o ginecologista Ayrton de Magistris sobre cólicas menstruais e as particularidades do universo feminino, ela pediu conselhos. “Doutor, tem algum tratamento? Eu já estou até lutando boxe, muay thai”, gargalha. E ainda propagandeou um aplicativo do remédio Atroveran, que promoveu o evento, para explicar a TPM aos homens, e assim ajudar as mulheres a serem “absolvidas” nessa época. “Só não exagerem ao contar, porque estou solteira!”, brincou a atriz. Ela só parou de brincar para desmentir que estaria à espera da cegonha. “Não, gente. Não estou grávida”. 2#4 ANA PAULA PADRÃO -GENTILEZA VIROU FRAQUEZA "Estou sempre fora de moda. Querendo falar de gentileza, imaginem vocês! Pura rebeldia. Sair por aí exibindo minhas vulnerabilidades e, em ato de pura desobediência civil, esperar alguma cumplicidade". Ser gentil é um ato de rebeldia. Você sai às ruas e insiste, briga, luta para se manter gentil. O motorista quase te mata de susto buzinando e te xingando porque você usou a faixa de pedestres quando o sinal estava fechado para ele. Você posta um pensamento gentil nas redes sociais apesar de ler dezenas de comentários xenofóbicos, homofóbicos, irônicos e maldosos sobre tudo e todos. Inclusive você. Afinal, você é obviamente um idiota gentil. Você se recusa a participar de uma daquelas conversas tolas de gente que fala – mal – de quem nunca viu na vida. Você entende que as pessoas nem sempre têm tempo, ou disposição ou estão muito preocupadas consigo mesmas para reparar na sua tristeza. Você se mantém gentil com elas. Elas avançam o sinal e ferem você. Porque sendo gentil você está sendo vulnerável. E é tão fácil bater em alguém frágil. Não é de hoje que a psicanálise, a filosofia e as religiões tratam da dicotomia entre o egoísmo da autopreservação e a gentileza do amor que liberta. Há teorias evolucionistas que defendem que as sociedades com maior número de pessoas altruístas sobreviveram por mais tempo por serem mais capazes de manter a coesão. Pesquisadores da atualidade dizem, baseados em estudos, que gestos de gentileza liberam substâncias que proporcionam prazer e felicidade. Mas também há Freud, para quem o prazer sexual e a gentileza seriam antagônicos. Aí eu penso: mas nas sociedades contemporâneas, tão moralmente liberais, isso ainda faz sentido? E se Freud não mais explica, por que não somos gentis? E, mais do que isso, por que louvamos a ausência de gentileza? Gentileza virou fraqueza. É preciso ser macho pacas para ser gentil nos dias de hoje. Só consigo associar a aversão à gentileza à profunda necessidade de ser – ou parecer ser – invencível e bem-sucedido. Nossas fragilidades seriam uma vergonha social. Um empecilho à carreira, ao acúmulo de dinheiro. O sucesso vira capa de revista. A gentileza pela gentileza não. E daí que cada uma das pessoas com a qual você cruza todos os dias carregue uma história única de dor? E que esteja ali, sendo quem deve ser a partir dessas circunstâncias? Ser gentil com cada uma delas seria um gesto de compreensão da limitação alheia e, portanto, da nossa própria. Quem quer isso? Como disse William Shakespeare, “O egoísmo unifica os insignificantes”. Mas e daí se ninguém descobrir e mapear nossas fraquezas? Não ter tempo para gentilezas é bonito. É justificável diante da eterna ambivalência humana: queremos ser bons, mas temos medo. Não dizer bom-dia significa que você é muito importante. Ou muito ocupado. Humilhar os que não concordam com suas ideias é coisa de gente forte. E que está do lado certo. Como se houvesse um lado errado. Porque se nenhum de nós abrir a boca, ninguém vai reparar que no nosso modelo de felicidade tem alguém chorando ali no canto. Porque ser gentil abala sua autonomia. Enfim, ser gentil está fora de moda. Estou sempre fora de moda. Querendo falar de gentileza, imaginem vocês! Pura rebeldia. Sair por aí exibindo minhas vulnerabilidades e, em ato de pura desobediência civil, esperar alguma cumplicidade. Deve ser a idade. Ana Paula Padrão é jornalista e empresária 2#5 BRASIL CONFIDENCIAL por Eumano Silva A proposta de Temer para a Presidência da Câmara O vice Michel Temer busca uma saída para o impasse em torno da Presidência da Câmara. Em conversas reservadas nas últimas semanas, ele fala na possibilidade de manter o revezamento entre PMDB e PT no cargo, como acontece desde 2007. Mas o acordo seria zerado agora. Por essa fórmula, o deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ) teria o apoio dos dois partidos na sucessão de Henrique Alves e o PT indicaria o nome a ser eleito em 2017. Para dar certo, ainda falta convencer Cunha e, claro, os petistas. As razões de cada um Eduardo Cunha resiste ao acordo. Avalia que sua eleição corra riscos no plenário se ficar caracterizada como alinhada ao PT e ao Planalto. Os petistas identificam o líder do PMDB como um adversário do governo. Michel Temer argumenta que, sob o comando de Cunha, os peemedebistas votaram a favor dos projetos de interesse da presidente Dilma. Sequelas eleitorais I As relações entre o governador do Rio Grande do Sul, Tarso Genro (PT), e a senadora Ana Amélia (PP) se deterioraram. Depois de trocar ataques na campanha, os dois se reencontraram no Congresso na terça-feira 4. Tarso estendeu a mão para a senadora, ela não retribuiu. Sequelas eleitorais II Ana Amélia ficou magoada com a acusação feita por Tarso, no horário eleitoral, de que ela teria ocultado na declaração de patrimônio uma fazenda, espólio do falecido marido. A senadora, pelo menos por enquanto, não perdoou a utilização pelo adversário de um tema pessoal. Fusão partidária Estão correndo bem as negociações para a fusão do DEM com o PSC e o Solidariedade. A nova sigla seria uma síntese dos atuais partidos: Democracia Solidária Cristã ou DSC. Na próxima legislatura, os três terão, juntos, 49 deputados, a quarta maior bancada da Câmara. Agripino resiste A fusão tem a bênção do líder do PMDB, Eduardo Cunha, do senador eleito Ronaldo Caiado (DEM), do ex-presidenciável Pastor Everaldo (PSC) e do manda-chuva do Solidariedade, Paulinho da Força. Quem não está gostando do movimento é Agripino Maia, presidente nacional do DEM. Traições na base O governo está mal com os ex-presidentes José Sarney e Fernando Collor, ambos tidos como aliados. Sarney votou em Aécio Neves no segundo turno, como revelou um vídeo da TV Amapá. Presente nos palanques de Dilma na campanha eleitoral, Collor aplaudiu com entusiasmo o discurso de oposição feito por Aécio na quarta-feira, 5, no plenário do Senado. Assédio Os tucanos tentam atrair parlamentares do PP para a oposição. O presidente do partido, senador Ciro Nogueira (PI), afina-se com o Planalto. Mas o presidente de honra, senador Francisco Dornelles (RJ), é próximo ao PSDB. Ciro diz que, para conter a debandada, precisa de cargos na Esplanada. Nomeações represadas A presidente Dilma Rousseff ainda não nomeou os três diretores da Agência Nacional de Assistência Técnica e Extensão Rural (Anater). Criada em maio, a agência tem um orçamento superior a R$ 1 bilhão previsto para este ano. Por causa do atraso, o deputado Zé Silva (SD-MG) articula uma mensagem para Dilma com o pedido de que as indicações sejam feitas logo. O congressista mineiro deve ter o apoio das frentes parlamentares da agricultura e de extensão rural. Sem as nomeações, o dinheiro fica parado nos cofres do governo. O Palácio empurra o caso com a barriga para ajudar no superávit das contas. Um cacique no STF A Fundação Cacique Cobra Coral vai acompanhar de perto os trabalhos do Supremo Tribunal Federal na quinta-feira 20, quando os ministros vão decidir se aprovam o uso das águas do rio Paraíba do Sul para amenizar a crise em São Paulo. Os trabalhos da médium Adelaide Scritori, que recebe a entidade Cacique Cobra Coral, serão direcionados a partir do veredicto do STF. Toma lá dá cá Fernando Haddad, prefeito de São Paulo ISTOÉ – O governo federal era contra o projeto que reduz os juros das dívidas das prefeituras e dos Estados aprovado pelo Senado? Haddad – Não foi uma oposição. No momento em que estavam fazendo terrorismo sobre essa aprovação, a opção foi aguardar para fazer um debate maior. ISTOÉ – Que problema a mudança da regra vai corrigir? Haddad – Estados e municípios pagam uma taxa de juros superior ao que a União paga. Os entes menores não podem ser responsáveis por financiar dívidas. ISTOÉ – A aprovação do projeto vai melhorar a vida dos gestores? Haddad – Os próximos prefeitos não vão passar o que eu e os prefeitos anteriores passamos. É muito constrangimento do ponto de vista financeiro. As contas estarão equilibradas em 2030. Rápidas * Deputados que não se reelegeram procuram herdeiros para seus projetos. Com o fim da legislatura, as propostas devem ser reapresentadas ou vão para a gaveta. Pelo menos 20 parlamentares perguntaram na Secretaria-Geral da Mesa como salvar suas propostas. * O diretor-geral da Polícia Federal, Leandro Daiello Coimbra, reuniu-se com o presidente do Senado, Renan Calheiros, na quarta-feira 5. A PF faz lobby pela Medida Provisória que tira do governo a prerrogativa de indicar o diretor-geral da instituição. * A Câmara aprovou na semana passada a Medida Provisória de interesse da Polícia Federal. Agora, a bancada do PT no Senado trabalha para incluir na MP uma emenda que mantém no Executivo o poder de escolher outros cargos na cúpula da instituição. * Derrotado na corrida presidencial, Pastor Everaldo (PSC) aproveitou a reunião da oposição no auditório Nereu Ramos para promover o deputado Filipe Pereira (RJ). “Queria cumprimentar, também, o deputado Filipe Pereira, que por acaso é meu filho”, disse. Retrato falado O deputado federal Luiz Couto (PT-PB) vive sob tensão. Ameaçado de morte por milícias que denunciou, ele anda desde 2010 com escolta da Polícia Federal. No final da campanha eleitoral, a PF enviou ofício com o aviso de que a guarda seria suspensa, sob alegação de não haver justificativa para manter o aparato. Depois de um tempo em casa, apelou para petistas e ministros e obteve a escolta de novo. Não sabe até quando a proteção será mantida. Coincidência de endereços O cientista político Antonio Lavareda (foto) tomou um susto ao saber que uma de suas empresas está cadastrada em Santana do Parnaíba (SP), no mesmo endereço que a MSML Participações, em nome de familiares de Augusto Ribeiro de Mendonça Neto, executivo da Toyo-Setal investigado na operação Lava-Jato. Lavareda diz que o endereço é virtual e foi escolhido pelo contador. “É uma coincidência infeliz”, diz. Pela unidade nacional Em tempos de ressaca eleitoral, chamou a atenção a abordagem ao prefeito de Manaus, Arthur Virgílio Neto, feita pelo deputado Paulo Teixeira (PT-SP), na quarta-feira, 5, no cafezinho do Senado. Sem medir as palavras, Teixeira disse que o tucano faz falta em Brasília. ______________________________________ 3# BRASIL 12.11.14 3#1 O PODER DE DECIDIR QUEM FICA NO LUGAR DELES 3#2 DILMA SOB PRESSÃO 3#3 OS LIMITES DA DEMOCRACIA 3#4 PT MANTÉM GUERRILHA NAS REDES 3#5 O MAU EXEMPLO DOS VIZINHOS 3#6 A NOVA FÓRMULA DA OPOSIÇÃO 3#7 O HOMEM DA MALA NO CONGRESSO 3#1 O PODER DE DECIDIR QUEM FICA NO LUGAR DELES Pela primeira vez desde o regime militar, um governo terá a oportunidade de escolher dez dos onze ministros do STF. Como pensam os atuais magistrados, quais os riscos para a democracia, e o que se espera do Senado nesse processo Izabelle Torres (izabelle@istoe.com.br) O sistema democrático brasileiro está ancorado na separação dos poderes, que permite decisões independentes, e no equilíbrio de forças entre as instituições. É justamente por isso que, desde a reeleição de Dilma Rousseff, o futuro do Supremo Tribunal Federal (STF) se tornou tema obrigatório no mundo político. A composição da mais alta Corte do País depende da indicação do presidente da República, o que, na maioria das vezes, é feito quando os ministros se aposentam ao atingir os 70 anos de idade. Nesse cenário, Dilma Rousseff pode conseguir o feito inédito de nomear seis dos onze integrantes da Corte até 2018. Isso porque, além da vaga do ex-ministro Joaquim Barbosa, que antecipou sua aposentadoria e deixou o tribunal em julho, vão se aposentar por idade nos próximos quatro anos os ministros Celso de Mello, Marco Aurélio Mello, Ricardo Lewandowski, Teori Zavascki e Rosa Weber. Com isso e com as indicações feitas no mandato que chega ao fim em dezembro e os nomes indicados por Lula, o PT pode ser o padrinho de dez ministros na ativa. Uma ampla maioria que desperta dúvidas e questionamentos sobre o aparelhamento das instituições por um partido político e, principalmente, sobre os riscos dessa preeminência para a desejada harmonia entre os poderes. A preocupação se baseia especialmente na lista de interesses do Planalto em tramitação no tribunal e, claro, no mau exemplo de países da América Latina, cujos governos trabalharam pela formação de Judiciários submissos ao presidente e aos seus interesses totalitários. Na avaliação da oposição, um plenário mais alinhado com o Planalto poderia reduzir eventuais riscos que rondam o governo. Há, hoje, no STF potenciais bombas capazes de explodir no colo de Dilma, dependendo da maneira como os ministros as manejarem. Na área política, por exemplo, o STF deverá decidir se abre ações penais contra os personagens do Petrolão, acusados de receber propina de contratos da Petrobras. As denúncias atingem figurões do PT, do PMDB e de outros partidos aliados. O caso pode criar uma crise política semelhante à do mensalão, com o agravante de que o esquema, desta vez, envolve a maior empresa estatal do País. Questões financeiras capazes de afetar o governo também estarão na pauta do STF. Uma ação que tramita há anos no tribunal pretende incidir o ICMS na base de cálculo do PIS e da Cofins. Se perder, a União pode ser obrigada a devolver aos contribuintes mais de R$ 90 bilhões. Contando-se todos os processos de interesse do Executivo pendentes de julgamento, a estimativa da Advocacia-Geral da União é de que o prejuízo em eventuais derrotas poderia ultrapassar a marca de R$ 300 bilhões. DESEQUILÍBRIO - O ministro Gilmar Mendes manifestou preocupação com o aumento do poder do PT na futura composição do tribunal A pergunta que se impõe é: será mesmo que uma presidente cujo partido foi responsável por quase 100% das indicações poderia influenciar decisivamente nas deliberações do plenário? O senso comum e a lógica política que tem norteado importantes setores do PT nos últimos anos permitem acreditar que sim. Para experientes magistrados, a questão é outra. Na última semana, ISTOÉ conversou com especialistas, integrantes e ex-ministros do STF. Embora o ministro Gilmar Mendes, em recentes declarações, tenha manifestado estupefação com o aumento do poder do PT na nova composição, e dito que teme a conversão do STF “numa corte bolivariana”, seus colegas são unânimes em afirmar que essa não é a maior preocupação. Segundo quatro ministros consultados, os temores recaem mais sobre o perfil dos indicados do que propriamente sobre quem os indicará. Ou seja, para os magistrados, a resposta ao questionamento acima pode ser positiva ou não, a depender do critério adotado pela presidente na hora de escolher os futuros ministros do tribunal. Na prática, o que ninguém quer é que se repitam indicações como a de Antonio Dias Toffoli, que, embora tenha sido reprovado no concurso para magistratura, conseguiu uma vaga no Supremo porque foi um dedicado advogado do PT e amigo do ex-presidente Lula. Se reeditados casos como o de Toffoli, acreditam ministros ouvidos por ISTOÉ, a presidente