ISTOÉ edição 2307 | 12.Fev.2014 [descrição da imagem: foto de Andrea Haas, na porta aberta de um carro. Em foto menor, lado superior direita, Pizzolato] EXCLUSIVO MULHER DE PIZOLATO QUEBRA O SILÊNCIO OS BASTIDORES DA PRISÃO DE PIZZOLATO _______________________ 1# EDITORIAL 2# ENTREVISTA 3# COLUNISTAS 4# BRASIL 5# COMPORTAMENTO 6# MEDICINA E BEM-ESTAR 7# ECONOMIA E NEGÓCIOS 8# MUNDO 9# TECNOLOGIA E MEIO AMBIENTE 10# CULTURA 11# A SEMANA _____________________________ 1# EDITORIAL 12.2.14 "O DESCASO NO SERVIÇO PÚBLICO" Carlos José Marques, diretor editorial Cenas deploráveis de cidadãos se espremendo, lutando, desmaiando, para tomar diariamente o transporte público, repetem-se quase sem parar nas principais capitais do País, como se fosse a coisa mais natural do mundo. Trens, ônibus, metrôs, nada funciona direito ou à altura de responder à demanda. A qualidade do atendimento é precária. A malha, insuficiente. E o volume de verbas para investimento é sorrateiramente desviado em boa parte por esquemas de corrupção como o que ocorreu nas últimas duas décadas no metrô paulista. O resultado está aí! Como motor econômico do Brasil, São Paulo oferece rotineiramente o quadro mais desumano desse drama. Usuários tratados como gado, sem opção, levam horas para chegar a seu destino dentro de locomotivas insalubres ou escassos ônibus – ambos sempre abarrotados de passageiros, tornando insuportável o ar que se respira ali dentro. A frequência com que essas unidades de transporte quebram ou experimentam pane do sistema é enorme. E o índice de reposição dos veículos segue baixíssimo. Na capital paulista inovaram na ação: em vez de atacarem o problema, autoridades preferiram centrar fogo na consequência. Criaram as chamadas “faixas de ônibus” em praticamente todas as ruas – espécie de outdoor de medida populista – que vivem vazias por falta justamente de ônibus suficientes. Enquanto isso, o caos toma conta das demais vias, mais congestionadas do que nunca por ausência de um planejamento sério que dê vazão ao trânsito. Seria mais eficaz, e menos conturbado, primeiro dotar a cidade de uma frota capaz de desafogar as linhas. Mas na base do “quanto pior, melhor”, tornando infernal o tráfego, o alcaide paulista buscou por caminhos tortos sua intenção de ter mais e mais passageiros usando o transporte público. O objetivo seria louvável e uma realidade até desejável – a exemplo do que ocorre nas maiores capitais globais –, caso o aparato do sistema e a infraestrutura do entorno estivessem funcionando em condições adequadas para atender o público adicional. Mal e porcamente dá conta do número atual de usuários. Como promover tamanha migração diante do evidente descaso com que são tratados aqueles que dependem desses meios de locomoção? A solução do nó do transporte público é uma questão urgente. Que deve ser encarada com seriedade pelos governantes. Vale lembrar que, na origem das manifestações de rua, no ano passado, foi essa a primeira bandeira que inflamou os protestos. 2# ENTREVISTA 12.2.14 WAGNER MOURA - "A POLÍCIA TEM DE SER PACIFICADA" Maior astro do cinema nacional, o intérprete do Capitão Nascimento, de "Tropa de Elite", afirma que os policiais desrespeitam os pobres e critica a truculência da corporação por Michel Alecrim (michel.alecrim@istoe.com.br) SEQUÊNCIA - Ele descarta fazer um “Tropa de Elite 3”: “Já deu o que tinha que dar”, afirma O baiano Wagner Moura, 37 anos, é atualmente “o cara” do cinema brasileiro. Filmes com seu nome no letreiro encontram o tapete vermelho estendido em festivais internacionais, como o de Berlim, na Alemanha, onde o longa-metragem que protagoniza, “Praia do Futuro”, disputa o Urso de Ouro, cujo ganhador será conhecido no domingo 16. Ao contrário do herói invencível Capitão Nascimento que encarnou com brilho no sucesso internacional “Tropa de Elite”, o atual salva-vidas Donato fracassa ao não conseguir tirar do mar uma pessoa com vida. “É um filme sobre coragem, mas também sobre covardia”, diz o ator, que, pela primeira vez, interpreta um personagem gay no cinema. O filme ainda é inédito no Brasil. Moura não faz mistério sobre suas preferências políticas. Votou na última eleição presidencial em Marina Silva, na época no PV, e este ano diz tender, no momento, a votar na dupla Eduardo Campos (governador de Pernambuco pelo PSB) e Marina Silva (criadora da Rede Sustentabilidade e também filiada ao PSB). Mas faz ressalvas: “Tudo o que o PSB não é, sinceramente, é uma nova forma de se fazer política, que é o que a Rede vinha apregoando.” Casado com a fotógrafa e jornalista Sandra Delgado e pai de três filhos, ele falou à ISTOÉ antes de viajar para Berlim, onde participa do festival. “Sempre declaro meu voto. Estou observando essa união entre a Marina Silva, que já apoiei, e o Eduardo Campos" "Uma usina hidrelétrica causa um impacto brutal. A cidade onde meus pais nasceram foi inundada pela barragem de Itaparica. Sei do que estou falando” Istoé - Existe a possibilidade de se filmar “Tropa de Elite 3”? Wagner Moura - Não. Está sepultada. O “Tropa”, do ponto de vista da dramaturgia, já deu o que tinha que dar. Aquele personagem não tem mais para onde ser levado. Ao contrário do tema segurança pública e violência, que sempre dá pano para manga. Istoé - As Unidades de Polícia Pacificadoras (UPPs) nas favelas cariocas não são um convite à sequência cinematográfica? Wagner Moura - Nesse cenário político, a gente faz até Tropa 50. O que não falta é assunto: violência, caos urbano, a forma como a polícia age, mas dramaturgicamente não dá. Istoé - Como vê a implantação das UPPs e os recentes reveses em algumas comunidades? Wagner Moura - As UPPs são muito bem-vindas e funcionam como um primeiro passo. O poder público precisava chegar às favelas, mas não só com a polícia. Faltam escola, creche, biblioteca, parque, tudo o que tem no asfalto. Antes, por outro lado, a polícia tem de ser pacificada. O que fizeram com o Amarildo (Dias de Souza, pedreiro torturado e morto dentro da sede da UPP da Rocinha em julho do ano passado) dentro de uma Unidade Pacificadora é significativo do que eu estou dizendo. A mesma velha polícia agindo de forma desrespeitosa com as pessoas pobres. Istoé - Este ano tem eleições. Pretende participar de campanha eleitoral? Wagner Moura - Eu sempre declaro meu voto. Estou observando essa união entre a Marina Silva (filiada ao PSB e idealizadora da Rede Sustentabilidade) e o governador de Pernambuco, Eduardo Campos (PSB). Tenho respeito pelo Campos e já apoiei publicamente a Marina, mas tudo o que o PSB não é, sinceramente, é uma nova forma de se fazer política, que é o que a Rede vinha apregoando. Estou esperando para ver como se darão as alianças, os palanques em São Paulo, Minas Gerais... Mas participar (de campanha política) não estou a fim. Istoé - O Donato é seu primeiro papel explicitamente gay? Wagner Moura - Talvez seja o primeiro filme em que há explicitamente uma relação entre o meu personagem e o de um outro cara, embora essa não seja a coisa mais importante. É um filme sobre identidade, descoberta, coragem para ser o que você é. É uma busca existencialista de querer fazer a própria vida, de se libertar das amarras, dos rótulos em que a gente se encaixa. Todos os personagens passam por um processo de humanização muito grande. Eu acho que a gente ajuda a superar os preconceitos a partir do momento em que a homossexualidade não vira um assunto. Se meu personagem tivesse se apaixonado por uma mulher, não ia ser um assunto. Istoé - Você vai estrear na direção em breve. O que espera dessa experiência? Wagner Moura - Eu me interesso por direção e por tudo que transcende o meu trabalho como ator. E acho que é muito legítimo o ator querer dirigir porque temos uma visão muito privilegiada do processo do cinema. Na realidade, estamos no epicentro. Vemos de dentro para fora. Desde a equipe de câmera, o som, a produção, a comida, até o cara que tapa a rua lá fora. O filme que vou dirigir sobre o Carlos Marighella (guerrilheiro, 1911-1969) será focado entre os anos 1964 e 1969, quando o Marighella estava na casa dos 50 anos. Estamos na fase de captação de recursos. Espero começar a filmar logo, mas ainda não tenho data. Istoé - Você vai contar um a história política, mas as grandes bilheterias do cinema brasileiro têm sido comédias, não é? Wagner Moura - A minha vontade é de fazer coisas populares. Por alguma razão, filmes que poderiam atrair muito público, como “Xingu” e “Serra Pelada”, não aconteceram. Não vejo isso como uma tendência do público a apenas ver comédias, pode ser uma contingência do momento. E a comédia é importante, não é menor que outros gêneros. É importante que o público se identifique com outras propostas, como o “Tropa de Elite” ou os filmes espíritas que fizeram sucesso, ou “2 Filhos de Francisco”. Os trabalhos que eu quero fazer, como o do Marighella, precisam ter conteúdo. Que eu considere artisticamente interessantes, me orgulhe de ter feito, mas que sejam comunicativos, que dialoguem com as pessoas. Eu tenho pouquíssimo interesse em fazer coisa cabeçuda para cineclube. Istoé - Como foi a experiência de trabalhar em Hollywood? Wagner Moura - Foi ótimo. O primeiro convite para trabalhar fora do Brasil que realmente me interessou. Era de um diretor cujo primeiro filme, “Distrito 9”, eu tinha gostado muito, uma história de segregação social misturada com ficção científica, um blockbuster hollywoodiano que não era uma bobagem… Havia muitas coisas novas e interessantes. Fiquei bem a fim de fazer. Mas, mais que tudo, o personagem que me ofereceram era muito bom. Foi uma aventura diferente das que eu estava acostumado, uma experiência boa que enriqueceu a minha vida. É dessas coisas que eu estou atrás. Istoé - Como entende as recentes manifestações de rua? Wagner Moura - Eu vi as manifestações como uma das coisas mais surpreendentes e interessantes que aconteceram na política brasileira desde que eu me entendo como cidadão. O que eu fiquei preocupado foi com a criminalização das manifestações. Foi um pouco assustador ver gente querendo ressuscitar a Lei de Segurança Nacional. É claro que ninguém quer ver quebradeira, mas prender um garoto que está na manifestação e enquadrá-lo como terrorista está errado. Os governantes se mostraram despreparados. Istoé - Os protestos podem atrapalhar a Copa? Wagner Moura - Eu quero ver a Copa, mas acho bom que haja manifestações contra o que ela representa e a forma como ela está sendo administrada. Os gastos públicos e a maneira precária como o Brasil está se preparando. Estádios atrasados, aeroportos caóticos, hotéis que vão ficar cheios. Essa Copa não está ocorrendo como deveria acontecer. Istoé - Como vê a experiência do Uruguai com a liberação da maconha? Wagner Moura - Eu acho ótimo. Isso vai trazer dividendos para o Uruguai. Muita gente está querendo ir morar lá, fazer negócios, passou a ser um foco no mundo. Mas os americanos também estão mudando. Dois Estados de lá estão legalizando e na Califórnia é permitido de forma medicinal. Não há muito como segurar. No Brasil, o que segura é a questão moral. Reprimir é uma coisa ineficaz. Gasta-se muito dinheiro, a guerra mata mais gente do que a droga em si. As drogas têm que ser vistas como questão de saúde pública. Um exemplo de como o Brasil trata o problema foi o que o (governador de São Paulo) Geraldo Alckmin (PSDB) fez na Cracolândia, mandando a polícia baixar a porrada. Dá porrada nos caras e tira eles dali: é assim que tratam a questão da droga. Istoé - Por que você é contra a hidrelétrica de Belo Monte? Wagner Moura - Tudo que se diz sobre energia hidrelétrica é sempre que é uma energia limpa, que não causa transtorno ao meio ambiente, o que é uma mentira. Não é igual a uma termelétrica, mas, para ser construída, o impacto ambiental é brutal. E não só isso, há o impacto na vida das pessoas. Todas as questões políticas que eu levanto, no fundo, afunilam e vão dar nos direitos humanos. Eu venho de uma cidade chamada Rodelas (Bahia), onde meus pais nasceram, que foi inundada pela barragem de Itaparica. Sei do que estou falando. Istoé - Sua família teve que se mudar por causa da barragem? Wagner Moura - Todo mundo teve que se mudar. A Companhia Hidro Elétrica do São Francisco (Chesf) indenizava as pessoas por conta das terras inundadas, mas elas ganhavam outro pedaço de terra que era totalmente diferente daquela que estavam acostumadas a cultivar. Primeiro, as pessoas ficaram felizes com as indenizações, mas, passada a euforia, o que se via era uma cidade com alto nível de alcoolismo, gente sem ter o que fazer, sem relação com o lugar e casas padronizadas. Dizem que a energia eólica e a solar não vão dar conta, mas o investimento nessas fontes é baixíssimo. Minha posição é um tanto utópica, mas por princípio não posso achar corretos certos projetos, ainda mais quando há a questão das terras indígenas. Istoé - Você está longe da tevê desde 2007. Não sente falta? Wagner Moura - O fato de eu estar afastado das novelas tem mais a ver com a minha vontade de aproveitar esse momento do cinema. Hoje em dia eu não tenho vontade de fazer uma novela, de ficar 11 meses fazendo uma coisa só, enquanto tem um monte de projetos no cinema acontecendo, um momento de grande diversidade e ebulição. Istoé - E programas mais curtos de tevê? Wagner Moura - Tenho um projeto com o diretor Luiz Fernando Carvalho, há mais de dois anos, de fazer a adaptação do livro “Dois Irmãos”, do Milton Hatoum, que é um livro lindo. Eu também adoro as coisas que ele faz na tevê. E esse projeto seguidamente é cancelado na Globo. O próprio (Carlos Henrique) Schröder (diretor-geral da emissora) me falou que ia acontecer. Eu estava muito animado, mas esbarrou com a novela que o Luiz Fernando está dirigindo e tiveram que adiar. Agora não sei mais se vão retomar. 3# COLUNISTAS 12.2.14 3#1 RICARDO BOECHAT 3#2 PAULO LIMA - SURURU 3#3 GISELE VITÓRIA 3#4 BRASIL CONFIDENCIAL 3#5 RICARDO ARNT - O POMBO AFOGADO 3#1 RICARDO BOECHAT Com Ronaldo Herdy Automobilismo O retorno A Petrobras vai voltar ao circo da Fórmula 1. E pelo mesmo endereço. Patrocinará a Williams, de Felipe Massa. O contrato inicial de um ano envolve parte em dinheiro e, principalmente, o fornecimento de combustível e lubrificantes. Na categoria é tudo muito rápido. Daí que a equipe inglesa pode ter ainda outro brasileiro em seu staff: Felipe Nasr, que corria na GP2, em 2013. Aos 22 anos, ele está perto de ser contratado como piloto de teste da escuderia. TSE Hora da decisão Está com Dilma Rousseff a lista tríplice para a escolha de um ministro substituto (vaga de advogado) para o TSE. A oito meses das eleições, o perfil dos candidatos tem peculiaridades: Tarcisio Vieira, ex-assessor jurídico no STF, é casado com uma das filhas do ministro aposentado do Supremo Ilmar Galvão; Alberto Pavi esteve em disputas anteriores e nunca venceu; e Joelson Dias ocupou o cargo, mas não foi reconduzido à época por suposta ligação com Erenice Guerra – que deixava sob tiroteio o gabinete da Casa Civil no Planalto. Minas Gerais Festa adiada Na segunda-feira 10, a campanha de Pimenta da Veiga à sucessão de Antonio Anastasia para o governo será lançada pelo PSDB. Para alguns políticos mineiros, o ex-ministro é o “poste de Aécio”, tendo morado muitos anos em Brasília, após ser ministro de FHC. A festa ficou para o dia 20 de fevereiro. Mensalão Aposentado fujão Condenado pelo STF e preso na quarta-feira 5 na Itália, Henrique Pizzolato ganha R$ 1,7 mil da Previdência Social. Todos os meses. O dinheiro sai do INSS desde 2006 e vai para a Previ, fundo de previdência dos funcionários do BB, que o repassa ao ex-diretor fugitivo. Ele foi condenado a 12 anos e sete meses mais multa de R$ 1,3 milhão. Se a aposentadoria for toda usada para quitar o débito, em 32 anos e três meses a conta zera. E Pizzolato terá 124 anos. Saúde Questão cultural Pacientes de dez Estados receberam doações de ossos captados em 2013 pelo Instituto Nacional de Traumaortopedia (Into), sediado no Rio de Janeiro. Distribuídos de graça, os 462 enxertos somaram 31 mil gramas de ossos. Uma única oferta pode beneficiar 30 pessoas. O Into tem equipe para captações diárias, mas em média faz duas por mês. Infelizmente, grande parte da população prefere ser cremada a doar os ossos. Literatura Nobre destino No que depender do jornalista Elio Gaspari, as caixas com mais de 15 mil itens que deram forma aos quatro livros que escreveu sobre a ditadura militar terão como destino no futuro o Arquivo Nacional – uma quinta obra está em produção. O jornalista diz que o material é de Heitor Ferreira, secretário de Ernesto Geisel e Golbery do Couto e Silva. Não crê, porém, que o amigo pedirá o material. A Coleção Ditadura, revista e ampliada e agora também em e-book, será relançada pela Editora Intrínseca no dia 19. Entre as novidades ao alcance dos olhos, uma reunião de Geisel com o Alto-Comando Militar. Nela, um ministro do Exército (Sylvio Frota) demonstrava não ter a menor ideia do que significava correção monetária. STF Vai começar Até a quinta-feira 13, o ministro Luiz Fux levará ao plenário do Supremo Tribunal Federal o primeiro embargo infringente de réu condenado na Ação Penal 470. Como relator, decidiu submeter um caso por sessão aos ministros, que em última instância decidirão sobre a manutenção ou não de punições e penas. Na prática, o acolhimento do recurso significará novo julgamento para 12 dos 25 punidos pelo STF. São Paulo Até no ônibus? Após investigar o cartel dos trens paulista, o Ministério Público vai mirar outra área do transporte público do Estado. O promotor Silvio Marques deu prazo até 13 de março para a Secretaria Estadual de Transportes e Logística e a Agência Reguladora de Serviços Públicos (Artesp) informarem em que pé andam as licitações para operar as linhas intermunicipais do Estado. As consecutivas prorrogações das concessões são consideradas ilegais pelo MP. Brasil No vermelho Na rede de comunicação interna do BNDES circulou um comunicado prevendo um colossal déficit no Fapes, o fundo de pensão dos funcionários do banco. O passivo atuarial começou na década de 80 e veio se agravando por atos como a unificação de dois planos de cargos e carreiras, entre 2007 e 2008, que acelerou a promoção de novos funcionários. O buraco era compensado em parte por aplicações financeiras lastreadas nos altos juros da economia. Como as taxas caíram, a fundação quer uma solução já. O banco não reconheceu ainda o tamanho da conta, que para uns pode chegar a R$ 3,5 bilhões. Só em 2013 o déficit estaria em R$ 956 milhões. STJ Saber direito Com os tribunais superiores em moda, vem do STJ a última novidade. O ministro Luis Felipe Salomão acaba de disponibilizar no site do tribunal todos os casos relevantes em que foi relator. Um deles diz respeito à obrigatoriedade de cliente de plano de saúde utilizar “home care”. Justiça Lá e cá O Brasil fez três solicitações de extradição de presos na Itália no ano passado. E recebeu outros três pedidos do gênero. Os processos ainda estão em exame nas duas cortes supremas dos dois países. Esporte Na pista Os Jogos Sul-Americanos, em março, em Santiago, no Chile, serão o primeiro grande desafio do pentatlo moderno brasileiro, no atual ciclo olímpico. Com a modalidade estreando no torneio, a nossa delegação de seis pentatletas será encabeçada pela medalhista Yane Marques, que até a Rio 2016 ainda terá pela frente o Pan de 2015, em Toronto, no Canadá. Copa Bola dentro Má notícia para a turba que pretende ir às ruas bradar contra a corrupção nas obras da Copa. Na última semana, o Tribunal de Contas da União (TCU) disse que está tudo certo com as verbas federais aplicadas na reforma do estádio do Maracanã. Segundo o ministro do tribunal Valmir Campelo, relator dos gastos do Tesouro nas obras das arenas, hoje as situações mais preocupantes são as do estádio do Atlético Paranaense, em Curitiba, da arena de Cuiabá e do Itaquerão, em São Paulo. Ainda assim, Campelo está convencido, diante das planilhas que tem acompanhado, de que todos os estádios estarão 100% ok bem antes de a bola rolar. Cinema Em cena Duas semanas de gravação com o protagonista compõem as primeiras horas de “Chico: o Artista e o Tempo”, produção de Miguel Faria Jr. Material inédito dos nove anos em que ele viveu na Itália chegou ao Rio de Janeiro – e seguem outras pesquisas naquele país. Mais radical na dramaturgia do que “Vinicius”, último filme documentário de Miguel Faria Jr., o novo trabalho terá pocket shows e lançamento em dezembro. RicardoBoechat Com Ronaldo Herdy 3#2 PAULO LIMA - SURURU Paulo Lima é fundador da editora e da revista Trip Com um ativismo ao mesmo tempo silencioso e estridente, Eduardo Srur vive fazendo arte. Em meio aos absurdos e fragmentos da cidade, Srur constrói o seu caminho Eduardo Srur tem uma urgência: ser visto e ouvido. Talvez não ele pessoalmente, mas suas ideias e seu desconforto com o que vê. O resultado são intervenções/manifestos artísticos nascidos da observação e do incômodo que brotam da sua relação com a cidade de São Paulo, o espaço público onde nasceu e que divide com outros quase 11 milhões de pessoas. Uma cidade que pode servir como exemplo de uma ocupação equivocada e pouco planejada e que acumula uma sucessão de erros urbanísticos impressionante, cujas consequências pulam por toda parte, como na hoje tão evidente dificuldade de locomoção, de carro, trem, metrô, ônibus, bicicleta e até mesmo a pé. Um aglomerado onde não se vê o horizonte, obstruído pelas torres dos edifícios. Onde o ar foi trocado por uma combinação de partículas de lixo, metais e outros compostos irrespiráveis e cada vez mais tóxicos e que assiste ao rio que a atravessa e em torno do qual surgiu, em vez de uma área de encontros e lazer ou mesmo um espaço para navegação e transporte, se transformar num depósito de dejetos estático, morto e fedorento. A sensibilidade de Srur é especialmente provocada pelo choque entre o lugar que habita e aquilo que vê quando se afasta dele. É na natureza que visita com certa frequência para surfar e lembrar de onde exatamente viemos que o artista/ativista/empreendedor encontra energia para criar. Depois de se formar em artes plásticas na Faap e começar a se expressar pintando, logo migrou para outro tipo de suporte: a intervenção urbana. O espaço de uma galeria não resolveria as questões que ele queria escancarar e discutir com a cidade inteira e, literalmente, com todo o mundo. A motivação principal era a ideia de devolver à vida os lugares, sentimentos e recursos que uma espécie de reprodução celular descontrolada se encarregou de necrosar na cidade. Eduardo queria seu trabalho visto por cidadãos comuns e também pelo poder público, chamar a atenção geral não só para os absurdos ambientais e estéticos que nos cercam, mas para um modelo de vida que se assemelha ao do viciado em drogas. Quando algo absolutamente desconectado do razoável, do real e do saudável parece normal e sob controle aos olhos de quem está, sob o jugo da dependência química, privado do poder de discernir. Tudo começou em 2002, quando Srur instalou dezenas de barracas de acampamento devidamente armadas e iluminadas por toda a extensão vertical de um prédio abandonado por dez anos na avenida Dr. Arnaldo onde deveria funcionar um hospital. Depois dessa vieram muitas outras, como as dúzias de caiaques que pôs para singrar as “águas” do rio Pinheiros carregando bonecos em escala humana vestidos com bonés e coletes coloridos, com remos nas mãos, que atolavam em grupos nas ilhas formadas pelo lixo acumulado no rio. Em seguida, fixou outras pencas de objetos, agora garrafas pet gigantes ao longo de toda a extensão das margens do rio Tietê. Em uma de suas intervenções, comprou briga com os organizadores da Cow Parade, considerado o maior evento de arte pública do mundo, quando concebeu e instalou um touro , “O Touro Bandido”, “cobrindo” duas das vacas expostas: “Para mim, a vaca ficou estéril como objeto de reflexão, e o touro fazia uma inseminação artística nela. Por tratar-se de uma ação não autorizada, tive de responder a um inquérito policial por ato obsceno, difamação e danos materiais, instaurado pelos organizadores do evento. Em minha defesa, reiterei que a arte não pode ser domesticável”, explica ele no site que mantém e onde se pode conhecer toda a extensão de seu trabalho (www.eduardosrur.com.br) Sua produção é grande, tanto em número de obras quanto em escala. A evidente vocação para empreender tem sido um componente fundamental. Mas, para realizar suas obras, ideias e habilidades plásticas, não basta. É quase tão importante ter ao alcance das mãos uma estrutura executiva para pedir autorizações, manobrar politicamente e buscar patrocínios. Assim surgiu a Attack, que, além de ser a produtora de suas intervenções artísticas, presta serviços para empresas que queiram promover ações de divulgação em diálogo direto com a cidade. No dia 25 de janeiro, Srur recebeu o Prêmio Cidadão Sustentável/categoria Intervenção Urbana. O projeto premia quem é referência em ações e soluções efetivas e inspiradoras para uma cidade que precisa de ajuda. A coluna de Paulo Lima, fundador da editora Trip, é publicada quinzenalmente 3#3 GISELE VITÓRIA Gisele Vitória é jornalista, diretora de núcleo das revistas ISTOÉ Gente, ISTOÉ Platinum e Menu e colunista de ISTOÉ Rainha do baile “Espelho, espelho meu, existe um pavão mais feminino do que eu?”, assim disse Luana Piovani ao se olhar no espelho na primeira prova de um dos vestidos que usará para ir ao Baile de Carnaval do Copacabana Palace, no posto de rainha. Assinado pelo estilista Henrique Filho, o modelito da foto traz penas verdes de pavão. Há três opções. “Tem outro forte candidato. É estruturado em pedras que dão um efeito de aurora boreal, sabe?”, contou o estilista. Para a cabeça, Luana se encantou com uma coroa de caveiras. “Bem surreais essas caveiras, não?”, diz. Com tema ligado ao dadaísmo, surrealismo e anos 1920, o baile do Copa é sábado 1º de março. “Carnaval, para mim, é sagrado. Sou intensa foliã.” Eco-roqueiro Axl Rose completou 52 anos na quarta-feira 6. Com a idade, o polêmico vocalista do Guns N’Roses passou a se preocupar com o meio-ambiente. Na sua lista de pedidos às produções dos shows que a banda fará no Brasil entre 20 de março e 3 de abril, Axl quer um cuidado especial com sua alimentação toda orgânica e com o material utilizado: pratos e talheres não podem ser descartáveis e todos os produtos devem ser recicláveis, com itens que promovam a consciência ambiental. No “Hospitality Room”, lugar reservado para a banda receber convidados antes e após os shows, só garrafas recicláveis. Bala Tempo de pesquisa O autor de novelas Walther Negrão e a atriz Suzana Pires, sua colaboradora, estão em Barcelona. Trabalham em pesquisas para a minissérie sobre Eny Cezarino, dona do maior bordel do Brasil nos anos 1960, para a Rede Globo. O autor ainda aproveita a viagem com a mulher, Orphila, e netos. Meus 16 anos Ela está no terceiro ano do ensino médio. Vai tirar título de eleitor. Namora um jovem de 19 anos. Sua mãe, a PM Claudia Garcia, é sua referência. Criou a modelo e três irmãos sozinha. Atual menina dos olhos da moda, Thairine Garcia acaba de ganhar sua alforria: fez 16 anos. E agora poderá desfilar no SP Fashion Week e no Fashion Rio. Thairine valoriza seus passos, agora na passarela. “Uma vez, era aniversário do meu irmão, ele pediu um pirulito de presente. Minha mãe não pôde comprar. Guardei essa história e hoje dou valor a cada centavo que ganho”, conta. Precocidade na carreira, na vida, no sexo... nada disso preocupa a futura top. “Respeito meu tempo”, resume. Na foto, posa para a marca TVZ. Dilma turbina PIB do Eleven, em Lisboa Pode estar difícil para Dilma Rousseff movimentar a economia brasileira, mas ela foi capaz de levar às alturas o PIB do restaurante Eleven, em Lisboa. Dez dias após a polêmica escala em Portugal, o movimento de brasileiros no restaurante com uma estrela no Michelin cresceu 30%, assegura Miguel Júdice, um dos 11 sócios e co-presidente do grupo Thema, do qual faz parte o Eleven. “Já no dia seguinte, recebemos vários pedidos de reserva de brasileiros que estavam em Portugal e não conheciam o restaurante”, diz. “Para nós foi muito bom, apesar dos problemas gerados para a presidenta depois. Mas aqui não fazemos política. Fazemos refeições.” E mais: todos agora querem “selfies” com o chef ­Joachim Koerper, tal como ele postou ao lado da presidenta. “Costumo passar pelo salão para cumprimentar os clientes. Nos últimos dias, os clientes brasileiros pedem fotos comigo”, anima-se o chef, também dono dos restaurantes Enotria e Enoteca Uno, no Rio. “Quem sabe não abrimos um negócio em São Paulo?” Joachim é casado com a chef paraense Cintia Koerper e vem ao Brasil a cada seis semanas. O menu vedete daquela noite era o de trufas pretas espanholas, que dura um mês e custa 170 euros. Mas Dilma degustou pratos portugueses. “Estava uma noite animada. Um grupo pequeno, agradável. Contaram piadas. Não sei porque tanta confusão. Foi só um jantar”, diz Joachim. Além do robalo, Dilma apreciou um porco (foto). No cardápio, o menu completo do porco custa 34 euros. O do robalo, 35 euros. Mas não equivale à conta presidencial, porque foram servidas meias porções e só pratos principais. Brasileiros que estavam no restaurante não viram a presidenta. Ela estava numa das salas privadas no andar de cima e saiu pela porta dos fundos. Mas, do salão principal, era possível identificar a voz presidencial no animado zum-zum-zum que vinha andar de cima. Até Dilma deixar o Eleven, ninguém confirmava que ela estava lá. Apenas “uma pessoa importante do Brasil”. Porco que Dilma degustou Segundo uma brasileira presente, ao primeiro sinal de que um cliente subiria para o banheiro – ao lado das salas privadas –, um rapaz de terno, notadamente um segurança, subia as escadas atrás. A uma cliente, chegou a indicar onde era o toalete feminino e minutos depois desceu para o salão principal. A presença de Dilma demarcou território na casa contemporânea com vista para o Tejo. “Não, ninguém ainda pediu o mesmo prato nem a mesma mesa. Mas todos têm a mesma vista e o mesmo chef.” A julgar pela descoberta dos brasileiros, Joachim concorda que o Eleven pode ser dividido em a.D. e d.D. – antes e depois de Dilma. 3#4 BRASIL CONFIDENCIAL POR CLAUDIO DANTAS SEQUEIRA (INTERINO) Em busca do sim ou do não A partir desta semana 20 empresas de comunicação que receberam R$ 73,8 milhões da DNA no chamado mensalão recebem uma notificação judicial que admite duas respostas. Ou confirmam a entrada do dinheiro, e inocentam réus acusados de desvio de recursos; ou dizem que os pagamentos são uma peça de ficção destinada a encobrir desvio de dinheiro, confirmando o que se disse no julgamento. Responsáveis pelo documento, os advogados de Ramon Hollerbach e Cristiano Paz, publicitários condenados a 29 e 26 anos de prisão, acreditam que as respostas irão auxiliar os clientes nos embargos onde contestam a denúncia de corrupção ativa. Em nove anos de processo, essas empresas nunca foram chamadas a confirmar ou desmentir a denúncia de desvio. Mudança de time O ministro Aloizio Mercadante tenta convencer a presidenta Dilma a trocar o líder do governo na Câmara, Arlindo Chinaglia. Mercadante defende a nomeação do petista José Guimarães, que mantém um bom diálogo com todos os líderes, em especial com Eduardo Cunha (PMDB). Chinaglia é hoje inimigo declarado de Cunha. Lobo tomando conta Dilma Rousseff aproveitou uma reunião marcada para discutir a participação do PDT na campanha de 2014 e pediu explicações ao presidente do partido e ex-ministro Carlos Lupi sobre a denúncia, publicada por ISTOÉ, de recebimento de propina. Lupi afirmou que foi alvo de fogo amigo, devido a uma disputa para comandar o Comitê de Fundo de Investimento do FGTS, que cuida de R$ 200 bilhões em recursos. Lupi apoiava o nome de João Graça para assumir o comando do comitê, denunciado no escândalo. Negócio milionário O sucessor do ministro Aguinaldo Ribeiro no Ministério das Cidades herdará uma bela polêmica. Depois que o Conselho Nacional de Trânsito (Contran) – órgão ligado à pasta – aprovou a obrigatoriedade dos simuladores de direção nas autoescolas, a Comissão de Fiscalização e Controle da Câmara resolveu discutir os critérios adotados para selecionar quem irá explorar um mercado de R$ 480 milhões. O País só tem uma empresa habilitada, mas os deputados acham que é muito cliente para um mercado só. Caderninho de Marina A ex-senadora e pré-candidata a vice-presidente Marina Silva não desgruda de sua cola para discursar. Nas entrevistas ou grandes eventos, como o lançamento do programa de governo do PSB/Rede no auditório Nereu Ramos, na terça-feira 4, Marina se guiou pelos detalhados registros, com temas divididos por etiquetas coloridas, para discursar. Siga o dinheiro... O Ministério Público Federal abriu ­investigação para identificar como quatro executivos do Banco do Nordeste conseguiram reunir US$ 1 milhão para pagar um escritório de advocacia num processo em que foram denunciados por fraudes superiores a R$ 1,2 bilhão no banco. Fora de controle O vice-presidente Michel Temer deve procurar Lula nos próximos dias para ele interferir e resolver o imbróglio da presidenta Dilma com o PMDB na reforma ministerial. Se nada for feito rapidamente, Temer acredita que nem a aliança com o PT de apoio à reeleição de Dilma venha a ser aprovada na convenção. Hoje, Temer está falando sozinho na defesa da presidenta nas reuniões do Jaburu. E a posição do deputado Eduardo Cunha de rompimento é quase consenso, transformando o ex-vice da Caixa Econômica Geddel Vieira Lima num conciliador, tamanha a fúria que prevalece no partido contra o Planalto. Empregado e empregador O ex-deputado e condenado da Ação Penal 470 Pedro Henry ganhou o direito de trabalhar no Hospital Santa Rosa, em Cuiabá. Para Henry, o emprego do regime semiaberto foi um presente. No hospital, ele está mais do que em casa. Henry é sócio de uma das clínicas do hospital, que oferece serviços particulares e atende pelo SUS. Quando era secretário de Saúde do Estado, a prefeitura da capital contratou a clínica e Henry por quase R$ 1 milhão. Toma lá dá cá Deputado Lira Maia (DEM-PA), parlamentar com base eleitoral em Pacajá (PA), município em que trabalhava a médica cubana Ramona Rodriguez. ISTOÉ – O sr. sabia da reclamação da médica cubana em Pacajá? Lira Maira – Soube pela imprensa, após a denúncia. A região é isolada, fica entre Marabá e Altamira, é vizinha de Anapu, onde mataram a irmã Dorothy Stang. ISTOÉ – O episódio da médica cubana ilustra um problema regional ou do Mais Médicos? Lira Maira – A Amazônia é laboratório, cada lugar é um lugar, uma história diferente. Só para você ter uma ideia, o nome do prefeito de Pacajá é Tonico Doido. O maior sonho de qualquer médico é sair de lá. No Mais Médicos, tem profissionais recebendo R$ 10 mil e os de Cuba recebendo menos. Isso nem é preconceito, é sacanagem mesmo. ISTOÉ – Os médicos no Norte têm remuneração baixa? Lira Maira – Muito pelo contrário. Para ter um médico no interior, os prefeitos têm que pagar pelo menos R$ 30 mil. Pagar R$ 30 mil para um médico, no Pará, é normal. Rápidas * Notável por críticas duras às togas mais conhecidas da Ação Penal 470, o jurista Celso Bandeira de Mello será um dos signatários do recurso contra o julgamento a ser apresentado à Corte Interamericana de Direitos Humanos. * Líder nas pesquisas para o governo do Amazonas, Eduardo Braga enfrentará uma campanha inédita na história do Estado. Será adversário do prefeito de Manaus e do governo estadual ao mesmo tempo. Em qualquer resultado, a campanha será um caso de estudo. Retrato falado “O Brasil tornou-se hoje a ‘universidade’ na redução da pobreza. Esperamos que continue assim” Sri Mulyani, economista que é numero 2 no Banco Mundial, em Washington, aproveitou os dez anos do aniversário do Bolsa Família para elogiar o desempenho do Brasil no combate à pobreza. Num encontro com Tereza Campelo, ministra do Desenvolvimento Social, Sri lembrou que já se foi o tempo em que o Brasil era chamado de “laboratório” no combate à pobreza. Golpe no forró Um dos mais famosos cantores de forró do momento no Brasil, Wesley Safadão queria ser candidato a deputado federal este ano. Procurou vários partidos e todos cobraram uma fortuna para aceitar sua filiação. Como achava que não precisava pagar para ser político, Wesley desistiu da candidatura até ser convidado a ingressar sem pagar o pedágio no Solidariedade pelas mãos do presidente nacional Paulinho da Força Sindical Ciência sem fronteiras, o genérico O PSB do governador de Pernambuco, Eduardo Campos, levanta o tom contra a presidenta Dilma Rousseff, mas dá roupagem nova a projetos populares do governo federal. Vários governadores do PSB desenvolvem propostas semelhantes ao Ciência sem Fronteiras, que paga bolsas para jovens estudarem no exterior. No Piauí, por exemplo, existe o Aprender é uma Viagem. Em ano eleitoral, o governador, Wilson Martins, vai pessoalmente ao aeroporto embarcar os estudantes. 