teria sim o poder de influir nos rumos do STF. A história mostra que as indicações de um partido ou de um presidente, por si só, não são capazes de assegurar períodos de tranquilidade no STF para o governo e para a legenda que os escolheu. Ministros lembram o recente caso do mensalão, quando as posições mais radicais partiram justamente de indicados por Lula, como Joaquim Barbosa, o relator do processo que levou cabeças coroadas do PT para a cadeia, e Carlos Ayres Britto. “Os ministros são cabeças independentes e a Corte já deu demonstrações disso”, afirmou Marco Aurélio Mello. “Quem levanta essa hipótese de bolivarianismo teria antes de dizer se quem está lá agora serve a algum interesse. Os julgamentos recentes mostraram que não”, avalia o professor da faculdade de direito da Fundação Getulio Vargas Diego Werneck.Embora a atual composição do STF desfrute do respeito dos especialistas, justamente por ter se mostrado independente nos últimos anos, a sociedade deve estar atenta aos movimentos políticos em torno do tribunal. Hoje, essas tentativas de interferência ficam mais evidentes no PT. Por variados motivos. Desde que ascendeu ao Planalto, o partido se revelou adepto do jogo de influência típico do poder no Brasil. Nos últimos anos, a sociedade deparou-se com declarações do ex-ministro José Dirceu – um dos principais réus do mensalão – afirmando que fora procurado pelo ministro Luiz Fux quando esse fazia “campanha” pelo cargo. Fux teria prometido até beneficiar os mensaleiros em troca da nomeação. Não foi o que aconteceu durante o julgamento. Mas paira a dúvida se Fux foi nomeado por causa da promessa de contentar os petistas. Na mesma época, o ministro Gilmar Mendes afirmou que fora procurado pelo ex-presidente Lula para adiar o julgamento dos envolvidos no escândalo. Já no governo Dilma Rousseff , a inclusão do ICMS na base de cálculo do PIS e da Cofins na importação, uma das ações que mais preocupam a União, foi retirada de pauta depois de uma conversa do ministro Dias Toffoli com o advogado-geral da União, Luiz Adams. Se perdesse, o governo poderia ter prejuízo estimado em R$ 33 bilhões. Até hoje, Toffoli não pautou a matéria. Em meio à polêmica sobre as indicações ao Supremo, ganhou força no Congresso um movimento organizado para tentar reduzir a concentração de nomeações de ministros nas mãos de Dilma. Encabeçado por caciques do PMDB e endossado por ministros que devem se aposentar nos próximos anos por completarem 70 anos, voltou à baila um projeto esquecido desde 2006 na Câmara. A PEC 457/2005, apelidada de PEC da Bengala, que aumenta para 75 a idade em que os integrantes do Judiciário são obrigados a se aposentar. A proposta foi aprovada pelo Senado e, se for chancelada pelos deputados ainda neste ano, até o decano Celso de Mello, que se prepara para deixar a Corte em novembro de 2015, poderia estender sua permanência. Na semana passada, integrantes da cúpula do PMDB defenderam a proposta durante uma reunião da legenda. Eles afirmam que vão pressionar para que a votação da PEC seja pautada para o fim de novembro. Com a mudança, os cinco ministros que se preparam para deixar a Corte até 2018 poderiam ficar até o fim do próximo governo. “Eu defendo essa proposta desde 2003, quando não era suspeito e a aposentadoria ainda estava distante de mim. Sigo com as mesmas posições”, argumenta Marco Aurélio Mello, que pelas regras atuais deve deixar a Corte em um ano e meio. A proposta, entretanto, sofre muitas resistências. De fato, Dilma foi eleita com as prerrogativas constitucionais de qualquer presidente da República de indicar membros do STF de acordo com o surgimento das vagas. Isso já era conhecido antes das eleições. Mudar o rito atual a essa altura seria como alterar as regras da partida com o jogo em andamento. Para escapar dessa encruzilhada, ganham força no meio jurídico propostas para que a PEC da Bengala passe a valer não para os atuais ministros, mas para os futuros indicados. O problema estaria resolvido, e a PEC seria aprovada sem o atropelamento de regras já preestabelecidas. ALVO - Os ministros não querem que se repitam critérios como os adotados pelo governo na hora de indicar o ministro Dias Toffoli Independentemente da aprovação ou não da proposta, o controle da qualidade dos indicados para ministro do STF, e a garantia de que não teriam relação direta e ideológica com o PT, poderia ser feito pelo Senado Federal, caso os parlamentares cumprissem efetivamente a prerrogativa constitucional de participar do processo de escolha. Se os senadores utilizassem o poder de sabatinar e avaliar com critérios rigorosos os indicados pela Presidência, poderiam ser um contraponto ao poder – hoje quase unilateral – do presidente da República no processo de escolha dos membros do STF. Apesar de poderem barrar indicações presidenciais, os senadores adotam quase como regra aprovar os indicados depois de participarem de sessões que mais se assemelham a um bate-papo entre amigos do que propriamente a uma sabatina. Para se ter uma ideia dessa passividade, desde a criação do STF, em 1891, o Senado barrou apenas cinco indicações do presidente. Todas no governo do marechal Floriano Peixoto, que tentou nomear ministros cujos perfis não guardavam relação com o tribunal. “O Senado precisa desempenhar seu papel nas sabatinas e no aval que dá aos ministros. É um papel constitucional que não vem recebendo a devida relevância”, afirma o senador Álvaro Dias (PSDB-PR). O importante para a democracia é evitar que a guerra política transforme o STF em um instrumento de disputa de interesses pessoais ou partidários. 3#2 DILMA SOB PRESSÃO Compelida a mudar os rumos do governo pelo PT, pelos partidos aliados, por Lula e pela própria realidade pós-eleitoral, a presidente vacila. Não consegue encontrar as respostas para resolver a situação da economia e é obrigada a desmentir o que disse na Eumano Silva e Claudio Dantas Sequeira O Brasil encantado visto nos programas eleitorais da campanha de reeleição da presidente Dilma Rousseff não existe mais. As belas imagens trabalhadas pelo marqueteiro João Santana e os discursos com exaltações aos feitos dos governos petistas ficaram para trás. Na segunda semana depois de festejar o resultado das urnas, Dilma reencontrou o País real. Em poucos dias, as más notícias relacionadas à economia, escondidas durante a campanha, apareceram. O cenário nada alvissareiro suscitou pressões de todos os lados. Dos aliados políticos, que correram para reivindicar cargos e verbas federais; do PT, interessado em emplacar uma reforma política por meio de um plebiscito, em reavivar regulação da mídia e acabar com o fator previdenciário; da oposição, fortalecida por mais de 51 milhões de votos; e até do ex-presidente Lula, que trabalha para indicar o novo ministro da Fazenda e outros integrantes do primeiro escalão – ou seja, para obter mais influência no segundo mandato. A maior pressão sobre Dilma, no entanto, foi exercida pelos fatos, o que a obrigou a aparecer em público para reconhecer problemas graves de sua administração e tentar retomar o controle das iniciativas. “A minha esperança é que o Brasil terá uma recuperação. Enquanto isso, espero que o mundo também tenha”, afirmou Dilma na quinta-feira 6, em entrevista concedida a quatro jornais. Ao assumir que o País passa por uma situação complicada, a presidente desmente suas pregações de campanha. Isso ocorre, em maior escala, nas questões econômicas. Depois de repetir todos os dias, na TV e nos palanques, que a inflação estava sob controle, Dilma agora fala em tomar medidas para tentar recuperar a credibilidade das contas públicas. “Nós vamos ter de fazer o dever de casa e apertar o controle da inflação”, disse a presidente. Embora tardia por causa da campanha, a aceitação de que os números ruins corroem a economia brasileira se mostra mais que necessária. Nas últimas semanas, os preços anualizados superaram o teto da meta, de 6,5%, previsto pelo governo. Em vez do superávit primário de 1,9% do Produto Interno Bruto (PIB) nas contas públicas, prometido na lei orçamentária, o País amarga até setembro um déficit de R$ 15,7 bilhões. As previsões de crescimento do PIB de 2014 também caíram ao longo do ano e, segundo as últimas estimativas, ficará próximo de zero. Em reunião com ministros e auxiliares, Dilma é pressionada a manter promessas de campanha, mas a realidade se impõe Apesar da fragilidade dos fundamentos econômicos, Dilma vacilou. Mostrou-se incapaz de anunciar o nome do novo ministro da Fazenda antes da reunião de cúpula dos países do G-20, marcada para acontecer nos dias 15 e 16 de novembro, na Austrália. Durante a campanha, ela revelou que destituiria o atual titular do cargo, Guido Mantega. Sem definir o substituto, cujo nome foi discutido com o ex-presidente Lula, a presidente mantém o suspense que alimenta as especulações do mercado. A possibilidade de nomeação de um ministro pouco comprometido com o controle das contas públicas também afugenta investimentos externos. A falta de cumprimento das metas estabelecidas pelo governo ameaça o status de grau de investimento do Brasil atribuído por agências de avaliação internacionais. Foi justamente por não conseguir apresentar o nome da pessoa que vai conduzir a economia do País no segundo mandato que Dilma resolveu sair a público para mandar alguns recados para a população e para o mercado financeiro. Pedra no sapato do governo, o deputado Eduardo Cunha se fortalece para assumir a Presidência da Câmara em fevereiro A distância entre o discurso eleitoral e a prática no governo também pode ser observada nos balões de ensaio sobre os possíveis sucessores de Mantega. Na propaganda da candidata, os adversários eram acusados de, se eleitos, entregar o país a banqueiros. Para a surpresa dos crédulos, alguns dos nomes especulados têm longo histórico de relações com instituições financeiras. É o caso, por exemplo, do presidente do Bradesco, Luiz Carlos Trabuco, e do ex-presidente do Banco Central, Henrique Meirelles. Atribui-se ao ex-presidente Lula a indicação dos dois para o Ministério da Fazenda. Trabuco, segundo o governo deixou vazar, não aceitou o convite. Sobre Meirelles, o problema seria uma certa incompatibilidade entre ele e Dilma. Meirelles teria dificuldades de conviver com o estilo centralizador e autoritário da presidente e ela o consideraria muito autônomo para tê-lo como auxiliar. Caso não se entenda com o ex-presidente do BC, ela tem como alternativa o ex-secretário-executivo do Ministério da Fazenda Nelson Barbosa, um nome já conhecido do mercado e também acostumado aos arroubos de Dilma. Mas a pressão não vem só pela economia. Na política, o PT trabalha para obter mais espaço. Na segunda-feira 3, a executiva nacional da legenda se reuniu em Brasília e, no fim do encontro, divulgou uma resolução com vários pontos incômodos para o Planalto. “O PT deve buscar participar ativamente das decisões acerca das primeiras medidas do segundo mandato, em particular sugerir medidas claras no debate sobre a política econômica, sobre a reforma política e em defesa da democracia nos meios de comunicação”, diz o texto. “É preciso incidir na disputa principal em curso neste início do segundo mandato: as definições sobre os rumos da política econômica”, acrescenta a resolução, em um sinal claro de que o partido quer interferir com mais vigor nas decisões do governo. Entre as propostas contrárias aos interesses do Planalto encontra-se, por exemplo, a de acabar com o fator previdenciário – fórmula usada pelo governo para o cálculo das aposentadorias que reduz o valor dos benefícios por tempo de contribuição. Os sucessivos déficits apresentados pela Previdência desaconselham a mudança pedida pelos petistas. Na mesma direção, encontra-se a proposta do PT de reduzir a jornada de trabalho para 40 horas. Hoje são 44. Lula, em meio a senadores do PT : o ex-presidente influirá na escolha do ministro da Fazenda. Seu preferido é o ex-presidente do BC Henrique Meirelles (abaixo) A resolução aprovada pelo PT também insiste em propostas espinhosas, algumas inviáveis, para o governo. Enquadra-se nesse perfil a realização de uma reforma política por meio de um plebiscito e uma assembleia constituinte exclusiva. No discurso de vitória na noite de 26 de outubro, Dilma defendeu o plebiscito para agradar à plateia de militantes, mas ela sabe que o Congresso rejeita esta ideia. A executiva do PT reiterou ainda a defesa dos conselhos populares, proposto pelo governo em um decreto derrubado pela Câmara no último dia 28. Outra proposta reincidente dos petistas é a aprovação de uma lei da “mídia democrática”, expressão usada em referência ao controle dos meios de comunicação. De tão radical, até mesmo no Palácio do Planalto a resolução foi considerada excessivamente esquerdista, mais parecido com uma peça de campanha eleitoral do que com uma plataforma a ser discutida no Parlamento. “Eu não represento o PT, eu represento o país, a Presidência da República. Não sou presidente do PT. A opinião do PT é a opinião de um partido. O PT, como todo partido, tem posição de partes. É típico deles”, afirmou Dilma na entrevista da quinta-feira 6. Ainda não se sabe se essas palavras da presidente foram indícios tardios da busca pelo alardeado diálogo com setores fora de seu partido. Só o tempo irá dizer. Mas ela vai mesmo precisar desta flexibilização, pois entre as forças que fazem pressão para ocupar espaço está o PMDB, principal aliado do PT e também origem de muitas crises para o governo. O maior ponto de atrito entre os dois partidos na mudança da legislatura do Congresso é a eleição para o presidente da Câmara. O PMDB quer levar ao cargo o atual líder do partido, Eduardo Cunha (RJ), mas para isso deve romper o acordo de revezamento feito com o PT. Na terça-feira 4, o partido deu uma demonstração de poder ao reunir governadores, deputados e senadores no Palácio do Jaburu, residência oficial do vice-presidente Michel Temer – maior autoridade da legenda. Mesmo sem unidade interna, o PMDB continua sendo a principal resistência aos planos hegemônicos do PT e a maior força política a influir no governo Dilma Rousseff. Mas acomodar todos os seus interesses também não será tarefa fácil. 