3#5 RICARDO ARNT - O POMBO AFOGADO Ricardo Arnt é diretor da revista Planeta Dom Pedro II deixou 43 cadernos de diários reclamando do sacrifício que a monarquia lhe impunha. Mas quando virou rei o país estava se fragmentando e, quando foi deposto, estava consolidado.. Não é fácil defender as instituições num país que vaia até minuto de silêncio. Em meio a tantos cenários pessimistas, violência black bloc e ceticismo, há quem se distraia imaginando que, quando o PSDB, o PT e o PMDB tiverem passado, tal como a UDN, o PTB e o PSD, o pombo afogado de dom Pedro II virá assombrar a síndrome da bandalha nacional. Dois dias depois da Proclamação da República – o golpe que o povo “bestializado” tomou por uma parada militar no Rio de Janeiro –, dom Pedro II e comitiva partiram para o exílio na França sem esboçar reação, embora seus partidários insistissem que reagisse. O imperador mantinha-se “abúlico e fatalista”, escreveu José Murilo de Carvalho no excelente “D. Pedro II”, da coleção “Perfis Brasileiros” (Companhia das Letras). Não era para menos. Dom Pedro d’Alcântara nunca quis ser dom Pedro II. Era um intelectual apaixonado pelos livros, simpatizante da República, mas cumpriu seu dever com rigor e patriotismo austríacos governando 49 anos. Esse Habsburgo dos trópicos, de 1,90 metro, cabelos louros, olhos azuis e barba prematuramente embranquecida, chefe de um país de 9 milhões de mestiços e negros (a imensa maioria escravos), índios e alguns brancos, ficou órfão de mãe com 1 ano de idade, órfão de pai aos 9 (com a abdicação) e órfão de país aos 64 anos. Foi criado por um batalhão de regentes, tutores e governantas, junto com três irmãs. Aos 14 anos impuseram-lhe o cargo de imperador. Com 18, empurraram-lhe o matrimônio com dona Tereza Cristina de Bourbon, do reino das Duas Sicílias, noiva “mui bela” que ao chegar ao Rio revelou-se baixa, coxa, feia, inculta e mais velha. “Enganaram-me”, chorou o noivo. Mas cumpriu o acordo. Dom Pedro II deixou 43 cadernos de diário reclamando do sacrifício que a monarquia lhe impunha. Mas em 1840, quando virou rei, o país estava se fragmentando com as revoltas dos Farrapos, da Cabanagem, da Sabinada e da Balaiada, e quando foi deposto, em 1889, estava consolidado. O Brasil avança mesmo muito devagar (quase parando), mas o tráfico de escravos acabou extinto e a escravidão, abolida. A instabilidade política foi substituída por um sistema representativo e pela hegemonia do governo civil, contrastantes com o caudilhismo sul-americano. O país conquistou o respeito da Europa e dos americanos, consolidou seu território e venceu a nada fácil Guerra do Paraguai. Embora “sem povo”, a monarquia constitucional brasileira foi mais liberal do que muitas repúblicas castelhanas. Ainda assim, a incivil população carioca da época, que jamais poderia assimilar a pose europeia, tratou sua bonomia como fraqueza e pegou-lhe o apelido de “Pedro Banana”. Em 17 de novembro, o imperador e a família real partiram no navio Alagoas, rumo ao exílio, numa viagem triste, agravada pelos ataques de loucura, a bordo, do príncipe dom Pedro Augusto. Melancolicamente, o navio subiu a costa e, na altura de Pernambuco, tomou a direção da Europa. Ao passar pela ilha de Fernando de Noronha, os exilados decidiram soltar um pombo com uma mensagem de despedida de apenas uma palavra: “Saudade”. Infelizmente, o mensageiro tinha as asas podadas. Sob a vista de todos, caiu no mar e morreu afogado. Ricardo Arnt é diretor da revista Planeta 4# BRASIL 12.2.14 4#1 OS BASTIDORES DA PRISÃO DE PIZZOLATO 4#2 "NINGUÉM QUERIA DEIXAR O BRASIL. MAS ERA PRECISO ACHAR UMA SAÍDA" 4#3 AÉCIO MONTA SEU TIME 4#4 A NOVA MULHER DE FHC 4#1 OS BASTIDORES DA PRISÃO DE PIZZOLATO Conheça os detalhes que cercaram a fuga e a detenção pela polícia italiana do ex-diretor do Banco do Brasil, em Maranello, uma cidade de 15 mil habitantes na Itália Paulo Moreira Leite, Janaina Cesar, enviada especial a Modena (Itália), e Josie Jeronimo FIM DE LINHA - Na quarta-feira 5, Henrique Pizzolato foi encontrado pela polícia italiana em Maranello, na Itália, portando documentos do irmão Celso, morto há 36 anos Henrique Pizzolato – ex-diretor de marketing do Banco do Brasil e um dos condenados no processo do mensalão – tomou a decisão de fugir do Brasil, na noite de 9 de setembro de 2013, em sua espaçosa cobertura em Copacabana, no Rio de Janeiro. A fuga foi resolvida numa conversa entre três pessoas, logo depois que, por unanimidade, o plenário do Supremo Tribunal Federal decidiu rejeitar seus embargos declaratórios, a última chance de reduzir uma pena de 12 anos e 10 meses por peculato, corrupção passiva e lavagem de dinheiro. Agora, ele está recolhido em uma cela na Casa Circondariale di Modena, no norte da Itália, desde a última quarta-feira 5, quando foi encontrado pela polícia italiana no apartamento de um sobrinho, engenheiro da Ferrari. Entre os presentes na reunião em que Pizzo­lato decidiu deixar o País, na condição de foragido, estava a arquiteta Andrea Haas, mulher dele, pequena e enérgica, que passou os últimos oito anos debruçada sobre cada um dos documentos do processo do mensalão. Ela foi a que defendeu a fuga com mais veemência. Em entrevista exclusiva à ISTOÉ, além de contar detalhes da trama, Andrea Haas falou sobre as angústias, os medos e contou como foram os dias na Itália que antecederam à prisão de Pizzolato. “Quando começou tudo isso, a gente caiu num mundo que não conhecia. Não temos mais controle. O Henrique espera que a Justiça italiana seja mais correta e íntegra”, afirmou à ISTOÉ. (leia mais nas páginas 38 a 41) No encontro decisivo, em Copacabana, há cinco meses, com a voz rouca, Andrea , claro, ainda não sabia o que viria pela frente, embora todos estivessem cientes dos inegáveis riscos. Em dado momento, perguntou: “Vocês acham que temos chance de conseguir alguma coisa aqui?” Quem respondeu, no mesmo timbre, foi Alexandre Teixeira, terceiro presente no encontro, um sindicalista aliado de Pizzolato nas lutas no Banco do Brasil desde a década de 1980: “Do ponto de vista da Justiça, não há mais nada. Acabou.” Naqueles dias, réus que não tinham direito a apresentar recursos olhavam para o calendário. O ministro Joaquim Barbosa poderia expedir o mandado de prisão para que fossem levados imediatamente para a cadeia. Ou poderia aguardar a etapa seguinte, sobre a aceitação dos embargos infringentes, para tomar uma decisão envolvendo todos os condenados ao mesmo tempo. Quando Pizzolato deixou claro que não iria se manifestar, Andrea não perdeu tempo: “Vou falar como homem. É hora de colocar as cartas na mesa. Pizzolato precisa ir embora.” Alexandre achava que seria possível aguardar um pouco, mas Pizzolato decidiu acompanhar a mulher. A fuga acabou resolvida, assim, por 2 votos a 1, numa viagem de carro que teve início às 3 h da madrugada do mesmo dia. Incluiu uma dieta de água mineral, bananas e barra de cereal, para encerrar-se depois, em Dionizio Cerqueira, cidade de Santa Catarina na fronteira da Argentina. Naquele momento, o plano de deixar o País frequentava as conversas fechadas de outros condenados, surpreendidos pelas penas duras do STF. Vários amigos disseram a José Dirceu que ele deveria aprontar-se para fugir. Mas Dirceu tivera quatro votos favoráveis no item formação de quadrilha, o que dava esperanças de passar para o regime semiaberto quando os embargos infringentes fossem julgados. Condenado por unanimidade, Pizzolato era um réu em estado juridicamente terminal. A OPINIÃO DA MULHER ANDREA HAAS FOI DETERMINANTE PARA A FUGA DE PIZZOLATO DO BRASIL, DECIDIDA EM 9 DE SETEMBRO DE 2013 Namorados desde o tempo em que cursavam arquitetura, Pizzolato e Andrea passaram mais de 30 anos na vida sólida de um casal sem filhos para criar e múltiplos sobrinhos para cuidar. Mas tiveram uma crise conjugal feia, durante a CPMI dos Correios. A separação deixou tanto os Haas, gaúchos-alemães, como os Pizzolato, paranaenses-italianos, preocupados e inconsoláveis. Na reconciliação, ocorrida quando Pizzolato não tinha vontade de levantar-se da cama e era humilhado quando ia à padaria, Andrea deixou os afazeres para cuidar do marido. Seu pai, João Haas, advogado, tornou-se um militante em pesquisas sobre a Ação Penal 470, mergulhando em arquivos para procurar contradições e novidades e até publicou textos a respeito. Após viagens frequentes ao Exterior, Pizzolato e Andrea começaram a se desfazer de um patrimônio de 11 imóveis, formando reservas que seriam transferidas – por vias legais, segundo eles, – para fora do País. Certa vez, Pizzolato ouviu uma ideia alternativa: em vez de deixar o País, poderia residir clandestinamente nele, mas rejeitou a ideia imediatamente. Queria opções para chegar à Itália em segurança. Sem saber qual era a pessoa física a quem se destinava a consulta, um diplomata italiano do Rio de Janeiro sugeriu que, na hora de fugir, ele deixasse o País munido de sua carteira de identidade italiana e, em Assunção, providenciasse a documentação para entrar num voo internacional. Outra possibilidade surgida em conversas era recuperar os documentos de um irmão morto em 1978, Celso, e assumir sua identidade. Prudente ao extremo, Pizzolato fez segredo sobre a opção escolhida. A fuga de Pizzolato foi tão bem-sucedida, no início, que só seria descoberta em 16 de novembro, quando, em vez de apresentar-se à Polícia Federal, como os outros réus, ele divulgou uma carta na qual dizia que se encontrava na Itália, onde tentaria um novo julgamento, pelas autoridades locais. VIZINHOS DO SOBRINHO DE PIZZOLATO GARANTIRAM QUE ELE ESTAVA NA CASA DE MARANELLO HAVIA DOIS MESES Mas, desde então, o cerco a Pizzolato só se fechou. Sua localização foi facilitada quando, a pedido da Polícia Federal brasileira, autoridades argentinas localizaram um “Pizzolato” num voo Buenos Aires-Barcelona em 12 de setembro. O primeiro nome era Celso, e não Henrique, mas a foto tirada na passagem pela alfândega não deixava dúvida: era o condenado da Ação Penal 470 – até com seu bigodinho. Já na Europa, compras com cartão de crédito e outras operações permitiram à polícia italiana chegar cada vez mais perto, até que, na quarta-feira 5, ele foi encontrado e preso por volta das 11 h da manhã pela polícia italiana. Encontrava-se escondido na casa do sobrinho Fernando Grando, que fica na rua Vandelli, em Maranello, uma cidadezinha de 15 mil habitantes localizada na província de Modena. Com ele foram encontrados os documentos falsos, incluindo o passaporte apresentado à polícia contendo a identidade de seu irmão Celso, morto há 36 anos. Segundo o coronel Carlo Carrozzo, do departamento operacional de Modena, existiam muitas pistas sobre o paradeiro de Pizzolato. Inicialmente, acreditou-se que estava em Siena, mas era uma informação falsa. Depois, foi identificada uma casa alugada em Porto Venere, na Spezia, onde ele esteve por um determinado tempo. A casa foi alugada em nome de outra pessoa. Por pouco, Pizzolato não era preso lá. Isso só não ocorreu porque a polícia local não tinha certeza de que estivesse na cidade e não queria queimar uma oportunidade. Ainda de acordo com Carrozzo, não foi tão fácil confirmar que Pizzolato residia na casa do sobrinho. “O único movimento era o dele (sobrinho), que entrava e saía todos os dias para ir ao trabalho”, diz Carrozzo. A polícia, então, descobriu que os contadores de água e luz continuavam a funcionar, mesmo com o sobrinho de Pizzolato fora do imóvel. Foi aí que surgiu a ideia de cortar o fornecimento de luz. Naquele momento Andrea Haas, mulher de Pizzolato, abriu a janela e a polícia teve certeza de que estava lá. Segundo Stefano Falvo, comandante da polícia de Maranello, flagrado, Pizzolato ainda resistiu a assumir quem era de fato: “eu sou o Celso, eu sou o Celso”, afirmou. Após constatar que o haviam descoberto, o ex-diretor do Banco do Brasil percebeu que não teria outra saída senão confirmar a verdadeira identidade. Pela lei italiana o proprietário do imóvel deve estar presente no momento da averiguação da residência. Por isso, uma viatura da polícia ainda teve de buscar Fernando na Ferrari, antes de promover uma devassa no apartamento onde estava Pizzolato. Andrea Haas foi a primeira a ser levada para a estação da polícia. Assim que Fernando entrou em casa, Pizzolato também foi encaminhado à penitenciária. Somente neste momento, a polícia começou a perquisição no apartamento. No imóvel, foram encontrados 14 mil euros, duas malas de roupas, muita comida – como pasta, biscoitos, frutas e cerveja –, dois computadores com acesso à internet e uma dezena de documentos, alguns verdadeiros e outros falsos, entre eles carta de identidade italiana e brasileira, uma carteira de motorista feita na Espanha, alguns cartões de crédito e o passaporte falso. Pela apuração da polícia, fazia uma semana que Pizzolato se escondia na casa. Mas vizinhos ouvidos por ISTOÉ garantem que a estada já durava ao menos dois meses. O sobrinho, engenheiro da Ferrari, morava ali desde setembro do ano passado. Pizzolato no tempo em que esteve foragido na casa do sobrinho, não cumpria uma rotina. Saía pouco. “Ele parecia ser muito reservado, não chamava a atenção”, afirmou Giordana Ricchieri, uma das moradoras da vizinhança. Gaetano Ti., dono do supermercado Sigma, que fica em frente ao prédio do sobrinho de Pizzolato, diz que o brasileiro foragido fazia compras em seu estabelecimento desde outubro do ano passado. O fato de Pizzolato ter sido apanhado com passaporte do irmão, na Itália, pode ter influenciado na decisão da Justiça italiana, na sexta-feira 7, quando negou seu pedido para aguardar o julgamento da extradição em liberdade. Pelo retrospecto, no entanto, Pizzolato tem chances de obter o que pretendia ao chegar a Itália. Os dois países não costumam atender a pedidos de extradição quando envolvem pessoas que têm cidadania no local onde se refugiaram. O advogado Lorenzo Bergami, que defende Pizzolato na Itália, disse, na sexta-feira 7, que o ex-diretor do Banco do Brasil explicou à Justiça que foi condenado no Brasil em um “processo político”. 