3#3 OS LIMITES DA DEMOCRACIA Radicalismos pós-eleitorais dão fôlego a propostas antidemocráticas que deveriam ser rechaçadas por toda a sociedade. O problema é que setores do PT insistem em estimulá-las Josie Jeronimo (josie@istoe.com.br) A eleição rachou o País e trouxe com ela o recrudescimento de um radicalismo nefasto. Agora, no acalorado ambiente político pós-eleitoral, ações do PT, do governo recém-reeleito e de radicais antipetistas propõem caminhos golpistas ou que colocam em risco a democracia. Nenhuma das opções propostas é saudável para um país em processo de amadurecimento de seus princípios democráticos. Mesmo assim, elas são defendidas com impressionante vigor nas redes sociais e nas ruas. Do lado do PT e do governo, surgem projetos como a realização de plebiscitos para discutir a reforma política, com o pretenso argumento de que a consulta popular dribla as imperfeições do Congresso, quando, na verdade, o que se quer é atropelar as prerrogativas do Parlamento legitimamente eleito pelo voto popular. O mesmo espírito aparece na polêmica regulação da mídia, que, dependendo de como for apresentada, pode atentar contra a liberdade de imprensa, e na constituição dos chamados conselhos populares, outra tentativa do Planalto de implantar uma chamada democracia direta no País. Do lado do antipetismo, foram iniciados movimentos em favor do impeachment da presidente Dilma Rousseff e inacreditáveis pedidos de intervenção militar, como os que ocorreram – mesmo que por meia dúzia de gatos pingados – durante manifesto na avenida Paulista, em São Paulo, no sábado 1º. A movimentação ganhou adeptos na internet. Portal que reúne formulários eletrônicos para abaixo-assinados virtuais, o Avaaz registra 1,47 milhão de subscrições em apoio ao impeachment de Dilma Rousseff. Na página institucional do Exército, internautas usam o espaço de comentários das notícias para fazer coro pela intervenção militar. As iniciativas golpistas propostas pela militância antipetista são sufocadas pela direção do PSDB, que rechaçou qualquer tipo de apoio e endosso. Já os surtos antidemocráticos de setores do PT são vistos com bons olhos por importantes setores do governo, que publicamente pregam o diálogo, mas na prática defendem a retaliação aos que não concordam com suas práticas. Em todos os momentos que o partido tentou discutir medidas para cercear a liberdade de expressão, o histórico de repressão da ditadura pesou e o Congresso, constrangido, não levou o tema adiante. Agora, a ideia do governo é criar mecanismos no âmbito do Ministério das Comunicações para criar entraves empresariais contra veículos considerados “inimigos”. O ministro da Secretaria-Geral da Presidência, Gilberto Carvalho, defende a proposta: “A regulamentação da mídia é um debate que o Brasil tem que enfrentar”, afirma. Quem deve tocar o polêmico projeto é o ministro Ricardo Berzoini, de Relações Institucionais, mas que está de malas prontas para as Comunicações, no que depender dos anseios do PT. AVANÇO AOS MEIOS DE COMUNICAÇÃO - O presidente do PT, Rui Falcão, é um dos entusiastas do projeto de regulação da imprensa, em análise pelo Ministério das Comunicações Ao levantar bandeiras e propor iniciativas que reduzem o peso de um dos Três Poderes, no caso o Poder Legislativo, o PT também flerta com a defesa de um governo totalitário. O Congresso, no entanto, já dá mostras de que não vai assistir impassível à ofensiva. Dois dias depois do resultado das eleições, a Câmara mandou um claro recado para a presidente ao derrubar o decreto 8.243 do Planalto que criaria a Política Nacional de Participação Social. O decreto abriria a primeira fresta para a composição dos chamados conselhos populares, mecanismos de consulta pública que se transformariam em atalhos para que o governo debatesse diretamente com a sociedade civil reformas e aplicação de recursos da União, ocupando uma tarefa do Congresso. Para a oposição, a intenção do governo é aparelhar o processo de decisão governamental, a exemplo do que ocorre na Venezuela. O texto determina que os órgãos da administração pública federal “deverão considerar” as novas regras, entre elas o desenvolvimento de mecanismos de participação dos “grupos sociais historicamente excluídos” e a consolidação “da participação popular como método de governo”. A expressão “deverão considerar” é fundamental para o debate. O governo diz que não há obrigação do gestor de submeter os atos aos conselhos, apenas o estímulo. O trecho, no entanto, é ambíguo e permite interpretação contrária. Para piorar, como o decreto vinculava a coordenação dos grupos ao governo, especificamente à Secretaria-Geral da Presidência, abriu-se um flanco para que os selecionados para participar dos conselhos fossem militantes petistas. Com isso, mesmo em caso de alternância de poder, o PT sempre teria assento nos foros de decisões governamentais, aparelhando conselhos consultivos criados por ele. O deputado Lúcio Vieira Lima (PMDB-BA) disse que a rejeição do decreto foi educativa para Dilma. “Isso aconteceu (a derrota) para manifestarmos que o discurso de diálogo, pregado pela presidente, não pode ficar só na teoria”, afirmou. A estremecida relação entre Executivo e Legislativo ganhou mais um capítulo com a insistência do governo em forçar o Congresso a aprovar a reforma política por meio de um plebiscito. Constitucionalmente, o Legislativo é soberano para atuar na produção de reformas legais e criação de novas normas. O acionamento da participação popular para interferir em uma atividade de parlamentares legitimamente constituídos para representar o povo também entrou para o hall das ofensivas antidemocráticas que marcam o período pós-eleitoral. RETÓRICA Para o deputado Lúcio Vieira Lima (PMDB-BA), diálogo pregado pelo governo não pode ficar só no discurso 3#4 PT MANTÉM GUERRILHA NAS REDES Militantes virtuais que atuaram na campanha de Dilma continuarão sendo pagos para defender as ações do governo, neutralizar críticas e atacar adversários Izabelle Torres (izabelle@istoe.com.br) A estrutura de redes sociais montada na campanha pelo ex-ministro Franklin Martins e sua equipe, baseada na desconstrução e em ataques pessoais a Marina Silva (PSB) e Aécio Neves (PSDB), será mantida pelo governo Dilma Rousseff. Na última semana, o PT decidiu que continuará bancando a maior parte da tropa que mobilizou durante a acirrada disputa eleitoral. Das duas mil pessoas contratadas e treinadas pelo PT entre julho e outubro deste ano, o partido pretende manter pelo menos mil dos chamados guerrilheiros virtuais, entre remunerados e voluntários. O serviço custará aos cofres do partido cerca de R$ 200 mil por mês. O COORDENADOR - Franklin Martins ficará responsável por orientar uma equipe de cinco jornalistas O site oficial da campanha, Muda Mais, criado por Franklin e que chegou a ser questionado na Justiça Eleitoral pelo PSDB, dará lugar a uma espécie de agência de notícias, chamada Brasil da Mudança, coordenada por ele. O conteúdo será semelhante e o objetivo é elogiar o PT e as realizações do segundo mandato e combater com argumentos toda sorte de críticas feitas ao governo nas redes sociais, não deixando sem resposta publicações contrárias a Dilma Rousseff. A nova página está sendo feita em parceria com o Instituto Lula. Para entender como funciona essa estrutura de combate nas redes sociais, ISTOÉ conversou com dois guerrilheiros virtuais. Os jovens ainda estão na faculdade e participaram do treinamento feito pelo partido antes da campanha. Ambos entraram no grupo porque tinham, segundo eles, o objetivo de “combater a direita”. Não eram petistas declarados, mas agora dedicam de duas a três horas do dia para postar comentários atacando jornalistas e blogueiros que se manifestam contra o governo. “Será que é possível não dizer meu nome? Minha mãe não sabe que faço isso”, disse um deles, de 21 anos, estudante de tecnologia da informação. Cada um ganha em média R$ 2 mil. 3#5 O MAU EXEMPLO DOS VIZINHOS Como modelo para o PT, o bolivarianismo de países latino-americanos não passa de delírio. Como espantalho usado pela Oposição, vira proselitismo Depois da reeleição da presidente Dilma Rousseff, a direção do PT divulgou um documento cheio de ideias que, aparentemente, voltam a flertar com experiências políticas heterodoxas em marcha em determinados países latino-americanos. O bloco dos chamados “bolivarianos”, Venezuela, Bolívia e Equador, seriam as principais fontes de inspiração, além da Argentina, com seu velho peronismo, e do México e seu quase centenário PRI (Partido Revolucionário Institucional). A intenção básica declarada pela Executiva petista é promover mudanças na organização do Estado, por meio de “reformas democrático-populares”. Essas pequenas revoluções brotariam da pressão de comitês sociais representativos, plebiscitos, reforma política e “democratização da mídia”. Com uma opinião pública informada de modo “correto”, um Congresso amestrado e um Judiciário menos independente, o partido conseguiria ampliar, então, o controle da máquina pública e assegurar mais tempo de poder. Não é pouco. ATROPELOS - Manifestantes chavistas (acima) são pressão constante sobre o Congresso e a imprensa na Venezuela. Na Bolívia, o presidente Evo Morales (abaixo) conseguiu subjugar o Poder Judiciário Como aspiração, o bolivarianismo e afins não chega a surpreender num espectro ideológico em que não é raro encontrar saudosos da Albânia stalinista ou da liderança de um Nicolau Ceausesco. Como modelo realista, contudo, não passa de um delírio. A chance de replicar fórmulas de origens e condições ímpares, levadas a cabo em países tão díspares, carece de objetividade e bom senso. A menos que a inspiração bolivariana esconda apenas a intenção de adequar antigas recomendações bolcheviques (e então tanto sonhos como pesadelos sobre o assunto seriam pura mistificação), ela reflete, na verdade, uma profunda ignorância sobre as nações envolvidas. A história e o tamanho das populações e das economias impõe um fosso para a transposição dessas políticas. A Bolívia, por exemplo, tem um PIB de US$ 30,6 bilhões e 10,9 milhões de habitantes, a maioria de origem indígena, submetida a séculos de opressão. Depois de domar a oposição, o presidente Evo Morales, eleito para seu terceiro mandato, também subjugou o Judiciário boliviano, transformando-o numa repartição para endosso de suas ações. Para reinar sobre os tribunais, Evo não precisou mais do que caneta e tinta. O governo da Venezuela, país de 31 milhões de habitantes, PIB de US$ 438,3 bilhões, não enfrentou maiores problemas para fazer quase o mesmo que Evo. Seria razoável, porém, esperar tamanha facilidade num Brasil de 203 milhões de habitantes, PIB de US$ 4,8 trilhões, com uma economia sofisticada, sociedade civil bem mais complexa e estável, sustentado sobre pilares de instituições livres e ativas? Associações de magistrados, ordem de advogados, Ministério Público, imprensa, empresariado e Congresso estariam prontos para se curvar? E os brasileiros, resignados ao silêncio? Organizações populares sem a bênção das urnas, plebiscitos em série para alterar a Constituição e reforma política tendenciosa, enfrentariam no Brasil uma resistência inimaginável em plagas bolivarianas. Idem para os controles sobre a imprensa livre. Os chavistas na Venezuela avançaram brutalmente contra jornais e redes de TV, em 2002, incentivando, contrabandeando armas e participando de um golpe de estado que dissolveu Congresso e Judiciário, mas só teve fôlego para durar dois dias. Não há paralelo brasileiro em nenhuma das duas pontas. Na Argentina, a presidente Cristina Kirchner conseguiu aprovar o desmembramento do grupo de comunicação Clarín, de oposição a seu governo. As condições que permitiram o bote de Cristina começam pelo poder de seu partido, o Justicialista, uma força entranhada nos movimentos sindicais históricos, capaz de impedir, desde 1930, que agremiações adversárias concluam mandatos presidenciais. Entre um ilusório namoro petista com o peronismo e as condições concretas para essa transfiguração vai, enfim, uma distância soviética. Outro sonho suspeito atribuído a setores petistas seria transformar o partido num imenso PRI. Nesse ponto, as lonjuras são ainda mais acentuadas. Fundado em 1929 para acomodar os veteranos da heroica revolução mexicana, o PRI manteve-se no poder até o ano 2000, longevidade que lhe permitiu arrumar lugar para acomodar também seus inimigos: os latifundiários, a Igreja e os interesses americanos. O PRI infiltrou-se na máquina pública do país corrompendo-a até a raiz. É crível que o Brasil do século XXI desabe num precipício semelhante? ATAQUE PERONISTA - A presidente argentina Cristina Kirchner fecha o cerco contra os veículos de comunicação que não seguem sua cartilha E a Petrobras, corre o risco de virar uma PDVSA venezuelana? Mesmo levando em conta a octanagem dos esquemas de corrupção em que jogaram a estatal brasileira, ela é uma empresa de capital aberto, devendo responder aos acionistas. A própria história da PDVSA lhe confere outro caráter. Criada em 1976 no embalo de políticas que nacionalizaram gás, petróleo e ferro na Venezuela, a estatal já nasceu aparelhada pela cleptocracia que saqueou o país. Uma elite que acabou sucumbindo em lutas por partilha até o surgimento de Hugo Chávez, o caudilho teatral eleito em 1998, anos depois de comandar um golpe militar desastrado. Cerca de 90% das reservas cambiais da Venezuela provêm do petróleo. Deixando-se de lado um eventual oportunismo maroto, o bolivarianismo só pode ser agitado como bandeira governista à custa de uma profunda ignorância sobre os países que o adotam e um desconhecimento também rotundo sobre a realidade brasileira. O mesmo acontece quando é sacudido como espantalho. O medo da ameaça bolivariana que perturba almas oposicionistas também não não passa de proselitismo barato. 3#6 A NOVA FÓRMULA DA OPOSIÇÃO Aécio Neves volta ao Congresso, aglutina os oposicionistas, articula a formação de um grupo de notáveis para fiscalizar o governo e já prepara uma agenda para correr os rincões do Norte e do Nordeste do País Josie Jeronimo (josie@istoe.com.br) Depois de sair da disputa presidencial com 51,3 milhões de votos, o senador Aécio Neves (PSDB-MG) voltou a Brasília na última semana dando mostras de que efetivamente está politicamente muito maior do que quando deu início à campanha eleitoral. Ao contrário dos tucanos derrotados nas urnas pelo PT em 2002, 2006 e 2010, Aécio retorna ao cenário político trazendo consigo um partido unificado, uma bancada parlamentar mais forte e experiente do que as anteriores e desde que desembarcou no Aeroporto Juscelino Kubitschek, na terça-feira 4, deixou claro como pretende liderar uma oposição que o PT jamais enfrentou desde que chegou ao poder em janeiro de 2003. “Quando o governo olhar para a oposição, sugiro que não contabilize mais o número de cadeiras, de assentos no Senado ou na Câmara. Olhe bem, pois o que vai encontrar são mais de 50 milhões de brasileiros vigilantes”, disse o senador. O recado é muito claro: Aécio pretende manter a oposição unida e aglutinar em torno de si o desejo de mudança manifestado pelas urnas. Para tanto, o tucano já vem formando o que no PSDB tem sido tratado como “Grupo de Trabalho Técnico (GTT)”, uma espécie de governo paralelo que irá acompanhar cada passo dado pela gestão de Dilma Rousseff. A proposta é a de não dar trégua ao governo. “Vamos fiscalizar todas as ações do governo, cobrar que as promessas de campanha sejam cumpridas e denunciar todas as formas de corrupção”, afirmou o senador. UNIDADE - Na volta ao Senado, Aécio é recebido como o representante de mais de 50 milhões de brasileiros Aécio foi recebido como o líder ungido pelas urnas. Discursou para militantes, discursou para correligionários e discursou para parlamentares que intentam trocar a base governista pela frente da oposição. Em todas as falas, o novo comandante da oposição frisou a importância de os representantes do PSDB, DEM, PPS, PSC e dissidentes do PMDB agirem como maioria, apesar da diferença numérica das cadeiras controladas pelos adversários do governo. Tradicionalmente derrotada pelo governo nos plenários do Congresso, a nova oposição promete fazer o enfrentamento fora da pauta de votações. “Nós somos iguais na sociedade, no Congresso ainda não”, resumiu o deputado e presidente do PPS, Roberto Freire (SP). A nova oposição proposta por Aécio passa pela formação de um núcleo de dados. Hoje, quando um parlamentar precisa citar fontes para apontar indício de má gestão nos governos, a autoridade recorre a informações da imprensa. O objetivo de Aécio é inverter a cadeia. O acompanhamento do exercício do poder será feito pelo GTT. As apurações, checagem de dados e análises críticas partirão da oposição para a sociedade civil e não o contrário. Em um