4#2 "NINGUÉM QUERIA DEIXAR O BRASIL. MAS ERA PRECISO ACHAR UMA SAÍDA" Mulher de Henrique Pizzolato recebe ISTOÉ em Modena, na Itália, fala sobre suas angústias, critica a Justiça brasileira e acusa o PT de nunca ter enfrentado o mensalão de frente Paulo Moreira Leite e Janaina Cesar, enviada especial a Modena (Itália) FIM DO SILÊNCIO - Andrea Haas, mulher do ex-diretor do Banco do Brasil Henrique Pizzolato, chega ao escritório de seu advogado na sexta-feira 7, horas antes de conceder a entrevista à ISTOÉ Em Modena, na Itália, eram cinco horas da tarde da sexta-feira 7 quando Andrea Haas, mulher do mensaleiro Henrique Pizzolato, terminou uma reunião com seus advogados. Ela acabara de receber a notícia de que o marido permaneceria na cadeia, pois o pedido de liberdade provisória lhe fora negado. Ali mesmo, no escritório, concordou em receber a reportagem de ISTOÉ. Nos primeiros dez minutos da entrevista, Andrea quase não conseguia articular as respostas. Suas mãos tremiam – fruto do nervosismo provocado pela constatação de que o plano de fuga do ex-diretor de marketing do Banco do Brasil deu errado. E a certeza de que a Justiça italiana o trataria melhor do que STF também já não era a mesma. O posicionamento de Andrea foi determinante na decisão de Pizzolato deixar o Brasil. Durante a entrevista, ela reafirma que não vislumbraram outra saída a não ser fugir do País. Andrea, no entanto, se recusou a esclarecer como foram falsificados os documentos usados por Pizzolato, não comentou sobre a situação financeira do casal na Europa e nem explicou por que razão ele votou em nome do irmão nas eleições de 2008, quando a prisão dos mensaleiros ainda não estava na agenda política brasileira. A tensão de Andrea só diminuiu quando ela começou a comentar a atuação do marido no Banco do Brasil e a criticar os ministros do STF. ISTOÉ – Vocês imaginavam que essa prisão pudesse ocorrer agora? Andrea Haas – Não. Não estávamos esperando por isso. ISTOÉ – Mas a televisão mostrou que vocês ficavam com as luzes apagadas, com janelas fechadas, como se estivessem sabendo que poderiam estar sendo monitorados. Andrea – As pessoas esquecem que estamos no inverno e por isso as janelas ficavam fechadas. ISTOÉ – Por que vocês decidiram fugir do Brasil? Andrea – Isso aconteceu quando ficou claro que não havia mais saída jurídica para nós. É claro que, se fosse possível escolher, não queríamos sair do Brasil. Ninguém queria deixar o País. Mas era preciso achar uma saída. Temos um monte de sobrinhos e queríamos ver o crescimento de todos eles. Também gostamos de morar no Brasil, de encontrar os amigos. Nossa vida está lá. Mas eu aprendi com meu pai que não podemos nos submeter. Nós não podemos nos submeter aos erros da justiça brasileira. Podemos até morrer, mas não podemos deixar de procurar uma saída, porque sempre existe uma saída na vida. Por isso decidimos sair do Brasil. Querem roubar nossa dignidade. Queremos uma saída. Queremos sobreviver. Temos esse direito. ISTOÉ – A senhora acha que a Justiça italiana será melhor para Henrique Pizzolato do que a brasileira? Andrea – Não sei. Não conheço. Até agora o governo brasileiro não enviou o pedido de extradição. Não sabemos o que vai acontecer, pois é a partir daí que as coisas podem se mexer. Mas já vi uma diferença importante. "Querem roubar nossa dignidade. Queremos sobreviver. Temos esse direito” ISTOÉ – Qual? Andrea – Na Itália os julgamentos não são televisionados. São feitos por três juízes, a portas fechadas. ISTOÉ – Por que isso seria bom, no entendimento da senhora? Andrea – As pessoas falam no Brasil que a televisão no julgamento é algo democrático, mas não é nada disso. Ela mostra os ministros falando, mas não mostra os documentos. Não mostravam as provas, o que estava por trás daquilo. Então era só um lado. Que transparência é essa? É uma grande hipocrisia. O Henrique (Pizzolato) deu um depoimento televisionado pela TV. Foi um espetáculo. Só isso. ISTOÉ – Como a senhora se sente depois da prisão de Pizzolato? Andrea – Eu me sinto arrasada. Você deixa de ser dono da sua vida. O Henrique está angustiado e decepcionado. Esperamos que justiça italiana seja mais correta e íntegra. Na União Européia, os direitos humanos e o amplo direito de defesa são garantias fundamentais. Hoje, a vida do Henrique não é mais dele. Quem manda em tua vida são os advogados, os juízes, os jornalistas. Quando começou tudo isso, a gente caiu num mundo que não conhecia, não temos mais controle. Você descobre que a verdade pouco importa. O que importa são os interesses políticos, o interesse material. É uma grande angústia, uma grande decepção. "O Henrique pizzolato sempre foi CDF. Sempre fez tudo direitinho e certinho” ISTOÉ – Você se sentiram sozinhos nos dias que antecederam à prisão? Andrea – O tempo inteiro. Não me sinto abandonada porque, apesar de tudo, não sou vítima. Olhamos para a frente. Estamos enfrentando todos os obstáculos. Conseguimos sobreviver. Todo o dia eu tenho que convencer as pessoas. Tento mostrar o que aconteceu, mas é como se estivesse diante de uma avalanche de mentiras. Isso não é viver. Ninguém quer perder 5 minutos de seu tempo para saber a verdade. ISTOÉ – Como a senhora avalia o comportamento do PT em relação ao Henrique Pizzolato durante julgamento do mensalão? Andrea – Eu acho que ao longo do julgamento muitas pessoas fingiam não ver o que estava acontecendo. Elas achavam que não seriam atingidas e não queiram se envolver. Eu também ajudei a formar esse partido. Mas eu acho que o PT nunca soube enfrentar esse processo de frente. Deixou-se carimbar. "O PT nunca soube enfrentar esse processo de frente. Deixou-se carimbar” ISTOÉ – De uma forma ou de outra, a senhora teve contato com advogados, com pessoas que entendem de Direito. Quais impressões eles têm do julgamento do mensalão? Andrea – Eles estão muito impressionados com o fato de que os réus não puderam ter um segundo grau de jurisdição. Isso é o que mais incomoda. Este é um direito que existe no mundo inteiro. Quando ouvem falar sobre isso eles dizem que é muito estranho. Um outro ponto que incomoda é a noção de que foi um julgamento político. ISTOÉ – Mas no julgamento no STF, alguns ministros disseram que os embargos poderiam ser considerados um segundo julgamento... Andrea – O Henrique só teve direito aos embargos de declaração. Isso aconteceu com outros réus também. Toda vez em que se tentava questionar o mérito de alguma decisão, um juiz dizia que essa fase já havia passado e ponto final. Se não dava para julgar o mérito, como se poderia dizer que eram uma revisão? E foi apenas isso que o Henrique pode apresentar. ISTOÉ – O que mais incomodou no julgamento? Andrea – O Henrique sempre foi um C. D. F. Sempre fez tudo direitinho e certinho. É um sujeito organizado. Você pode ver a história dele. De repente ele está preso, acusado de ter desviado R$ 73 milhões do Banco do Brasil... "O Pizzolato não mudou as regras do marketing para favorecer o PT” ISTOÉ – A senhora poderia explicar o que, em sua avaliação, há de errado nessa acusação? Andrea – Não houve desvio. Basta ler a auditoria do Banco do Brasil para concluir que não houve desvio. Os gastos declarados foram feitos. Estão lá, com recibos e notas fiscais. E são gastos com empresas de comunicação, com publicidade que saiu na televisão, nos jornais, nas revistas. A auditoria mostra qual veículo recebeu tal verba, qual veículo recebeu a outra verba. Se não fosse verdade, eles poderiam ter denunciado a fraude. Mas os anúncios estão lá, foram publicados. Você acha que se alguém tivesse desviado R$ 73 milhões de reais da Visa, empresa que é dona do Fundo Visanet, ela não teria aberto uma investigação para apurar o que tinha acontecido? Você acha que se tivessem sumido R$ 73 milhões do Banco do Brasil não teria sido aberto um inquérito interno para se apurar o que tinha acontecido? ISTOÉ – Mas como ministros que estudaram tanto o caso puderam errar como a senhora diz? Andrea – O Joaquim Barbosa citou uma auditoria de 2004 para dizer que o Henrique mudou algumas regras no marketing. Você ouve a colocação dele e tem certeza de que essa mudança foi feita para piorar o controle, para favorecer o PT. Mas é não é verdade. O Pizzolato não mudou as regras do marketing para favorecer o PT. A auditoria elogia o trabalho do Henrique. Fala que depois das mudanças que promoveu, os procedimentos ficaram melhores, o controle ficou mais eficiente. Teve um ministro que disse que o ônus da prova cabe ao acusado. Era tão absurdo, tão primário para se dizer num julgamento, que achou melhor suprimir a frase nos acórdãos. Também se disse que, embora não tivesse apoio em provas, era possível condenar um dos réus com base naquilo que diz a literatura jurídica. A discussão sobre gastos públicos foi e voltou na sentença de muitos juízes. 4#3 AÉCIO MONTA SEU TIME A oito meses das eleições, pré-candidato tucano começa a definir os principais nomes que integrarão seu staff eleitoral Claudio Dantas (claudiodantas@istoe.com.br) PLANO DE VOO - No próximo mês, em solenidade em São Paulo, Aécio Neves apresentará sua plataforma eleitoral Preocupado em largar na frente na corrida eleitoral, o pré-candidato tucano à Presidência Aécio Neves se antecipa na formação do time que levará para a campanha. Na última semana, o senador de Minas Gerais começou a escalar nomes para compor a sua equipe eleitoral. Parte de seu staff ficará responsável por alinhavar o programa de governo, que será apresentado junto ao lançamento oficial de sua candidatura dentro de apenas um mês, em São Paulo. Os demais integrantes cuidarão dos palanques, da articulação política, da mobilização nas redes sociais e do contato com empresários. Uma inovação da campanha de Aécio se dará na área do marketing. Numa tentativa de se diferenciar do PT, que nas últimas três eleições contratou a peso de ouro figuras consagradas do marketing político, como Duda Mendonça e João Santana, Aécio decidiu não adotar a figura do marqueteiro. Preferiu montar um conselho com a presença de figuras de proa de agências de publicidade e produtoras de tevê. Paulo Vasconcelos, que já trabalhou em campanhas anteriores do próprio Aécio, vai integrar o colegiado, mas sem cargo de comando. “As decisões serão tomadas em conjunto, de forma democrática, respeitando as diferentes opiniões e experiências. Esperamos atingir um eleitorado mais amplo e diverso, como é o brasileiro, sem clichês e estereótipos”, diz à ISTOÉ um dirigente tucano. Essa descentralização das atividades também ocorrerá na coordenação da campanha, que terá um representante para cada região do País. A região Nordeste ficará a cargo do senador Cássio Cunha Lima (PB). O governador do Paraná, Beto Richa, cuidará do Sul, enquanto a região Norte estará sob a batuta do prefeito de Manaus, Arthur Virgílio Neto. A exceção é a região Sudeste. Devido a seu peso eleitoral, terá um coordenador para cada Estado. A coordenação-geral, considerada pelos tucanos como o “primeiro time” de Aécio, será formada pelo governador de Minas Gerais, Antonio Anastasia, e pela irmã Andréa Neves, que também ficará responsável pela Comunicação e relação com a imprensa. O senador Aloysio Nunes Ferreira, provável vice na chapa, é outro que integrará esse time de coordenadores, atendendo a uma reivindicação de José Serra, que sempre quis ver o aliado num dos postos-chave da campanha tucana ao Planalto. Em razão de seu perfil político, o senador cuidará dos palanques regionais e de sua articulação com o comitê central. Principal aliado de Aécio em Minas Gerais, Anastasia ficará encarregado de formatar o programa de governo. Os nomes que irão ajudá-lo nesse processo de alinhavar o que Aécio chama de “projeto alternativo para o País” foram separados por áreas. Para cada setor, Aécio designou um especialista. Para propor um novo modelo de saúde pública, chamou Barjas Negri, ex-ministro da Saúde de FHC. Também ligado a Serra, Negri é um crítico do programa Mais Médicos de Dilma. Nos últimos dias, Negri, acompanhado de Aécio, reuniu-se com Giovanni Cerri, da Faculdade de Medicina da USP, e Gonzalo Vecina, do hospital Sírio-Libanês. Na área de segurança pública, o nome escolhido pelos tucanos é o do professor da UFMG Claudio Beato, diretor do Centro de Estudos em Criminalidade e Segurança Pública. Beato defende, entre outras propostas, a desmilitarização das estruturas policiais e a instituição de uma carreira única de polícia. No meio ambiente, trabalham em parceria o consultor Fábio Feldman e o engenheiro José Carlos Carvalho, outro ex-ministro de Fernando Henrique. O ex-presidente também indicou a Aécio os embaixadores aposentados Rubens Barbosa e Celso Lafer. Eles defendem uma nova atuação internacional do Brasil, que priorize o comércio exterior e a retomada da confiança dos investidores externos, além da defesa intransigente dos direitos humanos – um recado direto ao apoio das gestões petistas ao regime cubano de Fidel Castro. Na economia, embora tenha imprimido um tom mais liberal em seus discursos, ainda não está muito claro para onde Aécio irá caminhar. Para propor soluções na política econômica, área considerada pelos tucanos como o “calcanhar de aquiles” do governo Dilma, Aécio recorreu a velhos colaboradores de FHC de pensamentos opostos: o ex-presidente do BC Armínio Fraga e o ex-secretário de Política Econômica José Roberto Mendonça de Barros. Por ora, Armínio já cumpre um importante papel: é ele quem faz a interlocução de Aécio com empresários e banqueiros. À equipe, também foram agregados dois jovens economistas que trabalharam para Tasso Jereissati: Samuel Pessoa e Mansueto Almeida. O primeiro, além de economista, é físico, formado pela USP, professor da FGV, um dos fundadores da Tendências Consultoria e hoje sócio da Reliance, uma gestora de recursos privados. O segundo é mestre em economia também pela USP, assessorou Pedro Malan e atua no Ipea. Na área social, a campanha de Aécio tem como objetivo reforçar a ideia de que os tucanos foram os pioneiros de programas de inclusão, com a criação do Bolsa Escola, ampliado depois pelo PT para o Bolsa Família. Este capítulo, ficará a cargo do deputado Eduardo Barbosa (PSDB/PR) e da senadora Rita Camata (PSDB/ES). Eles trabalharão, nos próximos dias, na coleta de sugestões para políticas públicas na área de educação e assistência social, incluídos aí os programas de inclusão e distribuição de renda. Para se contrapor aos chamados guerrilheiros virtuais do PT, a coordenação da campanha de Aécio na internet será exercida pelo ex-deputado Xico Graziano. O engenheiro agrônomo, que teve papel importante na candidatura de José Serra em 2010, é diretor-executivo do site Observador Político, do Instituto Fernando Henrique Cardoso (IFHC). Sem histórico de atuação em redes sociais, Graziano tem feito consultas no mercado para montar uma equipe capaz de rivalizar com o PT num terreno que a cada eleição ganha muita força. 4#4 A NOVA MULHER DE FHC Patrícia Kundrát é 46 anos mais nova que Fernando Henrique e conta com a admiração dos amigos e dos filhos do ex-presidente. E, mesmo após assinar o contrato de união estável, o casal mora em apartamentos separados Mário Simas Filho Dedicada, ciumenta, impositiva, vaidosa na medida certa e muito, muito discreta. É dessa forma que boa parte dos amigos do ex-presidente costuma se referir a Patrícia Kundrát, a nova mulher de Fernando Henrique Cardoso. Ex-secretária-executiva do Instituto FHC, Patrícia tem 36 anos, dedica-se a temas sociais como o problema das drogas, mas faz questão de não emitir publicamente suas posições políticas. Essa postura, somada à forma como conduziu o namoro, que teve início em 2011, e oficializou sua união com o ex-presidente de 82 anos na quarta-feira 29, explica por que os amigos insistem em defini-la como discreta. Apenas dois advogados e um escrivão compareceram ao apartamento de FHC para que fosse assinado o registro da união estável. Os três filhos de Fernando Henrique foram consultados antes e aprovaram o novo casamento do pai. Os amigos do casal, mesmo os mais íntimos, só souberam que o namoro se transformara em união estável depois que o documento já estava assinado. Mas não se surpreenderam. “Foi assim quando começaram a namorar. Eles não costumam dar sinais”, disse à ISTOÉ, na quinta-feira 6, um ex-ministro e frequentador do apartamento de FHC em São Paulo. Os que visitam a casa de campo de Fernando Henrique em Ibiúna (SP) também não se mostraram surpresos com a união. “Acho ótimo que eles tenham oficializado o relacionamento. Foi muito bom para ele, que estava precisando de uma companhia”, disse Maria Helena Gregori. O “CARA” E A “AMORE” -É assim que FHC e Patrícia se tratam quando estão com os amigos mais íntimos O contrato assinado diante do escrivão não mudou em nada o cotidiano de um casal que nem de longe lembra as relações mais convencionais. E a diferença de idade é apenas um detalhe dessa relação que os amigos definem como “absolutamente moderna”. Fernando e Patrícia nem sequer dividem o mesmo apartamento. É verdade que ambos residem no mesmo bairro de Higienópolis, se veem diariamente, jantam fora pelo menos uma vez por semana e sempre que possível viajam juntos, seja para o Rio de Janeiro, onde o ex-presidente adquiriu um apartamento recentemente, seja para a Europa. É a gestão dessa vida comum em apartamentos separados que os amigos mais próximos do casal usam para atribuir a Patrícia predicados de dedicada, mas também de impositiva. “Ela sempre foi muito dedicada a ele. No começo, no Instituto, a dedicação era profissional. Com o namoro, passou a ser mais pessoal. É ela quem agenda os médicos, marca os exames, controla de perto a alimentação de FHC e exige que ele faça musculação três vezes por semana”, conta uma ex-deputada tucana muito próxima do ex-presidente. A Patrícia impositiva surge na hora das compras. Desde que o namoro dos dois se tornou público depois que foram vistos passeando de mãos dadas em um shopping de Miami, nos EUA, é Patrícia quem faz todas as compras para o apartamento de FHC. “Ela faz o supermercado, a feira e a lista das compras. Controla tudo com muito rigor e tem o costume de repreendê-lo, mesmo diante dos amigos, quando considera que ele esteja abusando de alguma alimentação ou bebida”, disse um ex-parlamentar que, quando está em São Paulo, costuma jogar pôquer com o ex-presidente. Patrícia é quem agenda os médicos, marca os exames e exige que Fernando Henrique faça musculação pelo menos três vezes por semana Como diz o governador paulista, Geraldo Alckmin, apesar dos 82 anos, FHC é de longe o tucano mais moderno do País. E, exatamente por isso, os velhos companheiros dizem não estranhar quando o encontram ao lado de uma mulher que por vez tinge mechas coloridas nos cabelos, carrega uma tatuagem na nuca e não faz cerimônia se precisar se sentar no chão durante uma conversa. O jeitão despojado, no entanto, não esconde o que uma antiga funcionária do Instituto FHC chama de “vaidade na medida certa”. Essa amiga, que tem muito mais intimidade com Patrícia do que com Fernando, lembra que, um mês antes de o ex-presidente tomar posse na Academia Brasileira de Letras, ela passou dez dias em um spa no interior de São Paulo. “Queria perder uns quilinhos antes da cerimônia”, recorda-se a amiga, que também diz já ter ouvido várias vezes reclamações sobre o assédio em torno do ex-presidente. Diante dos mais íntimos, ela o chama de “o cara”. E ele a chama de “amore”. Divergência que os amigos observaram entre o casal, segundo um frequentador da casa de campo, está apenas no fato de Patrícia não ter conseguido se livrar do vício do cigarro. 5# COMPORTAMENTO 12.2.14 5#1 COMO MUDAR DE EMPREGO EM 2014 5#2 OS JUSTICEIROS DA ZONA SUL 5#3 O INFERNO DE WOODY ALLEN 5#4 A COPA NAS MÃOS DE PETRAGLIA 5#5 BRASIL, A CAPITAL DO TÊNIS 5#1 COMO MUDAR DE EMPREGO EM 2014 Pesquisas mostram que mais de 80% das pessoas desejam trocar de trabalho neste ano. ISTOÉ ouviu especialistas em recursos humanos, coaches, psicólogos e consultores profissionais que mostram como fazer essa transição com segurança João Loes e Camila Brandalise Não são poucas as pesquisas que indicam uma alta no desejo do brasileiro de mudar de emprego em 2014. Todas apontam índices que mostram a presença dessa vontade em pelo menos 50% da população empregada, sendo que os estudos com os índices mais elevados batem os 80%, como é o caso do que foi calculado pela Consultoria Boucinhas&Campos. Esse estudo, aliás, mostrou que nada menos do que 73% dos que queriam mudar em 2014 começariam logo a busca. “O desejo de mudança é real, mas, de maneira geral, aflora com mais força na virada do ano”, diz Leila Nascimento, presidente da Associação Brasileira de Recursos Humanos, seção de São Paulo. O momento é propício por ser uma época em que todos fazem não só um balanço do que deu certo e errado no ano que se encerra, mas também planos para o que está para começar. Para garantir que a ânsia de trocar de emprego não desapareça como mais uma promessa de fim de ano, há um longo caminho a ser percorrido. Porque reclamar do trabalho atual e prometer que “deste ano não passa” é fácil. Já mudar de verdade... Segundo estimativas de seis especialistas ouvidos por ISTOÉ, mesmo com a economia aquecida e os baixíssimos índices de desemprego, apenas cerca de 25% dos que manifestam a vontade de mudar conseguem, efetivamente, concretizar essa troca. Mas nada é impossível. Os especialistas ajudaram ISTOÉ a elaborar cinco passos para garantir a transição de quem está comprometido com um projeto de mudança profissional e de vida. Não importa se as vagas estão no campo ou na cidade (leia quadro na página 62), se são no alto ou no baixo escalão e se são motivadas pelo de desejo de melhor remuneração ou de mais qualidade de vida – como deseja, aliás, mais da metade das pessoas que pretendem trocar de emprego em 2014. O guia é universal e traz ainda histórias inspiradoras de pessoas que arriscaram e mudaram suas vidas. Confira. 1. Crie um cronograma Em um mercado de emprego aquecido como o brasileiro, em que as opções de um novo trabalho parecem mais numerosas do que nunca, é fácil se deixar levar pela empolgação e agir por impulso. O impulso, porém, é o grande inimigo das boas decisões. Por isso, ao identificar o desejo de mudança de emprego, é fundamental sentar com calma e criar um cronograma para garantir que a transição aconteça da maneira mais proveitosa possível. E, para todos os especialistas ouvidos por ISTOÉ, o primeiro passo nesse cronograma deve ser entender o que motiva o desejo de mudança. “Muitos mudam pelas razões erradas”, alerta Sandra Loureiro, professora do curso de administração da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP) e orientadora profissional. Entre atribuir a infelicidade de uma vida a um casamento em frangalhos ou à insatisfação com o dia a dia na cidade, vários preferem jogar toda a insatisfação no trabalho. Afinal, mesmo sendo difícil de resolver, trocar de emprego é mais fácil que trocar de cônjuge ou de cidade. Mas se a frustração realmente for com a função atual, o passo seguinte é criar um arquivo no computador, uma agenda convencional ou mesmo um simples caderno para programar cada passo dessa mudança, dos cursos à formulação do currículo. 2. Procure um mentor Segundo estimativas de especialistas ouvidos por ISTOÉ, apenas 25% dos que dizem querer mudar de emprego efetivamente o fazem. E não é por falta de vontade que a mudança não acontece – muitos não conseguem fazer a troca por pura falta de organização. Ter um mentor, nesses casos, ajuda muito. Pode ser um coach ou um amigo mais experiente e de confiança não só para dar apoio quando as coisas apertarem ou atrasarem, mas também para oferecer uma perspectiva mais objetiva e menos apaixonada do processo de transição. “Perder o foco durante a mudança também é muito comum, e uma pessoa de fora consegue perceber esse distanciamento do objetivo inicial com mais clareza”, afirma Fátima Motta, coach, sócia-diretora da F&M Consultores. Sem contar que o coach pode acompanhar o candidato depois que o processo de transição for concluído. Afinal, na nova empresa, estabelecer metas e desenvolver ferramentas para atingi-las continuará sendo importante. Além do mais, muitas vezes, as mudanças de emprego implicam não apenas uma alteração na rotina de trabalho, mas também a adoção de um novo estilo de vida. Para os coaches ouvidos por ISTOÉ, muitos dos que querem um novo cargo esquecem de que eles também precisam mudar para deslanchar na nova fase da vida profissional. 3. Invista em qualificação de curto prazo Quem quer mudar de emprego e de área precisa desenvolver novas habilidades. Mas nem todos têm paciência ou dispõem de dois ou quatro anos para fazer uma nova faculdade ou um curso mais extenso antes de mudar de ramo. Para esses casos, há um verdadeiro universo de cursos de curta duração que dão boas noções de habilidades que, uma vez conquistada a vaga, serão refinadas pela prática do dia a dia. Aos que conseguiram se organizar para esperar alguns meses antes de começar a procura por um novo trabalho, há cursos de fim de semana, e até de férias, que dão noções de gestão de pessoas, contabilidade básica, administração de pequena empresa e liderança. “São aulas bastante direcionadas e eficientes que cobrem um bom conteúdo em pouco tempo”, afirma Fátima, da F&M Consultores. Quem deixou tudo para a última hora ainda pode recorrer aos cursos online, oferecidos atualmente por instituições de ponta e com horário mais flexível. 4. Use a internet como sua aliada Em tempos de bancos de emprego virtuais e redes sociais, com poucos cliques é possível entrar em até 30 processos seletivos simultaneamente e anunciar, a mil ou duas mil pessoas, o desejo de mudar. O lado ruim de tanta facilidade é que fica igualmente fácil o candidato perder os critérios e entrar em seleções para vagas que pouco ou nada têm a ver com o seu perfil. “Já vi engenheiro tentando vaga em educação física sem ter qualquer tipo de formação para isso”, diz Caio Infante, diretor-geral da Trabalhando.com. Com currículo pronto, muitos fazem uma espécie de spam e se inscrevem para disputar o maior número de vagas possível, indiscriminadamente. “E não dava nem para falar que esse engenheiro estava infeliz com a engenharia”, afirma Infante. “Sinto que essas coisas acontecem mais porque é muito fácil fazer mau uso dessas ferramentas.” O jeito certo de usar a internet é trocar as horas gastas navegando atrás de vagas inviávies nos bancos de emprego por tempo investido na elaboração de um currículo melhor e na familiarização com a área de atuação das empresas nas quais se pretende tentar uma oportunidade. A internet, nesse sentido, é uma ferramenta incomparável. Quase todas as grandes companhias têm sites bastante completos. Com as informações que eles oferecem, o candidato consegue elaborar um currículo mais alinhado às aptidões exigidas pela empresa pretendida (leia quadro sobre o currículo ideal na página 60). E pelas redes sociais, retoma o contato com colegas de profissão que podem dar um retrato melhor de como está o mercado, quanto se ganha, quanto se trabalha, se há boas vagas disponíveis e onde elas estão. 5. Mantenha ou melhore a produtividade no emprego atual Ninguém busca um novo emprego porque se sente feliz e realizado onde está. A insatisfação, seja com o salário, com o volume de trabalho ou com a chefia, costuma ser a grande motivadora de mudanças nessa área. Mas isso não é razão para descuidar do desempenho no emprego atual durante a busca por uma nova colocação. Afinal, essa procura pode ser demorada e fazê-la empregado será sempre mais confortável. Além do mais, de acordo com os especialistas ouvidos por ISTOÉ, quem está empregado costuma ter melhores condições para avaliar uma nova oportunidade de trabalho do que quem está desempregado. A lógica é que quem já não recebe salário há alguns meses e vê, dia após dia, as contas se acumulando está mais propenso a aceitar ofertas que em condições normais seriam refutadas. Mas só continuar empregado não basta. O ideal é aumentar a produtividade antes da saída. Ou seja, correr atrás de trabalho, se envolver em novos projetos e participar ativamente da vida da empresa. Mais do que deixar as portas abertas para um eventual retorno, mostrar serviço antes de partir é garantir uma carta de recomendação e deixar uma marca que, não raro, se espalha pelo mercado. 5#2 OS JUSTICEIROS DA ZONA SUL Como agem os grupos de jovens da classe média carioca que destilam ódio na internet e resolvem fazer Justiça com as próprias mãos contra menores infratores e assaltantes Michel Alecrim (michel.alecrim@istoe.com.br) No dia 9 de janeiro, um jovem carioca anunciou no Twitter: “Novo esporte dos amigos, caçar vagabundo roubando pra meter a porrada!”. Quase um mês depois, o autor da frase, o estudante Lucas Corrêa Pinto Felício, de 20 anos, estava detido na 9ª Delegacia de Polícia (Catete) junto com outros 13 amigos que teriam tentado espancar dois moradores de rua no Aterro do Flamengo, no Rio de Janeiro. Eles fazem parte de um novo fenômeno carioca: a formação de grupos de jovens que se armam para fazer o que consideram justiça com as próprias mãos. O perfil dessas turmas, que se organizam também em outras localidades da zona sul, como Copacabana, Laranjeiras e Botafogo, é similar. Todos são de classe média, estudantes, têm idade, majoritariamente, entre 18 e 22 anos, são brancos, praticam artes marciais ou frequentam academias e a maioria usa motocicleta. Eles armam-se com paus, barras de ferro e ferramentas de carro, combinam as ações através de redes sociais e saem às ruas entre 21h e 23h. São jovens que destilam ódio, na internet, contra menores infratores e assaltantes, embora haja relatos de agressão contra mendigos também. VINGANÇA - Na semana passada, jovens de classe média do Flamengo com bastão de madeira para agredir assaltantes Bonito e fortão, Lucas é considerado “normal” pelos vizinhos do prédio onde mora, numa rua transversal do Flamengo. Estudou na escola particular Stockler, na Gávea, bairro nobre, e hoje é universitário. Ao atender telefonema da reportagem de ISTOÉ, disse que não daria entrevista e desligou. Depois, apagou suas páginas nas redes sociais. Quando jovens como ele se travestem de justiceiros e se unem em bandos, tornam-se extremamente violentos e vingativos. Os atos criminosos que praticam não chegam às estatísticas oficiais de violência, no entanto, porque as vítimas não recorrem à polícia para denunciá-los, já que, na maioria das vezes, são infratores e fugitivos. Os cariocas, que cada vez mais assistem às cenas de tortura e espancamento das janelas de casas e carros, se dividem. Alguns aprovam a barbárie que ignora a lei, outros ficam estarrecidos com o grau de selvageria. Na região do Flamengo, o número de roubos a pedestres chegou, apenas no mês de outubro do ano passado, a 186 casos, contra 82 no mesmo período de 2012. Na internet, a revolta é compartilhada: o publicitário Michel Lima postou no Facebook, no dia 29 de janeiro, foto de um homem ferido após ataque de assaltantes no Flamengo e desabafou: “Cidade Maravilhosa para quem?”. Quatro mil pessoas reproduziram seu post. O auge da tensa situação vivida na zona sul carioca foi a horrível cena que veio a público na semana passada, quando um adolescente negro de 15 anos foi espancado e preso, nu, a um poste, pelo pescoço, por uma trava de bicicleta. A imagem, que remete aos tempos da escravidão, correu o mundo. A antropóloga Alba Zaluar, pesquisadora do Instituto deEstudos Sociais e Políticos da Universidade do Estado do Rio de Janeiro, ressalta que esse tipo de “justiçamento”, agora adotado por jovens de classe média, está presente no País todo, na forma de grupos de extermínio ou de milícias. “A polícia tem problemas, mas é melhor acreditarmos nela do que nessas atitudes bárbaras”, afirmou. O menino foi solto graças à intervenção da artista plástica Yvonne Bezerra de Mello, diretora da ONG Uerê, que acolhe crianças e adolescentes. Agora, no entanto, ela recebe ameaças de morte pelo gesto. “Estão me xingando só porque chamei os bombeiros para libertar o menino. Se fosse um cão, estaria num pódio”, desabafa. Não é o primeiro episódio que ela testemunha. Este mês, ela viu da janela de sua casa, também no Flamengo, um grupo de oito homens espancarem mendigos que dormiam nas calçadas. Na segunda-feira 3, um grupo de 14 jovens chegou a ir para a delegacia, suspeitos de serem os justiceiros do Flamengo. Eles negaram envolvimento com a agressão ao menor, mas estão sendo investigados. ISTOÉ conversou com um deles, um estudante de psicologia de 20 anos, que admitiu perseguir bandidos. “Moro no Flamengo há 19 anos. Sou do bem, mas a situação está complicada, e piorou depois que a avó de um amigo foi assaltada na semana passada. Levaram os pertences dela, a derrubaram no chão e ela quebrou a bacia”, contou o rapaz. “Estamos tentando defender nosso bairro. Só agredimos ladrões.” "Estão me xingando só porque chamei os bombeiros para libertar o menino. Se fosse um cão, estaria num pódio" - Yvonne Bezerra de Mello, diretora da ONG Uerê, que acolhe crianças e adolescentes. Ela foi a responsável pela libertação do adolescente (acima) espancado e preso, nu, a um poste, pelo pescoço, por uma trava de bicicleta A delegada Monique Vidal, da 9ª DP, instaurou inquérito e está tentando obter imagens de câmeras de segurança para identificar os agressores do garoto preso ao poste. Também está sendo averiguado se Lucas Felício e o estudante Ricardo de Carvalho Matos, outro detido no grupo de Lucas, sob acusação de formação de quadrilha e lesão corporal por ataque a meninos de rua, estão envolvidos com o caso. Morador do Humaitá, na zona sul, tão logo saiu da delegacia, Ricardo se mudou temporariamente para a casa de um parente e declarou no Twitter: “Fuuuui, fora de sinal!” Em Copacabana, há informações de que os justiceiros são comerciantes. Na tarde da terça-feira 4, um menor que roubou o cordão de uma mulher, no bairro, foi detido e deixado com os pés amarrados na rua. Na região, outro menor foi fotografado cercado por grupos que queriam linchá-lo por ter tentado roubar comida de um supermercado. A socióloga Julita Lemgruber ressalta que, se não houver punição, a cidade corre o risco de se ver refém desses grupos. “Pode virar um exemplo e se repetir”, alerta. A sociedade civil já marcou dia e hora para dar sua resposta: no domingo 9, moradores vão abraçar, simbolicamente, o Aterro do Flamengo, e pedir paz. 5#3 O INFERNO DE WOODY ALLEN Às vésperas do Oscar, a volta das acusações de pedofilia remexem no drama de uma família destroçada há 20 anos, desde a separação do cineasta e da atriz Mia Farrow Nas redes sociais e nos círculos de aficionados por cinema, todos parecem ter na ponta da língua uma opinião sobre a polêmica do momento: o suposto caso de pedofilia envolvendo o cineasta americano Woody Allen e sua filha Dylan Farrow, hoje com 28 anos. Como quase sempre é o caso, porém, não existem respostas fáceis no drama que desintegrou a família de um dos mais importantes nomes do cinema mundial com a atriz Mia Farrow, no começo dos anos 1990. Dylan, adotada em 1985 por Allen e Mia, acusou o diretor de tê-la molestado quando ela tinha apenas 7 anos, numa coluna publicada no jornal “The New York Times” no sábado 1º. A suspeita já tem mais de duas décadas, mas voltou à tona com a homenagem prestada ao cineasta no Globo de Ouro em janeiro e ganhou força com a recente indicação de “Blue Jasmine”, seu filme mais recente, ao Oscar. PASSADO O diretor americano Woody Allen, suspeito de abusar da filha adotiva em 1992. Ele nega as acusações A pesada acusação ronda o cineasta desde 1992, quando uma atormentada Mia Farrow descobriu, na casa de Allen, fotos da filha adotiva dela, Soon-Yi Previn, nua. A sul-coreana, que tinha cerca de 20 anos quando as imagens vieram à tona (sua idade exata é incerta), havia sido adotada por Mia e pelo músico alemão André Previn ainda criança – antes do início do namoro da atriz com o diretor. A descoberta destroçou a relação d o casal de astros e, em meio à tumultuada separação, Mia foi a público com uma bomba: a de que Allen havia molestado a filha adotiva do casal – Dylan –, de 7 anos. Na época, ela disse que a própria garota havia lhe contado sobre o abuso, e uma investigação policial foi aberta para apurar o caso. As circunstâncias da acusação levaram muita gente a desconfiar que a atriz havia inventado a história e manipulado a criança para se vingar do cineasta. Confirmando essa tese, uma junta médica chegou à conclusão, pouco depois, de que Dylan não havia sido molestada – suas declarações contraditórias ao recontar o episódio indicavam que ela estava emocionalmente perturbada e que, provavelmente, sua narrativa havia sido influenciada pela mãe. Apesar disso, um juiz considerou o relatório inconclusivo e deu a guarda à atriz. Criminalmente, a investigação foi encerrada sem o indiciamento de Allen. “Woody Allen nunca foi denunciado porque as autoridades não acharam provas que sustentassem as acusações” Robert Weide, diretor de documentário sobre o cineasta O caso foi mais ou menos esquecido pela opinião pública desde então. Nesse meio tempo, em 1997, o cineasta se casou com Soon-Yi – os dois estão juntos até hoje. Até que, em outubro passado, Mia Farrow voltou à cena para revelar um novo e igualmente indigesto escândalo, o de que Ronan Farrow, 26 anos, que se acreditava ser filho biológico da atriz com Allen, seria fruto de uma relação dela com o cantor Frank Sinatra, seu ex-marido. Meses depois, durante a cerimônia de entrega do Globo de Ouro, onde o diretor foi homenageado, Mia publicou na internet mensagens acusando o cerimonial de desprezar a acusação de pedofilia feita por Dylan 20 anos antes e repetidas em outubro para a imprensa. Ao seu lado estava Ronan, que também alfinetou Allen pela rede. Depois das acusações, um turbilhão de opiniões defendendo e execrando Woody Allen tomou conta da internet. Entre os que apoiam o cineasta está Moses Farrow, outro filho adotado pelo casal, que contesta a versão da irmã e acusa a mãe de jogar a família contra o pai. Defensores dizem ainda que nada foi provado contra ele e apontam o dedo para Mia Farrow, que teve um irmão condenado por pedofilia e até agora se silenciou sobre o assunto. “Woody nunca foi denunciado por um crime porque as autoridades não acharam provas que sustentassem as acusações de Mia e Dylan”, escreveu Robert Weide, diretor de documentário sobre Allen, em janeiro. Quem acredita que o diretor seja um pedófilo questiona detalhes da investigação (a equipe médica destruiu as próprias anotações antes da entrega do relatório final, por exemplo). O caso de Allen ainda está envolto em mistério, mas é possível que prejudique sua obra e sua credibilidade como cineasta, como querem Mia, Dylan e Ronan Farrow. “Ninguém sabe realmente se as acusações têm ou não razão de ser, mas isso pode acabar com a carreira de um diretor”, diz a historiadora Mary Del Priore. Por outro lado, muitas grandes obras precisariam ser jogadas no lixo se não se separasse a vida pessoal de um artista de seus feitos. “A sociedade muitas vezes se alimenta da sexualidade dos outros, não só da sua própria. Também está mais interessada na vida íntima de uma pessoa do que nas suas realizações profissionais.” O assunto ainda promete render. 