primeiro momento, os índices econômicos e a atuação dos institutos governamentais responsáveis por divulgar dados oficiais do Estado serão o foco. Aécio fez duras críticas ao que chamou de “maquiagem” das contas públicas e à intervenção política na agenda de divulgação de resultados de políticas sociais. “O Brasil escondido pelo governo na campanha eleitoral está se revelando a cada dia. A presidente insistiu em negar o problema evidente da alta de preços, da carestia. Apenas três dias após as eleições o Banco Central elevou os juros. O governo escondeu o rombo das contas públicas brasileiras. Escondeu reiteradamente que havia a urgente necessidade de ajustes. Pois bem, a presidente já está fazendo o que disse que não faria: na próxima semana, teremos o aumento da gasolina e já nesta semana as tarifas de energia sofrerão reajustes que simplesmente anulam toda a redução obtida com a truculenta intervenção havida no setor elétrico nos últimos dois anos”, discursou. A aplicação de recursos, execução orçamentária e denúncias de aparelhamento partidário de estruturas do Estado receberão atenção especial do GTT. Oposição sem adjetivos, foi assim definida a frente liderada pelo PSDB. Nos bastidores, o DEM ainda enfrenta problemas internos. Não decidiu se vai continuar a luta com os 22 deputados eleitos ou opta pela fusão com partidos nanicos que têm outros 24 parlamentares, embora já tenha definido de que lado estará. Enquanto o principal parceiro define seus rumos, o PSDB busca novos aliados. O PP do vice-governador eleito do Rio de Janeiro, senador Francisco Dornelles, está sendo assediado. Rebeldes do PMDB também. Aos que correm para aderir a essa nova oposição, Aécio também deu um recado. “Eu não sou golpista, sou filho da Democracia”, disse o senador, assegurando que está disposto a ganhar o jogo com as regras vigentes. “Sou filho da democracia. Estarei vigilante para que qualquer tentativa de cerceamento das liberdades seja contida” Além da trincheira no Congresso, Aécio reservará parte de sua agenda para correr os rincões do Norte e do Nordeste. De acordo com o prefeito de Manaus, Arthur Virgílio, as cidades em que o governo teve maior votação serão as primeiras a serem escolhidas pelo tucano. O périplo terá início ainda em 2015. “Nossa estratégia para retomar a oposição será usar a combatividade com racionalidade. É preciso mostrar ao povo que o Estado brasileiro está a serviço de um partido, as políticas públicas se transformaram em armas eleitorais. Nós temos agora o que faltava ao nosso partido, um líder”, afirma Virgílio. Aécio demonstrou contentamento com a fase de celebridade, no entanto, ponderou que a excessiva personalização não é boa para o partido. “Meu avô dizia, voto você não tem, você teve.” Assim como no modelo britânico de oposição, o que faz o sucesso dos adversários não é a força política individual. O GTT será composto por um grupo de notáveis. Aécio tem o desafio de reunir o partido em torno de um longo projeto de quatro anos. Nomes como os do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso e dos senadores eleitos José Serra e Tasso Jereissati são imprescindíveis para o sucesso da estratégia. Por isso, ele tem sido comedido ao falar sobre o status de líder, adquirido pelas urnas. “A oposição não precisa de um líder, ela tem na alma dos brasileiros sua essência. Tão importante como o governo é a oposição. Minha candidatura, com o tempo, se transformou em um movimento.” Ampliar o alcance do discurso do PSDB para o agrupamento que prega o voto anti-PT é o objetivo de Aécio e aliados. E eles pensam grande e sonham em ganhar uma boa parcela do PMDB como aliada. Por ironia, o PSDB pretende ser para o atual governo o doloroso calo que o PT sempre soube ser durante as administrações tucanas.  “Estamos atentos e vigiando” Recebido com festa no Congresso, Aécio Neves deixou evidente que nos próximos quatro anos o PT enfrentará uma oposição bem diferente da que vem tendo desde 2003. Na quarta-feira 5, o senador tucano revelou os princípios dessa nova oposição Em entrevista à ISTOÉ na quarta-feira 5, Aécio Neves detalhou como pretende mudar a cara da oposição no Congresso. A intenção é não dar trégua ao PT. ISTOÉ – Como funcionará a “nova oposição”? Aécio – Vamos cobrar eficiência da gestão pública, transparência dos gastos e que as denúncias de corrupção sejam apuradas e investigadas em profundidade. Vamos qualificar nossa oposição, estamos criando um grupo de trabalho técnico para acompanhar as ações do governo e municiar a oposição. Estamos atentos, acordados e vigiando. ISTOÉ – A oposição se recusará a dialogar com o governo? Aécio – O governo tem que apresentar suas propostas em torno dos interesses dos brasileiros. Em torno dessas propostas, todos devem estar prontos para debatê-las. Por exemplo, qual é a reforma política que esse governo pretende aprovar ou discutir? De que forma nós vamos superar a gravidade da nossa crise econômica, a credibilidade do País? De novo com maquiagem fiscal? De que forma nós vamos permitir que nossos indicadores sociais melhorem? ISTOÉ – Qual é a opinião do senhor sobre as manifestações pedindo o impeachment da presidente e a volta de um governo militar? Aécio – Isso é uma apropriação indevida de um sentimento de liberdade da sociedade brasileira. Eu não sou golpista, sou filho da democracia. Vou estar aqui no Congresso vigilante para que qualquer tentativa de cerceamento das liberdades, sejam coletivas ou individuais, ou da liberdade de imprensa seja contida. ISTOÉ – O pedido de auditoria na contagem de votos ­demonstra desconfiança do partido no resultado das eleições? Aécio – Foi uma decisão do departamento jurídico da coligação. É um direito de qualquer parte envolvida no processo eleitoral conhecer os processos da apuração. Nós não estamos querendo mudar o resultado da eleição, ter acesso ao processo de totalização tem que ser recebido como algo adequado. Eu não tenho dúvidas em relação à lisura dos ministros do Tribunal Superior Eleitoral. É legítimo, se fosse o inverso, seria aceito também. 3#7 O HOMEM DA MALA NO CONGRESSO Sigilos bancários obtidos por ISTOÉ mostram que o empresário Adir Assad, operador flagrado no escândalo da Delta, recebeu dinheiro do esquema Petrobras, através do doleiro Alberto Youssef, para repassar a políticos Claudio Dantas Sequeira (claudiodantas@istoe.com.br) Há poucas semanas, a Polícia Federal recebeu um arquivo digital com a quebra do sigilo bancário das empresas do doleiro Alberto Youssef e do ex-diretor de abastecimento da Petrobras Paulo Roberto Costa. São milhares de transações realizadas nos últimos oito anos: depósitos, transferências e saques de bilhões de reais oriundos de contratos de fornecedores da Petrobras – dinheiro que saiu dos cofres da estatal para abastecer o esquema de corrupção que pagou deputados, senadores, governadores e até ministros. Ao analisar detalhadamente esse material, os investigadores encontraram um personagem misterioso que pode ser a chave para comprovar a distribuição de propina a políticos de diferentes legendas. Esse personagem chama-se Adir Assad, empresário libanês apontado como intermediário de propinas de outro escândalo recente, envolvendo fraudes em contratos da empreiteira Delta com o Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (DNIT). INTERMEDIÁRIO - O empresário Adir Assad surge como o elo entre o doleiro e os políticos Em 2012, durante a CPI que investigou o caso Delta, o empresário Fernando Cavendish, dono da empreiteira, delatou a ação de Assad. Disse que o libanês era quem distribuía aos parlamentares o dinheiro desviado pela Delta e por outras grandes empreiteiras que mantinham contratos com o DNIT. Cavendish entregou o nome de 19 empresas de fachada usadas por Assad para sacar os recursos. O empresário chegou a ser convocado a depor, mas não disse nada – protegido por um habeas corpus. A oposição também tentou quebrar o sigilo de suas empresas, mas a maioria governista na CPI rejeitou o requerimento. Agora, Assad volta ao centro das investigações. Nos sigilos bancários do esquema Youssef, a Polícia Federal descobriu ao menos cinco das 19 empresas fantasmas de Assad: Soterra Terraplenagem, Legend Engenheiros Associados, JSM Engenharia, Rock Star Marketing e SM Terraplanagem. Entre 2009 e 2011, elas receberam mais de R$ 65 milhões em recursos desviados de contratos da Petrobras com a empreiteira Toyo-Setal. O dinheiro escorreu por meio de uma filiada, a Tipuana Participações Ltda., registrada em nome de Augusto Ribeiro de Mendonça, que há poucos dias firmou com o Ministério Público Federal um acordo de delação premiada. Mendonça é o segundo executivo do grupo Toyo a assinar um termo de colaboração. O primeiro foi Júlio Camargo, cujas revelações têm surpreendido os procuradores. A força-tarefa da Operação Lava Jato, que investiga o esquema montado por Youssef e Paulo Roberto Costa, quer saber agora quem foram os destinatários finais do dinheiro recebido por Assad. Chama a atenção dos procuradores, por exemplo, três depósitos idênticos de R$ 783.546,93 feitos simultaneamente, no dia 18 de dezembro de 2009, nas contas das empresas Rigidez, Legend e DFS Participações. Ocorre que o dia 18 de dezembro marcou o encerramento da CPI que investigou a Petrobras em 2009. A investigação sobre a estatal terminou como tantas outras, sem qualquer punição. A PF suspeita que o dinheiro repassado pela Tipuana serviu para selar o acordo para pôr um fim na CPI. Nas semanas que antecederam essa operação, a Legend, de Assad, recebeu outros R$ 12 milhões. A PF já sabe que a empreiteira Rigidez, que recebeu no total R$ 62 milhões da Tipuana, pertence ao doleiro Alberto Youssef. Já a DFS está registrada em nome do próprio Augusto de Mendonça. Na semana passada, o líder do PPS na Câmara, deputado Rubens Bueno (PR), pediu a quebra de sigilo de uma das empresas de Assad, a Rock Star Marketing. Até então, Bueno só tinha conhecimento de que a Rock Star havia feito um depósito de R$ 1,2 milhão na conta da MO Consultoria, outra das empresas de Youssef. Com as novas evidências, Bueno vai ampliar seu pedido para todo rol de empresas ligadas a Assad. Para a Polícia Federal, é necessário quebrar também o sigilo bancário de todas as empresas ligadas a Augusto de Mendonça. No histórico de operações da Tipuana, os investigadores identificaram inúmeras transferências para empresas em nome de familiares de Mendonça e sócios, num montante superior a R$ 100 milhões. Desse total, R$ 18,7 milhões foram para a Yellowwood Consultoria. NA MIRA DA PF - Compra de empreendimento pelo deputado Celso Russomano e pela filha do deputado Eduardo Gomes será investigada Em 2012, a Yellowwood abriu em Brasília uma filial do Bar do Alemão, situado às margens do Lago Paranoá, região nobre de Brasília. O empreendimento ganhou notoriedade por reunir em seu quadro societário o deputado federal Celso Russomanno (PRB-SP) e a filha do deputado federal licenciado Eduardo Gomes (SD-TO), hoje secretário de Esportes do Tocantins. Tanto Russomanno como Gomes tiveram dificuldades para explicar como conseguiram R$ 1 milhão cada um para participar do negócio. O deputado paulista disse que pagaria sua parte trabalhando na administração do bar. Seu colega do Tocantins alegou que recorreu a empréstimos e economias. Agora, se sabe que a Yellowwood pertence ao executivo da Toyo-Setal que mantém relações com Assad e Youssef. Para a PF, Russomanno e Gomes terão de explicar melhor essa sociedade e a relação com Adir Assad. Há dois anos, quando veio à tona o caso de corrupção envolvendo a Delta, Russomanno foi flagrado num convescote com o empresário libanês na casa de Marcello Abbud. Os dois teriam sido apresentados por Paulo Maluf, que teve negócios com Assad no passado. ISTOÉ tentou contato com ambos, mas não obteve retorno. O empresário libanês tem muito a dizer, resta saber se desta vez a Justiça lhe garantirá o silêncio. _______________________________________ 4# COMPORTAMENTO 12.11.14 4#1 A MISÉRIA AUMENTA 4#2 POR QUE A LEI DA GUARDA COMPARTILHADA NÃO AVANÇA? 4#3 O REI DA CARTEIRADA 4#4 ARMAS DA LEI ROUBADAS PARA O CRIME 4#5 ARQUITETURA DA DISCÓRDIA 4#1 A MISÉRIA AUMENTA Dados escondidos pelo governo durante a campanha eleitoral mostram que depois de dez anos a pobreza extrema volta a crescer no país Helena Borges (helenaborges@istoe.com.br) Mo fim de 2013, o governo comemorou uma ampliação do Bolsa Família que zerou o número de miseráveis cadastrados no banco de dados do programa. No mesmo ano, a presidente Dilma Rousseff (PT) anunciava que a pobreza extrema seria erradicada de alguns Estados até o fim de seu mandato, no dia 31 de dezembro 2014. No entanto, 16 meses depois do discurso, a erradicação da miséria tornou-se um sonho inalcançado, tendo aumentado o número de cidadãos vivendo com até R$ 77 por mês – valor que determina o limite da pobreza extrema. Pela primeira vez em uma década, o número de pessoas nessas condições subiu. Segundo dados atualizados na base do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), em 2013 o Brasil ganhou mais 430 mil miseráveis em relação ao ano anterior. Pesquisadores do instituto afirmam que a informação era conhecida pela diretoria desde 22 de setembro, mas que foi mantida nos escaninhos do órgão até o resultado das eleições, tornando-se pública apenas na sexta-feira 31. Mesmo assim, sem qualquer divulgação para a imprensa, que descobriu o dado na semana passada. PROJETO INALCANÇADO - A presidente Dilma sonhava em erradicar a pobreza extrema no seu governo, mas isso não vai ocorrer O levantamento é parte da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad), concluída em 18 de setembro. O economista Herton Carvalho era o diretor de políticas sociais do Ipea quando os resultados das análises dos dados chegaram, no dia 22 de setembro. O aumento no número de miseráveis chamou sua atenção. Em reunião, na qual estavam presentes os diretores e o presidente do instituto, Carvalho manifestou sua intenção de tornar público o fato. No entanto, apenas seu vice, o atual diretor de políticas sociais Carlos Henrique Leite Corseuil, endossou a causa. “Os outros disseram que isso poderia afetar a imagem do instituto, que o debate político estava muito acirrado e qualquer coisa lançada seria usada com má-fé. Não concordei com a postura e pedi para sair”, explica Carvalho, pernambucano de 47 anos, que continua trabalhando no Ipea, órgão do qual é pesquisador concursado. O governo defende que a variação percentual de 3,7% está dentro da margem de erro e não configura tendência. Questionado sobre esse posicionamento, Carvalho é taxativo: “Se isso é verdade, então dentro da margem de erro você não teria nenhuma alteração de 2009 para cá. Quando o dado é ruim, está dentro da margem, quando é bom, é uma conquista”. Carvalho não foi o único a pedir exoneração do Ipea por conta da blindagem de informações. Seu colega Marcelo Medeiros entregou carta no mesmo mês de setembro pedindo para deixar o cargo de vice-coordenador de estudos de população, desenvolvimento e previdência. O motivo não foi documentado, mas o pesquisador disse a colegas estar descontente com o represamento de dados. Em outubro, Medeiros, que também é professor de sociologia na Universidade de Brasília (UnB), publicou uma pesquisa realizada com base em dados da Receita Federal. A conclusão do artigo era que o aumento de renda dos últimos anos não diminuiu o fosso que separa ricos e pobres no País, ao contrário do que aponta o histórico da Pnad. O sucesso da pesquisa foi tamanho que ela figura até agora em quinto lugar no ranking de artigos mais lidos da Social Science Research Network, rede social de artigos científicos de alto prestígio. “Aumento do poder de compra dos mais pobres não significa diminuição da desigualdade”, alfineta o pesquisador. Outras pesquisas independentes divulgadas antes da análise do governo já apontavam um crescimento da pobreza extrema no País. O Instituto de Estudos do Trabalho e Sociedade (Iets) divulgou, no mês passado, um diagnóstico com base nos dados da Pnad, no qual o número de miseráveis passava de 6,1% para 6,2% da população. Para definir miséria, no entanto, o Iets usou um critério diferente do utilizado pelo governo. Segundo o instituto independente, o recorte de renda por pessoa, para ser considerado dentro do quadro de pobreza extrema, foi de até R$ 123; para o Ipea foi de R$ 77. “O valor de R$ 77 é absolutamente ridículo”, critica o diretor do Iets, Manuel Thedim. Ele defende que esse valor seria gasto apenas em alimentação. “Nos centros urbanos mais populosos, a inflação tem um efeito ainda mais devastador. Se olhar para as regiões metropolitanas, fica claro que ali a extrema pobreza está sub-representada nessas pesquisas”, defende. O cálculo do Ipea é feito com base nos critérios traçados pelo Banco Mundial (leia quadro). Em junho deste ano, o valor que divide pobreza e miséria foi reajustado, no Brasil, de R$ 70 para R$ 77. O valor original – de US$ 1,25 por dia – é a média de renda entre as pessoas mais pobres dos 15 países mais pobres entre os 130 analisados pela organização. Para calcular a cesta que compõe o mínimo necessário à sobrevivência, o Banco analisa o preço de 100 produtos de consumo básico domiciliar em todas as nações participantes. A aplicação da metodologia intitulada PPC (Paridade do Poder de Compra) serve para medir a pobreza nas diferentes regiões tendo por base um parâmetro comum, o que garante que a cesta de alimentos comprada em todas as nações seja a mesma. Em nota, o Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome explica que “a conversão de tal parâmetro para valores em reais não é realizada pela simples adoção da taxa de câmbio”. A conversão da moeda é um elemento importante do cálculo, mas ele depende também dos valores dos produtos em cada país. O diretor do Iets, Thedim, alerta para o fato de que a miséria foi reduzida no Norte e no Nordeste do Brasil, mas que as regiões que concentram maiores percentuais do PIB nacional registraram aumento. Ele explica que isso ocorre porque essas áreas – Sul, Sudeste e Centro-Oeste – sofrem maior influência da diminuição do crescimento econômico do País. Ele ainda faz uma última cartada contra o valor estabelecido pelo governo para se enquadrar alguém em situação de extrema pobreza: “Quanto mais baixa a linha de limite da miséria, menos gente miserável se diz ter”. O economista José Eustáquio Alves, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), explica que o problema pode ser resolvido com um reajuste no valor pago aos contemplados pelo Bolsa Família de R$ 77 para R$ 100: “Se o governo transferir esse dinheiro para a população mais pobre, consegue-se resolver, mas a questão é que estamos enfrentando um problema fiscal”. Alves se refere ao déficit primário recorde de R$ 25,4 bilhões registrado em setembro. Para traduzir o economês, ele explica que vivemos uma paralisia financeira: o brasileiro médio vai ficar mais pobre em 2014 porque a população cresce a um ritmo mais alto que o PIB, então haverá redução da renda per capita. O economista conclui lembrando que os dados divulgados pelo Ipea são referentes a 2013 e bate o martelo: “Se em 2013 se constatou isso, em 2014 deve piorar”. 4#2 POR QUE A LEI DA GUARDA COMPARTILHADA NÃO AVANÇA? Senado adia mais uma vez a aprovação da lei que permite aos filhos de pais separados serem criados pelos dois. Assim, prejudica milhões de crianças Mesmo com o futuro de 20 milhões de crianças e adolescentes filhos de casais separados em jogo, o Senado preferiu adiar a aprovação do projeto de lei que torna obrigatória e automática a guarda compartilhada. Na terça-feira 4, a casa optou por mandar o Projeto de Lei 117/2013 para discussão na Comissão de Assuntos Sociais (CAS), em vez de aprová-lo, mesmo tendo o texto, que está tramitando em regime de urgência, passado pelas comissões de Constituição, Justiça e Cidadania (CCJ) e de Direitos Humanos e Legislação Participativa (CDH) e ter sido amplamente discutido pela sociedade. O argumento para essa nova interrupção é de que a proposta não contempla casos de violência doméstica. Na verdade, a guarda compartilhada já existe na legislação atual, mas um detalhe no texto, dizendo que esse modelo será instituído “sempre que possível”, faz com que o Judiciário, eminentemente conservador, ainda se atenha à guarda unilateral, de responsabilidade da mãe, sem levar em conta o quão importante é para o desenvolvimento do filho ter as duas figuras de referência presentes em sua vida, independentemente de estarem vivendo juntas ou não. Essa mudança na lei, que excluiria a condição de possibilidade e colocaria a guarda compartilhada automática, é o gesto necessário para que juízes deixem de se posicionar contrários à participação igualitária do pai e da mãe divorciados na vida da criança e coloque o País em sintonia com o que há de mais moderno e eficiente no mundo. Mas sua aprovação tem patinado no Congresso e frustra expectativas de pais que lutam pelo bem dos seus filhos. Por ter seguido um caminho sem percalços tanto na Câmara quanto no Senado até ir para votação no plenário, o projeto de lei tinha a aprovação dada como certa. Mas no dia 29 de outubro um imbróglio começou a ser desenhado. O senador Humberto Costa (PT-PE) fez um requerimento a pedido do Ministério da Justiça para que o PL fosse encaminhado à Comissão de Assuntos Sociais (CAS) para mais uma análise. O pedido foi apresentado e imediatamente se tornou alvo de uma série de críticas. Educadores e especialistas em desenvolvimento infantil passaram a pressioná-lo para que retirasse a solicitação da pauta. Segundo Costa, havia muitos pontos do texto sobre os quais o Ministério da Justiça, a Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República e entidades da sociedade civil divergiam. “Mas dada a imensa demanda social que recebi, resolvi retirar meu requerimento para que o projeto pudesse ser votado no plenário e deixar para que, posteriormente, pudéssemos sanar eventuais problemas com outros dispositivos”, diz Costa. Um discurso apenas retórico. Na prática, quando retirou o requerimento, o senador já havia articulado o próximo passo. Na terça-feira 4 o senador Romero Jucá (PMDB-RR) apresentou no Plenário uma emenda incluindo a questão da violência contra a criança e solicitou que fosse encaminhada à CAS. “Sou a favor da guarda compartilhada, mas o modelo só pode ser automático em situações seguras para a criança”, disse Jucá à ISTOÉ. “Se houver histórico de agressão, o juiz precisa levar isso em conta.” Mais uma questão apenas retórica. A legislação brasileira já prevê o que deve ser feito em caso de violência e, além de tudo, são exceções que devem ser tratadas como tal e não se tornar regra. Segundo o senador, a comissão votará a emenda na quarta-feira 12 e, no mesmo dia, pedirá para levar o texto novamente para o plenário. Jucá afirma que o restante da proposta não será modificado. E é muito importante que isso aconteça, pois o texto do PL 117/13 é considerado um dos mais modernos sobre o tema no mundo. Em julho deste ano, durante um congresso que reuniu 110 especialistas de diversos países, que norteiam políticas públicas para governos do mundo inteiro, foram definidos seis consensos sobre a guarda compartilhada. Todos estão em sintonia com o PL 117/2013. Neles, se dizia que a guarda exclusiva não serve aos interesses e às necessidades das famílias e a custódia física conjunta é necessária para o bem-estar das crianças. Também salientava que a legislação deve incluir a guarda compartilhada, mesmo que um dos pais se oponha a ela. Inclusive nos casos de casais com alto grau de conflito. Autor do PL, o deputado Arnaldo Faria de Sá (PTB-SP) salienta que o texto já passou pela avaliação de outras comissões e o atraso apenas compromete a vigência da nova legislação. “Agora, após aprovada no Senado, a proposta volta para votação na Câmara, sendo que a situação já poderia estar resolvida.” Entidades a favor da guarda compartilhada também se posicionaram contra a decisão de Jucá. “Não faz sentido retirar uma proposta de direito de família da pauta para incluir uma causa penal”, afirma Analdino Rodrigues Paulino Neto, presidente da Associação de Pais e Mães Separados (Apase). Ele ressalta que no Estatuto da Criança e do Adolescente há toda uma legislação para proteger os jovens, incluindo casos de violência. Além disso, o próprio código penal é que deve versar sobre agressões. Com o atraso na aprovação do PL, a atual legislação continuará dando margem para decisões equivocadas do Judiciário, um sistema viciado que ainda se baseia na guarda unilateral como melhor decisão nos casos de litígio, que configuram 90% das separações. Embora a lei determine a guarda compartilhada, atualmente apenas 6% das decisões de guarda contemplam a divisão das responsabilidades pelos filhos entre pai e mãe, sendo que na grande maioria das vezes, cerca de 90%, a responsabilidade fica com a mulher. Especialistas concordam que separar os filhos de qualquer um dos dois genitores causa um abalo emocional que compromete o desenvolvimento. “Quando um casal se une e decide ter filhos, ambos deveriam se lembrar que existe ex-marido e ex-mulher, mas não ex-filho. É preciso que a criança tenha essa garantia de crescer e se desenvolver na companhia dos dois pais”, afirma a psicóloga Rosely Sayão, maior especialista do País em educação de crianças e adolescentes, em entrevista recente à ISTOÉ. Ela explica que um dos grandes problemas nos divórcios atuais é que os filhos são vistos como bens, uma espécie de moeda de troca. Os pais, em meio a tanta tensão, muitas vezes nem se dão conta do mal que estão fazendo. “Mas acredito que, em um conflito, sempre é possível o diálogo.” O segredo, segundo Rosely, é ouvir o outro e ceder. Com o projeto de lei aprovado tornando a guarda compartilhada a regra, esse caminho do diálogo será facilitado. Pelo bem dos pais e, principalmente, dos filhos. 4#3 O REI DA CARTEIRADA A agente de trânsito condenada a pagar R$ 5 mil ao juiz João Carlos Correa não é a única vítima da soberba dele, que tem o hábito de se valer do cargo para obter vantagem e é investigado pela Corregedoria Nacional de Justiça Rogério Daflon (daflon@istoe.com.br) Grande admirador de vinhos, o juiz João Carlos de Souza Correa, 52 anos, gostava de conversar com sommeliers e amigos até a madrugada nos badalados restaurantes de Búzios, na região dos Lagos do Rio de Janeiro, quando era o titular da 1ª Vara da Comarca local, entre 2004 e 2012. Pode ser que Correa, hoje no 18º Juizado Especial Criminal do Rio de Janeiro, tenha brindado com colegas a vitória na Justiça contra a agente de trânsito Luciana Silva Tamburini, 35 anos. Ela foi condenada em segunda instância pelo desembargador José Carlos Paes, da 14ª Câmara Cívil do Tribunal de Justiça (TJ) do Rio, a pagar R$ 5 mil ao magistrado. O motivo? INJUSTIÇA - Luciana Tamburini: penalizada por cumprir a lei Luciana teria “zombado do cargo” dele numa blitz da Lei Seca em 2011, ao lembrar ao magistrado, que dirigia sem habilitação entre outras ilegalidades, que “juiz não é Deus”. Ela vai recorrer da sentença e a Corregedoria Nacional de Justiça – órgão do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) – também decidiu reavaliar o caso. Porém, independentemente do desfecho, esse episódio mostra que o velho “sabe com quem está falando?” resiste firme e forte no Brasil. E o histórico do juiz Correa mostra por que essa cultura precisa ser extirpada do País. A história que envolve Luciana aconteceu numa blitz no Rio. A Land Rover nova de Correa estava sem placa e sem documentos e ele não carregava a carteira de habilitação. Ao ouvir a ordem de Luciana para rebocar o veículo, ele segurou a chave e lhe deu voz de prisão, segundo ela. “Eu pedi uma explicação plausível para isso e, na sequência, afirmei que juiz não é Deus, mas não disse isso diretamente a ele”, conta a agente, que se negou a ir algemada até a delegacia. O juiz processou Luciana por desacato, e ela o processou por danos morais. Correa ganhou na Justiça, mas perdeu em imagem, já que sua atitude foi desaprovada a ponto de internautas de vários cidades do Brasil se manifestarem contra ele e doarem dinheiro para uma vaquinha (leia abaixo) criada para pagar a sentença imposta à Luciana, que ganha R$ 3.900. Não foi o primeiro ato de contrariedade de Correa em relação à Lei Seca. Parado em outra blitz no ano passado, em Copacabana, ele recusou-se a fazer o teste do bafômetro, mas acabou, mesmo assim, multado por estar sob influência de álcool. A jornalista Ana Elizabeth Prada, 47 anos, também conheceu a ira de Correa, que conseguiu que ela ficasse 12 horas presa na Delegacia de Búzios. Ela era uma das donas do jornal “Primeira Hora” na cidade litorânea e brigou por motivos financeiros com seu sócio Rui Borba, ex-secretário de Planejamento do município. A questão foi parar na Justiça e coube a Correa o julgamento: ele acolheu a liminar de Borba e afastou-a do jornal. Por não concordar com o trâmite do processo, Elizabeth fez um registro sobre a conduta de Correa na Corregedoria do Tribunal de Justiça do Rio e levou um processo por difamação. Com megafone em punho, a jornalista protestou contra o juiz na frente do TJ e registrou queixa no CNJ. Recebeu ordem de prisão de Correa quando distribuía uma carta aberta em Búzios. “Minha vida virou um inferno”, desabafou ela à ISTOÉ. Apesar de tudo, desta vez ele perdeu. Em 2011, Elizabeth foi absolvida e o ex-sócio dela acabou sendo preso, acusado de lavagem de dinheiro enquanto era gestor público. A passagem de Correa, que foi casado com a socialite Alice Tamborindeguy, por Búzios é repleta de atitudes questionáveis, tanto que foi feito um abaixo-assinado na cidade, em 2011, pedindo a saída dele da Comarca. Há situações graves. O atual juiz titular, Marcelo Villas, julga um caso que o levou novamente ao CNJ. Correa estabeleceu limites considerados escandalosamente grandes — mais de 5 milhões de m2 — para um terreno do advogado Araken Rosa, no bairro nobre de Tucuns. Pela decisão de Correa, os moradores, que estão lá há anos, têm que pagar uma indenização a Rosa. Em nota, a Corregedoria diz que o órgão também apura a conduta pessoal, além da profissional, “em relação a decisões polêmicas tomadas por ele em processos sobre disputas fundiárias em Búzios”. Há ainda situações esdrúxulas, como a vivida pelo belga Phillippe Alian, dono do restaurante Dom João. Segundo ele, certa vez, um assessor de Correa o procurou dizendo que o juiz pedia que dois ventiladores do estabelecimento comercial fossem doados para o Fórum de Búzios. Alian se negou a dar os ventiladores, mas ficou preocupado, pois o estilo do juiz amedronta. “Temi receber pressões”, diz. RECLAMAÇÃO - A jornalista Ana Elizabeth Prada, que registrou queixa no CNJ contra Correa, e Phillippe Alian, dono de um restaurante em Búzios, de quem o juiz queria dois ventiladores Em Rio Bonito, na região metropolitana do Rio, a fama de Correa também causa espanto. Em 2009, ele foi parado pelo policial rodoviário