5#4 A COPA NAS MÃOS DE PETRAGLIA Com seu estilo centralizador, o presidente do Atlético Paranaense dita o ritmo das obras da Arena da Baixada, que, sob pressão da Fifa e injeção de dinheiro, finalmente estão aceleradas Jorge Eduardo França Mosquera, de Curitiba O empresário paranaense Mário Celso Petraglia comemora, na terça-feira 11, seus 70 anos de idade diante de um bolo gigante de concreto e aço, de 122,5 mil metros quadrados. Trata-se do estádio Joaquim Américo Guimarães, conhecido como Arena da Baixada, com capacidade para mais de 43 mil lugares, cujas obras se encontram em fase de acabamento. Serão disputadas ali quatro partidas da Copa do Mundo, mas isso é o que menos importa para ele. O que vale é que o estádio do Clube Atlético Paranaense, o seu estádio, estará concluído este ano, ainda que, numa hipótese das mais remotas, a Fifa o desclassifique oficialmente no dia 18 deste mês, data-limite para confirmar Curitiba como uma das 12 cidades-sedes do torneio. O estádio foi orçado inicialmente em R$ 184 milhões. Vai custar perto de R$ 330 milhões. “Com Petraglia e tudo, será o mais barato, em escala, entre todas as arenas da Copa”, diz um executivo do governo paranaense. POLÍTICA - Mário Celso Petraglia no estádio (abaixo, foto da obra) que é sua atual obsessão No dia 21 de janeiro, uma inspeção da Fifa, com o secretário-geral Jérôme Valcke à frente, visitou a Arena da Baixada e viu uma obra sem chance de ser finalizada até o dia 18 deste mês, com um contingente reduzido de operários trabalhando. Petraglia, que preside o Atlético e a CAP S/A, empresa que cuida da Arena, culpou o governo do Estado e a prefeitura por quebra do acordo tripartite que garantia ao Atlético o repasse de recursos, a título de empréstimo, com origem no Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). A obra estava atrasada, afirmou, por culpa do poder público. A demorada resposta veio na quarta-feira 5, num encontro de trabalho sobre a Copa, em Curitiba, com a participação do ministro do Esporte, Aldo Rebelo. Irritado com o estica-e-puxa do cartola, uma constante em suas relações com governos, amigos e inimigos, o governador Beto Richa devolveu, ao ser provocado pelos jornalistas: “Vocês conhecem o governo, a prefeitura e o dirigente do Atlético. Sabem quem fala a verdade.” “Petraglia colocou a faca no pescoço do governador, que a rigor não teria responsabilidade sobre as obras da Copa, e no do prefeito, parceiro direto na viabilização do projeto”, diz um auxiliar próximo e conselheiro de Beto Richa. “A obra não atrasou por falta de recursos públicos, atrasou por vários problemas, entre os quais o estilo Petraglia de administrar. Ele quer ser arquiteto, engenheiro, contador, tudo nessa obra. E é ele, sim, o responsável pelo atraso.” Para o cartola, seria “molecagem chegar onde chegamos e não ter o apoio dos compromissos escritos e formalizados. Eu não vou pagar essa conta sozinho. Cometemos erros, vamos assumir cada um sua parte, mas cada um na sua proporção.” Acima, o cartola com o ministro do Esporte, Aldo Rebelo, na semana passada, durante o lançamento de um livro de Rebelo em um bar de Curitiba A CAP S/A, sociedade de propósito específico criada para construir e gerenciar a Arena da Baixada, retirando o empreendimento da órbita do clube, firmou no fim do ano um contrato com a Fomento Paraná, autarquia do governo estadual que viabiliza empréstimos do BNDES. Conforme o cronograma de liberação dos recursos, a CAP S/A recebeu em dezembro R$ 26 milhões. Em janeiro, depois do estrilo de Petraglia, foram mais R$ 39 milhões, previstos em contrato. Na queda de braço, governo do Estado, prefeitura e Comitê Organizador Local (COL) criaram uma comissão que tratará de fiscalizar as obras e divulgará relatórios diários sobre seu andamento. “Trata-se de uma intervenção branca”, diz outro assessor do governador. Ao mesmo tempo, a Fifa mandou a Curitiba seu consultor de estádios, Charles Botta, responsável por erguer ou baixar o polegar para a Arena. Botta inspecionou a obra na quinta-feira 6 e a encontrou 70% concluída, com o gramado plantado e mais de 15 mil das 43 mil cadeiras instaladas. Um conselheiro atleticano contou na quinta-feira 6 que o atraso da obra foi proposital, a fim de acelerar a liberação do dinheiro. “Petraglia é maquiavélico. Ele encomendou o gramado em Porto Alegre e o deixou lá até a inspeção do estádio, em janeiro. No dia que a Fifa chegou, havia um desfalque enorme de operários e nada de gramado. Depois de conseguir o que queria, vieram caminhões com baús refrigerados trazendo o gramado, que foi todo plantado em quatro dias. Por que não encomendou a grama por aqui mesmo? E os operários, que apareceram mais tarde?” Segundo o secretário do governo municipal de Curitiba, Ricardo MacDonald Ghisi, o dirigente está sempre no limite, é um jogador muito impetuoso, que não recua. “Pode-se condenar seu estilo agressivo, mas, do ponto de vista do Atlético, é um santo protetor.” 5#5 BRASIL, A CAPITAL DO TÊNIS O País sedia quatro eventos internacionais importantes do esporte, que hoje conta com mais estrutura, mas carece de ídolos Mariana Brugger (marianabrugger@istoe.com.br) Enquanto a Copa do Mundo de futebol não chega, o brasileiro se dedica a uma nova paixão: o tênis. E fevereiro se tornou o mês desse esporte. Quatro grandes competições mundiais serão realizadas aqui – duas da Associação dos Tenistas Profissionais (ATP) e duas da Associação Feminina de Tênis (WTA, na sigla em inglês) – a partir do sábado 15, quando começa a 1ª edição do Rio Open, no Rio de Janeiro, com torneios masculino e feminino. O tenista que foi o número 1 do mundo em 2000, Gustavo Kuerten, explica: “A estrutura do tênis brasileiro mudou muito. O que era considerado um hobby, quando comecei, hoje é profissional. As crianças podem jogar e ver seus ídolos de perto.” Os atletas mais esperados são as estrelas espanholas Rafael Nadal e David Ferrer. A partir do sábado 22, os atletas do masculino seguem para São Paulo para a 14ª edição do Brasil Open, enquanto as mulheres competem pela 2ª edição do Brasil Tennis Cup, em Florianópolis. COMPETIÇÃO - O Brasil Open do ano passado: interesse dos atletas de alto nível O surgimento de ídolos, tão natural no futebol, é o empurrão que falta para que o tênis seja outra preferência nacional. “Tudo o que precisamos são jogadores de alto nível para começarmos a ver torcidas organizadas nos estádios”, diz Paulo Pereira, diretor-executivo do Brasil Open. Entrar no mercado de torneios internacionais não foi tarefa fácil. “É preciso buscar datas em uma agenda em que ninguém quer vender e conciliar seu evento com outros em locais próximos, para despertar o interesse dos atletas de alto nível”, explica Jorge Lacerda, da Confederação Brasileira de Tênis (CBT). O Brasil Tennis Cup, da entidade, foi comprado em meio à crise espanhola em 2012. Já o Rio Open, o único torneio da América do Sul a reunir uma etapa do ATP 500 e do WTA Internacional, é fruto de uma negociação com um campeonato de Memphis, nos EUA, que foi transferido para a cidade brasileira. Agora, a bola está com o Brasil. A esperança é que os torneios projetem novos talentos e criem referências para os jovens atletas, especialmente no tênis feminino. “As meninas não têm ídolos recentes para se espelhar e acabam desistindo do sonho”, lamenta Teliana Pereira, primeira brasileira em 20 anos a entrar no top 100 da WTA, que participará das competições. Além dela, os brasileiros Thomaz Bellucci, no simples, e Bruno Soares e Marcelo Melo, nas duplas, estão confirmados nos eventos. 6# MEDICINA E BEM-ESTAR 12.2.14 6#1 A FISIOTERAPIA DO FUTURO 6#2 MECÂNICA E SENSÍVEL 6#1 A FISIOTERAPIA DO FUTURO O uso de robôs interativos se expande pelo mundo. Eles aceleram e melhoram a qualidade da recuperação no tratamento de pessoas que perderam os movimentos Mônica Tarantino (monica@istoe.com.br) A primeira etapa da integração dos novíssimos conhecimentos da robótica à medicina começou nas salas de cirurgia. Em diversos hospitais, pacientes são operados por máquinas com braços mecânicos. Sob o comando dos médicos, elas permitem movimentos milimétricos e certeiros. Agora, os robôs estão mostrando suas habilidades na reabilitação de pessoas que perderam movimentos de braços e pernas por causa de lesões cerebrais derivadas de traumas ou de distúrbios neurológicos. Os benefícios são evidentes. O recurso acelera e melhora a qualidade da recuperação. RECONQUISTA - Igor treina no robô Lokomat. A máquina corrige os passos que o jovem der de forma errada Dotados de sofisticados programas de computação e sensores, eles detectam quando o paciente está se movimentando de forma incorreta e reorientam o gesto. Um exemplo é o robô InMotion, nome dado por seu criador, o cientista brasileiro Hermano Krebs, diretor do laboratório de mecânica e reabilitação humana do Massachusetts Institute of Technology (MIT). Ele puxa o braço do indivíduo se este não completa o movimento. Há também jogos eletrônicos e um score de pontos para estimular a prática. “Isso multiplica a intensidade e a frequência das atividades, o que é importante para a recuperação neurológica, pois os movimentos são comandados por conexões nervosas do cérebro”, diz o fisiatra Daniel Rubio, diretor da Rede de Rea­bilitação Lucy Montoro, em São Paulo, uma das duas instituições brasileiras a oferecer equipamentos do gênero. A outra é a Associação de Assistência à Criança Deficiente (tem um robô para as pernas). Desse modo, o corpo reaprende a forma certa de processar os impulsos elétricos que mobilizam músculos, ligamentos e tendões para executar um movimento. E o tratamento fica mais potente. Com os aparelhos convencionais, o paciente faz em média 40 movimentos para os braços. Com o robô, pode executar cerca de mil. “A reconquista do movimento pode ser até duas vezes maior”, afirma Krebs. JOGO - Um dos recursos usados nos aparelhos do MIT, nos Estados Unidos, é o videogame O jovem Igor de Oliveira, 18 anos, participa de um estudo sobre os aparelhos na Rede Lucy Montoro. Há oito meses, ele sofreu um acidente de carro que o deixou paralisado do pescoço para baixo por causa de uma lesão medular. Na terceira sessão, ele percebeu progressos. “Já consigo escovar os dentes e segurar o garfo”, conta. Igor também experimenta a ação do robô Lokomat. Ali, seu corpo fica suspenso no ar e é submetido a esforços controlados para reaprender a andar. Os robôs estão presentes em renomados centros médicos americanos, como o Instituto de Reabilitação de Chicago e o New York Presbiterian Hospital. Expandem-se também na Ásia e na Europa. “Nos próximos cinco anos, a robótica trará grande impacto às terapias aplicadas às pessoas com problemas neuromotores. Será uma revolução”, afirmou Krebs. 6#2 MECÂNICA E SENSÍVEL Cientistas criam mão biônica que permite ao paciente sentir a textura e a forma dos objetos Cilene Pereira (cilene@istoe.com.br) O dinamarquês Dennis Aabo Sorensen, 36 anos, é o primeiro homem do mundo a experimentar uma mão biônica por meio da qual o paciente pode sentir os objetos que toca. A prótese foi criada por pesquisadores da École Polytechnique Fédérale de Lausanne, na Suíça, e teve seu funcionamento descrito na última edição da revista científica “Science Translational Medicine”. TOQUE - Dennis pôde sentir de novo a maciez ou a aspereza do que tocava Dennis perdeu sua mão esquerda em um acidente ocorrido há nove anos. A cirurgia para a implantação da prótese foi realizada há um ano no hospital Gemelli, em Roma. A mão biônica é dotada de sensores que detectam as informações sobre o que está sendo tocado e as enviam a quatro eletrodos implantados cirurgicamente em nervos existentes no antebraço. São esses aparelhos que transformam os dados coletados em sinais elétricos processáveis pelo sistema nervoso. Nos testes, Sorensen usou venda nos olhos e fones nos ouvidos para que os cientistas pudessem avaliar a eficiência da prótese. O resultado foi excelente. “Pude sentir coisas que não sentia havia nove anos”, contou Sorensen. “Quando segurava um objeto, senti se era macio ou mais duro, redondo, quadrado, e a intensidade com que o tocava.” A equipe agora pretende estudar uma forma de criar eletrodos que possam ficar implantados por mais tempo – por questões de segurança, eles foram retirados um mês após a cirurgia – e também sensores ainda mais sensíveis. Os cientistas estão otimistas. “Esse tipo de mão biônica irá facilitar a vida dos pacientes. Vamos trabalhar para que esteja disponível dentro de seis anos”, disse à ISTOÉ Silvestro Micera, ­ coordenador do time suíço. 7# ECONOMIA E NEGÓCIOS 12.4.14 7#1 APAGÃO: TEM CONSERTO? 7#2 COMO TIRAR PROVEITO DA BANDA LARGA 7#1 APAGÃO: TEM CONSERTO? A velha rotina de blecautes volta a prejudicar milhões de brasileiros e expõe a ineficácia de diversos governos para resolver o caos energético do País Por Luisa Purchio (luisapurchio@istoe.com.br) Na terça-feira 4, as consequências de um sistema energético que há tempos vem operando de forma ineficaz puderam ser sentidas diretamente por um grande número de brasileiros: mais de 6 milhões de pessoas de 11 Estados, das regiões Norte, Centro-Oeste, Sul e Sudeste ficaram sem luz durante pelo menos 30 minutos. Em São Paulo, o problema gerou confusão no metrô e, mais grave ainda, no Rio o atendimento em hospitais foi afetado pela falta de energia. REPAROS - Operários trabalham em linhas de transmissão: os últimos governos não deram a devida atenção às deficiências energéticas do País Provocada por dois curto-circuitos na rede transmissora entre os municípios de Miracema (TO) e Colinas (TO), a pane interrompeu o fornecimento do equivalente a 7% do consumo nacional. Desde o governo Fernando Henrique Cardoso, o País sofreu pelo menos 15 apagões de grandes proporções – e não há nada que indique que os blecautes ficarão para trás. O caos energético brasileiro é resultado de uma bomba-relógio que explode de tempos em tempos: o aumento do consumo dos últimos anos, motivado pelo avanço da economia, não foi acompanhado por investimentos em infraestrutura. O resultado desse desequilíbrio são os apagões. O governo anunciou um prazo de 15 dias para detalhar as causas do curto-circuito, mas, a despeito das razões que forem apresentadas, os problemas estão aí, visíveis apesar da escuridão que afeta o setor. CURTO-CIRCUITO - Um dia antes do blecaute, o ministro de Minas e Energia, Edison Lobão, disse que o risco de desabastecimento de energia no Brasil era igual a "zero" A demanda por energia está muito maior. Dados divulgados na quarta-feira 5 pelo Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) revelaram que, em janeiro, o consumo de energia elétrica foi 11,8% mais alto do que no ano anterior e 7,2% superior ao índice observado em dezembro de 2013. De acordo com o órgão regulador, a alta da carga se deve “principalmente ao uso intensivo de aparelhos de refrigeração nos Subsistemas Sul e Sudeste/CentroOeste e à aceleração do ritmo de atividade industrial.” A utilização de ventiladores e ar-condicionados se deve ao calor excessivo, mas também à capacidade financeira dos consumidores de comprar esses aparelhos. Trata-se, portanto, de um fato positivo do ponto de vista econômico, assim com o avanço industrial. A questão é que o Brasil não está preparado para suportar tais transformações. Especialistas são unânimes em afirmar que o Brasil errou em concentrar demais sua produção em usinas hidrelétricas. Atualmente, elas respondem por 70% do volume consumido no País, uma enormidade que gera dependência excessiva de um modelo suscetível a diversos fatores. Entre eles, as oscilações climáticas. O Sudeste brasileiro vem enfrentando uma estiagem sem precedente para o verão. De acordo com estimativas da Empresa de Pesquisa Energética, vinculada ao Ministério de Minas e Energia, os reservatórios no Sudeste enfrentam a pior situação desde 1953. Nesse cenário, as usinas termelétricas têm sido acionadas para suprir a demanda. O problema é que também não há termelétricas suficientes – e eis aí um retrato preciso da falta de planejamento do governo. Das 35 termelétricas em construção no Brasil, 22 estão atrasadas. “A baixa das águas dos reservatórios não é motivo para escassez de energia, pois ela é previsível”, diz Ildo Sauer, engenheiro e professor do IEE-USP. “O que falta é manejo adequado de recursos.” As hidrelétricas também descumpriram prazos. Até a Usina de Belo Monte, principal projeto energético do Brasil, orçado em R$ 16 bilhões e com previsão de início de operações em 2015, enfrentou atrasos nas obras. ATRASO - Orçada em R$ 16 bilhões, a Usina de Belo Monte não cumpriu o cronograma de obras Usar termelétricas para substituir hidrelétricas também é uma saída questionável. As termelétricas funcionam com a queima de carvão e óleo combustível e por isso são altamente poluentes. Além disso, produzem energia a um custo excessivamente alto. “A necessidade das térmicas é o maior sintoma da falta de usinas disponíveis para atender ao mercado a um custo razoável”, diz Roberto Pereira d’Araújo, diretor do Ilumina, organização não governamental especializada em energia. Como resultado desse processo, as empresas geradoras de energia se veem em um beco sem saída. Por um lado, têm a necessidade de utilizar a energia das térmicas. Por outro, não dispõem de recursos financeiros para sustentar o custo das operações, já que, na renovação das concessões, o governo estabeleceu um teto para a tarifa cobrada dos consumidores. Ao faturarem menos, as companhias fizeram ajustes e reduziram seus custos. De acordo com Luis Pinghelli Rosa, diretor da Coppe/UFRJ e presidente da Eletrobrás na gestão do ex-presidente Lula, o enxugamento da receita do setor está afetando a eficiência das empresas. “A Eletrobras sofreu um corte muito grande”, diz. “São milhares de demissões e muitos engenheiros saindo. É uma perda de competência.” Segundo Joísa Dutra, especialista em energia, que dirigiu a Aneel de 2005 a 2009, a redução do preço das tarifas foi mal planejada. Além de estimular o consumo desenfreado, tem potencial para tornar o setor insustentável. Ela também acha que nada será feito em 2014. “Quando o governo está às vésperas de uma eleição, não quer tomar medidas impopulares”, diz. “E aumentar o preço da energia é impopular.” Para a presidenta Dilma Rousseff, o problema é especialmente sensível. Como ex-ministra de Minas e Energia, Dilma teoricamente é uma expert no assunto – e falhar nessa área pode roubar alguns votos. O governo, porém, não parece disposto a assumir a dimensão do problema. Um dia antes do blecaute, o ministro de Minas e Energia, Edison Lobão, afirmou que o risco de desabastecimento de eletricidade no Brasil era “zero”, mas bastou um novo apagão para o temor do racionamento vir à tona. A situação é mais alarmante diante da proximidade da Copa do Mundo, evento que tem vocação para disparar o consumo energético. Resta torcer para que a chuva volte com força e que novos curto-circuitos não atrapalhem a vida de milhões de brasileiros. 