federal Ânderson Caldeira, por estar usando um giroflex – luz que fica em cima do capô de viaturas policiais e cujo uso é restrito a veículos oficiais. Correa teria discutido com o policial e os dois foram parar na delegacia da cidade. Correa fez uma queixa contra ele na Corregedoria da Polícia Federal, que abriu uma investigação. Por falta de provas, o processo foi arquivado. No Detran, constam sete multas de trânsito contra Correa, sendo que seis delas estão com o pagamento vencido. O sociólogo Marcelo Burgos, professor da Pontifícia Universidade Católica (PUC) do Rio, diz que, quando episódios assim vêm a público, valorizam a igualdade e mostram que ninguém está acima da lei. “Uma sociedade verdadeiramente democrática tem horror ao privilégio”, diz ele. Na internet, a reação corrobora essa tese. Foi criada uma página intitulada “Fora juiz João Carlos” , na rede social Facebook, com quase 5 mil curtidas e muitas manifestações de repúdio. Procurado pela reportagem da ISTOÉ, o juiz não quis dar entrevista. R$ 22 mil É quanto os internautas, através de uma vaquinha online, se comprometeram a repassar para Luciana Silva Tamburini pagar a indenização e os custos das despesas jurídicas do processo movido pelo juiz João Carlos de Souza Correa contra ela 4#4 ARMAS DA LEI ROUBADAS PARA O CRIME Os roubos de armamentos da polícia de são paulo mostram como agentes do estado podem estar atuando em parceria com o crime organizado Raul Montenegro (raul.montenegro@istoe.com.br) Com 13 anos de corporação, o policial Francisco Ricardo Correa, o Chicão, 44 anos, era um profissional discreto que não possuía manchas no currículo. Mas, na semana passada, uma investigação interna o denunciou como responsável pelo roubo de 82 armas na sede do Garra (Grupo Armado de Repressão a Roubo e Assalto), uma unidade de elite da Polícia Civil paulista, onde ele trabalhava. Esse foi o caso mais recente de armamentos roubados de agentes da lei, dentro de suas instituições, no Estado de São Paulo. E, na maioria das vezes, o ladrão trabalha no local e repassa o material para facções criminosas. As investigações preliminares indicam que Correa roubou armas do Garra motivado por dinheiro e contou com a ajuda de um amigo, Fernando Campione, 46 anos, sujeito que se dizia policial sem nunca ter sido. Campione era extrovertido e comunicativo, ao contrário de Correa. Nos corredores da organização, suspeita-se que foi o falso policial quem convenceu Correa a roubar. Há um ano e três meses, ele cuidava do depósito de armas do Garra. Sua função era receber itens defeituosos, encaminhá-los para reparo e municiar os parceiros com novos equipamentos. Desde que fora alojado no grupo, caminhava pelos corredores com Campione. Na portaria, sempre autorizavam sua entrada. Todos pensavam que o cúmplice era policial, pois ele conhecia os bastidores e dominava o linguajar próprio dos agentes, além de andar com uma pistola. Em 9 de outubro, Correa aproveitou que o homem que cuidava do depósito com ele havia saído de licença-prêmio para, ao lado do cúmplice, colocar seu plano em prática. Aos poucos, eles roubaram fuzis, submetralhadoras, carabinas e revólveres da sala de segurança. Câmeras de vigilância gravaram Campione entrando no local, em diferentes ocasiões, com uma sacola vazia e saindo de lá com ela cheia de armas furtadas. O crime só foi descoberto quando o chefe da corporação solicitou um fuzil e Correa foi obrigado a admitir que havia equipamentos faltando. O policial está preso e responde processo por peculato (desvio de recursos públicos). Em seu depoimento, afirmou que retirou o arsenal para fazer testes, mas não revelou sua localização. Já Campione está foragido. A Corregedoria da Polícia Civil de São Paulo ainda apura o destino do armamento, e desconfia que ele foi parar nas mãos de uma facção criminosa. Além disso, descobriu que o agente mantinha em sua residência uma oficina irregular para o conserto de armas, além de peças que podem pertencer ao depósito onde ele trabalhava anteriormente, no Departamento de Administração e Planejamento (DAP). Golpe da esq. para a dir.: fórum criminal da Barra Funda, rondas ostensivas Tobias de Aguiar (rota) e grupo armado de repressão a roubo e assalto (garra), de onde o Fernando Campione (no detalhe), ao lado de um policial, é acusado de roubar 82 armas Casos em que bandidos agem em conluio com agentes e roubam armas dentro de suas organizações, inclusive de tropas de elite como o Garra, se multiplicam. Outra vítima foi a Rota (Rondas Ostensivas Tobias de Aguiar), da Polícia Militar. De lá, entre maio e agosto de 2013, 31 pistolas calibre .40 foram desviadas do depósito do batalhão pelo PM Emerson Washington Gomes, o Beijinho. Ele cuidava do local no período noturno e furtava as armas, revendendo-as por cerca de R$ 4 mil cada uma. Como elas faziam parte de uma reserva técnica, a polícia só descobriu o esquema porque um lote de pistolas com defeito precisou passar por recall. Foi quando se constatou o sumiço de algumas peças e o culpado foi identificado. Das 31 desviadas, só uma foi recuperada. E isso só aconteceu porque ela foi usada para matar outro policial, o PM Genivaldo Carvalho Ferreira, em 8 de junho. Beijinho foi condenado a seis anos em regime semiaberto. “Existe um ritual de controle, mas uma hora você cai na confiança de uma pessoa”, diz o major Cássio Freitas, responsável pelo inquérito. Nem sempre os culpados são pegos. No Fórum Criminal da Barra Funda, zona oeste de São Paulo, 215 armas foram furtadas, mas ninguém sabe quando ou como elas sumiram e a apuração dos fatos se arrasta desde 2012. Organizações criminosas são os principais receptadores desses equipamentos. Oito meses depois do roubo de 22 fuzis e 89 pistolas do Centro de Treinamento Tático (CTT) de Ribeirão Pires, na Grande São Paulo, em 2009, dois desses fuzis foram encontrados com traficantes no Rio de Janeiro. Os equipamentos do CTT eram usados para treinar policiais civis e militares. Conselheiro do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, Renato Sérgio de Lima afirma que a capacidade de controle dos armamentos nas polícias é muito frágil. “Precisamos fortalecer mecanismos de supervisão no Brasil. Tanto com o uso de chips e detectores de metal quanto com protocolos mais rígidos de como se armazenam, manipulam e fiscalizam as armas de fogo. Quando não temos supervisão, a tentação de fazer algo ilegal é grande”, diz. 4#5 ARQUITETURA DA DISCÓRDIA Projeto milionário assinado pelo polêmico arquiteto Frank Gehry, que abriga a Fundação Louis Vuitton, é inaugurado em Paris sob críticas de moradores e especialistas Paula Rocha (paularocha@istoe.com.br) Assim como aconteceu à época da inauguração da Torre Eiffel, em 1889 – hoje um dos mais famosos cartões-postais do planeta –, um novo edifício em Paris não está sendo bem recebido pelos moradores da Cidade Luz nem por críticos de arquitetura. Em meio ao verde sereno dos gramados do Parque Bois de Boulogne, na zona oeste da capital francesa, uma silhueta de vidro e metal, que se assemelha a um barco à vela desordenado, ergue-se 50 metros acima do solo e pode ser vista a quilômetros de distância. O impressionante edifício, construído para abrigar a Fundação Louis Vuitton – museu que exibe a coleção de arte do magnata Bernard Arnault, dono do grupo LVMH e atual homem mais rico da França –, tem a assinatura do polêmico arquiteto canadense Frank Gehry e já gerou dezenas de críticas desde a sua inauguração, em 27 de outubro. FARAÔNICO - Com mais de 11 mil m2 de área e 50 m de altura, o novo edifício foi erguido ao custo de R$ 355 milhões A principal queixa ao novo projeto de Gehry diz respeito ao tamanho faraônico da obra, com 11 mil m2 de área, e a seu custo, estimado em R$ 355 milhões – valor equivalente a um terço do orçamento anual da maioria das cidades médias brasileiras. Os cidadãos parisienses também reclamam do fato de o prédio ter sido erguido em uma área pública protegida pelo plano diretor de Paris, que proibia edificações com mais de um andar no local. Antes de a construção ser aprovada, uma campanha contrária organizada por moradores da região conseguiu barrar o projeto nos tribunais. A Assembleia Nacional, entretanto, definiu o edifício como uma “obra de arte para o mundo todo” e liberou sua construção. EXTRAVAGANTE - Aos 85 anos, Gehry continua sendo um dos maiores expoentes da chamada "arquitetura do espetáculo", considerada ultrapassada O valor arquitetônico das obras de Gehry, porém, tem sido cada vez mais questionado por especialistas da área. Segundo Enio Moro Júnior, coordenador do curso de arquitetura e urbanismo do Centro Universitário Belas Artes, de São Paulo, a nova obra do mestre canadense pode ser interpretada como o réquiem da chamada “arquitetura do espetáculo”, em que forma e escultura se sobrepõem à função e à utilização. “O novo caminho da arquitetura aponta para a volta do acolhimento e de projetos menos extravagantes”, diz Moro Júnior. ______________________________________ 5# MEDICINA E BEM-ESTAR 12.11.14 5#1 BELEZA SOB A PELE 5#2 SEM ÓCULOS 5#1 BELEZA SOB A PELE Novo procedimento usa fios absorvidos pelo organismo para promover o rejuvenescimento da face Mônica Tarantino (monica@istoe.com.br) Um dos desafios da indústria da beleza é achar materiais inovadores para atenuar os sinais deixados pela passagem do tempo na face. Nesse campo, um dos mais recentes lançamentos no País são os fios confeccionados com ácido polilático. “Esses fios, conhecidos também como sutura Silhouette, têm efeito rejuvenescedor assim que são colocados, mas os melhores resultados aparecem entre 60 e 90 dias”, garante o dermatologista César Cuono, de São Paulo. TRAÇOS - Os fios podem ser colocados no contorno facial, segundo o médico Cuono A melhora imediata se explica pelo tracionamento da pele. O fio de ácido polilático possui, ao longo de sua extensão, alguns pequenos cones que engancham nos tecidos no momento em que o dermatologista o puxa sob a pele. Esse movimento acaba resultando em um efeito lifting (suspensão da pele), sem que seja necessário fazer cortes na pele. Já o efeito a longo prazo é atribuído pelos fabricantes à ação estimulante da produção da proteína colágeno, que dá firmeza à pele. Ela seria provocada pela combinação da presença do ácido polilático com o tracionamento, que provocaria uma reação inflamatória no local. Essa resposta, por sua vez, estimularia a fabricação do colágeno. Para a dermatologista Valéria Campos, de Jundiaí, interior de São Paulo, o incentivo à produção da proteína ocorre apenas em áreas ao redor do fio. Ela e Cuono fizeram cursos de treinamento para aprender a lidar com o novo recurso. Sua colocação é feita em consultório, com anestesia somente nos pontos de entrada dos fios. Eles já estão bem definidos: as áreas nas quais os fios são colocados são a testa, as próximas ao osso malar (bochechas), o contorno facial e o pescoço. O fio de ácido polilático é absorvido pelo organismo. “Eles se manteriam intactos por até dois anos. Depois, há necessidade de nova aplicação”, explica Cuono. Esta é uma das maiores diferenças do novo recurso em comparação a métodos semelhantes, alguns usados até hoje. Entre eles estão o chamado fio russo (trata-se de um fio de sutura feito de polipropileno) e o fio de ouro. Ambos não são absorvidos. Celebrado como avanço, o fio de ácido polilático só causa divergência entre os especialistas no que se refere à dor na colocação. “Na minha experiência com diversos pacientes e a colocação de mais de 60 desses fios, nenhum deles teve queixa de dor nem durante nem após o procedimento. Relataram apenas um pouco de desconforto, mas nenhum se referiu a dor”, diz Cuono. Ele próprio se submeteu à técnica recentemente. “Senti apenas algum desconforto passageiro na região tracionada pelo fio após o procedimento e nos três dias seguintes”, relata o especialista. Porém a dermatologista Valéria Campos diz que pessoas com maior sensibilidade à dor podem ter sintomas mais intensos na área tracionada. “Há quem fique com o rosto dolorido. Por isso é importante conversar com o paciente sobre a sua suscetibilidade à dor antes de optar pelo tratamento”, recomenda Valéria. Cada fio custa entre R$ 1,5 mil a R$ 2,5 mil. Em geral, aplica-se ao menos um fio de cada lado da face. 5#2 SEM ÓCULOS Médicos comprovam a eficácia de implantes na córnea para tratar a dificuldade de enxergar de perto que surge a partir dos 40 anos Cilene Pereira (cilene@istoe.com.br) Uma nova opção de tratamento para a presbiopia, conhecida popularmente como vista cansada, acaba com a necessidade do uso de óculos. A condição é caracterizada pela perda da elasticidade do cristalino, a lente natural do olho. O fenômeno ocorre com o passar dos anos e sua consequência é a dificuldade para focar objetos mais próximos. Hoje, os recursos mais usados para corrigir o problema são os óculos e, menos comum, a cirurgia a laser. Agora, a alternativa que está surgindo são os implantes colocados sobre a córnea e que têm a função de ajustar a profundidade da imagem captada de forma que o indivíduo enxergue de perto e de longe. OPÇÃO - Para a oftalmologista Lara, uma das vantagens é que o recurso pode ser retirado, se preciso Há três modelos: o Kamra, o Raindrop Near Vision e o Presbia Flexivue Microlens. O mais estudado até agora é o primeiro. Recentemente, pesquisadores da Universidade de Wisconsin (EUA) divulgaram os resultados de um trabalho que avaliou sua eficácia em 507 pacientes com idade entre 45 e 60 anos. Do total, 83% deles ficaram aptos a ler jornal, por exemplo, sem a necessidade de óculos. “O implante funciona tanto para quem está começando a ter dificuldade para enxergar de perto quanto para aqueles que estão com a presbiopia em etapa mais avançada”, disse à ISTOÉ John Vukich, líder da pesquisa. Na opinião da oftalmologista Lara Murad Bichara, do Rio de Janeiro, os implantes também apresentam outras vantagens. “Eles podem ser retirados quando necessário”, diz. “E não dificultam a realização de uma operação de catarata no futuro nem prejudicam a visualização da retina, recomendada em pacientes diabéticos, por exemplo”, completa. O pesquisador Vukich, no entanto, ressalva que há circunstâncias nas quais o uso dos óculos pode ainda ser necessário, mesmo com o implante. “Quando a luz é muito fraca, a utilização de óculos de leitura pode ajudar”, disse. A tecnologia dos implantes já está disponível em países europeus. Nos Estados Unidos, o Kamra está em fase de aprovação pelo Food and Drug Administration (FDA). E, de acordo com os fabricantes do Raindrop Near Vision, sua aprovação no Brasil será solicitada em 2016. ____________________________________ 6# ECONOMIA E NEGÓCIOS 12.11.14 6#1 O MILAGRE DOS MACS 6#2 É HORA DE PREPARAR A DECORAÇÃO DE NATAL 6#1 O MILAGRE DOS MACS Nem iPhone nem iPad. Os produtos da Apple que tiveram o maior aumento de vendas - e que salvaram o desempenho financeiro da empresa - foram os computadores lançados há 30 anos Nos últimos 30 anos, a Apple lançou mais de uma centena de produtos. Quase todos fizeram sucesso – e um bom dinheiro – durante longos períodos, mas depois enfrentaram o declínio natural que fustiga equipamentos da área de tecnologia. Mesmo criações recentes da empresa já se deparam com a inevitável decadência. Após o turbilhão que provocaram há uma década, os iPods agora estão perto do fim. O balanço divulgado pela Apple há alguns dias confirma essa regra, mas traz uma notável exceção. Apresentado com estardalhaço por Steve Jobs em 1984, o computador Mac continua vivo e forte. Claro, o trintão foi totalmente remodelado e, graças à genialidade de Jobs, trouxe inovações que mudaram a indústria. Mesmo assim, é de espantar que a linha Mac não apenas sobreviva, como gere fortunas para a companhia. “Nossos clientes são absolutamente fiéis e apaixonados pelos Macs”, disse Phil Schiller, vice-presidente de marketing da Apple, durante uma apresentação. LONGEVIDADE - Cook, presidente da Apple (acima), Jobs no lançamento do primeiro Mac, em 1984, e loja da empresa em Nova York: sucesso que dura gerações O balanço da Apple traz dados surpreendentes. No quarto trimestre do ano fiscal encerrado em setembro de 2014, a linha Mac gerou receitas de US$ 6,6 bilhões. É mais do que os US$ 5,5 bilhões de faturamento da linha iPad, até pouco tempo atrás a maior responsável pelos números soberbos da Apple. Em termos de geração financeira, os Macs só ficam atrás dos iPhones, ocupando agora a vice-posição – que antes pertencia aos iPads. Mais do que isso: a tendência é que a distância entre eles aumente. Com salto de 21% em unidades vendidas, ante queda de 7% dos iPads (que começaram a apresentar certo desgaste), os Macs ampliaram sua fatia no mercado global de PCs, de 2,1% em 2006 para mais de 6% hoje em dia. O interessante é que o computador de mesa da Apple avança num momento em que esse tipo de equipamento vem sendo desprezado pela nova geração, adepta principalmente dos smartphones. O que explica a longevidade dos Macs? Para o presidente da Apple, Tim Cook, uma das principais razões está num produto da casa: o iPhone. Segundo ele, o celular funciona como porta de entrada para clientes que antes não conheciam o computador da Apple – é o chamado efeito halo. Para alimentar essa relação, a Apple vem lançando uma série de dispositivos que permitem que seus dois produtos mais nobres trabalhem juntos (como começar a escrever um e-mail em um iPhone e continuar o texto no Mac). Mas esse não é o único motivo. Cook também destaca o fato de a Apple ter parado de cobrar pelas atualizações do sistema operacional do Mac (uma bobagem que afugentava clientes) e aponta a política de redução de preços praticada pela empresa como um chamariz importante. Os Macs sempre custaram muito mais do que PCs convencionais, mas nos Estados Unidos hoje já é possível comprar modelos a partir de US$ 1 mil – um terço do preço mínimo de uma década atrás. Além de todas essas razões, há uma que talvez faça a maior diferença. Os Macs são cultuados por uma legião de fãs (especialmente publicitários, designers, arquitetos e profissionais da área de artes), que se recusam a olhar para a concorrência. Eles têm motivo de sobra para isso. 6#2 É HORA DE PREPARAR A DECORAÇÃO DE NATAL Fuja da correria de fim de ano e aproveite as promoções para fazer bonito com as decorações natalinas Luisa Purchio (luisapurchio@istoe.com.br) O mês de novembro está começando, mas já é possível admirar charmosas decorações natalinas nas vitrines das lojas. As opções de enfeites são diversas e atendem aos mais diferentes gostos e bolsos. Árvores de Natal, por exemplo, podem custar de R$ 70 a R$ 3 mil. A boa notícia é que, mesmo quando o investimento é alto, as peças podem durar anos, já que podem ser reutilizadas. “Para pessoas que não querem gastar muito, indicamos uma árvore pequena, de um metro e meio, que pode ser colocada sobre uma mesinha”, diz Paola Dale, gerente de marketing da empresa que leva o nome de sua mãe, Cecilia Dale. Desde que nasceu, há 39 anos, Paola monta decorações de Natal com a família. Hoje, a rede possui 15 unidades pelo País. ______________________________ 7# MUNDO 12.11.14 A MAIOR DERROTA DE OBAMA Supremacia republicana nas eleições legislativas escancara os fracassos do presidente americano em diversas áreas e coloca em xeque o seu legado político Quando se tornou presidente dos Estados Unidos, em janeiro de 2009, Barack Obama foi comparado a Nelson Mandela, o líder sul-africano que implodiu o apartheid. Quase seis anos depois, os americanos se referem a Obama como o “pato manco”, apelido dado a presidentes fracos, que não têm mais nada a acrescentar ao país. A imagem negativa foi reforçada nas eleições legislativas da terça-feira 4, quando o democrata Obama sofreu sua maior derrota. A oposição republicana conquistou, com margem surpreendente, a maioria do Senado e ampliou sua liderança na Câmara dos Representantes – será a Câmara mais republicana desde a Segunda Guerra Mundial. Nas eleições estaduais, também realizadas na semana passada, o Partido Republicano faturou governos tradicionalmente dominados pelos rivais, como Illinois, Maryland e Massachusetts. Nos dois anos que restam de mandato, Obama não só enfrentará um Congresso hostil como terá de afastar uma percepção generalizada: ele é uma das maiores decepções políticas da história dos Estados Unidos. “O povo americano enviou uma mensagem”, disse um abatido Obama após a divulgação dos resultados. “Eu ouvi vocês.” LONGA CAMINHADA - Obama em direção à Casa Branca: para os rivais, o governo está sem rumo Como o presidente foi do céu ao inferno em apenas seis anos? Para os eleitores americanos, Obama fracassou em diversas frentes. Na política externa, é considerado pelos conservadores um líder vacilante. No ano passado, disse que bombardearia a Síria depois que Bashar Assad usou armas químicas contra civis. Dias depois, recuou. Obama também demorou para autorizar ataques contra o Estado Islâmico, mesmo diante da certeza de que o grupo extremista decapitava opositores e até cidadãos americanos. Na agenda progressista, viu seu principal programa de governo, o Obamacare, que trata da reforma na saúde, naufragar por uma série de falhas administrativas (em 2013, o site do governo que vendia seguros de saúde foi invadido por hackers, que roubaram dados cadastrais de milhões de pessoas). Seu governo ainda seria questionado pelos fiascos na área econômica. Se o PIB americano avançou razoavelmente nos últimos dois anos, a renda das famílias permanece estagnada nos patamares pré-crise de 2008. Obama também falhou na costura política, vital para qualquer país. “O último Congresso foi o que menos legislou na história moderna dos Estados Unidos”, diz Allan Lichtman, professor da American University, de Washington. MUDANÇA - O republicano Mitchell McConnell, novo lider do Senado: "O País precisa ser consertado" Agora, Obama enfrentará dificuldades ainda maiores em um Congresso republicano liderado pela velha raposa política Mitchell McConnell, que conquistou seu sexto mandato. “O país precisa ser consertado e eu vou lutar por isso”, disse McConnel. Entre suas bandeiras está o fim do programa Obamacare e reduções drásticas no orçamento, o que incluiria cortes em programas sociais. De seu lado, Obama terá o desafio de aprovar a reforma imigratória, que prevê a legalização para imigrantes há muitos anos no país, e o aumento do salário mínimo. A batalha será árdua e poderá, desde já, influenciar na disputa presidencial de 2016. Se depender do recado das urnas, os republicanos são os novos favoritos para a Casa Branca. _____________________________________ 8# TECNOLOGIA E MEIO AMBIENTE 12.11.14 MUITO ALÉM DA LUA A NASA fará no fim deste ano o primeiro voo experimental da Orion, a sua nova espaçonave construída para levar o homem a Marte em 2030 Cesar Soto (cesar.soto@istoe.com.br) Os Estados Unidos estão realizando os últimos ajustes naquele que é o maior e mais ambicioso projeto de exploração espacial desde que a Apollo 11 pousou suavemente no Mar da Tranquilidade no dia 20 de julho de 1969. Mesmo com os dois acidentes com veículos espaciais ocorridos na última semana de outubro, a Nasa não alterou os planos de fazer o primeiro voo teste da Orion, sua nova espaçonave. Criada para substituir a Endeavour, aposentada em 2012, a Orion foi projetada para ser muito mais que um ônibus espacial destinado a levar astronautas para a Estação Espacial Internacional. Com ela, a Nasa quer levar o primeiro ser humano até Marte. E em poucos anos. O primeiro voo da Orion, marcado para acontecer no dia 4 de dezembro, não será tripulado, mas seus números impressionam. Utilizando um foguete Delta IV Heavy, a Orion chegará a uma distância de 5,7 mil quilômetros da Terra, orbitando o planeta duas vezes antes de retornar à atmosfera a uma velocidade de 32 mil quilômetros por hora e a uma temperatura de 2.200oC. A nave não chegará nem perto da Lua, que fica a mais de 300 mil quilômetros, mas deixará para trás os limites do programa de ônibus espaciais, último projeto de veículos tripulados da Nasa, que alcançavam o máximo de 2 mil quilômetros de altitude. Em 2017, o novo programa de exploração espacial unirá seus dois principais componentes em um voo sem tripulantes que irá além da Lua. A partir dessa missão, a Orion será impulsionada pelo Sistema de Lançamento Espacial (SLS, do nome em inglês), o mais poderoso foguete já construído pela agência. Quatro anos depois, ambos devem voltar a trabalhar juntos para transportar cerca de quatro astronautas a um asteroide colocado na órbita lunar. Lá, a ideia é desenvolver técnicas para a extração e a análise de amostras obtidas no espaço. Se até hoje há muita gente que acredita na teoria da conspiração de que o homem nunca chegou à Lua, a Nasa tem o objetivo claro: fazer com que essas mesmas pessoas, em 2030, finalmente acabem com todas as dúvidas quando assistirem à gravação do primeiro astronauta em Marte. _______________________________________ 9# CULTURA 12.11.14 9#1 ARTES VISUAIS - KANDINSKY NO BRASIL 9#2 PERSONALIDADE - COMO JOÃO CRIOU O LUXO 9#3 EM CARTAZ – CINEMA - NEM TÃO FICCIONAL ASSIM 9#4 EM CARTAZ – DVD - SURREALISMO À MINEIRA 9#5 EM CARTAZ – TV - O MELHOR DA TELINHA 9#6 EM CARTAZ – CD - SEM BOCA PARA BEIJAR 9#7 EM CARTAZ – BLU RAY - PESADELOS AMAZÔNICOS 9#8 EM CARTAZ – AGENDA - DOCUMENTO/SEU/REV'ILLUSION 9#1 ARTES VISUAIS - KANDINSKY NO BRASIL Chega ao País reunião inédita de obras das coleções mais importantes do mundo do pintor abstrato em que se vê como o artista russo definiu a história da arte moderna Ana Weiss (ana.weiss@istoe.com.br) Wassily Kandinsky gostava de pintura, mas achava pouco louvável um russo nascido naqueles tempos difíceis, o final do século XIX, se dedicar à arte. “Achava que, para um homem russo, a arte era um luxo inadmissível”, escreveu em sua autobiografia. Filho de mercadores de chá da Sibéria, especializou-se em direito trabalhista e poderia ter sido um dos grandes catedráticos de Jurisprudência na Universidade de Moscou, não tivesse embarcado em uma excursão científica com os colegas de turma para Vologda, no extremo noroeste do país. A etnografia era uma febre nas universidades na virada daquele século e o jovem estudante que se tornaria, além de artista fundamental do modernismo, um dos maiores teóricos das vanguardas artísticas do começo do século encontrou nas tribos nórdicas primitivas o que dizia sentir falta em quase tudo que o cercava: alma. FIM DA FIGURA - "Improvisação no 11", tela de 1910 realizada para a primeira exposição de arte abstrata, na Alemanha A exposição “Kandinsky: Tudo Começa num Ponto”, que poderá ser vista a partir da quarta-feira 12, no Centro Cultural Banco do Brasil de Brasília, apresenta não só as mais importantes pinturas do inventor da arte abstrata, mas também peças criadas por grupos étnicos da tundra russa e de países como a Finlândia. A partir daquela excursão universitária, alimentou sua produção com a visualidade e códigos do folclore de sua origem e, principalmente, com o conteúdo místico de práticas como o xamanismo e a bruxaria. “Kandinsky acreditava no conceito de espíritos bons que povoavam, invisíveis, o espaço aéreo. Para ele, todos nasciam com essa alma imaterial – que os nórdicos chamavam de ort”, conta Evgenia Petrova, diretora do Museu Russo, que veio ao Brasil para a abertura da mostra que segue depois para Rio de Janeiro, Belo Horizonte e São Paulo, permanecendo por dois meses em cada capital. REVOLUÇÕES - Acima, "No Branco", tela de 1920 do Museu Estatal Russo. Por isso, a preocupação da curadoria em trazer do mesmo museu obras etnográficas que passaram pela pesquisa espiritual de Kandinsky, como o poema épico “Kalevala”, considerado peça inaugural da cultura finlandesa, ou a vestimenta xamânica do grupo étnico Sharnuud-Darhad, da Mongólia (leia quadro ao lado). Petrova, famosa no circuito mundial de arte pelo pulso firme com que guarda as 400 mil peças do acervo que atravessou uma revolução social, duas guerras mundiais e a alternância dos sistemas capitalista e socialista, diz que o Brasil verá uma montagem única, com empréstimos feitos de outros sete museus russos, além de coleções particulares da Alemanha, Áustria, Inglaterra e França. “Conseguimos reunir as obras que o próprio Kandisnky sugeriu para a exposição realizada na criação do “Cavaleiro Azul”, relata a diretora, que, graças ao imenso acervo técnico do museu, pode deslocar as pinturas de Kandisnky, como a célebre “No Branco” (reproduzida na página anterior), uma tela de quase 10 m2, sem prejudicar o público moscovita. Foto de Wassily Kandinsky dedicada ao amigo Arnold Schoenberg, criador do dodeca-fonismo, que revolucionou a música como a abstração transformou a pintura. “O museu é uma instituição gigante, o que nos permite criar alternativas às obras que retiramos das salas. Mas foi necessária uma negociação árdua, que durou cinco anos e envolveu inclusive as autoridades patrimoniais do Ministério da Cultura de nosso país”, acrescentou ela, em entrevista à ISTOÉ. “Trazer essa exposição ao Brasil, por um tempo tão prolongado, é de fato uma decisão inédita.” A mostra desenhada especialmente para o Brasil traça os primórdios da trajetória de Kandinsky como pintor. Se o encontro com as culturas primitivas e mágicas do norte encorajou o jovem universitário a se voltar para a pintura, nos anos de 1890, foi só 20 anos depois, em contato com a música, que o artista conseguiu se libertar da figura. “O que serviu de impulso para a reviravolta de Kandinsky foi, entre outros fatores, a ópera ‘Lohengrin’, de Wagner. Ouvindo a ópera, associou a música com os poentes de Moscou, quando as cores se inflamam uma atrás da outra, antes de transformar a cidade em uma mancha vermelha que soa como o acorde final, um ‘fortíssimo de uma orquestra enorme’”, escreve Evgenia Petrova no texto do catálogo que acompanha a mostra. Óleo sobre vidro, "Amazonas com Leões Azuis" de 1918 Kandinsky, de fato, amava Moscou. Os gestos rítmicos e geométrios de sua pintura a partir de 1910 muitas vezes reproduzem o movimento do skyline da cidade czarista. Mesmo partindo desses elementos figurativos, e justamente a sua transformação em formas dissonantes, esse período marca a incorporação definitiva da abstração, a materialização da espiritualidade que o pintor perseguiu por toda a vida. Kandinsky morreu na França, depois de muitos anos na Alemanha – ele foi um dos últimos professores a deixar a Escola Bauhaus, fechada pelo nazismo. “Esse conjunto de obras que nunca estiveram juntas oferece um conhecimento verdadeiramente panorâmico da vida e obra de Kandinsky, da perspectiva da sua cultura de raiz, a russa”, diz Evgenia Petrova. 