7#2 COMO TIRAR PROVEITO DA BANDA LARGA Aumentaram as reclamações dos consumidores contra os pacotes que oferecem internet de alta velocidade. Saiba como fugir das armadilhas preparadas pelas empresas Por Luisa Purchio (luisapurchio@istoe.com.br) Não é mais possível hoje em dia desfrutar de tudo que a internet oferece (assistir a vídeos, ouvir música, baixar fotos e se divertir com games no computador) sem um bom pacote de banda larga. A oferta disparou, mas o número de clientes insatisfeitos também. De acordo com dados da Anatel, as reclamações contra a internet de alta velocidade cresceram 37,7% nos dois primeiros trimestres de 2013 em relação ao mesmo período do ano anterior. “O consumidor precisa ficar atento para fugir das ofertas milagrosas das empresas”, diz Eduardo Néger, presidente-executivo da Associação Brasileira de Internet. “E, sabendo adequar o pacote de internet à sua necessidade, ele pode reduzir a conta em até 30% ao mês.” Apesar do aumento das reclamações, a expectativa é de que as companhias invistam mais na ampliação de infraestrutura, o que resultaria no aumento da velocidade de dados que chega ao consumidor. “A tendência é que o preço se mantenha e que a velocidade ofertada aumente”, diz Eduardo Tude, presidente da Teleco, consultoria de telecomunicações que possui uma das mais completas bases de dados da América Latina. 8# MUNDO 12.2.14 O FURACÃO HILLARY Campanha milionária alavanca o nome da ex-primeira-dama para a sucessão presidencial nos Estados Unidos e pesquisas de intenção de voto mostram que será difícil segurar o avanço de sua candidatura Mariana Queiroz Barboza (mariana.barboza@istoe.com.br) Faltam quase três anos para a próxima eleição presidencial nos Estados Unidos, mas a campanha para a sucessão de Barack Obama já elegeu a nova queridinha da América. Trata-se da ex-primeira-dama e ex-secretária de Estado Hillary Clinton, estrela de anúncios de tevê e de uma série de eventos criados para alavancar sua candidatura. Apesar de a decisão oficial só sair no fim do ano, os comitês políticos independentes levantaram mais de US$ 4 milhões em prol da mulher de Bill Clinton. Apenas o Ready for Hillary, o maior dos comitês, conta com 33 mil doadores registrados, e nos próximos meses o nome de Hillary deve ganhar ainda mais projeção, com uma conveniente turnê nacional de lançamento de seu livro de memórias. “Hillary tem o claro desejo de liderar”, disse à ISTOÉ Nichola Gutgold, autora de “Almost Madam President: Why Hillary Clinton ‘won’ in 2008” (“Quase Senhora Presidente: Por que Hillary Clinton ‘ganhou’ em 2008”). “Quando foi primeira-dama, Hillary foi extremamente infeliz, porque aquele papel não parecia suficiente para ela. Quando foi eleita senadora de Nova York, ela já era uma pessoa completamente diferente.” A escritora, porém, afirma que o excesso de holofotes pode ser perigoso para a pré-campanha de Hillary. Nas últimas semanas, só dá ela no noticiário político local, e a capa da revista “Time” de 27 de janeiro questiona: “Quem pode parar Hillary?”. “A mídia a trata como se ela já fosse a escolhida e os americanos gostam de pensar que não é assim tão fácil, porque o poder de decisão está nas mãos dos cidadãos.” A VEZ DELA - Hillary Clinton já foi secretária de Estado, senadora e primeira-dama. Agora é favorita à Casa Branca Para muitos especialistas, os americanos podem achar que, depois de um presidente negro, chegou a hora de ter uma mulher no comando – e esse é o maior pesadelo da oposição. Na eleição de 2012, o voto feminino deu uma vantagem total de 18% para Obama e seu apoio foi determinante em Estados estratégicos como Ohio e Pensilvânia. “O Partido Republicano não aprendeu sua lição e continua alienando o eleitorado feminino”, disse à ISTOÉ Jehmu Greene, analista política de Nova York. Em seu esforço pelo voto dos mais conservadores, os republicanos se afastaram das mulheres em temas como aborto (legalizado no país desde 1973) e contracepção. Para Jehmu, que trabalhou como assessora de Hillary na campanha de 2008, quando ela perdeu a indicação do Partido Democrata para o atual presidente, os americanos foram taxativos naquela época em demonstrar que queriam Obama como líder e foram seduzidos por um discurso de mudança e renovação. Hillary foi muito criticada por ter votado a favor da Guerra do Iraque. O contexto agora é outro. EM BAIXA - Depois de se envolver num escândalo político, o republicano Chris Christie perdeu vantagem Pesa a favor da ex-secretária de Estado o reconhecimento internacional, a origem em uma família de classe média e o que os especialistas chamam de “elasticidade retórica”: ao mesmo tempo que consegue ser uma debatedora durona, é também acolhedora, uma figura quase maternal. Entre suas dificuldades estão o descontentamento com o governo Obama (o desemprego, afinal, continua alto) e o fato de que sua passagem pela Secretaria de Estado não foi das mais marcantes. A boa notícia para Hillary é que o principal candidato da oposição, o governador reeleito de Nova Jersey, Chris Christie, perdeu o favoritismo depois de um escândalo político. Na pesquisa CNN/ORC International, divulgada na semana passada, Hillary o ultrapassou nas intenções de voto. De 46%, em dezembro, ela avançou para 55% no mês seguinte. Por ora, parece mesmo difícil parar Hillary. 9. TECNOLOGIA E MEIO AMBIENTE 12.2.14 VAI FALTAR ÁGUA Após seis meses de chuvas abaixo da média e com os reservatórios quase secos, governo de São Paulo pede para população economizar água, mas racionamento é inevitável e já atinge mais de 20 cidades Ana Carolina Nunes (acarol@istoe.com.br) Os moradores de São Paulo e de cerca de 10 cidades da Região Metropolitana da capital paulista aguardam apreensivos os desígnios da mãe natureza nesta próxima semana. Caso a estiagem, que já dura pelo menos seis meses na região, não dê trégua nos próximos dias, cerca de 8 milhões de pessoas terão que conviver, por tempo indeterminado, com a incômoda experiência de enfrentar um racionamento de água. Apesar de estar chovendo abaixo das médias históricas desde agosto, os paulistas foram pegos de surpresa pelo anúncio de que era crítica a situação dos reservatórios do Sistema Cantareira, uma complexa rede de túneis e reservatórios que captam água de vários rios da região e que abastecem não só a capital paulista, como mais de 10 cidades da Região Metropolitana de São Paulo. SECA - As barragens que abastecem quase 10 milhões de pessoas em São Paulo estão no menor nível em uma década No sábado 1º, a Sabesp, companhia de Águas e Esgoto, tirou da gaveta um plano de emergência para tentar convencer a população a reduzir o consumo de água. De acordo com a empresa, quem conseguir baixar o consumo em pelo menos 20% terá um desconto de 30% na conta. O problema, segundo especialista, é que a medida pode ter vindo tarde demais. “No dia 19 de dezembro nós já estávamos recomendando o racionamento parcial em todo o sistema e a situação já estava crítica ali”, diz Francisco Lahóz, secretário-executivo do Consórcio Intermunicipal das Bacias dos Rios Piracicaba, Capivari e Jundiaí (PCJ), que abastece o sistema. A Sabesp, no entanto, preferiu acreditar que janeiro seria mais chuvoso do que apontavam as previsões. Procurada, a a estatal paulista não quis se pronunciar sobre a questão. Desde setembro, os serviços de meteorologia já apontavam que o verão seria bem mais seco que o habitual. Naquele mês, por exemplo, chovera apenas um terço dos habituais 91,5 milímetros. Outubro e novembro também registraram volumes abaixo da média histórica, comprometendo os reservatórios. Quando dezembro chegou, os volumes no Sistema Cantareira já estavam próximos a 30%. Foi no último mês do ano que a situação ficou ainda mais crítica. Em geral, chove 226 milímetros ao longo dos 31 dias do mês. Em 2013, esse volume ficou abaixo de 63 milímetros. “A empresa poderia ter iniciado uma campanha ou até mesmo um racionamento, para poupar os reservatórios”, diz Rene Vicente, presidente do Sindicato dos Trabalhadores em Água, Esgoto e Meio Ambiente do Estado de São Paulo (Sintaema). A Sabesp não é monopolista no Estado de São Paulo. Em muitas cidades da região em que o tratamento e a distribuição de água não ficam por sua conta, os programas de racionamento já começaram. Em Jundiaí, por exemplo, o alerta para redução de consumo e racionamento temporário começou no início de janeiro. Outras seguiram o mesmo exemplo. Ao todo, quase 20 cidades no Estado já decretaram ou estão em vias de decretar o corte no abastecimento por algumas horas do dia. O consenso entre essas cidades é de que a situação pode ficar ainda mais crítica após o verão, período natural de estiagem nessa região do Estado de São Paulo. O governador Geraldo Alckmin, por sua vez, procurou acalmar a população. “Há uma expectativa de chuva a partir do dia 15 de fevereiro. O estímulo à economia de água com desconto, se tivermos chuvas a partir do dia 15, acredito que será suficiente para não termos racionamento”, disse. Diante dessa perspectiva, cabe agora aos paulistas abrir mão, ainda que por uns dias, da proteção de São Paulo, o padroeiro da cidade, e apelar para a ajuda de São Pedro, o padroeiro – ironias à parte – dos pescadores. 10# CULTURA 12.2.14 10#1 CINEMA - O BATALHÃO DAS ARTES 10#2 LIVROS - A ESTANTE DE FREUD 10#3 EM CARTAZ – CINEMA - UMA PAIXÃO VIRTUAL 10#4 EM CARTAZ – LIVROS - ESCRITO NAS ESTRELAS 10#5 EM CARTAZ – MÚSICA - O BRASIL BRASILEIRO DE ARY BARROSO 10#6 EM CARTAZ – DVD - LOUCOS NO VOLANTE 10#7 EM CARTAZ – ESPETÁCULO - LA FURA SINFÔNICA 10#8 EM CARTAZ – AGENDA - BASQUIAT/O SENHOR DAS CHAVES/BONNIE & CLYDE 10#1 CINEMA - O BATALHÃO DAS ARTES O filme "Caçadores de Obras-Primas" mostra a incrível história real de especialistas em arte que foram à guerra para recuperar o acervo roubado pelos nazistas, estimado em cinco milhões de peças Ivan Claudio (ivanclaudio@istoe.com.br) No célebre desembarque das tropas aliadas na Normandia, em 1944, um batalhão especial não sabia sequer desviar das marolas – o que dizer então do fogo inimigo. Ele era especial porque formado por artistas, historiadores de arte e curadores de museus, sendo por isso chamado de Monuments Men, homens monumentos, cuja missão era proteger o patrimônio artístico da espoliação nazista. É sabido que entre os projetos de Hitler para a “glória do império alemão” estava a criação do Fürhermuseum, o Museu do Fürher, a ser levantado em sua cidade natal, Linz, na Áustria. OPERAÇÃO VÊNUS - Os soldados e a catalogadora do museu Jeu de Pomme: atrás de obras levadas para um futuro Museu do Führer Para isso, Hitler mandou esvaziar museus, igrejas e coleções privadas nos países ocupados. Localizar essas obras, dispersas pela Alemanha, foi a principal missão dos Monuments Men, cuja atuação ganha as telas no filme “Caçadores de Obras-Primas”, em cartaz na sexta-feira 14. George Clooney produz, dirige e protagoniza a história baseada em fatos reais reproduzidos em livro pelo escritor Robert Edsel. Ele interpreta o historiador de arte Frank Stokes, inspirado no conservador do museu da universidade de Harvard, George Stout. Ao todo, o filme alinha mais seis “caçadores de telas perdidas”, todos baseados em figuras existentes: o especialista em arte James Granger (Matt Damon), o arquiteto Richard Campbell (Bill Murray), o escultor Walter Garfield (John Goodman), o marchand francês Jean Claude Clermont (Jean Dujardin), o coreógrafo Preston Savitz (Bob Balaban) e o consultor inglês Donald Jeffries. E, obviamente, a grande informante do grupo, Claire Simone (Cate Blanchett), que trabalhou para os nazistas durante a ocupação de Paris catalogando todo o acervo roubado e depositado no Museu Jeu de Paume antes de ser levado à Alemanha. Na realidade, essa personagem chamava-se Rose Valland, tida como uma heroína durante a Resistência. TROPA DE ELITE - Dimitri Leônidas, John Goodman, George Clooney, Matt Damon e Bob Balaban como os Monuments Men: estratégias para reaver obras de Michelangelo e Leonardo Da Vinci Também autor do roteiro (em parceria com Grant Heslov, colaborador em “Boa Noite e Boa Sorte” e “Tudo pelo Poder”), Clooney adaptou com certa leveza para um filme de guerra essa atividade pouco divulgada do batalhão das artes. Podem-se contar nos dedos as mortes no front – e mesmo os confrontos com alemães e russos são pontuados por humor e ironia. De outro lado, a narração de fato tão desconhecido se dá com requintes de superprodução. Logo no início, ao argumentar sobre a necessidade do trabalho de preservação da arte em tempos de guerra, uma cena convence pelo impacto de como deve ter acontecido na realidade: a reconstituição da luta da população milanesa para manter de pé o afresco “A Santa Ceia”, de Leonardo da Vinci. A cena mostra dezenas de pessoas, entre mulheres, homens e crianças, carregando sacos de areia para apoiar a grande parede com a pintura, intacta como um milagre após um ataque aéreo. Descontado o discurso edificante, o filme é bastante instrutivo em relação aos detalhes da máquina nazista. Sem apelar para a gravidade, desvenda as estratégias supercalculadas e seguidas à risca pelas equipes encarregadas da espoliação dos povos vencedores mostrando que a subjugação da cultura é correlata aos avanços da dominação política. Nessa rapina artística, uma das formas usadas pelo regime de Hitler foi simplesmente distribuir o acervo onde menos se esperava que fosse escondido: na casa de ex-oficiais, moradores de pequenas cidades. Numa dessas residências visitadas pelos Monuments Men havia na parede telas de Pierre Auguste Renoir e Paul Cézanne, surrupiadas de uma das maiores coleções francesas, a da família judia Rothschild. PARCERIA - Matt Damon e Cate Blanchett em um depósito de obras roubadas: acervo foi totalmente catalogado pelo museu Jeu de Pomme O filme descreve também duas operações que vieram a se tornar famosas: o resgate da “Madona de Bruges”, única escultura de Michelangelo fora da Itália, e do “Retábulo de Ghent”, de Jan Van Eyck, encontrados na mina de sal de Altaussee, na Áustria; e a localização do autorretrato de Rembrandt na mina de cobre de Hellbronn. As minas eram usadas como esconderijo não apenas por estarem em locais de difícil acesso e protegidas de ataques aéreos: elas mantinham as condições climáticas adequadas à conservação desses objetos. Como curiosidade, mostra-se que em Altaussee foi também localizada a reserva de ouro nazista. Uma parte dela em pepita: eram as obturações dos judeus mortos nos campos. É quando o horror invade a arte. 10#2 LIVROS - A ESTANTE DE FREUD Livro mostra que grande parte da revolução da psicanálise deve-se ao gosto do pensador austríaco por conhecidas obras literárias Ana Weiss (ana.weiss@istoe.com.br) Nunca, até os estudos de Sigmund Freud, havia se pensado nos sonhos como matéria da ciência. E se a incorporação do inconsciente ao estudo do comportamento foi a grande revolução do autor de “A Interpretação dos Sonhos”, a sua descoberta deve muito a outra substância impalpável: a imaginação literária. Freud era um leitor meticuloso e apaixonado, guardava mais de 20 mil livros em sua biblioteca vienense. Adolescente, emprestava falas de William Shakespeare e Johann Goethe para traduzir seus próprios estados de espírito. E, mais importante: até o fim de sua vida, alimentou com literatura teorias que mudaram para sempre os tratamentos para os males da alma. É sobre a intensa confluência entre Freud e grandes autores de seu tempo (e de antes dele) o livro “Freud com os Escritores” (Três Estrelas), escrito a quatro mãos pelos psicanalistas J.B. Pontalis e Edmundo Gómez Mango. Lançado originalmente pela prestigiada editora Gallimard, na França, o volume já valeria a atenção por trazer a produção final de Pontalis, um dos maiores intelectuais franceses da atualidade, morto no ano passado. Mas costurando as relações pessoais, as preferências e as frustrações do criador da psicanálise, o lançamento acaba desenhando um retrato afetivo de Freud, que amava as histórias, seus personagens e autores como uma família que até hoje mantém de pé e atual sua vasta produção intelectual. É de Pontalis o capítulo sobre a fértil ligação de Freud com o palco e, mais profundamente, com os personagens de William Shakespeare. “Freud revelou que o teatro de Shakespeare, com a força inigualável de sua linguagem poética, representa a ‘cena’ ­psíquica e os movimentos mais escuros e mais poderosos da psique”, explica Gómez Mango, em entrevista à ISTOÉ, psiquiatra uruguaio radicado na França. Assim, Hamlet se qualificaria como o “neurótico universalmente célebre” (célebre pela sua atualidade, explica Pontalis) e Lady Macbeth seria a primeira compulsiva diagnosticada na literatura científica, no artigo “Obsessões e Fobias”, publicado em 1895. O gosto e as preferências pessoais de Freud ditavam diretamente sua produção intelectual. Dá para imaginar, por exemplo, que se o escritor Fiódor Dostoievski não tivesse sido traduzido do russo para o alemão ou o inglês, a pulsão de morte, um conceito fundamental na psicanálise, poderia nem existir. Freud amava Dostoievski. Para ele “Os Irmãos Karamazov” era “o romance mais grandioso já escrito” e refletia aspectos da personalidade de seu autor que ocuparam parte importante do pensamento psicanalítico. “O escritor parece transmutar-se num de seus personagens, o criminoso inocente, deixando-se arrastar por uma forte pulsão de destruição que visa sua própria pessoa e se manifesta sob a forma de profundo sentimento de culpa e masoquismo”, escreveu Freud. Para os autores, os laços que unem a psicanálise à literatura são “mais fortes e estreitos do que com as demais formas artísticas, como a pintura ou a música.” Mas o livro leva a conclusão mais longe um pouco: sem literatura possivelmente nem existiria a psicanálise. Além da biblioteca de Freud, os autores elencaram escritores com quem ele conviveu e se correspondeu com alguma ou muita intensidade, caso do conterrâneo Stefan Zweig e do alemão Thomas Mann. Com o primeiro, de quem guardava, nas palavras dos autores, “20 anos, a diferença de uma geração”, Freud trocou textos e revisões de trabalhos, até o fim da vida de Zweig, que se suicidou no Brasil no início dos anos 1940. Amigos, que por vezes se desentendiam, mantinham uma proximidade que permitia algumas confissões, como da inveja que o criador da psicanálise sentia de seus amigos com trabalho mais criativo. Em relação a Thomas Mann, compartilhava a admiração e influência de Goethe – não por acaso “Doutor Fausto”, último grande romance de Mann, é dedicado a Freud. Nesse ponto aparece a outra mão da influência entre as áreas: em 1926, Thomas Mann declarou que “Morte em Veneza”, livro de 1912, possivelmente o mais conhecido de todos do autor, foi escrito sob o impacto da recém-nascida psicanálise. 10#3 EM CARTAZ – CINEMA - UMA PAIXÃO VIRTUAL por Ivan Claudio (ivanclaudio@istoe.com.br) Em “Ela”, primeira história original do diretor americano Spike Jonze, um homem introvertido aplaca a solidão relacionando-se com um programa de computadores que simula ser mulher. Especializado em escrever cartas de amor numa empresa “ponto com”, Theodore (Joaquin Phoenix) sente-se tão envolvido por Samantha que se apaixona por ela – é com esse nome que a “jovem” de inteligência ágil e existência reduzida a uma voz sensual se apresenta. A ficção científica sobre a crescente dependência das pessoas em relação aos novos gadgets digitais foi filmada em Xangai, na China, e traz Scarlett Johansson como a mulher virtual. Candidato a cinco Oscar, inclusive o de melhor filme, “Ela” (estreia na sexta-feira 14) surpreende pela inventividade ao misturar o visual vintage aos dramas sobre a incomunicabilidade típicos da ex-mulher de Jonze, Sofia Coppola. +5 trabalhos de Spike Jonze QUERO SER JOHN MALKOVICH (FOTO) Charlie Kaufman ofereceu a história para Francis Ford Coppola, que a passou para Jonze, seu genro na época ONDE VIVEM OS MONSTROS Escrito em parceria com o escritor Dave Eggers, fala de uma criança que viaja pela imaginação ADAPTAÇÃO Outra colaboração com o roteirista Charlie Kaufman, sobre um escritor em crise, na adaptação de uma história para o cinema JACK-ASS Jonze escreveu 25 episódios da série da MTV centrada em um grupo de amigos que trabalham como dublês por diversão D.A.F.T. Nessa antologia do duo francês Daft Punk o diretor assina o videoclipe “Da Funk”, protagonizado por um garoto-cão 10#4 EM CARTAZ – LIVROS - ESCRITO NAS ESTRELAS por Ivan Claudio (ivanclaudio@istoe.com.br) Entre os autores mais vendidos hoje, John Green estava numa convenção de fãs de Harry Potter quando conheceu a garota Esther Earl. O humor dela ao lidar com o câncer inspirou o autor na criação do best-seller “A Culpa É das Estrelas”. A história de Esther, morta em 2010, com textos dela mesma e prefácio de Green, chega agora às prateleiras brasileiras com o título “A Estrela que Nunca Vai se Apagar” (Intrínseca). 10#5 EM CARTAZ – MÚSICA - O BRASIL BRASILEIRO DE ARY BARROSO por Ivan Claudio (ivanclaudio@istoe.com.br) A malícia, a dor de cotovelo e a fina visão social do sambista mineiro Ary Barroso aparecem por inteiro na caixa de CDs “Brasil Brasileiro”, que chega às lojas nos 50 anos de morte do compositor, no domingo 9. Empacotada em 20 CDs com 316 canções, a obra completa de Barroso é resultado de 12 anos de trabalho do pesquisador Osmar Jubran e sai num lançamento conjunto da gravadora NovoDisc e do Museu da Imagem e do Som, de São Paulo. Gravadas pelos maiores intérpretes da música brasileira, as canções do músico podem ser ouvidas nas vozes de Carmen Miranda, Orlando Silva, Mário Reis, Sílvio Caldas, Aracy de Almeida e Elizeth Cardoso, entre outros. Estão lá, obviamente, os clássicos “Aquarela do Brasil”, “Na Baixa do Sapateiro”, “No Tabuleiro da Baiana”e “Pra Machucar Meu Coração”, entre tantos sucessos. 10#6 EM CARTAZ – DVD - LOUCOS NO VOLANTE por Ivan Claudio (ivanclaudio@istoe.com.br) Monsieur Hulot, o personagem cool de Jacques Tati, tem muito a dever ao vagabundo de Charles Chaplin e aos tipos de Buster Keaton. Sempre enfiado numa indumentária de chuva, vestido de sapatilhas e acompanhado de um cachimbo, o elegante senhor apontava em suas gags a solidão das grandes cidades e a massificação do homem contemporâneo. A sua última aparição no cinema se deu em “As Aventuras de Mr. Hulot no Tráfego Louco”, que agora sai em DVD. No papel de um designer de automóveis, ele precisa levar um trailer para uma feira em Amsterdã. Na companhia de uma publicitária, passa pelos maiores absurdos em sua viagem, numa crítica à obsessão das pessoas por carros. 10#7 EM CARTAZ – ESPETÁCULO - LA FURA SINFÔNICA por Ivan Claudio (ivanclaudio@istoe.com.br) A companhia teatral catalã La Fura dels Baus abre a temporada musical deste ano no Teatro Municipal de São Paulo com o espetáculo “Trilogia Romana”, do compositor Ottorino Respighi, natural de Bolonha, na Itália. Ao lado da Orquestra Sinfônica Municipal, a companhia conhecida por suas performances sensoriais e de alto impacto apresenta três poemas sinfônicos nos dias 15 e 16. Com regência do maestro John Neschling, os atores do grupo de Barcelona compartilharão o palco com os músicos da orquestra e projeções de vídeo gigantes, criadas pelo cineasta e fotógrafo francês Emmanuel Carlier especialmente para o espetáculo. 10#8 EM CARTAZ – AGENDA - BASQUIAT/O SENHOR DAS CHAVES/BONNIE & CLYDE Conheça os destaques da semana por Ivan Claudio (ivanclaudio@istoe.com.br) BASQUIAT (Sesc Consolação, São Paulo, até 28/2) Inspirada na vida do artista plástico Jean-Michel Basquiat, morto em 1988, a peça “In the Place – Um Lugar para Estar” traz o ator Alex Mello como protagonista e Gilberto Gawronski na direção O SENHOR DAS CHAVES (Teatro Mube, São Paulo, a partir de 8/2) Alexandre Roit, cofundador do Grupo Parlapatões, é um marinheiro que perdeu a memória num espetáculo que investe na participação do público BONNIE & CLYDE (History Channel) Holliday Grainger e Emile Hirsch interpretam o casal de gângsteres na minissérie em dois episódios dirigida por Bruce Beresford. William Hunter ficou com o papel do principal perseguidor da dupla 11# A SEMANA 12.2.14 por Antonio Carlos Prado e Elaine Ortiz "A OPORTUNIDADE E O OPORTUNISMO" Oportunidade é uma coisa, oportunismo é outra coisa. A médica cubana Ramona Matos Rodríguez tornou-se o mais afiado bisturi a fazer essa separação. Ela desembarcou no Brasil por meio do programa “Mais Médicos” e já correu a pedir refúgio no gabinete da liderança do DEM na Câmara. Mais: protocolou pedido de asilo na Embaixada dos EUA, onde pretende reencontrar seu marido que vive como refugiado em Miami. Não há nada de antiético no fato de Ramona ter feito do programa o seu passaporte para fugir de um regime de exceção. Isso é oportunidade. Mas o discurso não é ideológico: ela alega insatisfação com o salário, o que soa estranho porque tudo é previamente acordado. O governo brasileiro passou então a suspeitar que parlamentares do DEM tivessem cooptado Ramona, uma vez que eles assumiram a sua escolta e a estão utilizando para bombardear o “Mais Médicos”. A cooptação, ao que tudo indica, não aconteceu, mas a instrumentalização da fuga de Ramona está ocorrendo. Esse é o oportunismo. "A MORTE DE PHILIP SEYMOUR HOFFMAN E O FANTASMA DA HEROÍNA " Uma questão de saúde pública nos EUA voltou à tona na semana passada com a morte do ator americano Philip Seymour Hoffman. Ele foi encontrado na banheira de seu apartamento com uma seringa injetada no braço, vítima de overdose de heroína. O seu consumo cresceu no país 79% nos últimos cinco anos e hoje estima-se em 670 mil o número de usuários. A heroína se fez alternativa barata em relação aos analgésicos controlados: medicamentos chegam a custar US$ 140, enquanto nas ruas de Nova York injeta-se uma dose de heroína em troca de US$ 6. E o uso é incentivado pelo narcotráfico mexicano. “O México é o terceiro maior produtor mundial de ópio”, disse à ISTOÉ, de Viena, Angela Me, chefe na ONU de Pesquisa e Análise de Tendências sobre Drogas e Crime. O potencial de dependência da heroína é similar ao do crack. “Ao ser injetada, ela diminui a ansiedade e dá a sensação de bem-estar e euforia”, diz Arthur Guerra de Andrade, especialista em dependência química da USP. ""A GENTE SE SENTE CAMPEÃO"" Os Jogos Olímpicos de Inverno de Sochi, abertos oficialmente na sexta-feira 7, mostram a abnegação de 13 atletas brasileiros em sete modalidades. O espírito olímpico é maior que qualquer empecilho, e prova disso se deu 24 horas antes com o trenó utilizado no treino de pista pela nossa equipe masculina de bobsled: cedido por Mônaco, o mambembe trenó descascado (foto) foi reparado e ganhou as cores verde-amarela. “A gente usa material inferior, mas é como se fôssemos campeões olímpicos”, diz Edson Martins, um dos integrantes da equipe. A atleta Jaqueline Mourão foi a porta-bandeira da delegação do Brasil na festa de abertura. Ela compete no domingo 9 na prova de Sprint do Biathlon. "A CERVEJA DE PUTIN" Ironizando as fanfarrices do presidente da Rússia, Vladimir Putin, e denunciando a “lei antigay” de seu país, foi lançada a edição limitada da cerveja escocesa “Olá, meu nome é Vladimir”. No rótulo, e maquiado, Putin aparece com o slogan “Não é para gays”. "A MÁ E A BOA NOTÍCIA SOBRE O CÂNCER" Bastante sombrio o prognóstico da ONU dado na terça-feira 4, Dia Mundial da Luta Contra o Câncer: “Haverá um maremoto de casos dessa doença nos próximos anos” se medidas eficazes não forem de fato colocadas em prática. Entre elas se destacam o combate ao tabagismo, às bebidas alcoólicas e às causas da obesidade. A drástica previsão é de que haja em todo o mundo 24 milhões de enfermos de câncer até 2035. No Brasil, o Ministério da Saúde também alerta: somente em 2014 haverá cerca de 580 mil casos diagnosticados. * A Anvisa provou um novo medicamento para tratar um tipo de câncer de mama que corresponde a 20% dos casos (HER2 positivo). Trata-se do remédio “trastuzumabe entansina”. Segundo a Anvisa, ele não derruba os cabelos e tem menos efeitos indesejados que a quimioterapia tradicional. "O SEGUNDO NA HIERARQUIA DO MINISTÉRIO DA FAZENDA" Vai ocupar a segunda posição na hierarquia do Ministério da Fazenda, na função de secretário-executivo, Paulo Rogério Caffarelli. Ele deixa assim o cargo de vice-presidente de Atacado, Negócios Internacionais e Private Bank do Banco do Brasil.Caffarelli chega ao Ministério por indicação do próprio ministro Guido Mantega. Iniciou sua carreira no BB como menor aprendiz. Entre os altos cargos ocupados estão o de gerente-executivo na diretoria de distribuição e diretor de logística. "O TESTAMENTO DE MANDELA E A DIVISÃO DE US$ 4,1 MILHÕES " Foi lido publicamente na terça-feira 4 o testamento do ex-presidente sul-africano Nelson Mandela. Deixou herança de US$ 4,1 milhões (cerca de R$ 9,8 milhões). Mandela contemplou seus familiares (entre eles os mais de 30 filhos, netos e bisnetos), o partido político Congresso Nacional Africano, instituições, universidades e escolas. Até a sua secretária pessoal, Zelda La Grange, foi lembrada: herda US$ 4,5 mil. "A FABULOSA HISTÓRIA DO HOMEM DE PIJIJIAPAN" Não se sabia até a noite da quinta-feira 6 se a história contada pelo salvadorenho José Salvador Alvarenga é real ou se ela não passa de boa conversa de pescador. Mas que é incrível, é. José diz que saiu em 2012 da cidade mexicana de Pijijiapan para pescar tubarões e sua embarcação quebrou. Ele então cruzou o Pacífico até as Ilhas Marshal durante 13 meses com o barco à deriva, e só sobreviveu porque se alimentou de sangue e carne de tartaruga, de pássaros e de peixes. Apesar do cabelo comprido e da longa barba, José foi resgatado na semana passada bem nutrido e sem queimaduras de sol. Agora ganhou um passaporte temporário para regressar a El Salvador. "DEZ ANOS DE FACE" Na terça-feira 4 o Facebook completou uma década de existência. Somente no primeiro mês de 2014, seu fundador, Mark Zuckerberg, ganhou US$ 3,4 bilhões pela valorização das ações de sua empresa: Mais de 1 bilhão de usuários. 83 milhões de usuários não-americanos são brasileiros 4,75 bilhões de tipos diversos de conteúdo são compartilhados diariamente 350 milhões de fotos são publicadas todos os dias Valor atual de mercado US$ 150 bilhões Foi criado na Universidade de Harvard "SEM CURA" A primeira denúncia estarrecedora sobre a heroína se deu na década de 1970 com o filme autobiográfico “Eu, Christiane F. – 13 Anos, Drogada e Prostituída”. Foi a primeira vez que se usou a droga sintética metadona para reduzir os danos da droga verdadeira. Christiane (nome falso), depois do filme, sumiu. Reapareceu no noticiário somente em 2008: presa por furto e com recaídas da dependência química. CAI A FARSA DA DITADURA SOBRE A MORTE DE RUBENS PAIVA" Mais um capítulo da história da abominável repressão no Brasil durante a ditadura militar foi passado a limpo. O coronel reformado Raimundo Ronaldo Campos admitiu à Comissão da Verdade do Rio de Janeiro que no dia 21 de janeiro de 1971 montou-se a farsa sobre a tortura e morte do ex-deputado e militante comunista Rubens Paiva. Preso, ele foi levado ao DOI-Codi do 1º Exército e espancado até morrer. Campos e mais dois militares receberam então a ordem de levar um Fusca ao Alto da Boa Vista, metralhá-lo e incendiá-lo e contar a versão mentirosa de que Rubens Paiva estava no carro e fora resgatado por seus companheiros de luta armada. "TRÁGICO ROTEIRO DA LOUCURA" Esquizofrenia? Dependência química? Surto esquizofrênico induzido justamente pelo uso de drogas? Esse é o trágico roteiro do assassinato de um dos maiores cineastas e documentaristas do Brasil: Eduardo Coutinho (autor, entre outros clássicos, de “Edifício Master”). Ele foi assassinado a facadas no domingo 2, aos 80 anos, pelo próprio filho Daniel, no apartamento em que moravam no Rio de Janeiro – o filho também feriu gravemente a mãe. A fala de Daniel após o crime é claramente a de um esquizofrênico no momento agudo de crise psicótica. Bateu à porta de um vizinho e disse: “Libertei meu pai, mas não consegui libertar minha mãe nem a mim”. Também aponta para esquizofrenia a tentativa de suicídio de Daniel após o crime – ao contrário de psicopatas, esquizofrênicos tentam se matar quando ferem os pais. Amigos, vizinhos e funcionários do prédio, no entanto, afirmam que Daniel era dependente de maconha e cocaína, não trabalhava e constantemente brigava com o pais por causa de dinheiro. "ESPERANDO O FOGO DE BRAÇOS CRUZADOS" A aristocracia cafeeira do País construiu em São Paulo em 1873 o Liceu de Artes e Ofícios – destinava-se à capacitação de profissionais para a construção civil e tornou-se uma das mais conceituadas instituições de ensino. Um século depois foi erguido junto a ele o seu Centro Cultural. Na madrugada da terça-feira 4 um incêndio destruiu esse centro e 30 réplicas de esculturas clássicas trazidas da Europa no início do século passado. A irresponsabilidade dos administradores do Liceu não tem limites: há duas décadas (duas décadas!) está vencido o Auto de Vistoria do Corpo de Bombeiros. "ONU EXIGE QUE VATICANO APRESENTE PEDÓFILOS " A Comissão de Direitos Humanos da ONU denunciou o Vaticano acusando-o de adotar políticas que permitiram a pedofilia. É a primeira vez que a ONU joga tão pesado contra a Igreja Católica, exigindo que a Santa Sé “remova imediatamente todos os clérigos suspeitos” e os apresente “a autoridades civis”. O Vaticano considerou o relatório da ONU “injusto, distorcido e ideologicamente desorientado”. "R$ 1,4 BILHÃO " é o valor do empréstimo que a Embraer receberá do BNDES para o desenvolvimento de uma nova geração dos jatos comerciais E-Jets e do jato executivo Legacy 500. O BNDES anunciou seu propósito de investir em inovações tecnológicas.