9#2 PERSONALIDADE - COMO JOÃO CRIOU O LUXO Filme conta a trajetória de joãosinho trinta, que deixou o balé do theatro municipal do rio para revolucionar o carnaval carioca Daniel Solyszko (daniel@istoe.com.br) Mulheres nuas desfilando pelas passarelas, arquibancadas lotadas, carros alegóricos com 12 metros de altura. Antes de o maranhense Joãosinho Trinta se tornar carnavalesco na década de 1970, o Carnaval era outro. Até então, era um desfile pequeno e relativamente local. Mas, cansado das sapatilhas, um bailarino do Theatro Municipal do Rio de Janeiro, que entrou para a vida das passarelas do samba em 1973, fez com que a festa se transformasse na comemoração mais luxuosa e sofisticada que o País conheceu. O ponto de partida dessa mudança é o tema do novo longa-metragem de Paulo Machline, “Trinta”, que estreia na quinta-feira 13, com Matheus Nachtergaele no papel-título. Polêmico Desfile de 1989 da Beija-Flor, com a figura coberta pela censura do Cristo caracterizado de mendigo (abaixo), e Trinta durante o Carnaval de 2004 pela Rio Grande (acima) A completa ausência de biografias de Trinta foi o motor da pesquisa do cineasta, amigo pessoal do ex-funcionário público João Clemente Jorge Trinta. Machline realizou entrevistas e acompanhou as atividades de Trinta durante longos períodos entre 2002 e 2008, experiência que resultou em um documentário lançado em 2009, que narrava as 48 horas que antecederam o desfile da Beija Flor, vice-campeã de 2002. As informações não usadas motivaram um novo projeto, dessa vez um filme de ficção, mas que traz a vida por trás da figura de branco e de braços sempre abertos a sorrir. Machline centra a trama nos preparativos para o Carnaval de 1974, quando Trinta criou o desfile “O Rei de França na Ilha da Assombração”, inspirado nas lendas do folclore do Maranhão. A Salgueiro foi a escola campeã daquele ano. “Queria contar sua origem, seu primeiro Carnaval. Teria sido mais simples usar os episódios que todos já conhecem, mas quis mostrar quem ele foi realmente”, diz. O período em que atuou como bailarino pode ser visto em um breve flashback da década de 1960. Trinta atuou no Municipal durante cerca de 20 anos, dez deles como bailarino e o restante do tempo em diversas funções, como cenógrafo e figurinista. Matheus Nachtergaele explica que fez um curso de quatro meses de balé antes do início das filmagens para viver o personagem: “No começo pensei que não seria necessário, mas logo percebi que a maneira de caminhar dele vinha daí. Foi importante para adquirir a postura certa, pois nunca ando dessa maneira”, diz ele. O ator conta que foi apresentado a Trinta em 2011, durante os preparativos da filmagem, pouco antes de o carnavalesco morrer. “Ele me lembrou uma criança, muito espantada, mas também encantada com o mundo. Tinha uma grande vivacidade, apesar de estar em uma cadeira de rodas na época”, diz. Um segundo encontro entre os dois estava marcado quando Trinta morreu. “O povo gosta de luxo, quem gosta de miséria é intelectual”, teria dito em uma entrevista. É uma frase que resume bem a atitude de Trinta em relação à sua vida e ao seu trabalho. A mesma ideia está por trás das transformações que fizeram do Carnaval o que ele é hoje, uma festa de luxo, feita para um povo cansado de miséria. 9#3 EM CARTAZ – CINEMA - NEM TÃO FICCIONAL ASSIM Ana Weiss (ana.weiss@istoe.com.br) Escassez de recursos, catástrofes naturais, secura. O planeta lembra bem o de hoje no novo filme de Chistopher Nolan, que deixa de lado a franquia “Batman” para se dedicar à ficção científica, gênero que o consagrou. “Interestelar” acompanha um grupo de exploradores que desenvolve uma maneira de encurtar as grandes distâncias percorridas em viagens espaciais, a única saída para prolongar a existência humana. No grupo, um engenheiro viúvo chamado Cooper (Matthew McConaughey) se vê dividido entre a tarefa de criar os filhos no planeta e embarcar na viagem que pode salvar a humanidade. O longa-metragem retoma a premissa humanista de obras recentes como “Gravidade”, segundo a qual o espaço sideral serve como catalisador de problemas mal resolvidos em solo terrestre. +5 filmes ambientados no espaço Gravidade Dirigido por Alfonso Cuarón, mostra Sandra Bullock (foto) como uma astronauta que fica à deriva após um acidente espacial Alien Sigourney Weaver persegue uma criatura alienígena que mata a tripulação de uma nave no filme de Ridley Scott Star Wars Primeira parte da saga de George Lucas, na qual Luke Skywalker lidera o resgate da princesa Leia Solaris Filme de Andrei Tarkovski no qual um psiquiatra é enviado para investigar estranhos acontecimentos em uma estação espacial 2001 – Uma OdissEsia no Espaço Uma equipe é enviada a Júpiter para analisar a transmissão de um sinal no longa-metragem de Stanley Kubrick 9#4 EM CARTAZ – DVD - SURREALISMO À MINEIRA Ana Weiss (ana.weiss@istoe.com.br) Um dos maiores poetas da literatura moderna brasileira, o mineiro Murilo Mendes tem sua bibliografia relançada pela Cosac Naify. Entre os primeiros títulos está “Antologia Poética”, coletânea inédita de 142 poemas selecionados. O volume inclui ainda um artigo de Mendes e uma série de fotografias em preto e branco com o autor, que foi bastante influenciado pelo surrealismo francês. A seleção é assinada por Júlio Castañon Guimarães e Murilo Marcondes de Moura, responsáveis também pelo posfácio. 9#5 EM CARTAZ – TV - O MELHOR DA TELINHA Ana Weiss (ana.weiss@istoe.com.br) Um apanhado dos maiores destaques da produção televisiva contemporânea pode ser visto na mostra “Telas – Festival Internacional de TV de São Paulo”. Cerca de 200 horas de documentários, programas infantis, séries e outros programas do Brasil e de outros 18 países serão exibidos na programação do evento, que acontece em São Paulo no Caixa Belas Artes, CCSP, Centro da Cultura Judaica, Cine Olido, Cinemateca, Faap, MIS, Praça das Artes e Sesc Consolação. O público irá votar nos melhores, que serão anunciados juntamente com as escolhas do júri na cerimônia de encerramento no Theatro Municipal, no dia 14 de novembro. 9#6 EM CARTAZ – CD - SEM BOCA PARA BEIJAR por Rodrigo Cardoso (rcardoso@istoe.com.br) Em “Nó da Orelha”, álbum de 2011, Criolo filosofou emocionado: “Não existe amor em SP”. A favela chamada Brasil, palco de desigualdade social, veio junto. “Convoque seu Buda”, terceiro trabalho do MC da zona sul paulistana, anuncia o mantra “Hoje, não tem boca pra se beijar”, na faixa “Esquiva da Esgrima”. Com participações de Tulipa Ruiz e Money Mark (Beastie Boys), é assim que o letrista segue cantando a vida sofrida dos desprivilegiados. 9#7 EM CARTAZ – BLU RAY - PESADELOS AMAZÔNICOS Ana Weiss (ana.weiss@istoe.com.br) Dirigido por Jack Arnold em 1954, “O Monstro da Lagoa Negra” rapidamente se tornou um dos filmes de terror mais cultuados do período em que foi lançado nos Estados Unidos. Uma equipe de arqueólogos em viagem à Amazônia se depara com resquícios de uma estranha espécie, até que seus integrantes passam a ser assassinados um por um. Logo descobrem que os ataques são perpetrados por uma criatura anfíbia que sequestra a namorada do cientista-chefe, por quem se apaixona. O lançamento da Universal traz o longa-metragem em duas versões: uma tradicional, da maneira como estreou nos cinemas, e outra em 3D . 9#8 EM CARTAZ – AGENDA - DOCUMENTO/SEU/REV'ILLUSION Confira os destaques da semana Ana Weiss (ana.weiss@istoe.com.br) Documento (Cinesesc, em São Paulo, até 12 de novembro) Festival que reúne filmes de diversos países que misturam as linguagens do documentário e da ficção Seu Azul (Espaço Cia do Pássaro, em São Paulo, até 16 de novembro) Peça teatral baseada em livro de Gustavo Piqueira sobre casal em crise que procura um terapeuta para salvar a relação Rev’Illusion (Sesc Santana, em São Paulo, até 9 de novembro) Espetáculo de dança encenado pela companhia marroquina Anania; a coreografia lembra a Primavera Árabe. ____________________________________ 10# A SEMANA 12.11.14 por Antonio Carlos Prado e Elaine Ortiz "O NOVO WORLD TRADE CENTER" Na segunda-feira 3 foi inaugurado um arranha-céu de 541 metros de altura e 104 andares onde anteriormente existiam as Torres Gêmeas. Trata-se do novo One World Trade Center, e a primeira inquilina desse que se tornou o mais alto edifício do país é a gigante editorial Condé Nast, já ocupando cinco andares dos 25 que alugou – pelos 20 restantes acabarão de ser distribuídos em 2015 todos os seus três mil funcionários. Também no ano que vem será inaugurado um observatório que ocupará do 100º ao 102º andares e do qual se terá a mais privilegiada vista da ilha de Manhattan. Ao custo de US$ 3,9 bilhões, a estrutura de concreto do One World Trade Center é a mais reforçada possível contra ataques terroristas. “O horizonte de Nova York está novamente completo”, disse Patrick Foye, diretor da Autoridade Portuária de Nova York e Nova Jersey, proprietária do edifício. "MINISTRO VENEZUELANO "INVADE" O BRASIL - NÃO SEM MOTIVO ELE SE DÁ BEM COM O MST" Elias Jaua Milano é ministro das Comunas e Movimentos Sociais da Venezuela, e pode entrar no Brasil, desde que seja a passeio, quantas vezes quiser. Mas não pode, jamais, pisar o território brasileiro para atividades políticas sem comunicar o Ministério das Relações Exteriores em Brasília – cumprir agenda sem avisar o nosso governo é clandestinidade. Foi, no entanto, o que Milano fez quando aqui esteve e assinou acordos com o MST para “fortalecer o que é essencial em uma revolução socialista” – em português claro é praticar o crime de invadir propriedade dos outros. Na quarta-feira 5 veio a reposta do ministro das Relações Exteriores, Luiz Alberto Figueiredo, passada ao encarregado de negócios da embaixada da Venezuela. “É uma interferência em assuntos internos. Cobrei explicações”, disse Figueiredo. É uma boa chance para que a Venezuela explique também o que uma mulher contratada por Jaua, quando ele estava no Brasil, fazia com uma arma quando acabou presa. "AGRESSÃO NO ANIVERSÁRIO DE BRIGITTE BARDOT" Neste mês de novembro completam-se em Búzios 15 anos em que a estátua da atriz francesa Brigitte Bardot é uma das principais atrações turísticas da cidade – há cinco décadas ela foi pessoalmente a grande atração de todo o País, quando aqui esteve e visitou esse balneário na região dos Lagos no Rio de Janeiro. Na semana passada, por duas vezes, a sua estátua foi alvo de pichações e vandalismo. É esculpida em bronze e pesa 160 quilos. "JOSÉ DIRCEU FOI PARA CASA" A foto mostra o ex-ministro José Dirceu chegando na terça-feira 4 à Vara das Execuções Criminais de Brasília para a audiência que lhe concedeu prisão domiciliar. Condenado no processo do mensalão a 7 anos e 11 meses no regime semiaberto, Dirceu está preso desde 15 de novembro do ano passado e ganhou 142 dias de remissão porque estudou e trabalhou nesse período. Cumprirá o restante da pena em casa onde terá de permanecer das 21 horas às cinco da manhã. Não poderá conversar com ninguém que esteja condenado, incluídos os sentenciados no mensalão. "O LOUCO QUERIA FALAR COM A PRESIDENTE" O autocontrole da analista judiciária Jurema Assunção salvou-lhe a vida quando ela esteve por quase uma hora nas mãos e na faca de um psicótico. Robson da Silva tentara em vão quebrar vidraças do Palácio do Buriti, sede do governo no DF, desandou a correr quando os seguranças o viram e tomou Jurema como refém enquanto fugia. Num quadro claro de distúrbio mental, Silva pedia para falar com a presidente Dilma Rousseff e queria um revólver para se matar. “Ele dizia que estava vendo o corpo do pai ali perto da gente, eu consegui mostrar-lhe que aquilo era somente uma folha de árvore”, explica Jurema. Quando um policial atingiu o agressor com bala de borracha, ela conseguiu fugir. "OS CONVÊNIOS MÉDICOS AFETAM CADA VEZ MAIS A SUA VIDA. SAIBA COMO DEFENDER SEUS DIREITOS" Enfeita apenas a Constituição do Brasil a “garantia fundamental” de que o acesso a serviços de saúde é “direito do cidadão” e “dever do Estado”. No campo da saúde pública tal direito apodreceu faz tempo e no da medicina privada as coisas vão indo no mesmo caminho: quintuplicou o número de negativas de atendimento por parte dos planos nos últimos três anos. Ao longo de 2013 a média de queixas de conveniados foi de oito reclamações por hora – total de cerca de 73 mil casos, um aumento de 440% em relação a 2010. PARA GARANTIR O TRATAMENTO" Superado o prazo de carência, o conveniado que tiver um procedimento negado deve procurar a justiça. Em quase 100% dos casos os juízes mandam a operadora realizar o que está sendo pedido, ainda que não esteja no contrato. "NO LABORATÓRIO, SEM JEJUM" Para aliviar filas e demora no agendamento de exames, alguns laboratórios estão diminuindo em até quatro horas o tempo de jejum, o que é possível graças a modernos aparelhos e reagentes. "ENTENDA POR QUE OS PLANOS DE SAÚDE PIORARAM TANTO" O sucateamento da medicina privada se dá porque as operadoras demoram para pagar os médicos e lhes pagam pouco, o que os têm levado a se descredenciarem. Mais grave: as operadoras se tornaram balcão de negócios, vendem muito mais produtos do que podem entregar e captaram muito mais clientes do que estão dispostas a desembolsar para atendê-los. O governo federal assistiu a tudo de braços cruzados. Número de conveniados em 2010: 45,1 milhões de pessoas. Número de clientes em 2013: 50,5 milhões de conveniados. "AGORA, O BRASIL TEM DOIS FELIPES NA F-1" Felipe Nasr é o novo piloto brasileiro a integrar a Fórmula 1. Tem 22 anos e correrá a temporada do ano que vem pela escuderia Sauber com contrato de dois anos – também por ela começou outro brasileiro, Felipe Massa, agora na Williams. Ele é o 31º piloto a representar o Brasil. "EMPRESA FORNECEDORA DA PM PAGA VIAGEM DO COMANDANTE-GERAL" O serviço de radiocomunicação entre as polícias civil e militar de São Paulo é executado pela Motorola. Por isso é no mínimo constrangedor para a Secretaria de Segurança Pública que o comandante-geral da Polícia Militar, coronel Benedito Roberto Meira (foto), tenha viajado para a Flórida na semana passada com despesas pagas pela própria Motorola – foi participar de um evento promovido pela empresa. Igualmente constrangedor: poucos dias antes a Motorola ganhara uma licitação na PM no valor de aproximadamente R$ 10 milhões. Em nota, a Motorola confirmou o convite para o evento e disse que sua “atuação como empresa segue as leis locais e internacionais”. DIRIGENTE BRASILEIRO PEDE A LIBERTAÇÃO DE ADVOGADA NO IRÃ" O brasileiro Ary Graça Filho, presidente da Federação Internacional de Vôlei, enviou uma carta ao presidente do Irã, Hassan Rouhani, pedindo a libertação da advogada Ghoncheh Ghavami, que está presa há cinco meses em Teerã. Ela iniciou na semana passada a sua segunda greve de fome. “Há muita presão psicológica e física. Ela ficou 41 dias em uma solitária”, disse com exclusividade à ISTOÉ Iman Ghavami, irmão de Ghoncheh. A advogada tem 25 anos e está encarcerada porque tentou assistir em Teerã a uma partida de vôlei masculino: a seleção de seu país enfrentava a da Itália. As leis iranianas proíbem as mulheres de irem a jogos de vôlei e de futebol alegando “protegê-las do comportamento obsceno dos torcedores”. "REVELADO O MILITAR QUE MATOU BIN LADEN - E POR QUE ESTÁ DESCONTENTE" Foi finalmente revelada na quinta-feira 6 a identidade do militar americano que matou o terrorista Osama bin Laden em 2011. Trata-se de Rob O’Neill (foto), ex-integrante do grupo de elite da Marinha dos EUA. Ele está descontente com o governo de seu país porque perdeu alguns benefícios ao sair das Forças Armadas antes de completar duas décadas de serviço. O’Neill acumula 52 condecorações. Acha que veio ao mundo com algumas missões, entre elas a de matar Bin Laden. "15.700" 15.700 pessoas morreram de doenças decorrentes da poluição em São Paulo no ano passado – o dobro das 7.867 que morreram em acidentes de trânsito. Os dados são da USP.